Arquivo de categoria Relação do Ser Humano com outros Seres

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Paternidade e a Maternidade Responsáveis

Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança…” (Gn 1:26) disse Deus: e o primeiro ser humano foi criado. E como tal, fomos criados com a capacidade de criar todos os corpos que precisamos para evoluir ainda que, nesse momento evolutivo e para se manifestar aqui na Região Química do Mundo Físico, precisamos nos juntar, vontade e imaginação, polo positivo e polo negativo, masculino e feminino, homem e mulher, para dar a oportunidade a um irmão ou irmã, um Ego evoluir aqui (e, concomitantemente a isso, garantir que teremos no futuro a chance também de evoluir aqui porque um irmão e uma irmã se propuseram a nos fornecer um Corpo Denso). Assim sendo, os pais são coparticipantes de Deus na obra da criação de seres humanos. E é por isso que, além da alegria que os filhos trazem, há uma responsabilidade enorme dos pais em relação a eles.

Quando da gravidez, a mulher precisa zelar e zelar muito pelo pequenino ser que é seu dependente. O primeiro passo numa paternidade e maternidade responsáveis, é que os pais tenham saúde física e mental para transmiti-las aos filhos. Mas se até o momento da concepção os pais agem, daí para frente a maior responsabilidade é da mãe. A necessidade de um acompanhamento médico é imprescindível a fim de prevenir ou sanar problemas. A alimentação sadia, evitando bebidas alcoólicas, tabaco e quaisquer tipos de drogas (lícitas ou ilícitas), complementada a orientação médica. Hábitos sadios são necessários para o perfeito desenvolvimento do pequenino ser ainda tão dependente da mãe.

E nesta hora em que a mãe traz em si o fruto do amor, o pai deve redobrar o carinho e os cuidados para que haja a complementação lógica de tudo que ela deve fazer.

Mas os pais não são responsáveis somente pelo desenvolvimento físico de seu bebê. A par dos cuidados já mencionados, é necessário um ambiente harmonioso, com muita paz e muito amor.

Uma criança amada e desejada dificilmente será uma criança carente e desajustada. Mesmo uma gravidez indesejada não deve gerar pensamentos destrutivos em relação à criança como se ela tivesse vindo sem nenhuma participação dos pais. A célebre frase “sou dona do meu corpo” nada significa quando se tem outro ser dentro de nós, pois nossos direitos vão somente até onde começamos direitos dos demais.

Os filhos são talentos que Deus nos confiou e dos quais nos pedirá contas. É necessário não só guardá-los para que se não percam as qualidades que trouxeram, como também incentivá-los a cultivar essas mesmas qualidades para que se desenvolvam.

Se os pais colaboram com Deus na formação de um novo ser, também devem, como Deus o faz, respeitar a individualidade desse mesmo ser. Devem orientá-los com palavras e exemplos, dar-lhes, na medida do possível, as bases necessárias para que vivam mais plenamente e aproveitem sua estadia nesse mundo para progredirem o mais que possam.

Mas de maneira alguma podem se achar donos de seus filhos. Nunca pensar ou agir como se eles fossem sua propriedade, o “meu” filho e não um indivíduo a quem eles por ajudarem-no a vir ao mundo, se tornou propriedade sua. Deus respeita-nos como indivíduos e não viola nosso livre arbítrio. Quem somos nós para nos julgarmos donos de alguém?

Não podemos ter a pretensão de que nossos filhos são propriedades nossas como o são nossas casas ou carros.

Os pais têm a missão divina de formar os filhos, orientá-los intelectual, moral e materialmente falando, tomando-os aptos a se desenvolverem melhor e, quando partirem desta vida, deixarem melhor o mundo em que viveram.

Devem sempre lhes dar exemplo, apoio e amor, trazendo-os ou pelo menos procurando trazê-los de volta ao bom caminho quando dele se afastarem.

Deus faz conosco tudo que foi acima mencionado e nós devemos fazer isso em relação a nossos filhos: ver neles um ser criado à imagem e semelhança de Deus e que, com a nossa colaboração, deve encontrar seu próprio caminho e cuja realização só dele depende.

(de Maria José A. S. de P. Coimbra, publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – junho/1979 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Eduque com Sabedoria

  • Se seus filhos pequenos são muito ativos e inquietos, canalize seu abençoado dinamismo para as brincadeiras movimentadas, passeios a pé, esportes, etc.
  • É negativa a prática de tentar forçar a criança a inatividade. Isso a desestimula à ação, tão necessária ao progresso do Espirito no Mundo Físico.
  • Deus é ação, é Atividade permanente. Maior quantidade de experiências é obtida através de maior ação. Permita, portanto, a seu filho agir, embora sob sua orientação.
  • Dê atenção à criança até nas menores coisas, se quiser ser por ela obedecida.
  • Criança segue de imediato, exemplos, não palavras. Contudo, as palavras são por ela gravadas inconscientemente para atuarem, em longo prazo, como subconsciência.
  • “Ensine à criança o caminho em que deve andar, e ela jamais se desviará dele”. Esse Provérbio de Salomão é aplicável tão somente até 2 anos de idade, no máximo.
  • Nossa vida subconsciente é formada principalmente nesses dois primeiros anos. E é ela que vai governar nossa vida adulta.
  • Os principais e definitivos hábitos de uma vida – aqueles que obedecem a um automatismo e são, praticamente, irremovíveis – residem no subconsciente. Especial e mais fortemente nas pessoas sob a forte influência de Touro, ou naquelas cujos 4 ângulos do tema natal sejam ocupados por signos fixos.
  • “A repetição do ato gera o hábito”, ensina a Psicologia acadêmica. A ciência oculta ratifica a asserção ao ensinar que “a repetição é a chave do Corpo Vital”, sede da memória.
  • Não se canse, portanto, de repetir as boas palavras, as boas atividades, os bons atos, o bem enfim, na presença de seus filhos. Em particular diante daqueles com até 2 anos.
  • Os pais são o primeiro espelho dos filhos, e nesse espelho as crianças gostam de se mirar. Procure, pois manter esse espelho sempre limpo.
  • Procure ver e destacar pelo elogio apenas as boas qualidades vislumbradas na criança.
  • Maior crescimento anímico advém da educação dos filhos se os consideramos de Deus ao invés de nossos. Estaremos assim sendo mais altruístas.
  • A imagem do professor é associada à dos pais e a de Deus na Mente infantil. Suas palavras, portanto – e especialmente seu comportamento – são decisivos na formação do caráter do aluno. Selecione com cuidado a primeira escola de seus filhos.
  • Criança feliz estuda voluntariamente, e isso resulta em melhor aproveitamento escolar. A criança amada tem mais êxito nos estudos porque a afetividade (Sol) está em seu domicílio na Casa da Educação (5ª Casa astrológica).

(Revista Serviço Rosacruz – Fraternidade Rosacruz – SP – nov/1976)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Pena de Morte – A Tendência Histórica em Relação à sua Abolição definitiva

A pena de morte está desaparecendo. Um crescente humanitarismo, apoiado por razões baseadas em séculos de experiência, exige a sua abolição.

Essa demanda agora se tornou ruidosa. Desenvolveu-se uma situação extraordinária que colocou a questão em foco e despertou a séria preocupação de povos em todo o mundo. Nunca antes tantas pessoas ao mesmo tempo olharam de forma tão sóbria e profunda para os aspectos sociais, legais, morais e espirituais do assunto.

Os resultados de tal exame popular da moralidade, sabedoria e eficácia da pena de morte como impedimento ao crime e medida de proteção à sociedade certamente efetuarão uma modificação benéfica nos atuais códigos penais e vai acelerar muito o tempo em que a pena de morte será universalmente abolida.

Pode ser útil relembrar brevemente os eventos e circunstâncias mais imediatos e específicos que trouxeram esse assunto de forma tão proeminente à Mente do público, neste momento.

Vamos ver nos Estados Unidos da América: há doze anos, aproximadamente, um jovem da Califórnia foi condenado por crimes pelos quais foi sentenciado à morte. Durante o período que se seguiu à sentença, ele ocupou o “corredor da morte” na prisão de San Quentin, na Califórnia. Por meio de manobras legais e ininterruptas, sua data de execução foi adiada pelo menos oito vezes. No momento em que este texto é escrito, ele vive sob a sombra da nona. Nunca antes na história da jurisprudência um homem, sob o devido processo legal, foi levado tantas vezes, em um período tão longo, até a porta da morte para voltar e enfrentar a provação iminente. Nem pode ter havido um caso que ilustre de forma mais pungente as consequências dolorosas, para o acusado, da demora da lei, por um lado; enquanto, por outro lado, um caso tão evidente na exibição das múltiplas disposições legais e concebidas pela sociedade para proteger um de seus membros da possibilidade de sofrer tal destino por erro judiciário. Mas, o caso também serviu para descobrir lacunas e falibilidades no julgamento humano, na interpretação e administração das complexidades legais, embora cuidadosamente concebidas e meticulosamente formuladas, especialmente quando envolve o destino de uma vida humana.

No entanto, a característica mais impressionante nos prolongados procedimentos deste caso criminal é o caráter do homem condenado em torno do qual tal complexidade e multiplicidade de correntes jurídicas têm girado durante todos esses anos torturantes. Embora haja uma repulsa natural na Mente do público, ao pensar nos crimes dos quais ele é acusado e pelos quais foi encarcerado, com o passar do tempo isso foi bastante amenizado pela maneira como o condenado encontrou seu destino. Ele não era um prisioneiro comum. Ele não aceitou morrer só porque o tribunal o sentenciou a isso. Ele decidiu batalhar por sua vida, embora sua condição fosse tal que, em circunstâncias normais, não haveria praticamente algo a oferecer qualquer esperança de adiar a sentença, muito menos de escapar dela. Ele não tinha posição social ou profissional, nenhuma família devotada ou amigos para trabalhar em seu nome, nenhum dinheiro durante os primeiros anos de sua prisão para contratar um advogado para defender sua causa e nenhum contato influente em altos escalões para favorecê-lo. Ele era um ninguém com nada em seu crédito a não ser as más ações. Ele era, a princípio, um mero número em uma cela de prisão.

Porém não permaneceu assim por muito tempo. Aqui está um homem cujo espírito não foi abatido pela condenação que pairava sobre ele. Contra o que deve ter parecido uma probabilidade desesperadora, ele reuniu coragem, força de vontade e autoconfiança para fazer algo a respeito do próprio caso. Ele fez. Fez disso uma causa célebre.

Fisicamente limitado, sua Mente estava livre e seu espírito, criativo. Ele estudou direito, tornou-se advogado em seu próprio nome. Suas alegações tiveram alguns resultados positivos. “Há um equívoco comum”, disse ele, “de que fui negado cada vez que fui à Suprema Corte dos Estados Unidos. O fato é que ganhei decisões importantes em pontos do devido processo legal que têm significado real para todas as pessoas acusadas de um crime”.

Esse prisioneiro ativo e de Mente fértil também escreveu três livros, que conseguiu publicar e, segundo consta, o quarto está sendo escrito. Em 1954, o primeiro dos três livros foi lançado. Ele é intitulado “Cela 2455 do Corredor da Morte. Seguiu-se então “Julgamento por Aprovação”, em 1955 e “A face da Justiça”, em 1957. A renda da venda desses livros proporcionou meios para empregar auxílio jurídico e ganhar prorrogação após prorrogação. É uma história fenomenal que a indústria cinematográfica não deixou de explorar pelo amplo interesse que seu simples relato factual impunha. A primeira das duas produções teve o mesmo título do primeiro livro do condenado e a segunda, atualmente em exibição, A justiça e Caryl Chessmen. Esses filmes não precisaram de ingredientes adicionais ou situações dramáticas para torná-los ricos em bilheteria e agarrar a Mente, o coração e a imaginação do público que testemunha suas performances.

Aqui está a história de um jovem delinquente que preferia o roubo ao trabalho. Segundo o testemunho de sua ex-mulher, ele não era mesquinho nem cruel, mas rebelde, irresponsável e indiferente às restrições das leis civis e morais. Violações mesquinhas levaram a crimes mais graves, mas segundo seu próprio depoimento, não ao crime pelo qual foi condenado à morte.

Ele não ficou confinado muito antes do seu brilho mental atrair atenção notável. Isso se tornou um trunfo em sua longa luta pela vida. Nem deixou sua Mente se deteriorar em seu isolamento. Ele se desenvolveu. Seu QI aumentou. Quando medido pela última vez, em março deste ano, situou-se em um ponto considerado possuído apenas pelos três por cento do topo da nossa população.

Nunca tinha se resignado, até que o tempo estivesse passando pelas últimas horas antes do seu oitavo encontro com a morte, em fevereiro passado; então ele finalmente aceitou, sem mais resistência ou apelo, cumprir sua condenação. Nem poderia, em seus últimos momentos, ser persuadido a pedir clemência ao único homem que pudesse concedê-la, o governador do estado da Califórnia. Fazer isso, afirmou ele, implicaria a culpa do crime de sequestro pelo qual estava para morrer, mas do qual ele sistematicamente alegou inocência. Ele declarou que conhecia a identidade do “bandido da luz vermelha” e que providenciou para que fosse revelada só depois da sua morte. Isso envolvia muitas pessoas. “Quando eu for executado”, disse ele a seus advogados em 13 de abril, “quero ser capaz de manter minha cabeça erguida e meu respeito próprio”.

Pouco antes da hora marcada para sua execução, em fevereiro passado, ele disse a repórteres que desejava mostrar que não estava sendo desafiador, ao escrever um telegrama ao governador Brown apenas para dizer que o faria agir de acordo com os ditames da sua consciência. A mensagem foi enviada sem qualquer traço aparente de ódio ou amargura. Pelas palavras do telegrama, parecia que nem seu agnosticismo nem seus crimes haviam amortecido seu reconhecimento da operação de uma lei moral relativa ao que chamamos de voz da consciência.

Nesse ponto do processo, algo de significado universal se desenvolveu em relação a esse “homem sem importância” e condenado de longa data. Um indivíduo obscuro tornou-se uma personalidade conhecida internacionalmente. Ele se tornou o símbolo de uma causa. Por uma combinação de qualidades e circunstâncias extraordinárias, ele deu início a um movimento que clama pela abolição da pena capital. Nunca antes tantos milhões levantaram suas vozes em apelo pela abolição da pena de morte. Foi um clamor humano por misericórdia com justiça, pelo maior reconhecimento da sacralidade da vida e em seus níveis mais profundos uma manifestação daquele espírito redentor que o Todo-Compassivo, o Senhor Cristo, implanta no coração da humanidade, mesmo que as pessoas envolvidas estivessem apenas vagamente conscientes da fonte divina e mais íntima do idealismo humanitário o qual forneceu tal expressão enfática neste caso particular.

O sentimento a favor da clemência para o condenado vinha crescendo em um ritmo acelerado tanto aqui quanto no exterior. Ele atingiu o clímax quando o dia da execução, marcada para 19 de fevereiro, aproximou-se. Editoriais pedindo clemência estavam aparecendo em algumas capitais europeias e em toda a América do Sul. Em Londres, seis dos nove jornais diários deram à história o primeiro lugar. Um desses jornais, o Mail, ao fazer seu apelo de clemência ao governador da Califórnia, observou que “qualquer um pode ser persuadido a fazer justiça aos inocentes… É necessária uma verdadeira convicção para ser justo com o culpado”.

O jornal do Vaticano, “Observatore Romano”, protestou contra a execução da pena de morte, alegando que o condenado já havia sido sujeito a penas mais do que suficientes para satisfazer as exigências da lei. Disse seu editor: “Acho uma coisa terrível o que aconteceu… Temos que lidar com isso com um senso de humanidade”.

Em Paris, houve manifestações de rua. Na Noruega e na Suécia, um total de 113.337 pessoas assinaram petições de misericórdia. A Liga Belga para os Direitos Humanos enviou “apelos urgentes” às autoridades americanas. Um jornal de Bruxelas observou que, se a execução iminente fosse realizada “provaria que no país da liberdade existe uma espécie de pena de morte ainda mais terrível do que a morte lenta dos regimes dos campos de concentração que eles condenam”.

Petições assinadas por centenas de milhares vieram do Brasil. E do Uruguai, por meio do nosso Departamento de Estado em Washington, veio uma mensagem de enorme peso. Mais do que qualquer outra comunicação ou manifestação, destacou a preocupação que o caso havia causado nos principais círculos governamentais e o efeito adverso que estava criando em nossas relações internacionais.

E, assim, o caso se espalhou em importância até que criou conotações políticas internas e perturbadores rumores internacionais, cujo efeito gerou uma nova repulsa contra a aplicação da pena de morte.

A hora do clímax havia chegado. Era como se tivesse sido feito sob encomenda com o propósito expresso de promover uma reforma humanitária e específica. A situação favorecia efetivamente sua utilização por inteligências superiores para servir a fins universais e ao propósito espiritual. Podemos muito bem suspeitar que a situação e as circunstâncias que se desenvolveram em torno de um único indivíduo eram tais que foram aproveitadas por poderes superiores, invisíveis, mas sempre presentes, para promover uma importante reforma humanitária cujo tempo havia chegado.

O fato de o próprio condenado ter notado que talvez estivesse servindo exatamente a esse propósito é indicado por uma observação que ele fez aos repórteres na véspera da data de execução, em 19 de fevereiro: “pode muito bem ser que, se ele (o governador) me deixar ir para a morte, isso poderia levar à abolição da pena de morte na Califórnia. Se eu estivesse sentado em sua cadeira, poderia muito bem me deixar ir para esse fim”.

Nessa mesma ocasião, ele expressou o sentimento de que, sem dúvida, existisse também uma clara convicção de que, embora fosse culpado de crimes contra a sociedade, agora, de alguma forma, expiava suas más ações com a morte. Disse ele: “A coisa mais importante que acredito ter feito foi chamar a atenção para a existência dos corredores da morte e a prática da pena de morte. Acho que, uma vez que este fosse um assunto que clamasse por reexame, os muitos e longos anos que fiquei aqui e os livros que escrevi levarão a esse reexame. Todos percebem que as pessoas estejam mais interessadas nas pessoas do que nos problemas. Como resultado, a intensa controvérsia sobre o tipo de pessoa que eu fui e sou levou, acredito, as pessoas a questionar sobre que tipo de pessoa chega ao corredor da morte e por quê. Certamente espero que esta experiência pela qual passei nunca tenha de ser sofrida por alguém mais na história deste país”.

À medida que a hora de 19 de fevereiro se aproximava rapidamente para a realização da execução, uma pressão insuportável estava convergindo sobre o governador da Califórnia, em cujas mãos estava o poder de conceder mais um adiamento. E foi concedido. Um adiamento de sessenta dias. Durante esse período, o povo do Estado, por meio de seus representantes legislativos, convocados em sessão extraordinária, teve a oportunidade de atuar sobre todo o problema da pena capital. Com sua abolição, eles poderiam salvar a vida não apenas do condenado que momentaneamente captou a atenção do mundo, mas também evitar que qualquer outra pessoa, agora ou no futuro, sofresse a punição capital no Estado da Califórnia. A questão foi então ampliada de um único indivíduo para a sociedade em geral.

Que forças invisíveis estavam operando ao lado de pressões externas para, de alguma forma, dar mais força ao movimento para abolir a pena de morte também apareceu no incidente aparentemente casual que levou a esse adiamento. A decisão do governador não foi apenas um acaso, mas, como ele expressou, foi “a mão de Deus”.

De uma pilha de cartas e telegramas não lidos, ele escolheu um que carregava a influência não apenas de um indivíduo, um corpo religioso ou alguma organização reformista que estivesse em cruzada, mas o peso de povos e governos. Era uma mensagem do Uruguai para nosso Departamento de Estado em Washington e, por ele, encaminhada ao Governador, expressando a séria preocupação sobre as nossas relações internacionais, se a execução iminente fosse realizada.

Foi então que o governador transferiu o fardo da responsabilidade para o povo da Califórnia. A questão foi transferida de pessoa para princípio, de um indivíduo para uma sociedade.

Mais tarde, ao discursar na sessão especial do Legislativo, o governador Brown expôs suas razões para abolir a pena de morte. Por se tratar de um documento que certamente assumirá importância histórica nos esforços centenários de humanização do tratamento a todos os infelizes em nosso meio, sejam pela pobreza, doenças, Mentes perturbadas ou delinquência, nós as citamos no discurso fielmente.

“Como um ato de consciência pública e com a experiência de mais de uma década e meia no trabalho de aplicação da lei, peço ao Legislativo que dissolva a pena de morte na Califórnia. Existem razões poderosas e convincentes para que isso seja feito. Não se baseia na simpatia piegas pelos criminosos e depravados. E embora acredite que a pena de morte constitua uma afronta à dignidade humana e brutaliza e degrada a sociedade, não é apenas por isso que exijo este rumo ao nosso Estado”.

“Cheguei a esta importante resolução após 16 anos de experiência cuidadosa, íntima e pessoal junto à aplicação da pena de morte neste Estado. Tive uma convivência direta com o crime e o castigo no dia-a-dia, superada por poucos”.

“A sociedade tem o direito e o dever moral de se proteger contra seus inimigos. Este axioma natural e pré-histórico nunca foi refutado com sucesso. Se, pela morte ordenada, a sociedade estiver realmente protegida e nossas casas e instituições, seguras, então mesmo a mais extrema de todas as punições pode ser justificada”.

“Entretanto, o fato puro e simples é que a pena de morte foi um fracasso total. Além de seu horror e incivilidade, não protegeu os inocentes nem dissuadiu os ímpios. O espetáculo recorrente de assassinato sancionado publicamente barateou a vida e a dignidade humanas sem a graça redentora que vem da justiça aplicada com rapidez, uniformidade e humanidade”.

“A pena de morte é invocada de forma muito aleatória, irregular, imprevisível e muito tarde para ser defendida como um exemplo eficaz de advertência aos malfeitores”.

“Na Califórnia, por exemplo, em 1955, havia 417 homicídios. Mas apenas 52 réus foram condenados por assassinato em primeiro grau. E apenas 8, ou 2%, foram de fato condenados à morte. Não pode haver valor exemplar e significativo em uma punição cuja incidência é de um para 50”.

“Nem a pena de morte deve ser explicada como a arma suprema de desespero da sociedade contra os não regenerados e perversos… Se esta, a mais drástica das sanções, pudesse ser considerada substancialmente para servir aos fins da justiça legal, aumentando a nossa segurança e proteção, ela mereceria um lugar maior em nosso respeito. Mas nenhum dado disponível em qualquer lugar ou época, que eu pude encontrar em pesquisas ao longo de muitos anos, dá suporte ao grande argumento de que a presença ou ausência da pena de morte exerce qualquer efeito substancial sobre a incidência de homicídio. De fato, o relatório da Comissão Real Britânica sobre a Pena de Morte, um dos estudos mais universalmente respeitados e objetivos já feitos sobre o assunto, mostra que não há evidências claras de que a abolição da pena de morte tenha levado a um aumento na taxa de homicidas. A Comissão Real concluiu, como quase todas as outras pesquisas científicas sobre o problema, que outros fatores, além da presença ou ausência da pena de morte, são responsáveis pela taxa de homicídios em qualquer área”.

“Especificamente, a pena de morte foi abolida em alguns estados (Minnesota, Wisconsin, Michigan, Rhode Island, Dakota do Norte) e em 30 países estrangeiros”.

“Em nenhum desses estados houve aumento da taxa de homicidas. E, de fato, em comparação a outros, suas taxas parecem um pouco mais baixas. Um mapa dos Estados Unidos, no qual os vários estados estão sombreados para indicar sua taxa de homicídios em um período de dez anos…, mostra graficamente que os estados sem pena de morte, junto de vários outros que mantêm a pena de morte, têm a menor incidência de homicídio. E em notável contraste, doze estados do sul, todos os quais aplicam a pena de morte de maneira muito dura, têm a maior taxa de homicídio”.

“Este último fato aponta a fraqueza mais gritante de todas, e é que, não importa o quão eficiente e justa a pena de morte possa parecer na teoria, na prática, tanto na Califórnia como em outros lugares, ela é principalmente infligida aos fracos, pobres e ignorantes, contra as minorias raciais. Na Califórnia, e na Nação como um todo, a esmagadora maioria dos executados são psicóticos ou quase psicóticos, alcoólatras, deficientes mentais ou, de outra forma, comprovadamente instáveis mentalmente. Na experiência dos ex-guardas Lewis Lawes de Sing e Clinton P. Duffy de San Quentin, raramente aqueles com fundos ou prestígio são condenados por crimes capitais e ainda mais raramente são executados”.

Enquanto o governador reunia fatos e números adicionais para apoiar sua proposição de que a pena de morte deveria ser abolida, ele disse acreditar que os legisladores encontrariam “evidências convincentes da grande injustiça e iniquidade social que caracterizou a aplicação da pena de morte”. Disse ele, “em grande parte, os executados eram produtos do interior em desvantagem social, econômica e educacional”.

Ele falou sobre os “sacrifícios miseráveis e desnorteantes” feitos ao executor e a responsabilidade que a sociedade, como um todo, deve assumir pelo triste destino dos executados. “Tenho visto nos arquivos, transcrições e livros que, quem eles eram e onde estavam teve um papel tão importante em sua condenação final quanto o que fizeram. Também vi que, por apenas uma ligeira reviravolta das circunstâncias, esses dezenove poderiam ter recebido uma pena de anos, assim como os outros noventa e oito por cento daqueles que mataram e, nesses casos, também existe a terrível chance de que homens inocentes possam ser condenados, por mais cuidadosos que sejam nossos tribunais e júris. Nosso sistema judicial nos dá orgulho, mas temperado pela compreensão de que a humanidade está sujeita ao erro”.

O governador citou então o caso em que um homem condenado à morte foi “perdoado pelo que nunca tinha feito”. Aqui, disse ele, “se não fosse pela graça de Deus, poderia haver agora em nossas mãos o sangue de um homem ignorante, sem amigos e — inocente”.

Os apelos do governador vieram de uma profunda “convicção e consciência”. Ele conhecia a resistência do Legislativo ao seu apelo. Desde 1933, projetos de lei para abolir a pena de morte foram apresentados nada menos que dezesseis vezes, com a maioria das medidas morrendo em comissões. Não havia dúvida na Mente do governador de que seria assim novamente, mas isso não o intimidou de deixar registrado sua posição sobre o assunto. “A liderança pública”, disse ele, “deve enfrentar os problemas humanos, bem como os econômicos e sociais de nossas comunidades. Não é suficiente para aqueles encarregados de responsabilidades públicas se contentarem apenas com o imediato e facilmente alcançável — os valores básicos e de longo alcance da nossa sociedade também devem ser constantemente trazidos para uma realidade mais plena. Eu acredito que toda a história da nossa civilização seja uma luta para criar uma medida maior de humanidade, compaixão e dignidade entre nós. Eu acredito que essas qualidades serão as maiores, quando se concretizar a ação aqui proposta — e não só para os desgraçados cuja execução se transforma em prisão perpétua, mas para cada um de nós”.

Não pode haver dúvida de que aqui estivesse um manifesto de fé, convicção e consciência. Não houve compromisso com segundas intenções. Quaisquer efeitos adversos que a posição do governador sobre essa questão controversa pudesse ter em seu futuro político foram aparente e completamente postas de lado, em obediência a uma compulsão interna de servir ao bem, ao direito, ao nobre. Ele falou não para promover a ambição pessoal, mas para servir ao bem-estar humano e ao propósito divino. Quando chegar o dia, como certamente acontecerá, em que a pena de morte será apagada de todos os códigos penais do mundo e a longa história da sua abolição progressiva for escrita, a mensagem do governador Brown sem dúvida será considerada um dos principais pronunciamentos levando a esta consumação humana.

Muitos dos países europeus aboliram a pena de morte há muito tempo. Por exemplo, não houve uma execução em Luxemburgo desde 1822; na Finlândia, desde 1826; na Romênia, desde 1838, exceto na revolução de 1918; em Portugal, desde 1867; na Noruega, desde 1876; na Dinamarca, desde 1892 e na Suécia, desde 1910. Quase um século atrás, a Bélgica fez o que agora implora que os Estados Unidos façam; exceto por uma execução durante a Primeira Guerra Mundial, a Bélgica não tem execuções desde 1863.

Mais recentemente, os seguintes países europeus aboliram a pena de morte: Áustria, Alemanha Ocidental, Islândia, Itália, Israel, Suíça e vários países menores; trinta ao todo.

Na América Latina, o movimento em direção à abolição da pena de morte vem ganhando força nos últimos anos. A Venezuela promulgou a reforma há quase um século, em 1863. A Costa Rica a seguiu em 1880 e o Equador, em 1897. Após a virada do século XX, Argentina, Brasil, Colômbia, Uruguai e Panamá tomaram medidas semelhantes. A República Dominicana aboliu a pena de morte em 1924 e Porto Rico, em 1929.

Os protestos que surgiram de praticamente toda a América do Sul contra a execução do condenado da Califórnia, que por doze anos lutou tão bravamente por sua vida, sem dúvida fortaleceram as forças que estão progressivamente apagando a pena de morte dos códigos penais em todos os lugares.

Em sua entrevista coletiva, após sua recente jornada com o presidente Eisenhower pela América do Sul, o secretário de Estado Herter comentou sobre o alto sentimento que encontrou sobre o assunto, onde quer que eles fossem, e expressou surpresa com a extensão em que estava prejudicando o prestígio dos Estados Unidos no exterior. Ele observou que a seriedade com que nossos vizinhos latinos estavam observando o caso girava não tanto em torno do destino de um indivíduo, mas em torno do caráter nacional do seu vizinho, supostamente mais avançado, do Norte. De acordo com o Sr. Herter, foram os Estados Unidos que foram julgados pelos povos da América do Sul.

Observe a tendência de longo prazo no afastamento da pena de morte. Na antiga Babilônia, por exemplo, sob as leis de Hamurabi, a pena de morte era administrada de forma indiscriminada. Mais tarde, no antigo Israel, a pena suprema foi definitivamente limitada a crimes específicos e a ideia do grau de culpa entrou na administração da justiça. Isso foi um avanço.

Se olharmos agora para a lei anglo-saxônica, descobriremos que no século XIII quase todos os crimes eram puníveis com a morte. No século XVIII, o número incontável foi reduzido para duzentos; em 1837 para quinze e, em 1861, apenas quatro. Porém a teoria da lei era mais severa do que sua prática. Das duzentas ofensas listadas, a pena nunca foi infligida a mais de vinte e cinco e, quando o número foi reduzido para quatro, em 1861, houve apenas duas aplicações, por assassinato e traição.

Essa variação entre a teoria e a prática na imposição da pena capital permanece verdadeira até hoje. Nos últimos anos, o número de execuções em nosso país caiu abruptamente. Ao longo de um período de anos, até 1950, havia uma média de cento e quarenta por ano. No ano passado, enquanto houve oito mil assassinatos, houve apenas quarenta execuções. O fato sóbrio é que o exame do Estado por aquilo que ele condena em um indivíduo está se tornando cada vez mais abominável. É cada vez mais pronunciado o sentimento de que se trata de um anacronismo, uma relíquia da barbárie que a essa altura já deveria ter sido superada.

Assim, teoria e prática nem sempre andam de mãos dadas. O coração nem sempre sanciona o que a Mente pode conceber. Uma abstração pode ser calmamente entretida, quando sua concretização real não pode ser suportada. Tem sido assim em relação à punição capital. Fornecê-la em um código legal é uma coisa; realizá-la na prática é outra e completamente diferente. Assim, acontece hoje que as leis relativas à pena de morte são mais frequentemente honradas na violação do que na observância.

Justificar a perpetuação da pena de morte porque ela foi ordenada para certos crimes na teocracia do antigo Israel é manter a letra que mata em vez do espírito que dá vida. O argumento não pode ser sustentado de maneira lógica. Nem mesmo o mais severo adepto da velha lei hebraica defenderia para o nosso tempo todo o código penal do antigo Israel. Por seus decretos, a pena de morte era obrigatória para assassinato, adultério, sequestro, blasfêmia, maldição contra o pai ou a mãe, incesto, estupro, profanação do sábado, idolatria, falta de castidade e bruxaria. Também foi imposta a pena de morte a um líder que se comprometeu a impedir as pessoas de seguirem o Senhor e um filho rebelde que se tornou um bêbado habitual foi condenado à morte. Além disso, está escrito: “Se um boi matar um homem ou uma mulher, o boi será morto; mas se o dono soubesse que o animal fosse feroz, então o dono será culpado e sujeito à pena de morte”.

Nem mesmo aqueles que insistem na aceitação e obediência a cada “jota e til” da lei, conforme encontrada tanto no Antigo como no Novo Testamento, aceitariam este código como adequado e correto para o nosso tempo. As condições exatas sob as quais surgiu não existem mais ou foram modificadas pelo avanço da civilização a ponto de tornar-se ilógica a conformidade literal com todas as suas especificações. Os fins almejados por este código não mudaram, mas os meios pelos quais eles podem ser melhor alcançados foram bastante alterados. As disposições da lei mosaica foram adaptadas às necessidades de um povo primitivo. Elas pertencem a outra era. Há muito tempo se tornou impensável aplicar a pena de morte para a maioria dos crimes e fraquezas que exigiam punições tão drásticas sob a lei mosaica. Poucas delas ainda permanecem nos livros de estatutos em qualquer lugar do mundo e se aproxima o tempo em que também serão eliminadas do código mortal.

É paradoxal que haja oposição à abolição da pena capital nos próprios quadrantes que naturalmente esperaríamos encontrar sua defesa mais ardente; a saber, dentro do próprio corpo do Cristianismo. Está em clara contradição com o verdadeiro espírito do Cristianismo, que fundamenta toda reforma humanitária e impulso altruísta. O espírito de Cristo é amor em ação. É um poder cósmico que opera na evolução da humanidade desde o início dos tempos e que “fez-se carne e habitou entre nós” na individualidade humano-divina que conhecemos como Cristo Jesus.

Quando a doutrina Cristã da simpatia, compaixão e perdão substituir as reações mais básicas de condenação e vingança, não haverá mais câmaras de tortura nem punição com a morte. Um código inferior de relações humanas terá dado lugar a um superior.

Argumentos baseados em estudos sobre as causas do crime, inclusive as da hereditariedade e do meio ambiente, têm sido suficientes para induzir os governos a aplicar a pena de morte a cada vez menos crimes, a ponto de aboli-la por completo. No entanto, os mais decisivos de todos os argumentos são aqueles fornecidos pela ciência psíquica e espiritual.

Os fatores ocultos confirmam a validade de todos os argumentos apresentados pelas descobertas no campo das ciências sociais e permitem ver outros de natureza mais convincente. Possui os fatos que mostram exatamente como a execução de criminosos não protege a sociedade de novas depredações e perigos morais, mas, na verdade, leva ao seu aumento.

Nenhum assunto ou problema pode ser imaginado em sua totalidade, se visto apenas em seus aspectos externos. A menos que o lado interno e vital da natureza também seja levado em consideração, as respostas e soluções completas e verdadeiras não serão alcançadas. O homem não vive sozinho em seu Corpo Denso nem neste mundo material externo. Como criatura espiritual, sua vida também está ligada aos planos supersensíveis do ser. O homem trabalha desajeitadamente à meia-luz apenas até que seus olhos sejam abertos para o que também ocorre casualmente sob a superfície da existência material. 

Do ponto de vista oculto, a pena capital é o pior meio possível de lidar com criminosos. Os resultados são exatamente opostos aos pretendidos. O criminoso não foi destruído; ele apenas foi privado de seu Corpo Denso. Como uma entidade consciente, ele sobrevive. Ele foi libertado. Seu caráter não mudou instantaneamente devido à transição. Se as propensões criminosas não foram corrigidas e superadas antes de sua execução, elas persistem depois de passar para o outro lado da vida. Lá, ele está livre para vagar à vontade nos níveis astrais e inferiores para os quais sua natureza maligna o atrai automaticamente e o mantém até o momento em que ele é espiritualmente reabilitado. Enquanto isso, está em posição de influenciar indivíduos psiquicamente negativos e criminalmente dispostos a cometer os crimes que ele poderia ter planejado executar, se não tivesse sido restringido por prisão e morte. Além disso, ele agora pode ter o desejo maligno e adicional de se vingar da sociedade em geral por tê-lo privado de seu tempo natural de vida.

Enquanto um ser humano estiver em seu Corpo Denso, ele pode ser confinado onde não pode fazer mal. Isso dá à sociedade a proteção que ela deve ter contra os irresponsáveis insanos e os criminosos malignos.

A prisão, em vez da execução, também dá ao criminoso a chance de se reabilitar ainda na encarnação, com o duplo benefício para o prisioneiro e para a sociedade: para o criminoso arrependido, antecipa e diminui a rápida e dolorosa experiência purgatorial que se segue à morte e, portanto, ajuda e acelera seu avanço em direção à vida regenerada e construtiva; para a sociedade, remove-se a ameaça de um espírito liberado do Corpo Denso que vai desabafar seu odioso rancor no mundo que deixou para trás.

À medida que a civilização avança, a vida se torna mais significativa, mais valorizada, mais reverentemente considerada. Nesta era de expansionismo, o ser humano começa a funcionar em novas dimensões, tanto interna quanto externamente. A consciência experimenta uma nova extensão. Isso acontece pela sua crescente percepção da maravilha, da beleza e da santidade da vida em qualquer forma que ela apareça. Uma comunidade inteira se reunirá, por exemplo, para salvar a vida de ovelhas ou do gado preso pela neve ou para resgatar um animal doméstico em perigo de perder a vida. Nem sempre foi assim. Testemunhe as lutas de gladiadores na Roma antiga como uma forma de entretenimento popular. Agora, as sensibilidades humanas não apenas superaram essas exibições desumanas, mas quase que universalmente proibiram esportes brutais como a luta de touros e similares, por serem desmoralizantes demais para serem tolerados.

Embora os povos ocidentais não possam reivindicar um grande avanço na criação de uma cultura e civilização que incorporem, na prática, os preceitos e princípios enunciados no Sermão da Montanha, eles são o que o falecido filósofo alemão, Conde Herman Keyserling, chamou de “cristãos biológicos”. Em outras palavras, foram implantadas nas nações Cristãs as sementes da ética Cristã que têm, em si, o poder de crescimento que, na longa passagem dos séculos, pode ser observado em brotos novos que prometem desenvolver-se algum dia naquelas árvores frutíferas e celestiais, ao lado das águas da vida em uma terra regenerada, como imaginado por São João.

Dr. Schweitzer, cujas realizações práticas, poderes intelectuais, realizações culturais e visão espiritual se combinam para elevá-lo a uma eminência da qual brilha uma luz que adiciona fulgor à época em que ele vive, estava em busca de uma ética absoluta que, se totalmente compreendida e aplicada fielmente, daria à humanidade um conceito, uma verdade, um poder pelo qual poderia acelerar enormemente o desenvolvimento de sua natureza superior. Aquilo que ele buscava, ele nos diz, foi encontrado em um momento de iluminação interior. A resposta veio em palavras simples: Reverência pela Vida.

Essa frase, com tudo o que ela implica de forma ética, filosófica e espiritual, é o dom supremo de Schweitzer para a humanidade. Figura mundial que ele é, o conceito cunhado por essas palavras simples, Reverência pela Vida, encontrou ampla aceitação por seu conteúdo espiritual e idealismo corporificado. Um certo poder mágico se liga a tais declarações simples de verdades básicas que inevitavelmente passam a exercer influência transformadora sobre todos os que as ouvem e atendem. De poucos, essa influência se espalha para muitos até que se filtre consciente e inconscientemente na Mente coletiva. A partir das impressões assim recebidas de cima, as forças evolucionárias estão trabalhando para elevar gradualmente o corpo coletivo da humanidade e incutir nele a compreensão e a compaixão que acabarão por trazer uma mudança de atitude, por parte do Estado e da sociedade humana em geral, em relação a malfeitores em seu meio. O esforço será para curar, em vez de punir, para redimir em vez de retaliar. Não haverá como perdoar a tomada daquilo que só Deus pode dar, uma vida humana.

A pena de morte está desaparecendo. A vida, não a morte, detém a última palavra.

(de Theodore Heline – Publicado na New Age Interpreter de abril-maio-junho de 1960 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Novas Perspectivas: a Natureza como um Conceito Religioso

Vamos considerar a natureza como um conceito religioso. A Religião é o reconhecimento dos limites da competência humana na presença do incognoscível e do incontrolável, diante do qual todos os seres humanos ficam maravilhados. A natureza também. Como o incognoscível e sagrado, ela existe, existam ou não os humanos. Ela preexiste aos humanos. Portanto, devemos conceber a natureza como parte da nossa vida religiosa. A religião admite que nós, humanos, não somos mestres do universo; nem mesmo somos mestres da Terra. Em vez disso, somos coabitantes deste planeta, junto a uma multidão de outras criaturas e não podemos nem mesmo sonhar em controlá-lo.

Se não podemos controlar a Terra, então certamente não podemos controlar a natureza. Está essencialmente fora de controle. Ela pode ter sido abusada, sua vegetação destruída, seus animais quase extintos; contudo, depois de restaurá-la à saúde e enquanto continuarmos a administrar a maneira como as pessoas agem sobre ela, devemos deixar a própria natureza em paz. Natureza é o que não comandamos. A natureza selvagem é aquilo que está além da ansiosa autoafirmação dos humanos. É a metáfora desse vasto universo que, quando oramos, reconhecemos estar além da nossa compreensão.

A natureza é um conceito religioso porque exige nossa reverência e porque é uma ideia profundamente séria. Religião deve ser aquilo que levamos mais a sério. O que poderia ser mais sério do que uma resposta admirada ao desconhecido e incontrolável? O que é mais sério do que a reverência pela saúde da Terra? Além disso, a legislação da natureza é um reconhecimento dos nossos pecados — nossas delinquências como administradores das porções da terra selvagem sobre as quais presumimos assumir o controle — e da nossa responsabilidade de manter, restaurar e preservar o que ainda não corrompemos.

Cumprir nossa sagrada responsabilidade de reverenciar e proteger a natureza é uma tarefa muito grande para ser deixada apenas para a comunidade conservacionista. Se há algo em que todos os conservacionistas podem concordar, é que não somos o suficiente. Embora cada um de nós acredite ser uma multidão, juntas, nossas fileiras permanecem muito pequenas para alcançarmos a proteção da terra e dos lugares reverenciados pelos humanos, que é a nossa tarefa.

Todos nós estamos tentando muito; nenhum de nós recebe agradecimentos suficientes e não há o suficiente de nós. Devemos trazer novos recrutas para a causa, começando com um grupo de concidadãos que, à sua maneira, fizeram parte da nossa aliança o tempo todo; mas não ouviram muito de nós em termos de convite. Esses aliados naturais são, creio eu, as pessoas religiosas. O conceito central de vida religiosa é o mesmo que o conceito central de preservação da natureza. Esse conceito é um sentido de escala, de escala humana, na presença de coisas e assuntos maiores. Somos menos do que Deus; menos importantes, menos amplos, menos conhecedores.

As pessoas religiosas falam de si mesmas como humildes, na presença de Deus. Mesmo o mais secular dos conservacionistas admitiria, eu suponho, que muitas vezes se sente humilhado na presença da natureza — uma parte do mundo de Deus com seus dons maravilhosos. Esse sentimento vai além da reverência. A maioria das pessoas religiosas pensa no universo como intencional, uma Criação — não necessariamente feito de uma vez nem construído em apenas uma semana; mas intencional. Portanto, todas as suas partes têm valor, todas as suas espécies, todas as suas montanhas, águas, campos e oceanos. Os humanos, na tradição religiosa, não são as únicas espécies significantes na Terra. Nossos pomares, fazendas, bosques, vilas e cidades não são os únicos lugares dignos de respeito. Toda a criação é digna de respeito.

Reconhecemos que de fora de qualquer uma das nossas armadilhas, alçapões ou jaulas existem formas de vida que merecem nosso respeito. A natureza coloca tudo isso em um mapa. Suas fronteiras, grilhões e travas são limites para a pretensão humana, limites facilmente compreendidos e aceitos pelos religiosos, porque só afirmam na geografia o que foi afirmado desde o início na teologia. Em teologia, é dito que, além das fronteiras do conhecido, há um domínio negado à ciência, à história, a todo o aparato comum do conhecimento. Na geografia da natureza, afirma-se que, quando chegarmos à sua borda, podemos saber algo do que está além; no entanto, não devemos cruzar essa fronteira com a intenção de controlá-la.

Embora normalmente não façamos a genuflexão, ao passar por uma placa rotulada “área selvagem”, não seria estranho se o fizéssemos. A selva é um lugar, mas também é um mistério, um mistério profundo. É mais do que um pool genético, é um fundo de verdades insondáveis. Somos constantemente surpreendidos pela vida em formas inesperadas. Quando micróbios novos para nós, mas conhecidos por eles mesmos há milhões de anos, são repentinamente descobertos por nós, não é seu valor monetário o mais significativo, mas o religioso: embutido neles está o mistério da vida, em suas afirmações perpetuamente mutáveis, infinitamente diversas. Ser culpado de extinguir a vida por meio de intromissão descuidada ou tola é um tipo de pecado contra o qual devemos estar alertas.

Outro pecado com o qual se deve ter cuidado é não permitir espaço suficiente para o desconhecido florescer, de modo que possa se realizar. Nossa espécie orgulhosa, obstinada, muitas vezes descuidada e tola, está aprendendo o tempo todo quão pouco ela realmente sabe, quão pouco ela controla. Todos os elementos essenciais da vida — nascimento, morte, sacramentos — são intrusões do desconhecido e do essencialmente imprevisível em nossas vidas bem planejadas, escrupulosamente administradas e bem cuidadas. As áreas selvagens não são grandes zoológicos; nós é que estamos nos zoológicos. As áreas selvagens estão fora dos zoológicos. É por isso que devem ser grandes o suficiente para permitir toda a gama de vida dentro delas.

A natureza selvagem é necessária para nós, biologicamente. É necessária para nós, espiritualmente. Também é necessária para nós, psicologicamente, cada vez mais; e essa necessidade tem um caráter religioso. A natureza selvagem é uma espécie de sábado sagrado, físico e geográfico. Nela podemos encontrar a solução para as consequências da nossa má administração em outros lugares, do que fizemos ao mundo e a nós mesmos durante “o resto da semana”.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de novembro-dezembro/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Significado dos Mitos

Max Heindel afirmou que o mito foi o recurso utilizado pelos Divinos Líderes da humanidade para orientá-la em sua infância espiritual. O vocábulo mito origina-se do grego Mythos que quer dizer relato. É um relato em linguagem simbólica capaz de projetar os arquétipos de verdades espirituais na consciência humana. Em sua obra “Mistérios das Grandes Óperas”, Max Heindel revela o significado oculto de vários mitos oriundos da Europa setentrional.

Os mitos confundem-se com as próprias religiões. Todas as grandes religiões mediterrâneas e asiáticas possuem sua mitologia. A Bíblia, tanto quanto outros livros sagrados, contém mitos.

Os mitos contam histórias sagradas, fatos ocorridos em tempos imemoriais. Relatam como, graças aos Seres sobrenaturais, uma realidade passou a existir, como algo começou a ser. São, geralmente, uma narrativa de uma criação, seja do Cosmos, seja de uma cultura, de uma nação ou de um comportamento. Explicam não apenas a origem do mundo, dos animais, das plantas e da humanidade, mas também de todos os acontecimentos através dos quais o ser humano converteu-se no que é hoje.

Como os mitos transmitem arquétipos de verdades cósmicas, é comum encontrarmos o mesmo relato em civilizações e religiões diferentes que se desenvolveram em épocas distintas e locais bem diferentes uns dos outros. É o caso do mito da Sagrada Família. O mesmo enredo da história cristã de Maria, José e Jesus se repete em tempos e épocas diferentes. Na antiga religião egípcia fala-se do salvador, o deus sol Horus, filho de Isis (uma virgem) e Osiris, Semiramis com Tammuz. No norte da Europa, Baldur (ou Balder), filho da virgem Freya (Frigga), nasce entre animais, numa estrebaria, sendo conduzido às montanhas para fugir dos perigos que o ameaçavam. Saga idêntica é a de Krishna, na Índia e Quetzacol entre os astecas, na América pré-colombiana.

São muito comuns, também, entre várias civilizações, os mitos do “fim do mundo”. A Bíblia fala de Noé e de como ele sobreviveu ao Dilúvio. Em outras culturas o mundo foi destruído por um cataclismo e a humanidade aniquilada, com exceção de um casal ou de alguns sobreviventes. Esses mitos transmitem a ideia de que o mundo deve ser tanto quanto devemos recriá-lo e regenerá-lo ciclicamente. Mostram o final de um ciclo já exaurido em suas possibilidades evolutivas e o início de um novo, com lições inéditas para todos nós. Essa ideia de que o Cosmos encontra-se ameaçado se não for recriado inspirava a principal festividade dos índios californianos.

A função do mito é de revelar arquétipos, dando significado ao mundo e à existência humana, mostrando também a sacralidade inerente a todas as coisas.

A verdade é que a vinda do Cristo se constituiu no único e maior evento na história espiritual da humanidade. Todos os mitos, lendas e vidas de seres humanos de poder espiritual que precederam a Cristo serviram para preparar a consciência humana para aquele evento; apenas anteciparam um vislumbre daquilo que viria.

Em Cristo temos aquilo que foi enunciado; temos a realização daquilo que foi preparado. Em Cristo Jesus temos a verdadeira presença de Deus na Terra; a presença do Criador em Sua Criação. Todos os que vieram antes foram apenas Seus servidores. Todos os que vierem depois, seguirão Suas pegadas.

Portanto, se somos capazes de perceber corretamente isso dentro de nós mesmos, reconhecemos que certos mitos, lendas e vidas de seres humanos de poder espiritual prepararam o ser humano para entender essa verdade: “que ante o nome de Jesus Cristo todo joelho se dobra e toda boca deve confessar que Jesus Cristo é o Senhor, para a Glória de Deus Pai.

(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz em São Paulo – SP – setembro-outubro/1993)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pensando nas estrelas

Quem pode contemplar a majestade dos céus sem que sua intuição lhe diga que existe um Deus de cujo poder, todo ser humano e toda constelação dependem totalmente para preservação e segurança?

O céu noturno com sua pompa de estrelas é um espetáculo que convida o observador a se contemplar, revelando a ele um pouco da sabedoria oculta que o indica ser tão grande e duradouro quanto todas as legiões da Via Láctea.

Quão imponentes são os céus salpicados de sóis flamejantes — Sirius, Arcturus, Vega, Capella, Rigel, Procyon, Betelgeuse, Altlair, Aldebaran, Spica, Pollux e Deneb e sua miríade de companheiros.

Como são belos os céus, brilhando com as constelações velozes — Andrômeda, Cassiopeia, Corona Borealis e seus numerosos parentes.

No entanto, o ser humano, um pigmeu microcósmico, é uma contraparte deles, pois ele é um universo vivo tão impressionante quanto o universo físico em que vive. Assim como é em cima, é embaixo!

Os problemas humanos perdem um pouco do seu volume, quando ficamos uma hora tranquila em comunhão com as estrelas. Experimente!

A fria indiferença delas mostra um gracioso conforto e uma garantia tranquila de que estará tudo bem conosco, assim como estará com elas.

Por todos os meios, leia a literatura celestial, porque esse estudo inspirador enriquece nossa reverência por Deus, o criador, e aumenta nossa benevolência para com a humanidade.

(Publicado na revista Rays from the Rose Cross de novembro-dezembro/1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Educando Nossos Filhos (naturais ou espirituais) dos 14 aos 21 Anos

Quando acompanhamos o Espírito humano através de um Ciclo de Vida, do nascimento à morte e dessa ao renascimento, podemos ver quão imutável é a lei que governa cada um dos seus passos e quão rodeado ele se encontra pelo mais amoroso desvelo dos grandes e gloriosos Seres que são os ministros de Deus. Esse conhecimento é da máxima importância para os pais, já que uma boa compreensão do desenvolvimento que se efetua em cada período setenário capacita-os a trabalharem inteligentemente com a Natureza, podendo conquistar mais confiança do que aqueles pais que desconhecem os Ensinamentos dos Mistérios Rosacruzes.

O Corpo de Desejos é uma aquisição ainda mais recente do ser humano composto e só nasce em torno dos quatorze anos, na puberdade, enquanto a Mente só nasce em torno dos vinte e um anos, idade em que a lei reconhece e fixa a maioridade do indivíduo.

As tendências para a criança ser tentada em praticar o mal, de modo geral, não se manifesta até que o Corpo de Desejos nasça e suas correntes comecem a jorrar para fora do fígado. Essa é a época em que sentimentos e paixões começam a exercer domínio sobre o rapaz ou a moça, quando a matriz da matéria de desejos que protegia o nascente Corpo de Desejos é removida. Quando os desejos e emoções são libertados, o adolescente atinge o período mais perigoso de sua vida, aquele do ardor da juventude, entre os quatorze e os vinte e um anos. O Corpo de Desejos está, então, desenfreado e a Mente, como ainda não nasceu não pode atuar como um freio.

Nos seus primeiros anos de vida, a criança vê-se como uma propriedade de sua família, ela está subordinada aos desejos de seus pais e em maior grau do que após os quatorze anos. O motivo é que existe na garganta do feto e da criança uma glândula chamada Timo, a qual, sendo maior antes do nascimento, vai diminuindo de tamanho através dos anos da infância até desaparecer numa idade que varia de acordo com as características da criança. A finalidade desse órgão no corpo humano tem intrigado os anatomistas, que ainda não chegaram a um acordo sobre o seu verdadeiro papel. Supõem, contudo, que antes do desenvolvimento da medula dos ossos, a criança não é capaz de produzir seu próprio sangue e, portanto, a glândula Timo, contendo a essência fornecida pelos pais, responde pelo fabrico do sangue necessário desde os primeiros anos até a idade em que ela, já adolescente, possa produzi-lo por si mesma como parte da família e não como Ego. Mas a partir do momento em que passa a fabricar seu próprio sangue, o Ego inicia sua autoafirmação. Deixa então de ser “o menininho da mamãe” ou “a menininha do papai”, e passa a ter sua própria identidade. Chega então à idade crítica em que os pais começam a colher o que semearam. A Mente ainda não nasceu; nada mais consegue deter a natureza de desejos; e tudo passa, pois, a depender dos exemplos ministrados por eles ao adolescente em seus primeiros anos de vida. Nesse período, a fase da autoafirmação, o sentimento de “Eu sou eu” é mais forte do que em qualquer outra idade e, portanto, as ordens autoritárias devem ceder lugar a conselhos. É o tempo em que devemos ensiná-lo a investigar as coisas por conta própria e desse modo fazê-lo formar opiniões individuais a respeito. Procuremos gravar sempre nele a necessidade de investigar cuidadosamente antes de julgar e, também, o fato de que quanto mais fluídicas ele puder conservar suas opiniões, mais capacitado estará também para examinar novas ideias e adquirir novos conhecimentos.

Reafirmamos isso porque tão logo a criança alcance a puberdade e comece a produzir seus próprios corpúsculos de sangue, então ouvimos a menina ou o menino dizer: “Eu” quero fazer isto ou “Eu” quero fazer aquilo. Daí por diante as crianças começam a afirmar sua própria identidade e começam a emancipar-se da família. Através dos anos da infância, tanto o sangue, como o corpo, sendo uma herança dos pais, fazem com que as tendências para as doenças também estejam presentes. Não as doenças propriamente, mas apenas as tendências. Após os quatorze anos fica dependendo, em grande parte, do próprio Ego, a manifestação ou não dessas tendências em sua vida.

Na maioria das vezes esse é um período de provas, que não chega a ser tão difícil para o jovem que aprendeu a reverenciar seus pais ou mestres, pois esses podem, então, ser para ele uma âncora de apoio contra a erupção de seus sentimentos. Se ele se habituou a confiar na palavra dos mais velhos, e esses sempre lhe deram ensinamentos sábios, ele terá desenvolvido um inerente senso da verdade que o guiará com segurança. Porém, na mesma medida, se houve falha nisso, poderá estar sujeito a situações perigosas.

Assim, durante o período da adolescência os pais precisam ser tolerantes ao máximo, pois em nenhuma outra época o ser humano necessita tanto de simpatia quanto nos 7 anos que medeiam os 14 e os 21 anos, quando a natureza de desejos é irreprimível.

Para o adolescente que foi educado desde criança segundo os princípios de educação Rosacruz expressos pelos métodos resumidos de dos zero aos sete anos (veja mais detalhes aqui: https://fraternidaderosacruz.com/educando-nossos-filhos-naturais-ou-espirituais-dos-0-aos-7-anos/) os dois lemas que se aplicam nesse período são um para os pais e outro para a criança: Exemplo e Imitação; e dos sete aos quatorze anos (veja mais detalhes aqui: https://fraternidaderosacruz.com/educando-nossos-filhos-naturais-ou-espirituais-dos-7-aos-14-anos/): Autoridade e Aprendizado, esse período não será tão crítico, uma vez que seus pais podem, então, significar o amparo que ele precisa para superar os obstáculos próprios dessa fase até a maioridade, quando nasce a Mente.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Educando Nossos Filhos (naturais ou espirituais) dos 7 aos 14 Anos

Educando Nossos Filhos (naturais ou espirituais) dos 7 aos 14 Anos

Nos períodos setenários em torno dos sete aos catorze anos e dos catorze  aos vinte um anos os veículos invisíveis Corpo de Desejos e Mente, respectivamente, se encontram ainda no útero da Mãe Natureza.

Nos seus primeiros anos de vida, a criança vê-se como uma propriedade de sua família, ela está subordinada aos desejos de seus pais e em maior grau do que após os quatorze anos. O motivo é que existe na garganta do feto e da criança uma glândula chamada Timo, a qual, sendo maior antes do nascimento, vai diminuindo de tamanho através dos anos da infância até desaparecer numa idade que varia de acordo com as características da criança. A finalidade desse órgão no corpo humano tem intrigado os anatomistas, que ainda não chegaram a um acordo sobre o seu verdadeiro papel. Supõem, contudo que antes do desenvolvimento da medula dos ossos, a criança não é capaz de produzir seu próprio sangue e, portanto, a glândula Timo, contendo a essência fornecida pelos pais, responde pelo fabrico do sangue necessário desde os primeiros anos até a idade em que ela, já adolescente, possa produzi-lo por si mesma como parte da família e não como Ego. Durante esse período, até o entorno dos catorze anos, ele é  “o menininho da mamãe” ou “a menininha do papai”,  “o menininho do papai” ou “a menininha da mamãe”.

Por volta dos sete anos, o Corpo Vital da criança alcança a suficiente perfeição que lhe permite receber os impactos do Mundo externo. Estendendo sua capa protetora de Éter sobre o Corpo Denso, começa então a viver independentemente. É aí que deve começar o trabalho do educador sobre o Corpo Vital, auxiliando-o na formação da memória, da consciência, dos bons hábitos, e de um temperamento harmonioso.

Autoridade e Aprendizado passam a ser as palavras chave dessa época em que a criança vai aprender o significado das coisas. Se temos um filho precoce, procuremos não estimulá-lo a cursos que exijam esforços mentais extremos. Criança-prodígio, geralmente, vêm a ser homens e mulheres de inteligência abaixo do normal. Neste particular deve-se permitir à criança seguir as suas próprias inclinações. Sua faculdade de observação precisa ser ensinada especialmente através dos exemplos. Mostre à criança uma pessoa embriagada e também o vício que a deixou em tão lastimável estado. Em seguida, mostre-lhe uma pessoa sóbria, e apresente-lhe ideias elevadas.

Neste período pode-se começar a prepará-la para economizar a força que principia a despertar em si, e que vai capacitá-la a reproduzir a espécie ao fim do segundo período de sete anos. Que ela nunca busque se informar a esse respeito através de fontes duvidosas porque seus pais, muitas vezes, tolhidos por um falso senso de pudor, evitam esclarecê-la devidamente. É dever do educador (pai e mãe ou o responsável pela criança) o esclarecimento apropriado da criança. A omissão nesse ponto equivale a deixá-la cruzar de olhos vendados uma área cheia de armadilhas, com advertência de não tropeçar nelas. Ora, ao menos tirem-lhe a venda. Ela já terá dificuldades suficientes mesmo sem ela.

A flor pode servir como lição objetiva, e todas as crianças, das maiores às menores, devem receber as mais belas instruções em forma de um conto de fadas. Pode-se ensiná-las que as flores são como as famílias, sem precisar confundi-las com termos de botânica. Mostrem-lhes então algumas flores, dizendo: “Aqui está uma família-flor em que todos são meninos (as estaminas); e aqui está uma outra onde estão meninos e meninas (uma flor que tem tanto estames como pistilos). Mostrem-lhes o pólen nas anteras. Digam-lhes que estas flores são idênticas aos meninos nas famílias humanas; que são destinados e estão sempre desejosos de sair pelo Mundo afora e lutar na batalha da vida. Mostrem-lhes as abelhas com as cestas de pólen em suas pernas e contem-lhes como os meninos-flores cavalgam nesses corcéis alados, tal como os cavaleiros de antanho iam pelo Mundo em busca da princesa aprisionada no castelo encantado (o óvulo oculto no pistilo); mostrem-lhes também como o polensinho – cada cavaleiro – abre caminho através do pistilo até alcançar o óvulo. Digam-lhes, então que esse encontro significa o casamento da flor-homem com a flor-mulher, os quais daí em diante viverão felizes e se tornarão pais de muitas flores-meninos e flores-meninas. Quando elas compreenderem isto perfeitamente, estarão também sabendo bastante sobre o acasalamento nos reinos animal e humano, uma vez que não existe diferença, pois a geração em um reino é tão casta, pura e santa quanto nos outros. A criança educada desta maneira sempre olhará a função criadora com reverência. Cremos que não há melhor modo de introduzi-la no assunto.

Esta narrativa pode variar e ser enriquecida de acordo com a fantasia do educador, como ainda pode ser suplementada por histórias de pássaros e outros animais. Isto despertará na criança a compreensão da origem do seu próprio corpo e emprestará ao amor mútuo dos pais todo o romantismo das flores-meninos e flores-meninas, além de prevenir o mais leve pensamento de repulsa associado ao parto, que possa surgir na Mente da criança. Quando assim preparada, ela estará pronta para o nascimento do Corpo de Desejos, na ocasião da puberdade.

No entanto, para que a criança possa melhor colher os benefícios da orientação e ensino dos seus pais e de seus mestres, é fora de dúvida que precisará tê-los na maior veneração e sentir admiração por sua sabedoria. Cabe a nós, portanto, conduzir-nos à altura desse conceito, pois se ela observa em nós frivolidade, ouve conversas levianas e presencia algum comportamento duvidoso, privamo-la do mais forte apoio na vida que é a fé e a confiança em seus semelhantes. É nesta idade que se forjam os cínicos e céticos. Somos responsáveis perante Deus pelas vidas a nós confiadas, e teremos de responder perante a Lei de Consequência por termos negligenciado a grande oportunidade de guiar os primeiros passos de um ser no caminho certo. O exemplo é sempre melhor do que um conselho.

Há também a considerar a questão dos castigos corporais, os quais são importantes fatores no despertar da natureza sexual e assim este castigo deve ser totalmente evitado. É um crime infligir castigos corporais à criança, seja qual for sua idade. A força nunca foi um direito, e os pais e responsáveis, como os mais fortes, sempre devem ter compaixão pelo débil. Não há criança, por mais indócil que seja, que não reaja ao método de recompensa pelas boas ações e à supressão de privilégios como consequência da desobediência. Coloquemo-nos no lugar de uma criança: gostaríamos de viver agora com alguém de cuja autoridade não pudéssemos escapar, que fosse muito maior do que nós, e que nos batesse quase todos os dias? Ponhamos de lado essa prática, e notaremos que muitos dos males sociais desaparecerão em uma geração. Reconhecemos o fato de que o chicote dobra o espírito de um cão, ao mesmo tempo que deploramos os indivíduos sem fibra e de vontade fraca. Deve-se isto aos açoites impiedosos a que foram submetidos na infância. É deplorável que certos pais e responsáveis considerem como sua missão na vida quebrantar o espírito de seus filhos e filhas pela lei da vara. Como pais e responsáveis podemos e devemos orientar e sanar o mal guiando a vontade dos nossos filhos e das nossas filhas por linhas que a nossa própria razão amadurecida possa indicar. Deste modo ajudamo a eles e a elas a cultivar a fortaleza de caráter, ao invés da fraqueza e subserviência, que infortunadamente afligem muitos de nós. Por conseguinte, nunca bata numa criança. Quando a correção se fizer necessária, retire uma concessão ou suspenda um privilégio.

Agora um método para orientar os passos dos nossos filhos e das nossas filhas no caminho do bem agir, especialmente nesse período setenário dos sete aos catorze anos. Temos observado que o melhor é não notar as faltas menores, mesmo aquelas que consideramos ofensivas, ainda que ocasionalmente possamos insinuar, “Eu não faria isto, ou aquilo”; “Meninas bonitas não fazem isto ou aquilo”; “Você não vai querer que os outros pensem que você não é um garato bonzinho”. “papai do céu não gosta de criança levada”. Se vocês não derem liberdade à criança e não levarem em conta o fato de que os Éteres do Corpo Vital ainda não estão totalmente despertos durante esse período, vocês se equivocarão. O Corpo Vital é o veículo do hábito, portanto, a criança cria um hábito após outro, mas abandona os velhos quase tão rapidamente quanto se formam os novos.

Com isto em mente, vocês devem deixar de corrigir sua filha a todo instante, o que diminuirá o respeito dela por vocês, de modo que, quando tiverem de exigir-lhes obediência em coisas verdadeiramente importantes que ele a deve seguir para seu bem, vocês, por certo, não serão ouvidos. É importante saber do que ela mais gosta em relação a alimentos, brincadeiras, vestidos e também diversões fora de casa e, assim, podem começar a por em prática, suavemente a princípio, e aumentando gradativamente, este processo que vou tentar explicar-lhes, até que o objetivo em vista seja alcançado.

Nunca se priva uma criança em crescimento do seu alimento regular, porém, neste caso, seu prato pode ser-lhe entregue sem o acompanhamento esperado. Assim o “Suplício de Tântalo” é perfeitamente válido, isto é, tragam as sobremesas e deixem-na ver a mamãe e o papai saboreá-las e dizerem como são deliciosas, e também ver que estas coisas estão-lhe sendo negadas por ela não concordar em obedecê-los. Pensamos ser este um dos métodos mais eficazes para conseguir obediência. Se a menina gosta de roupas bonitas e tem um vestido que ache feio, façam-na usá-lo sempre que desobedecer. Assim vestida ela não desejará sair e ser vista pelas companheiras. E, se sair, logo será descoberto o motivo por que está vestida assim. Então, com aquela costumeira crueldade infantil, a criançada zombará da rebeldezinha que, por certo, receia mais esse tratamento do que qualquer coisa que mamãe possa fazer-lhe. Deste modo, a pressão exercida bem cedo poderá forçá-la à obediência resultando, talvez, em um pedido para que vocês livrem-na daquele vestido.

Existem vários outros métodos, dentro desta mesma diretriz, que poderão ocorrer aos pais. Tais corretivos, entretanto, só devem ser usados muito raramente e como último recurso, caso contrário, a criança poderá tornar-se insensível aos mesmos.

Em geral, ponderações sobre o amor filial e o reconhecimento do carinho com que os pais a cercam, fazendo-a compreender o objetivo da educação, é quanto basta para ajudá-la a ter uma conduta correta.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Educando Nossos Filhos (naturais ou espirituais) dos 0 aos 7 Anos

Educando Nossos Filhos (naturais ou espirituais) dos 0 aos 7 Anos

Um dos mais embaraçadores assuntos no aconselhamento educacional é o fato de que, na grande parte das vezes, são os pais da criança que necessitam de uma reformulação na maneira de ser e viver, pois o comportamento indesejável da criança nada mais é do que o reflexo de maus exemplos, descontroles e falta de harmonia na família.

Max Heindel quando tratou da educação das crianças, à luz dos Ensinamentos Rosacruzes, afirmou “Não há sob o céu um ser tão imitador quanto uma criança pequena, e sua conduta nos anos posteriores dependerá, em muito, do exemplo dado por seus pais na primeira infância (dos 0 aos 7 anos). Não adianta dizer a uma criança ’não faça isso’. Ela não tem uma Mente para discernir, mas segue sua tendência natural, como a água que corre por uma vertente abaixo. Portanto, os pais devem se lembrar sempre, de manhã até à noite, de que há uns olhos vigilantes pousados sobre eles, para fazer tudo quanto eles façam, seguir seus exemplos”.

Isso porque o Corpo Vital, por ser uma aquisição mais recente do ser humano, não nasce no mesmo momento que nasce o Corpo Denso, quando aqui renascemos mais uma vez. Consequentemente, demanda mais tempo construí-lo servindo-se de materiais ainda não utilizados no revestimento do arquétipo, e ele não nasce antes dos sete anos, em torno da época da segunda dentição.

Assim, as crianças cuja infância transcorre num ambiente harmonioso – em que os pais e demais familiares mantêm um relacionamento carinhoso e respeitoso, em que hábitos de vida (alimentação, lazer, trabalho, etc.) são pautados em normas de moral e moderação – terão maiores e melhores possibilidades de se desenvolver sem distorções físicas e intelectuais.

No tocante aos alimentos, grande cuidado precisa ser tomado nessa fase, pois um apetite normal ou exagerado nos anos seguintes dependerá de como a criança foi alimentada no primeiro período setenário. Aqui, também, o exemplo é o melhor mestre. Pratos excessivamente condimentados prejudicam o organismo. Quanto mais simples for o alimento, quanto mais aproveitado for pela mastigação, mais o apetite se tornará saudável, o que norteará o ser humano através da vida, proporcionando-lhe um corpo sadio e uma Mente sã, fatos que o glutão desconhece. Contudo, não façamos para nós um prato e outro diferente para nosso filho. Podemos impedir que ele coma certos alimentos em casa, mas despertamos nele um secreto desejo pelo alimento proibido e cuja satisfação buscará quando tiver idade suficiente para ter vontade própria. Aí sua capacidade de imitação prevalecerá. Compete, portanto, a cada pai e a cada mãe lembrarem-se, do princípio ao fim do dia, que olhos vigilantes nos seguem o tempo todo, esperando que ajam para lhes imitar o exemplo.

Quanto às roupas, certifiquemo-nos de que sejam sempre folgadas, para não irritarem a criança. Muito da natureza imoral que estraga uma vida tem sido primeiramente despertada pelas fricções das roupas demasiadamente apertadas, particularmente no caso dos meninos. A imoralidade é um dos piores e mais persistentes males que mancham a nossa civilização.

É preciso, também, lembrar da inutilidade dos castigos físicos em qualquer etapa do desenvolvimento do educando. Os pais nada conseguirão além de demonstrar a eles que são mais fortes e sem compaixão para com os mais fracos. Outro perigo na aplicação dos castigos corporais em jovens poderá despertar a natureza passional que, geralmente, está fora do controle dos jovens em crescimento.

Com relação à educação do temperamento, sabemos que as cores assumem aqui a maior importância, e sabemos também que o assunto envolve não somente o conhecimento do efeito das cores, mas particularmente o efeito das cores complementares, pois são essas que atuam no organismo da criança.

Esse conhecimento é da máxima importância para os pais, já que uma boa compreensão do desenvolvimento que se efetua em cada período setenário capacita-os a trabalharem inteligentemente com a Natureza, podendo conquistar mais confiança do que aqueles pais que desconhecem os Ensinamentos dos Mistérios Rosacruzes.

(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz-São Paulo-SP de julho-agosto/1991)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Como tornar-se Alguém

Como tornar-se Alguém

Faz mais de cem anos, em 1859, uma organização bancária suíça elaborou um fantástico plano de construir uma grande cadeia de moinhos farinheiros na região tritícola da Argélia. Essa empresa pensava abastecer de farinha todas as panificadoras da França. Era um plano atrevido, cujo êxito dependia da aprovação de Napoleão III. Um dos membros da firma, Jean-Henri Dunant, jovem de êxito e talento, de 30 anos de idade, foi designado para avistar-se com o imperador. Napoleão, entretanto, não se achava em Paris, mas em viagem para encontrar-se com o rei da Sardenha, para prestar-lhe auxílio em sua luta para expulsar os austríacos da Itália. Assim, Dunant tomou uma carruagem e foi em busca do imperador.

Duas semanas mais tarde chegou ao alto de uma colina, do qual se divisava a planície de Solferino, no Piemonte. Ali viu alguma coisa que jamais pôde esquecer. Os exércitos francês e austríaco estavam alinhados para se darem combate. Repentinamente, soou uma trombeta através do ar claro da manhã, espocavam os mosquetões, rugiram os canhões e as duas massas de homens correram ao encontro uma da outra e se confundiram em um caos de sangue. Quando o último eco de canhão se desfez, quarenta mil homens, entre mortos e feridos, cobriam o campo de batalha. Dunant permaneceu sentado ali contemplando por horas a cena hipnotizado pelo horror.

Ao entardecer, desceu tropeçando até a aldeia, onde as igrejas, as casas e toda espécie de prédio em que havia um teto, estavam sendo usados como hospital de sangue. Quando passava em frente a uma igreja, na qual se atendiam os feridos, saiu de seu estupor ao ver que dois prisioneiros feridos eram lançados fora do edifício. Involuntariamente gritou: “Não façam esta barbaridade. Somos todos irmãos!”. Seu grito atraiu a atenção dos espectadores e logo ele organizou os trabalhos de primeiros socorros. Movido por uma febril compaixão, o banqueiro trabalhou pelos feridos e moribundos durante três dias e três noites. Durante essas horas aconteceu alguma coisa com Jean-Henri Dunant  que lhe mudou a vida inteiramente.

Ao estar de volta aos tranquilos corredores de seu banco, um forte interesse pela paz e uma piedade pelos desamparados estavam como que a arder dentro dele. Nem ele próprio nem o mundo podiam ver então o alcance de sua ideia, pois foi ele o germe da Cruz Vermelha Internacional.

Durante anos Dunant viajou de uma capital para outra às próprias custas, falando e lutando em favor da paz entre as nações. Foi recebido e honrado por todas as famílias reais, e na primeira conferência de Genebra foi o homem que condenou acerbamente a crueldade das guerras. Aí se chegou a um acordo internacional sobre o comportamento dos exércitos em luta acerca do uso de determinados instrumentos de guerra e o tratamento de prisioneiros o que, com algumas modificações, ainda permanece em vigor.

Por esse tempo, entretanto, Dunant havia gastado sua fortuna e perdido sua posição no mundo financeiro. Foi a Paris e ali viveu praticamente nas ruas, dormindo nas salas de espera das estações de estradas de ferro e comendo onde podia. Suas finas camisas de linho se rasgaram e acabaram; seus sapatos reduziram-se a refugos; e, quando ele procurava falar a respeito da Cruz Vermelha, as pessoas o evitavam. Dessa maneira, foi esquecido do cenário, assim permanecendo por 15 anos. Finalmente, um jornalista o descobriu morando em uma casa de mendigos. Estando ali recebeu, em 1901 o prêmio Nobel da paz. Poderia ter vivido comodamente com o dinheiro do prêmio pelo resto da vida, mas não ficou com um só centavo para si. Deu-o todo às sociedades filantrópicas e à sua querida Cruz Vermelha. Finalmente, morreu só, na casa de mendigos, e a seu pedido sua sepultura não foi indicada nem ao menos por uma pedra. Jean-Henri Dunant era um homem que estava disposto a não ser ninguém para levar avante o seu sonho de paz e misericórdia no mundo. Todos querem tornar-se alguém, mas poucas pessoas seguem pelo caminho que leva à grandeza pela renúncia.

A época dos cavalheiros cunhou uma frase do ideal cristão – nobreza obriga – que significa simplesmente que todo aquele que possui riqueza, posição social ou linhagem ilustre, tem deveres para com os menos favorecidos. Por essa razão, uma vez ao ano o rei e a rainha, os nobres e as damas da corte levavam a lavagem dos pés aos mais pobres mendigos que podiam ser encontrados e em seguida lhes davam presentes de roupas e alimento. Era uma recordação para os que viviam em altas posições, de que eles deviam seguir a Cristo nos serviços humildes. Embora no restante do ano seguissem os seus próprios caminhos, era bom que cada um, tanto nobre como plebeu, recordasse no gesto humilde anual o exemplo de Cristo.

Certa vez Carl Sandburg se encontrou com duas senhoras em uma festa. Disse a uma delas:

– Admira-me que você seja uma atriz. Você parece mais uma pessoa.

Ao que ela lhe respondeu:

– Penso que sou ambas as coisas.

Em seguida, voltou-se para a outra senhora e lhe perguntou:

– E a senhora, o que é?

– Eu não sou ninguém, respondeu a interrogada.

Imediatamente Sandburg replicou:

– Bem, eu sou seu irmão. E os dois passaram a tarde conversando como se fossem velhos amigos.

Muitos dos verdadeiramente grandes no mundo classificam-se a si mesmo como ninguém. Juntamente com Sandburg queremos mencionar o caso de Madame Schumann-Heink, que constantemente ia aos concertos e voltava no assento dianteiro do táxi junto ao motorista, para poder falar com ele sobre suas famílias e seus problemas.

Quando Guilherme Allen White, editor de a Gazzette, de Emporia, Estados Unidos, estava juntamente com outros para receber um diploma de honra da Universidade de Colúmbia, o homem que se achava diante dele lhe perguntou de onde era.

– Eu não sou daqui, respondeu White. Não sou mais do que um editor provinciano de Kansas.

– Bem, respondeu o companheiro, e eu não sou mais do que um médico provinciano de Minnesota.

O médico provinciano não era outro que não o famoso cirurgião Guilherme J. Mayo, de Rochester.

Essas pessoas estavam mais preocupadas em partilhar os seus talentos e interesses com os seus semelhantes, do que em se salientarem como figuras importantes.

Faz muitos séculos um jovem nobre renunciou a todas as riquezas e poder deste mundo para seguir a Cristo e encontrar sua vocação no trabalho humilde. Seu grande coração estava aberto para o afeto e a solicitude para com todos os seres viventes. Vem-nos de sua pena esta prece que deveria ser a de todos os que estão dispostos a alegre e serviçalmente, não serem ninguém:

Ó Divino Mestre, faze que eu não procure tanto ser consolado como consolar; ser entendido como entender; ser amado como amar; porque é dando que se recebe; é perdoando que somos perdoados; é morrendo que nascemos para a vida eterna. Amém.”

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/1968)

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