Os quatro Evangelhos, que são fórmulas de Iniciação, começam com a narração da Concepção Imaculada e terminam com a Crucificação – ambas, ideais maravilhosos que alcançaremos algum dia, porque cada um de nós é um Cristo em formação, e tem que passar pelo nascimento e morte místicos, tal como se descreve nos Evangelhos. Por meio do conhecimento podemos apressar a chegada desse dia.
O maior drama já representado neste nosso velho Planeta teve lugar há, aproximadamente, dois mil anos. As rodas do destino haviam estado muito ativas durante séculos, reunindo todos os Egos renascidos aqui, que deveriam participar desse drama e cujas vidas serviriam de canais para essa magna realização. Antes dessa época Jeová tinha nosso Planeta a seu cargo e o dirigia de fora. Seu poder o mantinha na órbita e Ele era então o Deus Supremo. Tudo isso foi necessário para o nosso desenvolvimento naquele momento; no entanto, isso produziu a separação, e fomentou o egoísmo porque nos deu Leis que nos mantiveram refreada. Mas, havia chegado o momento na nossa evolução em que era necessário algo mais que a obediência às Leis. Havíamos alcançado a etapa de desenvolvimento em que poderíamos responder ao amor, alentado pelos impulsos espirituais recebidos diretamente do Sol, em lugar de recebê-los indiretamente de Jeová, refletidos da Lua, que é parte do Corpo Denso de Jeová. Para conseguir essa mudança, era necessário trabalhar com a Terra, de dentro, e temos assim o sublime Mistério do Gólgota que deu à Terra seu Redentor, o Cristo.
Nasceu um menino em Belém, e a vida dele afetou toda a vida sobre a Terra, bem como a própria Terra. A fim de prover um corpo de pureza superlativa que pudesse ser usado pelo grande Iniciado Jesus, e mais tarde, durante três anos, por um raio do Cristo Cósmico, foi escolhida a flor da Humanidade para ser os pais de Jesus, e esse grande privilégio recaiu sobre Maria e José – ambos elevados Iniciados – tal como narram os Evangelhos.
Assim, o belo personagem que conhecemos como Maria de Belém era um alto Iniciado. Durante muitas vidas havia renascido em corpos masculinos, positivos, porquanto os Iniciados geralmente escolhem o sexo masculino. Por que se lhes permite escolher o sexo? Porque a essa altura espiritual seu Corpo Vital já se tornou positivo, e esse, unido a um Corpo Denso positivo lhes proporciona um instrumento de máxima eficiência. Mas, às vezes, as exigências do caso exigem um Corpo Denso feminino para proporcionar um veículo do tipo mais elevado, que possa alojar um Ego de grau superlativo de desenvolvimento. Nesses casos, o Iniciado pode escolher um Corpo Denso feminino e passar novamente pelas experiências da maternidade, depois de havê-las dispensado em suas últimas vidas anteriores. Tal foi o caso de Maria de Belém.
José era também um alto Iniciado. José foi chamado de “carpinteiro”, mas isso não significava que ele fosse um “trabalhador de madeiras”, e sim um construtor num sentido mais elevado. Deus é o Grande Arquiteto do Universo e os Iniciados são “arche-tektons” — construtores na essência primordial em sua benéfica obra em prol da Humanidade. Há muitos construtores (tektons) de diferentes graus de poder espiritual, todos eles empenhados no trabalho de construir “o templo da alma”. José não era uma exceção, e quando lemos na Bíblia que Jesus era um “carpinteiro” e “filho de um carpinteiro”, devemos entender que ambos eram construtores nas ramas cósmicas. Nessa vida José se consagrou inteiramente à trilha do ocultismo, e quando chegou o momento para que se encarnasse o maior de todos os Mestres – Cristo –, ele foi escolhido para proporcionar a semente fertilizante do Corpo Denso para ser utilizado por Cristo.
Foi providenciado, desse modo, um Corpo Denso tão maravilhoso como jamais se viu na Terra, antes e nem depois. Era o tipo mais puro e livre de paixão, de acordo com os Ensinamentos Rosacruzes, e com as investigações na Memória da Natureza, pois essa era a condição de Maria e José quando foi concebido o Corpo Denso formado em volta do Átomo-semente do Corpo Denso de Jesus. O grande Espírito Jesus veio à vida sabendo que era sua missão preparar seu Corpo Denso (e, portanto, o Corpo Vital, já que esse é cópia fidedigna daquele) da maneira mais pura possível. Deveria lhe pertencer somente por trinta anos, findos os quais deveria ser entregue a Cristo. Já se disse que Maria e José tiveram mais “filhos”, devido ao fato de que os Evangelhos dizem que “os irmãos de Jesus estavam presentes”. Mas, quando examinamos a palavra grega que foi traduzida como “irmãos”, verificamos que ela significa parentes ou primos.
A Imaculada Concepção, como muitos outros mistérios sublimes, foi arrastada até a baixeza da materialidade. Quando o ato gerador é efetuado de forma brutal, corrompido pelo desejo e pela paixão, degrada o ser humano ao nível do animal. Quando, pelo contrário, os pais em perspectiva se preparam, por meio da oração e de aspirações elevadas, para o ato da fecundação como um Sacramento (sacr significa “portador do germe”, assim: um sacr-amento nesse caso abre o caminho para transmissão de um Átomo-semente físico do pai para a mãe) e não para satisfação própria, a concepção é então Imaculada. A virgindade física não é o que importa como uma virtude, já que todos são virgens quando nascem; é a pureza e a castidade da alma o que faz a virgem pura no pai ou na mãe; uma pureza que levará seu possuidor ao Sacramento do matrimônio sem mancha de paixão, e que permitirá à mãe levar seu filho em suas entranhas com amor puro, desprovido de sexo. Ter nascido de uma Virgem pressupõe uma vida anterior espiritualizada para a pessoa assim nascida, e nós devemos cultivar caracteres tão puros e incorruptíveis que nos tornem merecedores de nascer em Corpos Densos concebidos imaculadamente.
De acordo com os Ensinamentos Rosacruzes é muito importante distinguir claramente entre Jesus e Cristo. Quando se busca na Memória da Natureza, verificamos que o Ego nascido no Corpo de Jesus era muito avançado e puro; era o mesmo Ego que, em uma vida anterior, tinha renascido como Rei Salomão. Essa grande alma havia alcançado uma espiritualidade sublime através de muitas vidas de santidade e serviço abnegado. Mas, quanto ao caso de Cristo, não há testemunhas que indiquem uma encarnação anterior, pois Ele não pertence à nossa Onda de Vida.
É um fato contestável que ninguém pode construir um determinado corpo, a menos que o houvesse aprendido por meio da evolução. Grande e poderoso como é o Espírito Solar Cósmico de Cristo, Ele não pode construir um Corpo Denso na matriz da mãe física, nem mesmo usando os métodos mágicos dos Adeptos, visto que Ele nunca havia tido a experiência no Mundo Celeste onde se constroem os arquétipos dos Corpos Densos, tampouco havia tido Ele a experiência de construir Corpos Densos tal como nós tivemos por muitos anos. Ele é adiantado em duas Ondas de Vida a mais que nós. Ele é o Iniciado mais elevado dos Arcanjos (que alcançou o estágio “humanidade” no Período Solar), e cuja evolução na matéria só alcançava o Mundo do Desejo – a matéria mais densa que tal Onda de Vida alcançou nesse Esquema de Evolução. Por isso Ele não podia construir um Corpo de densidade maior que o da matéria do Mundo do Desejo. Ou seja, o Corpo de Desejos é o Corpo mais denso que ele sabe e poderia construir.
Os Evangelhos nos relatam muito pouco sobre a infância de Jesus depois de sua visita aos sábios do Templo. Mas, a tradição oculta nos diz que Ele passou os primeiros dias de sua infância com pleno conhecimento da missão que devia cumprir nesta vida. Foi colocado aos cuidados dos Essênios, nas margens do Mar Morto. Os Essênios eram uma comunidade de caráter muito devocional. Entre eles o menino Jesus teve seus primeiros exercícios. Mais tarde foi à Pérsia. A escola dos Essênios era um grande centro de sabedoria, e na grande biblioteca dela Jesus absorveu um imenso conhecimento oculto, reavivando o que havia aprendido em vidas anteriores. Aos trinta anos Jesus havia purificado seu Corpo Denso de tal forma que ele pôde ser ocupado pelo grande Ser a que chamamos Cristo.
Cristo é a mais alta revelação da verdade que já recebemos de Deus. Ele é o Grande Revelador. Ele nos disse: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6). Quando observamos as ocorrências de Seus três anos de Ministério na Terra, sabemos que além de serem meios de adiantamento na vida de um ser cósmico, representam também o Caminho de cada um de nós quando despertamos na busca pela verdade, estando renascido aqui. Representam, além disso, o caminho que conduz à libertação no Gólgota.
Se alguém tivesse vivido num Planeta distante e, de lá, examinado clarividentemente nossa Terra, teria observado uma mudança cada vez para pior nos Mundo do Desejo e no Mundo do Pensamento dela. Esses Mundos vinham se saturando cada vez mais de vibrações inferiores, baixas, más e sombrias. Nós, em nossa infância cósmica, não conseguíamos dominar nossos impulsos, porque o domínio do Corpo de Desejos predominava em cada um de nós e, portanto, ao morrer, éramos obrigados a permanecer no Purgatório a maior parte do tempo entre um e outro renascimento. O progresso era muito lento porque a vida no Segundo Céu, na Região do Pensamento Concreto, onde aprendemos o trabalho de criar, era quase estéril. Se Cristo não tivesse vindo à Terra como Redentor e Salvador, teríamos cristalizado o Planeta e a nós mesmos, de maneira semelhante aos nossos irmãos que estão no cone sombrio da Lua, que se atrasaram da nossa Onda de Vida e vão a caminho do caos, onde terão que esperar um novo Dia de Manifestação, a fim de que possam começar novamente em um novo Esquema de Evolução. O Clarividente, que pode ler na Memória da Natureza, vê que para escapar a essa calamidade foi exercida a influência benéfica de Cristo, de fora da Terra, muito tempo antes de Seu Advento, ou seja: da sua primeira vinda. Ele estava se preparando para atuar como o Espírito Planetário interno da nossa Terra e, assim, elevar as vibrações dela para purificar a toda atmosfera mental, emocional e moral.
Cristo se apoderou dos Corpos Denso e Vital de Jesus por ocasião do Batismo, e Jesus então se retirou deles. Entregou-os ao Espírito de Cristo para que Ele os usasse como ponte entre Deus e nós. Por outras palavras, Cristo possuía assim os doze veículos necessários para funcionar nos sete Mundos do nosso Sistema Solar (desde um Corpo formado de material da Região Química do Mundo Físico, um Corpo Denso, até um Corpo formado de material do Mundo de Deus). S. Paulo nos esclarece a respeito desse Ser elevadíssimo, dizendo-nos: “Não há outro mediador entre Deus e o ser humano, exceto Cristo Jesus” (ITim 2:5); só Ele conhece nossas debilidades e nossos sofrimentos e pode levar nossas orações ao Trono do Pai; só o Cristo compreende completa e perfeitamente isso.
A tradição oculta diz que depois do Batismo, Cristo Jesus foi em busca dos Essênios. Ele, como entidade cósmica, não conhecia muita coisa a respeito de um Corpo Denso. Esse veículo era uma prisão para Seu grande e glorioso Espírito, e teria sido destruído por suas poderosas vibrações, se Ele não tivesse se retirado ocasionalmente dele para deixar os átomos livres de sua acelerada frequência vibratória. A Bíblia fala de seus quarenta dias e quarenta noites de retiro no deserto para ser tentado por Satanás e, também, para que as vibrações do Seu Corpo Denso e Corpo Vital, recém adquiridos, fossem ajustados por aqueles que sabiam fazê-lo (os Essênios). Em várias passagens dos Evangelhos lemos que durante todos os seus três anos de Ministério Ele se separava de Seus Discípulos a intervalos periódicos, com esse propósito.
O verdadeiro Ministério de Cristo começou depois da Transfiguração. A Transfiguração é um processo alquímico por meio do qual o Corpo Denso, que é formado por processos químico-biológicos, é convertido em um diamante vivo, tal como se menciona no Livro da Revelação, o Apocalipse de S João. No atual estado de nossa evolução, o Corpo Denso obscurece eficazmente o resplendor do Espírito morador interno, que somos realmente nós, o Ego. Mas, podemos derivar esperança ainda da ciência química, que não há nada na Terra de tão raro e precioso como o rádio, o extrato luminoso do denso mineral negro chamado pechurana, ou seja, o óxido natural de urânio. Tampouco nada há de mais raro que o precioso extrato do Corpo Denso; o radiante princípio Crístico. Foram os veículos de Jesus os que se transfiguraram provisoriamente pelo Espírito morador interno, Cristo. Mas, embora reconhecendo o enorme poder de Cristo para efetuar a Transfiguração, é evidente que Jesus forçosamente deve ter sido um personagem sublime, único entre os seres humanos, pois a Transfiguração como pode se ver na Memória da Natureza, revela seu Corpo Denso de uma cor branca deslumbrante, o que demonstra sua dependência do Pai, o Espírito Universal.
Podemos ver um dos incidentes mais significativos do Ministério de Cristo na Última Ceia. Ela teve um significado mais profundo do que a de uma última refeição com seus amados Discípulos. Ele sabia que entregando Sua vida no Calvário ganharia a entrada ao centro da Terra e poderia, assim, difundir Sua própria vida em tudo o que vive nela. O pão que comemos cada dia é Seu próprio corpo. Se meditarmos sobre essa vida que se derrama anualmente a partir do Equinócio de Março, nos daremos conta de que se trata de algo de gigantesco e imponente; uma torrente de luz que transforma num instante uma Terra morta de frio em uma vida rejuvenescida. A vida que se difunde na germinação de milhões e milhões de plantas, é a vida do Espírito Planetário da Terra (Cristo). Dele vêm, ambos, o trigo e a uva. Eles são o corpo e o sangue do Espírito aprisionado da Terra, dado a nós para seu sustento durante a presente fase da evolução. Devemos comer esses alimentos dignamente, do contrário seremos comidos debaixo da dor, da enfermidade ou mesmo da morte.
Quando Cristo se ajoelhou no Getsemani, com a dor do mundo sobre as espáduas, este mundo que Ele veio salvar da destruição, produzida pela cristalização, e que O desprezou, foi para que Ele compreendesse a nossa agonia e aflição, quando tudo havia culminado naquilo que o Getsemani representa. Se Ele não tivesse provado desse cálice, não teria compreendido a dor e a solidão das almas que morrem diante de sua Crucificação. Se Ele nos tivesse falhado, como falhamos nós tão frequentemente, não teria havido o amanhã da Ressurreição. O nosso destino para este ciclo estava vinculado ao Seu.
Na Crucificação vemos que o Mistério do Gólgota não foi um acontecimento humano, mas cósmico. Cristo era um ser Único, cósmico até esta época, e que através do mistério do Gólgota se vinculou à evolução da Terra. Era um Ser que em Seu próprio Reino nunca havia conhecido a morte. Desceu à Terra para dar um impulso espiritual à vida em evolução, e para salvar tantos atrasados quanto Lhe fosse possível, elevando as vibrações do Corpo de Desejos da Terra. Desde então Ele vive nas almas humanas. Por seu grande sacrifício, adiantou-se para uma etapa superior de Sua própria evolução. Quando no Calvário, o sangue fluiu das feridas em Suas mãos, dos seus pés e do flanco do Corpo Denso, o grande Ser Cristo saiu do Corpo Denso de Jesus, difundiu-se por toda a Terra e se converteu no Espírito Planetário do Planeta. A libertação do Espírito Solar Cristo do Corpo Denso de Jesus produziu uma grande luz deslumbrante que, não obstante, produziu uma sensação de escuridão, da mesma forma, quando alguém fixa os olhos numa luz brilhante e entra rapidamente num quarto escuro tudo lhe parece escuro. A sensação de escuridão se deveu à libertação do glorioso Espírito de Cristo que cobriu a Terra, mas tão logo a Terra absorveu Suas vibrações, tudo voltou às suas condições normais. As vibrações, assim iniciadas, contudo, purificaram e puseram em ordem rítmica os Mundos superiores da Terra, e deram um impulso espiritual que não teria sido possível ser dado de outra maneira. Foi esse impulso que lavou e tirou os pecados do mundo, e é essa influência continuada, ainda trabalhando em cada um de nós, que está trazendo o espírito de amor e altruísmo cada vez mais para os nossos corações.
Depois dos acontecimentos do Gólgota, fomos dotados da faculdade que nos capacita a levar conosco, através do umbral da morte, aquilo que nos salva do isolamento nos Mundo espirituais. Aquilo que aconteceu na Palestina foi o aspecto central, não somente da nossa evolução física, como também da evolução nos outros Mundos. Depois de consumada a Crucificação, Cristo apareceu no Purgatório, onde a grande maioria de nós vive por um tempo depois da morte aqui, e fixou um limite ao poder da morte. Desde esse instante, o Purgatório a que os gregos chamavam de as “regiões da sombra” foi iluminado pela Luz do Seu Espírito, indicando a seus moradores que a “Luz” haveria de vir. O grande sacrifício levou luz até aos Mundos espirituais.
O que fluiu na nossa evolução com a aparição de Cristo atuou como uma semente, e as sementes amadurecem lentamente. No passado remoto a conexão entre nós e os Mundos espirituais se mantinha ativa por meio dos Mistérios (ou Iniciações), abertas somente a alguns escolhidos. Por meio desses, os Iniciados, em condições peculiares de alma, podiam receber a revelação dos Mundos espirituais.
Não fora por Belém, por Getsemani, pelo Calvário, e pelo que eles representam, teríamos demorado uma eternidade para atingir o presente grau evolucionário – se é que conseguiríamos! A maior parte da nossa Onda de Vida teria, possivelmente, perdido a chance de continuar se desenvolvendo nesse Esquema de Evolução.
A morte é o grande revelador, e a morte de Cristo Jesus revelou Sua vida. Em alguma etapa da nossa evolução, quando por meio da Iniciação aprendermos a pronunciar o nome deste grande Espírito Planetário, nossa consciência se abrirá à Sua Presença Onipenetrante. Um dos revelados à nossa consciência pela Iniciação é a realidade vivente do Espírito Planetário, o Cristo. Mas, nós estaremos sempre cegos à Sua presença e surdos à Sua voz, até que despertemos nossa natureza espiritual latente. Contudo, uma vez que a tenhamos despertado, essa natureza nos revelará o “Senhor do Amor” como uma realidade. Por isso, Cristo disse: “Eu Sou o Bom Pastor e conheço minhas ovelhas e sou conhecido por elas” (Jo 10:14). No passado, estivemos buscando uma luz externa, mas hoje chegamos à condição em que devemos buscar o Cristo interno e imitá-lo, convertendo-nos em sacrifícios vivos como Ele o está fazendo. Na Fraternidade Rosacruz, quando se desenvolve a percepção interna dos Mistérios mediante o Conhecimento Direto, os resultados são estéreis a menos que sejam acompanhados por constantes atos, ações e obras do serviço amoroso e desinteressado ao irmão ou à irmã que está ao nosso lado, esquecendo os defeitos de cada um e focando exclusivamente na divina essência, oculta em cada um, e que é a base da Fraternidade. A expressão intensa desta qualidade aumenta a luminosidade fosforescente e a densidade dos dois Éteres Superiores (Éter Luminoso e Éter Refletor) do nosso Corpo Vital. À medida que transcorre o tempo, Cristo, por Seu Ministério benéfico, atrai cada vez mais a luz e, com isso, o Éter Luminoso e o Éter Refletor interplanetário vão tornando o Corpo Vital da Terra mais luminoso. Com o tempo, estaremos caminhando em um mar de luz, e quando tenhamos aprendido a abandonar nossos hábitos egoístas e nossa Personalidade (aquilo que achamos que somos, a ilusão de ser), por meio do contato persistente com essas vibrações benéficas de Cristo, nos tornaremos também luminosos.
A Páscoa da Ressurreição é o ato final do drama cósmico que envolve a descida do raio Solar de Cristo para dentro da matéria do Planeta Terra. A Ressurreição foi o cumprimento da missão de Cristo. Os Ensinamentos Rosacruzes nos dizem que durante os três dias que ficou no túmulo, o Corpo Denso de Jesus, que foi usado pelo Cristo, foi desintegrado pelas poderosas vibrações celestiais. Os dois Éteres superiores do Corpo Vital vibraram mais intensamente que os dois Éteres inferiores. Quando nós, por meio de pensamentos e atos, obras e ações espirituais, atrairmos para nós mesmos um grande volume desses dois Éteres superiores, que passam a fazer parte em maioria de quantidade do nosso Corpo Vital, a vibração do nosso Corpo Denso se torna mais intensa, e quando o abandonamos ao morrer, se desintegrará mais rapidamente.
Quando Cristo apareceu ressuscitado a Seus Discípulos, atraiu para Si, por meio de Sua vontade, matéria física suficiente para Se revestir em um Corpo Denso. Foi assim possível a seus Discípulos tocá-Lo e apalpá-Lo. Os Auxiliares Invisíveis Iniciados, que já passaram pelas portas da morte, aprenderam a atrair ou a repelir matéria física à vontade, e podem se materializar, a despeito do fato de que o Arquétipo de seus Corpos já tenha deixado de funcionar.
O Cristo está, naturalmente, à frente de Seres dessa categoria, e lhe foi fácil passar através da parede em Seu Corpo Vital, e uma vez no interior, materializar Seu Corpo Denso por meio de Sua vontade. Cristo usou o Corpo Vital de Jesus até o momento da Ascensão. Depois disso ele foi entregue aos Irmãos Maiores. Esse Corpo Vital está guardado no interior da Terra onde só os elevados Iniciados podem penetrar. Uma guarda constante cuida desse Corpo Vital precioso, pois se ele fosse destruído estaria também destruída a única via para Cristo sair do centro da Terra, e Ele ficaria prisioneiro na Terra até o final deste Dia de Manifestação, quando a Noite Cósmica dissolvesse a Terra no Caos.
O Domingo de Ressurreição é um símbolo anual que fortalece nossas almas, para continuarmos em nosso trabalho de regeneração, a fim de que surja em nós o Dourado Manto Nupcial, que nos fará filhos de Deus no sentido mais elevado e mais sagrado. Esse Corpo-Alma é construído aumentando, em quantidade, o Éter Luminoso e o Éter Refletor do nosso Corpo Vital. Quando essa substância dourada nos envolver com suficiente densidade, estaremos preparados para imitar o Sol da Ressurreição, e nos elevar a esferas mais altas.
A vinda de Cristo à Terra foi o princípio de um novo reinado que perdurará. A preparação para esse reinado começou 12.000 anos atrás quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, estava no Signo de Libra. Cristo trouxe a nós o amor espiritual que é independente da “carne e do sangue”.
O sacrifício de Cristo não foi um acontecimento que, tendo lugar no Gólgota, se efetuou em umas poucas horas, de uma vez para sempre. Os místicos nascimentos e mortes de Cristo são eventos cósmicos contínuos. Esse sacrifício é necessário para nossa evolução física e espiritual durante a presente fase de nosso desenvolvimento, até que um número suficiente de nós se tenha espiritualizado o bastante para manter a Terra em levitação, em sua órbita, libertando esse grande Espírito de Sua Crucificação anual. Como diz Max Heindel em relação a essa ocorrência anual: “No decorrer da noite mais escura do ano, quando a Terra dorme profundamente a partir do Equinócio de Setembro, quando as atividades materiais estão em seu ponto mais baixo, uma onda de energia espiritual traz em sua crista a Divina Palavra Criadora, desde os Céus até a Terra, no nascimento místico do Natal. Como uma nuvem luminosa, esse impulso espiritual envolve e penetra o mundo que não o conheceu”. Essa divina Palavra criadora tem uma mensagem e uma missão: “Nasceu para amar o mundo e dar Sua vida por ele, e é necessário que sacrifique Sua Vida para levar a cabo o rejuvenescimento da Natureza. Gradualmente se espalha dentro da Terra e começa a infundir sua energia vital entre as milhões de sementes que jazem dormentes no seio da Terra. Sussurra o alento de vida, a Palavra Criadora, nos ouvidos das aves e dos animais, até que esse Evangelho de boas novas tenha alcançado toda a criatura vivente”.
“Esse sacrifício atinge sua consumação no Domingo da Ressurreição. Cristo, dessa forma, morre na cruz da Terra nesta data – em um sentido místico – enquanto lança seu último grito triunfante, ‘Consumado está’. A criação inteira faz eco à essa canção celestial, e uma legião de línguas a repete sem cessar. As pequenas sementes do seio da Terra-mãe começam a germinar, e seus rebentos, a sair em todas as direções. Das tribos de animais e aves, a palavra de vida ressoa como uma canção de amor que as incita a multiplicarem-se. Geração e multiplicação estão por todas as partes. O espírito elevou-se para uma vida mais abundante”.
Essa onda anual de vida leva consigo toda a consciência do Cristo Cósmico. A conexão entre a morte do Salvador na cruz da Terra por ocasião da Páscoa, e a energia vital que se expressa tão profusamente a partir do Equinócio de Março, é “a chave” de um dos mais sublimes mistérios encontrados pelo Espírito humano em sua peregrinação, desde seu estado mais rudimentar até Deus.
Quando alcançamos a etapa em que desejamos a total libertação da dor, mais que nenhuma outra coisa, e começamos a trilhar o Caminho da Preparação e Iniciação Rosacruz, por meio da pureza e do sacrifício próprio, somos instruídos nos Mistérios do Gólgota, no Cálice do Graal, no Sangue Purificador e na Cruz de Rosas. Cristo, em Sua última reunião com Seus Discípulos, tomou o Cálice como um símbolo do Novo Testamento. Ele não é uma taça comum na qual se possa verter qualquer líquido, nem foi o líquido em si que possuía a potência para ratificar o novo convênio. O grande Mistério está no fato de que o cálice e seu conteúdo eram partes integrantes e indispensáveis de um Todo Sublime. A palavra alemã para cálice é “kelch”; a latina “calix”; ambas representam a envoltura exterior da semente e da flor. A palavra grega para cálice é “potarion”, que significa receptáculo. As palavras inglesas potente e impotente, significativas da posse ou da falta de virilidade, nos mostram o profundo significado da palavra grega que obscurece nossa evolução de ser humano a super-homem.
Estamos sofrendo de uma ferida que não cicatriza, uma ferida feita pelo abuso da força sexual criadora. Perdemos esse poder devido aos excessos de nossa natureza baixa ou inferior. Desde os tempos de Adão e Eva – que simboliza cada um de nós – comeu da do fruto da Árvore do Conhecimento (geração sexual quando e como quiser), o uso errôneo e o abuso dessa força sexual criadora tem sido a causa da nossa fraqueza. Toda a “carne” foi concebida em paixão e pecado.
A geração da planta, pelo contrário, é pura e imaculada. A flor perfumada, especialmente a rosa, se destaca simbolicamente em oposição direta à carne apaixonada. A flor é o órgão gerador da planta. Ela nos diz que a Imaculada Concepção, em amor e pureza, é o caminho para a paz, para a felicidade e para o progresso. A paixão animal nos afasta do caminho, e foi o conhecimento da necessidade absoluta de castidade por parte daqueles que tiveram um despertar espiritual (exceto quando a procriação seja necessária), que ditaram as palavras de Cristo ao dar o Cálice como um símbolo da Nova Dispensação. O Cálice representa o recipiente da flor em que se conserva a essência da vida, a semente. O Cálice do Graal representa cada um de nós e o nosso poder criador sem mancha. É o ideal através do qual o Místico que despertou, aprende a respeito do “Sangue Purificador de Cristo”. S. Paulo, o Apóstolo, afirmou que todo aquele que participa do cálice da comunhão indignamente, sem viver uma vida de pureza, está em perigo de doença e morte.
O sagrado mistério desse Cálice da Nova Dispensação é a chave para o Mistério do Gólgota. Quando tivermos aprendido, por meio do sofrimento e da dor, a beber desse cálice dignamente, encontraremos a “Luz” dentro de nós mesmos, “Luz” que nos guiará ao Senhor do Amor. “Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar.” (Apo 3:8).
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – julho/1979 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Deixe a Condenação Cessar na Sua Vida
“…não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8:1). “Reúnam-se em concordância, unânimes.” (At 1:14). “Pois então conheceremos assim como também somos conhecidos.” (ICor 13:12).
Enquanto eu contemplava o pecado e o sofrimento de minhas queridas irmãs e irmãos, nesse período difícil do progresso do mundo, fiquei submerso em uma agonia de compaixão e oração pela Luz. Nós podemos fazer nossas orações das alturas ou das profundidades.
Em meu coração, não havia mais lugar para a condenação de um único pecador, por mais obscuro e grave que fosse o pecado. Eu parecia sentir a compaixão que encheu o coração do nosso Salvador, durante a agonia na cruz, quando Ele clamou: “Perdoa-os, Pai, porque eles não sabem o que fazem!” (Lc 23:24). Ele entendeu que eles não O estavam crucificando, mas alguém que consideravam um impostor. Ele entendeu que eles O crucificaram porque foram leais às tradições que lhes foram transmitidas pelas elevadas Autoridades. Ele sabia que eles eram cegos espiritualmente. Ele viu que a cegueira estava em processo de se tornar fixa em toda onda de vida humana lá.
Com o Seu Sacrifício, Ele aprendeu como aquela cegueira e como Sua Virtude Perfeita foram usadas pelo Amor Divino para consumar uma Obra de Amor por Todas as Coisas Vivas, incluindo a Terra: o Mistério do Gólgota.
Aprendemos, por meio dos ensinamentos sublimes do Conceito Rosacruz do Cosmos, que a Consciência é o extrato precioso e única aquisição permanente do Espírito, retida de vida em vida como incentivo ao pensamento correto, ao sentimento correto e à ação correta.
Ao contemplar a vida na Terra, aprendemos que a consciência é o princípio direto e fundamental que está por trás da conduta de cada Espírito individualizado.
Com a sua força, a consciência nos mantém no curso correto de ação, podendo ser contrária ao interesse próprio, ao bem-estar pessoal e a todos os sentimentos e inclinações individuais. Assim, as coisas menores não governam mais.
A consciência, em sua fraqueza, é um bastão quebrado para se apoiar. Sua voz fraca é silenciada pelo clamor do desejo, do interesse próprio, do bem-estar pessoal, da justiça própria e da condenação dos outros. Que satisfação agradável há para o “Eu Inferior” quando revelamos a maldade nos outros e refletimos que, pelo menos, não estamos fazendo esse tipo de coisa. E, no entanto, talvez tenha sido apenas “ontem” que, chafurdando naquele vício pelo qual condenamos nosso “Outro”, ganhamos no Purgatório — por terríveis reações de repulsa, vergonha e remorso — a resolução, o necessário despertar de consciência que inibe nossa prática em relação a esse vício para sempre, em qualquer condição.
O bêbado do passado é um dos melhores e mais ativos defensores da proibição do álcool, no presente.
A compaixão é a mão que planta “flores que crescem” no túmulo do antigo “eu”, o “eu inferior”, e as nutre com encorajamento e alegria, de modo que não haja mais tempo para arrependimentos. A compaixão é a mão que pode levantar o véu entre o “aqui” e o “ali”, para que nós possamos olhar para o processo de purgação e aprender uma lição, se não perdermos o equilíbrio ao contemplá-lo.
“Mas então conheceremos, assim como somos conhecidos”.
“Nada que seja, agora, secreto permanecerá escondido”.
Uma situação onde o que foi dito acima funciona é no plano purgatorial post-mortem, o reino do desejo inferior onde as reações são de ódio e repulsão, sob o vínculo que une todas as coisas semelhantes em natureza vibratória.
Vejamos, agora um caso de purificação de um ódio secreto. Duas irmãs viviam sob o mesmo teto. Uma era rica em bens deste mundo, moralmente relaxada e autoindulgente. A outra era viúva, pobre, orgulhosa, amargurada e estava ali como dependente. Nas aparências, elas viviam uma vida juntas, onde a harmonia era média.
Contudo, a pobre havia descoberto uma indiscrição moral da irmã rica que, se fosse conhecida, arruinaria seu lar e sua vida social.
A irmã rica suspeitou que ela tivesse sido descoberta e pequenos indícios, de vez em quando, não queriam confirmar a suspeita. Assim, ao longo dos anos, um ódio secreto foi construído. Atrás de cada presente em forma de roupas ou dinheiro, uma coisa maliciosa apareceu!
Com o tempo, as duas morreram.
Agora, agarradas por um abraço do qual se esforçam em vão para escapar, despojadas do véu da carne, em um plano que vibra na proporção da fonte do seu ódio, elas enxergam apenas a coisa olhada que foi velada pela carne na vida terrena e respondem com ódio, em uma loucura descontrolada, a qualquer coisa, exceto à Misericórdia de Deus, que ordenou que tais períodos de purgação sejam de apenas um terço em relação à geração do mal no plano físico. Elas não ouvem nenhuma pessoa; contudo, pobres vítimas de uma ideia fixa e do mal, drenam os seus últimos resquícios de amargura, três vezes intensificados, à medida que seu prazo é encurtado e perdem tempo em uma região de horror, tempo que poderia ser gasto em melhores reinos.
Se elas soubessem como podemos saber, por esses ensinamentos maravilhosos e as faculdades despertadas por sua vivência, você acha que teriam buscado alguma justificativa para o ódio que uma sentia pela outra? Não, elas teriam se purificado constantemente por dentro; teriam realizado sua purificação aqui e agora; teriam se dirigido a Deus livres daquela terrível consciência do pecado que, por muito tempo, não deixará os alienados pelo pecado se aproximarem do seu Salvador, embora Ele seja o Amante Eterno de cada Alma e deseje ardentemente sua aceitação.
Ei! Ele está à porta e bate. Peça ao seu Amante Divino para entrar. Todavia, antes de você fazer isso, seria bom fazer uma limpeza interior, ou Ele pode não conseguir ficar com você por muito tempo. Muitas vezes Ele foi expulso, depois de ter sido convidado a entrar; mas Seu amor nunca falha.
(Publicado na revista Rays from the Rose Cross de janeiro de 1918 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil).