“Vocês precisam de paciência para que, depois de terem feito a vontade de Deus, possam receber a recompensa”[1].
Sem dúvida, S. Paulo viu a impaciência dos “Pequeninos”, como os Estudantes de hoje, ansiosos para “colher onde não haviam semeado” e se queixam de seu lento progresso. Primeiro a natureza e depois o espiritual, o crescimento do anterior e a analogia do superior. São necessários vinte e oito anos de vida terrestre para fazer da personalidade do ser humano um bebê primogênito; isto é, um indivíduo fisicamente adulto e seguro. É provável que um ser eterno e imortal possa desenvolver e definir um caráter cristão e uma profunda raiz espiritual em poucos anos?
O Espiritual só pode se desenvolver quando a Natureza cede, pois em um jardim a planta preferida floresce exatamente na proporção em que as ervas daninhas são arrancadas e o cultivo é restabelecido.
Nosso Salvador Cristo não prometeu transformar o ser humano. Ele prometeu “Poder” para se tornarem Filhos de Deus e “acreditar em Seu nome”. O poder de se tornar uma árvore ou flor perfeita está em uma semente, o pequeno começo do crescimento espiritual, está na “crença n’Ele”.
O jardineiro tem um trabalho a fazer: manter todas as ervas daninhas afastadas e cultivar a terra. A vida cresce na semente.
Quando alguém aceita a Cristo com o coração, ele dá a vida que crescerá para a perfeição espiritual para o cultivo. Os frutos do Espírito são todas as belas qualidades da alma que tornam uma vida nobre e útil, porém, não são vistas ao mesmo tempo produzidas em sua plenitude. A aparente mudança pode ser grande em relação à de um mundano – egoísta, mercenário, vaidoso e impuro – porém, leva tempo para desenterrar as velhas raízes e ervas daninhas, cujas sementes tendem a ter uma periodicidade de aparecer.
Muitos que se consideram firmemente estabelecidos no bem-estar, são pegos dormindo e derrubados por algum defeito do passado por falta de vigilância. A espiritualidade, em seus estágios iniciais, é facilmente desviada do coração por influências mundanas; ninguém precisa de uma amamentação mais prolongada para manter seu poder afetivo. O cérebro é o elo de conexão e os pensamentos mentais devem estar focados para alcançar seu ideal, a fim de se manter longe das muitas tentações que o mundo oferece, especialmente aos jovens.
Os Ensinamentos Rosacruzes apelam para os Cristãos que, de certa forma, se afastaram dos desejos da natureza e que, talvez, tenham sido plenamente experimentados e provados que estão carentes das qualidades que satisfazem a alma; contudo, a Natureza morre lentamente, as exigências da santidade são difíceis e, especialmente nos Cristãos com mais idade física, retroceder não é incomum. Muitos chegam a qualquer novo ensinamento para os obter “os pães e os peixes”, enquanto que um grande número se unem a uma igreja popular para curar seus males corporais e permanecer ali a fim de continuar recebendo as bênçãos da saúde. Esse motivo parece ser depreciativo para o crescimento da alma, mas, não se pode entrar em contato com a Espiritualidade sem sentir sua influência para a elevação; e assim, com o tempo, aqueles que chegam por razões egoístas podem se tornar seguidores sinceros da fé. Há muitas almas vacilantes indo de um culto a outro para encontrar descanso para as solas dos pés, e onde a Verdade for encontrada em maior medida, a grande multidão virá para o “pão da vida”. Elas podem ser muito sinceras, honestas, mas de modo alguns estão prontas para a Iniciação. As plantas que, às vezes, dão flores e frutos em abundância precisam ser transplantadas várias vezes antes de mostrarem seu verdadeiro vigor e, quando finalmente chegam ao lar permanente, ainda precisam esperar longos meses e até anos de desenvolvimento, antes que o fruto nasça. Somente a maturidade do tempo traz a produtividade total.
Analise as lágrimas de qualquer um dos verdadeiros Santos que se mantiveram na fé e terminaram o caminho para Deus; o caminho deles, certamente, não foi de rosas. Morrer diariamente para si mesmo, para as paixões da Natureza inferior, para a adoração material; sacrifícios diários na cruz do Corpo Denso, com olhos fixos no Senhor, com Cristo interno repleto no coração, com todos os presentes no altar na consagração à Humanidade. Os Cristãos são compostos de vários tipos e qualidades, parecido com os tipos das embarcações marítimas: alguns parecem apenas com barcos a remo amarrados à costa, com medo de se aventurar sozinhos; outros mais ousados, mas com medo de águas profundas; outros, então, como um navio veloz para passageiros, preparado para a viagem, bem equipado, o Capitão em seu posto, de olho na bússola. E mesmo assim, algumas vezes, batem em uma rocha ou falham em resistir a um vendaval, e afundam. Existem outros que parecem submarinos que exploram os segredos das profundezas.
Tais são os Adeptos na Fraternidade Rosacruz, talvez profundamente envolvidos nos segredos do governo, em missões importantes, guardiões avançados na pesquisa, difíceis de se encontrar, difíceis de destruir, vencedores do inimigo das almas. Depois, existem as aeronaves; essas são símbolos dos Irmãos Maiores, que navegam em outro elemento. Pois, Eles estão no ar, na atmosfera clara de um ar rarefeito, e enxergam além das brumas que escondem o passado e o futuro da nossa visão limitada. Esses tipos de pessoas não surgiram em um só dia. Há muito tempo de desenvolvimento entre o barco a remo frágil e o submarino ou a aeronave.
A paciência deve ter seu ciclo de trabalho terminado: a alma deve crescer de maneira ordenada, primeiro a folha, depois a espiga e depois a espiga cheia de milho. Um dia de cada vez, uma falha superada, um ato altruísta, um pensamento amoroso verdadeiramente universal; através de todos e de cada um de nossos passos no “Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz”. Não adianta se preocupar, não adianta se apressar; é uma daquelas situações onde é melhor fazer isso bem devagar, pois se você fizer isso muito depressa, você cometerá erros. Somente o tempo e a paciência podem curar a alma de sua incapacidade e levá-la à estatura total de “Uma pessoa em Cristo Jesus”[2]. A sequoia, a maior árvore do mundo, leva milhares de anos para atingir sua altura elevada, e as outras árvores de mais de cem anos parecem pequenas mudas delas, em comparação.
Estruturas fortes e permanentes avançam lenta e seguramente, contudo, são construídas para durar, suportar os vendavais, o estresse da vida. Aos Estudantes da Filosofia Rosacruz é muito bom o manter essas verdades, constantemente nas suas Mente (e não aumentar os encargos da sede de um Centro Rosacruz, escrevendo com espírito de crítica, de impaciência, como alguns que conheço. O escritor está longe, e mesmo assim, acaba entrando em contato com outros Estudantes que também demonstram essa falta de compreensão da vida). Os meios de crescimento, cultivo e poder da alma estão nas nossas mãos, em nossos lares e no ambiente ao nosso redor. Aqui e agora é o nosso lugar e hora para começar de novo, a cada dia abençoado para desenvolver um corpo espiritual, para preparar as glórias prometidas aos fiéis até o fim. “Você tem pouca força se cair no dia da adversidade”[3].
(Publicado na: Rays From The Rose Cross – janeiro/1916 – e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: Hb 10:36
[2] N.T.: IICor 12:2
[3] N.T.: Pb 24:10
A sua Paciência
“…tende por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que a vossa fé, bem provada, leva à perseverança.” (ITg 1:2-3).
Passamos dificuldades, provações, tentações, porque estamos em contínuo treinamento, em ininterrupto aprendizado. Se enfrentamos essa dificuldade, essa provação de frente e com vontade, logo a resolveremos, logo descobrimos o seu mistério: a solução, pois um mistério depois de ser desvendado deixa de ser mistério.
E assim é, pois o objetivo da nossa existência aqui não é a busca da felicidade, como muitos pensam, mas sim a aquisição de experiências nessa vida. Ou seja, como, sozinhos, podemos suportar e resolver todas as dificuldades.
E quantas vezes nos pegamos numa situação onde a paciência basta para resolver! Então, o que é a paciência, senão a “prova da nossa fé”? Sim, porque se temos paciência, é porque acreditamos que alguma coisa acontecerá para nos ajudar a resolver tal dificuldade.
Muitas vezes a paciência nos falta porque nos deixamos envolver pelo amor desordenado e pelo vão temor. Esses, por sua vez, trazem o desassossego do coração e a distração dos sentidos. Já que, se a paz, necessária para a paciência, depender da boca dos outros, do que dizem ou deixam de dizer de nós, então não teremos a paciência. Pois a verdadeira paciência está em Cristo, na prática da vida espiritual, que é interior, e nada tem a haver com o seu exterior, o seu entorno.
E é, principalmente, nas horas de dificuldades que devemos nos calar, nos voltar interiormente para Cristo, e não se deixar perturbar com os sussuros humanos. Nessa constante luta, durante a nossa peregrinação aqui nessa vida, devemos sempre considerar que: “sem trabalho não se consegue o descanso e sem combate não se alcança a vitória.”.
Agora, devemos ter claro para nós mesmos que é a paciência e não a indiferença que temos que cultivar. Sim, porque, como diz São Tiago em sua Primeira Epístola, também no Capítulo 1, versículo 4: “…mas é preciso que a perseverança produza uma obra perfeita, a fim de serdes perfeitos e íntegros sem nenhuma deficiência.”. A indiferença induz ao egoísmo de não se importar com as pessoas ao nosso redor. Ao contrário, a paciência é aceitá-las, ajudando-as aonde necessitarem. A tentação aqui está presente por meio da indiferença ou, ainda, da falta de paciência. É muito mais cômodo!
Esse comportamento de indiferença está ligado, muitas vezes, a essa eterna mania de achar que podemos ficar onde estamos, estáticos, “no se cantinho, sem ninguém a importunar”. Como ficar nessa posição em um universo dinâmico, onde tudo evolui? Portanto, se insistirmos em ficar onde estamos, retrocedemos ou cristalizamos. Essa é uma pobre e perigosa ilusão do nosso “Eu inferior”. Aqui entra a tentação para não nos deixar ficar parados. Mas, como também diz São Tiago em sua Primeira Epístola, também no Capítulo 1, versículos 13 a 14: “Ninguém, ao ser tentado, deve dizer: ‘É Deus que me está tentando’, pois Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Antes, cada qual é tentado pela própria concupiscência, que o arrasta e seduz.”. Deus não tenta ninguém. Cada um é tentado pelos seus próprios defeitos, teimosia, dívidas a pagar, ignorância e desejos de bens materiais.
A partir do momento em que deixemos de viver na esfera do nosso “Eu inferior”, que esqueçamos por completo a Personalidade e a viver na nossa Individualidade, começamos a suplantar à tentação, a resistir à tentação, a “não cair em tentação”, a ficar acima dela. Amando e servindo a divina essência oculta em cada pessoa ao seu redor, nos unificamos por amor de Deus, respondendo ao nosso “Eu superior”, dando ênfase a nossa Individualidade. Sim, porque para “amar o bem, é preciso ser bom”.
É esse nosso próprio desejo por focar nossa vida em aquisição de bens materiais (direta ou indiretamente) que “…dá à luz o pecado, e o pecado, atingindo a maturidade, gera a morte.” (ITg 1:15). E entendamos que a indiferença, que na realidade nada mais é do que o medo de alguém nos perturbar e nos tirar da situação em que gostamos, também é pecado.
Assim, vemos que a paciência requer sabedoria: o conhecimento temperado com amor. E “…Se alguém dentre vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a concede generosamente a todos, sem recriminações, e ela ser-lhe-á dada, contanto que peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento.” (ITg 1:5-6). E é por meio dessa sabedoria que conhecemos a causa de todo o bem. Então, é por meio dessa prática que conhecemos a Deus. Mas, o que é o conhecimento de Deus, senão o conhecimento do bem e do mal? E se conhecermos realmente o bem e o mal, as provações não serão mais “problemas”. A paciência, advinda desse conhecimento, nos dará a explicação do porque ocorre dessa e não de outra maneira. Afinal, é fato que “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto e desce do Pai das luzes, no qual não há mudança nem sombra de variação.” (ITg 1:17).
De que adianta sofrer só quando “queremos”? Lá vem falso conhecimento dizendo que é a “vontade de Deus” que soframos tudo isso. Acomodamo-nos em tal “sofrimento” e criamos uma falsa paciência, ou melhor, um comodismo. E quantas são as pessoas que conhecemos nessa situação! E quantas vezes nos pegamos nessa situação!
O verdadeiro paciente, aquele que possui a virtude da paciência, não “escolhe” a ocasião para sofrer, para suportar uma provação. Mas, sempre que lhe sucede qualquer adversidade, qualquer provação, aceita-a e agradece, pois sabe que se trata de uma grande oportunidade para o seu crescimento espiritual. Nunca devemos nos desanimar com quaisquer contrariedades. Mas, ver nela sempre aquela oportunidade de aprendizagem que tanto precisamos.
Se tomarmos a consciência lógica de que tal contrariedade, tal provação, fomos nós mesmos que escolhemos no Terceiro Céu, quando estávamos no nosso processo para iniciar essa vida aqui, veremos já que estávamos preparados para enfrentá-la; já sabíamos que tínhamos condições de sobrepassá-la.
Cabe, então, a cada um de nós arregaçar as mangas e, com paciência, achar a solução para resolvê-la. Para isso, São Tiago em sua Primeira Epístola, também no Capítulo 1, versículos 19 a 20 nos ensina: “Isso podeis saber com certeza, meus amados irmãos. Que seja cada um de vós pronto para ouvir, mas tardio para falar e tardio para encolerizar-se; pois a cólera do homem não é capaz de cumprir a justiça de Deus.”. Ou seja: nunca devemos perder a paciência. Pois, além disso não nos ajudar animicamente, ainda produz desordens físicas, mentais, doenças e enfermidades.
Por fim, tentações, provações, dificuldades, adversidades, contrariedades e tribulações teremos na nossa vida aqui inteira. E a virtude da paciência é a chave para suportá-la e, só assim, aprenderemos com elas.
Se você não possui a virtude da paciência ainda, cultive-a repetindo-a cada vez mais nas situações que a necessite. Com certeza, um dia virará mais um dos seus bons hábitos e a persistência em repetir esse seu bom hábito, um dia se tornará a virtude da paciência.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Não tem escapado à observação de Estudantes, simpatizantes e pessoas ligadas à Fraternidade Rosacruz a nossa despreocupação em arregimentar a qualquer custo grande número de prosélitos. Há quem diga que uma propaganda em massa faria, inevitavelmente, nossas salas de reuniões lotar, ensejando, além disso, um consumo sem precedentes de livros e publicações Rosacruzes.
Por uma questão de coerência com os nossos próprios Ensinamentos recusamo-nos terminante e conscientemente a lançar mão de propagandas que envolvam o espetacular e o emocional. Não utilizamos “iscas” na forma de psiquismo sensacionalista. Não prometemos mundos e fundos. Aos desejosos de filiar-se à Fraternidade, oferecemos apenas os Ensinamentos Rosacruzes, além da orientação e do ideário por eles encerrados. Todas as outras conquistas decorrem do mérito reunido pelo aspirante na superação do “eu inferior”.
É um problema individual e interno. Aos relutantes em admitir essa verdade, Max Heindel responde: “Só a persistente paciência em fazer o bem qualifica o Aspirante aos degraus da Iniciação”. E nós acrescentamos: esse “fazer o bem” tem um sentido bem amplo. Não implica somente beneficiar a outrem, mas também a si próprio pela autodisciplina, purificação dos sentimentos e pensamentos etc.
Francamente, considerando o estágio espiritual em que se encontra a humanidade, não acreditamos na possibilidade de, atualmente, a Filosofia Rosacruz atrair grandes multidões. Quem deseja melhorar-se interiormente? Quantos se acercam das Escolas Ocultistas com honestidade de propósito?
Só motivações de ordem externa empolgam as massas. Se acenássemos com fenômenos, enigmas envoltos no véu do mais profundo mistério, iniciações fáceis ou voos anímicos, atrações tão ao gosto da curiosidade popular, por certo atrairíamos muitas pessoas; todavia, quedariam, mais tempo, menos tempo, decepcionadas, porque suas pretensões ilusórias, somadas a uma visão caricata do verdadeiro espiritualismo, não resistiriam ao crivo austero do método Rosacruz de desenvolvimento.
A verdade nua e crua é que muitos seres se alentam ao aproximar-se das Escolas Filosóficas, e mesmo das religiões, com o intuito egoísta de resolver seus problemas mundanos relacionados, via de regra, ao amor, dinheiro e saúde; quando não, por mero diletantismo. Descuram-se de procurar em si mesmos a tão ansiada solução, configurada internamente como autorregeneração e observância às Leis Divinas.
Poucos se dispõem a assumir responsabilidades, tornando-se condutores de si próprios. É mais cômodo delegá-las a “mestres”, “guias”, “líderes”, eternas “muletas” de quem detesta um mínimo de esforço.
Essa posição de comodidade contraria frontalmente o método Rosacruz, basicamente aquariano, por almejar, desde o início, libertar o aspirante de toda e qualquer influência externa, tomando-o confiante em si mesmo, no mais alto grau.
As multidões, ainda nos dias de hoje, procuram ansiosamente por líderes, de preferência carismáticos, prontos a dirigi-las, comandá-las, determinar-lhes o caminho. Bebem e embriagam-se de palavras grandiloquentes. Arrebatam-se com frases de efeito, com o magnetismo derramado da retórica pomposa, do sofisma traiçoeiro e de elogios nem sempre sinceros. O líder diz exatamente aquilo que a multidão deseja ouvir.
Na Fraternidade Rosacruz não há líderes. Nem o seu fundador pretendeu essa investidura. Ele, um Iniciado de caráter nobre, forjado no sofrimento e na compaixão, foi apenas um orientador sábio e amoroso. Pautou sua conduta pelo respeito ao livre-arbítrio do seu semelhante. Jamais andou à cata de encômios e reconhecimentos. A dedicação e o sacrifício que o consumiram, a simplicidade que lhe era peculiar e seu exemplo edificante constituem uma inesgotável fonte de inspiração. Vislumbramos nosso roteiro e encontramos nossa vocação espiritual nestas suas lapidares palavras: “Cada um, movido pelo Espírito do Amor Interno, deve trabalhar sem lideranças pela elevação física, moral e espiritual da humanidade, à altura de Cristo, o Senhor e a Luz do Mundo”.
Todas as atividades desenvolvidas no seio da Fraternidade Rosacruz revestem-se de um sentido estritamente impessoal. O desejo de servir constitui o móvel de toda a ação, mantendo-se como ponto de honra a renúncia aos apelos da personalidade. A única recompensa aspirada é receber novas e maiores oportunidades de colaborar.
O exposto esclarece por que o número de Estudantes Rosacruzes ainda não é tão grande como muitos desejam que fosse. Mesmo que centenas ou milhares de pessoas acorram à Fraternidade, nela apenas a minoria permanecerá. E ainda assim, alguns desistem no meio do caminho. Nem todos estão amadurecidos para encarar a luz radiante do Cristianismo Esotérico.
Apesar das dificuldades, o número de Estudantes vem crescendo consideravelmente e o consumo de algumas obras está a exigir novas edições. Muitos jovens nos procuram. Grupos de Estudo estão se formando. Novos colaboradores estão engrossando nossas fileiras. Temos boas razões para confiar no futuro da Obra.
Consta de nossa programática difundir a Filosofia Rosacruz através dos modernos meios de comunicação. Aliás, já o fizemos algumas vezes. Porém, agora, como nas oportunidades anteriores, nosso procedimento assentar-se-á no critério de divulgar sem objetivar proselitismo. Além disso, nós, os Estudantes, poderemos nos tornar os maiores e mais eficientes divulgadores da Filosofia Rosacruz, por meio de uma vida exemplar cuja ressonância superará as mais comoventes e eruditas palavras.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1975)
A Paciência e o que ela tem a haver com a Sabedoria
Há muitos e muitos anos vivia em uma cidade, cujo nome não me lembro, um jovem que, apesar de sua grande instrução, não estava satisfeito com os conhecimentos que possuía e queria aumentá-los ainda mais.
Um dia, falando com um viajante que chegara de outras terras, este lhe dizia que em uma aldeia muito longe vivia um sábio que era a pessoa mais virtuosa do mundo e que, apesar da fama que possuía, trabalhava humildemente como ferreiro, ofício que também havia sido o do pai e o do avô.
Ahmed, assim se chamava o jovem, quis logo colocar-se sob a proteção daquele homem virtuoso, imitá-lo, escutar-lhe os conselhos. Num belo dia, tomou as sandálias, o alforje, o bordão e se encaminhou para o país, rapidamente, ansioso por adquirir a sabedoria do humilde ferreiro que, segundo o viajante, era o assombro das gentes, que o consideravam como a um ser superior devido às virtudes que possuía.
Depois de andar muitos dias, chegou, enfim, à cidade e perguntou onde ficava a casa do sábio ferreiro. Indicaram-na e lá se foi Ahmed.
Chegando à presença do ancião, beijou-lhe a fímbria do manto, como prova de respeito.
— “Que desejais, filho meu?” — Perguntou, com afabilidade o ferreiro.
— “Aprender, mestre…” respondeu o jovem, inclinando-se novamente. “Disseram-me que sois sábio e quero que me guies”.
O ferreiro, como resposta, fez o rapaz entrar na ferraria, pôs-lhe a corda da forja nas mãos e lhe disse que a pusesse em função.
Ahmed, obediente e sem protestar, pôs mãos à obra. Nela persistiu dias, semanas, meses sem que o mestre ferreiro e seus discípulos — que também desempenhavam rudes tarefas — se queixassem delas e, o que é mais estranho, sem que ninguém lhe dirigisse a palavra, como se o ignorassem inteiramente.
Assim transcorreram cinco anos. Ahmed ia todos os dias à ferraria e, terminadas as horas de trabalho, se recolhia ao albergue, sem ter nenhuma distração.
Uma tarde, por fim, encorajou-se a falar:
— “Mestre! ”
O ferreiro, suspendeu o trabalho e seus discípulos, ansiosos o imitaram.
– “Que queres? ” – Perguntou o sábio.
— “Ciência! ” — Pediu Ahmed.
“Continua puxando a corda da forja” — retrucou o ferreiro, voltando à tarefa.
Assim transcorreram outros cinco anos, durante os quais, da manhã à noite e sem que nada falasse, Ahmed continuou puxando a corda grossa da forja, sem queixar-se, com a maior resignação. Dava exemplo de laboriosidade incansável e de interesse por aquele trabalho monótono que a outro aborreceria.
Um dia, finalmente, o velho ferreiro, que durante todo aquele tempo parecia não notar sua presença, acercou-se dele e tocou-lhe o ombro.
— O jovem sentindo uma agradável emoção, soltou a corda e o Mestre lhe disse:
— “Filho meu, já podes voltar à tua Pátria com a certeza de levar em teu cérebro e em teu coração a ciência do mundo e da vida”.
— “Oh Mestre! ” — Retrucou Ahmed, cheio de assombro. “Será possível que eu possua a ciência da vida? Não posso crer, não posso ser a pessoa de admiração que me inspiram vossas sábias palavras!”
— “Sim, filho meu, não duvides nem te admires” — insistiu o sábio ferreiro – “Conseguiste toda a ciência do mundo e da vida ao adquirir a virtude da paciência”.
E, dando-lhe um beijo na testa, como em um filho, o despediu atenciosamente.
E Ahmed voltou para seu país levando em sua alma uma grande serenidade, uma paz incomparável e viveu feliz, pensando que o velho ferreiro tinha razão, pois a paciência é a suprema sabedoria.
(Publicado na revista Serviço Rosacruz em junho/1967)
Benjamim
Palavra-chave: Paciência
Benjamin era o mais aventureiro de todos os filhos de Pintadinha. Ele lhe causava realmente muita ansiedade, embora não tivesse essa intenção, naturalmente. Mesmo quando era um pintinho fofo e redondo, já se perdia fora de seu viveiro. Começava com uns gritinhos agudos de “Piu-piu-piu”, que queria dizer:
– Estou perdido, estou perdido.
Como só ia até ao lado de fora do galinheiro, Pintadinha podia ouvir seu chamado e cacarejava:
– Có, có, estou aqui, Benjamin, estou aqui.
Assim, aprendeu a confiar em sua mãe, mas não aprendeu a cuidar de si mesmo.
Perdia-se várias vezes em um dia e, no dia seguinte, a mesma coisa acontecia. Era mesmo bom que Pintadinha tivesse bastante paciência com ele, não era?
Algumas vezes, Benjamin corria para outra galinha pensando que era sua mãe. Porém, logo descobria o engano, ao ganhar uma boa bicada. Essa era a maneira das galinhas puxarem as suas orelhas e o mandarem de volta à mãe.
O quintal em que Benjamin vivia era cercado por uma tela de arame. Em alguns lugares havia buracos na tela, suficientemente grandes para permitir a passagem de um pintinho. Pintadinha avisava os filhos para nunca se aventurarem fora da tela, pois havia muito perigo lá fora. Benjamin não era realmente travesso ou desobediente, mas um dia, quando estava perseguindo um besouro, atravessou um buraco na tela sem mesmo saber o que estava fazendo. Depois, quando percebeu onde estava, olhou ao redor com muita surpresa. Ele achou o lugar muito bonito e, como não visse nada que lhe parecesse perigo, pensou que Pintadinha havia se enganado.
Encontrou uma quantidade tão grande de gafanhotos para perseguir que se divertiu muito, embora fosse difícil apanhá-los. Correu e correu até ficar exausto. Quando estava quase conseguindo um gafanhoto, este voava com um farfalhar de asas e Benjamin tinha que correr atrás de outros.
Finalmente, decidiu voltar para casa e descansar sob as asas de Pintadinha. Mas onde estava sua casa? Onde estava Pintadinha? Alarmado, ele levantou sua cabeça e gritou: “Piu, piu!”. Ficou escutando, mas nem um som ouviu em resposta. Nenhum “Có, có” de boas-vindas da mãe dele. Ficou nas pontas dos pés, esticou seu pescoço e chamou, chamou, chamou até ficar rouco, mas em vão. Começou a correr, a correr em todas as direções. Suas perninhas doíam de tanto correr, mas não conseguiu achar sua casa.
– Oh, se achar o caminho de minha casa, nunca mais serei descuidado, prometeu a si mesmo. Depois piou novamente: Estou perdido. Oh! Mamãe, onde está você?
Nesse instante, Benjamin ouviu um barulhinho no capim e viu uma grande cobra rastejando. Nunca vira uma antes, mas tinha certeza de que não era uma minhoca. Deve ser perigosa, pensou, assim correu o mais rápido possível, soltando gritos de medo. Ficou novamente na ponta dos pés e soltou um grito desesperado de socorro.
A sombra de um gavião voando baixo sobre sua cabeça projetava-se ao longo do gramado. Foi bom para Benjamin que Pintadinha tivesse ensinando muito bem seus filhos a se esconderem de coisas que voavam. Escondeu-se dentro de um arbusto, chorando baixinho e tremendo de medo. Depois de algum tempo, saiu do esconderijo, gritando novamente pela mãe.
O Sol já se punha e logo chegaria a noite. Como poderia ficar ali sozinho, naquele campo enorme? Só de pensar nisso tremia de frio e medo. Caminhou sem rumo, por um longo tempo, tropeçando em galhos e pedras por estar muito cansado e fraco, soltando a cada momento um grito desesperado:
– Mamãe estou perdido, estou perdido. Oh, Mamãe, onde está você?
Já estava para desistir quando pareceu ouvir, à distância, a voz da mãe dele. Ficou à escuta. Sim, tinha certeza. O “Có-có” da mãe era a música mais linda para o ouvido dele. Esqueceu-se o quanto estava cansado e como correu! A cada momento parava e chamava:
– Onde está você?
– Estou aqui, respondeu Pintadinha.
Correu, então, na direção da voz dela. Finalmente, chegou à cerca, mas tão cansado que não conseguiu encontrar o buraco. Pintadinha ficou cacarejando, encorajando-o a não desanimar e finalmente ele encontrou o lugar certo e entrou no quintal. Coitado do pequeno, empoeirado e cansadíssimo Benjamin. Correu para baixo das asas de sua mãe e aninhou-se bem juntinho dos irmãos e irmãs. Que lugar maravilhoso era sua casa! Nunca mais seria descuidado a ponto de perder-se. Nunca se esqueceu da cobra e do grande gavião. Aprendera uma lição que jamais esqueceria.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. V – Compilado por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)