O que é Ser um Aspirante a Vida Superior
O Aspirante à vida superior é aquele que tomou consciência da sua responsabilidade no plano de Deus e deseja participar dele. Para isso busca, por meio do estudo, alcançar a vida superior.
Chega um momento, porém, em que sente a necessidade de dedicar-se mais. Até aqui, por meio do estudo desperta o interesse e cumpre os mandamentos de Deus. Tal qual o jovem rico na parábola dada por Cristo Jesus: “Disse-lhe o jovem: ‘Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda? ’”. Respondeu Cristo Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dê aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me”. “Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.” (Mt 19:20-22)
Muitos chegam até este ponto: obedecem aos mandamentos de Deus. Entretanto, o verdadeiro Aspirante à vida superior busca algo mais. Quer se livrar da escravidão que as posses terrestres lhe impõem. Quer que sua vida seja dedicada ao serviço amoroso e desinteressado aos outros.
A partir desse momento, passa a considerar tudo que possui no plano material como instrumento para o bem. Vive como propõe João na sua primeira Epístola: “não ameis o mundo, nem as casas do mundo, se alguém ama o mundo não está nele o amor do Pai.” (Jo 1:2-15).
Começa aprender a servir e compreende que a sua tarefa é aproveitar as oportunidades dadas por Deus, cultivá-las e transformá-las em poder anímico, poder da alma, que a cria e a alimenta. Aqui há um grande problema: a PRESSA. Quando decidimos caminhar em direção ao desenvolvimento espiritual estamos cheios de ânimo e não vemos a hora de alcançar a meta.
Tornamo-nos inquietos e chegamos até a agir precipitadamente. Só que não entendemos que é justamente essa atitude de inquietação e precipitação que frustra o que queremos alcançar. A natureza não dá saltos. O desenvolvimento é gradual, lento, mas seguro.
A falta de entusiasmo que sentimos e que faz parecer que em nada temos progredido é o resultado dessa discordância. O segredo está em compreender, ou tomar consciência da grande dificuldade que é mudar os nossos hábitos. É preciso muito esforço e muito tempo para formar novos e melhores hábitos no Corpo Vital.
Entretanto, uma vez formado um bom hábito, torna-se fácil praticá-lo. Contudo, para mantê-lo assim, devemos agir sempre com intensidade, firmeza e tranquilidade. Lembre-se que o que desenvolve o Corpo Vital é a repetição de coisas boas. As experiências repetidas nele criam a memória. E nesse sentido temos que ser persistentes e persistentes. “Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (Mt 7: 14).
Quando o Aspirante chega ao ponto de tomar a consciência da importância da consagração da sua vida ao serviço, ele compreende quão importante é isso, pois conhecer as leis de Deus e os mistérios da natureza é muito bom. Contudo, se não temos essa consciência de consagrar nossa vida ao serviço, nada vale o talento, a habilidade, a benevolência ou qualquer outra coisa. É isso que consegue por meio do domínio próprio. É assim que nos qualificamos para orientar os outros. Nesse ponto, o Aspirante que acha que não tem talento, não tem nenhuma habilidade para escrever ou para falar, mas que leva uma vida justa, consagrada ao serviço, cheia de ações de amor, vale mais do que o melhor orador que vive uma vida sem esforços, sem atos. Como lemos em IJo 3:18: “Não ameis de palavra nem de língua, mas por obras e em verdade”.
A persistência é fundamental nesse processo. Temos que ser persistentes em transformar nossos maus hábitos em bons hábitos. Transformar nossas habilidades em atos. Para isso precisamos fazer o que disse São Paulo: “Eu morro todos os dias”. Morrer diariamente para as coisas velhas – os maus hábitos, os vícios – de modo que as coisas novas possam ter espaço e disposição para crescer – os bons hábitos, as virtudes. Como disse Goethe, o poeta Iniciado: “Quem não experimenta morrer e nascer para vida, sem interrupção, sempre será um hóspede triste sobre essa terra infeliz”.
Nesse sentido muito nos ajuda o exercício de Retrospecção. É ele que nos faz morrer para as coisas que fizemos no dia anterior, deixando espaço e disposição para as coisas que faremos no dia seguinte. Ele é o nosso “Purgatório” e “Primeiro Céu” diários. É por meio dele que compreendemos os erros nos nossos hábitos e nos determinamos a eliminá-los ou a desfazer o mal feito. E, também, que aprovamos impessoalmente o bem praticado, determinando-nos a agir melhor. Com isso, fortificamos o bem pela aprovação e debilitamos o mal pela reprovação. Daqui notamos que o arrependimento e a reforma íntima são fatores poderosos na vida do verdadeiro Aspirante a vida superior. Praticando-os aprendemos a virtude da humildade e da esperança e, ainda, aprendemos o discernimento e a disposição em agir, pois ficamos desejosos em corrigir o mal feito.
A natureza jamais desperdiça esforços em processos inúteis. Uma vez aprendida a lição, o ensino será suspenso. Estaremos prontos para novas conquistas. Portanto, quem determina o compasso do nosso desenvolvimento somos nós mesmos. Tomemos cuidado com a impaciência e a ansiedade. Elas são manifestações da parte inferior do nosso Corpo de Desejos que sempre aspira por novidade, emoção, paixão… Porque queremos novos conhecimentos, se nem aquilo que aprendemos, praticamos?
Se, muitas vezes, não nos damos o trabalho nem de pesquisar, nem de meditar? Queremos tudo pronto e acabado. Queremos evoluir por meio de esquemas pré-estabelecidos ou formulas mágicas, como se existisse uma receita de bolo para o desenvolvimento oculto, para o conhecimento direto. Como disse Max Heindel (no livro O Conceito Rosacruz do Cosmos): “Nada realmente valioso obtém sem esforço. Nunca será demasiado repetir que não existem coisas como os ‘dons’ e a sorte. Tudo que possuímos é resultado de esforço. O que falta a um em comparação com outro está latente em si mesmo e pode ser desenvolvido quando se empregam os meios apropriados”. E todo o Aspirante ao conhecimento direto aos mistérios ocultos da natureza deve possuir um desejo intenso de adquirir esse conhecimento, lutar por ele e excluir de sua vida qualquer outro objetivo. Porém, deve ser acompanhado sempre por um desejo igualmente intenso de ajudar a humanidade, de um esquecimento de si próprio, e trabalhar para bem dos outros! Deve dar provas de desinteresse.
O conhecimento, por si só, resulta somente em intelectualidade. E intelectualidade compartilha a natureza da espiritualidade. Como diz um amigo nosso: “Há muitos intelectuais, ou que se julgam intelectuais, que nem começaram a soletrar o alfabeto divino”. Por outro lado, a experiência sem o conhecimento que a explique torna-se difícil de ser aproveitada.
A experiência ajuda-nos a melhorar, a aprimorar nossos veículos: o Corpo Denso, o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente. É por meio dela que desenvolvemos a vontade. E essa é a força com a qual aplicamos o resultado da experiência. E é a vontade que nos faz ser persistentes e que nos ajuda a entender que: não importa o quanto falhamos, o que importa é que nunca deixemos de tentar. Pois não são os resultados, mas a sinceridade e a intensidade do nosso esforço o que conta. Daqui tiramos que o importante é fazer.
Tentar fazer o melhor que pudermos, mas fazer, não deixar de fazer. Não ter medo ou deixar de fazer algo por medo. Se quisermos aprender, temos que tentar. Mil vezes errar porque tentamos, do que por nossa omissão. O Aspirante a vida superior está sempre disposto em fazer algo, em ajudar, em servir. Ele não tem dias livres, nem de folga, nem feriados, nem férias, nem horário específico. E ainda, faz suas obras em segredo, sem propagandas ou pretensão de promoção. Contudo, sim, no completo anonimato, como disse São Mateus, no seu Evangelho, no cap. 6 vers. 1 a 3: “Guardai-nos de fazer vossas boas obras diante dos homens para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está no céu. Quando, pois, dá esmola, não toques a trombeta diante de ti (…) que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita”. Jesus Cristo disse que “o céu deve ser tornado de assalto”! Ou seja, que para alcançá-lo devemos ser determinados, decididos. Devemos estar sempre prontos a agir. Como diz São João no Apocalipse: “Não és frio nem quente, oxalá fosses frio ou quente, mas, como és morno, vou vomitar-te” (Apo 3:15-16). Não devemos ser mornos, mas sim quentes ou frios.
Do mesmo modo que a alma morre de fome se só a alimentamos com livros, com conhecimento, também morrerá se ficarmos sempre em cima do muro com medo de tomar partido por não querer magoar tal pessoa, ou correr o risco de perder tal amizade, ou por achar que não temos nada a ver com isso, ou por achar que não temos nada a dizer. Ficar de bem com todos não é ser “bonzinho” indiscriminadamente.
O Aspirante mostra coragem e exemplifica os ensinamentos nessas horas difíceis ou coloca em prova a sua determinação. Quanto maior é o pecador maior é o santo. Portanto, do ponto de vista espiritual, é preferível uma vida de erros, de atitudes erradas, mas cheia de obras, do que uma vida sem ações, enclausurada e restrita em obter conhecimentos só e em cima dos outros. O mundo necessita de seres de ação e não só de sonhadores. Quando decidimos ser Aspirante a vida superior, as pessoas ao nosso redor se voltam a nos observar! Não somos julgados pelos ensinamentos que pregamos, mas pela vida que levamos.
Exemplificaremos nossas vidas com obras do bem, intensificando nossa vigília sobre como vivemos, vivenciando os ensinamentos cristãos Rosacruzes (já que se estamos na Fraternidade Rosacruz, foi esse o método que escolhemos para se tornar um verdadeiro Aspirante à vida superior), obtendo experiências mais pela observação do que pela dor, praticando nossos exercícios – conforme fornecidos pela Fraternidade Rosacruz – sempre com mais intensidade e amor; esforçando-nos para sermos sempre maiores servidores e, assim, tornar mais conscientes nossas vidas do plano evolutivo que Deus, nosso Pai e criador elaborou para efetivarmos, de fato, a Sua imagem e semelhança.
QUE AS ROSAS FLORESÇAM EM VOSSA CRUZ
O amor é o único meio completo de conhecimento
Além do elemento de dar, o caráter ativo do amor torna-se evidente no fato de implicar sempre certos elementos básicos e comuns a todas as formas de amor. São eles: o cuidado, a responsabilidade, o respeito e o conhecimento.
Que o amor implique cuidado é mais do que evidente no amor da mãe pelo filho. Nenhuma afirmativa sobre seu amor nos impressionaria como sincera, se a víssemos sem cuidado para com a criança, se fosse desleixada em alimentá-la, banhá-la ou lhe dar conforto físico; ao passo que seu amor nos impressiona, se a vemos cuidar do filho. O caso não difere mesmo quanto ao amor por animais ou flores. Se uma mulher nos diz que ama as flores e vemos que ela se esquece de regá-las, não acreditamos em seu “amor” pelas flores. Amor é preocupação ativa e positiva pela vida e crescimento daquilo que amamos. Onde falta esse zelo positivo e ativo, não há amor.
O cuidado suscita outro aspecto do amor: o da responsabilidade. Hoje em dia, muitas vezes se entende a responsabilidade como denotando “dever”, algo imposto de fora. A responsabilidade, porém, em seu verdadeiro sentido, é ato inteiramente voluntário; é a resposta que damos às necessidades, expressas ou não, de outro ser humano. Ser “responsável” significa ter de “responder”, é estar pronto para isso. Essa responsabilidade, no caso da mãe e do filho, refere-se principalmente ao cuidado das necessidades físicas. No amor entre adultos, refere-se principalmente às necessidades psíquicas da outra pessoa.
A responsabilidade poderia facilmente corromper-se em dominação e possessividade, se não houvesse um terceiro elemento do amor: o respeito. Respeito não é medo ou temor, mas denota, de acordo com a raiz da palavra (respicere — olhar para), a capacidade de ver uma pessoa tal como é, de ter conhecimento da sua individualidade. Respeito significa a preocupação em relação a outra pessoa, ao seu crescimento e desenvolvimento. Assim, o respeito produz ausência de exploração. Quero que a pessoa amada cresça e se desenvolva por si mesma, por seus próprios modos e não para o fim de me servir. Se amo outra pessoa, sinto-me um com ela, ou ele, tal como é, não como eu necessito que seja para objeto de meu interesse. É claro que o respeito só é possível se eu mesmo alcancei a independência; se puder levantar-me e caminhar sem precisar de muletas, sem ter de dominar e explorar outra pessoa. O respeito só existe na base da liberdade; como diz uma velha canção francesa “L’amour est 1’enfant de la liberté”; ou seja, o amor é filho da liberdade, nunca da dominação.
Contudo, não é possível respeitar uma pessoa sem conhecê-la. O cuidado e a responsabilidade seriam cegos, se não fossem guiados pelo conhecimento. O conhecimento, por sua vez, seria vazio, se não fosse motivado pelo cuidado, pelo zelo. Há muitas camadas de conhecimento; o conhecimento que é um aspecto do amor é aquele que não fica na periferia, mas penetra até o âmago. Só é possível quando podemos transcender o cuidado por nós mesmos e ver a outra pessoa em seus próprios termos. Podemos saber, por exemplo, que uma pessoa esteja encolerizada, ainda que não o mostre abertamente; mas podemos conhecê-la mais profundamente do que isso; sabemos então que esteja ansiosa e preocupada, que se sente só, que se sente culpada. Sabemos então que sua cólera seja apenas a manifestação de algo mais profundo e a vemos como ansiosa e preocupada; isto é, como uma pessoa que sofre e não como uma que se encoleriza.
O conhecimento tem outra relação — e mais fundamental — com a problemática do amor. A necessidade básica de fusão com outra pessoa de modo a transcender a prisão da própria separação relaciona-se muito de perto com outro desejo especificamente humano: o de conhecer “o segredo do ser humano”. Se a vida, em seus aspectos meramente biológicos, é um milagre e um segredo, o ser humano, em seus aspectos humanos, é um segredo insondável para si mesmo — e para seus semelhantes. Nós nos conhecemos e, contudo, mesmo apesar de todos os esforços que possamos fazer, não nos conhecemos. Conhecemos nosso semelhante e, contudo, não o conhecemos, porque não somos uma coisa, nem o nosso semelhante é. Quanto mais penetramos nas profundezas de nosso ser, ou do ser de outrem, tanto mais nos escapa o alvo do conhecimento. Não podemos, todavia, evitar o desejo de penetrar no segredo da alma do ser humano, no mais interno núcleo do que “ele” é.
Há um meio passivo de conhecimento desesperado: o completo poder sobre outra pessoa. É como a criança que apanha alguma coisa e a quebra a fim de conhecê-la e saber como é por dentro. O outro caminho, ativo, é amar. O amor é a penetração ativa na outra pessoa; aí, nosso desejo de conhecer é destilado pela união. No ato da fusão a conhecemos, conhecemo-nos também e conhecemos a todos — o conhecimento do que é vivo, pela experiência da união — e não por qualquer conhecimento que nosso pensamento possa dar.
O amor é o único meio completo de conhecimento. No ato de amar, de dar-me, no ato de perscrutar a outra pessoa eu me encontro e descubro; descubro-nos a ambos, descubro o ser humano.
A ardente aspiração de nos conhecer e conhecer nossos semelhantes encontrou expressão na sentença délfica “Conhece-te a ti mesmo”.
Na Filosofia Rosacruz vemos que o problema de conhecer o ser humano é paralelo à questão religiosa de conhecer Deus, mas não meramente como o faz a teologia convencional do Ocidente, tecendo afirmações a respeito de Deus, presumindo que O possamos conhecer apenas pelo pensamento. Mais ainda, une-se o intelecto ao coração (“cabeça” e “coração”), o conhecimento ao misticismo, acrescentando a experiência da união com Deus, na qual não há mais lugar para dúvida nem necessidade de palavras. Todavia, a experiência de união com o ser humano, ou, religiosamente falando, com Deus, não é de modo algum irracional. Ao contrário, é a consequência do racionalismo e seu efeito mais audacioso que se realiza pelo humilde reconhecimento de que, embora não possamos “aprender” tudo, por ora, do segredo do ser humano e do universo, podemos, não obstante, conhecer o semelhante e Deus nos atos de amor.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1967)
Qual é o conceito de felicidade que a Escola Rosacruz preconiza
Chegado é o tempo de nós, seres humanos, já bem conscientes de nossos deveres e finalidades da nossa existência, verificarmos se realmente estamos vivendo como esperaria Deus, de quem somos filhos e partes integrantes, dentro do nível particular da nossa evolução.
Em tempos bastante remotos, nada conhecíamos de nós mesmos como indivíduos; nada sabíamos de nós próprios, nem física nem espiritualmente. Com o decorrer de milhões de anos, vida após vida, fomo-nos gradativamente elevando da inconsciência para a consciência, chegando hoje à possibilidade de saber muito a respeito do homem real, o tríplice espírito interior. Dessa grande realidade não são todos ainda conhecedores; mas nem por isso ela deixa de ser real. Como as estrelas, o oceano, a luz e todas as demais coisas que se revelam ao sentido da visão, existem em realidade, embora os cegos não as possam ver, assim também são as coisas espirituais, em relação ao ser humano materializado. Ora, assim como nós acreditamos nos altos postulados da ciência, embora pessoalmente não tenhamos recursos intelectuais para comprová-los, também as pessoas descrentes poderiam, por analogia, encontrar razões para confiar nas dezenas de testemunhos convergentes daqueles que relatam as coisas espirituais, como um homem normal a descrever para o cego as realidades da natureza física.
Basta aplicarmos a lógica para que tudo se torne mais coerente e simples. Dura é aquela verdade expressa nos Evangelhos: “Cego é o que, vendo, não vê”. Ao nosso redor a natureza fornece todos os elementos de correlação para avaliarmos a realidade da vida e dos mundos espirituais. Permito-me ainda lembrar ao caro leitor que, se antes não nos era possível conhecer a nós mesmos, por falta de consciência e razão, hoje não se justifica mais nossa ignorância em assunto tão vital. A graça que me foi dada, de mais profundamente conhecer o cristianismo e a realidade do meu ser, quero compartilhá-la com você, leitor e leitora, oferecendo-lhe a mais formosa filosofia que já foi dada ao mundo: a Filosofia Rosacruz.
Talvez você esteja bastante desiludido com tudo o que diga respeito à religião. Não há razão para isso: as falhas são dos seres humanos e não dos princípios Cristãos. Mais desiludido ainda talvez esteja com as chamadas coisas reais do mundo. Também não há razão para isso. Tudo é sagrado e bom. O mal está no mau uso que os seres humanos fazem de tudo, na pretensão de que possam possuí-las, quando em realidade são eles os possuídos pelas coisas e têm de abandoná-las, ao morrer.
Em verdade, você pode e deve ser feliz, porém isso depende da harmonia interna e de uma visão correta das coisas. Você é um estrangeiro, disse o Cristo; o seu reino, a sua pátria não é deste mundo. Sua felicidade, portanto, não reside na posse de artigos materiais, na fama que possa desfrutar entre seus semelhantes, no poder que possa exercer sobre os outros, nem no amor, esse amor comum e desvirtuado. Essas são as motivações da ação, os meios de atrair e fazer evoluir os seres humanos que ainda não encontraram interesse em coisas elevadas. Essas são fontes comuns de amargura, sofrimentos e desilusões. Não conduzem a algo efetivo ou real. São apenas meios e tentações terríveis onde o desprevenido amiúde afunda.
Veja por si mesmo: os resultados dessa dolorosa e sombria felicidade que sempre termina em dor ou enfermidade. Devemos culpar o mundo, as coisas ou nós mesmos? Seguramente, isso depende de nós. A real felicidade, escrita com letra maiúscula, de que estamos tratando está à sua espera como já esteve à espera dos que hoje vivem uma vida diferente. E estará esperando enquanto houver uma ovelha transviada, porque escrito está que haverá “um só rebanho e um só Pastor”. Essa felicidade jamais deixará de ser sentida, buscada ou vivida. Ela é o próprio fluir da harmonia cósmica que, por reflexo, escorre no microcosmo, no “homem real”, o espiritual, que nunca nasceu e jamais morrerá: você.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1966)
Sempre adquirimos o saber a partir dos esforços de outros, assim o que acrescentamos para que vem depois?
A pedra atirada na superfície da água forma ondas que se propagam até muito distante do ponto de origem. A ação do badalo na parede do sino produz sons que alcançam grande distância do campanário. Uma ação gera uma resposta parecida em múltiplos corações e uma vida deixa uma esteira que serve de farol, de norte, de modelo para outras vidas. Nenhum ato é tão pequeno que não produza efeito. Ninguém é tão insignificante que não influa sobre outra existência. Mesmo o bebê afeta a vida dos pais.
Quem não se lembra daquela viúva que, certo dia, aproximou-se silenciosamente da arca do Templo para colocar dentro dela a sua oferta de duas moedinhas? Tão humilde era a sua dádiva que procurou evitar ser vista entre os que podiam oferecer orgulhosamente grandes quantidades de ouro.
Contudo, aquele ato humilde e aquela oferta quase sem valor material, há quase dois mil anos, continua a mover os corações em reconhecimento a Deus e à generosidade para com o próximo.
Faz muitos anos, dois meninos divertiam-se brincando no jardim de uma mansão, na Inglaterra. Um era o filho do jardineiro; o outro, do dono da propriedade. Em dado momento, o menino rico caiu na piscina de natação e, sem sombra de dúvida, teria se afogado, não fosse o menino pobre que, sem medir consequências, lançou-se na água para salvá-lo.
Sua generosa ação comoveu o dono da casa que, de alguma forma, desejou recompensá-lo.
— “Que podemos fazer pelo garoto?”, perguntou ao pai.
— “Se for possível, que os seus estudos sejam custeados”, respondeu o jardineiro.
Passaram-se os anos. O menino rico tornou-se um grande estadista, um dos maiores homens da História contemporânea. Certo dia, porém, foi gravemente acometido de pneumonia. Sua vida estava em sério perigo. A Inglaterra inteira estava apreensiva com a enfermidade do homem que a levara à vitória, na Segunda Guerra Mundial. Havia apenas um remédio, recém-descoberto e muito raro, que pudesse salvar sua vida. Fora ele descoberto pelo filho do jardineiro: era a penicilina.
Dessa forma, por duas vezes Alexander Fleming salvou a vida de Winston Churchill. Por outro lado, enquanto o generoso ato de Fleming em sua infância o levou à fama mundial, a ação do pai de Churchill contribuiu mais tarde para salvar a vida de seu filho.
O que trazemos para este mundo deve ser posto a juros de ação e convertido em mais alma. Nesse processo dependemos das realizações dos demais, do trabalho que eles realizaram.
É verdade que nos empenhamos na aquisição de conhecimentos; mas em grande medida, adquirimos o saber a partir dos esforços de outros. Por conseguinte, nada mais justo do que acrescentarmos, nós mesmos, alguma coisa ao acervo cultural do meio em que nascemos.
Se falharmos no cumprimento desse dever, outros se sentirão inclinados a seguir os nossos passos. Se nele nos empenharmos, outros se inspirarão em nossa vida no momento de desânimo.
Passamos mais uma vez por este mundo e devemos, ao abandoná-lo, procurar deixá-lo melhor do que o encontramos, quando a ele viemos. “Ninguém vive para si e ninguém morre para si”. Cada um deixa os sinais das suas pegadas por este mundo. Que as nossas indiquem as alturas para os que vierem atrás de nós e lhes deem ânimo na cansativa, mas bela luta de abrir caminho rumo à luz.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1967)
Um Exemplo de um Amigo Verdadeiro
Em certa ocasião, um judeu caminhava sozinho de Jerusalém para Jericó. Era um lugar deserto, cheio de pedras e cavernas. Aí moravam ladrões e malfeitores que às vezes saíam das cavernas para assaltar os que passavam por ali.
Quando esse judeu passava por um desses lugares solitários, foi assaltado, espancado e deixado como morto, sem dinheiro e sem roupa.
Ferido daquela maneira, o pobre homem não poderia chegar a Jericó e, além disso, não havia quem o socorresse.
Depois de algum tempo alguém passou por ali: um sacerdote judeu. Era de se esperar que parasse para ajudar o pobre ferido. O sacerdote, porém, nem se aproximou dele. Olhou apenas e continuou a viagem. Mais tarde, passou pelo lugar um mestre judeu chamado de levita. Observando o pobre homem, aproximou-se para ver o que havia acontecido.
Parou um momento, mas parece que se arrependeu de tê-lo feito. Por que se desviara do seu caminho? Por que havia notado esse miserável? Era certo que o homem necessitava de ajuda, mas ele era orgulhoso demais para ajudá-lo. Talvez o ferido fosse um samaritano.
Os samaritanos e os judeus não gostavam uns dos outros. Não se consideravam bons vizinhos, nem se tratavam bem. Não era imprudente expor-se ao perigo para ajudar um estranho? Ajustando seus vestidos, o levita retirou-se.
Em seguida, aproximou-se um homem montado em um burrinho. Vinha de Samaria; também ele avistara o ferido, mas não pensou nas diferenças que existiam entre samaritanos e judeus. Ele sabia que o pobre homem necessitava de ajuda e sentiu compaixão por ele.
O samaritano retirou sua própria túnica e a pôs sobre o ferido. Em seguida, untou suas feridas com azeite. Com muito cuidado ele o colocou sobre o burrinho e, andando ao seu lado, levou-o até à hospedaria mais próxima.
Durante toda a noite, o bom samaritano cuidou do ferido. Na manhã seguinte, este ainda não estava em condições de ir para casa. Ao sair, o Samaritano deixou dinheiro com o hospedeiro, para que ele cuidasse do seu amigo.
Crianças, sejam gratas ao bom Deus por todas as coisas e procurai fazer o bem a todos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1966)
Os Requisitos Necessários para que o Nosso Progresso Espiritual se estabeleça em Base Sólida
Certo dia estávamos conversando sobre assuntos espirituais com uma irmã da Fraternidade Rosacruz, quando ela aproveitou o ensejo para nos fazer esta indagação: quais são os requisitos necessários para que o nosso progresso espiritual se estabeleça em base sólida, isento de qualquer aspecto dubitativo?
Essa pergunta nos impeliu a meditar um pouco, antes de responder, pois compreendemos perfeitamente a responsabilidade que assumimos quando somos solicitados a opinar sobre algo de tamanha reverência. Respondemos que não pode haver progresso espiritual sem três qualidades fundamentais: Sinceridade, Amor, Lealdade. Se assim respondemos, é porque temos procurado pautar nossa existência por esses três princípios e as experiências que temos vivido dia a dia nos dão plena convicção de que deve ser assim. Ademais, isso se confirma quando analisamos fatos decorrentes da inobservância desses princípios.
Quando Cristo-Jesus divulgava Seus ensinamentos maravilhosos em nosso mundo, deixava sempre transparecer que não devemos fazer a outrem aquilo que não queremos que nos façam, pois nisso há Sinceridade; isto é, a coerência conosco mesmos. Aquele que se identifica com o sentimento de sinceridade é digno de crédito em qualquer circunstância.
Depois vem o Amor, o qual, sem sombra de dúvida, é a base, o fundamento, o ideal e a coluna mestra do Cristianismo. Sem esse sentimento sacrossanto não podemos sequer cogitar o crescimento espiritual, porque ele é o princípio que neutraliza todas as dissenções e discrepâncias existentes entre os homens. No entanto, para que esse Amor opere prodígios é necessário que seja um Amor sincero. A sinceridade é a qualidade inerente ao próprio Amor e o meio de sua subsistência.
Finalmente vem a Lealdade, a única condição que pode provar realmente se o Amor é sincero, desprendido, desinteressado. Como consta em nosso Ritual do Serviço do Templo, “Se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós e, em nós, é perfeito o Seu Amor”, concluímos que esse é o magno princípio que devemos albergar em nossos corações; contudo, não pode ser duradouro, se não se revestir de Sinceridade e Lealdade.
Assim, fazemos um apelo aos que anseiam pelo crescimento espiritual, para que procurem integrar-se ao reto viver, pois gradativamente sentirão o desabrochar dos poderes latentes do espírito, mediante estes três maravilhosos princípios: Sinceridade, Amor, Lealdade.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1967)
Pergunta: Lemos sobre almas novas e almas velhas. Não nos iniciamos todos nesta vida terrena ao mesmo tempo, ou alguns já vieram para cá em uma onda de vida anterior? Não são os de cor branca da mesma idade anímica?
Resposta: Começamos ao mesmo tempo como Espíritos Virginais, em nossa peregrinação evolutiva; entretanto, desde o início alguns adaptaram-se mais ao ambiente. Portanto, desde os primórdios, alguns atrasaram-se nessa escola da vida, da mesma forma que acontece atualmente com as crianças, em nossas escolas. Alguns são mais precoces que outros, e estes, naturalmente, são mais capazes de passar, na escola da vida, pelas fases da evolução, atingindo um grau de consciência mais elevado.
Assim, a onda de vida que hoje é humana dividiu-se automaticamente em várias classes que agora conhecemos como raças branca, negra, vermelha e amarela; os mais atrasados da escola são atualmente os antropoides superiores (bonobos, chimpanzés, orangotangos e gorilas). Por outro lado, há os que se revelaram particularmente precoces e galgaram mais degraus, em termos de evolução, do que a maior parte da humanidade. São pouquíssimos, comparativamente falando; no entanto, encontramo-los entre os Iniciados, Adeptos e os Irmãos Maiores da humanidade, que estão no topo da escada da onda de vida humana. Por conseguinte, é certo que todos nós estamos percorrendo a estrada da evolução no mesmo período de tempo, mas alguns foram mais adaptáveis, mais diligentes. Consequentemente, acumularam para si mais experiência. É isso que constitui realmente a idade da alma, de forma que aqueles que alcançaram maior conhecimento podem ser chamados “almas velhas”, enquanto aqueles que estão atrás são, falando em termos comparativos, “almas novas”. Os Espíritos que habitam os antropoides podem ser considerados “sem alma”.
(Pergunta nº 35 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. 2)
Pergunta: Desejaria fazer uma pergunta a respeito da declaração feita por Max Heindel em alguns dos seus artigos, no sentido de que, quando o Ascendente está em Áries, isso mostra que o nativo seja uma alma nova, ou, em outras palavras, esteja no início da manifestação material. Em oposição a isso, Max Heindel diz também que sempre que o Ascendente ocorre em Escorpião indica que a dissolução começou a ocorrer.
Porém, enquanto o aspecto relativo a Áries indica uma proposta física, o relativo a Escorpião deixa-nos em dúvida. O aspecto de Escorpião está relacionado unicamente ao físico, de que forma? A dissolução ocorre imediatamente ou será de natureza gradual, culminando finalmente na passagem pelo Signo de Peixes?
Max Heindel declara também ser difícil elucidar o horóscopo de uma criança de sete meses, porque parece estar fora da linha relativa ao nativo. Eu sou um exemplo de criança nascida aos sete meses e posso comprovar a veracidade dessa declaração. No entanto, levando em consideração a primeira parte desta carta, não consigo ver como poderia reconciliar, em minha Casa, as condições relativas ao Ascendente de cada membro com a aparente indicação e inclinação de cada um como opostas a mim.
Resposta: Mesmo que tivéssemos feito a declaração que o consulente nos atribui, ou seja, que aqueles que têm Áries no Ascendente sejam almas novas, isso não poderia servir-lhe de orientação neste caso, pois admite ser uma criança nascida aos sete meses. Em consequência, os princípios gerais não poderiam ser aplicados em seu caso. Contudo, na realidade, nunca fizemos tal declaração. Se procurar a passagem à qual se refere, verá que sua memória o enganou. O que dissemos, e ainda dizemos, é que o Espírito nasce sob todos os doze Signos a fim de adquirir a experiência advinda de cada um deles; e podemos considerar como princípio, falando em termos gerais, que os que nascem com Áries no Ascendente entraram recentemente em um novo ciclo de vida, uma espiral mais elevada no caminho de sua evolução.
Torna-se evidente que alguns de seus familiares ou outros que o rodeiam possam ter qualquer um dos onze Signos se elevando e, assim mesmo, estar a um ou mais degraus, ou espirais, abaixo ou acima daquele que tem Áries no Ascendente. Quando isso for entendido, compreenderemos facilmente que quando uma pessoa alcança Escorpião, o Signo da morte e da dissolução, os frutos de todas as vidas regidas pelos vários Signos precedentes estão começando a amadurecer e a dissolver-se para que, quando o Espírito progredir através de Capricórnio, Aquário e Peixes, esses frutos sejam gradualmente assimilados, a semente amadureça para permitir a entrada da alma em Áries e, assim, iniciar um novo ciclo de vida.
Devemos também entender que o número de nascimentos referentes a qualquer Signo particular varia de acordo com a adaptabilidade do Espírito e a facilidade com que aprende as lições programadas para ele pelas Divinas Hierarquias. Só pode haver um único nascimento sob Áries num determinado ciclo de vida e, talvez, cinco ou dez sob os outros Signos; e vice-versa, de forma que, se dois espíritos tivessem que nascer sob o Signo de Áries na mesma espiral de evolução e um dentre eles se mostrasse diligente na aprendizagem de suas lições na escola da vida, poderia ser promovido à classe de Touro ou mesmo Gêmeos, antes que o outro deixasse Áries. Tendo ele uma especial preferência pelo trabalho de Gêmeos, poderia acelerar-se, ultrapassando o outro que marcharia lentamente pelo caminho de Câncer e assim por diante. Não há regras definidas. Tudo depende da qualidade inerente ao Ego e o que um faz não pode servir de critério para o que o outro possa fazer. Por isso, não podemos julgar a condição de qualquer um examinando apenas o seu Ascendente.
Só há um método que fornece solução aproximada para a questão da intenção das Divinas Hierarquias a respeito de uma vida particular, que é comparar a progressão relativa do Ascendente com a do Meio-Céu. Ao fazer isso, podemos notar que um deles esteja movendo-se mais rapidamente que o outro. Suponhamos, por exemplo, que estejamos acompanhando o horóscopo de uma pessoa durante quarenta anos. Digamos que um grau de Áries esteja no Meio-Céu e um grau de Câncer, no Ascendente, no momento do nascimento. Imaginemos, então, que, aos quarenta anos, o Meio-Céu tenha progredido até Touro, 5, e o Ascendente, até Leão, 15. Isso mostra que o Meio-Céu percorreu 35 graus, enquanto o Ascendente andou 45. O Meio-Céu indica as tendências espirituais e as oportunidades na vida e o Ascendente mostra o lado material. Assim, é evidente que as oportunidades colocadas diante daquele Ego foram principalmente materiais e a tendência da sua evolução, na vida que estamos considerando, seria especialmente terrena.
Contudo, preste atenção a isto: o horóscopo, como reiteramos repetidamente, só mostra as tendências e é perfeitamente possível que uma pessoa com tal horóscopo decida seguir seu próprio caminho e cultivar todas as oportunidades espirituais que puder. Se ela tiver suficiente força de vontade, poderá mudar completamente a sua vida. Outra, cujo Meio-Céu progrida mais rapidamente do que o Ascendente, poderá encontrar dificuldades em atingir o sucesso material, mas terá todas as oportunidades para o crescimento anímico que almejar em seu caminho. Poderá também decidir governar as suas estrelas e ser bem-sucedida nos casos mundanos, mas o fato de conseguir isso, ou não, dependerá da sua força de vontade em oposição à indução das estrelas.
(Pergunta nº 36 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. 2)
Vença o Mal com o Bem
Quando, no início de nossos esforços para viver uma vida superior, nós nos examinamos e julgamos a cada noite, conforme previsto no exercício noturno usado pela Fraternidade Rosacruz, o de Retrospecção, encontramos naturalmente dentro de nós muitos hábitos e qualidades de caráter que consideramos indesejáveis, que dificultam nosso avanço e que, imediatamente, tentamos erradicar.
Então começa a luta contra a natureza inferior, que muitas vezes sobrecarrega nossa força ao máximo, pois descobrimos que, ao nos opormos a essas tendências, elas parecem se fortalecer e resistir a nós com um poder cada vez maior. Isso ocorre porque essas disposições estão profundamente enraizadas em nossa natureza e são, consequentemente, difíceis de desalojar. Ao nos opormos ao mal, nós o fortalecemos, fazemos com que ele revide e, assim, derrote nosso objetivo.
Existe um método, no entanto, pelo qual podemos atingir nosso objetivo com muito menos gasto de energia e, com este fim, São Paulo nos deu a chave, quando disse: “Não sejam vencidos pelo mal, mas vençam o mal com o bem”. Nessa declaração, ele enuncia um princípio bem estabelecido de treinamento oculto, que é superar todo o mal de nossa natureza, transmutando-o em bem.
É óbvio para qualquer um que não possamos ter qualidades de natureza exatamente oposta. Não podemos ser tanto santos quanto pecadores; sábios e ignorantes; pacientes e impacientes; portanto, ao cultivarmos um atributo, o outro deve necessariamente ser erradicado. Assim, vivendo uma vida de devoção a altos ideais, cultivando o bem e a verdade dentro de nós mesmos, vencemos e expulsamos nossas más tendências com tanta facilidade e segurança quanto o calor supera o frio ou a luz dissipa as trevas. Parecendo ser o caminho da Natureza, é muito mais fácil sobrepujar uma falha cultivando um bom hábito para substituí-la do que arrancá-la pelas raízes.
Além disso, é indesejável eliminar tudo o que encontramos em nossa natureza. Todas as nossas faculdades nos foram dadas para uso. É por meio delas que adquirimos experiência. O fato de parecerem más é simplesmente porque canalizamos nossa energia na direção errada. Portanto, se as matarmos, nós nos privaremos de algo que possa ser benéfico, enquanto , se transmutarmos e usarmos essa energia para o bem, não apenas erradicaremos o mal, como também adquiriremos novas faculdades de valor para o crescimento da alma. Lembrem-se de que é nossa a tarefa de purificar e refinar nossa natureza para, assim, nos prepararmos para o trabalho nos Mundos superiores.
Portanto, não gastemos tempo em resistir ao mal ou negá-lo; contudo, esforcemo-nos por cultivar ao máximo nossas naturezas mais elevadas e viver vidas de tanta pureza que, não apenas por atos, mas também palavras, pensamentos e sentimentos, possamos expressar apenas aquilo que é bom, belo e, por meio da alquimia espiritual, transformar nossa natureza inferior, transmutando o metal básico no mais puro ouro.
Nosso objetivo é nos tornar criadores autoconscientes e o primeiro passo necessário para essa conquista é deixar o amor governar supremo em nossos corações, para que não procuremos mais destruir, porém unicamente elevar e preservar. Cristo disse: “Ame seus inimigos”. E podemos ver prontamente que nossos piores inimigos sejam as próprias paixões e desejos carnais, porque impedem nosso avanço em uma medida muito maior do que qualquer força externa pode fazer.
No entanto, essas paixões têm sido o meio do nosso progresso, pois por meio delas ganhamos as experiências necessárias para o crescimento e devemos amá-las de acordo com isso.
No entanto, agora, tendo aprendido a lição, assimilando tudo o que elas possam ensinar, é necessário, a fim de avançar ainda mais, que toda faculdade seja elevada e treinada para nos servir em níveis mais elevados.
O polo oposto de todo vício é uma virtude na qual esse vício pode ser transmutado e, quando purificado, torna-se um servo valioso.
Esforcemo-nos, assim, para transmutar em bem tudo o que é ruim em nossa natureza; para tornar o que já é bom em um bem ainda maior e, logo, prepararmo-nos para ser colegas de trabalho daqueles que estão atuando para acelerar o grande Dia do Senhor.
(Publicado na Revista Rays from Rose Cross de outubro/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
O Fogo Espiritual na Tripartida Coluna Vertebral
A tripartida coluna vertebral era para os alquimistas o crisol da consciência. Sabiam que os Anjos lunares eram especialmente ativos na secção simpática da coluna nervosa, a regente das funções relacionadas à conservação e ao bem-estar do corpo; designavam essa seção com o nome do elemento sal. Viam claramente que os lucíferos espíritos marcianos governavam a seção relativa aos nervos motores, que difundem a dinâmica energia armazenada no corpo pelos alimentos; simbolizavam a dita seção por enxofre. A terceira seção, a que assinala e registra as sensações transmitidas pelos nervos, recebeu o nome de mercúrio porque, diziam, era regida pelos espirituais seres de Mercúrio.
Contrariamente ao que afirmam os anatomistas, o canal formado pelas vértebras não contém um fluido, mas um gás, semelhante ao vapor de água, que pode se condensar quando exposto à ação atmosférica; igualmente, a atividade vibratória do espírito pode sobreaquecê-lo a um grau tal que se converta no brilhante e luminoso fogo da regeneração. A esse campo, pertencente às grandes Hierarquias espirituais de Netuno, chamaram os alquimistas de azoto.
Esse fogo espiritual não é o mesmo nem brilha igualmente em todos os seres humanos. Sua intensidade depende do grau de evolução espiritual do indivíduo. Quando o aspirante à vida superior estava instruído no mistério desses símbolos, chegava a hora de falar-lhe com toda a clareza. Comunicavam-lhe os seguintes ensinamentos, ainda que sem as mesmas palavras nem da mesma maneira. Era dado ao seu entendimento, de forma clara, o seguinte.
“Sob o ponto de vista anatômico o ser humano pertence ao reino animal. Imediatamente inferior a esse reino está o vegetal, constituído pelas plantas, puras e inocentes, que se propagam sem paixão; toda a força criadora delas dirige-se para a luz, onde se manifesta na flor, formosura e gozo dos que a contemplam. As plantas não procedem de outra maneira porque carecem de inteligência, não conhecem o mundo exterior nem atuam com livre-arbítrio. Podem somente criar no Mundo Físico”.
“Acima do ser humano, na escala da evolução, estão os deuses, que criam nos Planos físico e espiritual. Também são puros como as plantas porque toda a sua força criadora se dirige para o alto e se consome de acordo com sua inteligência. Conhecem o bem e o mal; porém em seu arbítrio sempre agem bem”.
“Entre o reino dos deuses e o das plantas está o ser humano, um ser dotado de inteligência, de poder criador e de livre-arbítrio, podendo usá-los para o bem ou para o mal. No seu presente estado encontra-se sob o domínio da paixão infundida pelos espíritos de Lúcifer; por isso, para deleitar os sentidos, dirige para baixo, contrariamente à luz, a metade da sua força criadora. Progredir espiritualmente significa, em primeiro lugar, modificar essa condição, tendo em vista e como exemplo a semelhança entre a casta planta e os puros deuses espirituais, ambos dirigindo toda a sua força criadora para a luz”.
“No transcurso da evolução, o ser humano superou a etapa vegetal, cujo poder criador se limita ao mundo físico. Possuindo poder criador nos Planos físico e mental, livre-arbítrio e inteligência para dirigir o seu poder, assemelha-se aos deuses. Esse resultado foi obtido pela separação da sua energia sexual: metade foi canalizada para cima a fim de construir o cérebro e a laringe, órgãos alimentados e nutridos por essa exaltada energia sexual. Contudo, enquanto os deuses empregam mentalmente toda a sua força criadora com propósitos altruístas, o ser humano desperdiça a metade da sua com desejos e prazeres sensuais”.
“Portanto, aquele que deseja ser como os deuses deve aprender a dirigir para cima toda a sua energia criadora e empregá-la inteiramente segundo os ditames da inteligência. Só assim poderá ser como eles, criar pelo poder mental da Magna Palavra, equivalente ao Fiat Criador”.
“Recorde o tempo em que, sendo hermafrodita como a planta, era o ser humano capaz de procriar por si mesmo. E, agora, olhe o futuro através das perspectivas do passado e saiba que a sua presente condição unissexual seja apenas uma temporária fase de evolução. Em futuros tempos, terá que dirigir toda a sua energia criadora para o alto, de modo a tornar-se espiritualmente hermafrodita, capaz de plasmar ideias, infundir-lhes a vida e a vibração daquela vital energia. Assim, poderá enunciar a palavra vivente que, expressando a dual energia criadora, é o elixir da vida que brota da pedra viva do filósofo espiritualmente hermafrodita”.
“O alquímico processo de acender essa energia efetua-se na coluna vertebral, onde se encontram o sal, o enxofre, o mercúrio e o azoto. Os nobres e altos pensamentos, a meditação sobre assuntos espirituais e o altruísmo manifestado na vida cotidiana tornam incandescente a medula espinhal”.
“A segunda metade da energia criadora, encaminhada para cima através da coluna vertebral, é o fogo espírito-espinhal ou serpente da sabedoria. Ascende gradualmente e, quando no cérebro, chegando à Glândula Pineal e à Glândula Pituitária (ou Corpo Pituitário), põe em vibração esses órgãos, abrindo os mundos espirituais e capacitando o ser humano a comunicar-se com os deuses. Então, irradiando esse fogo em todas as direções, penetra no corpo inteiro, na aura e o ser humano converte-se na pedra viva cujo fulgor supera o do diamante ou do rubi. Ele é agora a pedra filosofal”.
Há muitos outros símbolos tomados da técnica química e aplicados ao processo espiritual que converte os seres humanos em pedras vivas do templo de Deus. O narrado é o bastante para demonstrar o que os alquimistas, nos termos que empregavam, queriam dar a entender e a razão por que encobriam as verdades dos seus ensinamentos sob a linguagem simbólica. Contudo, o caminho da Iniciação está e tem estado sempre aberto para todo aquele que sinceramente deseje iluminação e se comprometa a pagar o preço na moeda da abnegação e do sacrifício. Portanto, buscai a porta do templo e encontrá-la-eis; chamai e abrir-se-vos-á.
Se buscarmos devotamente, com insistência chamarmos e ativamente trabalharmos, alcançaremos a meta e nos converteremos na pedra filosofal.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1975)