Arquivo de tag Novo Testamento

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Algo está faltando na sua Bíblia?

A maioria das edições da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes tem a versão do Rei James. E mesmo outras versões diferem da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs católicos e de outras Religiões Cristãs. Muitas pessoas acreditam que a Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes seja realmente completa. A menos, isto é, que tenham visto a Douay-Rheims (tradução da Bíblia, a partir da Vulgata, em inglês pelos membros do English College Douai, a serviço da igreja católica) ou outra versão católica, que não tem 66, mas 80 livros (isso porque há diferenças entre a Bíblia católica e a Bíblia protestante: católica tem 73 livros e a protestante 66 livros; a Bíblia protestante não tem os seguintes Livros: Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, I e II Macabeus, Trechos de Ester – 10, 4-16 – e Trechos de Daniel – 3, 24;20, 13-14).

Entre o Antigo e o Novo Testamento há 14 livros adicionais, classificados pelos nossos irmãos e irmãs protestantes como “apócrifos” (do grego apokryphos, escondido).

Surgem as perguntas: por que eles não estão nas Bíblias protestantes? Como ou por que motivo eles foram removidos? Eles pertencem ao cânone dos livros bíblicos? Um resumo dos fatos essenciais ajudará o leitor a tirar suas próprias conclusões.

No século III a.C., havia no Egito cerca de 70 ou 72 eruditos judeus que, a pedido de Ptolomeu II, prepararam o que veio a ser conhecido como a versão Septuaginta (da palavra 70) do Antigo Testamento. Ela incluía os apócrifos. Esse foi o Antigo Testamento usado por Nosso Senhor e os Apóstolos e sem reservas endossado pelos “pais da igreja primitiva”. Nossas Escrituras não incluem os… livros apócrifos… No entanto, o menino Jesus, provavelmente, estava familiarizado com eles e Ele se lembrou deles quando era adulto, porque são citados em Seus discursos registrados no Novo Testamento. A Igreja antenicena (antes do Concílio de Niceia, em 325 d.C.) os aceitou.

Em 382 d.C., um erudito conhecido como Jerônimo foi comissionado pelo Papa Dâmaso para revisar a versão latina da Bíblia, que conhecemos como a Vulgata. Os livros apócrifos faziam parte dela. Por mais de um milênio foi indiscutivelmente a Bíblia da Igreja. Quando Wyclif e Purvey prepararam a primeira tradução da Bíblia para o inglês, 1382-1388, os escritos apócrifos foram mantidos. Isso também é verdade para a primeira tradução alemã do texto em latim, feita mais ou menos na mesma época.

A primeira Bíblia publicada com os apócrifos separados foi a de 1520, em Wittenberg, Alemanha, por um certo Andreas Bodenstein, mais conhecido pelo nome de sua cidade natal, Karlstadt, e seguidor de Martinho Lutero. Ele acrescentou uma nota informando que esses livros eram “dignos da proibição do censor” — inferiores. Era uma Bíblia escrita em latim.

A primeira Bíblia em vernáculo — o holandês — que segregou os livros apócrifos, colocando-os todos após o Antigo Testamento, apareceu em 1526, em Antuérpia. Também incluía uma nota chamando a atenção para a opinião de que fossem inferiores aos demais livros. Em 1530, uma versão suíça semelhante apareceu; ambas foram emitidas por autores que não eram católicos.

Em 1534, foi publicada uma tradução completa da Bíblia, em alemão, por Lutero. Mais uma vez, esses 14 livros estavam juntos, logo após Malaquias, com um prefácio: “apócrifos — isto é, livros que não são considerados iguais às Sagradas Escrituras, mas são proveitosos e bons de ler”. Ele não explicou quem determinou que esses escritos “não são considerados iguais”, nem o porquê.

No ano seguinte, a primeira Bíblia em francês foi impressa por Pierre Robert Olivetán, perto de Neuchâtel, Suíça. Os apócrifos foram incluídos nessa edição, como também nas publicações francesas que vieram depois. Grande reformador protestante, o francês João Calvino (Jehan Cauvin), citou os apócrifos — embora apenas 10 vezes, enquanto se referiu aos outros 4.000 vezes —, mas nunca para apoiar posições doutrinárias.

Também, em 1535, apareceu a primeira Bíblia em inglês, impressa por Myles Coverdale. Os 14 livros apócrifos foram todos abrigados entre o Antigo e o Novo Testamento. Assim também ocorreu com todas as seguintes Bíblias protestantes em inglês: a Bíblia de Mateus de 1537; a Bíblia de Taverner e a Grande Bíblia de 1539; e a Bíblia de Genebra (produzida pelos puritanos) de 1560.

Enquanto isso, para conter a revolta protestante, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento (1545 — 1563). Lá, os escritos apócrifos receberam o endosso mais forte possível. Naturalmente, isso não passaria despercebido aos protestantes, embora a reação deles viesse com uma lentidão surpreendente. Assim, o Livro de Oração Anglicano Protestante de 1549 ainda aceitava os apócrifos. Treze anos depois, o governo inglês publicou um documento muito interessante, os Trinta e Nove Artigos de Religião, definindo a ortodoxia oficial. Essa foi a época da Rainha Elizabeth I, cujo objetivo transcendente era acabar com a controvérsia religiosa como parte da sua Via Media (Caminho do Meio). Consequentemente, o Artigo VI pode ser interpretado como anti-apócrifo e o Artigo XXXV como pró-apócrifo.

Em 1581, a primeira Bíblia eslava (russa) foi publicada. Aqui, os livros apócrifos foram distribuídos por todo o Antigo Testamento. Mas a Igreja Ortodoxa Russa mudou gradualmente sua posição até que, em 1839, seu “Catecismo Mais Longo” excluiu, por completo, os apócrifos do Antigo Testamento. Voltando nossa atenção mais uma vez para o Ocidente, descobrimos que, em 1599, novas edições da Bíblia de Genebra começaram a omitir os 14 livros. Essa foi uma época de maré alta para os puritanos; eles se propuseram a “purificar” a Igreja da Inglaterra de todas as coisas que eles chamavam de “Romanas”. Isso incluía os livros tão singularmente apoiados pelo Concílio de Trento, 53 anos antes. Como disse o famoso estudioso Sir Frederick Kenyon, “os puritanos perseguiram os apócrifos”.

Mas, 1611 foi um ano de maré baixa para os puritanos, quando a versão do Rei Jaime apareceu. O Rei Jaime, que patrocinou a tradução (por isso que o prefácio ou a introdução, ainda vista em algumas edições da Versão do Rei Jaime, é tão ressaltada), foi também quem fez muitos puritanos fugirem para os Estados Unidos da América. Essa versão incluía os apócrifos. Não apenas isso, mas em 1615 George Abbot, arcebispo de Canterbury e, portanto, o “líder ativo” da Igreja da Inglaterra, sob o rei, ameaçou com um ano de prisão qualquer um que imprimisse uma Bíblia sem os apócrifos! Mas os “omissores” dos apócrifos tinham uma grande vantagem. As Bíblias sem os apócrifos tinham uma regalia competitiva — podiam ser colocadas à venda por um preço mais baixo. E devido às condições instáveis na Inglaterra, sob o governo de Carlos I (1625 — 1649) e o retorno da ascendência puritana sob a Comunidade de Cromwell (1649 — 1659), o decreto de Abbot não foi executado. Bíblias sem os apócrifos circularam em grande número. Exceto entre um grupo, os místicos. No espírito de amor Cristão, eles simpatizaram com as aspirações dos puritanos, embora tivessem sido perseguidos por eles, mas consideraram os 14 livros controversos como estando no mesmo nível dos outros.

Certamente, uma das principais publicações bíblicas e auxiliares por muitos anos tem sido a Concordância de Cruden. Sua primeira edição americana (1806) continha uma seção especial para os apócrifos; edições posteriores começaram a omiti-los. Uma razão pode ter sido que, em 1827, as sociedades bíblicas britânicas e americanas, que vinham incluindo os apócrifos em suas Bíblias, pararam de fazê-lo. Ainda assim, em 1894, quando a “Versão Revisada em Inglês da Bíblia” foi lançada, os 14 livros foram incluídos em algumas edições, embora em letras menores.

Um evento pouco conhecido, mas significativo, ocorreu em 1901, quando Eduardo VII da Inglaterra foi coroado. Por fim, pouco antes de o monarca beijar a Bíblia, antes de assinar o juramento de coroação, descobriu-se que ela, devidamente fornecida pela Sociedade Bíblica Britânica, não contava com os apócrifos. Outra, com os apócrifos, foi adquirida rapidamente, porque a lei do Reino Unido ainda exigia que uma Bíblia de 80 livros fosse usada nas instalações reais.

Não se pode negar que, ao longo dos anos, os livros apócrifos exerceram considerável influência cultural. O famoso poeta inglês do século 7, Caedmon, usou trechos deles. Isso fez Chaucer, sete séculos depois, em seus célebres Contos de Canterbury e outros escritos.

Colombo foi influenciado pelos apócrifos para zarpar em 1492! É um fato bem conhecido que ele foi influenciado pelo Imago Mundi (a forma do mundo) de Pierre d’Ailly para acreditar não apenas que a Terra era redonda, mas também que apenas um sétimo da superfície da Terra é coberto por água; portanto, as terras fabulosas a oeste não podiam estar muito longe. Essa noção foi baseada em uma interpretação errônea de II Esdras 6: 42, 47, 50, 52 de d’Ailly.

Shakespeare faz mais de 80 referências aos apócrifos (veja em Shakespeare and Holy Scripture, Thomas Carter; Shakespeare’s Biblical Knowledge and Use of the Book of

Common Prayer, Richard Noble), embora possa ser mera coincidência que duas de suas filhas tenham recebido o nome de heroínas apócrifas, Susanna e Judite. John Milton também ficou em dívida com esses livros. Por exemplo, seu Paraíso Perdido traz referências à Sabedoria de Salomão, mesmo que o transcendentalista americano Nathaniel Hawthorne possa ser ligado a II Macabeus.

Todos os anos, no Natal, milhões cantam “Noite Silenciosa, Noite Sagrada” e “Ó, Noite Santa”. Ainda assim, em Lucas 2:11, lemos que Jesus nasceu “hoje”. De onde vem a crença popular em um presépio noturno? Pode ser rastreada até a interpretação de Sabedoria 18:14-16, por parte dos pais da igreja primitiva. Os conhecedores de arte sabem que Judite, Tobit, Susanna e Holofernes inspiraram obras-primas. Suas histórias estão todas nos livros controversos da Bíblia.

Mesmo dessa visão geral bastante abreviada, alguns fatos indiscutíveis emergem: por mais de três quartos da era Cristã, os apócrifos foram universalmente aceitos e exerceram uma poderosa influência cultural. Também tem isto: a enorme lacuna de 400 anos entre o Antigo e o Novo Testamento. Se alguém lesse uma história dos EUA que omitisse eventos entre a Guerra Civil e a Segunda Guerra Mundial — menos de um quinto do intervalo de tempo entre Malaquias e Mateus —, perceberia imediatamente que algo estivesse faltando. Isso é verdadeiro, se alguém lê uma Bíblia sem os apócrifos.

“À medida que a videira produziu, eu – Sabedoria – ganhei sabor agradável e minhas flores são frutos de honra e riqueza. Eu sou a mãe do amor justo, do temor a Deus, do conhecimento e da esperança sagrada: Eu, portanto, sendo eterna, dou-me a todos os meus filhos, que têm o nome Dele. Venham a Mim, todos vocês que desejam se alimentar de Mim, e encham-se dos meus frutos. Porque o meu memorial é mais doce do que o mel e a minha herança, mais do que o favo de mel. Aqueles que Me comem ainda terão fome. Quem Me obedece nunca será confundido e os que trabalham por Mim não errarão.” (Eco 24:23-30)

“Pois enquanto todas as coisas estavam em quieto silêncio e aquela noite estava no meio do seu curso rápido, a Tua palavra Todo-poderosa saltou do Céu, do Teu trono real, como um feroz homem de guerra no meio de uma terra de destruição, e trouxe o Teu mandamento honesto como uma espada afiada.” (Sb 18:14-16)

“Temer ao Senhor é o princípio da sabedoria: ela foi criada junto dos fiéis, no ventre. Ela construiu um alicerce eterno com os homens.” (Eco 1:16)

Sabedoria é o sopro do poder de Deus e uma pura fonte que nasce da Glória do Todo-poderoso… o brilho da luz eterna, o espelho imaculado do poder de Deus e a imagem de Sua Bondade.” (Sb 7:2-26)

À margem da versão de 1611 do Rei James, não há menos do que 113 referências a passagens relacionadas nos apócrifos; 102 no Antigo Testamento e 11, no Novo (alguns exemplos: Mt 6:7; Eco 7:14; Mt 23:37; IIEsd 1:30; Mt 27:43; Sb 2:15-16; Lc 6:31; Tob 4:15; Lc 14:13; Tob 4:7; Jo 10:22; IMb 4:59; Rm 9:21; Sb 15:7; Rm 11:34; Sb 9:13; IICor 9:7; Eco 35:9; Hb 1:3; Sb 7:26; Hb 11:35; IIMb 7:7). Para detalhar aqui apenas duas dessa lista: Jo 10:22 fala sobre a Festa da Dedicação; IMb 4:59 relata sua origem pós-Antigo Testamento. E não pode haver dúvida de que o apóstolo Paulo emprestou muito dos apócrifos para sua epístola aos romanos (Rm 1:20-21; Sb 13:5-8; Rm 1:22; Sb 13:1, 12:24; Rm 1:26; Sb 14:24; Rm 1:29; Sb 14:25-27; Rm 9:20; Sb 12:12; Rm 9:21; Rm 9:22; Sb 12:20).

Não há melhor maneira de considerar a relação dos apócrifos com o resto da Bíblia do que os ler. Assim, alguém se perguntará em que base os 14 livros foram afastados dos outros 66. É frequentemente dito que eles não tenham qualidade devocional como os outros 66. Claro que essa é uma forma muito subjetiva de fazer julgamentos. Mas não há muitas partes dos 66 livros que podem ser consideradas deficientes da mesma maneira? As genealogias no Antigo Testamento, por exemplo, ou as histórias de muitas guerras sangrentas? Também é um fato que John Bunyan, famoso autor de Pilgrim’s Progress (O Progresso do Peregrino), em um momento de desânimo espiritual, encontrou um bálsamo para sua alma depois de pesquisar na Bíblia por “mais de um ano”, em Eclesiástico 2:10. Também pode ser observado que um grupo devoto de Cristãos Protestantes dirigiu seu clero, em casamentos, a ler não só o Antigo e o Novo Testamento, mas também o livro apócrifo de Tobias, pois ele “apresenta uma bela lição que fortalece os piedosos e tementes a Deus na Terra, especialmente no que diz respeito ao casamento”.

É certo que os apócrifos possam ser considerados “diferentes”. No entanto, essa é realmente uma afirmação vaga. Os outros 66 livros também são bastante diferentes uns dos outros. No Antigo Testamento, temos os livros históricos, a literatura sapiencial, os profetas maiores e os menores. Algumas partes de apenas um livro dos 66 são muito diferentes, razão pela qual, por exemplo, os capítulos que vão do quarenta ao cinquenta e cinco, no Livro de Isaías, são conhecidos como o Deutero-Isaías… Não da autoria de Isaías, mas obra de outro. No Novo Testamento, existem os Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse. Rute e Apocalipse são muito diferentes; também Crônicas e Coríntios, Provérbios ou Filipenses. Qualquer pessoa inclinada a denegrir os apócrifos precisa ser lembrada de que partes do Antigo Testamento, se fossem transformadas em filmes, receberiam uma classificação X, na melhor das hipóteses; porém não são questionadas. Isso é consistente?

Talvez a chave mestra para o que pertence à Bíblia é encontrada no fato de que reais eventos físicos são usados para esconder profundas verdades espirituais. Pode haver outra base viável para permitir certas partes do Antigo Testamento no cânone bíblico? Existe outra maneira pela qual as muitas contradições aparentes da Bíblia, com base em uma interpretação literal, podem ser harmonizadas?

Por causa da sua função como elo entre o Antigo e o Novo Testamento, os estudantes da Bíblia sofrem uma perda por negligenciar os apócrifos — mas, uma ainda maior por ignorar a chave para compreender todos os três: a abordagem esotérica que é apresentada pelo Cristianismo Místico. A literatura da Sabedoria Ocidental tem inúmeras referências aos apócrifos.

A palavra “apócrifo” também pode significar que os escritores dos livros quisessem que seu significado fosse enigmático ou aparente apenas para os Iniciados. Houve muitos escritos desse tipo no período imediatamente anterior e posterior ao início da era Cristã.

Aqueles familiarizados com as Escrituras extracanônicas, além dos apócrifos, estarão interessados em saber que ‘as Pseudoepígrafes’ ou Escrituras ‘falsamente inscritas’ não são fraudulentas; a falsa inscrição é apenas um artifício… pelo qual um escritor posterior poderia expressar suas ideias sob o abrigo de um nome do escritor anterior e aceito.

(publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro-outubro de 1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia?

Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia

A princípio, sempre nos lembremos que a “Bíblia foi nos dada pelos Anjos do Destino, que estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia”.

Quando se fala dos Mistérios Cristãos deve-se compreender que os quatro Evangelhos que encontramos na Bíblia não são exclusivamente relatos da vida de um único indivíduo, escritos por quatro pessoas diferentes, mas sim que são símbolos de Iniciações distintas. Cada um de nós atravessará algum dia os quatro períodos descritos nos quatro Evangelhos, porque cada um está desenvolvendo o espírito de Cristo no seu interior, o Cristo Interno. E ao dizer isso dos quatro Evangelhos, podemos aplicá-lo também a uma grande parte do Antigo Testamento que é, também, um maravilhoso livro de ocultismo, pois nos relembra o que fizemos naqueles tempos, bem como quantos irmãos e irmãs anteciparam o conhecimento que iria nos ser fornecido na plenitude via o Novo Testamento.

Quando colhemos batatas não esperamos encontrar somente batatas e nenhuma terra; tampouco, devemos esperar, ao nos aprofundarmos no livro chamado Bíblia, que cada palavra seja uma verdade oculta, porque como deve haver terra entre as batatas, assim também deve haver escória entre as verdades ocultas da Bíblia. Os quatro Evangelhos foram escritos de tal maneira que somente aqueles que têm o direito de saber podem descobrir o verdadeiro significado e compreender os fatos subjacentes. Do mesmo modo, no Antigo Testamento encontramos grandes verdades ocultas que se tornam lúcidas quando podemos olhar por detrás do véu.

Deve-se notar que as pessoas que originalmente escreveram a Bíblia não intentaram dar a verdade de uma maneira que todo aquele que quisesse, pudesse lê-la. Nada estava mais afastado de suas Mentes que escrever “um livro aberto sobre Deus”. Os grandes ocultistas que escreveram o Thorah são muito categóricos a esse respeito. Os segredos do Thorah não podiam ser compreendidos por todos. Cada palavra do Thorah tem um significado elevado e um mistério sublime. Muitas passagens estão veladas; outras devem ser entendidas literalmente; e ninguém que não possua a chave oculta pode decifrar as profundas verdades veladas naquilo que, amiúde, apresenta um feio revestimento.

(Publicado na Revista O Encontro Rosacruz – dezembro/1982)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um decálogo para as relações humanas — Baseado nos ensinamentos de Cristo

Um decálogo para as relações humanas — Baseado nos ensinamentos de Cristo

Para que tenha valor ao indivíduo, a Religião deve produzir-lhe reforma interna. Conhecer a Religião praticada convencionalmente, de modo superficial, não nos traz proveito algum.

Contudo, para apreciar devidamente uma Religião, precisamos conhecê-la. Para conhecê-la precisamos estudá-la de modo conveniente. A Filosofia Rosacruz nos ajuda muito a conhecer o Cristianismo. Não poucos, com sua ajuda, retornaram à Bíblia, vendo-a sob nova luz.

Estivemos meditando sobre os princípios do Mestre, alusivos às relações humanas. Lemos várias vezes o Novo Testamento, anotando as citações que nos pareceram encerrar maior significância para o tema. Confirmamos, então, que o Novo Testamento seja o mais atualizado e profundo manual de relações humanas que existe no mundo!

Naturalmente, para esmiuçar as citações, buscando todos os seus alcances práticos, precisaríamos escrever um volumoso livro. Poucos se dispõem a ler obras volumosas e sérias. Buscamos, por isso, sintetizar nossas conclusões neste pequeno trabalho. Este decálogo deveria ser meditado e praticado por todos, pois abrange todas as esferas sociais. Desse modo, Cristo presidiria aos nossos diálogos, assegurando-nos êxito em todos as conversas!

1 — HARMONIZA-TE SEM DEMORA COM O TEU ADVERSÁRIO

Disse alguém: “Vive cada dia como se fosse o último de tua vida”. O que faríamos, se soubéssemos ter apenas um dia de vida ou, digamos, alguns dias? Como espiritualistas convictos da ação da Lei de Consequência e Renascimento, trataríamos, sem demora, de acertar todas as nossas pendências, desligando-nos de todos os compromissos terrenos! Não é lógico?

Enquanto mole, podemos corrigir um desnível no cimento. Mas depois que endurece não é possível, senão quebrando-o. Todas as coisas são mais facilmente acertadas no início, enquanto as razões estão frescas. Depois, convertem-se em destino maduro e a dor é inevitável durante a correção.

Contudo, se, ao buscarmos conciliação e harmonia, apesar da delicadeza, do tato e do intento sincero, encontrarmos no desafeto uma disposição rancorosa e agressiva, que nos afastemos calmamente, sem revide. É o que os Evangelhos ensinam, ao recomendar que se deva tirar o pó das sandálias, retirando-se do lar onde não se foi acolhido. O importante é que cada um cumpra sua parte com seu Deus. E não nos detenhamos nas querelas. Imitemos os rios, que não se chocam com as montanhas, porém as contornam e seguem a diante.

2 — SE ALGUÉM TE OBRIGAR A ANDAR MIL PASSOS, VAI COM ELE DOIS MIL

“Não resistais ao mal”, ensinou também o Cristo e isso diz respeito ao nosso comportamento interno. Importa que não reajamos negativamente a qualquer atitude ou circunstância adversa. São Bernardo ensinou: “Ninguém pode ferir-me ou atingir-me, senão eu mesmo. Depende, pois, de mim, rebaixar-me ou irritar-me e, desse modo, deixar-me atingir pelo inimigo de minha personalidade”. Devemos empreender sincero esforço na conquista do domínio próprio. O descontrole emocional, mormente entre os latinos, tem sido a causa frequente de úlceras, diabetes, enfartes e tantas outras doenças. Existe alegria de viver ou felicidade, quando não temos saúde? E como podemos cumprir nossos deveres para com nosso Espírito, nossa família e o gênero humano, sem condições normais que nos ajudem? Também incluímos neste assunto todos os pequenos desafios que diariamente nos ameaçam corroer a paciência: as dificuldades no trabalho e no lar, as esperas nas filas de ônibus e os apertos dentro deles…

3 — TODA ÁRVORE QUE NÃO DÁ BOM FRUTO É CORTADA E LANÇADA NO FOGO

Não existe inércia nem inutilidade na natureza. O órgão não usado é atrofiado. Os desafios da vida são naturais e necessários para o desenvolvimento proporcional a cada indivíduo. Aquele que se adapta e age construtivamente, progride; o que para, retrocede. Aí está o verdadeiro conceito de mocidade e velhice: internamente, aquele que desanima e empaca morre para a vida, cuja finalidade é o desenvolvimento das faculdades internas que herdamos do nosso Criador. O cristão consciente é honesto e dá o melhor que pode em seu trabalho, no lar ou na sociedade porque sabe que, ao retardar seu dever, ao negligenciar suas tarefas, descuida de si mesmo, recebendo dos outros exatamente na medida em que oferece. Isso se aplica aos indivíduos, às empresas e agrupamentos sociais. Quanto mais produzem, construtiva e legitimamente, tanto mais crescem — em todos os sentidos! É preciso vencer as tentações dos maus exemplos e das insinuações aparentemente justas. Um erro não justifica outro! Que cada um de nós cumpra o seu dever.

4 — NÃO É O QUE ENTRA PELA BOCA QUE CONTAMINA O SER HUMANO, MAS O QUE DELA SAI

“Falar é prata, calar é ouro” — diz o provérbio. Depois que falamos algo inconveniente, tornar-se difícil e embaraçoso ao nosso orgulho que nos retratemos. Uma mentira conduz a outras, acabando por subestimar as pessoas mentirosas. As palavras violentas e irritadas têm prejudicado ótimas situações e arruinado negócios. Estamos educando ou aconselhando? Se queremos ajudar e demonstrar amor, falemos com amor. Argumentamos com alguém? Então que mantenhamos o equilíbrio, a lógica e a humildade, porque o objetivo é a verdade e não ganhar ou perder a discussão.

O uso da palavra é um assunto bem importante. É o próprio uso do Verbo! Tão importante que Tiago lhe dedicou primoroso capítulo, o terceiro de sua carta, sobre o qual Max Heindel nos exorta a meditar de vez em sempre. Observa Heindel: “A tendência de falar mal dos outros ou admoestar as coisas más é magia negra, porque construímos no Mundo do Desejo uma forma negativa e a lançamos na pessoa ou coisa. Uma abelha, quando pica, deixa o ferrão e morre. Que seria das línguas das pessoas, se lhes sucedesse o mesmo?”.

Todo Cristão-esoterista conhece a Lei de Atração dos semelhantes: se nutrimos ódio por alguém, suscitamos a reação odiosa dessa pessoa; se o amamos, suscitamos-lhe amor; se, ao irmos ao encontro de alguém para resolver uma pendência, um assunto qualquer, pensamos negativamente, construímos com isso as condições negativas em nós e na outra pessoa; no entanto, se vamos de forma confiante e corajosa, parte do problema já foi resolvido.

5 — E QUEM QUISER SER O PRIMEIRO ENTRE VÓS, SEJA ESSE O SERVO DE TODOS

Eis o ideal de liderança, o verdadeiro sentido de liderança baseado no serviço amoroso do líder, em sua relação com os companheiros: exemplificar. Envolve não apenas um sentido de poder, mas também um de dever. Em vez de submeter e mandar, une-se aos outros e os soergue com seu entusiasmo, convicção e trabalho. No lar, no trabalho ou na Fraternidade, os dirigentes criam seres humanos, ajudam-nos a vencer, multiplicam-se por meio deles e logram seguramente os objetivos para o benefício comum, porque lhes conquistam a lealdade, lhes galvanizam o entusiasmo e criam um espírito de trabalho em conjunto e de harmonia contagiante.

O serviço amoroso e altruísta é a tônica da Fraternidade Rosacruz; vale dizer, a medula da doutrina Cristã. Nele reside o êxito de todas as atividades.

6 — APASCENTAI AS MINHAS OVELHAS

O respeito do ser humano pelo ser humano, como semelhante centelha espiritual, deixa muito a desejar. Nunca o mundo precisou tanto de amor como nos atuais tempos de materialismo, algo tão perigoso ao nosso natural desenvolvimento interno. Por isso, o mais deplorável na hora presente é o desânimo dos “homens de boa vontade”. Psicólogos e educadores estudam as causas dos problemas sociais, mas não poderão perscrutar profundamente o problema, enquanto não considerarem o ser humano em sua integralidade, como humano e espiritual. A menos que sejamos alimentados em todos os aspectos, haverá fome de algum lado, deficiências, enfermidades jamais sonhadas pelos materialistas, porque a função cria o órgão e a negligência de certos aspectos, justamente os mais complexos e elevados da natureza humana, trará consequências desastrosas!

A técnica moderna, em vez de servir ao ser humano, veio escravizá-lo em benefício de alguns. As máquinas avassalaram os operários, reduzindo-os a peças cujos movimentos são estudados para cada vez mais produzir. A vida egoísta e intensa das grandes cidades nos ilham em um círculo vicioso e pouco edificante. É uma indústria de neuróticos. Os hospitais de doenças nervosas se multiplicam.

Contam as estatísticas que, dentre as pessoas com cursos superiores, os que mais se suicidam são os médicos e, dentre eles, os psiquiatras! Na América do Norte, é alarmante o número das pessoas que morrem de enfarte nervoso, antes dos 50 anos. Na Europa, justamente nos países mais adiantados (Suíça, Suécia, Dinamarca), ocorrem os maiores índices de suicídio. Por quê? Se o objetivo do ser humano fosse meramente material, se ele fosse apenas um conjunto orgânico que se desfaz com a morte, por que essa angústia? A resposta é simples: estão esquecendo o ser humano real! As criaturas andam famintas de amor, apreciação, estímulo, criatividade, motivação. O ser humano precisa ser compreendido em sua inteireza. De novo surge, do fundo das idades, a Esfinge gigantesca e repete o desafio: ou me decifras ou te devoro! De novo o Cristo dentro de nós inquire a nossa consciência: tu Me amas? Então, apascenta as minhas ovelhas!

O Cristianismo Esotérico possui uma tremenda responsabilidade, um grande dever de divulgar, por todos os meios ao seu alcance, os aspectos integrais do ser humano e o modo de torná-lo realmente feliz e realizado, mas não segundo o ponto de vista material, imediatista; porém, conforme uma perspectiva ampla que atente não só ao presente, mas também ao futuro.

“Não só de pão vive o homem.” O dia em que se ensejar a cada ser humano os meios e motivações de crescimento interior, ver-se-á que eles hão de florescer a dimensões jamais sonhadas, em todos os aspectos.

7 — MAS, SE NÃO PERDOARDES AOS SERES HUMANOS, TAMPOUCO VOSSO PAI PERDOARÁ AS VOSSAS OFENSAS

O único antídoto eficaz para a enfermidade do ressentimento, do ódio e da amargura é o perdão. Mas o perdão terapêutico! Todos nós conhecemos, por experiência própria, o perdão superficial, de boca: “Eu o perdoei, mas ele acabou para mim!”. Isso não é perdão! O ressentimento persiste como um elo paradoxal: dizemos que não mais desejamos qualquer laço com o desafeto e, todavia, mantemo-nos algemados, relembrando sempre o seu erro. Dizemos que a pessoa acabou para nós e, no entanto, permanecemos igual a um carcereiro, prendendo-a ao nosso ressentimento.

A imagem não é exagerada. É real, para quem conhece as atividades do nosso Corpo de Desejos e sua relação com o Mundo do Desejo. O purgatório existe para desfazer os laços desamorosos que não foram desfeitos pela compreensão e perdão. O perdão terapêutico consiste em realmente perdoarmos o desafeto, dizendo convictamente para nós mesmos: “Eu o liberto do meu ressentimento por amor, na certeza de que tudo coopera com o bem”.

Os ressentimentos dividem os esforços coletivos cujos objetivos deveriam permanecer acima dos indivíduos. E a casa dividida não pode subsistir.

A resposta do Cristo para Pedro é bem significativa em relação à disposição que deveríamos costumeiramente adotar: “Devemos perdoar até setenta vezes sete”.

8 — TODA CASA DIVIDIDA CONTRA SI MESMA NÃO SUBSISTIRÁ

Quando Max Heindel fundou a Fraternidade Rosacruz, o Irmão Maior que o orientava recomendou-lhe que dispensasse, o quanto lhe fosse possível, a burocratização dos trabalhos, a criação de cargos etc. Max Heindel não conseguiu. A humanidade ainda não está preparada para essa elevada forma de trabalho em conjunto, onde cada um, independentemente de funções bem definidas, procura fazer o máximo, sem pensar em cargo ou natureza de trabalho. E as mesmas falhas humanas que ainda nos impedem de realizar essa colaboração espontânea e construtiva são as que motivam as dissenções.

O único líder é a IDEIA; e o único IDEAL É O CRISTO!

Se todos trabalhássemos para difundir, com o máximo das forças e faculdades, os maravilhosos ensinamentos da Filosofia Rosacruz, sem pensar em distinções, cargos ou elogios, que são ainda as propagandas de nossa personalidade, o Cristo seria mais bem alimentado! Não só dentro de nós, pelo serviço, como igualmente pelo soerguimento de nossos semelhantes.

As condições atuais exigem regulamentos, estatutos, cargos…, mas devemos aprender a transcender a época ou então ainda não estaremos capacitados para ensinar os ideais de uma nova época!

Não consideremos os aspectos externos das Sedes: a Fraternidade não é suas paredes ou móveis. Não critiquemos os oradores; eles estão fazendo o que podem para colaborar, mas têm suas falhas. Em vez de criticar, trabalhemos harmoniosa e conjuntamente pelo objetivo comum. Cada um de nós é algo muito valioso para a Fraternidade. Todas as trevas do mundo são incapazes de encobrir a luz de uma pequenina vela! E as velas reunidas iluminam o mundo.

Independentemente de tudo, façamos a nossa parte. Sobretudo, façamos parte ativa do Todo que é a Fraternidade. Ofereçamos nossos préstimos sem pretensão alguma.

A qualidade e a persistência de nossa colaboração, unidas pela compreensão, tolerância e adaptabilidade, darão credenciais de SERVOS DO SENHOR.

9 — ESTENDE A TUA MÃO!

Quando Cristo curou a mão atrofiada do homem que estava na sinagoga, ordenou: “Estende a tua mão!”. E o ideal de Cristo para a cura de todos os nossos males, para estabelecimento da real felicidade humana, continua a exigir de nós: “Estende a tua mão!”.

Além dos limites da nossa personalidade, estendamos a mão direita, símbolo universal de amizade, na direção do nosso próximo.

Como os braços metálicos que se entrelaçam e formam a tela de arame, homens e mulheres, brancos e negros, acima de credo, nacionalidade ou cor; acima de todos os convencionalismos, devem sair de si mesmos e se irmanar em uma autêntica família universal!

Cumprimente sentindo o que diz: “Bom dia!”, “Boa tarde!”, porque se a sua mão, em minha mão, não transmite amizade ou amor, também não transmite o Cristo, o único Ego para uma real Fraternidade.

Se isso se consumasse agora, todas as guerras, doenças e misérias acabariam!

10 — ASSIM, “TUDO O QUE QUISERDES QUE OS HOMENS VOS FAÇAM, FAZEI-O ASSIM TAMBÉM VÓS A ELES. PORQUE ESSA É A LEI E OS PROFETAS”

Deixamos propositalmente a Regra Áurea para o fim. Ela enfeixa e encerra tudo o que existe sobre as relações humanas. Nem seria preciso tecer comentários sobre ela. Tanto tem sido falado e escrito a seu respeito que pareceria ocioso acrescentar algo. Apenas lembraríamos sua estreita ligação com a Lei de Consequência e a Lei de Atração do semelhante. Sua aplicação é pessoal, nacional e internacional. Quer pô-la em prática amanhã mesmo? Então faça uma lista das coisas que gostaria que as pessoas lhe fizessem e, assim, faça-as para as outras pessoas. Mas não faça como o menino imediatista que plantou as sementes e todos os dias as desterrava para verificar se estavam crescendo. Plante e espere. Mas plante com amor. O amor, a água pura e o Sol morno dão vigor à planta humana e a faz produzir mais de cem frutos por um. Lembremos: nossa personalidade é apenas vara, um galho da videira do Cristo interior. E quanto mais Lhe fizermos a Vontade, tanto mais fluiremos pelos canais de Sua inteligência, Seu afeto e Sua vitalidade: os frutos de Deus para a criação de um mundo melhor!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – junho/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Livro: Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo 

A personalidade de Judas Iscariotes representa uma das mais impressionantes figuras da história de Jesus Cristo.

Desde o princípio da cristandade, jamais uma criatura foi tão odiada. Este ódio, faz-se sentir ainda hoje, decorridos mais de dois mil anos.

Este ódio criado no seio da cristandade vem encontrando sua continuidade durante séculos, gerando seus efeitos desfavoráveis dentro da própria comunidade cristã.

Dizemos desfavorável porque, não se pode conceber, absolutamente, que houvesse ou haja ódio em Cristo, o Senhor do AMOR.

Vamos ver onde está a origem desse sentimento tão negativo para com essa figura importante.

1. Para fazer download ou imprimir:

F. Ph. Preuss – Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo

2. Para estudar no próprio site:

Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo

Por

F. PH. PREUSS

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz de Santo André – SP – 1974

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

Sumário

Parte I – Contextualização

Parte II – A Traição

PARTE I – CONTEXTUALIZAÇÃO

A personalidade de Judas Iscariotes representa uma das mais impressionantes figuras da história de Jesus Cristo.

Desde o princípio da cristandade, jamais uma criatura foi tão odiada. Este ódio, faz-se sentir ainda hoje, decorridos quase dois mil anos. Verificamos este fato pela simples razão de se fabricarem bonecos que são dependurados em árvores e queimados logo após serem surrados.

A alegria das crianças é enorme, quando veem Judas receber o merecido castigo.

E este ato, é feito com pleno consentimento dos adultos, que trazem até seus filhos esta velha tradição que pode ser historicamente confirmada. Na atualidade há um sensível declínio dessas práticas grotescas nas grandes cidades. Se bem que não estejam totalmente apagadas. Este ódio criado no seio da cristandade vem encontrando sua continuidade durante séculos, gerando seus efeitos desfavoráveis dentro da própria comunidade cristã. Dizemos desfavorável porque, não se pode conceber, absolutamente, que houvesse ou haja ódio em Cristo, o Senhor do AMOR.

Tendo em vista dar algumas explicações a respeito da atitude de Judas, devemos levar em consideração os atuais tempos materialistas nos círculos farisaicos em contradição flagrante com o Divino Cristo Espiritual e Ideal.

A ocupação real de Judas era zelar pelo bem-estar físico de Cristo e os demais companheiros, sendo ele o caixa, esmoler e provedor dos pobres. Há-se, também, de se ter em mente que TODOS os Discípulos foram escolhidos por Cristo, inclusive Judas. Cada um deles representava, em suas qualidades internas, uma atividade necessária na marcha da evolução. Iniciava-se, portanto, com a vinda de Cristo, um novo ciclo dessa atividade, uma Nova Era, um movimento maravilhoso e surpreendente, ao qual o Sumo Pontífice e sua hierarquia não tinham acesso. Não compreenderam eles, porém, a mudança dos tempos, isto é, o princípio de uma nova atividade da alma humana, que procurava afastar-se das leis exteriores da vida, firmando-se na lei interior. A hierarquia clerical fora golpeada pela mansidão do Cristo. E o que fazia essa hierarquia? Refugiava-se nas más compreendidas leis mosaicas, as quais executavam rigorosamente.

O Novo Testamento, com relação a Judas, comete tantos erros quanto o Velho Testamento, com respeito às leis de Moisés. Referem-se à Judas como sendo ele um legítimo traidor de Cristo, o que não é uma realidade. A narrativa da traição nos Evangelhos, mostra-nos, de fato, uma traição, mas… com toda legalidade espiritual. O amigo leitor não deverá se admirar com essas palavras, pois, no decurso das explicações, daremos confirmação às mesmas. A própria Sagrada Escritura apresenta ao pesquisador sincero, bem como aos atuais fariseus, profuso material de estudos, provando que, sem o Sacrifício do Senhor, Ele nunca teria sido chamado de: Salvador, o Messias da humanidade. O que desejamos demonstrar é que, a chamada traição foi preparada pelo próprio Cristo! A Profecia tinha que ser cumprida; portanto, Judas levou a traição à efeito com pleno consentimento do Senhor.

Daremos, a seguir, provas do que acima dissemos.

Leiamos as palavras de Cristo, no Evangelho de São João, capítulo 15, versículo 16, quando falando aos Discípulos, diz o seguinte:

“Não fostes vós que me escolheram a mim, ao contrário, EU vos escolhi a vós para que deis frutos e que o vosso fruto permaneça”.

Por essas palavras compreendemos que o Senhor escolhera a Judas para que também desse os seus devidos frutos, cooperando dessa forma com AQUELE que o havia escolhido. O homem de Cariotes havia sido escolhido para realizar um serviço especial dentro do plano estabelecido. Cristo assim o fez porque o conhecia perfeitamente e sabia que, somente ele poderia executar tal classe de serviço, ou seja: a traição, tão necessária ao cumprimento das profecias. No Salmo 22, podemos encontrar o vaticínio do mesmo acontecimento.

Agora perguntamos: teria Judas Iscariotes razões especiais para agir dessa forma com relação ao Senhor? Caso ele não houvesse levado a efeito tal traição, o que teria acontecido a humanidade? Porventura teria sido salva? O capítulo 15, versículo 14, ensina-nos o seguinte:

 “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que EU vos mando”.

O versículo 19, diz:

“Se vós fosseis do mundo, o mundo vos amaria; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele Eu vos escolhi, por isso o mundo vos odeia”.

Estes versículos nos mostram claramente a atividade espiritual de Cristo sobre os seus Discípulos. Eles haviam sido escolhidos para confirmar e participar da Vida Espiritual com o Mestre. Não apenas deveriam ser iluminados pela presença da AURA DO CRISTO SOLAR, como também dar início a transmutação de seus corpos, constituindo-se dessa forma, numa vanguarda espiritualizante de uma futura humanidade. Na perfeita obediência atenderam à própria libertação espiritual (Pentecostes), em virtude das qualidades recebidas da AURA DE CRISTO. As amarras impostas pela lei até então, haviam chegado a seu fim. A constante transmissão das forças solares sobre os Discípulos, devia ser extraordinária, pois, o Hierofante, Cristo, lhes transmitia, francamente, o Espírito de Vida, consumando esse trabalho na Iniciação de Pentecostes. Cristo lhes havia dito que não mais eram do mundo, e que, todos sofreriam como Ele, profecia então cumprida, porquanto todos sofreram a morte de Cruz, exceto São João, que foi exilado para a Ilha de Patmos. Repetimos novamente: Cristo havia escolhido seus Discípulos, e conhecendo perfeitamente as capacidades internas de cada um, dava-lhes os devidos ensinamentos e os iniciava. Este fato nos faz sentir que a Escola Essênia encontrava em Cristo, a lógica e natural sequência dos ensinamentos espirituais para o mundo moderno. A cristandade tinha que se iluminar com a Luz que se encontrava no mundo (Cristo), Luz esta que constantemente era irradiada dos planos estelares. Na escolha dos Discípulos, notamos que o próprio Judas recebeu do Senhor a mesma consideração dada aos demais, recebendo, como eles, obrigações e deveres, sendo respeitado como qualquer outro.

Parte II – A Traição

Após esta digressão que se fazia necessária, voltamos ao assunto em pauta:

A TRAIÇÃO

Na Santa Ceia, quando estavam todos reunidos na mesa, Cristo, dando o pão molhado à Judas, perante os demais Discípulos, diz o seguinte: “Aquilo que deves fazer, faze-o já”.

Cristo tinha conhecimento de Sua Missão, e, portanto, era natural a Sua obediência às Escrituras, que, cerca de 1.000 anos antes já havia anunciado: “Eis que teu Rei virá a ti, justo e salvador, pobre e montado sobre um jumento, um asno, filho de jumenta” (Zacarias, Capítulo 9, Versículo 9-10).

O mesmo fato é também descrito cerca de 1.000 anos depois, no Evangelho de Lucas, no Capítulo 19, Versículo 33 e 35: “Quando eles (os Discípulos) soltaram o jumento, seus donos lhes perguntaram: Porque o soltais?

Responderam: Porque o Senhor o precisa. Então o trouxeram e, pondo suas vestes sobre ele, ajudaram Jesus a montar”.

Mui importante de observação é que, Zacarias, 1.000 anos antes, profetizara a mesma coisa que Lucas, Discípulo de Jesus, descreve em seu Evangelho.

Em sua exaltação espiritual, Zacarias fala com o Senhor – isso é evidente! E assim decorrem-se os acontecimentos, como se impressos numa chapa fotográfica, em negativo, e revelada com a chegada do Salvador, inclusive o drama final de Jesus e Judas.

A declaração de Zacarias no Capítulo 11, Versículo 10 é impressionante:

“Tomei a minha vara (Justiça e Suavidade) para desfazer o pacto que havia estabelecido com todos os povos”.

A consequência do desfeito da união entre Deus e seus povos é relatada no Versículo 12 de Zacarias:

“Eu lhes disse (à Hierarquia); se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido, senão, deixai-o” (trata-se das 30 moedas).

No 13º Versículo fala o Senhor a Zacarias: “Arrojo isto no oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles”.

A expressão: EM QUE FUI AVALIADO, é muito significativa. Quem diz isso é o Senhor.

“Tomei (o Profeta) as trinta moedas de prata, arrojei-as na Casa do Senhor” (Zacarias aí faz o papel de Judas).

Esse Versículo coincide ainda com o Versículo 5 do Capítulo 27 de São Mateus: “Então, Judas, atirando para o Santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se”.

A essa altura, verificamos que Judas rompeu bruscamente os laços que o ligavam a seu povo, pois, impôs-se a si mesmo a justiça, que lhe foi negada na hora em que, arrependido, acusa-se perante os sacerdotes de haver acusado sangue inocente. Esta passagem firma-se, ainda, com o Capítulo 11, Versículo 14 de Zacarias: “Então quebrei a minha segunda vara, os laços, para romper a irmandade entre Judá e Israel”.

Lembremo-nos que Judá representa todo o povo Judeu, e os Israelitas representam os escolhidos, os adiantados. Judas provocou a separação entre aqueles que seguiam a lei e os que aceitaram os princípios cristãos, chamados de Israelitas-cristãos. Ao mesmo tempo, coincide que Pilatos, por não achar falha em Cristo, quebra a sua varinha e lava as mãos, em sinal de inocência no caso.

Lendo a seguir São Mateus 26, Versículo 2, encontramos o seguinte:

“Sabeis que daqui a dois dias celebrar-se-á a Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”.

Havia, naquela mesma hora, uma reunião no Sinédrio, deliberando tirar a vida de Jesus. São Mateus, Capítulo 26, Versículo 4, diz o seguinte:

“Então os principais dos sacerdotes e anciães do povo, reuniam-se no palácio do Sumo-sacerdote, Caifás, e deliberavam tirar a vida de Jesus, prendê-lo por dolo e matá-lo”.

Na verdade, como ensina a Escritura, não havia necessidade de criar-se um pretexto para prender Jesus, pois, os sacerdotes e Cristo sempre se encontravam no Templo ou nos arredores de Jerusalém. Deve haver, assim, por base da traição, algo mais importante, mais transcendental. Vejamos que em Zacarias está apontado o drama de Cristo. Tentemos desvendar a palavra traição. Segundo o dicionário, é: um ato secreto, de um inimigo da vítima, que deve ser traída.

Novamente levamos o leitor a Escritura pela qual Zacarias predisse a traição do Senhor. No Capítulo 11, Versículo 11 de Zacarias e também no Profeta Jeremias, e ainda conforme o Evangelho de São Mateus, Capítulo 27, Versículo 9, e Capítulo 26, Versículo 12, onde Cristo falando aos Discípulos diz: “Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela (Madalena) o fez para o meu sepultamento”.

Verificamos que, não somente Cristo sabia de Sua morte, como também Madalena e os Discípulos, pois Ele declarava todas estas coisas perante eles. Nessa mesma hora crítica, poderíamos perguntar: – Se todos sabiam da hora dramática de Cristo, porque não se ausentaram de Jerusalém, sendo que, Judas, ainda não O havia traído ou entregue? O Capítulo 26, Versículo 14 de São Mateus, explica:

“Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes indo ter com os sacerdotes propôs: Que me quereis dar, eu vo-lo entregarei?

E pagaram-lhe trinta moedas de prata”.

Confirma-se aí o colóquio de Zacarias com o Senhor.

Verificamos que coincide, tanto da parte de Cristo como da dos Discípulos, inclusive Madalena, o Sinédrio e os Profetas, saberem, pela mesma fonte, da Paixão em processamento e sua procedência. O veredito espiritual foi a condenação e o sacrifício pela morte de cruz, como porta de salvação para a humanidade. E assim também deveria ser o veredito humano, em cumprimento à profecia. A Plenipotência Divina apresentou-se por meio do corpo físico de Jesus e das Escrituras antiga e nova. A Paixão, sem dúvida, foi coordenada e admitida pela Hierarquia Espiritual. No caso de Judas, apóstolo do Cristo, não se deve encontrar anátema, mas sim a coordenação harmônica dos acontecimentos em propósito. A coragem de Judas faz-se sentir ainda mais impressionante em face de seu auto aniquilamento. As afirmações acima recebem ainda maior apoio quando lemos o Versículo 18 do mesmo Capítulo 26: “Ide à cidade, ter com certo homem, e dizei-lhe: O MESTRE MANDA DIZER: O MEU TEMPO ESTÁ PRÓXIMO; EM TUA CASA CELEBRAREI A PÁSCOA COM OS MEUS DISCÍPULOS”.

Nota-se, nestas palavras proféticas de Cristo, enviadas a seu amigo, (o evangelista não diz o seu nome) que o acontecimento máximo de sua existência está próximo, acontecimento este ligado à história do Mestre e de toda humanidade. O Capítulo 26, Versículo 21 de São Mateus, diz:

“Enquanto comiam declarou Jesus: Em verdade vos digo, que um dentre vós me traíra”.

Sentimos que os acontecimentos se precipitam, chegando à sua máxima culminância na Paixão, em seu ato final.

Um deles teria que ser o instrumento para esse fim e entre eles pairava a grande interrogação:

“Serei porventura eu?” (Versículo 22).

O Versículo 23 coloca os Discípulos entre a alternativa de trair o Mestre, quando diz: “Aquele que mete comigo a mão no prato, esse me trairá”.

Houve então silêncio e suspense, pois, não se sabia ainda, qual dentre eles teria coragem de tal prova. E Cristo, cheio de mansidão e pena, diz:

“O Filho do Homem vai como está escrito a seu respeito, mas, ai daquele por intermédio de quem será traído. Melhor lhe fora não ter nascido”.

Essas palavras não se tratam, absolutamente, de uma ameaça, como geralmente é entendido nas Igrejas populares. O Versículo 25 define o acontecimento: “Judas perante todos, mete a mão no prato do Mestre dizendo: Então sou eu Mestre? Prontamente responde Jesus: Tu o disseste”.

Com isso os Discípulos ouviram a sentença antes proferida por Jesus. O Versículo 47, fala da chegada de Judas com uma turba, armada de espadas e cacetes.

Entretanto, o Versículo 48 fala a respeito da amizade do Mestre para com o seu Discípulo. Ambos tinham ciência dos acontecimentos. O citado Versículo diz o seguinte:

“Ora o traidor havia dado este sinal: Aquele que eu beijar, este prendei”.

O Versículo 49 diz: “E logo aproximando-se de Jesus, disse-lhe: SALVE MESTRE, e o beijou”.

O Versículo 50 ainda diz: “Jesus disse a Judas: AMIGO, para que viestes?”.

Ambos sabiam que se tratava de suas mortes. É muito difícil crer que um traidor verdadeiro beije sua vítima, e nesse caso, o próprio Mestre que o escolhera!

Também, seria difícil crer que o Mestre Jesus chamasse a seu Discípulo de amigo, se não o fosse realmente. Porém, Cristo tinha razões suficientes para chamá-lo de amigo. Nos Evangelhos segundo São Marcos e São Lucas, os acontecimentos são idênticos. No Evangelho segundo São João encontramos algumas diferenças, que a seguir veremos. Em São João, Capítulo 13, Versículo 23, 24, 25 e 26, encontramos o seguinte:

“Ora ali estava aconchegado a Jesus um dos Discípulos que Ele amava”.

A esse, Simão Pedro fez um sinal dizendo: “Pergunte a quem Ele se refere? Então aquele Discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor quem é? Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e tendo-o molhado, deu-o à Judas, filho de Simão Iscariotes”.

Podemos constatar nesse diálogo, como resposta à pergunta do Discípulo amado, e ainda de Simão Pedro que fizera o sinal, que Jesus apontou, inequivocamente aquele que O havia de trair.

Esse apontamento o fez Jesus abertamente, perante todos os Discípulos. Judas recebeu o pão molhado por Jesus à vista de todos que perceberam a sua tragédia, e, no entanto, ninguém o deteve quando saiu a dar cumprimento àquilo que havia sido ordenado por Jesus.

O Versículo 27, diz o seguinte:

“E após o bocado, imediatamente entrou nele (em Judas) Satanás: O que pretendes fazer, faze-o depressa”.

Nesse Versículo vemo-nos perante um enigma, pelo que o próprio Jesus se fez culpado da tragédia, pois, somente após ter dado a Judas o pão molhado, entrou nele Satanás. E ainda mais: Jesus ainda ordena a Judas, conforme as palavras do Evangelista: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”. Judas recebeu o bocado molhado diante de todos, como sinal de que a hora havia chegado e nenhum discípulo foi contrário. Todos concordaram, senão, o teriam detido com toda certeza. Mas tal acontecimento era essencial, não se podendo contradizer a escritura, pois a salvação da humanidade era o alvo da chegada de Cristo à Terra, não podendo ninguém agir contra essa definição. Se aceitarmos a versão de que somente após haver recebido o bocado, entrou Satanás em Judas, é lógico que antes do bocado não estava nele. Pela lógica poderíamos dizer que Jesus era cumplice de Satanás e que Judas era vítima de uma cilada. CLARO ESTÁ QUE NÃO PENSAMOS ASSIM! Mas, tratando-se de um processo comum, o advogado teria que atender a lógica do caso, chegando à conclusão que acusamos de blasfema. Já dissemos que por detrás do caso há um enigma, e que, da forma descrita pelos Discípulos evangelistas, quase de forma semelhante há realmente uma traição, consentida e justificada por todos.

Outra pergunta pode ser feita: Jesus sendo justo e vidente, deu o bocado à Judas. Mas se o tivesse dado a outro Discípulo, teria esse cumprido a ordem?

Qual deles teria tanta coragem, tratando-se de trair o FILHO DO HOMEM, que se sujeitava ao PAI?

Mais um pormenor: A hora máxima de Jesus e Judas foi quando Jesus se dirigia a Judas com as palavras: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”. Esta é uma ordem, não a Judas, mas ao Espírito do Mal, Satanás. É muito esquisita esta versão, mas foi a última vez que Cristo falou ao Espírito do mal, subordinando-o à sua vontade, a Sua Ordem. E Satanás obedeceu.

Procurando penetrar ainda mais no drama de Jesus e de Judas encontramos o seguinte quadro: “Ele (Judas) tendo recebido o bocado, saiu logo, e era noite”.

Quando ele saiu, disse Jesus: Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado Nele.”

Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar (São João, Capítulo 13, Versículo 30, 31, 32).

Estes Versículos constrangem o simples pensador, pelo fato de Cristo ser glorificado no Pai, como também o Pai em Cristo por meio de traição de Judas. Se torna embaraçoso à nossa compreensão a palavra “traição”, em se falando da glorificação do Pai e do Filho por seu intermédio, pois, não se pode crer que os “Dois” se façam glorificar por meio de traição de Judas e em sua consequente morte. Pela lógica, e humanamente pensando, uma traição não é gloriosa e nem tampouco pode trazer glória alguma.

Admitindo-se haver uma glorificação entre o Pai e o Filho, não teria Judas também recebido sua devida recompensa? Sem dúvida, pois, a Lei Universal recompensa. Vemos morto de um lado Jesus e de outro Judas. Dois homens que ajudaram a completar a marcha da evolução humana, a favor da evolução cósmica. Não podemos, por conseguinte, excluir uma pessoa por meio da qual se completa um ciclo evolutivo. Julgando humanamente o caso, cremos que, como estavam as Leis Divinas em operação, tendo o Cristo que afastar-se do corpo de Jesus, a palavra “traição” não se apresenta em desafetos ou mesmo em exageros emocionais. A situação era definida e clara. A Lei Divina regia os acontecimentos e não homens. Vemos assim, de um lado, o sacrifício de Jesus, morto, e do outro lado de Jerusalém, Judas Iscariotes, Discípulo de Jesus também morto, em favor da libertação dos homens.

FIM

Idiomas