No último verso do belo poema de Max Heindel, Credo ou Cristo[1], lemos sobre a compaixão e o amor como as chaves que destrancam os portões dos Céus e asseguram a vida eterna. O único requisito para o progresso espiritual é o Amor. Nós lemos:
“Só uma coisa o Mundo necessita conhecer:
apenas um bálsamo existe para curar toda a humana dor;
apenas um caminho há que conduz, acima, aos céus:
Este caminho é: a COMPAIXÃO e o AMOR.”
Não é suficiente saber sobre a consciência ininterrupta ou possuir uma compreensão completa das Leis de Deus; nem mesmo um entendimento abrangente sobre a nossa jornada após a morte constitui os requisitos para a entrada na existência celeste. O conhecimento é uma vantagem, uma pérola de grande valor, mas antes e por último o vínculo da compaixão humana deve despertar nos corações de todos nós a percepção de que “o Guardião do Nosso Irmão e da Nossa Irmã”[2] é um fato e um mandamento.
Sem a compaixão humana, como pode o vasto conhecimento encontrar um meio de expressão? Negado um meio de expressão, um meio para a conversão de riquezas acumuladas em conhecimento, como pode haver benefício? Não é ensinado que possuir talento, ou entendimento, gera a administração que deve ser contabilizada e somente em igual medida o prêmio é compatível com a ação? Aquele que recebeu cinco talentos na Parábola[3] teve sucesso no bom uso da habilidade, acumulou mais cinco e foi premiado com a administração em muitas coisas, “sendo fiel sobre algumas”. Aquele que recebeu dois talentos também teve êxito em dobrar a quantia, merecendo assim o justo elogio. O operário que recebeu um talento ficou com medo e o escondeu para mantê-lo seguro, mas até mesmo o cuidado tomado para reter o que recebeu foi condenado, pois a preguiça não merece aprovação e somente o crescimento e o desenvolvimento daquilo que é dado recebe o “Muito bem, servo bom e fiel” (Mt 25:21).
Ter muito conhecimento gera grande responsabilidade e mesmo um pequeno conhecimento requer uso correto e justo. Usar nossos talentos para promover o bem-estar de nossos semelhantes, independentemente de interesses próprios, é o meio mais seguro de adquirir essa compaixão e amor, a chave para o desenvolvimento espiritual. O amor pelos ideais espirituais não é suficiente, pois assim como o mais elevado encontra reflexo no mais baixo, o amor divino cresce e brilha através do humano e do ato de bondade; é pelo ato de misericórdia e pela missão de administração útil que o amor de Deus é refletido. À medida que elevamos os outros, elevamos a nós mesmos; é através do amor e da compaixão humanos que crescemos em direção à manifestação mais elevada.
A compaixão e o amor humanos são promovidos por meio de apenas um canal: o do serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), focado na Divina Essência oculta em cada um de nós, para com o nosso irmão e a nossa irmã que estão ao nosso redor. O serviço é divulgado abertamente, é bradado para todos os lados e o próprio ar parece vibrante com a sua entoação. Por quê? Porque por meio do serviço é adquirido o amor de fazer aos outros pelo simples fazer e não porque, por trás de cada ato, esteja o pensamento “Eu cresço espiritualmente fazendo isso”. Mas todo crescimento espiritual é esquecido e todos os exercícios e métodos são secundários, uma vez que se começou realmente a servir como se deve. Ao realizar ações gentis para os outros, esquecemos tudo, exceto a necessidade daquele que estamos ajudando; é nisso que está o segredo do crescimento da alma.
Obter os melhores resultados do nosso trabalho para que o bem-estar do outro possa ser promovido e porque nos sentimos motivados a dar o nosso melhor, em espírito de amor para desempenhar os deveres que atendem à nossa vocação, é o tipo de serviço que devemos prestar! Nós nos esquecemos de nós mesmos e tornamos atentos ao bem-estar do outro; nesse esquecimento está um grande progresso. É exigido de todos que se doem em todos os momentos e a melhor maneira de fazer isso é esquecer os interesses próprios, usando nossos talentos para o bem-estar daqueles com quem entramos em contato. Ao esquecer de si mesmo, começamos a nos aproximar de nossos semelhantes e a sentir mais os seus esforços; surge assim uma resposta a suas lutas e encontramos oportunidades para aliviar sua vida; assim, é estabelecido o vínculo da compaixão humana. A compaixão é semelhante ao amor; na verdade, ela é a mais alta expressão do amor, está no amor: é amor.
É o esquecimento de si no cuidado do bebê em seus braços que desperta emoções internas de tal forma que cada mágoa, cada choro ou necessidade da criança é sentida pela mãe. Seu interesse é centrado no bem-estar da criança, independentemente de interesses próprios; tal é a sua compaixão e o seu amor que todas as crianças trazem um sorriso gentil em seu rosto, uma demonstração de amor e cuidado.
Servir significa fazer o que está mais próximo da melhor maneira possível, com espírito altruísta. É verdade que não podemos ser, todos nós, professores, médicos, enfermeiros, profissionais de saúde ou ter uma profissão que dê oportunidade constante de ajudar os outros; mas, sejamos balconistas em uma loja ou engenheiros em qualquer indústria ou empresa ou até profissionais liberais, somos servos na medida em que nossos irmãos ou irmãs que estão ao nosso lado dependem de nós. É o espírito com que servimos que determina nosso crescimento. Se o (ou a) balconista atua de maneira cortês e faz todos os esforços para atender às necessidades do seu cliente, não por causa da recompensa material, mas porque o cliente depende do seu julgamento e justiça para receber o melhor que pode ser obtido, então esse (ou essa) balconista serve a Deus e ao seu irmão ou sua irmã ao redor. Por menor que seja o ato, a obra ou ação, ele é muito agradável aos olhos de Deus, caso o Ego que inicia a ação seja altruísta.
Para o Aspirante à vida superior, que busca desenvolver suas potencialidades latentes, a necessidade de servir amorosa e desinteressadamente (portanto, o mais anônimo possível), focado na Divina Essência oculta em cada um de nós, para com o irmão e a irmã que estão ao redor dele é intensamente sentida e ele se esforça fielmente para se esquecer de si mesmo e ser o servo de todos. Há uma força que pode ser usada por todos para servir aos outros[4] e nela está o desdobramento de todos os poderes latentes; além disso, é pelo uso dessa força que nossos semelhantes são beneficiados. Refiro-me à força do pensamento!
Aprendemos estudando o Livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz que os pensamentos-forma estão dentro e sendo continuamente projetados sobre o Corpo de Desejos em um esforço para despertar um dos dois Sentimentos, Interesse ou Indiferença, que levarão à ação ou não e que a razão deva governar a natureza inferior (ou “eu inferior) e deixar o escopo do “Eu superior” para a expressão de suas propensões divinas. Também sabemos que o pensamento habitual tem o poder de moldar a matéria física, pois a natureza do sensualista é claramente discernível em suas feições, que são grosseiras e toscas, assim como as feições do espiritualista são delicadas e finas.
O poder do pensamento é ainda maior em sua potência de moldar os Corpos mais sutis. Pensamentos de medo e preocupação congelam o Corpo de Desejos de quem se entrega a eles e é igualmente certo que, cultivando um estado de espírito feliz e otimista em todas as circunstâncias, podemos sintonizar nossos Corpos de Desejos com qualquer tom que desejarmos; depois de um tempo, isso se tornará um hábito, embora devamos confessar que seja muito mais difícil manter o Corpo de Desejos em linhas definidas, mas isso pode ser realizado e a tentativa deve ser feita por todos que querem avanço espiritual.
Pelo exposto será percebido que os pensamentos têm poder e conhecendo isso nos tornamos administradores dessa força à medida que as usamos para o bem ou para o mal, para nós mesmos ou para os outros, merecemos uma recompensa correspondente. À medida que semeamos, colhemos e o pensamento-forma enviado retorna à sua fonte, trazendo o registro da jornada, seu sucesso ou fracasso, e é impresso nos átomos negativos do Éter Refletor do Corpo Vital do seu criador, onde molda aquela parte do registro da vida e ação do pensador que, às vezes, chamamos de Mente Subconsciente. Também notamos que o poder do pensamento está na repetição; pensamentos habituais têm poder suficiente para modificar até mesmo a matéria física.
Possuímos uma força que precisa apenas de controle e intensidade suficientes para se tornar dinâmica; isso torna evidente que sejamos obrigados a lidar com o modo como a usamos. Ou o desenvolvimento da força do pensamento está adormecido ou crescente, tornando-se bom ou mau de acordo com nossa vontade. Desdobrar as potencialidades dinâmicas requer esforço constante e, assim como a força do pensamento, que é uma potencialidade, o esforço constante, intensidade e propósito são necessários para reunir forças dispersas de pensamento e moldar uma forma vibrante e potente com energia dinâmica que seja capaz de cumprir a vontade do seu criador.
Ao enviar pensamentos de esperança e alegria aos outros não somente os cercamos com sugestões de boa vontade como, por meio da repetição, somos capazes de estabelecer um vínculo pelo qual nossos pensamentos são recebidos e postos em prática. O Poder de Cura por meio do pensamento fornece uma vasta oportunidade de serviço por meio do envio de pensamentos-formas vibrantes que tenham o Poder Divino de Cura. A força do pensamento deve ser concentrada e controlada. É preciso haver intensidade e grande poder fundamentando o pensamento-forma que é projetado.
Pensamentos amorosos, constantemente saindo de nós em missões de serviço a Deus no tempo certo, se tornarão dinâmicos e estarão sob nosso comando para serem usados em prol dos outros. O retorno dessas formas aumentará tanto o brilho das nossas auras que o Estudante Rosacruz ativo atrai a atenção dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz; com esse poder seremos canais para o grande trabalho deles e, ao usar nossas forças de pensamento para elevar os outros, ajudamos a nós mesmos, pois através do amor e da compaixão irradiamos a luz de Deus e nossa própria presença se torna um testemunho vivo do Nosso Pai.
“Não desperdicemos nosso tempo ardentemente desejando
Feitos brilhantes, mas impossíveis.
Não fiquemos indolentemente esperando
O nascimento de asas angelicais visíveis.
Não desprezemos as pequenas luzes brilhando,
Pois nem todos podem ser uma estrela reluzente;
Mas, vamos realizar nossa missão, iluminando
O lugar onde estamos presentemente.
As velas pequenas são tão indispensáveis
Como o é no céu o Sol fulgente.
E as ações mais nobres são realizáveis
Quando as fazemos dignamente.
Talvez agora não consigamos, caminhando,
Alumiar a escuridão das distantes regiões, claramente.
Mas, vamos realizar nossa missão, iluminando
O lugar onde estamos presentemente.”[5]
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de fevereiro/1918 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
[1] N.T.: do livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz
[2] N.T.: É uma expressão que enfatiza a responsabilidade compartilhada e a interconexão dentro de uma comunidade ou sociedade. Sugere que temos a obrigação moral de cuidar, proteger e apoiar uns aos outros. Na Bíblia vemos essa pergunta: “Acaso sou guardião de meu irmão?” (Gn 4:9).
[3] N.T.: A Parábola do Talentos descrita na Bíblia: 14Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. 15A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, 16o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. 17Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. 18Mas aquele que recebera um só o tomou e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. 19Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. 20Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. 21Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’” 22Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. 23Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ 24Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. 25Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. 26A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? 27Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. 28Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, 29porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. 30Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25:14-30)
[4] N.T.: Mc 9:35
[5] N.T.: do poema: “Shining Just Where We Are” – de Autor Desconhecido
Toda a natureza é um anelo de “serviço”.
Serve a nuvem; serve o vento; serve o sulco.
Onde houver uma árvore para plantar, plante-a você; onde houver um erro para corrigir, corrige-o você; onde houver uma tarefa que todos recusam, aceite-a você.
Seja quem tira a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades dos problemas.
Há alegria de ser sincero e de ser justo; porém, há mais que isso: a formosa, a imensa alegria de servir.
Como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito, se não houvesse uma roseira para plantar, uma iniciativa para tomar!
Não seduzam você as obras fáceis. É belo fazer tudo que os outros se recusam a executar.
Não cometa, porém, o erro de pensar que só tem merecimento executar as grandes obras; há pequenos préstimos que são bons serviços: enfeitar uma mesa, arrumar uns livros, pentear os cabelos de uma criança.
Aquele é quem critica, este é quem destrói, seja você quem serve.
O servir não é próprio de seres inferiores. Deus, que nos dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se: o Servidor.
E tem seus olhos fixos em nossas mãos e nos pergunta todos os dias: “serviu você hoje? A quem? A árvore, ao seu amigo, a sua amiga, a sua mãe, a seu pai, a um desconhecido ou desconhecida?”.
Lembremo-nos sempre o “modelo de serviço” preconizado pela Fraternidade Rosacruz: “serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) ao irmão e à irmã ao seu lado, esquecendo os defeitos deles e focando na divina essência oculta que está dentro deles e dentro você”. Afinal, é essa divina essência oculta a base da Fraternidade!
(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – agosto/1964 – Fraternidade Rosacruz-SP)
“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém, se não nasce dentro de ti, tua alma segue extraviada. Olharás em vão a Cruz do Gólgota, enquanto não fizeres um Gólgota de teu coração também.”
Angelus Silesius
A canção popular de hoje, que todo mundo canta com entusiasmo, mas que é esquecida amanhã; o espetáculo que é levado à cena talvez cem noites seguida, para depois ser abandonado e relegado ao pó, e todas as outras coisas que são evanescentes demonstram claramente que não têm um valor intrínseco. O brilho de uma estrela cadente ilumina o céu por um momento, mas embora o brilho das outras estrelas seja mais fraco e atraia menos a nossa atenção, suas luzes confortam ao caminhante noite após noite, através dos tempos. Somente as canções que por seu valor são reproduzidas sempre de novo, cuja música não nos cansa nunca, têm realmente algo de valioso na vida. O mesmo acontece nos ciclos cósmicos que sempre se repetem, marcados pelas festas do ano. Como elas se repetem sempre nos ensinam as mesmas antigas lições, sempre sob um novo ponto de vista.
Estamos novamente na época da Páscoa. O impulso de vida do Cristo Cósmico que entrou na Terra na última descida manifestou-se no Natal, quando realizou sua maravilhosa magia de fecundação; agora, se liberta da cruz da matéria para ascender novamente ao trono do Pai, cobrindo a Terra de uma glória verde da primavera, pronta para as atividades físicas do verão.
Como é em cima, assim também é embaixo. Os processos que se desenvolvem na Terra, em larga escala, manifestam-se também no ser humano. Você e eu fomos impregnados, nos últimos seis meses, por vibrações espirituais diferentes das que seremos impregnados nos próximos seis meses, muito mais do que foi possível sob as condições mais materiais que prevalecem nesses próximos seis meses. Chegou-nos com a descida do Cristo Cósmico um novo impulso para a vida superior; culminou na Noite Santa do Natal, e sua magia trabalhou dentro de nós e em nossas naturezas na proporção que aproveitamos nossas oportunidades. De acordo com a nossa aplicação ou descuido na última temporada, o progresso será apressado ou atrasado na próxima, porque não existe ensino mais certo do que aquele que preconiza que somos exatamente aquilo que fizemos de nós mesmos. O serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível) focado na divina essência oculta em cada irmão ou irmã – que é a base da Fraternidade – que prestamos ou deixamos de prestar determina se a nova oportunidade para um serviço maior nos proporciona um impulso mais forte para o alto; e não será nunca demais repetir que é inútil esperar libertação da cruz da matéria antes que tenhamos usado nossas oportunidades aqui e, com elas, ganhada a mais ampla capacidade de sermos úteis. Os pregos que prendem a Cristo na Cruz do Calvário encadeiam você e eu, até que o impulso dinâmico de amor flutua de nós em ondas e correntes rítmicas, tal como a maré de amor que, anualmente, entra na nossa Terra, e a embebe com renovada vida.
Conhecemos a analogia entre nós, o Ego, que entramos nos nossos veículos, quando despertamos pela manhã, vivemos neles e trabalhamos por meio deles, e à noite somos um Espírito livre, livre da escravidão do Corpo Denso, e por outro lado, o Espírito de Cristo que mora em nossa Terra uma parte do ano. Nós todos sabemos que peso e que encadeamento esse corpo representa, como nós somos cerceados pelas doenças e sofrimentos, porque não existe ninguém que esteja sempre em perfeita saúde, de maneira que nunca estamos livres de sentir as ânsias da dor, ao menos nenhum de nós que é um Aspirante à vida superior.
A mesma coisa acontece com o Cristo Cósmico que dirige Sua atenção para a nossa pequena Terra, enfocando Sua consciência neste Planeta, para que tenhamos vida. Ele tem que vitalizar esta massa morta (que nós mesmos cristalizamos do Sol) todos os anos; e essa massa é um peso e um aprisionamento para Ele. Esse é o motivo justo e próprio pelo qual devemos nos alegrar quando Ele chega à época do Natal, todos os anos, e nasce novamente no nosso mundo para nos ajudar a levar essa massa inerte, com a qual nos sobrecarregamos. Nossos corações, nessa época, devem se voltar para Ele; em gratidão, pelo sacrifício que faz por nós durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, penetrando este Planeta com Sua Vida, para despertá-lo mais uma vez, no qual permaneceria se não fosse Ele, pelo seu nascimento, para dar-lhe vida.
Durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro Ele sofre agonias e torturas, esperando pela libertação, a qual chega no tempo que conhecemos como “Semana da Paixão”; mas, nós afirmamos que, de acordo com os Ensinamentos Rosacruzes, que essa semana é exatamente a culminação ou ponto mais alto dos Seus sofrimentos, e que Ele, então, sai de sua prisão; e quando o Sol cruza o Equador (em um movimento aparente do sul para o norte), Ele é suspenso na Cruz, exclamando: “Consumatum est“, isto é, está consumado, ou está cumprido. Isso quer dizer que o Seu trabalho, para aquele momento, estava cumprido. Não é um grito de agonia, mas uma exclamação de triunfo, um grito de alegria, pois a hora da libertação chegou e mais uma vez Ele pode remontar aos ares por mais um período de tempo livre da prisão e do peso de nosso Planeta.
Nesse momento deveríamos nos alegrar nessa grande, gloriosa e triunfante hora, a hora da libertação, quando Ele exclama: “Está cumprido”. Afinemos os nossos corações para esse grande acontecimento cósmico. Alegremo-nos como Cristo, nosso Salvador, que o tempo de seu sacrifício anual se completou mais uma vez. Sintamo-nos agradecidos, no mais profundo dos nossos corações, nesse momento em que Ele se liberta da prisão terrena; pois, a vida que Ele ofereceu ao nosso Planeta agora é bastante para se conservar até o tempo do próximo Natal.
A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Por isso, quando queremos conhecer a Deus, precisamos estudar a Natureza, lembrando-nos sempre que existe um propósito em toda a manifestação; que a vida é uma escola e aprendendo suas muitas lições a evoluímos lentamente de uma chispa divina para a Divindade. Se tivéssemos aprendido as lições, tal como nos foram dadas, não teria havido necessidade do grande sacrifício que foi feito e que é anualmente repetido pelo Espírito de Cristo, que é a personificação do Amor. Por egoísmo e desobediência às Leis fomos cristalizando, não somente nosso corpo, mas, também a Terra na qual vivemos a ponto de nos tornarmos quase incapazes de acompanhar o plano evolutivo. Quando já não nos podíamos salvar dos resultados dos nossos próprios erros, o Cristo Compassivo se ofereceu com a Sua grande Força de Amor para romper essas condições cristalizadas dos nossos Corpos (especialmente o Corpo Denso e o Corpo de Desejos) e da Terra. Durante três anos Ele nos ensinou pela palavra, pelo preceito e pelo exemplo.
Quando Ele foi crucificado no Gólgota, o seu Grande Sacrifício por todos nós apenas começou. Cada ano, desde esse tempo, quando o Sol passa do Signo zodiacal de Virgem para o de Libra, o Espírito de Cristo toca a atmosfera da Terra. Ele começa a sua descida nas proximidades de 21 de Junho, no Solstício de Junho, quando o Sol entra em Câncer. Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de Dezembro. Aí Ele fica três dias e depois começa a voltar. Essa volta se completa na Páscoa. Até o Solstício de Junho Ele está passando pelos Mundos espirituais e chega ao Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai, em 21 de Junho. Durante Julho e Agosto, quando o Sol está em Câncer e Leão, Ele reconstrói o seu veículo do Espírito de Vida, que trará ao mundo e, com esse veículo, Ele voltará a rejuvenescer a Terra e os reinos que nela evolucionam. Do Natal até a Páscoa Ele se derrama, sem limitações nem medida, imbuindo com Sua Vida, Seu Amor e Sua Luz não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra.
Sem essa infusão da vida e energia divina, todos os seres viventes da nossa Terra morreriam imediatamente, e todo o progresso ordenado seria frustrado, no que concerne a nossa presente linha de desenvolvimento. Essa atividade germinativa da vida do Pai que nos é trazida por Cristo (o Filho) e entregue amplamente no tempo da Páscoa, renova o crescimento e intensifica a atividade na planta, no animal e no ser humano, nessa especial temporada do ano. Cristo não se afasta da Terra pela Páscoa senão depois de se oferecer completamente a Si Mesmo e, então, é que a infusão de Sua Vida, junto com os raios quase verticais do Sol, faz as sementes germinar; as árvores florir; os pássaros acasalar, dirigidos pelos seus Espíritos-Grupo, e construir seus ninhos. Então somos fortificados e embebidos com a energia e a coragem necessárias para enfrentarmos, aproveitarmos e crescermos nos encontros com os diversos e embaraçantes problemas da vida.
Para aqueles que se decidiram trabalhar consciente e inteligentemente com a Lei Cósmica (por exemplo, os Estudantes Rosacruzes que estão trilhando o Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz), a Páscoa tem uma grande significação. Para eles significa a libertação anual do Espírito de Cristo das restrições dolorosas da Terra e Sua gloriosa ascensão ao Divino Lar de Sua Origem, para lá permanecer uma temporada junto ao Coração do Pai. E quando seus olhos se tornam capazes de perceber, podem ver os divinos Seres que o esperam, prontos para acompanhá-Lo na sua viagem em direção ao céu; quando seus ouvidos são afinados para os tons celestiais, eles ouvem os coros angélicos cantando seu louvor e hosanas jubilosos, elevados ao Deus Altíssimo.
Para as almas iluminadas a Páscoa traz uma profunda compreensão do fato de que somos peregrinos na Terra; que o nosso verdadeiro lar são os Mundo espirituais e para alcançar esse reino devemos nos esforçar em aprender as lições da escola da vida o mais rapidamente possível, de maneira a apressar o dia da libertação das cadeias da Terra. Então, da mesma forma como o Cristo libertado, chegaremos a uma realização dessa gloriosa imortalidade, como recompensa da conquista da perfeição espiritual. Para as almas iluminadas, a Páscoa simboliza o amanhecer de um dia feliz, quando todos nós, semelhante ao Cristo, seremos permanentemente livre das restrições materiais, ascendendo aos Reinos Celestes, nos tornando pilares de força na Casa do Pai, de onde não mais nos afastaremos.
(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – março/1966 – do Livro: Interpretação Mística da Páscoa – Capítulo I – Fraternidade Rosacruz – SP)