O caminho até o Calvário há de passar, necessariamente, pelo Getsemani, o Jardim da Agonia, cenário em que experimentamos o grande conflito interno diante da dor que temos de finalmente aceitar. Aqui tem lugar a batalha final. Se temos suficiente valor, tomamos então nossa cruz de sofrimento expressamente aceito, para seguir o Mestre até a Ressurreição, através do Calvário. Muitas vezes já estivemos no Horto da Agonia, clamando desesperadamente a ouvidos surdos: “Afasta de mim este cálice!” (Mt 26:39), mas o terror mortal não se afastará de nós e tampouco se filtrará em nosso interior a bendita segurança do céu, enquanto não adquirirmos valor e não elevarmos nossas consciências para dizer como Ele: “Não se faça, Pai, a minha vontade, senão a vossa.” (Lc 22:42).
Quando chegarmos a este ponto, então poderemos triunfalmente enfrentar qualquer prova, na firme convicção de que isto é apenas um meio que nos conduzirá a um glorioso fim; um processo regenerativo que nos irá emancipando, cada vez mais, de todos os males das heranças da “carne”; a crucifixão da nossa Personalidade que libertará, gradualmente, o que somos de fato: a Individualidade, um Ego (um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui).
Na verdade, em cada prova saboreamos o Calvário; em cada vitória nos aproximamos da Ressurreição.
Por meio de incontáveis existências terrestres, nos mais profundos mistérios de nosso Ser, o Cristo de nossa própria divindade vem sendo sepultado, amarrado, esquecido em nosso interior, enquanto nos inclinamos às solicitações materiais.
Hoje, alguns, felizmente, já vão se tornando abatidos com as migalhas pouco satisfatórias de seu modo material de vida e se dispõem a tomar a Cruz das passadas dívidas para crucificar a Personalidade e tornar o “Eu superior”, seu Cristo Interno, mais dignificado, que se eleve em esplendor e poder dentro de suas almas.
Atualmente muitos acreditam firmemente que se podem tornar novas criaturas, vitoriosos sobre as condições transitórias do mundo e herdeiros das ocultas riquezas do céu. Esses podem chegar a ser participantes conscientes da maravilhosa experiência do Domingo da Ressurreição, dessa grande libertação, desse avassalador poder espiritual que nos inunda de paz. E só nessa condição nos unimos conscientemente a Ele, Aquele que perdoa todas as nossas iniquidades, que cura todas as nossas doenças e enfermidades e nos infunde na alma um descanso indizível.
Seja triunfante o vosso Domingo da Ressurreição!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – março/1966 – Fraternidade Rosacruz – SP)
“E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mt 28:20)
Os Ensinamentos Rosacruzes estabelecem uma diferença entre Cristo, o grande Arcanjo e Espírito Solar e Jesus, o mais elevado espiritual ser humano. Nos Evangelhos nos é dito que na época do Batismo o “Espírito de Deus” desceu sobre Jesus.
Foi de fato naquele momento que Jesus entregou a Cristo seu Corpo Denso e seu Corpo Vital, de modo que o grande Espírito Solar pudesse se manifestar entre nós e realizar o supremo sacrifício do Gólgota. Um sacrifício que não consistia apenas em morrer numa cruz, mas que permitia que Cristo entrasse no interior da Terra e começasse a espiritualizá-la.
Esse é o grande sacrifício de Cristo, pois as baixas vibrações do nosso Mundo constituem, para ele, uma imensa dolorosa limitação.
Cristo permanece, no entanto, sendo o grande Espírito Solar, pois é apenas um dos seus raios (parte de sua consciência) que penetrou em nossa Terra quando o sangue de Jesus fluiu no Calvário.
Mantendo uma conexão com o nosso Planeta, ele se retira, todos os anos, na Páscoa e começa a penetrar, novamente, em setembro para fornecer à Terra (e a nós) uma nova vida durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.
Essa força espiritual atinge sua intensidade máxima durante a noite de Natal, a noite mais sagrada do ano.
Muitas pessoas começam a sentir as vibrações Cristãs de paz, alegria e amor na época do Natal. E a prática de dar presentes é um primeiro passo para a Fraternidade Universal.
(Traduzido do: Le Christ, Esprit de la Terre, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix)
Páscoa: o Amanhecer de um Alegre Dia
Encontramo-nos de passagem sobre a Terra. Somos apenas peregrinos. E justamente esta peregrinação, com suas lições a experiências, constitui o fator de nossa libertação, o meio através do qual um dia não mais renasceremos no plano físico.
O verdadeiro lar do espírito é o mundo celestial. Nossos esforços devem ser dirigidos a um retorno a esse mundo, tão rápido quanto seja possível, pois o propósito da vida é a experiência e a finalidade desta é o crescimento.
A vida ensina-nos lições definidas e quanto mais rapidamente as aprendermos, mais rápido será nosso crescimento anímico, apressando assim a chegada do dia da libertação.
A nossa liberdade determina também a libertação final do Cristo de sua “prisão terrestre”. Nesta época do ano as Igrejas cristãs enfatizam os sofrimentos do Calvário, e o sacrifício do Cordeiro de Deus em benefício do gênero humano. Todos os sermões e liturgias convergem para o tema da “Paixão de Cristo”, revestindo-o da atmosfera intensamente emocional.
Analisando o fato ocorrido há dois mil anos à luz da ciência esotérica, chega-se à conclusão de que aquelas horas de intenso sofrimento nada foram, se comparadas com o que o Cristo suporta presentemente.
Carregar aquela cruz de madeira na agitada Jerusalém de vinte séculos atrás, sob a chacota judaica e o chicote romano, era até suportável para um ser humano. Pior é carregar a cruz da humanidade, esse madeiro gigantesco, impregnado de todas as mazelas do ser humano. Muito mais torturante para um Ser da estatura do Cristo, é permanecer ligado a um Planeta como o nosso, de vibrações baixíssimas, uma somatória do que realmente somos.
O grande Arcanjo só bradará o “consumatum est” definitivo, quando todos nós nos elevarmos espiritualmente e o liberarmos de sua missão terrestre. Na qualidade de Aspirantes, nossa responsabilidade é imensa. Cumpre-nos viver nossas vidas tão altruisticamente quanto seja possível, evitando qualquer pensamento ou ação capaz de tornar a Terra um local mais insuportável do que é atualmente.
É verdade que na qualidade de seres humanos estamos sujeitos a quedas. Mas nosso dever é evitá-las, mantendo diuturna autovigilância. Se cairmos, que não nos falte forças para o reerguimento e ajustamento a apropriados canais de conduta.
Se a ocasião é propícia para meditarmos como aliviar os sofrimentos de Cristo, também é justo participarmos das alegrias da Páscoa. Regozijemo-nos não só pela ajuda recebida, mas principalmente por estarmos conscientes de que, preciosas oportunidades de serviço nos serão oferecidas na medida do nosso merecimento. Alegremo-nos por não sermos meros expectadores, mas partícipes de todo esse processo de libertação.
A Páscoa assinala a vitória da vida sobre a morte, do espírito sobre a matéria, e essa ideia inspirou Max Heindel a escrever estas formosas linhas: “Para os iluminados a Páscoa simboliza o amanhecer de um alegre dia, em que toda a humanidade e o Cristo se libertarão permanentemente das limitações da materialidade, e ascenderão aos reinos celestiais para converter-se em colunas do templo de Deus e dali nunca mais sairão”.
(Publicada na revista Serviço Rosacruz de março e abril/87)