Pergunta: Os Arcanjos trabalham com a humanidade? Se isso é verdade, como e com o que se parecem?
Resposta: Sim, os Arcanjos trabalham com a humanidade. Aparecem a todos aqueles que os podem ver como seres poderosos de dimensões variadas, irradiando grandes correntes de força colorida. Em algumas ocasiões aparecem dentro de uma formação nebulosa.
Cada nação (com raras exceções) possui um Espírito de Raça, um Arcanjo, que à vista espiritual aparece como uma nuvem envolvendo e permeando a atmosfera do país habitado pelo povo que se encontra sob o seu domínio. Observa-se tal domínio quando o Espírito de Raça exerce um controle sobre a laringe e os pulmões de cada ser pertencente àquela comunidade particular. As cordas vocais vibram dentro da sua nota peculiar, o que faz com que o idioma de uma nação difira do de outra.
É em resposta à vibração dos Espíritos de Raça que os laços de nacionalidade unem os povos de uma nação num propósito comum, não somente entre si, como também em relação à terra que habitam. Esse laço é conhecido como patriotismo. Esses Espíritos Arcangélicos são os árbitros do destino de seus povos, tanto sob o aspecto espiritual como político e industrial.
Os Arcanjos operam na reflexão do impulso espiritual vindo do Sol sobre a humanidade, sob a forma de Religião de Raça e por isso são aptos no manejo dessas forças solares, agindo diretamente sobre o Corpo de Desejos no sentido de restringir suas tendências malévolas.
Esses excelsos seres dirigem correntes de força espiritual de tal forma que limitam a ação individual por intermédio do medo ou impelem atos de coragem. Entretanto, seu trabalho sobre a humanidade tem uma finalidade benéfica.
A liberdade individual é exígua nos países onde se observa um acentuado poder do Espírito de Raça. Por outro lado, quanto mais avançada é uma nação, tanto maior é a prerrogativa de livre-arbítrio de seus concidadãos.
Os Arcanjos são os auxiliares de Jeová (o Espírito Santo), hábeis manipuladores das forças espirituais solares. Seu veículo de expressão inferior é o Corpo de Desejos. Eis porque preparam a humanidade para receber diretamente essas forças sem a intervenção lunar. Essa tarefa cabe ao Cristo, como o mais alto Iniciado do Período Solar.
(da Revista Rays from the Rose Cross – Publicado na Revista Serviço Rosacruz – setembro-1970)
Pergunta: Se a mulher, que possui o Corpo Vital positivo, atingir um ponto evolutivo que lhe permita escolher um corpo, e ela escolher um Corpo Denso positivo, onde será contrabalançada a parte negativa?
Resposta: Para esclarecer melhor, precisamos compreender primeiramente que homem e mulher são designações que se aplicam apenas ao Corpo Denso, pois o sexo não se expressa da mesma maneira nos veículos superiores. Fixem firmemente a ideia que o Espírito que se manifesta nos corpos de ambos os sexos, que chamamos masculino e feminino, é assexual. No entanto, duas características do Espírito são particularmente postas em evidência quando ele cria seus veículos: vontade e imaginação, positivo e negativo, e eles manifestam-se, respectivamente, como masculino e feminino quando o Espírito alcança o Mundo Físico e constrói o corpo no qual atuará sob a orientação divina das Hierarquias Criadoras. O Espírito expressa alternadamente vontade e imaginação, para que se desenvolvam igualmente ao manifestarem-se em corpos masculinos e femininos. O equilíbrio, sendo imperfeito, é restabelecido ao receber um Corpo Denso positivo juntamente com um Corpo Vital negativo, e vice-versa.
Finalmente, quando chega o momento em que o Espírito — após ter passado pela escola da vida aprendendo suas lições — atinge um grau de evolução tão elevado que consegue um perfeito autocontrole ou harmonia, torna-se desnecessário garantir o pleno equilíbrio através das polaridades opostas no corpo. Então, o Espírito pode e toma para si um Corpo Vital positivo e um Corpo Denso positivo. Isso acontece com a maioria dos Iniciados, exceto quando, por razões especiais, eles acham vantajoso usar um Corpo Denso negativo. No entanto, em todo Iniciado o Corpo Vital é sempre positivamente polarizado, pois isso o torna um instrumento melhor e mais receptivo às vibrações oriundas do Espírito de Vida, do qual o Corpo Vital é uma contraparte.
(Perg. 71 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
Renovação: os 4 Princípios
É sempre possível encontrar uma melhor maneira de fazer qualquer trabalho. A renovação e o aprimoramento constituem os alicerces do progresso. Quando o ser humano se estagna e já não encontra novas motivações para suas atividades, quando não exercita seu poder criador epigenético, não só deixa de progredir, como retrocede.
Descartes, o filósofo francês, o Iniciado inspirado pelos Irmãos Maiores da Rosacruz, deixou a propósito da ordem, da disciplina e da racionalização quatro princípios interessantes.
1 — Princípio da Evidência — Só se deve aceitar algo como verdadeiro, se realmente o for. Para o exame é mister que se evitem as ideias preconcebidas. Só assim podemos estudar os fenômenos e fatos, sejam quais forem.
2 — Princípio da Análise — Divida-se cada uma das dificuldades que se examine, em um número de parcelas que sejam possíveis e exigidas para a sua completa solução. (O impossível é divisível por pequenos possíveis).
3 — Princípio da Síntese — Devemos estudar e ordenar os fatos em nosso pensamento, partindo dos mais simples e mais fáceis para os mais complexos. Quando não encontrarmos, naturalmente indicada, certa ordem de sucessão, entre esses elementos deveremos estabelecê-la, embora ficticiamente, de modo a permitir uma orientação racional ao nosso pensamento.
4 — Princípio da Numeração — Faça-se, em tudo e por toda parte, enumeração tão completa e revisões tão gerais até que se esteja certo de nada haver sido omitido.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1970)
A Autossuficiência do Método Ocidental Rosacruz
“O método Rosacruz difere de todos os outros num ponto especial: procura, desde o princípio, emancipar o Aspirante de todas as dependências externas e orienta-o a cultivar a confiança em si próprio ao máximo grau, a fim de que se torne num ponto de apoio e de ajuda aos demais — levando-os a alcançar a mesma desejável condição” (Max Heindel, em O Conceito Rosacruz do Cosmos).
A presença e ação de um orientador espiritual autêntico, longe de impor dependência, promove uma relação essencial do Aspirante consigo próprio. Sua ajuda, como fator externo e relativo, devolve a pessoa a uma mais alta consciência de seu próprio ser. Leva o estudante a desvendar em seu íntimo uma necessidade até ali insuspeitada por ele, libertando-lhe energias e capacidades que, sem esse suscitar, não teriam encontrado aplicação, continuando adormecidas dentro dele.
O orientador Rosacruz guarda-se de ser endeusado. Ele conhece a verdade ensinada pela doutrina psicanalítica: “o indivíduo, uma vez desligado da constelação familiar, esforça-se por estabelecer nos novos meios de relacionamento (a Fraternidade, por exemplo) ligações da mesma ordem. Ele está essencialmente desejoso de reencontrar uma mãe, um pai, irmãos, por causa de uma necessidade regressiva que lhe dá segurança”. De fato, há no neófito inexperiente a tendência de superestimar os dirigentes de um movimento espiritual.
Quando se desiludem, muitas vezes, se afastam e nunca mais voltam a outro esforço dessa ordem. É preciso, pois, que saibam: todos, num movimento espiritual, são estudantes da verdade. Todos objetivam o mesmo fim de realização individual. Se alguns se põem no difícil papel de expositor e orientador é porque não se podem negar à necessidade da difusão e do serviço amoroso e altruísta ao próximo.
O orientador esclarece, desde logo e sempre, que a verdade pertence ao Divino interno. O Cristo Interno é que pode apropriar-se das experiências e ensinos externos, adaptando-os ao grau particular de consciência evolutiva da personalidade pela qual atua. Só o Verbo interno pode instruir. Como disse Descartes: “É preciso tornar as pessoas discípulas da verdade e não sectárias obstinadas do que o expositor ensina”. Há sempre o risco de se corromper essa pura busca da verdade, quando o Aspirante tende a venerar a personalidade do instrutor, em vez de buscar, além da pessoa, a revelação de que ele é simples mensageiro. Se buscássemos a verdade além da pessoa, poderíamos aproveitar o que diz qualquer orador, além das simpatias e antipatias exteriores. O ser humano aberto à verdade, aprende de tudo e de todos, porque a reconhece, independentemente de sua fonte. O Divino sempre traz à nossa experiência aquilo que devemos aprender, mas isso requer que estejamos descondicionados.
Assim, colocamo-nos na vida como aprendizes e mestres, uns dos outros, cada qual contribuindo animicamente pela edificação de todos. A presença, embora necessária do orientador, é ocasional, para provocar relação com a verdade que ele já atingiu em alguma medida. Ninguém nos dá a verdade porque ela já está repousando, em potencial, dentro de nós. No entanto, ela precisa ser suscitada e isso subentende a presença de um intercessor que tenha realizado boa dose da verdade. Contudo, isso não o converte em mestre. Ele, por sua vez, recebeu essa verdade universal dos verdadeiros Mestres da humanidade, aqueles altos Iniciados que, por seu esforço individual, abriram caminho à frente, tornaram-se os vanguardeiros da evolução e alcançaram uma ampla visão da verdade. Por amor, voltaram e no-la revelaram, através de Iniciados menores, como foi o caso de Max Heindel. Tal é a garantia da verdade que recebemos, inicialmente. Depois devemos experienciar essa verdade e torná-la nossa, pela adequação ao nosso nível de ser. Todo orientador aprende dos Mestres que os caminhos são individuais e diferentes, por causa da Epigênese – a chispa criadora interna. Assim, a orientação legítima é encaminhar cada pessoa para que ela seja autenticamente ela mesma.
É um triste exemplo o do orientador que impõe pontos de vista e se compraz na imitação do neófito. O estudante que se esforça em alcançar o favoritismo pela imitação do orientador, amesquinha a si mesmo; e o orientador que o permite, comete deturpação pedagógica, lesa o livre arbítrio do aluno, lhe anestesia a Epigênese e assume uma dívida de destino. Ambos se iludem e se prejudicam.
Max Heindel relata sua experiência com o Irmão Maior e Mestre: sempre que ia procurá-lo em busca de uma solução difícil, Ele apenas lhe indicava o caminho e nada dizia. Os Irmãos Maiores desencorajam toda e qualquer dependência.
Tal é o método cristão-esotérico. Cristo disse: “Se alguém quer ser meu Discípulo, tome sobre si mesmo sua cruz e siga-me”. É o mesmo que dizer: “Eu te mostro a direção, mas deves assumir o teu destino, arrostando tuas dificuldades e realizando tua obra evolutiva a teu modo”.
No seu último dia de vida, Sócrates dirige a seus discípulos uma solene advertência: “Não façais grande caso de Sócrates. Acreditai-me nisto. Levai em conta a verdade de que não apenas eu sou portador”.
Sócrates tinha razão ao esclarecer seus discípulos na hora derradeira. Sua ausência não seria a ausência da verdade, pois ele sabia ser apenas uma interposta pessoa nesse solilóquio de cada um consigo próprio, desvelando o íntimo, que é a terra natal da verdade. Ele nos ensinou que todo o verdadeiro instrutor é um medianeiro de consciência. Por isso permanecia como um parteiro de almas. Ele suscitava e trazia à luz, o conhecimento potencial, pré-existente em cada indivíduo. Por isso reduzia-se, humildemente, à função de um parteiro espiritual, convicto da presença antecipada da verdade do Cristo interno, que deve nascer e crescer. Ele mostrou que a suprema relação é a do ser humano para consigo mesmo; ele revelou que o ser humano não tem outro centro que não seja ele mesmo. O mundo inteiro se concentra nele (no profundo sentido e não egoístico). Desse modo, conhecer-se a si próprio é conhecer a Deus…
Contudo, não se entenda que devamos permanecer na verdade que recebemos; comprazendo-nos em ser discípulos para sempre. Bem disse Kant: “o estudante não deve aprender pensamentos, e sim, aprender a pensar, para que não seja carregado em dependência, mas guiado e, no futuro, seja capaz de dirigir-se por seus próprios meios”.
É claro que o instrutor ajuda muito na abertura, despertar e evolução da consciência, estimulando e suscitando a verdade interna potencial. A evolução humana é uma cadeia de amor. Sempre alguém ajudou outro a subir. Nosso nível evolutivo atual foi ajudado por outros que nos precederam. Há um patrimônio de cultura e de consciência que os mais adiantados vão deixando aos detrás, se bem que a assimilação da verdade é individual e cada um de nós enriquece esse patrimônio com algo de original que os outros não têm.
O importante é que cada um procure superar-se continuamente. Permanecer numa verdade relativa, sem ultrapassá-la para atingir outra mais alta, é retardante. Na escada de Jacó, aquele que não tira o pé do degrau de baixo não pode levá-lo ao de cima, no esforço de constante ascensão.
Só o fanatismo ignorante se detém em alguma coisa, considerando-a como a última palavra. Max Heindel nos adverte continuamente contra isso. Em o Conceito Rosacruz do Cosmos ele diz: “esta obra não é a última verdade. O autor reconhece a possibilidade de haver-se enganado em alguns pontos, motivo por que, quaisquer eventuais falhas não devem ser imputadas aos Irmãos Maiores”. Os próprios Irmãos Maiores — Altos Iniciados — admitem que algumas vezes se enganam. Eles sabem que, em relação à verdade absoluta, todos somos discípulos. Por mais que, espirais muito maiores, Eles busquem assenhorear-se da Verdade, sempre há algo a atingir, porque a verdade é infinita. Daí que a relação deles com a verdade seja uma relação de humildade.
Uma escola é autêntica quando tem por alicerces mestres dessa natureza, que através de suas mensagens buscam orientar os estudantes à própria realização. Todos temos direito de despertar para uma verdade maior, sem dependências. Buscar segurança na tutela de um mestre, não é da Escola Ocidental de Mistérios. Seria um parasita o estudante que permanecesse na mesma linguagem recebida do Mestre, repetindo indefinidamente a tradição, receoso de errar, de faltar à fidelidade; incapaz de recriar, como lhe reclama o dom epigenético. Aprender a meditar, a pensar, é saber desmembrar uma verdade básica em todas as infinitas consequências. Se o Conceito Rosacruz do Cosmos é uma exposição elementar da verdade Rosacruz, isto significa: é um mundo de verdades ocultas, manifestado simplesmente no que se lê. Existem abismos de decorrências nas entrelinhas.
Apesar de seu imenso amor, os Mestres ocidentais estão prevenidos para não se apegarem aos discípulos. Só os falsos mestres submetem os incautos alunos à sua tutela, como pais que relutam em compreender e aceitar que os filhos devem ter vida própria quando se tornam adultos. A psicologia fala do “complexo de desmame” e das perturbações que ele produz na família. O mesmo sucede na família espiritual, entre mal preparados instrutores e seus alunos, que se deixam enredar nessas interferências subconscientes, em prejuízo da mútua edificação. Assim como os pais não devem submeter à escravidão os filhos que põem no mundo, também o mestre não deve prender o discípulo que formou — senão ajudá-lo a alcançar a autenticidade e consciência plena de si próprio. Por isso lhe facilita a libertação e compreende quando o discípulo, no esforço de autoafirmação, se volta contra ele, como os rapazes em relação ao pai “quadrado”.
Não se trata de escolher entre o mestre e a verdade. Foi ele quem nos introduziu à verdade. A amizade e gratidão pelo mestre é a mesma amizade e gratidão pela verdade. Somos gratos ao mestre, não pela pessoa dele senão pelo papel de intercessor que exerceu, para desperta-nos a verdade. Não significa que não tenhamos o direito de contradizer e tentar ultrapassar o mestre.
Esse esforço de autorrealização não é contrário à amizade, senão o fruto dela, porque recebemos do mestre a procuração para prosseguir a tarefa de investigação à nossa maneira. O que se passa é que, no esforço de autorrealização, quase sempre o discípulo se envolve na vaidade. Na tradição filosófica da Grécia há trechos lindíssimos de discípulos que se voltaram contra seus mestres, no esforço de serem eles mesmos. É como se cometessem um patricídio, ao consumar o simbólico crime de eliminar a dependência ao mestre, no rito de passagem à própria autonomia.
Mais tarde compreendem que não mataram nada porque a verdade é imortal e só ela é quem esteve presente, relacionando-os, englobando-os e tornando sublimes os seus diálogos. Só então se tornam cônscios da função do mestre e do discípulo. Só então podem atuar corretamente, em relação àqueles a quem, por sua vez, toca ajudar.
Orientador e aluno, cada um desempenha um papel essencial, um em relação ao outro, provisoriamente. É apenas uma fase na vida de cada um deles, na qual o desenvolvimento se cumpre pela verdade em diálogo, cada um exercendo o seu entendimento e buscando o outro, num confronto e desejo de mútua edificação.
Finalizamos com um pensamento de Leonardo da Vinci: “Triste é o discípulo que não se esforça por ultrapassar seu orientador. Triste é o orientador que se indigna por ver os seus discípulos esforçando-se por ultrapassá-lo”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)
A Necessidade da Devoção para o seu Desenvolvimento Espiritual
Em sua Carta aos Estudantes n.º 16, cujo título tomamos para este artigo, diz Max Heindel: “O Conceito Rosacruz do Cosmos foi acolhido no mundo inteiro de forma fenomenal, suscitou tanta admiração e gratidão que eu deveria sentir-me desvanecido por isso. Ao contrário, começo a sentir-me cada vez mais preocupado de que o livro deixe de dar todo o seu fruto e perca a finalidade que os Irmãos Maiores tinham em mira, quando, por meu intermédio, o ofereceram ao mundo. O objetivo do Conceito é satisfazer a Mente – mediante uma explicação lógica do mistério do mundo — para que o lado devocional da natureza do Estudante possa desenvolver-se nos princípios que seu intelecto aprovou. Creio que essa obra atendeu à lógica inquirição do intelecto investigador. Milhares de cartas testemunham que os estudiosos nela encontraram o que de há muitos anos buscavam”.
“No entanto, pelo contato com os Estudantes, sinto que apenas uma minoria é capaz de sobrepor-se ao aspecto intelectual do livro. Ora, a menos que esta obra básica desperte no Estudante um fervoroso desejo de transcender o conhecimento, para ingressar na devoção, o livro constituirá, em minha opinião, um fracasso.”
“Em outra sociedade espiritualista, semelhante à nossa, conheci grupos de Estudantes que se aplicavam, anos a fio ao estudo do átomo, aprofundando-o aos menores detalhes — mas cujo viver era extremamente frio e indiferente ao sofrimento dos demais. Hoje percebo, com profunda pena, o desenvolvimento da mesma tendência entre muitos de nossos Estudantes. Espero que ela possa ser refreada em tempo de não provocar a morte do coração. O “conhecimento infla, mas o amor edifica” — diz São Paulo — o que se aplica em cheio aos guias da referida sociedade, que não poupavam críticas à religião cristã, da tribuna e pela imprensa, dizendo que esta carece de uma concepção intelectual do Universo.”
No melhor dos casos, o intelecto são muletas para ajudar nossas limitadas faculdades. Cabe-nos, através da intuição, conceber a verdadeira ideia espiritual que as palavras desejam comunicar.
A menos que nos esforcemos desse modo, continuaremos sendo como “sinos que soam” friamente, pois, se não temos amor e não o pomos a serviço dos demais, de nada nos valerão os conhecimentos dos mistérios.”
Voltando a Max Heindel: sem amor a inteligência é prejudicial. É o amor que torna o conhecimento em sabedoria.
Distingamos bem entre memorizar conhecimentos e VIVÊ-LOS. Charlatão (de charla, conversa) é o grande palrador. O viver é mais convincente que o falar e é o que dá autoridade à palavra. Só o amor ASSIMILA (tornar semelhante ou incorporar ao ser) o conhecimento, convertendo-o numa parte do caráter.
O melhor modo de testarmos a validade de um conhecimento é na sua aplicação à vida: ali é que ressaltam a validade ou falsidade do pensamento.
Só a vida, pela prática do amor, converte o conhecimento em Alma. Eis o objetivo da espiritualidade, resumido em SERVIR.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)
Sejamos Persistente no Amor
Nesses tempos conturbados, quando a desesperança parece tomar conta dos corações, os espíritos mais lúcidos vislumbram no amor a única força equilibrante. Tanto isso é verdade, que, não fosse o sacrifício anual do Cristo, inundando nosso Planeta com suas poderosíssimas vibrações, viveríamos numa situação caótica e o nosso progresso se frustraria.
A Terra, que há muito sofre os efeitos dos sentimentos egoístas da onda de vida humana – essa carga que pesa, principalmente, sobre o Espírito Planetário – deve ser aliviada agora e eliminada com o tempo.
A expressão do amor universal implica em sofrimento pessoal. Certamente o Cristo sofre em virtude de seu confinamento às limitações da materialidade. Para um Ser de sua envergadura espiritual a ajuda que oferece à humanidade é motivo de grande regozijo, mas ao mesmo tempo representa um inimaginável sacrifício.
Com o ser humano, ao nível microcósmico, ocorre o mesmo. Antes de estarmos preparados para manifestar o amor universal, mesmo que em sua expressão mais elementar, devemos libertar-nos dos desejos pessoais e egoístas, presentemente fatores predominantes em nossas vidas. Isso produz dor, certamente impossível de comparar-se com o sofrimento do Cristo. Porém, é um sofrimento real, que se alivia e desaparece à medida que nos libertamos das expressões inferiores da personalidade. Esse processo não gera resultados da noite para o dia. É um trabalho árduo, persistente, capaz de abalar todas as fibras do nosso ser. Ao longo do tempo, colheremos suas primícias, revestindo-nos de uma profunda sensação de paz e liberdade.
Há outro aspecto no desenvolvimento do nosso, ainda incipiente, amor universal em que provavelmente será mais duradouro. Como é evidente no exemplo de Cristo, os esforços altruístas em favor dos nossos semelhantes são amiúde recebidos com antipatia, ressentimentos ou desdém. Essa incompreensão, às vezes, aflora no seio da própria família, provocando uma dor maior. Temos de agir com paciência, pois mesmo aqueles que não aceitam nossa maneira elevada de ser, pouco a pouco responderão ao transformante e transcendente poder do amor que lhes é dirigido. Contudo, essa resposta quiçá venha a manifestar-se somente após vários renascimentos.
A exemplo de Cristo, não devemos desanimar se nossos esforços amorosos parecem não dar frutos, ou, se em realidade produzem antagonismo. Dois mil anos se passaram e a humanidade aparentemente não saiu do mesmo lugar, tal o grau de crueldade ainda manifesto aqui na Terra. No entanto, o Cristo permanece firme e amoroso em seu trabalho redentor, aguardando sofrida e pacientemente à sensibilização dos corações humanos.
Que catástrofe para a onda de vida humana se o Cristo algum dia renunciasse à Sua Missão, desgostoso e desalentado com nossa evidente omissão ao Seu esforço! Ele sabe, entretanto, “que os moinhos de Deus moem devagar, mas moem sempre”. Alguns séculos mais, quando estivermos vivendo na Era Aquariana, a humanidade colherá abundantemente os frutos da transmutação que promovemos graças à Sua ajuda.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – jul/ago/88)
A Teoria do Conhecimento
A aquisição do conhecimento varia de indivíduo para indivíduo. Há uma gradação no processo humano de conhecer.
Conhecer um objeto é distingui-lo de todos os que se percebem distintos dele e, ao mesmo tempo, relacioná-lo com objetos considerados semelhantes a ele.
Nesse processo há uma série de graus, representando cada um desses graus um processo de generalização cada vez mais alto; ou seja, o conhecimento humano é tanto mais elevado quanto maior é o número de coisas que nele compreendemos.
Há três graus de conhecimento: o conhecimento vulgar, o conhecimento científico e o conhecimento filosófico.
O conhecimento vulgar, popular ou de primeiro grau, também chamado erroneamente de empírico, é aquele que nos fornece a maior parte dos conhecimentos cotidianos. Pode ser adquirido pela simples observação. Por exemplo, podemos notar que o calor aumenta o volume dos corpos, que a ingestão de certos alimentos produz reações orgânicas. Isso é conhecimento, embora isolado, casuísta, fragmentário, qualitativo, casual.
O conhecimento científico ou de segundo grau é totalmente diverso, porque consiste em um conhecimento sistemático dos fatos e dos fenômenos, colocando uns em relação com os outros de modo que é possível descobrir sua uniformidade e determinar as leis que os regem. É o conhecimento pelas causas, porque conhecer verdadeiramente é conhecer pelas causas e saber sobre uma coisa de modo absoluto é saber sobre a causa que a produziu, reconhecendo que a causa não pudesse ser outra.
A simples troca de posição de uma letra pode mostrar a diferença entre o conhecimento vulgar e o científico, visto que aquele é casual e este é causal.
O conhecimento científico ou pelas causas é constante e pode ser resumido a uma lei, representado por uma fórmula, que tem por finalidade revelar as relações entre causa e efeito. Esse conhecimento distingue-se pela generalidade, porque não existe conhecimento científico do indivíduo, do particular.
O conhecimento filosófico ou de terceiro grau atinge um grau ainda maior de generalização, porque a filosofia representa o complemento ou a integração das ciências particulares. Como a ciência, em relação ao conhecimento vulgar, unifica uma ordem de relações de fenômenos e leis, em filosofia se unifica todo o conjunto das relações de fenômenos e leis em uma lei suprema.
Entre a ciência e a filosofia não existe diversidade de processo cognoscitivo, mas apenas diferença de grau, pois a filosofia representa o último grau de generalização. O conhecimento filosófico abrange e supera os outros dois.
A ciência é o saber parcialmente unificado. A filosofia é o saber totalmente unificado.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1970)
Coragem: “aquele que der um começo, já terá feito a metade da coisa”
São necessárias cordas durante a descida de algum trecho pequeno, porém escorregadio e rochoso, de superfície escarpada, numa última etapa de um exercício de escalada de montanha.
“Admiro a sua coragem”, observou um espectador ardentemente, quando um dos alpinistas se sentou na relva, descansando um pouco, antes de regressar à sua casa.
O alpinista olhou o seu admirador de forma perturbada e, em seguida, disse-lhe de modo um tanto embaraçado: “Não há de que”. Não conhecia muito bem o seu admirador e mesmo que o conhecesse, seria o caso de lhe dizer que não foi necessário ter coragem alguma para fazer a escalada e a descida? Seria o momento de dizer que isso lhe deu a coragem de adentrar grutas ou qualquer outro espaço reduzido, escuro e fazer a sugestão de que talvez o seu admirador pudesse desempenhar essa exploração de modo igualmente fácil? Muita discussão por um comentário tão simples! Melhor não dizer coisa alguma — pelo menos, nesse instante.
Contudo, chega um momento em que o assunto coragem deve ser explorado muito cuidadosamente pelo aspirante a uma vida superior, caso se considere totalmente zeloso e sincero. Por quê? Mas por que é tão importante a uma vida baseada na Filosofia Rosacruz? Talvez possamos melhor responder a essa indagação após considerarmos a coragem um pouco mais profundamente.
A maioria de nós reconhece de modo vago que o que exige um esforço varia de pessoa a pessoa; mas possivelmente muitos não se detiveram para perceber que a maior parte das pessoas “normais”, existentes atualmente no mundo, realizou, em certa época, esforços enormes. Por exemplo, diz-se que o desejo de locomoção surge antes da capacidade de se movimentar. E as tremendas batalhas que devam ter ocorrido à medida que o ser humano, em sua formação, aprendeu a conduzir os seus veículos de um lugar a outro são vistas de modo telescópico nas primeiras tentativas fracas e desajeitadas de um bebê procurando locomover-se. Do mesmo modo que cada um de nós apresenta melhores rendimentos em certa matéria do que outros, em assuntos escolares, cada qual aprendeu suas lições quanto ao funcionamento nas várias atividades deste mundo de um modo melhor em algumas matérias do que em outras; porém todas as nossas atividades presentes exigiram esforço em certa época — e alguma coragem, quando procurávamos algo novo.
E, se pensarmos um pouco mais, a maioria de nós se apercebe de que uma ação que quase não levamos em consideração em certo momento de nossa vida, ação que até mesmo poderíamos exercer alegremente, poderá, em outros instantes, constituir um supremo ensaio de vontade. Poderá surgir um momento na vida de todos nós em que até mesmo o despertar em uma manhã ou o início de um novo dia poderá exigir muita resistência moral, quando significar a necessidade de encarar novamente problemas ou dores que pareçam difíceis de enfrentar.
No entanto, após reconhecermos que os atos de coragem significam diferentes coisas a pessoas diferentes, ou coisas diversas em tempos diversos para a mesma pessoa, eventualmente encobriremos a verdade de que haja certas lições básicas e gerais quanto à coragem, lições que todos nós deveremos aprender, se formos aspirantes sinceros a uma vida superior, da mesma forma que houve certos atributos físicos que tivemos de desenvolver para podermos viver a nossa atual vida física. Aqui estão algumas dessas lições básicas, sendo que o leitor provavelmente desejará acrescentar outras mais.
1 — A coragem de reconhecer e aceitar os próprios traços indesejáveis e em seguida fazer o máximo para transmutá-los. Cada um de nós tem pelo menos uma tendência indesejável ativa ou abrandada e a mantemos, provocando embaraços de modo sabidamente errado ou, pelo menos, em desarmonia com nossa capacidade mais elevada e, lutando contra essas tendências retrógradas, pode obter fortaleza. Por exemplo, há necessidade de muita coragem para nos dizermos honestamente, algumas vezes, que o que gostamos de apreciar como sendo exteriorização é, na realidade, um mau temperamento e, parcialmente, um ressentimento sepultado. Poderá também ocorrer que haja alguma falta ou área congestionada em nosso caráter que não possamos honestamente perceber. É aqui onde um amigo de confiança, que seja um astrólogo competente, poderá ser muito valioso: mesmo se nós próprios conhecermos a astrologia, poderá ser muito fácil passar por cima de algumas indicações negativas de nossos horóscopos.
Mas após termos erguido as nossas faces, banhadas de lágrimas, dessas questões soluçantes, talvez nos perguntemos qual seria o melhor modo de combater todos os pontos negativos que tenhamos acumulado. A resposta dada por Max Heindel é que não devamos fazer isso diretamente. Em harmonia com o sentimento da velha canção que nos exorta a acentuarmos o positivo, ele nos diz para praticarmos a virtude oposta à falta que desejarmos eliminar. Trata-se de outra aplicação daquilo que aprendemos a respeito do Mundo do Desejo: a atenção de toda espécie, agradável ou desagradável, causa uma grande atividade no sujeito e na coisa agradável ou desagradável. Porém a indiferença mata, de modo que devamos ignorar a falta e procurarmos aumentar a virtude oposta, amando-a e praticando-a. Assim, se percebermos que estejamos inclinados à tristeza, não devemos nos recriminar por não sermos eufóricos, porque assim ficaremos rapidamente muito mais ansiosos e angustiados. Ao contrário, se praticarmos a jovialidade, ela se tornará eventualmente uma parte de nós próprios e sentiremos realmente o otimismo, suas vantagens e os benefícios de nos empenhar duramente nesse método na tradução original, “duramente para encontrar nossas vizinhanças”. Até mesmo nos males físicos esse princípio opera a nosso favor: em uma certa espécie de artrite, um dos melhores medicamentos é a movimentação deliberada das partes enrijecidas e doloridas. Certamente que isso exige esforço! Mas é disso que estamos tratando.
2 — A coragem de apreciar a morte como um princípio. Atualmente não temos a caça às feiticeiras, que culminava na queima dos corpos em praça pública; nem mais se crucifica uma pessoa como nos tempos bíblicos, em virtude de ofensas triviais das quais se pudesse ser acusado, como hoje em dia — falsamente. Não há igreja que nos jogue na prisão para definhar e torturar, pelo menos não neste país. Como então essa espécie de coragem seria, na atualidade, algo que não fosse mais do que mero interesse acadêmico?
Neste século tem havido oportunidades aos que vivem em certos lugares para exercitar este tipo de coragem, manifestando-se contra as injustiças e procurando corrigi-las. A Alemanha nazista constituiu um lugar onde alguém poderia correr risco de vida pela defesa de um princípio; hoje em dia, Espanha e Portugal são outros.
Porém, as Forças Superiores sempre encontram meios de provar os estudantes em certo momento de suas vidas, nesse aspecto de coragem e talvez o meio mais comum em nosso país, atualmente, seja através da enfermidade.
Você talvez tenha estado doente durante longo tempo, acamado na maior parte desse tempo, de modo que se encontre bastante enfraquecido. Os médicos meneiam suas cabeças e mostram suficientemente, pelos seus comportamentos, que acreditem terem feito tudo o que pudessem; os amigos forçam conversações prazenteiras através de semblantes sombrios. Você mesmo está quase resignado quanto à desesperança de seu caso. Então, começa a sugestão. Trata-se de fazer algo que há muito decidiu ser nocivo a seu corpo e sua alma. Mas após tudo isso, dizem seus amigos, experimentou-se tudo mais e imaginam o quanto de bem poderão fazer após conseguirem a cura! O choque mais cruel de todos surge quando até mesmo seus melhores amigos, ligados à Filosofia Rosacruz, induzem-lhe a esse curso de ação errado para salvar a sua vida, conforme dizem.
No entanto, silenciosamente, você diz a si próprio: “Sei que me encontro agora próximo da morte. Todavia, não desejo ir, porque há muita coisa que gostaria de fazer. Porém, se tomar essa atitude que eu saiba ser errada e recuperar a saúde, haverá sempre aquele senso atormentador que assim agi fazendo algo errado e nunca mais estarei em condições de trabalhar, segundo o mais expressivo e o melhor de minhas capacidades, em virtude daquele espectro que fica observando por trás de meus ombros. Tentei tudo o que sabia estar em harmonia com meus princípios. Se tiver de morrer agora, morrerei de qualquer modo, não importa o que eu faça”.
Dessa forma, você se certifica de que os seus negócios se encontrem em ordem e repousa em seus travesseiros para exalar o último alento exausto, porém contente…
Contudo, algo acontece. Alguém chega, pousa as mãos em você e, no dia seguinte, você já se ergue e sai, após ter estado na cama durante meses. Ou você simplesmente melhora gradualmente, embora não faça algo diferente. Mas, em primeiro lugar, você terá de mostrar aquilo que realmente deliberou durante a noite tempestuosa em que tomou a decisão há longo tempo, em um pacífico dia ensolarado.
3 — Coragem para desafiar qualquer elemento físico, quando necessário.
O que você teme neste Mundo Físico? O fogo? As alturas? Inundações? As crianças? As pessoas idosas? A eletricidade? Serpentes? Se houver neste mundo algo que desperte em nós o desejo de nos afastar, eis um problema que deva ser encarado completamente, agora, uma vez que, quanto mais o medo for encoberto, tanto mais se inflama, desenvolve e suas raízes se aprofundam muito mais, no decorrer do tempo.
Familiarize-se, por meio da leitura, com os aspectos da constituição e da estética de tudo aquilo que você teme é adequado, de forma que passe a dispor de uma riqueza de informações alusivas ao assunto, porque muitas vezes tememos mais o que nos é estranho, desconhecido e inominado. Em seguida, familiarize-se de primeira mão. Se você teme a água e não sabe nadar, tome lições de um instrutor competente. Se você teme as alturas, faça caminhadas pelas colinas e depois pelas montanhas. Primeiramente, aprecie a vista da parte baixa de um penhasco. Gradualmente, faça-o cada vez mais próximo do topo. Tire em seguida o seu bacharelado, encabeçando algumas escaladas.
4 — A coragem de arriscar cometer algum engano, quando for necessária alguma ação. Quantas vezes desistimos de realizar até ações mais simples, com receio de dizer ou fazer coisas erradas ou pelo medo de parecer enlouquecidos? E quantas vezes nos mantivemos na retaguarda por não termos feito algo e, assim, perdido uma possível oportunidade de experimentar aquela sensação extraordinária de crescimento e expansão?
“Mas o erro que poderíamos cometer seria monumental”, você poderia dizer. “Poderia”, sim; porém você não tem a certeza disso. E mesmo se você tivesse feito algo radicalmente impróprio, sabemos que as Hierarquias criadoras, bem acima de nós em matéria de evolução, também cometem erros: os cometas são o resultado de uma tentativa de criação no cosmos que, por alguma razão, não “se gelificou” e atingiu a órbita adequada, de forma que eles vêm e vão, malogros divinos perdidos na face da profundidade.
Desse modo, devemos provar a nossa fé através de obras: obras significam experiência concreta e a experiência deve envolver alguns erros.
Max Heindel nos diz que o mundo necessita de seres humanos que façam e não que sonhem ou leiam. Em suma, será feito na terra de nossos corpos o que acontece no Céu de nossos Espíritos.
5 — A coragem de estar só. Nós a temos na mais alta autoridade, a do Próprio Cristo; em certa época de sua carreira esotérica, o estudante de ocultismo sincero deve estar completamente só, fisicamente, para enfrentar sua sorte e seus problemas. Os parentes estão disseminados e não compreenderiam. Os amigos também parecem estar muito longe, física, mental e espiritualmente. Não parece possível receber ajuda de ser vivente algum. Cristo, que é o Precursor em um sentido muito literal, sentiu essa desolação no Jardim do Getsemani, quando perguntou amargamente se nenhum de Seus discípulos adormecidos poderia velar com Ele.
Porém, quando nós bravamente tomarmos a nossa cruz, seja ela pequena ou grande, existirão amigos em ambos os lados do véu prontos para auxiliar-nos a carregá-la. Descobriremos que a solidão, como tudo mais que seja apenas desta vida, foi somente temporária. Goethe, o poeta Iniciado, escreveu:
“Aquele que nunca come o seu pão na amargura
e jamais passa por horas tenebrosas,
pranteando e aguardando o amanhecer,
não conhece os Poderes Celestiais”.
6 — A coragem de continuar tentando. De acordo com T. S. Eliot, somos “unicamente derrotados porque tentamos”. Isso poderá ser um pequeno consolo para alguém que tenha um pertinaz problema de saúde, que há muito esteja suportando um pesado encargo familiar ou talvez venha tentando há muitos anos romper um mau hábito, como modificar um traço inadequado da personalidade ou do caráter. Mas a Filosofia Rosacruz nos diz que, se persistirmos no rumo certo, mesmo que não possamos ver os resultados, eles ali estarão. Isso porque as imagens de nossas circunvizinhanças incluem as condições que estejam dentro de nossa própria aura. Se tivermos criado em nossas mentes a imagem de uma coisa que desejemos obter e tivermos revestido essas imagens mentais com um intenso desejo de ser bem-sucedido, a mente modificada e o desejo impulsor ativo eventualmente tornarão o Corpo Vital muito mais fixo e resistente, o qual, por sua vez, acarretará quaisquer modificações necessárias no veículo mais sólido a ser modificado, o Corpo Denso. Assim, mesmo se intimamente trabalharmos durante toda uma existência em um problema sem resultados tangíveis no mundo físico, teremos a promessa de que esses resultados se mostrarão na próxima vida, uma vez que os corpos mais elevados desta vida determinam a qualidade dos mais baixos, na outra. E, quem sabe? Poderemos não ter de trabalhar durante toda uma existência nesse problema. Ajuda-nos também a lembrança de que a hora mais obscura é comumente anterior à alvorada.
Existem pelo menos duas coisas que devamos manter em mente, relacionadas com todas as espécies de coragem que mencionamos. A primeira é uma advertência. A coragem sem previsão e discriminação não é coragem, mas, sim, temeridade, insensatez e um trágico desperdício de energia valiosa. Devemos nos lembrar de que as forças negativas estejam sempre prontas para tentar e enredar, particularmente o estudante sincero. Trata-se de um fio de navalha sobre o qual devemos andar. O segundo ponto importante a refletir constitui uma ajuda ao nosso desenvolvimento em matéria de coragem. Trata-se daquilo que João nos diz em sua primeira epístola: “o perfeito amor afasta o temor”. Isto não significa necessariamente que devamos aprender a amar o que tememos, porque o que tememos pode ser verdadeiramente mau. Porém o amor por alguém ou por um princípio e os atos desempenhados a favor desse amor poderão dissolver completamente todos os nossos temores precedentes.
Agora que falamos de algumas das modalidades de coragem que nós, como estudantes de ocultismo, precisaremos desenvolver em alguma época de nossas carreiras, talvez estejamos em posição melhor para compreender por que nós as necessitamos e por que necessitamos de qualquer espécie de coragem, pelo menos. Se não nos esforçarmos e tentarmos transmutar as características indesejáveis em nós próprios, então estaremos simplesmente colocando-nos por detrás do caminho evolutivo lento e laborioso daqueles que aprenderão apenas pela experiência e não estaremos realmente entre os que conquistarão o Céu por assalto. Se não estivermos prontos a lutar por um princípio, então o mesmo não nos terá qualquer significado e não poderemos esperar ser os depositários de verdades e poderes maiores; dessa forma, até mostrarmos o aspecto de coragem física, faríamos melhor se o desenvolvêssemos, até porque nas expressas palavras de Max Heindel, quando explanava sobre o Tannhauser, o estudante sincero deve “perceber que deva possuir as mesmas virtudes requeridas de um cavalheiro, uma vez que sobre a senda espiritual também existam perigos e lugares onde é necessária a coragem física”. Se não tivermos a coragem de agir quando devemos, mesmo se a ação signifique um possível erro, então não estaremos agarrando as oportunidades de progresso e estaremos provavelmente nos chocando contra as ondas. Se não pudermos, em momento algum, sentirmo-nos plenamente sós, então não estaremos desejosos de partilhar de modo algum da vida do Cristo. Se não tivermos a coragem de continuar tentando, então mostraremos que realmente não temos fé na verdadeira filosofia em que dizemos acreditar, filosofia que explica por que um esforço nunca é desperdiçado. Finalmente, uma coisa muito importante: necessitamos de coragem de todas as espécies a fim de sobrepujarmos o Guardião do Umbral. Se formos estudantes sinceros, deveremos certamente nos encontrar com essa entidade algum dia.
Shakespeare disse em Rei Lear que “a coragem emerge com a ocasião”. Esperemos que assim seja, porque há muitas ocasiões nesse período de nossa história. As condições internas são espelhadas extrinsecamente pelo microcosmo e macrocosmo: o mundo e sua aura estão em agonias de batalhas monumentais, envolvendo todas as espécies de forças. Se você não se sentir necessitado de modo algum, fechará os seus olhos e ouvidos.
De forma que, coragem, caro coração! E relembre-se, com o poeta Horácio, de que aquele que der um começo, já terá feito a metade da coisa.
(Publicado na revista Serviço Rosacruz de fevereiro/1970)
O Bem que podemos fazer
Os males que você não pode remediar são infinitos. Porém, os que pode remediar são tantos que, balanceando o que tem feito em um ano, por exemplo, verá que o bem praticado exigiu um labor enorme para suas forças, parecendo-lhe um sonho o que realizou.
Também um grão produz uma espiga.
A capacidade de fazer o bem de que cada alma humana dispõe é extraordinária pela sua grandeza.
O poder de fazer o bem, que nos foi concedido, é de uma enormidade de nos causar pasmo. Vemos seres humanos desprovidos de todos os recursos realizarem milagres de caridade; seres humanos que alteram a organização das sociedades; pessoas que arrancam o mundo de seu estado natural e o renovam.
Causa assombro pensar no que seria nosso Planeta se todos os seres humanos estivessem educados para o amor em vez de o estarem para o egoísmo e até para o ódio. O eixo moral do mundo seria como que perpendicular ao plano da eclíptica do dever e uma divina primavera reinaria na morada dos seres humanos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de setembro/1970)
A Única Salvação é o Conhecimento Aplicado
A preocupação dominante nas grandes metrópoles é encontrar meios de humanizá-las. Nos vastos centros urbanos emergem as mais contraditórias paisagens, os mais chocantes contrastes, os mais intrincados e aparentemente insolúveis problemas. Por suposto, seus reflexos fazem-se sentir nas pessoas, traumatizando-as, neurotizando-as, gerando toda sorte de enfermidades.
Deverá ser eternamente assim? Não haverá uma saída? Vejamos. Se a vida nas palpitantes urbes apresenta uma série de inconvenientes, em contrapartida oferece uma gama valiosíssima de experiências, impossíveis de serem encontradas em outros lugares. À experiência traz consigo um conhecimento real, comprovado, não haurido livrescamente. A fonte maior dessas experiências é o relacionamento humano. Através do relacionamento promove-se um importante e rico intercâmbio de valores culturais, morais e espirituais.
Só assim tomamos conhecimento e sentimos mais intimamente os problemas dos outros. O contato com os seres humanos faz-nos recordar sempre a humanidade existente dentro de nós mesmos. Não podemos prescindir disto, a menos que sejamos frios e duros blocos de concreto, como os que compõem a paisagem cinzenta das megalópoles.
No Livro: “O Conceito Rosacruz do Cosmos” Max Heindel assinala que “a única salvação é o conhecimento aplicado”. Se a cidade grande enseja multivariadas experiências — e decorrente conhecimento — por que não aproveitamos as mesmas para humanizá-la, tornando-a um lugar aprazível, mais habitável? Podemos e devemos fazê-lo.
O ser humano isolado é uma impossibilidade. Não podemos fugir à interdependência no relacionamento diário. Este enfatiza a necessidade de amar ao próximo, mormente porque o próximo dos outros somos nós mesmos. À competição desenfreada, o temor de ser passado para trás, a pressa em fazer alguma coisa ou chegar a algum lugar, tão característicos dos grandes centros, produzem angústia devoradora. Afinal, o ser humano é uma vítima da cidade, ou de si mesmo?
O ser humano descarrega sua insatisfação acusando uma cidade de ser desumana, quando, realmente, ele é que a torna assim pela sua vivência egoísta. Nós a envolvemos com nossos sentimentos e pensamentos, e estes, em sentido coletivo, imprimem-lhe características básicas, gerando inclusive seu destino. A cidade em que vivemos, é, de certo modo, uma soma do que somos. A menos que, pensemos e ajamos sempre visando o bem comum, continuaremos a fazer parte da “indesejável” paisagem do lugar em que vivemos.
Uma comunidade urbana é, em essência, algo maravilhoso. É o campo de evolução onde os seres humanos coexistem em torno de necessidades, de ideias e ideais. As experiências que ensejam devem, antes de mais nada, apurar a sensibilidade de seus habitantes em relação às suas belezas e aos anseios do próximo. A experiência deve conduzir o ser humano à maturidade. Mas é mister identificar este termo no seu sentido mais profundo. “Alcançar a maturidade”, como definiu Weissman, “não significa envelhecer. É passar da arrogância, cavadora de abismos, para a humildade unificadora; da indiferença para o amor: da inveja para a gratidão; da insegurança para a tranquilidade. É aumentar em si os impulsos construtivos, livrando-se dos sentimentos destrutivos”.
Assim, a maturidade há de acompanhar a purificação do sentimento, tornando-nos verdadeiramente cristãos na vida comunitária. Amemos nossas cidades, amando e servindo seus habitantes.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)