Vivemos, atualmente, uma fase de intensos conflitos. Em todos os campos de atividade nota-se o aparecimento ou o recrudescimento de crises. Embora a ciência acadêmica tenha alcançado um grande estágio de desenvolvimento, muitos problemas aí estão a desafiá-la, como se nada lhes pudesse fazer frente. De um modo geral, ela tem logrado combater apenas os efeitos, na maior parte dos casos, mostrando-se impotente para eliminar ou até mesmo detectar as causas. Poucas foram as soluções definitivas encontradas até hoje.
Nos meios intelectuais, encontramos homens e mulheres brilhantes, eruditos, dotados de um nível de inteligência notáveis. Poucos, entretanto, alcançaram essa grande verdade: as origens dos problemas que enfrentamos se encontram sempre em nosso interior, no mais recôndito do nosso ser!
Projetamos aquilo que somos intimamente. Nossos medos, nossas frustrações, neuroses, preocupações (pré-ocupações) e muitos outros desses tipos de desejos, emoções e sentimentos formam o quadro geral que conhecemos.
Lamentavelmente, muitas pessoas sofrem as pressões do meio em que vivem. Como as sociedades modernas são hedonistas, competitivas e materialistas, compelem seus membros a agirem dessa forma. Caso contrário, ficarão deslocados, marginalizados.
É comum depararmos com jovens idealistas e desinteressados cursando universidades, onde acalentam sonhos de construir um mundo melhor. E com tristeza verificamos que a maioria acaba, na vida profissional, abandonando suas puras aspirações. Deixam-se influenciar pela falsa necessidade de adquirir “status”, prestígio, poder consumista, ao invés de servirem altruisticamente aos seus semelhantes.
É bom frisar, todavia, que esse processo diabólico tem suas raízes nos primeiros anos de vida quando, no lar, o ser humano cresce carente de bons exemplos. O ser humano “moderno” recebe uma educação distorcida, quando a recebe. Talvez nem mereça o nome de “educação”, mas sim “deseducação”.
Muitos de nós somos condicionados, desde tenra idade, a procurar “vencer na vida”, indiferentes aos meios conducentes a essa situação. Na vida adulta isso se torna uma obsessão e fator capaz de gerar muito sofrimento.
As escolas e as igrejas têm obtido pouquíssimo êxito no mister de formar caracteres equilibrados. Aquelas primam por oferecer aos jovens uma orientação materialista e superficial. As instituições religiosas, por seu lado, embora cumprindo uma missão moralizante, falham quando impõem uma visão sectarista e limitada a seus membros.
Todo esse processo acaba por rebaixar e escravizar o ser humano, tornando-o presa fácil da natureza inferior. Embota-lhe a Mente, animaliza seus sentimentos, desejos e suas emoções, reduz-lhe a sensibilidade para com as verdades espirituais (que são as reais, as eternas, as fundamentais).
Como, então, despertar-lhe a consciência para as realidades espirituais?
Lembramos sempre que a Fraternidade Rosacruz oferece a todos um programa de regeneração e libertação. Inspirada na mais pura moral Cristã Esotérica, procura nos tornar melhor em todos os sentidos. Essa educação integral, equilibrada, ampla, consubstancia-se no lema: “Um Coração nobre, uma Mente pura, um Corpo são”. Essa é a meta de todos os Estudantes Rosacruzes ativos e sinceros.
Não se pense, porém, que ideal tão elevado possa ser atingido apenas pela aquisição de conhecimento. Requer-se, sobretudo, uma autodisciplina vigorosa, séria, sem concessões à natureza inferior. Não é tarefa fácil nem agradável. Sacrifício, renúncia e, às vezes, radicais transformações, não fazem o gênero da maioria. Poucos ainda se dão ao trabalho de uma destemida autocrítica, para em seguida iniciarem um denodado esforço de auto-regeneração.
O “homem-velho” deve dar lugar ao “homem-novo” (Ef 4:22-24) em novidade de Espírito. “Não se podem colocar vinho novo em odres velhos, … nem remendo novo em pano velho” (Mt 9:16-17). Cada um, sincera e corajosamente, deve libertar-se de suas falhas procurando a expressão do Cristo em si mesmo. Este ato de decisão e vontade encontra, nos Evangelhos, seu grande exemplo na figura de Zaqueu.
O pequeno Zaqueu elevou-se acima do comum dos “homens”, quando subiu no sicômoro para ver o Cristo. Assim, o Estudante Rosacruz ativo deve se elevar em dignidade e retidão para merecer, do Cristo Interno, aquele convite maravilhoso: “Desce depressa Zaqueu. Está noite irei cear contigo” (Lc 19:2-5).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1980 – Fraternidade Rosacruz em São Paulo – SP)
Há certa tendência das pessoas não repararem a diferença existente entre as palavras Exotérico e Esotérico, pretendendo dar a ambas o mesmo significado.
Exoterismo vem do grego: exotéricos e, pelo latim: exotericu, que quer dizer: conhecimento passível de ser divulgado para o público. Relacionamos com externo, público e profano. Para passarmos de nível utilizamos as conversões.
Já Esoterismo vem do grego: esotericos, que quer dizer: conhecimento complexo e entendimento restrito a um círculo de especialistas. Relacionamos com interno, oculto e reservado. Para passarmos de nível utilizamos as iniciações.
Assim, Exotérico é tudo que se fala abertamente sobre: uma filosofia, uma corrente de pensamento, uma Religião, etc., ou seja: todo ensinamento dado publicamente, sem reservas. É representado pelas grandes Religiões: Cristianismo Popular – igreja católica, protestante, ortodoxa, etc. –, Budismo, Judaísmo, Islamismo, etc. É por isso que cada Religião possui três elementos imprescindíveis:
Como aprendemos nos Ensinamentos Rosacruzes: a Religião Cristã é a mais elevada fornecida ao ser humano até o momento presente. Então, repudiar a Religião Cristã, seja ela exotérica ou esotérica, por qualquer sistema antigo é como preferir livros científicos desatualizados, ao invés dos mais novos que contém as mais recentes descobertas.
Da mesma forma, desprezar a crença nos ensinamentos da igreja Cristã relativa à Doutrina dos Perdão dos Pecados, ao poder salvador da fé e a eficácia da oração é um fator de atraso para o Aspirante à vida superior. Pois impelidos pela razão, muitos de nós afastamo-nos da igreja Cristã e tornamos as nossas vidas vazias. A saída é um retorno com renovada devoção, nascida de uma compreensão mais profunda das verdades cósmicas.
Notemos isso quando entendemos a mensagem Cristã que a Bíblia nos transmite e que conseguimos distinguir entre: o conteúdo essencial (“interior”) – ensinamento esotérico – e a forma estrutural (“exterior”) – ensinamento exotérico.
A forma estrutural que aparece como Religião sugere uma radiação exterior, um véu. E é com isso que externa os principais problemas: a pretensão de posse exclusiva da verdade; a rejeição das realidades iniciáticas; a fixação no dogmatismo; o conhecimento público que tende a sofrer modificações advindas das interpretações individuais.
Lembremo-nos do ensinamento de São Pedro: “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal.” (IIPe 1:20).
Também vemos que São Paulo formulou que as Escrituras Cristãs nos fornecem dois “tipos” Evangelhos:
Percebam: é o primeiro “tipo” que o Cristianismo Popular mais prega e divulga; mantém com o carácter que conhecemos e tem sido a tônica permanente da sua doutrina.
Por outro lado, vejam que o Cristianismo em si não é exclusivamente esotérico: é uma Religião dada por Cristo para a salvação de todos e comunicável a todos!
Então, qual é origem e a necessidade que temos de experimentarmos o exoterismo e o esoterismo?
Nos Ensinamentos Rosacruzes nós temos a resposta e essa é composta de duas partes.
A primeira parte é essencialmente a necessidade de sairmos da inconsciência total até a consciência total. No atual Esquema de Evolução conseguimos isso em quatro Etapas bem definidas:
Etapa 1 – Ações feitas sobre nós de fora, enquanto permanecemos inconscientes;
Etapa 2 – Sob a direção de Mensageiros Divinos e Reis, a quem vemos e a cujas ordens obedecemos;
Etapa 3 – Ensinados a reverenciar as ordens de um Deus a quem não vemos com os olhos físicos
Etapa 4 – Aprendemos: a nos elevar sobre toda a ordem; a convertermos em uma lei em nós mesmos; viver voluntariamente em harmonia com a Lei de Deus
A segunda parte da resposta do porquê precisamos experimentar o exoterismo está na necessidade de galgarmos os 4 Graus que nos leva a Deus, quais sejam:
Primeiro Grau: Adoramos a Deus por meio do medo; começamos a presenti-Lo; fazemos sacrifícios para agradá-Lo (exemplo: fetichismo);
Segundo Grau: Vemos Deus como o “dador de tudo”; esperamos Dele benefícios materiais; cumprir as Leis desse Deus: prosperidade material; sacrificamos por avareza e intenções próprias;
Terceiro Grau: Adoramos a Deus com orações; cultivamos a fé num céu com recompensa futura através de um sacrifício próprio; caso contrário: castigo futuro em um inferno;
Quarto Grau: Agimos bem sem pensar em recompensas ou castigo; amamos o bem por ser o bem; vivemos uma vida de serviço amoroso e desinteressado.
Convido você a fazer uma reflexão e determinar:
Que as rosas floresçam em vossa cruz
O Rosacrucianismo é uma Religião? Não em qualquer sentido tradicional da palavra. Mas, é religioso. Ele defende o Cristianismo, mas um Cristianismo ainda não visivelmente em evidência.
O que é Religião? Etimologicamente, a palavra significa “amarrar de volta”, o que sugere a função da Religião: retornar o ser humano, ou tornar o ser humano convertido a Deus; redirecionar e elevar sua consciência mundana ao objeto de sua legítima contemplação. Geralmente, Religião significa teísmo ou crença em Deus.
O Rosacrucianismo, portanto, desempenha uma função complementar à da Religião. Tem como objetivo facilitar e fortalecer a divindade humana, para remover as barreiras que podem existir entre o crente e Deus. Para o Rosacrucianismo, a principal barreira é a ignorância. E para o ser humano moderno, essa ignorância nasce do orgulho e do pensamento materialista.
O Rosacrucianismo foi fornecido à humanidade em antecipação às inadequações da Religião tradicional (como Religião Cristã exotérica denominada e professada pelo catolicismo, protestantismo e a ortodoxia) para lidar com o intelecto cada vez mais exigente e lógico da humanidade em evolução. A preocupação primordial dos Irmãos da Ordem Rosacruz era “não fazer declarações que não sejam apoiadas pela razão e pela lógica”. O ser humano moderno quer saber por que ele deveria acreditar, antes de consentir em tentar acreditar.
De qualquer modo, já de início, é importante colocarmos o que Max Heindel escreveu na Carta aos Estudantes nº 4: “Todos somos Cristos em formação. A natureza do amor está desabrochando em todos nós, portanto, por que não nos identificarmos com uma ou outra das igrejas Cristãs que acalentam o ideal de Cristo? Alguns dos melhores obreiros da Fraternidade são membros a ministros de igrejas. Muitos estão famintos pelo alimento que temos para lhes dar. Não podemos compartilhar desse alimento com eles mantendo-nos afastados. Prejudicamo-nos pela negligência em não aproveitar a grande oportunidade de ajudar na elevação da igreja.
Naturalmente, não há coação nisto. Não pedimos que se unam ou cuidem da igreja, mas se formos até ela com espírito de ajuda, afirmo-lhes que experimentarão um maravilhoso crescimento de alma em um curto espaço de tempo. Os Anjos do Destino, que dão a cada nação a religião mais apropriada às suas necessidades, colocaram-nos em uma terra Cristã, porque a Religião Cristã favorece um amplo crescimento anímico. Mesmo admitindo que a igreja tenha sido obscurecida pelo credo a pelo dogma, não devemos permitir que isto nos impeça de aceitar os ensinamentos que são bons, porque isso seria tão infrutífero como centralizar a nossa atenção sobre as manchas do Sol recusando ver a sua luz gloriosa.
Medite sobre este assunto, querido amigo: maior Utilidade, para que possamos crescer, empenhando-nos sempre no aperfeiçoamento das oportunidades surgidas”.
Max Heindel foi escolhido pelos Irmãos Maiores para atender a essa necessidade. O resultado é o livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Não é dogmático e não apela para outra autoridade, senão a razão do leitor. A Religião tradicional não apela para a razão. Simplesmente exige aceitação e fé implícita em seus pronunciamentos. Mas, nos capítulos do “Conceito Rosacruz do Cosmos” lemos que “a Ciência avançada se tornou, novamente, colaboradora da Religião”. No “Conceito Rosacruz do Cosmos”, um esforço foi feito para “espiritualizar a ciência e tornar a Religião científica”, uma prática iniciada por Christian Rosenkreuz, cujo objetivo foi lançar “luz oculta sobre a Religião Cristã, incompreendida, para explicar o mistério da vida e do ser a partir do ponto de vista científico, em harmonia com a Religião”.
Como Max Heindel vê a Religião tradicional? Não com grande favor. “A Religião erroneamente chamada de Cristianismo foi… a Religião mais sangrenta conhecida”. Nas igrejas atuais, que professam a Religião Cristã exotérica, “a razão está submersa em ditames e dogmas”. “A Religião foi terrivelmente maculada com o passar do tempo; sua pureza há muito desapareceu sob o regime do credo e ela não é mais universal.”
A Religião é a verdade, a verdade suprema. No entanto, as teologias da igreja só podem propor a verdade, por assim dizer, por meio de decreto, para ser aceita pela fé, uma condição que o intelecto imperioso considera inadmissível. O Estudante Rosacruz, por outro lado, “aprende a estar sempre pronto para apresentar a razão da sua fé”.
Religiões Cristãs exotéricas ensinam a salvação por meio da expiação, o sangue derramado de Jesus. O Rosacrucianismo ensina que a perfeição é alcançada mediante o uso correto das Leis gêmeas do Renascimento e da Consequência.
O lema do ocultismo é “Existe apenas um pecado — a ignorância; e apenas uma salvação — o Conhecimento Aplicado”. Onde o conhecimento espiritual é obtido? Na “Grande Escola Ocidental de Mistérios da Ordem Rosacruz”, que foi encarregada de “moldar o pensamento da Europa Ocidental”. Seus professores são os Irmãos Maiores e seu currículo inclui a ciência da alma e a ciência do espírito; seus alunos e alunas são aquelas almas ousadas que desejam tomar sua salvação em suas próprias mãos e invadir o Céu. Eles são os “espíritos destemidos que se recusam a ser acorrentados pela ciência ortodoxa ou pela Religião ortodoxa”.
Um Estudante dos Ensinamentos Rosacruzes pode acalentar seus princípios com zelo religioso; contudo, ele sabe que eles não pretendem ditar como se adora a Deus, pois a adoração é província da Religião e está em seu coração; ou, mais corretamente, a adoração é o coração da Religião, sua força motriz e seu sangue vital. Os ensinamentos são úteis e aumentam a adoração. Por sua vez, a adoração é inspirada, sustentada e organizada pela liturgia, que é vagamente sinônimo dela, mas pode ser mais precisamente entendida como algo que identifica todas as atividades relacionadas à igreja e focam a consciência em direção a Deus, incluindo leituras das Escrituras, Hinos, Salmos, Credo, Glória, Cânticos, Orações, Sermões, Homilia, Ofertório, a Sagrada Comunhão e outros movimentos ou gestos sacramentais, rituais ou cerimoniais.
Embora o culto possa ser individual e solitário, a liturgia (literalmente, “trabalho do público”, “serviço público”) é sempre comunitária. Aqui encontramos uma distinção crítica entre a Religião e os Ensinamentos Rosacruzes. Os Ensinamentos Rosacruzes enfatizam a responsabilidade individual pelo crescimento espiritual. A Religião é eminentemente um empreendimento comunitário. Embora a Fraternidade Rosacruz seja um precursor da Fraternidade universal, é principalmente a Fraternidade espiritual que se deseja e não a associação social, fraterna ou congregacional de crentes em uma igreja.
“O Rosacrucianismo ensina o candidato a trabalhar em sua própria salvação. A Religião Cristã exotérica (professada pelo catolicismo, protestantismo e a ortodoxia) o torna dependente do sangue de Jesus. Aqueles que usam o método positivo ou ativo, naturalmente, se tornam as almas mais fortes.”. Aqui, Max Heindel parece propor o que alguns podem considerar um toque de clarim em favor da autossuficiência espiritual, o que beira a arrogância espiritual. “A igreja dominante não vê com complacência a separação de seus filhos. Ela até mesmo prostituiria o Espírito da Verdade para que suas ordens fossem cumpridas.”.
Como um Ensinamento de Sabedoria, o Rosacrucianismo é uma cosmologia, na medida em que traça a origem do nosso cosmos desde o caos até sua conclusão projetada, no Período Vulcano, onde a Criação terá alcançado o que nossas Mentes atuais só podem conceber como um estado incompreensível de perfeição. O Rosacrucianismo é uma teosofia (“teo”, de “theo” – Deus; “sofia”, de sophia – sabedoria; portanto: “sabedoria de Deus”), pois identifica tudo o que existe como uma diferenciação e uma extensão de Deus. É frequentemente chamada de filosofia (“filo”, de “philo” – amizade, amor fraterno; “sofia”, de sophia – sabedoria; portanto: “amizade pela sabedoria”), sendo uma formulação de ideias “definidas, lógicas e sequenciais”, claramente articulada e racionalmente fundamentada. Max Heindel descreve os Aspirantes Rosacruzes como “Estudantes de uma filosofia transcendental” e, na introdução do “Conceito Rosacruz do Cosmos”, em “Uma Palavra ao Sábio”, o autor chama sua exposição de um “novo esforço filosófico” na busca pela verdade universal. É uma antroposofia (“antropo”, de “ánthropos” – Homem; “sofia”, de sophia – sabedoria; portanto: “sabedoria do Homem”), na medida em que detalha a origem e a evolução do ser humano, de uma centelha nesciente da Divindade a um espírito superconsciente e plenipotente que participa da totalidade do Ser universal.
Enquanto as Religiões atuais estão repletas de mistérios, o Rosacrucianismo busca descobrir e explicar os mistérios. “A Ordem Rosacruz foi fundada, especialmente, para aqueles cujo elevado grau de desenvolvimento intelectual lhes obriga a esquecer do coração.” Como diz Max Heindel: “Muitos entre nós foram impelidos pela razão a se retirar da Igreja”, apenas para formar, ironicamente, uma nova igreja de crentes libertados das restrições do dogma ortodoxo.
Os Ensinamentos Rosacruzes são, na verdade, pensados para superar as limitações das Religiões da Raça que, sendo baseadas na lei, favorecem o pecado e trazem dor, sofrimento e morte. “Só de dentro é possível conquistar as Religiões da Raça, que influenciam o ser humano de fora.”. Enquanto “a lei das Religiões de Raça foi dada para emancipar o intelecto do desejo”, os Ensinamentos Rosacruzes são projetados para libertar o coração do ceticismo do intelecto para que a verdadeira Religião Cristã possa ser abraçada de todo o coração.
Os Ensinamentos Rosacruzes são elaborados para acelerar o início da Religião do Filho, Cristo, por meio da purificação e controle do Corpo Vital, pois capacitam a humanidade a subjugar melhor o Corpo de Desejos e se unir ao Espírito Santo para, no futuro, promover a Religião do Pai, espiritualizando o Corpo Denso e trazendo uma verdadeira unidade cósmica. Os Ensinamentos Rosacruzes, então, são um presente inestimável para a humanidade, capacitando-a a participar mais plena e efetivamente do plano de Deus para sua divinização.
“Christian Rosenkreuz foi encarregado dos Filhos de Caim, que buscam a luz do conhecimento nos fogos sagrados do Santuário Místico, o Templo interno… para realizar a própria salvação”, confeccionando o Dourado Manto Nupcial, a Pedra Filosofal ou Pedra Viva, o Cristo interno, pois acreditam mais nas obras do que na fé”. “Jesus permanece como o gênio e protetor de todas as técnicas da igreja, por meio da qual a Religião é promovida e o ser humano é trazido de volta a Deus ao longo do caminho da devoção do coração.”.
Aqui pode surgir a pergunta: mais os dos Filhos do Seth (místico, coração) que também buscam a luz do conhecimento, conseguem alcançar níveis tão elevados como os que seguem pelo caminho dos Filhos de Caim (ocultista, razão)? A resposta é: sim. Sugiro que estude o livro Iniciação Antiga e Moderna que elucidará muito esse ponto. De qualquer modo, aqui trechos sobre o assunto: “o amor, que é o princípio básico na vida do Místico Cristão, nunca poderá nos levar à condenação ou conflitar com os propósitos de Deus. É infinitamente melhor ser capaz de sentir emoções nobres, do que ter o intelecto tão aguçado e hábil para definir todas as emoções. Tecer algo sobre a constituição e evolução do átomo, seguramente, não promoverá o crescimento anímico tanto quanto a humilde ajuda direcionada ao próximo.”. “A forma de uma Iniciação Mística Cristã difere radicalmente do método Rosacruz, que visa trazer o candidato à compaixão por meio do conhecimento e, para isso, procura cultivar nele as faculdades latentes da visão e da audição espiritual desde o início de sua peregrinação como um Aspirante a vida superior, lhe ensinando a conhecer os mistérios ocultos do ser e a perceber, intelectualmente, a unidade de cada um com todos, de modo que, finalmente, por meio desse conhecimento, haja despertado internamente o sentimento que o faz perceber, verdadeiramente, sua ligação com tudo o que vive e se move, e isso o coloca em perfeita e completa sintonia com o Infinito, tornando-o um verdadeiro auxiliar e trabalhador no divino reino da evolução.
A meta alcançada por meio da Iniciação Mística Cristã é a mesma, porém o método, como mencionado acima, é inteiramente diferente. Em primeiro lugar, o candidato geralmente está inconsciente do fato de que está tentando atingir algum objetivo definido, pelo menos durante os primeiros estágios de seus esforços, e há nessa nobre Escola de Iniciação tão somente um Mestre, o Cristo, que está sempre diante da visão espiritual do candidato como o Ideal e a Meta de todo o seu empenho. . O mundo ocidental, infelizmente, se tornou tão enredado na intelectualidade que seus Aspirantes somente iniciam a Caminhada quando sua razão foi satisfeita; e, infelizmente, é apenas o desejo por mais conhecimento que traz a maioria dos Estudantes para a Escola Rosacruz. É uma tarefa árdua cultivar neles a compaixão, que deve ser mesclada com o seu conhecimento e ser o fator determinante no uso dele, antes que estejam habilitados para entrar no Reino de Cristo. Contudo, aqueles que são atraídos para o Caminho Místico Cristão não sentem nenhuma dificuldade desta natureza. Eles têm dentro de si um amor abrangente que os impulsiona e que, finalmente, gera neles um conhecimento que o autor acredita ser muito superior ao obtido por qualquer outro método. Aquele que segue o Caminho do desenvolvimento intelectual tende a menosprezar, arrogantemente, o outro cujo temperamento o impele a um Caminho Místico.
Tal atitude mental não prejudica somente o desenvolvimento espiritual de quem a coloca em prática, mas é totalmente gratuita, como pode ser vista nas obras de Jacob Boehme, Thomas de Kempis e muitos outros que seguiram o Caminho Místico. Quanto mais conhecimento nós possuirmos, maior a condenação nós mereceremos se fizermos mal uso dele. Todavia, o amor, que é o princípio básico na vida do Místico Cristão, nunca poderá nos levar à condenação ou conflitar com os propósitos de Deus. É infinitamente melhor ser capaz de sentir emoções nobres, do que ter o intelecto tão aguçado e hábil para definir todas as emoções. Tecer algo sobre a constituição e evolução do átomo, seguramente, não promoverá o crescimento anímico tanto quanto a humilde ajuda direcionada ao próximo.”.
Cada uma das Religiões de hoje “tem sua missão a cumprir entre as pessoas onde se encontra”; contudo, “nenhuma possui mais do que um raio de toda a verdade, no presente”. Portanto, “cabe a nós superar as barreiras da nacionalidade e das Religiões de Raça e aprender a dizer, como fez aquele homem tão caluniado, Thomas Paine: ‘O mundo é minha pátria e fazer o bem é a minha Religião’”.
Max Heindel exorta o Estudante Rosacruz a não “imitar o espírito missionário e militante das igrejas, mas, como diz a Bíblia, a dar nossas pérolas de conhecimento apenas para aqueles que estão cansados de se alimentar da palha e anseiam pelo verdadeiro pão da vida”. “Também não devemos impor nossos pontos de vista sobre eles nem tentar converter ao nosso modo de vida aqueles que ainda não estão prontos. A mudança deve vir de dentro.”. Aqui é identificada uma diferença significativa entre os Ensinamentos Rosacruzes e os das Religiões Cristãs exotéricas. As últimas devem ser reconhecidas e aceitas com base na autoridade externa, incluindo as Escrituras, a hierarquia eclesiástica, os escritos dos pais da Igreja, ameaças de excomunhão e condenação eterna… Um cânone de fé é definido, fora do qual se pisa como possível apóstata ou herege. Quantos deixaram suas igrejas, Max Heindel pergunta retoricamente, por causa do credo intolerante? Seu poema “Credo ou Cristo?” contrasta a única Verdade, representada por Cristo, o Senhor do Amor, com as várias “interpretações” religiosas da verdade que, necessariamente, se tornam separatistas, exclusivas e punitivas.
Os Ensinamentos Rosacruzes não se propõem a ser a palavra final sobre a verdade, reconhecendo que as Religiões evoluem como a humanidade evolui. Precisamente por isso, tais Ensinamentos não constituem uma Religião categórica, mas verdades provisórias e ideias mediadoras. “Qual é, então, o caminho para as alturas da realização religiosa e onde se pode encontrá-lo?… Não se encontra nos livros… O interior então é o único tribunal da verdade que é digno. Se levarmos nossos problemas de forma consistente e persistente a esse tribunal, no decorrer do tempo, desenvolveremos um senso de verdade tão superior que, instintivamente, sempre que ouvirmos uma ideia avançada, saberemos se ela é sólida e verdadeira ou não.”.
“A verdade não pode ser encontrada em Religiões ligadas a credos; quem a busca deve estar livre da lealdade a qualquer um”. São palavras fortes, até mesmo assustadoras, e destinadas apenas àqueles que sentem que elas foram endereçadas a eles. “Os Rosacruzes insistem que todos os que vêm a eles para um ensino mais profundo devem estar livres da lealdade a qualquer escola e o candidato não está sujeito a juramentos em qualquer estágio. Todas as promessas que ele faz são feitas a si mesmo, porque a liberdade é o bem mais precioso da alma e não há crime maior do que acorrentar nossos próximos de qualquer maneira.”. Cristo disse “Eu sou a verdade”.
Cristo também disse que enviaria o Espírito da Verdade, o Espírito Santo, para habitar em cada um de nós e ensinar todas as coisas. Aqui, então, está o cerne radiante da Religião. No Santo dos Santos, no templo da alma, das profundezas da quietude purificada, no santuário do coração regenerado e da Mente transformada, a voz de Cristo fala. Aqui, sempre nos voltamos para respostas a nossas perguntas; o consolo para nossa aflição temporal; a iluminação da nossa escuridão, que nos assedia; a verdade que nos libertará. Nem Max Heindel abandonou uma “insistência enfática na liberdade pessoal e absoluta da Fraternidade Rosacruz”. “Entre as almas mais velhas do ocidente, que aspiram ao crescimento espiritual, não pode haver Mestre ou Guia. Devemos aprender a ficar sozinhos. Podemos não gostar; podemos ter medo e querer um Mestre ou Guia para nos libertar da responsabilidade.” Onde está a Religião, aqui? Dizem-nos, de fato, que tivemos nossa Religião — nosso “leite”, como diria São Paulo. Agora temos a nossa “carne”. O tempo de dependência externa acabou.
O Mestre ocidental se dá a conhecer não respondendo, mas agindo “mais como o pai pássaro que empurra os filhotes para fora do ninho, se eles próprios não saírem. Podemos nos machucar, mas aprendemos a voar”.
Embora os Ensinamentos Rosacruzes não sejam religiosos no sentido usual, eles são essencialmente centrados em Cristo; isto é, eles apontam para Cristo como Aquele que mostra o Caminho, Aquele que é a Luz no Caminho do desenvolvimento espiritual. Os Ensinamentos Rosacruzes deixam claro que a vida de Cristo Jesus molda a vida do Aspirante espiritual; que o Cristo exotérico e histórico se tornará o Cristo esotérico, pessoal e interior. Aqui está o cerne, de fato! E “Se tu és o Cristo, ajuda-te a ti mesmo”. “Ninguém que é ‘aprendiz’ pode, ao mesmo tempo, ser ajudante; cada um deve aprender a se manter sozinho”. Para esses não existe Religião, como se entende hoje. Mas, existe Cristo. E se Cristo está com alguém, dentro dele, quem pode ser contra ele? Pois Ele venceu o mundo. E para o Aspirante Rosacruz, a Anunciação é levada tão a sério quanto as palavras maravilhosas ditas à sua própria alma: “Ave Maria, Mãe de Deus, bendita és tu”. E agora, nas dores de parto, carregamos o Cristo incipiente, a esperança de Glória, gestando dentro de nós, para nascer misticamente quando o nosso período preparatório se cumprir.
O sacrifício cósmico de Cristo possibilitou rasgar o véu do templo do Espírito humano, para todos os que queiram aí entrar. “Desde então, nenhum segredo prevaleceu na Iniciação.” A sabedoria Rosacruz dá o incentivo e a razão para entrar naquele templo. Na verdade, isso nos lembra que o exterior é um sinal e símbolo da verdade interior e oculta. Da melhor forma, os Ensinamentos Rosacruzes despertam nosso senso de admiração e gratidão e satisfazem suficientemente nossa fome intelectual para que possamos nos render e tornar mansos de coração, para sermos justamente purificados diante de nosso Pai Criador e reverentes na companhia imanente de Seu Filho, Cristo, nosso Irmão Maior e protótipo espiritual. Então poderemos, com renovado ardor e firme determinação, comprometer nossa vida para alcançar nosso direito espiritual de nascença e embarcar naquela designada estrada mais curta, segura e alegre até Deus.
A verdadeira Religião é tanto aquilo em que eu acredito quanto o que eu faço. Aquilo em que acredito, por si só, é insuficiente para a emigração até o Reino dos Céus. A crença me diz que o Céu existe e que fui chamado para morar lá. Não me fornece, por si só, algum transporte mágico. A mera fé nos Ensinamentos Rosacruzes fará com que minhas esperanças de salvação nasçam mortas. No entanto, uma fé suficientemente forte transborda e inicia a ação — as obras —, incendiando a imaginação para que possamos ver mais e ir além das obstruções diárias, para longe das falsas alegações ou seduções dos prazeres seculares.
Chegamos, finalmente, ao ponto crucial dos Ensinamentos Rosacruzes. A estrada para Deus é através de, em e por, Cristo — e Cristo veio para servir. As Religiões exotéricas tradicionais realizam cultos em suas igrejas. O Aspirante Rosacruz busca prestar serviço em todos os lugares, fazendo do mundo a sua igreja. A estrutura do serviço Cristão é a boa vontade, a benevolência, a caridade. A boa vontade é a vontade de Deus e a caridade é a substância espiritual de Deus, porque Deus é Amor. O Amor é a Lei de Deus. Os Ensinamentos Rosacruzes, então, não são um fim em si mesmos, mas o meio para um fim.
Enquanto o “Conceito Rosacruz do Cosmos” foi escrito para satisfazer o intelecto inquiridor, de modo que o lado devocional da natureza do Aspirante pudesse se desenvolver, Max Heindel expressou seus crescentes temores de que esse conhecimento pudesse estar aguçando o apetite intelectual sem obter a conversão pretendida e, “a menos que o livro dê ao aluno um desejo sincero de transcender o caminho do conhecimento e seguir o caminho da devoção, será um fracasso, na minha opinião”. “Pois, embora tenhamos todo o conhecimento e possamos resolver todos os mistérios, somos apenas címbalos que tilintam, se não tivermos amor e o usarmos para ajudar nossos semelhantes.”
Assim, exploramos o cosmos, sondamos intelectualmente as profundezas da criação e desenterramos os mistérios do ser apenas como o meio para um fim: que possamos viver com mais caridade no aqui e agora; que possamos servir com mais eficácia aqui, agora; que possamos vestir permanentemente o nosso ser com o Ser de Cristo, que está aqui e agora.
A Fraternidade Rosacruz não é constituída por seus Ensinamentos, que são abertos ao mundo e aceitos por muitos não-alunos. “Pelo contrário, é o serviço que realizamos e a seriedade com que praticamos os Ensinamentos e nos tornamos para o mundo exemplos vivos de amor fraterno.”
Somos lembrados de que o conhecimento, por mais sublime que seja, pode inchar, enquanto a caridade edifica. Estamos corretamente orientados quando lembramos que “o serviço é o padrão da verdadeira grandeza”. Somos informados de que “a união do poder temporal e espiritual, da cabeça e do coração, … deva acontecer antes que Cristo, o Filho de Deus, possa voltar”. Entendemos que Christian Rosenkreuz é um colaborador de Jesus, no trabalho de unir a humanidade e trazê-la ao Reino de Cristo.
A Religião denota uma reunião de fiéis, porque “sempre que dois ou três estão reunidos em meu Nome, aí estou Eu”. O Nome é a teologia e a liturgia. O Nome é Verdade, o Nome é Poder. O Nome significa Amor real e presente. O encontro em si é a liturgia; dizer o Nome externamente é ladainha; internamente, é oração ou meditação. Idealmente, todo ensino religioso leva a esse foco e à experiência da presença da Luz do mundo, o Príncipe da Paz. Na comunhão espiritual está o poder invocativo. Mas, também somos informados por São João que qualquer um que crê em Cristo, o Logos, recebe poder para se tornar o Filho de Deus. Aqui está o poder, de fato. O que tem em um nome? Neste nome, tudo.
A verdadeira Religião Cristã, incorporando a única Verdade, a única Religião universal, lembra-nos da nossa unidade em Deus por meio de Cristo, uma unidade da qual ninguém está isento. Que esse entendimento trabalhe em nossos corações e ações para nos restaurar a Mente e podermos glorificar a Deus e ser elevados nessa mesma exaltação. Ensinamentos de qualquer parte, de fora ou de dentro — feitos com a melhor intenção e quando alguém está no auge de uma adoração fervorosa — são concebidos com um propósito: para nos santificar e dirigir ao único Ser no Qual, e por Quem fomos criados, e em Quem sempre habitamos. Assim, que possamos conhecer e amar cada vez melhor esse Ser, o Lar e a Fonte do nosso próprio Ser verdadeiro.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de novembro-janeiro de 1995 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)