Pergunta: Se o mundo é uma escola de ensinamento e todos nós devemos evoluir algum dia, por que foi necessário que Jesus Cristo morresse para nossa salvação?
Resposta. Se você estudou o “Conceito Rosacruz do Cosmos”, vai lembrar que, em diferentes períodos do desenvolvimento do mundo, houve atrasados que não preencheram os requisitos e precisaram transferir-se para outra classe, por assim dizer. Isso se baseia no mesmo princípio que rege as escolas atuais. Em toda classe há crianças que não estudam tanto quanto as outras e, consequentemente, na época dos exames, elas não estão aptas a ir para a classe superior; por isso, ficam para trás. Sob o regime de Jeová, o egoísmo foi instilado na humanidade primitiva para promover a evolução. Nos primeiros Atlantes, o Espírito tinha acabado de entrar no corpo e todos se sentiam em uma fraternidade universal, como filhos do grande Pai. Não obstante, eles estavam destinados a conquistar o mundo e desenvolver a individualidade; para isso, foram divididos em nações e famílias.
Tendo recebido o domínio sobre todas as coisas, foram estimulados a adquirir bens. Favores de ordem material, maior número de filhos, de gado e terras lhes foram dados como recompensa pela obediência às ordens dos vários Espíritos de Raça, considerados por eles os mensageiros de Deus. Por outro lado, se transgredissem e desobedecessem aos mandamentos de Jeová, deveriam pagar com a fome, sendo acometidos por pestes ou outras calamidades de ordem material. Não havia, sob o regime de Jeová, uma promessa de paraíso, pois foi dito que “mesmo os Céus pertencem ao Senhor, mas a Terra, Ele a deu aos filhos dos homens”. Além disso, dizia-se a eles que seriam recompensados com uma longa vida em sua terra, se fossem obedientes aos Seus mandamentos. Assim, aos poucos, o egoísmo e a autossatisfação tornaram-se soberanos e as boas ações, que são a base da vida celestial onde se realiza o progresso espiritual, foram negligenciadas. Quanto mais inteligentes as pessoas se tornavam, mais a astúcia e a cobiça estimulavam-nas a acumular tesouros na Terra.
A humanidade constrói tanto as partes da Terra quanto os seus próprios corpos no Segundo Céu, entre duas vidas, e ela teria cristalizado o planeta e a si própria, em seu egoísmo ganancioso, até chegar ao ponto em que a Terra se tomasse semelhante à Lua.
Para evitar essa calamidade, outra influência se fazia necessária e o vidente, que pode ler a Memória da Natureza, observa que durante as eras que precederam o advento real de Cristo, a Sua autoridade benéfica foi exercida de fora. Ele Se preparava para atuar como Espírito Interno do nosso Planeta, elevando assim a sua vibração a fim de purificar a atmosfera moral e transformar a máxima “olho por olho, dente por dente” em “Amai os vossos inimigos”. Jeová é o regente de todos os satélites do nosso Sistema Solar. Para despertar a classe atrasada de Espíritos que se encontram nessas luas, é necessário usar os meios mais enérgicos, indefinidamente. Mas, tão logo o povo de um planeta atinge o suficiente estágio de iluminação, o Cristo Cósmico encarrega-Se dele para salvá-lo da lei por intermédio do amor. Ele então produz em tal população e na sua atmosfera planetária as vibrações altruísticas da fraternidade.
O fato de mergulhar a Sua consciência em condições tão baixas e materiais, com concentração suficiente para realizar o Seu objetivo, acarreta uma morte temporária nos reinos espirituais superiores; mas isso é necessário, portanto, Cristo deve morrer para salvar o mundo.
(Pergunta nº 100 – “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II”)
O Espírito Planetário da Terra
Cristo é o mais alto Iniciado do Período Solar e como tal tem a Sua morada no Sol. Ele é o sustentador e o preservador da totalidade do Sistema Solar e, em certo sentido, é correto julgarmos que habite o nosso Planeta como uma chispa, embora isso não expresse a ideia exata daquilo que é a realidade. Essa, talvez, possa ser compreendida por meio de uma ilustração.
Comparemos o Grande Espírito no Sol com um refinador de metais, reunindo em sua fornalha um certo número de cadinhos com metais em fusão. O calor funde esses metais e o refinador remove a escória, purificando a matéria incandescente. De forma análoga, processa-se a ação do Cristo, purificando a Terra, expurgando seus componentes deletérios.
Similarmente, podemos ver que o Cristo dirige a Sua atenção de um Planeta a outro e, ao voltar-Se para nossa Terra, por exemplo, sobre ela reflete Sua imagem. Contudo, não é uma imagem inerte, mas a de um ser vivente, sensível, consciente, tão plena de vida e de sentimento que não podemos, em nosso presente estado evolutivo, vivendo em corpos terrenos, ter pelo menos uma ligeira ideia daquela faculdade possuída pelo Espírito Interno do Planeta em que vivemos.
Tal imagem interna, que não é uma imagem no sentido comum da palavra, é a contraparte, uma parte do Cristo Solar que, por seu intermédio, tudo sabe e percebe, pois embora verdadeiramente no Sol, o Cristo Cósmico tudo sente daquilo que ocorre na Terra como se realmente estivesse presente. Isso é o que em realidade significa onipresença. Não obstante o Cristo seja o Espírito Interno do Sol, também é o da Terra e assim deverá continuar essa tarefa de auxílio, tudo suportando daquilo que acontece, permanecendo como um agente eficaz para possibilitar a nossa salvação.
A solidificação da Terra começou no Período Solar, quando éramos incapazes de vibrar numa média tão elevada quanto a necessária para permanecermos no Sol Central. Assim, gradualmente surgiram as condições que provocaram a nossa ejeção para o espaço.
A média de vibração foi caindo paulatinamente até meados da Época Atlante. Dessa maneira, nós mesmos imprimimos tais condições à Terra e se não houvesse um auxílio superior, seríamos incapazes de nos livrar das malhas da materialidade.
Jeová, de fora, tentou nos ajudar por meio das leis. Conhecer a lei e segui-la foi durante algum tempo nosso meio de salvação, contanto que fizéssemos um esforço indispensável. Contudo, como nenhum ser humano é justificado pela lei, um novo impulso será sentido, o qual deverá inscrever a lei no coração dos seres humanos, pois há uma grande diferença entre aquilo que devemos fazer por temor a um senhor externo, o qual concede uma justa retribuição a cada falta cometida, e o impulso que surge do íntimo e nos impele a fazer o bem porque é certo. Reconhecemos o que é lícito quando a lei está inserida em nossos corações e, assim, obedecemos aos seus ditames de maneira inquestionável.
Dessa forma e coletivamente, somos espíritos sobre a Terra e algum dia deveremos guiá-la. Cristo veio como Salvador, amparando-nos até que chegue o tempo em que o desabrochar da natureza-amor dentro de nós seja suficiente para poder fazer flutuar a Terra. Futuramente será nosso privilégio executar a tarefa do Cristo e guiar o nosso Planeta. O aumento da força vibratória já tornou a Terra menos densa, mais leve e tempo virá em que ela se tornará etérica como outrora. Então, ela se tornará viva no amor.
(Por Max Heindel – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro de 1966)
Pergunta: Recordar, a cada ano, o sofrimento de Cristo é útil a um propósito real? Se não é, por que a Igreja Cristã não omite a paixão e a Coroa de Espinhos e concentra seus esforços em celebrar a Páscoa, um tempo de alegria?
Resposta: A história do evangelho, como geralmente é lida pelas pessoas nas igrejas, é apenas “a história de Jesus, um personagem único, o Filho de Deus em um sentido especial, que nasceu uma vez em Belém, viveu na Terra pelo curto espaço de trinta e três anos, morreu pela humanidade, depois de muito sofrimento, e agora é permanentemente exaltado à direita do Pai”; por isso, esperam que ele retorne para julgar os vivos e os mortos e celebram seu nascimento e morte em determinadas épocas do ano, porque supõem que ocorreram em datas definidas iguais ao dia do nascimento de Lincoln, de Washington ou da Batalha de Gettysburg.
Contudo, enquanto essas explicações satisfazem as multidões, que não são muito profundas em suas investigações sobre a verdade, há outro ponto de vista que é bastante claro ao místico, uma história de amor divino e sacrifício perpétuo que o enche de devoção ao Cristo Cósmico, Aquele que nasce periodicamente para que possamos viver e ter a oportunidade de evoluir neste ambiente, porque o permite entender que sem esse sacrifício anual a Terra e suas atuais condições de avanço seriam impossíveis.
No momento em que o Sol está no Signo celestial de Virgem, a virgem, a Imaculada Concepção ocorre. Uma onda de luz e vida do Cristo solar é focalizada na Terra. Gradualmente, esta luz penetra cada vez mais no centro da Terra, até que o ponto mais profundo seja alcançado na noite mais longa e escura, que chamamos de Natal. Este é o nascimento Místico de um impulso da Vida Cósmica que penetra e fertiliza a Terra. É a base de toda a vida terrestre; sem ele nenhuma semente germinaria, nenhuma flor apareceria na face da Terra, nem o ser humano ou a fera poderiam existir e a vida logo se extinguiria.
Portanto, há de fato uma razão muito, muito válida para a alegria que é sentida na época do Natal, pois o Autor Divino do nosso ser, Nosso Pai Celestial, deu o maior de todos os presentes ao ser humano, O Filho. Assim, os seres humanos também são impelidos a dar presentes uns aos outros e a alegria reina sobre a Terra, junto à boa vontade e à paz, ainda que as pessoas não entendam as razões místicas e anualmente recorrentes para isso.
Como “um pouco de fermento fermenta toda a massa”, assim também esse impulso de vida espiritual, que entra na Terra durante o Solstício de Dezembro e percorre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro em direção à sua circunferência, dando vida a todos com quem entra em contato; até os minerais não poderiam crescer, caso esse leve impulso fosse retido; e quando a Páscoa chega, a Terra está florescendo, os pássaros começam a cantar e os pequenos animais na floresta se acasalam, tudo está imbuído dessa grande vida divina; Ele Se consumiu, morreu e é elevado novamente à mão direita do Nosso Pai.
Assim, o Natal e a Páscoa são momentos decisivos que marcam o fluxo e o refluxo da vida divina, anualmente oferecidos por nossa causa e sem os quais seria impossível viver na Terra. Essa última também encerra a repetição anual do sentimento festivo que experimentamos do Natal à Páscoa, a alegria que emociona nosso ser. Se somos sensíveis, não podemos deixar de sentir o Natal e a Páscoa no ar, pois estão carregados de amor, vida e alegria divinos.
No entanto, de onde vem a nota de tristeza e sofrimento que antecede a Ressurreição da Páscoa? Por que não nos regozijamos com uma alegria sem igual, no momento em que o Filho é libertado e retorna ao Pai? Por que a paixão e a coroa de espinhos? Por que não podemos desconsiderar isso? Estão aí perguntas cujas respostas nosso interlocutor gostaria de conhecer.
Para entender esse mistério é necessário ver a questão da perspectiva do Cristo e entender completamente que essa onda de vida anual que é projetada em nosso Planeta não é simplesmente uma força desprovida de consciência. Carrega consigo a plena consciência do Cristo Cósmico. É absolutamente verdade que sem Ele nada do que foi feito teria sido feito, como nos é mostrado por São João, no capítulo inicial do seu Evangelho.
No momento da Imaculada Concepção, em setembro, esse grande impulso de vida começa sua descida sobre a nossa Terra e, no tempo do Solstício de Dezembro, quando o nascimento místico ocorre, o Cristo Cósmico está totalmente concentrado dentro e fora deste Planeta. Vocês perceberão que isso deva causar desconforto a um espírito tão grandioso: estar apertado dentro da nossa pequena Terra, consciente de todo o ódio e a discórdia que Lhe enviamos no dia-a-dia, durante o ano inteiro.
É um fato que não se possa contradizer: toda expressão de vida existe através do amor; da mesma forma, a morte vem pelo ódio. Se o ódio e a discórdia que geramos em nossa vida cotidiana, em nossos negócios; se o engano, a infâmia e o egoísmo não fossem remediados, a Terra seria tragada pela morte.
Você se lembra da descrição da Iniciação dada no Conceito Rosacruz do Cosmos: afirma-se que, nos cultos realizados todas as noites, à meia-noite, o Templo é o foco de todos os pensamentos de ódio e perturbação do mundo ocidental, ao qual serve, e que tais pensamentos estejam ali desintegrados e transmutados, sendo essa a base do progresso social no mundo. Sabe-se também que os espíritos santos sofrem e padecem muito com as perturbações do mundo, com a discórdia e o ódio e que enviam de si mesmos, individualmente, pensamentos de amor e bondade. Os esforços associados de ordens como a dos Rosacruzes são direcionados pelos mesmos canais de empenho, quando o mundo ainda está parado no pertinente às atividades físicas e, portanto, é mais receptivo à influência espiritual; ou seja, à meia-noite. Nesse momento, eles se esforçam para atrair e transmutar essas flechas feitas de pensamento de ódio e discórdia, sofrendo assim ao receber uma pequena parte delas, enquanto buscam retirar alguns dos espinhos da coroa do Salvador.
Considerando o exposto, você entenderá que o Espírito de Cristo na Terra está, como afirmou São Paulo, “realmente gemendo e sofrendo, esperando o dia da libertação”. Assim, Ele reúne todos os dardos do ódio e da raiva: eis a coroa de espinhos.
Em tudo que vive, o Corpo Vital irradia correntes de luz da força que se gastou na construção do Corpo Denso. Durante a saúde, elas retiram o veneno do corpo e o mantêm limpo. Condições semelhantes prevalecem no Corpo Vital da Terra, que é o veículo de Cristo: as forças venenosas e destrutivas, geradas por nossas paixões, são retiradas pelas forças vitais do Cristo. No entanto, cada pensamento ou ato maligno traz a Ele sua própria proporção de dor e, logo, torna-se parte da coroa de espinhos — a coroa, já que a cabeça seja sempre considerada a sede da consciência —; devemos perceber que cada um dos nossos atos malignos recai sobre o Cristo da maneira declarada e Lhe acrescenta outro espinho de sofrimento.
Em vista do exposto, podemos notar com que alívio Ele pronuncia as palavras finais no momento da libertação da cruz terrena: “Consummatum est” – foi realizado.
E você poderia perguntar: por que a recorrência anual do sofrimento? Continuamente, à medida que absorvemos em nossos corpos o oxigênio que nos dá vida e, por seu ciclo, vitaliza e energiza o corpo inteiro, ele morre momentaneamente para o mundo exterior, enquanto vive no corpo e é carregado com venenos e resíduos antes de, afinal, ser exalado no formato de dióxido de carbono, um gás venenoso. Assim também, é necessário que o Salvador entre anualmente no grande corpo que chamamos de Terra e tome sobre Si todo o veneno gerado por nós mesmos, para purificar, limpar e dar nova vida, antes que Ele por fim ressuscite e suba ao Seu Pai.
(Perg. 85 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
Esse livro traz o foco de significância esotérica da vida e missão do Senhor Cristo em Seus quatro aspectos: cósmico, planetário, histórico e místico.
O Livro é dividido em cinco partes, cada uma com uma completa abordagem, embora essencialmente correlacionadas:
1. Para fazer download ou imprimir:
Corinne Heline – O Mistério dos Cristos
2. Para estudar no próprio site:
O MISTÉRIO DOS CRISTOS
Por
Corinne Heline
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, 1961, Mystery of the Christos, editada por Corinne Heline
1ª Edição em Espanhol, El Misterio de los Cristos
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
www.fraternidaderosacruz.com
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
Sumário
PRIMEIRA PARTE – OS MISTÉRIOS DO SAGRADO NASCIMENTO
CAPÍTULO I – O SIGNIFICADO ESPIRITUAL DA ÉPOCA DO ADVENTO
CAPÍTULO II – O CÂNTICO DO NASCIMENTO CÓSMICO
CAPÍTULO III – OS DOZE DIAS SANTOS.
CAPÍTULO IV – A FESTA DA EPIFANIA.
Primeira Semana: Oração e Meditação.
Segunda Semana: Pureza e Transmutação.
Terceira Semana: Despertar e Espiritualizar a Mente.
Quarta Semana: Sublimação e Unificação.
CAPÍTULO VI – A MAGIA DO NATAL.
O Ministério dos Anjos no Tempo do Natal
CAPÍTULO VII – A SAGRADA FAMÍLIA, UM SÍMBOLO CÓSMICO.
Os Quatorze Degraus do Desenvolvimento Iniciático.
A Fuga para o Egito e o Retorno.
A TRANSFIGURAÇÃO, COMO ACONTECIMENTO DO ENLACE ENTRE OS MISTÉRIOS NATALINOS E OS PASCOAIS.
OS SAGRADOS MISTÉRIOS NATALINOS.
OS SAGRADOS MISTÉRIOS PASCOAIS.
SEGUNDA PARTE – OS SAGRADOS MISTÉRIOS DA PÁSCOA
CAPÍTULO VIII – SIGNIFICAÇÃO ESPIRITUAL DA ESTAÇÃO QUARESMAL.
CAPÍTULO IX – O ESOTERISMO DA PÁSCOA.
CAPÍTULO X – ETAPAS PREPARATÓRIAS, DESDE LÁZARO ATÉ O GETSEMANI
Segunda-feira, Terça-feira e Quarta-feira da Semana da Paixão.
CAPÍTULO XI – A MAGIA DA SEXTA-FEIRA SANTA.
CAPÍTULO XII – A SEXTA-FEIRA E A VIA DOLOROSA.
Primeira Estação: Cristo Jesus é condenado à morte.
Segunda Estação: Cristo Jesus carrega a Sua cruz.
Terceira Estação: Cristo Jesus cai pela primeira vez.
Quarta Estação: Cristo Jesus se encontra com Sua mãe.
Quinta Estação: Simão Cireneu ajuda a Cristo Jesus levar a Cruz.
Sexta Estação: Verônica enxuga o rosto de Cristo Jesus.
Sétima Estação: Cristo Jesus cai pela segunda vez.
Oitava Estação: As Filhas de Jerusalém choram por Cristo Jesus.
Nona Estação: Cristo Jesus cai pela terceira vez.
Décima Estação: Cristo Jesus é despojado de suas vestes.
Décima-primeira Estação: Cristo Jesus é pregado na cruz.
Décima-segunda Estação: Cristo Jesus morre na cruz.
Décima-terceira Estação: Cristo Jesus é descido da cruz.
Décima-quarta Estação: Cristo Jesus é colocado no sepulcro.
CAPÍTULO XIII – A CRUZ, UM SÍMBOLO UNIVERSAL.
A Rosacruz: a Cruz da Transmutação.
CAPÍTULO XIV – O SUPREMO MISTÉRIO: O SACRIFÍCIO DO GÓLGOTA.
Meditação para a Sexta-feira Santa.
CAPÍTULO XV – O INTERVALO ENTRE A SEXTA-FEIRA SANTA E O AMANHECER DE PÁSCOA.
CAPÍTULO XVI – O AMANHECER DA PÁSCOA.
CAPÍTULO XVII – O INTERVALO ENTRE A RESSURREIÇÃO E A ASCENSÃO
TERCEIRA PARTE – A TRILHA DA SANTIDADE OU O CAMINHO DE CRISTO
ESTUDO DO CAMINHO ATRAVÉS DOS DOZE PORTAIS ZODIACAIS 182
Meditação espiritual para Libra
A Trilha da Santidade por meio de Libra
A Trilha da Santidade por meio de Escorpião
Parábola bíblica para Escorpião
Meditação Espiritual para Escorpião
A Trilha da Santidade por meio de Sagitário
Parábola bíblica para Sagitário
Meditação Espiritual para Sagitário
A Trilha da Santidade por meio de Capricórnio
Parábola bíblica para Capricórnio.
Meditação Espiritual para Capricórnio
A Trilha da Santidade por meio de Aquário
Parábola bíblica para Aquário.
Meditação Espiritual para Aquário
A Trilha da Santidade por meio de Peixes
Ensinamento Bíblico para Peixes
Meditação Espiritual para Peixes
A Trilha da Santidade por meio de Áries.
Meditação Espiritual para Áries
A Trilha da Santidade por meio de Touro.
Meditação Espiritual para Touro.
A Trilha da Santidade por meio de Gêmeos.
Meditação Espiritual para Gêmeos.
A Trilha da Santidade por meio de Câncer.
Meditação Espiritual para Câncer.
A Trilha da Santidade por meio de Leão.
Meditação Espiritual para Leão.
A Trilha da Santidade por meio de Virgem.
Meditação Espiritual para Virgem.
QUARTA PARTE – APROFUNDAMENTO NO ESCLARECIMENTO DO MISTÉRIO DOS CRISTOS
CAPÍTULO XXXI – TESTEMUNHO DOS PRIMEIROS PAIS DA IGREJA.
CAPÍTULO XXXII – ABRAÃO E MOISÉS CONTATAM COM O UNO CÓSMICO
CAPÍTULO XXXIII – SALMOS E PROVÉRBIOS.
CRISTO EM SEUS VÁRIOS ASPECTOS: CÓSMICO, PLANETÁRIO, HISTÓRICO E MÍSTICO
CAPÍTULO XXXV – O CRISTO CÓSMICO.
CAPÍTULO XXXVI – O CRISTO PLANETÁRIO.
CAPÍTULO XXXVII – O CRISTO HISTÓRICO.
CAPÍTULO XXXVIII – O CRISTO MÍSTICO.
CAPÍTULO XXXIX – AS SETE CHAVES DO MISTÉRIO DE CRISTO.
Chave Número Um: A Imaculada Concepção.
Chave Número Dois – O Santo Nascimento.
Chave Número Quatro – A Transfiguração
Chave Número Cinco – Getsemani
Chave Número Seis – A Crucifixão
Chave Número Sete – A Ressurreição
QUINTA PARTE – O CICLO ANUAL COM CRISTO
CAPÍTULO XL – SINTONIZADOS COM O RITMO DOS DOZE
Outubro – Novembro – Dezembro.
Minha gratidão é aqui estendida para Elizabeth Hill e Ann Barkhurst por sua inestimável assistência editorial e pelas revisões para a preparação dessa publicação; igualmente a Frances Paelian por suas ilustrações artísticas.
Esse volume, que pode ser considerado o sétimo da série: INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA PARA A NOVA ERA, bem como os outros seis volumes já publicados, estão dedicados, com humildade e agradecimento, antes de tudo, a
Meu reverenciado e amado amigo
MAX HEINDEL
Cujo alento para que eu empreendesse essa obra e cuja inspiração e assistência para sua consecução foram incalculáveis.
A história do Deus Sol e a história
mesma – Lyman E. Stove
PRIMEIRA PARTE – OS MISTÉRIOS DO SAGRADO NASCIMENTO
CAPÍTULO I – O SIGNIFICADO ESPIRITUAL DA ÉPOCA DO ADVENTO
A época do Advento[1] é conhecida como um tempo de purificação e preparação. É o momento em que o candidato se sincroniza mais intensamente com os regozijos do próximo fluxo de Cristo no Natal, que se aproxima. E se você sabe algo sobre o significado da Iniciação Cristã Mística, entrará com uma compreensão muito mais profunda nas disciplinas da época do Advento.
Os primeiros Discípulos de Cristo observavam a este período como muito apropriado para receber novas revelações do alto, particularmente propício para o seu desenvolvimento espiritual. Realizavam uma preparação específica para o que eles esperavam receber quando o Advento alcançasse seu cume no momento da Noite Santa.
Note que em harmonia com as influências zodiacais, o Advento ocorre quando o Sol está passando pelo Signo de Sagitário. Esse é o Signo do verdadeiro êxtase da alma e da vidência. Os antigos devotos, frequentemente, se referiam a esse período de Sagitário como o “Festival de Luz”, uma vez que é o momento em que a radiação da luz de Cristo permeia a Terra de forma mais completa!
Normalmente, o Advento começa no último domingo de novembro e culmina na áurea glória do Solstício de Dezembro. Para o cristão esotérico abarca as três etapas ou graus que alcançam seu máximo à meia-noite da Noite Santa. Este período de preparação e progresso se refere não somente às quatro semanas de Advento, mas também a determinados estágios de desenvolvimento espiritual relacionados com estas quatro semanas.
Durante a semana que segue o Primeiro Domingo do Advento o trabalho é preparatório ou de Primeiro Grau: Grau da Anunciação. A Virgem Maria foi a primeira, da nossa humanidade, a alcançar o poder simbolizado pelo Primeiro Grau; um fato compreendido pelos primeiros cristãos e que é o motivo pelo qual Maria ocupe um lugar tão importante nas meditações e cerimônias relacionadas com o Advento.
O grau da Anunciação se relaciona, especialmente, com o cultivo da pureza: pensamentos, sentimentos, palavras e atos. A maioria dos Estudantes, no entanto, têm uma ideia muito vaga sobre o significado desta qualidade, como um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento espiritual. Eles não sabem que a pureza, longe de ser uma condição estática, é uma dinâmica na força da vida do Aspirante. Cristo enfatizou quando ele disse: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”. Aos Iniciados das escolas de mistérios antigas eram submetidos a longos períodos de teste para o cultivo de pureza de espírito, alma e corpo, uma vez que afeta todo o ser humano, influenciando em cada pensamento, palavra e ato.
Isso explica porque o Grau de Anunciação é também chamado de Grau de Pureza.
Uma das etapas iniciais na purificação do Corpo Denso e do Corpo de Desejos do ser humano se relaciona à alimentação. Nenhum Aspirante sincero pode aceitar o sacrifício dos irmãos menores do reino animal para satisfazer os seus apetites corporais e seu conforto. Com a eliminação da ingestão de carne se produz a sensibilização do veículo físico. Isso resulta em uma maior receptividade para as impressões da alma e o pensar espiritual. Então, chega um momento em que os Aspirantes desejam alimentar seus Corpos apenas com os frutos da terra, da qual a natureza oferece em abundância.
À medida que se progride em direção à obtenção do Grau de Pureza ou Anunciação, o Aspirante descobre, dentro de si, uma força crescente para superar os pensamentos e as emoções negativos e destrutivos; e quando esses tenham sido dominados, sua consciência permanece focada no bem, no verdadeiro e no belo. Esse Grau encontra a expressão perfeita na divina Maria. Sua vida foi tão pura e perfumada como um lírio. A contemplação de sua vida é, portanto, de um valor primordial para o cultivo de pureza, o Primeiro Passo no Caminho da Realização.
O lugar importante ocupado por Maria, em relação aos Discípulos do Advento, não termina com a primeira semana, mas continua, com um significado cada vez mais profundo ao longo do restante do período.
Com o crescimento de pureza, as faculdades mais elevadas dos outros centros se desenvolvem gradualmente. E, quando entram em atividade, fornecem a capacidade de perceber os Mundos celestes e seus seres gloriosos. Foi depois de Maria ter desenvolvido e alcançado o grau Anunciação, que ela se tornou consciente da sempre presente companhia dos Anjos. Tão estreita foi sua associação com o reino angélico que ela era conhecida pelos primeiros cristãos como a Rainha dos Anjos e dos Homens.
O Segundo Grau é, naturalmente, atribuído à Segunda Semana do Advento. Esse é o Grau da Imaculada Conceição. Aqui, novamente, a Virgem Maria aparece como a encarnação suprema dessa conquista sublime. É durante esse período que Maria, assistida pelo exército angelical, vem à Terra para conceder sua bênção para toda a humanidade. Sua “Eu sou a Imaculada Conceição” carrega a promessa de uma conquista de uma condição que todos irão alcançar um dia. Quando se alcança o Segundo Grau, já não existe a morte, e o ser humano mortal alcança a imortalidade.
Ao atingir este Grau, Maria se tornou o protótipo para a Imaculada Conceição. Aqui está a razão do porquê um ramo da igreja cristã declarar que até mesmo o Corpo físico de Maria foi levado para os Mundos celestiais, com toda a beleza e pureza que tinha conseguido durante a sua condição terrena.
Quando a humanidade, como um todo, alcance esse elevado nível de desenvolvimento, não haverá mais doenças, deformidades ou desalinhamentos, tão comuns na atualidade; e o ser humano comprovará que, na verdade, foi criado à imagem e semelhança de Deus. Maria leu nos registros sobre o que havia de vir no futuro e comprovou que ela tinha que servir como um protótipo da Imaculada Conceição, que toda a humanidade terá que, finalmente, demonstrar quando, segundo suas próprias palavras, todo mundo se levante e a chame de bem-aventurada.
O Terceiro Grau, atribuído às duas últimas semanas do Advento, é o Grau do Santo Nascimento. Aqui nos aproximamos, pelo coração, dos Mistérios Cristãos. Cristo veio como o indicador supremo do Caminho. O que Ele alcançou deve ser alcançado, algum dia, por todos os seres humanos. O alemão místico Angelus Silesius expressou isso assim: “Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém, se Ele não nascer em você, sua alma seguirá perdida.”.
Como mencionado, o menino Cristo nasceu em uma manjedoura, onde os animais comiam, porque não havia lugar na pousada. Isso esconde um dos segredos mais profundos dos Mistérios Cristãos. A cena do presépio, do Nascimento, simboliza o nascimento de Cristo no ser humano. Mesmo após o Grau de Purificação, o santo bebê não pode ser removido do presépio (natureza inferior) para encontrar o seu lugar na pousada (centro craniano ou natureza superior). A ação alquímica desse processo consiste em elevar o fogo espiritual espinhal, a partir da base da coluna até o coração (Jerusalém, a Cidade da Paz) e, de lá, para a cabeça (Belém, a Casa do Pão). Na cena do presépio, geralmente, retrata Maria e José ajoelhados e em adoração, cada um junto a um Anjo. Eles representam as forças masculinas e femininas, despertas e iluminadas, em interação harmônica. Quando essas forças estão entrelaçadas, vivificam os centros cranianos localizados na Glândula Pineal, carregada masculina ou positivamente, e o Corpo Pituitário, carregada feminina ou negativamente. O resultado dessa interação é a iluminação espiritual. O terceiro ventrículo no cérebro, que liga as duas Glândulas, se converte no presépio onde Cristo nasce e descansa. O quarto está preparado para ele na pousada. Sua aura enche de tal modo o Corpo que se converte em um verdadeiro templo de luz. A realização do Cristo Interno por um Aspirante é a triunfante consumação da busca, e o culminar do processo evolutivo correspondente ao atual Período Terrestre.
Os pastores no campo e os sábios que foram para adorar o menino Jesus são uma parte importante do processo espiritual, representado pela época de Advento. A Bíblia diz que os pastores estavam vigiando seus rebanhos durante a noite, quando os Anjos lhes apareceram e ordenaram para que seguissem a estrela que os levariam a Belém. Os pastores eram os Aspirantes ou neófitos que tinham alcançado o Grau de Purificação e, portanto, tinha chegado a comunhão com seres de Mundos celestiais, que lhes orientaram a seguirem a estrela, seu próprio Eu Superior, até ao lugar do Santo Nascimento.
Os sábios do oriente seguiram a estrela também trazendo com eles presentes raros e preciosos para depositá-los aos pés do Menino Jesus. Estes sábios eram Discípulos que tinham passado o primeiro e segundo Graus dos Mistérios Cristãos. Eles vieram com seus presentes brilhantes, símbolo da essência sublimada do Corpo físico que, em conjunto com as forças espiritualizadas do Corpo Vital, Corpo de Desejos purificado e da Mente espiritualizada, cria um Corpo de luz radiante. Este é o “dourado vestido de bodas”, com o qual cada Discípulo deve se revestir antes de entrar na presença de Cristo. O perfume no vaso dourado que Maria Madalena colocado aos pés do Mestre tem o mesmo significado.
Cada candidato que trilha o Caminho estreito dos Mistérios Cristãos aprende a seguir a estrela gloriosa de sua própria natureza superior, que sempre o guia ao longo do caminho que conduz a Jerusalém e depois a Belém.
Como já mencionado, a época do Advento atinge seu clímax na Noite Santa do Solstício de Dezembro. Um pensamento-semente para a meditação nesse tempo é o desejo de imitar os sábios que seguiram a estrela que conduz ao Cristo menino.
CAPÍTULO II – O CÂNTICO DO NASCIMENTO CÓSMICO
A Iniciação Terrestre, pela qual o ser humano aprende o supremo Rito da Purificação ou da conquista da matéria pelo espírito, é uma parte da cerimônia mística da época do Solstício de Dezembro. Para o Iniciado, o Natal significa a vitória sobre o último inimigo, a morte, e nascimento na glória da vida imortal.
Esse processo de espiritualização se obtém, em grande parte, mediante o som. Cristo mesmo, mediante Sua poderosa entonação, fornece a nota-chave da Grande Obra. Essa entonação corresponde ao Verbo do Evangelho de São João, por meio do qual todas as coisas foram feitas. Em outras palavras, foi o tom musical inicial, entoado pelo grande Espírito do Sol, Cristo, que construiu todos os Mundos do Sistema Solar, a que esse Planeta Terra pertence. Portanto, Ele é, verdadeiramente, o Senhor e Salvador dessa Terra e ante o qual todos os joelhos devem se dobrar. Sua nota-chave foi a que modelou nosso esquema planetário; consequentemente, nossa vida evolutiva está harmonizada com Seu Ser, no sentido mais profundo que há. Literalmente, n’Ele vivemos, nos movemos e temos o nosso ser.
As quatro Sagradas Estações acentuam esse som planetário. Os tons do Equinócio de Março e do Solstício de Junho são expiradores (centrífugos) em sua ação, ou seja: radiantes e construtores, qualitativamente. Os tons do Equinócio de Setembro e do Solstício de Dezembro são inspiradores (centrípetos), ou seja: sustentadores e desenvolvedores. É do coração da Terra de onde a nota-chave do Cristo emana na sagrada época do Solstício de Dezembro.
A poderosa entonação do Verbo, ressoando cosmicamente nessa época, eleva e harmoniza cada átomo do Planeta e vem acompanhada por uma manifestação repentina de luz que todos se envolvem por uma radiação divina que não ocorre, nem sobre a terra, nem sobre o mar, em outra época do ano. Hostes que formam uma multidão de seres celestiais se unem com as resplandecentes legiões de Anjos e Arcanjos nesse majestoso coro, o nosso Senhor, até que cada coisa animada, cada árvore do bosque e cada diminuta planta em crescimento balança e se inclina com esse elevado êxtase de música e luz. Abundam numerosas e deliciosas lendas relativas à influência das forças espirituais sobre o reino animal durante esse período extremamente benigno. Todas essas lendas têm uma base real, dado que os animais são extremamente sensíveis às atividades dos planos internos.
Ao longo dos tempos, tem sido durante o Solstício de Dezembro que as portas do Templo se abrem, e aqueles que aspiram a se harmonizar com a Grande Luz do Mundo entram nele. A exigência essencial para essa admissão é o concentrar a consciência tão completamente na vida, de modo que não possa haver nenhuma reação negativa, e harmonizar cada átomo do Corpo com o ritmo do som do Cristo de tal maneira que o Espírito responda somente ao superior, formoso e verdadeiro.
Quando o neófito vitorioso é absorvido, mais e mais, na Luz Eterna, começa a discernir algo das palavras do cântico planetário e escuta o mantra musical supremo do qual está harmonizado o Planeta Terra. Esse cântico é traduzido para os ouvidos humanos nas palavras: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”[2].
Durante a época de Natal, esse cântico supremo é transportado pelas inumeráveis hostes aos espaços estelares, de onde o coro triunfante é reforçado pelas vozes dos que pertencem à onda de vida humana e que alcançaram já esse tão exaltado nível de consciência.
O último inimigo a vencer é a morte. Isso sempre foi um ensinamento do Templo e é a meta da mais elevada busca do ser humano na Iniciação do Solstício de Dezembro. Da aura da Sua glória transcendental, o Mestre, que é o modelo de nossa vida divina, se inclina sobre nós nessa época sagrada e nos atrai para esse caminho estreito iluminado, enquanto toda a Terra ressoa com o eco da música de Suas palavras, que nós ouviremos quando tenhamos realizados, por nós mesmos, esse elevado objetivo: “’Muito bem, servo bom e fiel! … Vem alegrar-te com o teu senhor”[3].
CAPÍTULO III – OS DOZE DIAS SANTOS
Normalmente, cremos que 25 de dezembro, celebrado como o Natal, termina o festival espiritual da estação do Solstício de Dezembro. Não é bem assim. Isso só marca o começo ou a entrada em um período de profundo significado. Esse período é o intervalo de Doze dias entre o Natal e a Décima Segunda Noite que envolve o coração espiritual do ano que entra. Esses Doze dias foram denominados, muito adequadamente, “o Santo dos Santos do ano”.
Esse trabalho foi elaborado para os Estudantes comprometidos com os Mistérios Cristãos, com o objetivo de lhes ajudar, pondo-os em harmonia com as Doze forças zodiacais liberadas sobre o Planeta Terra durante essa temporada.
Cada Dia Santo está sob a direta supervisão de uma das Doze Hierarquias zodiacais, e cada uma das quais projeta sobre o Planeta um protótipo de como será o mundo quando o trabalho, combinado de todas elas, tenha terminado. Também, os Doze Discípulos estão correlacionados com esses Doze Dias Santos; igualmente o estão os Doze centros espirituais por meio dos quais operam as Doze forças no Corpo-templo do ser humano.
O Estudante compromissado fará, portanto, uso desse Sagrado Período visualizando o trabalho das Hierarquias através dos centros internos do seu Corpo om os que aquelas estejam sincronizadas. Se tem fé e persiste, ano após ano, nesse elevado esforço, não deixará de obter a justa compensação na forma de um grande desenvolvimento espiritual.
Desde o momento do Solstício de Dezembro, quando a luz de Cristo penetra no coração da Terra, o Planeta é impregnado pelas poderosas radiações solsticiais que continuam, ainda que um pouco reduzidas, ao longo dos Doze Dias Santos. Durante esse tempo, as atividades nos planos internos são variadas e maravilhosas. A primitiva igreja cristã concluía seu ministério esotérico na mística Décima Segunda Noite com o Rito do Batismo, uma de suas mais elevadas Iniciações. Os neófitos modernos, que tem obtido a Iluminação, sabem que é possível entrar em comunhão com os seres divinos e com o Senhor da Luz. Uma experiência assim foi a que inspirou o Evangelho de São João, frequentemente conhecido como o “Evangelho do Amor”.
O dia 26 de dezembro está dedicado à Hierarquia de Áries, a Hierarquia que estabelece o modelo cósmico para a vida durante o mês em que o Sol transita pelo Signo de Áries. De 20 de março a 21 de abril, Áries projeta sobre o mundo o arquétipo de uma Terra perfeita. Esses são o novo céu e a nova Terra visualizados por São João e descritos em seu sublime Apocalipse[4].
De acordo com todos os calendários Áries apresenta o Novo Ano Solar. Por isso, se chama o “Signo da Consciência Ressuscitada”. Quem alcançou esse grau de consciência vê somente a divindade em todas as pessoas, coisas, circunstâncias, condições e em todos os eventos. O motivo da dedicação durante o período de Áries é ver o lado Divino.
O Discípulo correlacionado com Áries é São Tiago, irmão de São João. Este foi o primeiro em responder o chamado do discipulado e o primeiro que percorreu o caminho do martírio; foi um verdadeiro pioneiro espiritual. Durante o mês de Áries o Aspirante deveria estudar a vida de São Tiago e se esforçar em emular suas virtudes.
O centro corporal relacionado com Áries é a cabeça e a Hierarquia projeta o arquétipo da cabeça humana em toda sua divina e maravilhosa perfeição. Recomenda-se ao Estudante visualizar a cabeça com seus órgãos espirituais despertos e iluminados, e com todas as suas faculdades e funções totalmente desenvolvidas.
O pensamento-núcleo bíblico para meditar, tanto no dia 26 de dezembro como durante o mês solar de Áries, de 20 de março a 21 de abril, é a citação:
“Eis que eu faço novas todas as coisas” (Ap 21:5)
Sugerimos fortemente que os Estudantes meditem sobre os significados ocultos dessa passagem, enquanto os ritmos vibratórios de Áries estão permeando a Terra.
O dia 27 de dezembro e o mês solar de maio, de 21 de abril a 22 de maio, estão dedicados à Hierarquia de Touro. Essa é a Hierarquia que preside o reino dos arquétipos cósmicos e o modelo que projeta sobre a Terra é o das formas perfeitas. O amor e a harmonia são as forças que continuamente derrama sobre o nosso Planeta.
O Discípulo correlacionado com Touro é Santo André, cuja característica distintiva é a humildade. Esse é um dos atributos mais importantes que deveria ser cultivado por todos os Aspirantes. Quando se a desenvolve até um certo grau, ela se converte em um extraordinário poder anímico.
A garganta é o centro Corporal correlacionado à Touro. Nos Corpos da Nova Era, a garganta será um centro luminoso do qual emanará a Divina Palavra Criadora.
Durante o dia 27 de dezembro e durante o mês solar de maio a dedicação consiste em se converter a si mesmo em um canal mais perfeito para a recepção e disseminação do Amor e da Harmonia em todas as variadíssimas experiências da vida, sejam alegres ou tristes, exaltadas ou deprimentes.
O pensamento-núcleo bíblico a meditação durante o segundo dos Doze Dias Santos e seu mês correspondente é:
“…aquele que permanece no amor, permanece em Deus” (IJo 4:16)
Sugerimos fortemente que os Estudantes meditem sobre os significados ocultos dessa passagem, enquanto os ritmos vibratórios de Touro permeiam a esfera terrestre.
O dia 28 de dezembro e o mês solar de junho estão dedicados à Hierarquia de Gêmeos. O modelo cósmico para a Terra, projetado por essa Hierarquia, é o de uma grande paz, uma paz que sobre passa toda a compreensão e que será a herança da vindoura raça crística.
As características que devem ser cultivadas durante o período de Gêmeos são a mesma paz e o mesmo equilíbrio que se refere São Paulo e que lhe permitiram dizer: “Nenhuma dessas coisas (do mundo externo) me comovem”. Igualmente o salmista canta aos mais elevados atributos de Gêmeos:
“Em verdes pastagens me faz repousar. Para as águas tranquilas me conduz.”[5]
O Signo de Gêmeos rege as mãos. Essas são visualizadas como centros florais, fragrantes, luminosos e adornados com preciosos dons de cura e concedendo bênçãos.
O Discípulo correlacionado com Gêmeos é São Tomé. Tão intimamente se identificou com Cristo que suas dúvidas, próprias em uma Mente mortal, foram transcendidas por meio de uma dinâmica realização dos poderes crísticos latentes dentro dele. Realizou muitos e maravilhosos milagres logo depois de ter havido essa transformação.
O pensamento-núcleo bíblico a meditação do dia 28 de dezembro e durante o mês solar de junho (de 22 de maio à 22 de junho) é:
“Tranquilizai-vos e reconhecei: Eu sou Deus” (Sl 46:11)
Sugerimos fortemente que os Estudantes meditem sobre os significados ocultos dessa passagem, enquanto os ritmos vibratórios de Gêmeos permeiam o Planeta Terra.
O dia 29 de dezembro e o mês solar de julho (de 22 de junho a 23 de julho) estão dedicados à Hierarquia de Câncer, que mantém sobre a Terra o modelo cósmico da exaltação do divino feminino em toda a Criação. Esse Signo é o lar da gloriosa Mãe do Mundo, um elevado Iniciado da Hierarquia de Câncer. Esse Ser, e o princípio que representa, é reconhecido e deificado por todas as grandes religiões do mundo.
Áries trata com a vida; Touro com a forma; Gêmeos com a Mente; Câncer com a alma – a alma como reveladora da verdade. Por isso a dedicação durante o mês de Câncer é a busca dessa luz, ainda nunca vista sobre a terra nem sobre o mar.
O Discípulo correlacionado com Câncer é Natanael[6]. É um Místico em quem não existe o engano.
O centro Corporal governado por Câncer é o Plexo Celíaco [7], chamado, às vezes, de “o sol do estômago”. Antes da vinda de Cristo esse centro era considerado muito importante em relação ao desenvolvimento para a Iniciação. Na nova Raça Crística o Plexo Celíaco será dirigido novamente pelo espírito, porque o Sistema Nervoso Simpático se transformará na coluna feminina do Corpo-templo humano.
Para o dia 29 de dezembro, e durante o mês solar de julho, esse é o pensamento-núcleo bíblico para a meditação:
“…se caminhamos na luz como ele está na luz, estamos em comunhão uns com os outros” (IJo 1:7).
Aspirantes que, com muita fé, meditem sobre os significados ocultos dessa passagem, enquanto os ritmos vibratórios de Câncer permeiam nossa esfera, serão recompensados com o conhecimento sobre a fraternidade.
O dia 30 de dezembro e o mês solar de agosto, de 23 de julho a 24 de agosto, são dedicados à Hierarquia de Leão. O padrão cósmico mantido por essa hoste de Seres celestiais é aquele em que a Terra é permeada pelo poder do amor, pois a sabedoria divina se acha presente em toda a natureza, enquanto essa Hierarquia mantém o movimento rítmico sobre o nosso Planeta. Todas as atividades deveriam ser motivadas por esse poder. Cada pensamento deveria irradiar amor; cada palavra deveria vibrar com amor; cada ato embelezado pelo amor.
Judas é o Discípulo correlacionado com Leão. Aqui está indicado o grande poder transformador do amor.
Existe uma íntima relação entre Judas e São João. Judas tipifica a personalidade; São João, o espírito. Existe um profundo significado no fato de que Judas, depois de trair o Cristo, tirar a sua própria vida. A personalidade deve sempre se amainar para que o espírito possa brilhar. São Paulo exorta aos Aspirantes ao Caminho Cristão a que se desfaçam do “homem velho e a que se revistam do novo”.
Quando a personalidade se torna subordinada ao Espírito, a natureza inferior do ser humano – relacionada completamente com a vida pessoal que é efêmera – deve, portanto, morrer como o fez Judas, e ser substituída por esse amor de natureza superior que evidenciou São João, o Amado, o Discípulo que nunca conheceu a morte e que, dos Doze Imortais, foi o mais próximo a se aproximar do coração do Mestre.
O centro do Corpo correlacionado com Leão é o coração. À medida que este centro desenvolve suas latências divinas, ele se tornará mais e mais poderoso e luminoso, até que sua radiação resulte em ser a “estrela matutina que brilha no dia perfeito”.
E o amor é o tema do pensamento-núcleo bíblico para meditar em 30 de dezembro e durante o mês solar de agosto:
“O amor é o cumprimento da Lei” (Rm 13:10)
A dedicação para o dia 31 de dezembro e para o mês solar de setembro, de 24 de agosto a 23 de setembro, é à Hierarquia de Virgem. O amor de Leão conduz ao serviço de Virgem.
Este divino Ser que conhecemos como a Mãe Divina é o protótipo de todas as Madonas de todas as grandes religiões; ela é a instrutora dessas elevadas Iniciadas femininas em certos graus de seus desenvolvimentos.
Durante a época em que o raio de Virgem permeia nossa esfera, esta Hierarquia mantém o Planeta em um padrão cósmico elevado de uma Terra limpa profundamente e rejuvenescida. Em certo ponto, a pureza humana conquistada se torna um extraordinário poder anímico – uma verdade ressaltada pelo Senhor Cristo quando disse: “Os puros de coração verão a Deus”[8].
O Discípulo correlacionado com Virgem é Tiago o Justo, irmão de Judas e Simão. Durante muitos anos ele foi reverenciado como o responsável máximo da primitiva Igreja em Jerusalém e foi bem conhecido por sua pureza de caráter e consagração ao serviço altruísta.
O trato intestinal é o centro do Corpo físico do Corpo-templo do ser humano correlacionado com Virgem. O Aspirante visualiza o trato intestinal manifestando um perfeito funcionamento.
Do Evangelho Segundo São Mateus – Capítulo 23, Versículo 11 – provém o pensamento-núcleo bíblico para meditar no dia 31 de dezembro e durante o mês solar de Virgem:
“…o maior dentre vós seja o servo de todos” (Mt 20:27, 23:11 e Mc 10:32)
Os Aspirantes ao desenvolvimento interno são urgidos a meditar no profundo significado dessa magnífica passagem, enquanto os ritmos vibratórios da Hierarquia de Virgem permeiam esse Planeta.
A dedicatória para o dia 1º de janeiro e o mês solar de outubro, que vai de 23 de setembro a 24 de outubro, corresponde à Hierarquia de Libra. O padrão cósmico mantido por essa Hierarquia é o de um mundo formoso. Sua marca se vê em cada paisagem, em cada árvore, em cada planta, em cada arbusto e em toda forma dos vários reinos da natureza. A beleza e a harmonia são a marca de Libra. Por isso, tudo quanto vem sob sua influência desse Signo celestial expressará esses divinos atributos. Quando a humanidade receba mais completamente sua influência, serão abolidas a miséria, enfermidade, discórdia e dor.
O Discípulo correlacionado com Libra é Judas Tadeu. Esse Discípulo foi um ministro da beleza. Muitos, e de longo alcance, foram os resultados das obras que ele fez com sua devoção.
O centro no Corpo humano correlacionado com Libra são as glândulas suprarrenais. Essas glândulas, quando funcionam adequadamente, criam um absoluto equilíbrio físico e psicológico por meio de cada órgão e de seus processos.
A meditação para o primeiro de janeiro e para o mês solar de Libra é o pensamento-núcleo bíblico do Evangelho Segundo São João 8:32:
“…e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”
Grandiosos são os significados ocultos dessa passagem. Um Aspirante deveria meditar sobre eles durante o dia 1º de janeiro e em cada um dos dias em que Libra enfoca seu ritmo sobre a Terra.
Para o dia 2 de janeiro e o mês solar de novembro, de 24 de outubro a 23 de novembro, a dedicação é à Hierarquia de Escorpião. O padrão cósmico que essa Hierarquia está trabalhando para estabelecer na Terra é a obtenção por meio da transmutação da matéria em espírito. Por meio desse processo as essências sublimadas da Mente e do Corpo emergem com as forças do Espírito.
São João, o Amado, é o Discípulo correlacionado com Escorpião. A transmutação foi a nota chave de sua vida. Progrediu tanto na divina ciência da transmutação da matéria em espírito que nunca conheceu a morte.
O centro físico correlacionado com Escorpião é o sistema reprodutor. No Aspirante sincero esse se torna o centro da transmutação. Como se disse antes, existe um estreito relacionamento entre Judas (a personalidade) e São João (o Espírito). Judas deve morrer para que São João reine supremo.
Também existe uma forte conexão entre o Coração (Leão) e o sistema reprodutor (Escorpião). Enquanto a personalidade dominar, o primeiro fica sob controle do segundo. Quando a personalidade tenha sido exaltada na individualidade espiritualizada, então é o coração que regerá. No Corpo do ser humano Cristificado a paixão humana foi transmutada no amor divino.
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5:8)
Esse é o pensamento-núcleo bíblico para meditar no segundo dia de janeiro e durante o mês solar de novembro. Urge-se ao Aspirante para que se concentre no profundo significado do segundo dia de cada ano novo e enquanto as vibrações rítmicas de Escorpião fluem sobre a Terra.
A dedicação para o dia 3 de janeiro e durante o mês solar de dezembro, de 23 de novembro a 22 de dezembro, é à Hierarquia de Sagitário, os Senhores da Mente. O padrão cósmico mantido por esses gloriosos Seres é o da Terra como um vasto altar irradiando a dourada aura da suprema Luz do Mundo.
O Discípulo São Filipe se correlaciona com Sagitário. Antes de encontrar ao Senhor, não tinha nenhum conceito do que significaria em sua vida uma Mente espiritualizada ou Cristificada. Ele era essencialmente um mentalista. Contudo, uma vez que a luz de Cristo se derramou sobre ele, alcançou o mérito de ser contado entre os Doze Imortais.
Sagitário opera por meio do plexo sacro, o centro do Corpo localizado na base da coluna vertebral. A medula espinhal, que conecta o plexo sacro com o cérebro, tem sido denominada, “o Caminho do Discipulado”. Quando um Aspirante vive uma vida motivado unicamente pela pura e santa aspiração, o fogo espinhal armazenado dentro do plexo sacro se desperta e ascende, através da medula espinhal, em direção aos dois órgãos espirituais localizados na cabeça, a Glândula Pineal e a Glândula Pituitária[9]. É por meio desse processo que o ser humano se Cristifica. Esse é o motivo de Sagitário sempre ser simbolizado pela luz, a luz da Mente espiritualizada.
Quando corretamente utilizadas e transmutadas em valores anímicos, as experiências da vida diária se convertem em degraus pelos quais o Aspirante obtém sua sintonização com a Luz Divina universal, a Luz que ilumina a cada ser humano que vem ao mundo. Era sobre isso que o Mestre falava quando Ele disse:
“Vós sois a luz do mundo” (Mt 5:14)
Esse é o pensamento-núcleo bíblico para o dia 3 de janeiro e durante o tempo em que a Hierarquia de Sagitário derrama seus ritmos vibratórios sobre Terra. Indizíveis bênçãos esperam àqueles que meditem nessa promessa.
A dedicatória para o dia 4 de janeiro e o mês solar de janeiro, de 22 de dezembro a 20 de janeiro, é à Hierarquia de Capricórnio. Esses são os Seres arcangélicos de quem Cristo é o máximo expoente, e de quem provém o maravilhoso poder pelo qual o ser humano mortal pode elevar a Sua semelhança. É também o Signo da aparência material da deidade na Terra.
O padrão cósmico que a Hierarquia de Capricórnio mantém é o da vida em seu esplendor, quando o espírito de Cristo se manifeste em toda a humanidade. Então, nosso Planeta responderá a sua própria nota-chave musical, entoada primeiro pelos Anjos e Arcanjos, naquela Noite Santa, quando cantaram “Paz na Terra e boa Vontade entre os homens”.
O Discípulo correlacionado com Capricórnio é São Simão, irmão de São Tiago e de São Judas Tadeu. Ainda que Simão fosse próximo ao Senhor por laços familiares, foi relutante em aceitar a divindade do Mestre. Contudo, quando ele, finalmente, foi despertado por Cristo, sua dedicação foi total. Seu único desejo era servir o Senhor e nem a vida nem a morte podiam lhe afastar desse ideal.
O centro dual do Corpo correlacionado com o Signo de Capricórnio está localizado nos joelhos. No ser humano Cristificado esses pontos se tornarão gloriosos vórtices girantes de luz.
Da Epístola de São Paulo aos Gálatas, 4:19, provém o pensamento-núcleo bíblico para a meditação no dia 4 de janeiro e durante o mês solar de janeiro:
“…até que Cristo seja formado em vós”
Os Aspirantes deveriam meditar sobre a passagem acima até que seu interno significado se encontre em harmonia com os ritmos vibratórios com os quais a Hierarquia de Capricórnio faz vibrar a Terra.
A dedicação durante o dia 5 de janeiro e o mês solar de fevereiro, de 20 de janeiro a 19 de fevereiro, é à Hierarquia de Aquário. Durante esses dois períodos essa Hierarquia mantém sobre a Terra um modelo dos ideais de Paternidade de Deus e da irmandade do ser humano, o fundamento para um tipo de amizade destinado a se expandir até que abarque a todos. Esse ideal deveria ser mantido no Santo dos Santos da alma e nunca o danificar, nem o profanar por pensamentos indignos, palavras ou ações. Aquário, o divino aguador dos céus, trabalha para que esse ideal seja uma realidade.
Através da benigna influência da Hierarquia de Aquário, o amor será a força que motivará todas as vidas. Neste maravilhoso dia a humanidade emancipada demostrará, como São Paulo profetizara, que “o amor é o cumprimento da lei”.
Em outras palavras, que cada lei estará fundamentada no amor, e o amor, por sua vez, produzirá o cumprimento de cada lei.
Aquário é o lar dos Anjos e o que está escrito acima descreve adequadamente a vida rejubilante desses Seres celestiais.
O Discípulo correlacionado com Aquário é São Mateus, o publicano rico e pecador que, ao escutar a voz do Senhor deixou tudo e O seguiu prazerosamente. Renunciou a todas as suas possessões materiais e mais tarde recebeu como recompensa uma compreensão espiritual que encontrou expressão em seu imortal Evangelho que leva seu nome – uma preciosa herança para toda a humanidade.
Os dois tornozelos são os órgãos duais correlacionados com Aquário. São as duas colunas do Corpo-templo do ser humano e deveriam ser visualizados em coordenado movimento e em forma simétrica.
O pensamento-núcleo bíblico para meditar no dia 5 de janeiro e durante o mês solar de fevereiro é do Evangelho Segundo São João, 15:14:
“Vós sois meus amigos”
Se um Aspirante se concentra no sutil significado dessas quatro breves palavras, e as mantém vivas em sua consciência, enquanto os ritmos de Aquário vibram acima e através da Terra, obterá uma grande iluminação.
A dedicatória para o dia 6 de janeiro e o mês solar de março, de 19 de fevereiro a 20 de março, é à Hierarquia de Peixes. Essa Hierarquia trabalha para trazer em manifestação o princípio de unificação em toda a criação. Ralph Waldo Emerson deu uma perfeita descrição pisciana quando disse “O imperfeito adora minha própria Perfeição. A vida não é uma colcha de retalhos, senão uma gloriosa e divina unidade”.
Peixes é o último Signo antes do nascimento do novo ano, um período de recapitulação e de autoexame. Marca o pôr do sol de uma vida anterior e o amanhecer de uma nova vida.
O modelo cósmico que prevalece sobre a Terra por essa Hierarquia é o do ser humano perfeito, criado à imagem e semelhança de Deus e manifestando a divindade de seu interior. O ser humano feito a Semelhança de Deus é a nota chave de Peixes, do mesmo modo que é também modelo cósmico de Áries. De fato, o aperfeiçoamento do ser humano é e tem sido o divino trabalho de todas as Doze Hierarquias Criadoras desde o começo da evolução humana. Quando chegue a seu término, será sob o ministério da Hierarquia Pisciana.
São Pedro é o Discípulo correlacionado com Peixes – Pedro, o instável, o homem “onda” quem, depois de haver despertado o princípio do Cristo Interno por meio da fé, se converteu na Pedra da Iniciação sobre a qual se fundamenta a igreja.
O centro dual do Corpo correlacionado a Peixes são os pés e na raça humana esse centro tem de ser despertado. Na visão de Fátima, as crianças descreveram particularmente as rosas formosas florescendo nas mãos e nos pés da Bendita Senhora.
Esse Corpo, feito à imagem e semelhança de Deus, será luminoso com as estrelas cintilantes, ou flores despertas dentro dos centros vitais. Esse Corpo glorioso é o vestido dourado de bodas a que se refere São Paulo como o Corpo celeste glorioso. Foi a sua visão desse luminoso veículo na Memória da Natureza que fez São Paulo dizer que “o homem é um pouco inferior aos Anjos”[10] e ainda não é evidente o que ele será.
Para meditar no dia 6 de janeiro, enquanto os ritmos vibratórios de Peixes impregnam a Terra, e durante o mês solar de março, se tem o seguinte pensamento-núcleo bíblico:
“Deus criou o homem a sua imagem e semelhança” (Gn 1:27)
Durante os Doze Dias Santos entre o Natal e as seguintes Doze Noites, a Terra está impregnada pela luz do Arcanjo Cristo. A fragrância de Sua aura transcendente permeia o Planeta com um sutil perfume, como uma mescla das mais belas rosas e os mais puros lilases. Contudo a radiante luz e a fragrância curadora definitiva são absorvidas lentamente pela Terra nesse sagrado intervalo, fazendo desse período um momento ideal para a dedicação da alma no Caminho da Santidade.
CAPÍTULO IV – A FESTA DA EPIFANIA
A festa da Epifania é a culminação dos Doze Dias Santos. Observa-se o último dia, 6 de janeiro, e comemora a chegada dos três sábios para depositar os presentes aos pés do Cristo Menino.
Os eventos na vida de Cristo representam etapas sucessivas no Caminho da Iniciação para os Discípulos cristãos. Os três homens sábios representam o Corpo, a Alma e o Espírito; seus presentes, a suprema dedicação ao Mestre. A mirra significa a amargura da dor e da pena, antes de que a natureza inferior do Aspirante tenha sido transformada; o incenso, o caminho da transmutação; o ouro, o espírito que refina a natureza inferior e, finalmente, a submete.
Epifania é uma palavra grega que significa “manifestação”, “proclamação”. A festa da Epifania é uma preparação para a manifestação ou proclamação do ser humano Crístico. Ela possui uma tamanha potência espiritual que sua influência se estende por um período de quatro semanas.
A primeira semana está dedicada inteiramente à preparação dos Discípulos. Suas notas-chave são oração e meditação e o trabalho se estende desde o dia 6 até o dia 12 de janeiro. São Paulo aconselhava a seus Discípulos orar sem cessar. Muitos Discípulos modernos são conscientes de que é possível manter a consciência da oração ainda que esteja se dedicando às atividades do Mundo externo.
Toda noite, o candidato formal se ocupa do exercício de Retrospecção, revisando os eventos do dia e se comprometendo a si mesmo a uma conduta melhor e mais nobre no dia seguinte. Revive igualmente os eventos do ano que acaba de terminar, reconhecendo suas debilidades e fracassos e planejando utilizá-los como degraus durante o ano que se inicia.
A segunda semana começa no dia 13 e termina no dia 19 de janeiro e suas notas-chave são pureza e transmutação. Esse trabalho se realiza sobre a natureza de desejos, pois um verdadeiro Aspirante Cristão disciplina sua natureza de desejos por meio de duas armas.
É um vício danoso de várias Escolas modernas ridicularizar os ideais de pureza e castidade. Alguns chegam até a afirmar que não foram ensinados por Cristo, e isso apesar do fato de que foi Ele quem disse aos Seus Discípulos que seria o puro de coração que veria a Deus.
Pureza era o primeiro requisito exigido aos Cavaleiros do Graal; só quando desenvolviam essa virtude, a convertendo em poder, eram dignos de se apresentar ante ao Santo Cálice.
Os exercícios disciplinares se centram, agora, na Mente, de 20 a 26 de janeiro. As notas-chave para esse período são: o despertar e a espiritualização no plano mental.
A Mente daquele que busca deve se manter sempre alerta e ativa. O velho provérbio “as mãos ociosas são a oficina do demônio” é igualmente válido para uma Mente ociosa, já que é fácil que se converta em uma porta aberta à admissão de entidades desencarnadas. As consequências que podem sobrevir são muitas e trágicas.
Os Aspirantes hão de praticar o discernimento e a discriminação em seu pensamento e, portanto, aprender a diferenciar entre o que é permanente e o que é evanescente. Devem tentar buscar valores duradouros na música, na literatura, no drama e em qualquer outra forma de cultura, redução da tensão ou diversão. Certo é que os pensamentos persistentes de uma pessoa evidenciam que essa pessoa é ou chegará a ser.
“Finalmente, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor.” (Fp 4:8)
O trabalho da quarta semana se estende desde o dia 27 de janeiro até os primeiros dias de fevereiro. Suas notas-chave são sublimação e unificação. O objetivo dessa última semana consiste em sublimar as qualidades da natureza inferior e, logo, as elevar até sua união com as do Espírito.
É literalmente possível desenvolver a pureza até tal grau que se converta em um poder espiritual. Parsifal possuía esse poder de pureza. Isso lhe tornava capaz de converter em pó o magnífico Castelo de Klingsor, e, desse modo, fazer desaparecer seus prazeres sensuais. Quando um Discípulo moderno comprova a nulidade das ilusões terrenas, ele possui o poder de desterrá-las da sua vida para sempre. Quando eleva seus pensamentos mais e mais, vão se tornando Crísticos e seus fatos se centram em Cristo. Tal Discípulo será digno de servir o Senhor no Seu regresso.
O que está escrito acima é somente um bosquejo das disciplinas com o iniciar de um Ano Novo, e logo continuar ao longo dele, o seguinte e todos os anos de uma vida e, quem sabe, de várias vidas terrenas.
Quando se buscam as coisas do espírito, ao princípio parece que a vida se torna vaga e há falta de interesse para todo aquele que não tenha experimentado nunca a verdadeira fome espiritual, fome de uma tal intensidade que excede em muito qualquer semelhante físico e, por fim, conduz o Aspirante a uma clara compreensão da afirmação do Mestre: “Eu tenho um alimento que não tens notícia”.
Quando um candidato prossegue essa gloriosa busca pelo eterno e desenvolve em seu interior poderes crescentes, pertencentes à consciência espiritualizada, comprova, mais completamente, a lei divina que subjacente nas palavras de Cristo, quando diz:
“Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.”[11]
O assunto da Virgem e do Menino é tão remoto no tempo que não é possível saber quando começou. Representa o ideal supremo da maternidade perfeita para a humanidade, tal como foi materializada pela Virgem Maria, a Mãe Imaculada de Jesus, o que cedeu seus dois Corpos para o Cristo.
Na aurora da civilização humana, os primeiros Templos de Mistérios se estabeleceram no continente lemuriano[12]. Os pioneiros da raça seguinte foram levados até eles para treiná-los, a fim de que servissem de líderes e orientadores dos seres humanos. Entre as primeiras visões que foram fornecidas a esses pioneiros para seus estudos e interpretações, estava a da Virgem com o Menino.
O tempo passou. O continente lemuriano desapareceu, e a Atlântida surgiu das águas. Os pioneiros de uma nova raça foram conduzidos aos Templos de Mistérios, para lhes dar o ensinamento e o treinamento que os qualificassem como líderes e orientadores dos menos evoluídos que eles. Repetindo a prática feita no continente lemuriano, quando os manuscritos eternos da Memória da Natureza foram desenvolvidos ante eles, uma das primeiras imagens que tiveram que estudar e interpretar foi a da Virgem com o Menino.
Depois aconteceu o nascimento da nossa Quinta Raça Atlante. Durante sua evolução, os guardiães da Humanidade deram a cada nova civilização uma religião, perfeitamente adaptada ao desenvolvimento desse povo, ao cumprimento e a sua missão como fator da evolução humana. Todas e cada uma das religiões mundiais, foram abençoadas por uma Alta Iniciada Feminina que tem tido o privilégio de ser a Mãe Imaculada, do Iluminado Ser, que veio como indicador do caminho para aquela raça. A última das ditas religiões, a culminação de todas, alvoreceu com a chegada do Cristo. A isto devemos a encarnação do mais glorioso Mestre Iniciado, que nunca tinha vindo na Terra em corpo feminino: Maria de Belém, mãe de Jesus.
Foi esse mesmo modelo eterno da Virgem que São João viu na Memória da Natureza, durante sua sublime visão e que descreveu como uma mulher vestida de Sol, os pés sobre a Lua e coroada com a glória de doze estrelas, expressão da comunhão consciente com as doze Hierarquias Zodiacais: Peixes, lar dos Mestres da Terra, que agora retornam como Senhores da Compaixão, que eles administram a humanidade e que a eleva; Aquário, lar dos Anjos; Capricórnio, lar dos Arcanjos; Sagitário, lar dos Senhores da Mente; Escorpião, lar dos Senhores da Forma; Libra, lar dos Senhores da Individualidade; Virgem, lar dos Senhores da Sabedoria; e Leão, lar dos Senhores da Chama (Luz e Amor). Aqui estão enumeradas as oito das doze Hierarquias. Durante a época do Solstício de Dezembro ou Natal, essas Hierarquias impregnam a Terra com as harmonias dos coros celestiais. As quatro Hierarquias restantes estão tão elevadas, que sua música pode ser ouvida somente pelos Mestres da Terra. São Câncer, lar dos Querubins; Gêmeos, lar dos Serafins; Touro e Áries, ambas tão exaltadas que seus nomes fazem tempo que se perderam na memória humana. Sabe-se, no entanto, que Touro mantém o modelo cósmico de toda a forma terrestre, enquanto que Áries, uma Hierarquia ígnea, mantém o segredo da vida, em si mesma. Todas as religiões conservam, pelo menos, um fragmento dessa verdade, posto que o fogo é simbólico da Deidade em todas as crenças do mundo.
O Antigo Testamento ensinava o seu povo a caminhar para a Terra Prometida, sob a orientação de uma coluna de nuvens durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite. No Novo Testamento, Cristo, o Supremo Mestre do mundo, declarou: “Eu sou a Luz do mundo”.
Há um profundo significado no fato de que o tema imemorial da Virgem com o Menino, tenha permanecido ao longo de todo o desenvolvimento da raça humana. É a imagem arquetípica do futuro desenvolvimento espiritual da humanidade, já que simboliza o nascimento da consciência crística dentro do próprio ser humano. O feminino representa uma alma despertada e iluminada; e a consciência crística só pode nascer em uma alma com tais características.
Portanto, para o ser humano moderno, o verdadeiro significado da época do Natal consiste no nascimento, dentro de si mesmo, da consciência Crística. Esse é o maior presente de Deus para a humanidade durante esse tempo. Assim, na Noite Santa do Nascimento, o Aspirante confirma sua consagração para amar e servir do modo mais completo, a todos os que encontre em sua vida diária, porque dessa maneira receberá, de uma forma cada vez mais crescente, a Luz do Cristo dentro de si mesmo. Até que esse nascimento não tenha ocorrido em seu interior, não poderá conhecer os profundos júbilos de um verdadeiro Nascimento espiritual.
Dissemos que, tanto nos Templos Iniciatórios da Lemúria, como nos da Atlântida, a consciência dos candidatos era conduzida para que pudessem estudar os Registros da Memória da Natureza, e que ali viam a gloriosa missão da Mãe e do Menino. Naqueles longínquos dias, a cura constituía uma parte importante na religião do povo; sua ciência e sua arte eram a ciência religiosa e a arte religiosa. Cada templo tinha seu próprio santuário para as curas. Ali, se a consciência do paciente era projetada na Memória da Natureza então, com isso, recebia as forças curativas emanadas da Sagrada figura da Mãe Divina.
Dissemos, também, que depois da morte desses continentes pré-históricos e da diferenciação da humanidade em raças e nações, foi enviado a essas, periodicamente, um alto Iniciado em forma feminina, a qual devia se converter na mãe do Mestre daquela Era. Em todos os casos houve um nascimento santo precedido de uma anunciação angélica, e uma Imaculada Concepção (não uma concepção milagrosa, note bem isso).
O Mestre feminino para o Egito teve o nome de Isis e deu à luz, na referente data de 25 de dezembro, culminação do período do Solstício de Dezembro, o sagrado bebê Hórus. O Solstício de Dezembro se celebrava no Egito com majestosas procissões e vívidas pompas, rendendo várias homenagens para a divina Mãe Isis e a seu recém-nascido filho Hórus. Os Iniciados emergiam de um relicário secreto, cantando: “A Virgem pariu. A Luz está crescendo”.
Rama, na Índia, um dos primeiros mensageiros como manifestação corporal de um ser imortal, da humanidade, recebeu sua iluminação na noite referente ao Solstício de Dezembro e, mediante seu poder, curou todos que foram até ele. Criou cerimônias sagradas em comemoração a esse santificado período, que ele denominou “Noite Santa”. A data da encarnação de Rama foi perdida na névoa da aurora da civilização.
Krishina, frequentemente denominado o Cristo da Índia, nasceu, do mesmo modo que Jesus, em um ambiente tosco e humilde. Seu nascimento ocorreu enquanto sua mãe e seu pai adotivo realizavam uma viagem mística para as colinas. É interessante ressaltar que, no lugar de pastores de ovelhas, eram pastores de vacas os que chegaram à cova para adorar ao menino. Essa religião foi originada quando o Sol, por Precessão, estava em Touro, o Signo do touro. Por isso, naquele tempo, as vacas eram consideradas animais sagrados, coisa que se prolonga até hoje na Índia.
A Noite Santa era saudada na Grécia com cânticos acompanhados de flautas. Quando o galo cantava, os neófitos, portando tochas acesas, desciam à uma capela subterrânea onde rendiam homenagem à imagem de um menino que tinha a sua frente, nas mãos, nos joelhos e nos pés uma cruz brilhante de ouro. O menino era conduzido em procissão sete vezes ao redor do templo oculto, sendo logo devolvido ao santuário subterrâneo com o acompanhamento de um coro triunfal que cantava: “Nesse momento Kore (a Virgem) deu à luz a Eón (a nova era ou ano)”.
O Solstício de Dezembro se celebra em Roma a Saturnália (de Saturno, cuja influência predomina quando o Sol passa por Capricórnio). Esse festival comemorava o matrimônio de Cibele (a Terra) e Átis (o Sol). Sua saída cerimonial da câmara nupcial representava o novo nascimento (Iniciação) do místico, do santuário subterrâneo da Deusa Mãe. E acontecia entre o regozijo dos amigos e companheiros que já haviam passado por uma experiência similar.
Quando ocorreu o Santo Nascimento na Palestina, o Sol tinha passado, por Precessão, de Touro para Áries, o Signo do cordeiro. Daí que foram pastores de ovelhas os que adoraram ao Menino Jesus. É interessante também notar que, enquanto o Sol estava, por Precessão, em Touro, um Signo feminino, a adoração de uma deusa foi essencial. Quando o Sol, por Precessão, passou para Áries, um Signo masculino, prevaleceu a adoração de uma deidade masculina (os Estudantes sabem que assim estamos falando do Sol em março, quando cruza o equador celeste. Nesse ponto de cruzamento do Equinócio de Março parece retroceder através das constelações, a razão de um grau a cada setenta e dois anos, aproximadamente. E o mesmo ocorre nos outros três pontos do círculo solar: o Solstício de Junho, o Equinócio de Setembro e o Solstício de Dezembro. Nos Equinócios, o Sol cruza o equador celeste, mas nos Solstícios parece permanecer parado antes de se dirigir, novamente, seu curso para o norte ou para o sul, segundo o caso).
Na próxima Era de Aquário, quando o Equinócio de Março ocorrer em Aquário, não dominará nem o masculino, nem o feminino. Receberão reconhecimento idêntico, tanto nos assuntos materiais, como nos espirituais.
Mitra, o santo da Pérsia, nasceu também no referente dia 25 de dezembro. Igualmente recebeu a homenagem e os presentes de homens sábios que profetizaram seu glorioso destino em serviço de seu povo.
Os escandinavos tinham um cerimonial muito formoso para adorar ao deus do Sol, Baldur, cuja mãe era a virgem Friga ou Freya. Esse santo nascimento ocorreu também na culminação do Solstício de Dezembro.
No México, o grande deus Quetzalcoatl nascia de uma Iniciada virgem e era denominada a Rainha dos Céus. Em sua história figuram, tanto uma anunciação como uma concepção imaculada.
Essa suprema Deusa Mãe, adorada por todo o universo, é o grande e ilustre Ser que dirige a Hierarquia de Virgem, os Senhores da Sabedoria. Todas as virgens Iniciadas realizam um treinamento e uma preparação sob a supervisão dessa Mãe Celestial. A Palestina viu a mais exaltada de todas elas, Maria de Belém, mãe de Jesus. Ela foi mais que nenhuma outra jamais foi no mundo: foi e é um grande Mestre Espiritual, que entregou a seu filho as riquezas de sua profunda sabedoria.
A missa crística dos primeiros cristãos celebrava a Noite Santa do Solstício de Dezembro quando Jesus, Senhor do amor, desceu à Terra para trazer aos seres humanos os novos Mistérios Crísticos, os quais lhes ensinam como desenvolver em seu interior a Árvore Vivente da Luz. O ser humano aprende, assim, a imprimir em seu próprio Corpo, por meio do amor e do serviço, os símbolos do ouro do Menino sagrado. São Paulo, um dos primeiros Aspirantes que seguiu os passos de seu Mestre, proclamou essa verdade aos seus próprios Discípulos quando disse: “trago em meu corpo as marcas de Jesus”[13]. São Paulo não se referia aqui às feridas nem às marcas infligidas por seus perseguidores sobre seu Corpo físico, como a igreja ortodoxa interpreta, mas se referia às glórias da estrela de fogo crística, que queimava dentro dele e brilhava com tal refulgência que, durante algum tempo, esteve cego como consequência desse resplendor. Foi essa estrela crística, criada para brotar nele por Cristo, e nascida quando ia a caminho de Damasco, a que, mais tarde, descreveu como “corpo celestial”. É sempre esse corpo-estrela, esse corpo celestial, o que leva as marcas de Cristo que, algumas vezes, se sobrepõe ao “corpo terrestre” em uma estigmatização visível para todos.
Paracelso diz que todas as constelações do céu se encontram dentro do ser humano. “O Sol é a cabeça”, escreve, “e os outros Planetas do Sistema Solar estão dentro do cérebro”.
Durante a Noite Santa, as portas do Templo estão abertas, as luzes do altar, resplandecentes, e se escuta o hino de Capricórnio em meio ao soar dos sinos de Natal, soando desde o plano da paz. Então, o neófito, que foi considerado “digno e bem qualificado” devido ter o Cristo Interno despertado, aprende o verdadeiro significado da Missa Crística, a Festa da Luz.
Para os sensitivos, o período de Natal se caracteriza por uma profunda tranquilidade interior, como se todo o mundo estivesse envolto na luz branca de uma grande benção. E isso é o que realmente ocorre nessa estação, a mais bendita do ano: as correntes de desejos da Terra são acalmadas e as forças espirituais crescem de maneira envolvente. É como se o céu se inclinasse para baixo e a Terra se elevasse; um caminho estreito de luz conecta os dois e, sobre ele, os Anjos e Arcanjos desfilam em brilhantes formações de luminoso esplendor, cantando em tons jubilosos: “Paz na Terra e boa vontade entre os homens”.
Quando essas forças celestiais varrem a Terra, tomam a forma de redemoinhos de uma beleza simétrica que adotam a semelhança da Virgem e do Menino. Ao longo dos Mundos etéricos, na Memória da Natureza, está impressa a marca mais sagrada da Terra: a Estrela de Ouro e a Mãe com o Menino.
Vários séculos depois de Cristo vieram à Terra Mestres artistas para perpetuar o significado e o propósito da Virgem Ideal, tal como se visualiza nos planos internos durante o período entre encarnações. Um deles foi Correggio[14], cujo estúdio era um santuário e assegurava que, quando estava trabalhando em um lenço da Virgem, estava real e simbolicamente de joelhos. De tal santidade era a atmosfera de seu estúdio que foi descrito poeticamente como repleto da pureza de meninos em oração.
Fra Angélico[15] foi outro desses pintores divinamente iluminados. É dito que ele vivia meio no mundo dos Anjos, meio no dos seres humanos. Há lendas que asseguram que os Anjos posavam frequentemente para ele. A excelente qualidade espiritual de suas Virgens e Anjos parece confirmar esse fato. Suas figuras eram mais etéricas que físicas, mais divinas que humanas.
Contudo, estava reservado à Rafael[16] o projetar em sua máxima perfeição e com seu máximo poder espiritual o ideal da gloriosa Virgem. Rafael foi o emissário de uma grande fraternidade mística e criou sua obra de acordo com o que via nos registros da Memória da Natureza. Sua famosa Virgem Sistina[17], que muitos críticos consideraram como a maior pintura do mundo, é utilizada nas escolas de cristianismo esotérico como tema de meditação. Meditar sobre essa famosa pintura assegura um efeito curativo sobre o observador e é um meio de cura espiritual. Quando essa pintura é contemplada e estudada produz um efeito sobre a alma humana já que essa alma sonhará durante a noite com a imagem da Virgem e receberá, assim, um verdadeiro impulso curativo.
Temos no Cristo Jesus o grande exemplo do que deveria nascer na alma humana. Essa alma humana, fecundada exteriormente do universo espiritual, está representada simbolicamente pela Virgem. Essa é, além disso, uma imagem da alma humana nascida do Universo Espiritual, que pode possuir o poder interno da visão, e que origina um nascimento espiritual, o nascimento do ser humano superior dentro do ser humano terreno. É nos dito que, desse modo, se pode contemplar a atividade criadora do mundo produzida novamente.
O Anjo Gabriel e suas hostes são os guardiães de todas as mães e futuras mães, e seus recém-nascidos, tanto no reino humano, como no reino animal. Ele foi o companheiro e mestre da bem-aventurada Maria ao longo dos anos de sua vida nesse Planeta. E é eminentemente significativo, portanto, que Gabriel seja o guardião das forças da natureza durante o intervalo entre 21 de dezembro e 21 de março, posto que esse é o período em que as correntes, recém-nascidas, se tornam ativas e enchem os planos internos com sua vibração e poder. Até o final desse intervalo manifestação no plano físico é vista como uma forma de uma onda de beleza impregnada.
Todo ano, na época do Natal, hostes de Anjos e Arcanjos, sob a direção de Gabriel, projetam sobre o Mundo o arquétipo da Virgem Eterna. A humanidade, intuitivamente, é consciente do poder que irradia desse arquétipo e, por isso, o assunto principal de devoção no Natal é a Mãe e o Menino. A mais formosa música natalina se inspira na Virgem e no Infante Sagrado.
É esse o tempo mais apropriado do ano para atravessar os portais da Iniciação, quando é possível se elevar a planos mais altos e acompanhar os coros celestiais. Afortunado aquele cuja estrela-chamada lhe anuncia nesse tempo que sua peregrinação terrena terminou e está liberado para passar para uma vida mais ampla, por meio do que se chama morte. Então realiza sua ascensão para as harmonias de coros transcendentes. Há uma estreita afinidade entre a Iniciação e a morte, consistindo a diferença principal em que, com a morte se deixa o veículo físico permanentemente, enquanto que com a Iniciação se abandona só temporariamente, enquanto se trabalha nos planos internos e, quando esse trabalho termina se reintegra com a vestimenta terrena, com o objetivo de reassumir os deveres da vida diária.
São Paulo nos diz que o último inimigo a vencer é a morte. A Iniciação possui a chave dessa afirmação, posto que a morte é “superada” pelo desenvolvimento da consciência do Iniciado. A Iniciação é a chave da vida eterna. E é por meio da Iniciação que o ser humano pode chegar a conhecer o milagre e a glória da Virgem Eterna.
CAPÍTULO VI – A MAGIA DO NATAL
O Natal é a época mágica do ano. É a mais encantadora das estações. Até mesmo o ar parece se estremecer e centelhar de felicidade e antecipação.
O que se aprendeu, por meio da profunda comunhão interna, contatando os planos ocultos da natureza, reconhece que as festividades sagradas do ano se observam nos Mundos internos, e que esses transmitem suas impressões ao Mundo Físico externo. Isso é especialmente certo no tempo do Natal. As celebrações jubilosas, a cor, a música e o regozijo que acontece no Mundo externo não são senão um pálido reflexo dos fenômenos correspondentes no Mundo espiritual. Quando Cristo chega ao coração da Terra, nessa formosíssima estação, o brilho de Sua imensa emanação impregna o Planeta inteiro com seu esplendor.
Essa radiação penetra realmente o Mundo Físico exterior, mas a densidade da matéria torna muitas pessoas cegas às suas refulgências. Muitos sensitivos, no entanto, sentem a luz que emana. Mesmo que não a vejam, são conscientes da elevada exaltação e da rica inspiração que coloca o período natalino à parte do resto do ano.
O tremendo amor-luz, com que Cristo impregna o Planeta todo ano pelo Natal está alterando, gradualmente, a vibração atômica da Terra, e esse grande derramamento de amor-luz, todo ano, é o verdadeiro presente de Natal de Cristo para o Mundo. Por meio d’Ele, o Planeta vai se eterizando e se sensibilizando até o ponto de poder responder a novos e cada vez mais elevados ritmos vibratórios. Gradualmente, pois, o ritmo Crístico, palpitando na Terra, se tornará tão potente que todas as vibrações dissonantes serão eliminadas: a terrível praga da guerra, que agora separa os seres humanos dos seres humanos e as nações das nações não será mais possível; a enfermidade, a miséria e, finalmente, até mesmo a morte, serão vencidas. Cada átomo do globo responde ao divino influxo com sua vasta pulsação, rítmica como a música, para quem possa ouvir. Seu eco é repetido pelo jubiloso tilintar dos sinos de Natal, pois não há outra época em todo o ano em que os sinos toquem tão rejubilosamente como nesse tempo.
Os Anjos devem amar também essa época com um amor especial, já que se aproximam da Terra e entoam seus mais deleitosos cânticos. Noite e dia, multidão deles, pairam sobre o Planeta, derramando suas bênçãos sobre tudo o que tem vida, bênçãos que, logo, tem sua contraparte física no incenso que perfuma muito lugares de culto nessa época sagrada. Os antigos Iniciados Cristãos tinham muito contato com as celebrações nos planos superiores, e muitas das cerimônias que estabeleceram na igreja refletem os rituais Iniciáticos dos Mundos internos. Os Mestres músicos captaram melodias da música angélica e as tem transladado à Terra em inspiradas canções que perdurarão enquanto a Terra exista… “Alegria ao mundo, o Senhor chegou” é um canto angélico que expressa um mistério cósmico pertencente aos Anjos e aos seres humanos. Entre os grupos angelicais que cantam sobre a Terra no tempo do Natal, há um ser feminino cuja luz áurica se estende pelo vasto espaço: “A rainha dos Anjos e dos seres humanos”, que adiciona sua melodia à dos seres celestiais, ao mesmo tempo que derrama suas bênçãos, especialmente sobre as mães e os bebês, já que conserva em sua sagrada memória e o compreende melhor que nenhuma outra mãe, o profundo sacrifício que supõe esse tempo santo. Sua nota-chave musical ressoa na Ave Maria, e todos os que a ouvem são influídos, consciente ou inconscientemente, por sua benção.
Em cada uma das quatro festividades sagradas, os seres celestiais impregnam os Mundos etéricos com uma radiação divina. Cada uma dessas estações possui sua própria cor característica, relacionada com sua própria nota-chave musical, ambos, há muito tempo, empregadas nas cerimônias dos Templos de Iniciação.
Todos estamos familiarizados com o vermelho e o verde da estação natalina, tal como se celebra no ocidente. O verde é a cor da nova vida. Geralmente é associado com a primavera, quando a nova vida vegetal se faz presente no hemisfério norte da Terra. No entanto, é no tempo do Natal quando essa nova vida se agita, dentro do Planeta, e é por isso que os antigos videntes usavam como motivo decorativo em suas celebrações no meio do inverno. O vermelho é a cor de Marte. É também a cor da atividade, que se agita através do Planeta, quando o raio do Cristo “renasce” em seu interior. Marte está exaltado em Capricórnio e as festividades natalinas se celebram quando o Sol entra nesse Signo, em 21 de dezembro. O lugar de exaltação de um Astro é onde as forças espirituais se concentram. O vermelho pertencente ao Natal não é um tenebroso carmim, mas a pura e clara cor produzida pela transmutação do denso vermelho da paixão no mais claro tom de compaixão. Isso sucede com a mudança do pessoal ao impessoal, do individual ao universal.
A magia do Natal se caracteriza por um espírito de boa vontade universal. Todos nós nos vemos animados com impulsos amistosos e generosos. Há poucos tão egoístas que não dão algo, de si mesmos ou de seus bens, aos outros. As comunidades, grandes ou pequenas, concebem diversos projetos em auxílio aos necessitados, aos enfermos e aos desgraçados. Os hospitais e os orfanatos celebram essa magia com carinho e amor, bons desejos e proteção. A aspiração de todos, por onde for, é iluminar pelo menos um pequeno lugar, proporcionando esperança e alegria a todos os menos afortunados. Esse sentimento de Fraternidade Universal encontra seu símbolo mais alegre no papai Noel. Ele é o que visita anualmente, no Natal, os telhados de todo o mundo, repartindo, entre todos, presentes e desejos de felicidade. Se lhe conhece por diferentes nomes nos países, mas seu espírito é sempre o mesmo, porque não é mais que a personificação da boa vontade universal que Cristo traz à Terra, e que cada vez se vai convertendo em uma força mais poderosa que comove a consciência do ser humano em todo o Mundo.
Mas, por cima dessa beleza, cor e do regozijo que animam a mágica do Natal, por toda a atividade, o bulício e a confusão, ressoa no ar um cântico mais terno e formoso que o canto dos Anjos e Arcanjos: a voz do mesmo Cristo, nos reiterando que, qualquer coisa que façamos para aliviar a carga, para sanar as feridas, para mitigar o sofrimento ou para iluminar os dias de qualquer ser humano ou de qualquer criatura vivente, é a Ele que fazemos. Ele mesmo O expressou assim: “Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me”.
Enquanto o Ritual do Natal pertence a tempos imemoráveis, a Festa da Corrente de Natal se observou, pela primeira vez, no começo da civilização Ária. O protótipo da Árvore de Natal foi a “Árvore celestial do Sol” dos primeiros seres humanos que compuseram a civilização Ária.
Foi na pura e rarefeita atmosfera ariana de onde o Sol saiu, pela primeira vez, tão claro, que o ser humano pôde perceber o tremendo caudal de luz que os seres transcendentes difundiam sobre a Terra. O ser humano comparou esse abano de luz com uma árvore e seus ramos estendidos. Segundo uma tradição indiana, “a Árvore do Sol está no centro da Terra, de onde surge com um amanhecer e à medida que o Sol ascende para o seu zênite, vai crescendo, até que seus ramos mais altos o alcançam, ao meio-dia, quando chega ao alto dos céus; diminui logo com o declinar do dia e, no pôr do Sol, se submerge de novo na Terra”. Em uma ou em outra forma, existem em quase todos os países lendas sobre a “Árvore do Mundo”, cujas origens se remontam àquela mística “Árvore de Luz”.
Os místicos são, certamente, conscientes de que entre o reino das árvores e o reino humano existe uma simpatia peculiar. Os altares mais primitivos consistiam de uma pedra e uma árvore frutífera que crescia ao seu lado. Esses altares estavam quase sempre associados à Deusa Mãe, a qual se consagravam. Os arqueólogos que escavaram na zona do Templo de Diana, em Éfeso, descobriram as fundações de vários templos superpostos e, em seu estrato inferior, encontraram somente um altar de pedra e indícios claros de uma árvore sagrada associado a ele.
No brilho da Era do Arco-íris, as árvores obscuras, vitais, poderosas e sempre verdes da Época Lemúrica e Época Atlante cederam o posto às árvores aéreas, portadoras de alimento e adornadas com flores, da Época Ária.
Enquanto ocorria a mudança, o ser humano conservava vestígios de sua antiga clarividência negativa, e podia mesmo se comunicar com os Espíritos da Natureza, se bem que já havia perdido contato com as grandes Hierarquias dos Anjos e dos Arcanjos, que ocupavam áreas de consciência espiritual que já lhe estavam inacessíveis.
Muito depois, em plena Época Ária, incluída já a atual Era de Peixes, muitas raças conheceram as fadas dos campos e das águas, as inspiradoras sílfides das falésias e montanhas e os gentis espíritos da amigável brisa. Mas, entre eles, haviam sentido mais profundamente seu parentesco com as dríades[18] ou espíritos das árvores. Os bosques estavam impregnados de uma presença persistente, que lhes fazia tremer, algumas vezes, e a reverenciá-las, outras vezes.
A consciência das árvores, no entanto, é algo real e definido, e suas alterações de disposição de ânimo podem ser captadas facilmente pelo místico. Os Anjos, como os seres humanos, sentem tanto a alegria como a dor. Umas vezes é o tronco de uma grande árvore que vai tremer, agitando suas folhas chorosas, como um rompante de lágrimas. Outras, a estrutura total da árvore se faz luminosa, em pleno êxtase. Esse regozijo estático do reino das árvores alcança seu clímax na manhã do Domingo da Ressurreição.
Os sensitivos ouviram, frequentemente, gritos enternecedores brotando de seus troncos, nas vésperas de sua destruição. Em um caso, os gritos eram tão persistentes que se investigou e se comprovou que a árvore ia ser destruída no dia seguinte. Esforços foram feitos para salvá-la, mas não deram resultados. O espírito da árvore sabendo disso, lamentava a sua destruição prematura.
Cada árvore é liderada por um Deva ou um Anjo. Esse Anjo é, literalmente, o guardião da árvore e se lhe denomina, frequentemente, o “espírito” da árvore. Ele supervisiona todos os processos vitais que ocorrem em sua esfera, incluindo as atividades dos Espíritos da Natureza, em qualquer parte de seu organismo.
Quando o grande Raio do Cristo descende à Terra em setembro, o reino vegetal absorve uma boa quantidade da Sua radiação. Os bosques parecem coroados de um halo dourado, quando esse Raio luminoso alcança a Terra e sua luz se derrama por entre as folhas das árvores. Quando a horta mística da Noite Santa se aproxima, a corrente dourada penetra até o coração dos seus troncos, de onde brilha como a chama de um altar. No tempo do Natal, cada árvore é uma mensageira que proclama o retorno anual do Senhor Cósmico de Amor e de Luz.
Existe uma lenda antiga e maravilhosa que relata que, no silêncio daquela hora sagrada, quando os Anjos cantavam formas poéticas ao Cristo-Menino, os animais quadrúpedes domesticados dobravam seus joelhos e inclinavam suas cabeças. Pois nesse momento é quando os pequeninos da natureza interrompem suas atividades e, em alegre procissão, rendem homenagem ante a luz do altar que flameja no interior da árvore que os acolhe. Assim, pois, tanto a natureza como todo o ser vivente, reverenciam a chegada do Rei recém-nascido.
Alguns pensam que o símbolo mais formoso e mais profundo, entre os relacionados com o Natal, é a árvore. A Estrela dourada que, geralmente, adorna seu topo representa a Estrela do Leste, que chama a todos os seres humanos a reverenciar Àquele ao qual o místico recebe com gratidão e complacência, à meia-noite, como ao Sol recém-nascido. As luzes e cores sobre a árvore festiva, representam as emanações da aura desse Sol recém-nascido, que impregnam e iluminam toda a Terra, por dentro e por fora.
A árvore, adornada de tal modo, ano após ano, em Sua honra, chega, gradualmente, a emanar uma benção e uma bem-aventurança, não só no tempo do Natal, mas ao longo de todo ano. Isso é facilmente discernível para o sensitivo que se aproxima dela. Nisso está a importância de utilizar árvores de Natal vivas, em lugar das imitações.
Todo ser humano é um Cristo em formação. Por isso, todos os símbolos natalinos representam diferentes graus de desenvolvimento espiritual. No corpo humano, templo do espírito do ser humano, existe um bom número de centros esperando serem despertados e vitalizados. Quando isso ocorre, esse corpo se converte em uma verdadeira Árvore de Natal, radiante, iluminado, “caminhando na luz como Ele na luz está”[19]. Um sensitivo, ao perceber essa verdade, escreveu: “O corpo está coberto de luzes que esperam serem acendidas pela flamejante tocha do amor”.
O mundo moderno está voltando, cada ano com maior reverência e compreensão, a vivificar as festas e cerimônias dos primeiros cristãos. A Festa de Advento, desde sua fundação no século I, não foi tão destacada como durante os últimos anos.
O Advento ocorre, de acordo com uma lei cósmica, quando a Hierarquia de Sagitário dirige suas radiações para a Terra, já que ela favorece o idealismo elevado e fortalece as aspirações espirituais. As luzes multicores que se veem por todo lugar e a alegre música que se escuta por toda parte se combinam, no plano externo, para refletir a sublime beleza, a intensa atividade e a música e cor verdadeiramente gloriosas que inundam os mundos internos. É, então, também quando os Anjos se aproximam da Terra mais que me qualquer outra época do ano.
Durante esse intervalo, o Aspirante sério dedica tanto tempo como lhe é possível a se purificar e se preparar, por meio do jejum e da oração, para chegar a uma maior sincronia com o Festival do Natal. Esse trabalho preparatório, atualmente, começa no Equinócio de Setembro, quando a Regência da Terra é assumida pelo Arcanjo Miguel, que preside os processos de purificação e regeneração de toda a progênie terrena. Desde o Equinócio de Setembro até o Solstício de Dezembro, Miguel e as hostes se encarregam de limpar os Corpos de Desejos e Mental da Terra. Se não fosse por essas atividades de verdadeira limpeza que os Seres celestiais executam, a obscura, sombria e cheia de temor e tristeza da atmosfera psíquica, gerada pelos maus pensamentos, emoções e atos do ser humano, se tornaria tão densa que a humanidade ficaria submergida nela sem nenhuma esperança, com seu enlace com as vivificantes forças do espírito totalmente rompido. Isso não ocorre porque o supremo trabalho de Cristo consiste em lutar contra essas forças do mal e da obscuridade, luta simbolicamente representada por Miguel que mata o dragão, já que Miguel é quem segue a Cristo na Hierarquia da Luz. A vitória da luz sobre as trevas ocorre todo ano, enquanto o Sol passa por Libra, Escorpião e Sagitário. O Místico Cristão o compreende assim e sabe como se sincronizar com as influências de Miguel e de suas hostes. Desse modo recebe uma tremenda ajuda, por parte da luz interior, que nunca lhe falta, e que está no seu próprio ser, para sua vitória pessoal sobre as trevas.
Quando chega o Solstício de Dezembro, cumprindo Miguel o seu trabalho anual, devolve a Regência da Terra a Gabriel, o Arcanjo da ternura e do amor. Gabriel é o glorioso ser que tipifica o espírito da maternidade, já que é o guardião das mães e seus filhos. Toda a vastíssima tropa de Anjos da natureza trabalha sob sua orientação durante essa estação.
Começando no Equinócio de Setembro, a radiação dourada de Cristo, que vai sendo derramada sobre a Terra, gradualmente penetra nas suas capas atmosféricas e, logo, o globo terreno inteiro até que, no Solstício de Dezembro, alcança o seu coração. Então o maior milagre da natureza ocorre: se produz uma magia branca, um silêncio total, e uma terna reverência impregna a atmosfera da Noite Santa, enquanto os Anjos da natureza, junto com outros elevados seres, combinam suas forças e invertem as correntes cósmicas. Durante os seis meses anteriores, se moveram ao longo do arco descendente; durante os seis meses seguintes, que culminarão no Solstício de Junho, se elevarão ao longo do arco ascendente. A poderosa onda dessa força mágica revigora a vida toda; e essa mesma maré ascendente de força espiritual, eleva o fogo espinal do espírito no corpo humano. Assim, pois, para aqueles que fizeram a preparação devida, esse fogo pode ser elevado até a cabeça e produzir um estado de verdadeira iluminação.
Esse processo cósmico ocorre mediante o poder da harmonia musical e do ritmo. É uma ação da Palavra Criadora, do Verbo, do qual São João afirma que tem existido desde o Princípio e que por Ele tudo foi criado.
A nota-chave musical desse Planeta é harmonizada com o conto dos Anjos: “Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens de boa vontade”. É a anunciação harmoniosa e rítmica dessa palavra planetária, ressoando, uma e outra vez, por toda a Terra, e produz o milagre da Noite Santa.
As forças celestiais imensas que atuam entre o Céu e a Terra nessa época bendita, ressoam com uma beleza insuperável. Um eco suave dessa celestial harmonia, captada por Franz Schubert, foi transcrita para os ouvidos humanos nos compassos maravilhosos de sua Ave Maria. Essa composição, em certo sentido, pode se considerar como a nota-chave musical da estação natalina. Sua música produz como resultado um tremendo poder espiritual, particularmente durante essa época do ano em que parece como se devolvesse o eco dos ritmos celestiais dos espaços cósmicos.
Durante esse tempo encantado, um tríplice nascimento é produzido:
Agora o Discípulo compreende porque, então, não houve um lugar na hospedaria e porque Cristo teve de nascer em um presépio onde os animais comem. Agora ele comprova que o trabalho supremo de sua vida consiste em abrir as portas da hospedaria, preparar um lugar para Cristo e se transformar o presépio em um berço de luz. Sabe que esse berço é o Terceiro Ventrículo, na cabeça, que está rodeado pelas forças que irradiam das Glândulas Pituitárias e Pineal sensibilizadas, simbolicamente representadas, respectivamente, por Maria e José. Ao se converter em um Iluminado, se converte em um Cristo, e a glória desse novo nascimento é saudada pelas multidões angélicas desde o alto.
Os três nascimentos vão acompanhados por jubilosos coros de seres celestiais, que proclamam isso, várias vezes, transformadores acontecimentos, transcritos na nota-chave musical da Dispensação Cristã: “Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens de boa vontade”.
O dia 21 de dezembro, a nota-chave planetária troca de Sagitário para Capricórnio. A chave de Sagitário é o êxtase divino, expresso na fraternidade que regozija, na repentina crescente de cores claríssimas e na harmonia da estação do Advento. A nota-chave de Capricórnio e a consumação divina. A Terra está submergida na luz branca da consagração, quando as correntes de vida planetárias se invertem, e a força do Cristo Cósmico começa a subir para o Sol. Essas forças vão crescendo do dia 21 de dezembro até a meia-noite do dia 24, no qual adquirem sua máxima potência, mas não declinam logo. As poderosas radiações solsticiais da força espiritual envolvem a Terra até a décima segunda noite seguinte, um intervalo considerado pelos primeiros cristãos e destinado a ser revivido hoje.
O cântico dos Anjos, enquanto o Sol se dirige para o sul, está expresso em tons menores. À meia-noite do dia 24 de dezembro, a Noite Santa, seus coros se transportam a tonalidades maiores, quando entoam, cheios de regozijos, a nota-chave da Terra: “Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens de boa vontade”.
CAPÍTULO VII – A SAGRADA FAMÍLIA, UM SÍMBOLO CÓSMICO
O relato do Natal é familiar na história e se canta em todas as partes do mundo. O Místico Cristão, além de aceitar a versão literal, tal como aparece nos Evangelhos, encontra nela significados mais profundos. Aceita a Maria de Belém como um dos mais ilustres Mestres que já tenha vindo à Terra. Sabe que José foi um dos primeiros Mestres Iniciados do Templo de Mistérios e que o Menino Jesus era o Ego mais avançado que já encarnou na Terra. O Menino Jesus, com o auxílio da divina Maria, construiu o Corpo físico mais perfeito que já havido sido construído nesse mundo, e que serve como modelo supremo para toda a humanidade.
O Místico Cristão, que aceita essas verdades, comprova, além disso, que todo ser humano é um Cristo em formação. Compreende que cada personagem da história natalina representa determinada fase do seu próprio desenvolvimento interior e que cada experiência desses personagens formará parte de sua própria experiência espiritual, à medida que aprenda a se elevar, cada vez mais, no Caminho da Santidade.
É a compreensão da história natalina o que inclina o Aspirante sério a se voltar para estudar e meditar, cada vez com mais entusiasmo e reverência, essas profundas verdades internas. O Mestre nos indicou que existe uma elevada meta para alcançarmos, quando disse: “não somente as coisas que Eu faço, vós fareis, mas coisas maiores que Eu”.
Sobre a entrada dos antigos Templos de Mistérios, como já dito antes, se achava a inscrição: Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás todos os mistérios do universo”. À luz dessa profunda verdade esotérica, estudaremos a inspiradora história natalina, a vida e as experiências da Sagrada Família, tal e como são descritas.
Em cada Corpo-templo humano existem duas correntes de força magnética: a primeira, de potência masculina ou positiva; a segunda, negativa ou feminina. Às vezes, são citadas como os dois polos do Corpo. Na linguagem mística se fala delas como dos elementos Fogo e Água, e são representadas por duas colunas, uma coroada pelo Sol e a outra pela Lua. Na maioria das pessoas, essas duas correntes não funcionam de modo harmonioso; há um desequilíbrio que provoca distorções e desajustes no Corpo. A função do caminho Iniciático consiste em fazer essas duas correntes a se correlacionar harmoniosamente. As várias etapas desse caminho estão representadas pelos acontecimentos mais importantes da vida do Supremo Iniciador do Caminho, o próprio Cristo.
A potência negativa ou feminina está centrada no coração, sede da intuição; a positiva ou masculina, na cabeça, sede do intelecto. A iluminação obtida com o Grau da Anunciação proporciona a faculdade para ver o Corpo perfeito que resultará do equilíbrio total e harmonioso entre as forças masculina e feminina. Até que isso seja conseguido, o ser humano não materializará um Corpo ajustado ao arquétipo divino, que existe externamente nos céus. É a visão desse glorioso Corpo-templo, construído a imagem e semelhança de Deus, a que fornece a nota-chave espiritual desse objetivo: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”.
Da mesma forma que o Grau da Anunciação proporciona uma visão gloriosa, o Grau da Imaculada Concepção imprime essa visão no Corpo. A vibração de cada átomo se eleva, como consequência da nova onda de poder espiritual. O organismo inteiro é elevado até uma harmonia maior com o arquétipo. O Corpo-templo é literalmente renovado, e se converte em uma habitação mais santa para o Espírito, para nele viver e trabalhar. A nota-chave espiritual deste Grau está contida nas proféticas palavras de Maria: “Todas as gerações me chamarão de bem-aventurada”.
Nesse Grau, uma nova luz arde no Coração e uma nova radiação emana da Mente. Coros de angélicos ministrantes, juntos com o Grande Único Compassivo, nos planos internos, desde os que estão continuamente examinando o Mundo em busca da aparição dessa nova luz no interior do Coração e da Mente de um ser humano, saúdam o descobrimento com cantos celestiais cheios de alegria vibrante. Aqueles, dentre os seres humanos, que experimentam o nascimento dessa nova luz, começam a estar sob a mais próxima e terna orientação dos seres espirituais. Como consequência desse desenvolvimento e de sua expressão, a vida cobra novos e mais profundos significados. Maria simboliza a corrente feminina, que tem seu assento no Coração; José representa a corrente masculina, que tem seu assento na Cabeça. Em qualquer plano em que essas duas correntes de força se unam harmoniosamente, se manifesta um novo elemento. Esse terceiro elemento constitui um nascimento sagrado ou o despertar de um novo poder, o poder da vontade. Esse poder da vontade criadora espiritualizada é a Pedra Branca mágica, já que, mediante seu posterior desenvolvimento, o ser humano se converte em um Super-ser humano, um filho ou uma filha do Rei. No momento desse nascimento, os Anjos ministrantes rodeiam a Terra cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Isto é, paz no Corpo-templo do ser humano, e boa vontade porque chegou a conhecer, verdadeiramente, essa grande e gozosa fraternidade entre Anjos e seres humanos, que sobrepassa toda compreensão. Quando isso for alcançado por todos os seres humanos, o amor, a bondade e a harmonia reinarão supremos sobre a Terra.
Um Templo é um lugar de dedicação. E é o lugar onde o Aspirante, que pretende percorrer o Caminho da Santidade, vai para meditar e orar. Tais seres humanos devem, necessariamente, viver de acordo com normas e disciplinas, observando-as com uma fidelidade muito maior que quem ainda se sente satisfeito com o mundo, tal qual é. Os pensamentos têm que ser cuidadosos, para não admitir influências negativas ou destrutivas. As palavras têm que vigiadas, com o objetivo de não ferir nunca por meio do seu uso. As ações têm quer serem valorizadas por sua capacidade de ajudar e de construir positivamente. Tal controle sobre os pensamentos, as palavras e os atos não podem se manter com sucesso, a não ser por meio de longos períodos de estrita disciplina e de muita oração e meditação. O Aspirante há de se retirar, com frequência, a um lugar de dedicação para renovar seu propósito e restaurar sua força interna. Se seus esforços são sérios e sinceros, com toda segurança, o dia chegará em que receberá, como recebeu o Menino Jesus, a benção do Sumo Sacerdote e da Suma Sacerdotisa (as forças masculina e feminina) e sobre ele se projetará um novo nome para a alma, que lhe harmonizará com seus próprios poderes internos, e o proverá da chave mágica para invocar a orientação e a proteção dos que estão no alto.
Durante as primeiras etapas do desenvolvimento espiritual, o Aspirante experimentará, frequentemente, “fugas para o Egito”, ou deslizamentos para as trevas. A vida interior ficará, temporariamente, bloqueada. Sentirá que ficou sem a orientação espiritual. Isso lhe produzirá um sentimento de solidão e abandono sem esperanças alguma, a partir da qual o seu Espírito clamará, cheio de agonia, como fez o salmista no mesmo estado de sua evolução. Contudo, se persiste em seus esforços por reconquistar a luz, tornará a colocar o pé no Caminho, como fez a Sagrada Família que, mesmo tendo fugido para o Egito, país simbólico das trevas, regressou cheia de graça, acompanhada por hosanas dos coros angélicos. Trata-se de um ponto difícil no Caminho. Muitos caem aqui e voltam para os atrativos do mundo. O místico Max Heindel nos deu a seguinte alentadora admoestação: “O único fracasso consiste em não seguir tentando”. Essa verdade é tão importante como a afirmação bíblica de que “o vento é suave para a ovelha tosquiada”.
A humanidade está dividida em duas classes: a que segue o caminho do Coração e a que segue o caminho da Cabeça. Os Aspirantes mais centrados no Coração são tocados mais facilmente por suas emoções. Salvo se estiver equilibrado e assegurado pelos poderes da Mente, sua casa estará, literalmente, construída sobre a areia, e os ventos e tempestades a destruirão. Os predominantemente mentais, com seus poderes centrados na razão, constroem suas casas sobre a rocha, mas também, nesse caso, estarão sujeitos a destruição por obra dos furacões. Mediante os Ensinamentos no Templo, o Aspirante aprende a combinar os poderes da Mente e do Coração, da razão e da intuição, do masculino e do feminino, de seu próprio interior. Quando isso for alcançado, a emoção constrói asas com a razão, e a Mente se torna iluminada pela luz do espírito. Com isso, alcança-se um grau maior de perfeição, um novo poder, recém-encontrado, e a uma expansão de consciência que, desde esse momento, conduz à consagração da vida inteira ao serviço do Reino de Deus na Terra. Qualquer outro interesse que possa ser apresentado temporalmente receberá a mesma resposta que o Menino Jesus deu quando seus pais o encontraram no Templo, ensinando aos sacerdotes: “Não sabem que hei de me ocupar das coisas do meu Pai?”.
O Batismo era uma fórmula de Iniciação e constituía o acontecimento mais ilustre da Semana Santa. A Virgem Santa e os demais Discípulos femininos eram sempre participantes importantes nesse rito sagrado. Para os que eram dignos de participar nesse cerimonial, os céus se abriam a sua visão embelezada, e eram muitas atividades transcendentes que se faziam visíveis e audíveis.
Em todos os antigos Mistérios, o rito do Batismo era simbólico de “conduzir à visão”. É esse momento quando o candidato desenvolve um maior grau de equilíbrio entre as forças masculina e feminina de seu Corpo-Templo; os princípios de Maria e José são conduzidos a uma interação mais harmoniosa. O Aspirante adquire, então, a capacidade de pensar com seu Coração e a amar com sua Mente. É necessário que esse desenvolvimento aconteça nesse tempo especial, pois, com a aquisição do desenvolvimento da visão, o Aspirante é capaz de ver nos planos internos e a contatar com os seres elevados que lá habitam. Para funcionar, sem perigo, quando se contatam com os Mundos internos, é imprescindível estabelecer uma relação equilibrada entre as forças positivas e negativas do próprio ser. Para esse estágio de evolução, o conselho de Max Heindel a seus Discípulos era: que mantivessem “sua cabeça nas estrelas e seus pés no chão”. Se esse conselho fosse seguido, muitas das tragédias que afligem o Aspirante, nesse ponto do Caminho, seriam evitadas.
O simbolismo pictórico, representado pelo candidato em pé entre as duas colunas, às portas do Templo, algumas vezes sozinho e outras vezes acompanhado de um Mestre, se refere a esse ponto especial no Caminho. Aqui é também onde escutará a voz que foi ouvida por Jesus no dia do seu Batismo, já que se trata de uma benção do Templo, transmitida a todos os participantes dignos desse rito sagrado: “Esse é meu Filho amado, em quem me comprazo”[20].
O Batismo forma a ligação que conecta os Mistérios da Água, do Natal, com os Mistérios do Fogo, da Páscoa. Aqui vamos buscar o significado da afirmação de uma antiga lenda que diz que quando Jesus imergiu no Rio Jordão, grandes bolas de fogo apareceram sobre a superfície das águas.
Quando um Aspirante experimenta um elevado estado de exaltação, esse é sempre seguido por uma sutil tentação. A tentação, portanto, geralmente, constitui o oposto do Batismo. Depois do Batismo de Cristo-Jesus, sublime ocasião de dedicação e consagração, vem Sua tentação no deserto e, depois da glória de sua Transfiguração, vem a agonia do Getsemani. Essa sequência constituiu, em todas os momentos, o Caminho do Discipulado, para que o Discípulo compreenda completamente o poder do discernimento, ou seja, a habilidade para distinguir o verdadeiro do falso, o real do irreal.
A queda dos Anjos se relata na descrição da Guerra nos Céus.
A queda da humanidade se relata na versão bíblica da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden.
Os Arcanjos, no entanto, não “caíram” nunca. Ainda que possuam o Corpo de Desejos, transmutaram o desejo em poder espiritual e seus Corpo de Desejos em um corpo de luz. Era necessário, pois, que o Salvador dos Anjos e dos seres humanos viesse de uma Hierarquia Arcangélica. Os Espírito Lucíferos compreenderam bem isso e sentiram grande angústia ante a vinda à Terra do Arcanjo Cristo. São Marcos, em seu Evangelho, refere que o espírito do mal disse a Cristo: “Sei quem Tu és: o Santo de Deus” (Mc 1:24).
Imediatamente após Seu Batismo, Cristo se retirou ao deserto durante quarenta dias. Tinha que se familiarizar com o uso do Corpo físico e aprender a funcionar nele, sem que ficasse destroçado pelas poderosas radiações de Seu exaltado espírito. Nesse momento é quando Lúcifer se aproximou d’Ele e o tentou, com a esperança de que Sua encarnação em um Corpo físico tivesse Lhe deixado vulnerável.
A tentação de Lúcifer foi tripla: física, mental e espiritual. Ele ofereceu a Cristo todos os reinos da Terra, provavelmente a mais sutil das tentações. Muitas pessoas têm abandonado o Caminho por causa da riqueza, da fama, do prestígio e do poder terreno, do que por quaisquer outros motivos, como simboliza a parábola de Cristo sobre o jovem rico.
De novo Lúcifer tentou o Mestre com a promessa de poderes mágicos para converter as pedras em pães. Incontáveis milhões de seres humanos estão empregando, agora, seus poderes mentais para atrair mais posses terrenas, todos sem pensar ou indiferentes ao fato de que, trabalhando assim, se colocam, cada vez mais, abaixo da influência de Lúcifer.
Finalmente, Lúcifer transportou Cristo até o pináculo do Templo e lhe ordenou se jogar dali, depois que ordenasse aos Anjos que o protegessem. Quando se começa a despertar os poderes internos inerentes ao espírito, são muitas e muito sutis as tentações para utilizar esses poderes em benefício próprio. Mas Cristo declarou: “Por Mim mesmo, nada posso fazer” (Jo 5:30). No iluminado manual do discipulado de Mabel Collins, intitulado “Luz no Caminho”, se recomenda aos Aspirantes matar toda ambição pessoal, mas trabalhar como os que são ambiciosos. Verdadeiramente “Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho… E poucos são os que o encontram (Mt 7:14). O completo desapego pessoal é a nota-chave do verdadeiro Caminho do Discipulado.
Quando o candidato alcança esse ponto do Caminho da Santidade, já alcançou o equilíbrio entre as duas polaridades. Com essa etapa chega o completo florescimento dos órgãos espirituais da cabeça, do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal. Esses dois órgãos são, então, as luminosas lâmpadas do Corpo-Templo. A Glândula Pineal coroa a coluna de fogo masculina, a coluna de José; a Glândula Pituitária (ou Corpo Pituitário) coroa a coluna feminina ou de água, a coluna de Maria. Quando a luz que emana dessas duas glândulas se unem no terceiro ventrículo, que se encontra entre ambas, esse ponto da cabeça se converte em um verdadeiro presépio de luz, ponto focal da atividade do princípio Crístico da vida do candidato. A primeiríssima manifestação desse princípio ocorre, como já se falou antes, no Grau do Nascimento sagrado. No Grau da Transfiguração esse divino princípio Crístico criador se multiplica por mil em sua potência. A luz que se expande, mais além da periferia da cabeça, forma o halo radiante dos santos. Gradualmente, esse halo se estende até que envolve o Corpo inteiro e forma o que se denomina “o dourado vestido de bodas”. A criação desse Corpo-Alma luminoso é o requisito necessário para se ter acesso aos graus superiores dos Mistérios.
Uma das evidências do discipulado avançado consiste na faculdade de entrar, instantaneamente, em contato com o Mestre, à margem do tempo e do espaço. A comunhão de Maria com seu Senhor bendito era dessa natureza. Sua alma puríssima recebia, instantaneamente, a impressão de qualquer emoção ou pensamento d’Aquele.
Durante a Transfiguração, o Mestre apareceu em toda a sua resplandecente glória de Seu Corpo arcangélico à vista de Seus Discípulos, que eram já capazes de elevar sua consciência até o ponto de poder percebê-lo. Maria, ainda que não fisicamente presente, experimentou todo o gozo do êxtase daquele momento sublime.
Na Entrada Triunfal, Cristo chegou montado em um jumento e foi saudado pelos aplausos de Seus seguidores, que levavam folhas de palmeiras, jogavam flores ao longo do caminho e gritavam hosanas ao que vinha em nome do Senhor[21] (Lei Espiritual). Essa procissão é simbólica. Representa o Caminho do candidato que saiu triunfante do Grau de Transfiguração. Cavalga sobre um jumento, que simboliza a consecução da sabedoria anímica, e recebe as aclamações dos que, previamente, alcançou esse Grau, assim como os de menor desenvolvimento e que estão lutando para alcançá-lo. Foi São João, o Discípulo amado, quem experimentou a exaltação desse Grau na noite de sábado precedente à entrada triunfal em Jerusalém. São João foi o primeiro Discípulo a receber os profundos Mistérios Cristãos, trazidos à Terra por Senhor Cristo, e a primeira entrada triunfal foi inaugurada, precisamente, para celebrar essa elevada consecução.
Maria e os demais Discípulos femininos do Mestre estavam entre os que se alinhavam ao longo desse caminho sagrado, e observaram a gloriosa procissão quando entrava em Jerusalém. Sentiram a grande onda inundante de entusiasmo que apreendeu às multidões e se manifestou em ondas de adoração e devoção, que rodearam a Seu amado Mestre nesse momento da Entrada Triunfal. Elas compreenderam perfeitamente ambos os significados, o externo e o interno, desse acontecimento. E aproveitaram a ocasião que se lhes brindava aos que se beneficiaram de Seu ministério amoroso, para lhe expressar sua homenagem e sua reverência. Comprovaram, também, o profundo significado daquele dia. Sabiam que a vida de Cristo bosquejava o Caminho da Iniciação para o ser humano, e que a Entrada Triunfal marcava a consumação da Grande Obra, ou seja, da entrada no Templo da Luz.
A Festa da Eucaristia se denomina, esotericamente, a Festa da Polaridade. Esse aspecto da celebração foi destacado pelo Cristo no momento de partir o pão (a potência feminina ou de água) quando diz: “Isto é o meu corpo que é dado por vós”[22]. Depois, tomando cálice (a potência masculina ou de fogo), disse: “Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós”[23]. Só os que alcançaram esse Grau de Iniciação puderam participar com Cristo, ao redor da mesa sagrada, e receber d’Ele os profundos Mistérios que ele comunicou. Como foi dito anteriormente, o domínio dos opostos proporciona equilíbrio e igualdade. Isso se refere, não somente ao equilíbrio perfeito entre os princípios masculino e feminino no interior do Corpo, mas também à igualdade entre o homem e a mulher em seus relacionamentos pessoais no mundo externo. Antes de que tal igualdade possa ser alcançada no mundo exterior, de um modo total, tem que ser conquistadas por todas as naturezas internas de todos os indivíduos que compõem o corpo social da humanidade. Essa foi a consecução daqueles que se reuniram com Cristo na Sala Superior, na véspera de Seu sacrifício no Gólgota. Aquele grupo compreendia tanto homens como mulheres.
O candidato que se eleva à visão mais elevada para receber, de cima, um derramamento divino, deve logo descender ao jardim da dor do mundo para compartilhar algo das bênçãos que vem do alto com os que são menos afortunados. As notas-chave do Getsemani são Sacrifício e Altruísmo. Antes de alcançá-los, o candidato tem que retornar, uma e outra vez, a esse jardim até que, como fez Cristo, possa dizer: “Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!”[24]. Só quando essa entrega tenha sido total e suas pegadas sejam impressas permanentemente na alma, deixará o Getsemani, que tão familiar é agora para a humanidade.
Em toda a simbologia bíblica não há um momento mais impressionante que aquele em que Abraão foi ordenado a sacrificar o seu filho amado Isaac. Quando Abraão (o candidato) decidiu obedecer ao mandamento divino e fez sua entrega ao que supunha ser a vontade de Deus, acabou o trabalho interno que devia ser realizado e, consequentemente, o sacrifício material já não era necessário. O cordeiro pego no matagal, que ocupou o lugar de Isaac como vítima sacrificial, simboliza o poder adquirido, sublimado pelas forças animais no poder espiritual, mediante o sacrifício. Essa história simboliza o ponto crucial no Caminho da Santidade e, geralmente, é um dos menos compreendidos de todos os relatos bíblicos. Nesse aspecto é como a história de Jonas e a baleia, que também tem a ver com os processos relacionados com a Iniciação.
A Maria bendita estava tão completamente harmonizada com Cristo que era uma com Ele em cada alegria e em cada dor. Ainda que ela não estivesse presente fisicamente no Jardim do Getsemani, a agonia do Mestre imprimiu sua pegada em seu coração, e ela também passou aquele instante de oração e súplica para que a Sua carga e dor que gravitava sobre Seu coração, assim como a debilidade e ignorância da humanidade, pudessem ser mitigadas.
Enquanto suas dores no Jardim atormentavam o coração de Maria com agonia e aflição, nosso bendito Senhor, correspondentemente, era consciente de seu amor e de suas súplicas, que O rodeavam com toda a doçura e poder de uma benção angélica.
O Juízo marca um ponto crítico no Caminho. O candidato, até esse momento, vai desenvolvendo poderes que excedem muito aos que tem um indivíduo comum. A tentação que agora se lhe apresenta é a de que empregará esses poderes para a consecução de suas ambições pessoais ou para o benefício e benção de seus irmãos e irmãs. Cristo veio como indicador do Caminho a toda a humanidade. E experimentou pessoalmente cada uma das etapas ou Graus pelos quais o candidato há de passar ao longo do seu próprio Caminho. Como Cristo enfrentou cada prova? Durante o julgamento ante Pilatos, rodeado de uma multidão enraivecida que vociferava epítetos cheios de ódio e clamava pela sua crucifixão, tinha entre Seus poderes o de convocar legiões de Anjos para a Sua libertação, mas não fez uso de tal poder. Não salvou a Si mesmo, mas sim ofereceu a Si mesmo como um sacrifício vivente por todo o Mundo. Poucos, incluindo agora, compreendem esse sacrifício em seu significado cósmico e universal. Incluindo Seus Discípulos, naquele momento, tinham um pobre conceito da imensa missão que vinha a cumprir. Eles pensavam que ia se sentar sobre um trono em Jerusalém e se tornar rei de toda a Terra. Não compreendiam que se converteria no Regente Interior dessa Terra e que Seu reinado não poderá se manifestar plenamente até que uma grande parte da humanidade chegue a viver de acordo com a ideia que Ele propôs e com os preceitos que Ele estabeleceu. No coração desse ideal e desses ensinamentos jaz o serviço do sacrifício, baseado em um amor desinteressado por cada um e por todos. Ao contrário do que algumas correntes populares de ensinamentos indicam, o Caminho do verdadeiro desenvolvimento espiritual não consiste em atrair para si mesmo o máximo de bens materiais, mas na realização da verdade de que “o amor e o serviço desinteressado ao próximo é o caminho mais curto, mais seguro e o mais agradável que nos conduz a Deus”.
A Maria bendita, acompanhada por outros Discípulos femininos do Mestre, se mesclaram entre a turbulenta e excitada multidão que acompanhou o Mestre durante o assim chamado Julgamento, que não foi senão uma imitação burlesca com o nome da justiça. Exteriormente aquelas santas mulheres pareciam tranquilas e sossegadas, contrastando com o perturbado gentio que se agitava desordenadamente aos seus arredores. Interiormente, estavam realizando o trabalho que sabiam ser muito mais útil ao Mestre, enviando grandes correntes de amor para aliviar e acalmar as tumultuosas e enraivecidas turbas, ao mesmo tempo que oravam, fervorosamente, para que ignorância e cegueira dessas turbas fossem perdoadas.
Há um significado profundo no fato de que, a caminho do Gólgota, Cristo se encontrasse com Sua mãe e com outras santas mulheres. Quer dizer que as mulheres estavam, interiormente, com uma tristeza e angústia muito intensa pelas desumanas indignidades e pelas torturas infringidas no bendito Mestre. Sabendo disso, Cristo derramou sobre elas Sua divina compaixão e as envolveu na ternura de amor do Seu grande coração. Desse modo, se restabeleceram e se fortificaram de modo que fossem capazes de resistir até o final.
Cristo, o Supremo Iniciador, declarou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”[25]. Não há outro caminho. Aqui, certamente, o caminho se torna estreito e o candidato se dá conta de que não há outra opção senão se agarrar na cruz. Não são poucos os que, chegados a esse o ponto do Caminho da Santidade, retrocedem por não serem capazes de enfrentar a severidade dessa última prova. O ser pregado na cruz e depois elevado nela, frente a uma multidão escarnecedora, precisa renunciar a qualquer laço pessoal que possa impedir uma completa sintonia com a vontade divina. Traduzido aos termos familiares na experiência do Discípulo, o Rito da Crucifixão representa a capacidade de afrontar, impavidamente, os mal-entendidos, o ridículo, a perseguição, não somente do povo em geral, mas especialmente dos mais próximos e mais queridos. Supõe a capacidade de renunciar a posição, a fortuna e o prestígio. Supõe a perda, se for preciso, das posses, dos amigos, da reputação e, incluindo, mesmo da vida. Todas as coisas devem ir desaparecendo até que só reste a realização espiritual. Então, o candidato compreende o que o Mestre queria dizer quando disse que, se quisesse ser Seu Discípulo, que tomasse a sua cruz e o seguisse. São Francisco de Assis alcançou esse ponto do Caminho quando recebeu a inspiração para compor essa sublime oração que não deixou, desde então, de ser utilizada por inúmeras almas, desejosas de viver mais plenamente, à maneira do supremo exemplo para o mundo, o próprio Cristo:
Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
A Virgem bendita caminhou com Cristo ao longo de todo o Caminho e permaneceu ao pé da cruz até o fim. Isso significa que trilhou todas e cada uma das etapas do Caminho da Iniciação e esperava a Grande Libertação com o Senhor. Muitos Discípulos seguiram o Caminho da Cruz, mas somente durante parte do caminho; alguns se quer se aventuraram; e São Pedro, um dos mais avançados entre os Discípulos, o negou e o seguiu de “longe”. A Maria bendita permaneceu cheia de fé até o final. Ela se converteu no Discípulo feminino mais avançado de Cristo e assim se tornou a Mestre e a líder dos demais. Foi entre seus amorosos braços que o Corpo totalmente deteriorado encontrou abrigo quando foi retirado da cruz. Por sua fortaleza e fé, sua sublime coragem e seu amor divino, a mais brilhante coroa concedida pelas hostes angélicas é sua.
A Escola de Mistérios Cristã ensina que o último inimigo a vencer é a morte e que, mediante o Grau final da Ressurreição, o candidato ascende ao Filho, consciente da imortalidade. Quando Cristo passou do Grau de Crucifixão ao da Ressurreição, exclamou: “Deus meu, Deus meu, como me glorificou!”[26], pois essa é a tradução correta. A Ressurreição é, verdadeiramente, o Grau da Glória. Nesse nível, o candidato passa a experimentar um amor que a tudo abarca e uma luz que é imortal. Ainda que tenha que viver várias vidas de serviço sobre a Terra, nunca mais experimentará nenhuma interrupção de consciência entre as atividades no plano externo, e nos internos. A morte, tal e como se a entende, não existirá para ele. Quando Cristo passou por esse Grau para a salvação da humanidade, entoou, triunfalmente, as palavras: “Eu sou a ressurreição e a vida”[27].
De acordo com os relatos bíblicos, Cristo fez Sua primeira aparição à Maria Madalena no místico amanhecer daquele primeiro dia da Páscoa. Mas os Registros da Memória da Natureza nos informam que Cristo apareceu, em primeiro lugar, até os embelezados olhos da Maria bendita. Tão elevada e tão sagrada foi aquela divina união da alma com a alma e o coração com coração, que nunca poderia ser descrita por meras palavras.
Só quando o Aspirante moderno aprende a trilhar, por si mesmo, o Caminho, quando chega a conhecer como elevar sua consciência o suficiente para contatar algo como o milagre daquele dia de Páscoa, é que pode alcançar, parcialmente, aquele êxtase divino e sua indescritível beleza. Só quando se esforça por trilhar essa mesma Via, adquire a faculdade de contatar, parcialmente, a magia do amanhecer da Páscoa, com o êxtase divino e a glória transcendente experimentados por Maria nesse o mais sublime de todos os dias.
Em sua novela ocultista Zanoni[28], Sir Bulwer Lytton dá a seguinte inspirada descrição do trânsito da alma desde essa margem até a outra:
“O espaço inteiro parecia imergido na luz solar eterna. Elevou-se desde a Terra … como algo imaterial, como uma ideia de alegria e luz! Ante ele os céus estavam se abrindo e viram multidões de beleza, legião após legião, e um “bem-vindo” brotou, em miríades de melodias, do imenso coro. Você, cidadão do céu, Bem-vindo! A Terra, purificada pelo sacrifício, é imortal apenas através da sepultura. Isso está morrendo. E, radiante entre os radiantes, a imagem estendeu seus braços e murmurou: “Amigo da eternidade, isso está morrendo”.
Os catorze Graus dos Mistérios Cristãos, desde a Anunciação até a Ressurreição, constituem a base dos Ensinamentos fornecidos nas catorze Estações da Cruz. Nas antigas Escolas de Mistérios Cristãs, essas estações marcavam as etapas concretas do processo Iniciático, e seu caráter não era meramente simbólico, como geralmente se pensa hoje. As Sete Etapas das antigas Escolas de Mistérios, os místicos cristãos as estenderam para catorze. Cada candidato entrava no grau particular que ele estava preparado. Só os dois Discípulos mais avançados de Cristo estiveram qualificados para passar por todos os catorze Graus. Esses foram: Maria de Belém, a Virgem bendita, e São João, o divino, o mais amado dos Discípulos. Por isso, ambos foram considerados, pelos primeiros Iniciados cristãos e seus seguidores, como personificação das colunas do Templo. Converteram-se, por assim dizer, nos dois pilares do Templo de Iniciação e em uma expressão exterior perfeita, do desenvolvimento que ocorre no interior do Corpo-Templo do ser humano. Alcançar tal estado constitui o objetivo principal do trabalho que deve ser realizado ao longo do Caminho que conduz à Santidade.
Os Mistérios do Natal e da Páscoa estão intimamente relacionados. Os sete primeiros Graus, desde a Anunciação ao Batismo, se relacionam com o elemento feminino ou Água, enquanto que os sete Graus restantes, que vão desde a Transfiguração até a Ressurreição, se relacionam com o elemento masculino ou Fogo. O trabalho básico dos Mistérios Cristãos consiste na obtenção da polaridade ou equilíbrio. Sendo assim, disso se deriva, naturalmente, que o Natal e a Páscoa são as duas celebrações mais importantes da Dispensação Cristã.
A Transfiguração marca o começo dos gloriosos Mistérios do Fogo, da Páscoa, que encontram sua culminação no glorioso resplendor da alvorada do dia da Ressurreição.
Cristo não é somente o Senhor da Terra, mas também o Regente Espiritual do Sol e o Grande Hierofante dos Mistérios Cristãos ou Solares. Esses Mistérios compreendiam os ensinamentos secretos da Igreja Cristã Primitiva. A humanidade está começando a comprovar parte do imenso poder que emana, por radiação, do Sol físico, e como a Terra fica transformada graças a essa energia. Contudo, será o ser humano da Nova Raça Aquária o que receberá e transmitirá as radiações espirituais do Sol.
No momento da Transfiguração, Cristo apareceu à vista de Seus três Discípulos mais avançados, vestido com o radiante esplendor de Seu brilhante corpo solar, e isso constituiu um marco importante nos três anos de Seu ministério. Desde então, os acontecimentos mais importantes de Sua vida adquiriram um aspecto mais cósmico que pessoal. Ele estava se preparando para se converter no Regente e Salvador do Planeta inteiro. No momento da Ressurreição de Lázaro, estava iniciando um João, o mais avançado de Seus Discípulos, e cujo nome Iniciático foi Lázaro, nos Novos Mistérios Cristãos. Durante a Última Ceia, instruiu a Seus Discípulos nos fundamentos da que será a religião na Era de Aquário.
No Jardim do Getsemani, Cristo executou o difícil processo de se harmonizar completamente a Si mesmo com os ritmos vibratórios da Terra, como uma preparação para Seu elevadíssimo serviço a todo o Planeta.
Desde a cruz, no Gólgota, ele penetrou no coração da Terra para se converter, ali, em seu Espírito Planetário Interno, e Senhor de todos os seres criados, tanto no interior como no exterior da esfera terrestre.
No momento da Sua Ressurreição, forneceu à humanidade o mais glorioso de todas as mensagens pascoais: Ele demonstrou que a morte não é mais que uma transição, e de que, chegará um dia em que não formará parte das experiências do ser humano nesse Planeta. Regozijosamente proclamou a todo o Mundo o mais transcendental de todos os temas da Ressurreição: “A vida é eterna e o amor é imortal”.
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No primeiro dia da semana, muito cedo ainda, elas foram à tumba, levando os aromas que tinham preparado. Encontraram a pedra do túmulo removida, mas, ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. E aconteceu que, estando perplexas com isso, dois homens se postaram diante delas, com veste fulgurante. Cheias de medo, inclinaram o rosto para o chão; eles, porém, disseram:
“Por que procurais Aquele que vive entre os mortos? Ele não está aqui; ressuscitou. Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia: ‘É preciso que o Filho do Homem seja entregue às mãos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia’.
E elas se lembraram de suas palavras”.
Lucas 24:1-9.
SEGUNDA PARTE – OS SAGRADOS MISTÉRIOS DA PÁSCOA
CAPÍTULO VIII – SIGNIFICAÇÃO ESPIRITUAL DA ESTAÇÃO QUARESMAL
A Estação Quaresmal é um tempo de trabalho anímico, com o fim de se preparar para receber o influxo dos Mistérios Pascoais, o mesmo que a Estação de Advento é um tempo de preparação para a recepção dos Mistérios Natalinos. A Estação Quaresmal é um período de quarenta dias que precede a Páscoa. Como isso está de acordo com o calendário, o Místico Cristão compreende que há um significado oculto no valor numérico desse período. O número quarenta representa um tempo de preparação para a culminação de qualquer esforço espiritual elevado. Os israelitas, por exemplo, vagaram durante quarenta anos pelo deserto, simbolizando, assim, uma meta buscada, mas não encontrada até que se fizeram dignos de penetrar na Terra Prometida. Ou, em outras palavras, até que se tornaram dignos de se converter nos pioneiros de uma nova raça e de uma nova Era. O que nesse período de preparação se consegue, atualmente, depende do esforço realizado pelo Ego. Em casos raríssimos pode se completar a preparação somente em quarenta dias. Pode ocupar quarenta anos e, em alguns casos, até quarenta encarnações.
Para os primeiros Iniciados nos Mistérios Cristãos, a Quaresma não era tão só um período de quarenta dias do jejum parcial e orações dominicais como hoje o são para a igreja. Era um extenso período de provação, que começava com a entrada do Sol em Capricórnio no Natal e continuava durante os meses seguintes, enquanto o Sol passava por Aquário e Peixes e entrava em Áries, o Signo dos novos começos, em que a vida sobe para o alto com o milagre da Ressurreição.
Durante esse período era produzido um profundo exame do coração: os acontecimentos do ano anterior eram recapitulados, e a essência das experiências adquiridas era assimilada pela alma. Esse processo de autoexame encontrava sua expressão cerimonial nos rituais da Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da quaresma, quando as palmas que acenaram com regozijo o Domingo de Ramos anterior eram queimadas e suas cinzas espalhadas sobre as cabeças dos penitentes. Assim se simbolizava que as quedas do ano anterior serviam aos elevados ideais, esses que a alma despertou no Domingo de Ramos.
O sábado, enquanto regido pelo mestre Saturno, acontecia o que se chamava de “escrutínios”. Quer dizer, que o Mestre examinava os Corpos internos dos Discípulos para comprovar os efeitos das disciplinas que estavam praticando.
Os principais objetos de estudo e meditação durante esse período preliminar eram os livros de Jó e de Jonas. Nenhum desses dois Livros pode ser compreendido em seu verdadeiro significado, até que se estude eles como manuais de Iniciação, que se referem a determinados processos de desenvolvimento que, mais tarde, foram ampliados por Cristo durante os períodos dos três anos de Sua vida pública.
Os principais acontecimentos da vida de Cristo Jesus, desde a Anunciação à Ascensão, configuram o Caminho da Iniciação que foi fornecido a todos os povos e a todas as raças, por meio das diferentes religiões do mundo. É esse o motivo pelo qual muitos ocultistas dizem a história de Cristo, tal e como é relatada nos Evangelhos, é um mito que deve ser lido alegoricamente e que não é histórica, mas o símbolo desse caminho de perfeição que toda a humanidade acabará recorrendo. Essa interpretação, no entanto, esquece que à Suprema Luz do Cristianismo Esotérico, ao glorioso Ser arcangélico, o Senhor Cristo que, já naquele remotíssimo passado, rico em Eons, que compreende o Segundo Dia da Criação e designado na terminologia oculta como Período Solar, se consagrou a Si mesmo como guardião do nosso Planeta Terra; e que, comprido o tempo, desceu a nossa esfera planetária para tomar, Ele mesmo, um forma humana na pessoa do Mestre Jesus, encarnação que ocorreu no momento do Seu Batismo, quando a voz do alto proclamou: “Esse é meu Filho amado, em quem me comprazo”[29].
Nos Mistérios Natalinos e Pascoais tratamos de seguir o Caminho da Santidade, que o Cristo percorre anualmente, durante Seu ministério em favor desse mundo e sua humanidade. Como foi dito, toda a natureza que, em sua totalidade, constitui o Corpo dessa Terra se altera harmonicamente com a subida e a descida de Cristo, e o Caminho do Progresso Espiritual ou Iniciação para o ser humano, segue o mesmo processo. Por isso, quando aprendemos a nos pôr em uma mais estreita e íntima relação com Cristo, nos encontramos, consequentemente, mais harmonizados com o espírito interno das mudanças de estação, e melhor realizamos o trabalho particular em cada uma das quatros estações do ano.
Além da vida de Cristo reproduzir as experiências dos pioneiros Mestres do Mundo e das etapas Iniciáticas procedentes dos antigos Mistérios, Ele, não só acrescentou a tudo que era antigo um significado mais profundo, mas também o colocou em prática no plano histórico, para que o mundo o veja e o contemple. Por isso os Mistérios Crísticos constituem a suprema consecução a alcançar mediante o desenvolvimento futuro da humanidade.
Assim como a soma do trabalho realizado durante a época do Advento consistia nos três graus: a Anunciação, a Imaculada Concepção e o Santo Nascimento, o trabalho realizado durante a Quaresma, consiste também de três Graus: o Getsemani, o Julgamento e a Crucifixão. Os três Graus que preparam o candidato para executar os Mistérios Natalinos tão formosos e ternos, já que o trabalho está, então, centrado no amor do coração e, neles o candidato penetra no segredo pertencente à coluna feminina do Templo, que é, simbolicamente, o elemento Água da natureza.
Nos três Graus que preparam o candidato para os Mistérios Pascoais, o trabalho é difícil e a autodisciplina dura, já que se dirigem ao desenvolvimento e a expressão de uma vontade firme e concentrada. O candidato aprende a desvelar o segredo pertencente à coluna masculina do Templo que é, simbolicamente, o elemento Fogo da natureza. Dedica, pois, todo o poder de sua vontade e resolve utilizar toda a força que dispõe para realizar com sucesso o trabalho exigido. E, então, é quando aprende, em verdade e de fato, o que significa “caminhar sozinho”.
No primeiro Grau ou Getsemani, o Caminho se estreita e se torna tão inclinado como telhado de um campanário, sem nada à vista salvo a cruz que o coroa. Toda a pureza, todo o amor e toda a fé que foram incorporados à alma, durante a preparação para receber os Mistérios Crísticos, devem ser postos em jogo, junto com a força e firmeza de propósito que cresceram no seu interior durante a presente época da Quaresma.
O objetivo dos Mistérios Natalinos consiste em guiar o ser humano ao longo do Caminho que conduz à consciência Crística e à dedicação da vida ao serviço do próximo. O objetivo dos Mistérios Pascoais consiste em iniciar o ser humano no estado da imortalidade consciente e lhe tornar capaz de conseguir a libertação do Corpo físico, não somente durante as horas de sono, nem entre vidas terrenas, mas em qualquer momento que deseje, para se converter, assim, em um Auxiliar Invisível consciente, quantas vezes seja necessário, tanto nesse plano com nos planos do espírito. É necessária uma preparação árdua e difícil para alcançar essa meta. O Rito do Getsemani exige uma vida de pureza e altruísmo. O cerimonial da Quarta-feira de Cinzas, que marca o início da Quaresma, inclui a colocação das cinzas da contrição sobre a cabeça do penitente ajoelhado. O ato simboliza a dedicação e o altruísmo supremos, necessários para que o candidato possa passar ao Grau conhecido como Getsemani.
O Rito da Agonia no Horto poderia se denominar, com propriedade, o Rito da Transmutação. A agonia do Cristo produziu Seu esforço por reduzir, às condições limitadoras da Terra, Sua elevada taxa vibratória, com o objetivo de se converter no Espírito Planetário Interno da mesma Terra. Quando o ritmo terreno foi Lhe aberto, todas as poderosas, sinistras e abundantes correntes do mal, existentes em nosso mundo, se precipitaram para Ele. E Ele, não só sentiu seu enorme peso, mas que viu, em uma visão caleidoscópica, sua origem e seu objetivo. As debilidades, quedas e os caprichos da humanidade se abrasaram como chamas, ao mesmo tempo em que a voracidade, o egoísmo e o ódio gravitaram sobre Ele com cargas pesadíssimas. A dor, a angústia e o sofrimento causados pelas más ações dos seres humanos Lhe penetraram até o mais profundo do Seu doce e compassivo coração.
O limite da agonia, inclusive para um Arcanjo, ocorreu sobre Ele quando passaram ante Sua visão as imagens do futuro, e viu quão poucos, dentre a imensa quantidade de pessoas que constituem a humanidade, reconheceriam o verdadeiro significado de Sua vinda e o objetivo real que Ele apontava. Contemplou com profunda dor como o obscuro véu do materialismo cegaria o mundo moderno, e a conseguinte falta de discernimento, intranquilidade e temor. A cegueira e a ignorância das massas sobre a Sua missão, a cristalização e a compreensão cada vez mais estreita por parte dos que, inicialmente, foram concebidos como canais dedicados a Seu serviço, fizeram culminar Seu Rito de Agonia com essa súplica: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!”[30].
O Getsemani não aconteceu no Horto das Oliveiras por casualidade. Aconteceu ali porque esse Horto é uma das áreas da Terra carregadas mais elevadamente de vibrações (positivas). O que Cristo fez naquele Horto, altamente magnetizado, o fez sob a vibração dos Anjos. Foi um momento em que todo o programa da evolução recebeu um novo e poderoso impulso.
No Grau do Julgamento, as provas que o candidato há de superar estão de acordo com a sua posição espiritual. Quanto mais se avança no Caminho, mais sutis e penetrantes são as provas. Nenhuma poderia se comparar, em severidade, com as sofridas por Cristo Jesus, já que ninguém possui a Sua força e Seu poder espirituais.
Mais uma vez, no Grau do Julgamento, o candidato comprova a imensa importância de seu longo treinamento no altruísmo. Se não foi realizado apropriadamente o trabalho preparatório, não obterá êxito ao pretender passar por esse importante Grau. Poucos foram capazes de caminhar por esse longo e estreito caminho. Em um inspirado manual, se diz ao se referir a esse trabalho elevado: “Antes de que os ouvidos possam ouvir, hão de perder sua sensibilidade. Antes que a língua possa falar na presença do Mestre, há de perder seu poder de ferir; antes que os pés possam permanecer na presença do Mestre, hão de ser lavados com o sangue do coração”.
O Terceiro e último Grau que conduz à liberação é o da Crucifixão. Nesse Grau o candidato se encontra frente a um dos mais sagrados Mistérios, e que há de permanecer para sempre selado para o profano. Seu significado secreto pode só ser aludido muito breve aqui; seu objetivo interno e verdadeiro só pode ser revelado àqueles que buscam e encontram a luz em seu próprio interior, essa chama do grande amor branco que excede a toda compreensão.
Alguns já alcançaram esse ponto avançado do Caminho e se voltaram para trás, não tendo a suficiente força para seguir adiante, com Cristo, o caminho do Gólgota. Outros, chegaram a ser “pregados” na cruz, e falharam, porque não puderam suportar o momento em que a cruz seria erguida. Estreito é o Caminho e sutis são as provas até o mesmo final.
Os estigmas nas mãos, nos pés e na cabeça estão na mesma posição relativa que os extremos da estrela de cinco pontas. Os cinco cravos são os cinco sentidos, que atam o espírito na cruz do Corpo Denso. Platão diz: “Cada prazer e cada dor são uma espécie de cravo que une a Alma ao Corpo”. O espírito está muito intimamente ligado à forma pelos cinco sentidos e, nesses pontos, o poder do fogo espiritual é muito potente. A “extração dos cravos” desses pontos produz as cincos chagas sagradas.
O padecimento produz a ascensão do fogo criador ao longo do tríplice cordão espinhal. Quando ascendeu certo tempo, Netuno acende o fogo espinhal espiritual. Esse fogo faz vibrar as Glândulas Pineal e Pituitária na cabeça e, quando a onda vibratória golpeia o seio frontal, desperta os nervos cranianos ou a Coroa de Espinhos à vida. Mais tarde, a Coroa de Espinhos se converte em um halo luminoso, e a túnica escarlate se transforma em outra de cor púrpura real.
Quando o espírito de Cristo ficou libertado do Corpo de Jesus e passou para o centro da Terra, Sua alma imensa envolveu o globo inteiro de um incomparável brilho, tão intenso que a luz do Sol pareceu obscura.
Cada sacrifício comporta sua compensação espiritual. Todo ser humano que morre no campo de batalha, por qualquer causa que considera importante para ele mesmo, renasce em um nível superior de consciência. A posição evolutiva do Ego avança quando o sangue, que é seu veículo direto, se limpa das impurezas fluindo do Corpo no momento da morte. Todo Ego, durante os imensos ciclos de peregrinação terrena, vive pelo menos uma vida na qual o espírito abandona o Corpo, enquanto o sangue flui. Cristo, por meio do Seu sacrifício na cruz, foi elevado às Grandes Iniciações que pertencem ao Reino do Pai.
O candidato vitorioso, que segue a Cristo até o final do caminho, chega à Glória da Grande Liberação. Então já é livre para passar, pela vontade, do plano físico aos reinos espirituais. A Coroa de Espinhos se converte em um halo de luz, já que conquistou o maior dos dons da vida: a imortalidade consciente. Passando triunfalmente aos planos internos, se une às multidões brancas que rodeiam ao Cristo e que elevam suas vozes entoando o eco das palavras pronunciadas pelo Mestre no momento de Sua Grande Liberação: “Meu Deus, Meu Deus, como me tens glorificado!”.
O vitorioso, pois, conhece toda a glória da alvorada de sua própria Ressurreição.
CAPÍTULO IX – O ESOTERISMO DA PÁSCOA
As profundas radiações espirituais da época da Páscoa produzem uma aceleração dos impulsos espirituais, incluso nos ignorantes e despreocupados, enquanto que os que compreendem algo de sua profunda importância, prestam reverente atenção a sua íntima contemplação.
Contemplando um calendário, se aprecia uma diferença entre a observância do Natal e a da Páscoa. O festival natalino acontece sempre em uma data fixa, enquanto que a Páscoa cai, às vezes, tão cedo como em meados de março e, por outras vezes, tão tardio como em meados de abril. A causa dessa variação está em que o Domingo de Páscoa acontece, sempre, no primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia que segue ao Equinócio de Março. Esse procedimento foi estabelecido por pessoas que compreendiam perfeitamente o esoterismo da estação pascal.
A Páscoa real ocorre no Equinócio de Março, quando o Sol passa da latitude sul para a latitude norte, e Cristo se liberta do Seu trabalho. Então, esse Ser radiante penetra nos planos espirituais da Terra para trabalhar ali com as Hierarquias celestiais e com os membros da humanidade que foram transportados pela morte à mais altas esferas de atividade.
Durante essa elevada estação, as forças de Peixes (março) e Áries (abril) se fundem em uma maravilhosa combinação de Água (Peixes) e Fogo (Áries) que possui, em todos os planos da existência, a chave do Matrimônio Místico. Toda a natureza conhece o gozo dessa união. Sua magia proporciona um brilho adicional às flores, uma nota exuberante ao canto dos pássaros e a promessa dos frutos mais abundantes. Esses poderosos impulsos de fogo estão sob a supervisão das Hierarquias de Áries e de Leão. Esses impulsos, no entanto, de muitíssima potência para ser enfocados diretamente na Terra, se encomendam à Hierarquia de Sagitário, que os distribui entre a humanidade. As grandes Águas da Vida dessa união mística estão sob a orientação da Hierarquia de Câncer, os Querubins, que entregam essas forças às Hierarquias de Escorpião e Peixes, as que, por sua vez, dispersam sobre a Terra.
Era nessa época do Equinócio de Março que os antigos, que compreendiam essas verdades do mundo interno, estabeleciam rituais elaborados relativos à fusão do Fogo e da Água. Incluso, atualmente, nesse mundo moderno, onde se perdeu a chave dessas verdades internas, restaram pedaços de suas fórmulas, de modo que, parte das celebrações pascais da igreja consistem na infusão da água sagrada com o novo fogo sagrado. Na união “apropriada” dessas duas forças está onde se deve buscar a chave da transmutação. A transmutação é o grande trabalho em que Cristo e os Seres celestiais dos planos internos, junto com os mais avançados da onda de vida humana, tanto dentro como fora de seus Corpos, se ocupam, durante o intervalo que conhecemos desde meados de março e nos meses de abril, maio, junho, julho, agosto e até meados de setembro. O trabalho do Templo dos Mistérios na Terra está, também, conectado com esse segredo da Transmutação. Na próxima Nova Era trabalharemos com essa Lei da Transmutação, com o mesmo conhecimento com o que, agora, trabalhamos com as leis que governam a eletricidade.
O mago Mefistófeles atuava com essa lei quando transformou o velho erudito Fausto em um exuberante jovem na cúspide de sua juventude florescente. Foi a compreensão desse segredo mágico da transmutação que São João descreveu em sua visão do Novo Dia, quando disse que “As coisas antigas se foram”[31]. Referia-se à idade, enfermidade e morte que, mediante o poder da Transmutação, deixam de obstruir a manifestação total do espírito imortal do ser humano.
Como se disse anteriormente, o Domingo de Páscoa só se celebra corretamente depois da Lua Cheia que segue o Equinócio de Março. A Páscoa se celebra no domingo, que é o dia do Sol, e o Sol é o lar do Cristo Arcangélico. A projeção sobre a Terra dos poderosos raios espirituais do Sol, o domingo, proporciona maior impulso vibratório ao ser humano do que em qualquer outro dia da semana.
Segundo os anais das antigas Escolas de Mistérios Cristãs, suas mais elevadas revelações e suas visões de maiores êxtases foram recebidas sempre no domingo.
As Hierarquias antes referidas, que disseminam esse poderoso impulso transmutador sobre a Terra, o fazem dirigindo do Sol para baixo sobre a orientação do Espírito Solar, o Cristo. Essa força, no entanto, não é suficientemente potente para produzir seu efeito total sobre a humanidade, e por isso a Lua Cheia se converte no canal para sua disseminação final. Por causa disso, a humanidade, em seu conjunto, ignora esse grande influxo que nós conhecemos como a celebração da Maré de Páscoa, até que a Lua Cheia aconteça depois do Equinócio de Março.
A grande massa da humanidade continua respondendo, amplamente, a esse influxo como a uma tendência instintiva ou um desejo de participar de alguma reunião espiritual. Muitos dizem que vão à igreja só uma vez ao ano, e é na Páscoa. Existe, também, o impulso de vestir roupas diferentes, com a mesma natureza, se cobrir com novos tecidos e se pintar com cores para participar de algum tipo de serviço comemorativo ou desfile. Isso é, em grande parte, o conceito que o mundo moderno tem da Páscoa. Os Seres Poderosos e únicos, no entanto, são persistentes e infalíveis em Seu ministério para o Planeta Terra e, ano após ano, esse poderoso impulso espiritual eleva e espiritualiza, gradualmente, a Terra e tudo que nela vive. A humanidade comprovará um dia que, graças ao processo de transmutação que ocorre na época da Maré Pascal, será possível, não só se vestir com um novo traje, mas, como São Paulo disse, “a remover o homem velho e revestir-vos do Homem Novo”[32]. Esses são o verdadeiro e elevado significado e, também, o objetivo da estação pascal; e todo ano, uma maior quantidade de seres desinteressados aprendem a se tornar servidores mais eficientes de Cristo em Seu grande trabalho, quando canta Sua triunfante canção de Páscoa: “Eu sou a ressurreição e a vida”.
CAPÍTULO X – ETAPAS PREPARATÓRIAS, DESDE LÁZARO ATÉ O GETSEMANI
Tendo passado a Quaresma na profunda meditação sobre os próximos Mistérios da Páscoa, o candidato está já preparado para penetrar nos mesmos Divinos Mistérios, tal e qual se celebram anualmente nos planos internos, nesse tempo sagrado do ano, quando o Arcanjo Cristo retorna ao Seu lar no Sol Espiritual. Conhecer esses Mistérios é penetrar no mais profundo da mais iluminadora de todas as revelações espirituais jamais feitas aos seres humanos: o Mistério de Cristo. Algo da verdade sobre a Páscoa pode se captar mediante o estudo de seus aspectos externos; mas, só por meio de uma aproximação espiritual pode se descobrir seu significado transcendentalíssimo. Na igreja primitiva a Quaresma era o tempo de uma preparação séria e profunda, para enfrentar as provas e os testes da Semana da Paixão que, passados com êxito, conduziam ao progresso nos sempre ascendentes Graus da Iluminação.
A cristandade ortodoxa, ao haver perdido as chaves da Iniciação, acentua a Páscoa histórica; a cristandade esotérica, por sua vez, enfatiza seu aspecto Iniciático em termos de desenvolvimento espiritual individual. A ortodoxia se centra na Paixão de Cristo, enquanto que o cristão esotérico se concentra sobre os efeitos da Paixão dentro de si mesmo, reconhecendo que ele também é um Cristo em formação. Daí a afirmação de Orígenes[33], o Mestre alexandrino dos Mistérios Cristãos durante a terceira centúria, de que os “sucessos da Palestina resultam inúteis para nós, a não ser que acontecem em nosso interior”. E, nesse mesmo sentido, as palavras do santo medieval Angelus Silesius[34]:
“Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém,
Se não nasce dentro de ti, tua alma segue extraviada.
Olharás em vão a cruz do Gólgota,
Enquanto ela não se erguer dentro de ti mesmo.”
Do mesmo modo que os Antigos, os Grandes Mistérios, inaugurados por Cristo, se dividem em três etapas ou Graus principais.
O Primeiro é o Rito da Purificação, que se relaciona com a limpeza da natureza inferior da vida sensível. Conduz ao que, normalmente, se chama de “viver a vida”. Cada etapa do Caminho leva consigo uma compensação espiritual. A desse Primeiro Grau consiste na faculdade de servir como Auxiliar Invisível Consciente. Muitos exemplos de Discípulos que alcançaram esse Grau, e seus poderosos anelos, são mencionados no livro o Ato dos Apóstolos.
O Segundo Grau é o Rito da Iluminação. Por meio dele certas correntes nos veículos internos do ser humano são colocadas em movimento, o que despertam as faculdades da clarividência e clariaudiência positivas. Tanto nos Evangelhos como nos Atos dos Apóstolos podemos encontrar muitos exemplos de tal conquista.
O Terceiro Grau é o de Mestre. Sua consecução é o Matrimônio Místico entre a personalidade e o espírito, que se torna, assim, consumado. As forças do “eu” pessoal se sublimam de tal modo que se pode alcançar sua perfeita união com o espírito interno. Os céus e a Terra, em uníssono, rendem obediência a quem alcançou tal Grau e que, na verdade, se converteu em Mestre de tudo que ele lida.
O exemplo relativo a esse Grau está disfarçado no relato das Bodas de Caná na Galileia, com o qual São João inicia seu Evangelho. Como essa boda pertence ao Terceiro Grau, diz-se que aconteceu no “terceiro dia”. A palavra “Caná” significa “sanar” ou “avançar” e a palavra “Galileia” significa “a brancura da neve”. São João começa seu Evangelho com a festa das bodas, porque informa, aos que podem discernir o seu significado interno, o ponto do Caminho que ele mesmo chegou.
Há “chaves” colocadas nos relatos bíblicos das vidas dos seguidores de Cristo e que, para os leitores Iniciados, indicam o Grau específico que já progrediram e que, além disso, serve para bosquejar o processo de desenvolvimento dos Aspirantes esotéricos que tentam tomar o Caminho da Cruz e seguir o Caminho do Discipulado Cristão.
A maior parte dos Evangelhos está dedicada ao trabalho dos homens e mulheres Discípulos de Cristo, e ao esforço que fizeram para alcançar a iluminação nos Mistérios Cristãos durante a espiritual Maré Pascal. Esses dias foram denominados a “Grande Semana”, por causa da imensa significância dos acontecimentos a eles associados, e também a “Semana Santa”, por causa da profunda santidade dos Mistérios a que se refere.
A Semana Santa começa com a Entrada Triunfal em Jerusalém e termina com a glória da Ressurreição, quando a morte é, verdadeiramente, transformada em vida. Entre esses dois acontecimentos se encontram as Estações da Cruz, que constituem a Via Dolorosa ou o Caminho da Dor. Vem depois do Domingo de Ramos e da Páscoa. Sucedem às hosanas que acompanham a Entrada, e precedem à Ressurreição, onde a consciência de Cristo, que estava despertando no Domingo de Ramos, se eleva à onda de glória da vida iluminada e ressurreta da alvorada da Páscoa. O ideal, antes vislumbrando, se torna realidade.
O excelso trabalho da Iniciação desenvolvido durante a Semana da Paixão é inaugurado no sábado anterior à Entrada Triunfal com a Iniciação de Lázaro. Devido à trajetória ascendente da evolução humana as antigas fases da Iniciação, assim como certos aspectos da religião de Jeová, estavam morrendo. Cristo veio para “tornar novas todas as coisas”. As forças que liberou com a Sua vinda eram necessárias para salvar a humanidade de se extraviar em um materialismo que estava destinado a se tornar mais e mais denso durante os séculos vindouros. Contudo, em um processo ordenado de crescimento, o novo cresce e incorpora os valores conquistados pelo antigo. Por isso, os processos prevalecentes no ritual antigo e os que começaram a ser instaurados se combinaram no Rito iniciador de Lázaro, resultando essa mescla no nascimento dos Novos Mistérios Cristãos. Esse acontecimento, portanto, assinala o começo dos Mistérios da Semana Santa ou os profundos ensinamentos espirituais sobre os quais foi fundada a Igreja Cristã inicial.
O grande poder que a Igreja Cristã inicial obteve, o poder de curar definitivamente e de fazer milagres, derivava do conhecimento dos Mistérios. Logo, quando os interesses mundanos foram invadindo a igreja e o pensamento materialista obscureceu sua consciência, se perdeu o contato com a fonte original do poder, e caiu em uma impotência relativa, situação que vai sendo prolongada durante séculos e que continua nos dias de hoje. Até que a igreja não torne suas, novamente, as verdades da Iniciação, não recuperará o poder suficiente para conduzir à humanidade para a regeneração necessária, o qual a qualificará para estabelecer uma ordem cristã sobre a Terra. No entanto, sempre houve alguns, tanto dentro como fora da igreja, que conservaram a luz interior e preservaram a Sabedoria dos Ensinamentos Iniciáticos para a humanidade. São os que conhecemos como santos ilustres, cujas vidas e atos escreveram gloriosas páginas da história, ao longo dos tempos.
O trabalho do Primeiro Grau, dos três que se compõe os Mistérios Cristãos, constitui a Purificação. Afeta, primordialmente, o Corpo de Desejos. O trabalho do Segundo Grau constitui a Iluminação e afeta, especialmente, o Corpo Vital. O Rito do Terceiro Grau, denominado o do “Mestre”, unifica as forças do Corpo de Desejos e do Vital, de tal modo, que o espírito iluminado pode estabelecer contato com o Mundo interno e entrar em contato, consciente, com os seres que pertencem aos reinos supra-humanos e infra-humanos.
No Rito da Purificação é ensinado ao neófito como viver a vida casta e inofensiva. Se o Aspirante permanece fiel aos princípios estabelecidos para esse Grau, experimenta, em seu momento, um despertar de certos centros latentes do Corpo de Desejos. Obtendo isso, adquire conhecimentos, de primeira mão, relacionados aos planos situados mais além do alcance dos sentidos físicos.
A etapa seguinte do desenvolvimento esotérico, a do Segundo Grau ou Rito da Iluminação, consiste em conseguir que os recém-despertados centros do Corpo de Desejos impressionem ou sensibilizem os centros correspondentes do Corpo Vital. Com tal fim, o Aspirante há de praticar certos exercícios de concentração e meditação até que a clarividência e a clariaudiência se desenvolvam.
Esses resultados eram obtidos nas Iniciações pré-cristãs de maneira bem distintas. Nos antigos Ritos do Egito e da Babilônia, por exemplo, derivados originalmente dos Ritos Atlantes, o (espírito) do candidato à Iniciação era extraído de seu Corpo físico pelo Mestre Supervisor, junto com seus Corpos de Desejos e Vital e, nos planos internos, os centros ativos do Corpo de Desejos ativavam os do Corpo Vital durante o período de três dias e meio. Era, assim, necessária uma situação anormal, dirigida pela Mestre Iniciado, para conseguir o fim proposto.
Com a vinda do Cristo essa situação foi alterada e se tornou possível para o ser humano obter o mesmo desenvolvimento, mas no estado de vigília e sem a necessidade de estados anormais, nem de supervisões elevadas. Depois de despertar do estado de transe o neófito era considerado, nas Iniciações pré-cristãs, como alguém que tinha ressuscitado dos mortos. Verdadeiramente, era um “recém-nascido”, posto que adquiriu faculdades supranormais e poderes que antes precisava.
O pensamento materialista e sensual tende a entrelaçar de tal modo os Corpos de Desejos e Vital que torna a Iniciação extremamente difícil, se não impossível. Tal era o estado da humanidade, em geral, no momento da vinda de Cristo Jesus. Seu trabalho consistiu em liberar o ser humano dessa barreira que lhe privava do desenvolvimento espiritual. O início de tal conquista se obtém mediante a concentração e meditação, aos quais se somem os exercícios vespertino da Retrospecção; os três tomavam parte dos ensinamentos da Igreja primitiva. Durante a concentração, o polo masculino do espírito ou a vontade é predominantemente ativo; durante a meditação o fator dominante é o polo feminino ou imaginação. Mediante esses exercícios os centros do Corpo de Desejos podem se imprimir no Corpo Vital sem dissociar esse do Corpo físico. Atualmente, devido ao materialismo prevalecente, a dificuldade em extrair ambos os veículos, como se fazia no modo pré-cristão, é tão grande que poderia chegar a ser catastrófico. Seu resultado, como muita frequência, seria a loucura ou até a morte.
Para receber a nova forma da Iniciação Cristã foi eleito o mais avançado entre os seguidores de Cristo. Foi o Discípulo amado do Mestre, cujo nome de Iniciação foi Lázaro. Lázaro significa “aquele a quem Deus ajuda”. Foi seu elevado estado de desenvolvimento o que lhe capacitou para responder a chamada: “Lázaro, vem para fora!”; e, logo, a grande recomendação de seu Mestre: Desatai-o e deixai-o ir embora”[35].
Foi o emparelhamento produzido entre o velho e o novo com a ressurreição de Lázaro, que resultando em tão grande regozijo entre o povo que fez Cristo Jesus, no Domingo de Ramos, começar a sua entrada triunfal em Jerusalém, no dia seguinte do acontecimento Iniciático.
Cada acontecimento da vida de Cristo Jesus, durante a Semana da Paixão, representa alguma fase da Iniciação nos Mistérios Cristãos. A Entrada Triunfal representa as alegrias, assim como o Calvário simboliza os sofrimentos. Para as massas que presenciavam a procissão do Domingo de Ramos, esta não era senão a atribuição das honras ao grande Mestre que, durante os últimos três anos, realizou tais milagres entre eles, que havia feito os cegos enxergarem, os paralíticos andarem e curar definitivamente os doentes. Contudo, para os Cristãos esotéricos seu significado era mais profundo. Para eles era a manifestação externa da santa alegria que experimentará toda a humanidade quando alcance a consciência crística, tornada possível graças ao recentemente instaurado novo procedimento de Iniciação nos Mistérios Cristãos.
As hosanas da multidão que bordeavam o caminho, ao longo do qual o Mestre passou durante Sua Entrada Triunfal, não eram senão o eco dos coros angélicos que saudaram o nascimento de Jesus. Então cantavam: “Paz na Terra e Boa Vontade para os Homens”; no dia de Sua entrada em Jerusalém para os acontecimentos finais de Seu ministério terreno, cantavam: “Bendito seja o Rei que veio em nome do Senhor; paz nos céus e glória nas alturas”. Portanto, anunciavam o amanhecer da Nova Dispensação, sob a qual, cada ser humano está destinado a se converter em rei de seu próprio reino espiritual e a caminhar no nome do Senhor ou na Lei do Amor, da Luz e da Verdade.
A cena da Entrada Triunfal foi Jerusalém, a cidade da Paz, que representa o coração ou o centro do amor no Corpo, o primeiro aonde começa a viver o Espírito de Cristo. O jumento, sobre o qual Cristo cavalgava, simboliza a Sabedoria Antiga. E as palmas espalhadas sobre o caminho representam as consecuções vitoriosas. Portanto, Cristo encenou, por meio da Sua Entrada Triunfal, algo que apontava à glória da Nova Era, quando as verdades dos Mistérios Cristãos se converterão na religião universal da humanidade.
O mestre enviou a dois dos seus Discípulos, Pedro e João, para preparar a Sua entrada, lhes dizendo que “fossem ao povo antes deles”, onde encontrariam um jumentinho; que o trouxesse e, sobre ele, Cristo cavalgaria para Jerusalém.
O “povo à frente” é o Caminho, que sempre se estende ante o Aspirante; e o jumentinho, símbolo da sabedoria, que nunca tinha sido montado, é o recém-liberado impulso espiritual, que deu nascimento aos Mistérios Cristãos. O fato de que esses Discípulos sabiam o caminho do povo e como trazer o jumentinho significa que eles já tinham sido iniciados no Caminho Cristão da Iluminação Espiritual.
O Mestre passou todas as noites da Semana Santa, no lar amado de Seu seguidor mais avançado espiritualmente, Lázaro, e suas duas irmãs, Marta e Maria. Ele dedicou a segunda-feira santa para instruir a esses Discípulos nas fases mais profundas do trabalho Iniciático.
É interessante notar que desses três Discípulos duas eram mulheres. E isso é mais notável ainda se se considera o status inferior à que as mulheres eram relegadas naqueles tempos, especialmente nos países do Oriente. Contudo, vindo, como veio, a elevar a humanidade toda, quis deixar bem claro que as duas polaridades, a masculina e a feminina, chegarão a se equilibrar. Ele mesmo estendeu Sua consideração às mulheres e ao elevado lugar que, justamente, deviam ocupar, reconhecendo antecipadamente a posição que assumirão no mundo na Nova Era Aquariana, de igualdade e companheirismo entre os sexos, e que se tornará uma realidade totalmente manifesta.
As duas discípulas femininas representam os dois caminhos: Marta, a mentalidade e o caminho do trabalho. Marta estava sempre ocupada “em muitas coisas”; Maria tipifica o caminho do coração, a trilha da devoção. Renunciava a tudo para se sentar aos pés do Mestre. Das duas, o Mestre observou que essa última tinha feito a melhor eleição.
Como já dissemos, os centros sensibilizados do Corpo de Desejos imprimem sua impressão sobre os pontos correspondentes do Corpo Vital, de acordo com os determinados processos que ocorrem ao longo do desenvolvimento espiritual. Um Corpo preparado de tal modo adquire uma luminosidade que é o mais precioso presente para Cristo, posto que significa uma vida de dedicação e, portanto, qualificada para servir, no plano externo e no interno, como Auxiliar Visível e Invisível. Aí se pode encontrar o verdadeiro significado da quebra do jarro de alabastro por Maria aos pés do Mestre, ungindo-os com azeite perfumado. Na simbologia cristã primitiva um jarro representava a alma. A afirmação de que o perfume do jarro encheu toda a casa significa que seu perfumado Corpo-Alma vestia a luminosa brancura do jarro de alabastro que Maria dedicou ao serviço do Senhor.
A segunda-feira da Semana da Paixão, como foi dito, o Senhor passou em Betânia com Lázaro, Marta e Maria. Os profundos ensinamentos fornecidos às duas irmãs, durante esse tempo, estão formosamente descritos na alegoria da cena que se Lhe ofereceu na casa de Lázaro, e a que se refere o capítulo 12 do Evangelho Segundo São João. Os processos Iniciáticos estão frequentemente velados com as ceias ou banquetes, posto que alcançar tal exaltação de consciência é, verdadeiramente, um banquete para a alma, além de toda a compreensão.
Ainda que Marta, a neófita, estava preparada para sua promoção espiritual por seu serviço, o texto leva a entender claramente que ainda não a estava para participar na alimentação Iniciática. Lázaro, o “recém-nascido”, se sentou à mesa com o Mestre e participou com Ele, livremente, do pão dos céus e das águas da vida eterna.
Maria estava no mesmo limiar do Templo da Luz, como indica sua cerimônia de dedicação, consistente em ungir os pés do Mestre durante a ceia.
Na terça-feira, o Mestre começou a fornecer aos outros homens e mulheres lições mais avançadas, condizentes ao glorioso Rito da Ressurreição. O Livro dos Provérbios foi o texto empregado nessa ocasião, uma vez que seus poderes são fórmulas místicas e ritualísticas que, recitadas ou cantadas repetidamente, são tais, que podem estimular e elevar certas correntes do Corpo Vital, que são ativados no processo Iniciático.
Na quarta-feira, Judas sucumbiu à tentação dos sumos sacerdotes, que tipificam a razão ou Mente mortal humana, não iluminada pelo poder do espírito. As trinta moedas de prata se referem, numericamente, à tríade (3+0) composta pelo Corpo Denso, o Corpo de Desejos e a Mente inferior concreta. Quando esses Corpos e Veículos – ou princípios – atuam no nível inferior, como sucedeu com Judas ao executar a grande traição, se destroem sempre a si mesmos, como ocorreu com ele, ao se suicidar. Esse fracasso de Judas indica que não havia conseguido passar pelo Primeiro Grau ou Rito da Purificação.
A Quinta-feira Santa
Para preparar o Rito da Eucaristia, que ocorreu na Quinta-feira Santa, Cristo orientou a dois de Seus Discípulos para ir à cidade, onde encontrariam a um homem com um cântaro de água. Deviam segui-lo até uma casa onde deveria se preparar uma grande “habitação superior” para a chegada do Mestre e Seus Discípulos. Iriam celebrar juntos, ali, a ceia da Páscoa.
Essas instruções são, realmente, um anagrama crítico pertencente ao desenvolvimento esotérico do Aspirante. O homem que leva um cântaro de água faz referência a Aquário, o Signo Portador de Água, regente da Nova Era, na qual o espírito da verdadeira iluminação será derramado de novo sobre a carne, e cuja preparação ocorreria nesse momento. A “habitação superior” é a cabeça, a qual, quando está “mobiliada e pronta”, graças ao despertar dos centros espirituais de seu interior, proporciona a visão dos Mundos internos e superiores. Com a Glândula Pineal e o Corpo Pituitário despertos e ativos, se levanta o véu do Sanctum Sanctorum e o ser humano se encontra na presença de seu próprio Eu Superior, como criado a imagem e semelhança de Deus e capaz de manifestar os poderes do ser humano Crístico.
À luz dessa leitura simbólica podemos deduzir qual era o estado espiritual de São Pedro e São João, os dois Discípulos enviados à frente, pelo Mestre. Ambos estavam aptos a entrar na “sala superior”. O privilégio de preparar o caminho para qualquer um que, em qualquer tempo futuro, desejasse seguir seus passos era deles dois.
O Lava-pés
Quiçá a humildade, a vontade e a disposição para servir a todos e a cada um seja a mais importante lição que há de aprender o candidato à Iniciação. Até que essa lição não seja dominada, o ser humano não se encontra suficientemente qualificado para governar e lidar, com segurança, com os poderes que a Iniciação lhe confere. Há uma lei fundamental da evolução que estabelece que os mais avançados só podem continuar a progredir se se detém para servir os mais atrasados e para lhes ajudar a alcançar níveis superiores. Autossacrifício está no coração de toda a verdadeira realização. E foi por obediência a essa lei cósmica a razão pela qual o Lava-pés precedeu o mais excelso dos ensinamentos que o Mestre forneceu ao círculo de Seus mais próximos Discípulos ao longo de todo Seu ministério terreno. “Se eu não te lavar – respondeu Ele quando São Pedro repreendeu o Mestre dizendo que Ele não devia se humilhar assim – não terás parte comigo”[36]. A humildade e o esquecer-se de si mesmo são as palavras de passe para uma realização mais elevada. É aquele que se anula o que alcança tudo.
Cristo conhecia o destino elevado que aguardava São Pedro, quando seu orgulho e sua impetuosidade fossem substituídos pela serena humildade. Consequentemente, São Pedro se converteu na figura central da cena do lavatório com a qual se dá, a todos os Discípulos de todos os tempos, a suprema lição, objetiva, da humildade, como requisito prévio para a realização espiritual.
Devido ao velho costume de lavar os pés dos pobres nesse dia, no cumprimento do “novo mandamento”, a igreja o denominou a Quinta-feira do Mandato, termo derivado do latim “mandatum”, que significa “mandamento”.
A Última Ceia
“Se tu te elevas a Cristo para celebrar a Páscoa com Ele, Ele te dará o pão da benção, Seu próprio corpo; e te entregará Seu próprio sangue”, escreveu Orígenes, o místico cristão primitivo.
A Última Ceia ou o Rito da Eucaristia tem sido parte de todos os ensinamentos Iniciáticos que foram dados aos seres humanos em todos os tempos. No Egito, os místicos pão e vinho significavam as bênçãos do deus Sol, Ra[37]. Na Pérsia, a Eucaristia formava parte dos Mistérios de Mitra[38]. Na Grécia, o pão estava consagrado a Perséfone[39] e o vinho a Adônis[40]. Também se refere a esse rito um velho fragmento do índio Rig-Veda[41]: “ temos bebido soma – disse – nos tornamos imortais; temos entrado na luz; temos conhecido aos deuses”.
Cada época, cada povo ou cada religião recebeu esse sacro ritual do pão e do vinho, e sempre observou como o cerimonial proporcionou os mais elevados ensinamentos que, nesse momento, podiam ser transmitidos. A cada era e a cada religião posteriores, ao se ampliar a revelação divina, o ritual eucarístico foi adquirindo significados mais profundos, alcançando seu mais profundo significado espiritual quando Cristo, o Supremo Mestre do Mundo, celebrou o Rito com Seus Discípulos na Sala Superior, à meia-noite da Quinta-feira Santa, imediatamente antes da Sexta-feira Santo ou o Dia da Paixão. Então, Cristo ensinou a Seus Discípulos como manifestar os poderes do Grau de Mestre.
Na célebre carta de Plínio a Trajano, escrita em 112 D.C., se diz que, em determinados dias, os cristãos primitivos celebravam duas reuniões: uma, antes do amanhecer, na qual cantavam os hinos a Cristo e se comprometiam, mediante um “sacramento”, a não cometer nenhum crime; e outra, ao anoitecer, na qual ocorria o Ágape ou o Banquete do Amor.
O suco da videira (o vinho místico) simboliza o Corpo de Desejos, limpo e transformado, do Discípulo. O pão representa o puro e luminoso Corpo Vital. Mediante a combinação das duas forças espirituais desses dois veículos, devidamente separados, podem se manifestar os poderes correspondentes ao Mestre. Cada um dos santos homens e mulheres que participaram na Última Ceia com Cristo, purificaram seus Corpos de Desejos e Vital, de tal modo que foram capazes de receber e transmitir os poderes crísticos para a cura e a iluminação espiritual de todos aos que lhe foi dado servir.
Vivendo uma vida pura e inofensiva durante um período, cuja duração varia segundo o desenvolvimento anterior existente, a conservação da força criadora da vida produz uma força vital de ordem superior que irradia do Corpo e que pode ser dirigida e utilizada à vontade nos serviços para com os outros. Essa emanação etérica, na noite da Última Ceia, alcançou nos Discípulos um grau de luminosidade que nunca antes havia sido alcançado. Cada um deles entregou essa emanação anímica a Cristo no momento da Última Ceia. Dirigindo essa força para Si mesmo e a incrementando com Seus próprios poderes divinos, Cristo apareceu ante eles em toda a glória do Corpo de Sua Transfiguração. Então, derramou essa poderosa corrente de energia sobre o pão e o vinho, magnetizando-os com a magia da alquimia espiritual, até que ambos brilharam com o esplendor de joias indescritíveis.
Nas celebrações posteriores da Eucaristia pelos cristãos primitivos, os poderes divinos desenvolvidos pelo cerimonial magnetizavam o pão e o vinho, de tal modo e até um grau determinado que as substâncias assim santificadas eram empregadas, frequentemente, para curar aos enfermos. Por isso a Eucaristia era denominada, propriamente, “a medicina da imortalidade”.
A Ceia daquela primeira noite de Quinta-feira Santa foi concluída com o Pai-Nosso, uma oração de imenso poder, se for empregada corretamente, e com o “beijo da paz”. Com ela se expressavam a unidade e a harmonia que conseguiram alcançar e a reserva em comum do poder espiritual que geraram, com o objetivo de derramar o impulso de Cristo pelo mundo, para o seu consolo e sua redenção. Alcançaram a verdadeira fraternidade, que é o primeiro requisito para o êxito efetivo do grupo. Aqui se encontra a resposta à pergunta, tantas vezes formulada: “Judas esteve presente na Última Ceia”?
Santo Ambrósio, o bispo de Milão no quarto século, escreve que no ritual praticado pelos primeiros cristãos, o pão era partido e agrupado formando uma figura humana, representando, assim, o Corpo de Cristo feito em pedaços por causa do mundo, com o objetivo de que a humanidade caída pudesse ser salva.
As Iniciações Menores são em número de nove e se correlacionam com os Nove Mistérios da vida de Cristo Jesus, que são:
O Corpo humano é o templo do Espírito interno e cada etapa da expansão da consciência produz o correspondente desenvolvimento no Corpo físico. Desde o ponto de vista da anatomia oculta, o pão consagrado representa a nova força vital que foi produzido no Corpo, como consequência da conservação e transmutação da sagrada força criadora.
O Cálice do Santo Graal representa o novo órgão etérico que já começou a se formar nos Corpos dos pioneiros da Nova Era. Esse órgão tem seu centro de poder na laringe, a qual se converterá no instrumento para pronunciar a Divina Palavra Criadora. Esse poder se adquirirá quando a força vital criadora, centrada agora na base da espinha dorsal, for elevada até o ponto mais alto, na cabeça, e o processo físico criador for sublimado em sua contraparte espiritual.
O “cálice da flor” ou o novo órgão espiritual que está se formando na garganta, formará um elo que conectará diretamente a cabeça e o coração, promovendo como resultado a capacidade do ser humano de pensar com o coração e amar com a cabeça. Esse novo órgão permitirá recuperar a memória das vidas passadas. Essa recuperação não será, então, mais difícil do que agora quando recordamos acontecimentos sucedidos alguns anos atrás nessa vida. Cristo se referia a esse desenvolvimento quando disse: “já não beberei do fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo do Reino de Deus.”[42]
O significado oculto do Santo Graal permanece o mesmo através dos séculos, como bem indica a seguinte citação de Apuleio, filósofo romano do segundo século. Descrevendo essa taça como símbolo do órgão no desenvolvimento na garganta, disse que, na procissão dos Mistérios, “alguém transportava um objeto que alegrava o coração, um invento requintado, sem comparação com nenhuma criatura vivente, ser humano, pássaro ou animal qualquer; um maravilhosamente inefável símbolo dos Mistérios, para que fosse contemplado no profundo silêncio. Tinha a forma de uma pequena urna ou taça de ouro polido; seu caule se prolongava lateralmente, projetando como um riacho comprido; ao seu redor uma serpente de ouro enrolada, dobrando seu corpo em curvas e se erguendo.”.
A haste ou o caule desse órgão, na forma de taça, está formado pela essência do fogo kundalini[43] da espinha dorsal, quando se eleva, como uma serpente, para a garganta e para a cabeça, e se converte no cálice de uma luminosa flor. A serpente é um símbolo universal da sabedoria oculta. Por isso o Iniciado era chamado de “serpente” nos mistérios egípcios. Na Escola Cristã o Iniciado é denominado de “Filho do Homem” e, quando os Mistérios que ela ensina florescerem completamente, entraremos no Signo de Aquário ou Era do Filho do Homem.
No exaltado estado de consciência alcançado durante o cerimonial da Ceia, os Discípulos puderam ver os “registros cósmicos” e contemplar ali os acontecimentos que ocorreriam nos anos que lhe restavam de vida. Então, tiveram a possibilidade de aceitar ou não, livremente, esses acontecimentos. O fato de escolherem aceitá-los, difíceis como eram para suportar, evidencia o elevado estado que alcançaram, já que, em todos os casos, o previsto conduzia à diversas perseguições e, frequentemente, ao martírio. Contudo, renunciaram ao “eu” pessoal; saíram como almas Crísticas, tão fortificados que não importava o que lhe pudesse suceder com o Corpo físico; a alma seguia adiante, segura e serena, para o triunfo certo.
O Rito da Agonia no Jardim
Da Sala Superior, o Mestre se encaminhou, diretamente, a Getsemani. A agonia que ali experimentou marca outra etapa em Seu Caminho ascendente, tal e como ocorre na vida de cada Aspirante, quando vive uma experiência idêntica, em sua viagem ao longo do Caminho que conduz à iluminação.
A Agonia de Getsemani pode se denominar, também, o Rito da Transmutação. Ele traz a elevação de consciência adquirida na Sala Superior e a aquisição do poder que leva consigo, para a seguinte etapa ascendente no Caminho que requer que essa luz adicional e essa força sejam aplicadas na transmutação do mal e das trevas existentes, tanto no nosso interior como no mundo, no bem e na luz. No caso de Cristo Jesus, a agonia que experimentou foi o resultado de abrir Seu puro e perfeito Corpo ao influxo das correntes do mal, de todas as categorias, que Ele atraiu, procedentes do Mundo exterior. E recebeu essas forças em Seu interior com o objetivo de elaborá-las alquimicamente e irradiá-las, novamente, ao Mundo, transmutadas em forças de retidão. Tal é sempre o trabalho dos redentores dos seres humanos, sejam da natureza do Salvador do Mundo, sejam de categoria inferior, mas que dedicam suas vidas ao amante e desinteressado serviço aos outros.
O Mestre confiou que seus três Discípulos mais avançados – Pedro, Tiago e João – lhe ajudassem em Seu Rito de Transmutação. Entretanto, dado que ainda não eram suficientemente puros e altruístas, “dormiram”, ou seja, permaneceram interiormente estranhos ao trabalho que estava acontecendo no Jardim da Dor.
O Getsemani se localizava no Monte das Oliveiras porque, como já foi dito, era o lugar, de toda a Terra, carregado da mais elevada espiritualidade. Era o ponto mais indicado para que a agonia redentora pudesse ser suportada e consumada. O fato da Terra possuir áreas onde as forças espirituais estão fortemente focadas e serem mais elevadamente carregadas, corresponde ao nosso corpo humano que, também, possui centros localizados de percepção, tanto espirituais como físicos.
O que Cristo realizou no divinamente influenciado Jardim do Getsemani, sob as vibrações dos Anjos e dos Arcanjos, é de uma imensa importância para toda a humanidade: marca o momento em que a evolução planetária, em seu conjunto, recebeu um novo e poderoso impulso, destinado a conduzi-la a outra etapa em seu sempre ascendente caminhar.
São Pedro experimentou esse Rito de Agonia depois da sua tripla negação, quando, cheio de contrição, regressou ao Jardim e enfrentou seu próprio Getsemani. Ali, naquele lugar altamente carregado e em comunhão com hostes invisíveis, São Pedro, por meio do arrependimento e da purificação do coração, elevou sua consciência tão alto que o permitiu estar logo preparado e recebeu auxílio para a elevada Iniciação que lhe esperava no intervalo entre a Ressurreição e a Ascensão.
São João, o amado, e Maria, a Virgem Santa, fizeram frequentes peregrinações ao Monte das Oliveiras, vibrante de poder espiritual, quando o Mestre já não caminhava aos seus lados em Corpo físico. Ali, as portas do céu se abriam e os Anjos e Arcanjos desciam para se comunicar com os seres humanos. As lendas místicas da igreja primitiva contêm muitas referências de reuniões celebradas por Maria, com os Discípulos, no Jardim das Oliveiras, reuniões relacionadas, sempre, com algum aspecto do trabalho de Transmutação.
A oliveira possui raras propriedades ocultas e é uma das árvores frutíferas mais altamente sensibilizadas. Cresce somente em áreas especialmente favorecidas. Se encontra entre as pioneiras do Reino Vegetal e, ao longo do tempo, se tornou associada à cura e regeneração, qualidades essas inseparavelmente unidas ao processo de Transmutação. Por isso há outras lendas que asseguram que tanto a cruz como a coroa de espinhos, símbolos da consecução que segue ao processo de Transmutação, foram feitas de madeira da oliveira.
CAPÍTULO XI – A MAGIA DA SEXTA-FEIRA SANTA
Os quatro Evangelhos são fórmulas de Iniciação. São Mateus, São Marcos e São Lucas começam com o Natal ou o Sagrado Nascimento porque são as fórmulas dos Mistérios Menores. O Evangelho de São João começa com o Rito do Matrimônio, porque é uma fórmula dos Mistérios Maiores ou Cristãos e o mais profundo Tratado de Iniciação nunca antes dado aos seres humanos. O Evangelho não deveria ser considerado simplesmente como um livro de texto, válida como é essa apreciação, mas como uma força espiritual. Aos Estudantes esotéricos das Escolas de Mistérios ocidentais se lhes ensina a meditar, diariamente, sobre partes desse Evangelho.
Durante o Equinócio de Setembro, a natureza toda se encontra sob a influência da mística união dos princípios da Água e do Fogo. Os frutos dessa união são: a beleza, a harmonia e a perfeição. Nesse tempo, a natureza manifesta essa beleza porque a união se consumou pela obra das grandes Hierarquias Estelares. O ser humano há de encontrar, também, nesse sagrado Rito a chave dos Grandes Mistérios ou Mistérios Cristãos, mas há de aprender a realizar esse Grande Trabalho sozinho. Cristo se referia a esse Rito de Matrimônio Místico quando disse ao Mestre Nicodemos, que já estava familiarizado com o trabalho dos Mistérios Menores, que devei nascer da Água e do Fogo antes de que pudesse entrar no Reino dos Céus, ou seja, nos Mistérios Cristãos ou Maiores.
Cada um dos acontecimentos da vida do Senhor Cristo, dados nos Evangelhos, representa uma determinada etapa ao longo do Caminho da Iniciação. O formoso cerimonial da Sexta-feira Santa expressa a consumação da consecução cristã. O mundo cristão ortodoxo observa esse dia como um tempo de vigília dolorosa. O místico cristão, por sua vez, experimenta, nesse dia, uma estranha alegria espiritual. Ele vê a Crucifixão como um meio para um grande final maior, e a Agonia do Calvário se perde de vista ante a contemplação do supremo gozo que a segue. Compreende que a Crucifixão do Corpo há de preceder, sempre, a liberação do espírito. Um Mestre disse uma vez aos seus Discípulos: “Só em momentos de intensa angústia encontrarás tuas armas, e a teus irmãos na Grande Causa”.
O músico iniciado Richard Wagner[44], que compreendeu muitos aspectos do esoterismo cristão, teve grandes vislumbres do profundo significado desse maravilhoso dia em seu sublime drama Parsifal[45]. Essa obra transcendental deve ser considerada como um tratado sobre a magia da Sexta-feira Santa. Muita da formosura e muito do mistério desse dia, Richard Wagner os incorporou às passagens musicais da influência da Sexta-feira Santa que compôs para o último ato de seu sublime drama musical.
Cada Aspirante que pretende trilhar o Caminho é um Parsifal em um determinado estágio de evolução. Também ele, como Parsifal, conhecerá o caminho da cruz e, se for paciente e persistente em fazer o bem, também como Parsifal, conhecerá as revelações sobrenaturais anímicas que constituem a magia espiritual da Sexta-feira Santa.
A cena do regresso de Parsifal, uma brilhante manhã de primavera, constitui uma das belezas da natureza. É Sexta-feira Santa e uma benção de paz impregna toda a paisagem.
Existe uma estranha contradição entre o êxtase da natureza na primavera e o cerimonial da quaresma, observado nessa estação pela igreja ortodoxa. Os lugares de culto se cobrem sombriamente de preto ou de roxo, enquanto os penitentes se ajoelham, cheios de lágrimas de contrição, meditando sobre a Paixão de Cristo. A natureza, pelo contrário, veste suas melhores galas e, por todas as partes se escutam cantos de alegria e regozijo. Parsifal descreve o primeiro como “o dia da mais obscura agonia divina” e o segundo, dizendo “Quão formosos estão os prados essa manhã! Expressam o infinito amor de Deus!”.
Quando o ser humano caiu[46], isto é, quando perdeu seu ajuste perfeito com a sua consciência espiritual, perdeu também o equilíbrio dos dois polos de seu espírito interno, o masculino e o feminino, ou seja, o equilíbrio entre o Coração e a Cabeça. Essa falta de equilíbrio trouxe consigo a dor, a pobreza, a enfermidade e a morte ao Mundo. A cruz na qual Cristo Se permitiu ser crucificado é o grande símbolo cósmico dessa grande perda de igualdade entre as duas polaridades da natureza, humanamente representadas pelo homem e pela mulher. A cruz se encontra em todos os países, e é utilizada por todos os povos, porque toda a humanidade experimentou essa falta de equilíbrio durante os primeiros dias de sua viagem evolutiva.
Pendendo da cruz, o qual, de acordo com a tradição esotérica cristã, foi por sua vez, literal e simbólico, um fato histórico e uma dramatização espiritual, Cristo abriu o caminho para a Iniciação, por meio da qual toda a humanidade pode recuperar sua plenitude interior e por meio dessa plenitude ou integração, redescobrir o estado edênico, de inesgotável bem-estar e de vida imortal.
A natureza já manifesta o “ilimitado amor de Deus” como polaridade. Todo ano, o Sol ao cruzar, no Equinócio de Março, do sul para o norte (crucifixão), as latitudes setentrionais inauguram sua estação da ressurreição, e a natureza toda mostra o gozo e a formosura de uma união alquímica perfeita de forças vitais. Parsifal se refere a esse, o Grande Mistério da Páscoa, quando batiza a arrependida Kundry[47] com as palavras: “Regozija-te com toda a natureza harmoniosamente redimida”.
Kundry é o divino feminino, que caiu por causa da instabilidade emocional, tal como se representa no madeiro horizontal da cruz. Logo, acompanhada pelo triunfante Parsifal, penetra no Templo, entre o alegre toque dos sinos. Juntos, passam através das colunas, que substituíram a cruz, e que simbolizam a Iniciação por meio da polaridade. Essas duas colunas substituirão a cruz, como símbolo universal da religião, na Era de Aquário, que agora amanhece.
Parsifal disse da natureza, sobre a influência da Sexta-feira Santa:
Em verdade, encontrei flores maravilhosas
que pretendiam enroscar suas gavinhas em torno do meu colo;
e, nunca antes pareceram tão frescas
a erva, a folhagem nem as flores;
nem pareceu tão doce sua fragrância
nem me falou tão atrativamente
Essa é a magia da Sexta-feira Santa, meu senhor – disse Gurnemanz.
– Como pode ser isso assim? – Pergunta Parsifal – em vez de alegria e flores, a natureza deveria mostrar prantos e sentir dor nesse dia de agonia.
Gurnemanz explica que a grande glória da Maré da Páscoa se deve às lágrimas dos pecadores, que choram de contrição, caindo sobre a Terra como um orvalho sagrado, para se converter em flores.
– Por isso floresce. Todos os seres viventes se regozijam, escutam a voz do Salvador, e O adoram.
– Os bosques e campos – continua – não podem olhar para o Cristo na cruz, mas podem olhar para o ser humano arrependido. No desenvolvimento das flores pode se encontrar a contraparte, na natureza, do processo de transmutação que ocorre na vida de cada indivíduo.
Gurnemanz continua expondo o mistério íntimo dessa sagrada estação:
Cada folha de erva, cada pequeno ramo e cada pequena flor,
sabe que esse dia não pode acontecer nenhum dano,
senão que, assim como Deus, cheio de misericórdia,
Se lembrou do ser humano e por ele morreu,
o ser humano, nesse dia, será menos ousado
e andará com cuidado.
Agradecidas se animam todas as coisas
que vivem um momento e desaparecem
e, absolvidas de tudo, esperam
e bendizem esse Dia de Inocência.
No requintado encanto anímico que Wagner teceu com sua música de Sexta-feira Santa, fundiu toda a tristeza e a dor do religioso exotérico, com o êxtase manifestado pela natureza na primavera. É música que tipifica a culminação do grande processo de transmutação, por meio da qual a personalidade (Kundry) se eleva até a identificação com o espírito (Parsifal). É a fusão alquímica que eleva o Aspirante até o Terceiro Grau, ou o Grau do Mestre descrito na ópera na coroação de Parsifal. Essa coroação é acompanhada pela música etérea da Terra, que combina os motivos eucarísticos e os do Graal.
A descida da Pomba na Sexta-feira Santa, para encher e abençoar o Graal, com o objetivo de nutrir e sustentar os cavaleiros durante mais um ano, se refere aos acontecimentos que pertencem ao Grau do Mestre, e que ocorreu nesse dia nos Templos de Mistérios dos planos internos. Segundo a lenda antiga, é esse o dia santíssimo naquele em que a natureza exterioriza o maravilhoso atributo de suas flores. Também o reino animal responde ao acelerado ritmo vital do Planeta, se aproximando uns aos outros e todos ao ser humano. Tudo na natureza, pois, contribui para a santificação da Sexta-feira Santa. O místico sabe que se trata de um dos dias mais santos do ano, uma vez que as portas do Templo se abrem, par a par, para receber aos “qualificados e dignos” de passar pelo portal da glória.
Tudo isso Wagner incorporou a sua música da Sexta-feira Santa que, como a alquimia da natureza, revela vida de onde somente parece haver a morte. Essa música extraída da fonte dos Mistérios nos mostra o ser humano elevado ao divino, a esse Mundo mais além do nosso Mundo, e que é a única realidade. Incluído, sobre o não iluminado, derrama esse “outro Mundo” sua magia, com indescritível amor.
Com a coroação de Parsifal se fecha o ciclo da iluminação. A música dilui na obsedante beleza do motivo do Graal, se tornando cada vez mais etérea, enquanto os Anjos abrem caminho com suas asas através das neblinas douradas, e se perdem à visão e aos ouvidos dos seres humanos. O ser humano terminará por compreender que, na margem desse Templo Musical de Parsifal, pode construir uma dourada ponte de som, pela qual pode se comunicar com as hostes angélicas e arcangélicas.
Richard Wagner, o músico profeta da Nova Era, expôs à luz, com seu Parsifal, um antigo Mistério Cristão que, por sua vez, oculta e revela muitas coisas sobre o esotérico profundo e o elevadamente espiritual, que compõem a magia da Sexta-feira Santa.
CAPÍTULO XII – A SEXTA-FEIRA E A VIA DOLOROSA
Durante a Sexta-feira Santa as sucessivas etapas do Caminho do Discipulado se desenvolverão, simbolicamente, nos acontecimentos que ocorreram ao longo da Via Dolorosa ou “O Caminho da Dor”. “Aquele que não tome a sua cruz e me siga – disse o Mestre – não é digno de Mim”.
A Paixão de Nosso Senhor na Sexta-feira Santa alcançou o coração dos Mistérios. As quatorze estações da cruz representam certas etapas que pertencem ao desenvolvimento espiritual, se relacionando, além disso, cada uma delas, com um determinado centro do Corpo. Cada trecho desse Caminho, que cada discípulo pisou, estava conformado pela situação da sua própria alma. Somente quando a divina Maria, Maria Madalena e João alcançaram o nível espiritual necessário foi que eles puderam percorrer o Caminho até o final. Por isso os três, e somente eles, são representados junto à cruz de onde pendia o Corpo atravessado de Cristo. O número três significa também que cada um deles tinha passado pelo Terceiro Grau ou o do Mestre.
Nos três julgamentos, de Anás, de Caifás e de Pilatos, na flagelação, na coroação de espinhos, nas três vezes que Cristo caiu sob o peso da cruz, e nos três encontros com as santas mulheres durante a ascensão do Calvário, o candidato à Iniciação nos Mistérios Cristãos descobre as experiências que correspondem com a sua própria ascensão ao Monte da Iluminação, desde que tomou sua cruz e seguiu a Cristo.
Os diferentes acontecimentos que menciona o Evangelho e que ocorreram durante a Semana da Paixão, nas vidas dos homens e das mulheres que compunham o grupo mais íntimo do Mestre, entre Seus seguidores, levam todos uma referência velada a certa fase do seu próprio desenvolvimento, em conexão com um ou mais dos três Graus pertencentes à Escola Cristã de Mistérios. Cada estação da cruz se converte, pois, em uma pedra miliar no Caminho do Aspirante cristão, quando caminha ao longo da Via Dolorosa, e que é o que os Padres da missão da Califórnia chamavam de “El caminho del Rey”. Ao seu fim, as dores do Caminho se transformam no êxtase de regozijo da Ressurreição.
Os principais obstáculos do Caminho estão representados pelo juízo ante Anás ou Mente mortal; depois, pelo juízo ante Caifás ou ambição mundana; e, por fim, pelo juízo ante Pilatos ou a debilidade e vacilação da Mente, quando é chamada para tomar uma postura a favor da verdade, com risco de prejudicar a posição ou o prestígio pessoal aos olhos dos parceiros ou benfeitores não iluminados.
A flagelação representa os transtornos e, às vezes, a dor que acompanha o nascimento ou despertar dos sucessivos centros superiores do Corpo, situados ao longo da espinha dorsal, à medida que o fogo serpentino começa a subir, desde o sacro até o crâneo. A coroação de espinhos tem um significado análogo, e se refere, especificamente, à revivificação de determinadas áreas da cabeça. Por ter um significado similar, esses dois acontecimentos são citados, geralmente, juntos.
Com a subida do fogo espinhal até a cabeça, os nervos craneanos se sensibilizam progressivamente. Esses nervos rodeiam a cabeça como uma coroa e, no Grau do Mestre, irradiam um verdadeiro halo luminoso.
Três vezes o lastimado Senhor caiu sob o peso da cruz. O que aconteceu com ele, fisicamente, representa as correspondentes quedas morais nas quais a humanidade frágil sucumbe, uma e outra vez, enquanto percorre o Caminho da Dor até a Luz. Como Indicador do Caminho para toda a humanidade, Ele não se omitiu, ao logo de todos os incidentes da Sua vida, a nenhum aspecto do mesmo. O ser humano cai sob o peso que os véus da matéria que é colocado sobre o seu espírito; cai devido aos desejos terrenos; e cai por causa da influência a que sucumbe sua Mente espiritual não iluminada. Três vezes cai por causa dos obstáculos que surgem de seu Corpo Denso, de seu Corpo de Desejos e da sua Mente.
Enquanto o Mestre subia o Calvário, ele se encontrou por três vezes as santas mulheres. Essas representam a atividade do Princípio Feminino, do Amor-Sabedoria, que trabalha para purificação do Corpo Vital e do Corpo de Desejos e pela espiritualização da Mente.
Depois da terceira queda, Simão Cireneu pegou a cruz e a levou pelo resto do Caminho. Esse fato, traduzido à termos de consecução espiritual, indica que seus votos de dedicação ao Discipulado ocorreram ali e então e, ainda com ele, tomou sua cruz pessoal e seguiu a Cristo até o lugar da Liberação. Simão, que já havia superado o Rito da Purificação, estava preparado para assumir o trabalho conducente do Segundo Grau, o da Iluminação.
Segundo uma lenda mística, o Mestre encontrou Verônica, a qual limpou Seu rosto com um pano, enquanto Ele subia no Calvário. Depois de ter feito isso, ela observou, com admiração tão intensa de assombro, que Suas feições foram impressas no pano. Esse fato se refere à experiência de uma das mulheres Discípulas, que alcançou a capacidade de imprimir os centros de seu Corpo de Desejos sobre os do seu Corpo Vital, com o qual, se converteu em Clarividente capaz de ler nos Registros Cósmicos. Essa é a marca do Segundo Grau.
Segundo os Evangelhos, Prócula, esposa de Pilatos, teve “um sonho com relação a esse homem justo e bom”. Isso é outra maneira de se dizer que ela era capaz de funcionar conscientemente nos planos internos, à noite, quando se encontrava fora do Corpo, e que tinha lido no Registro da Memória da Natureza, a verdade sobre a missão de Cristo como Salvador da humanidade. Sua experiência é também evidência da consecução do Segundo Grau.
As Estações da Cruz indicam os lugares nos quais Cristo Jesus se deteve, enquanto transportava Sua carga, ao longo da Via Sacra, até o Calvário ou Monte da Liberação. Originalmente, essas Estações eram só sete, e se conheciam como “as sete quedas”. Durante a ocupação da Terra Santa pelos turcos, a localização dessas Estações na Via Sagrada sofreu algumas mudanças e, com isso, se perdeu grande parte do significado esotérico que elas levavam consigo.
O mais profundo significado dessas Estações não se originou com o Cristianismo. Estão relacionadas com a natureza do ser humano e o processo que se relaciona com o desenvolvimento de sua natureza divina. Seus significados são, portanto, comuns, tanto aos Mistérios antigos como aos Mistérios Cristãos. Nos Mistérios de Elêusis[48], por exemplo, existia uma Via Sagrada que conduzia desde a cidade de Atenas, costa acima, até perto de Elêusis. Essas estações ou “pequenas capelas”, como eram chamadas, representam determinados estados de desenvolvimento, e a nenhum discípulo lhe era permitido ir mais à frente, por esse Caminho, senão somente até o nível de consecução em que estava autorizado. Dentro de cada pequena capela, o Discípulo recebia as instruções que lhe ajudavam a chegar até a próxima Estação. Na Alta Idade Média os devotos cristãos iniciaram a prática de reproduzir em suas igrejas as Estações da Cruz, por meio de cenas da Paixão, pintadas ou esculpidas. Foi, também, frequente a colocação de relicários ou pequenas capelas, representativas das diferentes Estações, ao longo do caminho que conduzia à igreja. Quando se começou a fazer isso existia um conhecimento da importância mística dessas Estações, mas, gradualmente, se foi perdendo, exceto para uns poucos, à medida que o pensamento materialista foi invadindo o terreno da verdadeira compreensão esotérica. Hoje servem, no melhor dos casos, pouco mais que como pequenos objetos de veneração, que estimulam o devoto a rezar, mas também dão lugar, em muitos casos, à crenças e práticas supersticiosas.
As Estações que, ao princípio, foram sete, se duplicaram mais tarde. Esotericamente representam o Caminho do desenvolvimento, por meio do despertar dos sete centros energéticos, em seu duplo aspecto, positivo e negativo, que florescem no interior ou sobre a cruz que representa o corpo humano. As experiências da vida de Cristo, que marcam as quatorze Estações, são as seguintes:
Em toda literatura esotérica os sete centros se descrevem assim:
O primeiro está situado na base da espinha dorsal. Aí dorme o fogo espinhal espiritual. Quando em estado latente sua cor é vermelha escura, mas despertado sua cor se torna vermelha rubi clara.
O segundo está situado no Plexo Celíaco. Quando em estado latente sua cor é vermelha alaranjado, mas sua cor se modifica durante o processo de transmutação e se torna em um suave tom verde vernal claro.
O terceiro se relaciona com o baço o qual, como um sol em miniatura, irradia a luz dourada. No princípio do desenvolvimento possui um tom verde dourado que logo se converte em puro dourado.
O quarto, o centro cardíaco ou cordial, emite o amarelo resplendente que, em posteriores estágios de transmutação, passa a se tornar azul etéreo.
O quinto está colocado sobre o pescoço, exatamente sobre a laringe. Sua cor é azul e, através dele, quando se completa o desenvolvimento, faíscam cores de prata cintilante.
O sexto se encontra perto do centro da cabeça, em direção à coroa. Quando entra em atividade plena emite desenhos caleidoscópicos de beleza indescritível. Suas cores primárias são: rosa, amarelo, azul e púrpura.
O sétimo está na parte mais elevada da cabeça. Totalmente desperto forma uma coroa ou halo que irradia uma refulgente luz branca.
O colocar em atividade ou despertar dos dois centros inferiores corresponde ao Primeiro Grau ou o da Purificação; assim como o baço e o coração correspondem ao Segundo ou o da Iluminação. O centro do pescoço é a porta que comunica a personalidade com o espírito e alcança seu pleno desenvolvimento só quando a personalidade se espiritualiza, ou, em outras palavras, quando está disposta a sempre obedecer às ordens do espírito. Os centros da cabeça correspondem ao Terceiro Grau ou o Grau do Mestre.
Segundo a compreensão esotérica da igreja primitiva, os Discípulos que percorriam o Caminho do Calvário não encontraram o Mestre durante o Caminho, mas que O seguiram. Essa é a interpretação correta, já que Cristo foi o Supremo Indicador do Caminho para toda a humanidade. As Estações indicam as Etapas mais importantes, conducentes à Iniciação.
Por meio da experiência transformadora da Iniciação, o ser humano morre para o mundo exterior e nasce para a vida interior do espírito. A Primeira Estação representa a suprema dedicação. O princípio de todas as coisas é o “Um”. Assim como é “Una” a grande Chama Branca que contém as sete cores, em poder, em força ou em suspenso, do mesmo modo, a dedicação pré-iniciatória se converte na semente de onde brotou, na forma devida, todas as forças espirituais latentes na consciência do Discípulo.
Depois da suprema dedicação, a cruz se converte no objeto familiar para o Aspirante. Ela lhe faz frente à todas as experiências de sua existência diária e deixa sua marca, tanto sobre a vida exterior como sobre a vida interior. É nessa Estação quando o Caminho se torna pesado, que muitos retornam para o mundo, e deixam de caminhar com Cristo.
Assim como o “Um” pertence à esfera do infinito, o “Dois” pertence à do finito. “Dois” representa a descida do espírito na matéria. A Segunda Estação tipifica a encruzilhada da decisão, a situação vacilante desde a que o Discípulo, ou retorna para os velhos caminhos, ou se encaminha para frente em busca de uma identificação maior com o espírito.
Considerar as Estações somente pelo seu significado histórico, como os incidentes na vida de um único homem, é perder a perspectiva de seu verdadeiro significado para toda a humanidade. Se Cristo é o Supremo Iniciador, Seu Caminho há de ter, claramente, um significado para todos. Esotericamente, cada queda ao longo da Via Dolorosa é o símbolo de uma experiência na vida do Discípulo onde e quando pode cair ou falhar. É, portanto, importante conhecer a natureza dessas provas, a fim de se poder enfrentá-las com conhecimento de causa.
O “Um”, somado a “Dois”, produz o “Três”. Os antigos sábios definiram a aparição da Triplicidade como “o mundo da Emanação”. É por meio das forças do “Três” que o espírito desce para habitar a carne. O ritmo manifestado pelo “Três” depende da harmonia existente entre o “Um” e o “Dois”, e nisso está a chave da futura evolução do ser humano. A Primeira Queda representa o estado atual da evolução humana, onde o ser humano está profundamente envolto no mundo da matéria.
Pitágoras chamou o número “Quatro” de “sagrado”, porque significa a Alma. Daí o inspirado cântico: “O Quatro do Um e o Sete do Quatro”.
A Cabala estabelece que a primeira celebração é a da Grande Mãe. A Mãe representa o Divino Feminino ou a faculdade criadora de imagens, e o princípio amoroso do espírito do ser humano. Como é a realização do Divino Feminino e o consequente desenvolvimento dos poderes espirituais, os quais o Discípulo aspira, nas primeiras etapas da busca, encontra a Mãe, o “perfeito modelo de realização”.
Nos primeiros estágios do processo Iniciático o trabalho a ser desenvolvido se refere, alternativamente, aos polos masculino e feminino do espírito. No Livro do Mistério Desvelado se afirma que o Pai e a Mãe contêm todas as coisas e que todas as coisas estão contidas neles e que, quando os pecados se multiplicam no mundo e o santuário se torna poluído, o macho e a fêmea se separam. Essa separação representa o atual imperfeito e desequilibrado estado de desenvolvimento humano. Por isso, o primeiro trabalho do Caminho da Iniciação consiste em restaurar o equilíbrio perdido.
“Cinco”, portanto, é o número da mudança ou da transição. É o número do bem em formação. É chamado o “número dual”, porque representa as naturezas superior e inferior em sua luta pela supremacia. Aqui o Caminho se estreita e a cruz se agiganta.
O Cântico dos Cânticos de Salomão é uma exaltação do Divino Feminino. Em nenhuma outra obra escrita aparece mais vividamente descrito o êxtase puro da alma do “Um” Iluminado: “Minha amada é minha e eu sou seu”. Esse inspirado cântico, pois, descreve a união dos dois polos, masculino e feminino, do espírito.
No “Cinco” ocorre a luta entre o humano e o divino. No “Seis” as forças da construção criadora trabalham para o estabelecimento de uma harmoniosa interrelação. “Seis” é amor humano dedicado à Vênus. Mediante o sofrimento gerado pelo amor humano, a alma ressuscita e nasce. O número “seis” anuncia a preparação por meio da purificação. Sob seus poderes, nasce a iluminada visão da clarividência.
A ascendência à Sexta Estação se consegue somente por meio da Purificação. Na Sétima o futuro progresso depende da força de vontade e da firmeza do propósito.
“Sete” é o lugar do sábado ou do descanso, não da cessação de atividade. É de onde o Discípulo se eleva, de uma ordem inferior para outra superior, e prossegue para a vitória espiritual e o Adeptado. Nesse ponto se sintetizam as experiências da vida e suas essências se convertem em poderes úteis da alma. Desde esse ponto, o progresso futuro, ainda que difícil, é contínuo e ininterrupto.
A separação entre os princípios masculinos e femininos é a causa de toda a dor, da tristeza e da morte existentes no mundo. Essa separação trouxe consigo a submissão do feminino e é por isso que choram as filhas de Jerusalém. O Mestre Supremo e Suas obras mostraram os poderes perfeitos dos dois polos em equilíbrio. A cruz que transportou e o Caminho que seguiu até ao Calvário simbolizam o meio para a restauração de toda a humanidade. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” é o um cântico de um profundo significado místico. O lamento das filhas de Jerusalém (o despertar da alma) surge do fato de que o ser humano não mais se aproximou desse ideal Crístico.
“Oito” é o número “livre” ou da ressurreição, e ostenta os elevados poderes do raio dourado de Cristo.
A Terceira Queda está relacionada com os poderes da Mente não iluminada. São Paulo se refere a esses como “poderes das trevas”. Se a qualidade anímica feminina não fosse submetida às forças puramente mentais, a Mente do ser humano não iluminado não haveria jamais adquirido os poderes desproporcionados que hoje possui. A Mente é o Caminho e sua “cristianização” é o trabalho mais importante de toda a evolução humana.
O número “Nove” representa a escala evolutiva que vai do ser humano até Deus; por isso foi denominado o número do ser humano e o número da Iniciação ou da “cristianização” do ser humano.
Da hora sexta até a hora nona a Terra se obscureceu, enquanto o Mestre, unido a Sua cruz, se convertia no Supremo Indicador do Caminho para toda a humanidade, demonstrando um perfeito equilíbrio espiritual. O “Nove” supõe o começo dessa união de poderes, e a Mente, como foi dito acima, é o caminho da realização. “Que Cristo se forme em ti” é o primeiro mandamento cristão.
A Décima Estação destaca o princípio da Grande Renúncia, simbolizada pela separação do Mestre de Sua inigualável veste. Essa formosa vestimenta representa a consciência ativa de Deus, esotericamente comparável à essência extraída de todas as boas obras de nossas vidas terrenas, e que é perceptível pela visão interna como o Corpo-Alma, ou o “dourado traje de bodas”, um halo luminoso que rodeia todo o Corpo e se estende amplamente ao seu redor como uma glória brilhante, tal e como se pode comprovar em vários santos ilustres durante suas vidas terrenas. Cristo renunciou a essa gloriosa vestidura da alma para que suas poderosas emanações impregnassem a parte etérica da Terra. O ser humano continua ainda recebendo a cura física e a inspiração espiritual provenientes daquela força originária de Cristo, pois Seu sacrifício não afetou somente a seu Corpo, mas também a sua Alma. Foi um derramamento de luz e amor, da qual a Terra e sua humanidade se beneficiarão até o fim dos tempos.
O número “Dez” significa a verdadeira substância do ser. Todos os números conduzem a ele. Os números seguintes são meras combinações dos números que o precedem. O “Dez” é formado pelas potências masculinas (1) e feminina (0), e representa o homem e a mulher trabalhando de acordo com as leis da geração. A sublime pureza da alma, simbolizada pela vestidura inigualável e pela renúncia, por meio da sua entrega a seres menos avançados, se encontram formosamente representadas como a elevada consecução da Décima Estação.
A Décima-primeira Estação marca a total e completa renúncia à vida pessoal em favor da vida espiritual, do mesmo modo que a Décima marca seu início.
O filósofo esotérico Franz Hartmann[49] escreveu: “a mulher representa a formosura e a vontade da raça humana; mas nem um dos dois, nem o masculino nem o feminino, são perfeitos. Só é perfeito o ser em que o masculino e o feminino estão unidos”.
A cruz é o símbolo da prevalente desunião entre os princípios masculino e feminino na humanidade; e o espírito interno ou o Cristo Interno está cravado nessa cruz de limitação até que se libera a si mesmo, por meio da Iniciação, para que se obtenha o equilíbrio perfeito.
De igual modo que a cruz (+) representa a falta de equilíbrio entre o masculino e o feminino, o número “Onze” (11) representa o equilíbrio, a meta suprema da raça humana. Por isso o “Onze” é denominado o Número do Mestre. Quando as forças do “Onze” se tornam totalmente ativas no ser humano esse adquire o poder de mudar o seu entorno, de originar novas circunstâncias, de criar um novo Corpo e uma nova vida; tudo isso em harmonia com a imagem divina, cuja semelhança foi ele mesmo modelado no princípio.
A renúncia a tudo o que pertence ao plano físico proporciona a divina compensação de um campo de ação e de poderes ilimitados nos Mundos espirituais superiores. Quando a Alma se desliga da materialidade, adquire a liberdade correspondente do seu próprio e verdadeiro Mundo.
Por isso os antigos definiam os poderes do “Onze” dizendo: “ Em minha mão, todas as coisas permanecem em perfeito equilíbrio. Eu uno todos os opostos, cada um com seu complemento”.
Por meio da Iniciação, o Discípulo morre para o finito, para o pessoal, para o material, para renascer de novo no milagre e na glória do infinito, do impessoal e do espiritual. O mortal é transmutado em imortal, o terreno em celestial. Com as palavras “está consumado”, o glorioso espírito de Cristo se libertou para funcionar nos Mundos da imortalidade. Tal é também a consecução do Discípulo quando alcança esse lugar do Caminho. A morte foi enfrentada e vencida. Nunca mais o espectro terrível poderá alcançá-lo. Transcende o tridimensional. A consciência dele é focada em uma dimensão superior.
O final da peregrinação do ego na esfera terrestre é trazer à manifestação a força do Cristo nele latente. O número “Doze” entoa a nota-chave dessa consecução.
A Décima-terceira Estação é o Grau da Grande Libertação. Quando o Corpo sagrado foi libertado da cruz, foi posto nos braços da Sua mãe bendita. Em outras palavras, por meio do equilíbrio o Ego se liberta da cruz da materialidade e é elevado à sublime exaltação da união com o Divino Feminino.
A Cabala diz que “quando o macho se une a fêmea, ambos constituem um corpo completo e todo o universo se encontra em estado de felicidade, porque todas as coisas recebem bênçãos desse Corpo perfeito. E isso é um arcano[50]”. Ou seja, que essa é a suprema consecução na evolução da raça humana.
Por meio da emanação do poder do “Doze” se aprendem lições através do ritmo masculino do “Um” e do ritmo feminino do “Dois”. O “Doze”, agrupado ao redor do “Um”, forma uma unidade que vibra para o “Treze”. Nele jaz o segredo da paz, da abundância e do poder para toda a humanidade. Na fórmula do “Treze” se encontra a chave oculta das palavras do Mestre: “onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, ali estou Eu no meio deles”[51].
Grande parte do trabalho de Cristo e Seus Discípulos está relacionado com a mística fórmula do “Treze”. A nova Dispensação se estabeleceu sob seus poderes. A Décima-terceira Estação governa a transição de um estado inferior para outro superior. Suas forças são, portanto, especialmente ativas nesses dias em que a Era Aquariana está se aproximando. Como apontando para esse fato, treze estrelas que compõem a urna celestial, onde está a constelação de Aquário, o portador da água celeste, está derramando as águas da vida sobre a Terra.
Cristo foi colocado em um “sepulcro novo” no qual não tinha sido sepultado nenhuma outra pessoa antes. O princípio masculino se debilita com a morte ou desequilíbrio, para que possa, novamente, logo ser elevado, em equilíbrio com o feminino. O número “Quatorze” representa as forças combinadas do masculino “Um” com o feminino “Quatro”. Aqui o “Quatro” é a porta de entrada aos planos superiores. Esse foi o trabalho do Grau demonstrado pelo Supremo Mestre ao longo da Via Sacra, e simbolicamente perpetuado nas Estações da Cruz.
A colocação de Cristo Jesus no “sepulcro novo” indica que Aquele que foi colocado nele acabava de experimentar a Morte Mística, que conduz a uma nova Iniciação, ou melhor, a uma Iniciação de um grau superior à de qualquer outra que houvesse precedido. Pois a missão de Cristo na Terra foi a de fundar a nova Escola de Mistérios Cristãos. Essa tumba, portanto, não foi um lúgubre sepulcro de morte, mas a porta de acesso a uma vida mais abundante.
As Quatorze Estações ou Graus de estados de consciência em expansão e ascensão progressiva tem seu desenvolvimento paralelo nas estrelas interiores ou centros florais que adornam o Corpo do ser humano iluminado. “Depois disso, tive uma visão: havia uma porta aberta no céu”[52]. Tal é a expressão bíblica para essa exaltada vivência.
Entre os mais próximos e queridos a Cristo, só uns poucos tiveram a suficiente fortaleza para lhe seguir em todo o caminho. Entre os que tentaram alguns retornaram por não ter a suficiente fortaleza para fazer a suprema renúncia de perder sua vida para ganhá-la. Outros O traíram nessa etapa, porque não tiveram a suficiente força de caráter e a convicção que os tornariam capazes de permanecer firmes ante um fim aparentemente inglório para o seu Mestre, e as provocações e sarcasmos da crucifixão se amontoaram ante eles. A prova que aqui enfrenta o candidato à seguinte etapa do Caminho há muito poucos os que estão preparados para passar por ela com êxito.
Nas palavras de Max Heindel: “Essa etapa é para aqueles que fecham seus olhos a todas as coisas da Terra, aqueles que já não se preocupam com os elogios ou as censuras dos seres humanos, mas que focam no seu Pai nos céus. Aqueles que estão dispostos a manter a Verdade e só a Verdade. Aqueles que vem com o coração e vem nos corações dos seres humanos, que podem discernir neles o Cristo Interno, o Filho de Deus vivo”.
CAPÍTULO XIII – A CRUZ, UM SÍMBOLO UNIVERSAL
“A cruz é um hieróglifo sublime que possui poderes e virtudes misteriosos”. É um “símbolo de devoção e sacrifício”.
Esse símbolo está desenhado na face estrelada dos céus, o mais velho símbolo sobre a terra: a cruz. Ela é formada pelos quatro Signos Cardinais do Zodíaco: Câncer ao norte e Capricórnio ao sul formam a barra vertical; Áries ao leste e Libra ao oeste formam os braços horizontais.
Esses quatro Signos compreendem os trinta graus do Zodíaco mais próximos dos Solstícios (norte e sul) e dos Equinócios (leste e oeste). Sobre o agitado e ocupado coração desse pequeno Planeta brilha a permanente guia da luz da grande cruz dos céus.
É interessante destacar que a Dispensação de Áries-Libra proclamava a primeira vinda do Senhor Cristo, “o cordeiro, que era sacrificado desde a fundação do mundo”[53]. Os astrólogos espirituais predisseram que Sua segunda vinda ocorrerá durante a Dispensação de Capricórnio-Câncer.
O primeiro símbolo a receber a homenagem e a adoração do ser humano foi uma coluna vertical. Representava a força masculina na natureza, a força geradora positiva. Mais tarde foi adicionada, à coluna vertical, a barra horizontal, formando a cruz. A barra horizontal representa a força feminina, passiva ou produtiva, na natureza e na mulher. A cruz que coroa os campanários de muitas igrejas proclama que esse é um mundo de homens na qual a posição da mulher é secundária. A desigualdade entre o homem e a mulher tem sido a causa de muita dor e muito sofrimento ao longo de todos os tempos, de modo que até a sua associação com o Cristo, a cruz foi o símbolo da dor e do castigo durante muitos séculos. Antes de terminar a Era de Aquário, a cruz será substituída pelas duas colunas verticais, como símbolo universal, já que a Nova Era é para testemunhar a perfeita igualdade entre as forças masculinas e femininas, simbolizada pelas duas colunas, uma junto a outra.
A Maçonaria aceitou, em princípio, essa igualdade. A cruz é utilizada poucas vezes por ela, sendo as colunas verticais o símbolo mais familiar na Loja. Denominam-se Jachin e Boaz[54] e são importantes nos trabalhos de qualquer Grau. Se os maçons aceitassem esse ideal na prática, tão bem como o fazem simbolicamente, as portas de suas Lojas se abririam para as mulheres do mesmo modo que abrem para os homens.
A origem da cruz parece coincidir com a mais antiga história da humanidade. Foi objeto de reverência e adoração entre os povos mais primitivos e é motivo decorativo no mais lindos templos e catedrais das nações mais avançadas do mundo. A Grande Pirâmide de Gizé[55], no Egito, mostra duas figuras arredondadas que sustentam, entre ambas, uma cruz que tem uma serpente suspensa. A serpente sobre a cruz foi um símbolo comumente empregado em todo o Egito e representava a Sabedoria esotérica. Sua forma tradicional de cruz foi denominada “cruz ansata”[56], com um círculo sobre ela. Era chamada de “a chave da vida” e era enterrada com os sacerdotes, reis e rainhas.
A cruz Tau foi sagrada para os hebreus[57]. Tau, a vigésima-segunda e última letra do alfabeto hebreu, significa vida eterna. Era costume estampar, sobre a frente dos prisioneiros libertados, o sinal de Tau para evidenciar sua liberdade e inocência. Segundo a história bíblica antiga foi por meio de uma Tau pintada com sangue nos umbrais de suas portas que o Anjo da Morte sabia onde a décima praga do Egito não fosse aplicada, ainda quando os hebreus eram mantidos na escravidão.
A cruz foi, também, o objeto de adoração na China, Índia e Pérsia, e entre os índios da América do Norte e do Sul. Os templos druidas foram construídos com plantas cruciforme, como indicam as ruínas que ainda são conservadas na Escócia e Irlanda.
O caduceu[58] foi, essencialmente, uma cruz grega. Nele o braço horizontal está substituído por duas asas, e duas serpentes se enroscam ao redor do braço vertical. É considerado, frequentemente, como o báculo de Mercúrio. Nesse sentido é significativo que Mercúrio foi o deus da Iniciação e que, na Grécia, a Iniciação alcançou, indubitavelmente, elevados níveis de sublimidade. Os Aspirantes modernos reconhecem no caduceu o símbolo mais perfeito, jamais concebido, da Iniciação.
Nos tempos da vinda do Cristo, a cruz, geralmente, era usada com um cordeiro deitado a seus pés. Era para anunciar Sua vinda, pois essa foi sempre associada ao cordeiro (Áries). No Novo Testamento Ele se refere a Si mesmo como o “bom pastor”[59], e uma das Suas mais formosas parábolas é a da Ovelha Perdida, também conhecida como a parábola das Noventa e Nove[60]. Desde a partida de Cristo da Terra muito tempo se passou antes de que se colocasse sobre a cruz uma figura humana, o que constituiu o “crucifixo”, tão familiar entre os devotos modernos.
A nota-chave da consecução espiritual é o sacrifício. O ser humano primitivo sacrificava, frequentemente, o seu próximo. Depois, quando avançou mais, o sacrifício de animais substituiu o dos seres humanos. Cristo veio para ensinar a lição, mais nobre ainda, de que o ser humano deve se oferecer a si mesmo sobre o altar do sacrifício. Que o serviço amoroso e desinteressado ao próximo é o mais seguro e o mais agradável caminho para Deus é o mantra de uma Escola Esotérica Cristã. Foi, pois, devido a esse conceito de sacrifício próprio dado ao ser humano que a figura humana foi colocada na cruz e se converteu no símbolo universal de devoção.
Uma figura humana colocada assim tem sido o hieróglifo da Iniciação, desde tempos imemoráveis; mas era conhecida como tal somente por uns poucos que reconheciam o próprio sacrifício como a única chave para tal elevado estado de iluminação.
Os antigos diziam a verdade quando afirmavam: “os mistérios de Deus estão contidos na cruz”. Do mesmo modo que o conceito de Cristo vai se diferenciando ao longo do tempo, em determinados aspectos, quando comparado com o que prevalecia nos séculos passados, o mesmo ocorre com Sua imagem, em relação à cruz. Comparando os crucifixos da Era de Peixes, que está terminando, com os da Era Aquário, que está prestes a iniciar, veremos que cada um exterioriza Cristo e a sua cruz de acordo com a fase dominante que passa a cristandade nesse momento. Como Peixes é o Signo da dor e do sofrimento, a agonia sangrenta do crucificado passou a ser Seu símbolo. Representava o caráter especial das experiências pelas quais a humanidade estava passando. Assim como Peixes enfatiza a morte, a Era de Aquário enfatizará a vida imortal. A cruz, como símbolo da entrante Nova Era não levará, pregado nela, nenhuma figura humana; em seu lugar aparecerá Cristo ressuscitado, majestoso, sobre a formosamente simbólica Rosa Cruz, o emblema da consecução espiritual da Nova Era.
A simbologia foi sempre a linguagem dos sábios, já que os símbolos podem conter e revelar verdades importantes. E todas as verdades tem duas interpretações: uma interna, para os poucos; outra externa, para a maioria das pessoas. São Paulo descreve isso, falando da “carne para os adultos fortes e leites para os bebês”[61]. Ainda que envoltas em símbolos, as verdades profundas são sempre claramente discerníveis para aqueles que estão preparados para discerni-las.
Como dissemos, o crucifixo é a cruz de Peixes, a marca dessa Era de dor e sofrimento. A Rosacruz pertence à futura Era de Aquário e se refere à glória da vida eterna consciente. A cruz em si simboliza a religião, enquanto que a rosa representa a ciência. Anuncia, pois, o formoso dia em que a religião será científica e a ciência se tornará espiritualizada.
Na Grécia antiga a rosa estava dedicada à Aurora, deusa do amanhecer, e significava a ressurreição a uma nova consciência de vida. Essa flor significou, sempre, o secreto; daí a frase latina sub rosa com o significado de sob a rosa ou confidencial. Na Europa medieval era costume pintar rosas no teto das habitações nas quais se celebravam determinadas assembleias; isso significava que o que fosse tratado nelas nunca devia ser divulgado. Existe também um antigo hieróglifo maçônico que mostra um homem de pé, ante uma porta fechada, e com uma rosa na mão, e ele está sendo advertido de que, até que a rosa não se abra completamente, a porta também não se abrirá. Aparentemente, existia uma íntima conexão entre a Ordem Rosacruz e a primeira Ordem dos Cavaleiros Templários.
Insistimos em que o caduceu é o símbolo profundo da verdade iniciática. Sua haste vertical simboliza, para o alquimista, o cordão espinhal dentro do corpo humano. Ao longo da medula espinhal existem certos centros que, nas Escolas de Sabedoria orientais se conhecem como “flores de lótus” e nas Escolas de Sabedoria ocidentais, se conhecem como rosas, florescendo sobre a cruz do corpo. As serpentes entrelaçadas ao redor da haste do caduceu simbolizam os dois sistemas nervosos, o cérebro-espinhal e o simpático. Quando os centros se põem em atividade, são produzidas alterações em ambos os sistemas nervosos. Os alquimistas falam das duas colunas, do Sol e da Lua; os dois elementos, o ouro e a prata; os servidores Vermelho e Branco…tudo o qual se refere aos processos de transmutação que se produzem quando se aprende a percorrer o caminho do verdadeiro Discipulado. As sete rosas sobre a cruz simbolizam determinadas consecuções espirituais, tais como a clarividência, clariaudiência, dom da profecia, capacidade de abandonar o corpo à vontade e para pronunciar a palavra divina. A formosa saudação Rosacruz: “que as rosas floresçam em vossa cruz” é a oração mais amada pelo Aspirante, para que todos conheçam a glória dessa realização.
Na simbologia Rosacruz a cruz branca, com suas sete rosas, está colocada sobre um fundo azul. Esse fundo indica infinitude, enquanto as rosas sobre a cruz denotam as ilimitadas possibilidades oferecidas pelo caminho da Rosacruz. Cada um dos quatro extremos da cruz termina em três semicírculos. Todos juntos simbolizam as doze Hierarquias Criadoras que rodeiam o universo do qual o Planeta Terra é parte. Os seres celestiais que compreendem essas Hierarquias se dão a si mesmo no serviço amoroso para ajudar a toda a humanidade em seu assenso para a “Cristificação”.
“Desaparecendo a pessoa de Jesus, viu-se, em Seu lugar, uma cruz de luz sobre a qual uma voz celestial pronunciou essas palavras: a cruz de luz é chamada de: o Verbo, o Cristo, a Porta, o Regozijo, o Pão, o Sol, a Ressurreição, Jesus, o Pai, o Espírito, a Vida, a Verdade e a Graça”.
Albert Pike do livro Moral e Dogma
A mais alta consecução da Rosacruz se simboliza por meio de uma cruz branca, pura e simétrica, com uma rosa branca aberta em seu centro. Representa a realização do Grande Trabalho Branco, em que o Corpo e a Mente se tornaram completamente espiritualizados. A rosa branca representa o Auxiliar Invisível Consciente. Para ele, o corpo físico já não é mais uma prisão; ele é livre para ir e vir, a vontade, com disposições de amor e graça. Sabe que o fogo não pode queimar seu espírito nem a água pode afogá-lo; desce até as entranhas da Terra e se eleva aos espaços longínquos para levar ajudar e socorro a todos que necessitam. A Nova Era Aérea incrementará enormemente o trabalho dos Auxiliares Invisíveis. Toda noite, antes de dormir, os Aspirantes Rosacruzes repetem a seguinte oração: “que essa noite, enquanto meu corpo descansa docemente no sono, possa eu trabalhar fielmente na vinha de Cristo, já que meu espírito não necessita de descanso”.
Próximo ao fim do ciclo Aquário-Leão a cruz será substituída por duas colunas verticais, como símbolo universal, tal e como falamos anteriormente. Esses dois pilares representarão a Aquário e a Leão. A nota-chave de Aquário é a lei, e a de Leão é amor. Em uma civilização baseada nesses dois preceitos a visão do profeta será uma realidade: “a terra será repleta do conhecimento da glória do Senhor <lei espiritual>, como as águas cobrem o fundo do mar” (Hb 2:14). Entre essas duas colunas passarão o homem e a mulher, de mãos dadas, em perfeita igualdade, em direção aos Templos Iniciáticos da Nova Era.
Os quatro braços da cruz representam os quatro elementos: Fogo, Ar, Água e Terra; também simbolizam os quatro Signos Fixos do Zodíaco: Touro-Escorpião e Aquário-Leão. Já fizemos referência ao trabalho dessas quatro Hierarquias durante os últimos dias dessa Era de Peixes. As nações estão liquidando seus destinos maduros sob Touro-Escorpião, e estão sendo preparadas para a Era de Aquário por Aquário-Leão. Isso é igualmente certo para os indivíduos, que estão limpando os registros dos seus destinos maduros e se preparando para a Era Área.
As quatro bestas simbólicas a que se referem a Bíblia representam[62], também, os quatro Signos Fixos. Esses quatro Signos trabalham sobre os quatro princípios inferiores do ser humano (físico, etérico, emocional e mental), por meio da purificação e transmutação. Touro, simbolizado pelo touro, e cujo elemento é o sal, trabalha sobre o físico. Escorpião, simbolizado pela águia, e cujo elemento é o mercúrio, trabalha sobre o etérico. Leão, simbolizado pelo leão, e cujo elemento é o enxofre, trabalha sobre o emocional ou de desejos. Aquário, simbolizado pelo homem, e cujo elemento é o azoth, trabalho sobre o veículo mental inferior (azoth é uma cifra que representa a quintessência dos outros três elementos). Desse modo, por meio dos processos de purificação e transmutação, sob o ministério dessas Hierarquias, as essências espirituais dos três veículos inferiores do ser humano são incorporadas ao seguinte: a Mente superior. Conseguido isso, o ser humano viverá, se moverá e terá seu ser em um veículo feito de substância mental. As maravilhas de tal desenvolvimento só podem ser compreendidas, agora, tenuamente. Quando refletimos sobre os milagres já realizados por meio da Mente humana, ainda que seus poderes latentes apenas tenham sido fomentados, adquirimos uma vaga ideia de suas quase infinitas possibilidades. Por exemplo: o ser humano será capaz de viajar em seu Corpo Mental até os mais longínquos Sistemas Solares, ou visitar as estrelas mais distantes, com o só pensar nisso.
Nas primeiras páginas do maior livro de texto sobre a vida, a Bíblia, lemos que Adão e Eva perderam o Jardim do Éden, onde viviam, por causa da descida à materialidade. Nas últimas páginas da Revelação[63], último livro da Bíblia sagrada, São João descreve os redimidos Adão e Eva e o jardim celestial em que habitarão, e cujas portas não estarão vigiadas por um guardião Querubim. Pelo contrário, estarão totalmente abertas pelo Supremo Iniciado da hoste Arcangélica, o bendito Senhor Cristo.
Na dispensação de Capricórnio-Câncer, o primeiro simboliza o ser humano Crístico, o novo Adão; enquanto que Câncer simboliza a Eva Crística, a nova Eva. Esses são os pioneiros regenerados, que se unirão a Cristo quando venha, e lhe ajudarão a construir o novo céu e a nova Terra, como se descreve no Livro da Revelação.
O princípio feminino ou reprodutor do homem está crucificado. O que devia ser um sacramento de castidade foi degradado pela paixão e luxúria. A mulher, contraparte objetiva desse princípio feminino no Mundo externo, foi também crucificada ao longo do tempo. Com a chegada de dispensação Aquário-Leão se verá restabelecida a seu posto, em um completo estado de igualdade com o homem.
Todo órgão do corpo humano possui uma potência masculina e outra feminina, uma das quais predomina. Constitui um fato de profundo significado oculto que quando o corpo mude para adquirir as condições da Nova Era, cada órgão feminino experimentará um desenvolvimento espiritual subsequente: o coração se converterá na verdadeira luz de corpo, tão lúcida e brilhante que a forma toda se fará luminosa com seu resplendor; a circulação do sangue será controlada pelo espírito; o ser humano será capaz de, voluntariamente, trasladar o sangue de uma determinada área do corpo para outra em que seja necessária; o sangue não será, como agora, um líquido roxo – quando externado – mas que se consistirá em uma essência branco-dourada (a igreja possui muitas e formosas lendas de Santos, cujo sangue se tornou branco); o sistema nervoso simpático, que é o sistema nervoso feminino, se converterá em uma segunda medula espinhal, se convertendo o ser humano de novo em um andrógino (macho-fêmea). A força criadora será dirigida à laringe e a criação será feita mediante o poder da palavra falada. A Palavra Perdida da maçonaria será falada, novamente.
A construção deste veículo humano glorificado começará na Era Aquário-Leão. Receberá um desenvolvimento posterior durante a dispensação Capricórnio-Câncer, e alcançará seu mais elevado estado de desenvolvimento durante a dispensação Sagitário-Gêmeos. A Hierarquia de Sagitário é conhecida, no idioma esotérico, como Senhores da Mente, e funciona totalmente em veículos de pura substância mental. Irradiam de si mesmo aqueles germes de Mente que, muito tempo atrás, constituíram o mais precioso presente outorgado ao ser humano. Eles continuarão seu ministério próximo ao reino humano, até que cada um dos seus membros esteja preparado para funcionar em um corpo composto da sutil matéria mental.
Assim como, sob o ministério de Sagitário, o ser humano funcionará e viverá em um Corpo de substância pura mental, sob Gêmeos aperfeiçoará o poder andrógino em seu interior, ou seja, que levará a um perfeito equilíbrio, no Templo do seu próprio Corpo, às forças masculinas e femininas. Deus, o Pai desse Sistema Solar, é o líder supremo da Hierarquia de Sagitário, e o mais elevado Iniciado dos Senhores da Mente.
O sacrifício produz sempre uma compensação espiritual. Quanto maior o sacrifício, maior a recompensa. O bendito Cristo, por causa do Seu sacrifício máximo pela redenção do mundo, foi elevado ao plano da dispensação Sagitário-Gêmeos, como se evidencia pela Sua exclamação na cruz: “Deus meu, Deus meu, como me há glorificado!”.
Esse é só um pequeno vislumbre da exaltada consecução que a humanidade espera. São Paulo, indubitavelmente, captou algo durante o milagre da sua visão, quando disse: “Tu fizeste o homem um pouco inferior aos Anjos; Tu o coroaste de glória e honra” (Hb 2:7).
CAPÍTULO XIV – O SUPREMO MISTÉRIO: O SACRIFÍCIO DO GÓLGOTA
O Mestre foi crucificado entre os dois ladrões, os quais, em termos de experiência Iniciática, significam o Corpo de Desejos e a Mente inferior, que tendem, por natureza, a se apropriar da luz que pertence ao espírito.
As Cinco Feridas Sagradas que Cristo Jesus recebeu com a Sua crucifixão aludem a certas envolturas que oprimem ao espírito na casa-cárcere da carne, e que o Discípulo aprende a eliminar quando aprende a seguir o Mestre no Rito da Morte Mística, na imensa glória da alvorada de Ressurreição.
“Desde a hora sexta houve trevas…até a hora nona” São as horas desde às doze até às três, e indicam o período em que o espiritual se impõe ao pessoal e a natureza superior obtém sua vitória final sobre a inferior. A igreja, em sua solene vigília desse dia, dá ênfase especial a esse intervalo sagrado, entre às doze e às três da Sexta-feira Santa.
Durante essas horas, a luz começa a declinar no Mundo exterior. Similarmente, em termos de experiência Iniciática, é o tempo durante o qual o interesse pelas coisas externas decresce pouco a pouco, e o que pertence ao espírito cresce e se torna mais intenso e vívido. Há três horas cruciais desde que a força transformadora, que foi despertada nos centros de fogo do Corpo Templo, produza “uma luz tal como nunca brilhou na Terra ou no mar”. No Corpo da Terra, os três centros – situados nos polos norte e sul e no equador – durante a Maré da Páscoa, se convertem nos depósitos de tremendas energias espirituais.
Quando o espírito de Cristo se desprendeu da cruz, uma gloriosa luz dourada flamejou ao longo do Corpo de Desejos da Terra. Então, o que ocorreu, quiçá possa ser imaginado melhor, foi como os efeitos produzidos no Mundo Físico por uma explosão de um engenho atômico. Da mesma forma que essa explosão pode fazer “evaporar” torres de aço e arrasar cidades inteiras em um só clarão, as energias de tão tamanha categoria, como as que obedecem a Cristo, podem flamejar em um só momento nos mundos psíquicos e “evaporar” os cúmulos de antigos miasmas, gerados durante muito longo tempo pela humanidade não regenerada. Desde o momento em que Cristo produziu tal desprendimento de energia, a humanidade tem vivido em uma atmosfera mais sã, no aspecto psíquico. Por meio desse ato cósmico maravilhoso de redenção se tornou para cada ser humano mais fácil contatar com o seu “Eu superior”, aspirar a valores superiores e se libertar a si mesmo do poço de autossugestão e degeneração que havia caído.
Contudo esse ato redentor de Cristo não se limitou àquela liberação “atômica” de energia. Desde esse mesmo momento, no qual se converteu no Regente da Terra, Ele tem servido a humanidade, em escala planetária, renovando todo ano o derramamento de Seu espírito purificador, quando ressuscita anualmente, com toda a natureza, no Equinócio de Março ou Páscoa, e sobe novamente ao trono do Pai no Solstício de Junho ou Ascenção, depois de ter trabalhado na e com a Terra desde o Equinócio de Setembro até o Equinócio de Março ou Maré da Páscoa. Esse é o ritmo redentor do Cristo Cósmico. Esse é o Seu trabalho com a humanidade, desde a Sua vinda ao nosso Planeta por meio dos Corpos do Mestre Jesus, e assim continuará até que a humanidade alcance um ponto em que seja capaz de se encarregar, ela mesma, do trabalho da redenção coletiva, sem a necessidade de Sua ajuda imediata. Uma vez conhecida essa verdade e tudo o que ela implica, quem ama a Cristo converte em sua máxima aspiração ao se qualificar a si mesmo para se fazer digno de compartilhar fraternalmente Seus sofrimentos, fazendo o possível para aproximar o dia em que chegue ao fim esse Seu sacrifício que Ele segue realizando para que todo ser humano tenha vida e a tenha em abundância.
Graças a essa ajuda cósmica que Cristo tem prestado à humanidade e que as portas da Iniciação estão abertas para todos que querem trilhá-la. Antes de Sua vinda a Iniciação era possível somente para uns poucos e, como já foi dito, em condições anormais que já não são necessárias. O sublime Rito do Gólgota rasgou o véu (do Templo). Uma nova força espiritual começou a intervir na evolução humana. Valendo-se dela, todos os seres humanos podem obter a Iniciação nos Mistérios e a entrada consciente no reino do Espírito.
Assim, pois, o processo Iniciático se tornou possível para todos, graças às forças liberadas por Cristo sobre a Terra, transmitidas à humanidade por meio dos centros de fogo planetários mencionados acima. Um dos efeitos dessa energia liberada é a de afrouxar a conexão entre os Corpos de Desejos e o Vital do ser humano. Quando isso é alcançado, o ser humano já não tem a necessidade de receber a Iniciação no estado de transe, fora do Corpo, mas em condições completamente normais.
Ao abandonar o Corpo de Jesus, Cristo penetrou no coração da Terra. Isso elevou a vibração dela e sincronizou mais seu Corpo físico com o Mundo do Espírito Divino; iluminou o Corpo Vital do Planeta, o habilitando para, desde então, transmitir as energias crescentes vindas do plano universal ou Crístico, que os Rosacruzes denominam de Mundo do Espírito de Vida; do mesmo modo, o Corpo de Desejos da Terra se converteu em um canal mais limpo para transmitir à vida dela as forças do Mundo do Pensamento Abstrato, ou o plano da Mente espiritualizada.
Como já dissemos, a crucifixão do Cristo não terminou com Sua morte na cruz do Calvário. Seu espírito continua sofrendo na cruz da matéria e continuará até que o Mundo inteiro e toda sua humanidade hajam sido redimidos. Ele é, verdadeiramente, a alma do mundo, crucificada. E, até que a humanidade, por meio de uma vida elevada e nobre, não alcance a estatura espiritual que lhe permita levar sua própria cruz, o Redentor do Mundo não cessará. Aproxima-se o tempo em que todo joelho se dobrará e toda voz O proclamará o Senhor dos senhores e o Rei dos reis.
Mediante Seu sacrifício sublime na cruz, a favor de toda a humanidade, Cristo alcançou uma Iniciação maior do que as correspondentes aos Mistérios Cristãos: foi elevado até a consciência espiritual do Deus Pai. As últimas palavras de Cristo na cruz se referiam a essa experiência exaltada, segundo a verdadeira tradução das mesmas, pois não se queixou nelas por ter sido abandonado, mas que agradeceu com exaltação a Sua elevação.
Entre os poderes conferidos por essa Iniciação se encontra a capacidade de se alinhar, por livre vontade, entre as doze Hierarquias Zodiacais. A porta zodiacal de acesso para tais viagens celestiais é Câncer, e o plano inferior no qual se pode transpassar essa porta se encontra no Mundo do Espírito de Vida, denominado, às vezes, o Lar do Cristo.
Aos pés da cruz, Maria, a mãe de Jesus, passou ao Terceiro Grau ou o Grau do Mestre. Um hino cristão primitivo contém a promessa que ela fez ao Mestre de velar com Ele até o místico amanhecer do dia de Páscoa. É outra maneira de dizer que durante o intervalo entre a Crucifixão e a Ressurreição, Maria foi capaz, graças aos poderes que lhe haviam sido conferidos com o Grau de Mestre, de acompanhar a Cristo nos Mundos internos, de onde obteve o conhecimento, em primeira mão, da missão planetária de Cristo e da maneira em que isso ocorria na escala cósmica.
Como na paixão de Cristo se representaram as provas mais importantes, pertencentes ao Caminho da Iniciação, o Discípulo que aspire a trilhar esse Caminho há de experimentar provas similares às que obstruíam o caminho de Cristo naquele dia cheio de acontecimentos. Encontrará as humilhações, o ridículo e a perseguição, incluindo a deserção de seus seres mais queridos, como ocorreu a Cristo. Essas disciplinas têm por objetivo fazer com que se ganhe força interior para se permanecer só. São sucedidas por provas ainda maiores, tais como a de carregar nas costas a própria e pesada cruz, em uma subida, até o seu calvário pessoal. Conjuntamente, as provas representam as etapas definidas ao longo do caminho da Iniciação, etapas que culminam com a libertação final do Espírito, da cruz do Corpo físico, a realização das atividades espirituais durante os três dias e meio nos Mundos internos e, finalmente, a triunfante ressurreição.
A Sexta-feira Santa, quando se comemoram os acontecimentos da Semana da Paixão, que alcança seu clímax nas três horas de agonia de Cristo, é o dia mais transcendental do ano. O trabalho interno realizado por Ele foi, então, e é agora de suprema importância para toda a humanidade. Cada vez se vai reconhecendo mais sua imensa transcendência, como mostra da observância, no aumento dessas três horas, por parte da igreja. Antigamente, esses ensinamentos estiveram confinados por muito tempo nas mãos da igreja católica, mas agora formam parte, regularmente, das cerimônias da Semana Santa em muitas igrejas protestantes. Em todo caso, o profundo significado esotérico da Vigília das Três Horas intensifica a compreensão espiritual do sacrifício realizado por um Ser Cósmico no plano da história humana, relacionando-o com o processo específico do desenvolvimento espiritual na vida interna de cada Aspirante. As três horas de agonia descrevem os três estágios da progressiva liberação do próprio Espírito, da cruz da matéria, na qual ele permanece crucificado durante sua encarnação física.
Assim, vemos que as três horas se relacionam com as três etapas na subida do fogo espinhal espiritual desde a base da espinha dorsal, através dos três mais importantes centros do Corpo. A primeira hora se relaciona com o despertar da força ígnea no Plexo Celíaco e seu ascenso até o centro cardíaco; a segunda hora, com a subida dessa força até o centro da garganta; a terceira hora, com a sua continuação até o alto da cabeça. Porque o ser humano é o meio, e a espinha dorsal é o caminho até a meta da perfeição. Toda a experiência da vida está ordenada para conduzir a esse processo, e todo corpo humano pode se converter, verdadeiramente, em um templo sagrado e inviolável do Deus Vivo, no qual o Espírito possa reinar. Então, luminoso e sereno, desde essa eminência, buscará a luz eterna e o amor imortal.
A primeira hora se correlaciona com o período preparatório para o Primeiro Grau, que se refere à limpeza e purificação do Corpo de Desejos, como temos dito, e que por isso se denomina o Grau da Purificação. Nesse Grau hão de ser submetidos todos os fatores negativos da natureza de desejos, que não são senão auto-alucinações, tais como a inveja, os ciúmes, a raiva, o ódio e o ressentimento, e que hão de ser reconhecidos como o que realmente são.
A vida de Cristo Jesus é o modelo da Iniciação do Novo Testamento. Também o Tabernáculo constava de três partes: a primeira, um pátio exterior, continha o Altar no qual se queimavam os corpos dos animais sacrificados. Aquela cerimônia simbolizava a limpeza e purificação da natureza inferior do ser humano. O vencer as qualidades negativas acrescenta a virtude do altruísmo; e a completa subjugação do “eu” é a pedra angular de todo trabalho ocultista, um processo longo e difícil. Isso justifica o longo período de provação que exigiam Pitágoras e outros mestres da Sabedoria, pois a falta de discernimento é a causa do fracasso de muitos Aspirantes. Seu trabalho não estará completo até que possam dizer como Cristo: “As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em mim, realiza suas obras”[64].
Durante a Segunda Hora ou Grau, quando o fogo espinhal está sendo elevado até o centro de poder situado na garganta, o caminho se estreita e as tentações se tornam cada vez mais difíceis. As tentações da primeira hora são manifestas, francas, claramente definidas. No entanto, as provas da Segunda Hora ou Grau estão, muitas vezes, sutilmente cobertas por uma máscara de beleza, estando seus espinhos dissimulados por pétalas de rosa. Nesse Segundo Grau, como se representa em Parsifal[65], uma das mais sublimes lendas Iniciática de todos os tempos, o cavaleiro Parsifal é tentado pela beleza das meninas-flores, enquanto se divertem nos exóticos jardins de cores e fragrâncias inusitadas. O discernimento é a principal lição do Aspirante, durante a Segunda Hora na cruz. Há de aprender, como fez São Paulo, a distinguir o real do irreal, o verdadeiro do falso.
Ao longo desse período os aspectos negativos do desejo são destilados e transformados nos poderes anímicos adicionais, já que o trabalho do Segundo Grau consiste na Transmutação ou Iluminação. Na segunda sala interna do Tabernáculo o fogo do altar era alimentado somente com o mais puro azeite de oliva. É significativo também notar que em Parsifal o segundo ato desemboca no terceiro com a música da Transformação e que, nesse terceiro ato, o cavaleiro Parsifal se converte em Rei do Templo do Graal e no Mestre dos cavaleiros.
Durante a Terceira Hora ou Grau, o fogo espiritual é elevado desde a garganta até o ponto situado na parte superior da cabeça. É a coroação da Grande Obra. Do mesmo modo, na terceira e suprema sala do Tabernáculo estava colocado o Santo dos Santos. Quando esse fogo espinhal ilumina o centro da cabeça do Aspirante, esse é conduzido ao lugar mais sagrado, posto que encontrou a chave que abre as portas do céu, e pode dizer como Cristo: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue”[66]. Sua Terceira Hora na cruz foi resumida pelo Mestre com essas palavras: “Como me tem glorificado”[67].
Esse Terceiro Grau, correspondente à Terceira Hora, é o Grau da Glorificação ou do Mestre, cujo trabalho consiste em aprender a focar, à vontade, a consciência nos diferentes planos internos ou Mundos celestiais. Mais tarde, o Aspirante há de ser capaz de manter a continuidade da consciência, sem dúvidas nem falhas. Passa do estado de vigília ao do sonho, sem nenhum intervalo de inconsciência e ao regressar ao Corpo conhece suas experiências extrafísicas e é capaz de recordá-las tão vividamente como recorda os acontecimentos do dia anterior. Essa continuidade de consciência deve se manter também durante a transição chamada morte. Um ser assim pode passar, plenamente consciente, de um plano de expressão ao outro. Essa é a mais elevada significação da Ressurreição de Cristo e muitos Discípulos avançados, ao longo e ao largo do mundo, estão agora trabalhando para alcançar tal desenvolvimento. Isso se converterá em uma faculdade de todos os seres humanos durante a Nova Era. Com sua obtenção desaparecerão todo o temor e todo o mistério, relacionados com a morte, e o Espírito, radiante, triunfante, livre para sempre, deixar a pedra das limitações físicas e se elevará para saudar o começo de uma nova vida.
Quando o Aspirante meditar sobre o Mistério da Sexta-feira Santa e sobre o Amanhecer da Páscoa que o faça à luz dessas verdades. Por meio da reverente e profunda meditação sobre as elevadas consequências dessas Três Horas seu conhecimento sobre o trabalho nos planos internos aumentará, e resultará no desenvolvimento maior dos seus poderes anímicos. Logo, olhando para o futuro distante, para o tempo que virá, as palavras de São João se tornarão realidades: “desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou”[68].
O segredo do Mistério do Gólgota foi que Cristo podia se converter no Espírito Planetário. Os acontecimentos do Natal marcam Sua entrada divina anual, enquanto os acontecimentos da Páscoa marcam Sua divina consumação.
CAPÍTULO XV – O INTERVALO ENTRE A SEXTA-FEIRA SANTA E O AMANHECER DE PÁSCOA
Ao redor do sepulcro vazio, linha após linha e círculo após círculo, se amontoavam hostes de seres gloriosos. Eram as Hierarquias Celestiais, que envolvem esse universo, começando pelos Anjos e Arcanjos e terminando nos Querubins e Serafins. Todos cantavam triunfalmente: “Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?”[69].
Esses mesmos seres celestiais se reuniram ao redor do presépio em Belém, na primeira Noite Santa, cantando: “Paz na Terra e boa vontade entre os homens”[70]. Então celebraram o dia formoso que trouxe Cristo Jesus para trabalhar sobre a Terra. Em torno do sepulcro vazio celebraram um dia, ainda mais ditoso, que tinha trazido Cristo Jesus para trabalhar sobre e no interior da Terra, como seu Espírito planetário interno, posto que agora seria capaz de atuar, tanto no ser humano, como no Planeta, e não somente de fora, mas também de dentro.
Uma antiga lenda diz que a cruz do Gólgota se erigiu exatamente no centro da Terra e que aquele lugar era a tumba de Adão (a humanidade primitiva) que submeteu à humanidade à influência dos Espíritos Lucíferos e a escravidão da morte. O bendito Cristo Jesus veio para ensinar o ser humano como vencer essa influência lucífera e se livrar da exigência da morte.
Junto ao sepulcro o enorme conjunto de exaltados seres impregnava a Terra de deslumbrante luz. Contemplando essa visão sublime, e caminhando na luz, estavam os denominados “mortos”. Durante o intervalo que vai desde a tarde da Sexta-feira Santa, em que o Senhor foi despregado da cruz, até que Ele fez sua aparição no mundo externo, na alvorada da Páscoa, trabalhou com esses “mortos”, lhes ensinando e lhes bendizendo.
“pois será melhor que sofrais — se esta é a vontade de Deus — por praticardes o bem do que praticando o mal. (…)
Eis por que o evangelho foi pregado também aos mortos, a fim de que sejam julgados como os homens na carne, mas vivam no espírito, segundo Deus.”
(IPe 3:17 e 4:6)
Em seu extraordinário livro “Os Três Anos”, Emil Bock[71] escreve: “Por meio da descida de Cristo aos infernos, lhe foi devolvida a humanidade ao ‘mais alto’ como fonte de imortalidade. A descida aos infernos resgatou para o ser humano o ‘mais alto’; a subida resgatou ‘essa margem’ para o divino”.
Quando floresciam os antigos Mistérios, sempre houve Mestres que falaram as seus Discípulos mais avançados sobre a vida do Grande Ser. Esse último, por sua vez forneceu Seus ensinamentos a todos que quiseram escutá-las. As circunstâncias, então, eram as mesmas de hoje: poucos escutavam e, menos ainda, acreditaram. Hoje, também existem, comparativamente, poucos que acreditam nas Irmandades Místicas e na realidade da instrução do Templo Esotérico.
Na hora da morte os Egos mais avançados passam para os planos espirituais mais elevados. Nos planos inferiores dos Mundos internos se encontram os que ainda levam traços do pó da terra, junto com os que se negam a crer em uma continuação da vida, após a morte. No linguajar esotérico essas esferas se denominam Regiões Inferiores do Mundo do Desejo. São o Purgatório da igreja católica. E foram nessas paragens que Cristo passou o intervalo entre a tarde da Sexta-feira Santa e a alvorada da Páscoa. Há, agora, sobre a Terra alguns indivíduos que trazem gravada em sua memória a glória da Sua presença e o milagre de Suas palavras. Essas pessoas privilegiadas dedicam suas vidas a difundir Seus ensinamentos e Sua missão.
A memória é uma posse muito importante, tanto da Mente como do Espírito. Seu cultivo e seu desenvolvimento ocupam um lugar importante nas atividades do Discipulado. Dividimos a Mente humana em três áreas: a consciente, a subconsciente e a supraconsciente[72]. As experiências da vida diária se associam com a área consciente; a memória das vidas passadas, com a subconsciente. Estão sendo feitos muitos experimentos interessantíssimos na área do subconsciente, para descobrir a memória das encarnações passadas. A memória do futuro, que pode ser definida como consciência cósmica, se correlaciona com a memória supraconsciente. Dificilmente pode se fazer ideia dos poderes obtiveis quando a Mente se desperta totalmente, nem do que esses poderes significarão para a humanidade.
Foi dito aqui que os Discípulos modernos estão aprendendo a ter uma ponte sobre o abismo que, geralmente, existe entre a vigília e o sono, a vida e a morte, a encarnação presente e a passada. Um dos exercícios mais eficazes para recuperar essa recordação consiste em repassar, com fé e persistentemente, em ordem inversa, os acontecimentos de cada dia, antes de dormir, todas as noites. Os sucessos, visto assim, podem se avaliar aos efeitos de fortalecer o que é bom e eliminar tudo o que seja de natureza oposta. A prática contínua dessa revisão noturna otimizará, também, a faculdade da memória. Essa será estimulada e revitalizada e se tornará mais retentiva. Pouco a pouco as experiências do Mundo interno aparecerão mais claras, mais ordenadas e mais sequenciais, até que, por fim, será possível se recordar dos acontecimentos durante o sono com a mesma facilidade com a que se recordam os em estado de vigília. Quando a memória for incrementada e se unifique assim, ligará uma ponta do abismo no outro.
A memória, trabalhando por meio da Mente consciente, constrói uma ponta entre o estado do sono e o de vigília.
A memória, trabalhando por meio da Mente subconsciente, preenche o vazio entre as encarnações presente e as passadas.
A memória, trabalhando por meio da Mente supraconsciente, preencherá, infalivelmente, o vazio do esquecimento que se estende entre a vida e a morte.
Os vários procedimentos para o desenvolvimento da memória se encontram entre os ensinamentos fornecidos por Cristo, durante aquele maravilhoso intervalo entre a Sua Ressurreição e Sua Ascensão.
Desde a Sexta-feira Santa até o amanhecer da Páscoa, os ensinamentos do Mestre nos planos internos se referiram ao início do Caminho. Entre a Ressurreição e a Ascensão os ensinamentos se referiram à consumação do trabalho no Caminho da Luz, quando uma nova e glorificada raça haja passado em sua vida diária por ambas as experiências, a da Ressurreição e a da Ascensão.
Quando o ser humano tenha alcançado o grau de desenvolvimento, a transição da vida terrena para o outro mundo será uma aventura gloriosa e consciente. O Ego, vivo e alerta, não conhecerá o medo. Por outro lado, em um estado de exaltação, poderá passar alegremente para a próxima, mais longa e ampla vida. Poderá se unir aos coros dos Anjos e Arcanjos, dos Querubins e Serafins, e entoar: “Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?”.
O acontecimento culminante do Sábado Santo ocorreu à meia-noite, com a observância do profundo Rito do Batismo. Estava relacionado com o Segundo Grau ou o Rito da Iluminação. Aqueles que aspiravam passar ao santuário interior desse Grau, iniciaram uma rigorosa preparação, ao cuidado de Mestres, no início da Quaresma, e eram conhecidos como “os que vão a ser iluminados”. Uma quantidade de homens e mulheres santos, destacadamente mencionados nos Evangelhos, passaram esse Grau no sábado à noite e puderam saudar ao Sol daquele importantíssimo amanhecer de Páscoa, como irmãos recém-nascidos, do Cristo Ressuscitado. Entre eles estavam as mulheres às que Cristo apareceu naquele cedo amanhecer.
A água tem uma afinidade especial pela substância etérica; daí que, quando o Corpo Vital de um candidato à Iniciação se sensibilize suficientemente, por meio de uma vida santa e pura, a imersão do seu Corpo Denso na água tende a soltar a firme ligação que mantém unidos, normalmente, os Corpos Denso e Vital. Quando ocorre a separação entre ambos e se desperte os centros do Corpo Vital, a consciência se abre nos planos internos e a alma enfrenta as experiências transcendentais que deixam uma marca permanente para o resto da vida. Ao afrontar, não devidamente preparado, o Rito do Batismo, suporia se encontrar em uma situação cheia de perigo, pois o influxo do poder espiritual que acompanha o Batismo, assim como pode proporcionar a iluminação ao devidamente preparado, acarretará a destruição dos veículos indevidamente limpos e qualificados.
Certos centros dos Corpos invisíveis do ser humano são especialmente sensíveis à influência espiritual que acompanha o Rito do Batismo. Quando o oficiante dessa cerimônia está suficientemente avançado, dirigirá seu olhar interior para esses centros e acondicionará o trabalho às características do desenvolvimento do Aspirante. A posse por São João Batista dessa faculdade, foi o que lhe revelou a exaltada posição de Jesus e o fez se sentir indigno de batizar a uma alma já iluminada. As palavras da invocação empregada pelos primeiros cristãos na cerimônia do Batismo eram como uma melodia para o ansioso e expectante devoto: “Abre teus olhos e ouvidos e penetra no doce sabor da vida eterna”.
Ainda que a igreja tenha esquecido, já há muito tempo, as verdades internas associadas às cerimônias que continua praticando, muito do seu simbolismo permanece perfeitamente, como pode rapidamente se comprovar a quem se familiarize com os processos implicados na recepção dos diversos Graus que pertencem aos Mistérios Cristãos e conduzem ao Monte da Iluminação. O que segue ilustra isso: a Quaresma culmina com o Sol em Peixes, quando os raios desse Signo da Água se derramam sobre a Terra. Esse é o último ato das Hierarquias Zodiacais antes de se produzir a liberação do fogo celeste, por meio do Signo de Áries, que provoca o nascimento do ano novo espiritual ou Rito da Ressurreição na Páscoa. Então, ocorre uma união alquímica entre a Água de Peixes e o Fogo de Áries, resultando em um incremento de luz e de poder para a vida abundante. No indivíduo isso supõe misturar, no Corpo de Desejos, do Fogo, elemento à que esse pertence. Para comemorar esse fato alquímico, que ocorre na natureza durante a Páscoa, a igreja atualmente conserva o ritual do Sábado Santo, quando se bendiz o “novo fogo”, enquanto é conduzido, em procissão, e logo se “mistura” com a água benta que, desde então, se denomina, corretamente, “Água Pascoal”. Nenhuma água pode ser denominada assim, salvo à que mistura, simbolicamente, o fogo bento com a água benta.
Durante a procissão, o “eleito”, que recebe as bênçãos do “novo fogo”, canta triunfante: “Cristo é a nossa luz”, e a isso outro cantor responde: “Que Sua luz ilumine nossos corações”. Na igreja primitiva, a pia batismal tinha a forma de tumba, para representar a morte do velho e o nascimento do novo, que ocorria ao celebrar o Rito do Batismo.
Assim de rico e verdadeiro é o simbolismo que a igreja moderna conservou em muitos dos seus ritos, ainda que muito poucos dos que os observam compreendem seu significado espiritual interno. Verdadeiramente, a luz que a Iniciação proporcionava nesses Mistérios se perdeu em nosso tempo, não só para as multidões, mas para a maior parte dos que ensinam e dirigem. Faz muito tempo que os sacerdotes deixaram de serem recrutados entre os Iniciados, com o resultado de que, ainda que persistam as antigas e verdadeiras fórmulas, o espírito que as informava se perdeu no tempo.
O texto utilizado pelos Aspirantes no Sábado Santo era o Cântico dos Cânticos, de Salomão, já que ele descreve o Matrimônio Místico. A igreja, posteriormente, acrescentou o capítulo treze do Evangelho de São João, para o estudo contemplativo desse dia santo. Ele era empregado durante a cerimônia do Lavatório dos Pés do recém-batizado.
No Ritual do Sepulcro Vazio, Cristo, como indicador do caminho para toda a humanidade, ensinou a Seus seguidores o último e mais difícil trabalho que deve se executar no Mundo Físico. Esse trabalho consiste na transmutação da matéria em espírito. Quando o ser humano tiver aprendido, adquirirá o domínio da enfermidade, da idade e da morte. Na terminologia esotérica essa consecução se alcança com a Iniciação pertencente à Terra, o mais denso dos Quatro Elementos. É a última das Quatro Grandes Iniciações ou Iniciações Maiores. Quando a luz dessa sublime iluminação estiver dispersada, altares a Cristo serão erigidos, tanto em nossos laboratórios físicos, como em nossas igrejas. O espírito que está subjacente e por trás da matéria será reconhecido.
Com a Iniciação da Terra chega à liberação da Roda de Nascimentos e Mortes. A necessidade de renascer já não mais existe, porque todas as lições da Terra já foram aprendidas. O espírito do ser humano é, pois, livre para continuar seu desenvolvimento em outras esferas elevadas, ou permanecer com a humanidade para ajudá-la a alcançar o nível que ele também já alcançou. Tais seres são os graduados da humanidade, os Mestres da Sabedoria e nossos Irmãos Maiores de Compaixão.
São Pedro também passou pelo Ritual da Morte Mística naquele amanhecer de Páscoa, antes de receber o Grau de Mestre. Junto com a Virgem Maria e São João chegou à tumba vazia e, segundo o Evangelho, entrou só, ficando de fora os outros. Esse incidente, traduzido simbolicamente, destaca o fato de que os dois que ficaram de fora já tinham experimentado a entrada no “sepulcro” e a saída triunfante dele. Nesse momento estavam ajudando a São Pedro a passar à exaltação gloriosa de consciência que eles já possuíam.
Por meio do processo da Iniciação, a mortalidade se veste de imortalidade. Esse é seu único objetivo e essa é sua única meta. Para a consciência do Iniciado a vida e a morte não são senão aspectos diferentes do progressivo desenvolvimento do espírito. Sabendo disso, o cerimonial dos enterros, entre os primeiros cristãos, era um rito glorioso. A vida era seu tema. Colocavam no ataúde folhas de hera e de louro e um texto completo dos Evangelhos sobre o coração. Aqueles que estavam esperando eram portadores de ramos de oliveira e palmas e a procissão até a tumba era caracterizada não por luto ou lamentação, mas pelo som de regozijosas hosanas. O vestuário era de acordo com esse sentimento; nada escuro como a tumba, mas brilhante como a luz que saúda a alma, pelo seu nascimento nos planos espirituais. As tumbas dos primeiros cristãos tinham uma forma de cruz, como reconhecimento pelo fato de que o corpo da mortalidade que se abandona é a cruz da matéria, de que a alma fica liberada com a morte e o corpo do qual o espírito se libera, quando alcança a luz da Iniciação.
Durante o intervalo entre a Crucifixão e a Ressurreição (desde a tarde da Sexta-feira até a manhã do Domingo) o espírito de Cristo trabalhou no interior do Planeta Terra, como se há dito antes. “Desceu aos infernos”. Tal é a frase do Credo para significar Sua entrada nas regiões inferiores do Mundo do Desejo da nossa Terra, onde Ele foi levar Seu Evangelho às almas desencarnadas e também no plano das trevas. Cristo, portanto, veio para ajudar, não somente a humanidade encarnada, mas também a seus membros desencarnados. Sua missão se estendeu ainda mais, à redenção dos Espíritos Lucíferos caídos, cujo plano de atividade é o Mundo do Desejo, e até dos demais reinos de seres viventes sobre a Terra, que experimentaram o atraso na sua evolução, como consequência da “Queda do Homem”, seu irmão maior. Tal é o aspecto de inclusão total de Seu trabalho redentor.
As primeiras horas da manhã da primeira Páscoa várias mulheres chegaram ao sepulcro vazio, além da bendita mãe Maria e de Maria Madalena. Eram: a irmã da mãe da Virgem; a também Maria, mãe de Judas (Tadeu) e São Tiago (o Menor); Salomé e Joana, esposa do mordomo de Herodes, Chuza. Todas as mulheres estavam ali, se preparando para entrar na Morte Mística e experimentar a iluminação que segue o Rito da Ressurreição. Os dois Anjos que vieram ao sepulcro vazio representam o purificado Corpo de Desejos e o luminoso Corpo Vital do candidato que está preparado. A consecução mais elevada que aguardava a essas mulheres pode ser deduzida das palavras que o Mestre lhes dirigiu, ordenando-as: “Ide a Galileia e ali me reunirei com vocês”[73]. Segundo o Zohar, “a ressurreição completa começará na Galileia. A ressurreição dos corpos – continua afirmando – será como o se abrir das flores. Não haverá a necessidade de comer ou beber, porque seremos alimentados pela glória do Shekinah”.
Os essênios, que tão reverentemente preservaram os conhecimentos dos Mistérios Pascais, continuaram entoando orações e hinos de louvor durante a noite do Sábado Santo e do Amanhecer de Páscoa, ao longo dos anos em que seu grupo permaneceu ativo.
CAPÍTULO XVI – O AMANHECER DA PÁSCOA
O Rito da Ressurreição é o Rito da vida impessoal. Durante a experiência da Morte Mística, o Discípulo se conscientiza das ilusões da matéria e das limitações da vida finita. A consciência da Ressurreição produz a comprovação da unidade de toda a vida em Deus. A pedra da separação foi removida. Por isso, quem passou por essa sublime experiência sabe que nenhum dano pode afetar a uma parte sem ferir o todo, e que nada bom pode suceder a alguém sem que, ao mesmo tempo, beneficie a todos.
Quem chega a conhecer a glória da ressurreição não pode mais ferir e nem matar, nem sequer a seus irmãos menores do reino animal, posto que eles são expressões viventes da mesma vida que vive e se move e tem seu ser no ser humano. Com a consciência da ressurreição a paixão do Corpo de Desejos não regenerado se converte na compaixão do espírito, que tudo abarca. O recém-nascido é banhado na dourada refulgência do Cristo Ressuscitado, e se faz um com Ele, na comprovação de que a morte se converteu na vitória da vida eterna.
A meditação sobre a experiência transcendental da Ressurreição proporciona uma compreensão e reverência maiores pelo significado interno daquela saudação que os Cristãos esotéricos se dirigiam, durante a radiação do amanhecer da Páscoa, à luz de sua própria iluminação interior: “Cristo é nossa Luz”.
Durante os anos seguintes, a noite de Sábado Santo e a manhã do dia da Páscoa foram os tempos de Iniciação para as almas avançadas, cujas vidas e obras se mencionam nos Evangelhos. E deve ter ocorrido muitas outras, não mencionadas, conforme atestam as palavras do Evangelho de São João: “Muitas outras coisas Jesus fez na presença dos Seus Discípulos, que não estão escritas nesse livro”[74]. Ainda mais tarde, São Gregório escreveu um formoso hino descrevendo a santa dedicação de Maria à mística saída do Sol, enquanto antigas lendas asseguram que foi a ela a quem o recém-ressuscitado Mestre apareceu primeiro.
Maria, a Virgem, passou pelo Terceiro Grau ou Grau do Mestre aos pés da cruz; e Maria Madalena, ao amanhecer do primeiro domingo da Páscoa, quando encontrou o Mestre no jardim.
Nesse Grau, a consciência é elevada aos planos espirituais superiores. Isso só é possível sob a supervisão de um Mestre. Por isso, antes que tal elevação da consciência ocorresse, Maria não reconheceu a seu Mestre em Seu resplandecente corpo espiritual, e só quando a ajudou a elevar gradualmente sua consciência aos planos em que Ele estava funcionando, ela O reconheceu em Sua glória transcendente. Foi, então, quando ela se prostrou de joelhos, com humildade, e se dirigiu a Ele como “Rabôni”, que significa “elevadíssimo Mestre”.
No Evangelho de São Lucas se recorda o passeio memorável para Emaús. Cleofás, pai de São Tiago (o Menor) e Judas (Tadeu), junto com outro dos Discípulos caminhavam para a pequena aldeia, na periferia de Jerusalém, quando, repentinamente, apareceu a eles o Mestre e os acompanhou até sua casa, onde abençoou seu jantar. Entretanto, até o momento em que Ele partiu o pão para eles, esses não reconheceram Sua verdadeira identidade. No cerimonial da Última Ceia O haviam visto derramar Sua radiante força vital sobre o pão, até convertê-lo em um foco luminoso de poder curativo. Nessa segunda vez, partiu o pão da mesma maneira e por isso reconheceram que quem estava entre eles não era outro que o próprio Cristo ressuscitado. Ainda que não houvessem alcançado o suficiente desenvolvimento para reconhecê-Lo, ao se encontrarem com Ele no caminho, se se tivessem feito credores, sem dúvida alguma, a caminhar em Sua presença e companhia, O reconheceriam no nível em que então Ele funcionou. Imediatamente Cristo desapareceu da vista deles e eles se dirigiram, apressadamente, a Jerusalém para proclamar a regozijosa notícia de Sua aparição.
À Noite da Páscoa, os Discípulos mais intimamente associados ao Mestre se reuniram na Sala Superior, que ainda vibrava com a força nela liberada durante a Santa Ceia. E, enquanto recebiam aos dois de Emaús e escutavam, ansiosos, seu regozijoso relato, Cristo apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco. Olhem para minhas mãos e meus pés” – e adicionou – “Sou Eu mesmo”.
Tudo isso não é senão uma descrição enigmática do que ocorreu. O Mestre estava, então, ensinando a Seus Discípulos como “soltar os cravos”, por assim dizer, do Corpo físico. Existem outros pontos pelos quais os dois Corpos estão ligados, mas os das mãos e os dos pés são os mais difíceis de se soltar. Daí a dor e as “feridas sagradas” ou “Estigmas”, na linguagem da igreja. E, como o trabalho de separar o Corpo Vital do Denso pertence ao Terceiro Grau, o da Iluminação, está claro que os reunidos, aos que Cristo apareceu, estavam sendo preparados para esse Grau dos Mistérios Cristãos.
São Tomé não estava entre eles. Ainda não havia alcançado o Segundo Grau, o da Clarividência. Entretanto, no sábado seguinte, na mesma Sala Superior, Cristo ordenou à São Tomé incrédulo, aparecendo a ele, que colocasse suas mãos nas “marcas dos cravos”. Feito isso, ele acreditou, ou seja, obteve o conhecimento, de primeira mão, que lhe abriu as portas da Iniciação do Segundo Grau.
Na segunda-feira da Páscoa o Mestre apareceu de novo aos seus Discípulos mais avançados, junto ao Lago de Tiberíades. Estavam no grupo São Pedro, São Tiago, São João, São Natanael e São Felipe. São Pedro, ao que se refere ao ocorrido, anunciou sua intenção de pescar. Seus companheiros concordaram e, subindo na barca, se lançaram ao Lago. Durante toda a noite nada pescaram. Ao amanhecer, viram a Jesus, de pé, na margem. Dirigindo-se a eles, lhes disse: “Lançai a rede à direita do barco e achareis”[75]. Assim o fizeram e a pesca foi abundante. Quando São Pedro soube por São João que era o Mestre que estava entre eles, se lançaram às águas para ir ao Seu encontro e levou logo a rede, repleta de peixes, para a terra.
Esse incidente é descrito no capítulo 20 do Evangelho Segundo São João, o mais esotérico de todos os Evangelhos, escrito pelo Discípulo mais próximo e mais amado do Mestre. A experiência nele descrita é toda espiritual e ocorreu nos planos internos. O Lago simboliza o plano etérico e a barca, o Corpo-Alma, no qual o ser humano funciona em dito plano. O peixe é o símbolo dos Mistérios Ocultos ou verdade esotérica. O número de peixes pescados, 153, fornece o valor numérico de nove, o número da evolução humana, e indica que a humanidade inteira será salva quando Cristo Cósmico for universalmente reconhecido como Salvador do Mundo.
São Pedro estava, então, recebendo as instruções para alcançar o Terceiro Grau ou o Grau do Mestre. A ele, e aos que se encontravam com ele, o Mestre estava ensinando como “Lançar a rede à direita do barco” ou, em outras palavras, como se sintonizar com as correntes da direita ou positivas da Terra. Essas correntes estão sob o domínio de Mercúrio, deus da Sabedoria, regente das emoções.
Então, os novos Discípulos alcançaram os poderes do Grau de Mestre que os capacitaram, nas palavras do Evangelho Segundo São Marcos, a expulsar demônios “em Meu nome”. E falaram novas línguas, pegarão serpentes e se beberem algum veneno, não lhes fará nenhum mal; imporão as mãos aos doentes e esses ficarão curados (Mc 16:17:18).
Desde o primeiro grande derramamento do Fogo no Pentecostes, a humanidade tem se voltado, invariavelmente, para o mundo do materialismo, o que faz com que os poderes do espírito se tornem cada vez menos aparentes. Contudo, desde seu longo “enterro” está destinada a experimentar uma ressurreição universal no Novo Dia que já está amanhecendo. Um outro tempo de “milagres” está se avizinhando; um segundo Pentecostes se aproxima. Do cântaro de Aquário está sendo derramado sobre a Terra um novo fogo do céu, destinado a despertar a humanidade para novas realizações espirituais, e a criar as circunstâncias que tornarão possível o retorno do Espírito de Cristo, para completar a consciência dos seres humanos, do mesmo modo que Ele se manifestou a Seus associados durante os dias de Sua primeira vinda.
A Ressurreição de Cristo não é só um acontecimento histórico para uma mera celebração eclesiástica. É um festival cósmico recorrente. É um incremento anual, tanto físico como espiritual, de vida, para a experiência presente e para o desenvolvimento futuro do ser humano. Só quando essa experiência for assimilada interiormente, a humanidade poderá compreender o significado transcendental dos sagrados Mistérios da Páscoa.
CAPÍTULO XVII – O INTERVALO ENTRE A RESSURREIÇÃO E A ASCENSÃO
Uma das fases mais importantes da missão de Cristo sobre a Terra consistiu em disponibilizar os Mistérios Cristãos para a humanidade. Os Pais da Igreja primitivos fazem muitas referências a esses ensinamentos secretos. Orígenes[76], um dos mais importantes entre eles, alude frequentemente aos ensinamentos ocultos, o mesmo que Tertuliano[77], que devia estar familiarizado com eles, já que alega ter sido um Iniciado dos Mistérios de Mitra, antes de encontrar o Cristianismo.
Quando Cristo disse a alguns eleitos “siga-me” estava formulando o primeiro Caminho do Discipulado, que conduz aos Mistérios Cristãos. O Aspirante moderno, ao contemplar as magníficas igrejas dos nossos dias, com todo conforto, espaço e luxo, dedicadas à memória de distintos Discípulos, estão inclinados a esquecer da vida que esses homens e mulheres viveram, quando estavam sobre a Terra. Foram empurrados, de um lugar para outro, pelas mais horríveis perseguições, vivendo em covas e sem se atrever a mostrar seu rosto em nenhuma praça pública. Nenhum visitante de Roma pode se esquecer das catacumbas, escuras e sombrias passagens subterrâneas, de muitos quilômetros de comprimento, nas quais muitos Cristãos primitivos viveram durante muitos anos. Aparentemente a única recompensa a tantos anos de sacrifício e força eram os animais selvagens no circo ou o martírio na cruz de seu próprio Gólgota. No entanto, apesar disso, aqueles bravos homens e mulheres possuíam uma coragem interna e uma alegria anímica como poucas pessoas tinham jamais conhecido. Encontraram essa “grande paz que sobrepassa todo o entendimento”. Aprenderam a dizer, como São Paulo: “nenhuma dessas coisas me comove”[78], porque alcançaram uma das mais difíceis consecuções no Caminho do Discipulado: encontraram o Reino dos Céus dentro deles mesmos.
Durante a Semana da Paixão, o intervalo entre o Domingo de Ramos e o dia da Páscoa, que se chama Semana Santa, Cristo deu a Seus Discípulos muitos princípios-chaves relativos ao trabalho do Discipulado no Mundo Físico externo[79]. Durante semana entre a Páscoa e o seguinte domingo ou Oitava de Páscoa, chamada de Semana Pascoal, Ele lhes proporcionou muitos princípios-chaves relativos ao trabalho do Discipulado nos Mundos internos ou espirituais.
Foi durante aquele amanhecer místico no princípio de manhã da Páscoa quando os seguidores de Cristo viram, pela primeira vez, a fulgente glória do corpo solar do Mestre.
Aos três Discípulos mais adiantados foi permitido contemplar aquele corpo de luz no Monte da Transfiguração, mas esse privilégio só o puderam alcançar, a maior parte dos Seus Discípulos, no Rito da Ressurreição ou alvorada da Páscoa.
Durante os três anos de ministério de Cristo na Terra Ele apareceu no corpo físico do Mestre Jesus. Esse instrumento humano, para esse plano terrestre, era uma pálida sombra comparado com a luminosa radiação do corpo solar de Cristo, que é Seu veículo no Sol espiritual e no plano de Capricórnio, morada dos Arcanjos.
Foi durante esse tempo maravilhoso para o espírito, que vai da Ressurreição à Ascensão, quando os Discípulos viam, diariamente, o Cristo em seu glorioso corpo, que São João descreve como “mais branco que a neve e mais brilhante que o Sol”[80]. Os acontecimentos que ocorreram durante esse transcendental período de quarenta dias, como já foi dito, se realizaram, em sua maior parte, nos planos espirituais e só os Discípulos capazes de funcionar, conscientemente, nos Mundos superiores puderam participar desses eventos. Esses sublimes acontecimentos, descritos nos últimos capítulos do Evangelho de São João, eram parte da preparação, mediante a qual os Discípulos foram acondicionados para o mais elevado sucesso espiritual da vida humana, descrito biblicamente como a Festa de Pentecostes.
No amanhecer da Páscoa, quando Cristo apareceu à Maria Madalena – uma das mais elevadas Discípulos femininos – na glória de Seu corpo arcangélico, ela provou a extensão de seus poderes de clarividência. Logo, na mesma manhã, as Escrituras nos informam: “Depois disso, Ele se manifestou de outras formas” (Mc 16:12).
O ser humano possui outros Corpos, de substância mais tênue que o físico. O Corpo Vital é composto de material da Região Etérica do Mundo Físico; o Corpo de Desejos é composto de material do Mundo do Desejo; a Mente, de substância do Mundo do Pensamento Concreto; e os veículos espirituais, da substância espiritual de seus Mundos. O Mestre Iniciado pode atrair, facilmente, para Si átomos pertencentes a esses Mundos, revestindo-se de um Corpo dessa determinada substância. Com a mesma facilidade pode dissolver esse Corpo, quando já não lhe é mais necessário, e devolver os átomos à substância universal de onde vieram, o que explica o mistério do sepulcro vazio, tanto tempo objeto de disputas entre as distintas igrejas. Todos que transcenderam o elevado estado de Iluminação, conhecido como Iniciação da Terra, obtiveram o completo e absoluto controle de todos os átomos e pode dissociá-los e desagregá-los à vontade, que é o que fez o Cristo antes de Sua Ressurreição, já que não necessitava daquele Corpo físico, por ter concluído Sua missão na Terra.
O Mestre apareceu àquelas mulheres revestido em Seu Corpo Vital, pois a visão delas não era tão profunda como a de Maria Madalena. No caminho de Emaús, segundo as Escrituras, “seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo”[81]. Logo, seguem dizendo: “Então seus olhos se abriram e O reconheceram”[82]. Essas afirmações se referem ao desenvolvimento da clarividência. O poder da clarividência e a faculdade de abandonar o corpo físico à vontade, como um Auxiliar Invisível, são duas das fases mais familiares do Discipulado Cristão e, nos livros do Novo Testamento há, frequentemente, referência a essas duas etapas.
A noite de Páscoa, durante o acontecimento já descrito, quando o Mestre apareceu aos Discípulos na Câmara Superior, com as portas e janelas fechadas e trancadas, estava lhes ensinando que a matéria física não pode nunca constituir uma barreira intransponível para o Corpo do Espírito. É essa uma verdade que podem atestar muitos Estudantes dos fenômenos psíquicos.
No dia seguinte, no Mar da Galileia, Cristo ensinou aos Seus mais avançados Discípulos como desenvolver e empregar certas correntes espirituais internas. O desenvolvimento e o emprego apropriado das mesmas protegerão sempre o Discípulo das furiosas investidas psíquicas, da influência sinistra de desencarnados apegados à Terra e dos terrores da obsessão. Nenhum Discípulo deve se arriscar a trabalhar nos planos psíquicos se não aprendeu como se proteger com o escudo e a armadura da luz branca e pura.
“Já amanhecera. Jesus estava de pé, na praia, mas os discípulos não sabiam que era Jesus.
Então Jesus lhes disse:
‘Jovens, acaso tendes algum peixe?’.
Responderam-lhe: ‘Não!’.
Disse-lhes:
‘Lançai a rede à direita do barco e achareis’.
Lançaram, então, e já não tinham força para puxá-la, por causa da quantidade de peixes. Aquele discípulo que Jesus amava disse então a Pedro:
‘É o Senhor!’.
Simão Pedro, ouvindo dizer ‘É o Senhor!’, vestiu sua roupa — porque estava nu — e atirou-se ao mar. Os outros discípulos, que não estavam longe da terra, mas cerca de duzentos côvados, vieram com o barco, arrastando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas, tendo por cima peixe e pão.
Jesus lhes disse:
‘Trazei alguns dos peixes que apanhaste’.
Simão Pedro subiu então ao barco e arrastou para a terra a rede, cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes; e apesar de serem tantos, a rede não se rompeu.
Disse-lhes Jesus:
‘Vinde comer!’.
Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: ‘Quem és tu?’, porque sabiam que era o Senhor.” (Jo 21:4-12)
Aqui, como já foi dito, está contida um dos mais profundos ensinamentos dados por Cristo durante todo o Seu ministério. É a continuação do trabalho profundo esotérico, antes aludido, da Segunda-feira da Páscoa. Sua ação não se desenvolveu no plano físico, mas no Mundo interno em que os Discípulos atuavam em seus veículos espirituais. Dado que o peixe é um habitante das profundidades, sempre foi o símbolo religioso dos acontecimentos esotéricos profundos. Esse símbolo foi utilizado amplamente pelos primeiros Cristãos, durante o período de sua intensa perseguição. Não se tratada de homens que pescavam e vendiam peixes como meio de vida, mas de Discípulos treinados sob a orientação de São João Batista para receber os ensinamentos esotéricos profundos que Cristo ensinaria. Um princípio-chave desse fato está na menção que se faz do favo de mel. Se se tratasse de um evento físico natural, certamente não resultaria muito apetitosa a comida composta de peixe e mel. Essa última é utilizada, desde tempos imemoriáveis, nas cerimônias de Iniciação. Nos antigos Mistérios, quando o Aspirante tinha passado com êxito em determinadas etapas, ele era jubilosamente recebido, dando a ele boas-vindas, pelos seus companheiros iniciados, que compartilhavam com ele a ambrosia, bebida de ação de graças, composta de mel e algumas ervas. Portanto, mediante o uso simbólico do peixe e do mel, significa que os mais adiantados entre os Discípulos do Mestre foram apresentados nas mais profundas verdades esotéricas dos primeiros Mistérios Cristãos.
Durante o intervalo entre a Ressurreição e a Ascensão os Discípulos foram recompensados pelos longos anos de sacrifício e renúncia. As maravilhosas glórias daqueles dias santos encheram de revelações divinas as horas de íntima e terna comunhão com o Senhor ressuscitado. Só os que estavam suficientemente evoluídos para funcionar, conscientemente, nos planos internos puderam experimentar a glória do intervalo entre a Ressurreição e a Ascensão. Esses dias sagrados se situam, verdadeiramente, entre o céu e a Terra. Nunca poderiam ser descritos com meras palavras. São João se refere a eles nas palavras finais de seu Evangelho: “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam”[83].
Os dias santos culminaram com a Ascensão. Sempre o Mestre deu ênfase a Seus Discípulos sobre o milagre daquele dia em que desenvolveram todos os poderes crísticos em si mesmo, acontecimento ao que Ele chamava “ser investido com os poderes do alto”[84]. No grande dia de Pentecostes se converteram em seres inspirados e iluminados, mensageiros e mestres do perfeito Caminho de Cristo.
No Rito da Ascensão, Cristo reuniu ao Seu redor os Seus mais avançados Discípulos e, enquanto os abençoava, O viram se elevar, cada vez mais, aos planos espirituais, tão longe que, finalmente, nem sequer sua visão clarividente pode segui-lo, enquanto hostes de Anjos cantavam regozijosos: “assim como O haveis visto se elevar, assim regressará”.
Durante o período de quarenta dias que vai desde a Ressurreição até à Ascensão, os Discípulos, não só viveram uma experiência espiritual riquíssima e reconfortadora, senão que Cristo mesmo foi um canal para o fluxo e refluxo renovador do crescente poder espiritual. Foi dito diversas vezes, ao longo do Livro A Interpretação da Bíblia para a Nova Era, que cada acontecimento importante na vida de Cristo representa uma etapa Iniciática no desenvolvimento espiritual do ser humano. Esses sucessos representam, também, progressivas Iniciações na vida do Mestre.
Com a Ascensão, Cristo passa aos mais elevados planos espirituais da esfera terrestre que, biblicamente, se descrevem como “o Trono do Pai”. Converte-se, assim, em um canal para o derramamento das forças das Doze Hierarquias Zodiacais, incluindo os Serafins, Querubins e Senhores da Chama. Com a Ascensão, ou Solstício de Junho, cada átomo da Terra fica impregnado da luz-glória desse divino poder espiritual. No Solstício de Dezembro, o coração da terra se torna luminoso com a luz de Cristo.
No entanto, Suas emanações são tão elevadas que a maioria da humanidade o percebe muito parcialmente ou não percebe nada. A estação do Natal se celebra universalmente, mas a festa do Solstício de Junho passa quase sempre despercebida. E, ainda que isso é certo no plano físico, é muito diferente no Mundo espiritual.
Ali os Anjos e Arcanjos celebram as festividades. A beleza, o esplendor e o poder espiritual que impregnam, tanto o céu como a Terra, nessa elevada época, não podem se descrever adequadamente pela linguagem humana, mas está além do que pode se ver pela visão humana.
A exaltada glória da festa da Ascensão pertence a um elevado estado do ser que a humanidade, no desenvolvimento continuado, alcançará um dia no curso de sua própria ascensão até a Iluminação.
Há uma lenda que conta que, pouco depois da Ascensão, Cristo, no plano celeste, estava rodeado por muitos profetas do Antigo Testamento contemplando, encostados na beira do mundo, aos Discípulos na Terra, atarefados em ensinar e curar a multidão que os seguiam, quando um dos profetas disse a Cristo: “é uma lástima que hajas deixado o mundo tão cedo, quando ainda há tanto trabalho”. Cristo replicou: “Eu não deixei a Terra. Enquanto houver Discípulos que façam o que Eu fiz e digam o que Eu disse, estarei entre eles”.
Não é essa a prova mais impressionante e desafiante para o Discípulo, a todo tempo, e a todo momento? O praticar uma dedicação e uma consagração tão completas, que os pés não caminham senão por Seus caminhos, que as mãos ministrem em Seu nome, e que os lábios não falem senão d’Ele, constitui o verdadeiro significado do Discipulado. Quem quer que passe nessa prova, será considerado digno de participar do mesmo glorioso intervalo de comunhão com o Senhor Cristo, do mesmo modo que os primeiros Discípulos desfrutaram naquele primeiro período entre a Ressurreição e a Ascensão.
TERCEIRA PARTE – A TRILHA DA SANTIDADE OU O CAMINHO DE CRISTO
ESTUDO DO CAMINHO ATRAVÉS DOS DOZE PORTAIS ZODIACAIS
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida
(Jo 14:6)
Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram.
Mt 7:13-14
Ali haverá uma estrada — um caminho que será chamado caminho sagrado. O impuro não passará por ele. Ele mesmo andará por esse caminho, de modo que até os estultos não se desgarrarão.
Is 35:8
Tais veredas não as conhece o abutre, nem as divisa o olho do falcão; não as percorrem as feras arrogantes, nem as atravessa o leão.
Jo 28:7-8
Mas, já que ele conhece o meu proceder, que me ponha à prova, dela sairei como ouro acrisolado
Jo 23:10
… dar-vos-á o pão da angústia e água racionada; aquele que te instrui não tornará a esconder-se, sim, os teus olhos verão aquele que te instrui. Teus ouvidos ouvirão uma palavra atrás de ti: “Este é o caminho, segui-o, quer andeis à direita quer à esquerda”.
Is 30:20-21
Este é o único (Caminho), meu filho, a Trilha (que conduz) à Verdade, (a Trilha) sobre o qual os nossos predecessores puseram seus pés e, assim fazendo, encontraram o Bem.
Solene e suave é esse Caminho, mas difícil de percorrer pela alma quando ainda está no corpo.
Pois, primeiro, você tem que lutar consigo mesmo, produzindo uma grande dissensão, e conseguir que a vitória faça parte (de você mesmo).
Pois, há um embate um contra os dois, o primeiro tentando escapar e por último tentando arrastar para baixo.
E há grande disputa e batalha (horrenda) destes contra o outro, aquele que quer fugir e os outros que querem ficar.
A grande disputa e batalha (horrenda) destes contra o outro, aquele que quer fugir e os outros ficarem.
Um anseia por ser livre; os outros amam sua escravidão.
Você, (meu) filho, deve primeiro deixar seu corpo para trás, antes que ele chegue ao fim, e sair vitorioso na vida de conflito, e então, como um triunfante, dirigir seu caminho de volta para casa.
Hermes Trismegisto
Sacrifício, estudo, entrega, ascetismo, verdade, perdão, bondade e alegria constituem os oito caminhos da retidão. Os quatro primeiros podem se seguir pela soberba, mas os outros quatro só se dão nos verdadeiramente grandes.
El Mahabharata
Todos os povos celebram o ano novo relacionando-o com o passo do Sol por determinado ponto da Eclíptica[85]. Existem quatro pontos dessa classe que os astrônomos chamam de Equinócios e Solstícios. Alguns povos celebram o ano novo no Equinócio de Março; outros no de Setembro; e alguns outros no Solstício de Junho ou de Dezembro.
Os antigos hebreus desenvolveram dois calendários: um secular e outro sagrado. O ano novo, no antigo calendário secular, começava com o mês de Tishri[86], aproximadamente, no Equinócio de Setembro. O ano novo sagrado que, aparentemente, adotaram dos babilônios, mas que foi sancionado por Moisés (Ex 13:4), caía, aproximadamente, no Equinócio de Março. Sua Páscoa se celebrava como uma festa dessa estação. As festas hebreias dependiam da posição relativa da Lua e do Sol, e a Lua Nova constituía o primeiro dia de cada mês.
Essa correlação enfatizava a influência Jeovística lunar e, assim, foi fixada pelos Iniciados, que compreendiam a correlação entre as forças espirituais e materiais. O Dia da Expiação, o ano novo civil, e o do Juízo se celebravam na época do Equinócio de Setembro, e nele se seguem sendo celebrados. Estavam sintonizados com as forças que fluíam, através do universo, nesse tempo, com particular intensidade, incidindo sobre a Terra de um modo especial. A constelação na qual o Sol cruza o equador celestial em setembro é Libra, o Signo da balança no simbolismo astrológico, e associada aos ideais de justiça e equilíbrio.
Desde a vinda do Cristo é dado maior ênfase espiritual ao Sol, ao calendário solar e ao Equinócio de Março, mas isso não alteraram as verdades conhecidas pelos antigos Iniciados. E assim, e pelas razões que se exporão nas próximas páginas, para os neófitos na Trilha da Santidade conducente à Iniciação em Cristo, ainda existe a alma do ano novo, celebrada em setembro, quando o Sol cruza o equador no Signo, que não é na constelação, de Libra.
À luz da lenda astrológica cristã que tende, naturalmente, a correlacionar os fenômenos astrológicos com os ensinamentos bíblicos, antes da “Queda do Homem”, Virgem e Escorpião estavam unidas em uma única constelação. Depois da “Queda do Homem” foram separadas e, entre ambas se intercalou a Libra. As marcas astronômicas dessa lenda são ainda discerníveis no céu: a constelação de Libra é uma das mais extensas, alcançando, em seu estado natural, desde os aproximadamente vinte e quatro graus de Virgem, todo o Signo de Libra, e os primeiros cinco graus do Signo de Escorpião; tudo isso medido nos tempos atuais e quando o Equinócio de Março está, aproximadamente, no 10º grau de Peixes.
Acreditamos que os Estudantes observaram que distinguimos Constelações de Signos. As constelações são as estrelas visíveis aos nossos olhos. Os Signos são divisões matemáticas, arbitrárias, do espaço, medidos desde o Equinócio de Março, ao longo da Eclíptica e constituídos por segmentos de trinta graus, o primeiro dos quais se chama Áries; o segundo, Touro; o terceiro, Gêmeos, e assim ao longo de todo o Zodíaco. Houve um tempo em que essas divisões matemáticas do espaço ao longo da Eclíptica, ou caminho do Sol, coincidiam com o Zodíaco natural, tal como aparece no céu. Os gregos, da mesma forma que os povos da antiguidade, utilizaram primeiro o Zodíaco natural, mas logo recorreram às divisões matemáticas iguais, por razões de conveniência astronômica.
Dizia-se que Hiparco[87] foi que liderou essa alteração, mas os arqueólogos demonstraram que os babilônios utilizavam doze subdivisões do Zodíaco muito antes dos tempos de Hiparco. É, portanto, evidente que os babilônios calcularam a dimensão da Precessão dos Equinócios antes que Hiparco. No que se refere à civilização europeia, foi nos idos do século II a.C. que o sistema moderno de Signos do Zodíaco suplantou o antigo sistema, de divisões desiguais do Zodíaco e, desde então, é o que se vem usando.
Para os gregos, Virgem era Astreia[88], a Virgem dos Céus. Sustentava em sua mão a balança do Juízo (Libra) que se estendia no céu, ocupando o espaço do que, agora, chamamos de Escorpião. Outro sistema, e pela mesma razão, denomina a Libra “a pinça” de Escorpião.
Libra, pois, como uma pedra muito pequena, está no lugar da decisão anímica, apontando, de um lado, para a trilha da pureza, da castidade e da imaculada concepção, simbolizada por Virgem, e do outro lado, para a geração, simbolizada por Escorpião, o Signo da oitava Casa, que estabelece que toda a forma concebida no modo atual, mediante a geração, deve morrer.
Todo neófito deve chegar a essa bifurcação do Caminho, como uma prova, antes de ser julgado digno de receber a luz que a sua alma anseia. Os egípcios representavam esse estado de consciência por meio da figura de um homem com os olhos vendados, caminhando para um precipício, onde um enorme crocodilo o esperava. Nenhum outro símbolo poderia descrever melhor o estado atual da humanidade. Cego pelos seus cinco sentidos, de onde as fauces abertas do materialismo (o crocodilo) estão preparadas para o engolir.
A personificação da Justiça (Libra) é representada, convencionalmente, com os olhos vendados, dada que sua ação é impessoal. Não influenciada pela preferência nem pelo prejuízo mental, percebendo com clara visão interior, os efeitos das causas anteriores em sucessivos ciclos de renascimento. Quando a visão espiritual se converta em uma faculdade comum de toda a humanidade, a Justiça deixará de ser representada com os olhos vendados. E, pelo contrário, contemplará, sem medo e compassivamente, o ser humano e seu mundo, com os olhos abertos.
Nas outras constelações do Zodíaco encontramos, simbolizada, a “Queda do Homem”. O Cristianismo Esotérico reconhece que essa “Queda” constituiu um fenômeno cósmico desse globo físico em relação tanto com o universo, como com a humanidade que nele habita. Dado que cada ser humano é um cosmos em miniatura, também ele encarna a história da queda planetária. Quando entra no Caminho da Iniciação, conhecido na Bíblia como a “Trilha da Santidade”, começa a marcar seu caminho de retorno, desde a Queda cósmica até o Éden.
Lendas sagradas relatam que antes da guerra nos céus e a queda de Lúcifer e seus Anjos, o Sol estava diretamente sobre o equador da Terra e a Lua sempre Cheia. Não havia mudança de estações. Era a Idade de Ouro.
Coincidindo com a queda de Lúcifer, um acontecimento cósmico, o eixo da Terra se inclinou para a sua posição atual. Agora tem uma inclinação de vinte e três graus e meio em relação ao equador. Essa alteração de posição induziu às mudanças das estações. A natureza da queda conduziu também a um descenso gradual, desde o estado etérico, no qual o ser humano vivia no Éden, ao estado da matéria densa que temos atualmente.
À medida que o ser humano vai se redimindo, por meio da regeneração, a Terra irá se endireitar e se eterizar mais e mais.
De modo que a nossa Terra se encontra entre a atração de Virgem e seu Regente (Mercúrio), por uma parte, e de Escorpião e seu Regente (Marte), por outra parte. Que a vitória final será a de Mercúrio sobre Marte (a Mente sobre a matéria) é indicado pelo fato de que a Terra, em sua evolução, passou já pelo que os ocultistas chamam de metade marciana do Período Terrestre e entrou na metade mercuriana. Paralelo à evolução do Planeta está o progresso dos reinos da natureza que evolucionam aqui, e cuja cúspide o constitui a vida da humanidade, a onda de vida astrologicamente relacionada com a constelação de Peixes.
As doze constelações do Zodíaco são mais que uma mera coleção de estrelas que adornam o céu. Cada constelação é o lar de inteligências espirituais, possuidoras da Sabedoria e do Poder mais além de toda a compreensão humana. Todo ano, quando o Cristo Arcangélico realiza Sua viagem para a Terra, enquanto a orbe solar completa seu circuito do Zodíaco (visto pelos habitantes da Terra), essas poderosas Hierarquias juntam suas forças espirituais com a de Cristo para sustentar e nutrir o que vive sobre o globo terrestre.
Quando o Sol entra em Libra, no Equinócio de Setembro, o sublime Cristo alcança a superfície exterior da Terra. Então, ocorre uma aceleração cósmica. Lentamente, durante novembro e dezembro, o raio do Cristo penetra nos diversos planos internos do Planeta, até alcançar o centro da Terra, no Natal. Pela visão superior, o raio do Cristo é dourado, como o Sol espiritual do qual emana. Constitui, verdadeiramente, a trilha da santidade para todo Discípulo que, sinceramente e com firmeza, se dedicou à busca durante o período do Equinócio de Setembro. Em algum futuro Solstício de Dezembro, ele receberá a luz divina, recém-nascido no coração da Terra. É o tempo da dedicação ao Caminho do Cristo.
Antes de alcançar a meta, cada Aspirante deve aprender a lição cósmica de Libra:
“Então compreenderás a justiça e o direito, a retidão e toda boa obra”
(Pb 2:9).
Distinguir o real do ilusório, o verdadeiro do falso é também a nota-chave bíblica de Libra.
O trabalho principal encomendado a um Discípulo em sua dedicação pela trilha consiste em estabelecer contato com o Deus vivo interno. A Hierarquia de Libra, os Senhores da Individualidade, estão divinamente qualificados para ajudar nessa atividade. As provas do Discípulo nesse ponto são dirigidas ao desenvolvimento da sua faculdade de discernimento, uma das posses mais importantes na Trilha do Discipulado.
Os construtores sobre a rocha e sobre a areia
Assim, todo aquele que ouve essas minhas palavras e as pôr em prática será comparado a um homem sensato que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava alicerçada na rocha. Por outro lado, todo aquele que ouve essas minhas palavras, mas não as pratica, será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande sua ruína!”.
Aconteceu que ao terminar Jesus essas palavras, as multidões ficaram extasiadas com o seu ensinamento, porque as ensinava com autoridade e não como os seus escribas.
(Mt 7:24-29)
Libra é o Signo que marca a linha na qual se há de tomar uma decisão. Aqui o Aspirante se vê à frente de duas trilhas: a positiva e a negativa. É também a estação do ano em que a Terra está equilibrada entre a luz e a obscuridade, entre o verão e o inverno.
Na vida do Senhor Supremo o acontecimento correlacionado com Libra é Sua Tentação, quando teve que escolher entre uma promessa de tudo o que o mundo pode oferecer e a glória do céu. “Foi tentado em todos os aspectos…mas permaneceu sem pecado”. E assim se converteu no Indicador do Caminho para toda a humanidade. Seguir Suas etapas e superar todas as fascinações do mundo é se converter em um novo Adão, um pioneiro da Nova Raça e da Nova Era. Por isso, na astrologia esotérica, se denomina Libra “o Signo do Novo Adão”.
A parábola dos dois construtores está correlacionada com Libra. O construtor tolo é o que constrói sua casa sobre a areia, só para que, no final, seja destruída pelo vento e pela enxurrada. Sendo uma pessoa que não entrou em contato com a sua divindade interna, está presa por toda corrente de pensamento negativa que se interponha em seu caminho. Está centrado na lei material, ascendendo e descendendo à mercê dos acontecimentos de sua vida, puramente objetiva.
O construtor sábio é o que constrói sua casa sobre a rocha, de modo que suporte qualquer tormenta que a ataque. Esse ser humano encontrou o Cristo Interno e é, portanto, imune às circunstâncias exteriores. Sabe que é mais forte do que qualquer coisa que possa lhe suceder. Apesar do rigor dos ventos e das enxurradas, declara triunfante: “Estou tranquilo e sei que eu sou Deus”. Verdadeiramente, sua casa foi construída sobre firmes alicerces e permanecerá para sempre.
Sobre Libra existe um ir e vir das forças opostas de seus dois Regentes: Saturno, a lei do materialismo, e Vênus, a lei do amor. Aqui é onde cada indivíduo se encontra no lugar da eleição e se decide a construir sobre a areia ou a rocha, sob o teor de sua necessidade ou sabedoria.
Quando um Discípulo da Trilha da Santidade segue o raio dourado do Cristo até o coração da Terra, emprega o período de Escorpião como tempo de transmutação. Tenta sublimar o mal em bem, a obscuridade em luz, o negativo em positivo, em cada fase da vida cotidiana. Dedica-se a si mesmo à tarefa de transmutar o pouco endurecido de sua natureza inferior no ouro puro do espírito. O laboratório que ocorre esse grande trabalho é a espinha dorsal, às vezes denominada A Trilha do Discipulado. Quando seu fogo purificador é despertado, atua, primeiro, na base da mesma. Quando ascende, o fogo espiritual se une com o fogo espiritual correspondente de cima, crescendo ambos gradualmente em volume e fortaleza, até que o Corpo inteiro do Discípulo se encha de luz. Alcança, então, a Iluminação, que fica visível a todos os que possuem a visão interna. E é então quando, pela primeira vez, sua natureza inferior é, literalmente, consumida pelo fogo celestial, se convertendo a si mesmo em uma tocha que ilumina seu próprio caminho até o coração da Terra, onde habita o esplendor de Cristo. Quando mais sincera seja sua dedicação, tanto mais avançará na Trilha a cada retorno da estação, até que, finalmente, seja declarado digno de participar da Festa da Luz que ocorre na Noite Santa.
Tanto biblicamente como astrologicamente se diz que Escorpião tem duas notas-chaves, o qual ilustra quanto se tem dito sobre esse Signo: para o neófito “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”[89]; e para os iluminados: “Mostra-me coisas que são mantidas secretas desde a fundação do mundo”.
Em seguida, deixando-os, saiu fora da cidade e dirigiu-se para Betânia. E ali pernoitou. De manhã, ao voltar para a cidade, teve fome. E vendo uma figueira à beira do caminho, foi até ela, mas nada encontrou, senão folhas. E disse à figueira:
– “Nunca mais produzas fruto!”.
E a figueira secou no mesmo instante. Os discípulos, vendo isso, diziam, espantados:
– “Como assim, a figueira secou de repente?”.
Jesus respondeu:
– “Em verdade vos digo: se tiverdes fé, sem duvidar, fareis não só o que fiz com a figueira, mas até mesmo se disserdes a esta montanha: ‘Ergue-te e lança-te ao mar’, isso acontecerá”.
Mt 21:17-21
Escorpião é um Signo de tremendo poder. Suas forças atuam em uma faixa que vai desde as fases mais íntimas da degeneração, até as fases mais excelsas da regeneração. Quando alguém aprende a se sintonizar perfeitamente com os poderes de Escorpião, se converte em um operador de milagres, tanto no plano físico como no espiritual. A parábola relacionada com esse Signo é uma das mais controvertidas de toda a Bíblia. Há profundas verdades escondidas nela.
Na simbologia espiritual a figueira representa a geração. Cristo, o Senhor da Vida e do Amor, jamais amaldiçoaria nem faria secar ou morrer a nenhum ser vivente, já que Sua palavra e Seu contato só pode dar a vida. A parábola não contém uma maldição, mas a enunciação de uma verdade eterna. A lei da geração não é permanente. Não estava no plano original. Por isso seu emprego incorreto trouxe a guerra, enfermidade, velhice e morte. Por sua causa Adão e Eva perderam o Jardim do Éden. O Livro da Revelação[90] fala de cento e quarenta e quatro mil que levam a marca de Cristo sobre as testas, e aos que se permite transpor os umbrais do Templo. São os pioneiros, os que transmutaram a geração em regeneração.
A geração, tal como se pratica hoje, é uma fase, transitória, do presente ciclo evolutivo. Na Nova Era, que já amanhece, os pioneiros trocarão o irreal pelo real, o transitório pelo permanente. O prazer será substituído pelo amor e a imortalidade ocupará o lugar da mortalidade. Nas palavras de São Paulo: o ser humano encontrará, dentro de si mesmo, a Cristo, que é a “esperança da glória”[91]. Esse foi o significado das palavras do Senhor bendito quando disse à figueira: “Nunca mais produzas fruto”, e a figueira secou.
No Signo de Escorpião se percebe uma visão caleidoscópica do estado evolutivo da humanidade. A sublimação da geração em regeneração se simboliza não pelo escorpião se arrastando pela terra e com o aguilhão da morte em sua cauda, mas pela águia, voando em linha reta para o coração do Sol.
Desde o princípio do Período Terrestre a Hierarquia Criadora de Escorpião dá à humanidade modelos de pensamentos-forma cósmicos. Mediante esses modelos o ser humano aprendeu a construir suas encarnações características. Por isso, os membros da Hierarquia de Escorpião se denominam Senhores da Forma. O Cérebro-Mente do ser humano não é nada mais do que um instrumento para se submergir nesses arquétipos de pensamento. Nos tempos antigos da evolução humana os Estudantes dos Templos de Mistérios eram capazes de contatar diretamente com essas Hierarquias celestiais e de observar o imenso serviço que estão prestando à onda de vida humana. Por essa razão, a mensagem das estrelas se incluía entre os estudos do Templo, e a nenhum Estudante se lhe permitia receber essa instrução sem uma árdua e longa preparação.
Transmutação é a nota-chave dominante de Escorpião. Durante o período entre o Equinócio de Setembro e o Solstício de Dezembro, quando a força dourada de Cristo vai penetrando, pouco a pouco, nessa esfera, o Arcanjo Miguel, o segundo em glória e poder depois de Cristo, se encarrega de limpar e transmutar uma acumulação de desejos perversos do ser humano, que flutua, como uma obscura nuvem miasmática, sobre a Terra. Juntos, ambos, purificam e transmutam os pensamentos-forma negativos do ser humano, que povoam a atmosfera mental do Planeta. Graças a esse trabalho é possível o ser humano obter matéria mental e de desejos mais pura, para a construção de sua Mente e do Corpo de Desejos. Esses, por sua vez, incidem e fortalecem os Corpos Vital e Denso.
Escorpião é o Signo misterioso do Zodíaco. Possui dois símbolos: um escorpião, com um aguilhão da morte em sua cauda, e uma águia que pode voar mais perto do Sol que nenhuma outra ave. Esses dois símbolos representam dois aspectos, amplamente divergentes desse Signo: sob a influência do escorpião o ser humano pode descer às profundidades da degradação; sob a influência da águia, sua natureza inferior é transmutada, de modo que pode alcançar grandes alturas espirituais.
Outro aspecto paradoxo de Escorpião é constituído pelas influências do Fogo e da Água, exercidas por meio desse Signo, por isso dois elementos, devido a que Escorpião, um Signo de Água, está regido por ígneo Planeta Marte. Essa é uma indicação a mais das místicas propriedades de Escorpião e do papel que joga na Regeneração que deve preceder à Iluminação. Essa última só se pode obter depois que os princípios do Fogo e da Água sejam conduzidos à uma união harmoniosa.
Tal união foi demonstrada quando o raio ígneo do arcangélico Cristo tomou posse do Corpo do Mestre Jesus. Como membro da onda de vida humana, esse último pertencia à Hierarquia de Peixes e estava, portanto, sincronizado com o princípio aquoso. O que resultou como o ser composto, conhecido como Jesus-Cristo foi a demonstração suprema de um antigo ideal que toda a humanidade alcançará, em certo grau, quando tenha aprendido a misturar os princípios do Fogo e da Água. Cristo ensinava essa verdade a Nicodemos, quando lhe disse: “A não ser que o homem nasça da água e do espírito, ele não pode entrar no Reino de Deus”, dado que o espírito pertence ao princípio do fogo.
As condições externas nunca podem ser dominadas até que as forças discordantes ou opostas, dentro de si mesmo, tenham sido harmonizadas. Uma vez isso alcançado e, por certo tempo guardado em segredo, o mistério de Escorpião será revelado. A geração deverá ser transmutada em regeneração, de modo que seja impossível a repetição de tragédias como as de Caim e Abel ou a de Salomão e Hiram Abiff. Os fatores que separam a esses dois ramos opostos da humanidade se converterão no princípio que os une a todos em harmonia. Nos muitos mitos e lendas, tanto religiosos como profanos, se expõe esse princípio. Contudo, somente mediante o estudo da ciência espiritual dos Astros pode se alcançar o significado com clareza e definitivamente.
Os antigos egípcios, que eram realmente versados nos profundos mistérios da ciência dos Astros, forneceram os ensinamentos sobre a polaridade por meio de cenários (quadros, pinturas), de modo que, quem não as pudessem compreender nos termos científicos, conseguissem compreendê-las intuitivamente, por meio dos símbolos apropriados. Seu hieróglifo ou representação de Escorpião era um esqueleto dentro de uma tumba aberta, tudo isso coroado por um arco-íris. No horóscopo, Escorpião governa a oitava Casa, a Casa da Morte. Contudo, a casa da morte é, também, a Casa da regeneração. Nela se encontram, tanto o escorpião, como a águia. As formas impuras e imperfeitas estão sujeitas à morte. Isso é, afortunadamente, verdade, posto que nem tudo pertence a esse plano da imortalidade. Tão somente a essência da experiência mortal, misturada e incorporada à natureza superior do ser humano, assimilada e transformada em sua alma, se torna imortal. É mediante o poder de Escorpião, para produzir a regeneração, que o espírito encarnado é capaz de utilizar as formas físicas e as mortes incidentais que levam consigo, como pedras miliares da trilha para uma vida superior, e até o renascimento nos veículos possuidores de elementos imortais.
Voltando ao esqueleto como representação simbólica dos poderes de Escorpião vemos que representa, também, o trabalho da lei de Retribuição ou de Destino Maduro. Nesse sentido ela é representada com uma gadanha para segar a humanidade ou, em outras palavras, para eliminar as forças passageiras. No entanto, também revela que, apesar de que a vida esteja identificada com essas formas, não depende dela para existir. Entre as formas eliminadas aparecem novas mãos e novos pés, indicando a supremacia do espírito sobre a matéria e apontando à cíclica lei de Renascimento. O arco-íris que coroa a tumba simboliza a imortalidade. Além disso contém outra indicação de caráter regenerador de Escorpião: a promessa de um tempo em que a dor, a enfermidade e a morte já não existirão
***
Enquanto o Sol passa por Sagitário a dourada força de Cristo penetra mais profundamente na Terra, e os planos internos se tornam mais intensamente iluminados com Sua luz gloriosa. Para o espaço exterior esse Planeta pareceria como ouro líquido. Toda a luz e toda a cor das observâncias do Natal, no entanto, não são senão um débil reflexo de sua luz e cor em tal época. Se o Discípulo da Trilha da Santidade aprendeu a trabalhar bem com as forças da transmutação, sob a influência de Escorpião, se sentirá atraído para esse grande e glorioso resplendor.
Cada acontecimento das celebrações do Natal simboliza o desenvolvimento de uma faculdade específica no interior do Discípulo. E, quando tenha despertado esses poderes, experimentará uma sincronização crescente com as atividades cósmicas do período do Solstício de Dezembro.
Conforme escrevemos acima, Sagitário era representado por uma série de lâmpadas acesas. Se o Discípulo é persistente e confia em seus esforços, todo ano, durante essa época, será consciente do aumento da força e luminosidade das sete luzes (centros) no interior de seu próprio corpo-templo. Quando esses sete centros alcançam todo o clímax de sua glória, o Discípulo é considerado digno de seguir a Trilha da Santidade até o coração da Terra, e de permanecer ali na presença da Luz do Mundo. Receberá, então, a benção de Cristo, e ouvirá entonar o mantra utilizado em todos os Templos de Iniciação, antigos ou modernos: “Bem feito, bom e fiel servo…entra na glória de teu Senhor”.
O Grande Banquete
Disse-lhe o servo: “Um homem estava dando um grande jantar e convidou a muitos. À hora do jantar, enviou seu servo para dizer aos convidados:
– ‘Vinde, já está tudo pronto’.
Mas todos, unânimes, começaram a se desculpar. O primeiro disse-lhe:
– ‘Comprei um terreno e preciso vê-lo; peço-te que me dês por escusado’.
Outro disse:
– ‘Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me dês por escusado’.
E outro disse: ‘Casei-me, e por essa razão não posso ir’.
Voltando, o servo relatou tudo ao seu senhor. Indignado, o dono da casa disse ao seu servo:
– ‘Vai depressa pelas praças e ruas da cidade, e introduz aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos’.
– ‘Senhor, o que mandaste já foi feito, e ainda há lugar’.
O senhor disse então ao servo:
– ‘Vai pelos caminhos e trilhas” e obriga as pessoas a entrarem, para que a minha casa fique repleta. Pois eu vos digo que nenhum daqueles que haviam sido convidados provará o meu banquete’”.
Lc 14:16-24
Sagitário é o Signo do idealismo elevado, da inspiração e aspiração, dos sacerdotes e poetas, profetas e videntes. Sob sua influência, uma Mente iluminada e desperta se esforça para se elevar entre as estrelas. É, também, o Signo da preparação para a iminente Sagrada Festa de Cristo. Daí que a parábola correlacionada seja a do Grande Banquete. Essa festa simboliza as oportunidades para uma vida espiritual, que tão graciosamente brotam ante nós. Os convidados representam a humanidade comum, aqueles pelos quais Cristo fez Seu supremo sacrifício e para os que abriu a Trilha da Iluminação com Seu convite: “Vem, agora todas as coisas estão prontas”.
A nota-chave dessa parábola não pode ser descoberta pelo Aspirante, até que aprenda a viver uma vida impessoal. Nesse sentido as palavras do Senhor Cristo são simples e diretas: “Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo.”[92]. Por “odiar” entendamos “não depender indevidamente”. Cristo disse que há de se renunciar a qualquer dependência excessiva de qualquer parentesco, para que seja possível a sintonia com O Mais Elevado. Porque o verdadeiro Discípulo está no mundo, mas não pertence ao mundo.
Toda emoção negativa ou destrutiva há de ser substituída por sua oposta. O ódio não cessa com o ódio, mas com o amor. O amor é o único verdadeiro solvente. A vontade de Deus é um imenso reconciliador. Até que não renunciemos totalmente do nosso eu inferior, não seremos dignos de escutar o nosso Senhor nos dizer: “Vem, tudo já está preparado”. Então, tenderemos o privilégio de nos sentar ao Seu lado e de participar no Grande Banquete ou, em outras palavras, na glória celestial.
Ninguém pode participar nesse Banquete sem ter realizado a união entre os princípios masculino e feminino em seu interior, sem haver equilibrado as forças da cabeça e do coração. Dessa união mística nascem quatro crianças: dois filhos, o Fogo e o Ar; e duas filhas, a Água e a Terra. Os quatro representam a essência transmutada, da vida pessoa de um Aspirante, após as energias da cabeça e do coração serem elevadas e unidas ao espírito radiante. Essa é a Grande Obra Branca do alquimista, a Pedra Branca da Revelação, a Rosa Branca dos Rosacruzes. O mês de Sagitário, de 23 de novembro à 22 de dezembro, é o tempo de preparação para participar no Grande Banquete, no qual será revelado o mais sagrado significado da Maré de Natal.
Sagitário, como Escorpião, é de natureza dupla. Seu símbolo pictórico é um centauro, metade cavalo e metade homem. O primeiro representa a natureza inferior do ser humano; o segundo, a superior. O espírito imortal está, permanentemente, aspirando às alturas, apesar de parecer o contrário. Desde o tempo em que a humanidade escolheu o caminho da materialidade (Escorpião), ao invés do caminho do espírito (Virgem), Sagitário foi o Signo da promessa, da esperança e da aspiração.
Basílio Valentine[93], um dos primeiros Iniciados Rosacruzes, ilustrou a história da Iniciação em uma série de gravuras. Nelas, Sagitário está representado por um determinado número de lâmpadas, permanentemente acesas; um entalhe ou gravação que convida a humanidade a superar a materialidade e obter a união com a divindade, com o que participará do verdadeiro êxtase espiritual.
É interessante destacar que, enquanto o fogo espinhal espiritual ascende, desde o nível da geração até o plano da regeneração, o ponto no qual a primeira etapa é superada se encontra no plexo sacral, localizado na base da espinha dorsal e regido por Sagitário.
Esse Signo está governado por Júpiter, o Planeta da benevolência e da expansão. Assinala a trilha para nascimento do Cristo Interno de cada indivíduo. E também o nascimento do Cristo Cósmico, que ocorre anualmente na Noite Santa, quando o Sol abandona Sagitário para entrar no primeiro decanato de Capricórnio.
O símbolo pictórico de Sagitário mostra a metade humana do centauro apontando sua flecha para as estrelas. Essa pictografia foi modificada pela representação do Cupido, o deus do amor, originariamente representado com sua flecha apontando para a Glândula Pineal ao invés de apontar para o coração. Mais tarde, no entanto, quando o ser humano perdeu a consciência de seu elevado objetivo espiritual e os afetos se centraram mais no pessoal, a flecha do Cupido se dirigiu para o coração, ao invés de se dirigir para o centro espiritual, localizado na cabeça.
Sagitário está relacionado com a letra hebreia Vau[94], que significa sol ou olho. Essa letra representa a brancura e o brilho, a luz espiritual do Gênese e da Revelação. É a luz que brilha na obscuridade, mas aquela em que a obscuridade não a envolve.
Vê-se, pois, que a mensagem das estrelas revela o caminho da evolução para toda a humanidade. Para as massas adormecidas o caminho dá voltas e mais voltas, até alcançar o cume da montanha da consecução; enquanto que, para as almas despertas existe um atalho curto, estreito e direto para o cume da montanha.
Sagitário governa a Mente superior do ser humano; a Mente capaz do raciocínio abstrato. Sua nota-chave bíblica se encontra na admoestação de São Paulo: seja em ti essa Mente, que está também em Cristo[95].
Na mitologia grega a virgem Ariadne[96] conduziu a Teseu para fora do labirinto com a ajuda de um fio. Tanto a virgem como seu fio foram perdidos pelo ser humano moderno, mas a elevada intuição de Sagitário trabalha para encontrar, posto que a intuição espiritual (fio) é, de fato, a essência da razão. Quando, depois de ter circundado todo o Zodíaco, o espírito liberado retornar ao ponto inicial encontrará a virgem dos céus lhe esperando, como Ariadne esperava Teseu no antigo mito.
Como já foi dito, a força dourada de Cristo toca a periferia da Terra no Equinócio de Setembro, passa através do Mundo do Desejo em novembro (Escorpião) e através da Região Etérica do Mundo Físico em dezembro (Sagitário), para alcançar o coração do Planeta no momento do Solstício de Dezembro (Capricórnio). Essa penetração final da força de Cristo até o centro da Terra marca a Noite Santa do ano, quando uma calma e um silêncio profundos impregnam a Terra inteira. Logo segue uma poderosa onda de todas as forças vitais do Planeta. É essa nova infusão de vida na natureza a que foi maravilhosamente descrita em várias lendas da Noite Santa, nas quais se assegura que, incluindo os membros dos reinos vegetal e animal, todos rendemos humilde obediência à mística hora da meia-noite.
Quando essa poderosa força de Cristo entra na Terra, é liberado um impulso que acelera a vida e espiritualiza as condições de toda a esfera terráquea. Como esse trabalho, sanador e redentor, vem se repetindo ano após ano, a Terra passará de um estado discordante para um estado de harmonia universal. O ódio, a inimizade e o conflito, finalmente desaparecerão. Então, aquela imagem gloriosa, descrita por Isaías a tanto tempo atrás, se converterá em uma realidade: “Ele julgará as nações, ele corrigirá a muitos povos. Estes quebrarão as suas espadas, transformando-as em relhas, e as suas lanças, a fim de fazerem podadeiras. Uma nação não levantará a espada contra a outra, e nem se aprenderá mais a fazer guerra”[97].
O Semeador
E disse-lhes muitas coisas em parábolas:
“Eis que o semeador saiu para semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho e as aves vieram e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos, onde não havia muita terra. Logo brotou, porque a terra era pouco profunda. Mas, ao surgir o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. Outra ainda caiu entre os espinhos. Os espinhos cresceram e a abafaram. Outra parte, finalmente, caiu em terra boa e produziu fruto, uma cem, outra sessenta e outra trinta. Quem tem ouvidos, ouça!”.
Mt 13:3-9
A Bíblia é um dos maiores Livro de Mistérios de todos os tempos. Há poucos que se dão conta de suas insondáveis profundidades. Cristo disse: “a fim de que vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não entendam” (Mc 4:12).
Na mais antiga simbologia a palavra “barco” se referia à alma, e a palavra “mar” se referia às correntes psíquicas. Diz-se que Cristo Jesus se sentou em uma barca e ensinava o povo que estava na margem. Isso significa que ensinava aos que estavam nos planos internos e aos que estavam nos planos externos, posto que sua missão era instruir tanto os encarnados como os desencarnados.
Quando Cristo terminou de expor a Parábola do Semeador, disse: “Quem tem ouvidos, ouça”. O semeador é o Mestre; as sementes são as verdades que vai disseminando. Os Estudantes e os Discípulos, que são a terra, as recebem de acordo com sua capacidade de compreensão e, de acordo com ela, usam os ensinamentos. Também disse o Senhor que alguns receberam (e produziram) trinta ou, em outras palavras, só puderam aceitar uma interpretação literal. Outros receberam (e produziram) sessenta e são os que alcançaram os significados mais profundos. O compreender que a Bíblia é o livro de texto supremo da vida há de ser uma das primeiras conquistas do verdadeiro Discípulo Cristão.
Depois Ele acrescentou que houve outros que receberam (e produziram) cem; esses são os Iniciados, que captaram as verdades em sua totalidade. Eles são a boa terra, na qual as sementes caem, crescem e produzem fruto. Algumas sementes, no entanto, caem sobre o caminho e são devoradas pelos pássaros, ou seja, são captadas pelos emocionalmente inseguros e, por isso, não lhes puderam proporcionar um porto seguro espiritual.
Aconselha-se a todo Discípulo que aprenda a contatar com seu próprio ser interior e, por meio da oração e meditação, a despertar e a incrementar seus poderes. Um Aspirante capaz converte esse centro (interno) no ponto focal a partir do qual trabalha para atrair o bom, o verdadeiro e o formoso. Há de ter cuidado, no entanto, de não se ver circunscrito pela estreiteza do pensamento ou o fanatismo da interpretação. Esse centro, o mais recôndito de si mesmo, se não for cultivado com persistência e perseverança, a pessoa tenderá a ter que enfrentar a decepção e a desilusão. Quando isso sucede, o neófito não só abandona as coisas do espírito, mas também obstrui o caminho para os outros. A advertência bíblica no Evangelho Segundo São Lucas em 9:62 ratifica isso: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus”.
De acordo com a parábola, outras sementes caíram entre as rochas e morreram por falta de umidade. Esse é o símbolo da pessoa puramente mental, aquela cujo coração ainda não foi despertado. A Mente, só, nunca poderá resolver os problemas da vida, nem ensinar a outros como fazê-lo, porque isso só se pode conseguir por meio do amor de um coração espiritualizado.
Algumas das sementes caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e as afogaram. Os espinhos representam os desejos inferiores. Desde os dias da antiga Atlântida, a Mente humana está mais intimamente ligada à natureza de desejo do que ao espírito, o que contrário ao plano divino. Por isso, em uma grande maioria, a humanidade é mais motivada pelo desejo do que pela razão. Essa motivação egoísta deu origem a atual situação caótica do mundo: as raças, as nações e os indivíduos estão tão desgarrados pela dissenção e confusão que a humanidade se aproxima de um estado geral de pânico e desespero.
Um dos objetivos principais das sucessivas vidas sobre a Terra é que o ser humano liberte sua Mente dos laços de sua natureza de desejos para que a Mente se converta em um instrumento do espírito. Há de voltar uma e outra vez até que tenha aprendido a lição. As pessoas cujas vidas estão mais motivadas pela razão que pelo desejo são exceções e, entre elas, as que se guiam pelo intelecto espiritualmente iluminado são extremamente raras.
Por fim, parte das sementes caíram em terra boa e frutificaram produzindo cem por um. Isso se refere aos poucos que alcançaram o equilíbrio entre o Coração e a Mente, estado superior que é o ideal Crístico para toda a humanidade. Quando um Aspirante aprende a equilibrar essas duas forças, é digno de receber e disseminar os Mistérios do Reino de Deus.
O Corpo físico da Terra alcança sua maior taxa vibratória quando o Sol entra em Capricórnio. O símbolo pictórico desse Signo é uma cabra[98]; e a cabra era o animal sacrificial durante a Era de Áries, quando o Solstício de Dezembro caía na constelação de Capricórnio. Esses antigos sacrifícios foram sublimados até seus equivalentes espirituais, mas seu significado esotérico, a significação conhecida pelos candidatos à Iniciação, foi sempre o mesmo. Para os antigos, uma cabra simbolizava sabedoria porque, geralmente, se reconhecia que o êxito na Trilha só podia ser obtido por meio do sacrifício.
Nas primitivas cerimônias israelitas se sacrificavam duas cabras pelos pecados do povo. A uma se dava a morte ante o altar e, a outra era carregada com todos os pecados do povo e era enviada ao deserto, depois dos sacerdotes terem dirigido a ela suas imprecações. A cabra sacrificada representava o reto e estreito Caminho da Iniciação, alcançada por uns poucos, enquanto a outra fazia referência ao lento progresso do ser humano, o motivo do impulso evolutivo carente de auxílio. O Rito das Duas Cabras aponta, também, a uma verdade que subjaz à consecução por meio viático[99], tal como foi protagonizada por Cristo Jesus à última hora, quando carregou sobre Si mesmo todos os pecados da humanidade. Como esses pecados se tornaram extremamente pesados para poder ser suportado por todas as pessoas do mundo, sem ajuda, não puderam ser liquidados sem a assistência divina.
Saint Germain[100] representava Capricórnio como uma imagem que mostrava uma brilhante aurora boreal em ambos os lados de um fundo negro e, sobre a qual brilhava uma estrela solitária.
Em seu formoso canto de amor, Salomão compara os dentes de sua amada a um rebanho de cabras[101]; e com um rebanho de ovelhas junto aos vinhedos de Engadi[102], nome que significa “fonte das cabras” e que, por sua vez, se refere às águas da vida eterna. Isso dá uma significação mais profunda às muitas referências bíblicas sobre a água da vida: Davi tinha sede das águas de Belém; os israelitas deixaram, durante algum tempo, suas próprias águas naturais, trocando-as por outras estranhas e frias; Cristo disse à mulher, junto ao poço de Samaria, se ela pudesse beber da água que Ele tinha para lhe dar nunca mais teria sede. Todas essas referências estão relacionadas com o simbolismo espiritual de Capricórnio.
Misticamente falando, há dois “portais”, através dos quais os Egos entram na encarnação e dela saem. Cosmicamente, essas portas são as de Câncer e Capricórnio. Os Egos se cobrem de vestimentas de carne por meio das forças de Câncer e da Lua, pois Câncer é o Signo da Virgem Cósmica e a Lua é seu Regente. Por meio das forças do Signo oposto do Zodíaco, Capricórnio, que é regido por Saturno, o colhedor, ocorre a dissolução do Corpo mortal dos Egos e sua liberação para que possam voltar aos planos superiores. Essa corrente de almas, ascendendo e descendendo, através dessas duas portas celestiais, é a realidade cósmica que Jacó contemplou em sua visão. O relato bíblico disse que Jacó[103] viu Anjos subindo e descendo por uma escada, mas os escritores bíblicos empregaram o termo “anjo” no mesmo sentido que agora utilizamos para designar muitas classes de seres imateriais, incluindo os Egos desencarnados.
Cada constelação tem seu lado sombrio, que pertence, não às estrelas, mas à Terra em que essa sombra cai. O Capricórnio ainda não “desperto” manifesta um grande desejo de adquirir poder pessoal. Os nativos desse Signo, frequentemente, buscam o poder para si mesmos, seja poder material, seja espiritual. Os capricornianos estão, pois, inclinados a ser ambiciosos, não tanto por coisas em si mesmas, como pelo poder inerente a sua posse.
As notas-chaves bíblicas de Capricórnio são: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra”[104].
Sobre Capricórnio foi escrito como se estendesse sobre três distintos estágios da evolução humana: o escravo, o condutor de escravos e o dono.
A constelação de Aquário é o lar da onda de vida angélica. Os Anjos, quando trabalham na Terra, utilizam os planos etéricos do Planeta como campo mais apropriado. Os Corpos dos Anjos estão formados de Éteres, e por isso só são visíveis para os que desenvolveram a visão etérica. Muitas crianças a possuem e, por isso, tem o conhecimento, de primeira mão, dos seres angélicos. E, do mesmo modo, estão familiarizados com os Espíritos da Natureza que, como os Anjos, funcionam em corpos etéricos.
Os Anjos são especialistas em trabalhar com a substância etérica. Constroem muitos e os mais variados modelos de flores belíssimas no azul e no dourado dos Éteres superiores; e os Espíritos da Natureza os transladam para a Terra formando as flores que enriquecem o reino vegetal em todo mundo.
Quando o Sol está transitando por Aquário, o Senhor Cristo, em Sua passagem anual pela Terra, centra Suas atividades na Região Etérica do Mundo Físico. Derrama Seu amor e Suas bênçãos, tanto sobre os Anjos como sobre as almas dos desencarnados da humanidade terrestre que estão vivendo e trabalhando nesses planos. São esses também o lar das crianças, os Egos dos que morreram na infância e os Anjos os instruem e os acompanham.
Nos planos etéricos se encontram os Templos de Iniciação que existiram antigamente nesse Planeta, mas que se perderam quando a humanidade mergulhou na materialidade. Referências frequentes ao Templo Crístico, situado na Região Etérica do Mundo Físico, foram feitas exatamente sobre Jerusalém. Os Anjos estão intimamente associados aos Templos de Iniciação. Podem entrar livremente em tais santuários e são felizes em servir nesses sagrados recintos.
Diz-se que um Anjo guardião paira sobre a cadeira de cada cavaleiro que se senta à mesa Redonda no templo do Rei Arthur. Nas lendas sobre o Santo Graal, que contém profundas verdades espirituais, porque o trabalho dos templos do Santo Graal é parte do trabalho do Templo dos Mistérios Crísticos. A profunda significação dessas lendas foram veladas pelos poetas e artistas, que as relatam da forma e com os costumes da primeira vez que apareceram. As lendas do Graal se centram no Cálice Sagrado. Os mais profundos mistérios da cristandade esotérica se central no Graal. Os mais profundos ensinamentos de Cristo foram transmitidos durante a última Ceia, quando revelou a Seus Discípulos Mistérios relacionados com o Rito da Sagrada Comunhão.
Como foi dito no capítulo sobre “A Trilha da Santidade por meio de Capricórnio” se ensina como os Discípulos se convertem em Auxiliares Invisíveis, para ajudar aos que vivem no Mundo Físico. Quando a Trilha da Santidade passa por Aquário, o trabalho do Discípulo se amplia: então aprende a auxiliar sob a orientação dos Anjos e a trabalhar com seres que habitam na Região Etérica do Mundo Físico ou celestiais.
Um Discípulo qualificado, que aprendeu a seguir a Cristo ao longo da “Trilha da Santidade por meio de Aquário”, é capaz, em tal estágio de desenvolvimento, de entrar conscientemente nos planos etéricos. Ali pode observar os variadíssimos e formosos serviços prestados pelos Anjos no benefício da humanidade e de todas as formas de vida existentes no Planeta. Assim, pois, o Discípulo se encontra em um mundo encantado, um mundo tênue onde está a origem das notícias sobre as Fadas; porque as regiões dos Éteres superiores é, verdadeiramente, um mundo das Fadas. Das atividades observadas nesses planos é onde muitos buscadores iluminados e místicos tecem seus mais formosos escritos, relativos às verdades espirituais. Um encantador exemplo disso constitui O Pássaro Azul, de Maeterlinck[105].
Durante o mês em que o Sol transita por Aquário, os Éteres superiores se tornam mais dourados e luminosos, porque a força de Cristo está sendo dirigida sobre a superfície da Terra para preparar Sua triunfante libertação pascal.
O Bom Samaritano (Lc 10:25-37)
Aquário, o Signo da fraternidade, da irmandade e da cooperação, se correlaciona com a parábola bíblica do Bom Samaritano.
Havia um homem que, por motivos comerciais, ia de sua casa, em Jerusalém, para Jericó. Em seu camelo transportava muitas joias preciosas e muito ouro. No caminho foi assaltado por ladrões, que lhe roubaram todos seus bens, incluindo o camelo. Depois de ter sido brutalmente golpeado, foi abandonado no caminho para que morresse. Enquanto jazia ali, clamando por ajuda, aproximou-se um sacerdote, mas passou ao largo pelo outro lado do caminho. Depois passou um levita que, mesmo o vendo, fez de conta que não ouviu a solicitação de ajuda. Por fim, chegou um samaritano.
Nos dias de Cristo os samaritanos eram considerados como totalmente indignos e vistos como materialistas que não acreditavam em Deus. As crianças judias não podiam brincar com as crianças samaritanas ou frequentar as mesmas escolas. A situação era similar ao do atual problema racial.
Contudo, o samaritano parou, lavou as feridas do homem com vinho e bálsamo, e fez os curativos. Depois o colocou sobre o seu cavalo e, caminhando a pé ao lado, o levou até um próximo povoado. Lá foi atrás de um médico, encontrando lhe deu duas moedas e lhe disse: “Cuida dele e qualquer coisa que exceda esse valor, quando eu regressar lhe darei”.
Cristo concluiu a parábola dizendo: “Qual dos três pensais que era o próximo do que caiu nas mãos dos ladrões?”. “O que fez o bem” – foi a resposta. A isso o Senhor respondeu: “Ide e façais o mesmo”.
Quiçá em nenhum lugar exista uma interpretação mais formosa de amizade que a dada na Parábola do Bom Samaritano. Emerson[106] escreveu que quem tem amigos, há de sê-lo também. A verdadeira avaliação da riqueza não se baseia nas coisas, mas na amizade. O amigo mais rico é o que tem o maior número de amigos fiéis e leais. No fim de uma peregrinação terrena as posses mais raras e preciosas serão as que se baseiam na amizade.
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O símbolo pictórico de Aquário é o Portador de Água, um homem derramando as águas da vida, de um recipiente, sobre a Terra, para refrescá-la e renová-la.
Aquário rege a nascente Nova Era. O Sol, por Precessão, já tocou a aura de sua influência eletrizante, fazendo com que a vida humana, em todos os seus aspectos, esteja experimentando uma aceleração tremenda. Por meio do seu Regente planetário, Urano, Aquário governa as forças sutis da natureza. Por isso, sob sua inspiração, o mundo material está sendo transformado pelas impulsionadoras forças de luz e poder, como as que encontramos na eletricidade e no átomo, recém-revelado. De um modo correlativo estão sendo ativados determinados processos que aceleram e despertam poderes latentes na Mente e na Alma do ser humano, e, simultaneamente, restauradas os Ensinamentos da Iniciação para ele.
O Portador de Água é um andrógino, um ser em que os princípios masculino e feminino foram combinados equilibradamente. O resultado fisiológico de tal estado de equilíbrio é uma relação perfeitamente simétrica entre os Sistemas Nervoso Simpático e o Cérebro-espinhal. Na terminologia iniciática se fala de tal desenvolvimento como o Matrimônio Místico. Uma versão bíblica desse processo é o milagre de Caná, quando Cristo converteu a água em vinho. Saint Germain fornece uma concepção simbólica dessa fase da Iniciação, quando a representa como um mar tormentoso, sobre ele brilhando oito estrelas deslumbrantes; uma figura feminina nua se ergue, com um pé na terra e outro no mar; em suas mãos sustenta dois cálices: de um flui a bondade e do outro a caridade, qualidades que substituem a amizade e a fraternidade; sobre sua cabeça há uma estrela de oito pontas, cujo centro forma uma pirâmide, com uma parte branca e a outra preta, simbolizando, com isso, os dois aspectos da lei oculta; junto à mulher há uma planta com três flores abertas e sobre ela paira uma borboleta com as asas estendidas. Todo esse símbolo aponta à riquíssima vida e aos amplos poderes que Aquário proporcionará à humanidade. Sob esse Signo é como o ser humano caminha para o momento de se converter em um “super-homem” e, por meio de seu poder, a humanidade inaugurará o nascimento de um quinto reino: o reino das Almas.
São Paulo se referia à maneira natural de atuação da lei espiritual, quando dizia que há leites para os bebês, mas carne para os seres humanos fortes. Todas as grandes religiões do mundo têm duas fases do Ensinamento: as das profundas verdades esotéricas, compartilhadas somente com os poucos preparados para recebê-las, e uma versão simplificada das mesmas, destinadas às massas. Assim, como no Equinócio de Março se move para trás, através de cada Signo do Zodíaco, a religião dada ao povo, geralmente, está em harmonia com o Signo vigente. As verdades esotéricas profundas chegam sob o Signo oposto, o do Equinócio de Setembro. Por exemplo, na religião aquária, para as massas, se centrarão na Paternidade de Deus e na fraternidade entre os seres humanos; os Ensinamentos esotéricos, reservados aos poucos, estarão centrados no Signo oposto, Leão, cuja nota-chave se descreve na Bíblia, com as palavras de São Paulo: “Amar é o cumprimento da Lei”[107].
Sob Leão, o coração iluminado ou santo se converterá no centro luminoso do Corpo, e o poder do amor será o principal motivo da vida. Compartir e não cobiçar será a principal aspiração do mundo dos negócios e a cooperação ocupará o lugar que hoje ocupa a competição. A tolerância sucederá o fanatismo e a reabilitação substituirá a pena capital. Cada um colocará o interesse do próximo ao mesmo nível do seu, e o ideal supremo da vida consistirá em servir, reciprocamente, com amor. A nota-chave bíblica dessa nova civilização aquária se encontra nas palavras de Cristo: “Vós sois meus amigos”[108].
Aquário é a 11ª Casa, o Signo da amizade, da fraternidade e da irmandade. A próxima Era de Aquário transladará a ênfase do desenvolvimento espiritual do indivíduo para o grupo. Isso já é perceptível na atenção crescente que se presta nas instituições educadoras, na preparação dos alunos para servir à sociedade. Nas Escolas Ocultas é evidente uma tendência similar. A conhecida afirmação de Cristo “onde dois ou três se reúnem em Meu nome, Eu estarei no meio deles”[109] adquire um profundo significado à luz do desenvolvimento aquariano.
Aquário tem dois Regentes: Saturno e Urano. O primeiro governa o velho, o que pertence ao passado. Urano governa o novo, o que pertence ao futuro. Os antigos representavam a Aquário como um Árvore da Vida com dois ramos, um terminado em uma figura representando a velhice, o produto de Saturno; o outro terminado na figura formosamente jovem, levando em suas mãos o Santo Graal, que simboliza a “realização” obtida sob a influência de Urano. No presente estágio da evolução humana, tanto o indivíduo como a coletividade se encontram em um período de transição, passando, gradualmente, de uma velha ordem estabelecida para uma nascente civilização. O velho está se desmoronando; o jovem está em processo de formação. Consequentemente, nada é mais permanente, nem estável. Tudo se encontra em um estado de fluidez. E a desordem e os conflitos que varrem o mundo proveem das condições deslocadoras e distorcidas que acompanham o passo de uma próxima ordem. A função de Saturno, o Regente do lado material de Aquário, é confirmar, limitar tudo isso e proporcionar formas fixas e confiáveis, de modo que pelas forças da vida, tanto do indivíduo como da sociedade, possam se canalizar eficazmente para o plano material. Essa é sua contribuição construtiva à vida, tal e como se expressa nesse plano de existência. No entanto, como a vida evoluinte está continuamente expandindo seus poderes, as formas que Saturno proporciona hão de ser substituídas, periodicamente, por outras de maior elasticidade e maiores dimensões e, por isso, junto a Saturno, em Aquário está Urano, cuja missão consiste em desmembrar formas inadequadas e cristalizadas para que outras ocupem seu lugar. Urano destrói só o que foi convertido em um obstáculo para o progresso e a evolução da vida; por isso ele é denominado o Transformador. Também é conhecido como o “Planeta do Cristo”, pois sua influência é da voz da Revelação que, associada ao impulso redentor de Cristo, declara: “Eis que faço nova todas as coisas”[110].
Por todas as partes podemos observar as evidências da próxima Era de Aquário: nas ousadas aventuras submarinas, nas aéreas e nas que se preparam para viajar ao espaço, se revelam os impulsos uranianos que estão começando a impregnar a Terra inteira. As crianças falam de viagens à Lua, a Vênus ou à Mercúrio, com a mesma naturalidade com que, há poucos anos, se falava de viajar a cidades do próprio país. Da mesma forma que a preparação da exploração dos outros Planetas necessita de longos e árduos estudos e severa disciplina, assim também são necessárias preparações similares para o Discípulo da Nova Era. Do mesmo modo que os cientistas tentam explorar os planos externos dos outros Planetas, que correspondem ao Corpo físico da Terra, os Discípulos da Nova Era estão sendo, também, preparados para entrar nos Corpos mais sutis, do ponto de vista espiritual, tanto da Terra como dos outros Planetas.
As forças dos dois Éteres superiores estão se tornando mais e mais poderosas, no que tange a sua influência sobre a humanidade. O Éter Luminoso ajuda a desenvolver a percepção extrassensorial, enquanto que o Éter Refletor desperta, nos Discípulos, as forças latentes na preparação à Iniciação. Não está longe o dia em que a palavra Iniciação será familiar, e na qual o trabalho Iniciático será restituído ao lugar que lhe corresponde, como a suprema consecução da vida espiritual.
Uma prova dessa tendência é proporcionada pelo fato de que, em certo número de igrejas ortodoxas, estão sendo formados grupos para estudo e desenvolvimento das faculdades espirituais latentes no ser humano, ainda que as considere como pertencentes, exclusivamente, ao campo da metafísica e, por isso, estranhas à religião, tal e como agora se concebe.
Quando o Sol está transitando por Peixes, durante o mês de março, a força dourada de Cristo volta a surgir, desde o centro da Terra, e alcança a superfície do Planeta em uma antecipação da ressurreição pascal. Como é o Signo da dor e da renúncia, Peixes tipifica também a Crucifixão. Assim como o Cristo Cósmico experimenta a dor da renúncia e da crucifixão ao penetrar na Terra, na época do Equinócio de Setembro, do mesmo modo experimenta o espírito da Terra certo vazio, quando o espírito de Cristo abandona o corpo planetário na época do Equinócio de Março.
Quando a força de Cristo se eleva e penetra nas envolturas de desejos da Terra, as tentações se tornam mais sutis e as provas, mais severas. A admoestação dada pelo Mestre ao Discípulo para todos os momentos é: “Se alguém quiser Me seguir, que se negue a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga”[111]. É nesse momento que o Discípulo há de aprender a segui-lO, ao longo da reta e estreita trilha que conduz ao Gólgota. Max Heindel compara essa trilha à torre de uma igreja, que se faz mais e mais estreita, até que não resta mais nada onde se apoiar, a não a cruz na ponta, e que constitui um exemplo muito apropriado. Assim é que, para cima, a maior parte das igrejas aparecem como um símbolo vívido da trilha do discipulado. As igrejas, atualmente, perderam as verdades conducentes a essa trilha, e as há de encontrar, para ser capaz, de novo, de exercer o poder e a influência que teve durante os primeiros séculos de existência.
A cruz da renúncia há de ser aceita por todo o verdadeiro Discípulo que deseja caminhar sobre a Trilha da Santidade. Seu Corpo-Alma não pode ser construído até que adquira o domínio de si mesmo e renuncie, de vontade própria, aos assim chamados prazeres do mundo sensível. Os poderes anímicos que se adquirem por meio do autodomínio capacitam ao assim iluminado trocar a cruz pela coroa.
Como já dissemos, a constelação de Peixes será a morada da raça humana, quando todos os seus indivíduos hajam alcançado a perfeição. Os que aprendem a caminhar na Trilha da Santidade e seguir a Cristo até esse último e elevado objetivo, concluíram seus ciclos terrestres de encarnações. Suas dívidas de destino maduro foram saldadas e todos os laços terrenos, cortados. Tais seres são conhecidos como “os Compassivos”, os “Irmãos Maiores”, que já não necessitam das lições terrenas. São livres para passar a uma existência gloriosa na constelação de Peixes. No entanto, esses grandes seres podem voltar, por vontade própria, na obediência ao preceito espiritual de que aquele que mais ame é aquele que melhor serve. Frequentemente renunciam aos privilégios e às oportunidades daquele plano, com o objetivo de servir aos membros menos adiantados da raça humana. Humildade, obediência e serviço são as notas-chaves das suas vidas.
Uma renúncia desse tipo é a que representa a vida de Maria de Belém que, havendo aprendido todas as lições terrenas e, havendo sido igualada aos Anjos para reinar com eles, retornou e este Planeta para ensinar à humanidade um dos supremos Mistérios do céu: a da Imaculada Concepção. Sabendo que seria mal compreendida, ridicularizada, perseguida, persistiu em seu desejo de proporcionar à humanidade um ideal que, dois mil anos depois, apenas poucos compreendem e que é totalmente desconhecido pela grande maioria. Trabalhando de acordo com a lei do serviço descendeu à mortalidade dizendo: “Faça-se segundo a Tua palavra”. Tal estado de realização espiritual, construído por meio do sacrifício, da humildade do espírito e de uma perfeita harmonia com a lei da obediência, é o que espera do ser humano perfeito.
O Aspirante que reflete, seriamente, sobre isso na meditação para os doze Signos, correlacionará a meditação pisciana com as experiências dos Doze Imortais, durante o tempo que precede, imediatamente, a “crucifixão” anual de Cristo. Logo, quando sua dor e tristeza se consomem na glória do amanhecer da Páscoa, o Discípulo que alcança o domínio do seu “eu pessoal” e que caminha na Trilha da Santidade, por meio de Peixes, até o fim, se dará conta de que trocou sua cruz na glória dourada de seu “vestido de bodas” no qual ele funciona, livre e triunfante, com o Cristo que sai.
Renúncia
A Quaresma, estação na qual o Discípulo se submete a disciplinas restritivas em benefício da vida superior, chega sob o Signo de Peixes. O objetivo supremo que é dado ao ser humano aspirar se alcança somente por meio de uma série progressivas de renúncias. Na etapa do Discipulado a natureza dos pioneiros faz muita falta, tal como indicou Cristo quando disse: “Aquele que ama a seu pai e a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim; e o que ama a seu filho ou a sua filha mais que a Mim, não é digno de Mim; e o que não toma a sua cruz e Me segue, não é digno de Mim”[112].
Os laços baseados somente no sangue não podem substituir nunca uma irmandade espiritual, tal e como Cristo veio a estabelecê-la. Recorde quando Ele perguntou: “Quem é minha mãe?” e “Que são meus irmãos”, e quando respondeu à pergunta dos seus: “Porque aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão e minha mãe”[113].
O que é pedido a nós é que abandonemos o inferior pelo superior, alargar o parentesco até que inclua toda a humanidade. Isso só pode ser conseguido quando a personalidade separatista e egocêntrica se torne submetida ao controle do espírito, o qual reconhece sua unidade essencial com todos os espíritos, porque está indissoluvelmente aparentado, por meio da paternidade de Deus.
A humildade é a verdadeira marca da iluminação. Quanto mais sábia é uma pessoa, mais é sensível e modesta. Quanto mais aprende, menos sabe que sabe. Um verdadeiro astrônomo permanece reverente ante as vastas extensões de céus estrelados, sabendo que existem infinitos mundos mais além da sua visão. Um verdadeiro ocultista se inclina, em reverente submissão, ante uma infinitude de sabedoria que excede sua capacidade de compreensão; sente-se como uma criança brincando na areia, à margem de um mar ilimitado e misterioso.
Um magnífico exemplo de humildade pode ser encontrado em São Pedro, o pisciano dos Discípulos. São Pedro considerava sua maior honra em seguir a Cristo e a servir Sua causa. Quando chegou a hora em que São Pedro devia segui-Lo na crucifixão, manifestou sua própria indignidade para ser colocado na cruz de pé, como foi Cristo e pediu para ser crucificado de cabeça para baixo. E isso para um homem cujas emanações espirituais se dizia que eram tão potentes que quando a sua sombra passava pelos enfermos, esses eram curados instantaneamente.
Peixes é um Signo de Água e água está correlacionada com a natureza emocional. Quando alguém obtém o domínio sobre as suas emoções, é porque obteve o controle do elemento Água. Essa é a lição que Cristo ensinava a São Pedro quando lhe ordenou que caminhasse sobre as águas. Naquele momento, no entanto, São Pedro ainda não tinha dominado suas emoções. Se Cristo não o salvasse, ele afundaria. Mais tarde, quando já era regente de suas paixões, São Pedro caminhou sem medo para se reunir com Cristo. Isso é conhecido no esoterismo como Iniciação pela Água. Depois dessa experiência, São Pedro experimentou a mais transcendente beatitude de sua vida.
Pitágoras acostumava levar seus Discípulos mais avançados às margens de um lago e ali, por meio do poder combinado e concentrado de todos, agitar a superfície do lago e, logo, acalmá-la, até que na água se refletisse a formosura do céu. Aconselhava-os a acalmar suas Mentes até que nenhum menor pensamento as alterasse. Quando o Aspirante consegue isso, se revela toda a glória de seu verdadeiro “eu”.
Repetindo o que dizemos anteriormente, os egípcios, com seu assombroso conhecimento da ciência das estrelas, conceberam uma série de figuras que descrevem, simbolicamente, o percurso do Cristo Solar ao longo dos doze Signos do Zodíaco.
Saint Germain comparava a influência do Signo a um brilhante cometa que refulge misteriosamente, através do céu, e ilumina, momentaneamente, a Terra, que flutua sobre um mar de profunda negritude, sob o qual há duas mãos entrelaçadas.
O símbolo astrológico de Peixes consiste em dois peixes juntos, mas com as cabeças em sentidos opostos. Um peixe só é utilizado amplamente como símbolo do Iniciado, porque vive nas misteriosas profundidades. No relato de Jonas e da baleia, aquele permaneceu três dias dentro dela, o qual é uma alegoria da Iniciação. A história é uma descrição velada da indução aos Mistérios Menores, tal e como se observam nos templos pré-cristãos. Esse mesmo modelo se repetiu na vida de Cristo, que permaneceu três dias nos planos internos da Terra, no intervalo entre a Crucifixão e a Ressurreição. Devemos recordar, também, que o símbolo do peixe foi utilizado como senha entre os primeiros cristãos e foi usado também como símbolo místico.
Peixes tem dois Regentes: Júpiter e Netuno. Júpiter é o Planeta da lei e da ordem. Sob sua influência, a Era de Peixes tem presenciado o desenvolvimento da igreja esotérica, na qual a água (Peixes) e o pão (Virgem) representam as duas proeminentes características. Cristo Jesus rasgou o véu do templo da Iniciação no umbral da Era de Peixes, abrindo a porta a “qualquer um que deseja entrar nela”. Os que respondem a esse chamado chegam sob a influência de Netuno, o Regente espiritual de Peixes. Sob Netuno aprendem a trilhar o caminho estreito que conduz à liberação, o tipo de liberdade que pertence aos Filhos de Deus, de que falava São Paulo.
No que se refere ao desenvolvimento humano, o trabalho da Era de Peixes é dirigido à purificação de sua natureza de desejos. Esse foi o motivo da batalha para obter o controle das emoções e da alma ter sido a prova principal dos santos medievais e dos personagens pertencentes às lendas do Santo Graal. O objetivo principal do trabalho pisciano consiste na transmutação das emoções inferiores em poder anímico, por meio da devoção, representada pelas estáticas visões dos devotos religiosos enclausurados.
Peixes é o último dos doze Signos zodiacais e contém o resumo final da experiência do destino maduro, pertencente a um ciclo completo. Por esse motivo ele é designado como o Signo das lágrimas e da dor. Vênus, o Planeta do amor pessoal, está Exaltado em Peixes. Quando o amor pessoal dos nativos desse Signo é egoísta e possessivo, o Jardim do Getsemani se mostra a eles muito familiar. A nota-chave bíblica para esse aspecto de Peixes é: “Que se faça a Sua vontade, não a minha”. As portas do Jardim da Dor só podem se manter fechadas por meio do esquecimento de si mesmo e da renúncia total.
Os dois peixes orientados que representam o Signo de Peixes contêm um profundo significado esotérico. Em sua significação mais elevada representam o estado do equilíbrio perfeito. Nas duas colunas do corpo-templo humano (os dois sistemas nervosos) as forças da direita e da esquerda se influenciam harmoniosamente, dando lugar ao equilíbrio entre cabeça e coração. O espírito contata com o mundo objetivo por meio do Sistema Nervoso Cérebro-espinhal, enquanto que o mundo subjetivo é contatado por meio do Sistema Nervoso Simpático. Quando a interação entre o interno e o externo está perfeitamente equilibrada, o Ego se encontra em seu lar em ambos os mundos.
Só dois Signos têm Júpiter e Netuno como em Exaltação: Câncer e Peixes. Júpiter governa as forças da alma; Netuno, os poderes do espírito. A peregrinação zodiacal sob Peixes unirá a essência divina da alma com os poderes do espírito. Esse ideal supremo foi dado à humanidade pela Hierarquia de Câncer, e sua consecução se produzirá sob a orientação de Peixes. A humanidade que haja alcançada a perfeição, fará sua morada na constelação de Peixes, perfeitamente descrita pela imagem de um homem e uma mulher, de pé, de mãos dadas e no interior de uma guirlanda de sempre-vivas. Tais seres conseguiram a vida imortal e a eterna juventude. A nota-chave bíblica de Peixes, emitida pela primeira vez pela Hierarquia de Peixes, no Grande Fiat Criador, “Deus criou o homem a Sua imagem e semelhança”, ressoará então triunfante ao longo e em toda a Terra.
Um antigo aforismo astrológico diz que o nativo de Peixes está, por um lado tão próximo do monte da pureza e da bondade e, do outro, tão próximo do abismo da autodestruição, que Anjos e demônios estão alertas para impulsioná-lo rapidamente para a trilha que eleja. O hieróglifo que acompanha essa descrição representa uma formosa mulher: um gênio está ajoelhado a seus pés e lhe oferece as riquezas da Terra, enquanto um Anjo está próximo da sua cabeça lhe oferecendo seus tesouros celestiais, descrevendo-se, assim, vividamente, a dupla natureza de Peixes. Os nativos desse Signo podem alcançar até as alturas da inspiração e muitas das almas mais dotadas desse mundo caíram abaixo dele. Contudo sucede, frequentemente, que seus dotes são mal gastos, por causa da indulgência com as desenfreadas emoções piscianas.
Peixes é o Signo da décima-segunda Casa. Aquele que nasce sob essa configuração está completando uma série de vidas terrenas e está, por isso, muito ocupado, desembaraçando-se de suas dívidas de destino maduro engendradas no passado. A vida do pisciano é, frequentemente, rica em variedade de experiências e carregada de pesadas responsabilidades. Vênus, está em Exaltação nesse Signo e proclama que as dores de Peixes produzem, geralmente, as mais tenazes ataduras pessoais. Peixes regenerado significa a morte do “eu pessoal” e a vida da alma imortal. A morte mística nesse Signo ocorre sob as forças de Netuno, o Planeta da Iniciação. Aqueles que passam por essa experiência se convertem nos pioneiros da Nova Era.
À medida que o Discípulo viaja ao longo da Trilha da Santidade, que conduz ao plano espiritual, as experiências com que depara vão se tornando mais e mais maravilhosas e transformadoras. Nesse nível de existência não há véu que separe os vivos dos “mortos”, nem barreiras para a comunicação com os seres celestiais. Ali se pode observar a maravilhosa tarefa dos Espíritos da Natureza e compreender que suas atividades estão sob o que os cientistas chamam de “leis naturais”. E, na manhã da Páscoa, entre as triunfantes hosanas dos Anjos e Arcanjos, Cristo, diante da Sua liberação da encarnação anual na Terra, aparece em Sua radiante glória. No Templo dos Mistérios Crísticos, a gloriosa procissão da Páscoa se configura em torno da Sua luminosa presença, não como um mero espetáculo, mas para que Seu poder e majestade se derramem sobre tudo o que seja digno de ser contado entre Seus santificados companheiros.
O Místico Cristão não deve comemorar a Páscoa só como um fato histórico que ocorreu no Gólgota, posto que sabe que o sacrifício de Cristo é um acontecimento anual, que cada ano é sepultado na Terra, da qual surge em cada Páscoa, para ascender aos céus e restaurar Suas forças, ates de retornar a essa esfera físico no próximo Equinócio de Setembro.
Quando ocorreu a crucificação no Gólgota, Cristo abandonou o Corpo de Jesus, no qual havia funcionado durante os três anos de Sua vida pública, e transferiu Seu espírito para o Corpo planetário da Terra para, desde esse momento, se converter no seu regente. Há um profundo significado naquelas palavras que disse aos Seus Discípulos depois da Ressurreição: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue”[114].
Quando a onda de vida humana sucumbiu à sedução dos Espíritos Lucíferos, o ritmo atômico do Corpo físico do ser humano foi alterado, e o espírito ígneo espinhal se tornou harmonizado com as forças lucíferas e recebeu a impressão desses seres ígneos. É a missão do Cristo anular essa situação e substituir o ritmo e a impressão dos Lucíferes por Seus próprios ritmos e impressão, pois Cristo também, como Arcanjo, é um ser ígneo. Quando isso acontecer, a vibração atômica do Corpo do ser humano se tornará imune à enfermidade e à morte. Os seres humanos da Nova Era levarão, dentro de si mesmo, a imagem do Cristo.
A Hierarquia de Áries contém um modelo arquetípico do ser humano, como criado “à imagem e semelhança de Deus”. Esse modelo se tornará cada vez mais manifesto durante a Nova Era. Como já foi dito, as seis constelações que estão sobre o Equador trazem consigo os modelos cósmicos do que há de se manifestar sobre a Terra; as seis constelações que estão abaixo do Equador contêm esses modelos em miniatura, por assim dizer, e as Hierarquias dessas seis constelações meridionais trabalham com a humanidade para conseguir a plena realização desses modelos aqui na Terra. Por exemplo: a Hierarquia de Áries mantém o modelo perfeito do novo ser humano Crístico, enquanto que Libra, o Signo oposto a Áries e o lar dos Senhores da Individualidade, está fazendo descer esse modelo cósmico de Áries, e ajudando o ser humano a trazê-lo à manifestação.
Esse é o conhecimento que tem impulsionado os grandes Mestres do Mundo para ajudar à humanidade a manifestar esse modelo nesse plano. O trabalho é árduo. Contudo, através das Eras, essas almas valentes, que são suficientemente fortes para trilhar a Trilha da Santidade até os planos espirituais, estão exacerbados e preconizam “um novo céu e uma nova Terra” habitados por uma humanidade Crística. Sabem, como Cristo o sabia, que “o Verbo era Deus”.
O Jovem Rico
Aí alguém se aproximou dele e disse:
“Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”.
Cristo Jesus respondeu: “Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos”.
Ele perguntou-Lhe:
“Quais?”
“Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Disse-lhe então o moço:
“Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?”.
Cristo Jesus lhe respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”.
O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens.
Então Cristo Jesus disse aos seus Discípulos:
“Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”.
Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram muito espantados e disseram:
“Quem poderá então salvar-se?”.
Cristo Jesus, fitando-os, disse:
“Ao homem isso é impossível, mas a Deus tudo é possível”.
Pedro, tomando então a palavra, disse:
“Eis que nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos receber?”.
“Em verdade vos digo que, quando as coisas forem renovadas, e o Filho do Homem se assentar no seu trono de glória, também vós, que me seguistes, vos sentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por causa do meu nome, receberá muito mais e herdará a vida eterna. Muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos, primeiros.”
(Mt 19:16-30)
A Parábola do Jovem Rico contém o ensinamento apropriado para a meditação de Áries.
Essa parábola bíblica é um dos ensinamentos do Mestre que mais mal interpretada tem sido. Não é o uso, mas o abuso das riquezas o que engendra o mal e a infração. Cristo, que é o Mestre de todos nós, disse: “Porque a quem muito é dado, muito será exigido”[115]. O dono de uma grande riqueza tem uma grande responsabilidade. Ele atesoura riquezas, e desperdiçá-las em diversões ou em prazeres tresloucados ou em gratificar a vaidade, gera uma pesada carga de destino maduro[116], que há de ser liquidada, algum dia, em alguma parte, por meio da dor e da angústia.
Os que estão destinados a herdar grandes fortunas deveriam ser instruídos, muito cuidadosamente, sobre o seu verdadeiro valor e finalidade. Se se omite essa informação, os pais, geralmente sofrem, devido a que seus filhos não compreendem, com exatidão, sua responsabilidade para com os demais.
Quando um ser humano é esclarecido sob a sua responsabilidade concernente à riqueza, ele se considera como um administrador do vasto depósito divino da abundância. Compreende que não é nada mais do que um canal para fazer fluir e esparramar auxílios, com as que abençoar e elevar àqueles com os quais se relaciona. Tal dedicação converte esse indivíduo em um ser ungido. Dedicando-se ao supremo bem, atrai só o Supremo Bem, e sua vida se converte em uma inspiração e um exemplo a se seguir.
É difícil para a pessoa média dissociar as coisas do espírito que há nelas e as subjazer. Ralph Waldo Emerson[117], o grande escritor americano, escreveu: “as coisas estão sobre a sela e cavalgam sobre a humanidade”[118]. Isso é aplicável, com certeza, ao nosso mundo moderno. O verdadeiro objetivo e propósito da vida humana, no entanto, é o de que o ser humano sublime de tal modo seus pensamentos e emoções relativos às posses materiais, que possa se identificar com o espírito que jaz sobre e por trás de suas posses físicas. Esse espírito é o poder de Deus, o Deus-Todo; e a união com Ele atrai tudo o que é elevado e nobre, formoso e verdadeiro. Esse foi o ideal que o Mestre previa para o jovem discípulo quando lhe disse: “Vende tudo o que tens…e vem e me siga”. A chamada de Áries não é para o “eu pessoal”, mas para o “Eu Sou”, com o objetivo de fortalecê-lo e afirmar sua divindade por meio da aquisição do domínio sobre todas as coisas.
Dado que é o Signo inicial do Zodíaco, Áries é o lugar de todo começo. No ciclo anual do passo solar através dos doze Signos, Áries indica o princípio do ano espiritual. Há sido considerado assim incluído pelas nações que começam seu ano civil em outro ponto do círculo zodiacal. Moisés fixou o começo do ano (Ex 12:2) no mês de Abib (março-abril), porque era o mês da brotação do trigo e dos demais cereais. Também foi ordenado à Moisés que o sacrifício do cordeiro pascal ocorresse quando a Lua Nova estivesse em Áries. No momento do passo anual do Equador pelo Sol, esse estava junto à estrela El Natik, palavra que significa: “perfurado, ferido ou assassinado”. A Lua Cheia estava, então, junto à estrela Al Sheraton, palavra que significa, também, “contundido ou ferido”. A cruz do Equador pelo Sol prefigurava a crucifixão de Cristo Jesus, já que os céus proclamam a chegada dos grandes acontecimentos do destino da humanidade.
As palavras-chaves para Áries são pureza e sacrifício, e seu símbolo, o cordeiro ou o carneiro. Como a vinda do Senhor Cristo à Terra ocorreu durante a Dispensação de Áries, Ele foi denominado o Bom Pastor. A representação familiar o mostra com um cordeiro nos braços.
Durante os primeiros anos da Dispensação Cristã, como já foi dito, o símbolo mais empregado não foi o Cristo crucificado, mas uma cruz com um cordeiro deitado sobre os seus pés. Até o quarto século não foi substituído o cordeiro pela figura humana, cravada na cruz.
No momento em que o Sol cruza o Equador, quando transita do Hemisfério Sul para o Hemisfério Norte, a força de Cristo passa dos planos físicos para os planos espirituais da Terra. O Corpo físico da Terra é como o do ser humano: está interpenetrado pelos veículos mais tênues que se estendem no espaço mais além daquele.
Repetindo, durante os seis meses do ano nos quais o Sol está atravessando os seis Signos sob o Equador, a força de Cristo impregna a região corporal da Terra. No Equinócio de Março, quando o Sol cruza o Equador, e durante os seis meses nos quais atravessa os seis Signos sobre o Equador, a força de Cristo impregna os planos espirituais ou superiores da Terra. Esses planos são o lar dos chamados mortos, uma região onde eles continuam durante algum tempo suas atividades normais em um ambiente de encantadora e radiante beleza. Ali é, também, onde os Anjos e os Arcanjos executam vários serviços em favor do Planeta e de sua progênie.
Quando o Sol entra em Áries anuncia a gloriosa ressurreição, começando a estação anual da transmutação. Então, as águas brancas de Peixes se mesclam com os fogos vermelhos de Áries, união que se manifesta, no Hemisfério Norte, na onda primaveril de flores e cânticos. Também é, para o ser humano, a época da transmutação, a época mais apropriada para seguir empurrando a pedra de sua velha vida e alcançar todo o poder da consciência “ressuscitada”. E, assim, quando a natureza substitui a obscuridade do sonho invernal pelo resplendor da primavera, no Hemisfério Norte, e Cristo transcende a agonia do Gólgota, por meio da exaltação do amanhecer da Ressurreição, o Discípulo que tem seguido, com fé e persistência, a Cristo, ascendendo atrás d’Ele pelo íngreme e estreita Trilha, obtém sua própria ressurreição por meio do despertar dos poderes crísticos dentro de si mesmo. É uma época na qual se pode produzir em seu Corpo-templo uma transformação maravilhosa: uma nova força emana do líquido branco de seus nervos e se mistura com uma nova essência nas correntes vermelhas de seu sangue, união que produz a luz dourada que impregna e rodeia o Corpo de um ser iluminado. São João se referia a uma transformação desse tipo quando escreveu que nós, algum dia, “caminharemos na luz, como Ele na luz está”[119]. Vermelho e branco são as cores de Áries, e também são as cores da transmutação, tanto no ser humano como na natureza.
Quando o Sol passa pelo Signo de Touro no mês de maio a força de Cristo ascende mais e mais até a aura espiritual da Terra. O Discípulo que está caminhando pela Trilha da Santidade segue a estrela da luz ascendente de Cristo e penetra em uma esfera na qual se encontra interiormente harmonizado e fortalecido pelo poder criador da música. Os seres celestiais que habitam esse plano falam uma linguagem musical. Cada um dos seus gestos produz música. Elas modelam e vestem toda classe de formas por meio dos tons musicais. Nesse plano todas as coisas que crescem, amadurecem por meio do poder da música, e as cores variadas das flores são produzidas a partir das variações do tom. A música é certamente o supremo poder criador nesse elevado Mundo.
A constelação de Touro é o lar dos arquétipos cósmicos de tudo o quanto existe na Terra. Esses arquétipos são refletidos pelo seu Signo oposto, Escorpião, o lar dos Senhores da Forma. Essa Hierarquia ensina a construção das formas em tudo no plano físico. E da constelação de Touro emana o tom misterioso que Deus utilizou para a Criação, essa Palavra criadora por meio da qual “todas as coisas foram feitas e nada do que tem sido feito, foi feito sem ela”[120]. Essa é a nota-chave bíblica de Touro.
Os Senhores de Touro guardam o arquétipo cósmico de um órgão maravilhoso, destinado a se converter em uma parte do futuro Corpo humano. Esse novo órgão, semelhante a uma rosa dourada, estará situado na garganta e será o centro por meio do qual o ser humano da Nova Era pronunciará a palavra criadora. Mediante o seu poder, a geração se converterá em regeneração e o ser humano será capaz de modelar a substância a sua vontade. No plano onde as forças de Touro são mais ativas e luminosas, pode-se vislumbrar essa perfeição e meditar sobre ela. Então se percebe o glorioso desenvolvimento que lhe espera no futuro e compreende o sentido das palavras do salmista: “Tu o fez um pouco inferior aos Anjos e o corou de glória e honra” (Sl 8:6).
Parábola Bíblica para Touro
Os Talentos (Mt 25:14-30)[121]
Touro é essencialmente a Hierarquia do destino maduro. Nos últimos dias dessa Era, tanto os indivíduos como as nações estão limpando suas dívidas de destino maduro, precisamente sob esse Signo, assistido pelo seu oposto Escorpião, para a preparação do futuro Novo Dia. A guerra foi acertadamente descrita como uma operação da catarata espiritual. E, se bem que é um terrível flagelo, é também um meio de limpeza inexorável. Por isso nossos dias estão cheios de guerras e de rumores de guerra.
A Parábola dos Talentos é uma lição sobre o renascimento e sobre o destino maduro. Um grande nobre foi a uma país longínquo para reclamar o seu reino. Antes de partir chamou os seus dependentes e lhe confiou a cada um deles uma certa quantidade de talentos. Depois de uma longa ausência, ele voltou e os convocou para que eles pudessem lhe prestar contas. O primeiro devolveu os talentos, mas duplicados. “Bem feito, bom e fiel servidor”, comentou o amo. O segundo apresentou seus talentos com um pequeno ganho, de modo que recebeu, também, a benção do amo. O terceiro servo, que havia recebido só um talento e o havia enterrado, lhe devolveu a seu chefe dizendo: “Tive medo e fui esconder meu talento na terra, assim que aqui tem o que é teu”. Ao que seu amo respondeu: “Tu, servo preguiçoso e malvado…ponham esse servo improdutivo para fora, nas trevas”. A isso seguiu a norma crítica do Mestre: “Porque ao que tem lhe será dado, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”.
Essa parábola se refere ao ciclo de vidas terrenas. O propósito de cada peregrinação consiste em que cada ser humano conquiste mais poder anímico, mais vida anímica e mais luz anímica.
Cada talento que o ser humano traz de suas encarnações anteriores há de ser incrementado, ou sua vida será estéril. O primeiro servo, a quem foi dado dez talentos, representa a alma velha que, através de muitas encarnações, conseguiu uma rica colheita de poderes anímicos. Em cada nova vida aprende novas lições, especialmente por meio da meditação, da contemplação e do trabalho, avançando, tanto nos planos internos como no externo. O segundo servo, que recebeu cinco talentos, representa uma alma mais jovem na escola evolutiva de Deus. Está aprendendo suas lições principalmente por meio das atividades nos planos físicos. Sua vida se centra, principalmente, nos cinco sentidos. Note-se que cinco é um número da atividade, enquanto que dez é a união do “1” (masculino) com o “0” (feminino), trabalhando ambos harmonicamente. Esse segundo servo representa o estado evolutivo da grande massa da humanidade.
O terceiro servo, que por medo enterrou o único talento que recebeu, representa os que ainda não estão totalmente despertos espiritualmente e se encontram centrados somente nos interesses do “eu mortal”. O fato de ser jogado na obscuridade exterior não é uma maldição, mas o modo de trabalhar da lei divina, pois somente por meio do sofrimento e do trabalho o ser humano pode despertar a natureza superior. Como Mabel Collins diz em seu Luz no Caminho: “Antes que os pés possam pousar ante a presença do Mestre, hão de ser lavados com o sangue do coração”.
Quando o Sol passa de Áries para Touro, uma pessoa sensitiva percebe uma mudança na atmosfera psíquica da Terra, das muitas carregadas radiações masculinas de Áries ao suave e carinhoso padrão do Signo de Vênus, governado por Touro. A Lua, também feminina por natureza, está em Exaltação nesse Signo, que enfatiza ainda mais a terna e amável disposição dos nativos de Touro. Por isso, sob essas influências, se celebra o Dia das Mães precisamente no segundo domingo de maio, quando os atributos femininos dos céus estão no Ascendente.
Os antigos representavam um Touro como uma suma sacerdotisa sentada em um trono, com um halo ao redor da cabeça e um livro aberto sobre os joelhos. Um véu cobria seu rosto, simbolizando a ocultação dos Mistérios da multidão ainda não despertada. A divindade feminina possui segredos sagrados da vida que nunca são revelados até que se aproxime um buscador com as mãos limpas e o coração puro. O véu dos sacerdotes nunca se levantará enquanto o ser humano guerreie com o seu próximo e continue matando para comer, por esporte, por vaidade ou para praticar crueldades como as de vivissecção. Toda vida é sagrada e tudo seguirá assim até que o ser humano seja digno de levantar o véu da Isis e penetrar nos mais profundos mistérios da vida.
Os nativos de Touro são atraídos pelas atividades por meio das que encontram expressões nas qualidades venusianas. E como Touro é um Signo de Terra, sua expressão tende para a prática das artes. A profissão da cura está favoravelmente influenciada por Touro, especialmente no que se refere à conservação do Corpo Denso nas perfeitas condições para seu Espírito interno.
A nota-chave de Touro é: “Eu possuo”. A nota-chave de Vênus, Regente de Touro, é: “Eu amo”. Um taurino não desenvolvido se inclina para um amor possessivo que limita a liberdade de seus objetivos provocando desgostos, discórdia e dor em seus relacionamentos. Desse modo se criam as grandes dívidas de destino maduro.
Sob a Hierarquia de Touro a humanidade está colhendo uma pesada mortalidade que obedece a causas passadas. Sob o Signo oposto, Escorpião, está sendo liquidada a dívida, em escala planetária, mediante guerras, desordens sociais e desastres telúricos.
Sob Touro, no entanto, as forças transmutadoras existentes na natureza são ativadas para transformar a vida do Discípulo. Cada personagem bíblico ilustra as características de um Signo zodiacal. Uma personalidade que tipificou as características de Touro foi Maria Madalena. Maria, irmã de Lázaro, tipificou a Câncer, enquanto a bendita Virgem Maria veio sob o Signo de Virgem. De modo que as três Marias, mais intimamente associadas à vida e ao ministério de Cristo Jesus, correspondem aos três Signos femininos mais destacados do Zodíaco. Maria Madalena, atrativa e sedutora, estava centrada nas correntes de desejos da Terra; mas quando Cristo tocou em sua trajetória vital, a chama da rosa da paixão se transformou na chama branca da alma. Essa transformação foi o que a fez merecedora do privilégio de ser, entre todos os Seus seguidores, a primeira a ver o Senhor ressuscitado e a de ser enviada por Ele para transmitir aos demais a mais transcendental mensagem de todos os tempos: “A morte não existe”.
Quando o Sol transita pelo Signo de Gêmeos, a constelação imprime no Corpo-templo humano uma dupla influência. Governa todas as dualidades do Corpo: Pulmões, ombros, baços e mãos, em particular. Contém, também, o arquétipo cósmico do perfeito andrógino, onde as potencialidades masculinas e femininas estão em equilíbrio. Essa é a consecução dos Iniciados nos Grandes Mistérios de Cristo. Essa aquisição produz a imunidade ante a enfermidade e a passagem do tempo. E como sua consciência não se interrompe, esteja ou não na carne, nunca experimentam a morte, tal como nós a concebemos, já que sua consciência está centrada na imortalidade ininterruptamente.
A onda de vida Arcangélica alcançou um status no qual pode funcionar em Corpos perfeitamente polarizados. Isso não é possível para os Anjos, menos evoluídos, nem para a humanidade. É, no entanto, possível para os membros daqueles reinos ao descerem de seu elevado estado a formas inferiores de expressão. A “Queda dos Anjos” se correlaciona na Bíblia com a “Guerra nos Céus”, quando Lúcifer e seus seguidores foram expulsos de seu plano[122]. A “Queda do Homem” ocorreu, segundo o Livro do Gênesis, quando Adão e Eva (a humanidade infantil) perderam o Jardim do Éden. A redenção de ambas as quedas exigiu poderes mais elevados do que ambas as ondas de vida possuíam. Tinham que proceder do nível arcangélico. E vieram: Cristo, o mais elevado dos Arcanjos, se converteu no Mestre e redentor de ambos, os Anjos caídos e a humanidade. Essa é uma das mais profundas verdades associadas com o Mistério de Cristo.
O arquétipo do andrógino perfeito foi projetado pela Hierarquia de Gêmeos a seu Signo oposto, Sagitário. A Hierarquia de Sagitário (Senhores da Mente) transmite esse iluminador ensinamento aos mais avançados pioneiros da Terra. Depois da vinda de Cristo o desenvolvimento posterior da Mente humana deixou de estar a cargo de Escorpião e passou a ser responsabilidade de Sagitário. Considerando as maravilhas da Mente, seus poderes criadores, sua capacidade de percorrer toda a Terra em um instante e contemplar a vastidão do espaço cósmico – ainda que, no momento, só uma fração dela está em atividade – podemos ter um leve vislumbre da transcendente glória da Hierarquia de Sagitário, cujo veículo mais denso, correspondente ao nosso Corpo Denso, está composto de material mental. Isso indica, também, os poderes sublimes que aguardam o ser humano quando alcançar tal desenvolvimento.
Para uma alma que despertou a meta suprema no desenvolvimento da Mente é a cristificação. Essa consecução é, no entanto, patrimônio de muitos poucos. A maior parte da humanidade está, ainda, embebidos no materialismo da Mente concreta, que geralmente foca em propósitos mundanos e em interesses pertencentes ao excludente “eu”. Enquanto forem tais os assuntos que chamam a atenção do ser humano, haverá uma carência de percepção espiritual e uma escassa constatação das realidades pertencentes aos Mundos internos e à Mente universal. Nem haverá nenhuma continuidade de consciência; algumas vezes ocorrendo somente o temor ante as experiências enfrentadas no Mundo espiritual durante o intervalo entre vidas. O resultado de uma consciência tão sumamente isolada das realidades espirituais é o materialismo, que condiciona o mundo de hoje. Esse, no entanto, não é mais do que uma fase temporal no desenvolvimento da humanidade. A comprovação das realidades espirituais, que subjaz a todas as manifestações físicas e temporais, vai se tornando cada vez mais clara e mais forte à medida que vai se derramando mais luz sobre a trilha dos que lutam pela santidade.
Enquanto o Sol transita pelo Signo de Gêmeos, a luz de Cristo se difunde em uma aura esférica ao redor da Terra, o que capacita os Iniciados na Trilha da Santidade a alcançar a presença de poderosos seres, conhecidos como Serafins, cuja grandeza e poder sobrepassam qualquer descrição. Sob seu sublime ministério, os ensinamentos relativos ao mistério da polaridade são transmitidos, com que se aprende a interação entre as energias masculinas e femininas (os elementos positivos e negativos da natureza), e constituem a força motriz de tudo, desde o átomo até o Planeta. Os alquimistas medievais se referiam a essa perfeita união, essa polaridade, como a combinação do fogo e da água. Essa união está vividamente simbolizada em Jachin e Boaz, as duas colunas de cobre que ficavam à frente do Templo de Salomão, e é o tema do glorioso canto Iniciático de Salomão. É a polaridade a que Salomão se refere ao dizer: “Meu amado é meu e Eu sou sua; ele se nutre entre os lírios”[123].
Quando um iluminado segue a Trilha da Santidade que conduz a essa exaltada esfera, é-lhe permitido estudar as maravilhas do Corpo andrógino, a forma que o Corpo humano adotará em uma etapa futura de seu desenvolvimento. Como foi dito, a Hierarquia de Gêmeos, ou sejam, os Serafins, projeta sobre a Terra esse glorioso arquétipo cósmico. E, quando a humanidade estiver preparada para recebê-lo, suas forças descerão, transportadas até o ser humano pela Hierarquia de Sagitário. Quando o ser humano conhece as maravilhas desse arquétipo cósmico e os milagres do Corpo de Sagitário, construído inteiramente de matéria mental, começa a compreender algo do destino exaltado que lhe espera. Com profunda reverência e grande humildade entoa, em seu interior, a nota-chave bíblica de Gêmeos: “Esteja tranquilo e saiba que Eu sou Deus”[124].
O Homem Rico e Lázaro[125]
Foi dito que Gêmeos, os gêmeos, é o Signo dos opostos: positivo e negativo, alto e baixo, branco e preto. Sob a influência dessa Hierarquia a humanidade conhece o caminho da luz e o caminho das sombras, como conheceram Lázaro e o homem rico na parábola bíblica.
O homem rico tinha grandes posses terrenas, enquanto Lázaro era um mendigo que vivia na miséria. Ambos simbolizam os dois polos da riqueza e da pobreza, o “tem” e o “não tem”, uma classificação que é causa de inumeráveis guerras ao longo da história. O homem opulento da parábola se vestia de linho puro e púrpura real. Todos os dias se dedicava a se divertir e se distrair, enquanto Lázaro, em sua extrema miséria, acudia cada dia para mendigar as migalhas de sua mesa.
Idênticas situações existem no mundo hoje em dia. Contudo, tais iniquidades não podem durar, posto que vivemos em um mundo regido pela lei moral. O ajuste de contas, no entanto, requer maior tempo do que compreende uma só encarnação terrestre. Isso é o que ensina a parábola, que revela o modo de operar a lei, tanto nos planos externos como nos internos.
Lázaro e o homem rico morrem. O primeiro foi transportado para os Céus, enquanto o segundo foi para o Purgatório a fim de sofrer pelo seu ócio, sua improdutividade e perda de tanto tempo. Essa justiça não é, no entanto, de natureza vingativa. O ser humano colhe o que semeou. Ainda que Lázaro vivia na pobreza, as sementes que ele semeou produziram uma rica colheita em comparação com a produzida pelo homem rico, que falhou na hora de fazer o uso correto de suas riquezas e aproveitar a ocasião que foi lhe dada, de prestar um serviço a alguém menos afortunado que ele. O modo de operar da lei é simplesmente corretivo. Reconhecendo a colheita de sua própria semente, o ser humano obtém a compreensão e a compaixão e se dá conta que é um com toda a humanidade.
A parábola ensina, também, que a natureza da experiência do ser humano após a morte está determinada por sua vida sobre a Terra. Quando o homem rico sentiu sede, viu o estado de felicidade de Lázaro no seio do Pai Abraão e suplicou a esse que permitisse a Lázaro lhe dar um gole de água para matar a sede. A isso, Abraão replicou: “Entre nós e vós existe um grande abismo”. Essa barreira é formada por uma vibração. Se uma pessoa do Purgatório pudesse elevar sua consciência ao plano celeste, não continuaria confinada no plano inferior do Mundo do Desejo.
A parábola mostra, ainda, outro ensinamento. O conjunto das experiências humanas está constituído, principalmente, pelas emoções do prazer e da dor. Fiona MacLeod, uma excelente escritora inglesa, disse que no paraíso não há lágrimas, há em um certo jardim um grande lago cinza, cujas águas se renovam constantemente com as lágrimas de dor, sofrimento e remorso vertidas na Terra. Se alguém, no entanto, se ajoelha e lava seus olhos nessas águas, se salvará. Desde esse momento seus cantos serão tão doces que serão ouvidos no Paraíso.
Aceitada com conhecimento, a dor constrói o degrau na escada da realização. Porque a dor torna a compaixão mais profunda e a simpatia mais ampla e incrementa a humildade e a beleza do próprio caráter, que são as características de tudo o que se encontra na verdadeira trilha do Discipulado.
Gêmeos é o Signo dos gêmeos. No plano material significa dualidade; no plano espiritual, polaridade. Os antigos atribuíam a Gêmeos duas brilhantes estrelas: Cástor e Pólux. E ensinavam que Mercúrio, Regente de Gêmeos, conferiu a imortalidade a essas duas estrelas em dias alternados, indicando assim o caráter dual do Signo. Sob a influência de Gêmeos o ser humano oscila facilmente de um extremo a outro: do material ao espiritual, do pessoal ao impessoal.
A nota-chave de Gêmeos é a versatilidade. Seus nativos se caracterizam por sua habilidade em fazer muitas coisas muito bem. Gêmeos avançando, frequentemente, se dedica a escrever e a falar sobre assuntos espirituais e, às vezes, se converte em um curador espiritual.
Gêmeos é um Signo mental e a Mente pode conduzir tanto na direção das trevas como na direção da luz. São Paulo sabia disso perfeitamente e por isso acentuou em todos os seus ensinamentos o ideal de que “Cristo se forme em vós”[126]. Até que a Mente se cristifique ela está ameaçada por grandes perigos. E contra isso São Paulo cita: “a Mente carnal é inimiga de Deus”[127].
O antigo hieróglifo representativo de Gêmeos foi a figura de um sumo sacerdote sentado em um trono, em cujos pés se ajoelhavam duas esfinges, uma branca e outra negra. Outro símbolo, assim, insistindo na dualidade do Signo de Gêmeos.
De acordo com a natureza de Gêmeos, aqueles que estão fortemente influenciados por esse Signo, frequentemente enfrentam a necessidade de eleger entre um dos dois caminhos; por isso resulta essencial para eles o cultivo dos poderes do discernimento, poderes acentuados em Virgem, também regido por Mercúrio. Hão de cultivar a estabilidade e a fixidez de propósitos, já que são muito facilmente influenciáveis. O nativo de Gêmeos necessita muito tempo para se concentrar e meditar sobre a frase: “Está tranquilo e sabe que Eu sou Deus”[128].
O embaixador angélico de Mercúrio na Terra é Rafael, o guardião e diretor dos movimentos de cura no mundo. Preside os elevados ensinamentos do Templo, sendo a mais importante delas a do poder curador da Mente. Esse conhecimento está tendo ampla aceitação e prática nos tempos atuais.
Uma formosa lenda conta que, ao final de cada dia, o Anjo Sandalfon recolhe todas as orações de ajuda e de cura que foram emitidas a partir da Terra e as põe ante o trono de Deus de onde, por meio de Sua terna benção, se transformam em um imenso dossel de flores perfumadas. Essa lenda teve uma refinada expressão nos seguintes verso de Longfellow:
E ele recebe as orações,
Que, em suas mãos, se convertem em flores,
Em guirlandas de vermelho e púrpura;
E sob o grande arco do portal,
E nas ruas da Cidade Imortal,
Tudo se enche com sua fragrância.
O mesmo pensamento é aplicável a Rafael, o Anjo da cura, o qual, devido a sua proximidade com a nossa raça, é denominado “o amigo do ser humano”.
Rafael, o embaixador de Mercúrio, representa em seu próprio ser os Senhores de Mercúrio, que estão exercendo agora um papel cada vez mais ativo nos trabalhos de Iniciação da humanidade. Preside os Mistérios, o trabalho Iniciático da onda de vida humana até o fim do Período Terrestre. Os mensageiros de Mercúrio ajudam a todos os que tem aspiração à Iniciação e, segundo Max Heindel, prestarão ao ser humano cada vez mais auxílio, à medida que o tempo passa. Muitas pessoas sensitivas estão sendo já conscientes da sua presença, pois os Senhores de Mercúrio pertencem a nossa onda de vida que, originariamente, morou no Sol. Estão, no entanto, muito mais avançados que a primitiva humanidade e Rafael é seu protótipo ante o trono de Deus.
O Sol, em seu anual trânsito através de Câncer, alcança o ponto mais alto de sua ascensão setentrional no Solstício de Junho. Sua radiação física alcança o máximo no hemisfério Norte, por isso, lá, os dias são mais longos e as noites são mais curtas. É o meio-dia mais elevado do ano e sua nota-chave é luz.
Câncer é o Signo mais feminino do céu. Em harmonia com esse fato, o Signo contém um pequeno grupo de estrelas organizadas de modo que se assemelham a um presépio. Do coração de Câncer brotam as águas da vida eterna onde as sementes da forma germinam e animam todos os reinos da Terra. O Solstício de Junho ocorre quando o Sol entra em Câncer e está sintonizado com o princípio da fecundidade. Por isso, obedecendo a esse princípio ativo da natureza, as sementes eclodem para um novo ciclo de manifestação. A luz, a liberdade e o regozijo são as qualidades dominantes da época do centro do verão, para o hemisfério Norte. De acordo com isso muitos povos, especialmente na Europa, celebram esse tempo com música, danças e festas exuberantes.
A Hierarquia de Câncer é conhecida na Bíblia como os Querubins. O trabalho dessa Hierarquia consiste em guardar os lugares sagrados. Flutuavam sobre o Sanctum Sanctorum[129]. O recipiente com o maná da Arca da Aliança é um símbolo do Cálice do Graal individual de cada ser humano e de sua sagrada força vital. A humanidade perdeu o Jardim do Éden por causa do mal-uso da sua força vital e, desde então, os Querubins guardam as portas do Éden para evitar que a humanidade não regenerada possa encontrar, prematuramente, a possibilidade de penetrar nele. Dizem que a Virgem Maria e os Discípulos, desde o Pentecostes, se comunicam com os Querubins, querendo com isso significar que aprenderam essas verdades sagradas, lecionadas por essa Hierarquia Divina.
Quando o Sol alcança o ponto máximo em sua ascensão, o Espírito de Cristo chega até o Trono do Pai. Sua atividade, então, é focada sobre os Planos mais elevados da aura terrestre, onde oferece uma nova iluminação e bênçãos renovadas aos seres celestiais que ali habitam, assim como ocorre com as almas que em sua evolução, entre duas encarnações físicas, alcançaram esses elevados níveis. De acordo com tudo isso, é também nessa época que o ser humano iluminado, seguidor de Cristo na Trilha da Santidade, pode se elevar conscientemente a esses Planos, contatar os habitantes celestiais e seguir aprendendo sobre as Forças da Natureza. Ali se compreende como os Espíritos da Natureza da água e do fogo, as ondinas e as salamandras, respectivamente, trabalham na primavera e no verão no crescimento das plantas; e como os do ar e da terra, as sílfides e os gnomos, respectivamente, trabalham no outono e no inverno na morte e na desintegração das plantas. Naquele exaltado Plano, o que segue a Trilha da Santidade se vê à frente do verdadeiro mistério da vida. Só os puros de coração alcançam esse nível. Os que tenham as mãos manchadas de sangue não poderão, jamais, levantar o véu desse lugar sagrado. Aquele que quer descobrir o segredo da vida não o alcançará até que, tanto suas mãos como seu coração, sejam castos e limpos. Só a esses será permitida a constatação da unidade de toda a vida.
Essas são as verdades que pertencem, especialmente, à Hierarquia de Câncer e não é possível sua transmissão direta no Plano terrestre. Por esse motivo são transferidas pelos Querubins à Hierarquia de Capricórnio, o Signo oposto a Câncer e o lar dos Arcanjos que, por ser de uma categoria inferior à dos Querubins e, portanto, estar suas consciências mais próximas às do ser humano, as disseminam entre aqueles que as desejam e estão preparados para recebe-las. Esse foi o motivo de ter sido no período de Capricórnio, quando as forças dessa Hierarquia impregnaram a Terra para que descendesse a nascer nela o Mestre Jesus, da semente de Davi e que converteu no suporte de Cristo.
Parábola Bíblica para Câncer
O Filho Pródigo (Lc 15:11-32)[130]
De acordo com a Astrologia Esotérica todas as almas que renascem passam pelas portas de Câncer. Nas águas de Câncer se formam os germens da vida que animam a cada indivíduo dos reinos mineral, vegetal, animal e humano. Esse impulso vital eleva, progressivamente, do mineral para o vegetal, do vegetal para o animal, do animal para o ser humano e do ser humano para o Anjo, já que toda a evolução está sob a supervisão da Hierarquia.
A Parábola do Filho Pródigo se refere à Câncer. É uma história sobre a evolução. Apresenta-nos dois irmãos, um mais velho, que jamais abandonou a casa paterna e outro mais novo, que vai para um país longínquo. Inicialmente o pai lhe diz: “tudo o que eu tenho é teu”. Esse irmão representa a natureza superior do ser humano, que está sempre sintonizada com tudo o que é bom, nobre, formoso, puro e verdadeiro. O outro irmão abandona a casa paterna e gasta mal tudo o que tem em uma vida desenfreada, terminando por disputar a comida dos porcos que ele cuidava. Esse representa a natureza inferior do ser humano que sucumbe às tentações sensuais e aos caprichos do mundo.
Como é de aplicação universal, essa parábola se encontra em todo ensinamento espiritual fornecido ao mundo. Foi já um importante ensinamento nos Mistérios do antigo Egito. No simbolismo da Loja Azul maçônica é dada outra versão, levemente diferente. Nela o candidato, pobre, nu e cego, depois de gastar mal e inutilmente tudo que tinha, eleva seus olhos para a casa do Pai e começa sua viagem para o leste, em busca da luz. Ali está sentado o Mestre excelso que, quando o candidato se revela digno disso, lhe é instruído como alcançar, também, a maestria.
A humanidade, em geral, está representando o papel do Filho Pródigo, pois a raça humana deu as costas à verdadeira luz e, em sua perseguição por objetivos materiais, vive literalmente na casca da existência. Isso provocou o nascimento do medo, do caos, da incerteza, dos conflitos e das revoltas sociais que enchem a Terra. E que aumentarão até que a humanidade comece a voltar atrás e se dirigir para a luz que brilha nele.
Quando o Filho Pródigo retornou, o Pai lhe recebeu entusiasticamente. O filho disse: “Pequei e já não sou digno de me chamar de filho novamente. Trata-me como um dos seus servos”. No entanto, o Pai o recebeu com um forte abraço, o vestiu com o melhor traje e pôs em seu dedo um anel de ouro.
A maior tranquilidade para o ser humano, em meio ao caos da vida, é saber que nunca lhe faltará o cuidado amoroso e a proteção do seu Pai. “O assédio dos céus” sempre o seguirá. Nas palavras do salmista: “Se subo aos céus, tu lá estás; se me deito em um tumba, aí te encontro” (Sl 139:8). Nenhum ser humano pode cometer tantos crimes ou se degradar de tal maneira que não possa contar com a amorosa recepção do Pai, quando eleve seus olhos e começa sua caminhada em direção a Ele. O pródigo regenerado se vestirá com a roupa da nova vida e lhe será dado o anel de ouro, o amor e a proteção.
A proximidade do Pai foi, magnificamente, expressada por Elizabeth Barret Browning[131]:
E eu sorri para agradecer a grandeza de Deus fluindo
em torno de nossa imperfeição
E a nossa ansiedade, o seu descanso.
As duas naturezas do Filho Pródigo foram bem descritas por Emerson: “Só o finito trabalhou e sofreu; o infinito se esticou em um descanso sorridente”. E São Paulo ilustrava a trilha que leva o ser humano da irrealidade para a próxima afirmação: “as coisas que são vistas são temporais, mas as que não são vistas são eternas”.
Câncer é o Signo mais profundamente místico, o principal Signo feminino. A Lua, Regente de Câncer, é o lugar da Exaltação, tanto de Júpiter como de Netuno, e sua nota-chave é fecundidade. Nas águas cósmicas de Câncer se encontram os germens que animam as formas pertencentes a todos os reinos da natureza. Câncer governa, também, o lar e a família, e suas qualidades tendem a desenvolver os atributos do caráter que permitem aos pais dirigir com amor e harmoniosamente seu lar.
O misticismo de Câncer vem em parte de Júpiter, Planeta da simpatia e generosidade expansivas, mas muito mais de Netuno, a oitava superior de Mercúrio e o Planeta da divindade. O Solstício de Junho ocorre quando o Sol entra nesse Signo, momento em que a brilhante e a branca azulada estrela fixa Sirius mais derrama sua influência espiritual sobre a Terra. Como Signo mãe cósmica, Câncer é o portal por meio do qual os Egos humanos veem ao renascimento.
Por causa da influência de Júpiter, nessa época, as artes criativas recebem uma inspiração especial, no tempo em que Júpiter converte esse período em um dos mais apropriados para que as almas iluminadas passem, através das portas da luz, aos Mundos internos e neles experimentem a vida imortal. Os três princípios do Tríplice ser humano estão governados pela Lua, por Júpiter ou por Netuno. A Lua afeta o seu Corpo Denso, Júpiter a sua Alma e Netuno o seu Espírito.
A humanidade em geral responde à Jeová, por meio da influência do Sol físico; os Iniciados nos Mistérios Menores o fazem através do Sol espiritual, o Corpo do Cristo Cósmico; e os Iniciados dos Mistérios Maiores, por meio de Vulcano, que equivale ao Corpo solar do Pai. Os astrônomos não descobriram, ainda, o Planeta Vulcano. No entanto, chegará a ser conhecido pelo mundo como consequência das investigações científicas, quando muitos indivíduos se tornem suficientemente sensitivos para receber suas vibrações. Essa foi a condição sob a qual os Planetas Urano, Netuno e Plutão começaram a se expressar nos veículos superiores do ser humano.
Os antigos representavam Câncer como uma mulher com a Lua a seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Esse símbolo foi empregado por São João na Revelação[132] para representar o triunfante regresso do feminino caído, a Eva do Gênesis, a seu estado divino original. Essa figura exaltada feminina representa os Grandes Iniciados da Hierarquia de Câncer conhecidos como Querubins. Um dos mais altos Iniciados dessa Hierarquia é a Mãe Cósmica do universo a que esse Planeta Terra pertence.
A Lua, como Regente de Câncer, significa geração; Netuno, Exaltado em Câncer, significa regeneração. A transmutação da geração em regeneração é o novo nascimento do qual Cristo falou a Nicodemos quando foi falar com o Mestre “à noite”[133]. A nota-chave de Câncer é encontrada naquelas palavras de Cristo: “…Salvo que um homem nasça de novo, não poderá ver o Reino de Deus…quem não nascer da água (Lua em Câncer) e do espírito (Júpiter em Câncer), não poderá entrar no Reino de Deus (Netuno em Câncer)”. Esse é um dos mais explícitos ensinamentos sobre a Iniciação fornecidos por Cristo durante os três anos de ministério. Todo mundo conhece o nascimento natural sob a Lua em Câncer, mas são poucos os que aprendem a caminhar pela “trilha apertada e estreita” da renúncia da carne e da dedicação do espírito, implícita na Exaltação de Júpiter e Netuno em Câncer. Essa é, certamente, a verdadeira e única chave para a elevação da consciência por meio da qual o ser humano é transportado do nascimento natural “aquoso” para a divina sintonia do nascimento “ígneo” espiritual.
Foi dito que, enquanto o Sol transita pelos Signos de Câncer e Leão durante os meses de julho e agosto, Cristo ascende ao Trono do Pai, onde se banha em Sua transcendente glória. Ali se renova e se revitaliza, atraindo mais e mais forças espiritualizadas para prosseguir o Seu ministério terreno quando volte a penetrar nos reinos da humanidade, no Equinócio de Setembro. Durante sua permanência nos céus o Planeta Terra, clarividentemente observado, aparece luminoso por Suas radiações; e o observador comprova, no mais profundo do seu ser, o significado de Sua afirmação: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue”[134].
Quando o Sol atravessa os Signos de Câncer e de Leão, o iluminado que caminha na trilha da santidade ascende aos mais altos reinos desse Planeta e entra em uma mais profunda consciência de poder transcendente. Começa a compreender que o amor, em seu mais elevado aspecto, não é uma paixão ou um sentimento, mas uma fase da própria divindade. São Pedro foi imbuído de uma força amorosa dessa natureza. Ele mesmo se referiu a ela quando disse ao aleijado, às portas do formoso Templo: “Nem ouro nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareu, põe-te a caminhar! ”[135]. E foi essa mesma força a que, de tal modo, animou a São Paulo que, apesar de todas as suas perseguições e encarceramentos, pode pronunciar aquelas palavras formosas: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos Anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine”[136].
Quando o Aspirante alcança esse grau de realização espiritual, Cristo é tudo para ele e tudo está n’Ele. Servir como Ele serviu e amar como Ele amou se convertem em sua principal aspiração. A nota-chave bíblica de Leão ressoa nas palavras: “O amor é o cumprimento da lei”[137]. É permitido a ele acessar a Memória da Natureza, ver o sagrado e iluminado coração e assimilar algo dos mistérios profundos que contém. E, então, começa a entender a íntima conexão existente entre a Hierarquia de Cristo e o centro de luz do corpo humano, chamado coração. Uma das primeiras imagens na Memória da Natureza que o Aspirante estuda simboliza o Cristo, em pé, diante de uma porta chamando-o. Em Sua mão está uma luz e Ele diz: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa”[138]. Essa passagem lembra a realista representação feita por Holman Hunt[139]. Seu quadro imortalizou essa atividade da busca do nosso Redentor. Há, sensatamente, que pensar que a criação dessa obra prima fui inspirada pela elevada dádiva que o artista recebeu, tanto consciente como inconscientemente. Os Discípulos que trabalham nos planos internos, frequentemente, param diante desse quadro e meditam sobre seu profundo significado, pois a porta ante a qual está o Cristo representa o coração humano.
Na próxima Era de Aquário, à medida que a influência amorosa de Leão vai penetrando mais profundamente na Terra, mais buscadores se tornarão conscientes da proximidade do Cristo e escutarão Suas palavras de súplica que ressoam pelos corredores do tempo: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa”.
O Banquete de Bodas do Filho do Rei
A constelação de Leão pertence à Triplicidade de Fogo. Luz, amor, autoridade e controle estão entre as suas notas-chaves. O coração rege o Corpo-Templo humano e é o centro do amor. O coração do Discípulo aumenta sua luminosidade com sua espiritualização crescente até que, finalmente, caminha na luz como Cristo, que está na luz. Como consequência dessa irradiação, chama a atenção e ganha lealdade. A Hierarquia de Leão está implantando esse ideal no mais profundo de cada ser humano ao focar seu poder de amor sobre a Terra.
A parábola relativa à Leão é a do banquete de bodas do filho do rei[140]. Havia “ um rei que celebrou as núpcias do seu filho. Enviou seus servos para chamar os convidados para as núpcias, mas estes não quiseram vir. Tornou a enviar outros servos, recomendando: ‘Dizei aos convidados: eis que preparei meu banquete, meus touros e cevados já foram degolados e tudo está pronto. Vinde às núpcias’. Eles, porém, sem darem a menor atenção, foram-se, um para o seu campo, outro para o seu negócio, e os restantes, agarrando os servos, os maltrataram e os mataram. Diante disso, o rei ficou com muita raiva e, mandando as suas tropas, destruiu aqueles homicidas e incendiou a cidade. Em seguida, disse aos servos: ‘As núpcias estão prontas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias todos os que encontrardes’. E esses servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, de modo que a sala nupcial ficou cheia de convivas. Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?’ Ele, porém, ficou calado. Então disse o rei aos que serviam: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o fora, nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes’. Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos”[141].
A festa de bodas é, naturalmente, a Iniciação. Não há estação na qual os portais do céu se abram mais ou na qual a luz brilha com maior intensidade que durante o tempo em que as forças de Leão estão focadas sobre a Terra. O leão, símbolo do Signo de Leão, representa o fogo cósmico no interior do ser humano. Quando esse fogo é elevado à cabeça, esse órgão se converte no centro regenerador do Corpo-Templo. Esse é o significado mais elevado do leão rampante[142], que simboliza o mais elevado aspecto da Iniciação. Na magnífica cerimônia da loja maçônica, o leão, em pé, e com uma garra estendida, era o que elevava o herói maçônico Hiram Abiff[143] das trevas da morte até a glória da vida imortal.
A Iniciação, tal e como existia antes da vinda de Cristo, era um processo bem diferente da atual. A Iniciação antiga era chamada de A Trilha dos Mistérios Iluminados e consistia em uma solene cerimônia que representava importantes acontecimentos na vida dos grandes Mestres do mundo, desde o nascimento até a sua ressurreição. Com a vinda do Cristo, a Iniciação experimentou uma mudança e agora é chamada de A Trilha dos Mistérios Solares. A Iniciação Cristã ainda representa importantes acontecimentos da vida do Senhor: Nascimento, Batismo, Transfiguração, Ressurreição e Ascensão. Contudo, agora são experiências realizáveis e vitais no interior da consciência e do Corpo do Discípulo. Daí que agora, sob Cristo, seja muito mais difícil a Iniciação do que era antes da Sua vinda. Por isso São Paulo, um dos maiores expoentes dos Mistérios Cristãos, deu a seus Discípulos um tipo de mantra, aplicável a todos no tempo moderno, quando lhes disse: “Que Cristo seja formado em vós”[144]. As diversas escolas de metafísicos como o Novo Pensamento, a Ciência Cristã e outras, que preconizam a manifestação do Cristo Interno, são etapas preparatórias que conduzem à realização suprema na vida do ser humano: a Iniciação nos Mistérios trazidos à Terra por Cristo.
Outra importante diferença entre os Mistérios pré-cristãos e os ensinados por Cristo consiste em que nos tempos antigos cada cidade tinha seu próprio Templo de Iniciações onde se observavam os Mistérios. Durante a Idade de Ouro da Grécia não se permitia ocupar um cargo público a nenhum homem que não fosse iniciado nos Mistérios. Todos esses Templos terrenos foram fechados e os verdadeiros Templos de Mistérios estão, agora, situados na Região Etérica do Mundo Físico. Por isso, cada Aspirante há de tecer, antes, seu próprio “traje de bodas”[145] para poder entrar, já que em seu Corpo Denso não é mais possível entrar lá.
Os Éteres estão divididos em quatro graus de densidade. Como já foi dito, enquanto o ser humano pertencer à terra, é terreno, e vive para comer, beber e ser feliz, seu Corpo Vital se compõe, principalmente, dos dois Éteres inferiores[146]. Quando começa a renunciar ao caminho da carne e a aspirar às coisas do espírito, então, atrai cada dia em maior quantidade os dois Éteres superiores[147].
Em nossos dias, o elevado e sagrado significado da Iniciação foi perdido, para a maioria das pessoas. Consequentemente, o reconhecimento do profundo significado espiritual dos antigos Templos de Mistérios é muito pequeno ou completamente nulo. Não se tratava de cerimônias ao alcance de qualquer um, como irrefletidamente se crê. Eram acessíveis só aos que tinham se qualificado devidamente para participar neles. Essa é a verdade expressa na parábola do Banquete de Bodas do Filho do Rei. Só podiam entrar nele os revestidos com o “dourado vestido de bodas”. Esse traje não pode ser dado por ninguém. Há de ser tecido por si mesmo. E isso só se consegue fazer “vivendo a vida”, por meio da sublimação dos desejos inferiores em poderes do espírito e mediante à prestação de serviços amorosos e desinteressados a todos os demais seres humanos e a todos os seres viventes. Essa é a verdade destacada pela Cristandade esotérica. Enquanto que a ortodoxa põe todo o peso da salvação do ser humano sobre os ombros do Cristo, a Cristandade esotérica põe tal salvação onde deve estar: sobre os ombros do próprio ser humano.
É durante o tempo em que a Hierarquia de Leão está derramando suas forças sobre a Terra, que é mais fácil para o Aspirante se dedicar, novamente, a prosseguir na trilha para tecer a luminosa vestimenta que lhe há de abrir a essas correntes de luz e a essas radiações de amor. Quando esse traje for totalmente tecido, será considerado digno de participar do banquete do matrimônio místico e de ser contado entre os filhos do Rei. Quando a alguém é permitida essa assistência, pode estar em Sua presença, olhando-O face a face e o conhecendo tal qual Ele é.
Um sábio antigo declarou que “como acima é embaixo e como embaixo é acima”. Todos os verdadeiros Templos de Mistérios do plano físico foram construídos em harmonia com o modelo zodiacal existente nos céus. Nesse círculo de doze constelações, Câncer e Leão formam as duas colunas da entrada do Templo Cósmico. Em plena correspondência com isso, duas colunas simbólicas foram colocadas em todos os templos de Mistérios entre as quais todo Aspirante à iluminação tem de passar. Esses dois pilares tiveram muitos nomes ao longo do tempo e seu significado se destacou na literatura dos Mistérios de todas as nações. Foi dito que representam os elementos água e fogo; ou os dois metais preciosos, o ouro e a prata; e até, simbolicamente, os Corpos estelares do Sol e da Lua. Câncer é chamada de mãe e Leão de pai das almas.
Entre essas duas colunas hão de passar o homem e a mulher, de mãos dadas, em completa igualdade, para receber a gloriosa herança que essa Era prepara para seus pioneiros. A habilidade maçônica (a construção) há de se dar conta de que seus mistérios mais secretos jamais serão compreendidos até que o Divino Feminino seja restabelecido em seu estado original de igualdade com relação à polaridade oposta masculina.
Os antigos representavam a Leão como um sumo sacerdote sentado em uma carroça que transportava duas esfinges, uma branca e outra preta. Um símbolo similar fazia referência à Gêmeos, mas nesse caso as duas esfinges estavam ajoelhadas à frente do sumo sacerdote, significando que é ele quem há de eleger entre seguir a trilha da luz ou das trevas. Em Leão a decisão já está tomada. Tanto a natureza inferior como a superior foram submetidas.
As notas-chaves de Leão são: autoridade, governo e triunfo. Um dos símbolos de Leão é uma espada, sinal de conquista e vitória. Como indicada em várias passagens bíblicas, a espada representa, também, a força criadora interna do indivíduo. No Gêneses, por exemplo, está o relato da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden por terem comido do fruto proibido da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Como consequência do pecado dos dois, os Querubins ficaram de guarda, na entrada do Jardim, empunhando uma espada de fogo para evitar que o ser humano tivesse acesso à Árvore da Vida, o que lhe faria adquirir o segredo do Corpo Vital e aprendesse a imortalizar sua imperfeita forma física.
Esses mesmos seres celestiais foram representados no Templo de Salomão, mas ali uma flor completamente aberta substituía a espada. Assim, pois, foi apresentada, com uma maravilhosa simbologia, o objetivo do elevado Iniciado, cujo Corpo se descreve, misticamente, como jardim de flores. Nesse jardim as duas flores centrais são: o Coração, a estrela do dia do Corpo, e a Glândula Pituitária, o mais elevado dos dois centros espirituais da cabeça. É por meio dessas duas flores centrais, quando despertas, que as poderosas forças de Leão trabalham em todo o Corpo.
Na vida de Cristo, Sua entrada Triunfal corresponde às régias radiações de Leão. Nesse momento, o Espírito de Cristo estava magneticamente carregado da fulgente glória do Pai, que tinha descido à Ele, enquanto o Sol transitava pelo Signo real nos céus. Isso produziu as populares e instintivas hosanas que acompanharam Sua entrada.
Aquela cena triunfante foi o início dos acontecimentos culminantes do ministério de Cristo na Terra, seguidos da Sua assunção da regência desse Planeta para a redenção do mundo. Simboliza, também, a festiva procissão de um Candidato que alcançou a entrada em um Templo de Luz. Por isso, se escutou um canto angélico dos céus: “Bendito o que vem em nome do Senhor” (a lei). Ou seja, o que caminha na luz espiritual e no amor.
A ciência conhece o Sol tão somente em seu aspecto físico. A ciência esotérica conhece duas esferas solares, ou Corpos espirituais, que interpenetram aquele. O primeiro deles é o veículo do Logos Solar, que conhecemos como o Cristo Cósmico; o outro, de frequência vibratória ainda mais elevada, é o celestial Corpo do Pai do nosso Sistema Solar.
A humanidade comum responde, principalmente, à influência do Sol físico, cujas emanações se relacionam com Jeová e as Religiões de Raça estabelecidas sob Sua influência. Foi durante o regime de Jeová que os Mistérios Menores forma estabelecidos pelos Senhores de Mercúrio. Com a vinda de Cristo uma nova Era foi inaugurada, durante a qual o ser humano já não tem que obedecer a lei externa, mas a interna, pois a principal missão de sua vida consiste em despertar sua divindade interior, seu Cristo Interno. Sob a influência de Mercúrio foram inaugurados os antigos Mistérios, como dissemos anteriormente. Cristo trouxe os quatro Mistérios Maiores, um bosquejo dos quais é dado a cada um dos quatro Evangelhos do Novo Testamento. Netuno, o Planeta da divindade e da Iniciação, proporciona à humanidade a ajuda necessária para intuir esses Mistérios Maiores que contém as mais elevadas verdades que está capacitada para vislumbrar atualmente. Logo virá a Religião do Pai. Quando os pioneiros forem qualificados para a mais elevada iluminação inerente a essa religião, o Planeta Vulcano emergirá à vista e à compreensão humanas, como consequência da lei segundo a qual, na sequência temporal, os acontecimentos externos seguem aos mesmos acontecimentos ocorridos antes nos planos internos. Isso implicará na revelação de glória e um poder muito maior do que atualmente a Mente humana pode compreender ou do que a língua humana pode descrever.
Enquanto o Sol está em Leão, o Espírito de Cristo se regenera e renova graças às glórias do Reino do Pai. Como o supremo atributo de Cristo é o sacrifício por natureza, quando o Sol passa por Virgem, o Signo do serviço, uma necessidade cósmica o impulsiona para deixar o Reino do Pai e descender, novamente, à Terra, que contata quando o Sol passa por Libra.
A Trilha da Santidade, seguindo o raio de Cristo, abandona também a região espiritual da Terra, enquanto o Sol passa por Virgem. Sendo o amor a nota-chave de Leão e o serviço por meio da pureza a de Virgem, aquele que caminha por essa parte da Trilha, atravessando os planos da mais elevada vibração dessa esfera, há de ter desenvolvido a pureza como um poder interno. De modo geral, a qualidade de tal poder não se reconhece, embora Cristo tenha declarado que só os puros de coração verão a Deus. Nesse sentido, as seguintes palavras de Tennyson[148] em Sir Galahad[149] são bem descritivas:
Minha força é como a força de dez,
Porque meu coração é puro.
Esse é o atributo que fez Parsifal[150] imune ao ataque do malvado Klingsor[151]. A lança de ódio que o mago negro lançou contra Parsifal foi desviada de seu curso. Nesse instante e em virtude desse mesmo poder Parsifal fez o sinal da cruz e produziu o colapso completo do castelo maldito de Klingsor.
Assim como Virgem contém o segredo da Imaculada Concepção, por meio de seu Signo oposto Peixes, esse dom foi trazido à Terra e explicado pela suprema Mestra feminina Maria de Belém. Foi concebida imaculadamente sob a Hierarquia de Sagitário (Arcanjos) e nasceu no Mundo Físico sob a proteção espiritual da Hierarquia de Virgem.
O candidato que é digno de alcançar o sobrenatural plano de Virgem, se encontra ante o mistério da Imaculada Concepção e aprende que esse dom divino não foi outorgado somente a um indivíduo, mas que Maria e Jesus foram os modelos que a humanidade toda está destinada a emular. Nessa morada celestial, os espiritualmente iluminados ouvem os Anjos cantarem sobre o dia em que, em um novo céu e em uma nova Terra, a Imaculada Concepção será a herança da onda de vida humana inteira.
Como já se foi dito, a Hierarquia de Touro projeta o arquétipo cósmico da forma; a Hierarquia de Câncer, o da vida; a Hierarquia de Virgem, o do poder por meio do qual a vida anima a forma. Essas três constelações, o Triângulo Feminino dos céus, governam todos os reinos da vida sobre a Terra.
Temos que entender que aquele que segue a Trilha da Santidade, por meio dos seis Signos Zodiacais situados acima da linha do Equador, alcançaram o nível de iluminação que o faz digno de se situar ante os sublimes Mistérios das quatro Grandes Iniciações. O Discípulo que percorre essa Trilha, por meio dos seis Signos situados abaixo da linha do Equador, está sendo preparado para receber o trabalho dos nove Mistérios Menores.
As Dez Virgens (Mt 25:1-13)[152]
As dez virgens levaram suas lamparinas quando foram receber o noivo; mas, como ele tardava, elas dormiram. Por fim, à meia-noite, um grito foi ouvido: “O noivo se aproxima”. As virgens despertaram e cinco delas descobriram que não havia azeite suficiente nas suas lamparinas e, assim, pediram um pouco emprestado as suas irmãs. No entanto, as virgens prudentes disseram: “’De modo algum, o azeite poderia não bastar para nós e para vós. Ide antes aos que vendem e comprai para vós”. Enquanto as virgens néscias estavam comprando o azeite, o noivo chegou; as cinco virgens prudentes foram com ele ao matrimônio e a porta se fechou. Quando as virgens néscias voltaram e pediram para que a porta fosse aberta, o noivo respondeu: “’Em verdade vos digo: não vos conheço”.
As virgens néscias são aquelas que gastam mal sua sagrada força vital (o azeite) por meio de prazeres sensuais e mundanos e não possuem luz interior para receber o noivo quando chega. Em outras palavras: não são dignas de receber a vida do Cristo Interno.
A maior parte das chaves mais importantes para a interpretação bíblica está escondida no sagrado significado dos números. Dez é o número do homem e da mulher trabalhando juntos enquanto percorrem a Trilha do discipulado. Cinco é o número dos sentidos físicos e também é a da atividade mediante a qual as lamparinas internas se mantêm acesas. Uma antiga declaração, muito anterior à literatura bíblica, disse: “Aprenda a calcular corretamente para ter azeite para a sua lamparina”. Enquanto o ser humano estiver submetido à sedução dos cinco sentidos, será incapaz de descobrir o verdadeiro propósito e significado da vida. Quando supera essa atração, se converte na estrela de cinco pontas e compreende o real significado das palavras do Mestre: “Eu sou a Luz do Mundo”.
O azeite perdido pelas cinco virgens néscias é sua própria divina essência criadora interna. Quando essa força ascende pela espinha dorsal, a verdadeira trilha do discipulado, e alcança a cabeça, ilumina os dois órgãos espirituais situados nela, a Glândula Pineal e o Corpo Pituitário, e ambos começam a brilhar com enorme resplendor. Realizado isso, o Discípulo leva, em seu interior, sua própria lamparina acesa e está em todo momento preparado para receber o Noivo.
Aquele que está iluminado por essa luz nunca deixa de atrair a atenção do Mestre. Como diz o provérbio: “Quando o Discípulo está pronto, o Mestre aparece”.
O diagrama acima é chamado de A Roda de Ezequiel[153]. Representa a roda do destino maduro da evolução humana. Ao longo dos vastos ciclos de encarnações, cada Ego passa, várias vezes, por distintos lugares para ser pesado e comprovar, nos pratos de Libra, se escolherá a elevada trilha do Espírito, representada por Virgem, ou a trilha inferior dos sentidos, simbolizado por Escorpião.
Os processos evolutivos são lentos. O caminho pelo qual uma alma humana se converte em uma alma crística é longo e árduo. E somente mediante a escolha pode ser encurtado. O poeta escreveu:
A cada ser humano é aberto um caminho,
E caminhos, e um caminho,
E a alma elevada ascende pelo caminho elevado,
E a alma inferior vá tateando pelo caminho inferior,
E, entretanto, no nebuloso caminho horizontal,
Os outros, vão daqui para ali.
No entanto, a cada ser humano é aberto
Um caminho elevado e um inferior
E cada ser humano decide
O caminho que sua alma seguirá.
(Os Caminhos de John Oxenham)
A Imaculada Mãe de todas as religiões do mundo está representada nos céus pela constelação de Virgem. Esse Eterno Feminino é a Isis do Egito, a Istar da Babilônia, a Minerva da Grécia, a Maia da Índia e Maria de Belém. A líder feminina da Hierarquia de Virgem é a Mãe Cósmica do Planeta. Para o ser humano representa a personificação da exaltação do princípio feminino divino. Os supremos Mestres femininos que vieram à Terra como as Virgens das grandes religiões terrestres foram conduzidas a essa exaltada existência para nos instruir sobre o Mistério da Imaculada Concepção.
A representação pictórica de Virgem é uma jovem com um feixe de espigas de trigo em uma mão e uma joia preciosa na outra: a formosa e branco-azulada estrela Espiga[154], uma estrela de primeira grandeza. As radiações espirituais dessa estrela eram conhecidas por muitos povos antigos. Construíram templos dedicados a sua luz celestial, onde podem receber sua benção em especial. Quando Espiga for novamente contatada, dessa vez por uma raça mais sensível e espiritual, o ser humano conseguirá compreender o profundo significado de sua Imaculada Concepção. Como Mãe Cósmica, o trabalho de Virgem consiste em guiar a humanidade pelas trilhas da pureza e acelerar seus veículos superiores por meio de correntes etéricas de intensidade muito maior que todas as até agora geradas em seu Corpo.
Espiga representa um feixe de espigas de trigo, e isso juntamente com as estrelas são símbolos associados à Virgem e às várias Mães. E não são meros símbolos ornamentais, mas sim verdadeiras insígnias dos poderes alcançados por aqueles que atingiram um nível espiritual em que as forças criativas masculina e feminina se uniram.
Belém significa a casa do pão. Uma das mais formosas histórias relativas ao matrimônio místico é a narração bíblica sobre Rute e Boaz[155]. Rute foi a Belém colher trigo (o pão da vida) e deu como uma oferenda à Boaz, colocando-o aos seus pés. Por causa desse presente ela foi considerada digna de receber ensinamentos de Boaz, seu mestre espiritual. E logo, sob sua orientação, alcançou o exaltado Rito do Matrimônio Místico.
Esotericamente se sabe que o trigo foi um presente de Vênus à Terra. É uma planta capaz de se reproduzir a si mesma sem polinização já que contém, em si mesma, a dual força criadora, uma propriedade como a do Cristo, que possui em Seu interior o poder andrógeno. Nesse aspecto é curioso observar que o trigo e o Cristianismo estão estreitamente conectados e onde não crescer o trigo, não florescerá o Cristianismo.
Segundo a formosa lenda grega os deuses e as deusas abandonaram todos a humanidade, um a um, depois da queda dela na materialidade, exceto Astreia, a deusa da justiça, que permaneceu com os seres humanos. No entanto, as condições pioraram de modo que chegou um momento em que ela teve que ir embora e foi elevada aos céus, de onde foi transmutada na constelação de Virgem. Desde então segue guiando e abençoando a humanidade.
Virgem é o sexto Signo e o significado numérico de seis é a da entrada em uma nova vida por meio do serviço. Na verdade, se diz que: “o saber sagrado está presente nos números. O número velava o poder dos Elohim”. E Virgem é um Signo mental, cujo Regente é Mercúrio, onde também está em Exaltação. Ele proporciona a acuidade mental que em sua expressão inferior inclina para a crítica, mas em sua expressão superior torna possível a análise construtiva.
A primeira etapa na conservação da força vital se baseia no autocontrole; a segunda, na transmutação. A conservação se obtém graças ao princípio masculino da vontade; a transmutação, por meio da elevação do princípio feminino do amor. Esse trabalho era representado pela simbologia antiga de uma donzela (Virgem) fechando a garganta de um leão (o Signo de Leão).
O nativo de Virgem que já alcançou a iluminação necessária responde à exaltação de Mercúrio nesse Signo, que transforma o conhecimento em sabedoria, já que sabedoria é conhecimento anímico. Virgem encarna o princípio feminino, sempre associado ao sacrifício. Voluntariamente, se submete a si mesmo, como polo negativo da energia divina, a uma vibração inferior para que o princípio masculino, o polo positivo, obtenha uma forma que possibilite se manifestar. É o princípio feminino que se sacrifica em benefício do mundo, para que por meio do descenso de Cristo a Terra e os seres humanos possam recuperar a luz perdida e obter uma vida mais abundante.
Virgem é o Signo da pureza e do serviço. Sua pureza inclui a do alimento para nutrir o Corpo e a do pensamento para embelezar a vida. “quem se humilha será exaltado”[156]. A nota-chave bíblica de Virgem é “o maior entre vós seja o servo de todos”[157]. O serviço, simbolizado pelo grão dourado de trigo, enche os armazéns espirituais do nativo de Virgem, onde os ladrões não podem penetrar e nem roubar.
Virgem é também o Signo da cura total[158], um poder que se obtém por meio de uma vida pura e espiritual. É o Signo da Mãe Terra (Virgem é um Signo de Terra) que protege e alimenta a seus filhos, como fazia Diana (Artêmis) dos gregos. Todas as crias dos animais vivem os primeiros meses sob a benéfica influência do aspecto maternal de Virgem. No Cristianismo Virgem é, acima de tudo, o Signo da Imaculada Concepção.
Cristo, Senhor do Sol e Regente da Terra, não pertence ao tempo, mas sim à eternidade. Ele mesmo declarou: “Eu e o Pai somos um”[159] e “Antes que Abraão existisse, EU SOU”[160].
Atanásio[161], um dos primeiros pais da Igreja, afirmava expressamente que Cristo é, ao mesmo tempo, criador e senhor do Sol. “Nosso Senhor do Sol” é uma expressão que foi usada nas pregações da Igreja até o século V d. C. e foi incluída na liturgia, sendo logo transformada em “Nosso Senhor Deus”.
O Gêneses relata a história da criação com brevidade algébrica. Contudo, São João, o mais profundo intérprete de Cristo em Seu aspecto cósmico, declara que esse divino Ser estava presente ao começar a criação e que todas as coisas vieram à existência mediante Sua atividade criadora. Esse tema foi mais amplamente elaborado por Lactâncio[162], um comentarista do século IV. Como não era teólogo, mas retórico, nunca lhe foi dado um lugar entre os líderes da Igreja, e por isso seus comentários estão entre os mais significativos, em alguns aspectos.
Citamos uma parte aqui:
“Dado que Deus tinha perfeita previsão no propósito e perfeita sabedoria na ação, antes de começar Seu trabalho do mundo, para que pudesse emanar d’Ele mesmo como uma corrente e fluir em seu largo curso, produziu um Espírito como Ele mesmo, dotado do poder de Deus Seu Pai. Deus, pois, quando começou a estruturar o mundo situou a esse Seu primogênito e mais elevado Filho como a cabeça de toda a obra e, ao mesmo tempo, o nomeou conselheiro e criador para projetar, ordenar e completar todas as coisas, já que Ele é perfeito na previsão, inteligência e no poder. Deus, portanto, o inventor e provedor de todas as coisas, antes de iniciar a formosa fábrica do mundo, engendrou um santo e incorruptível Espírito, ao qual chamou de Seu Filho”.
Em sua Epítome das Instituições, Lactâncio desenvolveu ainda mais esse assunto. E escreveu:
“Deus, no princípio, antes de criar o mundo, engendrou do manancial de Sua própria eternidade e de Seu próprio e eterno espírito, um Filho incorruptível e leal, como corresponde ao poder e a majestade de Seu Pai. Ele é o Poder, a Razão, a Palavra e Sabedoria de Deus…associado ao poder supremo…pois todas as coisas foram feitas por Ele e nenhuma coisa foi feita sem Ele”.
O seguinte extrato de uma carta originária do Conselho de Antioquia mostra as crenças da Igreja primitiva, provavelmente originárias do tempo dos Apóstolos: “Reconhecemos que o único Filho engendrado é o Deus invisível, engendrado antes de toda a criação, a Sabedoria, a Palavra e o Poder de Deus, que foi antes que os mundos… como o conhecemos no Antigo e no Novo Testamento. Contudo, se alguém acha que nós falamos de dois deuses quando pregamos que o Filho de Deus é Deus, entendemos que esse indivíduo deva sair do cânone eclesiástico… Nós cremos que Ele esteve sempre com o Pai e cumpriu a vontade de Seu Pai criando o universo”. Em seguida, o Conselho cita o Evangelho Segundo São João (1:3) e a Epístola de São Paulo aos Colossenses (1:16) para demonstrar que o mundo foi criado por Cristo como “realmente existente, atuante, sendo, por sua vez, o Verbo de Deus por meio do qual o Pai fez todas as coisas…Nem foi o Filho um mero expectador nem estive simplesmente presente, mas atuou eficientemente na criação do universo. E foi Ele quem, cumprindo a ordem de Seu Pai, apareceu aos Patriarcas…”
Barnabé, um destacado Discípulo de São Paulo, disse em sua Epístola apócrifa que “o Senhor suportou sofrer pelos nossos pecados, ainda que Ele fosse o Senhor do mundo ao qual Deus Lhe disse, antes da construção do mundo… façamos o homem a nossa imagem e semelhança, e que tenha domínio sobre os animais da terra e sobre as aves do ar e os peixes do mar. E, quando o Senhor viu o homem que havia formado e viu que era bom, disse, cresça e multiplica e encha a terra. E até aqui falou a Seu Filho”.
Os primeiros Pais da Igreja, alguns dos quais receberam seus ensinamentos diretamente dos Doze originais, reconheciam a necessidade desse resplandecente Ser Solar que adquiriu a aparência humana para que o ser humano pudesse estabelecer contato com Ele.
Referindo-se ao Espírito Solar, Irineu, um célebre Pai da Igreja grega do século II, disse que “pode ter vindo a nós em Sua incorruptível glória, mas nós não conseguimos suportar a grandeza da Sua glória”. E Orígenes, outro Pai grego (185-243 d.C.) escreveu: “O qual (o Verbo), estando no princípio com Deus, se fez carne para que pudesse ser compreendido pelos que não eram ainda capazes de olhá-Lo em Seu aspecto de Deus, que estava com Deus e que era Deus”. E acrescentou: “Descendo até a quem não era capaz de olhar o brilho cintilante de Sua divindade, se fez humano”.
Novamente citamos a Lactâncio: “As Escrituras ensinam que o Filho de Deus é o Verbo ou a Razão de Deus”, e acrescentou afirmando: “Se alguém se assombrasse de que Deus foi engendrado por Deus mediante a voz e o alento, deixaria de se maravilhar ao conhecer os sagrados anúncios dos profetas”.
Tertuliano, um célebre escritor eclesiástico e Pai da igreja latina (150-250 d.C.) explicou: “Deus não pode entrar em conversações com o ser humano sem assumir os sentimentos e os afetos humanos, por meio dos quais pode moderar a grandeza da Sua majestade, que resultou insuportável para a debilidade humana… ainda que fosse necessária para o ser humano”.
São Clemente de Roma, que viveu no século I d.C., e que ficou conhecido como o terceiro bispo de Roma, depois de São Pedro, disse de Cristo: “O brilho de cuja majestade é muito mais elevado do que o dos Anjos, pois que recebeu de herança um nome mais magnífico”.
O Senhor Cristo é o mais avançado dos Arcanjos, que estão, na evolução, um degrau acima dos Anjos. No livro apócrifo de Hermes (século II d.C.) aparece essa afirmação: “O Filho de Deus é mais antigo que qualquer outra criatura, de modo que esteve na Criação recomendando a Seu Pai”. Deus o Pai é o mais elevado Iniciado da Hierarquia de Sagitário, chamada de Senhores da Mente. Cristo é o mais elevado Iniciado da Hierarquia de Capricórnio, o lar dos Arcanjos.
Esse grande Ser esteve com o Pai nos momentos da Criação; e no segundo dia, no Período Solar, se consagrou a Si mesmo como Regente da Terra e salvador da humanidade. Deve se observar, pois, como esses dois Seres trabalharam em harmonia durante a criação desse Planeta e de tudo o que nele existe. Os Doze Discípulos originais, junto com os Discípulos desses, como foi dito pelos Pais da Igreja dos três primeiros séculos, eram Iniciados, capazes de estudar os registros da Memória da Natureza, onde estas verdades estão indelevelmente gravadas.
Por isso São Paulo se refere à Cristo na Epístola aos Colossenses (1:15) como “o primogênito (o primeiro engendrado) de toda criatura”. Deduz-se disso que São Paulo queria dizer que Cristo não foi criado, mas que existia antes da Criação; em outras palavras, que era autoexistente com o Pai.
Justino Mártir, um Pai da Igreja grego do século I, chama expressamente a Cristo “o primeiro engendrado de Deus, antes de todas coisas criadas”. Orígenes faz uma afirmação similar indicando que a doutrina relativa à natureza cósmica de Cristo era um ensinamento generalizado entre os fundadores da Igreja primitiva. Disse Orígenes, pondo essas palavras na boca de Deus: “Hei-te engendrado a Ti antes de toda criatura inteligente”; e acrescentou: “Cristo foi a imagem do Deus invisível, engendrada antes de toda criatura e inacessível à morte”.
O tema Crístico, como uma formosa sinfonia, ressoa ao longo do Antigo Testamento e seus ecos são encontrados nos escritos dos primeiros devotos cristãos. De acordo com Tertuliano e Irineu foi Cristo que falou com Adão no Jardim do Éden. Irineu disse, também, que foi Cristo quem aconselhou Noé com a relação à destruição provocada pelo Dilúvio.
Os Egos que veem à Terra como grandes mensageiros espirituais, frequentemente chamados Filhos do Destino, são tratados com especial cuidado e proteção por parte dos planos internos, ainda que suas vidas estejam, geralmente, cheias de dor e dificuldades, já que é o sofrimento o que sensibiliza e refina a natureza do ser humano. Tais seres são, frequentemente, conscientes do ministério angélico, como se observa nas vidas de Abraão e Moisés, que foram escolhidos e preparados para se converter nos líderes da quinta raça[163].
Justino Mártir e Clemente de Alexandria – esse último, Pai da Igreja Primitiva do século II, e conhecido, principalmente, como fundador da Escola Teológica de Alexandria – sustentaram que foi Cristo que apareceu para Abraão e lhe disse: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Caminha ante Mim e seja perfeito” (Gn 17:1). Esses Pais, junto com Tertuliano e Orígenes, asseguravam, a si mesmos, que também foi Cristo que apareceu para Abraão na “Planície de Mambré”[164]. Ali ele O chama de Senhor e Juiz da Terra. Cipriano, um eclesiástico e mártir da igreja africana do século III, considerava que foi Cristo o Anjo que chamou à Abraão quando ia sacrificar seu filho Isaac.
Foi depois do último contato de Abraão com o espírito do Cristo Cósmico que ele obteve a clarividência, expansão de consciência e crescente profundidade em seu conhecimento espiritual. Seu desenvolvimento conduziu ao nascimento de Isaac, tal e como tinha sido anunciado pelos visitantes angélicos[165], tendo em conta que Isaac significa regozijo espiritual onipresente que, uma vez adquirido, já não pode ser afetado pelas vicissitudes da vida humana. Isso é o que o salmista pensava quando cantou: “Ainda que eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois estás junto a mim” (Sl 23 (22): 4).
Cipriano atribui a Cristo a condução do povo de Israel durante a travessia do deserto, tal como é relatado em Êxodo 13:21 e 14:9: “E Iahweh ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, …”. “Então o anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou e passou para trás deles”. Pensava, também, que Cristo era o Anjo prometido no Êxodo, capítulo 23: “Eis que envio um Anjo diante de ti para que te guarde pelo caminho… (v. 20)… obedeça sua voz (v. 22)… pois Meu nome está nele (v. 21)”.
Todo Discípulo preparado para o serviço, na Dispensação de Cristo, encara, ao longo da Trilha, de uma forma ou de outra, com a grande prova, igual àquela que Abraão onde lhe foi pedido para sacrificar seu filho amado. Nesse momento, o Discípulo há de ser capaz de dizer como Cristo: “não a Minha vontade, mas a Tua seja feita!”[166]. Foi o Confortador, o Senhor Cristo, quem ajudou à Abraão durante essa suprema prova, feito esse destacado por Orígenes e Cipriano, contemporâneo seu. Realmente, a Abraão não se lhe exigiu o sacrifício, mas sim a decisão de renunciar a tudo pelo seu Senhor. Isso é belamente demonstrado na sequência bíblica, ao dizer que o cordeiro substituiu à Isaac, já que o cordeiro era o símbolo da futura dispensação Ária, quando o Senhor Cristo descenderia e, em corpo humano, faria o supremo sacrifício. Com essa prova, Abraão demonstrou seu mérito e sua capacidade para estudar as verdades profundas, diretamente, na Memória da Natureza.
A polaridade é o ensinamento fundamental subjacente no Cristianismo esotérico. O Grande Sacerdote Melquisedeque a ministrou à Abraão durante o ritual da Sagrada Ceia, com o fim de prepará-lo para a sua missão como condutor da iminente quinta raça raiz[167]. Esse mesmo ensinamento foi o último transmitido durante o ministério do Cristo na Terra, aos Seus Discípulos, durante a Última Ceia, na quinta-feira Santa, que precedeu o Seu sacrifício no Gólgota. Esse ritual se contempla agora tão somente como um mero cerimonial. Poucas pessoas têm a ideia do poder que pode se conferir a seus receptores, quando sua celebração ocorre com o conhecimento e dignamente.
O poder oculto do fruto da vida foi conhecido pelos Pais Primitivos, como demonstram a seguinte passagem do mártir Justino: “As palavras sangue da uva foi empregada de propósito, para indicar que Cristo tem sangue, não da “semente do homem”, mas do Poder de Deus. Pois, da mesma maneira que o ser humano não produz o sangue da uva, pois quem a produz é Deus, do mesmo modo esse parágrafo anunciou que o sangue de Cristo não havia de ser de origem humana, mas do poder de Deus; e essa profecia demonstra que Cristo não é homem de acordo com a lei comum”. Eusébio, historiador da igreja no século IV, escreveu sobre esse mesmo texto: “Os homens são redimidos pelo sangue da uva, que contém a Deus habitando nele, e é espiritual”.
Tais afirmações evidenciam que o “sangue da uva” possui um profundo significado. Refere-se à purificação e à transmutação do “sangue do homem”. Cristo disse a Seus Discípulos: “Eu sou a videira e vós os ramos”[168]. Um Aspirante consagrado se põe, mediante o pão e o suco da uva, na maior e mais perfeita sintonia com Cristo e, por ele, é capaz de manifestar maiores poderes dentro de si.
Justino Mártir e Clemente de Alexandria insistem em que foi Cristo quem apareceu a Jacó no sonho em que viu uma escada que que subia da Terra até o céu, com ao Anjos de Deus subindo e descendo por ela. Sobre ela estava o Senhor, que disse: “…“Eu sou Iahweh, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac” (Gn 28:13). Cipriano, citando o Gêneses (35:1), escreve “…crendo, como os Pais fizeram, que o Deus de que se fala, que apareceu à Jacó quando fugia de Esaú, era Cristo.”.
Como foi dito no terceiro volume do Livro A Interpretação da Bíblia para a Nova Era, os mestres iluminados, ao longo de todo o tempo, compreenderam e ensinaram a seus Discípulos que o trabalho da Escola de Mistérios e as várias formas de Iniciações não eram, senão, etapas preparatórias para a vinda do Supremo Mestre do Mundo, o Senhor Cristo. Essa afirmação segue sendo correta quanto aos Mestres clarividentes da Dispensação do Antigo Testamento, pois se preparavam, a si mesmos e a seus seguidores, para servir, mais tarde, a Cristo. Durante seus sonhos, foi ensinado a Jacó a ler na Memória da Natureza. Ali viu a escala involucionária-evolucionária que se estende dos céus à Terra e da Terra aos céus, com uma multidão de espíritos descende para a encarnação e subindo novamente ao céu, depois de ter aprendido suas lições terrenas.
A Trilha do Discipulado é similar em todas as épocas. Os Aspirantes têm que enfrentar as mesmas provas e obter as mesmas vitórias. Só mudam os detalhes, ao longo das sucessivas épocas. Esse Caminho de Iniciação está descrito, com excepcional fidelidade, na vida de Jacó.
É dito em Gêneses (32:25) que, quando Jacó foi abandonado, “E alguém lutou com ele até surgir a aurora.”. Ao concluir o incidente, ficou claro que Aquele que havia prevalecido sobre Jacó estava investido de autoridade sobre-humana, posto que deu a Jacó seu novo nome de Israel: “porque foste forte contra Deus e contra os homens.”[169]. A experiência aqui relatada está repleta de significado. Justino Mártir, Clemente de Alexandria e Irineu destacaram que o Senhor Cristo foi o Mestre e o Guardião de Jacó.
A experiência de Jacó, lutando toda a noite com um Anjo, e não o deixando até receber uma benção, se parece muito com a Trilha do Discipulado. Os poderes espirituais, latentes no interior de cada Aspirante, se tornam suficientemente dinâmicos para se manifestar em sua vida. A admoestação de São Paulo a seus Discípulos era: “Que Cristo se forme em vós”. Isso há de se alcançar por todo Candidato antes de se converter em pioneiro na Dispensação Cristã. Por meio disso, a vida de Jacó se tornou completamente transformada. Ele se separou de Esaú (a natureza inferior) para sempre; e, de acordo com essa mudança interna, não mais se chamou Jacó, mas Israel (os que vem a Deus). Jacó já era um conquistador heroico e um servo fiel. Ele se qualificou como trabalhador da Vinha de Cristo, que disse: “Aquele que quiser ser o maior entre vós, seja o servo de todos. ” (Mc 10:44).
Referindo-se ainda ao versículo do Gênesis 32:24, que diz que “Jacó foi abandonado e ali lutou com um homem”, Orígenes escreveu: “Quem senão podia ser, quem é denominado, por sua vez, Deus e homem, o que lutou e disputou com Jacó, senão Aquele que falou muitas vezes e de várias maneiras aos Pais (Hb 1:1), o Santo Verbo de Deus, chamado Senhor e Deus, que também bendisse a Jacó e lhe chamou dizendo: ‘Tu prevaleceste com Deus’”? Os homens, pois, daqueles tempos, vislumbraram ao Verbo de Deus, como ocorreu aos Apóstolos do Senhor, que disseram: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida.” (IJo1 :1). A Palavra de Vida que também Jacó viu e disse: “Vi a Deus face a face”.
Desde ali, Jacó subiu à Betel para construir ali um altar, aonde ele consagrou a Deus sua vida. Muitos que passam por essa exultante experiência são conscientes da presença de Cristo e do terno derramamento de bênçãos ao seu redor. Betel significa a casa de Deus e é em Betel onde o candidato vitorioso faz a sua dedicação absoluta.
Hipólito, um escritor eclesiástico do século III, e discípulo de Irineu, fez a seguinte afirmação sobre Cristo, tal como se descreve na profecia de Jacó (Gn 49:9)[170] e no Apocalipse (5:5)[171]: “Dado, pois, que o Senhor Jesus Cristo é Deus, com base na Sua régia e gloriosa condição, se falou d’Ele como um leão”.
Quatro dos mais célebres Pais da Igreja – Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Irineu e Tertuliano – afirmam que não foi outro senão Cristo quem apareceu à Moisés na sarça ardente. Esse fenômeno era um reflexo do Cristo Cósmico, se acercando mais e mais à Terra, antes de Sua encarnação humana. Cristo é o Senhor do Sol e o chefe dos Espíritos Solares, os Arcanjos. A Dispensação Cristã[172] está guiada pela Hierarquia de Leão, os Senhores da Chama. Por isso a Iniciação do Fogo está diretamente conectada com os Mistérios Crísticos. Esse fogo não é uma chama que arde, mas uma luz que purifica e transmuta. A sarça que “ardia” não se consumia porque ardia nessa luz. Essa experiência de Moisés é uma expressão velada da exaltação produzida pela Iniciação do Fogo.
De acordo com muitos Pais da Igreja, Justino Mártir acreditava que foi Cristo quem falou com Moisés, de fora da sarça, e condenou a quem confunde Deus Pai com Seu Filho. “Aqueles que afirmam que o Filho é o Pai não estão convencidos, nem em conhecer o Pai, nem em compreender que Deus do universo tem um Filho que, sendo Unigênito Verbo de Deus, é também Deus. E que, formalmente, apareceu a Moisés e aos outros profetas em forma de fogo, como imagem corpórea”.
Clemente de Alexandria é outra das autoridades que asseguram que foi Cristo quem disse à Moisés: “Eu sou o Senhor teu Deus, que lhe retirei da terra do Egito.”[173]. Esse poder de Cristo é o que retira sempre o Aspirante do Egito, país que representa, simbolicamente, a submissão aos sentidos e à obscuridade da Mente mortal.
Foi permitido a Moisés ver a Terra Prometida, país que jorrava leite e mel (a Dispensação Cristão do ciclo Aquário-Leão). O santo Orígenes nos diz que foi Cristo quem deu a Moisés as Tábuas da Lei sobre a montanha sagrada, quando lhe ensinou a ler no registro da Memória da Natureza. Ele viu, então, que a civilização da Quinta Raça Raiz ia ter seu fundamento nas leis que seriam conhecidas como Os Dez Mandamentos. Viu, também, que o mesmo Cristo traria uma extensão dessas Leis, que foi os preceitos do Sermão da Montanha. A humanidade da Quinta Raça Raiz está, ainda, muito longe do desenvolvimento previsto para ela no plano divino. Só alguns membros da humanidade alcançaram o ponto de sua evolução no qual se vive totalmente de acordo com os Dez Mandamentos; e, mesmo assim, tem apenas uma ideia do valor espiritual do Sermão da Montanha.
Como foi exposto nos volumes do Livro A Interpretação da Bíblia para a Nova Era, a polaridade é a nota-chave do Cristianismo Místico. As duas colunas da polaridade são formadas pelos Dez Mandamentos (a coluna masculina) e o Sermão da Montanha (a coluna feminina). Para o ser humano Crístico que virá da Raça Leonina-Aquariana, conforme ele se eleva a dimensões superiores de desenvolvimento, os Dez Mandamentos serão a base sobre a qual se constituirá a vida cotidiana, enquanto o Sermão da Montanha será sua estrutura superior, por meio do qual ele ascenderá a maiores níveis de desenvolvimento.
Às vezes se levanta a pergunta do porque não é citado Jesus no Antigo Testamento. Seu nome está nele, sob outra forma. O equivalente hebreu do nome grego Jesus é Josué. Em Números 13:16, Josué foi chamado de Oseias, que significa Jeová é o Salvador.
Esse é exatamente o sentido da palavra Jesus em Mt 1:21: “Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados”. O fato de que Josué nascesse com um nome de tão elevado poder vibratório é, em si mesmo, uma evidência de sua elevada condição espiritual.
No caminho para Jericó, Josué encontrou com um ser brilhante com uma espada flamejante[174]. Tão impressionado ficou pelo seu esplendor que se prostrou, ante ele, no solo. Esse visitante espiritual, segundo o Livro de Josué, era “capitão das hostes do Senhor”, e lhe ordenou a ficar descalço porque a terra sobre a qual estava era terra sagrada. E assim fez Josué. Essa passagem na Bíblia diz que quando Josué levantou os olhos, “e viu um homem que se achava diante dele, com uma espada desembainhada na mão. Josué aproximou-se dele e disse-lhe: ‘És tu dos nossos ou dos nossos inimigos?’. Ele respondeu: ‘Não! Mas sou chefe do exército de Iahweh e acabo de chegar’. (…) ‘Que tem a dizer o meu Senhor a seu servo?’”. (Js 5:13-15).
Comentando a passagem bíblica acima, Orígenes disse: “Josué, portanto, não só sabia que vinha da parte de Deus, mas que era Deus, posto que, se não soubesse, não O havia adorado. Porque, quem é capitão do exército do Senhor senão Nosso Senhor Jesus Cristo?”. Isso coincide com a opinião de outros Pais da Igreja, no sentido de pensar que quem apareceu, tanto em forma humana, como em forma de Anjo, a cada um dos Patriarcas, foi Cristo.
Josué obteve o equilíbrio perfeito no seu interior, o que indica ter alcançado Iniciações elevadas, e por isso se diz que ele fez parar o Sol e a Lua[175]. Era o discípulo mais avançado de Moisés, e seu sucessor como Mestre e condutor de Israel, assim como um emissário da futura Dispensação Cristã.
A elevação de Elias aos céus em um carro de fogo é a descrição de outro espírito iluminado, que estava sendo preparado, por meio da Iniciação de Fogo, para trabalhar, tanto nos planos internos, como nos externos, se antecipando à vinda do Cristo. Essa foi, igualmente, a Iniciação dos Três Homens Santos que foram introduzidos em um forno ardente e saíram incólumes, como lemos no Livro de Daniel[176]. Esse Livro contém, em sua totalidade, muita informação sobre a Iniciação de Fogo.
O Livro de Daniel está estreitamente relacionado com o trabalho da Hierarquia do Signo de Fogo, Leão. É a Iniciação de Fogo que conserva o umbral dos Mistérios Cristãos, que o Supremo Mestre se referiu quando disse a Nicodemos: “Quem não nascer da água e do espírito (Fogo), não poderá entrar no Reino de Deus”[177], a nova ordem de Cristo.
Com relação aos Três Homens Santos (Iniciados) que foram introduzidos no forno ardente, Tertuliano faz a seguinte afirmação: “Jesus foi visto pelo rei da Babilônia no forno, com os mártires, já que era essa a quarta pessoa, como Filho do Homem; o mesmo lhe foi revelado expressamente à Daniel quando lhe disse que o Filho do Homem viria, como juiz, entre as nuvens do céu; a Escritura ensinou, assim mesmo, de antemão, que os gentis conheceriam mais tarde, na carne, Àquele a quem Nabucodonosor viu, muito antes, sem carne, o reconhecendo no forno e o considerando como o Filho de Deus.”.
Hipólito afirmou que “Davi escreveu os Salmos proféticos relativos ao verdadeiro Cristo, e expulsou todas as coisas que lhe sucederam em seus sofrimentos…e como esse Cristo se humilhou e adotou a forma do servidor Adão”.
Justino Mártir cita todo o Salmo 72[178] para demonstrar que Cristo era o Rei da Glória e disse que foi escrito em Sua honra e de ninguém mais. Em suas Apologias assegura que, em muitos aspectos, o rei a que se refere o Salmo não era Davi nem Salomão, mas o próprio Senhor Cristo. Cita, como exemplo, o Salmo 24: “Levantai, ó portas, os vossos frontões, (…) para que entre o rei da glória! Quem é este rei da glória? É Senhor, o forte e valente, Senhor, o valente das guerras”. Isso é uma referência a Cristo e Seus Anjos e Arcanjos que sempre O acompanham.
No Salmo 72, o Iniciado cantor está lendo os registros místicos relativos ao regozijoso dia em que Cristo seria proclamado Regente da Terra e Salvador do mundo. Nesse tempo de regozijo todo o joelho dobrará ante Ele e toda voz O proclamará o Senhor dos Senhores e o Rei dos Reis.
As dimensões dessa obra não possibilitam um estudo detalhado dos Salmos, mas se pode apreciar que, ao longo de todo o livro e de acordo com os ensinamentos dos Pais da Igreja, a dor e a alegria, o sofrimento e a exaltação do Tema de Cristo soa e ressoa com um cântico dentro de outro cântico.
Cipriano se refere à Cristo como o Primogênito, a sabedoria de Deus por meio do qual todas as coisas foram feitas. Como confirmação de seus assertos, cita Provérbios 8:22-31, como segue:
Senhor me criou, primícias de sua obra, de seus feitos mais antigos. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes da origem da terra. Quando os abismos não existiam, eu fui gerada, quando não existiam, os mananciais das águas.
Antes que as montanhas fossem implantadas, antes das colinas, eu fui gerada; ele ainda não havia feito a terra e a erva, nem os primeiros elementos do mundo.
Quando firmava os céus, lá eu estava, quando traçava a abóbada sobre a face do abismo; quando condensava as nuvens no alto, quando se enchiam as fontes do abismo; quando punha um limite ao mar: e as águas não ultrapassavam o seu mandamento, quando assentava os fundamentos da terra. Eu estava junto com ele como o mestre-de-obras, eu era o seu encanto todos os dias, todo o tempo brincava em sua presença: brincava na superfície da terra, e me alegrava com os homens.
Muitos dos Pais da Igreja foram, a esse respeito, da mesma opinião que Cipriano.
Foi interpretado por alguns que o construtor do Provérbio 9:1 é o Cristo Cósmico, pelo que tudo foi feito: “A Sabedoria construiu a sua casa, talhando suas sete colunas”. A ciência espiritual interpreta os sete pilares como os sete planos de substância e de consciência, os Sete Dias (Períodos) da Criação que abarcam um ciclo evolutivo completo.
O Rei Salomão, o Sábio, foi o mais elevado Iniciado da Dispensação do Antigo Testamento. O maravilhoso Cântico dos Cânticos de Salomão é como uma amostra de sua profunda sabedoria. Revela o equilíbrio perfeito; essa cadência rítmica da nivelação absoluta não foi nunca mais expressa tão belamente em nenhuma outra língua: “Meu amado é meu e eu sou sua, do pastor das açucenas”.
A cristandade esotérica ensina que existe uma íntima relação entre esse elevadíssimo Iniciado da Antiga Dispensação e o Mestre Jesus, o mais elevado Iniciado da Dispensação do Novo Testamento. A missão desse último consistiu em ceder a Cristo seu corpo humano perfeito para que o utilizasse durante os três anos de Seu ministério já que, segundo os vários Pais cristãos, era necessário que Cristo assegurasse seu brilho radiante em uma forma humana, porque nenhum ser humano poderia suportar o poder e o esplendor de Sua presença.
O Deus que apareceu, bem em forma humana, bem em forma de Anjo a alguns Patriarcas, foi Cristo Jesus.
Orígenes
Os Profetas ocuparam uma posição única no Antigo Testamento: foram mensageiros e canais entre os planos internos e externos. Toda religião tem um ensinamento interno e outro externo, essa para as massa e aquela para uns poucos. Os Profetas foram os intérpretes dos significados ocultos. Suas mensagens se centraram praticamente no Messias e na preparação da Sua vinda.
Entre os mais ilustres dos ditos Profetas se encontra Isaías. As páginas de seu sublime livro estão cheias de predições sobre Cristo e a gloriosa Dispensação que estabeleceria em uma nova Terra. A clarividência de Isaías não só previu a vinda do Cristo, como também a de João, o precursor do Senhor, e a da Virgem mãe de Jesus, como deixam claro as seguintes passagens:
Uma voz clama: “No deserto, abri um caminho para Iahweh;
na estepe, aplainai uma vereda para o nosso Deus.
Seja entulhado todo vale, todo monte e toda colina sejam nivelados; transformem-se os lugares escarpados em planície, e as elevações, em largos vales.
Então a glória de Iahweh há de revelar-se e toda carne, de uma só vez, o verá, pois, a boca de Iahweh o afirmou”.
Is 40:3-5
Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal:
Eis que a jovem concebeu e dará à luz um filho
e pôr-lhe-á o nome de Emanuel.
Is 7:14
Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado,
ele recebeu o poder sobre seus ombros, e lhe foi dado este nome: Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno, Príncipe-da-paz.
Is 9:5
Um ramo sairá do tronco de Jessé,
um rebento brotará das suas raízes.
Sobre ele repousará o espírito de Iahweh,
espírito de sabedoria e de inteligência,
espírito de conselho e de fortaleza,
espírito de conhecimento e de temor de Iahweh:
… Antes, julgará os fracos com justiça, com equidade
pronunciará uma sentença em favor dos pobres da terra.
… Então o lobo morará com o cordeiro,
e o leopardo se deitará com o cabrito.
O bezerro, o leãozinho e o gordo novilho andarão juntos
e um menino pequeno os guiará.
… Ninguém fará o mal nem destruição nenhuma em todo o meu santo monte,
porque a terra ficará cheia do conhecimento de Iahweh,
como as águas enchem o mar.
Is 11:1, 2, 4, 6, 9
A maravilhosa visão de Ezequiel é a mais significativa declaração sobre o Cristo que viria:
Olhei para os animais e eis que junto aos animais de quatro faces havia, no chão, uma roda.
O aspecto das rodas e a sua estrutura tinham o brilho do Crisólito. Todas as quatro eram semelhantes entre si. Quanto ao seu aspecto e à sua estrutura, davam a impressão de que uma roda estava no meio da outra. Moviam-se nas quatro direções e ao se moverem, nunca se voltavam para os lados.
Ez 1:15-17
Aqui Ezequiel estava estudando o trabalho dos quatro Anjos Arquivadores[179]: Touro, Escorpião, Aquário e Leão. Touro e Escorpião são as Hierarquias sob as quais o destino maduro planetário está sendo liquidado. Descreve-se nos Livros dos Profetas como o trabalho, a dor e a desolação que predizem que virá sobre a Terra. Muitas destas profecias resultam em nosso tempo estranhamente familiares, pois o destino maduro planetário está sendo liquidado agora e sua purgação continuará até que o registro do destino maduro da Terra seja totalmente limpo.
Aquário é descrito como o Filho do Homem, um Signo simbólico da Era Crística que virá. Leão é o lar da Hierarquia dos Senhores da Chama, ou seja, da luz e do amor. Ambos os Signos proclamam que quando o Filho do Homem venha, será a suprema luz do mundo e o amor será o poder motivador de toda a humanidade.
As seguintes passagens, tomadas de vários Profetas do Antigo Testamento, foram compreendidas pelos intérpretes bíblicos ao logo dos séculos como referentes à Cristo:
Ele julgará entre povos numerosos
e será o árbitro de nações poderosas.
Eles forjarão de suas espadas arados,
e de suas lanças, podadeiras.
Uma nação não levantará a espada contra outra nação
e não se prepararão mais para a guerra.
Cada qual se sentará debaixo de sua vinha e debaixo de sua figueira,
e ninguém o inquietará, porque a boca de Iahweh dos Exércitos falou!
Mq 4:3-4
Eis que vou enviar o meu mensageiro para que prepare um caminho diante de mim. Então, de repente, entrará em seu Templo o Senhor que vós procurais.
Ml 3:1
Eis que dias virão — oráculo de Iahweh
— em que suscitarei a Davi um germe justo;
um rei reinará e agirá com inteligência e exercerá
na terra o direito e a justiça.
Jr 23:5
Eu continuava contemplando, nas minhas visões noturnas, quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho de Homem. Ele adiantou-se até ao Ancião e foi introduzido à sua presença. A ele foi outorgado o império, a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno que jamais passará, e seu reino jamais será destruído.
Dn 7:13-14
O Profeta Joel, lendo o registro na Memória da Natureza e observando nela os maravilhosos acontecimentos que sucederiam na Era por vir, previu o grande dia da vinda do Senhor (o cumprimento da lei espiritual) com as seguintes palavras inspiradas:
Depois disto, derramarei o meu espírito sobre toda carne.
Vossos filhos e vossas filhas profetizarão,
vossos anciãos terão sonhos,
vossos jovens terão visões.
mesmo sobre os escravos e sobre as escravas,
naqueles dias, derramarei o meu espírito.
Jl 3:1-2
Um cuidadoso exame dos Profetas proporcionará inúmeras referências de natureza semelhante. O modelo desses livros proféticos é, em geral, o mesmo. Tratam de três temas principais: a dor e a desolação produzidos pelo destino maduro planetário; o amanhecer esperançoso da vinda do Messias; e o estabelecimento da nova Dispensação por Cristo.
A escola dos Profetas do Antigo Testamento foi sucedida pela Ordem dos Essênios, membros da qual são citados no Novo Testamento. E, de novo, o trabalho dessa Ordem sagrada consistiu em preparar a vinda do Senhor Cristo. Os pais da Iniciada Maria e os de João Batista foram membros dessa Ordem. Com o cumprimento da missão do Cristo na Terra, sua função terminou e desapareceram, enquanto à história se refere, sendo absorvidos pelas primeiras comunidades cristãs. Seu importante papel como custódios dos Mistérios imemoráveis, por meio dos ensinamentos Iniciáticos aos primeiros Cristãos, se perdeu por parte da Igreja pouco depois da sua fundação.
Os Cristãos esotéricos, no entanto, sempre reconheceram aos Essênios como os possuidores e transmissões da Sabedoria do Templo e dos poderes proféticos que degradaram depois de seus imediatos predecessores os Profetas Hebreus. Esse fato apareceu à luz recentemente e está sendo exposto publicamente graças ao descobrimento dos escritos essênios conhecidos como ao Papiros do Mar Morto.
Hipólito afirma que o Senhor Cristo foi a inspiração de todos os Profetas. O Livro de Zacarias, um dos mais místicos entre os Livros proféticos, anuncia a vinda de Cristo, ao que denomina “a RAMA”, assim como o estabelecimento de Seu Reino na Terra, Sua morte e Sua segunda vinda.
Temo-nos referido ao ciclo Aquário-Leão, durante o qual uma nova preparação para a Sua vinda será inaugurada. Alguns místicos Cristãos predizem que Cristo voltará durante o seguinte ciclo Capricórnio-Câncer. Zacarias se refere ao santo “remanescente”, os pioneiros que estarão preparados para receber o Senhor Cristo e para trabalhar com Ele. Esses pioneiros despertarão dentro de si mesmo o princípio Crístico, essa divindade latente em cada indivíduo e que se desperta por meio de um sincero esforço por imitar a Cristo. Esse despertar produz uma transformação da consciência que afeta à vida e, finalmente, o Corpo do Aspirante. Zacarias descreve esse processo como duas oliveiras com uma vela brilhando entre elas, ante o ungido Uno. Essa ação transformadora produz uma grande mudança nos Sistemas Nervosos Cérebro-espinhal e Simpático, que tem uma conexão direta, respectivamente, com os Corpos de Desejos e Vital do ser humano. Quando estão em equilíbrio, o desenvolvimento espiritual é facilitado enormemente (esse assunto será estudado com detalhe no 3º Volume do Antigo Testamento). A vela luminosa entre as duas oliveiras é o fogo espiritual espinhal que, quando se eleva até a cabeça, desperta órgãos poderosos espirituais ali situados. Zacarias compara uma cabeça assim despertada com um cálice de ouro, pois esses órgãos espalham uma luminosidade dourada que se manifesta como uma aura radiante ao redor de todo o Corpo. O profeta descreve a tais pioneiros como seres santos que vem do norte, do leste, do sul e do oeste à Nova Jerusalém.
Como foi dito antes, a segunda vinda do Cristo poderá ocorrer durante o próximo ciclo Capricórnio-Câncer. Então, Cristo retornará sob o Seu próprio Signo de Capricórnio, do mesmo modo que os pioneiros sob Câncer ascenderam com Ele até Seu próprio Mundo, o Mundo do Espírito de Vida ou da consciência Crística, o Mundo da grande unidade. Ali se comprova totalmente que todas as coisas são parte de Deus e que Deus é parte de todas as coisas. Então, os pioneiros da Nova Era poderão proclamar com Cristo: “Meu Pai e Eu somos um!”.
O Livro de Malaquias é o último do Antigo Testamento. E as palavras de seu capítulo final contem a promessa das promessas: “Mas para vós que temeis o meu nome, brilhará o sol de justiça, que tem a cura em seus raios.”[180]. Essas inspiradas palavras são como uma ponte de luz entre o trabalho preparatório do Antigo Testamento e sua sublime culminação no Novo Testamento.
O inefável conhecimento dos Mistérios concernentes à Cristo, o verdadeiro Deus, é secreto.
Orígenes
Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo.
Eu te glorifiquei na terra, concluí a obra que me encarregaste de realizar. E agora, glorifica-me, Pai, junto de ti, com a glória que eu tinha junto de Ti antes que o mundo existisse.
Jo 17:3-5
Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
ICor 1:24
O Verbo de Deus, mostrando a grandeza do conhecimento do Pai, que só é abarcado e conhecido em toda a Sua extensão, primeiro por Ele e, em segunda instância, por aqueles cuja razão foi iluminada por Ele, que é o Verbo e Deus, disse: “Ninguém conhece o Filho, etc.” (Mt 11:27), pois ninguém pode conhecer Àquele que é não criado e engendrado antes de ser criada toda a natureza, em seu mais amplo sentido, tão bem como o Pai que o engendrou; ninguém pode conhecer o Pai como o Verbo animado, que é Sua sabedoria e Sua verdade.
Orígenes
À medida que nos aproximamos dos vários aspectos do Mistério de Cristo, parece que escutamos, novamente, a voz do Anjo que disse à Josué: “tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa”[181]. O Mistério do Cristo é tão sublime, e de importância tal, que transcende toda definição humana. Seus significados são tão profundos que não podem ser expressos com meras palavras; tão só podem ser percebidos no silêncio da contemplação espiritual.
Todas as religiões reconhecem a natureza trina da Deidade. No Cristianismo a constituem o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A essa Trindade, os Rosacruzes lhe designam os seguintes atributos: o Poder, ao Pai; o Verbo, ao Filho, o Cristo Cósmico; o Movimento, ao Espírito Santo. Em relação com sua visão, na Ilha de Patmos, São João, o Revelador, disse: “Vi então o céu aberto: …Seus olhos são chama de fogo…e o nome com que é chamado é Verbo de Deus” (Apo 19:11-13). Nos versículos iniciais de seu Evangelho, São João descreve, com frases portadoras de uma potência vital criadora raramente detectada por um leitor comum, ou por quem escuta suas palavras: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito, foi feito por Ele e nada do que tem sido feito foi feito sem Ele”[182].
São Paulo expressa o mesmo pensamento na Epístola aos Colossenses 1:15-19, quando fala de Cristo como “a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo. Ele é o Princípio, o Primogênito dos mortos, (tendo em tudo a primazia), pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a Plenitude”.
No Livro da Revelação, repete também São João a afirmação sobre o Cristo de que Ele já existia no princípio da manifestação: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”[183]. No Antigo Testamento, Isaías faz uma afirmação similar, aplicável somente a Cristo: “Assim diz Iahweh, o rei de Israel, Iahweh dos Exércitos, o seu redentor: Eu sou o primeiro e o último, fora de mim não há Deus”[184].
Orígenes chama a Cristo “o vapor do poder de Deus e o eflúvio puro da glória do Onipotente, a fulgência da luz eterna e o espelho imaculado da energia de Deus”.
No Livro O Conceito Rosacruz do Cosmos, Max Heindel afirma que: “No primeiro Capítulo de São João, esse grande Ser é chamado Deus. Desse Ser Supremo emanou o Verbo, o Fiat Criador, ‘sem o qual nada do que foi feito se fez’. Esse Verbo é o Filho unigênito nascido do Pai (o Ser Supremo) antes de todos os mundos, mas positivamente não é o Cristo”. Max Heindel faz, aqui, uma distinção entre o Cristo Cósmico e o Cristo em Seus aspectos planetário e histórico. “Grande e glorioso como Cristo é, elevando-se muito acima da mera natureza humana, Ele não é esse Exaltado Ser. Certamente o ‘Verbo se fez carne’, não no sentido limitado da carne de um Corpo, mas carne de tudo quanto existe nesse e em milhões de outros Sistemas Solares”[185].
O Verbo é uma assinatura ou vibração de tremendo poder. Está composto de quatro letras (em hebreu), duas femininas e duas masculinas. Toda a criação está composta de quatro elementos básicos, chamados: Fogo, Ar, Terra e Água. As doze Hierarquias Criadoras que rodeiam esse universo e são responsáveis pelos processos contínuos de criação, trabalham com esses quatro elementos. O Fogo e o Ar são elementos masculinos ou positivos; a Água e a Terra são femininos ou negativos.
As Hierarquias de Touro, Virgem e Capricórnio, que trabalham por meio do elemento Terra, estão centradas no Verbo, o aspecto Filho ou feminino de Deus. As Hierarquias de Áries, Leão e Sagitário, que trabalham com o elemento Fogo, estão centradas no Poder ou aspecto masculino de Deus. Desse modo, o Espírito atua sobre a matéria para criar. As Hierarquias de Gêmeos, Libra e Aquário estão centradas no Movimento ou terceiro aspecto de Deus. Pitágoras dizia que “o que deixa de se mover, deixa de viver”.
Esse movimento significa harmonia ou tom. Os tons, combinados, das doze Hierarquias Zodiacais produzem a Música das Esferas. Assim que todas as coisas são criadas pelo Verbo (tom ou música). “O céu foi feito com a palavra de Iahweh, e seu exército com o sopro de sua boca”[186], diz o Salmista. Cada coisa criada possui sua própria nota-chave individual. As divinas Hierarquias formam o arquétipo humano, molde do corpo físico, nos elevados planos espirituais; e cada arquétipo humano tem sua própria nota-chave, que soa enquanto a vida física continua. No atual estado da humanidade, tão só quem alcançou a consciência do Iniciado pode ouvir essa nota-chave musical. À medida que o ser humano desenvolva seu ouvido espiritual, ele vai se tornando capaz de escutar o canto de sua própria alma.
As três Hierarquias de Câncer, Escorpião e Peixes, trabalhando por meio do elemento Água, estão ensinando a humanidade a Lei do Equilíbrio. Essa lei expressa o segredo do perfeito equilíbrio e, em sua integridade, só é conhecida na Terra pelos Mestres. Por não ter alcançado ainda o equilíbrio, os seres humanos, em geral, ainda que possam observar sua atuação na natureza, não são capazes de apreciar seus efeitos dentro de si mesmos. O melhor exemplo de equilíbrio pode se observar, perfeitamente, quem sabe, no fluxo e refluxo do mar. Quando o ser humano for capaz de manifestar em si mesmo uma polaridade completa, terá vencido a enfermidade, o tempo de vida aqui e a morte.
É sugerido aos Estudantes Rosacruzes ter como assunto de meditação os cinco versículos inicias do Evangelho Segundo São João, os quais lhes ajudam a constatar que o Verbo é o centro focal, por meio do qual as doze Hierarquias Criadoras derramam suas forças para a Criação.
Há um poder específico em cada nome, e eis a razão porque ninguém deveria ter um nome que não combinasse psiquicamente com a ele. Cada vez que se pronuncia um nome forças ficam registradas na personalidade de seu portador, de modo harmônico ou desarmônico. A palavra nome tem quatro letras: “M” e “E” que são femininas; “N” e “O”, que são masculinas. Amen está composta de 4 letras, transpostas. Os cânticos, nas primeiras igrejas cristãs eram, realmente, invocações solicitando a proteção e a benção das forças estelares. Foi encomendado aos Discípulos curar em nome do Senhor Cristo; e a palavra Amen se utilizava para rodear os oficiantes da proteção divina. O Verbo é o centro divino criador para a disseminação do amor e da luz do Cristo Cósmico.
No ciclo Crístico completo, do qual se descreve nessa obra, estudamos o trabalho da Santíssima Trindade em relação com a atividade de Cristo, durante os meses de junho, julho e agosto, enquanto o Sol passa pelos Signos zodiacais de Gêmeos, Câncer e Leão. Esse trabalho se incorpora, no calendário eclesiástico, na festa do Domingo da Santíssima Trindade[187]. Temos observado como a atividade dos Serafins (Hierarquia de Gêmeos) se dirige para a Terra durante o mês de junho, sob a orientação do Espírito Santo. Durante o mês de julho as forças transmutadoras dos Querubins (Hierarquia de Câncer) são dirigidas para baixo, por mediação do próprio Cristo. Durante o mês de agosto, a força amorosa dos Senhores da Chama (Hierarquia de Leão) é dirigida para a Terra pelos poderes do Pai. Os três trabalham juntos, em tal harmonia e unidade que são, literalmente, três em um e um em três. Quando o ser humano desperta à vida superior, gradualmente, espiritualiza sua vontade, adquire sabedoria e sublima a força vital no interior do seu próprio ser.
O Pai canaliza o princípio da Vontade; Cristo, o princípio da Sabedoria; o Espírito Santo, o princípio da Atividade. Esse último, literalmente, infunde a vida às formas. Trabalha para isso com o princípio vital, presente em toda a Criação; e é o guardião da força sagrada ou o princípio criador de Deus. Por isso, toda coisa vivente está sob Sua guarda. O Pai cria e o Cristo formula, enquanto que o Espírito Santo ativa a forma.
Vemos, assim, porque o único pecado imperdoável é o pecado contra o Espírito Santo. Esse pecado consiste no mau uso da força criadora, manifestada no indivíduo. Não é, pois, Deus quem estabelece o castigo por sua comissão. Ao contrário, é o próprio ser humano que atrai para si a dor, o sofrimento, a enfermidade e a morte, como consequência de não haver respeitado o sagrado da força criadora existente em seu interior. E essas consequências seguirão afligindo o ser humano até que aprenda a viver, verdadeiramente, a natureza divina do Espírito Santo, conservando a força vital dentro do seu próprio corpo.
À medida que nos aproximemos da Era de Aquário, o trabalho do Espírito Santo se fará mais perceptível e será melhor compreendido. Um dos Seus cometidos principais consiste em iluminar a humanidade sobre o propósito da missão do Senhor, em relação ao Planeta Terra e a todas as criaturas que nele habitam. Cristo se referia ao Espírito Santo, quando disse: “se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se eu for, enviá-lo-ei a vós. (…) e vos anunciará as coisas futuras”[188].
Quando o ser humano alcançar esse elevado desenvolvimento que lhe faça apto a receber as quatro Iniciações Cristãs[189], trazida à Terra pelo próprio Cristo, será capaz de ver esses três Seres divinos desenvolvendo Suas atividades cósmicas. Esse estado, no entanto, pertence a um dia muito longínquo da evolução humana. Mesmo os Discípulos de Cristo que receberam somente a primeira dessas Iniciações Cristãs no dia de Pentecostes. A meditação sobre essa gloriosa perspectiva inclinará ao Aspirante a se dedicar, no futuro, ao amor e ao serviço altruísta, e acurtará o tempo que resta, até que possa se unir às almas consagradas às quais essas Iniciações lhes foram conferidas, como avançados que são da onda de vida humana.
O assunto sobre o Cristo Cósmico é tão profundo que, tão somente para intuir levemente a natureza desse exaltado Ser, se faz, não só conveniente, mas necessário, o considera-lO desde os vários pontos de vista. Aqui está uma citação das mais iluminadoras e esclarecedora, de Max Heindel:
“É do Sol que provém toda partícula de energia física, e é do invisível Sol espiritual que nos chega toda a energia espiritual.
Presentemente, não suportamos fixar o Sol de modo direto. Isso poder-nos-ia cegar; mas, podemos fitar seus raios refletidos pela Lua. De igual modo, o ser humano não podia suportar o impulso espiritual direto proveniente do Sol. Por isso, tal impulso teve inicialmente que ser enviado por meio da Lua, através das mãos e pela mediação de Jeová, seu regente. Essa é a origem das Religiões de Raça. Mais tarde, chegado o tempo em que o ser humano já podia suportar aqueles impulsos mais diretamente, Cristo – o atual Espírito Planetário da Terra – veio preparar essas condições. A diferença entre o Cristo Planetário e o Cristo Cósmico pode ser melhor compreendida numa ilustração: imagine-se uma lâmpada colocada no centro de uma esfera oca de metal polido. A lâmpada, naturalmente, emitirá raios luminosos em todas as direções, refletindo-se ao mesmo tempo a si mesma em todos os pontos diferentes da esfera. O mesmo se dá com o Cristo Cósmico, o mais alto Iniciado do Período Solar, na emissão de Seus Raios. Ele é no Sol espiritual e o Sol é trino. O Sol externo, o Sol físico, este podemos ver. Por detrás desse – ou oculto neste – acha-se o Sol espiritual, donde irradia o impulso espiritual do Cristo Cósmico. Envolvendo esses dois, há o que chamamos Vulcano, que pode ser visto apenas como uma semiesfera, e do qual se diz no ocultismo ser o corpo do Pai. Aí estão, pois, o Pai, como o Espírito de Vulcano; Cristo, como o Espírito do Sol; e Jeová, como o Espírito da Lua, essa refletindo tanto a luz física quanto a espiritual.
Antes do advento de Cristo, todos os impulsos espirituais alcançavam o ser humano por meio da Lua, como Religiões de Raça. Somente pela Iniciação era possível receber diretamente o impulso espiritual solar. Um véu se estendia à porta do Templo.
Chegado o momento em que o Espírito de Cristo podia entrar na Terra – quando já nos havíamos adiantado bastante – então, um Raio do Cristo Cósmico desceu e aqui encarnou no corpo de nosso Irmão Maior Jesus. Depois do sacrifício do Gólgota e após a morte daquele corpo que serviu ao Seu propósito, Ele entrou na Terra e se converteu em seu Espírito Planetário Interno”[190].
Raio do Sol Deus, por cujo poder
a Terra nasceu no espaço, vindo a Ti
para aprender o segredo de um amor
que escolhe o sofrimento quando quer ser livre.
Oh, grande Espírito Solar, oprimido dentro da Terra,
sofres; Seus estreitos limites Te aprisionam;
buscam canais humanos para Teu amor;
pede mãos humanas que te liberem.
Para que o homem aprenda a se dar a TI,
a ser um canal humano para o Teu amor,
por onde fluía, para libertar a Terra.
Oh Cristo, Teu amor encontra eco em nossos corações.
Nossas mãos Te liberarão da carga que levas.
Oferecemo-nos como canais para o Teu amor.
Oferecemo-nos para que Tu sejas livre.
(Autor desconhecido)
O Cristo Planetário é um glorioso Arcanjo, o supremo entre as hostes arcangélicas. A Hierarquia de Capricórnio é o lar dos Arcanjos; mas, durante o período de Sua missão nesse Planeta, Cristo e Suas hostes ministrantes estabeleceram seu lar na parte espiritual do Sol, dado que todo corpo celeste tem uma capa espiritual que se estende no espaço muito mais além da sua forma visível. Do mesmo modo, cada ser humano possui uma prolongação espiritual, além do seu veículo físico.
Desde os primórdios da civilização, as religiões mais primitivas rendem homenagens a esse grande Ser que habita no Sol. Os grandes sacerdotes dos Templos de Mistérios ensinaram aos seus mais avançados Discípulos a verdade sobre esse glorioso ser solar, e esperavam que chegaria o tempo em que descenderia à Terra e se converteria no regente do Planeta. Contudo, chegou um dia em que já não puderam vê-lo e, então, supuseram que Sua encarnação humana era iminente. De país a país, de profeta a Mestre, de Mestre à Discípulo, foi transmitida a boa nova de que o Senhor Bendito, Aquele que seria o Salvador do Mundo, estava muito próximo da Terra.
Nos tempos pré-cristãos os seguidores de Zoroastro renderam culto ao Sol. Sua adoração, no entanto, não se dirigia à orbe visível nos céus, mas ao Espírito Solar, ao Logos Solar, ao que chamavam de Ahura Mazda[191], a Dourada Aura de Luz que seria, mais tarde conhecido como Cristo. Por meio de grandes processos cósmicos, esse exaltado Ser foi se aproximando da Terra, e essa aproximação pode ser seguida, clarividentemente, de maneira cada vez mais efetiva. Uma amostra clara de que Cristo estava chegando foi proporcionada quando Moisés recebeu Sua revelação no fogo que brilhava sobe o Monte Sinai.
Por fim, o grande dia chegou. Um intenso silêncio abrangeu todas as coisas. O batimento do coração da natureza parecia ter parado por causa daquela paz que excedia toda comparação. A elevada exaltação das hostes celestiais parecia estar muito perto. Então, os céus se abriram e a pomba branca e pura do Espírito Santo desceu e pousou sobre a cabeça do Mestre Jesus, enquanto se ouvia a voz de Deus proclamando: “Este é o meu Filho muito amado em quem me sinto totalmente compadecido”.
Ocorrera o mais maravilhoso dos acontecimentos, pois o Senhor Cristo tomara posse do Corpo que, tão amorosamente e com tanto sacrifício foi preparado para recebê-lo. O veículo do Mestre Jesus, o mais maravilhoso de perfeito que a Terra podia produzir, se converteu no lar do Senhor Cristo, durante os três anos de Seu ministério terreno. Milagre dos milagres! O mais exaltado dos Arcanjos encarnou para falar e caminhar com os seres humanos! Foi isso, três anos mágicos que deixaram, para sempre, sua inefável marca, tanto na onda de vida humana, como no Planeta.
O Cristo só começou a pertencer à Terra quando ocorreu o Batismo no Rio Jordão. Ele veio para a Terra procedente de Mundos suprafísicos, fora da esfera terrestre. Tudo que aconteceu desde o Batismo no Rio Jordão até Pentecostes era necessário para que Cristo, o ser celestial, se transformar em Cristo, o ser terrestre… Um elevadíssimo ser, não terrestre, desce à esfera terrestre até que, por Sua influência, à Terra inteira se transforma totalmente; ou seja: Cristo é uma força na Terra toda.
Depois do Batismo e da Crucifixão o acontecimento mais importante na instância de Cristo na Terra foi a Transfiguração. Recapitulemos, brevemente, a situação do Senhor Cristo em relação à Divina Trindade: o Deus do nosso Sistema Solar, que inclui a Terra, opera por meio dos poderes trinos do Pai, Filho e Espírito Santo, cujos três aspectos são: Vontade, Sabedoria e Atividade, respectivamente.
No momento da Transfiguração, Cristo, por meio da Sabedoria – segundo princípio da Deidade Solar – foi elevado a uma sintonização ou unificação com o Verbo ou segundo princípio do Ser Supremo. Essa sintonização divina fez com que Seu semblante resplandecesse mais que o Sol e, ao mesmo tempo, Sua túnica parecia mais branca que a neve.
Alguns Mestres do mundo alcançaram a glória da transfiguração. Constituiu o clímax de suas vidas e, após isso, passaram a outras esferas. Não foi o que aconteceu no caso de Cristo Jesus. Aqui a Transfiguração ocorreu no início do Seu ministério. A fase mais importante não aconteceu depois desse sublime acontecimento.
Como já dissemos, há quem sustente que a Crucifixão de Cristo tem que ser interpretada como uma representação simbólica de uma etapa superior no processo Iniciático. Isso é mesmo desse jeito; mas foi também um fato histórico. Nunca se insistirá bastante nem com suficiente ênfase sobre o fato de que a particularidade da missão redentora de Cristo foi constituída pela manifestação, em um corpo humano e no plano físico, de algo que, até então, só havia acontecido em outros planos, nos rituais Iniciáticos celebrados no Templo de Mistérios, e tinha sido experimentado, portanto, na vida de todo Discípulo, ao longo do Caminho que conduz à Iluminação. Se não se aceita o aspecto histórico da encarnação de Cristo, essa perde todo seu significado. O acontecimento do Gólgota foi o sucesso mais impressionante jamais conhecido na Terra, já que marcou uma mudança de rumo na evolução, tanto do ser humano como de todo o Planeta.
Esse Planeta, da mesma forma que o ser humano, está composto de um Corpo Denso e várias camadas de densidade decrescente: Etérica, de Desejos, Mental e espiritual. Essas camadas interpenetram o Corpo Denso e se estendem mais além de sua superfície. O homem Adão significa terra. “És pó e ao pó voltará”, é a afirmação bíblica, se referindo ao Corpo Denso. Literalmente, o Planeta em que vivemos é a nossa Mãe Terra.
Pouco antes da vinda de Cristo, a humanidade tinha alcançado o nadir da sua evolução. A história corrobora essa afirmação: a maldade, a luxúria, o egoísmo e a mesquinhez geral tinham poluído de tal modo a atmosfera psíquica da Terra que já não existia material adequado para construir Corpos de Desejos limpos. A missão do Cristo consistiu em alterar esse estado de coisas. De outro modo, a humanidade não tinha conseguido obter todo o progresso espiritual que deveria. Durante o intervalo entre Sua Crucifixão e Sua Ressurreição, Cristo limpou e purificou o Corpo de Desejos (que é o Mundo do Desejo) da Terra, e continua, desde então, fazendo esse trabalho cósmico. Quando Seu espírito abandonou Seu corpo, Ele penetrou no coração da Terra, momento em que Sua aura brilhou tanto que, como assegura o relato bíblico, “a Terra se obscureceu”. Essa luz dourada de Cristo se derramou ao longo e além da órbita planetária, elevando sua taxa vibratória.
O acontecimento histórico que ocorreu no Gólgota jamais se repetiu. Contudo, Seu sacrifício pela redenção da humanidade, repetimos, não começou e nem terminou com Sua imolação. O sacrifício continua, em escala planetária, e se repete anualmente, em um recorrente ministério cíclico. Todos os anos, em setembro, o Cristo Cósmico, o Espírito Solar, desce do alto – onde ascende no Solstício de Junho – e inicia uma nova penetração na esfera terrestre. Começando na camada exterior, desce, gradualmente, até alcançar o coração do Planeta no Solstício de Dezembro. Entre o Equinócio de Setembro e o de Março atua no Corpo da Terra, recarregando-a com Seu impulso vital, o que ajuda a humanidade em sua evolução ascendente. Durante a outra metade do ano, do Equinócio de Março ao de Setembro, nos ajuda desde muito longe dos confins da Terra, enquanto renova, no Trono do Pai, Suas energias gastas, com o objetivo de preparar a próxima liberação de força redentora na corrente vital do ser humano e do Planeta.
Cada vez que Cristo penetra na esfera terrestre incrementa, quantitativamente, os dois Éteres espirituais superiores. Um deles é o formoso Éter dourado do plano celestial. São Paulo afirma que, no retorno de Cristo, o ser humano lhe saudará O encontrando no ar, se referindo à Região Etérica do Mundo Físico, o Mundo mais inferior que descenderá em Sua Segunda Vinda. Graças à assistência recebida pela humanidade desde o descenso do Senhor ao plano físico, é agora possível, para “todo que queira”, se encontrar com Ele, na metade da “escada”. Contudo, para fazer isso, é necessário ao ser humano incorporar a seu ser os Éteres superiores que compõem o seu Corpo-Alma. O caminho mais curto, mais seguro e mais rápido para desenvolver esses dois Éteres Superiores consiste em viver uma vida de amoroso e desinteressado serviço aos demais. Assim o ser humano consegue formar seu Corpo-Alma com esses dois Éteres superiores, azul e dourado. Será, pois, possível, para todos os que prepararem um veículo como esse, sair ao encontro de Cristo na Sua Segunda Vinda.
Todo ano, quando Cristo infunde na Terra Suas energias vitais, Sua Luz e Seu amor o ritmo do Planeta inteiro se acelera. Gradualmente, vai se sintonizando com Sua própria nota-chave, tal como a entoam os Anjos a cada Natal: “Paz na Terra e boa-vontade entre os homens”. Algum dia os seres humanos aprenderão a converter suas “espadas em arados” e suas “lanças em podadeiras” (Isaías 2:4); e não haverá mais guerras. O Místico Cristão não se desanima pelo caos e pela dissolução que parece predominar por toda parte, pois sabe que o momento mais obscuro é, sempre o que precede a aurora. Ao longo do horizonte percebe o arco da promessa. Pois ele sabe que, todo ano, ao penetrar na Terra, o Espírito de Cristo as linhas de separação entre raças, nações são debilitadas. Chegará o dia feliz em que o Planeta cobrirá uma humanidade unificada, e o dia em que as ideias da paternidade de Deus e da fraternidade entre os seres humanos serão uma realidade.
Adão e Eva do relato bíblico representam a humanidade primitiva, que vivia no Jardim do Éden, situado na Região Etérica do Mundo Físico. Quando seus membros caíram no encantamento da vida sensual, por causa da influência dos Espíritos Lucíferos, sua taxa vibratória reduziu, até alcançar a da matéria física. Dessa maneira a humanidade perdeu o Paraíso em sua infância. Não foi arrojada do jardim etérico por uma deidade vingativa, mas que perdeu esse lugar de residência por sua aceitação de uma influência que a alinhou com o Mundo do Desejo. A Queda e suas terríveis sequelas foram a consequência da atuação de leis fixas, e não de um arbitrário decreto do Criador.
A ilimitada indulgência nas propensões animais, que se seguiu a introdução dos impulsos dos Espíritos Lucíferos na natureza de desejos do ser humano, produziu o endurecimento do Corpo Vital e a percepção de sua contraparte material, “cobrindo-se com peles”, como ressalta a Bíblia. O descenso à existência física trouxe dor e sofrimento, enfermidade e morte. A atenção prestada pela humanidade às tentações dos Espíritos Lucíferos e seu distanciamento do modo de viver estabelecido por Jeová para seu estado de desenvolvimento, está recorrida na afirmação bíblia de que Adão e Eva “comeram da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”. Antes disso, as criaturas da Terra só conheciam o Bem. Depois da Queda se viram obrigados a trabalhar no caminho de regresso até aquele bem que, quando alcance, será de um nível de manifestação mais elevado, devido às lições aprendidas ao longo de dolorosas experiências.
O Corpo Vital está composto de quatro Éteres de densidades diferentes. Os dois Éteres inferiores se ocupam das funções vitais, enquanto que os Éteres superiores cuidam das qualidades anímicas. Como consequência do descenso do ser humano à materialidade, os dois Éteres superiores têm permanecido longo tempo latentes, evitando assim a imortalidade de um veículo físico imperfeito. Por essa razão é mais fácil para o ser humano viver uma vida mundana que uma vida espiritual. A preponderância dos Éteres inferiores sintoniza o Corpo Vital com as vibrações terrestres, o que necessita de grande esforço para desenvolver as qualidades anímicas, tais como o discernimento e a força de vontade.
Em Seu descenso anual à Terra, Cristo traz consigo nova provisão dos dois Éteres superiores. E, durante sua nova entrada na Terra, limpa toda a camada externa do Mundo do Desejo; assim que a substância de desejos de que o ser humano pode dispor, para incorporá-la a seu Corpo de Desejos é, cada vez, de maior pureza.
Cristo está construindo na Região Etérica do Mundo Físico a Nova Jerusalém, que será o lar da humanidade durante a Dispensação Crística. Muitas pessoas com a visão etérica podem contatá-lo nela e contemplar a maravilhosa preparação que está ocorrendo. Como já foi dito, o Corpo Denso não pode funcionar na Região Etérica do Mundo Físico, pelo que, aqueles que hão de se reunir com Ele “no ar” estão construindo o Corpo-Alma composto dos dois Éteres superiores. Nem enfermidade, nem a dor, nem a velhice, nem a morte ocorrem na Região Etérica do Mundo Físico, esse plano luminoso onde a humanidade se reunirá com o seu Senhor. É sabido que já está aparecendo para aqueles que são capazes de contatá-lo a esse nível, o qual indica o começo de Sua Segunda Vinda.
“Por essa razão também, Nosso Senhor, nos últimos tempos, abarcando todas as coisas dentro de Si, vem a nós, não como poderia vir, mas como nós somos capazes de contemplá-lo; porque Ele poderia ter vindo em Sua incorruptível glória, mas nós não poderíamos nunca suportar a grandeza dessa Sua glória.”
Irineu (185 D.C.)
“Jesus nasceu da genealogia de Davi, segundo a carne (Rm 1:3) e como Filho de Deus, no tocante a Sua primeira essência.”
Orígenes
“Tomou a forma de um servo e, ainda que Ele fosse de uma natureza invisível, por ser igual ao Pai, tomou uma aparência visível e veio com aspecto humano.”
Orígenes
“O Unigênito Verbo de Deus, que é Deus dos deuses, se despojou a si mesmo, segundo as Escrituras, descendo voluntariamente ao que não era, e se revestindo com essa gloriosa carne. Depois, se diz que foi exaltado e recebeu o nome que está acima de todo nome, como se, por causa de Sua natureza humana, não o tivera, e fosse quase como um favor. Contudo, a realidade é que não se tratou de um donativo de algo que originariamente não o pertencia. Nada mais longe da verdade. Deveria ser melhor considerado como uma recuperação do que lhe pertenceu desde o princípio substancialmente e, portanto, como uma grande perda. Por isso quando, já encarnado, estava submetido à natureza humana, disse: Pai, me glorifica com a glória que eu tinha, etc. (Jo 17:5), porque Ele existiu sempre na glória, com Seu Pai, antes de todos os tempos e antes da criação do mundo.”
Hipólito
“Espera Àquele que está mais além dos tempos, eterno e invisível, que, por nós, se fez visível; que era inatingível; que era inacessível ao sofrimento e sofreu por nós; que padeceu de várias maneiras por nós.”
Inácio, em sua Epístola para Policarpo
“Ele é, em todos os sentidos, também, um homem criado por Deus; e, por isso, subserviente à toda a humanidade dentro d’Ele, o invisível se tornou visível, o incompreensível se tornou compreensível, o impossível se tornou possível, e o Verbo se tornou homem.”
Inácio, em sua Epístola para Policarpo
“Cristo é o homem e Deus, formado com ambas naturezas para que pudesse ser mediador entre nós e o Pai.”
Cipriano
No começo da evolução humana, relatada biblicamente na história de Adão e Eva, a raça humana caiu sob a influência dos Espíritos Lucíferos, e deixou de poder viver na Região Etérica do Mundo Físico, o Jardim do Éden. Uma decaída na sua taxa vibratória a projetou para a condição material densa, ainda existente, sob a qual o ser humano ficou submetido aos sentidos e as suas conseguintes limitações e dores. Houve, no entanto, alguns seres humanos que não sucumbiram às tentações dos Espíritos Lucíferos, mas que permaneceram como puros Anjos. Ente eles estavam esses Egos sublimes que conhecemos como o Mestre Jesus e Sua mãe perfeita, a Maria bendita. Por isso, na Assunção, Maria pode ser trasladada facilmente da Região Química do Mundo Físico para a Região Etérica. Os Anjos não têm nem sequer a ideia da paixão humana, assim que Maria, estando livre das manchas terrenas, se encontrava em seu lar com os Anjos.
Naquela noite santa em que o Ego, a quem conhecemos como Jesus, veio viver na Terra, as forças espirituais que a acompanharam foram tão poderosas que, apesar do transcurso de milhares de anos, continua ressoando em seu eco, em comemoração daquele nascimento. A elevada força espiritual que envolveu o Planeta, naquela maravilhosa ocasião, é a causa de numerosas e formosas lendas. É dito que os roseirais floresceram repentinamente, no meio da neve; que estranhas flores encantadas, portadoras de rostos angélicos gravados em suas pétalas, brotaram com superabundância; que, nos estábulos e nos campos de todo o mundo, o gado se ajoelhou em oração, enquanto que Anjos entoavam um hino de paz e de boa vontade entre os seres humanos.
Repetimos que cada acontecimento na vida do Mestre representa uma etapa na Trilha do Discipulado. A Apresentação no Templo representa a dedicação. Um Aspirante se dedica a si mesmo muitas vezes, obtendo a cada vez uma compreensão mais profunda, e recebendo maiores compensações espirituais.
Ana e Simão eram, ambos, Iniciados do Templo. Possuíam a faculdade de ler na Memória da Natureza. Ali souberam da sublime missão do Mestre Jesus e da parte que lhe correspondia à Maria em seu desenvolvimento. Maria era capaz de ler, ainda mais além, nesses registros na Memória da Natureza. Previamente, havia compreendido algo da missão do Mestre, mas então compreendeu o sacrifício que supunha e a dor e sofrimento que ia acontecer com ele. Essa foi a espada que atravessou seu coração. Os mistérios das Sete Dores da Virgem Bendita começam com a Apresentação no Templo.
A Bíblia é o mais formoso livro de Angeologia ou Angelologia. Foi um Anjo quem disse a José que levasse o Santo Menino e sua mãe para o Egito, e os Anjos lhes acompanharam durante o trajeto. Quando o perigo passou, os Anjos os acompanharam de volta, ao seu lar em Nazaré. A anunciação dos nascimentos de Jesus e de Maria foi feita pelos Anjos. Durante a infância de Maria, seu lar foi um santuário angélico. Os Anjos foram seus companheiros e mestres durante seus anos no Templo. O momento de seu trânsito dessa esfera terrestre, foi anunciado pelos Anjos. E em sua Assunção se elevou para viver no plano desses espíritos luminosos.
Não só o nascimento de Jesus foi proclamado pelos Anjos, como também Sua infância esteve protegida por sua santa presença. Eles derramaram suas bênçãos no momento do Batismo, e prestaram sua força a Cristo Jesus, no momento da Tentação. Revoaram entre as glórias da Transfiguração, e apareceram nas sombras do Getsemani. Derramaram suas bênçãos sobre o Gólgota, seu regozijo na Ressurreição e, depois da Ascenção, proclamaram a feliz notícia de que retornaria mais uma vez.
O ministério dos Anjos sobre o mundo é formoso e variado. Elevam, fortalecem e bendizem de mil maneiras diferentes. Desgraçadamente, no entanto, poucos seres humanos têm a consciência de sua proximidade ou de sua ajuda. As marés do mundo sensível cresceram tanto que cegaram os olhos das multidões, incluindo até a interrupção dos que creem na existência do mundo angélico. As crianças são conscientes, com frequência, da presença dos Anjos, e desfrutam de sua amante proteção; mas, à medida que os anos passam e suas Mentes vão se centrando mais e mais nas coisas do Mundo terreno, as amáveis visões parecem que se evaporam ou são consideradas como extravagâncias da imaginação. Só a castidade e a pureza podem restabelecer a sua clara visão. Se todos fôssemos puros como eram o Mestre Jesus e Sua bendita Mãe, os Anjos e os seres humanos se confundiriam em uma vasta e gloriosa irmandade. “Só os puros de coração verão a Deus”, é o ditado Bíblico. E, do mesmo modo é que só os puros de coração verão e se comunicarão com os Anjos.
A Sagrada Família permaneceu três anos no Egito. Muitas e muitas formosas lendas existem sobre a vida e as obras do jovem Jesus, durante aquele tempo. Estava em total sintonia com a Mente Una, o imanente poder de Deus, latente em toda coisa criada, que, seja o que for que tocasse ou olhasse se tornava imbuído de uma nova e vibrante vida. A lenda narra que modelava pássaros de barro que começavam a viver e se punham a voar quando lhes impunha as mãos. Curou leprosos e fez com que os aleijados caminhassem e que os cegos enxergassem, e expulsou muitas entidades obsessoras. Em todo momento e em todo lugar, Sua presença era uma benção para todos que se aproximavam d’Ele.
Concluído os três anos, a Sagrada Família retornou a seu lar em Nazaré. Logo, como era costume na época, Maria e José foram à Jerusalém para a Páscoa, pois Jesus completara os doze anos. Quando os dias de festa terminaram, empreenderam sua viajem de retorno. Ao sentir a falta de Jesus pensaram que estaria com as demais crianças de seu grupo; mas, quando chegou a noite e não o encontraram, regressaram à Jerusalém para buscá-lo. “Aos três dias o encontraram no Templo, sentado no meio dos doutores”. Quanto ocultam essas palavras e quanto revelam! Nos antigos Mistérios as cerimônias da Iniciação se estendiam durante três anos, e a Iniciação sempre estava relacionada com o Templo. Jesus alcançara a idade que marca o nascimento do Corpo de Desejos. Como seu desejo era a pureza em si, essa emanava uma aura dourada que fazia que até os sábios se maravilhassem de seu brilho.
Jesus retornou à Nazaré com seus pais e lhes foi obediente. “O menino crescia e seu espírito se fortalecia e se enchia de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele”.
Desde os dezoito até os trinta anos Ele ensinou e serviu. Em muitos países são contadas histórias de um jovem Mestre encantador que fazia trabalhos milagrosos e “exteriorizava uma sabedoria tal que nunca antes fora acessível às Mentes humanas”. Desde a China, o Egito, a Babilônia, a Índia, a Grécia, a Pérsia e outros países onde havia os Templos de Mistérios, chegam esses relatos admiráveis. “E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em favor de Deus e dos seres humanos”.
Um dos padrões numéricos mais frequentemente citados na Bíblia é o doze e um. No céu há doze Signos Zodiacais que circundam o Sol central. No governo esotérico do mundo há doze Grandes Mestres ao redor do Cristo Cósmico. Cristo irradia Seu amor e Sua sabedoria infinitos sobre cada um desses Mestres, que lhes dão expressão, adaptada à época e às diferentes classes de pessoas às que estão para servir. Uma vez que essa origem universal de todos os sistemas religiosos seja conhecida, a separatividade dará lugar à unidade entre os seguidores das distintas doutrinas. Cristo é, em obra e em verdade, o que Ele mesmo declarou, quando disse: “Eu sou a luz do mundo”, e “ninguém chega ao meu Pai, senão por Mim”. Essa verdade libertadora é o tema dominante do terceiro volume do livro Interpretação da Bíblia para a Nova Era que é, quem sabe, o mais significativo da série.
O tema principal do Antigo Testamento é a vida de Jacó, rodeado de seus doze filhos. Sua influência se estende a todos os Livros que o compõe. O tema central do Novo Testamento constitui Cristo e Seus doze Discípulos. Sua influência se estende, também, a todos os textos que o formam.
O sublime acontecimento denominado o Batismo marca o início da era de Cristo na Terra. Larga e cuidadosa foi a preparação desse portentoso sucesso. Como já foi dito, dos elevados Iniciados do Templo, Joaquim e Ana foram eleitos pela angélica anunciação para se converter em pais do mais elevado Mestre que nunca tinha vindo ao mundo em um corpo feminino: a Maria bendita. Com sua assistência e a dos Anjos, o Mestre Jesus construiu o mais puro e perfeito corpo que se podia formar com matéria física, corpo que cedeu para o glorioso Arcanjo Cristo no momento do Batismo, quando os céus se abriram e se escutou a voz de Deus, bendizendo a esse exaltado Ser que, desde esse momento, atua na Terra como Cristo Jesus (ou Jesus-Cristo). No entanto, nem sequer aquele, o mais perfeito veículo físico, podia suportar, por longo tempo, a tremenda radiação de um espírito arcangélico. Assim, era necessário que Cristo Jesus saísse desse corpo, frequentemente, por algum tempo para que Seu Corpo Denso fosse restaurado. Entre os que atendiam essas necessidades estavam os Essênios, uma seita santa que, durante vários séculos, tinha feito os preparativos para a vinda do Senhor.
O Mestre Jesus, como consequência de seu supremo sacrifício, se converteu no “primeiro fruto” da humanidade. Ele continuou ativo, desde então, trabalhando por meio dos planos espirituais, especialmente com toda organização, todo grupo e todo indivíduo que aceita a Cristo como Salvador do Mundo. Ele estará com Cristo, novamente, quando o Cristo estabelecer a Nova Dispensação, como estarão os Discípulos Maria e José, os santos e os primeiros seguidores da igreja Cristã.
“Quem assim deseje” pode vir. Esse oferecimento de Cristo não foi feito somente para as pessoas daquele tempo; é aplicável a toda pessoa, qualquer que seja a idade, clima, raça ou nação. Quem quer que o deseje, pode vir e se preparar, por meio da pureza e da vida espiritual, para se contar entre os pioneiros que serão julgados dignos de retornar com Cristo e Lhe ajudar a estabelecer a Nova Dispensação, o edifício do novo céu e da nova Terra.
Que Cristo se forme em vós.
Cristo em vós, a esperança é de glória
São Paulo
Jesus disse a Seus seguidores como e o que deviam fazer para seguir o Seu caminho, de modo que pudessem chegar a ser como Ele era; Ele que estava tão distante como a sabedoria e como o poder; pois no coração de cada ser humano há uma divindade, seu próprio deus interno, que os Cristãos, em uma troca mística de mentalidade, chamam o Cristo imanente.
Nossas doutrinas nos falam de uma larga linha de tais Mestres, cada um dos quais se fez um com sua divindade interna, com o deus interior, o Cristo imanente; e assim, havendo se unido com sua divindade interna, alcançaram todo o conhecimento necessário, porque eles o viam e por isso podiam ensinar a verdade.
Dr. G. de Purucker em A História de Jesus
O Espírito de Deus cai sobre mim, como a gota de orvalho sobre uma rosa,
Só se eu, como a rosa, abrir a ele meu coração;
A alma onde Deus habita, – que templo seria mais santo? –
Se converte em um habitat ambulante de majestade celestial.
Em toda a eternidade não poderia haver um tom mais doce,
Que o bater do coração humano em uníssono com Deus.
Detenha! Para onde corres? Sabe que o céu está em ti;
Busca a Deus em qualquer outra parte e nunca verás Seu rosto.
Olha! Na noite silenciosa nasceu um menino a Deus,
E restaurou tudo o que estava perdido.
Se tua alma pudesse, pois, se transformar em uma noite silenciosa,
Deus nasceria em ti e tudo se tornaria perfeito.
Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém
E não dentro de ti mesmo, tua alma permaneceria perdida.
Em vão olhas a cruz do Gólgota
Se não se ergue também dentro de ti.
Angelus Silesius[192]
O mistério de Cristo é quádruplo. Em primeiro lugar está o Cristo no Sol, que é o Senhor e o Orientador de todas as grandes Religiões da Terra. Em segundo lugar está o Cristo que encarnou na Terra no momento do Batismo de Jesus e que, no dia culminante do Seu sacrifício, se converteu em seu espírito planetário interno. Logo depois está o Cristo que há de nascer dentro de cada ser humano. E, por fim, está o Cristo histórico. E foi a esse quádruplo Mistério Crístico a que se referia São Paulo ao dizes: “Olha, que os mostro um mistério”.
Esse mistério quádruplo está sob a orientação da Santíssima Trindade. O Cristo no Sol está sob a orientação do Senhor Deus (o Pai). O Cristo que encarnou no Batismo está sob a direção do Filho, o Cristo Cósmico. O Cristo que há de nascer no ser humano está sob a orientação do Espírito Santo. O Espírito Santo foi sempre o grande mistério da Trindade. A humanidade da Nova Era irá incrementando seus conhecimentos sobre a extensão de Sua natureza e Seu trabalho.
A próxima etapa importante na evolução humana é o nascimento do Cristo no ser humano. O trabalho que resultará a esse nascimento está causando muitas desarmonias, intranquilidades e desordens. Nenhum ser humano pode ser pioneiro do novo tipo de ser humano até que Cristo nasça dentro de si mesmo. A chamada feita pelo Espírito Santo a todos os que já estão preparados e desejando escutá-la é para a completa dedicação ao serviço do Senhor Cristo. Essa é a missão do Espírito Santo relativa aos Cristãos do novo tipo de ser humano e que fez o Senhor declarar: “Eu não vou, o Consolador não virá a vós; mas se eu for, eu enviarei ele a vós…e Ele os mostrará as coisas por vir”.
Desde o momento em que Espírito Santo ativou o princípio Crístico no interior dos Discípulos, eles tiveram somente pensamentos Crísticos; falaram somente palavras Crísticas e fizeram somente obras Crísticas. Aqueles seres humanos que eram tímidos e covardes, se tornaram valentes. São Tomé já não mais duvidou; São Pedro já não mais temeu; São João deixou de permanecer longe e, nem as perseguições, nem os cárceres, nem sequer a morte, puderam dissuadi-los. Seu único objetivo na vida foi servir ao Senhor Cristo e seguir Seus caminhos.
Um dia, quando São Pedro e São João se retiraram ao templo para orar, na “porta Formosa”, chegaram junto a um homem aleijado de nascimento. São Pedro lhe disse: “Ouro e prata não os tenho; mas o que tenho eu lhe dou”. Imediatamente as forças voltaram aos joelhos e pés daquele homem e, se levantando, entrou com eles no templo com grandes demonstrações de alegria. São Pedro e São João recordaram as palavras de Cristo durante Seus últimos dias juntos a eles, quando disse ao Espírito Santo: “Ele manifestará minha glória porque tomará do meu e os mostrará” (Jo 16:14).
A glória do Cristo despertado em seu interior brilhava ao redor de suas cabeças como um halo de luz dourada. No elevado estado de consciência que alcançaram não havia diferenças nem desarmonias, porque habitavam na realização da unidade eterna. Por isso entendiam todos os idiomas e podiam falar em todas as línguas. Compreendiam, igualmente, o profundo significado das palavras que Cristo lhes havia dirigido: “Quando Ele vir, o Espírito da Verdade, o guiará na verdade toda (Jo 16:13). Os Discípulos se converteram, literalmente, em “super-homens” ou “homens-deuses”.
Tal é o significado do místico Cristo interno, esse nível elevado percebido por São Paulo quando escreveu aos Gálatas (4:20): “Meus filhos, outra vez me causais dores de parto, até que Cristo forme em vós”. Esse Cristo Místico é a divindade que está latente em cada ser humano. Essa realização da unidade de toda a vida proporciona um novo significado à Paternidade de Deus e a irmandade dos seres humanos. O conhecido escritor e poeta americano Henry van Dyke expressou com essas formosas linhas a imanência da realidade Crística:
Nunca mais terás que me buscar.
Estou contigo para sempre;
Levanta a pedra e me encontrarás,
Parta a madeira e eu estarei ali
Essa imanência de Cristo será o ensinamento fundamental da Nova Era. É significativo chamar a atenção sobre o fato de que as igrejas liberais e os grupos universais que buscam a verdade, baseadas na Nova Era, ressaltam sobre qualquer coisa a despertar do princípio Crístico dentro de cada indivíduo. Contudo, como se pode executar isso?
A perfeição do Corpo Denso está baseada na supervivência do mais apto. O crescimento do Corpo-Alma está baseado na lei do sacrifício. Em tempos passados, foi ensinado ao ser humano a sacrificar suas posses materiais. Existem instruções e mais instruções no Antigo Testamento para que entregassem os primogênitos de seus rebanhos e os colocassem no altar dos sacrifícios. Ainda hoje muitas igrejas impõem a seus seguidores a lei do dízimo. No entanto, os Cristãos Místicos compreendem que essa lei há de ser abandonada; eles têm que aprender a se colocar eles mesmos sobre o altar como oferenda sacrificial.
O despertar do Cristo Interno, como todos os processos de nascimento, é lento e gradual. Primeiro, o Aspirante há de fazer sua dedicação ao ideal de Cristo. Se é sério e sincero nessa dedicação, então se encontrará a si mesmo adquirindo maior sintonia com esse ideal. Isso lhe resultará em ser mais fácil ter pensamentos Crísticos e pronunciar palavras e realizar atos em sintonia com uma vida Crística. Será consciente de uma sensação de bem-estar que não tinha sentido nunca antes; a mesma sensação que alcançaram os primeiros Cristãos, mesmos dentro das obscuras catacumbas e enfrentando a perseguição e a morte. Por outro lado, o despertar do Cristo Interno tem compensações que nenhuma condição ou circunstância humana pode destruir. Nem podem ser compensados, quem o experimenta, por posses materiais.
Preparando a Sua segunda vinda, o Senhor Cristo está se aproximando mais e mais da Terra. Em alguns momentos está na Região Etérica do Mundo Físico, e muitas almas avançadas estão se tornando conscientes das bênçãos que resultam de Sua proximidade. Alguns há que sentem a necessidade de se ajoelhar em adoração e homenagem ante Ele e a escutar os sons de Sua voz bendita. Isso ocorre, às vezes, em momentos que o Corpo Denso está em repouso e dormindo. Contudo, também, uma pessoa também pode ouvi-La durante um momento rápido de consciência durante as horas de um dia atarefado. E isso pode ocorrer para fortalecê-la antes de enfrentar uma crise ou para mitigar determinadas agonias profundas. Qualquer que seja o motivo e ocorra quando ocorra, a vida já não pode ser a mesma para essa pessoa, depois do momento dessa Sublime Presença. Qualquer coisa que faça levará o selo da divindade e estará permanentemente motivada pelo desejo de maiores oportunidades de servir “em Seu nome”.
As atividades de uma pessoa assim afortunada continuarão até que a morte perca seu aguilhão com a comprovação de que não é senão um trânsito da Região Química do Mundo Físico para a Região Etérica do Mundo Físico. Então descobrirá que enquanto vivia na Região Química do Mundo Físico era dispensada de servir nos planos superiores e que, depois do que é chamado morte vive na Região Etérica do Mundo Físico, mas segue sendo, agora, dispensada de trabalhar na Região Química do Mundo Físico. Aprende, assim, que essa vida e a “outra” são dois aspectos de um grande e glorioso todo, da qual o Senhor Cristo é, por sua vez, o centro e a circunferência.
Ao longo das páginas de Interpretação da Bíblia para a Nova Era se faz referência frequente ao Caminho da Iniciação que segue a linha dos principais acontecimentos da vida do Senhor Cristo desde o Seu Nascimento até a Sua Ressurreição e Ascensão. A mesma interpretação é apresentada extensamente nesse volume com relação aos quatro aspectos de Cristo: o Cósmico, o Planetário, o Histórico e o Místico. O último é o mais importante quanto ao desenvolvimento humano, já que se refere ao Cristo Interno.
O Sagrado Nascimento se refere ao princípio Crístico despertado no ser humano. Quando esse novo nascimento ocorre no indivíduo, um novo e enorme poder emana de sua Mente e um imenso Amor irradia do seu coração. Os valores humanos se invertem completamente. Os interesses do ser humano que não busca o despertar do Cristo Interno estão centrados no lado objetivo da vida. Contudo, após o despertar do Cristo Interno, esses interesses se centram, especialmente, no lado subjetivo. Então se compreende melhor as palavras de São Paulo: “As coisas que se veem são temporais; mas as coisas que não se veem, são eternas”[193].
Com a Apresentação no Templo do neófito, um momento para a consagração e a dedicação, a força de seu Cristo Interno é vivificada, fortalecida e aumentada. Essa realização é seguida pela Fuga para o Egito, já que o Caminho do Discipulado está sempre alternado entre sol e nuvens. Longfellow[194], o amado poeta, expressou assim essa ideia:
Em cada vida há de cair alguma chuva,
e algum dia há de ser nublado e triste.
Então, o ser humano pode enfrentar a dor com a mesma fortaleza com que enfrenta a alegria; e aprende a lição a que São Paulo se referia ao dizer: “Nenhuma dessas coisas me comove”[195]. Se uma pessoa é sincera e honesta em seu autoexame e suas autoanálises, então reconhecerá que aprendeu as lições mais valiosas nos momentos mais sombrios de sua vida e não nos mais radiantes.
Uma vez superada a prova no Egito, o seguinte passo é o Retorno a Nazaré. O Aspirante, em companhia dos Anjos, é conduzido à Nazaré para crescer em fortaleza e conhecimento.
Por meio do Ensinamento no Templo, o Cristo Interno se converte na força dominante de sua vida. “A boca fala daquilo de que está cheio o coração”[196]. Então, seu maior desejo é o compartilhar sua incomensurável realização interior com todos os que desejam recebê-la. Tão logo obtenha isso, disporá das oportunidades e da habilidade necessárias para comunicar seu conhecimento espiritual.
Por meio do Rito do Batismo, a força espiritualizada da Mente e do Amor radiante do Coração se juntam em uma identificação divina. O nascimento do Cristo Interno foi completado e o Aspirante já é um indivíduo Crístico. O Batismo anuncia o começo de uma nova vida, uma vida na qual a personalidade é secundária porque a consciência reina suprema. A cabeça do, agora, iluminado é coroada por um halo de luz, quando o Espírito Santo em forma de pomba pousa sobre ele para bendizê-lo, enquanto a voz de Deus declara: “Este é o meu Filho amado, em quem Me comprazo”[197]. São Paulo, que trilhou esse caminho, sabia assim que “Deus mitiga o vento para a ovelha tosquiada”. Quem analisa essas etapas comprovará que isso é correto.
Depois do Sagrado Nascimento e da Apresentação no Templo vem a prova da Fuga para o Egito. Segue o Retorno à Nazaré que, por sua vez, conduz às etapas superiores do Ensinamento no Templo e do Rito do Batismo. Quanto maior é a realização, mais sutil é a tentação. Quanto mais estreito é o Caminho, mais inclinado ele é. O Rito do Batismo é seguido pela prova mais difícil das enfrentadas até então: a conhecida como a Grande Tentação.
Quando as energias da cabeça e do coração permanecem unidas em fusão harmônica, se desata no Aspirante uma força dinâmica de atração. Essa força atua nos planos físico, espiritual e mental e o Discípulo se torna plenamente consciente do significado da promessa de Cristo: “E o que pedirdes em meu nome, eu o farei”[198]. Sabendo que esse poder é seu agora, há de enfrentar uma decisão terrível: empregará esse poder para atrair para si os prazeres e comodidades, a opulência, a adulação e a proeminência que são postas ao seu alcance, ou dará as costas a tais sugestões e se conformará em se dedicar a uma vida abnegada, utilizando o seu poder para a redenção do ser humano e para o aperfeiçoamento do Reino de Deus na Terra? Esse é o ponto em que o Caminho se estreita ao máximo. Desgraçadamente, muitos que tem tentado seriamente a ascensão dão meia-volta daqui e deixam de caminhar com Cristo. Porque, incluindo as almas valentes que saíram vitoriosas, hão de repetir, continuamente, como fez Cristo, quando disse: “Afasta-te de mim, Satanás!”[199].
Uma vez demonstrado que possui o valor suficiente para passar com êxito pela Grande Tentação, o Aspirante está preparado para o rito denominado A Transfiguração, uma realização seguida de elevadíssima exaltação do Festival do Amor. Por meio desse rito se passa para a vida eterna. Sua Mente está de tal modo espiritualizada e seu Coração de tal modo iluminado que, literalmente, pensa com o Coração e ama com a Mente. É, portanto, digno de participar do Festival do Amor. As essências desses exaltados Mente e Coração, “o pão e o vinho” do Festival, transcendem o tempo e o espaço; podem ser enviados aos confins da Terra com o fim de bendizer e curar definitivamente. Por meio dessas essências desenvolvidas em seu interior, os Discípulos foram instruídos pelo Senhor Cristo a consagrar e espiritualizar esses elementos (“pão e vinho”) e utilizá-los para a elevação do seu irmão, o ser humano. Isso esclarece o significado das Suas palavras: “Eu sou o pão da vida”[200], “meu sangue é a água da vida eterna”[201], e outras similares.
Quando passa a experiência da Transfiguração, o Aspirante alcança o topo do desenvolvimento humano. Então, já pode irradiar o poder espiritual dinâmico nele engendrado, com uma grande luz, tanto se trabalha no plano físico, como se trabalha no plano mental ou no espiritual. Sua luz já não está “oculta embaixo da cama”[202]. Tendo alcançado o grau supremo de seu desenvolvimento está preparado – ou deveria estar – para a prova formidável do Getsemani.
O Caminho do Discipulado é largo e árduo. São necessários muitos anos, incluindo aqui muitas vidas para alcançar a última meta. E, alcançada essa, deve renunciar a tudo. Qualquer fama, prestígio, respeito ou poder que o Discípulo adquiriu deve ser deixado de lado. Há de estar disposto a descer à obscuridade e a declarar como Cristo: “Eu sozinho nada posso”[203]. Quando o Senhor permitiu ser conduzido ao Getsemani e, logo, ser pregado na cruz, tanto Ele mesmo como Sua missão se converteram como sendo fracassos para os seres humanos. Proporcionalmente, é para poucos indivíduos que se exige enfrentar essa prova, já que são poucos os que alcançam o ponto em essas provas se faz necessária. O Getsemani de Abraão foi o pedido para sacrificar o seu filho Isaac. E somente quando esteve disposto a essa renúncia suprema ele foi digno e pode caminhar e falar com os Anjos.
A renúncia absoluta e o desprendimento total foram exigências, tanto nos tempos antigos como nos modernos, para todos os que pretendem trilhar o Caminho do Discipulado. Frequentemente, durante as provas experimentadas, um Discípulo repete o pedido de Cristo: “Pai, se é possível, afasta de mim esse cálice”[204]. Se triunfa, no entanto, acrescentará: “Entretanto, que não se faça a minha vontade, senão a Tua”[205].
Depois do Getsemani vem a Crucifixão, que é um rito, tanto de pena e dor como de glorificação. O Discípulo, que renunciou a tudo, se encontra como alguém que tem ganhado a tudo. Os poderes do Céu e da Terra atuam, também, em sua oferta para a vida. Uma lei fundamental do desenvolvimento oculto e que Cristo ensinou aos Seus Discípulos estabelece que “ao que tenha, se lhe dará…mas ao que não tenha, até o que tenha ser-lhe-á tirado”[206].
A Ressurreição e a Ascensão são as etapas finais para se elevar à Grande Luz. Quem as sobrepassa, se torna realmente “Cristificado”. E se reunirá com o Senhor no Éter no momento de Sua segunda vinda e lhe servirá até o fim da Era em um exaltado estado de imortalidade consciente.
Espírito de imortal beleza, Sol de inacessível amor, ensina a humanidade a te conhecer em Teus mundos e, conhecendo-te a Ti, a ver Teu trabalho artesanal na pétala da flor, no ramo perfumado, e na voz canora, e no desenho intrincado e delicado do escaravelho, na serpente e no pássaro; e lhe ensina finalmente a te encontrar em si mesma, glória transcendente do ser humano, feita Deus.
Mary Gray
A obra A Interpretação da Bíblia para a Nova Era está centrada no ensinamento fundamental de que o Senhor Cristo veio à Terra como o Supremo Indicador do Caminho para toda a humanidade. Seu propósito foi o de ensinar o ser humano como despertar o Cristo Interno em seu próprio ser, pois, como São Paulo afirma, todos somos Cristos em formação. Os acontecimentos principais durante a permanência do Senhor na Terra representam as principais lições para a alma, que cada um dever aprender para desenvolver sua divindade latente. Não houve a necessidade de Cristo passar por todas essas experiências, mas Ele escolheu faze-las para demonstrar que o ser humano pode enfrenta-las e sair vitorioso. Foi nos dado o modelo perfeito. São Paulo disse do Senhor: “ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado”[207].
O Caminho do Discipulado é áspero e escarpado. No entanto, quando um buscador desperto se torna consciente do Cristo Interno, nada mais dessa vida que não esteja relacionado com essa busca tem valor para ele. Uma vez participado do alimento celestial, todas as delícias do mundo juntas se tornam totalmente insípidas, pois ele compreende o verdadeiro sentido das palavras do nosso bendito Senhor: “Tenho para comer um alimento que não conheceis”[208] e “quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede”[209].
São João, o mais elevado Iniciado da Dispensação do Novo Testamento, também se referiu assim à realização de Cristo: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou”[210].
O Senhor Cristo se dedicou ao serviço transcendente de guiar a humanidade a seu estado sobrenatural. Por isso os místicos Cristãos veem um profundo significado na mais reconfortante de Suas promessas:
“E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!”[211]
***
Aqui daremos um breve resumo das chaves, sete ao todo, no que é mais importante para esclarecer os Mistérios de Cristo. Os Estudantes farão bem em estudar cuidadosamente essas sete chaves, ao mesmo tempo em que leem sua descrição na versão da Bíblia; e logo, por meio de uma longa e devota meditação, as converterem em fatores ativos e vitais em suas vidas diárias.
A Imaculada Concepção é o Rito sagrado por meio do qual o fogo que arde na personalidade humana se transmuta na luz do espírito puro. Durante o processo de transmutação, o fogo vermelho de Marte, a força de desejos gerada pelos Espíritos Lucíferos, é substituída pela força dourada do Sol, a força pura do amor de Cristo. Essa é a transformação mais importante que ocorrerá na onda de vida humana durante a próxima Era.
Nos tempos antigos da evolução humana se desenvolveram certos centros nas correntes do Corpo de Desejos do ser humano. Esses centros se encontram, em sua maioria, latentes na maior parte das pessoas, já que só podem despertar por meio do desenvolvimento espiritual. E só alcançaram seu total esplendor naqueles que receberam as Iniciações Maiores. No entanto, doze desses centros estão latentes no Corpo de todas as pessoas. Quando se despertam e funcionam se convertem nas doze gloriosas luzes.
Os centros estão situados nas partes distintas do Corpo Denso: dois se encontram nos pés; dois nos joelhos; um, na base da espinha dorsal; dois no fígado, três no Plexo Celíaco, no coração e na garganta; e dois no crâneo. Os Cristãos Místicos os descrevem como “as rosas que florescem na cruz do Corpo”. Não alcançam sua total luminosidade até depois de alcançada a Primeira das Iniciações Maiores ou Iniciações de Cristo. Os centros abaixo do diafragma não se ativam completamente até que o Discípulo receba as quarto Iniciações Maiores ou Cristãs. Por isso a humanidade não está ainda familiarizada em com seu funcionamento, nem com os processos envolvidos na sua ativação. Os centros situados acima do diafragma vão se ativando à medida que se vai recebendo as nove Iniciações Menores e, por isso, suas atividades e seu funcionamento são mais conhecidos. Há ainda outros centros que hão de ser ativados conforme processos posteriores de desenvolvimento espiritual, mas os tratados aqui são os mais importantes para o ser humano no seu atual estado de evolução.
Quando o centro situado na base da espinha dorsal começa a se mover, sua cor vermelha escuro vai se tornando cada vez mais clara, à medida que a própria natureza vai se purificando e espiritualizando, até se converter em uma radiação pura, tingida de um laranja dourado. As forças desse centro colaboram nos processos de transmutação e purificação que ocorrem em todo o Corpo.
Com a animação do centro situado no Plexo Celíaco se desenvolve uma grande reverência para o Corpo Denso, como templo apropriado para o Espírito interno. Quando essa comprovação acontece, todas as atividades do Corpo Denso se mesclam e se harmonizam com os princípios superiores. As radiações desse centro são de um verde vívido, a cor da natureza nascente, e servem para estimular todos os processos vitais.
A rosa só pode florescer no coração quando a compaixão se desenvolveu até o ponto de incluir a todas as criaturas viventes; esse centro não pode se converter em uma luz transcendente até que sua força motriz seja o amor. A flor dourada no coração do Discípulo não pode alcançar seu desenvolvimento total enquanto alimente seu Corpo com a carne dos irmãos menores ou utilize seu couro, sua pele, suas penas, plumas ou qualquer parte ou componente de seus corpos para gratificar sua vaidade. Há de se conservar santo e proporcionar um amoroso cuidado às criaturas menores antes de que a rosa abra suas pétalas radiantes. Quando, finalmente, se abre, esse centro se assemelha a uma explosão solar em miniatura, de um dourado esplendor.
A rosa do centro da garganta, aonde reside o poder da fala, não se desenvolverá completamente até que, por seu meio, deixem de se pronunciar palavras desconsideradas, descorteses ou destrutivas. O neófito há de fazer a suprema dedicação de sua voz a serviço de Cristo. Há de poder dizer: “Nada peço para mim e de mim mesmo dou aos demais”. Uma tal dedicação desenvolve as pétalas dessa rosa que adquirem uma cor radiante azul suave, a qual a inspiração acrescenta tons prateados.
Em outros escritos nós temos referido às duas luzes na cabeça. A glândula pituitária se converterá, um dia, em uma perfeita criadora de imagens, enquanto que a glândula pineal será o santuário aonde a vontade habita, como serva do espírito. Ambos os centros estão banhados de lindas sombras violeta, às que a aspiração acrescenta o deslumbrante brilho do ouro. Nesses centros se encontram o mistério relativo da origem do Rosário.
Quando os nove centros do corpo se despertam, o Discípulo veste o “dourado vestido de bodas” e se põe disposto para ir ao encontro do Noivo e penetrar no Festival do Matrimônio.
A Virgem Maria e seu marido José eram Iniciados do Templo. Tendo aprendido todas as lições pertencentes à vida objetiva, haviam se consagrado permanentemente ao serviço do Templo. Para cumprir o plano divino, no entanto, tiveram que renunciar a essa vida e voltar par a o mundo laico para se converter em uma família. Assim que se dedicaram a criar o ambiente adequado para os anos de formação do menino que seria conhecido como o Mestre Jesus.
Durante aquela primeira noite mágica de Natal uma luz dourada focou sobre o mundo todo. Hostes de Anjos e Arcanjos, cantando exultantes hosanas, desceram à Terra e se misturaram com os seres humanos, tornando-se visíveis a muitos deles. Naquele glorioso dia dourado Maria foi arrebatada ao céu e, entre aclamações de regozijos, foi lhe confiada a custódia do Sagrado Infante.
Quando o Mestre Jesus desceu às águas do rio Jordão, aconteceu o grande sacrifício de abandonar os Corpos Denso e Vital que tinha construído, para que Cristo pudesse usá-lo durante os três anos de Seu ministério. Uma vez mais, como na Noite Santa, os céus se encheram com os ecos das hosanas angélicas e a voz de Deus foi escutada proclamando: “Este é o meu Filho amado, em que me comprazo”[212].
O Evangelho Segundo São Marcos se inicia com o Rito do Batismo. O Evangelho Segundo São João se inicia com o do Matrimônio Místico, no qual a água se converte em vinho. Há uma íntima relação entre esses dois acontecimentos. O Rito do Batismo foi observado pelos Discípulos no Sábado Santo que precedeu à Ressurreição. Mediante ele, cada um aprendeu a dissociar, por livre vontade, o Ego do Corpo Denso. No Rito do Matrimônio Místico Cristo ensinou a Seus Discípulos como equilibrar as forças da Mente e do Coração; em outras palavras, como manifestar a polaridade por meio da qual se pode fazer milagres, como o de transformar a água em vinho. Esse Rito é uma preparação para as maravilhas do Pentecostes.
Durante o curso do Seu ministério Cristo se esforçou para ajudar a Seus Discípulos mais avançados – São Pedro, São Tiago e São João – a compreender algo do profundo mistério de Sua missão. Deu-lhes a evidência de Seus poderes sobrenaturais em Sua glória celestial. Ensinou-lhes como elevar suas consciências até poder contemplar a radiação de Seu corpo de Arcanjo. Quase aturdidos por Seu ser transfigurado, caíram ante Ele de joelhos em sinal de reverência e adoração.
Orígenes[213] disse o que se segue com relação à exaltada experiência vivida pelos Discípulos privilegiados, contemplando a glória de Cristo no monte: “Perguntá-los-ei se quando Ele se transfigurou ante aqueles que Ele mesmo havia levado até o alto da montanha, O viram na forma de Deus naquela que Ele existia antes; pois bem, para os que estavam abaixo, Ele tinha a forma de um servo, mas aqueles que O seguiram seis dias mais tarde, não tinha esse aspecto, senão a forma de Deus”.
Como se disse ao longo do capítulo dedicado a Cristo no Antigo Testamento, muitos dos mais avançados mestres e profetas dessa Dispensação prepararam a seus Discípulos para a vinda do Cristo. Quando São Pedro, São Tiago e São João contemplaram, com reverente assombro, o sublime espetáculo do Cristo transfigurado, viram a Moisés e Elias de pé junto a Ele, dois dos mais elevados Iniciados dos dias do Antigo Testamento, que haviam trabalhado preparando a seus seguidores para a vinda do Cristo.
Era missão do Cristo identificar-se a Si mesmo como o destino da Terra e da sua humanidade. Este era o trabalho final que ocorreria ante da Crucifixão. E foi durante essa prova terrível que Ele conseguiu Sua plena identificação com o destino da onda de vida humana.
Cristo havia compartido a mais extraordinária experiência de Seu ministério com os mesmos Discípulos avançados, São Pedro, São Tiago e São João. Agora os chamou para compartilhar também com Ele a hora mais obscura e agonizante de Sua permanência na Terra. Esperava que eles dessem uma assistência durante esse trabalho. No entanto, esse trabalho foi para Cristo, nosso glorioso modelo, como é para todo Aspirante que trilhe o Caminho: ninguém, salvo o Pai, compartilhou com Ele essa hora mais obscura. Por isso o Evangelho diz que Seus mais iluminados Discípulos dormiram. Não estavam à altura de fazer a guarda, motivo pelo qual foram chamados.
Sua incapacidade para medir as demandas da trágica ocasião e a perda com isso proporciona a oportunidade de prestar um serviço inimaginável é uma advertência para todos os que se dedicam a Cristo. Salvo que hajam adquirido a necessária preparação, não serão conscientes do que está ocorrendo e não prestarão atenção à chamada de Seu Senhor e Mestre.
O Batismo anunciou o começo do ministério do Senhor Cristo para a Terra e para o ser humano; enquanto que a Crucifixão marcou o momento mais importante do mencionado ministério. Na Crucifixão, ele que veio como o mediador entre os céus e esse plano, penetrou no coração da Terra e se converteu em seu Espírito Interno. Desde então, Seu ministério tem sido tanto desde dentro, como desde a esfera exterior. O coração da Terra é Seu centro planetário. Todo ano, a força de Cristo penetra nela com intensidades e volumes crescentes e isso faz com que cada vez mais Ele encontre um lugar no coração humano. Essa foi a maravilhosa revelação que sobreveio à São Paulo no caminho para Damasco e que ele logo incorporou aos ensinamentos que distribuiu a seus discípulos.
Aos que asseguram que Cristo, como pessoa, nunca viveu, que Sua vida não é senão um recurso simbólico do Caminho da Iniciação, e que a Crucifixão é também simbólica, não conhecem a verdadeira essência da Cristandade esotérica ou mística.
Mil anos com o Senhor não são senão como se fosse um só dia. No Segundo Dia da Criação, a que ser refere o Gênesis (Período Solar), os Arcanjos estavam passando por uma etapa de sua evolução, similar a nossa atual condição humana. Seus veículos mais densos eram de matéria desejos (o Corpo Vital não se manifestou até o próximo Período, o Lunar; enquanto que o Corpo Denso não se manifestou até o presente Período Terrestre). Cristo era o líder dessa onda de vida Arcangélica, e era o guardião da Terra em formação. Eons passaram até que o planeta estivesse preparado para abrigá-lo no seu centro.
Quando o Sol passava, por Precessão dos Equinócios, pelo Signo de Áries, o Cordeiro veio como o Bom Pastor para as ovelhas que estavam extraviadas. Quando o Sol passava, por Precessão dos Equinócios, no Signo de Libra, aproximadamente há dez mil anos atrás, começaram os preparativos para Sua vinda. Foram enviados mestres Iniciados às mais diferentes partes do mundo, todos com uma mensagem similar: formar um círculo próximo de Discípulos para esse glorioso acontecimento que é a vinda da Luz do Sol, que haveria de se converter na Luz do Mundo. À medida que o tempo passava a preparação foi se tornando mais definida. Na China apareceu Lao Tsé e a adoração de Kwan Yin, que representa a Divindade Feminina. No Egito, a adoração se centrou em Osíris e Isis; na Babilônia, em Izdubar e Isthar; na Grécia, em Apolo e Atena; na Índia, Buda e sua mãe Maia; na Pérsia, Zoroastro[214] e Ainyahita[215]; e, finalmente, na Palestina, Jesus e a Virgem Maria. Ao longo de todos os tempos esses discípulos que eram conscientes da “encarnação por vir” estiveram preparando-a. E acrescentamos aqui, também, os três Magos do Oriente.
Santo Agostinho reconheceu essa preparação, ponto a ponto, para a vinda do Cristo. Disse: “o que hoje se denomina Religião Cristã existia entre os antigos e nunca parou de existir, desde a origem da onda de vida humana até que o mesmo Cristo chegou, e o ser humano começou a chamar Cristianismo a verdadeira religião que já existia antes”. O Cristianismo continuou a partir das revelações prévias que haviam acontecido.
Existia uma relação íntima entre os Mistérios Cristãos primitivos e os Mistérios de Mitra, na Pérsia. Diz-se que Tertuliano havia sido iniciado na Escola Persa, antes de contatar o Cristianismo. São Jerônimo, por sua vez, escreve sobre os mistérios com tal conhecimento que é muito provável que pertencera a seu círculo íntimo. Como em todas as Escolas Esotéricas, os Mistérios de Mitra constavam de sete graus. Os sete graus eram nomes simbólicos de aquisições específicas. O Primeiro Grau, que sempre trará do domínio pelo ser humano da sua natureza inferior, era conhecido como O Corvo. O Segundo era O Ocultista; o Terceiro, O Guerreiro; o Quarto, O Leão. O Quinto era o mais importante e o mais profundo em seus efeitos. A essas alturas o Iniciado havia já adquirido o completo autodomínio e era dado o nome do país ao qual pertencia. Por isso, na Escola de Mitra, a um Iniciado de Quinto Grau, se lhe chamava O Persa.
Com a vinda do Cristo, os Mistérios assumiram uma forma mais exaltada que nunca antes havia tomada, porque na Escola de Mistérios Cristãos, os sublimes ensinamentos de Cristo foram somados aos dos Antigos Mistérios. Esses Mistérios incrementados serão a pedra angular da nova Religião de Aquário. Como já foi dito, o nome Iniciático de São João foi Lázaro e ele foi o primeiro a ser Iniciado nesses Mistérios sublimes. Por meio deles, a morte foi vencida e as portas da imortalidade foram abertas, e quem segue seus passos poderão entrar no glorioso privilégio de ser um dos Discípulos que Cristo mantem junto ao Seu coração.
Durante o intervalo entre a Crucifixão e a Ressurreição, Cristo trabalhou para purificar o Corpo de Desejos do Planeta, um Corpo que a humanidade tinha infestado de mal, de tal modo que, a evolução do ser humano estava se atrasando enormemente. Já não havia substância de desejos apropriada para formar Corpos de Desejos puros. A obscura capa miasmática que rodeava a Terra criava umas condições que faziam com que muitas pessoas fossem presas fáceis de entidades obsessoras na Terra, as quais a Bíblia chama de “maus espíritos” que deviam ser expulsos.
No momento da crucifixão Cristo rasgou o véu do Templo da Iniciação, tornando-a possível para “qualquer um que quisesse vir” e compartilhar as águas da vida eterna. Isso está belamente simbolizado pela afirmação bíblica de que “o véu do Templo se partiu em dois”[216]. Como foi dito antes, à luz do Cristianismo Esotérico está claro que a missão de Cristo, nessa primeira vinda, não foi concluída com a Crucifixão. Isso ocorreu quando Ele, verdadeiramente, se converteu no Cristo Planetário.
No Equinócio de Setembro de cada ano Ele renasce na esfera física terrestre e trabalha nela durante os seis meses nos quais o Sol passa pelos Signos Zodiacais situados abaixo do Equador. Então, limpa e purifica o Mundo do Desejo do Planeta, em cujas atividades Lhe ajudam Miguel e sua hostes de Arcanjos. Assim, ano após ano, os seres humanos podem incorporar a seus Corpos Densos material de desejos cada vez mais puro. Desde o tempo da Páscoa até o Equinócio de Setembro, enquanto o Sol transita pelos Signos ao norte do Equador, o Senhor Cristo trabalha na envoltura espiritual da Terra, impregnando-a de forças espirituais elevadas provenientes das Hierarquias Zodiacais que rodeiam o Sistema Solar. Esse é o processo cósmico por meio do qual o que está sendo elaborado é o “dourado vestido de bodas” da Terra.
Cristo jamais voltará a descer em um Corpo Denso para caminhar entre os seres humanos. Da próxima vez Sua atividade será centrada na Região Etérica do Mundo Físico, biblicamente conhecido como o Jardim do Éden. Aqueles que servem com Ele nessa edênica morada construíram o seu próprio “vestidos de bodas”; em outras palavras, construíram o Corpo-Alma, capaz de funcionar conscientemente na Região Etérica do Mundo Físico. Tal veículo só pode ser confeccionado de uma maneira: por meio da dedicação de si mesmo ao serviço dos outros.
Quando a humanidade se tornar Crística, os elementos físicos da Terra irão, progressivamente, se refinando até que toda a onda de vida humana, literalmente “viva, se mova e tenha o seu ser” na Região Etérica do Mundo Físico. Então, o objetivo do nascimento e da existência desse Planeta será cumprido. Cristo haverá completada Sua sublime missão e uma onda de vida humana crística viverá entre as glórias de “um novo céu e uma nova Terra”[217].
O momento mais importante de todos os acontecimentos mundiais foi o do Gólgota. Ele se situa entre os nove Mistérios Menores pré-cristãos e os quatro Mistérios Maiores estabelecidos pelo próprio Senhor Cristo. Quando as Escolas de Mistérios pré-cristãs ensinaram a seus Discípulos a se preparar para o “Grande Uno que havia de vir”, tais ensinamentos iam acompanhados pela visão de um homem pregado a uma cruz. Quando o sangue de Cristo fluiu no Gólgota, Ele se converteu no Senhor interno da Terra, já que Ele é o Senhor dos céus. Como tal espírito interno Ele está no mais íntimo contato com toda a humanidade. Ele torna mais fácil para os seres humanos o despertar do princípio Crístico residente no interior de cada ser humano. Na medida em que os seres humanos aprendam a ativar esse princípio irão adquirindo o caráter de salvadores do mundo, e compartirão com Cristo o Seu trabalho de redentor. E, consequentemente, se converterão em precursores de Sua segunda vinda.
O Arcanjo Miguel, mensageiro líder do bendito Senhor, tem por missão proporcionar aos pioneiros da Nova Era uma compreensão mais profunda do Cristo Cósmico em relação, tanto com a humanidade, como com o Planeta, assim como do papel desenvolvido pelo Cristo Planetário na evolução da humanidade. A compreensão disso será a base para a nova religião da Nova Era.
Quiçá a fase mais importante do acontecimento do Gólgota foi a demonstração dada por Cristo ao ser humano de que o amor é uma força, um poder. O ser humano havia considerado muito tempo o amor com uma paixão, um sentimento ou um ideal; mas, Cristo demonstrou como o poder do amor pode fazer milagres. É o poder que faz a Terra girar sobre seu eixo e descrever sua órbita ao redor do Sol. A “lei de atração” de que falam os astrônomos não é senão outro nome do poder do amor.
O Senhor Cristo utilizou esse poder quando deixou o plano dos Arcanjos para se converter no Regente da Terra; e logo, quando fez o sacrifício do Gólgota em benefício dos seres humanos. E continua o fazendo quando Sua brilhante presença fica aprisionada no interior do Planeta durante os seis meses todo ano, para renovar suas forças e produzir a redenção da onda de vida humana. Sem dúvida alguma, a definição mais exata do poder do amor se encontra em suas próprias palavras: “prova de amor maior não há do que doar a sua vida pelos seus amigos”[218].
Aqueles que queiram se converter em pioneiros no trabalho de estabelecimento pelo Cristo na Nova Galileia hão de incorporar o poder do amor de seu interior, vivendo vidas de tal pureza e serviço altruísta que os qualifiquem para assumir a direção da Terra e continuar a redenção da humanidade. Só por meio de tal serviço poderá Cristo ser libertado de Seu laço voluntário com a mortalidade e poderá voltar a subir no seu lar arcangélico no que Ele é o supremo Iniciado.
Através das eras é ensinado aos Discípulos que o Grau da Ressurreição marca a culminação do Caminho da Iniciação. Assinala, igualmente, o triunfo definitivo da vida sobre a morte. Os antigos diziam que os seres humanos conhecem só a morte, enquanto os deuses conhecem somente a metamorfose. A transmutação da morte na vida eterna se realiza no Grau da Ressurreição. Cristo, o sublime indicador do Caminho da Iniciação, deixou Suas vestimentas na tumba vazia para simbolizar a supremacia e a autoridade do espírito sobre a personalidade limitada e associada somente com a encarnação física.
É ensinado aos Discípulos avançados dos antigos Mistérios – e aos verdadeiros Discípulos dos nossos dias – a ter, conscientemente, uma ponte sobre o abismo aparente entre a vigília e o sono, entre a vida e a morte. São Paulo se refere a essa consecução quando diz que o último inimigo a ser vencido pelo ser humano é a morte, um estado de consciência que caracteriza os avançados que caminham pela trilha da Iluminação. Isso será uma herança comum da onda de vida humana no final do presente Período Terrestre, já que na conquista final da morte, o espírito se liberta do peso da mortalidade.
Os Cristãos místicos reconhecem que o Gólgota é um acontecimento histórico e, por sua vez, um processo anual, e que continuará sendo até que um número suficiente de pessoas se tenha “Cristianizado” para executar o trabalho redentor. Enquanto Cristo continua Seu serviço cíclico, inumeráveis seres celestiais lhe outorgam sua reverência e adoração em alegres hosanas. E, em resposta, Ele entoa as majestáticas palavras: “Todo poder me foi conferido nos céus e na Terra”.
As Iniciações ou Mistérios Menores alcançam seu clímax no Grau da Ressurreição. Os Grandes Mistérios (ou as Iniciações Maiores), os de Cristo, introduzem um grau mais elevado com o Rito da Ascensão. Aqueles que alcançam esse grau são capazes de seguir a Cristo até o seu próprio lar, no Mundo do Espírito de Vida, o plano da exaltada unidade expressa por Cristo ao dizer: “Eu e meu Pai somos um”. Esse estado foi alcançado pelos Discípulos no dia de Pentecostes. Algum dia será alcançado pela humanidade, por meio da primeira das Iniciações Maiores, estabelecida por Cristo durante Sua primeira vinda na Terra. Repetindo: o nível alcançado pela humanidade no final do presente Período Terrestre corresponderá ao trabalho da primeira Iniciação Maior ou Primeira Iniciação Crística. Quando os Discípulos manifestaram seus poderes no Pentecostes se converteram em “homens-deuses”.
O trabalho da segunda das Iniciações Maiores se manifestará pela humanidade durante o Período seguinte, o de Júpiter, quando ambos, ser humano e Planeta transcendam o estado físico da matéria. Então, funcionarão em veículos etéricos e as condições da Terra serão similares às que existiam no Jardim do Éden. Não haverá mais enfermidades, velhice e nem morte. Tendo incorporado ao veículo etérico superior as essências do Corpo Denso do ser humano, o primeiro se terá convertido em um instrumento extremamente sensível, com possibilidades muito maiores que a nossa atual compreensão. Sua Mente estará tão espiritualizada que manifestará o poder inato de Deus, lhe habilitando para trabalhar com a vida, tal como essa se expressa atualmente no reino vegetal. Esse poder está sendo usado, atualmente, pelos Anjos para criar e tornar possível o crescimento nos seres de natureza vegetal. O ser humano será, igualmente, capaz de transmitir imagens de sua própria Mente para a consciência dos demais de modo que, se está descrevendo uma determinada cena, seu ouvinte verá uma reprodução exata dela. Quem está sendo instruído pelos seres angélicos já sabe que o desenvolvimento da consciência pictórica é uma parte essencial de seus ensinamentos.
Com o Rito da Assunção, a Virgem Maria foi elevada para viver com os Anjos. Na maravilhosa beleza de seu lar etérico, ela possui as faculdades que prevalecerão durante o Período de Júpiter. É, portanto, o modelo perfeito para o Discípulo da Segunda Iniciação Cristã, e para toda a humanidade, durante o Período seguinte.
Por meio da terceira das Iniciações Maiores, uma alma a ela exaltada adquire poderes e capacidade que não seriam conhecidas pela humanidade até que conclua o Período de Vênus. Nesse estado avançado de desenvolvimento o Corpo de Desejos do ser humano será perfeito. As essências espirituais, tanto do Corpo Denso como do Corpo Vital, serão incorporadas a um veículo ainda mais tênue, enquanto o desejo se converterá em luz. Literalmente o ser humano viverá, se moverá e terá seu ser em um corpo de luz. Durante o Período de Júpiter o ser humano desenvolverá a consciência pictórica, como já temos dito. Contudo, durante o Período de Vênus a consciência lhe proporcionará a capacidade de imprimir vida nessas imagens, criadas pela consciência pictórica jupiteriana.
São João, o amado, é o perfeito modelo da humanidade do Período de Vênus e do Discípulo que alcança a Terceira Iniciação de Cristo. Por isso São João, o modelo venusiano, é o Discípulo que chegou mais perto do coração amante de Cristo. Seu maravilhoso Evangelho é uma declaração inigualável sobre o ilimitado poder do amor.
Durante o Período de Vulcano, que corresponde à quarta das Iniciações Maiores (as de Cristo), o ser humano alcançará a perfeição divina. As essências espirituais de seus Corpos Denso, Vital e de Desejos serão incorporadas ao veículo mental, de modo que possuirá “essa Mente que esteve também em Cristo Jesus”. Essa força criadora de vida terá o seu foco no coração, o centro do amor. Sua laringe se converterá em um órgão de criação, por meio do poder da palavra falada. E, assim, a geração será exaltada até a regeneração. Cristo é o modelo do ser humano perfeito do Período de Vulcano. Ele é, também, o primeiro Iniciado a passar pelas glórias da quarta e última das Iniciações Maiores. E a esse exaltado estado final se referia Davi, um Iniciado elevado da Dispensação do Antigo Testamento, em suas inspiradas palavras:
“…que é um homem, para dele te lembrares,
e um filho de Adão, que venhas visitá-lo?
E o fizeste pouco menos do que um deus,
coroando-o de glória e beleza.”
(Salmo 8:5-6).
Nos momentos atuais só muito poucas pessoas tem uma compreensão espiritual das festas eclesiásticas normalmente celebradas. Ainda que a igreja de Roma e a igreja da Inglaterra celebrem muitas dessas festividades, seu significado oculto se perdeu há muito tempo. Como foi dito nos volumes anteriores da obra Interpretação da Bíblia para a Nova Era, o Mistério Cristão do Templo está situado nos Éteres, sobre a cidade de Jerusalém. Nessa elevada e sagrada área tais festas têm sua origem e ali é onde continuam se celebrando com todo seu esplendor e majestade. Durante sua observância se derrama sobre a Terra um poder espiritual dinâmico. Esse é um dos muitos canais empregados por Cristo para a espiritualização do Planeta.
Quando o Sol entra em Libra, que anuncia a chegada de outubro, a força dourada do Cristo passa pelos reinos terrestres enquanto esse sublime Ser inicia, novamente, o Seu sacrifício anual EM um evento denominado A Crucifixão Cósmica. A isso São Paulo se refere na Epístola aos Romanos 8:22: “Pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente”. Nessa época do Equinócio de Setembro um Discípulo deve renovar sua decisão de percorrer o caminho do Senhor, a despeito de quaisquer vicissitudes e obstáculos que possam afetar seu caminhar.
Durante novembro o Espírito do Cristo impregna o Mundo do Desejo da Terra. Então, o Discípulo deve se esforçar para purificar sua natureza inferior com o objetivo de ajudar o Grande Uno em Seu trabalho de limpar o Mundo do Desejo da Terra. Deve, especialmente, tentar se converter em um canal de serviço mais eficiente, como Auxiliar Invisível e como auxiliar visível.
Durante os primeiros dias da manifestação humana, uma parte do trabalho realizada pela Hierarquia de Escorpião, que preside o mês zodiacal de novembro, consistiu em despertar o Ego no ser humano, assim lhe ajudando a completar sua individualização. Durante o estado presente da evolução humana, o Discípulo, trabalhando sob a orientação dos Senhores da Individualidade (Libra) e os Senhores da Forma (Escorpião), aprende a transformar a presunção em humildade e a sacrificar o “Eu” pessoal ao impessoal “nós”; em outras palavras, a viver o ideal do maior bem para o maior número.
A época do Advento se estende ao longo do mês de dezembro e é conhecida como o Festival da Luz. Os impulsos espirituais da estação preparam a humanidade para o derramamento de forças celestiais que acompanham o renascimento anual do Cristo Cósmico em nossa esfera terrestre. Depois do Advento temos o Solstício de Dezembro, que ocorre entre 21 e 24, e que culmina no grande Festival de 25 de dezembro. O Natal há de seguir sendo uma observância externa para o Aspirante até que Cristo nasça em seu interior. E dependente do nível em que experimente esse despertar, será capaz de participar no elevado êxtase espiritual da mais sagrada das estações.
Os Doze Dias Santos começam em 26 de dezembro e alcança seu clímax em 6 de janeiro, com a Festa da Epifania. Essa festa comemora a chegada dos três Homens Sábios com seus ricos presentes para o Menino no presépio. No Caminho do Discipulado, a Festa da Epifania significa a tríplice dedicação do Discípulo de seu espírito, sua alma e seu corpo, acompanhados de presentes de amor, vida e serviço, ao Cristo Menino. A influência espiritual dessa festa se estende a todo o mês de janeiro. Durante esse mês, o Discípulo tenta cultivar esses atributos espirituais e se conscientizar deles, por meio de uma mais profunda dedicação a Cristo.
Em fevereiro começa uma preparação especial para a estação Quaresmal, quando o Aspirante experimenta disciplinas específicas para ir tornando o espírito o elemento mais importante de cada pensamento, palavra e obra. A palavra fevereiro vem do latim Februaris, nome dado à festa romana da Purificação que se celebrava no décimo quinta dia do segundo mês do ano. Durante os primeiros dias de fevereiro a igreja celebra, igualmente, a Festa da Purificação como trabalho inicial da época da Quaresma. Um Discípulo místico Cristão a observa como tempo de tríplice purificação, tratando de purificar o seu Corpo Denso com alimentos mais puros; seu Corpo de Desejos por meio de atos virtuosos; e sua Mente por meio de pensamentos castos de palavras de verdade.
Essas disciplinas são uma orientação de preparação para a grande transmutação que é o momento culminante de cada observância anual. Tanto a Mente como o Corpo do Aspirante se sensibilizarão, se participar do derramamento extático dessa celebração cósmica. Por isso a igreja abençoa os círios que serão utilizados durante o ano seguinte. Para um Místico Cristão as velas simbolizam a “luz do mundo”, o bendito Cristo. Na Quaresma se consagra a si mesmo de novo ao serviço de Cristo e se esforça para ser portador da luz que, segundo São Pedro, está também no próprio Cristo.
A Ressurreição cósmica ocorre em março, quando o Espírito de Cristo se libera da esfera terrestre e passa para os planos espirituais mais elevados. As Hierarquias, tanto de Áries como de Peixes, se unem aos Anjos e Arcanjos na triunfante celebração desse acontecimento. O ritmo de seu hino cósmico foi plasmado por Händel em seu Aleluia[219]. Os cerimoniais pré-cristãos que celebravam o regresso da primavera, para o hemisfério norte, e a vitória da luz sobre as trevas estavam também sintonizados com esses mesmos ritmos.
O Equinócio de Março é para o Discípulo um dos pontos culminantes do ano. Suas notas-chaves são a liberdade e a emancipação, que conduzem a uma vida mais extensa. É, também, o tempo em que o Cristo Cósmico se liberta dos grilhões que O tem mantido escravo durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Assim que é o momento mais propício para que um Discípulo avançado rompa os laços que lhe atam e penetre na regozijosa liberdade do espírito.
A igreja celebra a festa eclesiástica da Anunciação em março, quando a natureza celebra o festival cósmico da Anunciação, pois há uma íntima relação entre o ser humano e a natureza. A natureza é Deus em manifestação. O ser humano é um deus em formação. Por isso um se reflete no outro. Os rituais mais santos observados pelo ser humano estão sintonizados com as mudanças de estação. Os poetas cantam louvando o santo Espírito da primavera enquanto o esplendor do verde e do amarelo-ouro da natureza evidencia que as forças da vida estão retornando e respondem no triunfo do impulso cósmico da Ressurreição.
Um seguidor avançado do Caminho compreende que chegou o momento de fundir a dor e as lágrimas de sua vida pessoal (Peixes) com as forças transformadoras de Áries. Se assim o faz, se une ao imponente coro, respondido, como um eco, pelos Anjos e Arcanjos e que canta: “Cristo ressuscitou porque Cristo nasceu em mim”.
O mês de abril é denominado o mês da Ressurreição. E é então quando as forças que surgem novamente alcançam sua culminação na natureza e se converte em uma gloriosa sinfonia de beleza e cor.
A Sexta-feira Santa é o dia mais santo para o Místico Cristão. Os Cristãos ortodoxos a celebram com penitência e luto, porque seus pensamentos estão centrados nos sofrimentos e na crucifixão do Salvador. Os Cristãos místicos, no entanto, a celebram com um profundo regozijo e agradecimento internos, porque indica a liberação do Senhor após meio ano de encarceramento nos limites físicos da Terra, e Sua ascensão triunfal a Mundos mais elevados. Compreendem que Seu sacrifício e Sua Ressurreição são um serviço redentor pela humanidade, um serviço que não terminará nunca, até que a humanidade, como um todo, seja espiritualmente livre.
Quando Cristo ascende nesse dia santo, os planos internos tomam a aparência de uma massa fundida de refulgente ouro. Na lenda do Santo Graal, é ensinado aos cavaleiros que na Sexta-feira Santa descende do céu uma pomba para encher o cálice sagrado com a água da vida, para que possam, assim, os cavaleiros receber o alimento espiritual ao longo do ano seguinte. E, assim, é como o Senhor, em Sua Ascensão, vai derramando Seu amor e Seu Espírito para alimentar todo o ser vivente sobre o plano terrestre. Se não fosse por esse fornecimento anual, o trigo não produziria grão nem as videiras dariam fruto. À luz desse fato pode-se ver que o Cristo expressou, literalmente, uma profunda verdade quando, durante a última Ceia, disse a Seus Discípulos: “Esse (o pão) é meu corpo que será entregue por vós…Esse é o cálice do novo testamento em meu sangue, que será derramado por vós”[220].
Participando do sagrado Rito da Eucaristia na Sexta-feira Santa, se está participando do corpo e do sangue espirituais do bendito Senhor, já que os ritos potencializam as energias espirituais. Depois dessa participação, o Aspirante deve se esforçar por despertar mais completamente o processo de transmutação em seu interior. Deve se esforçar para se despojar do velho e se vestir do novo, sendo seu ideal o se elevar do ser humano terreno para o ser humano celeste. Desde esse momento há de demonstrar que, verdadeiramente, está feito à imagem e semelhança de Deus.
Uma das festas mais formosas do ano é a Ascensão, que se celebra, aproximadamente, quando o Sol passa de Touro (maio) para Gêmeos (junho). Então, grupos e grupos de seres celestiais se prostram em adoração ante a exaltada presença de Cristo e mesmos as estrelas se unem em uma sinfonia que proclama a Sua majestade e glória. Durante essa festa sagrada, Sua irradiação penetra na Terra e a impregna com a refulgência que excede toda descrição, tornando brilhante, tanto Mundo Físico como os Mundos Espirituais. E, como a natureza está em perfeita harmonia com essas correntes crescentes de Cristo, esse período de quarenta dias entre a Ressurreição e a Ascensão, é de tal conteúdo espiritual que se converte, no momento apropriado, em material para que o Discípulo desenvolva em seu interior os poderes da Clarividência, Clariaudiência e outras faculdades do espírito, que pertencem ao verdadeiro Discipulado.
O oitavo dia depois da Ascensão é celebrado a Festa de Pentecostes, que sintetiza as experiências dos primeiros Discípulos que viveram intimamente com Cristo, durante o período mencionado. O dia de Pentecostes homens e mulheres se converteram em homens e mulheres Crísticos, adequadamente equipados para o trabalho de estabelecer Seu Reino na Terra. O santo dia comemorativo de tal acontecimento é, de fato e em verdade, o domingo branco da alma (Pentecostes); e constitui a máxima consecução possível nesse Planeta.
Na igreja exotérica, a oitava de Pentecostes se comemora a tríplice atividade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É conhecido como o domingo da Trindade e marca o fim das festas espirituais do ano. Daqui em diante não são mais observadas festas até o começo da época do Advento. No entanto, o significado esotérico do domingo da Trindade, há muito tempo, foi esquecido, ainda que siga sendo importante, já que a igreja conta todos os domingos desde o da Trindade até o Advento como primeiro, segundo, terceiro domingo, etc. “depois da Trindade”.
Os Cristãos esotéricos, no entanto, compreendem algo do significado da celebração da Trindade. Sabem que o domingo da Trindade simboliza, por assim dizer, o trabalho supremo do Cristo no ciclo anual e que durante os meses de junho, julho e agosto Cristo trabalha em uníssono com o Deus Trino e com as três Hierarquias de Gêmeos (Serafins), Câncer (Querubins) e Leão (Senhores da Chama) preenchendo, energizando e espiritualizando a Terra e tudo o que nela existe.
Quando o Sol entra em Gêmeos, no mês de junho, Cristo passa ao Terceiro Céu que, na terminologia Rosacruz, está no Mundo do Pensamento Abstrato. É a esfera mais elevada que é alcançada pela humanidade no ciclo de renascimento e em seu atual estado de desenvolvimento. O Primeiro Céu é o mundo da cor; o Segundo Céu é o mundo do som; o Terceiro Céu é o mundo das Ideias Abstratas. É esse um mundo de luz branca pura em que uma alma iluminada aprende a escutar a Voz do Silêncio.
Durante o mês de junho Cristo se converte em um canal para as radiações emitidas pelos Serafins, a Hierarquia de Gêmeos. Contata-os por meio do Espírito Santo, o terceiro aspecto da Trindade. Uma das notas-chave de Gêmeos é a atividade; essa é, também, a nota-chave do Espírito Santo. Por meio da sua atividade, os Serafins traspassam os mistérios do Espírito Santo ao Signo oposto, Sagitário, os Senhores da Mente. Ali esperam que o ser humano desenvolva sua iluminação até ser capaz de compreender e aplicar o imenso poder do Espírito Santo em sua vida diária. Ainda assim a humanidade só é capaz de perceber debilmente os mistérios relacionados com o princípio e os poderes do Terceiro Aspecto da Trindade.
Durante o período de trânsito do Sol pelo Signo de Gêmeos, o Discípulo fará bem ao dedicar o maior tempo possível a meditar sobre o princípio da polaridade, pois é o mês mais apropriado do ano para receber as revelações esotéricas sobre essa matéria profundíssima. Se for possível, o Zohar, “o Livro da Luz”, como foi inicialmente conhecido, é recomendável para os estudos sobre esse tema.
Quando o Sol entra em Câncer, no mês de julho, Cristo ascende a seu próprio lar, o Mundo do Espírito de Vida, o plano em que a unidade e a harmonia reinam supremas; é, também, o nível de consciência contatado pelos Discípulos no dia de Pentecostes. E será alcançado pela porção mais avançada da humanidade no final do presente Período Terrestre. Nesse momento do ano, por meio do trabalho do Cristo Cósmico, o Filho, o Verbo e o Segundo Aspecto da Trindade, nosso bendito Senhor, contata a Hierarquia de Câncer, os Querubins. Esses seres celestiais são os guardiões de todos os lugares sagrados no céu e na Terra e contém, dentro de si, o grande mistério da vida. Sob a direção de Cristo, esse sagrado mistério se traspassa desde Câncer ao seu Signo oposto, Capricórnio, ficando a cargo dos Arcanjos.
Por essa razão os Salvadores do Mundo, que vêm à Terra proclamando o mistério do Sagrado Nascimento, nascem sob o Signo de Capricórnio. A observância conhecida eclesiasticamente como a Festa de São João, que foi o precursor de Cristo, ocorre durante o Solstício de Junho.
Em julho, a alma da Terra se submerge em puro êxtase. Os céus se curvam para baixo, enquanto a Terra é elevada para cima. Com esse divino intercâmbio de forças espirituais se consume o Matrimônio Místico entre o Céu e a Terra. Durante um intervalo de quatro dias as correntes de desejos são silenciadas para que as forças espirituais possam reinar supremas e a Terra se encha com a pura luz do espírito. Todo Discípulo que aprende a se sintonizar com esse poderoso influxo ascenderá a um nível de consciência espiritual nunca sonhado. Se se dedica muito tempo à meditação durante esse período, descobrirá igualmente um profundíssimo e esclarecedor significado da fórmula fundamental da Criação, fornecida por São João:
“No princípio era o Verbo
Ele estava, no princípio, com Deus.
Tudo foi feito por Ele
e nada do que tem sido feito, foi feito sem Ele.”
(Jo 1:1-3)
Quando o Sol alcança o ponto mais elevado em sua ascensão para o norte, Cristo ascende, igualmente, ao Mundo espiritual denominado o Trono do Pai. É conhecido na terminologia Rosacruz como o Mundo do Espírito Divino, o lar do Deus desse Sistema Solar. Deus é Amor e Deus é Luz. Amor e Luz são as notas-chaves da Hierarquia de Leão, os Senhores da Chama. Sob a supervisão dos Senhores da Chama e junto aos poderes do Pai, o Primeiro Aspecto da Trindade, Cristo trabalha com o poder supremo do amor, a força estabilizadora da Terra. Para isso, se converte no canal da força, graças à qual a Terra gira em torno do seu eixo e em torno do Sol. Esse poder do amor é traspassado pela Hierarquia de Leão ao seu Signo oposto, Aquário: por isso é que esse será o poder que animará a nova Era de Aquário.
Durante essa época, o Discípulo deve se esforçar para converter o amor na força motivadora de sua vida. Ele deve aspirar a embelezar cada uma das suas palavras, pensamentos e obras com a sua magia. O décimo terceiro capítulo da Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios, um dos maiores cantos da alma ao amor, é o mantra perfeito, tanto para a meditação como para o esforço, durante o período em que o Sol transita pelo Signo real de Leão.
Em setembro o Senhor Bendito sai da glória dos Mundos celestes mais elevados e começa a sua descida para os planos físicos. Durante todo o mês a terna e anelante beleza da natureza é diferente de todos os outros momentos, porque Cristo está se aproximando da Terra como uma galinha que acolhe seus pintinhos, com a mesma dor amorosa que sentiu quando chorou por Jerusalém, há muitos anos atrás. Ele verteu aquelas lágrimas porque sabia do longo tempo de dor e de sofrimento que a humanidade havia de viver por ter buscado a escuridão ao invés de buscar a luz. Seu imenso coração se angustiou pelas nuvens obscuras que cobririam Jerusalém, o verdadeiro coração do Planeta, ao que se havia dedicado a servir e sobre o que estava derramando todo Seu imenso amor.
Setembro é outro mês de preparação para o Discípulo. Uma das notas-chave de Virgem é sacrifício. Um Discípulo sério, que se prepara por meio do sacrifício e da autorrenúncia, para participar no festival do Solstício de Dezembro, frequentemente meditará sobre a nota-chave espiritual de Virgem: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9:35).
Com o Sol entrando em Libra e as forças de outubro impregnando a Terra, chega o festival do Equinócio de Setembro. No caminho de Damasco, foi concedido a São Paulo o que ele viu na Memória da Natureza: o ciclo Crístico. Quando compreendeu a verdadeira importância desse sacrifício anual do Espírito do Sol, ele se transformou, de principal perseguidor de Cristo, em um dos Seus mais ilustres mensageiros. À luz da compreensão da missão de Cristo na Terra, São Paulo fez a suprema dedicação com as palavras: “Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado.”[221]. Essas palavras deveriam ser a verdadeira cruz da dedicação do Discípulo quando medita, cada vez mais profundamente, sobre o sacrifício anual do Senhor Bendito.
O Aspirante ao Caminho da Realização é, às vezes, elevado acima do monte da exaltação e sua fortaleza renovada, para poder logo servir nos vales mais abaixo. Quem segue esse ciclo anual de Cristo com fé e ano após ano, aprende a se sintonizar com a elevada glória das três festividades da Santa Trindade, sendo logo conduzido a fazer uma profunda dedicação de si mesmo e, com isso, a adquirir uma força espiritual que permita cumprir seu cometido e assumir suas responsabilidades durante os próximos meses de junho, julho e agosto. Se progride espiritualmente em tudo o que esse período lhe proporciona, se tornará consciente do derramamento de bênçãos que emanam da Virgem Cósmica, a mais elevada Iniciada da Hierarquia de Virgem, os Senhores da Sabedoria. Durante o curso desse mês de preparação, o Discípulo compreenderá claramente em seu interior, o significado da formosa oração de São Francisco de Assis, e ele o fará mais útil como canal para a descida das forças de Cristo nos meses vindouros:
“Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois, é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado;
E morrendo que se vive
Para a vida eterna”
Quando o Discípulo considera o ciclo anual à luz de Cristo e Sua missão, compreende que todo mês é, para ele, como um santuário bendito. E se, mês após mês, se esforça para encontrar o mais profundo significado da vida de Cristo e de Sua obra, entrará em tal sintonia com o seu Senhor que poderá cantar como Salomão, o iluminado vidente do Antigo Testamento: “Meu amado é meu e eu sou dele”[222]. Indefectivelmente, essa dedicação conduzirá a que Cristo se converta de tal modo em parte da sua vida pessoal, que cada um dos seus pensamentos, palavras e obras não será senão reflexo dos d’Ele. Finalmente, alcançará a gloriosa realização com a unidade com o Senhor, que São Paulo, o vidente do Novo Testamento, expressou com suas exultantes palavras: “n’Ele vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”[223].
FIM
[1] N.T.: – do latim Adventus: “chegada”, do verbo Advenire: “chegar a”
[2] N.T.: Jo 14:6
[3] N.T.: Mt 25:21
[4] N.T.: O livro do Apocalipse (O livro da revelação”) e também chamado de Apocalipse de São João, é um livro da Bíblia — o livro sagrado do cristianismo — e que foi escrito por São João na ilha Patmos.
[5] N.T.: Sl 23:2
[6] N.T.: Natanael aparece no Evangelho de São João, nos capítulos 1 e 21. Nos outros 3 Evangelhos ele não é mencionado, contudo se retém que seja a mesma pessoa chamada nos sinóticos (São Mateus, São Marcos e São Lucas) com o nome de Bartolomeu.
[7] N.T.: O Plexo Celíaco, também conhecido como Plexo Solar, é uma complexa rede de neurônios que, no corpo humano, está localizada atrás do estômago e embaixo do diafragma perto do tronco celíaco na cavidade abdominal a nível da primeira vértebra lombar (L1).
[8] N.T.: Mt 5:8
[9] N.T. ou epífise neural e hipófise, respectivamente
[10] N.T.: Hb 2:7
[11] N.T.: Mt 6:33
[12] N.T.: na Época Lemúria
[13] N.T.: Gl 6:17
[14] N.T.: Correggio é como era conhecido o pintor italiano Antônio Allegri Correggio (c.1489- 1534). Foi um pintor da Renascença italiana, contemporâneo de Leonardo da Vinci e Raphael di Sanzio.
[15] N.T.: Giovanni da Fiesole, nascido Guido di Pietro Trosini, mais conhecido como Fra Angelico, (1387-1455) foi um pintor italiano, beatificado pela Igreja Católica.
[16] N.T.: Rafael Sanzio (Raffaello Sanzio; 1483-1520), frequentemente referido apenas como Rafael, foi um mestre da pintura e da arquitetura da escola de Florença durante o Renascimento italiano, celebrado pela perfeição e suavidade de suas obras.
[17] N.T.: ou Madona Sistina
[18] N.T.: Ninfa das florestas, cuja vida dura tanto quanto a vida da árvore.
[19] N.T.: 1Jo 1:7
[20] Mt 3:17, Mc 1:9
[21] N.T.: Mt 1:7-11
[22]N.T.: Lc 22:19
[23]N.T.: Lc 22:20
[24]N.T. Lc 42:22
[25]N.T.: MT 24:16 e Mc 8:34 e Lc 9:23
[26]N.T.: Mt 27:46 e Mc 15:34
[27]N.T. Jo 11:25
[28]N.T.: Zanoni é o título do mais famoso romance ocultista do escritor inglês Edward Bulwer-Lytton. Trata metaforicamente da alma e da busca pelo ideal, sob os princípios Rosacrucianos.
[29] N.T.: Mt 3:17
[30] N.T.: Lc 22:42
[31] N.T.: Apo 21:4
[32] N.T. Ef 4:22-24
[33] N.T.: Orígenes (184 d.C.-253 d.C.), cognominado Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão, um dos maiores teólogos e escritores do começo do cristianismo. Com ele iniciou-se o posterior constante diálogo entre a filosofia e a fé cristã e uma tentativa de fusão das duas.
[34] N.T.: Pseudônimo de Johannes Scheffler (1624-1667) – Místico cristão, filósofo, médico, poeta, jurista alemão.
[35]N.T.: Jo 11:43-44
[36] Jo 13:12
[37] N.T.: Rá ou Ré é o deus do Sol do Antigo Egito.
[38] N.T.: Mitra ou Amigo é o deus do Sol, da sabedoria e da guerra na mitologia persa.
[39] N.T.: Na mitologia grega, é a deusa das ervas, flores, frutos e perfumes.
[40] N.T.: Nas mitologias fenícia e grega, era um jovem de grande beleza. Adônis passou a despertar o amor de Perséfone e Afrodite. Mais tarde as duas deusas passaram a disputar a companhia do menino, e tiveram que submeter-se à sentença de Zeus. Este estipulou que ele passaria um terço do ano com cada uma delas, mas Adônis, que preferia Afrodite, permanecia com ela também o terço restante. Nasce desse mito a ideia do ciclo anual da vegetação, com a semente que permanece sob a terra por quatro meses. Adônis tornou-se o símbolo da vegetação que morre no inverno (descendo ao submundo e juntando-se a Perséfone) e regressa à Terra na primavera (para juntar-se a Afrodite).
[41] N.T.: Rig Veda ou Rigveda, também chamado Livro dos Hinos, é uma antiga coleção indiana de hinos em sânscrito védico o Primeiro Veda.
[42] N.T.: Mc 14:25
[43] N.T.: Deriva de uma palavra em sânscrito que significa, literalmente, “enrolada como uma cobra” ou “aquela que tem a forma de uma serpente”
[44] N.T.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) foi um maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão.
[45] N.T.: Parsifal é uma ópera de três atos com música e libreto do compositor alemão Richard Wagner. Estreou no mês de julho de 1882. É vagamente baseada em Parzival, atribuído a Wolfram von Eschenbach, um poema épico do século 13 do cavaleiro arturiano Parzival (Percival) e sua busca pelo Santo Graal (século XII).
[46] N.T.: se refere à “Queda do Homem”.
[47] N.T.: a amazona Kundry, que ora é uma fiel serva do Graal, ora é escrava de Klingsor.
[48]N.T. Os mistérios de Elêusis (também conhecidos como mistérios eleusinos) eram ritos de iniciação ao culto das deusas agrícolas Deméter e Perséfone, que se celebravam em Elêusis, localidade da Grécia próxima a Atenas. Eram considerados os de maior importância entre todos os que se celebravam na antiguidade. Estes mitos e mistérios se transferiram ao Império Romano e sinais dele podem ser notados em práticas Iniciáticas modernas. Os ritos e crenças eram guardados em segredo, só transmitidos a novos Iniciados.
[49] N.T.: Franz Hartmann (1838-1912) foi um célebre escritor e estudante do ‘Sem-conceito’, alemão, estudioso das doutrinas de Paracelso, Jakob Böehme e a Tradição Rosacruz.
[50]N.T.: mistério, enigma, secreto
[51]N.T.: Mt 18:20
[52]N.T.: Apo 4:1
[53] N.T.: Apo 13:8
[54] N.T.: Boaz e Jachin (pronuncia-se Jaquim) são duas colunas de cobre, e que ficavam à frente do Templo de Salomão, o primeiro Templo em Jerusalém. Em alguns templos maçônicos existem réplicas das colunas de Boaz e Jachin, em que se faz referência às letras B (Boaz) e J (Jachin) nas respectivas colunas, porém tais réplicas podem variar dependendo dos seus ritos.
[55] N.T.: Pirâmide de Quéops (ou Khu-fu), também conhecida como a Grande Pirâmide de Gizé ou simplesmente Grande Pirâmide, é a mais antiga e a maior das três pirâmides na Necrópole de Gizé, na fronteira de Gizé, no Egito. É a mais antiga das Sete Maravilhas do Mundo Antigo e a única a permanecer em grande parte intacta.
[56] N.T.: Ankh, conhecida também como cruz ansata, era na escrita hieroglífica egípcia o símbolo da vida. Conhecido também como símbolo da vida eterna. Os egípcios usavam-na para indicar a vida após a morte:
[57] N.T.: a letra tau, de onde deriva a cruz Tau, no alfabeto hebreu antigo:
[58] N.T.: O caduceu ou emblema de Hermes (Mercúrio) é um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com asas. É um antigo símbolo. É frequentemente confundido com o símbolo da medicina, o bordão de Esculápio ou bastão de Asclépio.
[59] N.T. Jo 10:1-18
[60] N.T.: 4”Qual de vós, tendo cem ovelhas e perder uma, não abandona as noventa e nove no deserto e vai em busca daquela que se perdeu, até encontrá-la? 5E achando-a, alegre a coloca sobre os ombros 6e, de volta para casa, convoca os amigos e os vizinhos, dizendo-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida!’ 7Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento. (Lc 15:4-7)
[61] N.T.: ICor 3:1-2
[62] N.T.: ver Livro de Daniel no capítulo 7.
[63] N.T.: ou Apocalipse
[64]N.T.: Jo 14:10
[65] N.T.: Parsifal é uma ópera de três atos com música e libreto do compositor alemão Richard Wagner. É vagamente baseada em Parzival, atribuído a Wolfram von Eschenbach, um poema épico do século 13 do cavaleiro arturiano Parzival (Percival) e sua busca pelo Santo Graal (século XII). Foi sua última ópera completa. Wagner descreveu Parsifal não como uma ópera, mas como um Festival para a Consagração do Palco. A grafia de Parsifal feita por Wagner em vez do Parzival que ele usou até 1877 é informada por uma etimologia errônea do nome Percival derivando-a de uma origem supostamente persa, FalParsi significando “tolo puro”. A ópera se passa nas legendárias colinas do Monte Salvat, na Espanha, onde vive uma fraternidade de cavaleiros do Santo Graal. O mago negro Klingsor teria construído um jardim mágico povoado com mulheres que, com seus perfumes e trejeitos, seduziriam os cavaleiros e faria com que eles quebrassem seus votos de castidade, e teria ferido Amfortas, rei do Graal, com a lança que perfurou o flanco de Cristo, e todas as vezes em que Amfortas olha em direção ao Graal sente a ferida arder. Tal redenção só poderia ser realizada por um “inocente casto” (significado da palavra “Parsifal”). Este, em sua primeira aparição na ópera, surge ferindo um dos cisnes que purificavam a água do banho de Amfortas, e a todas as perguntas que os cavaleiros lhe fazem responde dizendo que não sabe de nada, nem ao menos seu nome.
Parsifal atravessa o jardim mágico de Klingsor e é seduzido pela amazona Kundry, que ora é uma fiel serva do Graal, ora é escrava de Klingsor. Ao beijá-la, sente os estigmas das feridas que afligiam Amfortas e, quando Klingsor atira a lança contra ele, a lança dá a volta em seu corpo, e todo o castelo mágico é destruído. Tempos depois, tendo os cavaleiros se convencido de que ele é o “inocente casto” que faria a salvação, Parsifal cura as feridas de Amfortas e o destrona, assumindo a nova condição de rei do Graal.
[66]N.T.: Mt 28:18
[67]N.T.: Mt 27:46 e Mc 15:46
[68] N.T.: IJo 3:2
[69] N.T.: ICor 15:55-57
[70] N.T.: Lc 2:14
[71] N.T.: do alemão Die drei Jahre (1948); em inglês: The Three Years e em espanhol: Los Tres Años de Cristo Jesús.
[72] N.T.: Consciente: a memória a que temos acesso consciente – a chamada memória voluntária ou Mente Consciente. Deriva de imperfeitas e ilusórias percepções dos sentidos. Subconsciente: quando o ato correspondente a um pensamento-forma tenha se realizado, ou esgotado sua energia em vãs tentativas de realização, gravitará de volta ao seu criador, trazendo consigo a recordação indelével da jornada. Seu êxito ou fracasso imprimir-se-á nos átomos negativos do Éter Refletor do Corpo Vital, onde, por vezes denominada Mente Subconsciente, formará parte do registro da vida e atos do pensador. Não só das coisas materiais, mas também das condições existentes em nossa aura a cada momento. O mais fugaz sentimento, pensamento ou emoção é transmitido aos pulmões, de onde é injetado no sangue. O sangue é um dos produtos mais elevados do Corpo Vital, tanto por ser o condutor de alimento para todas as partes do corpo quanto por ser o veículo direto do Ego. As imagens nele contidas imprimem-se nos átomos negativos do Corpo Vital, para servirem como árbitros do destino do ser humano no estado pós-morte. A memória (também chamada Mente) tanto consciente – ou voluntária – quanto subconsciente – ou involuntária, relaciona-se totalmente com as experiências desta vida. Consiste das impressões dos acontecimentos no Corpo Vital. Há também a memória supra consciente. Esta é o repositório de todas as faculdades e conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores, ainda que às vezes só latentes na presente vida. Este registro é indelevelmente gravado no Espírito de Vida. Comumente se manifesta, embora não em toda extensão, como consciência e caráter, que anima todos os pensamentos-forma, umas vezes como conselheiro e outras compelindo à ação com força irresistível, mesmo contrariando a razão e o desejo.
[73] N.T.: Mt 26:32
[74] N.T.: Jo 21:25
[75] N.T.: Jo 21:6
[76] N.T.: Cognominado Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão (Alexandria, Egito, c. 185 — Cesareia, ou, mais provavelmente, Tiro, 253), foi um teólogo, filósofo neoplatônico patrístico e é um dos Padres gregos. Um dos mais distintos pupilos de Amônio de Alexandria, Orígenes foi um prolífico escritor cristão, de grande erudição, ligado à Escola Catequética de Alexandria, no período pré-niceno.
[77] N.T.: foi um prolífico autor das primeiras fases do Cristianismo, nascido em Cartago na província romana da África Proconsular. Ele foi o primeiro autor cristão a produzir uma obra literária (corpus) em latim. Ele também foi um notável apologista cristão e um polemista contra a heresia. Ele organizou e avançou a nova teologia da Igreja antiga. Ele é talvez mais famoso por ser o autor mais antigo cuja obra sobreviveu a utilizar o termo “Trindade” (em latim: Trinitas) e por nos dar a mais antiga exposição formal ainda existente sobre a teologia trinitária. É um dos Padres latinos.
[78] N.T.: Hb 20:24
[79] N.T.: Região Química do Mundo Físico
[80] N.T.: Ap 1:14-16
[81] N.T.: Lc 24:16
[82] N.T.: Lc 24:31
[83] N.T.: Jo 21:25
[84] N.T.: Lc 24:49
[85] N.T.: Em astronomia, eclíptica é a projeção sobre a esfera celeste da trajetória aparente do Sol observada a partir da Terra. A razão do nome provém do fato de que os eclipses somente são possíveis quando a Lua está muito próxima do plano que contém a eclíptica. O eixo eclíptico, por sua vez, é a reta perpendicular à eclíptica que passa pelo centro da Terra.
[86] N.T.: Tishrei ou Tishri é o primeiro mês do calendário civil hebraico, e o sétimo mês do calendário religioso, sendo um mês lunar de 30 dias. Inicia-se em setembro no hemisfério norte.
[87] N.T.: Hiparco (190 a.C- 120 a.C.) foi um astrônomo grego, construtor de máquinas, exímio cartógrafo e matemático da escola de Alexandria, nascido em 190 a.C. em Niceia, na Bitínia, hoje Iznik, na atual Turquia. Viveu em Alexandria, sendo um dos grandes representantes da Escola Alexandrina, do ponto de vista da contribuição para a mecânica. Trabalhou sobretudo em Rodes (161-126 a.C.). Hoje é considerado o fundador da astronomia científica e também chamado de pai da trigonometria.
[88] N.T.: Astreia ou Astrea é uma divindade menor; “donzela ou virgem das estrelas”, na mitologia grega, é filha de Zeus e Têmis. Tanto ela quanto sua mãe são personificações da justiça. Ela pregava a sabedoria e ensinava atividades caseiras aos homens, como caçar, plantar, entre outras.
[89] N.T.: Mt 5:8
[90] N.T.: O Livro do Apocalipse
[91] N.T.: Cl 1:27
[92] N.T.: Lc 14:26
[93] N.T.: Basilius Valentinus, também conhecido pela versão portuguesa de seu nome, Basílio Valentim (Mogúncia, 1394) foi um alquimista do século XV. Ele foi cônego do priorado beneditino de São Pedro em Erfurt, Alemanha. Não se tem certeza se este era mesmo o seu verdadeiro nome; durante o século XVIII foi levantado a hipótese de tratar-se de Johann Thölde. Até mesmo o ano de seu nascimento não é dado como certo. Ele demonstrou que o amoníaco podia ser obtido pela ação dos álcalis no cloreto de amônia, e como o ácido clorídrico poderia ser produzido da salmoura ácida. Foi ele quem primeiro descreveu um método de obtenção de antimônio (em 1492). Suas obras mais conhecidas são Doze Chaves de Basílio Valentim e A Carruagem Triunfal do Antimônio.
[94] N.T.: também chamada waw ou vav é o nome dado à sexta letra do alfabeto hebraico.
[95] N.T.: ICor 1:1
[96] N.T.: Teseu foi mandado a Creta, voluntariamente, como sacrifício ao Minotauro que habitava o labirinto construído por Dédalo e tão bem projetado que quem se aventurasse por ele não conseguiria mais sair. E seria, então, devorado pelo Minotauro. Teseu resolveu enfrentar o monstro. Foi ao renomado Oráculo de Delfos para descobrir se sairia vitorioso. O oráculo disse-lhe que deveria ser ajudado pelo amor para vencer o Minotauro. Ariadne, a filha do rei Minos, lhe disse que o ajudaria se este a levasse a Atenas para que ela se casasse com ele. Teseu reconheceu aí a única chance de vitória e aceitou. Ariadne, então, deu-lhe uma espada e um fio de lã (Fio de Ariadne), para que ele pudesse achar o caminho de volta, e deste fio ficaria segurando uma das pontas. Teseu saiu vitorioso e partiu de volta à sua terra com Ariadne, embora o amor dele por ela não fosse o mesmo que o dela por ele.
[97] N.T.: Is 2:4
[98] N.T.: Os ovinos (ovelhas) e os caprinos (cabras) fazem parte da mesma família, a Bovidae. Há quatro milhões de anos as ovelhas ainda eram cabras, não eram separadas geneticamente como uma espécie diferente como é hoje, descobriram os pesquisadores.
[99] N.T.: A comunhão eucarística dada àqueles que estão prestes a morrer.
[100] N.T.: Max Heindel cita o Conde Saint Germain, que no século 18 mantinha relações diplomáticas com o Governo Francês com o objetivo de impedir a Revolução Francesa (1789-1794), uma reencarnação de Cristian Rosenkreuz (Livro O Conceito Rosacruz do Cosmos – Cap. XIX). A primeira prova de sua presença é uma carta que apareceu em Haia em 1735, que ele enviou de lá em 22 de novembro para o físico britânico Hans Sloane (1660-1753), carta essa que está no Museu Britânico, onde contém uma cópia no livro de Cooper-Oakley. Sobre ele foi dito: ‘M. de St. Germain não comia carne, não bebia vinho e vivia conforme regras de vida muito rígidas. E mais: ‘ Ele parece ter 50 anos, não é gordo nem magro, tem um belo semblante intelectual, veste-se de forma simples, mas com bom gosto; ele usa os diamantes mais lindos em caixa de rapé, relógio e fivelas’. Sua personalidade é envolvida em muitas anedotas.
[101] N.T.: Cântico dos Cânticos 4:2
[102] N.T.: Cântico dos Cânticos 1:14
[103] N.T.: Gn 28:10-19
[104] N.T.: Mt 5:4
[105] N.T.: O Pássaro Azul (L’Oiseau Bleu) é uma peça do dramaturgo belga Maurice Maeterlinck, escrita originalmente em francês.
[106] N.T.: Ralph Waldo Emerson (1803- 1882) foi um famoso escritor, filósofo e poeta estadunidense.
[107] N.T.: Rm 13:10
[108] N.T.: Joa 15:14
[109] N.T.: Mt 18:20
[110] N.T.: Apo 21:5
[111] N.T.: Mt 16:24
[112] N.T.: Lc 14:26
[113] N.T.: Mt 12:46-50
[114] N.T.: Mt 28:18
[115] N.T.: Lc 12:48
[116] N.T.: tipo de dívida que não pode ser paga por meio da doutrina do Perdão dos Pecados.
[117] N.T.: Ralph Waldo Emerson (1803-1882) foi um famoso escritor, filósofo e poeta estadunidense. Desenvolveu sua filosofia “transcendentalista”, exposta em obras como Natureza, Ensaios e Sociedade e solidão. O transcendentalismo é, para Emerson, um esforço de introspecção metódica para se chegar além do “eu” superficial ao “eu” profundo, o espírito universal comum a toda a espécie humana.
[118] N.T.: do poema Ode.
[119] N.T.: IJo 1:1
[120] N.T.: Jo 1:3
[121] N.T.: Pois será como um homem que, viajando para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade. E partiu. Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu a trabalhar com eles e ganhou outros cinco. Da mesma maneira, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas aquele que recebera um só o tomou e foi abrir uma cova no chão. E enterrou o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e pôs-se a ajustar contas com eles. Chegando aquele que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me confiaste cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’“ Chegando também o dos dois talentos, disse: ‘Senhor, tu me confiaste dois talentos. Aqui estão outros dois talentos que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’ Por fim, chegando o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, amedrontado, fui enterrar o teu talento no chão. Aqui tens o que é teu’. A isso respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mal e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros e, ao voltar, eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o fora nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’
[122] N.T.: Apo 12:7-9
[123] N.T.: Ct 2:16
[124] N.T.: Sl 46:10
[125] N.T.: (Lc 16:19-31) Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico… E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama’. Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós’. Ele replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento’. Abraão, porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. Disse ele: ‘Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão’. Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’ “.
[126] N.T.: Gl 4:19
[127] N.T.: Rm 8:7
[128] N.T.: Sl 46:11
[129] N.T.: Era o segundo compartimento do Tabernáculo no Deserto, a Sala Oeste, chamada o Santo dos Santos ou Sanctum Sanctorum. Atrás do segundo véu, dentro desta segunda divisão, nenhum mortal poderia passar a não ser o Sumo-Sacerdote e, mesmo assim, somente numa ocasião do ano chamado o Dia da Expiação, após a mais solene preparação e com a maior reverência e devoção. O mais Santo de Todos era revestido com uma solenidade de outro mundo; era revestido de uma grandeza sobrenatural. O Tabernáculo inteiro era o santuário de Deus, mas, neste lugar, sentia-se o imponente poder de Sua presença, a morada excepcional da Glória de Shekinah, e qualquer mortal tremeria dentro deste recinto sagrado, como devia acontecer ao Sumo-Sacerdote no dia da Expiação. No mais ocidental extremo deste recinto, o extremo oeste do Tabernáculo, encontrava-se a “Arca da Aliança”.
[130] N.T.: Disse ainda: “Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festejar. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!’“
[131] N.T.: foi uma poetisa inglesa (1806-1861)
[132] N.T.: Apo 12-1
[133] N.T.: Jo 3:2
[134] N.T.: Mt 28:18
[135] N.T.: At 3:6
[136] N.T.: ICor 13:1
[137] N.T.: Rm 13:10
[138] N.T.: Apo 3:20
[139] N.T.: William Holman Hunt (1827-1910) foi um pintor inglês.
[140] N.T.: também dito: Parábola do Banquete de Casamento ou Parábola do Grande Banquete ou Parábola da Festa de Casamento ou Parábola do Casamento do Filho do Rei em Mt 22:1-14: Jesus voltou a falar-lhes em parábolas e disse: ”O Reino dos Céus é semelhante a um rei que celebrou as núpcias do seu filho. Enviou seus servos para chamar os convidados para as núpcias, mas estes não quiseram vir. Tornou a enviar outros servos, recomendando: ‘Dizei aos convidados: eis que preparei meu banquete, meus touros e cevados já foram degolados e tudo está pronto. Vinde às núpcias’. Eles, porém, sem darem a menor atenção, foram-se, um para o seu campo, outro para o seu negócio, e os restantes, agarrando os servos, os maltrataram e os mataram. Diante disso, o rei ficou com muita raiva e, mandando as suas tropas, destruiu aqueles homicidas e incendiou-lhes a cidade. Em seguida, disse aos servos: ‘As núpcias estão prontas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias todos os que encontrardes’. E esses servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, de modo que a sala nupcial ficou cheia de convivas. Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?’ Ele, porém, ficou calado. Então disse o rei aos que serviam: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o fora, nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes’. Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.
E em Lc 14:15-24: Ouvindo isso, um dos comensais lhe disse: “Feliz aquele que tomar refeição no Reino de Deus!”. Mas ele respondeu: “Um homem estava dando um grande jantar e convidou a muitos. À hora do jantar, enviou seu servo para dizer aos convidados: ‘Vinde, já está tudo pronto’. Mas todos, unânimes, começaram a se desculpar. O primeiro disse-lhe: ‘Comprei um terreno e preciso vê-lo; peço-te que me dês por escusado’. Outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me dês por escusado’. E outro disse: ‘Casei-me, e por essa razão não posso ir’. Voltando, o servo relatou tudo ao seu senhor. Indignado, o dono da casa disse ao seu servo: ‘Vai depressa pelas praças e ruas da cidade, e introduz aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos’. Disse-lhe o servo: ‘Senhor, o que mandaste já foi feito, e ainda há lugar’. O senhor disse então ao servo: ‘Vai pelos caminhos e trilhas” e obriga as pessoas a entrarem, para que a minha casa fique repleta. Pois eu vos digo que nenhum daqueles que haviam sido convidados provará o meu jantar’“.
[141] N.T.: Mt 22:2-14
[142] N.T.: apoiado sobre as patas traseiras.
[143] N.T.: O construtor Mestre do Templo de Salomão, era Filho de uma Viúva, um artífice habilidoso. Uma das encarnações de Christian Rosenkreuz.
[144] N.T.: Gl 4:19
[145] N.T.: Corpo-Alma ou o dourado vestido de bodas.
[146] N.T.: Éter Químico e Éter de Vida
[147] N.T.: Éter Luminoso e Éter Refletor
[148] N.T.: Alfred Tennyson, 1º Barão de Tennyson (1809-1892), foi um poeta inglês.
[149] N.T.: “Sir Galahad” é um poema escrito por Alfred Tennyson e publicado em 1842 em sua coleção de poesia. É um de seus muitos poemas que lidam com a lenda do Rei Arthur e descreve Galahad experimentando uma visão do Santo Graal.
[150] N.T.: Parsifal é uma ópera de três atos com música e libreto do compositor alemão Richard Wagner. É vagamente baseada em Parzival, atribuído a Wolfram von Eschenbach, um poema épico do século 13 do cavaleiro arturiano Parzival (Percival) e sua busca pelo Santo Graal (século XII). A ópera se passa nas legendárias colinas do Monte Salvat, na Espanha, onde vive uma fraternidade de cavaleiros do Santo Graal. O mago negro Klingsor teria construído um jardim mágico povoado com mulheres que, com seus perfumes e trejeitos, seduziriam os cavaleiros e faria com que eles quebrassem seus votos de castidade, e teria ferido Amfortas, rei do Graal, com a lança que perfurou o flanco de Cristo, e todas as vezes em que Amfortas olha em direção ao Graal sente a ferida arder. Tal redenção só poderia ser realizada por um “inocente casto” (significado da palavra “Parsifal”). Este, em sua primeira aparição na ópera, surge ferindo um dos cisnes que purificavam a água do banho de Amfortas, e a todas as perguntas que os cavaleiros lhe fazem responde dizendo que não sabe de nada, nem ao menos seu nome. Parsifal atravessa o jardim mágico de Klingsor e é seduzido pela amazona Kundry, que ora é uma fiel serva do Graal, ora é escrava de Klingsor. Ao beijá-la, sente os estigmas das feridas que afligiam Amfortas e, quando Klingsor atira a lança contra ele, a lança dá a volta em seu corpo, e todo o castelo mágico é destruído. Tempos depois, tendo os cavaleiros se convencido de que ele é o “inocente casto” que faria a salvação, Parsifal cura as feridas de Amfortas e o destrona, assumindo a nova condição de rei do Graal.
[151] N.T.: o mago negro na obra: Parsifal – vide Nota 3.
[152] N.T.: Então o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco eram insensatas e cinco, prudentes. As insensatas, ao pegarem as lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes levaram vasos de azeite com suas lâmpadas. Atrasando o noivo, todas elas acabaram cochilando e dormindo. Quando foi aí pela meia-noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo vem aí! Saí ao seu encontro!’ Todas as virgens levantaram-se, então, e trataram de aprontar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando’. As prudentes responderam: ‘De modo algum, o azeite poderia não bastar para nós e para vós. Ide antes aos que vendem e comprai para vós’. Enquanto foram comprar o azeite, o noivo chegou e as que estavam prontas entraram com ele para o banquete de núpcias. E fechou-se a porta. “Finalmente, chegaram as outras virgens, dizendo: ‘Senhor, senhor, abre-nos!’ Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: não vos conheço!’ Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora.
[153] N.T.: Ez 1:15:23
[154] N.T.: Espiga é uma estrela binária e a mais brilhante da constelação de Virgem, e a décima quinta mais brilhante do céu.
[155] N.T.: mais detalhes veja na Bíblia: Livro de Rute e I Crônicas.
[156] N.T.: Lc 18:9; Mt 23:12; IPe 5:6
[157] N.T.: Mt 20:26; Mc 9:27
[158] N.T.: a cura que resolve a causa da doença ou enfermidade e que não trabalha somente nos efeitos, exatamente como exerce a Cura Rosacruz.
[159] N.T.: Jo 10:30
[160] N.T.: Jo 8:58
[161] N.T.: Atanásio de Alexandria foi um teólogo cristão, um dos “padres da Igreja”, um defensor do trinitarismo contra o arianismo e um líder da comunidade de Alexandria no século IV.
[162] N.T.: Lucio Célio Firmiano Lactâncio (ca. 240-ca. 320) foi um autor entre os primeiros cristãos que se tornou um conselheiro do primeiro imperador romano cristão, Constantino I, guiando sua política religiosa que começava a se desenvolver e sendo o tutor de seu filho. Lactâncio teve um papel fundamental na construção do Constantino Décimo Terceiro Apóstolo de Jesus, o apóstolo imperador, o apóstolo da espada, o apóstolo das glórias terrenas e da Igreja Triunfante na Terra, não nos céus. Foi de Lactâncio a inspiração de que o “tamanho da igreja e sua presença em todo o império”, seria de grande valor político para Constantino. Foi dele a ideia de colocar a chamada Cruz de Constantino como novo Emblema do Império, substituindo a Águia.
[163] N.T.: A quinta raça da Época Atlante, os Semitas Originais.
[164] N.T.: Gn 18:1
[165] N.T.: Gn 18:1-15
[166] N.T.: Lc 22:42
[167] N.T.: A quinta raça da Época Atlante, os Semitas Originais.
[168] N.T.: Jo 15:5
[169] N.T. Gn 32:29
[170] N.T.: Judá é um leãozinho: da presa, meu filho, tu subiste; agacha-se, deita-se como um leão, como leoa: quem o despertará?
[171] N.T.: Um dos Anciãos, porém, consolou-me: “Não chores! Eis que o Leão da tribo de Judá, o Rebento de Davi, venceu para poder abrir o livro e seus sete selos”.
[172] N.T.: 3ª e 4ª das quatro Dispensações pelas quais passamos.
[173] N.T.: Ex 20:2
[174] N.T.: Js 5:13
[175] N.T.: Js 10:13
[176] N.T.: Dn 3:21-23
[177] N.T.: Jo 3:5
[178] N.T.: 1De Salomão. Ó Deus, concede ao rei teu julgamento e a tua justiça ao filho do rei; 2que ele governe teu povo com justiça, e teus pobres conforme o direito. 3Montanhas e colinas, trazei a paz ao povo. Com justiça 4ele julgue os pobres do povo, salve os filhos do indigente e esmague seus opressores. 5Que ele dure sob o sol e a lua, por geração de gerações; 6que ele desça como chuva sobre a erva roçada, como chuvisco que irriga a terra. 7Que em seus dias floresça a justiça e muita paz até ao fim das luas; 8que ele domine de mar a mar, desde o rio até aos confins da terra.9Diante dele a Fera se curvará e seus inimigos lamberão o pó; 10os reis de Társis e das ilhas vão trazer-lhe ofertas. Os reis de Sabá e Seba vão pagar-lhe tributo; 11todos os reis se prostrarão diante dele, as nações todas o servirão. 12Pois ele liberta o indigente que clama e o pobre que não tem protetor; 13tem compaixão do fraco e do indigente, e salva a vida dos indigentes. 14Ele os redime da astúcia e da violência, o sangue deles é valioso aos seus olhos. 15(Que ele viva e lhe seja dado o ouro de Sabá!) Que orem por ele continuamente! Que o bendigam todo o dia! 16Haja abundância de trigo pelo campo e tremulem sobre o topo das montanhas, como o Líbano com suas flores e frutos, como a erva da terra. 17Que seu nome permaneça para sempre, e sua fama dure sob o sol! Nele sejam abençoadas as raças todas da terra, e todas as nações o proclamem feliz! 18Bendito seja Iahweh, o Deus de Israel, porque só ele realiza maravilhas! 19Para sempre seja bendito o seu nome glorioso! Que toda a terra se encha com sua glória! Amém! Amém! 20Fim das orações de Davi, filho de Jessé.
[179] N.T.: Também chamados de: Anjos do Destino ou Senhores do Destino ou, ainda, Anjos Relatores.
[180] N.T.: Mq 3:20
[181] N.T.: Ex 3:5
[182] N.T.: Jo 1:1-3
[183]N.T.: Apo 21:6
[184] N.T.: Is 44:6
[185] N.T.: Capítulo V – A Relação do Ser Humano com Deus
[186] N.T.: Sl 33:6
[187] N.T.: comemorada no domingo seguinte ao Domingo de Pentecostes.
[188] N.T.: Jo 16, 7-13
[189] N.T.: ou seja, as quatro Iniciações Maiores.
[190] N.T.: Do Livro Cristianismo Rosacruz – Conferência nº 16 – A Estrela de Belém: um Mito Místico.
[191] N.T.: também chamada de Aúra Masda, Ormasde ou Ormuz
[192] N.T.: Pseudônimo de Johannes Scheffler (1624-1667) – Místico cristão, filósofo, médico, poeta, jurista alemão.
[193] N.T.: IICor 4:18
[194] N.T.: Henry Wadsworth Longfellow (1807–1882) foi um poeta estadunidense.
[195] N.T.: At 20:24, versão inglesa
[196] N.T.: Lc 6:45
[197] N.T.: Mt 3:17
[198] N.T.: Jo 14:13
[199] N.T.: Mt 16:23 e Mc 8:33
[200] N.T.: Jo 6:35
[201] N.T.: Jo 6:54
[202] N.T.: Lc 8:16-18
[203] N.T.: Jo 5:30
[204] N.T.: Lc 22:42; Mt 26:39; Mc 26:39
[205] N.T.: Lc 22:42; Mt 26:39; Mc 26:39
[206] N.T.: Mc 4:25; Mt 13:12
[207] N.T.: Hb 4:15
[208] N.T.: Jo 4:32
[209] N.T.: Jo 4:14
[210] N.T.: IJo 3:2
[211] N.T.: Mt 28:20
[212] N.T.: Mt 3:17 e Mc 1:11
[213] N.T.: Orígenes (184 d.C.-253 d.C.), cognominado Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão, um dos maiores teólogos e escritores do começo do cristianismo. Com ele iniciou-se o posterior constante diálogo entre a filosofia e a fé cristã e uma tentativa de fusão das duas.
[214] N.T.: ou Zaratustra
[215] N.T.: ou Anahita
[216] N.T.: Mt 27:51
[217] N.T.: Apo 21:21
[218] N.T.: Jo 15:13
[219] N.T.: O Messias (Messiah) (HWV 56, 1741) é um oratório de Georg Friedrich Händel com 51 movimentos divididos em 3 partes, durando entre cerca 2h 15min e 2h 30min. Deve notar-se, desde já, que o tempo varia em função das diferentes interpretações (como qualquer outra composição musical que se mede por compassos e não por minutos). Embora o 42.º movimento (o célebre “Aleluia”) seja reconhecível por qualquer pessoa (mesmo não sabendo a que obra pertence ou que compositor a escreveu), a obra “O Messias” não é tão conhecido na sua totalidade como merecia. A maior parte das vezes, os programas de concertos apenas escolhem alguns movimentos (recitativos, árias e corais), perdendo assim o sentido integral e unitário da obra. Se a “fama” e o grau de popularidade fossem critérios válidos de apreciação estética, considerar-se-ia a mais famosa criação de Händel.
Após 41 movimentos e no final da 2ª Parte, é apresentado o mundialmente conhecido coral Aleluia, onde, em tese, se demonstra toda a alegria pela vitória do Messias sobre a morte e o pecado, após a concretização das profecias enunciadas na 1ª Parte. O coro, apoiado principalmente no agudo das vozes femininas (soprano, altos, etc.), demonstra felicidade da vitória do Messias e tal também apoiada na repetição contínua de certas expressões como Hallelujah e esta é repetida, próximo ao final desse movimento, após uma breve pausa de 3 segundos, termina a ser cantada extensivamente por aproximadamente 12 segundos:
… / For the lord God omnipotent reigneth / Hallelujah
… / And He shall reign forever and ever
… / King of kings forever and ever / And Lord of lords / hallelujah
… / Forever and ever and ever and ever / (King of kings and Lord of lords)
… / Hallelujah / hallelujah / Hallelujah
[220] N.T.: Mt 26:26-28, Lc 22:24-25
[221] N.T.: ICor 2:2
[222] N.T.: Ct 2:16
[223] N.T.: At 17:28
O Ser Humano, o Lírio, a Páscoa
“A Páscoa simboliza a vitória da vida sobre a morte”. Essa frase pôde ser ouvida — lugar-comum em que se tornou — em praticamente todas as celebrações pascais. O termo lugar-comum, entretanto, não assume aqui um sentido pejorativo, um significado menor. A frase expressa uma verdade cósmica.
A história da Páscoa é a história da própria vida. É a história da ressurreição, da permanência e invencibilidade da VIDA ÚNICA emanada de Deus, da qual todas as coisas viventes são participantes.
Reparemos nos lírios do campo. Como crescem, como encantam nossos olhos. Não trabalham, nem tecem, mas vestem-se gloriosamente. Recebem cuidados permanentes sob a compassiva proteção do Pai.
Observemos, também, a persistência da vida dentro dos lírios do campo. A cada ano o bulbo plantado na terra faz brotar pequenos ramos. Cada ano a planta culmina com sua gloriosa expressão: as flores, universalmente admiradas. Cada ano renova-se a energia armazenada no bulbo para que o vegetal, uma vez mais, experimente seu ciclo de crescimento e descanso. Mais uma vez cumpre sua missão de oferecer beleza ao mundo.
Vejamos, agora, o que acontece com a humanidade. O ser humano trabalha, luta, agoniza e se desespera, regozija-se e triunfa, progride ou retarda sua evolução conforme suas ações e pensamentos.
Qual, pois, a diferença entre o ser humano e o lírio? O ser humano tem à liberdade de afastar-se, mesmo que temporariamente, do Divino Plano traçado pelo Criador. Mas, à semelhança do lírio, encontra-se permanentemente debaixo da proteção de Deus.
Assim como as necessidades dos lírios são conhecidas e providas, assim como são alimentados e formosamente vestidos, também são conhecidas as necessidades do ser humano.
Tal como os lírios cumprem uma missão evolutiva, o ser humano cumpre a sua. Os lírios devem crescer, florescer e desenvolver o Corpo Vital, para eles um novo veículo. A missão do ser humano, por suposto, é muito mais abrangente. Ao ser humano cabe a tarefa de dominar sua impulsiva natureza de desejos e desenvolver a Mente, seu mais novo veículo. Faz parte de sua evolução aprender todas as lições que o plano físico lhe oferece e partir para a conquista do mundo do espírito.
É nesse ponto que a permanência e invencibilidade da vida de Cristo tornam-se importantes para nós. A Vida do Raio do Cristo Cósmico consumida anualmente na Terra enseja possibilidade de crescimento ao ser humano e ao lírio.
A força vital infundida no bulbo pelo Espírito-Grupo é suficientemente forte e persistente para ajudar a primeira manifestação do lírio a romper os obstáculos da terra até irromper na superfície com toda sua beleza.
A energia vital do Cristo em nós, individualmente, é suficientemente forte e persistente para ajudar-nos a vencer todos os obstáculos ao progresso espiritual.
Ao lírio não cabe escolha. A força vital opera através dele sem que lhe caiba expressar-se se concorda ou não. Deve responder ao estímulo dessa energia. Deve trabalhar com essa força. Trabalha automaticamente.
A humanidade pode optar. Eis onde se encontra a grande diferença, ao mesmo tempo fonte de dificuldades. Devemos conscientemente trabalhar pelo despertamento do Cristo Interno, abrindo-nos ao fluxo dessa força poderosíssima. Podemos assentir ou relutar e frequentemente relutamos, dizendo não ao Cristo. Obstinados e cegos que somos, ignoramos a força crística interna, impedindo assim o fluxo da VIDA UNA em e através de nós. Dessa obstinação ignorante, desse estado de morte é que devemos ressuscitar, preparando-nos para uma mais elevada expressão do Deus Interno.
Somente quando procedermos assim, a Páscoa se converterá numa experiência vivente para nós. Somente quando trabalharmos conscientemente com Sua Vida dentro de nós, poderemos avaliar a vitória que a Páscoa simboliza.
O significado da Páscoa é transcendente, abrangendo o físico e o espiritual, presente e futuro. Na medida em que o Cristo cresça em nós, poderemos perceber e apreciar o seu verdadeiro significado.
(Publicado na revista Serviço Rosacruz de março e abril/87)
E o Véu do Templo rasgou-se de Alto a Baixo
É tempo de Natal. Mais uma vez o Espírito de Cristo, amorosamente, esparge sua energia em nosso Planeta, renovando-o espiritualmente. A época é muito propícia ao recolhimento e introspecção.
Perguntemo-nos sobre nossas vidas. Inquiramo-nos sobre o que temos feito das oportunidades colocadas em nossas mãos. Elas estão sendo aproveitadas edificantemente, tais como os talentos da parábola evangélica, multiplicando-se por seu emprego justo e apropriado?
Não neguemos: temos tido oportunidades. A despeito das cruezas e incertezas da era que vivemos, podemos considerar-nos privilegiados. Quantas bênçãos e oportunidades de crescimento anímico são postas ao nosso alcance.
Contemplemos essa admirável Filosofia Rosacruz! É uma fonte inesgotável de sabedoria, assentada sobre bases adequadas ao nosso desenvolvimento. O aspecto racional dela projeta luz sobre os mais intrincados problemas da vida, facultando-nos encontrar Deus em todas as coisas e em nós mesmos. Enseja-nos respostas. Delineia-nos um caminho. Disciplina o fluxo das nossas energias.
O aspecto devocional da Filosofia Rosacruz fortalece nossa fé no supremo BEM. Alenta-nos nos difíceis momentos dos desafios: “O único fracasso é deixar de lutar”. Prepara-nos, inspira-nos, revela-nos nossa vocação espiritual.
Ensina-nos, a Filosofia Rosacruz, a dignidade do bom relacionamento, evidenciando a regra de ouro: “não fazer a outrem o que não queremos que nos façam”. Exorta-nos à pureza, advertindo que “o salário do pecado é a morte”.
Estimula o estudo como um meio de conhecermos as Leis da Natureza: “O único pecado é a ignorância, e a única salvação o conhecimento aplicado”. Das entrelinhas de seus ensinamentos faz emergir o Evangelho do Serviço: “O serviço amoroso e desinteressado para com os demais é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que nos conduz a Deus”.
Seu método de desenvolvimento, se observado com fidelidade, conduz ao portal do Templo da Iniciação. Basta “viver a vida” e amar a todos os seres da criação.
Mas nem sempre essas preciosíssimas oportunidades estiveram ao alcance de todos.
Nos tempos pré-cristãos, o caminho Iniciático era uma realidade para uma minoria. As portas do Templo eram abertas exclusivamente para uns poucos escolhidos, preparados e guiados pelos Hierofantes. A natureza de desejos era muito forte e o egoísmo constituía o denominador comum do relacionamento humano. Um número insignificante de pessoas mostrava-se em condições de acercar-se das realidades espirituais por meio da Iniciação.
Com o advento do Cristianismo, as coisas passaram por substanciais modificações. Quando o sangue fluiu no Gólgota, o “véu do templo rasgou-se de alto a baixo”. E o Cristo tornou-se assim o regente da Terra, iniciando um trabalho de, periodicamente, infundir energia e purificar o Corpo de Desejos planetário. O fim desse ciclo está condicionado ao nosso próprio adiantamento. Abria-se, assim, o caminho da Iniciação para todos aqueles que se dispusessem a trilhá-lo, acumulando para tanto o necessário mérito; agora, só ele conta.
Sensibilizados pelo Amor Universal, sentimos brotar em nosso interior as primícias dessa ação cósmica: a caridade, o sentimento de empatia, o espírito de sacrifício, a fraternidade.
Diariamente somos prodigalizados com inúmeras oportunidades de servir.
Que fazemos delas? A menos que as traduzamos em obras, continuaremos a retardar o dia da libertação, o “consumatum est” coletivo.
O Cristo Cósmico aguarda pacientemente o nascimento, em cada um de nós, de sua réplica microcósmica. É um trabalho árduo, exigindo paciente persistência em praticar o bem. As oportunidades estão aí, mas o mundo com suas ardilosas solicitações ainda nos exerce um perigoso fascínio. O nascimento do Cristo em nós, por certo, resultará de um parto doloroso. Um dia, porém, deverá acontecer.
É Natal. Meditemos sobre isso.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/74)
O Sol do nosso Sistema Solar é o tríplice. Podemos ver o Sol físico. Por trás dele, ou escondido por ele, está o Sol espiritual, de onde vem o impulso do Espírito do Cristo Cósmico.
O Mistério de Cristo é tão sublime e tão poderoso em Sua importância que transcende qualquer definição humana. Tão profundo é o Seu significado que nunca pode ser dosado ou expresso por meras palavras; só pode ser sentido no silêncio da contemplação espiritual.
A diferença entre Cristo da Terra e o Cristo Cósmico é melhor entendido por meio de uma ilustração. Imagine uma lâmpada no centro de uma grande esfera oca de metal polido. A lâmpada envia raios de luz de si para todos os pontos da esfera e os refletirá em vários lugares. Do mesmo modo, o Cristo Cósmico – o mais alto Iniciado do Período Solar – envia Seus raios emitidos.
Quando tínhamos nos desenvolvido o suficiente, Cristo veio e encarnou aqui na Terra; então um raio do Cristo Cósmico veio aqui e encarnou no Corpo do nosso Irmão Maior Jesus. Após o sacrifício no Gólgota Ele entrou na Terra, e tornou-se Seu Espírito Planetário Interno.
Não foi outro, senão o Cristo que apareceu a Moisés no episódio da sarça ardente. Tal fenômeno foi reflexo do Cristo Cósmico, conforme Ele se aproximou mais da Terra, antes de Sua encarnação humana. Cristo é o Senhor do Sol e Chefe dos espíritos de Fogo, os Arcanjos. A Dispensação Cristã está intimamente guiada pela Hierarquia de Leão, os Senhores da Chama. Assim, a Iniciação de Fogo é diretamente ligada aos Mistérios de Cristo.
Foi o Cristo Cósmico, localizado no meio da Glória Solar, que ensinou a Seus Discípulos os mistérios mais profundos da nova fé na nova Era, a Era de Peixes, que eles iriam, então, transmitir ao grupo de Discípulos mais próximos do futuro.
A Crucificação do Cristo Cósmico começa, todo ano, quando o Sol está em Libra, no Equinócio de Setembro, quando a Glória desce para o “Hades”[1] do Planeta Terra.
O Equinócio de Março é o momento em que o Cristo Cósmico é libertado dos grilhões terrestres que Ele se aprisionou, durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.
A Estação do Advento se estende pelo mês de dezembro e é anunciada como uma Festividade de Luz. O impulso espiritual da estação prepara a humanidade para o derramamento das forças celestiais acompanhando o renascimento do Cristo Cósmico em nossa esfera terrestre. Esse período é seguido pela estação do Solstício de Dezembro que se estende de 21 de dezembro à 24 de dezembro e culmina com o dia seguinte, o 25 de dezembro, no Natal, o dia mais profundamente reverenciado em toda a Cristandade.
O Cristo Cósmico será a figura central da vindoura religião da Era de Aquário.
[1] N.T.: profundezas
Sabemos que a força designada sob o termo ALTRUÍSMO existe. Vemo-la manifestando-se de diversas maneiras em muitas partes do mundo. Observamos que ela está menos pronunciada nos povos menos civilizados do que naqueles de maior desenvolvimento. Nas raças atrasadas, é quase inexistente. A conclusão lógica dessa observação é que, há muito tempo, quando a humanidade passava pelos mais primitivos estágios, o altruísmo estava completamente nulo. E dessa conclusão surge naturalmente a pergunta: que foi que o induziu em nós? A personalidade material certamente não foi. Na verdade, esse aspecto do ser humano estaria muito melhor sem ele.
Ao mesmo tempo, não podemos deixar de reconhecer que o altruísmo deve ter estado latente dentro de nós durante todo o tempo, pois do contrário não poderia ter sido despertado. Do nada não pode surgir qualquer coisa. O que uma semente exprime ao germinar, levava-o dentro de si.
Torna-se, pois, evidente que, tudo que eleva o ser humano a melhor padrão de conduta deve brotar-lhe do íntimo, de uma fonte não idêntica ao seu corpo, pois muitas vezes luta contra os interesses mais óbvios deste. Doutro lado, deve ser uma força poderosíssima, bem mais forte que o corpo, uma vez que o compele a fazer sacrifícios, em benefício dos fisicamente mais frágeis.
Tal força existe mesmo, ninguém poderá negar-lhe a existência. No atual estágio de desenvolvimento ela nos leva a considerar na debilidade alheia, não uma oportunidade de presa fácil e da exploração; ao contrário, nessa fragilidade vemos um apelo de proteção. O egoísmo vai sendo, lenta e seguramente dissolvido pelo altruísmo.
Embora lento, o progresso do altruísmo é ordenado certo, realizando naturalmente seus propósitos. No íntimo de cada um de nós ele vai agindo como um fermento, transformando o selvagem num civilizado e, com o tempo, transubstanciando este num Deus.
Uma chispa do Cristo Cósmico, incorporada em nosso Redentor, para seu trabalho de purificação de nosso globo e estabelecimento de um clima favorável ao desabrochar do altruísmo, obteve acesso à Terra por meio do sangue purificado de Jesus, que fluiu no sacrifício do Gólgota. Atualmente essa chispa Crística está operando dentro de nosso globo para atenuar sua constituição física e suprafísica. Um poderoso fluxo espiritual foi sentido, no momento em que Ele se integrou à Terra, e uma luz irradiou-se tão intensa que toldou a visão do povo; este maravilhoso evento marcou o início da ação do princípio altruístico sobre o gênero humano. Isto tem concorrido sobremaneira para a segurança do processo evolutivo, pois dia a dia todos os sentimentos que fortalecem o interesse próprio são gradualmente transmutados em ações visando o bem-estar alheio.
Se o Cristo não tivesse vindo e iniciado tal processo descristalizante, outra Lua teria sido arremessada ao espaço, levando consigo a escória resultante daquele tenebroso estado de coisas. Esse sacrifício do Espírito do Cristo Cósmico não significa a Sua morte como comum e erroneamente é admitido, mas sim um influxo à Terra de uma elevadíssima energia que permite vivermos mais abundantemente em espírito.
Ainda hoje, séculos após o acontecimento do Gólgota, poucos são aqueles que estão aptos a viver tão próximos à verdade, seguindo suas concepções, professando-a e confessando-a perante o mundo por meio do serviço e por um reto viver. Ante tamanha evidência, bem podemos imaginar como deve ter sido nos remotos tempos que antecederam ao advento do Cristo, quando os seres humanos não possuíam dentro de si a elevação do Altruísmo.
Os padrões de moralidade eram muito baixos e o amor à verdade era uma tênue chama, quase inexistente na maioria dos seres humanos, os quais empenhavam-se mais em acumular riquezas, poder ou prestígios, muitas vezes por meios os mais abjetos possíveis. A tendência natural era conservar a inclinação aos interesses próprios, muitas vezes em detrimento de outrem.
Dessa forma, os Arquétipos enfraqueceram-se, as funções orgânicas foram afetadas intensamente, particularmente em relação aos corpos ocidentais que se tornaram mais sensitivos à dor em virtude do crescimento da consciência espiritual.
O Egoísmo não existia no mundo até que a névoa se condensasse e a humanidade saísse da atmosfera aquosa da Atlântida. Quando seus olhos se abriram, de modo que pudesse perceber o Mundo Físico e tudo o que nele existia, quando cada um ou cada uma viu-se separado dos outros, a consciência do “mim e do meu”, do “teu e da tua” formou-se nas mentes recém-surgidas e a ambição e separatividade substituíram o sentimento de companheirismo até então existente sob as águas da Atlântida. Daí em diante o egoísmo tem sido uma atitude muito natural, mesmo em nossa jactanciosa civilização. O Altruísmo permanece como um sonho utópico para as pessoas “práticas”.
Porém, entre uma minoria a qual já possui evidente iluminação, ele floresce mais e mais, e dia virá em que todos os seres humanos serão tão bons e indulgentes como o foram os maiores santos.
À medida que os anos passam, os movimentos altruístas vão se multiplicando e ganhando eficiência, eficiência que simboliza um novo modo de beneficiar o próximo. Isso consiste num altruísmo mais autêntico, visto que o trabalho efetuado no sentido de se distribuir esmolas, pura e simplesmente, torna-se um meio caritativo degradante e humilhante àquele que recebe o donativo, pois a natureza do benefício confina-se somente à necessidade material, tornando-se mister que haja uma atitude concomitante visando a elevação do ser.
Essa forma de auxilio mais aperfeiçoada, eleva aqueles a quem nós ajudamos, não só amenizando a situação em que se encontram, mas estimulando-os ao reerguimento por meio das próprios forças. Essa espécie de auxílio inclui o pensamento e o autossacrifício que estão sendo incutidos fortemente pelos nossos Guardiães Invisíveis, os quais são atualmente os irmãos que zelam pelos mais fracos.
Podemos perfeitamente iniciar tal trabalho no lar, sendo amorosos para com todos aqueles com quem estamos em contato imediato, sendo fiéis nas pequenas coisas, pois procedendo assim maiores oportunidades não deixarão de se apresentar.
Devemos nos tornar universais em nossas simpatias, pois o refrão “ame ao vosso vizinho como a ti mesmo” se aplica ao mundo inteiro e não unicamente aos nossos vizinhos imediatos. Podemos amar outras famílias bem como a nossa, outros países sem diminuirmos amor para com o nosso.
Grandes são as dores que estão fazendo nascer o Altruísmo em milhões de corações, porém, por meio do sofrimento ele cresce e torna-se melhor do que antes. À medida que o tempo passar e Cristo, por meio do seu beneficente influxo atrair mais Éter Interplanetário à Terra, esta ficará com o seu Corpo Vital bem mais luminoso.
Assim acontecendo, caminharemos num mar de luz, o que fará com que Ele, sendo a Luz, venha a unir-se com outras luzes.
Para que o ser humano atinja um elevado estágio em sua evolução, é mister que o egoísmo seja absorvido pelo Altruísmo.
Saturno, brandindo o chicote da necessidade sobre o ser humano nos tempos primitivos, o levou à situação presente; assim também Júpiter, o Planeta do Altruísmo, está destinado a ascendê-lo ao estado de “super-homem”, onde permanecerá sob o Raio de Urano que por sua natureza emocional substituirá a paixão pela compaixão.
O Altruísmo, a nota-chave de Urano, oculta um amor envolvente tal como o Salvador sentiu. Urano, como a oitava inferior a Vênus, influenciará a todos aqueles que estão em condições de entrar no Caminho da preparação que os conduzirá à Iniciação. Assim, todos os seres que estão nesse ponto de sua evolução deverão gradualmente aprender a suplantar o Amor Venusino, iniciando dessa forma o cultivo daquele amor Uraniano de Cristo, amor que não requer retribuição, amor que não se amainará em relação aos nossos familiares, porém estes senti-lo-ão com maior intensidade do que aqueles que se encontram mais distantes de nós.
A vida superior (Iniciação) não apresenta seus primeiros indícios até que o trabalho sobre o Corpo Vital seja iniciado. O meio dinamizante dessa atividade é o amor ou melhor, o Altruísmo, embora a palavra amor, hodiernamente, devido às deformações porque passou, não exprima mais com fidelidade aquele sentimento que o Cristo nos legou. Exige-se de nós que cultivemos pelos menos algumas das tendências altruísticas, a fim de que o progresso seja levado a efeito para além do nosso presente estágio.
Como estudantes do Cristianismo Esotérico, devemos nos esforçar no sentido de observar os ensinamentos de Cristo Jesus, procurando expressar e vivificar tenazmente o amor e o Altruísmo. Assim procedendo, estaremos mostrando ao próximo que o amor é a chave que abre todas as portas e a bússola segura e infalível a conduzir-nos à Luz. Se compreendemos que nosso dever é difundir a Filosofia Rosacruz, saibamos também como fazê-lo.
A ação com objetivo de proselitismo ou perturbar as crenças já existentes não se coaduna com o ideal Rosacruz, mas, chegar àqueles que necessitam de verdades mais elevadas, àqueles que não podem encontrar Cristo pela fé somente, àqueles cujos intelectos exigem uma explicação do passado, do presente e do futuro desenvolvimento do mundo e do ser humano, isto sim é procurar dar expansão ao rosacrucianismo por meios seguros e louváveis.
Sumariando, concluímos: assim que o ser humano principia a viver em consonância com a verdade, começa a observar a sociedade, vendo os homens e mulheres como sendo seus irmãos e irmãs. O ódio, a inveja, o ciúme, o egoísmo, a cobiça, a avareza não mais o embotam, porque ele vê a si mesmo como uma parte de todas as vidas.
Sabe perfeitamente que aquilo que é bom para um é bom para todos, que nunca poderá ferir a alguém sem que fira a si próprio e que sua vida é um entrelaçar inexorável com toda a humanidade. Portanto, o seu coração é levado inevitavelmente ao amor impessoal, ao amor para com todos homens e mulheres. Vê a possibilidade da consciência espiritual de cada um sendo desenvolvida; compreende que todos estão trilhando o mesmo caminho, embora ele esteja um pouco mais além, que nenhuma vida poderá ser deixada para trás quando os benéficos propósitos de Deus se completam.
O que o ser humano chama de pecado, ele transmuta em termos de ignorância e de egoísmo. Sua compreensão já não lhe permite desprezar ou condenar a alguém, mas sim, expressar compaixão, simpatia e ajuda. O ser humano espiritual não somente compreende a sua união com Deus, como jamais olvida a sua unidade com todo o gênero humano. Isso é o Altruísmo no seu mais elevado sentido.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/1967)
As páginas da Bíblia encerram uma mensagem para todas as almas sedentas, independente do estágio que se esteja no caminho da realização.
Há esperança, conselho e inspiração para as Mentes mais fechadas e tradicionalistas, e ao mesmo tempo, há palavras gloriosas de luz para o intelecto questionador e liberal.
Há, na Bíblia, tanto ensinamentos e conforto para as doutrinas mais simples como para doutrinas mais elevadas e para o maior Iniciado que este Planeta é capaz de produzir.
É um erro dizer que a Bíblia não é nada mais do que um livro antigo de um passado de dois mil anos.
A Bíblia é um livro de mistérios, um maravilhoso livro de tremendo poder, um código contínuo e vigente criado por grandes Iniciados e seus Discípulos por meio de milhares de anos de esforço.
Pertence igualmente ao Passado, ao Presente e ao Futuro.
1. Para fazer download ou imprimir:
A Bíblia – O Maravilhoso Livro das Épocas – Corinne Heline
2. Para estudar no próprio site:
A BÍBLIA: O MARAVILHOSO LIVRO DAS ÉPOCAS
Por
Corinne Heline
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, 1954, The Bible: wonder book of the ages, editada por Corinne Heline
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
ÍNDICE
Parte I: Destaques importantes sobre Iniciação no Antigo Testamento 5
CAPÍTULO I – Abraão – O modelo cósmico para o ser humano da quinta raça raiz 7
CAPÍTULO II – Jacó e Moisés – Filhos iniciados da sabedoria antiga. 14
CAPÍTULO III – Davi e Salomão – Acrescentando revelações de verdade e sabedoria 20
A Missão de Salomão para o Mundo. 23
Iniciação Suprema de Salomão. 27
CAPÍTULO IV – Sons de Iniciação. 30
Cântico dos Cânticos – um canto matrimonial místico. 33
Parte II: Destaques importantes sobre Iniciação no Novo Testamento 39
GetsÊmani: O jardim da Aflição. 57
Correspondências astrológicas desde a Anunciação até a Ascensão. 66
CAPÍTULO VII – Os doze imortais 70
CAPÍTULO VIII – O CAMINHO DE DAMASCO.. 85
A LUZ GLORIOSA EM DAMASCO.. 89
O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO INTERIOR. 93
Parte III: O Mistério do Cristo no Cosmos 102
CAPÍTULO IX – Os Doze Caminhos Através do Zodíaco. 104
CAPÍTULO X – O Mistério de Cristo nos Céus 112
CAPÍTULO XI – O Cristo Cósmico e o Cristo Planetário. 122
CAPÍTULO XII – O Ciclo do Ano com Cristo. 128
O Primeiro Trimestre: Janeiro, Fevereiro e Março. 128
O Segundo Trimestre: Abril, Maio e Junho. 129
O Terceiro Trimestre: Julho, Agosto e Setembro. 130
O Quarto Trimestre: Outubro, Novembro e Dezembro. 133
A Bíblia é o maravilhoso livro das épocas. Suas páginas encerram uma mensagem para todas as almas sedentas, independente do estágio que se esteja no caminho da realização. Há esperança, conselho e inspiração para as Mentes mais fechadas e tradicionalistas, e ao mesmo tempo, há palavras gloriosas de luz para o intelecto questionador e liberal. Há, na Bíblia, tanto ensinamentos e conforto para as doutrinas mais simples como para doutrinas mais elevadas e para o maior Iniciado que este Planeta é capaz de produzir.
É um erro dizer que a Bíblia não é nada mais do que um livro antigo de um passado de dois mil anos. A Bíblia é um livro de mistérios, um maravilhoso livro de tremendo poder, um código contínuo e vigente criado por grandes Iniciados e seus Discípulos por meio de milhares de anos de esforço. Pertence igualmente ao Passado, ao Presente e ao Futuro.
Seus segredos foram cuidadosamente colocados no texto bíblico, espiral dentro de espiral, de tal modo que quanto mais espiritual o ser humano se torna, mais profundos significados se revelarão para ele.
Como está escrito no Zohar, “Infeliz é o homem que somente enxerga no Torah (a Lei) simples recitações de palavras comuns! …. Cada palavra do Torah contém elevados significados e mistérios sublimes… A observação simples é capaz de revelar somente as vestimentas do Torah e seus versos… O homem mais instruído não presta atenção à vestimenta, mas ao corpo que a envolve”.
A Bíblia acompanhará o ser humano para as mesmas portas da Nova Era, onde descobrirá que suas páginas revelam um conceito totalmente novo a respeito dos mistérios da vida espiritual, como este livro maravilhoso é o verdadeiro livro da Vida sobre o qual serão baseadas as ciências da alma da Nova Era de Aquário.
Quando se lê a história da Bíblia sob a luz das interpretações da Nova Era, em que se relacionam todos os personagens e eventos ao ser humano individual, para que estas qualidades e atributos sejam cultivados ou erradicados, ocorre que as Escrituras se convertem em PALAVRAS VIVAS, aplicadas imediatamente aos problemas pessoais atuais da vida diária. Os aspectos históricos, então, retrocedem a um segundo plano. A Bíblia deixa de ser um livro de um passado diferente e morto e passa a ser um guia para um presente vivo e pulsante.
Abraão cujo nome significa “pai das multidões” foi o primeiro dos mestres iniciados enviados a nova Quinta Raça Raiz que habitaram a Terra depois da destruição do continente Atlântico pelo Dilúvio. Ele veio de Ur, cidade da “luz”, e se estabeleceu em Haran, “um lugar alto”. Sarah e Lot viajaram com ele. Sara, significa “princesa” e representa o princípio do feminino ou do amor, e Lot, identificado principalmente com Sodoma, que representa a natureza inferior. Assim, Abraão viaja para a nova terra, acompanhado por ambos os elementos superiores e inferiores que estão dentro de sua própria natureza.
Como um pioneiro, Abraão representa astrologicamente, Saturno, que preside o princípio da manifestação e quem as forças modelam a forma da substância que emerge do Caos.
Os espiritualmente iluminados sempre consideraram que cada lugar mencionado na Bíblia representa o aqui e agora, e cada personagem mencionado é você, você mesmo. Assim, por exemplo, as duas esposas de Abraão, Sarah e Hagar, tipificam respectivamente as naturezas superior e inferior do ser humano, e os dois filhos que nasceram, representam os atributos e as obras resultantes das atividades destas duas naturezas opostas no ser humano. Agar e seu filho Ismael, personificam o ser inferior e Sara e seu filho Isaac, caracteriza o superior. O nome Isaac significa alegria, a alegria que vem ao mais alto Ego com a vida verdadeira.
Abraão foi inicialmente conhecido como Abrão (Abram) e sua mulher Sarah como Saray. A partir da primeira Iniciação de Abraão a letra H (Abram antes da Iniciação; após a Iniciação seu nome passou a ser escrito como Abraham) se incluiu em seu nome, a letra “H”, uma letra feminina, que quando adicionado ao nome de Abram e Saray, indica que em sua experiência iniciatória eles despertaram o princípio feminino dentro de si ou princípio intuitivo. O despertar desse princípio dá origem a Isaac que, no recente contexto significa a alegria que a alma experimenta quando se estabelece ações retas e harmoniosas com a Super-Alma.
Abraão (ou Abraham) personifica o que se poderia chamar de arquétipo da quinta Raça Raiz. Portanto, os principais eventos que ocorreram em sua vida, como é relatada na Bíblia, devem ser imitados em seu significado essencial por todo o indivíduo que pertence à está presente Raça Raiz.
Abraão alcançou tão elevada condição na realização espiritual que pôde se comunicar face a face com mesmo Senhor dos Céus. No entanto, quanto mais alta a alma ascende, mais sutis serão as tentações, e mais severos serão as provas e testes que deverão ser superadas. Isso é bem verdade, pois “muitos retrocederam e não mais caminharam com Cristo”[1]. Em seu progresso espiritual, Abraão finalmente enfrentou uma de suas maiores provas no Caminho Iniciático, a denominada Grande Renúncia. Assim como se lê em Gênesis 22:7-12:
“Isaac dirigiu-se a seu pai Abraão e disse: ‘Meu pai!’. Ele respondeu: ‘Sim, meu filho!’. — ‘Eis o fogo e a lenha,’, retomou ele, ‘mas onde está o cordeiro para o holocausto?’. Abraão respondeu: ‘É Deus quem proverá o cordeiro para o holocausto, meu filho’, e foram-se os dois juntos. Quando chegaram ao lugar que Deus lhe indicara, Abraão construiu o altar, dispôs a lenha, depois amarrou seu filho e o colocou sobre o altar, em cima da lenha. Abraão estendeu a mão e apanhou o cutelo para imolar seu filho. Mas o anjo de Iahweh o chamou do céu e disse: ‘Abraão! Abraão!’. Ele respondeu: ‘Eis-me aqui!’. O anjo disse: ‘Não estendas a mão contra o menino! Não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus: tu não me recusaste teu filho, teu único’.”
Esta passagem revela uma completa renúncia de si mesmo para Deus. Ele tinha a vontade, a coragem e a força para passar por esse teste com sucesso. Deste modo, ele abriu a porta para um eflúvio de poder e iluminação que não é nem sonhado por aqueles que ainda não foram testados e provados neste nível. Ele não questionou a fé para obedecer ao comando do Senhor (Lei), não importava o custo. Este é o caminho da pessoa qualificada para tomar parte dos grandes planos de Deus para o ser humano. A sentença de Cristo que diz “aquele que encontrou sua vida, a perderá; e aquele que perdeu sua vida por minha causa, a encontrará”, é um ensinamento do Templo que pertence às eras.
Novamente em Gênesis 22:13 lemos:
“Abraão ergueu os olhos e viu um cordeiro, preso pelos chifres num arbusto; Abraão foi pegar o cordeiro e o ofereceu em holocausto no lugar de seu filho.”.
O carneiro é o símbolo de Áries. Tal símbolo foi chamado por muitos anos de “o cordeiro da apresentação”. Em seu aspecto superior, as palavras-chave para Áries são: pureza, serviço e sacrifício. É o Signo da ressurreição. Peixes é o último Signo do Zodíaco, é um lugar de pesar, um jardim de lágrimas, o Getsemani no Caminho. Suas portas se fecham e apenas abrem no primeiro Signo zodiacal, Áries, anunciando a chegada do recém-nascido. Abraão agora chegou até este ponto em seu desenvolvimento Iniciático.
Uma das supremas experiências espirituais da vida de Abraão foi seu encontro com Melquisedeque, que foi um dos maiores mestres iniciadores. Ele foi um dos principais Altos Sacerdotes da Atlântida e Mestre daqueles indivíduos remanescentes que sobreviveram da destruição pelo Dilúvio. Noé e sua família são os nomes genéricos daqueles sobreviventes.
Melquisedeque deu a Abraão os profundos ensinamentos espirituais que mais tarde se tornaram conhecidos no mundo Cristão como a Missa Cristã, e que o Cristianismo Ortodoxo o denomina como a Sagrada Comunhão. Uma versão superior desse mesmo mistério espiritual foi o último e mais sublime ensinamento que o Senhor Cristo deu aos mais avançados Discípulos durante seus três anos de ministério na Terra. Uma revelação ainda maior desse sagrado mistério tornar-se-á o centro dos ensinamentos e do ritualismo da Religião da Nova Era Aquariana.
Depois que tudo isso aconteceu, a palavra do SENHOR veio a Abrão em visão, dizendo: “Não temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, tua recompensa será muito grande.”[2]. Então disse Abrão: “Meu Senhor Iahweh, que me darás? Continuo sem filho… e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliezer?”[3]. Essa questão guarda a chave do entendimento de um dos mais ocultos capítulos da Bíblia. Uma interpretação bem resumida: o nome Eliezer significa “ajuda de Deus”. Tal nome simboliza o despertar dos poderes do Ser Divino interno. Eliezer é um mordomo e um fiel devoto da família de Abraão, que aqui representa o corpo. Ele é da cidade de Damasco, cidade que na simbologia bíblica significa um centro de iluminação e um lugar onde as flores são vigorosas e perpétuas. Privado da descendência, aquilo que Abraão pergunta ao Senhor é, em efeito, o que ele deveria fazer, pois verificou que seu Deus interno está agora funcionando como um espírito de luz que agora está no comando de seus atributos e faculdades.
Tal experiência nos mundos internos confirma a mensagem da escritura que mostra que seu encontro com o Senhor foi uma VISÃO. Além disso, a promessa feita a Abraão pelo Senhor de que o herdeiro que ele buscava nasceria de suas próprias entranhas, ou de seu ser interior, denota o aspecto espiritual dessa experiência. Sua descendência espiritual seria impossível de contar, assim como as estrelas do céu. Abraão acreditou sem embargo que a “mente mortal”, que são os sentidos físicos, a parte incrédula do ser humano, cederia espaço para a percepção clara de sua alma de verdade nos planos da consciência ao qual ele tinha agora ascendido.
O Senhor também prometeu que daria a sua descendência a Terra que se estende “Desde o deserto e o Líbano até o grande rio, o Eufrates <toda a terra dos heteus>, e até o Grande Mar, no poente do sol.”[4]. Abraão, então, perguntou como ele saberia que esta seria a sua herança. O Senhor respondeu enigmaticamente: “Toma-me uma bezerra de três anos, e uma cabra de três anos, e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho.” (Gn 15:9).
Assim ele fez. Mas este não foi um sacrifício sanguinário pelo qual se viu chamado a realizar. Toda experiência relatada neste capítulo ocorreu nos planos internos ou no nível suprafísico. Para se aprender o significado interno em seus mínimos detalhes, deve-se considerar que as palavras que descrevem tais experiências trazem termos simbólicos. Lembre-se sempre que as maiores verdades espirituais nunca são passadas de maneira escrita, mas transmitidas oralmente de Mestre para Discípulo de acordo com o entendimento e méritos deste último. Na medida em que são ou podem ser transmitidas de modo escrito, símbolos e cifras de vários tipos são também utilizados, pois eles traduzem da melhor maneira aquilo que as palavras sozinhas não podem fazer.
Assim sendo, como referências escritas são feitas para as mais exaltadas experiências da alma, e como a natureza das palavras é obscura e enigmática, exceto para aqueles que já conseguiram um estado de consciência que penetra a alma das coisas e possibilita observações e corroborações inteiramente novas. Quando se lê a Bíblia a luz do conhecimento esotérico, as cerimônias das Religiões exotéricas são apenas frações mutiladas dos verdadeiros rituais que se encontram nela.
Regressando ao tema do sacrifício animal, não foi exatamente essa oferenda de Abraão. As “asas que a alma forja para uma ascensão elevada” não se constroem da agonia e morte de qualquer coisa vivente, mas mediante simpatia, compaixão e por um amor unificante e que abraça a todos. Isso inclui todas as criaturas de Deus, do mais alto ao mais baixo. Essa é a única maneira de construir as qualidades internas da alma necessárias para que um Iniciado, como Abraão, alcançasse uma realização superior.
Apliquemos a chave astrológica aos sacrifícios que foi ordenado a Abraão. Um bezerro é um símbolo do Signo de Touro e seu sacrifício significa a renúncia de todos os desejos primários e do amor egoísta. A cabra é o símbolo de Capricórnio. Isso significa o sacrifício do poder mundano e da ambição. O carneiro é o símbolo de Áries e representa a ressurreição dos poderes vitais, por meio da castidade e pela transmutação. A rolinha e o pombo são os símbolos de Libra, a Balança, e se refere às experiências sutis que testam a sensatez do estado de realização.
Deve-se também notar que o sacrifício de Abraão ocorreu em Mambré que quer dizer fortaleza, e na cerca de Hebrón que significa unidade.
Pondo-se o Sol, um profundo sono caiu sobre Abraão; e eis que grande espanto e grande escuridão caíram sobre ele. Então disse a Abraão: “e eis que foi tomado de grande pavor. Iahweh disse a Abrão: ‘Sabe, com certeza, que teus descendentes serão estrangeiros numa terra que não será a deles. Lá eles serão escravos, serão oprimidos durante quatrocentos anos.’” (Gn 15:12-13).
Este é um resumo de tudo o que pode ser dado publicamente a respeito do processo de certa Iniciação. Isso relata o êxtase do espírito que acompanha “a grande escuridão”. Quando Abraão perde a consciência no plano físico, está acordado nos planos etéricos internos. Então no Livro de Recordação de Deus se lê que os quadros cósmicos de eventos futuros conectados as pessoas de Áries, aqueles que serão liderados por ele. A semente de Abraão, os frutos do espírito, não está em sua morada durante sua estadia na Terra. Eles são desconhecidos, são passageiros estão ao serviço da matéria e sujeitos a suas limitações até que o quaternário inferior da forma (400 anos) tenha sido transcendido por um poder trino do espírito.
E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades (Gn 15:17).
O calor, a fumaça e o fogo são inseparáveis dos processos de depuração que levam a iluminação. Está muito claro que Abraão passou com muito sucesso através do “crisol” e se qualificou para um serviço mais alto, e “no mesmo dia” celebrou a aliança com o Senhor que lhe disse que a sua descendência a Terra que se estende: “Desde o deserto e o Líbano até o grande rio, o Eufrates <toda a terra dos heteus>, e até o Grande Mar, no poente do sol.”[5].
O poder escondido do fruto da videira era reconhecido pelos primeiros Padres, como se pode concluir a partir do estudo das seguintes passagens dos escritos de Justino Mártir: “A palavra sangue da uva foi usada com o propósito de expressar que Cristo possui sangue não proveniente da semente humana, mas do poder de Deus. Desta maneira, o homem não produz o sangue da videira, mas Deus o produz. Assim, esta passagem anuncia que o sangue de Cristo não era de origem humana, mas do poder de Deus, e tal profecia revela que Cristo não é um homem, engendrado do homem, segundo as leis comuns dos homens”.
Um historiador eclesiástico do século quarto, fez um comentário desta passagem: “… Os homens são redimidos pelo sangue da uva que é espiritual e em que Deus mora”.
Conclui-se, a partir dessas declarações, que aquilo que é referido como “o sangue da uva” possui um grande significado. Esse sangue se refere à purificação e à transmutação do sangue comum. Cristo disse a seus Discípulos: “Eu sou a videira, vocês são os ramos”[6]. Por meio do pão e do vinho, um verdadeiro Aspirante se coloca em sintonia mais perfeita e mais próxima de Cristo e pode tanto desenvolver como manifestar poderes Crísticos dentro de si mesmo.
Tanto Justino Mártir como Clemente de Alexandria afirma que foi Cristo que apareceu a Jacó em um sonho. Neste sonho, ele viu uma escada que se estendia da Terra até o Céu, com Anjos do Senhor, subindo e descendo por ela. Acima dela estava o Senhor, que disse: “Eu sou o Senhor Deus de Abraão, teu pai e Deus de Isaac.” (Gn 28:13). Cipriano, citando Gênesis 35:1 escreve: “… Acreditando, como todos os Padres acreditaram que foi Cristo, o Deus, que falou e apareceu a Jacó quando este fugia de Essau – ou Esaú”.
Conforme mencionado no terceiro volume de nosso livro A Interpretação da Bíblia para a Nova Era, os Mestres iluminados ao longo das eras têm ensinado seus Discípulos sobre o trabalho das Escolas de Mistérios, sendo que suas várias formas de Iniciações não eram senão passos preparatórios para a vinda de um Mestre Supremo do Mundo, o Senhor Cristo. Esta afirmação se mantém verdadeira em relação aos mestres profetas da Dispensação do Antigo Testamento. Eles e seus seguidores estavam se preparando para que mais tarde, pudessem servir a Cristo. Em seus Sonhos, era ensinado a Jacó ler na Memória da Natureza. Ali, ele viu a escada de involução e evolução que se estendia desde o Céu até a Terra, com multidões de espíritos que descendiam para reencarnarem e ascendiam para Céu depois que as lições da Terra tinham sido aprendidas.
O Caminho do Discipulado tem sido similar de tempos em tempos. Os Aspirantes devem enfrentar e superar provas similares e percorrerem o mesmo caminho. Há apenas mudanças particulares no curso de épocas sucessivas. O caminho Iniciático é descrito com excepcional precisão e fidelidade na vida de Jacó. Em Gênesis 32:25-26 registra que quando Jacó foi deixado sozinho “lutou com ele um homem, até que a aurora surgiu”. Ao final deste incidente, ficou claro que foi Aquele que prevaleceu sobre Jacó, o novo nome de Israel, que significa aquele que preserva. “Porque”, disse Ele, “como um príncipe tem lutado com Deus e com os homens” (Gn 32:29). A experiência aqui relatada é de profundo significado: que o Senhor Cristo foi o Mestre e Guardião de Jacó, conforme relatado por Justino Mártir, Clemente de Alexandria e Ireneo.
A experiência de Jacó de lutar a noite toda com o Anjo e não permissão de que ele fosse embora, até que recebesse uma benção, é bem conhecida na Senda do Discipulado. Os Poderes Espirituais latentes em cada Aspirante tornam-se suficientemente vibrantes que logo se tornam evidentes em sua vida. “Deixe que Cristo seja formado em você” foi a séria exortação de S. Paulo aos seus Discípulos. Isto é um requisito necessário antes que alguém possa se tornar um pioneiro da Dispensação de Cristo.
Isto se levou a cabo na vida de Jacó. Ele abandonou para sempre Essau – ou Esaú (a natureza inferior) – Gn 33:12. Em concordância com a mudança interna que, então ocorreu, ele não mais foi mais chamado de Jacó, mas sim de Israel, um nome que também significa “aquele vê a Deus”. Jacó agora era um herói conquistador e um dedicado servo. Ele estava qualificado para se tornar um trabalhador no vinhedo do Senhor Cristo, que declarou: “Aquele que quiser ser o maior entre vós seja o servo de todos”[7].
Novamente ao verso do Gênesis que diz: “Jacó foi deixado sozinho e lutou com ele um homem”, Orígenes escreve: “Quem mais pode ser do que Aquele que é chamado de homem e Deus, que lutou e argumentou com Jacó, aquele que falava em diferentes ocasiões e de diversas maneiras com o Pai” (Hb 1:1). A Palavra sagrada que é chamada Senhor e Deus, que também abençoou Jacó e chamou a ele de Israel, dizendo: “Tu tens prevalecido com Deus”. “Foi assim que os homens daqueles dias mantiveram a Palavra de Deus, como nossos apóstolos disseram: “O que era desde o princípio, o que ouvimos o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram a Palavra da vida” (1Joa 1:1) cuja Palavra da Vida, Jacó, também viu e acrescentou: “Eu vi Deus face a face”[8].
Passada tal experiência fragorosa, que terminou com a vitória de Jacó, este ascendeu para Betel, onde construiu um altar e dedicou sua vida a Deus. Muitos que passaram por esta experiência exaltadora possuem a consciência da presença de Cristo e do derramamento de Sua terna benção sobre seus Discípulos valentes. Betel significa “a casa de Deus” e é como um candidato vitorioso que realiza completa dedicação.
Hipólito, um escritor eclesiástico do terceiro século e pupilo de Ireneo, pronunciou a seguinte declaração com referência a Cristo, em relação à profecia de Jacó (Gn 49:9) e, também, do Livro do Apocalipse (5:5): “Agora, uma vez que o Senhor Jesus Cristo, que é Deus, por causa da realeza e glória, foi descrito, antes, como um leão”.
Quatro dos mais distintos Padres da Igreja (Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Ireneo e Tertuliano), afirmaram que não foi outro, senão o Cristo que apareceu a Moisés no episódio da sarça ardente. Tal fenômeno foi reflexo do Cristo Cósmico, conforme Ele se aproximou mais da Terra, antes de Sua encarnação humana. Cristo é o Senhor do Sol e Chefe dos espíritos de Fogo, os Arcanjos. A Dispensação Cristã está intimamente guiada pela Hierarquia de Leão, os Senhores da Chama. Assim, a Iniciação de Fogo é diretamente ligada aos Mistérios de Cristo. Este fogo não é uma chama que queima, mas uma luz que purifica e transmuta. A sarça que “queimava” tornou-se chama com a luz, por isso não foi consumida. Esta experiência de Moisés é uma forma velada de exaltação que acompanha a Iniciação do Fogo.
A Iniciação de Fogo está muito relacionada aos processos de Purificação e Transmutação. Todos os altos processos preparatórios Iniciáticos são acompanhados por música celestial. Richard Wagner, um real iniciado musical, trouxe a Terra, pela sua música, algo da magnificência e esplendor que acompanha a Iniciação pelo Fogo. Por meio de seus dramas musicais, como A Valquíria e Siegfried, deu ao mundo a glória da Música de Fogo. A sublimidade destas ressonâncias celestiais e, também, dos acordes finais de O Crepúsculo dos Deuses, soa como ecos e ressonâncias das tonalidades dos reinos mais altos do céu.
Justino Mártir, em concordância com muitos Padres da Igreja, acreditou que Cristo falou com Moisés desde a sarça, e isto estava em desacordo com aqueles que confundiram Deus-Pai com seu Filho. “Aqueles que pensam que sempre foi Deus-Pai que falava com Moisés, considerando que Aquele que falou com ele foi o Filho de Deus, a quem também é chamado um Anjo (e um Apóstolo), estão convencidos tanto pelo espírito profético e pelo próprio Cristo, de que não conhecem nem o Pai nem o Filho. Aqueles que dizem que o Filho é o Pai, não possuem nenhuma certeza de conhecer o Pai nem de entender que o Deus do Universo tem um Filho, ao qual, sendo a Palavra unigênita de Deus, é também Deus. E formalmente Ele apareceu a Moisés e aos profetas em forma de fogo como uma imagem incorpórea”.
Clemente de Alexandria é outra autoridade que relata que foi o próprio Cristo que disse a Moisés: “Eu sou o Senhor Deus que os trouxe da terra do Egito.”[9]. É o poder de Cristo que sempre move o Aspirante para fora do Egito, a simbólica terra de escravidão dos sentidos e da obscuridade da Mente mortal.
A Moisés se permitiu ver a Terra Prometida, a terra que fluía leite e mel (a Dispensação de Cristo do ciclo Aquário-Leão). Santo Orígenes nos diz que foi Cristo que deu a Moisés, na Montanha Sagrada, as Tábuas da Lei, quando ele aprendeu a ler os Arquivos da Memória da Natureza. Ele viu que a civilização da Quinta Raça Raiz teria seus fundamentos baseados nas leis conhecidas como os Dez Mandamentos. Mais adiante, ele viu que o mesmo Cristo traria a extensão destas leis, a qual pronunciou mediante os preceitos enunciados no Sermão da Montanha. A Humanidade da Quinta Raça Raiz ainda está longe dos preceitos de desenvolvimento programados pelo divino plano. Poucos membros alcançaram o status de evolução que está em acordo com os Dez Mandamentos. Menor número de membros aprendeu algum conceito da importância espiritual do Sermão da Montanha.
Conforme enunciado na série A INTERPRETAÇÃO DA NOVA ERA, polaridade é a palavra-chave do Cristianismo Místico. As duas colunas da polaridade são formadas pelos Dez Mandamentos (a coluna masculina) e o Sermão da Montanha (a coluna feminina). Para o homem Crístico que virá da Raça Léo-Aquariana, conforme ele se eleva a dimensões superiores de desenvolvimento, os Dez Mandamentos serão a base sobre a qual se constituirá a vida cotidiana, enquanto o Sermão da Montanha será sua superestrutura.
A elevação de Elias aos céus em um carro de fogo é a descrição de outro espírito iluminado, que estava sendo preparado, por meio da Iniciação de Fogo, para trabalhar, tanto nos planos internos, como nos externos, se antecipando à vinda do Cristo. Essa foi, igualmente, a Iniciação dos Três Homens Santos que foram introduzidos em um forno ardente e saíram incólumes, como lemos no Livro de Daniel[10]. Esse Livro contém, em sua totalidade, muita informação sobre a Iniciação de Fogo
O Livro de Daniel está estreitamente relacionado com o trabalho da Hierarquia do Signo de Fogo, Leão. É a Iniciação de Fogo que conserva o umbral dos Mistérios Cristãos, que o Supremo Mestre se referiu quando disse a Nicodemos: “Quem não nascer da água e do espírito (Fogo), não poderá entrar no Reino de Deus.”, a nova ordem de Cristo.
Frequentemente nos referimos à Bíblia como “O maravilhoso Livro das Épocas”. Isto é evidenciado pelo fato de que quanto mais se avança no caminho espiritual, mais se revelam os maravilhosos segredos escondidos nas Escrituras. Como indicado previamente, conforme o ser humano ingressa na iluminação da Era de Aquário, compreende que a Bíblia não é apenas um Livro Supremo da Luz, mas um Livro que desperta na sua consciência os profundos mistérios e verdades inimagináveis.
Muitas verdades eternas sobre Davi e Salomão estão encobertas no registro bíblico. Ambos possuíam poderes Iniciáticos de alto grau. Para evitar que verdades espirituais pudessem ser profanadas ou abusadas por pessoas incapazes de captar e aplicar adequadamente tais verdades que foram entregues ao mundo, elas foram encobertas por símbolos pouco atrativos ou por histórias que estavam em consonância com o desenvolvimento primitivo e sensual então prevalecente.
Um antigo ensinamento expressa que: “Se você conhece a doutrina, você deve viver a vida”. Sendo tal declaração verdadeira, alguém deve concluir que Davi e Salomão – duas almas qualificadas para assumirem um papel de liderança espiritual de seu povo – não foram culpados pela conduta repressora da interpretação literal de alguns relatos bíblicos atribuídos a eles. Por exemplo, mulher na vida de Davi indica estágios definitivos de seu desenvolvimento espiritual, ao invés de uniões poligâmicas como parece indicar uma leitura literal. Foi dito que Salomão teve setecentas mulheres e trezentas concubinas. Numericamente, a soma de sete e três resulta em dez, o número da realização espiritual. Tal é o significado do número que é empregado por todo o Antigo Testamento.
Salomão é referido como o mais alto iniciado da Dispensação do Antigo Testamento. O grande amor que ele professava pelas mulheres não deve ser considerado como uma cega paixão pessoal, mas como um meio de transmitir o fato de ter experimentado o êxtase, pelo fato de ter alcançado a união com o exaltado Princípio Feminino, estado este que é um requisito para o alto grau iniciatório que ele alcançou. Por outro lado, as várias mulheres na vida de Salomão, esotericamente, representam os diversos passos no progresso de um Aspirante, assim como Miguel simboliza os poderes marciais de Marte que foram dados como uma armadilha para Davi: Eglah[11], o pessoal e amor íntimo de Vênus; Camaam[12], a expansividade da consciência Jupteriana; Hagith[13], a Lei e a ordem da natureza bem desenvolvida de Saturno; Abital os atributos incrementados da fé e a sabedoria, geralmente associadas a Mercúrio. O matrimônio de Davi com Abigail simboliza um elevado estado de consciência espiritual (1Sm 25:2-42).
Abigail implora por Nabal, o tolo, que representa a natureza inferior do ser humano. Nabal refuta compartilhar com Davi certas qualidades espirituais, as quais um tolo mortal não possui compreensão. Após ter enviado Homens de Davi e participar de uma orgia alcoólica, Nabal viveu apenas dez anos. A morte de Nabal (a natureza baixa) foi seguida da união com Abigail (a graça de Deus) e Davi (o bem-amado). Isto significa a união com o “eterno feminino, que nos incita sempre para cima e para frente” – por esta exemplificação da coroação de Davi em Hebraico (a unidade) como Rei de Judá (amor e aclamação). Davi começou o verdadeiro trabalho vocacional somente após esse CASAMENTO MÍSTICO.
Davi, agora como Rei de Judá, se preparou durante sete anos para uma posição mais elevada: Rei de Jerusalém, a Cidade da Paz. Foi-lhe ensinado a ler nas gravações da Memória da Natureza e a estudar os arquétipos do mais altíssimo Templo de Mistérios, externalizado, mais tarde, por seu filho Salomão.
Assim como existe certos centros espirituais no corpo do ser humano, há também centros correspondentes de energia espiritual que vem do Planeta Terra. Por incontáveis milhares de anos, os locais onde os Templos de Mistérios foram constituídos eram exatamente nas localizações de tais centros terrestres. Cada um destes Templos emana verdades espirituais avançadas para as pessoas que permanecem dentro de sua área de radiação. Jerusalém, a Cidade da Paz, foi um destes locais de emanação de poder.
Esotericamente, Jerusalém está bem no coração da Terra. De acordo com o testemunho da Clarividência, ela foi escolhida e consagrada pelos mais Sábios que estavam sob a liderança dos líderes angélicos, desde o início da civilização humana. Foi nesta Cidade que Melquisedeque, o Sacerdote Misterioso e um dos mais exaltados membros da Grande Fraternidade Branca, trabalhou e ensinou. Ele trouxe para a Raça Ariana a sabedoria sagrada dos Atlantes antes de sua inundação final (registrada biblicamente como Dilúvio). Neste lugar sagrado, chamado por ele de Salém, Cidade da Paz, Melquisedeque iniciou Abraão, o primeiro mistério que culminou na Santa Ceia do Senhor, o Banquete de Pão e Vinho. Mais tarde, esta mesma eminência se tornou o local para o Templo de Salomão e, também, onde Abraão passou pelo supremo teste no Rito da Renúncia, quando lhe foi ordenado para sacrificar seu próprio filho Isaac.
Quando esta cidade sagrada passou pelas mãos dos Jesuítas, eles a renomearam JEBU e estabeleceram sobre essa cidade um Templo dedicado ao culto de Astarte[14]. Aproximadamente no ano de 1.000 A.C., depois de se tornar rei, tanto de Judá como de Israel, Davi foi inspirado a fazer da cidade sua capital, e a renomeou como Cidade de Davi. De Jerusalém, localizada em uma colina que permite observar o amplo território circundante, sempre houve um poderoso eflúvio de energia espiritual. E apesar de ser o coração central de toda a Terra e a casa de Judá, do Signo real de Leão, apropriadamente, se tornou a cidade do Rei.
Além disso, Jerusalém foi o centro de foco dos primeiros Mistérios Cristãos – pelo qual o trabalho de Davi e seus serviços celebrados no Templo de Salomão constituíram sua preparação. E foi destinado a se tornar o centro dos Mistérios Cristãos na preparação para a segunda vinda de Cristo. De fato, este local sagrado foi uma MECA de Iniciados de ambas as Dispensações: do Velho e do Novo Testamento. Foi o palco de atividade de todos os profetas do Antigo Testamento, com exceção de Amós e Oséias. Dentro deste contexto, os Livros do Antigo Testamento foram concebidos e não escritos. Ambos, José e a Mãe Sagrada foram acolhidos no tempo de Jerusalém.
Jerusalém foi também o cenário da maior parte do trabalho do Mestre, de seus Discípulos e de seus seguidores diretos. Muitos destes receberam sua preparação nas comunidades localizadas próximas de sua elevada irradiação espiritual, como por exemplo, o Monte das Oliveiras onde Davi passou por um de seus testes de regeneração e onde Cristo Jesus fez sua última e completa renúncia – de acordo com a vontade do Pai. E foi no ponto de maior carga espiritual da cidade que a crucificação e a ressurreição de Cristo Jesus ocorreram.
De acordo com a lenda, o nascimento de Salomão foi presenciado por uma Hoste de Anjos cantando corais triunfantes, assim como ocorreu no nascimento de Jesus. Também se diz que o Arcanjo Gabriel, guardião das mães e das crianças estava presente para derramar sua benção sobre o infante.
Natan, um profeta de Deus que guiou Davi nos caminhos da Verdade, foi um mestre guia e guardião do jovem Salomão. Assim, a criança cresceu e se desenvolveu em um ambiente de sabedoria e retidão, qualificando-se, desta maneira, para desempenhar seu grande trabalho de elevação da Humanidade.
Um dia, quando Salomão tinha aproximadamente treze anos de idade, a Corte se reuniu no majestoso Salão dos Cedros, quando um Anjo apareceu e colocou uma folha de ouro nas mãos do Rei Davi. Sobre esta folha estava escrito perguntas de caráter místico. Davi anunciou: “Aquele que responder essas perguntas se tornará Rei de Israel depois de mim”. Davi anunciou: “O que é tudo e o que é nada?”. Quebrando o silêncio que procedeu a questão, Salomão respondeu: “Deus é tudo e o mundo é nada”. Davi continuou: “O que é que mais importa e o que menos importa?”. Mais uma vez Salomão respondeu: “Paz é o que mais importa e medo é o que menos importa”.
O trabalho mais notável de Salomão foi à construção do Grande Templo dos Mistérios. Ensinamentos emanados serviram para toda a atual Quinta Raça Raiz durante sua duração evolutiva. O Monte Moriah, assim como o Monte das Oliveiras previamente descrito, foi uma área de grande poder espiritual. Sobre este lugar, Salomão foi instruído a construir o Templo e dedicá-lo ao serviço do divino propósito de trazer redenção à Humanidade. Foi-lhe ordenado que o Senhor Cristo deveria ser recebido dentro deste Templo e que o maravilhoso significado de missão deveria ser comunicado para o mundo daquele lugar. A Humanidade, no entanto, não viveu de acordo com os divinos princípios de Salomão e, mais tarde, os servidores do Templo não reconheceram o esperado Messias quando Ele veio. Assim, o dia da Crucificação iniciou a ruína do Templo. Foi apenas uma questão de tempo até a sua completa destruição.
Jesus, prevendo o destino de Jerusalém e do Templo, clamou a tragédia que sucedeu a ambos. Ele sabia que os habitantes da cidade tinham falhado em alcançar o alto destino que tinha sido preparado para eles. Assim, quando Ele viu os longos séculos pela frente, também viu um futuro cheio de conflitos e guerras devastadoras antes do dia da redenção. Davi e Salomão, ambos iniciados, viveram na Terra com o propósito de trabalhar para regeneração da raça humana na antecipação da gloriosa vinda do Senhor Abençoado. Não foram eles que falharam. Ao invés disso, foi toda a Quinta Raça Raiz.
Graças aos seus poderes Iniciáticos, Salomão era capaz de controlar os habitantes dos reinos superiores e inferiores. Foram-lhe abertos os quarenta e nove caminhos da sabedoria, segundo a lenda mística descreve (4 mais 9 resultam em 13, o número iniciatório que pertence a então Dispensação Cristã que se aproximava). Ele, até mesmo, transmutou os brutais poderes dos demônios em poderes que serviam para o bem da Humanidade. Ele controlava Espíritos da Natureza e por sua vontade, podia mandá-los para os mais remotos confins do mundo. Salvou muitas pessoas que estavam escravizadas pela Lei e obsessão.
O macrocosmo é um reflexo do microcosmo. O Corpo Denso do ser humano, seu templo, é um reflexo do Templo solar do Universo. O Mestre ensinou que era este templo humano que deveria ser destruído e então, por meio da Iniciação, ser reconstruído em três dias. Na maçonaria Mística, este é o Templo erigido por dois reis e pelo filho da viúva. Este último, de nome Hiram de Khurum, se tornou o Mestre construtor – seu nome significa ELEVADO, BRANCO, ASCENDIDO. O Rei Salomão representa o coração. O Rei Hiram de Tiro, a cabeça. Hiram, o mestre construtor é um filho da viúva, simboliza o Aspirante que trabalha para unir o poder amoroso do coração com o intelecto da cabeça.
Cada candidato maçônico é instruído a manter suas ferramentas de trabalho na coluna de Joaquim, a cabeça. Boaz, a coluna feminina do coração, é um pilar caído que não pode ser levantado até que o poder do amor se equilibre com a razão. Somente quando o amor for verdadeiro, “o cumprimento da lei” fará com que a coluna de Boaz seja reerguida e retome sua posição. Estas são as duas colunas que guardam a entrada de todos os Templos Iniciáticos, e todo neófito deve passar por entre ambas em sua busca pela verdade.
Muitas das lendas são relacionadas ao Mar Fundido. Este mar, em forma de flor, era (e é) sustentado por doze bois. Como um filho da viúva (o neófito), se converte em um mestre construtor mediante a alquimia da transmutação dentro de si mesmo e seu “mar fundido” se converte em um Cristal onde os esboços do passado, do presente e do futuro estão indubitavelmente impressos. Esta habilidade lhe capacita transformar seu veículo físico em um “veículo florescido” de um Iniciado – um labor realizado sob a liderança de um instrutor das doze Hierarquias Zodiacais. Foi essa a realização que colocou Salomão entre os Seres mais Sábios de todas as eras. E o “mar” sobre o qual ele parou para saudar a Rainha de Sabá, simboliza seu “mar fundido” pessoal.
O trono de Salomão foi confeccionado com fino ouro de Ophir, incrustado com mármore e com joias raras. Em cada um dos seis degraus que conduziam ao trono, havia dois leões de ouro e duas águias de ouro colocados cara a cara, indicativo da Era Leão-Aquário e que seus pioneiros haviam aprendido a construir a gloriosa luz do corpo tipificado pelo Templo de Salomão. Nenhum trabalhador ficou doente, durante os sete anos que o Tempo estava sendo construído, nem se deterioraram as condições perfeitas de suas ferramentas. “Quando completado, o Templo brilhava como uma colina de ouro assentada sobre uma montanha de prata. O Altar de Bronze se ampliou tanto que podia abarcar a TERRA. O Mar Fundido envolvia o espírito de todas as ÁGUAS. As cortinas agarravam e sustentavam a tremula sombras dos ARES azuis; e os candelabros, a glória do FOGO celestial”. Aos arredores do Templo estava um bosque com árvores de ouro que sustentavam frutos perpétuos que caíam apenas quando um inimigo se aproximava. Dentro do santuário uma vara de marfim, que a seu toque gerava injúrias e doenças aos impuros, mas era, provadamente, inofensiva aos puros. O muro transparente dentro do interior do santuário permanecia claro como um Cristal pela aproximação dos retos, mas se escurecia quando os indignos se aproximavam dele.
Na dedicação do Templo, essas palavras eram faladas pelo Senhor, a manifestação espiritual da lei: “Ouvi a oração e a súplica que me dirigiste. Consagrei esta casa que construíste, nela colocando meu Nome para sempre; meus olhos e meu coração aí estarão para sempre.” (1Rs 9:3). A lenda diz que Salomão colocou uma chave de ouro na porta da Sala Santo dos Santos no ritmo da música dos cantos celestiais: “Abra bem a porta de entrada do Santo dos Santos, que o Rei da Glória pode ir a seu descanso”.
“A rainha de Sabá ouviu falar da fama de Salomão e veio pô-lo à prova por meio de enigmas. Chegou a Jerusalém com numerosa comitiva, com camelos carregados de aromas, grande quantidade de ouro e de pedras preciosas. Apresentou-se diante de Salomão e lhe expôs tudo o que tinha no coração, mas Salomão a esclareceu sobre todas as suas perguntas e nada houve por demais obscuro para ele, que não pudesse solucionar.” (1Rs 10:1-3).
A vinda dessa bela rainha da sabedoria foi uma coroação triunfal para a vida de Salomão. A sabedoria, pela qual ele canta como sendo mais valiosa que os rubis, foi, finalmente, sua posse pessoal. Antes dessa conquista, ele jamais poderia escrever o CÂNTICO DOS CÂNTICOS, a Música do casamento Místico, descrita como “uma canção de amor purificada por Lírios”. Essa canção proclama a mescla final da natureza inferior com a superior, à sublimação do material para o espiritual. Este é o mais alto ponto de alcance da divina alquimia. Esta realização ocorre dentro da consciência e da vida do Discípulo, pois, lhe põe em comunhão com os planos celestiais onde a perfeição de cantar se converte em suas experiências pessoais.
O nome Sabá significa SETE e tem interpretações sétuplas: “o Belo, o Velho, o Um, o Dador, o Perigoso, o Primeiro e o Último”. Ela era a Rainha de todas as flores Árabes; Balkirs, seu nome significa BENÇÃO. Salomão se preparou durante três anos para sua chegada. Ele construiu dois muros poderosos que iniciava na fronteira de Israel e terminava nos muros de Jerusalém. Um muro era de prata e outro de ouro, e entre eles estava o lago de Cristal pelo qual todo o mundo refletia. Foi desta a maneira que ele aguardou sua chegada. Sabá veio vestida com sete véus sutis como se fossem tecidos de ar, e se aproximou de Salomão, que permanecia parado sobre este lago de Cristal como se ele estivesse sobre a água. Seus presentes ao rei foram pérolas sem preço, enquanto os presentes de Salomão para a rainha foram oito rosas verdes da Mística árvore de Damasco, todas germinadas em flores e jarras contendo águas de vida eterna do poço de Siloé – sendo esta última, uma frase pertencente de um antigo Templo de Mistérios Egípcios.
“Quando a rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão, o palácio que fizera para si, as iguarias de sua mesa, os aposentos de seus oficiais, as funções e vestes de seus domésticos; seus copeiros, os holocaustos que ele oferecia ao templo de Iahweh, ficou fora de si e disse ao rei: ‘Realmente era verdade o quanto ouvi na minha terra a respeito de ti e da tua sabedoria! Eu não queria acreditar no que diziam antes de vir e ver com meus próprios olhos, mas de fato não me haviam contado nem a metade: tua sabedoria e tua riqueza excedem tudo quanto ouvi. Felizes das tuas mulheres, felizes destes teus servos, que estão continuamente na tua presença e ouvem a tua sabedoria!’” (1Rs 10:4-8).
Na grande tenda do rei, os convidados que se reunira, para a recepção dos presentes, foram encobertos por invisíveis hostes de coros angélicos. Salomão saudou a justa rainha com as palavras: “Você é santa como a Arca de Deus; seu corpo é Sua casa”. Por estas palavras de saudação do rei, muitos dos convidados titubearam e partiram, mas Balkris, Rainha de Sabá, se inclinou, se manteve firme e sozinha no meio da tenda real.
“Muitos são os chamados e poucos são os escolhidos”.[15]
Muitos outros também vacilaram e partiram incapazes de percorrer o caminho do Mestre – o caminho estreito e reto da Iniciação que leva aos portais do Templo Místico, onde dádivas são concedidas ao Aspirante triunfante que está dedicado a sabedoria e aprendeu a glória da casa não feita pelas mãos, mas sim por eternidades do céu. Ao terminar de construir essa “casa” que ganha os tributos do Mestre e adquire a habilidade de viajar a terras estrangeiras – a suprema realização para os pioneiros da raça humana.
Salomão reinou desde Jerusalém em toda Israel, durante o período cabalístico de quarenta anos. No momento de sua transição, seus olhos contemplaram uma visão do futuro: a destruição do tabernáculo terreno porque este era transitório e não permanente. Outro grande Iniciado Cristão disse: “Coisas visíveis são temporais; coisas não visíveis são eternas”[16]. Salomão, Rei da paz, levantando ao alto o sagrado anel que tinha um nome indizível, advertiu: “Edificai um Templo invisível e eterno”.
Tanto os Salmos como o Livro dos Provérbios do Antigo Testamento foram usados de diferentes maneiras nos magníficos Templos cerimoniais. Eles, no entanto, não eram apenas lidos ou falados, mas sempre cantados e oficiados, normalmente acompanhados por ritmos graciosos da dança sagrada. Era ensinado aos Aspirantes que tal som, ou entonação, era a emanação ou benção de Deus, o Pai; a harmonia era a emanação ou benção do Cristo Cósmico; e o movimento rítmico era a emanação ou benção do Espírito Santo. Era assim que em todos os Templos cerimoniais se expressava o poder da Santíssima Trindade.
Os Salmos expressam vários níveis de realização espiritual.
O Salmo nonagésimo primeiro é um canto de proteção. Pelo seu uso, o Discípulo aprende como inundar seu corpo com uma luz pura e branca de poder que nenhum mal pode tocá-lo, pela repetição continuada da afirmação de proteção segura e poderosa: “Mil cairão ao teu lado, dez mil a tua direita, mas nenhum chegará a ti”.
O Salmo vigésimo terceiro é um de promessa. “Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos.”. Estes inimigos não são meros inimigos pessoais que nos desejam mal; são, também, os inimigos mais perigosos que existem dentro de nós mesmos: pensamentos errados, falsos apetites e emoções descontroladas, especialmente as emoções destrutivas de medo, ódio, malícia e os desejos mais ásperos da personalidade não regenerada. “Unges a minha cabeça com óleo” (o despertar dos órgãos espirituais da cabeça). “O meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor (a Lei espiritual) por longos dias.” (Sl 23:5-6).
O Salmo 24 é um canto de Regozijo: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória?”. A resposta a essa questão é que o Senhor é o Rei da Glória; mas o Aspirante entende que esse canto também se refere ao “Cristo Interno”, pois cada ser humano é espírito, é um feito à imagem e semelhança de Deus.
Muitas vezes, em nossos escritos, temos nos referido as gloriosas procissões que ocorriam nos mundos internos e que eram liderados pelo próprio Cristo. Aqueles que são merecedores ganham permissão para testificar essas procissões e tomar parte delas. Isto, no entanto, não pode ocorrer antes do despertar do Cristo dentro da própria natureza do Aspirante. É por isso que este Salmo possui dois significados: o gozo que se conhece quando o Espírito de Cristo entrou no coração do Discípulo e o reconhecimento que, por este evento, ele se tornou merecedor de permanecer na presença de nosso supremo Senhor Cristo, enquanto ele ouve o coro jubilante dos Anjos: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças, e o Rei da Glória fará sua entrada”.
Nos Templos antigos, os Provérbios foram empregados como poderosos mantras de cura. A ciência oculta entende que o corpo humano é composto por certos grupos conhecidos como femininos ou negativos. O primeiro grupo está sob o domínio ou regência do cérebro e do sistema nervoso central. O segundo grupo está sob a regência do coração e do sistema nervoso simpático. O que causa a maioria das enfermidades é a interação desarmônica entres esses sistemas. Conforme o Discípulo progride espiritualmente, ambos os sistemas gradativamente começam a funcionar em perfeita harmonia. Uma relação perfeita entre esses dois sistemas é conhecida como a Balança, ou Polaridade no sentido espiritual, e com isto, o corpo se torna impenetrável a enfermidades. Esse é o segredo dos corpos perfeitos dos Mestres da Sabedoria e os altos Iniciados, que já conquistaram elevada estatura espiritual e estão além da enfermidade e morte.
Em Provérbios podemos ler a seguinte verdade: “A sabedoria já edificou sua casa, ela já lavrou seus sete pilares.” (Pr 9:1). E para o Discípulo ansioso e pronto, é dado o mandamento: “Vinde, come do meu pão e beba do meu vinho que eu preparei.” (Pr 9:5).
Por isso Provérbios e Eclesiastes são especialmente os livros didáticos de iluminação pelos quais se personifica a Sabedoria como um princípio feminino de Deus, enquanto o Entendimento, como se utiliza nos Provérbios, é um princípio masculino. A Sabedoria é o fluir da revelação cósmica, mas o Entendimento é alcançado por meio da razão e do trabalho Iniciático. Por isso o Livro dos Provérbios inicia com a seguinte instrução: “Obtenha sabedoria e entendimento.”(Pr 1:2). Esta é, em verdade, a nota chave de toda a obra. Salomão declara repetidamente que a Sabedoria é o principal objetivo de sua busca.
É significativa que a música do Templo esotérico era tanta masculina como feminina, e era tocada em instrumentos harmonizados aos seus respectivos ritmos. O canto usado no Livro dos Provérbios foi programado para vibrar diretamente sobre as duas correntes que fluem dentro do Corpo Vital. Assim, o tema musical, tanto do Livro dos Provérbios quanto de Eclesiastes, pode ser chamado de polaridade e equilíbrio.
O equilíbrio perfeito entre os polos do espírito humano nunca poderá ser efetuado, até que o inferior feminino tenha sido elevado através de uma vida pura e de aspirações. Este termo, “inferior feminino”, se refere à natureza emocional que ainda se mantém sujeita a vida dos sentidos e sob o jugo de objetivos e propósitos egoístas. Na maioria das escrituras antigas a “alma” ou espírito (Ego) humano era chamado de feminino, e, assim, o aspecto inferior da natureza da alma era chamado de “feminino caído” que deve ser elevado e redimido.
Os cânticos do Livro dos Provérbios utilizados na Igreja primitiva ocorriam, principalmente, aos domingos entre o Solstício de Dezembro (Natal) e Equinócio de Março (Páscoa), sendo essa época do ano a mais propícia para transmutação e a mais santa das estações. O ritmo dual do Livro dos Provérbios, que vibra sobre as duas correntes do Corpo-Alma e os dois sistemas nervosos, é claramente reconhecido em muitos de seus versos, como, por exemplo, no Livro dos Provérbios 14:1; 15:20; 19:26; 6:20- 21.
“Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas a tola a derruba com as próprias mãos”.
“O filho sábio alegra seu pai, mas o homem insensato despreza a sua mãe”.
“O que aflige o seu pai, ou manda embora sua mãe, é filho que traz vergonha e desonra”.
“Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a lei da tua mãe”.
“Ata-os perpetuamente ao teu coração, e pendura-os ao teu pescoço”.
A palavra Sabá significa sete, e a visita da Rainha de Sabá a Salomão constitui a preparação para as delícias da alma do Matrimonio Místico, que é o motivo espiritual do Cântico dos Cânticos.
Para aqueles, cujos olhos estão abertos ao verdadeiro significado da Missão, esta antiga lenda de Sabá e de Salomão, contêm muitas premissas relacionadas com o propósito da preparação, necessários para a feliz conclusão da Missão. Salomão, o Sábio Vidente, encontrou o Caminho e aprendeu a caminhar ali, preparando-se para a futura encarnação Daquele que deveria vir como uma mais completa e perfeita demonstração “do Caminho, da Verdade e da Vida”. Este sublime livro, “Cânticos do Cânticos” atribuído a Salomão, canta, em seus inspirados compassos, o que é necessário para a preparação e para o Caminho.
Neste cantar, o autor alquimista expressou, de maneira alegórica, a fórmula para fabricar a Pedra Filosofal. O relato em si mesmo é completamente simples. Ele nos conta que o Rei Salomão, ao visitar seu vinhedo no Monte de Líbano, se surpreende ao ver uma moça Sulamita. Ela foge dele. Mais tarde, no entanto, ele a visita, disfarçado de ovelha, e consegue ganhar seu amor e a clama como sua rainha. O poema abre com um recital de seu casamento no palácio real.
O Cântico de Salomão tem duas principais características, uma masculina e outra feminina. A primeira responde pelo nome de Shelomah (Pacífica), a segunda responde pelo nome de Shulamith (perfeito). É de notar que ambos os nomes são variações da mesma palavra raiz, sendo que essa variação indica diferença do gênero. Shulamith é a forma feminina de Salomão. Na tradução inglesa os dois caracteres não podem ser diferenciados tal como são diferenciados em Hebreu.
Esses dois polos do ser espiritual eram reconhecidos em todos os antigos Templos de ensinamentos e eram simbolizados nas duas colunas ou pilares que se erguiam antes dos Templos dos Mistérios. Na entrada do Templo de Salomão, se elevavam dois pilares, Jachin e Boaz, que juntos simbolizavam a Força e a Estabilidade e, também, a Beleza; eles eram, também, conhecidos como as duas Colunas da Vitória. Sempre o candidato deveria passar entre estes dois pilares na busca pela Luz, a Luz que está no Leste.
O Cântico Místico de Salomão é um delineamento poético e alegórico dos passos ou graus que levam ao desenvolvimento da consciência cósmica, parcialmente evidenciada nos clarividentes. Estes níveis, às vezes denominados “véus” nas Escolas de Mistérios, são sete em números e são enumerados deste modo:
Primeiro grau: A Missão
Segundo grau: O Despertar do Amor (o Místico)
Terceiro grau: A Realização do Conhecimento (O Oculto)
Quarto grau: O Desprendimento
Quinto grau: A Unificação
Sexto grau: A Aniquilação
Sétimo grau: A Consumação
A nota exultante que soa na Canção do Rei Salomão toma forma real nas palavras preciosas que são repetidas, frequentemente, em todas as partes: “Meu bem-amado é meu e eu sou dele”, enquanto a frase que completa o canto “O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios” (Ct 2:16), é característica do Caminho que culmina na Consumação divina.
Essa culminante mescla dos dois polos do Espírito que constitui o Matrimônio Místico é representada nos versículos que S. João abre seu Evangelho: “O Verbo estava com Deus”; e sua música acompanha cada verso do lindo canto nupcial de Salomão. Velado para aquele que não está pronto para experimentar a Missão, sob a aparência de uma canção de um terno amor humano, o Cântico dos Cânticos é para o iluminado uma revelação do Santo dos Santos, no qual ele permanece na Luz Eterna que agora não mais vista “como por espelho, obscuramente”, mas com clareza transcendente, “Face a Face”.
Mais do que qualquer outro livro, o Livro do Jó é o único, no Antigo Testamento, que se adapta às necessidades e requisitos do Discípulo do mundo moderno. O Discípulo pode aceitar esse livro como um manual de instrução, um texto para meditação e como um exemplo de santidade e fortaleza espiritual de comportamento cotidiano.
Há duas leis supremas que governam o Planeta Terra. Uma é a Lei do Espírito, a outra é a Lei da Materialidade. Cada ser humano possui o livre-arbítrio e a habilidade de escolher entre a lei que deseja estar sob jugo, seja no âmbito da casualidade material ou na liberdade de toda escravidão pelo Espírito. Os frutos de sua vida serão evidenciados por essa escolha.
No livro de Jó os dois caminhos são representados por Elifaz – o caminho do Espírito – e por seus três amigos – o Caminho da Materialidade. Os três amigos são conhecidos por nós, pois eles representam à enganosa sedução dos sentidos humanos que se expressam através do Corpo Denso, dos desejos (ou Corpo de Desejos) e pela Mente material ou “mortal”.
A Bíblia manifesta claramente que Deus ama quem castiga. Na verdade, o castigo não é um indicativo de punição, mas sim o meio pelo qual é possível trazer seus filhos de volta ao caminho da regeneração. O Livro de Jó pode ser denominado, adequadamente, como o Padrão Cósmico Típico de aperfeiçoamento do ser humano através do sofrimento. Membros de sua família são tirados dele. Todas as suas posses materiais são perdidas e, também sua reputação, e até seu nome. Por fim, Jó acaba atacado por uma enfermidade repugnante. Foi neste momento que sua esposa lhe aconselha a “amaldiçoar a Deu e morrer”. Isto representa o caminho estreito em que muitos acabam se suicidando equivocadamente, tentando escapar dos problemas da vida.
O interessante é que é neste mesmo ponto crítico que ocorreu uma coisa maravilhosa na vida de Jó: a chegada de Elifaz, que representa o despertar da espiritualização da Mente, que é conhecido no Cristianismo esotérico como a Cristificação da Mente. Aqui o Cristão aprende a ter apenas pensamentos Cristãos, falar somente palavras Cristãs e a realização somente de obras Cristãs. S. Paulo se referia a isto como a grande transformação: “morrendo o homem velho e nascendo o homem novo” (Col 3:9-10). Para ele isto ocorreu, exatamente, na estrada de Damasco. Ele entrou nesta estrada como um inimigo amargo e perseguidor de Cristo e dos Cristãos. No entanto, ele abandonou este jeito de ser e se tornou um dos servos mais devotos do Cristo. Seu nome permanecerá como uma das mais brilhantes luzes do Cristianismo, por todo o tempo.
Com a transformação de Jó, sua família retornou para ele, seus bens foram restituídos e multiplicados por dez. Sua reputação foi reestabelecida e seu corpo ficou totalmente curado. Finalmente, ele compreender o significado das palavras: “O homem é feito a imagem e semelhança de Deus”.
Deus é Amor – Deus é Todo Bondade – e quanto mais o ser humano se tornar semelhante a Deus, maior bondade será manifestada em sua vida. Quando alguém percebe a si próprio rodeado por más companhias ou submerso em um ambiente desarmônico, se este for um verdadeiro sábio, não procurará mudar tais condições com recursos e tentativas externos, mas procurará a solução dentro de si mesmo. Semelhante atrai semelhante e aquilo que doamos, inevitavelmente, retornará para nós.
Voltamos a repetir que, de todos os Livros do Antigo Testamento, o Livro de Jó é o que mais se adéqua as necessidades do Discípulo moderno, como manual de meditação e para viver a vida. Na atualidade, o Discípulo, assim como Jó, vive no meio de provas e confusão; é o tempo todo invadido por forças do mal que vem de dentro e de fora. Tais como as questões feitas por Jó, o Discípulo também as faz; e novamente, como Jó, ele receberá as respostas necessárias que virão do alto. Se persistir, terá sua recompensa: domínio de si mesmo e do mundo por meio da continuada comunhão com a Sabedoria do Eterno.
Os quatro Evangelhos apresentam quatro registros distintos da vida e da missão de Cristo Jesus. Eles se diferem tanto na abordagem como no tratamento deste assunto mais profundo. Os céticos que apresentam a denominada “maior crítica” consideram algumas dessas variações como inconsistências, e em alguns casos, como contradições. Tais variações poderiam, então, provocar algumas dúvidas a respeito da autenticidade dos registros do Novo Testamento como um todo. No entanto, quando os Evangelhos são estudados juntos e separadamente, sob a luz da Iniciação, será possível perceber que seus conteúdos, ainda que separados, suportam os ensinamentos como um todo. Essa noção ocorrerá em um nível ainda nem sonhado pelos comuns intérpretes desses documentos sagrados.
Assim, por exemplo, S. Mateus e S. Lucas iniciam seus registros com o nascimento do menino Jesus. Este fato é inteiramente omitido nos Evangelhos de S. Marcos e S. João. S. Marcos inicia seu Evangelho com o Batismo de Jesus, momento em que Cristo se encarnou em forma humana. S. João abre seus registros, não com uma apresentação do Mestre Jesus, mas do Verbo – o Verbo que é identificado com o Cristo Cósmico. Em seguida, segue a apresentação do Cristo em conexão com o milagre realizado nas bodas de Canaã, quando Ele transformou água em vinho.
Das muitas referências que S. Paulo faz aos vários mistérios conectados com a vida e trabalho de Cristo Jesus, não há dúvida de que, como resultado das muitas experiências profundas que ele próprio experimentou, em relação aos Mundos Espirituais, ele reconheceu que a natureza de muitas delas estavam fora do alcance daqueles que ainda não tinham realizado a preparação suficiente para essa assimilação e aceitação. Ele expressou tal reconhecimento nas palavras que são, frequentemente, citadas: “Dá-se leite para as crianças e carnes para os fortes” (ICor 3:2).
Qualquer pessoa que fizer um estudo cuidadoso das Epístolas de S. Paulo não pode deixar de notar a extensão pela qual elas lidam com as atividades do plano interno. Ele escreve, por exemplo, “Eu fui arrebatado ao terceiro céu, se no corpo ou fora dele, eu não sei” (IICor 12:2). Esta é uma experiência familiar a muitos Discípulos de nossos dias.
Naquele momento de transcendental iluminação ocorrido com S. Paulo na estrada de Damasco, o mundo externo foi tão obscurecido que toda a sua atenção foi totalmente voltada para a vida e atividades do mundo interior. Então, por isso, lhe foi permitido ir até a presença do Senhor Cristo e entender o significado da missão que Ele havia empreendido ao se tornar o Regente planetário interno desta Terra e o significado profundo disto para o futuro da Humanidade e para a redenção da Terra.
S. Paulo, que antes de sua experiência de Damasco foi um arqui-inimigo de Cristo e Seus seguidores, mais tarde se tornou uma pessoa com a maior e profunda dedicação e o mais ardente missionário de todos os seguidores do Mestre.
S. Paulo enfatiza que é devido ao Cristo, um ser divino encarnado em forma humana, ter sofrido como um ser humano sofre que Ele é o único capaz de se compadecer por todos aqueles que são fracos e oprimidos. Seu amor e compaixão são de tal natureza e se expressa com tamanho poder e universalidade que O faz ser o Salvador e Redentor do mundo. Como um poeta lindamente expressou: “A rosa não produz toda a sua fragrância até que suas pétalas sejam esmagadas. A verdadeira simpatia só é emanada de um coração compadecido”.
Foi a incapacidade de compreender o significado interno dos eventos da vida de Cristo Jesus que fez com que houvesse as provocações feitas por muitos que O seguiram enquanto ele carregava Sua cruz para o Calvário: “Ele salvou os outros, mas não pode salvar a si mesmo”[17]. Mas foi a missão de Cristo mostrar ao ser humano o caminho e ensiná-lo como seguir Seus passos. “Aquele que quiser me seguir”[18], Ele disse aos seus Discípulos, “negue-se a si mesmo, pegue sua cruz e me siga”[19].
E assim, como o supremo Guia do Caminho era para Ele carregar a cruz até as encostas do Gólgota para sua própria crucificação. Foi também no padrão divino que Ele viveu a traição no plano físico, que ilustra, na vida do ser humano, como a natureza inferior está sempre traindo a superior, ou o Cristo Interno, até que chegue o tempo em que a natureza inferior seja transmutada, e finalmente, destrua a si mesmo, assim como Judas, o traidor, o fez.
Um estudo, do que se pode denominar o conteúdo interno do Evangelho, traz a luz os sucessivos passos que devem ser percorridos no caminho que leva a Iniciação. Os passos totalizam 12. Eles são estabelecidos nos principais eventos registrados da vida de Cristo Jesus. Eles têm início na Imaculada Concepção, Ressurreição e Ascensão. A vida de Cristo, como está delineada nos Evangelhos, corresponde ao padrão cósmico para todos os processos que abrangem a evolução espiritual.
O primeiro passo no caminho está descrito no Evangelho de S. Mateus e S. Lucas. Os passos mais avançados são registrados por S. Marcos e S. João. Conforme previamente observado, S. Marcos inicia seus escritos com a vida de Jesus, com o Batismo feito por S. João, o Precursor. S. João, o mais avançado de todos os Discípulos do Mestre, inicia seu registro com a descrição do milagre em Canaã.
Se todas as Escolas de Mistérios que ensinam o caminho da Iniciação fossem abolidas da Terra, seus trabalhos secretos seriam passíveis de serem descobertos na Bíblia. Pelo reconhecimento de tal fato é que as principais ferramentas da Loja Maçônica são: a Bíblia, o Esquadro e o Compasso. Dentro de seu simbolismo, a Fraternidade Maçônica preserva os elementos essenciais para os processos iniciatórios e como estes são delineados de muitos pontos de vista do livro supremo da vida, as Escrituras Cristãs.
Em suas interpretações iniciatórias, os quatro Evangelhos são transmissores das quatro correntes de energia que se manifestam no plano físico em elementos conhecidos como fogo, água, ar e terra. Esta verdade foi bem compreendida e ensinada pelos Cristãos dos: primeiro e segundo séculos.
Citamos de uma fonte não identificada: “Na Palestina, S. Mateus O proclamou como Aquele que colocou a pedra final no Reino de Deus, da qual foram lançadas as bases em Israel”. Em Roma, S. Marcos O apresentou como um Conquistador que fundou Seu direito divino como o Rei do Mundo sobre Seus poderes miraculosos. Na Grécia, S. Lucas O descreveu como um Divino Filantropo encarregado de levar a cabo a obra da divina graça e compaixão pelos piores pecadores. Na Ásia Menor, S. João O retratou como a Palavra tornada carne – a Luz e Vida Eterna que desceu até o mundo temporal:
Cristo, o Messias de Israel…………………………………………. Mateus
Cristo, o Poderoso Senhor da Natureza………………………. S. Marcos
Cristo, o Amigo e Pastor de toda a Humanidade…………. S. Lucas
Cristo, a Vida e Luz do Mundo…………………………………. S. João
Do que foi descrito acima, se torna aparente que as diferenças nos quatro Evangelhos, que, para algumas pessoas, comprovam as inconsistências, são variações de apresentações de diferentes estados de desenvolvimento na vida do Aspirante. Assim, um Evangelho amplia os outros em seus recitais da vida e missão de Cristo. Nisto, eles provêm evidência irrefutável da sabedoria insondável que é incorporada nesta e em todas as partes das Sagradas Escrituras.
Os 12 principais eventos da vida de Cristo Jesus e suas correspondências na vida do Aspirante são as seguintes:
1. Anunciação | 7. Tentação |
2. Imaculada Concepção | 8. Transfiguração |
3. Nascimento | 9. Getsemani |
4. Viagem para o Egito | 10. Crucificação |
5. Ensinando no Templo | 11. Ressurreição |
6. Batismo | 12. Ascensão |
Em S. Lucas 1:26-27 lemos: “E, no sexto mês, foi o Anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria”.
Entre os primeiros Iniciados Cristãos, não era a pessoa de Maria que era adorada, glorificada e exaltada; o objeto de veneração era a emanação feminina do Cristo Cósmico que é inata, potencialmente divina dentro de cada ser humano e a realização pelo qual é o supremo trabalho da Iniciação.
O princípio feminino é criador na natureza, deste modo, a Anunciação Angélica era que a Virgem ou Mãe Santa daria à luz a um menino. Em sua aplicação universal, a Anunciação deve ser compreendida como o nascimento do Cristo místico no coração do ser humano regenerado.
Em S. Lucas 1:38-39 “Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o Anjo ausentou-se dela. E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá”.
Dentro da vida de cada neófito de sucesso, o processo da Anunciação é promulgado. Ele se torna consciente, depois de certo período de preparação, de mudanças particulares que ocorrem dentro de si como um resultado da incorporação de Éteres Superiores em sua natureza, como consequência de uma vida devotada ao propósito do serviço espiritual.
A Imaculada Concepção pode ocorrer somente após um Aspirante a vida superior ter se dedicado a viver em obediência a lei espiritual e ao espírito do Cristo Interno. O intervalo entre a Anunciação e a Imaculada Concepção é um período de provas, quando o neófito precisa ser preparado, no que tange ao uso de seus poderes espirituais despertados. As provas consistem em averiguar se ele utilizará seus poderes para benefício próprio ou se os devotará para promover o bem dos outros. Neste estágio, muitos vacilam e nunca passam além do primeiro estágio, a Anunciação. Um exemplo de alguém que foi forte o bastante para alcançar o segundo passo, a Imaculada Concepção, foi Maria, a mãe de Jesus. Após o sucesso, ela proclamou em êxtase: “A Minh’alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador. Pois Ele me contemplou na humildade da sua serva. Pois desde agora e para sempre me considerarão bem-aventurada” (Lc 1:46-55).
Foi por meio da exaltação do princípio feminino que Maria se tornou a noiva do Espírito Santo. Uma sublime experiência similar espera cada um e a todos que decidem seguir os passos que conduzem até a Imaculada Concepção, passos percorridos por aqueles que já caminharam adiante e nos abriu o caminho.
Os passos ou níveis de Iniciação são similares, em seu delineamento, em todas as Escolas de Mistérios. Suas diferenças referem-se principalmente ao método de desenvolvimento que podem variar de acordo com os requisitos particulares e estágios evolucionários das raças que essas Escolas são designadas a servir. Foi por isso que os grandes Mestres do mundo nasceram de mães virgens e suas vindas foram proclamadas pela Anunciação Angelical. Eles, também, foram concebidos de modo imaculado e os nascimentos ocorreram em grutas, cavernas ou estábulos. O exaltado Ego de um Mestre do mundo é cuidadosamente preparado pelos Seres Divinos responsáveis pela evolução da Humanidade. Deles é um santo Nascimento e, como tal, é sempre um acontecimento acompanhado por alegres hosanas de Anjos e Arcanjos.
Para incutir os passos de realização na consciência da Humanidade, o nascimento é representado como ocorrendo em um lugar escuro, ou onde animais ferozes são alimentados, simbolizando um nascimento espiritual desde os elementos mais baixos e não regenerados da natureza mortal da Humanidade.
Simbolicamente, o neófito deve deixar Nazaré, o lugar onde o tempo é utilizado para a vida pessoal, e entrar no caminho que conduz a Belém, “Casa do pão”, em preparação para o Nascimento Sagrado. No presente estado de consciência em massa, a Mente está tão ocupada com preocupações materiais que o espírito não pode nunca encontrar uma completa hospitalidade. A cabeça, ou o interno, está tão cheio de materialismo que o espírito deve procurar acomodação em vários lugares, até encontrar.
Por várias e amplas razões muitos ainda não percebem que o tempo de nascimento de Jesus é uma estação de grande regozijo tanto nos planos internos como no externo. A encarnação física de Jesus foi feita com o propósito de auxiliar, no ser humano, o nascimento de seu próprio Cristo Interno, assim, deste modo, ele também poderá vir a conhecer, pessoalmente, a sublime experiência da Noite Santa. Este é o trabalho da Nova Dispensação Cristã. Os portais desta Nova Era foram abertos na noite do nascimento do Mestre Jesus. A Terra, então, respondeu a um novo ritmo que era estabelecido pelos Anjos que proclamaram: “Paz na terra e boa vontade entre os homens”[20].
Mt 2:13-16.
“Após sua partida, eis que o Anjo do Senhor se manifestou em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”. Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito. (…). Então Herodes, percebendo que fora enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou matar, em Belém e em todo seu território, todos os meninos de dois anos para baixo”.
Os Evangelhos, como previamente mencionado, são fórmulas de Iniciação de vários degraus que abarcam variações em seus registros. Assim, por exemplo, S. Lucas não faz menção da fuga para o Egito, um evento que simboliza a ascensão temporária do ser humano sobre a divina natureza. A Fuga para o Egito representa a terra da escuridão e materialismo, reflete na vida do neófito lutando, em seus primeiros passos, no desenvolvimento para a Iniciação, como relatado por S. Mateus. O Evangelho de S. Lucas, que expressa uma fase mais alta de realização, passa diretamente dos Rituais do Templo da preparação até os quatro passos conhecidos como Os Ensinamentos do Templo.
Lc 2:40-42; 46-49:
E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele. Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, segundo o costume, subiram para a festa. Terminados os dias, eles voltaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. Pensando que ele estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. (…) Três dias depois, eles o encontraram no Templo, sentado em meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os; e todos os que o ouviam ficavam extasiados com sua inteligência e com suas respostas. Ao vê-lo, ficaram surpresos, e sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos”. Ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?”.
Num ponto de vista pessoal ao episódio do Templo, Jesus representa o espírito interno desperto e iluminado, e os Rabinos, a Mente intelectualizada ou a faculdade mental desprovida que não consegue penetrar em qualquer coisa além do reino dos cinco sentidos. Maria, a mãe, tipifica o feminino ou forma-imagem da qualidade da alma, a quem o espírito acha necessário, às vezes, admoestar: “Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?”.
A idade de doze anos é um tempo importante na vida de uma criança. É o tempo que inicia a puberdade e, também, em Egos avançados, o nascimento do Corpo de Desejos, o despertar da Alma. A luz espiritual que foi gerada no curso das vidas passadas irradia da cabeça da criança no nascimento como os artistas místicos retratam esse fato, não apenas em Jesus, mas também em S. João Batista, o menino Samuel e outros personagens bíblicos de alta realização espiritual.
O Ensinamento no Templo marcou um estágio definido do despertar dos poderes do menino Jesus. Nós lemos: “Maria conservava todas essas coisas em seu coração”. Ela relatou estes acontecimentos a S. Lucas que registrou os mesmos com excepcional maestria em seu Evangelho.
Mc 1:10-11:
“E, logo ao subir da água, ele viu os céus rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer até Ele, e uma voz dos céus: ‘Tu és o meu Filho amado, em Ti me comprazo.’”.
Todos os ritos místicos Iniciáticos incluem o cerimonial de purificação com água. O festival dos Mistérios Eleusinos da Grécia[21], incluíam banhos; o Tabernáculo do Deserto possuía um Lavabo de Bronze; e na vida do grande Condutor da Humanidade da Religião Cristã, Cristo Jesus, é o seu Batismo que marca o próximo grande passo que devemos alcançar se seguirmos seu caminho.
O uso e aplicação da água é símbolo da purificação espiritual. O Batismo marca o estágio e que o coração do neófito já despertou para as necessidades de interesses dos outros. Ele não pode mais viver sozinho ou com propósitos egoístas. Seu coração se transborda de simpatia e suas mãos de ações práticas para aliviar o sofrimento e para confortar aqueles que estão em desespero e sofrimento. Quando uma pessoa experimentou o despertar espiritual que vem com o verdadeiro Batismo, seus interesses e atividade não podem mais ficar limitados a sua própria família ou limitado círculo, mas deve encontrar uma expansão que estende para uma área cada vez mais ampla, até que abarque o mundo e toda a Humanidade. Amor e compaixão, então, se manifestam em atitude de redenção. Há sofrimento por aqueles que violam a lei, civil e moral, pelos criminosos condenados à morte, pelas misérias da vida em suas profundas depressões e pela crueldade infligida aos nossos irmãos menores do reino animal. Com o fluxo espiritual no momento do verdadeiro Batismo, a realização se manifesta na consciência que a família humana é única dentro da Divindade toda-abrangente que nos anima e, consequentemente, o bem de alguém é o bem para todos e a dor de um é a dor de todos. Uma sensação profunda de responsabilidade é, então, aceita, abarcando todas as maneiras possíveis que concorda com amor, verdade e justiça.
“Apresente seus corpos para um sacrifício vivo, sendo aceitável perante Deus” exorta aquele que é admitido e passa pelo ritual do Batismo. Sobre sua cabeça pousa a pomba do poder espiritual e aonde ele vai, se dissipam as nuvens da escuridão e da ignorância, de tal maneira que ele também escuta a voz de Deus dizendo: “Tu és meu filho amado”.
Lendas místicas dizem que, no momento do Batismo, grandes esferas de fogo apareceram sobre as águas do Rio Jordão. Isto estabelece o significado interno de que as faculdades poderosas, a Mente e o Coração foram unificados na vida de Jesus, o protótipo espiritual ideal da Humanidade. Esta mescla é o ideal supremo da evolução humana e sua culminação ocorreu no maior Iniciado dessa Terra, em que ocorreu a declaração: “Este é meu filho amado, em quem Eu me comprazo”.
O Ego conhecido como Jesus deixou seu corpo no Batismo e o Arcanjo, o Cristo, desceu como uma pomba para habitar aquele corpo durante três anos de Seu Ministério terreno. O Corpo de Jesus foi o meio pelo qual Cristo pode ingressar na Terra. O Plano de redenção foi possível devido àquela união. Como S. Paulo escreveu, em um senso muito literal: “Há um só Deus, e um só entre Deus e os homens, um homem Cristo Jesus” (1Tm 2:5).
Em Mt 4:1-11 lemos:
“Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo diabo. Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome. Então, aproximando-se o tentador, disse-lhe: ‘Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães’. Mas Jesus respondeu: ‘Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’. Então o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: ‘Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra.’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus’. Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo com o seu esplendor e disse-lhe: ‘Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares’. Aí Jesus lhe disse: ‘Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto.’. Com isso, o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a servi-lo.”.
De todas as lições que Cristo passou no drama de Sua vida, nenhuma é mais importante do que a Tentação. Igualmente, nenhuma outra experiência é tão mal compreendida como essa experiência. Em verdade, Ele foi submetido aos testes do corpo, da Mente e da alma, para que pudesse deixar à raça humana um exemplo divino de inspiração incessante, d’Aquele Único Ser que foi tentado em todas as coisas e, mesmo assim, permaneceu sem pecado, conforme S. Paulo afirma.
A reação que o neófito tem frente à Tentação mostra claramente o nível que está no Caminho, mas esta não é a única razão das provas do Caminho. As provas são importantes porque elas permitem o desenvolvimento moral, a força mental e espiritual, assim como o exercício físico e o labor desenvolvem a saúde e a força do Corpo Denso. Cristo Jesus deu-se a Si mesmo para ser nosso Exemplo, a fim de que nós pudéssemos saber a maneira exata de sofrer a Tentação, ou provas, ou qualquer tipo de ocasião de teste no Caminho.
Assim como Cristo Jesus foi tentado depois de Seu Batismo, experiência essa que constituiu uma Iniciação, igualmente o neófito será tentado, ou testado, depois de cada iluminação ou elevação no Caminho. Esses testes vêm para ele com o propósito de lhe mostrar suas próprias fraquezas. Falhas em qualquer um destes testes não significam que ele deve retornar aos caminhos do mundo, mas significa que ele deve se esforçar ainda mais, para superar suas debilidades e defeitos e, deste modo, quando for “tentado” novamente, ou testado, ele poderá permanecer firme.
Todas as tentações, ou testes, pertencem a três categorias gerais: do corpo, da alma e da Mente. A Iniciação simbolizada no Batismo de Cristo Jesus confere, sobre o neófito, novos poderes da alma e da Mente, que vem da realização que toda a vida é una em Deus, e que ele não deve, jamais, usar tais poderes egoisticamente, não importa o tamanho da necessidade, mas somente para beneficiar seu próximo.
É agora que a ambição pessoal, de repente, floresce e de modo bastante inesperado, o neófito acredita que ele superou todos os desejos do mundo. Ele renunciou conscientemente tais desejos insignificantes e sem real valor, e sabe que tornou possível, para ele, satisfazer todos os desejos e assim ele deve depurar seus sentimentos e emoções para ter certeza de que apenas o amor de Deus e para com a Humanidade motivarão suas ações. Isto não é sempre fácil de determinar, porque muitas ambições pessoais são inocentes em si mesmas e são consideradas maléficas em relação à orientação espiritual do neófito no Caminho. Autorrespeito, por exemplo, é mantido, mas não pode ser confundido com vaidade ou egoísmo. O corpo é conscientemente cuidado, porque ele é o templo de seu deus interior, mas a saúde física e o bem-estar não são o objetivo da vida; o corpo é visto como um instrumento do espírito. A alma é encorajada a apreciar as artes, os ofícios e a contemplar as belezas da Natureza, mas tudo isto é visto em relação a Deus como sua verdadeira fonte e origem e, se entende o gênio criativo como um aspecto em si mesmo do Poder Criador da Suprema Unidade em quem o ser humano vive, se move e tem o seu ser. O intelecto deve ser treinado e seu poder cultivado, por meio da educação e da razão, mas a aquisição do conhecimento pode ser um falso deus, a menos que isto esteja relacionado com toda a vida; e quanto mais poderoso for o intelecto, mais será a necessidade de humildade para que a Mente não fique fechada a novos aspectos da verdade e da consciência. Para o intelecto, a regra é sempre a seguinte: “Que a Mente seja em você o que também foi em Cristo Jesus, que fez de Si mesmo, nenhuma reputação… e se tornou servidor de todos, até a morte”.
Essas são sutis tentações que o Discípulo iluminado encontra pelo Caminho e Cristo Jesus mostra como elas devem ser enfrentadas. Ele renunciou-se completamente e entregou sua vontade ao serviço dos outros, mas com total conhecimento de Sua Divindade instaurada sempre alerta.
Cada fase sucessiva do desenvolvimento espiritual carrega uma prova especial e específica, de acordo com o temperamento e grau de espiritualidade do indivíduo; ainda, porém, por mais variados que possam ser estes testes, o exemplo de Cristo mostra o caminho da vitória. A espiritualização da Mente, por meio da completa dedicação a verdade e ao Espírito, constitui a armadura inexpugnável do neófito que não lhe protege apenas por um dia, mas a todo tempo, pelas pequenas, insidiosas tentações da vida comum, que são as mais perigosas na medida em que são dificilmente reconhecíveis como tal. Daí a advertência de um dos mestres da sabedoria: “Orar sem cessar”.
Mc: 9:2-8:
“Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de uma alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as poderia alvejar. E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus. Então Pedro, tomando a palavra, diz a Jesus: ‘Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos, pois, três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’. Pois não sabia o que dizer, porque estavam atemorizados. E uma nuvem desce, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: ‘Este é o meu Filho amando: ouvi-O’. E de repente, olhando ao redor, não viram mais ninguém: Jesus estava sozinho com eles.”.
Foi a partir da Transfiguração que o trabalho de Cristo Jesus e toda a sua vida na Terra realmente começaram. Tendo experimentado as provas da tentação que, para Ele, elas não foram meramente pessoais, mas experiências cósmicas, o Corpo Denso pelo qual Ele apareceu como um homem entre os homens foi completamente transmutado em espírito. Este corpo não foi Seu próprio corpo, mas um corpo dado para Ele utilizar pelo Mestre Jesus, o mais puro e mais perfeito corpo humano já produzido pela raça humana. Séculos se passaram em sua preparação, por meio de hereditariedade controlada e cuidadosa, entre as mais belas e mais fortes famílias que viveram naquelas épocas, famílias de príncipes da Casa de Davi, de quem o herdeiro do trono foi sempre chamado de Messias.
Na repentina revelação Crística, pela Glória Arcangélica que estava, então, dentro do corpo do Mestre Jesus, os Discípulos souberam que estavam na presença de um Poder Cósmico. Anteriormente, outros Iniciados também contemplaram da mesma Glória, mas longe do Sol, ou em ocasiões raras como a presença Arcangélica no templo ou em locais sagrados da Terra, tais como o Campo de Ardath na Babilônia ou no Monte Sinai e outros.
Certos Iniciados que viviam em outros lugares do mundo estavam, também, conscientes da Presença no Monte da Transfiguração na Galileia. Mas estes três Discípulos, Pedro, Tiago e João, viram diretamente a Glória juntos a eles, ajoelharam-se e foram envolvidos por ela, imediatamente. Foi à mesma Glória Solar, conhecida por todos os Iniciados de todas as Escolas de Mistérios, tanto no Oriente como no Ocidente, mas agora brilhou como uma Luz sobre a Terra em si, não uma Luz do astro solar sozinho. Nos últimos séculos, os Iniciados contemplariam, novamente, esta Glória no Sol e experimentariam Sua Imagem projetada na Terra, onde seu “Raio” concentrou e inflamou.
Foi o Cristo Cósmico, localizado no meio da Glória Solar, que ensinou a Seus Discípulos os mistérios mais profundos da nova fé na nova Era, a Era de Peixes, que eles iriam, então, transmitir ao grupo de Discípulos mais próximos do futuro.
De todos os Quatro Evangelhos, o Evangelho de S. Mateus fornece a mais detalhada noção deste sublime evento. Para se entender o que é ali revelado, nós devemos compreender que Cristo vem de um lugar que nós chamamos de o Mundo do Espírito de Vida, que é outro nome dado para o Reino da Consciência Universal ou Consciência Crística. Este mundo é o Seu lar. No monte da Transfiguração, Ele apareceu para seus três mais avançados Discípulos, trajando uma vestimenta de gloriosa luz que pertence àquele alto plano celeste; os três estavam ali com Ele, em consciência, embora para a visão física, eles todos estavam em pé sobre o plano terrestre, no que diz respeito ao corpo.
S. João, mais tarde, descreve este brilho transcendente da seguinte maneira: “Nós contemplamos a Sua Glória, a Glória como a do Unigênito do Pai”[22].
Neste mundo universal, as figuras cósmicas são encontradas como pertencentes ao nosso Esquema de Evolução, um completo e imperecível registro de tudo o que foi experimentado pelo ser humano e os estelares que pertencem a esse Esquema de Evolução, desde o alvorecer da criação; pois este é o mais elevado dos mundos que possui o Livro da Memória de Deus e no qual os Anjos podem ler. Os Discípulos foram levados, conscientemente, a este plano superior. Quando nós olhamos para o passo correspondente do Caminho, na vida do neófito, descobrimos que a transfiguração marca um alto grau ou uma grande realização. A essência da vida conservada e transmutada dentro do corpo, verdadeiramente, ilumina com radiação espiritual, que é uma luz na escuridão, significando sabedoria no meio da ignorância. Ele compreende de uma maneira nova e diferente as palavras do maior dos três Discípulos, que compartilharam o Mistério da Transfiguração com o Cristo: “Se andarmos na Luz como Ele na Luz está, seremos fraternais uns com os outros”(IJo 1:7).
Sobre o Monte da Glória, a benção ouvida no Batismo, no início dos três anos de ministério, é ouvida novamente: “Este é meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mt 3:17 e 17:5); mas esta benção marca uma nova e mais elevada fase do Trabalho do Cristo. No Batismo, quando a Voz falou sobre o Jordão, as palavras foram para a multidão. Aqui, sobre o Monte da Transfiguração, a Voz fala para os três mais avançados Discípulos, aqueles que estavam prontos para a visão cósmica e para o serviço cósmico. Desta Transfiguração, o Cristo foi para o Getsemani e para a consumação de Seu trabalho na Terra.
Após a transfiguração, que marca a culminação de um padrão cósmico de desenvolvimento, restavam, agora, os passos que levam à Liberação.
Em S. Marcos 14:26-28; 32-34 lemos:
“Depois de terem cantado o hino, saíram para o monte das Oliveiras. Jesus disse-lhe: “Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão. Mas, depois que Eu ressurgir, Eu vos precederei na Galileia”.
“E foram a um lugar cujo nome é Getsemani. E Ele disse a seus discípulos: ‘Sentai-vos aqui enquanto vou orar’. E, levando consigo Pedro, Tiago e João, começou a apavorar-se e a angustiar-se. E disse-lhes: ‘A minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai.’”.
A palavra Getsemani é formada por duas palavras em Hebraico: GATH “espremer” e, também, “amargura”, e SHEMEN, “óleo” (compreensão e sabedoria). A Sabedoria é sempre carregada de dor, até que o Discípulo tenha desenvolvido uma elevada consciência em que dor não tem poder sobre ele, nem para feri-lo, nem para instruí-lo. O “corpo diamante” do adepto é impenetrável à dor e ao sofrimento e é, também, indestrutível. Cristo Jesus já habitava esse corpo quando Ele foi para o Getsemani e para o Caminho da Cruz, com o propósito de mostrar à Humanidade o Caminho da Sabedoria.
Este é um dos verdadeiros e profundos mistérios da vida, onde a origem da aflição e do sofrimento não é compreendida, enquanto o ser humano somente anseia pela felicidade e tranquilidade, sem se esforçar.
O místico ainda sabe que o Jardim da Aflição e da Crucificação deve sempre preceder a jubilosa hora do amanhecer da Ressurreição e a branca glória do dia da Ascensão.
Na medida em que o espírito se desapega, sua intimidade divina que é imagem e semelhança de Deus que, por sua vez, é amor, o Getsemani deixa de ser um local pessoal de aflição e se converte em um local de pesar para as dores do mundo, como foi para o Cristo. Suas plantas são regadas com suas lágrimas de sofrimento da Humanidade, e para angústias das multidões de criaturas indefesas que vivem e que não podem falar a voz da Humanidade. Assim, conforme uma pessoa avança no Caminho da alta realização espiritual, ela se torna cada vez mais sensível às dores de todas as coisas vivas existentes. Ela sente cada espasmo de dor como se fosse seu, e os armazena em seu coração.
A lição suprema Getsemani é aprender a ficar sozinho e dizer: “Não se faça a minha vontade, mas a Tua”. Muitas vezes temos de seguir Jesus Cristo em tal Monte sozinho e beber deste cálice, até que a lição tenha sido aprendida.
Devemos jogar fora o conteúdo do cálice que é impuro, pois é por meio da dor acumulada da compaixão, que bem perto desfalece o coração, e, deste modo finalmente podemos morrer para o eu pessoal e viver, daí por diante, com o único fim de dar-nos a nós mesmos, sem reservas, para a cura e serviço no mundo. Quando, por uma espécie de alquimia divina, isto for realizado, a paixão transformada em compaixão, a consciência despertada para a compreensão divina trará consigo o poder de aliviar os cansados e curar os enfermos.
Não é mais possível culpar os outros pelos nossos sofrimentos, julgar duramente, criticar ou odiar. O Discípulo pede um único privilégio: o sacrifício de si próprio sobre o altar da Humanidade; sem esperar favores, agradecimentos e compreensão, tanto daqueles que estão mais próximos e como dos mais queridos.
Ele deseja apenas viver para servir. Este é um ideal extremamente elevado, mas é o único que devemos aceitar como uma meta em nossa vida, antes de estarmos preparados para a última libertação do Getsemani.
Em S. Lucas capítulo 23, versículo 24 lemos:
“Então Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam”.
Na Crucificação estamos de frente com um dos mistérios santos que deve permanecer selado ao profano. Na preparação para este rito sagrado, Cristo Jesus foi espancado e açoitado. Suas vestes foram rasgadas e retiradas de seu corpo e UM CERTO MANTO FOI COLOCADO SOBRE ELE. Uma coroa de espinhos foi colocada sobre Sua cabeça e foi pressionada sobre Suas têmporas tão forte que o sangue fluiu dali.
Do evento de flagelação e coração com espinhos até o carregamento da cruz e a crucificação no Gólgota, Cristo Jesus nos mostra o mistério da estigmatização. As mesmas feridas que Ele sofreu aparecem sobre o corpo do místico devoto que medita, profundamente, sobre o Caminho do Calvário e ele sente fisicamente estas feridas que foram produzidas psicologicamente. A maior parte da dor é sentida pelas feridas da cabeça, que são sentidas como se uma coroa de espinhos fosse pressionada sobre o crânio. Tal dor resulta do despertar dos nervos cranianos; estes são os mais sensíveis nervos do corpo. É o fogo ascendente espiritual que produz tais efeitos de dor, que são particularmente notadas nas mãos, nos pés e no lado, correspondendo às cinco sagradas feridas do corpo de Nosso Senhor.
Nas escolas de Mistérios, tais feridas são também sentidas, no entanto, elas permanecem invisíveis, pois o Iniciado caminha pela Via Dolorosa secretamente, embora, de fato, totalmente visível, mas não visto pela multidão cega.
Em Mateus 27:27-29 lemos:
“Em seguida, os soldados do governador, levando Jesus para o Pretório, reuniram contra ele toda a coorte. Despiram-no e puseram-Lhe uma capa escarlate. Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em Sua cabeça e um caniço na mão direita. E, ajoelhando-se diante dele, diziam-Lhe, caçoando: ‘Salve, rei dos judeus!’.”.
O manto escarlate é a insígnia da realeza, mas para o místico isso simboliza exatamente as palavras do Cristo de que aquele que quiser ser o maior entre todos os homens deve ser o servo de todos. A verdadeira realeza é aquela que se sacrifica pelo nosso próximo. Escarlate é a cor do sangue da vida derramado em sacrifício, não um sangue sacrificado em morte, mas um sacrifício vivo. Ele segura a cana com Sua mão direita, o que é representativo de um cetro de um Rei, significando o poder do Iniciado que caminha de modo justo, ou o caminho positivo e justo do poder sobre o mal. No Evangelho de S. Marcos, Jesus é golpeado na cabeça com uma cana, indicativo da fase de desenvolvimento em que a “vara do poder” golpeia o cérebro com sua força ardente.
Apenas os Evangelhos de S. Mateus e S. Marcos mencionam a cana e a coroa de espinhos. Ambos representam as primeiras manifestações dos poderes do Cristo despertados, a Força ardente do Espírito de Vida, que, primeiro flagela o corpo e converte-o em um templo de divindade interior. O processo culmina na crucificação simbólica do Iniciado, onde a Força ardente do Cristo, tendo transmutado o aparente corpo “morto”, o levanta para a Vida eterna.
O Cristo sublime, o supremo Indicador do Caminho, enquanto Ele está na cruz, é o perfeito símbolo, de modo geral e em particular, do Caminho da verdade e de realização espiritual para toda a Humanidade – o caminho do progresso para toda a raça humana.
Em S. João capítulo 20, versículos de 1 a 2 lemos:
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro, e vê que a pedra fora retirada do sepulcro. Corre então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo, que Jesus amava, e lhes diz: ‘Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram’.”.
Em S. João capítulo 20, versículos de 11 a 14 lemos:
“Maria estava junto ao sepulcro, de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para o interior do sepulcro e viu dois anjos, vestidos de branco, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira e outro aos pés. Disseram-lhe então: ‘Mulher, por que choras?’. Ela lhes diz: ‘Levaram o meu Senhor e não sei onde O colocaram!’. Dizendo isso, voltou-se e viu Jesus de pé. Mas não sabia que era Jesus.”.
O Corpo de Cristo ficou na tumba por toda a sexta-feira, durante todo o sábado e uma parte do domingo. Deste modo, delinearam-se os “três dias místicos” da grande fórmula iniciadora, segundo o qual, o Discípulo é anunciado como renascido, ou ressuscitado para uma nova vida, ou vida superior, o grau mais elevado de consciência e poder espiritual.
Este sublime capítulo do Evangelho de S. João pode ser mais bem denominado como a exaltação do feminino que aponta para o futuro, quando o grande trabalho estará completamente realizado.
Saulo de Tarso e Maria Madalena podem ser considerados como exemplos idênticos no que se refere ao poder de transmutação que reside na consciência Crística. S. João, entre os Discípulos, representa o poder feminino completo e desabrochado, misticamente indicado na gentileza e beleza de seu semblante. Tais poderes fizeram-no o Discípulo mais espiritualizado de todos, como o Discípulo mais amado do Mestre e, foi natural o fato de ele ter sido o primeiro a compreender e aceitar a verdade sobre a Ressurreição.
Toda a Humanidade espera por este evento, a Ressurreição, que é a culminação da evolução na Terra. Para o neófito, a Ressurreição para os reinos elevados significa o poder de funcionar, conscientemente, fora do Corpo Denso, sem a presença da morte física. Todo Aspirante vitorioso, em que se produz a Ressurreição, ouve a proclamação do Anjo do Senhor (Lei Espiritual): “Ele não está aqui, pois ressuscitou” (Mt 28:6) (Mc 16:6) (Lc 24:6).
Tal como S. Paulo disse, verdadeiramente: “Tu és o herdeiro e todos somos Seus co-herdeiros” (Rm 8:17). Mas a mais abençoada de todas as suas promessas é essa: “Não apenas essas coisas, mas coisas ainda maiores do que estas vocês poderão fazer.” (Jo 14:12).
“Todo o poder é dado para Mim no Céu e na Terra”(Mt 28:18), foram as palavras da saudação de Cristo aos seus Discípulos quando Ele estava no cenáculo superior sagrado, após a Ressurreição. Isto significa que por meio do Seu sacrifício no Calvário, Ele agora tinha se tornado o verdadeiro Senhor e Espírito Planetário da Terra.
O Cristianismo Esotérico ensina que o Gólgota não foi o fim. Na verdade, foi o início do sacrifício redentor anual de Cristo para todo o nosso Planeta.
Durante o intervalo sagrado que constitui os “quarenta dias” místicos entre a Ressurreição e a Ascensão, Cristo se ocupou de muitas obras relacionadas não somente com a raça humana, mas com todas as ondas de vida que vivem na Terra. Este trabalho incluiu as várias raças e Espíritos-Grupo que são os guias das várias ondas de vida em evolução. Para cada um, Ele deu um novo ímpeto de altruísmo e unidade, e Ele também acelerou o tom vibratório de cada um, que vibra no padrão cósmico ou arquétipo. Na realidade, com Sua vinda, toda a Terra canta uma nova canção.
“Vão para a Galileia e Eu encontrarei vocês lá”(Mt 28:16). Cada aparição aos Discípulos sustenta um significado profundo e uma promessa de maiores poderes espirituais.
“E, levantando as suas mãos, os abençoou, e quando Ele os abençoou, Ele estava à frente deles e foi levado para o céu”(At 1:10).
Na “ressurreição dos mortos”, a cerimônia mística ensina que a morte não existe, e pela “Ascensão” ensina-se que a vida eterna é a herança do Iniciado. “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Irei preparar um lugar para vocês” (Jo 14:2).
No Grau da Ascensão, o Cristo abriu o caminho, deste modo, qualquer pessoa pode ascender com Ele e compartilhar a elevada comunhão dos reinos espirituais.
Não é o Cristianismo apenas que ensina o caminho da Iniciação. A fórmula da Iniciação foi incorporada em todas as grandes Religiões do mundo, nos principais eventos das vidas dos Grandes Mestres e Salvadores onde esse ensinamento é o acontecimento principal.
Conforme a nova Era de Aquário se aproxima mensageiros dos reinos da Luz vem para estabelecer uma comunhão íntima entre o Cristo, os Discípulos e todos aqueles na Terra que aspiram seguir o ritual místico com seus doze passos ou graus, tal como se há indicado acima.
No mundo da alma, o verdadeiro Discípulo ainda experimenta, hoje, o sofrimento e a crucificação de toda a raça humana, e o Cristo, também, continua sofrendo a crucificação permanente. Ele está, todavia, conosco até o fim dos tempos, como Ele disse, e a Libertação que ele oferece para nós é a Consumação da Cruz. As Litanias da Crucificação são cantos de Iniciação que tratam sobre a fórmula Iniciática, como é descrita nos Evangelhos. A nota chave desta realização é:“Que o Cristo se forme em ti”.
A análise esotérica dos Evangelhos mostra que os acontecimentos marcantes da vida de Cristo são em número de doze e se enumeram assim:
1 – Anunciação | 7 – Tentação |
2 – Imaculada Concepção 3 – Nascimento | 8 – Transfiguração 9 – Getsemani |
4 – Fuga para o Egito 5 – Ensinamentos no Templo | 10 – Crucificação 11 – Ressurreição |
6 – Batismo | 12 – Ascensão |
Estes doze passos sustentam uma conotação astrológica interessante, por isso que se diz, verdadeiramente, que a primeira Bíblia do ser humano foi o Zodíaco, em que ele aprendeu a ler as verdades espirituais. Lá ele decifrou os sinais enigmáticos de que revela a vida dos Deuses Salvadores e, por ela, o Iniciado Cristão lê a história da vida do Cristo.
A roda zodiacal dos céus é feita por doze constelações de Signos, onde os Astros (o Sol, a Lua e os Planetas) viajam ao redor do céu, conforme podem ser vistas, tendo a Terra como referência. Antigos astrônomos descobriram que tais Signos celestiais pareciam ter influência sobre questões terrenas, e assim, se originou a ciência da Astrologia. Observou-se que as influências dos Astros eram mais fortes em alguns Signos do que outros. O Signo em que o Astro expressava seus maiores potenciais é que o REGIA e é considerado seu lar, onde o Astro revela sua pureza de influência, sem qualquer mescla com outras qualidades de diferentes naturezas. Do mesmo modo, um Astro é, igualmente, forte no SIGNO DE SUA EXALTAÇÃO, embora de um modo diferente do que a regência. As qualidades de Exaltação de um Astro somente alcançam plenitude por meio da Iniciação, que liberta, dentro da Alma, o correspondente aspecto das forças astrais.
É interessante notar que a EXALTAÇÃO e a RESSURREIÇÃO foram utilizadas pelos primeiros Padres da Igreja em termos intercambiáveis, que compreendia a relação entre o desenvolvimento espiritual do ser humano e as estrelas no céu, acima dele. Eles sabiam que na Consciência de Cristo, a Humanidade aprenderia a cooperar, inteligentemente, com os Poderes Cósmicos, cujas ações do destino do ser humano eram reveladas no horóscopo.
Quando astrólogos falam de Astros e Signos que os regem, eles se atêm, principalmente, a assuntos físicos e materiais. O esoterista, que estuda o lado oculto da ciência das estrelas, fala sobre a Exaltação dos aspectos de um Astro considerando a sua natureza espiritual, conforme os seguintes assuntos:
Anunciação; a Imaculada Concepção | A Lua Exaltada em Touro | A Lua governa o princípio formativo ou feminino e a Hierarquia dos Anjos que tem a seu encargo a geração. |
O Nascimento | Marte Exaltado em Capricórnio | Transmutação do desejo, que desperta a vida de Cristo dentro da pessoa. |
Fuga para o Egito | Saturno Exaltado em Libra | Saturno é o tentador ou provador. Libra a balança ou portão do julgamento. |
Ensinando no Templo | Mercúrio Exaltado em Virgem | Mercúrio rege Virgem. Esotericamente, o Templo é o Corpo; Virgem é castidade e pureza da Mente e da Alma. Mercúrio Exaltado em Virgem é a Sabedoria obtida por meio da pureza de Mente, do Corpo e da Alma. |
Batismo | Júpiter Exaltado em Câncer | Câncer é a porta do nascimento e os portões do céu. As senhas para entrar são: amor, unidade e fraternidade. O Batismo pela água é símbolo do Batismo pelo Espírito. |
Tentação; Transfiguração | Urano Exaltado em Escorpião | O poder de geração quando exaltado leva a regeneração. Esta é a mais poderosa das exaltações presentes no desenvolvimento do ser humano. |
Getsemani; Crucifixão | Vênus Exaltado em Peixes | Amor na casa do sofrimento. O amor pessoal se eleva a exaltação do amor impessoal, abarcando toda a vida. Cada Ego conhece o Jardim do Gólgota da vida amorosa. É por meio do sofrimento que a paixão é exaltada em compaixão e o amor por um, pelo amor por todos. |
Ressurreição | O Sol Exaltado em Áries | Elevando o fogo espiritual da coluna espinhal (a força da vida cósmica) para cabeça, ajuda a construir o corpo celestial, no qual o ser humano é ressuscitado da tumba da carne. |
Ascensão | Netuno Exaltado em Câncer | A divindade chamada de Cristo Interno eleva o ser humano aos altos reinos suprafísicos, onde o espírito pode entrar em muitas moradas preparadas por ele pelo Cristo Cósmico. |
Nada foi dito, até o momento, sobre a recente descoberta do Planeta Plutão que rodeia o Sol, mas com órbita além da órbita de Netuno e que muitas vezes se cruzam. Os astrônomos supõem que esse Planeta mais externo pode eventualmente ter sido uma lua de Netuno e que poderia retornar de volta para este Planeta um dia. Hoje, porém, como um Planeta independente, deve ser considerado como uma potência no horóscopo, mas a sua verdadeira natureza é ainda indeterminada. Alguns astrólogos acham que é da natureza de Marte, constituindo uma “oitava” daquele Planeta, enquanto outros veem nele a “oitava” da Terra. A “oitava” de um Planeta é considerada como sendo seu “alter-ego” ou “Eu Superior” que é uma maior reflexão de si mesmo. Como oitava da Terra, Plutão teria influência especial sobre as condições que afetam a profundidade da nossa evolução planetária, ou seja, a parte esotérica do nosso desenvolvimento.
Plutão se move de modo tão lento em torno do Sol que permanece na mesma posição por um longo período de tempo; com isso ele forma os mesmos aspectos em milhares de temas astrológicos. Estes aspectos se “colocam em marcha” pelas forças transitórias, com os Planetas rápidos, as lunações, os eclipses, os asteroides e os cometas, precipitando, assim, grandes movimentos de massas e alterações revolucionárias. Igual situação é verdadeira com respeito aos outros Planetas em seus relacionamentos com Plutão.
Os astrólogos Iniciados devem, eventualmente, resolver todos esses problemas. Haverá uma Nova Astrologia na Nova Era que lidará com configurações cósmicas, não apenas para os Planetas de um sistema, mas com a inter-relação dos muitos sistemas solares e seus Planetas e até mesmo considerando influências daquelas galáxias.
“Cristo Jesus escolheu os doze antes de ter vindo ao mundo. Ele escolheu doze poderes e os recebeu dos doze Salvadores do Tesouro da Luz. Quando Ele desceu ao mundo, os lançou como chispas no ventre de suas mães, de tal modo que o mundo inteiro pudesse ser salvo”.
Pitis Sophia
Os doze Discípulos representam os doze principais atributos a serem desenvolvidos no ser humano, alcançado pelo despertar do poder do Cristo Interno. Isto ocorre pelos muitos estágios exemplificados nos eventos das vidas dos Doze Discípulos, conforme relatado no Novo Testamento. Tais eventos não são compreendidos como meras lembranças da vida pessoal de cada Discípulo. Em verdade, tudo o que está escrito revela fórmulas sobre como trilhar o Caminho da Realização. A Bíblia é de significado universal. Os registros biográficos são secundários. Seu significado primário está nas entrelinhas e refere-se ao caminho de desenvolvimento espiritual de todo ser humano.
Isso não quer dizer que a história dos Discípulos também não tenha significado histórico. As doze “Chispas” que encarnaram nos doze Apóstolos referem-se aos poderes cósmicos emanados do Zodíaco. Também mostram as doze grandes Religiões do mundo e seus Mestres fundadores, que são Salvadores. Assim, de acordo com os Evangelhos e a correlação material dos documentos esotéricos, tais como os de Pitis Sophia, Cristo enviou a Terra doze Salvadores ou Fundadores das doze Religiões mundiais, que O cercava, assim como os doze Signos rodeiam o Sol. Os estudiosos da Bíblia geralmente não conseguem enxergar a verdade esotérica na mensagem de Pitis Sophia, que revela todos os grandes Salvadores do mundo como precursores de Cristo. Eles vieram a Terra antes d’Ele, com o objetivo de preparar o Caminho. Deste modo, o Mestre de Nazaré encarnou e eles também renasceram para serem Seus auxiliares e emissários imediatos para o Mundo. A vida dos Apóstolos, então, não só possui um significado para os Cristãos, mas para todas as demais Religiões do mundo.
Em Mateus 19:28 lemos:
“Disse-lhe Jesus: ‘Em verdade vos digo que, quando as coisas forem renovadas, e o Filho do Homem se assentar no seu trono de glória, também vós, que me seguistes, vos sentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.’”.
Este versículo mostra a realização final do caminho do discipulado, quando, pela regeneração ou Iniciação é mostrada a vida de Cristo. Aqui, a natureza carnal é deixada de lado, tendo sido transmutada em poderes do Espírito. Isso ocorre quando o velho dá lugar ao novo, o natural dá lugar ao sobrenatural. Para os primeiros Discípulos, essa realização ocorre no dia de Pentecostes. Nele, aprendemos o significado essencial de todos os eventos da vida do Aspirante que poderia, de outro modo, permanecer obscura, visto que Pentecoste é a sua meta, hoje, como era nos tempos de Cristo.
Os Zelotes eram uma seita da Galileia, patriota por natureza, que numa intensidade terrível, odiava tudo que era romano. Reuniam-se com a sombria determinação de libertar sua amada terra da tirania Romana, sendo o fogo e a espada o meio que acreditavam em poder alcançar tal propósito. Simão era um zelote. Ele tinha disposição intensa e dedicava seu corpo e alma para realizar as tarefas dos Zelotes. Ele se tornou um dos guias da seita. Como a maior parte dos patriotas e bandos revolucionários, tal seita se degenerou na multidão e atraiu para si, ladrões e foras da lei, que agiam nem sempre por patriotismo. Mesmo assim, os Zelotes mantinham o comum objetivo de libertar sua nação dos romanos.
Então, chegou até Simão a influência do gentil Nazareno. A partir daí tudo mudou. Ao encontrar Cristo Jesus, Simão, que havia alimentado amarguras animalescas e ódio racial, não mais alimentou tais sentimentos e captou os mais nobres impulsos que despertaram em seu ser. Ele agora incorporou em seu coração a lei do Novo Regime: amor aos inimigos, resistir ao mal e sobrepujar o mal com o bem.
Tal é a lei que governará a Nova Era e sua palavra-chave é o Amor. Este é o nível em que seu Amor é aplicado aos problemas cotidianos que irão determinar a adequação do Discípulo para entrar na fase Aquariana da Dispensação de Cristo que está sendo introduzida agora.
O Mestre, como todos os grandes professores espirituais, ensina a necessidade de transmutar o mal em bem, e dá instruções de como realizar tal façanha. Agindo sob sua instrução, cada Escola de Mistérios, celebra um ritual à meia noite em que o miasma do mal do globo é aglomerado e transmutado em bondade. Isso não é figurativo, mas algo que ocorre literalmente. O trabalho é feito todas as noites, a meia noite, em todos os lugares, por todo o globo, através das vinte e quatro horas do dia. É um trabalho contínuo, incessante, como é sugerido no mosaico característico do piso do Templo Maçônico.
O Discípulo Simão, o grandioso Zelote, presenciou a obra da renovação realizada por Cristo e seu círculo de Iniciados e, desta maneira, mudou de ressentido patriota para amoroso e terno Discípulo, desejoso de receber e suportar o ridículo, a mortificação e a perseguição de seus antigos amigos e associados com o único fim de poder dar sua vida a seus amigos semelhantes.
Judas é o símbolo da limitação e da incompletude que age como um incentivador negativo ao progresso. “A Natureza aborrece o Vazio” (Nature abhors a vacuum) e cada alma humana, quando se torna sensitiva ao seu vazio espiritual, procura por preenchê-la por si mesmo. Todas as coisas trabalham juntas para o bem, S. Paulo diz: “O maior pecador pode se tornar o mais santo”.
Judas representa a natureza inferior no ser humano, que trai, a todo tempo, o elevado Cristo Interno. Essa traição causa grande dor e paixão, e deve sempre ocorrer no Jardim da Agonia (Getsemani). No caminho do progresso espiritual, é necessário ser um preâmbulo a Crucificação que traz a liberação, a liberdade e a realização. Isto pode ser realizado apenas pelo mau ou pela limitação (Judas), destruindo a si mesmo, para que a divina natureza possa se revelar. Matias, um homem santo, é escolhido para substituí-lo.
A lenda diz que a mãe de Judas foi avisada em sonho que ele se tornaria o filho da perdição. Ela então, o colocou em uma cesta e o lançou o ao mar. Ali o bebê foi encontrado por um rei, que o adotou e o criou como seu filho; mas Judas matou seu irmão (filho do rei) e foi compelido a fugir. Ele se tornou um pajem para Pôncio Pilatos e depois tratou de seguir o Cristo.
Judas representa a aquisição de posses, o amor ao poder que cresce da possessão das coisas materiais. Ele era o Discípulo que cuidava do dinheiro – da bolsa. Intenso, apaixonado, seus olhos se enchiam com estranhas luzes e seus cabelos eram como uma chama vermelha. Foi acusado na infância de ter sido possuído pelo demônio. Ele é também ligado, em alguns sentidos, a Maria Madalena, em termos de amor sensual, os dois representam o caminho da transmutação, pelo qual a natureza mortal e baixa é deixada de lado em favor da nova e Cristificada vida.
Um poeta canta sobre a juventude de S. João, o Discípulo amado, que “ao se tornar adulto, foi como uma bela e rápida tempestade”. “Filhos do Trovão” foi como o Mestre chamou João e seu irmão Tiago. Foi a extraordinária intensidade interna que levou Tiago a se tornar o primeiro a entregar sua vida e, também, deu a João, o lugar do Discípulo mais amado de Cristo. Isso significa que seu avanço espiritual foi tamanho que lhe permitiu ser aquele que mais se aproximou do Espírito de Cristo. Desde cedo, os olhos de águia de João visualizaram o resplendor dos Anjos e seu coração ouvia seus gloriosos cantos. Nas sombras de suas asas, as chamas brancas do amor nasceram dentro dele e este amor se transformou em poder. Mais tarde este poder foi vertido em seu Livro, o que é o maior tesouro da memória do Ministério de Cristo na Terra. Por meio do seu amor, foi capaz de ver a glória daquelas mansões que o Mestre preparou para aqueles que O ama, e fazem de si merecedores de lá habitar. Foi no espírito do seu amor, que era como o dos Anjos, que ele foi capaz de tocar a palavra-chave que soou a liminar “Amai uns os outros, assim como Eu vos amei”, e na Sua promessa, “E, quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”.
Foi em Éfeso que S. João se preparou para o grande trabalho de cura e de ensinar, após sua separação dos Discípulos. Lá ele viveu e ensinou multidões ansiosas pelo significado do AMOR COMO UM PODER. Os Anjos cantam hosanas quando, pela primeira vez, ele se encontrou com o Senhor, e essas hosanas foram proclamadas quando seu radiante espírito deixou a Terra para reunir nos mundos celestiais com seu bem-amado Mestre. A fragrância emanada de suas palavras de despedida, ditas para seus Discípulos, ainda permanece como a respiração das raras e exóticas flores: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros”.
S. Tiago, irmão de S. João, foi o primeiro dos Discípulos. Estava entre os primeiros a seguir o Mestre e foi que sofreu o martírio.
Em Mateus 4:21-22 lemos: “Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou. Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram.”.
A rede do pescador, na simbologia esotérica, se refere à sabedoria extraída das experiências do cotidiano. O pescador é aquele que se despertou espiritualmente para o significado e propósito da existência física. O Novo Testamento contém muitas referências do trabalho dos Discípulos com redes. Por vezes, estas são quebradas e novamente, são emendadas. Elas representam à substância extraída que é o Corpo-Alma, o etérico Corpo da Nova Era que é necessário para todo ser humano.
S. Tiago representa a suprema qualidade da esperança que “nasce eternamente no peito do ser humano”. Foi pelo poder da esperança que S. Tiago foi capaz de deixar seu pai, apesar dos protestos do mesmo, dizendo: “Eu devo ir, pois Jesus chegou”.
Banhado nesta luz branca da esperança que vem do Altar mais elevado da Alma, S. Tiago foi capaz de passar calmamente pela amarga experiência de perseguição e martírio.
Antes do poder de Herodes o ter alcançado, para “matar Tiago pela espada”, os Discípulos plantaram na Terra a semente da nova fé Cristã. Lendas Místicas declaram que após o martírio de S. Tiago, os Discípulos colocaram seu corpo em um barco que foi impulsionado por Anjos até alcançar à costa da Espanha, e ali, uma enorme pedra se abriu, por si mesma, para recebê-lo – uma referência das verdades da Iniciação e da nova pedra branca que ele ensinou. Nesta lenda, temos outra faceta do Mistério do Graal, em que o castelo, construído por homens e Anjos, permaneceu em algum lugar e por muito tempo nas montanhas da Espanha, antes que fosse agraciado pelos altares de Glastonbury no tempo do Rei Arthur e seus cavaleiros; mas alguns dizem que esse castelo ficou primeiro na Grã-Bretanha.
Judas significa louvor. Este Discípulo, deste modo, representa uma das mais importantes qualidades que deve ser desenvolvida por aquele que está buscando a luz interior. Toda a verdadeira instrução espiritual enfatiza a necessidade de cultivar o espírito de louvor. A lei do louvor é a lei do crescimento; assim, aquilo que louvamos, multiplicamos. Quanto mais uma pessoa se espiritualiza, mais ela se torna capaz de praticar o louvor em seu dia a dia. Isso é exemplificado pelo Livro dos Salmos. Conforme o Salmista se tornava mais afinado com a música das esferas, mais ardente se tornava seus cantos de louvores, até que sua própria vida ressoava com um olhar: “Bendize ao Senhor, ó minha alma, e tudo que em mim bendiga Seu Santo Nome!” (Salmo 102 (103)).
Assim, louvar é aquilo que associamos com Judas, o primo de Jesus e filho de Maria que era a irmã da Virgem e sua colaboradora no culto Misterioso dos Essênios, a Comunidade dos Eleitos.
Tomé representa a dúvida e o ceticismo que necessariamente nasce durante o treinamento intelectual. Dúvida e ceticismo são dois dos maiores impedimentos enfrentados pelo moderno Aspirante, na aquisição direta do conhecimento. As palavras do Mestre para Tomé: “não sejas incrédulo, mas crê”, ainda estão ecoando através dos Éteres. Não podemos esperar progressos longos no Caminho, enquanto o estágio de Tomé de desenvolvimento não passe.
Tomé estava no limiar da compreensão, como por exemplo, quando testemunhou a ressurreição de Lázaro, mas na ocasião em que o Mestre foi preso em Getsemani, ele foi dominado pela dúvida e conflito, e no momento da Crucificação, ele fugiu. Na sua Mente tortuosa, ele carregou a memória do corpo quebrado e do lado ferido, mas em seu coração, ele reteve como uma música escondida, as cadências divinas: “Pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem”.
No final da triste semana da Paixão do Mestre, ele retornou a Jerusalém, onde os Éteres já eram vibrantes com os ritmos dos hinos Iniciáticos alegres da Ressurreição: “Eu sou a Ressurreição e a Vida”. Aqui, sua dedicação foi completa. Com as palavras, “Meu senhor e meu Deus”[23] um novo Tomé surgiu ao mundo, e seu coração incendiou e seus lábios se tocaram com aquela Luz que nasceu da sintonia do amor que é eterno.
Na Índia, existe uma seita numerosa, com milhares de membros que se intitulam: “Os Cristãos S. Tomé”, testemunhando os dias em que grandes trabalhos e milagres foram realizados pelo iluminado santo Discípulo que fundou esta Ordem.
A história da vida de S. Mateus revela que era um publicano pecador, e por meio do encontro com Cristo, se tornou um dos maiores e gloriosos Santos e Apóstolos que escreveu o Evangelho que carrega seu nome. Mateus, o cobrador de impostos, simboliza aquisição e posse. Essa qualidade manifestava-se primeiramente no plano físico, mas em sua equivalência transmutada, passou a manifestar uma virtude correspondente na alquimia da iluminação espiritual. Por meio de tristeza e sofrimento, a qualidade de aquisição e posse foi elevada de um nível para outro, até se tornar o poder pelo qual ele era um coletor, pela experiência, de sabedoria, em essência.
Em sua luxuosa vila, ao lado das águas azuis do lago da Galileia, S. Mateus celebrou sua renúncia da vida antiga e sua dedicação para a nova vida, servindo um grande banquete. Este banquete foi frequentado por muitos publicanos e pecadores, amigos e companheiros da vida antiga e, também, agraciada e abençoada pela presença do gracioso Senhor. Por isso, o banquete constitui um verdadeiro evento espiritual em que os atributos da vida antiga não regenerada foram elevados e transformados pela presença e poder de Cristo.
A transformação de S. Mateus ocorreu pela experiência gloriosa de participar do Sermão da Montanha do Senhor. Desde então, seus olhos foram elevados com um mistério especial e de seus lábios ecoaram a nova palavra do Espírito de Vida. Em contraste com sua luxuosa vida que viveu, antes de encontrar o Mestre, S. Mateus se tornou uma pessoa absolutamente sóbria e ascética que, de seus lábios e corpo, gradualmente iniciou a emanar uma luz transcendente que eram como uma irradiação divina do Mestre. Sua grande obra foi concentrada amplamente na Etiópia, onde trabalhou por aproximadamente 23 anos. S. Mateus significa o grande propósito e poder de transmutação da vida humana.
André é o Discípulo que representa a humildade e a auto abnegação. Foi o primeiro a ser escolhido e mesmo assim, jamais se tornou um dos mais íntimos do círculo espiritual dos Apóstolos. Contentou-se sempre em brilhar a Glória refletida de seu irmão mais novo, S. Pedro. Sonhos e anseios pelas coisas do espírito o elevaram, cedo, a ser um dos seguidores de S. João Batista. Deste modo, ele se preparou para um serviço mais elevado e profundo que era servir ao Mestre Supremo. A Bíblia misticamente descreve sua preparação quando cita que ele estava lançando redes quando Cristo Jesus chegou.
André foi um dos escolhidos por um Grande Iniciador para servir no milagre dos peixes e pães. O propósito deste milagre era ensinar aos Discípulos como manifestar a substância física de um dado núcleo, bem como demonstrar a fraternidade de compartilhar. Após receber os grandiosos poderes conferidos aos Discípulos no Pentecostes, saíram pelo mundo para promoverem a Grande Obra. André cruzou os sete mares e as lendas místicas relatam que ele foi o primeiro a dar, para a Escócia, a nova e bendita Palavra de Vida. A cruz de Santo André é um “X”, desenhado em vermelho fogo, é o símbolo do sangue sacrificado: no lugar onde se é torturado e martirizado, grandes árvores floridas surgem adornadas com flores oriundas do sangue derramado. Pela simbologia Maçônica e Cristã esotérica, podemos encontrar repetidamente o ensinamento que onde sangue de sacrifício foi derramado, uma recordação viva cresce em forma de uma árvore florida.
O caminho sangrento desenhado pelas pegadas impressionantes de Hiram Abiff, de acordo com os escritores maçônicos, descreve esse “X” da Cruz de Santo André, e a árvore de florescência sagrada em sua memória é a Acácia. A simbologia ilustra o processo de Iniciação.
S. Pedro, o hesitante, o vacilante, “’o homem-onda’ que mais tarde tornou-se o ‘homem-pedra’”, é um exemplo daquele que alcançou o domínio sobre as fraquezas pessoais e a indecisão. Sua história revela que teve mais falha e limitações do que qualquer outro Apóstolo. Ainda assim, finalmente conseguiu desenvolver os atributos espirituais transcendentais que cada verdadeiro Discípulo aspira.
S. Pedro, primeiramente, recebeu ensinamentos na escola esotérica de S. João Batista. Quando Cristo o encontrou, estava voltado, totalmente, em emendar redes. Ele tipifica a ação e serviço e, finalmente, o alcançar o lugar elevado onde ele simboliza a fé – fé como um poder, não apenas uma abstração. É sobre esse poder recém-descoberto da fé, que a Igreja da Nova Era, ou corpo do Iniciado, é construído.
Quando o amor, a fé e a esperança se tornam manifestadas como trabalhos realizados dentro da consciência do Aspirante moderno, então, eles, também se tornarão capazes de acompanhar Cristo nas Suas obras mais elevadas e maravilhosas, como Pedro, Tiago e João, os Discípulos que simbolizam essas qualidades. Nossas maiores falhas se tornarão nossos passos que nos guiará a um maior desenvolvimento, como ocorreu com Pedro. Ele não pode jamais esquecer sua negação a Cristo, e em sua própria crucificação ele pediu para que fosse crucificado de cabeça para baixo, como não merecedor de morrer do mesmo modo que seu Senhor.
A mais preciosa história de S. Pedro foi seu encontro com o Mestre naquela alvorada luminosa, após a Ressurreição, quando lhe foi permitido renovar e dedicar novamente sua vida, como uma resposta mais profunda ao Mestre que lhe perguntou: “Me amas?”[24]. Magnificamente, Pedro cumpriu o mandamento do Mestre de apascentar suas ovelhas. Reza a lenda sagrada que até mesmo sua sombra tinha o poder de curar; mas sabemos que não era sua sombra, mas as maravilhosas emanações anímicas de seu Amor a Cristo que curava. Estas emanações caíam sobre todo aquele que chegava perto dele.
A vida de S. Pedro se desenvolvia entre a luz e a sombra, isto é, a escuridão do conflito e erro, entre provas e debilidades, produzindo arranques intermitentes de glória até que finalmente ele se rendeu a morte em um radiante branco resplendor de fé que foi verdadeiramente divino.
Tudo que era fraco e humano, finalmente, foi erradicado em uma grande explosão de fogo espiritual que consumiu a carne. Sua vida ilustra, talvez como em nenhuma outra, a verdade da afirmação de um vidente moderno: “o único e verdadeiro fracasso é deixar de tentar”. Mais do que qualquer dos Discípulos, S. Pedro é o Apóstolo do esforço incessante. Devido suas muitas e variadas experiências, da sabedoria e da compreensão que elas produziram que S. Pedro é conhecido como o guardador das chaves do paraíso e do inferno. O estudante de ocultismo sabe que o real propósito da vida não é felicidade, mas adquirir experiência.
Dentre os doze, Natanael foi um sonhador e místico, “um israelita em que não há dolo” (Jo 1:47) foram as palavras que o Mestre utilizou para descrevê-lo. Era Natanael, filho de Tolomé, e por isso chamado Bar-Tolomé ou Bartolomeu, sendo seu nome Natanael Bar-Tolomé. Seu pai era um encarregado dos parreirais e foi em meio a sombras frescas e fragrâncias de sua casa, num morro, que Natanael sonhou seus sonhos, até que, para ele, o canto dos pássaros foi misturado com ao dos coros dos Anjos e os brilhos das estrelas, que, para ele, pareciam tochas de fogo apontando as escadas do céu. Assim, filosofando e vivendo seus sonhos que foram menos reais para ele do que o mundo precioso que o rodeava, este jovem Galaad[25] de espírito se preparou para a eterna busca. Filipe, seu amigo, sabedor da profunda ansiedade de Natanael para a vinda de um iluminado para iluminá-lo em sua busca, um dia o chamou com entusiasmo apaixonado e fervor ao anunciar que havia “encontrado o Messias” (Jo 1:45).
Natanael significa pureza. Ele havia conseguido dominar o eu inferior, em preparação para a chegada do Grande Mestre. Por toda a Bíblia, o figo simboliza a geração. “Enquanto estava debaixo da figueira, eu te vi” (Jo 1:48), disse o Mestre no primeiro momento da saudação; e previu: “verás as portas do céu e os Anjos do Senhor subindo e descendo” (Jo 1:51), referindo-se aos poderes da Iniciação que ele viria desenvolver. Pureza é o requisito supremo da Iniciação e nenhum verdadeiro poder espiritual pode ser alcançado sem ela. Natanael se tornou um dos curadores mais maravilhosos entre os Discípulos, e foi por esta razão que foi apedrejado até a morte pelos sacerdotes da antiga Religião, pois temiam o seu poder.
As forças de cura são forças de vida e pureza, tal como a de Natanael, que é o fruto da vida regenerada e que aumenta a força de cura mil vezes. Devido a ele ter alcançado este estado de pureza, os poderes pessoais são elevados pelas forças cósmicas que se alinham com as próprias potencialidades universais do Discípulo.
Filipe era o Discípulo de Betsaida, que em Hebreu, significa a casa das redes. Esotericamente, isso significa o despertar ou infundir-se com espiritualidade. A história de vida de Filipe contém o processo ou fórmula para espiritualização da Mente. Este é um longo e árduo processo de aceitação da divindade do Senhor. Muitas vezes, durante este processo de despertar espiritual, a Mente grita e protesta: “Mostra-nos o Pai e isso bastará”. Difícil é o ensinamento que nos faz compreender a resposta do Mestre: “Não crês que eu estou no Pai e o Pai em Mim?”.
Filipe era filho de um pai Hebreu e uma mãe Grega. Tornou-se o primeiro evangelista para o mundo Grego. Ele foi a mão que abriu a porta para o Cristianismo na Europa; e foi nomeado o Hermes de Cristo.
A maior influência em sua vida, com exceção do Mestre, foi a amizade de Natanael. Eles constituem um inseparável dois – o Davi e o Jônatas (1Sam 20:16) do Novo Testamento. Eram inseparáveis na vida e juntos, enfrentaram o martírio. Filipe trouxe Natanael para Cristo e Natanael viu a passagem do espírito luminoso de Filipe, em seu martírio, ao encontro do Mestre. Filipe viajou pela Terra, compartilhando a luz dos novos ensinamentos do Messias que ele tão ardentemente defendia, e por causa da multidão de seus seguidores e das muitas curas maravilhosas que realizava, ele foi crucificado em frente ao Templo. Fortalecido por uma visão do Cristo glorioso e pela presença terrena de seu amado Natanael, o espírito radiante de Filipe deixou seu corpo na Terra, voando a caminho ascendente da alegria daqueles que permaneceram fiéis até a morte.
S. Tiago e Judas eram filhos de Maria, uma irmã da virgem e Cléofas. Ambos passaram sua infância na mesma casa com Jesus, na comunidade essênica, mas a aceitação de Sua divindade e missão, só foi aceita por eles, sem reservas, depois da Ressurreição e Ascensão. S. Tiago recebeu de sua mãe a notícia da Ressurreição e declarou que ele não beberia ou comeria até que ele visse o Mestre ressuscitado. Logo o Salvador apareceu para ele e lhe disse: “traga a mesa, a comida e a bebida como evidência da nova vida”.
S. Tiago se tornou o mais devoto dos Discípulos e, até sua morte, foi líder da nova igreja em Jerusalém. Tão nobre e fino era seu caráter que era altamente estimado até por aqueles que não tinham reverência pelo novo Messias. Acredita-se que ele era o líder dos Essênios em Jerusalém, antes de ele se tornar chefe da nova igreja.
Inimigos da nova seita Cristã induziram o santo Tiago a aparecer no parapeito do Templo, perante a multidão reunida, durante a semana de Páscoa, sob a ideia de que deveria dizer algo sobre o Mestre que tanto amava. Conforme ele falava fervorosamente sobre Jesus como o Messias de Deus, a multidão iniciou seu apedrejamento; ele caiu terraço abaixo, onde morreu, sem qualquer malícia sobre seus perseguidores, do mesmo modo que seu Mestre havia morrido anteriormente. Assim, seu grande espírito passou para os reinos internos com as palavras daquela prece sublime sobre seus lábios: “Pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem”.
Foi tão amado este Mestre Essênio pelo povo, que a notícia de sua morte causou pânico e horror entre os seres humanos devotos de todas as partes. Disseram que Jerusalém tinha sofrido grande tristeza devido a este crime. Durante este tempo, ou logo após os exércitos romanos destruírem a cidade, tanto Judeus como Cristãos disseram que foi a morte do santo Tiago que trouxe a catástrofe como punição de Deus.
Três são os passos principais de instrução e disciplina, fornecidos tanto pelas Escolas Iniciáticas antigas como pelas modernas. Estes passos exigidos pelos candidatos e, entre os Cristãos primitivos, eram conhecidos como: Dedicação, Purificação e Iluminação; também por: Preparação, Purificação e Perfeição. Eles esboçam o trabalho da Provação, Discipulado e Iniciação, como são conhecidos entre as escolas atuais.
S. Paulo, um dos Cristãos primitivos mais ilustres, forneceu diversas informações sobre as experiências que marcam o progresso do Aspirante no Caminho da Santidade. Para S. Paulo, foi o Caminho de Damasco que o levou para a culminação da Glória da Iluminação. Foi corretamente mencionado que a Bíblia possui significados alegóricos em suas histórias e, portanto, o Caminho de Damasco significa o Caminho da Luz, porque o desabrochar Iniciático de S. Paulo ocorreu neste Caminho. Isso não significa que a história de S. Paulo constitui um mito ou algo que nunca ocorreu. É, de fato, uma história verdadeira e sua verdade é estampada em cada aspecto descrito, mas também pode ser observada como uma pintura que revela experiências de iluminação em que todo Aspirante alcançará.
Isto é uma verdade para todo ser humano. A vida do mais humilde, desde o nascimento até a morte, pode ser levada em toda a sua totalidade e sublimes mistérios podem ser derivados de suas numerosas experiências. Compreendemos o modo como isto pode ocorrer quando nos conscientizamos dos padrões de vida existentes nos céus e, que a vida na Terra, nada mais é que uma sombra que se funde no tempo e espaço, de acordo com tais padrões divinos. Imperfeita como a vida pode ser, não obstante, o padrão divino pode ainda ser inferido a partir dos contornos das sombras.
A Estrada de Damasco foi o começo do Caminho de Saulo, que se tornou Paulo. Se alguém for cético sobre os ensinamentos das Verdades da Iniciação e dos mistérios contidos na Bíblia, permita-o estudar cuidadosamente a respeito das Três Jornadas de S. Paulo, conforme descrito no Livro dos Atos e em suas Epístolas contidas no Novo Testamento. Então, este cético encontrará um significado novo e profundo nas palavras de S. Paulo: “Dá leite para as crianças e carne para os mais fortes”.
Foi dito, verdadeiramente, que “S. Paulo foi uma das maiores vozes que o mundo já ouviu. Por quarenta anos depois da Transfiguração, sua vida foi uma sublime e terrível aventura”.
Sua vida foi uma potente pintura caleidoscópica de eventos sensacionais. Vemo-lo como Saulo, resguardando as capas daqueles que apedrejaram Estevão; seu primeiro encontro com o Discípulo Pedro; nós observamos sua grande iluminação na Estrada de Damasco; depois, como Apóstolo Paulo, num dado momento foi apedrejado e escarnecido, num outro, foi adorado como um deus. Ouvimo-lo articulando com os Atenienses no Areópago, e, então, subir nas asas da inspiração, conforme ele canta seu cântico imortal, em que o amor prevalece sobre a fé e a esperança; um hino de êxtase que traduz as canções dos Anjos para nós e carregado com uma beleza e poder que lhe assegura um lugar nos corações dos seres humanos de todos os tempos que virão.
Mais tarde, encontramos S. Paulo no Sinédrio. Vemo-lo lançando a víbora ao fogo, e finalmente, sua nobre cabeça abaixo do carrasco, na penumbra púrpura dos grandes pinheiros de Roma. Assim, observamos S. Paulo, o intrépido, o corajoso, o vitorioso, cuja máxima de vida foi adotada centenas de anos mais tarde, por uma grande fraternidade oculta como um abre-te-sésamo para seu Templo, que continham as palavras: “Eu desejo nada além de Cristo Jesus e Ele crucificado”.
Cada quadro da vida de S. Paulo atinge uma nota chave específica e marca uma fase de desenvolvimento específico. Um progresso similar do avanço da alma, passo a passo, caracteriza o Aspirante que consegue atingir a exaltada estatura espiritual de S. Paulo. Saulo, o perseguidor de Estevão, tem pouca semelhança com S. Paulo, o autor da canção divinamente inspirada de amor, excetuando-se apenas no fervor de seu temperamento. Foi a mudança de caráter e consciência que levou a mudança do nome de Saulo para Paulo, este espírito ávido e árduo, onde, esotericamente, esses nomes são a expressão vibratória da ideia que elas representam.
Saulo de Tarso foi totalmente erradicado da consciência de S. Paulo que escreveu no final de sua Epístola a Timóteo, a epístola que descreve o objetivo superior para todos os Discípulos modernos, seus filhos em espírito: “Eu lutei a boa luta, eu mantive a fé, eu terminei a jornada”.
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S. Paulo colocou chaves místicas em cada uma de suas Epístolas, como uma ajuda aos seus Discípulos que entram no Caminho na busca pela compreensão profunda do mistério da vida. Quatorze dos vinte e sete Livros que compõem o Novo Testamento testificam o trabalho do grande evangelizador, e “cada letra de S. Paulo é uma pintura de S. Paulo” (Adolf Deissman). Quando organizado em ordem cronológica, as treze Epístolas de S. Paulo podem ser classificadas em quatro grupos:
A……. I e II Tessalonicenses
Escritas durante a Segunda Jornada 51 D.C.
B……. I e II Coríntios, Gálatas e Romanos
Escritas durante a Terceira Jornada 52 a 56 D.C.
C……. Filipenses, Éfeso, Colossenses e Filipenses
Escritas durante a prisão em Roma 59 a 61 D.C.
D……. Tito, I e II Timóteo
Escritas antes do Martírio
Saulo nasceu na cidade de Tarso, provincial de Cicília, durante os dias mais emocionantes do Império Romano. Ele era da tribo de Benjamin (Câncer) que sempre permaneceu fiel a Judeia (Leão). Aproximadamente no mesmo tempo em que Saulo nasceu, Anjos proclamavam o nascimento da Criança Santa em Belém. O mundo estava passando por um estado de transição na preparação para a Nova Dispensação, a chegada de Cristo Jesus. Saulo, o jovem, foi educado de acordo com a doutrina farisaica. Sua primeira visita a Jerusalém foi realizada quando tinha trinta anos, quando ele foi estudar com Gamaliel, o maior de todos os doutores da Lei. Observe essa idade e a compare com a de Jesus, que aos 12 anos ensinou no templo. Estes são os anos da adolescência, que em um plano superior de desenvolvimento, marcam o despertar da Alma Emocional. Leal a seita dos Fariseus, desdenhoso e desafiante aos ensinamentos do novo culto dos Nazarenos, estava indignado das presunçosas aclamações em nome de seu Mestre e determinado a exterminá-los a qualquer custo. Por herança e preceito, essa era a atitude instalada dentro de Saulo de Tarso; esta era a sua base que o levou a se tornar S. Paulo, o Cristão, cuja vida, após a conversão, foi dedicada ao propósito: “para que sejais plenificados com toda a plenitude de Deus”[26].
Nomeado pelo Sinédrio para perseguir os Judeus que se tornaram seguidores do Nazareno, Saulo viajou para Damasco para eliminar a heresia das comunidades dos Judeus que lá viviam. Ele quase completou sua jornada e estava próxima da cidade antiga, quando um evento ocorreu que o transformou em outro homem e colocou sua vida em um novo e perigoso curso.
Em Atos dos Apóstolos, 9:3-9, lemos:
“Estando ele em viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente uma luz vinda do céu o envolveu de claridade. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: ‘Saul, Saul, por que me persegues?’. Ele perguntou: ‘Quem és, Senhor?’. E a resposta: ‘Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo. Mas levanta-te, entra na cidade, e te dirão o que deves fazer’. Os homens que com ele viajavam detiveram-se, emudecidos de espanto, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. Saulo ergueu-se do chão. Mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Conduzindo-o, então, pela mão, fizeram-no entrar em Damasco. Esteve três dias sem ver, e nada comeu nem bebeu.”.
É de grande significado que este evento ocorreu no ambiente áurico da cidade de Damasco. Mesmo naquele tempo Damasco era uma das mais antigas vivas cidades do mundo, uma cidade que nunca conheceu a morte. Muitas cidades belas, poderosas e grandes floresceram na antiguidade, mas Damasco sobreviveu a todas.
No oriente de Damasco, na terra erma, havia comunidades místicas, onde os iniciados se comunicavam com Deus dentro do coração e com os anfitriões dos céus, governantes dos elementos e dos egrégios Anjos e Arcanjos. Seus hinos ecoam a música das esferas e se diz que um de seus cantos da luz da alvorada veio até nós pelos versos iniciais do Evangelho de S. João. Em Damasco, estas comunidades eram similares aos Essênios do Mar Morto da Palestina, e havia constante comunicação, em uma peregrinação de idas e vindas.
Na cidade de Damasco, havia uma comunidade de chefes de família, assim como sugere o Livro dos Atos dos Apóstolos, com condições similares as da Sagrada Família em Nazaré e, em suas casas, se veneravam os Sagrados Mistérios desde antes da preparação da vinda de Cristo. Para estes, S. Paulo foi encaminhado para que pudessem cuidar dele durante o período de três dias de cegueira externa, de onde sua alma interior foi despertada.
Damasco é uma cidade preciosa e mística que todo o Aspirante se aproxima quando está realizando um contato iluminado com o Cristo. Abrão, como Saulo, se dirigiu a esta cidade excepcional quando se preparou para a realização interna que alterou seu nome para Abraão, igualmente a Saulo, que se converteu em Paulo, depois deste derrame torrencial de poder espiritual;
Saulo, um nome Judeu famoso, e Paulo, um nome Latino com origem e forma grega, representa as duas naturezas do ser humano, denominados: a baixa (carnal) e alta (espiritual) naturezas. Saulo de Tarso, o intolerante, o vingativo, o perseguidor, surge de sua experiência como Paulo, o novo homem. Nele, o velho Adão morreu e o Cristo Interno nele nasceu. Sua ambição se tornou humildade; seu sectarismo dogmático se transformou em uma fraternidade e compaixão que abraça a todos. Seu intenso zelo pela família de Israel foi absorvido em amor pela Humanidade. Seu futuro brilhante foi trocado por uma carreira unificante de sofrimento e renúncia, enquanto honras e adulações foram alegremente trocadas por escárnio e prisão. Renunciou, voluntariamente, a tudo aquilo que o mundo lhe oferecia para que se tornasse o menor dentre os apóstolos de Cristo, e “deste modo, pudesse salvar alguns”.
De que maneira se realizou está completa transformação? Em seu trabalho sobre a vida de S. Paulo, Adolf Deissman ficou perto da verdade oculta quando disse que a Religião de S. Paulo é o “Cristianismo Místico” e que sua jornada para Damasco marcou o início de sua internalização de Cristo. Por três dias e três noites Paulo não enxergou a luz com seus olhos, não comeu e nem bebeu. Durante este intervalo místico, seus olhos se abriram e sua consciência focalizou nos planos internos espirituais. Sua luz, neste período, não foi provinda do Mundo Físico, mas dos reinos celestes superiores.
Foi essa grande e gloriosa visão que trouxe iluminação a S. Paulo e o fez ser dedicado de corpo e alma, sem reservas ou hesitação, para um trabalho voluntário e profundo. Foi este evento estupendo que ele se referiu quando disse: “Não me mostrei rebelde à visão celeste”[27].
Muitos tentam realizar o caminho que leva a mística cidade de Damasco, mas poucos conseguem, com êxito, cruzar seus portais. A luz dos céus é, primeiramente, a chama interna do espírito despertado; é a luz que nunca falha em atrair o Mestre que virá abrir o caminho para instruções e iluminação mais aprofundada.
A aquisição do conhecimento, em primeira mão, sobre a vida e as condições nos mundos suprafísicos, o contato com os Grandes Seres que guiam o destino da Humanidade, a partir dos reinos espirituais, e a obediência a suas instruções são os requisitos necessários para a verdadeira Iniciação Espiritual. Tal iluminação é possível hoje, mas uma posição espiritual mais elevada do indivíduo que a grande maioria da Humanidade comum é essencial e são poucos os que realmente conseguem preencher estes requisitos de uma dieta pura, pensamentos construtivos e harmoniosos e uma vida pura e casta. Estes são requisitos fundamentais e não podem ser ignorados ou sobre passados.
Durante o intervalo sublime de cegueira das condições do mundo exterior, Paulo foi esclarecido sobre a real missão esotérica de Cristo Jesus e sobre o início da Nova Dispensação Cristã. Após anos de escárnios e perseguições aos seguidores do gentil Nazareno, a resplandecente luz de iluminação clareou sua alma e teve o privilégio de vislumbrar acontecimentos que ocorreram ao longo dos séculos. Vislumbrou o novo céu e uma nova Terra, na qual o companheirismo e a fraternidade eram uma realidade; um tempo em que Isaias, outro Iniciado, havia declarado o que iria ocorrer, onde os seres humanos trocariam suas espadas por foices e suas lanças por arados[28]. Quando em palavras repetidas posteriormente por um profeta ulterior – “o conhecimento da lei espiritual (o Senhor), cobrirá toda a Terra como as águas cobrem o mar”[29].
Após sua experiência iniciática, na comunidade de Damasco, Paulo foi para o deserto da “Arábia”, como ele diz, onde permaneceu por três anos[30]. Por isso, compreendemos que ele foi para o, conhecido como, deserto da Peréia[31], a qual se refere, vagamente, em suas epistolas. Indubitavelmente ele fez peregrinação para a comunidade do Mar Morto e, também, para outros lugares.
Durante seu confinamento na Arábia, Paulo se comunicou, incessantemente, com o Cristo Ressuscitado e com os Grandes Seres que dirigem e governam a evolução da Humanidade em seu avanço em direção à libertação. Este foi o verdadeiro início de Paulo na Escola de Deus, a Escola do Universo, e de seus Mistérios divinos. Ele aprendeu a ler no grande Livro da Memória da Natureza descrito por Enoque, que está localizado no estrato etérico da aura da Terra, e, ainda mais maravilhoso, que também é encontrado em reinos mais superiores[32]. Ele viu tudo isso e compreendeu a admirável fórmula de Iniciação que foi difundida ao mundo na vida de Cristo Jesus, em Sua Morte, Sepultamento, Ressurreição e Ascensão. No mesmo maravilhoso Livro de Deus ele leu os futuros eventos que ocorreriam em sua própria vida aqui na Terra.
No Livro dos Atos 9:22, lemos:
“Saulo, porém, crescia mais e mais em poder e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.”.
Já, no mesmo Livro dos Atos 9:15-16, lemos:
“Mas o Senhor insistiu: ‘Vai, porque este homem é para mim um instrumento de escol para levar o meu nome diante das nações pagãs, dos reis, e dos filhos de Israel. Eu mesmo lhe mostrarei quanto lhe é preciso sofrer em favor do meu nome’.”.
A experiência de S. Paulo nos Mundos suprafísicos, nos três dias e noites em Damasco, deixou impressões, de vários modos, em cada uma das suas Epístolas, cartas que proclamam a imortalidade, cujas páginas brilham com o esplendor da vida eterna. Cada uma de suas Epístolas contém mensagens tanto internas como externas. Em cada uma delas colocou alimento leve para crianças e alimento sólido para os fortes.
O trabalho principal de S. Paulo está dividido em três fases de viagens. Sempre há três passos que conduzem para a culminação final da Grande Obra, que são delineados em qualquer Escola de Iniciação. Demonstramos que, antigamente, estes três passos eram denominados de: Preparação, Purificação e Perfeição; que correspondem a etapas modernas atuais que conhecemos como: Probacionismo, Discipulado e Iniciação. S. Paulo ocultou esses passos em sua descrição dos eventos ocorridos e dos trabalhos realizados durante as suas três jornadas.
A primeira jornada durou dois anos, a segunda três e a terceira quatro. Assim o total é de nove anos, número este que novamente refere-se a uma chave mística dos nove passos ou níveis maçônicos conhecidos como: Aprendizado, Companheirismo e Mestre. Na vida do Supremo Iniciador, tais passos estão representados pelo: Nascimento, Batismo e Transfiguração. Passadas estas experiências, sempre seguem as grandes obras ou ministérios. Todo neófito que percorre o Caminho encontra “provas” que o confrontam. Essas provas encontram correspondência histórica com a vida de S. Paulo, como: a prova ante Félix, a prova ante Festus e a prova ante Agripa. Esta foi a maneira como S. Paulo passou estes testes que lhe deu a autoridade para declarar: “Desde já está me reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo Juiz, naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a Sua Aparição”[33].
Foi durante o trabalho de sua segunda peregrinação que S. Paulo começou a escrever suas inigualáveis Epístolas; a primeira delas foi enviada a igreja de Tessália. O amor manifesto, pelo forte laço entre o mestre espiritual e seus pupilos, é expresso nas linhas: “Tanto bem vos queríamos que desejávamos dar-vos não somente o Evangelho de Deus, mas até a própria vida, de tanto amor que vos tínhamos”[34].
A Epístola dos Tessalonicenses contém a mensagem da Ressurreição para uma Nova Vida em todos os seus significados internos, a saber: a habilidade de funcionar conscientemente fora do Corpo Denso, fato este que ninguém descreveu com mais precisão do que este grande Iniciado Cristão.
Ele descreve de modo muito simples o Caminho da Iniciação:
Na Primeira Epístola aos Tessalonicenses 4:13 e 17 lemos:
“Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros que não têm esperança. (…) em seguida nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor, nos ares. E assim, estaremos para sempre com o Senhor.”.
Alguém que tenha adquirido a habilidade de funcionar nos reinos mais sutis ou reinos etéricos, sabe da verdadeira imortalidade do espírito, a continuidade da vida. A morte que ele encontra nada mais é do que uma transição de um plano de atividade para outro. Foi esta realização imortal que fez S. Paulo declarar: “Oh, morte, onde está sua vitória? Oh, morte, onde está seu aguilhão?” (ICor 15:55). Aquele que alcançou este estado de consciência, não mais deve dizer: “Eu acredito” ou “Eu penso”; ele proclama triunfante como S. Paulo: “Eu sei, pois eu vi”. Então vem a realização: “A morte não o há tocado; ainda que sua morada pereça”.
Esta realização trará a Humanidade uma das bênçãos supremas que lhe aguarda na Nova Era Etérica que está diante de nós.
Corinto, a cidade dos prazeres frívolos e de errantes, significa as sutis tentações dos sentidos. A vida alegre e dissoluta desta cidade se manifesta ao redor do belo Templo de Vênus. Ali, todos os tipos de prazeres, inocentes e maldosos, florescem. Não havia outra cidade onde mais se necessitava a manifestação da influência da Dispensação Cristã.
Em Atos dos Apóstolos 18:9-11 lemos:
“Uma noite, disse o Senhor a Paulo, em visão: ‘Não temas. Continua a falar e não te cales. Eu estou contigo, e ninguém porá a mão sobre ti para fazer-te mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade’. Assim, permaneceu ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.”
As Epístolas aos Coríntios são cheias de significados místicos e internos, compreendidos em todo o seu dignificado somente por aqueles que estão seguindo o mesmo caminho e determinados a seguir similar consecução.
A Primeira Epístola aos Coríntios ensina ao neófito a morrer diariamente na subjugação de seu corpo, ou natureza inferior; e que esta é sempre o primeiro e fundamental ensinamento dado por qualquer escola verdadeira de misticismo.
A Segunda Epístola aos Coríntios contém mensagens mais profundas, dadas apenas para aqueles que encontraram a transformação por meio do VIVER A VIDA.
Em IICor 5:17 lemos:
“Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova”.
Nos ensinamentos dados por Hermes Trismegisto[35] há instruções similares aos dados por S. Paulo, em ICor 15, em que ele fala de corpos incorruptíveis, de corpos naturais e corpos celestiais. Hermes diz com referência a esta transformação: “Posto que temos uma corrente de água e terra, a de fogo e de ar fluindo em nós, que renova nossos corpos e mantém nossas casas unidas”.
“Recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um”[36]. Aqui, S. Paulo está recontando, para aqueles que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir, o processo e o número de suas Iniciações. Quarenta menos um é igual a 39, que numericamente resulta: em 3 e 3 vezes 3 ou 9 – os passos das realizações que pertencem a terceira jornada ou graus de Mestre. Novamente ele está descrevendo a mesma realização de Maestria, quando diz em IICor 12:2-4:
“Conheço um homem em Cristo que, há quatorze anos, foi arrebatado ao terceiro céu — se em seu corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe! E sei que esse homem — se no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe! — foi arrebatado até o paraíso e ouviu palavras inefáveis, que não é lícito ao homem repetir.”.
Na Epístola aos Gálatas, talvez a mais profunda esotérica de todas as Epístolas, S. Paulo proclama que ele “não fala com carne e sangue”[37].
Em Gálatas 1:17 lemos: “Nem subi a Jerusalém aos que eram apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia, e voltei novamente a Damasco”.
Estes versículos se referem novamente aos ensinamentos sobre os planos internos do Templo de Mistérios e ao trabalho Daqueles Seres Iluminados que ministram lá. S. Paulo nos diz que estes ensinamentos que foram revelados para ele, podem ser dados apenas de modo privado para aqueles que possuem “reputação”, o que significa para aqueles qualificados para recebê-los. Isto é um sinal de ratificação dos ensinamentos do Mestre para não jogar pérolas aos porcos.
As Epístolas aos Gálatas encerram com as expressões mais místicas de S. Paulo em Gálatas 6:17: “Doravante ninguém mais me moleste. Pois trago em meu corpo as marcas de Jesus”. Estas palavras não se referem às marcas físicas de golpes, apedrejamentos e açoites, mas a certas marcas de luz que é discernida apenas pela visão espiritual. Aqueles que possuem estas marcas são os que estão Cristificados, os elegidos do Senhor que tomam seu lugar a sua mesa santa em comunhão com o Salvador.
A Epístola aos Romanos foi escrita perto do final da terceira jornada. A gloriosa confirmação do teste de S. Paulo pelos três grandes trabalhos ou jornadas, estava, pois, perto do fim. Permanecendo na luz branca do Mestrado, ele tocou a palavra-chave deste trabalho elevado com as Palavras: “ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.” (Rm 12:1).
Allen R. Brown, em seu livro intitulado “Paulo o semeador”, que é um estudo sobre o objetivo e significado da Epístola aos Romanos, apresenta uma interpretação muito próxima a fornecida por esse livro: a Interpretação da Bíblia da Nova Era, quando diz: “Paulo utiliza as palavras ‘em Cristo’ 150 vezes; estas palavras não se referem ao Jesus histórico, mas denotam uma relação contínua com o Cristo presente no coração; Paulo não está consumando o sofrimento de Cristo (Cl 1:24), mas leva em seu próprio corpo o sofrimento de Cristo”.
Todas as “Interpretações da Bíblia da Nova Era” lida com o despertar dos poderes Crísticos dentro do ser humano. “Até que Cristo se forme em vós”: esta declaração do Grande Iniciado Cristão contém a solução para todos os problemas do universo, quando completamente compreendidos e desenvolvidos, inaugurarão o Novo Céu e a Nova Terra. Quando S. Paulo iniciou sua última Jornada, para chegar a sua última prova e, assim, libertar seu glorioso e brilhante espírito na morte, ele estava completamente absorvido em atrair o interesse do Centurião (que, junto a um bando de soldados o acompanharam até o Portão de Ostain em Roma[38]) para o trabalho da Nova Dispensação Cristã. Até o último pensamento de sua Mente foi trazer os outros ao serviço do Cristo.
Chegando a seu destino, sob as grandes sombras dos pinheiros, ele pediu um tempo para meditação e oração. Eles que o assistiram assumir a forma de uma cruz e, com seus braços estendidos, direcionou em Hebreu algumas presenças invisíveis. Este Glorioso Ser, que deu Sua Benção a S. Paulo em sua primeira iluminação, estava presente para abençoá-lo e acelerar seu caminho assim que ele entregou seu corpo em Seu nome, em uma total dedicação e inabalável devoção até o final. Sempre foi fiel a suas próprias palavras: “Se vamos viver em Cristo, devemos abandonar a nós mesmos e morrer com Ele”.
Os portadores de tirso[39] são muitos, mas os verdadeiros místicos são poucos[40]. Reto é o caminho e a porta é estreita e poucos há que a encontram. Este é o caminho para a cidade mística de Damasco, com o seu tesouro espiritual. É apenas para aqueles que, como o Grande S. Paulo, aprenderam a “morrer em Cristo”.
O Batismo proclamava o início do ministério terrestre do Senhor Cristo e a Crucificação, o ponto alto da Sua missão sacrificial. Na Crucificação, Ele que veio como um mediador entre Deus e o ser humano, entre os Céus e a Terra, penetrou no coração do Planeta e tornou-se seu Espírito Planetário. Desde então, o Seu ministério continuou tanto dentro e como fora do nosso Corpo planetário.
O coração da Terra é o Seu centro planetário. A cada ano, o Seu Espírito penetra nele com intensidade e volume cada vez maiores, tornando, assim, mais fácil, a este impulso espiritual, entrar e encontrar uma morada no coração do ser humano. Esta foi a revelação maravilhosa que S. Paulo experimentou no caminho de Damasco, e que, mais tarde, foi incorporada na instrução dada aos seus Discípulos.
Aqueles que defendem que Cristo, como uma personalidade, nunca viveu e que a história de Sua vida é apenas uma representação simbólica do caminho Iniciático, perdem o ponto crucial do Cristianismo Esotérico ou Místico.
Mil anos com o Senhor são como um dia. No Segundo Dia da Criação, como registrado em Gênesis, e conhecido no ocultismo como o Período Solar, os Arcanjos estavam passando por uma fase de desenvolvimento que corresponde a nossa atual evolução humana. No entanto, os seus veículos ou corpos não eram como o nosso, mas eram formados de uma substância não menos densa do que a do desejo ou plano astral. (O próximo veículo mais denso, o Corpo Vital, não veio à existência até o próximo Dia da Criação, ou Período Lunar, nem o Corpo Denso até o dia seguinte, o nosso atual Período Terrestre). O Cristo era e é a própria cabeça da Onda de Vida Arcangélica, e foi naquele passado longínquo acima referido como o Período Solar que Ele dedicou a Si mesmo a servir e guiar a Terra, bem como toda a sua progênie no seu desenvolvimento evolutivo. Então, eras e eras se passaram antes que a nossa Terra estivesse pronta para recebê-Lo no seu centro.
Quando o Sol estava passando por precessão através de Áries, o Signo do Cordeiro, o Cristo veio como o Bom Pastor às ovelhas que tinham perdido o seu caminho.
Os preparativos para a Sua vinda começaram quando o Sol passou por precessão através de Libra, o Signo oposto Áries, aproximadamente a 10 mil anos antes. Seres humanos Iniciados foram enviados, como instrutores, para diferentes partes do mundo, cada um com uma mensagem semelhante, a fim de preparar um círculo interno de Discípulos para esse glorioso evento: a vinda da Luz encarnada do Sol que era para ser a Luz do Mundo.
Quando o Sol entra em Libra no Equinócio de Setembro a glória de Cristo toca a aura externa do Planeta Terra, e ocorre uma aceleração cósmica. Pouco a pouco, durante os meses de novembro e dezembro o Espírito de Cristo penetra no interior do Planeta, camada por camada, até atingir o coração da Terra, na época do Natal. O Raio do Cristo é dourado, quando é visto pela visão espiritual, como o Sol Espiritual de onde Ele emana, e é verdadeiramente esta luz que ilumina o Caminho da Santidade para o Discípulo que sincera e seriamente inicia a busca[41], no período do Equinócio de Setembro. Futuramente, em algum Solstício de Dezembro, ele receberá a Luz Divina, o renascer no coração da Terra, pois o Solstício de Dezembro é o tempo para a dedicação da alma ao Caminho de Cristo.
Antes que ele possa alcançar este objetivo, o Aspirante deve aprender a lição cósmica de Libra: “Então você entenderá o que é justo, direito e certo e aprenderá os caminhos do bem” (Pr 2:9). A lição ensinada por Libra no Equinócio de Setembro é: distinguir, ou seja, separar aquilo que é real daquilo que é ilusão.
Para o Discípulo que está no Caminho de Cristo, é dada uma das mais importantes lições, uma lição que é fundamental para todas as fases posteriores: descobre-se que ele próprio é um Deus em formação, feito à imagem e semelhança de seu Pai, em sua verdadeira e essencial individualidade; e ele procura ver a si mesmo, conhecer a si mesmo, como Deus o vê e conhece. A isso se chama: estabelecer contato com o Deus interior. Neste trabalho, a Hierarquia de Libra, os Senhores da Individualidade, está divinamente qualificada para ajudá-lo. Eles são mais que professores. Eles testam e experimentam a alma, e as provações do Discípulo neste momento têm o objetivo de desenvolver o seu poder de discernimento, um atributo dos mais importantes para Aspirante no Caminho do Discipulado, quando as tentações assumem a natureza da sutileza mais enganadora.
No Caminho da Santidade, o Discípulo utiliza o período de Escorpião para a transmutação, enquanto segue o dourado Raio do Cristo para o coração da Terra. Então, em cada fase da sua vida diária, ele se esforça para sublimar: o mal em bem, a escuridão em luz, os negativos em positivos. Ele consagra-se, a si mesmo, a tarefa de transmutar o metal básico de sua natureza inferior no ouro puro do espírito. O laboratório físico onde ele realiza essa “Grande Obra” é o sistema nervoso central, especialmente a medula espinhal e o cérebro, os quais são comumente conhecidos como o Caminho do Discipulado.
Quando o fogo do espírito é despertado no Discípulo pela primeira vez, ele é sentido na base da coluna vertebral. À medida que o fogo do espírito ascende, este se unirá com o correspondente que vem de cima para baixo; gradualmente ambos se intensificam em volume e força, até que todo o corpo se enche de luz. Assim, ele alcança uma iluminação que é visível para aqueles que possuem visão interna.
É então, quando, pela primeira vez, a sua natureza inferior é, literalmente, consumida pelo fogo celestial, e ele próprio se torna uma tocha, tornando-o capaz de caminhar em sua própria luz através do Caminho de Luz, traçado por Cristo, em direção ao interior da Terra, onde o esplendor de Cristo habita em plenitude. Quanto maior sua sinceridade, mais ardente será sua devoção, mais intensa a sua aplicação e mais ele penetra no Caminho, em cada Semana Santa que ocorre, até que, finalmente, ele será declarado digno de participar da Festa da Luz que se celebra na Noite Santa.
Biblicamente, bem como astrologicamente, Escorpião, o Signo que o Sol entra em torno de 20 de outubro, tem duas palavras chaves para o neófito: a primeira sendo “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”[42] e a segunda, para o Discípulo iluminado: “publicarei coisas que têm sido mantidas em segredo desde a fundação do mundo”[43].
Quando o Sol passa por Sagitário, no mês de dezembro, Cristo ilumina os reinos internos e forma um verdadeiro traje espiritual para o nosso Planeta. Visto com visão espiritual, a partir do espaço sideral, a Terra aparece como uma bola de ouro fundida. O Discípulo que vê este resplendor, a partir da superfície do Planeta, caminha em um oceano de luz dourada. Todo o brilho e cor das festividades de Natal são apenas um pálido reflexo da luz e da glória dos reinos planetários internos quando a Glória de Cristo está operando ali dentro. Se um Discípulo no Caminho da Santidade tem trabalhado fiel e efetivamente com as forças da transmutação, sob a influência de Escorpião, ele se encontrará atraído para aquele grande e glorioso esplendor.
Cada evento das celebrações sagradas do Natal simboliza o desenvolvimento de um poder espiritual específico dentro do próprio Discípulo. À medida que esses poderes são despertados, ele experimenta uma intensidade cada vez maior de unidade íntima com as atividades cósmicas que ocorrem durante o Solstício de Dezembro.
Sagitário tem sido simbolizado por uma série de lâmpadas acesas, e o Discípulo que tem sido persistente em seus trabalhos espirituais agora descobre que estas lâmpadas foram acesas dentro de sua própria aura, e até mesmo dentro de seu próprio corpo-templo. Estas são as lâmpadas que iluminam o seu percurso para o centro da Terra. Lá ele estará na presença do Senhor Cristo, a Luz do Mundo. Lá ele receberá a Sua bênção e O ouvirá entoar o mantra que tem sido utilizado em cada Templo de Iniciação, antiga ou moderna: “Muito bem, servo bom e fiel… entra tu para a alegria do teu Senhor”[44].
A força Crística dourada, descendo da fonte do Sol, tocando a partir do lado externo da atmosfera terrestre no Equinócio de Setembro, como antes mencionado, passa pelo Mundo do Desejo durante novembro (Escorpião), passa pela Região Etérica do Mundo Físico durante dezembro (Sagitário) e chega ao centro da Terra no Solstício de Dezembro (Capricórnio).
Quando a força do Cristo penetra no centro da Terra, uma profunda calma e quietude permeiam a natureza. Essa é a Noite Santa de todo ano.
Segue-se um poderoso aumento das forças de vida do Planeta. Essa nova infusão de vida na Natureza é belamente descrita nas lendas da Noite Santa, em que é dito que mesmo os animais e as plantas fazem reverência ao Menino Cristo à meia-noite mística sagrada.
Ano a ano a Glória do Cristo penetra a Terra com seu poder de harmonia e de cura. Ano a ano a Terra é vivificada com a vida cósmica. Pouco a pouco, o ódio, a inimizade e o conflito estão sendo superados, e pouco a pouco o espírito da fraternidade vai crescendo. Finalmente, o ideal imaginado por Isaías há muito tempo se tornará uma realidade: “De suas espadas forjarão relhas de arados, e de suas lanças, foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e nem se aprenderá mais a fazer guerra.” (Is 2:4).
A constelação de Aquário é o lar da Hierarquia de ministério dos Anjos, adorada em todas as lendas sagradas de todas as Religiões. O campo de atuação dessa Hierarquia é a Região Etérica do Mundo Físico e, uma vez que o Corpo de um Anjo é formado por Éter, ele se torna visível mesmo para pessoas que tenha um mínimo de visão suprafísica. Muitas crianças tiveram um conhecimento em primeira mão dos seres angelicais e espíritos da natureza, que, como os Anjos, habitam os reinos vizinhos.
Os Anjos são especialistas em trabalhar com a substância Etérica e as Forças Vitais. Eles moldam os muitos e variados padrões florais nas cores azuis e douradas dos Éteres Superiores; e são esses padrões que as Fadas transmitem para a Terra como flores para enfeitar a Terra.
Quando o Sol está em Aquário, a Força de Cristo concentra suas atividades na Região Etérica do Mundo Físico. Ele derrama o Seu amor e Suas bênçãos sobre os Anjos e as almas desencarnadas da Humanidade da Terra que estão vivendo e servindo nestes reinos. Aqui também é uma parte da pátria celeste de crianças que morreram na infância; e aqui eles são ensinados e acompanhados pelos Anjos. Tais espíritos das crianças não vivem sempre nesse reino etérico, já que o seu verdadeiro lugar é nas regiões mais altas do Mundo da Alma, do Mundo do Desejo; no entanto, em momentos especiais, eles são trazidos por seus instrutores angelicais para dentro dos Éteres superiores, onde eles podem aprender as alegrias da natureza e das Fadas.
É também na Região Etérica do Mundo Físico que são encontrados os Templos Iniciáticos que, nos tempos antigos, também existiram em forma física. À medida que a Humanidade perdeu a luz interior eles foram removidos de nosso plano de manifestação e continuaram a existir apenas no nível etérico. Por isso, atualmente eles se tornaram assuntos de lenda e de poesia. No entanto, agora, o tempo se aproxima para serem externalizados novamente. Nesse meio tempo, para o Discípulo iluminado os Templos Etéricos são acessíveis, e aparecem como algo real na Região Etérica do Mundo Físico, assim como são as estruturas físicas neste plano físico.
Um desses Templos, o mais bonito para todos os Cristãos, está localizado em cima da cidade de Jerusalém. Os Anjos estão intimamente associados ao trabalho conduzido ali, e em todos os Templos situados nos planos internos. Eles são livres para entrar à vontade nestes santuários, e se regozijam em servir nesses lugares sagrados, pertencentes aos filhos da Terra.
Diz-se que um Anjo da Guarda pairava acima da cadeira de cada cavaleiro que se sentava à mesa-redonda no Templo do Rei Arthur. Isso é uma lenda, mas profundas verdades espirituais estão escondidas em lendas e, especialmente, nas lendas do Graal da Idade Média. O Templo do Graal é realmente uma parte da Escola de Mistérios Cristãos. O significado mais profundo das lendas espirituais é velado por poetas e artistas, que os relaciona com os costumes da época em que apareceram pela primeira vez. Não há mistério mais profundo no Cristianismo do que o do Santo Graal, pois pertence à história da Última Ceia e se refere às profundas verdades cósmicas transmitidas por Cristo aos seus Discípulos, e, especialmente, para S. João, o Discípulo bem-amado, que “repousava sobre seu peito” (Jo 13:23-25).
Através do serviço da Hierarquia de Capricórnio, o Discípulo aprende a ministrar como um Auxiliar Invisível às pessoas que ainda vivem encarnadas no Mundo Físico. Esse trabalho é ampliado, à medida que o Caminho da Santidade passa através de Aquário. Aqui o Discípulo aprende, sob a orientação dos Anjos, como trabalhar com os seres que habitam os reinos internos.
O Discípulo qualificado, que tem seguido a Cristo até aqui é agora capaz de entrar CONSCIENTEMENTE nos reinos Etéricos. Lá ele observa os mais variados e belos serviços realizados pelos Anjos para o benefício não só da Humanidade, mas de todos os reinos da Terra. Muitos dos segredos da natureza são revelados a ele, tanto por meio das atividades dos espíritos da natureza como por meio das Fadas. Deste modo ele se encontra em um mundo encantado, um mundo tênue, onde conhecimento das Fadas tem a sua origem, pois o reino dos Éteres superiores é verdadeiramente a terra das Fadas. Muitos escritores inspirados ou místicos teceram fantasias sobre as maravilhas desta região. Um exemplo maravilhoso é o livro Blue Bird (Pássaro Azul) de Maeterlinck[45], que, embora seja uma fantasia de uma criança representa, verdadeiramente, a natureza e as características da Região Etérica do Mundo Físico.
Quando o Sol passa através de Aquário a glória de Cristo já está subindo para fora da Terra, em preparação para sua Libertação na Páscoa. Durante o mês de março, com o passar Sol pelo Signo de Peixes, que é o Signo da dor e do sofrimento, a Igreja Cristã entra nos sacrifícios quaresmais, e na participação do sofrimento de Cristo no Gólgota. Peixes é o Signo da Crucificação, o Signo do Messias. A Crucificação do Cristo Cósmico começa quando o Sol está em Libra, no Equinócio de Setembro, quando a Glória desce para o “Hades”[46] do Planeta Terra. As observâncias comemorativas do mundo Cristão na Páscoa, quando o Sol caminha em direção ao Solstício de Junho, não é a Sua Crucificação, mas Sua Ressurreição cósmica. O Planeta Terra fica, então, consciente de certo vazio, um vazio espiritual, enquanto a Glória Cósmica se afasta. Esta é a origem da mistura de tristeza e da alegria no tempo pascal do Equinócio de Março.
À medida que o Discípulo viaja pelo CAMINHO DA SANTIDADE, que conduz aos reinos espirituais, as experiências vividas se tornam cada vez mais maravilhosa e transformadora. Nesses níveis celestiais da existência, não há véu que separa aqueles que vivem na terra daqueles que habitam os planos internos de luz. Deste plano suprafísico, junto com os Anjos e com reinos ainda mais elevados, é possível testemunhar e entender as ações das almas humanas durante o período que vai da morte no plano físico até o renascimento em uma encarnação. Aqui, também, é onde pode se observar o funcionamento dos Espíritos da Natureza e reparar como suas atividades são as bases do que a ciência se refere como as leis da natureza. Aqui em cada manhã de Páscoa, em meio à hosanas triunfantes dos Anjos e Arcanjos, o Cristo, após a Sua liberação a partir da encarnação anual na Terra, aparece em glória radiante. No Templo dos Mistérios Cristãos a procissão gloriosa de Páscoa é formada em torno de Sua presença luminosa, não como um mero espetáculo, mas como um meio pelo qual se transmite um poder transcendente sobre todos aqueles que foram considerados dignos de serem contados entre Sua companhia santificada.
O Cristão Místico comemora a Páscoa, não apenas como um evento histórico, mas como uma ocorrência espiritual anual. Ao longo do ano solar, depois de Sua descida ao coração da Terra na época do Natal, Ele começa, novamente, no período entre a Páscoa e a Ascensão, a ascender ao trono do Pai, que está nos céus, para restaurar os seus poderes antes de, mais uma vez, iniciar o seu retorno à esfera física no Equinócio de Setembro.
Foi no momento da Sua crucificação que o Cristo deixou o corpo de Jesus, no qual Ele tinha funcionado durante Seu ministério de três anos entre os seres humanos, e transferiu o Seu próprio Espírito para o corpo planetário para, assim, se tornar o seu Regente. Há um significado profundo nas palavras que Ele pronunciou aos Seus Discípulos depois da Ressurreição: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue”[47].
Quando a raça humana sucumbiu à sedução de espíritos de Lúcifer, o ritmo atômico do corpo físico do ser humano foi alterado de tal modo que o fogo espírito vertebral entrou em sintonia com as forças lucíferas e recebeu a impressão destes Seres de fogo. É a missão de Cristo neutralizar essa condição, substituindo pelo Seu ritmo e impressão àquelas dos Lucíferos – já que Cristo, como um Arcanjo, é também um Ser de Fogo. Quando isso tiver sido realizado, a vibração atômica do corpo do ser humano irá torná-lo imune à doença e morte. Os indivíduos da Nova Era, trazem em si mesmo a imagem gloriosa de Cristo.
A Hierarquia de Áries contém um padrão arquetípico do ser humano como ele foi criado “à imagem e semelhança de Deus”. Este padrão se manifestará cada vez mais na Nova Era. As seis constelações acima do equador (setentrionais) contêm, por assim dizer, esses padrões em miniatura e as Hierarquias dessas constelações meridionais trabalham com a Humanidade para trazer tais padrões para serem cumpridos aqui na Terra. Por exemplo, a Hierarquia de Áries conserva este padrão perfeito do ser humano Cristificado. Libra, o Signo oposto a Áries é o lar dos Senhores da Individualidade, diminui este padrão cósmico de Áries e está ajudando o ser humano a manifestá-lo.
Esse é o conhecimento que tem motivado os grandes mestres do mundo para ajudar a Humanidade a trazer o padrão divino a ser manifestado neste plano. O trabalho é árduo. Mas, ao longo dos séculos, as almas corajosas que têm sido fortes o suficiente para prosseguir no Caminho da Santidade nos reinos espirituais, retornam inflamadas com o que elas contemplaram como “um novo céu e uma nova terra”, habitados por uma Humanidade Cristificada. Elas sabem, como o Cristo sabia, que, em verdade, “o Verbo era Deus”.
Quando o Sol passa por Touro, durante o mês de maio, a força de Cristo sobe cada vez mais alta, acima da aura espiritual da Terra. O Discípulo que está trilhando o caminho da Santidade segue na esteira da Luz ascendente de Cristo e entra numa esfera onde encontra a si mesmo, interiormente, harmonizado e fortalecido pelo poder criativo da música. Os Seres Celestiais que habitam este reino falam uma linguagem musical. Cada um dos seus movimentos emana música. Eles moldam e formatam todos os tipos de forma por meio de tons musicais. Neste reino todas as coisas que crescem são alimentadas pelo poder da música, enquanto as várias cores das flores são produzidas por variações no tom. A música é, certamente, o poder criativo supremo deste reino elevado.
A constelação de Touro é o lar dos padrões cósmicos para tudo quanto existe na Terra. Esses padrões são prefigurados pelo seu Signo oposto, Escorpião, casa dos Senhores da Forma. Esta Hierarquia ensina a construir formas a partir do plano físico; e da constelação de Touro ressoa o tom misterioso que Deus usou na criação, a Palavra criadora, pela qual: “tudo o que foi feito, foi feito por Ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem Ele”. Esta é a nota chave bíblica de Touro.
Os Senhores de Touro mantêm o padrão cósmico do órgão mais maravilhoso destinado a se tornar parte do futuro corpo humano. Este novo órgão, semelhante a uma rosa dourada, será localizado na garganta, e será o centro através do qual a Palavra Criadora será projetada pelo ser humano da Nova Era. Por seu poder, a geração se tornará regeneração, e o ser humano será capaz de moldar uma substância sobretudo o que desejar. No reino onde os poderes taurinos são mais ativos somente um iluminado pode contemplar uma visão desta perfeição e meditar sobre ela. Ele percebe o desenvolvimento glorioso que o espera no futuro e percebe o significado literal das palavras do salmista: “Tu o fizeste um pouco menor que os Anjos, e de glória e de honra o coroaste”[48].
Quando o Sol se eleva em direção ao seu ponto mais setentrional no céu em junho, ele transita pelo Signo de Gêmeos, a constelação que define uma dupla impressão sobre o corpo-templo humano. Ele rege as dualidades do corpo: pulmões, ombros, braços e mãos, em particular. Ele também mantém o padrão cósmico do andrógino perfeito no qual as potências masculinas e femininas estão em equilíbrio. Isso é a realização dos Iniciados dos Grandes Mistérios de Cristo. Esta realização traz imunidade contra doença e velhice. E uma vez que a consciência permanece intacta, independente se esses Iniciados estão encarnados ou desencarnados, a morte como nós a conhecemos nunca é vivida por eles, porque a sua consciência está centrada na ininterrupta imortalidade.
A vida Arcangélica alcançou o estado onde funciona em corpos perfeitamente polarizados. Isso não é verdade nos reinos angélico e humano, menos evoluídos. É, por consequência, possível aos membros desses reinos quando descem do seu elevado estado para formas inferiores de expressão. A queda dos Anjos é registrada biblicamente no relato da guerra no céu, quando Lúcifer e seus seguidores foram expulsos dali, e a Queda do Homem ocorreu, de acordo com o relato de Gênesis, quando Adão e Eva (a Humanidade infantil) foram expulsos do Jardim do Éden. A redenção, a partir destas quedas, necessita um poder maior do que estava disponível para qualquer uma destas ondas de vida. Tinha que vir a partir da vida Arcangélica. E assim se fez. O Senhor Cristo, o mais evoluído dos Arcanjos, tornou-se o professor e redentor de ambos: os Anjos caídos e a Humanidade. Esta é uma das verdades mais profundas associadas ao mistério de Cristo.
O padrão do andrógino perfeito foi projetado pela Hierarquia de Gêmeos no seu Signo oposto, Sagitário. A Hierarquia de Sagitário (Senhores da Mente) fornece este ensinamento esclarecedor aos pioneiros mais avançados da Terra. Após a vinda de Cristo, o maior desenvolvimento da Mente humana passou da orientação de Escorpião para a orientação de Sagitário. Considerando-se as maravilhas da Mente, os seus poderes criativos e sua capacidade de envolver o mundo em um instante de tempo e contemplar a vastidão do espaço cósmico – apesar de, atualmente, apenas uma fração do que é ativo – temos um fraco vislumbre da glória transcendente da Hierarquia de Sagitário, cujo veículo inferior, correspondente ao Corpo Denso do ser humano, é composto de substância mental. Ele também indica os poderes sublimes que aguardam o ser humano quando este atinge aquele desenvolvimento.
Para uma alma desperta, o propósito supremo de cultivar a Mente é que ela se tornará Cristificada. Até o momento esta é a realização de alguns poucos entre nós. A maioria está mergulhada no materialismo da Mente concreta, que é focada principalmente em atividades mundanas e interesses do eu separado. Enquanto tais preocupações reivindicarem a atenção do ser humano, haverá uma falta de percepção espiritual e uma realização escassa das realidades que pertencem ao mundo interno e à Mente universal. Nem haverá qualquer continuidade da consciência e pouco, se alguma, indicação das experiências vividas nos Mundos Espirituais, durante os intervalos entre vidas terrenas. O resultado de consciência, vedada a partir de realidades espirituais, é o materialismo que condiciona o mundo hoje. Isso, no entanto, é apenas uma fase temporária da evolução da Humanidade. Como há um acréscimo de luz no caminho daqueles que se esforçam para a santidade, a realização das realidades espirituais se tornará mais clara e mais forte. O impulso insistente desses Aspirantes a se tornarem dignos de andar no Caminho da Santidade vai trazer mais e mais luz.
O Sol, em seu trânsito anual, quando chega a Câncer atinge o ponto mais alto de sua ascensão norte, no momento do Solstício de Junho. Então, sua radiação física alcança o máximo nível no hemisfério norte, de modo que os dias são mais longos e as noites mais curtas. É o meio-dia mais elevado do ano, e a sua tônica é LUZ.
Câncer é o Signo feminino mais importante dos céus. Em harmonia com este fato, o Signo contém um pequeno aglomerado de estrelas dispostas que se assemelha a uma manjedoura. Do coração de Câncer surgem as águas da vida eterna, em que são germinadas formas-sementes que animam todos os reinos da Terra. O Solstício de Junho ocorre quando o Sol entra em Câncer (em torno de 21 de Junho) e, também, está em sintonia com o princípio da fecundidade. É em obediência a este princípio ativo na natureza que as sementes irrompem em um ciclo de manifestação. Luz, liberdade e alegria são qualidades dominantes da temporada do verão. Consequentemente, muitas pessoas, em especial na Europa, observam esta época do ano com música, dança e festividades exuberantes.
A Hierarquia de Câncer é conhecida, biblicamente, como os Querubins. É ministério desta Hierarquia guardar lugares sagrados. Eles pairam acima do Santo dos Santos[49]. Através dos processos de Iniciação ao Aspirante é ensinado a construir este Santo dos Santos dentro de si mesmo. O pote dourado de maná, dentro da Arca da Aliança, é um símbolo do Cálice do Graal do próprio indivíduo e da sua própria força sagrada de vida. A Humanidade perdeu o Jardim do Éden por mau uso dessa força de vida, e, a partir desse momento, os Querubins guardam os portões do Éden para que a Humanidade não regenerada não tente voltar, prematuramente. A Bem-Aventurada Virgem Maria e os Discípulos alegaram terem comungado com os Querubins depois de Pentecostes, o que significa que eles tinham aprendido estas verdades sagradas dessa Hierarquia Divina.
Assim como o Sol atinge sua maior ascensão[50], o Espírito de Cristo ascende ao trono do Pai. Sua atividade, então, é focada no mais elevado nível da aura planetária da Terra, onde Ele traz mais iluminação e renovadas bênçãos para os Seres celestiais que habitam este reino; e, também, para as almas que, em seu progresso espiritual, entre as encarnações físicas, subiram para este elevado plano. Em harmonia com isso, também é no verão que um ser iluminado, que está seguindo o Cristo no caminho da Santidade, eleva a consciência a este reino para comungar com seus habitantes celestes e aprender mais sobre as forças da natureza. Aqui se percebe como os elementais do Ar e da Terra, os Silfos[51] e Gnomos, trabalham no outono e inverno com a vida vegetal, desintegrante e moribunda. É neste plano exaltado que o que segue o Caminho da Santidade fica diante do mistério real da própria vida.
Só os puros de coração alcançam este plano. Aqueles cujas mãos estão manchadas com o sangue nunca pode levantar o véu deste lugar santo. Aquele que procura descobrir o segredo da vida nunca vai encontrá-lo até que suas mãos e o seu coração estejam castos e limpos. Somente para este virá a realização da unidade de toda a vida.
Estas são verdades que pertencem particularmente à Hierarquia de Câncer, e não é possível transmiti-la, diretamente, para o plano terrestre. Por isso, elas são passadas pelos Querubins à Hierarquia de Capricórnio, o Signo oposto a Câncer e lar dos Arcanjos que, sendo de uma posição hierárquica inferior à dos Querubins e, portanto, mais perto da consciência para a Humanidade, as disseminam àqueles da Terra que estão prontos e dispostos a recebê-los.
Assim, houve um tempo em que as forças de Capricórnio permearam a Terra para que fosse possível a encarnação do Mestre Jesus, da descendência de Davi, que se converteu no portador do Cristo.
Diz-se que quando o Sol transita o Signo de Câncer e Leão, durante julho e agosto, o Cristo ascende ao trono do Pai, onde Ele se banha na transcendente glória do Pai. É aqui que Ele renova e revitaliza a Si mesmo, atraindo as maiores e mais elevadas forças espirituais para continuar o Seu ministério terreno quando Ele voltar para o reino da Humanidade no Equinócio de Setembro. Durante Sua estada nesses elevados céus, os clarividentes observam que a Terra aparece iluminada com Suas irradiações; e o observador alcança uma profunda compreensão do significado de Sua afirmação de que “Todo o poder me foi dado no céu e na terra”[52].
Quando o Sol transita pelos Signos de Câncer e Leão, um ser iluminado que trilha o Caminho da Santidade ascende aos mais altos reinos espirituais deste Planeta e entra em uma consciência mais profunda do poder transcendente. Ele começa a entender que o amor, em seu aspecto mais elevado, não é paixão ou sentimento, mas uma fase da própria divindade. Foi com esse poder do amor que S. Pedro estava imbuído. Ele próprio se referiu a este poder do amor quando ele disse ao homem coxo ao lado da porta do Templo, chamada Formosa: “Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”[53]. Novamente, foi esse mesmo poder que S. Paulo, tão animado, apesar de todas as perseguições e prisões, foi capaz de pronunciar por meio dessas palavras sublimes: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos Anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”[54].
Quando um Aspirante atinge esse grau de realização espiritual, o Cristo é tudo em todos, para ele. Servir como Ele serviu, e amar como Ele amou se torna sua maior aspiração. A tônica bíblica de Leão é soada com as palavras “o amor é o cumprimento da lei”[55].
Enquanto o Sol está em Leão, o espírito de Cristo é revigorado e reformado pelas glórias do Reino do Pai. É neste contexto que as linhas de Tennyson em Sir Galahad são descritas: “Minha força é como a força de dez, porque meu coração é puro”[56].
Este é o atributo que tornou Parsifal[57] imune ao ataque contra ele pelo malvado Klingsor[58]. A lança do ódio que o cavaleiro negro atirou em Parsifal foi desviada do seu curso. Nesse mesmo momento, e pela virtude deste poder, Parsifal fez o sinal da cruz e provocou o completo colapso para o castelo do mal, construído por Klingsor.
Embora Virgem detenha o segredo da Imaculada Conceição, é através do seu Signo oposto, Peixes, que este presente foi trazido para Terra e demonstrado pelo Mestre supremo feminino: Maria de Belém. Foi sob a Hierarquia de Sagitário (Arcanjos), que a própria Maria foi concebida imaculadamente; e foi sob a tutela espiritual da Hierarquia de Virgem que ela nasceu no Mundo Físico.
Um candidato que é digno de tocar o reino celestial de Virgem encontra-se diante do mistério da Imaculada Conceição e descobre que este dom divino não foi concedido a apenas um indivíduo, mas que Maria e Jesus foram os padrões do tipo que a Humanidade como um todo está destinada a imitar. Nesta morada celestial aqueles que são espiritualmente iluminados ouvem os Anjos entoando sobre o dia em que, em um novo Céu e uma nova Terra, a Imaculada Conceição será a herança de toda a raça humana.
Como mencionado anteriormente, a Hierarquia de Touro mantém o padrão cósmico da forma; a Hierarquia de Câncer, da vida, a Hierarquia de Virgem, o poder pelo qual a vida anima a forma. Estas três constelações, o Triângulo Feminino dos céus, administram todos os reinos de vida na Terra.
Atente-se que aquele que segue o Caminho da Santidade através dos seis Signos zodiacais acima do equador alcançou esse lugar elevado de iluminação onde ele é considerado digno de estar diante dos mistérios sublimes das quatro maiores Iniciações. O Discípulo que trilha este caminho, como é descrito nos seis Signos abaixo do equador, está sendo preparado para receber o trabalho dos nove Mistérios Menores.
A Bíblia é um dos maiores livros de mistérios de todos os tempos. Muito poucos percebem suas profundezas infinitas. Cristo disse às multidões desatentas: “a fim de que vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não entendam” (Mc 4:12).
Entre os milhares de livros que foram escritos sobre a vida de Cristo, não há mais que dois ou três que mencionem os mistérios mais profundos sobre Ele, ou seja, o Mistério de Cristo no Cosmos. Até porque, em nosso tempo, talvez, não seja essencial que este mistério fosse ensinado abertamente.
Hoje entramos na Era Espacial e o Cristo Cósmico será a figura central da vindoura Religião da Era de Aquário. Nós, que temos o privilégio de começar aqui e agora a estudar estas verdades cósmicas profundas, preparando-nos para sermos os pioneiros da Era que está se aproximando, devemos aceitar essa responsabilidade. Essas são as responsabilidades do Discípulo da Nova Era ensinadas pelo Cristo Ressurreto ou por Seus emissários.
Entretanto, avaliando o Caminho de Cristo através das estrelas nós devemos nos esforçar e, ao mesmo tempo, investigar os padrões do discipulado da Nova Era, o “Aquele que Despertou”, que aprende a andar no mesmo Caminho de Luz que Cristo andou mostrando o Caminho para aqueles que devem vir após Ele.
O Mistério de Cristo é tão sublime e tão poderoso em Sua importância que transcende qualquer definição humana. Tão profundo é o Seu significado que nunca pode ser dosado ou expresso por meras palavras; só pode ser sentido no silêncio da contemplação espiritual.
No livro Conceito Rosacruz do Cosmos[59], Max Heindel nos informa que: “No primeiro CAPÍTULO de S. João, este grande Ser é chamado Deus. Deste Ser Supremo emanou o Verbo, o Fiat Criador, ‘sem o qual nada do que foi feito se fez’. Este Verbo é o Filho unigênito nascido do Pai (o Ser Supremo) antes de todos os mundos, mas positivamente não é o Cristo”. Aqui Max Heindel faz uma distinção entre o Cristo Jesus Cósmico em Seus aspectos planetários e históricos; e continua: “Grande e glorioso como Cristo é, elevando-se muito acima da mera natureza humana, Ele não é esse Exaltado Ser. Certamente o ‘Verbo se fez carne’, não no sentido limitado da carne de um corpo, mas carne de tudo quanto existe neste e em milhões de outros Sistemas Solares”.
O Pai canaliza o princípio da Vontade; Cristo canaliza o princípio do Amor-Sabedoria; o Espírito Santo canaliza o princípio da Atividade. O Espírito Santo infunda, literalmente, as formas com vida. O Espírito Santo trabalha com o princípio da vida, que está presente em toda a criação; e é o guardião da força sagrada, o princípio criativo de Deus. Portanto, todos os seres viventes estão sob a sua tutela. Deus cria e Cristo manifesta, enquanto o Espírito Santo ativa a forma.
A diferença entre Cristo da Terra e o Cristo Cósmico é mais bem entendido por meio de uma ilustração. Imagine uma lâmpada no centro de uma grande esfera oca de metal polido. A lâmpada envia raios de luz de si para todos os pontos da esfera e os refletirá em vários lugares. Do mesmo modo, o Cristo Cósmico – o mais elevado Iniciado do Período Solar – envia Seus raios emitidos.
O Sol do nosso Sistema Solar é o tríplice. Podemos ver o Sol físico. Por trás dele, ou escondido por ele, está o Sol espiritual, de onde vem o impulso do Espírito do Cristo Cósmico. Além, e externo, a esses dois está algo que chamamos de Vulcano – não um Planeta – que pode ser visto apenas como um meio globo. No ocultismo nós dizemos que é o corpo do Pai. Quando tínhamos nos desenvolvido o suficiente, Cristo veio e encarnou aqui na Terra; então um raio do Cristo Cósmico veio aqui e encarnou no Corpo do nosso Irmão Maior Jesus. Após o sacrifício no Gólgota Ele entrou na Terra, e tornou-se Seu Espírito Planetário Interno.
O Cristo Planetário é um Arcanjo glorioso, supremo entre a Hoste Arcangélica. A Hierarquia de Capricórnio é o lar dos Arcanjos; mas durante o período de Sua missão nesse Planeta, Cristo e Seus ministros Arcangélicos faz Seus lares no revestimento espiritual do Sol – pois cada corpo celestial tem um revestimento espiritual estendendo além do espaço da sua parte visível. Do mesmo modo, cada ser humano tem uma extensão espiritual, além do seu veículo físico.
Desde bem do início da civilização, a maioria das Religiões primitivas prestavam homenagens a esse Grande Ser residente no Sol. Os Sumos Sacerdotes dos Templos de Mistérios ensinaram seus mais avançados Discípulos a verdade em relação a esse glorioso Ser Solar, e eles procuravam o momento quando Ele desceria à Terra e tornaria o Redentor do mundo. Aqueles que eram clarividentes podiam ver o Senhor do Sol, a quem eles prestavam homenagem para esse grande Ser residente no Sol, e, assim, eles sabiam que Sua encarnação entre a Humanidade era iminente. De nação para nação; de profeta para mestre; de mestre para instrutor; de instrutor para Discípulo se passavam as boas novas de que o Senhor Abençoado, que era o Salvador do mundo, estava perto da Terra.
Quando nós falamos de uma elevação espiritual no espaço interno é para ser entendido que “para cima” e “para dentro” são virtualmente sinônimos; ainda, no mesmo tempo, para a visão do clarividente, a Glória do Cristo realmente tem a aparência de uma “elevação” ascendente para o Sol a partir da superfície da Terra; assim como o Divino Hermes do antigo Egito dizia: “como é encima, é embaixo”.
O Caminho do Discipulado também segue de fora para dentro, que, também, é para cima. Max Heindel comparou esse Caminho à torre de uma igreja que se torna cada vez mais estreita e fina até que no cume é um ponto, suportando a cruz. Cristo disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”[60].
A cruz da renúncia, simbolizada na Quaresma e no período da Páscoa, deve ser aceita por cada verdadeiro Discípulo que se esforça para percorrer o Caminho da Santidade. Seu Corpo-Alma nunca poderá ser construído até que ele adquira domínio sobre si mesmo, e deseje privar-se dos tão conhecidos prazeres do mundo dos sentidos. Os poderes da alma alcançados pelo esforço próprio capacitam o iluminado a trocar a cruz por uma coroa.
Diz-se que a constelação de Peixes será o lar da Onda de Vida humana quando todos alcançarem a perfeição. Peixes é chamada a constelação da Onda de Vida humana, assim como a de Aquário é a dos Anjos. Aqueles que seguem a Cristo até o mais elevado objetivo se libertam do ciclo de encarnação mortal; eles estão livres da roda de nascimentos e mortes. “Não saem mais”, e é então, que como seres espirituais, por assim dizer, agrupam-se entre as estrelas da constelação de Peixes.
Seus débitos de destino maduro estão pagos e todos os seus vínculos terrestres são desfeitos. Tais humanos são conhecidos como Seres Compassivos, os Irmãos Maiores da Onda de Vida humana que não mais necessitam de lições terrestres. Eles estão livres para passar para uma existência gloriosa dentro da constelação de Peixes. Entretanto, esses grandes Seres podem retornar, por livre vontade, e em obediência ao preceito de que aquele que ama deve servir melhor, frequentemente eles desistem dessas oportunidades bem-aventuradas daquele plano divino, para servir os seres humanos menos evoluídos que estão, ainda, lutando nas labutas com seus próprios destinos maduros. Humildade, obediência e serviço são as notas chaves de suas vidas.
Tal renúncia é ilustrada na vida de Maria de Belém, que, tendo aprendido todas as lições da Terra e tendo sido exaltada a reinar com os Anjos, retornou para esse Planeta para ensinar a Humanidade um dos mais supremos mistérios celestes, que é o da Imaculada Concepção. Sabendo que ela poderia ser mal compreendida, perseguida e injuriada, ainda assim ela persistiu, para que pudesse ser, para a Humanidade, um Exemplo tão próximo da divindade que, até hoje, passados quase dois mil anos, ainda é dificilmente compreendida por uns poucos e permanece inteiramente desconhecida pela maioria. Trabalhando sob a lei do serviço, ela descendeu à mortalidade, dizendo: “Faça-se segundo a tua palavra”. É isso que se espera de um ser humano perfeito: tal elevado estado de realização espiritual, construído por meio de sacrifício, humildade do espírito e perfeita harmonia com a lei da obediência.
O Aspirante que reflita seriamente sob o significado dos 12 Signos Zodiacais que envolve nosso cosmos próximo consegue correlacionar corretamente a meditação de Peixes com as experiências dos 12 imortais durante a estação que precede a “crucificação” anual de Cristo. Assim como a dor e o sofrimento no Gólgota são tragados pela glória dourada da manhã de Páscoa, o Discípulo que conseguiu suplantar seu “eu pessoal” e que percorre, até o final, o Caminho da Santidade, por meio de Peixes, descobrirá que ele trocou sua cruz pela glória dourada do “vestido de bodas” no qual funciona, livre e triunfante, com o Cristo Ressurreto.
A história da Humanidade, desde o Sacrifício de Cristo no Gólgota pode parecer ter alcançado pouco desenvolvimento até agora; mas esse momento é a Era de Peixes, que como nós temos informado, é o Signo da estabilização das dívidas dos destinos maduros. As dívidas que o ser humano deve para outro ser humano e nações devem para outras nações devem, agora, serem pagas, e à medida que essa Velha Era de Peixes desapareça no tempo a Nova Era de Aquário tomará o seu lugar; uma harmonia que estende a todo o mundo será alcançada, com um governo mundial das nações, pleno em fraternidade e em paz, pois Aquário é o Signo do Filho do Homem.
As gotas de sangue físico que foram derramadas no Monte na Crucifixão não eram os verdadeiros agentes da salvação da Terra. Esses são as Redentoras asas ígneas de luz e poder, que são a Glória do Cristo, enchendo internamente e passando por através do Planeta. A Luz Arcangélica é Seu verdadeiro sangue, e é esta que salva.
Agora, todo ano quando Raio de Cristo resplandecente ascende, uma vez mais, do centro da Terra, Sua elevação é sentida na Natureza, como uma força atrativa; e quando chega a uma certa altura Suas forças são focadas, novamente, no Mundo do Desejo do Planeta. As intensas emoções da Humanidade são, agora, o campo especial de Seu ministério e durante o tempo da Páscoa, a Humanidade sente que uma grande tranquilidade preenche sua alma desde uma fonte desconhecida. Pela intensificação desse poder, ano a ano, a Humanidade, lenta, mas com toda a segurança, vai se convertendo em um Cristo em formação.
A ressurreição cósmica ocorre em março, quando o Espírito de Cristo é libertado da esfera terrestre e entra, novamente, nas esferas celestiais. É quando as Hierarquias de Áries e Peixes se juntam aos Anjos e Arcanjos em triunfante jubilação para esse evento. O ritmo dos seus hinos cósmicos encontra uma transcrição aqui na Terra no Coro Aleluia de Händel[61]. As cerimônias pré-Cristãs celebrando o retorno da Primavera e a vitória da luz sobre as trevas estavam sintonizadas com esses ritmos.
O Equinócio de Março é um dos mais elevados pontos do ano para o Discípulo. Suas notas chaves são a liberdade e a emancipação que conduz a uma vida mais ampla. É também o momento em que o Cristo Cósmico é libertado dos grilhões terrestres que Ele se aprisionou, durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Por isso, é o momento mais propício para um Discípulo avançado romper os laços que o prendem e entrar na liberdade jubilosa do espírito.
A Igreja observa a Festa eclesiástica da Anunciação, em março, quando a natureza comemora a Festa cósmica da Anunciação, pois há uma íntima relação entre o ser humano e a natureza. A natureza é Deus em manifestação.
O ser humano é um deus em construção. Entretanto, um se reflete no outro. A maioria dos rituais sagrados observados pelo ser humano estão em sintonia com as transições das estações do ano. Os poetas cantam em louvor o espírito de regozijo da primavera, enquanto o verde e dourado do esplendor da natureza fornece a evidência de que as forças vitais, que retornam, estão respondendo em um triunfante impulso de ressurreição da própria natureza.
Um avançado seguidor do Caminho entende que chegou o tempo de fundir a tristeza e as lágrimas propostas pela vida pessoal (Peixes) com os fogos transformadores de Áries. Concomitantemente a essa realização, ele se junta ao poderoso coro que é ecoado e repetidamente ecoado pelos Anjos e Arcanjos: “O Cristo ressuscitou, porque Cristo ressuscitou agora dentro de mim”.
Os antigos persas denominavam o mês de abril como o mês do paraíso, e os primeiros pais Cristãos declaravam que era durante essa estação de encantamento quando o Sol entrava em Áries que Deus moldou o Planeta Terra, e tudo que nele habita. Abril é, geralmente, considerado um mês de ressurreição.
Quando o Senhor Cristo faz Sua ascensão aos reinos internos, esses assumem a aparência de uma massa fundida de ouro brilhante. Na lenda do Santo Graal, os Cavaleiros diziam que na Sexta-feira Santa uma pomba descia do céu para repor a água da vida no Cálice Sagrado, e que eles eram capazes de retirar a nutrição espiritual dele ao longo do ano que se seguia. Por isso, é que o Senhor ressuscitado derrama o Seu amor e espírito para nutrir todos os seres vivos sobre o Planeta Terra. Se não fosse por esta reposição anual, os campos seriam estéreis e as árvores e videiras não produziriam frutos. À luz desse fato, pode-se observar que o Senhor Cristo proferiu uma profunda e literal verdade quando disse aos Seus Discípulos na Última Ceia: “Isto (pão) é o meu corpo que é dado por vós: … Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós”[62].
Uma das mais lindas festividades do ano é a da Ascensão, que acontece quando o Sol passa por Touro (maio) indo para Gêmeos (junho). É quando falanges após falanges de Seres Celestiais se ajoelham para adorar a presença exaltada de Cristo, e mesmo as estrelas se unem em uma sinfonia proclamando Sua majestade e glória. Durante essa festividade divina Sua radiação permeia a Terra com uma refulgência impossível de descrever, tornando resplandecente, ambos, os reinos espirituais e físico. Como a natureza está em perfeita harmonia com as correntes elevadas do Cristo durante os quarenta dias entre a Ressurreição e a Ascensão, o período é de um significado espiritual tão elevado que é um esperançoso tempo para o Discípulo despertar, dentro de si mesmo, os poderes de Clarividência, clariaudiência e outros dons do espírito pertencentes ao verdadeiro discipulado.
Durante o mês de junho, Cristo torna-se um canal de radiações enviadas pelos Serafins, a Hierarquia de Gêmeos. É lá que o Cristo entra em contato com o Espírito Santo, o terceiro aspecto da Trindade. Uma das notas chaves de Gêmeos é ATIVIDADE; repare: é também uma das notas chaves do Espírito Santo. Por meio dessa atividade os Serafins transmitem, para baixo, os mistérios do Espírito Santo para o Signo oposto a Gêmeos, qual seja, Sagitário, os Senhores da Mente. Aqui, então, eles aguardam que o ser humano se desenvolva e se ilumine até o ponto onde ele seja capaz de compreender e aplicar os poderes do Espírito Santo em seu cotidiano. No momento, a Humanidade só é capaz de absorver fracamente os mistérios relacionados com o princípio e os poderes do terceiro aspecto da Trindade.
Enquanto o Sol entra em Câncer, no mês de julho o Senhor Cristo ascende ao Seu próprio mundo, o Mundo do Espírito de Vida. Esse é o reino onde a unidade e a harmonia reinam supremas; também, é a esfera de consciência que os primeiros Discípulos de Cristo contataram no Dia de Pentecostes. Isso será alcançado por toda a Humanidade avançada no fim do presente Período Terrestre. Por meio da operação do Cristo Cósmico, é aqui que o Filho ou o princípio da Palavra e o segundo aspecto da Trindade, nosso Abençoado Senhor, contata a Hierarquia de Câncer, Querubins. Esses Seres celestiais são os guardiões de todos os lugares Sagrados no céu e na Terra. Eles guardam até mesmo o maior mistério da vida. Sob a orientação do Senhor Cristo esse mistério sagrado é transmitido para baixo, de Câncer para o seu Signo oposto, Capricórnio, e fornecido para os Arcanjos. Foi por essa razão que o Salvador do Mundo, que veio para a Terra proclamando o mistério do Espírito Santo, nasceu sob o Signo de Capricórnio. A observância conhecida eclesiasticamente como a Festividade de S. João Batista, o precursor do Cristo, ocorre durante a estação do Solstício de Junho.
Em julho a alma da Terra está impregnada de puro êxtase. O céu se inclina, enquanto a Terra é elevada. No intercâmbio divino de forças espirituais o Casamento Místico entre o céu e a Terra é consumado. Em um intervalo de quatro dias, as correntes de desejos são acalmadas de tal modo que as forças espirituais vão se tornando cada vez mais operantes. A Terra vai, então, sendo literalmente inundada com a luz pura e branca do espírito. O Discípulo que aprende como se sintonizar com esse influxo poderoso receberá um despertar jamais sonhado de consciência espiritual.
À medida que o Sol atinge o ponto mais alto de sua ascensão norte[63], o Cristo também sobe para o reino espiritual descrito na Bíblia como o trono do Pai. Isso é conhecido na terminologia Rosacruz como o Mundo do Espírito Divino, a morada do Deus desse Sistema Solar. Deus é Amor e Deus é Luz. AMOR e LUZ são notas chaves da Hierarquia de Leão, os Senhores da Chama (Amor). Sob a supervisão dos Senhores da Chama, e unido com os poderes do Pai, o primeiro aspecto da Trindade, o Senhor Cristo trabalha com o supremo poder do amor, a força estabilizadora da Terra. Aqui Ele se torna o canal daquele poder, enquanto Ele roteia a Terra sobre o seu eixo e a gira, em sua órbita, em torno do Sol. Esse poder do amor é transmitido para baixo pela Hierarquia de Leão para o seu Signo oposto, Aquário; assim, será esse o poder que animará a nova Era Aquariana.
Nessa estação, as influências cósmicas fornecem o maior auxílio para o Discípulo Aspirante para fazer do amor a força dominante e motivadora da sua vida. É tempo para embelezar cada palavra, pensamento e ato seu com essa magia do coração.
O décimo terceiro capítulo da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, uma das maiores canções de amor da alma, é o mantra perfeito tanto para meditação como para a motivação, durante o período em que o Sol está transitando pelo Signo majestoso de Leão.
Em setembro, o Senhor Cristo volta da glória dos mais elevados céus e começa Seu descenso para os reinos físicos[64]. Por todo esse mês, a ternura, a beleza ansiosa da natureza se manifesta diferente de em qualquer outra estação, pois o Cristo está começando a cobrir a Terra com sua terna tristeza e Ele sente como sentiu quando chorou em Jerusalém a muito tempo atrás[65]. Suas lágrimas foram derramadas porque Ele sabia o longo tempo de dor e sofrimento por meio dos quais a Humanidade deveria passar, tendo escolhido a escuridão ao invés da luz. Seu grandioso coração se entristeceu com as nuvens negras que envolveriam Jerusalém, mesmo o coração do Planeta que Ele tinha dedicado em Seu próprio serviço e em que Ele tinha derramado Seu imenso amor.
Setembro é outro mês de preparação para o Discípulo. Uma das palavras chaves de Virgem é SACRIFÍCIO. Um Discípulo fervoroso, preparando-se por meio do sacrifício e da renúncia de si próprio para tomar parte das festividades dos últimos meses do ano que se avizinha[66], medita frequentemente sobre a nota chave de Virgem: “Aquele que quiser ser o maior entre vós, seja o servo de todos”.
Quando o Sol entra em Libra, que anuncia a chegada de outubro, a força dourada do Cristo passa pelos reinos terrestres enquanto esse sublime Ser inicia, novamente o Seu sacrifício anual, um evento denominado A CRUCIFICAÇÃO CÓSMICA. A isso S. Paulo se refere na Epístola aos Romanos 8:22: “Pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente”. Essa estação do Equinócio de Setembro é um tempo para o Discípulo renovar sua dedicação para percorrer no caminho do Senhor a despeito de quaisquer vicissitudes e obstáculos que podem afetar seu caminhar.
Durante novembro o Espírito do Cristo permeia o Mundo do Desejo da Terra. Esse é um tempo propício para que o Discípulo trabalhe na purificação da sua natureza inferior e, assim, se torne mais habilitado para auxiliar os Seres Superiores em seus trabalhos de purificação do Mundo do Desejo da Terra. Um esforço suplementar é, então, feito para torná-lo um servidor consciente mais eficiente tanto nos planos internos como nos externos da vida.
Em estágios evolutivos anteriores do desenvolvimento humano, a Hierarquia de Escorpião, que preside o mês zodiacal de novembro, auxiliou o despertar do Ego[67] no ser humano[68] e, fazendo isso lançou o ser humano na estrada da individualização. Durante o presente estágio de evolução humana o Discípulo, trabalhando sob a orientação dos Senhores da Individualidade (Libra) e dos Senhores da Forma (Escorpião), está aprendendo a substituir a sua capacidade de fazer valer a própria opinião diante de outras pessoas pela humildade e pelo sacrifício pessoal do “eu” pelo impessoal: “nós”; em outras palavras, atualmente vive-se o ideal de O MAIOR BEM PARA O MAIOR NÚMERO. A Estação do Advento se estende pelo mês de dezembro e é anunciada como uma Festividade de Luz. O impulso espiritual da estação prepara a Humanidade para o derramamento das forças celestiais acompanhando o renascimento do Cristo Cósmico em nossa esfera terrestre. Esse período é seguido pela estação do Solstício de Dezembro que se estende de 21 de dezembro a 24 de dezembro e culmina com o dia seguinte, o 25 de dezembro, no Natal, o dia mais profundamente reverenciado em toda a Cristandade. A observância da festividade dessa estação santa nunca cessará para os Aspirantes, até que o Cristo tenha nascido dentro de nossas próprias almas. O quanto desse êxtase o Discípulo tenha experimentado nesse momento depende do degrau que ele tenha alcançado, e o regozijo pela sua participação cada vez mais crescente da mistura nessa estação entre o terreno e o divino é sentido com uma intensidade nunca alcançada em outro momento do ano.
[1] N.T.: Jo 6:66
[2] N.T.: Gn 15:1
[3] N.T.: Gn 15:2
[4] N.T.: Js 1:4
[5] N.T.: Js 1:4
[6] N.T.: Jo 15:5
[7] N.T.: Mt 20:27 e Mc 10:43
[8] N.T.: Gn 32:30
[9] N.T.: Ex 20:2
[10] N.T.: Dn 3:21-23
[11] N.T.: também escrito como: Egla ou Eglá – 2Sm 3-5
[12] N.T.: também escrito como: Chimham ou Quimã – 2Sm 37-42
[13] N.T.: também escrito como: Haggith, Aggith ou Hagite – 2Sm 3-4
[14] N.T. personagem do panteão fenício e na tradição bíblico-hebraica conhecida como deusa dos Sidônios (I Reis 11:2).
[15] Mt 22:14
[16] 2Cor 4:18
[17] N.T.: Mt 27:42
[18] N.T.: Mt 16:42
[19] N.T.: Mt 16:42
[20] N.T.: Lc 2:14
[21] NT: eram ritos de Iniciação ao culto das deusas agrícolas Demeter e Perséfone, que se celebravam em Elêusis, localidade da Grécia próxima a Atenas.
[22] N.T.: Jo 1:14
[23] N.T.: Jo 20:28
[24] N.T.: Jo 21:15-19
[25] N.T.: Um dos Cavaleiros do Rei Arthur, buscador do Santo Graal, reconhecido por sua pureza e coragem.
[26] N.T.: Ef 3:19
[27] N.T.: At 26:19
[28] N.T.: Is 2:4
[29] N.T.: Hab 2:4
[30] N.T.: Gl 1:17-18
[31] N.T.: região leste do Rio Jordão
[32] N.T.: refere-se ao Mundo do Espírito de Vida, onde está a Memória da Natureza, em toda sua plenitude e clareza.
[33] N.T.: IITm 4:9
[34] N.T.: ITs 2:8
[35] N.T.: Hermes Trismegisto (em latim: Hermes Trismegistus; “Hermes, o três vezes grande”) era um legislador egípcio, pastor e filósofo, que viveu na região de Ninus por volta de 1.330 a.C. ou antes desse período; a estimativa é de 1.500 a.C a 2.500 a.C.
[36] N.T.: IICor 11:24
[37] N.T.: Gl 1:16
[38] N.T.: At 27:1-44
[39] N.T.: Um tirso (em grego: thyrsos; em latim: thyrsus) era um bastão envolvido em hera e ramos de videira e encimado por uma pinha. Na mitologia grega (assim como na romana), era usado pelo deus Dioniso (ou Baco) e pelas seguidoras do deus, as ménades (ou bacantes). A hera e a videira eram de resto as plantas emblemáticas deste deus. Segundo os textos gregos, as ménades utilizariam os tirsos como uma espécie de arma, sendo conhecidos os cortejos frenéticos em honra a Dionísio (os tíasos) aos quais estas se entregavam.
[40] N.T.: do Diálogo Platônico “Fedão” ou Fédon, seguindo: “E no meu modo de entender, são estes, apenas, os que se ocuparam com a filosofia, em sua verdadeira acepção”.
[41] N.T.: pelo desenvolvimento espiritual
[42] N.T.: Mt 5:8
[43] N.T.: Mt 13:34-35
[44] N.T.: Mt 25:21
[45] N.T.: Maurice Polydore Marie Bernard Maeterlinck1 (1862 -1949) foi um dramaturgo, poeta e ensaísta belga de língua francesa, e principal expoente do teatro simbolista.
[46] N.T.: profundezas
[47] N.T.: Mt 28:18
[48] N.T.: Sl 8:5-7 – Hb 2:7
[49] N.T.: Sala no extremo Oeste do Tabernáculo do Deserto
[50] N.T.: para o Hemisfério norte
[51] N.T.: ou Sílfides
[52] N.T.: Mt 28:16-20
[53] N.T.: At 3:6
[54] N.T.: ICor 13:1
[55] N.T.: Rm 13:11
[56] N.T.: Sir Galahad é um poema escrito por Alfred Tennyson, poeta inglês
[57] N.T.: obra-mestra de Richard Wagner, baseado na lenda de Parsifal, cuja origem está envolta no mistério em que se desenvolveu a infância da raça humana; Parsifal simboliza a nova raça, que se eleva pela geração pura, em harmonia com as leis da natureza.
[58] N.T.: o mago negro, o “cavaleiro negro”, na obra Parsifal; simboliza a natureza inferior.
[59] N.T.: CAPÍTULO V – A Relação do Ser Humano com Deus
[60] N.T.: Mt 16; 24 – Mc 8:34 – Lc 9:23
[61] N.T.: Georg Friedrich Händel, célebre compositor da Alemanha, naturalizado cidadão britânico; 42º movimento (o célebre “Aleluia” – HALLELUJAH CHORUS) da obra: o oratório Messias (Messiah)
[62] N.T.: Lc 22:19-20
[63] N.T.: o ponto mais alto de ascensão norte é no Solstício de Junho.
[64] N.T.: reinos do Mundo Físico: Região Química e Região Etérica do Mundo Físico.
[65] N.T.: quando da sua primeira vinda.
[66] N.T.: outubro, novembro e dezembro.
[67] N.T.: o Espírito Virginal manifestado, nós
[68] N.T.: nos seus Corpos: Denso, Vital e de Desejos e o veículo: Mente.
As informações contidas nesse livreto foram trazidas das conferências e de outros escritos de Max Heindel e publicadas de tempos em tempos, em forma de revista ou trechos em livros.
Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota.
O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós.
Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo-interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria.
Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.
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Há 4 meios de você acessar esse Livro:
1.Em formato PDF (para download ou imprimir):
Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel
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4. Para estudar no próprio site:
INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA PÁSCOA
Por
Max Heindel
(1865-1919)
Compilado de vários escritos e conferências de um místico
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, The Mystical Interpretation of Easter, editada por Max Heindel
1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
PREFÁCIO
As informações contidas nesse livreto provêm das conferências e escritos de Max Heindel, e foram publicadas uma e outra vez em forma de artigos de revista e/ou em livros. O Boletim Echoes, editado pela primeira vez em junho de 1913, por Max Heindel, contém uma grande quantidade de conhecimentos e sabedoria sobre esse e outros importantes acontecimentos de significado místico. Alguns capítulos sobre a Páscoa são, também, encontrados nos livros Coletâneas de um Místico e Ensinamentos de um Iniciado.
Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota. O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós. Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo Interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria. Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.
ÍNDICE
UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO
O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA
O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA.
QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?
“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,
se não nasce dentro de ti, tua alma segue extraviada.
Olharás em vão a Cruz do Gólgota,
enquanto não fizeres um Gólgota de teu coração também”.
AngelusSilésius[1]
A canção popular de hoje, que todo mundo canta com entusiasmo, mas que é esquecida amanhã; o espetáculo que é levado à cena, talvez, cem noites seguidas, para depois ser abandonado e relegado ao pó, e todas as outras coisas que são evanescentes demonstram, claramente, que não tem um valor intrínseco. O brilho de uma estrela cadente ilumina o céu por um momento, mas embora o brilho das outras estrelas seja mais fraco e atraia menos a nossa atenção, suas luzes confortam ao caminhante, noite após noite, através dos tempos. Somente as canções que, por seu valor, são reproduzidas sempre de novo, cuja música não nos cansa nunca, têm realmente algo de valioso na vida. O mesmo acontece nos ciclos cósmicos que sempre se repetem, marcados pelas festas do ano. Como elas são recorrentes, sempre nos ensinam as mesmas antigas lições, sempre sob um novo ponto de vista.
O impulso de vida do Cristo Cósmico que entrou na Terra no último mês de setembro, manifestou-se no nascimento Místico no Natal e realizou sua maravilhosa magia de fecundação do mês de setembro até março e se libertou da cruz da matéria para ascender novamente ao trono do Pai, na Páscoa deixa a Terra coberta de uma glória verde dos próximos meses, pronta para as atividades físicas[1].
Como é em cima, assim também é em baixo. Os processos que se desenvolvem em larga escala na Terra manifestam-se, também, no ser humano. Durante os meses de setembro a março nós fomos completamente impregnados pelas vibrações espirituais que predominaram nos últimos meses, muito mais do que foi possível sob as condições mais materiais que prevalecem entre março e setembro. Chegou-nos em setembro com um novo impulso para a vida superior; culminou na Noite Santa, e sua magia trabalhou dentro de nós e em nossas naturezas na proporção que aproveitamos nossas oportunidades. De acordo com a nossa aplicação ou descuido no último período, o progresso será acelerado ou atrasado no próximo período, porque não existem palavras mais verdadeiras do que aquelas que nos ensinam que somos exatamente aquilo que fizermos de nós mesmos. O serviço que prestamos ou deixamos de prestar determina se a nova oportunidade, para um serviço maior, nos proporciona um impulso mais forte para cima; e não será nunca demais repetir que é inútil esperar libertação da cruz da matéria, antes que tenhamos usado nossas oportunidades aqui e, então obter uma mais ampla capacidade de sermos úteis. Os “cravos” que prendem a Cristo na Cruz do Calvário prendem você e eu, até que o impulso dinâmico de amor flua de nós em ondas e correntes rítmicas, tal como a maré de amor que, anualmente, entra na Terra, e a impregna com vida renovada.
Conhecemos a analogia entre o ser humano – que entra nos seus veículos, quando desperta pela manhã, vive neles e trabalha por meio deles, e a noite é um Espírito livre, livre da escravidão do Corpo Denso – e o Espírito de Cristo que mora em nossa Terra, uma parte do ano. Nós todos sabemos que grilhão e que prisão esse Corpo representa; como nós somos cerceados pelas doenças e sofrimentos, porque não existe ninguém que esteja sempre em perfeita saúde, de maneira que nunca estamos livres de sentir as ânsias de dor, pelo menos ninguém que esteja no estreito caminho espiritual.
A mesma coisa acontece com o Cristo Cósmico, que dirige Sua atenção para a nossa pequena Terra, focando Sua consciência neste Planeta, para que tenhamos vida. Ele tem que vitalizar esta massa morta (que nós mesmos cristalizamos fora do Sol) todos os anos; e isso é um grilhão, um peso e um aprisionamento para Ele. Esse é o motivo justo e próprio pelo qual devemos nos alegrar quando Ele chega à época doNatal, todos os anos, e nasce, novamente, no nosso mundo para nos ajudar a transformar para melhor essa massa informe, com a qual nos sobrecarregamos. Nossos corações, nessa época, devem voltar-se para Ele, em gratidão pelo sacrifício que Ele faz por nossa causa, durante os meses de: setembro, outubro, novembro e dezembro, permeando este Planeta com Sua Vida, para despertá-lo da hibernação, no qual permaneceria se não fosse Ele, pelo seu nascimento, para dar-lhe vida.
Durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro Ele sofre agonias de torturas, “gemendo, trabalhando e esperando pelo dia da libertação”[2], a qual chega no tempo em que nós falamos nas igrejas ortodoxas: Semana da Paixão, mas nós afirmamos que, de acordo com os ensinamentos místicos, essa semana é exatamente a culminação ou ponto mais alto dos Seus sofrimentos, e que Ele, então, sai de Sua prisão; e quando o Sol cruza o Equador, Ele é suspenso na Cruz, exclamando: “Consummatum est!” – “Está consumado!”[3]; ou “Está cumprido!”. Isto quer dizer que o Seu trabalho, para aquele dia, foi cumprido. Não é um grito de agonia, mas um grito de triunfo, um grito de alegria, pois a hora da libertação chegou e, mais uma vez, Ele pode se elevar, por mais um período, se livrando da prisão e do peso do nosso Planeta.
O ponto para o qual desejo chamar vossa atenção é que deveríamos nos alegrar com Ele, nessa grande, gloriosa e triunfante hora, a hora da libertação, quando Ele exclama: “Está cumprido”. Sintonizemos os nossos corações para esse grande acontecimento Cósmico; alegremo-nos com o Cristo, nosso Salvador, que o tempo de Seu sacrifício anual se completou, mais uma vez; sintamo-nos agradecidos, do fundo dos nossos corações, que Ele está, agora, prestes a ser libertado da prisão terrena; pois a vida que Ele imbuiu no nosso Planeta é suficiente para conservar-se até o próximo Natal.
A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Por isso, quando queremos conhecer a Deus precisamos estudar a Natureza, lembrando-nos sempre que existe um propósito emtoda a manifestação; que a vida é uma escola e aprendendo suas muitas lições a humanidade evolui lentamente de uma chispa divina para a Divindade. Se tivéssemos aprendido as lições da vida, tal como nos foram dadas, não teria havido necessidade do grande sacrifício que foi feito e que é anualmente repetido pelo Espírito de Cristo, que é a personificação do Amor. Por egoísmo, desobediência às Leis e práticas do mal fomos cristalizando rapidamente, não somente nossos corpos, mas, também a Terra na qual vivemos, a um nível que ambos estavam se tornando inúteis como meios de evolução. Quando já não nos podíamos salvar dos resultados dos nossos próprios erros, o Cristo compassivo ofereceu a Si mesmo e o seu grande Poder de Amor para romper essas condições cristalizadas dos corpos humanos e da Terra. Durante três anos Ele ensinou a Humanidade pela palavra, pelo preceito e exemplo.
Quando Ele foi crucificado no Gólgota o seu Grande Sacrifício pela humanidade apenas começou. Cada ano, desde esse tempo, quando o Sol passa do Signo zodiacal de Virgem para o de Libra, o Espírito de Cristo, retornando à nossa Terra, toca a sua atmosfera. Ele começa a sua jornada de descida em torno de 21 de junho[4], no Solstício de Junho, quando o Sol entra no Signo de Câncer. Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de dezembro. Aí Ele fica por três dias e, depois, começa a voltar. Esta volta completa-se na Páscoa. Da Páscoa até o Solstício de Junho Ele está passando pelos Mundos Espirituais e chega ao Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai, a 21 de junho[5]. Durante julho e agosto, quando o Sol está em Câncer e Leão, Ele reconstrói o seu veículo Espírito de Vida, que Ele trará ao mundo, novamente, e, com esse veículo, Ele voltará a rejuvenescer a Terra e os reinos de vida que nela evolucionam. Do Natal até a Páscoa Ele se dá a Si mesmo sem limitações nem medida, imbuindo com vida, não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra.
Sem essa infusão da vida e energia Divinas, todos os seres viventes da nossa Terra morreriam imediatamente, e todo o progresso seria frustrado, no que concerne à nossa presente linha de desenvolvimento. Essa atividade germinativa da vida do Pai, que nos é trazida por Cristo e entregue amplamente no tempo da Páscoa, que renova o crescimento e intensifica a atividade na planta, no animal e no ser humano, nessa especial parte do ano. Cristo não deixa a Terra na Páscoa senão depois de dar de Si Mesmo até ao máximo. É, então, que a infusão de Sua Vida, junto com os raios quase verticais do Sol, faz as sementes germinarem; as árvores florirem; os pássaros acasalarem, dirigidos pelos seus Espíritos-Grupo, e construírem seus ninhos. A humanidade, então, é fortificada e imbuída com a energia e a coragem necessárias para enfrentar, aproveitar e crescer por meio das experiências inesperadas providas pelos diversos e perplexos problemas da vida.
Para aqueles que se decidiram trabalhar consciente e inteligentemente com a Lei Cósmica, a Páscoa tem um grande significado. Para eles significa a libertação anual do Espírito de Cristo das restrições dolorosas da Terra e Sua gloriosa ascensão ao mundo do Seu verdadeiro lar, para lá permanecer um período junto ao seio do Pai. E se os seus olhos estão verdadeiramente abertos eles podem ver as hostes Angélicas que O estão esperando, prontos para acompanhá-Lo na Sua viagem em direção ao céu; se os seus ouvidos estão sintonizados com os sons celestiais, eles ouvem os coros celestiais cantando Seu louvor e hosanas jubilosos, elevados ao Deus Altíssimo.
Para as almas iluminadas a Páscoa traz uma profunda compreensão do fato de que toda a humanidade é peregrina na Terra; que a verdadeira pátria do Espírito são os Mundos Espirituais e para alcançar esse reino devemos nos esforçar em aprender as lições da escola da vida o mais rápido possível, de maneira que possamos ser capazes de ver para o amanhecer de um dia que nos liberaremos, permanentemente, da escravidão da Terra. Então, da mesma forma como o Cristo libertado, chegaremos a uma realização dessa gloriosa imortalidade, como recompensa da conquista do Espírito perfeito. Para as almas iluminadas, a Páscoa simboliza o amanhecer de um dia feliz, quando toda a humanidade, semelhante ao Cristo, será permanentemente livre das restrições materiais, e ascenderão aos Reinos celestes, tornando-se pilares de força na Casa do Pai, de onde não mais sairão.
Para onde eu vou não podes agora seguir-me; mas
depois me seguirás … Aquele que crê em mim
também fará as obras que eu faço
e as fará maiores do que estas.
Jo 13:36; 14:12
Se fôssemos a uma igreja ortodoxa num Domingo de Páscoa, provavelmente ouviríamos a história de Jesus, o Filho de Deus, concebido sem pecado e que, com a idade de 30 anos, assumiu um sacerdócio que durou três anos e que terminou em crucificação e morte por nós; que através de seu sangue podemos ser salvos. Provavelmente, poderíamos ouvir, também, que no dia da Páscoa ele levantou-se novamente dos mortos, subindo depois para o Pai onde está agora sentado à direita da majestade de Deus, de onde retornará para julgar os vivos e os mortos na última Ressurreição.
Porém, mesmo sabendo – em virtude de podermos ler na Memória da Natureza – que Jesus viveu e morreu, que teve uma missão mística da máxima importância para a evolução humana e que os principais acontecimentos daquela grande vida se deram realmente conforme relata o Evangelho, sabemos também que a missão do Cristo Místico é algo infinitamente mais gloriosa do que aquilo que já penetrou no coração dos que conhecem apenas a interpretação ortodoxa dos Evangelhos.
Em primeiro lugar, a festa da Ressurreição, chamada Páscoa, não comemora simplesmente a ressurreição de um indivíduo, mas significa um evento cósmico. Seria extrema tolice celebrar-se a morte e ressurreição de uma pessoa, ocorrida em certo dia do ano, com uma festa móvel que é determinada pelas posições do Sol e da Lua no Signo zodiacal de Áries, o carneiro ou cordeiro.
Cada ano uma onda espiritual de vitalidade invade a Terra no Solstício de Junho, a fim de despertar a semente que hiberna no solo gelado e infundir nova vida ao mundo em que vivemos. Este trabalho se processa durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o Sol transita pelos Signos zodiacais de Capricórnio, Aquário e Peixes. Então, ele cruza o equador celestial vindo do Sul, onde esteve durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro; esse cruzamento ou crucificação (crucifixão) é então relacionado, cosmicamente, com a sua entrada no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Então, o Sol se eleva para os Signos dos céus setentrionais a fim de promover, com seus raios aquecedores, o crescimento da semente no solo já revitalizada pela onda de vida Crística nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Sem essa onda mística anual de energia vital oriunda do Cristo Cósmico, a vida física seria uma impossibilidade. Sem ela não poderia haver nem pão e vinho físicos, nem a transubstanciada tintura espiritual, preparada pela alquimia vinda do sangue do coração do Discípulo.
O cordeiro foi morto quando da fundação do mundo da Época Ária, em que agora vivemos. Seu sangue foi o símbolo que salvou da morte o povo escolhido de Deus quando este deixou o lendário Egito, a pátria de adoração do boi Touro ou Apis. A partir dali, tornou-se idolatria para todos os que haviam sido salvos pelo sangue do cordeiro, adorar o bezerro de ouro, pois as velhas Religiões do boi Touro tinham sido superadas pela Religião do cordeiro, quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, deixou o Signo de Touro e entrou no Signo celestial de Áries, o cordeiro ou carneiro. Completado o tempo em que o Sol, por Precessão dos Equinócios, havia alcançado os sete graus no Signo do carneiro, Cristo veio no corpo de Jesus para estabelecer um novo pacto sob o selo e símbolo dos místicos pão e água da vida. Mas o Cordeiro de Deus precisava morrer, e isto aconteceu individualmente quando Cristo deixou o corpo de Jesus e, cosmicamente quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, saiu do Signo de Áries. Então um novo símbolo precisava ser dado àqueles que seriam os mensageiros durante a entrante Era de Peixes, por conseguinte, Ele, Ele próprio representou na última ceia do cordeiro do sacrifício. O pão e a água da vida foram dados como símbolo do seu corpo e do seu sangue, devendo ser usados para recordá-Lo durante a próxima Era. Há, portanto, uma ligação entre o vinho místico e o sangue, como também entre o pão místico e o corpo, que precisamos compreender se quisermos conhecer o verdadeiro sentido místico da morte e da ressurreição.
Em sua evolução o ser humano recebeu o alimento apropriado ao desenvolvimento de cada um dos seus veículos. Um veículo como o nosso corpo físico, formado de compostos químicos, só pode ser nutrido com substâncias químicas. Analogamente, só Espírito pode atuar sobre Espírito, portanto o vinho foi acrescentado à dieta do ser humano para ajudá-lo a dissolver as pesadas moléculas da carne e estimulá-lo na batalha da existência. A isto se refere à história de Noé (Gn 9:2-20), o qual com seus seguidores, representa a humanidade na era do arco-íris em que a assim chamada “dieta mista” e o vinho constituem a alimentação necessária à presente fase de evolução.
Fortalecido pela Mente carnívora e pelo Espírito do álcool, o ser humano se afastou cada vez mais do caminho da fraternidade, pois nutrindo-se com o mesmo alimento dos carnívoros ele se tornou necessariamente tão feroz quanto um animal predador, passando a caçar instintivamente ao seu próprio semelhante. Enquanto o sistema de procriação e casamento dentro da mesma tribo prendia-o firmemente aos seus companheiros de clã, ele ao menos demonstrava amá-los. Mas desde que os casamentos intertribais entraram em voga e ele começou a emancipar-se gradativamente do Espírito de raça, passou a saquear, ao próprio ser humano e até à própria família. O egoísmo tomou-se ilimitado, nada mais foi sagrado aos olhos cobiçosos, e cada ser humano passou a viver em guarda contra todos os outros. Além da ação que tais coisas trazem, não há descanso, não há paz duradoura nem felicidade na senda da paixão e da autogratificação. Portanto, chega a hora em que o ser humano deseja um fim permanente para os seus sofrimentos mais do que qualquer outra coisa, e aí começa a buscar o caminho da paz, que é também o caminho da pureza e da abnegação. Então ele é introduzido nos mistérios do Gólgota, do Sangue Purificador e da Cruz das Rosas, como segue:
Purificar o sangue do egoísmo é o Mistério no Gólgota. O processo começou quando o sangue de Jesus foi derramado e continuou através das guerras entre nações Cristãs todas as vezes que o ser humano lutou por um ideal, e prosseguirá até que o contraste entre os horrores da guerra e a beleza da fraternidade tenham impressionado suficientemente a espécie humana. Abaixo de nós na escala da evolução estão os vegetais e os animais, acima estão os deuses. Anatomicamente nós pertencemos ao reino animal e, em nossas vidas passadas, vivemos abaixo da nossa condição de humanos. Como os animais, gratificávamos nossos desejos sexuais e nossos apetites, mas enquanto aqueles eram mantidos sob controle por um sábio Espírito-Grupo nós não exercemos nenhum domínio sobre os nossos desejos, pelo que a doença, a dor e o sofrimento tornaram-se o nosso quinhão. Agora, contudo, aspiramos palmilhar a senda da paz em direção à serena felicidade dos deuses. Para isso devemos nos tomar como as plantas, isto é, puros e sem paixões. Consideremos o antigo Templo de Mistérios Atlante, também chamado “O Tabernáculo no Deserto”. Na velha Dispensação, quando a carne oferecida em sacrifício pelos pecados era queimada sobre o altar do sacrifício, seu odor elevava-se aos céus como um atestado da repugnante natureza da transgressão, da paixão e da impureza. Mas dentro do Tabernáculo havia o candelabro de sete braços, que queimava a essência das oliveiras sem desprender odor desagradável. Toda carne foi concebida sob a paixão e o pecado, mas a geração da planta é pura e imaculada. Por conseguinte, a flor aromática, especialmente a rosa vermelha, mantém-se em simbólica e direta oposição à carne corrompida. A flor é o órgão gerador da planta. Ela nos diz que a concepção sem mácula, em amor e pureza, é o caminho da paz e do progresso. Em Sua última reunião com seus Discípulos, Cristo estabeleceu os símbolos do novo pacto, do Testamento: deu-lhes pão para comer, simbolizando o Seu corpo, e a taça simbolizando o Seu sangue. Não uma taça comum para qualquer líquido, nem que o líquido por si só tivesse o poder suficiente para ratificar o novo pacto. O mistério jaz no fato de que a taça e seu conteúdo eram partes essenciais e necessárias de um sublime todo. O nome que designava essa taça mística em latim era “Calix”, em grego era “Poterion”.
Na velha Dispensação só a água era usada nos serviços do templo, mas com o tempo o vinho tornou-se um fator na evolução humana. Um deus do vinho – Baco – passou a ser adorado, e orgias da mais brutal natureza eram celebradas para que, sufocando as aspirações do Espírito, o ser humano se voltasse mais para a conquista do Mundo Físico. Mesmo sob a Dispensação mosaica os sacerdotes eram rigorosamente proibidos de usar o vinho enquanto oficiassem no templo, mas Cristo em sua primeira aparição em público mudou a água em vinho, aprovando deste modo o seu uso na ordem de coisas então existentes. Note-se, todavia, que isso foi feito em público, e que esse foi Seu primeiro ato como sacerdote do povo, mas na última reunião esotérica de Cristo com Seus Discípulos, quando o novo pacto foi dado, não havia nem carne de carneiro (Áries) – conforme estabelecia a ordem Mosaica – nem vinho, mas tão somente pão, um produto vegetal e o cálice do qual falaremos após ouvirmos as palavras que Ele proferiu naquela ocasião: “Não mais beberei deste fruto da videira até o dia em que hei de beber, novo, convosco no Reino dos Céus”[6]. O suco novo, recém-espremido da uva, não contém o Espírito da fermentação e da decomposição, mas é um alimento vegetal nutritivo e puro. Por conseguinte, os seguidores da doutrina esotérica foram instruídos por Cristo a não consumirem alimentos cárneos nem alcoólicos.
Geralmente supõe-se que o cálice usado por Cristo na Última Ceia continha vinho, muito embora não haja fundamento bíblico para tal suposição. Existem três relatos dos preparativos para a Páscoa. Mesmo que Marcos e Lucas refiram-se aos mensageiros enviados a certa cidade em busca de um homem que carregava um cântaro de água, nenhum dos evangelistas diz que o cálice continha vinho. Além disso, investigações na Memória da Natureza mostram que a água é que foi usada, e no que diz respeito aos esoteristas o vinho não tinha mais vez. Daquele ato, data também a inauguração do movimento de temperança, pois tais mudanças cósmicas envolvem longos preparativos nos Mundos Espirituais internos antes que possam manifestar-se nas sociedades do Mundo externo. Assim, milhares de anos quase nada significam nesses processos.
O uso da água na Última Ceia também se harmoniza com os requisitos astrológicos e éticos. O Sol saía de Áries – o Signo do Cordeiro – e entrava em Peixes, um Signo de Água. Ia soar uma nova nota de aspiração. Na Era de Peixes entrante ia iniciar-se uma nova fase de soerguimento humano. A autoindulgência ia ser suplantada pela autonegação. O pão, a matéria da vida, que é feito do grão gerado imaculadamente, não estimula paixões como a carne, nem nosso sangue se agita tão apaixonadamente quando recebe água do que quando recebe vinho. Portanto, pão e água são os alimentos e símbolos apropriados aos ideais da Era Peixes-Virgem, pois representam pureza. A Igreja Católica dá aos seus fiéis a água de Peixes na porta dos templos, como dá também o pão da Virgem no altar, mas nega-lhes o cálice de vinho do ofício. Todavia, as considerações acima não conduzem no âmago do mistério oculto no “Cálice do Novo Pacto”.
A taça de vinho velho, que nos foi dada no início da Época Ária – terra da geração – estava cheia de destruição, morte e veneno, de modo que a palavra que então aprendemos a falar é morta e destituída de poder.
A taça de vinho novo, mencionada como o ideal da futura época – a Nova Galileia (não a confundir com a Era de Aquário) – é um órgão etérico construído no interior da cabeça e da garganta pela força sexual economizada, o qual órgão é visto pelos Clarividentes como a haste de uma flor que ascende da parte inferior do tronco. Este cálice, ou taça-semente, é verdadeiramente um órgão criador capaz de emitir a palavra, a vida e o poder.
A palavra atual é produzida por movimentos musculares rudimentares que combinam laringe, língua e lábios de tal modo que a passagem do ar saído dos pulmões gera determinados sons. Mas o ar é um veículo pesado, difícil de mover-se, comparado as forças mais sutis da Natureza como a eletricidade, que se propaga no Éter, de modo que, quando este órgão tiver alcançado pleno desenvolvimento, ele terá o poder de falar a palavra da vida e infundir vitalidade nas substâncias que até ali estiverem inertes. Este órgão está sendo agora construído por nós, através do serviço.
Recorde-se que Cristo não deu o cálice ao povo, mas sim aos Seus Discípulos, Seus mensageiros e servos da Cruz. Nos dias atuais, aqueles que bebem do cálice da auto-abnegação para poderem usar a força no serviço aos outros estão construindo esse órgão e, também, o Corpo-Alma, que é o traje nupcial. Estão aprendendo a usá-lo aos poucos, como Auxiliares Invisíveis, quando fora de seus corpos à noite precisam emitir a palavra de poder para dissipar doenças e produzir tecidos sadios.
Quando a Época Atlante se aproximava do seu fim e a humanidade abandonava o lar de sua infância, onde viveu sob a orientação direta de Guias Divinos, o velho pacto foi feito dando ao ser humano carne e vinho, e estes dois elementos, juntamente com o uso descontrolado da força sexual, tornaram a Época Ária uma era de morte e destruição. Agora estamos nos aproximando do fim dessa era. Estamos em busca do Reino dos Céus, da Nova Galileia, e a fim de preparar-nos para essa época. Cristo nos deu o pão e a água da vida, ordenando-nos ao mesmo tempo não cedermos a luxúria. Tendo feito este novo pacto, Ele foi para a cruz da libertação, deixando atrás de Si o corpo da morte e pairando nas alturas em um veículo de vida, o Corpo Vital. Mas Ele deu aos Seus seguidores a certeza de que, embora eles não O pudessem seguir então ao lugar para onde ia, mais tarde o seguirão. Cada pessoa é um Cristo-em-formação e algum dia acontecerá a “Páscoa” para cada um de nós.
“Toda a vida de Cristo foi uma cruz e um martírio,
e tu buscas para ti mesmo folga e prazer? Quanto
maior o avanço espiritual de um indivíduo mais
pesadas as cruzes com que ele se depara frequentemente,
pois as dores do seu desterro aumentam
com o fortalecimento do seu amor”.
Thomas de Kempis[7]
Na manhã da Sexta-Feira Santa de 1857, Richard Wagner[8], o maior artista do século dezenove, sentou-se à varanda de uma vivenda suíça que se debruçava às bordas do lago de Zurich[9]. O panorama que se descortinava ao redor estava banhado por um glorioso brilho do Sol; paz e boa vontade pareciam vibrar por toda a Natureza. A criação inteira palpitava de vida e o ar estava carregado da deliciosa fragrância dos bosques de pinho – bálsamo gratificante para um coração atormentado e uma Mente agitada.
Então, de súbito, como um raio caído do céu azul, surgiu na alma profundamente mística de Wagner a lembrança do execrável significado daquele dia – o mais sombrio e mais doloroso do ano Cristão. Essa lembrança o inundou de tristeza, pelo contraste com o que via. Era uma incongruência marcante entre o alegre cenário que tinha diante de si, a clara atividade notável da Natureza, em luta pela renovação da vida após o longo sono hibernal, e o mortal esforço do Salvador torturado na cruz; entre os gorjeios plenos de vida e amor dos milhares de cantores de pena do bosque, na charneca e no prado, e os hediondos gritos de ódio duma turba enfurecida que insultava e zombava do mais nobre ideal que o mundo já conheceu; entre a maravilhosa energia criadora manifestada pela Natureza na primavera[10] e o elemento destruidor no ser humano, que assassinou o caráter mais nobre que já agraciou a Terra.
Enquanto Wagner meditava assim sobre os paradoxos da vida, ocorreu-lhe a pergunta: “há alguma relação entre a morte do Salvador por crucificação, na Páscoa, e a energia vital que se manifesta tão abundantemente na primavera quando a Natureza começa a vida de um novo ano?”.
Mesmo que Wagner não percebesse, conscientemente, o significado total da relação entre a morte do Salvador e o rejuvenescimento da Natureza, não obstante ele havia dado com a chave de um dos mais sublimes mistérios com que o Espírito humano já deparou em sua peregrinação da Terra à Deus.
Na noite mais escura do ano, quando a Terra dorme mais profundamente no abraço do frio Boreal, quando as atividades materiais descem ao nível mais baixo, uma onda de energia espiritual transporta em sua crista a “Palavra do Céu”, divina e criadora, para um nascimento místico no Natal. Então, como uma nuvem luminosa, o impulso espiritual paira sobre o mundo que “não o conheceu”[11] porque ele “brilha nas trevas”[12] do inverno, quando a Natureza está paralisada e muda.
Essa divina “Palavra” criadora contém uma mensagem e tem uma missão. Nasceu para “salvar o mundo”[13] e “para dar sua vida pelo mundo”. Deve, necessariamente, sacrificar sua palavra para conseguir o rejuvenescimento da Natureza. Gradativamente sepulta-se na Terra e passa a infundir sua própria energia vital nas milhões de sementes que jazem adormecidas no solo. Sussurra a “palavra de vida” nos ouvidos dos animais e pássaros, até que o evangelho das boas novas tenha sido pregado a todas as criaturas. O sacrifício se completa totalmente na época do ano em que o Sol cruza seu nódulo oriental no Equinócio de Março. Então a divina palavra criadora expira. Em um sentido místico, ela morre na cruz da Páscoa, emitindo um último brado de triunfo: “Está Consumado”[14] (Consummatum est).
Porém, do mesmo modo que o eco volta a nós, muitas vezes, repetido, assim também o canto celestial de vida se repete sobre a Terra. A criação inteira entoa um cântico de louvor, que é repetido sem cessar pelo coro de uma legião de línguas. As pequeninas sementes no seio da Mãe Terra começam a germinar, brotando e despontando em todas as direções, e logo um maravilhoso mosaico de vida, um tapete verde aveludado bordado de flores multicores, toma o lugar da mortalha do imaculado branco gelado. Dos animais de pelo e pena, em todos a palavra de vida ressoa como uma canção de amor, impelindo-os ao acasalamento. Geração e multiplicação é o lema em toda parte – o Espírito libertou-se para uma vida mais abundante.
O ser humano é uma miniatura da Natureza. O que acontece em grande escala na vida de um Planeta, como a nossa Terra, ocorre em escala menor ao longo da vida do ser humano. Um Planeta é o corpo de um grande, maravilhoso e exaltado Ser, um dos Sete Espíritos diante do Trono (do Pai Sol). O ser humano também é um Espírito “feito à sua imagem e semelhança”. Assim como um Planeta gira em seu caminho cíclico ao redor do Sol, de onde é emanado, assim também o Espírito humano se move numa órbita em volta de sua fonte central – Deus. Sendo elípticas as órbitas planetárias, possuem pontos muitíssimo próximos e pontos extremamente afastados dos seus centros solares. De maneira análoga, a órbita do Espírito humano é elíptica. Nós estamos mais perto de Deus quando nossa jornada cíclica nos leva à esfera de atividade celeste – o Céu – e estamos mais separados d’Ele durante a vida terrena. Tais mudanças são necessárias ao nosso crescimento anímico. Assim como as festividades do ano assinalam o caráter repetitivo de acontecimentos importantes na vida de um Grande Espírito, do mesmo modo nossos nascimentos e mortes são fatos de repetição periódica. É tão impossível para o Espírito permanecer definitivamente no Céu ou na Terra como o é para um Planeta deter-se em sua órbita. A mesma imutável lei de periodicidade que determina a ininterrupta sequência das estações, a alternação do dia com a noite e os fluxos e refluxos das marés, governa também a marcha progressiva do Espírito humano tanto no Céu quanto na Terra.
Dos domínios de luz celestial onde vivemos em liberdade, sem as limitações do tempo e do espaço, onde vibramos em uníssono com a infinita harmonia das esferas, nós descemos para nascer no Mundo Físico, onde nossa visão espiritual torna-se obscurecida pela corda enrolada que nos agrilhoa a esta fase de limitações da nossa existência. Vivemos uns tempos aqui, depois morremos e subimos aos céus, para renascer e morrer outra vez. Cada vida terrena é um capítulo da história seriada da vida, extremamente humilde em seu começo, mas crescendo em interesse e importância à medida que ascendemos para estágios de responsabilidade humana, cada vez mais altos. Nenhum limite é concebível, pois somos divinos em essência e, portanto, temos latentes em nós as infinitas possibilidades de Deus. Quando tivermos aprendido tudo o que este mundo tem para ensinar-nos, uma órbita mais ampla, uma esfera maior de utilidade sobre-humana, abrir-se-á às nossas maiores capacidades.
“Mas, e Cristo?” – Pode alguém perguntar. “Você não acredita n’Ele? Você está discorrendo sobre a Páscoa, o feriado que comemora a morte cruel do Salvador e Sua gloriosa e triunfante ressurreição, todavia parece referir-se a Ele mais como uma alegoria que como um fato.”.
Certamente nós cremos em Cristo; amamo-Lo de todo o coração e com toda a nossa alma, mas queremos enfatizar a crença de que Cristo é a primícia da raça. Ele disse que nós poderíamos fazer as coisas que Ele fez, “e maiores ainda”. Portanto, somos Cristos-em-formação.
Estamos muito habituados a buscar um Salvador externo ao mesmo tempo que abrigamos um demônio interno, mas até que Cristo seja formado EM NÓS, conforme disse São Paulo, buscaremos em vão, porque assim como é impossível para nós percebermos a luz e a cor ao nosso redor sem o registro de suas vibrações pelo nosso nervo ótico, e assim como permanecemos inconscientes do som quando o tímpano dos nossos ouvidos está insensível, do mesmo modo permanecemos cegos à presença de Cristo e surdos à Sua voz enquanto não despertarmos nossa natureza espiritual interna. No entanto, uma vez despertada essa natureza espiritual, o Senhor do Amor se revela como uma realidade primordial, baseado no princípio de que, fazendo-se vibrar um diapasão, outro diapasão de mesmo tom começará também a vibrar, enquanto outros de tons diferentes ficarão mudos. Por isso Cristo disse que Suas ovelhas conheciam-No pelo som de Sua voz, à qual respondiam, mas não ouviam a voz do estranho (Jo 10:5). Não importam nossos credos, todos somos irmãos de Cristo, portanto regozijemo-nos: o Senhor ressuscitou! Busquemos a Ele e esqueçamos nossos credos e outras diferenças de menor importância.
O sinal da Cruz estará no céu quando o Senhor
vier para julgar. Então, todos os que servem a
Cruz e que na vida se tenham harmonizado com o
Crucificado poderão aproximar-se de Cristo com
toda coragem.
Thomas de Kempis
Mais uma vez chegamos ao ato final do drama cósmico que envolve a descida do Raio solar de Cristo ao interior da matéria de nossa Terra, o qual se completa no nascimento místico celebrado no Natal e na Morte Mística e Libertação, celebradas logo após o Equinócio de Março, quando o Sol do novo ano inicia sua ascenção às esferas superiores dos céus setentrionais, depois de verter sua vida para salvar a humanidade e revigorar todas as coisas sobre a Terra. Nessa época do ano uma nova vida, uma energia intensificada, circula com força irresistível nas veias e artérias de todos os seres vivos, inspirando e instilando neles novas esperanças, novas ambições e nova vida, e impelindo-os a novas atividades pelas quais possam aprender novas lições na escola da experiência. Consciente ou inconscientemente, tudo o que tem vida beneficia-se desse manancial de energia fortalecida. Até a planta responde por um aumento de circulação de seiva, que resulta em uma renovação de folhas, flores e frutos, meios pelos quais esta classe de vida expressa-se a si mesma e evolui para um estado superior de consciência.
Mas ainda que maravilhosas sejam essas manifestações físicas externas, e ainda que possa ser chamada de gloriosa essa transformação da Terra de um deserto de neve e gelo em um formoso jardim florido, isso é insignificante diante das atividades espirituais paralelas que se efetuam ao mesmo tempo. As características salientes do drama cósmico são idênticas em termos de época com os efeitos materiais do Sol nos quatro Signos Cardeais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), porque os eventos mais significativos ocorrem nos pontos equinociais e solsticiais.
Realmente, é de fato verdadeiro que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”[15]. Fora d’Ele não poderíamos existir; vivemos por e através de Sua vida; movimentamo-nos e agimos por e através de sua fortaleza; é o Seu poder que sustenta nossa morada, a Terra, e sem Seus incessantes e invariáveis esforços o universo desintegrar-se-ia por si mesmo. Sabemos que o ser humano foi feito à semelhança de Deus, e nos é dado compreender que, consoante a lei de analogia, possuímos internamente certos poderes latentes idênticos àqueles que vemos tão poderosamente manifestados pela Deidade na obra do universo. Isso desperta, em nós, um particular interesse no drama cósmico anual em que envolve a morte e ressurreição do Sol. A vida do Deus-Homem, Cristo-Jesus, foi moldada de conformidade com a história solar e prenuncia, de modo idêntico, tudo o que pode acontecer ao Homem-Deus, a quem Cristo-Jesus profetizou quando disse: “As obras que eu faço vós fareis também, e maiores ainda[16]; para onde vou agora vós não podeis ir, mas depois podereis seguir-me”[17].
A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Ela nada faz em vão ou arbitrariamente, mas existe um propósito por trás de todas as coisas e de todos os atos. Por conseguinte, devemos estar alertas e considerar cuidadosamente os sinais nos céus, porque eles possuem um significado profundo e importante referentes às nossas próprias vidas. A compreensão inteligente desses propósitos capacita-nos a trabalhar mais eficazmente com Deus em Seus maravilhosos esforços para emancipar nossa raça da escravidão das leis da Natureza e, mediante essa liberação, alcançarmos a plena estatura de filhos de Deus, coroados de glória, honra e imortalidade; livres do poder do pecado, da doença e do sofrimento que agora encurtam nossas existências terrenas em razão de nossa ignorância e de inconformidade às leis de Deus. O propósito divino visa essa emancipação, e ser ela conseguida através do longo e tedioso processo evolutivo ou ser alcançada através do caminho muitíssimo mais curto da Iniciação, isso depende da nossa vontade de cooperar ou não. A maioria da humanidade atravessa a vida com olhos que não veem e ouvidos que não ouvem. Segue absorvida em seus negócios materiais, comprando e vendendo, trabalhando e divertindo-se sem a devida apreciação ou compreensão dos propósitos da existência e, ainda que tais propósitos se tornassem claros, é provável que dificilmente se conformasse em virtude do sacrifício que isso envolve.
Não é de estranhar que Cristo chame especialmente o pobre e enfatize a dificuldade do rico entrar no Reino dos Céus, pois mesmo hoje, quando a humanidade já avançou dois milênios na escola da evolução desde aquela data, vemos que a grande maioria ainda dá mais valor às suas casas e terras, às suas roupas e chapéus, aos prazeres sociais, festas e banquetes do que aos tesouros celestiais, que se juntam pelo serviço aos outros e sacrifício de si mesmo. Ainda que essa maioria possa perceber intelectualmente a beleza da vida espiritual, a conveniência desta torna-se insignificante aos seus olhos quando comparada ao sacrifício exigido para alcançá-la. Como o moço rico, ela seguiria, voluntariamente, a Cristo não fora a necessidade de tanto sacrifício. Prefere ir-se quando percebe que o sacrifício é a única condição para ingressar-se no discipulado. Portanto, para tais pessoas a Páscoa não é mais que uma ocasião de regozijo porque se trata do fim de um momento especial e começo de outro momento especial diferente, que convida manifestações de alegrias.
Mas para aqueles que escolheram, definitivamente, a senda do auto sacrifício que conduz à libertação, a Páscoa é o sinal anual que evidencia as bases cósmicas de suas esperanças e aspirações.
No Sol da Páscoa, que no Equinócio de Março começa a percorrer os céus setentrionais, após verter sua vida na Terra, temos o símbolo cósmico da veracidade da ressurreição. Quando o consideramos como um fato cósmico enquadrado na lei de analogia, que relaciona o macrocosmo com o microcosmo, o importante é saber que algum dia alcançaremos a consciência cósmica e conheceremos positivamente por nós mesmos, por nossa própria experiência, que a morte não existe, mas o que isso parece é apenas uma transição para uma esfera mais sutil.
É um símbolo anual para fortalecer as nossas almas no afã das boas-obras, para que possamos tecer o manto dourado nupcial requerido para converter-nos em filhos de Deus no sentido mais elevado e mais santo. É literalmente verdadeiro que enquanto não andarmos na luz, como Ele na luz está, não seremos fraternais uns com os outros. Mas, fazendo sacrifícios e prestando os serviços que se requerem de nós para ajudar na emancipação da raça humana, estamos assim construindo um Corpo-Alma de radiante luz dourada, que é a substância especial emanada do e pelo Espírito do Sol, o Cristo Cósmico. Quando esta substância dourada nos envolver com densidade suficiente, então seremos capazes de imitar o Sol da Páscoa e pairar em esferas mais elevadas.
Com esses ideais firmemente impressos em nossas Mentes, a época da Páscoa se converte em uma estação apropriada para revisarmos nossas vidas durante o ano que passou e tomarmos novas resoluções que adiantem nosso crescimento anímico até ao próximo. É uma época em que o símbolo do Sol ascendente deve levar-nos a uma compreensão profunda do fato de que na Terra não somos mais que peregrinos e forasteiros; que, como Espíritos, nossa verdadeira pátria é o Céu; e que devemos esforçar-nos para aprender as lições desta vida tão depressa quanto nos permitam os caminhos apropriados. O Dia da Páscoa marca a ressurreição e libertação do Espírito de Cristo dos planos inferiores, e essa libertação deve lembrar-nos de buscar continuamente a aurora do dia em que estaremos permanentemente livres das malhas da matéria, do corpo de pecado e morte, juntamente com todos os nossos irmãos em escravidão. Nenhum aspirante sincero poderia conceber uma libertação que não incluísse a todos que estivessem na mesma situação.
Esta é uma tarefa gigantesca. Enfrentá-la pode muito bem desalentar o mais valente coração, de modo que se estivéssemos sozinhos não poderíamos realizá-la, mas as Hierarquias Divinas, que têm guiado a humanidade no caminho evolutivo desde o começo da jornada, ainda estão ativas e trabalhando conosco desde os Mundos Espirituais siderais, de maneira que com sua ajuda seremos, oportunamente, capazes de conseguir o soerguimento da humanidade como um todo e alcançar uma condição individual de glória, honra e imortalidade. Com esta enorme esperança dentro de nós mesmos, com esta grande missão no mundo trabalhemos como nunca para sermos melhores homens e mulheres, de forma que, por nossos exemplos, possamos despertar nos outros o desejo de levar uma vida que conduza à libertação.
“Porque se morreres com Ele, também com Ele
viverás, e se partilhares dos Seus sofrimentos,
da Sua glória também partilharás”.
Thomas de Kempis
Outra vez a Terra alcança o Equinócio de Março, em seu movimento anual de translação em torno do Sol, e assim chegamos à Páscoa. O raio espiritual emitido pelo Cristo Cósmico nesse período, para reativar a esgotada vitalidade da Terra, está quase subindo de volta ao Trono do Pai. Às atividades espirituais de fecundação e germinação, levadas a efeito durante os últimos seis meses, seguir-se-ão os processos de crescimento físico e amadurecimento durante os próximos seis meses, sob a influência do Espírito da Terra. O ciclo termina no “Lar da Colheita”. Deste modo o grande Drama do Mundo é encenado e reencenado ano após ano, numa eterna disputa entre a vida e a morte, sendo cada uma por vez vencedora e vencida na sequência dos ciclos.
Os grandes fluxos e refluxos cíclicos não estão limitados em seus efeitos à Terra, à sua flora e fauna. Exercem igualmente uma influência dominante sobre a humanidade, mesmo que a grande maioria não se aperceba das causas que a impelem a agir numa e noutra direção. Não obstante, essa ignorância, permanece o fato de que a mesma vibração terrestre que adorna vistosamente as aves e outros animais nesses próximos três meses, responde também pelo desejo humano de se vestir com cores alegres e roupas mais claras nessa época do ano. É, também, “o apelo do silvestre campo”, que nos subsequentes três meses convida o ser humano a relaxar no meio rural, onde os Espíritos da natureza exercitaram suas artes mágicas nos campos e florestas, para recuperar-se da tensão das condições artificiais reinantes nas cidades congestionadas.
Por outro lado, é a “queda” do raio espiritual do Sol nos meses de setembro, outubro e novembro que causa o reinício das atividades mentais e espirituais nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. A mesma força germinadora que fermenta a semente na terra e a prepara para reproduzir sua espécie multiplicada, também ativa a Mente humana e fomenta atividades altruístas que tornam o mundo melhor. Caso essa grande onda de desprendido Amor Cósmico não culminasse no Natal, com vibrações de paz e boa-vontade, não poderia haver nenhuma sensação festiva em nossos corações de modo a gerar o desejo de fazer os outros igualmente felizes. O costume universal de dar presentes no Natal seria impossível, e todos nós sofreríamos essa perda.
Quando Cristo andava, dia após dia, pelas colinas e vales da Judeia e Galileia, ensinando às multidões, todos foram beneficiados. Mas Ele convivia mais com Seus Discípulos, e estes cresciam rapidamente cada dia. À medida que o tempo passava esses laços de amor estreitavam-se ainda mais, até que, um dia, mãos impiedosas tiraram o amado Mestre e o levaram a morte desonrosa. Contudo, mesmo que tenha morrido na carne, Ele continuou a conviver intimamente com Seus Discípulos por algum tempo, em Espírito. Mas por fim subiu às esferas superiores, perdendo-se assim o contato direto com Ele, e aqueles homens olharam-se tristemente, cara a cara e perguntaram-se: “É este o fim?”. Eles haviam esperado tanto, haviam alimentado tão elevadas aspirações que, apesar da verdejante paisagem continuar brilhante e beijada pelo Sol como antes de Sua Partida, a Terra parecia fria e monótona, pois sombria desolação oprimia os seus corações.
Algo semelhante também acontece conosco quando buscamos seguir o Espírito e lutar contra a carne, mesmo que a analogia não tenha sido aparente até aqui. Quando, nos meses de setembro, outubro e novembro a “queda” do raio Crístico começa anunciando a época da supremacia espiritual, logo o sentimos e começamos avidamente a banhar nossas almas nessa bendita maré. Experimentamos uma sensação semelhante à dos Apóstolos, quando andavam com Cristo, e à medida que os meses avançam torna-se cada vez mais fácil comungar com Ele, face a face, como antes. Mas, no curso anual dos acontecimentos, a Páscoa e Ascenção do raio de Cristo “ressuscitado” para o Pai, deixa-nos em idêntica posição à dos Apóstolos quando seu querido Mestre se afastou. Nós ficamos desolados e tristes, vemos o mundo como um deserto monótono e não podemos atinar com a razão de nossa perda, que é tão natural como os fluxos e refluxos das marés ou como os dias e as noites – fases da era atual dos ciclos alternados.
Existe um perigo nesta atitude mental. Se permitirmos que ela nos domine, é possível que abandonemos o nosso trabalho no mundo e nos convertamos em sonhadores desiludidos, percamos, nosso equilíbrio e provoquemos, contra nós, a crítica muito justa dos demais. Este tipo de conduta é inteiramente errado, pois, assim como a Terra emprega o seu esforço material para produzir abundantemente em um período, após haver recebido o ímpeto espiritual em outro período, é nosso dever, também, envidar os maiores esforços ao trabalho do mundo quando possuímos o privilégio de comunicar com o Espírito. Assim fazendo, é possível que despertemos nos outros o Espírito de emulação e o de reprovação.
Estamos acostumados a pensar no avaro como alguém que junta ouro, sendo essa classe de pessoas objeto de desprezo, de modo geral. Mas há indivíduos que lutam tão tenazmente para adquirir conhecimento, quanto se esforça o avaro para acumular ouro, não hesitando em usar qualquer meio ou subterfúgio para alcançar seu intento e guardando consigo seus conhecimentos, tão egoisticamente quanto o avaro guarda o seu tesouro. Não compreendem que por tal método eles fecham de fato as portas à uma sabedoria maior. A antiga teologia nórdica continha uma parábola que, simbolicamente, esclarece o assunto. Dizia que todos os que morriam no campo de batalha (as almas fortes que combateram o bom combate até o fim) eram levados ao Valhalla[18], a estar com os deuses, enquanto os que morriam na cama ou por doenças (as almas fracas, que vagavam pela vida) iam para o lúgubre Niflheim. No Valhalla, os valentes guerreiros banqueteavam-se diariamente com a carne de um javali chamado Scrimner, que se caracterizava por uma particularidade: sempre se cortava um pedaço de suas carnes, imediatamente outro crescia no lugar, de modo que seu corpo nunca era consumido, não importa quanto se cortasse dele. Isto simbolizava adequadamente o “conhecimento”, pois, não importa quanto dele possamos dar aos outros, o original sempre fica conosco.
Existe, portanto, certa obrigação de transmitirmos os conhecimentos que possuímos, pois “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido”[19]. Se acumularmos as bênçãos espirituais que temos recebido, o mal nos ronda, por isso imitemos a Terra nesta época da Páscoa. Externemos no Mundo Físico da ação, os frutos do Espírito semeados em nossas almas durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Habilitemo-nos a receber bênçãos cada vez maiores de ano para ano.
“E quando este corpo incorruptível se revestir de incorruptibilidade,
e o que é mortal se revestir de imortalidade,
e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”.
ICor 15 :54
Para os nossos irmãos e irmãs do hemisfério norte passaram-se os sombrios e monótonos dias do inverno (meses de dezembro, janeiro e fevereiro). A Mãe Natureza remove o manto frio de gelo que cobre a terra, permitindo a milhões e milhões de sementes abrigadas no chão macio, romperem sua crosta e vestirem o solo com trajes de verão numa orgia de cores alegres e vistosas, preparando as “câmaras nupciais” para os animais e aves se acasalarem.
Na presente estação a Mente do mundo volta-se para a festividade que chamamos Páscoa, na qual se comemora a morte e ressurreição do nobre indivíduo que o mundo conhece pelo nome de Jesus, cuja história de sua vida foi escrita nos Evangelhos. Mas um Cristão Místico tem uma visão mais profunda e mais ampla desse evento cósmico que se repete anualmente. Para este, o que existe é uma impregnação anual da Terra com a vida do Cristo Cósmico. Uma inalação que tem lugar durante os meses de setembro, outubro, e novembro, culminando no Solstício de Dezembro, quando celebramos o Natal, e uma exalação que chega ao fim na época da Páscoa.
O drama cósmico de vida e morte é representada anualmente, por todas as criaturas e coisas evoluintes, da maior à menor, porque até o grande e sublime Cristo Cósmico, em Sua compaixão, torna-se sujeito à morte quando entra nas condições enclausurantes da Terra, em um período do ano. Por conseguinte, é oportuno recordar alguns pontos relativos à morte e renascimento que, às vezes, podemos esquecer.
Entre os símbolos cósmicos conservados desde a antiguidade, nenhum é mais comum que o do ovo. Acha-se em toda Religião. Encontramo-lo no Antigo Eddas dos Escandinavos, venerável pela idade, que nos fala do mundano esfriado pelo sopro gelado do Niebelheim, mas aquecido pelo hálito quente do Muspelheim, antes que os vários Mundos Espirituais e o próprio ser humano viessem a existir. Se nos voltarmos para o ensolarado sul, podemos achar nos Vedas da Índia a mesma história no mito Kalahansa, o Cisne do tempo e do espaço, o qual pôs o ovo que veio a ser, finalmente, o mundo. Entre os egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas, simbolizando a sabedoria manifestada neste nosso mundo. Os gregos utilizaram esse simbolismo, reverenciando-o em seus Mistérios. Foi preservado pelos Druidas; tal símbolo era também conhecido dos construtores do grande outeiro da serpente, em Ohio; e conservou seu lugar na simbologia sagrada até hoje, muito embora a grande maioria de seres humanos seja cega ao grande mistério que ela encerra e revela – o mistério da vida.
Quando quebramos a casca de um ovo, achamos apenas fluídos viscosos de coloração variada e consistências diversas. Mas se submetido a uma temperatura adequada logo se dá uma série de mudanças e assim, em pouco tempo, uma criatura viva pode romper a casca e surgir pronta para assumir seu lugar entre os de sua espécie. Os magos dos laboratórios podem duplicar as substâncias do ovo e injetá-las numa casca de maneira que, conforme as experiências feitas até aqui, uma réplica perfeita do ovo natural pode ser produzida. Contudo, este difere do ovo natural em um ponto, isto é nenhuma coisa viva pode ser incubada no produto artificial. Fica evidente, portanto, que alguma coisa intangível deve estar presente em um e ausente em outro.
Esse mistério de todos os tempos que produz o ser vivo é que nós chamamos vida. Visto que a Vida não pode ser detectada em meio aos elementos do ovo, nem mesmo através do mais potente microscópio (ainda que ela ali esteja para produzir as mudanças que se notam), é de concluir-se que ela deve ser capaz de existir independentemente da matéria. Aprendemos, pois, através do sagrado simbolismo do ovo que, apesar da vida ser capaz de modelar a matéria, não depende, entretanto, desta para existir. Ela é autoexistente e não tendo princípio não pode também ter fim. Isto é simbolizado pela forma ovoide do ovo.
Quando nos apercebemos do verdadeiro conhecimento contido no simbolismo do ovo de que a vida nunca teve princípio e nunca terá fim, habilitamo-nos a criar coragem e admitir que aqueles que se retiram agora da existência física estão apenas atravessando uma jornada cíclica idêntica à da vida do Cristo Cósmico, vida que penetra a Terra no outono e a abandona na Páscoa. Vemos assim como a grande Lei da Analogia atua em todas as circunstâncias e em todas as fases da vida. O que acontece no grande mundo ao Cristo Cósmico verifica-se também nas vidas daqueles que são Cristos-em-formação.
Devemos admitir que a morte é uma necessidade cósmica nas atuais circunstâncias, porque se fôssemos aprisionados num corpo como o que agora usamos, e fôssemos colocados num ambiente tal e qual este em que nos encontramos hoje, para assim viver perenemente, as enfermidades do corpo e as condições insatisfatórias do ambiente bem cedo nos fariam cansar da vida e implorar por libertação. Isso impediria todo progresso e tornaria impossível para nós evoluirmos às alturas mais elevadas, tais como os que podemos alcançar por meio do nascimento em novos veículos e novos ambientes que nos permitam novas possibilidades de crescimento. Por conseguinte, devemos agradecer a Deus o fato de que, enquanto o nascimento em um corpo concreto tem sido necessário para um desenvolvimento futuro, a liberação pela morte tem sido proporcionada para libertar-nos do instrumento esgotado pelo uso; e a ressurreição e um novo nascimento sob o céu alegre de um novo ambiente fornecem-nos outras oportunidades para recomeçar a vida com a ficha limpa e aprender as lições que não conseguimos assimilar antes. Por este método seremos, algum dia, perfeitos como o Cristo ressuscitado. Ele assim determinou e nos ajudará a consegui-lo.
“Se alguém quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.
Mt 16:24
De acordo com uma antiga lenda, quando expulso do Paraíso, Adão levou consigo três mudas da árvore da vida, as quais, plantadas pelo seu filho Seth, vingaram e cresceram. De uma delas se fez mais tarde o cajado de Aarão, com o qual este operou milagres diante do Faraó. Outra foi levada ao Templo de Salomão para servir de pilar ou coisa semelhante ali, mas, como não serviu para nada no interior do edifício, foi então utilizada como uma ponte sobre um regato que corria fora do Templo. A terceira foi usada para fazer-se a cruz de Cristo, sobre a qual Ele sofreu por nós, libertou-se finalmente, penetrou na Terra e tornou-se o Espírito Planetário do nosso globo, no qual Ele agora sofre e geme esperando o dia da libertação.
Existe um grande significado nessa lenda antiga. A primeira muda da árvore representa o poder espiritual exercido pelas Hierarquias Divinas na infância da humanidade, isto é, um poder exercido por outrem para o nosso próprio benefício. A segunda era para ser usada no Templo de Salomão. Ninguém pode apreciá-la, exceto a Rainha de Sabá, nenhuma serventia foi achada para ela, pois o Templo de Salomão era a consumação das artes e ofícios e em uma civilização materialista nada que seja espiritual é apreciado. Os Filhos de Caim conseguiam sua salvação ao longo de linhas materiais, portanto não precisavam de poderes espirituais. Assim, “ela foi usada como ponte sobre o regato”. Sempre existiram almas – os reais, os verdadeiros Maçons Místicos – capazes de usar essa ponte que vai do visível ao invisível, e de voltarem ao Jardim do Éden; ao Paraíso, através da mesma. Foi a terceira muda da árvore da vida que deu a cruz de Cristo. Erguido naquela cruz foi que Ele conseguiu se libertar desta existência física e entrar nas esferas superiores. De modo semelhante nós também, ao tomarmos nossa cruz e segui-Lo, podemos desenvolver nossos poderes anímicos e ingressar numa esfera de maior utilidade nos Mundos invisíveis. Esforcemo-nos todos de modo que, dia após dia, sejamos encontrados de joelhos e vencedores, agarrados à cruz de Cristo para que, num dia não muito distante, possamos subir à nossa própria cruz e dali alcançarmos a gloriosa libertação, a ressurreição da vida da qual Cristo foi e continua sendo os primeiros frutos para toda alma crente. Esta é a autêntica, a verdadeira mensagem da Páscoa e devemos compreender que todos somos Cristos-em-formação, e que quando Cristo nasce real e verdadeiramente dentro de nós Ele então nos mostrará o caminho da cruz a partir da Árvore do Conhecimento pela qual conseguimos avançar. Essa cruz trouxe morte à Árvore da Vida no Corpo Vital, mas trouxe também a imortalidade.
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste Tabernáculo se desfizer,
temos da parte de Deus um edifício,
casa não feita por mãos, eterna, nos céus”.
IICor 5: 1
Que fim teve o Corpo Denso de Jesus, colocado no túmulo, mas não encontrado na manhã do domingo de Páscoa? E se o Corpo Vital de Jesus foi preservado para ser usado novamente por Cristo, como pode ele, Jesus, estar nesse meio tempo funcionando num Corpo Vital? Não teria sido mais fácil conseguir para Cristo, em Sua segunda vinda, outro Corpo Vital?
Essas perguntas foram respondidas assim, no “Ecos” de 1914[20]:
Estudos nas Escrituras revelam o fato de que Cristo costumava afastar-se de Seus Discípulos e que estes ignoravam para onde Ele ia nessas ocasiões ou, se não ignoravam, isso jamais foi mencionado. O motivo desses afastamentos, porém, era que, sendo Ele um Espírito tão glorioso, Suas vibrações eram demasiado elevadas mesmo para o melhor e mais puro dos veículos físicos, fazendo-se, portanto, necessário retirar-se deste veículo, frequentemente, para um período de completo repouso, de modo que o padrão vibratório de seus átomos pudesse baixar ou voltar ao normal. Por conseguinte, Cristo habitualmente buscava os Essênios em tais momentos, aos cuidados de quem deixava o Corpo, uma vez que eles eram peritos em lidar com o Corpo Denso. Cristo nada sabia de como tratar o veículo que recebera de Jesus. Não fora esses repousos e os cuidados recebidos, o corpo de Jesus ter-se-ia desintegrado bem antes de se haverem completado os três anos do Seu ministério, e assim o Gólgota não teria sido alcançado.
Quando o tempo se esgotou e o ministério terreno chegou ao fim, os Essênios pararam de intervir, então as coisas tomaram o seu curso natural e a tremenda força vibratória que atuava sobre os átomos físicos espalhou-os aos quatro ventos de modo que, quando o túmulo foi aberto poucos dias depois, nenhum sinal do corpo foi encontrado.
Isso se harmoniza perfeitamente com as leis naturais que conhecemos e com o seu modo de atuarem no Mundo Físico. A corrente elétrica de baixa potência queima e até mata, enquanto a alta voltagem pode atravessar o corpo sem prejudicá-lo. A luz, que possui elevadíssimo grau vibratório, é agradável e benéfica ao corpo, mas quando focalizada através de uma lente esse grau vibratório é reduzido, produzindo-se então o fogo que queima e destrói. De modo idêntico, quando Cristo, o Grande Espírito Solar, entrou no Corpo Denso de Jesus, reduzindo Seu padrão vibratório em virtude de resistência da matéria densa, tê-lo-ia queimado – como na cremação – caso não tivessem sido tomadas medidas para evitá-lo. A força era a mesma, os resultados idênticos, exceto num pormenor: o fogo que consumiu o corpo de Jesus não produziu cinzas, conforme aconteceria com o fogo comum que produz chamas. A propósito, é bom recordar que o fogo, embora invisível, encontra-se latente em todas as coisas. É verdade que não o vemos na planta, no animal ou na pedra, não obstante, ele ali está perceptível à visão interna e capaz de manifestar-se a qualquer momento na substância física em forma de chama.
Uma das nossas ilusões é a de que o corpo que habitamos é vivo. Isto de fato não acontece. Pelo menos a porção deste corpo que pode ser verdadeiramente chamada de viva é tão pequena que a afirmação acima é praticamente verdadeira. O resto dele existe absolutamente adormecido, se não inteiramente morto. Este fato é bem conhecido pela ciência e é algo que a razão nos demonstra ser verdade: nosso poder espiritual é tão pequeno que não pode dotar de vida este veículo por tempo suficientemente longo, de modo que, na medida em que nos incapacitamos para vitalizar o corpo, este começa a assemelhar-se a um pesado torrão de barro que devemos arrastar penosamente conosco até que alguns poucos anos depois ele se cristaliza a tal ponto que se nos torna impossível manter o trabalho vibratório por mais tempo. Então, somos forçados a abandoná-lo, e aí se diz que ele morre. Inicia-se, assim, um lento processo de desintegração que devolve o átomo à sua condição original de liberdade.
Confronte agora a condição das coisas quando um desses mesmos corpos terrenos é possuído por um poderoso Espírito como o de Cristo. Pode-se achar uma analogia com o caso de um indivíduo reanimado após um afogamento. Em tais casos o Corpo Vital se retira e a ação vibratória dos átomos físicos quase cessa, quando não para totalmente. Restauradas as condições que permitem ao Corpo Vital voltar a interpenetrar o corpo físico, aquele entra imediatamente a acionar e pôr em vibração todos os átomos deste. Esta tentativa de despertar os átomos inertes provoca aquela intensa e desagradável sensação de formigamento que o afogado descreve depois de reanimado, sensação que persiste até os átomos físicos alcançarem o grau vibratório de uma oitava abaixo daquele em que vibra o Corpo Vital. Chegado a esse ponto acaba a sensação, nada mais é sentido, salvo aquilo que se sente normalmente.
Agora consideremos o caso de Cristo entrando no Corpo Denso de Jesus, cujos átomos naturalmente moviam-se numa velocidade muito inferior àquela das forças vibratórias do Espírito Cristo. Consequentemente, uma aceleração tinha de acontecer, de tal maneira que, durante os três anos de ministério, essa notável aceleração de vibração desses átomos teria desintegrado o corpo não fora a atuação da poderosa vontade do Mestre para conservá-lo inteiro, reforçada pela habilidade dos Essênios. Se os átomos do corpo de Jesus estivessem adormecidos no momento em que Cristo dele se retirou – conforme ocorre aos nossos átomos quando abandonamos nossos corpos – um longo processo de putrefação ter-se-ia feito necessário para desintegrar aquele corpo. No entanto eles estavam altamente sensibilizados e vivos, portanto, era impossível ficarem presos após o Espírito ter-se retirado. Em futuras épocas, quando tenhamos aprendido a manter nossos corpos vivos, não precisaremos mudar átomos nem trocar de corpos tão frequentemente. Quando isso acontecer, o processo de putrefação não exigirá tanto tempo para se completar, conforme acontece presentemente. O sepulcro não foi fechado hermeticamente, portanto não podia oferecer obstáculo à passagem dos átomos.
Ao morrer o Corpo Denso de Jesus, os Átomos-semente retomaram ao seu primitivo dono. Durante os três anos de intervalo entre o batismo, em que ele renunciou a seus veículos, e a crucificação, quando pôde reaver os Átomos-semente, Jesus formou um veículo etérico, do mesmo modo que um Auxiliar Invisível junta matéria física sempre que se faça necessário materializar um corpo ou parte dele. Contudo, matéria que não corresponda ao Átomo-semente não pode ser utilizada de modo permanente: desintegra-se tão logo desapareça a força de vontade que a atraiu. Portanto, aquilo foi para Jesus apenas um expediente de ocasião. Quando o Átomo-semente do seu Corpo Vital retornou, então um novo corpo foi formado, e em tal veículo Jesus vem funcionando desde então, trabalhando com as igrejas. Nunca mais utilizou um Corpo Denso, embora seja perfeitamente capaz de fazer um. Presumivelmente isto se dá em virtude de seu trabalho ser totalmente desligado das coisas materiais e diferir diametralmente da obra de Christian Rosenkreuz, que tem muito a ver com problemas de governos, industriais e políticos, pelo que precisa de um corpo físico em que possa aparecer ao público.
A razão pela qual o Corpo Vital de Jesus é conservado para a segunda vinda de Cristo ao invés de Lhe providenciar um novo veículo pode ser encontrada em “Fausto”, mito que apresenta em sentido figurado grandes verdades espirituais de valor inestimável à alma sedenta. Fausto, em seu esforço para obter poder espiritual antes de merecê-lo, atrai um Espírito disposto a auxiliá-lo em seus desejos mediante uma compensação, pois em tal classe de Espírito o altruísmo é uma virtude que simplesmente não existe. Quando Lúcifer se volta para sair, nota apavorado a existência de um pentagrama diante da porta, uma das pontas em sua direção. Pede, então, a Fausto que retire dali o símbolo para que ele possa sair, ao que este lhe pergunta por que não sai pela janela ou pela chaminé. Lúcifer, relutantemente, admite que:
Para os fantasmas e Espíritos é lei
que por onde entramos, devemos sair.
Quando, no curso natural dos acontecimentos, o Espírito volta a nascer, ele entra no Corpo Denso pela cabeça, trazendo consigo os veículos superiores. Ao deixar o corpo à noite, sai pelo mesmo lugar, para reentrar do mesmo modo na manhã seguinte. O Auxiliar Invisível também sai do seu corpo e nele reentra da mesma maneira. E quando por fim nossa vida terrena chega a seu termo, é pela cabeça que saímos do nosso corpo pela última vez. Vemos, pois, que a cabeça é a porta natural do corpo e, por conseguinte, o pentagrama com uma ponta para cima é o símbolo da magia branca, que atua em harmonia com a lei de progressão.
O mago negro, que atua contrariamente à natureza, perverte a força da vida dirigindo-a para baixo, através dos órgãos inferiores. O portal da cabeça está fechado para ele, mas ele se retira pelos pés, o cordão prateado estendendo-se através dos órgãos inferiores. Portanto, foi fácil para Lúcifer entrar no gabinete de Fausto, pois o pentagrama com duas pontas voltadas para ele representava o símbolo da magia negra, mas ao tentar sair depara com uma só ponta em sua direção, e então se amedronta diante do sinal da magia branca. Ele só podia sair pela porta inferior porque por ali é que havia entrado, por isso ficou preso quando essa porta inferior foi bloqueada.
De maneira análoga, Cristo era livre para escolher Seu veículo para entrar na Terra onde agora se acha confinado, mas uma vez escolhido o veículo de Jesus a este ficou limitado como único meio de sair dela. Se esse veículo houvesse sido destruído, Cristo teria de ficar enclausurado no globo até que a Terra se dissolvesse no caos. Isso seria uma calamidade imensurável, portanto o veículo usado por Ele está sendo guardado com o máximo cuidado pelos Irmãos Maiores.
Nesse meio tempo Jesus perdeu todo o crescimento anímico alcançado durante seus trinta anos na Terra, antes do batismo, e contido no veículo dado a Cristo. Isto foi e continua sendo um grande sacrifício feito por nós, mas redundará em glória maior no futuro, como todas as boas ações. Porque esse veículo, utilizado como foi, e a ser usado novamente por Cristo em Sua vinda para estabelecer e aperfeiçoar o Reino de Deus será tão espiritualizado e glorificado que, quando for devolvido a Jesus na época em que Cristo entregar o Reino ao Pai será também o mais maravilhoso de todos os veículos humanos. E, ainda que isto não tenha sido ensinado, o autor acredita que Jesus será, por isso mesmo, o mais alto fruto do Período Terrestre, seguido de Christian Rosenkreuz. Porque “nenhum homem tem maior amor do que aquele que dá a própria vida”[21] e dar não somente o Corpo Denso, mas também o Corpo Vital, e por tempo tão prolongado, certamente é o máximo dos sacrifícios.
F I M
[1] N.R.: Independentemente da inversão das estações, uma coisa que se mantém idêntica no Norte e no Sul: a distância maior ou menor, a que o Sol se encontra da Terra. No Solstício de Dezembro, o Sol se encontra mais próximo da Terra: a Terra é permeada mais fortemente pela aura do Sol Espiritual (inspiração de crescimento anímico nos seres humanos). No Solstício de Junho, a Terra no máximo afastamento do Sol: diminuição de espiritualidade com a intensificação de vitalidade física.
[2] N.R.: Rm 8:22
[3] N.R.: Jo 19:30
[4] O Solstício de Junho varia entre 20 e 21 de junho, dependendo do ano.
[5] N.R.: ou 20, dependendo do ano.
[6] N.R.: Mt 26:26-29
[7] N.R.: Também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi Monge e escritor alemão.
[8] N.R.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) – maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão.
[9] N.R.: ou Zurique é a maior cidade da Suíça, um país do hemisfério norte.
[10] N.R.: a Suíça fica no hemisfério norte, onde, em março, é a estação da primavera.
[11] N.R.: Jo 1:10
[12] N.R.: Jo 1:5
[13] N.R.: Jo 12:47
[14] N.R.: Jo 19:30
[15] N.R.: At 17:28
[16] N.R.: Jo 14:12
[17] N.R.: Jo 13:36
[18] N.R.: Valhala, Valíala, Valhalla ou Palácio dos Einherjar (em português “Palácio dos mortos heroicos”), na mitologia nórdica e nas religiões pagãs nórdicas, como a popular Ásatrú, é um palácio com enorme salão com 540 quartos — situado em Asgard e dominado pelo deus Odin — no qual metade dos guerreiros mais nobres e destemidos mortos em batalha são levados pelas valquírias após a morte para viverem com Odin (enquanto a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freia), onde participam de combates diários, para manter o exercício da luta e preparar-se para o dia de Ragnarök (em português “o dia do fim do mundo”).
[19] N.R.: Lc 12:48
[20] N.R.: Boletim Echoes de Mount Ecclesia – The Rosicrucian Fellowship.
[21] N.R.: Jo 15:13