Serviço: a Tônica Rosacruz
Não importa a nossa condição social. Por humilde que ela nos pareça, há sempre alguém que precisa de nossa ajuda. E, por pequeno que seja nosso talento, perto de nós há sempre um serviço a realizar.
A cada um são oferecidas inúmeras oportunidades de servir. Não as percamos com nosso descuido ou indiferença, nem protelemos, no aguardo de grandes oportunidades.
Até o serviço que nos parece insignificante pode produzir grandes bens. Basta-nos um instante para estender a mão amiga a alguém e ajudá-lo a encontrar o caminho ou a estrela-guia. Uma só palavra de alento ou de compreensão pode levantar a alma no mais profundo momento de desespero e auxiliá-la a iniciar vida nova.
Quando nos surge a oportunidade de servir, não desperdicemos o precioso ensejo, com estas evasivas:
Isso aumentará seu prestígio? Que proveito tirarei? Meu antecipado prazer diminuirá o valor da boa ação? Requererá ela muito esforço? Por que não permitir que outro a faça? Poderei deixar para depois? — E outras mil e uma escusas costumeiras.
Melhor será que digamos a palavra ou estendamos a mão ao que pede, com alegria e gratidão pela oportunidade que recebemos de servir como um privilégio oferecido pelos Irmãos Maiores ao nosso progresso espiritual.
“O que fizeres ao mais humilde de meus servos — disse Cristo — fá-lo-á a mim”.
O amor a Cristo, portanto, é demonstrado pelo amor ao nosso semelhante. Servimo-Lo melhor, servindo o próximo. Agradamo-Lo mais quando em Seu nome oferecemos nosso desinteressado e amoroso serviço.
Pratiquemo-lo desde já. O futuro muda AGORA.
Aprendemos que “o serviço desinteressado que oferecemos aos demais é o caminho mais curto, mais seguro e mais feliz que leva a Deus”.
Isto se refere ao serviço altruísta, sem visar a vantagens quaisquer.
O serviço desinteressado tem sua fonte no Amor — o amor a Nosso Pai e a nossos irmãos.
Desse serviço resulta nosso progresso espiritual e de sua falta derivam os atrasos, muitas vezes incompreendidos por nossos membros.
Tal atividade jamais se realizará com sonhos bonitos, personalismos, protelações, comodismos e inibições.
Sobreponhamo-nos às limitações e faltas, para servir. Em nosso trabalho, no lar ou em qualquer parte, há um serviço para ser feito e podemos efetivá-lo melhor do que qualquer outro no mundo.
FAÇAMO-LO, EM NOME DE DEUS!
(Traduzido do Echoes from Mount Ecclesia e Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1978)
Métodos práticos para obter êxito – baseados na conservação da força sexual
É tão impossível alcançar um sucesso verdadeiro e duradouro sem viver em harmonia com as leis da vida, como é para o criminoso viver em paz na sociedade cujas leis ele desrespeitou. E, da mesma forma que ele é castigado, encarcerado e reprimido devido a seus hábitos predatórios, a natureza também nos castiga, encarcera e restringe quando desobedecemos às suas leis. Essa restrição se chama doença e é inimiga da felicidade, pois ninguém pode ser feliz, não importa quão rico seja ou que posição ocupe no mundo, quando se encontra fisicamente enfermo. Então, é preciso termos em conta que uma das condições vitais que deve ser adquirida pelo homem ou pela mulher que aspira a felicidade e o êxito na vida, em sua plenitude, é a saúde, incluindo o vigor, pois somente com boa saúde poderemos ser, suficientemente, otimistas, alegres e vigorosos para alcançar o sucesso que procuramos.
A Bíblia nos diz que a morte e a enfermidade vieram ao mundo por termos comido da “árvore do conhecimento” e ainda que, sob o ponto de vista materialista, isso possa parecer pueril, não desprezemos a história sem a estudarmos profundamente. Poderemos comprovar que se acha em perfeita harmonia com os fatos científicos mostrados atualmente. Consideremos, em primeiro lugar, o significado da árvore do conhecimento, por meio dos seguintes princípios: “Adão conheceu sua esposa e esta deu à luz a Abel”; “Adão conheceu sua esposa e esta deu à luz a Seth”, e as palavras de Maria ao Anjo: “Como poderei conceber, se não conheço nenhum homem?”. Por essas e por muitas outras observações semelhantes, se conclui evidentemente que a árvore do conhecimento era uma expressão simbólica do ato gerador. A humanidade foi, como diz a Bíblia, concebida em pecado e, portanto, sujeita à morte da qual não haveria maneira de escapar.
Devemos relembrar que a evolução é uma realidade na natureza; que o ser humano atual é o resultado de um passado distante e que o presente estado não é o ponto final de uma meta de perfeição, mas que existem maiores alturas à nossa frente. Assim, todos estamos em um estado de desenvolvimento perpétuo; não existem paradas ou descansos, pois o caminho é tão ilimitado como a idade do espírito. O que somos hoje é o resultado do que fomos ontem, portanto, o que seremos amanhã, dependerá do modo como utilizarmos, atualmente, as nossas faculdades. Examinemos, pois, o passado, para que, ao conhecermos o que temos sido, alcancemos um vislumbre do que haveremos de ser.
De acordo com a Bíblia, a humanidade foi hermafrodita antes de ser separada em dois sexos distintos como homem e mulher. Ainda temos entre nós hermafroditas que, como pensamos atualmente, têm essa formação anormal para provar a verdade dessa afirmação Bíblica; e fisiologicamente, o órgão do sexo oposto se acha latente em todos nós. Durante o período em que o ser humano esteve assim constituído, a fecundação devia ocorrer dentro de si mesmo; isto não difere muito do que sucede com muitas plantas hoje em dia.
Vejamos, segundo nos diz a Bíblia, qual o efeito da autofecundação nos dias primitivos. Existem dois fatos principais que são muito significativos: o primeiro, havia gigantes na Terra naqueles dias; o segundo, os patriarcas viveram centenas de anos; e essas duas características, grande desenvolvimento físico e longevidade, muitas plantas as possuem atualmente. O tamanho das árvores e a duração de suas vidas são fatos maravilhosos; elas vivem séculos, enquanto o ser humano vive um número reduzido de anos. Daí nos ocorre perguntar: qual a razão da vida efêmera do ser humano e qual o remédio? Examinemos primeiro os motivos desta razão, e o remédio aparecerá.
É bem sabido pelos horticultores que as plantas param de crescer durante um florescimento muito prolífero. Uma roseira, ao florescer intensamente, pode morrer; por essa razão, o jardineiro sábio poda os brotos da planta para que a força se manifeste, parcialmente, em crescimento, em vez de dar somente flores. Desse modo, conservando a semente dentro de si mesma, guarda a força necessária para o crescimento e a longevidade. Esse é o segredo da altura e da longa vida das raças primitivas, como também é o segredo do tamanho e da longevidade das plantas atuais.
Que a essência criadora na semente é uma substância espiritual é evidente, quando comparamos a intrepidez e impetuosidade do touro e do garanhão, com a docilidade do boi e dos animais castrados. Além disso, sabemos que os libertinos e os degenerados se convertem em estéreis e fracos. Quando esses fatos se fixam em nossa consciência, não nos é difícil entender a verdade da Bíblia quando diz que o fruto da carne, que nos põe sob a lei do pecado e da morte, é antes de tudo e principalmente a fornicação, enquanto que os frutos do espírito, que conduzem à imortalidade, ainda segundo a Bíblia, são especialmente a continência e a castidade.
Consideremos também a criança e como a força criadora empregada internamente e para ela própria, produz um extraordinário desenvolvimento durante os primeiros anos, mas, na puberdade, o nascimento da paixão começa a dominar o desenvolvimento; então a força vital produz a semente com objetivo de alcançar o desenvolvimento e a expressão em outra direção, sendo que, desde aquele momento, termina o crescimento. Se continuássemos crescendo, como acontece na infância, seríamos gigantes, como o foram os divinos hermafroditas do passado.
A força espiritual gerada desde a puberdade e através da vida, pode ser usada com três propósitos: geração, degeneração ou regeneração. Depende de nós qual dos três métodos escolheremos; mas a escolha que fizermos terá uma influência importante sobre toda nossa vida, porque o uso dessa força não está confinado ao momento ou à ocasião em que é empregada. Abrange todos os momentos de nossa existência e determina a nossa atitude em cada uma das fases da vida entre nossos semelhantes; com a forma de como enfrentaremos os problemas da vida; se seremos capazes de agarrar as oportunidades ou as deixarmos escapar; se seremos saudáveis ou doentes; e se nós vivemos nossa vida com um propósito satisfatório; tudo isso depende da forma de usar nossa força vital. Esta força é a fonte de toda a existência, o elixir da vida.
A parte da força criadora que é legitimamente sacrificada, sobre o altar da paternidade e maternidade, é tão pequena que pode ser completamente desprezada nessas considerações. Não há razão, sob o ponto de vista espiritual ou físico, para que deva ser imposto o celibato em uma ordem religiosa, e nem essa imposição se encontra em qualquer passagem da Bíblia. A mera supressão da atração sexual não é virtude em si mesma; de fato pode até ser um vício muito sério, pois não há dúvida que milhares de pessoas que foram proibidas ou impedidas de buscar a satisfação natural, acabem caindo nos vícios mais inconfessáveis. Ainda que se abstenham do ato sexual, seus pensamentos serão de tal índole que as converterão em sepulcros caiados, horríveis por dentro, mesmo que externamente possam parecer puros e brancos. O próprio São Paulo, embora não na condição mencionada, disse: “É preferível se casar do que se abrasar”[1]; essa expressão natural é, de longe, preferível ao estado acima descrito.
Embora existam poucas pessoas que defendam o abuso da função geradora, existem muitos indivíduos que, mesmo seguindo os preceitos espirituais em outros aspectos, mantém a crença de que a frequente satisfação dos desejos nos prazeres sexuais não é prejudicial; e existem outros que julgam que esse ato é tão necessário como qualquer outra função orgânica. Isso está errado por duas razões: primeiro, cada ato criador exige e consome uma certa dose de força e o organismo deve ser reabastecido com uma quantidade extra de alimento. Isso fortalece e aumenta o Éter Químico. Segundo, como a força propagadora atua por meio do Éter de Vida, esse constituinte do Corpo Vital também aumenta a cada gratificação dos sentidos. Deste modo, os dois Éteres inferiores do Corpo Vital se fortificam dirigindo a força criadora para baixo, para satisfazer o nosso prazer; e as ligações assim formadas e que oprimem os dois Éteres superiores que formam o Corpo-Alma, vão se tornando mais compactas e mais poderosas com o tempo. Como a evolução dos poderes anímicos e a faculdade de viajar em nossos veículos mais sutis dependem da separação que se efetua entre os Éteres inferiores e o Corpo-Alma, é evidente que frustramos o objetivo que temos em vista, retardando o desenvolvimento pela satisfação da natureza inferior.
Se dirigirmos novamente nossa atenção para o jardim, obteremos uma demonstração palpável e luminosa dos resultados em seguir o conselho do Apóstolo, quando disse: “guardai a semente dentro”, considerando as qualidades das diversas variedades de frutas sem semente. As frutas sem semente são maiores e de um sabor mais agradável do que as que possuem sementes, porque naquelas toda a seiva é empregada com o único propósito de tornar a fruta deliciosa e suculenta. Similarmente, se nós, em vez de desperdiçarmos nossa substância, vivermos castamente e dirigirmos a nossa força criadora para a regeneração, refinaremos e eterizaremos nossos Corpos físicos, ao mesmo tempo que fortaleceremos nosso Corpo-Alma. Desse modo, poderemos materialmente prolongar a nossa vida e, como consequência, aumentar nossas oportunidades para o crescimento anímico e avançar no Caminho de forma mais marcante.
Quando tivermos compreendido que o sucesso não consiste em acumulação de riquezas, mas no desenvolvimento anímico, se tornará evidente que a continência é um fator importante para o êxito na vida.
[1] N.T.: ICor7:9
(Publicado na revista Serviço Rosacruz de novembro/86)
O Correto uso do Pensamento
Pensar é uma grande responsabilidade. Tudo provém do pensamento, de uma ideia germinal. O pensamento precede toda manifestação. Os pensamentos de Deus expressam-se pela primeira vez em som (Verbo) que construiu todas as formas e se manifesta na vida que as habita.
Uma das finalidades da nossa evolução é aprender a usar o pensamento, a controlá-lo e formulá-lo conforme as Leis Naturais. O emprego indevido e errôneo da nossa capacidade de pensar conduz fatalmente a um destino cheio de sofrimentos e limitações.
O maior privilégio humano consiste em poder exprimir os pensamentos em palavras. A ação resultante desses pensamentos determina o curso que imprimimos às nossas vidas (principalmente as nossas vidas futuras) e às daqueles que nos rodeiam. O pensamento é mais importante do que a ação. Só pensando corretamente podemos agir dignamente.
O pensamento determina o caráter e o tipo de vida que a pessoa leva. Pensamentos otimistas e bondosos conferem ao indivíduo uma sensação de leveza e luminosidade. Isso pode ser comprovado pela observação daqueles que conosco convivem, seja no trabalho, em casa, no clube, etc.
“A pessoa é o que ela pensa em seu coração”. Os pensamentos espirituais são emitidos por pessoas orientadas espiritualmente, fortes, bem ajustadas, verdadeiras fontes de conforto e apoio para aqueles que sofrem.
O pensamento molda a matéria. Muitas vezes uma fisionomia é um reflexo da mente. É indiscutível a ação do pensamento sobre nossos veículos. Pensamentos de medo e preocupação não raro afetam negativamente as correntes de desejo, inibindo totalmente a ação. Um simples pensamento negativo pode causar danos aos nossos corpos. Por outro lado, pensamentos positivos e construtivos contribuem de forma preponderante para uma boa saúde, mais até do que a maioria dos medicamentos receitados pelos médicos.
Os pensamentos materialistas acentuam a tendência cristalizante do Corpo de Desejos, endurecendo tudo aquilo que contatam. Até as feições das pessoas podem tornar-se duras se esses pensamentos converteram-se em hábito.
O pensamento age sobre os arquétipos. Uma pessoa íntegra, habituada a pensar correta e construtivamente em termos de verdade, bondade e justiça, cria formas de pensamento correspondentes. Quando construir os arquétipos de sua próxima existência, fortalecê-los-á com as qualidades acima mencionadas.
Muitas vezes o sofrimento nos leva a ponderar sobre a necessidade de uma mudança substancial em nossas vidas. Se desenvolvermos nossa força de vontade em certa extensão é bem provável até que nos empenhemos em realizar as mudanças necessárias. Mas, é importante ter consciência de que em primeiro lugar devemos mudar nossos pensamentos. Sem isso todo esforço será infrutífero, pois estaremos apenas trabalhando os efeitos, ignorando as causas que os originaram.
É importante, também, que nossa atividade mental não seja dispersiva. Trocando em miúdos, se desejamos obter êxito em alguma atividade, seja ela material ou espiritual, nossos pensamentos devem ser concentrados nessa atividade particular. Profissionalmente isso já está mais do que comprovado. O indivíduo distraído ou carente de concentração acaba comprometendo seu próprio trabalho, perdendo muito em eficiência.
Do ponto de vista espiritual, a concentração do pensamento em objetivos elevados é condição essencial para se chegar ao êxito. Os ensinamentos rosacruzes alertam constantemente para a importância da observação e da atenção como meios de direcionamento correto do pensamento.
Assim, como estudantes da Sabedoria Ocidental não podemos ignorar que o caminho para a perfeição espiritual passa necessariamente pelo correto emprego da nossa capacidade de pensar.
(Publicado na revista Serviço Rosacruz de novembro/86)
A Fraternidade Rosacruz – uma das 7 Escolas – e a Era de Aquário
Pelos noticiários da TV e dos jornais, hoje, qualquer cidadão ou dona-de-casa está a par da situação geral do mundo. Os meios de comunicação aproximaram as nações e os seres humanos, para que se conheçam melhor, pois ninguém pode amar o que não conhece. Tudo está se transformando rapidamente e os meios são proporcionais à resistência: meios violentos — aparentemente um mal — são empregados para romper estruturas sociais milenares, pondo nações inteiras sob tensão e desafios terríveis, para que acordem à realidade da evolução. Sem meios de compreender a razão e a origem de tais transformações, deixamo-nos envolver pelas previsões pessimistas, quanto ao futuro da humanidade: em 8 horas o mundo pode ser destruído por teleguiados das grandes potências. Prenúncios da Era de Aquário!
Aqueles que estão afeitos ao estudo e à meditação das verdades espirituais sorriem confiantes e serenamente apontam um Governo Invisível do Mundo — muito mais poderoso que todos os governos comuns. Lá está a razão das grandes mudanças; lá estão os olhares penetrantes e amplos de Seres que romperam as limitações mundanas e se guindaram a amplitudes de consciência inconcebíveis à compreensão mediana. São os Altos Iniciados das diversas Escolas — Sete Altos Iniciados de cada RAIO CÓSMICO — que se misturam à Humanidade e influenciam-na, nos diversos campos de atividade: ciência, arte, religião, política, economia, etc. São grandes luzes desconhecidas para nós, que somos cegos e surdos. Temos ouvidos e não ouvimos; temos olhos e não vemos; estamos rodeados de imensas realidades espirituais que não percebemos; tal é a triste condição do ser humano comum. Mas os Iniciados menores, de tempos em tempos, cumprindo determinações desses Altos Seres — os vanguardeiros do gênero humano — trazem suas revelações, adequadas à nossa compreensão atual. Segundo essas revelações – e podemos falar convictamente da Ordem Rosacruz — Sete Irmãos Maiores trabalham incognitamente no mundo, exercendo influência incomum aos líderes que enfeixam poderes-chave. Embora respeitem o livre arbítrio humano, estão eles vigilantes para que nossa ignorância não desvie as linhas evolutivas gerais, traçadas para a humanidade.
Há sete escolas de mistérios no mundo. Cada uma delas tem diversas ramificações através da História. São nomes que se dão a movimentos que atendem às necessidades internas, de um grupo humano e de cada indivíduo desse grupo em particular, numa certa época.
A verdade é Universal e transcende as limitações humanas. Os seres humanos não podem alcançá-la em plenitude. Essa verdade está em cada Escola ou Raio.
De tempos em tempos, cada uma dessas escolas, através de um iniciado menor, funda um movimento externo, público, que constitui um MÉTODO adequado ao povo e a cada indivíduo, como regra geral, para levar-nos à própria realização interna. Logo, são os métodos que diferenciam as escolas — em cada época e nível evolutivo do povo a que se destina.
Quem determina tais métodos? São os Altos Iniciados. Eles veem, nos planos internos, com sua ampla visão, as tendências de cada povo e preparam tais métodos de desenvolvimento, para atender a certo período de tempo.
Para dar-lhes uma ideia do que expusemos, tomemos o exemplo da Bíblia: é um livro sagrado como outro qualquer de outros povos. Mal interpretada, defeituosamente compreendida, tem-se pensado que a Bíblia é uma estória do povo hebreu. Depois tivemos o advento do Cristianismo, com a mensagem, ainda mal vislumbrada — do maior Ser que a Humanidade jamais conheceu: Cristo. A mensagem cristã foi ajuntada aos ensinamentos dos judeus, formando o Velho e Novo Testamentos. Inadvertidamente associamos que as duas dispensações foram reunidas porque Jesus e seus apóstolos eram judeus. Nada mais errado. Muito acima disso, a Bíblia, à semelhança dos outros livros sagrados, é “UMA ESTÓRIA DO SER HUMANO” — uma estória minha e de cada um de vocês. Cada um de nós é a própria Bíblia. Cada acontecimento, cada personagem bíblico, é representação de circunstâncias e de pequenos “Eus” psicológicos de nosso íntimo, como na obra hindu — o BHAGAVAD GITA.
A Rosacruz — representando a parte esotérica do Cristianismo e havendo partido das raízes essênias – revela-nos a Bíblia com uma nova face, bem adequada ao desenvolvimento de nosso povo. Cada derrota e cada vitória; cada miséria e cada glória na Bíblia, se reportam à derrota e à vitória, à miséria e à glória de cada um de nós, na luta da existência.
A escravidão no Egito, as limitações e sofrimento do povo hebreu sob o jugo do Faraó — nada mais são do que nossas próprias limitações materialistas; os condicionamentos escravizantes que nos impõe a falsa personalidade — em sua ilusão de separatividade — buscando apoiar-se em coisas externas — este faraó que usurpou o trono do divino em nós.
Há muitos indivíduos mergulhados nas trevas dessa escravidão, sonhando com uma Terra prometida de leite e mel — com uma vida mais livre e plena — pois sentem interiormente que o Criador não os fez para sofrer.
Quando já estão enfarados de sua escravidão; humilhados com sua condição, algo dentro deles se levanta, disposto a tudo. É algo que lhes nasce do íntimo, de uma origem celestial — porque somos todos, sem distinção — feitos à Imagem e Semelhança de Deus. E, como o Filho pródigo revoltado de comer a comida dos porcos do materialismo — se levantam e resolvem tornar à Casa Paterna — ou voltar ao centro de seu Ser — mediante o autoconhecimento.
Neste ponto nasce, no íntimo o Moisés — que não concorda com o Faraó da falsa personalidade e que transforma a vara de Arão — o poder acumulado na coluna, numa serpente de sabedoria que devora todas as serpentes dos conhecimentos inferiores dos magos do Egito. É um método novo, mais adequado, que mostra as tábuas de uma Lei Divina, que devem ser inscritas na tábua de carne de nosso coração, para que nos tornemos uma lei em nós mesmos, consonantes com a Lei Universal que mantém a harmonia do Universo.
Para que esta lei se inscreva em nosso íntimo leva tempo. Tempo variável para cada indivíduo. Toma vidas inteiras de experiências. É o que representa o cabalístico número 40 — que significa muitos. 40 anos de peregrinação no deserto — 40 anos na aridez de uma vida de dúvidas — em que somos tentados a fundir, com o ouro de nossas realizações internas, o bezerro das condições antigas — num esforço de voltarmos e nos apoiarmos ao que já conhecemos.
Mas o Moisés interno protesta e nos desperta. É preciso adorar o cordeiro. O cordeiro é uma condição humana mais doce e elevada. Não devemos desanimar na travessia. Cuidando não cair nas miragens do deserto, podemos arrancar a água viva dos ensinamentos da pedra de nossas realizações internas. E assim vamos evoluindo, armando e desarmando as tendas de nossos corpos, como peregrinos e nômades dos planos evolutivos. Até que cheguemos e nos instalemos na Terra prometida — naquela condição interna em que devemos esperar pela chegada do Messias. Ele há de nascer de uma virgem. A profecia de Isaías usa um adjetivo hebraico mui expressivo para designar o caráter dessa pureza: A PUREZA INTERNA.
O adjetivo é ALMAH — virgindade interna — bem diferente da BETULAH: a virgindade externa, muitas vezes comprometida pelas impurezas internas dos pensamentos e emoções viciosos, dos fariseus modernos.
Essa virgem é uma imaginação pura — que havemos de conquistar. E unir-se-á a JOSÉ — um viúvo que se desligou da esposa do mundo — e que representa uma VONTADE pura. A imaginação é o lado feminino do Ser — a devoção, o coração. É Maria que deixou de ser Maya. José é o lado masculino do Ser — a vontade, a inteligência iluminada — que se libertou das limitações. Dos dois nascerá o MESSIAS — o HIMMANU-EL — que significa: DEUS CONOSCO!
Deixemos, por enquanto, a sublime manjedoura com os animaizinhos dos instintos domesticados e voltemos à História Humana, para explorar outra fonte: a ASTROLOGIA ESOTÉRICA – os Astros são o relógio do destino e determinam, em linhas gerais, a marcha evolutiva.
Quando o Sol, pelo movimento da precessão dos equinócios, retrogradava pelo Signo de TOURO, a humanidade era muito embrutecida e, por isso, gerava condições e circunstâncias adversas e terríveis. A evolução exigia muita fibra, perseverança e paciente resistência, qualidades próprias desse Signo. É a escravidão do Egito, já citada. Daí que o símbolo seja o antigo boi ÁPIS, do Egito. A vaca sagrada da Índia é ainda uma reminiscência desse período.
Surgiu então Moisés, tendo um chapéu com chifres de carneiro — para mostrar sua condição de arauto de Áries, quando o Sol, por precessão dos equinócios, retrogradava pelo Signo do Carneiro. Foi a peregrinação pelo Deserto. E assim, como Moisés não pôde entrar na Terra Prometida, mas simplesmente conduziu o povo a ela, assim também a Era de Áries transferiu a consciência humana para um estágio mais alto: a Era de Peixes – quando o Sol começou a retrogradar, por Precessão dos Equinócios, por esse Signo. Então veio Cristo inaugurando a Dispensação Pisciana: notem que o símbolo do Cristianismo são dois peixes cruzados; que os Apóstolos eram chamados “pescadores de homens”; que os Evangelhos usam parábolas de pescas, de redes; e o chapéu dos bispos (mitra) tem a forma de uma cabeça de peixe, cuja boca, aberta, entra na cabeça.
A Era de Peixes constitui o Cristianismo Popular – que esqueceu os antigos mistérios e conhecimentos sobre o RENASCIMENTO, LEI DE CAUSA E EFEITO, COSMOGÊNESE, ANTROPOGÊNESE – se bem que esses conhecimentos estejam nas entrelinhas dos evangelhos, como poderei demonstrar em outra ocasião.
Por que se retirou dessas verdades antigas? Porque, propositadamente, devia mergulhar o povo ocidental na conquista científica, religiosa e artística mais intensa e diversificada – conforme reclamava a evolução.
A CIÊNCIA, A ARTE E A RELIGIÃO eram unidas no passado. Tudo incluía esses três ramos – como nos tempos da Grécia áurea, em que a poesia, a música, a dança, a literatura, a história, a ciência, etc., se reuniam nas atividades humanas, por inspiração das nove musas (número do ser humano). Depois se diversificaram: a religião governou quase sozinha durante a Idade Média, chamada Idade das Trevas, sufocando as demais manifestações, para o desenvolvimento predominantemente religioso. Quando já se tornava prejudicial, a Renascença trouxe a Arte, com a glória de iluminados artistas em todos os seus ramos, até a Idade Moderna. Finalmente rompeu soberana a Ciência, na Idade Contemporânea, amordaçando com mãos de aço as demais manifestações. É a Ciência que dá a última palavra e que merece maior crédito do mundo. Logo descambamos para o materialismo, sob influência de Augusto Comte, de Freud, de Karl Marx e outros que, havendo recebido vislumbres da Verdade Universal, desvirtuaram-na quando criaram seus métodos. Infelizmente acontece isto: a verdade mais alta não pode ser exposta num Cosmos inferior, sob pena de PROFANAÇÃO. Por isso o Cristo usou as parábolas e símbolos: para que cada um extraia delas o que seu grau de consciência pode ver e suportar.
Em meados do século passado, o Sol, em seu movimento de precessão dos equinócios, entrou na órbita de influência do Signo de Aquário. Aquário é governado por Urano, descoberto (não por acaso) em 1781, para ir fermentando a consciência do mundo com suas qualidades de Inovação, de Originalidade (Epigênese), Inconvencionalismo (para romper as tradições cristalizadas), Inventiva, Intuição, etc. Urano preparou a ciência para a conquista de seu elemento – O Éter — que nos levou à conquista do espaço: começando pela máquina a vapor, passou pela eletricidade, telégrafo, telefone, rádio, televisão, aviação, radar, foguetes e plataformas espaciais, aproveitamento da luz solar, etc. Telescópios poderosos foram perscrutando os espaços siderais, ao passo que os microscópios e aparelhos ainda mais delicados foram penetrando nas partículas menores da matéria, deslumbrando os cientistas com a Realidade de uma Inteligência que agora aprende a descobrir por si só e a venerar. Não há físico que não tenha veneração pelo Cosmos. Não importa o nome que dê, o importante é que ele descobriu algo que assume para ele o sabor de uma conquista. É assim mesmo: as coisas velhas se tornam novas quando são redescobertas pelo despertar do Ser.
A psicologia, que começou desastrosamente (em aparência) pelas falhas interpretações de Freud — que não soube verter puramente certas verdades espirituais que captou — encaminha-se, a passos largos, para o autoconhecimento, sob influência da parapsicologia e de revelações que vão invadindo, irresistivelmente, a Mente dos seres humanos, provindas da Mente Universal.
Neste cenário crepitante e conturbado do mundo, ao início do século XX, os Irmãos Maiores da Rosacruz viram chegado o momento de entregar ao mundo uma nova mensagem. E, através de seu Iniciado Menor, MAX HEINDEL, nos deram o CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS, em 1909. Sob orientação dos Irmãos Maiores da Ordem, Max Heindel fundou a Fraternidade Rosacruz, após dois anos (1911), para atender à necessidade lógica do povo Ocidental. Todos desejamos saber a razão das coisas. Nossa Mente há de ser satisfeita, para que nosso coração comece a vibrar numa fé racional. O materialismo está perigando nossa evolução e todos os meios estão sendo envidados para chegarmos ao meio termo ideal, entre a Mente e o coração — esses dois elementos que se devem aprimorar, para chegarmos ao conhecimento e conquista de nós mesmos e alcançarmos o despertar de nossa verdadeira natureza.
O Ocidente se assemelha, agora, a um avião de asas desiguais: uma, enorme, da técnica, da ciência, do conhecimento, que se presume, de tal modo que o maior pecado atual é o ORGULHO INTELECTUAL. A outra asa é mirrada, subdesenvolvida, raquítica, esfomeada: uma asa pequena da fé, da devoção, de conquista interior, do coração. E nosso avião ameaça despencar e arruinar sua tripulação. É urgente desenvolvermos esta asa pequena e estabelecermos o equilíbrio de nossos voos evolutivos. De nada valem as asas de cera, porque logo se derretem no desafio da subida e nos precipita abaixo. As asas de cera são os superficiais conhecimentos que adquirimos e não chegamos a vivenciar. Diletantismo espiritual. Curiosidade ocultista de fenômenos que não conduzem ao fim mais alto. É preciso dirigir nossos esforços à realização autêntica para formar a asa pequena. Assim, devidamente apoiados na verdade espiritual, podemos conduzir todas as nossas conquistas para os propósitos evolutivos em vez de subordiná-los aos interesses mesquinhos da personalidade falsa.
O ser humano— esse desconhecido — é a Esfinge, que compõe os quatro Signos zodiacais de natureza Fixa, representado por 3 animais: o touro, o leão, a águia (o escorpião) e aquário (simbolizado pelo ser humano que engloba os três animais).
A Esfinge de nossa natureza continua a desafiar-nos: OU ME DECIFRAS, OU TE DEVORO! E os seres humanos se devoram porque não se conhecem; devoram-se pelos infartos, pelos derrames, pela diabete, úlceras, cânceres e neuroses, que são a consequência inequívoca de suas ignorantes transgressões à Lei da Natureza.
Através da Rosacruz — uma das Sete Escolas — os Irmãos Maiores — aqueles que foram na frente, que chegaram ao cume da Realização e depois voltaram para ensinar o caminho e prevenir os alpinistas sobre os perigos da escalada — oferecem suas mãos, a sua inteligência, o seu amor — pelos cursos gratuitos por correspondência, de Filosofia Rosacruz, de Astrologia Esotérica; da Bíblia e Cristianismo Esotérico, a todos os interessados.
Somos os seus canais e estendendo a mão direita: chamamo-los IRMÃOS, pelo reconhecimento de que todos somos filhos de um Pai comum — O Pai Celestial! Mais que irmãos, preferimos chamá-los AMIGOS, pondo-nos à vossa disposição.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1978)
Um Ensinamento Completo com o Perdão dos Pecados
A incapacidade de crer no Perdão dos Pecados induziu muitos a aceitar exclusivamente a Lei de Causa e Efeito, tal como é ensinada no Oriente sob o nome de Karma.
Julgam, equivocadamente, por sinal, pelo fato de algumas religiões orientais ensinarem a Lei de Causa e Efeito e a Teoria do Renascimento com mais clareza que o Cristianismo, serem elas mais profundas e lógicas. O Cristianismo, divulgado popularmente, de fato afirma que Cristo morreu por nossos pecados, e consequentemente, se nele crermos, nossas faltas serão perdoadas.
Mas, na verdade, os ensinamentos cristãos são muito mais profundos do que se pensa. Abrangem a Lei de Causa e Efeito e o Perdão dos Pecados. Essas duas leis operam, vitalmente, no desenvolvimento da humanidade. Há boas razões para que as religiões orientais contenham apenas uma parte dos ensinamentos formadores da doutrina cristã.
Nos tempos mais remotos, quando surgiram as doutrinas orientais, a humanidade de então era de natureza mais espiritualizada que a atual. Muitas pessoas sabiam que renascemos várias vezes na Terra, em corpos e ambientes diferentes.
No Oriente, tal ideia ainda permanece arraigada. Isso gerou uma indolência muito grande. Agrada-lhes mais pensar no Nirvana — o mundo invisível — onde podem descansar em paz, do que evoluir pelo aproveitamento de seus recursos materiais. Em consequência, enfrentam mil dificuldades para viver: fome, miséria extrema, doenças, inundações assoladoras, etc. Não compreendem que não é verdadeiramente a Lei de Causa e Efeito a responsável direta pelas suas desditas, mas sim a negligência e a indiferença pelas coisas materiais.
Como não são pessoas ativas e realizadoras aqui, nada têm a assimilar na vida celestial, entre o desenlace e um novo renascimento. Como um órgão em prolongada inatividade logo se atrofia, um país não desenvolvido pelos espíritos ali encarnados tende, inexoravelmente, a decair em termos de condições de habitabilidade.
Os Grandes Guias, ciosos dessa verdade, tomaram certas medidas no sentido de obrigar-nos a esquecer temporariamente o lado espiritual de nossa natureza. No Ocidente, onde se encontram os vanguardeiros da raça humana, instituíram o matrimônio fora da família. Além disso, a religião ocidental, por excelência, é o Cristianismo, sistema em que não se ensina aberta e popularmente a Lei de Causa e Efeito e a teoria do Renascimento. Ainda um outro elemento foi utilizado para obscurecer a sensibilidade espiritual do ser humano: o álcool.
Com tudo isso, nós do Ocidente perdemos a lembrança de que existe algo mais além da vida terrena, e a ela dedicamos todos os nossos esforços, procurando aproveitar integralmente aquela que julgamos ser nossa única oportunidade. Convertemos o mundo ocidental em um verdadeiro jardim. No decurso de várias encarnações temos formado uma terra fertilíssima, pródiga em recursos minerais, que sustentam nossas progressistas indústrias. Assim, conquistamos o mundo material, visível.
Por outro lado, é evidente que o aspecto religioso da natureza humana não deve ser descurado. O Cristo — grande Ideal da religião cristã — devemos imitar. Mas, como não seria possível igualá-lo em uma só vida — que é tudo o que sabemos, deveríamos receber um ensinamento compensador, pois do contrário nos desesperaríamos ante tão grande malogro. Por conseguinte, ao mundo ocidental foi ensinada a doutrina do Perdão dos Pecados, mediante a justiça de Cristo-Jesus.
Nenhuma doutrina falsa pode revestir-se de um poder aperfeiçoador na natureza. Deve haver, portanto, uma base muito sólida, sustentando a doutrina do Perdão dos Pecados.
Quando observamos o mundo material, ao nosso redor, notamos diversos fenômenos da natureza e encontramos outros seres com os quais nos relacionamos. Todos são percebidos por intermédio de nossos sentidos físicos. Todavia, se nos escapam muitíssimos detalhes. É uma verdade exasperante que temos olhos e não vemos, temos ouvidos e não ouvimos. Por causa disso muitas experiências se perdem. Além disso, nossa memória é sumamente caprichosa: recordamos pouca coisa.
Nossa memória consciente é débil. Não obstante, existe outra memória. Sabemos que o éter e o ar levam à película fotográfica a impressão da paisagem exterior, sem omitir o mais insignificante detalhe. Da mesma forma como nossos sentidos recebem as impressões exteriores, o éter e o ar se encarregam de conduzi-las aos nossos pulmões e daí ao sangue. Estampa-se, então, em nós um quadro exato de tudo aquilo com que entramos em contato. Essas imagens imprimem-se no Átomo-semente, localizado no ventrículo esquerdo do coração. Todas as nossas obras encontram-se inseridas nesse Átomo, também denominado “O Livro dos Anjos do Destino”. E dali se imprimem no Éter Refletor do Corpo Vital.
No curso ordinário da vida, o ser humano, após a morte, adentra ao Purgatório, onde expia os pecados gravados no Átomo-semente. Mais tarde, no Primeiro Céu, assimila o valor educativo do bem praticado. No Segundo-Céu trabalha em função do seu futuro ambiente aqui no mundo material.
Mesmo uma pessoa devota comete erros diariamente. Porém, ela pode examiná-los, também diariamente, e pedir, com toda sinceridade, perdão para suas faltas. Então, as imagens dos pecados cometidos — por ação ou omissão — são eliminadas dos anais da vida, porque o propósito de Deus não é “vingar-se”, como pode parecer por meio da Lei de Consequência. O objetivo de Deus é que aprendamos, pela experiência, a agir bem e com justiça. Quando admitimos ter agido mal, e reconhecendo nosso erro, dispomo-nos a corrigir-nos, é sinal de que aprendemos a lição, não restando mais motivos para punição.
Desse modo, a doutrina do “Perdão dos Pecados” é um fato real na natureza. Se nos arrependemos, oramos e nos reformamos, nossas faltas nos são perdoadas, suprimindo-se os registros correspondentes no Átomo-semente. Caso contrário, serão eliminados mediante os sofrimentos da existência purgatorial.
Assim, a doutrina do Karma ou Lei de Causa e Efeito, conforme ensinada no Oriente, não satisfaz plenamente às necessidades humanas. Mas, os ensinamentos cristãos, que encerram ambas as leis — a de Consequência e o Perdão dos Pecados – propiciam-nos um conhecimento completo a respeito dos métodos empregados pelos Grandes Guias, em sua missão de instruir-nos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)
O Sentido Metafísico da Arte
A Arte é uma forma de expressão do ser humano. Por intermédio dela revela-se seu nível de consciência.
Em seu estágio primitivo o ser humano procurou conhecer as coisas que o rodeavam e reproduzi-las dentro de suas limitadas possibilidades. O ser humano das cavernas deixou difusas marcas de sua existência, incapazes, porém, de permitir aos modernos pesquisadores um estudo mais acurado de sua consciência. Com o passar do tempo a capacidade de percepção daquele ser primitivo foi se aprimorando e formas mais detalhadas foram gravadas nas rochas, embora revelando uma Arte ainda bem rudimentar.
Como a evolução interna do ser humano faz evoluir também todos os campos onde ele atua, essa manifestação artística tornou-se mais clara e compreensível. O gradativo refinamento da mente e dos sentimentos conduziu a uma dinamização das faculdades criativas. Ele passou a criar não só com perfeição, mas também com beleza. O artista, sempre voltado para o belo, liga-se aos planos superiores da natureza, a verdadeira fonte de todas as suas aspirações.
A verdadeira Arte é indissociável da sensibilidade. Somente uma alma sensível pode captar sons e cores em sua verdadeira pátria, nas regiões denominadas de Primeiro e Segundo Céus nos ensinamentos da Sabedoria Ocidental.
Assim como o Mundo Físico é a região das formas, o Mundo do Desejo e o Mundo do Pensamento são, respectivamente, o plano da cor e do som. Diz Max Heindel no Conceito Rosacruz do Cosmos que a música celeste é um fato e não mera figura de retórica. Pitágoras fala na “Harmonia das Esferas” e Goethe, no prólogo de Fausto, faz menção a essa sinfonia celestial.
Na realidade, a diferença vibratória entre o Mundo do Pensamento e o Mundo Físico é tão acentuada que daquele chegam apenas ecos a esse plano. O som original não resiste à queda de vibração, não podendo ser percebido em sua inteireza por ouvidos físicos. As belas sinfonias de Beethoven, por exemplo, são pálidas reproduções do que o grande mestre conseguiu captar nas dimensões superiores da natureza. Eis porque é válido dizer-se que a “música é a linguagem dos Anjos”.
É importante destacar que o primeiro órgão de sensibilidade desenvolvido pelo ser humano foi o ouvido.
No longínquo Período de Saturno — o primeiro estágio da nossa manifestação — uma Hierarquia Divina, os Senhores da Chama, deu-nos o germe daquele que seria nosso atual Corpo Denso e também a capacidade de desenvolvimento da audição. São João, no primeiro capítulo do seu Evangelho, diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. Sendo o som um poderoso fator desde o princípio da criação, é inegável a importância do desenvolvimento da audição.
As experiências do poeta assemelham-se às do músico. A poesia é expressão dos mais íntimos sentimentos da alma. As palavras ordenam-se conforme as leis da harmonia e ritmo que regem a expressão do espírito da música.
O artista tendo a faculdade de ver, ouvir e sentir a natureza de maneira diferente, mais ampla e aperfeiçoada do que o comum das pessoas, poderá expressá-la nas Artes plásticas, na música, poesia, transmitindo até vislumbres de sua origem divina aos apreciadores de suas obras. Ele o faz também porque sente a necessidade de eternizar seus pensamentos e sentimentos.
O indivíduo, qualquer que seja seu grau de evolução, não quer se submeter ao temporal, mas sim transcendê-lo. Isso é válido tanto para o primitivo ser humano das cavernas como para o da Renascença ou do Modernismo.
O indivíduo procura perpetuar-se na literatura, na música, na dança, nas Artes plásticas. O dançarino, naquele breve momento, projeta-se no tempo. O mesmo ocorre com o músico, porque aqueles momentos de execução de um número musical ficam gravados nos registros da natureza. Aquele instante é uma eternidade. Aliás, quem entende de eternidade é o próprio espírito. Na arquitetura o ser humano quer tornar a necessidade do “habitat” numa obra de Arte que perdure além do tempo.
A Arte é uma forma de educação permanente. Um povo cercado de beleza sob a forma de jardins, florestas, edifícios, esculturas e música torna-se refinado em seus sentimentos e unido em suas aspirações.
A manifestação artística é uma linguagem universal. É o mais abrangente canal de comunicação de sentimentos. Goethe denominou-a de “a magia da alma”. Schiller afirmou: “A Arte restitui ao indivíduo a sua dignidade”. E Carlyle: “Em toda a obra de Arte discernirás a Eternidade, contemplando através dos tempos a Divina Manifestação visível”.
Na Grécia antiga floresceu uma magnífica civilização e sua maior característica era tudo expressar com requintada beleza. Orfeu adormecia os animais fazendo soar docemente a sua lira. Nas grandes obras de escultura resplandeciam a beleza e harmonia como na representação de Eros e Psiché — a Alma e o Amor. Aquela magnífica civilização produziu artistas, filósofos, poetas, até hoje considerados verdadeiros mestres da Sabedoria.
Max Heindel afirma no Conceito: “A Religião, a Arte e a Ciência são os três meios mais importantes da educação humana. São uma trindade numa unidade. Não podemos separá-las sem torcer o ponto de vista de qualquer coisa que investiguemos. A verdadeira Religião compreende a Ciência e a Arte, porque ensina a viver belamente em harmonia com as leis da natureza. A verdadeira Ciência, no mais elevado sentido, é artística e religiosa porque nos ensina a reverenciar e a nos conformar com as leis que governam nosso bem-estar e explica porque a vida religiosa conduz à saúde e beleza. À verdadeira Arte é tão educativa como a Ciência e de influência tão aperfeiçoadora como a Religião”.
“Na arquitetura encontramos a mais sublime representação das linhas de força cósmica do universo. Enche o observador espiritual de uma poderosa devoção e adoração, nascida da concepção da grandeza e da majestade de Deus. A escultura e a pintura, a música e a literatura, imbuem-nos de um transcendental amor de Deus, o manancial e a meta de todo este formoso mundo”.
“Nenhuma outra coisa, a não ser esse ensinamento integral poderá corresponder permanentemente às necessidades humanas. Noutro tempo, entre os gregos de Religião, a Arte e a Ciência eram ensinados conjuntamente nos Templos de Mistérios. Tornou-se necessário, para melhor desenvolvimento de cada uma delas, separá-las durante algum tempo”.
“A Religião reinou suprema na Idade Média. Durante esse tempo escravizou a Ciência e a Arte, atando-as de pés e mãos. Logo veio o período da Renascença e a Arte floresceu em todos os seus domínios. A Religião era muito forte ainda, e a Arte bem depois degenerou, à serviço da primeira. Por último, chegou a vez da moderna Ciência que, com mão de ferro, subjugou a Religião. Tal estado de coisas não pode continuar. Deve produzir-se a reação. Se assim não fosse a anarquia dominaria o Cosmos. Para evitar tal calamidade a Religião, a Ciência e a Arte devem reunir-se numa expressão do Bom e do Verdadeiro, mais elevado do que antes da separação”.
Os gregos, porque recebiam uma formação integral, conheciam o sentido metafísico das Artes. Era costume entre as mulheres da Grécia antiga, quando grávidas, ficarem retiradas, permanecendo tranquilamente em seus lares. Rodeavam-se do Belo, ocupavam-se de forma útil e agradável lendo ou estudando filosofia e Arte. Tinham plena certeza de que criando essa atmosfera espiritual a criança por nascer seria dotada de formas belas e caráter elevado.
A dança, ocupava em lugar de destaque no sistema educacional grego, a ponto de Platão crer que através dela seria possível surgir uma nova ordem social. Na expressão corporal encontramos a primeira forma de comunicação do ser humano. E, como as primeiras sociedades humanas eram teocráticas encontramos a dança inserida nos rituais religiosos como meio de comunicação com a divindade. Com o passar do tempo perdeu o sentido místico. Acabou sendo considerada uma prática pagã e mundana e daí foi abolida da ritualística nos templos.
A Arte não escapa ao momento ideológico e espiritual que a sociedade está vivendo. Assim, com o advento da Idade Média, as Artes em geral passaram a servir a Religião.
A estrutura social predominante na Idade Média era rígida, condenando cada indivíduo a um destino hereditário. Como havia total insegurança do povo quanto ao futuro, somente a vida religiosa oferecia algum conforto.
A cultura era accessível a apenas uma minoria, representada pelo clero. O ser humano medieval era letrado, supersticioso e extremamente místico. E todo ideário artístico-filosófico greco-romano foi abandonado por ser considerado resquício de paganismo. Entretanto, o pensamento de Aristóteles acabou sendo redescoberto na Idade Média por São Tomaz de Aquino. A filosofia aristotélica abrange a natureza de Deus (metafísica), do ser humano (ética) e do estado (política).
Como já dissemos, o indivíduo medieval era extremamente místico. Esse misticismo, levado a tais níveis, dotava as pessoas de Clarividência negativa a ponto de poderem observar os espíritos da natureza. Eram comuns as narrativas de duendes, fadas, etc.
No Hemisfério Norte, o verão é o tempo em que aparecem os duendes e demais entidades semelhantes, a quem cabe trabalhar pelo desenvolvimento material do nosso planeta. E, na noite de São João, no Festival das Fadas, esse processo chega ao seu ponto culminante como demonstrou Shakespeare em “Sonhos de Uma Noite de Verão”.
Algumas lendas que inspiraram os contos infantis, como por exemplo o da Branca de Neve e os Sete Anões, têm sua origem na Idade Média.
A Arte medieval era simples e refletia sempre o sentimento religioso. Só temas sacros eram representados, com algumas exceções. Os templos eram ornamentados com afrescos contando a História Sagrada e figuras de santos. Na música destacava-se o Canto Gregoriano e as peças teatrais eram encenadas nas igrejas abordando sempre temas religiosos.
Por falar em igrejas, é necessário lembrar a importância da Arte gótica no período medieval. O gótico nasceu na França, no século XII. As catedrais de Canterbury (Inglaterra) Notre-Dame (Paris) e a de Milão são um exemplo notável dessa Arte. Há quem afirme haver uma correlação entre à forma das catedrais góticas (com arcos ogivais formando o interior), as pirâmides e a junção das palmas das mãos quando se ora. Seriam uma maneira de catalisar energias cósmicas?
Lenta, quase imperceptivelmente, algumas mudanças começaram a surgir. Os “Mistérios” foram gradativamente restaurados, graças a ação dos Alquimistas e trovadores. Através da poesia trovadoresca ou Provençal algumas verdades profundas eram transmitidas às pessoas, como se fossem parábolas, em jogos realizados nos castelos. Na lenda de Tannhauser encontramos menção a esses jogos.
As ciências, vez por outra, encontravam uma fresta por onde pudessem manifestar-se. Assim é que Roger Bacon, filósofo inglês, versado também em matemática e ciências naturais, realizou experiências no campo da ótica e da propagação das forças. Bacon faleceu em 1292.
Mas o grande acontecimento dessa época deu-se no século XIII, quando Christian Rosenkreutz fundou a Ordem dos Rosacruzes com o “objetivo de lançar uma luz oculta sobre a mal-entendida Religião Cristã e para explicar o mistério da vida e do ser humano desde um ponto de vista científico, em harmonia com a religião”.
Diz Max Heindel no Conceito: “Vários séculos se passaram desde o nascimento de Christian Rosenkreutz e muitos consideraram um mito a existência do fundador da Escola de Mistérios dos Rosacruzes. Todavia, seu aparecimento marcou o princípio de uma nova era na vida espiritual do Ocidente”.
“Esse excepcional Ego tem surgido em contínuas existências físicas num ou noutro dos países europeus”. Trabalhou com os alquimistas durante séculos antes do advento da moderna ciência. Foi ele que por um intermediário inspirou as agora mutiladas obras de Bacon. Jacob Boehme e outros, dele receberam a inspiração que tão espiritualmente iluminou seus livros. Nas obras do imortal Goethe e de Wagner encontramos a mesma influência. Todos os espíritos inquietos que se recusam a subordinar-se à ciência e à ortodoxia da religião, que fogem das escravidões e procuram penetrar nos domínios espirituais sem pretensões de glória ou vaidade, inspiraram-se na mesma fonte, como fez e faz o grande espírito que animou Christian Rosenkreutz”.
O que ocorreu na Europa por volta do século XIII foi algo muito mais importante do que se possa imaginar. Alguns artistas e pensadores tornaram-se pioneiros da Renascença ao reverenciarem os ideais artísticos da Antiguidade. A Renascença não foi um fenômeno súbito do século XIV, uma ressurreição do interesse pela cultura clássica da Grécia e Roma. O Renascimento pode ser considerado uma fase de reação às doutrinas aristotélicas. As ideias de Platão foram difundidas e adotadas pela nova visão humanista e racional do mundo e da ciência.
Na Idade Média a vida girava em torno da sacralidade, do divino. Deus era o centro e a razão de todas as coisas. No Renascimento essa visão se modifica. O ser humano passou a ver o mundo em função de si próprio, elegendo-se como o novo centro do Universo. O desenvolvimento desse humanismo se fez com a recuperação do patrimônio filosófico e artístico da civilização greco-romana.
A expansão marítima, ampliando o conhecimento do mundo, deu dimensões universais ao pensamento. Surgiram os estados centralizados em forma de monarquias absolutistas. Com o aparecimento de uma nova classe social — a burguesia — desintegrou-se a velha estrutura feudal. O capitalismo suplantou o feudalismo. Apareceram as cidades. Em busca de novas técnicas de produção diferentes campos começaram a ser pesquisados.
Toda essa evolução não poderia expressar-se através de formas artísticas da época medieval, dominadas pela religiosidade. Uma nova Arte se desenvolveu para exprimir o mundo novo. As formas artísticas adotadas assemelham-se às da Antiguidade Clássica. A cruz latina que durante toda a Idade Média fora o motivo básico das plantas das igrejas cedeu lugar à cruz grega (com os ramos de igual comprimento) para que as construções se tornassem simétricas em relação a um ponto central. Muitos arquitetos, considerando o círculo uma forma geométrica perfeita, viam-no como o mais adequado às obras dedicadas a um Deus perfeito. A basílica de São Pedro e a famosa igreja de Florença são de estilo renascentista.
O Renascimento não se limitou apenas ao campo da ciência, Artes e letras. Passou a influenciar, também, a educação, a política e a própria religião. Passou a vigorar um intenso humanismo. Viver a vida e conhecê-la tanto quanto possível generalizou-se como atitude.
Alguns iluminados renascentistas expressaram em suas vidas aquela formação integral que a Grécia antiga oferecia, quando ciência, Arte e religião se completavam harmoniosamente. Assim é que Michelangelo foi escultor, pintor, arquiteto e poeta. Leonardo da Vinci foi artista, filósofo e cientista. Outros gênios daquela época revelaram em suas obras notáveis conhecimentos ocultos.
Max Heindel em “Iniciação Antiga e Moderna” afirma: “O pintor Raphael empregou seu maravilhoso domínio do pincel para exteriorizar a luz dos mais profundos conhecimentos esotéricos em seus melhores trabalhos: “A Madona Sistina” e o “Matrimônio da Virgem”. Cópias dessas admiráveis pinturas encontram-se em qualquer lugar onde se vende quadros. No original nota-se uma tonalidade particular no halo dourado atrás da Madona e da Criança que, ainda que excessivamente grosseiro para uma pessoa dotada de visão espiritual, é, não obstante, uma imitação tão exata e fiel da cor básica do Primeiro Céu, como é possível obter-se com pigmentos e cores terrenas. Uma observação atenta de seu fundo revelará o fato de que esse halo amarelo é composto de uma infinidade de figuras desses seres que chamamos de Anjos, com cabeças e asas. O papa está representado apontando a Senhora e o Cristo menino.
Examinando-o atentamente vê-se que a mão com que aponta tem seis dedos. Não há indícios históricos afirmando que o papa teria tal deformidade. Os seis dedos da mão foram pintados deliberadamente pelo autor. Qual foi seu propósito nós podemos verificar se examinarmos seu quadro “Matrimônio da Virgem” no qual pode-se notar anomalia semelhante. Maria e José estão representados com o menino Jesus no momento de sua fuga para o Egito e um rabino está nas proximidades. O pé esquerdo de José é o detalhe mais adiantado e evidente do quadro e tem seis artelhos. Nos dois casos os seis membros representam o sexto sentido, faculdade que se obtém por meio da Iniciação. Por esse sutil sentido o pé de José foi guiado em sua fuga para manter a salvo aquele tesouro sagrado. No outro caso, o papa tem um sexto sentido indicando que não era “um cego guiando outros cegos”, mas alguém possuidor de uma visão espiritual”.
Há um trabalho de Michelangelo, na igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma, que deixa todo mundo intrigado. Nele Moisés está representado com cornos (chifres). Sabemos pelo estudo dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que Moisés foi o arauto da Idade de Áries, o cordeiro. Eis porque Michelangelo demonstrando grande sabedoria pintou-o com cornos.
Por ser uma expressão do espírito, a Arte reflete um momento peculiar da sociedade. E a sociedade europeia passava por transformações. Os monarcas absolutistas tornaram-se poderosos e opulentos graças, principalmente, às riquezas das colônias do Novo Mundo.
Essa nova ordem de coisas, política e social, provocou a renovação do estilo renascentistas. Surgiu o barroco, estilo originário da Itália e cujo apogeu alcançou os séculos XVII e XVIII.
Embora inspirado na arquitetura antiga, o barroco era muito exuberante em suas formas. Caracterizava-se pela grandeza excessiva, artificialidade, ornamentação extravagante e ampla utilização: de recursos clássicos como a coluna, a cúpula, esculturas de cenas mitológicas, abundância de detalhes decorativos na superfície. A capela do Santo Sudário (Turim), a abadia de Alcobaça (Leiria, Portugal), várias igrejas da Bahia, Minas Gerais e Pernambuco são construções de estilo barroco.
A música, após a Idade Média, evoluiu admiravelmente. Para termos uma ideia dessa evolução, retrocedamos no tempo. Quando a Terra ainda se encontrava em formação, o ser humano valia-se do ritmo para expressar-se musicalmente. É interessante acrescentar que o ritmo está ligado à formação dos Corpos Denso e Vital.
A expressão musical foi se aprimorando a ponto de ao ritmo agregar-se a melodia. Com o advento do Cristo surgiu um terceiro elemento: a harmonia. Por volta do ano mil da nossa Era ela passou a aparecer com mais frequência, formando a tríade melodia, harmonia e ritmo. Até então a harmonia não era muito usada em composições musicais. As apresentações eram realizadas somente com voz humana ou com instrumentos, porém, tocados isoladamente.
Na Renascença ocorreu a redescoberta de técnica da harmonia, conhecida apenas pelos iniciados da Grécia antiga.
(Publicado na revista Serviço Rosacruz – 10/86)
Alerta aos Amigos Estudantes
No caminho da espiritualidade os Ensinamentos Rosacruzes são como um farol para os Estudantes, uma luz que ilumina os nossos passos, dando-lhes segurança, firmeza e coragem para enfrentar o mundo material em que nascemos.
Porém ao Iniciar esse caminho é fundamental que o Estudante atenda ao chamado bíblico: “transformar o ‘velho homem’ num ‘novo homem’”. O que representa essa transformação? Deixar de lado todos os hábitos mesquinhos, egoístas, ambiciosos, corrigir todos os grandes e pequenos defeitos de nossa personalidade e cultivar sentimentos de bondade, tolerância e uma permanente disposição de amar o próximo.
Enfim, aprender a cultivar a autoanálise e o domínio próprio, interrogando a própria consciência. Tudo nessa vida é transitório, e só um caráter íntegro, uma consciência tranquila e um coração cheio de amor são a verdadeira felicidade.
Sem essa transformação, sem este cultivo maravilhoso do amor, os mais profundos conhecimentos filosóficos perdem o valor essencial da objetividade.
O grande chamado que, pessoalmente, sentimos para o caminho Rosacruz foi precisamente esse objetivo na simples e profunda pergunta de Max Heindel: “de que servirá uma filosofia que não nos torne melhores homens e mulheres?”.
É de valor básico que nos tornemos melhores seres humanos, para bem assimilar e difundir fundamentalmente pelo exemplo de nossas vidas, os valiosos Ensinamentos Rosacruzes.
Não se iludam os Estudantes pensando que se aprofundando no estudo da filosofia, sem que ao mesmo tempo reformem seus sentimentos e hábitos negativos, alcancem aquela firmeza, segurança e coragem de pessoa iluminada pela luz dos Ensinamentos — esse farol de valor inestimável.
Sem isso, amigos, de pouco ou nada lhes servirão os melhores conhecimentos filosóficos, nas primeiras provas que a vida lhes traga. Ao contrário, com esse cultivo do bem e do amor alicerçados nos Ensinamentos Rosacruzes prova alguma os abaterá.
Cultivemos em nós a sinceridade, a humildade, a bondade e o desejo de que nossas vidas sejam vidas úteis no meio em que vivamos. Max Heindel nos disse também: “O único remédio para os males do mundo são AMOR e SIMPATIA”.
Ajudemos a melhorar os “males do mundo” melhorando a nós próprios, aprendendo a amar e a dar graças a DEUS pelo caminho encontrado.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/86)
O Mito de Fausto e a Lenda Maçônica
Na lição do mês passado terminamos a nossa consideração final do Mito de Fausto[1]; e analisando-a como um todo, notamos que transmite a mesma ideia da Lenda Maçônica. De um lado, temos Fausto e Lúcifer; do outro, Margarida e os sacerdotes. Margarida mostra a fé na igreja, mesmo nas horas mais sombrias. Essa fé é o seu conforto e a sua segurança e, definitivamente, ela a faz alcançar o objetivo do espírito. Ela alcança seu lar celestial pela fé. Seus pecados de omissão e comissão são devidos à ignorância; mas quando ela vê o poder maligno incorporado ao caráter de Lúcifer que lhe oferece a liberdade da prisão e da morte, então, ela se recusa a fugir em sua companhia; e assim se redime, o suficiente, para merecer um lugar no Reino celestial. Da mesma forma, uma ala da igreja, os Filhos de Seth, são dependentes, atualmente, do perdão dos pecados, ao invés dos seus próprios méritos. Estão procurando a salvação por meio da fé, já que seus poderes para demonstrar por obras são pequenos.
Em Lúcifer e Fausto encontramos a réplica dos Filhos de Caim, que são construtores, fortes e ativos no trabalho do mundo. O mesmo espírito que infundiu em Caim o desejo de fazer com que “duas folhas de erva crescessem onde antigamente crescia apenas uma” – o instinto criativo, independente e divino que fez com que os Filhos de Caim em todas as épocas liderassem o trabalho no mundo – também é visto em Fausto; e a prática gloriosa com a qual ele empregou nos poderes do mal, isto é, fazendo-as construir uma nova terra, livre, onde um povo feliz e livre pudesse morar em paz e alegria, dá-nos uma visão do que o futuro nos reserva.
Pelo nosso próprio esforço, empregando os poderes do mal para fazer o bem, nos libertaremos das limitações tanto das igrejas como do estado, que agora nos mantêm em servidão. Ainda que as convenções sociais e as leis terrenas sejam agora necessárias para nos impedir de violar os direitos dos outros, dia virá em que o espírito nos animará e nos purificará, da mesma maneira que o amor de Fausto por Helena purificou-o e incentivou-o a empregar as forças de Lúcifer da maneira correta. Quando sentirmos o desejo de trabalhar por nossa própria vontade, quando nos gratificarmos pelo serviço que prestamos aos outros, como estava Fausto quando, com sua visão agonizante, ele pode contemplar a terra que se elevava do mar, então não necessitaremos mais em encarar as características restritivas das leis e convenções, pois teremos nos elevados acima deles pelo cumprimento de todas as suas exigências. Somente dessa maneira poderemos nos tornar realmente livres. É muito fácil dizer aos outros o que deve ser feito ou não, mas é muito difícil impor-nos o cumprimento da obediência, ainda que, intelectualmente, possamos aceitar os ditames do convencionalismo. Como diz Goethe:
“De todo o poder que mantém o mundo agrilhoado,
O ser humano se libera quando o autocontrole há conquistado”.
O mito de Fausto nos diz que há um estado utópico reservado para nós, quando nós tenhamos trabalhado pela nossa salvação usando as forças titânicas internas para nos tornar realmente livres. Que todos nós possamos nos esforçar nas nossas ações diárias para acelerar a chegada desse dia.
(Por Max Heindel – livro: Cartas aos Estudantes – nr. 35)
[1] N.T.: Fausto (em alemão Faust) é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes. Está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. É considerado uma das grandes obras-primas da literatura alemã. A criação da obra ocupou toda a vida de Goethe, ainda que não de maneira contínua. A primeira versão foi composta em 1775, mas era apenas um esboço conhecido como Urfaust (Proto-Fausto). Outro esboço foi feito em 1791, intitulado Faust, ein Fragment (Fausto, um fragmento), e também não chegou a ser publicado. A versão definitiva só seria escrita e publicada por Goethe no ano de 1808, sob o título Faust, eine Tragödie (Fausto, uma tragédia). A problemática humana expressada no Fausto foi retomada a partir de 1826, quando ele começou a escrever uma segunda parte. Esta foi publicada postumamente sob o título de Faust. Der Tragödie zweiter Teil in fünf Akten (Fausto. Segunda parte da tragédia, em cinco atos) em 1832.
Porque Entrar pela “Porta Estreita”: mais fácil servir
Ao terminar o Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz, a maioria dos Estudantes sente um forte impulso para indagar: como se pode servir?
O serviço não é apenas um simples exercício da alma. É a responsabilidade assumida pela aquisição do conhecimento. Quando o neófito se acerca do portal do Templo do amor, sente uma transformação total em si mesmo: há confusão, alegria, otimismo, entusiasmo, jovialidade, saúde da alma e do corpo, fortaleza… até convencer-se plenamente de que é um ser humano novo. Do entusiasmo e confusão passa a uma serenidade profunda, uma majestosa dignidade que o faz compreender o valor do Eu Superior como ente espiritual.
Amigo, se você quer “Servir”, há mil maneiras diferentes de fazê-lo, como melhor apraz a seu coração. Em sua profissão, no trato diário com os familiares, na fábrica, no escritório ou na oficina, os preceitos Rosacruzes encontram campo para serem vividos e empregados. Eles constituem um “código de elevada moral”.
Se você quer servir, frequente o Grupo ou Centro Rosacruz mais próximo. Cada Centro tem a missão de orientar aqueles que pela primeira vez sentem o anseio de conhecer os ensinamentos transmitidos ao mundo por Max Heindel. Nele reúnem-se Estudantes da Filosofia, que espontaneamente assumiram a responsabilidade de difundir tão sagrados conhecimentos. Eles oferecem parte de seu tempo, datilografando, mimeografando, escrevendo e proferindo conferências sobre Astrologia, Bíblia e Filosofia, atendendo aqueles que chegam em busca da panaceia espiritual. Visitam os necessitados e os doentes. Traduzem folhetos. Reúnem-se em um dia da semana para orar em benefício dos enfermos do mundo todo, cumprindo assim os dizeres do nosso ritual: “Um só carvão não produz fogo, mas quando se juntam vários carvões…”.
A essa tarefa dedicam-se os mais esforçados, pois o Estudante desejoso de servir sabe que, para se tornar um auxiliar atuante, deve reunir em si mesmo as condições expressas nos ensinamentos Rosacruzes. Assim, logrará a realização de um serviço completo. A Rosacruz oferece só uma resposta ao Estudante: Quem penetrar no caminho esotérico deve manter sua conduta sob vigilância, vivendo conforme as Leis Divinas, como preceituam os Irmãos Maiores.
Todo Estudante Rosacruz deve conscientizar-se do seguinte: um membro sincero e ativo nunca ingere bebidas alcoólicas, não fuma, nem come carne, pois conhece a importância da vibração de sua nota-chave e de como pode transmiti-la, não só através da palavra e do pensamento, como também da ação. A vibração emanada de uma simples carta pode ser portadora de um oásis de paz para quem a recebe. Tal é o poder do ritmo e da vibração que alguém emite quando “vive a vida”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1976)
As dissonâncias que marcam o destino do nosso Planeta Terra e o nosso comportamento
Atualmente, entre o comportamento da pessoa espiritualmente consciente e o comportamento do ser humano mundano, existe uma brecha intransponível. A diferença entre a luz e as sombras torna-se cada dia maior.
Encontramos irmãos que querem fazer “algo” para o bem da comunidade e irmãos que visam somente seus propósitos e interesses e, com um impulso louco, querem aproveitar todos os prazeres e experimentar todas as sensações, não sabendo que o amanhã pode trazer-lhes consequências dolorosas e desastrosas.
Sentem-se impunes, pois não conhecem a lei de Deus, a Lei da Consequência.
Podemos perceber na arte e na música, atuais, um desequilíbrio emocional, um grande frenesi que está sendo alimentado e provocado pelos ritmos alucinantes e pelas drogas.
O destino da Terra está marcado por essas dissonâncias. A música e a arte são um espelho verdadeiro dos sentimentos de cada época. Observando a arte atual, não podemos admirar-nos pela intranquilidade e pelos desastres que também acontecem na natureza. Os incêndios que consomem as florestas, as inundações e os terremotos mostram uma mudança radical e destrutiva. São os resultados de uma exaltação doentia, de uma vibração dissonante, fanatismo, racismo, terrorismo, causando desequilíbrio na natureza. A humanidade sofre, se apavora e morre. Um grande grito de angústia parte do coração humano: Meu Deus, Onde Estás? Mas, este grito não é suficiente, não podemos esperar milagres sem merecê-los. Temos que achar o caminho, galgá-lo e, humildemente, procurar o equilíbrio que deve existir entre o coração e o entendimento.
É aqui que encontramos, atualmente, um outro tipo de desequilíbrio existente, que é o mental. Os grandes passos da ciência e tecnologia resultam num grande orgulho intelectual. Achamos que somos donos do mundo; nossas realizações não têm limites e podemos usar os frutos do nosso intelecto para fins egoístas, dominando e atormentando os outros à nossa vontade, não acreditando que haja uma força, um poder maior que pode dar um “basta” para toda esta superioridade humana. Há tropeços pelos quais precisamos passar para visualizar nossos erros e achar o caminho. Quando, um dia, a humanidade reconhecer suas limitações, descobrirá que bateu na porta errada e, vencida e quebrada, começará a procurar o verdadeiro caminho.
Se tiver humildade e amor, despindo a vaidade do intelecto, conscientizando-se da inutilidade de satisfações puramente emocionais, poderá achar o caminho superior. Os guias da humanidade estão ansiosos para estender a mão e para nos ajudar. Depende de nossa escolha, se aceitamos essa ajuda ou não. Somos livres tanto para nos elevarmos como para nos destruirmos.
A finalidade de nossa existência é encontrar e desenvolver o nosso Eu-Superior. Não é uma tarefa fácil, porque as forças das trevas toldam, fortemente, o caminho. Velhos hábitos nos tentam, sombras da nossa inferioridade cegam os nossos olhos. Devemos afirmar e seguir aquela voz silenciosa que está presente em todo ser humano e que é o resultado dos acertos, das boas ações durante muitos renascimentos, aquela voz que se pode tornar mais e mais nítida, se persistirmos no bem e ouvirmos seus conselhos.
A nossa fé em Deus não deve ser em vão. A nossa parte deve ser feita, não com sonhos nem com fantasias, mas com trabalho dedicado e com uma vontade inabalável para ajudar a construir um novo mundo, um mundo melhor e, “com todo o nosso poder possamos elevar as almas, a fim de que vivam em Harmonia e na Luz de uma Perfeita Liberdade”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/86)