É perfeitamente seguro afirmar que toda tristeza, doença e crime resultaram direta ou indiretamente de uma dessas duas causas: ignorância sobre a força sexual criadora ou erros de dieta. As guerras terríveis, por exemplo, espalhando devastação e destruição geral, não seria idealizada por uma Humanidade que considerasse o consumo de carne animal (mamíferos, aves, peixes, crustáceos, anfíbios, frutos do mar e afins) uma prática desnecessária e prejudicial. O Sr. Roosevelt[1] disse que uma nação de vegetarianos não seria boa lutadora. Na medida em que tal nação não gostasse de lutar, ele está certo; mas quanto à sua capacidade de se manter em qualquer disputa de coragem ou resistência física, mental ou moral, casos bem atestados, provam que os vegetarianos estão no mesmo nível ou, muitas vezes, exibem equilíbrio superior ou poderes de resistência maiores.
É inútil esperar que as guerras cessem e que as doenças e enfermidades desapareçam enquanto os seres humanos estiverem fartos, como no presente, de material velho e de segunda mão. Enquanto para viver os seres humanos acharem necessário destruir a vida, a desumanidade do ser humano para com ele mesmo continuará. As razões contra o hábito de comer carne animal são tantas que é de se admirar que a Humanidade não ceda rapidamente ao melhor caminho. A dieta mais sã, mais limpa, mais saudável e que economiza trabalho deve, com o tempo, encontrar seu devido lugar. Pois nada é menos incompatível com o bem-estar físico, moral ou espiritual do que o ser humano caçar criaturas inocentes e indefesas que derivam sua beleza e força do Reino Vegetal.
Compare os animais herbívoros com as feras e pássaros predadores. Os primeiros são amigos do ser humano, mas os últimos são inúteis, exceto como necrófagos. E quem sonharia em tocar na carne animal impura, construída de material de segunda mão; isto é, dos elementos que passaram não apenas pelo Reino vegetal, o alimento natural do ser humano e dos animais, mas que foram queimados e descartados no laboratório da economia animal. E todos os comedores de carne animal da espécie humana têm não somente seus próprios resíduos para descartar, células de tecido que estão em constante decomposição, mas, além disso, devem descartar o mesmo tipo de lixo que compõe em alguma medida a carne animal de qualquer criatura em qualquer momento da sua vida e morte.
Morte e decadência estão sempre presentes em todo Corpo Denso, porque a vida é uma substituição contínua de tecido desgastado. Por que sobrecarregar a máquina humana, o nosso Corpo Denso, com trabalho desnecessário?
Os vegetais estão no estado vivo, prontos para serem assimilados, especialmente se consumidos crus. A generosidade da Natureza está sempre fluindo com um rico estoque de frutas, grãos, legumes, verduras, leguminosas e até as PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) prontos para consumo — nutrição no equilíbrio adequado. Não há razão para o trabalho excessivo e o tempo dedicado à preparação de refeições que, muitas vezes, interferem na digestão adequada delas. As longas horas em fogões quentes, os nervos cansados por estimulação excessiva e todas as neuroses estão diretamente ligadas à superalimentação com pratos supérfluos e processos sobrecarregados. Eles envenenam as fontes da vida por meio de resíduos que causam fadiga, prostração, dores e humores que obstruem a circulação sanguínea e se depositam em pontos fracos do nosso Corpo Denso. A esclerose arterial e a pressão alta são, por exemplo, os resultados miseráveis de hábitos pervertidos, da ignorância das leis simples da saúde.
Uma vez um barco, cheio de soldados, ficou a deriva e foi parar em uma ilha deserta. Eles viveram lá por três anos sem qualquer comida, exceto o mel feito por abelhas selvagens e vegetais pancs. Eles tinham apenas suas próprias mãos para trabalhar, mas finalmente construíram uma embarcação primitiva e voltaram para casa em segurança, com a saúde perfeita.
O mel é um verdadeiro maná. Adicione a ele leite, queijo, nozes e flocos de trigo com frutas e vegetais que podem ser consumidos crus e, pronto, a maior parte da lavagem de louças se foi. Fogões quentes são inúteis — devemos economizar tempo e força para coisas melhores do que estragar a boa comida.
No entanto, apenas algumas pessoas estão prontas para esse alto ideal e o vegetarianismo simples é o limite para a maioria. O uso de pão integral e a substituição do leite ou caldo de legumes no lugar do molho ou caldo de carne animal, com sobremesas fartas, farão um menu mais saudável do que o comum cardápio misto. Grandes mudanças não acontecem de repente e o crescimento permanente é lento; mas o amanhecer de um dia melhor está aqui. O princípio conservador que ameaça as velhas formas de modo sombrio e mortal está sendo desintegrado gradualmente e mais rápido do que percebemos. Evidências disso estão por toda parte: no movimento feminista, no respeito aso animias domésticos, na tolerância maior e mais ampla que no futuro se estenderá aos nossos pequenos irmãos, os animais gentis.
A fome natural é facilmente satisfeita e quando os seguidores do adorável Jesus se lembrarem de como Ele andou pelos campos comendo trigo, eles talvez sejam encorajados a evitar a atual dieta mista que nos está transformando em uma Humanidade de inválidos; descobrirão então, pelo sangue mais puro e pela saúde mais sólida, que isso não é tão impraticável quanto parece.
Ninguém pode ser apressado ou forçado a entrar no Reino. Certos indivíduos devem ser deixados, como S. Paulo disse, “para Satanás para a destruição da carne, para que o Espírito seja salvo no dia do Senhor Cristo” (ICor 5:5-6). Podemos dividir a Humanidade, nós, de várias maneiras. Eis um exemplo:
1. Aquele que não sabe e não sabe que não sabe: ele é um tolo, evite-o.
2. Aquele que não sabe e sabe que não sabe: ele está acordado, ensine-o.
3. Aquele que sabe, mas não sabe que sabe: ele está dormindo, acorde-o.
4. Aquele que sabe e sabe que sabe: esse é sábio. Siga-o.
Três dessas classes estão entre as almas aparentemente mortas, e é nosso trabalho, “que sabemos e sabemos que sabemos”, colocar a mensagem diante dos rostos desses que estão por vir. “Se eu for levantado, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12:32), disse Aquele a quem seguimos. E não devemos permanecer mornos, pensando apenas em nosso próprio desenvolvimento, mas apressá-lo dando o melhor que há em nós aos outros que têm fome e sede de algo que não conhecem — o “Pão da Vida”. “Há o que exalta, mas tem mais abundância” (ISam 2:7). Perder a vida, se necessário, e assim ganhar a coroa eterna. Não percamos qualquer chance de testemunhar o Espírito, a beleza e a plenitude da verdadeira vida Cristã. Podemos fazer isso por meio de nossas palavras, ações, obras e nossos atos; acima de tudo, sendo dignos e estando prontos para as oportunidades, quando elas surgirem.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio de 1916, e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
[1] N.T.: Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) foi um advogado e político norte-americano que serviu como o 32º presidente dos Estados Unidos de 1933 até sua morte em 1945.
Mais uma vez é atingido o ponto culminante do ano, o maior de todos os eventos cósmicos: o Natal, a renovação do impulso Crístico na Terra.
Na Noite Santa, o solene tanger dos sinos invoca a presença dos fiéis para reverenciar a magna data. É a colimação cíclica de um processo irresistível e irreversível.
Novamente, o acendrado amor de Cristo por cada um de nós se faz sentir por meio da manifestação da Sua energia, sensibilizando os nossos corações para as esferas superiores da vida. É a observação fiel de um compromisso, cujo término se condiciona ao nosso próprio livre arbítrio, perdurando até que uma boa parte de nós desenvolva o Corpo-Alma, o “soma psuchicon”, identificando-se então com o próprio Cristo, por isso que é chamado, também, de Cristo interno.
Hoje, tal promessa é tão viva, tão real, tão sonora como o foi há mais de dois mil anos! Sentimos a presença do Cristo em cada ato de benevolência. Ouvimos a voz d’Ele nas palavras consoladores, nas pregações sinceras, nas músicas sublimes. Observamos os milagres d’Ele na ação pura dos idealistas. Cada novo Cristão é um Lázaro que ressurge. Cada novo Cristão é um participante da multidão alimentada com o “pão da vida”.
Mais de vinte séculos são decorridos e as vitórias do Cristianismo se sucedem. Forjado com o sangue dos mártires imolados em Roma e na Ásia Menor, resistiu a todas as procelas: aos tenazes perseguidores, às incompreensões e divergências internas, ao materialismo dos nossos tempos.
Força irresistível! Sobreviveu a todas as tentativas de destruição que lhe fizeram.
Estamos atravessando um momento crítico nesse Esquema de Evolução. Nunca carecemos tanto da presença de Cristo como agora, e nunca Ele esteve tão próximo, empenhando-se em nos despertar a nossa verdadeira vocação espiritual.
Somos uma massa heterogênea. Formamos um conglomerado de virtudes e defeitos, de injustos, justos e injustiçados, de crentes e indiferentes, de altruístas e egoístas, de explorados e exploradores. A cada Natal, a força Crística reinicia o processo de transmutação dessa massa, sensibilizando as nossas faculdades espirituais. É essa energia dinâmica na verdadeira acepção da palavra que procura romper a barreira das nossas limitações. É ela que nos inspira no aprimoramento do nosso caráter. Ela nos enleva ante uma estátua esculpida na algidez de uma pedra. Ali não deparamos meramente com a figura estática, mas sentimo-la vivente, palpitante.
Essa energia nos deixa extasiados ao examinarmos um quadro, em que os contornos e as cores sugerem sentimentos. Ela nos eleva e aquieta ao som de uma Sinfonia de Beethoven, de uma composição de Bach ou Haendel.
Nessas contemplações transcendemos a forma, penetramos no âmago, no espírito das coisas.
A esse propósito, queridos irmãos e irmãs, almejemos cada vez mais penetrar no Espírito do Natal, identificando-nos com ele. O verdadeiro Natal é interno. Consiste no nascimento do Cristo em nosso mundo interior.
Convertamos nossos corações em humildes manjedouras para receber Aquele que salva. E quais Reis Magos, depositemos aos Seus pés nossas oferendas: o ouro, o incenso e a mirra, traduzidos simbolicamente no Corpo, na Alma e no Espírito. Reverentes e gratos, entreguemos nossas dádivas Àquele que em si mesmo é a dádiva perpétua, a oferta perfeita, o Cristo que salva, que redime, que consola, que eleva, que encontra uma réplica microcósmica em cada ser humano, e que, ano após ano, generosamente, oferece-nos sua ajuda no sentido de ampliarmos Sua imagem em nós, até que todas formem uma só aura, uma só força, um só poder, no grande dia das Bodas Místicas.
Que este Natal nos encontre unidos em torno do nosso ideal, o ideal do Cristo!
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – dezembro/1973–Fraternidade Rosacruz–SP)
Muitos já passaram pela Fraternidade Rosacruz, assistindo às suas reuniões de estudos e devocionais, ou fazendo os Cursos por correspondência ou por e-mail (Filosofia Rosacruz, Astrologia Rosacruz e Estudos Bíblicos Rosacruzes), na investigação da sublime Filosofia Rosacruz, cujos ensinamentos transcendem os conhecimentos comuns.
Inesperadamente, alguns desses irmãos e dessas irmãs deixam de comparecer às Reuniões de Estudos ou falham com suas lições dos cursos. Poderão não ter conseguido assimilar ou identificar-se com o elevado Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz?
Nós, ocidentais, somos dotados de grande impaciência para colher os frutos dos Ensinamentos Rosacruzes. A evolução processa-se a passos lentos. A Natureza não dá saltos e, talvez, isso constitua um obstáculo à sede de conhecimento. Vivemos uma fase em que a paciência e a tolerância parecem divorciadas do ser humano.
A maioria sente-se atraída por aqueles que, se intitulando mestres (ou gurus ou instrutores ou, ainda, especialistas), prometem rápidos progressos espirituais e até mesmo condecorações. Para eles, o grau é avaliado pelo volume da contribuição, a maioria das vezes financeira.
Aí está a prova insofismável de uma ignorância. O saber não pode ser comprado, nem dado como um passe de mágica. Só nosso esforço, a nossa perseverança, pode adquiri-lo. A Fraternidade Rosacruz oferece o saber gratuitamente, mas sem laurear ninguém.
Se confiarmos nossos problemas a outros, certamente pagaremos pela atrofia de nosso cérebro e acabaremos tornando-nos incapazes para tomar nossas decisões, Assim, está nas nossas mãos a oportunidade de lutar pela aquisição do conhecimento. O fracasso só existe quando nada se tenta fazer e a Humanidade só terá consciência do seu mundo, conhecerá sua missão, saberá de onde veio, saberá para que veio aqui, saberá para onde vai, se utilizar suas faculdades, ainda latentes, no estudo e na investigação dos Mundos suprafísicos.
Assim, muitos de nós, apesar da atual fase de interesse pela espiritualidade, ainda vivem na agitação das lutas, com a intranquilidade reinando por todo o mundo, destacando-se a predominância do Espírito de Raça, apesar do grau de desenvolvimento intelectual já atingido.
A Humanidade comum segue o caminho lento da evolução por milhares de anos, antes que possa governar conscientemente seu Corpo de Desejos, o veículo sobre o qual trabalham os Espíritos de Raça.
Muitos da nossa população nasceram em outros países ao qual é justo o seu amor, mas não podemos malquerer aos naturais de outras nações. Afinal, todos somos seres humanos, criaturas de Deus, nosso Pai comum e devemos nos amarmos uns aos outros como Ele nos ama.
Aí uma fórmula que ajuda o ser humano a se libertar dos grilhões do Espírito de Raça. Assim, desenvolverá o Caminho da Espiritualidade em direção ao reinado do Cristo, para que essa Humanidade possa viver unida pela Lei do Amor.
Dentro do amor à terra – ao país, à nação – em que vivemos, cabe lembrar as palavras de Thomas Paine[1], como lema para libertação do Espírito de Raça: “O mundo é a minha pátria e fazer o bem é a minha Religião”.
Constituindo cada Grupo de Estudos e cada Centro Rosacruz um centro de irradiação da Filosofia Rosacruz para todos os lugares no entorno, nós o fazemos sem distinção de Raças ou Religiões, realçando o Amor entre os nossos semelhantes.
Embora seu número de membros possa até ser reduzido, dada a imensidão do lugar onde está instalado o Grupo ou o Centro, a Fraternidade Rosacruz representa o fermento que certamente fará crescer a massa (o Pão da Vida) que alimentará a Alma dos nossos semelhantes dos quais somos integrantes. Quem trilha persistentemente o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz se gratifica a cada grau alcançado e a visibilidade que apresenta o seu crescimento espiritual.
Parabéns aos persistentes! Para esses o fracasso não existe!
E muito poderemos fazer com a força do nosso pensamento, ajudando o Cristo a estabelecer a Fraternidade Universal, que deixará de ser um ideal, para se tornar um fato positivo.
(discurso proferido pelo irmão José Augusto Pinto Coelho, por ocasião da solenidade realizada em 24 de setembro de 1972 e publicado no Editorial da Revista Serviço Rosacruz de setembro/72 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: Thomas Paine (1737-1809) foi um político britânico, além de panfletário, revolucionário, inventor, intelectual e um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América. Thomas Paine foi, a um só tempo, ator, intérprete e testemunha não apenas das Revoluções Americana e Francesa, mas também dos movimentos revolucionários ingleses em fins do século XVIII e, em menor medida, do movimento revolucionário nos Países Baixos e na Irlanda, onde ele era continuamente citado e admirado.