Setembro de 1916
O ponto mais importante da lição do mês passado é o poder da paixão para degenerar aqueles que se entregam a ela. Isso nós ilustramos no caso dos antropoides superiores (orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos)[1], que ficaram para trás e degeneraram em forma semelhante à dos animais, por causa das ações deles em abusar da força sexual criadora. A responsabilidade dos Espíritos Lucíferos por aquela condição foi detalhada no livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz e, também, o fato de que os antropoides superiores podem nos alcançar se evoluírem suficientemente antes da metade da próxima Revolução[2].
Mas, há uma dupla responsabilidade no conhecimento, como ensinado por Cristo: “A quem muito é dado, muito será exigido”[3]. E enquanto a transgressão dos que existiram naqueles dias primitivos pode ser perdoada, e isso comporta um atraso de milhões e milhões de anos, a condição daqueles que possuem a iluminação do conhecimento superior, que foi dado à Humanidade de hoje, e que transgridem a Lei[4] pelo abuso da força sexual criadora, pode se tornar mais sério do que o da classe que agora está evoluindo em formas de antropoides superiores.
A Magia Negra é praticada com muito mais frequência do que se poderia supor, algumas vezes de forma absolutamente inconsciente, pois a linha divisória pode estar unicamente no motivo. No entanto, se abusarmos do nosso conhecimento superior, ainda que sejamos mais refinados na indulgência com as nossas paixões, o resultado será certamente desastroso. Na atualidade, a força vital (exceto a quantidade insignificante que é necessária para a propagação da raça humana) deveria ser transmutada em Poder Anímico. Portanto, vamos continuar, insistentemente, no caminho da pureza, para que não nos vejamos em situação pior que a desses seres humanos degenerados encontrados como escravos de Lúcifer na “cozinha das bruxas” – como representado no mito de Fausto[5].
Se, em algum momento, formos tentados por pensamentos impuros, imediatamente voltemos nossas Mentes para outro assunto bem distante da sensualidade. Acima de tudo, respeitemos as leis do nosso país que requer o cerimonial de casamento, antes da união, pois ainda que as palavras da cerimônia de casamento não unam as pessoas, no entanto, são apropriadas para que professemos elevados ideais espirituais e não queiramos escandalizar vivendo juntos sem o casamento. Os que se acham sob as leis de um país, prestam perfeita obediência, como Cristo fez, pois quando cumprimos todas as leis de um país sem protesto porque é certo fazê-lo, então nos elevamos acima da lei e não estamos mais em cativeiro.
(Cartas aos Estudantes – nº 34 – do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: que pertencem a Onda de Vida humana, a que nós seres humanos pertencemos.
[2] N.T.: a quinta Revolução desse Período Terrestre. Hoje estamos na metade da quarta Revolução do Período Terrestre.
[3] N.T.: Lc 12:48
[4] N.T.: refere-se à Lei de Deus.
[5] N.T.: “Cozinha da Bruxa”, também chamado de “caverna de Feiticeira”, em português, faz parte da obra Fausto de Johann Wolfgang von Goethe. Segundo as palavras do próprio Goethe, que Eckermann registrou numa conversa datada de 10 de abril de 1829, a cena “A Cozinha da Bruxa” foi escrita no jardim da Villa Borghese em Roma, na primeira metade de 1788.
QUADRO VII
Vasta caverna de Feiticeira. Ao fundo, uma porta baixa e informe. Do lado esquerdo, uma lareira térrea; por cima dela uma espaçosa chaminé. Na lareira, assente numa trempe, um grande caldeirão. Na fumarada que dele sai, vão vislumbrando várias figuras. Espalhadas pela caverna tripeças, e uma canastra com diversos objetos, entre os quais um copo de dados, archotes, uma bola, uma coroa, um cartapácio encadernado de preto com broches de ferro. Pelas paredes sem reboco e afumadas, pendem desordenadamente vasilhas de mil formas, uma peneira, um espelho, uma vara, um abano de cauda. Uma cantareira com garrafas e copos.
CENA I
Ao pé do caldeirão, e a escumá-lo, com sentido que não se deite por fora, está sentada uma CERCOPITECA (macaca muito grande, de rabo comprido) (). O CERCOPITECO (o macho) está sentado, com os filhinhos ao pé, a aquecer-se. FAUSTO, MEFISTÓFELES.
FAUSTO (a Mefistófeles)
Este sarapatel de nigromâncias
faz-me nojo, declaro. E projetava
este diabo restaurar-me a vida
em tão vil charco de hediondezes fúteis!
Aconselhem-se lá co’uma carcaça!
Ou tenham fé que possam burundangas
duma cozinha assim descarregar-me
trinta anos do cachaço. A não saberes
receita que mais valha, estou servido.
Pois dar-se-á que não tenha a natureza
algum bálsamo seu, já descoberto
por algum alto engenho?
MEFISTÓFELES
Aí ’stão palavras
que mostram não ser parvo o nosso amigo.
Sim senhor; sem sair da natureza
há também com que um homem se remoce.
Vem isso noutra obra; e bem curioso
que ele é, o tal capítulo.
FAUSTO
Declara-o!
MEFISTÓFELES
Guapa receita. E curativo grátis,
sem precisar Doutor, nem feiticeira.
Ponha-se fora; vá-se aos campos; are;
cave; enclausure-se, alma e corpo, em solo
dadivoso, mas parco; esteie a vida
com frugal passadio; aprenda e exerça
co’os seus brutinhos o viver nativo;
não julgue desairar-se, em repartindo
por suas mãos o adubo ao chão que o nutre.
Fie-se em mim: se há coisa que descargue
de oitenta anos, é isto.
FAUSTO
Agora é tarde
para me acostumar. Nunca até hoje
peguei num alvião. Para o meu génio
esse viver obscuro era insofrível.
MEFISTÓFELES
Então, é recorrer à feiticeira.
FAUSTO
Mas porque há-de ser logo a preferida
a tal mondonga velha? Não podias
preparar-me tu próprio a beberagem?
MEFISTÓFELES
Belo divertimento! Eu preferia
gastar o tempo em construir mil pontes.
Para arranjar os filtros desta casta
quer-se, além do saber, paciência e muita,
e atenção de anos largos; só co’o tempo
é que se alcança o fermentar completo
do líquido eficaz. Pois a quantia
d’ingredientes raríssimos! É certo
que o diabo é quem os sabe, e ensina tudo;
mas lá para os estar manipulando
é que não tem pachorra.
(Reparando nos animais)
Olhe a gracinha
do casal que ali está! São a criada
e o servo cá da casa.
(Aos animais)
Olá! já vejo
que a velhusca, vossa ama, anda por fora.
OS ANIMAIS
Eh eh eh eh!
Ao fricassé!
Foi pelo cano
da chaminé.
MEFISTÓFELES
Gasta lá nessas frescatas
muito tempo a feiticeira?
OS ANIMAIS
O tempo em que na lareira
nós aquecemos as patas.
MEFISTÓFELES (a Fausto)
Que tais acha estes nossos bicharecos?
FAUSTO
Ai! de apetite! Nunca os vi mais feios.
MEFISTÓFELES
E eu então o meu gosto é conversá-los.
(Aos animais)
Dizei, bonecos danados,
que tendes no caldeirão,
que estais tão azafamados
a mexer co’o colherão?
OS ANIMAIS
Pois não vês? esta iguaria
são as sopas dos mendigos.
MEFISTÓFELES
Nesse caso, meus amigos,
tereis muita freguesia.
O CERCOPITECO (tira da canastra o copo dos dados, e vai-se chegando a MEFISTÓFELES fazendo-lhe muitas festas)
Joguemos aos dados!
Meu rico parceiro,
não tenho dinheiro,
fazei-mo ganhar.
Ser pobre é ser parvo.
Espírito nobre,
salvai-me de pobre,
salvai-me de alvar.
MEFISTÓFELES
Este cercopiteco endoidecia,
se pudesse ganhar na loteria.
(Nestes entrementeses, andam os cercopitequinhos a brincar com uma grande bola que tiraram da canastra, e vão rolando diante de si.)
O CERCOPITECO
Tal é o mundo!
Rolar, correr,
subir, descer.
Vidro rotundo
sonoro e oco,
a pouco e pouco
fendas a abrir.
Aqui brilhante;
lá coruscante;
sempre cambiante,
sempre a fugir.
Fala-te um ente,
qual tu vivente,
qual tu mortal.
Evita, amigo,
esse inimigo
mundo fatal.
Crê-lo maciço,
e é quebradiço
como cristal.
MEFISTÓFELES
Que faz aqui esta peneira?
Tem algum préstimo?
O CERCOPITECO (tirando a peneira do prego)
Pois não?
Mostra a verdade nua e inteira.
Supõe que fosses um ladrão,
cara de santo e fala arteira,
logo eu te via a maganeira,
em observando o teu carão
pela peneira!
(Corre para a fêmea, a quem obriga a olhar para Mefistófeles, através da peneira)
Toma a luneta, companheira,
observa, observa o figurão.
Reconheceste-lo à primeira.
Declara o nome do ladrão!
Viva a peneira!
MEFISTÓFELES (aproximando-se do lume)
E este pote?
OS CERCOPITECOS (macho e fêmea)
Fora zote,
burro, estúpido, asneirão.
Não vês que é um caldeirão?
Chama a um caldeirão um pote!
MEFISTÓFELES
Bruta corja!
O CERCOPITECO (levanta-se arrebatadamente do chão um abano de rabo e mete-o na mão de Mefistófeles)
O quê! Depressa!
Toma o rabo deste abano!
Assenta-te na tripeça,
e esperta a fogueira, mano!
(Obriga Mefistófeles a sentar-se numa das tripeças, fazendo do abano ventarola)
FAUSTO (que durante todo este tempo, estivera parado defronte de um espelho, ora aproximando-se, ora recuando)
Oh mago espelho! que divina imagem!
Asas, asas, Amor! conduz-me a ela!
Se me acerco, recua, e mal a avisto
sombra de sombra esmorecida em névoa.
Tais graças feminis, dar-se-á que existam?
Estarei vendo neste esbelto corpo
das delícias dos céus a quinta essência?
Cabe ao mundo um tal dom?
MEFISTÓFELES
Naturalmente.
Quando lida na obra um Deus seis dias,
ao sétimo a contempla, e exclama: Bravo!
De ver está que executou portento
de costa acima. Farte os olhos, farte!
Deixe-me furoar que tarde ou cedo
lhe hei-de desencantar esse tesoiro.
Feliz quem no obtiver.
(Continua Fausto a olhar para o espelho. Mefistófeles espreguiçando-se na tripeça, e brincando com o abano, continua a falar.)
Que belo assento,
em que eu me estou aqui repetenando!
Nem rei no trono. Empunho um ceptro. Resta
vir a coroa radiar-me a testa.
OS ANIMAIS (que até aqui tem estado, uns com os outros, fazendo trejeitos e momices, trazem da canastra a Mefistófeles uma coroa, com grande algazarra)
Tome-a lá! Grude-a a si bem grudada,
com suores e sangue, oh Senhor!
(Ao brincarem à doida, deixam cair a coroa, que se parte em pedaços. Apanham-nos e atiram-nos por joguete uns aos outros.)
Ih! Quebrou-se a coroa sagrada!
Viva a turba! Acabou-se o temor.
Galrar já podemos,
de ventas no ar.
As zangas que temos,
até poderemos,
querendo, rimar.
FAUSTO (sem se apartar do espelho)
Ui que sanzala! Esvaem-me o juízo!
MEFISTÓFELES
Se até eu tenho a bola à roda, à roda!
OS ANIMAIS
E se a coisa desta feita
vinga e dá seu resultado,
das ideias a colheita
torna o mundo afortunado.
FAUSTO (como acima)
Já me arde o coração. Presto, fujamos!
MEFISTÓFELES
Já se vê pelo menos que estes mecos
tem para a poesia embocadura.
(Como a macaca tinha largado o caldeirão, começa este a entornar-se, ocasionando grande lavareda que sobe pela chaminé. Pelo meio dessa lavareda, desce a Feiticeira vozeando.)
CENA II
A FEITICEIRA e os MESMOS
FEITICEIRA
Ão, ão, ão, ão!
Maldita mona,
que me entornaste
o caldeirão,
e a vossa dona
incendiaste!
Maldita! ão, ão!
(Repara em Fausto e Mefistófeles)
Que temos? Vós quem sois? Quem teve o atrevimento
de vos deixar entrar? qual era o vosso intento?
Por entrardes sem vénia e a furto aos lares nossos,
má fogo que vos queime, e vos derreta os ossos!
(Mete o colherão na caldeira; tira-o cheio; sacode o líquido, que vai cair, convertido em chamas, sobre Fausto, Mefistófeles e os animais. Os bichos lançam grandes guinchos)
MEFISTÓFELES (levantando-se a súbitas, revira o abano com o cabo para fora, e começa a malhar com ele na caldeira, e em tudo que vê diante)
Ah! tu brincas? Pois eu faço
à tua solfa o meu compasso,
múmia ascosa. Na fogueira
vaso as sopas. A caldeira
ela aí vai tornada estilhas;
e atrás dela estas vasilhas…
Nada inteiro há-de ficar.
(A Feiticeira tem ido retrocedendo, cheia de terror)
Monstro! horror! arcaboiço! Olá! Não reconheces
o teu amo e senhor? Ínfima das refeces,
queres-te opor a mim? Não sei que me tem mão
que vos não leve a pau, desfeitas, de rondão,
tu, e toda a relé da tua bicharia.
Pois já esta demente acaso esqueceria
este cocar de galo? a cor de grã que eu visto?
até o meu semblante? Ainda, após tudo isto,
para saber quem sou precisa que lhe ponha
claro, eu próprio, o meu nome, a biltre sem vergonha!
A FEITICEIRA
Confesso, Grão Senhor, que foi mal-recebido.
Vossa alteza perdoe;… mas tinha-lhe esquecido
o pezinho cabrum e o par de corvos.
MEFISTÓFELES
Bem.
Por esta inda te passo.
(A Fausto)
Ele havia também
já tantíssimo tempo, a dizer a verdade,
que me não tinha visto!… A lei da humanidade
também se estende a nós: Le monde marche. Um vento
que se chama O Progresso, ora rijo, ora lento
mas constante, que varre e leva a quanto existe,
também por cá chegou. Foi-se o fantasma triste
do nevoento Norte. Onde há já ’í diabo,
que use chavelhos, garra ou pé de cabra e rabo?
Ora eu enquanto ao pé, – membro que não dispenso,
por ser quem me carreia em basta gente assenso –
quanto ao pé, anos há que uso ao disfarce botas,
como usam panturrilha os magrizéis janotas.
A FEITICEIRA (cantando e dançando)
Não caibo em mim d’alegria
por ver meu Dom Santanás
nesta minha cova fria,
tal como outrora soía,
lá quando eu era algum dia
menos velha, e ele rapaz.
Viva o meu Dom Santanás!
MEFISTÓFELES
Vedo que nunca mais tal nome se me dê.
A FEITICEIRA
Pois que mal lhe fez ele? explique-se: por quê?
MEFISTÓFELES
Nome é que anda há já muito entre outros mil escritos
no volumoso rol das fábulas e mitos.
(A Fausto)
Coisas da espécie humana: o génio mau proscrevem
e ficam-se co’os maus; a esses não se atrevem.
(À Feiticeira)
Chama-me se te apraz «Barão!» «Senhor Barão!»
Não há mais que dizer. Fico um fidalgarrão
como os do sangue azul. Quanto eu sou nobre, escuso
encarecer-to; e aí vão as armas do meu uso!
(Faz certo acionado.)
A FEITICEIRA (rindo a bandeiras despregadas)
Ah ah ah ah!
Ih ih ih ih!
Nunca vi, não há,
não há, nunca vi
brejeiro maior!
Bargante, bargante!
Em moço, tunante;
em velho, pior!
MEFISTÓFELES (a Fausto)
Repare, meu amigo e aprenda! Esta a maneira
como deve tratar co’a súcia feiticeira.
A FEITICEIRA
Que desejam agora estes senhores?
MEFISTÓFELES
Mando
que nos tragas já já um copo trasbordando
da sabida mistela, e quanto mais anosa
a tiveres, melhor, mais eficaz.
A FEITICEIRA
Gostosa
obedeço já já.
(Tira uma garrafa e um copo da cantareira)
Nesta garrafa tenho
com que dar ao seu mando óptimo desempenho.
Desta é que eu muita vez mato o bicho. Fortum
nem por onde ele passe. Um copo! e mais do que um
se quiser, essa é boa!
(Baixo a Mefistófeles)
Olhe que o sujeitinho,
se traga aquilo assim como quem bebe vinho,
sem se ter preparado, estoira antes de um’hora,
bem sabe.
MEFISTÓFELES (baixo à Feiticeira)
O teu receio é mal cabido agora.
Eu sou amigo dele e não lhe quero a morte.
Podes-lhe dar sem medo o que haja de mais forte
no teu laboratório. A l’obra, presto, a l’obra!
Risca-me nesse chão o círculo da cobra.
Reza lá o conjuro, e dá-lhe um copo cheio.
(A Feiticeira com solenes ademães, risca um círculo e põe-lhe dentro coisas esquisitas. Para logo principiam os utensis e os copos a traquinar, com certa afinação. Traz afinal um cartapácio. Mete no círculo os cercopitecos. Um deles fica a servir-lhe de estante. Os outros archotes tirados da canastra, e que per si se acenderam simultaneamente. A Feiticeira acena a Fausto, que se lhe acerque)
FAUSTO (a Mefistófeles)
Mas tudo isso a que vem? Patranhas vãs! Descreio
de quanto vejo aqui: visagens estudadas,
imposturas sem sal, tontices, meros nadas.
Sei tudo isso de cor; tenho-lhe nojo.
MEFISTÓFELES,
Asneira!
É forte bravejar contra uma brincadeira!
Pois não vês que a mulher não faz em tudo aquilo
senão seguir à risca o medical estilo?
para que te aproveite e preste a beberagem,
põe muito palavrão, muitíssima visagem.
A FEITICEIRA (empurra Fausto para dentro do círculo; e põe-se a ler no livro, declamando com grande ênfase)
Agora me explico,
Do um, dez fareis;
o dois deixareis;
o três uguareis;
e já sondes rico.
Lançar quatro fora.
Dos cinco e dos seis,
sete e oito fareis.
São estas as leis,
e andai-vos embora.
E os nove são um;
e os dez são nenhum.
E tenho acabada,
segundo cumpria,
toda a tabuada
da feitiçaria.
FAUSTO (a Mefistófeles)
Ela estará com febre? A modo que extravaga.
MEFISTÓFELES
Ai! de pouco se admira. Inda por ora a saga
do introito não passou; e todo o calhamaço
vai no mesmo teor. Eu já o li de espaço;
por sinal que até fiz sobre o seu conteúdo
o estudo mais cabal, mais sério, mais miúdo,
do que vim a inferir o que lhe exponho franco:
no que é contraditório, o sábio fica em branco,
assim como o ignorante. Esta arte, meu amigo,
é velha e nova; há nela, a par do imenso antigo,
algo também moderno. Inda não houve idade,
que, a bem de traficar co’a pobre humanidade,
não andasse a espalhar, com rara impavidez,
erros de três por um, ou erros de um por três.
Onde havia ensinar-se o claro, o verdadeiro,
mentiu-se adrede ao vulgo estólido e crendeiro.
Contra a superstição e audácia, era preciso
combater e suar; e a gente de juízo
preferiu sempre a tudo um bom viver pacato.
Nos mortais em geral dá-se um pendor inato
para absorverem crença. Era melhor primeiro
pensar, e crer depois; crer só no verdadeiro.
A FEITICEIRA (continuando)
A potência da ciência
que anda oculta em névoa escura,
só revela a sua essência
ao mortal que a não procura.
FAUSTO
Que absurdo nos diz ela? A tantos disparates
já se me oira a cabeça; oitenta mil orates
não doidejavam mais.
MEFISTÓFELES
Nobre sibila, basta!
Venha o copo e bem cheio. Um homem desta casta,
um famoso Doutor em tanta faculdade,
pode beber sem risco e sem dificuldade.
Mal imaginas tu que tragos de alto engodo
ele já tem provado.
(Notando em Fausto alguma hesitação, continua.)
Abaixo! abaixo! Todo!
Animo! escorripicha! E tu verás em breve
como esse coração bate contente e leve.
Ora gosto de ti! Convives co’o demónio
tu cá, tu lá, e agora estás como um bolónio
com medo a um fogachinho!
(Fausto acaba de beber resolutamente o copo apesar de saírem dele pequenas chamas.)
(A Feiticeira desfaz o círculo. Fausto sai dele.)
Estás liberto. Agora,
exercício que farte.
A FEITICEIRA
Em muito boa hora
que tomasse o meu filtro.
MEFISTÓFELES (à Feiticeira)
E tu, se me quiseres
alguma coisa, velha, é bom que lá me esperes
na Valburga esta noite.
A FEITICEIRA (a Fausto)
Aprenda outra cantiga
antes de se ir embora; e é dadiva de amiga.
Toda a vez que a entoar, há-de sentir no peito
um certo não lho digo; enfim um certo efeito
(Fausto dá-lhe costas enjoado, com ar desprezativo)
MEFISTÓFELES (a Fausto)
Vem comigo, eu te guio. A fim de que a poção
no interior e por fora opere a sua ação,
não há que estar à espera; é necessário e urgente
medir terra, correr, suar copiosamente.
Depois te ensinarei como se logra a vida
no suave far niente em flores envolvida,
e como o deus de amor brinca, borboleteia,
e oferta aos lábios mel pela áurea taça cheia.
FAUSTO (querendo tornar-se ao espelho)
Deixem-me inda uma vez mirar nesse brilhante
venturoso cristal a que é sem semelhante,
da graça o non plus ultra.
MEFISTÓFELES
À fé, que a imagem dela
era de todo o ponto e em todo o extremo bela;
mas que não dirás tu, em vendo o original?
vivinho! em carne e osso! ao pé de ti!
(À parte)
Que tal!
Co’a dose que tomou, qualquer mulher que aviste
vai julgá-la outra Helena.
Ah, sábio, alfim caíste!
A cozinha da bruxa levará Fausto a completar seu grande “livramento” no âmbito da materialidade. Ele deveria rejuvenescer para que sua aparência lhe proporcionasse maior mobilidade no mundo das suas aspirações. Porém, rejuvenescer para o doutor fazia parte de um aspecto bem maior. A magia lhe proporcionava vencer a finitude do corpo do herói velho sem mobilidade. Ele necessita agora de energia para pôr em prática sua ânsia de conhecimento. Precisa de disposição para o amor, e assim recobrar o tempo perdido. A poção da bruxa confere um novo conteúdo à sua forma. Fausto assume o ímpeto da juventude e sua alma fáustica está agora em perfeita conformidade com suas forças físicas.
Os Espíritos-Grupo dos Animais: quem são e como trabalham
Os animais pertencem a uma onda de vida que iniciou sua peregrinação no Período Solar desse Grande Dia de Manifestação, como denominado na terminologia Rosacruz.
É importante termos em mente que nós, Espíritos Virginais da onda de vida humana, iniciamos nossa peregrinação no Período de Saturno desse mesmo Grande Dia de Manifestação, que é um Período anterior ao Período Solar. Por isso que reconhecemos os animais como nossos irmãos menores a quem devemos proteger.
Lembremos que os antropoides (bonobos, chimpanzés, gorilas e orangotangos) não pertencem à onda evolutiva dos animais, mas a onda de vida dos seres humanos. Na verdade, eles são os Atrasados da nossa onda de vida e poderão, em um futuro, alcançar a nossa evolução. Atualmente, eles ocupam os exemplares mais degenerados daquilo que foi, antes, uma forma humana.
Os animais têm os seguintes Corpos:
Não possuem uma Mente, o que não os capacita a funcionar na Região do Pensamento Concreto. Portanto, os animais não são capazes de projetar ideias, ou seja: as conclusões que estabelecemos na Região do Pensamento Abstrato, revestindo-as de matéria mental da Região do Pensamento Concreto formando os pensamentos-forma.
Ou, em outras palavras, não são capazes de despertar voluntariamente o sentimento que impele à ação imediata, seja através do Interesse (sentimento presente na quarta Região do Mundo do Desejo), pondo em ação ou a força de Atração ou a de Repulsão (forças presentes da primeira a terceira e da quinta à sétima Região do Mundo do Desejo), seja através da Indiferença (o outro sentimento presente na quarta Região do Mundo do Desejo).
Vamos falar um pouco dos sangues dos animais: animais que possuem vitalidade e movimento, mas não possuem sangue vermelho, não possuem Corpo de Desejos separado. Tal ser encontra-se em um estado de transição da planta para o animal.
Por outro lado, animais que possuem sangue vermelho, mas frio, como por exemplo: peixes e répteis, já possuem um Corpo de Desejos separado. Nesse caso o espírito que anima tal forma está completamente fora do Corpo Denso.
Finalmente, animais que possuem sangue vermelho e quente, também têm um Corpo de Desejos separado, entretanto, nesse caso, o espírito que anima tal forma está parcialmente fora do Corpo Denso.
É por isso que o animal não é um ser completamente “vivo”, se considerarmos o ponto de vista do Mundo Físico. Eles possuem uma consciência análoga a que possuíamos, quando sonhávamos (consciência análoga a sono com sonhos), vivendo no Mundo do Desejo. Portanto, a consciência dos animais está focada no Mundo do Desejo.
Dali para baixo, ou seja, na Região Etérica e na Região Química do Mundo Físico eles são inconscientes. E é, justamente, por toda essa condição de dependência de evoluir no Mundo Físico, mas sem terem a consciência de vigília nesse Mundo (ainda não possuem o elo que liga o Tríplice Espírito ao Tríplice Corpo – a Mente – o que os tornaria indivíduos separados e únicos) é que os animais precisam ser guiados no seu caminho de evolução. E quem são os responsáveis por isso são os Espíritos-Grupo.
A responsabilidade de serem Espíritos-Grupo dos animais, atualmente, constitui um dos trabalhos dos Arcanjos, seres especialistas em matéria de desejos, assim como nós somos especialistas em matéria química do Mundo Físico. O Corpo mais denso de um Arcanjo é o Corpo de Desejos, assim como o nosso é o Corpo Denso.
Há diversos graus de inteligência entre os seres humanos. Do mesmo modo, também acontece entre os seres superiores. Os Arcanjos menos evoluídos governam os animais como Espíritos-Grupo e, dessa maneira, se desenvolvem adquirindo capacidade superior. Podemos entender o que é um Espírito-Grupo fazendo uma analogia com o nosso Corpo Físico. Nosso Corpo Físico é composto de muitas células, tendo cada uma sua própria vida celular, mas todas estão sob o nosso comando, utilizando ainda, o sangue como ponto de aderência ao Corpo Físico.
Assim, também, o Espírito-Grupo é um ser que funciona nos Mundos espirituais e possui um corpo espiritual composto por muitos espíritos animais separados. Guia seus protegidos de fora para dentro. O Espírito-Grupo guia os animais através do sangue. O Espírito-Grupo não funciona no Mundo Físico. Como Arcanjos, eles funcionam no Mundo do Desejo, mesmo lugar aonde o Ego dos animais se encontra.
Recordem-se: no Mundo do Desejo a distância não existe. Por isso o Espírito-Grupo do animal pode influenciar esse em qualquer lugar em que o animal se encontre. Sua evolução se dá enviando os diversos espíritos animais a formas de Corpos Físicos que o Espírito-Grupo ajuda a criar.
Conjuntos de Corpos Densos compõe uma espécie de animal e os Espíritos-Grupo guiam essa espécie mediante sugestões que chamamos de instinto. Portanto, os animais não estão sujeitos a Lei de Causa e Efeito.
A orientação dos Espíritos-Grupo aos animais é dada pelas fortes correntes de matéria de desejos colocadas pelos Espíritos-Grupo e que giram em torno do Planeta Terra. Por isso que a espinha dorsal do animal se mantém na horizontal.
A força vital emanada do Sol, da Lua e dos Planetas é também absorvida pelos animais, mas não diretamente. Isso porque eles possuem somente 28 pares de nervos espinhais e estão harmonizados com o mês lunar de 28 dias dependendo, portanto, de um Espírito-Grupo para preparar os raios astrais a fim de serem utilizados como força vital para: geração, nutrição, crescimento e ação.
Quando um Corpo Denso de um animal morre, o Ego do animal adquiriu, mesmo que inconscientemente, uma quantidade de experiência por ter trabalhado nesse veículo.
E depois de certo tempo, tais experiências também são absorvidas pelo Espírito-Grupo. E é assim que os Espíritos-Grupo dos animais vão evoluindo, assim como vão evoluindo os animais. Os Espíritos-Grupo dos animais são vistos no Mundo do Desejo em uma forma humana e com cabeça de animal. Vemos isso nos templos egípcios, onde se retratam seres com Corpos Densos humanos e cabeças de animal. Aliás, aqueles que possuem visão espiritual do Mundo do Desejo não encontram nenhuma dificuldade em conversar com eles e, muitas vezes, ficam maravilhados pela sabedoria que eles expressam.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Pergunta: Lemos sobre almas novas e almas velhas. Não nos iniciamos todos nesta vida terrena ao mesmo tempo, ou alguns já vieram para cá em uma onda de vida anterior? Não são os de cor branca da mesma idade anímica?
Resposta: Começamos ao mesmo tempo como Espíritos Virginais, em nossa peregrinação evolutiva; entretanto, desde o início alguns adaptaram-se mais ao ambiente. Portanto, desde os primórdios, alguns atrasaram-se nessa escola da vida, da mesma forma que acontece atualmente com as crianças, em nossas escolas. Alguns são mais precoces que outros, e estes, naturalmente, são mais capazes de passar, na escola da vida, pelas fases da evolução, atingindo um grau de consciência mais elevado.
Assim, a onda de vida que hoje é humana dividiu-se automaticamente em várias classes que agora conhecemos como raças branca, negra, vermelha e amarela; os mais atrasados da escola são atualmente os antropoides superiores (bonobos, chimpanzés, orangotangos e gorilas). Por outro lado, há os que se revelaram particularmente precoces e galgaram mais degraus, em termos de evolução, do que a maior parte da humanidade. São pouquíssimos, comparativamente falando; no entanto, encontramo-los entre os Iniciados, Adeptos e os Irmãos Maiores da humanidade, que estão no topo da escada da onda de vida humana. Por conseguinte, é certo que todos nós estamos percorrendo a estrada da evolução no mesmo período de tempo, mas alguns foram mais adaptáveis, mais diligentes. Consequentemente, acumularam para si mais experiência. É isso que constitui realmente a idade da alma, de forma que aqueles que alcançaram maior conhecimento podem ser chamados “almas velhas”, enquanto aqueles que estão atrás são, falando em termos comparativos, “almas novas”. Os Espíritos que habitam os antropoides podem ser considerados “sem alma”.
(Pergunta nº 35 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. 2)
Os dois primeiros renascimentos humanos de um gorila que chegou ao estágio de ser humano
Relatarei mais uma história do trabalho dos Auxiliares Invisíveis que ilustra bem a ajuda que é dada aos seres atrasados para que eles possam obter o progresso mais rápido em sua evolução. Alguns Auxiliares Invisíveis estavam na parte oeste da América do Norte e se encontraram com um menino negro que se parecia muito com um gorila[1]. Eles conversaram com o menino e descobriram que ele estava muito disposto a aprender. Ele era um bom e forte nadador. Ele tinha salvado muitas pessoas numa recente inundação. Os Auxiliares Invisíveis descobriram que ele estava, agora, no seu segundo corpo humano e que ele tinha renascido duas vezes nos últimos quinhentos anos.
O menino seguiu uma das Auxiliares Invisíveis por todo os lugares, e disse que gostava dela. Quando ela disse que estava indo embora, o menino disse que gostaria de convidá-la para visitá-lo, mas que sua casa havia sido destruída pela inundação e não sabia onde estavam seus pais. A Auxiliar Invisível o beijou, ele a abraçou e disse: “Eu sei que vocês dois não são como eu. Não tenho certeza, mas vocês parecem pessoas que voam pelos ares. Eu já vi vários deles e eles conversaram comigo quando estava dormindo”.
Os Auxiliares Invisíveis contaram para ele que eles viajam pelo ar.
“Então vocês são Anjos”, disse o menino. “Meus pais me contaram sobre os Anjos”.
A Auxiliar Invisível lhe disse que em breve o veria novamente e falou sobre seu trabalho.
“Certifique-se e me encontre, porque eu não sei onde estarei”, o menino respondeu.
“Tudo bem”, disse a Auxiliar Invisível. “Agora, seja um bom menino e ajude em tudo o que você puder”.
Ele disse que faria, e os Auxiliares Invisíveis desapareceram.
Mais tarde, os Auxiliares Invisíveis encontraram o menino, porém, ele não havia ainda encontrado seus pais. Os Auxiliares Invisíveis os procuraram e os encontraram no país do outro lado da terra inundada. Eles retornaram até ao menino e disseram-lhe que iriam levá-lo para casa de seus pais.
“Meus pais são bons para mim, mas eu prefiro ir com vocês”, ele disse.
Os Auxiliares Invisíveis disseram-lhe que se deitasse e obedecesse. Os Auxiliares Invisíveis então o pegaram, carregaram pela água até o lar temporário de seus pais, o colocaram no chão e o acordaram. Ele estava atordoado, mas feliz. Os Auxiliares Invisíveis entraram com ele na casa; sua mãe correu até ele e o beijou e o seu pai o abraçou.
Os Auxiliares Invisíveis descobriram que os pais eram pessoas boas e inteligentes e que eram muito gentis com o menino. Os Auxiliares Invisíveis conversaram com os pais, enquanto o menino estava comendo. “Vocês podem me dizer por que nós temos uma criança assim?”, a mãe perguntou. “Deus me tratou injustamente? Não sou tão velha e não prejudiquei ninguém”.
Uma das Auxiliares Invisíveis solicitou que fossem mostradas as vidas passadas do menino para que ela pudesse contar à mãe ou deixar que os pais vissem também. Aqui está a história que foi revelada:
Dois mil anos atrás quando os pais eram marido e mulher como agora, eles estavam na selva com o caçador profissional. O menino, que então era um gorila, os salvou da morte, mas se feriu gravemente. Eles carregaram o gorila para fora da selva e cuidaram dele, tornando-se amigo dos dois. Quando morreu renasceu como um gorila. Conheceu amigos que fizeram dele um animal de estimação e quando ele morreu sua vida em corpo de gorila havia terminado.
Quinhentos anos atrás, esse Ego encarnou em um corpo humano pela primeira vez e viveu até aos oitenta anos de idade. Então ele morreu e mais tarde renasceu para esses mesmos pais doze anos atrás, e eles o amaram, estimaram e tiveram um interesse especial em ensiná-lo, pois sabiam que ele deveria ter conhecimento para ganhar a vida nesse mundo. O menino estava na 8ª série da escola.
O Auxiliar Invisível disse à mãe que ela e o pai estavam pagando uma dívida com o menino. “Que dívida?”, perguntou a mãe. Então ela mesma se ouviu a dizer: “Se ele fosse uma criança, eu certamente o ensinaria a ser um homem muito inteligente, pois o amo pela bondade dele em salvar a minha vida”. Então um homem idoso apareceu e perguntou se ela lhe daria um corpo humano se ela tivesse a oportunidade, e ela colocou os braços ao redor do gorila e respondeu: “Sim”. O velho se afastou dizendo: “Talvez você vá fazer isso algum dia, quem sabe.”.
Aqui, novamente, vemos o que a Bíblia quer dizer quando afirma que devemos dar conta de toda palavra e pensamento ocioso e vão. Essa mulher não tinha ideia de que isso se tornaria realidade. A mãe disse que viu tudo como o Auxiliar Invisível falou e que acreditava em tudo. “Desde que eu sei tudo isso, eu farei o meu melhor para fazer um bom homem do meu menino”, disse ela. “Também vi tudo isso e farei minha parte”, disse o pai.
“Você é um Anjo?”, perguntou a mãe, e o Auxiliar Invisível disse-lhe que não e explicou o trabalho deles como Auxiliares Invisíveis. “Que lindo deve ser sair à noite ajudando as pessoas! Eu também gostaria de fazer isso”, disse o outro.
A Auxiliar Invisível prometeu que voltaria algum dia e lhe diria como poderia fazer isso. Auxiliar Invisível deu a ela o endereço de um lugar para onde ela poderia escrever e ter alguma literatura sobre o assunto.
[1] N.T.: “Os monos (primatas antropoides, sem cauda e de braços longos, como chimpanzé, orangotango, gorila e bonobo) não são os progenitores das espécies superiores, são atrasados que ocupam os exemplares mais degenerados daquilo que foi antes forma humana. Não foi o ser humano que ascendeu dos antropoides; aconteceu o contrário: os antropoides são uma degeneração do ser humano”. “Os antropoides podem alcançar-nos e converterem-se em seres humanos” (do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos – Involução, Evolução e Epigênese).
I.H.
O último renascimento de um ser humano como gorila: o papel de uma mulher
Na noite seguinte os Auxiliares Invisíveis foram até a mulher e contaram sobre seu amigo. Eles encontraram o navio e a acordaram; ela segurou no braço da Auxiliar Invisível e lhe disse: “Querida Anjo, muitas coisas estranhas me aconteceram. Eu me deitei essa tarde e me vi fora do corpo. Voei através da parede e por cima da água e me vi perto do corpo morto do meu amigo. Estava quase todo comido. Eu tentei enterrá-lo, mas não consegui segurar e nem levantar nada. O que há de errado comigo?”.
A Auxiliar Invisível sentou na cama dela e explicou tudo a ela; ela chorou de alegria e falou: “Agora eu posso ajudar os nativos e os gorilas. Eu não me importo com as pessoas da minha classe.”
Os Auxiliares Invisíveis viram a vida anterior dessa mulher quando ela era um homem. Ele foi um estudante avançado da Filosofia Hindu e estava quase pronto para a Iniciação. Ele acabou perdendo algumas pessoas na selva por ciúmes, porque ele queria tirar o homem do caminho que estava entre ela e a mulher que ele amava. Após duas semanas ele foi caçar e os tirou de lá, mas logo eles morreram de febre da selva.
A mulher falou que ela não gostava da comida do navio, então ela comia apenas frutas, pão e manteiga e leite ou vegetais crus. “Todos que eu encontro são muito amigáveis”, ela falou, “mas eu quero estar sozinha com meus pensamentos. O capitão é bondoso comigo e me conta várias histórias interessantes que eu gosto”.
A mulher falou que ela viu os Auxiliares Invisíveis uma vez antes na selva. Foi na vez em que eles salvaram a família de gorilas das duas cobras. Ela contou que ficou feliz que eles lidaram com as duas cobras, porque ela e seu gorila protetor estavam com muito medo de se mexerem. Eles estavam a apenas cem passos de distância e viram tudo o que aconteceu com a família de gorilas. Ela contou da vila dos gorilas e disse que haviam uns cinquenta gorilas lá.
Essa mulher pediu aos Auxiliares Invisíveis para levarem uma mensagem para seus pais e dizer à mãe dela que ela ainda tinha seus dedinhos dos pés bonitos. Então ela mostrou aos Auxiliares Invisíveis seus dois dedinhos extras nos pés e onde tinha os removido. Os Auxiliares Invisíveis logo partiram e foram ver a mãe dela.
Quando a mãe ouviu sobre os dedinhos ela ficou muito feliz e disse: “Ela é a minha filha, pois eu sempre admirei seus dedinhos extras.”
Mais tarde a mulher chegou na sua casa a salvo e foi recebida por seus pais com muita alegria. Essa história também conta como funciona a lei do destino maduro. Todos nós somos afetados por ela, mas poucos de nós tem coisas tão marcantes para resgatar.
(IH – de Amber M. Tuttle)
O último renascimento de um ser humano como gorila
Aqui está uma das mais marcantes histórias que eu já ouvi: um gorila irá renascer como humano em seu próximo renascimento.
Uma vez, dois Auxiliares Invisíveis estavam indo para uma clareira numa parte densa da selva na África quando a Auxiliar Invisível olhou para baixo e viu uma cativa nos braços de um gorila que estava dormindo. “Olhe! Há uma mulher branca”, ela falou para seu companheiro. “Vamos lá salvá-la.”
Eles desceram e perguntaram para a mulher se ela queria ajuda para sair daquela situação.
“Sim, por favor” me tire daqui”, ela falou.
Ela estava deitada nos braços do gorila, e se ela se movesse ele iria acordar. Quando ela se levantou, ele acordou e também se levantou. Os Auxiliares Invisíveis estavam se perguntando como conseguiriam tirá-la de lá. Todas as vezes que eles tentavam tirá-la do gorila, esse se levantava e grunhia para eles. Eles estavam com medo que se eles tentassem pegá-la à força, ele a faria em pedaços.
Ela precisava de roupas e contou a eles como o gorila tirou suas roupas, e que cada vez que ela fazia novas roupas de casca ou grama, ele as tirava novamente. Ele não a machucou, mas a protegeu dos outros gorilas, das cobras e dos animais selvagens da selva. Ele providenciou comida para ela e sempre se manteve próximo a ela e distante dos outros para que nada pudesse machucá-la.
Com o passar do tempo ela ficou com a pele totalmente bronzeada e a pele dos seus pés se tornou tão dura que ela conseguia andar sem machucá-los. Ela aprendeu que para viver dependia de seu gorila protetor, e começou a ensiná-lo tudo que podia. Ela disse que em um certo momento ele se tornou inquieto e desconfortável e ela ficou com medo que a deixasse, então durante a noite ela se amarrava a ele com seus longos cabelos. Ele aprendeu a amá-la de seu modo peculiar e ela sabia que estaria viva, enquanto ele cuidasse dela. Quando perguntaram como ela foi parar naquele lugar, ela contou que acompanhava alguns viajantes que estavam caçando na selva. Eles foram atacados pelo bando de gorilas e ela viu os gorilas matarem a todos.
Os Auxiliares Invisíveis solicitaram permissão para levar essa mulher e eles disseram que poderiam levá-la. Um dos Auxiliares Invisíveis disse a ela para mandar o gorila buscar alguma comida. Ela o fez, e então os Auxiliares Invisíveis disseram para que ela se deitasse. Então, os dois Auxiliares Invisíveis a ergueram e a carregaram até uma vila pequena, onde encontraram algumas pessoas que deram roupas para ela se vestir. Os Auxiliares Invisíveis falaram para ela procurar o Cônsul e conseguir um passaporte para voltar para casa.
Algumas noites depois um altíssimo Irmão Leigo foi até àqueles mesmos Auxiliares Invisíveis e disse para eles irem aquela vila onde levaram aquela mulher e compelir o Cônsul a dar a ela o passaporte e o dinheiro para as despesas para ela poder voltar para casa. Ele deu a Auxiliar Invisível o poder para fazer esse trabalho e disse para que ela fosse mais firme para resolver esse caso.
Quando os Auxiliares Invisíveis chegaram à vila, encontraram a pobre mulher em uma casa velha com algumas pessoas pobres. Ela vestia algumas roupas rasgadas. Quando ela viu os Auxiliares Invisíveis, implorou para que a levassem de volta à selva para seu amigo gorila e a deixasse morrer com ele, porque ele era bom para ela, mesmo de sua maneira, e a amava. Os Auxiliares Invisíveis contaram a ela que vieram para levá-la de volta para sua casa.
“Vocês não podem fazer nada por mim, já que ninguém acredita na minha história”, ela lhes disse.
Os Auxiliares Invisíveis pediram que ela os levassem ao escritório do Cônsul.
“Ele não irá recebê-los”, ela falou.
Eles foram e solicitaram ao guarda, que estava na porta de entrada, que queriam ver o Cônsul.
“Ele não está acordado’, disse o homem.
“Vá acordá-lo e diga que queremos falar com ele sobre um assunto importante, e não fique aí me olhando”, disse o Auxiliar Invisível.
O homem foi e depois de um tempo o Cônsul voltou com o homem e convidou os três estrangeiros a entrar. O Cônsul estava bravo e queria saber o que queriam com ele.
“Eu quero um passaporte e dinheiro para essa mulher poder voltar para sua casa na Europa”, disse um dos Auxiliares Invisíveis.
“Eu não a conheço e não tenho nenhum registro sobre ela”, ele disse. “A mulher que ela diz ser se perdeu há cinco anos, e nenhum dos integrantes do grupo foi encontrado”. Ele pegou seu livro de registros e perguntou à mulher para dizer o nome dos outros integrantes do grupo, onde viviam e a idade deles.
Ela fez isto e ele ficou atônito. “Eu preciso saber na cidade dela se os pais dela ainda vivem ou não”, disse ele.
“Ambos estão vivos”, disse o Auxiliar Invisível. “Escreva aos pais dela e peça a eles que escrevam uma carta, e que o Prefeito da cidade coloque um selo nela”.
O Cônsul escreveu uma carta e colocou um selo nela. Um Auxiliar Invisível contou que o outro iria entregar a carta, enquanto ele fazia o passaporte. O Auxiliar Invisível foi até a cidade onde a mulher vivia, encontrou seus pais e entregou a carta a eles.
A mãe gritou de alegria, se sentou e imediatamente começou a responder a carta. Ela contou ao estranho onde o Prefeito morava e ele foi lá para que ele carimbasse a carta. O Auxiliar Invisível gastou uns vinte minutos e quando ele voltou com a resposta, o Cônsul olhou para ela e quase desmaiou porque viu um carimbo familiar datado e carimbado no papel.
“Você é casado?”, a Auxiliar Invisível perguntou.
“Sim, eu tenho esposa”, ele respondeu.
“Chame sua esposa aqui para ajudar a essa mulher?”, disse a Auxiliar Invisível.
“Eu tenho empregados para esse tipo de serviço”, disse o homem.
“Faça como eu disse”, a Auxiliar Invisível falou com uma voz firme.
“Sim, Vossa Alteza”, o Cônsul respondeu e foi buscar sua esposa.
Ela veio correndo, mas quando a Auxiliar Invisível olhou para ela, ela parou abruptamente. “O que você quer que eu faça?”, ela perguntou.
“Limpe essa mulher e lhe dê algumas roupas para viajar”, a Auxiliar Invisível respondeu.
“Sim, Vossa Alteza”, a mulher do Cônsul falou, e levou a mulher para um outro cômodo.
Elas retornaram em meia hora e os Auxiliares Invisíveis quase não reconheceram a mulher. Seu cabelo estava penteado e ela estava muito bem vestida. Até suas unhas tinham sido feitas. Todas viram que ela estava muito linda.
O Cônsul lhe deu o passaporte e quinhentos dólares. “Temos pouco tempo para tomar o barco”, ele falou. Então, ele pediu aos Auxiliares Invisíveis para retornarem depois que a mulher tivesse partido.
Os Auxiliares Invisíveis se despediram da mulher no barco. Ela chorou e disse que não queria ir para casa, mas queria voltar para seu amigo na selva. Ela pediu aos Auxiliares Invisíveis para cuidar dele e eles disseram que fariam isto.
Os Auxiliares Invisíveis voltaram para a casa do Cônsul. Ele e sua esposa estavam no escritório e eles se ajoelharam aos pés da Auxiliar Invisível. “Senhora Anjo, eu suplico por perdão”, o Cônsul falou: “Eu não sabia quem era essa mulher, quando ela veio aqui na primeira vez.”
“Levante-se”, ela falou. “Não sou um Anjo. Sou apenas uma Auxiliar Invisível da humanidade”.
“Rogo que me diga como posso fazer o que você faz e ser um Auxiliar Invisível”, ele falou. Sua esposa falou que ela também gostaria de saber e a Auxiliar Invisível contou a eles e mostrou todos os ensinamentos e o que eles deveriam fazer. Ela contou a eles que teriam oportunidades em sua posição de fazer maiores trabalhos.
“Nós faremos isto”, o Cônsul prometeu. “Se você conseguir trazer o gorila que é amigo dessa senhora, eu cuidarei dele e o domesticarei”.
A Auxiliar Invisível disse a essas duas pessoas para irem para a cama e se deitarem juntos, e que ela os levaria ao gorila. O homem e sua esposa fizeram isso, e depois que a Auxiliar Invisível os colocou para dormir os quatro foram encontrar com o gorila na selva.
Eles o encontraram morto. Ele havia retornado com frutas para a mulher, e quando descobriu que ela havia sumido seu coração se partiu. Os Auxiliares Invisíveis chamaram o Espírito-Grupo, e ele os contou o que havia acontecido.
Ele falou que esse gorila iria renascer como um menino e no futuro sua amiga iria ter a chance de ensinar a ele, porque ela seria uma verdadeira missionária para os seres humanos atrasados de todas as raças.
O Cônsul e sua esposa, em seus Corpos de Desejo, puderam ver e ouvir o Espírito-Grupo e estavam surpresos. “Com certeza eles devem ser Anjos ou Deuses, pois nenhum ser humano consegue fazer o que eles fizeram”, o Cônsul falou.
O Espírito Grupo falou que a mulher trouxe o gorila ao estágio humano com sua bondade, e ele contou sobre o destino maduro que causou seu problema. Uma vez ela havia largado umas pessoas na selva e nessa vida ela devia pagar aquela dívida, e fez isto muito bem.
Uma cobra imensa apareceu e a Auxiliar Invisível a chamou e ela se aproximou, mas o Cônsul e sua esposa se afastaram. Então os Auxiliares Invisíveis levaram o homem e sua esposa para casa.
(IH – de Amber M. Tuttle)