“O Serviço de Páscoa em Mount Ecclesia foi realizado, como de costume, ao nascer do Sol, ao redor da Cruz colocada na estrela de flores douradas, localizada no centro do gramado circular, em frente ao prédio da biblioteca. Em nenhum momento emitimos convites especiais ou nos esforçamos para ter um número específico de pessoas presentes, mas vale ressaltar que, como de costume em todos os eventos importantes, o número de presentes, multiplicado ou somado, fez o número 9, que é o “Número do Homem” e o número de graus dos mistérios menores para os quais a Fraternidade Rosacruz é uma escola preparatória. Nesta ocasião estiveram presentes 33 pessoas.
Às cinco e meia Max Heindel, como de costume no Serviço de Páscoa, tomou seu lugar ao lado da Cruz e dirigiu-se aos presentes. Ele disse, em parte, o seguinte:
‘Se entrássemos em uma igreja ortodoxa ou assistíssemos aos cultos feitos ao ar livre da manhã de Páscoa, realizados em muitos lugares por todo o país, provavelmente ouviríamos a história da ressurreição de um indivíduo chamado Jesus, que morreu por nossos pecados na Sexta-feira Santa e ressuscitou dos mortos no Domingo de Páscoa. Embora a história da vida de Jesus, conforme registrada nos Evangelhos, seja praticamente verdadeira e nós O amemos e veneremos pelo nobre trabalho que Ele fez e está fazendo pela humanidade, olhamos além: para a importância e o significado esotérico da Páscoa’.
‘Se esta fosse simplesmente uma festa para comemorar a morte de um indivíduo, então seria, à primeira vista, uma tolice fazer dela uma festa móvel; não fixamos a morte de Lincoln pelo Sol, como sabemos que é o caso da Páscoa em relação ao Cristo, como comumente se supõe; pois esse evento é sempre determinado pelas Conjunção do Sol e da Lua no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Primeiro, o Sol e a Lua devem chegar a uma Conjunção, que é a Lua Nova; depois a Lua deve seguir seu curso no meio do círculo do Zodíaco até que se torne uma Lua Cheia; então, o primeiro domingo seguinte a esse evento é o Domingo de Páscoa”.
‘Isso mostra claramente que não estamos comemorando a morte de um indivíduo, mas que este é um festival solar. No entanto, não adoramos o Sol, a Lua e as Estrelas. Fazer isso seria idolatria. No entanto, sabemos que o Sol é o veículo físico da Divindade, assim como os Planetas são os veículos dos Sete Espíritos diante do Trono. Portanto, percebemos que o Espírito de Cristo que iluminou o corpo de Jesus e entrou na Terra no Gólgota não completou o sacrifício de uma vez por todas, assim como o Sol, ao brilhar sobre a superfície da Terra apenas uma vez não pode fazer as plantas crescerem para sempre nem envolver a Terra com o seu calor continuamente. Mas a cada ano, quando o Sol desce em direção ao nodo ocidental, no Equinócio de Setembro, o raio vitalizante de Cristo entra na superfície da Terra e permeia nosso globo até o centro, que atinge quando o Sol está em seu ponto mais baixo de declinação e quando falamos do nascimento do Salvador, no Natal’.
‘Então, quando o Sol começa a ascender em direção ao Equinócio de Março, essa grande onda vitalizadora de força dinâmica volta a ascender à periferia da Terra, fertilizando os milhões de sementes adormecidas no solo. Ele impulsiona a seiva nas árvores e as faz brotar, de modo que a floresta se torna um abrigo nupcial para o acasalamento de animais e pássaros. Esta força cósmica de Cristo é libertada da escravidão da Terra na Páscoa, quando ela se esgota, depois de dar sua vida pelo mundo’.
‘Assim, há uma inspiração e uma expiração na natureza e o mundo não poderia existir sem essa impregnação anual pela força cósmica do Cristo, assim como não podemos existir sem respirar continuamente o ar oxigenado em que vivemos. Logo, de fato, o Cristo nos dá anualmente o pão da vida; mas não apenas em sentido físico. Há, além disso, uma efusão espiritual durante os meses de junho, julho, agosto e meados de setembro da qual podemos nos beneficiar muito, se estivermos dispostos a nos sintonizar com suas vibrações. Esse é o verdadeiro pão da vida no sentido mais elevado da palavra e sem ele nossas almas morreriam de fome; daí a nossa grande gratidão ao Cristo pelo seu sacrifício anual’.
Naquele momento, quando a borda superior do Sol se tornou visível apenas sobre as montanhas do Leste, Max Heindel solicitou aos reunidos: ‘Vejam o nascer do Sol’, enquanto agradecia silenciosamente e oferecia orações e louvores.
Quando o Sol nasceu completamente e a região circundante, verde e alegre com uma profusão de flores, estava banhada pelo Sol brilhante, Max Heindel proferiu aos reunidos a antiga Saudação de Páscoa, ‘O Senhor ressuscitou’, para a qual a resposta é: ‘Sim, Ele verdadeiramente ressuscitou’.
Isso concluiu os cultos na Cruz e o grupo se dirigiu à Pro-Ecclesia, onde foi realizado o tradicional culto de domingo de manhã.”
(Relato de Augusta Foss Heindel, publicado na Revista Rays from the Rose Cross de maio/1918 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)
Resposta: Como todos os outros símbolos, também vários são os significados da cruz. Platão revelou um desses significados quando afirmou: “A Alma do Mundo está crucificada”, isto é: há quatro Reinos no mundo – Mineral, Vegetal (ou a planta), Animal e Humano.
O Reino mineral anima toda substância química de qualquer natureza, de modo que a cruz, mesmo sendo constituída de qualquer material, é primeiramente um símbolo desse Reino.
O braço vertical inferior da cruz é um símbolo do Reino Vegetal, porque as correntes dos Espíritos-Grupo que vivificam às plantas vêm do centro da Terra, onde esses Espíritos-Grupo se localizam, elevando-se em direção à periferia do nosso Planeta e ao espaço.
O braço superior da cruz é o símbolo do ser humano, porque as correntes vitais do reino humano chegam do Sol através da espinha vertical. Assim, o ser humano é a planta invertida, pois, da mesma forma que a planta absorve seu alimento pela raiz, fazendo-o fluir para cima, o ser humano ingere sua alimentação pela cabeça, dirigindo-a para baixo. A planta é casta, pura e desprovida de paixão, e dirige seu órgão criador, a flor, castamente em direção ao Sol, algo de beleza e encanto. O ser humano dirige seu órgão gerador cheio de paixão em direção à terra. O ser humano inala o oxigênio, dador da vida, e exala o venenoso dióxido de carbono. A planta absorve o veneno exalado pelo ser humano, construindo seu corpo a partir dele, e devolvendo o elixir da vida, o oxigênio purificado.
Entre os Reinos Vegetal e Humano se encontra o Reino Animal com a espinha horizontal, e nessa coluna horizontal as correntes de vida do Espírito-Grupo animal movimentam-se, enquanto circulam ao redor do nosso globo. Portanto, o braço horizontal da cruz é o símbolo do Reino Animal.
No esoterismo, a cruz nunca foi considerada como um instrumento de tortura, e somente a partir do século VI é que se representou o Cristo crucificado nas pinturas e obras. Antes dessa época o símbolo do Cristo era uma cruz e um cordeiro repousando aos seus pés, para transmitir a ideia de que, no momento em que o Cristo nasceu, o Sol no Equinócio de Março cruzava o Equador no Signo de Áries, o Cordeiro. Os símbolos das diferentes Religiões sempre foram criados dessa forma. Na época em que o Sol, por Precessão dos Equinócios, cruzava o Equinócio de Março no Signo de Touro, o Touro, uma Religião surgiu no Egito em que se cultuava o touro Ápis, de modo semelhante que cultuamos o Cordeiro de Deus. Numa data muito remota, ouvimos falar do deus nórdico Thor conduzindo suas cabras gêmeas através do céu. Isso ocorreu na época em que o Equinócio de Março se encontrava no Signo de Gêmeos, os Gêmeos. Na época do nascimento de Cristo, o Equinócio de Março estava, aproximadamente, a sete graus de Áries, o Cordeiro e, por isso, nosso Salvador foi chamado de Cordeiro de Deus. Houve uma contestação no passado contra a ideia de ser o cordeiro o símbolo de nosso Salvador. Alguns afirmavam que o Equinócio de Março, no momento do Seu nascimento, estava realmente no Signo de Peixes, os peixes, e que o símbolo do nosso Salvador deveria ter sido um peixe. É em memória dessa contestação que a mitra do bispo ainda assume o formato da cabeça de um peixe.
(Pergunta nº 100 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas-Vol. I”-Max Heindel-Fraternidade Rosacruz)