Os verdadeiros presentes de Natal são mais profundos que aqueles que muitos de nós dão, por ensejo tradicional.
Afinal, o Caminho da Espiritualidade começa em dar de si. Não se trata de dar presentes, mas dar de si mesmo, nas menores coisas e manifestações (pelos pensar, sentir, falar e agir). Tal é “o caminho mais curto, o mais seguro e mais agradável que nos conduz à Deus” (que repetimos todas as vezes que oficiamos o Ritual do Serviço Devocional do Templo), ou seja, à religação consciente com o “Eu superior”, o que realmente somos, a Individualidade, o Ego, um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui.
O Natal é o símbolo da culminância de um estado de transição, do humano para o espiritual. Para chegar a esse portal e ser admitido como “novo nascido” é mister aprender a lição do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), focado na divina essência oculta em cada um de nós – que é a base para a Fraternidade Universal, em cada minuto do ano.
Cristo é o divino presente a que todos devemos almejar: é o coração que preparamos para recebê-lo; é a consciência despojada de valores negativos que pode conceber o Messias interno. Devemos nos preparar, “Somos Cristos em formação”, como nos ensina S. Paulo em suas Epístolas. Que Deus fortaleça nossas aspirações!
Vamos falar do símbolo que há no pinheirinho de Natal. O pinheirinho é árvore de folhas perenes. No auge do inverno no hemisfério norte, quando a neve se vai acumulando, pesando e crestando suas folhas, ele permanece firme, à espera do hálito quente da primavera que vem reanimá-lo. Daí haver sido tomado como símbolo da vida eterna, que transita pelas estações do ano, inalterável aos desafios dos renascimentos, ereto, olhando para o céu e levantando os braços em oração.
A silhueta do pinheiro é triangular. O triângulo com a ponta para cima é o símbolo da Trindade Divina, em que reside a vida eterna. Seu verde constante é o símbolo da esperança que não se abate nas vicissitudes.
Assim, não importa que aqui no hemisfério sul não haja neve. Pense no símbolo e ponha uns flocos de algodão sobre as folhas de seu pinheirinho. E as lampadazinhas lembrarão o significado da vida, que por si só ele exprime.
Agora, vamos falar sobre a simbologia que há nas velas natalinas. As velas que se acendem ou que figuram nos adornos natalinos, representam a luz do Aspirante à vida superior, Cristão. Nosso estado atual de consciência ainda não pode libertar a luz total do Espírito interno. É apenas uma fresta, uma pequenina luz. No entanto, todas as trevas do mundo não podem esconder a luz de uma pequenina vela. Ao contrário, quanto mais profunda as trevas, mais ressalta a luz, por pequena que seja. Se não podemos ser uma estrela, sejamos uma lâmpada que alumia a todos e a nós mesmos. Se não podemos ser uma lâmpada, sejamos, pelo menos uma pequena vela. Dizendo melhor, não é que humanamente possamos ser alguma coisa. Em verdade depende de compreendermos que o Divino, em nós, é quem faz. “Deus é Luz” (IJo 1:5). Somos feitos à Sua imagem e semelhança. Basta, pois, que deixemos a luz interna brilhar, na medida em que removemos os condicionamentos da Personalidade, como as nuvens desfeitas revelam o Sol. Acenda as velas de Natal e pense nisso.
Será que o verdadeiro “Papai Noel” – não esse que temos nos comerciais vestido de vermelho, azul e outras cores e o branco e que, para muitos, é o que é o Natal – também é um símbolo natalino? Vejamos! A figura simpática, sempre esperada, de “Papai Noel” ou S. Nicolau (conforme a tradição) está ligada a Júpiter, governante de Sagitário: alto, forte, rosado, risonho, dadivoso – as características físicas e internas de Júpiter, Regente de Sagitário, que precede e anuncia o Natal.
E por falar em presentes, não podíamos deixar de citar os três Reis Magos e seus presentes. Vamos ver a simbologia que aqui há: a narrativa da visita dos Reis Magos está no Evangelho segundo S. Mateus[1]. Nesse trecho se fala indeterminadamente de alguns magos que vieram do oriente. A tradição designou três representantes das Raças: branca, amarela e negra. Beda, um escritor inglês (673-735) foi quem os batizou de Gaspar, Melchior e Baltazar. A palavra “mago” vem do hebraico “magh”, em sânscrito “mahat”, que significa “grande”.
A simbologia é clara: a realização do verdadeiro Cristianismo há de abraçar a Humanidade inteira e dissolver todo o conceito de Raças na unidade espiritual. Mas, isso acontecerá quando cada um de nós se tornar um “mago”, isto é, grande (por dentro), um rei (que governa a si mesmo), ao alcançar a união com o “Eu superior” – e servir à “divina essência oculta” em todos nossos irmãos e nossas irmãs, acima de todos os preconceitos que são as divisórias atuais.
Os presentes que três Reis Magos deram: ouro, incenso e mirra são alegorias do Espírito, Corpo e Alma, respectivamente. Estamos evoluindo, e quando iluminados pela consciência é o ouro depositado das escórias. A mirra é uma erva amarga (resina de Balemodendron) procedente da Arábia e alude às dores e dificuldades com que o nós, o Ego humano, evoluímos acumulando nossas experiências por meio dos Renascimentos aqui. O incenso é utilizado nos ofícios religiosos para incorporação de Elementais que trabalham, sob as ordens dos Anjos, pela respectiva comunidade. A Fraternidade Rosacruz desaconselha o seu uso e prefere meios internos, já que é um recurso de incorporação. Daí estar ligado com o “corpo”.
Conjuntamente, os presentes dos magos representam a dedicação integral do Aspirante à vida superior ao seu Cristo Interno, quando Ele nasce. Somente quando a consciência do que realmente somos (a Individualidade, um Espírito, um Ego humano) desperta se diz que o Cristo Interno nasceu.
O Cristo definiu essa dedicação integral como o maior mandamento Cristão: “Amar a Deus (o Divino em si, nos semelhantes e no Universo) de todo o coração, de todo o entendimento, com todas as forças, de toda alma” (Mt 12:30).
Agora, vamos ver o símbolo que há oculto no presépio natalino. Segundo a história, o presépio foi instituído por S. Francisco de Assis, para representar a cena da manjedoura, descrita pelo Evangelho segundo S. Lucas. Seria ideal que nossos filhos e nossas filhas aprendessem a modelar as figurinhas de massinha, para representar essa cena. Uma caixa de areia, com o auxílio de uns pedaços de plástico para imitar os rios, pontilhões de papelão, manjedoura com palhinha e pauzinhos, detritos de madeira serrada e pintados de verde, para imitar a grama, fixam vivamente, no íntimo da criança, o cenário natalino, de tão formosos símbolos. O presépio nos enseja ocasião de explicar às crianças, com palavras simples, aquilo que Cristo pede a cada um de nós (“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, não para os homens.” (Col 3:23); “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade.” (IICor 9:7); “Devemos dar nossa vida pelos irmãos.” (IJo 3:16)). José e Maria não encontram lugar para Jesus nascer e tiveram que se ajeitar em uma manjedoura (lugar anexo à casa onde pernoitavam e alimentavam os animais, principalmente no inverno). Pergunta: Você tem um lugarzinho em seu coração, para nascer Jesus?
A cidade se chamava Belém, que significa “casa do pão”. Essa “casa de pão” é o nosso coração, quando aprendemos a viver bem, isto é, quando aproveitamos as oportunidades de cada dia, como grãozinhos de trigo, e vamos moendo, cozendo, com bons pensamentos, sentimentos, desejos, boas emoções, palavras verdadeiras e amorosas, atos bons, ações e obras boas, o pão vivo, a hóstia sagrada.
Belém ficava na região da Galileia, que significa “Jardim fechado”; quer dizer o nosso íntimo, o lugar secreto do Altíssimo mencionado no Salmo 91[2]. Ali é que tem que nascer nosso Cristo Interno, como “nasceu” o Cristo aqui entre nós. É Cristo que nos ensina que deve haver um Natal interno. Angelus Silésius nos ensinou: “Ainda que o Cristo nascesse mil vezes em Belém, se não nascer dentro de ti, tua alma continuará extraviada… Olharás em vão a cruz do Gólgota, a menos que ela seja erguida em teu próprio coração”.
José conduziu Maria grávida, para Belém. Também nós devemos estar cheios de luz, de bem, de amor, de entendimento da verdade espiritual, para que nasça o Cristo Interno. A gestação é de tempo variável: depende do nosso preparo. Podemos abreviá-lo ou retardá-lo. Os incômodos da gravidez são altamente compensados pela alegria do nascimento.
O menino se chamou Jesus. Jesus significa “aquele que é salvo por Deus”. Salvo de quê? De quem? De você mesmo, de sua falsa Personalidade, egoísta, que é o “anticristo”. Só a Graça de Deus pode conseguir isso, bem como aprendemos no Livro das Crônicas: “Não temais, não vos deixeis atemorizar diante dessa imensa multidão; pois esta guerra não é vossa, mas de Deus.” (IICro 20;15). Então você poderá se chamar também Jesus, “aquele que é salvo por Deus”.
A mesma Trindade (pai, mãe e filho, aqui representada por José, Maria e Jesus respectivamente) aparece igualmente na tradição filosófica de outros países. Sempre um iluminado ser nascia de uma “virgem” e esses Iniciados estavam relacionados com o Sol. Entre os persas foi Mitras; entre caldeus foi Tamuz; entre os egípcios foi Horus, filho de Osíris e Isis. Os antigos deuses do norte previam a aproximação da “luz-dos-Deuses” como a chegada de Surt, o brilhante Sol-Espiritual desses deuses e inaugurar harmonia em “”Gimie”, a terra regenerada.
Só o Cristianismo fala de Alguém que veio e que voltará!
No ponto de vista externo, exotérico, essas crenças criaram a adoração do Sol, como fonte de espiritualidade, luz e vida. Em todas as partes se construíram os Templos com as portas em direção ao Leste, onde “nasce o Sol”.
Do ponto de vista interno, esotérico, o “místico Sol da meia-noite” há de brilhar na escuridão da nossa inconsciência atual, com o irromper da Luz interna, do Cristo Interno, que vem estabelecer definitiva harmonia em nosso ser, quando estejamos preparados, em condição de uma “terra regenerada”, isto é, uma Personalidade transformada para servir de canal ao “Eu superior”. Isso pressupõe uma Personalidade humilde (a “manjedoura”) e a parte instintiva, animal, domesticada (o boi e o burrico) que S. Francisco de Assis colocou ali inspirado pelo Livro de Habacuc[3].
De um prisma cósmico, mais amplo, Cristo veio efetivamente do Sol, pois é o mais elevado Iniciado entre os Arcanjos. O que possibilitou Sua vinda foi o preparo de Jesus, que lhe cedeu os veículos Corpo Denso e Corpo Vital, para que se manifestasse entre nós como um ser humano. “Como é em cima é em baixo” e, assim, para manifestação do Cristo Interno é necessário que a Personalidade se regenere. Então, se cumpre a profecia da vinda do Messias o “Himmanu-El”[4], “o Deus conosco” – Aquele que nascerá no íntimo de cada um de nós, quando transformado e libertado.
O nascimento de Jesus foi narrado por S. Mateus e S. Lucas. Cada um deles fez a narrativa de forma diversa, porque os Evangelhos são métodos de Iniciação. S. Mateus é o método masculino, positivo, do fator vontade. Sua narrativa é marcada de aventuras e perigos. José é avisado pelo Anjo para receber Maria, que “concebeu do Espírito Santo”, o que mostra que da vontade humana não pode vir a realização espiritual, mas de uma fonte mais elevada, pois é Deus-Pai “em mim quem faz as obras; eu, de mim mesmo, nada posso”. Receber a visita dos Reis Magos seus presentes (dedicação consciente ao Cristo interno. Prevalece o fator masculino). José é avisado novamente para deixar Belém, antes do ataque de Herodes (o egoísmo, natureza inferior enciumada), refugiando-se no Egito, a Terra do Silêncio (o preparo interno e silencioso). Já em S. Lucas é o método místico na cena da manjedoura, em humildade e recolhimento, mostrando que o processo de preparo é interno, reservado. É sempre Maria (o fator feminino, coração) que é avisada pelo Anjo. Ela deve ser virgem (um ser humano despojado de impurezas internas, em sua imaginação, o lado feminino), desposada com José, um viúvo, segundo a tradição, ou seja, a vontade humana a serviço do justo, desligada da esposa, do mundo, do vício.
Na Fraternidade Rosacruz aprendemos que os dois lados são necessários: o Ocultista (intelecto, cabeça, razão) e o Místico (coração, a devoção). Por isso, a Fraternidade Rosacruz adota os emblemas de uma lâmpada ou lamparina (a razão) e de um coração (a devoção), que são os dois polos que temos. Quando esses dois polos se aperfeiçoam, de seu encontro nasce a luz, a sabedoria interna, decorrente da união do amor e do conhecimento, para tornar a Mente amorosa e o Coração sábio.
O fato histórico existiu e persiste como tradição, porque esotericamente a vida de Cristo-Jesus é um convite à realização interna. À nossa maneira, todos devemos realizar, individualmente, as fases daquele que nos serviu de modelo.
Agora, vamos ver como é o verdadeiro presente natalino que todos, pobres e ricos, bons e maus, crianças e idosos, homens e mulheres e quaisquer outras “duplas” que podemos segmentar recebem na época do Natal.
Do ponto de vista cósmico é o que anuncia o presente do céu: o Cristo do Ano Novo, a vida que vem dar novo alento à Terra (na noite mais longa e escura do Ano) física, em uma boa parte da Terra e espiritual em toda à Terra; o Cristo é a promessa da nova vida, com a beleza de cores e perfumes, com as sementes que se converterão em alimento físico e espiritual, para que a Humanidade não pereça.
Do ponto de vista coletivo, Cristo é o presente celeste, confortando pelo novo impulso de altruísmo e luz que dá ao globo terrestre, para nos assegurar a evolução e nos livrar de uma nova espécie de “Queda do Homem”. É um eterno presente, já que Ele voluntariamente se encadeou a cruz do mundo, até que sejamos salvos: “Estarei convosco até a consumação dos séculos” (Mt 28-20).
Do ponto de vista individual, é a promessa do fruto espiritual, já que todos somos “Cristos em formação” e Ele é o modelo, o exemplo que todos devemos imitar, a nosso modo, internamente. É o convite de um Natal interno, pela religação consciente com o “Eu superior”.
Assim, de modo geral, os presentes natalinos e o coração generoso que os oferece, representam as dádivas divinas, em todos os sentidos, já que “Deus é Amor” (IJo 4:8). É o Espírito de Natal expresso em todos os minutos do ano, mas que assumiu sua mais significativa expressão pela vinda do Cristo, o excelso presente.
Oxalá que esta orientação do Cristianismo Esotérico da Filosofia Rosacruz lhe traga uma nova abertura e um firme propósito para alcançar essa meta sublime!
(Publicado na Revista O Encontro Rosacruz de dezembro/1982 – Fraternidade Rosacruz de Santo André-SP)
[1] N.R. : Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, 2perguntando: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo”. 3Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. 4E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. 5Eles responderam: “Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito pelo profeta: 6E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo”. 7Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. 8E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que, também, eu vá homenageá-lo”. 9A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. 10Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. 11Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 12Avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para a sua região.
[2] N.R.: 1Quem habita na proteção do Altíssimo pernoita à sombra de Shaddai, 2dizendo a Iahweh: Meu abrigo, minha fortaleza, meu Deus, em quem confio! 3É ele quem te livra do laço do caçador que se ocupa em destruir; 4ele te esconde com suas penas, sob suas asas encontras um abrigo. Sua fidelidade é escudo e couraça. 5Não temerás o terror da noite nem a flecha que voa de dia, 6nem a peste que caminha na treva, nem a epidemia que devasta ao meio-dia. 7Caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita, a ti nada atingirá. 8Basta que olhes com teus olhos, para ver o salário dos ímpios, 9tu, que dizes: Iahweh é o meu abrigo, e fazes do Altíssimo teu, refúgio. 10A desgraça jamais te atingirá e praga nenhuma chegará à tua tenda: 11pois em teu favor ele ordenou aos seus anjos que te guardem em teus caminhos todos. 12Eles te levarão em suas mãos, para que teus pés não tropecem numa pedra; 13poderás caminhar sobre o leão e a víbora, pisarás o leãozinho e o dragão. 14Porque a mim se apegou, eu o livrarei, eu o protegerei, pois conhece o meu nome. 15Ele me invocará e eu responderei: “Na angústia estarei com ele, eu o livrarei e o glorificarei; 16vou saciá-lo com longos dias e lhe mostrarei a minha salvação”.
[3] N.R.: 1 Título — 1Oráculo que o profeta Habacuc recebeu em visão.
I. Diálogo entre o profeta e o seu Deus
Primeira lamentação do profeta: a derrota da justiça
2Até quando, Iahweh, pedirei socorro e não ouvirás, gritarei a ti: “Violência!”., e não salvarás? 3Por que me fazes ver a iniquidade e contemplas a opressão? Rapina e violência estão diante de mim, há disputa, levantam-se contendas! 4Por isso a lei se enfraquece, e o direito não aparece nunca mais! Sim, o ímpio cerca o justo, por isso o direito aparece torcido!
Primeiro oráculo: os caldeus flagelo de Deus
5Olhai entre os povos e contemplai, espantai-vos, admirai-vos! Porque realizo, em vossos dias, uma obra, vós não acreditaríeis, se fosse contada. 6Sim, eis que suscitarei os caldeus, esse povo cruel e impetuoso, que percorre vastas extensões da terra para conquistar habitações que não lhe pertencem. 7Ele é terrível e temível, dele procede seu direito e sua grandeza! 8Seus cavalos são mais rápidos do que panteras, mais ferozes do que lobos da tarde. Os seus cavaleiros galopam, seus cavaleiros chegam de longe, eles voam como a águia que se precipita para devorar. 9Acorrem todos para a violência, sua face ardente é como um vento do oriente; eles amontoam prisioneiros como areia! 10Ele zomba dos reis, príncipes são para ele motivo de riso. Ele se ri de toda fortaleza; ele amontoa terra e a toma! 11Então o vento virou e passou… É culpado aquele cuja força é seu deus!
Segunda lamentação do profeta: as extorsões do opressor
12Não és tu, Iahweh, desde o início o meu Deus, o meu santo, que não morre? Iahweh, tu o estabeleceste para exercer o direito, ó Rochedo,” tu o constituíste para castigar! 13Teus olhos são puros demais para ver o mal, tu não podes contemplar a opressão. Por que contemplas os traidores, silencias quando um ímpio devora alguém mais justo do que ele? 14Tu tratas o homem como os peixes do mar, como répteis que não têm chefe! 15Ele os tira a todos com o anzol, puxa-os com a sua rede e os recolhe em sua nassa; por isso ele ri e se alegra! 16Por isso ele oferece sacrifícios à sua rede, incenso à sua nassa; pois por causa delas a sua porção foi abundante e o seu alimento copioso. 17Esvaziará ele, sem cessar, a sua rede, massacrando os povos sem piedade?
2 Segundo oráculo: o justo viverá por sua fidelidade
1Vou ficar de pé em meu posto de guarda, vou colocar-me sobre minha muralha e espreitar para ver o que ele me dirá e o que responderá à minha queixa. 2Então Iahweh respondeu-me, dizendo: “Escreve a visão, grava-a claramente sobre tábuas, para que se possa ler facilmente. 3Porque é ainda uma visão para um tempo determinado: ela aspira por seu termo e não engana; se ela tarda, espera-a, porque certamente virá, não falhará! 4Eis que sucumbe aquele cuja alma não é reta, mas o justo viverá por sua fidelidade”.
II. Maldições contra o opressor
Prelúdio
5Verdadeiramente a riqueza engana! Um homem arrogante não permanecerá, ainda que escancare suas fauces como o Xeol, e, como a morte, seja insaciável; ainda que reúna para si todas as nações e congregue a seu redor todos os povos! 6Não entoarão, todos eles, uma Sátira contra ele? não dirigirão epigramas a ele? Eles dirão:
As cinco imprecações
I Ai daquele que acumula o que não é seu, (até quando?) e se carrega de penhores! 7Não se levantarão, de repente, os teus credores, não despertarão os teus exatores? Tu serás a sua presa. 8Porque saqueaste numerosas nações, tudo o que resta dos povos te saqueará, por causa do sangue humano, pela violência feita à terra, à cidade e a todos os seus habitantes!
II 9Ai daquele que ajunta ganhos injustos para a sua casa, para colocar bem alto o seu ninho, para escapar à mão da desgraça! 10Decidiste a vergonha para a tua casa: destruindo muitas nações, pecaste contra ti mesmo. 11Sim, da parede a pedra gritará, e do madeiramento as vigas responderão.
III 12Ai daquele que constrói uma cidade com sangue e funda uma capital na injustiça! 13Não é de Iahweh dos Exércitos que os povos trabalhem para o fogo e que as nações se esforcem para o nada? 14Porque a terra será repleta do conhecimento da glória de Iahweh, como as águas cobrem o fundo do mar!
IV 15Ai daquele que faz beber seus vizinhos, e que mistura seu veneno até embriagá-los,para ver a sua nudez! 16Tu te saciaste de ignomínia e não de glória! Hebe, pois, tu também, e mostra o teu prepúcio! Volta-se contra ti a taça da direita de Iahweh, e a infâmia vai cobrir a tua glória! 17Porque a violência contra o Líbano te cobrirá, e a matança de animais te causará terror, por causa do sangue humano, pela violência feita à terra, à cidade e a todos os seus habitantes!
V 19Ai” daquele que diz à madeira: “Desperta!”. E à pedra silenciosa: “Acorda!”. (Ele ensina!) Ei-lo revestido de ouro e prata, mas não há sopro de vida em seu seio. 18De que serve uma escultura para que seu artista a esculpa? Um ídolo de metal, um mestre de mentira, para que nele confie o seu artista, construindo ídolos mudos? 20Mas Iahweh está em seu Santuário sagrado: Silêncio em sua presença, terra inteira!
III. Apelo à intervenção de Iahweh
3 Título — 1Uma oração do profeta Habacuc no tom das lamentações.
Prelúdio. Súplica
2Iahweh, ouvi a tua fama, temi, Iahweh, a tua obra! Em nosso tempo faz revivê-la, em nosso tempo manifesta-a, na cólera lembra-te de ter compaixão!
Teofania. A chegada de Iahweh
3Eloá vem de Temã, e o Santo do monte Farã. A sua majestade cobre os céus, e a terra está cheia de seu louvor. 4Seu brilho é como a luz, raios saem de sua mão, lá está o segredo de sua força. 5Diante dele caminha a peste, e a febre segue os seus passos. 6Ele pára e faz tremer a terra, olha e faz vacilar as nações. As montanhas eternas são destroçadas, desfazem-se as colinas antigas, seus caminhos de sempre. 7Vi em aflição as tendas de Cusã, estão agitadas as tendas da terra de Madiã.
O combate de Iahweh
8Será contra os rios, Iahweh,que a tua cólera se inflama, ou o teu furor contra o mar para que montes em teus cavalos, em teus carros vitoriosos? 9Tu desnudas o teu arco, sacias de flechas a sua corda. Cavas o solo com torrentes. 10Ao ver-te as montanhas tremem; uma tromba d’água passa, o abismo faz ouvir a sua voz, levanta para o alto as suas mãos. 11Sol e lua permanecem em sua morada, diante da luz de tuas flechas que partem, diante do brilho do relâmpago de tua lança. 12Com cólera percorres a terra, com ira pisas as nações. 13Tu saíste para salvar o teu povo, para salvar o teu ungido, destroçaste o teto da casa do ímpio, desnudando os fundamentos até à rocha. 14Traspassaste com teus dardos o chefe de seus guerreiros, que se arremessavam para nos dispersar com gritos de alegria, como se fossem devorar um miserável em lugar escondido. 15Pisaste o mar com teus cavalos, o turbilhão das grandes águas!
Conclusão: Temor humano e fé em Deus
16Eu ouvi!’ Minhas entranhas tremeram. A esse ruído meus lábios estremeceram, a cárie penetra em meus ossos, e os meus passos tornam-se vacilantes. Espero tranquilo o dia da angústia que se levantará contra o povo que nos ataca! 17(Porque a figueira não dará fruto, e não haverá frutos nas vinhas. Decepcionará o produto da oliveira, e os campos não darão de comer, as ovelhas desaparecerão do aprisco e não haverá gado nos estábulos). 18Eu, porém, me alegrarei em Iahweh, exultarei no Deus de minha salvação! 19Iahweh, meu Senhor, é a minha força, torna meus pés semelhantes aos das gazelas, e faz-me caminhar nas alturas. Ao mestre de canto. Para instrumentos de corda.
[4] N.R.: ou Immanu-El, que é uma forma de se referir a Cristo Jesus, o Messias, como “Deus conosco”. O nome aparece em Mateus 1:23, onde se lê: “E ele será chamado Emanuel, que significa, Deus conosco“.
“15Quando os Anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si: “Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”. 16Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura.” (Lc 2:15-16)
Mas, afinal, quem eram esses pastores que se mantinham vigilantes à noite?
Grande fonte econômica daqueles tempos era a criação de caprinos (ovelhas, carneiros e afins) e, por essa razão, centenas de pastores viviam pelas colinas da Judeia, sem que, entretanto, a maioria notasse algo de extraordinário naquela noite. O Estudante Rosacruz, ávido estudante do Cristianismo Esotérico sabe, porém, que esses pastores, a quem o Anjo do Senhor apareceu, eram os Iniciados da Religião trazida na Época Ária (a “Religião do Cordeiro”, a Religião Cristã) e, como seres humanos de elevada espiritualidade que eram, sendo Clarividentes voluntários ou positivos, puderam perceber o Anjo mensageiro e clariaudientemente ouvir os cantos celestiais, proclamando a Nova Era, a Era de Peixes, que se inaugurava naquela noite, pois já estavam sobre a “Órbita de Influência” do Signo de Peixes, por Precessão dos Equinócios. Na verdade, foi uma Noite Santa para a toda a Humanidade; foi a abertura de um novo caminho que finalmente nos livrará da Roda de Nascimentos e Mortes aqui, possibilitando a todos aqueles que desejarem, beber da Água da Vida.
Por meio dos Estudos Bíblicos Rosacruzes aprendemos que o nome Davi significa “bem-amado”; Belém, a “casa de pão” ou o “princípio coração”, feminino, manifestando-se em todas as coisas, desde o minúsculo átomo até o onipresente Deus. E, por meio desse conhecimento, aprendemos que o desejo, sentimento e a emoção devem ser purificados e esse amor ou princípio do coração deve ser expandido antes de Cristo poder nascer dentro de nós (o Cristo Interno), pois as passagens da Bíblia nos mostram, similarmente, que o grande princípio Redentor do Amor não poderá nascer em nenhum outro lugar, a não ser em Belém, que é a representação da vida purificada, a vida Crística.
O Irmão Maior Jesus nasceu numa manjedoura, onde os animais se alimentavam. Esse lugar tem uma significância esotérica profunda, pois representa a natureza dos desejos, sentimentos e das emoções inferiores, que deve ser regenerada antes que o Poder do Criador possa nascer na estalagem, esse lugar que simboliza a “cabeça”. Assim, cada neófito no Caminho da Preparação e Iniciação Rosacruz deve, também, deixar Nazaré, símbolo da vida material, e iniciar a jornada a Belém, símbolo da vida impessoal purificada.
Assim, cada neófito verificará, a princípio, que não há acomodações na “estalagem” e que o nascimento deve ter lugar numa “manjedoura”, onde os “animais” se alimentam. Esse é realmente o significado do Natal!
Pouco significa para Jesus que reverenciemos o seu nascimento na Noite Santa, pois o importante é que possamos aprender a seguir o Cristo, encontrando o Caminho que nos conduzirá à realização da nossa Noite Santa individual.
Assim, levamos à frase de profundo recado esotérico de Angelus Silesius: “Embora Cristo nasça mil vezes em Belém, se não nascer em teu coração, tua alma segue extraviada”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/1967 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Resposta: Grande fonte econômica daqueles tempos era a criação de caprinos (em particular carneiros, ovelhas, cabras) e, por essa razão, centenas de pastores viviam pelas colinas da Judéia sem que, entretanto, a maioria notasse algo de extraordinário naquela noite. O Estudante Rosacruz sabe que esses pastores, a quem o Anjo do Senhor apareceu, eram os Iniciados da Religião de Áries (o Carneiro) e como seres humanos de elevada espiritualidade que eram, puderam, clarividentemente, perceber o Anjo mensageiro e, clariaudientemente, ouviram os cantos celestiais proclamando a Nova Era que se inaugurava naquela noite (já que entrávamos na “Órbita de Influência” da Era de Peixes). Foi, na verdade, uma Noite Santa para a Humanidade; foi a abertura do novo caminho que eventualmente nos livrará da roda do nascimento e da morte, possibilitando, a todos aqueles que desejarem, “beber da Água da Vida” (Jo 4:14).
O nome Davi significa “bem-amado”; Belém, a “casa do pão” ou o “princípio coração”, feminino, manifestando-se em todas as coisas, do átomo a Deus. O desejo natural deve ser purificado e esse amor ou princípio coração deve ser expandido antes de Cristo poder nascer dentro de nós, pois as passagens da Bíblia se correlacionam intimamente com nossas próprias vidas. Assim, embora José e Maria vivessem em Nazaré, em torno de 100 quilômetros além, era necessária, de acordo com a lei, que eles se deslocassem para Belém na ocasião em que se deu o nascimento da criança.
Similarmente, o grande princípio redentor do amor não poderá nascer em nenhum outro lugar, a não ser em Belém, que é a representação da vida purificada. Jesus nasceu em uma manjedoura, onde os animais se alimentavam. Esse lugar representa a natureza de desejo inferior, que deve ser regenerada antes que o Poder do Cristo possa nascer na estalagem, a qual simboliza a cabeça. Assim, cada neófito no Caminho da Iniciação deve também deixar Nazaré, a vida material, e iniciar a jornada a Belém, a vida impessoal purificada. Cada um verificará, a princípio, que não há acomodações na estalagem e que o renascimento deve ter lugar numa manjedoura, onde os animais alimentam-se. Esse é, realmente, o significado do Natal.
Pouco significa para Jesus que reverenciemos o seu nascimento na Santa Noite, pois o importante é que possamos aprender a seguir o Cristo, encontrando o caminho que nos conduzirá à realização da nossa Noite Santa individual.
Escreveu, nos ensinando, Angelus Silesius:
“Embora Cristo nasça mil vezes
em Belém, se não nascer em teu coração,
tua alma segue extraviada”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz março/1967 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Os Evangelhos, como é normalmente lido nas Religiões que preconizam o Cristianismo Popular, muitas vezes, contam o Natal como a história de Jesus, um personagem único, o Filho de Deus em um sentido especial, que nasceu em Belém, viveu na Terra por um curto período de 33 anos, morreu por nós, depois de muito sofrer e está agora permanentemente sentado à direita do Pai, de onde “há de vir para julgar os vivos e os mortos”. Celebramos seu nascimento e sua morte em determinadas épocas do ano, pois se supõe que esses eventos tenham ocorrido em datas definidas.
Mas, enquanto as explicações acima satisfazem aqueles que não procuram ir muito a fundo em suas investigações sobre a verdade, há um outro lado muito evidente tanto ao Cristão ocultista como ao Cristão místico: uma história de amor Divino e de sacrifício perpétuo que o enchem de devoção para com o Cristo Cósmico, O qual nasce periodicamente para que possamos viver e evoluir. O Cristão ocultista e o Cristão místico entendem que, sem recorrer a esse sacrifício anual, a Terra e suas condições atuais de desenvolvimento seriam uma impossibilidade.
Quando o Sol está no Signo celestial de Virgem (a Virgem), acontece a Imaculada Concepção. Uma onda de Luz e de Vida do Cristo solar é, então, enfocada sobre a Terra. Aos poucos essa luz penetra cada vez mais profundamente na Terra, até que o ponto decisivo no momento mais importante do ano, que chamamos Natal. Esse é o nascimento Místico de um impulso de vida Cósmico que impregna e fertiliza a Terra. É a base de toda vida terrestre; sem isso nenhuma semente germinaria, nenhuma flor surgiria na Terra, nem o ser humano, nem o animal existiriam, e a vida logo se extinguiria.
Há, portanto, uma razão muito válida para a alegria que se sente na época do Natal. Como o Autor Divino de nossa existência, nosso Pai no Céu nos deu o maior de todos os presentes, Seu Filho, assim também nós somos levados a nos presentearmos, uns aos outros, e a alegria, paz e boa vontade reinam na Terra, quer compreendamos ou não as razões místicas e anualmente renovadas.
Assim como “um pouco de fermento faz fermentar um todo”, esse impulso de vida espiritual, que impregna a Terra no Solstício de Dezembro, trabalha durante os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março em seu caminho em direção à circunferência, dando vida a tudo com que entra em contato. Mesmo os minerais não se desenvolveriam se esse impulso de vida fosse contido.
Ao chegar à época da Páscoa, quando a Terra está em pleno vigor, tudo está imbuído dessa grande vida Divina. Aí, então, ela se esgota, morre e se levanta novamente à direita de nosso Pai. Assim, o Natal e a Páscoa são pontos decisivos que marcam o fluxo e o refluxo de Vida Divina, anualmente dados por nossa causa. Se formos um pouco sensíveis, podemos sentir o Natal e a Páscoa no ar, pois ambos estão carregados de amor, vida e alegria divinas. Mas, de onde vem aquela nota de tristeza e sofrimento que precede à Páscoa da Ressurreição?
Por que não nos regozijamos com uma alegria genuína, quando o Filho é liberado e retorna a Seu Pai? Por que essa paixão, essa cruz de espinhos? Para compreender esse mistério é necessário analisar o problema do ponto de vista do Cristo, e é necessário entender, por completo, que essa onda de vida anual, projetada em nosso Planeta, não é simplesmente uma força destituída de consciência. Ela carrega em si mesma a consciência plena do Cristo Cósmico. É certo que sem Ele não existiria nada do que foi feito. Na época da Imaculada Concepção, em setembro, esse grande impulso de vida começa sua descida para nossa Terra, e na ocasião do Solstício de Dezembro, quando acontece o nascimento Místico, o Cristo Cósmico está plenamente concentrado sobre e dentro do nosso Planeta.
Deve causar desconforto para tão grande Espírito estar preso dentro desta Terra, e estar consciente de todo o ódio e discórdia que emanamos, todos os dias. Não se pode negar que toda expressão de vida seja feita por meio do amor; do mesmo modo, a morte vem por meio do ódio. Se o ódio e a discórdia que geramos em nossas vidas diárias e as consequentes falsidades, infâmias e egoísmo fossem deixados sem antídoto, esta Terraseria engolida pela morte.
Nos serviços que se realizam todas as noites, à meia-noite, o Templo da Ordem Rosacruz é o foco de todos os pensamentos de ódio, raiva, inveja, cólera, astúcia, egoísmo, inquietação e todos os afins a esses do mundo, no qual ele serve. Esses pensamentos são, então, desintegrados e transmutados, e essa é a base do progresso social do mundo. Espíritos puros se afligem e sofrem muito com as perturbações do mundo, com nossa discórdia e ódio e enviam, através de si mesmos, individualmente, pensamentos de amor, de paz, de fraternidade, de compaixão, de concórdia, de bondade e de afins com esses. Os esforços associados da Ordem Rosacruz são dirigidos aos mesmos canais, normalmente à meia-noite, quando o mundo está mais tranquilo em relação ao esforço físico, e se torna mais receptivo à influência espiritual. Nessa hora eles se empenham em atrair e transformar as flechas daqueles pensamentos inferiores citados acima, compartilhando, assim, com o sofrimento de Cristo, e com esse trabalho ajudam a tirar alguns dos espinhos da coroa do Salvador.
O Espírito de Cristo na Terra está, como diz S. Paulo, atualmente “gemendo e lutando à espera do dia da libertação” (Rm 8:22). Dessa forma, Ele tem em Si todas as flechas dos pensamentos inferiores citados acima e é esta a Sua coroa de espinhos.
Em tudo que vive, o Corpo Vital irradia correntes de luz da força que usou ao construir o Corpo Denso. Quando o Corpo Denso se apresenta com saúde, essas correntes de força carregam os venenos do Corpo e o mantém limpo. Condições semelhantes prevalecem no Corpo Vital da Terra, que é o veículo do Cristo. As forças venenosas e destrutivas geradas por nossas paixões são levadas pela força de vida do Cristo. Mas, qualquer pensamento ou ato maldoso causam-Lhe uma dor proporcional e, portanto, torna-se parte da coroa de espinhos – coroa porque a cabeça é considerada, sempre, como o lugar da consciência. Deveríamos compreender que todos os atos, todas as ações e obras maldosos têm uma reação em Cristo, como foi descrito acima, acrescentando um espinho a mais de sofrimento.
Em vista do que foi dito, podemos imaginar com que alívio Ele pronuncia as palavras finais no momento de libertação da cruz terrena: “Consummatum est” (Está terminado).
E, por que a repetição anual do sofrimento? Da mesma forma, como temos que receber continuamente em nossos Corpos, o oxigênio da vida a fim de vitalizar e dar energia a todo o Corpo, e como o oxigênio se extingue para o mundo exterior, enquanto está habitando o nosso Corpo (onde está sendo carregado de venenos e resíduos e finalmente é expelido como dióxido de carbono, um gás venenoso), é necessário que o Salvador entre, anualmente, no grande corpo que chamamos Planeta Terra, e leve para Ele todo o veneno que é gerado por nós, para limpar e purificar a Terra e lhe dar uma nova oportunidade de vida antes que Ele, finalmente, ressuscite e suba para Deus-Pai.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – janeiro/1983 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Três pequenas cidades podem orgulhar-se de haver hospedado o Cristo Jesus — a maior Luz que a Terra jamais conheceu: Belém, Nazaré e Cafarnaum.
A cidade de Belém, “Casa do pão”, onde a criança santa nasceu; a cidade de Nazaré, o lugar onde o tempo é utilizado para a vida pessoal, usado para crescer em fortaleza e conhecimento.
Vamos detalhar mais sobre a terceira cidade, a de Cafarnaum que significa “cidade do Consolador”. Ficava no território da tribo de Neftali, limítrofe do da tribo de Zabulon. No Evangelho Segundo S. Mateus estudamos como ele relacionou o Cristo ao trecho do Livro do Profeta Isaías (8:23 a 9:1): “No passado, o Senhor humilhou a terra de Zabulon e a terra de Neftali. No futuro, glorificará o caminho do mar, a outra margem do Jordão e a Galileia dos gentios: o povo que caminhava nas trevas viu grande luz; sobre os habitantes da terra das sombras uma luz brilhou”.
O “caminho do mar” ia de Damasco ao Carmelo, através do Jordão (também chamada “Peréia”, do grego peran, que significa “além”, e que hoje é denominada “Transjordânia”).
A Galileia dos gentios é a cidade de Cafarnaum, porque nela havia grande mistura de judeus e gregos e constituía um forte entreposto comercial, com ligações por terra e mar com os distritos circunvizinhos e que demandavam Horã, Tiro, Sidon, Síria e Egito. Daí serem tidos os cafarnaitas, pelos ortodoxos da Judeia, como “livres-pensadores” e como “heréticos sincretistas”. Mas justamente por isso o terreno era fértil para a pregação de Cristo Jesus, com almas sinceras, sem hipocrisia, podendo manifestar livremente suas crenças.
Dentre as interpretações bíblicas, a que se relaciona com a Astrologia Rosacruz diz que Jacó tinha 4 esposas (Lia, Raquel e suas Amas) que representam as 4 fases da Lua. Com elas gerou 13 filhos, sendo uma filha, Diná, que representa o único Signo feminino: Virgem. Dois filhos, Simeão e Levy, representam o Signo de Gêmeos; e os demais 10 filhos, os outros Signos do Zodíaco. A região de Neftali está ligada a Capricórnio; Neftali era um dos filhos de Jacó, representado por uma corça que partia em corrida até vencer um ano (iniciado pelo Solstício de Dezembro). Deduzimos, pois, dentro dessa simbologia, que Neftali era um lugar de provas, de séria concentração, de análise, atributos saturninos valiosos na evolução espiritual.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)
Três mendigos desceram à Samaria; um surdo, outro cego e o terceiro, aleijado.
E enquanto iam, um disse: “Certamente sou um pecador — sendo surdo”; e o segundo disse: “Eu sou cego, certamente também sou pecador”; e o terceiro também reconhecia seus pecados, dizendo: “Por causa disso, sou um aleijado”.
Então eles se lembraram de como sempre estavam os três juntos e disseram um ao outro: “Eu posso ouvir, porque eu tenho a ti e sois como ouvidos para mim”. E o seguinte disse: “Posso ver, porque tenho a ti por olhos”. E o último disse: “Certamente vós sois os meus pés”.
Então, todos os três louvaram a Deus e se alegraram. E, ao viajarem para Samaria, encontraram alguém cuja boca estava coberta e tinha na mão um badalo, porque era leproso.
Ele ficou longe e implorou uma esmola para eles, mas eles disseram: “Nós somos mendigos e não temos coisa alguma; descemos à Samaria em busca de esmolas, pois os samaritanos são bons doadores”. O leproso gritou alto e disse: “Embora tenham nada, ainda são muito abençoados — sendo três. Mas eu sou um pecador e devo morar sem companheiros”.
Quando os três amigos ouviram isso, disseram uns aos outros: “Nós também somos pecadores, mas andamos acompanhados”. Então seu coração os atingiu com compaixão pelo solitário e com um consentimento eles o chamaram: “Todos nós somos pecadores e fomos afligidos pelo Senhor. Venha agora e seja do nosso grupo”.
O leproso se alegrou muito ao ouvir isso e disse: “Então vamos a Belém esta noite; em sonho alguém me mostrou que o Messias nasceu ali”.
A estrada para Belém era pedregosa, íngreme e a noite caiu, mas o cego conhecia o caminho.
Já era noite quando chegaram ao estábulo em Belém e temeram bater à portinhola. Já dentro, José dormia, mas Maria vigiava a criança; ela ouviu o barulho de pés e homens sussurrando, então ela se levantou e abriu a portinhola.
Um belo raio de luz jorrou na escuridão e pela portinhola Maria perguntou quem eles eram e por que tinham vindo. Eles responderam: “Somos todos pecadores e justamente afligidos pelo Senhor, porém ouvimos que o Messias nasceu e, portanto, nós viemos”. A Virgem perguntou: “Que presente trouxestes? Ninguém pode entrar aqui a não ser que traga uma oferta”.
Os mendigos baixaram os olhos e não responderam coisa alguma porque as suas mãos estavam vazias.
Maria perguntou-lhes: “Quem é o quarto homem que está um tanto afastado?”.
Os três ficaram com muito medo e prostraram-se de joelhos, clamando: “Verdadeiramente somos pecadores, porque unimos este homem, que é leproso, a nós; além disso, ele é samaritano”. Então Maria escancarou a porta, eles entraram e viram o Salvador. O cego viu; o surdo ouviu; o coxo deu um salto. Esperavam que o leproso fosse curado; mas ele havia partido. Então eles perceberam que tinha sido um Anjo do Senhor.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de junho/1915 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Novamente nos encontramos na Estação do Natal, o período mais santo do ano. Retrocedamos mais de vinte séculos, e entremos numa singela casinha da cidade de Nazaré, na Galileia, para contemplarmos, deslumbrados, uma tocante cena. O Anjo Gabriel, enviado por Deus a Maria, esposa do varão José, exclamou-lhe: “Salve mui favorecida; o Senhor é convosco, Bendita sois entre as mulheres”. Maria está perturbada e o Anjo a tranquiliza, dizendo: “Não temas, porque achaste Graça junto de Deus; conceberás e parirás um filho, e o chamarás Jesus, Este será grande e chamado Filho do Altíssimo, e Lhe dará o Senhor Deus o trono de Davi, seu pai”.
São passados nove meses. Voltemos novamente o nosso olhar para uma estrada que vai de Nazaré a Belém, na Judeia. Acompanhemos José e Maria (prestes a ser mãe), caminhando com a finalidade de dar cumprimento à ordem de César Augusto, de que todos fossem recenseados. O casal chega a uma hospedaria, porém não encontra lugar. Pacientemente, Maria e José encaminham-se para outro local. É noite. Estamos em uma colina. Sob frondosa árvore, pastores com seus rebanhos repousam. Uma estranha magia e deslumbrante luz envolvem a paisagem. Ouve-se um cântico de glória despertando os pastores. Um formoso Anjo, acompanhado da Milícia Celestial, surge entoando a “Glória a Deus nas maiores alturas e Paz aos homens de boa vontade a quem Ele quer bem”. Os pastores estão temerosos, mas são tranquilizados pelas palavras do Anjo: “Não temais, pois eu vos trago uma boa nova de grande gozo e que o será para todo o povo, é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, um Salvador. Eis para vós um sinal: Encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura”.
Os Anjos retornam para os céus. Acompanhemos os pastores dirigindo-se a Belém, e vejamos o santo acontecimento. Uma estrela de incomparável fulgor está próxima à estrebaria. Dentro estão Maria e José reclinados sobre uma manjedoura, contemplam uma adorável criança. Eis Jesus, nosso amado Irmão Maior! Despojado de todo conforto material, mas envolto pela Glória do Senhor, presenteado com Ouro, Incenso e Mirra por três reis vindos de longe, guiados pela fulgurante estrela, eis a Santa Criança! Que maravilhoso exemplo de amor, desprendimento e humildade. Que sublime lição nos dá Jesus, ao nascer em uma estrebaria! Ele, um iniciado e filho de iniciados, havia percorrido o caminho da santidade através de muitas vidas. Recebeu a maior honra concedida a um ser humano, ceder Seus Corpos Denso e Vital para Cristo, um Raio do Cristo Cósmico, auxiliar a humanidade em sua jornada evolutiva.
Nos países frios, a comemoração em 25 de dezembro foi adotada pela Igreja com a finalidade de cristianizar a festa de Deus Sol, até então considerada uma festa pagã, uma adoração ao Sol físico. Tal data foi observada mais tarde pelas demais nações cristãs. De acordo com os ensinamentos dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, os Solstícios de Junho e de Dezembro e os Equinócios de Março e Setembro são pontos de alternância, de mudança na vida do Grande Espírito da Terra, um Raio do Cristo Cósmico, que veio substituir a Lei pelo Amor, aparecendo como “um homem entre os homens”, demonstrando que somente de dentro é possível conquistar a separatista Religião de Raça – que age de fora – e estabelecer a Fraternidade Universal.
O sacrifício de Cristo encerra a comprovação que se processa com o advento do Equinócio de Setembro e o lançamento da semente anímica da época do Natal. Portanto, não se comemora meramente o nascimento do nosso amado Irmão Maior Jesus de Nazaré, senão o influxo rejuvenescente de amor e vida.
Como poderemos considerar esse processo de manifestação da Onda Crística em nosso hemisfério (Sul), sabendo-se que as Estações são opostas? Note aqui que uma coisa – que é a mais importante de tudo, pois garante o trabalho do Cristo por todo o Planeta Terra – que se mantém idêntica tanto para o hemisfério norte como para o hemisfério sul, independentemente da inversão das estações: é a distância, maior ou menor, entre o Sol e o Planeta Terra. Sabemos que a Terra translada em torno do Sol por meio de uma órbita elíptica (não circular), ao longo do ano, e que o Sol ocupa um dos focos dessa elipse (lembrando que a elipse tem dois focos). Próxima a data que temos o Solstício de Dezembro (o ponto conhecido como periélio da Terra ocorre entre 2 e 6 de janeiro de cada ano), o foco em que o Sol se encontra está mais próximo da Terra, o que resulta a Terra estar permeada mais fortemente pela aura do Sol espiritual, com o correlativo aumento do Fogo Sagrado inspirador de crescimento anímico em nós. Inversamente, no Solstício de Junho (o ponto conhecido como afélio da Terra ocorre entre 2 e 6 de julho de cada ano) o foco em que o Sol se encontra está mais longe da Terra, o que provoca uma diminuição de espiritualidade, portanto, uma intensificação e pujança da vitalidade física. Assim, é natural que a partir do Equinócio de Setembro – período em que a espiritualidade do Sol começa a se intensificar aqui na Terra e, inversamente, a vitalidade física começa a se enfraquecer, todos sintam, tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul, uma certa atenuação para se tratar dos assuntos materiais e, em contrapartida, uma maior propensão para o recolhimento interno onde se predomina o tratamento a assuntos espirituais.
(publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro/1969 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Jonathan e o Anjo
Jonathan não era exatamente medroso, mas, por outro lado, não era muito corajoso. Estava profundamente adormecido quando, de repente, pareceu-lhe ouvir uma música. Sentou-se a tempo de ver seu irmão e os outros pastores descendo a montanha apressadamente em direção à pequena cidade de Belém. Por que estavam indo a Belém a essa hora da noite? — E, se ele tinha que ficar sozinho para vigiar as ovelhas, eles não deveriam tê-lo avisado?
Então, Jonathan percebeu que havia muitas luzes no céu e que a música, que ele pensava ter ouvido em sonho, ainda continuava. Uma música como ele jamais havia ouvido — parecia ser acompanhada de centenas de vozes e era ao mesmo tempo tão doce e suave, que teve vontade de chorar. Mas que tolice! Ele tinha sete anos e certamente não chorava mais.
Entretanto, alguma coisa estava acontecendo que ele não podia entender. Sabia que era noite, mas o que eram todas aquelas luzes vibrando em todos os lugares, principalmente bem em cima de Belém? E de onde vinha aquela música?
As ovelhas não estavam agitadas, mas elas também estavam acordadas. Elas estavam deitadas, de olhos abertos e pareciam escutar a música. Elas, entretanto, não ficariam em silêncio por muito tempo, não com todas aquelas coisas estranhas acontecendo. E quando começassem a perambular, o que ele faria? Por que, oh, por que ele tinha importunado tanto seu irmão para que o trouxesse para as montanhas com os outros pastores? Ele era muito novo para ser pastor. Seus pais haviam dito isso e eles tinham razão. Agora, seu irmão e os outros tinham ido embora para, provavelmente, dar-lhe uma lição.
De repente, Jonathan sentiu seu coração quase parar de bater. Bem na sua frente, surgindo do nada, estava…estava um Anjo! Ele nunca tinha visto um Anjo antes, mas sabia que aquilo era um Anjo. Era alto, vestido todo de branco, com uma linda luz cor de pêssego reluzindo ao seu redor. Seu rosto era sério, mas tão bondoso que imediatamente Jonathan teve vontade de contar-lhe seus problemas.
Então, o Anjo sorriu e pronunciou umas palavras com voz tão profunda e suave, que parecia estar cantando e não falando:
— Seu irmão e seus amigos foram a Belém para ver algo muito bonito. Você gostaria de ir também, Jonathan?
— Sim – sussurrou Jonathan – mas e as ovelhas — ele começou a falar.
— As ovelhas estarão seguras. Venha, meu filho.
E o Anjo desceu o atalho que levava até a vila. Jonathan correu atrás dele e o alcançou, e ficou olhando para Seu rosto. O Anjo não disse nada, mas sorriu para o menino carinhosamente, com tanta beleza e amor, que Jonathan sentiu como se quase pudesse voar, de tão feliz que estava.
Juntos, eles desceram a montanha e atravessaram as estreitas e curvas ruas da vila, passando pelas lojas dos tecelões, pelos lugares onde se vendiam ervas cheirosas, pelo lugar onde se guardavam os camelos, pela loja do homem que fazia tendas e pela árvore sob a qual o velho Malaxai, o escriba, sentava-se todos os dias lendo e escrevendo cartas para as pessoas da vila.
Finalmente, eles chegaram ao outro lado da vila e a luz que tremulava pareceu-lhes ainda mais brilhante. Ali existia uma gruta onde os estrangeiros que ficavam na hospedaria guardavam seus animais. A gruta estava iluminada como se o Sol estivesse brilhando dentro dela. Parecia haver algumas pessoas, mas estava muito silenciosa. Nada podia ser ouvido, exceto a música que não cessava.
Jonathan viu seu irmão e os outros pastores ajoelhados e silenciosos. Viu também pessoas desconhecidas ajoelhadas. E viu que havia algumas vacas, ovelhas e um enorme cachorro que pertencia ao dono da hospedaria. Os animais estavam deitados e eles também estavam muito quietos.
Então, Jonathan viu um homem em pé no meio da gruta. Ele era alto e distinto, tinha cabelos pretos e barba longa. Não era um homem grande, mas parecia muito forte. Tinha na mão um bastão, que geralmente as pessoas que costumavam andar muito, usavam, mas não parecia apoiar-se no bastão.
Perto dele estava sentada a senhora mais bonita que Jonathan já havia visto. Seu rosto era jovem e radiante, seus olhos brilhantes e ternos e a luz brilhava fortemente à sua volta.
Na frente deles, no chão, havia uma manjedoura onde usualmente a comida do gado era posta. Nessa manjedoura, num berço de palha, estava deitada uma criança. E, de repente, Jonathan percebeu que era por causa dessa criança que as luzes estavam brilhando, que a música estava tocando e o Anjo o havia levado lá.
O bebê estava acordado, deitado quietinho, com seus olhos abertos, sorrindo para sua mãe — pois aquela linda senhora certamente era sua mãe — estendendo sua mãozinha para ela que lhe deu o dedo para segurar.
Sem saber exatamente por quê, Jonathan ajoelhou-se no chão na frente da manjedoura. O Anjo veio, parou a seu lado e disse baixinho numa voz terna:
— Este é o Menino Jesus. Maria e José são seus pais. Um dia, quando o pequeno Jesus crescer e for adulto, o grande Espírito Cristo vindo do Sol descerá, entrará nele e ele se tornará o Salvador do Mundo.
O Anjo afastou-se, mas Jonathan continuou ajoelhado. Não estava certo de ter entendido exatamente o que o Anjo quis dizer. Mas entendeu que Deus havia enviado aquela criança como um presente para ele, para seu irmão, para as pessoas da vila — enfim, para todas as pessoas do mundo. E que, por causa daquela criança, o mundo seria um lugar melhor e mais feliz para todos morarem nele.
Então, o bebê virou a cabecinha olhou para Jonathan e sorriu. Jonathan também sorriu, estendeu a mão e tocou de leve a madeira da manjedoura. Em seguida, um pouco assustado com o que tinha feito, tirou rapidamente a mão e ficou em pé, olhando para a mãe da criança.
— Estou contente por você ter vindo – ela disse com amor, exatamente com a mesma expressão de ternura que sua mãe o olhava sempre.
— E eu estou contente por ser um pastor essa noite e ter visto o bebê – disse Jonathan.
Ele se virou e foi saindo lentamente da gruta. Quando ele voltou para a vila, o Anjo apareceu de repente a seu lado:
— Voltarei para a montanha com você. Assim poderá dormir em paz quando chegar lá. Nada acontecerá às ovelhas nessa noite.
Eles andaram silenciosamente pelas ruas de Belém e Jonathan começou a perceber que, ao passar pela casa de pessoas conhecidas, pensava nelas com amor. Ele amava de fato todas as pessoas da vila e não se importava mais por Levi ter-lhe jogado uma pedra no outro dia, nem por seu irmão, às vezes, puxar o seu cabelo ou xingá-lo. Essas coisas não eram importantes. O importante era que todos aprendessem a amar-se uns aos outros e assim não haveria mais sofrimento no mundo. E Aquela Criança tinha vindo para dizer isso a todos.
Quando alcançaram o topo da montanha, Jonathan estava com muito sono. Sabia que devia dizer algo gentil ao Anjo e agradecer-Lhe por tê-lo levado para ver a criança, mas antes que pudesse falar alguma coisa, o Anjo disse:
— Agora, deite-se e durma Jonathan. Pela manhã, haverá um lindo nascer do Sol.
Jonathan deitou e cobriu-se com o cobertor. Logo adormeceu, mas, durante toda a noite, ouviu a música divina e viu a luz abençoada brilhando sobre Belém. Ele e suas ovelhinhas estavam seguros na companhia dos Anjos.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)