A Almejada Resposta: cultivar a parte espiritual e cuidar dos negócios desse mundo
A humanidade passa atualmente por momentos de grande tensão. Vivemos numa época em que a insegurança aparenta ser o denominador comum da vida. As manchetes dos jornais e as notícias veiculadas pelo rádio e televisão, dão conta de crises em quase todos os quadrantes da terra. Crises monetárias, políticas, religiosas, morais. Crises e mais crises. Crise é a palavra que define todas as anormalidades e inseguranças.
Mas afinal, o que acontece com o mundo? Em uma época de racionalismo, de progresso tecnológico assombroso, de definições mais amplas, por que o estranho paradoxo dos desencontros? Por que dubiedades e incertezas se o logismo fundamenta as análises e o estabelecimento de teorias? O ser humano já vai à Lua, em empreendimentos orçados em milhões de dólares, e por incrível que pareça seus empreendedores ainda alimentam dúvidas quanto aos benefícios que a humanidade possa auferir. Se a automatização promove o conforto, por outro lado, ameaça o ser humano, substituindo-o, escravizando-o e desempregando-o.
Vivemos uma realidade de aparentes contrastes ou paradoxos. Nos países mais desenvolvidos do globo, onde o racionalismo e a automatização ditam normas, localizam-se os problemas mais complexos. Não é estranho?
Algumas das chamadas superpotências ou sociedades superorganizadas, a despeito de seu alto nível social e cultural, enfrentam males crônicos traduzidos em dissolução da família, suicídio em grande escala, enfartes, uso indiscriminado de drogas alucinógenas, erotismo etc., caracterizando uma agressão ou fuga aos deveres impostos pelo meio social. Acontece, porém, que quase todas estas sociedades «modernas» foram plasmadas no materialismo em suas variadas formas (competição, pragmatismo, utilitarismo, etc.), impondo o seu próprio ritmo à vida humana. Dispondo dos recursos oferecidos por uma sociedade organizada e abastada, vivendo dentro de um padrão de vida invejável, que elemento pode induzir um ser humano a pôr termo à própria existência, a ser derrubado por um enfarte ou a consumir-se pelo uso de entorpecentes? As nações desenvolvidas estão empregando verbas fabulosas em estudos e pesquisas visando encontrar a resposta.
A Filosofia Rosacruz proporciona-nos a resposta completa, subentendendo causa e solução. Em um versículo dos Evangelhos o Cristo também responde a essa indagação: “EU NÃO SOU DESTE MUNDO, COMO VÓS DESTE MUNDO NÃO SOIS”. O ser humano é em realidade e essência, um ser divino, um Espírito, célula indestrutível do grande corpo de Deus. Não é meramente uma forma mortal que pulsa, respira e anda. Manifesta-se no plano da matéria mais densa através de um corpo formado de elementos químicos. Este corpo, por sua vez, é vitalizado e sensibilizado por uma vestidura mais refinada, composta de Éter. Seus desejos, emoções, sentimentos e incentivo para ação, têm origem em um corpo mais sutil ainda, denominado Corpo de Desejos pela Filosofia Rosacruz. E para coordenar essa cadeia de veículos, o Espírito utiliza a Mente.
Sendo o Espírito potencialmente divino, sua imortalidade é um fato indiscutível, porém, encontra-se temporariamente sujeito a renascer várias vezes no plano material, onde se exercita e adquire experiências pelo uso de seus veículos, extraindo-lhes uma alma. Essa alma é o seu, alimento primordial, promovendo o desabrochar de suas faculdades latentes, tornando-o cada vez mais senhor de seus poderes, ampliando-se a consciência. À medida que for aprendendo as lições pertinentes a cada veículo e ao mundo correspondente, renascerá em mundos sucessivamente superiores. Logo, todas circunstâncias próprias do mundo físico são transitórias, porém indispensáveis à nossa evolução. Atualmente ele constitui nossa grande escola, mas temos de almejar escolas superiores. Muitos não lhe dão o devido valor, e outros o superestimam. Algumas religiões orientais apresentam o plano da matéria como sendo degradante, preconizando dedicação completa ao mundo do Espírito. É um lamentável desperdício de oportunidades de progresso e tal falha deverá ser corrigida futuramente. Em contraposição, muitos ocidentais apagaram-se de tal modo ao materialismo, a ponto de identificarem-se com ele. Não reconhecem outra realidade a não ser a das formas que os rodeiam. É outro equívoco a exigir reparação. É mister encontrar-se um ponto equilibrante. Se é verdade que NEM SÓ DE PÃO VIVE O SER HUMANO, não é menos verdade QUE DEVEMOS DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR. Isto trocado em miúdos quer dizer que devemos cultivar as faculdades do Espírito (através da oração, da devoção, do estudo de filosofias espiritualistas, do aprimoramento do caráter, do serviço amoroso e desinteressado aos demais, etc.) e paralelamente cuidar dos negócios deste mundo (cumprindo nossos deveres sociais, familiares, profissionais, procurando ser atuantes em nosso meio ambiente, estimulando o progresso em todos os sentidos). Assim, equilibradamente, contribuiremos para tornar o mundo melhor, material e espiritualmente, divulgando pelo exemplo, a necessidade de procurar um ideal superior, utilizando os impactos do mundo físico como meios de crescimento anímico. Quando houver conscientização desse fato, o mundo deixará de ser um turbilhão de conflitos e então, caminharemos a passos largos rumo à Fraternidade Universal.
(de Gilberto A.V. Silos – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 11/71)
Pergunta: Tivemos algumas discussões nas nossas aulas a respeito da Alma. As opiniões continuam um pouco confusas. Qual a relação entre a Alma e a Mente? Estão as forças de ambas permanentemente ligadas ao Espírito? Qual o Corpo que será usado nos estágios posteriores de desenvolvimento, o Corpo Mental – evoluído a partir do veículo Mente – ou o Corpo-Alma?
Resposta: Como explicação, reportemo-nos ao Diagrama 15 do “Conceito”. Lá encontramos um gráfico mostrando todo o esquema da involução e da evolução. Não é um gráfico muito complicado, e o estudante que desejar conhecer a fundo o mistério da existência, faria bem em memorizar completamente esse diagrama.
Lendo no lado esquerdo do diagrama acima citado, aprendemos que, durante um estágio de evolução inconsciente, o Espírito desenvolveu um Corpo tríplice e cristalizou-se dentro dele.
Esse Corpo era constituído pelo Corpo Denso, o Corpo Vital e o Corpo de Desejos. No Período Terrestre, foi dado o foco da Mente, que se tornou a base sobre a qual a involução transformou-se em evolução. Em seguida, começou um estágio tríplice de evolução consciente, durante o qual o crescimento de uma Alma tríplice é realizado espiritualizando os três Corpos em Alma. Verificamos que, durante o restante do Período Terrestre, extraímos a Alma Consciente do Corpo Denso; no Período de Júpiter, a Alma Intelectual será extraída do Corpo Vital; e no Período de Vulcano, tornar-nos-emos inteligências criadoras pela amalgamação da Alma tríplice com a Mente.
Para tornar isto mais claro vejamos o Capítulo XVI do “Conceito” onde há um subtítulo sobre alquimia e o crescimento da Alma. Lemos o seguinte: “O Corpo Denso começou a desenvolver-se no Período de Saturno, passou através de Várias transformações nos Período Solar e Lunar e alcançará seu maior grau de desenvolvimento no Período Terrestre”.
“O Corpo Vital teve início na segunda revolução do Período Solar, foi reconstruído nos Períodos Lunar e Terrestre e alcançará a perfeição no Período de Júpiter, que é o seu quarto estágio, assim como o Período Terrestre é o quarto estágio para o Corpo Denso”.
“O Corpo de Desejos teve início no Período Lunar, foi reconstruído no Período Terrestre, será novamente modificado no Período de Júpiter e alcançará a perfeição no Período de Vênus”.
“Examinando-se o Diagrama 8 do Conceito, vê-se que o globo mais inferior do Período de Júpiter está situado na Região Etérica. Seria, portanto, impossível empregar o veículo físico Denso ali, porque só o Corpo Vital pode ser usado na Região Etérica. Contudo, não se deve supor que, transcorrido tanto tempo para completar e aperfeiçoar o Corpo Denso, desde o começo do Período de Saturno até o final do Período Terrestre, esse veículo seja abandonado para que o ser humano possa funcionar em veículo “mais elevado'”.
“Nada é desperdiçado na Natureza. No Período de Júpiter as forças do Corpo Denso serão aplicadas ao Corpo Vital concluído. Este veículo possuirá, então, os poderes do Corpo Denso, além das próprias faculdades, e será, portanto, um instrumento muito mais útil para a expressão do Tríplice Espírito do que se construído unicamente às suas próprias forças”.
“De modo semelhante, o Globo D do Período de Vênus está situado no Mundo do Desejo (veja o Diagrama 8), onde nem o Corpo Vital nem o Denso podem ser usados como instrumentos de consciência. Portanto, as essências dos Corpos Denso e Vital aperfeiçoadas serão incorporadas ao Corpo de Desejos concluído, o que o converterá num veículo de qualidades transcendentais, maravilhosamente adaptado e sensibilíssimo ao menor desejo do espírito interno, tão superior às nossas presentes limitações que escapa à nossa mais elevada concepção”.
“Todavia, até a eficiência desse esplêndido veículo será superada no Período de Vulcano quando sua essência, mais as dos Corpos Denso e Vital, forem adicionadas ao Corpo mental. Então, este se converterá no mais elevado dos veículos humanos, contendo em si a quintessência do melhor que em todos eles havia. Se o veículo no Período de Vênus está tão além de nossa presente compreensão, quanto mais estará o veículo posto ao serviço dos divinos seres do Período de Vulcano!”.
“Durante a Involução, as Hierarquias Criadoras ajudaram o ser humano a despertar à atividade o Tríplice Espírito, o Ego, para construir o Tríplice Corpo e adquirir o elo da Mente. Agora, contudo, no sétimo dia (usando a linguagem da Bíblia), Deus descansa. O ser humano deve elaborar sua própria salvação. O Tríplice Espírito deve completar a obra do plano iniciado pelos Deuses”.
“O Espírito Humano, despertado durante a Involução no Período Lunar, será o mais proeminente dos três aspectos do espírito na evolução do Período de Júpiter, período correspondente ao Lunar no arco ascendente da espiral. O Espírito de Vida, cuja atividade começou no Período Solar, manifestará sua atividade principal no correspondente Período de Vênus, e as influências particulares do Espírito Divino serão as mais fortes no Período de Vulcano, já que foi vivificado no correspondente Período de Saturno”.
“Todos os três aspectos do espírito estão constantemente ativos durante a evolução, mas a atividade principal de cada aspecto será desenvolvida nesses Períodos particulares, porque a obra que ali executarão há de ser trabalho especial”.
“Quando o tríplice Espírito desenvolveu o tríplice Corpo e conseguiu controlá-lo através do foco da Mente, começou também a desenvolver a tríplice Alma trabalhando de dentro. A maior ou menor Alma que o ser humano tenha, depende da quantidade de trabalho efetuado pelo espírito em seus Corpos. Isto foi explicado no capítulo que descreve as experiências ‘post-mortem'”.
“A parte do Corpo de Desejos trabalhada pelo Ego fica transmutada em Alma Emocional e, por fim, é assimilada pelo Espírito Humano, cujo veículo especial é o Corpo de Desejos”.
“A parte do Corpo Vital trabalhada pelo Espírito de Vida converte-se em Alma Intelectual que edifica o Espírito de Vida, porque este aspecto do Tríplice Espírito tem sua contraparte no Corpo Vital”.
“A parte do Corpo Denso que tenha sido trabalhada pelo Espírito Divino chama-se Alma Consciente e, por fim, submerge-se no Espírito Divino, porque o Corpo Denso é a sua emanação material”.
“A Alma Consciente cresce pela ação, pelos impactos externos e pela experiência”.
“A Alma Emocional cresce pelos sentimentos e emoções geradas pelas ações e experiências”.
“A Alma Intelectual, como um mediador entre as outras duas, cresce pelo exercício da memória. Esta liga as experiências passadas às presentes e os sentimentos por elas engendrados, criando assim a “simpatia” e a “antipatia”, que não têm existência independente da memória, porque os sentimentos que resultassem somente das experiências seriam evanescentes”.
“Durante a Involução, o Espírito progrediu através do crescimento dos Corpos, mas a Evolução depende do crescimento da Alma, isto é, da transmutação dos Corpos em Alma. A Alma é, por assim dizer, a quintessência, o poder ou força do Corpo, de modo que quando um Corpo foi completamente construído e alcançou a perfeição através dos diversos estágios e Períodos na forma já descrita, a Alma é totalmente extraída dele e absorvida por um dos três aspectos do espírito que primeiramente gerou tal Corpo. Assim:
A Alma Consciente será absorvida pelo Espírito Divino na sétima revolução do Período de Júpiter.
A Alma Intelectual será absorvida pelo Espírito de Vida na sexta revolução do Período de Vênus.
A Alma Emocional será absorvida pelo Espírito Humano na quinta revolução do Período de Vulcano”.
E isso é tudo no que concerne à evolução da Alma.
Voltemo-nos agora para a Mente e os vários estágios que a levam à perfeição.
Lemos no Capítulo XVI – subtítulo: A Palavra Criadora do “Conceito”: Atualmente, contudo, a Mente não está enfocada de maneira a dar uma imagem certa e clara daquilo que o espírito imagina. Está mesmo desfocada, o que produz quadros confusos e imprecisos. Daí a necessidade da experimentação, que demonstra as impropriedades da primeira concepção e produz novas imaginações e ideias, até que a imagem produzida pelo espírito em substância mental seja reproduzida em substância física”.
“No melhor dos casos só podemos formar imagens mentais que tenham relação com a Forma, porque a Mente humana não teve início senão no Período Terrestre, pelo que está presentemente no estado ou forma mineral”. Por isso, em nossos labores estamos limitados às formas, aos minerais. Podemos imaginar maneiras e meios de trabalhar com as formas minerais dos três reinos inferiores, mas nada, ou muito pouco, podemos fazer com os Corpos viventes. Na verdade, podemos enxertar um ramo vivente numa árvore, ou uma parte viva de um animal ou ser humano em outras partes vivas, mas isto não é trabalhar com a vida, e sim com a forma somente. Modificamos as diferentes condições, mas a vida que antes habitava a forma ainda continua a fazê-lo. Criar vida está além do poder do ser humano, até que sua Mente se torne uma coisa viva”.
“No Período de Júpiter, a Mente será até certo ponto vivificada. Então, o ser humano poderá imaginar formas que viverão e crescerão como as plantas”.
“No Período de Vênus, quando sua Mente tiver adquirido ‘Sentimento’, poderá criar coisas viventes, com a capacidade de crescer e sensibilizar-se”.
“Quando alcançar a perfeição, ao final do Período de Vulcano, será capaz de imaginar e dar existência a seres que viverão, crescerão, terão sentimento e pensarão”.
“A onda de vida que atualmente forma a humanidade começou sua evolução no Período de Saturno. Os Senhores da Mente eram, então, humanos. Trabalhavam com o ser humano, que nesse Período era mineral. Agora nada têm a ver com os reinos inferiores, pois estão relacionados somente com o nosso desenvolvimento”.
“Os animais atuais começaram sua existência mineral no Período Solar, tempo em que os Arcanjos eram humanos. Por isso, os Arcanjos são os dirigentes e guias da evolução que agora é animal, nada tendo a ver com as plantas e os minerais”.
“Os atuais vegetais começaram sua existência mineral no Período Lunar. Os Anjos eram, então, humanos, pelo que no presente estão relacionados especialmente com a vida que habita os vegetais. Guiam-na até que atinja o estado humano, mas nada têm a ver com os minerais”.
“A humanidade atual terá a seu cargo a nova onda de vida que começou sua evolução no Período Terrestre, e que agora anima os minerais. Atualmente trabalhamos com eles por meio da faculdade da imaginação, dando-lhes formas, convertendo-os em barcos, pontes, estradas de ferro, casas, etc.”.
“No Período de Júpiter guiaremos a evolução do reino vegetal, por isso, o que atualmente é mineral terá então uma existência análoga à das plantas. Deveremos trabalhá-las assim como, no presente, os Anjos trabalham o nosso reino vegetal. Nossa faculdade imaginativa estará tão desenvolvida que, por seu intermédio, teremos a habilidade não só de criar formas, mas também de insuflar-lhes Vitalidade”.
“No Período de Vênus a atual onda de vida mineral terá alcançado um outro grau. Então faremos pelos animais desse Período o que fazem atualmente os Arcanjos com os nossos animais, dando-lhes formas viventes e sensíveis”.
“Por último, no Período de Vulcano, será nosso privilégio dar-lhes uma Mente germinal, como os Senhores da Mente fizeram conosco. Os minerais de hoje serão a humanidade do Período de Vulcano, e o ser humano terá passado através de estágios análogos aos que percorrem agora os Anjos e Arcanjos. Teremos alcançado, então, um ponto na evolução um pouco superior ao dos atuais Senhores da Mente. Recorde-se que em nenhuma parte se repete uma condição exatamente igual. Devido à espiral, sempre existe aperfeiçoamento progressivo na evolução”.
“O Espírito Divino absorverá o Espírito Humano ao fim do Período de Júpiter, e o Espírito de Vida ao finalizar-se o Período de Vênus. A Mente aperfeiçoada, incorporando tudo quanto foi adquirido durante sua peregrinação através dos sete Períodos, será absorvida pelo Espírito Divino ao fim do Período de Vulcano”.
Das explicações precedentes, torna-se claro que há uma evolução distinta da Alma e outra evolução igualmente distinta da Mente. Não obstante, elas não são inteiramente independentes uma da outra, mas trabalham em perfeita união, como por exemplo, o coração e os pulmões que trabalham juntos para manter o ritmo do Corpo. Portanto, não será nem o Corpo Mental nem o Corpo-Alma que usaremos nos estágios posteriores do nosso desenvolvimento, mas um veículo composto que conterá, de maneira crescente, a essência de todos os nossos Corpos, que formarão, então, um traje composto do Espírito, tão maravilhoso e glorioso que fica além de nossa mais fantástica concepção neste presente momento.
(Perg. 160 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
Semente de um Novo Ser Humano: nossas crianças atuais
É interessante observar que a semente de um novo ser humano está começando a nascer entre nós. Olhem as crianças! Como são diferentes se nós a comparamos com nós próprios quando éramos jovens. Elas têm uma nova mentalidade, uma nova resistência nervosa e novas qualidades espirituais. Não os levemos para trás com nossas ideias fixas e antiquadas. As crianças deste novo dia têm olhos mais brilhantes, um aspecto mais claro, a Mente mais perspicaz; elas não são absolutamente do tipo musculoso. São mais vivas e interpretam a vida sob um ponto de vista mais espiritual. Elas aplicam a inteligência nos seus trabalhos diários. Elas têm os mesmos problemas que nós tivemos, mas elas os veem sobre um plano mais elevado. Elas têm um entendimento intuitivo maior e mais profundo sobre a vida e nós devemos estar preocupados com o nosso próprio desenvolvimento se quisermos acompanhá-los. Devemos ainda dar-lhes instrução espiritual, conselhos e ensinar-lhes a pureza do coração.
Se entendermos que cada um de nós é uma parte componente da raça humana, nossa visão da vida mudará completamente. Trazer crianças para este mundo é uma boa maneira de fazer-nos sentir ligados à humanidade como um todo. Alguns nunca conceberiam crianças se dependesse meramente do instinto primitivo da multiplicação. Eles desejariam trazer uma criança para este mundo se por esse meio sentissem que estavam fazendo uma contribuição para a raça humana, como uma coisa mais perfeita é mais refinada do que antes. A pessoa altamente desenvolvida tem sempre o desejo de levar adiante alguma coisa nova e sentir a responsabilidade de fazer o melhor para ajudar o aprimoramento e a perfeição da raça humana.
Tudo o que fizermos sinceramente em serviços elevados – tanto no trabalho de um ideal como para um ser humano – se reflete sobre nós mesmos, não somente agora, como nas vidas que virão. Se pudermos educar nossas crianças, despertando-as para o sentido da responsabilidade tanto individual como racial, estaremos inspirando-as a viver saudável, bela e inteligentemente para benefício das futuras gerações. Devemos trabalhar continuamente através dessas.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 06/85 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Qual o Exercício que se segue após o Exercício Esotérico da Concentração?
Pergunta: Sabemos que o primeiro exercício a ser praticado tendo como finalidade a organização dos veículos internos é a Concentração. Qual o exercício que se segue após a Concentração?
Resposta: Praticando o exercício de Concentração o Aspirante à vida superior habituar-se-á a focalizar a Mente em um determinado objeto, construindo uma forma de pensamento vivente por meio de faculdade de imaginação. Aprenderá tudo a respeito do Objeto enfocado, por meio da Meditação.
Pergunta: Qual o objeto mais indicado para a prática da Meditação?
Resposta: Suponhamos que o Aspirante à vida superior tenha por intermédio da Concentração fixado sua Mente na figura de Cristo. Torna-se fácil a Meditação, relembrando os incidentes de Sua vida, Seus sofrimentos, Sua ressurreição etc., porém, a Meditação levará o Aspirante à vida superior a alcançar conhecimentos jamais imaginados, inundando sua alma, com inefável luz. Mesmo algo que não desperte muito interesse ou suscite quadros maravilhosos poderá ser objeto de Meditação. Pode-se escolher, por exemplo, uma mesa comum.
Pergunta: O que poderá alguém imaginar a respeito de uma mesa?
Resposta: Inicialmente devemos formar uma imagem clara de uma mesa. Depois pensemos na espécie de madeira de que é feita e de onde veio. Volvamos até ao tempo em que, como pequena e delicada semente, caiu na terra do bosque, desenvolvendo depois a árvore de cuja madeira a mesa foi construída. Observe-se a arvorezinha, ano após ano, coberta pelas neves do inverno ou acalentada pelo Sol estival, crescendo continuamente, enquanto as raízes constantemente penetram na terra. No princípio era um tenro broto. Depois tornou-se um arbusto, crescendo gradativamente, dirigindo sua copa ao ar e aos raios do Sol. Com o passar dos anos a fronde e o tronco tornam-se cada vez maiores. Por fim chega o lenhador e a derruba com seu machado.
Pergunta: Quais os detalhes a serem evidenciados e desenvolvidos?
Resposta: A nossa árvore encontra-se tombada e despojada de sua ramagem. Tendo sido descarregada de um caminho, foi arrastada até a margem do rio, a fim de aguardar a primavera e o consequente degelo das correntes fluviais. Então nossa árvore, juntamente com outras que se encontram à margem do rio, será transformada em uma grande balsa e a correnteza levá-la-á ao seu destino.
Pergunta: Como reconheceremos a nossa árvore?
Resposta: Conhecedores de todas as suas pequenas particularidades, reconhecê-la-emos imediatamente entre milhares de outras. Temos a observado tão clara e minuciosamente, seguimos o curso da balsa pela corrente, observamos as paisagens e familiarizamo-nos com os homens que cuidam da balsa ou jangada e dormem dentro de pequenas cabanas construída sobre a carga flutuante.
Finalmente chegamos à serraria. Uma a uma as toras são retiradas da água, e encaminhadas à grandes serras circulares.
Pergunta: Devemos apenas observar em tais circunstâncias ou também “ouvir”?
Resposta: Sim, devemos “ouvir” também o chiar da serra sobre a madeira. A imagem deve ser vivente em todos os seus detalhes.
Pergunta: Os detalhes alusivos à fabricação devem ser considerados?
Resposta: Exatamente. Observemos os dentes penetrando na madeira, dividindo-a em tábuas e pranchas. As melhores são enviadas a uma fábrica de móveis onde são cortadas e aplainadas. Pedaços de diversos tamanhos são colados para formar os tabuleiros das mesas, sendo as pernas feitas com os restos mais finos. Todo o móvel é lixado, envernizado e polido. Assim acabada em todos os seus pormenores, a mesa é enviada à loja para ser vendida.
Dessa maneira, por meio da Meditação familiarizamo-nos com os vários ramos da indústria que convertem uma árvore do bosque em uma peça de mobiliário.
Observamos todas as máquinas, os homens e as peculiaridades dos diferentes lugares visitados. Vimos também o processo da vida que fez surgir a árvore da delicada semente, e aprendemos que atrás de toda aparência, por simples que seja, há sempre uma história do mais alto interesse.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/68 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Memória – A memória é tríplice:
A memória consciente, voluntária, ou Mente consciente. É a nossa memória comum e acessível a todos. Imperfeita e fugitiva, ela se forma a partir das percepções dos nossos cinco sentidos.
A memória subconsciente, involuntária, ou Mente subconsciente. Ela é impressa sobre o nosso Corpo Vital. O Éter contido no ar que nós respiramos registra a cada instante de tudo que nos acontece e tudo que nós desejamos, sentimos e pensamos. Essas imagens passam pelo sangue, por intermédio dos pulmões e são impressas no Éter Refletor do Corpo Vital. Todas as nossas ações, nossos desejos, emoções, sentimentos e pensamentos são, assim, fielmente conservados. Após a morte, eles determinarão nossas condições de existência no Purgatório e no Primeiro Céu.
A memória superconsciente ou Mente superconsciente. A memória consciente e a subconsciente se referem unicamente à vida presente. Já a memória superconsciente é inscrita no Espírito de Vida e contém todos os conhecimentos e todas as faculdades adquiridas durante as nossas vidas passadas. Estes podem permanecer latentes no presente renascimento.
O trabalho apresentado a seguir é um registro espiritual das funções do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal, bem como as suas relações com a Astrologia Rosacruz, demonstradas com exemplos de Configurações e posicionamento dos Astros.
As pesquisas levadas a efeito por Augusta Foss Heindel são uma contribuição decisiva à matéria endocrinológica e deveria ser reservada para uso de todos os Estudantes de medicina e das ciência ocultas.
1. Para fazer download ou imprimir:
A Astrologia e as Glândulas Endócrinas – Augusta Foss Heindel – Fraternidade Rosacruz
2. Para estudar no próprio site:
Por
Augusta Foss Heindel
Fraternidade Rosacruz
Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
10ª Edição em Inglês, 1973, Astrology and the Ductless Glands, editada por The Rosicrucian Fellowship
1ª Edição em Português, 1973, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP
www.fraternidaderosacruz.com
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
ÍNDICE
CAPÍTULO II – DO JARDIM DO ÉDEN.. 16
CAPÍTULO III – DUAS GLÂNDULAS ENDÓCRINAS. 19
CAPÍTULO IV – O GÁS ESPINHAL.. 23
A Astrologia era uma das sete ciências sagradas cultivadas pelos Iniciados do Mundo antigo. Era estudada e praticada por todas as grandes nações da antiguidade. As origens da pesquisa astrológica são inteiramente obscurecidas pela noite do tempo que precedeu a alvorada da história. Segundo as tradições, a ciência astrológica foi aperfeiçoada pelos filósofos magos da Época Atlante. Uma coisa é evidente: A Astrologia provém daqueles remotos dias, adornada com as descobertas e os embelezamentos de milhares de culturas. A história da Astrologia é na verdade a história do pensamento e das aspirações humanas. As leituras dos Astros, como apresentadas nos tabletes cuneiformes[1] de Sargon[2], são ainda usadas pelos astrólogos desta geração. Somente modificações tem sido feitas, na medida em que os fundamentos culturais se impõem.
Duas escolas distintas de Astrologia têm sido reconhecidas desde o começo do período histórico. Com o declínio dos últimos atlantes e o surgimento do primitivo sacerdócio ariano e a profanação dos mistérios que agora são chamados de ciências, as quais foram separadas de suas antepassadas tradições religiosas, a Astrologia e a medicina foram as primeiras a proclamarem-se instituições independentes. Os sacerdotes do Estado Religioso não mais exerceram o monopólio sobre as artes proféticas e médicas. Começando com Hipócrates[3], novas categorias de adivinhos e curadores surgiram inteiramente ignorantes da fundamental unidade entre as ciências físicas e espiritual.
A divisão do aprendizado da essência do conhecimento em fragmentos competitivos (ou, pelo menos, não cooperativos), acabou por destruir a síntese. Frustrada pela divisão e discórdia, a total estrutura da educação rompeu-se em inumeráveis partes discordantes. A ciência médica dividida, de sua fonte espiritual deteriorou-se na Idade Média em Charlatanismo. A situação era tão penalizante, que levou o nobre médico Paracelso[4] a dizer: “Feliz do homem que não venha a perecer pela mão de seu médico”. A Astrologia vinha sendo igualmente corrompida pela comercialização de horóscopos. Separada de seu divino propósito ficou sujeita à ação de um trabalho indiferente e insubstancial de emitir predições terríveis ou compondo emplastros planetários para coceiras.
Entretanto, um pequeno grupo de homens e mulheres cultos e iluminados, preservou os segredos dos esotéricos da medicina e da Astrologia, em meio àqueles séculos de superstições e ambiguidades, que ora chamamos de Idade Média. Os Rosacruzes se incluíam entre esses grupos de seres humanos de elevada estatura mental. Eles honraram Paracelso como um chefe, um seu mentor. Graças a ele e à Rosacruz os segredos espirituais da natureza foram restaurados, vindo a ocupar o lugar primordial do conhecimento. O conhecimento foi interpretado misticamente. As ciências profanas refletiram meramente como formas exteriores dos mistérios internos. Mas os segredos da interpretação mística eram ocultados do vulgo e dados somente àqueles que anelavam por coisas do Espírito. A “Divindade Mística” de Dionísio – o Aeropagita[5] – tornou-se o livro-texto de um sempre crescente número de homens e mulheres devotos e amantes de Deus, que viam em todas as formas e instituições externas, as sombras e as semelhanças da verdade interior.
O Mundo moderno, que tanto se sacrificou pelo direito de pensar, em seu próprio conceito cresceu em sabedoria. Educadores ignoravam aqueles valores espirituais que constituem os ingredientes inestimáveis da composição química que chamamos civilização. A ciência material tornou-se uma instituição orgulhosa, um agrupamento de pedagogos e demagogos. Não deixaram lugar para o misticismo, nos cânones de seus super-escolásticos. Hipnotizados pela estranha fascinação que a matéria exercia sobre os materialistas, os sábios modernos ignoram a alma, aquela realidade invisível na qual se apoiam as ilusões de todo o Mundo.
Foi Lord Bacon[6] quem disse: “Um pouco de conhecimento inclina as Mentes dos homens para o ateísmo, porém a grandeza de conhecimentos devolve-os a Deus”. Essa maravilhosa frase expressa a cadência da idade moderna: Um Mundo desiludido, abatido pela insignificância das coisas materiais, que está clamando por aquelas verdades místicas que, por si só, explicam e satisfazem. A volta ao misticismo traz consigo um interesse renovado pela Astrologia e Cura.
O misticismo traz um novo padrão interpretativo. Mas, para corresponder à exata exigência de interpretação mística, todos os ramos de aprendizado devem ser purificados e restabelecidos. Para o místico, a Astrologia não é, meramente, predição ou fonte de conselhos, é a chave para atingir filosoficamente as verdades espirituais para ser estudada pelo que ela é em si.
Embora a ciência tenha classificado, catalogado e denominado todas as partes e funções do corpo, não pode descrever nem explicar o que o ser humano realmente é, de onde veio, porque está aqui, ou para onde irá. Em face da ignorância concernente a estes assuntos vitais, é difícil apreciar um conhecimento elaborado em matérias secundárias.
Os Iniciados da antiguidade estavam primeiramente interessados com o aspecto universal ou cósmico do ser humano, mesmo porque para alguém viver bem, deve orientar-se, deve conhecer, pelo menos em parte, o plano de viver. Com este conhecimento pode, então, cooperar com “o plano”. A vida filosófica recomendada por Pitágoras[7] consistia meramente em conhecer a verdade e vivê-la.
Os cientistas procuraram as causas daquelas energias que motivam e sustentam o Mundo; decidiram, por meio de um processo de eliminação, que essas causas devem estar numa estrutura subjetiva do universo, a esfera invisível de vibrações. Assim, a moderna tendência para atribuir à vibração, tudo aquilo que não pode ser explicado de outro modo. No momento em que reconhecemos estar o universo mantido por uma energia invisível que se manifesta através da lei de vibração, a física passa a tornar-se suprafísica; a fisiologia se torna psicologia; e a astronomia se torna Astrologia. A Astrologia nada mais é que o estudo dos corpos celestes, em termos de energias que deles irradiam e não apenas uma mera apreciação de suas aparências e estruturas.
Os primitivos Rosacruzes se apegavam à teoria geralmente rejeitada pelos homens de ciência e agora conhecida como teoria microcósmica. Paracelso foi o mais destacado expoente deste conceito de ordem e relação universal. Ele disse: “Assim como existem estrelas nos céus, assim também há estrelas dentro do ser humano. Portanto, nada existe no universo que não tenha seu equivalente no microcosmo (o corpo humano)”. Em outra ocasião ele disse: “O Espírito do homem deriva das constelações (estrelas fixas); sua alma, dos planetas; e seu corpo, dos elementos”.
É completamente impossível, mesmo para o mais altamente treinado cientista, examinar e apreciar devidamente os valores da infinita difusão do cosmos, com suas ilhas, galáxias e incompreensíveis aspectos do espaço incomensurável, embora a total aparência dos Mundos é evidentemente dominada por leis todo-suficientes. O ser humano mesmo é menos difuso, ainda que, de outra maneira, não menos difícil de analisar. As células do corpo humano são incontáveis como as estrelas do céu. Inumeráveis categorias de coisas vivas, espécies, tipos gêneros, estão se desenvolvendo na carne, músculos, ossos e tendões da constituição corpórea humana. A dignidade do microcosmos dá ao cientista alguma ideia da sublimidade do macrocosmo. Pelo uso da Astrologia é possível descobrir a inter-relação das forças celestiais entre o macrocosmo e o microcosmo. Os centros do corpo físico, por onde penetram as energias siderais foram descobertos e classificados pelos antigos gregos, egípcios, hindus e chineses. Existe uma grande oportunidade no trabalho de examinar não somente o corpo físico, como também as auras que se estendem do corpo, formando um esplêndido traje de luz cósmica.
Os últimos anos testemunham um excepcional progresso no ramo da ciência médica chamada endocrinologia, ou seja, o estudo da estrutura e funções das Glândulas de secreção interna, com a pesquisa de métodos terapêuticos para tratamento de suas anomalias. Estas Glândulas são agora aceitas como reguladoras de função física; governadoras e diretoras da estrutura corporal, profundamente significante, não somente em suas reações físicas, mas também sobre a mentalidade, emoções, reflexos sensoriais, e ainda sobre a chamada função espiritual ou metafísica. Quase todos endocrinologistas admitem que a Glândula Pineal[8] é a mais difícil de ser tratada e de ser entendida. Ela pode ser geralmente atingida, agora, somente através do tratamento de outras Glândulas sobre as quais ela atua com capacidade de um “generalíssimo”. As funções físicas das Glândulas já estão razoavelmente bem classificadas. Todavia, as presentes opiniões ainda serão revistas e ampliadas. Os médicos estão propensos a admitir que as funções das Glândulas não terminam meramente com seus efeitos sobre o corpo. Doutra parte, os cientistas ainda não estão preparados para fazer qualquer pronunciamento, além do campo da reação materia1[9].
No entanto, é assaz significativo afirmar que, através da combinação da clarividência e da Astrologia é possível examinar as Glândulas endócrinas e descobrir os elementos metafísicos de seus funcionamentos. O moderno Clarividente usa para seu trabalho o mesmo método que usavam os sacerdotes Iniciados do Mundo antigo, e como os velhos adeptos ele dá sua contribuição para a soma de conhecimentos que somente agora estão sendo considerados pelo cientista-materialista, depois de séculos de experiências.
O trabalho apresentado a seguir é um registro espiritual das funções do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal. Sinto que as pesquisas levadas a efeito pela Sra. Max Heindel são uma contribuição decisiva à matéria endocrinológica e deveria ser reservada para uso de todos os estudantes de medicina e ciência ocultas.
Manly P. Hall
“Então Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus e criou-o varão e fêmea.” (Gn 1:27)
No estudo da origem do ser humano e seu estado pré-histórico, tropeçamos constantemente em mistérios inexplicáveis, especialmente quando lemos com pontos de vistas materialistas o Antigo Testamento, que é a maravilhosa história do ser humano. Desse modo nos vemos obrigados a escalar, pelas mais formidáveis rochas da dúvida. Mas quando lemos as entrelinhas ou vemos o passado com a Mente aberta, então o Livro do Gênesis se torna uma mina cheia de gemas das mais raras espécies.
No Livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” aprendemos que o Mundo está dividido em sete diferentes estados de consciência. Começando com o mais denso, temos a matéria física com a qual está formado o corpo físico do ser humano. Embora não seja visível aos sentidos físicos. Sabemos e temos provas positivas de que existe alguma coisa mais, dentro e ao redor de nós, de natureza sutil, mais delicada do que nosso corpo físico, porque o interpenetra. É certo que não podemos vê-la, nem sentí-la. Todavia a eletricidade é uma força que o ser humano sente, mas não vê, sabemos que a atmosfera existe, mas não podemos vê-la. Do mesmo modo podemos sentir e saber, que esta sutil vida rarefeita existe. Vemos a tempestade e sentimos a força dela; vemos as gotas de chuva descendo sobre a Terra e, pela ciência, aprendemos que essa chuva é atraída para cima, por evaporação, causando a umidade nas nuvens. Sabemos que o vento sopra e sentimos a refrescante influência dele. A ciência tem uma explicação para todas essas mudanças e explica tais fenômenos atmosféricos, de acordo com suas investigações materialistas.
O ocultista explica estes fenômenos, segundo um ponto de vista superior ou espiritual, dizendo aos cientistas que as grandes regiões invisíveis de onde os ventos provêm, são povoadas por inteligências superiores e que os elementos são controlados por grandes Espíritos. Que eles tem seres que executam suas ordens, por exemplo: o Espírito da água tem seus trabalhadores, as Ondinas. O Espírito controlador do vento trabalha através dos Silfos[10]. E assim temos os elementos que o ser humano deve reconhecer, como existentes, todos com seus invisíveis lideres e seus trabalhadores que existem no grande Universo de Deus, tal como o pobre materialista, que nega tudo o que não pode ver, com os olhos físicos, e, quando se pede uma explicação desses grandes mistérios, nada poderá dizer.
Como dissemos, O “Conceito Rosacruz do Cosmos” reconhece sete diferentes Mundos. Como podem ser chamados? Não importa, porque nós podemos somente reconhecer como matéria aquilo que o ser humano comum pode ver com sua vista física. Contudo, existem seis estados superiores de consciência. Os quais, designemos pelos nomes que foram dados a Max Heindel pelos grandes seres, que viram nele a pessoa adequada para confiarem esse conhecimento:
São apenas nomes. Não explicam as condições destes diferentes estados. Para ajudar, tomemos a ilustração da chaleira com água. Sabemos que o ar filtra-se através dessa água. Se colocarmos a chaleira com água em cima de um bloco de gelo, a água irá se esfriando até congelar-se. Tomemos depois a chaleira e coloquemo-la num fogão a esquentar. Em pouco tempo o gelo se liquefaz e a água se evapora na atmosfera, perdendo-se de nossa vista. Para onde foi? Algum lugar onde os olhos incrédulos do materialista não podem seguir, mas que o ocultista pode acompanhar. Ele sabe que nada se perde no Universo de Deus.
O ser humano, que é o mais perfeito trabalho de Deus, é composto de cada elemento existente nos citados sete Mundos. Tal como o vemos hoje, com sua Mente e Corpos maravilhosamente desenvolvidos e complexos, foi feito de barro e num só dia, como induzem más interpretações do primeiro capítulo do Livro do Gênesis. O estado atual do ser humano é produto de desenvolvimento gradual através de idades sem conta. Podemos seguir o ser humano quando ele entra na arena da vida como um Espírito Virginal, um pensamento, uma faísca do Pai Divino, largado no espaço com tal força que somente Deus pode usar. Este pensamento-forma tem seu nascimento no Mundo dos Espíritos Virginais, de onde as flamas divinas começam sua longa peregrinação através da matéria, colhendo material cada vez mais denso de cada Mundo e abrindo seu caminho através de etapas do mineral, vegetal, animal, até chegar, finalmente, ao estágio humano. Dentro desta faísca divina desenvolvem-se todas as potencialidades do Pai Divino. Assim como o pensamento de um edifício é gerado por um ser humano e gradualmente vai tomando forma em sua Mente. É assim, como põe seus planos no papel e imediatamente providencia os materiais necessários a sua edificação. Do mesmo modo se manifestou o pensamento de Deus, a faísca que se deveria tornar ser humano, também se tornou manifesta e nós a vemos hoje se expressando em um corpo a respeito do qual Davi, louvando a Deus no Salmo 139, disse: “Eu Te louvarei, pois sou assombrosa e maravilhosamente feito”. Paracelso disse: “O próprio corpo físico é o maior de todos os mistérios, porque nele estão contidas, em estado condensado, solidificado e corpóreo, as verdadeiras essências com as quais é feita a substância do ser humano espiritual, este é o segredo da Pedra Filosofal”.
Existem mistérios dentro desse templo humano que o ser humano é incapaz de solucioná-los, e por cuja solução, têm se sacrificado muitas vidas, tanto do reino humano como do animal. Os vivisseccionistas têm arriscado suas próprias almas no empenho de resolver esses mistérios. Os animais têm sido submetidos aos mais cruciantes sofrimentos pela ciência no seu esforço para arrancar estes segredos de Deus. Porém a ciência material não pode ir mais além porque se encontra frente a uma muralha, que não pode ser franqueada pelos seus instrumentos e suas mentalidades científicas, que nada podem fazer. Há apenas um instrumento que a ciência não pode ou não admite reconhecer, e é o único, que poderia penetrar ou romper essa muralha: é o Espírito humano. O Clarividente Voluntário treinado, sozinho, tem acesso as mais elevadas Regiões, as quais infortunadamente o materialista por não ter prova material, não admite a sua existência. Contudo, devemos dar-lhe crédito por ter conseguido maravilhas nos seus esforços para compreender as enfermidades humanas. A medicina tem conseguido coisas maravilhosas.
Existem duas forças na natureza que o ser humano admite como existentes em cada átomo. A força positiva, masculina, e a força negativa, feminina. Encontramo-las, igualmente, nos metais que usamos para gerar a eletricidade: no cobre, no zinco, etc.; também nas plantas encontramos os mesmos elementos. O próprio átomo mais diminuto do corpo humano está carregado com estas duas forças. Estas mesmas energias, atuam através de seu corpo, e sem elas não poderiam manter-se juntas, as partículas que o formam. O homem com um Corpo Denso masculino, embora possa expressar fisicamente positivo, ainda que seu Corpo Vital seja negativo, ajuda-o a manter coesas as partículas físicas positivas. Igualmente a mulher expressando-se num Corpo Denso feminino negativo é equilibrada pelo Corpo Vital positivo.
As várias formas de desenvolvimento do corpo do ser humano durante a vida pré-natal são recapitulações de seus desenvolvimentos durante o chamado período involutivo. Na Época Polar, seu corpo era globular, semelhante ao óvulo e também formado de substância gelatinosa. Ao principio não havia mais que um órgão, que se projetava da parte superior dessa forma globular, ou em forma de bolsa. Este órgão era os olhos e ouvidos, pois era na verdade o núcleo por meio do qual o resto do corpo foi construído e o meio pelo qual recebeu a vida do Pai. Este órgão é hoje chamado epífise neural, ou Glândula Pineal. As energias do ser humano, naquele tempo, como as do feto hoje, eram dirigidas para dentro, para construção dos futuros órgãos. E tal como a vida pré-natal do Corpo Denso de hoje é dirigida e ajudada pela mãe, assim também o ser humano era assistido no período involutivo pelas Hierarquias Divinas. Ele estava em direto contato com os reinos superiores e não tinha ainda consciência de seu ambiente físico. Nesse meio tempo, os olhos, os ouvidos, e os vários órgãos foram tomando forma dentro desse corpo ovoide, ao passo que a Glândula Pineal que, ainda é um mistério para a ciência médica, era seu único meio de comunicação com o Mundo exterior. Esse órgão era muito maior que atualmente, e de sua extremidade cônica projetava-se um longo transparente e flexível tentáculo, que o auxiliava na locomoção e na sensação. Este apêndice ainda pode ser observado na pequena extremidade da Glândula Pineal. Tem atualmente a aparência de um pequeno pedaço de pele e suas funções serão relatadas em outro capítulo.
A Evolução do ser humano, nesse Período Terrestre, até o presente momento é dividida, segundo os Ensinamentos Rosacruzes, em cinco Épocas. Descrevemos o seu desenvolvimento corporal durante a Época Polar. Agora faremos um estudo dele durante a Época seguinte, ou seja, a Época Hiperbórea. Anteriormente, o ser humano era idéntico ao mineral; posteriormente ele desenvolveu o Corpo Vital e era parecido ao vegetal[11]. Na terceira Época, a Época Lemúrica, desenvolveu o Corpo de Desejos, tornando-se parecido ao animal[12]. A Terra já havia formado algumas incrustações e havia endurecído em certos lugares, ao passo que a atmosfera era idêntica a uma densa neblina. O ser humano vivia, então, na mais densa das vegetações para se proteger do excessivo calor, enquanto seu Corpo havia adquirido uma forma gigantesca – grandes braços e mãos, maciças mandíbulas, sem testa, o topo da cabeça era muito próximo de onde hoje temos as sobrancelhas. O esqueleto estava parcialmente formado e sua estrutura era de uma cartilagem branda. O ser humano não estava ainda apto a andar ereto. O sangue, que até então fora frio, passou a receber o ferro e a desenvolver corpúsculos vermelhos, que, por sua vez, endureceram a estrutura corporal, tornando possível ao ser humano caminhar verticalmente.
Chegamos agora à Época de desenvolvimento humano relatado no segundo capítulo do Gênesis, quando o Senhor deu a Adão uma companheira, procedendo-se a separação dos sexos. Até, então, o ser humano era hermafrodita, porém, agora, chegamos ao tempo mencionado na história bíblica de Adão e Eva, quando eles foram expulsos do Jardim do Éden, em virtude de seus pecados. A mudança dos sexos não foi conseguida em um dia, como se poderia concluir pela leitura do Livro do Gênesis. Realizou-se lenta e gradativamente. Como a Terra se tornou mais cristalizada, a evolução do ser humano seguiu paralelamente a tal mudança, e daí se tornou necessário que o Ego penetrasse dentro do Corpo, a fim de exercer seu domínio sobre ele. Para isso foi necessário conseguir que um cérebro e uma laringe fossem adicionadas, e, para tal, ao ser humano foi necessário sacrificar metade de sua força criadora. Daí, então, o ser humano atingiu ao ponto de ser uma entidade individualizada e pensante, um criador, e tornou-se apto a iniciar seu trabalho com os minerais.
O ser humano, nesse tempo, era inconsciente da mudança dos sexos e também inconsciente de seu ambiente exterior, porque seus olhos ainda não tinham sido abertos. Similarmente aos peixes de águas profundas ou às topeiras não tinhamos necessidade desses órgãos, porque a atmosfera era demasiado densa e enevoada. Contudo, depois que a Terra foi lançada do Sol Central, a luz que vinha do interior do ser humano passou a vir de fora. E como a natureza sempre supre cada necessidade, dai, então, os olhos do ser humano começaram, lentamente, a se desenvolver. Identicamente o cérebro foi se desenvolvendo por etapas; da mesma maneira outros órgãos relacionados com o cérebro foram se formando de acordo com as exigências do desenvolvimento humano.
Conforme se separaram os sexos e o ser humano expressou exteriormente apenas um dos sexos; a Glândula Pineal, que nas Épocas Polar, Hiperbórea e na primeira parte da Época Lemúrica sobressaia do topo da cabeça, nessa ocasião, recolheu-se ao interior do crânio.
Há, ainda, pequeno órgão dentro do cerebro do ser humano, o Corpo Pituitário, que tem muito a haver com seu desenvolvimento físico e mental, e que é tão importante quanto à epífise cerebral, a Glândula Pineal. O Corpo Pituitário ou hipófise é muito necessário para a vida humana e seu desenvolvimento. Ele desabrocha no feto, na quarta semana.
Na vida é possível seguir o desenvolvimento do corpo humano, em todas as suas fases, desde o início até ao maravilhoso mecanismo atual; primeiramente vemos como uma diminuta partícula de matéria gelatinosa é atraída por outra partícula de vibração oposta, formando os polos positivo e negativo. Seguindo o embrião através de seu desenvolvimento ele adquire a forma semelhante a uma bolsa; a primeira tentativa de dar forma e é idêntica à que foi descrita no capítulo precedente, a forma globular e gelatinosa da Época Polar. Este pequeno saco embrionário possui dentro de si todas as potencialidades do presente Corpo aperfeiçoado, com as duas polaridades: positiva, masculina e negativa, feminina; a Glândula Pineal e o Corpo Pituitário. Seguimos o embrião humano através de seu crescimento e de suas transformações, as quais, tal como no caso do ser humano pré-histórico, passam através dos estágios equivalentes ao mineral, vegetal, adquire o estágio de réptil, com sua característica cauda, a qual desaparece na nona semana. Seguindo em seu estágio animal, com sua face semelhante à do cão, na qual há como que uma pequena mancha, que se tornará mais tarde os olhos, os ouvidos, etc. Em certo estágio de seu desenvolvimento, a Glândula Pineal projeta-se através da forma idêntica à de uma bolsa, e essa pequena forma passa pelo hermafroditismo, tal como na Época Hiperbórea, quando não havia diferenciação de sexo exteriormente. Assim podemos seguir a evolução do corpo humano pelas transformações operadas no crescimento pré-natal da criança na matriz materna.
A Glândula Pineal e o Corpo Pituitário são dois órgãos que não tiveram de sofrer mudanças extensivas até o presente estágio. Estes órgãos estavam presentes no Corpo saciforme durante a Época Polar, semelhantemente ao botão em sua forma ovoide, que contém em si o estame e o pistilo; a Glândula Pineal e o Corpo Pituitário, respectivamente, são os núcleos das forças positiva e negativa, por meio das quais o nosso crescimento físico tem se processado.
Estes pequenos órgãos eram maiores no ser humano primitivo do que no presente. Através deles as Hierarquias Criadoras, designadas na Filosofia Rosacruz por Senhores da Forma, puderam ajudar o Ego a construir seu Corpo e levá-lo até o estado atual de perfeição.
O Corpo Pituitário[13] recebeu esse nome porque a ciência médica cria que a pituita ou o muco nasal provinha deste Corpo. Atualmente esta ideia foi abandonada e, conquanto que a medicina afirmasse que as funções reais do Corpo Pituitário fossem principalmente especulações, nos últimos anos, entretanto, adquiriu-se muito conhecimento, não havendo mais especulações sobre o assunto. Esta Glândula é encontrada numa depressão em forma de sela do osso esfenoide, entre os olhos, e diretamente atrás da raiz do nariz, onde se juntam os dois nervos óticos. É impossível indicar o seu tamanho, porque muda com a idade, com o temperamento e a moral de cada pessoa. Gray[14] descreve o Corpo Pituitário como sendo um ponto de união na vida do primitivo embrião do hipoblasto, que é a camada mais interna; do epiblasto que é a camada mais externa, que mais tarde acaba por converter-se no sistema nervoso e na pele e do mesoblasto que é a camada intermediária. Dentro destas três camadas estão contidos todos os órgãos germinais do Corpo em formação. Consequentemente, o Corpo Pituitário é a estação central através da qual todo o crescimento é dirigido, mas a Glândula Pineal é o poder real e verdadeiro que está atrás de tudo isso, a respeito de cuja formação nos ocuparemos mais tarde.
A Glândula Pituitária é um pequeno corpo ovoide, composto de dois lóbulos; o anterior ou glandular, e o posterior ou nervoso, tendo cada um deles funções distintas e variando igualmente em cor. O lóbulo anterior é composto de uma substância cinzento-amarelado-rósea, enquanto que o posterior é mais escuro.
A ciência médica tem realizado algumas investigações valiosas nos últimos tempos, e entre outras coisas sustenta que o Corpo Pituitário é menor no homem do que na mulher, e que seu tamanho aumenta rapidamente entre o nascimento e a puberdade; sustenta, também, que o lóbulo posterior age sobre a circulação e sobre os fluidos do Corpo, regulando a assimilação dos hidratos de carbono e outros alimentos, secreções renais, temperatura do Corpo, etc.
Um de nossos Estudantes, que é médico, nos escreveu em certa ocasião, que jamais sairia de sua casa para atender um caso de obstetrícia, sem levar em sua maleta extrato pituitário, o que, se empregado devidamente, reduz as dores do parto e apressa-o de uma a até quatro horas. Entretanto, esse extrato em mãos inexperientes, é como uma espada de dois gumes.
A Glândula Pituitária está relacionada diretamente e governa a forma externa do cérebro e da coluna espinhal, a dura máter; essa coluna encerra o grande princípio materno protetor, recobre o cérebro e a medula espinhal, protegendo-os contra impactos exteriores; também alimenta os vasos sanguíneos e nervos.
A Glândula Pineal[15] é um pequeno Corpo em forma de cone, que varia de tamanho, conforme o estado mental e espiritual da pessoa; chama-se assim por sua semelhança com a “pinha”, a cuja forma se assemelha. É maior na criança do que no adulto, e maior nas mulheres que nos homens. A ciência conhece pouco de suas funções, sendo que é dito que ela governa diretamente os órgãos geradores e o cérebro. Os extratos da Glândula Pineal quando injetados na circulação produzem ligeira dilatação dos vasos sanguíneos. É grande no momento de nascer e encontra-se totalmente desenvolvida na puberdade. Sua evolução estrutural começa na idade dos sete anos. Dana e Berkeley[16] em suas investigações constataram que esse órgão é menor e destituído de substância nas crianças mentalmente retardadas. A ciência oficial também pode verificar que existe uma relação entre esta Glândula e as funções da Glândula intersticial e do cérebro, mas estas conclusões são meramente especulativas.
A Glândula Pineal é mantida em seu lugar mercê a “pia mater”, uma membrana delgadíssima que envolve ou cobre todo o cérebro e a medula espinhal, da qual todo o sistema nervoso central se alimenta, e da qual partem inúmeras raízes de pequenos nervos que se exteriorizam por entre as vértebras da coluna dorsal. A “dura mater” é o invólucro exterior, enquanto que a “pia mater” é o invólucro interior. A Glândula Pineal tem uma certa aparência com um pequeno órgão masculino e repousa sobre o que a ciência denomina quadrigêmeo, que são quatro saliências arredondadas, colocadas em dois pares. Os dois inferiores denominamos traseiros, e os dois superiores, dianteiros. A pequena Glândula Pineal repousa no centro deles.
O Corpo Pituitário está conectado com a “dura mater”, o principio maternal, pelo lado anterior do terceiro ventrículo. A Glândula Pineal, que é o órgão masculino ou positivo, está ligada com a “pia mater” e se localiza no terminal posterior do terceiro ventrículo, consequentemente, esta diminuta cavidade ou ventrículo é da maior importância, como veremos mais tarde.
De acordo com as doutrinas Rosacruzes, o sangue é um gás e não um líquido, como a ciência oficial afirma. Quando uma pessoa que tenha a visão espiritual desenvolvida observa a coluna espinhal, o gás que existe nela tem a aparência de uma corrente luminosa muito fina, cuja cor varia conforme o temperamento e a moral da pessoa. Entre as pessoas sensuais, esse fogo espinhal é um vermelho-tijolo sombrio, matizado com um tênue colorido azulado.
Conforme as suas aspirações vão se elevando e desperta-se o seu amor pelos demais, essa cor vai se fazendo mais e mais clara e a luminosidade azul começa a ascender-se com ligeiras tonalidades róseas. Quando se observa o gás espinhal de um ser humano espiritualmente desperto, que tenha purificado a sua Mente e seu corpo por meio de elevados ideais e de uma vida de serviço e abnegação, especialmente quando observado sobre o efeito da meditação e da oração, a sua visão é realmente maravilhosa. O fogo espinhal é de um intenso azul etéreo, sumamente difícil de ser descrito. O azul que mais se lhe aproxima é o azul da chama de gás, com suavíssimos matizes de amarelo, os quais se manifestam através dela. Desde a parte inferior da região sacra, até a parte superior da região lombar, as cores encontram-se, todavia, mescladas de vermelho, porém, o gás espinhal acende e ascende, tornando-se cada vez mais puro e diáfano.
Esse fogo espinhal durante a meditação e a oração se torna cada vez mais ativo e à medida que vai tocando os nervos espinhais, emite pequenas chispas no começo de cada um, até alcançar a medula oblongada, que parece atuar como transformador ou uma estação separadora, onde as cores sofrem uma mudança, descendo as cores obscuras e sujas, ao passo que o gás mais leve segue para cima.
Existe na extremidade inferior do quarto ventrículo, uma espécie de cavidade em forma de peneira, que está relacionada com a medula oblongada. Nessa última, o gás parece que sofre um processo de purificação, passando logo do quarto ventrículo ao terceiro, onde passa por um esplendor dourado, semelhante à fornalha, quando então é absorvido pela Glândula Pineal.
A cor dessa chama é diferente, sem dúvida, no adulto de natureza terrena, cheio de paixões e desejos, cujo corpo só se alimenta das carnes dos animais, e que está impregnado de fumo, álcool, etc. O gás espinhal de uma pessoa é de cor rosa e tem certa tendência de aderir-se à parte inferior da coluna espinhal. Essa pessoa necessitará fazer um esforço considerável para extrair algo desse gás e fazer com que ele ascenda ao cérebro a fim de alimentar o trabalho mental, e sua coloração não é do azul-diáfano que se encontra no ser humano de elevadas aspirações.
A Glândula Pineal da pessoa sensual, que dissipa seus fluidos vitais, é muito pequena, enquanto que na criança e no adulto que leva uma vida pura e limpa, esse órgão é grande.
A água quando atinge um certo grau de calor se converte em vapor, dissipando-se no ar, deixando, porém, um pequeno resíduo ou sedimento cristalizado no fundo do recipiente. Ao contrário, o sangue, enquanto está no interior do corpo, é um gás, porém, quando entra em contato com o ar se torna líquido, condensando-se. Assim, seria impossível para a ciência, sob semelhantes condições, investigar com seus instrumentos materiais e claramente entender as funções destes dois órgãos tão vitais, como a Glândula Pineal e o Corpo Pituitário, cuja inacessibilidade os torna quase impossível de serem removidos sem que mudem a forma deles.
Quando o ser humano com a faculdade da visão espiritual investigar as funções fisiológicas desses órgãos, não necessitará extraí-los, mas, simplesmente, dirigirá sobre eles sua visão de raios-X e observará a ação deles.
A autora teve o privilégio, enquanto sob a direção de um Iniciado Rosacruz, de observar as duas Glândulas Endócrinas, ora focalizadas, em ação. O momento e a oportunidade foram idealmente preparados e uma pessoa viva serviu de estudo. Ambos os órgãos eram muito grandes, o que permitiu uma grande clareza em nossas observações.
A pessoa era uma mulher em estado de meditação espiritual, uma mulher que tinha uma vida pura e cheia de elevadas aspirações, cujo alimento, por muitos anos, consistiu de frutas, legumes e cereais.
O Corpo Pituitário, em que se registram em primeiro lugar essas aspirações, estava muito avolumado. O lóbulo posterior estava voltado para trás com seu pescoço em forma de funil, aumentado com uma boca aberta na extremidade. Dessa boca aberta exalava um gás de cor rosa suave, ligeiramente matizado de amarelo e azul claro. A coluna espinhal estava cheia de um éter azulado, claro e mesclado de suave tonalidade rosa e amarelo. Depois que esse gás abandonava a medula oblongada e entrava na Glândula Pineal era de um maravilhoso colorido azul, como as tonalidades que as montanhas parecem ter depois do sol se pôr. A Glândula Pineal está também avolumada com a ponta do cone estirando-se em direção ao Corpo Pituitário. O diminuto apêndice de pele, mencionado em capítulo anterior, que se encontra no final da Glândula Pineal, está alongado e emite uma pequena chama, semelhante à chama azul de um jato de gás. Os dois órgãos vibram intensamente estirando-se, um em direção ao outro, sobre o terceiro ventrículo, uma cavidade oblonga que existe entre os tálamos óticos. Quando a vida do Aspirante à Vida Superior tem sido pura, o ventrículo citado aparece ao ocultista como um forno diminuto, resplandecente, de luz dourada, que supre a vitalidade do corpo.
A Glândula Pineal, como já foi dito, tem a aparência de um minúsculo órgão masculino, enquanto que o Corpo Pituitário, com sua boca aberta, é semelhante ao órgão feminino. Dessa maneira podemos ver que a ciência oficial, que procura provar que esses órgãos estão diretamente relacionados com as funções do cérebro e dos órgãos geradores, está certa.
Têm influência direta sobre o ser humano, desde as duas extremidades da medula espinhal, como demonstra o fato de que todos os pervertidos sexuais se tornam degenerados. A conservação dos fluidos vitais e a vida casta e pura fortalecem o cérebro; daí o aumento das duas Glândulas, ao passo que na pessoa sensual se atrofiam. A ciência oficial tem razão ao afirmar que tais órgãos são maiores nas crianças e nas mulheres que nos homens, embora se trate de homens que tenham tido uma vida muito pura.
No esforço de comprovar as asserções astrológicas feitas acima, a escritora comparou horóscopos de pacientes que têm estado em contato com o Departamento de Cura da Sede Mundial da Fraternidade Rosacruz, em Oceanside – Califórnia – USA. Ela encontrou dez horóscopos de moços e moças epiléticos.
Em quatro dos pacientes foi constatado que a Lua estava em Conjunção com Netuno, no Signo de Touro. Esse Signo rege a garganta e, também, indiretamente, sobre os órgãos geradores. Aqui, novamente, verificamos o que disse Max Heindel, que Netuno é a oitava superior de Mercúrio e não de Vênus, como admitem alguns astrólogos. Porque esse Planeta que rege a Glândula Pineal, também rege o cérebro e as faculdades espirituais.
Dois dos dez pacientes tinham Netuno em Quadratura com a Lua, sendo que um tinha Netuno em Conjunção com Marte e o outro tinha Netuno em Oposição a Saturno. Em todos esses casos verificamos que eles tinham formado um hábito sexual abusivo durante a infância, o que ocasionou uma dissipação dos fluidos vitais necessários à construção do cérebro, e daí, então, a deficiência mental fronteiriça à idiotice.
Se os médicos pudessem abrir os cérebros desses pacientes para lhes examinar as Glândulas, encontrá-las-iam enfermas, em conformidade com as aflições planetárias, as quais poderiam tomar forma de atrofia, de tumor ou, no caso da Glândula Pineal, inflamação.
Os astrólogos do passado asseguravam que Urano era a oitava superior de Mercúrio e regia as qualidades mentais superiores, e que Netuno era a oitava superior de Vênus. Ao mesmo tempo admitiam que Urano, aflito nos ângulos do horóscopo, causava separações no casamento, e que a Quadratura ou Conjunção entre Vênus e Urano, num horóscopo feminino, atrairia indevidas atenções do sexo oposto, portanto, comprometendo-lhe moralmente. Urano foi sempre associado com licenciosidade e lassidão moral, amores ilícitos, enquanto que Netuno é relacionado com ordens secretas, decepções e fraudes. A autora admirou-se porque esses dois Planetas altamente espirituais foram relacionados inversamente pelos astrólogos, quando apresentam características opostas. Investigações espirituais mostram as oitavas superiores como seguem: Netuno, regente da Glândula Pineal, é a oitava superior de Mercúrio; Urano, regente do Corpo Pituitário, é a oitava superior de Vênus.
O alcoólatra, quando sob a influência de bebidas, tem um forte estímulo do Corpo Pituitário, o que ocasiona tonturas e condições hilariantes. Essa Glândula regula a natureza emocional e a circulação sanguínea. Regida por Urano, a oitava superior de Vênus, o regente da música, o Corpo Pituitário é influenciado pela música e pela harmonia que o coloca em vibrações. O que utiliza a morfina ou cocaína recebe seu estimulo pela Glândula Pineal.
Temos lido muito nos jornais a respeito de rejuvenescimento por meio de enxerto de Glândulas de animais nos seres humanos, para lhes restaurar a juventude. Se tal prática nefasta for levada em certa proporção, as próximas gerações estarão expostas a ter muitos filhos degenerados, enchendo as instituições de pervertidos mentais (quase 40 anos após a predição da autora, os hospitais de doenças mentais se enchem, como testemunho dos abusos passados e clamando por normas espirituais de vida). Os animais doadores dessas Glândulas são o bode e o macaco, que se multiplicam rapidamente e naturalmente produzem um efeito degenerativo no ser humano que foi bastante tolo para permitir que tal enxerto fosse feito em seu corpo. Além disto, esse rejuvenescimento é por curto período de tempo. Se o ser humano continuasse vivendo a vida dos sentidos, ele cedo dissiparia essa nova energia, a qual teria de ser suprida, novamente, de tempos em tempos.
Porém, há uma Fonte de Juventude, um elixir de vida que são os alimentos e os nossos pensamentos.
Se vivermos uma vida simples e pura, altruísta, comendo somente legumes e vegetais, e mantendo a devida vigilância sobre nossos desejos, então já não necessitamos de sacrificar vida de animal para recuperar as nossas energias desperdiçadas. Ponce de Leon procurou a fonte da perpétua juventude em terras distantes, ignorando que ele tinha duas pequenas taças dentro de seu próprio cérebro. Se ele tivesse pago o preço de efetuar a mudança da vida mundana dos sentidos para a vida de pureza espiritual, ele teria tido o elixir da vida.
F I M
[1] N.T.: A escrita cuneiforme foi desenvolvida pelos baygons, sendo a designação geral dada a certos tipos de escrita feitas com auxílio de objetos em formato de cunha. É juntamente com os hieróglifos egípcios, o mais antigo tipo conhecido de escrita.
[2] N.T.: Rei Assírio
[3] N.T.: Hipócrates (?460 a.C.-?370 a.C.), nascido em uma ilha grega, é considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história da Medicina, frequentemente considerado “pai da medicina”.
[4] N.T.: Paracelso (1493-1541), pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, foi um médico, alquimista, físico, astrólogo e ocultista suíço-alemão.
[5] N.T.: Pseudo-Dionísio, o Areopagita ou simplesmente Pseudo-Dionísio é o nome pelo qual é conhecido o autor de um conjunto de textos (Corpus Areopagiticum) que exerceram, segundo os historiadores da filosofia e da arte, uma forte influência em toda a mística cristã ocidental na Idade Média. Esses textos foram muito lidos e admirados pelo Abade Suger de Saint-Denis, construtor do primeiro grande exemplar de arquitetura gótica: a basílica de Saint-Denis (ou Pseudo-Dionísio, em português). O autor se apresenta como Dionísio, o ateniense membro do Areópago, o único convertido por São Paulo (em Atos 17:34), no Século I.
[6] N.T.: Francis Bacon, também referido como Bacon de Verulâmio (1561-1626) foi um político, filósofo e ensaísta inglês. É considerado como o fundador da ciência moderna.
[7] N.T.: Pitágoras de Samos (? 570-?495 a.C.) foi um filósofo e matemático grego jônico creditado como o fundador do movimento chamado Pitagorismo.
[8] N.T.: A ciência, hoje, sabe que a Glândula Pineal atua, até certo ponto, na regulagem de desenvolvimento sexual; ajuda a sincronizar as mudanças rítmicas do Corpo, bem como atuar no misterioso mecanismo do acordar, por intermédio de seus hormônios.
[9] N.T.: Sabe-se, hoje, que a Glândula Pineal funciona, em anfíbios e peixes, como um órgão sensorial, sofrendo reações à luz.
[10] N.T.: ou Sílfides
[11] N.T.: Refere-se ao estado de consciência, tendo os mesmos veículos que um ser vegetal, atualmente. O ser humano nunca foi vegetal. Veja mais detalhes no Livro Conceito Rosacruz do Cosmos.
[12] N.T.: Refere-se ao estado de consciência, tendo os mesmos veículos que um ser animal, atualmente. O ser humano nunca foi animal. Veja mais detalhes no Livro Conceito Rosacruz do Cosmos.
[13] N.T.: Glândula Pituitária ou Hipófise: pequena glândula com cerca de 1 cm de diâmetro. Aloja-se na sela túrcica ou fossa hipofisária do osso esfenoide na base do cérebro. Está localizada abaixo do hipotálamo.
[14] N.T.: Henry Gray, FRS, no livro: Anatomy and The Human Body, 12ª Edição, 1918.
[15] N.T.: ou epífise neural ou simplesmente pineal é uma pequena glândula endócrina localizada perto do centro do cérebro, entre os dois hemisférios.
[16] N.T.: Dana, C. L., and W. N. Berkeley: 1913. Med. Rec. S3: S35
A primeira prática a efetuar-se é a fixação do pensamento em um ideal e assim mantê-lo, sem permitir que se desvie.
Tarefa sumamente difícil, ela deve ser realizada regularmente pelo menos até que se possa alcançar algum progresso.
O pensamento é o poder que empregamos na formação de imagens, cenas, pensamentos-formas, de acordo com as ideias internas.
É o nosso poder principal, e temos de aprender a mantê-lo sob nosso absoluto controle de modo a produzirmos não absurdas ilusões induzidas pelas circunstâncias exteriores, mas sim imaginações verdadeiras geradas pelo espírito, internamente.
Ouvimos com frequência pessoas exclamarem petulantemente: “Oh! Não posso pensar em cem coisas ao mesmo tempo! ”.
Na realidade era exatamente isso o que estavam fazendo e que lhes causou o aborrecimento de que se queixam.
As pessoas vivem pensando constantemente em cem coisas diferentes daquela que têm em mãos. Todo êxito é alcançado através da concentração persistente no objetivo desejado.
Tendo praticado a Concentração durante algum tempo, enfocando a Mente sobre um objeto simples, construindo um pensamento-forma vivente através da faculdade imaginativa, o Aspirante pode aprender pela Meditação tudo o que se refere ao objeto assim criado.
1. Para fazer download ou imprimir:
F. Ph. Preuss – Concentração e Meditação – Estudo segundo a Filosofia Rosacruz
2. Para estudar no próprio site:
CONCENTRAÇÃO E MEDITAÇÃO
ÍNDICE
I – A CONCENTRAÇÃO E A MEDITAÇÃO Nas Escolas Esotéricas.
II – A FORMA E DURAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO.
III – A REGULARIDADE, HORA E O LUGAR DA CONCENTRAÇÃO – A ABSTRAÇÃO
IV – AS Condições importantes na concentração: O SILÊNCIO E A HIGIENE (Física e Mental).
V – O AMOR, A PUREZA E O SONO – Fatores importantes na Concentração
VI – O OBJETO que deve motivar a Concentração (“sobre o quê” e “no quê”)
VIII – A INTUIÇÃO: o que é – AS Suas relações com a Concentração e a Meditação
X – A ALIMENTAÇÃO – os Venenos – O Grande Remédio – A alimentação.
XII – CONCLUSÕES: O plano das Hierarquias – O EGO e a Divindade.
No curso da evolução, nas Escolas Esotéricas, são imprescindíveis a CONCENTRAÇÃO e a MEDITAÇÃO. Destes dois exercícios depende o conhecimento dos planos superiores, como também, o melhor conhecimento da vida em comum no meio em que se vive, seja isto física, social ou intelectualmente. Todas as escolas esotéricas ensinam estes dois exercícios, ainda que outras acrescentem as mesmas a retrospecção, como exercício matutino de meditação.
Em geral, os candidatos infelizmente não se desenvolvem assim como deseja a escola, e por isso as suas faculdades psíquicas não alcançam os resultados almejados, e, portanto, deficientes, pois a maior parte dos candidatos se limita apenas a leitura dos livros. O trabalho de concentração foi ensinado a fim de que o próprio candidato faça suas pesquisas e consiga, com o tempo, seu mecanismo superconsciente para adquirir conhecimentos espirituais.
Devemos salientar, com todo o rigor, que a autolibertação do EGO de seus corpos inferiores não pode se processar sem a aconselhada e devida concentração, bem como a meditação.
Se o candidato não sujeita seus pensamentos à sua vontade, não coordena os mesmos num corolário progressivo e ampliado, de forma harmônica e de beleza geral, desde que a LUZ DIVINA paira sobre todas as coisas as quais se revelam pela atividade meditativa, não pode chegar a consciência dessa luz que deseja se manifestar. As hierarquias astrais-celestiais introduziram em suas escolas esotéricas a concentração, ou seja, a fixação mental de alguma coisa em um único ponto, ou dirigir a Mente em um único ponto de atenção, para depois, automaticamente, passar à meditação, isto é, ampliar aquilo que se tem fixado pela concentração. Sem a devida fixação da Mente do que se deve concentrar não haverá meditação. Esta é, verdadeiramente, a arte de se conhecer pela concentração aquilo em que se medita. Se se concentra numa rosa, não se deve pensar, ao mesmo tempo, em um cavalo, pois, a Mente deve fixar-se na rosa. Deve se conseguir que a MENTE OBEDEÇA A VONTADE, pois sem a devida vontade a Mente fugirá do assunto. O principal objetivo durante a meditação está em que a Mente não se AFASTE DO ASSUNTO QUE O ESPÍRITO DESEJA FOCALIZAR, não o deixando escapar.
Caso haja fuga de pensamentos, o que via de regra acontece aos neófitos por falta de suficiente atenção sobre o caso, pois a vontade ainda não atua sobre a Mente, deve o pensamento ser laçado, assim como se laça um cavalo rebelde. Cada vez que o pensamento foge deve ser laçado, até que se sujeite o mesmo à vontade do EU e, uma vez isso conseguido, não mais escapará e a meditação e a concentração tornam-se uma maravilha na vida do candidato. Este é o segredo na técnica da concentração, mostrando também, o modo de se habilitar as futuras iniciações, adquirindo conhecimento direto sobre a própria natureza, assim como conhecimento geral.
Os alunos perguntam, geralmente, que posição se deve tomar ou qual a melhor para se concentrar. Depende em primeiro lugar, da disposição que se tem para concentrar, pois, às vezes, os nervos não deixam fazê-lo ou quando o estômago esteja sobrecarregado, o mesmo acontecendo quando se pensa em negócios, ou ainda, quando se encontra doente, sofrendo dores.
São estas as contraindicações, pois a concentração só se fará com a exclusão de todos os tipos de fenômenos psíquicos ou patológicos, estes mencionados. Precisa-se deste modo, de muita calma, do abdômen descarregado, do corpo sem dores, etc. Se, porém, deseja-se concentrar não estando doente e se a cabeça estiver quente, deve-se banha-la com água fria tanto tempo até que se ache calma. Para livrar os intestinos dos efeitos produzidos por alimentos queimados deve-se fazer lavagens. Se houver dores, melhor será não se concentrar; mesmo assim pode-se tomar um banho morno prolongado, durante uma hora. Dores em geral diminuem com banho de água morna de 37 graus centígrados. Logo depois, pode-se experimentar a concentração.
Caso esteja cansado, convém tomar um banho de chuveiro frio. Em todo o caso, para o espiritualista é mais importante utilizar-se de banhos ou de higiene em geral à noite, antes de deitar-se, devendo assim proceder sempre que se sentir refrescado e nunca exausto.
A respeito dos cônjuges, deve-se dizer que uma cama em comum para os dois precisa ser evitada, pois, difícil será a concentração em conjunto com o seu par.
Nenhum dos dois poderá concentrar na presença um do outro. Também o trabalho noturno, extra corporal, ficará prejudicado, pois, não somente o Corpo Denso se ligará ao outro pelo mais ligeiro contato, como também a mescla dos corpos etérico (Vital) e de Desejos de ambas as partes será desfavorável ao serviço espiritual. Como os Corpos Vital e de Desejos se alongam para fora do Corpo Denso, penetram nestes reciprocamente em seu companheiro. Obviamente, aí está o perigo, pois pode o corpo etérico não se refazer suficientemente, podendo até mesmo ser atraído pelo componente mais forte, diminuindo assim as qualidades dos corpos superiores, como também do Corpo Denso.
Com essas explicações vê-se porque razão é preciso que se separem os cônjuges para o devido exercício de concentração.
Antes de tudo, deve-se dizer que a concentração não é fácil. É bastante difícil e requer muito tempo até que se apresentem os resultados, existindo mesmo pessoas que se concentram quase uma vida inteira com pouca eficiência, para mais tarde lograr êxito. O aluno deve demonstrar sempre boa vontade, até que consiga resolver este problema, devendo sempre se lembrar de que, numa vida futura, a concentração se tornará mais fácil, devido a ter-se aplicado nesta vida, assim terá mais afinidade em vidas futuras. A persistência é imprescindível.
Para que se possa concentrar é preciso um objeto, sobre o qual se dirija a Mente. Este objeto pode ser visível ou imaginário. Em geral, para o neófito, é mais fácil dirigir-se a um objeto a sua vista. Os olhos devem somente fixar o objeto que se acha a sua frente.
Este é um treinamento não só para a concentração como também para a vontade; se esta faltar, os olhos se afastam gradativamente de seu objetivo. A vontade deve atuar para que os olhos não se desviem e se não a tiver para dirigir os olhos e a atenção sobre o objeto, constantemente a Mente estará ocupada e não poderá conter outros pensamentos através de si, para que o objeto que vê não se desvie. Vale dizer que na concentração existe uma série de fatores que se entrelaçam desfavoravelmente quanto a sua finalidade. Se o candidato conseguir fixar-se num objeto sem desviar os olhos por cinco minutos e não desfocar a atenção, estará bem concentrado.
Outra forma de concentrar é com um objeto imaginário, subjetivo. A concentração sobre uma rosa em nossa frente é o caso objetivo, porém se não tivermos a rosa, á a forma subjetiva. Podemos fechar os olhos e não abandonar mais a imagem da rosa até que a mesma se manifeste ante os nossos olhos internos e quanto mais forte for a nossa imaginação apresentar-se-á em nosso interior a referida flor. Este fenômeno não deve ser confundido por um ignorante em questões metafísicas como uma alucinação ou histeria.
A concentração e meditação foram impostas aos espiritualistas, para criarem em si fenômenos inexistentes na vida material. Assim é o caso de nossa rosa. Esta pode se criar por si. A nossa vontade é então dirigida para criar uma rosa e logo que se tenha obtido sua imagem interna, podemos meditar sobre ela.
Estes exercícios requerem tempo para atingir, ou melhor, apresentar resultados e temos que praticar a concentração todos os dias, se for possível, na mesma hora e no mesmo lugar, pois, sem praticar não existirá aperfeiçoamento em qualquer ensinamento e, praticando, teremos a satisfação de conduzir nossas faculdades a fim de obter a visão interna.
Muita importância se deve dar aos exercícios e se adverte o seguinte: NÃO EXISTE
CONCENTRAÇÃO SEM ATENÇÃO SOBRE O QUE SE CONCENTRA. Inútil é querer se concentrar sem a devida ATENÇÃO naquilo em que se deseja concentrar, não adiantando vontade alguma se a mesma não for persistente, não permitindo mesmo que a rosa em a qual concentramos de repente se transforme em um cavalo e, como já mencionamos, a rosa tem que permanecer rosa e isto só é possível com a devida ATENÇÃO sobre o pensamento que a forma.
Se tirarmos a atenção da forma, a Mente transformá-la-á em outro objeto, pois, esta última não é bastante firme, dando seus pulos espetaculares como cavalos sem freios. Não é possível concentrar-se definitivamente sobre a rosa, se se pensa, ao mesmo tempo, no bolo que se vai comer logo a noite no aniversário de alguém da família. A concentração requer repetimos: – ATENÇÃO SOBRE AQUILO QUE SE CONCENTRA. Esta é a chave e praticamente não há outra. Com atenção o pensamento não se desvia e, se aparecerem outros, serão automaticamente desviados, concentrando-se somente naquilo que é desejado, pois, se desviada a atenção, jamais se formará a visão interna. Com o tempo, o intelecto se sujeita à vontade e se torna um instrumento bondoso e lúcido com o EGO. O candidato, assim exercitando, aprenderá o que é ATENÇÃO, a qual muitas vezes é difícil de fixar, porém, mais tarde apresentar-se-á como sendo de perfeita naturalidade, pois quem presta atenção nas coisas é o EGO e não a inteligência nem o sentimento, os quais são seus meros instrumentos.
Quem aspira, quem ouve e quem vê é o EGO e não os órgãos sensoriais, os quais são comandados pelo mesmo para manifestarem onde e quando for preciso. Existem diferenças entre as funções do organismo, mas quando se pensa que é o EGO que o dirige, verifica-se a união deste com o EGO DIVINO.
Realçamos uma vez mais a importância do manejo da concentração, quando dizemos que a nossa Mente deve ser “estéril” para outros pensamentos e ativa apenas para aqueles que iniciamos a pensar. Deve somente ser atendidos aqueles pensamentos que se correlacionam com o objeto em mira.
Um sábio certa vez dissera que a concentração e a meditação são como o óleo que se despeja de um vasilhame a outro. Tem um fluxo constante e igual até que se tenha esgotado, no nosso caso, o material pensante.
Isto quer dizer que se deve prestar muita atenção para que o fluxo não diminua e permaneça constante, de igual intensidade, não intermitente, sem alternâncias de tensão, sempre igual.
É um bom exemplo e deve ser praticado com todo o carinho. Se com o tempo for obtido bom resultado ou êxito razoável em seus esforços, uma vez que o pensamento já não mais se desvia, o tema poderá ser modificado, não precisando permanecer no mesmo, pois, o principal é que quando percebamos a fuga do pensamento, encontremo-lo de novo. Percebendo a referida fuga, devemos pular atrás dele como se fosse um canário escapando de sua gaiola.
O pensamento é rebelde, difícil de domar assim como um cavalo novo e o Estudante, por certo, terá grandes dificuldades para domina-lo em seus exercícios. Todas as ciências são aprendidas em tempo regular e normal, e no estudo da matemática, medicina ou engenharia ou tantas outras, obtém-se ao término do curso o diploma, mas, com relação a concentração e meditação, leva-se muitas vezes uma vida inteira para que se possa receber pelo seu esforço o diploma. Cada um deve verificar o seu próprio progresso, pois os outros raramente podem dizer se o candidato conseguiu ou não o seu objetivo e somente ele, o candidato, deverá vencer as dificuldades, uma vez que a Mente já não mais aceita o desvio do pensamento.
Assegura-se, porém ao Estudante que isto é possível, dependendo tão somente da aplicação da ATENÇÃO sobre o caso.
A felicidade que se experimenta durante os exercícios e depois deles é indescritível e não poderá ser comparada a nenhuma outra existente no mundo. Sentirá o Estudante uma alegria interna além de toda a nossa compreensão, uma vez que a alma recebe as irradiações em toda a sua pureza dos centros espirituais do corpo humano. Pode-se assim demonstrar que a concentração representa a PORTA para o ALÉM e sem os exercícios nunca existirá essa possibilidade.
Muitos Estudantes alegam não ter tempo ou lugar para realizar a concentração. Representa, sem dúvida, uma esfarrapada desculpa. Em hipótese alguma precisamos acreditar que somente em casa pode-se exercitar. São desculpas, porém a verdade é esta: QUEM DESEJA SE CONCENTRAR, SABERÁ ENCONTRAR TEMPO E LUGAR, e se não houver lugar em casa, temos jardins, ruas, um cantinho numa igreja, e se não houver tempo durante o dia, à noite estará a nossa disposição, existindo, ademais, domingos, feriados e dias de festas quando não se trabalha. Pode-se estar fora de casa e pensar sobre a grandeza de DEUS e da natureza que é sua manifestação, estar à beira de um riacho ou de um lago, de um rio, do mar ou de uma montanha ou em qualquer lugar afastado da civilização e comungar com o nosso DEUS, concentrando-se em sua obra, criando-se possibilidades, pois ELE quer que tenhamos vontade e como filhos D’ELE que somos, conversemos com ELE. Percebe-se que nossa Mente procura ao invés, evitar, criar dificuldades, pois a ocasião para se concentrar sempre estará presente se assim desejamos.
Gostamos de mentir a nós mesmos, com evasivas; porém, uma vez mais afirmamos que a concentração representa a porta pela qual nos dirigimos ao além. Max Heindel, em suas dissertações, alegava, razoavelmente, que se deve concentrar não se deixando perturbar mesmo nas mais difíceis circunstâncias, ainda que ocorra nas proximidades uma estrondosa detonação, pois a concentração deve ser tão profunda que não possa mudar sua ação interna.
Pois bem, esta possibilidade só se pode esperar daquele que já tenha atingido a abstração em todas e quaisquer circunstâncias, achando-se em união com Deus. Ter-se-á que trabalhar duramente para alcançar esta possibilidade utilizando os exercícios expostos neste trabalho.
Aquele que sabe se concentrar encontra esta faculdade e como disse Max Heindel, aquele que não chegar a abstração, não conseguirá por outros meios.
Todos os grandes pensadores espiritualistas tiveram a dificuldade da completa abstração e aqueles que se iniciam a instruir-se nessa doutrina, demorarão muito tempo até dominar os pensamentos. Por isso, nenhum candidato deve esmorecer em sua vontade de adquirir a abstração, pois enorme será a recompensa e muito grande a felicidade, ingressando mais cedo ou mais tarde na fonte da vida. Se alguém em vidas passadas tinha por hábito a meditação por pertencer a organizações espiritualistas, nesta vida terá muito mais facilidades para consegui-lo e o candidato de hoje, que inicia estes exercícios, adquire desde já para vidas futuras a possibilidade de sua exaltação espiritual. Digno de louvores o aluno que tem compreendido a razão de sua vida no presente e que faz esforços para vidas futuras. Depende desta vida a quantidade de conhecimentos adquiridos pelo EGO para que seja mais fácil sua autonomia sobre questões espirituais.
Os filósofos dizem que se precisa do silêncio para se conseguir sucesso nos exercícios espirituais. Neste sentido deve o aluno periodicamente afastar-se do meio ambiente costumeiro, viver uma vida pura e, na solidão do silêncio, experimentar a grandeza existente na união de todas as coisas na imensidão do horizonte que se lhe apresenta. Sente no silêncio de seus sentimentos, na inteligência, na espiritualidade e na vontade o que não pode sentir em presença da atual civilização e da pouca cultura comum. O afastamento aconselhado de quando em quando resulta no fortalecimento dos conhecimentos espirituais, os quais mais tarde, mesmo diante das maiores dificuldades da vida civilizada não serão perdidos. Quem nunca se tem entendido com Deus na solidão, não obterá tão facilmente esta divina emanação em meio à perturbadora civilização.
É imprescindível a higiene interna e externa do neófito, ou seja, viver puro interna e externamente. A alimentação vegetariana, ou ainda, se possível, a frugífera, tem papel importante na vida do espiritualista.
O Adepto, que se dedica à evolução humana, fisicamente se alimenta de frutas ou cereais e, mesmo que não se possa exigir de um aluno as mesmas regras exigidas de um Adepto, deve ele cada vez mais aprimorar-se nessa conduta. O aluno de hoje terá amanhã a orientação e responsabilidade daquele, e se hoje se fala das possibilidades para edificar em si o futuro Adepto, razoável será que desde já comece a cumprir as regras, não tão difíceis, mas ao alcance de cada qual.
Os sentimentos de amor, uma das mais sensíveis atividades de nossa vida deve ser cultivada de maneira que os sentimentos impuros, inconvenientes, odiosos, enfim, todos os que são desfavoráveis ao coração caiam por terra da mesma maneira como as flechas caem quando atingem um escudo de aço. Somente sentimentos elevados ajudam a concentração, pois assim a Mente permanece calma e sem essa a mesma não obterá resultado. A higiene mental deve ser cultivada, devendo a Mente alimentar-se somente de pensamentos sublimes.
O cérebro necessita alimento assim como o Corpo Denso, enquanto o coração se alimenta de amor e de puros sentimentos, os quais vêm refletir na possibilidade de se concentrar, assim como meditar e mesmo orar.
Para a higiene corporal como fator de evolução, existe mais uma questão importantíssima, a saber, a do dormir. Em primeiro lugar, deve o candidato dormir sozinho a fim de evitar o contato ou de um filho, ou da esposa, ou vice-versa. Deve além do mais, ler livros apropriados, de preferência de autoria de mestres espirituais, assim como ouvir boa música, pois, óbvio é que, quem não se educa permanece na ignorância, que é pecado. O espiritualista deve adquirir conhecimentos em larga escala e em todos os setores da vida e da cultura.
Pois bem, mister se faz que recapitulemos: um organismo cansado e doente não deixa a Mente agir favoravelmente aos exercícios fazendo com que as formas mentais fujam imediatamente, não conseguindo à vontade ligar-se às mesmas, borrando-se consequentemente as impressões. Claro também é que, se durante o dia o cérebro se cansou na luta pela sobrevivência, os pensamentos serão confinados por vibrações destrutivas e isoladas, sem qualidades, prejudiciais à concentração, não se obtendo resultado algum. Se preocupações inundam nossa Mente por motivo de sentimentos de medo ou de aparentes desavenças, o corpo emocional não se acalma, verificando-se de novo prejuízos aos exercícios. Sabe-se que a doença rouba boa parte dos éteres luminoso e refletor necessários ao saneamento do corpo e nesse caso a concentração será inútil. Outras condições também desfavoráveis surgem durante a concentração. Frequentemente pensamentos eróticos, mesclando-se e prejudicando o fluxo de pensamentos aparecem, fazendo surgir quadros sensuais os quais devem ser combatidos com a indiferença, pois também prejudicam a concentração. Os espíritos luciféricos têm interesse em dominar-nos pela sensualidade e sabendo-se disso, imediatamente devem ser desviadas suas maléficas vibrações por meio de pensamentos diferentes, de orações ou mesmo lavar a cabeça com água fria assim como os órgãos genitais. Os espíritos luciféricos não desejam nossa Mente livre de sua bufonaria, mas sim infiltrar sua falsa luz; porém, se nos aplicamos constantemente em uma higiene mental, os aspectos eróticos desaparecerão. Neste ponto deve-se frisar, com ênfase, que a vida conjugal em convivência noturna numa só cama é de acentuada desvantagem, pois não só os corpos físicos ficam diretamente ligados como também os corpos etéricos e de desejos.
Sobre o que se deve concentrar?
Esta é uma pergunta que frequentemente o aluno se faz. Já mencionamos anteriormente alguns esclarecimentos sobre o assunto. Continuemos, todavia. Deve o aluno orientar-se por quadros internos e o objeto em mira depende da altura do seu temperamento, de sua cultura, da sua profissão, enfim de circunstâncias várias. Uns concentram-se bem sobre objetos à frente de seus olhos por ser mais fácil, outros preferem sentimentos já existentes na alma, havendo ainda os que procuram concentrar-se sobre um pensamento e desenvolve-lo, pela meditação, seguindo-o a fim de conhecer o resultado. Trata-se em verdade de familiarizar-se à concentração, não mais se separando de seu pensamento. Para ilustrar este tema, cita-se um diálogo entre um Mestre de Sabedoria e um discípulo a respeito da meditação sobre um búfalo.
Um discípulo da milenar sabedoria que vivia às margens de um sagrado rio um dia procurou um famoso sábio e pediu-lhe que o instruísse no método da melhor concentração. O sábio respondeu: – “pensa sobre Deus, sua grandeza, sua harmonia, sua luz”. O aluno respondeu: – “Mestre, mui querido Mestre, eu não posso fazer isto, pois é muito difícil para minha cabeça que é tão dura; – dê-me uma tarefa mais fácil”. Falou o mestre: – “não tenha receio, eu lhe darei um caso mais fácil; preste atenção. Coloque uma estatueta do Deus Krishina em sua frente, sentado na posição de lótus (pernas cruzadas, inconveniente para os ocidentais), fixe-a e não veja outra coisa senão a estátua”. Respondeu o aluno: – “Mui querido Mestre; isto é ainda bem mais difícil; se devo cruzar as pernas doem-se os joelhos e os quadris e se penso na dor não posso pensar na estatueta. De que maneira posso ficar quieto, pensando sobre tantos detalhes, se não me é possível pensar em uma só coisa!” Aí falou o Mestre: – “coloque uma fotografia do seu pai em sua frente, sente como quiser e mira-a um só momento”. O aluno retorquiu dizendo: – “Querido mestre; isto também é muito difícil, pois, meu pai sempre me amedronta; é ele um homem mau que me bate duramente e meus pés já começam a tremer no simples pensar sobre ele. Humildemente eu lhe imploro, Mestre, dê-me outra coisa ainda mais fácil que, seguramente, eu conseguirei”. Falou o Mestre: – “então me diga o que você mais estima em sua casa?”. Respondeu o aluno: – “tenho em casa uma fêmea de búfalo a qual criei com todo o meu carinho. Todos os dias me dá ela leite e manteiga; gosto muito dela e penso sempre nela”. O Mestre aconselhou-o: – “entre neste quarto e se encerre nele. Sente num canto do mesmo e pense continuamente em sua vaquinha de búfalo, medite sobre ela e não pense em outra coisa. Comece já!”,
Encantado pelo conselho, cheio de alegria e confiança, voltou o discípulo ao quarto e fez o que lhe aconselhou o Mestre, com verdadeiro arrebatamento. Durante três dias não se mexeu, esquecendo-se até mesmo de comer e de beber. Não estava mais consciente do seu corpo nem do ambiente, completamente absorto que estava na figura do búfalo. No terceiro dia, o Mestre, desejoso de saber o estado do aluno, encontrou-o em profunda e perfeita meditação. Chamou-o em voz alta: – “Como você está se sentindo? Venha cá fora para tomar uma refeição”. Respondeu o aluno: – “meu Mestre, estou muito grato ao senhor, mas acho-me em meditação e não posso sair daqui. Cresceu demais o meu corpo e não poderei com meus chifres sair por essa pequena porta. Eu amo tanto o meu búfalo que nele me transformei”.
O Mestre vendo que o discípulo se achava em completa concentração, chamou-o dizendo: – “você não é um búfalo; muda o objeto de sua concentração e meditação e modifique a forma do animal à sua essência que é a sua própria e verdadeira substância”. O discípulo modificou então o pensamento segundo os conselhos recebidos, tendo assim, alcançado a união perfeita com o espírito, que é o objetivo, o alvo da vida. Verifica-se, pois, por essa narração o que se deve manifestar em nós como o significado da meditação. Deve-se chegar ao ponto de se identificar com a coisa sobre a qual se medita. Se um dia chegarmos a meditar sobre Deus, de que modo Ele se identifica conosco, sentir-nos-emos integrados na essência divina.
Exemplifiquemos algo “sobre o que”, “como” e “no que” se deve concentrar.
Concentrar-nos-emos sobre uma rosa, a qual é um objeto a nossa vista. Fixemo-la. O pensamento dirige a Mente naquilo que se concentra.
A concentração somente se realiza quando se toma a devida atenção sobre o objeto, senão o mesmo foge imediatamente da nossa visão. Se a concentração for perfeita, sentiremos quase palpável a rosa, sua forma, sua cor e seu perfume. Tenhamos em Mente que existindo uma regra quase rígida para se concentrar, mecaniza-se a Mente, a atenção focaliza o pensamento sobre o objeto experimentando-se uma sensação que nada tem a ver com o intelecto. Estaremos impressionados pela beleza da flor, seu colorido, e assim sentiremos algo que está acima do intelectual, algo que inculca à nossa observação uma simples sensação da alma que por sua vez, transmite à consciência uma essência espiritual. Sentiremos, assim, muita felicidade, a qual não é uma sensação da inteligência e sim do espírito. É este o ponto o qual a concentração faz o ser humano sentir-se no espírito, uma vez que este se integrou no objeto, pois deseja sentir-se a sua totalidade, as partes externa e interna. Adquirida pelo EGO esta sensação, forma-se a exaltação, a união com a essência da rosa ou de Deus, ou “Deus da rosa”, que é também o nosso. Sentimo-nos, pois em presença do EGO que nada tem a ver com o “eu inferior” oriundo da emoção do Corpo de Desejos. Tem-se assim, absorvido o intelecto no EGO, bem como a emoção.
As qualidades da rosa, sua forma, seu colorido e seu perfume transformam-se em “ESSÊNCIA DA ROSA”, que somente o EGO sente e neste instante desaparece o mundo e se abre o céu, o céu dos Evangelhos que fala: “O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VÓS MESMOS”. Este fenômeno é a realização da “UNIÃO COM DEUS”. Reafirmamos que, sem a concentração diária, sem aplicação da meditação, não existe a libertação em Deus.
Expliquemos mais ainda: o EGO deseja ser dono de seus corpos físicos, etéricos, emocionais e do intelecto, subordinando-os a sua ordem e sua vontade, posto que é divino e não humano.
O EGO deseja a unificação com Deus e com o Cosmos e não com o ser humano material, a casca do mesmo. Por estas premissas observamos que para o EGO praticamente não existe a lei de CAUSA E CONSEQUÊNCIA, pois este é sempre divino, sendo inatingível por leis que regem as regras materiais. A lei de CAUSA E EFEITO se manifesta no grosseiro mundo material, sendo anulada na proporção do avanço do EGO neste plano material. A concentração define este fato perfeitamente durante a sua exaltação em Deus, pois o EGO se unifica a Ele. Por outro lado, o EGO que é espírito puro não tem mais controle total sobre o seu corpo inferior nem sobre os átomos do material a sua disposição em nosso globo, mas com o tempo, todos os corpos materiais reagirão a demanda do EGO. Nesta fase alcançaremos aquilo que a bíblia diz: “SEJAIS PERFEITOS COMO VOSSO PAI NOS CÉUS É PERFEITO”, ou “O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VÓS”.
Devemos cuidar de que as imperfeições devem ser eliminadas pelo EGO. A Concentração e a Meditação tendem a expulsar com a ajuda do Homem Divino, o EGO, as imperfeições além de causa e consequência às quais não pertencem aos céus e sim ao Mundo Físico, ao mundo inferior, onde se manifestam devido as transgressões das leis da natureza. Óbvio que, onde não existe transgressão não existe a lei de causa e consequência e se a mesma existisse nos planos espirituais, estaria também o Arquiteto do Universo sujeito à mesma e isto nós sabemos, não é assim, pois se não formarmos mais “destino maduro”, jamais esta lei entrará em ação.
Vamos novamente falar sobre temas de meditação em seus vários aspectos, sobre suas funções e sobre suas diversificações. Voltemos a rosa. Falemos de sua forma, colorido, perfume, enfim, de seu conjunto fenomenal percebidos pelos órgãos sensoriais. Falemos de fatos subjacentes a estes fenômenos, da maneira como a alma os aceita ou sente suas impressões. Falemos como se processa a exaltação, a nossa união com o corpo do Espírito do Cosmos quando não mais se sente separados de Deus. Falemos que somente pela meditação a alma se separa dos mundos materiais, intelectuais e emocionais, para depois ingressar na sua consciência espiritual, no corpo divino de Deus. Vamos, pois dar um passo mais para frente em relação ao que chamamos exaltação. Que regime deve nortear-nos a esse fim?
Falamos anteriormente da concentração sobre as coisas que vemos, que se formam na imaginação, sobre coisas existentes. Agora temos em mente apenas coisas abstratas, que não se apresentam na vida real, de fenômenos subjetivos, não existentes, formado em nosso interior.
O EGO tem a tendência de criar em nossos sentimentos coisas que lhe agradam, para, assim, obter a sua libertação. O que o EGO faz pode despertar nossa alma, obrigando-a sentir fenômenos tais como TERNURA, AMOR MATERNO, IMAGINAR-SE DENTRO DO CORPO DE CRISTO, DESCER COM CRISTO DA CRUZ, ELEVAR-SE EM SEU CORPO DENSO,
ABENÇOAR A TERRA OU CURAR O CEGO. Essas meditações representam a verdadeira ação do EGO e são alguns exemplos que se propõe à meditação. O aluno poderá encontrar outros assuntos bem melhores e mais eficientes, bastando tão somente que sejam reais para a vida espiritual e irreais para a vida física, procurando sempre tirar o máximo proveito da meditação a qual faz a alma sentir-se fora da vida real. Deve procurar algo que seja impalpável na parte sensorial e quanto mais abstrato o tema escolhido, mais eficaz será para o conjunto divino e melhor para a purificação dos corpos. Recapitulemos novamente uma questão essencial que nunca deve ser esquecida. Reprisamos mesmo essa ideia por ser a mesma de máxima importância para a iniciação: “NÃO PERCA NUNCA A ATENÇÃO NAQUILO EM QUE SE CONCENTRA, POIS DE OUTRO MODO, SEU TRABALHO SERÁ EM VÃO”.
A ATENÇÃO É A CHAVE DA SUA LIBERTAÇÃO NOS PLANOS SUPERIORES. As retrospecções à noite, bem como a concentração matutina, por sua vez, não terão valor algum caso não seja feito com a devida atenção e, na falta desta, A LUZ DOS SEUS OLHOS
INTERNOS JAMAIS SE ABRIRÃO. A ATENÇÃO forma a introspecção. Assim, mais cedo ou mais tarde resultam em faculdades suprassensíveis, normais, sem necessidade de meditar.
Adverte-se nesta altura que, mesmo que a alma tenha possibilidades de se aplicar, o objetivo somente será alcançado por meio da meditação.
Vejamos mais um capítulo que resulta da prática da concentração.
A Mente se esforça para conhecer as coisas do modo mais claro, sendo a mesma um órgão, digamos, apurador, possuidora que é de um discernimento positivo, não tendo necessidade de calcular, raciocinar ou mesmo de decifrar enigmas que se lhe apresentem, pois, a mesma se torna mais pura e mais poderosa por seu conhecimento imediato. Não há ademais, especulação, suposição ou dúvida, e pela exatidão do conhecimento que resulta de sua iluminação, funde-se a mesma na INTUIÇÃO, a inteligência superior. A meditação leva nossa alma por esta razão do campo meditativo ao conhecimento contemplativo e ainda, ao plano da intuição onde as inspirações fluem ao lado do EGO. A INTUIÇÃO, que está intimamente ligada à inspiração, é contrária à lógica da Mente a qual, apesar de tudo, tem suas limitações, pois haverá sempre um ponto final no sentido da exata lógica pela falta de material sobre que pensar. Na Mente superada, na intuição e na aceitação desta pelas aspirações ou infiltrações de sentimentos espirituais, não haverá limitação, pois encontra-se o espírito na espiritualidade sem limitações.
Daremos agora uma explicação sobre as diferentes qualidades do EGO em presença do intelecto e da intuição.
Vemos que o intelecto está subordinado à vontade do EGO durante a meditação, exercendo esta sua função sobre o objeto mediante a atenção, tornando-se conhecedor das coisas meditadas, caso esteja o intelecto sujeito a ele como um instrumento em seu poder.
Praticamente o intelecto está sendo atraído pelo EGO iluminando-se pela subordinação a ele.
Forma-se então a intuição, abrangendo o hemisfério do EGO e se tona um veículo valioso para as pesquisas suprassensíveis. O intelecto nestas condições se sujeitará cooperando conscientemente com o EGO. Verifica-se isso quando o candidato se encontra fora do seu Corpo Denso, onde as funções serão exercidas com perfeita lógica, inteligência e consciência da situação em que se acha o candidato, podendo dizer para si mesmo: “EU ME ACHO FORA DO CORPO DENSO, POIS VEJO ESTE DEITADO NA CAMA”.
Há ainda outras experiências de lógica que aqui não é preciso descrever. O resultado deste conhecimento é que o EGO consegue levar a Mente inferior as alturas, formando o que poder-se-ia chamar de “inteligência abstrata” no reino da Mente abstrata, enquanto que no mundo da mente concreta funciona a lógica com seus erros, pois a Mente tem os seus chamados “pontos de vista”, seus ângulos de concepções diversas.
Por isso há infrutífera polêmica sobre as coisas e, note-se bem, “ONDE HÁ POLÊMICA A VERDADE NÃO SE FAZ PRESENTE”, pois nos planos onde se revela a vida espiritual, a lógica se apresenta como VERDADE.
Sabemos perfeitamente que somente no mundo existe sombras, enquanto que nos planos superiores existe a luz. As funções sensoriais normais não sabem distinguir o que é luz espiritual; assim o cérebro com sua inteligência não atinge o máximo da VERDADE, podendo-se exemplificar com o seguinte: ao ouvir alguém, música em um auditório, fá-lo com os ouvidos que é função sensorial; porém, se “ouvir” em seu íntimo alçado aos planos superiores, não haverá necessidade de ouvidos sensoriais. Ouve-se com a alma, e todos os alunos do rosacrucianismo experimentam este fenômeno, uns de modo mais perfeito, outros menos por não estarem ainda desenvolvidos.
Frequentemente os alunos perguntam qual seria o lugar ideal para realizar a concentração.
Antes de tudo deve-se dizer que, para que se possa concentrar, o corpo deve estar em condições apropriadas para tal cometimento e um organismo cansado ou nervoso não se presta para este fim. Os nervos perturbados por excesso de trabalho, seja intelectual ou físico, não permitem uma concentração profunda, pois não podem prodigalizar a necessária paz, o que significa necessitar-se da mais absoluta calma. Pode-se obtê-la com diferentes exercícios tais como, respiração bem profunda para que se possa relaxar os músculos tensos e diminuir, pela respiração, o anidrido carbônico aglomerado no sangue, sendo que, com poucas respirações, porém profundas, consegue-se um bom efeito. Somente nestas condições é que se deve pensar na meditação. O lugar deve ser adequado a nossa quietude interna, calmo, onde outras pessoas durante a meditação não tenham acesso. Deve-se meditar sozinho.
Mais tarde, quando se possa isolar intimamente de modo completo, então se pode concentrar na presença de outrem, porém, a meditação solitária, encerrado em um cômodo fechado é, sem dúvida, a melhor. É muito agradável também meditar em um jardim, na presença de árvores e de flores, pois podem aparecer durante a meditação os “espíritos da natureza”, curiosos em saber o que se passa com a pessoa ali presente. Em uma praia, bem cedo, antes mesmo do sol se levantar no horizonte, em um mato onde ainda dormem os pássaros; enfim, na natureza onde só Deus respira é o lugar ideal para aquele que deseja meditar. Em todo o caso, sempre haverá um lugar, um cantinho em casa ou fora, para que se possa isolar dos demais e aprofundar-se em seus pensamentos.
Para se obter resultados positivos na concentração é indispensável também a condição de castidade. Mesmo que não se possa obrigar o aluno a estas condições, deve o mesmo de antemão saber esforçar-se para cumprir com esta obrigação no futuro. Nada pode ser feito forçadamente.
Sempre se precisa de preparações para conseguir esta ou aquela finalidade e assim procedendo, mais tarde a castidade tornar-se-á uma naturalidade. Casados não devem ter camas em comum e o uso de camas separadas ou mesmo de quartos separados é o ideal, caso em que a meditação se torna mais perfeita, pois, se dormem juntos, o corpo etérico, bem como o de Desejos se infundem um no outro, perturbando assim o precioso trabalho noturno fora do seu corpo. Mas não somente por isso devem os cônjuges ter quartos ou camas em separado; a higiene também exige esta condição, pois a mais ligeira aproximação de corpos, principalmente em caso de doença ou de qualquer impedimento de bem-estar, prejudicará o companheiro quando em suas funções superiores. Acontece e isto se deve dizer sem reservas, que um organismo enfraquecido rouba funções vitais do companheiro mais enriquecido de vitalidade. Se um dos cônjuges a noite deseja concentrar-se ou meditar, será logicamente frustrado, pois a atenção que prestaria em não acordar o outro não permitiria realizar os exercícios com a devida perfeição. A fusão dos corpos superiores de ambos os componentes não deixa livre a ação do EGO. Supondo-se e diga, enfaticamente, que um dos cônjuges tem o costume de roncar, como é que se pode concentrar? A mesma ficará prejudicada, podendo dizer, perdida, ou que, representa um retardamento em nossa educação espiritual. Uma vez mais advertimos com severidade: casados, não usem camas em comum, pois são Estudantes do Espiritualismo.
É sabido que, muito difícil será ao aspirante desenvolver suas faculdades espirituais alimentando-se inadequadamente, sendo a carne o alimento mais contraindicado. Em primeiro lugar, a pessoa que ingere carne se faz culpada pelo assassínio de seus irmãos menores e o EGO sentirá todos os sofrimentos físicos que o animal sentiu na hora da morte.
Tendo o EGO que se submeter à função assimilativa da alimentação inadequada que não tem justa procedência, embora seu objetivo primordial seja a espiritualização do seu corpo físico, usa deste processo de transformar as células muito sólidas, tornando-as assimiláveis ao seu organismo; assim, ao invés do EGO usar suas funções para evoluir, restringe-se a transformação de corpos com evidente finalidade desfavorável. Se um animal carnívoro se alimenta de outro, devia-se exigir, com o mesmo direito, “que um ser humano se alimentasse de outro ser humano”. O animal é inocente por não ter inteligência e sua vida é de instintos adequados a ele, assim, tem o direito de se alimentar do que é de sua posse e de sua natureza. O ser humano tem inteligência e pode ler em todos os livros sagrados as palavras “NÃO MATARÁS” e, se mata a lei de causa e consequência o castigará certamente assim como o responsabilizará pelo sofrimento que causou a um animal, engendrando em consequência, sofrimento no corpo e carne humanos que é a justa recompensa pela transgressão do mandamento e questão.
Finalmente, o ser humano não é um animal no sentido literal como os cientistas hodiernos gostam de se expressar e sim ser humano, gente, constituído de faculdades superiores à de um animal, dotado de uma inteligência para compreender o sofrimento que se causa a um animal na hora que se destrói o seu corpo. O Espiritualista que une seu íntimo com Deus pela concentração e meditação jamais pode usar na alimentação o corpo que Deus deu a um animal. Todos os profetas disseram a mesma coisa, pois Deus não quer animais sacrificados, deseja-os no coração do ser humano, podendo-se dizer que o próprio Cristo se sacrificou como consequência de que o ser humano deveria sustar a matança de animais, fosse para sacrifica-los a ídolos ou para alimentar-se.
Se fosse justo que os animais se alimentassem da sua espécie, seria lógico que também o ser humano se alimentasse dos seus semelhantes e isto jamais seria possível, jamais poderia haver razão para tal. Assim, a recusa formal de alimentos de carne de animais torna-se imprescindível ao candidato à espiritualidade. O ser humano foi colocado na sua qualidade de humano para proteger os animais que o servem em sua economia. A ética determina que nos sujeitemos às condições de protetores de nosso próximo e o animal também o é.
Cabe-se aqui fazer uma narração em torno de um fato vivido pelo autor. Em uma rua muito acidentada por salientes pedras, quatro animais atrelados tinham dificuldades em puxar uma carroça para frente. O desalmado carroceiro que dirigia batia sem cessar nos animais já exaustos. Em dado momento, o carro chegou a uma elevação da rua, a qual não podia ser ultrapassada, devido ao alto obstáculo que apresentava. O carroceiro, em seu assento, chicoteava sem cessar os pobres animais. Nesta altura, o autor tirou do bolso papel, lápis, fingindo tomar nota do número da carroça, no propósito de defender os animais. Observado que foi pelo carroceiro, este desceu e, virando-se para o autor dirigiu-lhe as seguintes palavras: – “se você não parar de escrever, eu lhe ponho debaixo deste carro”. Embora apreensivo devido as palavras recebidas, percebia o autor que os quatro animais, sem o peso do truculento carroceiro, pois estava ele em discussão com o autor, fizeram um esforço excepcional, tirando a carroça fora do obstáculo.
O carroceiro vendo o sucedido correu atrás dos cavalos e prosseguiu viagem.
Verifica-se por esta curta narração do que é capaz uma boa dose de sentimento de proteção aos pobres animais, que sem mais chicotadas desumanas, conseguiram livrar-se do obstáculo.
A ética do ser humano puro para o oculto reflete na bondade com que trata os animais que necessitam do seu amor, pois lhes falta inteligência para se defenderem de seus adversários e de seus inimigos, especialmente o ser humano.
O discípulo dos ensinamentos secretos abençoa os animais como se abençoasse um familiar seu. Ele ama as criaturas de Deus, não podendo sua carne servir-lhe de alimento. A carne impede ao místico livrar-se facilmente do seu corpo, pois as baixas vibrações da mesma, quando ingerida, não permitem tal fato, uma vez que está intimamente ligada ao espírito-grupo do animal o qual continua agindo sobre a mesma no estômago e intestinos do Estudante e sendo estranho para o EGO, procura este transforma-la, como se disse anteriormente. Todo o sistema orgânico deve vibrar em harmonia, em uníssono com o Cosmos e a presença de carne dificulta sobremodo o EGO executar sua ação. O corpo praticamente sofre um envenenamento, o qual o EGO tem que se anular com esforços inauditos, tornando mesmo precária a concentração, devido o referido envenenamento resultante da ingestão de cadáveres bem como impossibilitando a exaltação em Deus.
Cumpre-nos ainda falar sobre o FUMO e o ÁLCOOL. Assim como a carne envenena o sangue (o precioso veículo do EGO), assim também o álcool e o tabaco o envenenam. O EGO fica subjugado ao corpo devido a luta que trava contra os venenos; a circulação nas glândulas superiores (tireoide, pineal e pituitária) que servem ao EGO nos trabalhos espirituais para se afastar do corpo, diminuem consideravelmente, obstruindo sua saída do organismo, pois este amarra o EGO devido as inadequadas condições.
Em geral, os candidatos conseguem a concentração só por um ou dois minutos. Outros dizem que nem sequer chegam à meditação, pois dormem ou os pensamentos tumultuam o cérebro, não podendo fixar os pensamentos por um único momento e isto mostra que o corpo do candidato está envenenado. Se o corpo permanece puro, os pensamentos correm em uma única direção. Deve-se também salientar que não somente com alimentos se envenena o corpo e o sangue, porém, emoções e pensamentos nefastos envenenam o Corpo de Desejos, descontrolando os centros nervosos, impedindo o candidato de pensar por não poder o EGO exercer sua função nos preciosos corpos superiores, falando as emoções e não a inteligência nem o juízo. A moléstia do Corpo de Desejos e do intelecto ocasiona a impossibilidade da coordenação das funções gerais de toda a arquitetura humana, pois o edifício humano se queda abalado em sua estrutura, em seus fundamentos básicos.
É necessário, pois evitar estes envenenamentos e o grande remédio contra estes males é o AMOR, endereçado a tudo e a todas as coisas que se manifestem, pois, sem bondade e sem caridade não existe satisfação na vida em geral, particularmente para aquele que se dirige diretamente a Deus pela meditação. Com o amor ninguém se perde e sim frente à emoção, à crítica ou ao julgamento errado.
A leitura de textos espiritualistas de mestres do esoterismo cria possibilidades para meditar, uma vez que, automaticamente, o aluno se coloca no mesmo plano daqueles que falam através das palavras. A Bíblia e seus Evangelhos são trabalhos de eminentes pensadores que desejaram demonstrar suas faculdades espirituais obtidas durante suas meditações e em suas exaltações. O amor constante faz o organismo sentir-se melhor, faz sentir que Deus está presente e que ninguém, assim procedendo, falhe em sua caminhada ao Cosmos.
São estas as melodias emocionais e sensuais usadas nas baixas camadas de sentimentos egoísticos. A música dos povos primitivos chega ao ponto de não possuir melodias, feitas somente de ritmos, os quais não são transmitidos ou executados por instrumentos de corda ou sopro de tom suave e sim, de preferência, por instrumentos de percussão, utilizados nas religiões primitivas para provocar danças sensuais e delirantes. Em nossos tempos observamos ainda, entre espiritualistas primitivos, o uso da música de percussão ligada a instrumentos de sopro de estridente sonoridade. Ao som dessa música o candidato é conduzido a sensações sexuais e de orgia criadas pelo Corpo de Desejos. Outra forma de música primitiva é a que se ouve entre os povos orientais da Ásia Menor, a qual se caracteriza pela mesma melodia monótona como o deserto, devido ao sol quente e constante, à falta de ar refrescante, triste como o camelo que, no mesmo ritmo, balança sua corcunda, levando o triste beduíno ao próximo oásis. A música oriental é uníssona em conjunto, mas sem harmonização, uma vez que não existe na mesma o sustenido, só o bemol menor. Não há elevação, não servindo mesmo para proporcionar à alma a exaltação. Na península ibérica persistem os remanescentes das melodias dos mouros, encontrando-se ali as mesmas melodias monótonas.
Pode-se mesmo afirmar que, entre os povos ali radicados, quase não há expressão de música clássica, nem no romantismo, nem no lirismo, nem mesmo no classicismo moderno. Existem sim as melodias emotivas, as quais não servem para a espiritualidade. Estas explicações sobre a música são dadas como oportunidade, esperando-se dos leitores que se concentrem nos fatos atrás demonstrados, para que possam formar uma opinião a respeito. A verdade é que, para o espiritualista, não serve QUALQUER MÚSICA e sim a MÚSICA VERDADEIRA. Ainda com relação a música, devemos dizer que, quando transmitida por aparelhos mecânicos, tais como gramofone, rádio, alto-falante, televisão, enfim, toda a sorte de máquinas falantes, não servem ao fim objetivado. Se não houver direta afinidade entre as pessoas que ouvem com ditas máquinas, não existirá emanação psíquica entra o operador e o ouvinte e isso quer dizer que temos que ter em nossa frente o cantor ou o instrumentista para sentirmos a vitalidade da música do mesmo. Se transmitida por uma máquina, o volume da voz ou a sonoridade do instrumento seria admissível, porém, a transmissão por disco ou fita magnética, os quais tiram os valores indispensáveis para sentir a verdadeira essência musical, não é aconselhável.
Sempre foi a direta transmissão do executante ou do cantor para o ouvinte a mais eficaz.
Num orador, por exemplo, poder-se-á melhor avaliar a sua influência sobre os ouvintes, pois a palavra viva emitida, os sentimentos expressados em verbos, a fisionomia que se sujeita aos sentimentos da alma, os gestos percebidos (expressões da vida interna) sensibilizam o auditório enquanto que a transmissão por processos mecânicos será sempre deficiente no que toca à referida sensibilidade sentimental.
Nos ritos antigos das religiões do Egito, Grécia e Roma, a dança fazia parte das cerimônias sagradas. Ouvia-se a música e, no mesmo instante, a interpretação da mesma pelos dançarinos que, com gestos e movimentos dos braços e pernas ou de todo o corpo, pretendiam demonstrar a alma da música, a qual transmitia inspirações às bailarinas que por sua vez, transformavam os sentimentos em movimentos de seus belos corpos. Pelos seus gestos percebia-se o entusiasmo transfigurando-se em halos de espiritualidade.
Os orientais têm, por excelência, o costume de fazer-se entender por palavras acompanhadas de gestos de suas mãos ao mesmo tempo. Não se devem confundir gestos de crianças que aprendem na escola quando recitam versos. Percebe-se que não são espontâneos e as crianças assim ensinadas, não tem entusiasmo próprio para que possam demonstrar sua vida íntima, a exemplo do que acontece com os adultos. Seria melhor não ensinar as crianças os movimentos artificiais de expressão anímica.
Arquitetura
Falemos por fim sobre a Arquitetura. Quando a Mente ingressa em um plano da geometria, na estética e no poder inerente da construção, observando-se uma pirâmide, um templo grego ou romano, sentimos a grandeza do idealizador dessas construções.
Se admiramos noventa e nove colunas em um templo da antiguidade, um verdadeiro mar de colunas, mostrando a arquitetônica divina, somos arrebatados por essa grandiosa expressão de força e dinâmica existente em monumental edifício. Mostra a vontade e o trabalho do intrépido arquiteto que desejou dessa maneira, mostrar que Deus é Infinito. De uma robusta base sobem colunas aos céus e sobre essas pousam os capiteis, tornando-se, novamente, colossal a base de pedras que finalizam a obra. Sem a devida meditação não teria sido feita essa construção identificada com o vigor, com o poder e a infinita força de Deus. Observando-se as enormes mesquitas, as igrejas e catedrais do Cristianismo romano, o gótico da renascença e do barroco, novamente, encontramos a fabulosa força consubstanciada em tais monumentos, oriunda de uma concentração e meditação silenciosas. Não temos suficientes palavras de admiração àqueles pensadores que, se sabiam se concentrar nas construções aqui no Mundo Físico, melhor o faziam no mundo espiritual.
Tudo que aqui foi dito mostra que a meditação e a concentração são exigências das Hierarquias Superiores. Lembremo-nos que a humanidade se perdeu em um tortuoso labirinto, do qual não sairá tão depressa. Ela se deteve no materialismo, verdadeiro beco sem saída. Sendo o dever da humanidade evoluir de acordo com as leis do Cosmos, os mestres superiores sabem como educar cada indivíduo, assim como a coletividade. Os pensadores mais lúcidos e perfeitos fazem com que a coletividade cresça em sua função intelectual, moral, física e social. O Cosmos aplica naqueles que tem afinidades com as ideias superiores sua qualidade infinita.
Na hora da concentração e meditação estas forças superiores se fazem sentir, brotando a harmonia das flores espirituais em seu filho Ser Humano.
Devemos pensar, constantemente, sobre nós mesmos, não sentir a nossa essência, o Ego, à parte de Deus e sim junto a ELE. Por essa razão, o espiritualista, em sua meditação, pergunta: – QUEM SOU EU? E, como resposta, encontrará o conhecimento das significativas palavras: – TU ÉS INFINITO, ETERNO E IMORTAL.
Assim nas constantes pesquisas das ideais advindas do Cosmos, O EGO se encontra no seio desta grandeza, sente sua existência infinita no corpo de Deus, integrando-se no mesmo, em profunda consciência espiritual em sua exaltação divina.
FIM
O Corpo de Desejos do ser humano é seu veículo dos sentimentos, das aspirações, vontades e emoções. Ele é responsável por todas as suas ações, vivenciadas em movimentos livres.
Se descontrolado, faz com que o corpo faça todas as coisas desnecessárias e indignas tão prejudiciais ao crescimento da alma.
Entretanto, esse gênio que é um perigo tão grande quando assume o controle pode ser de eficiente serviço sob direção apropriada.
Portanto, o temperamento do Corpo de Desejos deve ser controlado, mas de nenhum modo exterminado.
Há 4 meios de você acessar esse Livro:
1. Para fazer download ou imprimir (com as figuras que tanto facilitam a compreensão):
O Corpo de Desejos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – PDF
2. Em forma audiobook ou audiolivro:
O Corpo de Desejos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – em audiobook
Em Publicação…
3.Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/@fraternidaderosacruzcampinasbr/videos
aqui:
O Corpo de Desejos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – em videobook
4. Para estudar no próprio site somente o texto:
O CORPO DE DESEJOS
Por
Max Heindel
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Revisado de acordo com:
2ª Edição em Inglês, 2011, The Desire Body, editada por The Rosicrucian Fellowship
1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
O ser humano, o Espírito residente interno, tem no atual estágio de desenvolvimento quatro veículos através dos quais ele funciona: o Corpo Denso, o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente. Embora esses Corpos e esse veículo estejam intimamente correlacionados e afetados uns pelos outros, e é de ajuda para o Estudante, para a completa compreensão de suas funções e possibilidades, estudar cada um deles separada e intensamente. Para facilitar tal estudo, tudo o que foi escrito por Max Heindel sobre o Corpo de Desejos foi juntado e publicado nesse único e conveniente volume.
O Corpo de Desejos do ser humano é seu veículo dos sentimentos, das aspirações, vontades e emoções. Ele é responsável por todas as suas ações, vivenciadas em movimentos livres. Se descontrolado, faz com que o corpo faça todas as coisas desnecessárias e indignas tão prejudiciais ao crescimento da alma. Entretanto, esse gênio que é um perigo tão grande quando assume o controle pode ser de eficiente serviço sob direção apropriada. Portanto, o temperamento do Corpo de Desejos deve ser controlado, mas de nenhum modo exterminado.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, por conseguinte, enfatizam a transmutação dos desejos inferiores em sentimentos elevados através do serviço motivado por devoção aos ideais superiores. Isso gera a Alma Emocional, nutriente essencial para o Espírito em evolução.
ÍNDICE
PARTE I – O MUNDO DO DESEJO PLANETÁRIO.. 5
Capítulo I – Sua Relação com o Mineral, o Vegetal, o Animal e o Ser humano.. 5
PARTE II – ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DO CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO 13
Capítulo I – Através dos Períodos Setenários. 13
PARTE III – O CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO NO MUNDO FÍSICO.. 21
Capítulo I – Da Infância à Puberdade. 21
Capítulo II – Sua Aparência e Suas Funções. 25
Capítulo III – O Efeito das Emoções no Contorno e na Cor do Corpo de Desejos. 30
Capítulo IV – A Influência do Pensamento.. 38
Capítulo V – Relação com a Consciência. 43
Capítulo VI – Durante o Sono.. 48
PARTE IV – O CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO NOS MUNDOS INVISÍVEIS 52
Capítulo I – Na hora da Morte. 52
Capítulo II – Causas da Mortalidade Infantil 56
Capítulo III – O Purgatório.. 61
Capítulo IV – Espíritos Apegados a Terra e suas Presas. 80
Capítulo V – A Região Limítrofe. 86
Capítulo VI – O Primeiro Céu.. 89
Capítulo VII – O Segundo Céu.. 92
Capítulo VIII – A Caminho do Renascimento.. 95
PARTE V – A ESPIRITUALIZAÇÃO DO CORPO DE DESEJOS DO SER HUMANO.. 97
Capítulo I – Seres Superiores como Fatores. 97
Capítulo II – A Falibilidade do Corpo de Desejos. 105
Capítulo III – Preparação para a Vida Superior. 111
*******************************************************
Nos Ensinamentos Rosacruzes, o universo acha-se dividido em sete Mundos diferentes ou estados de matéria, como se segue:
Esta divisão não é arbitrária, mas necessária, porque a substância de cada um desses Mundos está sujeita a leis que são praticamente ineficazes nos outros Mundos. Por exemplo: no Mundo Físico, a matéria acha-se sujeita à gravidade, à contração e à dilatação. No Mundo do Desejo não existe nem calor nem frio, e as formas levitam com a mesma facilidade com que gravitam. A distância e o tempo são também fatores preponderantes que existem no Mundo Físico, mas quase totalmente inexistentes no Mundo do Desejo.
A matéria desses Mundos também varia em densidade, sendo o Mundo Físico o mais denso dos sete.
Cada Mundo acha-se subdividido em sete Regiões ou subdivisões da matéria.
A matéria de desejo, no Mundo do Desejo persiste através das sete subdivisões ou Regiões como material para a “incorporação” dos desejos.
Assim como a Região Química é o reino da forma e a Região Etérica é o lar das forças condutoras das atividades vitais nessas formas, permitindo-lhes viver, mover-se e propagar-se, assim também as forças no Mundo do Desejo, trabalhando no Corpo Denso despertado o impelem a se mover nessa ou naquela direção.
Se apenas existissem as atividades das Regiões Química e Etérica do Mundo Físico, haveria formas vivas, capazes de se moverem, mas sem incentivo para agirem dessa forma. Esse incentivo é proporcionado pelas forças cósmicas ativas no Mundo do Desejo e, sem essa atividade agindo através de todas as fibras do Corpo vitalizado, impelindo-o a ação nessa ou naquela direção, não haveria experiência nem crescimento moral. A função dos diferentes Éteres cuidaria do crescimento da forma, pois é somente em resposta às necessidades do crescimento espiritual que as formas evoluem para estados superiores. Vemos assim a grande importância desse reino da Natureza.
Desejos, aspirações, paixões e sentimentos expressam-se na matéria das diferentes Regiões do Mundo do Desejo, assim como as formas expressam-se na Região Química do Mundo Físico. Tomam formas que duram por mais ou menos tempo, de acordo com a intensidade do desejo, aspiração ou sentimento que encerram. No Mundo do Desejo a diferença entre as forças e a matéria não é tão definida e visível como no Mundo Físico. Poder-se-ia dizer até que aqui as ideias, força e matéria são idênticas e recíprocas. Não é bem assim, mas podemos dizer que até certo ponto o Mundo do Desejo se compõe de força-matéria.
Quando se fala da matéria do Mundo do Desejo, é verdade que ela é um grau menos denso que a matéria do Mundo Físico, mas formaremos uma ideia totalmente errada se imaginarmos.
Embora a montanha e a margarida, o ser humano, o cavalo e um pedaço de ferro sejam compostos de uma derradeira substância atômica, não queremos dizer que a margarida seja uma forma de ferro mais fina e sutil. Semelhantemente, é impossível explicar por palavras a mudança ou a diferença que se opera na matéria física quando ela se converte em matéria de desejos. Se não houvesse diferença ela seria suscetível às leis do Mundo Físico, o que não acontece.
A lei que rege a matéria da Região Química é a inércia – a tendência a permanecer no “status quo”. É necessária certa soma de energia para vencer essa inércia, para fazer que se mova um corpo em repouso ou para deter um corpo em movimento, o que não acontece com a matéria do Mundo do Desejo. Essa matéria por si mesma é quase vivente. Está em movimento fluídico incessante, assumindo todas as formas imagináveis e inimagináveis, com inconcebível facilidade e rapidez, assumindo ao mesmo tempo cores coruscantes e cintilantes de milhares de tons sempre cambiantes, sendo incomparável com qualquer coisa que conhecemos no estado físico de consciência. Algo ligeiramente semelhante à ação e ao aspecto dessa matéria poderia ser visto no jogo de cores de uma concha de nácar quando exposta ao sol e posta em movimento.
Assim é o Mundo do Desejo: um Mundo de luz e cor sempre cambiantes no qual as forças do animal e do ser humano se misturam com as forças de inumeráveis Hierarquias de seres espirituais que não aparecem no Mundo Físico, mas que são tão ativas no Mundo do Desejo como nós o somos aqui.
As forças emitidas por essa vasta e variada hoste de Seres modelam a matéria cambiante do Mundo do Desejo em formas inumeráveis e diferentes, de maior ou menor durabilidade, de acordo com a energia cinética do impulso que lhes deu origem.
Os três Mundos do nosso Planeta (Mundo do Pensamento, Mundo do Desejo e Mundo Físico) são atualmente o campo de evolução para diferentes reinos de vida, em diferentes estados de desenvolvimento. Apenas quatro desses, por ora, nos dizem respeito: o reino mineral, vegetal, animal e humano.
Esses quatro reinos acham-se relacionados com os três Mundos de maneiras diversas, de acordo com o progresso que esses grupos de vida evolucionante tenham feito na escola da experiência.
Para mostrar sentimentos e emoções é necessário possuir um veículo composto por matérias do Mundo do Desejo.
É necessário ter um Corpo Vital separado, um Corpo de Desejos, etc., para expressar as qualidades de um reino em particular, porque os átomos do Mundo do Desejo, do Mundo do Pensamento e mesmo dos Mundos Superiores, tanto interpenetram o mineral como o Corpo Denso. Se a interpenetração do Éter planetário, que é o Éter que envolve os átomos do mineral, fosse suficiente para fazê-lo sentir e propagar-se, ser interpenetrado pelo Mundo do Pensamento planetário também seria suficiente para fazê-lo pensar. Isso não pode ser feito por faltar um veículo separado. O mineral é penetrado apenas pelo Éter planetário e é por esse motivo incapaz de crescimento individual. Só o mais inferior dos quatro estados do Éter – o Químico – acha-se ativo no mineral. As forças químicas existentes nos minerais devem-se a esse fato.
Tendo notado as relações existentes entre os quatro reinos e a Região Etérica do Mundo Físico, iremos depois voltar nossa atenção para as suas relações com o Mundo do Desejo.
Aqui descobrimos que tanto os minerais quanto os vegetais não possuem o Corpo de Desejos separado. Eles estão permeados apenas pelo Corpo de Desejos planetário, o Mundo do Desejo. Sem possuir o veículo separado, são incapazes de ter sentimentos, desejos e emoções, que são faculdades que pertencem ao Mundo do Desejo. Quando se quebra uma pedra, ela não sente; mas seria errado deduzir que não existe sentimento relacionado a essa ação. Essa é a visão materialista feita por uma multidão de pessoas sem compreensão. O cientista ocultista sabe que não existe ato, grande ou pequeno, que não seja sentido por todo o universo, e mesmo que uma pedra, por não possuir Corpo de Desejos separado não possa sentir, o Espírito da Terra sente porque é o Corpo de Desejos da Terra que permeia a pedra. Quando um ser humano corta seu dedo, o dedo, que não possui Corpo de Desejos separado, não sente dor, mas o ser humano sente, porque é o seu Corpo de Desejos que permeia o dedo. Se uma planta é arrancada pelas raízes, isso é sentido pelo Espírito da Terra como um ser humano sentiria se fosse arrancado um fio de cabelo de sua cabeça. Esta Terra é um corpo vivo que sente, e todas as formas que estão sem Corpos de Desejos separados, através dos quais os Espíritos que as animam pudessem experimentar sentimentos, acham-se incluídas no Corpo de Desejos da Terra e esse Corpo de Desejos tem sentimentos. A quebra de uma pedra e o corte das flores produzem prazer à Terra, enquanto o arrancar de plantas pelas raízes causa-lhe dor.
Na planta não há um Corpo de Desejos separado, por isso ela não tem desejo. Ela direciona seu órgão de reprodução, a flor, casta e impudentemente em direção ao Sol, uma coisa bonita e deleitosa.
No ser humano, o Corpo de Desejos individual tem necessariamente que provocar paixão e desejo a não ser quando subjugado por meios ocultos. Por isso o ser humano é a inversão da planta casta, tanto figurativa como literalmente, pois ele possui desejo e volta seu órgão reprodutor para a Terra e disso sente vergonha. A planta se alimenta através da raiz; no ser humano o alimento entra pela cabeça. O ser humano inala o oxigênio dador da vida e exala o dióxido de carbono portador da morte. Esse é absorvido pela planta que extrai o veneno e devolve o princípio vitalizante para o ser humano.
O Mundo Planetário pulsa através do Corpo Vital e do Corpo Denso do animal e do ser humano, da mesma forma em que penetra o mineral e a planta, mas, além disso, o animal e o ser humano têm Corpos de Desejos separados, que os capacita a ter desejo, emoção e paixão. Existe, entretanto, uma diferença. O Corpo de Desejos do animal é formado inteiramente de material das Regiões mais densas do Mundo do Desejo, enquanto no caso das raças humanas, mesmo nas mais inferiores, um pouco da matéria das Regiões mais elevadas entra na composição do Corpo de Desejos. Os sentimentos dos animais e das raças humanas mais inferiores estão quase que totalmente relacionados com a gratificação dos desejos inferiores e paixões que encontram sua expressão nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo.
O Corpo de Desejos tem sua raiz no fígado, assim como o Corpo Vital o tem no baço.
Em todas as criaturas de sangue quente – que são as mais evoluídas e possuem sentimentos, paixões e emoções, que alcançam o Mundo exterior pelo desejo e das quais podem-se dizer que vivem no mais completo significado do termo e não apenas vegetam – as correntes do Corpo de Desejos fluem externamente do fígado. A matéria de desejo está continuamente se liberando em valores e correntes que viajam em linhas curvas para todos os pontos da periferia do ovoide e depois retorna para o fígado através de vários vórtices, tanto quanto a água fervente está continuamente se liberando da fonte de calor e a ela retornando após completar seu ciclo.
As plantas não possuem esse princípio propulsor e energizante, daí não poderem mostrar vida e movimento como podem os organismos superiormente desenvolvidos.
Onde existe vitalidade e movimento, e inexiste sangue vermelho, não existe Corpo de Desejos separado. A criatura acha-se simplesmente no estágio entre o vegetal e o animal e, portanto, se move completamente na energia do Espírito- Grupo.
Nos animais de sangue frio que possuem um fígado e sangue vermelho, há um Corpo de Desejos separado e o Espírito-Grupo direciona as correntes para dentro, porque no seu caso o espírito separado (do peixe ou réptil individual, por exemplo) acha-se completamente no lado externo do Corpo Denso.
Quando o organismo tiver evoluído ao ponto em que o espírito separado possa começar a penetrar em seus veículos, então ele (o Espírito individual) começará a dirigir as correntes externamente, e veremos o início da existência apaixonada e do sangue quente. É o sangue quente no fígado do organismo suficientemente evoluído para possuir um Espírito interno que energiza a saída das correntes de matéria de desejo que faz com que o animal ou o ser humano demonstre desejo e paixão. No caso do animal, o espírito ainda não está completamente interiorizado. Os mamíferos atuais, que tenham em seu estágio animal alcançado a posse do sangue quente vermelho, acham-se capacitados a experimentar desejo e emoção até certo ponto.
O espírito animal em sua descida alcançou apenas o Mundo do Desejo. Ainda não evoluiu ao ponto de poder “entrar” num Corpo Denso. Portanto, o animal não possui Espírito interno, mas sim o Espírito-Grupo que o dirige de fora. O animal possui o Corpo Denso, o Corpo Vital e o Corpo de Desejos, mas o Espírito-Grupo que o dirige está do lado de fora. O Corpo Vital e o Corpo de Desejos de um animal não se encontram inteiramente dentro do Corpo Denso, especialmente no que diz respeito à cabeça.
Todas as formas são impelidas à ação pelo desejo: a ave e o animal quadrúpede vagam por terra e ar no seu desejo de obter alimento e abrigo, ou com o propósito de procriar; o ser humano é também movido por esses desejos, mas tem ainda outros e mais elevados incentivos que o estimulam a se esforçar. Entre eles, acha-se o desejo de locomover-se rapidamente, o que o levou a construir a máquina a vapor e outros mecanismos que se movem em obediência a seus desejos.
Se não houvesse ferro nas montanhas, o ser humano não poderia construir máquinas. Se não houvesse barro no solo, a estrutura óssea do esqueleto seria impossível, e se não existisse nenhum Mundo Físico, com seus sólidos, líquidos e gases, o nosso Corpo Denso jamais poderia ter existido. Raciocinando de modo similar, torna-se de pronto aparente que, se não existisse Mundo do Desejo composto de matéria de desejo, não teríamos meios de formar sentimentos, emoções e desejos. Um Planeta composto das matérias perceptíveis a nossos olhos físicos, e de nenhuma outra substância, poderia ser o lar de plantas que crescessem inconscientemente, mas sem o desejo para fazê-las crescer. O reino humano e mineral, entretanto, seriam impossibilidades.
Tanto o animal quanto o ser humano têm um Corpo de Desejos e acham-se dominados pelos sentimentos gêmeos e as forças gêmeas. Uma tigresa na floresta passará com indiferença por um pedaço de pão, mas sentirá interesse pelo seu dono. Seu interesse vai fazer surgir a Força de Atração, no entanto, ela vai tentar matá-lo. O ato destrutivo não é o fim, nem o objetivo, entretanto, apenas um passo necessário em direção à assimilação. Se ela percebe outro animal predador com interesse no que ela considera sua presa, isso também vai despertar seu interesse. Mas, nesse caso, o sentimento de interesse vai detonar a força de repulsão, e, se acontecer uma luta, a destruição do seu adversário será o seu objetivo. No caso acima e nos casos nos quais o desejo animal do ser humano sigam fatores, as forças gêmeas e os sentimentos gêmeos operam de modo semelhante, mas existe a diferença na composição no Corpo de Desejos do ser humano e do animal.
O Corpo de Desejos de um animal é composto exclusivamente de matéria das quatro Regiões inferiores do Mundo do Desejo. Daí ele ser incapaz de sentir algo mais que desejo animal por comida, abrigo ou algo parecido. Um santo sentiria o mais penetrante remorso se tivesse inadvertidamente falado uma palavra impensada: a tigresa permanece imperturbável a qualquer sentimento de mal agir, daí ela matar diariamente. A razão é que o Corpo de Desejos do ser humano é composto de matéria de todas as sete Regiões do Mundo do Desejo, daí ele ser capaz de ter sentimentos mais elevados que o animal.
O esquema evolutivo é realizado através dos cinco Mundos em sete grandes Períodos de Manifestação durante os quais o Espírito Virginal ou vida evolucionante se converte primeiramente em ser humano e depois em Deus.
Na terminologia Rosacruz os nomes dos sete Períodos são os seguintes:
Os três primeiros Períodos mencionados (Saturno, Solar e Lunar) pertencem ao passado. Estamos atualmente no quarto Período, o Terrestre. Quando este Período Terrestre de nosso Globo se completar, nós e a Terra passaremos através das condições de Júpiter, Vênus e Vulcano antes do Grande Dia Setenário de Manifestação chegar ao fim, quando tudo o que agora existe imergirá, uma vez mais, no Absoluto para um período de descanso e assimilação dos frutos de nossa evolução, para reemergir para um mais elevado desenvolvimento de outro Grande Dia.
Os três Períodos e meio já passados foram empregados na aquisição de nossos veículos e da consciência atual. Os três Períodos e meio restantes serão dedicados ao aperfeiçoamento desses veículos e à expansão da consciência até o ponto equivalente à onisciência.
Vimos que o ser humano é um organismo muito complexo, consistindo em:
O Espírito Humano e o Corpo de Desejos começaram sua evolução no Período Lunar e são, portanto, os pupilos especiais do Espírito Santo.
Aprendemos, ao estudar o Livro Conceito Rosacruz do Cosmos, que nosso Corpo de Desejos foi gerado no Período Lunar. Se desejamos obter um quadro mental da maneira como as coisas eram então, observemos a ilustração de um feto, como mostrada em qualquer livro de anatomia. Há três partes principais: a placenta, preenchida de sangue materno; o cordão umbilical, que conduz essa fonte vital; e o feto, que é desse modo nutrido, desde o estado embrionário até à maturidade. Imagine agora, naquela época distante, o firmamento como uma imensa placenta da qual pendiam milhões de cordões umbilicais, cada um com seu apêndice fetal. Através de toda a família humana, então em formação, circulava uma única essência universal do desejo e da emoção, gerando em todos os impulsos de ação que ora estão manifestados em cada fase do trabalho do mundo. Esses cordões umbilicais e apêndices fetais foram moldados da matéria úmida de desejo pelas emoções dos Anjos Lunares, enquanto as correntes ígneas de desejo que estavam se esforçando em impulsionar a vida latente na Humanidade, então em formação, eram ígneos guerreiros Espíritos Lucíferes. A cor daquela primeira e lenta vibração que eles puseram em movimento naquela matéria de desejo emocional era vermelha.
No Período Lunar foi necessário reconstruir-se o Corpo Denso para torná-lo capaz de ser interpenetrado pelo Corpo de Desejos e, também, de desenvolver o sistema nervoso, os músculos, as cartilagens e o esqueleto rudimentar. Essa reconstrução foi o trabalho da Revolução de Saturno do Período Lunar.
Na segunda ou Revolução Solar, o Corpo Vital foi também modificado para torná-lo capaz de ser interpenetrado por um Corpo de Desejos e, também, foi adaptado ao sistema nervoso, aos músculos, esqueleto etc. Os Senhores da Sabedoria também ajudaram os Senhores da Individualidade em seu trabalho.
Dessa substância úmida (no Período Lunar) foi construído o corpo mais denso desses “Seres humanos-aquosos”. O pensamento-forma para o Corpo Denso foi consolidado em um gás úmido e o pensamento-forma de nosso Corpo Vital atual desceu ao Mundo do Desejo. Foi formado de matéria de desejo. A esse corpo duplo foi adicionado, no Período Lunar, o pensamento-forma para o nosso atual Corpo de Desejos e os Serafins despertaram o terceiro aspecto do Espírito Virginal: o Espírito Humano. O Espírito Virginal tornou-se um “Ego”; daí que, no final do Período Lunar, o ser humano em formação possuía um tríplice Espírito e um Tríplice Corpo.
Vemos assim que, no final do Período Lunar, o ser humano possuía um Tríplice Corpo em vários estados de desenvolvimento e ainda possuía o germe do Tríplice Espírito. Ele tinha Corpos: Denso, Vital e de Desejos, e Espíritos: Divino, de Vida e Humano. Só lhe faltava o elo para uni-los.
No final do Período Lunar, essas classes possuíam os veículos como estão classificados no Diagrama 10 (do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos, veja abaixo) e, com eles, principiaram no começo do Período Terrestre. Durante o tempo decorrido desde então, o reino humano vem desenvolvendo o material do elo mental e tem assim alcançado total despertar de consciência. Os animais obtiveram um Corpo de Desejos e as plantas, o Corpo Vital. Os extraviados da onda de vida que entraram na evolução no Período Lunar, escaparam das duras e rápidas condições da formação das rochas e, agora, seus Corpos Densos compõem nossos solos mais macios, enquanto a onda de vida que entrou na evolução no atual Período Terrestre forma as duras rochas e pedras.
Todos da Classe 2 cujos Corpos de Desejos estavam em condições de serem divididos em duas partes (como foi o caso de todos os da Classe 1), e que podiam atuar em veículos humanos, avançaram para o grupo humano.
Diagrama 10 – Classes no início do Período Terrestre
Devemos reparar, cuidadosamente, que nos parágrafos anteriores faz-se referência às formas, não à Vida que habita a Forma. O instrumento está ajustado para servir à vida que nele habita. Os da Classe 2, em cujos veículos podia ser feita a divisão acima mencionada, elevaram-se ao reino humano, mas receberam o Espírito interno num momento posterior aos da classe 1. Por consequência, eles não estão agora tão evoluídos quanto os da Classe 1 e formam as raças humanas inferiores.
Aqueles cujos Corpos de Desejos eram incapazes de divisão foram colocados nas mesmas condições das Classes 3a e 3b. Eles são os antropoides atuais. Eles poderão, porém, seguir a nossa evolução se atingir um grau de adiantamento suficiente antes do ponto crítico já mencionado, que virá no meio da Quinta Revolução. Se não nos alcançarem até essa época, eles terão perdido contato com nossa evolução.
Foi dito que o ser humano construiu seu Tríplice Corpo com a ajuda de seres superiores a ele, mas no Período anterior não havia poder coordenador; o Tríplice Espírito, o Ego, estava separado e afastado de seus veículos. Agora chegou o momento para a união do Espírito com o corpo.
Quando o Corpo de Desejos se separou, a parte superior passou de algum modo a dominar a parte inferior e os Corpos Denso e Vital. Isso formou uma espécie de alma-animal com a qual o Espírito podia se unir por meio do elo da Mente. Onde não houve divisão do Corpo de Desejos, o veículo ficava à mercê de desejos e paixões sem nenhum controle, e, portanto, não podia ser usado como um veículo interno capaz de ser a morada do Espírito. Por isso, ele foi posto sob a direção de um Espírito-Grupo que o governava de fora. Tornou-se um corpo animal, e essa espécie degenerou-se no corpo de um antropoide.
Quando ocorreu a divisão do Corpo de Desejos, o Corpo Denso assumiu gradualmente a posição vertical, tirando assim a espinha dorsal da influência das correntes horizontais do Mundo do Desejo no qual o Espírito-Grupo age sobre o animal através da espinha dorsal horizontal. Então, o Ego podia entrar e trabalhar, e expressar-se através da espinha dorsal vertical e construir a laringe vertical e o cérebro para sua manifestação adequada no Corpo Denso. A laringe horizontal também se acha sob o domínio do Espírito-Grupo. Embora seja verdade que alguns animais como o estorninho, o corvo, o papagaio, etc. anteriormente mencionados, sejam, por causa da posição vertical de suas laringes, capazes de emitir palavras, eles não podem usá-las com discernimento. O uso das palavras para expressar pensamentos é o mais elevado privilégio humano e pode ser exercido apenas por um ser capaz de raciocinar e pensar como o ser humano.
Na Época Polar, o ser humano adquiriu o Corpo Denso como um instrumento de ação. Na Época Hiperbórea foi adicionado o Corpo Vital para dar poder de movimento necessário à ação. Na Época Lemúrica, o Corpo de Desejos forneceu incentivo à ação.
Na terceira época, a Lemúrica, o ser humano cultivou um Corpo de Desejos, um veículo de paixões e emoções, e possuía a mesma constituição de um animal. Então o leite, um produto dos animais vivos, foi acrescentado à sua dieta alimentar por ser essa substância mais facilmente influenciada pelas emoções. Abel, o ser humano dessa época, é descrito como sendo um pastor. Em nenhum lugar está escrito que ele tenha matado um animal para se alimentar.
A terceira Época, a Lemúrica, apresenta condições análogas às do Período Lunar, porém mais densas. O coração ígneo da Terra estava no centro, à água fervente em ebulição em seguida, e a atmosfera em vapor ou “névoa-de-fogo” por fora; por conseguinte, “Deus havia separado a terra das águas”, como está no Gênese, a densa umidade do vapor, e ali vivia o ser humano em ilhas da crosta sólida em formação espalhadas no mar de fogo ou água fervente. Sua forma era, então, bastante firme e sólida, possuía tronco, membros e a cabeça estava começando a se formar. Foi-lhe adicionado o Corpo de Desejos e o ser humano foi posto sob o domínio dos Arcanjos.
No passado distante, quando o ser humano estava em contato com os Mundos “internos”, o corpo pituitário e a glândula pineal eram os seus meios de ingresso nesses Mundos e irão novamente servir a esses propósitos num estágio posterior. Estavam conectados com o sistema nervoso involuntário ou simpático. O ser humano estão viu os Mundos internos, como no Período Lunar, na parte mais recente da Época Lemúrica e nos primórdios da Época Atlante. As imagens as apresentavam-se bastante independentes de sua vontade. Os centros de sentidos de seu Corpo de Desejos estavam girando no sentido contrário aos ponteiros dos relógios (seguindo negativamente os movimentos da Terra, que gira em torno do eixo nessa direção) como os centros de sentidos dos “médiuns” o fazem até hoje. Em muitas pessoas, esses centros sensoriais estão inativos, mas o verdadeiro desenvolvimento vai fazer com que eles se movam no sentido dos ponteiros dos relógios.
A Mente foi dada ao ser humano na Época Atlante para objetivar a ação, mas como o Ego estava extremamente fraco e a natureza de desejo forte, a Mente nascente fundiu-se com o Corpo de Desejos; resultou daí a faculdade de astúcia, que foi a causa de toda fraqueza na terceira metade da Época Atlante.
Num futuro distante, o Corpo de Desejos do ser humano tornar-se-á definitivamente organizado como se encontram os Corpos Vital e Denso. Quando esse estágio for atingido, todos nós teremos o poder de funcionar no Corpo de Desejos como agora fazemos no Corpo Denso, que é o mais antigo e mais bem organizado dos corpos do ser humano, sendo o Corpo de Desejos o mais novo deles.
Na Época Hiperbórea, antes de o ser humano possuir o Corpo de Desejos, havia apenas um modo universal de comunicação e, quando o Corpo de Desejos se tornar suficientemente purificado, todos os seres humanos estarão novamente capacitados a se entenderem, pois então a separativa diferenciação de Raça terá sido ultrapassada.
O Corpo de Desejos teve sua formação iniciada no Período Lunar, foi reconstruído no Período Terrestre e será modificado para melhor no Período de Júpiter, alcançando a perfeição no Período de Vênus.
O Globo D do Período de Vênus achar-se-á localizado no Mundo do Desejo (veja Diagrama 8 do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos, abaixo), por isso, nem um Corpo Denso nem um Vital será usado como um instrumento de consciência, daí que as essências do perfeito Corpo Denso e do Vital estarão incorporadas no Corpo de Desejos completo, esse último tornando-se um veículo de qualidades transcendentes, maravilhosamente adaptado e tão sensível ao menor desejo do Espírito interno que, em nossas limitações atuais, ultrapassa os limites de nossa concepção.
Diagrama 8 – Os 7 Mundos, os 7 Globos e os 7 Períodos
Porém, a eficiência de até mesmo esse veículo esplêndido será transcendida quando, no Período de Vulcano, sua essência, junto com as essências dos Corpos Denso e Vital, forem adicionadas ao Corpo Mental, que se tornará o mais elevado dos veículos do ser humano, contendo dentro de si a quinta essência de tudo o que for de melhor de todos os veículos.
Os veículos do recém-nascido não entram em atividade logo de pronto. O Corpo Denso permanece indefeso por um longo período de tempo, após o nascimento.
O mesmo ocorre com as forças que operam no Corpo de Desejos. A sensibilidade passiva à dor física acha-se presente, enquanto a sensibilidade às emoções se acha quase que completamente ausente. A criança mostrará emoções, é certo, à menor provocação, mas a duração dessa emoção é apenas momentânea. Está tudo na superfície.
O Corpo Vital da planta constrói uma folha após a outra, fazendo o caule crescer sempre mais. Não fosse pelo Corpo de Desejos macrocósmico continuaria desse modo indefinidamente, mas o Corpo de Desejos macrocósmico intervém em um determinado ponto e interrompe o crescimento. A força agora necessária para prosseguir o crescimento acha-se disponível para outros propósitos e é usada para construir a flor e a semente. De modo semelhante, o Corpo Vital do ser humano, quando o Corpo Denso fica sob seu controle, após o sétimo ano, faz o último crescer bem rápido, mas perto do décimo quarto ano o Corpo de Desejos individual nasce do útero do Corpo de Desejos macrocósmico e então está livre para trabalhar no Corpo Denso. O crescimento excessivo é interrompido e a força anteriormente usada para isso torna-se disponível para a propagação de forma que a planta humana pode florescer e dar à luz. Portanto, o nascimento do Corpo de Desejos pessoal marca o período da puberdade. A partir desse período, aparece a atração pelo sexo oposto, tornando-se especialmente ativa e desenfreada no terceiro período setenário da vida – do décimo quarto ano ao vigésimo primeiro – porque a Mente controladora ainda não nasceu.
Entretanto, não se deve imaginar que quando o pequeno corpo de uma criança nasce o processo do nascimento esteja completo. O Corpo Denso físico teve a mais longa evolução e, como o sapateiro que trabalhou muitos anos na sua profissão é mais experiente que um aprendiz e capaz de fazer sapatos mais rápidos e melhores, assim também o Espírito que tenha construído mais corpos físicos os produz mais rapidamente, mas o Corpo Vital é uma aquisição mais recente do ser humano. Por isso, não somos tão experientes na construção desse veículo. Consequentemente, leva mais tempo para construí-lo a partir de materiais não empregados na feitura do revestimento do arquétipo, e o Corpo Vital não nasce antes do sétimo ano. Começa então o período de crescimento rápido. O Corpo de Desejos é uma aquisição na composição do ser humano que se dá mais tarde ainda, que não nasce antes do décimo quarto ano, quando a natureza de desejo se expressa mais fortemente durante a chamada mocidade “quente”, e a Mente que torna o ser humano adulto, não nasce antes do vigésimo primeiro ano. Perante a lei, essa última idade é reconhecida como o tempo mais cedo em que o ser humano está pronto para exercer o direito de votar. Aos quatorze anos, temos o nascimento do Corpo de Desejos, que marca o início da autoafirmação. Nos primeiros anos, a criança se vê mais como pertencente à família e subordinada às vontades de seus pais do que após os quatorze anos. A razão é a seguinte: na garganta do feto e da criancinha existe uma glândula chamada Timo, que é maior antes do nascimento e que diminui gradualmente durante a infância e, finalmente, desaparece em idades que variam de acordo com as características da criança. Os anatomistas ficaram confusos quanto ao funcionamento desse órgão e ainda não chegaram a uma conclusão definitiva. Mas foi sugerido que, antes do desenvolvimento dos ossos vermelhos da medula, a criança não é capaz de fabricar seu próprio sangue, e que, portanto, a glândula Timo contém uma essência, suprida pelos pais, que a criança pode extrair enquanto bebê e durante a infância, até estar apta a fabricar seu próprio sangue. Essa teoria está próxima da verdade, e, como o sangue da família circula na criança, ela se considera parte da família e não como um Ego. O Ego se afirma quando ela começa a fabricar seu próprio sangue; não é mais a menina do papai ou o menino da mamãe. Passa a ter um “Eu” identificando-a. Tem início a idade crítica quando os pais colhem o que semearam. A Mente ainda não nasceu, não há nada para refrear a natureza de desejo reprimida, e mais, muito mais, depende de como a criança foi educada nos primeiros anos e que exemplos os pais deram. Nesse ponto da vida, a autoafirmação, o sentimento de “Eu sou eu”, é mais forte que em qualquer outra ocasião e, portanto, a autoridade deve dar lugar ao conselho.
Os pais devem praticar a maior tolerância, pois em nenhuma outra fase da vida o ser humano acha-se mais necessitado de compreensão que durante os sete anos que vão dos quatorze aos vinte um, quando a natureza de desejo é exuberante e desenfreada.
O Corpo de Desejos necessita de proteção das investidas violentas do Mundo do Desejo até por volta dos quatorze anos quando ele nasce na fase que chamamos de puberdade; e a Mente não está suficientemente madura para ser solta de sua capa protetora, até que o ser humano atinja sua maioridade por volta dos vinte e um anos. Esses períodos estão aproximadamente corretos, apenas, pois cada pessoa é diferente das outras quanto à exatidão dos períodos, mas esses dados estão bem próximos da realidade.
Vimos que, quando o Ego chegou ao fim de seus dias na escola da vida, a força centrífuga de Repulsão faz com que ele se descarte do veículo denso por ocasião da morte e, depois do Corpo Vital, que é o mais denso a seguir. Posteriormente, no Purgatório, a matéria de desejo mais inferior acumulada pelo Ego, como um corpo para seus mais inferiores desejos, é expurgada por essa força centrífuga. Nos reinos mais elevados só a Força de Atração governa e mantém o bem pela ação centrípeta, que tende a puxar tudo da periferia para o centro.
Essa força centrípeta de Atração também governa quando o Ego está de volta para renascer. Sabemos que podemos atirar uma pedra mais longe do que uma pena. Daí que, a matéria inferior é lançada fora após a morte, pela força de Repulsão, e, pela mesma razão a matéria mais inferior na qual o Ego que retorna incorpora as tendências ao mal é arrastada para o centro pela força centrípeta de Atração, resultando que, quando a criança nasce, tudo de melhor e mais puro aparece no exterior. O mal normalmente não se manifesta até após o nascimento do Corpo de Desejos próximo dos quatorze anos, e as correntes nesse veículo começam a jorrar fora pelo fígado. Nessa ocasião, o Ego começa a “viver” sua vida individual e mostrar o que tem em seu interior. O Corpo de Desejos nasce por volta dos quatorze anos, na puberdade. Esta é a ocasião em que os sentimentos e paixões estão começando a exercer seu poder sobre o jovem ou a jovem, quando o útero da matéria de desejos, que primeiramente protegia o Corpo de Desejos emergente, é removido. Em muitos casos, esse é um período de tentações, e é um bem para o jovem que aprendeu a respeitar pais e professores, pois eles serão para ele uma âncora de força contra a invasão dos sentimentos. Se foi acostumado a aceitar a opinião dos mais velhos como verdadeira e deles recebeu sábios ensinamentos, ele terá então desenvolvido o inerente senso de verdade que será um guia seguro, mas, na medida em que tenha falhado, então é capaz de ficar à deriva.
Quando numa vida a pessoa morre quando criança, ela, não raro, se lembra desta vida na próxima, porque as crianças menores de quatorze anos não perfazem o ciclo completo da vida, que necessita da construção de um grupo completo de novos veículos. Elas simplesmente passam para as Regiões superiores do Mundo do Desejo e lá esperam pela construção de um novo corpo, o que normalmente ocorre entre um e vinte anos após a morte. Quando voltam a renascer, elas trazem consigo a Mente antiga e o antigo Corpo de Desejos.
Além do corpo visível e do Corpo Vital, também possuímos um corpo feito de matéria de desejo com a qual formamos nossos sentimentos e emoções. Esse veículo também nos impele a procurar a gratificação dos sentidos. Mas, enquanto os dois instrumentos dos quais já falamos estão bem-organizados, o Corpo de Desejos aparece à visão espiritual como uma nuvem ovoide que se estende de, em torno, trinta a quarenta centímetros além do Corpo Denso. Está sobre a cabeça e abaixo dos pés de modo que nosso Corpo Denso se situa no centro da nuvem em forma de ovo, assim como a gema está no centro do ovo.
A razão do estado rudimentar desse veículo é que ele foi acrescentado à constituição do ser humano mais recentemente que os corpos anteriormente mencionados. A evolução da forma é semelhante à maneira pela qual os sucos do caracol inicialmente se condensaram em carne e mais tarde se tornaram uma concha dura. Quando o nosso atual Corpo Denso inicialmente germinou no Espírito, era um pensamento-forma, mas, gradativamente, tornou-se mais denso e mais concreto até ser hoje uma cristalização química. O Corpo Vital foi em seguida emanado pelo Espírito como um pensamento-forma e está no terceiro estágio de solidificação, que é etéreo. O Corpo de Desejos é uma aquisição ainda mais recente. Ele, também, foi concebido por um pensamento-forma que agora se condensou em matéria de desejo. A Mente, só recebida recentemente, é nada mais que uma simples nuvem do pensamento-forma.
Braços e membros, ouvidos e olhos não são necessários no uso do Corpo de Desejos, pois ele pode deslizar pelo espaço com mais suavidade que o vento, sem os meios de locomoção que nós precisamos no Mundo visível.
Quando observado pela visão espiritual, parece que este Corpo de Desejos possui muitos vórtices rodopiantes. É uma característica da matéria de desejo estar sempre em movimento. Do vórtex principal, localizado no fígado, há um fluxo constante e abundante que se irradia para a periferia desse corpo ovoide e que retorna para o centro através de inúmeros outros vórtices. O Corpo de Desejos exibe todas as cores e matizes que conhecemos e vasto número de outros tons indescritíveis para a linguagem do mundo material. Essas cores variam para cada pessoa de acordo com suas características e temperamento. Também variam a cada momento de acordo com as mudanças de humor, fantasias ou emoções que a pessoa experimenta. Há, porém, certa cor básica para cada um, dependendo do Astro regente na hora do seu nascimento. O ser humano, em cujo horóscopo Marte esteja particularmente forte, normalmente, terá sua aura de cor carmim. Quando Júpiter é o Planeta mais forte, a cor predominante parece ser de um tom azulado e, assim por diante, com os demais Planetas, Sol e Lua.
Houve uma época da história passada da Terra, quando a crosta não estava ainda completa, em que os seres humanos viviam em ilhas aqui e ali no meio de mares em ebulição. Eles ainda não tinham desenvolvido olhos e ouvidos, mas um pequeno órgão protuberante desde a parte de trás da cabeça, a glândula pineal, que os anatomistas chamaram de terceiro olho, era o órgão de sentido localizado que avisava o ser humano toda vez que ele se aproximava de uma cratera vulcânica, permitindo-o escapar assim da destruição. Desde então, os hemisférios do cérebro vêm cobrindo a glândula pineal e ao invés de apenas um órgão de sentido, o corpo todo em seu interior e exterior tornou-se apto a sentir os impactos, o que, naturalmente, é um estado de desenvolvimento muito superior.
No Corpo de Desejos, cada partícula é sensível a vibrações similares às que chamamos de imagens, sons e sentimentos, e cada partícula está em constante movimento, rodopiando rapidamente de tal forma a poder estar no mesmo instante na parte superior e na inferior do Corpo de Desejos e levando às demais partículas em todos os pontos a sensação por ela experimentada. Assim, cada partícula da matéria de desejos nesse nosso veículo irá instantaneamente sentir qualquer sensação experimentada por cada uma das partículas. Por conseguinte, o Corpo de Desejos é de uma natureza excepcionalmente sensível, capaz dos mais intensos sentimentos e emoções.
O Corpo de Desejos é o veículo dos sentimentos e emoções que estão sempre mudando a cada momento. Embora tenha-se dito que o Éter que forma nosso Corpo-Alma esteja em movimento constante e associado à corrente sanguínea, essa movimentação é relativamente lenta se comparada à rapidez da corrente do Corpo de Desejos.
A matéria de desejos movimenta-se com inconcebível rapidez, só comparada à luz.
Os impulsos do Corpo de Desejos dirigem o sangue através do sistema a variáveis padrões de velocidade, de acordo com a força das emoções.
Atualmente, os materiais das Regiões inferiores e superiores entram na composição dos Corpos de Desejos da grande maioria da Humanidade. Ninguém é tão mal que não tenha algo de bom. Isso está expresso nos materiais das Regiões superiores que encontramos em seus Corpos de Desejos. Mas, por outro lado, muito poucos são suficientemente bons que não usem alguns dos materiais das Regiões inferiores.
Da mesma maneira que os Corpos Vital e de Desejos macrocósmicos interpenetram a matéria densa da Terra, como está ilustrado na experiência da esponja, da areia e da água, (ver Livro: Conceito Rosacruz do Cosmos), assim os Corpos Vital e de Desejos interpenetram o Corpo Denso da planta, do animal e do ser humano. Mas durante a vida do ser humano, seu Corpo de Desejos não tem a forma semelhante a seus Corpos Denso e Vital. Após a morte ele assume essa forma. Durante a vida, ele tem a aparência de um ovoide Luminoso que nas horas de vigília envolve completamente o Corpo Denso, como a clara envolve a gema de um ovo. Estende-se cerca de trinta a quarenta centímetros além do Corpo Denso. Nesse Corpo de Desejos existem inúmeros centros de sentido, mas, na grande maioria das pessoas, eles acham-se latentes. É o despertar desses centros de percepção que corresponde à abertura dos olhos de um cego. A matéria no Corpo de Desejos humano está em constante movimento de inconcebível rapidez. Nele, não existe nenhum local de parada para nenhuma partícula, como há no Corpo Denso. A matéria, que num momento está na cabeça, pode estar em seguida nos pés e logo retornar. Não há órgãos no Corpo de Desejos, como nos Corpos Denso e Vital, mas há centros de percepção que, quando ativos, assemelham-se a vórtices, permanecendo sempre na mesma posição relativa ao Corpo Denso, a maioria deles em torno da cabeça. Na maioria das pessoas, eles são apenas redemoinhos e não são úteis como centros de percepção. Entretanto, podem ser despertados totalmente, porém, diferentes métodos produzem diferentes resultados.
No Clarividente Involuntário, esses vórtices desenvolvidos em linhas impróprias e negativas movimentam-se da direita para a esquerda ou ao contrário dos ponteiros dos relógios.
No Corpo de Desejos do Clarividente adequadamente treinado eles se movem na mesma direção dos ponteiros dos relógios, brilhando de forma esplendorosa, sobrepujando sobejamente a brilhante luminosidade do Corpo de Desejos comum. Esses centros fornecem-lhe meios de percepção no Mundo do Desejo, e ele vê e investiga de acordo com seus desejos, enquanto a pessoa cujos centros se movimentam no sentido oposto aos ponteiros do relógio é como um espelho, que reflete o que passa diante dela. Tal pessoa é incapaz de obter uma informação de fora. O que foi dito anteriormente é uma das diferenças fundamentais entre um médium e um Clarividente adequadamente treinado. Para a maioria das pessoas, é impossível distinguir entre os dois, mas existe uma regra infalível que pode ser seguida por qualquer pessoa: Nenhum vidente verdadeiramente desenvolvido jamais irá exercer essa faculdade por dinheiro ou algo equivalente; nem irá usá-la para satisfazer curiosidades, mas somente para ajudar a Humanidade.
Cristo disse: “Deixe que sua luz brilhe”[1]. Para a visão espiritual, cada ser aparece como uma chama de luz colorida de acordo com o temperamento, e com maior ou menor brilho na proporção da pureza de seu caráter. A ciência descobriu que toda matéria está num estado de fluxo, que as partículas que formam nossos corpos deterioram-se e são continuamente eliminadas do sistema, para serem substituídas por outras que ficam por curto tempo até também se deteriorarem. Da mesma forma, nosso humor, emoções e desejos mudam a cada momento, o velho dando lugar ao novo, numa interminável sucessão. Por isso, eles devem também ser formados por matéria e sujeitos a leis semelhantes àquelas que governam as substâncias físicas visíveis.
Vejamos como o Corpo de Desejos muda sob os vários sentimentos, desejos, paixões e emoções de modo a que possamos aprender a construir sabiamente o templo místico no qual habitamos.
Quando estudamos uma das chamadas ciências físicas, tais como a anatomia ou a arquitetura, que lidam com as coisas tangíveis, nossa tarefa é facilitada pelo fato de termos palavras que descrevem as coisas de que tratamos, mas, mesmo assim, o quadro mental concebido pela palavra difere de um indivíduo para outro. Quando falamos de uma “ponte”, uma pessoa pode mentalizar uma estrutura de ferro no valor de um milhão de dólares, e outra pode pensar numa prancha sobre um riacho. A dificuldade que experimentamos ao transmitir impressões exatas do que queremos dizer aumenta substancialmente quando tentamos exprimir ideias sobre as forças intangíveis da Natureza, tal como a eletricidade. Medimos a força da corrente em volts, o volume em ampères e a resistência dos condutores em ohms, mas, de fato, estes termos são somente invenções para encobrir nossa ignorância sobre a matéria. Todos sabem o que é um quilo de café, mas o maior cientista do mundo tem uma concepção exata do que volts, ampères e ohms sejam sobre os quais ele discursa tão doutamente, tanto quanto um estudante que ouve estas palavras pela primeira vez.
Não é de admirar que assuntos suprafísicos sejam descritos por termos vagos e frequentemente desorientadores, pois não temos palavras, em nenhuma língua física, para descrever exatamente estes assuntos e temos de confessar nossa impotência e perplexidade, por não encontrarmos termos adequados para nos expressarmos a respeito deles. Se fosse possível projetar sobre uma tela cinematográfica as imagens coloridas do Corpo de Desejos e mostrar como esse incansável veículo muda de contorno e de cor conforme as emoções, nem assim seria compreensível para aquele que não é capaz de ver as coisas por si mesmo, pois os veículos de cada ser humano diferem dos demais na medida em que respondem a certas emoções. Aquilo que induz alguém a sentir amor, ódio, raiva, medo ou qualquer outra emoção pode deixar outro inteiramente insensível.
Inúmeras vezes o autor observou as multidões para estabelecer comparações a este respeito e encontrou, sempre, algo surpreendentemente novo e diferente do que havia observado antes. Certa ocasião, um demagogo se esforçava em incitar um sindicato de trabalhadores à greve. Ele mesmo estava muito exaltado e, embora a cor básica laranja escuro fosse perceptível, estava, naquele momento, quase obscurecida por uma cor escarlate de matiz mais brilhante e o contorno de seu Corpo de Desejos era como o de um porco-espinho com as pontas eriçadas. Havia um forte elemento de oposição naquela reunião e, à medida que falava, podia-se distinguir claramente as duas facções pelas cores de suas respectivas auras. Um grupo de homens mostrava o escarlate da raiva, mas, no outro grupo, esta cor estava mesclada com o cinza, a cor do medo.
Era também digno de nota o fato de que, embora os homens que apresentavam a cor cinza fossem a maioria, os outros venceram, pois, cada tímido acreditava estar sozinho, ou, pelo menos, com muito poucos o apoiando e, por conseguinte, temia votar ou expressar sua opinião. Se alguém que fosse capaz de perceber esta condição estivesse presente e tivesse se dirigido a cada um que manifestava em sua aura sinais de divergência, assegurando que ele fazia parte de maioria, o curso das coisas teria caminhado em direção oposta. Muitas vezes, isso acontece nos assuntos humanos porque, atualmente, a maioria das pessoas é incapaz de ver além da superfície do Corpo Denso e, desta maneira, perceber a verdadeira condição dos pensamentos e sentimentos dos demais.
Em outra ocasião, o autor foi a uma reunião de despertar religiosos onde milhares de pessoas estavam presentes para ouvir um orador de reputação nacional. No princípio da reunião, era evidente, pelo estado da aura das pessoas, que a grande maioria tinha vindo com o único propósito de passar alguns momentos agradáveis e ver algo divertido. Os pensamentos, sentimentos e emoções da vida comum de cada um eram plenamente visíveis, mas, em alguns, a cor azul escuro revelava uma atitude de preocupação; era como se tivessem sofrido alguma desilusão na vida e estivessem muito apreensivos. Quando o orador apareceu, aconteceu um fenômeno curioso. Sabemos que os Corpos de Desejos estão, geralmente, num estado de constante movimento, porém, naquele momento, toda aquela vasta assistência reteve a respiração em atitude de expectativa, porque as cores variadas dos Corpos de Desejos individuais cessaram e a cor básica laranja foi perfeitamente perceptível por um momento. Logo em seguida, cada um voltou às suas atividades emocionais anteriores, enquanto o prelúdio estava sendo tocado. Então, o cântico dos hinos começou e este fato revelou o valor e o efeito da música, pois, ao se unirem cantando as mesmas palavras no mesmo tom, as mesmas vibrações rítmicas em seus Corpos de Desejos fizeram com que parecessem um único ser naquele momento. Um bom número de pessoas estava em atitude céptica, recusando-se a cantar e a se unir aos demais. À visão espiritual, apareciam como homens de aço, vestindo uma armadura daquela cor, e, de cada um, sem exceção, desprendia-se uma vibração que expressava mais do que as palavras poderiam dizer: “Deixem-me em paz, vocês não me comoverão”. Algo interior os havia arrastado até ali, porém, estavam mortalmente amedrontados de entregar-se e, por isso, toda sua aura expressava a cor cinzenta do medo, que é uma armadura da alma contra interferências externas.
Terminada a primeira música, a unidade de cor e vibração desapareceu quase imediatamente, cada um voltando à sua atmosfera habitual de pensamento e, se nada mais tivesse sido feito, cada um teria voltado à sua vida interior costumeira. Porém, o evangelista, embora incapaz de ver isto, sabia, por experiência, que seu auditório não estava preparado ainda e, por isso, uma sucessão de canções foi cantada com o acompanhamento de palmas, batidas de tambores e gestos do regente, ajudado por um coral treinado. Isto reuniu outra vez as almas dispersas em um laço de harmonia; gradualmente, as pessoas foram dominadas por um religioso fervor e estabeleceu-se a unidade necessária para o trabalho seguinte. Pela música, pelas palmas do regente e pelo apelo dos cânticos, a vasta audiência tinha-se transformado em uma só, pois os “homens de aço”, os cépticos de cor cinzenta que se acreditavam demasiado sábios para serem enganados (quando na realidade sua emoção era medo) eram parte insignificante naquela vasta congregação. Todos os outros estavam afinados, como cordas de um grande instrumento, e o evangelista que se erguia diante deles era um artista magistral tocando com as emoções. Ele os levava do riso às lágrimas, do pesar à vergonha. Grandes ondas de cores, correspondendo às emoções, pareciam cobrir toda a audiência, tão confusas quanto magníficas. Então, vieram as invocações de costume: “Levantai-vos para receber Jesus”; o convite para os que se lamentam, etc., e cada um desses chamados extraía de toda assistência uma resposta emocional determinada, mostrada plenamente nas cores dourada e azul. Seguiram-se mais cânticos, mais palmas e gesticulações que, momentaneamente, promoveram a unidade e deram àquela audiência uma experiência parecida com o sentimento de fraternidade universal e a realidade da Paternidade de Deus. Os únicos sobre quem a música não surtiu efeito foram os homens revestidos pela armadura azul de aço do medo. Esta cor parece ser impenetrável a qualquer emoção e, embora os sentimentos experimentados pela grande maioria fossem relativamente fugazes, as pessoas se beneficiaram com o despertar religioso, com exceção dos “homens de aço”.
Pelo que o autor pôde aprender, a sensação interna do medo de se render à emoção — o medo é saturnino em seus efeitos e irmão gêmeo da preocupação — parece exigir um choque que afastará a pessoa, assim afetada, do seu ambiente e a colocará em um novo lugar em novas condições antes que as antigas condições possam ser superadas.
A preocupação é um estado no qual as correntes de desejo não se movem em grandes linhas curvas em nenhuma parte do Corpo de Desejos, senão que o veículo fica cheio de redemoinhos — nos casos extremos, só redemoinhos. A pessoa assim afetada não se esforça em reagir, vê calamidades onde não existem e, ao invés de gerar correntes que levem à ação e que possam evitar o que ela teme, cada pensamento inquietante produz um redemoinho no Corpo de Desejos e, consequentemente, ela não faz nada. Este estado de preocupação no Corpo de Desejos pode ser comparado à água que está próxima do congelamento sob uma temperatura baixa. O medo que se expressa como ceticismo, cinismo e pessimismo, pode ser comparado a esta mesma água quando congelada, pois o Corpo de Desejos dessas pessoas está quase sem movimento e nada do que se possa dizer ou fazer terá poder de alterar essa condição. Usando uma expressão comum que traduz bem esta condição, diremos que elas estão “presas em uma concha” e essa concha saturnina deverá ser quebrada, antes que se possa chegar a elas e ajudá-las a sair deste estado deplorável.
Essas emoções saturninas de medo e preocupações são geralmente causadas pela apreensão dos que sofrem dificuldades econômicas e sociais. “Talvez este investimento que eu fiz traga prejuízo ou perda total; posso perder minha posição e ficar na miséria; tudo o que empreendo parece dar errado; meus vizinhos estão falando mal de mim e tentando prejudicar minha posição social; meu marido (ou mulher) não se preocupa mais comigo; meus filhos estão me desprezando”. E mil e uma ideias semelhantes se apresentam à sua Mente. Esta pessoa deveria lembrar-se que, cada vez que ela permite um desses pensamentos, isto ajuda a congelar as correntes do Corpo de Desejos e constrói uma concha de aço azulada na qual a pessoa, que habitualmente alimenta o medo e a preocupação, se encontrará, algum dia, isolada do amor, simpatia e ajuda de todos. Por isso, devemo-nos esforçar em ser alegres, mesmo em circunstâncias adversas, ou poderemos encontrar em uma triste condição aqui e na vida após a morte.
No começo da Grande Guerra (de 1914 a 1918) as emoções na Europa estavam horrivelmente desenfreadas, primeiro entre os chamados “vivos” e depois entre os mortos, quando despertavam. Este despertar levava muito tempo por causa da detonação dos grandes canhões e mais ainda posteriormente. Toda a atmosfera dos países envolvidos fervia em correntes de raiva e ódio como uma nuvem de um vermelho escuro que pairava em volta dos seres humanos e sobre o chão. Então, apareciam faixas tingidas de escuro como mortalhas que sempre aparecem em súbitos desastres, quando a razão fica imobilizada e o desespero domina o coração. Sem dúvida, isto era causado pelo fato de os povos envolvidos perceberem que uma catástrofe de grandes dimensões, que eram incapazes de compreender, estava acontecendo. Os Corpos de Desejos da maioria giravam em alta velocidade, em grandes ondas de pulsação rítmica que falavam mais alto que as palavras: “Matem, matem, matem”.
Quando duas ou três pessoas de uma multidão se encontravam e começavam a discutir sobre a guerra as pulsações rítmicas, indicando o firme propósito de agir e desafiar, cessavam e os pensamentos e sentimentos de agitação, gerados pela discussão ou conversa, tomavam forma de projeções cônicas que, rapidamente, cresceriam a uma altura de seis ou oito polegadas e, então estouravam e emitiam uma língua de fogo. Algumas pessoas geravam uma quantidade dessas estruturas vulcânicas de uma só vez e, em outras, havia só uma ou duas ao mesmo tempo. Quando uma dessas bolhas estourava, outra aparecia em alguma parte do Corpo de Desejos, enquanto a discussão prosseguia e eram as chamas que emergiam delas que coloriam de escarlate a nuvem sobre a terra. Quando a multidão se dispersava ou os amigos se separavam, o borbulhar e as erupções diminuíam e se tornavam menos frequentes, finalmente cessando e dando lugar, outra vez, às grandes pulsações rítmicas antes mencionadas.
Estas condições são agora (ano de 1916) raras, se é que são vistas ainda. A raiva explosiva contra o inimigo é coisa do passado, pelo menos no que se refere à grande maioria. A cor laranja básica da aura do povo ocidental é visível outra vez, e tanto os oficiais como os civis se acostumaram com a guerra como se fosse um jogo. Cada um está ansioso para superar o outro, utilizando a astúcia. A guerra é agora, principalmente, um canal para a sua habilidade, mas alguns dos Irmãos Leigos da Ordem Rosacruz acreditam que aquela condição de raiva irá voltar de forma diferente, quando as hostilidades cessarem e começaram as negociações de paz.
Esta forma de emoção nós podemos chamar de raiva abstrata e ela difere do que é observado no caso de duas pessoas que se desentendem na vida privada, quer comecem a brigar fisicamente ou não. Vistas pelo lado oculto da Natureza há hostilidade antes que os golpes sejam dados. Formas de desejo em feitio das adagas pontudas projetam-se umas contra as outras como lanças, até que a fúria que as gerou se esgote. Na ira patriótica não existe um inimigo pessoal, por isso as formas de desejo são mais bruscas e explodem sem abandonar a pessoa que as gerou.
Os “homens de aço” tão comuns na vida privada, onde a preocupação por mil e uma coisas que nunca acontecem cristalizam uma armadura ao redor deles, a qual permite que o velho Saturno os aprisione, estavam totalmente ausentes. O autor crê na hipótese de que a tensão do seu meio-ambiente os forçou a se alistarem e o choque quebrou a concha. Então, a familiaridade com o perigo chegou a agradá-los. É certo que estas pessoas se beneficiaram enormemente com a guerra, pois não há estado que impeça mais o crescimento da alma do que medo e preocupação constantes.
É também um fato notável que, embora os seres humanos envolvidos pela guerra sofram terríveis privações, a maior parte deles estão cultivando um matiz de azul celeste pálido que significa esperança, otimismo e um nascente sentimento religioso, dando um toque altruísta ao caráter. É uma indicação de que aquele sentimento de fraternidade universal, que não faz distinção de credo, cor ou país, está crescendo no coração humano.
A nuvem vermelha do ódio está desaparecendo, o negro véu do desespero se foi e não há explosões vulcânicas de paixão nem nos vivos nem nos mortos, porém, até onde o autor é capaz de ler os sinais dos tempos na aura das nações, há um propósito determinado de agir com lisura até o fim. Mesmo nos lares despojados de vários membros, isto parece ser aceito. Existe uma intensa saudade pelos amigos que se foram, mas não há ódio pelos inimigos terrenos. Esta saudade é compartilhada pelos amigos no mundo invisível e muitos estão atravessando o véu, pois a intensidade da saudade desperta no “morto” o poder de manifestar-se, atraindo uma quantidade de Éter e gás que, frequentemente, é extraída do Corpo Vital de um amigo “sensitivo”, da mesma forma que uns espíritos materializantes usam o Corpo Vital de um médium em transe. Assim, os olhos cegos pelas lágrimas são muitas vezes abertos por um coração saudoso, de modo que entes queridos que estejam no mundo do espírito são encontrados face a face, coração a coração. Este é o método da Natureza de cultivar o sexto sentido que possibilitará a todos, no futuro, saber que o ser humano é um Espírito imortal e que a continuidade da vida é um fato na Natureza.
É uma lei no Mundo do Desejo que, como o ser humano pensa, assim ele é – literalmente e sem restrição.
O Corpo Denso, formado pela substância inerte da Região Química, animado e vitalizado pelo Corpo Vital composto pelos Éteres da Região Etérica, recebe o incentivo para a ação do Corpo de Desejos, incentivo este que os animais seguem incondicionalmente, mas que no ser humano é refreado por outro fator, a razão, que às vezes o leva a agir contrário ao desejo. Se não existissem outros Mundos na Natureza além do Mundo Físico e do Mundo do Desejo, a razão não existiria. Teríamos o mineral, a planta e o animal, porém, o ser humano, um ser que pensa e raciocina, seria uma impossibilidade na Natureza.
Nós, como Egos que somos, funcionamos diretamente na substância sutil da Região do Pensamento Abstrato, que especializamos dentro da periferia de nossa aura individual. Dali, visualizamos as impressões feitas pelo Mundo externo sobre o Corpo Vital através dos sentidos, juntamente com os sentimentos e emoções gerados por elas no Corpo de Desejos e refletidas na Mente.
Destas imagens mentais, tiramos nossas conclusões, na substância da Região do Pensamento Abstrato. Estas conclusões são ideias. Pelo poder da vontade, projetamos uma ideia através da Mente, onde ela toma uma forma concreta como um pensamento-forma, envolto em matéria da Região do Pensamento Concreto.
A Mente é como as lentes projetoras de um estereoscópio. Ela projeta a imagem em uma das três direções, de acordo com a vontade do pensador que anima o pensamento-forma. A primeira direção, que vamos discutir aqui, é quando a imagem pode ser projetada contra o Corpo de Desejos, num esforço de despertar sentimento que conduzirá à ação imediata.
Se o pensamento despertar Interesse, uma das duas forças, Atração ou Repulsão, será utilizada:
Temos, no nosso Corpo Denso, dois sistemas nervosos – o voluntário e o involuntário. O primeiro é operado diretamente pelo Corpo de Desejos; controla os movimentos do corpo, leva à exaustão e destruição, sendo somente parcialmente refreado pela Mente nas suas obras cruéis.
É essa luta entre o Corpo Vital e o Corpo de Desejos que produz consciência no Mundo Físico, mas se a Mente não atuasse como um freio sobre o Corpo de Desejos, nossas horas de vigília e nossa vida seriam mais curtas. O Corpo Vital seria superado em seus benéficos esforços pelo descuidado Corpo de Desejos, como evidencia a exaustão que se segue após um ataque de ira. A ira é uma condição em que o ser humano perde “seu controle” e o Corpo de Desejos reina desenfreado.
A enfermidade se apresenta de muitas formas: uma é a insanidade, a qual também tem diferentes tipos. Quando a conexão entre os centros dos sentidos do Corpo Denso e do Corpo Vital está descentralizada, onde, às vezes, a cabeça do Corpo Vital está mais acima da cabeça do Corpo Denso ao invés de estar concêntrico, o Corpo Vital fica desajustado entre os veículos superiores e o Corpo Denso. Então nós temos o idiota dócil. Se o Corpo Denso e o Vital estão ajustados, mas a ruptura é entre o Corpo Vital e o de Desejos, uma condição semelhante se verifica, porém, quando a desconexão é entre o Corpo de Desejos e a Mente, temos um maníaco delirante, que é mais incontrolável do que um animal selvagem, porque é governado pelo Espírito-Grupo. Neste caso, todas as tendências animais são seguidas cegamente.
A tendência natural do Corpo de Desejos é endurecer e consolidar tudo que entre em contato com ele. O pensamento materialista acentua esta tendência de tal forma que muito frequentemente resulta, nas vidas subsequentes, em doença muito séria, tuberculose, que é um endurecimento dos pulmões. Estes órgãos devem permanecer brandos e elásticos. Às vezes, também acontece que o Corpo de Desejos pressiona o Corpo Vital na vida seguinte, de forma que este corpo falha ao contra restar o processo enrijecedor e então nós temos a tuberculose. Em alguns casos, o materialismo faz o Corpo de Desejos ficar frágil. Então, ele não pode fazer seu trabalho no Corpo Denso e, como resultado, temos o “raquitismo”, onde os ossos ficam fracos. Assim, vemos que perigo que corremos por abrigarmos tendências materialistas: ou endurecendo certas partes do corpo, como na tuberculose, ou enfraquecendo os ossos, como no raquitismo. Naturalmente, nem todos os casos de tuberculose mostram que o doente foi materialista numa vida anterior, mas a ciência oculta nos ensina que frequentemente isto acontece.
Nossos pensamentos são muito mais importantes que nossos atos, pois, se pensarmos sempre corretamente, agiremos sempre certo. O ser humano que tenha pensamentos de amor para seus amigos, que esquematize em sua Mente como ajudá-los espiritualmente, mental ou fisicamente, irá pôr em prática estes pensamentos em alguma ocasião em sua vida e, se nós só cultivarmos tais pensamentos, em breve teremos a luz do Sol em torno de nós. Encontraremos pessoas com um estado de espírito igual ao nosso e, se compreendermos que o Corpo de Desejos (que nos envolve e se estende mais ou menos de 40 a 46 centímetros, além da periferia do Corpo Denso) contém todos estes sentimentos e emoções, entraremos em contato com as pessoas de maneira diferente. Então, entenderemos que tudo que vemos é visto por meio da atmosfera que criamos em torno de nós, a qual colore tudo o que contemplamos nos outros.
Se o astrônomo focaliza o telescópio de acordo com a sua vontade terá os resultados que deseja e o trabalho será um sucesso; porém, se as lentes e o mecanismo do telescópio tivessem vontade mais forte que o próprio astrônomo, este estaria tolhido em obter resultado satisfatório, pois as figuras estariam embaçadas, sendo de pouco ou nenhum valor.
O mesmo acontece com o Ego. Ele trabalha com um Corpo Tríplice, o qual controla, ou devia controlar, por meio da Mente. Mas, é triste dizer, este Corpo Tríplice tem sua própria vontade e é frequentemente ajudado e induzido pela Mente, frustrando assim os propósitos do Ego.
Esta antagônica “vontade inferior” é uma expressão da parte superior do Corpo de Desejos. Quando a separação do Sol, Lua e Terra aconteceu, no início da Época Lemúria, a porção mais adiantada da Humanidade em formação sofreu a divisão do Corpo de Desejos em parte superior e parte inferior. O resto da Humanidade o fez no início da Época Atlante.
Esta parte superior do Corpo de Desejos tornou-se um tipo de alma animal. Construiu o sistema nervoso cérebro-espinhal e os músculos voluntários, controlando a parte do Tríplice Corpo até que o elo da Mente foi dado. Então, a Mente uniu-se com esta alma animal e tornou-se uma co-regente.
A Mente está, assim, atada ao desejo, emaranhada na natureza inferior egoísta, dificultando o controle dos Corpos pelo Espírito. A Mente focalizadora, que devia ser a aliada da natureza superior, está alienada, ligada à natureza inferior e escravizada pelo desejo. A lei das Religiões de Raça foi trazida para emancipar o intelecto do desejo. O “medo de Deus” veio para se opor aos “desejos da carne”. Isto, no entanto, não foi suficiente para capacitar o ser humano a se tornar senhor do Tríplice Corpo e assegurar sua cooperação voluntária. Tornou-se necessário para o Espírito encontrar, no Corpo Denso, um ponto de apoio que não estivesse sob a influência da natureza de desejos. Todos os músculos são expressões do Corpo de Desejos e um caminho livre para a traiçoeira Mente que reina suprema, aliada ao desejo.
Para entender o grau de consciência que resulta da posse dos veículos usados pela vida que evolui nos quatro reinos, dirigimos nossa atenção para o Diagrama 4 (abaixo, do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos) que mostra que o ser humano, o Ego, o Pensador, penetrou na Região Química do Mundo Físico. Aqui ele dirigiu todos os seus veículos de modo a atingir o estado de consciência consciente. Está aprendendo a controlar seus veículos. Os órgãos do Corpo de Desejos e da Mente não estão ainda desenvolvidos. A Mente não é nem mesmo um Corpo. No presente, ela é um simples elo, um revestimento para o uso do Ego como um ponto focalizador. É o último dos veículos construídos. O Espírito trabalha gradualmente desde a mais fina até a mais densa substância; os veículos também, da mesma forma, estão sendo construídos em substância fina em primeiro lugar, em seguida, em substância cada vez mais densa. O Corpo Denso foi construído primeiro e agora está no seu quarto estágio de densidade; o Corpo Vital está no seu terceiro estágio. O Corpo de Desejos está no segundo, daí ter ainda a forma de nuvem, e o revestimento da Mente é ainda mais sutil. Como estes dois últimos veículos ainda não desenvolveram órgãos é claro que eles, sozinhos, seriam inúteis como veículos de consciência. O Ego, no entanto, penetra no Corpo Denso e conecta estes veículos sem órgãos com os centros dos sentidos e, então, atinge o estado de consciência de vigília no Mundo Físico.
Diagrama 4 – A Consciência dos Quatro Reinos
O Estudante deve, particularmente, notar que é por causa desta conexão com o mecanismo desse Corpo Denso, tão maravilhosamente organizado, que estes veículos superiores se tornam valiosos no presente. Ele evitará, assim, um erro muito frequente praticado por aqueles que, quando adquirem conhecimento de que há Corpos superiores, começam a desprezar o Corpo Denso, a falar dele como se fosse “baixo” e “vil”, voltando seus olhos para o céu e desejando poder, em breve, deixar esta massa informe de barro e voar em seus “veículos superiores”.
Parece estranho, mas, no entanto, é verdade que a grande maioria da Humanidade está parcialmente dormindo a maior parte do tempo, apesar de seus Corpos Densos parecerem estar intensamente ocupados trabalhando. Sob condições comuns, o Corpo de Desejos da grande maioria é a parte mais desperta do ser humano, o qual vive quase completamente de sentimentos e emoções, mas raramente pensa no problema da existência, além do necessário para manter seu corpo e sua alma juntos. Muitos, provavelmente, nunca pensaram seriamente nas grandes questões da vida: “De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?”. Seus Corpos Vitais são mantidos ativos, reparando a destruição que o Corpo de Desejos provoca no veículo físico e abastecendo com vitalidade, a qual é, mais tarde, gasta ao gratificar os desejos e emoções.
É esta batalha renhida entre o Corpo Vital e o de Desejos que gera consciência no Mundo Físico e faz o homem e a mulher tão intensamente alertas que, do ponto de vista do Mundo Físico, parece ser mentira a nossa afirmativa de que eles estão parcialmente adormecidos. No entanto, examinando todos os fatos chegaremos à conclusão de que é assim e podemos também dizer que este estado de coisas aconteceu sob o desígnio das Grandes Hierarquias, que têm a seu cargo a nossa evolução.
A fortaleza do Corpo de Desejos está nos músculos e no sistema nervoso cérebro-espinhal. A energia despendida por uma pessoa quando está trabalhando agitadamente ou irritadamente é um exemplo disto. Nestes momentos, o sistema muscular está todo tenso e não há trabalho mais exaustivo que um “ataque de mau humor”. Às vezes, deixa o Corpo Denso prostrado por semanas. Há necessidade de melhorar o Corpo de Desejos, controlando o humor e assim poupando o Corpo Denso do sofrimento resultante de uma ação desgovernada do Corpo de Desejos.
Do ponto de vista oculto, toda consciência no Mundo Físico é o resultado da constante guerra entre o Corpo de Desejos e o Vital.
A tendência do Corpo Vital é suavizar e construir. Sua expressão máxima é o sangue, as glândulas e, também, o sistema nervoso simpático, tendo obtido ingresso na fortaleza do Corpo de Desejos (o sistema nervoso voluntário e o sistema muscular) quando começou a desenvolver o coração como um músculo voluntário.
A tendência do Corpo de Desejos é enrijecer e ele, por sua vez, invadiu o domínio do Corpo Vital, apoderando-se do baço e criando os glóbulos brancos do sangue, que não são “os defensores do sistema” como a ciência pensa, mas destruidores, através de todo o Corpo Denso. Eles passam pelas paredes das artérias e veias toda vez que temos um aborrecimento e, principalmente, nas horas de muita raiva. Então, a agitação das forças no Corpo de Desejos faz com que artérias e veias inchem e abram caminho para a passagem dos glóbulos brancos, para o interior dos tecidos do Corpo Denso, onde propiciam a formação de matéria terrosa que mata o Corpo Denso.
Durante o estado de vigília, há uma luta constante entre o Corpo Vital e o de Desejos. Os desejos e os impulsos estão constantemente invadindo o Corpo Denso, impelindo-o à ação e desprezando o prejuízo que lhe possa ser causado com o objetivo de gratificar o desejo.
É o veículo de desejos que impele o beberrão a encher seu sistema de álcool, de forma que a combustão química da bebida alcoólica eleve as vibrações do Corpo Denso a tal ponto que o torne uma ferramenta de todo impulso desequilibrado, esbanjando sua energia armazenada.
O Corpo de Desejos é o veículo de nossas emoções, sentimentos e desejos que gasta as energias do Corpo Denso pelos processos vitais, através do controle do sistema nervoso voluntário ou cérebro-espinhal. Nas suas atividades, este Corpo de Desejos está constantemente destruindo o tecido construído pelo Corpo Vital e a guerra entre estes dois veículos causa o que chamamos de consciência no Mundo Físico. As forças etéricas do Corpo Vital agem de tal forma que convertem o máximo do alimento em sangue, e esta é a maior função do Corpo Vital.
O baço é a porta de entrada do Corpo Vital. Nele, a força solar, que é abundante na atmosfera, entra fluindo ininterruptamente para ajudar-nos no processo vital, e lá a guerra entre o Corpo de Desejos e o Vital é travada de maneira ainda mais acirrada.
Pensamentos de preocupação, medo e raiva interferem no processo de evaporação do baço. O resultado é uma partícula de plasma que é imediatamente apoderada por um elemental do pensamento, que forma um núcleo e se incorpora dentro dele. Então, ele começa a viver uma vida de destruição, unindo-se com outros resíduos e elementos em decomposição formados e fazendo do Corpo Denso uma casa sepulcral, ao invés do templo habitado pelo Espírito.
Esta destruição é constante e é impossível manter os destruidores fora de ação, não sendo essa a intenção. Se o Corpo Vital tivesse controle ininterrupto, ele cresceria sem parar, usando toda sua energia neste objetivo. Não haveria consciência ou pensamento. Isto é devido a que o Corpo de Desejos refreia e endurece as partes interiores que a consciência desenvolve.
Como já foi anteriormente explicado, o Corpo de Desejos é um inorganizado ovoide que envolve o Corpo Denso como se esse fosse uma mancha escura dentro dele, do mesmo modo como a clara de ovo envolve a gema. Há um número de centros sensoriais no ovoide que apareceram desde o início do Período Terrestre. No ser humano comum, estes centros aparecem simplesmente como remoinhos em uma corrente e não estão agora despertos; daí o Corpo de Desejos não estar sendo usado como um veículo de consciência separado; porém, quando estes centros sensoriais despertarem, eles se transformarão em vórtices.
O Mundo do Desejo é um oceano de sabedoria e harmonia. Para lá, o Ego leva a Mente e o Corpo de Desejos, quando os veículos superiores são deixados durante o sono. Neste Mundo, a primeira preocupação do Ego é a restauração do ritmo e da harmonia da Mente e do Corpo de Desejos. Esta restauração é efetuada gradualmente na medida em que as harmoniosas vibrações do Mundo do Desejo fluem através dos veículos. Há uma essência no Mundo do Desejo, correspondente ao fluido vital, que penetra o Corpo Denso por meio do Corpo Vital. Os veículos superiores, por assim dizer, ficam embebidos neste elixir da vida. Quando fortalecidos, eles iniciam o trabalho sobre o Corpo Vital, que foi deixado junto do Corpo Denso que dorme. Então, o Corpo Vital inicia a especialização da energia solar novamente, reconstruindo o Corpo Denso e usando particularmente o Éter Químico no processo de restauração.
Entretanto, às vezes acontece que o Corpo de Desejos não se retira totalmente e, desta forma, parte dele permanece ligada ao Corpo Vital, o veículo da percepção sensorial e da memória. O resultado é que a restauração é parcialmente concluída e as cenas e ações do Mundo do Desejo são trazidas para a consciência física em forma de sonhos. É claro que a maioria dos sonhos é confusa devido ao eixo da percepção estar distorcido, em função da desequilibrada relação entre um Corpo e outro. A memória fica também confusa devido a esta inconsequente relação entre os veículos e, como resultado da perda da força restauradora o sono é atribulado e cheio de sonhos e o Corpo se sente cansado ao despertar.
O que faz do sono um estado restaurativo? No próprio termo “restaurativo” está implícita uma atividade. Se um prédio vai ser restaurado, é necessário que seus moradores o desocupem cessando aí o desgaste pelo uso. Porém, não é suficiente. Os operários precisam reparar os danos causados pelo uso do edifício. Somente quando esse trabalho terminar, a restauração estará completa e o edifício pronto para ser reocupado pelos moradores.
O mesmo acontece com o templo do Ego, nosso Corpo Denso, quando ele fica exausto. É necessário, então, que o Ego, a Mente e o Corpo de Desejos se afastem e deixem o Corpo Vital à vontade para que ele possa restaurar o tom do Corpo Denso. Assim, quando o Corpo Denso adormece, há uma separação. O Ego e a Mente, envolvidos pelo Corpo de Desejos, retiram-se do Corpo Vital e do Corpo Denso, que permanecem na cama, enquanto os veículos superiores flutuam acima ou perto do Corpo que dorme.
O processo de restauração começa agora. Numa luta no Mundo Físico, tanto o perdedor quanto o vencedor se machucam. Quando mais violenta for à luta e mais valentes os lutadores, mais lesões eles sofrerão. O mesmo acontece com o Corpo Vital e o Corpo de Desejos; este último sempre vence, no entanto, sua vitória é sempre uma derrota, porque ele é forçado a deixar o campo de batalha, e o prêmio, o Corpo Denso, nas mãos do derrotado Corpo Vital, retirando-se a seguir para reparar sua própria harmonia desfeita.
Quando ele se retira do Corpo que dorme, entra naquele mar de força e harmonia, chamado Mundo do Desejo. Lá ele vive as cenas do dia, mas em ordem inversa, isto é, dos efeitos às causas, colocando em ordem o emaranhado do dia, formando imagens verdadeiras para substituir as impressões distorcidas, devido às limitações da vida no Corpo Denso. Como as harmonias do Mundo do Desejo compenetram o Corpo de Desejos e a sabedoria e a verdade substituem o erro, ele recupera seu ritmo e seu tom, levando o tempo necessário para restaurá-lo, que varia de acordo com o tipo de vida que teve naquele dia – se ilusória, impulsiva ou extenuante.
Somente então começa o trabalho de restauração dos veículos deixados no leito e o também restaurado Corpo de Desejos começa a reanimar o Corpo Vital, bombeando energia rítmica e este, por sua vez, inicia o trabalho no Corpo Denso, eliminando os produtos do desgaste, principalmente por meio do sistema nervoso simpático. O resultado é que, o Corpo Denso restaurado, está cheio de vida quando o Corpo de Desejos, a Mente e o Ego entram de manhã e fazem com que ele acorde.
Às vezes, no entanto, acontece que nós estivemos tão absorvidos e interessados nos afazeres da nossa existência no Mundo que, mesmo depois que o Corpo Vital entrou em colapso, deixando o Corpo Denso inconsciente, não conseguimos deixá-lo para começar o trabalho de restauração; o Corpo de Desejos fica aderido como se fosse uma sombria mortalha, o Ego retirando-se só pela metade, e, nessa posição, começa a repassar os acontecimentos do dia.
É evidente que esta é uma condição anormal. A conexão entre os diferentes veículos é rompida, primeiramente, pelo colapso do Corpo Vital e mais tarde perturbada pelas posições relativamente incomuns dos veículos superiores. E o resultado inevitável são aqueles sonhos confusos onde os sons e as visões do Mundo do Desejo estão misturados com os acontecimentos da vida diária da forma mais grotesca e absurda.
Às vezes, quando algum acontecimento do dia agitou demais o Corpo de Desejos, e este já rompeu a conexão com os veículos inferiores e está envolvido no trabalho de restauração anteriormente descrito, acontece que um desagradável incidente daquele dia aparece e o Corpo de Desejos vê a solução. Então, ele corre de volta para o Corpo Denso a fim de imprimir as ideias no cérebro, causando um despertar brusco. Somente em alguns poucos casos o Corpo de Desejos é capaz de trazer a solução tão clara como era no Mundo do Desejo. Mesmo que a impressão da solução no cérebro seja bem-sucedida, normalmente a esquecemos pela manhã.
Naturalmente há ocasiões em que os sonhos são proféticos e que se cumprem, mas tais sonhos só se realizam após o total desprendimento do Corpo de Desejos e sobre circunstâncias onde o Espírito talvez veja algum perigo que possa suceder, e então, imprimi o fato sobre o cérebro, no momento do despertar.
Isto também acontece quando o Espírito empreende um voo anímico e deixa de realizar parte do trabalho de restauração. Então o Corpo não estará refeito e assim permanece dormindo. O Espírito poderá ficar longe do Corpo por alguns dias ou até semanas antes que entre em seu Corpo Denso e assume a rotina diária normal de dormir e despertar. Esta condição é chamada de transe e o Espírito poderá lembrar, ao retornar, tudo o que viu e ouviu nos Mundos suprafísicos ou poderá esquecer, de acordo com o estágio de seu desenvolvimento e da profundidade do transe. Quando o transe é leve, o Espírito permanece no quarto onde seu Corpo está e, quando retornar ao Corpo estará apto a repetir para seus parentes tudo o que eles disseram e fizeram, enquanto seu Corpo jazia inconsciente. Quando o transe é mais profundo, o Espírito não tem consciência do que aconteceu em volta de seu Corpo, mas poderá contar experiências do Mundo invisível.
Na vida comum, a maioria das pessoas vive para comer. Elas bebem, gratificam a paixão sexual de maneira desenfreada e perdem a cabeça diante da mínima provocação. Embora externamente essas pessoas possam ser muito “respeitáveis”, elas estão, em quase todos os dias de suas vidas, causando muita confusão na organização de seus veículos. Todo o período do sono é gasto pelos Corpos de Desejos e Vital reparando os danos causados durante o dia, não sobrando tempo livre para nenhum trabalho fora do Corpo. Porém, quando o indivíduo começa a sentir a necessidade da vida superior, controla sua força sexual e seu gênio, e cultiva uma disposição serena, causando assim menos desequilíbrio nos veículos durante as horas de vigília. Consequentemente, menos tempo é necessário para a restauração durante o sono. Desta forma, passa a ser possível deixar o Corpo Denso por longos períodos, durante as horas de sono, e funcionar nos Mundos internos em seus veículos superiores. Como o Corpo de Desejos e a Mente não se acham ainda organizados, eles não são usados como veículos de consciência separados. O Corpo Vital não pode deixar o Corpo Denso, pois isto causaria a morte; desta forma, medidas devem ser tomadas para prover um veículo organizado, que seja fluídico e tão bem construído que atenda às necessidades do Ego nos Mundos internos, assim como o Corpo Denso o faz no Mundo Físico.
O Cordão Prateado que se desenvolve do Átomo-semente do Corpo Denso (localizado no coração), desde a concepção, se liga na parte do fígado que brota do vórtice central do Corpo de Desejos. Quando o Cordão Prateado se liga ao Átomo-semente do Corpo Vital (localizado no plexo solar), o Espírito morre para a vida nos Mundos invisíveis e dá vida ao Corpo Denso que irá usar em sua próxima vida na Terra. Esta vida na Terra dura até que o curso dos eventos prenunciados na roda da vida, o horóscopo, haja terminado. E quando o Espírito novamente alcança o reino de Samael, o Anjo da Morte, a mística oitava Casa, o Cordão Prateado se rompe e ele retorna a Deus, que o criou, até que o alvorecer de outro dia de vida na Escola da Terra o chame para um novo nascimento que o fará mais habilidoso na construção de seu templo – o Corpo Denso.
A serpente disse: “É certo que não morrerás. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como deuses, sereis conhecedores do bem e do mal.” (Gn 3:4-5). O mal era, naquela época, desconhecido para o ser humano.
Seguindo este conselho, a mulher assegurou a cooperação do ser humano e, pelo poder da vontade, eles libertaram seus Corpos de Desejos. Esta faculdade foi, naquela época, muito maior que agora, porque é lei que cada nova faculdade seja sempre adquirida à custa do enfraquecimento de algum poder já conseguido anteriormente, como aconteceu com a faculdade de pensar que foi adquirida da metade da força criadora. Então, a força de vontade do ser humano era tão grande que a ansiedade de Deus ao dizer “deixe o ser humano também comer da Árvore da Vida para que ele não se tornear imortal” foi bem fundamentada, porque o ser humano tivesse adquirido poder sobre o segredo da renovação do Corpo Vital, bem como do Corpo Denso e, assim, ele teria sido tornou-se capaz de criar o Corpo e vitalizá-lo para sempre. Não haveria verdadeiramente a morte, porém, também não haveria nenhuma evolução. Como o ser humano naquela época não sabia, e ainda hoje não sabe, como construir um Corpo Denso perfeito, isto poderia ter sido uma grande calamidade. A morte não é uma maldição; é uma amiga quando chega naturalmente, porque nos liberta de um Corpo que nos limita, para que possamos ter uma nova chance em um novo e melhor Corpo Denso para aprender novas lições.
Quando chega o momento que marca o fim da vida no Mundo Físico, a utilidade do Corpo Denso termina e o Ego se retira pela cabeça, levando com ele a Mente e o Corpo de Desejos, como fazia toda noite durante o sono; porém, agora, o Corpo Vital não está mais ativo e, também, se retira e, quando o “Cordão Prateado” que liga os veículos superiores aos inferiores se rompe, o Corpo Denso jamais se recupera.
Os veículos superiores – Corpo Vital, Corpo de Desejos e Mente – são vistos deixando o Corpo Denso em um movimento espiral, levando com eles a alma de um átomo denso – não o átomo propriamente dito, mas as forças que atuaram por meio dele.
A cremação deve ser evitada durante os três primeiros dias após a morte, porque ela tende a desintegrar o Corpo Vital, o qual deveria permanecer intacto até que o Panorama da Vida passada seja gravado no Corpo de Desejos.
Durante a vida no estado de consciência de vigília, os veículos do Ego estão todos juntos e concêntricos, porém, na morte, o Ego, revestido pela Mente e pelo Corpo de Desejos, se retira do Corpo Denso. Como as funções vitais estão chegando ao fim, o Corpo Vital também se retira do Corpo Denso, deixando-o inanimado sobre o leito. Um pequeno átomo no coração também se retira e o resto do Corpo Denso se desintegra no seu devido tempo. Neste momento, um importantíssimo processo está se verificando e todos aqueles que assistem o Espírito que desencarna devem ter muito cuidado para que a maior tranquilidade reine no local e em todas as partes da casa. As cenas de toda a vida passada, que estavam gravadas no Corpo Vital, estão se desenrolando diante dos olhos do Espírito, numa progressão lenta e ordenada em ordem inversa – da morte até o nascimento. Este Panorama da Vida passada poderá durar de algumas horas até três dias e meio. Este tempo será determinado pela força do Corpo Vital, que determina o período durante o qual o ser pode permanecer acordado sob o mais severo estresse. Algumas pessoas podem trabalhar por cinquenta, sessenta ou setenta horas antes que caiam exaustas, enquanto outras aguentam somente algumas horas. A razão da importância da quietude na casa por três dias e meio é a seguinte: durante este período, o Panorama da Vida passada está sendo gravado sobre o Corpo de Desejos, que passará a ser o veículo do ser enquanto ele estiver no Purgatório e no Primeiro Céu, onde irá colher o mal e o bem que ele semeou, de acordo com as ações praticadas por ele.
Quando o ser morre e perde os Corpos Denso e Vital, há uma condição igual àquela quando está dormindo. O Corpo de Desejos, como foi explicado, não possui órgãos prontos para serem usados. Ele está agora transformando do ovoide anterior para a aparência do Corpo Denso recém-abandonado. Podemos facilmente compreender que um intervalo de inconsciência parecido com um sono é necessário, após o qual o ser acorda no Mundo do Desejo.
Acontece frequentemente, entretanto, que muitos seres ficam durante muito tempo sem saber o que aconteceu com eles. Não percebem que já morreram. Eles sabem que podem-se mover e pensar. E, muitas vezes, uma tarefa difícil é fazê-los acreditar que estão realmente “mortos”. Compreendem que algo está diferente, porém, não têm capacidade de entender o que é.
Uma separação acontece no Corpo Vital, após a morte, similar ao processo de iniciação. Boa parte deste veículo, que pode ser chamada de “alma” se adere aos veículos superiores e forma a base da consciência nos Mundos invisíveis após a morte.
Deixar o Corpo Vital é um processo muito parecido com o que aconteceu com o Corpo Denso. As forças vitais de um átomo são retiradas para serem usadas como núcleo do Corpo Vital para um novo nascimento. Desta forma, em sua entrada no Mundo do Desejo, o ser possui os Átomos-semente do Corpo Denso, do Corpo Vital, além do Corpo de Desejos e a Mente.
Muito se pergunta por que as crianças morrem. Existem muitas causas. Uma delas é quando a morte ocorreu por um terrível acidente, pelo fogo ou no campo de batalha numa vida anterior, pois, nestas circunstâncias, o Ego que partia não pôde concentrar-se no Panorama da Vida que deixava. Isto também aconteceu quando as lamentações dos parentes atrapalham e o resultado é uma fraca gravação das experiências da vida sobre o Corpo de Desejos com uma vida insípida no Purgatório e no Primeiro Céu.
Nestes casos o Ego não colhe o que semeou e voltará a cometer os mesmos erros ou pecados vida após vida. Para evitar que isto aconteça, o novo Corpo de Desejos que o Ego recebe, antes de seu próximo nascimento, deve conter o registro das lições necessárias. O Ego está sempre inconsciente no caminho para o renascimento, cego pela matéria que ele atrai para si, da mesma forma como ficamos cegos quando entramos em casa num dia de Sol. Só após o nascimento é que a consciência retorna gradualmente. Então, quando pela morte ele vai para o Primeiro Céu, aprende objetivamente a lição que deveria ter aprendido em sua passagem pela vida anterior e, quando aquela lição foi aprendida e gravada no futuro Corpo de Desejos, o Ego nasce na Terra, normalmente.
As crianças que morrem antes de completar sete anos formaram só o Corpo Denso e o Vital e por isso não são responsáveis perante a Lei de Consequência. Mesmo até os doze ou quatorze anos, o Corpo de Desejos está em processo de gestação e, como o que não nasceu não pode morrer, só os Corpos Denso e Vital se desintegram quando a criança morre. Ela reterá seu Corpo de Desejos e sua Mente para o próximo nascimento. No entanto, ela não seguirá o caminho que o Ego normalmente trilha num ciclo de vida completo e somente ascenderá ao Primeiro Céu para aprender as lições de que necessita e, após esperar de um a vinte anos, ela renasce, geralmente na mesma família.
Quando os três dias e meio imediatamente após a morte são passados em paz e quietude, o ser está apto a se concentrar muito mais sobre o panorama de sua vida e a gravação é muito mais profunda do que se ele tivesse sido perturbado por lamentações histéricas de seus parentes ou por outras causas. Ele irá então experimentar um sentimento mais agudo, tanto para o bem quanto para o mal, no Purgatório e no Primeiro Céu e, em vidas posteriores, aquele sentimento falará mais alto, evitando que ele cometa erros. Porém, quando as lamentações de seus parentes distraem sua atenção, ou quando o ser sofre um acidente – numa rua movimentada, num choque de trens, num teatro em chamas ou outras circunstâncias angustiantes – ele não terá oportunidade de se concentrar adequadamente, o mesmo ocorrendo se a morte acontecer num campo de batalha. No entanto, não seria justo que ele perdesse as experiências de sua vida por ter morrido em tais circunstâncias e, assim, a Lei de Causa e Efeito oferece uma compensação.
Normalmente pensamos que quando uma criança nasce isto é tudo. Entretanto, como durante o período de gestação o Corpo Denso está protegido do impacto do mundo exterior no ventre materno até alcançar maturidade suficiente para enfrentar as condições externas, o mesmo acontece com o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente que também passam por um estado de gestação e nascem posteriormente porque não tiveram um período de evolução igual ao do Corpo Denso. O Corpo Vital nasce no sétimo ano quando se observa um período de grande crescimento. O Corpo de Desejos nasce na puberdade, aos quatorze anos e a Mente, aos vinte e um, quando se diz que a criança se tornou homem ou mulher por ter alcançado a maioridade.
Aquilo que não nasce não pode morrer, assim, quando uma criança morre antes do nascimento do Corpo de Desejos, ela vai diretamente para o Primeiro Céu. Ela não ascende ao Segundo e Terceiro Céu porque tanto o Corpo de Desejos quanto a Mente não nasceram e então não podem morrer. O Ego simplesmente espera no Primeiro Céu até que lhe seja oferecida uma nova oportunidade para renascer. Se ele morreu na vida prévia sob as circunstâncias perturbadoras acima referidas (por acidente ou no campo de batalha, ou quando as lamentações de parentes tornaram impossível uma gravação profunda do mal cometido e do bem realizado, como seria possível se morresse em paz), ele é instruído, após a morte na vida atual como criança, sobre os efeitos das paixões e desejos, de modo a aprender as lições que deveria ter aprendido na vida purgatorial, se não tivesse sido perturbado. Renascerá, portanto, com o desenvolvimento apropriado de consciência de modo a poder continuar em sua evolução.
Como no passado o ser humano foi excessivamente agressivo e, por sua ignorância, sem cuidado com os parentes que morriam naturalmente (que eram poucos, comparados com os que morriam nos campos de batalha), há um grande número de mortalidade infantil. Porém, à medida que a Humanidade adquira maior compreensão e entenda que a maior prova de amizade que podemos dar é ajudar o ser que está deixando esta vida, mantendo silêncio e orando, a mortalidade infantil deixará de existir em tão larga escala como é hoje em dia.
É ostensivo o contraste entre a ação delicada do Corpo Vital e a do Corpo de Desejos num rompante de gênio, quando se diz que a pessoa “perdeu o controle” de si mesma. Sob tais circunstâncias os músculos se tornam tensos e a energia nervosa é gasta em quantidade suicida, a tal ponto que, após o descontrole, o Corpo pode, às vezes, ficar prostrado por semanas. O mais desgastante trabalho não trará tanta fadiga quanto um rompante de gênio; da mesma forma, uma criança concebida na paixão, sob as cristalizantes tendências da natureza de desejos, terá uma vida curta.
O Corpo de Desejos se torna o árbitro do destino do ser humano no Purgatório e no Primeiro Céu. As dores causadas pela purgação do mal e as alegrias causadas pela contemplação do bem, durante a vida, são levadas para a próxima vida como consciência para evitar que o ser humano perpetue os erros das vidas passadas e para estimulá-lo a praticar, em maior abundância, tudo que lhe causou mais alegria na vida anterior.
Quando os parentes próximos de uma pessoa que está morrendo explodem em histéricas lamentações quando o Espírito está deixando o corpo e mantêm esta postura durante os dias seguintes, o Espírito que, neste momento, está extremamente próximo ao Mundo Físico, é atraído pelo sofrimento dos entes queridos e não pode focalizar sua atenção na contemplação da vida que terminou. Desta forma, o registro feito no Corpo de Desejos não será tão profundo como seria se o Espírito não fosse perturbado. Consequentemente, o sofrimento no Purgatório não será tão intenso e as alegrias no Primeiro Céu não serão tão grandes.
Assim, quando o Ego retorna a Terra, ele terá perdido parte da experiência da vida anterior, o que significa que a voz da consciência não falará tão alto quanto falaria se o Espírito não tivesse sido perturbado pelas lamentações.
Para compensar esta falha, o Ego é geralmente trazido a renascer entre os mesmos amigos que lamentaram sua partida e depois é levado quando ainda criança. Então, ele entra no Mundo do Desejo, mas, já que como criança não cometeu nenhum pecado que necessite ser expurgado, seu Corpo de Desejos e a Mente permanecem intactos. Ele vai direto ao Primeiro Céu para esperar a oportunidade de um novo renascimento, porém, este tempo de espera é usado para ensiná-lo diretamente os efeitos das diferentes emoções, boas e más. É frequente ser recebido por um parente que fica encarregado da tarefa de ensinar aquilo que ele perdeu pelas lamentações ou então essa tarefa é realizada por outros seres. De qualquer maneira, a perda é mais que recuperada e, assim, quando a criança volta para o segundo nascimento, terá tanto crescimento moral quanto teria em circunstâncias normais, ou seja, se não tivesse sido perturbado quando morreu.
Quando a pessoa passa para os Mundos invisíveis em circunstâncias tais como fogo, acidente de trânsito, repentinamente, como na queda de um prédio ou montanha e ainda num campo de batalha ou perturbado pelos parentes no momento da morte, é impossível concentrar-se no Panorama da Vida e, desta forma, a gravação nos dois Éteres Superiores, Éter de Luz e Refletor, e sua amalgamação no Corpo de Desejos não se processam. O ser humano não perde a consciência e, como não há gravação nos Éteres Superiores, não poderá haver vida purgatorial. Significa dizer que ele não poderá colher o que semeou: não haverá sofrimento pelas más ações, nem alegria pelas boas ações que praticou. O fruto da vida ficou perdido.
Para compensar este grande desastre, o Espírito, em sua próxima vida, morrerá ainda criança, isto em relação ao Corpo Denso, pois o Corpo Vital, o de Desejos e a Mente que normalmente não nasceu até que o Corpo Denso tenha sete, quatorze e vinte e um anos, respectivamente, são mantidos com o Espírito já o que não nasceu não pode morrer. Então, no Primeiro Céu, o Espírito fica de um a vinte anos recebendo tantas instruções e lições objetivas que lhe ensinarão tudo o que deveria ter aprendido se sua vida não tivesse terminado por acidente. Assim, ele renasce pronto para ocupar seu próprio lugar no caminho evolutivo.
No Mundo do Desejo é fácil dar lições objetivas sobre a influência das boas ou más paixões sobre a conduta e a felicidade. Estas lições são indelevelmente impressas sobre o Corpo de Desejos sensível e emocional das crianças, e permanecem com elas após o renascimento. Deste modo muito de uma vida nobre se deve a todo esse treinamento. Frequentemente, quando um Espírito fraco nasce, os Seres compassivos (os Líderes invisíveis que guiam a evolução) levam-no a morrer cedo para que receba este treinamento extra e possam prepará-lo para o que poderá, talvez, ser uma vida dura. Este parece ser particularmente o caso quando a gravação no Corpo de Desejos foi fraca, em função da pessoa que morreu ter sido perturbada pela lamentação dos parentes ou porque morreu por acidente ou no campo de batalha. Ela não vivenciou as experiências com a intensidade suficiente em sua vida post-mortem. Desta forma, quando ela nasce, morre cedo, e a perda é compensada como anteriormente explicado. Normalmente, a tarefa de tomar conta desta criança na vida do céu recai sobre aqueles que causaram esta anomalia. Eles têm uma chance para reparar o erro e aprender mais, ou, talvez, venham a ser os pais daquele que prejudicaram para cuidar dele nos poucos anos de sua vida. Neste caso, não importa o quanto eles histericamente se lamentem pela morte do filho porque não haverá nenhuma gravação no Corpo Vital da criança.
Após a morte, o Ego gradualmente ascende, atravessando os diversos Mundos espirituais até o Terceiro Céu e, ao se aproximar o renascimento, ele, também, gradualmente descende através da Região do Pensamento Concreto, do Mundo do Desejo e do Éter até o plano físico. O autor afirma que nenhum de seus conhecidos alcançou a parte superior do Mundo do Desejo ou a Região do Pensamento Concreto sem primeiro passar através do Éter e das camadas mais densas do Mundo do Desejo, ou seja, a Região purgatorial.
O Purgatório ocupa as três Regiões inferiores do Mundo do Desejo. O Primeiro Céu se encontra nas três Regiões superiores. A Região limítrofe é uma espécie de fronteira – nem céu nem inferno.
A missão do Purgatório é erradicar os hábitos injuriosos, fazendo sua gratificação impossível. O indivíduo sofre exatamente como ele fez os outros sofrerem através de sua desonestidade, crueldade, intolerância e outras coisas mais. Devido a este sofrimento, ele aprende a agir gentilmente, honestamente e com paciência com os outros no futuro.
A lei que estamos considerando é a Lei de Consequência. No Mundo do Desejo, ela opera purgando o ser humano dos desejos mais grosseiros e corrigindo fraquezas e vícios que impedem seu progresso, fazendo-o sofrer de forma a alcançar o objetivo. Se ele fez outros sofrerem ou se agiu injustamente com eles, irá sofrer de modo idêntico. É preciso notar, entretanto, que, se uma pessoa foi sujeita a vícios e se arrependeu e o mais rápido possível corrigiu seu erro, este arrependimento e reforma purgaram-na dos vícios e atos inferiores. O equilíbrio foi restaurado e a lição aprendida durante sua vida terrena e, desta forma, não haverá nenhum sofrimento após a morte.
No Mundo do Desejo, a vida passa aproximadamente três vezes mais rápido do que no Mundo Físico. Um ser humano que tenha vivido até os cinquenta anos no Mundo Físico levará para passar pelos mesmos eventos no Mundo do Desejo aproximadamente dezesseis anos. Este é, naturalmente, um exemplo genérico. Há pessoas que permanecem no Mundo do Desejo muito mais tempo do que o período de sua vida física. Outros, que viveram com poucos desejos inferiores, despendem muito menos tempo, mas a média dada anteriormente está muito próxima da realidade dos seres que vivem atualmente.
Devemos lembrar que, quando o ser humano deixa o Corpo Denso na morte, sua vida passada se apresenta à sua frente em imagens, porém, neste momento, não há nenhum sentimento envolvido.
Durante sua vida no Mundo do Desejo, estas imagens da vida também se desenrolam de trás para frente como antes; porém, agora, o indivíduo passa por todos os sentimentos, um por um, à medida que as cenas se apresentam. Cada incidente de sua vida passada é vivido e, quando chega a uma cena em que tenha feito mal a alguém, ele mesmo sente a dor que a pessoa sentiu. Ele vivencia toda dor e sofrimento que causou aos outros e aprende quão dolorosa foi a ferida e quão difícil foi suportar o mal que ele causou. Além disso, há ainda o fato já mencionado de que o sofrimento é ainda mais agudo porque ele não tem mais o Corpo Denso que entorpece a dor. Talvez seja essa a razão da vida lá ser três vezes mais rápida – o sofrimento perde em duração o que ganha em intensidade. As medidas da Natureza são maravilhosamente justas e verdadeiras.
Há outra característica peculiar nesta fase da existência post-mortem que está intimamente ligada com o fato (já mencionado) de que a distância é quase inexistente no Mundo do Desejo. Quando o ser humano morre, imediatamente se encontra em seu Corpo Vital; ele se sente crescer em grandes proporções. Esta sensação se deve ao fato, não de que o Corpo Denso esteja realmente crescendo, mas sim pelas faculdades de percepção que chegam com tantas impressões e de diferentes fontes, todas parecendo próximas de suas mãos. O mesmo também é verdadeiro com o Corpo de Desejos. O ser humano parece estar perto de todas as pessoas com as quais se relacionou na Terra, relação esta cuja natureza precisa ser corrigida. Se ele fez mal a alguém em São Francisco e a outrem em Nova York, sentir-se-á como se parte dele estivesse em cada lugar. Esta situação lhe dá a sensação de estar sendo cortado em pedaços.
O Estudante irá agora entender a importância do Panorama da Vida passada durante a existência purgatorial, onde este panorama é convertido em sentimentos explícitos. Se ele durou bastante e o ser humano não foi perturbado, a completa, profunda e clara impressão gravada no Corpo de Desejos fará com que a vida no Mundo do Desejo seja mais viva e consciente, e a purgação mais completa do que, por causa da aflição causada pelo pesar dos parentes no momento da morte e durante o período de três dias anteriormente mencionado, seria se o ser humano tivesse só uma vaga impressão de sua vida passada. O Espírito que obtém uma clara e profunda gravação em seu Corpo de Desejos entenderá os erros de sua vida muito mais claramente do que se as imagens estiverem embaçadas, devido ao desvio de sua atenção pelo sofrimento que o envolvia.
O sentimento gerado pelos fatos que causam o sofrimento no Mundo do Desejo será mais intenso se esses fatos forem extraídos de um panorama cuja impressão for nítida e não de um processo de gravação mais curto.
É possível para os assim chamados mortos, modelar com o pensamento qualquer peça de vestuário que eles desejem. Eles normalmente pensam em si mesmos vestidos com as roupas convencionais do país em que viveram antes de entrar no Mundo do Desejo e, desta forma, aparecem vestidos sem nenhum esforço particular do pensamento. Porém, quando desejam obter algo novo ou uma peça de vestuário diferente, eles têm que usar o poder da vontade para consegui-la e ela durará enquanto eles pensarem que estão assim vestidos.
Mas esta característica da matéria de desejos de se amoldar ao poder do pensamento é também usada em outras direções. De uma maneira geral, quando a pessoa deixa o mundo presente em consequência de um acidente, ela pensa em si mesma como estando desfigurada, talvez sem braço ou perna ou com um buraco na cabeça. Isto em nada lhe atrapalha; ela pode mover-se tão facilmente sem pernas ou braços como se os tivesse; porém, isto mostra a tendência do pensamento de dar forma ao Corpo de Desejos. No início da guerra (1a. Guerra Mundial) quando um grande número de soldados passara para o Mundo do Desejo com lesões da mais horrível natureza, os Irmãos Maiores e seus ajudantes ensinaram àquelas pessoas que simplesmente concentrando seu pensamento em que estavam em Corpo Densos perfeitos e sadios, eles ficariam imediatamente livres de seus ferimentos desfigurantes. E eles fizeram isso imediatamente. A partir daquele momento todos os que chegavam e eram capazes de entender o que estava acontecendo tinham suas feridas e amputações imediatamente restauradas de tal forma que ninguém pensaria que eles tinham morrido em consequência de um acidente no Mundo Físico.
Como resultado, este conhecimento tornou-se tão comum, que muitos seres que morreram se aproveitaram desta propriedade de matéria de desejos e moldaram-na pelo pensamento, modificando a aparência de seu Corpo Denso. Aqueles que eram corpulentos desejavam parecer mais esbeltos, e vice-versa, os que eram muito magros, mais gordos. Esta mudança ou transformação não é sempre bem-sucedida, pois depende do arquétipo. O acréscimo de peso numa pessoa magra ou a perda de peso numa pessoa corpulenta não permanece para sempre; após algum tempo, o ser que era originariamente magro volta a sua estatura anterior, enquanto aquele que era corpulento vai recuperando seu peso gradualmente e tem que passar pelo processo novamente. É similar ao que acontece com aqueles que tentam modificar suas feições, mudando sua aparência original em outra que mais lhe agrada. Entretanto, as modificações que afetam as feições são menos permanentes porque a expressão facial, tanto lá como aqui, é uma indicação da natureza da alma. Por isso, qualquer fingimento é rapidamente disperso pelos pensamentos habituais da pessoa.
Durante a vida física, o Corpo de Desejos tem a forma aproximada de uma nuvem ovoide envolvendo o Corpo Denso. Porém, tão logo a pessoa adquire consciência no Mundo do Desejo e começa a pensar que tem a aparência do Corpo Denso, o Corpo de Desejos assume esta forma. Esta transformação é facilitada pelo fato de que o Corpo-Alma, composto pelos dois Éteres superiores, Luminoso e Refletor, ainda permanece com o Ego. Para tornar mais claro, fazendo uma comparação, devemos lembrar que quando o Ego está descendo para o renascimento, os dois Éteres inferiores que envolvem o Átomo-semente do Corpo Vital são moldados em uma matriz pelos Senhores do Destino – os Anjos do Destino e seus ajudantes. Esta matriz é colocada no ventre da mãe, onde as partículas físicas são incrustadas, formando gradualmente o corpo da criança que vai nascer. No momento do nascimento, a criança não tem Corpo-Alma. Tudo o que tenha relação com os Éteres superiores só será assimilado mais tarde durante a vida e será construído pelas boas e verdadeiras ações. Quando o Corpo-Alma atinge certa densidade, é possível que o ser humano funcione como um Auxiliar Invisível e, durante os seus voos anímicos, o Corpo de Desejos se amoldará nesta matriz já preparada. Quando ele retorna ao Corpo Denso, o esforço da vontade, por meio da qual ele entra nesse corpo, automaticamente desfaz a íntima conexão entre o Corpo de Desejos e o Corpo-Alma. Mais tarde, quando a vida no Mundo Físico termina e os dois Éteres mais densos se desfazem junto com o Corpo Denso, o Luminoso Corpo-Alma ou “Manto Dourado de Bodas” permanece com os veículos superiores e, dentro desta matriz, o Corpo de Desejos é moldado em seu nascimento nos Mundos invisíveis. Da mesma forma como o corpo da criança foi feito de acordo com a matriz dos dois Éteres mais densos antes do nascimento físico, o nascimento nos Mundos invisíveis que segue a morte na Região física é acompanhado pela impregnação de matéria de desejo na matriz formada pelos dois Éteres superiores, formando o veículo que será usado naquele Mundo.
Porém, os assim chamados mortos não são os únicos capazes de moldar a matéria de desejos em qualquer forma que desejem. Este poder é compartilhado por todos os habitantes do Mundo do Desejo, mesmo nas Regiões inferiores pelos elementais, e eles frequentemente usam esta faculdade de transformação para assustar ou enganar os recém-chegados. Muitos neófitos sentiram temor quando entraram pela primeira vez neste Mundo porque estes pequenos diabretes reconhecem logo se uma pessoa é estranha e não habituada com a natureza das coisas lá e eles parecem sentir um especial prazer em molestar os recém-chegados, transformando-se nos mais grotescos e terríveis monstros. Então, podem simular ataques atrozes contra o neófito e se conseguirem encurralá-lo num canto e fazê-lo encolher de medo, isto parece lhes dar o maior prazer, enquanto mostram seus dentes afiados como se estivessem prontos para devorá-lo. Mas, quando o neófito aprende que, na realidade, não há nada que possa feri-lo e que, em seus veículos superiores, ele está imune a qualquer perigo de ser feito em pedaços ou devorado, aprende que um simples sorriso dirigido às inofensivas criaturas e um severo comando para que se retirem é tudo o que é necessário para desviar sua atenção e deixá-lo sossegado. Assim, ele aprende a forçá-los a obedecer a sua vontade, porque neste Mundo todas as criaturas que não se individualizaram são impelidas a obedecer à ordem de inteligências superiores e o ser humano está entre elas.
É curioso o fato de que elementais sub-humanos algumas vezes se liguem a certas pessoas, a uma família ou mesmo a uma sociedade religiosa; porém, nestes casos, sempre foi observado que seus veículos não consistiam do Corpo de Pecado composto do entrelaçamento do Corpo de Desejos e Vital, mas sim, obtido através da mediunidade praticada por uma pessoa geralmente de bom caráter, na qual o Éter de seu veículo se encontrava em estado de desintegração. Para perpetuar e prolongar seu domínio sobre tal veículo, eles exigem, daqueles a quem servem oferendas regulares de comida e queima de incenso. Embora não possam assimilar a comida física, eles realmente vivem dos vapores e odores que se desprendem e, também, da fumaça do incenso.
Quando o Ego se livra do Corpo Vital, seu último elo com o Mundo Físico se rompe e ele entra no Mundo do Desejo. A forma ovoide do Corpo de Desejos agora muda, assumindo a forma do Corpo Denso abandonado. Há, no entanto, uma combinação peculiar dos materiais de que é formado, e que terá grande significação e determinará o tipo de vida que viverá lá.
O Corpo de Desejos do ser humano é composto de material das sete Regiões do Mundo do Desejo, da mesma forma como o Corpo Denso é composto de sólidos, líquidos e gases deste Mundo. Mas a quantidade de matéria de cada Região no Corpo de Desejos depende da natureza de desejos de que o ser humano se nutre. Desejos grosseiros são formados pela matéria de desejos mais grosseira que pertence à Região mais inferior do Mundo do Desejo. Se o ser humano possui tal desejo, ele está construindo um Corpo de Desejos grosseiro, onde a matéria das Regiões inferiores predomina. Se ele persistentemente se livra de seus desejos grosseiros, permitindo só o que é puro e bom, seu Corpo de Desejos será formado pela matéria das Regiões superiores.
No presente, nenhum ser humano é totalmente mal ou totalmente bom. Somos todos uma mistura de ambos, mas existe uma diferença nesta composição. No Corpo de Desejos de uns há preponderância de matéria inferior e, em outros, de matéria superior. Isto faz toda a diferença no ambiente e na condição do ser humano quando entra no Mundo do Desejo após a morte, porque a matéria de seu Corpo de Desejos, enquanto assume a forma do Corpo Denso abandonado, organiza-se de forma que a matéria mais sutil que pertence às Regiões superiores forme o centro do veículo e a matéria das três Regiões mais densas fica na parte externa. Quando a vida do Ego na Terra termina, ela põe em ação a força centrífuga para se livrar de seus veículos. Segundo a mesma lei que faz com que um Planeta arremesse para o espaço sua parte mais densa e cristalizada, o Ego primeiro se livra do Corpo Denso. Quando entra no Mundo do Desejo, esta força centrífuga também atua de modo a expulsar a matéria mais grosseira do Corpo de Desejos e assim o ser humano é forçado a permanecer nas Regiões inferiores até que tenha purgado os desejos inferiores. A matéria inferior de desejos fica, por isso, sempre na parte externa de seu Corpo de Desejos enquanto ele está passando pelo Purgatório e é gradualmente eliminada pela força centrífuga – a Força de Repulsão – que extirpa o mal e então permite que o Ego ascenda ao Primeiro Céu, na parte superior do Mundo do Desejo, onde a Força de Atração impera e traz tudo de bom da vida passada como força de alma para o Ego. A parte descartada do Corpo de Desejos é deixada como uma “concha” vazia.
Quando o Ego deixa o Corpo Denso, este morre rapidamente. A matéria física torna-se inerte quando é privada da estimulante energia da vida e se dissolve. Isto não acontece com a matéria do Mundo do Desejo porque a partir do momento em que a vida é transmitida, a energia subsistirá por um tempo considerável após o seu influxo cessar, variando com a força do impulso. O resultado é que após o Ego ter se afastado, as “conchas” subsistem por um tempo mais longo ou mais curto. Elas vivem uma vida independente e, se o Ego a quem elas pertenceram tiver tido muitos desejos mundanos, talvez cortados na juventude, com ambições fortes e insatisfeitas, esta “concha” sem alma irá certamente fazer um esforço desesperado para voltar ao Mundo Físico e muitos dos fenômenos das sessões espíritas devem-se às ações destas “conchas”. O fato de que a comunicação recebida de muitos destes assim chamados “Espíritos” é completamente destituída de sentido, e é facilmente comprovado quando compreendemos que eles não são realmente espíritos, mas somente uma parte sem alma do revestimento do Espírito que partiu e, portanto, sem inteligência. Eles têm uma memória da vida passada, de acordo com o panorama gravado após a morte, que lhes permite se apresentarem aos parentes contando incidentes que não são do conhecimento de outros, porém, o fato é que eles não são mais do que a vestimenta descartada pelo Ego, dotada de vida independente por algum tempo.
Não é sempre, entretanto, que essas conchas permanecem sem alma, porque há diferentes classes de seres no Mundo do Desejo cuja evolução os prende àquele Mundo. São bons e maus, da mesma forma que os seres humanos. Geralmente são classificados como “elementais”, embora difiram amplamente em aparência, inteligência e características. Nós vamos lidar com eles somente se sua influência atingir o estado post-mortem do ser humano.
Isto às vezes acontece, especialmente quando o indivíduo se acostumou a invocar Espíritos, e estes tomam posse de seu Corpo Denso na vida terrena e fazem dele um médium irresponsável. Eles geralmente o enganam inicialmente com conhecimentos aparentemente superiores, porém, gradualmente, levam-no para a grosseira imoralidade e, pior que tudo, podem tomar posse do Corpo de Desejos quando o Ego passa para o Primeiro Céu. Como os impulsos contidos no Corpo de Desejos são a base para a vida no céu e, também, a mola da ação que leva o Ego a reencarnar para um renovado crescimento, este é realmente um sério problema porque toda evolução do Ego pode parar por muitos anos antes que o elementar liberte o seu Corpo de Desejos.
Quando o bem e o mal da vida foram extraídos, o Espírito se livra do Corpo de Desejos e ascende ao Segundo Céu. O Corpo de Desejos começa então a se desintegrar como aconteceu com o Corpo Denso e o Vital, mas é uma peculiaridade da matéria de desejos que, uma vez formada e vivificada, ela persistirá por um tempo considerável. Mesmo depois que a vida se afastou, ele vive uma vida semiconsciente e independente. Algumas vezes, é levado por atração magnética até parentes do Espírito que ele abrigava e, em sessões espíritas, estas “conchas” personificam o Espírito que partiu e decepcionam seus parentes. Como o Panorama da Vida anterior está gravado nestas “conchas”, elas têm a memória de acontecimentos que têm relação com estes parentes, o que facilita a decepção. Porém como a inteligência se retirou, elas são incapazes de dar um parecer verdadeiro e isto é a razão do vazio e das tolices que transmitem.
Quando o Espírito acorda no Mundo do Desejo, ele é exatamente igual ao que era antes de morrer, mas com uma única exceção. Qualquer um que o tenha conhecido reconhecê-lo-á. Não há nenhum poder transformador na morte; o caráter do Espírito não muda, os viciados e alcoólatras continuam iguais, o avarento continua usurário, o ladrão é tão desonesto como nunca, porém, há uma grande mudança neles todos: todos perderam seu Corpo Denso e isso faz toda a diferença na gratificação de seus diversos desejos.
O alcoólatra não consegue beber; ele perdeu seu estômago e, embora tente entrar nas garrafas de uísque dos bares, não sente satisfação nenhuma, já que, não possuindo estômago, não obtém a combustão química necessária a seu prazer. Tenta, então, tirar proveito penetrando os Corpos Densos dos que bebem aqui na Terra e consegue isso facilmente porque o Corpo de Desejos é constituído de tal modo que pode ocupar o mesmo espaço com outra pessoa. Os “mortos”, no início, sentem-se incomodados quando seus amigos se sentam na cadeira que eles estão ocupando, mas, depois de algum tempo, compreendem que não há necessidade de se levantarem apressadamente porque alguém deseja se sentar. “Sentar em cima do Corpo de Desejos” não machuca; ambas as pessoas podem ocupar a mesma cadeira sem que uma prejudique os movimentos da outra. Assim, o alcoólatra interpenetra o corpo de quem está bebendo, mas nem assim terá satisfação real e, em consequência, ele sofre a tortura de Tântalos, até que, finalmente, o desejo se extinga em sua ânsia de gratificação, como acontece com todos os desejos mesmo na vida física.
Enquanto nossos maus hábitos são tratados desta maneira geral nossas más ações específicas da vida passada são tratadas da mesma maneira automática por meio do Panorama da Vida que foi gravado no Corpo de Desejos. Este panorama se desenrola de trás para frente, da morte ao nascimento, quando entramos no Mundo do Desejo. Ele se desenrola em velocidade três vezes maior que a de nossa vida terrestre; assim, um ser humano de 60 anos, ao morrer, viverá no Mundo do Desejo aproximadamente 20 anos.
Devemo-nos lembrar de que, enquanto ele observa este panorama imediatamente após a morte, não há nenhum sentimento, estando lá meramente como um espectador, olhando para as cenas que se desenrolam. Porém, é diferente quando o panorama aparece à sua consciência no Purgatório. Lá, o bem não causa impressão, mas todo mal atua sobre o Ego de tal forma que, nas cenas em que ele fez outros sofrerem, sentirá todo o sofrimento. Ele sofre toda a dor e angústia que sua vítima sofreu na vida e, como a velocidade da vida lá é triplicada, assim também é o sofrimento, que é mais agudo porque, enquanto o Corpo Denso é lento em vibração e embota o sofrimento, no Mundo do Desejo, onde não temos o veículo físico, o sofrimento é mais intenso. Quanto mais nítida for à gravação do Panorama da Vida sobre o Corpo de Desejos na hora da morte, maior será o sofrimento do Ego e mais claramente ele irá sentir, em vidas futuras, que toda transgressão deverá ser evitada.
O Mundo do Desejo, os Éteres e o Mundo Físico interpenetram-se de forma que o avarento está bem aqui entre nós, como se tivesse um Corpo Denso para usar. Não é geralmente entendido, e o autor se surpreende com este fato, porque os Espíritos que recentemente deixaram o Corpo Denso não sejam vistos pelos que estão na Terra, já que o revestimento externo deles é composto pela matéria mais densa das Regiões inferiores do Mundo do Desejo, pelo Éter Químico, que é o mais denso dos quatro Éteres, e dos gases físicos extremamente entrelaçados.
Assim, o avarento e todos os outros que recém deixaram o Corpo Denso veem as pessoas neste Mundo muito mais claramente do que as coisas do Mundo do Desejo onde se encontram, porque, assim como o ser humano que ao sair de casa num dia de Sol tem que se acostumar primeiro à luz, assim também os Espíritos que entraram no Mundo do Desejo após a morte necessitam um pouco de tempo para esta adaptação. E o material mais denso que compõe seu ser, o qual é projetado para a periferia pela força centrífuga de Repulsão mantém-no na Terra por um, mais ou menos, longo período de tempo, até que tenha desprendido este material mais grosseiro e esteja apto a contatar as vibrações mais sutis das Regiões superiores. Por esta razão, o avarento, o alcoólatra, o sensual e outros seres similares cujos desejos são baixos e depravados, permanecem nestas Regiões inferiores, que bem podem ser chamadas de inferno, por mais tempo que as pessoas com elevados ideais e aspirações espirituais que se dedicaram em vida, a erradicarem seus pecados e sublimar sua natureza inferior. Seus Corpos de Desejos contêm, comparativamente, menos material grosseiro, o qual é rapidamente dissolvido, deixando-os livres para atingirem as esferas superiores.
Não existem órgãos especializados nos veículos superiores, porém, como somos sensíveis em toda periferia de nosso Corpo Denso, assim também os Espíritos veem e ouvem não somente pela periferia, mas com cada átomo de seu corpo espiritual interna e externamente. O que eles percebem não são coisas físicas, mas cada cadeira, mesa ou qualquer outro objeto é interpenetrado pelos dois Éteres e matéria de desejos e é isto que eles percebem, e para eles é tão tangível quanto às formas físicas o são para nossos sentidos.
É verdade que a Terra é envolvida pela atmosfera da mesma forma como a matéria de desejos que constitui o Mundo do Desejo envolve nosso Planeta. Entretanto, os que deixaram o Corpo Denso e estão no Mundo do Desejo veem através da Terra tão facilmente como nós vemos através da vidraça.
A vítima de assassinato escapa deste sofrimento no Purgatório porque, normalmente, se acha em estado de inércia letárgica (parecida com o coma médico) até o momento em que a morte natural deveria ocorrer e é ajudada neste aspecto assim como as vítimas dos chamados acidentes, sendo que estas últimas permanecem conscientes a princípio e pouco depois da morte. Se a pessoa que cometeu o delito é executada entre o momento do assassinato e o tempo em que sua vítima iria morrer naturalmente, o comatoso Corpo de Desejos do que morreu dirige-se para o assassino por atração magnética, seguindo-o para onde ele for sem um momento de descanso. A cena do assassinato está sempre diante dele, causando-lhe o sofrimento e a angústia que inevitavelmente acompanha esta incessante repetição do seu crime em todos os horríveis detalhes. Isto irá durar pelo período correspondente ao que a vítima foi privada de viver. Se o assassino não for executado e sua vítima passou além do Purgatório antes de morrer, a “concha” de sua vítima permanecerá para atuar como Nêmesis[2] no drama da cena do crime.
Os sofrimentos no Purgatório são os resultados da delinquência moral e o ressentimento daqueles que foram assim atingidos. Um cirurgião que obteve sucesso em sua operação ou cirurgia merecerá a gratidão da pessoa operada e a cena desta cirurgia, no Panorama da Vida, atuará sobre ele no Primeiro Céu com a gratidão da pessoa que ele ajudou. Isto fará com que ele se sinta mais desejoso de servir a seu semelhante.
Por outro lado, aqueles inescrupulosos cirurgiões que persuadiram as pessoas a fazerem operações ou cirurgias, executadas meramente pelo amor a novas experiências, ou que retiraram seres de instituições de caridade com essa finalidade, serão severamente castigados como merecem. Quanto ao Purgatório dos vivisseccionistas, vimos certos casos que comparados ao inferno ortodoxo com o diabo e seu garfo, parecem um lugar de diversão. No entanto, não há nenhum agente de natureza demoníaca para punir – só as agonias do animal torturado gravadas em seu Panorama da Vida é que agem sobre ele com tripla intensidade (porque a existência purgatorial dura um terço da vida física). Estas pessoas não imaginam o que estão construindo para si; se assim fosse, as câmaras de tortura seriam logo esvaziadas e haveria um horror a menos no mundo.
Quando uma pessoa tenha sido muito grosseira e rude na vida, quando provocou sofrimento em qualquer lugar e toda vez que teve chance, veremos que seu sofrimento no Purgatório será muito severo, intensificado pelo fato de que a existência purgatorial é mais curta que a vida na terra, mas a dor se intensifica proporcionalmente. Por isso, é evidente que se sua experiência fosse contínua, se a dor gerada por um ato fosse imediatamente seguida pela próxima, muito do efeito do sofrimento seria perdido pela alma, porque ela não sentiria sua completa intensidade. Portanto, as experiências vêm em ondas, de forma que há um intervalo após cada período de sofrimento para que a intensidade total do próximo possa ser sentida.
Deus não é vingativo; Ele somente ensina aqueles que agem erradamente a não repetirem seus atos, dando, ao que errou dor igual. A tendência numa vida futura é que o ser humano venha respeitar o sentimento dos outros e ser misericordioso com todos. Portanto, grande intensidade de dor é necessária para conservação de energia e torná-lo bom e puro mais cedo do que seria se a dor tivesse sido contínua e o correspondente sofrimento reduzido.
Se a pessoa que está morrendo pudesse deixar todos os desejos para trás, o Corpo de Desejos muito rapidamente se libertaria, deixando-o livre para prosseguir para o Primeiro Céu, mas isto normalmente não acontece. A maioria das pessoas, principalmente se elas morrem ainda jovens, possui muitos laços e interesses na vida na Terra. Elas não modificam seus desejos só porque perderam seu Corpo Denso. De fato, seus desejos são até aumentados pela vontade intensa de retornar. Isto as prendem mais ao Mundo do Desejo de forma desagradável, embora, infelizmente, elas não entendam a realidade deste fato. Por outro lado, os velhos, decrépitos e aqueles enfraquecidos por longa enfermidade se libertaram da vida e passaram rapidamente.
O assunto pode ser ilustrado pelo caroço que se desprende da fruta madura onde nenhuma parte da polpa se adere, enquanto, na fruta verde, o caroço se adere à polpa tenazmente. Assim, é muito difícil para as pessoas que morrem de acidente, estando em plena saúde e força física, ligadas à esposa, família, parentes, amigos e à procura de negócios e prazer.
O suicida, que tenta escapar da vida, irá descobrir que está mais vivo do que nunca e na mais penosa situação. É capaz de ver aqueles a quem desgraçou pelo seu ato e, pior que tudo, sente uma indescritível sensação de vazio. A parte na aura ovoide onde o Corpo Denso costumava ficar está vazia e, embora o Corpo de Desejos tenha tomado à forma de Corpo Denso abandonado, ele o sente como uma concha vazia, porque o arquétipo criador do corpo na Região do Pensamento Concreto persiste como uma matriz vazia, por assim dizer, por todo o período em que o Corpo Denso deveria viver. Quando uma pessoa morre naturalmente, mesmo no início de sua vida, a atividade do arquétipo cessa, e o Corpo de Desejos se ajusta para ocupar totalmente o seu lugar, porém, no caso do suicida, a terrível sensação de “vazio” permanece até que, no curso natural dos acontecimentos, a morte ocorra.
Enquanto o ser humano manifesta seus desejos ligados à vida na Terra, ele tem que permanecer em seu Corpo de Desejos e à medida que o progresso do indivíduo requer que ele alcance Regiões mais superiores, a existência no Mundo do Desejo tem que ser necessariamente purgatorial, tendendo a purificá-lo de seus pecados. Como isto acontece, pode ser melhor compreendido tomando alguns exemplos radicais: o avarento, que amou seu ouro na vida terrena, continua a amá-lo após a morte, mas, em primeiro lugar, ele não pode adquirir mais porque não tem mais o Corpo Denso para agarrá-lo, e, pior que tudo, não pode sequer manter o que acumulou durante a vida. Ele irá, talvez, sentar-se perto do seu cofre e olhar o ouro e as ações guardadas por ele com tanto carinho. Mas os herdeiros aparecem e talvez zombando do “velho tolo avarento” (que eles não veem, mas que os vê e ouve), abrirão seu cofre e, embora ele se jogue sobre o ouro para protegê-lo, eles passarão suas mãos através de seu corpo, sem perceber ou sentir que ele está ali e irão gastar sua fortuna, enquanto ele sofre de tristeza e impotente raiva.
Ele sofrerá intensamente e seu sofrimento é ainda mais terrível por ser inteiramente mental, porque o Corpo Denso amortece o sofrimento de certa forma. No Mundo do Desejo, no entanto, este sofrimento tem força total e o ser humano sofre até aprender que o ouro pode ser uma maldição. Assim, ele, gradualmente, se contenta com sua sorte e, finalmente, se liberta do Corpo de Desejos e está pronto para prosseguir.
Tomemos o caso do alcoólatra. Ele continua gostando de beber após a morte tanto quanto gostava anteriormente. Não é o Corpo Denso que anseia pela bebida. Ele se torna doente pelo álcool e gostaria de passar sem ele. Em vão, protesta de diversas maneiras, mas o Corpo de Desejos do alcoólatra anseia pela bebida e força o Corpo Denso a ingeri-la, para que o Corpo de Desejos possa ter a sensação de prazer resultante do aumento da vibração. Aquele desejo permanece após a morte do Corpo Denso, mas o alcoólatra não tem em seu Corpo de Desejos nem boca para beber nem estômago para conter a bebida. Ele procura os bares onde interpenetra os corpos dos que bebem para conseguir um pouco de vibração por indução, porém, isto é demasiadamente fraco para trazer-lhe alguma satisfação. Ele, muitas vezes, entra na garrafa de uísque, mas isto não lhe traz proveito porque não há na garrafa os gases que são gerados pelos órgãos digestivos do beberrão. Não há nenhum efeito que possa sentir e ele é como um ser humano num barco no meio do oceano: “Água, água, para todos os lados, mas nem uma gota para beber”. Em consequência, ele sofre intensamente. Em tempo, no entanto, ele aprende a perda de tempo que é ansiar pelo que não pode conseguir. Como tantos outros desejos aqui na vida terrena, os desejos no Mundo do Desejo morrem por não poderem ser satisfeitos. Quando o alcoólatra purgou o vício, ele está pronto para deixar esta fase do “Purgatório” e sobe para o Mundo celestial.
Os alcoólatras, no Mundo do Desejo, tentam criar a bebida que anseiam beber quando aprendem que é possível modelar a matéria de desejos e criar o que desejam; porém, todos declaram unanimemente que a mais forte bebida ou as drogas que eles fabricam desta forma não lhes traz nenhuma satisfação. Eles podem imitar o gosto perfeitamente, porém, a bebida assim produzida não tem a capacidade de torná-los bêbados. O máximo que conseguem para sua satisfação é introduzir-se nos corpos dos alcoólatras que ainda estão no Mundo Físico. Por isso, eles estão continuamente rondando os bares e empenhando-se em que os frequentadores destes lugares tomem uma excessiva dose de intoxicantes.
Eles também afirmam que conseguem considerável satisfação pelos gases exalados pela respiração dos alcoólatras em seu Corpo Denso e, quanto mais densa e estimulante a atmosfera nos bares, mais próximo eles chegam à satisfação que procuram. Se os fracos que visitam tais lugares pudessem ver e entender as táticas repugnantes daqueles seres invisíveis perversos que povoam estes lugares, certamente isto seria um alerta que ajudaria aqueles que não foram tão longe a reconduzir seus passos no caminho da decência e vida honesta. Porém, graças a Deus, para ambos os alcoólatras, visíveis e invisíveis, é impossível criar um recanto de vício na matéria de desejos porque a Força de Repulsão tende a destruí-lo mais rapidamente do que eles conseguem criá-lo.
Para maior ilustração, tomemos o caso de um alcoólatra que, transformado numa besta humana, atinge seus filhos, privando-os das necessidades vitais e da educação, que agride sua esposa, passando para seus filhos um exemplo que eles poderão vir a seguir, baixando seu padrão moral.
Depois da morte, este ser irá sentir no Purgatório, primeiro as torturas da ânsia pela bebida que ele não é capaz de satisfazer e, segundo, todo o sofrimento que causou à sua família. Ele terá pagado por seus erros e é verdade que renascerá com uma vida nova, no que diz respeito ao sofrimento a eles causado. Porém, ele fez um voto de amor e carinho para com a mulher que se tornou sua esposa, e, pelo ato criador, forneceu o núcleo para a formação dos corpos de seus filhos que necessitam de ajuda e ambiente adequado para seu desenvolvimento. As responsabilidades paternas ele negligenciou e, consequentemente existe um laço entre ele e os membros de sua família. Ele ainda tem um débito de amor e serviço que terá que ser pago no futuro e, desta forma, numa vida posterior, estes Egos serão trazidos juntos e tão próximos que ele terá a oportunidade de fazer o bem a todos eles. Se ele não tiver esta oportunidade, ele poderá ainda numa vida posterior prestar um adequado serviço à outra pessoa. É por esta razão que o serviço deve ser praticado e, desta forma, a natureza do amor envolverá e se expandirá, tornando-se universal para todos.
A mesma regra vale para todos os demais casos e, assim como as condições extremas oferecem as melhores ilustrações, podemos tomar como outro exemplo o relacionamento entre o assassino e sua vítima. Após a morte, ele sofreu no Purgatório e o débito real está pago. Mas um laço foi estabelecido entre estes dois Egos e, numa vida futura, eles voltarão a se encontrar e o assassino terá a oportunidade de servir sua vítima de outrora e de se reconciliar. O sentimento de amizade tem que se tornar universal porque é o princípio básico no Reino de Deus.
Quando o rompimento ocorre entre o Corpo de Desejos e a Mente, o Corpo de Desejos de uma pessoa mentalmente insana está ainda naturalmente descontrolado e sempre causa muito problema para o Ego durante sua existência no Mundo do Desejo, porque o Ego não é absolutamente insano. O que parece insanidade vem do fato do Ego não ter controle sobre seus veículos; o pior de tudo, obviamente, é quando a própria Mente é afetada e o Ego é atrelado à Personalidade por um longo tempo até que estes veículos se desfaçam.
No início da guerra, os Corpos de Desejos dos combatentes giravam a uma terrível velocidade e foram observado que, enquanto que as pessoas que morriam por doença, velhice ou acidentes comuns recuperavam sua consciência em curto período de tempo, variando de alguns minutos a alguns dias, aqueles mortos durante a guerra ficavam, na maioria dos casos, inconscientes por muitas semanas, e é estranho dizer que aqueles que eram quase estraçalhados despertavam mais rapidamente do que milhares de outros que tinham apenas pequenos ferimentos. Antes de estudarmos as causas que estão por trás deste fenômeno, primeiramente devemos registrar que, quando as pessoas que morriam com intenso ódio no início da guerra despertavam nos Mundos invisíveis, normalmente continuavam a lutar contra seus inimigos até que o grande trabalho educacional dirigido pelos Irmãos Maiores e seus Auxiliares Invisíveis frutificasse. Estas pessoas permaneciam com seus corpos mutilados e em grande angústia por terem deixados seus entes queridos para trás. Agora, estas ocorrências são extremamente raras e logo corrigidas, porque todos foram ensinados que o pensamento irá criar um novo braço, membro ou face; a ira patriótica se foi e os “inimigos” que falam a mesma língua, frequentemente se confraternizam com benefício para todos.
O Purgatório está muito longe de ser um lugar de punição. Ele é talvez o mais benéfico reino da Natureza porque devido à purgação nós nascemos inocentes, vida após vida. As tendências para cometer os mesmos pecados pelos quais sofremos permanecem conosco, e as tentações para cometer os mesmos erros serão colocados em nosso caminho, até que tenhamos a consciência de superar os nossos defeitos aqui mesmo. A tentação não é pecado; o pecado é, no entanto, ceder à tentação.
Assim, nós vemos que não é uma vingativa Divindade que faz o Purgatório ou o inferno para nós e sim nossos hábitos e atos inferiores. De acordo com a intensidade de nossos desejos, será o tempo de nosso sofrimento justo em sua purgação. Nos casos mencionados anteriormente, não haveria sofrimento para o alcoólatra se ele fosse privado de suas riquezas materiais. Se ele tivesse algumas, não ligaria para elas. Também não causaria ao avaro nenhuma dor ao ser privado de beber. Pode-se afirmar que ele não se importaria se não existisse uma única gota de bebida no mundo. Porém, ele defenderia seu ouro e o alcoólatra, sua bebida e, desta forma, a lei infalível dá a cada um, o que ele necessita para purgar seus desejos profanos e hábitos inferiores.
Esta é a lei simbolizada na foice do ceifador, a Morte, a lei que diz que “tudo que o ser humano semear, ele, também, colherá”. É a Lei de Causa e Efeito que regula todas as coisas nos três Mundos e em todos os reinos da Natureza – físico, moral e mental. Em todos eles, ela trabalha inexoravelmente ajustando todas as coisas, restaurando o equilíbrio, em qualquer lugar onde, por sua simples ação, um distúrbio tenha sido provocado. O resultado pode ser manifestado imediatamente ou pode ser retardado por anos ou vidas, porém, em algum tempo, em algum lugar, uma justa e adequada retribuição será feita. O Estudante deve particularmente observar que este trabalho é absolutamente impessoal. Não há no universo nem prêmio nem punição. Tudo é o resultado da lei invariável.
Para resumir, podemos dizer que todos os nossos débitos são pagos no Purgatório, tanto quanto a função do mal é entendida. Nossos débitos de amor, amizade e serviço permanecem para serem liquidados em vidas futuras.
Para que se compreenda a mediunidade, é necessário saber que na morte efetua-se a mesma separação de Corpos como no sono, só que de modo permanente. Os chamados “mortos” possuem: Ego, Mente e Corpo de Desejos e, muitas vezes, permanecem conscientes, por algum tempo, do Mundo que acabam de deixar. Alguns se apegam à vida terrena, mas não podem ajustar suas Mentes ao aprendizado de novas lições. A esses chamamos “espíritos apegados a Terra”. Tais espíritos, impossibilitados de funcionar no Mundo visível sem um Corpo, aproveitam-se, vantajosamente, do fato de que nem todos os espíritos estão confinados com o mesmo rigor à prisão do Corpo Denso. Aqueles que se acham mais fortemente aderidos a seus Corpos são os materialistas e aqueles cujos liames não os prendem tão fortemente são os “sensitivos”, capazes, até certo ponto, de responder às vibrações espirituais. As pessoas de caráter positivo, caso se desenvolvam, podem sensibilizar-se, por sua própria vontade, tornando-se assim ocultistas exercitados. Os de vontade fraca só podem desenvolver-se com a ajuda de outros e de maneira negativa. Estes são presas dos espíritos apegados a Terra, os quais, denominando-se a si mesmos de “guias espirituais”, desenvolvem suas vítimas como “médiuns de transe” ou como “médiuns materializantes”, se as conexões entre os Corpos: Denso e Vital das vítimas são fracas.
Os espíritos apegados a Terra dirigem-se para as Regiões inferiores do Mundo do Desejo, o qual interpenetra o Éter, e ficam em constante e estreito contato com pessoas da Terra, que se encontrem em situação mais favorável para ajudá-los nas suas más intenções. Permanecem nesta situação durante cinquenta, sessenta ou setenta e cinco anos, porém, têm-se visto casos extremos em que tais pessoas permanecem assim durante séculos. Com referência às descobertas do autor até o presente, parece que não há limite para o que eles possam fazer, ou quando deixarão de fazê-lo. Mas eles vão amontoando sobre si uma carga horrorosa de pecados, à qual não poderão escapar sem sofrimento, pois o Corpo Vital reflete e grava profundamente no Corpo de Desejos um registro de tais maldades. Quando finalmente abandonam a vida errática e entram na existência purgatorial, encontram o castigo que merecem. O seu sofrimento será de duração proporcional ao tempo em que permaneceram em suas práticas perniciosas depois da morte do Corpo Denso – o que vem provar mais uma vez que “Os moinhos de Deus moem devagar, mas moem extraordinariamente bem”.
Quando o espírito abandonou o Corpo de pecado – como chamamos este veículo para contrastá-lo com o Corpo-Alma – a fim de ascender ao Segundo Céu, ele não se desintegra tão rapidamente como acontece com o invólucro deixado para trás pelas pessoas normais porque, nele, a consciência se acha aumentada por uma dupla composição, isto é, composta de um Corpo Vital e de um Corpo de Desejos e tem uma consciência individual ou pessoal muito marcante. Não pode raciocinar, mas existe uma astúcia inferior que faz com que pareça ter o aspecto de um espírito, um Ego, e isto lhe facilita viver uma vida separada por muitos séculos. Entretanto, o Espírito que partiu entra no Segundo Céu, porém, não tendo efetuado nenhum trabalho na Terra que o faça merecer uma prolongada estada ali ou no Terceiro Céu, permanece nestes lugares somente o tempo suficiente para criar um novo ambiente para si. Então, renasce muito antes do tempo normal para satisfazer seu desejo de coisas materiais que tão intensamente o atraem.
Em tais casos extremos (pessoas de natureza demoníaca) em que a vida animal predominou, quando na vida terrena precedente não houve expressão de alma, a divisão do Corpo Vital não pode ocorrer com a morte, uma vez que não existe linha divisória. Assim, se o Corpo Vital gravitasse de volta ao Corpo Denso e ali se desintegrasse gradualmente, o efeito de uma vida perversa não teria consequências tão sérias, mas, infelizmente, em tais casos, existe uma algema interna entre os Corpos Vital e de Desejos que evita a separação. Temos observado que quando um ser humano vive quase exclusivamente uma vida superior, seus veículos espirituais são alimentados em detrimento dos inferiores. Inversamente, quando sua consciência está enfocada nos veículos inferiores, ele os fortalece imensamente.
Devíamos entender que a vida do Corpo de Desejos não acaba com a partida do Espírito, pois permanece um resíduo de vida e de consciência.
Quando se busca o passado na Memória da Natureza, é espantoso encontrar-se o quanto tem prevalecido, através dos séculos e milênios, esta ligação dos Corpos Vital e de Desejos. Na própria história atual, a selvageria tem sido tão comum e brutal que seu poder tem representado a medida indiscutível do que seja o certo, e essa verificação constitui, para o autor, uma experiência chocante.
Já foi ensinado que o egoísmo e o desejo foram decididamente estimulados sob o regime de Jeová, para dar incentivo à ação. Isto, com o transcurso do tempo, endureceu de tal modo o Corpo de Desejos que quando o advento de Cristo aconteceu não existia quase ideia da vida celestial entre a Humanidade daquela época.
Os povos antigos não se contentavam em fazer somente todo o mal possível; tinham também que matar seus cavalos de guerra, colocar suas armas em seus esquifes, fazendo tudo para que se conservassem ali, porque o Éter desses instrumentos de guerra, que lhes havia pertencido durante a vida, exercia uma atração sobre eles e era um meio de mantê-los presos à esfera terrestre. Isso os permitia assombrar os castelos – pois eles realmente assombravam – por anos e anos não só nas classes ricas e de guerreiros, como também nas outras classes. Em casos de brigas sangrentas, nas quais os seres humanos se matavam uns aos outros, os fantasmas incitavam seus familiares vivos para que os vingassem, permanecendo a seu lado e ajudando-os a levar a cabo os feitos sangrentos.
Desta forma, perpetuava-se a maldade e o mundo permanecia em constante agitação, com sangue e luta. Esta condição ainda não se dissipou em nossos dias, no chamado tempo moderno. Toda vez que morre uma pessoa que manteve em seu coração ódio e maldade, estes sentimentos entrelaçam os Corpos de Desejos e Vital, convertendo-a numa séria ameaça para a comunidade. Uma pessoa que não tenha podido investigar e comprovar este assunto não pode imaginar o que isto realmente é. Portanto, mesmo que não houvesse outras razões, a pena de morte deveria ser abolida, para que não se deixassem soltas essas entidades tão perigosas, capazes de incitar pessoas moralmente fracas a seguir suas pegadas.
O Mundo do Desejo é, por algum tempo, a moradia daqueles que morreram, e podemos dizer que os chamados “mortos” permanecem por um longo período entre seus amigos vivos. Sem ser vistos por seus parentes, eles andam pela casa em que moraram. No início, eles não estão cientes sobre o fato de que “duas pessoas podem estar no mesmo lugar ao mesmo tempo” e quando se sentam numa cadeira ou à mesa, um parente vivo pode sentar-se na mesma cadeira. O ser que nós erradamente chamamos de morto sairá rapidamente para que a pessoa não se sente em cima dele, mas, em breve, aprende que isto não causará nenhum dano em sua atual condição e que ele pode permanecer em sua cadeira apesar de seu parente estar também sentado nela.
Há outras classes que, por assim dizer, tornam-se imortais no mal. Não tanto assim, mas o entrelaçamento de seus Corpos Vital e de Desejos obrigam-nos a ficar nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, próximo ao Mundo Físico onde vivemos.
Esta classe pode, desta forma, ser encontrada durante um considerável número de anos após sua partida do Corpo Denso. É de fato curioso que, às vezes, estas pessoas desprezíveis sejam procuradas por antigos amigos que também morreram e necessitam ajuda para contatar o Mundo Físico. O autor lembra-se de um exemplo ocorrido há alguns anos atrás, quando uma pessoa idosa estava prestes a deixar a vida. Ela desejava ansiosamente ver seu marido que havia partido antes dela. Porém, como ele já havia alcançado o Primeiro Céu, seus braços e seu Corpo haviam desaparecido e somente a cabeça permanecia visível. Por isso, ele dificilmente teria condições de aparecer a ela quando ela deixasse o Corpo, muito menos de influenciar na hora de sua morte, e isso o desgostava. Alguns procedimentos estavam causando o retardamento do desligamento do Espírito e prejudicando ambas as partes.
Em sua ansiedade, o marido procurou ajuda de um amigo, cujo entrelaçamento dos Corpos Vital e de Desejos facilitava sua manifestação. Este espírito pegou uma bengala pesada, que estava no quarto, e com ela derrubou um livro que estava na mão da filha da senhora, amedrontando tanto as pessoas presentes que pararam a demonstração, permitindo que a senhora deixasse o Corpo Denso. O pobre ser humano que produziu este fenômeno já estava há mais de vinte anos nos Mundos invisíveis e, segundo o autor pôde perceber, não havia sinal de dissolução do Corpo de pecado do qual ele se revestia. Ele deve ter permanecido lá por talvez o dobro ou o triplo do tempo mencionado.
O autor, em certa época, esteve muito preocupado com o efeito que a guerra poderia ter no entrelaçamento do Corpo Vital e o de Desejos, pensando que pudesse produzir o nascimento de legiões de monstros que afligiriam as futuras gerações. No entanto, é com grande gratidão e alegria que ele reafirma que não devemos temer por isso. Quando o ser humano é premeditadamente mal e vingativo e busca ardentemente ocasiões propícias para vinganças, somente quando tais sentimentos são cultivados, estimulados e mantidos é que produzem o endurecimento do Corpo Vital e causam um entrelaçamento destes veículos. Sabemos, pelos registros da grande guerra, que as tropas não alimentam sentimento de vingança umas contra as outras; os adversários se relacionam como amigos e são até companheiros, entrando muitas vezes em contato e confraternizando-se. Assim, ainda que a guerra seja responsável por uma tremenda mortalidade e, em consequência acarrete uma deplorável mortalidade infantil em idade futura, não pode ser acusada pelas doenças terríveis engendradas pela obsessão, nem pelos crimes sugeridos por esses demoníacos Corpos de pecado.
Continuando as investigações, o autor tentou várias experiências com Espíritos que se encontravam nos reinos superiores do Éter e que acabavam de morrer e, também, com seres que haviam estado no Mundo do Desejo por tempo mais ou menos longo, alguns deles já em condições de passar para o Primeiro Céu. Muitos Espíritos que haviam partido desta vida procuraram cooperar bondosamente como “cobaias”. O objetivo destas experiências era determinar até que ponto lhes seria possível revestirem-se nos materiais das Regiões etéricas inferiores e até das Regiões gasosas. Foi comprovado que aqueles que acabavam de morrer podiam aguentar facilmente as vibrações etéricas inferiores, mas, sendo seres de bom caráter, não se sentiam satisfeitos em lá permanecer mais tempo do que o necessário, pois aquela situação lhes era desagradável. Porém, ao fazer a experiência com espíritos vindos das sucessivas Regiões superiores do Mundo do Desejo, notou-se que se tornou cada vez mais difícil para eles envolverem-se no Éter ou penetrar nele. A opinião geral foi que sentiram uma sensação semelhante à descida ao interior de um poço profundo, chegando até à asfixia. Também se comprovou que foi absolutamente impossível às pessoas do Mundo Físico vê-los. Tentamos, por todos os meios de sugestão, dar uma sensação da nossa presença às pessoas congregadas em salões que visitávamos, mas não percebemos resposta às nossas manifestações, embora, em alguns casos, as formas que condensamos fossem tão opacas que pareciam ao autor serem tão escuras como as das pessoas físicas cuja atenção desejávamos atrair. Colocamos nossos colaboradores entre as pessoas físicas e a luz, mas, mesmo assim, não obtivemos sucesso, nem com os que pertenciam às Regiões superiores, nem com aqueles que tinham acabado de falecer e podiam permanecer durante um tempo considerável naquela posição e densidade.
É um engano pensar que o céu é um lugar de pura felicidade para todos. Ninguém pode colher felicidade além daquela que semeou na Terra. A medida da nossa alegria lá se restringe às boas ações que praticamos na vida terrena. O Panorama da Vida gravado no nosso Corpo de Desejos, logo após a morte, forma a base da alegria no céu tanto quanto a sentença do sofrimento no Purgatório.
Há duas classes para quem a existência post-mortem é particularmente vazia e monótona: o materialista é aquele que de tal modo deixou-se absorver pelos negócios mundanos que nunca pensou nos Mundos espirituais. Não é difícil descobrir a razão. Eles viveram uma vida moralmente equilibrada, jamais cedendo aos vícios que teriam que ser purificados nas regiões purgatoriais do Mundo do Desejo inferior, mas sem praticar aquelas boas ações que resultam em sensações de alegria no Primeiro Céu. Ter dado grandes somas em dinheiro para a construção de igrejas, bibliotecas ou parques de nada lhe servirá ali, a menos que o doador se tenha interessado particularmente em suas dádivas, dando-se a si mesmo com o seu dinheiro. Dar dinheiro simplesmente atrairá mais dinheiro na próxima existência, mas dar a si mesmo vale mais que dinheiro – produz crescimento anímico. O materialista ser humano de negócios vai para a quarta Região, que é uma espécie de fronteira entre o Purgatório e o Primeiro Céu. Ele é bom demais para sofrer no Purgatório, mas não o suficiente para desfrutar o Primeiro Céu. Ele ainda sente falta dos negócios que realizava na Terra. Sem ter nenhum interesse, salvo aqueles desejos que não pode realizar lá, sua vida é uma monotonia nada invejável, embora não tenha outro tipo de sofrimento.
O materialista convicto que nega Deus e pensa que a morte é uma aniquilação fica em pior situação. Ele vê seu erro, mas, estando tão dissociado de ideias espirituais, muitas vezes não pode crer que aquilo seja o prólogo do aniquilamento. Pavorosa expectativa pesa terrivelmente sobre tais pessoas, e é comum vê-las murmurando: “Quando isto acabará?”. E, pior que tudo, se alguém que tem conhecimento tenta esclarecê-las, elas continuarão negando a existência do espírito tanto quanto faziam na vida terrena, chamando-o de visionário por acreditar na existência após a morte.
Há muitas pessoas que crendo que quando um ser humano paga suas dívidas, cuida de sua família e vive uma vida dentro dos padrões morais aqui, ele também se dará bem lá, passam um período nada invejável no Mundo do Desejo após a morte. Eles têm que ser admirados do ponto de vista só desta vida, mas nós precisamos cultivar pelo menos algumas tendências altruístas para progredir além de nosso status de evolução atual.
Encontramos pessoas, que negligenciaram as obrigações superiores, na quarta Região do Mundo do Desejo depois da morte. Há o comerciante que negociou honestamente, que trabalhou pelo desenvolvimento material da cidade e do país como um bom cidadão, pagou seus empregados com justiça, tratou sua mulher e sua família com consideração, dando-lhes todas as vantagens possíveis, etc. Ele pode até ter construído uma igreja ou, pelo menos, ter colaborado liberalmente, ou pode ter construído bibliotecas ou fundado institutos, etc., porém, ele não se deu a si mesmo. Ele teve interesse na construção da igreja só pelo bem de sua família ou em relação à sua respeitabilidade. Não houve sentimento algum. Todo seu coração estava em seu trabalho, em ganhar dinheiro ou conseguir uma posição de destaque no mundo.
Quando ele entra no Mundo do Desejo após a morte, ele é bom demais para o Purgatório, mas não suficientemente bom para ir para o Primeiro céu. Ele foi justo com todos e não ofendeu ninguém, por isso, não tem nada para purgar. Porém, não fez nada que pudesse lhe dar uma vida no Primeiro Céu onde o bem da vida anterior é assimilado. Daí ele estar na quarta Região, entre o Céu e o Inferno, por assim dizer. A quarta Região é o centro do Mundo do Desejo e o sentimento lá é muito intenso. O ser humano ainda sente um intenso desejo de negociar, mas como não pode nem comprar nem vender, sua vida é uma terrível monotonia.
Tudo que ele deu para as igrejas, institutos, etc., não representa nada, devido a sua falta de amor. Somente quando damos com amor, desfrutamos da alegria no outro mundo. Não é a quantidade que importa, mas o espírito que acompanha a doação. Portanto é a força interna de cada um que beneficia a própria pessoa e os outros. Dinheiro dado indiscriminadamente torna as pessoas esbanjadas e indigentes, porém dando amor e simpatia, ajudando as pessoas que caíram a acreditarem em si e a começar uma vida com revigorado ardor, oferecendo-nos no serviço de ajuda à Humanidade, construímos tesouros no céu e damos mais do que ouro. Cristo disse: “Os pobres estão sempre conosco”[3]. Nós podemos não estar preparados para tirá-los da pobreza para a riqueza, e isto pode não ser o melhor para eles, mas podemos encorajá-los a aprender a lição que deve ser aprendida com a pobreza. Podemos ajudá-los a ter uma melhor visão da vida e, a menos que ele faça isso, não se sentirá “bem” quando passar para os Mundos superiores. Ele sofrerá aquela terrível monotonia para aprender que tem que preencher sua vida com algo de real valor e que, numa vida futura, sua consciência o incitará a construir algo mais do que acumular dinheiro. Entretanto, ele não deverá negligenciar suas obrigações materiais, porque isto seria tão prejudicial quanto esquecer seu crescimento espiritual.
Nos primórdios de sua evolução, a Humanidade cometeu os mais atrozes crimes devido ao egoísmo e desrespeito pelos sentimentos de seu próximo. Naquelas vidas, nós fomos maldosos, cruéis e raramente praticamos uma boa ação. De fato, está gravado que naquela época o ser humano passava todo o seu tempo entre uma vida e outra nas regiões purgatoriais, expiando os crimes que praticou durante sua vida física e não havia vida no céu, por assim dizer. Foi esta a situação de que a Bíblia fala como “perdidos em transgressão e pecado”, que fez com que Cristo penetrasse a Terra e tentasse levantar as vibrações para que o altruísmo, gradualmente, pudesse vencer o egoísmo e nos dar uma vida no céu, sobre a qual o progresso em nossa carreira evolutiva poderia basear-se.
Vimos, no capítulo anterior, como nossas más ações e hábitos indesejáveis são tratados pela impessoal Lei de Consequência que favorece o bem nas vidas futuras e, para ilustrar a atuação desta lei, servimo-nos de casos tais como o do assassino, do suicida, do alcoólatra e do avarento. No entanto, estes são casos extremos, pois há muitas pessoas que viveram uma existência terrena com bons padrões morais, comprometida pela dose normal de egoísmo, que é o pecado mais comum da atualidade, do que pela real e decidida maldade. Para estas pessoas, o estágio nas regiões purgatoriais do Mundo do Desejo é naturalmente reduzido e o sofrimento menos penoso. Deste modo e no devido tempo, todos passam às Regiões superiores do Mundo do Desejo, onde se situa o Primeiro Céu.
Esta é a “Terra de Veraneio” dos Espiritualistas. Da matéria desta Região, os pensamentos e as fantasias das pessoas, durante a vida, constroem as formas reais que veem na sua imaginação. Uma característica dos Mundos internos é que sua matéria é facilmente moldável pelo pensamento e pela vontade, sendo que todas estas fantásticas formas assim criadas se movimentam por elementais e duram tanto quanto o pensamento ou o desejo que as gerou. Na época do Natal, por exemplo, Papai Noel vive realmente e guia seu trenó e é visto em todas as variedades, robusto e saudável, por um mês ou mais, até que os desejos das crianças que o criaram cessem de fluir nesta direção. Então, ele esmaece e dissolve-se até ser recriado no ano seguinte. A Nova Jerusalém – com suas ruas de pérolas e mar de cristal – e todas as demais ideias piedosas e morais das pessoas religiosas, também ali se encontram. O Purgatório tem seu demônio em pensamento-forma, dotado de chifres e cascos fendidos, criado pelo pensamento humano, mas, nas Regiões superiores do Mundo do Desejo, somente encontramos o que é bom e desejável nas aspirações humanas. Aqui o estudante tem à sua disposição toda sorte de biblioteca, e pode dedicar-se a seus estudos de modo muito mais eficaz do que quando se achava confinado ao Corpo Denso. Se desejar um livro, logo o tem. O artista, mediante sua imaginação, cria seus modelos perfeitamente e os pinta com cores luminosas e vivas, ao invés de fazê-lo nas cores inexpressivas e mortas da Terra, coisa que sempre o desespera, porque, na vida terrena, lhe é impossível reproduzir os tons que capta com sua visão interna, pois o Mundo do Desejo é o mundo da cor por excelência, e ele consegue a realização dos anseios de seu coração, onde recebe inspiração e força para continuar seu trabalho nas vidas futuras.
De maneira idêntica, o escultor encontra satisfação e elevação neste estágio de vida post-mortem. Com a maior facilidade ele trabalha sobre a plástica matéria desse mundo, modelando as estátuas com que sonhou na vida terrena. O músico também é beneficiado, embora não se encontre ainda no verdadeiro mundo do som. Este oceano de harmonia – onde a celestial “música das esferas” é ouvida – situa-se na Região do Pensamento Concreto, conhecida como Segundo Céu entre os Cristãos esotéricos. No Primeiro Céu, o músico ouve apenas ecos das melodias celestiais que são mais sublimes do que qualquer uma jamais ouvida na Terra, e sua alma deleita-se nesta primorosa harmonia, prenúncio de melhores coisas que virão.
Aqui se encontram, também, todas as criancinhas que passam direto para este Plano após morrerem e, se seus familiares pudessem vê-las, certamente não se lamentariam, pois elas desfrutam de uma vida verdadeiramente invejável. Sempre são atraídas por parentes ou amigos que morreram antes e que passam a cuidar delas. Lá também estão aqueles que acumulam tesouros celestiais, empregando o melhor do seu tempo em inventar recreações e criar brinquedos para os pequeninos. E, assim, a vida no Primeiro Céu transcorre de modo maravilhoso para as crianças, sem que sua educação seja negligenciada. Elas são agrupadas em classes, não somente por idade e capacidade, mas também de acordo com o temperamento, e são particularmente instruídas sobre os efeitos dos desejos e emoções, o que se consegue com toda facilidade num mundo onde tais condições podem ser demonstradas objetivamente. Deste modo, ensinam-lhes, através de lições objetivas, o benefício de cultivar o bem e desejos altruístas. Muitas almas que vivem agora, aqui na Terra, uma invejável vida moral, devem isso a ter morrido na infância e vivido de quinze a vinte anos no Primeiro Céu, antes de renascerem outra vez.
Nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, o corpo inteiro pode ser visto, mas, nas Regiões superiores, somente a cabeça permanece. Rafael que, como tantos outros da Idade Média, foi beneficiado com a chamada segunda visão, retratou deste modo a sua Madona Sistina, atualmente na Galeria de Arte de Dresden, onde a Madona e o Menino Cristo são vistos flutuando numa atmosfera dourada, e cercados por uma hoste de cabeças de espíritos, condição que o investigador ocultista sabe estar em harmonia com a verdade dos fatos.
Nas Regiões superiores do Mundo do Desejo, a confusão de línguas cede lugar a um universal modo de expressão, que previne totalmente a possibilidade de má compreensão de qualquer espécie. Lá cada um de nossos pensamentos toma uma cor e forma definidas, percebida por todos, e este pensamento simbólico emite certo som, que não é uma palavra, mas transmite o que queremos para aquele a quem nos dirigimos, independente da língua que ele falava na Terra.
No decorrer do tempo todo ser humano está pronto para ascender ao Segundo Céu, localizado na Região do Pensamento Concreto. Todas as boas aspirações e desejos da vida passada são gravados na Mente que, então, contém tudo o que seja de valor permanente. O Ego retira-se do Corpo de Desejos que será nada mais que um invólucro vazio e, revestido apenas pela Mente, ascende ao Segundo Céu.
Recordemos que ao terminar o panorama, imediatamente após a morte, quando o Ego abandonou o Corpo Vital, ele passou por um período de inconsciência antes de despertar no Mundo do Desejo. Há, também, um intervalo entre sua saída do Corpo de Desejos, no Primeiro Céu, e seu despertar no Segundo Céu. Mas, nesta oportunidade, não há consciência; todas as faculdades estão intensamente alertas, há um estado de hiperconsciência enquanto o Espírito passa por esse intervalo chamado “O Grande Silêncio”. Não importando quão materialista um ser possa ter sido na Terra, esta condição de sua Mente agora desaparece, e o ser sabe que ele é inerentemente divino quando alcança este Grande Silêncio, portal de seu lar celestial. É como quando alguém desperta após um sonho terrível, e dá um profundo suspiro de alívio ao verificar que os fatos ocorridos no sonho não eram reais. Do mesmo modo, o Ego, quando entra no Grande Silêncio, desperta dos enganos e ilusões da vida terrena com uma sensação de infinito alívio, pleno de inabalável segurança e sente, mais uma vez, a calma repousante de estar nos braços eternos do Grande Espírito Universal.
Com o tempo, um ponto é alcançado no qual o resultado da dor e do sofrimento, relativo à fase purgatorial, junto com a alegria extraída das boas ações da vida passada, se gravam no Átomo-semente do Corpo de Desejos. Juntos eles constituem o que chamamos de consciência, esta força impulsora que nos alerta contra o mal, como produtor do sofrimento, e nos predispõe para o bem, como gerador de felicidade e alegria. Então, o Ego abandona seu Corpo de Desejos para que se desintegre, assim como abandonou seus Corpos Denso e Vital. Ele leva consigo somente as forças do Átomo-semente que formarão o núcleo dos futuros Corpos de Desejos, assim como aconteceu com a partícula permanente de seus anteriores veículos de sentimento.
O tempo habitual de permanência no Mundo do Desejo, depois de abandonado o Corpo Denso na chamada morte, corresponde a um terço da vida neste Corpo, mas tal norma é apenas uma regra geral. Há muitos casos em que esta permanência é encurtada ou prolongada. Por exemplo, se um ser pratica os exercícios recomendados pela Fraternidade Rosacruz, especialmente o de Retrospecção à noite, ele pode, por este método científico, desde que tenha sido sério e sincero em sua execução, suprimir inteiramente a necessidade de uma experiência purgatorial. As imagens das cenas em que prejudicou alguém serão apagadas do Átomo-semente do coração pela contrição e, assim, não haverá, para este ser, expiação purgatorial. Onde tenha feito algo recomendável, isto é absorvido como alimento para a alma, encurtará substancialmente ou suprimirá completamente sua experiência no Primeiro Céu. Desse modo, tal ser estaria relativa ou inteiramente livre para dedicar-se ao serviço humanitário no Mundo suprafísico e, nesta condição, ele pode permanecer nas Regiões mais baixas. Estas, no entanto, não constituiriam para ele nem Purgatório, nem Primeiro Céu. Muitos dos mais devotos discípulos realizam este trabalho humanitário por muitos anos após a morte. Outros, no entanto, vão imediatamente para o Segundo Céu. O crescimento anímico alcançado durante a vida de serviço, que os liberou da vivência no Purgatório e no Primeiro Céu, lhes permite, também, levar adiante determinadas investigações no Segundo Céu e passar por certos treinamentos, que os prepararão para uma elevada e melhor posição como Auxiliares da Humanidade numa futura vida. Por conseguinte, esta classe de seres não poderá ser vista por nenhum amigo ou parente, quando fora do Corpo nas horas de sono.
A “Região Aérea” é a terceira subdivisão da Região do Pensamento Concreto. Aqui encontramos os arquétipos dos desejos, paixões, anelos e sentimentos, tais como os que conhecemos no Mundo do Desejo. Nesta Região, todas as atividades do Mundo do Desejo se assemelham a condições atmosféricas. Como o beijo da brisa de verão, os sentimentos de prazer e alegria chegam aos sentidos do Clarividente; como o suspiro do vento nas copas das árvores, assim parecem as aspirações da alma e, como relâmpagos, as paixões das nações em guerra. Nesta Região do Pensamento Concreto estão, também, as imagens das emoções do ser humano e dos animais.
Tanto a cor como a forma existem (no Segundo Céu) de modo igual ao Mundo Físico, mas o som é o que predomina no Mundo do Pensamento. A cor é mais acentuada no Mundo do Desejo e a forma no Mundo Físico, embora seja também verdade que as cores e as formas do Segundo Céu sejam mais belas que nos outros dois Mundos.
Depois de um tempo (no Terceiro Céu), surge o desejo de novas experiências e a contemplação de um novo renascimento. Antes de submergir-se na matéria, o Tríplice Espírito está desnudo tendo, somente, as forças dos quatro Átomos-semente (que são o núcleo do Tríplice Corpo e da Mente).
O Átomo-semente pode atrair, em cada Região, nada mais que o material com o qual tem afinidade, e nada além de uma definida quantidade da substância de cada Região. Assim, o veículo construído, em torno de cada núcleo, vem a ser a exata contraparte do correspondente veículo da última vida, com exceção do mal que foi expurgado e com o acréscimo da quinta essência do bem incorporado ao Átomo-semente.
O material selecionado pelo Tríplice Espírito modela-se como uma grande campânula, aberta na base, e com o Átomo-semente no ápice. Se concebermos esta imagem espiritualmente, podemos compará-la a um sino de imersão descendo num mar composto de matérias fluídas de crescente densidade, correspondentes às diferentes subdivisões de cada Mundo. A matéria atraída à textura do corpo em forma de campânula torna-o mais pesado, assim ele se submerge na próxima subdivisão inferior, desta tomando sua própria cota de matéria. Deste modo, se faz mais pesado ainda e mergulha mais profundamente até passar através das quatro subdivisões da Região do Pensamento Concreto, e a forma da nova Mente do ser humano se completa. A seguir, as forças do Átomo-semente do Corpo de Desejos são despertadas. Ele se coloca no ápice da campânula, por dentro, e a matéria da sétima Região do Mundo do Desejo se agrupa ao seu redor, até que se submerge na sexta Região, adquirindo o material correspondente, e este processo continua até alcançar a primeira Região do Mundo de Desejo. A campânula tem, agora, duas camadas: a da Mente, no exterior, e a do novo Corpo de Desejos, interiormente.
Excetuando o caso de um ser altamente evoluído, este trabalho do Ego (a construção de seus veículos) é insignificante no atual estágio da evolução humana. A maior oportunidade lhe é dada na construção do Corpo de Desejos, muito pouco na do Corpo Vital, e quase nenhuma na do Corpo Denso. Não obstante, esta pouca intervenção é suficiente para fazer de cada indivíduo uma expressão de seu próprio Espírito e, assim, diferente de seus pais.
Quando a impregnação do óvulo tem lugar, o Corpo de Desejos materno trabalha sobre ele por um período de dezoito a vinte e um dias, permanecendo o Ego fora, em seu Corpo de Desejos e na envoltura mental, mas sempre em contato com a mãe.
Sabemos, agora, que nasce um novo Cordão Prateado a cada vida, que uma parte dele brota do Átomo-semente do Corpo de Desejos, no grande vórtice do fígado; que outra parte nasce do Átomo-semente do Corpo Denso, no coração, e que ambas se unem no Átomo-semente do Corpo Vital, no plexo solar, e que esta união dos veículos superiores e inferiores produz os primeiros movimentos do feto.
Os Arcanjos tornaram-se especialistas na construção de um corpo de matéria de desejos, a mais densa do Período Solar. Portanto, eles são capazes de ensinar e orientar seres menos evoluídos, como o ser humano e o animal, em como moldar e utilizar um Corpo de Desejos.
De novo, temos uma aparente anomalia, pois os Arcanjos eram a “humanidade” do Período Solar quando o Corpo Vital estava em seu início, numa fase em que o ser humano ainda não tinha Corpo de Desejos. A dificuldade, porém, desaparece ao recordarmos que cada um de nossos Corpos é a sombra de um dos Aspectos do Espírito, e que estes Corpos não nos foram dados por estas Hierarquias. Elas são, unicamente, auxiliares do ser humano no aprendizado em determinado veículo, por causa da especial aptidão que possuem. Assim, os Arcanjos são os que nos instruem a respeito do nosso Corpo de Desejos, porque se especializaram na construção e uso de tal veículo, quando eram humanos no Período Solar, pois construíram seus corpos mais densos com a “matéria de desejos”, assim como nós estamos, agora, construindo nossos corpos de matéria química mineral.
Na Revolução Lunar do Período Terrestre, os Arcanjos (“humanidade” do Período Solar) e os Senhores da Forma se encarregaram da reconstrução de nosso Corpo de Desejos, mas eles não estavam sozinhos neste trabalho. Quando ocorreu a divisão do Globo em duas partes, houve uma divisão semelhante no Corpo de Desejos de alguns seres em evolução. Já observamos que, onde esta divisão teve lugar, a forma estava pronta para tornar-se o veículo de um Espírito Interno e, a fim de favorecer este objetivo, os Senhores da Mente (“humanidade” do Período de Saturno) dedicaram-se à parte superior do Corpo de Desejos, e nela implantaram o “eu” pessoal, separado, sem o qual o atual ser humano, com todas suas gloriosas possibilidades, não teria existido.
Desse modo, na última parte da Revolução Lunar, do Período Terrestre, o primeiro germe da Personalidade independente foi implantado, na parte superior do Corpo de Desejos, pelos Senhores da Mente.
Os Arcanjos agiam na parte inferior do Corpo de Desejos, imprimindo-lhe desejos simplesmente animais. Eles trabalharam, também, no Corpo de Desejos quando nele não havia, ainda, nenhuma divisão. Alguns desses Arcanjos tornaram-se os veículos dos Espíritos-Grupo dos animais, trabalhando sobre eles desde o exterior, não penetrando inteiramente nas formas animais, ao contrário do que faz o Espírito individual no corpo humano.
O Corpo de Desejos foi reconstruído para torná-lo capaz de ser interpenetrado pela Mente germinal que, durante o Período Terrestre, seria implantada em todos os Corpos de Desejos nos quais fosse possível fazer a divisão antes mencionada.
Os Senhores da Mente se encarregaram da parte superior do Corpo de Desejos e da Mente germinal, impregnando-os com a qualidade do eu individual, sem a qual nenhum ser independente e autossuficiente, como somos hoje, seria possível.
Quando refletidas num lago, as imagens das árvores aparecem invertidas, a folhagem parecendo estar no mais profundo da água, assim, o mais elevado aspecto do Espírito, o Espírito Divino, encontra sua contraparte no mais inferior dos três Corpos, o Corpo Denso. O próximo aspecto mais elevado, o Espírito de Vida, reflete-se no imediato corpo inferior, o Corpo Vital. O terceiro aspecto do Espírito, o Espírito Humano, e seu reflexo, o terceiro corpo, o Corpo de Desejos, aparecem mais próximos do espelho refletor – a Mente – que corresponde à superfície do lago – o meio refletor de nossa analogia.
O veículo inferior dos Arcanjos é o Corpo de Desejos. Este veículo, em nossa Humanidade, foi obtido no Período Lunar, no qual Jeová era o mais elevado Iniciado. Por conseguinte, Jeová pode ocupar-se do Corpo de Desejos humano. O veículo mais denso de Jeová é o Espírito Humano, a sua contraparte é o Corpo de Desejos. Os Arcanjos são seus cooperadores, porque são capazes de administrar as Forças Espirituais Solares e o Corpo de Desejos é seu veículo inferior. Desse modo, podem trabalhar com a Humanidade e prepará-la para a época em que seja capaz de receber os impulsos espirituais diretamente do Sol, sem a intervenção da Lua.
Jeová ajudou o ser humano a controlar a Mente e o Corpo de Desejos, dando-lhe Leis e ordenando punições por sua transgressão. O temor a DEUS foi lançado contra os desejos da carne. Desta maneira, o pecado tornou-se manifesto no mundo.
Os Anjos faziam com que o trigo e as uvas, que os humanos plantavam, crescessem ou murchassem; que seu rebanho aumentasse ou não; que sua família se multiplicasse ou morresse, segundo fosse preciso abençoá-los pela obediência à Lei do Espírito de Raça, Jeová, ou puni-los pela transgressão à Lei. Sob seu controle, todas as Religiões de Raça – Confucionismo, Taoísmo, Budismo, Judaísmo, etc. – floresceram e trabalharam sobre o Corpo de Desejos, como Religiões do Espírito Santo. Jeová ajuda o ser humano a controlar o Corpo de Desejos, porque este veículo teve seu início no Período Lunar.
Os Anjos trabalharam sozinhos com o ser humano, na Época Hiperbórea, quando ele tinha apenas os Corpos Denso e Vital, mas, na Época Lemúrica, quando o Corpo de Desejos foi anexado, os Arcanjos intervieram para ajudar o infante Espírito Humano a controlar seus futuros veículos. Eles neutralizavam o Corpo de Desejos, de modo a que ele fosse sexualmente ativo, somente em certas épocas do ano.
Em determinados períodos do ano (durante a Época Lemúrica), os Arcanjos retiravam sua restritiva influência sobre o Corpo de Desejos, e os Anjos conduziam a Humanidade a grandes templos, onde o ato gerador era realizado nos momentos em que as constelações eram próprias. Em nossos dias, as viagens de lua-de-mel são lembranças atávicas dessas migrações com objetivos propagadores, e mostram uma conexão com os corpos celestes, na expressão lua-de-mel.
Quando a propagação tinha sido alcançada, o Corpo de Desejos era novamente neutralizado e, por consequência, não havia sofrimento ligado ao parto, como é o caso, atualmente, dos animais que estão, agora, em condições semelhantes.
O Ego humano era muito débil (na metade da terceira parte da Época Atlante) e tinha de obter ajuda de mais alguém. Por isso Jeová, o mais elevado Iniciado do Período Lunar, regente de Anjos e Arcanjos que trabalham com o ser humano, soprou nas narinas do ser humano, deu-lhe pulmões e lhe deu o Espírito de Raça no ar, isto é, para conter as tendências endurecedoras do Corpo de Desejos e ajudá-lo a dominar esse Corpo. O Corpo de Desejos tem o domínio sobre os músculos voluntários. Cada movimento que realizamos é motivado pelo desejo e todo esforço destrói tecido e endurece, cada vez mais, todas as partículas de nossos tecidos.
Há três fases pelas quais este trabalho (a união com o Eu Superior) conquista a natureza inferior, mas estas fases não se sucedem completamente. Em certo sentido vão juntas, assim que, no estágio atual, a primeira recebe mais atenção, a segunda, menos e a terceira, menos ainda. A seu tempo, quando a primeira fase se completa inteiramente, maior atenção será dada às outras duas.
Há três ajudas dadas para a realização dessas três fases. Elas podem ser vistas no mundo exterior, onde os grandes condutores da Humanidade as dispuseram.
A primeira ajuda é a Religião de Raça que, auxiliando a Humanidade a subjugar o Corpo de Desejos, prepara-a para a união com o Espírito Santo.
A máxima realização, desta ajuda, foi vista no Dia de Pentecostes. Como o Espírito Santo é o Deus da Raça, todas as línguas são expressões Dele. Esta é a razão por que os Apóstolos, quando inteiramente unidos e plenos do Espírito Santo, falavam diferentes idiomas e foram capazes de convencer seus ouvintes. Seus Corpos de Desejos tinham sido purificados o suficiente para que se efetuasse a desejada união. Esta é a realidade que o discípulo alcançará um dia – o poder falar todas as línguas. Pode também ser citado, como um exemplo histórico moderno, que o Conde de St. Germain (que foi um dos últimos renascimentos de Christian Rosenkreuz, o fundador de nossa Sagrada Ordem) falava todas as línguas; assim, todos com os quais se comunicava, pensavam que ele pertencia à mesma nação que eles. Conseguira, também, a união com o Espírito Santo.
O efeito desta Antiga Iniciação era produzir uma raça que tivesse o apropriado grau de desconexão entre os Corpos Denso e Vital; e, também, despertar o Corpo de Desejos de seu estado de letargia durante o sono. Assim, uns poucos, em especial, foram preparados para a Iniciação e lhes davam oportunidades que não podiam ser dadas a todos. Encontramos exemplos deste método entre os judeus onde, da tribo de Levi, os escolhidos foram os Templários e, também, no caso dos Brâmanes, que eram a única classe sacerdotal entre os hindus.
Quando o sangue fluiu de determinados centros, o Grande Espírito Solar, Cristo, foi liberado do veículo físico de Jesus, e encontrou-Se na Terra, com veículos individuais. Os já existentes corpos planetários foram compenetrados por Seus próprios veículos e, num instante, difundiu Seu próprio Corpo de Desejos por todo o Planeta, o que Lhe permitiu, desde então, trabalhar sobre a Terra e sua Humanidade desde o interior.
Naquele momento, uma extraordinária onda de espiritual luz solar inundou a Terra. Rompeu-se o véu que o Espírito de Raça tinha colocado diante do Templo para resguardá-lo de todos, com exceção dos poucos escolhidos, e tornou o Caminho da Iniciação livre, daí por diante, para quem o desejasse. No que diz respeito aos mundos espirituais, esta onda transformou as condições da Terra num instante, mas as condições densas concretas são, naturalmente, afetadas muito mais lentamente.
Como todas as rápidas e intensas vibrações de luz, esta grande onda cegou o povo por seu brilho ofuscante, por isso foi dito que “o Sol escureceu”. Exatamente o oposto aconteceu. O Sol não foi encoberto, mas brilhou em glorioso esplendor. Foi o excesso de luz que cegou o povo e, somente quando a Terra inteira absorveu o Corpo de Desejos do resplandecente Espírito Solar, a vibração retornou ao ritmo normal.
No Período Solar, o mais inferior dos Globos estava no Mundo do Desejo, por conseguinte os Arcanjos têm o Corpo de Desejos como seu veículo mais denso. O Senhor Cristo, porém, foi muito além. Elevou-Se tão alto que hoje tem o Espírito de Vida como seu veículo mais inferior e, comumente, não usa outro mais denso. Unicamente pelo poder do Espírito de Vida é que a tendência nacional será sobrepujada, e a irmandade universal do ser humano se tornará uma realidade. Os veículos pertencentes ao Mundo do Pensamento – o Ego e a Mente – promovem o separatismo. Eles têm no separatismo a sua característica. O Espírito de Vida, porém, é o princípio da unificação no Universo, portanto o Senhor Cristo é o único Ser apto a tornar real a fraternidade.
O Senhor Cristo, como um Arcanjo, aprendera a construir até o Corpo de Desejos, mas nunca aprendeu a construir os Corpos Denso e Vital. Os Arcanjos tinham trabalhado sobre a Humanidade desde o exterior, como os Espíritos-Grupo fazem-no, mas isto não foi o suficiente. A ajuda tinha de vir desde o interior. Isto foi possível pela união do Senhor Cristo e Jesus e, portanto, é verdade, no mais elevado e literal sentido, o que São Paulo diz:
“Não há senão um mediador entre DEUS e o ser humano: Cristo Jesus, o Justo.” (ITim 2:5).
Os Iniciados progrediram e desenvolveram, também, veículos mais elevados, interrompendo o uso comum de veículos inferiores, quando a habilidade em usar um novo e mais elevado veículo foi atingido. Comumente, o mais inferior veículo de um Arcanjo é o Corpo de Desejos, mas o Senhor Cristo, que é o mais elevado Iniciado do Período Solar, normalmente utiliza, como veículo inferior, funcionando tão conscientemente no Mundo do Espírito de Vida, como o fazemos no Mundo Físico. O estudante é solicitado a observar este ponto, de modo especial, por ser o Mundo do Espírito de Vida, o primeiro Mundo universal, como foi explanado no capítulo sobre os Mundos. Este é o Mundo no qual a diferenciação cessa e a união começa a ser compreendida, até onde concerne ao nosso Sistema Solar.
O senhor Cristo não podia nascer num Corpo Denso, porque Ele nunca passou por uma evolução como a do Período Terrestre. Ele teria, primeiramente, de adquirir a habilidade em construir um Corpo Denso, tal como nosso veículo, mas, mesmo que possuísse esta habilidade, teria sido inoportuno, para um Exaltado Ser, despender a energia necessária para a construção deste Corpo através da vida antenatal, da infância e juventude, e trazê-lo a suficiente maturidade para seu uso. O Senhor Cristo tinha deixado de usar, comumente, veículos que corresponderiam a nosso Espírito Humano, Mente e Corpo de Desejos, embora tivesse aprendido a construí-los no Período Solar e conservado esta habilidade, e neles funcionar sempre que o desejasse ou fosse necessário. Ele usou Seus próprios veículos, tomando somente os Corpos Denso e Vital de Jesus. Quando este completou 30 anos, o Senhor Cristo penetrou nesses Corpos e usou-os até a culminância de Sua Missão no Gólgota. Após a desintegração do Corpo Denso, o Senhor Cristo apareceu entre Seus Discípulos em Corpo Vital, no qual funcionou por algum tempo. O Corpo Vital é o veículo que Ele usará quando surgir novamente, pois nunca mais tomará outro Corpo Denso.
Como, então, desenvolveremos nosso poder espiritual? Qual é o Caminho, a Verdade e a Vida? Temos a tríplice senda que nos é indicada no glorioso ensinamento de Cristo. A Humanidade, comum em toda parte, está sendo trabalhada pela lei que opera sobre o Corpo de Desejos e o mantém controlado. O pensador opõe-se à carne. Mas, sob a lei, ninguém pode ser salvo.
A Religião Cristã não teve tempo, ainda, de alcançar seu grande objetivo – a Fraternidade Universal. O ser humano, até agora, está sob o pesado trabalho do dominante Espírito de Raça e os ideais do Cristianismo lhe são, ainda, muito elevados. O intelecto pode perceber algumas de suas belezas e prontamente admitir que amassem nossos inimigos, mas as paixões do Corpo de Desejos são, contudo, demasiado fortes. A Lei do Espírito de Raça sendo “Olho por olho”, o sentimento é “Eu me vingarei”. O coração roga por amor; o Corpo de Desejos confia na vingança. O intelecto compreende, abstratamente, a beleza em amar os inimigos, mas, nos casos concretos, alia-se ao sentimento vingativo do Corpo de Desejos alegando, como pretexto para a desforra, que “o organismo social deve ser protegido”.
Enquanto os puros pensamentos levam-nos, a passos largos, ao caminho da realização, as emoções e ânsias do Corpo de Desejos, não são facilmente subjugadas, pois este veículo é consideravelmente mais solidificado que a Mente. Enquanto essa, regenerada, concorda de pronto com a ideia de que deveríamos amar nossos inimigos, o Corpo de Desejos (a natureza emocional e passional) esforça-se, com todas suas fibras, em vingar-se – olho por olho, dente por dente. Às vezes, anos e anos passados, julgamos que a serpente adormecida está subjugada, que por fim, ganhamos domínio sobre ela e que não poderá prejudicar nossa paz; a serpente consegue subitamente levantar-se e destruir todas nossas esperanças, tomar a iniciativa de continuar a comportar-se com violência e jurar vingança por erros reais ou imaginários. Tomemos, então, o total poder de nossa natureza superior para subjugar-nos esta parte rebelde de nosso ser. O autor pensa que este é o espinho na carne, a respeito do qual S. Paulo suplicou ao Senhor, por três vezes, e que lhe respondeu. “Minha graça é suficiente para vós” (IICor 12:8-9). De fato, necessitamos de toda graça para vencer, e a eterna vigilância é o preço da salvação, de modo que vamos “vigiar e orar”.
O Corpo de Desejos é o responsável por todas nossas ações boas, más ou indiferentes, e os filósofos orientais, portanto, dão instruções a seus discípulos para matarem o desejo e absterem-se da ação boa ou má, tanto quanto possível, a fim de que possam assim salvar-se da roda de nascimento e morte. Mas, esta têmpera, que é tão grande ameaça quando assume o controle, pode tornar-se muito eficaz para o serviço, sob nossa própria direção. Não pensaríamos, por um momento, em tirar a têmpera de uma faca; nós a tornaríamos incapaz de cortar qualquer coisa. A têmpera do Corpo de Desejos deve ser controlada, mas, de nenhum modo, suprimida. O poder dinâmico de movimento e ação, no Mundo invisível, é armazenado neste Corpo de Desejos e, a menos que ele esteja intacto, não podemos esperar controlá-lo, assim como um transatlântico, cujas máquinas estivessem inutilizadas, não poderia enfrentar as ondas do oceano.
Há determinadas sociedades que ensinam métodos negativos de desenvolvimento, e uma de suas primeiras instruções, para o aluno, é a de deixar cair à mandíbula e colocar-se perfeitamente negativo. Uma pessoa que lograsse passar do Mundo Físico para os Mundos espirituais por tais métodos, certamente se encontraria como madeira à deriva no oceano, levada de cá para lá pelas ondas, vítima e joguete de todas as correntes. Há, nos Mundos internos, como aqui, seres que não são nada benevolentes, que estão prontos a tirar proveito de alguém que se aventure nestes Mundos, sem estar preparado para proteger-se contra eles. Desse modo, vemos a suprema importância de sujeitarmos nossos desejos à vontade do Espírito aqui neste Mundo, de impormos a submissão de nosso Corpo de Desejos de modo que ele possa ser treinado, antes de tentarmos entrar nos Mundos internos. No Mundo Físico ele está, em grande parte, mantido sob controle pelo fato de encontrar-se inserido no Corpo Denso e, portanto, não pode agitar-nos daqui para acolá na mesma intensidade em que pode fazê-lo quando libertado da casa-prisão física.
Mesmo a sujeição do Corpo de Desejos, difícil como é para alcançá-la, não servirá para tornar-se um ser humano consciente nos Mundos invisíveis, pois o Corpo de Desejos não evoluiu a tal ponto que possa agir como um real instrumento de consciência. É informe, assemelha-se a uma nuvem, na grande maioria da Humanidade, e somente um determinado número de vórtices se faz presente como centros sensitivos ou centros de consciência, mas ainda não suficientemente desenvolvidos sem alguma outra ajuda. Portanto, é necessário trabalhar e educar o Corpo Vital de tal maneira que ele possa ser usado em voos anímicos. A parte do Corpo Vital formada pelos Éteres de Luz (ou Luminoso) e Refletor é o que podemos chamar de Corpo-Alma; isto quer dizer, é o mais estreitamente ligado ao Corpo de Desejos e à Mente e, também, o mais receptivo ao contato do Espírito que os outros dois Éteres.
Grande parte dos seres humanos associa espiritualidade à intensa demonstração de emotividade, mas esta ideia não tem, absolutamente, nenhum fundamento. Pelo contrário, a espécie de espiritualidade que é desenvolvida e associada à natureza emocional do Corpo de Desejos é precária ao extremo. É gerada em reuniões para despertar o fervor religioso, onde a emotividade é elevada a grandes alturas, induzindo uma pessoa à exagerada ostentação de fervor religioso, que logo se dissipa, deixando-a exatamente como antes, para dissabor dos propagadores da fé e dos que estão envolvidos neste trabalho de evangelização. Mas, o que mais podem esperar? Eles planejam salvar almas com tambores e pífanos, cânticos ritmados, apelos feitos numa voz que se eleva e se reduz em ondas harmônicas, tudo com poderoso efeito sobre o Corpo de Desejos, assim como as tempestades que agitam o mar até a fúria e, depois, se acalmam.
Quando os jornais começam a inculcar certas ideias na Mente do público, eles não esperam alcançar seu objetivo por um único editorial, não importa quão vigorosamente tenha sido escrito, mas, por artigos de repetição diária, eles gradualmente criam o desejado sentimento na opinião pública. A Bíblia tem anunciado o princípio do amor há dois mil anos, a cada domingo, dia após dia, de milhares de púlpitos. A guerra ainda não foi abolida, mas o sentimento em favor da paz universal vem crescendo, cada vez mais forte, conforme o tempo passa. Esses sermões têm tido um efeito apenas leve, no que diz respeito ao mundo, não importa quão poderosamente um determinado público possa comover-se por certo tempo, pois o Corpo de Desejos é aquela parte do complexo ser humano que esteve impressionado na ocasião e incitado desse modo.
O Corpo de Desejos é uma aquisição posterior a do Corpo Vital, por conseguinte não tão cristalizado e, portanto, mais impressionável. Por ser de estrutura mais delgada que a do Corpo Vital, é menos retentivo e as emoções tão facilmente geradas são, também, facilmente dissipadas.
Afirma-se, às vezes, que o hipnotismo pode ser usado beneficamente para a cura da embriaguez e de outros vícios, e é fácil admitir tal fato, visto somente do ponto de vista material, porque aparenta ser verdade. Mas, do ponto de vista da ciência oculta, é diferente. Como todos os outros desejos, a avidez pela bebida alcóolica está no Corpo de Desejos e é dever do Ego dominá-la pelo poder da vontade. Esta é a razão pela qual ele está na escola da experiência chamada vida, e nenhum outro ser pode crescer moralmente por ele, como, também, ninguém mais pode digerir o alimento por ele. A Natureza não pode ser ludibriada; cada um deve solucionar seus próprios problemas, superar as faltas por sua própria vontade. Se, portanto, um hipnotizador subjuga o Corpo de Desejos de um alcoólatra, o Ego deste alcoólatra terá de aprender sua lição numa futura vida, se morre antes do hipnotizador. Mas, se este falece primeiro, o alcoólatra inevitavelmente voltará a beber, pois a parte do Corpo Vital do hipnotizador, que mantinha o mau desejo do alcoólatra sob controle, gravita de volta ao hipnotizador e a cura resulta em nada. O único caminho permanente, para vencer-se um vício, é pela própria vontade.
O Corpo de Desejos é a deturpada expressão do Ego. Converte a “Individualidade” do Espírito em “egoísmo”. A Individualidade não procura seus interesses a expensas de outros. O egoísmo procura ganhar, indiferente aos demais. O assento do Espírito Humano está, primeiramente, na Glândula Pineal e, secundariamente, no cérebro e no sistema nervoso cérebro-espinhal, que controlam os músculos voluntários.
O Corpo de Desejos, que percebemos como nossa natureza emocional, está sempre procurando alguma coisa nova. Essa necessidade por mudanças de condição, de ambiente, de ânimo, de amor às emoções e sensações, é devida às atividades do Corpo de Desejos que é como o mar numa tempestade, cheio de ondas, agitando-se de cá para lá, a esmo e sem objetivo, cada uma mais poderosa e destrutiva quando descontrolada e sem submissão ao poder central diretor.
A Mente, na verdade, é o foco através do qual o Espírito se esforça em dominar a Personalidade e guiá-la de acordo com a habilidade adquirida durante seu período evolutivo. Mas, presentemente, entre a grande maioria de pessoas, esta habilidade é tão indefinida que não se pode contar com ela, e os seres são, portanto, levados principalmente por seus sentimentos e emoções, sem muita receptividade à razão e ao pensamento.
Reconhecendo o grande e maravilhoso poder do corpo emocional e sua facilidade ao “ritmo” que, pode-se dizer, é sua nota-chave, a teologia progressista tem-se dirigido e focalizado seus esforços em apelos a este veículo. É esta parte de nossa natureza que aprecia o espetáculo do pastor sensacionalista. Este veículo é o que se agita e geme sob o discurso bombástico do evangelizador, vibrante pela emoção, elevando-se e decaindo sob a bem calculada medida da voz do orador. A unificação da altura do som é logo estabelecida, um estado de verdadeira hipnose onde a vítima não pode mais deixar de penitenciar-se, assim como a água não pode conter sua descida da montanha. Os seguidores dessas práticas compreendem, intensamente, por momentos, a enormidade de seus pecados e estão igualmente ansiosos para começar uma melhor vida. Mas, infelizmente, a nova onda de atração para sua natureza emocional apaga tudo o que o pregador disse como também suas resoluções, e esses seguidores permanecem exatamente onde estavam antes, para dissabor e sofrimento do pregador evangelista.
Assim, todos os esforços para elevar a Humanidade pelo trabalho sobre o instável Corpo de Desejos são, e sempre provam ser, ineficazes. As escolas ocultistas, de todas as épocas, reconhecem tal resultado e, portanto, têm-se dedicado à transformação do Corpo Vital pelo trabalho com sua nota-chave, que é a repetição.
A expressão “preparou a Terra” significa que toda evolução num Planeta é acompanhada pela evolução do próprio Planeta. Se algum observador dotado de visão espiritual observasse a evolução de nossa Terra de uma estrela distante, teria notado uma mudança gradual acontecendo no Corpo de Desejos da Terra.
Sob a antiga dispensação, o Corpo de Desejos dos humanos era aperfeiçoado por meio da lei. Este trabalho continua ainda com a maioria das pessoas que estão preparando-se para a vida superior.
O Espírito-Grupo trabalha sobre os animais através de seus Corpos de Desejos, evocando imagens que dão ao animal um sentimento e uma sugestão sobre o que ele deve fazer. De modo semelhante, as imagens alegóricas contidas nos mitos deixaram o fundamento para seu atual e futuro desenvolvimento. Subconscientemente, estes mitos trabalharam sobre ele e trouxeram-no para o estágio em que se encontra. Sem essa preparação, ele teria sido incapaz de executar o trabalho que agora realiza.
O Ego tem vários instrumentos – um Corpo Denso, um Corpo Vital, um Corpo de Desejos e uma Mente. Eles são suas ferramentas, e de sua qualidade e condições depende o muito ou o pouco que ele pode desempenhar em seu trabalho de reunir experiência em cada vida. Se os instrumentos são pobres e grosseiros, haverá pouco conhecimento espiritual e a vida será infrutífera, pelo menos no que concerne ao Espírito.
Se cuidadosa atenção é dada à higiene e à dieta, o Corpo Denso é o veículo principalmente beneficiado, mas, ao mesmo tempo, há também um efeito nos Corpos Vital e de Desejos, porque quanto mais puros e melhores forem os materiais que constroem o Corpo Denso, as partículas serão envolvidas em Éter planetário e matéria de desejo mais puros. Portanto, as partes planetárias do Corpo Vital e de Desejos tornam-se mais puras. Se a atenção é dada somente ao alimento e à higiene, o Corpo Vital e o de Desejos individuais podem permanecer quase tão impuros quanto antes, mas se tornam um pouco mais fáceis de entrar em contato com o bem do que se alimentos grosseiros fossem usados.
Não importa o que as pessoas digam a nós ou a nosso respeito, suas palavras não têm poder intrínseco de ferir-nos – é nossa própria atitude mental em relação ao que elas dizem que determina o efeito de suas palavras sobre nós para o bem ou para o mal. São Paulo, quando enfrentou perseguição e calúnia, afirmou: “Nenhuma dessas coisas me comove”. Todos os que desejam avançar espiritualmente devem cultivar o equilíbrio porque, sem ele, o Corpo de Desejos ou fica desenfreado ou se congela, de acordo com a natureza das emoções geradas pela comunicação com as pessoas, seja de preocupação, raiva ou medo. Sabemos que o Corpo Denso é nosso veículo de ação, que o Corpo Vital lhe dá o poder para agir, que o Corpo de Desejos fornece o incentivo para a ação e que a Mente foi dada como um freio para o impulso.
Aprendemos no Conceito Rosacruz do Cosmos que os pensamentos-forma do interior e exterior do corpo estão sendo continuamente projetados sobre o Corpo de Desejos num esforço de despertar o sentimento que conduzirá à ação, e esta razão deve guiar a natureza inferior e deixar a natureza superior livre para expressar suas divinas inclinações. Sabemos também que o pensamento habitual tem poder até para moldar a matéria física, pois a natureza do ser sensual é claramente perceptível em suas feições que são brutas e grosseiras enquanto as do ser espiritualizado são delicadas e finas. O poder do pensamento é ainda maior em sua potência para modelar as vestimentas mais transparentes.
Já vimos como nossos pensamentos de medo e preocupação congela o Corpo de Desejos de quem tem indulgência com esses hábitos, e é igualmente certo que, pelo cultivo de um estado mental otimista em todas as circunstâncias, podemos harmonizar nosso Corpo de Desejos com a nota que desejamos. Depois de um tempo, isso se tornará um hábito. Deve-se confessar que é difícil manter o Corpo de Desejos inferior em certas linhas de ação, mas isto pode ser feito e deve ser tentado por todos aqueles que aspiram um adiantamento espiritual.
Criamos uma aura sutil a nosso redor sob a guarda das Hierarquias Divinas que dirigem os sete Astros: Saturno, Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter e Vênus. O Universo, ou grande mundo, é chamado em linguagem mística de lira de sete cordas de Apolo. Nosso organismo, ou microcosmo, é uma réplica ou imagem de Deus e nos incumbe de despertar em nós um eco desta música das esferas. A maioria dos humanos aprendeu a responder demasiadamente às vibrações saturninas de tristeza, desânimo, medo e preocupação que congelam o Corpo de Desejos, e seria de benefício duradouro para todos tentar cultivar as vibrações espirituais do Sol, preenchendo nossas vidas com otimismo e alegria que dissiparão o desalento e a melancolia saturninos e evitarão que tais pensamentos entrem em nossa aura no futuro.
A primeira necessidade para nosso adiantamento é o equilíbrio. Todos que o aspiram devem adotar o lema de São Paulo: “Nenhuma dessas coisas me comove”.
É uma prova do benefício da Religião que ela faz as pessoas felizes, mas a maior felicidade é geralmente muito profunda para uma expressão exterior. Ela preenche todo nosso ser tão completamente que é impressionante, e uma maneira impetuosa de ser e nunca vai bem com esta verdadeira felicidade, porque é sinal de superficialidade. A voz alta, o riso vulgar, o pisar forte que soa como marretas, o bater das portas e o barulho de pratos são características dos incorrigíveis, pois eles adoram barulho, quanto mais, melhor, já que ele agita seu Corpo de Desejos. Para eles, a música sacra é anátema; uma banda de música barulhenta é preferível e a dança, quanto mais selvagem, melhor. Mas acontece o contrário com o aspirante à vida superior, ou deveria ser.
Assim como o alimento apropriado nutre o corpo no sentido material, assim a atividade do Espírito no Corpo Denso, que resulta em ação correta, promove o crescimento da Alma Consciente. Como as forças do Sol trabalham no Corpo Vital e o nutrem de modo a que ele possa agir no Corpo Denso, assim a memória das ações praticadas no Corpo Denso – os desejos, sentimentos e emoções do Corpo de Desejos e os pensamentos e ideias à Mente – causam o crescimento da Alma Intelectual. De igual modo, os mais elevados desejos e emoções do Corpo de Desejos formam a Alma Emocional.
A Alma Emocional, que é o extrato do Corpo de Desejos, aumenta a eficiência do Espírito Humano que é a contraparte espiritual do Corpo de Desejos.
Tendo sido expulso do Jardim do Éden, a Região Etérica, para aprender a conhecer o mundo material em consequência do repetido abuso da função criadora que focalizou a atenção do ser humano aqui, este uso intensificado do Corpo de Desejos endureceu o Corpo Denso e este começou a exigir alimento e abrigo. Assim, a engenhosidade do ser humano foi encarregada de prover a subsistência do corpo. Fome e frio eram açoites do infortúnio que exigiram a engenhosidade do ser humano, eles o forçaram a pensar e agir para suas necessidades. Assim, o ser humano está gradualmente adquirindo sabedoria; ele se prepara para estas contingências da vida antes que elas cheguem, porque as dores agudas da fome e do frio ensinaram-no a se proteger. Consequentemente, sabedoria é sofrimento cristalizado. Nossos sofrimentos, quando eles passam e nós podemos calmamente visualizá-los e extrair as lições que eles contêm, são minas de sabedoria e berços de futuras alegrias, porque, através deles, aprendemos a ordenar nossas vidas. Aprendemos a deixar de pecar, pois a ignorância é o único pecado e o conhecimento aplicado é a salvação. Parece uma afirmação vaga, mas, se a experimentarmos em pensamento, encontrá-la-emos tão absolutamente verdadeira e capaz de demonstração como dois e dois são quatro.
O Corpo Vital esforça-se em construir o físico, enquanto nossos desejos e emoções destroem. É a luta entre o Corpo Vital e o de Desejos que produz consciência no Mundo Físico e endurece os tecidos, de modo que o corpo delicado da criança gradualmente se torna duro e enrugado na velhice, seguida pela morte. A moralidade e a imoralidade de nossos desejos e emoções agem de maneira similar no Corpo Vital. Onde a devoção a altos ideais é o motivo principal da ação, onde foi permitido que a natureza devocional se expressasse, durante anos, livre e frequentemente e, particularmente, onde isto foi acompanhado pelos exercícios dados aos Probacionistas da Fraternidade Rosacruz, a quantidade de Éter Químico e de Vida gradualmente diminui ao se desvanecerem os apetites inferiores, e um aumento dos Éteres Luminoso e Refletor toma seu lugar. Como consequência, a saúde física não é boa entre os que seguem o caminho superior quanto a daqueles, cuja indulgência em relação à natureza inferior atrai o Éter Químico e de Vida, proporcional à extensão e natureza de seu vício, com total ou parcial exclusão dos dois Éteres superiores.
Quando o ser humano morre leva consigo a Mente, o Corpo de Desejos e o Corpo Vital, este sendo o registro das imagens de sua vida recém-terminada. Durante os três dias e meio seguidos à sua morte, estas imagens se imprimem no Corpo de Desejos para formar a base da vida do ser humano no Purgatório, onde o mal é expurgado, e no Primeiro Céu, onde o bem é assimilado. A experiência da vida em si é esquecida, assim como esquecemos o processo de aprendizagem da escrita, mas retemos a faculdade de fazê-la. Assim, o extrato cumulativo de todas as experiências, não só das vidas passadas na Terra como as existências anteriores no Purgatório e nos Céus, é retido pelo ser humano e constitui as ferramentas no próximo nascimento. O sofrimento que suportou fala como a voz da consciência e o bem que realizou lhe dá um caráter cada vez mais altruísta.
Da mesma forma como as cenas do Panorama da Vida, que se desenrola diante dos olhos do Ego depois da morte, causam sofrimento no Purgatório e limpam a alma do desejo de repetir as ofensas que as geraram, assim também o sal que era usado nas oferendas sobre o altar do sacrifício no Tabernáculo do Deserto e o fogo pelo qual eram consumidas junto ligava a dupla e abrasante dor, semelhante à sentida pelo Ego no Purgatório. Confiantes no axioma Hermético “Como é acima, assim é abaixo”, Eles (os Mestres Rosacruzes) desenvolveram o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção em harmonia com as leis cósmicas do crescimento anímico e capaz de realizar, dia após dia, o que a experiência purgatorial executa somente uma vez em cada vida, isto é, limpando a alma do pecado pelo fogo do remorso.
No Purgatório, o processo de limpeza é realizado pela força centrífuga da repulsão que arranca e rasga a matéria de desejo, na qual a imagem é formada sobre sua matriz de Éter, fora do Corpo de Desejos. Nesse momento especial, o Ego sofre como fez sofrer a outros, por causa de uma condição singular das Regiões inferiores do Mundo do Desejo onde está localizado o Purgatório. Alguns videntes que são incapazes de ter contato com as Regiões superiores falam do Mundo do Desejo como ilusório e eles têm razão no que diz respeito a estas Regiões, pois lá todas as coisas aparecem invertidas como se fossem vistas em um espelho. Esta peculiaridade não é sem propósito – nada no reino de Deus o é; tudo serve a um sábio fim. Esta reversão coloca a alma errante na posição de sua vítima e, deste modo, quando a cena se desenrola no Panorama da Vida passada, o Ego, quando fez mal a alguém, não está como um mero espectador e vê a cena reapresentada. Porém, naquele momento, ele se torna vítima de seu erro e sente o sofrimento sentido pelo que foi prejudicado, porque a força centrífuga de repulsão, empregada para destruir a imagem do Corpo de Desejos do que praticou o mal, deve, pelo menos, igualar o ódio e a raiva da vítima que imprimiu a imagem sobre o átomo-semente na hora da ocorrência.
Durante o Exercício Esotérico noturno de Retrospecção, o Aspirante à vida superior esforça-se em imitar estas condições; ele tenta visualizar as cenas em que cometeu erros e o remorso que ele procura sentir e deve pelo menos igualar-se ao ressentimento sentido por aquele que ele prejudicou. Este Exercício Esotérico tem o mesmo efeito de eliminar a gravação da injúria como faz a força centrífuga de repulsão, que realiza a erradicação do mal no Purgatório, com o propósito de extrair, dali a qualidade da alma que conhecemos como consciência e que serve de freio nas horas de tentação. Assim usada, a emoção do remorso limpa e purifica o Corpo de Desejos, deixando o Ego livre e fomentando o crescimento de múltiplas virtudes que florescem no adiantamento espiritual e trazem maiores oportunidades para o serviço na vinha do Senhor.
Porém, como a força latente na pólvora e em substâncias explosivas similares pode ser usada para promover os grandes objetivos da civilização, ou executar os mais selvagens atos de barbarismos, assim também este sentimento de remorso pode ser distorcido de tal maneira que se torna um prejuízo e um obstáculo para o Ego ao invés de ajuda. Quando nos permitimos sentir remorso diariamente e em todas as horas do dia, estamos realmente desperdiçando um grande poder que podia ser usado para fins mais nobres da vida, pois a constante indulgência com lamentações afeta o Corpo de Desejos de maneira similar ao que acontece com o Corpo Denso após banhos em excesso.
“Como é acima, assim é abaixo e como é abaixo, assim é acima” diz o aforismo Hermético, enunciando assim a grande Lei da Analogia que é a chave-mestra para todos os mistérios. Quando usamos a força centrífuga do remorso para erradicar a maldade de nosso coração durante o exercício vespertino de retrospecção, o efeito é semelhante à ação da água que remove o Éter miasmático de nosso Corpo Vital durante o banho, e assim deixa lugar para um influxo de Éter puro gerador de saúde. Após termos queimados nossas más ações no fogo do remorso, as substâncias venenosas, assim erradicadas, deixam espaço para o influxo de matéria de desejo que é moralmente mais saudável e melhor terreno para nobres ações. Quanto mais completamente formos purgados pelo remorso, maior será o vácuo produzido e melhor o grau de novo material que atrairemos para nossos veículos mais sutis.
Mas, por outro lado, se temos indulgência com lamentações e remorso durante as horas de vigília, como alguns o fazem estamos excedendo o Purgatório, porque, embora o tempo lá seja gasto na erradicação do mal, a consciência se desvia de cada imagem quando esta foi arrancada pela força de repulsão. Aqui, por causa da interligação dos Corpos de Desejos e Vital, estamos capacitados a revivificar a imagem na memória quantas vezes quisermos, e, enquanto o Corpo de Desejos é gradualmente dissolvido no Purgatório pela purgação do Panorama da Vida, no Mundo Físico, uma pequena quantidade de matéria de desejo é acrescentada enquanto vivemos, para tomar o lugar da que foi ejetada pelo remorso. Assim, o remorso e o arrependimento quando continuamente sentidos têm o mesmo efeito sobre o Corpo de Desejos como os banhos excessivos têm sobre o Corpo Vital. Ambos os corpos esgotam suas forças pela excessiva limpeza e, por esta razão, é tão perigoso para a saúde moral e espiritual ter indulgência indiscriminadamente nos sentimentos de arrependimento e remorso como é fatal para o bem-estar físico banhar-se demasiadamente. O discernimento deve prevalecer em ambos os casos.
Assim como um vampiro suga o Éter do Corpo Vital de suas vítimas e dele se alimentam, assim também pensamentos incessantes de arrependimento e remorso, a respeito de certas coisas, se converte em um elemental de desejo que age como um vampiro e extrai a própria vida do pobre ser que o formou e, como os semelhantes se atraem, ele fomenta a continuidade deste mórbido hábito de remorso.
Se, pela oração contínua, obtemos perdão das injúrias que infligimos a outros seres e se fazemos toda a restituição possível, se purificamos nosso Corpo Vital perdoando aqueles que nos fizeram mal e eliminando todos os maus sentimentos, nós nos salvamos de muitos dos sofrimentos post-mortem, além de prepararmos o caminho para a Fraternidade Universal que é particularmente dependente da vitória do Corpo Vital sobre o Corpo de Desejos. Na forma de memória, o Corpo de Desejos imprime sobre o Corpo Vital a ideia de vingança. A manutenção do equilíbrio entre os vários aborrecimentos de vida diária indica tal vitória, por isso o aspirante deve cultivar o controle do temperamento, portanto, representa um trabalho sobre ambos os Corpos. A oração O Pai-Nosso inclui isto também, pois, quando vemos que estamos prejudicando outros, olhamos em torno de nós e tentamos encontrar a causa. Perder o domínio de si mesmo é uma das causas e se origina no Corpo de Desejos.
A maioria dos seres humanos deixa a vida física com o mesmo temperamento que trouxe ao nascer, mas o aspirante sistematicamente deve subjugar todas as tentativas do Corpo de Desejos de assumir o comando. Isto pode ser feito pela concentração em elevados ideais, que fortalece o Corpo Vital, e é muito mais eficaz que as orações comuns da Igreja. O ocultista científico usa a concentração de preferência à oração, porque a primeira é alcançada com a ajuda da Mente que é fria e insensível, enquanto a oração é geralmente ditada pela emoção. Quando é ditada por uma emoção pura e altruística a elevados ideais, a oração é superior à fria concentração. Ela nunca pode ser fria por conduzir nas asas do amor o que o místico extravasa para a Divindade.
A oração para o Corpo de Desejos é “Não nos deixeis cair em tentação”. O desejo é o grande tentador da Humanidade. É o grande incentivo para toda ação e, até onde as ações servem aos propósitos do Espírito, ele é bom; mas quando o desejo é usado para algo degradante, que envelhece a natureza, é de fato apropriado que oremos para não cairmos em tentação.
“Não nos deixeis cair em tentação” é a oração para o Corpo de Desejos, que é o depósito de energia e fornece incentivo para a ação através do desejo. Uma máxima oriental diz: “Mate o desejo”, e os orientais fornecem bons exemplos de indolência, resultante da tentativa de assim agir. “Mate seu temperamento” é a tola advertência dada, às vezes, aos que perdem o domínio de si mesmos. O desejo ou temperamento é um precioso trunfo, valioso demais para ser paralisado ou morto; o ser humano sem desejo é como o aço desprovido de têmpera – sem nenhum valor. No Apocalipse, enquanto as seis igrejas são louvadas, a sétima é completamente anatematizada por ser “nem quente, nem fria”, uma comunidade sem Personalidade. “Maior pecador, maior santo”, é um adágio verdadeiro, porque, para pecar, precisa-se de energia, e quando esta energia é desviada para a direção certa, é maior o poder para o bem do que previamente foi para o mal.
Um ser humano pode ser bom porque ele não pôde concentrar suficientemente energia para ser mau e então ele é tão bom que não é bom para nada, assim como os nicolaus[4]. Enquanto somos fracos, nossa natureza de desejos nos domina e pode levar-nos à tentação, mas quando aprendemos a controlar nossa natureza de desejos, nosso temperamento, podemos dirigi-la em harmonia com as leis de Deus e do ser humano.
O mais inferior aspecto do Espírito, o Espírito Humano roga ao mais inferior aspecto da divindade pelo mais elevado dos três corpos, o Corpo de Desejos: “Não nos deixeis cair em tentação”.
Quando a morte ocorre e o ser humano se encontra no Mundo do Desejo, os poderes magnéticos do átomo-semente são gastos, o arquétipo está se dissolvendo e, por isso, a força centrífuga de Repulsão força a matéria do Corpo de Desejos para fora, em direção à periferia. A matéria pertencente às Regiões inferiores é expulsa primeiramente pelo processo de purgação que purifica o ser humano de todas as más ações de sua vida passada.
Este é o resultado da mesma lei natural que no Mundo Físico fez com que o Sol expulsasse a matéria que formou os Astros. Interferir com esta lei seria desastroso para qualquer ser humano, supondo-se que isto fosse possível, o que não é. Assim, é inútil tentar ajudar alguém desta maneira.
É diferente com o Iniciado que vai ao Mundo do Desejo durante sua vida. O átomo-semente do seu Corpo de Desejos forma um centro natural de atração ou gravitação que mantém a matéria de desejos deste veículo em suas habituais linhas. Também é diferente para quem realiza os exercícios científicos dados pelas Escolas de Mistérios. Esta pessoa está constantemente purgando seu Corpo de Desejos da matéria mais grosseira, de modo que, ao morrer, ela não é afetada no mesmo grau pela força centrífuga de Repulsão, como naqueles que não tiveram este treinamento.
Há, porém, outro caminho pelo qual podemos ajudar alguém próximo e querido, desde que tenhamos sua cooperação. Para esclarecer, é necessário mencionar primeiramente que quanto mais grosseira é a matéria de desejo, mais tenaz é sua influência sobre o ser humano. Por isso, a expurgação pela força de Repulsão causa grande sofrimento e é o que sentimos na experiência purgatorial. Se estivermos perfeitamente dispostos a deixar fluir e reconhecer nossas faltas, quando as imagens delas aparecem no Panorama da Vida, ao invés de tentar desculpar a nós mesmos, ou nos agitarmos outra vez pela raiva e ódio do passado, então isso envolverá muito menos sofrimento para erradicá-las de nosso Corpo de Desejos. Se este fato puder ser impresso em alguém que ansiamos ajudar, se conseguirmos que ele se coloque em um estado mental em que deseje reconhecer seus erros realmente, de todo seu coração, o processo de purgação será então mais curto e menos doloroso e ele ascenderá às Regiões superiores, onde a Força de Atração domina, em menos tempo do que do outro modo.
O mesmo resultado pode ser atingido pela oração e, também, por pensamentos bondosos, elevados e de ajuda, pois estes têm o mesmo efeito sobre aqueles que estão fora do corpo que as palavras bondosas e os gestos de ajuda têm sobre os que vivem neste Mundo Físico.
A devoção a elevados ideais é um freio para os instintos animais; ela gera e desenvolve a Alma Emocional. O cultivo da faculdade de devoção é essencial. Em algumas pessoas esta é a linha de menor resistência e elas estão aptas a se tornarem místicos sonhadores. As energias do Corpo de Desejos são expressas como entusiasmo e êxtase religioso. Há também aqueles que desenvolvem anormalmente a faculdade do discernimento, que os conduz ao longo das linhas intelectuais frias da especulação metafísica. Em ambos os casos há falta de equilíbrio – um perigo. O místico sonhador, dominado pela emoção, pode tornar-se sujeito à toda sorte de ilusões. Ao ocultista intelectual, isso nunca acontecerá, mas ele pode acabar na magia negra se perseguir o caminho do conhecimento pelo conhecimento em si, e não pelo serviço. O único caminho seguro é desenvolver tanto o intelecto quanto o coração.
Desde tempos antigos (época de Hiram Abiff), os Anjos lunares tiveram principalmente o encargo do úmido e aquoso Corpo Vital, composto dos quatro Éteres e envolvido na propagação e na nutrição das espécies, enquanto os Espíritos Lucíferos estiveram singularmente ativos no seco e ígneo Corpo de Desejos. A função do Corpo Vital é construir e sustentar o Corpo Denso, enquanto o Corpo de Desejos acarreta a destruição dos tecidos. Daí a constante guerra entre os Corpos de Desejos e Vital, e é esta guerra nos céus que produz nossa consciência física na Terra. Através de muitas vidas, temos trabalhado em todas as épocas e climas, e de cada vida temos extraído certa quantidade de experiência acumulada e guardada como poder vibratório nos átomos-semente de nossos vários veículos.
Desse modo, cada um de nós é um construtor, construindo o Templo do Espírito imortal, sem som de martelo; cada um é um Hiram Abiff reunindo material para o crescimento da alma e lançando-o no forno de sua experiência de vida para ser trabalhado sobre fogo e paixão do desejo. Este material está sendo derretido lentamente, mas seguramente; a escória sendo purgada em cada experiência purgatorial e a quintessência do crescimento da alma sendo extraída através de muitas vidas. Cada um de nós está, portanto, preparando-se para a Iniciação, sabendo ou não, e aprendendo a combinar as paixões ígneas com as emoções mais suaves e nobres. O novo martelo, o martelo do juiz, com o qual o mestre construtor governa seus subordinados é agora a cruz do sofrimento, e a nova palavra, o autocontrole.
A natureza de desejos tem evoluído desde então; o substrato ígneo marcial da paixão e a base lunar aquosa da emoção tornaram-se capazes de numerosas combinações. Como o pensamento sulca o cérebro em circunvoluções e a face em rugas, assim também as paixões, desejos e emoções dispuseram a versátil matéria de desejos em linhas curvas, espirais, remoinhos e vórtices, como uma torrente vinda de uma montanha, no momento de maior perturbação – jamais em repouso. Esta matéria de desejos tem, em sucessivos períodos de sua evolução, respondido às vibrações astrológicas do Sol, Vênus, Mercúrio, Lua, Saturno, Júpiter e Marte, uma após a outra. Cada Corpo de Desejos individual, durante este tempo, tem sido tecido num único modelo e como a lançadeira da sorte se move para frente e para trás incessantemente sobre a tecelagem do destino, este modelo está sendo ampliado, enfeitado e embelezado, embora não possamos percebê-lo.
Como o tecelão sempre faz seu trabalho pelo avesso de sua tapeçaria, assim estamos nós também tecendo sem entender completamente o desenho final ou ver a sublime beleza, porque está ainda no lado oposto a nós, o lado oculto da Natureza.
Qualquer coisa que aconteça no Mundo Físico reflete-se em todos os outros reinos da Natureza e, como temos visto, constrói sua apropriada forma no Mundo do Desejo. Quando um relato verdadeiro do ocorrido é feito, outra forma é construída, exatamente como a primeira. Elas se atraem e se unem, fortalecendo-se mutualmente. Se, no entanto, um relato não verdadeiro é feito, uma forma diferente e antagônica da primeira, ou verdadeira, é criada. Como se relacionam com a mesma ocorrência, elas se unem, mas como suas vibrações são diferentes, elas agem entre si com mútua destruição. Portanto, mentiras perversas e maliciosas podem matar qualquer coisa que seja boa se forem bastante fortes e repetidas. Mas, inversamente, procurando o bem no mal, com o tempo, o mal se converterá em bem. Se a forma que é construída para minimizar o mal é fraca, ela não produzirá nenhum efeito e será destruída pela forma de mal, mas, se é forte e repetida com frequência, terá o efeito de desintegrar o mal e de substituí-lo pelo bem. Este efeito não é produzido mentindo ou negando o mal, mas procurando o bem. O ocultista científico pratica rigidamente este princípio de buscar o bem em tudo, porque sabe o poder que isso possui de reprimir o mal. Desse modo, gradualmente, a matéria de seu Corpo de Desejos passa por uma mudança correspondente. A matéria mais pura e mais brilhante das Regiões mais elevadas do Mundo do Desejo toma lugar das cores sombrias da parte inferior. O Corpo de Desejos também cresce em tamanho, de forma que o de um santo é verdadeiramente algo glorioso de se contemplar, a pureza de suas cores e a transparência luminosa estando além de qualquer comparação.
Quando, pela crescente vibração do Corpo Pituitário, as linhas de força foram desviadas suficientemente até alcançar a glândula pineal, o objetivo alcançado e a distância entre estes dois órgãos será eliminada. Esta é a ponte entre o Mundo dos Sentidos e o Mundo do Desejo. A partir do momento em que ela é construída, o ser humano se torna um Clarividente e está apto a dirigir sua visão para onde quiser. Os objetos sólidos são vistos tanto interna como externamente. Para ele, o espaço e a solidez, como obstáculos para a observação, deixaram de existir.
A filosofia da aquisição da visão e percepção espiritual é impelir o Corpo de Desejos a realizar o mesmo trabalho dentro do Corpo Denso enquanto estamos completamente despertos, positivos e conscientes, como faz o Ego quando está fora, ao dormir ou no estado post-mortem.
Há certas correntes no Corpo de Desejos de todos. Elas são fortes, bem definidas e formam sete grandes vórtices nos Clarividentes, mas são fracas, descontínuas e desprovidas de vórtices no ser humano comum que não pode “ver”. O desenvolvimento dessas correntes e vórtices conduz à visão espiritual. Durante o dia, quando estamos absorvidos nas ocupações materiais, estas correntes são vagarosas. Mas logo que o ser humano abandona seu Corpo Denso durante o sono e começa o trabalho de restauração, as correntes revivem e os vórtices giram e brilham intensamente. O Corpo de Desejos está, então, em seu elemento nativo, livre do peso bloqueador do Corpo Denso.
Quando o ser humano alcança o ponto de abstração (durante a concentração), os centros sensoriais do Corpo de Desejos começam a girar lentamente dentro do Corpo Denso e assim fazem um lugar para si.
Com o tempo, isto será cada vez mais definido e requererá cada vez menos esforço para pô-los em movimento.
Recordemos que os Hierofantes dos antigos Templos de Mistérios isolavam alguns seres em castas e tribos, como os Brâmanes e os Semitas, com o propósito de prepararem corpos para o uso de tais Egos quando estavam suficientemente avançados e prontos para a Iniciação. Isto era feito de tal modo que o Corpo Vital se separava em duas partes, como os Corpos de Desejos de toda a Humanidade no começo do Período Terrestre. Quando o Hierofante retirava os discípulos de seus corpos, ele deixava uma parte do Corpo Vital, compreendendo o primeiro e segundo Éteres para realizar as funções puramente físicas (são os únicos ativos durante o sono), levando o discípulo, com ele, um veículo capaz de percepção, por causa da sua conexão com os centros sensoriais do Corpo Denso e, também, com capacidade de memória. Este veículo possuía estes recursos porque era composto do terceiro e quarto Éteres que são os meios da percepção sensorial e da memória.
Desde que Cristo veio e “tirou os pecados do mundo” (não o do indivíduo), purificando o Corpo de Desejos de nosso Planeta, a conexão entre os Corpos Denso e Vital de todos os humanos têm sido afrouxada a tal ponto que, pelo exercício, eles são capazes de se separarem, como acima foi descrito. Portanto, a Iniciação está aberta a todos.
A parte mais elevada do Corpo de Desejos, que constitui a Alma Emocional, é capaz de uma separação na maioria dos seres humanos (de fato, possuía esta capacidade mesmo antes da vinda de Cristo) e desse modo, quando, pela concentração e o uso da fórmula apropriada, as partes mais sutis dos veículos tenham sido separadas para serem usadas durante o sono, ou em qualquer outra oportunidade, as partes inferiores dos Corpos de Desejos e Vital são ainda deixadas para cuidarem dos processos de restauração do Corpo Denso, a parte meramente física.
Aquela parte do Corpo Vital que sai é altamente organizada, como vimos. É uma exata contraparte do Corpo Denso. O Corpo de Desejos e a Mente, não estando organizados, são úteis apenas porque estão ligados ao altamente organizado Corpo Denso. Quando separados dele, são apenas pobres instrumentos. Por isso, antes que o ser humano possa retirar-se do Corpo Denso, os centros sensoriais do Corpo de Desejos devem ser despertados.
O Aspirante à vida superior cultiva a faculdade de absorver-se, por sua vontade, em qualquer assunto que escolha – ou melhor, em geral, não em um assunto, mas num simples objeto que ele imagine. Dessa maneira, quando a condição apropriada ou o ponto de concentração tenha sido alcançado, seus sentidos absolutamente serenos, ele concentra seu pensamento sobre os diferentes centros sensoriais do Corpo de Desejos e eles começam a girar.
No início, seu movimento é lento e difícil de efetuar, mas, gradualmente, os centros sensoriais do Corpo de Desejos irão tomando lugar dentro dos Corpos Denso e Vital, os quais aprendem a acomodar-se a esta nova atividade. Então, em determinado dia, quando a própria vida desenvolveu a separação indispensável entre as partes superior e inferior do Corpo Vital, há um supremo esforço da vontade; um movimento em espiral tem lugar em muitas direções e o aspirante se encontra fora de seu Corpo Denso. Olha-o, como se fosse outra pessoa. A porta de sua casa-prisão foi aberta. É livre para ir e vir, livre tanto nos mundos invisíveis como no mundo físico, funcionando à sua vontade em ambos os mundos, como um auxiliar de todos os que desejarem seus serviços.
Antes do Aspirante à vida superior aprender a deixar seu corpo voluntariamente, ele pode ter trabalhado em seu Corpo de Desejos durante o sono, pois, em muitos seres, este veículo se torna organizado antes que a separação possa ser efetuada no Corpo Vital. Sob tais condições, é impossível trazer estas experiências subjetivas de volta à consciência de vigília, mas, geralmente, em tais casos, notar-se-á, como primeiro sinal de desenvolvimento, que os sonhos confusos cessam. Então, depois de certo tempo, os sonhos se tornam mais vívidos e perfeitamente lógicos. O aspirante sonhará que está em lugares e com pessoas (se conhecidos dele nas horas de vigília ou não, pouco importa), conduzindo-se como se estivesse no estado de vigília. Se o lugar com o qual sonha lhe é acessível nas horas de vigília, pode às vezes obter prova da realidade de seu sonho se observar algum detalhe físico da cena e verificar sua impressão noturna no dia seguinte.
Em seguida, ele verá que pode, durante as horas de sono, visitar qualquer lugar que deseje sobre a face da Terra e investigá-lo muito mais minuciosamente que se tivesse ido até lá em seu Corpo Denso, porque em seu Corpo de Desejos ele tem acesso a todos os lugares, independente de fechaduras e grades. Se persistir, chegará finalmente um dia em que não necessitará esperar pelas horas de sono para dissolver a conexão entre seus veículos, mas poderá conscientemente libertar-se.
Um estágio do desenvolvimento espiritual do Cristão Místico envolve uma reversão da força criadora de seu curso normal para baixo, onde é gasta para satisfazer as paixões, para um curso ascendente através da tripartida medula espinhal, cujos três segmentos são regidos pela Lua, Marte e Mercúrio, respectivamente, e onde os raios de Netuno acendem o Fogo Espiritual espinhal regenerador. Este processo de ascensão da força criadora põe o corpo pituitário e a glândula pineal em vibração, abrindo a visão espiritual; e, golpeando o seio frontal, começa a coroa de espinhos, latejando de dor enquanto o elo com o Corpo Denso é queimado pelo sagrado Espírito do Fogo, que desperta este centro de seu sono secular para uma palpitante e pulsante vida, movendo-se rapidamente para cima em direção aos outros centros da estrela estigmática de cinco pontas. Eles também são vitalizados e todo o veículo torna-se incandescente em dourado esplendor. Então, com um movimento brusco final, o grande vórtice do Corpo de Desejos, localizado no fígado, é liberado, e a energia marcial contida neste veículo impele para cima o veículo sideral (assim chamado porque os estigmas na cabeça, mãos e pés estão localizados nas mesmas posições relativas a cada uma das pontas da estrela de cinco pontas) que ascende através do crânio (Gólgota), enquanto o Cristão, crucificado, emite seu grito triunfante: “Consumatum est” (Está consumado), e se eleva a esferas mais sutis à procura de Jesus cuja vida ele imitou com tanto êxito e de quem ele é daí por diante inseparável.
FIM
[1] N.R.: Jo 12:35
[2] N.T.: É a deusa grega que personifica o destino, equilíbrio e vingança divina. Apesar de Nêmesis ter nascido na família da maioria dos deuses trevosos, vivia no monte Olimpo e figurava a vingança divina.
[3] N.T.: Jo 12:8
[4] N.T. Nicolau é uma moeda de níquel de pouco valor.
Quais os Efeitos da Dieta Carnívora
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental afirmam que “os vícios provenientes de uma alimentação carnívora são: a preguiça, a ferocidade, a astúcia e a imoralidade”. Porém, e citando ainda, “o hábito de comer carne animal promoveu o progresso do mundo”. “A alimentação carnívora ajudou o ser humano na afirmação de si mesmo em relação ao meio ambiente sobre ele”. Ajudou também no desenvolvimento da inventividade, no uso da Mente, pois foi “através das nações que aderiram à uma alimentação carnívora, que os mais notáveis índices de progresso foram alcançados”.
Podemos dizer que o ser humano comum ingere carne animal para obter rapidamente o teor necessário de albumina, como ovos, leite, queijo, nozes e legumes, que promovem a saúde do Corpo Denso, sendo também mais favorável ao progresso espiritual. Outrossim, o efeito dessas albuminas perdura por tempo mais extenso. Os tempos estão chegando, quando a albumina não será mais necessária à humanidade, e uma nova substância tomará o seu lugar. A humanidade está sendo preparada gradualmente para essa mudança e a carne será gradualmente eliminada da alimentação. Há aqueles que ainda não estão preparados para aderir a esta importante mudança dietética, e para eles, uma mudança radical e abrupta não é recomendada. Essa alteração para um novo tipo de dieta deveria ter sua origem no ser interno da pessoa, originada pela compaixão para com as vítimas mortas para atender sua gula.
Aqueles que consomem carne forçam alguns de seus irmãos a providenciarem o mesmo. Tornam-se assim responsáveis pelos sentimentos cada vez mais rudes e embolados daqueles forçados a trabalhar nos matadouros, frigoríficos e açougues, cuja aspiração para uma vida mais elevada torna-se praticamente nula. A dieta carnívora torna, sem dúvida alguma, o ser humano mais grosseiro, tendo a fomentar um interesse voltado exclusivamente para o campo material, impedindo assim, o desenvolvimento espiritual numa certa extensão. Tanto o intelecto, como a lógica e a ciência são atributos maravilhosos. Devem outrossim, subordinar-se ao desenvolvimento espiritual.
Já foi provado conclusivamente que é possível a contaminação do ser humano através de carne animal ingerida proveniente de um animal enfermo.
Existem casos, sem dúvida, em que a moléstia foi prevenida através da vacinação, e também casos em que a morte não ocorreu, tendo havido tratamento adequado por antitoxinas. Também existem casos em que a vacina e as antitoxinas produzam o resultado fatal que deveriam ter prevenido. Do ponto de vista oculto, porém, a vacinação e aplicação de antitoxinas obtidas pelos processos usados nos institutos bacteriológicos são métodos nocivos. A obtenção dos materiais prejudica os animais indefesos, e envenenam o corpo humano, dificultando o uso do mesmo pelo espírito, o que consubstancia a afirmação acima.
Quando estudamos a composição química dos alimentos, vemos que a Natureza providenciou todos os medicamentos necessários, e se comermos e pensarmos corretamente, ficaremos imunes à doença, sem vacinação e uso de antitoxinas.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 11/1974 )
A Rainha dos Bons Pensamentos
Palavra-chave: Consideração
Se você tem um pensamento agradável, cante, cante-o; entoava um alegre grupo de crianças envoltas numa leve brisa de verão. Era um dia glorioso; toda a Natureza parecia florir feliz e cheia de vida. As crianças tinham acabado de cantar e estavam sentadas em um círculo, embaixo de uma bela árvore, cujos ramos as abrigavam do sol brilhante.
Um dos meninos do grupo, chamado Décio, disse:
– Alguém aqui sabe alguma coisa sobre pensamentos? Meu avô, que é um homem muito inteligente e sabe tudo, ensinou-me um versinho outro dia.
– Recite-o para nós – gritaram as crianças.
– Bem, é assim:
“Acredito que os pensamentos sejam coisas,
Que de corpos, respiração e asas são dotadas.
Nós os enviamos longe para encher o mundo,
Com bons ou maus resultados”.
– Isso é tudo? – perguntou uma das crianças.
– Hum.. soa-me estranho – exclamou outra.
– Que significa dotado?
– Corpos, respiração e asas nós os enviamos longe – disse ainda outra criança – Estou certa que não entendi nada! Soa como se os pensamentos fossem pássaros, borboletas ou alguma coisa semelhante. Bern, Décio, diga-nos o que isso significa.
– Mas eu não posso dizer e é por isso que perguntei a vocês se sabiam alguma coisa – disse Décio.
– Por que não procuramos alguém mais velho que realmente saiba? – disse uma das crianças.
– Conheço alguém que pode nos dizer, se eu puder encontrá-lo – disse Décio.
– Quem? – perguntou um do grupo.
– Ninguém que você conheça! – respondeu Décio – Ele é um homenzinho singular, um amigo meu.
– Vamos vê-lo- disseram todos juntos.
– Não sei onde ele mora – disse Décio – mas se dermos um passeio pelo jardim, talvez encontremos o Vovô, a Mamãe ou alguém que saiba.
As crianças alegremente passearam pelo jardim. De repente, Décio ouviu uma risadinha engraçada e, exatamente no canteiro de amor perfeito estava seu amigo duende, Elf-kin.
– Oi, Décio, quais as novidades? – disse Elf-kin- Procurando lagartos?
– Não – disse Décio – nós estamos procurando saber mais sobre pensamentos.
– Bem – disse o duende – se você puder esperar até que os meus ajudantes voltem para casa, eu os levarei até uma sábia Fada, que conhece tudo sobre pensamentos.
Assim, Elf-kin chamou seu assistente Do-kin e disse:
– Vocês podem parar por hoje, juntem suas tintas e chamem os gafanhotos.
Depois que todos os pequeninos pintores de flores estavam prontos, montaram nas costas dos gafanhotos e foram pra casa, Elf-kin ficou livre.
Confortavelmente sentado no ombro de Décio, Elf-kin guiou as crianças surpreendidas para outra parte do terreno. La havia um pequeno vale quieto e cheio de paz. Elf-kin disse:
– Agora vocês devem ficar bem quietos, pois os Duendes são muito tímidos e não gostam de intrusos barulhentos entrando em seu vale. Mas, se respeitarem seus sentimentos, tudo sairá bem. Fiquem aqui bem quietinhos, por favor, até que eu volte.
Então, ele desapareceu.
Em pouco tempo, ele voltou com dois atraentes Duendes. Um deles chamava-se Coração-Bondoso. Ele se parecia um pouco com Elf-kin, só que era mais alto e vestia um bonito casaco verde e um gorro vermelho que terminava em bico. A outra era um duende moça e seu nome era Pensamentos-Secretos. Ela era atraente, mas muito tímida, não estava acostumada a ser vista em público. Eles inclinaram-se graciosamente e disseram:
– Venham por aqui, por favor. A Rainha dos Bons Pensamentos os receberá.
Era um grupo feliz, risonho, que seguiu os duendes. Vocês podem imaginar a surpresa e alegria que as crianças sentiram ao contemplar a Rainha dos Bons Pensamentos. Ela era a criatura mais bela que se possa imaginar. Seus cabelos eram dourados como os raios de sol e os olhos brilhantes como as estrelas. As crianças curvaram-se profundamente diante dela e foram, então, apresentadas à corte. Os súditos tinham nomes tão bonitos: Alegria, Felicidade, Bondade, Amor, Generosidade e, por fim, o mais querido de todos, Altruísmo.
Depois das apresentações, a Rainha pediu às crianças que se sentassem a sua frente e de sua corte. Elas o fizeram de bom grado. Então, a Rainha começou a falar. Sua voz soava como música, tão macia, ondulante e cheia de amor. Primeiro, ela pediu a Décio que recitasse o versinho que fizera para ela, e ele o fez com prazer.
Depois, ela disse:
– Então, todos vocês querem saber sobre pensamentos?
– Sim – responderam, cortesmente – Por favor, falemos sobre pensamentos.
– Pensamentos são coisas vivas que emitimos de nossas Mentes para outras pessoas – disse a Rainha – Quando nós enviamos aos outros pensamentos de alegria, felicidade, conforto e altruísmo e quando agimos da mesma maneira para com eles, chamamos isto de consideração. Devemos vigiar nossos pensamentos cuidadosamente para que eles sejam sempre bons. Algumas vezes, pensamentos maus e egoístas tentam invadir nossas Mentes e nossos Corações, mas não devemos permitir que eles aí permaneçam. Devemos dizer: “Saiam, pensamentos maus” e fechar bem firme a porta de nossa Mente. Para que vocês entendam claramente o significado de consideração, vamos dar um exemplo. Décio ama sua mãe profundamente e seu coração está tão cheio de pensamentos de amor, que ele é muito bom para ela e tenta fazer as coisas que a agradam. Isso é consideração e, pela consideração, ele torna sua mãe feliz. Vocês veem, é como jogar um bonito jogo. Quando tentamos ter consideração pelos outros, nossos pensamentos felizes crescem tão rapidamente que temos que dividi-los com nossos amigos. Meus súditos, que vocês acabaram de conhecer, através de sua consideração dão-me alegria, felicidade, bondade e amor, exatamente como seus lindos nomes. E vocês verão como eles todos são bonitos. Pensamentos ajudam a construir nosso caráter e se temos um belo caráter, todos nos amarão. E este é o desejo de Deus para nós, queridas crianças, que amemos todas as pessoas e que todas as pessoas possam nos amar, pois Deus é Amor, e Seu grande amor nos envolve o tempo todo. Somos todos como belas flores crescendo no grande Jardim do Amor de Deus, o mundo.
Há um pequenino pensamento mau que está sempre tentando morar no coração das crianças e isso é egoísmo, continuou a Rainha. Ali não é o seu lugar e eu vou contar-lhes o grande segredo de como mantê-lo afastado. Se vocês quiserem partilhar constantemente suas alegrias e felicidade com os outros, vocês terão tanta consideração por eles que o egoísmo nunca poderá entrar no coração de vocês.
Agora, queridas crianças voltem depressa para casa, pois está ficando tarde, disse a Rainha.
Ela agitou sua varinha mágica sobre eles e eles se viram novamente no jardim. Mas, jamais se esqueceram do que ela lhes contara sobre consideração.
(do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. V – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)