Bem no fundo do nosso coração existe o anseio místico que foi implantado no primeiro Natal, quando a luz de Cristo fixou um lugar definido dentro e sobre este denso Planeta Terra.
A história do nascimento de Cristo quer seja entendida literal, mística ou simbolicamente, traz a cada um de nós uma verdade fundamental que eleva todo o nosso ser a uma altura não alcançada até então, à medida que nossas faculdades espirituais evoluem e funcionem para perceber e aceitar tal verdade.
Para o Aspirante à vida superior, as palavras de Cristo, “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6) carregam um significado transcendente. Parsifal pergunta: “Quem é o Graal?”. E a resposta indica uma elevada percepção espiritual:
Se tu foste por Ele convidado,
De ti o fato não será afastado…
À terra para Ele nenhum caminho conduz,
E a busca só nos afasta mais d’Ele, até,
Quando Ele próprio o Guia não é.
Uma verdadeira interpretação da lenda do Natal requer, antes de tudo, um entendimento. Por mais obscuro que ela seja no início, o nascimento do menino Jesus na manjedoura, no estábulo entre os animais, simboliza o primeiro e tênue nascimento da consciência de Cristo dentro de nós.
A minúscula chama interior, que é a chama de Cristo, está adormecida dentro de nós. Ela agora recebe um estímulo suficiente para crescer e se ampliar até que, afinal, nos tornemos um fator poderoso na nossa própria e o primeiro passo em direção a Deus-Pai, por meio do Cristo, o Deus-Filho.
Já alcançamos um estágio nesse Esquema de Evolução que percebemos o nosso veículo de expressão, um conjunto de Corpos e uma Mente, já o vivificamos, de modo que, entre os “animais” da nossa natureza inferior, na manjedoura ou no local de alimentação das nossas faculdades animais, o “bebê” da Consciência Crística nasce. A manjedoura, o berço do Menino Jesus, é um lugar de santuário.
Uma grande manifestação solar se concretiza no Natal. Os grupos de forças que compõem essa manifestação foram personalizados ao longo dos tempos. A história bíblica, quando interpretada corretamente, contém uma aproximação da verdade real. Toda a história do Natal é um símbolo universalmente aplicável.
Em uma data, que hoje chamamos de 25 de dezembro, nasceu o Irmão Maior Jesus, o ser humano que teve a benção de ceder seu Corpo Denso e o seu Corpo Vital – depois, quando tinha 30 anos de idade – ao Cristo, a Luz do Mundo, o portador da Luz espiritual para todos nós. Desde a antiguidade, muitos mitos dizem respeito ao nascimento do “Cristo místico”. Quer tenha nascido em uma caverna, um estábulo ou em outro lugar, esse nascimento tem dois grandes significados simbólicos:
1. O nascimento da “paz na terra aos homens de boa vontade”. A entrega de uma nova Lei a nós, expressa aqui: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13:34).
2. O nascimento da consciência Crística para aqueles que, verdadeiramente, aspiram às alturas da verdade espiritual. Nenhuma contradição pode contrariar essa verdade universal.
Em sentido Cósmico, o Natal celebra a descida da Luz Divina, o Espírito penetrando e permeando a matéria. No sentido humano, é a descida do Filho de Deus, a Luz Espiritual, à matéria, a entrada do “Ego no Corpo Denso”.
A Véspera de Natal, entre 24 e 25 de dezembro, é considerada a noite mais sagrada do ano, porque nessa meia-noite as influências espirituais são as mais fortes. Na Iniciação, o candidato, por meio da visão espiritual, vê a mística Estrela de Belém, o Sol espiritual que brilhou na Noite Santa, que o conduz ao Cristo interior. Em seu coração ecoa uma canção profética e imortal: “Paz na terra e boa vontade para os homens. (Lc 2:14). Alegrai-vos, filhos da Terra, porque hoje vos nasceu um Rei” (Lc 2:11), os Serafins cantaram naquela Noite Santa, muito tempo atrás.
Presentes foram trazidos para o nascimento de Jesus no casebre do pastor — preciosas dádivas de ouro, incenso e mirra: poder espiritual, sabedoria e movimento foram derramados sobre a criança recém-nascida, a Luz Crística no coração humano, o bebê nos braços de sua mãe, a grande mãe Terra que carrega, nutre e preserva o minúsculo veículo vital. Esses dons, ou qualidades, foram derramados pelos gloriosos Magos dos reinos Cósmicos, que abençoam e enriquecem cada nascimento espiritual e individual.
Esses poderes, em relação à e irradiados pela luz prateada da esplêndida Estrela Crística, derramam sobre nós, ainda que fracos e sofredores, sua influência e força estimulantes, sem as quais o curso nesse Esquema de Evolução seria, para cada um de nós, muito mais difícil e prolongado.
Os Magos, elevados Iniciados, foram atraídos para o lugar sagrado por sua percepção interior e pelo conhecimento do evento cósmico que aconteceria: o nascimento do “Salvador do mundo”. Os três Reis Magos representam aqueles Egos avançados que foram reunidos em propósito comum das três Raças primárias. Seus dons significam as várias faculdades ou invólucros humanos que entram no processo de manifestação. Eles são conduzidos pela gloriosa Estrela ao “Salvador do Mundo”, cujo objetivo da forma física era fornecer um veículo material e etérico para um Espírito universal, o Cristo.
Um dos Reis Magos trouxe ouro, designado simbolicamente como o emblema do Tríplice Espírito.
O outro trouxe o incenso, que é uma substância física de natureza muito leve, frequentemente usada em serviços religiosos, simbolizando o nosso Tríplice Corpo.
E o outro trouxe mirra. É o extrato de uma planta aromática muito rara. Simboliza aquilo que nós (por meio do nosso Tríplice Espírito), trabalhando sobre o nosso Tríplice Corpo, extraímos por meio da experiência no Mundo Físico: a Tríplice Alma.
Maria, a mãe, era o foco da luz, o sagrado crisol etérico onde acontecia a transmutação dos elementos. Ela representa o ideal da pureza, devoção e humildade que torna possível o renascimento do mais evoluído dos Egos humanos.
Os pastores que viram a Estrela caracterizam a visão interior do Fogo Divino, conforme esse Fogo vem para aqueles no plano terrestre, cuja piedade abriu a janela da alma e ativou a Clarividência. O discernimento deles lhes permitiu ver a glória nos Céus e sentir os impulsos espirituais irradiando da Estrela maravilhosa.
A Estrela que simboliza a chama de forças concentradas para trazer à expressão material uma apresentação física do Logos, o “Salvador do mundo”.
Naquele dia o ar estava reverentemente silenciado, como se prendesse a respiração, pois naquele momento estava arrebatadoramente focado em Belém (que significa nascimento). Silêncio, solidão e adoração desenvolvem o olho perspicaz, o ouvido interno e o Espírito sensível.
Especialmente neste Natal não devemos centralizar nosso pensamento nessas verdades? Não devemos meditar sobre a verdadeira interpretação da sublime narrativa do Natal, aprofundando nosso conhecimento e avivando nossa compreensão sobre esse evento místico? Não devemos centrar nossos esforços na expansão de nossa capacidade de servir?
Celebremos este Natal prestando ao Menino Jesus o amor e a homenagem que Lhe são devidos, além dos nossos dons e bênçãos.
Regozijemo-nos com os pastores: “Porque vimos a Sua Estrela no oriente e viemos adorá-Lo” (Mt 2:2). Ele, que ilumina a cada um de nós que viemos ao mundo, permanecendo iluminando o nosso Caminho (querendo a gente ou não).
Afinal, como símbolo da Verdade e da Vida, a Estrela de Belém revela o caminho que conduz a Deus-Pai. Pois foi Cristo que nos ensinou: “Para onde Eu vou, vós também ireis” (Jo 14:2).
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross novembro/dezembro/1995 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Suponhamos que Nosso Senhor nos aparecesse em sonho, tal como o fez com Salomão, e nos fizesse a mesma solicitação: “Pede-me o que queres que eu te dê” (IIRe 3:5). Qual seria a nossa resposta, a resposta de uma pessoa comum, a tão vil pergunta? Responderia com o mesmo desinteresse com que o fez Salomão?
Em sonhos, aos vinte anos, o jovem Salomão foi convidado por Deus-Espírito Santo (Jeová) para que lhe dissesse o que é que mais desejava para governar o seu povo. A sua resposta foi: “’Tu demonstraste uma grande benevolência para com teu servo Davi, meu pai, porque ele caminhou diante de ti na fidelidade, justiça e retidão de coração para contigo; tu lhe guardaste esta grande benevolência, e lhe deste um filho que está sentado hoje em seu trono. Agora, pois, Iahweh meu Deus, constituíste rei a teu servo em lugar de meu pai Davi, mas eu não passo de um jovem, que não sabe comandar. Teu servo se encontra no meio do teu povo que escolheste, povo tão numeroso que não se pode contar nem calcular. Dá, pois, a teu servo um coração que escuta para governar teu povo e para discernir entre o bem e o mal, pois quem poderia governar teu povo, que é tão numeroso?’. Agradou ao Senhor que Salomão tivesse pedido tal coisa; e Deus lhe disse: ‘Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste para ti vida longa, nem riqueza, nem a vida dos teus inimigos, mas pediste para ti discernimento para ouvir e julgar, vou fazer como pediste: dou-te um coração sábio e inteligente, como ninguém teve antes de ti e ninguém terá depois de ti. E, também, o que não pedis-te, eu te dou: riqueza e glória tais, que não haverá entre os reis quem te seja semelhante’”. (IRs 3:6-13)
Vemos aqui que o trabalho intelectual, só por si, não pode ser a verdadeira felicidade da vida. A verdade infinita não pode ser captada pelo cérebro material. Aquele que procura alcançar a verdade somente pelo trabalho intelectual, sem consultar o Coração, encontrará dificuldades incalculáveis. O Coração é a sede da sabedoria e o cérebro é a sede do intelecto que raciocina e recebe a vida do Coração. O Coração e o cérebro devem trabalhar em concordância e de forma harmônica, para destruir o dragão da ignorância que permanece no umbral do templo.
Tratemos de nos imaginar no longínquo período desse Caminho de Evolução, quando acabávamos de emergir da pesada e nebulosa atmosfera da Atlântida (Egito antigo). Veríamos um Corpo Denso “animal” maciço, quase sem a cabeça, vivendo unicamente por meio dos sentidos, mas, em contato com os Seres Superiores, com os quais podíamos nos comunicar, em estado como o de sonho. Mas, à medida que o cérebro principiou a se desenvolver, fomos perdendo, gradualmente, a consciência dos Seres Superiores. Adquirimos e desenvolvemos o cérebro, mediante um sacrifício.
Não somente é necessário que o nosso cérebro seja organizado, como veículo por meio do qual devemos manifestar (não criar!) o pensamento, como também deve se tornar agora necessário que a porta do cérebro seja aberta e o poder do entendimento desenvolvido. Devemos, primeiramente, aprender a pensar por meio da Mente inferior. Max Heindel escreveu no livro “A Teia do Destino” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz que a Mente nos foi fornecida depois que adquirimos o Corpo Denso, depois o Corpo Vital e depois o Corpo de Desejos. O quarto veículo, a Mente, era o instrumento por meio do qual nós, o Ego, devíamos desenvolver os outros três Corpos até fazer com que eles alcançassem um estágio com o qual pudessem ser utilizados para nos elevar no Caminho de Evolução. Esse elo do intelecto não é presentemente mais do que uma nuvem informe, apenas digna do nome de veículo, mas que conecta os nossos três veículos conosco, o Ego.
Esses quatros veículos são as nossas ferramentas no Caminho de Evolução. Estamos fortemente restringidos nas nossas manifestações, devido a que o recém-nascido veículo mental está subordinado ao poderoso Corpo de Desejos, que assume, geralmente, o domínio da Personalidade (aquilo que construímos a cada renascimento aqui).
Estamos muito longe de poder sequer suspender a evolução da Mente, acelerada vertiginosamente pelo atual sistema educativo e as possibilidades do desenvolvimento ulterior que pode alcançar. Quanto maior é o poder, tanto maior também é o perigo que temos de empregar mal a nossa Mente. Se a astúcia, uma manifestação via Corpo de Desejos que usamos pela Mente, se desenvolvesse antes que o Coração e se esses dois órgãos deixassem de trabalhar harmonicamente, um com discernimento e o outro compassivamente, então o mundo teria muito que sofrer. Não é mais perigoso do que uma pessoa cujo intelecto se tenha desenvolvido ao excesso e que entre em contato com os seus semelhantes somente com a fria e penetrante mentalidade. Atualmente corremos o grave perigo de nos desviar do caminho puramente espiritual, ao investigar o conhecimento unicamente pelas linhas mentais e pensando muito raras vezes, como poderia utilizar a nossa Mente para o bem-estar e felicidade da Humanidade. Max Heindel chamou sempre a atenção dos Estudantes Rosacruzes sobre o ideal do desenvolvimento do Coração, insistindo na necessidade de combinar harmonicamente os poderes do Coração com os da Mente. Os Estudantes Rosacruzes devem ter presente que, em todas essas aquisições, deve existir sempre a compreensão do Coração, tal como Salomão aconselha nos seus Provérbios, justamente no Livro dos Provérbios na Bíblia, um Coração que com a ajuda do intelecto eleve a Humanidade para uma Fraternidade sã e amorosa, prelúdio da Fraternidade Universal.
Uma educação puramente mental não pode produzir um Coração sapiente; são necessárias, além disso, as múltiplas experiências vividas por nós, vida após vida, no nosso trabalho diário. O serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), esquecendo os defeitos dos nossos irmãos e nossas irmãs, focando na divina essência oculta em cada um deles, no qual o intelecto e o Coração marcham de acordo é a base dessas experiências, as quais se acumulam e arquivam no pequeno Átomo-semente do Corpo Denso – verdadeiro armazém de nós, o Ego – que todos possuímos na posição referencial do ápice no ventrículo esquerdo do nosso Coração.
Os irmãos e as irmãs inquietos e descontentes que constantemente passam de um ensino a outro – de uma escola a outra, de um movimento ao outro, de uma seita a outra – em busca de coisas novas e maravilhosas, mas que nunca aprofundam naquilo que estudam, nem vivem segundo os ensinos que recebem e, portanto, nada realizam, e que no melhor dos casos somente se contentam com a concentração e as pregações, pode se assegurar que fracassam na missão deles, pois não despertaram o Coração.
Salomão proclamou o poder da vida interna. O próprio nome de Salomão sugere imediatamente a busca íntima da mais elevada sabedoria espiritual. O Deus interno é a vida do Coração, é a “palavra-chave”. Salomão, pelo seu desinteresse a coisas materiais, contentou-se em pedir somente um Coração sapiente, e por isso obteve de Jeová um grande reino, uma grande riqueza e sabedoria que lhe permitiu distinguir o bem e o mal. A pureza de Coração e o poder da Mente devem trabalhar harmonicamente. O Mestre dos Mestres, Cristo, nosso amado Redentor, ensinou que nós devíamos nos tornar como crianças para poder ter acesso e penetrar na verdade. Quando a “cabeça” e o Coração trabalham em perfeito entendimento, se completam e se transformam num só.
O sábio de Coração compreensivo, que adquiriu um perfeito domínio sobre as suas emoções, desejos e sentimentos, cuja “cabeça” e Coração vibram em uníssono com a divina harmonia dos Reinos invisíveis da natureza, gozará do privilégio de conhecer a Verdade e a sua vida refletirá os princípios mais elevados.
Há muitos petulantes que pretendem ser controlados pelo seu intelecto, não admitindo nem crendo que as suas vaidades possam ser tão somente uma expressão emocional, e que, desde logo são incapazes de reconhecer. O ser verdadeiramente livre, não é controlado nem pelo seu intelecto nem por suas emoções, seus desejos e sentimentos. Ele é o próprio senhor, o único comandante de seu navio. Pelo poder da vontade e da razão domina os seus pensamentos, desejos, suas emoções e seus sentimentos e assim, essa pessoa, adquire a sabedoria.
O Coração e o cérebro são instrumentos de valor inestimável que Deus nos ofertou; dois instrumentos que deveríamos já controlar. Desgraçadamente e com demasiada frequência não governamos nenhum dos dois, pois ainda impera o egoísmo, que insistimos em manter no nosso Corpo de Desejos e que causa a desarmonia, as nossas doenças, enfermidades e os nossos atrozes sofrimentos.
Quando as nossas faculdades superiores são ativadas por nós (por meio do Treinamento Esotérico) e a “cabeça” e o Coração trabalham harmoniosamente, então, vamos nos transformando, nos convertendo em verdadeiros Cristãos esotéricos.
Muitos irmãos e muitas irmãs que já alcançaram uma elevada estatura espiritual (na Fraternidade Rosacruz conhecidos como Adeptos e Irmãos Maiores) deixaram bem gravado a “marca de seus pés nas areias do tempo” e as suas vidas ofereceram incalculáveis benefícios a nós. Mas, há um dentre eles, muito mais elevado do que os Irmãos Maiores, que se mantém no pináculo da grandeza; um, cujo precioso legado para nós foi a Religião Cristã. Sua grandeza cresce sem cessar no espírito dos povos e depois de mais de dois mil anos de adoração, muitos de nós principiam a compreender o que foi e é esse Espírito Excelso, que veio à Terra por poucos anos. O Seu Coração compreensivo deu ao mundo “O Sermão da Montanha”, um sermão tal que nenhum de nós poderá jamais pronunciar de novo.
Cristo-Jesus permanece supremo como o único, de Coração sapiente, que veio nos redimir da doença e da enfermidade física, emocional e mental. A Sua sublime figura está sempre presente ante os olhos do Estudante Rosacruz, pois Ele é o seu único ideal. Os Ensinamentos Rosacruzes, que nos foram legados pelo nosso querido Max Heindel, nos indicam com clareza o caminho pelo qual o Estudante Rosacruz pode, com o tempo e mediante sacrifícios e uma vida reta, alcançar a força espiritual que lhe proporcionará a sabedoria expressa por Salomão e concedida por Jeová.
A consciência Crística, que um dia alcançaremos por meio da Mente e do Coração, elevará o fiel e sincero Estudante Rosacruz até as alturas do conhecimento espiritual, no qual ele também será um dos eleitos de Deus, selecionado pelos Irmãos Maiores, por ter alcançado a consciência de Deus; pois, que não procurou riquezas, nem poder, nem fama, nem conhecimentos, mas, unicamente, trabalhou infatigavelmente para alcançar a sapiência para ser útil aos irmãos e às irmãs ao seu redor.
A verdadeira sabedoria e um Coração compreensivo, como o que teve Salomão, não se podem adquirir senão “Vivendo a Vida” e utilizando cada experiência, na qual o Coração e a “cabeça” marcham unidos, como pedra indicadora ao longo do caminho.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – julho/1959 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Já chegamos a um ponto de nossa evolução em que se torna necessário saber aquilo que o peregrino vai encontrar na Senda que conduz ao Reino, nesse ponto em que a VOZ INTERIOR deve ser reconhecida e aceita como a orientadora.
O solitário viajante se converteu num Discípulo à prova; o “filho pródigo” retorna à casa do Pai.
Após um longo período de provas, tendo demonstrado que nada pode desviá-lo da sua determinação de atingir a meta, deve o Discípulo enfrentar a última prova, a suprema prova desse período. Ocorrerá então uma profunda e íntima experiência anímica, na qual se verá obrigado a fazer uma escolha entre um querido ideal ou um simples e penoso dever.
Se escolhe o “dever”, como certamente acontecerá, se pede auxílio a esse infalível Guia Interior – O Cristo interno – então penetrará em uma nova etapa da sua jornada, mais brilhante, porque sua dedicação demonstrou ser uma consagração espiritual e não uma mera dedicação da Mente ou do Coração humano. É aceito porque se converteu num verdadeiro Discípulo e desse instante em diante vai se tornando cada vez mais consciente de um Guia Interior definido, que vai cada vez falando mais claramente e com maior insistência à proporção que o desinteresse do seu coração vai se acentuando.
Gradualmente, começa a aprender que toda a vez em que concentra a sua atenção no interior de si mesmo encontra um Ser Sábio e Poderoso, sempre pronto a ensinar, auxiliar e fortalecer, sempre que se lhe pede.
A voz que ali reside e que com tanta autoridade diz: “EU SOU O CAMINHO, A VIDA E A VERDADE E NINGUÉM CHEGA AO PAI SENÃO POR MIM”, é a voz do Cristo Interno, sempre falando no íntimo do coração quando a Mente está tão tranquila.
O Discípulo começa então a compreender de um modo definitivo que ele não é a sua Mente, nem as suas preocupações, que aliás devem ser reduzidas a silêncio, mas que, em uma forma maravilhosa e natural, ele mesmo faz parte e pode entrar realmente na Consciência desse Cristo Interno e, desde ali, ordenar que a Mente se aquiete, obrigando-a a obedecer.
E não tarda a descobrir que, enquanto se acha na Consciência, ele é o MESTRE, mas que, quando se acha na sua consciência cerebral então, não é mais que um Discípulo. E descobre, ainda, que quando abre seu coração, deixando que o amor brote nele, pode penetrar no interior, tornando-se ele mesmo – puro amor e que, nesse estado de consciência, ele e o CRISTO são UM, formando-se nessa ocasião a consciência, tal qual a tivera Jesus, que sentia ser o Caminho, o “único” Caminho, a Vida e a Verdade. A consciência cerebral não é mais que uma consciência individual, que ELE está exercitando, desenvolvendo e disciplinando, para convertê-la em Seu perfeito instrumento de expressão.
A “Mente cerebral” começa a conformar-se, se deixar levar, sem resistência, limitando-se ao papel de espectador daquilo que ocorre, que tudo o que é necessário fazer, quando o Discípulo tem que ensinar ou ajudar a outrem é: abrir a boca e dizer as palavras que nesse momento lhe são dadas, ou pôr-se a realizar qualquer tarefa – seja qual for – sem nenhuma preocupação, POIS UM PODER SÁBIO E PODEROSO LHE DÁ, NESSE INSTANTE, a habilidade e a capacidade para realizá-la. Similarmente, se deseja saber algo, basta que peça com calma e oportunamente observa a sabedoria que surge e inunda sua consciência.
E assim é que pouco a pouco, de maneira lenta e gradativa, a “Mente cerebral” vai aprendendo o seu verdadeiro lugar, que consiste simplesmente em “ATENDER-TE A TI, QUE MORAS AGORA NA CONSCIÊNCIA DO CRISTO INTERNO”.
“Quando te encontrares nessa consciência serás verdadeiramente o Mestre, enquanto, a consciência cerebral, esta, que neste momento, está lendo e escutando estas palavras, tratando de compreendê-las, não é mais do que o Discípulo humilde e simples, ou que aspira sê-lo”.
Se pudermos compreender tudo o que isso significa, compreenderemos, também, gradualmente, que à medida que o Discípulo consente que o Mestre obre por seu intermédio vai convertendo a sua consciência de tal forma que o Mestre estará realmente vivendo a sua vida, e fazendo nele a Sua Vontade. Como resultado de tudo isso, o Discípulo se encontra na situação em que o Mestre pode realizar, por seu intermédio, a Obra que Ele veio fazer aqui e para a qual esteve disciplinando e aperfeiçoando, em todo esse tempo, Seu Discípulo.
Agora trabalham como um só, em perfeita harmonia com todos os demais irmãos que compõem o Reino, servindo a grande causa da Fraternidade, sob a direção do Supremo Senhor e Mestre: o Cristo de Deus.
Nada mais se pode dizer sobre o caminho, posto que isso já é o máximo que a Mente pode conceber, de acordo com o seu atual estado de desenvolvimento.
Pelo exposto podereis compreender que o verdadeiro Discípulo se conhece sempre pela obra que faz, pelo seu espírito de abnegação e de sacrifício.
Vive só para servir os demais seres; todos os seus pensamentos e interesses tendem a esse fim, porque agora se converteu numa parte integral da Grande Fraternidade de Servidores que moram em Cristo e só a Ele obedecem.
É assim que o Cristo Interno, o Mestre, se revela àqueles que são dignos de conhecê-Lo: seus Discípulos. Os demais só podem ver no Discípulo uma pessoa sempre disposta a ajudar os outros, a antecipar-se às suas necessidades, e a trabalhar desinteressadamente.
Se compreendermos bem isso, notaremos que são bem poucos os Discípulos realmente aceitos. A maior parte, não são mais do que Discípulos à prova; mas, mesmo assim, é muito maior o número de aspirantes que pouco a pouco, respondendo ao estímulo provocado por nossos trabalhos, chegarão gradualmente à etapa do verdadeiro Discipulado.
Entretanto, essas palavras foram escritas para os Discípulos, para aqueles que, conscientemente, estão procurando o Reino de Deus, obedecendo instintivamente ao impulso que brota do seu interior, embora o seu cérebro especule e diga outra coisa.
Essas palavras têm por objeto descobrir aquilo que intrinsecamente a alma é, com relação à Mente cerebral, de tal forma que ela possa voltar novamente à Casa do Seu PAI – à Consciência Crística – e conhecer ali a Obra que a espera.
Todos aqueles que sentem a virtude dessas palavras, conhecendo instintivamente a verdade que encerram, estão destinados a serem Discípulos ainda nesta vida.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1971-Fraternidade Rosacruz-SP)
Será que almejar ideias elevadíssimos é presunção?
“Eu Sou a videira e Meu Pai é o lavrador. Como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós não podeis, se não estiverdes em Mim.” (Jo 15:1-4).
Aprendemos que “estar” seja sinônimo de morar, encontrando-se em certo local. Assim, estamos adotando a disciplina de estar, de “morar” na Consciência Crística.
Suas palavras constituem novamente segura orientação para as nossas vidas, se desejamos alcançar resultados espirituais que sejam positivos. Ele simplificava o processo chamando-o de “dar frutos”. Repetimos: para “dar frutos” temos de “estar n’Ele”.
Os frutos que almejamos consistem na habilidade de fazer as mesmas obras que Ele fez, conforme afirmou que poderíamos. E nos lembramos, com toda a humildade, consoante Suas palavras, que as obras que faremos poderão ser maiores ainda.
Tal ideia causa impacto tão forte que, de imediato, recorremos a desculpas para justificar nossas fraquezas, raciocinando covardemente que, por certo, seria demais esperar por “isso” nesta mesma vida. Concordamos tratar-se de uma promessa um pouco aterradora. Ele, porém, não nos deixou sem um Consolador. E São Paulo faz ruir as eventuais desculpas quando diz: “Eis AGORA o tempo aceitável, eis AGORA o dia da salvação”.
Esse tipo de justificativa em relação a nossos pontos falhos causa o mau uso do conhecimento que recebemos em relação ao renascimento. A recusa em maximizar o aprendizado e progresso nesta vida, mediante o argumento de que isso poderá ser logrado em existências futuras, constitui mau uso do conhecimento. No livro Mistérios Rosacruzes Max Heindel afirma: “Após a morte que sucede a vida, retornamos mais tarde ao Plano material, suportando circunstâncias criadas segundo nosso aproveitamento em vidas anteriores”. Assim, almejar ideais elevadíssimos não é presunção, constituindo, ademais, um dever cujo cumprimento respaldará nossa evolução espiritual não somente nesta, mas em vidas futuras.
É de capital importância para o Estudante “ficar ligado à Vinha”, à Consciência Crística. E isso deve ser feito AGORA.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1975)