Nossa vida aqui, nossa vida lá, nossos poderes aqui, nossos poderes lá
Cedo ou tarde chegará um momento em que a consciência será forçada a reconhecer o fato de que a vida, como a conhecemos, seja passageira e que, em meio a todas as incertezas da nossa existência, haja apenas uma certeza — a Morte!
Quando a Mente é despertada pelo pensamento desse salto no escuro, que em algum momento deve ser tomado por todos, as grandes perguntas — De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos? — devem inevitavelmente surgir. Esse é um problema fundamental com o qual todos devem, mais cedo ou mais tarde, lidar e é da maior importância como resolveremos isso, porque a opinião que adotarmos vai colorir toda a nossa vida.
Somente três teorias dignas de reconhecimento foram apresentadas para resolver esse problema. Para nos situarmos em um dos três grupos da humanidade que foram separados por sua aderência a uma dessas hipóteses é necessário conhecê-las, analisar calmamente, comparar umas às outras e a fatos estabelecidos. A palestra nº 1, publicada no Livro Cristianismo Rosacruz, faz exatamente isso e, concordando ou não com suas conclusões, certamente teremos uma compreensão mais abrangente dos vários pontos de vista envolvidos para podermos formar uma opinião inteligente, quando lermos O Enigma da Vida e da Morte.
Se chegarmos à conclusão de que a morte não acaba com a nossa existência, será muito natural perguntar: onde estão os mortos? Essa questão importante é tratada na palestra nº 2. A lei de conservação da matéria e energia impede a aniquilação, mas vemos que a matéria esteja constantemente mudando do estado visível para o invisível e vice-versa, como, por exemplo, no caso da água que é evaporada pelo sol, parcialmente condensada em forma de nuvem e depois cai de novo na terra, como chuva.
Também a consciência pode existir e não ser capaz de fornecer qualquer sinal disso, como nos casos onde as pessoas foram consideradas mortas, porém acordaram e disseram tudo o que foi falado e feito em sua presença.
Portanto, deve haver um Mundo invisível feito de força e matéria que seja tão independente da nossa cognição quanto a luz e a cor independem do fato de não serem percebidas pelos cegos.
Nesse Mundo invisível, os “mortos” vivem em plena posse de todas as faculdades mentais e emocionais. Vivem aí uma vida tão real quanto a existência aqui, no Mundo visível.
O Mundo invisível é conhecido por meio de um sexto sentido desenvolvido por alguns, mas latente na maioria das pessoas. Pode ser desenvolvido por todos; no entanto, métodos diferentes produzem resultados variados.
Essa faculdade compensa a distância de um modo bem superior aos melhores telescópios e a falta de tamanho é contrabalançada em um grau inacessível ao microscópio mais poderoso. Ela penetra onde o raio-X não pode. Uma parede ou uma dúzia de paredes não são mais densas para a visão espiritual do que o cristal é para a visão comum.
Na palestra nº 3, Visão Espiritual e os Mundos Espirituais, essa faculdade é descrita e a palestra nº 11, Visão e Intuição Espirituais, fornece um método seguro para o seu desenvolvimento.
O Mundo invisível é dividido em diferentes domínios: Região Etérica, Mundo do Desejo, Região do Pensamento Concreto e Região do Pensamento Abstrato.
Essas divisões não são arbitrárias, mas necessárias porque a substância de que são compostas obedece a leis diferentes. Por exemplo, a matéria física está sujeita à lei da gravidade; no Mundo do Desejo, porém, as formas levitam tão facilmente quanto gravitam.
O ser humano precisa de vários veículos para funcionar nos diferentes Mundos, do mesmo jeito que necessita de uma carruagem para andar sobre a terra, de um barco para o mar e uma aeronave para o ar.
Sabemos que ele precisa de um Corpo Denso para viver no Mundo visível. Ele também tem um Corpo Vital, composto de éter, que lhe permite sentir as coisas ao seu redor. Um Corpo de Desejos formado pelos materiais do Mundo do Desejo, o que lhe confere uma natureza apaixonada e o incita à ação. A Mente é formada pela substância da Região do Pensamento Concreto e atua como um freio por impulso: ela dá propósito à ação. O ser humano real, o Pensador ou Ego, age na Região do Pensamento Abstrato, operando sobre, e através de, seus vários instrumentos.
A palestra nº 4 trata das condições normais e anormais da vida como Sono, Sonhos, Transe, Hipnotismo, Mediunidade e Loucura. Os veículos mais refinados mencionados anteriormente são todos concêntricos ao Corpo Denso, no estado de vigília, quando estamos ativos em pensamentos, palavras e ações; contudo, as atividades do dia fazem com que o corpo fique cansado e com sono.
Quando o desgaste causado pelo uso de um edifício torna necessários reparos exaustivos, os inquilinos precisam sair para que os trabalhadores possam ter espaço total para a restauração. Portanto, quando o desgaste do dia esgota o corpo, é necessário que o Ego saia. Essa retirada torna o corpo inconsciente, sendo necessário um trabalho preciso para restaurar seu tom e ritmo. Durante a noite, o Ego paira ao lado de fora do Corpo Denso, envolto no Corpo de Desejos e na Mente. Às vezes, o Ego retira-se apenas parcialmente, tendo uma das metades dentro do corpo e a outra, fora; quando isso ocorre, ele vê o Mundo do Desejo e o Mundo Físico, mas de forma confusa como em um sonho.
O hipnotismo é um ataque mental. A vítima desavisada é expulsa do seu corpo e o hipnotizador obtém o controle. As vítimas do hipnotizador são libertadas com a morte dele, no entanto; mas o médium não tem tanta sorte. Os espíritos que o controlam são realmente hipnotizadores invisíveis. Essa invisibilidade oferece grandes possibilidades de enganar e após a morte eles podem tomar posse do Corpo de Desejos do médium e usá-lo por séculos, impedindo que sua infeliz vítima progrida no caminho da evolução. Essa última fase da mediunidade é elucidada na palestra nº 5, Morte e Vida no Purgatório.
O que chamamos de morte é, na realidade, apenas a mudança de consciência de um Mundo para outro. Temos uma ciência do nascimento com enfermeiras treinadas, obstetras, antissépticos e todos os outros meios de cuidar do Ego que chega; contudo, precisamos muito de uma ciência da morte, pois quando um amigo está saindo da existência concreta, permanecemos impotentes, ignorantes em relação a como ajudar; ou pior, fazemos coisas que tornam a passagem infinitamente mais difícil do que se estivéssemos apenas ociosos. Dar estimulantes é uma das piores ofensas contra os moribundos, porque atrai novamente o espírito ao Corpo Denso e o faz com a força de uma catapulta.
Depois que o coração parou, pela ruptura parcial do Cordão Prateado (que unia os veículos superiores do ser humano aos inferiores durante o sono e, após a morte, permanece indiferente por um tempo que varia de algumas horas a três dias e meio), o espírito ainda pode sentir o embalsamamento do corpo físico, sua abertura para exames post-mortem ou a cremação. Esse corpo não deve, portanto, ser incomodado, porque o Ego que passa de um Mundo ao outro está empenhado em revisar as imagens de sua vida passada (que são vistas em um lampejo por pessoas que se afogam). Essas imagens são impressas diariamente e a cada hora no éter do Corpo Vital, independentemente da nossa observação, assim como uma imagem detalhada é impressa na placa fotográfica pelo éter, ainda que o fotógrafo não tenha observado seus detalhes. Elas formam um registro absolutamente verdadeiro da nossa vida passada, que podemos chamar de Memória subconsciente (ou Mente subconsciente) e é muito superior à visão que armazenamos conscientemente em nossa memória (na Mente).
Sob a imutável Lei da Consequência, que decreta que aquilo que nós semearmos nós colheremos, os atos da vida são a base da nossa existência após a morte. O panorama de uma vida passada é o livro dos Anjos do Destino, os organizadores da partitura que fazemos junto à Lei da Consequência.
A revisão do panorama da vida logo após a morte registra as imagens no Corpo de Desejos, que é o nosso veículo normal no Mundo do Desejo, onde o Purgatório e o Primeiro Céu estão localizados.
Esse panorama é o fundamento da purificação do mal, no Purgatório, e da assimilação de boas ações, no Primeiro Céu. É da maior importância que ele seja profundamente gravado no Corpo de Desejos, porque se a gravação for profunda e clara, o Ego sofrerá mais acentuadamente no Purgatório, e experimentará alegrias mais intensas no Primeiro Céu. Tais sentimentos permanecerão como consciência nas vidas futuras, impulsionando as boas ações e desencorajando os maus atos.
Se deixarmos o espírito em paz, tranquilo, para se concentrar no panorama da vida, a gravação será clara e nítida; no entanto, se os parentes desviarem sua atenção com altas e histéricas lamentações durante os primeiros três dias e meio, período onde o Cordão Prateado ainda está intacto, uma impressão superficial ou borrada fará com que o espírito perca muitas das lições que deveriam ter sido aprendidas. Para corrigir essa anomalia, os Anjos do Destino são frequentemente forçados a terminar a próxima vida dele na Terra durante a primeira infância, antes que o Corpo de Desejos tenha nascido, conforme descrito em Nascimento, um Evento Quádruplo (palestra nº 7), pois o que não foi vivificado não pode morrer; assim, a criança entra no primeiro céu e aprende as lições que não aprendeu anteriormente, tornando-se dessa forma equipada a passar pela Escola da Vida.
Como tais Egos mantêm o Corpo de Desejos e a Mente que tinham na vida em que morreram quando crianças, é comum que se lembrem dessa existência, porque só permanecem fora da vida terrena de um a 20 anos.
O sofrimento no Purgatório surge por duas causas: os desejos que não possam ser satisfeitos e a reação às imagens do panorama da vida — o bêbado, por exemplo, sofre as torturas de Tântalo, porque não tem meios de obter ou reter a bebida. O avarento sofre porque lhe falta a mão para impedir que seus herdeiros dissipem seu estimado tesouro. Assim, a Lei da Consequência elimina os maus hábitos até que o desejo se esgote.
Se tivermos sido cruéis, o panorama da vida irradia sobre nós a imagem de nós mesmos e de nossas vítimas. As condições são revertidas no Purgatório: nós sofremos como eles sofreram. Assim, com o tempo, somos expurgados do pecado. A matéria grosseira do desejo que forma a personificação do mal é expelida pela força centrífuga da Repulsão, no Purgatório, e retemos unicamente o puro e o bem, que são corporificados em matéria de desejo mais sutil que é dominada pela força centrípeta — Atração, que no Primeiro Céu une o que é bom, quando o panorama retrata cenas de nossas vidas passadas em que ajudamos outras pessoas ou nos sentimos gratos pelos favores recebidos, conforme descrito na palestra nº 6, Vida no Céu, que também fala da estadia no Segundo Céu, localizado na Região do Pensamento Concreto.
Esse também é o reino do tom, como o Mundo do Desejo é da cor e o Mundo Físico, da forma. O tom, ou som, é o construtor de tudo o que existe na Terra, como João diz: “No princípio era o Verbo (o som), e o Verbo se fez carne.”, a carne de todas as coisas, “Sem Ele nada do que foi feito se fez”. A montanha, o musgo, o rato e o ser humano são encarnações dessa Grande Palavra Criadora que desceu do céu.
Lá, o ser humano se torna um com as forças da natureza; Anjos e Arcanjos o ensinam a construir um ambiente conforme o que mereceu sob a Lei da Consequência. Se ele gastou seu tempo na especulação metafísica, igual aos hindus, deixou de construir um bom ambiente material e renascerá em uma terra árida, onde inundações e fome o ensinarão a voltar sua atenção às coisas materiais. Quando ele focaliza sua Mente no Mundo Físico, aspirando à riqueza e ao conforto material, constrói no Céu um inigualável ambiente material, uma terra rica com instalações que lhe trarão facilidade e conforto, como o mundo ocidental tem feito. Mas, dado que sempre ansiamos pelo que nos falta, as posses que temos nos saciam para além do conforto e estamos começando a desejar novamente a vida espiritual, como os hindus, nossos irmãos mais novos, querem agora a prosperidade material que temos e estamos deixando para trás, o que é melhor explicado na palestra nº 19, A Força Futura — Vril?, que mostra por que as práticas de ioga hindu são prejudiciais aos ocidentais: eles estão atrás de nós na evolução.
Depois que o Ego ajuda a construir o arquétipo Criativo para o ambiente de sua próxima vida terrena, no Segundo Céu, ascende ao Terceiro Céu, localizado na Região do Pensamento Abstrato. Mas poucas pessoas aprenderam a pensar de forma abstrata como os matemáticos; portanto, a maioria está inconsciente, como no sono, aguardando o Relógio do Destino — as estrelas, para indicar a hora em que os efeitos gerados pela ação das vidas passadas possam ser calculados. Quando os responsáveis pelo tempo celestial, o Sol, a Lua e os Planetas, alcançam uma posição adequada, o Ego acorda com o desejo de um novo nascimento.
Os Anjos do Destino examinam o registro de todas as nossas vidas passadas, estampadas na Mente supraconsciente toda vez que o Ego vai para o Terceiro Céu, conforme descrito na palestra nº 7, Nascimento, um Evento Quádruplo. Quando não há uma razão específica para a tomada de um determinado ambiente, o Ego tem várias opções de encarnação. Elas são mostradas a ele em uma visão geral, exibindo o grande esboço de cada vida proposta, mas deixando espaço para o livre-arbítrio individual nos detalhes.
Depois que uma escolha é feita, o Ego deve liquidar as causas maduras que foram selecionadas pelos Anjos do Destino e qualquer tentativa de escapar será frustrada. Deve-se notar cuidadosamente que o mal seja erradicado no Purgatório. Somente as tendências restam para nos tentar, até que, de forma consciente, nós as vençamos. Assim, nascemos inocentes e pelo menos todo ato maligno é um ato de livre-arbítrio.
Quando o Ego desce em direção ao renascimento, reúne os materiais para seus novos corpos, mas eles não nascem ao mesmo tempo. O nascimento do Corpo Vital inaugura um rápido crescimento entre os sete anos e os 14, desenvolvendo também a faculdade de propagação. O nascimento do Corpo de Desejos, aos 14 anos, dá origem ao período impulsivo que vai dos 14 aos 21. Nessa idade, o nascimento da Mente fornece um freio ao impulso e concede a base para uma vida séria.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross em maio/1915 – traduzido pela Fraternidade Rosacruz – Campinas – SP – Brasil)
Pergunta: O que sucedeu ao Corpo Denso de Jesus, colocado no túmulo e não encontrado na manhã da Páscoa? Se o Corpo Vital de Jesus foi preservado para ser novamente usado por Cristo, o que faz Jesus, nesse meio tempo, para obter um Corpo Vital? Não seria mais prático conseguir um novo Corpo Vital para Cristo, quando da Sua Segunda Vinda?
Resposta. O estudo das Escrituras nos revela que Cristo costumava afastar-se de Seus discípulos, os quais ignoravam nesses momentos o Seu paradeiro — ou se sabiam, nunca mencionaram. Não obstante, isso é explicado pelo fato de que, sendo um Espírito tão glorioso, Suas vibrações eram por demais elevadas até mesmo para os melhores e mais puros veículos físicos. Por conseguinte, era necessário que o Espírito se retirasse, deixando o Corpo em completo repouso por algum tempo para que os átomos pudessem reduzir a sua frequência até atingir o nível costumeiro. Cristo acostumara-se a recorrer aos Essênios, deixando o Corpo aos seus cuidados. Esses eram peritos nisso e o Cristo não sabia lidar com os veículos que recebera de Jesus. Não tivesse recebido esses cuidados e o repouso necessário, o Corpo Denso de Jesus teria sido desintegrado muito antes que se concluíssem os três anos do Seu ministério e o Gólgota nunca teria sido alcançado.
No momento oportuno, quando Seu ministério terreno terminou, os Essênios cessaram de interferir. Os acontecimentos retomaram o seu curso natural e a tremenda força vibratória concedida aos átomos os espalhou aos quatro ventos; assim, quando o túmulo foi aberto, poucos dias mais tarde, não se encontrou o menor sinal do Corpo.
Isso está em perfeita harmonia com as leis naturais conhecidas por nós através de sua ação no mundo físico. Correntes elétricas de baixo potencial queimam e matam, enquanto uma voltagem muitas vezes superior pode passar através do Corpo sem qualquer efeito nocivo. A luz, cuja frequência vibratória é tremenda, é agradável e benéfica para o Corpo, mas quando focalizada através de uma lente, sua frequência vibratória diminui e temos uma força destrutiva. Da mesma maneira, quando Cristo, o grande Espírito Solar, entrou no denso Corpo de Jesus, a frequência vibratória foi reduzida devido à resistência da matéria densa, o que poderia reduzir o Corpo a cinzas, como ocorre na cremação, se não tivesse havido uma interferência. A força foi a mesma, o resultado idêntico — exceto que, sendo um fogo invisível o que consumiu o Corpo de Jesus e não o fogo comum, não houve cinzas. Com relação a isso, é bom lembrar que esse fogo jaz invisível em todas as coisas. Apesar de não o vermos na planta, no animal ou na pedra, ele está presente, visível à visão interna e capaz de manifestar-se a qualquer momento, contanto que se revista com uma chama de substância física.
Considerando que o autor do Conceito Rosacruz do Cosmos praticamente não teve ajuda na revisão das provas desse livro, é motivo para congratulações não serem encontrados muitos erros. O Capítulo XV, O Sangue Purificador, refere-se ao presente assunto. Foi corrigido e a palavra “Átomo-semente” substituiu a expressão “outros veículos”. A frase ficou assim: “Depois da morte do Corpo Denso de Jesus, os Átomos-semente foram devolvidos a seu primitivo dono.”. Durante os três anos de intervalo entre o Batismo, quando cedeu seus veículos, e a Crucificação, que ocasionou a volta dos Átomos-semente, Jesus adquiriu um veículo de Éter, da mesma forma que um Auxiliar Invisível adquire matéria física sempre que for necessário materializar todo o seu Corpo ou parte dele. Contudo, um material que não combine com o Átomo-semente não pode se adaptar definitivamente. Ele se desintegra tão logo se esgote a força de vontade nele reunida; portanto, isso foi apenas um paliativo. Quando o Átomo-semente do Corpo Vital retornou, um novo Corpo foi formado e, nesse veículo, Jesus atua desde então, trabalhando com as igrejas. Ele nunca mais tomou para si um Corpo Denso, embora fosse perfeitamente capaz de fazê-lo. Provavelmente pelo fato de seu trabalho ser inteiramente desligado das coisas materiais e diferir diametralmente do trabalho de Christian Rosenkreuz, que tratou dos problemas do Estado, da indústria e da política. O último, portanto, necessitou de um Corpo físico para poder aparecer diante do público.
A razão pela qual o Corpo Vital de Jesus está sendo preservado para a Segunda Vinda de Cristo, ao invés de ser formado um novo veículo, é dada em Fausto, um mito que expõe, em termos pictóricos, uma grande verdade espiritual de valor inestimável para a alma que busca. Fausto, desejando adquirir um grande poder espiritual antes de merecê-lo, atrai um Espírito disposto a satisfazer seu desejo — mas exige uma retribuição, pois o altruísmo é uma virtude que ele simplesmente não possui. Quando Lúcifer se volta para sair, ele fica temeroso ao ver um pentagrama diante da porta, com uma ponta voltada em sua direção. Ele pede a Fausto que remova o símbolo para que ele possa sair, porém esse último pergunta-lhe por que não sai pela janela ou pela chaminé. Lúcifer admite relutantemente que: “Para fantasmas e Espíritos, é lei que por onde entraram, devam sair”.
De acordo com o curso natural dos acontecimentos, o Espírito, ao nascer, entra no Corpo Denso pela cabeça, trazendo consigo os veículos superiores. Ao deixar o Corpo, à noite, ele sai pelo mesmo caminho e da mesma forma que reentrará pela manhã.
O Auxiliar Invisível também sai e reentra no Corpo pela cabeça. Finalmente, quando a nossa vida na Terra termina, alçamo-nos para fora do Corpo pela última vez através da cabeça, que é, então, reconhecida como sendo o caminho de entrada e saída natural do Corpo. Portanto, o pentagrama com uma ponta para cima é o símbolo da magia branca que trabalha em harmonia com a lei da evolução.
O mago negro, que age contra a natureza, subverte a força vital, dirigindo-a para baixo através dos órgãos inferiores. A passagem pela cabeça fecha-se para ele; então, retira-se pelos pés e o cordão prateado estende-se em direção aos órgãos inferiores. Por conseguinte, Lácifer entrou facilmente no gabinete de Fausto, pois o pentagrama estava com duas pontas voltadas para ele, representando o símbolo da magia negra. No entanto, ao tentar sair, ele encontra somente uma ponta voltada para si e tem que se curvar diante do símbolo da magia branca. Ele só podia sair pela porta, pois havia entrado por ela e assim vê-se preso, ao descobrir que esse caminho esteja bloqueado. Da mesma forma, Cristo tinha a liberdade de escolher Seu veículo de entrada na Terra, onde está agora confinado; contudo, uma vez escolhido o veículo de Jesus, Ele é forçado a sair pelo mesmo caminho. Se esse veículo fosse destruído, Cristo permaneceria neste ambiente tão limitado até que o Caos dissolvesse a Terra. Isto seria uma grande calamidade e é por tal razão que o veículo usado por Ele é guardado com o máximo cuidado pelos Irmãos Maiores.
Nesse meio tempo, Jesus foi quem perdeu todo o crescimento anímico obtido durante os trinta anos terrestres anteriores ao Batismo e contido no veículo cedido a Cristo. Esse foi e é um grande sacrifício feito para nós; mas, como todas as boas ações, esse sacrifício redundará em maior glória no futuro. Esse veículo será usado por Cristo quando Ele vier estabelecer e aperfeiçoar o Reino de Deus; estará tão espiritualizado e glorificado que, quando for novamente restituído a Jesus no momento em que Cristo entregar o Reino ao Pai, será o mais maravilhoso de todos os veículos humanos. Embora isso não tenha sido ensinado, o autor acredita que Jesus será o mais elevado fruto que o Período Terrestre produziu nesse sentido, vindo Christian Rosenkreuz em segundo lugar. “Não há maior ser humano do que aquele que dá a sua própria vida” e o fato de dar não somente o Corpo Denso mas também o Corpo Vital, por tanto tempo, certamente é o supremo sacrifício.
(Pergunta nº 96 do Livro: Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Volume II)
Será Que Precisamos Mesmo Ficar Apreensivos Quanto ao Rumo da Humanidade?
Arnold Toynbee, a maior autoridade em Filosofia da História e um dos grandes humanistas contemporâneos, em uma recente entrevista concedida a uma revista de renome internacional, manifesta sua apreensão quanto aos rumos tomados pela humanidade.
Proclama seu temor quanto à possibilidade de o ser humano, empolgado e embriagado pelas avassaladoras conquistas tecnológicas, robotizar-se, coisificar-se, anulando todos os valores morais e espirituais inerentes à sua condição de ser criado à imagem e semelhança de Deus. Lamenta o fato de, nas escolas, minimizar-se o humanismo, menosprezando-o até no relacionamento humano.
Toynbee pondera sobre as perspectivas sombrias de, em um futuro não muito distante, o ser humano fugir ao contexto da moralidade, ou mesmo da imoralidade, para converter-se em algo amoral.
E encerra seu dramático pronunciamento afirmando categoricamente que, diante das perspectivas de um esvaziamento espiritual, seria preferível a nossa regressão ao estágio de seres humanos primitivos, onde, pelo menos alguns valores seriam preservados, não obstante sua precariedade.
Embora reconhecendo a excessiva dramaticidade, quase fatalista, dessas declarações, não podemos negar, realmente, a carência de maior dose de humanismo no espírito das nações mais desenvolvidas. E esse estado de coisas, como não poderia deixar de ser, reflete-se também nos países materialmente menos aquinhoados.
Seria, porém, uma atitude estapafúrdia, não atribuir à ciência, às pesquisas, à moderna tecnologia, o seu real valor. Seria negar as faculdades divinas que o ser humano deverá desenvolver a um grau máximo na Época Ária, culminando no florescimento de um verdadeiro e irresistível poder espiritual. A Época em que vivemos, dentro do nosso esquema evolutivo, é consagrada ao desenvolvimento da Mente, o caçula dos nossos veículos, e sua aplicação em todos os campos de atividade. É uma verdade indiscutível.
Mas, partindo dessa premissa, deparamo-nos com a pergunta: porque, então, esse profundo abismo, essa incrível dissociação, entre sentimento e intelecto, entre mente e coração, entre ciência e religião?
Analisando o problema detidamente, sob a luz dos ensinamentos da sabedoria ocidental, concluiremos que, na encruzilhada do século XX, o ser humano ainda não encontrou o seu ponto equilibrante. Não fincou os pés em um bilateralismo sadio, em que a ciência religiosa deve ser um meio e não um fim em si mesma, para que, por intermédio de uma religião científica, racional, na mais elevada expressão do termo, o gênero humano possa reencontrar-se com sua real natureza.
O desenvolvimento unilateral tem sido a tônica e a causa primordial de quase todos os males que afligem o mundo. Nos países altamente desenvolvidos, o materialismo tem pisoteado as mais belas flores do sentimento humano, transformando o ser humano em uma máquina fria e indiferente, escravo de convenções, peça manipulada da engrenagem socioeconômica. Consequências lógicas: enfartes, suicídios, neuroses, conflitos, insatisfações, toxicomania e toda sorte de fugas. Por outro lado, o panorama diametralmente oposto é igualmente limitante. Na Índia, onde o ser humano absorvido pela contemplação espiritual descura-se de melhorar o ambiente em que vive, mediante a aplicação de seus talentos, aflora um quadro doloroso: atraso, desconforto, populações inteiras vegetando à míngua, milhares de vidas ceifadas pela fome e enfermidades. Perda irreparável de valiosas oportunidades de progresso.
Ora, desde o Primeiro Dia de Manifestação, a verdade sempre foi encontrada no equilíbrio. E agora, mais do que nunca, é necessário encontrar-se um denominador comum, uma fórmula conciliatória, em que o progresso tecnológico seja um fator, um instrumento, um meio de o ser humano elevar-se acima de todas as contingências, promovendo em si mesmo o germinar da semente divina.
Diante desse quadro, o que nos alenta e conforta é saber que essas duas tendências estão sendo contrabalançadas pela ação unificante e equilibradora do Cristo, criando condições para que o ser humano retome o seu verdadeiro caminho.
Contudo, o nosso papel não se restringe passivamente ao alento e conforto, mas à responsabilidade que pesa sobre nossos ombros, pelo simples fato, de, como aspirantes, conhecermos essas verdades.
Essa responsabilidade implica sermos atuantes, trabalharmos em nosso meio ambiente mais próximo, dentro do nosso raio de ação e de nossas possibilidades, objetivando a promover o necessário equilíbrio.
Cada um deve fazer a sua parte e ter fé na justiça divina. Cada pôr do sol é o sepultamento de velhas desilusões. O raiar de um novo dia é o signo da esperança, o nascedouro do ser humano renovado.
Embora muitos não nos compreendam e divirjam de nossos conceitos, nós teremos fé!
Ainda que os prenúncios sejam de guerras e catástrofes, nós teremos fé!
Ainda que a palavra dos seres humanos traga em seu bojo o germe do conflito, nós teremos fé!
Ainda que ao nosso redor só medre a descrença, ainda assim, e mais do que nunca, nós teremos fé!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1973)
Saber Ceder mantém a sua Mente arejada
A arte de saber ceder é uma das mais difíceis, pois requer um sacrifício das ideias próprias, já arraigadas, em favor do algo novo. Se nos aferramos, intransigentemente, a padrões e conceitos extremamente arcaicos, como poderemos evoluir?
Segundo Max Heindel, a palavra-chave da evolução é ADAPTABILIDADE. Isso vem colocar-se num plano diametralmente oposto à cristalização. O verdadeiro buscador da verdade há de ser como a água, que toma sempre a forma do recipiente que a contém, sem, contudo, deixar de ser água. Há de ter sempre a Mente arejada, admitindo inicialmente todas as coisas como possíveis, até chegar o momento da comprovação.
Essa atitude não rara lhe acarreta aborrecimentos em face ao julgamento da maioria, que muitas vezes poderá considerá-lo um louco visionário, etc. Cristo também assim foi considerado pelos fanáticos de seu tempo.
A época vindoura, a Era de Aquário, caracterizar-se-á pela renovação, pelo arejamento e libertação da Mente. Já notamos essa influência em todos os campos. Uma nova geração surge e reage desenfreadamente nos influxos dessa época de transição que atravessamos. Esses jovens podem e devem ser orientados, porém não podemos coagi-los a aceitar padrões que de há muito pedem para ser reformulados. Com descabida intransigência, só faremos aumentar o abismo entre a velha e a nova geração. Procuremos ceder um pouco, compreendendo, estimulando, orientando com amor. Não nos assustemos. Só os meios mudarão. As verdades serão as mesmas, apenas trocarão de vestes, mais condizentes com à realidade atual. Portanto, ceder em favor das novas luzes da verdade é adaptar-se às condições Aquarianas, já às portas!
(Publicada na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/70)
Despertamento Interior
Quase todos nós experimentamos, numa determinada fase de nossa existência, o impulso de buscar respostas para nossas perguntas e dúvidas no que tange às questões espirituais.
Para muitos de nós os aspectos de nossa natureza de seres espirituais que estão evoluindo em um mundo material permanecem envoltos em certo véu de mistério. Bem poucos têm conseguido levantar, em plena consciência, as dobras daquele véu, além do qual já não pairam indagações nem dúvidas.
O contato consciente com a verdade de sua natureza transcendente, excelsa, espiritual e eterna inunda-o de intensa luz de certeza, quietude, sabedoria e onisciência.
Tudo isso pode parecer aos não místicos um tanto utópico e fantasioso. Contudo, o intelecto, a Mente científica pode apreender também a veracidade dessas indescritíveis potencialidades do ser.
As Escolas de Mistérios, as religiões, em sua milenar existência, têm sido as fiéis guardiãs de verdades e ensinos que se tem transmitido de gerações a gerações, alimentando o “fogo” da fé, da certeza da existência dos planos espirituais e da relação do ser humano com tais planos ou Mundos donde ele provém e para onde volta em seu girar evolucionante.
A Filosofia Rosacruz, como voz e pensamento atuante, é a fiel divulgação dos mais puros e verdadeiros ensinamentos orientados pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, no que se refere ao modo de cada um atingir a iluminação e consciência espiritual, chegando à concretização do plano divino, que consiste em nossa subida consciente para uma perene comunhão com Deus.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/70)
Adaptabilidade: o grande segredo para o seu avanço ou o seu atraso
Adaptabilidade não quer dizer estagnação; significa, isto sim, acomodação às novas condições e o encontro do fio da meada para agir, descortinando sempre os novos horizontes. Quem é facilmente ADAPTÁVEL é também FLEXÍVEL; portanto, EMINENTEMENTE ENSINÁVEL e funciona no campo da inteligência de maneira sábia e amorosa, assimilando os ensinamentos que lhe chegam de toda a criação, obra de nosso Pai Comum — DEUS.
Para melhor elucidar o presente tema, ouçamos a palavra de Max Heindel que, em seu laborioso trabalho e ajudado pelos Irmãos Maiores, adquiriu a capacidade de investigar os Mundos internos e ler a Memória da Natureza, esclarecendo-nos em O Conceito Rosacruz do Cosmos da seguinte maneira:
“Nas escolas, todos os anos alguns Estudantes não se adiantam o necessário para passar a um grau superior. Analogamente, em cada Período de Evolução, alguns ficam atrás por não poderem alcançar o desenvolvimento necessário e ir ao próximo grau superior. Foi o que aconteceu já no Período de Saturno. Naquele estado, a vida com a qual trabalharam os Seres Superiores era inconsciente de si, mas essa inconsciência não era obstáculo para o retardamento de alguns dos Espíritos Virginais MENOS FLEXÍVEIS, MENOS ADAPTÁVEIS que os demais.
“Nessa palavra, ADAPTABILIDADE, temos O GRANDE SEGREDO do atraso ou do progresso. Todo adiantamento depende de FLEXIBILIDADE E ADAPTABILIDADE do ser em evolução, da capacidade que tem de se acomodar às novas condições ou estacionar e cristalizar-se, tornando-se incapaz de qualquer transformação. A ADAPTAÇÃO É A QUALIDADE QUE FAZ A ENTIDADE PROGREDIR, ESTEJA EM UM GRAU SUPERIOR OU INFERIOR DE EVOLUÇÃO. A falta de adaptação é causa de atraso para o espírito e de retrocesso para a forma. Isso se aplica ao passado, ao presente e ao futuro”.
Dispensa comentário a lapidar orientação de Max Heindel, apontando a adaptabilidade como a palavra-chave em nossa evolução. Trata-se de uma instrução que ele mesmo extraiu da Memória da Natureza, auxiliado pelo Mestre, e que resiste à lógica mais apurada; portanto, merece nossa particular atenção.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 03/70)
Pergunta: Agradeço as respostas a respeito do corpo de Jesus e de sua relação com Cristo, mas fico ainda sem entender como o corpo de Jesus pôde ser dispersado pelas forças vibratórias do Espírito de Cristo após Sua saída. Também como os átomos poderiam ter saído do túmulo uma vez que esse estava selado?
Resposta: Acreditar que o corpo habitado por nós seja totalmente vivo é uma das nossas ilusões, pois a realidade não é essa. A parte deste corpo que pode ser considerada viva é tão pequena que o que afirmamos é praticamente verdadeiro. A maior parte está totalmente adormecida, senão morta.
Esse é um fato bem conhecido pela ciência, e a razão ensina-nos isso de certa forma. Isso acontece porque a nossa força espiritual é tão fraca que não pode prover este veículo com vida em quantidade suficiente. Quanto menos conseguimos vitalizar o corpo, mais ele assemelha-se a um torrão de argila que temos de arrastar com força até que, depois de alguns anos, ele cristaliza-se de tal maneira que se torna impossível para nós manter a ação vibratória. Então, somos forçados a deixar o corpo, e dizemos que ele morreu. Um processo lento de desintegração ocorre a fim de restituir aos átomos o seu estado livre original.
Verifiquemos agora o que acontece quando um Espírito poderoso, como o de Cristo, se apodera de um destes corpos terrenos. Constatamos que há uma semelhança com o caso de um homem que é reavivado de um afogamento. Nesse caso, o Corpo Vital foi extraído e a ação vibratória dos átomos físicos cessou parcial ou integralmente. Então, quando o Corpo Vital é obrigado a penetrar novamente no corpo físico, ele começa a estimular cada átomo a entrar em ação e começar a vibrar.
Esse esforço para despertar os átomos adormecidos causa uma sensação de agulhadas intensamente desagradável, geralmente descrita por pessoas que sofreram um afogamento, e essa sensação só cessa quando os átomos físicos atingem uma frequência vibratória de uma oitava abaixo da frequência vibratória do Corpo Vital. A partir daí nenhuma sensação se manifesta além daquelas normalmente experimentadas.
Consideremos agora o caso de Cristo ao entrar no Corpo Denso de Jesus. Nesse corpo, os átomos moviam-se a uma velocidade bem inferior à das forças vibratórias do Espírito de Cristo. A aceleração, portanto, fazia-se inevitável, e durante os três anos de ministério, essa aceleração acentuada da vibração desses átomos teria destruído o corpo, não fosse a poderosa vontade do Mestre, assistida pela habilidade dos Essênios, em mantê-los unidos. Se os átomos estivessem adormecidos quando Cristo deixou o corpo de Jesus, da mesma forma que os nossos átomos ficam adormecidos quando deixamos os nossos corpos, um longo processo de purificação teria sido necessário para desintegrar o corpo. Mas eles estavam, como já o dissemos, altamente sensibilizados e vivos, portanto, era impossível conservá-los reunidos com o Espírito ausente.
Em eras futuras, quando aprendermos a manter os nossos corpos vivos, não trocaremos os átomos e, portanto, não trocaremos os corpos tão frequentemente. E mesmo quando o fizermos, o processo de purificação não será tão longo como o é hoje. O túmulo não estava hermeticamente selado, por isso, não ofereceu obstáculo à passagem dos átomos.
(Pergunta nº 97 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas, Vol. II)
Intensidade: cada minuto da sua vida é sagrado
À medida que tentamos progredir no caminho do viver certo, uma das coisas mais difíceis de conseguir é a conciliação dos ensinamentos de pureza e bondade que recebemos da Filosofia Rosacruz, com o nosso esclarecimento, os nossos contatos humanos de cada dia. Isso porque, quanto mais nos embrenhamos na senda da espiritualidade, mais distanciados vamos ficando dos pontos de vista comuns e da maneira de viver da humanidade em geral, no corre-corre do dia a dia. No entanto, existe uma semelhança bem grande naquela espécie de força compulsiva que predomina na vida das pessoas personalistas, com o nosso estímulo espiritualista, com a nossa própria vontade de acertar. A essa força podemos chamar de intensidade, pois é ela que leva o indivíduo à realização de alguma coisa, tanto à concretização de suas coisas materiais como à realização de si mesmo.
Entretanto, essa intensidade, mesmo quando dirigida para o Certo, como força positiva em nosso íntimo, seja no que for que fizermos, deve ser bem dosada e estar sob o nosso próprio controle. Isso porque, essa força, mesmo possuindo um valor positivo de acordo com o nosso modo de viver, não deve predominar, sob risco de desgastar-se.
Haja vista o que acontece quando se fala demais de determinado assunto que nos empolgue no momento — possibilidades novas, vitórias conquistadas, até nossas próprias frustrações — o assunto “vira”, o acontecimento se transforma, passando então a ocorrer completamente ao contrário do que afirmáramos antes. É que houve uma espécie de dissipação de força, que precisa ser reajustada, por um novo esforço de autorrecuperação.
Por isso, se é bom sentirmos animação por algo que desperte o nosso interesse, melhor ainda será acertarmos nossa intensidade por coisas que provenham do Dever, coisas que partam mais das nossas obrigações do que dos nossos interesses. Porque não podemos esquecer que vamos ter que pagar pelo nosso próprio empolgamento, até mesmo se permitirmos que o entusiasmo exista apenas em nosso íntimo, como um revérbero silencioso. Temos que ser ponderados em nossa animação, seja ela qual for, até para nós mesmos, procurando pesar e medir os reais valores de qualquer aquisição, de qualquer merecimento. Todo o excesso de vibração, quer no falar, no sentir, mesmo no pensar, corre o risco de enfraquecer-se, desgastando-se com o atrito de nosso próprio excesso mal controlado.
Assim, é obrigação nossa manter-nos alertas diante de nossa própria intensidade, porque, em tudo o que fizermos na vida, até nas ações aparentemente triviais, é por intermédio dessa intensidade que vamos realizar-nos em nossa divindade, em cada momento do dia.
Nesse particular, aliás, existe uma atenuante: se essa intensidade estiver sendo aplicada erradamente, por ignorância, mas se for forte e sincera em si mesma, conservará o próprio valor, que será incorporado no Certo, no momento em que girar em seu próprio eixo, engrenando no Bem e identificando-se com ele. Por isso, cada minuto de vida é sagrado e deve ser aproveitado com cuidadoso empenho, com amorosa atenção, procurando vivê-lo dentro dos padrões que regem a nossa vida, ou melhor, dentro das normas que decidimos seguir, porque as aceitamos como certas. E só essa intensidade equilibrada é que poderá levar-nos à comprovação em nós mesmos e por nós mesmos, da exatidão dos ensinamentos admitidos como certos. Só a fé ativa naquilo em que acreditamos como verdade dentro do Bem é que nos conduzirá à própria verdade existente em nós mesmos. Porque intensidade também é fé, fé inteligente que conduz à ação. E melhor ainda à realização.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de julho/1973)
A psicologia profunda fala do inconsciente coletivo, uma espécie de tenebroso repositório de gravações não iluminadas pela consciência e que tem importante papel nos impulsos da humanidade ou de um determinado grupo humano. É formado por impulsos e hábitos, de grupos ou nações, que não foram esclarecidos nem regenerados.
Ele tem uma réplica individual: o inconsciente.
A Filosofia Rosacruz explica isso de forma altamente satisfatória. O ser humano tem muitas áreas obscuras em seu íntimo. A Mente subconsciente toma a maior parte de nossa memória e impulsos, transformando, por isso, o ser humano em algo muito complicado. E como nós, o Globo terráqueo tem um registro subconsciente que afeta e é afetado pelos indivíduos.
A Mente subconsciente se forma automaticamente. Tomando o exemplo de Max Heindel: quando um fotógrafo produz uma fotografia, leva geralmente em conta certos detalhes que lhe interessam, mas não todos. Ao revelar o filme, verificará que ele reproduziu fielmente tudo o que havia na cena, tenha sido observado ou não por ele. Igualmente, como fiéis imagens objetivas, captamos de nosso redor, através do Éter contido no ar que respiramos, uma gravação de tudo que ali está. Essas imagens entram em nós com o ar que inalamos através dos pulmões e caem na circulação sanguínea, gravando-se em um átomo especial que fica localizado no ventrículo esquerdo do coração. É o Átomo-semente ou permanente cujas forças levamos após a morte do Corpo Denso, a fim de nos proporcionar material de experiência para o crescimento anímico, por meio da assimilação.
O registro inconsciente se forma desde que nascemos e explica as manifestações de muitas crianças revoltadas e adultos complexados, em virtude da negligência de pais ignorantes sobre esse processo, cujos lares pouco favoreceram a formação construtiva dos pequeninos a seu cuidado. A educação e o ambiente em que somos formados têm sua porcentagem de importância na concepção da Mente subconsciente. No entanto, a escolha dos pais tem relação com o destino maduro do Ego renascente. Cada qual nasce no lugar apropriado ao seu grau e necessidade evolutivos, o que não exime os pais de sua responsabilidade. Tudo o que pensamos e sentimos grava-se em nossos familiares próximos, mormente na sensitiva criança.
Quando, pelo ocultismo, tomamos conhecimento do mecanismo do subconsciente (abaixo do consciente, o porão de nossa atividade mental) e nos propomos a “vigiar” para que, dessa data em diante, influamos em sua formação, verificamos:
O tema astrológico ajuda muito. Aconselhamos que todos aprendam Astrologia Rosacruz e se dediquem ao seu estudo para ajudar a si mesmos e aos outros. Referimo-nos à astrologia espiritual, ensinada pela Fraternidade Rosacruz, porque outros interesses têm deturpado muito essa divina ciência.
Os leitores esoteristas já devem ter ouvido falar no “Guardião do Umbral”, uma impressionante entidade que nos barra a entrada nos Planos Invisíveis e tem nossa fisionomia, mas em uma figura do sexo oposto. Pois ele é, nada mais nada menos, a incorporação de todas as experiências e impulsos não regenerados, não iluminados, não compreendidos e não resgatados de nosso passado. Com um persistente e amoroso esforço, segundo a orientação da Fraternidade Rosacruz, pode um indivíduo chegar a dissolver essa entidade e alcançar ingresso à Iniciação. Foi o que fez Cristo em relação à Terra para nos possibilitar essa liberação.
Entretanto, a tomada de consciência de todas as experiências de nosso longínquo passado é algo muito profunda. Desde que nos diferençamos de nosso Pai Celestial, em busca da individualização através dos estados de consciência de transe profundo (equivalente à dos minerais), consciência de sono sem sonhos (como os vegetais), consciência pictórica (sono com sonhos, como os animais), até atingir o estado de vigília consciente, de seres racionais, gravamos um mundo de experiências que deverão ser conscientemente revistas e assimiladas a fim de nos proporcionar, no futuro estado de Criadores, a expansão de consciência e o poder criador. Com isso formaremos a consciência própria de imagens conscientes (no Período de Júpiter), uma consciência objetiva, autoconsciente e criadora (no Período de Vênus), até a mais elevada consciência espiritual (Período de Vulcano).
Não nos lembramos de nosso passado mais recente, como humanos. Quanto mais dos outros estados de trabalho inconsciente! Outrora fomos ajudados de fora por Hierarquias Criadoras. Os Senhores da Chama, no Período de Saturno, deram-nos os germes do Corpo Denso e do Espírito Divino, emanações do Pai. No Período solar, os Senhores da Sabedoria nos deram o germe do Corpo Vital e os Querubins, o germe do Espírito de Vida, emanações do Filho. No Período Lunar, os Senhores da Individualidade nos deram o germe do Corpo de Desejos e os Serafins, o germe do Espírito Humano, emanados do Espírito Santo. No atual Período Terrestre, os Senhores da Forma tomaram a seu cargo nossa evolução, até conquistarmos a Mente em meados da Época Atlante. Então o ser humano foi deixado a seu próprio cuidado. Tais Hierarquias, chamadas na Bíblia de “Elohim”, afastaram-se. Foi, então, dito que “Deus descansou”.
Esses são os “Sete Dias da Criação”, sumariamente expostos como fórmula algébrica, nos versículos de 1 a 27 do Gênesis.
É incalculável o tempo que se levou para a formação dos Corpos que hoje possuímos e a conquista dos aspectos espirituais que nos tornaram “à imagem e semelhança de Deus”.
Nesse largo espaço para a constituição do ser humano, formamos um enorme inconsciente que devemos conquistar e assimilar conscientemente. Pelo caminho mais longo e espiral, da humanidade comum, esse processo levará muito tempo. No entanto, pela Iniciação, o “caminho mais curto e reto” no Caduceu, poderá ser feito em poucos renascimentos, segundo o estado em que o candidato se encontre, a orientação que receba e o esforço que faça em tal sentido.
Vejamos, a seguir, as correlações entre a Bíblia e a Filosofia Rosacruz em relação aos “Sete Dias da Criação” e sua correspondência com as cinco Iniciações menores.
1) — A primeira Iniciação Menor desvela o Período de Saturno e permite a assimilação das condições prevalecentes naquela afastada infância evolutiva. Foi o primeiro Dia da Criação. Na Bíblia, Gênesis 1, versículo 2°: “A Terra era vasta, desabitada, a obscuridade pairava sobre a face do abismo e os Espíritos dos Elohim pairavam sobre o abismo”.
No princípio da manifestação, o que agora é a Terra fazia parte de um imenso globo que mais tarde, depois da expulsão dos Planetas, converteu-se no sol de nosso Sistema Solar. Era um globo obscuro e quente, não informe, indefinido e separado do frio do espaço exterior. Os Espíritos Virginais, em matéria mental e concreta, davam forma ao imenso globo sob as vibrações dos Senhores da Chama, que agiam de fora. Essas condições foram sendo recapituladas, espirais dentro de espirais, nos estágios posteriores e correspondentes.
2) — A segunda Iniciação Menor descobre à consciência do Iniciado as condições evolutivas do Período Solar. Foi esse o segundo Dia da Criação. Na Bíblia, Gênesis 1, versículo 3°: “E os Elohim disseram: faça-se a luz, e a luz foi feita”. Sob o contínuo esforço vibratório dos Senhores da Chama, o imenso globo foi adquirindo luz própria e tornou-se brilhante, destacando-se bem do espaço exterior. Mas ainda não tinha a luminosidade atual de Sol.
3) — A terceira Iniciação Menor revela à consciência do Iniciado as condições evolutivas prevalecentes no Período Lunar e recapitulações posteriores correspondentes, no Período Terrestre. Na Bíblia, Gênesis 1, versículo 6°: “E os Elohim disseram: haja uma expansão nas águas para que a água se separe da água”. O calor emanado do globo ígneo, ao contato com a fria atmosfera exterior, produzia uma neblina quente (água em expansão) que, subindo, condensava-se no frio espaço, liquefazendo-se e caindo sobre o globo, que fazia de novo evaporar a água, ciclo após ciclo… O calor interno do globo e a umidade externa, nos ciclos já descritos, foram aos poucos formando as primeiras solidificações etéreas na superfície do globo. Isso ocorreu na Época Polar da quarta revolução terrestre e está assim expresso no versículo 9° de Gênesis: “E Elohim disse: que as águas se separem da terra seca. E chamou à terra seca de Terra”. Esse foi o terceiro Dia da Criação. Todo o anterior é comprovado pela teoria científica moderna, que diz ter havido primeiramente o calor obscuro, depois a nebulosa brilhante, umidade externa, calor interno e, finalmente, a solidificação. Só discorda, aparentemente, em relação ao tempo de expulsão da Terra e da Lua, dizendo que aconteceu antes da cristalização do globo. É preciso interpretar bem o sentido da Bíblia, no trecho a seguir. Do ponto de vista oculto, essa cristalização, como as linhas de força da formação dos blocos de gelo, era simplesmente etérea. Nessas condições é que ocorreu a diferenciação do nosso Planeta, não havendo, pois, uma divergência. Os globos relativamente pequenos da Terra e da Lua se resfriaram rapidamente depois.
4) — A quarta Iniciação Menor leva à consciência do Iniciado as condições evolutivas prevalecentes na metade marciana do Período Terrestre e correspondentes aos 4°, 5° e 6° Dias da Criação. Na Bíblia, Gênesis 1, do versículo 11° ao 19°: “E Elohim criou o reino vegetal, o Sol, a Lua, as Estrelas”. Aquele globo em evolução tornou-se o Sol apenas quando dele foram diferenciados os sete Planetas (Netuno e Plutão não pertencem ao nosso Sistema Solar). Livre daquelas partes que já não podiam suportar elevadas vibrações do globo e ao mesmo tempo o tolhiam, tornou-se ele o Sol, centro de um Sistema Solar, em torno do qual começaram a girar as esferas à distância correspondente ao grau de vibração que podiam suportar seus habitantes. A ciência concorda com estas citações: primeiramente, o reino mineral e, depois, o vegetal. Tornamos a esclarecer que os globos da Terra e da Lua eram ainda etéricos, quando foram diferenciados. Depois, o calor do Sol que passou a banhar os dois globos proporcionou força vital para agrupamento ao seu redor de matéria de solidificação. Foi assim também que se solidificaram os atuais corpos vegetais. Esse foi o quarto Dia da Criação, corresponde à Época Hiperbórea. Na Bíblia, Gênesis 1, versículo 20 a 21: “E os Elohim disseram: que as águas tenham coisas que respirem vida e aves, e os Elohim formaram os grandes anfíbios e todas as coisas viventes, de acordo com suas espécies e todas as aves com asas”. A ciência concorda novamente: os anfíbios precederam as aves. Esse foi o quinto Dia da Criação e corresponde à Época Lemúrica. Na Bíblia, Gênesis 1, versículo 24: “E os Elohim disseram: ‘Que a terra produza coisas que respirem vida e mamíferos’”. E os Elohim formaram o ser humano à sua semelhança; isto é, macho e fêmea como Eles (Elohim) — versículo 27. Refere-se à primeira metade da Época Atlante e ao 6° Dia da Criação. Realmente, só então é que surgiu a condição humana. Antes, estávamos na condição animal. Por isso não se toca na condição hermafrodita existente na Época Lemúrica, em que o Espírito Virginal ainda não havia conquistado a Mente e, portanto, não chegara à condição humana.
5) — Esse ponto corresponde à condição que o Iniciado conquista na 5ª Iniciação Menor, o ponto em que o ser, na evolução da forma, atinge a condição humana relativamente livre. O Iniciado, na conquista da consciência de seus estados evolutivos passados, chega à condição de PRIMOGÊNITO, o que nasce pela primeira vez para a evolução, em realidade, porque já conquistou o passado. Então supera todas as diferenças, todas as aflições que num tema põem dificuldades de associação entre as pessoas.
Nas antigas Iniciações falava-se dos três dias e meio de transe. É o simbolismo dos três Períodos e meio correspondentes à involução do Espírito e desenvolvimento da FORMA. O despertar do SOL (Espírito), no 4° dia, é a forma mística usada para mostrar essa condição, em que o Iniciado completa a 4ª Iniciação Menor e ingressa na 5ª. E, como a clara atmosfera da Atlântida se fez sob a promessa do Arco-íris, o portal da nova Época (a Ariana e atual), o Espírito deixa as nebulosas condições do passado e ingressa, livre, rumo à conquista do arco ascendente da evolução.
No passado evolutivo, quando os Mensageiros de Deus, os Senhores de Vênus, tiveram que deixar a Terra, depois de haver preparado uma elite para dirigir a humanidade, deram as Iniciações Maiores aos humanos mais avançados (Irmãos Maiores), para que pudessem substitui-Los. Diz-se, na Bíblia, que no sétimo Dia “Deus descansou”. Realmente, os Irmãos Maiores foram, desde então, os elos entre Deus e a humanidade. Embora Eles não apareçam publicamente nem façam sinais (senão em ocasiões especiais e incognitamente, em suas missões), são Eles os autênticos Guias e Mestres da Humanidade.
Para encerrar estes comentários e associações, esclarecemos que a 5ª Iniciação Menor, começada naquela etapa de nossa evolução passada, prolonga-se, em seus graus, num conhecimento geral da segunda metade (a mercuriana) do Período Terrestre, atingindo até o primeiro dos cinco globos obscuros, a Região do Pensamento Abstrato, o Caos das noites cósmicas. É a condição que São Paulo, o Apóstolo, atingiu, conforme nos esclarece naquela citação que veladamente faz de si mesmo: “Conheço um ser humano que foi arrebatado ao Terceiro Céu e lá viu coisas que não lhe é lícito contar”. São Paulo foi um Iniciado do quinto grau Menor.
A 6ª, 7ª, 8ª e 9ª Iniciações Menores consistem, em seus variados graus, de um acurado estudo e tomada de consciência sobre a segunda metade mercuriana do Período Terrestre.
Assim exposto o assunto, como síntese teórica, aparenta ser uma coisa simples. Lembramos, por oportuno, que não se trata de mera teoria. Para atingir-se o portal da Iniciação é mister que se prove excepcionais méritos mentais e morais. As condições ulteriores, então, pressupõem qualidades internas equivalentes que a vivência do ser humano comum não pode sequer imaginar.
Para meditação e aprofundamento deste assunto, pelos interessados, damos uma tabela de correlação entre as Iniciações e os graus de consciência, os veículos humanos e macrocósmicos e os passos da vida de Cristo, conforme é exposto na literatura Rosacruz de Max Heindel. Em cada ocasião de reunião, o Templo Etérico é cercado por uma barreira vibratória que não permite a passagem de candidatos de grau inferior ao daquele dia. A gradativa expansão de consciência, através dos diversos níveis, torna o candidato capacitado a penetrar em seus Mundos internos e, ao mesmo tempo, nos estratos da Terra, o que lhe permite conhecer e dominar as forças que regem os diversos Planos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de Setembro/1970-Fraternidade Rosacruz – SP)
O Emblema Rosacruz: uma maravilhosa fonte de inspiração para a meditação
O simbolismo é o meio pelo qual o espírito tenta se expressar à Mente do ser humano. É o nosso meio de comunicação com os outros. A palavra é o símbolo de uma ideia e, portanto, a literatura, a música, a arte, o teatro, a dança ou muitas outras técnicas simbolizam a ideia que uma Mente deseja transmitir a outra.
Em épocas passadas, as Mentes mais altamente evoluídas transformaram a ideia de Deus em imagem ou outra forma para os menos evoluídos. Muitas vezes o ser humano mais jovem adorava o símbolo, não sendo capaz de entender o espírito da forma.
Hoje, a palavra Deus significa muito para alguns de nós; contudo, não adoramos a palavra, mas o ideal que ela traz à Mente. Até a meditação sobre a palavra Deus pode dar muito alimento ao espírito. Quanto mais podemos obter a partir de um símbolo mais rico como o Emblema Rosacruz? Ele é dado a nós como alimento espiritual. Não há transubstanciação, de modo que a coisa em si seja santa, embora saibamos que um emblema usado há anos gradualmente absorva algumas das vibrações do serviço em que é usado. Ele então as exterioriza novamente para que alguém sensível possa sentir. O ideal por trás de um símbolo pode ser de grande valor espiritual na vida daqueles que o usam de maneira compreensiva.
Hoje, temos no idioma uma pequena palavra de apenas uma letra e ela representa o ser humano inteiro — Corpo, Mente e Espírito. É usada pelo ser humano para representar qualquer uma das suas partes ou o todo, de acordo com seu conhecimento. Essa palavra, ou símbolo, foi usada para representar o corpo do ser humano, quando sua consciência começava a enxergar o fato de que ele tivesse um corpo físico. Esse é o braço inferior da cruz. Quando a compreensão do ser humano sobre si mesmo foi além, ele adicionou um braço ao topo e depois o outro, fazendo o tau ou “T”. Essa é a Chave Egípcia da Vida. A linha horizontal simboliza a vitalidade humana e sua natureza emocional. Quando começamos a pensar, o topo foi adicionado, criando a verdadeira cruz romana. Isso completa o quádruplo veículo material do ser humano — Corpo Denso ou Químico, Corpo Vital, Corpo de Desejos e Mente. É nessa cruz de matéria que o espírito do ser humano tem sido crucificado desde a fundação do mundo e nós aí permaneceremos até os dias de libertação, quando conheceremos a “liberdade gloriosa dos Filhos de Deus”. Até agora, enquanto nossos ideais permanecem materialistas, a cruz é negra, símbolo da matéria; mas quando espiritualizarmos nossos ideais através do serviço aos outros, embranqueceremos a cruz. Hoje a humanidade é, em termos simbólicos, uma cruz branca com uma linha preta sobre ela. Estamos reconhecendo os direitos alheios, os ideais de fraternidade e autossacrifício pelos outros estão crescendo. A cruz branca e pura simboliza a casta vida dedicada de um servo da humanidade, um ajudante invisível. A cruz da Rosacruz possui três meios círculos no final de cada braço, totalizando doze. Esse é o símbolo do ser humano cósmico, do qual o humano é o microcosmo. Representa as doze Hierarquias que hoje se manifestam como Signos do Zodíaco e ensina o ser humano a governar esse veículo quádruplo no qual trabalham junto ao Ego. São necessárias doze bolas para cobrir uma bola do mesmo tamanho; do mesmo jeito, os grandes mestres espirituais tiveram doze discípulos e o Ego tem doze faculdades psíquicas que cobrem o ser humano espiritual.
Aparentemente, do centro da cruz irradia a estrela de cinco pontas com uma ponta para cima. Este é o símbolo do Manto Nupcial que cada ser humano está tecendo para si próprio por meio de atos amorosos e altruístas realizados através do corpo. À medida que a cruz se torna mais branca, a estrela surge mais luminosa, até chamar a atenção de um dos Grandes e Amorosos, que colocará o ser humano em contato com a Escola de Mistérios onde ele terá um crescimento muito mais rápido em espiritualidade do que se estivesse sozinho na jornada para Deus. A estrela é dourada e está próxima da cor do amor de Cristo, que deve ser o motivo da ação. O amarelo é símbolo do Segundo Aspecto da Deidade, o Filho ou Cristo; mas atualmente a humanidade não pode manifestar o amarelo puro do amor de Cristo. Precisamos transformá-lo na cor laranja do ouro. Necessitamos desenvolver o Corpo-Alma, ou, nas palavras de Cristo, o Manto Nupcial, antes que o Filho possa nascer em nós ou que possamos participar da festa do casamento. Atrás da estrela e da cruz está um campo infinito feito de azul, que é o símbolo do puro Espírito do mesmo jeito que o céu azul simboliza o caos do qual surgiu a manifestação. Esse é o Primeiro Aspecto da Divindade, o Pai. Cristo disse que Ele devesse submeter todas as coisas a Si mesmo para, então, entregar o Reino ao Pai. Sabemos pouco sobre o que esse Reino deva ser ou sobre seus poderes e esse pouco chega a nós por intermédio dos ensinamentos do Filho. Portanto, o azul é tingido de amarelo e não é puro, sendo mais como a turquesa, muito translúcido e cheio de vida.
Pendurada na cruz está a coroa de sete rosas vermelhas, vagens com sementes desprovidas de paixão, o símbolo do poder criativo e divino do sexo purificado e elevado a uma posição superior. O vermelho simboliza o Terceiro Aspecto da Deidade, o Espírito Santo. Essa é a única cor pura mostrada no símbolo e, hoje, a humanidade é capaz de pensar de forma abstrata, que é o poder do Espírito Santo. A vida do ser humano está no sangue e, portanto, devemos purificar e elevar a vibração do sangue mediante uma vida de serviço ativo, antes que possamos manifestar a Estrela da Esperança e atrair o Mestre para nós. Assim como a rosa é o produto mais elevado do mundo das flores, o ser humano alcança a mais alta posição que possa conseguir quando transmuta as forças impuras da vida do sangue cheio de paixão na força criativa da vida limpa do Espírito de Vida.
Assim, vemos que o emblema Rosacruz seja um símbolo da evolução passada da humanidade, da sua posição atual e dos ideais pelos quais ela deve trabalhar no futuro. É uma maravilhosa fonte de inspiração para a meditação.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross em 05/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz – Campinas – SP – Brasil)