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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: Movimentos Cíclicos do Sol

Dezembro de 1915

As notícias que diariamente a mídia falada e escrita transmitem, muitas vezes nas primeiras páginas em grandes manchetes, são as que parecem de importância e interesse vital para todos, mas são rapidamente esquecidas, e as mídias que as publicaram logo a apagam, arquivam ou, se for em papel, jogam fora ou queimam. Do mesmo modo, a canção que está hoje em voga e na cabeça de todos é rapidamente relegada ao arquivo do esquecimento. Até os seres humanos que são lançados, como meteoros, na ribalta da popularidade são esquecidos juntamente com os fatos que motivaram a sua rápida fama – por isso, citando Salomão: “Tudo é vaidade[1].

Mas, entre as mudanças caleidoscópicas que alteram constantemente o cenário mundial em seus aspectos moral, mental e físico há certos eventos cíclicos que, ainda que sejam recorrentes na natureza deles, têm entre si uma causa permanente e uma estabilidade que distingue o método macrocósmico do microcósmico em conduzir os fatos.

Quando no hemisfério norte é a estação da primavera, na época da Páscoa, o Sol cruza o Equinócio de Março, a Terra desperta do seu repouso invernal e sacode a branca camada de neve que a cobriu, como se fosse um manto de pureza imaculada. A voz da natureza é ouvida quando os pequenos riachos murmuram ao deslizar suavemente pelas encostas das montanhas em direção ao oceano. Essa voz também é ouvida quando o vento sussurra a canção do amor por entre as folhas recém-brotadas nas árvores dos bosques, o que impulsiona o botão e também a flor que produz o pólen, e este é levado por meio de asas invisíveis ao companheiro que o espera. Essa voz é ouvida nas canções de amor quando do acasalamento dos pássaros, e nas chamadas dos animais às fêmeas deles. Ela ressoa em todas as manifestações da natureza até que o nascimento de novas vidas compense as destruídas pela morte.

Quando no hemisfério norte é a estação do verão, o Amor e a Vida trabalham demasiada, longa, extenuante e fatigantemente com coração regozijante, pois eles são os Senhores que batalham pela existência, enquanto o Sol está exaltado nos céus no máximo de sua força no Solstício de Junho. No entanto, o tempo prossegue e chega outro ponto decisivo com o Equinócio de Setembro. Acalma-se o canto nas florestas; cessa o chamamento amoroso dos animais e dos pássaros e a natureza retorna ao silêncio. A luz decai à medida que crescem as sombras da noite, até que, no Solstício de Dezembro, a Terra se prepara para o profundo sono dela, pois precisa da noite de repouso após as atividades extenuantes do dia precedente.

Mas, da mesma forma que a atividade espiritual do ser humano é maior enquanto o seu corpo está adormecido, assim também, podemos compreender pela Lei de Analogia que a chama espiritual na Terra é mais radiante nesta época do ano, e é esta a ocasião propícia para o melhor desenvolvimento da alma, para a investigação e estudo dos mais profundos mistérios da vida. Cabe-nos aproveitar essa oportunidade e utilizar o tempo da melhor maneira possível. Não precisamos ter pressa nem ansiedade, mas trabalhar paciente e devotadamente, sem esquecer que entre todas as coisas que mudam no mundo, esta onda grandiosa de luz espiritual permanecerá conosco nas estações de inverno pelos anos que virão. Será cada vez mais brilhante à medida que a Terra e nós próprios evoluirmos, atingindo graus mais elevados de espiritualidade. Estamos trabalhando como precursores para difundir os Ensinamentos Rosacruzes, que ajudarão a iluminar o mundo durante os séculos que se seguirão ao atual. Há uma lei que diz: “Receberás na proporção que deres”. Agora, essa estação do ano é a mais propícia para dar e receber, então, vamos nos assegurar que a nossa luz brilhe na grande árvore cósmica do Natal, para que seja vista pelos seres humanos e que possa atraí-los para as verdades que nós sabemos serem de importância vital no desenvolvimento dos nossos semelhantes.

Concluindo essa carta, eu quero agradecer a cada um dos Estudantes Rosacruzes por sua cooperação nos trabalhos do ano passado. E que possamos, juntos, fazer um trabalho melhor e mais proveitoso no próximo ano.

(Carta nº 61 do Livro “Cartas aos Estudantes” – de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Ecl 1:2

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Onde a Batalha se desenvolve mais ferozmente, as Rosas florescerão

Eu olho e vejo uma planície onde uma luta terrível está acontecendo. As nações da Terra estão reunidas para matar e destruir. As paixões mais ferozes lutam lá; os instrumentos mais diabólicos de morte e destruição que as mãos do ser humano podem criar estão ali, alinhados uns contra os outros. O ar está cheio do trovão dos canhões, dos gritos dos feridos e moribundos, e vermelho é o chão com o sangue dos mortos. Então, a fumaça sobe e bloqueia minha visão.

Eu olho novamente, e eis! Tudo está quieto. É noite e o país desolado está coberto por uma capa de neve. A Terra está em paz. Além das colinas cobertas de neve, a Lua nascente lança seu brilho prateado sobre a planície.

Mais uma vez eu olho e eis! É primavera. O Sol nasce em toda a sua beleza e esplendor, e derrama seu brilho sobre a Terra. O ar está cheio do canto dos pássaros e do zumbido das abelhas. Lá, onde tão recentemente as paixões ferozes se enfureceram e o clamor da batalha aconteceu, as flores da primavera agora crescem e sorriem ao Sol; as rosas e as madressilvas florescem nas sebes; a cotovia voa alto cantando e pulando de alegria enquanto canta.

O mesmo Espírito de Cura trabalha na Natureza e no coração do ser humano. Não há mal que não possa corrigir, nem ferida que não possa curar. É a eterna juventude dentro de nós, é a beleza que nunca desaparece nem perece, é o amor que nunca cansa nem envelhece. Fora do naufrágio e ruína de um mundo desgastado pela guerra Ele ainda sussurra: “Eis que faço novas todas as coisas”.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de novembro de 1915 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Estação da Primavera

Entramos na Primavera, a mais bela estação do ano. As matas cobrem-se de luxuriante verde-esmeralda, jardins adornam-se de suas mais preciosas joias, as flores dos seus variados matizes.

Os pássaros vestem-se de cores, os cantos florestais tornam-se possantes sinfonias, os arroios correm cristalinos, contentes, saltitando aos beijos mornos do novo Sol, que tudo atrai, fecunda, rejuvenesce num poema de cósmica beleza, em formas e sons. Tudo é euforia, festejando o maravilhoso evento.

E para nós, Estudantes Rosacruzes, torna-se este evento ainda mais festivo, num motivo de júbilo e contentamento, pela volta de nosso Salvador e sustentador, o Cristo Cósmico.

A esposa, quando espera pelo esposo, ou o esposo quando espera a esposa ajeita-se da maneira mais agradável aos olhos do seu amado ou da sua amada. Veste-se da maneira mais apreciada, se arruma do jeito que melhor pode e enche-se de júbilo e de cantos. Da mesma forma, assim terá que acontecer conosco, à volta anual de Cristo, nosso Salvador, nosso Redentor, nosso único Ideal. Teremos que nos preparar fisicamente e espiritualmente para esse grande acontecimento, desalojando a sujeira dos baixos instintos, a poeira da vaidade e do orgulho, revestindo-nos do “homem novo” – como nos ensina São Paulo na sua Epístola aos Efésios (4:22-24): “despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” –, vivificado em Cristo. Tornemo-nos quais crianças, em simplicidade e novidade de espírito. Fortaleçamo-nos, ou melhor, alimentemos o Cristo criança que em nós há de nascer, através da , da Esperança e do Amor e, acima de tudo, pelo emprego de nossos dons e talentos no trabalho dignificante, amoroso, e desinteressado a todas as criaturas. Imitemos a sábia Natureza que nesta época, dá-se toda generosa, sem limites, através dos tenros frutos que nos alimentam, das chuvas abundantes e amigas, das graciosas flores multicoloridas enfeitando-nos os olhos e a alma.

Façamos, como a Natureza, o “dom” de nós mesmos, “servindo e amando”, ativando e desabrochando o princípio amor dentro de nós, pois, como um instrumento não responde à nota vibrada por outro se não estiverem ambos afinados no mesmo diapasão, da mesma forma, se não afinarmo-nos, por meio da renúncia e de um plano de trabalho sincero, e cheios de boa vontade, à nota Crística, tudo o que fizermos será em vão, porque somente desabrochando e deixando agir o princípio Amor, atributo do Filho, o Cristo, poderemos encontrá-lo, vê-lo face a face dentro de nós mesmos como disse Angelus Silésius:

“Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém,

se não nascer dentro de ti mesmo,

tua alma seguirá extraviada.”

Somente pela percepção consciente do Cristo interior é que poderemos perceber e sentir o Cristo exterior e nada melhor do que esta época para preparar-nos como digna morada para Ele.

Conforme for se dando essa iluminação interna, ativada pelas Luzes de Cristo nessa Sua descida anual em nosso Planeta, Sua verdadeira Cruz, poderemos, então, tornar-nos trabalhadores conscientes na “Vinha do Senhor” e termos o privilégio de executar a sua tarefa guiando o nosso Planeta. E para tanto, empenhemo-nos, desde já, como servos vigilantes, no trabalho altruístico e amoroso, apressando assim, o grande dia da Libertação de Cristo e a vinda de Seu Reino, a Nova Jerusalém. Esperemos, portanto, com intensa alegria, desde já, quando as Forças Crísticas são ativadas, e com todo o anelo do nosso coração repitamos em tom de amor e humildade: “Senhor, não sou digno que entreis debaixo do meu teto; dize, porém, uma palavra, e minha alma será salva.” (Mt 8:8).

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1969 – Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

As Razões Visíveis e Esotéricas para o Equinócio de Setembro

Razões Visíveis: No Equinócio de Setembro o Sol “cruza” o equador celeste de Norte para Sul – como sabemos a Astrologia funciona em projeção geocêntrica e consultando as Efemérides Planetárias verificaremos que à medida que os dias se vão aproximando de Setembro, a declinação do Sol vai reduzindo: passa de 23º 26′ para 0º.

Essas razões físicas são as partes visíveis que verificamos como evidências de que o Equinócio de Setembro é o momento em que, mais uma vez, estamos no tempo da estação da Primavera, para o hemisfério sul (e, portanto, da estação do Outono, para o hemisfério norte).

Razões Esotéricas: a passagem do Sol por Libra, a balança, simboliza o trabalho do Cristo para restabelecer o equilíbrio das forças que insistimos em desequilibrar, por meio das atividades discordantes nos seis meses que se passaram (de março até setembro).

É quando o Cristo Cósmico toca a atmosfera do nosso Planeta, “descendo” do Mundo do Espírito de Vida. Este Mundo estabelece um vínculo comum entre os Planetas do nosso Sistema Solar e, do mesmo modo que para ir-se da América à África é necessário se ter um meio de locomoção, assim também se requer um veículo apropriado ao Mundo do Espírito de Vida, sob controle consciente, para se poder viajar de um a outro Planeta. Sem esse veículo, conscientemente, é impossível tal viagem!

É bom lembrar que Cristo, o mais elevado Iniciado do Período Solar, emprega, geralmente, o Espírito de Vida como Seu veículo inferior, pois tem seu lar lá no Mundo do Espírito de Vida. Funciona tão conscientemente no Mundo do Espírito de Vida como nós, aqui, no Mundo Físico.

Rogamos ao Estudante Rosacruz que note, de modo particular, este ponto porque o Mundo do Espírito de Vida é o primeiro Mundo Universal. Nesse mundo cessa a diferenciação e começa a manifestar-se a unidade, pelo menos quanto ao nosso Sistema Solar. É onde a Sabedoria flui no seu cotidiano. É onde a Fraternidade faz parte do dia a dia. E de onde tomamos, via a intuição, a solução perfeita para qualquer problema que temos aqui. É o lugar onde se encontra a verdadeira Memória da Natureza. É o Reino do Amor.

É a partir do Mundo do Espírito de Vida que começa a volta do Cristo, com foco de atenção ao nosso Planeta, onde ele, mais uma vez, dá toda a Sua luz, toda a Sua vida e todo o Seu amor para vivificar esta massa morta (que nós cristalizamos do Sol) anualmente, e isto constitui um grilhão, um empecilho, uma prisão para Ele; por isso os nossos corações deveriam ficar voltados para Ele, neste tempo, em gratidão, pelo sacrifício que Ele faz por nossa causa, compenetrando este Planeta com Sua vida para renovar todo o material que insistimos em cristalizar anualmente, o qual permaneceria se Ele não nascesse no seu interior para vivificá-lo!

Sem esta infusão anual de vida e energia divina, todas as coisas vivas sobre a nossa Terra pereceriam imediatamente e todo o progresso ordenado seria frustrado, pelo menos no que diz respeito à nossa linha atual de desenvolvimento. É a “queda” (ou descida) do Raio Espiritual do Sol nesses quatro meses que dá origem às atividades mentais e espirituais nos quatro meses seguintes.

A mesma força germinadora que ativa a semente na terra e a prepara para produzir sua espécie em múltiplo, agita também a Mente humana e promove as atividades altruístas que fazem o mundo melhor.

Assim é que as poderosas vibrações espirituais da onda Crística, doadora de vida, estão na atmosfera terrestre durante os meses que temos pela frente e podem ser, por nós, usadas com muito maior proveito, se soubermos disso e se redobrarmos nossos esforços, o que não faríamos se desconhecêssemos esse fato. O Cristo ainda está gemendo e sofrendo as dores do parto, esperando pelo dia da Sua libertação, pela “manifestação dos Filhos de Deus” (Rm 8:19); e apressamos verdadeiramente esse dia, cada vez que alimentamos nossos veículos superiores com pensamentos, sentimentos, desejos e emoções utilizando somente materiais das Regiões superiores dos respectivos Mundos, isto é, cada vez que participamos da ceia simbolizada pelo “pão e vinho místicos”.
Todas as vezes que nos damos a nós mesmos no serviço amoroso e desinteressado aos outros – focando esse serviço na divina essência oculta em cada irmão e em cada irmã (que é o que realmente somos e nos faz filhos e filhas de Deus –, desenvolvemos mais o  nosso Corpo-Alma, que é constituído pelos Éteres superiores do nosso Corpo Vital e que é o veículo fundamental para ajudarmos efetivamente o Cristo. Atualmente é o Éter Crístico que mantém a Terra flutuando no espaço, porém, lembremo-nos que se quisermos apressar o dia de Sua libertação, devemos desenvolver em número suficiente nossos próprios Corpos-Alma até ao ponto em que possamos manter a Terra flutuando. Dessa forma poderemos tomar conta da carga de Cristo e libertá-Lo das limitações da existência física.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Espíritos da Primavera

Os Espíritos da Primavera

Tita estava brava. Tita estava muito brava. A ideia da lição de música hoje! Em um sábado, tantas coisas a fazer, e lá fora o Sol, dourado como o coração de uma margarida. Assim, Tita escapou para fora e escondeu-se no pequeno bosque à beira do riacho.

Ela deitou-se na terra úmida. O riacho cantava para ela. A canção do riacho era borbulhante e alegre. Tita sentia-se agora em paz e feliz. Ela olhou fixamente para as nuvens que pareciam de nata e desejou cavalgá-las.

Então, surgiu a música. Tão sútil, tão doce, que ela pensou que fosse uma abelha grande, preguiçosa. Mas não, era diferente. Ela virou a cabeça. Depois, olhou fixamente.

A criatura era minúscula como um minuto. Toda de verde brilhante, com cabelos amarelos como um manto tênue. E ela estava tocando! Tocando um violino de duas menores folhas de grama que já existiram. Tita esfregou seus olhos.

– Ah! Finalmente você pode me ver!

A voz da criatura tilintou como um cubo de gelo num copo que você agita.

Tita olhou mais firmemente. Mas ela estava cheia de admiração.

– Meu nome? Seeba, a menina duende disse, como se estivesse lendo o pensamento de Tita.

– Mas – o que – o que, por quê? – Tita falou finalmente, seus olhos muito abertos.

– Ninguém jamais me vê, Seeba leu seus pensamentos novamente, a menos que esteja em sintonia com o espírito da Primavera.

Tita abriu sua boca para mais perguntas. Mas Seeba sorriu e acenou sua mão.

– Venha, ela disse, eu lhe mostrarei.

Subitamente, Seeba ficou alta, até que se tornou tão alta quanta Tita. Elas estavam numa grande floresta. Haviam árvores monstruosas ao redor, colinas e um rio barulhento, apressado, tão largo que não se via a outra margem. Tita olhou em torno, amedrontada.

– Não, disse Seeba, tudo é o mesmo. Você apenas tornou-se do meu tamanho. As árvores são apenas gramas, as colinas são torres de terra. E veja o pequeno riacho.

Ela apontou para o rio rugidor e impetuoso.

Seeba pegou sua mão. Elas andaram pelo estranho lugar até que chegaram a uma caverna. Tita continuou pensando. Tinha tantas perguntas a fazer. Mas estava tão ocupada olhando para as coisas. Um rochedo monstruoso estava perto da caverna. Era azul e brilhante.

– Lembra-se da conta azul que você perdeu? – perguntou Seeba, tocando a rocha gigante e sorrindo diante da expressão de surpresa de Tita.

De repente, Tita gritou. Uma cobra enorme passou contorcendo-se. Seeba disse gentilmente:

– Uma minhoca: Ela leva embora os cascalhos e enriquece a terra de maneira que as flores possam crescer.

Elas chegaram a um tronco que atravessava o túnel.

– A raiz de uma violeta, explicou Seeba.

Ela desdobrou asas sedosas que Tita nunca tinha visto. Juntas elas voaram por cima da raiz.

Tita não podia ver mais nada. Estava escuro como tinta. Então, ela percebeu um leve brilho prateado que se tornou cada vez mais brilhante. Pássaros que voavam pareciam reluzir com a Luz.

– Pirilampos, disse Seeba. Nosso sistema de iluminação.

Depois elas viram uns homenzinhos muito estranhos, vestidos de marrom, com baldes vazios.

Gnomos, a duende disse a Tita. Eles colhem o orvalho nos baldes e molham as raízes.

Depois apareceu uma fileira de criaturas delicadas como Seeba. Algumas eram cor-de-laranja, outras cor-de-rosa, algumas verdes. Elas traziam baldes cheios de orvalho que derramavam em algumas raízes.

– Espíritos da Primavera; disse Seeba, como uma guia num ônibus de turismo. Hoje elas estão com preguiça e muito atrasadas.

– Você é uma Fada da Primavera? – perguntou Tita.

Ela estava ainda com medo das coisas. E sua voz parecia tão fraca quando ela falou.

– Oh, sim. Eu fui para o Sul, durante todo o inverno.

Voltamos para o Norte num trem de nuvens, poucas semanas atrás,

De repente, ela parou. Ficou pálida e começou a tremer.

– A Rainha, ela disse rapidamente. Irá punir-me.

Se eu pudesse me esconder em algum lugar. Mas é muito tarde.

Um clarão ofuscante de luz amarela brilhou contra os olhos de Tita e, diante delas, estava uma visão encantadora. Ela era mais alta que Seeba e usava um vestido verde brilhante que resplandecia em todas as cores do arco-íris. Seu cabelo era de cor azulada, mas não parecia estranho. Tita pensou que nunca vira um ser tão lindo.

Mas os olhos da Rainha estavam lampejando.

– Você não veio para exercitar, disse a Rainha, olhando para Seeba. Você fugiu para brincar. Bem, por esse motivo você ficara na caverna toda a noite e não subirá para as nuvens. E tocará seu violino a noite toda.

Seeba começou a implorar.

– Vai chover esta noite, querida Rainha, ela disse em prantos. Eu adoro cavalgar as gotinhas de chuva, e haverá tantas novas Fadas chegando.

Uma das grandes cobras apareceu. Tita esqueceu-se que se tratava apenas de uma minhoca. Começou a correr cada vez mais rápido. E, de repente, estava fora, ao Sol. Sozinha. Esfregou seus olhos e olhou a sua volta.

Devia ser muito tarde. O Sol já quase se escondia. Nuvens escuras estavam se formando. Tita não esperou.

Correu para casa.

Naquela tarde, Tita tocou seu violino. Sua mãe tocou piano. Papai lia seu jornal e seu irmão Jan estava lustrando uma luva de beisebol.

Então, Tita ouviu a música. Era leve e doce como os sinos das fadas.

– As Fadas da Primavera, ela disse, ansiosamente.

O irmão Jan a olhou e suspirou.

– Ah, ele resmungou, está chovendo. Não poderemos jogar amanhã.

Tita empinou o nariz para ele. Como um garoto podia saber? Mas ela entendeu. As Fadas da Primavera estavam vindo como toda a força. Agora toda a glória da primavera irromperia para fora. As florestas e os campos sentiriam a magia. Ela desejou saber se Seeba estaria cavalgando as gotas de chuva. Ou se ela deveria estar na caverna, exercitando. Tita pegou seu violino e começou a tocar, outra vez. Intensamente.

(do Livro Histórias da Era Aquariana para as Crianças – Vol. I – B. Coursin Black – Fraternidade Rosacruz)

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