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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Como devo Proceder nessa Época Santa do Ano?

Já está marcado nos céus o início de uma ação predecessora, isto é, que precede a um grande acontecimento. A 21 de setembro iniciou-se, mais uma vez, a descida de um Raio do Cristo Cósmico, e no dizer de nosso irmão Max Heindel, “um cântico harmonioso, rítmico e vibratório”, maravilhosamente descrito na lenda do Nascimento Místico, como um “hosana” cantado por um coro angelical, enche a atmosfera planetária e opera sobre todos nós como um impulso à aspiração espiritual.

Pelo Natal o Cristo nascera, mais uma vez, no centro da Terra, para vivificá-la e para, de novo, dar Sua vida a todos os Reinos da Natureza que evoluem nesse Planeta. Já o trabalho maior que tem um paralelo: o trabalho menor. A uma ação macrocósmica corresponde uma ação microscópica. Há uma disposição de forças em cada criatura – em cada microcosmo – o que tende a levá-la, por esta época, a consciência de seu Cristo interno. Toda a vida se predispõe a esse grande acontecimento, tanto no maior como no menor…

Tudo se adapta ao desígnio maior. Toda a natureza se rende, toda a vida instintiva cede passo à ação hierárquica dos valores mais elevados. A ação adaptativa se mostra em toda a sua plenitude e a razão está, então, como nosso irmão Max Heindel quando diz que: “a adaptabilidade é a chave do progresso e da evolução”.

Todos os anos há uma tentativa, uma ação de ordem espiritual no sentido de tornar a matéria física mais sensível aos impactos do Espírito. Está, portanto, em ação, tal como nos anos anteriores, um processo mais direto de sutilização da matéria por força desse “cântico harmonioso, rítmico e vibratório” que teve início a 21 de setembro.

O trabalho de Cristo começou novamente. Novas condições de vida, embora imperceptíveis para a maioria, surgirão a contar desse dia, em relação aos anos anteriores.

O processo alquímico no Cosmo se desenvolve sem interrupção através da adaptação integral da Natureza à Ação Crística. No microcosmo, a ação do Cristo interno deveria ser paralela à do Cristo Cósmico, mas não o é. As razões de ordem pessoais tolhem essa ação e a adaptação, quando há, se processa intermitentemente. O ser humano sofre, principalmente por falta de visão, por não poder ou querer dilatar seu horizonte.

Porém, a criatura nunca está desamparada. Existe sempre um auxiliar de Cristo junto a cada ser e, entre esses Auxiliares estão os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, fornecendo os meios necessários para a criatura adaptar-se à Ação Crística.

Dizem eles: “Se aspiramos conhecer a Deus e obter a Sabedoria Divina, devemos estudar a atividade do Divino Princípio em nossos corações. Devemos escutar-lhe a voz com o ouvido da inteligência e ler-lhe as palavras com a luz do divino amor, porque o único Deus que o ser humano pode conhecer é o seu próprio Deus pessoal, Uno com o Deus do Universo” (Livro: Cartas Rosacruzes). Este é o símbolo proposto por Cristo quando disse: “ninguém pode conhecer o Pai senão por mim”, isto é, pelo princípio Crístico microcósmico interno.

Tomás de Kempes diz no Livro “Imitação de Cristo”: “Filho, eu devo ser o teu supremo e último fim, se desejas ser verdadeiramente feliz. Esta intenção purificará teu coração, tantas vezes apegado desregradamente a ti mesmo e as criaturas. Porque se em alguma coisa te buscas a ti mesmo, logo desfaleces e afrouxas. Refere, pois, tudo a mim, principalmente porque eu sou quem te deu tudo. Considera todos os bens como dimanados do Sumo Bem e, por isso refere tudo a mim como sua origem”.

A “Luz do Mundo” diz: “Procura primeiro o Reino de Deus… o Reino de Deus está dentro de ti”.

Cristo e Seus Auxiliares aí estão levando a criatura pela procura de um valor interior, à condição real de Filho de Deus.

Eis porque atualmente se faz ouvir “um cântico como um hosana entoado por um coro angelical, enchendo a atmosfera planetária, impulsionando-nos a aspiração espiritual”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – setembro/1964 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Tentação e a Sua Importância no Discernimento do Bem e do Mal

Elman Bacher, em seus Estudos de Astrologia, escreveu: “o artista no indivíduo durante as épocas passadas tratou de interpretar em versos, canções e quadros seu conceito de vida como uma grande luta. Toda escritura narra a história, em símbolos e alegorias, dos ataques furiosos das forças das trevas contra a fortaleza da luz, a contenda do diabo contra Deus pela alma do ser humano, a fricção incessante entre o mal e o bem, o tentador que procura, eternamente, acabar com aquilo que é aspiração no coração humano”.

Isso faz parte da nossa evolução e saber como funciona nos fortalece para extrair melhor o ensinamento que nos é oferecido. Vejamos, então, de onde vem tudo isso.

Todos nós descendemos de uma raça chamada Semitas Originais. Nós, como Semitas, fomos a primeira raça a ganhar o livre arbítrio e a faculdade de poder escolher o que fazer.

Essas duas condições – caminhar por conta própria e decidir o que fazer – eram necessárias, como ainda o são, para desenvolver a faculdade da razão, a nossa Mente, a fim de aprendermos a pensar estando na consciência de vigília nesta Região Química do Mundo Físico.

Em qualquer escola que cursamos, seja no primeiro grau, segundo, na faculdade, de tempos em tempos são dados testes ou provas a fim de nos examinar e descobrir se aprendemos as lições dadas.

Do mesmo modo, na escola da vida, os sublimes mestres que nos orientam na nossa evolução, de tempos em tempos, nos dão provas que realcem ou destaquem os nossos pontos débeis.

Essa é a maneira mais eficaz de corrigir as nossas deficiências e fortalecer o nosso caráter. Esse é o momento em que o mestre se converte em tentador, ou em outras palavras: se converte num adversário ou inimigo (Satã ou Satanás em hebreu).

Temos vários casos na Bíblia: por exemplo, no cap. 24 do Segundo Livro de Samuel de 1 a 15: “Tornou-se de novo a acender o furor do Senhor contra Israel e excitou o Senhor contra eles a Davi, permitindo que dissesse: vai e numera a Israel e Judá. Disse, pois, Davi a Joab, General do seu exército: corre todas as tribos de Israel desde Dan até Betsabée, e fazei a resenha do povo, para eu saber o seu número (…) e tendo percorrido toda a terra, voltaram para Jerusalém depois de nove meses e vinte dias (…) acharam-se em Israel 860 mil homens robustos (…) mas, depois que foi contado o povo, sentiu Davi ao Senhor: eu cometi, nessa ação, um grande pecado: mas rogo-te, ó Senhor que perdoe a iniquidade de teu servo, porque obrei muito nesciamente (…) mandou, pois, o Senhor, a peste a Israel (…) e morreram do povo desde Dan até Betsabée 70 mil homens”.

Na passagem: “excitou o Senhor” vemos que o Senhor permitiu que Davi caísse na tentação de vã glória e ambição ordenando o recenseamento. Isso é evidenciado se notamos que em primeiro Paralipômenos Capítulo 21, versículos de 1 a 13 temos a mesma passagem só que relatada da seguinte forma: “Levantou-se, pois, Satanás contra Israel e incitou a Davi a fazer resenha de Israel e disse Davi a Joab, e aos principais do seu povo: Ide e fazei a conta a Israel desde Betsabée até Dan e trazei-me o número para eu saber”.

Davi deveria ter confiança em Deus e atribuído a ele toda força e poder que possuía e não à quantidade de soldados que existiam.

Ora, Davi era semita e Jeová era o Deus de Raça responsável por toda a evolução naquela época. Os Semitas eram teimosos e gostavam de fazer tudo por si só. Aí a represália em forma de peste de modo a deixar bem claro que a quantidade de homens era insignificante se comparado ao poder de Jeová.

Note, então, que Satanás apareceu com o significado de adversário, de tentador, a fim de provar ao próprio Davi até onde ia a sua fé.

Perceba que o próprio Davi tão logo viu a estupidez que fez caiu em remorso no seu coração. Só que naquela época não havia o Perdão dos Pecados e estavam sob a lei e devia-se aprender pela dor – aí a peste e todo o sofrimento. Entretanto, da mesma forma que hoje, uma vez aprendida a lição, o ensino foi suspenso!

Temos um segundo exemplo no livro de Jó (1:6-22 e 2:1-10): “Um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também Satanás entre eles (…). E o Senhor disse-lhe: ‘Notaste o meu servo Jó? Não há ninguém igual a ele na terra: íntegro, reto, temente a Deus, afastado do mal’. Mas, Satanás respondeu ao Senhor: ‘e a troco de nada que só teme a Deus? Não cercaste como de uma muralha a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? (…), Mas estende a tua mão e toca em tudo o que ele possui: juro-te que te amaldiçoará na tua face’. ‘Pois bem’, respondeu o Senhor. ‘Tudo o que ele tem está em teu poder; mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa’”.

Daí por diante tudo o que Jó possuía foi sendo destruído por inimigos ou por fogo ou por furacão. Jó perdeu tudo.

Então, Jó se levantou, rasgou o manto e raspou a cabeça. Depois, caído, prosternado por terra, disse: “Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu; o Senhor tirou. Bendito seja o nome do Senhor”.

Em tudo isso Jó não cometeu nenhum pecado, nem proferiu contra Deus nenhuma blasfêmia. “Ora, um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, Satanás apareceu também no meio deles (…) o Senhor disse-lhe: Notaste o meu servo Jó? (…) Foi em vão que me incitasse a perdê-lo”.

Pele por pele!” – respondeu Satanás. “O homem dá tudo que tem para salvar a própria vida. Mas estende a sua mão, toca-lhe nos ossos, na carne; juro que te renegará na tua face”.

O Senhor disse a Satanás: “Pois bem, ele está em teu poder, poupa-lhe apenas a vida! (…) Satanás feriu Jó com uma lepra maligna, desde a planta dos pés até o alto da cabeça. (…) Sua mulher disse-lhe: Persiste ainda em tua integridade? Amaldiçoa a Deus; e morre! Falas, respondeu-lhe ele, como uma insensata. Aceitamos a felicidade da mão de Deus; não devemos também aceitar a infelicidade?”.

Em tudo isso Jó não pecou por palavras. Essas provações só mostram quão firmes devemos ser. Tudo Deus nos deu. Tudo só Ele pode nos tirar. Tudo que possuímos são bens que temos o privilégio de administrar. Se administrarmos bem, mais possuímos. Se administrarmos mal, até o que temos nos será tirado.

Esses são os talentos que Cristo nos fala, em Mateus 25:14-30.

Satanás, aqui, é senão o adversário se empenhando para provar a Jó. Entretanto, perceba que ele nada faz sem a permissão de Deus que, por outro lado, não permite que Satanás nos tente acima de nossas forças!

Além disso, Deus nos ajuda com a sua graça de tal forma que tudo o que o adversário ou o inimigo nos faça redunde em nosso bem, mostrando-nos e reforçando em nós as virtudes e o merecimento. Lembrarmo-nos disso nos ajudará, e muito, a nos mantermos firmes em meio às adversidades.

Qualquer pessoa, qualquer circunstância ou qualquer ser pode se tornar um Satanás, um adversário, um inimigo para nós num momento em que dele precisamos.

E o que é Satanás para nós, pode não ser, e muitas vezes não é para os outros. O importante é ter em mente que quando qualquer pessoa ou qualquer sugestão de qualquer pessoa – seja ela a pessoa que mais amamos ou que mais respeitamos ou, ainda, a em que mais nos espelhamos – vier nos pedir ou sugerir que façamos algo que, pela lógica, pela razão e pelo nosso coração é errado devemos dizer como Cristo disse a São Pedro no Evangelho Segundo São Mateus (16:23): “Afasta-te Satanás; tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!”.

Não devemos também amaldiçoar o tentador, o nosso adversário, só porque ele se apresentou como tal para nós.

De repente essa apresentação se deu só uma vez e não se dará mais. De repente ele nem se sentiu adversário nosso. Também não adianta tentar ensiná-lo que está errado ao pedir ou sugerir “algo errado”. Nesse momento, nós é que estamos sendo tentados; a lição é para provar-nos, não a ele. Ele é apenas o instrumento; devemos sim repreendê-lo como Cristo o fez, mostrando nossa consciência no bem. Outras vezes nós nos tornamos o adversário de nós mesmos. Quando não temos vontade e inteligência de agir corretamente.

Na Bíblia, Saturno é Satanás, Satã, o adversário, o inimigo, o opositor, o que luta contra o contrário. Aquele que limita; que obstrui; que cristaliza; que nos incomoda. Aquele que nos deixará passar para um nível mais elevado se provarmos ter o merecimento necessário. Aquele que nos incita a nada fazer; a fraquejar; a xingar; a blasfemar; a cristalizar; a perder tempo. Enquanto ficamos nisso, nada conseguiremos e só retrocedemos. Aprendamos com as nossas fraquezas e elas nos elevarão. É nosso dever prosseguir, agir, desafiar novos opositores, abrir novos horizontes. Lembremos que: “a messe é grande e os operários são poucos”.

Daqui concluímos que Saturno é o tentador que nos incita a não agir; a blasfemar; a opor-se.

Outro tentador há que nos incita a agir, mas agir para o mal; a manter uma compreensão errada pela Mente; a viver na ignorância. Nesse sentido Cristo-Jesus foi tentado três vezes pelo demônio no deserto. As tentações visavam tocar no ponto mais fraco, com isso o tentador poderia justificar a sua queda alegando que: ou se fazia assim ou morreria.

Entretanto, é preferível morrer a trabalhar para o mal! Após Cristo-Jesus ter jejuado 40 dias e 40 noites “o tentador aproximou dele e lhe disse: ‘se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pão. Cristo-Jesus respondeu: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’.” (Mt 4:1-14).

Através do seu poder espiritual, Cristo-Jesus poderia matar sua fome, mas é uma lei cósmica que não se pode usar o próprio poder para tirar algum proveito material para si mesmo. Se o fizesse estaria praticando magia negra! E o demônio sabia disso.

Na segunda tentação, “o demônio transportou-o à cidade santa, colocou-a no ponto mais alto do templo e disse-lhe: ‘se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: ele deu a seus Anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra’. Disse-lhe Cristo-Jesus: ‘Também está escrito: ‘não tentarás o Senhor teu Deus”.

Note que o demônio percebeu que Cristo se apoiava nas Sagradas Escrituras e, também, se apoiou nela para fundamentar a sua sugestão!

Na terceira e última tentação “o demônio transportou Cristo-Jesus, uma vez mais, para um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: ‘dar-te-ei tudo isto se, prostrando-o diante de mim, me adorares’. Respondeu-lhe Cristo-Jesus: ‘Para trás, pois está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás’”. Com a ajuda do demônio, que possuía o controle sobre a terra, naquele tempo, seria fácil se tornar um herói maravilhoso no conceito das pessoas sem ter os transtornos e as dificuldades que viriam.

Entretanto, logo descobria que “teria ganhado o mundo inteiro, mas perdido não só a sua própria alma, mas a alma do mundo inteiro, que tinha esperança de salvar”! Além do que a Reino de Deus não é deste mundo; não é o Reino dos homens; o Reino de Deus é celeste.

Após essa última tentação “o demônio deixou-o por um certo tempo”.

Repare na última frase: “por um certo tempo”, pois a prova não foi feita de uma vez, mas de tempos em tempos. Durante a Sua vida terrestre, encontramos a Cristo refutando as mesmas provas.

Esses três tipos de provas, de tentações, são as três mais difíceis pelas quais estamos, constantemente, passando: interesse pessoal, poder pessoal e fama pessoal. No início do nosso caminho Espiritual essas provas nos apresentam como simples e clara de serem refutadas, mas conforme progredimos, torna-se menos óbvio e mais sutil. E como diz Tomás de Kempis, em Imitação de Cristo: “por isso lemos no livro de Jó (7:1): ‘É um combate a vida do homem sobre a Terra’. Cada qual deve estar acautelado contra as tentações mediante a vigilância e a oração, para não dar azo às ilusões do demônio, que nunca dorme, mas anda por toda parte em busca de quem possa devorar (1Pd 5:8)”.

O demônio ou o diabo é o nome comum dado a Lúcifer ou Espíritos Lucíferos, cujo Planeta residente é Marte. Como diz em Fausto, quando pergunta quem é Lúcifer: “o Espírito da negação; o poder que trabalha para o bem, embora planejando o mal”.

O trabalho de Lúcifer foi, e ainda é, mostrar-nos que existem o bem e o mal. Com isso ele trouxe-nos a dor, a tristeza e a morte, roubando-nos a inocência e a paz. Pois, como éramos ingênuos e ignorantes abusamos da força criadora sexual, tornamo-nos conscientes do nosso corpo físico – nosso Corpo Denso – esquecemos os mundos espirituais e mergulhamos no pecado, mas obtivemos a possibilidade de escolher entre fazer o bem ou cair na tentação fazendo o mal.

A tentação tornou-se parte fundamental da nossa vida. É ela que nos traz a paciência, quando tentamos e não conseguimos fazer o certo; a humildade, quando erramos e nos humilhamos; a esperança, quando, após muito sofrimento estamos prestes a desistir; a fé, quando se sentindo perdido apoiamo-nos na graça e na consolação divina; ânimo, quando nos sentimos fortalecidos ante uma tentação superada e; principalmente, a consciência que, através da sua voz e quando aconteçam circunstâncias em que antigas tentações nos apresentam, ela nos orienta como agir não nos deixando nelas cair.

Que as rosas floresçam em vossa cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: A Batalha que se trava internamente

Março de 1916

Frequentemente recebemos cartas de Estudantes Rosacruzes domiciliados em países beligerantes, censurando-nos por não tomarmos partido a seu favor. Não há um só dia, desde que se iniciou este amargo conflito, que não tenhamos lamentado profundamente esta pavorosa mortandade, embora reconfortados pelo conhecimento de que, como nenhuma outra coisa o poderia fazer; isto está ajudando a destruir a barreira entre os vivos e os mortos. Assim, a guerra apressará a abolição do pesar que agora as pessoas experimentem quando se veem separadas dos seus seres amados. Também o sofrimento atual está sendo utilizado para desviar os povos ocidentais dos prazeres do mundo, reconduzindo-os à devoção a Deus. Não houve uma só noite em que não tivéssemos trabalhado diligentemente com os mortos e os feridos, aliviando suas angústias mentais e suas dores físicas.
O patriotismo foi muito bom em outros tempos, mas Cristo disse: “Antes de Abraão, Eu sou1 (Ego sum). As raças e as nações incluídas no termo “Abraão” são fatos evanescentes, mas o “Ego”, que existiu antes de Abraão, o pai da raça, ainda existirá quando as nações forem uma coisa do passado. Por conseguinte, a Fraternidade prescinde das diferenças nacionais e raciais, esforçando-se por unir todos os seres humanos com um laço de amor para que travem a grande guerra contra a sua natureza inferior; a única guerra em que, inflexivelmente e sem quartel, se devem empenhar os verdadeiros Cristãos. São Paulo disse: “Porque eu sei que em mim (isto é, na minha carne) não habita coisa boa. Pois, o bem que deveria fazer, não o faço; mas o mal que não queria fazer, esse eu o faço. Alegro-me com a Lei de Deus no meu eu interno, mas sinto outra lei em meus membros que luta contra a lei da minha mente e que conduz cativo à lei do pecado que está em meus membros. Oh! Que desgraçado sou! Quem me livrará deste corpo de morte?2.
Não descreve São Paulo e da maneira mais acertada, o estado de toda alma aspirante? Não sofremos todos nós espiritualmente por causa do conflito que se desenrola em nosso íntimo? Eu espero que haja uma só resposta a estas perguntas, isto é, que esta batalha interna seja travada violenta e incansavelmente por cada estudante da Fraternidade, pois onde não há luta, há uma indicação certa de coma espiritual. E o Corpo de Pecado pode sair vitorioso. Mas, quanto mais dura for à batalha, mais gratificante será nosso progresso espiritual.
Nos Estados Unidos da América ouvimos falar muito sobre “neutralidade”, “preparação” com fins “defensivos”. Na mais nobre guerra que devemos travar “neutralidade” não pode existir, ou há paz e “a carne” nos rege e nos mantém em abjeta dependência, ou há guerra agressivamente travada entre a carne e o espírito. E enquanto continuarmos vivendo neste “corpo de morte”, esta guerra prosseguirá, pois até Cristo foi tentado e estamos conscientes que, como Ele, temos que enfrentar essas tentações.
“Preparação” é um ato edificante. Cada dia torna-se mais necessário preparar-nos, pois, da mesma maneira que um inimigo físico tenta enganar e armar emboscadas para um adversário mais poderoso antes de se arriscar em uma batalha aberta, assim também as tentações que nos são apresentadas “no caminho” são mais sutis a cada ano que passa.
Escritores, como Tomás de Kempis3, consideraram-se “vermes vis” e usaram termos como “humilhação própria”, porque conheciam o sutil e imenso perigo da autoaprovação. Mesmo que possamos sentir que somos “bons, muito bons” e até “mais santos” que os demais, na verdade, enganamo-nos totalmente. Devemos admitir que as armadilhas do Corpo de Desejos são ardilosas.
Há um caminho seguro para ser trilhado: “Olhar para Cristo” e conservar a Mente ocupada em todos os momentos em que estivermos despertos. Quando o trabalho diário dificultar essa devoção, mesmo assim devemos pensar na forma de servi-Lo. Esforcemo-nos, por todos os meios possíveis, em dar continuidade e de maneira prática, às ideias e aos ideais assim concebidos. Quanto mais imitarmos Cristo, mais seguiremos os ditames do Eu Superior e mais seguramente venceremos a natureza inferior, ganhando a única batalha digna de sair vitoriosa.

(Carta nº 64 do Livro Cartas aos Estudantes – Por Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

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[1] N.R.: Jo 8,58

[2] N.R. Rm 7:18-24

[3] N.R.: também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1380-1471), Monge e escritor alemão. Tomás de Kempis produziu cerca de quarenta obras representantes da literatura devocional moderna. Destaca-se o seu livro mais célebre, Imitação de Cristo, composto por quatro volumes, no qual apela a uma vida seguida no exemplo de Cristo, valorizando a comunhão como forma de reforçar a fé.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carta de Max Heindel: O Vício do Egoísmo e o Poder do Amor

O Vício do Egoísmo e o Poder do Amor

Na última lição vimos que o Senhor de Wartburg[1] pediu aos trovadores que descrevessem o amor. Como todos nós aspiramos a desenvolver internamente esta qualidade, talvez seja de grande importância que devamos olhar diretamente para esse assunto e ver onde reside o nosso maior obstáculo, pois certamente não pode haver nenhuma dúvida de que todos nós estamos falhando, lamentavelmente, no que se refere ao amor.

Não importa o que possamos parecer aos outros, quando nós mesmos examinamos os nossos próprios corações ficamos envergonhados, ao reconhecer os reais motivos pelos quais os atos estimulados que os outros acham como ditados pelo amor aos nossos semelhantes. Quando analisamos esses motivos, iremos descobrir que todos foram ditados um traço de egoísmo; ainda que seja uma falha que nunca confessamos.

Tenho ouvido homens e mulheres se levantarem publicamente ou em privado e confessarem a todos os seus pecados cometidos, exceto esse único, o do egoísmo. Sim, nós até nos enganamos imaginando que nós mesmos não somos egoístas. Vemos esse traço de caráter muito claramente nos outros, se somos bons observadores, mas, falhamos em perceber a enorme “trave em nossos olhos”; e enquanto não admitirmos essa grande falha em nós mesmos e nos esforçarmos seriamente para superá-la, não poderemos progredir no caminho do amor.

Thomas de Kempis[2] disse: “Eu prefiro sentir a contrição dentro de minha alma, a saber defini-la”[3]; e podemos bem substituir a palavra amor por contrição. Se pudéssemos apenas sentir o amor em vez de sermos capazes de defini-lo! Contudo, o amor não pode ser conhecido agora por nós, exceto na medida em que removamos do nosso caráter tudo o que é mal ou imoral do grande pecado do egoísmo. A vida é a nossa propriedade mais preciosa, e nesse sentido Cristo disse: “Ninguém tem maior amor <ou altruísmo> do que aquele que dá a vida por seus amigos”[4].

Portanto, à medida que, cultivamos essa virtude do altruísmo, alcançaremos o amor, pois eles são sinônimos, como foi indicado por São Paulo naquele inigualável 13º capítulo da 1ª Epístola aos Coríntios. Quando um irmão pobre bate à nossa porta, nós lhe damos o mínimo que podemos? Se assim for, somos egoístas. Ou nós o ajudamos apenas porque nossa consciência não nos permitirá deixá-lo ir? Então também isso é egoísmo, pois não queremos sentir as dores da consciência. Mesmo quando damos nossas vidas por uma causa, não existe o pensamento que é o nosso trabalho?

Muitas vezes escondo meu rosto de mim mesmo por vergonha diante deste pensamento em conexão com a Fraternidade Rosacruz, e ainda assim, devemos continuar. Contudo, não enganemos a nós mesmos; vamos lutar contra o demônio do egoísmo e estar sempre vigilantes contra os ataques subtis. Se o encontrarmos sussurrando para que precisamos descansar, que não podemos dar tanto da nossa força aos outros ou se sentimos que não podemos nos esforçar para dar a nossa essência, vamos reforçar a virtude da generosidade. O que importa, realmente, é que nós só guardamos o que damos; nossos corpos se decompõem e nossas posses são deixadas para trás, mas nossas boas ações permanecem conosco por toda a eternidade.

(Por Max Heindel – livro: Cartas aos Estudantes – nr. 44)

[1] N.T.: Da obra Tannhäuser e o torneio de trovadores de Wartburg de Richard Wagner (1845). Baseada numa lenda medieval, conta a história de Tannhäuser, um menestrel que se deixa seduzir por uma mulher mundana, de nome Vênus, contrariando assim a defesa do torneio dos trovadores a que ele pertence de que o amor deve ser sublime e elevado. Quando Tannhäuser defende deliberadamente o amor carnal de Vênus, é reprimido pelos trovadores e consolado apenas por Isabel, uma virgem que o ama muito. É-lhe dito que sua única chance de perdão é dirigir-se ao Vaticano e rogar o perdão do Papa. Tannhäuser segue, então, com o torneio até Roma, mas de maneira autopunitiva: dormindo sobre a neve, enquanto os demais estão no alojamento; caminhando descalço sobre o chão quente, passando fome, e ainda com os olhos vendados, para não ver as belas paisagens da Itália. Ao chegar diante do papa, em vez de obter o perdão, ouve o papa dizer que é mais fácil o cajado que ele segura florescer do que ele obter o perdão dos pecados, tanto no céu quanto na terra. Odiando a igreja, Tannhäuser volta à Alemanha e Isabel sobe aos céus, rogando a Deus que interceda por ele. Os trovadores voltam com a notícia de que o cajado do papa floresceu, simbolizando que um pecador obteve no céu o perdão que não obteve na terra.

[2] N.T.: Também conhecido como Tomás de Kempis, também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471), Monge e escritor alemão. Tomás de Kempis produziu cerca de quarenta obras representantes da literatura devocional moderna. Destaca-se o seu livro mais célebre, Imitação de Cristo, composto por quatro volumes, no qual apela a uma vida seguida no exemplo de Cristo, valorizando a comunhão como forma de reforçar a fé.

[3] N.T.: Do Livro Imitação de Cristo – Capítulo 1 – 3

[4] N.T.: Jo 15:13

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

“Amor e Simpatia” – O Único Remédio Para os Males do Mundo

Amor e Simpatia” – O Único Remédio Para os Males do Mundo

“Estamos vivendo um momento crítico da história da humanidade”; “a decisão tem que ser tomada”, “qual o caminho?”, “estamos numa encruzilhada”; etc. etc., dizem-nos de todos os lados as várias escolas filosóficas, e as várias igrejas. Acreditamos que Max Heindel, o mensageiro dos Ensinamentos Rosacruzes, nos dá o mais sábio conselho: amor e simpatia. Aqueles que desenvolverem e cultivarem ao máximo esses sentimentos, ajudarão a equilibrar o mundo, porque estarão fortalecendo uma corrente de forças positivas, única couraça para protegê-los, e aqueles com quem comunguem, das forças negativas de desarmonia e ferocidade.

Quem cultiva em seu coração a simpatia e desenvolve a capacidade de amar, está ajudando a equilibrar o mundo. Quem dinamiza a capacidade de amar, tem encontro com a verdade.

A única e verdadeira felicidade neste mundo vem do amor. Mas do amor dinamizado, partindo que seja de um amor pessoal, particular, até atingir as proporções totais de um amor universal generalizado a todos e a tudo que nos cerca. Assim, quem tenha a felicidade de ter filhos, família numerosa, deveria tomar consciência da grata oportunidade que lhe foi dada de poder desenvolver e aperfeiçoar sua capacidade de amar, amparar, esclarecer, sacrificar-se, ser útil, com aqueles que lhe são mais chegados, mais queridos, o que lhe tornará mais fácil a tarefa. E quantos sacrifícios exige por vezes criar um filho, amparar pais, irmãos, parentes ou amigos, dar-lhes assistência numa doença, numa prova dura da vida! Agindo sem exclusivismos nem egoísmos, verificará que serão círculos e círculos de amor que se irão multiplicando geometricamente.

Lembremo-nos de uma frase de Max Heindel que constitui um aviso sensato: “nem todos podemos ser grandes luzes para o mundo, mas seja cada um a pequena luz que brilha no lugar em que foi posto”.

Épocas houve em que anseios espirituais nos levaram a uma certa ansiedade no desejo de procurar realizar obras altruístas, de auxílio e assistência. E quando corríamos de cá para lá na busca de campo de ação, sempre se manifestava a falta de oportunidade, até a inutilidade, por vezes, daqueles esforços que nos levará aqui e ali. Numa palavra, as portas não se abriam – se bem que seja válido o esforço que se faça em ser de algum modo útil. Parece que a própria vida se encarregava de lembrar-nos o velho ditado: a caridade bem ordenada em casa deve ser começada.

Contentemo-nos em ser “a pequena luz que brilha no lugar em que foi posta”. É sem dúvida a família que construímos, é o lugar em que fomos postos.

E pensar que estamos ajudando a construir núcleos de paz e amor para o mundo dando assistência e dedicação aos nossos lares e aos nossos filhos, parentes ou amigos, onde o amor, bondade, o equilíbrio, sedimentam-se dia após dia. Isto traz-nos imensa paz e felicidade. Estaremos colaborando na construção de focos de luz que irradiarão para o mundo.

Para isso há que procurar cada um tomar consciência de si próprio, de sua realidade interna sem cobri-la com falsos véus, ser autêntico, analisar suas falhas e qualidades, conquistar o necessário domínio próprio pela força de vontade em aspirar a corrigir falhas e fortalecer qualidades, melhorar-se cada vez mais para desenvolver os dons que potencialmente todos possuímos. O valor dessa conquista está no anseio e esforço que inquebrantavelmente empregamos para ela. Gandhi, o pacífico e bondoso apologista da resistência passiva, com que conquistou muitas melhorias para seu povo, dizia não achar valor algum nessa sua qualidade que apenas tinha nascido com ele – não era uma conquista de sua aspiração ou esforço.

Isso pode chegar a parecer um exagerado anseio de perfeição, mas o que revela é uma adorável humildade. Há outra qualidade tão necessária a quem quer viver uma vida superior, uma vida de amor. Na “Imitação de Cristo” nos é lembrado: e porque os seres humanos aspiraram em sua vaidade a um estado mais elevado que aquele onde Deus os queria, perderam rapidamente a graça. Pela falta de humildade quantos seres humanos de valor se desviam pelas veredas da vida, perdendo assim maravilhosas oportunidades de serem úteis a si próprios e a seus semelhantes.

Na reforma do caráter, na busca do aperfeiçoamento, é fundamental conquistar a necessária humildade de reconhecer seus erros e enganos e tentar corrigi-los.

Creio que o domínio e equilíbrio próprio são algumas das maiores conquistas que o ser humano deve perseguir, sem a qual não poderá expandir seus íntimos valores.

Observa-se na vida que, no meio termo, encontra-se o equilíbrio, exceto no amor, onde não há perigos de extremos: quanto maior mais equilibra.

O verdadeiro amor não fanatiza porque já não se apega a verdades temporais, a mestres, escolas ou igrejas. Não lhe interessam nomes, mas o AMOR CRISTÃO e saberá respeitar a visão e grau de evolução de quem quer que seja. Fará sentir a Verdade, que é uma só, em todos os lugares em todas as religiões, em todas as filosofias: bondade, justiça, lealdade, abnegação, sinceridade, o que forma os caracteres íntegros.

O amor universal reveste-se de todas as características do amor de pais, filhos, esposos e amigos: é aquele de que nos diz São Paulo na Bíblia “tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca falha”.

Quando alcançado esse grau de amor, podem suceder desgraças, podem os seres humanos trazerem-nos os maiores desenganos e dores, que um coração infenso a rancores e ressentimentos permanecerá sereno.

O amor constrói; o ódio destrói. Santo Agostinho, em suas famosas “Confissões”, delineia numa frase, a síntese do que é a falta do amor: “como se houvesse maior inimigo do ser humano do que o próprio ódio que ele tem em seu coração”. O que pesa, o que realmente importa para a evolução, equilíbrio e felicidade do ser humano, é o que ele pensa e sente, não o que outros pensem ou sintam a seu respeito. A felicidade vem de dentro para fora, do AMOR que haja nos corações. Os que o têm, quando alvo no mundo de injustiças, ingratidões, injúrias, ataques ou abandonos, chegarão a poder sentir em seu coração muito embora a dor irreprimível dos erros de que foi alvo – uma imensa mágoa pelos erros que outros estejam cometendo, acarretando para si próprios inevitáveis sofrimentos, conscientes de que o verdadeiro mal está em quem os pratica, seguirão tranquilos sua caminhada.
Pondo em ordem seus pensamentos e sentimentos, projetando para aqueles que o rodeiam, simpatia e desejo de ser útil, justo e correto, o ser humano encontra a paz que o equilibrará neste mundo conturbado. Não serão as grandes obras, os grandes feitos, as grandes conquistas materiais que lhe trarão, mas os pequenos gestos de bondade, os pensamentos puros de tolerância e compreensão para com falhas e grandezas dos outros, a disposição constante de auxiliar de algum modo, com trabalho, companhia, palavras amigas de encorajamento e alegria.

Grandes pensadores, grandes inteligências que nos legaram quase sempre fruto de seus íntimos anseios e sofrimentos – obras famosas, tais como Schopenhauer, Kierkegaard, Kafka, tendo aguda e clara visão de muitos problemas da alma humana, não encontraram paz e equilíbrio. Andaram perto da Verdade e não a tocaram, porque não encontraram o Amor que os libertaria da angústia. O Amor é como um foco de luz, que mal o buscamos tudo ilumina e aquece. “Quem vive em amor vive em Deus, e Deus nele” – esta afirmação de São Paulo nos dá a verdadeira dimensão do amor. É uma chave da porta da paz, uma chave universal, pois serve a crentes ou ateus, católicos ou judeus, protestantes ou budistas. Deus ou o que queiramos chamar-lhe, esse algo desconhecido de quem emanamos, que tudo criou, dita-nos claramente, através da consciência, que para termos paz e harmonia neste mundo só vivendo no bem e no amor. E só quando haja o amor cristão em seus corações, os homens terão paz e harmonia, quando, ainda que ignorando o Cristo, sintam despertar em seu íntimo os atributos que o caracterizam: a doutrina do amor ao próximo, a única que poderá unificar os seres humanos.

Durante muito tempo não achava a forma de orar ou pedir algo por meus filhos, certa de que cada um tem o seu caminho próprio (que desconhecemos) a percorrer, sua colheita daquilo que semeia. Mas um dia achei a fórmula mágica. Envolvendo-os em amor, elevo o pensamento às forças superiores que regem o mundo num intenso anseio de que eles se mantenham sempre pela vida afora no caminho do Bem e do Amor. Não se afastando desses princípios, estarão protegidos, serão certamente úteis e felizes. Prova alguma os derrubará na vida.

Dar amor é como uma sementeira de belas flores, que a seu tempo brotarão e desabrocharão, encantando-nos.
Quando ouvi de uma de minhas filhas que umas palavras escritas por mim em seu álbum de juventude a tinha feito chorar de emoção, quando um filho me conta que esta ou aquela frase ou atitude minha o comovera em silêncio até às lágrimas, 20 anos atrás, quem se comove agora profundamente sou eu, ao constatar a sensibilidade de seus corações, a receptividade ao amor e carinho que lhes dava.

É o amor que nos permite construir sólidas amizades que nos enriquecem e confortam a vida. É no intercâmbio de ideias, conhecimentos, dedicações, sacrifícios, alegrias e sofrimentos que pomos em atividade os íntimos valores, descristalizando-os, adaptando-nos a novas experiências e renovações.

Procurar desvendar os mistérios da nossa origem, de onde viemos, para onde vamos, para que vivemos, através dos muitos caminhos da espiritualidade, é cativante e útil. Mas a observação dos seres humanos nos mostra que a principal e básica procura deverá ser a do íntimo conhecimento e equilíbrio próprio, a formação de um caráter íntegro sem o qual todos os conhecimentos podem tornar-se absolutamente inúteis. Pessoas há que depois de passarem longos anos ligadas, integradas, numa Igreja ou Escola, caem nos mesmos erros e enganos dos seres humanos comuns que nunca se vincularam a qualquer caminho espiritual – porque lhes faltou a reforma básica que os tornassem caracteres íntegros. Não tiveram a coragem de se olhar intimamente, de encarar suas próprias falhas. Durante anos enganaram-se a si próprios e aos outros. Mas chega fatalmente dia em que surgirá qualquer prova colocando em evidência seu verdadeiro caráter, aquilo que não foi corrigido.

Que valor tem um profundo conhecedor de filosofias – e todas elas pregam o amor, a bondade, a justiça – se na vida não souber agir equilibradamente, dominando seus pensamentos, sentimentos e ações, com amor, bondade e justiça?

“De que servirá uma filosofia ou religião que não nos torne melhores seres humanos, melhores maridos e pais?”. Esta é na verdade uma pergunta de Max Heindel a ser meditada!

Em compensação, quem não tenha estudado filosofia ou religiões, mas tenha em si o dom de saber amar, esse assistirá sereno aos erros e enganos, injustiças e falhas que campeiam pelo mundo, com amor, bondade e tolerância.

Viver é uma arte. Já que desconhecemos o porquê, o para quê, nos foi dada a vida, procuremos dar-lhe um sentido, torná-la útil, vivendo numa atitude não de egoísta procura de meras satisfações pessoais – o que, aliás, gera afinal a insatisfação! – mas voltada para o interesse pelos que nos rodeiam. Muitos apagariam suas íntimas angústias se, por uma atividade de interesse pelas dos outros, deixassem de focalizar as suas! A frase bíblica “viver no mundo sem pertencer ao mundo” é um desafio ao aspirante a uma vida equilibrada. Na verdade, deve-se participar ativamente da vida material que nos rodeia neste mundo em que vivemos, tão cheio de belezas. Mas, ao se vislumbrar que há em nós um outro mundo, o mundo espiritual, cujos valores são muito mais importantes que os do mundo externo, tão falíveis, tão perecíveis, começa-se a ter melhor consciência do valor relativo deste plano.

Participando equilibradamente de todas as atividades possíveis na vida, sem excessos nem exageros, colhe-se a necessária experiência por meio da qual a vida do espírito vai manifestar-se melhor.

Então chegaremos a amar o mundo sem a ele nos prendermos, sentindo que há outro mundo dentro de nós, aquele que nos permite amar melhor o externo, porque nos deixa livres de apegos, preconceitos, ilusões.

Há que participar ativamente do mundo em que vivemos, e o podemos fazer intensamente e com alegria se, aprendendo a dominar sentimentos, soubermos agir equilibradamente. A rainha-mãe da Inglaterra mostrou muito bom-senso e conhecimento do valor da vida quando, recusando o retrato que um pintor lhe havia feito, disse: está muito bonito mas dir-se-ia que passei pela vida sem dela ter participado!

Vida espiritual não tem que ser isolamento do mundo.

Quando a consciência espiritual desperta no ser humano, ela deverá refletir-se em integridade de caráter, no seu comportamento externo, no modo como age e participa do mundo. Acredito que essa atitude externa de ativa e equilibrada participação será o que mais estimulará e desenvolverá a parte espiritual da humanidade.

Haverá assim um movimento de duas forças ativas que se fortalecem e equilibram, uma demonstrando a outra.
O mundo está cheio de injustiças, egoísmos, vaidades, ferocidade, mil aspectos que nos entristecem. Mas sendo cuidadosos em não participar desses fatos negativos, antes cultivando ao máximo o Bem e o Amor, além de formarmos uma corrente positiva que ajudará a equilibrar o mundo, poderemos desfrutar das coisas belas que nos rodeiam. Quem tenha uma certa sensibilidade, e cultive as superiores qualidades de caráter, sente que correm no mundo as correntes construtivas e destrutivas, do bem e do mal. Distingue facilmente onde se expressa uma mensagem de amor e onde há apenas especulações intelectuais, muitas vezes camuflando egoísmos e vaidades.
Afinal, para se viver em paz e com alegria no coração não é essencial penetrar nas especulações metafísicas, religiosas – e sempre no infinito das nossas especulações haverá pontos de interrogação. Deixemos isso para depois de termos aprendido a dar amor e simpatia, base das maiores alegrias, confortos espirituais e materiais, e a forma mais fácil de chegar perto da Verdade.

No decorrer dos anos, ao longo da vida, vão surgindo momentos marcantes de grande íntima alegria ou mágoa profunda, pelos acontecimentos da vida: a leitura de um autor cujo pensamento ilumine o nosso, um gesto de amizade, um ato de bondade, um belo espetáculo da natureza ou criado pelos seres humanos– a maldade deles, os horrores das guerras, etc. etc. São momentos de emoção que nos fazem parar na caminhada para uma tomada de consciência. Algo de novo foi acrescentado à nossa experiência, enriquecendo a nossa vida. E essas sucessivas tomadas de consciência vão formando como que degraus que nos vão traçando caminho. Se ele for o caminho do Bem e do Amor atingiremos uma plataforma estável onde nos fixaremos tranquilamente, de onde teremos uma visão mais ampla, uma nova dimensão do mundo que nos cerca.

Essa plataforma é conquista de cada um. É trabalho e esforço de cada um. Não se pode ensinar aos outros a fé em algo superior, como não se pode dar aos outros a chave do seu caminho. Cada um vai colhendo daqui e dali, das mais variadas fontes, as pedras e pedrinhas com que formará a sua estrada, que o levará ou não à plataforma da paz. Mas é preciso ter a aspiração de construir a estrada.

Creio que as mais úteis chaves que um pode dar a outro são Amor e Simpatia.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/75 – Fraternidade Rosacruz)

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