Um Pouco de Culpa em Todos
Muitos dizem que deveríamos orar constantemente para melhorar o mundo; e assim o fazemos quando vamos aos templos e escutamos benéficos sermões, ouvimos missas, etc., mas o que ocorre na vida prática é que nos esquecemos do que ouvimos e do que aceitamos intimamente, ainda que algo assim, grandemente marcante, atinja nosso sentimento.
O pensamento criador que é essência divina, poderá melhorar o que lamentavelmente hoje ocorre com grande frequência, como às guerras que estamos vivendo, assim como as inumeráveis perturbações saciais.
Vamos esclarecer melhor:
Pode-se dizer sem vacilação alguma que é verdade que em nossos dias uma maioria extraordinária continua lutando para defender e acumular mais e mais bens e riquezas materiais, sem preocupar-se muito, às vezes nem um pouco, da Lei Divina. Crentes e ateus, todos tentam defender sua bolsa e seu dinheiro, enquanto milhares de seres padecem de fome ou sede espiritual, fome que poderia ser saciada com a doação do pouco daquilo que, os que muito têm, lhes sobra; ou sede que poderia ser aliviada pela fé no senhor. O egoísmo humano se assenhoreou tanto dos corações, que quando se medita nos fatos de nossa vida, compreende-se com facilidade que nem ainda os crentes, que dizem amar a Deus, não se deram conta dos conselhos do Divino Mestre Jesus Cristo, de suas máximas puras e perfeitas que poderiam salvar o mundo do caos que segue precipitando-se por sua loucura egoísta.
Sabemos que existe uma minoria que pode gozar dos benefícios espirituais que produz o amor, o serviço e a caridade, mas muitíssimos são os que se somam ao número da indiferença, esquecendo quase com naturalidade os ensinamentos de Jesus Cristo, porque nem todas as religiões seguem fiéis aos verdadeiros postulados, ensinando e praticando, essencialmente a verdade de Cristo; e religiões que tergiversaram os verdadeiros ensinamentos de Cristo, que de nada servirão seus alardes e cerimônias cheias de ostentação, se não se decidem a retificar sua conduta e fazer com que o ser humano recupere a fé, por seus bons conselhos e pelas boas ações. A falta de fé consciente trouxe à sociedade males gravíssimos, precipitando-a a uma das piores sendas: “A Guerra”.
A verdade é que todos temos um pouco de culpa deste momento difícil de hoje. Vivemos nos enganando uns aos outros, e esta cruel barbaridade nos situou neste ambiente que asfixia por todo lado. Nem políticos, nem religiões que não cumprem com os mandamentos podem salvar esta situação; não é um problema de uns poucos seres humanos de boa vontade, é uma solução que devem achá-la todos os homens e todas as mulheres. Precisa-se, pois, reconhecer a verdade que Jesus Cristo ensinou e que hoje está falsificada pelo egoísmo. Rompamos a cadeia de indiferença e voltemos ao caminho da espiritualidade, mas entremos decididos a trabalhar e a estudar.
O rosacrucianismo de Max Heindel é um excelente curso de verdades que revelam a existência eterna de nosso destino: se nós decidimos a estudar e a praticar seus ensinamentos, compreenderemos com facilidade a grande missão de Jesus Cristo e de outros enviados para libertar a humanidade de seus sofrimentos, e a nossa missão a cumprir.
Se somos bons e fiéis discípulos do Mestre, a resposta será, caminhar pela senda espiritual, onde levemos a Deus em nosso coração e em nossas obras. Se a maioria se interessa por buscar a Paz no mundo, a Paz que desejamos para a felicidade dos povos, na medida de nossas forças, devemos colaborar nesta conquista sublime da humanidade. E não duvidemos, pois, nosso esforço contribuirá com algo, para que nosso Senhor, o Cristo, volte a reinar, estabelecendo a ordem e “Paz na terra aos homens de boa vontade”; não são só palavras, mas sim essencialmente verdades.
Para criar aquela poderosa Fé tão necessária teria que aceitar a imortalidade do espírito e saber o que é a Vida que para defini-la Max Heindel anotou em seus livros: “Se se pergunta a um indivíduo de ciência qual é a origem da Vida, começará a falar de protoplasma, prótons ou qualquer outra coisa de natureza parecida, mas isto só concerne à forma, não importa quão insignificante, pequena ou simples seja essa forma: é uma forma, e do ponto de vista do ocultista, a pergunta está mal formulada, porque o espírito é, sempre será.
Disse Sir Edwin Arnald em seu formoso poema ‘A Canção Celestial’:
‘Nunca nasceu o espírito e nunca deixará de ser.
Nunca houve tempo em que ele não fosse, pois princípio e fim são só sonhos
O espírito permanece sempre sem nascer, nem morre, e a morte não pode afetá-lo absolutamente.
Assim como alguém tira a roupa já usada e pegando outra diz: ‘Colocarei essa hoje’, assim também o espírito deixa sua roupa de carne e vai em busca de outra nova’.
É a vida que constrói as formas e as emprega por um certo tempo para progredir com sua ajuda, e quando sua utilidade estiver terminada a vida se vai, então as formas que deixam ficam mortas. De maneira que a vida é e não tem origem nem fim. A morte? Pois ela é apenas um parêntese”.
(Publicado na revista serviço Rosacruz de jan.fev/87)
Nossa evolução está muito ligada à nossa capacidade de usar o Corpo Denso. Aliás, o objetivo da nossa permanência neste plano durante muitos renascimentos consiste em aprender tudo sobre este estado peculiar de matéria, dominando-a e utilizando-a em escala de crescente eficiência.
O Corpo Denso é o nosso veículo mais antigo e por essa razão o mais desenvolvido. Nos primórdios da nossa evolução sobre a Terra, a constituição dele era bem diferente da atual. As condições ambientais davam-lhe configuração e sensibilidade peculiar. À medida que as Épocas se sucediam, esse importante veículo se aperfeiçoava ganhando novas e mais dinâmicas faculdades.
Na Época Lemúrica, o Corpo Denso do ser humano conformava-se às altas temperaturas ambientes, pois muitos vulcões encontravam-se em plena atividade. Como a temperatura interna do corpo quase se igualava à do exterior, era-lhe quase impossível reter muita umidade e esse fato tornava muito débil e incipiente a circulação sanguínea. Como o sangue é o elemento através do qual o espírito controla seu corpo, é fácil deduzir quão precário era esse domínio.
Na Época Atlante, as coisas se modificaram. Como a atmosfera passou por um processo de resfriamento o ser humano conseguiu reter mais fluidos no corpo, a produzir mais sangue e através deste a exercer maior domínio sobre seus veículos.
Esse domínio, entretanto, era rudimentar, pois o espírito ainda não conseguia manobrá-lo com eficiência.
Para chegar às condições atuais, nosso veículo Denso teve de passar por muitas transformações. Nossa capacidade de autoconsciência no próprio corpo nunca foi tão eficiente como agora. Contudo, defronta-se o ser humano com o grande perigo que é agir e pensar como se fosse o próprio corpo, confundindo-se com ele e julgando-o a única realidade existente. Nossa missão, agora, é extrair o máximo de benefício possível desse instrumento tão eficaz, sublimando-o e devolvendo-o à sua origem: Deus.
Iniciamos nossa jornada neste Grande Dia de Manifestação pela construção do Corpo Denso. As experiências adquiridas através de sua utilização ensejam a formação da alma, também definida como o alimento do espírito. Se construímos o corpo e formamos a alma, a tríade se completará pela elaboração do Corpo-Alma, sem o qual não poderemos viver na próxima grande etapa da nossa evolução. Todo esforço despendido nessa tarefa não só nos beneficiará, como também ajudará a elevar a Onda de Vida humana.
(Publicada na revista Serviço Rosacruz – 01/02-87)
Sementes da Nova Era, ainda aqui na Era de Peixes
A Era (ou Idade) de Peixes apresenta algumas características marcantes. Uma delas é a predominância de uns poucos sobre a maioria. Tal faceta pode ser notada com facilidade se observarmos, principalmente, os campos da religião e da política.
Nos últimos séculos, todas as grandes decisões que marcaram a vida das nações foram tomadas por poucos indivíduos, por grupos hegemônicos, ou em função do que eles pensavam e lhes atendia os interesses.
Os povos se acomodaram a essa situação, permitindo que um indivíduo tomasse iniciativa por eles. Não se discutia o valor das decisões, quais os critérios que a norteavam e se o objetivo final era o bem coletivo. O líder decidiu e ponto final. Revogam-se as disposições em contrário.
Esse sistema de lideranças foi legítimo numa época em que era necessário promover o desenvolvimento coletivo. Mas hoje, quando a influência de Aquário se faz sentir com intensidade crescente, esse estado de coisas tende a mudar.
O crescimento da individualidade assume importância prioritária e isso já vem promovendo uma significativa mudança na ordem social. As lideranças estão desaparecendo gradativamente, dando lugar a formas mais democráticas de tomadas de decisões. Os direitos individuais devem ser respeitados e a liberdade de expressão defendida, como sendo embriões de uma sociedade mais consciente de seus direitos, deveres e ideais.
A medida em que o líder carismático se torna uma figura do passado, as nações e as instituições passam a ser dirigidas por pessoas responsáveis, a quem são delegados poderes para tal, mediante critérios justos e democráticos.
Desses dirigentes exige-se competência, probidade e, acima de tudo,um acendrado amor aos seus concidadãos. Todos os seus atos devem representar e expressar as aspirações e vontades coletivas. Só se justifica a tomada de grandes decisões após amplos e profundos debates entre a população e, na medida do possível, procurar-se-á sempre o consenso.
Esse respeito à liberdade individual, propugnado e praticado no seio da Fraternidade Rosacruz, constitui um prelúdio do que será a futura sociedade humana.
Como membros da Fraternidade Rosacruz e colaboradores na disseminação do evangelho da Era (ou Idade) de Aquário, façamos uma autocrítica, verificando se nossos hábitos, ideias e procedimentos ainda recebem a influência de Peixes. Caso isso ocorra empenhemo-nos num esforço consciente e perseverante, no sentido de transmutar essa maneira de ser, dando-lhe características aquarianas. Notaremos, então, como nossa colaboração será muito mais eficiente.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/86)
A Almejada Resposta: cultivar a parte espiritual e cuidar dos negócios desse mundo
A humanidade passa atualmente por momentos de grande tensão. Vivemos numa época em que a insegurança aparenta ser o denominador comum da vida. As manchetes dos jornais e as notícias veiculadas pelo rádio e televisão, dão conta de crises em quase todos os quadrantes da terra. Crises monetárias, políticas, religiosas, morais. Crises e mais crises. Crise é a palavra que define todas as anormalidades e inseguranças.
Mas afinal, o que acontece com o mundo? Em uma época de racionalismo, de progresso tecnológico assombroso, de definições mais amplas, por que o estranho paradoxo dos desencontros? Por que dubiedades e incertezas se o logismo fundamenta as análises e o estabelecimento de teorias? O ser humano já vai à Lua, em empreendimentos orçados em milhões de dólares, e por incrível que pareça seus empreendedores ainda alimentam dúvidas quanto aos benefícios que a humanidade possa auferir. Se a automatização promove o conforto, por outro lado, ameaça o ser humano, substituindo-o, escravizando-o e desempregando-o.
Vivemos uma realidade de aparentes contrastes ou paradoxos. Nos países mais desenvolvidos do globo, onde o racionalismo e a automatização ditam normas, localizam-se os problemas mais complexos. Não é estranho?
Algumas das chamadas superpotências ou sociedades superorganizadas, a despeito de seu alto nível social e cultural, enfrentam males crônicos traduzidos em dissolução da família, suicídio em grande escala, enfartes, uso indiscriminado de drogas alucinógenas, erotismo etc., caracterizando uma agressão ou fuga aos deveres impostos pelo meio social. Acontece, porém, que quase todas estas sociedades «modernas» foram plasmadas no materialismo em suas variadas formas (competição, pragmatismo, utilitarismo, etc.), impondo o seu próprio ritmo à vida humana. Dispondo dos recursos oferecidos por uma sociedade organizada e abastada, vivendo dentro de um padrão de vida invejável, que elemento pode induzir um ser humano a pôr termo à própria existência, a ser derrubado por um enfarte ou a consumir-se pelo uso de entorpecentes? As nações desenvolvidas estão empregando verbas fabulosas em estudos e pesquisas visando encontrar a resposta.
A Filosofia Rosacruz proporciona-nos a resposta completa, subentendendo causa e solução. Em um versículo dos Evangelhos o Cristo também responde a essa indagação: “EU NÃO SOU DESTE MUNDO, COMO VÓS DESTE MUNDO NÃO SOIS”. O ser humano é em realidade e essência, um ser divino, um Espírito, célula indestrutível do grande corpo de Deus. Não é meramente uma forma mortal que pulsa, respira e anda. Manifesta-se no plano da matéria mais densa através de um corpo formado de elementos químicos. Este corpo, por sua vez, é vitalizado e sensibilizado por uma vestidura mais refinada, composta de Éter. Seus desejos, emoções, sentimentos e incentivo para ação, têm origem em um corpo mais sutil ainda, denominado Corpo de Desejos pela Filosofia Rosacruz. E para coordenar essa cadeia de veículos, o Espírito utiliza a Mente.
Sendo o Espírito potencialmente divino, sua imortalidade é um fato indiscutível, porém, encontra-se temporariamente sujeito a renascer várias vezes no plano material, onde se exercita e adquire experiências pelo uso de seus veículos, extraindo-lhes uma alma. Essa alma é o seu, alimento primordial, promovendo o desabrochar de suas faculdades latentes, tornando-o cada vez mais senhor de seus poderes, ampliando-se a consciência. À medida que for aprendendo as lições pertinentes a cada veículo e ao mundo correspondente, renascerá em mundos sucessivamente superiores. Logo, todas circunstâncias próprias do mundo físico são transitórias, porém indispensáveis à nossa evolução. Atualmente ele constitui nossa grande escola, mas temos de almejar escolas superiores. Muitos não lhe dão o devido valor, e outros o superestimam. Algumas religiões orientais apresentam o plano da matéria como sendo degradante, preconizando dedicação completa ao mundo do Espírito. É um lamentável desperdício de oportunidades de progresso e tal falha deverá ser corrigida futuramente. Em contraposição, muitos ocidentais apagaram-se de tal modo ao materialismo, a ponto de identificarem-se com ele. Não reconhecem outra realidade a não ser a das formas que os rodeiam. É outro equívoco a exigir reparação. É mister encontrar-se um ponto equilibrante. Se é verdade que NEM SÓ DE PÃO VIVE O SER HUMANO, não é menos verdade QUE DEVEMOS DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR. Isto trocado em miúdos quer dizer que devemos cultivar as faculdades do Espírito (através da oração, da devoção, do estudo de filosofias espiritualistas, do aprimoramento do caráter, do serviço amoroso e desinteressado aos demais, etc.) e paralelamente cuidar dos negócios deste mundo (cumprindo nossos deveres sociais, familiares, profissionais, procurando ser atuantes em nosso meio ambiente, estimulando o progresso em todos os sentidos). Assim, equilibradamente, contribuiremos para tornar o mundo melhor, material e espiritualmente, divulgando pelo exemplo, a necessidade de procurar um ideal superior, utilizando os impactos do mundo físico como meios de crescimento anímico. Quando houver conscientização desse fato, o mundo deixará de ser um turbilhão de conflitos e então, caminharemos a passos largos rumo à Fraternidade Universal.
(de Gilberto A.V. Silos – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 11/71)
O Mandamento dos Ricos: a Deus ou a Mamon?
“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6:19-24).
Quando aprendermos a abandonar o mundo material e tudo a que ele está ligado, centralizando nosso interesse sobre assuntos espirituais, aprenderemos a lição com a qual todos os aspirantes espirituais têm que se defrontar no caminho esotérico do Cristianismo.
Sob o antigo regime a humanidade foi estimulada a adquirir posses materiais, sepultá-las na terra ou escondê-las nas paredes, o que foi praticado pelos seres humanos desde tempos remotos. Mas Cristo trouxe um ideal superior: os tesouros espirituais, as qualidades interiores de bondade, ajuda e inegoísmo, que não podem ser afetadas pela ferrugem nem por traças nem os ladrões podem roubá-las. Pessoas que tinham os interesses pelas terras, casas, joias e tudo que o dinheiro pode comprar tinham centralizado seus corações nessas coisas.
A vida ligou-se a esses falsos valores ou ilusões e o espírito mantinha-se ancorado em tudo que provém do ser inferior. Não existe nada errado nas posses materiais, contanto que sejam usadas para bons propósitos; desinteressadamente, e contanto que nossos corações não se centralizem neles. Na verdade, os olhos são a luz do corpo e a ‘porta da alma’. Se for sincero do ponto de vista espiritual, então o corpo se inunda de luz, interpenetrado pelos dois éteres superiores, despertando a vontade de servir desinteressadamente aos demais. Se os olhos são maus ou adoentados pela vida mal vivida, o corpo estará cheio de sombras ou doenças. Tais olhos indicam quem está cheio de cobiça e inveja, e a envoltura áurica estará cheia de pontos escuros de fermentações.
A aura de fato revela os interesses pelos bens materiais ou espirituais predominantes na vida da pessoa. Nas famílias unidas no Leste, aconteceu frequentemente, e sem dúvida ainda acontece, que um servo foi chamado para servir duas famílias. Isso usualmente era desagradável, porque surgiu amargura e ciúme entre as duas, devido à atenção e serviço do empregado. Poucos servidores eram capazes de amar por igual, preferindo uma à outra, dependendo do seu próprio interesse.
Da mesma maneira surge a dificuldade em servir a Deus e a Mamom, sendo os dois de natureza oposta. Quem se interessa em se envolver no mundo material, não tem tempo de conhecer ou servir a Deus. O aspirante espiritual que se esforça para servir a Deus pela vida que vive de acordo com suas leis, fica livre da tentação da matéria ou da sua natureza inferior. A boa qualidade de discriminação capacita-o a perceber que a Realidade é unicamente o Espírito.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 01/86 – SP)
Todos nós podemos e devemos decifrar a mensagem e resolver o mistério do Universo: eis um exemplo
Diz-se amiúde e com razão, por certo, que “o menino é o pai do homem” e sobre o mesmo princípio podemos dizer que o Filho do Homem é o Super-homem. Portanto, quando o Sol entrar, por precessão, no Signo celestial de Aquário, o aguador, virá uma nova fase da religião do Cordeiro exotericamente e o ideal que devemos perseguir está indicado no Signo oposto: Leão.
A Lua, habitação do regente autocrático da raça e o dador de leis, Jeová, está, exaltada em Touro, Signo do touro, e quando o Sol transitou, por precessão, por esse Signo, todas as religiões de raça, mesmo a fase mosaica da religião ária do Cordeiro, pediam uma vítima propiciatória para cada transgressão da lei.
Mas o Sol está exaltado em Áries e ao entrar nesse Signo, por precessão, o grande espirito Solar, Cristo, veio como um Sumo Sacerdote da Religião Ária, ab-rogou o sacrifício de outros ao oferecer-se a Si mesmo como um sacrifício perpétuo pelo pecado do mundo.
Observando o ideal maternal de Virgem durante a Era de Peixes e seguindo o exemplo de Cristo como um serviço de sacrifícios, a imaculada concepção converte-se numa experiência real para cada um de nós, e Cristo, o Filho do Homem (Aquário), nasce internamente.
Deste modo, gradualmente a fase terceira da religião Ária se manifestará e um novo ideal será encontrado no Leão de Judá (Leão). Valor e convicção, fortaleza de caráter e virtudes semelhantes farão do ser humano realmente o Rei da Criação, digno da confiança e do afeto dos reinos inferiores de vida, bem como do amor das divinas Hierarquias que sobre ele estão.
Assim, a mensagem mística da evolução do ser humano está marcada em caracteres de fogo no campo celestial, onde qualquer investigador pode ler.
E quando estudemos o propósito de Deus, revelado no Zodíaco, aprenderemos a nos conformarmos inteligentemente com Seus desígnios e deste modo abreviar o dia da emancipação de nosso limitado ambiente atual, para sermos perfeitamente livres como espíritos, sobrepondo-nos à lei do pecado e da morte, por meio de Cristo, o Senhor do Amor e da Vida.
Todos nós podemos e devemos decifrar a mensagem e resolver o mistério do Universo.
A entrada do Sol em Aquário, em que teremos mais estreita união com o Cristo, por uma forma elevada da religião do Cordeiro, está indicada, além do Zodíaco, no Evangelho de São Lucas (22:10-11), São Marcos (14:13-15) e São Mateus (26:18), pois o Cristo Solar é simbolizado em Astrologia pelo Sol, quer na evolução do ser humano, como das nações e do mundo. Aquário, às vezes, é representado por uma mulher derramando água de um cântaro; outras vezes por um menino e outras ainda, por um homem. O correto é de um rapaz, que simboliza o Cristo já crescido no ideal dentro de nós; a água que se derrama sob controle do cântaro, pelo rapaz, significa o equilíbrio das emoções. Será, pois, a época do Amor racional, inteligente, o equilíbrio entre o Coração e a Mente, preconizado pelos Rosacruzes.
A palavra chave de Aquário, como Signo Fixo, é: Estabilidade.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 01/64)
A Ansiosa Solicitude pela Vida
“Por isso vos digo: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber, nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Os mundanos é que procuram todas estas coisas. Contudo, vosso Pai Celeste sabe que necessitais de todas elas. Buscai, pois, e em primeiro lugar Seu reino e Sua justiça e todas as demais coisas vos serão dadas por acréscimo. Não vos inquietais, portanto, com o dia de amanhã”. (Mt 6:25-34).
Preocupação com o imediato, com os anos vindouros ou com as próprias condições no crepúsculo da existência.
Não importa. A maioria de nós experimenta essa ansiedade, essa insegurança, esse medo do futuro, em nossa trajetória pelo mundo.
Muitos impõem-se um sistema de economia ou austeridade que chega às raias da avareza, privando-se a si próprio e aos seus dependentes até das comodidades mais básicas, para não ficarem sujeitos a privações no futuro: este o pensamento, esta a intenção. Jamais nos passa pela cabeça nesses dias de ansiosa solicitude pela vida, que todo ser humano é um importantíssimo filho do zeloso Provedor Universal, que fornece permanentemente de tudo aos “armazéns cósmicos” e a esta “praça consumidora” terráquea com a mais infalível pontualidade. E não percebemos também pouco que se o cuidadoso e indefectível Provedor alimenta, veste e até adorna os quadrúpedes, as aves e flores dos campos, quanto mais a nós, por quem Seu próprio Filho sacrificou-se um dia e continua se sacrificando anualmente!
E foi Ele quem recomendou certa vez que nos mantivéssemos tranquilos quanto ao dia de amanhã. Como elevadíssimo Iniciado, sabia quão prejudiciais são o receio e a ansiedade à nossa saúde e ao nosso progresso; sabia que a cada momento de preocupação uma parcela de nossa saúde se esgota, um pouco do nosso tempo é perdido, parte da alegria de viver se desvanece e muito do nosso progresso espiritual – talvez também o material – estaciona; e sabia, finalmente, o quanto atraímos para nós aquilo que de bom desejamos ou o de que precisamos somente por confiar em Deus – ou em que Deus jamais deixa faltar nada àqueles que aos Seus cuidados se entregam.
“O justo não mendigará o pão”, registrou Salomão.
E o que significa ser justo? Muitos séculos depois do registro dessa Verdade, mas já no Sermão da Montanha, Cristo a esclarece esotericamente na exortação: “Buscai primeiramente o reino de Deus e Sua justiça e todas as demais coisas vos serão dadas por acréscimo”.
Aí está.
Aquele que procura ver além da matéria, que busca as coisas do espírito (“o reino de Deus”), procurando ao mesmo tempo conhecer as leis suprafísicas (“Sua justiça”) que regem a vida evolucionante e vivendo consoante elas, passa a ter – por força dessas mesmas leis tudo a seu favor, como se o Universo inteiro iniciasse uma tácita cooperação efetiva com ele.
O Iniciado de Tarso esclarece mais uma vez e com outras palavras: “Todas as coisas colaboram para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seus decretos” (leis). Ora, como amar ao próximo (a quem vemos) é o mesmo que amar a Deus (a quem não vemos); e como em linguagem esotérica “ser chamado” é o mesmo “que ser atraído” (considere-se a Lei de Atração do Semelhante), as palavras de São Paulo na Epístola aos Romanos (8:28) podem ser lidas assim: “Todas as circunstâncias favorecem àquele que ama ao seu semelhante e se harmoniza com as leis universais, de tal modo que nada lhe poderá faltar”. Isso não é uma promessa milagrosa, como se pensa há séculos. Não existe milagre. É muito, e muito mais. É a “mecânica” das leis universais em pleno funcionamento, atuante desde os primórdios dos mundos; leis vibrantes em cada átomo das matérias físicas e suprafísicas; sábias, justas, onipresentes e infalíveis. “Causa e Efeito”, “Dar e Receber”, “Atração do Semelhante”, entre outras. É pois mais que um aval dos céus: é uma CERTEZA!
Percebe aí o amigo leitor quanta confiança esse sopro de Verdade pode infundir no sincero “Siegfried” dos nossos dias – dias de contagiante medo, ansiedade, incertezas e carências materiais e espirituais – ou no ser humano que se volta para as coisas superiores do espírito em qualquer tempo? É de fato impressionante! Maravilhosamente impressionante!
A Sabedoria Ocidental ensina: “É lei da Natureza que nossa atitude confiante favorece os nossos propósitos quando desejamos alcançar alguma coisa”. O admirável porta-voz dessa Sabedoria, valendo-se do exemplo de sua própria vida quando lutava arduamente para fundar e manter a Fraternidade Rosacruz em Oceanside, escreveu algures: “Asseguro-lhe que falo por experiência própria quando advogo o viver pela fé, porque tenho trabalhado duramente e me mantido rigorosamente nesses labores, dia após dia. Apesar disso minha vida é um gozo contínuo nunca interrompido por pensamentos de aflição sobre necessidades materiais ou pela falta de dinheiro para continuar e terminar minha tarefa. E nos anos que transcorreram desde que comecei a viver pela fé, meus recursos se tornaram muito mais amplo do que naqueles dias em que costumava me preocupar”.
Aí está. Isso é FÉ, isso é VIVER. Max Heindel comprovava realmente na prática a Verdade registrada por antigos Iniciados no Livro de Habacuque, Capítulo 2, Versículo 4 e citada pelo Apóstolo na Epístola aos Romanos (1:17): “O justo viverá pela fé”.
Complemento dessa CONFIANÇA EM DEUS, o cultivo do AMOR AO PRÓXIMO ajuda-nos, sobremaneira, a afastar o medo, a ansiedade, ou a ansiosa solicitude pela vida. Em parte, porque a natureza desse Amor é de tal sublimidade que nos eleva a pararmos onde impossível é lembrarmos de nós mesmos. E em parte porque – já que amar o semelhante é o mesmo o que amar a Deus – esse Amor é perfeito e sabemos que “O Amor perfeito lança fora o temor”, como escreveu o evangelista.
Também ajuda bastante a afirmação diária (ao acordar de manhã e ao dormir à noite) de verdades como: “Eu e meu Pai somos UM”; “Tudo posso n’AqueIe que me fortalece” (Fp 4:13); “‘Se Deus é por mim, quem será contra mim?” (Rm 8:31) e “O Senhor é meu Pastor, não me faltará” (Sl 23:1), na convicção de que “O homem nada recebe que não venha do céu” (Jo 4:27). Ajuda principalmente nos “dias de nossas fraquezas”.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/88 – Fraternidade Rosacruz)
Entre a Ilusão e a Realidade
O progresso humano, desde a aurora da manifestação do espírito, desdobra-se em fases denominadas pela Filosofia Rosacruz de Períodos, Revoluções, Épocas e Idades. São etapas específicas na peregrinação do “ser real” em que determinadas e particulares condições implicam em experiências novas e transformações. Assim, a consciência gradualmente se expande, os veículos (corpos) são formados, desenvolvidos e, em um estágio superior, sensibilizados.
A necessidade de adaptar-se a novas situações, as decorrentes experiências, formam a alma, e conduzem o espírito da inconsciência à divina onisciência. Dessa forma, a vida literalmente é uma escola. Rica. Variada.
Uma nova Idade, embora constituindo uma espiral menor dentro das grandes espirais – os Períodos e as Épocas – traz sempre um novo ciclo de ideias e consequentemente uma gama de transformações. Como a natureza não abriga processos repentinos, as mudanças se operam lentamente e têm seu início ao apagar das luzes da Idade anterior. O estertor de um ciclo e a aurora de outro, marcam uma fase de transição, em que a mescla de ideias e valores, uns decaindo, outros nascendo, cria uma atmosfera conturbada. Isto ocorre atualmente.
Vivemos uma era de transição para a Idade Aquária. Entramos em sua órbita de influência, segundo a precessão dos equinócios, em meados do século passado. A conquista do ar e do éter – rádio, telefone, telégrafo, televisão, avião, viagens espaciais – marcam o desabrochar de novos tempos, sob o raio de originalidade e racionalidade de Urano.
Nem todos, porém, encontram-se preparados para as referidas transformações. A maioria permanece inconsciente do que verdadeiramente se passa ao seu redor. Daí esse clima de incerteza e insegurança.
Em meio a essa aparente confusão, só os mais amadurecidos espiritualmente encontram o seu foco, sentindo pisar em solo firme.
A moderna civilização, arraigadamente materialista e imediatista, já não oferece estabilidade ao ser humano, mormente a estabilidade emocional. A competição egoísta, a incompreensão do verdadeiro significado da vida e das mudanças nela ocorridas, geram neuroses. As pessoas buscam desesperadamente algo em que possam apoiar-se. Nem sempre o “apoio” encontrado é digno desse nome. Constituem, as mais das vezes, fugas. Simplesmente fugas. O “escapismo” acaba por atirar os seres humanos, mais cedo ou mais tarde, em um labirinto, de onde com muita dificuldade conseguem sair. Quando conseguem.
Nota-se, também, nos dias que correm, uma tendência à procura de segurança no “desconhecido”. Hoje, as editoras e livrarias, veem nas obras ocultistas, espíritas e orientalistas uma excelente perspectiva de lucro. Esta faixa de mercado livreiro alarga-se cada vez mais. Vivendo como vivemos, sob a comprometedora sombra do materialismo, é mais do que justo o anseio de cultivar o espiritualismo. Todavia, há espiritualismo e “espiritualismo”.
Muitos, movidos por boa-fé, deixam-se iludir, confundindo espiritualismo com psiquismo. Entregam-se à leitura afoita de toda e qualquer obra, praticam exercícios sem conhecer-lhes os fundamentos, frequentam várias Escolas Filosóficas ao mesmo tempo. Na realidade, deslumbra-os o psiquismo. Por este, entendemos a manifestação ou demonstração de faculdades, muitas vezes negativas, assim como a produção interesseira de fenômenos. Deve-se dizer, a bem da verdade, que esta espécie de “espiritualismo” é tão danosa à saúde física, mental e emocional – quando não à formação moral – de um indivíduo, quanto o materialismo crasso.
Nos tempos agitados em que vivemos é fácil alguém cair na cilada preparada pelos falsos “mestres” e “guias”.
Que ninguém se empolgue com a exibição de fenômenos supostamente sobrenaturais. Eles são parte da própria natureza, e não conferem a quem os produz a dignidade de MESTRE. Para ser um MESTRE ESPIRITUAL é necessário muito mais do que isto.
O espiritualismo divulgado pelas Escolas Filosóficas sérias, tais como a Fraternidade Rosacruz, constitui, antes de mais nada, uma orientação para o aperfeiçoamento do caráter. Não há interesse algum em demonstrações ou exterioridades. Explica-se a causa dos fenômenos psíquicos com intuito exclusivamente elucidativo.
Além disso, outro ponto merece ser enfatizado: toda Escola ou corrente espiritualista verdadeira deve divulgar um conjunto de ensinamentos cuja ação, essencialmente regeneradora, possa ser comprovada na prática.
Max Heindel afirmou que nenhum ensinamento terá valor real como lição de vida, se não promover uma transformação interior no ser humano. E essa mudança pode ser notada através de suas manifestações normais.
Em outras palavras: são os frutos que revelam o caráter do indivíduo.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – Fraternidade Rosacruz – fev. /76)
O Evangelho de São João: o que mais aclara o ponto central da involução para a evolução
O Cristianismo desempenha um papel único, incisivo e capital na história da humanidade. É de certa forma, o ponto central de retorno entre a involução e a evolução. Daí que sua luz seja tão resplandecente.
Em nenhuma parte, se encontra esta luz tão viva como no Evangelho de São João. E, em verdade, pode dizer-se que é nele tão somente que aparece com toda sua força.
No entanto, não é assim que a teologia contemporânea concebe este Evangelho.
Do ponto de vista histórico, ela o considera como inferior aos três Evangelhos sinóticos, e até há quem o suspeite de apócrifo. O mero fato de que sua redação tenha sido atribuída ao segundo século depois de Jesus Cristo, fez com que os teólogos e as escolas de crítica o considerassem uma obra de poesia mística e de filosofia alexandrina.
Em compensação, o Ocultismo considera o Evangelho de São João de modo muito diferente.
Durante a Idade Média existiu uma série de fraternidades que viram no Evangelho de São João o seu ideal e a fonte principal da verdade cristã. Essas fraternidades chamavam-se, os Irmãos de São João, os Albigenses, os Cátaros, osTemplários, os Rosacruzes. Todos eram ocultistas práticos e faziam deste Evangelho sua Bíblia. Pode admitir-se que as lendas do Santo Graal, de Parsifal e de Lohengrin tenham saído dessas fraternidades, como sendo a expressão das suas doutrinas secretas.
Todos esses irmãos de diversas Ordens consideravam-se os precursores de um cristianismo individual, do qual possuíam o segredo, e cujo pleno desenvolvimento e florescimento estavam reservados ao futuro. E este segredo só era encontrado no Evangelho de São João.
Encontravam ali uma verdade eterna, aplicável a todo os tempos, uma verdade que regenerava a Alma totalmente, desde que fosse vivida nas profundidades do próprio ser. Não se lia, então, o Evangelho de São João como se fosse um escrito literário, mas como servindo de instrumento místico. A fim de compreendermos aquela verdade eterna, teremos que nos abstrair momentaneamente do seu valor histórico.
Os primeiros quatorze versículos deste Evangelho, representavam para os Rosacruzes, objeto de uma meditação quotidiana e de um exercício espiritual.
Atribuía-lhes um poder mágico que realmente tem, para os ocultistas. Eis aqui o efeito que produzem, pela repetição constante, sem se cansar: feita sempre à mesma hora e todos os dias, se obtém a visão de todos os acontecimentos que conta o Evangelho podendo serem vividos interiormente.
É assim que, para os Rosacruzes, a Vida de Cristo significava o Cristo ressuscitando do fundo de cada Alma. Ademais, criam, naturalmente na existência real e histórica de Cristo, porque, conhecer o Cristo interior, significa reconhecer igualmente, o Cristo exterior.
Um espírito materialista poderia dizer atualmente: O fato de que os Rosacruzes tenham tido essas visões, prova porventura, a existência real de Cristo? A isso responderia o ocultista: – Se não existisse o olho para ver o Sol este não existiria, mas se não houvesse o Sol no céu, tão pouco poderia existir o olho para vê-lo, posto que foi o Sol que construiu o olho no decurso dos tempos para que pudesse perceber a luz. Similarmente, o Rosacruz diria: – o Evangelho de São João desperta os sentidos internos, porém, se não existisse um Cristo vivente, seria impossível fazê-lo viver dentro de si mesmo.
A Obra de Jesus Cristo não pode ser compreendida em sua imensa profundidade, a não ser estabelecendo as diferenças entre os antigos mistérios e O Mistério Cristão.
Os mistérios antigos celebravam-se em Templos-escolas. Os Iniciados, pessoas que haviam despertado, tinham aprendido, igualmente, a obrar sobre o seu corpo elétrico e, portanto, eram “duas vezes nascidos”, porque sabiam ver a verdade de dois modos: diretamente pelo sono e pela visão astral, e indiretamente, pela visão sensível e lógica. A Iniciação pela qual tinham que passar se chamava: Vida, Morte e Ressureição. O Discípulo passava três dias no túmulo, em um sarcófago, dentro do Templo; seu espírito ficava liberto do corpo, porém, ao terceiro dia, respondendo à voz do Hierofante, seu espírito voltava para o corpo, retornando dos confins do Cosmos donde conhecera a Vida Universal.
E assim, transformado, era “duas vezes nascido”.
Os maiores autores gregos falaram com entusiasmo e sagrado respeito destes mistérios.
Platão chegara a afirmar que somente o Iniciado merecia o qualificativo de “homem”. Mas, esta Iniciação encontrou em Cristo, o seu verdadeiro coroamento. O Cristo é a Iniciação condensada na vida suprassensível, assim como o gelo é água solidificada. O que se via nos mistérios antigos se realizava historicamente, em Cristo, no mundo físico. A morte dos Iniciados não era mais que uma morte parcial no Mundo Etérico. A morte de Cristo foi uma morte completa no Mundo Físico.
Pode considerar-se a ressurreição de Lázaro como um momento de transição, com um passo da Iniciação antiga para a Iniciação Cristã.
No Evangelho de São João, o próprio João só aparece depois de se mencionar a morte de Lázaro.
“O Discípulo que Jesus amava”, era, também, o maior dentre todos os Iniciados. Foi aquele que passou pela morte e a ressurreição, e que ressuscitou ante a voz do próprio Cristo.
João é o Lázaro “saído” do túmulo depois de sua Iniciação. Já São João vivera a morte de Cristo”. Tal é a mística via que se oculta nas profundidades do Cristianismo.
As Bodas de Canaã, cuja descrição se lê igualmente neste Evangelho, encerram um dos mais profundos mistérios da história espiritual da humanidade. Referem-se às seguintes palavras de Hermes: “Oque está acima é igual ao que está abaixo”. Nas Bodas de Canaã, a água se transformava em vinho. A este fato dá-se um sentido simbólico e universal, que é o seguinte: no culto religioso o sacrifício da água era substituído, por algum tempo, pelo sacrifício do vinho.
Houve um tempo, na história da humanidade, em que não se conhecia o vinho.
Só nos tempos “védicos” conheciam-no. Pois bem, enquanto o homem não bebera líquido alcóolicos, a ideia das existências precedentes e da pluralidade das vidas, era uma crença universal, da qual ninguém duvidava.
Desde que a humanidade começou a beber vinho, a ideia da reencarnação foi-se obscurecendo rapidamente, acabando por desaparecer de todo da consciência popular. E tão somente os Iniciados conservaram-na, porque se abstinham de beber vinho.
O álcool exerce sobre o organismo uma ação particular, especialmente sobre o Corpo Etérico, onde se elabora a memória, O álcool veda esta memória, obscurecendo-a em suas profundidades íntimas. O vinho faz procurar o esquecimento segundo se diz, porém, não é somente um esquecimento superficial e momentâneo, senão um esquecimento profundo, duradouro; um obscurecimento verdadeiro da forçada memória no Corpo Etérico. Por este motivo, quando os homens começaram a beber vinho, foram perdendo pouco a pouco, o sentimento espontâneo da reencarnação ou renascimento.
A crença no renascimento e na lei do Destino Maduro, tinha uma influência poderosa, não só sobre os indivíduos, como sobre o seu sentimento social. Esta crença fazia-lhes aceitar a desigualdade das condições humanas e sociais. Quando o infeliz obreiro trabalhava nas Pirâmides do Egito, quando o hindu da última casta esculpia os templos gigantescos no coração das montanhas, dizia-se que outra existência o recompensaria pelo trabalho suportado.
Que seu amo já havia passado por provas similares, se era bom, ou que passaria mais tarde por outras mais penosas, se era injusto e mau.
Ao aproximar-se o Cristianismo, a humanidade tinha que atravessar uma época de concentração sobre a obra terrestre. Era-lhe necessário trabalhar para o melhoramento da vida, pelo desenvolvimento do intelecto, do conhecimento racional e científico da Natureza. A consciência da reencarnação devia, pois, perder-se durante dois mil anos, e o que se empregou para obter um tal objetivo foi o vinho.
Tal é a origem do culto de Baco, deus do Vinho e da embriaguez (forma popular do Dionísio dos Antigos Mistérios que, entretanto, possui outro sentido). Tal é, também, o sentido simbólico das Bodas de Canaã. A água servia para os antigos sacrifícios, e o vinho para os novos.
As palavras de Cristo: “Felizes aqueles que não viram e que, entretanto, acreditaram”, se aplicam à nova era em que o homem entregue por completo à sua obra terrestre, não tinha a lembrança das suas vidas anteriores, nem a visão direta do Mundo Divino.
O Cristo nos deixou um testamento na cena do Monte Tabor, naTransfiguração que teve lugar diante de Pedro, Tiago e João. Os discípulos viram-no entre Elias e Moisés. Elias representava o CAMINHO DA VERDADE; Moisés a VERDADE mesma, e o Cristo a VIDA que resume ambas. Por isto só ELE podia dizer: “EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA”.
Assim, tudo se resume e se concentra, tudo se aclara e se intensifica, tudo se transfigura em Cristo, o Evangelho de São João remonta o passado da Alma Humana, até sua mesma fonte, e prevê seu futuro até sua confluência com Deus, porque o Cristianismo não é somente uma força do passado, mas também, uma força do futuro.
Com os Rosacruzes, o novo ocultismo ensina a buscar o Cristo Interior em cada homem, e o Cristo futuro em toda a Humanidade.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Críticas ao Cristianismo Popular, como se já estivessem acima dos seus ensinamentos Cristãos
Em uma de suas cartas aos estudantes, Max Heindel lamenta profundamente o fato de muitas pessoas criticarem o cristianismo popular, alegando lhe faltar uma concepção mais racional do universo. Hoje em dia o panorama não deixa de ser outro. Até mesmo alguns estudantes de ocultismo referem-se desdenhosamente às seitas cristãs. Revelam, dessa forma, uma ignorância sem tamanho, evidenciando desconhecer os princípios mais elementares que regem a evolução.
Os Períodos de Saturno, Solar, Lunar e Terrestre se constituíram em degraus no progresso do espírito. As Idades, Épocas e Revoluções, com suas características, são, por assim dizer, degraus menores ou sub-degraus.
Cada uma dessas fases encerra condições específicas, diferentes, às quais o ser evoluinte deve adaptar-se, haurindo as experiências necessárias ao seu desenvolvimento global. Contudo, nem todos os espíritos adaptam-se facilmente às novas condições. Alguns atrasam-se em relação aos demais.
Outros chegam quase a perder contato com sua própria onda de vida. Nem todos se encontram no mesmo estágio evolutivo. Até meados da Época Atlante, o ser humano ainda não se encontrava individualizado, isto é, não tinha consciência de si mesmo como um indivíduo, um ser diferente dos outros.
No entanto, já se tornava patente um desnível evolutivo. A onda de vida humana dividia-se em pioneiros, comuns e atrasados.
Face a tudo isso, é lógico supor-se que em nossos dias, com a individualização maciça dos seres humanos, surgiria uma multivariedade de caracteres; maneiras de sentir, agir e pensar diferentes; tipos físicos distintos, etc.
Para os educadores e pedagogos, constitui árdua tarefa, cercada de imensa responsabilidade, orientar e transmitir conhecimentos a um grupo heterogêneo de crianças. Atualmente, em nossas escolas, elas são classificadas e recebem ensinamentos conforme o seu Q. l. (Quociente de lnteligência). Porém, não é somente este fator o único a ser considerado na formação de homogêneas classes escolares. Há os fatores etários, idiossincrásicos, etc. Cada aluno deve receber o conhecimento que é capaz de assimilar. Nada mais.
As religiões também são escolas. Orientam. Propõem normas de vida.
Prescrevem hábitos. Preservam padrões éticos. Visam a manter o equilíbrio na sociedade e na família.
E como exercem sua influência sobre os indivíduos? Algumas atemorizando-os com a ideia de céu ou inferno.
Outras, mais racionais, pregam a existência de Deus em espírito e verdade. O Cristianismo Esotérico, a religião do futuro, procura despertar a consciência da divindade interna, do Cristo em formação no âmago de cada um.
Tudo isso tem lógica. Não se pode ministrar ensinamentos espirituais muito elevados a quem não está suficientemente amadurecido para compreendê-los e aplicá-los em sua vida prática. Seria o mesmo que atirar pérolas aos porcos. Quem não tem maturidade interna deve ser orientado de outra maneira. Para conter-lhe os excessos, às vezes só mesmo o temor.
É um recurso válido para que se abstenha de praticar o mal. Gradativamente evoluirá, até compreender sua responsabilidade.
São muitas as seitas cristãs populares. Cada uma com sua denominação própria e certas peculiaridades, representa um degrau apropriado a alguns seres que, não poderiam, pelo menos por enquanto, receber outra orientação mais eficiente e adequada ao seu adiantamento. A medida que despertam para mais amplas verdades, vão procurando escolas mais avançadas.
Expressar-se, portanto, com desdém em relação a toda e qualquer religião, constitui não só uma falha de caráter, mas uma prova de ignorância.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)