Nossa valorização individual: uma das grandes contribuições dada pelo Cristianismo
A grande contribuição dada pelo Cristianismo à humanidade foi a sua libertação. Essa libertação, se bem esteja claramente exposta nos Evangelhos, não é bem compreendida pelo Cristianismo Popular. Em muitos casos até há intenção de ocultar a verdade e submeter o ser humano a poderes temporais, a que ele gosta de se sujeitar. Infelizmente, muitos ainda permanecem num estado semelhante a um canário que ficou muito tempo na gaiola; quando lhe abrem a porta não quer partir para a amplidão dos céus ou, se vai, dá uma voltinha e regressa à sua cadeia, onde lhe dão comida e água. É cômodo e não lhe exige esforço. Por isso, muitos “pastores” de alma, seja nas igrejas ou em entidades espiritualistas, não gostam de tocar nesse ponto da libertação. Gostam mesmo de mostrar a necessidade de dependência. Nas escolas orientais a submissão ao mesmo é taxativa.
A Fraternidade Rosacruz, fundada por Max Heindel, como expositora dos Ensinamentos elementares da Ordem Rosacruz, cujos Irmãos Maiores são auxiliares diretos de Cristo na obra de redenção da humanidade, se distingue de tudo o que atualmente conhecemos, por seu esforço na libertação do indivíduo. A Fraternidade Rosacruz ensina como o Cristianismo nos liberta pelo conhecimento de seus valores internos (Jo 8:32), pela identificação com sua natureza divina, subjacente e ignorada (Jo 3:14).
Na Parábola do “Filho pródigo” vemos a nossa história, como Espírito Virginal diferenciado em Deus para obter experiência em nossa peregrinação involutiva, à custa de nossa herança espiritual, que ficaria enterrada e esquecida em virtude dos Corpos Denso, Vital, de Desejos e pela Mente que fomos construindo. Iniciamos a evolução com a ajuda das religiões primitivas. Depois veio Moisés e nos deu a Lei geradora do pecado, pois passaria a nos ensinar o que era transgressão e como deveríamos repara-la.
Contudo, devido ao nosso egoísmo e à falta de compreensão, reparávamos os pecados pelo sacrifício de animais. Depois veio Cristo e não revogou a Lei antiga. Antes, confirmou-a, mas nos deu a libertação do enlaço da matéria, o que, ao tempo de Moisés, seria tarefa extremamente difícil para boa parte de nós. Essa situação fora criada por nossa queda, quando os marcianos espíritos lucíferos, os Anjos decaídos, não podendo alcançar a evolução angélica, buscaram nosso cérebro e a força criadora que o sustenta, para, através de sua atividade, obter experiência e, em consequência, evoluir. Custou-nos alto preço “ouvi-los e seguir o que nos propôs”. É verdade que pelo embrutecimento sensorial decorrente obtivemos a vantagem da consciência atual, a capacidade de discernir, que os Anjos não têm. Por isso se disse que fomos feitos um pouco abaixo dos Anjos. Após a queda, as Religiões de Raça nos incutiram o sentido egoístico de separação e chegamos a tal estado de cristalização que nossa evolução ficou ameaçada. Não poderíamos, por nós mesmos, retomar a senda ascendente evolutiva que nos estava destinada, como filhos de Deus, de retorno à casa paterna.
Comíamos a “escória” dada como alimento aos “porcos”, nas duras experiências de nossa vida. Veio, então, o Libertador, o Cristo. Limpou o Corpo cósmico de Desejos da Terra, formado por todas as nossas antigas transgressões à Lei. Sacrificou-se como o “Cordeiro de Deus que limpou os pecados do mundo” (Jo 1:29), em lugar do cordeiro do tabernáculo. Foi quando se rasgou o véu do Templo, isto é, quando se abriram à nós, em geral, as possibilidades de libertação, Iniciação e acesso ao “Sanctum Sanctorum” – Santo dos Santos -, aos segredos e possibilidades de nossa própria natureza egoica, através da qual entrará, concomitantemente, nos arcanos da Terra e da humanidade, para mais altos serviços.
Não sem razão, pois, a citação de São Paulo, um Iniciado consciente dessa realidade: “Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (lCor 6:20), e “por preço fostes comprados, não vos torneis escravos de homens” (lCor 7:23).
Realmente, este mundo é uma escola em que somos apenas peregrinos (At 7:6, Hb 11:13 e IPd 2:11). E como somos destinados, quais sementes da árvore de Deus, a tornamo-nos iguais a Ele (Jo 10:34), a fazer obras maiores do que as realizadas por Cristo na Terra (Jo 14:12), deduz-se, logicamente, que o renascimento é um fato natural, pois nenhum de nós pode realizar numa vida o que nos está prometido nos Evangelhos. Pela evolução, nós iremos sublimando doravante todos os nossos veículos e deles levando a quinta essência, que nos dará a capacidade criadora. Realmente, os corpos são os meios de obtenção do alimento anímico que nos enriquece, a nós o Tríplice Espírito. No conjunto, o corpo é um precioso templo do Espírito (Jo 2: 21, ICor 3:17 e 6:19) que não deve ser desprezado como vil e inferior, segundo a concepção oriental, senão tratado com carinho, como ferramenta bem cuidada para que através dele nós possamos criar e crescer, pela Epigênese. Contudo, também aprendemos a não nos identificarmos com os nossos Corpos, senão governá-los, para que não nos suceda ficarmos escravizados a eles. Quem sabe que é de fato um Ego, um Espírito Virginal da onda humana manifestado, ama o Espírito e a ele serve e nesse ponto não adora imagens nem em templos de pedra, senão em espírito e em verdade (Jo 4: 24) porque em verdade nada restará de nossos corpos, ao fim dos atuais períodos evolutivos (Mt 24:2; Jo 2:19 e 21).
De todo o exposto, reconduzindo a nossa consciência ao seu real valor, como Filho de Deus, livre dos temores do inferno, porque sabemos que uma parte de Deus não se pode perder, comecemos a trabalhar diligentemente por nossa própria evolução, a fim de se tornar um novo ser humano (Ef 4:24; Col 3:10), sabendo discernir entre o real e o falso (ICor 6:12 e 19) e buscando se desvincular de todos os antigos hábitos errôneos (IPd 1:14 a 17) sem acender uma vela para Deus e outra para o diabo, como fazem os incoerentes de nossos dias (Mt 9:16 e 17). É preciso decisão, perseverança e humildade para limpar o templo interno (Jo 2:15 e 16) e ver nascer a estrela d’alva no coração (IIPd 2:19).
De toda nossa procura e experiência podemos, hoje, dizer aos novos companheiros: a Fraternidade Rosacruz é a escola aquariana que ensina e ajuda o indivíduo a se libertar de suas próprias limitações e o leva a uma concepção muito mais elevada e a possibilidades ilimitadas no campo das realizações internas, onde se encontra o Graal e sua lança (o Espírito e o seu poder). Contudo, para chegar a ele deve ser um autêntico e moderno cavaleiro, o novo e consciente Parsifal. O vivido Sir Launfal de retorno ao “seu castelo”.
Que nos eleve nas asas da aspiração; que nos armemos da couraça do valor e da persistência; que nos imbuamos de propósitos altruísticos, e que o Deus da paz será conosco!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1964)
Pergunta: Se uma parede não constitui obstáculo a um espírito desencarnado, poderia ele passar também através de uma montanha ou da Terra, alcançando o centro desta última?
Resposta: Isso depende do estágio evolutivo do espírito desencarnado. Um ser humano desencarnado é exatamente o mesmo de antes, com exceção de que já não possui Corpo Denso.
É-lhe perfeitamente possível atravessar uma parede espessa ou uma montanha. Ele não tem, todavia, acesso aos diversos estratos da Terra. É interessante registrar: muitos clarividentes e sensitivos comuns, que podem fornecer informações sobre cenas do Mundo do Desejo, dão relatos escassos concernentes ao interior da Terra. Alegam que, ao tentarem penetrar ali, chocam-se contra uma intransponível muralha. Isso ocorre porque nosso planeta é o corpo de um grande espírito e ninguém pode aproximar-se de seu centro, a não ser pela Iniciação. Há nove estratos terrestres em torno do coração central, o décimo por assim dizer.
Nos Mistérios Menores há nove graus. E em cada grau o candidato se habilita a penetrar em um estrato. A décima Iniciação pertence aos Mistérios Maiores com seus quatro graus.
A primeira Iniciação Maior ensina tudo quanto o ser humano possa conhecer no Período Terrestre.
A segunda enseja o conhecimento a ser obtido pela humanidade no Período de Júpiter.
A terceira compreende a sabedoria a ser lograda no Período de Vênus.
E a quarta encerra a evolução do atual esquema evolutivo.
O Iniciado de 4° grau encontra-se na mesma situação equivalente ao da humanidade no Período de Vulcano. Então saberá o que a Terra contém nesta encarnação e em suas manifestações futuras.
Os Mistérios Menores ensejam ensinamentos referentes ao desenvolvimento da humanidade nos três Períodos anteriores ao atual Período Terrestre.
Estes segredos permanecem velados ao ser humano, até que ele possa desvendá-los por si mesmo, na forma conveniente. Assim, nenhum espírito, desencarnado ou não pode observar o que há no interior da Terra, sem que a Iniciação haja despertado suas faculdades latentes.
(Perguntas e Resposta, publicado na Revista Serviço Rosacruz outubro/1974)
Aumentando a Vida do Arquétipo
Dezembro de 1918
Esta é a última carta aos Estudantes deste ano[1], e o pensamento no final de cada ciclo, naturalmente, se volta para a capacidade do tempo em passar rapidamente e para a evanescência da existência no mundo fenomenal. Também nos recordamos da preciosidade do tempo e da nossa responsabilidade em usá-lo da melhor forma para o crescimento anímico, pois “que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”[2] . Agora é o tempo de semear, e foi nos dito que “a quem muito é dado, muito será exigido”[3]. Portanto, somos responsáveis pelos efeitos das nossas ações e pelo que temos feito ou que deixamos de fazer, numa extensão muito maior do que aqueles que não tiveram o conhecimento interno do propósito de Deus, o qual nos foi oferecido por meio dos Irmãos Maiores.
Nessa conexão, nós devemos perceber que cada ato de cada ser humano tem um efeito direto no arquétipo do seu corpo. Se o ato está em harmonia com a lei da vida e da evolução, fortalece o arquétipo e possibilita um prolongamento da vida, na qual o indivíduo alcançará o máximo de experiência e obterá um crescimento anímico compatível com seu estado evolutivo e com a sua capacidade de aprendizagem. Desse modo, menos renascimentos serão necessários para ele chegar à perfeição, comparado com um outro que, deliberadamente, evita viver vida como se deve e faz de tudo para escapar do seu fardo, ou com outro, ainda, que aplica suas forças destrutivamente. Nesse último caso, o arquétipo se esgota e se rompe cedo. Assim, aqueles, cujos atos são contrários à lei, encurtam as suas vidas e têm que renascer mais vezes do que aqueles que vivem em harmonia com a lei. Esse é outro exemplo de que a Bíblia é correta quando nos exorta a fazer o bem para que possamos ter uma vida mais longa aqui na Terra.
Essa lei é aplicada a todos sem exceção, mas tem maior significado nas vidas daqueles que estão trabalhando, conscientemente, com a lei da evolução do que daqueles que não estão. O conhecimento desses fatos deveria aumentar dez ou cem vezes o nosso prazer, entusiasmo, disposição, energia e interesse pelo bem. Mesmo se tenhamos começado, como se costuma dizer, “tarde na vida” podemos facilmente acumular um “tesouro” maior nos últimos anos do que o obtivemos em algumas vidas anteriores. E, acima de tudo, nós conquistaremos a possibilidade para um começo mais cedo nas próximas vidas.
Esperemos, portanto, que tenhamos aproveitado da melhor maneira o ano que está terminando e nos preparemos para aumentar nossos esforços durante o próximo ano.
(Do Livro: Carta nº 96 do “Livro Cartas aos Estudantes”)
[1] N.T.: dezembro de 1918
[2] N.T.: Mc 8:36
[3] N.T.: Lc 12:48
Será que nós, Estudantes Rosacruzes, ao efetuarmos diariamente nosso exame de consciência, já indagamos a nós mesmos, se por ventura, temos concorrido com um mínimo de cooperação para que a disseminação do ideal Rosacruz seja uma realidade? Será que temos contribuído dentro de nossas possibilidades para o engrandecimento da obra encetada por Max Heindel?
Em verdade, somente a nossa consciência pode alertar-nos para o papel que nos cumpre desempenhar dentro da Fraternidade, avaliando os nossos talentos e indicando-nos como eles poderão ser aplicados dentro do programa de expansão Rosacruz. A obra carece de ajuda, dependendo muito da nossa dedicação, da nossa sinceridade e do nosso trabalho para consolidar-se como precursora de Aquário.
A Fraternidade Rosacruz talvez seja algo muito mais grandioso do que imaginamos. Não podemos restringi-la, conceituando-a apenas como uma comunidade filosófica espiritualista, como outras que existem por aí, orientando e instruindo os interessados através de livros, folhetos e conferências.
A missão, o ideal, os meios, o programa e a estrutura da Fraternidade Rosacruz formam um conjunto que transcende a tudo que podemos conceber como sendo edificante.
Os Irmãos Maiores, por meio de Max Heindel, outorgaram ao mundo algo inédito, original, sem paralelos; uma filosofia que expõe e elucida os mais intrincados problemas sociais e espirituais, dentro de um elevado padrão de lógica e reverência, diante do qual se esboroam todos os argumentos contrários. Max Heindel colocou ao nosso alcance um cabedal de conhecimentos, cuja beleza mal pode ser expressa por palavras. Tais princípios atendem perfeitamente as exigências de uma época onde o racionalismo e o espírito inquiridor ante-empírico repelem tudo o que não se enquadra em seus domínios. A Filosofia Rosacruz é atualíssima e, concomitantemente, abre perspectivas maravilhosas quanto ao futuro da humanidade.
Se verdadeiramente sentimos que ela veio preencher algo em nossas vidas, se ela nos tem proporcionado um vislumbre maior do mundo em que vivemos, se através de seus ensinamentos estamos penetrando e conhecendo nosso próprio ser, então, é necessário que sejamos coerentes conosco mesmos, arregaçando as mangas e trabalhando pelo seu crescimento, da maneira que pudermos.
Sozinhos, pouco ou nada poderemos realizar, mas se houver união de esforços, concatenando-se os talentos de cada um em prol de um objetivo, as possibilidades de êxito serão bem maiores.
Nunca será demasiado repetir que o ser humano isolado é uma impossibilidade. Reiteramos sempre por nosso Oficio Devocional: “um só carvão não produz fogo. Mas, quando se juntam vários carvões, o calor latente em cada um deles pode produzir chama, irradiando luz e calor”.
Somos apologistas do trabalho de equipe, porquanto este apresenta inúmeras vantagens, como por exemplo, o alcance de um máximo rendimento em tempo mínimo, mediante o aproveitamento racional das qualidades e aptidões de cada um em função do todo. Além disso, sua ação faz-se sentir individualmente, revertendo em benefício de cada elemento, em forma de disciplina, solidariedade, harmonia, companheirismo e expansão natural das próprias qualidades. Contudo, o trabalho em equipe requer também uma boa dose de boa vontade, de sinceridade, de entendimento, de sentimento altruísta e ausência de personalismo. São estes requisitos que possibilitam a um grupo relativamente heterogêneo empreender e concretizar obras de vulto, num sentido comum.
Essencialmente Cristão, o método Rosacruz de desenvolvimento prevê esses dois aspectos: individual e coletivo. O trabalho coletivo se realiza por meio dos Núcleos Rosacruzes (Centros e Grupos Formais e Informais) ou de esforços empreendidos por irmãos nossos, não importa sob qual título, com objetivos edificantes. De outro lado, o método Rosacruz indica meios de realização estritamente individuais, que objetivam aprimorar o Aspirante, de modo a permitir-lhe transcender os entraves internos separatistas e integrá-lo cada vez mais perfeitamente no puro sentido de equipe, dentro da unidade cristã que representará o coroamento da presente época evolutiva: “um só rebanho e um só Pastor”: o Cristo.
Em decorrência, todo e qualquer trabalho executado pela Fraternidade Rosacruz deve ser executado dentro daquele princípio que denominamos SERVIÇO AMOROSO E DESINTERESSADO AOS DEMAIS. Se algo feito com amor, despido de qualquer sentimento de interesse pessoal, será por certo duradouro; porém, se levar a marca do egoísmo, será como um castelo edificado sobre a areia e, mais cedo ou mais tarde, acabará em ruínas.
Nosso labor não deve esperar recompensa, mas, sim, resultados que beneficiem a coletividade. Felizes seremos quando formos capazes de prodigalizar tudo aos demais sem nada esperarmos em troca, a não ser novas oportunidades de servi-los. O simples pensamento de RECEBER já revela indícios de egoísmo, ao passo que o desejo de DAR suscita o sentimento de amor. Isto se ajusta à seguinte afirmação de um pensador: “Quem professa a filosofia do receber, confessa sua falência em dar”.
O Estudante sincero e devotado não procura saber o que poderá receber da Fraternidade Rosacruz, mas sim o que lhe possa dar.
Estamos trabalhando na “vinha do Cristo” e isso, somente isso, já justifica e compensa plenamente todo o sacrifício e esforço que empreendamos em prol desse ideal sublime.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1967)
A Amizade como um Ideal
Dezembro de 1910
Em um movimento religioso é costume se dirigir um ao outro como “Irmã” e “Irmão”, em reconhecimento de que todos, de fato, somos filhos de Deus, que é o nosso Pai comum. Entretanto, irmãos e irmãs nem sempre estão em harmonia. Algumas vezes chegam ao extremo de se odiar, mas, entre amigos não pode haver outro sentimento que não seja o amor.
Foi o reconhecimento desse fato que levou Cristo, nosso grande e glorioso Ideal, a dizer a Seus Discípulos: “De agora em diante já não vos chamarei de servos… mas de amigos” (Jo 15:15). Nada melhor podemos fazer do que seguir o nosso grande Líder, tanto nesse como em todos os outros acontecimentos da Sua vida. Não devemos nos contentar com simples relacionamentos fraternais, mas vamos nos esforçar por sermos amigos no mais santo, puro e amplo sentido da palavra.
Os Irmãos Maiores, cujos belos ensinamentos nos uniram no Caminho da Realização, honram os seus Discípulos do mesmo modo que Cristo honrou os Seus Apóstolos chamando-os de “Amigos”. Se você persistir no caminho que você começou a percorrer, algum dia, estará na presença deles e ouvirá a palavra “Amigo” pronunciada em voz tão suave, carinhosa e dócil que ultrapassa qualquer descrição ou até a própria imaginação. A partir deste dia, não haverá trabalho que você não efetuará para merecer tal amizade. Servi-los será o seu único desejo, sua única aspiração, e nenhuma distinção terrena será comparável a esta amizade.
Sobre os meus indignos ombros caiu o grande privilégio de transmitir os Ensinamentos dos Irmãos Maiores ao público em geral e, em particular, aos Estudantes, Probacionistas e Discípulos da Fraternidade Rosacruz. Você que solicitou que seu o seu nome figurasse na minha lista de correspondentes, saiba que eu, alegremente, lhe estendo a minha mão direita em fraternidade, cumprimentando-o pelo nome de amigo. Aprecio a confiança que depositou em mim, e lhe asseguro que me esforçarei para ajudá-lo em tudo que estiver ao meu alcance e ser merecedor de sua confiança. Espero que também me auxilie no trabalho que me proponho a fazer em benefício de todos, e peço que me desculpe no caso de descobrir alguma falhar em mim ou em meus escritos. Ninguém necessita mais de orações de seus semelhantes do que aquele que tem por missão ser um líder.
Por favor, lembre-se de mim em suas preces e tenha certeza que o terei nas minhas. Incluo a primeira lição com a esperança que o que foi exposto nessa carta estabeleça as nossas relações e firme, entre nós, uma amizade sincera.
(Do Livro: Carta nº 1 dos Estudantes)
Pergunta: Lemos sobre almas novas e almas velhas. Não nos iniciamos todos nesta vida terrena ao mesmo tempo, ou alguns já vieram para cá em uma onda de vida anterior? Não são os de cor branca da mesma idade anímica?
Resposta: Começamos ao mesmo tempo como Espíritos Virginais, em nossa peregrinação evolutiva; entretanto, desde o início alguns adaptaram-se mais ao ambiente. Portanto, desde os primórdios, alguns atrasaram-se nessa escola da vida, da mesma forma que acontece atualmente com as crianças, em nossas escolas. Alguns são mais precoces que outros, e estes, naturalmente, são mais capazes de passar, na escola da vida, pelas fases da evolução, atingindo um grau de consciência mais elevado.
Assim, a onda de vida que hoje é humana dividiu-se automaticamente em várias classes que agora conhecemos como raças branca, negra, vermelha e amarela; os mais atrasados da escola são atualmente os antropoides superiores (bonobos, chimpanzés, orangotangos e gorilas). Por outro lado, há os que se revelaram particularmente precoces e galgaram mais degraus, em termos de evolução, do que a maior parte da humanidade. São pouquíssimos, comparativamente falando; no entanto, encontramo-los entre os Iniciados, Adeptos e os Irmãos Maiores da humanidade, que estão no topo da escada da onda de vida humana. Por conseguinte, é certo que todos nós estamos percorrendo a estrada da evolução no mesmo período de tempo, mas alguns foram mais adaptáveis, mais diligentes. Consequentemente, acumularam para si mais experiência. É isso que constitui realmente a idade da alma, de forma que aqueles que alcançaram maior conhecimento podem ser chamados “almas velhas”, enquanto aqueles que estão atrás são, falando em termos comparativos, “almas novas”. Os Espíritos que habitam os antropoides podem ser considerados “sem alma”.
(Pergunta nº 35 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. 2)
Procurando a verdade: o risco de usar métodos errados e como esse conceito muda durante a nossa vida
Há 2.000 anos Pilatos indagou: “O que é a verdade?”.
As distintas formas de fé religiosa existentes são tentativas humanas de materializar seus conceitos internos sobre a verdade. A religião avança à medida que a visão humana se expande. O espírito interno clama por uma revelação mais completa. Uma nova Revelação surge em resposta a esse clamor e um conceito mais elevado de Deus começa a desabrochar na Mente do ser humano. Até hoje a religião não logrou alcançar uma oitava superior, mas nossas ideias relativas a ela são mais profundas. Cristo afirmou: “A verdade vos libertará”. A verdade é eterna e nossa busca por ela deve ser perdurável também. O Ocultismo não conhece “a fé de uma vez para sempre e relativa a todas as coisas”. Todas as Escolas de Ocultismo baseiam-se nas mesmas verdades fundamentais, passíveis de serem apreciadas sob diferentes ângulos, dando a cada um uma visão diferente. Assim, elas se completam.
Portanto, com o que atingimos por ora não é possível alcançar a verdade essencial. Em resposta à pergunta de Pilatos, devemos primeiro notar que a verdade seja um princípio subjetivo. Não pode ser encontrada no objetivo, se bem que esse contenha manifestações dela.
O erro consiste em pretendermos descobri-la totalmente nas coisas externas ou em alguma parte fora de nós mesmos. Nossa ideia sobre o que é verdade modifica-se à medida que progredimos, porque, à proporção que ascendemos, novas fases dela nos são apresentadas, etapas que não foram percebidas anteriormente.
Onde, pois, encontraremos a verdade? Não podemos encontrá-la neste mundo fenomenal, pontilhado de ilusões, no qual temos de proceder a constantes correções e mudanças, consciente ou inconscientemente. Sabemos que nossa visão nos engana, quando faz as coisas parecerem unidas no final de uma rua, por exemplo.
Com referência à indagação sobre onde encontraremos a verdade, a resposta só pode ser uma: dentro de nós mesmos.
É um assunto relativo ao próprio desenvolvimento interno, excluindo-se de qualquer outra fonte. A promessa de Cristo, “se vivermos a vida, conheceremos a doutrina”, é verdadeira no sentido mais literal. Os livros e os mestres podem despertar nosso interesse e nos incentivar a viver a vida. Contudo, só na medida em que julgarmos cuidadosamente suas ideias, antes dos preceitos constituírem parte de nossa vida interna, caminharemos na direção correta.
Conforme Max Heindel nos relatou, os Irmãos Maiores não lhe ensinaram tudo diretamente desde o primeiro curto período em que lhe proporcionaram o material para escrever O Conceito Rosacruz do Cosmos. A cada pergunta formulada, o Mestre indicava-lhe a direção em que poderia encontrar a informação necessária. Pelo uso de nossas próprias faculdades conseguiremos sempre os melhores dados ou informações.
A aspiração é o primeiro passo a ser dado para sairmos da escravidão para a liberdade, porquanto à medida que um ser humano deseje ascender, será libertado.
Somente por nossa aspiração à virtude dominamos os vícios. A fidelidade aos mandatos espirituais nos livra da sensualidade. A indiferença, entretanto, fará estiolar a mais bela flor do espírito.
Todo desenvolvimento oculto começa no Corpo Vital com o cultivo de faculdades objetivas e comuns tais como a observação, o discernimento, a razão, a justiça, o senso comum e o cultivo do intelecto. Todas essas qualidades, quando combinadas com oração e devoção, conduzem a estágios mais avançados, na jornada evolutiva. Essa preparação interna do Estudante deve ser realizada sem considerar as circunstâncias externas.
Os dois Éteres inferiores do Corpo Vital, o Químico e o de Vida, decrescem em quantidade e densidade à proporção que os dois superiores formam o Corpo Denso. Então um poder maior flui através nosso ser. Isso, às vezes, causa distúrbios no corpo denso, pois os Éteres inferiores mantêm a saúde física. Essa condição, não obstante, é transitória e tende a desaparecer. Observe-se, portanto, como é de máxima importância para os Estudantes de Ocultismo persistir em suas aspirações.
Se alguém tentar adquirir poderes ocultos sem ideais elevados ou objetivos altruístas, o resultado físico será deplorável. Um grande número de males físicos entre os Estudantes de Ocultismo deve-se a esse fato.
Todo pensamento egoísta ou de ódio imprime-se no sangue e nos pulmões, retardando o processo regenerativo. Por outro lado, os pensamentos de amor, justiça e harmonia constroem o Corpo Vital e aumentam a vitalidade do Corpo Físico. A regeneração, na maior parte dos indivíduos, ocorre em um grau vibratório muito baixo, porque, por via de regra, o homem comum injeta continuamente os mesmos pensamentos negativos em sua corrente sanguínea. Daí estar sempre acompanhado de dores e enfermidades.
No Estudante de Ocultismo, esse processo regenerativo se efetua muito mais rapidamente. E em muitos casos, a corrente sanguínea pode ser praticamente regenerada em curto tempo. Alguns dos velhos pensamentos, não obstante, estão sujeitos a reintroduzirem-se na corrente. Por isso, o processo segue repetindo-se até que estejamos completamente purificados de toda escória.
Temos de trocar a roupagem de nossos corpos impuros pela brilhante veste que estamos tecendo dia-a-dia. Esse é o processo alquímico do qual resulta a saúde perfeita. Quando formos “ouro puro”, quando a corrente sanguínea carregar só o puro, como os pensamentos de Cristo, então aparentemente operaremos milagres. Com a energia restante curaremos os demais, dissiparemos a desarmonia, a tristeza e o sofrimento, irradiaremos amor, paz e bons pensamentos. Então, transcenderemos os laços familiares e raciais sem deixar de cumprir todos os nossos deveres, porque nos teremos purificado desses sanguíneos. Nós nos sentiremos, então, universais.
O coração, grande distribuidor de sangue, não alimentará preferências, mas amará a tudo e todos sem considerar religião, cor ou casta.
Cristo disse: “Deveis nascer de novo”. Esse renascimento estende-se ao físico, conforme o axioma hermético “como é em cima, assim é embaixo”.
Depende apenas de cada um de nós a formação do veículo que nos capacitará a perceber a verdade nos Planos internos. Harmonizando nossas vidas com os princípios divinos, de acordo com a verdadeira religião, estaremos construindo o Corpo-Alma, o Dourado Traje de Bodas.
Uma vida de amor e serviço aos demais constrói o Corpo-Alma. Esta vivência não só atrai e elabora os dois Éteres superiores, o Refletor e o Luminoso, como a seu tempo produzirá uma separação que os diferenciará dos dois Éteres inferiores. Depois de completada essa separação, o Corpo-Alma encontra-se pronto para os voos da Alma. Isso constitui a cor azul-dourada do amor, que distingue o santo do ser humano comum.
Estamos recebendo ajuda para construir este Corpo-Alma, ajuda do Cristo, o Espírito Interno da Terra, por meio de suas emanações etéricas que, brotando do centro do globo, atravessam nossos Corpos Vitais. Mesmo depois de separados os Éteres superiores e inferiores, o Corpo-Alma prossegue crescendo, contanto que seja alimentado. Tal qual outro corpo, necessita de alimentação para crescer e permanecer em condições saudáveis. Porém se deixamos de alimentar o Cristo Interno, experimentaremos uma grande fome espiritual, muito mais intensa e dolorosa que a fome física. Conforme se ampliam nossos conceitos sobre a verdade, o Corpo Vital demanda uma classe de alimento mais elevado, em forma de boa literatura, arte, música e uma vida de compaixão e serviço ao próximo. Um conceito puramente intelectual da verdade não é suficiente, devendo-se consistir em um sentimento interno e espiritual. A razão e o discernimento são faculdades intelectuais; no entanto, o intelecto mais desenvolvido falharia sem assimilação espiritual: o coração e a Mente têm que cooperar entre si. Nem todos temos a mesma acuidade mental, donde a verdade concebida pela Mente não pode ser idêntica para todos. Contudo, o espírito é uno e quem é espiritualmente consciente conhecerá a verdade. Evidentemente, existe uma grande diferença entre o conhecimento da verdade e a posse de um mero conhecimento mental dela.
O caminho da preparação pessoal é o preço que pagamos pela verdade. A obtenção consciente dela é o resultado de viver a vida estritamente moral, consoante às normas espirituais. Não há outro meio.
Emerson disse: “O homem deve aprender a descobrir e observar esse facho de luz que resplandece através de sua Mente, oriundo de um lugar muito mais iluminador que o firmamento dos poetas e sábios”.
O dilema naturalmente surge na Mente do Estudante: quantos conhecem a verdade, quando a encontram?
Em Cartas aos Estudantes, Max Heindel nos dá a resposta quando trata do exercício de Retrospecção. Segundo o Mestre, se for possível que esse exercício seja praticado sinceramente pelas pessoas mais depravadas, durante seis meses e ininterruptamente, elas serão regeneradas. Os mais zelosos testemunham os benefícios dessa prática, particularmente em relação às faculdades mentais e à memória.
Ademais, por esse juízo imparcial de si mesmo, noite após noite, o Estudante aprende a distinguir o verdadeiro do falso em um grau impossível de se obter por outros meios. Dentro de nós encontra-se o único tribunal da verdade. Se nos habituarmos a colocar nossos problemas diante desse tribunal, persistentemente, com o tempo desenvolveremos um sentido superior da verdade, facultando-nos a perceber se uma ideia avançada é falsa ou verdadeira. A menos que estabeleçamos esse tribunal interno da verdade, vagaremos de um lugar a outro falando mentalmente durante toda nossa vida, conhecendo um pouco mais no final do que no princípio ou, talvez, menos. Portanto, o Estudante nunca deve rejeitar ou aceitar, nem seguir às cegas qualquer pessoa, mas procurar estabelecer o tribunal dentro de si mesmo.
Temos outro método pelo qual podemos diferenciar a verdade da imitação. Há pessoas, exímias fabricantes de imitações de artigos legítimos, tentando enganar compradores incautos. Esses, a menos que disponham dos meios para conhecer o artigo genuíno, correm o risco de serem ludibriados. Nesse aspecto o buscador da verdade corre o mesmo risco. O colecionador amiúde guarda seu tesouro em um lugar especial, deleitando-se com ele a sós. Frequentemente, anos mais tarde ou após sua morte, descobre-se que algumas das peças guardadas e muito apreciadas eram grosseiras imitações sem valor algum; assim também, aquele que encontra algo que entende por verdade pode enterrá-lo em seu próprio peito, percebendo depois de muitos anos que houvesse sido enganado por uma imitação. Por isso, torna-se necessária uma prova final para eliminar toda possibilidade de decepção. A questão é: como descobri-la e aplicá-la? A resposta é tão simples como eficiente: pelo método.
Os colecionadores descobrem que uma peça seja pura imitação porque a exibem para quem conhece a original. Se expõem seus acervos ao público, ao invés de mantê-los em segredo, prontamente saberão se têm peças falsas ou legítimas. Assim como a preocupação em ocultar os objetos colecionados favorece e estimula a fraude por parte dos comerciantes de raridades, inescrupulosos, da mesma forma o desejo de guardar para si os conhecimentos pode facilitar o trabalho dos traficantes das imitações ocultas do saber. Como poderíamos comprovar o valor de uma ferramenta, senão pelo uso? Nós a compraríamos, se o vendedor exigisse que a mantivéssemos guardada, em vez de utilizá-la? Seguramente que não!
Insistiríamos em empregá-la em nosso trabalho para constatar se serviria ao fim que lhe destinamos. Uma vez comprovada sua utilidade, nós nos sentiríamos satisfeitos em tê-la adquirido.
Considerando esse princípio, por que comprar certos artigos, se os comerciantes fazem questão de ocultá-los? Se fossem legítimos, não haveria necessidade de mantê-los em segredo. E, a menos que possamos utilizá-los em nossas vidas diárias, não terão valor algum.
Todo aquele que encontra a verdade deve empregá-la no trabalho do mundo para assegurar que sua legitimidade resista à prova e dar aos outros a oportunidade de compartilhar o tesouro encontrado.
Portanto, é mister observarmos a exortação do Cristo: “DEIXAI QUE BRILHE VOSSA LUZ”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1975)
Pergunta: Será errado interferir no karma ou devemos sustentar a nossa divindade e nos elevar acima das circunstâncias pela afirmação da nossa natureza divina?
Resposta: Uma pergunta semelhante foi formulada ao Sr. Heindel, em uma de suas recentes conferências em Los Angeles. Ele respondeu da forma abaixo.
“Embora todas as grandes religiões tenham sido dadas por Deus, há uma religião ocidental para os povos do ocidente da mesma forma que o hinduísmo existe para o povo da Índia e não vejo razão válida que nos faça copiar a terminologia deles e forçar as pessoas daqui a aprender o sânscrito, quando temos nossa própria e excelente linguagem com termos apropriados para ser usados em tudo aquilo que desejarmos transmitir. Para deixar a questão mais clara, vamos nos referir a um caso ocorrido alguns anos atrás. Havia então uma controvérsia em determinada sociedade, que cometeu o erro de promover os ensinamentos orientais usando seus próprios termos, mas aqui, no ocidente. A discussão surgiu a respeito da palavra ‘AVYAKTAM’.
“Nem os próprios hindus têm certeza a respeito do significado da sua terminologia. Toneladas de papel e barris de tinta foram consumidos para chegarem a um acordo e parecem ter resolvido a disputa, adotando a seguinte definição: Avyaktam é Parabramah revestido de Mulaprakiti, do qual são feitos seus UPAHHIS durante a Manvantara e no qual são novamente transformados, quando da chegada do Arolaya”.
O Sr. Heindel disse em seguida que esperava que a plateia tivesse entendido o significado de Avyaktam. Quando a plateia começou a rir e movimentou suas cabeças, o orador expressou seu pesar pela falta de compreensão de uma explicação tão elevada e resolveu tentar a variação comum do inglês para ver se essa explicaria. “Avyaktam é a Deidade revestida da Substância Essencial Cósmica da qual são feitos os seus veículos durante o Dia da Manifestação e que se transformam novamente, quando da chegada da Noite Cósmica”.
Quando os ouvintes declararam ter entendido a explicação, o Sr. Heindel disse que o mesmo era válido no que se referia à palavra karma. Todos na América e grande parte das pessoas no mundo sabem o que é “dívida de destino”, sem a necessidade de qualquer explicação, e há várias outras palavras comuns que podem ser usadas com maior eficácia do que a expressão hindu karma, que não tem sentido para a maioria dos ocidentais. O orador afirmou também que palavras como astral e encarnação ficassem deslocadas por terem sido ideadas para significar algo que não foi justificado. Ele lamentava que a palavra encarnação tivesse sido usada em nossa literatura mais recente, notavelmente no Conceito Rosacruz do Cosmos. Os Irmãos Maiores que lhe ministraram os ensinamentos na língua alemã sempre usaram a palavra Wiedergeburt, que significa renascimento, e há muita diferença entre os dois termos, diferença que não notamos à primeira vista.
É possível para um Espírito encarnar em um corpo adulto, expulsando o dono do seu veículo, possuindo esse corpo. No entanto, quando dizemos renascimento, só há um significado. Por essa razão, ele insiste para que os Estudantes nunca usem o termo encarnação, mas sempre a palavra renascimento. Em seguida, continuou.
“Responderemos agora à primeira parte da pergunta; isso é, será errado interferir no destino? Para chegarmos a uma conclusão, verifiquemos primeiramente quem criou o destino! Nós mesmos o criamos. Nós movimentamos a força que se transformou agora em destino e, por isso, temos indubitavelmente o direito de transformá-lo, na medida da nossa capacidade. Na realidade, essa é a marca autêntica da Divindade: governar-nos a nós mesmos. A maior parte da humanidade é regida pelos Astros, que podem ser chamados de ‘Relógio do Destino’. Os doze Signos do Zodíaco marcam as doze horas do dia e da noite, sendo que os Astros podem ser comparados aos ponteiros do relógio, indicando o ano em que certa dívida do destino amadureceu para poder expressar-se em nossas vidas. A Lua indica o mês e atrai determinadas influências que sentimos sem ter a consciência de que estejam sendo exercidas ou sem notarmos sua finalidade.
“Contudo, essas influências permitirão alinhar nossas ações ao destino que criamos nos anos ou vidas anteriores e, invariavelmente, o acontecimento pressagiado ocorre.
“Isso está marcado, a menos que nos esforcemos para mudar. Graças a Deus, há um a menos que, porque se não houvesse a possibilidade de alterar o destino, a única coisa a fazer seria sentar-se e dizer: ‘Vamos comer, beber e gozar a vida, já que amanhã morreremos’. Estaríamos, então, nas mãos de um destino inexorável e seríamos incapazes de nos ajudar. Pela bondade de Deus há um fator que não está indicado pelo horóscopo. É a VONTADE humana, que tem condições de afirmar-se e frustrar o Destino. Recordemos aquele lindo poema transcrito no Conceito Rosacruz do Cosmos.
“Um barco sai para Leste e para Oeste outro sai,
Com o mesmo vento que sopra em uma única direção;
É a posição certa das velas e não o sopro do vento
Que determina por certo o caminho em que eles vão.”
É da máxima importância que estabeleçamos o rumo do barco das nossas vidas, conforme o desejarmos. Nunca tenhamos escrúpulos em interferir no destino.
Esse proceder também refuta a ideia de “afirmações” como sendo um fator na vida, pois isso, em si mesmo, é uma tolice. É de trabalho e ação que precisamos na vida, como tentarei explicar por meio de uma ilustração. Suponhamos que uma pequena semente de lindos cravos pudesse falar e viesse a nós, dizendo: “Sou um cravo”. Por certo, nós responderíamos: “Não, você não é um cravo. Você tem a potencialidade interna para ser um cravo, mas terá que ir ao jardim e ficar enterrada durante algum tempo para crescer. Somente assim poderá tornar-se um cravo, nunca pela afirmação”. Da mesma forma sucede conosco. Todas as “afirmações” da Divindade serão em vão, a menos que sejam acompanhadas por ações de caráter divino. Os atos provarão a nossa Divindade de uma forma que nunca as palavras possam fazê-lo.
(Pergunta nº 31 – “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. 2)
O Evangelho de São João: os 5 primeiros versículos
Lendo atentamente o Evangelho de São João, o Evangelista, que foi Discípulo de São João, o Batista, somos gradativamente absorvidos pela admiração da desenvoltura e sublimidade do seu trabalho. Ao iniciá-lo, coloca como primeiro título a grande boa nova, já na expressiva frase: “A Encarnação do Verbo”. Essa Encarnação, prezados leitores e leitoras, representa o ponto de intercessão entre duas Eras. A primeira delas, em que vigorava a lei — o olho por olho e dente por dente -, representada por Moisés. A segunda é representada por Cristo-Jesus, o Cordeiro que tirou o pecado do mundo e purificou o Corpo de Desejos da Terra. Ademais, pôs ao alcance da humanidade todos os meios de que ela necessitava para sua salvação; vejam, então, prezados leitores e leitoras, a extraordinária importância que tem esse glorioso Ser para todos nós. É de tal autoridade, como bem salienta São João, o Evangelista, que se sentirmos por Ele uma profunda gratidão durante as 24 horas do dia, ainda será pouco. Aliás, a melhor maneira de manifestarmos nossa gratidão é servirmos diligentemente, colaborando de coração no formoso trabalho iniciado pelos Irmãos Maiores.
Durante a primeira dessas Eras, consubstanciada no Velho Testamento, sobretudo no último livro do Pentateuco, quem errasse seria punido, pois não havia perdão e tudo se acertava com a espada da justiça. O Cristo, ao contrário, embora cumprindo a lei, é a tônica do amor através do qual une tudo o que existe ou venha a existir, e não só aqui no Planeta Terra, mas também nos demais do nosso Sistema Solar, sem excetuar outros Sistemas Solares no Universo. Ele é o Amor que tudo liga, transforma e vivifica.
Lá, no primeiro capítulo, no primeiro versículo, diz-nos São João: “No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. Notem bem, estimados amigos, como ele mostra, entre outras coisas, de maneira concisa, cujo vigor ultrapassa toda expectativa, a nossa origem Divina. Ele transformou o Verbo na Causa primeira de tudo. D’Ele é que saiu tudo aquilo que veio ou vem à existência e, para Ele, tudo volta, como disse bem Santo Agostinho, que assim se expressou: “Viemos da Divindade e para Ela voltaremos”.
Prosseguindo, afirma São João, o Evangelista, no versículo 2°: “Ele estava, no princípio, com Deus”. São João, para facilitar nosso entendimento, reforça aqui o que disse no versículo anterior. Vindo de Deus, Cristo-Jesus é, evidentemente, Deus feito homem.
Referindo-se ao Verbo, comenta São João, no 3° versículo: “Tudo foi feito por Ele e nada do que foi feito se fez sem Ele”. Vemos aqui, mais uma vez, São João, o Evangelista, mostrar, com extraordinária exuberância, nossa origem Divina. Insiste ele e com toda a razão ser o Verbo a gênese de tudo aquilo que existe. Vivendo o amor permanentemente e conhecendo bem a natureza humana é que São João supunha conveniente insistir nesse e em outros pontos.
Continuando a leitura, vamos para o 4° versículo que, reportando-se ao Verbo, esclarece: “A vida estava Nele e a vida era a Luz dos homens”. De fato, aquela vida que estava Nele é a nossa Luz, o Cristo interno que habita em cada um de nós. É a Centelha divina que nos impulsiona constantemente às coisas superiores, os eventos do espírito. Com isso realizamos também uma sutilização de nossos veículos, as ferramentas do Ego, ampliando o seu campo de atividade.
Dando continuidade à leitura do Evangelho de São João, encontramos no versículo 5°, ainda no capítulo l°, que se tornou nosso, o seguinte: “A Luz resplandeceu nas trevas e as trevas não prevaleceram contra Ela”. Realmente, porque essa Luz infinita espanca as trevas.
Trevas da ignorância e más qualidades que são desfeitas pelo amor, sabedoria e atividade nas boas coisas. A propósito, certa vez um Discípulo de Hermes Trismegisto lhe perguntou: “Mestre, qual é o pior mal do mundo?”. Ao que Hermes prontamente respondeu: “A ignorância”.
É por ela, na verdade, que surgem os desentendimentos, malquerenças e inimizades. Max Heindel, o fiel mensageiro da Ordem Rosacruz, afirma, logo na introdução do Conceito Rosacruz do Cosmos: “Se Buda, grande e sublime, foi a Luz da Ásia, pode-se afirmar que Cristo seja a Luz do Mundo”.
(Pulicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1970)
Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz
Todos os Aspirantes que se colocam em linha ou “em espírito e em verdade” com a Fraternidade Rosacruz e os seus Ensinamentos colocam-se dentro da esfera de atenção e influência dos Iluminados da onda de vida humana: nós os conhecemos como Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz. É uma grande vantagem para nós, como Aspirantes espirituais, compreender o pleno significado desse fato e nos esforçar zelosamente para colher todo o benefício de tão maravilhoso privilégio. Podemos atrair sua ajuda dedicando algum tempo à meditação sobre eles e os seus humanitários esforços, para lhes enviar nossa gratidão, amor e nos consagrar a servi-los em seus constantes esforços para elevar a humanidade.
Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz estão entre os seres Compassivos que, através de muitas vidas, desenvolveram em alto grau as faculdades internas, mediante o serviço amoroso e desinteressado à humanidade. Passaram por todas as Escolas de Mistérios Menores e Maiores, tendo alcançado, assim, um estado de evolução que os libera de todas as cadeias terrenas. No entanto, preferiram ficar aqui, na Terra, como Auxiliares, tendo sido dado a cada um deles um trabalho em harmonia com os seus interesses e inclinações particulares.
Esses Hierofantes dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental desenvolveram uma segunda medula espinal, atraindo para cima o raio do amor inferior de Vênus e transmutando-o em altruísmo, conquistando assim o domínio sobre o segmento simpático da primeira medula espinhal e o hemisfério cerebral esquerdo, agora governado pela apaixonada Hierarquia de Marte: os Espíritos de Lúcifer. Desse modo, cada Irmão é uma completa unidade criadora tanto no Plano físico como nos espirituais, sendo capaz de usar a força bipolar, masculina e feminina, ao longo dessa dupla medula, iluminada e elevada em sua energia potencial por meio dos fogos espirituais da coluna vertebral, regidos por Netuno (Vontade) e Urano (Amor e Imaginação). Essa energia criadora concebe nos hemisférios gêmeos do cérebro, regidos por Marte e Mercúrio, um veículo adequado para a expressão do Espírito, meio então objetivado e materializado no mundo por meio da Palavra Criadora que é falada. Através desse poder é capaz de perpetuar a sua existência física e criar um corpo, depois de abandonar o antigo.
Todos os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz possuem a capacidade de construir o Corpo Denso mais adequado que necessitarem. Agora, para participar as atividades do Templo Rosacruz, funcionam com veículos etéricos, pois esse Templo é de natureza etérica e diferente dos nossos edifícios ordinários; contudo, pode se comparar – não em intensidade, mas em composição – às atmosferas áuricas, às egrégoras, que existem nos Templos de todo Centro Rosacruz espalhados no mundo, desde que sejam templos solares e onde são oficiados fiel, constante e diariamente os Rituais Devocionais e que se mantenha, no interior de cada um deles, um ambiente de silêncio e oração. Essas atmosferas áuricas, as egrégoras, são etéricas e maiores que os edifícios físicos. Também, tais estruturas existem em volta das igrejas, desde que sejam templos solares, e em todas as construções onde habitam pessoas muito espiritualizadas.
O Templo Rosacruz é superlativo e não pode ser comparado a coisa alguma; as vibrações espirituais compenetram de tal modo o entorno que a maioria das pessoas não se sentiria ali muito confortável.
Capazes de dirigir suas ações e emoções, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz evitam todo esforço desnecessário sobre os seus Corpos. Conhecem os elementos exatos requeridos para conservá-los e a proporção adequada em que devem tomá-los. Asseguram, desse modo, a máxima nutrição e o mínimo desgaste. Por essa razão podem preservar seus corpos em um estado de conservação juvenil com vigorosa saúde por centenas de anos.
Os Irmãos Leigos que estiveram em contato com o Templo por um lapso de tempo que vai de vinte a quarenta anos, desta vida, indicaram que os Irmãos Maiores têm hoje a mesma aparência que tinham há trinta ou quarenta anos. De acordo com os padrões dos indivíduos comuns parecem ter agora aproximadamente quarenta anos de idade.
Disseram, alguns Irmãos Leigos, que Christian Rosenkreuz usa hoje um corpo que foi conservado durante vários séculos. Isso pode ser ou não assim, mas nosso augusto condutor nunca foi visto pelos Irmãos Leigos que concorrem ao serviço espiritual da meia-noite no Templo etérico. Sua presença apenas é sentida e constitui o sinal para o começo do trabalho.
Investigar a origem dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz é tão difícil como achar a prova do princípio da primeira manifestação de Deus. Posto que o seu trabalho tenha por objeto estimular a evolução da humanidade, vêm trabalhando — de um modo ou outro — desde a mais remota antiguidade. Temos, não obstante, a prova histórica da aparição, já no século treze, de avançados ensinamentos que haviam de ser como que um brilhante astro para muitos.
Durante as poucas centúrias que passaram, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz trabalharam pela humanidade e em segredo. Todas as noites, à meia-noite, há um serviço no Templo em que os Irmãos Maiores, assistidos pelos Irmãos Leigos que podem deixar os seus corpos no mundo, porque muitos deles residem em lugares onde é dia quando é meia-noite no lugar do Templo da Rosacruz, atraem de todos os locais do Ocidente os pensamentos de sensualidade, cobiça, egoísmo e materialismo para transmutá-los em puro amor, benevolência, altruísmo e aspirações espirituais, enviando-os de regresso ao mundo para elevar e fomentar o Bem.
Não fosse essa poderosa fonte de vibração espiritual, o materialismo teria, já há muito, abortado todo o esforço espiritual, pois nunca houve época mais tenebrosa do ponto de vista espiritual como a que se prolonga pelos últimos trezentos anos de materialismo.
Sete, dos doze Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, vêm ao mundo quando as circunstâncias solicitam, aparecendo como “homens entre os homens” ou trabalhando em seus veículos invisíveis com, ou sobre, outros, se for necessário; contudo, devemos ter sempre em mente que eles nunca influenciam as pessoas contra a vontade delas, pois respeitam seus desejos e apenas fortalecem o bem onde o encontram. Os outros cinco Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz nunca abandonam o Templo etérico e, embora possuam corpos físicos, todo o seu trabalho é realizado a partir dos Mundos internos. O Décimo Terceiro da Ordem é o “cabeça da Ordem”, Christian Rosenkreuz, o elo que a ajusta com um superior Conselho Central composto de Hierofantes dos Mistérios Maiores que não têm contato nenhum com a humanidade comum, porém só com os graduados dos Mistérios Menores. Ele está oculto por doze círculos de tamanho igual. Mesmo os alunos da Escola nunca o veem, mas nos serviços noturnos do Templo a sua presença é sentida por todos.
Todas as meias-noites, no serviço, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz abrem seus peitos para atrair os dardos de ódio, malícia, inveja e todo mal que haja sido feito durante as últimas vinte e quatro horas. Primeiro, com o objetivo de privar as forças do Graal Negro do seu alimento; segundo, para transmutar o mal em bem. Desse modo, assim como as plantas absorvem o inerte dióxido de carbono exalado pela humanidade e com ele constroem seus corpos, também os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz transmutam o mal dentro do Templo e, assim como as plantas emitem o oxigênio renovado e tão necessário à vida humana, também os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz devolvem à humanidade a essência do mal transmutada em escrúpulos de consciência junto ao bem, a fim de que o mundo possa tornar-se melhor dia a dia.
Durante o Serviço do Templo, os doze Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, juntos dos Irmãos Leigos, funcionam em seus Corpos-Almas. É, portanto, evidente que a presença do “cabeça” da Ordem seja inteiramente espiritual. Todavia, ele está sempre ativo nos assuntos do mundo, trabalhando com os governos das nações do Mundo Ocidental para guiá-los ao longo do caminho adequado à sua evolução. Com essa finalidade aparece em um corpo físico, pelo menos em parte do tempo.
Após o primeiro ano da Primeira Guerra Mundial, 1914-1918, os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, por causa do excessivo trabalho e da necessidade de se organizar auxílios, tiveram êxito na criação de um exército de Auxiliares Invisíveis, recrutados entre os que, tendo passado através das portas da morte, sentido a angústia e o sofrimento inerentes à passagem prematura, estavam cheios de compaixão pelos que chegavam constantemente, acalmando-os e ajudando até que tivessem encontrado o equilíbrio.
Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz possuem a consciência pictórica do Período de Júpiter, da qual se servem para iniciar seus Discípulos na Ordem Rosacruz. O Iniciador fixa a sua atenção em certos fatos cósmicos e o candidato, que se preparou para a Iniciação desenvolvendo em si mesmo certos poderes, é como um diapasão de idêntica nota que vibra com as ideias enviadas pelo Iniciador, em forma de quadros. Portanto, não somente vê os quadros, como também é capaz de responder à vibração; assim, o poder latente que nele existe é convertido em energia dinâmica e a sua consciência é elevada ao passo seguinte da escala iniciática.
A maioria da humanidade está a cargo da religião publicamente ensinada no país do seu nascimento; entretanto, há sempre precursores cuja precocidade requeira um ensinamento superior. A esses é ensinado uma doutrina mais profunda por meio da atividade da Escola de Mistérios pertencente ao seu país. Quando unicamente uns poucos estão aptos para tal ensinamento preparatório, são instruídos privadamente; contudo, à medida que o número aumenta, o ensinamento é dado publicamente.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1970)