Existem dois momentos mais cruciais nessa vida que devemos enfrentar sozinhos: quando nascemos nesse Mundo Físico; e quando dele partimos.
Mais especificamente, estamos sozinhos quando: estamos diante da nova vida que escolhemos viver; ou diante das experiências dessa vida que acabamos de viver.
Portanto, a solidão emprega um papel importantíssimo em nossa evolução. Infelizmente, poucos têm consciência disso. Muitos têm medo dela, fazendo dela uma terrível ameaça. Nem em um ambiente muito silencioso conseguem ficar por muito tempo! Aliás, a solidão se torna ameaça quando não sabemos usá-la. E ela se torna um problema porque não compreendemos o que ocorre quando estamos sozinhos.
Sabemos que a nossa Mente está muito ligada ao nosso Corpo de Desejos, especialmente na sua parte inferior. Se não nos ocupamos com alguma coisa nesse Mundo Físico, começamos a preencher a Mente com assuntos que não gostaríamos de pensar, começamos a nos sintonizar no negativo ou no supérfluo. Tentamos preencher a nossa Mente com algo ou que nos agrada – principalmente o negativo – ou com algo que não nos comprometa, coisas supérfluas. Afinal: “semelhante atrai semelhante”. Entretanto, chega um dia em que nós, se somos Aspirantes à vida superior, temos que enfrentar um dilema: prosseguir sozinho o nosso caminho rumo à Verdade.
Infelizmente, a maioria de nós sente pouco interesse em querer conhecer as verdades ligadas à realidade espiritual. A maioria gosta de viver apegada a sua Personalidade (manifestada pelo conjunto Corpo Denso, Corpo Vital e Corpo de Desejos) e, a sua Individualidade (Tríplice Espírito) fica sempre em segundo plano.
A propósito, já é clássico que para muitos de nós, a Individualidade se manifesta somente quando sofremos. Aí está a importância do sofrimento no nosso Esquema de Evolução.
Infelizmente, a maioria ainda não está disposta a (como lemos em Mateus 16:20): a esquecer-se de si mesmo, a erguer voluntariamente a sua cruz e a seguir os passos de Cristo. Aliás, é em Mateus (7:13-14), que encontramos o importante ensinamento direcionado ao Aspirante a Vida Superior: “Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçosa a senda que leva à perdição, e muitos os que por ela entram. Quão estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram!”.
E isso é o que mais vemos no nosso cotidiano. Para muitos de nós não interessa “entrar pela porta estreita” já que é “difícil o caminho que leva à Vida espiritual”. Por isso que “poucos são os que o encontram”.
Quando nos achamos sozinhos, o que nos vem para pensar é fruto daquilo que nos alimentamos quando não estamos sozinhos. Ou seja: as situações que passamos são assimiladas quando estamos sozinhos.
Portanto, se: renunciamos às curiosidades e escolhemos leituras tais, que mais sirvam para nos compungir, que para nos distrair; nos abstivermos de conversações supérfluas e passatempos ociosos; nos abstivermos da sede insaciável por novidades e por boatos; acharemos tempo mais que suficiente para cuidarmos de nós mesmos, para relembrar os benefícios de Deus, para refletir sobre o nosso papel nesse esquema de evolução e para reforçar o nosso compromisso e a nossa vontade de percorrer o “caminho mais apertado” e “passar pela porta mais estreita que nos leva à Vida espiritual”.
E essa busca pela solidão que nasce em nós, como abraçamos a causa em ser um Aspirante à vida auperior, é causada pelo ardente desejo de nos afastarmos do mundo, mundo esse que acaba não compreendendo as nossas atitudes.
Senão vejamos: a maioria de nós não quer nem se preocupar em pensar nas três intrigantes perguntas que permeiam a nossa existência: de onde viemos; porque estamos aqui; para onde vamos.
Queremos curtir essa vida do que jeito que ela vier. No máximo nos esforçamos para modificá-la materialmente buscando o objetivo de ter muito dinheiro, saúde, uma boa posição social, liberdade para agirmos como quisermos.
Outros de nós, ainda, buscamos ter uma família, filhos, equilíbrio social e financeiro. Tudo voltado à realização no plano do Mundo Físico. Como que, chegando à idade avançada, nos sentiremos realizados, felizes e completada a nossa missão!
Ainda há, entre nós, os que se arriscam no plano espiritual mundano, buscando no Cristianismo popular satisfazer algo que sente que lhe falta, mas que não entende bem. Quando o faz pelo anseio interno de que deve servir aos seus semelhantes, pois todos são Filhos de Deus, significa que já entendeu, pelo menos, que existe algo mais importante nessa vida que a busca pela felicidade material.
Muitos de nós, infelizmente, o fazemos: pela aparência social, ou por lhe trazer algum alívio de consciência, ou ainda, o que é pior, pela possibilidade de ter alguma coisa boa em troca, como se Deus fosse mercenário.
Por não concordar com toda essa insensatez é que nós, quando decidimos ser Aspirante à vida superior, buscamos nos separar de tudo aquilo que é socialmente aceito ao nível da crença ou do comportamento. E isso sempre nos trás problemas, pois, como é possível observar em nosso cotidiano: “meninos passam indiferentes por uma árvore sem frutos, porém, se estiver carregada ricamente, jogarão pedras para despojá-las das frutas”. Do mesmo modo ocorre com cada um de nós: enquanto ocos, andando com a multidão, não há problemas. Quando, porém, atitudes conscientes são tomadas, as mesmas serão sentidas como o caminho certo pela integridade interna das outras pessoas e nos tornamos, sem querer, censura viva, mesmo se os nossos lábios não proferirem uma palavra de censura sequer.
As críticas e as chacotas que recebemos, após ousarmos a separação do que é tradicional, trarão, sem dúvida, um ardente desejo de nos afastarmos do mundo que parece não nos compreender, a ponto de querermos ingressamos no primeiro mosteiro que nos permitisse continuar a nossa vida espiritual em paz e buscando a solidão como a companheira inseparável.
Entretanto, jamais devemos esquecer que o baluarte da nossa evolução é aqui no Mundo Físico. Que somente cumprimos a nossa missão em mais uma estada na Terra quando vencemos esse mundo e não quando dele fugimos.
Cristo sabia da dificuldade que nós teríamos quando decidíssemos começar a voltar para a Casa do Pai e rompêssemos com os dogmas, os costumes, a crença e os hábitos, quando disse no Sermão da Montanha, em Mateus 5:10-11: “Bem aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. (…) Bem aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus, porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”.
O meio ambiente em que fomos colocados pelos Anjos do Destino foi de nossa própria escolha, quando estávamos no Terceiro Céu, olhando com os olhos do Espírito, sem o empecilho da cegueira produzida pela matéria, prestes a descer mais uma vez para esse Mundo Físico.
Assim, o nosso ambiente contém lições preciosíssimas e cometeríamos um grave engano evadir do mesmo por completo. Do mesmo modo, todas as pessoas ao nosso redor e com as quais precisamos conviver, oferecem oportunidades de serviço, que não poderão ser encontrados em mosteiros ou outras espécies de retiros. Além disso, essas oportunidades foram feitas sob medida para um nosso nível de evolução, a fim de que aprendamos exatamente o que necessitamos, no grau que podemos assimilar. E é importantíssimo lembrar que o serviço é um componente importante no Caminho da Iniciação.
Além disso, a Fé sem obras – sem o serviço prestado – é morta. Como lemos na Epístola de São Tiago 2,14-26: “De que aproveitará, meus irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Poderá a fé salvá-lo? Se o irmão ou a irmã estiverem nus e carentes do alimento cotidiano e algum de vós lhes disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos’, mas não lhes derdes com que satisfazer à necessidade do corpo, que adiantaria? Assim também a simples fé, se não tiver obras, será morta. Mas alguém dirá: ‘Tu tens fé e eu tenho obras’. Mostra-me tua fé sem as obras que eu por minhas obras te mostrarei a fé”.
A exortação de São Paulo em sua Epístola aos Efésios 6:10-15 é muito atual e deve permear para todo Aspirante à vida superior: “Vistam toda a armadura de Deus… para que possam resistir no dia ruim, e tendo feito tudo fiquem de pé. Estai, pois firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade e vestido a couraça da justiça e calçados os pés com o zelo do evangelho da paz.”.
Então, como podemos nos fortificar para essas batalhas com as quais devemos contar?
Primeiro: lembre-se do que Cristo disse quando enviou os Seus Discípulos ao Serviço pela humanidade. E que certamente é o mesmo recado para todo Aspirante à vida superior: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos; portanto sedes prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas.” (Mt 10:16).
Segundo: busque a organização dos nossos instrumentos utilizados para satisfazer as nossas necessidades de evolução, quais sejam: os nossos veículos Corpo Denso, Corpo Vital, Corpo de Desejos e Mente da seguinte maneira: para resistir à crítica, devemos aprender a efetuar a nossa autocrítica, o julgamento de nós mesmos.
Muito nos ajuda o exercício de Retrospecção e o desenvolvimento de um raciocínio abstrato que constitui o uso da Mente não atrelada ao Corpo de Desejos: para resistir à tendência da Mente em divagar quando estamos a sós levando-nos a pensar no que não queremos e nos envolver com matéria das Regiões inferiores do Mundo do Desejo, devemos aprender a fixar o pensamento num ideal e mantê-lo assim, sem permitir que se desvie. É uma tarefa sumamente difícil.
Muito nos ajuda o exercício de Concentração: para resistir à tentação de utilização da Mente como meio de fixar pensamentos que se perdem ao longo do tempo, não deixando nada de aprendizado, ou seja, desperdiçando a força mental, devemos aprender com eles, extraindo de cada pensamento que criamos toda a utilidade que dele pode vir.
A prática de estudos que envolvem a lógica, o Esquema, Caminho e Obra da Evolução (que temos completo no livro Conceito Rosacruz do Cosmos) ou conceitos abstratos, tais como matemática, física e música permitem que nossas Mentes, passem a funcionar menos atrelada a parte inferior do Corpo de Desejos; assim a tendência em preencher a Mente com assuntos divagadores e sem importância que sob os ditames do Corpo de Desejos fica menor.
Com isso tornamos mais práticas as nossas ideias. Se não a utilizamos de imediato ficará disponível para utilização futura. Aos poucos vemos que todo aquele pensamento que nos dedicamos rapidamente aparecerá a oportunidade de utilizarmos. Afinal mostramo-nos pró-ativos, dispostos a ajudar, prontos para servir.
Muito nos ajuda o exercício de Meditação, para resistir à dúvida, devemos utilizar a lógica. Deduzir e tirar conclusões de todos os fatos observados e vividos. É muito fácil chegar a conclusão, sobre a cegueira do Ser Humano nessa Terra, dada por Cristo nos Evangelhos: “têm olhos e não vêem… têm ouvidos, mas não ouvem”. Não deixe que as circunstâncias falem por si. Não se deixe levar ao sabor dos ventos também aqui, no ponto em que você deve ter a sua opinião. Utilize do raciocínio lógico. Como disse Max Heindel: “a lógica é o melhor instrutor no Mundo Físico e o guia seguríssimo em qualquer mundo”.
Muito nos ajuda o exercício de Observação e depois o de Discernimento. Aqui já não importa mais se estamos sozinhos ou no meio de uma multidão. A solidão deixa de ser um refúgio, ou de ser temida para ser apenas mais um momento que vivemos como qualquer um outro. Estamos aonde melhor podemos servir, melhor podemos ser úteis, tendo a certeza de que “Deus mora em meu coração”, como disse São João Evangelista. Toda essa segurança buscada pelo Aspirante à vida superior tem como objetivo ajudá-lo a realizar, nessa presente passagem, tudo que ele escolheu como aprendizado. E se ele conseguir conquistar tal segurança estará como disse Abraham Lincoln: “É difícil a tarefa de derrubar um Ser Humano quando se sente digno e apoiado no parentesco com o Grande Deus que o criou”.
Que as Rosas floresçam em Vossa Cruz
Resposta: Cristo disse: “O Céu está dentro de nós”. Mesmo assim, é-nos revelado que no momento em que deixou Seus Discípulos, Ele ascendeu ao Céu. Para entender isso, precisamos analisar a constituição de um Planeta. De acordo com o princípio hermético “como é em cima, assim é embaixo”, entenderemos melhor se analisarmos primeiro a constituição do ser humano. O ser humano tem o Corpo Denso que vemos com os nossos olhos, mas, esse Corpo não é tão sólido quanto aparenta, pois é permeado por vários veículos invisíveis.
É composto de sólidos, líquidos e gases da Região Química do Mundo Físico, e a ciência nos diz que são interpenetrados pelo Éter, pois o Corpo do ser humano não é diferente de todos os outros elementos existentes no Mundo. Tanto no sólido mais denso quanto no gás mais rarefeito, a ciência atesta corretamente que cada pequeno átomo vibra num mar de Éter.
Esse Éter ainda é matéria física, uma porção considerável e especializada pelo ser humano, e forma uma contraparte exata do nosso Corpo Denso, além de projetar-se em torno de 3,8 cm além da sua periferia. É essa parte que os médicos de Boston pesaram, colocando pessoas agonizantes sobre balanças – veja essa história completa no livro: O Conceito Rosacruz do Cosmos, de Max Heindel. Notaram que, quando do último suspiro, alguma coisa com certo peso abandonava o Corpo Denso, e o prato da balança que sustentava o peso caía ao chão, com rapidez surpreendente. Os jornalistas declararam que os médicos haviam pesado a alma. Porém o que eles de fato pesaram foi esse Corpo Vital composto de Éter que deixa o Corpo Denso, na hora da morte. Temos um veículo ainda mais sutil, o Corpo de Desejos, que é composto pelo que os ocultistas chamam de substância de desejos, podendo ser visto, por aqueles que têm o sexto sentido desenvolvido, como uma nuvem ovoide envolvendo o Corpo Denso por todos os lados. Esse último localiza-se no centro do Corpo de Desejos, como a gema está no centro de um ovo, com a única diferença: enquanto a clara envolve a gema, mas não a interpenetra, esse Corpo de Desejos permeia totalmente tanto o Corpo Vital quanto o Corpo Denso. Há ainda um material mais sutil na composição do ser humano que podemos denominar de “matéria mental”, o veículo Mente, composta da substância da Região Concreta do Mundo do Pensamento, o material onde formamos os pensamentos-formas que envolvem o Ego interno. O Mundo é constituído de forma similar.
Além desse Mundo visível composto de sólidos, líquidos e gases e interpenetrado pelo Éter, há também um Mundo do Desejo que permeia cada uma das duas Regiões do Mundo Físico indo até o espaço, além do ar e do Éter. Em seguida, há o Mundo do Pensamento, que também penetra toda região do nosso Planeta, do centro à periferia estendendo-se no espaço ainda mais além que os outros dois Mundos. Durante a vida terrena, o ser humano permanece neste Mundo visível, Mas, após a morte, conforme os atos aqui praticados poderá ficar vinculado a esse plano, visto que as regiões do Purgatório – que está nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo – estão em toda parte ao nosso redor e também embaixo no mais recôndito da Terra. Num certo sentido, o Primeiro Céu – que está nas três Regiões superiores do Mundo do Desejo – também está aqui, pois a matéria que o compõe nos rodeia, mas o Primeiro Céu em si, o local onde os Espíritos liberados geralmente permanecem, encontra-se além da nossa atmosfera. Pode-se dizer, na verdade, que o Segundo Céu – que está na Região do Pensamento Concreto – também está dentro de nós, pois o material com o qual é constituído está aqui. Os Espíritos que nele se encontram poderiam nos visitar, ainda que as condições aqui, e as tendências de pensamentos, etc., seja, depreciativos para o seu trabalho e desenvolvimento. Por isso, eles preferem ficar no ponto mais afastados e longe do nosso Planeta, onde a pura substância mental não é maculada por nossos pensamentos egoístas e prejudiciais. O Terceiro Céu – que está na Região do Pensamento Abstrato – é um local onde pouquíssimos Espíritos, no presente estágio de desenvolvimento, têm alguma consciência. Quase todos nós somos guiados nas atividades do pensamento mais pelas emoções e sensações concernentes às coisas concretas do que pelo pensamento abstrato, que é a faculdade peculiar àquele elevado plano. Quando pensamos no amor geralmente o relacionamos a alguma pessoa. Esse é um pensamento concreto. Mas no amor, em termos abstratos, pouquíssimos são capazes de pensar. Podemos imaginar uma casa, um animal, etc., eles são concretos, mas não gostamos de pensar numa proposição abstrata tal como: “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos de um triângulo”. A maioria dentre nós tem pouquíssima consciência no Terceiro Céu, consequentemente, pouquíssimo do material desse mundo pode ser encontrado na constituição do nosso Planeta.
(Pergunta nº 61 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
O Purgatório visto como a “cura da alma”
Ninguém deve temer o Purgatório, já que ele é um “hospital para alma”. Nele as pessoas moralmente enfermas recebem o cuidado necessário para “restaurar a saúde”. Certamente que nesse cuidado pode incluir uma espécie de “cirurgia” que frequentemente é dolorosa para o Ego, já que é realizada, mediante a ação da força de Repulsão; força essa que predomina nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, onde se localiza o Purgatório.
Os fabricantes de instrumentos da maldade devem aprender a elevar-se acima de seus desejos; já que a escravidão dos apetites físicos é vencida pela completa impossibilidade de gratificá-los. Os “demônios” da crença ortodoxa são vistos no Purgatório como uma força inferior da onda de vida comparada à dos insetos e répteis do Mundo Físico, porém menos perigosos devido ao fato de que são mais dóceis à vontade do Ego e ás forças psíquicas. Um simples ato de determinação, uma elevação de consciência mediante a oração, não de caráter angustioso, suplício (ainda que essa também tenha seu poder), mas da oração tranquila que nasce de uma Mente elevada afasta rapidamente esses elementais, enquanto o corpo doente não é tão facilmente dissipado.
A base da vida no Purgatório são as cenas em que a alma errou e são revividas, e ela se vê no lugar daquele que prejudicou e sofre como sofreram aqueles que ela lesou na vida terrena, da mesma forma que a base da vida enquanto encarnados neste Mundo Físico é o panorama da vida que escolhemos no Terceiro Céu. Mesmo porque no Purgatório vivemos, em média, 1/3 do tempo vivido aqui e nesse período temos muito que compensar por meio do arrependimento e reforma íntima.
O que ocorre, às vezes, é os Auxiliares Invisíveis encontrarem pessoas que estão no Purgatório e que lhe pedem que vá as suas famílias para dizer-lhes para viver vidas boas e fazer o seu melhor para não ter que sofrer depois que eles passarem pela morte. E, obviamente, eles não vão, porque de nada adiantaria (como não adianta, na maioria das vezes, a gente ser testemunhas oculares das mazelas dos nossos pais, familiares e entes próximos e, mesmo assim, a gente continua fazendo o que é errado!).
Vamos falar um pouco sobre como é o processo da experiência purgatorial, quanto à sua constância em sentirmos os sofrimentos e as dores purgantes encadeando um sofrimento após o outro durante toda a nossa existência nesse lugar. Usemos a Lei de Analogia para entendermos como funciona lá, estudando como funciona aqui. Suponhamos que uma pessoa que sofre intensamente, por um curto período de tempo, geralmente sente a dor muito agudamente. Agora uma outra pessoa que sofre durante anos sucessivos, embora a dor infligida possa ser igualmente intensa, não parece senti-la na mesma proporção que a primeira pessoa. Isso ocorre porque a segunda pessoa se acostumou a ela e, de certa forma, o seu Corpo Denso se adaptou à dor; por isso, o sofrimento não é tão intensamente sentido nesse caso quanto no primeiro.
A mesma coisa ocorre na experiência purgatorial: se uma pessoa foi muito dura, cruel, indiferente quanto aos demais, egocêntrica, causadora de muita dor e sofrimentos nos outros, então o seu sofrimento no Purgatório será muito rigoroso e intensificado pelo fato de que a experiência purgatorial seja de menor duração do que a vida vivida na Terra; mas a dor é intensificada proporcionalmente. Comparando com o caso acima se a experiência dessa pessoa fosse contínua ou a dor gerada por um ato fosse imediatamente seguida por outra, grande parte do sofrimento seria perdido para a pessoa, pois não seria sentida em toda a sua intensidade. Por esse motivo, às experiências lhe chegam em ondas, com períodos de descanso, para que o sofrimento seguinte possa ser profundamente sentido. Alguns podem achar que isso seja cruel e que a dor infligida, ao utilizar-se desse artifício para intensificar o sofrimento, seja desnecessária. Porém não é assim. Esse sofrimento resultará um bem maior, pois Deus nunca busca desforra ou vingança, mas apenas almeja ensinar a pessoa pecadora a não mais reincidir no erro. Por isso, ela deve expiar todos os pecados cometidos. Isso irá ensiná-la a respeitar, em vidas futuras, os sentimentos alheios e a ser misericordiosa com todos. Portanto, é necessário que a dor seja altamente sentida para a conservação da energia e para que a pessoa possa se purificar e se tornar melhor, o que não aconteceria, caso a dor fosse contínua e o sofrimento, correspondentemente amenizado.
As experiências do Purgatório são gravadas no Átomo-semente do Corpo de Desejos como fruto da vida passada e depois na forma de um sentido moral purificado que o Ego leva consigo e conduz depois ao próximo renascimento para atuar como consciência e estimular o desenvolvimento das virtudes ao conceito de justiça e misericórdia.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
Sabemos que a Lei de Consequência ou Lei de Causa e Efeito não apenas determina nosso estado individual de saúde física e mental, mas também as relações que constituem nossos ambientes. Porém, se deixarmos o prisma de percepção subjetiva (o de sofrimento e doença pessoal) e enxergarmos a ação dessa Lei num contexto mais abrangente, vemos que podemos trabalhar com ela de dois modos nas situações que enfrentamos na nossa vida.
Vamos a uma situação hipotética para ilustrar os dois modos: em um renascimento passado, uma pessoa estava tão voltada para si que acabou por negligenciar conforto, simpatia, amor e amizade àqueles que eram seus dependentes. Tal atitude provocou uma desarmonia que deverá ser, então, reequilibrada. Dessa situação, duas possíveis e genéricas condições futuras poderão restabelecer a harmonia do universo.
Na primeira situação, o Ego faz a decisão de pagar pela negligência cometida – escolhendo no Terceiro Céu, quando já está para “descer” para um novo renascimento – renascendo com um desejo ardente de receber grande simpatia e conforto de seus familiares, ou seja, com uma forte carência afetiva. Nessa opção, nasce em um ambiente que para ele, sob o seu ponto de vista, é cercado de pessoas que sofrerão a tentação de negligenciá-lo, para também sentir o que fez outros sentirem no passado. Os Anjos do Destino, que estão acima de todo erro, sabem fazer isso com sabedoria que está, atualmente, fora do nosso alcance. Note: isso é como ele “vê” tais pessoas. Para outros, tais pessoas são amáveis e prestativas. Um estudo dos horóscopos envolvidos aclara muito tais situações.
Não há fórmulas certas e não possuímos a capacidade de entendimento suficiente para determinar, com certeza, os meios pelo qual a Lei de Consequência busca harmonizar os desequilíbrios que um Ego gerou. Contudo, conforme ensinado por Max Heindel no capítulo 6 do livro “A Teia do Destino”, cada ato de cada indivíduo produz uma determinada vibração no universo, que reflui sobre ele e sobre outros ao seu redor. Utilizando o caso ilustrativo acima, é possível chegar numa indagação que constitui o título do presente artigo.
Contudo, se olharmos somente do ponto de vista coletivo, três perguntas surgem:
A melhor resposta para a pergunta (1) é, obviamente, que isso não poderia ocorrer, já que a toda Causa deve gerar um Efeito e o fato das pessoas da família negligenciar o Ego devedor faria com que essas pessoas gerassem uma Causa cujo Efeito será danoso para elas, já que todo relacionamento deve terminar em amor.
Isso complementa a resposta à pergunta (2), no entanto, cabendo ressaltar que o Ego devedor aqui também tem que terminar tais relacionamentos com amor, demonstrando que aprendeu a lição e, portanto, o ensino pode ser suspenso.
Já a resposta à pergunta (3) é logicamente “não”. Negligenciar pessoas em um relacionamento jamais é realizá-lo com amor. Portanto, a negligência em um relacionamento sempre significará que a lição ainda não foi aprendida e, portanto, o ensino não pode ser suspenso.
A Lei de Consequência ou de Causa e Efeito é necessária e suficiente para aprendermos todas as lições que precisamos, desde que saibamos trabalhar com ela e, no caso de relacionamentos, gerarmos Causas baseadas no amor incondicional que redundará em Efeitos de fraternidade entre as pessoas.
Acrescentando a isso ainda sempre temos uma margem significativa de livre arbítrio em cada situação vivenciada, independentemente de ela estar relacionada com nossas responsabilidades de débitos com a Lei. O fato de a família ter uma tendência de negligenciar o Ego, não significa que deverá fazê-lo. Pelo contrário, se usar sua Epigênese (originalidade sem relação com causas passadas) e se esforçar para não seguir tal tendência (ou tentação), poderá promover condições muito mais favoráveis para que esse Ego harmonize seus desequilíbrios.
Vamos a uma segunda situação de vida para esse Ego devedor: a família negligenciada pelo Ego escolhe renascer ao seu lado, com a tendência de amá-lo fortemente e dar para ele todo o carinho que ele não foi capaz de dar. Em outras palavras, ele receberá tudo aquilo que decidiu ignorar no passado. Aqui, o amor dos familiares será muito mais eficiente para fazer o Ego reestabelecer a harmonia necessária para que expie suas faltas. Afinal: “O amor é o cumprimento da Lei”. Esse é o fator determinante para que o progresso espiritual continue.
Assim, vemos que há muitos outros meios benéficos que o nosso livre-arbítrio possibilita para trabalhar com a Lei de Consequência, sem cair na amarra de não se chegar a um fim comum de harmonia. A Lei trabalha por meio da dor com o propósito de despertar a nossa consciência para outros focos da existência: o amor e o desapego material.
Trabalhar com amor, de modo original, para frente e para cima, nos permitirá que identifiquemos nossas tendências ou tentações que escolhemos sofrer nesta vida e, uma vez identificada, poderemos usar a Lei da Epigênese, para criar condições favoráveis para que as desarmonias do passado possam ser equilibradas pelo amor.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
A definição de “aspiração” implica numa persistência em realizar algo que se deseja ansiosamente. Assim, pode-se dizer que o Aspirante à vida superior é uma pessoa que anseia e deseja profundamente realizar os seus ideais espirituais. O verdadeiro Aspirante à vida superior não pode, por definição, ter uma vontade ou desejo morno ou fraco de se aperfeiçoar. Para que aspire, no verdadeiro sentido da palavra, é preciso que se dedique aos seus ideais espirituais com todo o entusiasmo, apesar dos muitos obstáculos e dificuldades que irá encontrar no caminho.
Pode se dizer que a Humanidade, de modo geral, evolui por meio de método lento e automático, isto é, de tentativa e erro. Contudo, o Aspirante à vida superior, pelo contrário, funciona conscientemente e tenta atingir os seus fins por meios bem definidos e apropriados à sua constituição individual. As suas palavras-chaves tônicas são persistência e esforço constante. Se não se empenhar continuamente, diariamente e incansavelmente em cumprir os seus deveres e os seus exercícios esotéricos, não poderá nunca atingir o objetivo espiritual.
O primeiro dever é desenvolver o seu Corpo-Alma; se isso não for prioridade na vida do Estudante Rosacruz, quando quer ser um Aspirante à vida superior, todas as tentativas de funcionar conscientemente nos Mundos invisíveis resultarão em desastre e frustração interna. Não existe nenhum guia ou causa exterior que lhe possa assegurar uma entrada segura, consciente e permanente nos planos espirituais. Somente o próprio Aspirante poderá fazê-lo.
É necessária a purificação de todos os veículos, iniciando pelo Corpo Denso. Isso implica na escolha dos alimentos de digestão fácil, pois quanto mais rápida for à extração de energia do alimento, mais tempo terá o organismo de recuperar antes da próxima alimentação a ser ingerida. É evidente que a ingestão de carne de mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios e outros seres da onda de vida animal é nociva para a purificação dos veículos, pois aqueles que matam ou obrigam outros a matarem não podem avançar muito na senda da santidade. O Corpo é o Templo de Deus; corrompê-lo, destruí-lo ou mutilá-lo, tanto por atos como por omissões, não é digno de nenhum Aspirante à vida superior. O melhor que o Aspirante tem a fazer é encontrar alimentos que o organismo necessita para que seja um instrumento do Espírito, sendo saudável, forte e eficaz. O regime lacto-ovo-vegetariano é o mais indicado. Assim, cumprindo a primeira parte do lema Rosacruz: “Corpo São”.
A purificação do Corpo Vital é feita pela repetição dos bons hábitos, eliminação dos vícios e pelo desenvolvimento dos dois Éteres superiores – Éter Luminoso e Refletor – que ocorre quando nos esforçamos por ter uma vida pura, limpa e altruísta. A vitória do Corpo Vital sobre o Corpo de Desejos se dará pelo hábito de um equilíbrio inabalável das emoções, os sentimentos e desejos diante de toda e qualquer provocação ou situação adversa. Tendo um temperamento equilibrado, um comportamento sempre calmo e paciente ajudará a nos capacitar para cumprir todos os deveres mundanos e executar os exercícios esotéricos que temos que fazer, independentemente do caos externo que nos rodeia. Eventualmente quando as emoções, os sentimentos e desejos se tornam, gradualmente, mais equilibrados e a serenidade do Estudante se torna mais pronunciada, ele passa a viver a vida aqui em plenitude, esforçando-se por cumprir tudo aquilo a que ele mesmo optou no Terceiro Céu, quando escolheu o panorama dessa vida. A repetição e a oração incessante são indispensáveis à purificação do Corpo Vital, constituindo-se também de suma importância a oficiação dos Rituais e a execução dos exercícios esotéricos.
A purificação do Corpo de Desejos é feita pela transmutação das tendências das nossas emoções, dos nossos desejos e sentimentos passionais, indignos e maus – enfim, inferiores – em emoções, desejos e sentimentos superiores. Isso se faz preenchendo o nosso Corpo de Desejos de material das três Regiões superiores do Mundo do Desejo: Vida Anímica, Poder Anímico e Luz Anímica. Para isso, o Aspirante sublima as suas emoções, os seus desejos e sentimentos inferiores substituindo-os por emoções, desejos e sentimentos superiores, por exemplo, de: altruísmo, bondade, gratidão, gentileza, filantropia, fraternidade, amor incondicional, fé racional e afins. O “não cair em tentação” aqui é a chave. O Aspirante precisa utilizar sua força sexual criadora de forma que seja para fins de serviço amoroso e desinteressado, criando, aplicando e, por meio da Epigênese, colocando coisas novas, para ele, nunca colocadas em ação.
Os seis Exercícios Esotéricos Rosacruzes fornecidos no livro “Conceito Rosacruz dos Cosmos” – Retrospecção, Concentração, Observação, Meditação, Contemplação e Adoração ao Ser Supremo – são meios para atingir o ideal espiritual. Sem a aplicação nas suas execuções, obedecendo os critérios, as sequências e o modo detalhado naquele livro não se chegará a lugar algum como Aspirante à vida superior pelo método Rosacruz. A Retrospecção noturna e a Concentração matutina são os mais importantes exercícios esotéricos quando se começa a caminhada como Aspirante. A Retrospecção noturna prepara o Aspirante para se conhecer e para compreender as suas próprias complexidades de pensamento e de caráter mais sutis, no encadeamento do que ele entende como causa e efeito, arrependimento e reforma íntima; pois o autoconhecimento é indispensável para o avanço espiritual. A Concentração matutina é, também, imprescindível, porque tem a tarefa difícil de desenvolver uma disciplina mental intensa para o progresso espiritual, focando exclusivamente em um único assunto, e não se deixando levar por outros.
A paciência e a persistência em “fazer bem sem olhar a quem” – o serviço amoroso e desinteressado e, portanto, anônimo – são qualidades que o Aspirante deve aliar a todas as suas atividades, não só para promover o crescimento da alma como para evitar que se distraia com os “prazeres do mundo” que sempre estarão lhe atraindo – e cada vez com mais sutilidade, na medida que ele avança. Todas essas digressões terão de ser eliminadas uma a uma, primeiras as mais flagrantes, depois as mais sutis até que um dia, finalmente, após muito tempo de dedicação total, o Aspirante atingirá o caminho mais “reto e estreito” da via espiritual, via o conhecimento direto.
É preciso, também, aprender o discernimento em todas as coisas. Para o Aspirante à vida superior que está utilizando o método Rosacruz, os métodos orientais constituem um perigo, tanto para o seu desempenho, como para os seus Corpos, especialmente no que concerne a métodos que prometem um “despertar espiritual” ou “poderes psíquicos” de maneira rápida e fácil. Nunca é demais repetir que o avanço espiritual seguro se consegue unicamente com os esforços contínuos e, muitas vezes, penosos que segue um programa de autopurificação e de serviço a Deus e aos demais; processo este que o leva de degrau a degrau, sem pular etapas, sozinho e focado.
O Aspirante à vida superior também deve fazer o sacrifício de si próprio e não das coisas. Ele tem que aprender a colocar o amor, seus conhecimentos, suas energias, seu tempo, suas considerações e tudo o que é igualmente intangível, à disposição dos irmãos e irmãs que estão no seu entorno, estando sempre pronto para ajudar, para servir, ainda que seja por meio de um sorriso, de um cumprimento, de uma palavra amiga ou de uma ação efetiva. Automaticamente os velhos interesses vão sendo sacrificados também nesse processo de autocorreção. A consagração a uma vida regenerada e a intensidade desse ideal mitiga, eventualmente, a importância que ele dava aos assuntos mundanos que parecem tão significativos. Acontece, às vezes, que o Aspirante à vida superior tem até que sacrificar temporariamente certas relações pessoais, pois sucede que os chamados amigos e amigas ou até os familiares nem sempre acompanham ou aceitam as suas novas tendências ou atitudes. Cria-se, portanto, certa fricção e choque, que levam as relações a mudarem ou a se desintegrarem, às vezes, lenta, outas vezes rápida, e muitas inteiramente. Ele deve entender e praticar o seguinte conceito: “todas as relações devem ser completadas pelo amor dele para com o próximo”, aqui independentemente do que o próximo acha ou deixa de achar; mas durante algum tempo – uma ou mais vidas – o Aspirante poderá ter que aprender a enfrentar a situação com compaixão, paciência, compreensão e tato. Tudo isso faz parte das provas que ele terá que passar para polir e se purificar.
Essas provas e dificuldades são fornecidas ao Aspirante à vida superior com o único objetivo de que ele possa liquidar as suas dívidas de destino – geradas nos seus muitos renascimentos – mais rapidamente e, assim, libertar-se do que o liga ainda a um comportamento passado inaceitável, por ele próprio criado. Para isso, é mister que ele entenda que todos os seus problemas nada mais são do que oportunidades para aprender a lição da qual tanto se esquivou e, ao aplicar isso na sua vida, ao em vez de protestar e lamentar, avançará muito. Antes que lhe seja concedidos maiores poderes espirituais ou uma esfera de trabalho maior, é necessário que ele tenha dado provas da prática, por meio de atos, ações e obras do seu altruísmo em todas as esferas. É obvio que existe o perigo de se utilizar esses poderes espirituais de forma egoísta e sem discernimento; por isso, é preciso que ele mostre que é digno de recebê-los. E quanto mais ele se ocupa e se preocupa em saber em que estágio está, menos ele avança, mais ele se impacienta e mais aumenta a tendência em desistir. Por isso que o foco deve ser sempre em servir, amorosa e desinteressadamente, cumprindo com aquilo que se propôs nessa vida. Com toda certeza, quando estiver alcançando o estágio que é necessário, um Irmão Maior será atraído pela sua luz nos Mundos internos e virá até ele. Então começarão as outras etapas da sua evolução espiritual, para frente e para cima. Até lá, trabalhe, trabalhe e trabalhe como um colaborador, ainda que inconscientemente, “na obra benfeitora dos Irmãos Maiores para o serviço da Humanidade.”.
Que as rosas floresçam em vossa cruz
O Regime Ovo-lacto-vegetariano
“O vegetarianismo deve ser louvado por todos aqueles que perseguem o ideal da formação e da educação das raças não-belicosas, inteligentes, amantes das artes e, ao mesmo tempo, prolíficas, vigorosas e ativas” — Armand Galtier.
As palavras “regime” e “dieta” vêm do grego e significam disciplina, governo, moderação. Ambas são sinônimas e têm o sentido de governar o apetite, disciplinar os métodos alimentares. Regime alimentar, portanto, é o método usado para programar um sistema capaz de levar ao organismo todas as substâncias necessárias à manutenção, à regeneração e ao desenvolvimento das células orgânicas, visando ao funcionamento perfeito de todos os aparelhos e sistemas cuja euritmia (ritmo harmonioso) funcional consequentemente conduza à saúde. Essas substâncias podem provir do reino vegetal ou do animal. Se, entre os produtos de origem animal, conta-se a carne, diz-se que o regime é cárneo, denominando-se vegetariano ao regime em que, não se consumindo carne, predominam os produtos vegetais.
Chama-se “vegetalismo” o sistema em que se usam somente vegetais e “vegetarismo” o que utiliza também leite, seus derivados e ovo. A este se denomina, também, “ovo-lacto-vegetariano”. Quando a alimentação é constituída exclusivamente de frutas, diz-se que o regime é frugívoro, podendo-se admitir a denominação de “frugivorismo” como um neologismo.
Em nossa explanação usaremos as palavras “vegetariano” e “vegetarismo”, significando regimes isentos de carne de mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios e qualquer outro ser da onda de vida animal, nossos irmãos menores.
No Ocidente predomina o regime cárneo, entendendo-se por isso aquele que, além do uso de verduras, frutas, leite e ovo, inclui a carne no cardápio.
No Oriente predomina o regime vegetariano. Admitamos, em tese, que se pode viver exclusivamente de frutas, se houver uma variedade muito grande desses produtos da Natureza, os quais possam fornecer proteínas suficientes à manutenção e reconstituição das células. Nas condições atuais do mundo, porém, difícil seria preconizar um regime exclusivo de frutas, podendo-se chegar a prejudicar os usuários, se a isso se propusesse o dietólogo.
A observação dos estudiosos deste assunto nos leva a considerar como recomendável o regime vegetariano, porque é capaz de propiciar à comunidade um estado de saúde compatível com o trabalho, especialmente nas condições que a vida artificial destes tempos agitados impõe ao ser humano uma luta de grandes proporções para sobreviver.
De fato, grandes aglomerações humanas desenvolvem atividades dignas de apreciação, embora a carne não faça parte do seu regime alimentar, como na maior parte dos países do Oriente.
A meta suprema da vida humana é vive-la em sua plenitude, com um conceito de felicidade que seja entendido como “estou vivendo intensamente o que eu mesmo escolhi no Terceiro Céu – quando da escolha do panorama dessa vida que agora vivo”. E, logicamente a ela está ligada de modo inseparável a ideia de saúde. Mesmo a pessoa que não quer viver exatamente o que escolheu lá inclui a coexistência de saúde para a concretização dos anseios da excitação dos instintos na satisfação das concupiscências carnais.
Sendo a saúde a expressão máxima de um funcionamento ideal de todos os órgãos e sistemas do nosso Corpo Denso, não se pode desligar da ação dos alimentos sobre esses órgãos e sistemas. Toda substância alimentar que possa perturbar a harmonia funcional acarretará fatalmente um desvio do curso normal da fisiologia, ocasionando perturbação da saúde e, consequentemente, da felicidade.
O regime vegetariano oferece todas as condições para propiciar saúde compatível com a felicidade.
De acordo com o conceito de regime expresso no começo deste artigo, vejamos quais são as substâncias necessárias à manutenção, regeneração e desenvolvimento das células orgânicas. Ainda que pretendamos escrever uma série de artigos sobre este assunto, nós nos esforçaremos por dar em cada um deles a ideia de conjunto, com o fim de propiciar conhecimentos práticos em vista a capacitar o leitor a tirar proveito imediato da leitura.
Para qualquer regime os princípios nutritivos indispensáveis são as proteínas, ou albuminas; os carboidratos, ou farináceos; os açúcares, gorduras, sais e vitaminas. Poderá o regime vegetarista prover ao organismo essas substâncias?
As proteínas são as substâncias que promovem a recomposição e a estruturação das células. A pele, os músculos, os ossos, os vasos, os órgãos, os sistemas em geral são constituídos de formações microscópicas de forma e constituição variadas, adaptadas às funções que exercem no organismo, chamadas células. A estrutura dessas células depende das proteínas. Da fórmula química das proteínas fazem parte substâncias menos complexas que, combinando-se, integram a molécula proteica. Dentre elas se destacam os ácidos aminados. Para que uma proteína seja considerada ótima ela deve conter os ácidos aminados ditos essenciais, dos quais falaremos em um dos próximos artigos.
O regime ovo-lacto-vegetariano pode oferecer proteínas dessa qualidade, tais como as que se encontram no leite e no ovo. Dentre as de origem puramente vegetal podemos citar as da soja e algumas amêndoas.
Teor de proteína dos alimentos mais comuns:
Soja 33%
Queijo 30%-35%
Leite (1 litro) 35 g
Amendoim 27%
Feijão 22%-25%
Castanha 16%
Nozes 14%-16%
Ovo 12%
Farinha de milho 11%
Cereais 10-12%
Pão 8-10%
Carboidratos. Os carboidratos, amiláceos ou amidos, farináceos e açúcares, encontram-se em abundância no reino vegetal. Daí se conclui que o vegetarismo proporciona esses princípios nutritivos de modo a fornecê-los ao organismo em quantidade suficiente. São as substâncias chamadas energéticas; isto é, que produzem energias. O Prof. Júlio Lefèvre, da Sociedade de Biologia de Paris, referindo-se ao vegetarismo, assim se expressa: “… é, em verdade, o regime de força e saúde que permite ao ser humano utilizar, no decurso de sua existência, todas as manifestações de uma possante atividade”.
Gorduras, sais e vitaminas são os nutrimentos mais encontrados neste tipo de regime alimentar, o que faz dele o ideal no sentido da regeneração das células, criando no ser humano grande soma de vitalidade, resistência e espírito de iniciativa, junto de um caráter manso, quieto e firme, apanágios da sonhada felicidade.
Incorporar ao regime os farináceos, açúcares, gorduras, frutas, hortaliças, castanhas, amendoim, cereais, leite, seus derivados e ovo, em proporções equilibradas, é usar um regime suficiente, atóxico e de fácil adequação, rico em todos os nutrimentos essenciais a uma boa saúde e uma vida fecunda, tranquila e feliz.
* * *
“Cereais, frutas, nozes e verduras constituem o regime dietético escolhido por nosso Criador. Esses alimentos, preparados da maneira mais simples e natural possível, são os mais saudáveis e nutritivos”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1965 – Fraternidade Rosacruz – São Paulo – SP
Resposta: Elas retornam a esta Terra até aprenderem as lições que podem ser aqui vivenciadas. Essencialmente, é o mesmo princípio aplicado quando enviamos uma criança a escola. Não a mandamos para um jardim de infância um dia, para a escola primária no dia seguinte e para a faculdade no terceiro dia. Enviamo-la para o jardim da infância, dia após dia, por um longo período, até aprender todas as lições ministradas ali. O conhecimento adquirido no jardim da infância formará a base para o aprendizado na escola primária, que será o alicerce para ingressar na faculdade. Por um processo similar, aprendemos lições sob diversas condições no passado. No futuro, quando tivermos aprendido tudo que está ao nosso alcance neste nosso ambiente terreno, encontraremos, a nossa espera, tarefas em evoluções mais elevadas. O progresso é infinito, pois somos divinos como o nosso Pai que está no céu, e as limitações são impossíveis.
(Pergunta nº 68 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Volume 1 – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
Pergunta: Quais as causas da insanidade?
Resposta: Responder a essa pergunta requereria muitos volumes, mas podemos dizer que, do ponto de vista do ocultista, há quatro classes de insanidade.
A insanidade é sempre causada por uma ruptura na cadeia de veículos entre o Ego e o seu veículo Corpo Denso. Essa ruptura pode ocorrer entre os centros cerebrais e o Corpo Vital, ou entre o Corpo Vital e o Corpo de Desejos, entre o Corpo de Desejos e a Mente, ou entre a Mente e o Ego. A ruptura pode ser completa ou apenas parcial.
Quando a ruptura acontece entre os centros cerebrais e o Corpo Vital, ou entre esse e o Corpo de Desejos, temos pessoas com deficiência intelectual extrema. Quando a ruptura ocorre entre o Corpo de Desejos e a Mente, o comando é exercido pelo violento e impulsivo Corpo de Desejos e temos o maníaco delirante. Quando a ruptura se dá entre o Ego e a Mente, a Mente domina os outros veículos e temos o maníaco astuto, que pode enganar a pessoa que está cuidando dele fazendo-a acreditar que é perfeitamente inofensivo, enquanto trama algum plano ardiloso e diabólico. Repentinamente, ele pode revelar a sua mentalidade doente e causar uma terrível catástrofe.
Há uma causa de insanidade que seria aconselhável esclarecer, a fim de ser possível evitá-la. Quando o Ego está se preparando do Mundo invisível para um novo nascimento, várias classes de renascimentos disponíveis lhe são mostradas, em panoramas. Ele vê a vida futura nos seus maiores e mais importantes acontecimentos, como um filme rodando diante da sua visão. Geralmente, é-lhe dada a opção de escolha dentre as várias vidas apresentadas. Naquele momento, vê as lições que precisa aprender, o destino que gerou para si em vidas passadas, e qual a parte desse destino que terá de liquidar em cada um dos renascimentos oferecidos. Então, faz a sua escolha e é guiado pelos agentes dos Anjos do Destino para os pais e a família onde vai viver a sua vida futura.
Essa vista panorâmica se desenrola diante dele no Terceiro Céu, onde o Ego está sem nenhum dos seus Corpos e se sente espiritualmente acima das sórdidas considerações materiais. E muito mais sábio do que quando renasce aqui na Terra, onde se torna cego pela carne até um ponto inconcebível. Mais tarde, quando a concepção ocorreu e o Ego está prestes a entrar no útero materno, aproximadamente no décimo oitavo dia após esse acontecimento, começará o contato com o molde etérico do seu novo Corpo Denso, criado pelos Anjos do Destino, para formar o cérebro que imprimirá sobre o Ego as tendências necessárias para tecer seu destino.
Ali, o Ego vê novamente desfilar as imagens da sua vida futura, da mesma forma que o afogado percebe as imagens da sua existência passada — num lampejo. Nesse momento, o Ego já está parcialmente cego a respeito da sua natureza espiritual, e percebe que a vida futura será penosa e, então, frequentemente reluta em penetrar no útero e fazer as conexões cerebrais apropriadas. Procura se retirar rapidamente, e ao invés dos Corpos Vital e Denso ficarem concêntricos, o Corpo Vital, formado de Éter, pode ser parcialmente puxado acima da cabeça do Corpo Denso. Nesse caso, a conexão entre os centros sensoriais do Corpo Vital e o Corpo Denso é rompida e o resultado será uma idiotice congênita, epilepsia, dança de São Vito[1] e doenças nervosas similares.
A relação desarmoniosa entre os pais, o que às vezes existe, é frequentemente a gota d’água que leva o Ego a não querer entrar em tal ambiente. Por essa razão, nunca é demais convencer os prováveis pais que, durante o período de gestação, é da máxima importância que tudo deva ser feito para que a mãe permaneça num estado de satisfação e harmonia. A passagem pelo útero é um momento penosíssimo para o Ego; solicita toda a sua sensibilidade a um grau máximo e as condições desarmoniosas do lar em que vai entrar lhe serão, naturalmente, uma fonte adicional de desconforto, a qual pode resultar no terrível estado de coisas acima mencionado.
(Pergunta nº 44 do Livro “A Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I”, de Max Heindel)
[1] N.T.: Coreia reumática de Sydenham (do grego khorea, dança) ou a dança de São Vito é um distúrbio neurológico que afeta a coordenação motora de 20 a 40% dos portadores de febre reumática, mais frequente entre meninas e/ou crianças e adolescentes. A descrição mais famosa da doença foi feita em San Vito, Itália, em 1686, por Sydenham no livro Schedula Monitoria.
Pergunta: Se houver uma forte atração entre duas pessoas que não conseguiram uma consumação legal, mediante o casamento em virtude de ligações prévias, se uma delas morrer com esse desejo, há possibilidade de se reencontrarem no céu, se unirem e se casarem numa vida futura na Terra?
Resposta: Sim, com toda probabilidade. A atração sentida mutuamente e que não pôde encontrar aqui meio de expressão, em muitos casos, os reunirá mesmo antes da próxima vida. Embora não haja casamento no Céu, aqueles que se amam e são, num certo sentido, necessários um ao outro para obter a felicidade, são unidos por meio de um vínculo de amizade muito íntima durante a estadia no Primeiro Céu, se faleceram na mesma ocasião ou em data próxima. Contudo, se um deles permanecer no corpo por alguns anos mais depois do outro ter morrido, o que se encontra no Mundo celestial criará, por meio do seu pensamento amoroso, uma imagem do outro e infundirá vida nessa imagem. Não esqueçamos que o Mundo do Desejo é constituído de tal maneira que somos capazes de dar forma a qualquer pensamento nosso. Assim, embora essa imagem só seja animada pelo pensamento de ambos, do que morreu e do que vive ainda na região física, engloba todas as condições necessárias para preencher a felicidade desse habitante do Mundo celestial.
Da mesma forma, ao falecer a segunda pessoa, se a primeira tiver progredido até o Segundo Céu, sua chamada concha (o Corpo de Desejos em desintegração no qual ele ou ela viveu) responderá ao propósito e parecerá perfeitamente real ao segundo amante até que sua vida termine nesse reino. Então, quando ambos passarem para os Segundo e Terceiro Céus, o esquecimento do passado se processará, e poderão partir novamente para uma ou mais vidas sem sentimento de perda. Mas, em alguma época e em algum lugar, se encontrarão novamente e a força dinâmica que geraram no passado, por seu afeto mútuo, irá atraí-los inevitavelmente, e os unirá para que seu amor realize a legítima consumação.
Isto não se aplica somente aos amantes, na acepção geral da palavra, mas ao amor existente entre irmãos, pais e filhos ou amigos sem relação sanguínea. A nossa vida no Primeiro Céu é sempre abençoada e preenchida pela presença daqueles que amamos. Se eles não estiverem no Mundo espiritual e, portanto, não realmente presentes, suas imagens lá estarão. Não devemos pensar que essas imagens sejam pura ilusão, pois elas são animadas pelo amor e pela amizade, enviadas pelos ausentes em direção à pessoa de cuja vida celestial são uma parte.
(Pergunta nº 5 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. II – Fraternidade Rosacruz – Max Heindel)