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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Relação entre a Música e a Espiritualização

“Ao músico foi entregue a mais elevada missão, porque, como um modo de expressão da vida anímica, a música é a soberana”. Estas palavras de Max Heindel inspiraram-me a escrever este artigo sobre a relação existente entre a música e o crescimento espiritual.

Quando digo “música” quero me referir unicamente a música de verdadeira eufonia (termo que se refere a um som agradável, harmonioso ou à combinação de palavras que soam bem. É o oposto de cacofonia, que se refere a sons desagradáveis), dádiva maravilhosa do Pai Celestial. Vias de regra, a maior parte daquilo que popularmente se concebe como sendo música é justamente o contrário, porquanto não emana de Deus e sim das distorções da Mente humana. Esta se enquadra no mesmo plano da enfermidade que resulta, tão somente, da violação das Leis Divinas. Deus nos concedeu as melodias e vibrações para construirmos harmonias e ritmos belos, porém, muitos de nós as empregam erroneamente, usando-as em combinações desarmônicas, similarmente ao que faz, arruinando sua saúde, ingerindo alimentos que não se coadunam com a constituição do Corpo Denso.

O Deus do nosso Sistema Solar está representado por um triângulo, simbolizando o Poder Trino. Desse Poder emanam as três qualidades: Vontade, Sabedoria e Ação. Do primeiro Poder, que por sinal é o mais elevado, emana a Vontade, cuja vibração é Melodia e a cor é o azul. O segundo Poder é a Sabedoria, cuja vibração é Harmonia e o amarelo a tonalidade correspondente. O Terceiro Poder é representado pela Ação, cuja vibração é Ritmo e a cor correspondente é o vermelho. De modo que a música e a cor correspondem à mesma coisa, diferenciando-se como sons na música e como cores para a nossa visão; contudo, as vibrações são as mesmas. Assim como obtemos diversas combinações das três cores primárias mencionadas, de maneira idêntica combinamos os sons, pela mescla das três maiores ou primárias vibrações da música, o que estabelece a eufonia, provando-se que a mais alta consecução em música se obtém por meio de um perfeito entrelaçamento de Melodia, Harmonia e Ritmo.

Por outro lado, a desarmonia é um resultado de um desajustamento na combinação da Melodia, Harmonia e Ritmo; e tem o mesmo efeito sobre os ouvidos sensitivos, como o tem a violenta combinação de cores sobre a visão delicada. Sons discordantes, que erroneamente recebem o nome de música, só podem ser apreciados por ouvidos carentes de sensibilidade. Do mesmo modo como há pessoas que mirando uma pintura não percebem as gradações da cor, assim também existem outras que não podem captar as combinações sutis dos três elementos da música. Para eles não existe diferença entre a verdadeira música e o que é uma degeneração dela, muitas delas ditas nos ritmos quentes.

A Melodia e a cor azul estão ligadas à Mente. É uma agradável sucessão de simples sons musicais percebidos através do sentido da audição, conectado com o cérebro, que é o veículo físico da transmissão do pensamento. Portanto, por meio do veículo mental podemos nos relacionar com a Melodia e a cor azul. A Harmonia e a cor amarela estão ligadas ao Corpo de Desejos. A Harmonia é uma combinação de sons acordes percebidos ao mesmo tempo, estando ligada ao Corpo de Desejos por intermédio de nossos sentimentos, desejos e nossas emoções, sobre o que exercem sua influência junto com a cor correspondente. O Ritmo e a cor vermelha se acham ligados ao Corpo Vital (Max Heindel afirmou que o Corpo Vital apresenta uma cor parecida com a flor do pessegueiro, recém-aberta). É uma tonalidade derivada do vermelho. O Ritmo se manifesta pelo Poder de Deus, na ação e no movimento. A força ativa ou vital é absorvida pelo Corpo Vital quando prevalece uma saúde normal e essa energia mantém o Corpo Denso. Todas e cada uma das coisas existentes têm a sua nota-chave ou tom. Kepler disse que ouvia as diferentes notas emitidas pelos Astros e Max Heindel também afirmou que os cientistas ocultistas “escutam a música comum do deslocamento dos corpos celestes”. Eles formam a harpa e as cordas da lira de sete cordas de Apolo. Também asseveram que uma simples discordância afetaria a harmonia celeste, advindo uma grande hecatombe na matéria e um choque entre os Mundos.

Nos Mundos celestes, ainda que a cor e o som se achem presentes, deve-se ressaltar que dos sons é que se originaram as cores, e construíram todas as formas no Mundo Físico. Segundo Max Heindel, as formas que vemos ao nosso redor são figuras-sons cristalizadas das Forças Arquetípicas que trabalham dentro dos Arquétipos nos Mundos celestes. O músico pode perceber certos tons em distintas partes da Natureza, tais como o vento na floresta, o som das águas, o rumor do oceano. Estes tons combinados formam um todo que é a nota-chave da Terra. Percebe-se esse tom na quietude do bosque, onde é mais perceptível, devido à profunda calma reinante. Richard Wagner também o escutou, porque assim o expressa por meio de sua ópera Parsifal[1].

Alguns exemplos destes “certos tons nas distintas partes da natureza”, os quais Max Heindel nos afirmou que são ouvidos pelos músicos, encontram-se em algumas obras tais como “Nuvens”[2] e “Mar”[3] de Debussy. Nesta última composição o tom do espírito do mar se encontra descrito magicamente apresentando com impressionante realidade o “Diálogo do Mar e do Vento”. Encontramos outro exemplo na “Sinfonia Pastoral” de Beethoven[4], na qual ele expressa diversos tons da Natureza, entre os quais se encontram os pássaros, os riachos e as tempestades. Mendelssohn captou a nota do mar, quando visitou a Escócia e a exprimiu em um de seus mais belos trabalhos sinfônicos[5]. Rimsky-Korsakow em “Scheherezade”[6] descreveu de um modo assaz realístico uma tempestade no mar, pois, o contato que teve com o oceano, quando integrava a Armada Russa, facultou-lhe uma ampla oportunidade marítima, tanto na calma como durante a tempestade. Estes são alguns poucos exemplos que podemos citar como prova.

O Segundo Céu é a verdadeira pátria da música, porque este é o reino do som. Quando o abandonamos o Primeiro Céu, situado no Mundo do Desejo, entramos no Segundo Céu localizado na Região do Pensamento Concreto. Agora, estamos livres de nossa vida passada e vivemos em perfeita harmonia com Deus. Quando penetramos nesta Região, despertamos a Música das Esferas ao nosso redor, cuja melodia transcende a tudo que havíamos ouvido na Terra. Este lugar, em verdade, é um paraíso para o compositor, porque aqui ele se eleva com a música, tal qual a havia concebido quando compunha no Mundo Físico, mas no qual não podia transcrevê-la para o papel de uma maneira concreta. Aqui, no Segundo Céu, ele compõe, inspirado nas coisas mais profundas do seu ser, com a mais incrível facilidade e prazer imersos, obtendo grandiosas melodias que traz ao plano físico depois, para alegrar aos corações daqueles que se acham ungidos ao mesmo. Se ele usa a sua vontade, há chances de renascer como músico (e eu não posso imaginar um grande músico renunciando a este privilégio) preparando-se convenientemente para tal. Aprenderá a construir ouvidos, mãos e nervos supersensitivos e, nesse particular é ajudado pelas Hierarquias Criadoras. Max Heindel afirmou que a extensão do ajuste dos canais semicirculares do ouvido, aliado a uma delicadeza extrema nas “fibras de Corti”, das quais existem aproximadamente umas dez mil no ouvido humano, cada uma é capaz de interpretar cerca de vinte e cinco gradações de tom. Estas fibras nos ouvidos da maioria das pessoas não respondem a mais de três ou dez das tonalidades possíveis. Um músico comum não alcança mais do que cinco tons em cada fibra, ao passo que o verdadeiro mestre de música possui uma capacidade bem mais ampla. Portanto, é fácil compreender o porquê as Hierarquias Criadoras devem auxiliar especialmente o músico e o compositor, porque como disse Max Heindel: “o elevado estado de seu desenvolvimento demanda isto, e o instrumento por meio do qual o ser humano percebe a música é o sentido mais perfeito do corpo humano”.

Mozart[7], aos cinco anos de idade, compunha; aos dez havia completado uma Sinfonia[8]; aos quinze um Oratório[9]; aos doze uma Ópera[10] e aos dezoito havia composto umas vinte e três Sonatas[11], oitenta e uma Obras Sinfônicas ou Sinfonias, nove Missas[12], três Oratórios, cinco Sonatas para órgão e outros trabalhos de vulto.

Schubert[13], quando chegou aos dezesseis anos de idade, entre muitos outros trabalhos, compusera uma Sinfonia, e quando tinha vinte e um anos havia escrito mais cinco. Mendelssohn começou a compor aos doze anos; havia escrito uma Sinfonia aos dezesseis e com apenas dezessete anos brindou o mundo com a encantadora “Sonho de Uma Noite de Verão”[14]. Estes exemplos e muitos outros, aqui são mencionados de músicos que já compunham em tenra idade provam que eles foram músicos em existências anteriores.

Em vidas passadas sempre ampliavam suas possibilidades musicais. Cada vez que atingia o Segundo Céu, entre os renascimentos aqui, construíam um Arquétipo mais sensitivo que o último para captar as vibrações musicais do Cosmos, sendo neste particular, assessorados pelas Hierarquias Criadoras.

A música e a cor têm relação com a ordenação de nossa existência, através dos números: 1, 3, 7 e 12. Na figura do número “1” temos a escala musical completa; o total da luz solar. No 3 temos as três fases de Deus: Vontade, Sabedoria e Atividade, ou seja, Melodia, Harmonia e Ritmo e as três cores primárias, que são: Azul, Amarelo e Vermelho. Na figura do “7” temos as sete Hierarquias Criadoras, os sete Mundos, os sete Planetas do nosso Sistema Solar. Na música a escala completa contém sete notas; nas cores, o branco contém as sete cores do espectro. Na figura do “12” temos os doze Signos do Zodíaco, os doze Irmãos Maiores, os doze Discípulos de Cristo. Na música, os sete tons da escala se decompõem em doze semitons. As sete cores do espectro se decompõem em doze, cinco das quais são vistas somente pelos Clarividentes voluntários.

Nós podemos elevar nossas vibrações por meio da música. Essa foi uma das razões por que a música foi escolhida como um meio de expressão espiritual nas cerimonias religiosas. Na maioria dos casos se inspira na Bíblia, e o sentimento de alívio que se experimenta é notável. Este é um exemplo do aumento das vibrações produzidas pela música. Esta é uma grande tônica para os nervos. A fadiga corporal pode ser removida, desde que nos sentemos em um lugar tranquilo, com música elevada purificando o ambiente.

O poder curativo da música tem sido alvo de várias experiências em diversos hospitais no mundo inteiro. Não obstante, a sua aplicação como terapêutica é pouco conhecida. A medicina se tornará desnecessária, quando aprendermos a usar a música em relação aos nossos diferentes veículos. Ele pode se dizer com referência às cores.

Nas frases de Max Heindel, “como um modo de expressão para a vida da alma, a música reina de um modo supremo” constituem uma realidade, pois existem passagens nas grandes composições musicais, de natureza tão sublime que nos fazem sentir a presença de Deus, de uma maneira patente. Podemos citar algumas tais como a ópera de Parsifal de Wagner, onde o motivo da “Última Ceia” e sua evolução sinfônica é solenemente grandioso, e o motivo da “” soa muito alto cada vez que se repete, como a fé que se eleva cada vez mais se esforçando para chegar a Deus. Também na “Paixão Segundo São João”[15] de Bach[16], excelsa veneração sempre presente, culmina no puro e tranquilo coro de “Descansa Aqui em Paz Redentor”.

Quando um músico expressa sua obra no papel, nada mais efetua do que apresentar uma partícula daquilo que sente interiormente quando se coloca em sintonia com as vibrações cósmicas. Qualquer compositor confirmará que suas composições estão além daquilo que concretiza no papel. Não importa quão portentosa seja sua obra quando em forma concreta, pois jamais atingirá a excelência de quando foi sentida em sua alma. Estamos no presente estado evolutivo impossibilitados de expressar materialmente, com absoluta fidelidade, estas correntes musicais ou vibrações.

Poucas músicas atingiram a culminância de um Johann Sebastian Bach, porque ele podia penetrar mais adiante do que qualquer outro e sintonizar-se com as vibrações musicais mais sublimes. Ainda que ele não pudesse transcender a mais alta vibração ou corrente, mesmo assim, quando considerarmos a perfeição ao nosso desenvolvimento, pressentiremos algo divinal.

Talvez possamos atingir tal estado na Era de Aquário, quando tivermos avançado o suficiente para que se fundam a Arte, a Ciência e a Religião em uma unidade espiritual. Desse modo veremos que a relação da música com o crescimento espiritual resume-se em poucas palavras como segue: “Com Deus tudo é Melodia, Harmonia e Ritmo, porque os Seus pensamentos são Melodias, Suas criações Harmonia e Seus movimentos (ou gestos) são Ritmos”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – junho/1967 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.R.: Parsifal (WWV 111) é uma ópera de três atos com música e libreto do compositor alemão Richard Wagner. Estreou no mês de julho de 1882. A ópera se passa nas legendárias colinas de Montsalvat, na Espanha, onde vive uma fraternidade de cavaleiros do Santo Graal. O mago Klingsor teria construído um jardim mágico povoado com mulheres que, com seus perfumes e trejeitos, seduziriam os cavaleiros e faria com que eles quebrassem seus votos de castidade, e teria ferido Amfortas, rei do Graal, com a lança que perfurou o flanco de Cristo, e todas as vezes em que Amfortas olha em direção ao Graal sente a ferida arder. Tal redenção só poderia ser realizada por um “tolo puro” (“reine Tor” em alemão), significado da palavra “Parsifal”. Este, em sua primeira aparição na ópera, surge ferindo um cisne sagrado do bosque próximo ao castelo do Graal, e a todas as perguntas que os cavaleiros lhe fazem responde dizendo que não sabe de nada, nem ao menos seu nome.

Parsifal atravessa o jardim mágico de Klingsor e é seduzido pela misteriosa Kundry, que ora é uma fiel serva do Graal, ora é escrava de Klingsor. Ao beijá-la, sente os estigmas das feridas que afligiam Amfortas e, quando Klingsor atira a lança contra ele, Parsifal a agarra, faz com ela um sinal da cruz e todo o castelo mágico e seus jardins são destruídos. Tempos depois, tendo os cavaleiros se convencido de que ele é o “tolo puro” que traria a salvação, Parsifal cura as feridas de Amfortas e o substitui na condição de rei do Graal. Você pode assisti-la na íntegra com legendas em português (é só clicar em “CC”), aqui: https://youtu.be/vGzAEB-_2ZQ?si=yTD6jrVU2GCQR9GH

[2] N.R.: Nuages (Nuvens), primeiro movimento de Noturnos, é uma composição de Claude Debussy (1892 até 1899), evoca o aspecto imutável do céu e o movimento lento, solene das nuvens, que se dissolvem em tons de cinza com leves toques de branco. De acordo com Debussy, “‘Nuages” retrata o aspecto imutável do céu e o movimento lento e solene das nuvens, desaparecendo em tons de cinza levemente tingidos de branco. Você pode escutá-la aqui: https://youtu.be/dRN8RA5Vph8?si=Uvajp8DEb7YJ900n

[3] N.R.: “La Mer” L.109, (O Mar), é uma composição orquestral de Claude Debussy. Foi iniciada em 1903 na França e concluída em 1905. “La Mer” está dividido em três movimentos:

1. “De l’aube à midi sur la mer” (do amanhecer ao meio-dia no mar);

2. “Jeux de vagues” (Jogo das Ondas);

3. “Dialogue du vent et de la mer” (Diálogo do vento e do mar).

Você pode escutá-la aqui: https://youtu.be/FOCucJw7iT8?si=N070oCwJnAFJGNM5

[4] N.R.: A sinfonia nº 6 em Fá Maior, opus 68 de Ludwig van Beethoven, também chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música programática. Esta sinfonia foi completada em 1808.

Você pode escutá-la aqui: https://youtu.be/YZaLCiLj04M?si=sQ7bIgevWx9y89r5

[5] N.R.: Trata-se da A Sinfonia n.º 3 em lá menor, opus 56, conhecida como Sinfonia Escocesa (“Schottische”) (1829-1842). Você pode escutá-la aqui: https://youtu.be/Q-zoNEO55yU?si=mJ5NJvX8kcHTC7cD

[6] N.R.: Scheherazade (ou Sheherazade), op. 35, é uma suíte sinfônica composta por Nikolai Rimsky-Korsakov em 1888. Você pode escutá-la aqui: https://youtu.be/zY4w4_W30aQ?si=MGtdstQQQKWV6Uki

[7] N.R.: Wolfgang Amadeus Mozart; batizado Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart; (1756 –1791) foi um prolífico e influente compositor austríaco do período clássico.

[8] N.R.: Sinfonia é uma composição exclusivamente para orquestra, em forma de sonata, caracterizada por uma variedade de timbres e pela multiplicidade de executantes para cada instrumento. Sinfonia é uma palavra de origem grega que significa “Todos os sons juntos”. A palavra já existente sinfonia foi consolidada como conceito na música erudita a partir do barroco, evoluindo até emprestar a forma da sonata já existente, passando a apresentar características bastante diferentes do passado. No período clássico a sinfonia passou a ter três movimentos, sendo o segundo sempre um Adagio (lento). Após as contribuições de Ludwig van Beethoven, as sinfonias passaram a ter quatro movimentos.

[9] N.R.: Oratório é um gênero musical dramático, apresentado em forma de concerto, sem representação cênica, sem cenários e sem figurinos. Geralmente composto para solistas, coro e orquestra, às vezes com um narrador, geralmente trata de um assunto religioso (Bíblia), mas também pode lidar com temas seculares (mitologia ou história). Com a forma bastante próxima à da cantata e à da ópera, o oratório, geralmente, inclui uma abertura, recitativos acompanhados pela orquestra, recitativos secos com o cravo, árias e coros. Embora elementos dialógicos também estivessem presentes na lauda polifônica do final do século XVI, o oratório se origina do madrigal dialógico do início do século XVII.

[10] N.R.: Ópera (em italiano: significa obra, em latim, plural de “opus”, obra) é um gênero artístico teatral que consiste em um drama encenado acompanhada de música, ou seja, composição dramática em que se combinam música instrumental e canto, com presença ou não de diálogo falado. Os cantores são acompanhados por um grupo musical, que em algumas óperas pode ser uma orquestra sinfônica completa. O desenvolvimento das estruturas musicais anteriormente pelos mestres flamengos e venezianos serviu de suporte para que, no Barroco, surgisse uma nova forma musical, a ópera. O drama é apresentado utilizando os elementos típicos do teatro, tais como cenografia, vestuários e atuação. No entanto, a letra da ópera (conhecida como libreto) é normalmente cantada em lugar de ser falada.

[11] N.R.: Na origem do termo, sonata (do latim sonare) era a música feita para “soar”, ou seja, a música instrumental − em oposição à cantata, a música cantada. Sonata resumidamente é um tipo de composição musical para um único instrumento ou para pequeno conjunto. Normalmente, a sonata é dividida em três partes relacionadas entre si. Não tinha forma definida e, no Barroco, as sonatas eram compostas principalmente para solistas de instrumentos de sopro ou cordas acompanhados de baixo contínuo, que era o cravo com a mão esquerda (o baixo) reforçada por uma viola da gamba ou fagote. Domenico Scarlatti compôs sonatas para cravo solo com estrutura A-B. Com o passar do tempo, sonata passou a designar a forma musical definida por Carl Philipp Emanuel Bach (filho de J. S. Bach) e se tornou o modelo de música no Classicismo.

[12] N.R.: Na música “Missa” é geralmente constituída somente do ordinário da missa, partes que até hoje continuam nas missas e cultos de várias igrejas tradicionais. O Ordinário contém as partes que são literalmente iguais em todas as missas ou cultos, ao contrário do Próprio (leituras, sermão, hinos, etc.) que traz em cada missa ou culto outros textos. Originalmente essas composições foram cantadas para o acompanhamento da Missa, no entanto, a partir do Renascentismo, surgiu a tendência de essas obras se descolarem de seu sentido litúrgico original e passaram a ser apresentadas como concertos em igrejas e teatros. Convém na música compor cinco partes, que são Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei. Faltam, então, o Pai Nosso e a Bênção final, embora que sejam também parte inalterável da missa. Quase todos os compositores de missas optam pelo texto latim, porém o Kyrie continua em grego.

[13] N.R.: Franz Peter Schubert (1797 –1828) foi um compositor austríaco do fim do classicismo, com um estilo marcante, inovador e poético do romanticismo. Escreveu cerca de seiscentas peças musicais.

[14] N.R.: Sonho de uma Noite de Verão (em alemão: Ein Sommernachtstraum) é uma obra musical escrita pelo compositor Felix Mendelssohn, tendo por base a peça de teatro do mesmo nome escrita por William Shakespeare. Mendelssohn compôs esta obra em diferentes momentos da sua vida. Entre 8 de julho e 6 de agosto de 1826, quando a sua carreira estava no início, compôs uma abertura de concerto op. 21 e estreou-a em Szczecin em 20 de fevereiro de 1827. Em 1842, poucos anos antes da sua morte, escreveu música incidental (op. 61) para uma produção da obra de teatro, na qual incorporou a abertura existente. A música incidental, que inclui a famosa Marcha nupcial, foi escrita por uma ordem do rei Frederico Guilherme IV da Prússia. Você pode escutá-la aqui: https://youtu.be/PBTaHOuT1K4?si=6rLbu7_ORyjpvL34

[15] N.R.: A Paixão segundo São João, BWV 245 (em alemão: Johannes-Passion) é um oratório sacro de Johann Sebastian Bach. A peça foi composta em Leipzig, no dia 7 de abril, vésperas da Sexta-Feira Santa de 1724. Você pode escutá-la aqui, com legendas em português: https://www.youtube.com/watch?v=vdh7Wf3Uq-s

[16] N.R.: Johann Sebastian Bach (1685–1750) foi um compositor, cravista, mestre de capela, regente, organista, professor, violinista e violista oriundo do Sacro Império Romano-Germânico, atual Alemanha. Nascido numa família de longa tradição musical, cedo mostrou possuir talento e logo tornou-se um músico completo. Estudante incansável, adquiriu um vasto conhecimento da música europeia de sua época e das gerações anteriores.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Canção do Ser

A música é a “canção do ser”, cantada por Deus, o Mestre Supremo, através do tempo e do espaço. O primeiro versículo do Evangelho Segundo São João revela a importância do tom ou música em nossa criação ou evolução espiritual, pois as palavras: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”, podem ser interpretadas desta forma: “No princípio era a Música e a Música estava com Deus e a Música era Deus”, pois São João ao usar o termo o ‘Verbo’, sugere tom ou vibração harmoniosa e toda vibração ou tom harmonioso pode se chamar de música. Esse foi o Fiat Criador que fez com que tudo existisse.

O Deus de nosso Sistema Solar se manifesta em três aspectos: Vontade, Sabedoria e Atividade.

A Vontade de Deus trouxe à existência a melodia ou o tom: depois, em Sua Sabedoria, harmonizou esta melodia em forma e depois, por Sua Atividade, fez que esta forma do tom se fizesse movimento ou ritmo, pulsando com rítmica cadência a tudo o que vive e se move.

De modo que através da Criação tudo canta, tudo é música, ou foi criado por ela. Assim sucede com o compositor quando toma uma melodia, harmoniza-a e lhe dá ritmo, fazendo que sua composição seja uma reprodução infinitesimal de criação do arquétipo todo poderoso de Deus.

O livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” diz que as formas que vemos ao nosso redor são sons-figuras cristalizadas das forças arquetípicas que trabalham nos Mundos Celestes. Quão ignorante encontra-se a humanidade, em sua quase totalidade, sobre o fato de que o mesmo veículo em que cada qual funciona e vive neste Mundo Físico, foi construído por meio da música na Região do Pensamento Concreto! Sem essa música nós não teríamos um Corpo Denso no qual funcionar neste Mundo Físico, ainda que a maior parte das pessoas sejam ignorantes desta realidade e pensem que a música seleta é somente para os poucos escolhidos que a compreendem. Algum dia, em algum renascimento, cada um de nós teremos que despertar as vibrações dessa música, teremos que nos fazer conscientes de seu poder etéreo e espiritual. Antes de que tenhamos terminado de viver na Terra através de seus diferentes períodos, teremos que nos tornar músicos, pois teremos em nosso Esquema de Evolução que nos converter em criadores de verdade por meio do som e da palavra para podermos emanar o tom do Fiat Criador. Isto teremos que fazer para complementar nosso destino.

Existem três classes de seres humanos que não são músicos, mas ocupam uma escala diferente dentro desta possibilidade.

Primeiro: os que manifestam abertamente que a música não lhes interessa para nada; em seu estado presente, esses seres ficam fora de nossa consideração por enquanto.

Segundo: aqueles que manifestam certa inclinação e a escutam com agrado, mas dizem que não a entendem; para estes há uma esperança de que cheguem a ser músicos num futuro próximo.

Terceiro: os que ainda sem ser músicos, todavia, mostram uma grande ansiedade por ela e frequentam os lugares de concerto para escutar com verdadeira devoção; estas pessoas acham-se muito próximas de alcançar o talento musical. Elas despertaram em vidas passadas algum interesse musical, aumentando-o até certo grau e convertendo-se em amantes intensos de sua sublime beleza. Estes seres, através da sublimada essência acumulada, poderão tocar repentinamente algum instrumento musical, ou faculdade para cantar. Desenvolverão assim este talento por várias vidas até converterem-se em criadores de música, isto é, em compositores. Então, começam a penetrar mais além do físico, afinando-se às vibrações musicais do Segundo Céu, a Região do Pensamento Concreto, especialmente durante a vida que existe entre os renascimentos.

Existe um regozijo na criação da música que é somente comparável com uma coisa: a Iniciação Mística. Ela é, em sua própria expressão, um grau menor desta Iniciação, quando o compositor se torna o suficientemente avançado para compor grandes obras; chega, então, às vibrações cósmicas mais elevadas que as que alcança o compositor ordinário e neste exaltado estado, encontra-se mais perto de Deus, assim como o Iniciado Místico está mais perto de Deus que o ser humano ordinário. Quando o compositor penetra nestas elevadas vibrações do Segundo Céu, está escutando realmente a palavra de Deus. A verdade está ainda a uma grande distância, mas já se encontra em grande adiantamento em sua evolução, uma posição conquistada com o esforço de muitas vidas; não um privilégio como muitos creem, mas uma recompensa ao trabalho empreendido.

É certo que o escultor, o poeta e o pintor também se afinam às vibrações celestiais, mas as vibrações que eles empregam situam-se na Região mais elevada do Mundo do Desejo, conhecida como Primeiro Céu, enquanto os músicos vão mais alto, ou seja, à Região do Pensamento Concreto, no Segundo Céu, onde o tom é o originador da cor e da forma. Assim, de todas as artes e credos em questões de arte, a música e o músico são os que chegaram mais alto e, portanto, é a mais elevada expressão da vida da alma que temos em nossa existência e é lógico pensar que tem uma mais refinada influência sobre o Corpo de Desejos que qualquer outra das partes. Como diz Max Heindel: “Não há outra classe superior à do músico. A ele corresponde a mais alta missão, porque como um modo de expressão para a vida da alma, a música reina suprema”. Também diz: “Somente na Região do Pensamento Concreto, onde os arquétipos de todas as coisas se unem no grande coro celeste de que falou Pitágoras: a harmonia das esferas, encontramos a verdade revelada em toda sua beleza”. Vemos, portanto, que é ali, naquela Região da Verdade em toda sua beleza, onde se acha o lugar da música.

Pergunta-se por que, se a música é tão bom estímulo para o crescimento espiritual, frequentemente encontramos músicos cujas vidas, no sentido moral e ético, não estão de acordo com suas habilidades artísticas. Acredita-se que um músico devesse se encontrar, em todos os aspectos, ao nível de seu gênio criador, mas não é assim. A razão disto é que os gênios dedicaram o melhor de suas vidas passadas ao desenvolvimento da música exclusivamente, abandonando outras fases morais da vida e outros detalhes importantes. Assim, gravando constantemente essa devoção nos Átomos-semente dos seus Corpos e os desenvolvendo mais e mais em cada vida, fica tão profundamente impressa que a pode expressar nos planos superiores musicalmente, apesar de suas deficiências gerais em muitos outros aspectos humanos.

Na vida que segue à morte finaliza sua existência nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo, onde o ser purga seus erros da vida passada, e depois ascende ao Primeiro Céu – localizado nas três Regiões superiores do Mundo do Desejo – para receber a recompensa das ações de sua vida anterior. Então, purifica-se e está pronto para gozar do descanso que existe entre renascimentos.

Ao deixar o Primeiro Céu, encontra-se envolto em uma beatífica quietude, uma paz absoluta, tão perfeita e completa que é difícil explicar.

Pela primeira vez, desde que começou seu último renascimento, goza a plenitude desta paz, que o absorve todo.

Todos conhecemos a paz que pode existir neste Mundo Físico, até certo ponto, mas quando o Ego chega a este Segundo Céu percebe pela primeira vez o verdadeiro sentido do termo “paz”, ainda que sem nenhum de seus sentidos, pois já não os necessita.

Quando seu Espírito se banha nesta profunda tranquilidade e absorve da mesma tudo o que é capaz, segundo seu alcance espiritual, encontra-se pronto para as atividades do Segundo Céu. O fato de ter desenvolvido, no passado, sua capacidade musical o recompensará grandemente, porque suas experiências neste reino estão todas relacionadas com sua capacidade para compreendê-la.

A partir daí começa a preparação para seu próximo renascimento por meio da absorção espiritual.

No umbral do Segundo Céu é despertado o estado de paz e quietude, no qual está submerso por meio do som da música perfeita. Conforme cruza este umbral, entra no lugar de trabalho de Deus, envolto neste maravilhoso som da música. Para o músico, principalmente, este é o paraíso perfeito.

O Segundo Céu está situado na Região do Pensamento Concreto; todo pensamento aqui é uma expressão do som. Tudo o que existe chega à existência por meio do som. É a vibração de vida, ritmo pulsante, melodioso e harmonioso.

Este reino molda todas as coisas e lhes dá forma: as rochas, areias, flores, aves, animais e o ser humano. Aqui o Ego é recebido pela música mais sublime que possa experimentar, algo que transcende a tudo que tenha escutado na Terra. Este é o paraíso dos compositores, onde podem se entregar ao sonho do som vívido, como sonhava na Terra sem o lograr.

Se deseja renascer como músico, prepara-se para isto enquanto está neste reino. Aprende a desenvolver o sentido do ouvido, mãos e nervos que sejam super sensitivos. Para isto, é ajudado pelas mais elevadas Hierarquias Criadoras.

Max Heindel nos diz que a habilidade musical depende do ajuste dos canais semicirculares do ouvido e que é necessário não só ter o ajuste apropriado destes canais, mas que também há que ter extremadamente delicadas as “fibras de Corti”, das quais existem umas dez mil no ouvido humano, sendo cada uma capaz de interpretar umas vinte e cinco gradações de tom.

Estas fibras no ouvido da maioria das pessoas não respondem a mais de três ou dez das possíveis gradações. Um músico ordinário não possui mais de quinze sons em cada fibra, mas o mestre musical requer uma categoria superior. Portanto, é fácil compreender o porquê os mestres das mais elevadas Hierarquias Criadoras ajudam o músico, especialmente o compositor, durante o tempo em que se encontra construindo seu arquétipo para seu próximo Corpo Denso, como diz Max Heindel: “o mais alto grau de seu desenvolvimento, torna-o merecedor, além de requerer ajuda, e o instrumento por meio do qual o ser humano se faz sensível à música é o órgão mais perfeito do corpo humano”.

O ouvido do ser humano começou seu desenvolvimento no Período de Saturno, de modo que é o mais desenvolvido do tempo presente de todos os sentidos físicos.

Enquanto pode compor esta música perfeita quando se encontra no Segundo Céu, o compositor não pode expressá-la com a mesma pureza neste plano físico, pois se encontra impelido pelas baixas vibrações do Corpo Denso e a Mente não pode alcançar até as mais altas regiões do som.

Não obstante, com o tempo chegaremos tão alto em nossa evolução que poderemos vibrar facilmente com esse Mundo e expressar seus sons em nossas vidas diárias. É a música a que faz o Arquétipo individual e quanto mais desenvolvemos esse sentido, mais glorioso é o tom e a harmonia que o criam.

A nota-chave individual do corpo humano situada na parte de trás da cabeça é um tom, um definido tom musical, que constrói e mantém unida a massa de células que compõem nosso Corpo Denso.

Quando nos submergimos na música, ela permanece entre nós e as coisas desagradáveis da vida, a sordidez do materialismo, que geralmente oprime nosso coração, diminui por meio do toque gentil da música.

É um grande tônico para os nervos. Se alguém se sente cansado e esgotado e deixa seu corpo em repouso para escutar música clássica (ou erudita) seleta, as vibrações do corpo podem, em uns poucos momentos, elevar-se e desfazer a fadiga.

Quando aprendermos a usar a música em sua relação apropriada como nossos distintos veículos: Mente, Corpo de Desejos, Corpo Vital, por meio do Corpo Denso não necessitaremos mais de medicinas para nos curar.

Em Deus tudo é Melodia, Harmonia e Ritmo, porque os pensamentos de Deus são todos Melodia; as criações de Deus são Harmonia e os movimentos (ou gestos) de Deus são Ritmos. Se Deus emprega a música como meio criador, porque não havemos de imitá-Lo, empregando-a para formar nosso “Eu Superior”?

Max Heindel diz: “Sobre as asas da música a alma podo voar para o trono do Deus, onde o mero intelecto não pode chegar”.

Temos estas inspiradas mensagens que nos foram dadas para nossos corações e para nosso estímulo, sem ter em conta qual seja o grau de interesse presente pela música.

A música é sempre um aliciante para a alma e para apressar a formação de uma maior consciência.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – janeiro-fevereiro/1988-Fratrernidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: É lícito a um médico permitir a morte de uma criança, que tem debilidades mentais ou que é portador de deficiências físicas, quando uma cirurgia poderia evitar sua morte? A criança que tem debilidades mentais haure alguma experiência em sua vida? O Ego tem consciência das suas deficiências físicas e ou mentais durante uma encarnação e poderá aprender dessa experiência? Podemos classificar a loucura ou insanidade como uma doença hereditária?

Resposta: Suponhamos que uma criança normal receba durante seus folguedos um forte golpe na cabeça, tornando-se, consequentemente, um anormal, ou entrando em estado de coma, não haveria hesitação em proceder-se a uma cirurgia craniana para lhe restaurar o estado normal de consciência.

Analogamente, qual o motivo para não se dedicar iguais cuidados a um bebê recém-nascido? Será criminoso permitir a morte da uma criança por falta de cuidados médicos, independentemente de sua idade. É igualmente lamentável o descuido para com um recém-nascido, uma vez que após a passagem do Ego pelo útero materno, a fim de adquirir experiências na escola da vida, assumimos a responsabilidade de ajudá-lo em seus esforços para a manutenção da vida, de todos os modos possíveis.

Pergunta-se: O Ego haure experiências de uma vida transcorrida num estado de insalubridade mental? SIM. O Ego, em si mesmo, não está sujeito à loucura ou à insanidade. Há, isso sim, ligações defeituosas entre os vários veículos, a Mente, o Corpo de Desejos, o Corpo Vital e o Corpo Denso, que se manifestam em estados de loucura ou insanidade.

Quando a ligação imperfeita se produz entre os terminais cerebrais e o Corpo Vital, o resultado será uma criança “idiota”, em muitos dos casos, melancólica, mas geralmente inofensiva. Quando a anomalia se registra entre o Corpo de Desejos e o Corpo Vital, observaremos condições quase similares, notando-se casos como a epilepsia, dança de São Vito (doença Coreia reumática de Sydenham), etc. A loucura de natureza violenta resulta de uma ligação imperfeita entre o Corpo de Desejos e a Mente. Quando há conexão imperfeita entre o Ego e a Mente, teremos então um indivíduo que poderíamos classificar de “desalmado”, o mais perigoso de todos. Ele se caracteriza pela astúcia, que usará do modo mais diabólico possível.

Se considerarmos o corpo, ou os vários corpos do ser humano como um instrumento musical sobre o qual o Ego executa a sua partitura, ele conseguirá uma sinfonia de maior ou menor beleza de acordo com a sua condição evolutiva. Quando há, porém, conexões defeituosas ou mesmo interrompidas, o Ego se encontra na mesma posição de um grande músico forçado a executar a sua música num instrumento com um número incompleto da cordas. Só conseguirá emitir sons dissonantes. Para o músico, a execução em tais condições seria uma tortura. É exatamente essa a posição de um Ego encarnado numa Personalidade mentalmente insana. Por motivos oriundos de vidas passadas deverá utilizar um corpo incapaz de ser controlado. O sofrimento é maior ou menor, conforme o grau de evolução, podendo, dessa maneira, assimilar as suas lições na escola da vida, em sua escala rumo à perfeição. É, de fato, uma triste condição. Não devemos, porém, olvidar que a duração de uma vida, um longo período para nós, constitui um momento fugaz para o espírito. E caso tenha assimilado bem a sua lição, poderá retornar à Terra, no próximo renascimento, em um corpo sem esses problemas.

Quanto à última parte da pergunta, se podemos considerar a loucura ou insanidade como uma doença hereditária podemos responder tanto na afirmativa como na negativa, dependendo do aspecto do problema a ser considerado. Do ponto de vista espiritual, conforme mencionado, a insanidade não é um defeito do Ego. Não poderá, contudo, devido às suas falhas de caráter, construir um corpo que não expresse essa insanidade. Assim sendo, será encaminhado a uma família de idênticas tendências, segundo o princípio da atração dos semelhantes. Os músicos geralmente se congregam em teatros, auditórios e conservatórios. Procuram sempre renascer em família de músicos. Assim renascerão dotados de certas faculdades como dedos longos e ágeis, fibras de Corti extremamente delicadas, ensejando-lhes sensibilidade em sua expressão musical. Os jogadores se reúnem nos hipódromos, cassinos etc. Os malfeitores também têm seus grupos, similarmente, pessoas com iguais defeitos serão atraídas para famílias com idênticos problemas.

Assim, examinando o problema pelo ângulo da forma trata-se, de fato, de mal hereditário. Alguns cientistas analisam a questão através de um enfoque exclusivamente materialista. Defendem o ponto de vista segundo o qual deve-se limitar ou impedir o nascimento de débeis mentais, ensejando-se, dessa maneira, a erradicação completa do mal. Desconhecem, entretanto, a analogia entre o ser humano e o caracol. Assim como a substância fluida do corpo do caracol produz a sua casa (que ele carrega consigo), assim os antigos atos do Espírito cristalizam-se num corpo o qual deverá habitar até seu desgaste completo.

Não haverá solução através de terapias dirigidas somente para o Corpo Denso, como um caracol doente não poderia ser curado por meio de aplicações em sua casa. Como disse Emerson: “O doente não é mais do que um pecador pagando abertamente suas transgressões para com as leis naturais”. Os insanos pertencem a essa categoria, para ajudá-los devemos aplicar meios espirituais de educação, pois todos os outros métodos não passam de paliativos que poderão amenizar o sofrimento, sem, contudo, atingir a fonte da moléstia.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1977 – Fraternidade Rosacruz-SP)

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