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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Pena de Morte – A Tendência Histórica em Relação à sua Abolição definitiva

A pena de morte está desaparecendo. Um crescente humanitarismo, apoiado por razões baseadas em séculos de experiência, exige a sua abolição.

Essa demanda agora se tornou ruidosa. Desenvolveu-se uma situação extraordinária que colocou a questão em foco e despertou a séria preocupação de povos em todo o mundo. Nunca antes tantas pessoas ao mesmo tempo olharam de forma tão sóbria e profunda para os aspectos sociais, legais, morais e espirituais do assunto.

Os resultados de tal exame popular da moralidade, sabedoria e eficácia da pena de morte como impedimento ao crime e medida de proteção à sociedade certamente efetuarão uma modificação benéfica nos atuais códigos penais e vai acelerar muito o tempo em que a pena de morte será universalmente abolida.

Pode ser útil relembrar brevemente os eventos e circunstâncias mais imediatos e específicos que trouxeram esse assunto de forma tão proeminente à Mente do público, neste momento.

Vamos ver nos Estados Unidos da América: há doze anos, aproximadamente, um jovem da Califórnia foi condenado por crimes pelos quais foi sentenciado à morte. Durante o período que se seguiu à sentença, ele ocupou o “corredor da morte” na prisão de San Quentin, na Califórnia. Por meio de manobras legais e ininterruptas, sua data de execução foi adiada pelo menos oito vezes. No momento em que este texto é escrito, ele vive sob a sombra da nona. Nunca antes na história da jurisprudência um homem, sob o devido processo legal, foi levado tantas vezes, em um período tão longo, até a porta da morte para voltar e enfrentar a provação iminente. Nem pode ter havido um caso que ilustre de forma mais pungente as consequências dolorosas, para o acusado, da demora da lei, por um lado; enquanto, por outro lado, um caso tão evidente na exibição das múltiplas disposições legais e concebidas pela sociedade para proteger um de seus membros da possibilidade de sofrer tal destino por erro judiciário. Mas, o caso também serviu para descobrir lacunas e falibilidades no julgamento humano, na interpretação e administração das complexidades legais, embora cuidadosamente concebidas e meticulosamente formuladas, especialmente quando envolve o destino de uma vida humana.

No entanto, a característica mais impressionante nos prolongados procedimentos deste caso criminal é o caráter do homem condenado em torno do qual tal complexidade e multiplicidade de correntes jurídicas têm girado durante todos esses anos torturantes. Embora haja uma repulsa natural na Mente do público, ao pensar nos crimes dos quais ele é acusado e pelos quais foi encarcerado, com o passar do tempo isso foi bastante amenizado pela maneira como o condenado encontrou seu destino. Ele não era um prisioneiro comum. Ele não aceitou morrer só porque o tribunal o sentenciou a isso. Ele decidiu batalhar por sua vida, embora sua condição fosse tal que, em circunstâncias normais, não haveria praticamente algo a oferecer qualquer esperança de adiar a sentença, muito menos de escapar dela. Ele não tinha posição social ou profissional, nenhuma família devotada ou amigos para trabalhar em seu nome, nenhum dinheiro durante os primeiros anos de sua prisão para contratar um advogado para defender sua causa e nenhum contato influente em altos escalões para favorecê-lo. Ele era um ninguém com nada em seu crédito a não ser as más ações. Ele era, a princípio, um mero número em uma cela de prisão.

Porém não permaneceu assim por muito tempo. Aqui está um homem cujo espírito não foi abatido pela condenação que pairava sobre ele. Contra o que deve ter parecido uma probabilidade desesperadora, ele reuniu coragem, força de vontade e autoconfiança para fazer algo a respeito do próprio caso. Ele fez. Fez disso uma causa célebre.

Fisicamente limitado, sua Mente estava livre e seu espírito, criativo. Ele estudou direito, tornou-se advogado em seu próprio nome. Suas alegações tiveram alguns resultados positivos. “Há um equívoco comum”, disse ele, “de que fui negado cada vez que fui à Suprema Corte dos Estados Unidos. O fato é que ganhei decisões importantes em pontos do devido processo legal que têm significado real para todas as pessoas acusadas de um crime”.

Esse prisioneiro ativo e de Mente fértil também escreveu três livros, que conseguiu publicar e, segundo consta, o quarto está sendo escrito. Em 1954, o primeiro dos três livros foi lançado. Ele é intitulado “Cela 2455 do Corredor da Morte. Seguiu-se então “Julgamento por Aprovação”, em 1955 e “A face da Justiça”, em 1957. A renda da venda desses livros proporcionou meios para empregar auxílio jurídico e ganhar prorrogação após prorrogação. É uma história fenomenal que a indústria cinematográfica não deixou de explorar pelo amplo interesse que seu simples relato factual impunha. A primeira das duas produções teve o mesmo título do primeiro livro do condenado e a segunda, atualmente em exibição, A justiça e Caryl Chessmen. Esses filmes não precisaram de ingredientes adicionais ou situações dramáticas para torná-los ricos em bilheteria e agarrar a Mente, o coração e a imaginação do público que testemunha suas performances.

Aqui está a história de um jovem delinquente que preferia o roubo ao trabalho. Segundo o testemunho de sua ex-mulher, ele não era mesquinho nem cruel, mas rebelde, irresponsável e indiferente às restrições das leis civis e morais. Violações mesquinhas levaram a crimes mais graves, mas segundo seu próprio depoimento, não ao crime pelo qual foi condenado à morte.

Ele não ficou confinado muito antes do seu brilho mental atrair atenção notável. Isso se tornou um trunfo em sua longa luta pela vida. Nem deixou sua Mente se deteriorar em seu isolamento. Ele se desenvolveu. Seu QI aumentou. Quando medido pela última vez, em março deste ano, situou-se em um ponto considerado possuído apenas pelos três por cento do topo da nossa população.

Nunca tinha se resignado, até que o tempo estivesse passando pelas últimas horas antes do seu oitavo encontro com a morte, em fevereiro passado; então ele finalmente aceitou, sem mais resistência ou apelo, cumprir sua condenação. Nem poderia, em seus últimos momentos, ser persuadido a pedir clemência ao único homem que pudesse concedê-la, o governador do estado da Califórnia. Fazer isso, afirmou ele, implicaria a culpa do crime de sequestro pelo qual estava para morrer, mas do qual ele sistematicamente alegou inocência. Ele declarou que conhecia a identidade do “bandido da luz vermelha” e que providenciou para que fosse revelada só depois da sua morte. Isso envolvia muitas pessoas. “Quando eu for executado”, disse ele a seus advogados em 13 de abril, “quero ser capaz de manter minha cabeça erguida e meu respeito próprio”.

Pouco antes da hora marcada para sua execução, em fevereiro passado, ele disse a repórteres que desejava mostrar que não estava sendo desafiador, ao escrever um telegrama ao governador Brown apenas para dizer que o faria agir de acordo com os ditames da sua consciência. A mensagem foi enviada sem qualquer traço aparente de ódio ou amargura. Pelas palavras do telegrama, parecia que nem seu agnosticismo nem seus crimes haviam amortecido seu reconhecimento da operação de uma lei moral relativa ao que chamamos de voz da consciência.

Nesse ponto do processo, algo de significado universal se desenvolveu em relação a esse “homem sem importância” e condenado de longa data. Um indivíduo obscuro tornou-se uma personalidade conhecida internacionalmente. Ele se tornou o símbolo de uma causa. Por uma combinação de qualidades e circunstâncias extraordinárias, ele deu início a um movimento que clama pela abolição da pena capital. Nunca antes tantos milhões levantaram suas vozes em apelo pela abolição da pena de morte. Foi um clamor humano por misericórdia com justiça, pelo maior reconhecimento da sacralidade da vida e em seus níveis mais profundos uma manifestação daquele espírito redentor que o Todo-Compassivo, o Senhor Cristo, implanta no coração da humanidade, mesmo que as pessoas envolvidas estivessem apenas vagamente conscientes da fonte divina e mais íntima do idealismo humanitário o qual forneceu tal expressão enfática neste caso particular.

O sentimento a favor da clemência para o condenado vinha crescendo em um ritmo acelerado tanto aqui quanto no exterior. Ele atingiu o clímax quando o dia da execução, marcada para 19 de fevereiro, aproximou-se. Editoriais pedindo clemência estavam aparecendo em algumas capitais europeias e em toda a América do Sul. Em Londres, seis dos nove jornais diários deram à história o primeiro lugar. Um desses jornais, o Mail, ao fazer seu apelo de clemência ao governador da Califórnia, observou que “qualquer um pode ser persuadido a fazer justiça aos inocentes… É necessária uma verdadeira convicção para ser justo com o culpado”.

O jornal do Vaticano, “Observatore Romano”, protestou contra a execução da pena de morte, alegando que o condenado já havia sido sujeito a penas mais do que suficientes para satisfazer as exigências da lei. Disse seu editor: “Acho uma coisa terrível o que aconteceu… Temos que lidar com isso com um senso de humanidade”.

Em Paris, houve manifestações de rua. Na Noruega e na Suécia, um total de 113.337 pessoas assinaram petições de misericórdia. A Liga Belga para os Direitos Humanos enviou “apelos urgentes” às autoridades americanas. Um jornal de Bruxelas observou que, se a execução iminente fosse realizada “provaria que no país da liberdade existe uma espécie de pena de morte ainda mais terrível do que a morte lenta dos regimes dos campos de concentração que eles condenam”.

Petições assinadas por centenas de milhares vieram do Brasil. E do Uruguai, por meio do nosso Departamento de Estado em Washington, veio uma mensagem de enorme peso. Mais do que qualquer outra comunicação ou manifestação, destacou a preocupação que o caso havia causado nos principais círculos governamentais e o efeito adverso que estava criando em nossas relações internacionais.

E, assim, o caso se espalhou em importância até que criou conotações políticas internas e perturbadores rumores internacionais, cujo efeito gerou uma nova repulsa contra a aplicação da pena de morte.

A hora do clímax havia chegado. Era como se tivesse sido feito sob encomenda com o propósito expresso de promover uma reforma humanitária e específica. A situação favorecia efetivamente sua utilização por inteligências superiores para servir a fins universais e ao propósito espiritual. Podemos muito bem suspeitar que a situação e as circunstâncias que se desenvolveram em torno de um único indivíduo eram tais que foram aproveitadas por poderes superiores, invisíveis, mas sempre presentes, para promover uma importante reforma humanitária cujo tempo havia chegado.

O fato de o próprio condenado ter notado que talvez estivesse servindo exatamente a esse propósito é indicado por uma observação que ele fez aos repórteres na véspera da data de execução, em 19 de fevereiro: “pode muito bem ser que, se ele (o governador) me deixar ir para a morte, isso poderia levar à abolição da pena de morte na Califórnia. Se eu estivesse sentado em sua cadeira, poderia muito bem me deixar ir para esse fim”.

Nessa mesma ocasião, ele expressou o sentimento de que, sem dúvida, existisse também uma clara convicção de que, embora fosse culpado de crimes contra a sociedade, agora, de alguma forma, expiava suas más ações com a morte. Disse ele: “A coisa mais importante que acredito ter feito foi chamar a atenção para a existência dos corredores da morte e a prática da pena de morte. Acho que, uma vez que este fosse um assunto que clamasse por reexame, os muitos e longos anos que fiquei aqui e os livros que escrevi levarão a esse reexame. Todos percebem que as pessoas estejam mais interessadas nas pessoas do que nos problemas. Como resultado, a intensa controvérsia sobre o tipo de pessoa que eu fui e sou levou, acredito, as pessoas a questionar sobre que tipo de pessoa chega ao corredor da morte e por quê. Certamente espero que esta experiência pela qual passei nunca tenha de ser sofrida por alguém mais na história deste país”.

À medida que a hora de 19 de fevereiro se aproximava rapidamente para a realização da execução, uma pressão insuportável estava convergindo sobre o governador da Califórnia, em cujas mãos estava o poder de conceder mais um adiamento. E foi concedido. Um adiamento de sessenta dias. Durante esse período, o povo do Estado, por meio de seus representantes legislativos, convocados em sessão extraordinária, teve a oportunidade de atuar sobre todo o problema da pena capital. Com sua abolição, eles poderiam salvar a vida não apenas do condenado que momentaneamente captou a atenção do mundo, mas também evitar que qualquer outra pessoa, agora ou no futuro, sofresse a punição capital no Estado da Califórnia. A questão foi então ampliada de um único indivíduo para a sociedade em geral.

Que forças invisíveis estavam operando ao lado de pressões externas para, de alguma forma, dar mais força ao movimento para abolir a pena de morte também apareceu no incidente aparentemente casual que levou a esse adiamento. A decisão do governador não foi apenas um acaso, mas, como ele expressou, foi “a mão de Deus”.

De uma pilha de cartas e telegramas não lidos, ele escolheu um que carregava a influência não apenas de um indivíduo, um corpo religioso ou alguma organização reformista que estivesse em cruzada, mas o peso de povos e governos. Era uma mensagem do Uruguai para nosso Departamento de Estado em Washington e, por ele, encaminhada ao Governador, expressando a séria preocupação sobre as nossas relações internacionais, se a execução iminente fosse realizada.

Foi então que o governador transferiu o fardo da responsabilidade para o povo da Califórnia. A questão foi transferida de pessoa para princípio, de um indivíduo para uma sociedade.

Mais tarde, ao discursar na sessão especial do Legislativo, o governador Brown expôs suas razões para abolir a pena de morte. Por se tratar de um documento que certamente assumirá importância histórica nos esforços centenários de humanização do tratamento a todos os infelizes em nosso meio, sejam pela pobreza, doenças, Mentes perturbadas ou delinquência, nós as citamos no discurso fielmente.

“Como um ato de consciência pública e com a experiência de mais de uma década e meia no trabalho de aplicação da lei, peço ao Legislativo que dissolva a pena de morte na Califórnia. Existem razões poderosas e convincentes para que isso seja feito. Não se baseia na simpatia piegas pelos criminosos e depravados. E embora acredite que a pena de morte constitua uma afronta à dignidade humana e brutaliza e degrada a sociedade, não é apenas por isso que exijo este rumo ao nosso Estado”.

“Cheguei a esta importante resolução após 16 anos de experiência cuidadosa, íntima e pessoal junto à aplicação da pena de morte neste Estado. Tive uma convivência direta com o crime e o castigo no dia-a-dia, superada por poucos”.

“A sociedade tem o direito e o dever moral de se proteger contra seus inimigos. Este axioma natural e pré-histórico nunca foi refutado com sucesso. Se, pela morte ordenada, a sociedade estiver realmente protegida e nossas casas e instituições, seguras, então mesmo a mais extrema de todas as punições pode ser justificada”.

“Entretanto, o fato puro e simples é que a pena de morte foi um fracasso total. Além de seu horror e incivilidade, não protegeu os inocentes nem dissuadiu os ímpios. O espetáculo recorrente de assassinato sancionado publicamente barateou a vida e a dignidade humanas sem a graça redentora que vem da justiça aplicada com rapidez, uniformidade e humanidade”.

“A pena de morte é invocada de forma muito aleatória, irregular, imprevisível e muito tarde para ser defendida como um exemplo eficaz de advertência aos malfeitores”.

“Na Califórnia, por exemplo, em 1955, havia 417 homicídios. Mas apenas 52 réus foram condenados por assassinato em primeiro grau. E apenas 8, ou 2%, foram de fato condenados à morte. Não pode haver valor exemplar e significativo em uma punição cuja incidência é de um para 50”.

“Nem a pena de morte deve ser explicada como a arma suprema de desespero da sociedade contra os não regenerados e perversos… Se esta, a mais drástica das sanções, pudesse ser considerada substancialmente para servir aos fins da justiça legal, aumentando a nossa segurança e proteção, ela mereceria um lugar maior em nosso respeito. Mas nenhum dado disponível em qualquer lugar ou época, que eu pude encontrar em pesquisas ao longo de muitos anos, dá suporte ao grande argumento de que a presença ou ausência da pena de morte exerce qualquer efeito substancial sobre a incidência de homicídio. De fato, o relatório da Comissão Real Britânica sobre a Pena de Morte, um dos estudos mais universalmente respeitados e objetivos já feitos sobre o assunto, mostra que não há evidências claras de que a abolição da pena de morte tenha levado a um aumento na taxa de homicidas. A Comissão Real concluiu, como quase todas as outras pesquisas científicas sobre o problema, que outros fatores, além da presença ou ausência da pena de morte, são responsáveis pela taxa de homicídios em qualquer área”.

“Especificamente, a pena de morte foi abolida em alguns estados (Minnesota, Wisconsin, Michigan, Rhode Island, Dakota do Norte) e em 30 países estrangeiros”.

“Em nenhum desses estados houve aumento da taxa de homicidas. E, de fato, em comparação a outros, suas taxas parecem um pouco mais baixas. Um mapa dos Estados Unidos, no qual os vários estados estão sombreados para indicar sua taxa de homicídios em um período de dez anos…, mostra graficamente que os estados sem pena de morte, junto de vários outros que mantêm a pena de morte, têm a menor incidência de homicídio. E em notável contraste, doze estados do sul, todos os quais aplicam a pena de morte de maneira muito dura, têm a maior taxa de homicídio”.

“Este último fato aponta a fraqueza mais gritante de todas, e é que, não importa o quão eficiente e justa a pena de morte possa parecer na teoria, na prática, tanto na Califórnia como em outros lugares, ela é principalmente infligida aos fracos, pobres e ignorantes, contra as minorias raciais. Na Califórnia, e na Nação como um todo, a esmagadora maioria dos executados são psicóticos ou quase psicóticos, alcoólatras, deficientes mentais ou, de outra forma, comprovadamente instáveis mentalmente. Na experiência dos ex-guardas Lewis Lawes de Sing e Clinton P. Duffy de San Quentin, raramente aqueles com fundos ou prestígio são condenados por crimes capitais e ainda mais raramente são executados”.

Enquanto o governador reunia fatos e números adicionais para apoiar sua proposição de que a pena de morte deveria ser abolida, ele disse acreditar que os legisladores encontrariam “evidências convincentes da grande injustiça e iniquidade social que caracterizou a aplicação da pena de morte”. Disse ele, “em grande parte, os executados eram produtos do interior em desvantagem social, econômica e educacional”.

Ele falou sobre os “sacrifícios miseráveis e desnorteantes” feitos ao executor e a responsabilidade que a sociedade, como um todo, deve assumir pelo triste destino dos executados. “Tenho visto nos arquivos, transcrições e livros que, quem eles eram e onde estavam teve um papel tão importante em sua condenação final quanto o que fizeram. Também vi que, por apenas uma ligeira reviravolta das circunstâncias, esses dezenove poderiam ter recebido uma pena de anos, assim como os outros noventa e oito por cento daqueles que mataram e, nesses casos, também existe a terrível chance de que homens inocentes possam ser condenados, por mais cuidadosos que sejam nossos tribunais e júris. Nosso sistema judicial nos dá orgulho, mas temperado pela compreensão de que a humanidade está sujeita ao erro”.

O governador citou então o caso em que um homem condenado à morte foi “perdoado pelo que nunca tinha feito”. Aqui, disse ele, “se não fosse pela graça de Deus, poderia haver agora em nossas mãos o sangue de um homem ignorante, sem amigos e — inocente”.

Os apelos do governador vieram de uma profunda “convicção e consciência”. Ele conhecia a resistência do Legislativo ao seu apelo. Desde 1933, projetos de lei para abolir a pena de morte foram apresentados nada menos que dezesseis vezes, com a maioria das medidas morrendo em comissões. Não havia dúvida na Mente do governador de que seria assim novamente, mas isso não o intimidou de deixar registrado sua posição sobre o assunto. “A liderança pública”, disse ele, “deve enfrentar os problemas humanos, bem como os econômicos e sociais de nossas comunidades. Não é suficiente para aqueles encarregados de responsabilidades públicas se contentarem apenas com o imediato e facilmente alcançável — os valores básicos e de longo alcance da nossa sociedade também devem ser constantemente trazidos para uma realidade mais plena. Eu acredito que toda a história da nossa civilização seja uma luta para criar uma medida maior de humanidade, compaixão e dignidade entre nós. Eu acredito que essas qualidades serão as maiores, quando se concretizar a ação aqui proposta — e não só para os desgraçados cuja execução se transforma em prisão perpétua, mas para cada um de nós”.

Não pode haver dúvida de que aqui estivesse um manifesto de fé, convicção e consciência. Não houve compromisso com segundas intenções. Quaisquer efeitos adversos que a posição do governador sobre essa questão controversa pudesse ter em seu futuro político foram aparente e completamente postas de lado, em obediência a uma compulsão interna de servir ao bem, ao direito, ao nobre. Ele falou não para promover a ambição pessoal, mas para servir ao bem-estar humano e ao propósito divino. Quando chegar o dia, como certamente acontecerá, em que a pena de morte será apagada de todos os códigos penais do mundo e a longa história da sua abolição progressiva for escrita, a mensagem do governador Brown sem dúvida será considerada um dos principais pronunciamentos levando a esta consumação humana.

Muitos dos países europeus aboliram a pena de morte há muito tempo. Por exemplo, não houve uma execução em Luxemburgo desde 1822; na Finlândia, desde 1826; na Romênia, desde 1838, exceto na revolução de 1918; em Portugal, desde 1867; na Noruega, desde 1876; na Dinamarca, desde 1892 e na Suécia, desde 1910. Quase um século atrás, a Bélgica fez o que agora implora que os Estados Unidos façam; exceto por uma execução durante a Primeira Guerra Mundial, a Bélgica não tem execuções desde 1863.

Mais recentemente, os seguintes países europeus aboliram a pena de morte: Áustria, Alemanha Ocidental, Islândia, Itália, Israel, Suíça e vários países menores; trinta ao todo.

Na América Latina, o movimento em direção à abolição da pena de morte vem ganhando força nos últimos anos. A Venezuela promulgou a reforma há quase um século, em 1863. A Costa Rica a seguiu em 1880 e o Equador, em 1897. Após a virada do século XX, Argentina, Brasil, Colômbia, Uruguai e Panamá tomaram medidas semelhantes. A República Dominicana aboliu a pena de morte em 1924 e Porto Rico, em 1929.

Os protestos que surgiram de praticamente toda a América do Sul contra a execução do condenado da Califórnia, que por doze anos lutou tão bravamente por sua vida, sem dúvida fortaleceram as forças que estão progressivamente apagando a pena de morte dos códigos penais em todos os lugares.

Em sua entrevista coletiva, após sua recente jornada com o presidente Eisenhower pela América do Sul, o secretário de Estado Herter comentou sobre o alto sentimento que encontrou sobre o assunto, onde quer que eles fossem, e expressou surpresa com a extensão em que estava prejudicando o prestígio dos Estados Unidos no exterior. Ele observou que a seriedade com que nossos vizinhos latinos estavam observando o caso girava não tanto em torno do destino de um indivíduo, mas em torno do caráter nacional do seu vizinho, supostamente mais avançado, do Norte. De acordo com o Sr. Herter, foram os Estados Unidos que foram julgados pelos povos da América do Sul.

Observe a tendência de longo prazo no afastamento da pena de morte. Na antiga Babilônia, por exemplo, sob as leis de Hamurabi, a pena de morte era administrada de forma indiscriminada. Mais tarde, no antigo Israel, a pena suprema foi definitivamente limitada a crimes específicos e a ideia do grau de culpa entrou na administração da justiça. Isso foi um avanço.

Se olharmos agora para a lei anglo-saxônica, descobriremos que no século XIII quase todos os crimes eram puníveis com a morte. No século XVIII, o número incontável foi reduzido para duzentos; em 1837 para quinze e, em 1861, apenas quatro. Porém a teoria da lei era mais severa do que sua prática. Das duzentas ofensas listadas, a pena nunca foi infligida a mais de vinte e cinco e, quando o número foi reduzido para quatro, em 1861, houve apenas duas aplicações, por assassinato e traição.

Essa variação entre a teoria e a prática na imposição da pena capital permanece verdadeira até hoje. Nos últimos anos, o número de execuções em nosso país caiu abruptamente. Ao longo de um período de anos, até 1950, havia uma média de cento e quarenta por ano. No ano passado, enquanto houve oito mil assassinatos, houve apenas quarenta execuções. O fato sóbrio é que o exame do Estado por aquilo que ele condena em um indivíduo está se tornando cada vez mais abominável. É cada vez mais pronunciado o sentimento de que se trata de um anacronismo, uma relíquia da barbárie que a essa altura já deveria ter sido superada.

Assim, teoria e prática nem sempre andam de mãos dadas. O coração nem sempre sanciona o que a Mente pode conceber. Uma abstração pode ser calmamente entretida, quando sua concretização real não pode ser suportada. Tem sido assim em relação à punição capital. Fornecê-la em um código legal é uma coisa; realizá-la na prática é outra e completamente diferente. Assim, acontece hoje que as leis relativas à pena de morte são mais frequentemente honradas na violação do que na observância.

Justificar a perpetuação da pena de morte porque ela foi ordenada para certos crimes na teocracia do antigo Israel é manter a letra que mata em vez do espírito que dá vida. O argumento não pode ser sustentado de maneira lógica. Nem mesmo o mais severo adepto da velha lei hebraica defenderia para o nosso tempo todo o código penal do antigo Israel. Por seus decretos, a pena de morte era obrigatória para assassinato, adultério, sequestro, blasfêmia, maldição contra o pai ou a mãe, incesto, estupro, profanação do sábado, idolatria, falta de castidade e bruxaria. Também foi imposta a pena de morte a um líder que se comprometeu a impedir as pessoas de seguirem o Senhor e um filho rebelde que se tornou um bêbado habitual foi condenado à morte. Além disso, está escrito: “Se um boi matar um homem ou uma mulher, o boi será morto; mas se o dono soubesse que o animal fosse feroz, então o dono será culpado e sujeito à pena de morte”.

Nem mesmo aqueles que insistem na aceitação e obediência a cada “jota e til” da lei, conforme encontrada tanto no Antigo como no Novo Testamento, aceitariam este código como adequado e correto para o nosso tempo. As condições exatas sob as quais surgiu não existem mais ou foram modificadas pelo avanço da civilização a ponto de tornar-se ilógica a conformidade literal com todas as suas especificações. Os fins almejados por este código não mudaram, mas os meios pelos quais eles podem ser melhor alcançados foram bastante alterados. As disposições da lei mosaica foram adaptadas às necessidades de um povo primitivo. Elas pertencem a outra era. Há muito tempo se tornou impensável aplicar a pena de morte para a maioria dos crimes e fraquezas que exigiam punições tão drásticas sob a lei mosaica. Poucas delas ainda permanecem nos livros de estatutos em qualquer lugar do mundo e se aproxima o tempo em que também serão eliminadas do código mortal.

É paradoxal que haja oposição à abolição da pena capital nos próprios quadrantes que naturalmente esperaríamos encontrar sua defesa mais ardente; a saber, dentro do próprio corpo do Cristianismo. Está em clara contradição com o verdadeiro espírito do Cristianismo, que fundamenta toda reforma humanitária e impulso altruísta. O espírito de Cristo é amor em ação. É um poder cósmico que opera na evolução da humanidade desde o início dos tempos e que “fez-se carne e habitou entre nós” na individualidade humano-divina que conhecemos como Cristo Jesus.

Quando a doutrina Cristã da simpatia, compaixão e perdão substituir as reações mais básicas de condenação e vingança, não haverá mais câmaras de tortura nem punição com a morte. Um código inferior de relações humanas terá dado lugar a um superior.

Argumentos baseados em estudos sobre as causas do crime, inclusive as da hereditariedade e do meio ambiente, têm sido suficientes para induzir os governos a aplicar a pena de morte a cada vez menos crimes, a ponto de aboli-la por completo. No entanto, os mais decisivos de todos os argumentos são aqueles fornecidos pela ciência psíquica e espiritual.

Os fatores ocultos confirmam a validade de todos os argumentos apresentados pelas descobertas no campo das ciências sociais e permitem ver outros de natureza mais convincente. Possui os fatos que mostram exatamente como a execução de criminosos não protege a sociedade de novas depredações e perigos morais, mas, na verdade, leva ao seu aumento.

Nenhum assunto ou problema pode ser imaginado em sua totalidade, se visto apenas em seus aspectos externos. A menos que o lado interno e vital da natureza também seja levado em consideração, as respostas e soluções completas e verdadeiras não serão alcançadas. O homem não vive sozinho em seu Corpo Denso nem neste mundo material externo. Como criatura espiritual, sua vida também está ligada aos planos supersensíveis do ser. O homem trabalha desajeitadamente à meia-luz apenas até que seus olhos sejam abertos para o que também ocorre casualmente sob a superfície da existência material. 

Do ponto de vista oculto, a pena capital é o pior meio possível de lidar com criminosos. Os resultados são exatamente opostos aos pretendidos. O criminoso não foi destruído; ele apenas foi privado de seu Corpo Denso. Como uma entidade consciente, ele sobrevive. Ele foi libertado. Seu caráter não mudou instantaneamente devido à transição. Se as propensões criminosas não foram corrigidas e superadas antes de sua execução, elas persistem depois de passar para o outro lado da vida. Lá, ele está livre para vagar à vontade nos níveis astrais e inferiores para os quais sua natureza maligna o atrai automaticamente e o mantém até o momento em que ele é espiritualmente reabilitado. Enquanto isso, está em posição de influenciar indivíduos psiquicamente negativos e criminalmente dispostos a cometer os crimes que ele poderia ter planejado executar, se não tivesse sido restringido por prisão e morte. Além disso, ele agora pode ter o desejo maligno e adicional de se vingar da sociedade em geral por tê-lo privado de seu tempo natural de vida.

Enquanto um ser humano estiver em seu Corpo Denso, ele pode ser confinado onde não pode fazer mal. Isso dá à sociedade a proteção que ela deve ter contra os irresponsáveis insanos e os criminosos malignos.

A prisão, em vez da execução, também dá ao criminoso a chance de se reabilitar ainda na encarnação, com o duplo benefício para o prisioneiro e para a sociedade: para o criminoso arrependido, antecipa e diminui a rápida e dolorosa experiência purgatorial que se segue à morte e, portanto, ajuda e acelera seu avanço em direção à vida regenerada e construtiva; para a sociedade, remove-se a ameaça de um espírito liberado do Corpo Denso que vai desabafar seu odioso rancor no mundo que deixou para trás.

À medida que a civilização avança, a vida se torna mais significativa, mais valorizada, mais reverentemente considerada. Nesta era de expansionismo, o ser humano começa a funcionar em novas dimensões, tanto interna quanto externamente. A consciência experimenta uma nova extensão. Isso acontece pela sua crescente percepção da maravilha, da beleza e da santidade da vida em qualquer forma que ela apareça. Uma comunidade inteira se reunirá, por exemplo, para salvar a vida de ovelhas ou do gado preso pela neve ou para resgatar um animal doméstico em perigo de perder a vida. Nem sempre foi assim. Testemunhe as lutas de gladiadores na Roma antiga como uma forma de entretenimento popular. Agora, as sensibilidades humanas não apenas superaram essas exibições desumanas, mas quase que universalmente proibiram esportes brutais como a luta de touros e similares, por serem desmoralizantes demais para serem tolerados.

Embora os povos ocidentais não possam reivindicar um grande avanço na criação de uma cultura e civilização que incorporem, na prática, os preceitos e princípios enunciados no Sermão da Montanha, eles são o que o falecido filósofo alemão, Conde Herman Keyserling, chamou de “cristãos biológicos”. Em outras palavras, foram implantadas nas nações Cristãs as sementes da ética Cristã que têm, em si, o poder de crescimento que, na longa passagem dos séculos, pode ser observado em brotos novos que prometem desenvolver-se algum dia naquelas árvores frutíferas e celestiais, ao lado das águas da vida em uma terra regenerada, como imaginado por São João.

Dr. Schweitzer, cujas realizações práticas, poderes intelectuais, realizações culturais e visão espiritual se combinam para elevá-lo a uma eminência da qual brilha uma luz que adiciona fulgor à época em que ele vive, estava em busca de uma ética absoluta que, se totalmente compreendida e aplicada fielmente, daria à humanidade um conceito, uma verdade, um poder pelo qual poderia acelerar enormemente o desenvolvimento de sua natureza superior. Aquilo que ele buscava, ele nos diz, foi encontrado em um momento de iluminação interior. A resposta veio em palavras simples: Reverência pela Vida.

Essa frase, com tudo o que ela implica de forma ética, filosófica e espiritual, é o dom supremo de Schweitzer para a humanidade. Figura mundial que ele é, o conceito cunhado por essas palavras simples, Reverência pela Vida, encontrou ampla aceitação por seu conteúdo espiritual e idealismo corporificado. Um certo poder mágico se liga a tais declarações simples de verdades básicas que inevitavelmente passam a exercer influência transformadora sobre todos os que as ouvem e atendem. De poucos, essa influência se espalha para muitos até que se filtre consciente e inconscientemente na Mente coletiva. A partir das impressões assim recebidas de cima, as forças evolucionárias estão trabalhando para elevar gradualmente o corpo coletivo da humanidade e incutir nele a compreensão e a compaixão que acabarão por trazer uma mudança de atitude, por parte do Estado e da sociedade humana em geral, em relação a malfeitores em seu meio. O esforço será para curar, em vez de punir, para redimir em vez de retaliar. Não haverá como perdoar a tomada daquilo que só Deus pode dar, uma vida humana.

A pena de morte está desaparecendo. A vida, não a morte, detém a última palavra.

(de Theodore Heline – Publicado na New Age Interpreter de abril-maio-junho de 1960 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Como conciliar o fato de permanecermos um terço da vida recém-finda no Purgatório com as palavras de Cristo ao ladrão agonizante: “Hoje estarás comigo no paraíso?”

Pergunta: Nos Ensinamentos Rosacruzes, você afirma que permanecemos no Purgatório por um tempo equivalente a um terço da duração da vida terrena, para que nossos pecados possam ser expiados antes de entrarmos para o céu. Como, então, reconciliar esse Ensinamento com as palavras de Cristo ao ladrão agonizante: “Hoje estarás comigo no paraíso[1]?

Resposta: O Novo Testamento foi escrito em grego, uma língua que não se usavam ​​sinais de pontuação. A pontuação foi inserida em nossa Bíblia pelos tradutores posteriores a ela e, muitas vezes, a pontuação muda radicalmente o significado de uma frase, como a seguinte história ilustrará:

Num serviço religioso, alguém entregou um pedido para que o pastor lesse: “Um marinheiro indo para o mar, sua sogra deseja as orações da congregação pelo seu retorno seguro para esposa e filho”. O pedido não estava com pontuação, mas tudo indicava que a sogra do jovem estava muito solícita para que ele voltasse em segurança para sua esposa e filho e, por isso, desejava as orações da congregação. Se o pastor tivesse lido o pedido sem a vírgula, implicaria no fato de que o marinheiro, indo ver sua sogra, desejava as orações da congregação por seu retorno seguro para esposa e filho, e alguém naturalmente pensaria que a senhora, em questão, fosse uma pessoa intratável, uma vez que o jovem achou necessário pedir as orações da congregação antes de enfrentá-la. Nesse caso, se as palavras de Cristo forem lidas assim: “Em verdade vos digo hoje, estarás comigo no Paraíso”, elas implicariam que o ladrão estaria com o Cristo em algum momento futuro não definido. Mas onde a vírgula foi colocada antes da palavra “hoje”, como está na Bíblia, dá a ideia normalmente sustentada pelas pessoas.

O fato de que essa ideia está totalmente equivocada pode ser comprovado pela observação do Cristo logo após Sua Ressurreição, quando Ele disse à mulher: “Não me toque, porque ainda não subi para meu Pai[2]. Se Ele prometera ao ladrão que estariam juntos no Paraíso no dia da crucificação, e três dias depois declarou que ainda não havia ido para lá, o Cristo teria incorrido numa contradição que, naturalmente, é uma impossibilidade. Ao colocar a vírgula, conforme sugerido, reconcilia totalmente o significado das duas passagens e, além disso, São Pedro nos diz que naquele intervalo Ele trabalhou com os espíritos no Purgatório[3].

(Pergunta nº 98 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)


[1] N.T.: Lc 23:43

[2] N.T.: Jo 20:17

[3] N.T.: 1Pe 3,18-19; 4,6

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Algo está faltando na sua Bíblia?

A maioria das edições da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes tem a versão do Rei James. E mesmo outras versões diferem da Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs católicos e de outras Religiões Cristãs. Muitas pessoas acreditam que a Bíblia utilizada pelos nossos irmãos e irmãs protestantes seja realmente completa. A menos, isto é, que tenham visto a Douay-Rheims (tradução da Bíblia, a partir da Vulgata, em inglês pelos membros do English College Douai, a serviço da igreja católica) ou outra versão católica, que não tem 66, mas 80 livros (isso porque há diferenças entre a Bíblia católica e a Bíblia protestante: católica tem 73 livros e a protestante 66 livros; a Bíblia protestante não tem os seguintes Livros: Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, I e II Macabeus, Trechos de Ester – 10, 4-16 – e Trechos de Daniel – 3, 24;20, 13-14).

Entre o Antigo e o Novo Testamento há 14 livros adicionais, classificados pelos nossos irmãos e irmãs protestantes como “apócrifos” (do grego apokryphos, escondido).

Surgem as perguntas: por que eles não estão nas Bíblias protestantes? Como ou por que motivo eles foram removidos? Eles pertencem ao cânone dos livros bíblicos? Um resumo dos fatos essenciais ajudará o leitor a tirar suas próprias conclusões.

No século III a.C., havia no Egito cerca de 70 ou 72 eruditos judeus que, a pedido de Ptolomeu II, prepararam o que veio a ser conhecido como a versão Septuaginta (da palavra 70) do Antigo Testamento. Ela incluía os apócrifos. Esse foi o Antigo Testamento usado por Nosso Senhor e os Apóstolos e sem reservas endossado pelos “pais da igreja primitiva”. Nossas Escrituras não incluem os… livros apócrifos… No entanto, o menino Jesus, provavelmente, estava familiarizado com eles e Ele se lembrou deles quando era adulto, porque são citados em Seus discursos registrados no Novo Testamento. A Igreja antenicena (antes do Concílio de Niceia, em 325 d.C.) os aceitou.

Em 382 d.C., um erudito conhecido como Jerônimo foi comissionado pelo Papa Dâmaso para revisar a versão latina da Bíblia, que conhecemos como a Vulgata. Os livros apócrifos faziam parte dela. Por mais de um milênio foi indiscutivelmente a Bíblia da Igreja. Quando Wyclif e Purvey prepararam a primeira tradução da Bíblia para o inglês, 1382-1388, os escritos apócrifos foram mantidos. Isso também é verdade para a primeira tradução alemã do texto em latim, feita mais ou menos na mesma época.

A primeira Bíblia publicada com os apócrifos separados foi a de 1520, em Wittenberg, Alemanha, por um certo Andreas Bodenstein, mais conhecido pelo nome de sua cidade natal, Karlstadt, e seguidor de Martinho Lutero. Ele acrescentou uma nota informando que esses livros eram “dignos da proibição do censor” — inferiores. Era uma Bíblia escrita em latim.

A primeira Bíblia em vernáculo — o holandês — que segregou os livros apócrifos, colocando-os todos após o Antigo Testamento, apareceu em 1526, em Antuérpia. Também incluía uma nota chamando a atenção para a opinião de que fossem inferiores aos demais livros. Em 1530, uma versão suíça semelhante apareceu; ambas foram emitidas por autores que não eram católicos.

Em 1534, foi publicada uma tradução completa da Bíblia, em alemão, por Lutero. Mais uma vez, esses 14 livros estavam juntos, logo após Malaquias, com um prefácio: “apócrifos — isto é, livros que não são considerados iguais às Sagradas Escrituras, mas são proveitosos e bons de ler”. Ele não explicou quem determinou que esses escritos “não são considerados iguais”, nem o porquê.

No ano seguinte, a primeira Bíblia em francês foi impressa por Pierre Robert Olivetán, perto de Neuchâtel, Suíça. Os apócrifos foram incluídos nessa edição, como também nas publicações francesas que vieram depois. Grande reformador protestante, o francês João Calvino (Jehan Cauvin), citou os apócrifos — embora apenas 10 vezes, enquanto se referiu aos outros 4.000 vezes —, mas nunca para apoiar posições doutrinárias.

Também, em 1535, apareceu a primeira Bíblia em inglês, impressa por Myles Coverdale. Os 14 livros apócrifos foram todos abrigados entre o Antigo e o Novo Testamento. Assim também ocorreu com todas as seguintes Bíblias protestantes em inglês: a Bíblia de Mateus de 1537; a Bíblia de Taverner e a Grande Bíblia de 1539; e a Bíblia de Genebra (produzida pelos puritanos) de 1560.

Enquanto isso, para conter a revolta protestante, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento (1545 — 1563). Lá, os escritos apócrifos receberam o endosso mais forte possível. Naturalmente, isso não passaria despercebido aos protestantes, embora a reação deles viesse com uma lentidão surpreendente. Assim, o Livro de Oração Anglicano Protestante de 1549 ainda aceitava os apócrifos. Treze anos depois, o governo inglês publicou um documento muito interessante, os Trinta e Nove Artigos de Religião, definindo a ortodoxia oficial. Essa foi a época da Rainha Elizabeth I, cujo objetivo transcendente era acabar com a controvérsia religiosa como parte da sua Via Media (Caminho do Meio). Consequentemente, o Artigo VI pode ser interpretado como anti-apócrifo e o Artigo XXXV como pró-apócrifo.

Em 1581, a primeira Bíblia eslava (russa) foi publicada. Aqui, os livros apócrifos foram distribuídos por todo o Antigo Testamento. Mas a Igreja Ortodoxa Russa mudou gradualmente sua posição até que, em 1839, seu “Catecismo Mais Longo” excluiu, por completo, os apócrifos do Antigo Testamento. Voltando nossa atenção mais uma vez para o Ocidente, descobrimos que, em 1599, novas edições da Bíblia de Genebra começaram a omitir os 14 livros. Essa foi uma época de maré alta para os puritanos; eles se propuseram a “purificar” a Igreja da Inglaterra de todas as coisas que eles chamavam de “Romanas”. Isso incluía os livros tão singularmente apoiados pelo Concílio de Trento, 53 anos antes. Como disse o famoso estudioso Sir Frederick Kenyon, “os puritanos perseguiram os apócrifos”.

Mas, 1611 foi um ano de maré baixa para os puritanos, quando a versão do Rei Jaime apareceu. O Rei Jaime, que patrocinou a tradução (por isso que o prefácio ou a introdução, ainda vista em algumas edições da Versão do Rei Jaime, é tão ressaltada), foi também quem fez muitos puritanos fugirem para os Estados Unidos da América. Essa versão incluía os apócrifos. Não apenas isso, mas em 1615 George Abbot, arcebispo de Canterbury e, portanto, o “líder ativo” da Igreja da Inglaterra, sob o rei, ameaçou com um ano de prisão qualquer um que imprimisse uma Bíblia sem os apócrifos! Mas os “omissores” dos apócrifos tinham uma grande vantagem. As Bíblias sem os apócrifos tinham uma regalia competitiva — podiam ser colocadas à venda por um preço mais baixo. E devido às condições instáveis na Inglaterra, sob o governo de Carlos I (1625 — 1649) e o retorno da ascendência puritana sob a Comunidade de Cromwell (1649 — 1659), o decreto de Abbot não foi executado. Bíblias sem os apócrifos circularam em grande número. Exceto entre um grupo, os místicos. No espírito de amor Cristão, eles simpatizaram com as aspirações dos puritanos, embora tivessem sido perseguidos por eles, mas consideraram os 14 livros controversos como estando no mesmo nível dos outros.

Certamente, uma das principais publicações bíblicas e auxiliares por muitos anos tem sido a Concordância de Cruden. Sua primeira edição americana (1806) continha uma seção especial para os apócrifos; edições posteriores começaram a omiti-los. Uma razão pode ter sido que, em 1827, as sociedades bíblicas britânicas e americanas, que vinham incluindo os apócrifos em suas Bíblias, pararam de fazê-lo. Ainda assim, em 1894, quando a “Versão Revisada em Inglês da Bíblia” foi lançada, os 14 livros foram incluídos em algumas edições, embora em letras menores.

Um evento pouco conhecido, mas significativo, ocorreu em 1901, quando Eduardo VII da Inglaterra foi coroado. Por fim, pouco antes de o monarca beijar a Bíblia, antes de assinar o juramento de coroação, descobriu-se que ela, devidamente fornecida pela Sociedade Bíblica Britânica, não contava com os apócrifos. Outra, com os apócrifos, foi adquirida rapidamente, porque a lei do Reino Unido ainda exigia que uma Bíblia de 80 livros fosse usada nas instalações reais.

Não se pode negar que, ao longo dos anos, os livros apócrifos exerceram considerável influência cultural. O famoso poeta inglês do século 7, Caedmon, usou trechos deles. Isso fez Chaucer, sete séculos depois, em seus célebres Contos de Canterbury e outros escritos.

Colombo foi influenciado pelos apócrifos para zarpar em 1492! É um fato bem conhecido que ele foi influenciado pelo Imago Mundi (a forma do mundo) de Pierre d’Ailly para acreditar não apenas que a Terra era redonda, mas também que apenas um sétimo da superfície da Terra é coberto por água; portanto, as terras fabulosas a oeste não podiam estar muito longe. Essa noção foi baseada em uma interpretação errônea de II Esdras 6: 42, 47, 50, 52 de d’Ailly.

Shakespeare faz mais de 80 referências aos apócrifos (veja em Shakespeare and Holy Scripture, Thomas Carter; Shakespeare’s Biblical Knowledge and Use of the Book of

Common Prayer, Richard Noble), embora possa ser mera coincidência que duas de suas filhas tenham recebido o nome de heroínas apócrifas, Susanna e Judite. John Milton também ficou em dívida com esses livros. Por exemplo, seu Paraíso Perdido traz referências à Sabedoria de Salomão, mesmo que o transcendentalista americano Nathaniel Hawthorne possa ser ligado a II Macabeus.

Todos os anos, no Natal, milhões cantam “Noite Silenciosa, Noite Sagrada” e “Ó, Noite Santa”. Ainda assim, em Lucas 2:11, lemos que Jesus nasceu “hoje”. De onde vem a crença popular em um presépio noturno? Pode ser rastreada até a interpretação de Sabedoria 18:14-16, por parte dos pais da igreja primitiva. Os conhecedores de arte sabem que Judite, Tobit, Susanna e Holofernes inspiraram obras-primas. Suas histórias estão todas nos livros controversos da Bíblia.

Mesmo dessa visão geral bastante abreviada, alguns fatos indiscutíveis emergem: por mais de três quartos da era Cristã, os apócrifos foram universalmente aceitos e exerceram uma poderosa influência cultural. Também tem isto: a enorme lacuna de 400 anos entre o Antigo e o Novo Testamento. Se alguém lesse uma história dos EUA que omitisse eventos entre a Guerra Civil e a Segunda Guerra Mundial — menos de um quinto do intervalo de tempo entre Malaquias e Mateus —, perceberia imediatamente que algo estivesse faltando. Isso é verdadeiro, se alguém lê uma Bíblia sem os apócrifos.

“À medida que a videira produziu, eu – Sabedoria – ganhei sabor agradável e minhas flores são frutos de honra e riqueza. Eu sou a mãe do amor justo, do temor a Deus, do conhecimento e da esperança sagrada: Eu, portanto, sendo eterna, dou-me a todos os meus filhos, que têm o nome Dele. Venham a Mim, todos vocês que desejam se alimentar de Mim, e encham-se dos meus frutos. Porque o meu memorial é mais doce do que o mel e a minha herança, mais do que o favo de mel. Aqueles que Me comem ainda terão fome. Quem Me obedece nunca será confundido e os que trabalham por Mim não errarão.” (Eco 24:23-30)

“Pois enquanto todas as coisas estavam em quieto silêncio e aquela noite estava no meio do seu curso rápido, a Tua palavra Todo-poderosa saltou do Céu, do Teu trono real, como um feroz homem de guerra no meio de uma terra de destruição, e trouxe o Teu mandamento honesto como uma espada afiada.” (Sb 18:14-16)

“Temer ao Senhor é o princípio da sabedoria: ela foi criada junto dos fiéis, no ventre. Ela construiu um alicerce eterno com os homens.” (Eco 1:16)

Sabedoria é o sopro do poder de Deus e uma pura fonte que nasce da Glória do Todo-poderoso… o brilho da luz eterna, o espelho imaculado do poder de Deus e a imagem de Sua Bondade.” (Sb 7:2-26)

À margem da versão de 1611 do Rei James, não há menos do que 113 referências a passagens relacionadas nos apócrifos; 102 no Antigo Testamento e 11, no Novo (alguns exemplos: Mt 6:7; Eco 7:14; Mt 23:37; IIEsd 1:30; Mt 27:43; Sb 2:15-16; Lc 6:31; Tob 4:15; Lc 14:13; Tob 4:7; Jo 10:22; IMb 4:59; Rm 9:21; Sb 15:7; Rm 11:34; Sb 9:13; IICor 9:7; Eco 35:9; Hb 1:3; Sb 7:26; Hb 11:35; IIMb 7:7). Para detalhar aqui apenas duas dessa lista: Jo 10:22 fala sobre a Festa da Dedicação; IMb 4:59 relata sua origem pós-Antigo Testamento. E não pode haver dúvida de que o apóstolo Paulo emprestou muito dos apócrifos para sua epístola aos romanos (Rm 1:20-21; Sb 13:5-8; Rm 1:22; Sb 13:1, 12:24; Rm 1:26; Sb 14:24; Rm 1:29; Sb 14:25-27; Rm 9:20; Sb 12:12; Rm 9:21; Rm 9:22; Sb 12:20).

Não há melhor maneira de considerar a relação dos apócrifos com o resto da Bíblia do que os ler. Assim, alguém se perguntará em que base os 14 livros foram afastados dos outros 66. É frequentemente dito que eles não tenham qualidade devocional como os outros 66. Claro que essa é uma forma muito subjetiva de fazer julgamentos. Mas não há muitas partes dos 66 livros que podem ser consideradas deficientes da mesma maneira? As genealogias no Antigo Testamento, por exemplo, ou as histórias de muitas guerras sangrentas? Também é um fato que John Bunyan, famoso autor de Pilgrim’s Progress (O Progresso do Peregrino), em um momento de desânimo espiritual, encontrou um bálsamo para sua alma depois de pesquisar na Bíblia por “mais de um ano”, em Eclesiástico 2:10. Também pode ser observado que um grupo devoto de Cristãos Protestantes dirigiu seu clero, em casamentos, a ler não só o Antigo e o Novo Testamento, mas também o livro apócrifo de Tobias, pois ele “apresenta uma bela lição que fortalece os piedosos e tementes a Deus na Terra, especialmente no que diz respeito ao casamento”.

É certo que os apócrifos possam ser considerados “diferentes”. No entanto, essa é realmente uma afirmação vaga. Os outros 66 livros também são bastante diferentes uns dos outros. No Antigo Testamento, temos os livros históricos, a literatura sapiencial, os profetas maiores e os menores. Algumas partes de apenas um livro dos 66 são muito diferentes, razão pela qual, por exemplo, os capítulos que vão do quarenta ao cinquenta e cinco, no Livro de Isaías, são conhecidos como o Deutero-Isaías… Não da autoria de Isaías, mas obra de outro. No Novo Testamento, existem os Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse. Rute e Apocalipse são muito diferentes; também Crônicas e Coríntios, Provérbios ou Filipenses. Qualquer pessoa inclinada a denegrir os apócrifos precisa ser lembrada de que partes do Antigo Testamento, se fossem transformadas em filmes, receberiam uma classificação X, na melhor das hipóteses; porém não são questionadas. Isso é consistente?

Talvez a chave mestra para o que pertence à Bíblia é encontrada no fato de que reais eventos físicos são usados para esconder profundas verdades espirituais. Pode haver outra base viável para permitir certas partes do Antigo Testamento no cânone bíblico? Existe outra maneira pela qual as muitas contradições aparentes da Bíblia, com base em uma interpretação literal, podem ser harmonizadas?

Por causa da sua função como elo entre o Antigo e o Novo Testamento, os estudantes da Bíblia sofrem uma perda por negligenciar os apócrifos — mas, uma ainda maior por ignorar a chave para compreender todos os três: a abordagem esotérica que é apresentada pelo Cristianismo Místico. A literatura da Sabedoria Ocidental tem inúmeras referências aos apócrifos.

A palavra “apócrifo” também pode significar que os escritores dos livros quisessem que seu significado fosse enigmático ou aparente apenas para os Iniciados. Houve muitos escritos desse tipo no período imediatamente anterior e posterior ao início da era Cristã.

Aqueles familiarizados com as Escrituras extracanônicas, além dos apócrifos, estarão interessados em saber que ‘as Pseudoepígrafes’ ou Escrituras ‘falsamente inscritas’ não são fraudulentas; a falsa inscrição é apenas um artifício… pelo qual um escritor posterior poderia expressar suas ideias sob o abrigo de um nome do escritor anterior e aceito.

(publicado na Revista Rays from the Rose Cross de setembro-outubro de 1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia?

Como um Estudante Rosacruz estuda a Bíblia

A princípio, sempre nos lembremos que a “Bíblia foi nos dada pelos Anjos do Destino, que estando acima de todos os erros, dão a cada um e a todos o que necessitam para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, se procurarmos a Luz, encontrá-la-emos na Bíblia”.

Quando se fala dos Mistérios Cristãos deve-se compreender que os quatro Evangelhos que encontramos na Bíblia não são exclusivamente relatos da vida de um único indivíduo, escritos por quatro pessoas diferentes, mas sim que são símbolos de Iniciações distintas. Cada um de nós atravessará algum dia os quatro períodos descritos nos quatro Evangelhos, porque cada um está desenvolvendo o espírito de Cristo no seu interior, o Cristo Interno. E ao dizer isso dos quatro Evangelhos, podemos aplicá-lo também a uma grande parte do Antigo Testamento que é, também, um maravilhoso livro de ocultismo, pois nos relembra o que fizemos naqueles tempos, bem como quantos irmãos e irmãs anteciparam o conhecimento que iria nos ser fornecido na plenitude via o Novo Testamento.

Quando colhemos batatas não esperamos encontrar somente batatas e nenhuma terra; tampouco, devemos esperar, ao nos aprofundarmos no livro chamado Bíblia, que cada palavra seja uma verdade oculta, porque como deve haver terra entre as batatas, assim também deve haver escória entre as verdades ocultas da Bíblia. Os quatro Evangelhos foram escritos de tal maneira que somente aqueles que têm o direito de saber podem descobrir o verdadeiro significado e compreender os fatos subjacentes. Do mesmo modo, no Antigo Testamento encontramos grandes verdades ocultas que se tornam lúcidas quando podemos olhar por detrás do véu.

Deve-se notar que as pessoas que originalmente escreveram a Bíblia não intentaram dar a verdade de uma maneira que todo aquele que quisesse, pudesse lê-la. Nada estava mais afastado de suas Mentes que escrever “um livro aberto sobre Deus”. Os grandes ocultistas que escreveram o Thorah são muito categóricos a esse respeito. Os segredos do Thorah não podiam ser compreendidos por todos. Cada palavra do Thorah tem um significado elevado e um mistério sublime. Muitas passagens estão veladas; outras devem ser entendidas literalmente; e ninguém que não possua a chave oculta pode decifrar as profundas verdades veladas naquilo que, amiúde, apresenta um feio revestimento.

(Publicado na Revista O Encontro Rosacruz – dezembro/1982)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um decálogo para as relações humanas — Baseado nos ensinamentos de Cristo

Um decálogo para as relações humanas — Baseado nos ensinamentos de Cristo

Para que tenha valor ao indivíduo, a Religião deve produzir-lhe reforma interna. Conhecer a Religião praticada convencionalmente, de modo superficial, não nos traz proveito algum.

Contudo, para apreciar devidamente uma Religião, precisamos conhecê-la. Para conhecê-la precisamos estudá-la de modo conveniente. A Filosofia Rosacruz nos ajuda muito a conhecer o Cristianismo. Não poucos, com sua ajuda, retornaram à Bíblia, vendo-a sob nova luz.

Estivemos meditando sobre os princípios do Mestre, alusivos às relações humanas. Lemos várias vezes o Novo Testamento, anotando as citações que nos pareceram encerrar maior significância para o tema. Confirmamos, então, que o Novo Testamento seja o mais atualizado e profundo manual de relações humanas que existe no mundo!

Naturalmente, para esmiuçar as citações, buscando todos os seus alcances práticos, precisaríamos escrever um volumoso livro. Poucos se dispõem a ler obras volumosas e sérias. Buscamos, por isso, sintetizar nossas conclusões neste pequeno trabalho. Este decálogo deveria ser meditado e praticado por todos, pois abrange todas as esferas sociais. Desse modo, Cristo presidiria aos nossos diálogos, assegurando-nos êxito em todos as conversas!

1 — HARMONIZA-TE SEM DEMORA COM O TEU ADVERSÁRIO

Disse alguém: “Vive cada dia como se fosse o último de tua vida”. O que faríamos, se soubéssemos ter apenas um dia de vida ou, digamos, alguns dias? Como espiritualistas convictos da ação da Lei de Consequência e Renascimento, trataríamos, sem demora, de acertar todas as nossas pendências, desligando-nos de todos os compromissos terrenos! Não é lógico?

Enquanto mole, podemos corrigir um desnível no cimento. Mas depois que endurece não é possível, senão quebrando-o. Todas as coisas são mais facilmente acertadas no início, enquanto as razões estão frescas. Depois, convertem-se em destino maduro e a dor é inevitável durante a correção.

Contudo, se, ao buscarmos conciliação e harmonia, apesar da delicadeza, do tato e do intento sincero, encontrarmos no desafeto uma disposição rancorosa e agressiva, que nos afastemos calmamente, sem revide. É o que os Evangelhos ensinam, ao recomendar que se deva tirar o pó das sandálias, retirando-se do lar onde não se foi acolhido. O importante é que cada um cumpra sua parte com seu Deus. E não nos detenhamos nas querelas. Imitemos os rios, que não se chocam com as montanhas, porém as contornam e seguem a diante.

2 — SE ALGUÉM TE OBRIGAR A ANDAR MIL PASSOS, VAI COM ELE DOIS MIL

“Não resistais ao mal”, ensinou também o Cristo e isso diz respeito ao nosso comportamento interno. Importa que não reajamos negativamente a qualquer atitude ou circunstância adversa. São Bernardo ensinou: “Ninguém pode ferir-me ou atingir-me, senão eu mesmo. Depende, pois, de mim, rebaixar-me ou irritar-me e, desse modo, deixar-me atingir pelo inimigo de minha personalidade”. Devemos empreender sincero esforço na conquista do domínio próprio. O descontrole emocional, mormente entre os latinos, tem sido a causa frequente de úlceras, diabetes, enfartes e tantas outras doenças. Existe alegria de viver ou felicidade, quando não temos saúde? E como podemos cumprir nossos deveres para com nosso Espírito, nossa família e o gênero humano, sem condições normais que nos ajudem? Também incluímos neste assunto todos os pequenos desafios que diariamente nos ameaçam corroer a paciência: as dificuldades no trabalho e no lar, as esperas nas filas de ônibus e os apertos dentro deles…

3 — TODA ÁRVORE QUE NÃO DÁ BOM FRUTO É CORTADA E LANÇADA NO FOGO

Não existe inércia nem inutilidade na natureza. O órgão não usado é atrofiado. Os desafios da vida são naturais e necessários para o desenvolvimento proporcional a cada indivíduo. Aquele que se adapta e age construtivamente, progride; o que para, retrocede. Aí está o verdadeiro conceito de mocidade e velhice: internamente, aquele que desanima e empaca morre para a vida, cuja finalidade é o desenvolvimento das faculdades internas que herdamos do nosso Criador. O cristão consciente é honesto e dá o melhor que pode em seu trabalho, no lar ou na sociedade porque sabe que, ao retardar seu dever, ao negligenciar suas tarefas, descuida de si mesmo, recebendo dos outros exatamente na medida em que oferece. Isso se aplica aos indivíduos, às empresas e agrupamentos sociais. Quanto mais produzem, construtiva e legitimamente, tanto mais crescem — em todos os sentidos! É preciso vencer as tentações dos maus exemplos e das insinuações aparentemente justas. Um erro não justifica outro! Que cada um de nós cumpra o seu dever.

4 — NÃO É O QUE ENTRA PELA BOCA QUE CONTAMINA O SER HUMANO, MAS O QUE DELA SAI

“Falar é prata, calar é ouro” — diz o provérbio. Depois que falamos algo inconveniente, tornar-se difícil e embaraçoso ao nosso orgulho que nos retratemos. Uma mentira conduz a outras, acabando por subestimar as pessoas mentirosas. As palavras violentas e irritadas têm prejudicado ótimas situações e arruinado negócios. Estamos educando ou aconselhando? Se queremos ajudar e demonstrar amor, falemos com amor. Argumentamos com alguém? Então que mantenhamos o equilíbrio, a lógica e a humildade, porque o objetivo é a verdade e não ganhar ou perder a discussão.

O uso da palavra é um assunto bem importante. É o próprio uso do Verbo! Tão importante que Tiago lhe dedicou primoroso capítulo, o terceiro de sua carta, sobre o qual Max Heindel nos exorta a meditar de vez em sempre. Observa Heindel: “A tendência de falar mal dos outros ou admoestar as coisas más é magia negra, porque construímos no Mundo do Desejo uma forma negativa e a lançamos na pessoa ou coisa. Uma abelha, quando pica, deixa o ferrão e morre. Que seria das línguas das pessoas, se lhes sucedesse o mesmo?”.

Todo Cristão-esoterista conhece a Lei de Atração dos semelhantes: se nutrimos ódio por alguém, suscitamos a reação odiosa dessa pessoa; se o amamos, suscitamos-lhe amor; se, ao irmos ao encontro de alguém para resolver uma pendência, um assunto qualquer, pensamos negativamente, construímos com isso as condições negativas em nós e na outra pessoa; no entanto, se vamos de forma confiante e corajosa, parte do problema já foi resolvido.

5 — E QUEM QUISER SER O PRIMEIRO ENTRE VÓS, SEJA ESSE O SERVO DE TODOS

Eis o ideal de liderança, o verdadeiro sentido de liderança baseado no serviço amoroso do líder, em sua relação com os companheiros: exemplificar. Envolve não apenas um sentido de poder, mas também um de dever. Em vez de submeter e mandar, une-se aos outros e os soergue com seu entusiasmo, convicção e trabalho. No lar, no trabalho ou na Fraternidade, os dirigentes criam seres humanos, ajudam-nos a vencer, multiplicam-se por meio deles e logram seguramente os objetivos para o benefício comum, porque lhes conquistam a lealdade, lhes galvanizam o entusiasmo e criam um espírito de trabalho em conjunto e de harmonia contagiante.

O serviço amoroso e altruísta é a tônica da Fraternidade Rosacruz; vale dizer, a medula da doutrina Cristã. Nele reside o êxito de todas as atividades.

6 — APASCENTAI AS MINHAS OVELHAS

O respeito do ser humano pelo ser humano, como semelhante centelha espiritual, deixa muito a desejar. Nunca o mundo precisou tanto de amor como nos atuais tempos de materialismo, algo tão perigoso ao nosso natural desenvolvimento interno. Por isso, o mais deplorável na hora presente é o desânimo dos “homens de boa vontade”. Psicólogos e educadores estudam as causas dos problemas sociais, mas não poderão perscrutar profundamente o problema, enquanto não considerarem o ser humano em sua integralidade, como humano e espiritual. A menos que sejamos alimentados em todos os aspectos, haverá fome de algum lado, deficiências, enfermidades jamais sonhadas pelos materialistas, porque a função cria o órgão e a negligência de certos aspectos, justamente os mais complexos e elevados da natureza humana, trará consequências desastrosas!

A técnica moderna, em vez de servir ao ser humano, veio escravizá-lo em benefício de alguns. As máquinas avassalaram os operários, reduzindo-os a peças cujos movimentos são estudados para cada vez mais produzir. A vida egoísta e intensa das grandes cidades nos ilham em um círculo vicioso e pouco edificante. É uma indústria de neuróticos. Os hospitais de doenças nervosas se multiplicam.

Contam as estatísticas que, dentre as pessoas com cursos superiores, os que mais se suicidam são os médicos e, dentre eles, os psiquiatras! Na América do Norte, é alarmante o número das pessoas que morrem de enfarte nervoso, antes dos 50 anos. Na Europa, justamente nos países mais adiantados (Suíça, Suécia, Dinamarca), ocorrem os maiores índices de suicídio. Por quê? Se o objetivo do ser humano fosse meramente material, se ele fosse apenas um conjunto orgânico que se desfaz com a morte, por que essa angústia? A resposta é simples: estão esquecendo o ser humano real! As criaturas andam famintas de amor, apreciação, estímulo, criatividade, motivação. O ser humano precisa ser compreendido em sua inteireza. De novo surge, do fundo das idades, a Esfinge gigantesca e repete o desafio: ou me decifras ou te devoro! De novo o Cristo dentro de nós inquire a nossa consciência: tu Me amas? Então, apascenta as minhas ovelhas!

O Cristianismo Esotérico possui uma tremenda responsabilidade, um grande dever de divulgar, por todos os meios ao seu alcance, os aspectos integrais do ser humano e o modo de torná-lo realmente feliz e realizado, mas não segundo o ponto de vista material, imediatista; porém, conforme uma perspectiva ampla que atente não só ao presente, mas também ao futuro.

“Não só de pão vive o homem.” O dia em que se ensejar a cada ser humano os meios e motivações de crescimento interior, ver-se-á que eles hão de florescer a dimensões jamais sonhadas, em todos os aspectos.

7 — MAS, SE NÃO PERDOARDES AOS SERES HUMANOS, TAMPOUCO VOSSO PAI PERDOARÁ AS VOSSAS OFENSAS

O único antídoto eficaz para a enfermidade do ressentimento, do ódio e da amargura é o perdão. Mas o perdão terapêutico! Todos nós conhecemos, por experiência própria, o perdão superficial, de boca: “Eu o perdoei, mas ele acabou para mim!”. Isso não é perdão! O ressentimento persiste como um elo paradoxal: dizemos que não mais desejamos qualquer laço com o desafeto e, todavia, mantemo-nos algemados, relembrando sempre o seu erro. Dizemos que a pessoa acabou para nós e, no entanto, permanecemos igual a um carcereiro, prendendo-a ao nosso ressentimento.

A imagem não é exagerada. É real, para quem conhece as atividades do nosso Corpo de Desejos e sua relação com o Mundo do Desejo. O purgatório existe para desfazer os laços desamorosos que não foram desfeitos pela compreensão e perdão. O perdão terapêutico consiste em realmente perdoarmos o desafeto, dizendo convictamente para nós mesmos: “Eu o liberto do meu ressentimento por amor, na certeza de que tudo coopera com o bem”.

Os ressentimentos dividem os esforços coletivos cujos objetivos deveriam permanecer acima dos indivíduos. E a casa dividida não pode subsistir.

A resposta do Cristo para Pedro é bem significativa em relação à disposição que deveríamos costumeiramente adotar: “Devemos perdoar até setenta vezes sete”.

8 — TODA CASA DIVIDIDA CONTRA SI MESMA NÃO SUBSISTIRÁ

Quando Max Heindel fundou a Fraternidade Rosacruz, o Irmão Maior que o orientava recomendou-lhe que dispensasse, o quanto lhe fosse possível, a burocratização dos trabalhos, a criação de cargos etc. Max Heindel não conseguiu. A humanidade ainda não está preparada para essa elevada forma de trabalho em conjunto, onde cada um, independentemente de funções bem definidas, procura fazer o máximo, sem pensar em cargo ou natureza de trabalho. E as mesmas falhas humanas que ainda nos impedem de realizar essa colaboração espontânea e construtiva são as que motivam as dissenções.

O único líder é a IDEIA; e o único IDEAL É O CRISTO!

Se todos trabalhássemos para difundir, com o máximo das forças e faculdades, os maravilhosos ensinamentos da Filosofia Rosacruz, sem pensar em distinções, cargos ou elogios, que são ainda as propagandas de nossa personalidade, o Cristo seria mais bem alimentado! Não só dentro de nós, pelo serviço, como igualmente pelo soerguimento de nossos semelhantes.

As condições atuais exigem regulamentos, estatutos, cargos…, mas devemos aprender a transcender a época ou então ainda não estaremos capacitados para ensinar os ideais de uma nova época!

Não consideremos os aspectos externos das Sedes: a Fraternidade não é suas paredes ou móveis. Não critiquemos os oradores; eles estão fazendo o que podem para colaborar, mas têm suas falhas. Em vez de criticar, trabalhemos harmoniosa e conjuntamente pelo objetivo comum. Cada um de nós é algo muito valioso para a Fraternidade. Todas as trevas do mundo são incapazes de encobrir a luz de uma pequenina vela! E as velas reunidas iluminam o mundo.

Independentemente de tudo, façamos a nossa parte. Sobretudo, façamos parte ativa do Todo que é a Fraternidade. Ofereçamos nossos préstimos sem pretensão alguma.

A qualidade e a persistência de nossa colaboração, unidas pela compreensão, tolerância e adaptabilidade, darão credenciais de SERVOS DO SENHOR.

9 — ESTENDE A TUA MÃO!

Quando Cristo curou a mão atrofiada do homem que estava na sinagoga, ordenou: “Estende a tua mão!”. E o ideal de Cristo para a cura de todos os nossos males, para estabelecimento da real felicidade humana, continua a exigir de nós: “Estende a tua mão!”.

Além dos limites da nossa personalidade, estendamos a mão direita, símbolo universal de amizade, na direção do nosso próximo.

Como os braços metálicos que se entrelaçam e formam a tela de arame, homens e mulheres, brancos e negros, acima de credo, nacionalidade ou cor; acima de todos os convencionalismos, devem sair de si mesmos e se irmanar em uma autêntica família universal!

Cumprimente sentindo o que diz: “Bom dia!”, “Boa tarde!”, porque se a sua mão, em minha mão, não transmite amizade ou amor, também não transmite o Cristo, o único Ego para uma real Fraternidade.

Se isso se consumasse agora, todas as guerras, doenças e misérias acabariam!

10 — ASSIM, “TUDO O QUE QUISERDES QUE OS HOMENS VOS FAÇAM, FAZEI-O ASSIM TAMBÉM VÓS A ELES. PORQUE ESSA É A LEI E OS PROFETAS”

Deixamos propositalmente a Regra Áurea para o fim. Ela enfeixa e encerra tudo o que existe sobre as relações humanas. Nem seria preciso tecer comentários sobre ela. Tanto tem sido falado e escrito a seu respeito que pareceria ocioso acrescentar algo. Apenas lembraríamos sua estreita ligação com a Lei de Consequência e a Lei de Atração do semelhante. Sua aplicação é pessoal, nacional e internacional. Quer pô-la em prática amanhã mesmo? Então faça uma lista das coisas que gostaria que as pessoas lhe fizessem e, assim, faça-as para as outras pessoas. Mas não faça como o menino imediatista que plantou as sementes e todos os dias as desterrava para verificar se estavam crescendo. Plante e espere. Mas plante com amor. O amor, a água pura e o Sol morno dão vigor à planta humana e a faz produzir mais de cem frutos por um. Lembremos: nossa personalidade é apenas vara, um galho da videira do Cristo interior. E quanto mais Lhe fizermos a Vontade, tanto mais fluiremos pelos canais de Sua inteligência, Seu afeto e Sua vitalidade: os frutos de Deus para a criação de um mundo melhor!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – junho/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Livro: Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo 

A personalidade de Judas Iscariotes representa uma das mais impressionantes figuras da história de Jesus Cristo.

Desde o princípio da cristandade, jamais uma criatura foi tão odiada. Este ódio, faz-se sentir ainda hoje, decorridos mais de dois mil anos.

Este ódio criado no seio da cristandade vem encontrando sua continuidade durante séculos, gerando seus efeitos desfavoráveis dentro da própria comunidade cristã.

Dizemos desfavorável porque, não se pode conceber, absolutamente, que houvesse ou haja ódio em Cristo, o Senhor do AMOR.

Vamos ver onde está a origem desse sentimento tão negativo para com essa figura importante.

1. Para fazer download ou imprimir:

F. Ph. Preuss – Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo

2. Para estudar no próprio site:

Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo

Por

F. PH. PREUSS

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz de Santo André – SP – 1974

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

Sumário

Parte I – Contextualização

Parte II – A Traição

PARTE I – CONTEXTUALIZAÇÃO

A personalidade de Judas Iscariotes representa uma das mais impressionantes figuras da história de Jesus Cristo.

Desde o princípio da cristandade, jamais uma criatura foi tão odiada. Este ódio, faz-se sentir ainda hoje, decorridos quase dois mil anos. Verificamos este fato pela simples razão de se fabricarem bonecos que são dependurados em árvores e queimados logo após serem surrados.

A alegria das crianças é enorme, quando veem Judas receber o merecido castigo.

E este ato, é feito com pleno consentimento dos adultos, que trazem até seus filhos esta velha tradição que pode ser historicamente confirmada. Na atualidade há um sensível declínio dessas práticas grotescas nas grandes cidades. Se bem que não estejam totalmente apagadas. Este ódio criado no seio da cristandade vem encontrando sua continuidade durante séculos, gerando seus efeitos desfavoráveis dentro da própria comunidade cristã. Dizemos desfavorável porque, não se pode conceber, absolutamente, que houvesse ou haja ódio em Cristo, o Senhor do AMOR.

Tendo em vista dar algumas explicações a respeito da atitude de Judas, devemos levar em consideração os atuais tempos materialistas nos círculos farisaicos em contradição flagrante com o Divino Cristo Espiritual e Ideal.

A ocupação real de Judas era zelar pelo bem-estar físico de Cristo e os demais companheiros, sendo ele o caixa, esmoler e provedor dos pobres. Há-se, também, de se ter em mente que TODOS os Discípulos foram escolhidos por Cristo, inclusive Judas. Cada um deles representava, em suas qualidades internas, uma atividade necessária na marcha da evolução. Iniciava-se, portanto, com a vinda de Cristo, um novo ciclo dessa atividade, uma Nova Era, um movimento maravilhoso e surpreendente, ao qual o Sumo Pontífice e sua hierarquia não tinham acesso. Não compreenderam eles, porém, a mudança dos tempos, isto é, o princípio de uma nova atividade da alma humana, que procurava afastar-se das leis exteriores da vida, firmando-se na lei interior. A hierarquia clerical fora golpeada pela mansidão do Cristo. E o que fazia essa hierarquia? Refugiava-se nas más compreendidas leis mosaicas, as quais executavam rigorosamente.

O Novo Testamento, com relação a Judas, comete tantos erros quanto o Velho Testamento, com respeito às leis de Moisés. Referem-se à Judas como sendo ele um legítimo traidor de Cristo, o que não é uma realidade. A narrativa da traição nos Evangelhos, mostra-nos, de fato, uma traição, mas… com toda legalidade espiritual. O amigo leitor não deverá se admirar com essas palavras, pois, no decurso das explicações, daremos confirmação às mesmas. A própria Sagrada Escritura apresenta ao pesquisador sincero, bem como aos atuais fariseus, profuso material de estudos, provando que, sem o Sacrifício do Senhor, Ele nunca teria sido chamado de: Salvador, o Messias da humanidade. O que desejamos demonstrar é que, a chamada traição foi preparada pelo próprio Cristo! A Profecia tinha que ser cumprida; portanto, Judas levou a traição à efeito com pleno consentimento do Senhor.

Daremos, a seguir, provas do que acima dissemos.

Leiamos as palavras de Cristo, no Evangelho de São João, capítulo 15, versículo 16, quando falando aos Discípulos, diz o seguinte:

“Não fostes vós que me escolheram a mim, ao contrário, EU vos escolhi a vós para que deis frutos e que o vosso fruto permaneça”.

Por essas palavras compreendemos que o Senhor escolhera a Judas para que também desse os seus devidos frutos, cooperando dessa forma com AQUELE que o havia escolhido. O homem de Cariotes havia sido escolhido para realizar um serviço especial dentro do plano estabelecido. Cristo assim o fez porque o conhecia perfeitamente e sabia que, somente ele poderia executar tal classe de serviço, ou seja: a traição, tão necessária ao cumprimento das profecias. No Salmo 22, podemos encontrar o vaticínio do mesmo acontecimento.

Agora perguntamos: teria Judas Iscariotes razões especiais para agir dessa forma com relação ao Senhor? Caso ele não houvesse levado a efeito tal traição, o que teria acontecido a humanidade? Porventura teria sido salva? O capítulo 15, versículo 14, ensina-nos o seguinte:

 “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que EU vos mando”.

O versículo 19, diz:

“Se vós fosseis do mundo, o mundo vos amaria; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele Eu vos escolhi, por isso o mundo vos odeia”.

Estes versículos nos mostram claramente a atividade espiritual de Cristo sobre os seus Discípulos. Eles haviam sido escolhidos para confirmar e participar da Vida Espiritual com o Mestre. Não apenas deveriam ser iluminados pela presença da AURA DO CRISTO SOLAR, como também dar início a transmutação de seus corpos, constituindo-se dessa forma, numa vanguarda espiritualizante de uma futura humanidade. Na perfeita obediência atenderam à própria libertação espiritual (Pentecostes), em virtude das qualidades recebidas da AURA DE CRISTO. As amarras impostas pela lei até então, haviam chegado a seu fim. A constante transmissão das forças solares sobre os Discípulos, devia ser extraordinária, pois, o Hierofante, Cristo, lhes transmitia, francamente, o Espírito de Vida, consumando esse trabalho na Iniciação de Pentecostes. Cristo lhes havia dito que não mais eram do mundo, e que, todos sofreriam como Ele, profecia então cumprida, porquanto todos sofreram a morte de Cruz, exceto São João, que foi exilado para a Ilha de Patmos. Repetimos novamente: Cristo havia escolhido seus Discípulos, e conhecendo perfeitamente as capacidades internas de cada um, dava-lhes os devidos ensinamentos e os iniciava. Este fato nos faz sentir que a Escola Essênia encontrava em Cristo, a lógica e natural sequência dos ensinamentos espirituais para o mundo moderno. A cristandade tinha que se iluminar com a Luz que se encontrava no mundo (Cristo), Luz esta que constantemente era irradiada dos planos estelares. Na escolha dos Discípulos, notamos que o próprio Judas recebeu do Senhor a mesma consideração dada aos demais, recebendo, como eles, obrigações e deveres, sendo respeitado como qualquer outro.

Parte II – A Traição

Após esta digressão que se fazia necessária, voltamos ao assunto em pauta:

A TRAIÇÃO

Na Santa Ceia, quando estavam todos reunidos na mesa, Cristo, dando o pão molhado à Judas, perante os demais Discípulos, diz o seguinte: “Aquilo que deves fazer, faze-o já”.

Cristo tinha conhecimento de Sua Missão, e, portanto, era natural a Sua obediência às Escrituras, que, cerca de 1.000 anos antes já havia anunciado: “Eis que teu Rei virá a ti, justo e salvador, pobre e montado sobre um jumento, um asno, filho de jumenta” (Zacarias, Capítulo 9, Versículo 9-10).

O mesmo fato é também descrito cerca de 1.000 anos depois, no Evangelho de Lucas, no Capítulo 19, Versículo 33 e 35: “Quando eles (os Discípulos) soltaram o jumento, seus donos lhes perguntaram: Porque o soltais?

Responderam: Porque o Senhor o precisa. Então o trouxeram e, pondo suas vestes sobre ele, ajudaram Jesus a montar”.

Mui importante de observação é que, Zacarias, 1.000 anos antes, profetizara a mesma coisa que Lucas, Discípulo de Jesus, descreve em seu Evangelho.

Em sua exaltação espiritual, Zacarias fala com o Senhor – isso é evidente! E assim decorrem-se os acontecimentos, como se impressos numa chapa fotográfica, em negativo, e revelada com a chegada do Salvador, inclusive o drama final de Jesus e Judas.

A declaração de Zacarias no Capítulo 11, Versículo 10 é impressionante:

“Tomei a minha vara (Justiça e Suavidade) para desfazer o pacto que havia estabelecido com todos os povos”.

A consequência do desfeito da união entre Deus e seus povos é relatada no Versículo 12 de Zacarias:

“Eu lhes disse (à Hierarquia); se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido, senão, deixai-o” (trata-se das 30 moedas).

No 13º Versículo fala o Senhor a Zacarias: “Arrojo isto no oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles”.

A expressão: EM QUE FUI AVALIADO, é muito significativa. Quem diz isso é o Senhor.

“Tomei (o Profeta) as trinta moedas de prata, arrojei-as na Casa do Senhor” (Zacarias aí faz o papel de Judas).

Esse Versículo coincide ainda com o Versículo 5 do Capítulo 27 de São Mateus: “Então, Judas, atirando para o Santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se”.

A essa altura, verificamos que Judas rompeu bruscamente os laços que o ligavam a seu povo, pois, impôs-se a si mesmo a justiça, que lhe foi negada na hora em que, arrependido, acusa-se perante os sacerdotes de haver acusado sangue inocente. Esta passagem firma-se, ainda, com o Capítulo 11, Versículo 14 de Zacarias: “Então quebrei a minha segunda vara, os laços, para romper a irmandade entre Judá e Israel”.

Lembremo-nos que Judá representa todo o povo Judeu, e os Israelitas representam os escolhidos, os adiantados. Judas provocou a separação entre aqueles que seguiam a lei e os que aceitaram os princípios cristãos, chamados de Israelitas-cristãos. Ao mesmo tempo, coincide que Pilatos, por não achar falha em Cristo, quebra a sua varinha e lava as mãos, em sinal de inocência no caso.

Lendo a seguir São Mateus 26, Versículo 2, encontramos o seguinte:

“Sabeis que daqui a dois dias celebrar-se-á a Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”.

Havia, naquela mesma hora, uma reunião no Sinédrio, deliberando tirar a vida de Jesus. São Mateus, Capítulo 26, Versículo 4, diz o seguinte:

“Então os principais dos sacerdotes e anciães do povo, reuniam-se no palácio do Sumo-sacerdote, Caifás, e deliberavam tirar a vida de Jesus, prendê-lo por dolo e matá-lo”.

Na verdade, como ensina a Escritura, não havia necessidade de criar-se um pretexto para prender Jesus, pois, os sacerdotes e Cristo sempre se encontravam no Templo ou nos arredores de Jerusalém. Deve haver, assim, por base da traição, algo mais importante, mais transcendental. Vejamos que em Zacarias está apontado o drama de Cristo. Tentemos desvendar a palavra traição. Segundo o dicionário, é: um ato secreto, de um inimigo da vítima, que deve ser traída.

Novamente levamos o leitor a Escritura pela qual Zacarias predisse a traição do Senhor. No Capítulo 11, Versículo 11 de Zacarias e também no Profeta Jeremias, e ainda conforme o Evangelho de São Mateus, Capítulo 27, Versículo 9, e Capítulo 26, Versículo 12, onde Cristo falando aos Discípulos diz: “Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela (Madalena) o fez para o meu sepultamento”.

Verificamos que, não somente Cristo sabia de Sua morte, como também Madalena e os Discípulos, pois Ele declarava todas estas coisas perante eles. Nessa mesma hora crítica, poderíamos perguntar: – Se todos sabiam da hora dramática de Cristo, porque não se ausentaram de Jerusalém, sendo que, Judas, ainda não O havia traído ou entregue? O Capítulo 26, Versículo 14 de São Mateus, explica:

“Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes indo ter com os sacerdotes propôs: Que me quereis dar, eu vo-lo entregarei?

E pagaram-lhe trinta moedas de prata”.

Confirma-se aí o colóquio de Zacarias com o Senhor.

Verificamos que coincide, tanto da parte de Cristo como da dos Discípulos, inclusive Madalena, o Sinédrio e os Profetas, saberem, pela mesma fonte, da Paixão em processamento e sua procedência. O veredito espiritual foi a condenação e o sacrifício pela morte de cruz, como porta de salvação para a humanidade. E assim também deveria ser o veredito humano, em cumprimento à profecia. A Plenipotência Divina apresentou-se por meio do corpo físico de Jesus e das Escrituras antiga e nova. A Paixão, sem dúvida, foi coordenada e admitida pela Hierarquia Espiritual. No caso de Judas, apóstolo do Cristo, não se deve encontrar anátema, mas sim a coordenação harmônica dos acontecimentos em propósito. A coragem de Judas faz-se sentir ainda mais impressionante em face de seu auto aniquilamento. As afirmações acima recebem ainda maior apoio quando lemos o Versículo 18 do mesmo Capítulo 26: “Ide à cidade, ter com certo homem, e dizei-lhe: O MESTRE MANDA DIZER: O MEU TEMPO ESTÁ PRÓXIMO; EM TUA CASA CELEBRAREI A PÁSCOA COM OS MEUS DISCÍPULOS”.

Nota-se, nestas palavras proféticas de Cristo, enviadas a seu amigo, (o evangelista não diz o seu nome) que o acontecimento máximo de sua existência está próximo, acontecimento este ligado à história do Mestre e de toda humanidade. O Capítulo 26, Versículo 21 de São Mateus, diz:

“Enquanto comiam declarou Jesus: Em verdade vos digo, que um dentre vós me traíra”.

Sentimos que os acontecimentos se precipitam, chegando à sua máxima culminância na Paixão, em seu ato final.

Um deles teria que ser o instrumento para esse fim e entre eles pairava a grande interrogação:

“Serei porventura eu?” (Versículo 22).

O Versículo 23 coloca os Discípulos entre a alternativa de trair o Mestre, quando diz: “Aquele que mete comigo a mão no prato, esse me trairá”.

Houve então silêncio e suspense, pois, não se sabia ainda, qual dentre eles teria coragem de tal prova. E Cristo, cheio de mansidão e pena, diz:

“O Filho do Homem vai como está escrito a seu respeito, mas, ai daquele por intermédio de quem será traído. Melhor lhe fora não ter nascido”.

Essas palavras não se tratam, absolutamente, de uma ameaça, como geralmente é entendido nas Igrejas populares. O Versículo 25 define o acontecimento: “Judas perante todos, mete a mão no prato do Mestre dizendo: Então sou eu Mestre? Prontamente responde Jesus: Tu o disseste”.

Com isso os Discípulos ouviram a sentença antes proferida por Jesus. O Versículo 47, fala da chegada de Judas com uma turba, armada de espadas e cacetes.

Entretanto, o Versículo 48 fala a respeito da amizade do Mestre para com o seu Discípulo. Ambos tinham ciência dos acontecimentos. O citado Versículo diz o seguinte:

“Ora o traidor havia dado este sinal: Aquele que eu beijar, este prendei”.

O Versículo 49 diz: “E logo aproximando-se de Jesus, disse-lhe: SALVE MESTRE, e o beijou”.

O Versículo 50 ainda diz: “Jesus disse a Judas: AMIGO, para que viestes?”.

Ambos sabiam que se tratava de suas mortes. É muito difícil crer que um traidor verdadeiro beije sua vítima, e nesse caso, o próprio Mestre que o escolhera!

Também, seria difícil crer que o Mestre Jesus chamasse a seu Discípulo de amigo, se não o fosse realmente. Porém, Cristo tinha razões suficientes para chamá-lo de amigo. Nos Evangelhos segundo São Marcos e São Lucas, os acontecimentos são idênticos. No Evangelho segundo São João encontramos algumas diferenças, que a seguir veremos. Em São João, Capítulo 13, Versículo 23, 24, 25 e 26, encontramos o seguinte:

“Ora ali estava aconchegado a Jesus um dos Discípulos que Ele amava”.

A esse, Simão Pedro fez um sinal dizendo: “Pergunte a quem Ele se refere? Então aquele Discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor quem é? Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e tendo-o molhado, deu-o à Judas, filho de Simão Iscariotes”.

Podemos constatar nesse diálogo, como resposta à pergunta do Discípulo amado, e ainda de Simão Pedro que fizera o sinal, que Jesus apontou, inequivocamente aquele que O havia de trair.

Esse apontamento o fez Jesus abertamente, perante todos os Discípulos. Judas recebeu o pão molhado por Jesus à vista de todos que perceberam a sua tragédia, e, no entanto, ninguém o deteve quando saiu a dar cumprimento àquilo que havia sido ordenado por Jesus.

O Versículo 27, diz o seguinte:

“E após o bocado, imediatamente entrou nele (em Judas) Satanás: O que pretendes fazer, faze-o depressa”.

Nesse Versículo vemo-nos perante um enigma, pelo que o próprio Jesus se fez culpado da tragédia, pois, somente após ter dado a Judas o pão molhado, entrou nele Satanás. E ainda mais: Jesus ainda ordena a Judas, conforme as palavras do Evangelista: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”. Judas recebeu o bocado molhado diante de todos, como sinal de que a hora havia chegado e nenhum discípulo foi contrário. Todos concordaram, senão, o teriam detido com toda certeza. Mas tal acontecimento era essencial, não se podendo contradizer a escritura, pois a salvação da humanidade era o alvo da chegada de Cristo à Terra, não podendo ninguém agir contra essa definição. Se aceitarmos a versão de que somente após haver recebido o bocado, entrou Satanás em Judas, é lógico que antes do bocado não estava nele. Pela lógica poderíamos dizer que Jesus era cumplice de Satanás e que Judas era vítima de uma cilada. CLARO ESTÁ QUE NÃO PENSAMOS ASSIM! Mas, tratando-se de um processo comum, o advogado teria que atender a lógica do caso, chegando à conclusão que acusamos de blasfema. Já dissemos que por detrás do caso há um enigma, e que, da forma descrita pelos Discípulos evangelistas, quase de forma semelhante há realmente uma traição, consentida e justificada por todos.

Outra pergunta pode ser feita: Jesus sendo justo e vidente, deu o bocado à Judas. Mas se o tivesse dado a outro Discípulo, teria esse cumprido a ordem?

Qual deles teria tanta coragem, tratando-se de trair o FILHO DO HOMEM, que se sujeitava ao PAI?

Mais um pormenor: A hora máxima de Jesus e Judas foi quando Jesus se dirigia a Judas com as palavras: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”. Esta é uma ordem, não a Judas, mas ao Espírito do Mal, Satanás. É muito esquisita esta versão, mas foi a última vez que Cristo falou ao Espírito do mal, subordinando-o à sua vontade, a Sua Ordem. E Satanás obedeceu.

Procurando penetrar ainda mais no drama de Jesus e de Judas encontramos o seguinte quadro: “Ele (Judas) tendo recebido o bocado, saiu logo, e era noite”.

Quando ele saiu, disse Jesus: Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado Nele.”

Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar (São João, Capítulo 13, Versículo 30, 31, 32).

Estes Versículos constrangem o simples pensador, pelo fato de Cristo ser glorificado no Pai, como também o Pai em Cristo por meio de traição de Judas. Se torna embaraçoso à nossa compreensão a palavra “traição”, em se falando da glorificação do Pai e do Filho por seu intermédio, pois, não se pode crer que os “Dois” se façam glorificar por meio de traição de Judas e em sua consequente morte. Pela lógica, e humanamente pensando, uma traição não é gloriosa e nem tampouco pode trazer glória alguma.

Admitindo-se haver uma glorificação entre o Pai e o Filho, não teria Judas também recebido sua devida recompensa? Sem dúvida, pois, a Lei Universal recompensa. Vemos morto de um lado Jesus e de outro Judas. Dois homens que ajudaram a completar a marcha da evolução humana, a favor da evolução cósmica. Não podemos, por conseguinte, excluir uma pessoa por meio da qual se completa um ciclo evolutivo. Julgando humanamente o caso, cremos que, como estavam as Leis Divinas em operação, tendo o Cristo que afastar-se do corpo de Jesus, a palavra “traição” não se apresenta em desafetos ou mesmo em exageros emocionais. A situação era definida e clara. A Lei Divina regia os acontecimentos e não homens. Vemos assim, de um lado, o sacrifício de Jesus, morto, e do outro lado de Jerusalém, Judas Iscariotes, Discípulo de Jesus também morto, em favor da libertação dos homens.

FIM

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