“Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram.” (Mt 7:13-14).
Para o leitor profano, estas palavras de Cristo-Jesus parecerão detestáveis e seu aspecto apavorante foi usado livremente por muitos padres e pastores de igrejas que pregam o Cristianismo popular, que continuam atuando sob o impulso do regime jeovístico do medo, com a intenção de amedrontar as suas congregações a levar uma vida mais religiosa. Mas, quando se interpretam sob a luz reveladora dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, indicam as verdades e belezas do Caminho Espiritual – a vida “mais abundante”, na qual todas as nossas faculdades latentes se desenvolvem em uma bela floração. Em verdade a vida, de acordo com as Leis de Deus que nos governam e governam todo o universo, requer o sacrifício de coisas que chamam aos sentidos, mas também brindam uma mudança de percepção, que estabelece uma apreciação mais penetrante e o poder de desfrutar das coisas reais da vida. Gradualmente, “um Coração Nobre, uma Mente Pura e um Corpo São” trabalham em perfeito acordo para proporcionar paz e satisfação sempre crescentes.
Vivendo como o faz em meio de incontáveis atrações aos sentidos, podemos até achar mais fácil seguir a linha de menor resistência e agradar aos sentidos. Não obstante, o tempo tem que chegar quando a aversão, a saúde prejudicada e o sofrimento levam a prestação de contas e ao desejo de conhecermos as joias da vida espiritual. Começamos a abandonar o caminho da vida sensual, e aprendemos a falar e a atuar em harmonia com a Vontade de Deus, que governa tudo.
Quando Cristo convidou a todos para entrar pela “porta estreita”, estava chamando o Eu Superior em nós (o Ego, o Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui), a nossa parte que sempre se dirige às estrelas, que sempre aspira às alturas, como o simboliza o Signo de Sagitário. Somente por períodos temporários essa voz interna em nós pode ser silenciada, porque embora enterrado entre as capas da materialidade, nós, o Ego, anelamos por nosso lar primitivo com o nosso Criador, Deus. Há sempre um impulso interno para um modo mais espiritual de vida!
Como Espíritos diferenciados em Deus (não de Deus), como imortais, passando tempos incontáveis através do Ciclo de Vida que conduz desde os Céus até a materialidade, e desde o mundo material, de retorno para os planos superiores, realmente um novo Dia Evolutivo chega, e algo em muitos de nós cai para adiante, enquanto que em outros de nós, não havendo conseguido se capacitar, são colocados em outro meio ambiente para cumprir o trabalho que não fizeram e, portanto estão atrasados.
Aqueles dentre nós que têm a face voltada para a Luz, reconhecem o enorme Poder do Espírito e não admitem frustração alguma no Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz. Quando uma vez a pessoa houver despertada e for devidamente ativa, o “eu inferior” é sentenciado à morte. A vida dos sentidos perde suas atrações, e o Caminho, no qual se crucifica a Personalidade pela eterna glória de Deus, se converte cada vez mais luminoso e sedutor. Cada dia de amor e serviço amoroso e desinteressado (e, portanto, o mais anônimo possível) prestado ao irmão e à irmã que está ao lado, focando na divina essência oculta em cada um deles – que é a base da Fraternidade – traz certo adiantamento para o Reino da “Vida”, a vida abençoada de atividades e progresso no Grande Jardim de Deus.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – agosto/1981 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Há verdades que se evidenciam naturalmente. Um cientista, um artista, um desportista, ou qualquer pessoa capaz de se destacar em um ramo de atividade, desenvolveu seu talento mediante longos anos de exaustivos exercitamentos. Lutou arduamente para chegar ao ponto de poder reclamar a atenção do mundo e seu reconhecimento como uma pessoa competente naquele campo para o qual direcionou suas energias.
Um ponto não deixa dúvidas: essa pessoa pagou o preço exigido pelo mundo. Não foi um sonhador, nem se deixou seduzir pela ideia de que bastaria imaginar uma determinada situação futura para que ela se materializasse pura e simplesmente.
Ao contrário, ele lutou, suou, “comeu o pão que o diabo amassou” – como se diz –, até conseguir o seu intento. Sentiu-se, finalmente, recompensado em todos os seus esforços.
Mas, existe uma outra linha de trabalho cuja recompensa é infinitamente maior e eterna. É a diligente investigação das verdades espirituais e o serviço amoroso e desinteressado aos demais, conforme preconizam os Ensinamentos Rosacruzes.
Representa essa linha de trabalho uma forma de chegar ao desenvolvimento superior e a abertura daqueles sentidos através dos quais é possível entrar em contato com os Mundos suprafísicos. Inegavelmente esses são os valores reais da vida, e devem constituir-se na razão de todo o esforço do ser humano.
Essa vida invisível de que a humanidade conhece tão pouco vale mais do que qualquer outra conquista. Sendo assim, se deveria lutar por ela com redobrado esforço e ânimo inquebrantável.
Mas quem se dispõe a pagar o preço exigido? O ser humano comum tentará enveredar pelo caminho da espiritualidade levado pela ânsia de glórias imediatas. A recompensa que almeja é o reconhecimento dos próprios seres humanos e sua ação visará o elogio, a gratidão, o poder e o prestígio. Como esses valores são efêmeros pouco tempo durará seu galardão.
O caminho da recompensa eterna é diametralmente oposto. Ao invés de encômios e reconhecimento público é mais lógico se esperar a incompreensão do mundo. Essa opção envolve renúncia, autodisciplina, nenhum egoísmo e outras qualidades. Este, porém, é o verdadeiro caminho a ser trilhado por quem conscientemente aspira por uma vida superior. Como afirmou Cristo no Capítulo 10 do Evangelho Segundo São João: “Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador“.
As faculdades espirituais que devem ser desenvolvidas por meio do serviço paciente e amoroso são as ferramentas com as quais o ser humano deve abrir seu caminho rumo aos planos internos da natureza. Lançar mão de qualquer outro meio que não estes, significa evitar a “porta verdadeira”, a estreita, tornando-se ladrão e salteador.
Cristo é a única porta através da qual pode-se entrar no Reino dos Céus. E Ele nos adverte: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida“. Ele é a única porta e esta porta é muito estreita.
(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de setembro-outubro/1987)