Conta-se a história de uma vila que sofreu uma seca prolongada. Seus habitantes resolveram um dia se reunir em um descampado para orar pedindo chuva. No tempo marcado todos compareceram, com exceção de uma menina.
Pouco depois ela foi vista correndo ao encontro dos outros. Ela atrasou-se porque tinha voltado a casa para apanhar um objeto que ninguém mais julgara necessário: um guarda-chuva.
Com que frequência, nós, como todos os habitantes daquela vila, deixamos nossa fé ficar em estado passivo?
Podemos definir a fé como o reconhecimento das realidades espirituais e dos princípios morais como sendo da mais alta autoridade e de supremo valor.
Quem, entre nós, poderia desprezar a importância da fé na prece para obter a cura espiritual? Quais seriam nossas palavras, se tivéssemos de descrever o nosso sentimento interior enquanto oramos ao nosso Pai Celestial pedindo cura a espiritual?
Estamos indiferentes ou esperançosos, serenos em nossa fé que Deus ouvirá nossa prece? Todos sabemos, por certo, que tal estado de letargia interna, enquanto oramos, jamais “moverá montanhas”:
A fé é sempre ativa, completa em si mesma; não é atuada nem afetada por nenhuma força, nem agente exterior, levando em si mesma sua própria força a matriz.
Max Heindel em seus escritos, lembra-nos o aviso de São Tiago, 2:17-18: “Assim também a fé se não tiver obras, é morta em si mesma. Dirá, então, alguém: ‘Tu tens a fé e eu tenho as obras: mostra-me a tua fé sem obras e eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé'”.
Em todos os casos em que Cristo curou alguém, essa pessoa deveria fazer alguma coisa; tinha de cooperar ativamente com o Grande Curador, antes que sua cura se efetivasse. Em um caso, Ele disse: “Estende tua mão” e quando o homem assim fez, sua mão ficou curada. Em todos os casos houve cooperação ativa da parte daquele a ser curado. Eram obrigações simples, mas assim mesmo, teriam de ser cumpridas para que o espírito de obediência auxiliasse no trabalho de cura.
Atualmente essa cooperação ativa é tão necessária para quem espera a cura espiritual, como o foi no tempo de Cristo. Nosso serviço no Departamento de Cura da Fraternidade Rosacruz solicita àqueles que pediram alguma cura, ou seja, que se inscreveram no Departamento de Cura (Formulário para Solicitação de Auxílio de Cura) a cooperar, ajudando aos que estão no seu entorno (sempre há algo que se pode fazer, no mínimo uma oração), dando-lhes sugestões acerca de hábitos salutares e pensamentos construtivos, pois as Leis de Deus devem ser cumpridas em todos os planos. Outra atividade que o “paciente” de um Departamento de Cura deve fazer é escrever (sempre com caneta à base de tinta nanquim LÍQUIDA ou “pena mosquitinho” que você molha em um recipiente com tinta LÍQUIDA nanquim), semanalmente, relatando o andamento da cura – enviando-o junto com as “assinaturas mensais” –, pois tais relatórios fornecem aos Auxiliares Invisíveis a chave das necessidades do “paciente” e servem, particularmente, para serem por eles usados. Se houver descontinuidade no envio das “assinaturas mensais”, o trabalho de cura é interrompido imediatamente. Por fim, mas não menos importante, durante o tempo em que alguém estiver em um Departamento de Cura de um Centro Rosacruz é da maior importância que se conserve em um estado interior de fé ativa, que o mantenha esperançoso da cura tão desejada e que foi pedida.
Não sejamos como aqueles que foram ao campo orar pedindo chuvas, mas com as mãos vazias; sejamos como a menina que levou consigo o guarda-chuva, símbolo exterior da sua brilhante fé interior.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – novembro/1985 – Fraternidade Rosacruz-SP)
Não é estranho que poucas pessoas possuam uma fé real e viva em Deus? Mesmo entre os Cristãos assumidos há comparativamente poucos que tenham confiança real no Pai Celestial. Fé não significa simplesmente a crença na existência de Deus; fé significa confiança — é nos colocar em Suas mãos. A fé, como todas as outras qualidades e virtudes, cresce apenas pelo exercício. Aprenda a confiar no Pai em tudo, nas menores e nas maiores coisas da sua vida.
Isso significa a libertação das preocupações, medos e inquietações das quais o mundo está tão cheio. Abra a Mente e o Coração para receber a verdade de qualquer fonte que ela venha, acreditando que o bom Deus o tenha sob Sua guarda. Pois quando colocamos nossa confiança em Deus, fazemos uso de uma Lei Divina que nos sustenta em todas as provações e problemas da vida. É como se tivéssemos agarrado a Mão Todo-poderosa que é capaz de fazer tudo e vencer todas as coisas por nós. Fazemos a conexão entre nossa fraqueza e Sua força, que é maior que todas.
A fé é fraca no início e, às vezes, é necessário estarmos em situações extremas antes de podermos buscar a ajuda de Deus; então, mesmo o menor grau de fé fará com que o Pai Celestial venha em nosso auxílio. “A nossa fraqueza é a oportunidade de Deus”. Ele é o sempre fiel. Lembre-se de que Ele diz: “Nunca te deixarei, nem te desampararei”.
A simplicidade dessa maneira de se confiar em Deus faz com que pareça fácil demais para a maioria dos das pessoas. Requer uma certa simplicidade da natureza, uma Mente infantil. Você se lembra que Cristo disse que devemos nos tornar como criancinhas? Mas a maioria de nós procura grandes dificuldades para superar, objetivando estabelecer uma conexão com o Pai Celestial. É em grande parte uma questão de relaxar, deixar ir, jogar fora da Mente e do Coração qualquer fardo ou problema que vier, olhando simplesmente para Ele e aceitando como vindo de Sua Mão tudo o que surgir. E não podemos fazer nada mais agradável a Ele, ou mais útil a nós mesmos, do que exercer confiança em todas as condições. E nossa capacidade de fé cresce com seu exercício. Quanto mais usamos, mais temos.
Chega um momento, em nosso crescimento, em que não tememos mais nada — neste Mundo visível ou em qualquer outro dos Mundos Invisíveis. Alcançamos um equilíbrio, uma paz de espírito e serenidade de alma, uma tranquilidade de Coração que deve ser uma antecipação da bem-aventurança celestial. Compreendemos a suprema sabedoria de deixar todas as coisas serem ordenadas pela Perfeita Sabedoria e Perfeito Amor e entendemos que nossas próprias vontades, devido ao nosso entendimento imperfeito, estão propensas a contrariar Sua Vontade, que é sempre para nossa perfeição e felicidade.
“O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que n’Ele confiam.”
“Eu, o Senhor, seguro-te pela mão direita e digo: ‘Não temas; Eu te ajudarei’.”
“Em todos os teus caminhos, reconheça-O e Ele endireitará os teus caminhos.”
“Quem assim confia no Senhor, feliz é ele.”
“Ainda que Ele me mate, ainda assim confiarei Nele.”
“Tu manterás em perfeita paz aquele cuja Mente está firme em Ti, porque ele confia em Ti.”
Há muitas, muitas passagens na Bíblia que nos suplicam a confiar n’Ele. Uma sugestão: leia o Salmo 23 e o Salmo 91. Acredite que tal confiança é o remédio soberano para todo problema ou perigo, oculto ou não, e que nos apegando a Ele somos mantidos seguros até o fim.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de julho-agosto/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
O maior perigo do Aspirante Rosacruz que está trilhando o Caminho Rosacruz é se prender na armadilha do egoísmo, e sua única proteção deve advir do cultivo das faculdades da fé, da devoção e da compaixão para com todos. É difícil, mas pode ser feito, e quando isso acontece, a pessoa se torna uma maravilhosa força para o bem do mundo.
Afinal: “Considerai como crescem os lírios no campo, eles não trabalham, nem fiam; e, contudo, digo-vos que nem Salomão com toda a sua glória se vestia como um deles. Se a erva que hoje está no campo e amanhã lançada ao forno Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Vós, pois, não procureis o que haveis de comer ou beber, e não andeis com o espírito preocupado. Porque são os seres humanos do mundo que buscam todas essas coisas. Mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo“.
Nicodemos ao ouvir Cristo falar-lhe sobre a necessidade do renascimento, perguntou: “Como pode ser isso?”. Com nossas Mentes inquiridoras, nós também ansiamos por mais luz sobre diversos ensinamentos que apontam para o nosso futuro. Como seria útil se pudéssemos perceber esses ensinamentos manifestados e enquadrados nos eventos físicos do quotidiano. Então, teríamos uma base mais firme para sustentar nossa fé e aceitar coisas ainda desconhecidas.
O método de trabalho da Fraternidade Rosacruz é o de correlacionar os fatos espirituais com os fatos físicos, de modo a apelar, primeiro, para a razão e, só depois, estabelecer a fé. Desse modo torna-se mais possível iluminar as almas que buscam esclarecimentos sobre os mistérios da vida.
A fé deve ser demonstrada por meio de obras. Não importa qual seja a nossa situação na vida: se estamos numa escala social alta ou baixa; se somos ricos ou pobres; se estamos ocupados em colocar lâmpadas elétricas para evitar eventuais quedas e acidentes; se temos o privilégio de ocupar uma tribuna mostrando aos outros uma luz espiritual, ensinando os caminhos da alma. Não importa se as mãos estão sujas ou limpas, talvez encardidas pelo trabalho mais humilde de cavar o canal do esgoto para conservar a saúde da nossa comunidade; talvez macias e brancas para cuidar dos enfermos.
O fator determinante para decidir a qualidade do trabalho, se é espiritual ou material, é nossa atitude ao executá-lo.
Há uma Parábola que ajuda nesse assunto: A Figueira Estéril e Seca. Fé e Oração
“De manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. E vendo uma figueira à beira do caminho, foi até ela, mas nada encontrou, senão folhas. E disse à figueira: ‘Nunca mais produzas fruto!’. E a figueira secou no mesmo instante. Os discípulos, vendo isso, diziam, espantados: ‘Como assim, a figueira secou de repente?’. Jesus respondeu: ‘Em verdade vos digo: se tiverdes fé, sem duvidar, fareis não só o que fiz com a figueira, mas até mesmo se disserdes a esta montanha: ‘Ergue-te e lança-te ao mar’, isso acontecerá. E tudo o que pedirdes com fé, em oração, vós o recebereis.’” (Mt 21:18-22)
Que as Rosas floresçam em vossa cruz
Entre as várias instruções que são dadas pela Filosofia Rosacruz encontramos sempre as que nos dizem: “orar constantemente” – “Estar receptivo à Força Curadora do Pai” – “Faça-se a Tua Vontade e não a minha“.
Quando nos é dito: “Orar constantemente“, compreendemos ser uma referência ao alimento que devemos dar ao nosso Cristo Interno, o Cristo que habita em nós. O eterno que está dentro de nós deve ser alimentado com o nosso trabalho diário; com a responsabilidade pelos deveres assumidos; com amor, perdão e alegria; com o encanto para o bem; com o respeito aos Reinos da natureza; com o cultivo das artes; com os sentimentos positivos: com o conhecimento aplicado; com todas as manifestações de bens.
Quando nos é dito: “Estar receptivo” compreendemos ser uma referência para estarmos abertos, preparados, dispostos para receber a Força Curadora do Pai. Para que o Sol entre em um ambiente é necessário abrir a janela, assim como para receber um cumprimento é, necessário, estender e abrir a mão. É o estar receptivo a algo que nos vai favorecer, que realmente desejamos – é o esforço que temos de fazer, é a nossa própria participação no caso.
Quando nos é dito: “Faça-se a Tua vontade e não a minha”, estamos pondo toda a nossa fé e confiança na Sabedoria do Pai, pois não sabemos os desígnios que nos foram reservados e o porquê do nosso sofrimento; mas sabemos que em todo o mal há sempre um bem em gestação e a força do nosso pedido, a sinceridade das nossas intenções podem, muitas vezes, modificar uma condição de sofrimento.
A força que nos leva a Deus é a Fé e o ato de integrar-se na espiritualidade é um ato tranquilo, de puro amor e confiança. O processo é interno e íntimo.
Deus é amor e através d’Ele é que atingimos a plenitude de nossa consciência e de nossa evolução.
Que a Paz de Deus e as doces bênçãos divinas encontrem em cada um de nós, a receptividade e o alimento para permanecerem.
(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de outubro/1985)
Fé, Esperança e Amor: a espera na porta do nosso coração, onde está o templo
Disse o Mestre: “No caminho para o Santo Castelo do Graal, onde se oferecem às almas o Elixir da Paz de Deus, leve sem demora, filho do meu coração, o bastão da Esperança, a Luz da Fé e o néctar do verdadeiro Amor.
O bastão da Esperança te guardará contra as feras do medo e do desalento, que espreitam o caminho.
A Luz da Fé te ilumina o caminho na noite do desespero e tornará visível a imagem magnífica diante de teus olhos espirituais.
O néctar do Amor Puro dar-te-á a força necessária para escalar o penhasco íngreme da melancolia!
Ele fortificará teu coração, conservará tua esperança e tua Fé vivas!
Embora a tempestade do infortúnio seja tão forte que te ameace arrancar os pés do chão firme, não deixes cair das tuas mãos o bastão da Esperança!
Se as ondas do sofrimento e o tormento da tua alma ameaçam-te subjugar, mesmo assim, não percas a esperança, reanima-te e desafia com a força renovadora os obstáculos das ondas revoltadas!
Reconhece, porém, que no desespero mais alto existe ainda uma faísca de nova esperança!
Saibas que, mesmo que o céu esteja coberto de escuras nuvens, o sol, a lua e as estrelas estão escondidas além e em breve reaparecerão novamente!
Percebe que nenhuma tormenta jamais durou eternamente!
Após a noite desponta a aurora, o fluxo sucede ao refluxo das ondas, à luta sucede a paz!
Essa é a lei da Graça, do Amor e da Sabedoria Divina!
Portanto, espera meu filho, embora não haja mais motivo de esperança! Espera, mesmo no mais profundo desespero!
Espera, embora não vejas sequer tênue Luz de esperança! Porém, reconhece que a verdadeira esperança obtém sua força da verdadeira fé!
Verdadeira Fé é aquela fonte de energia que nunca falha, nunca se esgota!
Verdadeira Fé é aquela chama inflamada pela mão de Deus que nunca se apaga!
Por isso, conserva o bastão de tua esperança através da correnteza da verdadeira Fé, sempre verde!
Sim, transforma tua esperança em Fé verdadeira, como a lagarta rastejante se transforma numa alada e magnífica borboleta!
A verdadeira Fé não conhece desânimo ou medo. Ela está inflamada do fogo do entusiasmo e compenetrada do alento da convicção interna!
A Luz da Fé te mostrará os rastros dos peregrinos que sulcaram este caminho muito antes de ti; fortalecerá teus pés e dar-te-á forças novas!
A semente da Esperança só pode ser despertada para a vida pela Luz da Fé! Sem a Luz da Fé, a árvore da vida do ser humano não pode crescer nem dar frutos! Na Fé está a maior força da Cura!
A Fé está enraizada na aperfeiçoada energia da vida!
Na Fé desembocam todas as forças criadoras da alma!
Quem anda sem a Luz da Fé cairá dentro em breve vítima do demônio do desespero! Não deixes, pois, ó peregrino do Santo Graal, que a Luz da convicção se apague em teu coração.
Crê na direção e na providência Divina!
Crê na força salvadora do sacrifício!
Crê na lei universal que não deixa esforço e sacrifício sem recompensa!
Crê, que também tu, por pequena a importância que pareças ter na posição em que te achas, terás de cumprir uma missão!
Crê na força criadora da tua própria alma!
Crê na potência do Santo Graal, no templo invisível da humanidade!
Crê, antes de tudo, no poder divino do verdadeiro Amor!
Reconheça que o Amor puro é o refúgio de todas as almas!
O Amor puro remove todo o antagonismo e todas as inimizades!
O Amor puro afasta todas as dificuldades da vida!
O Amor é o eixo da criação, a origem e o fim do caminho que conduzirá ao templo da redenção!
O Amor puro é distintivo dos Cavaleiros do Santo Graal!
O Amor puro é o alimento dos deuses e dos Anjos!
No Amor puro reflete-se a face de Deus — sim — ele é Deus mesmo!
Deixa, pois, a Luz de tua Fé inflamada pela brasa do Amor puro!
O Amor puro é universal, por isso não conhece fronteiras e nele não há diferenças! É aquele sol ardente do coração de Deus o qual vivifica e ilumina tudo, seja alto ou baixo, bom ou mau, bonito ou feio!
Uma centelha desse Sol — o Amor do Criador — está oculta no coração de cada ser humano! O dever de cada alma é despertar e inflamar essa centelha!
Enquanto não despertares essa centelha divina em teu coração, és indigno de usar o nome ‘Cavaleiro do Santo Graal’!
O Amor puro não conhece ódio ou orgulho. Ele conhece somente perdão, sacrifício e benignidade. Ele é paciente, bondoso e tolerante!
O Amor dar-se-á e achará a bem-aventurança no sacrifício de si mesmo! Ele não deseja mais do que dedicação! Nunca se sente ferido ou magoado! Nunca para de chamejar e de entusiasmar, mesmo se for negado!
Ele vivifica tudo, alimenta tudo, salva tudo!
Ele perdoa os malfeitores, porque reconhece que eles sofrem e andam em treva espiritual. Ele os ilumina, cura-os e torna-os sadios!
O Amor sabe que os cegos pisoteiam a flor santa da verdade por cegueira. Por isso os conduza para o caminho certo!
O Amor sabe que as trevas não se podem vencer com trevas, porém só pela Luz!
Por isso ele andará com os malfeitores e decaídos, sempre misericordioso e compassivo!
Pela sua dedicação compadecedora, ele salva as almas obscurecidas e faz que os corações cegos recuperem a vista!
Assim, ama, ó peregrino, teus inimigos, para que possas salvá-los!
Ama também teus sofrimentos para que possas transformar sua força em bênção!
Tua admissão no exército dos Cavaleiros do Santo Graal depende da atividade desse amor puro. Tu deves conservá-lo sempre vivo, no viver de cada dia!
O guardião do Castelo do Graal te perguntará, um dia, antes de transpores os portais do Castelo: ‘Quantas almas trouxeste, peregrino, como sinal dos sacrifícios de amor puro?’.
Quem não apresentar uma única alma salva, como testemunho da sua dignidade, o portal do Santo Graal, então, jamais se abrirá para ele!
Bem-aventurado aquele que despertou e conduziu muitas almas pelo poder do amor puro, pois será admitido como servidor no Castelo do Santo Graal!
Agora, foste, ó saudoso peregrino, informado sobre o caminho que conduz ao Castelo do Graal!
Mas reconhece que ninguém é capaz de começar a peregrinação para o Castelo do Graal, se não for chamado por ele!
Recebe, agora, estas palavras como um chamado do Santo Graal e começa com o bastão da Esperança, a Luz da Fé na tua mão e o néctar do Amor puro no coração — tua peregrinação.
Meus olhos cuidarão dos teus passos e a minha bênção te acompanhará. Eu te esperarei aqui, na porta do teu coração, onde está situado o templo.
Felicidades para ti! Felicidades para todos os Seres!”.
(Traduzido do alemão e publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1973)
O tempo da fé cega já passou, chegamos à época da fé inteligente e da fé razoável. Não acreditamos somente em Deus, senão que O vemos em Suas obras, que são as formas exteriores de Seu Ente. Eis o grande problema de nossa época: traçar, completar e fechar o círculo dos conhecimentos humanos; depois, pela convergência dos raios, achar um centro: Deus! Achar uma escala de proporção entre os efeitos, as vontades e as causas, para subir daí à causa e à vontade primeira. Constituir a ciência das analogias entre as ideias e a sua fonte primitiva.
Tornar qualquer verdade religiosa tão certa e tão claramente demonstrada como solução de um problema de geometria.
Crede e compreendereis — disse Jesus-Cristo. Procuremos e acharemos; estudemos e haveremos de crer. Crer é saber por palavra. Ora, essa palavra divina, que antecipava e supria por um tempo a ciência cristã, devia ser compreendida mais tarde, conforme a promessa do Mestre. Eis, pois, o acordo da ciência e da fé provada pela própria fé.
A Religião é razoável. Pode-se prová-lo radicalmente, por meio da ciência.
A Razão é santa. Cristo-Jesus, encarnando a humanidade regenerada, a divindade feita ser humano, tinha por missão estabelecer o equilíbrio dessa dualidade e conduzir a humanidade à condição divina. O Verbo feito carne permitiu à carne fazer-se Verbo. Isso que os doutores da Igreja não compreenderam a princípio: seu misticismo quis absorver a humanidade na divindade. Negaram o direito divino. Acreditaram que a fé deveria aniquilar a razão, sem lembrar-se desta palavra profunda do maior dos Hierofantes dos mistérios cristãos: “Todo espírito que divide o Cristo é um espírito de Anticristo”.
A unidade do Mestre um dia triunfará em nós.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 05/70)
As dissonâncias que marcam o destino do nosso Planeta Terra e o nosso comportamento
Atualmente, entre o comportamento da pessoa espiritualmente consciente e o comportamento do ser humano mundano, existe uma brecha intransponível. A diferença entre a luz e as sombras torna-se cada dia maior.
Encontramos irmãos que querem fazer “algo” para o bem da comunidade e irmãos que visam somente seus propósitos e interesses e, com um impulso louco, querem aproveitar todos os prazeres e experimentar todas as sensações, não sabendo que o amanhã pode trazer-lhes consequências dolorosas e desastrosas.
Sentem-se impunes, pois não conhecem a lei de Deus, a Lei da Consequência.
Podemos perceber na arte e na música, atuais, um desequilíbrio emocional, um grande frenesi que está sendo alimentado e provocado pelos ritmos alucinantes e pelas drogas.
O destino da Terra está marcado por essas dissonâncias. A música e a arte são um espelho verdadeiro dos sentimentos de cada época. Observando a arte atual, não podemos admirar-nos pela intranquilidade e pelos desastres que também acontecem na natureza. Os incêndios que consomem as florestas, as inundações e os terremotos mostram uma mudança radical e destrutiva. São os resultados de uma exaltação doentia, de uma vibração dissonante, fanatismo, racismo, terrorismo, causando desequilíbrio na natureza. A humanidade sofre, se apavora e morre. Um grande grito de angústia parte do coração humano: Meu Deus, Onde Estás? Mas, este grito não é suficiente, não podemos esperar milagres sem merecê-los. Temos que achar o caminho, galgá-lo e, humildemente, procurar o equilíbrio que deve existir entre o coração e o entendimento.
É aqui que encontramos, atualmente, um outro tipo de desequilíbrio existente, que é o mental. Os grandes passos da ciência e tecnologia resultam num grande orgulho intelectual. Achamos que somos donos do mundo; nossas realizações não têm limites e podemos usar os frutos do nosso intelecto para fins egoístas, dominando e atormentando os outros à nossa vontade, não acreditando que haja uma força, um poder maior que pode dar um “basta” para toda esta superioridade humana. Há tropeços pelos quais precisamos passar para visualizar nossos erros e achar o caminho. Quando, um dia, a humanidade reconhecer suas limitações, descobrirá que bateu na porta errada e, vencida e quebrada, começará a procurar o verdadeiro caminho.
Se tiver humildade e amor, despindo a vaidade do intelecto, conscientizando-se da inutilidade de satisfações puramente emocionais, poderá achar o caminho superior. Os guias da humanidade estão ansiosos para estender a mão e para nos ajudar. Depende de nossa escolha, se aceitamos essa ajuda ou não. Somos livres tanto para nos elevarmos como para nos destruirmos.
A finalidade de nossa existência é encontrar e desenvolver o nosso Eu-Superior. Não é uma tarefa fácil, porque as forças das trevas toldam, fortemente, o caminho. Velhos hábitos nos tentam, sombras da nossa inferioridade cegam os nossos olhos. Devemos afirmar e seguir aquela voz silenciosa que está presente em todo ser humano e que é o resultado dos acertos, das boas ações durante muitos renascimentos, aquela voz que se pode tornar mais e mais nítida, se persistirmos no bem e ouvirmos seus conselhos.
A nossa fé em Deus não deve ser em vão. A nossa parte deve ser feita, não com sonhos nem com fantasias, mas com trabalho dedicado e com uma vontade inabalável para ajudar a construir um novo mundo, um mundo melhor e, “com todo o nosso poder possamos elevar as almas, a fim de que vivam em Harmonia e na Luz de uma Perfeita Liberdade”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/86)
A Fé e o Mundo Material
“A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, assim Eu também vos envio”. Na noite da Ressurreição, a primeira coisa a ser considerada por Cristo foi mandá-los ao mundo para testemunhar. A nós, também Ele diz: “Assim como o Pai Me enviou, eu também vos envio”. Por que devemos ser enviados? O que temos nós que nosso Senhor deseja que o mundo receba de nossa parte? Temos inúmeras coisas, a começar pela Fé.
Nós somos testemunhas de Cristo – o fermento de Cristo na Sociedade. O mundo de hoje necessita da nossa Fé. Não nos enganam como Aspirantes, consideram-nos religiosos. As pessoas esperam de nós a bondade e demonstrações da nossa Fé. Mesmo quando contestam nossos argumentos, dependem da calma e serena expressão da nossa Fé nesta era de vertiginosa confusão. Cada um de nós é uma testemunha de Cristo. Cada um de nós pode fortalecer ou enfraquecer a Fé daqueles que nos rodeiam.
O mundo é, na verdade, um paradoxo. Porque em nossa sociedade afluente – rica e tecnologicamente sofisticada – sentimo-nos deprimidos. A despeito dos aparatos que poupam nosso trabalho, modelos que nos seduzem, medicação que nos sustentam, ainda assim continua a depressão urbana na forma de pobreza, preconceito, falsa propaganda e miríades de outras depressões sociais que levam ao uso de álcool, das drogas e à negação psicodélica da realidade. Somos testemunhas da injustiça, da violência, da áspera competição, do impersonalismo, um terrível período que ocorre em nosso mundo.
O paradoxo induz o ser humano à ansiedade. Essa ansiedade com o sentimento de culpa, de insegurança e frustração não está confinada apenas nas pessoas neuróticas e infelizes. Essa ansiedade no mundo em que vivemos também se encontra no lar e no coração de todos. Todos os seres humanos, mesmo suas crianças, são contaminados pelo senso de insegurança num mundo cuja vastidão aniquila-os. O conhecimento expandindo-se cada ano, conhecimento assinalado com citações sábias marcadas por aspas, deixa o ser humano confuso em relação aos seus valores pessoais e duvidando do seu relacionamento com Deus e com a eternidade. O firme apoio que Deus nos permite descobrir, no espaço e no tempo, a sua complexidade, entra em colapso, em confusão para o indivíduo. Mesmo que o ser humano insista em manter a sua liberdade pessoal por razões egoístas, não se isola da situação; embora mude de status, ora de um ora de outro, permanece o medo de observar as necessidades em sua alma.
A palavra de ordem nesta época parece ser ”hostilidade”. Nossa idade é hostil à humanidade; os seres humanos são hostis uns com outros, sendo mesmo hostis consigo mesmo. Nessa condição, a fé é a única esperança que nos resta para um mundo melhor. Mantenhamos nossa fé, ela nos mantém ligados a Deus. A fé é confiança, crença e conhecimento. Identicamente, como qualquer outro poder, a fé, a menos que não seja posta em prática, atrofia-se, tal como acontece com o músculo que não é exercitado. Devemos viver a nossa fé, testemunhá-la e nos esforçarmos por aprofundá-la.
Hoje, mais do que nunca, as pessoas discutem sobre religião. Mesmo os que são hostis a ela admiram os que a cultuam, procurando muitas vezes o seu apoio, uma vez que um ser humano de fé tem coragem, visão e paz- isso é justamente o que as pessoas procuram.
Oremos para que tenhamos sempre a mesma convicção e o entusiasmo que levou São Tomé a exclamar: ”Meu Senhor e Meu Deus”.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/86)
Viver pela Metade
Aqueles que seguem os ensinamentos da Filosofia Rosacruz ou que os elegeram como filosofia de vida, não podem mais manter certas dúvidas a respeito da vida espiritual. Sabe-se que o primeiro passo e o mais difícil na crença das verdades espirituais, e admitirmos a Reencarnação, ou melhor, a Lei do Renascimento como ponto pacifico para a continuidade de nossos estudos e atividades na senda do Progresso. Entretanto, não ignoramos que existem muitos outros pontos, milhares deles, dos quais pode depender a nossa ascenção. Em princípio, toda a asserção sábia, contém sempre em si mesma dois sentidos: o material, do qual se reveste para ser enunciada, e o espiritual ou oculto, que deve ser desvendado.
Analisemos de passagem, o que diz a Bíblia pela boca do Mestre, naquele versículo: “Se uma casa se levantar contra si mesma, essa casa não subsistirá”.
O valor material dessa assertiva está bem claro e é um chamado à ordem àqueles que não sabem defender sua família, seu lar, seus filhos, tanto de Sangue como de ideal, contra o erro, a agressão, a maledicência, às vezes até contra si mesmo; já o sentido espiritual, faz-nos penetrar num. terreno mais sutil e perceber a face oculta da Verdade. Então notaremos que tanto pode restringir-se ao relacionamento de alma, como ao próprio relacionamento Interno de cada um, melhor dizendo, aos cheques e entrechoques de nosso eu inferior com a verdade que já existe em nós. Choques esses que muitas vezes se apresentam sob a forma de dúvida, de limitações, de oscilações prejudiciais. Aliás, a dúvida conduz naturalmente às limitações, principalmente se ela atinge os valores espirituais da vida. “Se uma casa se levantar contra si mesma”, isto é, se os nossos pensamentos espirituais não coincidirem totalmente com as nossas ações, com o nosso modo de vida, se mesmo conhecendo e sentindo os valores reais da vida, ainda perdemos tempo derivando por caminhos da matéria; se mesmo sentindo dentro de nós, maravilhosas verdades cantando sua música num coro divino, e apesar de tudo introduzimos ainda outros ritmos de canções menos celestiais, por algumas notas que sejam., estaremos quebrando a nossa sintonia interna e pondo uma pedra no caminho da nossa elevação espiritual. E é então que “essa casa não subsistirá”, porque não há equilíbrio interno que resista às oscilações a que a natureza externa das coisas muitas vezes nos submete, ou melhor dizendo, oscilações a que nós permitimos ser submetidos por nossas próprias fraquezas, nossa falta de coragem para aceitar integralmente a Verdade como escopo de vida, como única realização justa e aceitável em nosso progresso.
Aí é que entra aquela frase bíblica tão conhecida, de que “não se pode servir a dois senhores”. Porque estaremos servindo a dois senhores enquanto ainda ‘mantivermos dentro de nós, por insignificante que seja, algum interesse material,; quando ainda não tivermos a coragem, a determinação de afastar de nosso Caminho, tudo o que esteja fora das verdades espirituais, quando ainda não nos tivermos revestido o máximo possível daquele equilíbrio que nos leva a selecionar de imediato o joio do trigo, não aceitando nada que possa contrariar nossas “verdades internas; quando ainda não soubermos encarar a vida e a’ humanidade como resultados de algo maior, algo superior à própria vida física e pautar nossa vida por essa crença, sem «desvios numa entrega completa a Verdade, numa dedicação sem limites à causa dessa mesma verdade, dessa mesma vida superior, estaremos, repito, servindo ‘a dois senhores. Isso porque, na senda” do espiritualismo, chega o tempo em que já não se pode viver pela metade.
Ou somos, ou não somos. Ou cremos, ou não cremos. E, se cremos, temos que manter essa crença no seu verdadeiro nível de pensamentos, de sentimentos e de ações.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/73 – Fraternidade Rosacruz –SP)
A Nossa “Bondade” tem que adquirir Força em Si Mesma
Durante a nossa jornada de purificação, quando nos esforçamos por mudar seriamente de vida e tornar-nos cada vez melhores corremos o risco de acabar parecendo tolos, dando ensejo a que pessoas mal informadas, interpretem nossa bondade baseadas em seus próprios padrões, como sinal de fraqueza. Daí podem surgir situações difíceis que vão exigir tremendos esforços de nossa parte, para que sejam corrigidos todos os enganos, e as coisas colocadas em seus lugares. Na verdade, leva um bom tempo até que nosso esforço para sermos melhores, apareça revestido de sua própria verdade, sob sua real aparência. Antes disso, há um longo incômodo interno até que se chegue a adquirir o aspecto de tranquilidade, paz e desprendimento real, que não poderá mais ser confundido com a aparência de uma pessoa tola e desavisada.
Para isso, nossa “bondade” deve adquirir força em si mesma, criada não só pelos nossos bons propósitos, mas principalmente pelas nossas boas realizações.
O exemplo máximo de força encontramos em Cristo Jesus, que era bom, justo, honesto e manifestava todas as qualidades superiores que eram raras na humanidade de seu tempo. Essas qualidades eram fortes e se sobrepunham às iniquidades e fraquezas dos que O cercavam, fazendo-O amado por uns e temido por outros. E foi por temor à força dessas qualidades que O crucificaram. Mas embora fosse Cristo um enviado do Pai para sacrificar-se por nós, redimindo nossos erros pelo seu sangue derramado na cruz, é seu exemplo que temos de seguir, para que seja possível despertar a força que existe em nós, e que é Deus em nosso próprio íntimo.
Porque, só quando pudermos nos apoiar nesta força, é que alguma coisa começará a dar frutos, no longo caminho de preparação que vimos trilhando. Esses frutos, porém, muitas vezes poderão parecer fugazes, como se a força conquistada em bem, nos esteja escapando, fazendo com que nos sintamos subitamente sós e desamparados. Mas, embora isso aconteça, não será prova de que Deus nos abandonou e retirou de nós a sua força.
Pelo contrário, vem provar que Ele está ainda mais próximo, a ponto de nos permitir experimentar nossa própria solidão, e nos fazer compreender e sentir que Ele é também esta solidão, que Ele também está no nosso desamparo.
Uma coisa é certa: nunca estamos sós. Deus está sempre presente, e é a nossa constância no Bem, nossa permanência na Verdade, que nos levará a sentir cada vez mais real a presença Divina. Mesmo que a impressão dessa Presença mude, que já não se manifeste como apoio, como graça, como auxílio, mas como percalço, como dura experiência, mesmo assim, ela, a Presença, está cada vez mais perto e mais sutil; não como uma força externa, mas como Poder dentro de nós mesmos, como aquisição conquistada pela nossa própria permanência na fé. E esta deve ser a nossa maior esperança quando tivermos que colocar à prova a nossa bondade, num mundo que nem sempre encontraremos preparado para recebê-la.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/73)