Arquivo de tag reforma íntima

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Orgulho: nada nos torna mais duro e mais cego; nada nos é mais funesto ao nosso progresso espiritual

Dissemos que o tripé em que fundamos a verdadeira renúncia é a: sobriedade, humildade e castidade. Abordemos a questão da humildade que, por associação, atrai seu antônimo: o orgulho.

Paralelamente à gula, o que mais é de recear em nós é o orgulho e a sede das riquezas. Nada nos torna mais duros e mais cegos do que exagerar em nosso valor pessoal. Nada nos é mais funesto ao nosso progresso espiritual e à saúde do que estar de posse de grandes riquezas, a menos que seja um caráter excepcional, capaz de usá-las como quem administra os “bens do Senhor”.

Nada torna mais impróprio de triunfar numa provação do que viver no luxo e na adulação. Os grandes que possuem riquezas materiais deste mundo não imaginam quanto mais perto estão do abismo do que os humildes. O poder mundano e terrestre deles os embriaga. Uma vez nas alturas, eles não procuram mais do que aumentar o seu campo de domínio, em lugar de se esforçarem unicamente em praticar o bem em face dos pequenos. Mas que quedas estrondosas, quando se realiza a palavra da Escritura: “Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1:52).

Quem julgas tu que é o maior no Reino dos Céus? “, perguntava a Cristo-Jesus os seus Discípulos. E, chamando um menino, o pôs no meio deles e disse: “Na verdade vos digo, que, se vos não converterdes, e vos não fizerdes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18:1-3).

Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas… Ai de vós condutores cegos, porque sois semelhantes aos sepulcros branqueados que, parecem por fora formosos aos homens, e por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de podridão… Aquele que se elevar, será humilhado e aquele que se humilhar, será elevado” (Mt 23:27).

Aquele que quiser ser o maior entre vós esse seja o que vos sirva. E o que entre vós quiser ser o primeiro seja esse vosso servo. Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir.” (Mt 20:26-28).

Mas ai de vós, os que sois ricos, porque tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que rides, porque gemereis e chorareis” (Lc 4:24-25).

É mais fácil passar um camelo pelo fundo duma agulha do que entrar um rico no Reino dos Céus” (Mt 19:24).

De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (Mt 16:26).

Amontoai para vós tesouros no céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça e onde os ladrões não os desenterram nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, estará também o teu coração.” (Mt 6:20-21).

E para que seus Discípulos compreendessem bem a onipotência da pobreza e o exemplo divino que se deve dar, Cristo Jesus dizia-lhe: “As raposas têm covis e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde pousar a cabeça” (Mt 8:20).

Depois, quando Ele os enviou a cumprir a sua missão evangélica, fez-lhes a seguinte recomendação: “Dai de graça o que de graça recebestes. Não possuais ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos. Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento” (Mt 10:9-10).

Aqueles que erram por orgulho, os que gozam egoisticamente as suas riquezas mundanas, preparam para si as piores atribulações e os mais duros sofrimentos.

E quando se trata para eles de vencer uma provação, raro percebem o remédio, isto é, o renunciamento a aplicar, porque o orgulho com os seus satélites: a vaidade, a sede de consideração, a pretensão, o desdém se introduzem no mais profundo do ser e a cegueira sobre as suas taras de caráter, as suas responsabilidades e os seus erros. Quantas pessoas caem no insucesso e na desgraça, porque entende não deverem reduzir, em coisa alguma as suas ambições e os seus gozos! Como são raras as pessoas, suficientemente esclarecidas na espiritualidade, que se tornam pequenas diante da provação, que examinam a extensão das suas ignorâncias, de suas incapacidades, numa palavra: que façam ato de humildade!

Depois do amor ao próximo, a humildade é a virtude Cristã fundamental.

Assim não nos devemos admirar de ver que a humilhação é o grande remédio que a providência emprega para pôr à prova os orgulhosos e os ricos, demonstrando-lhes a vaidade de suas vantagens e de seus bens materiais, para conservar a saúde do Corpo e a paz da Alma. Com efeito, para que servem o dinheiro e a celebridade, quando se avilta o organismo humano e conspurca o Espírito?

O Senhor guarda aqueles que são simples: fui humilhado, por ele fui salvo” (Sl 114). “Foi bom para mim que vós me tivésseis humilhado para assim conhecer a Vossa justiça.” (Sl 118).

A humildade é grande fonte de felicidade, poderoso meio de progresso, remédio heroico contra todos os sofrimentos corporais e as feridas de amor-próprio. A humildade é o unguento que faz fechar todas as feridas. A humildade é, juntamente com a oração, o meio mais firme de ser exaltado.

Ser humilde é primeiramente nos tornarmos muito pequenos, até chegarmos a zero, considerando a insuficiência da nossa inteligência, as lacunas de nosso saber, as faltas que cometemos. É darmos conta em seguida que tudo a que podemos realizar de bem, foi Deus que o realizou por nós e que o nosso papel está limitado a nos apresentarmos no estado de dóceis instrumentos, porque nada temos de bom que seja nosso e nenhum bem praticamos que o não tenhamos recebido de Deus! Sim, é uma grande verdade que nada temos de bom que seja nosso, e que a miséria, o nada, são o nosso quinhão. Aquele que isto ignora, caminha na mentira.

Ser humilde é não procurar quaisquer honras deste mundo, é se esforçar por passar despercebido, é ficar em último lugar, é se conduzir como Cristo pediu: “Quando fores convidado para alguma boda, não vás ocupar o primeiro lugar, porque pode ser que esteja ali outra pessoa mais considerada do que tu, convidada pelo dono da casa. E que, vindo este, que te convidou a ti e a ele, te diga: ‘Dá o teu lugar a este’; e tu envergonhado vás ocupar o último lugar. Mas, quando fores convidado, ocupa o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: ‘Amigo, assenta-te mais acima’. Servir-te-á isto, então, de glória na presença dos que estiverem juntamente assentados a mesa. Porque todo o que se exalta será humilhado, e todo aquele se humilha será exaltado” (Lc 14:8-12).

Ser humilde é se abster de enumerar os seus méritos e não pensar senão em se colocar na atitude do pobre pecador: “subiram dois homens ao templo para orar, um fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Graças te dou, meu Deus, porque não sou como os outros homens, que são uns ladrões, uns injustos, uns adúlteros, como é também este publicano. Jejuo duas vezes por semana; pago o dízimo de tudo o que possuo’. E o publicano, pelo contrário conservando-se afastado, não ousava mesmo levantar os olhos para o Céu; mas batia no peito dizendo: ‘Ó Deus, tende piedade de mim, que sou um pecador’. Digo-vos que este voltou para casa justificado e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado, e todo aquele que se humilha será exaltado.” (Lc 18:10-15).

Ser humilde é cumprir o seu dever, sem esperança de recompensa, é ajudar os fracos, os ingratos, os pobres, numa palavra: todas as pessoas que são incapazes de dar-vos valor, de recompensar-vos ou de agradecer-vos. “Evitai fazer as vossas boas obras diante dos homens com o fim de serdes vistos por eles; doutro modo, não tereis recompensa de vosso Pai, que está nos Céus.” (Mt 6:1). “Quando deres algum banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás bem-aventurado porque esses não têm com que te retribuir, mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.” (Lc 14:13-14).

Ser humilde é tratar de se contentar com coisas simples, no que diz respeito a conforto, a alimentação e a vestuário. Por amor de Nosso Senhor, eu vos suplico, minhas irmãs e meus irmãos, evitai sempre as casas grandes e suntuosas. Como é comovente construir grandes casas, com os bens dos pobres. Procure sempre se contentar com o que há de mais simples, tanto para o vestuário como para a alimentação. De outra forma, teremos muito que sofrer, porque Deus não proveria as nossas necessidades e perderíamos a alegria do coração. E nos tornamos senhores de todos os bens deste mundo, desprezando-os.

Ser humilde é se recusar a submeter à justiça dos seres humanos aqueles que vos perseguem. Se nos humilhamos e se renunciamos a nós mesmos, fazendo o sacrifício da reparação terrestre – ou seja, praticamos o arrependimento e a reforma íntima, base de um Exercício Esotérico noturno de Retrospecção para quando fazemos o mal durante um dia recém-finco –, maior será a reparação espiritual e mais eficaz será a proteção de que se beneficiará, porque Deus pune duramente os ataques de que os justos são o objeto. “Se for possível e se isso depender de vós, conservai-vos em paz com todos os seres humanos. Não vos vingueis vós mesmos, meus muito amados, mas deixai atuar a justiça de Deus, porque está escrito: ‘Para mim o julgamento; sou eu quem retribuirá’, disse o Senhor. Mas, se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; e se tiver sede, dá-lhe de beber; porque procedendo assim são carvões ardentes que tu amontoarás sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm 12:18-21).

Ser humilde é, numa palavra, matar dentro de nós mesmos todo o germe de satisfação orgulhosa e sensual, de forma a chegar a uma perfeita indiferença perante os elogios ou as calúnias. É assim que adquirimos a liberdade interior e que não nos importamos mais ouvir falar de nós, tanto em mal como em bem, como se tal coisa não nos dissesse respeito. Um ponto pode nos aborrecer muito, se não nos acautelamos. É o dos louvores, elogios, fama mundana. Nesse caso, nos dizem que somos santos, beneméritos e até filantropos, e se servem de expressões exageradas, que se diriam sugeridas por um tentador. Nunca nos deixemos passar semelhantes palavras sem declarar a nós mesmos uma guerra interna. Lembremo-nos de que maneira o mundo tratou Cristo-Jesus, Nosso Senhor, depois de tanto O terem exaltado no conhecido como “Dia de Ramos” ou, popularmente, “Domingo de Ramos”. Pensemos na estima que se concedia a S. João Batista, a ponto de considerá-lo o Messias e vejamos, em seguida, como e por que motivo lhe cortaram a cabeça. O mundo nunca exalta, senão para rebaixar, quando aqueles que exaltam são “filhos de Deus”. Lembremo-nos dos nossos pecados e supondo que sobre qualquer ponto de vista se diz verdadeiro, pensemos que é um bem que não nos pertence, e que somos obrigados a muito mais. Excitamo-nos o receio em nosso interior, a fim de impedirmos de receber com tranquilidade este “beijo de falsa paz” que o mundo constantemente nos oferece.

Quando somos humildes, sofremos por ouvir o nosso próprio elogio. Para sermos verdadeiramente humildes, é necessário ainda destruir em nós qualquer ambição, limitando-nos ao cumprimento rigoroso do dever presente, e abandonando o resto aos cuidados da Providência, de Deus. É Ele quem decidirá da utilidade do nosso bom êxito presente e quem fixará a hora da nossa recompensa aqui ou nos Céus. E graças a este estado de espírito intimamente vivido que tantas pessoas realizaram e realizam obras prodigiosas antes e depois da morte delas. Assim, não devemos ficar surpreendidos em ver os grandes Místicos e Ocultistas serem atormentados pela necessidade de humilhação e a paixão do renunciamento. Desprezemo-nos a nós mesmos e desejemo-nos que os outros nos desprezem. Não foquemos na fama mundana. Para chegarmos a possuir tudo, tratemos de nada possuirmos. Administremos, somente. Para chegarmos a ser tudo, procuremos nada sermos. Já que ser aqui é aparência, é ilusão, é a Personalidade. Porque para alcançar o Todo devemos renunciar completamente a tudo. Para que possamos construir o Corpo-Alma. Neste desprendimento encontramos a nossa tranquilidade e o nosso repouso, para nos dedicarmos dia a dia ao nosso desenvolvimento espiritual. Profundamente estabelecido no centro do nosso nada, não poderíamos ser oprimidos por aquilo que vem debaixo e, nada mais desejando, o que vem de cima não nos fatigará; porque os nossos desejos, sentimentos e emoções que construímos e insistimos em manter baseados nas matérias das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo são a única causa dos nossos sofrimentos.

Na prática, a extinção de todo desejo, sentimento e toda emoção que construímos e insistimos em manter baseados nas matérias das três Regiões inferiores do Mundo do Desejo deve se compreender como a restrição do esforço ao cumprimento do dever cotidiano. Passar uma vida regrada, simples, reta e útil sem se preocupar nem com o passado, nem tão pouco com o futuro; abandonando-se humildemente a direção de Deus quanto ao restante, tal é a verdadeira concepção mística da vida.

A humildade, na vida presente, poderá ser exercida suportando com paciência as desavenças, as injúrias e os sofrimentos, se comportando a respeito de todos com benevolência e doçura sem limites. Esforcemo-nos para realizar o melhor que podemos, seguindo o grande exemplo de Cristo. “Pois eu estou no meio de vós outros assim como o que serve.” (Lc 22:27). “Eu sou manso e humilde de coração.” (Mt 11:28).

Da humildade decorre ainda outro renunciamento: é aquele que consiste em nos recusarmos a julgar os outros. O melhor meio de nos exercitarmos é, primeiramente, nos obrigarmos a nunca falar mal do próximo. “Não julgueis, e não sereis julgados; nada condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á; no vosso seio vos meterão uma boa medida de que vós vos servirdes para os outros, tal será a que servirá para nós.” (Lc 5:37-38).

Depois, em presença da nossa indignidade, das nossas fraquezas pessoais e da infinita bondade de Deus, é preciso subjugar a nossa Personalidade e destruirmos em nós todo o germe de ódio, rancor, vingança. Para obtermos o próprio perdão, é necessário começarmos por concedê-lo aos outros. Todas as vezes que a nossa vida está em perigo duma maneira assustadora, é preciso deixarmos a Deus o cuidado de nos proteger e orarmos pelos perseguidores, porque a injúria feita a um justo é sempre motivo para terríveis sanções. Todas as vezes que cometemos um erro, é preciso repará-lo e nos impormos a humilhação de o pagarmos. Todas as vezes que quem ofende sinceramente se arrepende, devemos lhe perdoar sem hesitar.

Vós tendes ouvido o que se disse: olho por olho, e dente por dente. EU, porém, digo-vos que não resistais ao que vos fizer mal… E ao que quer demandar-te em juízo e tirar-te a túnica, larga também a tua capa. Dá a quem te pede… Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e vos caluniam. Para serdes filhos de vosso Pai que estais nos Céu, que faz nascer o Sol sobre os bons e maus. Sede, então, perfeitos, como também o vosso Pai celestial é perfeito.” (Mt 5:38-48).

Mas quando vos levantardes para orar, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que também vosso Pai, que estais nos Céus, vos perdoe vossos pecados.” (Mc 11:25).

Se teu irmão pecou contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender perdoa-lhe. Se ele pecar sete vezes no dia contra ti, e que sete vezes no dia te vier buscar dizendo: eu me arrependo; perdoa-lhe.” (Lc17:3-4).

A subjugação da nossa Personalidade destrói em nós não só o egoísmo, mas nos faz ainda conhecer melhor a fragilidade dos laços que nos ligam neste mundo a todos aqueles a quem amamos. O perfeito desprendimento, com efeito, não dá mais lugar em nós do que a um pensamento dominante; cumprir a vontade de Deus. Isso não significa, de forma alguma, que seja preciso nos confinarmos numa reserva egoísta, nem numa insensível frieza. Pelo contrário, devemos trabalhar com a melhor das vontades por todos, amarmos o próximo de todo o coração e prestarmos a melhor das atenções aos que estão ao nosso redor e com os quais nos relacionamos; com a ideia sempre presente que a afeição, a estima e a vida de todos nos podem ser retiradas a todo o momento. Ou seja, a ninguém se apegar. É preciso chegar, pois, a destruir em nós toda a raiz egoísta de afeição terrestre e aprendermos a amar profundamente com o estado de espírito de renunciamento completo que faz passar os deveres dos Céus, à frente das preocupações terrestres. Foi o que Cristo-Jesus claramente significou quando deixou seus pais para ficar em Jerusalém no Templo, no meio dos doutores, e quando respondeu a sua mãe que se afligia com a sua ausência: “Por que me procurais? Não sabeis que importa ocupar-me das coisas que são do serviço de meu Pai?” (Lc 2:49).

Quando estamos bem compenetrados desta obrigação do sacrifício de todas as afeições terrestres, a perda das consolações mais ternas e dos seres mais caros não causa tanto as crises de abatimento profundo e de violento desespero que tão facilmente nos desequilibram quando estamos presos aos bens deste mundo. Quando se sabe que a morte não é mais do que uma etapa normal para a vida sobrenatural; que a comunhão imaterial dos vivos e dos mortos é uma realidade; que Deus, na sua paternal bondade, nunca nos abandona; que o renascimento aqui, para uma vida nova, é uma certeza, então compreendemos que o melhor meio de honrar os que chamamos de mortos (pois estão mais vivos do que nunca!), de os ajudar ou ainda de receber úteis inspirações, não é passar o tempo em estéreis lamentações; mas, unicamente, orar por eles e, sobretudo trabalhar por realizar em nós e à volta de nós o Reino de Deus. E para alcançarmos o Reino de Deus, não há outra coisa a fazer senão aceitarmos com fé os renunciamento diários e nos ligarmos, sem demora, à execução dos deveres presentes de correção, de bondade e de trabalho, colocando em prática tudo que nós mesmos escolhemos no Terceiro Céu. Nenhuma coisa faz nos desviar desta estrita obrigação de prepararmos o futuro, sem nos demorarmos no passado. Ao discípulo que lhe dizia: “Senhor, permite-me ir primeiramente sepultar meu pai“, Cristo Jesus respondeu: “Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos.” (Mt 8:21-22).

E tu, vais, e anuncia o Reino de Deus.” (Lc 9:60). Outro lhe disse: “Eu Senhor seguir-te-ei, mas, permite-me, primeiramente, dispor dos bens que tenho em minha casa.”. Cristo-Jesus respondeu-lhe: “Todo aquele que põe a mão ao arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus.” (Lc 9:61-62).

Então, quando se realizar em nós estas necessárias subjugações da nossa Personalidade, Deus nos poupará as provações e nos acumulará com os seus favores, muitas vezes mesmo já neste Mundo terrestre. Além disso, nos tornamos poderosamente fortes, desde que tomamos o nosso único ponto de apoio em Deus e o nosso único auxílio n’Ele, aceitando o pensamento de ficarmos privados, na desgraça do socorro e das afeições de todos os nossos. Foi por isso que Cristo-Jesus disse ainda: “Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e aquele que ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. O que acha a sua Alma perdê-la-á e o que a perder por mim, achá-la-á,” (Mt 10:37).

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1965 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Perdão: uma Força Curativa

Max Heindel nos diz no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” que todas as Religiões de Raça eram Religiões de Lei, assim como criadoras de pecado por meio da desobediência à lei. O propósito da Religião de Raça é dominar o Corpo de Desejos.

Na Epístola de São Paulo aos Romanos, capítulo 3 e versículo 20 lemos: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”.

Max Heindel diz, ainda, que essas Religiões de Raça são do Espírito Santo, e são insuficientes, pois estão baseadas na lei que produz o pecado e acarreta a morte, a dor e a tristeza.

Na Epístola de São Paulo aos Gálatas, capítulo 3, versículos 24 e 25 lemos: “Assim a Lei se nos tornou pedagogo para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados pela fé. Mas, tendo vindo a fé, não mais permanecemos subordinados ao pedagogo”.

E o ser humano foi cometendo pecados e mais pecados até que foi necessária a intervenção externa para que a evolução humana não tivesse sucumbido.

Moisés recebeu, na montanha, os Dez Mandamentos dados por Deus, que tinha sido o ideal para a humanidade naquela época.

Essas Religiões eram necessárias ao ser humano para prepará-lo para a vinda de Cristo.

E quando Cristo chegou disse que veio para “buscar e salvar os que estavam perdidos”. E que não viria revogar as leis de Moisés, mas cumpri-las, pois, estas coisas já tinham servido aos seus propósitos.

E ainda acrescentou mais dois importantíssimos mandamentos. No Evangelho Segundo São Marcos, capítulo 12 e versículos 30 e 31 diz o seguinte: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior que este não existe”.

Será que estamos cumprindo esses dois mandamentos?

Vamos primeiramente definir o que é o pecado. O pecado nada mais é do que uma ação contrária à Lei. Uma transgressão a uma Lei Divina.

E toda vez que alguém transgrede uma lei acaba provocando um desequilíbrio e, em consequência disso, temos um sofrimento. Essa dor, esse destino, é a maneira do indivíduo aprender a lição da harmonia.

O pecado não é somente caluniar, ferir e magoar outras pessoas. É pecado também sermos preguiçosos, gulosos, soberbos, avarentos etc. No aspecto em que nós pecamos é que seremos gravemente castigados. O Apóstolo São Paulo disse: “O que o homem semear, isso mesmo ele colherá”.

Acreditamos que poucas são as pessoas que imaginam haver uma relação entre a Cura e o Perdão dos Pecados.

No Evangelho segundo São João, capítulo 8 e versículo 34 lemos: “Em verdade, em verdade vos digo, todo homem que se entrega ao pecado, é seu escravo”. E se isso nos acontece, perdemos nossa liberdade de ação, porque seremos amarrados por nossa própria debilidade.

Em nossas relações diárias estamos sujeitos a sentimentos negativos como insultos, críticas e desapontamentos. Se respondemos a esses sentimentos estamos, então, alimentando a chama do ressentimento, da hostilidade ao nosso semelhante.

Isso determina uma reação dentro do nosso Corpo de Desejos e, ou desfrutamos do pecado e aguentamos as consequências desse ato, ou buscamos força interna para mudar os caminhos de nossa conduta. Porém, muitas vezes, essa atitude pode deixar cicatrizes emocionais.

Um bom hábito é não reagir emocionalmente diante de uma situação ou circunstância desequilibrante ou de uma provocação. E se não reagimos emocionalmente, não estaremos implicados em suas consequências.

O pecado ou a transgressão afeta a saúde. Platão afirmou que jamais deveríamos tentar curar o corpo sem antes fazê-lo com a alma.

Muitas pessoas acreditam que sofrem por causa da conduta de alguma pessoa ou porque nasceram numa classe menos privilegiada, graças a um castigo de Deus. Porém esquecem que estamos transgredindo as Leis da Natureza, e acabamos por culpar a “vida” por nossas desgraças, mesmo sem antes averiguar as causas desse sofrimento.

Todos nós estamos sujeitos à Lei de Causa e Efeito e, por isso, devemos aprender com nosso destino diário a não repetir as mesmas condutas erradas e construir um amanhã melhor, tanto para nós como para os nossos irmãos.

Aqui vemos que existem três requisitos necessários para alcançar o perdão:

  1. arrependimento – é o reconhecimento de algo mal-feito; é uma mudança da Mente e do coração em relação ao ato do pecado. É se elevar acima do Eu inferior e estabelecer um controle sobre as próprias emoções. Lembrando que o remorso exagerado é prejudicial e nocivo para nós, pois acaba por debilitar as correntes do Corpo de Desejos e, em contrapartida, afeta as Glândulas Endócrinas trazendo muita dor e desgraça. Se a cada um de nós é dada uma missão aqui na Terra, e se estamos evoluindo como foi planejado pelo nosso Grande Criador, então, nós, como Estudantes Rosacruzes desses ensinamentos, devemos tentar responder a esse plano divino. Contudo, só o arrependimento não é suficiente para o recebimento da Graça de Deus, pois quem para por aqui fica apenas na intenção. Precisamos do segundo requisito que é a reforma.
  2. reforma – como o próprio nome diz é restaurar, renovar, reconstruir. É uma mudança para uma atitude nova ou melhorada. É converter a atitude em algo belo. Isso acontece quando o ser humano transmuta seus maus hábitos em virtudes. É quando o ser humano se transforma internamente e acaba por haver uma mudança total em sua vida. Está implícito neste requisito da reforma uma prova de valorização e paciência em que nós trabalharemos na reforma de nosso caráter.
  3. restituição – como o próprio nome diz é restituir, devolver, pagar aquilo que devemos a outro. Isso é, quando prejudicamos alguém, devemos compensar de alguma forma o mal causado. Se não pudermos fazê-lo por ausência ou outra razão que nos impossibilite de reparar o mal causado, devemos fazê-lo servindo a outras pessoas ou, então, enviando pensamentos de harmonia e oração para que a pessoa “prejudicada” tenha material suficiente que possa ajudá-la. Lembrando que essa é a tônica da Fraternidade Rosacruz: serviço. Que o serviço amoroso e desinteressado aos demais nos faz tomarmos consciência da unidade. Tornando-nos unos com toda a criação, seremos incapazes de ofender ou prejudicar alguém.

Cristo disse que devemos perdoar setenta vezes sete. E se praticarmos esse perdão tantas vezes assim, buscaremos o equilíbrio de todos os nossos veículos e fortaleceremos os nossos Éteres superiores, material básico para a construção do Corpo-Alma.

Nós nos libertamos dos pecados quando em nossa consciência admitimos o erro e nos propomos a não mais repetir a falta cometida. E para nos auxiliar nessa tarefa façamos fiel e cotidianamente o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção. Se procurarmos praticar esse exercício diariamente e com sinceridade, limparemos o nosso Átomo-semente das gravações indesejáveis e, assim, evitaremos muito dos sofrimentos que teríamos no Purgatório.

Deus não é vingativo, como algumas pessoas acham. Em Sua maravilhosa misericórdia por nosso bem-estar, Deus nos deu o amor que é mais elevado do que a lei, uma vez que as leis são imutáveis.

Essa doutrina não vai contra a Lei de Consequência, mas sim vem a complementá-la.

Contudo, com a aplicação dessa lei superior, que é o Amor, Cristo abriu o caminho do arrependimento e da reforma íntima, pelo qual podemos obter o Perdão dos Pecados.

Se não aplicamos essa lei superior, teremos que esperar pela morte e que nos obrigará a liquidar nossas dívidas.

O verdadeiro perdão significa tolerar as fraquezas em nós e nos outros. É produto de força espiritual interna. Para conhecer o verdadeiro perdão é preciso ter uma mentalidade livre do egoísmo.

Lembremos as palavras de Cristo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

Se formos sábios e aproveitarmos toda ajuda disponível que nossos Irmãos Maiores nos dão, sofreremos menos. Portanto, seguiremos menos a vontade carnal que está relacionada a esse Mundo Físico.

Se começamos, cada novo dia, perdoando a todos, inclusive a nós mesmos, se nos exercitamos no poder do Perdão, poderemos alcançar a Luz e seremos capazes de acender a chama da verdadeira Fraternidade Espiritual, que é “o bálsamo de Gileade, a única panaceia para os males do mundo”.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Filho Pródigo – uma Faceta Interpretativa

Cristo-Jesus utilizou a pedagogia das parábolas como método de comunicação de lições espirituais profundas que necessitava ser transmitida para a Mente infantil que nós, enquanto humanidade, ainda possuímos. Todas as parábolas dadas por Cristo foram construídas de modo a possuir tanto ensinamentos para almas jovens como para almas mais velhas, obedecendo à máxima compreendida por São Paulo: “dar leite aos fracos e carne para os mais fortes”. Isso também significa que os ensinamentos contidos na Bíblia obedecem ao método de “espirais dentro de espirais” e, conforme vamos progredindo, um mesmo ensinamento oculto passa a ter um novo prisma e mensagens antes obscuras, passam a ser nítidas.

Corinne Heline ensina-nos que ao estudarmos a Bíblia devemos compreender que todos os personagens e eventos nela contidos estão relacionados com nossas vidas, e cada qualidade e atributo devem ser por nós cultivados ou erradicados. Além disso, “cada lugar mencionado representa o aqui e o agora, e cada personagem mencionado é você, você mesmo”. A leitura das parábolas da Bíblia sob esse prisma permite estabelecermos uma compreensão mais condizente com a realidade da parábola. Tentaremos aplicá-lo na parábola do Filho Pródigo.

Conforme relatado no Evangelho de São Lucas, capítulo 15, versículos de 11 a 32:

“Disse ainda: ‘Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois, este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois, esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!’’”.

O filho mais jovem (que também representa você) de um homem poderoso (que representa Deus) diz a seu pai: “Pai, dá-me a parte da herança que me cabe”. Cheio de vida e bens, esse filho sai para o mundo, não mais se importando com sua origem, com sua herança ou com seu Pai. Apenas era-lhe importante sua própria vida e seus interesses. Nós também, enquanto jovens e/ou cheios de vida, pouco importamos com nossa origem, ou com a origem das dádivas que recebemos diariamente. Em verdade, pouco importa questões como estas. Estamos tão ocupados com nossos interesses pessoais que questões espirituais ou são deixadas de lado ou a tratamos da maneira mais passiva possível, mormente, baseada no medo ou na mínima obrigação. Enquanto nossas riquezas de juventude e vida durarem, aproveitar a vida parece ser a melhor solução.

O fato é que, conforme os anos vão passando, acabamos por gastar tudo o que temos. Não necessariamente riquezas materiais, mas riquezas como saúde, tempo, relacionamentos, oportunidades e energia, e acabamos cheios de doenças, ociosidade, retraimentos, medos e vícios. Em verdade gastamos toda nossa real riqueza com o egoísmo e individualismo. Com efeito, acumulamos diversas dívidas de destino. Quando percebemos o que fizemos e a condição precária que construímos (e isso normalmente ocorre quando estamos enfermos em uma cama), lembramos de nossa origem e dos bens de nosso Pai. Então dizemos como o filho pródigo: “vou-me embora (dos interesses materiais), vou procurar meu pai e dizer-lhe: Pai pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado de filho. Trata-me como um dos teus empregados”. E partimos de volta ao encontro de Deus, ou da parte espiritual.

O filho pródigo, quando estava voltando, arrependido para a casa de seu pai foi avistado. O Pai de longe o viu e encheu-se de compaixão, correu e lançou-se ao pescoço de seu filho e cobriu-lhe de beijos. Cristo Jesus disse: “Deveis ser perfeitos como o vosso pai celeste é perfeito” (Mt 5:48). “Aquele que procura limitar e enevoar nossa Mente, com ameaças do inferno (ou da Lei de Consequência), não compreendeu ainda nossa meta final”. Muitas vezes, esse medo enche nossa alma com sentimentos de tristezas e desânimos. Ficamos perturbados com a consciência que nos acusa dos erros que cometemos no passado e continuamos a acometer no presente. Deus, representado pelo Pai na parábola do Filho Pródigo, no entanto, ao verificar que estamos caminhando de volta para Ele, não se preocupa com a Lei de Causa e Efeito e com as punições que somos dignos de receber. Ao contrário, nos cobre de beijos, “manda trazer a melhor túnica, coloca-nos um anel no dedo, sandálias em nossos pés e faz uma festa com o melhor novilho da fazenda”. Cobre-nos com amor. Em verdade, Ele nos ama tanto, que foi capaz de enviar (e envia todos os anos) Cristo (o Filho) ao encontro da humanidade pecadora e errante, para que possamos a cada ano termos a disposição materiais de expressão de amor universal e, deste modo, termos condições de deixarmos o pecado.

Um outro personagem que também representa uma faceta de nossa Personalidade está na parábola: o irmão mais velho. Esse irmão, ao ver que o Pai estava comemorando a volta do filho pródigo, diz:Pai, há tantos anos te sirvo e jamais transgredi uma só lei e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse seu filho que devorou teus bens com prostitutas e para ele, mata um novilho cevado!”. Expressamos essa faceta muitas vezes, quando guardamos os mandamentos e praticamos nossos ideais. Quando somos justos. Então, verificamos que pessoas indignas também recebem graças ou novas oportunidades divinas e sentimo-nos ofendidos com essa injustiça. O Pai, no entanto, diz: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo que é meu é teu. É certo festejarmos (…). Seu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado”. Cada personagem mencionado na Bíblia é você, você mesmo: “Deveis ser perfeitos como o vosso pai celeste é perfeito” e bem-aventurados são os misericordiosos, porque estes encontrarão misericórdia. Estamos agindo com nossos irmãos e nossas irmãs do mesmo modo como o Pai do Filho Pródigo agiu com seu filho errante?

É importante que aprendamos a comemorar o retorno de nossos irmãos e de nossas irmãs errantes. Também é importante que saibamos acolher esse irmão ou essa irmã, assim como o Pai acolheu o filho pródigo. Mais importante ainda, devemos, de uma vez por todas, tomar a decisão de voltar para a casa do Pai, antes que a miséria tome parte de nossas vidas. A acolhida é certa se o arrependimento e a reforma íntima forem sinceros. Que sejamos corajosos e praticantes dessas qualidades e atributos ensinados na parábola do Filho Pródigo.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

 

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Correção

A datilógrafa tirou da máquina a ficha e começou a passar a borracha em um certo ponto. Havia errado e estava apagando. Primeiramente passou o lado de “tinta” para remover com mais força. Depois aplicou o lado branco, de “lápis”, para completar a limpeza do erro. Terminada a tarefa de raspagem virou a ficha e despejou os detritos no cesto de lixo. Era uma mistura de papel branco raspado, de borracha verde e branca.

Fiquei pensando nesse trabalho. Muitas vezes nos distraímos na vida e erramos. Um pensamento errado, um sentimento indesejável, um ato feio, são gravações íntimas que não condizem com nossa natureza espiritual.

Vale a pena rever as “fichas” de nossa vida diária, no exercício noturno da Retrospecção. Assim, podemos “apagar”, com o arrependimento sincero, o que, consciente ou inconscientemente, “escrevemos” de mal.

Parece que desse modo a vida vai mais devagar, mas a alma fica limpa… Assim, como nosso patrão nos avalia a eficiência pela segurança, honestidade, limpeza e discernimento demonstrados em nosso serviço, igualmente não podemos fugir de revelar o que vamos gravando dentro de nós por meio dos pensamentos, sentimentos, emoções, palavras, ações, obras e atos. E é por aí que nos capacitamos, perante Deus, a mais elevados cargos, a mais nobres missões em seu Reino.

É do mesmo modo como a melhoria de condições numa firma nos acarreia conforto, consideração, bem-estar, também as consequências favoráveis que provocamos com nossos esforços internos cumulam-nos de paz, de sabedoria, de felicidade, que se refletem em condições físicas melhores.

Melhor seria que não errássemos: a tarefa sai mais depressa e perfeitamente limpa. Mas, estamos aprendendo neste mundo… Errar é humano. Persistir no erro é que é diabólico. Meditei nos detritos jogados no cesto, na dor e nos esforços de que não podemos nem devemos fugir, na correção dos enganos. Vale a pena. Assim é que o diamante se transforma em brilhante.

A bancária interrompeu minhas reflexões. Entregou-me o comprovante, o que havia sido raspado… Olhei-a com simpatia. Havia-me proporcionado uma importante lição.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz da Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP em outubro/1969)

Idiomas