Arquivo de categoria Estudos Bíblicos

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Cada Dia Seus Cuidados

A Cada Dia Seus Cuidados

Foi-nos dito: “A cada dia os seus cuidados”. “Não penseis no que haveis de comer ou vestir; olhai os lírios dos campos. Nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles; olhai os passarinhos dos céus: não fiam, não entesouram, mas o Pai celestial os alimenta. E se Deus não deixa faltar à erva do campo e aos pássaros, quanto mais a vós, homens, que sois muito mais do que eles?” (Mt 6:25-34).

Então, a ordem é mesmo “não fazer planos”? É “buscar primeiramente o Reino de Deus e sua Justiça, pois o demais nos vem por acréscimo”?

É! Contudo, devemos interpretar devidamente os ensinamentos Cristãos. Se eles não servissem para imediata aplicação na vida prática, seriam inúteis. Não é possível que os princípios tenham podido subsistir através de vinte séculos, se não portassem bom senso e sabedoria aplicáveis à vida de todos os dias.

Ninguém colhe antes de plantar. E plantando, ninguém pode abreviar a colheita, além das possibilidades naturais. E dentro dos recursos naturais a terra nos dará os frutos correspondentes à sementeira e aos cuidados no cultivo. Se houver geada, ou seca ou chuva demasiada, sê-lo-á por circunstância imprevista e independente dos cuidados atuais, mas não injusta. Terá uma ligação com o passado.

Igualmente se passa na seara interna e social. Devemos cuidar do AQUI E AGORA. O ontem já passou. O amanhã ainda não chegou. Pensar no passado é perder o presente; pensar no futuro é querer vivê-lo duas vezes: uma, antecipada e hipoteticamente; outra, quando o vivermos realmente. A primeira vez foi inútil.

Se vivermos realmente bem o dia de hoje, estamos de acordo com a Bíblia e vida prática. Seguramente virão os frutos correspondentemente bons. Mas não basta plantar; é preciso cultivar, cuidar, proteger, para que a semente atinja o objetivo. Isso se aplica a qualquer campo de atividades: moral, artístico, técnico, intelectual, sentimental. A negligência do cultivo é que originou o brocardo: “a felicidade é fácil de ser conquistada, mas difícil de ser conservada”.

Se, apesar de nossos esforços presentes, a adversidade nos fustiga e dificulta, há uma explicação lógica: ou representam consequências de ações erradas do passado, ou de erros presentes, por ignorância. Nesse caso deve o agricultor estudar, aqui e agora, como melhorar. Como consequência de causas passadas, pode a terra estar cansada; pode estar cheia de formigueiros que não foram erradicados; pode não servir para a planta que ali está e sim a outra, a menos que a preparemos quimicamente, havendo vantagem; pode haver falhas presentes ou então como a chuva, seca, de imprevistos fatores, pode ser o que chamamos “má sorte”, “azar”, “desgraça”, mas que realmente tem sua explicação: efeito inevitável de causas erradas, que devemos pagar sem murmúrio e nem desânimo quanto ao futuro.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Cristianismo: o que é e o que deixa de ser

Cristianismo: o que é e o que deixa de ser

Deus é um espírito e os que O veneram precisam fazê-lo em espírito e verdade”.

Cristianismo é, em sua sublimação, em essência, a aceitação de uma maneira de viver e como tal não pode ser rigidamente restringido ou contido por rituais ou crenças. Esses são, de fato, apenas os meios de transmitir e ressaltar certas verdades básicas daquele. Mais ainda, o Cristianismo não é e nunca poderá ser exclusivista.

As Igrejas Ocidentais, pioneiras do Cristianismo, estão, sem dúvida, na vanguarda da pregação e divulgação; estão fazendo um magnífico trabalho, e continuarão a fazê-lo, no mundo, com a propagação do Evangelho. Contudo, seria um erro imaginar que a divulgação do Cristianismo esteja restrita a certas igrejas e religiões. O trabalho e os ensinamentos de outros grupos religiosos pelo mundo afora não devem, de forma alguma, ser tidos em pouca conta, pois que eles, também, embora possam não se aperceber disto, estão chegando, gradualmente, sob a influência universal do Espírito de Cristo e estão, cada vez mais, praticando e defendendo princípios essencial e fundamentalmente Cristãos.

Cristo disse: “Quando me erguer da Terra, levarei todos os homens comigo” (Jo 12:32), Note-se que Ele afirma bem claramente: “TODOS os homens”. O Cristianismo pertence a TODA a humanidade e Cristo veio tirar os pecados do MUNDO.

O poder todo envolvente do Espírito de Cristo cobre completamente a Terra e sua influência alcança todos os povos, raças e religiões, tornando-se cada dia mais discernível. Sejamos Cristãos, Maometanos, Judeus, ou de outra qualquer fé, essa influência envolvente cristianizante, como os raios universais do Sol, é uma força e elemento em todas nossas vidas, geral e inevitável, quer nos demos conta disso, quer não.

O Maometano, o Judeu e os demais, ao praticarem e adorarem em suas religiões, estão de fato e na verdade tornando-se gradativamente mais e mais semelhantes a Cristo em seu coração e convertidos em espírito.

Cristandade é um fermento que age sobre todo o mundo. Não trará todos os seres humanos, nessa idade, a uma igreja secular, pois que a diversidade é uma das fases da evolução e um fator no processo humano presentemente. Conduzirá, contudo, inevitavelmente, todos os povos, religiões e credos a uma união espiritual de compreensão universal, amor altruísta e fraternidade, em conformidade com o preceito maior de Cristo: “Amarás a Deus com todo seu coração — e a teu próximo como a ti mesmo”.

O Ecumenismo, com sua unificação das igrejas, está apenas engatinhando, mas está destinado, um dia, a envolver toda a humanidade. Com o tempo, as várias escolas de religião pelo mundo reconhecerão e aceitarão sua meta comum na adoração e praticarão, universalmente, os princípios fundamentais, unificadores, espirituais do Cristianismo: “Serviço amoroso e desinteressado ao próximo é o caminho mais curto, mais seguro, e o mais agradável para Deus”.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz – 07-08/87)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Todo o Cristão ora, mas nem todos sabem orar

Todo o Cristão ora, mas nem todos sabem orar

Todo o Cristão ora. A Oração é um ato generalizado em toda a coletividade cristã e em toda a coletividade que crê em Deus. Orar é agir com a Mente e com o Coração ao mesmo tempo, em comunhão com as coisas superiores: é elevar a alma aos planos superiores, num movimento de aproximação.

Todo o Cristão ora, mas nem todos sabem orar e, pode-se dizer que tanto mais eficaz é a oração, quanto mais sereno estiver o espírito nessa hora, ou nesse momento. A aflição, a impaciência, um movimento forte de emoção, neutralizam a intensidade da oração, por isso se aconselha que por mais forte que seja a necessidade ou a vontade de orar, quando se está em desespero, é melhor esperar a calma para depois se fazer uma oração em ordem. A oração é um trabalho interno, de grande valor, porque é a concentração de forças espirituais no sentido de um entendimento com espíritos que estão em planos muito mais elevados.

Se não houver uma harmonia perfeita do pensamento que dita a expressão de uma oração e dos sentimentos que traduzem essa expressão, a oração não tem intensidade, portanto perde muito de seu valor. Ela é tanto mais perfeita, quanto mais consciente e mais sentida for.

Muita gente tem as suas orações decoradas. Se elas forem compreendidas no seu verdadeiro sentido e levarem a força do sentimento, essas orações levam o efeito da sua repetição, que é um efeito infalível e a correspondência de seus sentimentos, mas, é preciso dizer que as orações que estão apenas no domínio da memória são vazias, sem consistência e, portanto, sem resultado. O que não é consciente é inconsequente. Essas orações decoradas têm, geralmente, palavras muito bonitas e de uma força de expressão, mas, de nada valem essas expressões, se não levarem um pouco da alma, se não produzirem um contacto do nosso Espírito, com o Espírito de Deus, num entendimento mútuo, num reconhecimento.

Deus está em nós e nós sentimos profundamente a Sua presença quando oramos com consciência e sentimento, com calma e confiança. E as orações conscientes, plenamente esclarecidas, são as orações espontâneas, criadas no momento, num esforço de elevação da alma, em confissão, clara e sincera, numa comunhão dos sentimentos mais elevados com o Espírito, o Deus Interno. Essas são as orações do verdadeiro cristão e devem ser adotadas pelos estudantes esotéricos. “Esoterismo”, no seu sentido gramatical, quer dizer “íntimo” de “dentro”.

No sentido espiritual, “Esoterismo” quer dizer desenvolvimento das faculdades mais íntimas, mais profundas do Espírito. Então, para que uma oração seja esotérica, é preciso que ela venha do íntimo de nossa consciência, numa força natural e pura, numa exposição clara de nossos pensamentos. E o nosso Espírito fala nessas ocasiões, fala à nossa consciência, e muitíssimas vezes, em meio de uma meditação profunda, em forma de oração, nós sentimos a nossa ignorância, os enganos da nossa conduta, dos nossos modos de agir, e percebemos o caminho mais certo.

É fato comum entre os Estudantes de espiritualismo perceber, intuitivamente, os enganos existentes numa questão já começada e decidida, e então fazer as modificações adequadas. Isso porque o nosso Espírito, em comunhão com os Espíritos Guias da humanidade, dirige e ajuda os nossos atos, a nossa atuação na vida, quando sinceramente o procuramos.

É pensando, refletindo, com a consciência aberta que nós atinamos com os nossos próprios defeitos e com os erros de nossas ações, e, é orando, pedindo a Deus, (o nosso Deus Interno) que nos ilumine, que a nossa consciência se torna clara.

A oração é, como se diz comumente, um ato de e de Confiança em Deus. Por isso mesmo, é preciso que leve um pouco de nós mesmos, num sentimento maior ainda, que é o de AMOR A DEUS. Não basta a confiança, é preciso amá-lo.

Toda a criatura tem direito de orar, de pedir a Deus, de se socorrer na grandeza e na bondade Divina, mas como o Direito, é em grande parte, a consequência do Dever cumprido. É preciso que sejamos dignos dos pedidos que fazemos, mesmo porque, nada que não seja justo, não pode ser concedido, por efeito das Leis Superiores.

Dentro delas, muita coisa nos pode ser dado, mas fora delas, nada pode ser dado, e, tem que ser assim para que haja equilíbrio e para que se dê o desenvolvimento da consciência, o aperfeiçoamento das faculdades do Espírito, o nosso progresso, enfim.

Esse progresso é tão certo, é tão infalível, que os ensinamentos Rosacruzes, ao contrário de outros ensinamentos conhecidos, não aconselham a resignação total, a passividade em relação aos sucessos da nossa vida, sucessos que nós chamamos de fatalidade. A resignação deve ser relativa. Sabemos que muitas coisas de nosso Destino são imutáveis; que nós mesmos as criamos e que temos de suportá-las. Sabemos que o nosso Destino é como uma casa que construímos para nossa moradia. Se ela tem defeitos, nós mesmos somos culpados, e, temos de suportar, porque para corrigir os seus defeitos, ou para remover as portas, janelas, o teto, etc., seria preciso desfazê-la toda, pedra por pedra, para não promover mais desordem ainda, e construí-la de novo, pedra por pedra, outra vez. No entanto, pode-se suportar os seus defeitos, arrumando-a com jeito, enfeitando-a, ajeitando o seu interior de acordo com nossas necessidades presentes. Além disso, justamente por conhecermos e não nos resignarmos com os nossos defeitos maiores, irremediáveis, nós vamos, nela mesmo, trabalhando para a construção de uma casa melhor, mais aperfeiçoada, mais a gosto. Vamos reunindo o necessário e construindo devagar, uma casa mais cômoda e mais fácil, de modo que não devemos rebelar-nos com a nossa situação na vida, mas também não devemos nos resignar completamente e deixarmos que as coisas corram por si só. O que é preciso é nos acomodarmos na situação atual e trabalharmos para criar uma melhor. Isso tanto no sentido material como no espiritual. Vivemos sempre a pedir a Deus, e, de nossos pedidos, quase todos são de ordem material, por isso mesmo é que muitas vezes ficamos desapontados e tristes. Pedíssemos mais em favor do nosso entendimento, da nossa luz espiritual, em favor de nossos semelhantes, e nossa vida terrena correria mais suavemente, sem tantos solavancos. É que o progresso do Espírito traz progresso material, na sua justa proporção, na sua medida adequada às nossas verdadeiras necessidades. “Buscai primeiro o Reino de Deus e o demais lhe será dado por acréscimo”, disse Cristo.

Saber “querer” é uma das condições mais importantes da nossa vida e do nosso progresso. “Querer” o que é justo é meio caminho andado para se obter. Querer dentro dos limites do nosso merecimento é obter naturalmente, mas, acontece que não sabemos ser justos nos nossos deveres. Estamos sempre falhando com eles ou deixando-os incompletos, já pensando em receber o pagamento. Somos como as crianças de escola, que com a pressa de ver a nota no caderno, entregam a lição sem terminar.

Se pensássemos mais, procuraríamos, em primeiro lugar, corrigir os nossos próprios defeitos, porque então faríamos tudo mais bem feito, e pela Lei de Causa e da Consequência, teríamos também recompensas mais completas. Se somos imperfeitos, como queremos ter causas perfeitas?

De outro lado, quanto melhor um indivíduo é, maior é o seu centro de atração simpática e mais facilidades ele encontra na vida, como aconteceu com São Francisco de Paula, que sendo uma criatura humílima, conquistou toda a simpatia de uma aristocracia orgulhosa e privilegiada ao ponto de ser convidado para assumir um cargo na Corte. Ele recusou esse cargo, mas aproveitou a simpatia daquela gente rica e de prestígio para aumentar a sua caridade, para intensificar a prática do Bem. A oração, é, pois, um dos nossos maiores auxiliares, não resta a menor dúvida. É um esforço, um trabalho da alma, numa elevação da Mente e do Coração às esferas mais altas, onde as forças espirituais são concentradas, mas é preciso que sejamos dignos, profundamente dignos em pensamentos e ações, das palavras que elevamos a Deus.

Examinando a nossa consciência, notamos que em nossas orações, poucas vezes nos lembramos dos outros e, no entanto, se quisermos, elas podem ser um veículo do nosso altruísmo. Se se faz orações coletivas em benefício de todos, porque é que a sós, não podemos repartir com eles o que de bem desejamos a nós.

Orar, pedindo para os outros também, aquilo que desejamos para nós, é orar com Amor e Fraternidade.

Max Heindel aconselha-nos ainda mais: tudo o que pedimos a Deus, que seja para servir aos outros também. Tudo o que recebermos, que não seja guardado unicamente para o nosso próprio bem; que tenha utilidade para os que também precisam.

Tudo o que de graça se recebe, de graça deve-se dar, diz o Evangelho, e tudo que se consegue a custo de esforço e trabalho, também não deve servir ao nosso egoísmo e sim ao nosso altruísmo, porque então, além da boa vontade, leva também um pouco de nós, da nossa energia e da nossa capacidade.

Dar a sobra, não quer dizer nada, repartir o pouco que se tem, isto sim é caridade.

A oração, pois, elevada com amor a Deus e com amor aos nossos semelhantes, no silêncio, no recolhimento da nossa consciência, pode-se dizer que é mais um ato de ; é um ato de reconhecimento de Deus em nós mesmos; no íntimo de nosso ser, no âmago de nossa Natureza. E Max Heindel aconselha-nos também, com insistência, a Meditação; voltar nossos pensamentos para dentro de nós mesmos. Perguntar à nossa consciência o que temos feito. Ela com certeza responderá: pouco ou nada; sentir dentro de nós essa união com Deus, é o principal objetivo de uma Meditação, é fazermos à nossa consciência, o compromisso de uma conduta louvável e útil à coletividade.

Cristo legou-nos a Oração “Pai Nosso”, uma oração completa, que pronunciada com convicção e sentimento, atende a todas as nossas necessidades, espirituais, materiais e sentimentais, que, segundo a interpretação de Max Heindel, tem, em cada uma de suas partes, vibrações apropriadas a cada um dos nossos veículos internos.

Essa oração interpreta as nossas necessidades de subsistência para prosseguirmos na luta de todos os dias, o desejo de redimir os nossos erros e compreender os erros dos outros, o pretexto de confiança, de fé e reconhecimento da vontade divina, infalível e sábia nos seus desígnios; a preservação do erro e das fraquezas, que são sempre provocados pelo Corpo de Desejos; a claridade da Mente para discernir o bem do mal e assim por diante.

Ao pronunciarmos o Pai Nosso, meditando e analisando cada uma de suas expressões, com intensidade de sentimento, com calma e clareza de ideia, podemos dizer que estamos sentindo em nós o Espírito de Deus. Max Heindel proporcionou-nos um presente do Céu, um bem inefável, ensinando-nos a interpretação dessa Oração de Cristo.

Ela fala a todo o nosso mundo interno e coloca-nos junto a Deus, como um filho que procura a mão protetora do pai. Essa oração deve nos servir de guia para todas as outras que fizermos, por nossas próprias palavras, de acordo com o estado de alma do momento. Ela nos ensina a falar com a consciência aberta, diretamente ao nosso Cristo Interno, na mais plena e absoluta confiança.

A palavra é uma força, e toda a palavra pronunciada com convicção, mesmo que fique solta no ar, é uma semente a germinar e um dia dará frutos. Nada se perde no Universo, nem mesmo um som qualquer, isolado perdido no espaço. Esses, conduzidos pelas ondas hertzianas, são conduzidos até onde podem ser reproduzidos.

Assim são as palavras. Uma vez pronunciadas com sentimento, provocam, infalivelmente, o efeito, como a resposta, muito embora demore um pouco. Boas ou más, elas vão e voltam trazendo a consequência, por isso devemos ter muito cuidado com as expressões, principalmente com aquelas que se diz em momentos de emoção, e com as que se pronuncia em forma de pedido às forças superiores.

Por grande que seja a nossa necessidade, por premente que seja a situação do momento, é melhor não a fazer se não se conseguir um pouco de calma. Quando a angústia alvoroça o nosso coração, é melhor, num pensamento único e confiante, entregar a Deus a questão. Confiar absolutamente, porque muitas vezes, o tumulto das emoções nos leva a pensamentos e palavras disparatadas, que sentidas e ditas com intensidade, podem provocar reação equivalente. O nosso Corpo de Desejos é impaciente e, na maioria das vezes, perturba a nossa Mente, mormente em casos difíceis, e nos leva a perturbar também as ideias, a palavra, o que nos leva a reações indesejáveis. O melhor meio de se aguentar um vendaval é parar junto a um apoio seguro, como fazem os africanos que, durante os temporais de areia, que eles chamam de Simim, se agasalham junto às muralhas e ficam imóveis enquanto o vendaval lhes passa por cima das cabeças. Do mesmo modo, um revés, uma dessas borrascas na vida que acontece a toda gente, deve ser suportado com a concentração das forças e com o pensamento firme em Deus.

Voltando à oração, há trabalhos na vida, trabalhos altruísticos, que valem por uma oração profunda. Há trabalhos, mesmo na nossa vida diária, em nossas profissões, que feitos com honestidade e interesse pela coletividade, também são orações oferecidas a Deus. A oração comum, a prece é um trabalho da Mente e dos sentimentos elevados a Deus, diretamente, mas há ainda outros meios de elevar o nosso espírito, estimular as nossas faculdades superiores e orar: é amar os nossos semelhantes e respeitá-los, proceder em tudo o que fizermos, com boa fé, com amizade, com vontade de ser útil. Essa é a melhor maneira de se orar, servir amorosa e desinteressadamente ao próximo, e servir a Deus.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz –12/80)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Análise do Pai Nosso, a Oração do Senhor

Análise do Pai Nosso, a Oração do Senhor

O Amor pelo qual se deve aspirar é unicamente o da alma; que abarca todos os seres, elevados e inferiores e que aumenta em proporção direta às necessidades daquele que recebe.

A Fortuna pela qual se deve lutar é somente a abundância de oportunidades para servir os semelhantes.

O Poder que se deve desejar é o que atua melhorando a humanidade.

A Fama pela qual se deve aspirar é a que possa aumentar nossa capacidade de transmitir a boa nova, a fim de os sofredores poderem encontrar o descanso para a dor do seu coração.

Podemos comparar a Oração do Senhor (Pai Nosso[1]) como uma fórmula abstrata ao melhoramento e purificação de todos os veículos do ser humano. O cuidado a prestar ao Corpo Denso está expresso nas palavras: “o pão nosso de cada dia dai-nos hoje”.

A oração que se refere às necessidades do Corpo Vital é: “perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

A oração para o Corpo de Desejos é: “Não nos deixeis cair em tentação”. O desejo, o grande tentador da humanidade, é o grande incentivo para a ação. É bom quando cumpre os propósitos do espírito, mas quando se inclina para algo degradante, para algo que rebaixa a Natureza, certamente devemos rogar para não cair em tentação.

A oração para a Mente é: “Livrai-nos do mal”. Como vimos, a Mente é a ligação entre as naturezas superiores e inferiores. Admite-se que os animais sigam os seus desejos sem nenhuma restrição. Nisso nada há de bom nem de mau porque lhes falta a Mente, a faculdade de discernir. Os meios de proteção empregados para com os animais que roubam e matam são muito diferentes do empregado em relação aos seres humanos que fazem tais coisas. Mesmo quando um ser humano de Mente anormal faz isso não se considera da mesma forma que ao animal. Agiu mal, mas porque não sabia o que fazia é isolado.

No “Pai Nosso” geralmente usado na igreja, a adoração está colocada em primeiro lugar, o que tem por fim alcançar a exaltação espiritual necessária para proferir uma petição que represente as necessidades dos veículos inferiores.

O Espírito Humano se eleva à sua contraparte, o Espírito Santo (Jeová), dizendo: “Santificado seja o Vosso Nome”. O Espírito de Vida reverencia-se ante sua contraparte, o Filho (Cristo), dizendo: “Venha a nós o Vosso Reino”.

O Espírito Divino ajoelha-se ante sua contraparte, o Pai, e diz: “Seja feita a Vossa Vontade…”.

Então, o mais elevado, o Espírito Divino, pede ao mais elevado aspecto da Divindade, o Pai, para a sua contraparte, o Corpo Denso: “O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje”.

O próximo aspecto, em elevação, o Espírito de Vida, roga ao Filho, pela sua contraparte em natureza inferior, o Corpo Vital: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

O aspecto inferior do espírito, o Espírito-Humano, dirige o seu pedido ao aspecto mais inferior da Divindade para o mais elevado do tríplice Corpo, o de Desejos: “Não nos deixeis cair em tentação”.

Por último, os três aspectos do Tríplice Espírito juntam-se para a mais importante das orações, o pedido pela Mente, dizendo em uníssono: “Livrai-nos do mal”.

A introdução, “Pai nosso que estais no Céu” é somente um indicativo de direção. A adição: “Porque Vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre, Amém” não foi dada por Cristo, mas é muito apropriada como adoração final do Tríplice Espírito por encerrar a diretriz correta para a Divindade.

[1] N.R.: Mt 6: 9-13

 (Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Ser Humano, o Lírio, a Páscoa

O Ser Humano, o Lírio, a Páscoa

“A Páscoa simboliza a vitória da vida sobre a morte”. Essa frase pôde ser ouvida — lugar-comum em que se tornou — em praticamente todas as celebrações pascais. O termo lugar-comum, entretanto, não assume aqui um sentido pejorativo, um significado menor. A frase expressa uma verdade cósmica.

A história da Páscoa é a história da própria vida. É a história da ressurreição, da permanência e invencibilidade da VIDA ÚNICA emanada de Deus, da qual todas as coisas viventes são participantes.

Reparemos nos lírios do campo. Como crescem, como encantam nossos olhos. Não trabalham, nem tecem, mas vestem-se gloriosamente. Recebem cuidados permanentes sob a compassiva proteção do Pai.

Observemos, também, a persistência da vida dentro dos lírios do campo. A cada ano o bulbo plantado na terra faz brotar pequenos ramos. Cada ano a planta culmina com sua gloriosa expressão: as flores, universalmente admiradas. Cada ano renova-se a energia armazenada no bulbo para que o vegetal, uma vez mais, experimente seu ciclo de crescimento e descanso. Mais uma vez cumpre sua missão de oferecer beleza ao mundo.

Vejamos, agora, o que acontece com a humanidade. O ser humano trabalha, luta, agoniza e se desespera, regozija-se e triunfa, progride ou retarda sua evolução conforme suas ações e pensamentos.

Qual, pois, a diferença entre o ser humano e o lírio? O ser humano tem à liberdade de afastar-se, mesmo que temporariamente, do Divino Plano traçado pelo Criador. Mas, à semelhança do lírio, encontra-se permanentemente debaixo da proteção de Deus.

Assim como as necessidades dos lírios são conhecidas e providas, assim como são alimentados e formosamente vestidos, também são conhecidas as necessidades do ser humano.

Tal como os lírios cumprem uma missão evolutiva, o ser humano cumpre a sua. Os lírios devem crescer, florescer e desenvolver o Corpo Vital, para eles um novo veículo. A missão do ser humano, por suposto, é muito mais abrangente. Ao ser humano cabe a tarefa de dominar sua impulsiva natureza de desejos e desenvolver a Mente, seu mais novo veículo. Faz parte de sua evolução aprender todas as lições que o plano físico lhe oferece e partir para a conquista do mundo do espírito.

É nesse ponto que a permanência e invencibilidade da vida de Cristo tornam-se importantes para nós. A Vida do Raio do Cristo Cósmico consumida anualmente na Terra enseja possibilidade de crescimento ao ser humano e ao lírio.

A força vital infundida no bulbo pelo Espírito-Grupo é suficientemente forte e persistente para ajudar a primeira manifestação do lírio a romper os obstáculos da terra até irromper na superfície com toda sua beleza.

A energia vital do Cristo em nós, individualmente, é suficientemente forte e persistente para ajudar-nos a vencer todos os obstáculos ao progresso espiritual.

Ao lírio não cabe escolha. A força vital opera através dele sem que lhe caiba expressar-se se concorda ou não. Deve responder ao estímulo dessa energia. Deve trabalhar com essa força. Trabalha automaticamente.

A humanidade pode optar. Eis onde se encontra a grande diferença, ao mesmo tempo fonte de dificuldades. Devemos conscientemente trabalhar pelo despertamento do Cristo Interno, abrindo-nos ao fluxo dessa força poderosíssima. Podemos assentir ou relutar e frequentemente relutamos, dizendo não ao Cristo. Obstinados e cegos que somos, ignoramos a força crística interna, impedindo assim o fluxo da VIDA UNA em e através de nós. Dessa obstinação ignorante, desse estado de morte é que devemos ressuscitar, preparando-nos para uma mais elevada expressão do Deus Interno.

Somente quando procedermos assim, a Páscoa se converterá numa experiência vivente para nós. Somente quando trabalharmos conscientemente com Sua Vida dentro de nós, poderemos avaliar a vitória que a Páscoa simboliza.

O significado da Páscoa é transcendente, abrangendo o físico e o espiritual, presente e futuro. Na medida em que o Cristo cresça em nós, poderemos perceber e apreciar o seu verdadeiro significado.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz de março e abril/87)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Páscoa: o Amanhecer de um Alegre Dia

Páscoa: o Amanhecer de um Alegre Dia

Encontramo-nos de passagem sobre a Terra. Somos apenas peregrinos. E justamente esta peregrinação, com suas lições a experiências, constitui o fator de nossa libertação, o meio através do qual um dia não mais renasceremos no plano físico.

O verdadeiro lar do espírito é o mundo celestial. Nossos esforços devem ser dirigidos a um retorno a esse mundo, tão rápido quanto seja possível, pois o propósito da vida é a experiência e a finalidade desta é o crescimento.

A vida ensina-nos lições definidas e quanto mais rapidamente as aprendermos, mais rápido será nosso crescimento anímico, apressando assim a chegada do dia da libertação.

A nossa liberdade determina também a libertação final do Cristo de sua “prisão terrestre”. Nesta época do ano as Igrejas cristãs enfatizam os sofrimentos do Calvário, e o sacrifício do Cordeiro de Deus em benefício do gênero humano. Todos os sermões e liturgias convergem para o tema da “Paixão de Cristo”, revestindo-o da atmosfera intensamente emocional.

Analisando o fato ocorrido há dois mil anos à luz da ciência esotérica, chega-se à conclusão de que aquelas horas de intenso sofrimento nada foram, se comparadas com o que o Cristo suporta presentemente.

Carregar aquela cruz de madeira na agitada Jerusalém de vinte séculos atrás, sob a chacota judaica e o chicote romano, era até suportável para um ser humano. Pior é carregar a cruz da humanidade, esse madeiro gigantesco, impregnado de todas as mazelas do ser humano. Muito mais torturante para um Ser da estatura do Cristo, é permanecer ligado a um Planeta como o nosso, de vibrações baixíssimas, uma somatória do que realmente somos.

O grande Arcanjo só bradará o “consumatum est” definitivo, quando todos nós nos elevarmos espiritualmente e o liberarmos de sua missão terrestre. Na qualidade de Aspirantes, nossa responsabilidade é imensa. Cumpre-nos viver nossas vidas tão altruisticamente quanto seja possível, evitando qualquer pensamento ou ação capaz de tornar a Terra um local mais insuportável do que é atualmente.

É verdade que na qualidade de seres humanos estamos sujeitos a quedas. Mas nosso dever é evitá-las, mantendo diuturna autovigilância. Se cairmos, que não nos falte forças para o reerguimento e ajustamento a apropriados canais de conduta.

Se a ocasião é propícia para meditarmos como aliviar os sofrimentos de Cristo, também é justo participarmos das alegrias da Páscoa. Regozijemo-nos não só pela ajuda recebida, mas principalmente por estarmos conscientes de que, preciosas oportunidades de serviço nos serão oferecidas na medida do nosso merecimento. Alegremo-nos por não sermos meros expectadores, mas partícipes de todo esse processo de libertação.

A Páscoa assinala a vitória da vida sobre a morte, do espírito sobre a matéria, e essa ideia inspirou Max Heindel a escrever estas formosas linhas: “Para os iluminados a Páscoa simboliza o amanhecer de um alegre dia, em que toda a humanidade e o Cristo se libertarão permanentemente das limitações da materialidade, e ascenderão aos reinos celestiais para converter-se em colunas do templo de Deus e dali nunca mais sairão”.

(Publicada na revista Serviço Rosacruz de março e abril/87)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Bíblia na Nova Era – O Livro dos Atos

A Bíblia na Nova Era – O Livro dos Atos

“Pedro lhes disse: Arrependei-vos e batize-se cada um de vós, em nome de Cristo-Jesus, para o perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” – Atos 2:38.

No nome de Cristo-Jesus mora a Suprema força do Iniciado. “Ao seu nome todo joelho se dobrará”, disse São Paulo. A palavra “amém” está composta de duas letras masculinas e duas femininas, correlacionadas com os quatro princípios do: fogo, ar, água e terra. Quem pode entoar adequadamente esse nome, controlará todos os habitantes e as forças dos elementos. Poder adquirido pelos discípulos no transcendental dia de Pentecostes.

“E perseveraram na doutrina dos Apóstolos, em comunhão uns com os outros, compartilhando o pão e orando. E sobreveio temor a todos; e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos Apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam a todos segundo a necessidade de cada um. E perseverando unânimes cada dia no Templo, repartiam o pão nas casas, comiam juntos com alegria e simplicidade de coração” – Atos 2:42-46.

Nessa descrição da vida das primeiras comunidades cristãs, encontra-se também o ideal da Nova Era, onde a amizade e a fraternidade serão demonstradas e praticadas. É somente pela prática, na vida diária da fraternidade, que se abrirão as portas do Templo da Sabedoria. O ser humano jamais encontrará a luz até que aprenda a manifestar o espírito de irmandade. O estudo dos livros dá somente um conceito intelectual dessas verdades, porém aquele que se capacita a recebê-las na fonte é quem vive os princípios sobre os quais elas estão fundamentadas.

A formosa vida desses primeiros cristãos foi um poderoso imã de atração. Ali, onde não existiam distinções de casta ou clã, nem patrícios nem plebeus, nem ricos nem pobres. Os neófitos conviviam e cada um era tratado e aceito como um irmão. Suas comunidades eram centros de amor e de serviço, nas quais ninguém era excluído. Eles observavam extrema simplicidade em todas as coisas, redimindo pessoas que eram presas à imoralidade e práticas dissolutas, remanescentes da passada ordem Taurina.

Admiráveis forças espirituais foram desenvolvidas e manifestadas no meio dessa gente. O grupo íntimo formava uma reunião com seu Mestre, que estava frequentemente entre eles, fortalecendo-os, estimulando-os e inspirando-os. Eles haviam aprendido também a segui-lo nos Mundos Espirituais, dos quais Ele lhes havia dito: “Não podeis seguir-me agora, porém, o fareis depois”.

Apesar das frequentes perseguições e martírios a que eram expostos, esses primeiros cristãos alcançaram uma sublime consciência, experimentando um profundo êxtase espiritual que ultrapassa toda compreensão humana e não pode ser comparado a coisa alguma. Cada noite, em alegre reverência, reuniam-se para uma frugal refeição, chamada na Grécia “ágape”, ou festa de amor. Seguia-se a isto, um período de estudo e celebração da Eucaristia. Depois, dava-se sequência a uma classe limitada àqueles avançados e maduros espiritualmente. Prosseguindo essas normas, novas e extensas forças de cura, profecia e visão foram desenvolvidas no meio deles, juntamente com a habilidade de comunicação com seu dileto Mestre.

“Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente Meus discípulos e conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.

(Rays from the Rose Cross —publicado na revista Serviço Rosacruz – jan.fev/87)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Apóstolo em Cada Ser Humano

O Apóstolo em Cada Ser Humano

Para muita gente ainda continua um mistério o significado real de a mulher de Lot ter-se convertido em estátua de sal, após contemplar a destruição de Sodoma e Gomorra. É bom recordar que isso aconteceu porque ela olhou para trás, saudosa…

Segundo o Velho Testamento, as duas cidades celebrizaram-se como verdadeiros núcleos de licenciosidade. Eram, portanto, um centro de degeneração.

Encontramos aí um interessante simbolismo ou alegoria. Não se trata apenas de um relato bíblico. É algo muito mais profundo. Mais uma vez deparamos com a história do próprio ser humano, sempre às voltas com os desafios inerentes ao caminho do progresso espiritual.

Sodoma e Gomorra simbolizam o elemento que, por se corromper, perdeu a sua utilidade, e o seu lugar, dentro do processo evolutivo. A mulher de Lot representa aquele tipo humano incapaz de libertar-se de hábitos nocivos e ideias ultrapassadas. Insensível a estágios ou vivências mais elevadas, apega-se a estruturas bolorentas e enferrujadas, embora só possa sofrer prejuízos com essa resistência. Olhando para trás, demonstrou sua ligação com aqueles restos que se consumiam, ao invés de encetar uma nova busca.

É uma perfeita alegoria à cristalização.

O ser humano comum, é bom ressaltar, traz consigo uma tendência à acomodação. Se, do ponto de vista material, a vida que leva é relativamente “boa”, opor-se-á, tenazmente, a qualquer tipo de mudança, mesmo salutar à sua formação espiritual.

A acomodação, diante de qualquer análise, surge como algo pernicioso. No Universo tudo se encontra em constante movimento, sempre em direção a degraus superiores. A inércia, por ser contrária às leis naturais, gera reações às vezes violentas. O ser humano, por ser elemento integrante do contexto cósmico, não deixa de estar sujeito a essa lei.

As transformações constituem uma necessidade evolutiva. São uma manifestação da Luz de Deus, sempre objetivando abrir mais amplos horizontes para a humanidade. O ser humano sofre porque resiste às transformações, insistindo em permanecer impenetrável aos raios da Luz Divina. Às vezes, contempla a estrutura em que viveu durante muito tempo ruir fragorosamente. Mesmo assim, cede à tentação de olhar para trás, observando demorada e nostalgicamente os escombros. É um indicador de sua cristalização. O curso da própria vida acabará por reintegrá-lo ao progresso. Isso, todavia, ocorre, quase sempre, às custas de muito sofrimento.

É importante “tomar do arado e não olhar para trás”, como exortou o Cristo.

Conta-se que o conquistador romano Júlio César, quando aportou nas ilhas britânicas, ordenou a seus soldados que queimassem os navios. Assim, ninguém pensaria em voltar, recuando diante de um inimigo até então desconhecido. Lutariam ou sucumbiriam.

A vida costuma encaminhar-nos a situações complexas, em que o recuo se afigura impossível. Segurança interior, autoconfiança, fé, coragem, capacidade de adaptação, são testadas nessas ocasiões.

Temos que estar alertas e preparados para as mudanças. Elas acontecem quando menos esperamos.

Todos nós somos dotados de talentos, em maior ou menor grau de desenvolvimento. O uso desses dons determina nosso crescimento. Há ocasiões em que Deus requisita nossos préstimos em Sua Seara. Essa convocação divina pode implicar em mudanças, talvez até radicais, em nossas vidas. Atenderemos ao chamamento de nosso Divino Pai, ou continuaremos com a nossa já viciada rotina?

Não importa se somos inconscientes disso ou se nos encontramos acomodados, indiferentes ao sofrimento do mundo, cedo ou tarde seremos chamados a servir. No início talvez até resistamos. Mas chegará o momento da decisão, em que nossas existências tomarão outro rumo. Saulo era um ferrenho perseguidor dos cristãos. Na estrada de Damasco transformou-se: “Saulo, Saulo, por que me persegues? Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.” Saulo transformou-se em Paulo, assumindo uma nova realidade. Abandonou o invejável “status” de doutor da Lei. Teve a coragem de deixar os de seu credo.

Renunciou suas amizades e suas posses, para abraçar as ideias do nazareno, um misto de blasfemo e impostor no entender dos fariseus.

É preciso, entretanto, uma férrea disposição para atravessar as agruras dessa fase de transição. Incompreendido, injustiçado, vilipendiado até, o aspirante há de perseverar. Terá muita luta pela frente, sem dúvida. Mas a crueza da porfia não deve abatê-lo. É duramente provado. Cai. Ergue-se. Fracassa novamente. Anima-se de esperança. Aflige-se mortalmente com a decepção. Ascende mais uma vez. Na experiência, renova-se. O mundo dele necessita. O Cristo necessita dele. Deus nele habita. Não há razão para temores. Vive na fonte do eterno Bem.

O caminho do apostolado é assim mesmo. Exige mudanças, crucifica o eu inferior. É como o campanário de uma igreja: largo na base, estreitando-se à medida que sobe. No cume, só resta a cruz. Não se pode olhar para baixo, para trás. Só resta subir, subir sempre…

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pergunta: A cruz constitui apenas um símbolo de sofrimento, como dão a entender as religiões cristãs populares? Não teria um significado mais transcendental?

Pergunta: A cruz constitui apenas um símbolo de sofrimento, como dão a entender as religiões cristãs populares? Não teria um significado mais transcendental?

Resposta: Como todos os símbolos, a cruz tem muitos significados. Platão revelou um deles, quando afirmou: “A alma do mundo está crucificada”.

Quatro ondas de vida se expressam neste mundo através dos quatro reinos: mineral, vegetal, animal e humano. O reino mineral é representado pelas substâncias químicas, de qualquer classe que sejam. Assim, a cruz feita com qualquer material simboliza esse reino.

O madeiro inferior da cruz representa o reino vegetal, porque as correntes dos espíritos coletivos que vivificam as plantas provêm do centro da Terra.

O madeiro superior simboliza o ser humano, porquanto as correntes vitais que o sustentam são irradiadas do Sol, perpassando-lhe a coluna vertebral (vertical). Dessa forma, o ser humano constitui uma planta invertida. Assim como a planta recebe seu alimento pelas raízes, em linha ascendente, o ser humano ingere sua alimentação pela cabeça, em linha descendente.

A planta é casta, pura, e destituída de paixão. Dirige seu órgão reprodutor em direção ao Sol. O ser humano, ao contrário, dirige seus órgãos geradores para baixo, em direção à Terra; respira o vivificante oxigênio e exala o venenoso dióxido de carbono. Este é absorvido pela planta nutrindo-a. O vegetal, em troca, devolve-lhe o elixir da vida, o oxigênio.

Entre os reinos vegetal e humano encontra-se o animal, cuja medula espinhal horizontal é perpassada pelas correntes dos Espíritos-Grupo particulares a esse reino, pois tais correntes circulam em torno da Terra. O madeiro horizontal da cruz, por conseguinte, simboliza o reino animal.

Em âmbito esotérico, a cruz nunca foi considerada como um símbolo de sofrimento ou instrumento de tortura. Só a partir do século VI é que surgiram os primeiros quadros representando o Cristo crucificado. Anteriormente o símbolo do Cristo era um cordeiro aos pés de uma cruz, indicando que, quando o Cristo “nasceu”, o Sol transitava pelo Signo astrológico de Áries (o cordeiro). Os símbolos das diversas religiões expressaram-se sempre dessa forma.

Quando o Sol, devido à Precessão dos Equinócios, transitava pelo Signo de Touro (o touro), surgiu no Egito o culto ao Boi Ápis, no mesmo sentido em que hoje adoramos o Cordeiro de Deus.

Em tempos remotos falava-se no deus Thor, que conduzia suas cabras gêmeas ao céu. O Sol, nessa época, transitava pelo Signo de Gêmeos, os gêmeos.

Quando o Cristo “nasceu”, o Sol encontrava-se em torno do 5º grau de Áries, o cordeiro. Eis porque nosso Salvador é chamado de “Cordeiro de Deus”. Contudo, nos primeiros séculos da era cristã discutiu-se muito sobre a legitimidade de instituir o cordeiro como símbolo do nosso Salvador. Alguns sustentavam que o Sol transitava pelo Signo de Peixes (os peixes). Para eles, o peixe seria a representação mais exata do Cristo. Como reminiscência dessa disputa, a mitra dos bispos conserva a forma de uma cabeça de peixe.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Missão de Maria

A Missão de Maria

De acordo com Max Heindel, sabemos que Maria e José foram Iniciados nos Mistérios Cristãos. Estavam imbuídos plenamente da missão que lhes tocava, assim como Jesus. Quando Jesus Cristo falava com Maria e lhe dava aquelas respostas, era o Cristo e não o homem Jesus que falava. Podemos alcançar uma maior compreensão quando Jesus Cristo, em Seu último alento, deixou Sua mãe aos cuidados de João, Seu discípulo, segundo lemos no Evangelho Segundo São João 19:26, demonstrando o laço profundo entre a mãe e o filho. Quase Seu último pensamento e pedido foram nela e para ela.

Nos tempos presentes, vemos a mulher ocupando os postos dos homens, em alguns casos. Porém se ouvimos a conversa delas nos distintos aspectos da vida, podemos verificar seus fortes desejos de poder dar mais atenção ao lar e viver ao lado de seus familiares. Sabemos que renascemos umas vezes homem e outras mulher e é necessário que aprendamos tudo o que nos seja possível em cada corpo. Maria cumpriu seu trabalho familiar muito bem. Trabalhou com José, porém não encontramos nenhum indício de que ele tivesse exercido domínio sobre ela. Sem dúvida, encontramos muitos relatos do trabalho de Maria no lar. Sabemos que a túnica de uma só peça que Cristo usava quando foi crucificado havia sido tecida por ela.

A grande influência que as mulheres exercem sobre os homens está indicada no conhecido dito: “A mão que embala o berço governa o mundo”. O êxito do homem é amiúde devido à influência de sua esposa, mãe ou noiva. Temos muitos exemplos disso e todos os grandes homens dão muito crédito aos conselhos maternais. Lincoln disse que tudo o que ele era e esperava ser devia-o à sua mãe. Em todas as grandes crises encontramos uma mulher atrás da cena. Nem todas as mulheres, em sua capacidade, têm sido boas, e é então quando se têm provocado muitos distúrbios ao mundo; porém o fato é que sempre existe uma mulher por detrás dos bastidores.

De acordo com a Bíblia, José era muito mais velho do que geralmente se supõe. Quando lemos sobre sua participação no plano, notamos, sobretudo, seu cuidado com Maria e Jesus, e sua devoção e completa obediência à vontade de Deus. Todos os seus pensamentos convergiam à ternura pela mãe e o Filho. José deu por cumprida sua missão quando Jesus estava preparado para entregar seu corpo ao Cristo. Somente Maria esteve com Jesus, com seu amor e devoção, até que Ele expirou.

Durante os trinta anos da vida de homem, Jesus obedeceu a todas as leis da Terra. Porém, quando Cristo tomou posse de seu corpo, no Batismo, começou a mudar as leis e dar novos ímpetos ao mundo. Tão logo o Cristo começou Seu ministério, as mudanças foram maiores e nos três curtos anos levou a cabo Sua missão para a qual havia vindo, ou seja, a de Salvador do Mundo.

Não nos esqueçamos das outras Marias que tomaram parte nas vidas de Maria e Jesus. Não é estranho que as três tivessem o nome de Maria? Cada uma delas ilumina alguma das fases da vida da mulher. A história de Maria e Martha é uma das quais estamos familiarizados. Por que Maria ficou com Jesus enquanto Martha trabalhava na cozinha? Por que Maria Madalena ungiu os pés de Nazareno com azeite perfumado? Porque elas tinham parte na missão de Jesus. Maria Madalena é uma das Marias que mais nos intriga. Ela tomou parte na redenção. Trabalhou seu destino por meio da superação de sua Mente e de sua alma. Todos nós sabemos que Maria Madalena havia quebrado muitas das leis, porém, com a ajuda de Jesus Cristo, se redimiu e começou vida nova.

Aproximava-se a hora em que Jesus-Cristo tinha de se apresentar aos judeus como seu Rei e Messias prometido. Quantas alegrias sentiria o coração de Maria, ao observar seu Filho fazendo os primeiros milagres de cura! Quanto teria sofrido ao saber que seu Filho bem amado teria que caminhar sozinho os anos restantes de Sua vida! Aqui vai uma lição para todas as mães: quantas há que, ao chegar a hora em que seus pequeninos tenham que provar suas próprias asas e começar a viver suas próprias vidas, estão dispostas a dar-lhes a liberdade de que necessitam?

Diz-se no Novo Testamento que quando Cristo falava às multidões, Maria e Seus Irmãos vieram e desejaram falar-Lhe, e sua resposta foi: “Quem é minha mãe, e quem são os meus irmãos? Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Maria compreendeu isto porque sabia que já não havia o mesmo laço familiar com Cristo como o tinha com Jesus. Sabemos que durante os últimos dias e noites de provas, Maria falava com Deus e teve que receber muitas bênçãos porque continuou sua missão até o final.

Como a alegria que Maria teve ao ter o menino entre seus braços, também teve a dor de sustentar o corpo sem vida de Jesus-Cristo, enquanto José de Arimateia ia procurar pano para envolvê-Lo. Depois que Seu corpo foi levado, Maria foi com João, pois sabemos que este a levou para sua casa e dela cuidou. Maria viveu o suficiente para saber que a missão para a qual ela e Jesus haviam nascido havia se cumprido, e que tudo se havia feito de acordo com a vontade e guia Divinas.

 (Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)

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