A Busca do Infinito: exemplos de Goethe, Dostoievski e Michelangelo
A perfeição é conquistada por intermédio de muitas pequenas imperfeições.
Goethe é um bom exemplo ocidental de equilíbrio. No entanto, ele nunca deixou de se queixar da dificuldade que lhe advinha em sua vida de criador. Escreve ele no Diário, em 1779: “Luto com o anjo desconhecido, até à exaustão; homem algum pode imaginar os combates que tenho que travar para produzir o pouco que peço. Que falta de ordem e de continuidade na minha ação, nas minhas ideias, na minha criação poética! Que raros foram os dias que me renderam! Meu Deus, continua a dar-me o teu auxílio; continua a dar-me a luz necessária para que eu não seja um obstáculo para o meu próprio caminho”.
Muita gente pode pensar que assim ele disse porque era jovem ainda. Contudo, que pensar do que Goethe disse 45 anos depois, no fim de uma vida plena de glória e recheada de obras-primas? Eis as suas palavras: “Sempre me invejaram por ter sido singularmente favorecido pela sorte. Também sinto que não me posso queixar e não serei eu a invectivar o meu destino. No entanto, no fundo, a minha vida foi só sofrimento e trabalho. Posso garantir que, ao longo de setenta e cinco anos, não tive quatro semanas de verdadeira satisfação. Foi sempre o mesmo rolar duma pedra, como a de Sísifo, que era preciso a cada momento voltar a levantar”.
A mulher de Dostoievski relata que seu marido sempre foi muito severo consigo próprio e que raramente os seus escritos lhe mereciam aprovação. Às vezes apaixonava-se pelas ideias dos seus romances, que trazia na cabeça durante muito tempo, mas quase nunca ficava satisfeito ao vê-las expressas. Apesar de nunca ele haver tido ideia poética mais rica do que “O Idiota”, Dostoievski dizia que não tinha chegado a dizer nele a décima parte do que queria. Para ele, não era mais do que a sombra do que vislumbrava no íntimo.
Michelangelo, após anos de trabalho, contempla pela primeira vez o teto da Capela Sistina e chora, porque não encontra nele o sonho que o inspirara. Podem vir os críticos, os professores de arte, com seu talento, a comentar e a explicar, descortinando intenções, descrevendo simetrias. Miguel Ângelo os ouve com um secreto espanto porque sabe que a realidade interna é infinitamente mais complicada e infinitamente mais simples. Podem os homens falar; ele sempre buscou o impossível até o fim de seus dias, num anseio incontido de perfeição.
Por isso, todo grande buscador, em qualquer campo, foi profundamente silencioso. Eles tinham a consciência da impossibilidade de comunicar facilmente tudo o que recebiam de dentro e do íntimo. É um silêncio de defesa e de pequenez ante o Infinito.
A experiência do grande buscador é a experiência da verdade e a impossibilidade de falar de sua experiência da verdade. Fala pouco e depois se recolhe para lá do silêncio.
No entanto, só quando chega a esse ponto pode começar a falar devidamente, POR AMOR e na medida daqueles que o ouvem, buscando dar-lhes a pouco e pouco o que alcançou.
E nesse dar descobre a chave da maior elevação que o conduz mais depressa aos altiplanos da espiritualidade, do que uma intensa busca isolada da verdade.
O anseio de perfeição, o impulso de evolução, vem-nos de dentro, do próprio Espírito, em maior ou menor grau, segundo o nível de consciência.
Na medida em que nos vamos libertando da influência da personalidade dominante e nos vamos submetendo à vontade do Eu verdadeiro e superior, é claro que esse anseio cresce, porque Ele busca a realização da verdade.
Espantamo-nos quando Max Heindel nos ensina que um Irmão Maior, está, em sua evolução de consciência, à frente de um santo, assim como um santo está à frente de um selvagem adorador de totem. Todavia, imaginem os passos dos seres evoluídos, comparados com nossos passos.
Em que proporção e intensidade influímos nós na elevação da sociedade? Pensem bem e vejam que é pequena ainda — o que não nos deve desanimar, senão estimular a evoluir mais depressa, porque, quanto mais evoluirmos, tanto mais largos serão nossos passos em direção à meta.
A ação dos seres altamente evoluídos é realmente digna de admiração e de exemplo. Com seus largos passos — quais pequenos astros — eles vão deixando um rastro luminoso à sua passagem, para iluminar e nortear os que ainda se encontram nas trevas das limitações pessoais. E damos razão ao pensador escocês Carlyle:
“A História Universal é a História dos Grandes Homens, que foram os condutores da humanidade, os modeladores, os tipos e, num sentido lato, os criadores de tudo o que as massas humanas em geral se esforçam por fazer ou alcançar. Todas as obras que vemos no mundo são, em verdade, o resultado material exterior, a realização prática e a encarnação dos pensamentos que habitam nos grandes homens enviados a este mundo. Assim, a alma da História do mundo é a história deles”.
Aparentemente, Carlyle anula a contribuição menor de todos que, com sua Epigênese, estão enriquecendo o patrimônio histórico, às gerações porvindouras. Porém, na mesma obra, ele considera como herói todo aquele que se vence diariamente ao conscientizar e deixar seus defeitos, atuando gradativamente melhor em sua vida pública, quer como padre ou profeta, quer como homem público, poeta, escritor ou artista ou artífice. Carlyle arremata: “Sempre saímos ganhando ao conhecer as obras ou dialogarmos com um deles”.
Há um eterno convite de perfeição a todo ser humano. Se ela não nos fosse possível, o Cristo não o teria dito: “Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial”. O Mestre podia vislumbrar claramente o que significa sermos “à Imagem e semelhança de Deus”; de “sermos herdeiros d’Ele”. Há um tesouro potencial em nosso íntimo, passível de enriquecer nossa consciência, quando conquistarmos nossa natureza e o desenterramos de nosso íntimo. A própria natureza de Deus está individualizada como eu ou como tu, à espera da desvelação.
Assim como a semente plantada se desmancha e se transforma, ao devido tempo, numa árvore igual àquela da qual proveio — assim também somos sementes de Deus e devemos renunciar ao que pensamos ser, para nos converter em algo maior, à semelhança e estatura d’Aquele que nos criou.
Somos gratos aos Irmãos Maiores que nos indicam o caminho mais seguro e curto. Ao mesmo tempo devemos assumir nossa própria Epigênese e percorrê-la à nossa maneira, na formação de algo diferente, individual, que seja uma contribuição a mais, no tesouro de Deus.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)
Uma exposição elementar sobre o seu desenvolvimento e o da humanidade
Quando abrimos o Conceito Rosacruz do Cosmos, lemos na página do título que o livro professa ser uma exposição elementar da evolução passada do ser humano, da sua constituição atual e do seu desenvolvimento futuro; em outras palavras, uma solução para o enigma da existência. — De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos? Uma olhada nas páginas e no índice revela o fato de que o livro aborda os assuntos de um ponto de vista que esteja acima e além do conhecimento da maioria das pessoas e, portanto, a questão surge de modo natural na Mente dos sérios: o que há neste livro que justifique o seu estudo? Não é melhor e mais seguro evitar as visões e imaginações de alguém? Estou cansado dos ditados e dogmas que exigem que eu tenha fé e sinto que a única base segura é confiar na rocha da razão e depender dos fatos exatos, desenvolvidos pela ciência. Os cuidadosos investigadores científicos não usam sentimentalismo, fé ou imaginação, mas dependem apenas do que descobrem por meio de pesquisas sobre os segredos da natureza; eles não nos dão sentimentos obscenos, mas FATOS científicos.
À primeira vista, tal atitude parece razoável e lógica, mas uma inspeção um pouco mais detalhada mostrará em breve sua falsidade e seus pontos fracos. Durante vários anos temos acreditado que a ciência seja infalível, que ela nos dê fatos e não requeira fé, que seja absolutamente desprovida de imaginação e dependa apenas de resultados que são demonstrados em vários ramos por experiências de pesquisadores qualificados; no entanto, com certeza esse não é o caso, como o leitor verá quando abrir The Riddle of the Universe (O Enigma do Universo), de Ernst Haeckel, um dos principais expoentes de uma ciência monística que visa explicar tudo o que há no mundo por meio de causas físicas, negligenciando inteiramente o sobrenatural, como o chama. A propósito, esta é uma de suas principais falácias: tudo o que é, é natural, não há qualquer coisa que seja antinatural, não pode haver, nem existe algo sobrenatural.
O que essas pessoas realmente querem dizer é que elas explicam tudo a partir de uma base física e não reconhecem algo metafísico ou além do mundo físico. Porém, em relação ao conhecimento supostamente extenso e preciso da ciência, temos uma ideia muito diferente nas páginas 299 e 300 do livro mencionado. O Professor Haeckel diz:
“Quando não temos certeza de algo, nós dizemos eu acredito nisso. Nesse sentido, somos obrigados a fazer uso da fé mesmo na própria ciência; conjeturamos ou assumimos que existe uma certa relação entre dois fenômenos, embora não a conheçamos com certeza. Quando se trata de uma causa, formamos uma hipótese: a explicação de muitos fenômenos conectados pela suposição de uma causa comum é chamada de teoria. Tanto na teoria quanto na hipótese, a “fé” (no sentido científico) é indispensável, pois aqui novamente é a imaginação que preenche as lacunas deixadas pela inteligência, em nosso conhecimento sobre a conexão das coisas. Portanto, uma teoria deve sempre ser considerada apenas uma aproximação à verdade; deve-se entender que ela possa ser substituída por outra que seja melhor fundamentada. Mas, apesar dessa incerteza admitida, a teoria é imperativa para toda verdadeira ciência; ela elucida fatos postulando uma causa para eles.”
Teorias importantes, de primeira classe:
— Teoria da gravitação, em Astronomia (Newton);
— Teoria Nebular, na cosmogonia (Kant e Laplace);
— Princípio de energia, em Física (Meyer e Helmholtz);
— Teoria atômica, em Química (Dalton);
— Teoria vibratória, em óptica (Huyghens);
— Teoria celular, em Histologia (Schleiden e Schwann);
— Teoria em Descida, em Biologia (Lamarck e Darwin).
As teorias acima explicam um mundo inteiro de fenômenos naturais pela suposição de uma causa comum a todos os vários fatos de suas respectivas áreas, mostrando que todos os fenômenos estejam interconectados e sejam controlados por leis que resultam da causa comum, ainda que a causa em si possa permanecer obscura em caráter ou ser apenas uma “hipótese provisória”. A “força da gravidade”, na teoria da gravitação e cosmogonia; a própria “energia”, em sua relação com a matéria; o “éter” da óptica e da eletricidade; o “átomo” do químico; o “protoplasma” vivo da histologia; a “hereditariedade” do evolucionista — essas e outras concepções semelhantes de outras grandes teorias podem ser consideradas por um filósofo cético “meras hipóteses” e o resultado da “fé” científica; contudo, elas são indispensáveis para nós até serem substituídas por melhores hipóteses.
Haeckel afirma, como uma necessidade indispensável, o uso livre e irrestrito da imaginação com o objetivo de completar lacunas entre fatos isolados que foram descobertos pelo cientista; ele também denuncia, em termos não-qualificados, como estúpidos os cientistas que se recusam a fazer uso da fé e da crença.
Imaginação e fé são um “bom molho” para o ganso científico e, de fato, não pode prosperar sem elas; no entanto, quando são usadas na religião, lemos na página 301 que a “A diferença essencial entre essa superstição e a fé racional está no fato de que ela pressuponha forças e fenômenos sobrenaturais que são desconhecidos e inadmissíveis para a ciência e que são o resultado de ilusão e fantasia; sendo, portanto, irracional”. Assim, de acordo com o Prof. Haeckel, que pode ser considerado, hoje, um representante do mundo científico, a fé e a imaginação são indispensáveis à ciência e os cientistas que se esforçam para sobreviver sem elas são “mal-intencionados”; entretanto, a fé religiosa é o resultado de ilusões e fantasias; além disso, é superstição.
Assim, a religião parece não ser o único autor de ditados e dogmas; aqueles que se curvam diante do santuário científico ouvem, sem que haja vergonha ou pedido de desculpas, que, embora todas essas teorias possam se tornar, mais tarde, enganosas, hoje são a única fonte de crença correta e a ciência exige que sejam aceitas sem reservas por qualquer um que tenha o selo científico de sanidade.
O capítulo de abertura do Conceito Rosacruz do Cosmos é intitulado “Uma palavra para o sábio” e é literalmente significativo, pois aqueles que são ignorantes também são, nessa medida, ensináveis, por isso o Cristo apontou uma criança pequena como ideal. Quanto mais completamente perdermos o senso de nossa própria grandeza e conhecimento, melhor estaremos em posição de adquirir informações. Este escritor recorda, a esse respeito, ter chegado à pequena cidade de S. há alguns anos, pretendendo oferecer um curso feito de palestras. Estava preparado para pagar suas próprias despesas com o aluguel de salas e outras coisas, mas procurou obter ajuda de uma certa sociedade da cidade […] e uma reunião foi realizada com o objetivo de discutir alguns assuntos. Só alguns membros compareceram, mas foram bastante unânimes e capazes de expressar os sentimentos da sua sociedade, que foram os seguintes: tivemos o Sr. X aqui, bebemos vinho, jantamos e contratamos um teatro para ele, mas ele não pôde ensinar qualquer coisa para nós. Também tivemos a Sra. Y — ela não foi melhor. Então o Sr. Z. apareceu, não sabia coisa alguma e, portanto, não lhe queremos nem queremos suas palestras: você não pode nos ensinar qualquer coisa! E, na verdade, estavam certos: quem tem opiniões tão definidas, que é tão sábio em sua própria opinião presunçosa, que condena um ensinamento sem sequer ouvi-lo ou ponderá-lo pelo equilíbrio da razão, é incapaz de ser instruído nos Mistérios da Vida. Portanto, nosso Salvador insistiu apropriadamente em que todo aquele que não receber o Reino dos Céus como criança não entrará nele com sabedoria. A criança pequena não é prejudicada por opiniões pré-concebidas, não se sente obrigada a esconder sua ignorância; portanto, é notavelmente ensinável e assume tudo com confiança até que sua experiência de vida, que vem mais tarde, prove ser verdadeiro ou falso. Então a criança utiliza sua razão para se apegar àquilo que é bom, descartando o que for preciso ignorar. Essa é a atitude mental que todos devem cultivar, antes de poder estudar adequadamente e com lucro alguma filosofia de vida.
O Conceito Rosacruz do Cosmos vai um passo além: ele sustenta que o ser humano, sendo criado à imagem do seu criador divino, não se limita necessariamente aos cinco sentidos com os quais ele agora é dotado. Atrás de nós, na escala da evolução, encontramos criaturas que carecem de vários sentidos com os quais fomos abençoados e, logo, é razoável deduzir que devamos ter em nós mesmos a capacidade de desenvolver outros sentidos com os quais poderemos saber algo em que agora temos de acreditar. Esse é o caso, como afirmado pelo Conceito Rosacruz do Cosmos; ele diz que tais sentidos estejam latentes em todos e cada um de nós e que é possível, por exercícios científicos e apropriados, desenvolvê-los antes que estejam disponíveis para uso, no curso normal da evolução. Alguns experimentaram esses métodos e verificaram que sejam verdadeiros; outros, com a persistência e perseverança necessárias, descobrirão que seja possível seguir os seus passos.
O Estudante Rosacruz deve ler o capítulo “Uma palavra para o sábio” para entender completamente a fonte de informação subjacente ao Conceito Rosacruz do Cosmos, devendo também compará-lo aos métodos declaradamente especulativos da ciência. Sobre isso é digno de nota que as “fotografias” do Prof. Haeckel de um feto em diferentes estágios, que professam apresentar um panorama pictórico da vida intrauterina, sejam parcialmente “inventadas” pela especulação sobre o que deve ter ocorrido para conectar os desenvolvimentos mostrados pelas fotografias genuínas da série. Nenhuma palavra foi dita sobre essa interpolação de “elos perdidos” por desenhos teóricos, quando a série foi publicada e anunciada como a maior das realizações científicas; e quando o professor foi acusado mais tarde de métodos fraudulentos, ele se defendeu apelando à “necessidade científica” que tornou mandatório preencher com especulação o que não pôde ser aprendido pela observação.
Quando o Estudante Rosacruz domina completamente os fundamentos das asserções científicas e as compara à fonte de informação do Conceito Rosacruz do Cosmos, não deve ser difícil escolher ou mostrar aos outros como escolher.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross em 05/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz – Campinas – SP – Brasil)
O Problema da Memória e da Recordação
Com a intensidade do seu entusiasmo, ao estudar pela primeira ver os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental da Rosacruz, os Estudantes experimentam muitos despertares breves nos planos internos da Natureza. Frequentemente regressam ao corpo pela manhã, depois de uma noite de trabalho nos planos internos, com recordações confusas, recordações de ter visto o Mestre ou os Irmãos Leigos, e entre suas experiências mais comuns está a de lhes terem sido mostradas linhas ou páginas impressas, as quais esperava-se que lessem. Algumas vezes isso é lido exatamente como se lê um livro com os olhos no Mundo Físico. Outras vezes o impresso desaparece e o leitor encontra-se vivendo ele mesmo à narração que havia começado a ler nos planos astrais. Tudo é excessivamente claro e vívido no momento em que sucede, mas ao despertar começa a se desvanecer na memória e causa decepção perceber que se pode recordar apenas um esboço muito pobre do que foi visto e, às vezes, nem isso. Outras vezes a experiência não é totalmente lembrada ao despertar, e logo, no curso do dia, ou talvez, dias ou semanas depois, recorda-se subitamente que tal ou qual acontecimento sucedeu no mundo da alma, durante as horas em que o corpo esteve adormecido.
O Estudante acredita firmemente que quando chegue a ser Probacionista, sua memória será mais brilhante e que recordará tudo o que experimente nos planos internos. Agora, é certo que o Probacionista que vive uma vida intensamente devocional, ao mesmo tempo que conserva sua Mente alerta e concentrada, descobrirá certamente que tenha feito algum progresso, mas novamente deparar-se-á com a decepção ao perceber que a memória e a consciência estão bloqueadas. Poderá, então, desiludir-se e chegar à conclusão de que não alcançará a meta nesta vida, e voltar aos caminhos do mundo.
É bom, portanto, que o Estudante saiba que a memória plena da experiência do mundo interno é raramente alcançada, e isso não acontece senão muito tempo depois da primeira Iniciação, e que ainda assim, é necessário algum esforço para alcançar a plenitude da recordação do mundo da alma, no Mundo Físico.
Max Heindel mesmo nos fala a respeito disso em seus primeiros escritos, e como esses nem sempre são acessíveis ao Estudante de hoje, queremos aproveitar a oportunidade e copiar de nossa revista Rays from the Rose Cross, de novembro de 1945, em que esse problema foi tratado:
Pergunta: — Algumas vezes tenho recordações do trabalho que faço no mundo da alma, durante a noite, mas me incomoda o fato de não poder lembrar sempre a experiência completa. Quanto tempo se passará antes de que possa recordar inteiramente as experiências noturnas?
Resposta: — Essa aberração da memória da alma continua até depois da primeira Iniciação e ainda por esse tempo não é imediatamente corrigida. Max Heindel relata que, depois de sua Iniciação na Europa, encontrou certo número de Irmãos Leigos presentes ao Serviço do Templo em seus Corpos-Almas, entre eles um homem a quem designa como Sr. X. Max Heindel escreve: “Falamos a respeito de muitas coisas em comum interesse e o Sr. X disse ao que escreve que vivia em certa cidade da América do Norte e que esperava que nos encontrássemos ali em alguma oportunidade. Isso foi cordialmente acolhido por mim, porque eu acreditava que quando me encontrasse com o Sr. X, no corpo físico, tal cavalheiro explicaria multas coisas que eu, sendo um jovem neófito, não sabia, porque nesta época não estava preparado para recordar todas as experiências do mundo invisível com a consciência física”.
Note-se que essa afirmação foi feita depois que Max Heindel havia já tomado sua primeira Iniciação: ele, contudo, chamava-se a si mesmo um jovem neófito, e disse que, todavia, não estava preparado para recordar todas suas experiências dos planos internos. Essa capacidade é adquirida mediante a prática contínua, e a primeira Iniciação não confere automaticamente a plena memória contínua das experiências obtidas fora do corpo. Podemos esclarecer dizendo que o desenvolvimento da memória total do Espírito é parte do trabalho da Iniciação; mas a Iniciação propriamente dita não acontece subitamente, mas é a culminação de uma série ascendente de experiências com seu desenvolvimento espiritual concomitante.
O Estudante deve entender que a Iniciação é algo mais que ser liberado do corpo pela primeira vez. Esse é unicamente o primeiro passo da primeira Iniciação. Segue muito trabalho ulterior, como o elevar-se a planos mais altos, e ler nos registros da Memória da Natureza concernentes à Época Polar e à Revolução de Saturno, deste Período Terrestre. Essa leitura da Memória da Natureza não é feita simplesmente como um estudo de história: faz surgir na consciência as forças que trabalharam, então, no ser humano e as faz atuantes mais uma vez, com a vontade de vigília do neófito. Deve-se notar também que o simples fato de sair do corpo, ainda que com plena consciência de vigília, não é a Iniciação. A Iniciação consiste em fazer com que o neófito saia do corpo à vontade e com plena consciência. Há algumas pessoas que foram iniciadas em vidas anteriores e se recordam da maneira de fazer isso; mas esses casos são raros.
Recordação do trabalho feito nos planos internos durante a noite é registrada no Átomo-semente e é lembrado inteiramente depois da morte, quando o Espírito é liberto do corpo.
Contudo, Max Heindel adverte muitas vezes que o fato de ser simplesmente um membro da Fraternidade Rosacruz não abrirá nunca, nem nesta, nem em mil vidas, as portas das faculdades superiores, inclusive a falha recordação das experiências noturnas no Mundo do Desejo. Deve-se fazer um trabalho definido. As faculdades intelectuais e imaginativas devem ser treinadas, e a intuição espiritual que é o dom do Espírito do Cristo Interno, o Princípio do Espírito de Vida, deve Ser conduzida a certo grau de maturidade.
Todo o trabalho é feito pelo Espírito Virginal, que é o verdadeiro Ser Humano, o Eu Sou, feito à imagem e semelhança de Deus. Esse Espírito, como sabemos, possui três “potências” ou “princípios” que se ativam nos planos cósmicos correspondentes à sua natureza, e em cada um desses planos revestem-se a si mesmos com o que pode ser chamado “envolturas” da substância do plano, ainda que à palavra envoltura não expresse adequadamente a ideia pretendida. Essas três potências do Espírito Virginal são o Espírito Divino, o Espírito de Vida (Amor) e o Espírito Humano. Desses, tem se dito outras vezes nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que: o Espírito Humano trabalha na Mente como Razão; o Espírito de Vida trabalha na Mente sob a forma de Intuição e que o Espírito Divino trabalha na Mente como Epigênese, que é o poder criador da Divindade, o poder mediante o qual o Espírito faz nascer novas iniciativas e progressos para a evolução. A Epigênese é a que torna possível que o Espírito inicie novas linhas de progresso e desenvolvimento. É ela que capacita o ser humano para “reger suas estrelas”.
Assim como o Espírito Humano se manifesta como Razão, e o Espírito de Vida como Amor e Intuição, assim O Espírito Divino se manifesta como Vontade Criadora.
Em todos os casos a Mente é a ponte, e a essência anímica de toda experiência chega ao Espírito por essa ponte. Não há outro caminho, diz Max Heindel. Com um pouco de reflexão, perceberemos como isso é certo. Se a Mente é descartada, o ser humano regride a um estado animal, ou ainda vegetal.
A Mente humana funciona no Mundo do Pensamento, que está dividido nas duas “regiões”: a Região do Pensamento Concreto e a Região do Pensamento Abstrato. A Memória da Natureza pertencente ao Período Terrestre encontra-se na região intermediária do Mundo do Pensamento, onde também têm seu lugar as forças arquetípicas. Essa Região das Forças Arquetípicas, que é o lugar da Memória da Natureza pertencente o Período Terrestre é, consequentemente, a “memória” do Espírito da Terra. As primeiras nove Iniciações dos Mistérios Menores revelam tudo que está oculto nesse registro. A primeira Iniciação Maior, que faz do Iniciado um Adepto, revela, então, o mistério da própria Mente. Esse é um mistério que pertence a “Deus, O Pai” — O aspecto Pai dos Logos Solar, que é o Líder dos Senhores da Mente. Nesse “mistério da Mente” está a solução dos problemas do Bem e do Mal, da “Queda do Homem” e da Ilusão.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – jul./ago./88)
Pergunta: Agradeceria sua opinião sobre eu estar certo ou errado no seguinte: De acordo com os Ensinamentos da Fraternidade Rosacruz, a Terra toda será etérica na Sexta Época, a Nova Galileia, incluindo humanos, animais, plantas e minerais. De fato, o processo de eterilização já está em andamento, tendo nós passado o nadir da materialidade “alguns milhões de anos atrás”. Isso significa que mesmo os atrasados humanos, que não tiverem desenvolvido o Corpo-Alma à altura da segunda chegada, também serão etéricos, possuindo apenas os dois Éteres inferiores. Assim não sendo, a Terra não seria toda etérica. Os pioneiros, pelo contrário, só terão os Éteres superiores compondo seu Corpo-Alma, e habitarão a atmosfera da Terra do futuro podendo assim: “Encontrar o Senhor no Ar”?
Resposta: Não cremos que aos humanos que não tenham desenvolvido um Corpo-Alma lhes seja permitido permanecer na Terra chegando a Sexta Época. Parece-nos ter sido deixado bastante claro nos Ensinamentos da Fraternidade que o Corpo-Alma, o Traje Dourado de Bodas, será essencial para os humanos poderem viver na Nova Galileia. Extraímos do livro Coletâneas de um Místico uma informação bem pertinente sobre o assunto.
“Tem sido ensinado em nossa literatura que quatro grandes épocas de desenvolvimento precederam a ordem atual das coisas; que a densidade das condições atmosféricas da Terra e as leis naturais prevalecentes numa época eram tão diferentes das de outras épocas quanto a constituição fisiológica correspondente da humanidade de uma época ou era da de outras.”
“.. Carne e Sangue teriam torrado no terrível calor de então (Lemúrica), e embora adequadas às presentes condições, diz-nos São Paulo que não poderão herdar o Reino de Deus. É então manifesto que antes que possa ser inaugurada uma nova ordem de coisas, a constituição da humanidade deve ser radicalmente alterada, sem se falar da atitude espiritual. Íons serão necessários para “regenerar a inteira a onda de vida humana e adequá-la à vida em Corpos Vitais.”.
“Por outro lado, nem um novo ambiente vem à existência num momento, mas Terra e povo envolvem-se juntos desde os menores e mais primitivos primórdios. Quando as névoas da Atlântida começaram a dissipar-se, alguns de nossos antepassados tinham desenvolvido pulmões embrionários e foram forçados para as terras altas muito antes de seus companheiros. Vagaram ‘Na Vastidão Deserta’, enquanto ‘A Terra Prometida’ estava emergindo das brumas mais leves, e ao mesmo tempo seus pulmões em desenvolvimento propiciavam-lhes a viver sob as atuais condições atmosféricas.”
“Mais duas raças nasceram nas bacias da Terra antes que uma sucessão de inundações os dirigisse para as terras altas; a última deu-se quando o Sol (por precessão) entrou no aquático Câncer, cerca de há dez mil anos, conforme relataram os sacerdotes egípcios a Platão. Vemos assim não haver mudança improvisada em constituição ou ambiente para a inteira raça humana ao alvorecer de uma nova época, mas um sobrepor-se de condições que torna possível para a maioria, por ajuste paulatino, ingressar nas novas condições, embora a mudança possa parecer repentina ao indivíduo quando a alteração preparatória tiver sido realizada inconscientemente.”
No livro Interpretação Mística do Natal diz Max Heindel: “Assim como os Atlantes cujos pulmões estavam subdesenvolvidos pereceram no dilúvio, também a Nova Era, a de Aquário, encontrará alguém sem o ‘Traje de Bodas’, portanto, despreparado para entrar, até qualificar-se em ocasião posterior”.
(Publicada na revista ‘Serviço Rosacruz’ – nov/dez/88)
O Método Socrático e a Educação para a Era de Aquário
No advento da Era de Aquário é de principal importância a atenção que se deve dispensar à educação das crianças, preparando-as para o futuro, e não para um presente efêmero, que aliás é de uma rápida mudança e que por isso quase nem se pode caracterizar com certeza. Sabemos a Idade de Ouro que espera a humanidade e, portanto, as sementes de uma sociedade mais livre e fraterna, uma geração que sinta os valores do espírito como realidade eterna, deve aparecer diretamente com ação no plano físico. Mesmo entre nós, Estudantes Rosacruzes, deveríamos dar mais ênfase a este Aspecto, seja nos nossos contatos pessoais, quer mesmo dentro da nossa filosofia no que diz respeito à preparação de programas adequados às crianças, visando de um modo particular a atividade movimento-som-expressão, atendendo a Aspectos astrológicos como o Ascendente, posição da Lua, Vênus e Mercúrio.
Não é tarefa fácil educar plena e harmonicamente se tivermos em consideração a responsabilidade da palavra educar, e sobretudo se pensarmos que podemos atrasar ou acelerar esse aparecimento do ser humano novo, equilibrado de mente e corpo, do ser humano que possa ver em todo o conhecimento a Unidade, o sentido sagrado de todo e qualquer ato. Parece-nos, creio, ser este o ponto mais importante de educação para a Nova Era, a parte de outro: o desenvolvimento da criatividade. Esse, deveras amplo e atraente, é sempre tema inesgotável. Assim, numa perspectiva humana, criatividade será sinônimo de autêntica liberdade interior, fator epigenético por excelência, e talvez das poucas vias para um convívio fraterno aquariano sem atropelos de ideias e empreendimentos postos em ação, pois que seremos ainda mais individualizados, o que quer dizer que cada qual pensará cada vez mais por si mesmo, e só no campo criativo poderá haver maior libertação.
Ao longo da História têm aparecido pedagogos e pedagogistas que têm trabalhado para a educação. A sua preocupação básica tem incidido principalmente na questão do que é educar e quais os melhores processos e métodos, não esquecendo os estudiosos da chamada psicologia do desenvolvimento — etapas do crescimento mental-emocional da criança. Não podemos ignorar que a despeito do avanço das ideias pedagógicas, os sistemas econômicos e os governos têm condicionado certas descobertas, atropelado tal investigação ou ignorando certa iniciativa. É certo que tudo isto é um problema complexo, mas fundamentalmente sabemos que é o “pão” da idade sombria que atravessamos. Considerando esta análise, e para nosso espanto paradoxal, encontramos hoje em dia ideias e métodos de séculos passados, plenamente prontos a serem levados à prática. Mais uma vez nos certificamos que, antes de mais, tudo nasce no pensamento, variando depois o tempo e o modo como serão realizados no mundo material. Um indivíduo de hoje pode conceber algo que só venha a ser materializado séculos depois. É também o caso da expansão e vivência da Filosofia Rosacruz; sendo divulgada no princípio deste século, só agora começa a ser mais e mais reconhecida.
Tudo isto a propósito da educação e do grande pedagogo Sócrates (460-369 A.C.). O que Max Heindel aconselhou para o desenvolvimento da criança pode encontrar aplicação e harmonia no método socrático. Vamos ver sucintamente alguns pontos fundamentais desta via pedagógica. Aliás é Jäeger que na sua grande obra “Paideia”, considera esse grande educador grego (e universal por vocação) como o fenômeno mais extraordinário da História do Ocidente. Logo de início, deparamos com um aspecto interessante, tanto mais se atendermos ao fato da criança nos primeiros anos de vida pode e deve ser educada sem livros. Sócrates ensinava aos seus discípulos tomando como ponto de partida a consciência da própria ignorância; depois cada qual devia aprender por si mesmo. Relacionamos isto com a absoluta necessidade de desenvolver na criança o sentido do trabalho pessoal e consequente responsabilidade e independência; vejamos o alcance que isto poderá ter quando for adulta, se no seu horóscopo Netuno estiver “aflito”, criando condições para o assalto de espíritos-controladores. Educada de certa maneira a criança poderá ganhar confiança em si mesma, o que se adquire quando aprende à sua custa. A forma do método socrático assenta no diálogo (o qual será muito salutar na próxima Era de Aquário) e tem por objetivo a autorreflexão crítica. Apresenta duas fases: uma negativa — a ironia; outra positiva — a maiêutica. A maiêutica é coro que uma arte obstétrica, faz nascer na mente do interlocutor as verdades latentes. O Discípulo era assim encaminhado para procurar as soluções dentro de si, partindo dele próprio. Isto é de capital importância no ser humano e particularmente no Aspirante Rosacruz. A verdade oscila e vive sempre entre o mundo externo (plano objetivo) e a arquetípica realidade interior no Mundo do Pensamento (chamada de plano subjetivo, embora seja esta a real). Os Discípulos e Aspirantes da Escola Rosacruz sabem da imperiosa atitude que se deve ter em relação a atitude mental: partindo da ignorância e humildade, procurar a verdade (Lei) dentro de si, admitindo todas as coisas como susceptíveis de acontecer. Desta analogia entre o método socrático e o caminho do desenvolvimento espiritual, concluímos que o caminho preconizado pelo pensador grego leva necessariamente ao aparecimento de uma pedagogia ativa interior. Não devemos confundir o método, como técnica que é, com a divulgação de valores ideológicos que podem ser transmitidos através daquele. Portanto, a via socrática pode ser utilizada ao serviço de várias causas, mais plenamente se forem de vocação universal, o que é o nosso caso, isto é, a Filosofia Rosacruz. Max Heindel, na sua humildade e sabedoria, deixou-nos dois bons exemplos de livros em Perguntas e Respostas, o que constitui, discretamente, um modo socrático de aprofundar conhecimentos[1].
Como o nosso processo evolutivo é em espiral, pois verdadeiramente nada se repete, resta-nos utilizar, tanto hoje como no futuro próximo (salvaguardando a hipótese de aparecer melhor processo — o que não será de todo impossível), todo o avanço técnico e outros meios que possuímos em vários campos, para à nossa educação, isto é, para a nossa descoberta — a beleza e totalidade da Vida.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 05/06/88)
[1] Embora saibamos que a edição dos referidos livros só tenha sido feita depois da passagem de Max Heindel aos planos invisíveis.
Torne-se um Especialista em esquecer
Exercitar a arte de esquecer tem notável poder no afrouxamento da tensão e no alívio do cansaço. Há pessoas que se queixam de dificuldades em relação à memória. Muitas mais têm dificuldades em relação a esquecer.
De vez que muitos esgotamentos nervosos são resultados de sobrecarregar a mente com lembranças infelizes de fracassos ou frustrações. O processo de descarregá-la através do esquecimento torna-se de tremenda importância.
Muitas pessoas permanecem deitadas em suas camas, à noite, recordando o que alguém disse a respeito delas, ou o que alguém lhes fez. Ficam agitadamente obcecadas pela recordação de algo que não foi feito ou foi mal feito. Como resultado de tais cogitações desagradáveis, suas mentes tornadas desgraçadamente nervosas, começam a sondar o passado esquecido e demoram-se desagradavelmente na recordação de velhos pecados, velhos desgostos, velhos infortúnios. Assim, a mente salta, inquieta, de um centro de desgosto para outro, tal uma abelha — com a diferença de que não apanha mel de flores bonitas ou dos episódios agradáveis, mas suga insatisfação das ervas más de experiências passadas.
Um auxiliar superlativo da saúde mental é a declaração bíblica: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3:13-14)
Repita isso para você mesmo, várias vezes, quando sua mente tender a demorar-se em coisas infelizes. Isso ajudá-lo-á a esquecer. E, até o ponto em que conseguir a habilidade de esquecer, você gozará um sono sem perturbações e um repouso que lhe renovará as energias.
Esquecer, entretanto, não é um processo negativo, mas positivo. É a expulsão eficaz de algo destrutivo que está nos pensamentos, por um processo de desalojamento. Isso é realizado com a técnica de substituir pensamentos infelizes por todos os incidentes ou ocorrências agradáveis que puder recordar. Quando forçar seus pensamentos para que se focalizem em coisas boas e felizes, as coisas más e infelizes irão paulatinamente se apagando da consciência, já que foram desalojados.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro de 1970)
O Espírito Planetário da Terra
Cristo é o mais alto Iniciado do Período Solar e como tal tem a Sua morada no Sol. Ele é o sustentador e o preservador da totalidade do Sistema Solar e, em certo sentido, é correto julgarmos que habite o nosso Planeta como uma chispa, embora isso não expresse a ideia exata daquilo que é a realidade. Essa, talvez, possa ser compreendida por meio de uma ilustração.
Comparemos o Grande Espírito no Sol com um refinador de metais, reunindo em sua fornalha um certo número de cadinhos com metais em fusão. O calor funde esses metais e o refinador remove a escória, purificando a matéria incandescente. De forma análoga, processa-se a ação do Cristo, purificando a Terra, expurgando seus componentes deletérios.
Similarmente, podemos ver que o Cristo dirige a Sua atenção de um Planeta a outro e, ao voltar-Se para nossa Terra, por exemplo, sobre ela reflete Sua imagem. Contudo, não é uma imagem inerte, mas a de um ser vivente, sensível, consciente, tão plena de vida e de sentimento que não podemos, em nosso presente estado evolutivo, vivendo em corpos terrenos, ter pelo menos uma ligeira ideia daquela faculdade possuída pelo Espírito Interno do Planeta em que vivemos.
Tal imagem interna, que não é uma imagem no sentido comum da palavra, é a contraparte, uma parte do Cristo Solar que, por seu intermédio, tudo sabe e percebe, pois embora verdadeiramente no Sol, o Cristo Cósmico tudo sente daquilo que ocorre na Terra como se realmente estivesse presente. Isso é o que em realidade significa onipresença. Não obstante o Cristo seja o Espírito Interno do Sol, também é o da Terra e assim deverá continuar essa tarefa de auxílio, tudo suportando daquilo que acontece, permanecendo como um agente eficaz para possibilitar a nossa salvação.
A solidificação da Terra começou no Período Solar, quando éramos incapazes de vibrar numa média tão elevada quanto a necessária para permanecermos no Sol Central. Assim, gradualmente surgiram as condições que provocaram a nossa ejeção para o espaço.
A média de vibração foi caindo paulatinamente até meados da Época Atlante. Dessa maneira, nós mesmos imprimimos tais condições à Terra e se não houvesse um auxílio superior, seríamos incapazes de nos livrar das malhas da materialidade.
Jeová, de fora, tentou nos ajudar por meio das leis. Conhecer a lei e segui-la foi durante algum tempo nosso meio de salvação, contanto que fizéssemos um esforço indispensável. Contudo, como nenhum ser humano é justificado pela lei, um novo impulso será sentido, o qual deverá inscrever a lei no coração dos seres humanos, pois há uma grande diferença entre aquilo que devemos fazer por temor a um senhor externo, o qual concede uma justa retribuição a cada falta cometida, e o impulso que surge do íntimo e nos impele a fazer o bem porque é certo. Reconhecemos o que é lícito quando a lei está inserida em nossos corações e, assim, obedecemos aos seus ditames de maneira inquestionável.
Dessa forma e coletivamente, somos espíritos sobre a Terra e algum dia deveremos guiá-la. Cristo veio como Salvador, amparando-nos até que chegue o tempo em que o desabrochar da natureza-amor dentro de nós seja suficiente para poder fazer flutuar a Terra. Futuramente será nosso privilégio executar a tarefa do Cristo e guiar o nosso Planeta. O aumento da força vibratória já tornou a Terra menos densa, mais leve e tempo virá em que ela se tornará etérica como outrora. Então, ela se tornará viva no amor.
(Por Max Heindel – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro de 1966)
O Espírito de Natal
“O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre”.
(Sl 121:8)
Essa passagem do livro dos Salmos revela o conhecimento esotérico do autor, de especial interesse para nós, agora, nos festejos natalinos.
Revela que o mistério do nascimento e da morte por meio do qual o Espírito sobe e desce através da evolução e involução seja uma expressão da eternidade. O Espírito, morrendo para o mundo celeste, entra no Mundo Físico pelo nascimento e vice-versa: saindo do Mundo Físico pela morte, nasce ou entra no mundo celeste. A involução traz o Espírito à matéria por sua cristalização em corpos, ao passo que a Evolução o liberta da matéria pela espiritualização dos veículos, transformando-os em alma.
Não podemos, com nossa mente ainda em estado mineral, conceber o princípio da imersão do espírito na matéria. No entanto, apesar dessa limitação, podemos definir o Ser Ilimitado como o ABSOLUTO ou Raiz da Existência, do qual procede o Ser Supremo. Desse Grande Ser é emanado o Verbo, o Fiat Criador, o Filho Unigênito, nascido de Seu Pai (o Ser Supremo) antes de todos os mundos (mas que não é, absolutamente, o Cristo). Esse Verbo trouxe todas as formas de vida à existência e sem Ele “nada do que se fez seria feito”. No princípio do Dia de Manifestação Cósmica, os três aspectos do Ser Supremo eram o PODER idealizando o VERBO que modelou a Substância Raiz Cósmica e o MOVIMENTO que preparou essa Substância Raiz. Do Ser Supremo procederam os Sete Grandes Logos contendo em si mesmos todas as Grandes Hierarquias que foram se diferenciando cada vez mais, à medida que se difundiam pelos vários Planos Cósmicos.
No Mundo mais elevado do Sétimo Plano Cósmico está o Deus do nosso Sistema Solar e os Deuses de todos os outros Sistemas Solares do Universo. Esses Grandes Seres são também tríplices em Sua manifestação, sendo os seus aspectos a Vontade, a Sabedoria e a Atividade.
Antes da manifestação, Deus, nossa Chama Central ou Sol Espiritual, incorporou em Si o Princípio Universal da Vida em forma de Espírito Virginal. Durante a manifestação, Deus diferenciou DENTRO de Si mesmo esses Espíritos Virginais como centelhas de uma Chama. Tendo natureza idêntica à do seu Criador, essas centelhas poderão tornar-se Chamas por meio da Evolução, por terem sido feitas à imagem de Deus. Assim, o ser humano tornou-se uma chama individual, ou Ego, revestida dos germes da Vontade, da Sabedoria e da Atividade. O ser humano, como Espírito, saiu de Deus pela Involução, encerrando-se em substâncias de diferentes densidades para poder agir nos diferentes mundos e, tendo adquirido agora a consciência de si mesmo, procura retornar ao seu Criador. Os corpos velhos e decaídos, destituídos de serventia, são abandonados. Mas o valioso conhecimento adquirido por meio de tais instrumentos são os tesouros ou dádivas que o filho oferece a seu Pai, quando regressa à casa paterna.
O Ser Supremo dos Planos Cósmicos é refletido no Deus dos nossos Mundos; assim, em nossas existências, o Verbo torna-se Cristo e o Princípio Criador torna-se o Sol Central e Espiritual do nosso Sistema Solar. É essa chama central de amor que estamos tentando produzir em nossos corações a fim de sermos semelhantes a Ele, transformando-nos conforme Sua Imagem. O ser humano saiu desse centro e a Ele retornará.
Paracelso afirmou que o sangue humano contém um espírito ígneo e aéreo que tem seu centro no coração, onde é mais condensado, de onde se irradia e aonde novamente retorna. Ele estabeleceu a correspondência universal “Como em cima, assim é embaixo”, pois o espírito ígneo do mundo interpenetra a atmosfera, vindo de seu centro, o sol, irradia do centro da terra e retorna àquele centro. De novo, vemos a saída e a entrada.
A Filosofia Rosacruz afirma que tudo se originou de uma semente primordial e que cada corpo ou veículo do ser humano tem seu próprio Átomo-semente do qual cresce e se desenvolve. Esses Átomos-sementes são implantados na matriz microcósmica (o útero materno) pelo Ego, no processo de renascimento, e são recuperados pelo Ego, por ocasião da morte dos seus veículos, tornando-se o núcleo de outra expressão ou nascimento. O Átomo-semente do corpo físico, durante a vida, está situado no ápice do ventrículo esquerdo do coração; depois da morte, sobe pelo nervo pneumogástrico e se retira pela comissura existente no crânio, entre os ossos occipital e parietal. O Átomo-semente do Corpo Vital está localizado no baço, cujo órgão etérico está intimamente relacionado com a distribuição da força solar pelas partes do corpo, sendo para o sistema nervoso o mesmo que a eletricidade é para o sistema telegráfico. Esse baço etérico é, no corpo, o centro do qual a vida é irradiada.
Como Estudantes da doutrina Rosacruz, nossa finalidade é o estudo do ser humano por intermédio da religião, da arte e da ciência. Isso é feito pela involução ou descida do espírito na matéria (um processo de cristalização) e pela evolução, que é a ascensão do espírito a partir da matéria e o seu retorno à natureza original com o correspondente acréscimo de conhecimento ou poder (resultante de sua viagem ou experiência). Em geral, a involução termina e começa a evolução quando o Ego está completamente dentro de seus diferentes veículos, atingindo a CONSCIÊNCIA DE SI MESMO. Estamos agora nesse estado e procuramos “despir” o espírito de suas vestes; isto é, espiritualizar a matéria tão depressa quanto possível e acrescentar esse poder à glória do ser espiritual, quando retornarmos ao lar celestial. Nosso trabalho fundamental é o aperfeiçoamento do corpo físico para nos habilitar a trabalhar no Corpo Vital a fim de extrairmos dele o veículo constituído dos dois Éteres superiores. Quando o Dourado Manto Nupcial estiver tecido, Ele poderá agir no internamente e nós possuiremos então a CONSCIÊNCIA DO CRISTO MENINO em nós como uma verdade viva, pois devemos SENTIR para realmente CONHECERMOS.
Todo poder procede do centro para fora e o centro do corpo é o coração, a sede dos sentimentos dos quais o maior é o AMOR. Pela transmutação do amor físico em amor espiritual nós construímos o corpo para o Cristo entrar em nós. Quando atingirmos isso, AGIREMOS RETAMENTE porque SENTIREMOS RETAMENTE e PENSAREMOS RETAMENTE. Nossa compreensão intelectual dos Planos Cósmicos dos Mundos, Regiões, Períodos, Épocas e muito mais, em relação ao ser humano, tem sido satisfeita em grande extensão. O progresso desde o Absoluto até seu estado atual de ser humano inteligente é razoável e, agora, crendo em nosso coração naquilo que nossa razão sancionou, nós começaremos a viver a vida religiosa: “AMARÁS o Senhor teu Deus com todo o teu CORAÇÃO, com toda tua ALMA e com toda a tua MENTE; e ao PRÓXIMO, como a TI MESMO”.
O progresso é sempre acompanhado de sofrimentos e dificuldades; quando nos aproximarmos do tempo em que Cristo viaja para o centro da terra, a natureza fica inquieta, o que transtorna os Gnomos, as Ondinas e as Salamandras, resultando um tempo tempestuoso. As condições cristalizadas da Terra estão sendo quebradas à proporção que as forças etéricas a penetram, preparando-a para o nascimento do Cristo Menino pelo Natal. Aí, o Espírito de Cristo renasce para nós, quando o Sol do nosso Sistema Solar, por sua declinação começa sua jornada à parte norte dos céus.
O Sol agora passa pelo Signo de Sagitário, o terceiro aspecto e o mais espiritual da Trindade Reprodutora. Nossos pensamentos estão naturalmente voltados para o nascimento do Espírito de Natal e nossas aspirações elevam-se ao Abstrato. O Fogo da Mentalidade Espiritual é libertado pelos Senhores da Mente, a Hierarquia Criadora de Sagitário que constituiu a humanidade do Período de Saturno, a fim de nos ajudar a construir uma mente organizada em seu estado mineral.
Damos as boas-vindas ao Espírito do Natal, do CRISTO RENASCIDO, com dádivas de amor aos outros, pois Ele, o nosso Redentor, veio a nós saindo de Seu Pai. E nós, tendo-O recebido, como gratidão deveremos dar-nos NÓS MESMOS AOS OUTROS. Proporcionalmente a essa dádiva construiremos o templo que o Cristo usará.
Viver a Vida do Cristo não é questão de doutrina; é, antes, UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA. A Consciência Crística, como força ou poder, procura caminho para exprimir-se através da vida e da consciência do indivíduo.
Que o Espírito de Cristo neste Natal traga a todos a grande realização do mágico mistério do AMOR.
“Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro? Meu socorro vem do Senhor, que fez o Céu e a Terra” (Sl 121:1-2).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – dezembro de 1971)
Uma lembrança ao Irmão Maior, Jesus de Nazaré
Com a aproximação do Natal, quando os corações mais de perto se aconchegam em busca de calor humano, sentimos que toda uma ambientação peculiar às comemorações se faz presente: multiplicamos as luzes noturnas, numa profusão multicolorida; enfeitamos as lojas; decoramos a cidade; apressamos nossos passos; compramos presentes; formulamos votos e bons desejos, felicitações são retribuídas.
É Natal. É festa. É alegria.
Contudo, nossos corações se voltam ao passado para reviver as cenas cujo simbolismo estamos habituado a comemorar e cujo sentido mais profundo aprendemos a conhecer na Fraternidade Rosacruz.
Rememoramos não mais o artificialismo das luzes em seus variados matizes, mas a iluminação interior daquele amoroso Ser e dos Seus seguidores diretos, que almejamos alcançar.
Relembramos não mais os enfeites das vitrines, porém o luminoso semblante daqueles que hoje representam os verdadeiros Amigos sinceros, dadivosos, simples, cheios de entendimento cristão e coerentes na prática de sagrados princípios não apenas em uma época especial do ano, mas dia após dia, hora após hora, numa expressiva e ininterrupta oração.
Recordamos não mais as compras de presentes custosos e materiais, mas a dádiva de ajudar os semelhantes com todos os nossos valores físicos, emocionais, mentais, anímicos e espirituais, no sagrado labor desta causa Rosacruz, na convicção de que o fazemos para Ele.
Evocamos, acima de tudo o que nos relembra esta data, a figura inesquecível de nosso amado Irmão Maior, Jesus de Nazaré, que tornou possível o maior trabalho de redenção já realizado neste mundo. E, por associação, a figura luminosa do Cristo, cuja volta anual a nosso planeta regalvaniza em escala ascendente as suas vibrações purificadoras; dá novo alento vital aos seres vivos; enxameia de altruísmo os corações das pessoas na proporção de sua afinidade, mas buscando sempre dissolver a crosta de seu egoísmo e transformá-la na branca, na brilhante joia em que um dia se tornará.
Invocamos a Sua mensagem unificadora, desfraldada como Verdade, Beleza e Bondade acima de todas as limitações e preconceitos, cobrindo todos os povos e condições, espraiando-se na forma do Caminho único de ascensão a Deus, cada vez mais encarecido e evidenciado pelas lutas, discórdias e sofrimentos da humanidade.
E nos dispomos, então, não mais à pressa enganosa dos passos que não conduzem a lugar algum; contudo, ao andar resoluto e bem orientado de quem já conhece o Caminho.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – dezembro de 1966)
O Sol Místico da Meia Noite no Natal
Mais uma vez, a dança circular mística revelada do Sol vai sendo executada em sua órbita e, novamente, ficamos aguardando com um regozijo antecipado o nascimento de um novo Sol para nos levar ao próximo ano. Não obstante a Grande Guerra[1], o Espírito do Natal está no ar, o espírito da expectativa, o sentimento de que algo novo está entrando em nossas vidas e que o futuro será mais brilhante do que o passado e isso tudo será para todos. Embora todas as calamidades e sofrimentos contidos na Caixa de Pandora[2] pareçam estar no lado de fora nesse momento, a Esperança, o presente celestial dos Deuses, sorri nos encorajando, enquanto ela aponta para o revestimento prateado da grande nuvem da guerra e, nos diz que, por trás dessa nuvem, o Sol da paz e alegria será mais luminoso do que nunca, e que atualmente iluminará a Terra com um esplendor tal que nunca foi apreciado por nós.
Contudo, existem alguns que são fisicamente cegos e, embora o Sol nunca brilhe tão intensamente, eles não o percebem. Também, existem aqueles que são espiritualmente cegos e, consequentemente, incapazes de ver a grande onda espiritual que desce anualmente sobre a Terra. Devemos ter dentro de nós esse órgão de percepção, pois, como diz Angelus Silesius:
“Embora Cristo nasça mil vezes em Belém,
Se não nascer dentro de ti, tua alma seguirá extraviada.
Olharás em vão a cruz do Gólgota,
Enquanto ela, também, não se erguer em teu coração”.
Ano após ano, o místico iluminado vê esse grande Drama Cósmico, da descida do Espírito na matéria, ocorrendo ante sua visão espiritual. Não é uma visão vaga e indefinida e dependente de certos sentimentos, mas é uma apresentação clara e precisa nos mínimos detalhes. Não é necessário que o espírito nos Mundos invisíveis assuma uma determinada forma definida, exatamente como fazemos no Mundo Físico, pois, qualquer forma que tenha um certo contorno nítido implica em limitação.
Um espírito pode permitir que sua forma se misture com às formas de outros espíritos, podendo permear até os Corpos Densos de outros e ainda reter sua própria individualidade, porque ele vibra em um certo tom ou nota-chave diferente daquela de todos os outros. Assim, em setembro, o Clarividente iluminado percebe o Espírito Crístico Cósmico como uma poderosa Onda de Luz de supremo esplendor, descendo sobre a Terra que Ele permeia.
Em torno do dia 21 de dezembro, essa luz celestial alcança o centro de nossa esfera terrestre. Então os dias são mais curtos, as noites são mais longas e mais escuras, “mas a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. Os impulsos vibratórios motrizes fornecidos à Terra, durante os primeiros meses de cada ano, quase se esgotaram; no Natal, a Terra está cristalizada, morta e fria, e se essa nova vida do Espírito de Cristo não fosse derramada na Terra para renovar suas energias por mais um ano, toda a vida em nosso Planeta pereceria.
Sempre houve muita especulação sobre a natureza da estrela que brilhou em Belém à meia-noite. A opinião Ortodoxa sustenta que a Imaculada Concepção e o Nascimento de Jesus são os únicos na história da onda de vida humana; ela supõe que a Estrela de Cristo foi vista no firmamento apenas naquela ocasião; mas os sábios que, pela alquimia do crescimento anímico, estão se esforçando para construir dentro de si a pedra angular que foi rejeitada pelos construtores, mas que é valorizada por todos os filósofos, sabem que a Luz de Cristo não pode ser encontrada fora de nós.
Eles sabem que o axioma hermético que expressa a lei da analogia “como acima é embaixo” também se aplica nesse caso, e que o Cristo formado dentro deles deve procurar a Estrela do Cristo dentro da Terra, pois, novamente citando Angelus Silesius, “seria impossível para um Cristo salvar o Mundo, estando fora da Terra, como é para um Cristo no Gólgota nos salvar”. Até que o Cristo nasça dentro de nós, e até que o Cristo nasça dentro da Terra, Ele não pode realizar Sua missão.
Portanto, na noite mais longa e mais escura de cada ano, o Místico se ajoelha em silenciosa adoração, olhando internamente por meio da visão espiritual. Cultivada por ele, em direção ao centro da Terra, onde a maior e mais elevada Luz que já brilhou na terra ou no mar, ilumina o mundo inteiro com resplendor e luminosidade que são avassaladores.
E então, o ser humano sábio traz seus dons e os oferece aos pés do recém-nascido Salvador. Ele pode ser pobre diante dos bens materiais do mundo; pode até não ter um lugar para descansar a cabeça, no entanto, seus dons são mais preciosos do que qualquer quantia extremamente grande de dinheiro que se possa imaginar. Durante sua vida de Aspiração, ele cultivou bens preciosos e o primeiro a ser oferecido no altar do sacrifício é o Amor.
“O amor não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconveniente, não busca os seus interesses, (…) não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; (…) se houver profecias, falharão, e se houver ciência desaparecerá, porque agora permanecem a Fé, a Esperança e Amor, mas, a maior das virtudes é o Amor”[3]. “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”[4]. E esse grande presente não foi dado para sempre, mas, a cada ano o Filho de Deus renasce, novamente na Terra, para vivificar esse Planeta com Suas vibrações superiores, para que possamos ter vida e vida em abundância.
Assim como o Espírito Humano morre no plano espiritual quando nasce no Mundo Físico, também o Espírito de Cristo morre na Esfera Solar quando, por nossa causa, nasce na Terra na época do Natal. É confinado pelo ambiente de cristalização que criamos. Verdadeiramente, “ninguém tem maior amor do que dar a vida por seus amigos”[5], e Cristo disse: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu mando, (…) e esse é o meu mandamento: amar uns aos outros” [6].
Portanto, o Amor do místico, oferecido sobre o altar de sacrifício no grande festival da noite Santa, não é abstrato, mas se expressa em atos concretos para com todos com quem ele entra em contato durante o ano seguinte. Seu segundo presente para o recém-nascido Salvador é a devoção. O fogo do entusiasmo deve arder no peito de todo Aspirante, pois nenhuma observância fria dos ritos religiosos, nenhuma entrega de presentes sem esse sentimento intensamente devocional pode ter qualquer valor na luz espiritual. Foi dito que um dos antigos Reis Israelitas praticou o mal com ambas as mãos avidamente; assim também o Aspirante deve praticar o bem com ambas as mãos avidamente: todo o seu coração, toda a sua alma e toda a sua Mente devem ser oferecidos sobre o altar do sacrifício, e como se diz: do mesmo modo que o incenso dos sábios, mencionados na Bíblia, encheu o lugar da natividade com perfume, assim também, deve esse fogo de entusiasmo acender nossa devoção, para que o incenso possa penetrar em todo o ambiente com a devoção para a causa do Mestre.
Contudo, o Amor, a Devoção e o Entusiasmo oferecidos pelo místico sobre o altar do recém-nascido Cristo não são separados e afastados de d’Ele mesmo. Ele não pode dar sem incluir o maior e melhor de todos os presentes, o único presente valioso; ou seja, Ele mesmo. Não importa qual seja sua posição na vida, elevada ou baixa, rica ou pobre, essa não é uma preocupação de Cristo. O espírito falando com ele sempre lhe diz: “Filho, eu não desejo aquilo que é teu, pois isso já é Meu; a Terra e a sua plenitude, o gado nas mil colinas, todos foram feitos por Mim e através de Mim[7], contudo, o que eu desejo é você mesmo, o seu coração. Dá-me o teu coração, Filho, e eu te darei o que é mais do que tudo, a Paz que supera todo o entendimento”[8]. E possa a Pomba da Paz, o Amor de Cristo, logo encontrar um novo apoio em nosso mundo desgastado por essa guerra.
(De Max Heindel, publicado na Revista Rays from the Rose Cross de janeiro de 1916 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz – Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: Refere-se à Primeira Guerra Mundial
[2] N.T.: Caixa de Pandora é um artefato da mitologia grega, tirada do mito da criação de Pandora, que foi a primeira mulher criada por Zeus. A “caixa” era na verdade um grande jarro dado a Pandora, que continha todos os males do mundo.
[3] N.T.: ICor 13:4-13
[4] N.T.: Jo 3:16
[5] N.T.: Jo 15:13
[6] N.T.: Jo 15:14-17
[7] N.T.: Sl 50:10
[8] N.T.: Pb 23:26 e Fp 4:7