O Jejum como um Fator para o Crescimento Anímico
Frequentemente o autor recebe perguntas em relação ao benefício ou desvantagem do jejum e, portanto, pode ser bom elucidar a origem e o fundamento dessa prática para que possamos determinar qual efeito, se houver, é exercido sobre o crescimento espiritual.
Nas Antigas Dispensações era exigido que os sacrifícios de bovinos e caprinos fossem feitos como expiação ao pecado praticado, pois o ser humano valorizava, então, seus bens materiais, muito mais do que nos dias de hoje, sentindo profundamente sua perda, quando forçado a abrir mão deles para tal finalidade. Mesmo nos dias modernos, as indulgências são compradas e o Perdão dos Pecados anunciado a qualquer pessoa que doe uma quantia em dinheiro a algumas Igrejas Católicas e Protestantes, para a compra de todo os tipos de acessórios necessários ao serviço.
Mas, sempre houve um ensinamento esotérico, que está sendo promulgado exotericamente hoje, e esse ensinamento não aceita o sacrifício de um animal, dinheiro ou outras posses; contudo, exige que cada um faça um sacrifício de si mesmo. Isso foi ensinado aos Aspirantes na antiga Escola de Mistérios, quando eles eram preparados para o Ritual Místico de Iniciação. A eles foram explicados os mistérios do Corpo Vital – composição pelos quatro Éteres e funções de cada Éter -: o Éter Químico, que é necessário para a assimilação; o Éter de Vida, que promove o crescimento e a propagação; o Éter de Luz ou Luminoso, que é o veículo da percepção sensorial; e o Éter Refletor, em que se armazena a memória. Eles foram, cuidadosamente, instruídos nas funções dos dois Éteres inferiores em comparação com os dois Éteres superiores. Eles sabiam que as funções puramente animais do corpo dependiam da densidade dos Éteres inferiores, e que os dois Éteres superiores, por sua vez, formavam o Corpo-Alma, o veículo do serviço e, naturalmente, eles aspiravam cultivar essa gloriosa vestimenta, pela renúncia e refreando as propensões das naturezas inferiores, assim como fazemos hoje. Esses fatos eram mantidos em segredo das pessoas que não estavam no Caminho da Iniciação, ou, melhor dizendo, assim deveriam ter permanecido. Mas, alguns neófitos, mesmo sendo excessivamente zelosos em alcançar a Iniciação, não importando os meios, esqueceram que é somente pelo serviço e altruísmo que a veste nupcial dourada é cultivada pelos dois Éteres superiores. Eles pensaram que a máxima Oculta, “ouro no cadinho, impureza no fogo; ligeiro como o vento, alçar-se cada vez mais alto”, apenas significava que, enquanto a natureza inferior, a escória, tinha sido expulsa, e não importava a maneira, mas se tivessem encontrado um método fácil, eles teriam retido apenas o “ouro” composto pelos dois Éteres superiores, o Corpo-Alma, no qual eles poderiam, com certeza, acessar os Mundos Invisíveis sem obstáculo ou embaraço. Eles concluíram que, como o Éter Químico é o agente de assimilação, poderia ser eliminado do Corpo Vital, privando o veículo físico da fome.
Eles também pensaram que, como o Éter da Vida é a via de propagação, poderiam privá-lo com uma vida celibatária. Seguindo esse método, concluíram, assim, que reteriam apenas os dois Éteres superiores e, portanto, praticavam todas as austeridades que se podia pensar, entre outras práticas, o jejum. Por esse processo o Corpo Denso perdia a saúde e a sua natureza passional ficava debilitada, pois, buscava a gratificação pelo exercício da função propagativa, sendo silenciado com a punição. Dessa maneira, horrível, é verdade que a natureza inferior parecia estar submetida, e também é verdade que, quando as funções corporais eram reduzidas a níveis bem baixos, as visões, ou melhor dizendo, as alucinações eram frequentemente a recompensa dessas pessoas equivocadas. Outros que ouviram falar de sua suposta santidade estavam ansiosos para imitá-los; assim, seu exemplo desviou milhares de almas da busca do verdadeiro Caminho. Mas, o resultado obtido por essas pessoas desencaminhadas e seus seguidores está longe de ser o que se pretendia pelo treinamento na Escola de Mistérios. Antes de mais nada, ao Aspirante foi ensinado que o Corpo é o “Templo de Deus” e que profaná-lo, destruí-lo ou mutilá-lo de qualquer maneira é um grande pecado. A indulgência com o apetite é um pecado, uma prática contaminadora que traz consigo certa retaliação, mas não deve ter maior repreensão do que a prática de jejuar para o crescimento da alma.
Viver corretamente não é banquetear e nem jejuar, mas dar ao corpo os elementos necessários para mantê-lo na forma adequada de saúde, força e eficiência como um instrumento do Espírito. Portanto, jejuar para o crescimento da alma é um pseudométodo que tem o efeito, exatamente o oposto daquilo que foi projetado para ser realizado, devido à falta de visão de seus criadores. “Eu sou a porta”, disse o Cristo, “se alguém não entra pela porta, esse é ladrão e salteador”.
Da mesma forma, com a prática do celibato para o crescimento da alma, a máxima enunciada no início desse parágrafo se aplica de forma idêntica. É repreensível quando homens e mulheres, feitos à imagem de Deus, se degradam pela indulgência da natureza passional a um estado inferior ao dos animais, porém, é igualmente repreensível quando aqueles que vivem de outra forma, tendo vidas boas e sagradas, se recusam a sacrificar suas aspirações para dar a uma alma que está à espera daquele Corpo e daquele ambiente que lhe atendam, e que tenha todo aquele tempo para o próprio desenvolvimento. Eles podem, pelo jejum, atenuar o Éter Químico, e, por suas vidas fanáticas e egoístas de celibatário, podem também eliminar o Éter da Vida em grande proporção, mas essas medidas nunca irão construir a “vestimenta dourada de casamento”, que é o ‘abre-te sésamo’ para a festa do “casamento místico”; na falta desse traje, alguns que conseguirem entrar sorrateiramente, por métodos ilegítimos como jejum, castigo e celibato, serão lançados nas trevas exteriores.
(Publicado na revista Rays from the Rose Cross em dezembro/1915 e traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
A definição de “aspiração” implica numa persistência em realizar algo que se deseja ansiosamente. Assim, pode-se dizer que o Aspirante à vida superior é uma pessoa que anseia e deseja profundamente realizar os seus ideais espirituais. O verdadeiro Aspirante à vida superior não pode, por definição, ter uma vontade ou desejo morno ou fraco de se aperfeiçoar. Para que aspire, no verdadeiro sentido da palavra, é preciso que se dedique aos seus ideais espirituais com todo o entusiasmo, apesar dos muitos obstáculos e dificuldades que irá encontrar no caminho.
Pode se dizer que a Humanidade, de modo geral, evolui por meio de método lento e automático, isto é, de tentativa e erro. Contudo, o Aspirante à vida superior, pelo contrário, funciona conscientemente e tenta atingir os seus fins por meios bem definidos e apropriados à sua constituição individual. As suas palavras-chaves tônicas são persistência e esforço constante. Se não se empenhar continuamente, diariamente e incansavelmente em cumprir os seus deveres e os seus exercícios esotéricos, não poderá nunca atingir o objetivo espiritual.
O primeiro dever é desenvolver o seu Corpo-Alma; se isso não for prioridade na vida do Estudante Rosacruz, quando quer ser um Aspirante à vida superior, todas as tentativas de funcionar conscientemente nos Mundos invisíveis resultarão em desastre e frustração interna. Não existe nenhum guia ou causa exterior que lhe possa assegurar uma entrada segura, consciente e permanente nos planos espirituais. Somente o próprio Aspirante poderá fazê-lo.
É necessária a purificação de todos os veículos, iniciando pelo Corpo Denso. Isso implica na escolha dos alimentos de digestão fácil, pois quanto mais rápida for à extração de energia do alimento, mais tempo terá o organismo de recuperar antes da próxima alimentação a ser ingerida. É evidente que a ingestão de carne de mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios e outros seres da onda de vida animal é nociva para a purificação dos veículos, pois aqueles que matam ou obrigam outros a matarem não podem avançar muito na senda da santidade. O Corpo é o Templo de Deus; corrompê-lo, destruí-lo ou mutilá-lo, tanto por atos como por omissões, não é digno de nenhum Aspirante à vida superior. O melhor que o Aspirante tem a fazer é encontrar alimentos que o organismo necessita para que seja um instrumento do Espírito, sendo saudável, forte e eficaz. O regime lacto-ovo-vegetariano é o mais indicado. Assim, cumprindo a primeira parte do lema Rosacruz: “Corpo São”.
A purificação do Corpo Vital é feita pela repetição dos bons hábitos, eliminação dos vícios e pelo desenvolvimento dos dois Éteres superiores – Éter Luminoso e Refletor – que ocorre quando nos esforçamos por ter uma vida pura, limpa e altruísta. A vitória do Corpo Vital sobre o Corpo de Desejos se dará pelo hábito de um equilíbrio inabalável das emoções, os sentimentos e desejos diante de toda e qualquer provocação ou situação adversa. Tendo um temperamento equilibrado, um comportamento sempre calmo e paciente ajudará a nos capacitar para cumprir todos os deveres mundanos e executar os exercícios esotéricos que temos que fazer, independentemente do caos externo que nos rodeia. Eventualmente quando as emoções, os sentimentos e desejos se tornam, gradualmente, mais equilibrados e a serenidade do Estudante se torna mais pronunciada, ele passa a viver a vida aqui em plenitude, esforçando-se por cumprir tudo aquilo a que ele mesmo optou no Terceiro Céu, quando escolheu o panorama dessa vida. A repetição e a oração incessante são indispensáveis à purificação do Corpo Vital, constituindo-se também de suma importância a oficiação dos Rituais e a execução dos exercícios esotéricos.
A purificação do Corpo de Desejos é feita pela transmutação das tendências das nossas emoções, dos nossos desejos e sentimentos passionais, indignos e maus – enfim, inferiores – em emoções, desejos e sentimentos superiores. Isso se faz preenchendo o nosso Corpo de Desejos de material das três Regiões superiores do Mundo do Desejo: Vida Anímica, Poder Anímico e Luz Anímica. Para isso, o Aspirante sublima as suas emoções, os seus desejos e sentimentos inferiores substituindo-os por emoções, desejos e sentimentos superiores, por exemplo, de: altruísmo, bondade, gratidão, gentileza, filantropia, fraternidade, amor incondicional, fé racional e afins. O “não cair em tentação” aqui é a chave. O Aspirante precisa utilizar sua força sexual criadora de forma que seja para fins de serviço amoroso e desinteressado, criando, aplicando e, por meio da Epigênese, colocando coisas novas, para ele, nunca colocadas em ação.
Os seis Exercícios Esotéricos Rosacruzes fornecidos no livro “Conceito Rosacruz dos Cosmos” – Retrospecção, Concentração, Observação, Meditação, Contemplação e Adoração ao Ser Supremo – são meios para atingir o ideal espiritual. Sem a aplicação nas suas execuções, obedecendo os critérios, as sequências e o modo detalhado naquele livro não se chegará a lugar algum como Aspirante à vida superior pelo método Rosacruz. A Retrospecção noturna e a Concentração matutina são os mais importantes exercícios esotéricos quando se começa a caminhada como Aspirante. A Retrospecção noturna prepara o Aspirante para se conhecer e para compreender as suas próprias complexidades de pensamento e de caráter mais sutis, no encadeamento do que ele entende como causa e efeito, arrependimento e reforma íntima; pois o autoconhecimento é indispensável para o avanço espiritual. A Concentração matutina é, também, imprescindível, porque tem a tarefa difícil de desenvolver uma disciplina mental intensa para o progresso espiritual, focando exclusivamente em um único assunto, e não se deixando levar por outros.
A paciência e a persistência em “fazer bem sem olhar a quem” – o serviço amoroso e desinteressado e, portanto, anônimo – são qualidades que o Aspirante deve aliar a todas as suas atividades, não só para promover o crescimento da alma como para evitar que se distraia com os “prazeres do mundo” que sempre estarão lhe atraindo – e cada vez com mais sutilidade, na medida que ele avança. Todas essas digressões terão de ser eliminadas uma a uma, primeiras as mais flagrantes, depois as mais sutis até que um dia, finalmente, após muito tempo de dedicação total, o Aspirante atingirá o caminho mais “reto e estreito” da via espiritual, via o conhecimento direto.
É preciso, também, aprender o discernimento em todas as coisas. Para o Aspirante à vida superior que está utilizando o método Rosacruz, os métodos orientais constituem um perigo, tanto para o seu desempenho, como para os seus Corpos, especialmente no que concerne a métodos que prometem um “despertar espiritual” ou “poderes psíquicos” de maneira rápida e fácil. Nunca é demais repetir que o avanço espiritual seguro se consegue unicamente com os esforços contínuos e, muitas vezes, penosos que segue um programa de autopurificação e de serviço a Deus e aos demais; processo este que o leva de degrau a degrau, sem pular etapas, sozinho e focado.
O Aspirante à vida superior também deve fazer o sacrifício de si próprio e não das coisas. Ele tem que aprender a colocar o amor, seus conhecimentos, suas energias, seu tempo, suas considerações e tudo o que é igualmente intangível, à disposição dos irmãos e irmãs que estão no seu entorno, estando sempre pronto para ajudar, para servir, ainda que seja por meio de um sorriso, de um cumprimento, de uma palavra amiga ou de uma ação efetiva. Automaticamente os velhos interesses vão sendo sacrificados também nesse processo de autocorreção. A consagração a uma vida regenerada e a intensidade desse ideal mitiga, eventualmente, a importância que ele dava aos assuntos mundanos que parecem tão significativos. Acontece, às vezes, que o Aspirante à vida superior tem até que sacrificar temporariamente certas relações pessoais, pois sucede que os chamados amigos e amigas ou até os familiares nem sempre acompanham ou aceitam as suas novas tendências ou atitudes. Cria-se, portanto, certa fricção e choque, que levam as relações a mudarem ou a se desintegrarem, às vezes, lenta, outas vezes rápida, e muitas inteiramente. Ele deve entender e praticar o seguinte conceito: “todas as relações devem ser completadas pelo amor dele para com o próximo”, aqui independentemente do que o próximo acha ou deixa de achar; mas durante algum tempo – uma ou mais vidas – o Aspirante poderá ter que aprender a enfrentar a situação com compaixão, paciência, compreensão e tato. Tudo isso faz parte das provas que ele terá que passar para polir e se purificar.
Essas provas e dificuldades são fornecidas ao Aspirante à vida superior com o único objetivo de que ele possa liquidar as suas dívidas de destino – geradas nos seus muitos renascimentos – mais rapidamente e, assim, libertar-se do que o liga ainda a um comportamento passado inaceitável, por ele próprio criado. Para isso, é mister que ele entenda que todos os seus problemas nada mais são do que oportunidades para aprender a lição da qual tanto se esquivou e, ao aplicar isso na sua vida, ao em vez de protestar e lamentar, avançará muito. Antes que lhe seja concedidos maiores poderes espirituais ou uma esfera de trabalho maior, é necessário que ele tenha dado provas da prática, por meio de atos, ações e obras do seu altruísmo em todas as esferas. É obvio que existe o perigo de se utilizar esses poderes espirituais de forma egoísta e sem discernimento; por isso, é preciso que ele mostre que é digno de recebê-los. E quanto mais ele se ocupa e se preocupa em saber em que estágio está, menos ele avança, mais ele se impacienta e mais aumenta a tendência em desistir. Por isso que o foco deve ser sempre em servir, amorosa e desinteressadamente, cumprindo com aquilo que se propôs nessa vida. Com toda certeza, quando estiver alcançando o estágio que é necessário, um Irmão Maior será atraído pela sua luz nos Mundos internos e virá até ele. Então começarão as outras etapas da sua evolução espiritual, para frente e para cima. Até lá, trabalhe, trabalhe e trabalhe como um colaborador, ainda que inconscientemente, “na obra benfeitora dos Irmãos Maiores para o serviço da Humanidade.”.
Que as rosas floresçam em vossa cruz