Por mais de mil anos o povo judeu aguardara a vinda do Salvador. Nesse acontecimento fundamentara suas mais gloriosas esperanças. No cântico e na sua profecia, no ritual do templo e nas orações domésticas haviam envolvido o Seu nome. Entretanto, por ocasião de Sua vinda, não O conheceram. O Bem-Amado do céu foi para eles “como raiz de uma terra seca”; não tinha “parecer nem formosura”; e não Lhe viam beleza nenhuma para que O desejassem. “Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam.” (Is 53:2 e Jo 1:11).
Todavia, Deus escolhera a Israel. Ele o chamara para conservar entre os seres humanos o conhecimento de Sua lei, e dos símbolos e profecias que apontavam para o Salvador. Desejava que fosse como fonte de salvação para o mundo. O que Abraão fora na terra de sua peregrinação, o que fora José no Egito e Daniel nas cortes de Babilônia, deveria ser o povo hebreu entre as nações. Cumpria-lhe revelar Deus aos seres humanos.
Na vocação de Abraão, Deus dissera: “Abençoar-te-ei… e tu serás uma bênção… e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12:21-3). O mesmo ensino foi repetido pelos profetas. Ainda depois de Israel ter sido arruinado por guerras e cativeiros, pertencia-lhe a promessa: “Então os restos de Jacó estarão no meio de muitos povos, como um orvalho que vem do Senhor, e como gotas de água que caem sobre a erva, sem dependerem de ninguém, e sem esperarem nada dos filhos dos homens” (Mq 5:7). A respeito do templo de Jerusalém, o Senhor declarou por intermédio de Isaías: “Minha casa será chamada casa da oração para todos os povos.” (Is 56:7).
Mas os israelitas fixaram suas esperanças em grandezas mundanas. Desde o tempo de sua entrada na terra de Canaã, apartaram-se dos mandamentos de Deus e seguiram os caminhos dos gentios. Era em vão que Deus enviava advertências por Seus profetas. Em vão sofriam eles o castigo da opressão gentílica. Toda reforma era seguida da mais profunda apostasia.
Houvessem os Filhos de Israel sido leais ao Senhor, e Ele teria podido cumprir Seu desígnio, honrando-os e exaltando-os. Houvessem andado nos caminhos da obediência, e tê-los-ia exaltado “entre todas as nações que criou para louvor, e honra, e glória Sua”. “Todos os povos da terra verão que é invocado sobre ti o nome do Senhor”, disse Moisés; “e temer-te-ão”. “Os povos… ouvindo todos estes preceitos” dirão: “Eis um povo sábio e inteligente, uma nação grande.” (Dt 26:19; 28:10; 4:6). Devido a sua infidelidade, porém, o desígnio de Deus só pôde ser executado por meio de contínua adversidade e humilhação.
Foram levados em sujeição a Babilônia, e espalhados pelas terras dos pagãos. Em aflição renovaram muitos a sua fidelidade ao concerto de Deus. Enquanto penduravam suas harpas nos salgueiros, e lamentavam o santo templo posto em ruínas, a luz da verdade brilhava por meio deles e difundia-se entre as nações o conhecimento de Deus. O sistema pagão de sacrifícios era uma perversão do sistema que Deus indicara, e muitos dos sinceros observadores dos ritos pagãos aprenderam com os hebreus o significado do serviço devidamente ordenado, apoderando-se, com fé, da promessa do Redentor.
Muitos dos exilados sofreram perseguição. Não poucos perderam a vida em virtude de sua recusa de observar as festividades pagãs. Quando idólatras se levantaram para esmagar a verdade, o Senhor levou Seus servos à presença de reis e governadores para que estes e seu povo pudessem receber a luz. Repetidamente os maiores monarcas foram levados a proclamar a supremacia do Deus a quem seus cativos hebreus adoravam.
Mediante o cativeiro da Babilônia, os israelitas foram realmente curados do culto de imagens de escultura. Durante os séculos que se seguiram, sofreram opressão de seus inimigos gentios, até que se afirmou neles a convicção de que sua prosperidade dependia da obediência prestada à lei de Deus. Mas com muitos deles a obediência não era motivada pelo amor. Tinham motivo egoísta. Prestavam a Deus um serviço exterior como meio de atingir a grandeza nacional. Não se tornaram a luz do mundo, mas excluíram-se do mundo a fim de fugir à tentação da idolatria. Nas instruções dadas a Moisés, Deus estabeleceu restrições à associação deles com os idólatras; estes ensinos, porém, haviam sido mal interpretados. Visavam preservá-los contra as práticas dos gentios. Mas foram usados para estabelecer uma parede de separação entre Israel e todas as outras nações. Os judeus consideravam Jerusalém como seu céu, e tinham reais ciúmes de que Deus mostrasse misericórdia aos gentios.
Depois da volta de Babilônia, foi dispensada muita atenção ao ensino religioso. Ergueram-se por todo o país sinagogas, nas quais a lei era exposta pelos sacerdotes e escribas. E estabeleceram-se escolas que, a par das artes e ciências, professavam o ensino dos princípios da justiça. Esses agentes perverteram-se, porém. Durante o cativeiro, muitos do povo haviam adquirido ideias e costumes pagãos, os quais foram introduzidos em seu serviço religioso. Conformaram-se, a muitos respeitos, com as práticas dos idólatras.
À medida que se apartavam de Deus, os judeus perderam em grande ponto de vista os ensinos do serviço ritual. Esse serviço fora instituído pelo próprio Cristo. Era, em cada uma de suas partes, um símbolo d’Ele; e mostrara-se cheio de vitalidade e beleza espiritual. Mas os judeus perderam a vida espiritual de suas cerimônias, apegando-se às formas mortas. Confiavam nos sacrifícios e ordenanças em si mesmos, em lugar de descansar n’Aquele a quem apontavam. A fim de suprir o que haviam perdido, os sacerdotes e rabis multiplicavam exigências por sua conta; e quanto mais rígidas se tornavam, menos manifestavam o amor de Deus. Mediam sua santidade pela multidão de cerimônias, ao passo que tinham o coração cheio de orgulho e hipocrisia.
Com todas as suas minuciosas e enfadonhas injunções, era impossível guardar a lei. Os que desejavam servir a Deus e procuravam observar os preceitos dos rabinos, mourejavam sob pesado fardo. Não podiam encontrar sossego das acusações de uma consciência turbada. Assim operava Satanás para desanimar o povo, rebaixar sua concepção do caráter de Deus, e levar ao desprezo a fé de Israel. Esperava estabelecer a pretensão que manifestara quando de sua rebelião no céu – que as reinvindicações de Deus eram injustas, e não podiam ser obedecidas. Mesmo Israel, declara ele, não guardava a lei.
Ao passo que os israelitas desejavam o advento do Messias, não tinham um reto conceito da missão que Ele vinha a desempenhar. Não buscavam redenção do pecado, mas libertação dos romanos. Olhavam o Messias por vir como um conquistador para quebrar a força do que os oprimia, e exaltar Israel ao domínio universal. Assim estava preparado o caminho para rejeitarem o Salvador.
Ao tempo do nascimento de Jesus, a nação estava irritada sob o governo de seus dominadores estrangeiros, e atormentada por lutas internas. Fora permitido aos judeus manterem a forma de um governo separado; mas coisa alguma podia disfarçar o fato de se achavam sob o jugo romano, ou reconciliá-los com a restrição de seu poder. Os romanos pretendiam o direito de indicar ou destituir o sumo sacerdote, e o cargo era muitas vezes obtido pela fraude, o suborno e até pelo homicídio. Assim o sacerdócio se tornava mais e mais corrupto. Todavia os sacerdotes ainda ostentam grande poder, e o empregavam para fins egoístas e mercenários. O povo estava sujeito as suas desapiedadas exigências, e era também pesadamente onerado pelos romanos. Esse estado de coisas causava geral descontentamento. Os levantes populares eram frequentes. A ganância e a violência, a desconfiança e apatia espiritual estavam corroendo o próprio âmago da nação.
O ódio dos romanos, bem como o orgulho nacional e espiritual, levaram os judeus a se apegarem ainda rigorosamente as suas formas de culto. Os sacerdotes tentavam manter reputação de santidade mediante escrupulosa atenção às cerimônias religiosas. O povo, em seu estado de trevas e opressão, e os príncipes, sedentos de poder, ansiavam a vinda d’Aquele que havia de vencer seus inimigos e restaurar o reino a Israel. Eles tinham estudado as profecias, mas sem percepção espiritual. Esqueciam, portanto, os textos que apontavam à humilhação a primeira vinda de Cristo, e aplicavam mal os que falavam da glória do segundo. O orgulho lhes obscurecia a visão. Interpretavam a profecia segundo seus desejos egoístas.
Note a semelhança que se repetiu durante todo esse tempo da primeira vinda de Cristo, ao longo da história com as pessoas e que em muitos casos continuam hoje: ou não reconhecem o Cristo como o nosso Salvador e Redentor, ou preferem continuar a “barganhar com Deus por aquisições materiais” ou, ainda, fazem de conta de acreditam em Cristo, mas na prática agem de forma ou contrária ou com desdém.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – setembro/1979 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Antes de entrarmos no assunto acima propriamente dito, comecemos com algumas citações de Max Heindel, expostas abaixo, para que possamos nos situar dentro do espírito da Astrologia segundo os Ensinamentos Rosacruzes.
“O Zodíaco e os Astros são como um livro, no qual podemos ler a história da humanidade durante eras passadas, nos dando, também, uma chave para o futuro que está reservado para nós.” (Livro: A Mensagem das Estrelas – Max Heindel e Augusta Foss Heindel-Fraternidade Rosacruz)
“Moisés recebeu ordem de tirar suas sandálias ante à sarça ardente, em reconhecimento ao fato de que se encontrava em SOLO SAGRADO, um lugar iluminado por uma presença Espiritual. (…) podemos dizer que o SOLO sobre o qual Moisés se encontrava não era mais sagrado do que aquele em que se situa o astrólogo, quando tem em suas mãos um horóscopo”.
“A Lei de Consequência também age em harmonia com as estrelas. Assim, um ser humano nasce quando as posições dos Corpos do Sistema Solar proporcionam condições necessárias para sua experiência e progresso na Escola da Vida. Por essa razão a Astrologia é uma ciência absolutamente verdadeira, se bem que o melhor astrólogo pode equivocar-se, por ser falível tanto quanto os demais seres humanos.” (Livro: Conceito Rosacruz do Cosmos – Capítulo IV – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
“Nós deveríamos sempre ter em mente a certeza de que os Astros impelem, mas não compelem. As ocasiões e as tentações se apresentarão quando a hora chegar; esse será, então, o momento de focar no bem e no dever. O ser humano instruído, graças ao conhecimento da Astrologia Rosacruz, está equipado antecipadamente e pode muito facilmente triunfar sobre um aspecto que predomine.” (Livro: Astrologia Científica e Simplificada – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
“Os astrólogos mundanos ou materialistas consideram Marte, Saturno, Urano, Netuno e Plutão como maléficos e Vênus e Júpiter como benéficos. Mas, no Reino de Deus não há nada de maléfico, já que o que parece ser mal é somente o bem em gestação, que há de vir. Nós não devemos acreditar que a influência desse ou daquele Astro age para nos prejudicar. Nós viemos a esse mundo para adquirir certas experiências necessárias ao nosso próprio desenvolvimento espiritual, e se nós nos esforçamos para compreender as influências astrais, nós perceberemos que elas são poderosos fatores que ajudam no nosso desenvolvimento.” (Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. 1 – Pergunta nº 161 – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
Terminando essa introdução com as citações edificantes acima, vamos a mais uma história que se conta sobre o genial inventor Thomas Edison (1847-1931): “Conta-se que, em determinada fase de sua vida, Thomas Edison trabalhava como telegrafista noturno de uma estação ferroviária. E, para poder dormir nos intervalos possíveis, sem faltar a seu importante dever, idealizou um recurso: punha um cubo de vidro na beira de uma mesa e da torneira fazia correr água, em volume calculado, para enchê-lo em determinado tempo. Deitava-se embaixo do cubo e quando esse se enchia, transbordava e a água lhe caia no rosto, acordando-o em tempo para atender ao primeiro trem. Semelhantemente, estamos girando numa corrente contínua de ações, para o bem ou para o mal, rumo ao depósito do tempo. O que dele transborda volta sobre nós, impelindo-nos a novas ações. Não importa que adormeçamos, como Edison, pois o sono da morte não pode invalidar as ações do espírito imortal. Um novo nascimento ocorrerá exatamente quando o depósito do tempo estiver cheio, para que o espírito recolha o que semeou. É sobremodo importante compreendermos, com toda a clareza, o seguinte ponto de vista: não é o fato de termos nascido num determinado instante que nos determinará certo destino. Se assim fosse, teríamos razões de sobejo para renegar a fatalidade de nascer sob má configuração e para ficar aborrecidos com Deus, de sofrer tão má fortuna, sem direito de escolha. Em verdade, somos impulsionados ao renascimento no instante em que os raios dos Astros prevalecentes correspondem às inclinações de caráter formadas por nós. Edison ficaria aborrecido se alguém o despertasse do modo descrito, jogando-lhe água na cabeça. No entanto, sabendo que isso lhe acontecia porque ele mesmo o preparara, antes de dormir e, ciente de que isso lhe era vantajoso, ficava até satisfeito. Igualmente, quando compreendemos que nossas atuais circunstâncias foram determinadas por nossos atos passados; quando sabemos que os Astros apenas marcam o momento mais favorável para recolhermos o que semeamos, então, ficamos, também, satisfeitos e tratamos de aprender as lições da vida, em vez de maldizer nossa falta de faculdades ou de privilégios.”
(de: Introduction: L’astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Creio que um dos mais misteriosos personagens da Bíblia seja Melquisedeque:
Para entendermos tal mistério, seria muitíssimo interessante entender o plano evolutivo divino, o Plano da Evolução, no qual todos nós estamos inseridos, e do qual muita coisa já fez história.
Estamos num Período do nosso esquema evolutivo conhecido, na terminologia Rosacruz, por Período Terrestre. Nesse Período temos a divisão por Épocas. Essas Épocas são descritas na Bíblia, no Livro do Gênesis. Até agora passaram 4 Épocas: Polar, Hiperbórea, Lemúrica e Atlante.
Durante a Época Hiperbórea, nós, seres humanos, nos manifestávamos aqui, quando renascidos, como seres bissexuais (masculino e feminino). E com características de apatia e falta de aspiração, como hoje é a maioria das plantas, que fazem parte do Reino vegetal. Na Bíblia temos uma descrição detalhada quando vivíamos no Jardim do Éden. Éramos guiados em tudo pelas Hierarquias Divinas como um doce infante que começa uma longa jornada. A Bíblia trata as Hierarquias dessa Época como Reis de Edom, como pode ser verificado no Livro dos Números (20:14-21).
Na próxima Época, conhecida como Época Lemúrica, começamos a se manifestar, quando renascidos aqui, nos dois sexos que hoje conhecemos como masculino e feminino. O motivo foi a utilização de metade da força sexual criadora para a construção de órgãos que pudessem fazer-nos criar nessa Região Química do Mundo Físico, quais sejam: o cérebro e a laringe. Entretanto, apesar da separação dos sexos, não nos tornamos conscientes de imediato dessa separação. Isso porque estávamos muito mais voltados para os Mundos espirituais. Pouca consciência tínhamos do Mundo Físico, e, portanto, pouca atenção dávamos para tudo que nele se passava. Não conhecíamos nem o nascimento e nem a morte. Não tínhamos a consciência da geração de um novo corpo, da mesma forma que hoje não temos a consciência do ato da digestão. Outra distinção desta Época foi que todos nós formávamos uma única raça, a Raça Lemúrica. Éramos guiados pelas Hierarquias Divinas. Obedecíamos cegamente, pois tínhamos toda a confiança em sua sabedoria. Por estarmos enfocados nos Mundos espirituais sabíamos que a sua orientação era a mais correta.
Toda orientação espiritual que precisávamos era provida por essas Hierarquias. Nelas estavam todos os ensinamentos espirituais do qual necessitávamos e tínhamos confiança nisso. Eram os nossos confiáveis Sacerdotes, que nos guiavam espiritualmente. Toda orientação de como devíamos nos conduzir nesse novo Mundo Físico, até então muito obscuro para nós, era provida também por essas Hierarquias.
Nelas estavam todos os ensinamentos temporais do qual necessitávamos e tínhamos confiança nisso. Eles eram os nossos sábios Reis, que nos guiavam temporalmente.
Melquisedeque, então, era o nome simbólico dessas divinas Hierarquias que desempenhavam o duplo ofício de Sacerdote e Rei. O nome Melquisedeque, Rei de Salém, significa Paz e naquele tempo tudo reinava sobre um perfeito clima de Paz e de Fraternidade Universal.
Perceba que os papéis de Líder Espiritual e Líder Temporal estavam concentrados em uma única pessoa, as Hierarquias Divinas. Entretanto, o tempo foi passando e nós procuramos nos tornar mais e mais conscientes do Mundo Físico. Afinal esse é o Mundo onde devemos nos desenvolver, conhecer e aprender; em outras palavras: aqui é o baluarte da nossa evolução.
Por meio da inestimável ajuda dos Espíritos Lucíferos, os Anjos atrasados vindos do guerreiro Planeta Marte, nós tivemos a sensação da existência desse Corpo Físico durante o ato gerador. Encontramos esse maravilhoso momento de descoberta na Bíblia, quando lemos que: “Adão conheceu a Eva” ou quando lemos que comemos da “árvore do conhecimento” a partir de onde conhecemos a morte, a dor e o sofrimento nessa Região Química do Mundo Físico.
Com esse passo importante dado, fomos, aos poucos, conhecendo esse Mundo Físico, ao mesmo tempo em que fomos perdendo a consciência dos Mundos espirituais e, consequentemente, perdendo o contato consciente com as Hierarquias Divinas, até então, nosso líder seguríssimo nessa evolução.
Somente alguns de nós conservamos tal visão espiritual que nos conferia um perfeito relacionamento com tais Hierarquias. Estes poucos foram os profetas que lemos na Bíblia e que, por um bom tempo, atuaram como mensageiros entre aqueles Líderes Divinos e nós.
Nesse momento, já estávamos próximos da nova Época de nosso esquema evolutivo, a chamada Época Atlante. Fomos, então, diferenciando-nos devido à facilidade que uns tinham de assimilar o conhecimento desse Mundo Físico em relação aos outros. A diferenciação começou a ficar tão grande que houve a necessidade de nos dividirmos em Raças.
Com isso, tornou-se mais fácil cada Raça ter as lições específicas que necessitariam aprender. Contudo, com isso, também, nós começamos a sentir falta de governantes no Mundo Físico, onde todos nós pudéssemos vê-los, pois nem todos nós tínhamos a segurança da orientação das Hierarquias Divinas, das quais já não podíamos ver. E começamos a desejar que pudéssemos escolher nossos próprios guias e exigimos reis visíveis. Veja na Bíblia em I Samuel 7:15-17, 9:5 e 10:1, a exigência de se ter Saul como rei, enquanto Samuel era o sacerdote. Foi então que surgiram os Reis e os Sacerdotes. Veja, Moisés, um guia temporal e regente do povo judeu, e Aarão, sacerdote que cuidava do bem-estar espiritual, no mesmo momento.
Ao sacerdote cabia oferecer cada dia vítimas (animais), primeiro por seus próprios pecados e depois pelos pecados do povo. Perceba que o duplo papel de Sacerdote e Rei que as Hierarquias Divinas desempenharam no passado e que trazia coesão entre essas duas funções de evolução proporcionando toda a paz para o desenvolvimento, foi, então, dividido para 2 seres humanos.
Isso ocorreu porque não se encontrou ser humano suficientemente versado nos negócios do Mundo Físico para exercer o ofício de Rei e, que, ao mesmo tempo, tivesse o conhecimento dos negócios espirituais para desempenhar o ofício de Sacerdote.
Também não se encontrou um ser humano suficientemente capaz de guiar espiritualmente o povo, como Sacerdote e, que, ao mesmo tempo, tivesse o conhecimento para dirigir os interesses materiais de um governo temporal, como um Rei.
Daí originou-se a classe sacerdotal, por exemplo, dos Levitas entre os Judeus, dos Brâmanes entre os hindus. Concentravam os poderes eclesiásticos. Eram batizados pela água, onde se consideravam Iniciados no ofício de Sacerdote.
Daí originou-se os Reis, que no princípio eram Iniciados, Filhos da Luz. Concentravam os poderes temporais.
Eram batizados pelo fogo, onde se consideravam Iniciados no ofício de Rei.
Com a separação dessas duas funções, uma orientando para o desenvolvimento material e outra para o desenvolvimento espiritual, criou-se uma área de atrito.
Senão vejamos: o Rei tinha a seu cargo o desenvolvimento material do povo. No seu mais alto conceito, procurava governar o povo atendendo tão somente a prosperidade material. Já o Sacerdote tinha a seu cargo o desenvolvimento espiritual do povo. No seu mais alto conceito, aspirava, tão somente, o progresso espiritual do povo.
Forçoso, então, que tal separação de governos criasse conflitos, mesmo que Reis e Sacerdotes trabalhassem com intenções as mais elevadas e nobres possíveis. E é o que sempre estamos até hoje vendo: com a separação do poder espiritual da Igreja (Sacerdote) e do poder temporal do Estado (Rei) produzimos guerras, lutas, opressão, escravidão e derramamentos de sangue, porque se trata de duas funções que aparentam ter interesses diametralmente opostos.
Porque cada um desses poderes luta para ter supremacia: o Estado abraça a causa da Paternidade e do homem, mantendo o alto ideal das Artes, Ofícios, Indústrias, construtores no Mundo Físico, tendo como ideal masculino Hiram Abiff, depois renascido como Lázaro – no tempo de Cristo Jesus – depois Christian Rosenkreuz, da linhagem de Caim e disposto a servir ao Cristo.
A Igreja abraça a causa da Maternidade e da mulher, mantendo o alto ideal do amor e do lar, tendo como ideal feminino a Virgem Maria, também Salomão, depois renascido como Jesus, da linhagem de Seth e disposta a servir ao Cristo.
Já não há aquela paz que havia na época de Melquisedeque, o Rei de Salém, onde só havia paz. Todo esse sofrimento ocorre porque nós não entendemos que nenhum que não seja tão espiritual como um Sacerdote está preparado para governar como Rei e, ninguém que não tenha a sabedoria e a justiça de um Rei pode estar preparado para ser o guia espiritual de humanidade, como Sacerdote.
Agora, já estamos na Época Ária, a 5° Época. Vivemos tal divisão de poderes e muitos são testemunhas de quanto sofrimento isso nos tem causado. Contudo, é importante termos uma ideia de quanto aprendemos com tudo isso. Desenvolvemo-nos até o máximo grau possível nessa Região Química do Mundo Físico, transformando-o num paraíso para o nosso desenvolvimento e para o desenvolvimento de muitas outras ondas de vida. Todas as formas de criação que já imaginamos fazem parte da história do nosso Planeta Terra, sim, o baluarte da nossa evolução.
A parte espiritual alternou em ocasiões de obscuridade e de iluminação. Caminhamos muito pelo dogmatismo, pela fé ingênua, pelo medo do desconhecido, pela iluminação, e agora, pela consciência divina da certeza para onde vamos, pela religião esotérica, pelo desvendamento dos mistérios ocultos.
Entretanto, todo esse sofrimento causado pela separação dessas duas funções só terá fim quando essas qualidades se combinarem num só ser novamente, então o reino da paz e da fraternidade universal voltará.
Por causa dessa necessidade de aparecer tal ser, é muito significativo que o relato bíblico comece, no primeiro capítulo do Gêneses, no Jardim do Éden, onde a humanidade se manifestava bissexual, quando aqui renascida, e inocente, além de inconsciente desse Mundo Físico. Depois, no segundo capítulo, lemos sobre o processo da separação dos sexos, da desobediência ao comer o fruto da Árvore do Conhecimento e do consequente castigo ao “parir seus filhos com dor e ao estar sujeito à morte”, ou seja, a consciência da existência do seu Corpo Denso, o físico, e do Mundo Físico que o cerca. A partir daí o Antigo Testamento nos relata as guerras e as lutas e, no seu último capítulo profetiza a aparição de um Sol de justiça com a solução para todo esse sofrimento.
Já, no Novo Testamento, começa com o relato do nascimento de Cristo, que proclamou o futuro estabelecimento do Reino dos Céus. Como lemos na Epístola de São Paulo aos Hebreus 1:1-2:
“Muitas vezes e de modos diversos, falou Deus outrora a nossos pais pelos profetas. Nos últimos dias nos falou pelo Filho, que constituiu herdeiro de tudo, por quem criou também o mundo”.
Naquele tempo todos os Sacerdotes do povo judeu vinham de uma ordem chamada Tribo de Levi. Entretanto, era uma ordem fundada na descendência carnal de “homens mortais”, sob a Lei que os fazia sacerdotes pecadores.
Jesus nasceu da Tribo de Judá que não tinha tradição de sacerdócio. Como lemos em Hebreus 7:13-14:
“Pois bem: aquele a quem se aplicam estas palavras é de outra tribo, da qual ninguém se consagrou ao serviço do altar. Pois é notório que Nosso Senhor nasceu de Judá, a cuja tribo Moisés nada disse a respeito do sacerdócio”.
Ainda assim, Jesus Cristo foi tido como “Sumo Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque” como lemos em Hebreus 6:20. Essa ordem de sacerdócio é superior à de Levi, como lemos em Hebreus 7:1-10. O anúncio dessa ordem foi necessário porque a ordem de Levi fora incapaz de levar à perfeição.
A ordem de Melquisedeque se baseia na vida imortal de Cristo glorioso, como lemos também em Hebreus 7:15-17: “Isto se torna ainda mais evidente, se à semelhança de Melquisedeque se levanta outro sacerdote, instituído não segundo a norma de uma lei que baseia na carne, mas segundo a força de vida indestrutível”.
Sendo a ordem de Melquisedeque mais perfeita, o que era imperfeita e provisória fica abolida como lemos em Hebreus 7:18-19: “Com isso está abolida a antiga legislação devido à sua ineficácia e inutilidade”.
Esse novo sacerdócio substitui o grande número de sacerdotes por um único e eterno sacerdote: Cristo. E ele é o Sacerdote que nos faltava, pois em Hebreus 7:26-28, lemos: “Tal é o efeito o Sumo Sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mácula, separado dos pecadores e mais alto do que os céus. Pois não necessita, como o sumo sacerdote, oferecer cada dia vítimas, primeiro por seus próprios pecados e depois pelos pecados do povo. Ele o fez uma única vez, oferecendo-se a si mesmo. É porque a Lei fez sumos sacerdotes homens sujeitos à fraqueza, mas a palavra do juramento, que sucedeu à Lei, constituiu o Filho eternamente perfeito.”
Assim as qualidades de Rei e de Sacerdote se combinam no Cristo, num só Ser novamente, então é ele que nos traz o reino da paz e da fraternidade universal.
Na sua primeira vinda ele inaugurou essa nova fase de busca a esse Reino da Paz e da Fraternidade Universal, limpando os Pecados do Mundo e nos dando a Doutrina Cristã. Somente o Cristo é capaz de unir a Igreja e o Estado como Rei e Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, Rei de Salém.
Na sua segunda vinda inaugurará a idade de paz e alegria em que a simbólica “Nova Jer-u-salém” (onde mora a Paz) reinará sobre as nações, novamente unidas numa única raça, em uma Fraternidade Universal.
Estaremos na 6° Época, a próxima, conhecida como a da Nova Galileia. Estaremos, novamente, sob o comando de um Sumo Sacerdote da ordem de Melquisedeque, só que, então:
Que As Rosas Floresçam em Vossa Cruz
Resposta: Certamente poderia ter sido realizada sem o método específico da crucificação ou crucifixão, mas era absolutamente necessário que o sangue fluísse. Há vários graus de Mestres e eles exigem condições diferentes para o cumprimento de suas tarefas. Alguns Mestres, como Moisés e Buda, vêm para uma nação ou um povo e ajudam-na até determinado ponto; eles mesmos evoluem nesse processo; e ambos os Mestres mencionados atingiram um ponto em seu próprio desenvolvimento em que seus corpos se iluminaram. Ouvimos quão o rosto de Moisés brilhou e de tal forma que foi necessário ele utilizar um véu. Buda se iluminou no momento de sua morte. Cristo atingiu o estágio de iluminação no momento de Sua transfiguração, e é muito significativo que a parte mais importante de Sua obra, do Seu sofrimento e da Sua morte ocorreram após o evento da Transfiguração. E para Moisés, Elias, Buda e os outros Mestres anteriores foi necessário que nascessem em um Corpo Denso repetidas vezes, a fim de suportar os pecados do povo para os quais eles vieram, Cristo apareceu apenas uma única vez em um Corpo Denso e não necessitará tomar para Si mesmo tal instrumento novamente. Pois, quando o Espírito deixa o corpo de forma natural, leva consigo certas impurezas à medida que se retira lentamente do sangue coagulado. Mesmo num corpo tão puro como o Corpo Denso de Jesus, havia impurezas, e a morte violenta que fez o sangue fluir libertou o Ego de Cristo do sangue com um movimento via uma torção violenta e rápida, deixando para trás qualquer impureza que poderia existir naquele Corpo Denso, de forma que Cristo emergiu do Corpo de Jesus imaculado e sem os laços do destino que, geralmente, acompanham a vida no Corpo Denso.
Baseados no mesmo princípio, é um fato que, embora atualmente tenhamos guerras que devem ser lamentadas do ponto de vista meramente humano, no entanto, é patente para o ocultista que essas guerras purificaram consideravelmente o sangue dos povos envolvidos, de modo que a humanidade, gradualmente, se torna menos violenta e mais e mais espiritual. Podemos ainda dizer que nesse fato se reflete a característica redentora do sacrifício de animais. Quando a humanidade passou pelo estágio animal, não possuía sangue vermelho passional como nossos animais; não éramos tão evoluídos. Os animais de hoje, embora inferiores a nós na evolução, encontram-se em uma espiral mais elevada e, enquanto estamos sofrendo sob a Lei de Consequência por termos que superar nossas paixões com a nossa própria força de vontade, os animais estão sendo ajudados e mantidos sob controle pelos seus Espíritos-Grupo. E quando atingirem o estágio humano no Período de Júpiter, se tornarão uma humanidade superior, livre das paixões que fizeram desse mundo um lugar tão desolador. Dessa forma, a natureza sempre transmuta qualquer mal que possamos cometer num bem mais elevado.
Respondendo à pergunta, podemos dizer que, no caso de Cristo a morte violenta foi necessária porque possibilitou que o Espírito de Cristo se retirasse do Corpo Denso de Jesus sem reter nenhuma das impurezas inerentes ao veículo meramente humano.
(Pergunta nº 101 do livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, Vol. I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
Por Corinne Heline
CAPÍTULO VIII – OITAVA SINFONIA – FA MAIOR – OPUS 93
Nunca a arte ofereceu ao mundo algo tão sereno como as Sinfonias em Lá e em Fá Maior e todos aqueles trabalhos tão intimamente relacionados a elas que o mestre produziu durante o período divino de sua surdez. O seu primeiro efeito sobre um ouvinte é colocá-lo livre de um sentimento de culpa, enquanto dá nascimento a um sentimento de paraíso perdido ao retornar ao mundo dos fenômenos. Desse modo, esses maravilhosos trabalhos preconizam arrependimento e reparação no sentido da divina revelação.
Nesta Sinfonia, há pensamentos musicais intensos, há passagens que, por um momento, soam as profundezas e alcançam as alturas… Sem a grandiosidade da Quinta Sinfonia ou o romance da Sétima, ela contém um final perfeito e um rico estoque de bom humor.
Romaine Rolland[1]
A Oitava Sinfonia teve sua primeira apresentação em Viena, em 20 de abril de 1813. Sua nota-chave espiritual é harmonia.
Os antigos declararam que o número oito contém a marca da divindade e isso é o que a Oitava Sinfonia representa. Berlioz[2] declara que o modelo dessa Sinfonia foi formulado no céu e caiu dentro do cérebro do compositor. Um crítico de arte, escrevendo sobre essa Sinfonia, diz que ela é um brinquedo divino na região do pensamento tonal. Mais adiante, ele diz que a Sétima é uma arte épica ao máximo, então a Oitava Sinfonia é arte lírica em sua plenitude. A Oitava tem sido chamada de “um épico de humor”. Suas quatro divisões são permeadas com um sopro de alegria e transbordam em excêntrico humor. Um leve e caprichoso espírito de felicidade se difunde completamente. É deliciosa em sua totalidade. Dizem que Beethoven olhava-a com ternura e se referia a ela como sua “pequenina”. Talvez fosse por causa de seu espírito despreocupado e, também, porque é a menor das nove.
As duas primeiras partes estão cheias de alegria e suas harmonias extasiantes continuam a tecer e a entretecer através de toda a terceira parte. Ao invés do usual Scherzo, esse terceiro movimento é um lindo e majestoso minueto. Embora delicadamente caprichoso, ele, ao mesmo tempo, toca uma nota mais grave. Foi comparado por alguns escritores a uma exultante risada. E é verdade. Ele soa uma gargalhada triunfante de uma alma emancipada que encontrou sua própria herança divina de imortalidade consciente e a divina bem-aventurança da liberdade cósmica. Como Pitts Sanborn diz “não é o riso de regozijo infantil ou de frivolidade desesperante e imprudente”. Pelo contrário, é o “vasto e interminável riso de que Shelley[3] fala em Prometheus Unbound[4]. É o riso de um homem que amou e sofreu e, escalando as alturas, alcançou o cume. Só uma ou outra nota de rebeldia se intromete momentaneamente; e, às vezes, em repouso lírico… uma intimidação da Divindade mais do que o ouvido descobre”.
O Finale sobe a alturas ilimitadas em ritmo e fantasia. Irregularidades repentinas e ritmos interrompidos servem para criar uma atmosfera de mistificação deliberada. É fantasia altamente carregada designada para levar o ouvinte além dos estreitos confins da mente concreta.
A Oitava Sinfonia é, no entanto, uma outra composição que o grande gênio criativo de Beethoven deu ao ser humano para ajudá-lo em seus objetivos espirituais, que era seu verdadeiro destino perseguir e cumprir.
George Grove[5], em seu trabalho “Beethoven´s Nine Immortals” descreve o poder de Beethoven de abstrair-se do mundo externo e viver num mundo de sonho dele próprio. Seu ideal, como o de todos os grandes heróis, teve pouco interesse no mundo e nas poucas pessoas em volta dele. Ele foi um pico de uma montanha solitária e elevada que olhava para os vales. Seus olhos testemunhavam um solitário homem espiritualmente faminto. Seu idealismo sobrepassava seu julgamento. Era difícil para ele aceitar coisas realmente diferentes das que ele idealizava. Nos seus últimos anos ele mergulhou em profunda ternura e doce melancolia, resultando no que ele denominou sua “tendência feminina”.
Beethoven foi um instrumento usado pelo Espírito da Música para se realizar mais do que um homem que meramente compôs música. Em sua música, sempre criando mundos, seu grande gênio foi mostrado em seus movimentos rápidos, pois eles refletem os ritmos das órbitas celestes que se movem com mais velocidade que a luz.
Gustav Nottebohn[6], em seus Esboços de Eroica, observa que Beethoven alcançou um tipo de melodia que alguns chamaram de absoluta e, compondo seus últimos trabalhos, ele ficava verdadeiramente “possuído”. Sua Mente Superior assumiu a direção. Então, não trabalhou do pormenor para o todo, mas começou do todo para o pormenor. Sob um estado subconsciente, uma composição era como um todo antes que ele começasse a pensar nos detalhes. Um poeta expressou essa mesma verdade nas palavras: “Você não teria me procurado a menos que já tivesse me encontrado”.
Referimo-nos repetidamente às Nove Sinfonias como música cósmica. Quando Beethoven as escreveu, elas eram obviamente para demonstrar musicalmente as verdades fundamentais da polaridade. As Sinfonias ímpares possuem a grandiosidade, a rapidez, a ousadia, a coragem, a inovação e todas as qualidades masculinas dominantes. As de números pares são doces, ternas, dóceis, calmas, características do feminino.
A Quinta em Dó Menor teria seguido a Terceira, ou a Eroica. Beethoven colocou em prática esboços como elas originalmente chegaram a ele, de acordo com seus biógrafos. Algo em sua natureza antecipou isso até que a mais gentil Sinfonia em Si Maior, a Quarta, inseriu-se num modelo divino que a colocou imediatamente depois da poderosa Terceira. Então, seguindo a Épica Quinta, segue-se a Sexta ou Sinfonia Pastoral como um companheiro contemplativo.
Outra vez, após um espaço de quatro anos, Beethoven produziu outro par de afinidades complementares: a Sétima, de força masculina, e a Oitava, de atributos femininos, as duas produzidas em 1862 em sequência.
Finalmente, quase dez anos mais tarde, apareceu a magnífica mistura de opostos, que tinham se alternado nas precedentes oito Sinfonias e culminou na grandiosidade da Nona.
Oitava Iniciação
A oitava Iniciação está relacionada com a oitava camada da Terra conhecida como Estrato Atômico. O poder dessa Iniciação é tal que um objeto situado nesse Estrato, quando usado como um núcleo, pode ser multiplicado à vontade. Era o poder dessa oitava Iniciação que o Senhor estava demonstrando aos Discípulos quando multiplicou os cinco pães e os dois peixes e alimentou cinco mil – com doze cestas cheias de sobra[7].
Muito pode ser dito sobre essa Iniciação, excetuando que o participante tem que ter conquistado domínio sobre si mesmo e sobre o Mundo material. Uma harmonia básica é um requisito para a entrada nesse elevado Rito. As essências da experiência adquiridas através das Iniciações que precederam são aqui transformadas em poder anímico de tal força que uma tão esperada harmonia se torna a nota-chave da vida. O ser nunca mais explodirá numa experiência emocional, nem será indevidamente sacudido por eventos dolorosos ou agradáveis. Ele achou agora para sempre aquela profunda e intensa calma e paz à qual São Paulo se referiu quando disse que de fato nenhuma das coisas do mundo exterior o comoviam.
A esfera celestial chamada no ocultismo de Mundo dos Espíritos Virginais está refletida no oitavo Estrato da Terra. É nesse nível de vida que Deus diferencia dentro d´Ele as entidades que constituem uma Onda de Vida evolutiva. É desse plano que esses seres divinos em embrião entram em sua jornada evolutiva eterna através do tempo, espaço e matéria. Nesse estágio, os Espíritos Virginais possuem só consciência divina. O fim a ser atingido através de sua Involução dentro da matéria é a autoconsciência, quando o processo evolutivo o leva de volta à consciência Divina.
Na oitava Iniciação, o Iniciado é levado para muito além do mundo humano. As palavras são inadequadas para descreverem as maravilhas e as glórias daquele Mundo espiritual no qual ele é permitido entrar. A sublime música da Oitava Sinfonia transcreve algumas das maravilhas daquele Mundo.
Toda alma iluminada canta sua própria canção de realização. Essa canção é, às vezes, uma expressão de aspiração, busca, agonia, desilusão e mesmo de completa escuridão. Então, como a agonia continua, segue-se uma nova, fresca e sempre profunda dedicação, que culmina eventualmente numa vitória de completa conquista de si próprio. Essa foi a canção de alma que Moisés cantou na vitória do Mar Vermelho, uma vitória que se referiu não tanto a uma ocorrência física, mas a uma transmutação perfeita em seu interior. Outras canções de alma de tal alcance são os imortais Salmos de Davi e a melhor de todas as canções de amor, o 13º capítulo da 1ª Epístola aos Coríntios[8]. Também a Canção do Cisne de Lohengrin naquele magnífico drama musical que leva o seu nome.
É essa mesma Canção de Realização que é ouvida na Oitava Sinfonia de Beethoven composta não em palavras, mas na linguagem tonal trazida inspiradamente do mundo celeste do som. O Finale dessa Sinfonia ressoa toda a profunda alegria do Ser Emancipado. É a Canção de Alma daquele que aprendeu, por sua divindade inata, a reivindicar sua herança que é a Liberdade Cósmica. Essa é a nota-chave da oitava Iniciação e o elevado tema musical da Oitava Sinfonia.
O elevado trabalho dessa oitava Iniciação está exemplificado na música dessa Sinfonia que é tão suave, linda e cheia de tal corrente de força que parece cantar a habilidade de acalmar a violenta tempestade ou de remover montanhas de seus lugares. A música da Oitava Sinfonia é a expressão do Feminino altamente aperfeiçoado, aquele poder espiritual que o alquimista descreveu como o Feminino em Exaltação.
[1] N.T.: Romain Rolland (1866-1944) foi um novelista, biógrafo e músico francês.
[2] N.T.: Hector Berlioz (1803-1869) foi um compositor romântico francês.
[3] N.T.: Percy Bysshe Shelley (1792-1822) foi um dos mais importantes poetas românticos ingleses.
[4] N.T.: Prometheus Unbound é um drama lírico em quatro atos de Percy Bysshe Shelley, publicado pela primeira vez em 1820. Trata-se dos tormentos da figura mitológica grega Prometeu, que desafia os deuses e dá fogo à humanidade, pelo qual é submetido ao castigo eterno e sofrimento nas mãos de Zeus.
[5] N.T.: Sir George Grove CB (1820-1900) foi um engenheiro e escritor inglês sobre música, conhecido como o editor fundador do Grove’s Dictionary of Music and Musicians.
[6] N.T.: Martin Gustav Nottebohm (1817-1882) foi um pianista, professor, editor musical e compositor que passou a maior parte de sua carreira em Viena. Ele é particularmente celebrado por seus estudos de Beethoven.
[7] N.T.: “Cristo Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé. Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes. Chegada a tarde, aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: “O lugar é deserto e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si”. Mas, Cristo Jesus lhes disse: “Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ao que os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. Disse Cristo Jesus: “Trazei-os aqui”. E, tendo mandado que as multidões se acomodassem na grama, tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu e abençoou. Em seguida, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram. Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.” (Mt 14:13-21).
[8] N.T.: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, eu nada seria. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria. A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais passará. Quanto às profecias, desaparecerão. Quanto às línguas, cessarão. Quanto à ciência, também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança. Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido. Agora, portanto, permanecem fé, esperança, caridade, essas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade.” (ICor 13:1-13).
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Aqui a Oitava Sinfonia em MP3:
Peixes é o 12º Signo do Zodíaco e, portanto, nele termina o ano astrológico. Signo Comum, a palavra-chave de sua natureza é: Flexibilidade.
Cristo foi o grande e bom Pastor (Áries), mas chamou a Seus Discípulos “pescadores de homens”, porque o Sol, por Precessão dos Equinócios, estava, então, abandonando o Signo de Áries, o Cordeiro, e entrava em Peixes, o Signo dos peixes. Portanto, se abria uma nova fase da Religião Ária, a Religião Cristã. Para mostrar essa transição, de Áries para Peixes, em que surgiu a Religião Cristã, os bispos da Igreja Católica usam um cajado (Pastor, Áries) e uma mitra, chapéu em forma de uma cabeça de peixe (Peixes).
No Novo Testamento não se faz menção ao touro ou ao cordeiro, mas, em compreensão, alude muitas vezes aos peixes. Encontramos também ali a Virgem Celestial (Virgem), mui proeminente, e a espiga de trigo de Virgem (que rege os grãos). É o pão da vida, conquistado por meio da pureza imaculada. Deste modo, a realização do ideal Cristão está indicada no Zodíaco pelos dois Signos Comuns Opostos, Peixes e Virgem. Aí encontramos a explicação do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes[1], isto é, o ideal Cristão dado como alimento para uma nova Era, a multidão.
Na Era de Virgem, a nova Religião do Cordeiro, Áries, não teria sido possível ainda. Moisés, o primitivo líder, não poderia então levar o povo escolhido a “Terra Prometida”. Isto ficou para ser feito por Josué, o filho de Nun. Ora, Josué, em hebraico, significa “Jesus” e Nun significa “Peixes”. Deste modo ficou profetizado que a Religião do Cordeiro (Áries) alcançaria sua proeminência durante a passagem do Sol, por Precessão dos Equinócios, pelo Signo de Peixes (os peixes).
Esta profecia foi totalmente cumprida, pois, durante os mais de 2.000 anos transcorridos desde o nascimento de Jesus, a Religião do Ocidente vem sendo ensinada por um sacerdócio celibatário, adorado na Virgem Imaculada, simbolizada pelo Signo celestial de Virgem, oposto a Peixes. Este mesmo sacerdócio tem se alimentado de peixes e proibido o uso de carne (Áries, Touro) em determinados dias.
Quando os filhos de Israel abandonaram as orlas de carne do Egito, onde o touro foi degolado, fizeram-no pelo sangue do cordeiro (Áries), com que se pintaram as portas das casas israelitas que deveriam passar ilesas pela peste.
(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – fevereiro/1964 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.R.: “Jesus, ouvindo isso, partiu dali, de barco, para um lugar deserto, afastado. Assim que as multidões o souberam, vieram das cidades, seguindo-o a pé. Assim que desembarcou, viu uma grande multidão e, tomado de compaixão, curou os seus doentes. Chegada a tarde, aproximaram-se dele os seus discípulos, dizendo: “O lugar é deserto e a hora já está avançada. Despede as multidões para que vão aos povoados comprar alimento para si”. Mas Jesus lhes disse: “Não é preciso que vão embora. Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ao que os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. Disse Jesus: “Trazei-os aqui”. E, tendo mandado que as multidões se acomodassem na grama, tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu e abençoou. Em seguida, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram. Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.” (Mt 14:13-21)
Max Heindel
Quando Cristo esteve diante de Pilatos, esse Lhe fez uma pergunta que tem sido repetida por todas as eras desde que o ser humano começou a buscar conhecimento sobre o problema cósmico, a saber: “o que é a Verdade?“. A Bíblia responde à pergunta dizendo que: “Tua palavra é Verdade”. E, quando nós nos voltamos para o maravilhoso primeiro capítulo do místico Evangelho Segundo São João, lemos que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus; e nada do que tem sido feito foi feito sem Ele, n’Ele havia a Vida”. Assim, temos um maravilhoso alimento para meditação a partir desses significados e relações de sinônimo entre as palavras Verdade, Deus e Vida.
Um grande obstáculo para a maioria dos que buscam a verdade é que eles procuram encontrar uma fé que seja entregue “de uma vez por todas”, completa e imutável. Falham em ver que a Verdade é a Palavra de Deus. A primeira sílaba do decreto criador foi proferida no início da Evolução e cada uma das suas palavras, desde então, tem soado para nossa elevação, como as palavras de uma frase que lentamente revelam o significado projetado pelo orador.
A nota-chave de todo avanço ainda está soando; enquanto toda a Palavra não tenha sido proferida, a sentença não estará completa e a Verdade não estará revelada a nós em Sua plenitude, até que nossa própria trilha de desenvolvimento espiritual nos tenha dado o poder de espírito necessário para entender a Verdade final.
Logo, vemos que a grande Palavra criadora da Verdade e da vida está reverberando no universo hoje, mantendo e sustentando tudo o que é e nos revelando a medida tão grande da Verdade quanto agora somos capazes de compreender. É dever nosso procurar entender essa Verdade divina da melhor maneira possível para que possamos vivê-la e nos encaixar no Plano Divino; também devemos manter nossas Mentes em um estado de flexibilidade para que, à medida que visões maiores e mais nobres da Verdade se desdobrem diante de nossos olhos espirituais, possamos estar preparados para assumir o novo, deixando o velho para trás, como o Náutilos mencionado por Oliver Wendell Holmes, que constrói sua pequena câmara, uma um pouco maior do que a anterior e assim por diante, até que finalmente deixe a casca superada e parta a uma nova evolução. Portanto, que esse também seja nosso o esforço:
Ó minha alma, constrói para ti mansões mais majestosas
Enquanto as estações passam ligeiramente!
Abandona o teu invólucro finalmente;
Deixa cada novo templo mais nobre que o anterior,
Com cúpula celeste com domo bem maior,
E que te libertes decidida, largando tua concha superada nos agitados mares
desta vida!
Em cumprimento a essa política divina de adequar a Verdade à nossa capacidade de compreensão, diferentes Religiões foram fornecidas à humanidade em vários momentos, cada uma adaptada àquela classe específica de pessoas que devessem crescer com ela. Para os chineses veio o Confucionismo; aos indianos foi ensinada pela primeira vez a doutrina da Trindade na Unidade: Brahma, Vishnu e Shiva — o Criador, o Preservador e o Destruidor eram aspectos de uma Deidade que a tudo incluía, análoga ao nosso próprio Pai, Filho e Espírito Santo. Depois veio o Budismo, que tem sido chamado de Religião sem Deus, porque enfatiza particularmente a responsabilidade do ser humano por suas próprias condições.
Não pergunte algo aos deuses indefesos com oração ou hino,
Nem os suborne com sangue, nem alimente com frutas ou bolos.
Dentro de vocês, a libertação deve ser buscada,
Cada homem que sua prisão faz,
Cada um tem poderes como os mais altos,
Não com deuses ao redor, acima, abaixo,
E com todas as coisas e tudo o que respira
Aja com alegria ou desgraça.
Como o Hinduísmo afirma a existência do poder divino acima do ser humano, o Budismo afirma a divindade do próprio ser humano. Também descobrimos que Moisés, o líder divino que guiou seu povo para a mesma conquista, enfatizou isso de maneira semelhante, no chamado “Cântico de Moisés”, onde chama a atenção dos hebreus para o fato de que já tinhamsido liderados pelos poderes divinos, mas depois receberam a escolha, a prerrogativa de poder moldar seu próprio destino.
Contudo, ele também lhes disse que seriam responsabilizados pelas consequências de seus atos sob as leis outorgadas por seu governante divino, mas daí em diante invisível. Gradualmente, outras Religiões evoluíram no Egito, na Pérsia, Grécia e em Roma; também os países escandinavos do Norte receberam um sistema religioso prenunciando, em grande parte, a Religião mais recente e sublime de todas; a saber, a Religião ocidental — o Cristianismo.
Acabamos de celebrar o final do drama cósmico, que se repete anualmente; sendo seu começo o nascimento místico do Cristo no Natal e a morte mística na Páscoa, o seu fim. Pouco antes do ato final do drama, a crucificação, como retratada nos Evangelhos, encontramos o Cristo participando da Última Ceia com Seus Discípulos. Afirma-se que Ele pegou o pão, partiu-o e lhes deu para comer, dizendo: “Este é o meu corpo”. Ele também pegou o “vinho” e todos beberam do sangue místico. Então veio a injunção que iremos observar particularmente: “Façam isso em memória de mim, até que Eu venha”.
Ele também afirmou isso e nesse mandamento depositou a base do Cristianismo: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o coração, toda a mente e ao próximo como a ti mesmo”. É fácil ir à mesa do Senhor nos domingos para comer ou beber com Ele; no entanto, e infelizmente, quão difícil é carregar Sua cruz na segunda-feira, negando a nós mesmos para servir e ajudar os outros. Agindo assim, mais do que merecemos a acusação do poeta: “a desumanidade do ser humano para com o próprio ser humano produz incontáveis lamentações”.
A pergunta “O que é o amor?” parece difícil de responder. O maravilhoso 13° capítulo da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios nos fornece uma ideia; porém é bastante abstrata e, logo, precisamos de algo mais concreto para que possamos trabalhar e trazer a nossas vidas. Tomemos, portanto, como ilustração o amor fraterno em uma família. Nela, os filhos são dos mesmos pais e, portanto, pertencem a um relacionamento real de sangue entre irmãos. Dentro do círculo familiar podemos encontrar um excelente material para nos orientar em relação ao círculo maior da comunhão humana.
Uma das evidências mais impressionantes é que embora, às vezes, irmãos e irmãs discordem e briguem entre si, o amor ainda permanece e eles defenderão alguém da família, se ofendido, tão prontamente quanto qualquer outro também da família. Quando um é atacado, parece agir como apelo ao resto para reunir-se ao resgate e sempre fazem isso, em uma família normal. Se um membro da família comete ato vergonhoso, seus irmãos e irmãs não o publicam nem se alegram com o seu infortúnio, procurando, contudo, encobrir seu erro e achar justificativas, porque sentem uma unidade com ele.
Assim também nos sentiríamos em relação à família maior, se estivéssemos imbuídos do senso Cristão de amor. Procuraríamos desculpar os erros daqueles que chamamos de criminosos, ajudá-los, reformar e não retaliar; além disso, deveríamos sentir que sua desgraça também seja, em realidade e verdade, parcialmente nossa. Quando um de nossos compatriotas consegue um feito notável, sentimos que tenhamos o direito de desfrutar de suas honras. Apontamos com orgulho para todos os filhos notáveis de nossa nação e, em nome da consistência, sentimos vergonha daqueles que falharam devido às condições da família nacional, já que somos verdadeiramente responsáveis por sua queda, talvez até mais do que pelas honras daqueles que as alcançaram.
Na pequena família, quando um dos membros mostra talento, geralmente, todos se unem para lhe dar a oportunidade e a educação que os desenvolverão, pois todos são motivados pelo verdadeiro amor fraterno. Nós, da família universal, geralmente obstruímos e sufocamos os precoces sob o calcanhar da necessidade econômica de ganhar a vida. Não lhes deixamos lazer para a realização. Oh! Que possamos entender nossa responsabilidade universal e procurar, por meio de comissões, nossos irmãos e irmãs mais novos, que sejam talentosos em qualquer direção, para que possamos promover seus talentos visando ao eterno bem-estar da humanidade, bem como socorrer aqueles que agora pisoteamos como criminosos.
Mas o amor não consiste em doações indiscriminadas. Também leva em consideração o motivo por trás dos presentes. Muitas pessoas alimentam o vagabundo na porta dos fundos porque as deixam desconfortáveis pensar que um humano esteja com fome. Isso não é amor. Às vezes, de fato, pode ser um grande ato de amor justamente recusar comida aos mendigos — mesmo que soframos ao pensar em sua atual situação —, se o fizermos com o objetivo de forçá-lo a procurar trabalho e se tornar um membro útil da sociedade. A indulgência com os maus hábitos em pessoas, sem discriminação, pode realmente levar um irmão ou irmã ao caminho descendente. Pode ser necessário, mesmo que desagradável e inoportuno, impedir que tais pessoas sigam desejos tolos. O ponto é esse: independentemente do que nossas ações possam parecer, sob o ponto de vista superficial, devem ser ditadas pela nota-chave do Cristianismo — Amor. Por falta disso, a Igreja está definhando. A luz sobre o altar está quase apagada, muitos foram procurá-la em outro lugar.
Aí reside outro erro grave, pois tal conduta é análoga à da tripulação de um navio que afunda e demora para usar os barcos e salvar o navio. Está certo buscar a luz, mas deve haver o propósito de usá-la adequadamente. Você já esteve perto de uma ferrovia, em uma noite escura, e viu um trem se aproximando? Notou como o farol brilhante envia seus poderosos raios à frente da pista por uma grande distância? Como, quando se aproxima, esses raios cegam aos olhos? Como passa rápido e então, num momento, você está na escuridão total? A luz que brilhava tão forte na frente não envia o menor raio para trás e, portanto, a escuridão parece ainda mais profunda.
Há muitas pessoas que buscam a luz mística e adquirem bastante iluminação; entretanto, como o motor da locomotiva mencionada, elas se concentram e focalizam a pista que elas mesmas devem seguir. Tomam todo o cuidado possível para que nenhum raio se desvie desse caminho, para que todo vestígio de luz possa ser aproveitado e iluminar seu próprio caminho. Trabalham exclusivamente a este propósito: atingir poderes espirituais para si próprios. Estão tão concentrados nesse objetivo que nunca suspeitam da escuridão profunda que envolve todo o resto do mundo.
No entanto, Cristo ordenou que deixássemos nossa luz brilhar, que a colocássemos, como em uma cidade, sobre a colina para que ninguém pudesse deixar de ver; para nunca a escondermos debaixo de um alqueire, mas sempre deixá-la iluminar nosso arredor, até onde seus raios chegassem. Somente na medida em que seguimos essa ordem, somos justificados para buscar a luz mística. Nunca devemos manter um único raio para nosso uso particular, mas nos esforçar dia após dia para nos tornar tão puros que não haja obstrução à divina luz interior, que ela possa fluir através de nós em sua plenitude para toda a família humana, que está sofrendo por falta de Luz e Amor. Muitos de fato são chamados e poucos são escolhidos. Levemos isso a sério, sendo muito zelosos por Cristo em todos os nossos tratos e ações, para que realmente sejamos escolhidos: selecionados para fazer Sua obra de Amor.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de julho de 1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Séculos antes da era Cristã, os essênios, em sua grande ordem mística com ramos em muitas partes do mundo então conhecido, desejavam, como principal objetivo na vida, alcançar o aperfeiçoamento de seus membros em toda a justiça para que pudessem ser dignos de Deus e trazer ao mundo o Grande Messias. De acordo com os registros, tanto esotéricos e exotéricos, Jesus nasceu dentro dessa Ordem e foi treinado por eles durante os “anos ocultos da sua vida”, em seus vários ramos e centros; finalmente, depois foi enviado “para efetuar uma revolução moral e religiosa”.
Assim, com o passar do tempo, veio a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, que marcou época, nas cavernas do distrito de Kirbet Qumran, apresentando esses fatos. De acordo com a sabedoria dos essênios, não existe acaso no universo de Deus — todas os eventos são determinados por um plano ou destino e tudo acontece no tempo normal para eles, nada ocorrendo que não tenha sido predeterminado. Assim declaram os mestres da arte de viver, mestres que produziram um grupo de pessoas que se destacaram na retidão e no desenvolvimento dos “dons do espírito” e na obtenção da consciência cósmica mais do que qualquer um de seus sucessores.
Está registrado que nenhuma profecia deles falhou. Essa precisão significava sua sobrevivência nos dias de Herodes, o Grande, e sua dispensa de fazer os odiados juramentos, até mesmo o de fidelidade. A história nos conta que um essênio, um tal de Menahem, famoso não apenas por sua retidão, mas por sua presciência do futuro, conheceu Herodes quando ele era um menino de escola e se dirigiu a ele como “Rei dos Judeus”. Herodes pensou que Menahem não o conhecesse e estivesse brincando. Mas Menahem sorriu, deu-lhe um tapinha nas costas e disse: “Tu, no entanto, serás rei e começarás teu reinado feliz, pois Deus te achou digno disso. Lembre-se das palavras de Menahem. Essa garantia será salutar para você quando amar a justiça e a piedade para com Deus e a igualdade para com os seus cidadãos. No entanto, eu sei que você não será assim, pois posso enxergar tudo. Você obterá uma reputação eterna, porém se esquecerá da piedade e da justiça, que não serão ocultadas de Deus, e Ele, por isso, vai te visitar em Sua ira até o fim da sua vida”. Herodes deu pouca atenção à profecia do essênio na época, pois ele era um plebeu e não tinha qualquer ideia de que pudesse ser feito rei; mas tudo isso ocorreu, como previsto.
Mais uma vez, outro essênio, certo dia no templo, cercado por seus alunos, que ele havia iniciado na arte apocalíptica de predizer o futuro, um certo Judas, a história nos conta, viu Antígono passar. Judas profetizou uma morte súbita para ele, na hora definida de um dia definido, em um lugar muito especial — tudo ocorreu como previsto.
O grande historiador e judeu Josefo, que viveu no primeiro século d.C., esteve entre os essênios por um ano ou mais, deu os detalhes intrincados de suas vidas e trabalhos, da sua crença na reencarnação, na ressurreição e na comunicação com os Anjos. Ele sabia que estudassem assuntos como astrologia, numerologia, frenologia, profecia, vegetarianismo e saúde, cura, oração, meditação e muitos outros. Os essênios acreditavam que o ser humano devesse estudar os grandes livros sagrados da humanidade, todas as grandes contribuições para a cultura, porque sabiam que todos ensinavam a “mesma sabedoria eterna” e que as únicas contradições aparentes viriam da unilateralidade dos seguidores que tentavam interpretá-los. O objetivo do conhecimento não era fornecer alguns fatos ao indivíduo, mas abrir-lhe as fontes da verdade universal. À medida que o aluno lê, as palavras da verdade criam em seu corpo pensante poderosas vibrações e correntes de pensamento que entram em contato com o corpo pensante do grande Mestre que os deu à luz — tudo isso era bem conhecido por esses místicos.
Estranho narrar como uma profecia de Josefo, o historiador, salvou sua vida na época do levante judeu contra os romanos, quando ele nomeou governador da Galileia o general romano Vespasiano, retirando da resistência judaica a esperança. Josefo fugiu, mas foi levado até Vespasiano, que o teria enviado a Nero para ser destruído, caso o historiador não tivesse profetizado que seu captor, Vespasiano, iria se tornar imperador de Roma — o que se cumpriu conforme previsto.
A razão pela qual o grande historiador Plínio diz que os essênios são “eternos, de antiguidade sem data” e afirma que “eles existiam milhares de anos antes” de sua época é que os essênios não apenas reivindicam origem mosaica para sua Fraternidade, mas afirmam que alguns deles tiveram um começo ainda mais antigo, voltando ao tempo de Abraão e até antes. Alguns historiadores os identificam com os místicos Reis Pastores que governaram o Egito por volta de 2.000 anos a.C. Posteriormente, eles passaram pelo deserto para a Síria e depois para um país conhecido como Judeia, onde entraram em uma cidade chamada Salém, lugar em que, muito mais tarde, Melquisedec concedeu a Abraão os ritos místicos da Ordem a ser conhecida como a ordem dos Essênios. A história judaica de Ewald, entre outras, observa que “os essênios, ou pessoas que deixaram a grande comunidade para viver a vida santa, eram encontrados em Israel desde os tempos mais remotos e eram anteriormente conhecidos como nazireus (ou nazarenos)”. Assim, eles eram conhecidos no Livro dos Juízes e no Livro dos Reis como a “Escola dos Profetas” e nos tempos dos Macabeus como “Hasidees”. A Ordem não se autodenominava “Essênios”, o que significava “aqueles que aguardam” — esse era um nome dado por outros. Eles também eram chamados de “Amigos”, “Os Puros e Silenciosos”, “Os Trabalhadores Milagrosos”, “Campeões da Virtude”, “Nazarenos”, “Terapeutas”, “Aqueles que curam”, “Os Místicos da Roupa Branca”, o terceiro grupo de judeus cuja saudação foi “a Paz seja convosco”.
O historiador Filo concorda com Plínio quanto ao fato de os essênios serem eternos, “sendo um povo único, mais admirável do que qualquer outro no mundo”, e diz que “os membros da irmandade eram chamados de Campeões da Virtude”. Estrabão menciona os essênios em Heliópolis, Egito, “com quem Platão e Eudoxo se consultaram”. Solinus afirma que “os essênios diferem de todos os outros povos em sua constituição maravilhosa (sendo vegetarianos e vivendo, muitos deles, mais de 120 anos) e, segundo minha opinião, foram nomeados pela Providência divina para esse modo de vida. Eles renunciam ao dinheiro, aos prazeres conjugais e, ainda assim, são os mais ricos de todos os homens”.
Deve-se notar que, enquanto muitos dos essênios eram celibatários, homens e mulheres, e que alguns dos assentamentos fossem apenas para homens (os mosteiros), outros eram comunidades onde cada família tinha sua própria casa e jardim, fazia suas contribuições para a comunidade e iam para os edifícios da assembleia geral para certos ritos e cerimônias. Mulheres eram membros associados. Aqueles que não se casavam criavam órfãos para a comunidade essênia. As crianças estudavam de forma prescrita durante dez anos. Com a idade de vinte anos elas se tornavam elegíveis para membros, ocorrendo a admissão depois da aprovação satisfatória em um exame público com base nas disciplinas obrigatórias e em provas aceitáveis de caráter moral e sólido.
Epifânio, famoso historiador da igreja do século IV, ao falar dos essênios e de suas contribuições para a humanidade, declarou que “Jesus se juntou aos essênios” e que a Ordem, em conexão com suas curas, às vezes usava um Livro de Remédios atribuído ao Rei Salomão. Historiadores (ou obras) como Eusébio, Porfírio, Orígenes, Jerônimo, o Talmud, Midrashismo (estudo hermenêutico do Antigo Testamento) e a Bíblia, entre numerosos e diversos relatos, falam dos essênios.
Entre os historiadores modernos e representativos está Dean Humphrey Prideaux, que declara em seu livro sobre os descendentes dos essênios, Antigo e Novo Testamentos Conectados, que os essênios antecederam as Sagradas Escrituras e condenaram a escravidão, os líquidos fermentados, todos os alimentos à base de carne, a guerra e fabricação de instrumentos bélicos; também anteciparam o verdadeiro espírito do Cristianismo e da filosofia superior do século XX.
O Dr. Graetz, em seu livro A História dos Judeus, diz que “os essênios foram os que primeiro proclamaram o Reino dos Céus”, que João Batista viveu a vida de um nazireu, pertencente aos essênios, e passou a morar com outros essênios, próximo às águas do Jordão, aguardando penitentes que, ao serem batizados, ingressavam na Ordem dos Essênios.
Da mesma forma, uma pesquisa histórica mais meticulosa, a de A. A. Schultz sobre os essênios, compilada a partir de numerosos registros da Sociedade Literária e Filosófica de Liverpool, em 1896, encontra as afirmações acima em documentos escritos em hebraico, aramaico e grego.
A Maçonaria Mística, quando ainda era uma Escola iniciática, localiza o Cristianismo puro na doutrina dos essênios e consideram os “Irmãos do Manto Branco e Sem Costura, ou Ordem Mística dos Essênios, a fraternidade mais importante do mundo”.
Entre muitos dos relatos modernos que afirmam que Jesus e muitos dos personagens do Novo Testamento fossem essênios está o de Frederico II em uma carta a d’Alembert, datada de 17 de outubro de 1770. O rei-filósofo escreveu: “Jesus era claramente um essênio; ele estava imbuído da moralidade dos essênios, grande parte da qual vem de Zenão”.
Os Estudantes Rosacruzes sempre souberam que José e Maria, pais de Jesus, e Isabel e Zacarias, pais de João Batista, estivam associados à Comunidade da nova Aliança, às vezes chamada de “A Aliança”, e sob a influência de “Os Eleitos”, como os essênios se consideravam em virtude do que eles realmente sabiam ser sua missão histórica e divina. Eles transcenderam barreiras que dividiam classes, raças e religiões para incorporar o melhor de muitas religiões dentro de sua própria Ordem. Algo do Zoroastrismo poderia ser encontrado na saudação diária dos essênios ao Sol, possivelmente o Grande Espírito do Sol, o Ser Cósmico que brilhava dentro do Sol físico e radiante, o Ser de Luz, pois chegaria o tempo em que essa Individualidade cósmica tomaria a forma humana para Se tornar a Luz do Mundo. Além disso, o Evangelho Essênio de João dá testemunho do Logos Solar, a Luz do Mundo.
Então, em 1945, 1947 e anos posteriores, quando os Manuscritos do Mar Morto, parte da biblioteca dos essênios, foram descobertos nas cavernas perto do seu monastério, enterrados no distrito de Kirbet Qumran, confirmando muito do que apenas esotericamente era conhecido por alguns, a descoberta foi considerada por grandes estudiosos como marcante de uma época, o achado mais importante e notável dos últimos 2.000 anos. Esses pergaminhos tentam transformar o que se entende por religiosidade ou ortodoxia desde a época de Constantino e do Concílio de Nicéia, em 325 d.C. e as datas posteriores dos vários credos feitos pelo ser humano e acrescentados à doutrina da igreja. Os pergaminhos restaurarão a Religião do Mestre Jesus para a sua forma original, que foi temporariamente.
Um grande dia foi para a Religião do Ocidente, quando o menino beduíno chamado de “Maomé, o Lobo” estava cuidando de algumas cabras perto de um penhasco na costa oeste do Mar Morto e, escalando atrás de uma que havia se desviado, notou uma caverna que ele não tivesse visto antes; então, de forma preguiçosa, jogou uma pedra dentro dela. Houve um som desconhecido de algo sendo quebrado. Assustado, o menino fugiu; mas apenas para voltar um pouco depois com outro rapaz. Juntos, eles exploraram a caverna. Dentro, encontraram vários potes altos de barro, entre fragmentos de outros potes. Quando tiraram as tampas em forma de tigela, surgiu um cheiro muito ruim que vinha de protuberâncias oblongas e escuras que foram encontradas dentro de todos os frascos. Quando as retiraram da caverna, viram que estavam embrulhadas em pedaços de linho e revestidos com uma espessa camada de piche preto ou cera. Eles as desenrolaram e encontraram longos manuscritos, inscritos em colunas paralelas de folhas finas que haviam sido costuradas. Eles se maravilharam com os pergaminhos e os carregaram enquanto se moviam, finalmente contrabandeando-os, junto a outros bens, da Transjordânia para a Palestina, até Belém, onde foram vendidos e, finalmente, chegaram às mãos de estudiosos. Mais e mais cavernas com pergaminhos foram descobertas e os manuscritos foram vendidos, até que, em 1949, os beduínos receberam mais de US$ 87.000 pelo que encontraram. Desde então, eles vinham cortando os pergaminhos e vendendo por US$ 7,00, a polegada quadrada, até que finalmente os estudiosos garantiram algum policiamento e controle sobre esses valiosos manuscritos.
Os estudiosos fizeram vários relatórios sobre o grande significado dos pergaminhos. Quando o Dr. Trevor enviou cópias das colunas do rolo de Isaías para o Dr. W. F. Albright, de John Hopkins, um dos maiores arqueólogos vivos, ele escreveu de volta: “Meus parabéns por uma das maiores descobertas de manuscritos de todos os tempos”. Fixando a data da escrita deles por volta de 100 a.C., ele disse: “Felizmente, não pode haver a menor dúvida sobre a autenticidade do manuscrito. Os pergaminhos querem revolucionar nossa abordagem ao cristianismo”.
O grande erudito franco-hebraico Andre Dupont Sommer, professor de línguas semitas na Sorbonne, em Paris, foi ao Museu Palestino em Jerusalém, manipulou e examinou os pergaminhos que tinham 2.000 anos e, então, disse: “Esses textos nos dão conhecimento direto e imediato das crenças históricas e dos ritos da seita essênia; eles revelam numerosas e precisas semelhanças entre ela e a primitiva igreja Cristã. O essenismo, conforme revelado nos pergaminhos, mais do que qualquer outro movimento judaico, abriu caminho para o cristianismo. Os rolos, portanto, esclareceram um dos problemas mais cativantes da história das religiões, o da origem do Cristianismo”.
Mais tarde, sua observação de que “os rolos fizeram Jesus parecer uma reencarnação do grande Mestre Essênio da Justiça, que viveu por volta de 100 anos a.C.” despertou muita controvérsia na França. Essa ideia foi sugerida por outros e parece provável segundo as circunstâncias. Os essênios seguiram os ensinamentos de Melquisedeque, o Príncipe da Paz com quem Abraão conversou e a quem muitos consideram uma encarnação de Jesus, que disse: “Antes de Abraão, Eu sou; seu pai Abraão viu meu dia e se alegrou em vê-lo”. Portanto, se o Mestre foi Melquisedeque, há razão para acreditar que ele tenha sido uma encarnação posterior, conhecida como Mestre da Justiça, antes de finalmente aparecer como Mestre Jesus. (A única encarnação anterior de Jesus mencionada nos Ensinamentos da Bíblia da Sabedoria Ocidental é Salomão).
Marie Harlowe, escrevendo na Progressive World em 1957, diz: “A singularidade de Jesus é desafiada pela descoberta, nos pergaminhos essênios, de um indivíduo anterior e de caráter semelhante. O Mestre da Justiça estava em notável paralelo com a vida e os ensinamentos de Jesus, conforme relatados nas Escrituras Cristãs. Ele era um líder da comunidade e havia experimentado revelações especiais. Seus seguidores eram os pobres, que se autodenominavam ‘Eleitos de Deus’”.
Além disso, esse Mestre estava em desacordo com os sacerdotes e foi muito perseguido por eles. Sua doutrina dizia respeito ao Céu e ao Inferno e seu ritual mais importante era uma festa ou refeição sagrada. Ele foi condenado e executado entre 65-53 a.C.
Os pergaminhos essênios, escondidos em cavernas — alguns deles, sem dúvida, nos últimos dias antes da destruição de Jerusalém pelos romanos, sob Tito, em 70 d.C. — para serem preservados, possivelmente no intuito de, mais tarde, serem removidos para um lugar seguro, foram, alguns deles, mencionados em nossa Bíblia, como em “A Assunção de Moisés” ou um livro que menciona um Enoque, o sétimo a partir de Adão, que profetizava — entre outros registros que as autoridades da igreja ortodoxa descartaram como espúrios e não-canônicos. Também havia livros em que personagens similares a Jesus ensinavam de forma parecida com ele, fornecendo as fontes de suas informações e aprendizados que, junto de todas as referências feitas a eles, a igreja se esforçou para destruir totalmente. Mas, em algumas ocasiões ela se atrapalhou. Agora, com a descoberta dos Manuscritos Essênios, tudo veio à luz.
Novamente, por causa das autoridades das igrejas ortodoxas, a quem certos estudiosos consultaram sobre a forma em que esse conhecimento da Religião revolucionária deveria ser apresentado ao público, tem havido muito atraso na América em relação à publicação desse conhecimento. Algumas das autoridades da igreja sugeriram, depois de tentar desacreditar os fatos, que se esperasse cinquenta anos ou mais e deixasse as coisas se ajustarem lentamente. Mas, os leigos estão vitalmente interessados e exigem mais verdade — eles encontraram um pouco dela em algum lugar. Eles aprenderam que os originais de muitos dos livros da Bíblia são diferentes dos que temos.
Entre os rolos importantes encontrados nas várias cavernas estão dois de Isaías, O Testamento de Levi, Os Testamentos dos Doze Patriarcas, muitos livros de Enoque, O Documento Zadoquita, o Manual de Disciplina, o Documento de Damasco, o Apocalipse de Lameque (a seção do Gênesis), Os Salmos de Ação de Graças, Hinos, o Comentário Habacuque, Os Apócrifos do Gênesis, Targum de Jó, As Guerras dos Filhos da Luz, um Apocalipse Essênio, entre outros. Os documentos descobertos em 1947 pertencem ao Estado de Israel; os coletados desde 1949 pertencem ao Estado da Jordânia e estão no Museu Palestino, em Jerusalém. Dez outras cavernas e centenas de outros documentos ou fragmentos foram descobertos recentemente.
Muitos dos pergaminhos essênios são escritos em aramaico, a mais antiga de todas as línguas, de acordo com o famoso estudioso sírio, Dr. George M. Lamsa. Ela remonta à planície de Shinar e o nome é derivado de Aram, o filho mais novo de Shem. Será lembrado que o Dr. Lamsa deu ao mundo ocidental a Bíblia dos originais manuscritos aramaicos, os textos da Peshitta — em 1940, o Novo Testamento e em 1957, o Velho Testamento. Essa foi uma tarefa monumental das mais antigas fontes sobreviventes da Bíblia, que foram preservadas na Turquia e no Irã pelos antigos Cristãos chamados de nestorianos. Eles introduziram o Cristianismo na China sob o nome de Doutrina Luminosa em 631, em memória da qual o Monumento Nestoriano foi erguido em Sianfu; da mesma forma, antes, os Cristãos de São Tomé, o discípulo do Mestre, foram os Nestorianos da Índia, sustentando verdades que agora estão sendo descobertas nos pergaminhos essênios.
Em todos os pergaminhos, especialmente no Comentário de Habacuque e no Manual de Disciplina, a pessoa mais importante é o Mestre da Justiça, que entrou em conflito com um rei-sacerdote perverso por quem provavelmente perdeu a vida. Os detalhes ainda não foram encontrados, então a polêmica continua. Muitos estudiosos, usando um fragmento do Comentário de Nahum, que fala do Leão da Ira, em suas suposições, referem-se a Alexander Jannaeus, filho de John Hyrcanus, como o mais provável rei-sacerdote perverso, vivendo como vivia, de 104 a.C. a 78 d.C. Josefo fala dele, indicando a crueldade bárbara usada por esse ímpio — era tão terrível que “ultrajava a sensibilidade dos judeus piedosos, que o viam como uma profanação total da sua Religião, seu templo e a lei”.
O historiador fala sobre o incidente mais interessante e quase inacreditável do arremessos de limão, quando Jannaeus estava celebrando a Festa dos Tabernáculos. Ele estava de pé no altar alto, o lugar mais sagrado em todo o Israel, exceto pelo Santo dos Santos, e estava empenhado em oferecer sacrifícios a Yahweh, em um dos atos mais sagrados de Israel. O sentimento reprimido da população se demonstrou no arremesso de limões contra o perverso rei-sacerdote. O povo tinha limões consigo como parte de suas ofertas votivas. O “sacerdote perverso” dos pergaminhos, no entanto, retaliou matando 6.000 dos mais piedosos do seu próprio povo como vingança, para enfatizar a importância da sua dignidade e autoridade sobre eles. O Mestre da Justiça denunciou tal pessoa. Ele pode ter incitado o incidente do lançamento de limão e, sem dúvida, pagou por isso com sua vida, já que teria exigido abertamente que o rei e sumo-sacerdote de Israel vivesse de acordo com o seu cargo. Nesse e em muitos outros aspectos ele se assemelha ao Mestre Jesus, que agora, em espírito e verdade, em uma espécie de segunda vinda, está retornando para nós em seu eu original e ensinamentos através dos Manuscritos Essênios, após séculos de deturpação e distorção por interesses mundanos e credos feitos pelo ser humano.
“Jesus foi educado pelos essênios e atingiu um alto estado de desenvolvimento espiritual durante os trinta anos em que usou seu corpo. Pode-se dizer aqui, entre parênteses, que os essênios fossem a terceira seita que existia na Palestina, além das duas mencionadas no Novo Testamento — os fariseus e os saduceus. Os essênios eram uma ordem extremamente devota, muito diferente dos saduceus materialistas e inteiramente oposta aos fariseus hipócritas, que buscavam publicidade. Eles evitavam qualquer menção a si mesmos e seus métodos de estudo e adoração. A essa última peculiaridade se deve o fato de que quase nada se sabe sobre eles e de não serem mencionados no Novo Testamento”.
(Publicado na Rays from the Rose Cross de dezembro/1956 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Além do Método Rosacruz de Iniciação, adequado para aqueles que trilham o caminho por meio da luz da razão, há também o caminho para os que seguem pelo coração, somente. Embora haja grandes vantagens no conhecimento e no deliberado processo consciente da Iniciação Rosacruz, a Iniciação Cristã Mística é tocante e bela. Somente aqueles que estejam livres do domínio do intelecto e que possam se abster de fazer perguntas e tudo receber com uma fé simples e infantil podem seguir por esse caminho.
A Bíblia inteira é um livro que contém diferentes sistemas de Iniciação e iluminação para diferentes fases de desenvolvimento. Não há dúvidas de que Cristo-Jesus viveu e passou pelas experiências descritas nos quatro Evangelhos, mas também é verdade que esses Evangelhos são fórmulas de Iniciação e que o Cristão Místico segue a Cristo-Jesus nesse caminho, embora esteja sempre inconsciente de estar realizando um desenvolvimento oculto. Para um Iniciado, as fundações estabelecidas em vidas anteriores o fazem voltar ao mundo por meio de pais de natureza pura. Assim, o seu corpo é concebido imaculadamente.
Quando a humanidade emergiu das águas atlantes, perdeu o espírito do amor e da fraternidade, tornando-se egoísta e centrada em si mesma. O espírito do amor e da fraternidade universal desce renovado sobre o Cristão Místico, quando ele passa sob as águas do Batismo e sente o pulsar do grande Coração de Deus batendo em seu íntimo.
O egoísmo estendeu um véu entre o ser humano e Deus. Quando restaurado, o amor ilumina o caminho em direção aos lugares secretos. No Monte da Transfiguração, o Cristão Místico vê a continuidade da vida por meio do renascimento em sucessivos corpos. Moisés, Elias e João Batista são expressões do mesmo espírito imortal.
As formas são usadas como degraus para a vida em evolução. O mineral é desorganizado para nutrir as plantas. Portanto, as plantas têm assim um débito de gratidão para com o mineral. As plantas são destruídas para alimentarem o animal e o ser humano, daí sermos gratos a elas. Como o inferior serve o superior, deve haver um retorno. Para restabelecer o equilíbrio, os seres superiores devem servir aos inferiores como instrutores. Para inculcar a lição de que os alunos devem pleitear o seu serviço, o Cristão Místico lava os pés do seu discípulo. Para ele, nada é insignificante. Se uma tarefa desagradável deve ser realizada, ele a realiza com todo o empenho para poupar os outros.
Contudo, embora ele sirva aos outros alegremente, deve aprender a suportar a sua carga sozinho. Quando ele passa pelo Getsemani, até aqueles que lhe são mais próximos dormem. Quando cai no ostracismo e é condenado pelo mundo, eles também o negam. Portanto, ele é ensinado a não olhar para alguém, mas a confiar apenas nele, o Ego, o Espírito Virginal da Onda de Vida Humana manifestado.
Ele, então, percebe que é um Espírito e os seus corpos é uma cruz que deve pacientemente suportar. Os vórtices desenvolvidos por seus atos espirituais e exercícios, de forma lenta, mas segura, separam o seu Corpo Vital do Denso e o crucificado eleva-se às esferas superiores com o grito de alegria: Consummatum est! (Está consumado). Ele é, então, um cidadão dos Mundos visível e invisíveis, tanto quanto um Aspirante à vida superior que trilha o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz da realização, pois ambas as escolas se encontram na Cruz.
(Por Max Heindel – Publicado em Echoes from Mount Ecclesia – agosto/1913 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
A Astrologia Espiritual, tal como é ensinada pela Fraternidade Rosacruz – a Astrologia Rosacruz – é um esquema tão singelo que permite a qualquer pessoa, com suficiente prática, a possibilidade de penetrar e conhecer os arcanos mais profundos da alma humana, desvelando seus temores, suas falsas esperanças, aspirações, seus vícios e defeitos mentais, morais e físicos, que nada mais são do que as causas das doenças e enfermidades dessa pessoa.
Moisés recebeu a ordem de descalçar as sandálias ante a sarça ardente, em reconhecimento ao fato de encontrar-se sobre um solo sagrado e iluminado por uma presença espiritual. Se toda luz do mundo fosse enfocada sobre um determinado artista, seu corpo refletiria essa claridade deslumbrante. Mas seria uma luz artificial, externa e, desse modo, os seus segredos, o seu íntimo, continuariam encobertos. Mas, quando o ator aparece no palco da vida e os raios astrais se concentram sobre ele, por meio do horóscopo natal, torna-se transparente. Podemos, então, penetrar-lhe nos mais íntimos recantos anímicos, pondo em evidência todas suas tendências. Qualquer pessoa que saiba ler as escrituras astrais, movida pelo amor desinteressado e desejo de ajudar, recebe a intuição para deduções surpreendentes, orientando o interessado na solução de problemas que nem ele próprio sabe definir claramente. Pode dar-lhe as mais acertadas diretrizes e contar-lhe as pulsações vitais, como se fosse as de sua própria alma.
Por tal motivo podemos ponderar, muito oportunamente, que o lugar em que se encontrava Moisés não era mais sagrado do aquele sobre o qual está o Astrólogo espiritual Rosacruz. O horóscopo que nos põem às mãos nos traz uma altíssima responsabilidade. Nunca será demasiado insistir nisso. Estamos com uma alma sobre a nossa palma da mão. Tudo o que dissermos e orientarmos e o modo como fazemos, influi poderosamente na pessoa interessada e na cura. E a par dessa responsabilidade carreamos, também, um maravilhoso privilégio: o de servir, o de contribuir para a regeneração de alguém, de orientá-lo corretamente a elevar-se no mundo em direção às altas finalidades a que Deus o consagrou, a partir da sua disposição para a cura das suas doenças e enfermidades. Por isso deve o Astrólogo Rosacruz, para realizar integralmente sua missão, levar uma vida extremamente pura, de modo a ser digno de permanecer na presença sublime de um Espírito Humano, tal como se revela no mapa astrológico.
O Astrólogo Rosacruz deve ter muito cuidado para não enganar a si mesmo, evitando transferir, inconscientemente, para o próximo, suas próprias limitações. É preciso absoluta imparcialidade para aproveitar o privilégio de ajudar espiritualmente alguém, através da interpretação da mensagem astral. Capacidades refinadas se juntam às intelectuais ou movidas por outros sentimentos inferiores jamais podem realizar essa missão: tanto se prejudicam, acumulando um destino maduro com a prostituição de uma ciência espiritual sagrada, como, por esse modo inconveniente, fecham os canais da intuição, indispensáveis para penetrar os aspectos mais sutis de um tema. Infelizmente, em todas as épocas tem havido pessoas que prostituem essa ciência sublime, pelo apego a uma utilidade sórdida, maculando-a no serviço de desígnios vis. Não é de admirar, pois, com tantos e tais charlatões, venha a Astrologia sendo deturpada e, com o tempo, considerada “crendice tola”, exercida por interesse do falso astrólogo para alimentar ilusões.
Deus não pode ser frustrado: “o que o ser humano semear, isso mesmo colherá”. Se traímos a causa que a oportunidade nos confia e abusamos do privilégio que nos é oferecido, veremos amanhecer, cedo ou tarde, o dia do ajuste de contas. Como consequência de nosso sacrilégio teremos, um dia, de provar o pão da amargura. Não nos esqueçamos: “Aquele à quem muito é dado, muito lhe será exigido”.
Rogamos a Deus que os queridos irmãos, queridas irmãs possam viver sempre à altura de merecer e de bem aproveitar as múltiplas oportunidades de desenvolvimento anímico que Deus lhes oferece, por meio do serviço ao próximo. Aqui está a súmula da Doutrina Cristã inteira. E que o conhecimento astrológico Rosacruz que, por ventura, você está adquirindo poderá ajudá-lo a penetrar na compreensão dessa missão e a realizá-la devidamente, valorizando sua ajuda e dignificando o privilégio maior que pode merecer um ser humano: o de ser partícipe da “Vinha do Senhor” e que é a Luz do Mundo.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – agosto/1968)