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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Livro: As Aventuras de Rex e Zendah no Zodíaco – Esme Swainson

Você já ouviu falar dos doze Signos do Zodíaco, aqueles grupos de estrelas que formam uma faixa ao redor da Terra, através da qual o Sol parece passar, durante o ano, e a Lua em sua jornada, a cada vinte e oito dias.

Contos e lendas sobre os Signos do Zodíaco foram contados por milhares de anos, pois eles são muito, muito velhos, talvez mais velhos do que a nossa Terra. As crianças na China, no Egito, na Babilônia, Pérsia e Arábia sabiam muito sobre eles, e olharam para cima e os encontraram no céu, como você pode fazer agora.

Os nomes que os povos antigos lhes davam não eram sempre os mesmos que os nossos, mas as histórias que contaram sobre eles eram semelhantes.

Você pode se perguntar se alguns desses contos são verdadeiros. Bem, parte deles é, mas outras partes você deve descobrir por si mesmo. Se você faz aniversário no mesmo dia como Rex ou Zendah você encontrará que algumas de suas aventuras acontecerão a você, durante o sono ou acordado, ou você quererá fazer muitas das coisas que eles gostaram muito de fazer.

Há 4 meios de você acessar esse Livro:

1. Em formato PDF (para download ou imprimir):

Esme Swainson – As Aventuras de Rex e Zendah no Zodíaco

2. Em forma audiobook ou audiolivro:

Esme Swainson – As Aventuras de Rex e Zendah no Zodíaco – audiobook

3. Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/TutoriaisEstudosFraternidadeRosacruzCampinas/featured

aqui:

Esme Swainson – As Aventuras de Rex e Zendah no Zodíaco – videobook

4. Para estudar no próprio site:

AS AVENTURAS DE REX E ZENDAH NO ZODÍACO

Por

Esme Swainson

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Traduzido e Revisado de acordo com:

1ª Edição em Inglês, 1932, The Adventures of Rex and Zendah

In The Zodiac, editada pela The Rosicrucian Fellowship

2ª Edição em Inglês, 1981, The Adventures of Rex and Zendah

In The Zodiac, editada pela The Rosicrucian Fellowship

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

Sumário

INTRODUÇÃO

PRÓLOGO

A AVENTURA

A TERRA DOS PEIXES

NA TERRA DO HOMEM DO JARRO

A TERRA DE CAPRICÓRNIO

NA TERRA DO ARQUEIRO

NA TERRA DO ESCORPIÃO-ÁGUIA

A TERRA DA BALANÇA

A TERRA DE VIRGEM

A TERRA DO LEÃO

A TERRA DO CARANGUEJO

A TERRA DOS GÊMEOS

A TERRA DE TOURO

A TERRA DO CARNEIRO

EPÍLOGO

INTRODUÇÃO

O Carneiro vem correndo na primavera,

Sua saída é uma coisa mais calma,

Em seguida vem o Touro com passo pesado;

A terra vem ele que se lança com a cabeça.

Os Gêmeos celestiais dançam pelo ar

A alegria ou tristeza deles fixam o olhar.

O Caranguejo rasteja fora do largo oceano

Atrás de sua rocha, ele se esconde muitas vezes.

Com dignidade o Leão se estabelece;

Tão justo e verdadeiro ele governa suas terras.

A Virgem segura um feixe de milho;

Olha para o seu trabalho quando ela nasce,

Para o próximo, a Balança provada e verdadeira

Pesará as coisas que você deveria fazer.

O que se segue é uma coisa curiosa:

Escorpião com sua picada cruel.

O Arqueiro seguinte, tão sábio e selvagem,

Parece um homem velho e uma criança.

A Cabra do Mar sobe a montanha alta.

Seu lema, “alcançar ou morrer”.

O Homem com o Jarro de água no alto

Derrama sua sabedoria do céu.

Por fim, dois Peixes nadam no mar;

Devem trazer Paz e Unidade.

Você já ouviu falar dos doze Signos do Zodíaco, aqueles grupos de estrelas que formam uma faixa ao redor da Terra, através da qual o Sol parece passar, durante o ano, e a Lua em sua jornada, a cada vinte e oito dias.

Contos e lendas sobre os Signos do Zodíaco foram contados por milhares de anos, pois eles são muito, muito velhos, talvez mais velhos do que a nossa Terra. As crianças na China, no Egito, na Babilônia, Pérsia e Arábia sabiam muito sobre eles, e olharam para cima e os encontraram no céu, como você pode fazer agora.

Os nomes que os povos antigos lhes davam não eram sempre os mesmos que os nossos, mas as histórias que contaram sobre eles eram semelhantes.

Na Babilônia, o Signo que chamamos de Leão era o Grande Cão, e os Gêmeos tinham um pastor para cuidar deles, para que eles não entrassem em trapaças, suponho, como os gêmeos costumam fazer!

Os chineses representam o Zodíaco tanto quanto nós, mas eles têm duas Virgens sentadas com as mãos dobradas, em vez de uma, e um Dragão, em vez de uma Cabra do Mar, e às vezes, todos os Signos são bem assentados em pequenas estandes, como aqueles que você vê nas lojas em vasos chineses antigos.

Você pode reconhecer os mesmos Signos, também, nos quadros egípcios, onde a cabra do mar é, muitas vezes, retratada como um crocodilo, enquanto na Arábia antiga o Carneiro, Touro e a Cabra têm um deus montado em suas costas, e os Peixes têm um deus sentado entre eles.

O Ano Novo zodiacal não começa quando o nosso começa e talvez você queira saber o porquê o Carneiro não “se apressa dentro” de janeiro, em primeiro lugar.

O Ano Novo não começa em primeiro de janeiro para cada nação, e muitas centenas de anos atrás era o costume celebrar isso com o próprio tempo solar, ou seja, no dia vinte e um de março, pois o Sol sempre dizia qual era o começo do novo ano, apesar das leis que os seres humanos fazem. Os velhos romanos reconheceram isso por um longo tempo, até que um dos imperadores decidiu que iria alterar o calendário.

O Sol, a Lua e as Estrelas formam um relógio gigante e calculam seu tempo da mesma forma, não importa o que dizemos, e não faz muito tempo que os seres humanos, na Inglaterra, contavam seu dia, mês e ano de um modo tão atabalhoado que não concordava com o tempo medido pelo Sol, e quando tentaram acertar, tiveram que perder onze dias para endireitar as coisas.

O que aconteceu com as crianças que tiveram aniversários naquela época eu não sei; foi ruim o suficiente, como algo parecido em dizer que temos um mês de fevereiro com vinte nove dias em um ano bissexto! No entanto, apenas para mostrar que o Sol sabe melhor do que os adultos; ele lhe dá um aniversário exatamente o mesmo todos os anos, mesmo se você nasce no dia vinte e nove; só que nem sempre é no mesmo dia.

As estrelas que compõem os grupos que são chamadas de os Signos do Zodíaco podem ser observadas em uma noite clara; você os verá melhor antes que a Lua se levante, e talvez os mais fáceis de encontrar sejam os Gêmeos, pois as duas grandes estrelas, que devem estar sobre sua cabeça são facilmente vistas, uma abaixo da outra. Não muito longe, você encontrará um conjunto de sete pequenas estrelas chamadas Plêiades e estas estão no Signo do Touro. Elas são, às vezes, chamadas as sete irmãs e se supunha que uma delas teriam feito algo errado e por isso era tímida e se escondia atrás das outras. A menos que seus olhos sejam muito afiados você não poderá vê-la.

“Esses contos são verdadeiros?” Você pode se perguntar. Bem, parte deles é, mas qual parte você deve descobrir por si mesmo. Se você faz aniversário no mesmo dia que Rex ou Zendah você perceberá que algumas de suas aventuras acontecerão a você, durante o sono ou acordado, ou você quererá fazer muitas das coisas que eles gostavam muito de fazer.

Agora nós devemos começar a aventura.

PRÓLOGO

Rex e Zendah viviam no campo, numa casa ao lado de um morro coberto de pinheiros que, como Zendah costumava dizer, cantavam para o sol adormecer à noite. Rex pensava que eles fossem as antenas que transmitiam as mensagens das fadas para os habitantes das estrelas.

Todas as manhãs, do seu quartinho viam o Sol erguer-se sobre os montes do lado oposto, e à noite, geralmente observavam as estrelas acenderem seus luzeiros a pouco e pouco – isto é, quando acontecia de estarem acordados.

Durante o inverno, por vezes, levantavam-se da cama para espiar a cintilante estrela do Cão que então estava alta nos céus para tomar conta da terra depois que Órion guardava sua espada e acendia as luzes do seu cinturão para que todos vissem.

O aniversário de Rex era em 27 de março, pouco depois de o Sol ter entrado no Signo do Cordeiro (Áries). Rex era ligeiro e alegre; tinha olhos castanhos e cabelo ondulado, da cor da castanha madura. Alguns dos seus amigos diziam que seus cabelos eram tão quentes quanto seu gênio, mas ele nunca ficava zangado por muito tempo.

O aniversário de Zendah era em 26 de novembro, ocasião em que o Sol está no Signo do Arqueiro (Sagitário). Tinha lindos cabelos louros, grandes olhos azuis e tinha pena de que seus cabelos fossem apenas ligeiramente ondulados e não tanto quanto os de Rex! Seu maior prazer era montar o pequeno “pônei” que seu pai lhe dera quando fez 12 anos.

Nenhum dos dois gostava de ficar dentro de casa, e passavam quase todo o tempo correndo no campo à procura de aventuras de qualquer espécie.

No inverno gostavam de sentar-se perto da lareira, enquanto o vento uivava na copa dos pinheiros, ouvindo as histórias que sua mãe contava sobre pássaros e animais, ou então olhavam pelo telescópio do papai e procuravam descobrir todos os nomes das estrelas. Foi então que aconteceu a Grande Aventura – mas – é bom que vocês a leiam.

A AVENTURA

Nesta noite particular, em 20 de março, Rex e Zendah haviam conversado muito tempo sobre estrelas antes de irem dormir, e por isso Zendah não se surpreendeu quando acordou e se deparou com uma figura amarelo-brilhante em pé ao lado de sua cama.

– “Rex”, gritou, “acorda! Hermes, o mensageiro dos deuses, está aqui no quarto! Acorda, antes que ele se vá!”.

Ambos se sentaram na cama e ficaram observando a figura do mensageiro.

Viram que tinha asas nos pés e que ele trazia seu báculo com as duas serpentes enroladas tal como seu pai lhes havia contado.

Hermes sorriu e disse:

– “Vocês querem, realmente, saber tudo sobre o Zodíaco? O Pai Tempo disse que vocês poderão vir comigo e viajar pelas terras do Zodíaco esta noite se quiserem”.

– “Mas não levará muito tempo?”, perguntou Zendah, “que dirá mamãe se não nos encontrar aqui?”.

– “Aqueles que atravessam os portões dourados da entrada dos doze Signos, um segundo antes da meia-noite, poderão ter todas as aventuras antes do relógio bater as doze badaladas – todo mundo sabe que nesse preciso momento o tempo não existe”.

– “Oh! Que maravilhoso!”, disseram ambas as crianças, pulando da cama e dançando alegremente, “vamos partir logo”.

– “Um momento”, disse Hermes sorrindo, “vocês têm de usar seu corpo estelar; o corpo físico de vocês é muito pesado; vocês não podem ir com ele às estrelas”.

Então levou-os até a janela e disse-lhes para olharem para Sirius, a estrela mais brilhante da Constelação do Cão, e manifestarem o ardente desejo de visitá-la.

Quando eles o fizeram, sentiram uma curiosa sensação de estarem afundando, ficando cada vez menores e mais compactos até que, de repente, – zás – parecia que havia dois Rex e duas Zendah, um adormecido sobre a cama e outro muito bem acordado, com um corpo brilhante circundado por interessante nuvem de várias cores.

– “Agora vocês estão usando seu corpo estelar”, disse Hermes, “e podem voar comigo até os Portões Dourados”.

Imediatamente partiram pelo espaço, – deixando no trajeto a Lua e outras coisas estranhas – até que chegaram à entrada das terras do Zodíaco. Os portões ficam exatamente entre os Peixes e o Cordeiro (Peixes e Áries).

Como eram bonitos esses portões! Brancos, com reflexos de inúmeras cores! Por vezes pareciam feitos de fogo dourado, outras vezes de fogo prateado; olhando-os de novo, pareciam diferentes. Algo de sua cor vocês podem perceber em noite fria quando há lenha acesa numa fogueira; às vezes, podem também observar um lampejo de seu brilho quando o Sol está a ponto de desaparecer para seu descanso noturno.

A uma palavra de Hermes, os portões se abriram, e as felizes crianças entraram. Milhares de lindas formas vieram ao seu encontro.

– “Os Anjos!”, murmurou Zendah. Hermes conduziu-os a um templo de mármore branco, que tinha sete degraus maciços que conduziam ao pórtico da entrada. Dentro havia um hall circular com doze cômodos, havendo um Anjo em cada um. Os Anjos vestiam lindos mantos de cores diferentes, tendo uma brilhante estrela na fronte.

Os viajantes não puderam ver muito do que havia lá dentro, porque havia muita luz e esta era muito forte; parecia que a luz mudava constantemente; mostrava primeiro uma cor, depois outra. Subitamente a luz tornou-se cintilante e do branco mais puro e nesta ocasião ouviu-se uma voz dizer:

– “Que desejam estas crianças mortais?”.

– “Oh, grande Ser, permite-nos visitar as terras dos doze Signos”, falou Hermes, “a fim de que estas crianças, ao voltar à terra, possam contar aos outros a obra do Zodíaco, como o fizeram os Sábios de antigamente”.

– “Bem pensado”, disse a voz.

– “Vão, crianças, e não percam os talismãs mágicos que os Guardiães de cada Signo lhes darão”.

Conservando seus rostos voltados para a luz até atingirem a entrada do Hall, foram conduzidos por Hermes, fora do templo até o primeiro portão.

Ao passarem por esse portão, viram portas de espaço, nas paredes de nuvens que circundavam toda aquela terra; foi para uma dessas portas no lado esquerdo, que Hermes os conduziu.

– “Eis a entrada para o Signo dos Peixes”, disse ele.

– “Mas por que?”, perguntaram Rex e Zendah, “não começamos pelo Signo do Cordeiro, já que nos ensinaram que Áries é o primeiro da lista?”.

– “Porque na Terra dos Astros tudo é ao contrário. Na terra, se vocês quiserem ter uma boa vista do campo, têm que começar a subir a montanha desde a parte inferior até atingirem o cimo, e tendo visto tudo, vocês descem outra vez ao vale e contam aos seus amigos tudo o que viram no seu passeio. A terra é como um espelho e nela se reflete tudo o que acontece nas estrelas, e como vocês sabem, em um espelho tudo é invertido.

Quando vocês voltarem para casa e quiserem usar os talismãs que os guardiães dos Signos lhes derem, vocês começarão com o talismã de Áries, o Cordeiro. Tomem este rolo e não o percam, pois nele estão escritas as “palavras de passe” para todos os Signos; o Guardião de cada portão pedirá essa “palavra de passe” antes de vocês poderem entrar”.

Hermes despediu-se e deixou-os para continuarem a jornada, mas lhes disse, com seu alegre sorriso, que eles o veriam de novo quando menos esperassem.

A TERRA DOS PEIXES

Antes de baterem na porta dos peixes, ficaram alguns minutos olhando para ela – pois era muito difícil encontrar onde bater. Os lados da porta eram como duas grandes ondas e entre elas apareciam linhas de água em movimento, não parando um momento, e brilhando com todas as cores que se veem numa concha. Girando, no centro do portão, havia dois peixes, um seguindo o outro; um cor de cobre e o outro tinha cor parecida com a do zinco. No meio desse bonito portão havia uma pérola de grande valor, maravilhosa na forma e na cor, que, como um espelho, refletia um rosto que mudava constantemente de feições. Em um momento esse rosto era hediondo e no momento seguinte era belo, tão bonito que dificilmente poderia alguém deixar de gostar dele.

Zendah viu um búzio no chão, junto ao portão.

– “Sopra-o”, disse Rex. “Nos contos de fadas que nós lemos, sempre se toca uma corneta na entrada do castelo do gigante”.

Zendah soprou o búzio. Soou uma nota suave, e todo movimento do portão cessou; os peixes pararam de nadar em roda e colocaram-se um de cada lado da pérola, ficando assim:

– “Quem pede para entrar” gritou uma voz. “Dê a palavra de passe”.

– “Rex e Zendah”, disseram as crianças, “e a palavra de passe é AMOR”.

– “Pela virtude do Amor, entrem, Rex e Zendah”, disseram várias vozes, e o portão abriu-se lentamente.

Enquanto o portão se abria, Zendah olhou para Rex com espanto e exclamou:

– “Veja, Rex, veja! É só mar!”

As crianças estavam paradas sobre a macia areia de uma praia, e tanto quanto sua vista abrangia, viam milhas e milhas de ondas agitadas, pontilhadas de pequenas ilhas.

Longe, no mar alto, na maior das ilhas, erguia-se um castelo construído em madrepérola.

Logo apareceu perto delas um lindo bote com duas crianças dentro: um menino com cabelos cor de palha e uma menina, tão loura que seus cabelos brilhavam como prata.

O bote tinha o formato de um peixe voador e podia elevar-se no ar e voar, à vontade de quem o dirigia.

-”Vamos voar” gritou Rex, mal se sentaram no bote. O bote elevou-se no ar levemente, depois mergulhou nas ondas e novamente se elevou, porque parecia não poder subir a grande altura sobre as ondas.

Mostraram às crianças que o bote era movido por eletricidade. No fundo do bote, exatamente sob o banco onde estava sentada a menina que dirigia o bote, havia placas de cobre. Essa menina calçava sapatos estranhos; o pé esquerdo tinha sola de cobre e o pé direito, sola de zinco; quando queria que o bote navegasse, ela apertava ambos os pés contra as placas de cobre do fundo; quando queria que o bote navegasse nas águas, apertava somente o pé direito; e apertava o pé esquerdo, com sola de cobre, quando queria fazer o bote parar.

Como as crianças ouvissem um cântico curioso enquanto navegavam e não vissem pássaros, perguntaram de onde vinha tal cântico.

-”São os peixes”, disseram seus guias. São domesticados e cantam para nós, já que não temos pássaros na Terra dos Peixes”.

Passaram por inúmeros botes semelhantes ao em que estavam e logo chegaram ao Castelo de Pérola. Depois de desembarcarem em um pequeno cais andaram por um caminho coberto por diferentes espécies de conchas, por entre duas filas de meninas vestidas com túnicas cor de malva pálido. Seus sapatos eram lindos e todas as jóias que usavam estavam nos pés.

Em parte alguma do castelo havia cores brilhantes. As paredes eram cor de marfim; os pilares pareciam feitos de feldspato translúcido que lembravam a névoa que certa vez eles haviam visto de manhã, à beira-mar, quando o Sol brilhava através dela. Todas as paredes e pilares, quando tocados, emitiam um som musical, e todas as pessoas que eles encontravam no caminho levavam um instrumento musical.

Depois de passarem por muitas salas e por escada encaracoladas, pararam afinal na sala do trono e viram o Rei Netuno. Seu trono era feito de conchas marinhas, com estofo de seda violeta. Em sua mão segurava uma vara longa, feita de um metal esbranquiçado e brilhante, em cuja extremidade havia pontas e em cada uma delas, uma pérola.

– “O Tridente de Netuno”, murmuraram um para o outro. Netuno deu-lhes as boas-vindas e virando-se para uma bela senhora que estava a seu lado disse-lhe para mostrar às crianças as maravilhas do país.

– “A Rainha Vênus passa  muitas horas nesta terra, ajudando-me”, disse Netuno, “e ela entende de crianças mais do que eu”.

Elas foram conduzidos a todos os quartos do castelo; em um deles, encontraram uma orquestra composta de crianças, cada uma tocando um instrumento diferente; a música que tocavam era a mais bonita que já jamais ouviram. Uma ou duas delas, sentadas quietinhas num canto, pareciam nada fazer.

– “Por que não estão tocando com os outros? Estão de castigo?”, perguntou Rex.

– “Qual nada”, disse Vênus, “estão escutando a música dos Anjos e escrevendo-a para que os outros possam tocá-las”.

Em outro aposento encontraram todos atarefados em escrever e toda a vez que uma das crianças parava e parecia estar pensando profundamente, aparecia sobre sua cabeça uma pequena nuvem com centenas de pequenos quadros.

– “Estão escrevendo estórias e poesias”, disse Vênus, respondendo a pergunta mental das crianças”. Todos esses pequenos quadros que vocês veem na nuvem, são as ideias que lhes chegam”.

Deixando esses aposentos e descendo as escadas, chegaram a um anexo ao castelo onde havia várias espécies de animais, alguns feridos nas orelhas, pássaros com asas ou pernas quebradas, e outros com outras doenças. Crianças de todas as idades tentavam ligar os membros quebrados deles ou curar-lhes as feridas. Rex e Zendah olharam para seu guia com olhares interrogativos.

– “Quando os animais são feridos na terra, vêm para cá para se curarem”, disse Vênus olhando em volta.

“As crianças também deviam vir aqui para aprenderem a ser bondosas e a amar todos os animais, pois aqui temos hospitais onde tanto as pessoas como os animais são curados. Mas antes de vocês partirem, vou mostrar-lhes algo muito precioso”, disse Vênus.

Entrando em outro bote voador semelhante ao primeiro eles foram conduzidos a uma ilha próxima do Castelo de Pérola. Era muito pequena e quase que completamente coberta por um Templo de vidro, circular, guardado por dois cavaleiros cobertos por armaduras brilhantes e com escudos onde se via gravado um emblema de uma Taça Prateada em fundo azul. Os cavaleiros também pediram a palavra de passe e, tendo-a recebido, deixaram as crianças entrar.

Nada havia no interior a não ser um altar num dos cantos e um grande espelho. Sobre o altar brilhava intensa luz como a da Lua cheia; dentro dessa luz puderam ver a taça de cristal que cintilava como diamante, ou melhor, mais parecia o Sol brilhante numa gota de orvalho.

– “Crianças”, disse Vênus “quando o Rei Artur veio viver entre as estrelas, trouxe consigo a Taça Mágica, que tem o poder de dar aquilo que cada um mais deseja. Mas vocês devem estar certos daquilo que desejam. Deve ser algo que vocês possam repartir com aqueles que vocês amam. Essa taça não voltará à terra enquanto os seres humanos brigarem uns com os outros. Apontando para o espelho, ela disse: “neste espelho, se seus olhos forem bastante forte, vocês poderão ver tudo o que aconteceu ou o que venha a acontecer. Vou dar-lhe um espelhinho mágico semelhante a este, Zendah, e se você usá-lo bem, quando estiver em dificuldades, você saberá exatamente o que fazer.

– “Rex use esta pérola, e toda a vez que você pegar nela, lembre-se da palavra de passe desta terra e assim fazendo, procure levar de volta à terra, outra vez, o Santo Cálice”, concluiu Vênus.

Muito contritos, nas pontas dos pés, voltaram ao pórtico do Templo, trazendo consigo seus presentes; retomaram o bote voador, deixando a Rainha Vênus, com um sorriso em seus lábios, em pé sobre os degraus da escada. Voltaram à praia e saíram pelo portão da Terra dos Peixes, e uma vez fora, passaram a procurar pela Terra do Aquário, por vezes conhecido como, “O Homem do Jarro”.

NA TERRA DO HOMEM DO JARRO

As crianças estavam paradas agora no lado externo do segundo portão. Este era muito diferente do primeiro; parecia feito de nuvens de movimento rápido e acima delas podia-se ver um grande globo verde tendo uma estrela no meio.

Rex encontrou uma vara que parecia ter vida, caída perto do portão. As instruções do rolo diziam que ele devia usá-la para conseguir entrar.

– “Não vejo onde possa bater”, disse ele para Zendah, mas no momento em que levantou a mão com a vara, uma faísca, como um relâmpago, saiu do extremo desta em direção ao globo verde em cima do portão. Subitamente as nuvens desapareceram e os meninos viram que o globo descansava sobre uma grossa coluna verde. Atravessadas no meio do portão estavam duas serpentes; uma de prata, por cima, e outro de bronze, por baixo:

Gravado por cima das serpentes aparecia o símbolo de duas mãos dadas:

– “Quem veio chamar o guardião das Grandes Distâncias?”, gritou uma voz.

– “Rex e Zendah, da terra”, responderam elas.

– “Dê a palavra de passe”.

– “Fraternidade”, respondeu Rex.

– “Entrem, Rex e Zendah, pelo espírito da Fraternidade, na terra do Aquário”.

Os portões rangeram. Os dois encontraram-se no começo de uma larga estrada que se estreitava quando se olhava para longe, em frente. De cada lado dessa estrada saíam outras cinco estradas, ficando assim o terreno dividido em onze partes, tendo ao longo de cada uma delas lindas casas.

Logo viram vindo, ao longe, um homem envolto em uma túnica feita de um material que eles nunca viram antes. Parecia uma malha de proteção e embora não fosse de metal, brilhava qual escamas de uma cobra em furta-cor, ora verde, ora laranja, ora púrpura. Sobre esta malha havia uma vestimenta feita de vários quadrados coloridos. Em torno dos tornozelos tinham aros com joias que brilhavam como a vara do portão. Ele deu as boas-vindas às crianças e convidou-as a verem o Rei.

O homem bateu as mãos por cima da cabeça e imediatamente uma máquina voadora prateada desceu, e eles entraram nela. Voaram alto, por cima da grande estrada central e chegaram logo ao castelo, com a velocidade do pensamento. Homens altos, vestidos como seu guia, estavam parados de cada lado ao longo do lance das escadas, e todos eles faziam gestos de saudação quando eles passavam, juntando a mão direita com a esquerda.

O castelo estava cheio de belas estátuas e ornamentos de toda espécie e eram tantos que não dava tempo de verificar a sua variedade.

– “Rex”, murmurou Zendah, “parece o museu Britânico, só que muito mais bonito”.

Passaram pelo grande hall e por fim chegaram diante do trono, feito de muitos metais estranhos. O tapete onde estavam o trono e as cortinas que lhe ficaram por trás, eram feitos de quadrados verdes e laranja, alternados.

Um homem idoso, de semblante sério e longa barba, estava sentado no trono. Vestia túnica verde escuro, em cuja bainha havia muitas crisólitas e raios de azevinho com bagas vermelhas e por baixo tinha uma vestimenta de fino linho branco. Segurava uma ampulheta e a seu lado permanecia um homem escuro com os olhos penetrantes e uma coroa que parecia luzir com brilhantes raios de fogo. Sua roupa também mudava de cor cada vez que se olhava para ela.

– “Sejam bem-vindos, crianças”, disse o velho Rei. “Vocês conhecem o meu nome; sou o pai tempo, por vezes chamado Saturno. Aqui, na terra do Homem de Jarro, muito do meu trabalho é feito pelo Rei Urano, que é mais velho do que eu, embora pareça mais jovem. Ele mostrará a vocês as maravilhas desta terra”.

– “Vamos primeiro às minas”, disse Urano, descendo do trono. Deixando o palácio entraram novamente na máquina voadora, e partiram para as montanhas onde chegaram logo.

Urano levou-os ao interior de uma montanha em que havia cavernas profundas nas quais homens trabalharam com máquinas curiosas, diferente de qualquer outra que tinham visto antes.

– “Estas são minas de rádium”, disse Urano. “Vejam!”, e ele apertou um botão de uma máquina que estava próxima das paredes da caverna. Imediatamente uma espécie de espada desceu e cortou uma abertura na rocha. Do corte saiu uma torrente de metal cintilante que brilhava como o Sol. Parecia ter vida e as crianças não conseguiam olhar para ele além de um instante.

– “Temos desse metal na terra?”, perguntou Rex.

– “Sim, mas não muito. Quando a Terra era muito jovem, pusemos boa quantidade nela, mas com o tempo, quase toda irradiação voltou para cá, restando somente um metal pesado que vocês chamam chumbo; mas esse metal pertence na realidade, a outra Terra”.

– “Que pena! Gosto mais deste!”, disse Zendah.

– “Algum dia os homens aprenderão a transformar o chumbo novamente em rádium; mas isso não é para já”, disse Urano sorrindo.

Deixando as cavernas eles subiram ao topo da montanha onde havia uma construção com telhado de vidro, cuja porta de entrada era alcançada por meio de centenas de degraus. Aí eles viram todas as variedades de máquinas voadoras sendo construídas.

Em um canto perceberam certo número de pessoas em pé em altos pilares, abrindo os braços, pulando de lá de cima e planando até chegar ao chão como se tivessem asas.

– “Que fazem eles?”, perguntou Zendah.

– “Praticam o voo sem máquinas; todos podem fazer isso se aprenderem a usar seu corpo astral apropriadamente; mas sem ele não é fácil, não”.

Novamente fora, em um lindo vale viram blocos de mármore nos quais homens e mulheres esculpiam estátuas, algumas, apenas começadas e outras terminadas.

Zendah desejava muito poder fazer o mesmo, e Urano deu-lhe uma pequena ferramenta e disse-lhe que quando chegasse em casa experimentasse, mas praticasse primeiro com a argila.

– “Eu preferia poder enviar mensagens pelo ar’, disse Rex.

As crianças foram levadas para outro prédio onde havia inúmeros fios passados de uma parede à outra. Rex viu uma grande placa de ebonite com botões de prata e Urano disse-lhe: pode apertar um dos botões e desejar intensamente.

– “Pense na mensagem que você quer mandar e ela chegará ao seu destino”, disse Urano.

– “Só pensar?”, perguntou Rex. “Basta isso?”

– “Sim, isso basta, mas você deve pensar firme e ao mesmo tempo olhar nesse espelho ao lado”.

Rex pensou em sua mãe e desejou que ela soubesse as maravilhas que eles estavam vivendo.

Ele viu sua mãe em casa, sentada perto da lareira, e uma pequena bola luminosa, cheia de quadros das suas aventuras, partiu como um relâmpago até chegar perto dela e então desapareceu.

Ela sorriu e disse para si mesma: “Que lindos sonhos estão tendo as crianças”.

– “Algum dia”, disse Urano, “as pessoas não precisarão mais de fios para mandarem suas mensagens; apenas ficarão sentadas, pensarão firmemente, e as mensagens chegarão ao destino. As crianças poderão fazê-lo mais facilmente do que os adultos”.

– “O povo desta terra faz outras coisas interessantes?”, perguntou Zendah.

– “Sim; aqueles lá estão desenhando lindas catedrais e outros edifícios e aqueles”, apontou para outra parede, “estão aprendendo a armazenar o relâmpago e a utilizá-lo para movimentar máquinas em substituição ao carvão ou à gasolina”.

Enormes chamas passaram de um lugar para o outro, estremecendo por vezes o edifício – era como se fosse uma grande apresentação de fogos de artifícios! Eles viram centelhas saírem aos milhares de bolas brilhantes que iam de um lado a outro. Essas bolas apresentavam diversas colorações variando de conformidade com a altura de que eram vistas. As mais baixas eram vermelhas e amarelas, mudando para o verde, ao passo que as mais altas eram azuis e púrpura. Um homem estava parado em um dos lados da sala e apontava para uma máquina no lado oposto. Quando fazia isso, parecia que jorrava do seu dedo uma torrente de fogo colorido e a máquina punha-se em movimento sem outro auxílio.

Foi muito maravilhoso, mas Urano apenas sacudiu a cabeça quando Rex perguntou como foi feito. “Você vai descobrir algum dia, meu filho”, ele disse, “se você pensar bastante”. Então, levando-os para o portão de entrada, ele deu a Rex uma ponte mágica minúscula que, ele disse, permitiria que ele enviasse seus pensamentos como Relâmpago onde quer que ele desejasse, se ele a segurasse e usasse a senha. Para Zendah, ele deu um pendente feito de duas cobras, como aquelas no portão, cada um segurando uma safira em sua boca. Eles nunca souberam como eles saíram daquela terra. De repente viram um clarão de luz, o chão tremeu, e eles estavam na frente do portão seguinte, o de Capricórnio.

A TERRA DE CAPRICÓRNIO

O portão seguinte estava muito parado – não havia movimento de nenhuma espécie. Parecia sólido e pesado; seu ornamento central era uma montanha, com um pequeno edifício no pico mais elevado. Os pilares eram entalhados com cabeça de bode na parte superior, e nas bases tinham uma guarnição de rabos de peixes.

Rex não sabia como poderiam entrar, pois não viram campainha nem nada em que bater, nem mesmo um pau para bater no portão.

Subitamente Zendah disse: “Existe um pequeno buraco de fechadura lá em cima do portão, Rex, mas não sei como poderemos alcançá-lo; e mesmo que chegássemos lá, não temos chave. Todavia, você pode subir nos meus ombros para ver se chega até a fechadura”.

Rex subiu-lhe aos ombros, mesmo assim não alcançou a fechadura. Pulou então para o chão e as crianças se entreolharam, desanimadas.

– “Isto é cansativo”, disse Rex, olhando para o portão. “Veja aquelas letras, Zendah. Eu não as havia visto antes”.

Ficaram surpresos ao verem escritas no portão as seguintes palavras:

“Se não conseguir da primeira vez, tente, tente novamente”.

De súbito Zendah percebeu uma enorme pedra próxima do portão. Havia um raio de luz vindo debaixo dela, então ela disse: “Tentemos mover esta pedra e talvez encontremos a solução”. Ambos empurraram a pesada pedra; no fim de alguns minutos a pedra foi afastada e embaixo dela encontraram uma caixa de pedra branca.

Dentro dela havia uma pequena chave feita de um metal escuro que parecia pesado. De fato, era muito pesado, pois, juntos, com dificuldade conseguiram levantá-la. Depois de puxarem por um tempo deixaram-na cair para pegarem um pouco de ar. Então Zendah segurou a chave com ambas as mãos e ao fazê-lo Rex gritou: “Zendah, Zendah você está ficando cada vez mais alta! “. Ele viu-a crescer como um pé de feijão e em poucos minutos estava tão alta que alcançou a fechadura e pôde colocar a chave nela. Ao terminar de fazer isso, voltou instantaneamente ao seu tamanho normal, e ouviram uma voz que dizia:

– “Quem encontrou o segredo da entrada da Terra do Bode? “.

Os meninos responderam: “Rex e Zendah”.

– “Deem a palavra de passe!”

– “Perseverança”, responderam as crianças.

– “Entrem, Rex e Zendah, pela virtude da perseverança”.

Aos poucos, bem lentamente, o portão abriu-se e um vento frio fez com que tremessem ao passar pelo umbral.

Que visão tiveram!! Filas e filas de montanhas, umas cobertas de neve e outras de pedras cinzentas. O Sol acabava de surgir e enquanto olhavam as montanhas, elas foram mudando do cinzento para lindas cores azul e púrpura e à proporção que o sol se fazia mais alto no céu, iam-se tornando em cor de rosa, alaranjado, até ficarem com a cor que tinham durante o inverno as montanhas do lugar onde viviam.

– “Está frio aqui”, disse Zendah, batendo com os pés, “mas eu gosto de subir montanhas”.

Voltaram-se ao ouvir passos e viram uma mulher idosa, com cabelos grisalhos, que se dirigia para elas.

Segurava um bastão e vestia roupa de alpinista, feita de material esverdeado, amarrada com um cinto de couro castanho-escuro.

– “Vocês vão ver que esta terra é difícil”, disse ela, balançando a cabeça gravemente para as crianças, “mas eu lhe darei a força dos pés do bode e vocês poderão subir a montanha”.

Assim falando, tocou-lhes os pés com seu bastão e, para seu espanto, verificaram que podiam subir as encostas da montanha com toda facilidade.

– “O que teria acontecido, se você não tocasse nossos pés com o seu bastão? “, perguntou Zendah.

– “Seus joelhos se dobrariam, vocês cairiam, e nunca teriam podido atingir o cume da montanha”, disse a senhora.

Subiram, subiram, atravessando grandes bosques da faia, aqui e ali, homens cortavam algumas, preparando-as para serem trabalhadas lá embaixo, no sopé da montanha.

Próximo ao cume, encontraram um lindo jardim com fileiras de álamos e de seixos, tão bem arrumadinhos que Rex imaginou ver soldados em marcha.

No centro, havia um palácio negro, que brilhava como mármore polido, mas disseram-lhe que era feito de azeviche.

No palácio de azeviche encontraram o Rei Saturno que sorriu quando eles entraram e lhes disse que era nessa casa que ele era encontrado mais frequentemente.

– “Receio que vocês só achem interessante esta Terra do Capricórnio quando virarem adultos e, virando-se para um jovem que estava sentado ao seu lado, que tinha os cabelos semelhantes aos de Rex, acrescentou:

– “Vocês conhecerão todas as nossas maravilhas por meu filho, Marte, que é jovem e ficará contente por ter uma desculpa para fazer outra coisa que não seja permanecer sentado, quieto, ao meu lado, todo o dia!”.

Marte ergueu-se com um sorriso e saíram, lançando um olhar, à medida que passavam, nos diversos cômodos do palácio onde viviam homens e mulheres falando, falando tanto que vocês pensariam que deviam estar cansados de tanto tagarelar.

Em outra dependência viram pessoas cercadas de livros e rolos de papel com centenas de selos verdes e vermelhos pendentes, havia livros nas prateleiras, livros nas mesas, livros no chão em montes; eram tantos livros que quase não se viam as pessoas!

– “Alguns destes estão estudando tudo sobre leis, de modo a poderem orientar seus reis a dirigirem seus países”, explicou Marte, e outros escrevem livros para serem armazenados nas livrarias e bibliotecas para que muitas pessoas possam lê-los.

As crianças acharam que isso era enfadonho, e então Marte levou-os fora do palácio onde viram centenas de bodes e cabras, grandes e pequenos, cinzentos, brancos e malhados, correndo montanhas acima e abaixo, nunca escorregando nem caindo quando saltavam de um penhasco para outro.

– “Não existem outros animais aqui? “, perguntou Zendah.

Marte mostrou-lhe uma lagoa escura, próxima ao sopé de uma das montanhas. Lá viram centenas de crocodilos.

– “Não gosto deles, nem do seu cheiro”, gritou Zendah.

Marte riu. “Feche os olhos”, ordenou, e disse uma palavra mágica.

– “Pode abri-los agora”. Quando Zendah abriu os olhos, todos os crocodilos haviam virado cabras que subiam as margens da lagoa tão depressa quanto podiam.

Pouco depois chegaram a uma fenda na montanha, e engatinhando por ela chegaram a uma espécie de caverna semelhante a um pequeno elevador – em todo caso parecia um pequeno quarto, com cadeiras de um lado. Depois de se terem sentado, o quarto tornou-se subitamente escuro e zás – bum!  Sua respiração quase parou e eles viram uma luz fraca.

– “Fiquem quietos, bem quietos se quiserem ver os gnomos trabalhando”, sussurrou Marte, quando chegaram a uma estreita passagem dentro da gruta. Estavam na beira de um rochedo olhando para uma caverna embaixo.

Lá, centenas de pequeninos homens marrons andavam de um lado para outro. Alguns olhavam para uns caldeirões nos quais ferviam metais. Outros empurravam pequenos carros cheios de metal fundido e viravam os carros, derramando o metal quente nas frestas das rochas.

– “Que fazem eles” sussurrou Rex.

“Estão pondo chumbos nos veios das rochas para que possa escorrer até a terra e os seres humanos possam encontrar minas de chumbo, se cavarem bem fundo. Os metais têm de ser postos na terra, antes que os seres humanos os possam achar. Agora vamos ver o que fazem eles com as árvores que vocês viram sendo derrubadas nos declives da montanha”.

Passaram a um grande edifício no qual os troncos das árvores eram reduzidos a tábuas lisas. Algumas eram polidas até ficarem como espelhos; as crianças podiam ver seus rostos refletidos nelas. Por toda a parte, todas as coisas eram feitas de madeira: mesas, brinquedos, botes e caixas. Num canto, um homem arrumava pequenos triângulos e quadrados diminutos, coloridos, formando um desenho parecido com o de um tapete.

– “Como demora fazer isso! “, suspirou Zendah, lembrando-se que não gostava de ficar sentada, quietinha por muito tempo.

– “Ele vem fazendo isso há 84 anos”, replicou Marte. “Como você vê é preciso ter muita paciência para fazer isso, e essa, é uma das coisas que se aprende aqui”.

As crianças começavam a sentir-se cansadas com a subida porque o poder do bastão mágico começava a declinar, e por isso Marte carregou-as para cima de uma montanha muito alta, cujo cume parecia estar acima das nuvens.

Afinal chegaram diante da porta de um edifício de cristal que tinha cinco lados, como uma estrela. Sobre a porta, liam-se as seguintes palavras:

“O SILÊNCIO É DE OURO”

No pórtico da entrada próxima a uma janela que subia do chão até o teto, estava sentado um velhote. A janela tinha uma abertura na parte superior por onde um telescópio apontava para o céu estrelado. O velhote estava no meio de uma porção de mesas cobertas com livros e papéis desenhados com círculos e números fantásticos. Como Marte levasse as crianças perto dele levantou o olhar dos cálculos que fazia.

– “Datas de nascimentos, por favor”, foi tudo o que disse.

– “27 de março e 26 de novembro”, responderam Rex e Zendah.

O velhote riu e disse:

– “Por favor, um de cada vez”.

Escreveu seus nomes num grande livro que estava a seu lado. Querendo saber o porquê ele queria as datas de seus nascimentos, Rex e Zendah ficaram olhando para ele, mas o velhote mergulhou novamente em seus cálculos e as crianças viram então que Marte esperava por eles à porta.

Deixando esta antecâmara, chegaram à entrada do “hall” principal.

Marte disse-lhe para que o seguissem devagar e mansamente. No centro, pendia uma lâmpada suspensa ao teto por uma corrente dourada que brilhava quando balançava com o vento. Embaixo da lâmpada estava uma mesa em cujas pernas havia serpentes entalhadas, e em cima dela, sobre uma almofada cor de púrpura, havia um livro encadernado em veludo branco. Várias correntes e cadeados estavam amarrando o livro e na capa do livro lia-se em letras de ouro:

“SABER É PODER”

Um anjo verde estava ajoelhado em cada canto, enquanto um outro permanecia atrás da lâmpada, vigiando para que o livro nunca saísse dali.

– “Este é o livro no qual toda a sabedoria do mundo está escrita, em todas as línguas”, disse Marte. “Está fechado com sete cadeados, e a pequena chave que vocês acharam na porta da entrada desta terra, abre um deles, mas enquanto vocês não visitarem todas as terras do Zodíaco não serão capazes de ler nenhuma de suas palavras. A lâmpada é como a lâmpada de Aladim; pode dar a vocês tudo o que desejarem. Antes de partirem, o Pai Tempo dará a vocês uma cópia dessa lâmpada e ensinará vocês como usá-la”.

Marte carregou-as pelo lado da montanha até o palácio de azeviche[1]. O Pai Tempo sorriu quando as viu. Lendo seus pensamentos disse-lhes:

– “Então vocês querem ler o livro da sabedoria, hein, crianças? Algum dia vocês o farão. Tome Zendah, dou-lhe um exemplar da lâmpada; você deve descobrir onde esfregar e quantas vezes; depois, vocês devem usar essa descoberta juntamente com a palavra de passe desta terra, isto é, Perseverança. Você, Rex, pode usar esta estrela de cinco pontas feita de jade, para lembrar-se desta terra”.

Marte conduziu-os até as portas do palácio. Despediram-se e as crianças correram montanha abaixo chegando à porta de entrada dessa terra mais depressa do que esperavam. Pudera! É muito mais fácil descer uma montanha do que subi-la! Eles não sabiam ao certo o que pensar da terra do Capricórnio porque, como disse Zendah, lá as coisas eram muito confusas, e, lá fazia muito frio.

NA TERRA DO ARQUEIRO

As crianças estavam muito contentes diante dos portões da terra seguinte, pois mesmo de fora, pareciam agradáveis e acolhedores. Lembraram as crianças o fogo que sua mãe acendia na lareira, no inverno, porque lançavam chamas azuis e depois esverdeadas.

Havia figuras em movimento sobre estes portões, como os primeiros que eles visitaram, mas não puderam vê-las bem, devido às luzes cintilantes que saíam da sua superfície. A única coisa que eles puderam ver claramente foi um rolo de papel com letras prateadas perto da parte superior dos portões. Depois de observá-lo cuidadosamente durante algum tempo, as crianças viram que lá estava escrito:
“APONTA PARA A ESTRELA E ACERTA NA LUA”

– “O que você acha que isto significa? Perguntou Rex.

– “Tem algo a ver com atirar”, respondeu Zendah, “devemos procurar alguma coisa para atirar”.

Procuraram em redor e logo acharam um arco muito pequenino pendurado de um lado do portão, e uma pequena bolsa de setas do outro lado.

– “Não podemos, ambos, usá-lo ao mesmo tempo”, explicou Rex. “Eu, penso que sou melhor atirador”.

Apanhou o arco e apontou uma seta para o portão, mas errou e acertou no pilar da esquerda. Apontou novamente e acertou o pilar da direita.

– “Pensei que você fosse melhor atirador”, riu Zendah. “Experimente apontar mais alto”.

Rex apontou para um lugar acima do portão e acertou num pequeno escudo bem abaixo do rolo de papel que ele não havia percebido antes.

Imediatamente todo o portão ficou iluminado, podendo ver-se ao centro uma seta grande, de fogo. De cada lado estava um personagem, metade ser humano e metade cavalo; um deles estava vestido com linda armadura e o outro com peles grosseiras como um selvagem.

Uma voz pediu a palavra de passe e responderam: “Liberdade”.

– “Entrem, livremente, Rex e Zendah, na terra do Arqueiro”, ouviu-se em resposta. Como nas outras terras, os portões abriram-se imediatamente.

Um jovem vestido com uma pequena túnica azul, pernas nuas e sandálias como os antigos gregos, correu ao encontro delas. Segurava, com uma correia dois elegantes galgos. Levantando sua mão direita num gesto de saudação, deu-lhes as boas vindas e convidou-as a segui-lo.

Era uma terra linda com planícies onduladas, cobertas de grama e cercadas de pequenas cadeias de montanhas.

Aqui e ali, graciosos templos com pilares resplandecentes de diferentes pedras coloridas, como aqueles que ainda se podem ver na Grécia ou em Roma. Levando um apito de prata aos lábios, o guia fez soar uma nota limpa e imediatamente surgiram quatro magníficos cavalos.

– “Sabem montar?”, perguntou ele.

– “Sim”, gritaram as crianças. Porque já haviam passeado a cavalo nos campos próximos de sua casa.

Rex montou num cavalo preto, Zendah, num cavalo branco e o guia ficou de pé, com um pé sobre um cavalo marrom e o outro num cinza. Com as rédeas nas mãos, ele dirigia os quatro cavalos. Partiram e com alegres gritos de animação os cavalos voavam como o vento pelos caminhos. Os cavalos, não estavam encilhados e as crianças seguravam nas crinas dos cavalos, porque estes iam tão velozes que era necessária toda atenção para não caírem.

Por toda parte viam quantidade de cavalos de todas as cores e tipos perseguindo caça e correndo, alguns com cavaleiros, outros com cabeça de ser humano e corpo de cavalo da cintura para baixo. Havia também muitos cães ajudando na brincadeira. Pararam repentinamente defronte de um pátio pavimentado com pedras quadradas, brancas e pretas. Desmontando, o jovem amarrou as rédeas dos cavalos em um anel em um dos postes do portão.

As crianças seguiram-no do centro do pátio até uma curiosa construção feita de metal branco brilhante, com nove lados e nove janelas, uma em cada lado. Não parecia haver caminho de entrada, a não ser voando através de uma janela!

 

Em torno de cada janela havia uma guarnição de pedra, entalhada com folhas e sinais fantásticos, e em cima de cada uma, uma espécie de pássaro surgindo de chamas.

Seu guia fez um som baixo, interessante, e de súbito toda a frente do edifício abriu-se, e eles se encontraram olhando para dentro de um estábulo feito inteiramente de pedra purpúrea, polida como espelho.

– “Veja, Rex, veja!”, gritou Zendah, “É Pégaso, o cavalo voador”.

Na verdade, vindo em sua direção, estava o mais bonito cavalo branco que elas jamais viram. Seu pelo era brilhante como seda, e logo atrás dos seus ombros havia duas grandes asas prateadas que ele mantinha dobradas ao longo do seu dorso enquanto não voava. Zendah chegou-se perto dele e fez-lhe uma carícia no focinho.

– “Podemos dar um passeio nele?”, perguntou ela.

– “Não creio que vocês possam dirigi-lo”, disse-lhes o guia sacudindo a cabeça,  “e se vocês não puderem, como ele pode voar por toda parte, até mesmo para as estrelas que vocês têm dificuldades para ver, poderá levá-los para uma delas de onde será muito difícil vocês voltarem.

Quando tiverem aprendido todas as palavras de passe das terras do Zodíaco, talvez então estejam aptos a montá-lo e a darem um passeio pela via Láctea. Nosso Rei dará a vocês um apito de estanho; não será fácil soprar a nota exata para chamar Pégaso, mas quando vocês conseguirem, ele virá e vocês poderão montá-lo.

Depois de deixarem o estábulo, desceram uma planície coberta da mais linda grama curta e musgo; um verdadeiro tapete de relva, por toda a parte havia bancos cobertos de relva uns diante dos outros como se fossem degraus de uma escada.

Crianças, homens e mulheres estavam sentados nessas ondulações, olhando outros que estavam no espaço central, tomando parte em toda a espécie de corrida e de jogos.

– “Como parecem alegres e bem-humorados”, disse Rex depois de ter observado uma das corridas. “Parece que não se preocupam nada com se perdem ou ganham”.

Mal foram pronunciadas essas palavras e viram dois garotos que pareciam se importar! Eles acabavam de terminar uma corrida, ao mesmo tempo, empatados, e estavam discutindo para ver a quem cabia a coroa de folhas de figueira, que era o prêmio da corrida.

O jovem foi até eles e disse: “Se vocês não chegam a um acordo terão de ir à presença do Rei”.

Chamando mais dois cavalos para aqueles garotos, todos eles montaram e saíram percorrendo as verdes campinas até chegarem a um castelo que tinha nove torres com espirais pontudos. Homens vestidos com longas túnicas e capacetes brancos vieram ao seu encontro, e os acompanharam desde a entrada até a sala principal. Aí eles viram sentado no seu trono, o mais alegre Rei jamais visto, com face rosada e olhos azuis e pestanejantes.

– “Com certeza esse rei tem algum parentesco com o velho Rei Repolhudo”, pensaram as crianças, pois parecia que ele estava pronto para rir, mesmo quando estava sério! Não era possível a ninguém ficar triste olhando para ele; tinha que se sentir feliz”.

Os pajens que estavam de serviço, mostraram a Rex e Zendah algumas almofadas nos degraus próximos do trono, e depois de se curvarem para o Rei que lhes deu um dos seus alegres sorrisos, eles se sentaram.

Dois outros pajens trouxeram os dois contendores à presença do Rei Júpiter (pois esse era o seu nome), que pareceu sério por alguns minutos, enquanto ouvia a história.

– “Que bobos são vocês”, disse ele, “Não tem a mínima importância quem chegou primeiro, pois que ambos correram o melhor que puderam. Vocês conhecem o ditado que está por cima da entrada, desta terra: TODOS PODEM APONTAR PARA A ESTRELA, MAS ENQUANTO NÃO TIVEREM PRÁTICA, NÃO ESPEREM ALCANÇÁ-LA”.

Então Júpiter dividiu a coroa entre os dois que ficaram muito satisfeitos. Júpiter levantou-se do trono e bateu palmas.

“Tragam o banquete, e que meus alegres músicos toquem suas melhores músicas para mostrarem a Rex e Zendah como os súditos do Rei Júpiter podem ser alegres e felizes”.

 Em alguns minutos apareceram mesas, e pratos maravilhosos de frutas e bolos e sobremesas foram colocados diante deles. Havia uma abundância de tudo; todos tentavam fazer as crianças se sentirem em casa e mostravam a eles presentes com figos, damascos para levarem com eles. Eles não sabiam o que fazer primeiro – agradecer a todos, comer as frutas, ou ouvir as músicas, que eram muito lindas. Neste momento um velhote que estava sentado na ponta da mesa, se levantou e ergueu sua mão. “Vamos cantar nossa música de agradecimento aos anjos, por nos ajudarem a cuidar de todas estas frutas.” Um glorioso hino de louvor foi cantado por todos, depois do qual as crianças foram levadas novamente diante do trono do rei Júpiter.

Lá Zendah recebeu o prometido apito, e Rex recebeu uma estrela de nove pontas feita de carbúnculo e muito desapontados ouviram que era hora de partir. Eles nunca estiveram em um lugar onde todos eram tão generosos e nenhum outro lugar que ficaram tão chateados de terem que partir.

Finalmente seu guia trouxe os cavalos à porta do palácio e eles montaram. Desta vez ele deixou que guiassem seus próprios cavalos de volta ao portão. Centenas de pessoas acompanharam-nos para se despedirem. Enquanto estavam do lado de fora e os portões se fechavam gradualmente ouviram vozes chorando e dizendo: “Adeus, adeus, voltem logo, ficaremos muito felizes em revê-los.”

“Eu amei esta Terra do Arqueiro” Zendah falou.

“Claro que amou”, retrucou Rex. “É seu próprio Signo!”

NA TERRA DO ESCORPIÃO-ÁGUIA

 

Depois que os portões da terra do Arqueiro se fecharam completamente, Rex e Zendah procuravam a entrada da próxima Terra, mas não viram nenhum vestígio dela.

– “Como podemos tentar abrir um portão que não parece existir?” – disse Rex. “Talvez Hermes venha nos ajudar”.

Para passar tempo, eles sentaram-se no chão e começaram a olhar para a lista de palavras chave que Hermes lhes dera. Enquanto eles abriam a lista, Zendah percebeu pequenos pedaços de pedras brilhantes, que pareciam ir um em direção dos outros, quando ela os remexia com os pés.

Ela sentou-se quietinha e observou. Não eles não se moviam: deve ter sido sua imaginação. Nesse momento, Rex deixou cair o canivete que havia tirado do seu bolso; como isso acontecera ele nunca soube, mas, para seu espanto, os estranhos pedaços de pedra moveram-se para o canivete e arrumaram-se em volta dele.

– “Por que será – ela falou – que parecem partes de um quebra-cabeças?”.

Apanharam algumas pedrinhas.

– “Você acha que pode ser um quebra-cabeça, Rex?” – perguntou Zendah – “Vamos tentar fazer uma palavra juntando algumas”.

Juntaram uma quantidade dessas pedrinhas esquisitas, escuras e brilhantes e viram que podiam fazer várias palavras com elas. Afinal fizeram a palavra “SEGREDO”.

Imediatamente um ruído curioso por trás deles fez que eles se voltassem. Era um ruído semelhante ao ruge-ruge das sedas e eles viram algo que parecia com água correndo ligeira sobre pedras num leito de rio, depois de muita chuva.

Viram então um movimento, onde antes parecia nada haver. No fundo do leito do rio havia inúmeras linhas parecendo água movendo-se em espiral, elevando-se aos poucos, indo de um lugar para o outro, ligeiras, para cima e para baixo até formarem um funil, uma tromba d’água, tão alta, quanto uma casa e com cerca de oito pés de largura no alto.

No fundo, sua cor era púrpura escura quase preta; mas as linhas móveis tornaram-se mais claras, mais avermelhadas, até parecerem de uma linda cor carmesim. Então formou-se no fundo do funil uma bolha que aos poucos foi subindo até em cima, para rebentar sem ruído.

Mais sete bolhas se formaram, uma maior do que a outra, subiram, e quando a última, a oitava, rebentou, toda a água desapareceu e eles viram o portão que dava acesso àquela Terra. Era feito de ferro primorosamente trabalhado, com a figura de uma enorme águia bem no topo.

Nenhuma voz pediu a palavra de passe; o portão abriu-se subitamente com um som estridente, e subitamente fechou-se logo que o transpuseram.

Na sua frente o caminho estava bloqueado por grandes rochas sobrepostas que fechavam também os lados, até onde estava o portão que agora desaparecera.

Não era possível avançar nem retroceder, mas parecia haver uma entrada, pois uma corrente de água escura passava sob a pedra próxima de seus pés.

“Vamos tentar dando a palavra de passe” – disse Zendah – “Pode ser que aqui seja como a caverna de Ali-Babá”.

E eles murmuraram: “PODER”.

Oito vezes essa palavra ecoou pelas pedras, como se fora um coro de pessoas invisíveis zombando deles. Mas súbito apareceu uma passagem bem à sua frente e um bote estava na água nesta entrada.

Elas entraram no bote e, sem qualquer aviso, ele partiu em grande velocidade, como se o rio descesse pela montanha. Passaram por cavernas tão negras como azeviche; atravessaram torrentes tão rápidas que o bote estremecia tanto ao ponto de pensarem que seriam lançados fora dele! Por vezes as águas eram geladas e eles viam blocos de gelo, de todas as formas e tamanhos, espichando-se para cima, de ambos os lados como se fossem os pilares de uma catedral. Depois passaram por um lugar que era tão quente quanto era frio o lugar que haviam deixado. Fontes de água fervente lançavam-se para o teto da caverna e elas mal podiam respirar.

Quiseram parar o bote, mas não puderam porque as paredes da caverna pareciam vivas e eram revestidas de vidros coloridos que pareciam as joias que sua mamãe usava no pescoço.

Afinal o bote foi lançado em terra aberta e parou ao lado de um outeiro onde cresciam sabugueiros e amieiros. No outeiro estava de pé um personagem que eles reconheceram. Era Marte. Pularam do bote e correram para ele.
– “Vocês não demoraram a encontrar o segredo da entrada da caverna, disse ele, “e estou muito satisfeito porque a viagem subterrânea não amedrontou vocês. Na terra do Escorpião-Águia vocês terão de descobrir muitas coisas por vocês mesmos. Agora escolham: querem ir para leste ou para oeste?”.

– “Oeste” – disse Zendah, falando primeiro, antes que Rex pudesse decidir. Logo que ela falou, desceu uma carruagem voadora puxada por quatro águias.

Subiram na carruagem e voaram sobre campos gelados, passando por cachoeiras; subiram até muitas milhas de altura, até que o ar se tornou mais quente e chegou até eles um perfume parecido com o de um jardim.

Desceram da carruagem. Estavam num terreno extenso e plano, cheio de canteiros com ervas. Algumas eram conhecidas porque no jardim de sua casa havia delas, mas a grande maioria, eles jamais haviam visto antes.
– “Como cheiram bem” – disse Rex indo de um canteiro para outro, apanhando aqui e ali uma folha enquanto iam e vinham pelas aleias – “Mas porque são precisas tantas?

– “Elas têm muitos usos como vocês verão” – respondeu Marte, levando-os mais longe. No meio do jardim das ervas havia uma casa comprida e baixa; dentro dela viram muitas mulheres pondo as ervas em bandejas para secar, e depois passando-as por peneiras e por fim colocando-as em garrafas. Viram as ervas, em outra parte da casa, sendo fervidas em grandes vasilhas para servirem de remédios que os médicos usam para curar pessoas doentes.
– “Existe uma erva para cada doença; basta que o povo se dê ao trabalho de descobri-la” – disse Marte.

No centro da construção havia um quarto com janelas de vidros pelas quais as crianças viram oito homens idosos em torno de uma mesa sobre a qual havia um vaso de vidro arrolhado. Para seu espanto, viram que o vaso estava cheio de um líquido de cor linda que se movia e pulava como se quisesse sair do vaso. Era de linda cor carmesim, semelhante a vinho com centenas de bolhas douradas. Era tão bonito que pediram para levar um pouco para casa, mas disseram-lhes que ainda não estava pronto e que quando ficasse pronto curaria todas as doenças.

– “É o Elixir da Vida que os antigos alquimistas sempre tentaram fazer, e eles vieram da Terra para esta terra para descobrirem como fazê-lo” – disse Marte.

Outra coisa interessante que eles viram foi uma porção de pessoas fazendo óculos. O interessante é que não havia dois pares de formato semelhante e cada um tinha vidros de uma cor diferente.

Pediram para olhar um desses óculos. Todas as pessoas puseram-se a rir e disseram em coro:

– “Vocês já têm um par”.

De onde vieram os óculos subitamente, eles não tinham ideia, mas Rex estava com óculos cor de rosa e Zendah com óculos azuis.

Que maravilhas viram por esses óculos! Podiam ver dentro da terra, como se esta fosse transparente, ver onde estavam os poços de petróleo e ver correntes d’água subterrâneas. Olhando para os rios, viram que estavam cheios de ondinas brincando uma com as outras. No ar, viram milhares de figuras pequeninas que antes não haviam visto e perceberam algumas delas em torno das flores com pincéis e paletas de tinta, colocando as cores nos bastões que se abriam e nos frutos. Aqueles óculos eram mágicos; “Todo mundo tem um par”, disse Marte, “mas muito poucas pessoas sabem como usá-los e a maioria nem sabe que os possui”.

Saindo da fábrica de óculos, viram, num pátio próximo, um poço profundo coberto com uma grande pedra de mármore. 

Marte retirou a pedra e eles viram que o poço estava seco. Na areia do fundo do poço rastejavam alguns bichos escamosos que pareciam lagostas, apenas eles que tinham um ferrão na extremidade das caudas que mantinham curvadas por cima de suas costas.

– “Estes não deviam estar aqui!”, disse Marte. “Já foram todas bonitas águias, mas toda vez que uma criança pertencente a esta terra diz uma palavra má ou grosseira, uma das nossas águias vira escorpião”.

– “E nunca mais volta a ser águias?” – perguntou Zendah, sentindo muita pena das pobres águias condenadas a rastejar em vez de voar.

– “Oh, sim, mas as crianças devem fazer três boas ações antes que eles possam virar águias de novo”.

Elas viram muitas outras coisas curiosas; todas estavam ocultas, e, para se tornarem visíveis, tinham de pronunciar uma palavra mágica. Afinal chegaram ao palácio do rei. A entrada do terreno era através de grandes campos de papoulas de todas as cores, e a fragrância delas fez Zendah bocejar tanto e se sentir tão cansada que para evitar que caísse no sono apressaram-na a subir as escadas do palácio.

Este palácio estava sobre oito pilares e tinha um fosso em toda a volta, de modo que todo o palácio se refletia na água do fosso; a ponte de acesso parecia feita de nuvens e cada passo que Rex e Zendah davam era como se andassem em flocos de algodão. Mulheres vestindo capas vermelho-escuro e com véus em suas cabeças, presos por um ornamento em forma de serpente, estavam em pé nas passagens e corredores para saudar a Marte e às crianças levantando a mão. Meninos-pajens de olhos negros penetrantes e com cachos de cabelos escuros ondulados, afastaram as cortinas do salão central.

A parte superior do salão era feita de mármore preto e branco e o trono era uma grande pedra verde salpicada de pequenos pontos vermelhos. De cada lado havia grandes vasos de ferro nos quais cresciam brancas papoulas tão grandes quanto árvores pequenas.

Uma lâmpada de luz vermelha pendia do teto defronte ao trono e braseiros de cada lado desprendiam nuvens de fumaça aromática. Havia alguém sentado no trono, vestindo roupa de cor carmesim róseo debruada com bordados de várias cores e ricamente cravejada de joias. Não puderam ver o rosto do rei porque estava coberto por oito véus, mas viram que usava uma coroa cravejada de joias cintilantes.

Uma voz profunda apresentou-lhes as boas-vindas e ordenou que seu assistente enchesse a taça e desse às crianças a bebida da lembrança. “Porque sem isto vocês não serão capazes de lembrar o que viram na Terra do Escorpião-Águia.” Uma mulher alta estendeu-lhes uma taça lindamente lapidada, cheia com líquido vermelho, ao mesmo tempo que passava a mão sobre os olhos delas. Era uma beberagem estranha, muito doce enquanto bebiam, mas deixando um gosto amargo na boca depois de bebida.

Devolvendo a taça, olharam para o trono e viram atrás dele uma figura carmesim com asas – um grande Ser que atingia quase o teto do salão, tendo uma estrela cintilante na cabeça.

Era um dos quatro Guardiães dos Ventos, disseram-lhe, e a Quarta parte do mundo estava a seu cargo. O Guardião Verde vivia na Terra do Homem do jarro, mas antes de beber da água da lembrança, eles não podiam ver nenhum dos quatro Guardiães.

Estavam embevecidos olhando para as lindas asas carmesim e para a estrela cintilante do Anjo até que a voz do rei os despertou.

 – “Tragam o Capacete de Invisibilidade”, ordenou o rei.

Um pajem entrou trazendo uma almofada de cetim carmesim, mas eles não viram nada nela. Este “nada” foi posto na cabeça de Zendah. Ela sentiu como se estivesse pondo um chapéu na sua cabeça, só que não via o que era e quando o chapéu foi colocado nela, Rex não mais a viu; ela tornara-se invisível.

Em torno do pescoço de Rex foi pendurado um cordão vermelho com um pendente feito de um topázio em formato de águia.

– “O capacete invisível ajudará vocês a verem as coisas ocultas, e servirá para torná-los invisíveis na terra, como ficaram aqui.

– “Vocês já ficaram muito tempo nesta terra, mas ainda tem muito o que ver”, disse o Rei, “e eu mandarei vocês rapidamente para a próxima Terra”.

O Rei levantou-se e elevando as mãos para cima da cabeça falou uma palavra estranha que jamais se lembraram qual foi.

O assoalho pareceu levantar-se, tudo ficou escuro, e a primeira coisa que eles perceberam é que estavam ao lado de fora do portão, e, como tinha acontecido antes de entrarem não viram nenhum sinal dele.

“Este é o segundo terremoto”, disse Zendah.

A TERRA DA BALANÇA

No momento em que as crianças se voltaram e viram o portão seguinte, exclamaram: “Que lindo!”
De certo era o portão mais bonito de todos os que já viram. Os pilares eram semelhantes a pessegueiros, com cachos de frutos pendentes dos ramos. O portão propriamente dito era de cobre polido tendo em cima um sol de cobre meio mergulhado num mar também de cobre. Cada raio do sol tinha uma mãozinha na ponta.

No centro do portão erguia-se outro pilar em cuja extremidade, que ficava justamente sob o sol de cobre já mencionado, havia uma balança de dois pratos. Um dos pratos estava erguido no ar e o outro abaixado com uma bola que cintilava com muitas cores.

– “Esta é a terra da Balança”, disse Rex; “não me admira se antes de podermos entrar tivermos de procurar algo para botar no outro prato a fim de equilibrar a balança”.

– “O melhor que fazemos é procurar logo para ver se temos algo para colocar lá”, disse Zendah, examinando os bolsos. Neles encontrou apenas um lenço. Rex achou apenas o canivete que deixara cair nas proximidades do portão anterior.

Ficando nas pontas dos pés, colocaram esses objetos no prato da balança; nada aconteceu. Mas já suspeitavam que não seria suficiente.

Olhando em torno, viram no pilar central uma pequena caixa onde se lia:

“PROCURA BEM; ESCOLHE SABIAMENTE”

Abrindo a caixa, encontraram dentro dela pequenas bolsas de ouro, alguns corações também de ouro, pequenas espátulas e vários livros pequenos. Rex apanhou as bolsas de ouro e empilhou-as no prato da balança, mas esta não se moveu. Apanhou então uma porção de espátulas que colocou no prato. Nada; a bola continuava em baixo. Tentaram com os livrinhos, mas não obtiveram resultados.

– “Bem só ficou faltando uma coisa”, disse Zendah; “talvez dê certo”. Apanhou os corações de ouro e colocou-os no prato da balança. Imediatamente a balança começou a movimentar-se, para cima para até que ficou em equilíbrio, com os dois pratos nivelados.

Nessa ocasião ouviram-se vozes entoando um acorde, acompanhadas de sons musicais.

– “Dê a palavra de passe do equilíbrio perfeito”.

– “Harmonia”, responderam as crianças.

O portão abriu-se tão silenciosa e gentilmente que ficaram maravilhados de não ouvir um som.

Lá dentro estava de pé o Pai Tempo. Olharam para ele espantados pois estava tão diferente. Não estava com a capa que aparecera na Terra de Capricórnio; agora vestia uma túnica branca prateada, coberta de pedras cintilantes e de ornamentos verdes. Lembraram-se daqueles magníficos dias de sol no inverno, quando a neve cintilava como diamante nos pinheiros. Ele sorriu vendo o seu espanto e disse-lhes:

– “Eu só visto esta túnica quando venho visitar a Rainha Vênus. Em geral, nas outras terras, todos esperam me ver sério, mas não sou assim tão severo. Vocês verão quando me conhecerem melhor. Aprendam tudo o que puderem aqui e reflitam. A Rainha Vênus lhes dirá como”.

Apanhou sua capa escura e sua ampulheta em um nicho próximo ao portão pelo qual saíra, fechando-se após sua passagem.

– “Refletir, refletir em que? – Perguntou Rex.

– “Tenho certeza de que não sei,”, disse Zendah, “mas espero que logo saberemos”.

Começaram a olhar em volta; tudo era muito amável; o céu estava iluminado pelo mais bonito crepúsculo como jamais viram. O perfume de várias flores chegava até eles, mas era difícil identificar tais flores porque a fragrância era muito diferente daquela a que estavam acostumados em casa.

Sete estradas abriam-se defronte deles e por uma delas, vinham em sua direção um homem e uma mulher de braços dados. Era agradável olhar para esse casal, mas o que surpreendia era que eles não caminhavam pelo chão, nem pela grama, mas flutuavam um pouco acima do solo. Ambos trajavam roupas da mesma cor azul profunda que o mar mostra quando o sol quente do verão a ilumina e em sua cintura traziam cintos de cobre com camadas de opalas. Não pareciam ser sólidos pois, por vezes as crianças julgaram ver através deles.

Quando chegaram perto de Rex e Zendah, a eles se juntou outro casal e os quatro entoaram o acorde que ouviram na estrada. Imediatamente surgiram centenas de pequeninas fadas segurando um tapete de várias cores que mais parecia uma nuvem ao pôr do sol. Com sorrisos e gestos, as fadas convidaram as crianças a se sentarem nesse tapete, quando deslizou gentilmente e iniciaram a viagem.

Viajando assim tão gentilmente que mal perceberam que havia se levantado do solo. Era muito mais fácil verem tudo enquanto passavam e pensaram que era o melhor meio de transporte que foi utilizado até agora.  

Coisa curiosa eles puderam observar: todas as casas estavam suspensas no ar; nenhuma estava construída em terra firme. Não puderam compreender como eram feitos os alicerces.

Por toda a parte viram lindos jardins cheios de flores, lírios, violetas e rosas, todas floridas nas quais centenas de abelhas sugavam o néctar.

Ouvindo uma música em surdina, perceberam que eram as fadas cantando para adormecer as flores a fim de poderem depositar nelas o mel que as abelhas encontrariam no dia seguinte. Acima de suas cabeças precipitaram-se os sons de uma música gloriosa que fez com que olhassem para cima e viram o palácio.

O palácio era feito de nuvens; suas torres e ameias, multicores: vermelho, alaranjado, verde, púrpura e aquele azul bonito que você vê no céu durante o crepúsculo de um dia claro. Subindo sempre, chegaram à entrada. Ao seu encontro vieram fadas para saudá-los e orná-los com colares feitos de rosas que colocaram em volta dos seus pescoços.

Descendo do tapete, subiram os degraus mágicos do castelo e entraram na antecâmara. Por toda a parte, havia flores e fadas. Logo chegaram a um corredor com muitos quartos, sete dos quais tinham o mesmo tamanho, mas diferiam na cor; vermelho, alaranjado, verde, amarelo, azul, violeta e índigo.

Cada quarto parecia mais bonito que o anterior e quando passavam pelos umbrais dos quartos, ouvia-se uma nota musical. Cada quarto agia sobre eles de modo diferente. Passando pelo quarto vermelho, eles sentiam-se cheios de vida e de energia; nada os perturbava e caminhavam através desse quarto como que marchando; de fato, a nota musical desse quarto soava como marcha para eles. No quarto alaranjado eles sentiam-se como se estivessem ao sol; queriam sentar-se a gozar desse sol e planejar sobre o que desejavam fazer.

O quarto amarelo fê-los sentirem-se capazes, Rex pensou nas somas que não conseguira no colégio e imediatamente achou todas as respostas às questões que não soubera responder. Zendah lembrou-se de todas as datas da História que, para ela, sempre foram difíceis de guardar.

No quarto verde Zendah lembrou-se que não havia dado comida aos seus coelhos na noite anterior e que não ajudara sua mãe na jardinagem conforme havia prometido, enquanto Rex lembrou-se do rapaz de perna quebrada que morava na casinha isolada da estrada e que lhe pedira para ler um livro para ele.

O quarto azul dava a sensação de estarem numa igreja e eles o atravessaram nas pontas dos pés e falavam murmurando. Imaginaram ver Anjos em torno, e ouviram um órgão tocando, como ouviam aos domingos.
O quarto violeta, eles nunca puderam explicar exatamente como se sentiram dentro dele. Era uma sensação parecida com a que tiveram na terra dos Peixes e no Templo do Santo Graal.

Finalmente entraram no quarto azul marinho, no grande hall. Lá no fim, viram a Rainha Vênus sorrindo para eles, sentada em seu trono de marfim. O trono era alto e seu espaldar curvava-se para a frente por cima da cabeça da rainha dando a impressão que ela estava sentada dentro de uma bola de marfim.

No trono havia uma bonita almofada azul e por trás dele, nas paredes, pendiam cortinas de seda azul coberto com pinturas de várias cores. Por toda a parte viam-se vasos com flores e as pessoas presentes tinham grinaldas na cabeça. A Rainha Vênus estava vestida de pura seda branca bordada em azul com opalas.

As crianças correram para ela e seguraram suas mãos.

– “Sentem-se nas almofadas, perto de mim”, disse ela, “e reflitam.” As crianças entreolharam-se e murmuraram:

– “De novo, refletir? Que quer dizer isso?”

Sentando-se nas almofadas que lhe foram designadas, e observavam. Chegavam à sala muitas pessoas com o rosto triste, melancólicas e irritadas. A Rainha Vênus voltava-se para elas, murmurava algumas palavras nos seus ouvidos e mandava-as sair acompanhadas por um dos presentes.

Em pouco tempo voltavam, completamente diferentes, e beijando as mãos da Rainha, retiravam-se da sala.

– “Vocês querem saber o que se passa com essas pessoas?”, perguntou Vênus às crianças. Rex fez que sim com a cabeça.

– “Todos sentem-se infelizes ou estão descontentes. Vem aprender a fazer a paz em vez de serem causadores de perturbações no mundo. Eles não compreendem que cada um tem sua nota musical particular, sua cor própria, e se eles não usarem sua nota própria, sairão do tom. Por isso mando tais pessoas através dos quartos pelos quais vocês já passaram, para que encontrem sua nota musical e aprendam a usá-la corretamente. Depois eles voltam para a terra com sua tonalidade restaurada e não mais se queixam.

Tudo tem sua nota própria; prestem atenção às quedas d’água e ao vento que sopra entre as árvores e vocês ouvirão suas tônicas. Até as estrelas tem seu acorde. Ouçam!” A Rainha ergueu sua mão e todos na sala se silenciaram.

Ela levantou-se e entoou algumas notas de um acorde. No ar, sobre os assistentes apareceu uma lira com sete cordas. A primeira corda vibrou e emitiu um som, depois a segunda, a terceira, a quarta, até que as sete cordas vibraram conjuntamente. Sobre a lira relampejou uma estrela que desapareceu em seguida. Eles jamais ouviram sons iguais, tão sublimes que eles sentiram medo e foram para perto da Rainha Vênus.

Rindo do receio deles, ela disse: – “Esta é a música dos sete Planetas; na Terra, somente os poetas e os grandes músicos podem ouvi-la. Os grandes músicos nunca ficam satisfeitos com o seu trabalho porque é muito difícil transportar a música das esferas para o papel, a fim de que outras pessoas possam tocá-la. Se vocês sempre pensarem em coisas bonitas e procurarem causar felicidade por onde andarem poderão voltar a esta Terra e ouvir de novo a música dos Planetas, porque esta é a “Terra da Harmonia”.

– “Foi isso o que o Pai Tempo quis dizer quando disse a vocês para refletirem; reflitam antes de falar, para que não pronunciem palavras más que vão ferir e prejudicar a harmonia do mundo. Reflitam antes de agir, para verem se o que vão fazer será de ajuda para os outros e não para vocês mesmos”.

– “Para que vocês se lembrem desta terra tomem esta estrela de opala com cinco pontas, Zendah. E você Rex, tome esta pequena lira de sete cordas para com ela tentar fazer músicas de verdade para o mundo”.

As crianças beijaram as mãos de Vênus ao se despedirem dela, e disseram que se sentiam muito entristecidos por terem de deixá-la, mas Vênus sorriu e disse-lhes que eles a veriam de novo antes de regressarem para casa.
Fora do palácio retomaram o tapete mágico e voaram para o portão. Em vez de saírem pelo portão aberto, os meninos sentiram que passavam através do portão fechado.

O tapete e as fadas desapareceram, e eles desceram lentamente até o chão, no lado de fora.

A balança pendia novamente para um lado. O sol, que se punha no alto do portão, desapareceu sob o mar de cobre e aos poucos fez-se a escuridão.

A TERRA DE VIRGEM

A entrada para a próxima terra se fazia por meio de um pórtico cujos pilares eram inteiramente cobertos por espigas de milho seguras por meio de folhas entre as quais apareciam ramos de frutas e flores. Lembraram-se do festival da colheita.

Na base de cada um dos pilares havia uma bacia com água; em torno de cada bacia havia palavras gravadas.

Numa estava escrito: “Somente com mãos e pés limpos podem entrar nesta terra”. E na outra: “O asseio é quase religiosidade”.

O espaço entre os pilares não era fechado por portão, mas parecia coberto de pés de milho mais altos do que as crianças. Não se via nenhum caminho e quando as crianças tocavam os pés de milho com as mãos sentiam que eles eram duros, não dobravam. Não havia nenhuma passagem entre os pés de milho.

Zendah olhou para o rolo que Hermes lhes dera e mostrou a Rex o que lá estava escrito: “Quando chegarem à Terra da Virgem, lavem as mãos na água das bacias e esvaziem-nas diante dos pés de milho entre os pilares: depois pronunciem a palavra de passe”.

Dirigiram-se para as bacias e começaram a lavar as mãos. Rex lavou as mãos em uma e Zendah na outra.

– “Você acha que nós devemos lavar em ambas as bacias?”, perguntou Rex.

– “É claro, bobinho”, disse Zendah. “Suponho que sejam espécies diferentes de água. Senti isso quando pus minhas mãos dentro delas”. Sentando-se no chão, Zendah pôs os pés nas águas de ambas as bacias.

– “Não vejo necessidade de fazer isso”, resmungou Rex, pensando que estavam perdendo tempo com tanta lavagem. Todavia, Zendah mostrou a Rex que numa das bacias estava escrito sobre limpeza de pés e mãos e Rex concordou que era melhor lavar os pés também. Depois de se lavarem, despejaram a água como estava ordenado. Na areia apareceram as seguintes palavras: PUREZA e SERVIÇO. Essas palavras formaram-se lentamente e logo desapareceram. Uma voz assustou-os – “Sejam bem-vindas crianças, enfim”.

Olharam para cima e viram que, envergando com as duas mãos, onde antes havia pés de milho que não dobravam, estava Hermes.

– “Vocês se conduziram muito bem até aqui sem mim”, disse Hermes, “mas nunca me afastei de vocês, embora vocês não me percebessem. Era eu quem “soprava” nos seus ouvidos quando vocês não sabiam o que fazer”.
Chamou-os para perto de si e afastando os pés de milho com uma das mãos, com a outra apontou para um caminho que havia atravessando o milharal.

Caminharam por extensos milharais, por grandes plantações de aveia, cevada, trigo e outras espécies de grãos.

Tudo madurinho, pronto para ser colhido. No fim do caminho encontraram uma bonita cidade onde várias mulheres, vestidas, de amarelo – cor de milho maduro – foram ao seu encontro. Essas mulheres pareciam não ver Hermes, e falaram direto com as crianças.

– “Lavaram seus pés? “, perguntou uma.

– “Suas mãos estão limpas? “, perguntou outra.

– “Espero que vocês não tragam a menor partícula de sujeira para a Terra da Virgem”, disse uma terceira.

Rex e Zendah ficaram atarantados e olharam para Hermes para saber o que deviam dizer.

– “Senhoras”, disse ele, “não há necessidade de fazerem tais perguntas. Estariam bem empregadas para muita gente: não para essas crianças que estão usando seu corpo astral que, como sabem, está sempre limpo. Além disso, eles não poderiam entrar nesta terra sem usarem antes a água das bacias do portão”.

As mulheres inclinaram-se solenemente para as crianças que seguiram com Hermes pela cidade ensolarada. Por toda a parte viam-se pequenas casas com jardins, cada um diferente dos outros.

 

Umas coisas tinham esses jardins em comum; não se via nenhuma erva daninha, e em todos eles havia canteiros de flores e passeios limpos, sem uma pedra fora do lugar. Era tudo tão bem arrumadinho que chegaram a ter receio de passar por ali.

Passando além desses lugares floridos chegaram à cidade principal que Hermes disse chamar-se cidade da Perfeição.

Lá havia lindas casas limpas que, na maioria, pareciam lojas dos mais variados negócios. Dentro delas, escreventes trabalhavam afanosamente escrevendo em enormes livros, fazendo soma de parcelas com várias ordens de algarismos.

Todas as paredes eram cobertas de prateleiras divididas em centenas de repartições, cheias de papéis e todas rotuladas com nomes diferentes. Pessoas andavam apressadas pondo ou tirando papéis dessas repartições.

Estavam muito atarefadas para poderem explicar às crianças, que também não se mostraram muito interessados até que Hermes lhes explicou que aquilo que ali escreviam era de grande utilidade para outras terras porque lá se escreviam e conservavam guardadas as coisas importantes que aconteciam.

De lá foram ter a um grande quarto abaixo dos escritórios que muito os interessou.

Era o maior laboratório que já haviam visto. Homens e mulheres de aventais brancos, auxiliados por vários rapazes da idade de Rex, estavam agrupados em torno de pequenas chamas azuis de gás, observando tubos de vidro de formas estranhas.

Outros esmagavam coisas em almofarizes. De quando em quando havia explosões nos vidros e todos se juntavam em redor anotando em seus cadernos de apontamento.

Um homem tirava o suco de várias frutas, enchia vidros com ele e experimentava o efeito de gotas de líquidos coloridos sobre eles. Esses resultados também eram anotados.

– “O que estão fazendo?”, perguntou Rex.

– “Tentam descobrir quais as coisas que têm maior valor alimentício para as pessoas comerem”.

Rex replicou: – “Pensei que os melhores alimentos fossem o de melhor gosto.”

Hermes riu: – “Temo que nem todos pensem assim nesta terra.”

Daí eles passaram por um corredor até uma sala verde cheia de plantas e de flores desabrochadas; muitas delas desconhecidas para eles.

– “Por que?”, perguntou Zendah, depois de andar de uma planta para outra, “elas não se parecem nem um pouco com as que temos em casa?”.

O jardineiro-chefe chegava nesse momento e respondeu:

– “Não, não são: aqui as Fadas nos ajudam desenvolver novas espécies de frutas e flores. Vejam: assim é que fazemos, mas primeiramente precisamos ver se as estrelas dizem ser o tempo propício”. Dirigiu-se para um livro pendurado num dos cantos da sala e correu seu dedo por uma página.

– “Bem, em cinco minutos poderemos começar”.

Tirou uma pequena escova de uma caixa e dirigindo-se a uma planta branca semelhante a um lírio que crescia próximo, tirou um pouco de pólen dos seus estames e depositou-o no longo talo verde que crescia no centro de uma magnífica flor vermelha.

– “Agora”, disse, “devemos atá-lo num saquinho de musselina para que ninguém o toque. Quando as sementes amadurecerem, veremos delas nascer um lindo lírio, vermelho com pintas brancas ou então branco com pintas vermelhas. Não podemos afirmar como será porque tudo depende das Fadas”.

Depois, deu-lhes um pêssego com gosto de abacaxi e uma maçã almiscarada, sem sementes.
Mostrou-lhes uma rosa azul e uma ervilha amarelo-brilhante.

– “Todas essas flores e esses frutos são descobertos aqui, antes de vocês poderem produzi-los na terra”, disse ele.
Zendah segurou em seu braço.

– “Quando poderemos produzir uma rosa azul?”, perguntou. Ele balançou a cabeça misteriosamente.
– “Quando o jardineiro-chefe for morar com vocês”, respondeu.

Eles não queriam mais sair dali. Afinal, Hermes disse-lhes que se apressassem e levou-os a um jardim cercado por altas paredes de pedras. As paredes eram cobertas por árvores frutíferas. No meio do jardim havia um canteiro hexagonal cheio de lírios brancos Madonna. No centro desse canteiro havia uma árvore estranha; suas folhas brilhavam como prata e os frutos cintilavam como joias de diversas cores. No alto do galho mais elevado havia uma maçã dourada que brilhava como o sol.

– “Esta é a coisa mais valiosa desta Terra”, disse Hermes, “a maçã Dourada do conhecimento e da cura. Em todo o universo só existe este exemplar. Algumas das pessoas que vocês acabaram de ver estão tentando fazer nascer outras árvores semelhantes a esta. Conseguiram fazer uma maça prateada que fará muito benefício, mas ainda não descobriram como fazer nascer a maçã verdadeira”. Saindo desse pátio, penetraram no palácio. Aí, como em toda parte, tudo estava onde devia estar; nada faltava, embora não fosse tão bonito nem tão confortável quanto o Palácio de Vênus.

As paredes eram cobertas de linho branco e amarelo. Pequenas correntes d’água passavam por canais nos corredores de modo que para se entrar nos quartos era preciso passar pela água. Isso era para evitar a entrada de poeira nos quartos.

Na sala maior, bem no fundo, havia um dossel sob o qual estavam sentados cinco homens sábios em torno de uma mesa redonda. Havia uma cadeira vazia na mesa; a diferença entre essa cadeira e as outras estava em ser mais belamente entalhada. Hermes disse que essa era a sua cadeira, mas que sempre estava tão ocupado como mensageiro dos deuses que os cinco homens governavam por ele quando estava ausente.

– “Meu irmão Vulcano também ajuda, mas está tão ocupado em forjar obras de arte que também não tem muito tempo para governar. Pouca gente sabe quando ele está aqui”.

Eles olharam para uma oficina ao lado da sala. Lá viram Vulcano martelando folhas de metal. Muitos jovens faziam inúmeras coisas úteis, desde vasos e bacias até pequenos baldes. Era notável a delicadeza dos detalhes e o polimento dado a cada peça. Voltando à sala grande, Hermes apanhou em um prato uma bonita maçã colorida e deu-a a Zendah. Olhando-a surpresa, Zendah verificou que era de metal embora parecesse verdadeira.

– “Esta é uma cópia da maçã da saúde”, disse Hermes, “mas poderá fazer passar a dor de cabeça quando você cheirar, também cura uma porção de outros males”.

Nas mãos de Rex, Hermes depositou um alfinete com feitio de lírio, cuja cabeça era de jaspe, dizendo-lhe para conservá-lo como lembrança da Terra de Virgem.

De um outro prato tirou um grande pedaço de bolo e partindo-o ao meio deu um pedaço a cada um.
– “Em parte alguma vocês encontrarão pão que satisfaça tanto como este da Terra da Pureza”, disse.

De fato, depois de terem provado, Rex e Zendah concordaram que jamais provaram pão tão delicioso.

De regresso ao portão de entrada, passavam por todas as casas tão limpinhas e de novo chegaram aos campos de milho. Hermes mostrou-lhes o caminho e acenou com a mão.

Elas penetraram no caminho mostrado e logo chegaram ao lado de fora da Terra da Virgem, próximo do portão seguinte.

A TERRA DO LEÃO

Rex e Zendah ficaram por algum tempo diante do portão do Leão admirando-o. De fato, eles não podiam decidir qual o mais bonito: se esse ou o portão da Balança.

Era feito de ouro: algumas partes foscas e outras tão polidas que podiam refletir os raios de luz. De cada lado, havia uma alta torre. A porta estava entre elas; era de sistema levadiço. Um sol de ouro constituía a porta enquanto os raios do sol formavam as barras que a completavam. Havia uma pequena portinhola em cada torre, com uma campainha em forma de cabeça de leão.

Rex dirigiu-se para uma delas e bateu: abriu-se a portinha e apareceu um rosto que perguntou:

– “Quem é?”

– “Rex e Zendah”, responderam.

– “Dê a palavra de passe”.

– “”, disseram ao mesmo tempo as crianças.

Ouviu-se uma fanfarra de trombetas e o portão foi suspenso deixando passagem livre por uma ponte que conduzia a outra porta.

Dirigiram-se para essa porta que se abriu lentamente diante deles, mas aí eles pararam de súbito; barrando seu caminho, havia dois leões que pareciam ferozes, um com juba preta e outro com juba castanha. O pior era que os leões não estavam presos e pareciam prontos a pular se quisessem. Eles não podiam regressar porque a ponte tinha sido suspensa, deviam seguir para a frente.

Zendah teve uma inspiração! O pão que Hermes lhes dera na Terra da Virgem! Ela ainda tinha umas migalhas. Pondo a mão no bolso, tirou-as e timidamente ofereceu-as aos leões.

Bem podem vocês imaginar quão grande foi a surpresa delas quando os leões comeram as migalhas, começaram a ronronar e estiraram as cabeças para serem acariciados. De certo seu ronronar era mais parecido com um longínquo trovão, comparado com o ronronar do gato delas em casa.

– “Eles serão muito bons se vocês forem valentes, mas evitem que qualquer covarde penetre nesta Terra”, disse uma voz.

Olhando em direção da voz, eles viram um cavaleiro vestido com armadura dourada, sobre a qual havia um manto de linho branco onde se via bordado um coração vermelho sobre uma cruz também vermelha.

Tomou as crianças pela mão e gritou:

– “Em nome do Rei, abram a porta”. Abriu-se a porta e eles se viram defronte de uma estrada cheia de pessoas todas vestidas com lindas roupas de ouro, carmesim e púrpura.

Cavaleiros armados, pajens com trombetas, servos com bandeiras e uma banda composta de todas as espécies de instrumentos musicais estavam organizados em fila.

Um magnífico coche aproximou-se parando diante deles e foram convidados a entrar nele.

O bombo deu um sinal e a banda começou a tocar; todos, em procissão partiram pela estrada, o coche com Rex e Zendah no meio. O povo, postado aos lados da estrada acenava com bandeiras, enquanto eles passavam.

Olhando pela janela enquanto viajavam, perceberam que não havia casas pequenas. Todas as casas eram em centro de jardim próprio onde cresciam centenas de girassóis e malmequeres; quelidônias formavam um tapete dourado no chão. Chegando afinal ao palácio, viram que estava situado em um parque circular limitado por uma larga alameda de magníficos cedros, igualmente espaçadas, havia doze entradas que conduziam ao palácio, cada uma ensombrada por cedros. A sombra era necessária já que o Sol brilhava fortemente, pois era sempre verão na Terra do Leão.

Descendo do coche em um dos portões, caminharam sobre lindo tapete purpúreo em direção à entrada principal, escoltados por vários pajens.

Dois arautos foram ao seu encontro e precedendo-os na sala do trono, tocaram as trombetas: as cortinas abriram-se; eles pararam e olharam em torno espantados, pois a sala era circular como o parque e as paredes feitas de ouro, enquanto o chão era um enorme rubi. Essa grande sala levava a cinco outras menores cujas paredes também eram de ouro. Pendentes do teto, defronte do trono, havia sete lâmpadas vermelhas acesas. Ao lado do trono, braseiros aromatizavam o ar com fumaça perfumada, tal como na Terra do Escorpião-Águia.

Servos, bem como os grandes senhores, tinham bordados em suas túnicas corações vermelhos e dourados. Um carrilhão de sinos bateu doze pancadas; no mesmo instante todos se voltaram para o trono de ouro cujos braços eram formados por dois leões. Um sol, semelhante àquele do portão da entrada, estava entalhado no encosto do trono. As nuvens de fumaça perfumadas enchiam o ambiente, e elas julgaram ver estranhos animais, montanhas e gigantes, mas, luzindo além deles, perto do teto da sala, via-se uma estrela brilhante. A nuvem de fumaça dissipou-se e eles viram a estrela brilhando na fronte de um Anjo de asas de ouro, era tão alto que ia do chão ao teto. A nuvem de incenso localizou-se sobre o trono e à medida que se dissipava, aparecia uma luz brilhante, tão brilhante que Rex e Zendah cobriram seus olhos. Ninguém pode olhar para o sol.

Uma voz profunda e suave deu-lhes as boas vindas, e olhando para o trono viram lá, sentado, um formoso jovem. Era jovem, mas parecia sábio e bondoso. Seus cabelos ondulados lembravam raios de sol. Sua veste era amarelo-brilhante, algo parecida, com armadura de escamas feitas de pequenas folhas de ouro e trazia ao pescoço uma pesada corrente da qual pendia um rubi em forma de coração. Com uma das mãos segurava uma bola de cristal com uma cruz em cima, e com outra, um cetro de ouro. Enquanto eram conduzidos a cadeiras próximas ao trono, viram no fundo da sala uma cortina ligeiramente suspensa, deixando ver um palco.
Uma orquestra oculta tocou uma abertura. Terminada essa, seguiu-se uma peça sobre as aventuras de um jovem que procurava um tesouro oculto.

Por toda a parte encontrava dificuldades: em cavernas sombrias, os gnomos se opunham à sua passagem; no mar, furiosas tempestades faziam com que as ondas caíssem em cima dele, e por várias vezes esteve a ponto de naufragar. Do ar, fadas sopravam fortes ventos, para impedir que ele chegasse à ilha do Tesouro de Ouro e quando chegou, um círculo de fogo, antes de poder escalar a Montanha do Tesouro. Durante a subida da Montanha, animais ferozes opunham-se ao seu avanço e embora tivesse de combater durante todo o seu caminho não sofria nenhum dano porque enfrentava todos os perigos sem temor. Chegando em cima, viu um dragão postado na entrada da caverna. Depois de duro combate o dragão foi vencido e o jovem entrando na câmara secreta, achou o Coração de Rubi que é o tesouro da Terra do Sol; um coro de vozes acompanhado pela orquestra entoou um cântico de regozijo, saudando o vencedor. As cortinas desceram e a peça terminou.

Depois da representação, dois pajens conduziram-nos para uma das salas laterais onde eles viram crianças estudando mapas. Um dos pajens explicou que eles estavam se preparando para serem dirigentes e reis e por isso deviam saber e compreender como se fazia tudo antes de poderem mostrar aos outros como se fazem as coisas.
Rex pensou que era muito duro aprender para ser rei. Mais ainda quando viu que aquelas crianças passavam o tempo de folga aprendendo a correr, a pular e a usar todas as espécies de armas ofensivas para poderem proteger seus súditos em caso de ataque embora eles nunca combatessem a não ser para proteger alguém.

Os pajens escoltaram-nos de volta ao grande salão onde mais uma vez ficaram de pé em frente ao rei. De uma almofada segurada por um servo, o rei tirou uma corrente com um rubi pendente e colocou-a em torno do pescoço de Zendah. Essa corrente parecia com a que ele mesmo usava.

Vocês sabem a palavra de passe desta Terra, disse ele, “conserve seu coração bondoso para todos, e procure o que há de melhor em cada pessoa. Fazendo assim seu rubi brilhará esplendorosamente”.

Voltando-se para Rex colocou em suas mãos um bastão de ouro com um rubi numa das extremidades.

– “Isto dar-lhe-á poder para dirigir e organizar em qualquer parte que você esteja, mas lembre-se que você não deve ordenar ninguém a fazer algo que você mesmo não possa fazer. Agora vocês devem partir e como esta é a Terra do Terceiro Guardião dos ventos, vocês viajarão velozmente para o portão de entrada”.

Todos se levantaram e fez-se silêncio no grande salão. Ouviram sussurrar outra palavra estranha, que eles não conheciam. Uma voz depois de outra foram-se unindo até surgir um coro de belíssima música cantado por centenas de vozes.

À medida que as vozes iam-se juntando ao coro, começou a soprar um vento que aos poucos foi aumentando de velocidade.

Ao final, o rei levantou-se e cantou uma palavra em linda tonalidade. As vozes do coro foram sumindo em um murmúrio.

O salão estremeceu, como aconteceu na Terra do Escorpião-Águia, e imediatamente se encontraram do lado de fora da Terra do Leão.

– “O terceiro terremoto”, disse Rex.

A TERRA DO CARANGUEJO

Rex e Zendah sentaram-se, para recobrar o fôlego depois de sua súbita saída da Terra do Leão. Se vocês não estão habituados aos terremotos, eles lhes tirarão o fôlego, embora, como no caso que vimos, eles contribuam para economizar o tempo. Poucos minutos depois elas levantaram-se e começaram a procurar o portão do Caranguejo. Primeiramente tiveram de esfregar bem os olhos porque não podiam distinguir onde estava o portão por causa do nevoeiro.

Era como se procurasse ver o monte que ficava além do quintal de sua casa em manhã enevoada.

Mas, à medida que acomodavam a vista, a névoa foi-se dissipando e eles viram um portão de prata, brilhante. Os pilares altos na lateral eram duas velas de prata e o portão no centro era circular; no centro do portão, um gigantesco caranguejo sustinha entre suas garras uma lua crescente que brilhava como a própria Lua. Na carapaça do caranguejo havia dois sinais, como notas musicais, lado a lado.

Em torno do portão havia palavras escritas, difíceis de ler porque o portão girava sem parar. Num determinado momento, a Lua crescente estava na parte superior do portão, para pouco tempo depois aparecer a Lua decrescente na parte inferior. No lugar das dobradiças, existiam estranhas peças de prata parecidas com as garras do caranguejo. Havia um sulco nas garras, onde o portão estava encaixado e onde deslizava, girando, girando. Em cada metade do portão havia uma fechadura e as crianças ficaram embaraçados, sem saber qual das duas servia para abri-lo, mas primeiro eles precisavam encontrar a chave.

Zendah foi a primeira a ver uma portinha num dos pilares, esculpida em formato de caranguejo: tocando-a com seus dedos, ela abriu-se. Dentro, encontrou uma chave de prata.

Rex tentou abrir a fechadura do lado direito do portão. Introduziu a chave e virou deste lado e depois do outro. Ouviu o ruído característico de fechadura que se abre, mas o portão não se abriu. Concluiu então que também não abriria a outra fechadura, sobre a qual se lia a palavra “TENTE”.

Subitamente, Zendah exclamou:

– “Olhe! É uma das palavras que havia no portão de Capricórnio!”

Tirando do seu bolso a chave de chumbo que havia achado naquela Terra, ela introduziu-a na fechadura da esquerda e viu que servia.

De repente o portão parou de mover-se, com a Lua crescente na parte superior, e então puderam ler as palavras que não conseguiram ler enquanto ele se movia.

Lá estava escrito:

– “Para Leste ou para Oeste, o lar é melhor!”

Ao longe, ouviram uma voz suave dizendo:

– “Queridas crianças, sabem a palavra de passe? “

Ouvindo isso ficaram espantados, pois reconheceram a voz de sua mãe. Mas responderam:

– “Paciência”.

Mais surpreendidos ainda ficaram quando o caranguejo, se desprendendo do portão e batendo suas garras, mostrou-lhes o caminho no lugar que ele havia ocupado. Depois que pularam, o caranguejo voltou ao seu lugar e disse:

– “Torna a girar, ó círculo da lua noturna!”

Querendo ver o que sucedia, olharam para trás e viram recomeçar a dança do caranguejo e da lua.
Não viram ninguém na entrada dessa Terra. Era noite e havia muito nevoeiro e, espantados, ouviram murmurarem:
– “Sim é”. – “Não, vai primeiro e vê”. – “Não há pressa”. Até que se admiraram do que era aquilo e se perguntaram quem estaria lá.

Aos poucos seus olhos se acostumaram à névoa e viram à sua frente um caminho que seguia por uma floresta de grandes árvores; pequenos riachos faziam ruído ao passarem sobre as pedras, como uma miniatura de cachoeira. Uma grande lua amarelada surgiu aos poucos por trás das árvores e, afinal, eles puderam distinguir as coisas como se estivessem iluminadas pela luz do dia. As vozes se aproximavam, Zendah virou-se para Rex e disse baixinho:

– “Estou certa de ter visto algumas crianças escondidas atrás das árvores”.

Sim, elas estavam. Um rosto brejeiro apareceu por trás de um tronco desaparecendo em seguida. O mesmo aconteceu com outros.

Rex impacientou-se.

– “Saiam e sejamos amigos”, gritou ele. – “Não tenham medo pois não lhes faremos mal”.

Em um ou dois minutos, estavam cercados de inúmeras crianças, algumas vestidas com roupas que brilhavam como prata e outras com roupas verde e violeta. Quase todas eram pálidas, de cabelos brancos e moviam-se muito devagar. O chefe, uma menina, disse a Zendah:

– “Desculpem-nos sermos tão lentos. Temos tão poucas visitas aqui e não sabíamos que eram vocês. Somos muito medrosos até conhecermos bem as pessoas”.

Dando-lhes as mãos, foram pelo caminho até onde havia duas grandes pedras e uma terceira por cima que Rex ficou espantado, pensando quem teria tido tanta força para colocá-la onde estava.

Todos dançaram em torno das pedras, cantando linda canção que dizia algo acerca do sagrado fogo da lareira, conforme Rex e Zendah conseguiam pegar das palavras que entendiam.

Os dois estavam tão interessados em descobrir o que é que eles cantavam que não perceberam a chegada de uma figura alta que permaneceu sorrindo no meio do círculo, observando os arredores. Subitamente repararam naquela figura e atravessando a roda, penduraram-se no pescoço da senhora, exclamando:

– “Mamãe, mamãe, como veio até aqui! Jamais pensamos encontrá-la aqui entre as estrelas!”.

As outras crianças olharam atônitas. – “É sua mãe?”, perguntaram as crianças. “Ela é a senhora Maria que vem aqui quase todas as noites contar-nos histórias”.

Mamãe balançou a cabeça.

– “Sim esta é a minha terra, como a Terra do Arqueiro é a sua Zendah, mas vocês devem ficar muito quietinhos porque esta noite é uma noite especial. É a noite da véspera de Solstício de Verão e todas as fadas se reúnem para sua festa que principia antes da Lua Cheia”.

Muito quietos, nas pontas dos pés, todos se dirigiam para uma moita de salgueiro onde havia um gramado. Sentaram-se por trás de seus arbustos.

Ouviram uma nota clara, límpida, saída por clarins da fada e logo quatro morcegos passaram voando à luz do luar, cada um conduzindo uma pequena fada às costas. Voando em círculos, baixando até que as fadas puderam pular para o chão. Depois que as fadas desceram, os morcegos foram se dependurar nas árvores próximas, usando para isso os ganchos que possuem nas asas.

De um botão de rosa silvestre, um pequeno pássaro castanho iniciou um belo cântico cheio de trinados. Ao som dessa música as quatro fadas puseram-se a dançar agitando suas varinhas mágicas. Por onde as varinhas passavam nasciam centenas de cogumelos e de fungos.

Ouviram-se de novo os clarins das fadas e as árvores se afastaram abrindo uma clareira e as ninfas verdes e marrons saíram da floresta e tomaram lugar sobre a grama, embaixo das árvores.

Aproximando-se, viam-se, ao longe, centenas de fadas tendo à sua frente a Rainha Titânia e o Rei Oberam precedidos por estranha procissão de caranguejo e de lagostas, caminhando sobre suas patinhas traseiras.

Quando todos entraram na clareira, sentaram-se. As quatro fadas menores ficaram ao centro e tocaram estranhos instrumentos musicais feitos de conchas e caramujos, com cordas de teia de aranha. Rex e Zendah estavam certos de já terem ouvido antes essa música quando estiveram no bosque perto de sua casa, mas nessa ocasião não sabiam que era a música das fadas. Tinham de prestar muita atenção às fadas que dançavam ao som daquela estranha música, pois não conservava a mesma figura por mais de dois minutos seguidos; às vezes eram grandes, outras vezes menores; às vezes se pareciam com flores, outras vezes com caranguejos.

No fundo da clareira havia um banco de musgos, de cada lado do banco cresciam botões de rosas brancas e centenas de margaridas. Defronte do banco havia um pequeno banhado onde cresciam violetas aquáticas e lírios brancos.

Ao anoitecer a Lua surgia por trás dos salgueiros, a esquerda do banhado. Subiu aos poucos até que parou exatamente por cima do banhado, refletindo-se nas suas águas. Nesse preciso instante, parecia que a lua despedia raios que batiam na água e voltavam, tecendo um gigantesco véu de luar mostrando todas as cores do arco-íris, só que mais pálidas, com menos brilho do que quando se vê durante o dia.

Quando ficou pronto, apareceu um oval de espessa névoa no centro. Aos poucos o oval foi-se tornando maior até que apareceu linda mulher com uma coroa de prata, em pé sobre a superfície do banhado. Tinha cabelos da cor de buganvília e olhos azuis claro. Todas as fadas se voltaram para ela e quando ela subiu no banco de musgos cantaram linda canção de saudação:

Salve a senhora Lua!

Salve a Rainha da Noite!

Se a Lua e Câncer (Caranguejo) aparecem juntos.

As fadas saúdam-na!

Com voz que mais parecia um murmúrio de brisa de verão passando pelas árvores, o Espírito da Lua falou.

– “Salve, filhos dos bosques, das árvores e dos arroios! Passaram bem desde o nosso último encontro? Tens algo a pedir?”

– “Tudo bem, grande Rainha”, responderam inúmeras vozes. A Rainha continuou: – “Apareçam, crianças humanas, vocês viram minha terra; agora venham receber os presentes de recordação que temos para dar àqueles que nos visitam”.

Muito espantados, por não saberem que tinham sido vistos, Rex e Zendah vieram para a Luz do Luar, segurando as mãos de sua mãe.

– “Não preciso lembrar-lhes, pois vocês têm em casa uma excelente mestra”, disse a Lua sorrindo, “o que essa Terra significa para todos os que amam o lar, mas lembrem-se que bondade e paciência o tornam muito mais bonito, portanto dou a você, Rex, uma couraça de prata para proteger todos aqueles mais fracos que você, e lembre-se que o núcleo mais suave tem a couraça mais forte.

“Para você, Zendah, dou o conjunto de pulseiras de prata com muitas pedras de lua. Uma vez a cada ano, você poderá assistir as fadas e aprender o que elas e a Lua podem ensinar a você”. Agitando sua varinha de prata, um caranguejo grande e verde-roxo se curvou na frente deles e lhes mostrou uma pequena carruagem, puxado por gatos brancos, apenas grande o suficiente para os dois. Sua mãe os beijou e sussurrou: “Eu vou ver vocês presentemente”, e eles voltaram para a entrada. Mais uma vez, o portão parou de girar e o caranguejo de prata desceu da Lua crescente para deixá-los passar. Eles estavam apenas se preparando para saltar, quando uma risada alegre os cumprimentou e o rei Júpiter entrou. “Então vocês terminaram sua visita à Terra do Caranguejo”, disse ele. “Estou um pouco atrasado, mas vou ver o último dos deleites.” E ele ficou de um lado e acenou sua mão para eles enquanto passavam o portão. O caranguejo retomou sua postura de segurar a lua crescente, e o portão começou a girar mais uma vez.

“Quem pensou em ver a mãe na Terra do Caranguejo?”, Disse Zendah. “Eu me pergunto: ela vai se lembrar quando chegarmos em casa?”. “Eu suspeito que ela vai”, respondeu Rex, “ela sempre parece lembrar de tudo”.

A TERRA DOS GÊMEOS

O portão da terra dos Gêmeos era delicado e arejado, quase tão fino quanto uma teia de aranha. Dava a impressão que se poderia passar por ele, mas ao mesmo tempo se sentia que ele barrava a passagem. Sua principal característica é que se movia de leve, constantemente, de modo que nunca se sabia para qual parte dele se estava olhando.

Bem no centro havia um ponto de interrogação cercado por borboletas de metal cujas asas eram extraordinariamente lindas, como nunca se viu em borboletas reais. Os pilares do portão eram estranhos. Um era preto, tendo em cima a cabeça de uma criança carrancuda; o outro era dourado e encimado por uma cabeça de uma criança sorridente.

Rex e Zendah observaram atentamente o portão, embora seu movimento constante dificultasse a observação, procurando um modo de entrar. Estavam ansiosos para entrar pois parecia uma terra alegre.

– “Não vejo nada que nos ajude”, disse Rex, “acho melhor vermos no livro de Hermes”.

Abriram o rolo e onde havia o símbolo da Terra dos Gêmeos, leram: “Observe o lado direito do portão; lá você verá um canudo de prata. No lado esquerdo você achará uma taça dourada, cheia com um líquido. Rex deverá fazer com o canudo uma bolha perfeita e Zendah deverá soprá-la até levá-la exatamente em cima do ponto de interrogação que há no portão; nessa ocasião os Guardiães irão ver o sinal e pedirão a palavra de passe”.

– “Que beleza!” exclamou Rex, “temos de fazer bolhas de sabão e isso é fácil”.

– “Eu não acho que será tão fácil quanto parece”, replicou Zendah, balançando a cabeça.

Logo encontraram o canudo e a taça dourada e Rex sentou-se no chão, próximo ao portão, enquanto Zendah ficou de pé, perto, para tentar soprar as bolhas na direção ordenada, logo que Rex as fizesse.

Não foi fácil. Primeiramente nenhuma das bolhas era perfeita e quando Rex conseguiu fazer uma, ela, ao soltar-se do canudo, desceu até ao chão e eles não conseguiram fazer com que subisse antes de arrebentar. Tentaram inúmeras vezes até que uma bolha perfeita subiu lentamente mas arrebentou quando atingiu o lado esquerdo do portão. Outra bolha perfeita foi soprada contra o lado direito do portão onde arrebentou. Somente na terceira tentativa Zendah conseguiu soprar a bolha na direção certa. A bolha foi subindo, subindo, brilhando com as cores do arco-íris. As crianças esperavam ansiosamente até que ela atingiu a parte de cima do ponto de interrogação onde “bang”, arrebentou. No mesmo instante ouviram um riso e duas vozes gritaram:

– “Digam-nos os nomes deste portão”.

– “Alegria e Vivacidade”, responderam as crianças.

As vozes disseram:

– “Entre Zendah com alegria e Rex com vivacidade”.

O portão dividiu-se ao meio e abriu-se rapidamente com um movimento súbito.

Uma multidão de meninos e meninas correram para eles e puxaram-nos para dentro, todos falando ao mesmo tempo.

– “Venham comigo.” “De onde vieram?” “Como se chamam?”  “Vou mostrar-lhes nossa escola”. “Não, deixem-me levá-los à nossa”, disseram várias crianças.

Rex e Zendah foram puxados de um lado para outro, ficando sem saber para onde ir. Era certo que nenhuma daquelas crianças era tímida!

Afinal, um jovem alto e magro, com um alegre piscar de olhos empurrou os outros para o lado e tomando Rex e Zendah pelas mãos gritou:

– “Que vergonha, crianças! Vocês estão desconcertando nossos visitantes e dando-lhes a impressão que não sabemos o que queremos, embora seja verdade que qualquer um, nesta terra, tenham dificuldade em decidir-se”.

Voltando-se para Rex e Zendah, perguntou;

– “Estão com suas asas?”

Balançando a cabeça negativamente, perguntaram:

– “Que asas?”

– “Oh! Penso que vocês tenham de esperar até que Hermes chegue”, disse o jovem, “mas até lá pedirei às borboletas que lhes emprestem umas”.

O jovem segurava uma vara de aveleira que girou duas vezes sobre sua cabeça. Imediatamente centenas de borboletas amarelas e azuis e de libélulas circundaram-nos. A maior das libélulas, grande como um passarinho, trazia em sua boca dois pares de asas sobressalentes, o jovem apanhou-as e amarrou-as aos pés das crianças.

– “Agora vocês já podem viajar para qualquer parte da Terra dos Gêmeos, com rapidez, tanto pra frente como pra trás. Que querem conhecer primeiro?”, perguntou ele, pois via que ambos estavam ansiosos para fazer perguntas.

– “Por que parece não haver pessoas idosas aqui?”, perguntou Rex. O rapaz sorriu e disse:

– “Por uma razão. Não nos inquietamos e somos tão felizes que sempre permanecemos jovens, e qualquer um que venha viver aqui, mesmo por pouco tempo, se banha na fonte da juventude. Venham ver”.

Foram suavemente pelo ar, passando sobre belas florestas onde cresciam campânulas azuis e buganvílias sobre as quais esvoaçavam milhares de borboletas de todas as cores. Chegaram por fim a um bosque de aveleiras, dentro do qual havia uma fonte de um líquido que brilhava feito prata. O líquido movia-se devagar para a frente e para trás em ondas largas, embora não soprasse nem a mais ligeira brisa. O ar estava perfeitamente parado, mas no bosque de aveleiras parecia ventar. O guia convidou-os a sentarem-se e observar.

Logo surgiram voando duas crianças trazendo consigo uma senhora idosa que não tinha asas nos pés. As crianças desceram-na gentilmente num dos lados da fonte segurando-a pelas mãos enquanto a senhora atravessava a fonte.

Para surpresa de Rex e Zendah, quanto mais a senhora penetrava na fonte, mais jovem se tornava; quando chegou ao outro lado já estava completamente rejuvenescida e em seus pés haviam crescido asas. Quando ela viu o que lhe sucedera, elevou-se no ar com um grito de alegria e juntou-se aos outros jovens que a esperavam na margem da fonte.

– “Realmente não há velhos aqui”, disse-lhes o guia levantando-se para reiniciar sua viagem. “Todos os habitantes daqui passam pela fonte da juventude e enquanto aqui viverem, permanecerão jovens. Só que muitas vezes esquecem quando vão morar em outras terras”.

Saindo da floresta, voaram para a Cidade de Hermes, onde viram os moradores ocupados em diversos afazeres, sempre ocupados, como se tivessem o cérebro nas mãos. Como na Terra do Homem do Jarro (Aquário), encontraram hábeis escultores, outros pintavam quadros ou tocavam com perícia instrumentos de música. Outros escreviam ou iluminavam manuscrito ou gravavam em cobre. Mas o que quer que fizessem, todos pareciam que poderiam deixar seus trabalhos para fazerem os trabalhos dos outros e tão bem quanto os seus próprios.

Por toda a parte os trabalhos eram diferentes. Em uma sala um jovem falava a respeito de suas viagens pelas estrelas. Disseram a Rex e Zendah que aquela era uma terra de conferencistas e que qualquer um podia falar bem, embora os habitantes das outras terras dissessem que eles falavam demais.

Por onde quer que andassem, viam centenas de bolhinhas flutuando no ar. No salão de conferências viram luzes coloridas e de formas bizarras, triângulos, cubos etc. Seu guia explicava que essas figuras luminosas eram pensamentos que se viam mais facilmente ali do que em outras partes, porque lá tudo era muito vivaz e o ar claro.

Por fim chegaram ao palácio de Hermes. Foi bom que tivessem asas nos pés pois não poderiam atingir o castelo de outra forma.

O castelo consistia de duas torres circulares, muito altas e estreitas ligadas por magnífica ponte pênsil que balançava ao sopro da brisa. A entrada principal ficava no meio da ponte.

Todo castelo assentava em um mar de mercúrio e se movia neste mar, incessantemente. Unicamente ao meio dia e à meia noite em ponto, o castelo estava no meio e essa era a ocasião em que se podia voar para a entrada. Você nunca conseguiria andar até lá.

– “Agora”, disse-lhe o guia, observem atentamente e sigam-me no momento em que o castelo estiver no meio, pois de outra forma vocês não poderão ver Hermes enquanto estiverem nesta terra”.

Ouviram-se badalar de sinos do alto da torre da esquerda. Quando pararam de soar, duas notas profundas saíram dos sinos da torre da direita. Chegara o momento. Eles tinham que voar para a entrada com a velocidade do pensamento e estavam sem fôlego quando chegaram aos degraus da escadaria. Imediatamente o castelo pôs-se a mover, novamente, mas de onde eles estavam parecia-lhes que a terra é que se movia e não o castelo.

No pórtico, dois pagens, um menino e uma menina, puxaram as cortinas. Eram tão parecidas que Rex e Zendah exclamaram:

– “Mas vocês parecem gêmeos!”

Os dois se entreolharam e sorriram;

– “Só os gêmeos são empregados no palácio de Mercúrio”.

Tudo era em pares, até as paredes de onde pendiam espelhos coloridos de tal maneira que se você parasse um instante, veria dois de você. Atravessando a ponte e subindo ao topo das torres, entraram na sala do trono que estava suspenso e ladeado por cortinas amarelas amarradas a báculos lá em cima, nas paredes.

Os pagens disseram que essas cortinas eram mudadas constantemente, havendo um modelo diferente para cada dia, pois, quem naquela terra desejaria ver sempre a mesma coisa?

No meio da sala havia espelhos, como nos corredores, e também estátuas de homens correndo ou voando. Em cima pendiam inúmeras fileiras de sinos de prata. No fim da sala, erguiam-se duas plataformas, cada uma com um trono: um amarelo e o outro, púrpura. Hermes estava sentado no amarelo. Sorriu e deu-lhes as boas-vindas.

– “Imagino que vocês querem saber o porquê tenho dois tronos, não? Quando todos, nesta terra, fazem tudo direito, uso o trono amarelo, mas quando encontro algo errado, o que acontece às vezes, uso o trono cor de púrpura”.

– “Toquem os sinos de boas-vindas”, gritou ele elevando seu cetro. Os sinos executaram alegre canção.

– “Tudo aqui é juventude, atividade e prazeres, mas há também uma lição a aprender”.

Dizendo isto, Hermes levou-os a um pequeno quarto situado ao lado da sala. Aí viram uma caixa sobre a mesa, cercada de estranhos instrumentos. Sobre as paredes liam-se as palavras:

“Não calunies, nem dês ouvidos às calúnias”

A caixa é a de Pandora. Faz muito tempo, os deuses deram uma caixa aos seres humanos dizendo-lhes que ela lhes traria felicidade enquanto não a abrissem. Mas Pandora era muito curiosa e abriu-a. Imediatamente saíram da caixa todos os males e doenças que os deuses aí haviam encerrado. Só a esperança permaneceu dentro da caixa.

– “Quando as nossas crianças ficam muito faladoras, muito curiosas ou turbulentas, são trazidas para cá a fim de se lembrarem da velha história”.

– “Veem esses instrumentos? Os seres humanos os fizeram na terra para com eles fecharem a boca dos que falam muito. Nós conservamos cópias deles aqui como um aviso contra o falar demasiado”.

Voltaram ao salão do trono. Os pagens vinham constantemente trazer cartas e mensagens a Hermes. Era difícil compreender como Hermes podia atender a todos eles. Finalmente um pagem trouxe lindos pares de asas, semelhantes às que Hermes usava nos pés, e deu-os a ambos, para substituírem as asas da libélula que haviam usado até então.

– “Agora vocês possuem os sapatos da ligeireza. Eles servem para muitos fins, como vocês verão, mas usem apenas no serviço aos outros. As asas da libélula não servem para trabalhos pesados. Algumas de minhas crianças acham que servem, mas logo verificam que não podem voar longe. A joia que lhes dou é a calcedônia; ela é a palavra de passe desta terra, lembrarão a vocês para serem os verdadeiros mensageiros dos deuses, levando a esperança e a alegria onde vocês forem. Tornarei a encontrá-los no último portão para levá-los de volta à casa. Agora não posso mais ficar porque nosso Senhor, o Sol, mandou-me chamar”.

Voltando, passaram pela ponte pênsil e pelo lago de mercúrio. Passaram pela cidade de Hermes onde algumas crianças entravam em edifícios que pareciam escolas. Passaram pelo bosque de borboletas e pela fonte da juventude. Chegaram ao portão de entrada e o mesmo grupo de crianças que os recebeu gritou-lhes, enquanto os portões se fechavam:

– “Não se esqueçam de como se fazem bolhas de alegria!

A TERRA DE TOURO

Uma muralha de pedra, sólida e preta apareceu aos olhos de Rex e Zendah quando se aproximaram da terra do touro. Levantava-se reta e lisa; não se via uma falha. Mais ou menos a seis pés de altura do chão havia muitas esculturas; rostos pequenos, pássaros e animais semelhantes aos que foram descobertos nas escavações feitas nos desertos do Egito. Os rostos eram esculpidos, sobressaindo ligeiramente da superfície da muralha e o conjunto escultural tinha por fundo linda pedra azul para fazer com que as esculturas sobressaíssem.

Defronte da muralha o chão era arenoso; tão seco que a cada passo que se dava erguia-se uma nuvem de poeira. Elas sabiam que era difícil encontrar o Portão do touro, pois estava escondido, e por isso começaram a examinar cuidadosamente toda a muralha. De súbito, Zendah tropeçou em alguma coisa no chão. Afastou a areia com as mãos e encontrou um alçapão de pedra, quadrado, tendo no meio uma argola de cobre que repousava num cavado feito de pedra. Rex pegou a argola e deu-lhe um puxão, mas a argola não se moveu. Zendah também tentou, mas nada conseguiu.

Súbito, Zendah lembrou: “Espera Rex, temos de botar no cavado em que está a argola, o pó azul que Hermes nos deu, e colocar as joais que ganhamos na Terra do Escorpião-Águia e na do Homem do Jarro, nos dois chifres, e a joia do Leão por baixo. Depois disso esperar para ver o que acontece”.

Olharam para as instruções que Hermes lhes dera para se certificarem se era isso que deveriam fazer. Era isso mesmo. Zendah ajoelhou-se e pôs o pó no cavado e arrumou as joais da maneira ordenada. Um minuto depois, subiu uma espiral de fumaça do pó e a terra tremeu tão forte que Rex e Zendah caíram um de cada lado do alçapão.

Ao se levantarem constataram estar ao lado de uma abertura feita no chão. O alçapão estava suspenso de um lado como uma tampa de caixa. As joias enfileiradas adiante, prontas para eles apanharem-nas de novo. A abertura do alçapão era o princípio de uma escada de pedra. Juntos pensaram que ali estava a entrada da Terra do Touro. Desceram a escada até o fundo onde viram um arco com uma porta de pedra na qual havia uma aldrava para bater, em forma de cabeça de touro. Rex deu duas pancadas e ouviu-se uma voz:

– “Quem é?”

– “Rex e Zendah”.

– “A palavra chave?”, perguntou de novo a voz.

– “Força”.

A porta caiu para trás e eles tiveram de pisar nela para poderem entrar. O Guardião do portão era uma figura grande e usava um capacete semelhante a cabeça de um touro. Que figura esquisita!

À entrada estava parada uma robusta mulher usando vestido branco com cinto azul. Seus ombros estavam encobertos completamente por um colar chato, de pedras azuis. Uma bandana de cobre mantinha seus cabelos castanhos-escuros em ordem. Na frente da bandana havia um ornamento feito de chifre.

– “Sejam bem-vindos à Terra do Touro”, disse ela. “Possa nossa amizade durar tanto quanto são fortes e duradouros os nossos alicerces”. Afastando-se para um lado, conduziu-as para dentro onde estava parado um carro puxado por dois bois brancos com uma coroa de flores nos chifres. Depois das crianças subirem no carro, ela subiu na frente e dirigiu a carruagem.

As estradas eram largas e lisas, muito bem conservadas. Não viajaram rápido, mas assim tiveram tempo para olhar os arredores. A primeira parte da terra pela qual passaram era campo; por toda parte viram homens e mulheres atarefados em arar e plantar. Todos pareciam saudáveis e vigorosos. A maioria possuía esplêndida cabeleira castanho escuros e grandes olhos também dessa cor. Todos cantavam enquanto trabalhavam. Onde havia muitos juntos, podia-se ouvir quase que um concerto. Em alguns lugares as sementes já germinavam. Parecia não haver lugar que não fosse cultivado.

Pouco adiante viram homens abrindo novas estradas e fazendo as fundações de edifícios. Os edifícios eram fortes e bem feitos. As paredes muito grossas e feitas de pesados blocos de pedra. Parecia que durariam para sempre depois de prontos.

Nas casas já habitadas, verificaram que cada uma tinha um pequeno campo onde um touro ou uma vaca pastava ou estava deitado, aquecendo-se ao sol. De fato,  havia, tanto gado nessa terra quanto cavalos na Terra do Arqueiro.

Logo chegaram à Cidade do Touro. Era um quadrado perfeito, tendo aos lados altas e maciças paredes nas quais havia entradas frente ao norte, ao sul, a leste e a oeste. A carruagem parou no portão norte e eles seguiram seu guia a pé pela cidade. As ruas estavam cheias de pessoas; e como trabalhavam! Parecia que tinham tudo que você possa imaginar para vender. Havia mercadores de todas as parte do mundo tentando vender suas mercadorias ou barganhando com os donos de lojas.

Em algumas lojas havia nas vitrines toda a sorte de coisas boas para comer. Só de olhá-las, ficava-se com fome. As crianças pararam na entrada de uma joalheria pois nunca viram, em parte alguma, tanta joia de ouro, nem pedras tão bonitas. Zendah quis comprar algumas para levar para casa, mas… não encontrou dinheiro nos bolsos de sua “roupa estelar”.

Estava difícil afastá-los dali porque havia muitas coisas bonitas para se ver; mas afinal, foram para a parte central do mercado, onde se erguia o edifício principal da terra. Havia uma fonte em cada canto, surgindo das costas de quatro touros de mármore, pois este grande edifício, como toda a cidade, era um quadrado perfeito. O portão de entrada estava guardado por homens com capacetes semelhantes ao que usava o Guardião da entrada da Terra. Suas túnicas curtas eram azuis e seus escudos brancos, com um touro preto como ornamento.

Rex e Zendah estavam certos de que esse palácio não poderia sair dali; era tão sólido e tão estável quanto era móvel e aéreo o palácio de Hermes. Já no seu interior, ficaram embasbacados; estavam na parte mais bonita do edifício; cada parede, soalho ou corredor era de desenho diferente feito de pedra de várias cores e feitios. Para poderem entrar na sala principal tiveram de afastar as cortinas de cor azul celeste. O teto da sala estava pintando de forma a parecer o céu estrelado. Ao redor havia grandes pilares com figuras pintadas semelhantes àquelas da entrada da terra.

O trono tinha por braços touros entalhados e em cima, na parede que ficava por trás, havia grande janela em forma de Lua crescente.

Uma mulher que estava sentada no trono sorriu-lhes e pouco depois viram que ela era a Rainha Vênus, embora parecesse bem diferente, o que fez com que não a reconhecessem imediatamente. Seu vestido estava todo dobrado ao seu redor, em tantas dobras que ela estava quase escondida, mas seu pescoço e seus braços estavam nus. Usava magnífico colar de esmalte azul com correntes de esmeraldas pendentes e em sua cabeça tinha uma coroa feita de estreita tira de cobre com dois chifres curvados e entre eles brilhava um círculo de prata.

Já era tarde porque a noite começara a cair enquanto eles chegaram ao palácio. A lua cheia apareceu brilhando através da janela bem por cima da cabeça da Rainha. Nesse preciso instante um órgão, no fundo do salão, começou a tocar suavemente e vozes em coro cantaram uma canção de boas vindas que, em constante crescente, terminou fortíssimo.

No momento de silêncio que se seguiu, Rex e Zendah viram a figura do quarto grande Anjo, com uma estrela na fronte, muito semelhante aos outros Anjos que haviam visto, com a única diferença que este possuía asas azuis.

Abriram-se as cortinas e uma procissão de pagens apareceu conduzindo bandejas de cobre. Era o festival das Ofertas da Terra. Essas ofertas consistiam em sedas, sementes, buquês de violetas, ornamentos de ouro e de prata, tudo tão bonito! No fim de tudo apareciam vasilhas cheias de moedas de ouro e de prata.

Mercadores de todas as cores e raças davam suas graças. Arquitetos trouxeram seus planos. Durante todo o tempo que durou a procissão de dádivas, o coro entoou a canção da Abundância da Terra.

Cada pagem, à medida que entrava, ocupava determinado lugar a direita ou à esquerda do trono. Depois de terem entrado todos os pagens, Rex e Zendah viram que estavam esperando por eles, para se apresentarem diante do trono.

Ficaram muito encabulados pois nada tinham para oferecer.

A Rainha Vênus sorriu e disse:

– “Não esperamos que nossas visitas nos façam ofertas; ao contrário, somos nós que lhes damos algo, para levarem consigo. Por certo já perceberam que nesta terra há abundância de tudo o que proporciona conforto e bem estar. Eis aqui a bolsa mágica que nunca se esvazia desde que você dê um pouco do seu conteúdo a outro que dele precise, toda vez que você gastar algum dinheiro com você. Ela lhe dará riqueza, Rex, mas use-a com sabedoria. A você Zendah, concedo o Dom da voz, Dom mais precioso do que o ouro”.

Tendo tocado a garganta da menina com sua varinha ornada com violetas, Vênus colocou-lhe em torno do pescoço um colar de esmeraldas. Zendah sentiu vontade de cantar.

Vênus acenou com a cabeça, dando sinal aos músicos, e antes que pudesse perceber o que fazia, Zendah estava cantando sozinha.

Rex ficou admirado, pois nunca ouvira a irmã cantar, antes. Quando Zendah terminou a canção, a Rainha Vênus acenou-lhes e ambos subiram os degraus do trono rapidamente. Vênus abraçou-os e beijou-os.

– “Agora, sentem-se aí defronte, nessas almofadas, para vocês serem transportados ao portão da próxima Terra”.

O órgão tocou um acorde lento e de novo as vozes do coro entoaram algumas palavras que não compreenderam. Ao final, a própria Rainha Vênus juntou-se ao coro.

As luzes como que se apagaram e eles foram descendo, descendo, como se estivessem penetrando na terra e, de repente, um súbito barulho como se fechasse uma porta e mais uma vez, com o quarto terremoto, estavam do lado de fora do Portão do Touro.

A TERRA DO CARNEIRO

Rex e Zendah logo perceberam estar próximos do último portão, o do carneiro, porque começou a ficar tão quente que rapidamente se viraram para olhar.

Pela primeira vez em todas as suas aventuras, Rex e Zendah estavam realmente assustados. Por um momento, chegaram a ter medo. Onde esperavam encontrar um portão, havia uma muralha de chamas cintilantes, impetuosas, crepitantes, tão alta que parecia tocar o céu. Pararam para olhar e viram todas as tonalidades de uma floresta queimando: verde, azul, vermelho e lilás, onde, antes viam somente amarelo. Cada cor parecia emitir uma nota musical, sendo fascinante  vê-las e agradável ouvi-las.

– “O último portão!” disse Rex após alguns minutos. “E parece ser o mais difícil de transpor. Veja, entre as chamas há uma buzina, mas como faremos para atingi-la e fazer soar o alarme?”

– “Bem”, replicou Zendah, “CORAGEM é a palavra chave desta terra. Será melhor vermos se podemos chegar perto dela”.

De mãos dadas, pouco a pouco eles foram se aproximando. Estranho como possa parecer, o calor não aumentava à medida que eles se aproximavam do portão. Afinal chegaram bem perto das chamas. Rex, ousadamente esticou seu braço e verificou que podia pôr a mão na buzina sem se queimar. Tocou-a; houve um outro som do outro lado do portão. As chamas dividiam-se, formando dois pilares recurvados e enrolados na parte superior, como chifres.

Unia-os uma espécie de corrente de fogo vermelho, da qual pendia uma cortina de chamas de cor rosada. Os pilares eram dourados e muito brilhantes. A buzina de dentro tornou a soar, vindo após, a pergunta: – “Quem ousa chegar a este portão?”

As crianças responderam conforme estava nas instruções:

– “Rex e Zendah, com coragem, ousam penetrar na Terra do Carneiro”.

– “Atravessem o fogo”, mandou a voz.

Isso parecia difícil. As crianças entreolharam-se por um ou dois minutos, mas nenhum deles disse ao outro que estava com medo. Aproximaram-se mais do portão e viram que a cortina de chamas abriu-se pelo meio, possibilitando a entrada sem que se queimassem, embora as chamas fossem ameaçadoras. Atravessando a cortina de chamas, chegaram a uma terra de sol ardente. O ar era tão brilhante que eles sentiram vontade de pular e cantar de entusiasmo.

Ninguém os esperava como acontecera em algumas outras terras. À sua frente estendia-se grande campo silvestre com florestas enormes, selvagens, mas bonitas. Não se via nenhuma estrada. Perto, encontraram duas machadinhas que, evidentemente, eles deviam apanhar, pois havia um cartaz no qual se lia:

“Usem-me; servirei para desbravar caminhos difíceis”.

– “Não parece haver nenhum caminho”, disse Rex, apanhando as machadinhas e dando uma a Zendah. “Gostaria de saber que direção devemos tomar”.

– “Sigamos o Sol”, propôs Zendah. “Devemos chegar a algum lugar”.

Partiram por aquela terra selvagem, trepando pedras, atravessando bosques onde tiveram de abrir caminho usando as machadinhas. Isso era mais divertido do que enfadonho. Afinal, depois de algum tempo, chegaram a campos cultivados e viram algumas casas. Ao saírem do bosque, depararam com enorme carneiro branco. Dos chifres enfeitados do carneiro pendiam campainhas. Os campos estavam cheios de ovelhas, mas o carneiro, de alguma maneira, fez Rex e Zendah compreenderem que o deviam seguir. Era por certo, um carneiro sábio!

Lá se foram eles atrás do carneiro.

O sol estava muito quente e a brisa era forte, mas eles sentiam-se vigorosos e podiam caminhar sem cansaço. Afinal chegaram a uma estrada cheia de casas. Da maior delas saía barulho de máquinas e de pancadas de martelo. Pararam para olhar, pois todas as portas e janelas desta casa estavam abertas. Dentro, vários homens trabalhavam com ferramentas, máquinas e forjas, alguns malhando o ferro aquecido ao rubro.

– “Que estão fazendo?” perguntaram a um homem que saía da casa.

– “Tudo o que se pode fazer com o ferro”, respondeu o homem. “Todas as ferramentas que se usam no campo para arar e colher, e agora, triste é dizê-lo, fazem também espadas e canhões e todas as coisas que os seres humanos precisam na guerra. Teremos de fazer essas coisas até que os seres humanos acabem de combater. Então, a energia do carneiro será utilizada somente para fazer ferramentas úteis”.

Durante alguns minutos ficaram observando aquela afanosa colmeia humana, vendo as centelhas pular do ferro, de quando em quando. Por fim, recomeçaram a seguir o carneiro. Pela estrada vinha ruidoso grupo de cavaleiros que resplandeciam ao sol. Parando seus cavalos perto, Rex e Zendah verificaram que eram cavaleiros vestidos com armadura real. O chefe saudou-os com sua espada.

– “O Rei quer vê-los imediatamente”, disse ele, “e mandou buscá-los. Montem ligeiro e sigam-nos”.

Deram um cavalo a cada um. As crianças radiantes reconheceram que aqueles eram os mesmos cavalos que montaram na Terra do Arqueiro. Também já haviam-se encontrado com o chefe dos cavaleiros antes, na Terra do Leão e assim sentiram-se à vontade.

Rex foi convidado a encabeçar a tropa por ser uma visita especial, já que estava visitando sua própria terra. Cavalgaram depressa, o vento revolvia seus cabelos, tal a velocidade com que iam. Atravessaram clareiras onde havia cabanas; passaram por cidades que pareciam ter sido acabadas de edificar, até que por fim chegaram à Cidade de Marte.

O palácio estava numa elevação. Era todo construído de mármore vermelho polido. Era esplendoroso e brilhava como fogo sob os raios do sol. Não pararam um momento, subiram logo as escadas que conduziam à entrada do palácio, onde os outros cavaleiros vieram ao seu encontro. Estes últimos traziam túnicas brancas sobre suas armaduras, com o emblema da cruz e do carneiro bordado a ouro e vermelho. Alguns deles – não muitos – tinham túnicas vermelhas e cruzes brancas. Cada cavaleiro tinha um pagem, um rapazinho de cabelos ruivos que ia a frente, carregando a espada e o elmo do cavaleiro, que estavam todos esplendidos, feitos também de aço forjado.

Rex e Zendah foram escoltados através das passagens e da longa escadaria de degraus de pedra verde-escuro até em cima, onde encontraram um homem idoso vestindo hábito de monge.

– “Vocês têm algo muito importante a fazer”, disse ele. “Nesta sua visita, que é a última, recebemos ordens de sagrá-los Cavaleiros do Sol, se prestarem juramento. O fogo pelo qual passaram no portão de entrada foi a primeira prova. Vocês prometem, Rex e Zendah, falar sempre a verdade, não terem medo, combater pelos fracos e serem leais ao nosso Rei?”

Os meninos responderam: – “Sim”.

O senhor idoso colocou-lhes então sobre os ombros uma longa capa com uma cruz vermelha na parte posterior e mandou que o seguissem até a sala e que não falassem até receber ordem para isso. Era uma sala muito bonita, tão alta que não se via o teto. As paredes eram de  cor-de-rosa pálido; os pilares de magnífico vermelho, como uma papoula. Cavaleiros, em suas armaduras brilhantes, permaneciam em “sentido” ao longo das paredes que tinham bandeiras de todos os países espalhadas, algumas novas, outras gastas ou rasgadas. O trono não estava no lugar habitual, mas no centro da sala. Frente a ele, no fundo da sala, havia um altar. A janela por trás do altar tinha a forma curiosa de uma espada, indo do chão ao teto. O punho da espada formava o diâmetro de uma estreita janela circular com doze divisões, cada uma com vidro de cor diferente.

Devagar, seguiram o senhor idoso até o trono onde estava o Rei Marte sentado, vestido com maravilhosa roupagem vermelha e dourada, tendo à cabeça uma coroa de aço polido. Marte cumprimentou-os e disse-lhes:

– “Fui comissionado por nosso Senhor, o Sol, para sagrá-los seus cavaleiros, esta é grande honra. Vocês prometeram obedecer as leis dos cavaleiros e assim, quando chegar o momento oportuno, vocês me seguirão até as almofadas que estão diante do altar. Vejam que o fogo do altar não está aceso; somente uma vez por ano o sol acende o Fogo Sagrado para mostrar que a Terra despertou para seu trabalho anual com seu auxílio. É nessa ocasião que são admitidos aqueles que se qualificam para serem sagrados Cavaleiros do Sol”.

Defronte do altar, do lado direito, estava em pé um arauto com uma trombeta. De cada lado, sentados, seis tambores. Os tambores rufaram. Marte deixou seu trono e caminhou até defronte do altar. Rex e Zendah seguiram-no e ajoelharam-se nas almofadas. Ouviu-se uma nota clara, tocada na trombeta e nesse momento um grande facho de luz solar brilhou através da janela em forma de espada, atingiu o altar em seu percurso, brilhando sobre Marte e as crianças ajoelhadas aos seus pés.

A madeira aromática incendiou-se e nuvens de fumaça ergueram-se no ar. Nas nuvens de fumaça viram o rosto do senhor Sol sorrindo para eles, desaparecendo a seguir. Enquanto eles estavam banhados pela luz do sol, Marte retirou sua espada e batendo com ela levemente no ombro de cada uma das crianças, exclamou:

– “Levanta-te, Cavaleiro do Sol, toma tua Espada de Luz semelhante à do Rei Artur e, com coragem e destemor, combate o Dragão do Egoísmo no mundo, sem jamais desesperar, seja qual for a dificuldade da tarefa”.

As crianças levantaram-se. Os pagens cingiram-nos com cintos vermelhos e entregaram-lhes espadas luzidias em cujas copas seus nomes apareciam feito diamantes brilhantes. Todos os cavaleiros que estavam na sala desembainharam as espadas e saudaram-nos. Foi um lindo espetáculo ver tantas espadas brilhando no ar.

Logo depois, os dois tomaram seus lugares, já como cavaleiros, ao lado de Marte e esperaram que este assinasse os passaportes, para que os cavaleiros pudessem, durante o próximo ano, seguir para terras estrangeiras onde combateriam a favor dos oprimidos.

Marte disse a cada um deles, enquanto apunha seu selo vermelho sobre o passaporte:

– “Segue com coragem, irmão, e vence todas as dificuldades”.

Aos poucos o facho de luz solar foi-se extinguindo. Marte virou para as crianças e disse-lhes que era hora de partirem. Saudando-o com suas espadas novas, fizeram meia volta e saíram do palácio, tomando de novo seus cavalos que os esperavam na entrada.

Os cavaleiros os seguiram até o portão de entrada e depois de saudá-los com suas espadas, as crianças logo estavam do lado de fora do portão.

– “Nossas aventuras terminaram, Zendah”, suspirou Rex; “agora voltemos para casa”.

– “E vocês verão que isso não é fácil sem mim”, gritou uma voz. Voltando-se viram Hermes.

– “Bem, vamos rápido. Quando chegarem em casa, ajudarei vocês a se lembrarem de tudo o que viram e ouviram. Estão ansiosos para usar os talismãs? Então, cada mês, pensem na palavra de passe corresponde e logo verão que poderão usar o talismã durante todo o mês. O uso que vocês poderão fazer deles, depende da prática. Vejam: aqui estão as outras chaves para abrir o Livro da Sabedoria; estas chaves vocês poderão usar quando forem mais velhos”.

Hermes segurou-os pelas mãos e voou de volta para a terra, tão depressa que não tiveram tempo de contar até dois e já estavam no seu quarto.

– “Agora”, disse Hermes, “saiam bem devagar dos seus trajes estelares para se lembrarem de tudo pela manhã”. Tocou-os com seu báculo e a primeira coisa que eles lembraram é que estavam sentados na cama, o sol alto, brilhando pela janela e sua mãe dizendo:

– “Vocês demoraram a levantar hoje”.

Eles pularam juntos da cama – “Oh! Mamãe, passamos momentos deliciosos. Estivemos na Terra das Estrelas com Hermes. Você se lembra de nos ter encontrado na Terra do caranguejo?”

Mamãe sorriu – ‘Então vocês também se lembraram? Vocês estão de parabéns, pois não são todas as crianças que Hermes leva às Terras do Zodíaco”.

EPÍLOGO

AS AVENTURAS CHEGARAM AO FIM. Mas vocês poderão encontrar as portas da entrada das Terras do Zodíaco se por elas procurarem. Vocês verão que será mais fácil visitar umas terras do que outras. De certo isso depende de qual fada tenha sorrido sobre o berço de cada um, quando nasceu, dando-lhe o talismã e a palavra de passe do seu signo natalício. Se foi o Rei Netuno quem sorriu para você ou se foi a Senhora Lua, você terá para contar, quando acordar, aventuras ainda mais excitantes do que as de Rex e Zendah. E então você poderá escrevê-las para outras crianças lerem.

Melhor que tudo, se você conseguir persuadir Hermes, o mensageiro dos Deuses, a tocá-lo com seu báculo mágico e a dar-lhes seus sapatos alados, eles serão seu passaporte para todas as Terras das Estrelas.

F I M


[1] N.T.: minério de cor negra

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O Valor Medicinal e Nutritivo dos Sucos Vegetais Crus

Grande parte das vitaminas, como dos sais minerais contidos no Reino Vegetal, são destruídos no processo de preparo dos alimentos, ocorrendo que o que seria completo se comido cru, não o é ao ser submetido à cocção.

Conhecendo-se as grandes propriedades alimentícias e curativas das frutas e de muitos vegetais, com o fito de fazê-los perfeitamente digeríveis, devemos reduzi-los a líquido (sucos) em seu estado cru. De acordo com experiências realizadas com doentes e sãos, os sucos de vegetais evitam e contribuem para a cura das enfermidades abaixo relacionadas:

ACNE, MANCHAS e PÚSTULAS da Pele: Cenoura e beterraba, misturando o suco de ambas.

AMÍGDALAS e CACHUMBA: Tomate e beterraba, alternando esses com cenoura.

ANEMIA: Cenoura, salsa verde, espinafre, aipo e beterraba.

APENDICITE: Salsa verde e espinafre, por vezes juntos, outras, alternando.

ARTRITE: Aipo e cenoura.

ASMA, BRONQUITE, CATARRO NASAL e SINUSITE: Rabanete e cenoura, com um pouco de suco de limão, eliminando da dieta a clara de ovo, cremes, açúcar e as féculas.

CÂNCER, QUISTOS e TUMORES: Cenoura, alternando com alface e aipo.

CIRCULAÇÃO DEFICIENTE: Repolho e beterraba, algumas vezes misturados, outras, separados.

DIABETES: Ver dieta especial.

ECZEMA: Cenoura, beterraba, aipo, alternando.

PRISÃO DE VENTRE: Repolho, espinafre, aipo e um pouco de limão.

OLHOS, CATARATAS, CONJUNTIVITE: Cenoura e salsa verde, algumas vezes juntos, outras, alternando.

GASTRITE: Cenoura e aipo.

GOTA: Cenoura e agrião.

CORAÇÃO (afecções): Cenoura e beterraba.

HEMORROIDAS: Cenoura e agrião.

INDIGESTÃO ou DIGESTÃO TRABALHOSA: Aipo e cenoura.

INSÔNIA: Suco de aipo ao deitar-se.

FÍGADO, RINS, INFLAMAÇÃO DA BEXIGA e HIDROPSIA: Cenoura e salsa verde.

NERVOSISMO, NEURASTENIA e EPILEPSIA: Aipo, alface, cenoura.

OBESIDADE: cenoura, aipo e repolho.

SANGUE, PRESSÃO ALTA: Aipo, beterraba e alho.

PRESSÃO BAIXA: Cenoura e salsa verde.

TUBERCULOSE: Suco de batata crua, sem a fécula, para o que se liquefaz e deixa em repouso para que aquela assente, tirando-se então o líquido. Tome-se misturado, em partes iguais com suco de cenoura e um pouco de azeite de oliva, tudo bem batido com uma gema de ovo.

ÚLCERA, COLITE: Suco de cenoura, alternando com cenoura misturada com um pouco de creme de leite fresco.

VEIAS E VARIZES: Cenoura, espinafre e nabo.

PEDRAS NA VESÍCULA BILIAR E NOS RINS: Beterraba, algumas vezes com cenoura, outras, com pepino.

Para a cura de MOLÉSTIAS CRÔNICAS deve tomar-se um litro diário do líquido que se menciona, exceto da salsa e do agrião, que não devem passar de 100 gramas, e combinando-os sempre em não menos de meio litro de cenoura e aipo. Para a CONSERVAÇÃO DA SAÚDE basta tomar pequenas porções diárias, alternando diferentes vegetais e frutas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/1977 – Fraternidade Rosacruz-SP)

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Algumas Correlações do Signo de Câncer

SIGNO: Câncer, o caranguejo

QUALIDADE: Cardinal; ou consciência dirigida ativa e dinamicamente para o interesse em objetivos específicos.

ELEMENTO: Água; ou sensitivo, sentimento consciente relacionando à qualidade da alma das coisas. Entre outras coisas, o elemento Água representa os fluídos, o Corpo de Desejos, o Mundo do Desejo e a Alma.

NATUREZA ESSENCIAL: protetivo

ANALOGIA FÍSICA: rio, córregos, queda d´água, água corrente.

ASTRO REGENTE: A Lua. Porque ela é capaz de expressar suas funções mais fácil e livremente quando está situada nesse Signo. A Lua representa o impulso para expressar a autoconfiança, para experimentar  a autoconsciência e o esforço para o crescimento pessoal. Então, a Lua representa o impulso para sermos conscientes das próprias qualidades da alma.

CASA CORRESPONDENTE: a 4ª Casa corresponde a Câncer e representa o desejo para agir e progredir baseado na suficiência individual e no desenvolvimento interno.

ANATOMIA ESOTÉRICA: representa a Alma Consciente.

ANATOMIA EXOTÉRICA: específica: esôfago, estômago, pâncreas, diafragma, duto torácico, seios e útero.

FISIOLOGIA: Governa o processo fisiológico da digestão, a ação peristáltica, osmose, mecanismo de transporte ativo e o ciclo menstrual na mulher. As forças da Lua são ativas na fêmea durante a gravidez ajudando a construir o corpo do bebê. Durante a primeira (bebê) e a segunda (meninice) infância essas forças são proeminentes em regular o crescimento e o desenvolvimento do Corpo Denso e, também, tem um efeito no processo do nascimento e da maturidade do Corpo Vital, do Corpo de Desejos e da Mente.

TABERNÁCULO NO DESERTO: simboliza o Sumo Sacerdote quando ele está de pé em frente a escura Sala Oeste do templo. Nessa posição ele representa o Ego que conscientemente entrou nos reinos superiores da natureza em completo controle das suas faculdades espirituais.

MITOLOGIA GREGA: Dois primitivos deuses lunares são Demeter e Persephone (mãe e filha), cujas mitologias são altamente simbólicas sobre o ritmo e os ciclos da fertilidade, criatividade, desenvolvimento e a revelação encontrada no ser humano e na Natureza. Gea (Terra) e Rhea estão intimamente conectadas com a Terra, mas seus papéis importantes no início da criação, em auxiliar o estabelecimento da ordem inicial das coisas, estão intimamente associadas com a operação das forças lunares. Isso reflete o fato oculto de que a Lua foi, um dia, parte da Terra, tendo sido arrojada para longe no início da Época Lemúrica. Há também uma certa quantidade de sapiência lunar encontrada nas mitologias de Artemis e Hestia.

CRISTIANIDADE CÓSMICA: Câncer é o Signo do Solstício de Junho, o tempo do ano quando as forças espirituais estão mais distantes do ser humano, ou seja, quando ele pode se concentrar melhor no lado físico de sua existência e aplicar a si mesmo para aprender as lições que estão disponíveis aqui, no Mundo Físico. Durante esse tempo, o Cristo Cósmico repouso no seio do Pai e renova as suas forças que Ele gastou totalmente para nosso benefício durante todo o ano que passou.

(traduzido da Revista: Rays from the Rose Cross – julho/1977 pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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Calendário: Fraternidade Rosacruz em Campinas/SP/Brasil–2022–Julho

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Hierarquias Zodiacais – Câncer: A Mãe Cósmica

HIERARQUIAS ZODIACAIS

CÂNCER: A MÃE CÓSMICA

Não é para supormos que as manifestações ativas destas grandes Hierarquias Criadoras atuem imediatamente. As faculdades são desenvolvidas gradativamente ao longo de um grande período. Isso deve ser verdadeiro, caso contrário, os caracteres desenvolvidos estariam sempre presentes e haveria um campo muito restrito para o desenvolvimento progressivo do Espírito. A aceitação e a realização de toda oportunidade do Espírito nos leva além das coisas materiais, e aqueles que reconhecem a força divina potencial veem as possibilidades sempre à mão, no esquema do desenvolvimento da vida.

Seria difícil encontrar muitas pessoas possuidoras da verdadeira percepção espiritual, mas é universalmente reconhecido que, sem intuição, um indivíduo não é muito bem-sucedido, mesmo que soubesse, de cor, todos os trabalhos do mundo. Daí precisarmos ser guiados pela sabedoria, não por opiniões. As opiniões de outros podem ajudar-nos, mas não deveríamos ser subservientes a elas. A sabedoria é o fruto da experiência, a essência da alma do caráter desenvolvido. Atualmente, todas as potencialidades se manifestam ao mesmo tempo. As doze Hierarquias Criadoras estão presentes em um determinado momento, mas à medida que suas tarefas forem sendo completadas e suas lições assimiladas, algumas se retiram. As faculdades de Signos prósperos estão sempre presentes em estado latente, podendo ser reveladas à medida que progredirmos na vida. A força da vida e da natureza está no ser humano e o ser humano é uma manifestação da Natureza. A Natureza individual (Espírito) do ser humano é um impulso individualizado do ser humano universal e tem sua própria fonte individual. Esta fonte representa aquela parte distinta que deve ser vivida individualmente por este Espírito separado no grande Drama Cósmico que é a Vida.

Cada criança, um indivíduo

Se todas as crianças nascessem ao mesmo tempo, todas seriam iguais, mas na hora da concepção há uma diferença e cada criança recebe sua própria natureza individual que, contudo, ainda permanece como parte integral da Natureza universal.

A vida, a luz e o amor do Universo brilham através de cada indivíduo até que a força do Espírito desperte. Este impulso espiritual representa uma força latente que forma a bagagem característica, sobre a qual se refletem as forças diferenciadas da criação.

O Espírito de Deus movimentou-se sobre as águas e o germe da vida foi semeado para ser alimentado e gerado como um supremo atributo das forças celestiais. É particularmente importante enfatizar que todas as forças de Deus são acessíveis a todos os seus filhos para serem usadas durante todos os momentos da vida, mas o grau vibratório de cada arquétipo individual não responde ou corresponde a estas harmonias (configurações astrais) uma vez que o Ego nem sempre é capaz de assimilar essas forças. Isso é evidente ao observarmos a potência da força espiritual e as qualidades da alma do indivíduo subdesenvolvido. A força criadora do movimento universal é definitivamente construtiva e altamente divina, mas se o Ego ou o Espírito interior ainda não despertou sua força potencial, o modelo do arquétipo não toma conhecimento dessa força. Enquanto não forem feitos esforços para pôr essa força em ação, muitos campos de desenvolvimento continuarão fechados para o indivíduo e assim ficarão enquanto ele permanecer em seu estado de escuridão.

O Pai, o Filho e o Espírito SantoVontade, Sabedoria e Atividade – formam a base para a vida e a ação no universo. O Pai é a Origem e o Fim de toda a Vida (Áries); o Filho é duplo em Sua natureza, e é o Amor ou o Princípio da Sabedoria (Touro); enquanto o Espírito Santo é a Inteligência Criadora na manifestação (Gêmeos), organizando o caos da matéria primitiva – Substância-Raiz-Cósmica – em materiais dos quais podem-se construir formas. Áries e Touro formam a semente ou a base da formação do universo. Gêmeos prova ser o incentivo e o impulso para a ação, enquanto Câncer é o Signo que ajuda a trazer esta concepção para a atividade física. Assim, Câncer, a Mãe do Universo, tira, nutre e alimenta tudo que surgir para expressar a plenitude das variadas experiências da vida. Câncer, a suprema Mãe Cósmica, carrega dentro dela a manifestação dos grandes princípios criadores. Através de Câncer, o “Portão do Homem”, o Espírito destinado ao renascimento terrestre desce diferenciando-se de sua fonte universal e, assim, a morte espiritual acontece. Através de Capricórnio, o “Portão dos Deuses”, o Ego sobe aos céus, um novo nascimento espiritual (vida permanente) acontece quando ele se liberta do Corpo Denso. Assim que o Ego sai de Câncer e dos Mundos superiores começa a perder sua natureza divina. Vai reunindo-se em todos os aspectos de seus esforços passados e a forma do corpo e da vida para a experiência futura vai recebendo os sucessivos acréscimos de tudo que se passou antes. Durante sua descida para a matéria, o Espírito – primeiro uma esfera em forma – é alongado para dentro de um cone e o arquétipo vai colhendo todas as vibrações para as quais é receptivo. Da mesma forma, harmonias com as quais ele não tenha qualquer associação são deixadas para trás, em sua descida. O Ego, agora, começa a sentir as influências da matéria e cada novo impulso traz novas sensações, de modo que ao se juntar ao corpo, ele está agitado por essa nova e excitante aventura. A vida é, na verdade, uma grande aventura, cada um desempenhando a sua parte em harmonia com aqueles impulsos autocriados, no seu passado.

Quando o Espírito dá o primeiro passo para sua longa viagem em direção à autoconsciência, todas as suas possibilidades estão latentes e, não obstante ele precisar dar cada passo do caminho sozinho, ele está sendo ajudado por outros que já percorreram este caminho anteriormente. À medida que suas faculdades se abrem do estado latente para o potencial, menor ajuda é necessária até que possa experimentar suas próprias asas. O ser humano geralmente se torna autossuficiente, arrogante e se julga o Senhor da Criação; mas o ser humano, absorvido na ilusão de si mesmo, nunca está inteiramente distante da influência espiritual. Aos poucos ele se dá conta da natureza ilusória das coisas e começa a procurar outras realidades.

O ser humano é, em si mesmo, um permanente criador de coisas invisíveis, pois as vibrações de seus pensamentos e desejos criam formas de matéria sutil, e são esses mesmos pensamentos ou desejos que as animam. Se ele soubesse como manejar, para o bem, esse poder, possuiria uma enorme força, para sempre. Esta força de expressão criadora não só iluminaria seu ser no mais íntimo de si mesmo, como também a concentração decorrente dela geraria forças coordenadoras que poriam todas as coisas em ordem.

Mãe do Universo

Câncer é o representante das grandes águas cósmicas que alimentam a Via Láctea, movimentando cada onda de Egos que estão prestes a renascer, para experiências físicas futuras. Câncer é a Mãe Cósmica, a Mãe do Universo, que abraça todas as crianças, especialmente, aquelas que não têm a sua própria mãe. Câncer é ritmo e ordem, que coloca cada um em seu devido lugar. Rege tudo com harmonia e equilíbrio e aí está a ajuda da Lua. A Hierarquia Zodiacal de Câncer será sempre encontrada junto àquilo que quer ter e realmente isso não lhe será negada. Ela não será derrotada. Sua moradia é a profundidade do grande mar e o silêncio é sua sentinela. Os segredos de Câncer são encontrados somente na vazante de suas enormes marés e emoções profundas são sentidas. Mas será só na maré baixa que aqueles que estão prontos e preparados poderão entrar e lá recebe sua coroa, que é uma estrela na testa, que iluminará os lugares escuros. Alguns receberão uma estrela escura e outros a luz. Nenhuma é boa ou má, mas ambas têm grande valor cósmico de acordo com o uso e o desenvolvimento que dela farão.

Câncer segura forte e só larga quando atinge seu objetivo. Câncer não desiste de seus filhos e filhas quando os envia para o nascimento, pois eles voltam a ela uma vez que as experiências tenham terminado. Enviar seus filhos dessa maneira é, sem dúvida, o mais sutil símbolo da verdadeira maturidade – a Maternidade Cósmica.

Todos os filhos e filhas de Câncer acham-se sob influência da Mãe Cósmica e se eles se tornarem bem receptivos a essa influência, mais facilmente e melhor aprenderão as lições que lhes forem ministradas. Haverá pouca felicidade para o nativo de Câncer se sua natureza sensível não se libertar e desenvolver, porque é bom que sua força da imaginação criativa esteja livre para se expressar. Muitas pessoas têm uma fé forte e, mesmo sem saber, podem se tornar úteis para executar o modelo divino, pois a fé profunda pode agir poderosamente e produzir resultados. A fé produz um estado elevado que fortalece a vontade, afasta a dor e transforma o ser humano comum em canal de uma natureza imortal. Imaginação é uma força criadora e quando o princípio do amor está junto e entrelaçado numa oração com o que é bom e puro, tudo se torna possível.

Oração, fé e imaginação – atributos femininos e criadores – uma vez acesos no coração de Câncer iluminarão a alma, como um despertar celestial, numa visão de um outro mundo. Um aprendizado superficial acrescenta pouco, enquanto a suprema consciência pode ser alcançada desenvolvendo-se uma fé completa na vida espiritual, aquele estado supremo onde os nativos de Câncer serão revelados na força de sua própria luz.

Sentimento é o elemento fundamental para os nativos de Câncer e essas pessoas são bem-sucedidas junto as crianças e com os indivíduos sensíveis de todos os Signos. Câncer sendo o Signo-mãe verá seus filhos criando suas famílias e quando isso não ocorrer, procurarão criar aqueles com quem estiverem mais intimamente ligados.

Câncer precisa aprender a evitar jogar com a compaixão dos outros para conseguir algo. Os filhos de Câncer, geralmente, progridem com uma política sutil de fazer com que as pessoas atuem de acordo com os seus desejos. Não o fazem abertamente, pois não gostam de ouvir dizer que estão influenciando outras pessoas. Isso, às vezes, acontece devido ao fato de Câncer ser um Signo físico fraco. Câncer continuamente valoriza os sentimentos e suas ações indicam que respeita esse princípio nos outros, mas não a ponto de ceder em suas próprias ideias. Um silêncio indignado é o meio de Câncer mostrar sua desaprovação. Câncer mostrará, de maneira evidente, compaixão para com as pessoas, mas ao mesmo tempo, irá ignorar aquele que for considerado culpado. Adora viver em paz com todo mundo e aí está a sua força.

Câncer ajudará seus amigos, mas, em troca, exigirá gratidão. No entanto, terá gratidão e adoração por aqueles que o ajudaram em alguma coisa. Patriotismo, apego às tradições e à família são, geralmente, sentimentos muito importantes para esse indivíduo. Reverência, submissão e compaixão são, também, pontos de vital importância para esse Signo – todos traços que devem ser bem desenvolvidos por todos os verdadeiros Aspirantes à vida superior.

Sensibilidade e tenacidade são outras características dessas pessoas e, como o caranguejo, o símbolo de Câncer, tem o coração delicado por baixo de uma casca dura. O medo de se revelar muitas vezes faz Câncer parecer tímido e sem coragem, no entanto, é capaz de ter uma enorme valentia e fazer um completo autossacrifício quando se tratar de amor pela família, por parentes ou pela humanidade em geral. O nativo de Câncer, o que já estiver bastante evoluído, considera que todos são seus filhos e já aprendeu a gloriosa lição de dar amor e ajudar sem pedir nada de volta: o princípio do materno ideal.

A força criadora da imaginação precisa ser usada construtivamente. O uso dessa força capacita Câncer a tornar a vida mais bela e o sucesso nisso é, geralmente, o resultado de saber transformar coisas comuns em transcendentais. Nossas Mentes estão divididas em dois planos de ação: a consciência objetiva e a subjetiva – o intelecto e a intuição. No momento, a expressão da razão alcançou o seu mais alto desenvolvimento, e essa faculdade está sendo trabalhada pela maioria da humanidade. O próximo passo será trabalhar com a Mente de modo que a intuição substitua a razão.

A intuição é um contato direto com nossas vidas passadas, que vem como um raio, acima de qualquer razão. A purificação das emoções ajuda seu desenvolvimento e traz a percepção da unidade e da compaixão por toda a vida. Os nativos de Câncer podem prontamente expressar uma natureza intuitiva mesmo que ela possa estar momentaneamente latente ou impedida de se manifestar. Um esforço consistente desenvolverá esta grande qualidade.

Qualidade de Camaleão

(*) Advertência:

A descrição aqui apresentada é mais exata conforme a cúspide da 1ª Casa esteja mais próxima do ou no segundo decanato do Signo (10º graus até 20º graus)

Quando os 3 últimos graus de um Signo estão ascendendo, ou quando os 3 primeiros graus ascendem no momento do nascimento, diz-se que a pessoa nasceu “na cúspide” entre dois Signos, e, então, a natureza básica dos Signos envolvidos são mescladas no corpo dela

Astros nas Casas:

  1. Os Astros no Signo Ascendente podem modificar a descrição.
  2. Astros colocados na 12ª Casa e que se encontram dentro de seis graus deste podem modificar a descrição

Em tais casos o Estudante dever usar seu conhecimento do caráter dos Astros em conjunto com a descrição do Signo.

(Veja mais no Livro: Mensagem das Estrelas – O Signo Ascendente – Max Heindel e Augusta Foss Heindel)

Câncer é altamente sensível, e estas pessoas frequentemente adaptam-se às condições do meio em que vivem. Com um aguçado senso pessoal de delicadeza, o modo de expressão não deveria ser desprezado. Note a posição de Mercúrio. Quando Mercúrio segue o Sol – as lições da vida vêm através das experiências – nem sempre é uma vantagem! Mercúrio, estando à frente do Sol pode facilitar essas lições como a luz da sabedoria ilumina o intelecto, ensinando pelo contínuo aprendizado.

Os nativos de Câncer, como tantos outros de toda humanidade, deixam-se, por vezes, levar pelo jogo das forças externas sobre eles. No entanto, para conscientemente expressar sua natureza inferior, precisam inverter esse processo, não serem receptivos às coisas negativas. Câncer precisa fazer uma pausa positiva e expressar a completa força de sua individualidade. A força é a Vontade. Com a força companheira que é a Imaginação, Câncer precisa estar apto a correr qualquer risco necessário para ser bem-sucedido. Não só as qualidades físicas, mas também as espirituais e as da alma, uma vez em harmonia, produzirão um completo despertar e uma força sobre todas as circunstâncias da vida.

Com o arraigado amor pela humanidade e interesse pelas pessoas, o instinto materno sempre permanecerá forte. As próprias ambições dos nativos de Câncer, muitas vezes, se concretizam através da vida de seus próprios filhos. Há um profundo desejo de viver a vida integralmente. A natureza bondosa, auto sacrificada dos nativos de Câncer deveria florir em bondade e amor para todos.

A vida e a alegria são privilégios inerentes do ser humano. Câncer encontrará um caminho para juntar força e sucesso na visão mais ampla de uma consciência aberta, mesmo onde existam limitações para negar a livre expressão. Lembre-se, Câncer NÃO É NUNCA DERROTADO! Às vezes, os ideais dos pais são transmitidos para sua realização, para os filhos e filhas.

Sabemos que o Sol e os Planetas indicam, no horóscopo, os anos em que certas tendências podem culminar em ação e requer, invariavelmente, cooperação da Lua para fertilizar o Aspecto e fazê-lo florir numa manifestação física.

O Sol e os Planetas podem ser considerados como o ponteiro da hora no relógio do destino, mostrando o ano ou os anos em que cada fase do destino está madura para a colheita. A Lua pode estar ligada ao ponteiro dos minutos, que mostram o mês em que as influências estão prontas para a ação.

Lembre-se, as limitações, quer sejam transitórias ou Destino Maduro (a indicação da 12ª Casa), são tanto “boas” quanto “adversas”. Na verdade, TODAS AS COISAS SÃO BOAS, e o ser humano é quem faz as condições de sua vida. A alegria de viver, expressa por uma criança é, definitivamente, um elo com o passado e a relação entre a criança e os horóscopos dos pais mostra a atração assim como os ajustamentos que, necessariamente, devem ser feitos. Onde Saturno obstrui até que as lições sejam aprendidas, a responsabilidade também está presente. Se a força do objetivo é suficiente, se todas as lições são aceitas e não evitadas, tudo será somado de acordo com o modelo divino.

O teste de qualquer filosofia é a sua vivência. Daí depender de você, Câncer, exemplificar os princípios do Amor e da Paz Universal, de modo que todos que o encontrarem se sentirão melhor por tê-lo conhecido. Este é o verdadeiro trabalho da Lei. Para criar e nutrir todas as almas, para construir em harmonia e paz, para amar e observar a liberdade do grande plano da vida, para dar e receber, sempre criando e sustentando está Câncer, celeste e terrestre, NOSSA MÃE CÓSMICA. Suave, dinâmica, visionária e serena no conhecimento de que tudo que existe, será para sempre.

(de Thomas G. Hansen – com prefácio da Fraternidade Rosacruz de Campinas – SP – Traduzido do original inglês: Zodiacal Hierarchies de Thomas G. Hansen e publicado na revista Rays from the Rose Cross da The Rosicrucian Fellowship, no período de abril de 1980 a março de 1981 – publicada na Revista Serviço Rosacruz da Fraternidade Rosacruz em junho de 1982)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Simbologia e Qualidades de Câncer

Câncer é um dos Signos do Elemento Água. O trânsito do Sol, devido ao movimento de Precessão dos Equinócios, pelo Signo aquoso de Câncer com seu oposto, Capricórnio, designa a primeira parte da Época Atlante, que decorreu quase em estado aquoso, posto que a totalidade da Terra estava coberta por densa neblina, abrumadora. Os Niebelungos ou “filhos da névoa” viviam então, nas concavidades da Terra. Nessa época Câncer não tinha a mesma simbologia atual. Nos tempos antigos tinha a figura de um escaravelho, que era o símbolo da alma para os ocultistas. De fato, nesse estágio, a humanidade era muito mais alma que corpo.

A parte “peixe” do símbolo de Capricórnio, oposto do Signo de Câncer, também contribui para reafirmar a circunstância de ambos se referirem àquele estado, sob as águas.

A Lua, Regente de Câncer, o Astro da fecundação, nos indica misticamente esse período de germinação, quando a humanidade começou a exercer ignorantemente a função sexual criadora, sob a influência dos desejos infundidos pelos Espíritos de Lúcifer. Deste modo a humanidade abriu a porta da vida física, por influência de Câncer. Mas no Signo oposto, Capricórnio, regido por Saturno, o Planeta da morte, encontrou a gadanha, para ceifar a vida que se encurtava pelo abuso da força sexual criadora, como também achou o sofrimento, a experiência amarga da liberdade mal-usada, pois o “salário do pecado é a morte” (Rm 6:23) e a dor.

Mas, por outro lado, Capricórnio, a cabra que sobe os montes, inspira a Câncer o ideal de redenção. Mostra, igualmente, a transição pela qual passou a humanidade quando deixou os vales da Terra, da Época Atlante para viver nas mesetas e planaltos do globo terrestre.

As pessoas com Ascendente em Câncer, genericamente, gostam muito do lar e de suas comodidades. Mas são indolentes, instáveis e sonhadoras. Com o passar dos anos, amantes que são de boa comida ficam com o ventre avantajado e, por pouco afeitos a exercícios, passam a ter grandes prejuízos sobre a digestão.

Todavia, é necessário examinar o tema no conjunto para determinar as tendências individuais e a força de cada tendência nos diversos departamentos da vida, para uma orientação segura de como prevenir-se e de como corrigi-las, usando as qualidades positivas.

(Publicada na Revista Serviço Rosacruz – junho/1964 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Fogos de São João

Pensando sobre os “Fogos de São João”, apresentam-se vários aspectos sobre o tema, como de símbolos, de uma história verídica e, também, mística, em que a pessoa que chamamos São João, o Batista, está envolvida. A humanidade está intimamente ligada a essa pessoa, eminentemente desenvolvida, através dos milênios do passado.

Pela história bíblica sabemos que São João, o Batista, era o último dos Profetas em Israel, filho do sumo sacerdote Zacarias e de sua esposa Isabel. Isso consta nos Evangelhos. Max Heindel informa em seus estudos, como Elias, Profeta que existiu 700 anos antes da Era Cristã, como João Batista, era capacitado de dotes espirituais poderosos em vidas anteriores, por haver formado em si o Verbo Divino, a Vida Divina no ser humano.

Podemos ver essa afirmativa no segundo Capítulo 2, versículo 5, do Segundo Livro dos Reis, que diz o seguinte: “Os irmãos profetas que moravam em Jericó aproximaram-se de Eliseu e lhe disseram: ‘Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?’. Ele respondeu: ‘Sei; calai-vos’”.

Por essa conversa íntima entre os filhos dos Profetas (veja todo o segundo Capítulo[1]) a respeito de Elias (João Batista) com o Profeta Eliseu, podemos avaliar a sua educação espiritual. Eliseu, como discípulo de Elias, tinha conhecimentos sobre o afastamento de Elias da Terra num turbilhão de Fogo (“carro e cavalos em fogo”, versículo 11[2]) que separou o Mestre de seu Discípulo. Elias afasta-se em um redemoinho de fogo da Terra.

Os fatos acima tiveram relação fundamental na Anunciação do nascimento, vida e morte de São João Batista. A Anunciação da Concepção com Isabel foi feita em circunstâncias de ‘Fogos espirituais’, pois o Anunciador, o Anjo Gabriel, do plano do Espírito Santo, foi escolhido para essa sublime missão; foi o mesmo, que mais tarde, meses após, anunciaria a Maria a Concepção de seu filho Jesus. Zacarias e Isabel, como também José e Maria, em relação à Anunciação, ensinam que as personagens tinham Iniciações dos planos do Espírito de Vida, pois se aproximava a eles o Anjo Gabriel. Os Corpos Densos e suprafísicos deles mesmos tinham alcançado qualidades, onde a esfera Angelical os tangia.

O que nos importa nesses acontecimentos, puramente esotéricos, é sabermos a respeito de Elias em sua “ascensão fogosa” 700 anos A.C. e se manifestando mais tarde, no tempo de Cristo, como de anunciador d’Ele num fulgor de Verbo espiritual, anunciando a vinda “Daquele que havia de vir”, a quem prepararia o caminho, pregando as sábias palavras do arrependimento. Pois, clamava, que sem o arrependimento não haveria acesso do Salvador para suas almas. Disse que não haveria mais perdão por meio dos sacrifícios dos animais.

Sabemos perfeitamente, como Estudantes Rosacruzes, que o arrependimento resulta em nossos Corpos de Desejos, onde reside o fogo inferior dos desejos e da nossa Mente inferior, o limite para a ascensão aos planos de Deus. Os fogos inferiores dos Corpos de Desejos, com o meio do arrependimento, devem-se dar a purificação, resultando a ascensão para os “fogos espirituais do Espírito de Vida de Cristo, e de Seu Pai”.

Pensando sobre símbolos, mesmo tratando-se de datas, que se apresentam ao Estudante Rosacruz, no fato de Isabel concebendo João Batista (Elias), seis meses antes de Maria conceber a do Jesus, espírito que guiava o Rei Salomão, e antes de 3000 anos da Era Cristã, o guia espiritual da antiga Índia denominado Krishina, mostra por meio destes acontecimentos históricos-religiosos-espirituais, o valor que representam na evolução humana.

Colocando as datas calendários a nossa frente, dia 21 de junho para o nascimento de São João Batista, e Jesus no dia 24 de dezembro verificamos, em linha reta, a oposição dos Signos Zodiacais com os seus devidos Regentes. Encontramos o Signo de Câncer com o seu Regente, a Lua, para João Batista-Elias, e o Signo de Capricórnio, Regente de Saturno, para Jesus. Essa linha aparentemente oposta trata do equilíbrio dentro do Sistema Solar. Não é uma oposição cósmica, pelo contrário, uma harmonia perfeita, Água-Terra; sabemos que o Sol deriva do Período Saturno do Pai, e entra em seu avanço evolutivo ao Período Lunar. Mostra-se a Trindade. Havemos o perfeito equilíbrio, Sol em Câncer e em Capricórnio. Saturno-Sol-Lua. No plano Solar entra em função os Solstícios nas datas acima. As forças solares interligam-se às condições gerais da Terra.

Procurando a ligação entre os eminentes personagens em foco, Jesus-João Batista, verificamos que eles foram, pela Hierarquia, escolhidos para serem utilizados como conciliadores entre os seres humanos da Terra e os demais exaltados elementos celestiais.

Podemos também pensar, com base nos estudos, que eles não tinham mais necessidade de renascer por causa de sua Ressurreição em tempos passados, como dito, em um redemoinho de fogo. Para Jesus-Salomão seria o mesmo sentido de aplicar. Os Solstícios coincidem com seus renascimentos constantes em planos de revoluções solares, os quais incitam os tempos propícios para as Iniciações dos seres humanos da Terra.

Voltando para explicar a nossa preocupação a respeito da salvação da humanidade, verificamos, ainda, fora das palavras do arrependimento, as sábias palavras de São João Batista, que dizem, “Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália” (Jo 1:26-27), e Ele batiza com fogo.

Percebemos, nisso, que a divisa seria o Batismo do Fogo e do Espírito resultante do arrependimento. Mais logo haveria o batismo da Água e do Fogo, da água da Vida-do Corpo de Cristo ligado ao Espírito Santo. Cristo bem disse à Samaritana na fonte quando solicitava água que, se Ele ofereceria água, nunca mais sentiria sede, e haveria alcançado a Vida Eterna (a longa vida dos alquímicos, a Pedra Filosofal, que é o Cristo). Por meio do arrependimento assegura-se a mutação, a transfiguração do ser humano, a sua incorruptibilidade no corpo de Cristo.

(de F. PH. Preuss – Publicado na Revista Serviço Rosacruz – setembro/1984 – Fraternidade Rosacruz – SP)

(Pintura: John Baptist Birth – de Bartolomé-Esteban Murillo)


[1] N.T.: Segundo Capítulo do Segundo Livro dos Reis: 1Eis o que aconteceu quando Iahweh arrebatou Elias ao céu no turbilhão: Elias e Eliseu partiram de Guilgal, 2e Elias disse a Eliseu: “Fica aqui, pois Iahweh me enviou até Betel”; mas Eliseu respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!”. e desceram a Betel. 3Os irmãos profetas que moravam em Betel foram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: “Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?”. Ele respondeu: “Sei; calai-vos”. 4Elias lhe disse: “Eliseu, fica aqui, pois Iahweh me envia só até Jericó”; mas ele respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!”. E foram para Jericó. 5Os irmãos profetas que moravam em Jericó aproximaram-se de Eliseu e lhe disseram: “Sabes que hoje Iahweh vai levar teu mestre por sobre tua cabeça?”. Ele respondeu: “Sei; calai-vos. 6Elias lhe disse: “Fica aqui, pois Iahweh me envia só até o Jordão”; mas ele respondeu: “Tão certo como Iahweh vive e tu vives, não te deixarei!”. E partiram os dois juntos. 7Cinquenta irmãos profetas foram também e ficaram parados a distância, ao longe, enquanto eles dois se detinham à beira do Jordão. 8Então Elias tomou seu manto, enrolou-o e bateu com ele nas águas, que se dividiram de um lado e de outro, de modo que ambos passaram a pé enxuto. 9Depois que passaram, Elias disse a Eliseu: “Pede o que queres que eu faça por ti antes de ser arrebatado da tua presença”. E Eliseu respondeu: “Que me seja dada uma dupla porção do teu espírito!”. 10Elias respondeu: “Pedes uma coisa difícil: todavia, se me vires ao ser arrebatado da tua presença, isso te será concedido; caso contrário, isso não te será dado”. 11E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, eis que um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu no turbilhão. 12Eliseu olhava e gritava: “Meu pai! Meu pai! Carro e cavalaria de Israel!”. Depois não mais o viu e, tomando suas vestes, rasgou-as em duas. 13Apanhou o manto de Elias, que havia caído, e voltou para a beira do Jordão, onde ficou. 14Tomou o manto de Elias e bateu com ele nas águas, dizendo: “Onde está Iahweh, o Deus de Elias?”. Bateu nas águas, que se dividiram de um lado e de outro, e Eliseu atravessou o rio. 15Os irmãos profetas viram-no a distância e disseram: “O espírito de Elias repousa sobre Eliseu!”.; vieram ao seu encontro e se prostraram por terra, diante dele. 16Disseram-lhe: “Há aqui com teus servos cinquenta homens valentes. Permite que saiam à procura de teu mestre; talvez o Espírito de Iahweh o tenha arrebatado e lançado sobre algum monte ou em algum vale”. Mas ele respondeu: “Não mandeis ninguém”. 17Mas eles o importunaram a ponto de aborrecê-lo, e, então, disse: “Mandai!”. Mandaram, pois, cinquenta homens, que procuraram Elias durante três dias, sem encontrá-lo. 18Voltaram para junto de Eliseu, que tinha ficado em Jericó, o qual lhes disse: “Não vos dissera eu que não fôsseis?”  19Os homens da cidade disseram a Eliseu: “A cidade tem um ambiente agradável, como bem pode ver, o meu senhor, mas suas águas são ruins e tornam o país estéril”. 20Disse ele: “Trazei-me um prato novo e ponde nele sal”; e eles lho trouxeram. 21Ele foi à fonte das águas, lançou-lhe sal e disse: “Assim fala Iahweh: Eu saneio estas águas e elas não mais causarão nem morte nem esterilidade”. 22E as águas se tornaram sadias até hoje, segundo a palavra que Eliseu pronunciara. 23De lá subiu a Betel; ao subir pelo caminho, uns rapazinhos que saíram da cidade zombaram dele, dizendo: “Sobe, careca! Sobe, careca!”. 24Eliseu virou-se, olhou para eles e os amaldiçoou em nome de Iahweh. Então saíram do bosque duas ursas e despedaçaram quarenta e dois deles. 25Dali foi para o monte Carmelo e depois voltou para Samaria.

[2] N.T.: “11E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, eis que um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu no turbilhão.”

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Se Cristo alimentou a multidão com peixes, por que é errado usá-los, ou mesmo a carne deles como alimento?

Resposta: É da natureza de um animal carnívoro comer qualquer animal que cruze em seu caminho, e seus órgãos são constituídos de tal forma que ele deve ter esse tipo de dieta para sobreviver, mas tudo se encontra em um estágio de transformação – está sempre mudando para algo superior. O ser humano, nos seus estágios mais antigos de desenvolvimento, também era parecido, em certos aspectos, como os animais carnívoros; no entanto, ele deve se tornar semelhante a Deus e, portanto, em algum momento, deve parar de destruir para que possa começar a criar. Os judeus ainda estavam em uma situação na qual a sua natureza animal era tão forte, que eles nutriam pouquíssimas ideias de altruísmo. Eles se apegaram firmemente à lei: “Olho por olho, dente por dente”, e não eram nada misericordiosos em nenhum aspecto. Avançamos um pouco mais no Caminho da Evolução, e o altruísmo está cada vez mais e mais se evidenciando na nossa vida.

Fomos ensinados que não há outra vida no universo senão a vida de Deus; que “n’Ele vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”; que Sua vida anima tudo o que é e, portanto, naturalmente compreendemos que assim que tiramos uma vida estamos destruindo a forma construída por Deus para Sua manifestação. Os animais inferiores são Espíritos em evolução e têm sensibilidades. Seu desejo de experiências é que faz com que eles construam suas várias formas, e quando tiramos essas formas deles, os privamos de sua oportunidade de ganhar experiência. Impedimos sua evolução em vez de ajudá-los. Isso é desculpável no canibal, que não tem noção disso quando ele come seus semelhantes. Atualmente, encaramos o canibalismo com horror e, também, chegará o dia em que sentiremos uma aversão semelhante ao pensar que nossos estômagos se converteram em cemitério das carcaças de animais mortos.

É natural que desejemos o melhor dos alimentos, mas cada corpo animal contém os venenos de decomposição. O sangue venoso é repleto de dióxido de carbono e outros produtos nocivos que são conduzidos aos rins ou aos poros da pele, do corpo da pessoa que come carne animal, para serem expelidos como urina ou transpiração. Essas substâncias repugnantes se encontram em todas as partes da carne animal e, quando comemos tal alimento, estamos preenchendo nossos próprios corpos com venenos tóxicos. Muitas doenças são causadas pelo uso da carne animal.

Quando clamamos a Bíblia como uma autoridade para comer carne, devemos também estar dispostos a seguir seus preceitos e parar de comer carne de porco, por exemplo, que é o alimento mais nocivo de todos. E é fato notável que os judeus ortodoxos que se abstêm dos alimentos proibidos na Bíblia tem muita baixa propensão a tuberculose e ao câncer.

Em muitas passagens da Bíblia em que se trata da “carne”, é evidente que não se trata do alimento carnívoro. O capítulo do Livro do Gênesis, o primeiro alimento que é atribuído ao ser humano diz que deverá comer de toda árvore e erva que produza semente, “e para você será para carne”. As pessoas mais evoluídas em todos os tempos se abstiveram de alimentos carnívoros. Vemos, por exemplo, Daniel, que era um homem santo e sábio, implorar para que ele não fosse forçado a comer carne, mas que ele e seus companheiros recebessem legumes. Os filhos de Israel quando estavam no deserto são mencionados como “desejando carne”, e em consequência, o seu Deus ficou irritado com eles.

Há um significado esotérico no ato de alimentar a multidão utilizando o peixe como alimento, mas considerando o aspecto puramente material, podemos resumir os pontos levantados em nossa resposta reiterando que, em algum momento, deixaremos o consumo de carne animal (mamíferos, aves, peixes, crustáceos, anfíbios, frutos do mar e afins) à medida que nos elevamos espiritualmente. Qualquer permissão que tenha sido dada no passado bárbaro, desaparecerá no futuro altruísta, quando sensibilidades mais refinadas terão despertado uma percepção mais plena aos horrores envolvidos na gratificação de um paladar carnívoro.

Para uma elucidação mais completa sobre a questão: “A Bíblia justifica o consumo de carne?”, remetemos o leitor a um pequeno panfleto (texto abaixo) com esse título publicado pela Unity Society de Kansas City, Missouri, que apresenta os prós e os contras com grande imparcialidade, e mostra que foi apenas por uma concessão, ao já anteriormente mencionado desejo pela carne, que a prática foi tolerada1.

(Pergunta nº 107 do livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, Vol. I” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

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1                             A Bíblia justifica o consumo de carne?

É uma suposição comum que a Bíblia justifique o consumo de carne, e a afirmação de que ela o faz é geralmente aceita, pois poucos investigam por si mesmos, mas permitem que suas ideias herdadas e as ideias de outros, que assimilam por associação, governem eles.

Essa considerável convicção é dada à afirmação de que a Bíblia defende o consumo de carne quando certas passagens são consideradas independentemente de passagens correlatas. Os significados literais dos escritos da Bíblia são aparentemente contraditórios e ambíguos, e lidando apenas com a letra, encontramos muitas declarações que não estão de acordo com nossa crença de certo e errado, e por isso deve ser deixado à opinião individual sobre o que é trigo e palha. “Prove todas as coisas; apegue-se ao que é bom.” (1Tess 5:21).

Lemos que “No princípio, Deus criou o céu e a terra.” (Gn 1:1), e sobre a terra, ervas (Gn 1:12 e 2:5), e ao homem que Ele criou (Gn 1:27 e 2:7). “Deus disse: “Eu vos dou todas as ervas que dão semente, que estão sobre toda a superfície da terra, e todas as árvores que dão frutos que dão semente: isso será vosso alimento.” (Gn 1:29). E para as aves, animais, répteis, etc., (Gn 1:20,21, 24,25 e 2:19), Ele disse, “’A todas as feras, a todas as aves do céu, a tudo o que rasteja sobre a terra e que é animado de vida, eu dou como alimento toda a verdura das plantas’ e assim se fez.” (Gn 1:30). “Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom.” (Gn 1:31). Temos aqui a vontade de Deus expressa por ordem direta: “Para você (ervas e frutos de árvores) isso será vosso alimento.” Devemos obedecer a esse mandamento “ou procurar outro”? É claramente aparente aqui que a vontade de Deus era que o ser humano vivesse de ervas e frutos de árvores; e não apenas o ser humano, mas todos os outros organismos cobertos de carne. Evidentemente, então, “no princípio[1] o ser humano e os outros animais não se devoravam uns aos outros. “Ninguém” não “fará o mal nem destruição nenhuma em todo o meu santo monte,” (Is 11:9). Isaías parece ter acreditado que o mundo voltará a seguir os mandamentos de Deus como declarados nesse, o primeiro capítulo da Bíblia, e ele expressou lindamente essa crença em Isaías 11.

Iahweh Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores formosas de ver e boas de comer.” (Gn 2:9) “E Iahweh Deus deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as árvores do jardim.” (Gn 2:16). “e comerás a erva dos campos.” (Gn 3:18). “Com o suor de teu rosto comerás teu pão.” (Gn 3:19). No Livro do Gênesis 4:4-5 ocorre o primeiro relato de oferta, mas nenhuma menção é feita de animais sendo mortos[2].

Em Gênesis 8:20 temos a primeira menção de uma oferta em holocausto, pelo fogo[3], e em Gênesis 15:9-10[4], 17[5], é descrito um sacrifício de animais por ordem de Deus. Encontramos sacrifícios semelhantes em Gênesis 22:13; Êxodo 12; Êxodo 13:13; Êxodo 20:24; Êxodo 24:5,6; Êxodo 29; Êxodo 34:20; Levítico 1; Levítico 3; Levítico 4; Levítico 5; Levítico 6; Levítico 7; Levítico 8; Levítico 9; Levítico 10:14-19; Levítico 12:6, 7,8; Levítico 14; Levítico 15:14, 15; 29, 30; Levítico 16; Levítico 17; Levítico 23; Números 6:10-11; 14-17; Números 7; Números 8:12; Números 15; Números 18; Números 19:3; Números 23; Números 28; Números 29; Deuteronômio 15:19, 20; Deuteronômio 21:4; Juízes 6:19-21; 25-28; Juízes 13:19; I Samuel 1:25; I Samuel 3:13-16; I Samuel 6:14; I Samuel 7:9; II Samuel 6:13; II Samuel 24:22; I Reis 8:63, 64; I Reis 18:23-26; I Cron. 15:26; I Cron. 21:23: I Cron. 29:21; II Cron. 7:5; II Cron. 15:11; II Cron. 29:2-2, 23; 32,33, 34; II Cron. 30:15, 17; II Cron. 35:6-11; Esdras 6:9, 17; Esdras 8:35; Esdras 10:19; Jó 42:8; Ezequiel 43:18-27; Ezequiel 44:11, 15; Ezequiel 45:22-25; Ezequiel 46:4-15; Lucas 2:24, 39.

De acordo com a Epístola de São Paulo aos Hebreus, nos Capítulos 9 e 10, todos os sacrifícios terminaram com o sacrifício de Cristo, e embora muitos mandamentos tenham sido dados ao sacrifício, ainda assim as leis relativas a eles foram cumpridas na crucificação, e depois disso essas leis foram e são nulas e sem efeito.

Que essas leis não tinham muita força é demonstrado pelas muitas passagens do Antigo Testamento que falam depreciativamente de sacrifícios. “não vou tomar um novilho de tua casa, nem um cabrito dos teus apriscos; pois são minhas todas as feras da selva, e os animais nas montanhas, aos milhares; conheço as aves todas do céu, e o rebanho dos campos me pertence. Se eu tivesse fome não o diria a ti, pois o mundo é meu, e o que nele existe. Acaso comeria eu carne de touros, e beberia sangue de cabritos? Oferece a Deus um sacrifício de confissão e cumpre teus votos ao Altíssimo” (Sl 50:9-14).

Evidentemente, devemos oferecer a Deus ações de graças e não animais mortos. “Sacrifício a Deus é um espírito contrito.” (Sl 51:19). Mas nesse Salmo 51, o versículo 16[6] parece estar em desacordo com o versículo 19. O Profeta de Cristo diz: “Que me importam os vossos inúmeros sacrifícios?, diz Iahweh. Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de bezerros cevados; no sangue de touros, de cordeiros e de bodes não tenho prazer.” (Is 1:11). E em Isaías 29:1, o sacrifício é desprezado. Sob algumas condições, o sacrifício parece ter sido muito pecaminoso (Is 65:3-4)[7]. Jeremias evidentemente não gostava de sacrificar e comer carne (7:19-21)[8]. Oséias fala de sacrifícios que não são aceitos (8:13[9] e 13:2-3[10]). “Porque, se me ofereceis holocaustos…, não me agradam as vossas oferendas e não olho para o sacrifício de vossos animais cevados.” (Am 5:22). Deus não se agrada de milhares de sacrifícios, mas que os seres humanos pratiquem a justiça e amem a misericórdia, e andem mansamente com Ele (Mq 6:7-8[11]). Assim, as leis do sacrifício são cumpridas, e o grande sacrifício — Cristo Jesus — o trouxe para um fim adequado.

Tudo o que se move e possui a vida vos servirá de alimento, tudo isso eu vos dou, como vos dei a verdura das plantas. Mas não comereis a carne com sua alma, isto é, o sangue. Pedirei contas, porém, do sangue de cada um de vós. Pedirei contas a todos os animais e ao homem, aos homens entre si, eu pedirei contas da alma do homem.” (Gn 9:3-5). Obviamente, há algo errado com essa passagem, pois é sem sentido, ambígua e conflita com muitas outras passagens da Bíblia, como, por exemplo, Deuteronômio 14 e Levítico 11, Gênesis 1:29 nunca pode ser reconciliado com isso. Gênesis 9:3, e como parece evidente que Gênesis 1 e 9 foram escritos por um mesmo autor, então sem dúvida há um erro nessa passagem. Se todo o Pentateuco é de um autor, então claramente Gênesis 9:3 é incorretamente proferido, pois é tão conflitante com Levítico 11 e Deuteronômio 14, e outras passagens. Nenhuma nação jamais comeu “toda coisa que se move e vive’”, e como algo poderia ser exigido da mão de cada animal? É dito por eruditos hebreus: “Entre Gênesis 9:3 e Levítico 11 (ou como repetido em Deuteronômio 14) parece haver um conflito de declaração. A explicação usual é que as proibições das últimas passagens repousavam sobre os judeus. Gênesis 9:3 é anterior ao primeiro judeu (Abraão) e pretende ser a regra de vida apenas entre os gentios”. Essa explicação certamente não esclarece o conflito, pois Gênesis 1:29 é anterior a Gênesis 9:3. Também a Bíblia tem muitos mandamentos gerais para não comer animais impuros. Se isso é um conflito entre os escritos Elohísticos[12] e os escritos Jeovísticos[13], parece estranho que o compilador, seja Esdras ou não, não o tenha removido. No entanto, é improvável que qualquer explicação seja satisfatória.

Gênesis 18:7-8[14] fornece o primeiro relato de comer carne, e o que é mais singular, pelos mensageiros de Deus. Devemos lembrar que se esses fossem verdadeiramente mensageiros de Deus, eles não poderiam participar de coisas carnais – não tendo corpo carnal, corpo físico – então eles simplesmente passaram pela forma de comer[15], para agradar a Abraão que havia preparado para eles. Mostra um ponto muito importante, porém, que Abraão estava acostumado a comer carne. Mas o código de moral de Abraão envergonharia um selvagem; veja Gênesis 12 e 20. Descobrimos que Isaac seguiu seu pai e comeu carne (Gn 25:27-28)[16]. Isaac parece ter sido um bom discípulo de seu pai em outros assuntos também (Gn 26:7-10)[17].

Lemos em Gênesis 43:16 que José, um dos personagens mais nobres e puros cuja vida é retratada pelo Antigo Testamento, deu a ordem de matar para um banquete; e, no entanto, na refeição, apenas o pão é mencionado como sendo comido (Gn 43:25-32)[18].

No Livro do Êxodo, capítulo 16, encontramos que os hebreus estavam acostumados a comer carne[19] no Egito, e que eles não comiam carne, mas a desejavam, e Deus prometeu carne a eles[20] e codornizes foram enviadas[21]. Mas os eventos desse capítulo (Êxodo 16) são apresentados de forma mais completa em Números 11, e é melhor considerar lá.

No Livro do Êxodo 20:13 e no Livro do Deuteronômio 5:17 dá a ordem: “Não matarás”. Não diz: “Não matarás o máximo”. Uma lei muito singular é dada no Livro do Êxodo 21:28-29[22], que claramente coloca o boi no mesmo plano de consciência que o ser humano, dando ao boi o poder de discernir o certo e o errado, e a capacidade de premeditação do crime. E o castigo deve ser dado ao boi pelos pecados cometidos como se fosse um ser humano. O fato de que o boi pecador deve ser apedrejado até a morte e a carne não comida prova conclusivamente isso. Isaías lançou mais luz sobre este assunto quando disse: “Aquele que mata um boi é como se tivesse matado um homem.” (66:3). A vida de um boi é aqui considerada tão importante quanto a vida de um ser humano, dando assim ao boi plena fraternidade com o ser humano. Uma consideração misericordiosa pela vida e conforto dos animais é mostrada em no Livro do Êxodo 23:12: “Durante seis dias farás os teus trabalhos e no sétimo descansarás, para que descanse o teu boi e o teu jumento, e tome alento o filho da tua serva e o estrangeiro.”.

Também no Livro do Deuteronômio 25:4, “Não amordaçarás o boi que debulha o grão”. E novamente no Livro dos Provérbios 12:10: “O justo conhece as necessidades do seu gado, mas as entranhas dos ímpios são cruéis.”. No Livro de Eclesiastes, capítulo 3 diz: “Quanto aos homens penso assim: Deus os põe à prova para mostrar-lhes que são animais. Pois a sorte do homem e a do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro, e ambos têm o mesmo alento; o homem não leva vantagem sobre o animal, porque tudo é vaidade.”.  Assim, os animais e o homem são manifestamente um e o mesmo, ou irmãos. E se é assim, e ninguém que investigue honestamente provavelmente duvidará disso, não pode haver diferença entre comer um homem ou um boi, e o canibalismo é simplesmente uma questão de gosto, e não um grau de pecado. Nessas circunstâncias, matar um boi é um crime tão grande quanto matar um homem, pois homem e boi são irmãos. (Isaías 66:3 e Eclesiastes 3:18,19). Se todas as criaturas vivas são irmãos, e é assim, com um Pai comum (Criador), aos olhos desse Pai, ou Deus, é um grande crime assassinar um organismo como outro. O homem ou a mulher que paga dinheiro ao negociante da carne dos seres criados por Deus é igualmente culpado com aquele que os mata. Eles também são culpados com o torturador que mutila os animais jovens, os cauteriza com ferros em brasa, arranca seus chifres, os marca com arame farpado, os coloca em carros lotados meio alimentados e meio regados, os envia em um frio amargo e calor intenso, amedronta-os e os leva para currais de abate, pendura-os pelos pés, enfia uma faca em suas gargantas. Em contraste com isso, que belo quadro é desenhado por Isaías em 11:6-10[23]. A inteligência total e o raciocínio puro dos animais são concedidos a eles em: Gênesis 3:1; Gênesis 9:10-12; Números 22; IIPedro 2:16; IReis 17:4-6; Jó 6:5; Jó 12:7, 8; Salmos 58:4, 5; Provérbios 6:6-8; Provérbios 30:18, 19; 24-28; Isaías 1:3; Isaías 43:20; Jeremias 8:7; Jonas 2:10; Mateus 10:16; Jó 12:10, onde ensina que todo ser vivo tem uma alma.

No Livro do Êxodo 22:1-31 mostra que era costume matar e devorar certos animais, mas que esse costume era acompanhado de alguma consciência de culpa é mostrado por Êxodo 23:19[24], Êxodo 34:26[25] e Deuteronômio 14:21[26].

Nos Livros de Levítico, capítulo 11, e do Deuteronômio, capítulo 14, é fornecida uma lista de animais e aves, etc. que podem ser comidos, e uma lista que não deve ser comido. Os comedores de carne dão grande ênfase a esses capítulos e afirmam que eles não apenas permitem o consumo de carne, mas também o ordenam. Uma leitura cuidadosa do Livro do Deuteronômio, capítulos 12 e 14, mostra que se as pessoas têm uma avassaladora luxúria para carne, eles podem comer certos animais sob restrições e condições que tendem a tornar o consumo de carne extremamente árduo.

Todo homem da casa de Israel que, no acampamento ou fora dele, imolar novilho, cordeiro ou cabra, sem o trazer à entrada da Tenda da Reunião, para fazer dele uma oferenda a Iahweh, diante do seu tabernáculo, tal homem responderá pelo sangue derramado e será eliminado do meio do seu povo.” (Lv 17:3-4) e “e diante de Iahweh teu Deus, no lugar que ele houver escolhido para aí fazer habitar o seu nome, comerás o dízimo do teu trigo, do teu vinho novo e do teu óleo, como também os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas, para que aprendas continuamente a temer a Iahweh teu Deus. Caso o caminho seja longo demais para ti, e não possas levar o dízimo — porque o lugar que Iahweh teu Deus escolheu para aí colocar o seu nome fica muito longe de ti, quando Iahweh teu Deus te houver abençoado, — vende-o então por dinheiro, toma o dinheiro em tua mão e vai para o lugar que Iahweh teu Deus houver escolhido.6Lá trocarás o dinheiro por tudo o que desejares: vacas, ovelhas, vinho, bebida embriagante, tudo enfim que te apetecer. Comerás lá, diante de Iahweh teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua família.” (Dt 14:23-26).

““Eu queria comer carne!”., caso desejes comer carne, podes comer carne o quanto queiras.” (Dt 12:20).

“É no lugar que Iahweh vosso Deus houver escolhido para aí fazer habitar o seu nome que trareis tudo o que eu vos ordenei: vossos holocaustos, vossos sacrifícios, vossos dízimos, os dons das vossas mãos e todas as oferendas escolhidas que tiverdes prometido como voto a Iahweh.” Dt (12:11)

“Tu os comerás diante de Iahweh teu Deus, somente no lugar que Iahweh teu Deus houver escolhido, tu, teu filho e tua filha, teu servo e tua serva, e o levita que habita contigo. E te alegrarás diante de Iahweh teu Deus de todo o empreendimento da tua mão.” (Dt 12:18)

Se o lugar escolhido por Iahweh teu Deus para aí colocar o seu nome estiver muito longe de ti, poderás então imolar das vacas e ovelhas que Iahweh teu Deus te houver dado, conforme te ordenei. Poderás comer nas tuas cidades o quanto desejares.” (Dt 18:21). Um exame cuidadoso da lista de animais permitidos para serem comidos nos Livros de Deuteronômio, capítulo 14, e Levítico, capítulo 11, mostra que os antigos hebreus exibiam uma inteligência que, vista do ponto de vista científico material, está muito à frente daquela dos Cristãos carnívoros do civilização atual. A discriminação relativa aos mamíferos é tão quase perfeita quanto parece possível para o ser humano carnívoro fazê-lo, e quanto aos pássaros, a mesma inteligência maravilhosa é mostrada. Os peixes proscritos e os animais aquáticos são aqueles que são claramente impróprios para alimentação; especialmente é esse de espécies de água doce. Mas esse excelente grau de sabedoria não é mostrado quanto aos insetos e répteis permitidos e rejeitados, a intenção sendo vaga e incerta e a discriminação não é boa, pois nenhuma tentativa é feita para separar o limpo do impuro. Das coisas móveis que vivem sobre a face da Terra, uma, os porcos, é primordial quanto ao consumo de alimentos imundos; e os hábitos dos porcos são tão imundos quanto os alimentos que consomem. E, no entanto, as mesmas pessoas que recorrem a Levítico, capítulo 11 e Deuteronômio, capítulo 14, para justificá-los no consumo de carne ignorarão deliberadamente as passagens mais fortes desses capítulos, abordando a devoração de carne suína. Como qualquer povo civilizado ou semicivilizado pode cair em um costume tão abominável como comer carne de porco, está além de qualquer compreensão.

Um intelecto mais depravado, governado por uma luxúria incontrolável, deve ter primeiro concebido a ideia dessa prática repugnante. “tereis como impuro o porco porque, apesar de ter o casco fendido, partido em duas unhas, não rumina.” (Lv 11:7). “Não comereis da carne deles nem tocareis o seu cadáver, e vós os tereis como impuros” (Lv 11:8).  “Quanto ao porco, que tem o casco fendido, mas não rumina, vós o considerareis impuro. Não comereis de sua carne e nem tocareis em seus cadáveres.” (Dt 14:8). O Profeta de Cristo diz: “Um povo que continuamente me provoca à ira, … que come carne de porco… meu nariz, um fogo que queima o dia todo” (Is 65:3-5). O Livro de  Isaías, 65:1-5, foi referido por São Paulo, apóstolo dos gentios, em sua Epístola aos Romanos 10:20-21[27]. E Cristo destruiu um rebanho de suínos (Mt 8:31-32), mas Ele não veio para destruir (Mt 5:17).

Então, para resumir os Livros de Deuteronômio, capítulo 14, e Levítico, capítulo 11, parece que se a concupiscência do ser humano carnal não pode ser vencida, ela pode ser ratificada comendo certos animais limpos, sob condições muito restritas. “e diante de Iahweh teu Deus, no lugar que ele houver escolhido para aí fazer habitar o seu nome, comerás o dízimo do teu trigo, do teu vinho novo e do teu óleo, como também os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas, para que aprendas continuamente a temer a Iahweh teu Deus. Caso o caminho seja longo demais para ti, e não possas levar o dízimo — porque o lugar que Iahweh teu Deus escolheu para aí colocar o seu nome fica muito longe de ti, quando Iahweh teu Deus te houver abençoado, — vende-o então por dinheiro, toma o dinheiro em tua mão e vai para o lugar que Iahweh teu Deus houver escolhido. Lá trocarás o dinheiro por tudo o que desejares: vacas, ovelhas, vinho, bebida embriagante, tudo enfim que te apetecer. Comerás lá, diante de Iahweh teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua família.” (Dt 14:23-26). Certamente, comer carne não era uma prática comum nessas condições. Não há mais razão para os Cristãos tentarem seguir as partes desses capítulos que podem agradar suas concupiscências do que haveria na tentativa de seguir a ordem em Levítico 26:29: “Comereis a carne dos vossos filhos e comereis a carne das vossas filhas.”.

Um Cristão segue a lei estabelecida no Livro do Deuteronômio, capítulo 14, versículo 21?

O Livro de Amós diz que comedores de carne devem entrar em cativeiro. (6:4:7)[28].

…tirarei o seu sangue de sua boca e as suas abominações dentre os seus dentes. Ele, também, será um resto para o nosso Deus, será como uma família em Judá, e Acaron como um jebuseu.” (Zc 9:7).

Que São João Batista comeu gafanhotos (Mt 3:4[29] e Mc 1:6[30]) é certo, mas São João deve ter tido muitas falhas. (Mt 11:11). Ainda assim, comer gafanhotos não é tão errado quanto comer vertebrados.

Cristo Jesus deu à multidão peixe para comer (Mt 14:17,19,20; Mt 15:36,37; Mc 6:41; Mc 8:7,8; Lc 9:16,17 e Jo 6:11), mas não há registro de que ele mesmo os comeu, e de acordo com São João (Jo 6:9[31]) nem Cristo Jesus nem seus Discípulos tinham o peixe original. Embora Cristo Jesus possa não ter aprovado comer carne, ainda no caso de peixe, pelo menos, ele tolerou. Mas não há nada no Novo Testamento tocando nessa questão que seja de alguma consequência. O mais sério é no Evangelho Segundo São Lucas, em 24:42:43[32]. Aqui Cristo Jesus aparentemente comeu peixe, mas essas passagens não são absolutamente claras. Como isso aconteceu após a crucificação, Cristo Jesus deve ter estado em estado espiritual onde o corpo carnal não exigia sustento; portanto, se Cristo Jesus comeu peixe, ele estava apenas passando pela forma de comer para convencer Seus Discípulos de que Ele era um “homem de carne e sangue” (?). Ainda assim, como São Lucas recebeu sua informação em segunda mão, e não escreveu o registro por, provavelmente, meio século depois, é muito provável que ele tenha cometido um erro aqui, pois São João, que estava presente nesta cena, não diz nada sobre Cristo Jesus comer peixe nessa ocasião, mas São João diz: “Jesus aproxima-se, toma o pão e o distribui entre eles; e faz o mesmo com o peixe.” (Jo 21:13). “Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e foi quem as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.” (Jo 21:24).

Os judeus comiam peixes e outros animais, e que Cristo Jesus reconheceu esse fato é demonstrado no Evangelho Segundo São Mateus 22:4[33]; Evangelho Segundo São Lucas 11:11[34] e em 15:23-29,30[35], mas não há insinuação de que Ele o sancionou.

No Livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 10, é retratada uma visão de São Pedro, que às vezes é usada como justificativa para comer carne, mas esse capítulo e o seguinte explicam tão claramente que a visão se aplica a pessoas e não a alimentos, que não é digna de consideração.

São Paulo pensava que homens, pássaros, peixes e animais tinham, cada um, um tipo diferente de carne (ICor 15:39[36]), e que nenhuma ordem deveria ser dada “exigirão a abstinência de certos alimentos, quando Deus os criou para serem recebidos, com ação de graças, pelos que têm fé e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada é desprezível, se tomado com ação de graças,” (ITim 4:3-4). São Paulo parece sancionar o consumo de carne aqui e no capítulo 10 da Primeira Epístola aos Coríntios, embora seja muito vago. Ainda assim, São Paulo ensinou algumas coisas que nenhuma igreja Cristã aceita.

O Espírito Santo desceu sobre Cristo Jesus em forma corpórea como uma pomba (Lc 3:22[37]). É difícil conceber o Espírito Santo assumindo a forma de um animal destinado a ser devorado pelo homem para satisfazer um apetite carnal. Cristo Jesus era frequentemente mencionado como um Cordeiro, e Cristo Jesus chamou seus Discípulos de cordeiros e ovelhas (Jo 21:15-17[38] e Jo 10:3,7,8[39]). Parece singular que Cristo Jesus e seus Ciscípulos sejam chamados pelo nome de um animal que deveria ser devorado. |

Sede misericordiosos” (Lc 6:36) aplica-se igualmente bem a todos os seres criados por Deus. E da mesma forma, o comando: “Não mate.” (Lc 18:20).

Os Apóstolos ensinaram a abstenção de sangue. (At 15:20-29[40] e 21:25[41]).

Na Epístola de São Paulo aos Romanos, no capítulo 14, nos ensina que comer carne é um assunto que deve ser deixado ao julgamento do indivíduo.

Eis porque, se um alimento é ocasião de queda para meu irmão, para sempre deixarei de comer carne, a fim de não causar a queda de meu irmão.” (ICor 8:13).

Aqueles “cujo Deus é seu ventre” são inimigos de Cristo (Fp 3:18,19). “O alimento sólido” é mencionada em na Epístola de São Paulo aos Hebreus em 5:14, mas não tem relação com o assunto de comer carne. A última ordem de Cristo Jesus foi: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.” (Lc 16:15; Cl 1:23).

Considerando todos os escritos da Bíblia, descobrimos que a preponderância de evidências dignas de crédito é esmagadoramente oposta ao consumo de carne. Não há absolutamente nada que justifique isso, e a única desculpa que se pode oferecer para devorar as carcaças dos seres criados de Deus é a luxúria do ser humano carnal.

Se matarmos e ensinarmos outros a matar, construiremos na consciência pensamentos de morte e falta de vida. “Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá.” (Gl 6:7). Se participamos de animais mortos, estamos participando da morte e, assim, atraindo a morte para nós. Se desejamos ver o Reino de Cristo, tão belamente descrito no Capítulo 2 do Livro de Isaias, estabelecido na Terra, teremos que fazer nossa parte na preparação para ele, e devemos construir e não destruir, enquanto aguentarmos a imagem de morte e destruição diante de nossos vizinhos e de nós mesmos, por tanto tempo estamos retardando a chegada deste tempo de perfeição pacífica tão graficamente retratado pelo irônico profeta de Cristo.

Um ramo sairá do tronco de Jessé, um rebento brotará das suas raízes.Sobre ele repousará o espírito de Iahweh, espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Iahweh: no temor de Iahweh estará a sua inspiração. Ele não julgará segundo a aparência. Ele não dará sentença apenas por ouvir dizer. Antes, julgará os fracos com justiça, com equidade pronunciará uma sentença em favor dos pobres da terra. Ele ferirá a terra com o bastão da sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o ímpio. A justiça será o cinto dos seus lombos e a fidelidade, o cinto dos seus rins. Então o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o gordo novilho andarão juntos e um menino pequeno os guiará. A vaca e o urso pastarão juntos, juntas se deitarão as suas crias. O leão se alimentará de forragem como o boi. A criança de peito poderá brincar junto à cova da áspide, a criança pequena porá a mão na cova da víbora. Ninguém fará o mal nem destruição nenhuma em todo o meu santo monte, porque a terra ficará cheia do conhecimento de Iahweh, como as águas enchem o mar. Naquele dia, a raiz de Jessé, que se ergue com um sinal para os povos, será procurada pelas nações, e a sua morada se cobrirá de glória.” (Is 11:1-10.).

O lobo e o cordeiro pastarão juntos e o leão comerá feno como o boi. Quanto à serpente, o pó será o seu alimento. Não se fará mal nem violência em todo o meu monte santo, diz Iahweh Deus.” (Is 65:25).

Farei em favor deles, naquele dia, um pacto com os animais do campo, com as aves do céu e com os répteis da terra. Exterminarei da face da terra o arco, a espada e a guerra; fá-los-ei repousar em segurança.” (Os 2:20). E quando nos prepararmos e prepararmos o mundo para receber nosso Rei – quando deixarmos de lado o “homem carnal” – quando não ferirmos, nem destruirmos, nem devorarmos – quando nos elevarmos acima do pecado, da doença, tristeza e morte, e entrarmos em Seu “descanso glorioso”, e aprendermos que o amor é a lei suprema – então, e não até então, haverá a “vinda do Filho do homem”, e todos poderemos dizer: “Bendito o que vem em nome do Senhor.”.

Se quisermos ver a segunda vinda de Cristo realmente ocorrer, como foi prometido, devemos preparar a nós mesmos e ao mundo para recebê-lo.

Não podemos descansar na esperança, mas devemos fazer nossa parte do trabalho. Não podemos realizar nada esperando com calma. Devemos estar trabalhando na construção do Reino, e o fundamento mais seguro que podemos construir está na Regra de Ouro. Devemos “viver e deixai viver”. Devemos nos levantar, e “como o relâmpago sai do leste e brilha até o oeste”, assim devemos “enviar a boa “palavra” e ensinar todos os seres criados a preparar o caminho” diante d’Ele.

Então veremos um “novo Céu e uma nova Terra”, pois o velho terá “passado”, e “veremos o Filho do homem vindo nas nuvens do céu, com poder e grande glória” e O verão entronizado e governando através do poder do amor, e então “não farão mal nem destruirão em todo o meu santo monte”. E não haverá mais morte, nem pesar, nem pranto e nem dor”.

FIM

(Publicado na revista Unity[42] Tract Society, Kansas City, MO. nas edições de novembro, dezembro de 1904 e janeiro e fevereiro de 1905 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: Em todas as linhas de investigação, chegamos ao “princípio” com um ser humano vegetariano. No poema mais antigo conhecido, o épico acádico (da cidade de Acad) de Isdubar de Erech (Gn 10:10) ocorrem estas linhas: “Com as gazelas à noite ele comeu sua comida. Durante o dia com feras do campo ele vivia. Seu coração se alegrou quando viu coisas VIVAS.”. E em vislumbres obscuros e sombrios do Egito primitivo, vemos o ser humano comendo grãos, frutas e vegetais. Darwin diz sobre o ser humano primitivo: “Ele provavelmente habitava um país quente; uma circunstância favorável para a dieta frugífera, na qual, a julgar por analogia, ele subsistiu”.

[2] N.T.: Abel, por sua vez, também ofereceu as primícias e a gordura de seu rebanho. Ora, Iahweh agradou-se de Abel e de sua oferenda. Mas não se agradou de Caim e de sua oferenda, e Caim ficou muito irritado e com o rosto abatido.

[3] N.T.: Noé construiu um altar a Iahweh e, tomando de animais puros e de todas as aves puras, ofereceu holocaustos sobre o altar.

[4] N.T.: Ele lhe disse: “Procura-me uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho”. Ele lhe trouxe todos esses animais, partiu-os pelo meio e colocou cada metade em face da outra; entretanto, não partiu as aves.

[5] N.T.: Quando o sol se pôs e estenderam-se as trevas, eis que uma fogueira fumegante e uma tocha de fogo passaram entre os animais divididos.

[6] N.T.: Livra-me do sangue, ó Deus, meu Deus salvador, e minha língua aclamará tua justiça.

[7] N.T.: “a um povo que me provoca de frente sem cessar, sacrificando nos jardins, queimando incensos sobre as lajes…comendo carne de porco, pondo nos seus pratos postas impuras”.

[8] N.T.: “Mas será a mim que eles ofendem?, oráculo de Iahweh. Não será a eles mesmos, para a sua própria vergonha? Por isso, assim disse o Senhor Iahweh: Eis que minha ira ardente se derramará sobre este lugar, sobre os homens, sobre os animais, sobre as árvores do campo e sobre os frutos da leira. Ela arderá e não se extinguirá. Assim disse Iahweh dos Exércitos, Deus de Israel: Acrescentai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios e comei a carne!”.

[9] N.T.: “Eles oferecem os sacrifícios que amam, comem a carne, mas Iahweh não os aceitará. Agora ele se lembrará de suas faltas e castigará os seus pecados: eles voltarão ao Egito.”

[10] N.T.: “Eles dizem: “Oferecei-lhes sacrifícios”. Homens beijam bezerros. 3Por isso, serão como a nuvem da manhã, como o orvalho que cedo desaparece, como a palha que voa fora da eira e como a fumaça que sai pela janela.”.

[11] N.T.: “Terá Iahweh prazer nos milhares de carneiros ou nas libações de torrentes de óleo? Darei eu o meu primogênito pelo meu crime, o fruto de minhas entranhas pelo meu pecado?”. — “Foi-te anunciado, ó homem, o que é bom, e o que Iahweh exige de ti: nada mais do que praticar o direito, gostar do amor e caminhar humildemente como teu Deus.”

[12] N.T.: relativo à Elohim, não necessariamente de Jeová.

[13] N.T.: Relacionado à Jeová (Iahweh Deus).

[14] N.T.: “Depois correu Abraão ao rebanho e tomou um vitelo tenro e bom; deu-o ao servo que se apressou em prepará-lo. Tomou também coalhada, leite e o vitelo que preparara e colocou tudo diante deles; permaneceu de pé, junto deles, sob a árvore, e eles comeram.”

[15] N.T.: Josephus (foi um historiador e apologista judaico-romano, descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis) disse: “Eles fizeram um demonstração de comida”.

[16] N.T.: 7Os meninos cresceram: Esaú tornou-se um hábil caçador, correndo a estepe; Jacó era um homem tranquilo, morando sob tendas.8Isaac preferia Esaú, porque apreciava a caça, mas Rebeca preferia Jacó.”

[17] N.T.: “Os homens do lugar interrogaram-no sobre sua mulher e ele respondeu: “É minha irmã”. Ele teve medo de dizer: “Minha mulher,” pensando: “Os homens do lugar me matarão por causa de Rebeca, pois ela é bonita”. Ele estava lá há muito tempo quando Abimelec, rei dos filisteus, olhando uma vez pela janela, viu que Isaac acariciava Rebeca, sua mulher. Abimelec chamou Isaac e disse: “É evidente que é tua mulher! Como pudeste dizer: ‘É minha irmã’?”. Isaac lhe respondeu: “Pensei comigo: corro o risco de morrer por causa dela”. Retomou Abimelec: “Que nos fizeste? Por pouco alguém do povo dormia com tua mulher e tu nos atrairias uma falta!””.

[18] N.T.: “Eles prepararam o presente, esperando que José viesse ao meio-dia, porque souberam que ali fariam refeição. Quando José entrou na casa, ofereceram-lhe o presente que tinham consigo e se prostraram por terra. Mas ele os saudou amigavelmente e perguntou: “Como está vosso velho pai, de quem me falastes: ele ainda vive?”. Responderam: “Teu servo, nosso pai, está bem, ele ainda vive,” e se ajoelharam e se prostraram. Erguendo os olhos, José viu seu irmão Benjamim, o filho de sua mãe, e perguntou: “É este o vosso irmão mais novo, de que me falastes?”. E dirigindo-se a ele: “Que Deus te conceda graça, meu filho”. E José apressou-se em sair, porque suas entranhas se comoveram por seu irmão e as lágrimas lhe vinham aos olhos: entrou em seu quarto e ali chorou. Tendo lavado o rosto, voltou e, contendo-se, ordenou: “Servi a refeição”. Serviram-no à parte, eles à parte e à parte, também, os egípcios que comiam com ele, porque os egípcios não podem tomar suas refeições com os hebreus: têm horror disso.”

[19] N.T.: Ex 16:3: “Os filhos de Israel disseram-lhes: “Antes fôssemos mortos pela mão de Iahweh na terra do Egito, quando estávamos sentados junto à panela de carne e comíamos pão com fartura! Certamente nos trouxestes a este deserto para fazer toda esta multidão morrer de fome”.”

[20] N.T.: Ex 16:8: “E Moisés disse: “Iahweh vos dará esta tarde carne para comer, pela manhã pão com fartura, pois ouviu a vossa murmuração contra ele. Porque nós, o que somos? Não são contra nós as vossas murmurações, e sim contra Iahweh”.” Ex 16:12: ““Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel; dize-lhes: Ao crepúsculo comereis carne, e pela manhã vos fartareis de pão; e sabereis que eu sou Iahweh vosso Deus”.

[21] N.T.: Ex 16:13: “À tarde subiram codornizes e cobriram o acampamento; e pela manhã havia uma camada de orvalho ao redor do acampamento.

[22] N.T.: “Se algum boi chifrar homem ou mulher e causar sua morte, o boi será apedrejado e não comerão a sua carne; mas o dono do boi será absolvido. Se o boi, porém, já antes marrava e o dono foi avisado, e não o guardou, o boi será apedrejado e o seu dono será morto.”

[23] N.T.: “Então o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o gordo novilho andarão juntos e um menino pequeno os guiará. A vaca e o urso pastarão juntos, juntas se deitarão as suas crias. O leão se alimentará de forragem como o boi. A criança de peito poderá brincar junto à cova da áspide, a criança pequena porá a mão na cova da víbora. Ninguém fará o mal nem destruição nenhuma em todo o meu santo monte, porque a terra ficará cheia do conhecimento de Iahweh, como as águas enchem o mar. Naquele dia, a raiz de Jessé, que se ergue com um sinal para os povos, será procurada pelas nações, e a sua morada se cobrirá de glória.

[24] N.T.: “Trarás as primícias dos frutos da tua terra à casa de Iahweh teu Deus. Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe.

[25] N.T.: “Trarás o melhor das primícias para a Casa de Iahweh teu Deus. Não cozerás o cabrito no leite da sua própria mãe.

[26] N.T.: “Não podereis comer de nenhum animal que tenha morrido por si. Tu o darás ao forasteiro que vive em tua cidade para que ele o coma, ou vendê-lo-ás a um estrangeiro. Porque tu és um povo consagrado a Iahweh teu Deus. Não cozerás um cabritinho no leite de sua mãe.

[27] N.T.: “E Isaías ousa até dizer: Fui encontrado por aqueles que não me procuram; tornei-me visível aos que não perguntam por mim. E a Israel diz: O dia todo estendi as mãos a um povo desobediente e rebelde.”

[28] N.T.: “Eles estão deitados em leitos de marfim, estendidos em seus divãs, comem cordeiros do rebanho e novilhos do curral,improvisam ao som da harpa, como Davi, inventam para si instrumentos de música, bebem crateras de vinho e se ungem com o melhor dos óleos, mas não se preocupam com a ruína de José. Por isso, agora, eles serão exilados à frente dos deportados, e terminará a orgia daqueles que estão estendidos.”

[29] N.T.: “Seu alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre.”

[30] N.T.: “e se alimentava de gafanhoto e mel silvestre.

[31] N.T.: “’Há aqui um menino, que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isso para tantas pessoas?’

[32] N.T.: “Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e comeu-o diante deles.”

[33] N.T.: “Tornou a enviar outros servos, recomendando: ‘Dizei aos convidados: eis que preparei meu banquete, meus touros e cevados já foram degolados e tudo está pronto. Vinde às núpcias’”.

[34] N.T.: “Quem de vós, sendo pai, se o filho lhe pedir um peixe, em vez do peixe lhe dará uma serpente?”.

[35] N.T.: “Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois, este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’”.

[36] N.T.: “Nenhuma carne é igual às outras, mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos quadrúpedes, outra a dos pássaros, outra a dos peixes.”.

[37] N.T.: “e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corporal, como pomba. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho; eu, hoje, te gerei!”.

[38] N.T.: “Depois de comerem, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes”? Ele lhe respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta os meus cordeiros”. Uma segunda vez lhe disse: “Simão, filho de João, tu me amas?”. — “Sim, Senhor”, disse ele, “tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas”. Pela terceira vez disse-lhe: “Simão, filho de João, tu me amas?”. Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara “Tu me amas?”. e lhe disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes quente amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas.”.

[39] N.T.: Jo 10:3: “A este o porteiro abre: as ovelhas ouvem a sua voz e ele chama as suas ovelhas uma por uma e as conduz para fora.”. Jo 10:7-8: “7Disse-lhes novamente Jesus: “Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes; mas as ovelhas não os ouviram.”.

[40] N.T.: “Mas se lhes escreva que se abstenham do que está contaminado pelos ídolos, das uniões ilegítimas, das carnes sufocadas e do sangue. Com efeito, desde antigas gerações tem Moisés em cada cidade os seus pregadores, que o leem nas sinagogas todos os sábados”. Então pareceu bem aos apóstolos e anciãos, de acordo com toda a Igreja, escolher alguns dentre os seus e enviá-los a Antioquia, junto com Paulo e Barnabé. Foram Judas, cognominado Bársabas, e Silas, homens considerados entre os irmãos. Por seu intermédio, assim escreveram: “Os apóstolos e os anciãos, vossos irmãos, aos irmãos dentre os gentios que moram em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações! Tendo sabido que alguns dos nossos, sem mandato de nossa parte, saindo até vós, perturbaram-vos, transtornando vossas almas com suas palavras, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, escolher alguns representantes e enviá-los a vós junto com nossos diletos Barnabé e Paulo,homens que expuseram suas vidas pelo nome de nosso Senhor, Jesus Cristo. Nós vos enviamos, pois, Judas e Silas, eles também transmitindo, de viva voz, estas mesmas coisas. De fato, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor nenhum outro peso além destas coisas necessárias: que vos abstenhais das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas, e das uniões ilegítimas. Fareis bem preservando-vos destas coisas. Passai bem.””.

[41] N.T.: “Quanto aos gentios que abraçaram a fé, já lhes escrevemos sobre nossas decisões: que se abstenham das carnes imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das uniões ilegítimas””.

[42] N.T.: UNITY é um manual de Cristianismo Prático e Cura Cristã. Ele apresenta a pura doutrina de Jesus Cristo diretamente da fonte, “O Espírito Santo, que vos conduzirá a toda a Verdade”. Não é o órgão de nenhuma seita, mas permanece independente como um expoente do Cristianismo prático, ensinando a aplicação prática em todos os assuntos da vida da doutrina de Jesus Cristo; explicando a ação da Mente e como ela é o elo de ligação entre Deus e o ser humano; como a ação da Mente afeta o corpo, produzindo discórdia ou harmonia, doença ou saúde, e traz o ser humano para a compreensão da Lei Divina, harmonia, saúde e paz, aqui e agora.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Propósito da Cura: a Lei do Destino

Um número sempre crescente de médicos está convencido de que a Lei do Destino é um fator importante para produzir as enfermidades e retardar o restabelecimento, embora na realidade não acreditem na falácia de um destino inexorável. Reconhecem que Deus não nos aflige voluntariamente e não tem intenção de punir o transgressor. Compreendem que todos os sofrimentos e dores são destinados a ensinar-nos lições que não poderíamos ou não quereríamos aprender de outro modo. Os Astros apenas assinalam a época conveniente para recebermos a lição. Mas nem Deus pode determinar o tempo exato ou a quantidade de sofrimento necessário porque nós temos essa prerrogativa, porque somos divinos. Se reconhecermos nossa transgressão e fase de provação prescrita pelos Astros, ficaremos curados da nossa desordem mental, física ou moral. E se persistirmos até o fim de uma aflição astral em não aprender nossa lição então outra configuração muito mais hostil nos obrigará à obediência mais tarde.

O câncer e a tuberculose são aparentemente incuráveis, mas sempre existe a possibilidade de que possam ceder, se a força dirigida contra esses males for suficiente. Como todas as manifestações físicas são o resultado de causas espirituais, e se pudermos chegar a elas, contrabalançando-as com algo de natureza oposta, existirá uma oportunidade, ao passo que uma atitude apática e carente nunca melhorará a condição do paciente. Vivendo em clima saudável e sentindo forte anseio pela saúde, uma esperança que não conheça e nem permita desalento, e uma dieta simples, nutritiva e adequada, podem curar até os piores casos de tuberculose. Quanto ao câncer, é muito difícil determinar quando passou a dívida do destino que causou a afecção, e existem muitos casos registrados em que o câncer pode ser curado, isto é, naturalmente, em suas formas mais brandas. Todavia, mesmo nos casos graves não se deve abandonar a esperança, enquanto existe vida.

No que diz respeito à arteriosclerose existem vários métodos mediante os quais podem ser eliminados seus depósitos, e uma vez removidos, o paciente se sente tão bem como antes. Assim sucede, especialmente quando se consegue que o enfermo reconheça que violou as Leis da Natureza, o que causou a enfermidade nesse caso específico, e para esse objetivo devemos trabalhar. Seja a doença curada ou não, se a pessoa pode ser ensinada sobre quais as leis que foram transgredidas, se ela ou ele pode ser levada a ver qual é a causa espiritual da doença e andar segundo as leis da virtude – que são as Leis de Deus – então, no futuro não existirá doença para eles. É para este fim que estamos trabalhando na Fraternidade Rosacruz, a fim de apressar o dia da libertação, para que toda a humanidade chegue à realização da saúde perfeita.

Quanto à objeção se devemos ou não interferir no destino, deveríamos pensar em primeiro lugar em quem fez esse destino. Nós mesmos! Pusemos em movimento forças que agora estão se manifestando como destino e uma vez que o criamos, temos o direito de modificá-lo, conforme a nossa capacidade. De fato, isto constitui o selo da nossa própria divindade, o poder de reger-nos a nós mesmos. A imensa maioria da humanidade é governada pelos corpos celestes aos quais podemos chamar: o “Relógio do Destino”. Os doze Signos do Zodíaco marcam as doze horas do dia e da noite; os Astros são como ponteiro das horas e assinalam o ano em que certa dívida do destino está madura para ser paga em nossa vida. A Lua indica o mês, e atrai certas influências que sentimos, embora não saibamos que se exercem sobre nós e ignoremos que nossas ações sigam a linha marcada pelo destino que provocamos em nossas vidas anteriores, e invariavelmente as coisas prognosticadas acontecerão a menos que… sim, porque existe um “A MENOS QUE”, graças a Deus, porque se assim não fosse, se não houvesse possibilidade de mudanças no nosso destino então nos sentaríamos e “comeríamos e beberíamos e nos casaríamos porque amanhã teríamos que morrer”. Estaríamos, então, nas mãos de um destino inexorável e incapacitados para ajudar-nos a nós mesmos. Mas, graças a Deus, existe uma probabilidade que não se vê no horóscopo. Isto é a vontade humana que pode impor-se e frustrar o destino.

Como expôs em forma poética Ella Wheeler Wilcox:

“Um navio veleja para Leste e outro para Oeste,

Com o mesmo vento que sopra.

É a posição das velas e não a força do vento

Que determina o rumo a seguir”.

É da maior importância fixarmos as velas das naves de nossa vida como queiramos e que nunca tenhamos escrúpulo de interferir no destino.

Devemos também repelir a ideia de que as simples afirmações sejam suficientes para melhorar as nossas vidas. Em si mesmas, são uma tolice. Na vida, necessitamos de trabalho e ação, como veremos facilmente pela seguinte ilustração: suponhamos que uma pequena semente de cravo fosse dotada da palavra e nos dissesse: “Sou um cravo”. Responderíamos: “Não, você não é um cravo! Você tem as potencialidades necessárias, mas ainda terá que ir ao jardim e se enterrar por algum tempo, germinar e crescer. Somente por esse meio poderá se converter em um cravo, e não mediante sugestões e afirmações”. O mesmo sucede conosco. Todas as “afirmações” de divindade são vãs, a menos que sejam acompanhadas pelas ações de caráter divino, as quais provarão nossa divindade, como as palavras jamais poderão fazê-lo.

(“Extraído do livro: Princípios Ocultos de Saúde e Cura” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Necessária Vigilância sobre os Hábitos

Leis naturais imutáveis regem o Corpo Denso. Todos os estados enfermiços são o resultado da violação dessas leis, seja consciente ou ignorantemente. Se alguém se encontra em precárias condições de saúde, é porque subestimou os princípios fundamentais regentes do bem-estar corporal. Se você almeja recobrá-la e conservá-la, deve compreender estes princípios e regular seus hábitos de conformidade com eles. Isto é o que Cristo-Jesus proclamou ao afirmar ao paralítico curado: “Olha que já estás curado; não peques mais para que não te suceda coisa pior”.

Cristo não poderia conceder ao doente ou enfermo uma saúde permanente, se ele, que fora beneficiado pela Força Curadora, não renunciasse aos seus maus hábitos, em verdade, os causadores da moléstia.

A saúde deve ser o estado natural do Corpo Denso. Nosso organismo possui defesas naturais. É de vital importância, portanto, compreender que a enfermidade nos atinge como resultado inevitável da debilitação dessas defesas, deprimidas por vícios e hábitos errôneos. Assunto correlato foi abordado pelo eminente médico Dr. Salomão Chaib, em seu artigo “O Câncer e as Defesas do Corpo”, publicado na edição de 25/09/77, do jornal “City News de S.Paulo”:

“Fazendo cultura de células cancerosas de dois doentes: portadores do mesmo tipo de câncer do cérebro, mas um com tumor localizado, sem ramificações, crescendo muito lentamente e outro invadindo todo o corpo, em fase adiantada, um cientista quis saber por que às vezes o organismo se defendia, lutava e isolava o tumor e outras vezes, não. Separou glóbulos brancos do sangue dos dois doentes e misturou com a cultura de células cancerosas. Qual não foi sua surpresa ao notar que os glóbulos dos dois doentes atacavam igualmente as células cancerosas. Por que, então, não o faziam no organismo?

Procurando uma explicação, retirou um pouco do soro do doente que estava morrendo e colocou em contato com a cultura. Imediatamente, os glóbulos brancos, de ambos os doentes ficaram inertes, deixaram de atacar as células cancerosas.

Concluiu, então, que havia no sangue uma substância produzida pelo câncer e injetada no organismo capaz de bloquear seu mecanismo de defesa. O fato mais extraordinário dessa observação foi que, examinando o soro de embriões de animais tirados dos ventres da mãe ainda nas primeiras semanas de gestação, os investigadores encontraram a mesma substância produzida pelo câncer para paralisar as reações imunológicas do nosso corpo.

Essa substância também foi encontrada em fetos humanos. Compreende-se agora por que a mãe não rejeita o filho, em grande parte constituído de material estranho do pai. Suas defesas contra ele estão paralisadas por essa substância bloqueadora. Procurou–se observar a possível relação entre a queda de nossas resistências e o aparecimento do câncer e logo ficou patente existir grande concomitância entre os dois fatos.

No início, o enfraquecimento das reações defensivas parece permitir o crescimento de células tumorais, e mais tarde essas células irão se proteger contra o organismo injetando nele a substância bloqueadora. Em certos tipos de câncer como, por exemplo, o do colo do útero, mesmo ainda muito pequeno, do tamanho de um grão de arroz, já se observa queda violenta nas defesas imunitárias da mulher.

Outros, porém, como o do estômago, à medida que crescem vão debilitando essas defesas.

Daí passaram os cientistas a observar as condições de maior frequência do aparecimento do câncer. Verificaram, com surpresa, que é muito maior a incidência de câncer entre pessoas enfraquecidas do que em pessoas sadias, vigorosas, de vida normal. À prova mais evidente disso foi dada pelos doentes que necessitavam de transplante de rim. Nesses indivíduos, submetidos à irradiação a fim de destruir seu poder imunológico e evitar a rejeição, é alta a frequência de câncer. Pessoas que trabalham sem proteção adequada com aparelhos de raio X, com substâncias radioativas, são propensas a adquirir o câncer.

Pode-se, então, compreender por que o câncer ataca mais fumantes e alcoólatras. O fumo e o álcool são fortes depressores do nosso sistema de defesa. Ratos e cobaias, submetidos artificialmente à ação do cigarro, por tempo prolongado, desenvolveram câncer numa média que variou de 20% até 50%. Quando se mantém um sistema imunológico de defesa íntegro, em plena capacidade, é muito difícil contrair o câncer Experiências feitas inoculando câncer em voluntários condenados à morte nos Estados Unidos (que tiveram sua pena adiada a fim de permitir a observação a longo prazo), demonstraram que, em todos os casos, o tumor foi cercado e destruído pelas defesas do indivíduo. Jamais se conseguiu que qualquer desses prisioneiros adquirisse câncer.

Todos os tipos de tóxicos, químicos, vegetais (maconha), atmosféricos (fumaça), stress, esgotamento físico e mental, são depressores de nossas defesas. Um dos métodos interessantes de avaliação de nossas defesas imunitárias consiste em injetar numa pessoa pequena quantidade de um produto completamente estranho, fabricado artificialmente e com o qual ela nunca teve contato. O organismo produzirá anticorpos específicos para destruir esse corpo estranho. Passado algum tempo, introduz-se novamente o mesmo produto e imediatamente os anticorpos existentes passarão a atacá-lo e rejeitá-lo. Se o indivíduo estiver com baixo poder de defesa, esses anticorpos não se formarão ou serão insuficientes e a substância permanecerá em nosso corpo, que se mostrará inerte diante dela como de uma célula cancerosa.”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro de 1977-Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP

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