Surge Um Mundo Novo
Um mundo novo está surgindo, como consequência do impulso originado de uma melhor compreensão da vida.
O ser humano já se apercebe de que com a decadência do já ultrapassado pensamento filosófico e religioso, a Divindade está preparando para si e para a humanidade, mudanças substanciais, capazes de ensejar uma concepção mais ampla sobre o significado da vida. A velha ordem de coisas está no fim e, simultaneamente, assistimos ao alvorecer de algo novo. Uma consciência que permaneceu adormecida durante Eras está despertando. Deus, que sempre trabalhou na essência mesma das coisas está desenvolvendo uma nova expressão da vida eterna que lhe é inerente.
A guerra e seus terríveis sofrimentos constituem as dores do parto. A seu devido tempo, o recém-nascido aportará a toda a humanidade, concedendo-lhe uma liberdade mais ampla, uma mentalidade mais forte e amor em maior profusão. A dor provocada por tão horrível carnificina trouxe triste pesar à nossa mãe-terra, mas sua convalescença já começou. No mundo inteiro está surgindo um ideal mais elevado que por séculos esperou o momento oportuno para manifestar-se.
No mundo trava-se uma luta da qual somos partícipes. Ela é parte da evolução que sempre se evidenciou através da submissão do inferior ao superior, do imperfeito ao perfeito. Esse conflito eterno e universal acompanha o ser humano desde as remotas épocas em que Deus o projetou como um pensamento no reino do Espírito. Passo a passo essa luta contínua e cruenta vai aperfeiçoando o espírito, até o estado atual.
Uma nova luz está projetando seus raios sobre a humanidade, luz de um conhecimento mais profundo. Os ensinamentos rosacruzes pretendem que o desenvolvimento da Mente se encontre em seu primeiro estágio, o mineral de sua evolução. O ser humano recebeu a Mente na Época Atlante para um propósito determinado. Mas como nessa época o Ego era excessivamente débil a seus desejos muito fortes, o nascente intelecto fracassou, unindo-se ao Corpo de Desejos. Daí originou-se a astúcia.
“Na Época Ária iniciou-se o desenvolvimento da Mente e da razão por intermédio do trabalho do Ego no sentido de dominar o Corpo de Desejos e conduzi-lo à realização da perfeição espiritual, que é o objetivo da evolução” (Conceito Rosacruz do Cosmos).
Na agonia da transição, muitas almas devotas assistem à derrota da religião, à eclipse da fé e ao desaparecimento das mais caras expectativas da humanidade. Porém, como a verdade é eterna não pode desaparecer. O conflito do ser humano com a realidade é parte essencial do progresso. Não estando preparado para receber a nova luz, a verdade a cega, o perturba e a dúvida atormenta.
Neste momento da vida é quando o ser humano mais necessita do auxílio de um mentor espiritual que o oriente, até que seja capaz de, por si mesmo, compreender a nova verdade que floresce. Chegou o momento em que ao estudante rosacruz se oferecem mil oportunidades de servir. “A seara é imensa, mas poucos são os trabalhadores”.
O século XX caracteriza-se por um grande despertar espiritual e filosófico. Desde o advento de Cristo-Jesus nunca se viu tantas igrejas, tantos novos cultos, nem tanto interesse renovado pela religião.
Quando faltavam uns 500 anos para o nascimento de Jesus, surgiram por todos os rincões da Terra novos instrutores e novas religiões. As mudanças que influenciaram o globo terrestre, por precessão dos equinócios, trouxeram muitas inquietudes à humanidade, pois essa se preparava para responder aos novos tempos. Foi assim que a Era de Áries, regida pelo belicoso Marte foi substituída pela influência jupteriana de Peixes.
Todas as decadentes filosofias devem ser substituídas por sistemas mais avançados. Novas religiões surgiram e se disseminaram pela Terra. Naqueles tempos o profeta e instrutor mais avançado, Isaias, assentava as bases daquilo que seria a religião cristã. A vida intelectual chegava ao seu ponto culminante.
Essas mudanças excitaram ao mesmo tempo os elementos inferiores, dando margem a guerras e crimes de toda espécie. É um fato bem conhecido dos esoteristas que quando um novo impulso ativo a religião, o mal e os elementos mais baixos são também postos em ação. A humanidade daquele tempo se dividiu, tal como predisse Cristo ao afirmar que “as ovelhas estão separadas das cabras”.
A Era Aquária, que se aproxima, é a Era do AR. Uma fase de características marcadamente intelectuais onde se produzirá o despertar intelectual da humanidade. Aquário é um Signo mental, cientifico e elétrico, capaz de despertar as multidões como nunca o fez Signo algum do zodíaco. Esse Signo representa o FILHO DO HOMEM.
Existem duas classes de pessoas capazes de responder às vibrações aquarianas: em primeiro lugar está o tipo saturnino, inflexível, duro, que se manifesta por atitudes cruéis; em segundo lugar encontra-se o tipo mais evoluído da humanidade, aquele que alcança as regiões do infinito, representado pelos seres de ciência, pelos pensadores avançados e os religiosos sensíveis às mais elevadas influências espirituais.
Como afirmou o casal Heindel no Livro A Mensagem das Estrelas: “Podemos dizer que o FILHO DO HOMEM é o “super-homem”; por tal motivo, quando o Sol transitar pelo Signo celeste de Aquário, entraremos (esotericamente) em uma nova fase da religião do Cordeiro, e o ideal para o qual haveremos tender é indicado por Leão, o Signo oposto”.
Todo exército tem sua vanguarda. A evolução também tem a sua. Existe sempre uma classe evoluída, destinada a preparar a humanidade para futuras transformações. De acordo com os ensinamentos rosacruzes, esses períodos evolucionários se estreitam à medida que nos elevamos no caminho. Conforme a Mente se organiza, alcança-se um estado de consciência mais elevado e com o tempo tomará uma forma semelhante à dos demais veículos superiores. A Mente do ser humano também se espiritualiza. Na Era de Aquário o veículo mental alcançará um grande desenvolvimento como consequência dos esforços científicos e espirituais do ser humano. Há um grande número de pessoas já conscientes da existência dos poderes internos, ansiosas por obter e aplicar os conhecimentos avançados.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/86)
O Novo Elemento, você sabe qual é?
Nossa Terra nem sempre esteve envolta em ar tal como a conhecemos, porque quando estávamos sem ele, o mundo não era sólido. Em realidade, no Período Solar encontramos as origens do novo elemento: o ar. Quando esse se uniu ao verdadeiro fogo invisível, o Globo de Saturno converteu-se em uma esfera resplandecente de neblina ígnea, sob estas palavras de ordem: “Faça-se a Luz” (Gn 1:3). Nós não desenvolvemos os pulmões até fins da Época Atlante do Período Terrestre.
Para o ser humano é demasiado difícil imaginar os vastos períodos de “tempo” entre a introdução do novo elemento e o desenvolvimento de um órgão físico para usá-lo. O crescimento evolutivo é um processo muito lento, porque atravessa ciclos a fim de que as imperfeições sejam eliminadas.
Surge, contudo, a necessidade de dar um passo definido para frente e, a menos que nos conservemos na vanguarda e FORMEMOS os veículos requeridos, retrocederemos, retrogradaremos, e, assim, os corpos que já são inúteis ao novo desenvolvimento vão cristalizar-se ainda mais.
Como é de conhecimento dos Estudantes ocultistas, os atlantes, embora fossem dotados de órgãos respiratórios incipientes, eram muito habilidosos e encontraram meios de se deslocar em sua densa e aquosa atmosfera. Com o passar do tempo, o desejo de explorar o que estivesse além do seu “horizonte” conhecido ensejou a invenção de naves aéreas. A arca é uma distorcida reminiscência desse fato. Alcançavam, assim, o novo elemento para o qual estavam construindo pulmões. Nossos astronautas levam consigo uma boa carga de oxigênio para alcançar certa distância além da Terra, pois não podem viver em uma atmosfera mais rarefeita. No momento em que nos falta o ar, o Ego vê-se obrigado a abandonar o Corpo Denso.
O ar contém Éter, o quádruplo canal através do qual trabalham as forças espirituais. O ar atua como um condutor dessas correntes de energia. Como Estudantes da Fraternidade Rosacruz estamos familiarizados com a ideia de o ar estar impregnado de vibrações planetárias que inicialmente penetram os pulmões quando o bebê dá seu primeiro gemido. Esse momento é o ponto culminante do trabalho dos Senhores do Destino, cuja cooperação com o plano evolucionário conduziu o Ego ao lugar e tempo específicos para cumprir seu destino com os outros Egos que devam ser seus futuros pais terrestres.
Os Éteres contidos no ar registram cada pensamento, emoção e ato, transmitindo essas impressões aos pulmões, de onde são injetados no sangue. Esses registros são os árbitros do futuro destino.
A essência do bem praticado converte-se em alma e essa, por sua vez, é incorporada ao espírito. No livro Mistérios Rosacruzes, Max Heindel afirma o seguinte: “Dessa maneira, os registros respiratórios de nossos bons atos constituem a alma que se salva”. O oposto também é verdadeiro: “O registro de nossas más ações também deriva de nossa respiração, no momento em que são cometidas. A dor e o sofrimento que elas provocam obrigam o espírito a eliminar seu registro no Purgatório. A recordação do sofrimento é transformada pelo espírito em consciência moral, para desistirmos da repetição do mesmo mal em vidas posteriores”.
Nós não compreendemos suficientemente que o ar que respiramos depois de estar em íntimo contato com nosso aspecto terrestre ou físico encontra-se carregado da tonalidade do nosso verdadeiro eu. O ar que conduziu os Éteres ao nosso corpo está impregnado com nossas emoções e pensamentos, sendo logo expelido e lançado à atmosfera, já bem carregada. Eis o porquê de algumas pessoas parecerem “exalar” ou irradiar amor; enquanto outras, independentemente da aparência, envenenam o ambiente onde vivem.
Isso evidencia uma das razões pelas quais os Estudantes ocultistas deveriam selecionar, na medida do possível, os locais que frequentam, pois, a “má atmosfera” atrai forças negativas que dela se alimentam, aumentando o estímulo da natureza inferior. Algumas vezes é difícil compreender quão infimamente relacionados estão os departamentos e funções da nossa vida.
“Através” do ar, Jeová e seus Anjos puderam auxiliar o ser humano em certo período do seu desenvolvimento. Diz-se que “Jeová soprou um alento nas narinas do ser humano”. Essa é uma forma alegórica de afirmar que os Espíritos de Raça foram designados para ajudar o débil e inexperiente Ego humano a utilizar seus pulmões. É muito interessante o fato de que os Espíritos de Raça, funcionando no ar, limitem as tendências cristalizantes do Corpo de Desejos.
Está sob a responsabilidade de Jeová a geração de Corpos Densos e Seus Anjos regem Suas Leis nesse particular. Efetua-se esse trabalho mediante o Éter de Vida, acessível ao corpo humano por meio do ar inalado. A habilidade dos Anjos em administrar as Leis da procriação torna-se mais clara ao recordarmos que o Corpo Vital seja seu veículo mais inferior. Assim como nós manipulamos, dando o contorno desejado, madeira, metais e tantas outras coisas, de maneira análoga os Anjos, que nunca se subtraíram à Guia Divina, como aconteceu com a humanidade, operam o Plano Divino com maior facilidade do que o ser humano, quando esse trabalha com o mineral.
Os Espíritos raciais ou tribais, uma das funções dos Arcanjos, mantêm seu controle sobre uma nação ou tribo mediante o ar inspirado pelo seu povo e a única forma de nos libertar, em alguma extensão, dessa potestade jeovista, é desenvolver as virtudes cristãs. Enquanto usarmos corpos físicos, necessitaremos dos serviços de Jeová, permitindo-nos renascer até chegarmos ao Adeptado, condição em que poderemos criar novos corpos por meio de nossa vontade divinamente inspirada.
Na Época Lemúrica, vivíamos próximos ao ígneo centro da Terra. Os atlantes habitavam as concavidades, pouco mais longe do centro. A raça ariana foi impelida pelos dilúvios a procurar as regiões elevadas onde agora vive. Os cidadãos da próxima Época habitarão no ar. Assim como os atlantes aprenderam a desenvolver pulmões, estamos lentamente formando um Corpo-Alma, o Dourado Vestido de Bodas, no qual funcionaremos nas condições etéricas da Nova Galileia. A união das duas correntes de evolução espiritual, a Igreja e o Estado, marcará o princípio da Nova Galileia.
O simples processo de respirar tem importantes implicações: podemos funcionar em um Corpo Denso pelo Éter Químico; propagar nossa espécie pelo Éter de Vida; construir um Corpo-Alma pelo Éter Luminoso e registrar pensamentos, emoções e atos, desde o instante do nosso nascimento, pelo Éter Refletor. A capacidade da Natureza de economizar eficazmente é fabulosa, demonstrando a sabedoria do Criador.
No presente, a inter-relação do nosso Corpo Denso com a ação recíproca e a função espiritual é um mistério que algum dia será revelado.
Em um artigo escrito por Max Heindel, em fevereiro de 1918, em Rays from the Rose Cross, abordou-se os perigos de se queimar incenso. É certo que os ingredientes devem ser selecionados por sua conhecida afinidade para atrair entidades desencarnadas e elementais; contudo, “se o incenso foi elaborado por uma pessoa ignorante ou egoísta, constitui um veículo para espíritos de natureza similar, que se revestem com a fumaça e o odor, penetrando nos corpos presentes no lugar onde se processa a queima”. Pode nosso ar contaminado ser uma porta de entrada para espíritos inferiores? Isso pelo menos nos faz compreender a necessidade de purificarmos nossos pensamentos e começarmos a trabalhar em harmonia com as Potestades Divinas, exercitando nosso potencial divino e nosso aprendizado na Vinha do Senhor.
Somos afortunados em conhecer os ensinamentos da Fraternidade Rosacruz, porque nos indicam a forma de nos preparar para o uso mais perfeito do Éter, o elemento da Nova Era.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1975)
A filosofia oculta ensina: o ser humano é realmente “feito à imagem e semelhança” (ESPIRITUAL) de Deus, sendo dotado, em potencial, de todos os Seus poderes. Assim, o espírito é tríplice, como Deus. Seu Espírito Divino corresponde ao atributo da Vontade, em Deus: seu Espírito de Vida corresponde ao aspecto Sabedoria, de Deus, e o seu Espírito Humano corresponde ao princípio da Atividade, no seu Criador. Isso demonstra que o princípio Crístico encontra-se no interior do ser humano e a sua contraparte é o Corpo Vital, ou etérico.
É o trabalho especial, por assim dizer, o programa de nossa época, permitir o desenvolvimento do nosso Cristo interno, a fim de que possa brilhar através das trevas de nosso mundo materialista e de nossos corpos inferiores, tecendo o Vestido Dourado de Bodas, o “soma psuchicon” mencionado por São Paulo.
O Espírito de Vida contém registros indeléveis de todas as faculdades, talentos e sabedoria alcançados pelo Tríplice Espírito nas vidas passadas. Esse registro, chamado hoje de “Memória Supraconsciente”, manifesta-se como consciência, caráter e, às vezes, como “orientador” compelindo-nos à ação vez por outra frontalmente contrária à nossa razão e desejos. Pode também, imprimir sua mensagem diretamente no Éter Refletor do Corpo Vital. Essa mensagem é levada pelo sangue até o coração, de onde é transmitida ao cérebro através do nervo pneumogástrico. O impulso é chamado de “intuição” e traz ao corpo humano, chamado por São Paulo de “veste da corrupção”, as frequências de alta vibração do Mundo do Espírito de Vida, instando a Personalidade a obedecer a Lei do Amor, que é o Caminho da Libertação.
Astrologicamente falando, o poder da intuição é governado pelo Planeta Urano, e pelo Signo Aquário.
Pessoas que têm esses aspectos fortemente marcados em seus horóscopos, são notavelmente intuitivas. Elas lutaram nas vidas passadas para cultivar um interesse e um amor impessoal, abrangendo não somente a família, a comunidade ou povo, mas sim TODOS OS SERES HUMANOS, sem diferença de casta, credo ou cor. É objetivo da humanidade ocidental ampliar, fortalecer, e intensificar o impulso da INTUIÇÃO, porque ela há de tomar o lugar da razão, como o tribunal mais elevado do ser humano. Isso ajudará, e muito, para se chegar a uma solução dos problemas que a humanidade enfrenta hoje, e que são o resultado da escravidão do ser humano às ordens de sua mente, impregnada de desejos egoístas e inferiores.
Para esquematizar o método próprio para o desenvolvimento da faculdade da intuição, o Aspirante deve conhecer, em primeiro lugar, o funcionamento do Corpo Vital, — a contraparte do Espírito da Vida.
É composto de quatro Éteres, e interpenetra os átomos do corpo físico. Os dois Éteres inferiores – Químico e de Vida – são o canal das forças responsáveis pela assimilação, crescimento e propagação. Os dois Éteres superiores, — o Luminoso e o Refletor — são formados novamente em cada vida, e sua qualidade depende da natureza e quantidade de serviço que o indivíduo prestou aos seus semelhantes. Purificamos os nossos Corpos de Desejos através da oração, pureza de pensamentos, e concentração, sensibilizando ao mesmo tempo o Corpo Vital, enquanto que amando e servindo aos nossos semelhantes, tecemos o Dourado Manto Nupcial formado pelos dois Éteres superiores — o elo entre o Espírito de Vida (morada do Cristo) e o coração. Há uma correlação entre esses fatores: quanto maior e mais luminoso o Dourado Manto Nupcial, mais forte é a faculdade da intuição. Funcionamos nesse veículo luminoso quando o nosso corpo físico repousa adormecido e saímos do corpo, consciente ou inconscientemente. É através desse mesmo veículo que o ser humano é “ressuscitado” e pode “ascender” aos mundos superiores após a “morte”. Assim, despertamos a voz interna, formando esse veículo resplandecente do qual São Paulo falava e atingimos a libertação, no mais profundo sentido da palavra.
É de particular importância para quem deseja desenvolver a faculdade da intuição notar no “Pai Nosso” — que é uma fórmula algébrica para a elevação e purificação de todos os veículos do ser humano — a petição do Espírito da Vida, para a sua contraparte, o Corpo Vital: “Perdoai as nossas dívidas, como nós perdoamos aos nossos devedores”. Essa oração ensina a doutrina da remissão dos pecados nas palavras “perdoai as nossas dívidas” e a doutrina da Lei de Consequência nas palavras “como nós perdoamos”, fazendo de NOSSA ATITUDE PARA COM OS OUTROS a medida de nossa emancipação. É óbvio, dessa maneira, que o Estudante desejoso de obter a intuição ensejada pelo Espírito de Vida (Cristo) deverá e com bastante assiduidade cultivar uma atitude de PERDÃO!
Num futuro remoto, quando a humanidade, como um todo, tenha desenvolvido suficientemente seus poderes coletivos mediante um RETO VIVER COLETIVO, o Cristo estará finalmente livre, podendo retirar-se definitivamente do Planeta.
Da mesma forma, quando um indivíduo desenvolver os seus atributos divinos suficientemente poderá sair de seus veículos físicos, de sua “prisão” e estará apto a executar maiores trabalhos nos Mundos invisíveis, vestido como já vimos do seu luminoso veículo etérico.
A Páscoa é assim: não somente o tempo da Libertação do nosso Espírito Planetário o Cristo, um sacrifício que deveria evocar em nós o máximo de gratidão e confiança.
É também a magna segurança para as nossas almas de que algum dia cada ser humano, como Cristo em formação, será libertado da prisão do Corpo Denso e da Personalidade.
O Espírito Interno, que é o “Homem Real”, aprende vida após vida, em ciclos sem número, a viver de acordo com as Leis de Deus, transcendendo finalmente a ilusão dos sentidos, e se libertando, no mais profundo sentido da palavra, da ignorância, do sofrimento e da morte, e entrando num outro estado de consciência, glorificado, iluminado e cheio de paz.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1975-Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP)
O Desabrochar da Divindade Interna
O ser humano possui o poder da divindade dentro de si. Cabe-lhe, e tão só a ele, perceber essa potencialidade e se tornar uma Inteligência Criadora — tornar-se, em suma, um deus.
Pare e pense por uns instantes o que isso realmente significa. Significa que, em algum momento do futuro distante, cada um de nós será tão onipotente quanto o Grande Ser ao qual chamamos de Deus; que realizaremos as façanhas a que se referiu Cristo “e maiores do que essas”; que viveremos permanentemente livres do peso de um corpo físico ou da obstrução da matéria; que, tendo aprendido as lições da evolução, conheceremos tanto o bem quanto o mal, ficaremos perfilados ao lado de Deus e nos tornaremos tão puros que o mal não terá possibilidade de nos atingir. Significa tudo isso, sem dúvida — mas está tão distante de nós, atualmente, que se torna imperscrutável.
Todavia, significa também que poderemos, apenas quando desejarmos tentá-lo exercer grande parte do potencial divino latente em cada um de nós, no presente momento. Não é necessário aguardarmos até o advento de uma era da evolução, dourada e remota. A maior parte das pessoas ficaria bastante surpreendida quanto ao grau de “divindade” que já no presente estágio do seu desenvolvimento está pronto para se manifestar.
Quais, então, seriam alguns desses atributos “divinos” a serem expandidos? Em primeiro lugar, estão os três que vêm talvez mais rapidamente à memória — a onisciência, a onipotência, a onipresença. Esses, sem dúvida, estão muito além de nosso alcance atual; por isso, para os fins deste artigo, podem deixar de ser levados em conta. Muito além de nós, inclusive, está a divina Força criadora que produz manifestações de grandeza tal como a dos corpos celestes.
Mas nós temos certo grau de força criativa dentro de nós, hoje, devendo ser exercida a fim de que, afinal, venha a conquistar o seu grande potencial.
Deveríamos aproveitar toda oportunidade para fazer desabrochar a Epigênese e utilizar a capacidade criadora que já possuímos, de forma que, pouco a pouco, ela pudesse aumentar. Um enfoque positivo e entusiasta em relação à vida, acompanhado pela determinação ativa de enfrentar os nossos problemas, de utilizar inteiramente quaisquer aptidões que tivermos e fazermos tudo o que pudermos para melhorar nossa situação e a de nossos companheiros é o contexto no qual a nossa capacidade criadora pode e deve ser desenvolvida. Convencer a nós mesmos de que não possamos fazer algo ou, alheios ao potencial que nos cabe desenvolver, que devamos deixar o “Zé” realizar as tarefas a serem cumpridas, enquanto nos dedicamos unicamente à busca do lazer e ócio, não nos aproximará sequer um pouco do objetivo final. Somente a contínua persistência, o trabalho árduo e a percepção refletida no que devamos fazer desabrochar nos levarão diretamente a esse objetivo.
Existe outro atributo divino, contudo, e ainda mais importante do que a capacidade criadora, que muitas pessoas, independentemente do estado de seus talentos ou aptidões, podem aprimorar no atual período de vida, com resultados compensadores — se apenas quiserem! Trata-se da qualidade relativa ao amor divino com suas características resultantes de compaixão e altruísmo. Novamente aqui, acontece que nenhum humano possa atualmente chegar ao ponto de conquistar a inescrutável profundidade, beleza, onipresença e força do Amor do nosso Pai Celestial ou do Cristo. Mas podemos, quase todos, desenvolver nossas naturezas amorosas e compassivas muito mais do que estamos fazendo.
Os requisitos necessários à realização disso não são os mesmos que proclamam ao mundo um material individual ou habilidade intelectual. Não serão as condições que tenham sido aperfeiçoadas durante anos de trabalho manual ou mental, em encarnações anteriores. São atributos espirituais, caso assim for desejado, e é garantido admitir-se que, em toda a humanidade — com exceção de pequena porcentagem —, eles não foram cultivados em grau considerável, em encarnações anteriores.
Esses predicados não podem ser aperfeiçoados, a menos que o indivíduo desenvolva um interesse autêntico em relação a outras pessoas e um desejo de começar a conhecê-las melhor. Isso não significa necessariamente “sociabilidade” no sentido comum da palavra, nem sequer espírito gregário. Significa o anseio de observar as pessoas e, após uma observação praticada de forma considerável, a capacidade de penetrar em suas características superficiais para chegar até o “homem interno”, discernindo suas verdadeiras naturezas. Em outras palavras, quer dizer a capacidade de procurar e achar a “divina Essência dentro de nós”.
Concomitantemente, deve desejar servir às pessoas que estiver se esforçando para conhecer tão bem. A percepção de que muitos dos problemas possam ser aliviados com uma espécie de assistência de camarada, ou que muitas pessoas, a despeito disso, tenham problemas tão irresistíveis que lhes pareçam insuperáveis, é o requisito para este desejo. Quanto mais estivermos conscientes dessa condição e pensarmos a seu respeito de modo positivo, tanto mais poderemos nos inculcar com a aspiração de ajudar a fazer algo. Não é suficiente o pensar vagamente, embora com a melhor das intenções, sobre os infortúnios de outrem, no contexto geral de “Não é isso terrível? Pobre criatura”, e em seguida volver os pensamentos a assuntos mais agradáveis. À reflexão “Isso não é terrível?” deve seguir o esforço determinado para pensar-se na situação e ver se podemos auxiliar. Não importa quão enorme seja o problema ou como possa parecer remota a solução. Do ponto de vista das nossas possibilidades, é sempre admissível prestar um amoroso apoio moral. Caso não pudermos fazer algo além disso, nossa presença compassiva e serena se mostrará, muito frequentemente, uma força sustentadora que ajudará a pessoa aflita a enfrentar o seu período de provas.
O desejo de ficar a serviço deveria ser, e pode, caso fosse perseguido sinceramente, expandir-se desde o círculo limitado de amigos e conhecidos pessoais até à área muito mais vasta da humanidade em geral. De fato, é bem mais fácil nos colocar inteiros e depositar a nossa completa simpatia no esforço fervoroso de ajudar um conhecido. Sentir a mesma dedicação pessoal no caso de, digamos, um grupo de pessoas sobre as quais a única coisa sabida é que sejam pobres, ou doentes, ou foram escravizadas, ou tenham sofrido uma calamidade ou qualquer outra coisa desse tipo, é mais difícil. É possível ainda, quando a compaixão relativa a seres próximos e prezados tenha sido cultivada, expandir esse sentimento para incluir em um rol de pessoas que necessitem de ajuda os que possam ser apenas “nomes” ou “estatísticas”.
A qualidade do Amor divino que estamos tentando emular inclui a capacidade de ser compassivo e amoroso com todos, não importando o quão desagradáveis, depravados ou abomináveis possam parecer. Incompreensível que possa ser essa ternura a muitos de nós, não é mais do que aquela que Deus e o Cristo exerceram sempre a favor de toda a raça humana. Quem de nós, não importa o quanto evoluído, iluminado e “bom” possa pensar que seja, pode afirmar positivamente que nunca, numa encarnação passada, tenha atingido um ponto de baixeza degradante?
Afirmamos que, em encarnações anteriores, quase toda a raça humana foi condenada por egoísmo e atos de depravação peremptoriamente repudiados, hoje, pelas pessoas de discernimento. Ademais, foi o Amor sublime de Deus e o incrível Amor redentor do Cristo que nos resgataram, e ainda resgatam, da deterioração evolutiva à qual nos encaminhamos em virtude da corrupção. Esse é o tipo de amor que nós, por nós mesmos, devemos adquirir.
Ademais, é importante relembrar que as próprias pessoas que pareçam “merecer” o nosso amor são as que menos o necessitam prementemente. Se existe algo que possa resgatar alguém do que pareça ser as últimas etapas da degenerescência, é a compaixão oferecida por um amigo, juntamente à simpatia e expressões de confiança que possam fazê-lo perceber a Centelha divina que está oculta por detrás do véu que sua natureza inferior confeccionou. Quando um indivíduo, finalmente, certificar-se de que haja, sem dúvida, “algo bom” em si e sua autoconfiança estiver um tanto solidificada, ele melhorará suas ações paulatinamente e fará com que a Centelha se incendeie cada vez mais brilhantemente. Porém, sem essa compreensão e ajuda compassiva proporcionadas por uma fonte externa que o fez olhar, pela primeira vez, para dentro de si com um olho perscrutador, teria tido dificuldade muito maior para dar o passo inicial na senda do “viver correto”.
Por último e, talvez, o mais importante, vem o predicado da espiritualidade. Ele também deve se desenvolver no contexto do serviço. Max Heindel deu-nos excelente orientação a tal respeito, no Livro Ensinamentos de um Iniciado, capítulo III.
“A ideia mais comumente aceita é que a espiritualidade se manifeste através da oração e da meditação; no entanto, se observarmos a vida de nosso Salvador, veremos que Ele não viveu na indolência. Não permaneceu em reclusão. Não se apartou do mundo e não se escondeu dele. Viveu entre o povo, ajudando-o em suas necessidades cotidianas. Ele o alimentou, quando isso foi necessário. Ele o curou sempre que teve oportunidade de fazê-lo e, inclusive, ministrou-lhe ensinamentos. Assim, foi Ele um servidor da humanidade, no verdadeiro sentido da palavra”.
Max Heindel nos diz, novamente: “Existem muitas pessoas que, aspirando aos poderes espirituais, percorrem de um centro, chamado de oculto, a outro, ingressam em mosteiros e apreciam locais de isolamento. Esperam, afastando-se do clamor e das atrações do mundo, cultivar sua natureza espiritual. Ficam expostos à luz da prece e meditação de manhã até à noite, enquanto o mundo se encontra gemendo em agonia. Então, passam a se admirar pelo fato de não progredirem, não sabendo por que não obtêm mais da senda da aspiração. Certamente, a oração e a meditação são necessárias; absolutamente essenciais ao crescimento anímico. Mas estaremos fadados a fracassar, caso dependamos, para o nosso crescimento anímico, de orações que são apenas palavras. A fim de obtermos resultados, deveremos viver de modo que toda a nossa vida se torne uma prece, uma aspiração. Como nos disse o filosofo Emerson:
Embora teus joelhos nunca tenham se dobrado,
Nos céus tuas orações de cada instante são sentidas,
E, sejam formadas para o bem ou para o mal,
Ainda são registradas e respondidas.
Não são as palavras que proferimos nos instantes de oração que contam; mas, com certeza, é a vida que eleva a prece…
“Há somente um meio de mostrarmos nossa fé e isso é feito pelas nossas obras; não importando em que setor da vida fomos colocados… O fator determinante que decide se um tipo de trabalho é espiritual ou material é a nossa atitude. A pessoa que estende os fios elétricos pode ser muito mais espiritualizada do que a que permanece sobre a plataforma.
Desobstruir um cano de esgoto é uma tarefa muito mais nobre do que viver falsamente atrás da dignidade de um cargo de professor, implicando uma espiritualidade que não existe realmente. Todo aquele que se esforça para cultivar essa rara qualidade espiritual deve começar, sempre, fazendo tudo pela maior glória do Senhor, porque quando fazemos todas as coisas pelo Senhor não importa que espécie de trabalho façamos. Escavando esgoto, inventando dispositivos que poupem trabalho, pregando sermões ou qualquer outra coisa, é tarefa espiritual, quando feita com amor a Deus e à humanidade”.
Vemos assim que o processo de desabrochamento da divindade existente dentro de nós depende do nosso conceito sobre as pessoas, nossas relações com elas e, o mais importante, nosso serviço a elas prestado. A nossa divindade nunca evoluirá no isolamento; embora seja verdade, sem dúvida, que quanto mais nos tornarmos adiantados espiritualmente, pareceremos estar, em certo sentido, mais isolados dos outros humanos, nossos companheiros.
Devemos aprender, todavia, a transcender esse isolamento dentro de nós próprios. De certo modo estaremos sozinhos. Ainda assim, a nossa compaixão cada vez mais abarcante em relação aos outros e a eterna consideração que lhes tivermos nos manterão bem ocupados, evitando que permaneçamos refletindo o fato de estarmos, talvez, não tão cercados de “amigos” como outrora.
Em outro sentido e muito mais significativo, entretanto, estaremos menos sós do que nunca, porque quanto mais desenvolvermos nossos atributos divinos, mais perto de Deus chegaremos e nos tornaremos uma parte mais ativa d’Ele, cada vez mais nos compenetrando da “unidade fundamental de cada um com tudo”. À medida que o Cristo interno nasce e Se desenvolve, sentiremos mais profundamente a bênção celestial se ampliando e nos apoiando em nossa jornada ascendente.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto de 1970)
Comunicação e Comunicação: a televisão, o rádio, os jornais, as revistas, o cinema ou as artes
Na década da comunicação, quando as teorias de Marshall McLuhan são quase elevadas a axiomas, uma frase é citada com relativa frequência: “Em todos os conflitos humanos há uma falha de comunicação”. Tal assertiva pode parecer um tanto quanto radical ou constituir-se em uma generalização perigosa; porém “onde há fumaça, há fogo”. A não-fixação em extremos exige uma análise da afirmativa em seus múltiplos aspectos. Na atualidade, a vida e seus componentes formam um emaranhado tão complexo ao ponto de demandarem análises e ponderações sob todos os ângulos imagináveis. É a única maneira de situar-se e definir um problema sem que se incorra em erros ou injustiças.
Considerando detidamente o tema em pauta, admitimos encontrar a falha originadora dos conflitos radicada mais no que se deseja comunicar do que propriamente nos meios de comunicação. É como dizem: com tijolos tanto podemos erigir um templo como um cabaré. Os tijolos em si mesmos não poderiam ser incriminados por formarem um recinto de degradação e vícios nem se revestiriam de quaisquer méritos por serem utilizados na construção de uma casa de louvor a Deus.
De maneira análoga, a televisão, o rádio, os jornais, as revistas, o cinema ou as artes, como veículos de comunicação e expressão, tanto podem elevar como degradar. São malévolos? Sim, se os empregamos com tal finalidade. Se utilizados construtivamente, ajudarão a edificar uma sociedade cada vez melhor.
Alguém poderia indagar: por que os veículos de comunicação, como por exemplo os jornais, a televisão e o cinema, não se prestam a finalidades mais elogiáveis? A resposta é simples: são movidos quase exclusivamente por fatores utilitaristas que visam a fins lucrativos. Exploram as mazelas e debilidades humanas, envolvendo o povo em uma série de artifícios. Muitos jornais são promovidos e vendidos às custas de manchetes sensacionalistas, veiculando notícias às vezes inverídicas. Afinal, uma tiragem considerável constitui um chamariz da publicidade.
A televisão, em matéria de comunicabilidade, desponta como força extraordinária pela sua capacidade de penetração. No entanto, ela tem sido malbaratada através de programas antiestéticos, antiéticos e pouco educativos. Há exceções, é bom que se frise. Poucas são as emissoras preocupadas em difundir cultura.
“É preciso ir ao encontro do gosto popular”, afirmam alguns diretores de TV, pois “caso contrário não haverá audiência”. “Programa que não dá IBOPE” não tem patrocinador de renome; isso é, não fornece lucro. Então, o negócio é despejar “chanchadas” ou “vales de lágrimas” em cima do telespectador, deixando-o mal habituado, condicionando-o ao que, efetivamente, seja ruim.
Esporadicamente, algum programa aborda temas espiritualistas. Uma parcela mínima — quando muito, 20% — da programação de TV é benfazeja. O que existe realmente é um desserviço à coletividade!
Se o povo tem mau gosto, eis aí outro motivo para nossos indivíduos de televisão modificarem essa condição, procurando levar às massas uma mensagem de arte no sentido mais amplo e espiritual da palavra. Tudo é questão de hábito! Um programa educativo, estruturado em linhas modernas, versátil, sugestivo, abordando de forma criteriosa temas da atualidade, depois de certo tempo acabará produzindo IBOBE. Basta o público sentir-se motivado para se habituar a assistir a ele. Isso não será difícil, pois todos temos um Corpo Vital, o veículo criador de hábitos. E não faltarão os bons patrocinadores: são os que vêm por acréscimo.
Quanto ao cinema, o panorama não é mais alentador. De modo geral, sua temática tem servido mais para acelerar o processo de formação de neuroses, fobias e quejandos. Em matéria de crescimento anímico, pouco se aproveita. E, não podendo ser de outra forma, há muitos apelos ao sexo e à violência.
O poder da imagem e do som é fantástico. Sua capacidade de penetração no subconsciente é incontestável. Aí reside o grande perigo, quando empregado de maneira distorcida.
Muitos podem pretender objetar nossas considerações sob a alegação de estarmos vivendo numa era onde o realismo e o surrealismo são evidenciados em todos os ramos artísticos. Defendem a tese segundo a qual os problemas humanos devem ser encarados e apresentados como realmente são. Admitimos verdadeiramente o anacronismo da fantasia e do romantismo piegas; mas a exibição de películas cinematográficas em que a apologia ao crime e ao erotismo chega às raias do absurdo não merece o nosso apoio. Mesmo a apresentação de problemas humanos dentro de um realismo chocante só é válida quando se propõe no final a entregar uma solução dignificante e harmonizadora. Concordamos com a exposição do conflito, contanto que se tenha o bom senso de sugerir medidas saneadoras. Do contrário, os problemas só tenderão a se agravar. Vivemos na época da música, da literatura, do teatro e do cinema de protesto. Contestar é um direito de todo humano; no entanto, é necessário definir o que contestamos, porque fazemos e qual é a solução proposta.
A Filosofia Rosacruz harmoniza uma explicação lógica e racional sobre todos os problemas que afligem os seres humanos. Mediante a Astrologia revela o arcabouço anímico do ser humano, suas virtudes, falhas e conflitos. E não para por aí! Procura estimular, em cada estudante, uma reforma de caráter, promovendo a erradicação de conflitos por meio da compreensão das Leis Cósmicas. Oferece por intermédio de seus ensinamentos a oportunidade de cada um perscrutar-se interiormente, ensejando descobrir a origem de seus sofrimentos. Contudo, ressalta taxativamente a necessidade de um esforço próprio no sentido de eliminar as causas, criando assim um destino melhor. A Escola Filosófica fundada por Max Heindel não se vale da ciência da comunicação para alardear sua força ou oferecer aquisição de poderes a curto prazo. Não procura sensacionalismo. Não dá “iniciações” mediante o pagamento de uma taxa qualquer. Mantém uma linha de conduta tão séria e honesta ao ponto de afirmar e configurar o processo Iniciático como uma experiência interna, só atingível após um empenho perseverante e sincero em servir desinteressadamente ao próximo coadjuvado por uma reformulação interior. Vemos então como a Filosofia Rosacruz é realista, porque edifica um novo ser humano, ao invés de destruí-lo. Isto é realismo. É utilizar legitimamente os meios de comunicação, empregando-os no aprimoramento dos valores morais!
(Pulicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1970)
Despertamento Interior
Quase todos nós experimentamos, numa determinada fase de nossa existência, o impulso de buscar respostas para nossas perguntas e dúvidas no que tange às questões espirituais.
Para muitos de nós os aspectos de nossa natureza de seres espirituais que estão evoluindo em um mundo material permanecem envoltos em certo véu de mistério. Bem poucos têm conseguido levantar, em plena consciência, as dobras daquele véu, além do qual já não pairam indagações nem dúvidas.
O contato consciente com a verdade de sua natureza transcendente, excelsa, espiritual e eterna inunda-o de intensa luz de certeza, quietude, sabedoria e onisciência.
Tudo isso pode parecer aos não místicos um tanto utópico e fantasioso. Contudo, o intelecto, a Mente científica pode apreender também a veracidade dessas indescritíveis potencialidades do ser.
As Escolas de Mistérios, as religiões, em sua milenar existência, têm sido as fiéis guardiãs de verdades e ensinos que se tem transmitido de gerações a gerações, alimentando o “fogo” da fé, da certeza da existência dos planos espirituais e da relação do ser humano com tais planos ou Mundos donde ele provém e para onde volta em seu girar evolucionante.
A Filosofia Rosacruz, como voz e pensamento atuante, é a fiel divulgação dos mais puros e verdadeiros ensinamentos orientados pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, no que se refere ao modo de cada um atingir a iluminação e consciência espiritual, chegando à concretização do plano divino, que consiste em nossa subida consciente para uma perene comunhão com Deus.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/70)
A Busca do Infinito: exemplos de Goethe, Dostoievski e Michelangelo
A perfeição é conquistada por intermédio de muitas pequenas imperfeições.
Goethe é um bom exemplo ocidental de equilíbrio. No entanto, ele nunca deixou de se queixar da dificuldade que lhe advinha em sua vida de criador. Escreve ele no Diário, em 1779: “Luto com o anjo desconhecido, até à exaustão; homem algum pode imaginar os combates que tenho que travar para produzir o pouco que peço. Que falta de ordem e de continuidade na minha ação, nas minhas ideias, na minha criação poética! Que raros foram os dias que me renderam! Meu Deus, continua a dar-me o teu auxílio; continua a dar-me a luz necessária para que eu não seja um obstáculo para o meu próprio caminho”.
Muita gente pode pensar que assim ele disse porque era jovem ainda. Contudo, que pensar do que Goethe disse 45 anos depois, no fim de uma vida plena de glória e recheada de obras-primas? Eis as suas palavras: “Sempre me invejaram por ter sido singularmente favorecido pela sorte. Também sinto que não me posso queixar e não serei eu a invectivar o meu destino. No entanto, no fundo, a minha vida foi só sofrimento e trabalho. Posso garantir que, ao longo de setenta e cinco anos, não tive quatro semanas de verdadeira satisfação. Foi sempre o mesmo rolar duma pedra, como a de Sísifo, que era preciso a cada momento voltar a levantar”.
A mulher de Dostoievski relata que seu marido sempre foi muito severo consigo próprio e que raramente os seus escritos lhe mereciam aprovação. Às vezes apaixonava-se pelas ideias dos seus romances, que trazia na cabeça durante muito tempo, mas quase nunca ficava satisfeito ao vê-las expressas. Apesar de nunca ele haver tido ideia poética mais rica do que “O Idiota”, Dostoievski dizia que não tinha chegado a dizer nele a décima parte do que queria. Para ele, não era mais do que a sombra do que vislumbrava no íntimo.
Michelangelo, após anos de trabalho, contempla pela primeira vez o teto da Capela Sistina e chora, porque não encontra nele o sonho que o inspirara. Podem vir os críticos, os professores de arte, com seu talento, a comentar e a explicar, descortinando intenções, descrevendo simetrias. Miguel Ângelo os ouve com um secreto espanto porque sabe que a realidade interna é infinitamente mais complicada e infinitamente mais simples. Podem os homens falar; ele sempre buscou o impossível até o fim de seus dias, num anseio incontido de perfeição.
Por isso, todo grande buscador, em qualquer campo, foi profundamente silencioso. Eles tinham a consciência da impossibilidade de comunicar facilmente tudo o que recebiam de dentro e do íntimo. É um silêncio de defesa e de pequenez ante o Infinito.
A experiência do grande buscador é a experiência da verdade e a impossibilidade de falar de sua experiência da verdade. Fala pouco e depois se recolhe para lá do silêncio.
No entanto, só quando chega a esse ponto pode começar a falar devidamente, POR AMOR e na medida daqueles que o ouvem, buscando dar-lhes a pouco e pouco o que alcançou.
E nesse dar descobre a chave da maior elevação que o conduz mais depressa aos altiplanos da espiritualidade, do que uma intensa busca isolada da verdade.
O anseio de perfeição, o impulso de evolução, vem-nos de dentro, do próprio Espírito, em maior ou menor grau, segundo o nível de consciência.
Na medida em que nos vamos libertando da influência da personalidade dominante e nos vamos submetendo à vontade do Eu verdadeiro e superior, é claro que esse anseio cresce, porque Ele busca a realização da verdade.
Espantamo-nos quando Max Heindel nos ensina que um Irmão Maior, está, em sua evolução de consciência, à frente de um santo, assim como um santo está à frente de um selvagem adorador de totem. Todavia, imaginem os passos dos seres evoluídos, comparados com nossos passos.
Em que proporção e intensidade influímos nós na elevação da sociedade? Pensem bem e vejam que é pequena ainda — o que não nos deve desanimar, senão estimular a evoluir mais depressa, porque, quanto mais evoluirmos, tanto mais largos serão nossos passos em direção à meta.
A ação dos seres altamente evoluídos é realmente digna de admiração e de exemplo. Com seus largos passos — quais pequenos astros — eles vão deixando um rastro luminoso à sua passagem, para iluminar e nortear os que ainda se encontram nas trevas das limitações pessoais. E damos razão ao pensador escocês Carlyle:
“A História Universal é a História dos Grandes Homens, que foram os condutores da humanidade, os modeladores, os tipos e, num sentido lato, os criadores de tudo o que as massas humanas em geral se esforçam por fazer ou alcançar. Todas as obras que vemos no mundo são, em verdade, o resultado material exterior, a realização prática e a encarnação dos pensamentos que habitam nos grandes homens enviados a este mundo. Assim, a alma da História do mundo é a história deles”.
Aparentemente, Carlyle anula a contribuição menor de todos que, com sua Epigênese, estão enriquecendo o patrimônio histórico, às gerações porvindouras. Porém, na mesma obra, ele considera como herói todo aquele que se vence diariamente ao conscientizar e deixar seus defeitos, atuando gradativamente melhor em sua vida pública, quer como padre ou profeta, quer como homem público, poeta, escritor ou artista ou artífice. Carlyle arremata: “Sempre saímos ganhando ao conhecer as obras ou dialogarmos com um deles”.
Há um eterno convite de perfeição a todo ser humano. Se ela não nos fosse possível, o Cristo não o teria dito: “Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial”. O Mestre podia vislumbrar claramente o que significa sermos “à Imagem e semelhança de Deus”; de “sermos herdeiros d’Ele”. Há um tesouro potencial em nosso íntimo, passível de enriquecer nossa consciência, quando conquistarmos nossa natureza e o desenterramos de nosso íntimo. A própria natureza de Deus está individualizada como eu ou como tu, à espera da desvelação.
Assim como a semente plantada se desmancha e se transforma, ao devido tempo, numa árvore igual àquela da qual proveio — assim também somos sementes de Deus e devemos renunciar ao que pensamos ser, para nos converter em algo maior, à semelhança e estatura d’Aquele que nos criou.
Somos gratos aos Irmãos Maiores que nos indicam o caminho mais seguro e curto. Ao mesmo tempo devemos assumir nossa própria Epigênese e percorrê-la à nossa maneira, na formação de algo diferente, individual, que seja uma contribuição a mais, no tesouro de Deus.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)
O Problema da Memória e da Recordação
Com a intensidade do seu entusiasmo, ao estudar pela primeira ver os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental da Rosacruz, os Estudantes experimentam muitos despertares breves nos planos internos da Natureza. Frequentemente regressam ao corpo pela manhã, depois de uma noite de trabalho nos planos internos, com recordações confusas, recordações de ter visto o Mestre ou os Irmãos Leigos, e entre suas experiências mais comuns está a de lhes terem sido mostradas linhas ou páginas impressas, as quais esperava-se que lessem. Algumas vezes isso é lido exatamente como se lê um livro com os olhos no Mundo Físico. Outras vezes o impresso desaparece e o leitor encontra-se vivendo ele mesmo à narração que havia começado a ler nos planos astrais. Tudo é excessivamente claro e vívido no momento em que sucede, mas ao despertar começa a se desvanecer na memória e causa decepção perceber que se pode recordar apenas um esboço muito pobre do que foi visto e, às vezes, nem isso. Outras vezes a experiência não é totalmente lembrada ao despertar, e logo, no curso do dia, ou talvez, dias ou semanas depois, recorda-se subitamente que tal ou qual acontecimento sucedeu no mundo da alma, durante as horas em que o corpo esteve adormecido.
O Estudante acredita firmemente que quando chegue a ser Probacionista, sua memória será mais brilhante e que recordará tudo o que experimente nos planos internos. Agora, é certo que o Probacionista que vive uma vida intensamente devocional, ao mesmo tempo que conserva sua Mente alerta e concentrada, descobrirá certamente que tenha feito algum progresso, mas novamente deparar-se-á com a decepção ao perceber que a memória e a consciência estão bloqueadas. Poderá, então, desiludir-se e chegar à conclusão de que não alcançará a meta nesta vida, e voltar aos caminhos do mundo.
É bom, portanto, que o Estudante saiba que a memória plena da experiência do mundo interno é raramente alcançada, e isso não acontece senão muito tempo depois da primeira Iniciação, e que ainda assim, é necessário algum esforço para alcançar a plenitude da recordação do mundo da alma, no Mundo Físico.
Max Heindel mesmo nos fala a respeito disso em seus primeiros escritos, e como esses nem sempre são acessíveis ao Estudante de hoje, queremos aproveitar a oportunidade e copiar de nossa revista Rays from the Rose Cross, de novembro de 1945, em que esse problema foi tratado:
Pergunta: — Algumas vezes tenho recordações do trabalho que faço no mundo da alma, durante a noite, mas me incomoda o fato de não poder lembrar sempre a experiência completa. Quanto tempo se passará antes de que possa recordar inteiramente as experiências noturnas?
Resposta: — Essa aberração da memória da alma continua até depois da primeira Iniciação e ainda por esse tempo não é imediatamente corrigida. Max Heindel relata que, depois de sua Iniciação na Europa, encontrou certo número de Irmãos Leigos presentes ao Serviço do Templo em seus Corpos-Almas, entre eles um homem a quem designa como Sr. X. Max Heindel escreve: “Falamos a respeito de muitas coisas em comum interesse e o Sr. X disse ao que escreve que vivia em certa cidade da América do Norte e que esperava que nos encontrássemos ali em alguma oportunidade. Isso foi cordialmente acolhido por mim, porque eu acreditava que quando me encontrasse com o Sr. X, no corpo físico, tal cavalheiro explicaria multas coisas que eu, sendo um jovem neófito, não sabia, porque nesta época não estava preparado para recordar todas as experiências do mundo invisível com a consciência física”.
Note-se que essa afirmação foi feita depois que Max Heindel havia já tomado sua primeira Iniciação: ele, contudo, chamava-se a si mesmo um jovem neófito, e disse que, todavia, não estava preparado para recordar todas suas experiências dos planos internos. Essa capacidade é adquirida mediante a prática contínua, e a primeira Iniciação não confere automaticamente a plena memória contínua das experiências obtidas fora do corpo. Podemos esclarecer dizendo que o desenvolvimento da memória total do Espírito é parte do trabalho da Iniciação; mas a Iniciação propriamente dita não acontece subitamente, mas é a culminação de uma série ascendente de experiências com seu desenvolvimento espiritual concomitante.
O Estudante deve entender que a Iniciação é algo mais que ser liberado do corpo pela primeira vez. Esse é unicamente o primeiro passo da primeira Iniciação. Segue muito trabalho ulterior, como o elevar-se a planos mais altos, e ler nos registros da Memória da Natureza concernentes à Época Polar e à Revolução de Saturno, deste Período Terrestre. Essa leitura da Memória da Natureza não é feita simplesmente como um estudo de história: faz surgir na consciência as forças que trabalharam, então, no ser humano e as faz atuantes mais uma vez, com a vontade de vigília do neófito. Deve-se notar também que o simples fato de sair do corpo, ainda que com plena consciência de vigília, não é a Iniciação. A Iniciação consiste em fazer com que o neófito saia do corpo à vontade e com plena consciência. Há algumas pessoas que foram iniciadas em vidas anteriores e se recordam da maneira de fazer isso; mas esses casos são raros.
Recordação do trabalho feito nos planos internos durante a noite é registrada no Átomo-semente e é lembrado inteiramente depois da morte, quando o Espírito é liberto do corpo.
Contudo, Max Heindel adverte muitas vezes que o fato de ser simplesmente um membro da Fraternidade Rosacruz não abrirá nunca, nem nesta, nem em mil vidas, as portas das faculdades superiores, inclusive a falha recordação das experiências noturnas no Mundo do Desejo. Deve-se fazer um trabalho definido. As faculdades intelectuais e imaginativas devem ser treinadas, e a intuição espiritual que é o dom do Espírito do Cristo Interno, o Princípio do Espírito de Vida, deve Ser conduzida a certo grau de maturidade.
Todo o trabalho é feito pelo Espírito Virginal, que é o verdadeiro Ser Humano, o Eu Sou, feito à imagem e semelhança de Deus. Esse Espírito, como sabemos, possui três “potências” ou “princípios” que se ativam nos planos cósmicos correspondentes à sua natureza, e em cada um desses planos revestem-se a si mesmos com o que pode ser chamado “envolturas” da substância do plano, ainda que à palavra envoltura não expresse adequadamente a ideia pretendida. Essas três potências do Espírito Virginal são o Espírito Divino, o Espírito de Vida (Amor) e o Espírito Humano. Desses, tem se dito outras vezes nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que: o Espírito Humano trabalha na Mente como Razão; o Espírito de Vida trabalha na Mente sob a forma de Intuição e que o Espírito Divino trabalha na Mente como Epigênese, que é o poder criador da Divindade, o poder mediante o qual o Espírito faz nascer novas iniciativas e progressos para a evolução. A Epigênese é a que torna possível que o Espírito inicie novas linhas de progresso e desenvolvimento. É ela que capacita o ser humano para “reger suas estrelas”.
Assim como o Espírito Humano se manifesta como Razão, e o Espírito de Vida como Amor e Intuição, assim O Espírito Divino se manifesta como Vontade Criadora.
Em todos os casos a Mente é a ponte, e a essência anímica de toda experiência chega ao Espírito por essa ponte. Não há outro caminho, diz Max Heindel. Com um pouco de reflexão, perceberemos como isso é certo. Se a Mente é descartada, o ser humano regride a um estado animal, ou ainda vegetal.
A Mente humana funciona no Mundo do Pensamento, que está dividido nas duas “regiões”: a Região do Pensamento Concreto e a Região do Pensamento Abstrato. A Memória da Natureza pertencente ao Período Terrestre encontra-se na região intermediária do Mundo do Pensamento, onde também têm seu lugar as forças arquetípicas. Essa Região das Forças Arquetípicas, que é o lugar da Memória da Natureza pertencente o Período Terrestre é, consequentemente, a “memória” do Espírito da Terra. As primeiras nove Iniciações dos Mistérios Menores revelam tudo que está oculto nesse registro. A primeira Iniciação Maior, que faz do Iniciado um Adepto, revela, então, o mistério da própria Mente. Esse é um mistério que pertence a “Deus, O Pai” — O aspecto Pai dos Logos Solar, que é o Líder dos Senhores da Mente. Nesse “mistério da Mente” está a solução dos problemas do Bem e do Mal, da “Queda do Homem” e da Ilusão.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – jul./ago./88)
O Método Socrático e a Educação para a Era de Aquário
No advento da Era de Aquário é de principal importância a atenção que se deve dispensar à educação das crianças, preparando-as para o futuro, e não para um presente efêmero, que aliás é de uma rápida mudança e que por isso quase nem se pode caracterizar com certeza. Sabemos a Idade de Ouro que espera a humanidade e, portanto, as sementes de uma sociedade mais livre e fraterna, uma geração que sinta os valores do espírito como realidade eterna, deve aparecer diretamente com ação no plano físico. Mesmo entre nós, Estudantes Rosacruzes, deveríamos dar mais ênfase a este Aspecto, seja nos nossos contatos pessoais, quer mesmo dentro da nossa filosofia no que diz respeito à preparação de programas adequados às crianças, visando de um modo particular a atividade movimento-som-expressão, atendendo a Aspectos astrológicos como o Ascendente, posição da Lua, Vênus e Mercúrio.
Não é tarefa fácil educar plena e harmonicamente se tivermos em consideração a responsabilidade da palavra educar, e sobretudo se pensarmos que podemos atrasar ou acelerar esse aparecimento do ser humano novo, equilibrado de mente e corpo, do ser humano que possa ver em todo o conhecimento a Unidade, o sentido sagrado de todo e qualquer ato. Parece-nos, creio, ser este o ponto mais importante de educação para a Nova Era, a parte de outro: o desenvolvimento da criatividade. Esse, deveras amplo e atraente, é sempre tema inesgotável. Assim, numa perspectiva humana, criatividade será sinônimo de autêntica liberdade interior, fator epigenético por excelência, e talvez das poucas vias para um convívio fraterno aquariano sem atropelos de ideias e empreendimentos postos em ação, pois que seremos ainda mais individualizados, o que quer dizer que cada qual pensará cada vez mais por si mesmo, e só no campo criativo poderá haver maior libertação.
Ao longo da História têm aparecido pedagogos e pedagogistas que têm trabalhado para a educação. A sua preocupação básica tem incidido principalmente na questão do que é educar e quais os melhores processos e métodos, não esquecendo os estudiosos da chamada psicologia do desenvolvimento — etapas do crescimento mental-emocional da criança. Não podemos ignorar que a despeito do avanço das ideias pedagógicas, os sistemas econômicos e os governos têm condicionado certas descobertas, atropelado tal investigação ou ignorando certa iniciativa. É certo que tudo isto é um problema complexo, mas fundamentalmente sabemos que é o “pão” da idade sombria que atravessamos. Considerando esta análise, e para nosso espanto paradoxal, encontramos hoje em dia ideias e métodos de séculos passados, plenamente prontos a serem levados à prática. Mais uma vez nos certificamos que, antes de mais, tudo nasce no pensamento, variando depois o tempo e o modo como serão realizados no mundo material. Um indivíduo de hoje pode conceber algo que só venha a ser materializado séculos depois. É também o caso da expansão e vivência da Filosofia Rosacruz; sendo divulgada no princípio deste século, só agora começa a ser mais e mais reconhecida.
Tudo isto a propósito da educação e do grande pedagogo Sócrates (460-369 A.C.). O que Max Heindel aconselhou para o desenvolvimento da criança pode encontrar aplicação e harmonia no método socrático. Vamos ver sucintamente alguns pontos fundamentais desta via pedagógica. Aliás é Jäeger que na sua grande obra “Paideia”, considera esse grande educador grego (e universal por vocação) como o fenômeno mais extraordinário da História do Ocidente. Logo de início, deparamos com um aspecto interessante, tanto mais se atendermos ao fato da criança nos primeiros anos de vida pode e deve ser educada sem livros. Sócrates ensinava aos seus discípulos tomando como ponto de partida a consciência da própria ignorância; depois cada qual devia aprender por si mesmo. Relacionamos isto com a absoluta necessidade de desenvolver na criança o sentido do trabalho pessoal e consequente responsabilidade e independência; vejamos o alcance que isto poderá ter quando for adulta, se no seu horóscopo Netuno estiver “aflito”, criando condições para o assalto de espíritos-controladores. Educada de certa maneira a criança poderá ganhar confiança em si mesma, o que se adquire quando aprende à sua custa. A forma do método socrático assenta no diálogo (o qual será muito salutar na próxima Era de Aquário) e tem por objetivo a autorreflexão crítica. Apresenta duas fases: uma negativa — a ironia; outra positiva — a maiêutica. A maiêutica é coro que uma arte obstétrica, faz nascer na mente do interlocutor as verdades latentes. O Discípulo era assim encaminhado para procurar as soluções dentro de si, partindo dele próprio. Isto é de capital importância no ser humano e particularmente no Aspirante Rosacruz. A verdade oscila e vive sempre entre o mundo externo (plano objetivo) e a arquetípica realidade interior no Mundo do Pensamento (chamada de plano subjetivo, embora seja esta a real). Os Discípulos e Aspirantes da Escola Rosacruz sabem da imperiosa atitude que se deve ter em relação a atitude mental: partindo da ignorância e humildade, procurar a verdade (Lei) dentro de si, admitindo todas as coisas como susceptíveis de acontecer. Desta analogia entre o método socrático e o caminho do desenvolvimento espiritual, concluímos que o caminho preconizado pelo pensador grego leva necessariamente ao aparecimento de uma pedagogia ativa interior. Não devemos confundir o método, como técnica que é, com a divulgação de valores ideológicos que podem ser transmitidos através daquele. Portanto, a via socrática pode ser utilizada ao serviço de várias causas, mais plenamente se forem de vocação universal, o que é o nosso caso, isto é, a Filosofia Rosacruz. Max Heindel, na sua humildade e sabedoria, deixou-nos dois bons exemplos de livros em Perguntas e Respostas, o que constitui, discretamente, um modo socrático de aprofundar conhecimentos[1].
Como o nosso processo evolutivo é em espiral, pois verdadeiramente nada se repete, resta-nos utilizar, tanto hoje como no futuro próximo (salvaguardando a hipótese de aparecer melhor processo — o que não será de todo impossível), todo o avanço técnico e outros meios que possuímos em vários campos, para à nossa educação, isto é, para a nossa descoberta — a beleza e totalidade da Vida.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 05/06/88)
[1] Embora saibamos que a edição dos referidos livros só tenha sido feita depois da passagem de Max Heindel aos planos invisíveis.
A Paz deve nascer em nosso íntimo
Milhões de pessoas se dedicam, no mundo inteiro, a atividades belicistas, na qualidade de soldados, burocratas, cientistas, técnicos ou trabalhadores não especializados. Calcula-se que cerca de 100 milhões de pessoas têm a ver direta ou indiretamente com os muitos bilhões de dólares que o mundo destina às atividades militares. Atualmente cerca de 25 milhões de homens servem nos exércitos regulares do mundo. Não temos dados precisos sobre o número de civis empregados em departamentos de defesa. Mas, segundo uma estimativa da Unesco para 1975, naquela época, as nove principais potências do globo empregavam 2,5 milhões de civis em seus departamentos de defesa. Hoje, esse número deve ter crescido consideravelmente.
Mahtar M’Bow, Diretor-Geral da Unesco afirmou num discurso dramático: “A criação de um mundo de justiça, progresso e paz para todos os povos é dificultada pelo acréscimo e aperfeiçoamento constantes de meios de destruição em massa. As consequências desse estado de coisas são duplamente angustiantes. Por um lado, fazem pairar sobre o mundo inteiro a ameaça de uma hecatombe sem precedentes; as radiações atômicas não respeitam fronteiras, não respeitam países; nenhum povo está a salvo dos efeitos de um conflito nuclear.
Por outro lado, os imensos recursos humanos e materiais postos à disposição das indústrias bélicas e da pesquisa e desenvolvimento de armas, são desviadas da luta mundial contra a pobreza que sacrifica tantos povos. Milhares de cientistas e engenheiros dedicam seu talento e suas energias ao aperfeiçoamento de técnicas de matança e bilhões de dólares são gastos anualmente para esse fim. Apenas uma parte desses recursos intelectuais, financeiros e tecnológicos, aplicada adequadamente bastaria para reverter as tendências atuais e permitiria que se começasse a reduzir a distância que separa as nações industrializadas das nações em desenvolvimento, e que separa grupos privilegiados de grupos desfavorecidos dentro de cada nação. A própria fisionomia do nosso planeta poderia ser transformada com isso. A alternativa que se abre para nós, por tanto, é insofismável. Ou prossegue a corrida armamentista, cercada de todas as injustiças, prolongando todos os egoísmos e multiplicando as causas de conflitos e os perigos de conflagração, ou as nações se unem pondo o senso do futuro comum acima dos interesses individuais e das ambições de curto prazo. Com isso o enorme potencial científico e técnico do mundo poderia ser utilizado mais para fins pacíficos, beneficiando a todos e permitindo o estabelecimento de relações baseadas na justiça e na solidariedade. É para isso que a Unesco, fiel à vocação do sistema das Nações Unidas, desenvolve sua atividade em todos os níveis da vida intelectual. Sua constituição proclama que, como “as guerras nascem na mente dos homens, é na mente dos homens que devem ser erigidas as defesas da paz”. Por isso ela se esforça em contribuir para preparar o desarmamento nas consciências, para modificar progressivamente a mentalidade no sentido da paz”.
Esse discurso encerra uma verdade profunda quando proclama que “as guerras nascem na mente dos homens, e na mente dos homens devem ser erigidas as defesas da paz”. Tudo o que ocorre no mundo é um reflexo de causas geradas no íntimo dos seres humanos. Não é possível um ato de violência ocorrer no mundo exterior a não ser que exista, primeiramente, uma ideia de violência, medo ou ódio no mundo interior do pensamento. A guerra existirá enquanto perdurarem no coração humano os pensamentos que a produzem.
Se o ser humano almeja a paz, é necessário que se empenhe em reverter a situação dentro de si mesmo. Todo pensamento ou sentimento de agressividade, mesmo que emitido contra um simples animal, não deixa de ser uma semente perigosa que somada a tantas outras acabam por gerar sangrentos conflitos.
Muita gente se engana quando imagina ser a guerra um problema completamente alheio à sua vontade, algo assim a ser resolvido entre militares e governantes. À paz pode se concretizar mais pela ação conjunta das pessoas comuns do que por estadistas e diplomatas juntos. É resultante de correntes de pensamentos e sentimentos. Essas correntes são unificadoras, isto é, desconhecem a existência dos limitadores sentimentos de raça, credo, ideologia e nacionalidade. A humanidade deve aprender a sobrepor-se a essas ideias separatistas, procurando viver a máxima de Thomas Paine: “O mundo é minha pátria, a humanidade é minha família e fazer o bem é minha religião”. Devemos renunciar ao sentimento nacionalista, abarcando com nossa simpatia a todo o Universo.
O problema, pois, está em nosso íntimo. Conhecendo essa verdade é que Max Heindel assim se expressou em uma de suas Cartas aos Estudantes: “Se os homens e as mulheres também fossem uma décima parte de entusiastas para combater o real inimigo dentro do ser humano, como o são para levantar-se em armas contra um suposto inimigo, então o Príncipe da Paz viria por si só. Todos os elementos de morte desapareceriam no limbo e a promessa gloriosa se realizaria totalmente: ‘Paz na Terra aos homens de boa vontade’. E quanto a mim, decidi não cessar meus esforços até que o último vestígio de maldade, erro e ódio sejam eliminados e a elevada trindade ‘Divindade, Verdade e Amor’ reinem dentro de mim”.
Max Heindel, na Carta nº 92 (Julho de 1918) no Livro Cartas aos Estudantes, afirma categoricamente: “Devemos compreender que não haverá paz segura e permanente até que o militarismo tenha recebido um golpe tal que não consiga mais levantar a cabeça. A paz é uma questão de educação e é impossível conseguir-se até que tenhamos aprendido a relacionarmo-nos caritativa, justa e abertamente, uns com os outros, tanto nacional como individualmente. Enquanto continuarmos a fabricar armas a paz não poderá estabelecer-se”.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – nov/dez/88)