Devo ser sincero, antes de tudo, com quem quer que seja, onde seja, em todo instante. Isso quer dizer “Viver a Vida”, como nos ensina Max Heindel. Do que me adianta pensar: — Sou isto, sou aquilo mais? Que me dá isso tudo, senão decepções, quedas e tantas outras formas de frustração? Todos insistimos em que os seres humanos pensem desta ou daquela forma da nossa pessoa. Temos horror de que nos julguem e saibam o que realmente somos. Desejamos dar à nossa aparência um toque todo “especial”. Temos mais consideração aos julgamentos dos seres humanos do que ao julgamento de Deus. Damos até maior valor aos seres humanos do que a Deus. Perante Ele não temos vergonha do que somos; mas, quando nos vemos à frente de outra criatura humana, nosso empenho para mascarar a verdade é tão grande que chegamos quase sempre a acreditar que somos inclusive santos!
Quanta pretensão e vaidade! Perante nossa consciência, somos ladrões. E para não sermos por ela julgados, fingimos que, com algumas devoçõezinhas originais, o débito já esteja saldado. Mas não é assim. Com o decorrer do tempo, nós nos encontraremos tão confusos, doentes e neuróticos que nem sequer saberemos o que realmente somos: se seres humanos santos, pecadores ou bestas. Seremos seres híbridos; nem isto, nem aquilo. Sinceridade significa ter continuidade. Ser à tarde o que fomos de manhã e à noite o que fomos à tarde. É não perder o “fio da meada do seu próprio ser”, se assim podemos nos fazer entender. É ser no lar o que somos no serviço e na rua, na frente dos estranhos; é nos reconhecermos como realmente somos. Sem disfarces, escapadelas, etc. O pior na falta de sinceridade é que não só enganamos a outras pessoas; mas acabamos enganando a nós mesmos.
Para que vergonha de sermos sempre nós mesmos? Pois não existe coisa mais bela do que ser genuíno. É certo que não há necessidade de andarmos gritando aos quatro ventos o que pensamos e somos. Mas, pelo menos, tenhamos o bom senso que caracteriza uma pessoa normal, de não forjarmos “tipos” para diferentes ocasiões, trocando de Personalidade como se troca de roupa. Julgamo-nos tão belos, atraentes, bons e originais; no entanto, nos esquecemos tão prontamente dessas qualidades, quando as coisas se “esquentam” para o nosso lado. Se nesse momento, nós nos olhássemos no espelho, correríamos da nossa “beleza” e no lugar da “bondade” no olhar, veríamos o próprio Satanás.
Contudo, ainda concordamos com muitos que dizem: — não somos Anjos; não somos perfeitos. Como podemos nos manter calmos ou equânimes, quando alguém nos desgasta toda a resistência física, nervosa e já não aguentamos mais? Certo; somos humanos e a carne é fraca. Porém, quando seremos tentados a nos encobrir com o “verniz” social? O ideal só existe nos lábios, para ostentação. E alguns dizem palavras de candura angelical, quando o sentimento está apartado e distante, talvez odiando, maldizendo — e quando pior ainda, encontra-se o ser humano tentando arrancar com essa ostentação e personalismo os elogios dos amigos e daqueles do seu círculo imediato. A frase que lhe soa melhor aos ouvidos é: como é bom, inteligente, modesto e delicado! Então, em outro lugar, em segurança — sem que ninguém o veja —, dá razão ao Ego, ao seu instinto. Não se interessa em saber, e, se sabe, não se importa, se ele enganou outras pessoas, mesmo não tendo enganado Deus. Estar com a sua reputação e nome limpos é o suficiente. Deus não fala aos outros quais são as suas qualidades. Outro ser humano, sim.
Sermos sinceros, coerentes, “Vivermos a Vida” sem disfarces, sem máscaras caricaturais é não deixarmos de reconhecer nossos “dons”; isto é, aquilo que temos de positivo, qualidades que aparecem por si mesmas; é, também, não deixarmos de ver as incongruências, falhas e “buracos” em nossa formação; não tentarmos tapá-los com barro, pois o remendo novo em roupa velha, nós sabemos, torna o “buraco” ainda maior. E o que ainda muitos não perceberam: é que o remendo novo destaca ainda mais a sujeira e a descoloração da roupa velha! É o que acontece com muitos. Tentam disfarçar suas más qualidades e acabam tornando-as ainda mais visíveis. Então concluímos que é necessário que nos “retiremos” a roupa velha que já não aceita remendos para adquirir uma nova. Não é necessário ser colorida, perfeita no corte ou cara. Basta ser “simples”, “inteira”, sem remendos.
Eis o importante. Mas como consegui-la? Basta apenas vivermos a vida, não tendo receio do que possam os seres humanos pensar ou falar de nós; não receando perder nossas “amizades”, já que a verdadeira amizade não se perde. Basta não alimentarmos o temor de não sermos amados pelos seres humanos nem querer a simpatia dos outros. Eles que nos aceitem como somos, cheios de deficiências, pobres, analfabetos, feios, mas, humildes e sinceros. Vivamos perante Deus e não temamos os seres humanos e seus julgamentos. Quando Ele nos aprova, então não interessa a aprovação do mundo. Somos ricos e felizes; seremos e teremos tudo, mesmo possuindo nada.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1969)
Ajudar Sempre
Todo Aspirante à Vida Superior deve ter em mira ajudar sempre, sejam quais forem as circunstâncias e ocasiões, mesmo diante de problemas graves e delicados. Esses, de forma alguma o perturbam, pois mantêm, em seu coração, a CONSTÂNCIA de ajudar, pautada pelo salutar espírito de equipe, que significa, entre outras coisas, compreensão e desprendimento, fatores indispensáveis à efetiva colaboração no formoso trabalho iniciado pelos queridos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, em benefício da Humanidade.
O Aspirante à vida superior que procura, realmente, VIVER A VIDA, como nos ensina Max Heindel, jamais busca fuga, seja qual for, visando escapar do trabalho em equipe. Tem, internamente, condições tais que, externamente, nada o surpreende ou causa apreensões. Em outras palavras, sua estrutura interna se tornou sólida.
Sabe, também, que o sublime trabalho iniciado por aqueles compassivos seres, com vista à redenção da Humanidade, não deve sofrer arranhões, oriundos de nossas deficiências ou desequilíbrios. Prefere, portanto, em sua elevada compreensão e amor, ajudar sempre. Só assim conseguirá o Aspirante, em sua peregrinação, superar, de modo seguro e efetivo, as tramas do “eu inferior”, que procura colocar no caminho obstáculos e desentendimento. Na verdade, quanto mais o Aspirante busca se alimentar do bem, maior é o brilho da luz que o Cristo Interno lança para iluminar os caminhos. Numa das lições do Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz, a Fraternidade Rosacruz nos alerta no sentido de vermos o bem em tudo. É de alta significação o que essa lição encerra, porém, quando passamos a entendê-la na prática, então, tudo se transforma para melhor, em alto grau. E, só assim, estará o aspirante à vida superior dando cumprimento aos Evangelhos, que representam quatro Iniciações diferentes. E, para ele atingir Iniciações, mesmo as menores, é necessário que procure, com destemor, se libertar de suas imperfeições, mediante o ajudar sempre, pois ninguém se salva sozinho.
(Hélio de Paula Coimbra, Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1970)
Que Posso Esperar “Vivendo a Vida”?
Uma pergunta, uma resposta.
Todo estudante Rosacruz, sincero em seus propósitos, é um autêntico “buscador da verdade”. E como tal, naturalmente, fará perguntas. Uma delas poderá ser esta: “Que posso esperar vivendo a vida conforme os ensinamentos contidos no Conceito Rosacruz do Cosmos? Vejamos, então.
Como a finalidade da vida não é o usufruto do prazer, mas a aquisição de experiências, estas tendem a absorver o dia-a-dia de quem está consciente desta verdade. Ainda assim, o estudante vê-se, amiúde, aspirando algo diferente. E deve ser assim mesmo, pois caso contrário não seria um aluno aplicado dos ensinamentos da Sabedoria Ocidental.
Quando isso ocorre as indagações podem, talvez, resumir-se numa só: o que é que está por tornar-se realidade?
Uma faculdade de deslocar-se conscientemente no Mundo do Desejo? Ter poder para curar os enfermos? Afinal, somos compassivos e sensíveis ao sofrimento alheio.
Max Heindel afirma em sua obra INICIAÇAO ANTIGA E MODERNA: “O ser humano sofre, continuamente, um processo de purificação, erradicador das substâncias mais inferiores e grosseiras que fazem parte de seus veículos. Com o tempo e mediante a evolução, esse trabalho de espiritualização, tornará “nossa carne” transparente e radiante. Radiante como o rosto de Moisés, o corpo de Buda e o Cristo na Transfiguração”.
Que quer dizer tudo isto para um estudante? Significa que deve compreender a necessidade de eliminar, na medida do possível, os pensamentos negativos, os desejos e emoções inferiores, e os hábitos nocivos, capazes de escravizá-lo, retardando sua realização espiritual.
O ódio e a inveja em relação ao próximo, a ironia, o desdém, a soberba e o ressentimento, degradam e obstaculizam a evolução. Uma influência negativa parece envolver e desprender-se de quem assim procede.
Aqueles mais sensíveis, via de regra, não se sentem muito à vontade em sua presença. Evitam-no até.
Um estudante cujos ideais e aspirações sejam elevados e fortes o suficiente para resistir aos apelos da natureza inferior, terá, por certo, grandes possibilidades de obter êxito em seus esforços anímicos. Mas, nem por isto deixará de frequentemente, ser perseguido pelas tentações. Haverá até ocasiões em que a dureza das provas conseguirá derrubá-lo, abalando seus anseios. Talvez sinta ímpetos de atirar-se novamente nos braços dos antigos e nocivos hábitos. São momentos difíceis, requerendo uma decidida capacidade de reação.
Em fases assim, de conflitos e incertezas, o aspirante vive, aparentemente, na tristeza. Procurando descartar sua própria desilusão, ele ora, ora, ora, clamando por uma luz, desejando ser guiado. Em seu nível espiritual passa a viver as agruras do Getsêmani. Finalmente, vencida esta etapa, crucifica seus baixos desejos, libertando sua vida espiritual.
Todo esse processo é essencialmente purificador. Enseja ao aspirante maior abertura em relação ao mundo em que vive e aos seres humanos. Desperta-lhe um profundo sentimento de compaixão em relação às falhas alheias, pelo reconhecimento da cegueira dos demais, em face de suas próprias vidas obscuras. Compassivo, compreensivo, faz-se mais cuidadoso e tolerante no trato com as pessoas.
A Páscoa, conforme narrada nos Evangelhos, indica a direção e a promessa de uma liberdade transcendental.
Cristo veio para apontar-nos esse caminho. Seu sacrifício em favor da humanidade, pelo trabalho de refinar o Corpo de Desejos da Terra, tornou accessível o caminho para a liberdade espiritual, através do Amor de nosso Divino Pai. Sua tentação, Sua angústia no Getsêmani, Sua crucificação e Sua ascensão, foram suportadas para que se nos surgissem perspectivas reais de elevação.
Consciente de sua responsabilidade, o estudante deve indagar-se: Estou me empenhando de maneira efetiva, no sentido de aliviar a imensa carga do Cristo?
A maneira mais eficiente de colaborar com o nosso Salvador é SERVINDO a humanidade. O serviço amoroso e desinteressado para com os outros, é o caminho mais curto, mais seguro e o mais agradável que nos conduz a Deus, assegura o Ofício Devocional Rosacruz. Em Deus somos livres, vivendo em plenitude. Max Heindel assegura-nos que nas entrelinhas do Conceito Rosacruz do Cosmos encontramos o Evangelho do Serviço.
Portanto, orientando-nos por essa linha de raciocínio, tornar-se-á clara uma resposta à indagação proposta no início deste artigo: vivendo os sublimes ensinamentos contidos na obra básica da Filosofia Rosacruz, o estudante logrará libertar-se, paulatinamente, de todas as limitações inerentes ao mundo material?. Essa transposição para um nível de consciência superior constitui nossa Páscoa interna, quando bradamos gloriosamente o CONSUMATUM EST.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)