Arquivo de categoria Filosofia

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Trabalho Individual do Espírito: você, de fato!

Não nos foi possível desenvolver nossos poderes, enquanto não construímos os nossos três veículos inferiores os Corpos: Denso, Vital e de Desejos. É deles que nós obtemos o alimento com o qual nutrimos e desenvolvemos nossos poderes potenciais.

Esse alimento-essência é chamado de Alma. Do Corpo Denso nós extraímos, automaticamente, a Alma Consciente, mediante a prática da ação reta em relação aos impactos externos, pelas experiências e observações. Esse pábulo ou alimento transmuta os poderes latentes do Espírito Divino (o veículo espiritual mais elevado em que nós nos manifestamos) em forças dinâmicas que se manifestam como vontade, inteligência, sabedoria, o princípio “Pai”, o poder de “fazer”, a força positiva do ser.

Do Corpo Vital extraímos o alimento-essência que chamamos de Alma Intelectual, também automaticamente, por meio do discernimento entre as coisas importantes, essenciais, reais da vida e as irreais, sem importância, não essenciais.

O que se chama de Alma Intelectual alimenta e transmuta em poderes dinâmicos as forças do Espírito de Vida (o segundo mais elevado veículo espiritual em que nós nos manifestamos), que são a imaginação, a intuição, o poder receptor, o poder de assimilar a natureza amorosa, o princípio “Mãe”.

Finalmente, pelo refreamento dos instintos animais, pela devoção aos sentimentos e desejos elevados e sublimes, pelas emoções geradas através da ação reta e por experiências purificadoras, nós, automaticamente, extraímos do Corpo de Desejos o alimento-essência conhecido como Alma Emocional. Com ele alimentamos e desenvolvemos as potencialidades do Espírito Humano (o terceiro mais elevado veículo espiritual em que nós nos manifestamos; note: manifestação tríplice, como Deus que nos criou): o poder criador (físico e mental), a fecundação, a expansão, a germinação e o crescimento; transformando-os em forças dinâmicas sob o domínio da nossa vontade.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1975)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: O que trazemos de volta, ao fim da nossa jornada evolutiva?

Pergunta: O que trazemos de volta, ao fim da nossa jornada evolutiva? Se o Espírito é perfeito desde o início, o que poderemos acrescentar-lhe?

Resposta: Aprendemos que no início da manifestação, Deus, o Grande Espírito, diferencia dentro de Si (não vindo de Si) vários Espíritos que são como faíscas de uma chama e participantes da natureza divina. Assim mesmo, ninguém afirmará que uma faísca seja tão boa e iluminadora quanto a chama, embora seja da mesma substância. Antes da diferenciação, esses Espíritos possuíam e participavam da plena consciência divina, a onisciência, e de outros atributos. Tais faculdades divi­nas estão latentes neles e a peregrinação através da ma­téria, a jornada evolucionária, tem como finalidade ati­çar essas faíscas para que se tornem chamas e, assim, desenvolvam e transformem os atributos latentes em potentes para que possam ser energias dinâmicas, pron­tas para serem usadas, individualmente, por cada Es­pírito.

Contudo, uma coisa a mais que foi conquistada. Quando o vento sopra em um campo de feno recém-ceifado, ele absorve e carrega consigo a fragrância de miríades de flores, assim como se impregna com o aroma peculiar do campo. Em outro lugar, quando sopra sobre um jardim de rosas ou flores de laranjeira, recolherá um aroma diferente. O mesmo ocorre com os Espíritos em evolução. Cada um de nós, durante as rajadas de vento sentidas no processo evolucionário, recolhe o aroma da sua experiência individual e, no fim da evo­lução, como Filhos Pródigos, retornamos ao seio do Pai levando o aroma da experiência particular e indi­vidual vivida durante a jornada evolucionária. Então, essa essência composta será amalgamada no grande Espírito Divino do Pai e, dessa forma, seremos participantes da experiência uns dos outros, assim como o Pai partici­pará de toda a nossa experiência. Em consequência, haverá um benefício distinto para todos os envolvidos, pois, além da nossa própria individualidade ter-se desenvolvi­do, teremos aprendido a compartilhar do conhecimento e experiência acumulados por todos os outros Espíritos da nossa onda de vida.

(Pergunta nº 32 – “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. 2)

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Pergunta: Será errado interferir no karma ou devemos susten­tar a nossa divindade?

Pergunta: Será errado interferir no karma ou devemos susten­tar a nossa divindade e nos elevar acima das circuns­tâncias pela afirmação da nossa natureza divina?

Resposta: Uma pergunta semelhante foi formulada ao Sr. Heindel, em uma de suas recentes conferências em Los Angeles. Ele respondeu da forma abaixo.

“Embora todas as grandes religiões tenham sido dadas por Deus, há uma religião ocidental para os povos do ocidente da mesma forma que o hinduísmo existe para o povo da Índia e não vejo razão válida que nos faça copiar a ter­minologia deles e forçar as pessoas daqui a aprender o sânscrito, quando temos nossa própria e excelente lin­guagem com termos apropriados para ser usados em tudo aquilo que desejarmos transmitir. Para deixar a questão mais clara, vamos nos referir a um caso ocor­rido alguns anos atrás. Havia então uma con­trovérsia em determinada sociedade, que cometeu o erro de promover os ensinamentos orientais usando seus próprios termos, mas aqui, no ocidente. A discussão surgiu a respeito da palavra ‘AVYAKTAM’.

“Nem os próprios hindus têm certeza a respeito do significado da sua terminologia. Toneladas de papel e barris de tinta foram consumidos para chegarem a um acordo e parecem ter resolvido a disputa, adotando a se­guinte definição: Avyaktam é Parabramah revestido de Mulaprakiti, do qual são feitos seus UPAHHIS durante a Manvantara e no qual são novamente transformados, quando da chegada do Arolaya”.

O Sr. Heindel disse em seguida que esperava que a plateia tivesse entendido o significado de Avyaktam. Quando a plateia começou a rir e movimentou suas cabeças, o orador expressou seu pesar pela falta de compreensão de uma explicação tão elevada e resolveu tentar a variação comum do inglês para ver se essa explicaria. “Avyaktam é a Deidade reves­tida da Substância Essencial Cósmica da qual são feitos os seus veículos durante o Dia da Manifestação e que se transformam novamente, quando da chegada da Noite Cósmica”.

Quando os ouvintes declararam ter entendido a ex­plicação, o Sr. Heindel disse que o mesmo era válido no que se referia à palavra karma. Todos na América e grande parte das pessoas no mundo sabem o que é “dívida de destino”, sem a necessidade de qualquer explicação, e há várias outras palavras comuns que podem ser usadas com maior eficácia do que a expressão hindu karma, que não tem sentido para a maioria dos ocidentais. O orador afirmou também que palavras como astral e en­carnação ficassem deslocadas por terem sido ideadas para significar algo que não foi justificado. Ele lamentava que a palavra encarnação tivesse sido usada em nossa lite­ratura mais recente, notavelmente no Conceito Rosacruz do Cosmos. Os Irmãos Maiores que lhe ministraram os ensi­namentos na língua alemã sempre usaram a palavra Wiedergeburt, que significa renascimento, e há muita diferença entre os dois termos, diferença que não nota­mos à primeira vista.

É possível para um Espírito encarnar em um corpo adulto, expulsando o dono do seu veículo, possuindo esse corpo. No entanto, quando dizemos renascimento, só há um significado. Por essa razão, ele insiste para que os Estudantes nunca usem o termo encarnação, mas sempre a palavra renascimento. Em seguida, continuou.

“Responderemos agora à primeira parte da pergunta; isso é, será errado interferir no destino? Para chegarmos a uma conclusão, verifiquemos primeiramente quem criou o destino! Nós mesmos o criamos. Nós movimentamos a força que se transformou agora em destino e, por isso, temos indubitavelmente o direito de transformá-lo, na medida da nossa capacidade. Na realidade, essa é a marca autêntica da Divindade: governar-nos a nós mesmos. A maior parte da humanidade é regida pelos Astros, que podem ser chamados de ‘Relógio do Desti­no’. Os doze Signos do Zodíaco marcam as doze horas do dia e da noite, sendo que os Astros podem ser compa­rados aos ponteiros do relógio, indicando o ano em que certa dívida do destino amadureceu para poder expressar-se em nossas vidas. A Lua indica o mês e atrai determinadas influências que sentimos sem ter a consciên­cia de que estejam sendo exercidas ou sem notarmos sua finalidade.

“Contudo, essas influências permitirão alinhar nos­sas ações ao destino que criamos nos anos ou vidas anteriores e, invariavelmente, o acontecimento pressagia­do ocorre.

“Isso está marcado, a menos que nos esforcemos para mudar. Graças a Deus, há um a menos que, porque se não houvesse a possibilidade de alterar o destino, a única coisa a fazer seria sentar-se e dizer: ‘Vamos comer, beber e gozar a vida, já que amanhã morreremos’. Estaríamos, então, nas mãos de um destino inexorável e seríamos incapazes de nos aju­dar. Pela bondade de Deus há um fator que não está indicado pelo horóscopo. É a VONTADE humana, que tem condições de afirmar-se e frustrar o Destino. Recor­demos aquele lindo poema transcrito no Conceito Rosacruz do Cosmos.

“Um barco sai para Leste e para Oeste outro sai,

Com o mesmo vento que sopra em uma única direção;

É a posição certa das velas e não o sopro do vento

Que determina por certo o caminho em que eles vão.

É da máxima importância que estabeleçamos o rumo do barco das nossas vidas, conforme o desejarmos. Nunca tenhamos escrúpulos em interferir no destino.

Esse proceder também refuta a ideia de “afirma­ções” como sendo um fator na vida, pois isso, em si mesmo, é uma tolice. É de trabalho e ação que preci­samos na vida, como tentarei explicar por meio de uma ilustração. Suponhamos que uma pequena semente de lindos cravos pudesse falar e viesse a nós, dizendo: “Sou um cravo”. Por certo, nós responderíamos: “Não, você não é um cravo. Você tem a potencialidade interna para ser um cravo, mas terá que ir ao jardim e ficar enterrada durante algum tempo para crescer. Somente assim po­derá tornar-se um cravo, nunca pela afirmação”. Da mesma forma sucede conosco. Todas as “afirmações” da Divindade serão em vão, a menos que sejam acompanhadas por ações de caráter divino. Os atos provarão a nossa Divindade de uma forma que nunca as palavras possam fazê-lo.

(Pergunta nº 31 – “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. 2)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Desabrochar da Divindade Interna

O Desabrochar da Divindade Interna

O ser humano possui o poder da divindade dentro de si. Cabe-lhe, e tão só a ele, perceber essa potencialidade e se tornar uma Inteligência Criadora — tornar-se, em suma, um deus.

Pare e pense por uns instantes o que isso realmente significa. Significa que, em algum momento do futuro distante, cada um de nós será tão onipotente quanto o Grande Ser ao qual chamamos de Deus; que realizaremos as façanhas a que se referiu Cristo “e maiores do que essas”; que viveremos permanentemente livres do peso de um corpo físico ou da obstrução da matéria; que, tendo aprendido as lições da evolução, conheceremos tanto o bem quanto o mal, ficaremos perfilados ao lado de Deus e nos tornaremos tão puros que o mal não terá possibilidade de nos atingir. Significa tudo isso, sem dúvida — mas está tão distante de nós, atualmente, que se torna imperscrutável.

Todavia, significa também que poderemos, apenas quando desejarmos tentá-lo exercer grande parte do potencial divino latente em cada um de nós, no presente momento. Não é necessário aguardarmos até o advento de uma era da evolução, dourada e remota. A maior parte das pessoas ficaria bastante surpreendida quanto ao grau de “divindade” que já no presente estágio do seu desenvolvimento está pronto para se manifestar.

Quais, então, seriam alguns desses atributos “divinos” a serem expandidos? Em primeiro lugar, estão os três que vêm talvez mais rapidamente à memória — a onisciência, a onipotência, a onipresença. Esses, sem dúvida, estão muito além de nosso alcance atual; por isso, para os fins deste artigo, podem deixar de ser levados em conta. Muito além de nós, inclusive, está a divina Força criadora que produz manifestações de grandeza tal como a dos corpos celestes.

Mas nós temos certo grau de força criativa dentro de nós, hoje, devendo ser exercida a fim de que, afinal, venha a conquistar o seu grande potencial.

Deveríamos aproveitar toda oportunidade para fazer desabrochar a Epigênese e utilizar a capacidade criadora que já possuímos, de forma que, pouco a pouco, ela pudesse aumentar. Um enfoque positivo e entusiasta em relação à vida, acompanhado pela determinação ativa de enfrentar os nossos problemas, de utilizar inteiramente quaisquer aptidões que tivermos e fazermos tudo o que pudermos para melhorar nossa situação e a de nossos companheiros é o contexto no qual a nossa capacidade criadora pode e deve ser desenvolvida. Convencer a nós mesmos de que não possamos fazer algo ou, alheios ao potencial que nos cabe desenvolver, que devamos deixar o “Zé” realizar as tarefas a serem cumpridas, enquanto nos dedicamos unicamente à busca do lazer e ócio, não nos aproximará sequer um pouco do objetivo final. Somente a contínua persistência, o trabalho árduo e a percepção refletida no que devamos fazer desabrochar nos levarão diretamente a esse objetivo.

Existe outro atributo divino, contudo, e ainda mais importante do que a capacidade criadora, que muitas pessoas, independentemente do estado de seus talentos ou aptidões, podem aprimorar no atual período de vida, com resultados compensadores — se apenas quiserem! Trata-se da qualidade relativa ao amor divino com suas características resultantes de compaixão e altruísmo. Novamente aqui, acontece que nenhum humano possa atualmente chegar ao ponto de conquistar a inescrutável profundidade, beleza, onipresença e força do Amor do nosso Pai Celestial ou do Cristo. Mas podemos, quase todos, desenvolver nossas naturezas amorosas e compassivas muito mais do que estamos fazendo.

Os requisitos necessários à realização disso não são os mesmos que proclamam ao mundo um material individual ou habilidade intelectual. Não serão as condições que tenham sido aperfeiçoadas durante anos de trabalho manual ou mental, em encarnações anteriores. São atributos espirituais, caso assim for desejado, e é garantido admitir-se que, em toda a humanidade — com exceção de pequena porcentagem —, eles não foram cultivados em grau considerável, em encarnações anteriores.

Esses predicados não podem ser aperfeiçoados, a menos que o indivíduo desenvolva um interesse autêntico em relação a outras pessoas e um desejo de começar a conhecê-las melhor. Isso não significa necessariamente “sociabilidade” no sentido comum da palavra, nem sequer espírito gregário. Significa o anseio de observar as pessoas e, após uma observação praticada de forma considerável, a capacidade de penetrar em suas características superficiais para chegar até o “homem interno”, discernindo suas verdadeiras naturezas. Em outras palavras, quer dizer a capacidade de procurar e achar a “divina Essência dentro de nós”.

Concomitantemente, deve desejar servir às pessoas que estiver se esforçando para conhecer tão bem. A percepção de que muitos dos problemas possam ser aliviados com uma espécie de assistência de camarada, ou que muitas pessoas, a despeito disso, tenham problemas tão irresistíveis que lhes pareçam insuperáveis, é o requisito para este desejo. Quanto mais estivermos conscientes dessa condição e pensarmos a seu respeito de modo positivo, tanto mais poderemos nos inculcar com a aspiração de ajudar a fazer algo. Não é suficiente o pensar vagamente, embora com a melhor das intenções, sobre os infortúnios de outrem, no contexto geral de “Não é isso terrível? Pobre criatura”, e em seguida volver os pensamentos a assuntos mais agradáveis. À reflexão “Isso não é terrível?” deve seguir o esforço determinado para pensar-se na situação e ver se podemos auxiliar. Não importa quão enorme seja o problema ou como possa parecer remota a solução. Do ponto de vista das nossas possibilidades, é sempre admissível prestar um amoroso apoio moral. Caso não pudermos fazer algo além disso, nossa presença compassiva e serena se mostrará, muito frequentemente, uma força sustentadora que ajudará a pessoa aflita a enfrentar o seu período de provas.

O desejo de ficar a serviço deveria ser, e pode, caso fosse perseguido sinceramente, expandir-se desde o círculo limitado de amigos e conhecidos pessoais até à área muito mais vasta da humanidade em geral. De fato, é bem mais fácil nos colocar inteiros e depositar a nossa completa simpatia no esforço fervoroso de ajudar um conhecido. Sentir a mesma dedicação pessoal no caso de, digamos, um grupo de pessoas sobre as quais a única coisa sabida é que sejam pobres, ou doentes, ou foram escravizadas, ou tenham sofrido uma calamidade ou qualquer outra coisa desse tipo, é mais difícil. É possível ainda, quando a compaixão relativa a seres próximos e prezados tenha sido cultivada, expandir esse sentimento para incluir em um rol de pessoas que necessitem de ajuda os que possam ser apenas “nomes” ou “estatísticas”.

A qualidade do Amor divino que estamos tentando emular inclui a capacidade de ser compassivo e amoroso com todos, não importando o quão desagradáveis, depravados ou abomináveis possam parecer. Incompreensível que possa ser essa ternura a muitos de nós, não é mais do que aquela que Deus e o Cristo exerceram sempre a favor de toda a raça humana. Quem de nós, não importa o quanto evoluído, iluminado e “bom” possa pensar que seja, pode afirmar positivamente que nunca, numa encarnação passada, tenha atingido um ponto de baixeza degradante?

Afirmamos que, em encarnações anteriores, quase toda a raça humana foi condenada por egoísmo e atos de depravação peremptoriamente repudiados, hoje, pelas pessoas de discernimento. Ademais, foi o Amor sublime de Deus e o incrível Amor redentor do Cristo que nos resgataram, e ainda resgatam, da deterioração evolutiva à qual nos encaminhamos em virtude da corrupção. Esse é o tipo de amor que nós, por nós mesmos, devemos adquirir.

Ademais, é importante relembrar que as próprias pessoas que pareçam “merecer” o nosso amor são as que menos o necessitam prementemente. Se existe algo que possa resgatar alguém do que pareça ser as últimas etapas da degenerescência, é a compaixão oferecida por um amigo, juntamente à simpatia e expressões de confiança que possam fazê-lo perceber a Centelha divina que está oculta por detrás do véu que sua natureza inferior confeccionou. Quando um indivíduo, finalmente, certificar-se de que haja, sem dúvida, “algo bom” em si e sua autoconfiança estiver um tanto solidificada, ele melhorará suas ações paulatinamente e fará com que a Centelha se incendeie cada vez mais brilhantemente. Porém, sem essa compreensão e ajuda compassiva proporcionadas por uma fonte externa que o fez olhar, pela primeira vez, para dentro de si com um olho perscrutador, teria tido dificuldade muito maior para dar o passo inicial na senda do “viver correto”.

Por último e, talvez, o mais importante, vem o predicado da espiritualidade. Ele também deve se desenvolver no contexto do serviço. Max Heindel deu-nos excelente orientação a tal respeito, no Livro Ensinamentos de um Iniciado, capítulo III.

“A ideia mais comumente aceita é que a espiritualidade se manifeste através da oração e da meditação; no entanto, se observarmos a vida de nosso Salvador, veremos que Ele não viveu na indolência. Não permaneceu em reclusão. Não se apartou do mundo e não se escondeu dele. Viveu entre o povo, ajudando-o em suas necessidades cotidianas. Ele o alimentou, quando isso foi necessário. Ele o curou sempre que teve oportunidade de fazê-lo e, inclusive, ministrou-lhe ensinamentos. Assim, foi Ele um servidor da humanidade, no verdadeiro sentido da palavra”.

Max Heindel nos diz, novamente: “Existem muitas pessoas que, aspirando aos poderes espirituais, percorrem de um centro, chamado de oculto, a outro, ingressam em mosteiros e apreciam locais de isolamento. Esperam, afastando-se do clamor e das atrações do mundo, cultivar sua natureza espiritual. Ficam expostos à luz da prece e meditação de manhã até à noite, enquanto o mundo se encontra gemendo em agonia. Então, passam a se admirar pelo fato de não progredirem, não sabendo por que não obtêm mais da senda da aspiração. Certamente, a oração e a meditação são necessárias; absolutamente essenciais ao crescimento anímico. Mas estaremos fadados a fracassar, caso dependamos, para o nosso crescimento anímico, de orações que são apenas palavras. A fim de obtermos resultados, deveremos viver de modo que toda a nossa vida se torne uma prece, uma aspiração. Como nos disse o filosofo Emerson:

Embora teus joelhos nunca tenham se dobrado,

Nos céus tuas orações de cada instante são sentidas,

E, sejam formadas para o bem ou para o mal,

Ainda são registradas e respondidas.

Não são as palavras que proferimos nos instantes de oração que contam; mas, com certeza, é a vida que eleva a prece…

“Há somente um meio de mostrarmos nossa fé e isso é feito pelas nossas obras; não importando em que setor da vida fomos colocados… O fator determinante que decide se um tipo de trabalho é espiritual ou material é a nossa atitude. A pessoa que estende os fios elétricos pode ser muito mais espiritualizada do que a que permanece sobre a plataforma.

Desobstruir um cano de esgoto é uma tarefa muito mais nobre do que viver falsamente atrás da dignidade de um cargo de professor, implicando uma espiritualidade que não existe realmente. Todo aquele que se esforça para cultivar essa rara qualidade espiritual deve começar, sempre, fazendo tudo pela maior glória do Senhor, porque quando fazemos todas as coisas pelo Senhor não importa que espécie de trabalho façamos. Escavando esgoto, inventando dispositivos que poupem trabalho, pregando sermões ou qualquer outra coisa, é tarefa espiritual, quando feita com amor a Deus e à humanidade”.

Vemos assim que o processo de desabrochamento da divindade existente dentro de nós depende do nosso conceito sobre as pessoas, nossas relações com elas e, o mais importante, nosso serviço a elas prestado. A nossa divindade nunca evoluirá no isolamento; embora seja verdade, sem dúvida, que quanto mais nos tornarmos adiantados espiritualmente, pareceremos estar, em certo sentido, mais isolados dos outros humanos, nossos companheiros.

Devemos aprender, todavia, a transcender esse isolamento dentro de nós próprios. De certo modo estaremos sozinhos. Ainda assim, a nossa compaixão cada vez mais abarcante em relação aos outros e a eterna consideração que lhes tivermos nos manterão bem ocupados, evitando que permaneçamos refletindo o fato de estarmos, talvez, não tão cercados de “amigos” como outrora.

Em outro sentido e muito mais significativo, entretanto, estaremos menos sós do que nunca, porque quanto mais desenvolvermos nossos atributos divinos, mais perto de Deus chegaremos e nos tornaremos uma parte mais ativa d’Ele, cada vez mais nos compenetrando da “unidade fundamental de cada um com tudo”. À medida que o Cristo interno nasce e Se desenvolve, sentiremos mais profundamente a bênção celestial se ampliando e nos apoiando em nossa jornada ascendente.

 

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto de 1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Hora da Verdade

A Hora da Verdade

“Como vai a sua neurose?”. Lemos essa infeliz manchete na capa de uma revista. É o título de um artigo que aborda um dos males da época. Alarmante, é lamentável, mas não exagero. Retrata fielmente os tempos atuais. A neurose já é quase como o resfriado: quase uma doença comum. Muita gente recorre à Psicanálise, tentando erradicar essa mazela. Os consultórios estão sempre repletos. As fábricas de divãs estão sobrecarregadas de serviço. Cogita-se até mesmo criar um beliche-divã. Tudo por causa da neurose, o mal da época.

Amigo leitor, tudo isso que afirmamos acima pode parecer brincadeira, à primeira vista, porém essa não é a nossa intenção. Neurose, antes de qualquer coisa, é um conflito. E nós não brincamos com conflitos, por mais insignificantes que possam parecer. Neurose é um conflito sério, uma luta interna decorrente da superestima do material em detrimento do espiritual. Vivemos numa época em que o materialismo ainda prepondera. Engodados pelas exterioridades, os seres humanos extravasam loucamente seus desejos, suas paixões, seu imediatismo, seu apego às coisas transitórias. Pouco valor é dado à natureza interna, esse mundo desconhecido. Uma minoria cultiva devocional e racionalmente o lado espiritual da vida, mantendo-se em equilíbrio nos momentos mais desconcertantes, permanecendo incólume a todos os impactos do mundo material, extraindo-lhe pura e simplesmente as lições que eles possam proporcionar.

No frontispício do templo de Delfos, na antiga Grécia, lia-se: “Conhece-te a ti mesmo”. Passaram-se muitos séculos e, no decurso desse tempo, pouco se fez nesse sentido. O conhecimento interno tem sido relegado a um plano secundário. O ser humano parte para a conquista de outros Planetas sem haver conquistado nem conhecido a si mesmo. Seu mundo interior permanece ignoto.

Hoje em dia tudo está mecanizado, tudo obedece a esquemas previamente traçados, tudo é muitíssimo organizado; quando se intenta resolver um problema qualquer, basta apertar um botão; querem condicionar o sentimento humano ao complexo mecânico do computador. Alguém quer levantar um horóscopo? Ora, o computador pode fazê-lo! Dois jovens recém-casados querem saber quantos filhos terão? Isso não é problema! Para que existe o computador? O computador inclusive já indicou qual será o país vencedor do Campeonato Mundial de Futebol a ser disputado no México! É incrível como estamos tão automatizados, tão escravizados pelas máquinas, pelos códigos etc. Nos países mais desenvolvidos, as chamadas “grandes potências”, o panorama é alarmante, surpreendente. Nações organizadas, bem situadas economicamente, primando por grande desenvolvimento educacional, industrial ou tecnológico, apresentam um elevado índice de suicídios, enfartes, lares desfeitos, uso de tóxicos, conflitos entre gerações e NEUROSE. Tudo porque falta alguma coisa. Falta mais espiritualidade, falta equilíbrio entre mente e coração, falta a consciência de que a matéria é consequência. Matéria é espírito cristalizado. A causa de tudo encontra-se nos Planos espirituais. Quando esse conhecimento for de âmbito geral, as coisas mudarão. Quando a vida for encarada como sendo uma grande escola e nós, como alunos, simples administradores dos talentos que são concedidos a nós, os conflitos, as psicoses e as neuroses serão coisas do passado. Já não mais nos desesperaremos pelo temor de perder ou sofrer. Viveremos a vida em toda a sua plenitude.

Muito embora os tempos atuais não sejam luminosos, nós, como ocultistas cristãos, devemos ser otimistas. Lembremo-nos sempre da inspirada frase de Max Heindel: “QUANTO MAIS FORTE É A LUZ, MAIS PROFUNDA É A SOMBRA QUE ELA PROJETA”. O ser humano tem, infrutiferamente, procurado a felicidade fora de si mesmo. Um dia, abatido por tantas decepções, iniciará a jornada de volta para o seu “Eu interno”. Eis que chegará, então, a HORA DA VERDADE.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O que está errado no Mundo?

O que está errado no Mundo?

A avalanche de mudanças de condições e problemas que se abateu sobre todos nós, supostamente inesperada e repentina, não foi surpresa para os astrólogos, filósofos e estudantes da Bíblia. Eles estavam preparados para isso.

Para os astrólogos, os sinais eram claros, sabendo que as mãos do Zodíaco, o relógio dos céus, operado pela Lei Universal, apontavam para uma nova época – e que grandes mudanças estavam chegando tanto ao universo, como à Terra e aos seus habitantes ao nos aproximarmos da conclusão de um ciclo e do começo de uma nova Era – à medida que passamos da Era de Peixes para a dispensação na Era de Aquário, várias centenas de anos a partir de agora.

Os filósofos, conhecendo a Lei de Causa e Efeito, têm a certeza que dela não se pode fugir sem colher a consequência negativa, já que a presente condição das nações e dos indivíduos tem sido causada por violações lamentáveis ​​e repetitivas da Lei Cósmica. Se nós estivéssemos vivendo e administrando os assuntos mundanos em harmonia com a Lei, agora no final dessa dispensação se poderia misturar à nova dispensação sem essa situação de pensar e fazer as coisas erraticamente e não claramente em harmonia.

O que estamos passando agora não deveria ser chamado de uma depressão ou repressão, mas um despertar, de um modo em pensar como nunca pensamos antes. Estamos começando a usar uma faculdade que há muito tempo estava adormecida e que é altamente essencial para nosso avanço sob essas condições variáveis.

Para entender a causa desses grandes problemas que nos confrontam, devemos voltar à história e desvendar o passado. Há sempre uma solução para cada problema, mas às vezes não é do modo que queremos nem do modo de estamos pensando.

Para chegarmos a uma conclusão lógica, devemos considerar o plano invisível, assim como o visível (também conhecidos como o plano criador e o plano onde se pratica, respectivamente), uma vez que nos manifestamos em ambos os planos, e como são interdependentes, eles não podem ser separados.

O Livro do Gênesis na Bíblia nos fornece o nosso primeiro conhecimento da nossa existência, como ser humano, mostrando que somos uma alma vivente, e como tal fomos criados pela primeira vez no plano Invisível, à imagem de Deus: um ser andrógino, masculino e feminino. Com o tempo, fomos constituídos do pó do chão, uma substância densa e material. Tivemos o auxílio na construção de um corpo para nos manifestar e evoluindo fomos desenvolvendo as qualidades necessárias para dominar um plano material. Então, Deus considerou apropriado nos fornece uma ajuda, não só para que facilitasse a nossa aprendizagem, mas que pudéssemos criar aqui nesse mundo material. Nesse momento, nos tornamos sexuados; quando renascido como homem retemos o polo positivo da força criadora e quando renascido como mulher retemos polo negativo ou intuitivo da força criadora. Quando a assim chamada “serpente” apareceu, ele pôde tentar Eva (o estereótipo da nossa encarnação como mulher), porque era possível se comunicar com ela através de sua faculdade intuitiva. Adão (o estereótipo da nossa encarnação como homem) não poderia ser atingido devido a não ter desenvolvido essa faculdade a bom termo.

Quando olhamos para o céu e observamos o glorioso Sol, a Lua e as estrelas movendo-se em perfeito equilíbrio; os maravilhosos oceanos, lagos, rios e florestas sobre a terra, respondendo às leis naturais; os animais, pássaros e insetos cumprindo seu destino, vivendo em liberdade e se alimentando; o nascer do Sol, a neve e a chuva para variar o clima e nutrir nossa vegetação; os vastos recursos sob a nossa disposição, com as riquezas nas montanhas e nos vales – quando vemos tudo isso, somos inundados de êxtase pelo maravilhoso sistema criado e pelo plano estabelecido pelo Criador.

E perguntamos, por que tudo isso foi criado e com que finalidade?

Novamente, consultando o Gênesis, vimos que nós deveríamos ser o Regente dessa Terra. Tudo deveria estar sob nossa tutela. Certamente, deveríamos ter feito alguma coisa, em nossa existência passada, para sermos merecedores de uma herança tão grande – mas, com esse presente generoso, veio a responsabilidade e um teste de integridade.

Repetidamente, em cada dispensação espera-se que nós entendamos e aprendamos o que é ensinado e necessário. A história registra as oportunidades que nos foram dadas para resolver os nossos problemas, mas nós escolhemos o nosso próprio caminho, e, ao fazê-lo, sofremos tristezas e misérias incalculáveis, e impérios caíram, para nunca mais se levantar.

Deus nos deu uma ajuda para nos confortar, nos inspirar e para equilibrar nossas decisões e nossos deveres; contudo, nós nunca a reconhecemos como tal, nem mesmo as qualidades que antes eram nossas. Durante séculos, quando renascidos como homem consideramos a mulher inferior, esmagamos as aspirações dela e a tratamos como um brinquedo para o nosso prazer e nossa diversão, a considerando necessária apenas para povoar a Terra – tornando-a, assim, nossa dependente. Quando renascidos como mulheres permanecemos sem voz nos problemas mundiais, fomos forçados a nos embelezar e a recorrer a todo tipo de subterfúgios para agradar aos renascidos como homens e obter favores; pois nossa própria vida e existência, quando renascidos como mulheres, dependiam do nosso tato, da nossa astúcia e do nosso poder de enganar. Como o renascimento é, normalmente, alternado, cada um de nós praticamos isso, ora como homem, ora como mulher!

Mesmo em nossos dias, frequentemente, a pergunta é feita: será que quando renascidos como mulher chegaremos a expressar aqui a capacidade intelectual de quando renascido como homem? Por que não perguntar, também, se quando renascido como homem chegaremos a expressar aqui as qualidades intuitivas de quando renascido como mulher?

O homem real é positivo e criativo e possui excelentes qualidades de força, bravura e nobreza, enquanto a mulher real tem as qualidades adoráveis da bondade, simpatia e generosidade. Tudo isso é essencial e necessário – uma combinação maravilhosa para governar e promover uma administração harmoniosa no lar e fora dele.

Contudo, nós preferimos viver no paraíso dos tolos – lutando contra a guerra e o crime, que são filhos de uma força concentrada e positiva na sua pior forma. Nós, ainda, estamos usando a força para tentar trazer paz e harmonia. Nada jamais produzirá o oposto de seu tipo!

Os cientistas nos dizem que o Universo adquire seu equilíbrio por meio da combinação harmoniosa entre as forças positivas e negativas. Nós temos usado a força positiva apenas em nossa decisão. Agora tornou-se pesado e fora de seu controle e é como uma locomotiva correndo a esmo. Tudo o que precisa é da força negativa, para reverter o acelerador e, assim, evitar a completa destruição.

Guerra, armamento para defesa, manutenção de exércitos e marinhas: esses são os obstáculos mais estupendos para o avanço de uma nação, minando a própria vida dos cidadãos; esvaziando suas bolsas e enchendo o mundo de tristeza, pobreza e dependentes desamparados chorando por pão em meio à abundância – tudo por causa da nossa visão errada e da administração de um sistema desequilibrado.

Mais uma vez, algo está fadado a fracassar ou a ser destruído, devido a presença de certos “sinais ruins” ou “maus presságios”. Estamos no momento em que as implicações positivas e negativas desses atos estão sendo considerados e decisões estão sendo tomadas e, para complicar, nos encontramos carentes. Traímos nossa grande confiança. No entanto, continuamos a fazer Conferências, participando de reuniões entre nações e de alianças diplomáticas secretas – o que apenas o fará se envolver ainda mais e que não dará em nada, a menos que revertamos as rodas de ação da força para a razão, e a menos que cada um de nós, em nossa vida cotidiana, assim como no governo, reconheçamos as nossas responsabilidades, não apenas para com o outro ser humano – nosso irmão e semelhante-, mas para com o nosso Criador, pela parte que assumimos no Seu plano.

A menos que ajudemos a construir, em vez de destruir, e nos tornemos mais abrangentes em nossas ideias, mais amáveis em nossos corações, a história se repetirá e a civilização será novamente destruída. Grandes e nobres mestres vieram em cada ciclo para nos ajudar a emancipar e nos provar a imortalidade da nossa alma e a existência de uma vida eterna. Porém, eles receberam apenas a nossa ingratidão. Eles receberam o cálice do veneno e foram queimados na fogueira e até mesmo o glorioso corpo de Cristo-Jesus foi crucificado por nós!

Todos foram mal compreendidos, quando tentavam nos poupar exatamente pelo que estamos passando agora. Contudo, Deus é misericordioso e compassivo, e nos fornece a chance de se redimir em cada Era. Não podemos alegar desconhecimento de um Plano para nos guiar. A astrologia, a ciência das estrelas, revela a nossa vida desde o seu nascimento e através de nossas vidas anteriores. Isso nos revela nossas características individuais e, a partir delas, podemos saber no que mais encaixamos e qual a vocação deveríamos seguir para ser bem-sucedido. Para as nações, mostra um “plano azul” de seu destino; os eventos importantes na vida, os seus dirigentes e os problemas que eles enfrentarão.

Os arqueólogos nos dizem que nas paredes internas da Grande Pirâmide do Egito as mudanças dos ciclos estão escritas em sinais e símbolos, quando esperá-los, também o passado, presente e futuro das raças dos seres humanos e das nações. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento na Bíblia nos mostra a ascensão, o declínio e a queda das nações, e as causas disso; e a história comprova isso. Patriarcas, filósofos, profetas, de uma vida exemplar e antiga, nos deram um modelo, um projeto, e nos disseram como lidar com o nosso próximo. Todos eles esperavam que a gente despertasse no devido tempo o conhecimento da verdade e encontrasse a sua filosofia de vida.

Do mesmo modo que a rosa tenta insistente e firmemente se desenvolver nesse solo nada fértil e consegue, finalmente, desabrochar as suas pétalas uma a uma até alcançar a beleza suprema, também assim as nossas glórias serão manifestas e surgirão da noite longa e escura, quando percebermos que Deus tem um propósito para nós, bem como para o universo do qual nós, permanentemente, fazemos parte, e compreenderemos o valor das qualidades positivas e negativas e as utilizaremos para equilibrar e harmonizar nossos assuntos materiais e nossa vida cotidiana. Assim, a paz e a felicidade serão a nossa recompensa na Nova Era, cujo amanhecer já vislumbramos!

(Publicado na Revista ‘The Rosicrucian Magazine’ – “Rays from the Rosecross” de fevereiro/1940 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Prazeres e Pontos de Vista

Prazeres e Pontos de Vista

Muitas vezes, ao longo da vida, batalhamos sob o efeito de uma profunda e falsa compreensão das verdades mais claras. Verdades que, se realmente fossem entendidas, ajudar-nos-iam a resolver problemas grandes e desconcertantes; além disso, auxiliariam a limpar os céus da nossa mente. Saber exatamente como viver, no que acreditar diante de todos os escombros desconcertantes das formas voláteis de pensamento, dos sistemas filosóficos e das ideias religiosas: está aí o grande problema de hoje. É uma dificuldade maior que a industrial ou a social, se não procurarmos de maneira ampla o suficiente para encontrar suas raízes na vida universal. Tais raízes nos levam a um único Plano — o espiritual. Não é por meio de ensinamentos errôneos que entendemos o espiritual. Muito do nosso ensino, oferecido nessa acepção, levou-nos a considerá-lo irreal e vago: a antítese direta da vida prática. Como entendemos agora, o Plano dos sentidos da vida objetiva é que é irreal, um fantasma.

Vida e Verdade são bastante simples, quando bem entendidas. Nós as tornamos complexas pelas ilusões e estimativas falsas. Nossos preconceitos e opiniões nos influenciam. Afastamos nossos rostos da Luz e nos divertimos com insignificantes brinquedos dos sentidos — as brincadeiras de adultos infantis. Vemos alguns raios refletidos dessa Luz em nosso mundo de sentidos e imagens sombrias. Aqui e ali, ela se refrata e cai, em brilhos quebrados, sobre esses brinquedos, os quais dignificamos pelo nome de negócio ou prazer. Pegando um raio de vez em quando imaginamos, como as crianças tolas que somos, ver e conhecer.

O “eu”, o “eu” pessoal, confirma-nos em nossa ignorância cega, pois clama incessantemente: “Eu, eu…”. É tão fácil acreditar no que se alinha aos nossos desejos. Logo aprendemos a aceitar tudo que o “eu” diz e a adorá-lo em frenesi alucinado. Aqui, é onde todos os nossos problemas começam. A bela e divina Luz está brilhando o tempo todo no centro de nosso ser, mas viramos as costas para ela e adoramos nossos ídolos. Esses ídolos não são ao menos argila, porém meras ilusões; portanto, um aspecto estúpido é dado à nossa idolatria.

O mal é apenas relativo, de modo que o plano aonde chegamos resolve a questão da nossa responsabilidade. O hotentote (pastor nômade e indígena) não é um criminoso, de acordo com o código de ética mais elevado, quando se afasta para matar. Seu senso moral está totalmente desperto e ele não tem consciência espiritual. É uma criatura não-desenvolvida, não-desabrochada.

Algum dia ele também acordará; então, começará sua luta com os problemas desconcertantes da vida. Entre ele e as inteligências que quase resolveram esses problemas estão passos imensuráveis de progresso. Cada etapa aproxima a consciência espiritual do seu perfeito desenvolvimento, quando todas as coisas se destacam em suas verdadeiras relações com a Luz clara e branca da Verdade.

A criança não é totalmente responsável por seus lapsos até que sua razão se desenvolva. Os filhos adultos da humanidade são apenas relativamente culpados, ao produzir discórdia na sinfonia da vida. Eles tocam o tambor dos movimentos cantáveis, a corneta dos devaneios em tom baixo e, quando o motivo exige um silêncio reverente, tocam as chaves da vida em frenesi louco. Naturalmente, as almas superiores tremem de agonia. Mas a aflição é parte da dor universal que as almas superiores devem compartilhar com toda a humanidade. Não consideramos essas almas infantis totalmente responsáveis por sua parte no aumento da miséria da Terra. Eles não sabem; portanto, agem como forças cegas, elementais travessos.

Quem, então, é responsável por toda a agitação e a confusão da vida? Principalmente aqueles que pertencem a um plano superior, mas que não vivem nem agem aí. Aqueles que deveriam ser os guardiões e dispensadores das verdades superiores.

Em nossa civilização ocidental, são os que professam a fé cristã — em virtude do impulso recebido das esferas superiores e destinados a aliviar as trevas da humanidade. É pateticamente trágico que muitos seguidores de Cristo, seguidores professos, sejam obstruções ao brilho total da Luz. Produzir sombras em vez de irradiar luz é uma qualidade que pertence a outro reino que não o de Cristo. Uma espada foi colocada nas mãos do inimigo. Isso atrasou o trabalho que o Cristo veio fazer.

Muito do errado é devido à má compreensão e a concepção errônea sobre a Verdade. A Igreja, tendo perdido bastante da sua herança inestimável mediante o mundanismo e a adoração aos sentidos, está realmente perdida dentro de um labirinto de tristeza e dúvida. Muitas vezes, seus ministros e professores são apenas líderes cegos que guiam cegos. Aqui e ali, almas dedicadas erguem suas pequenas lâmpadas. Elas captaram alguns vislumbres da Verdade e, com o amor a Deus e à humanidade como força controladora, esforçam-se para elevar seu padrão de vida. Seu trabalho é testemunha da sua pureza de motivo, porém frequentemente está marcado por algum elemento de fraqueza. Um toque de sensacionalismo, de apelo ao egoísmo espiritual ou ensino incipiente o torna menos eficaz do que poderia ser.

Em vez de vidas equilibradas com os elementos mentais e espirituais em harmonia, existe histeria emocional ou negação fria. Em vez de a razão estar totalmente desenvolvida e prestar a suprema homenagem à intuição, a Luz interior e divina, encontramos vontades fracas sendo alimentadas por estimulantes artificiais e caprichos fúteis do pensamento — que não são pensados. Ouve-se expressões fracas e estereotipadas, emprestadas de várias fontes, divorciadas do seu contexto. Estremece-se com as banalidades repetidas com profunda solenidade, trivialidades cuja inaptidão as condena ao pensador. Estão satisfeitos com a visão estreita, centrada em meias-verdades, enquanto a alma anseia pela visão ampla, pelas claras altitudes, as visões longínquas da Verdade que nunca se estreitam na linha do horizonte.

A Igreja, como guardiã dos mistérios superiores, deve oferecer essa Verdade ao povo. Caso contrário, o castiçal será removido do seu lugar. Deve haver portadores da tocha: a Verdade deve ser proclamada. Os que estão na vanguarda da onda de vida humana têm uma responsabilidade terrível, seja na Igreja ou fora dela. Simplesmente deixar brilhar a Luz interior e dedicar a vida ao mais alto ideal de serviço, que é o de Cristo, é o próximo passo no caminho ascendente.

(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross de julho/1917 pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Comunicação e Comunicação: a televisão, o rádio, os jornais, as revistas, o cinema ou as artes

Comunicação e Comunicação: a televisão, o rádio, os jornais, as revistas, o cinema ou as artes

Na década da comunicação, quando as teorias de Marshall McLuhan são quase elevadas a axiomas, uma frase é citada com relativa frequência: “Em todos os conflitos humanos há uma falha de comunicação”. Tal assertiva pode parecer um tanto quanto radical ou constituir-se em uma generalização perigosa; porém “onde há fumaça, há fogo”. A não-fixação em extremos exige uma análise da afirmativa em seus múltiplos aspectos. Na atualidade, a vida e seus componentes formam um emaranhado tão complexo ao ponto de demandarem análises e ponderações sob todos os ângulos imagináveis. É a única maneira de situar-se e definir um problema sem que se incorra em erros ou injustiças.

Considerando detidamente o tema em pauta, admitimos encontrar a falha originadora dos conflitos radicada mais no que se deseja comunicar do que propriamente nos meios de comunicação. É como dizem: com tijolos tanto podemos erigir um templo como um cabaré. Os tijolos em si mesmos não poderiam ser incriminados por formarem um recinto de degradação e vícios nem se revestiriam de quaisquer méritos por serem utilizados na construção de uma casa de louvor a Deus.

De maneira análoga, a televisão, o rádio, os jornais, as revistas, o cinema ou as artes, como veículos de comunicação e expressão, tanto podem elevar como degradar. São malévolos? Sim, se os empregamos com tal finalidade. Se utilizados construtivamente, ajudarão a edificar uma sociedade cada vez melhor.

Alguém poderia indagar: por que os veículos de comunicação, como por exemplo os jornais, a televisão e o cinema, não se prestam a finalidades mais elogiáveis? A resposta é simples: são movidos quase exclusivamente por fatores utilitaristas que visam a fins lucrativos. Exploram as mazelas e debilidades humanas, envolvendo o povo em uma série de artifícios. Muitos jornais são promovidos e vendidos às custas de manchetes sensacionalistas, veiculando notícias às vezes inverídicas. Afinal, uma tiragem considerável constitui um chamariz da publicidade.

A televisão, em matéria de comunicabilidade, desponta como força extraordinária pela sua capacidade de penetração. No entanto, ela tem sido malbaratada através de programas antiestéticos, antiéticos e pouco educativos. Há exceções, é bom que se frise. Poucas são as emissoras preocupadas em difundir cultura.

“É preciso ir ao encontro do gosto popular”, afirmam alguns diretores de TV, pois “caso contrário não haverá audiência”. “Programa que não dá IBOPE” não tem patrocinador de renome; isso é, não fornece lucro. Então, o negócio é despejar “chanchadas” ou “vales de lágrimas” em cima do telespectador, deixando-o mal habituado, condicionando-o ao que, efetivamente, seja ruim.

Esporadicamente, algum programa aborda temas espiritualistas. Uma parcela mínima — quando muito, 20% — da programação de TV é benfazeja. O que existe realmente é um desserviço à coletividade!

Se o povo tem mau gosto, eis aí outro motivo para nossos indivíduos de televisão modificarem essa condição, procurando levar às massas uma mensagem de arte no sentido mais amplo e espiritual da palavra. Tudo é questão de hábito! Um programa educativo, estruturado em linhas modernas, versátil, sugestivo, abordando de forma criteriosa temas da atualidade, depois de certo tempo acabará produzindo IBOBE. Basta o público sentir-se motivado para se habituar a assistir a ele. Isso não será difícil, pois todos temos um Corpo Vital, o veículo criador de hábitos. E não faltarão os bons patrocinadores: são os que vêm por acréscimo.

Quanto ao cinema, o panorama não é mais alentador. De modo geral, sua temática tem servido mais para acelerar o processo de formação de neuroses, fobias e quejandos. Em matéria de crescimento anímico, pouco se aproveita. E, não podendo ser de outra forma, há muitos apelos ao sexo e à violência.

O poder da imagem e do som é fantástico. Sua capacidade de penetração no subconsciente é incontestável. Aí reside o grande perigo, quando empregado de maneira distorcida.

Muitos podem pretender objetar nossas considerações sob a alegação de estarmos vivendo numa era onde o realismo e o surrealismo são evidenciados em todos os ramos artísticos. Defendem a tese segundo a qual os problemas humanos devem ser encarados e apresentados como realmente são. Admitimos verdadeiramente o anacronismo da fantasia e do romantismo piegas; mas a exibição de películas cinematográficas em que a apologia ao crime e ao erotismo chega às raias do absurdo não merece o nosso apoio. Mesmo a apresentação de problemas humanos dentro de um realismo chocante só é válida quando se propõe no final a entregar uma solução dignificante e harmonizadora. Concordamos com a exposição do conflito, contanto que se tenha o bom senso de sugerir medidas saneadoras. Do contrário, os problemas só tenderão a se agravar. Vivemos na época da música, da literatura, do teatro e do cinema de protesto. Contestar é um direito de todo humano; no entanto, é necessário definir o que contestamos, porque fazemos e qual é a solução proposta.

A Filosofia Rosacruz harmoniza uma explicação lógica e racional sobre todos os problemas que afligem os seres humanos. Mediante a Astrologia revela o arcabouço anímico do ser humano, suas virtudes, falhas e conflitos. E não para por aí! Procura estimular, em cada estudante, uma reforma de caráter, promovendo a erradicação de conflitos por meio da compreensão das Leis Cósmicas. Oferece por intermédio de seus ensinamentos a oportunidade de cada um perscrutar-se interiormente, ensejando descobrir a origem de seus sofrimentos. Contudo, ressalta taxativamente a necessidade de um esforço próprio no sentido de eliminar as causas, criando assim um destino melhor. A Escola Filosófica fundada por Max Heindel não se vale da ciência da comunicação para alardear sua força ou oferecer aquisição de poderes a curto prazo. Não procura sensacionalismo. Não dá “iniciações” mediante o pagamento de uma taxa qualquer. Mantém uma linha de conduta tão séria e honesta ao ponto de afirmar e configurar o processo Iniciático como uma experiência interna, só atingível após um empenho perseverante e sincero em servir desinteressadamente ao próximo coadjuvado por uma reformulação interior. Vemos então como a Filosofia Rosacruz é realista, porque edifica um novo ser humano, ao invés de destruí-lo. Isto é realismo. É utilizar legitimamente os meios de comunicação, empregando-os no aprimoramento dos valores morais!

(Pulicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Epigênese: aprendamos a utilizar para alavancar nosso desenvolvimento espiritual

Epigênese: aprendamos a utilizar para alavancar nosso desenvolvimento espiritual

O próprio Ego que renasce incorpora em si a quintessência de seus primitivos Corpos Vitais; além disso, faz um pequeno trabalho original. Isso acontece para que na vida futura possa haver lugar para a expressão individual original, expressão que não esteja determinada por ações passadas.

Existe uma grande tendência para se pensar que tudo o que existe agora é o resultado de algo que existiu previamente; mas, se esse fosse o caso, não haveria margem para esforços novos e originais que exigem novas causas. A cadeia de causas e efeitos não é uma repetição monótona. Há um influxo contínuo de causas novas, originais. Essa é a base real da evolução, a única coisa que lhe dá significado e que a converte em algo mais do que um simples desdobramento ou desenvolvimento de qualidades latentes. Isto é EPIGÊNESE, o livre-arbítrio que supõe a eleição entre dois cursos de ação. Esse é o fator importante que sozinho pode explicar de maneira satisfatória o sistema ao qual pertencemos.

A forma foi construída pela Evolução; o Espírito a construiu e entrou nela pela Involução; porém o meio para inventar os melhoramentos é a Epigênese.

O pai e mãe dão a substância de seus corpos para construir o corpo do filho; no entanto, especialmente nas pessoas que renascem no ocidente do Planeta Terra, a Epigênese faz possível que se agregue algo, o que torna o filho diferente dos seus pais.

Quando a Epigênese não atua ou torna-se inativa no indivíduo, na família, na nação ou na raça, a evolução cessa e começa a degeneração.

Durante toda a vida a qualidade que os Rosacruzes chamam de Epigênese está em atividade; essa qualidade é o poder de pôr em ação um número limitado de causas novas que não são determinadas nem impostas a nós por atos do passado. Se estivéssemos totalmente sujeitos ao passado e incapazes de gerar novas causas, seria impossível desenvolver um poder criador e original, nem haveria livre-arbítrio. Vem aqui nos ajudar a faculdade espiritual da Epigênese, portanto; capacitando-nos, se for essa a nossa vontade, a abrir caminho para esferas ainda maiores de poder e atividade proveitosa.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Elogio Versus A Condenação

O Elogio Versus A Condenação

 

A Fraternidade Rosacruz enfatiza o serviço prestado a todos os seres vivos a nossa volta e, nesse contexto, muitas vezes esta pergunta é feita: “Como posso servir meus semelhantes? Parece que não tenho oportunidade”. Assim, será bom ressaltar que o serviço não significa apenas uma ação grande ou espetacular como, por exemplo, salvar a vida das pessoas que estejam dentro de uma carruagem cujos cavalos estejam em fuga, ou adentrar um prédio em chamas para resgatar aqueles que, de outra forma, queimariam até a morte. Tais oportunidades não chegam para todos, ou todos os dias; mas todos nós, sem exceção, temos a oportunidade de servir e, não importando qual seja o ambiente ou a linha de serviço que indiquemos neste artigo, é de valor ainda maior do que um ato único onde salvamos alguém da morte que, mais cedo ou tarde, será a parte que nos cabe a todos, porque certamente vale mais ajudar as pessoas a viver bem do que apenas a escapar da morte.

É fato deplorável que a maioria de nós seja egoísta até certo ponto. Buscamos o melhor que há na vida e fazemos isso desconsiderando quase totalmente nossos próximos. Uma das maneiras pelas quais esse egoísmo se expressa com mais frequência é a manutenção de atitudes de autossatisfação. Somos propensos a comparar nossos esforços, pertences ou faculdades aos dos outros e, onde for manifesto que eles tenham mais do que nós, que sejam mais realizados ou algo do tipo, haverá sentimentos de ciúme e inveja que nos levarão a minimizar o sucesso ou realizações deles sob a ilusão de que, por essa comparação, subiremos ao nível deles ou acima. Se, por outro lado, for manifesto que não possuam tanto quanto nós; se parecer que a posição social deles esteja abaixo da nossa e, assim, que pareça fácil estabelecer sua inferioridade, poderemos adotar uma atitude arrogante, falar sobre eles de modo paternalista ou condescendente, julgando que tal comparação nos eleve muito acima da nossa posição atual.

Se ouvimos alguém falar mal de outra pessoa, estamos sempre prontos e propensos a acreditar no pior porque, em comparação, parecemos bem melhores, muito mais sagrados ou, pelo menos por enquanto, exaltados acima do culpado. E onde o mérito é tão másculo que o elogio não possa ser retido, geralmente somos rancorosos, pois sentimos como se o louvor dado a eles se afastasse de nós ou, talvez, exaltasse-os sobre nós.

Tal é a postura geral do mundo. Por mais deplorável ou lamentável que seja esse fato, é uma evidência entre a maioria da humanidade — todos parecem preocupados em manter todos os outros atrás. Essa é uma das coisas mais desumanas que os seres humanos praticam contra si mesmos, gerando incontáveis lamentações que, em contrapartida, produzem outras incontáveis lamentações.

Que serviço maior pode alguém oferecer aos outros, senão auxiliá-los com uma atitude sistemática de encorajamento e elogio? Não há coisa mais verdadeira que este sentimento interior: “Há muito de bom no pior de nós e muito de ruim no melhor que, dificilmente, cabe-nos encontrar falhas nos outros”. Em casa, na loja, no escritório; em todos os lugares encontramos, dia após dia, pessoas diferentes e todas elas suscetíveis ao desejo de encorajamento.

O que o Sol é para a flor, uma palavra encorajadora é para todos, no mundo. Se alguém triunfou e proferimos uma palavra de elogio, ela o ajudará a melhorar ainda mais na próxima vez. Se alguém fez algo errado ou falhou, uma palavra de simpatia ou confiança em relação a suas capacidades de vitória ou recuperação o encorajará a tentar novamente e — vencer. Da mesma maneira que, certamente, a atitude de desânimo murchará e destruirá a vida que pudesse ter sido salva por uma palavra alegre. Quando alguém chegar com uma estória ruim sobre outra pessoa, sejamos muito lentos para acreditar e mais ainda para contar a um terceiro. Esforcemo-nos por todos os meios de persuasão para impedir que o que chegou até nós seja repetido para os outros. Nada de bom pode resultar para nós ou às outras pessoas, se ouvirmos e acreditarmos nessas estórias.

Esse tipo de serviço pode parecer bem fácil à primeira vista; entretanto, devemos ter em mente que, muitas vezes, seja necessário bastante autonegação para continuar o trabalho, porque estamos tão imbuídos de egoísmo que seja quase impossível para a maioria de nós afastar continuamente esse eu de maneira completa para nos colocar na posição dos outros e dar o encorajamento e os elogios pelos quais tanto nos dedicamos.

Contudo, se persistirmos nessa atitude e a cumprirmos consistentemente, com todos em nosso ambiente, sempre insistindo em dizer uma palavra de encorajamento quando encontrarmos oportunidade, descobriremos que as pessoas venham até nós não apenas com suas tristezas, mas também com alegrias e, assim, poderemos ganhar alguma recompensa. Sentiremos então que tivemos uma grande participação em suas realizações e em todos os seus sucessos haverá alegria e sucesso que legitimamente pertençam a nós mesmos, um triunfo além do que alguém possa tirar de nós, algo que irá conosco para além do túmulo como um tesouro no Céu.

Não nos esqueçamos de que todo pequeno ato seja gravado no Átomo-semente, em nossos corações; que o sentimento e a emoção que acompanham esse ato reagirão em nós na existência post-mortem; e que toda alegria, prazer ou amor que derramarmos sobre outras pessoas reagirá sobre nós no Primeiro Céu, o que nos dará uma experiência sublime, inculcando em nós a maravilhosa habilidade de oferecer cada vez mais alegria aos outros e prestar um serviço cada vez maior.

Lembremos também que essa seja a única grandeza verdadeira, a única pela qual vale a pena trabalhar — a que nos ajuda a prestar o serviço. Acima de tudo, mais do que incentivar outras pessoas em seu trabalho, lembremo-nos da parte do serviço que foi descrita e trata de descontinuar as estórias. Quando alguém vem até nós com isso, não importa o que possamos pensar nem qual seja sua justificativa, a repetição não tem qualquer valor. Ela faz mal. À medida que a bola de neve que desce a montanha acumula material, cresce cada vez mais; assim também, o conto que é levado de uma boca a outra se torna exagerado, causando muita tristeza e sofrimento pelas línguas de fofoca.

Portanto, não podemos oferecer maior serviço às partes envolvidas ou à comunidade do que tentar fazer com que aqueles que carregam estórias de maldade acabem com esse hábito. Lares foram destruídos, comunidades foram arrasadas, seres humanos foram para a forca inúmeras vezes ou à servidão em alguma instituição, o que é muito pior, por causa de estórias ociosas. Dessa forma, podemos fornecer um serviço muito bom tanto nos recusando a ouvir fofocas quanto incentivando quem falhou ou elogiando aqueles que tiveram sucesso. Todos os dias oportunidades batem à nossa porta, independentemente de onde estejamos ou qual seja a nossa posição na vida.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross, julho de 1915 – Traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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