Por sua natureza mesma, a Fraternidade Rosacruz não é ainda um movimento para a maioria. Não que não vamos ao encontro dos outros. Ao contrário: Fraternidade Rosacruz é consagração, é diálogo, é amizade leal, é ajuda mútua, é autenticidade, simplicidade e espontaneidade de trato. Não há quem não se sinta bem entre seus membros, exceto os mal preparados.
Mas, talvez justamente por isso algumas pessoas se retraiam. Quem sabe lá o que pensam ao serem cordialmente recebidas; ao encontrar sorrisos, faces iluminadas pelo entusiasmo e idealismo, semblantes satisfeitos, que revelam, pelas janelas dos sentidos, a interior alegria de estar em seu ambiente, de estar entre verdadeiros amigos?
Notamos, muitas vezes, uma certa desconfiança, não em todos. Não estranhamos. Compreendemos bem. Este mundo ainda tão cheio de interesses! Principalmente nas cidades maiores como São Paulo, a competição é tão rica em desamor!
Ademais, quantas desilusões não se tem no próprio campo do espiritualismo?
Por isso não estranhamos quando, ao oferecer os meios disponíveis para obter mais informações, folhetos diversos, prestamos esclarecimento de que na Fraternidade Rosacruz não há contribuição estipulada, porque tudo nós fazemos dentro de puro ideal Cristão (ou seja, tendo o Cristo como nosso único ideal) – o visitante corresponda com um sorriso meio forçado observando tudo, como quem diz: “que virá depois?”.
O depois, todos sabem, depende de cada um. A Fraternidade Rosacruz tudo oferece para que cada um aprenda a viver melhor, a verdadeira vida de Cristão, dentro das relatividades, dos defeitos e virtudes, nossos e dos outros. A tônica da Fraternidade Rosacruz é serviço. A princípio da forma que o Estudante Rosacruz melhor pode prestar, mas sabendo que o objetivo final é aquele do tipo que repetimos quando oficiando o Ritual do Serviço Devocional do Templo: “serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao irmão e a irmã que está ao seu lado, focando na divina essência oculta em cada um deles – que é a base da Fraternidade – e esquecendo todos os defeitos deles.”. Lá aprendemos a receber e depois a dar, de modo que, com o tempo possamos perguntar: “Que posso fazer por esse Ideal que foi bom para mim e o será para qualquer um?”.
Isso é o que vem depois! Chegamos a compreender que não podemos receber sempre sem pensar em dar. Tudo o que recebemos, leva consigo uma responsabilidade: a do emprego justo. Aquele que não sabe dividir limita a si mesmo. A avareza, em todos os campos é, mais do que tudo, uma doença da alma, uma prisão sem grades ao Espírito faminto de boas obras.
Não nos referimos só a dar dinheiro. É dar a si mesmo, em entusiasmo, em sentimento, em pensamentos, em atos, a fim de que um Ideal que verificamos ser bom, edificante, conveniente, seja em nossa vida um fator decisivo de regeneração, que nos torne melhores, que nos faça mais conscienciosos, mais puros, autênticos, equilibrados e, depois tudo isso se estenda aos demais.
Que deve esperar de si mesmo um Cristão que se forme médico? Ficar rico? “Gozar”?
Busquemos ser úteis à Fraternidade Rosacruz, sem esperar que os outros façam por nós. Os outros dedicados que lá servem, amorosamente, são poucos e seu trabalho é limitado. A obra não pode expandir-se, senão pela melhoria da qualidade de seus membros e pela contribuição de mais um cérebro, de mais um coração, de mais um braço, cheios de convicção, de amor e de entendimento.
Isso é o que esperamos “depois”. Aliás, não somos propriamente nós, é o Cristo. Ele, continuamente, nos fita com aqueles olhos expressivos, há tempos amorosos, perscrutadores e severos, sem nada pedir, sem nada perguntar, esperando…
Que estamos fazendo dos conhecimentos que recebemos? Se a Fraternidade Rosacruz nos torna melhores, que valia isso tem? Para que os outros nos apreciem e elogiem? Para que sejamos mais felizes, para conseguirmos mais harmonioso trato?
Respondemos com um assertivo: não! O Sol não retém sua luz, a fonte não detém suas águas, a árvore não impede os frutos. Só o serviço dignifica e justifica a posse. É uma lei natural irreprimível. A esse respeito disse o Cristo: “Aquele que quer salvar sua alma, perdê-la-á: aquele que a perder por minha causa ganhá-la-á“[1].
Esclareçamos bem isto: a Fraternidade Rosacruz não pede para si, senão para a Humanidade, para a “Vinha de Cristo”. Ao servir nessa causa impessoal e amorosa, estamos servindo a nós mesmos, em última análise, embora, não devamos agir pela recompensa, mas pela convicção de um dever.
O inverso é verdadeiro, também: o conhecimento egoisticamente represado se deteriora. Como a seiva contida no tronco de uma árvore ao ser cortada fora de tempo, do mesmo modo todas as possibilidades que pensamos poder guardar para o nosso próprio benefício, nos fazem carunchar… tornando-nos, após a morte, imprestáveis para obras maiores, senão para servir de lenha, para alimentar o fogo consumidor das coisas que o espírito não pode assimilar.
Para ser uma verdadeira Fraternidade Rosacruz, seus membros devem ter qualidade e devem saber servir!
(Editorial da Revista Serviço Rosacruz – setembro/1966 – Fraternidade Rosacruz – SP)
[1] N.R.: Mt 16:25 e Mc 8:35
A vida super-agitada das grandes metrópoles cria a necessidade de uma constante higiene mental, único meio de que dispomos para escapar ao depauperamento nervoso. Embora admitindo esta necessidade, devemos nos acautelar a fim de que higiene mental não se transforme numa poluição mental. Isto significa que devemos estabelecer criteriosamente uma programação de atividades extraprofissionais e extra rotineiras, suficientemente capaz de manter nosso equilíbrio nervoso e nossa tranquilidade interna. Para tanto o bom senso recomenda recreações ao ar livre, convescotes, esportes, leituras instrutivas e espirituais, passeios a lugares interessantes, músicas elevadas, entre outras.
Infelizmente poucas são as pessoas que realmente selecionam suas leituras e passatempos. Há seres humanos que após uma semana cansativa e neurotizante dedicam o sábado e o domingo a assistir televisão. Permanecem enclausurados horas a fio em uma sala escura, mal arejada, recebendo os impactos negativos de programas destituídos de qualquer sentido edificante. Às músicas enervantes, sucedem-se cenas degradantes, anedotas pornográficas e outros.
A avidez de notícias na maior parte das vezes banais e sem interesse no que concerne afirmação moral, leva muitas pessoas a entregarem-se a leitura de jornais e revistas sem conteúdo espiritual ou cultural. Acaso relatos sobre homicídios, tragédias, sensualismo, adultério e estelionato constituem bom alimento para a alma? A assimilação destes impactos negativos só pode resultar em distorções dos nossos sentimentos, num atendimento às reivindicações da natureza inferior. A boa ou má formação de nossos veículos depende das impressões recebidas do exterior. Nosso Corpo Vital grava todas as imagens recebidas do ambiente em que vivemos. Esta impressão de imagens, se realizada com muita frequência, tende a formar hábitos, bons ou maus, dependendo do que os originarem. Os hábitos formam o caráter. E caráter é destino!
Se almejarmos de fato aprimorar nossas qualidades para convertermo-nos em mais eficientes servidores na “Vinha do Cristo”, cuidemos para que nossos passatempos e diversões sejam sadios, constituindo-se em higiene mental na mais fiel expressão da palavra.
(Gilberto A. V. Silos – Editorial da Revista Rosacruz – novembro/1972 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Será que nós, Estudantes Rosacruzes, ao efetuarmos diariamente nosso exame de consciência, já indagamos a nós mesmos, se por ventura, temos concorrido com um mínimo de cooperação para que a disseminação do ideal Rosacruz seja uma realidade? Será que temos contribuído dentro de nossas possibilidades para o engrandecimento da obra encetada por Max Heindel?
Em verdade, somente a nossa consciência pode alertar-nos para o papel que nos cumpre desempenhar dentro da Fraternidade, avaliando os nossos talentos e indicando-nos como eles poderão ser aplicados dentro do programa de expansão Rosacruz. A obra carece de ajuda, dependendo muito da nossa dedicação, da nossa sinceridade e do nosso trabalho para consolidar-se como precursora de Aquário.
A Fraternidade Rosacruz talvez seja algo muito mais grandioso do que imaginamos. Não podemos restringi-la, conceituando-a apenas como uma comunidade filosófica espiritualista, como outras que existem por aí, orientando e instruindo os interessados através de livros, folhetos e conferências.
A missão, o ideal, os meios, o programa e a estrutura da Fraternidade Rosacruz formam um conjunto que transcende a tudo que podemos conceber como sendo edificante.
Os Irmãos Maiores, por meio de Max Heindel, outorgaram ao mundo algo inédito, original, sem paralelos; uma filosofia que expõe e elucida os mais intrincados problemas sociais e espirituais, dentro de um elevado padrão de lógica e reverência, diante do qual se esboroam todos os argumentos contrários. Max Heindel colocou ao nosso alcance um cabedal de conhecimentos, cuja beleza mal pode ser expressa por palavras. Tais princípios atendem perfeitamente as exigências de uma época onde o racionalismo e o espírito inquiridor ante-empírico repelem tudo o que não se enquadra em seus domínios. A Filosofia Rosacruz é atualíssima e, concomitantemente, abre perspectivas maravilhosas quanto ao futuro da humanidade.
Se verdadeiramente sentimos que ela veio preencher algo em nossas vidas, se ela nos tem proporcionado um vislumbre maior do mundo em que vivemos, se através de seus ensinamentos estamos penetrando e conhecendo nosso próprio ser, então, é necessário que sejamos coerentes conosco mesmos, arregaçando as mangas e trabalhando pelo seu crescimento, da maneira que pudermos.
Sozinhos, pouco ou nada poderemos realizar, mas se houver união de esforços, concatenando-se os talentos de cada um em prol de um objetivo, as possibilidades de êxito serão bem maiores.
Nunca será demasiado repetir que o ser humano isolado é uma impossibilidade. Reiteramos sempre por nosso Oficio Devocional: “um só carvão não produz fogo. Mas, quando se juntam vários carvões, o calor latente em cada um deles pode produzir chama, irradiando luz e calor”.
Somos apologistas do trabalho de equipe, porquanto este apresenta inúmeras vantagens, como por exemplo, o alcance de um máximo rendimento em tempo mínimo, mediante o aproveitamento racional das qualidades e aptidões de cada um em função do todo. Além disso, sua ação faz-se sentir individualmente, revertendo em benefício de cada elemento, em forma de disciplina, solidariedade, harmonia, companheirismo e expansão natural das próprias qualidades. Contudo, o trabalho em equipe requer também uma boa dose de boa vontade, de sinceridade, de entendimento, de sentimento altruísta e ausência de personalismo. São estes requisitos que possibilitam a um grupo relativamente heterogêneo empreender e concretizar obras de vulto, num sentido comum.
Essencialmente Cristão, o método Rosacruz de desenvolvimento prevê esses dois aspectos: individual e coletivo. O trabalho coletivo se realiza por meio dos Núcleos Rosacruzes (Centros e Grupos Formais e Informais) ou de esforços empreendidos por irmãos nossos, não importa sob qual título, com objetivos edificantes. De outro lado, o método Rosacruz indica meios de realização estritamente individuais, que objetivam aprimorar o Aspirante, de modo a permitir-lhe transcender os entraves internos separatistas e integrá-lo cada vez mais perfeitamente no puro sentido de equipe, dentro da unidade cristã que representará o coroamento da presente época evolutiva: “um só rebanho e um só Pastor”: o Cristo.
Em decorrência, todo e qualquer trabalho executado pela Fraternidade Rosacruz deve ser executado dentro daquele princípio que denominamos SERVIÇO AMOROSO E DESINTERESSADO AOS DEMAIS. Se algo feito com amor, despido de qualquer sentimento de interesse pessoal, será por certo duradouro; porém, se levar a marca do egoísmo, será como um castelo edificado sobre a areia e, mais cedo ou mais tarde, acabará em ruínas.
Nosso labor não deve esperar recompensa, mas, sim, resultados que beneficiem a coletividade. Felizes seremos quando formos capazes de prodigalizar tudo aos demais sem nada esperarmos em troca, a não ser novas oportunidades de servi-los. O simples pensamento de RECEBER já revela indícios de egoísmo, ao passo que o desejo de DAR suscita o sentimento de amor. Isto se ajusta à seguinte afirmação de um pensador: “Quem professa a filosofia do receber, confessa sua falência em dar”.
O Estudante sincero e devotado não procura saber o que poderá receber da Fraternidade Rosacruz, mas sim o que lhe possa dar.
Estamos trabalhando na “vinha do Cristo” e isso, somente isso, já justifica e compensa plenamente todo o sacrifício e esforço que empreendamos em prol desse ideal sublime.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1967)