Feliz Páscoa! – Dizemos todos os anos, trocando cartões, coelhinhos e ovos. Mas, aproveitemos a pausa da semana santa e meditemos seriamente: por que “Feliz Páscoa”? Que sentido tem ela para nós?
Um religioso nos dirá: “Comemoramos gratamente a Páscoa, em homenagem Àquele que se sacrificou por nós; que demonstrou a vitória sobre a morte, ao ressurgir do túmulo, três dias depois da crucifixão, conforme prometera; que, finalmente, ascendeu aos céus, quarenta dias após. Está à direita de Deus-Pai, intercedendo por nós”.
Insatisfeitos, perguntamo-nos: que significa isto para nós?
A Filosofia Rosacruz ensina que as nove Iniciações Menores representam os nove principais passos da vida de Jesus, pois a biografia do Mestre foi tomada para velar, em cada Evangelho, o caminho de iluminação de cada Aspirante. Os nove passos ou mistérios de Jesus, são:
Duas etapas se distinguem nessa luminosa ascese:
A penetração da consciência do Iniciado na obra evolutiva referente aos Períodos de Júpiter, Vênus e Vulcano, dizem respeito às 1ª, 2ª e 3ª Iniciações Maiores. Na 4ª Iniciação Maior, o Iluminado candidato atinge a condição de Libertador, optando entre permanecer ajudando seus irmãos na Terra ou partir para uma evolução mais alta, em Júpiter. A Páscoa trata da segunda etapa. É o processo de libertação do Período Terrestre. É a superação de todo o trabalho deste Período. É o cortar do cordão umbilical que nos condiciona ao Planeta, quando nos conscientizamos de todas as suas leis ou mistérios.
Começa a Páscoa quando o candidato, no plano mental abstrato, na 5ª Iniciação, deve transcender sua personalidade. São Paulo, o Apóstolo que conheceu essa experiência, que dura mais ou menos tempo, conforme o Candidato. Ele se refere a si próprio quando diz “conhecer um homem que foi arrebatado ao 3º céu e lá viu e ouviu coisas que não lhe é lícito contar”. Estava no plano mental abstrato, onde a universalidade do Espírito se limita a uma consciência egóica.
São Paulo sentiu agudamente o Horto da Agonia, nos embates entre a personalidade e o Divino interno. Mas venceu a prova, pois afinal exclama triunfante: “Não mais eu quem vivo, mas o Cristo vive em mim!”.
O próximo passo – a 6ª Iniciação Menor – foi vivenciada por São Francisco de Assis, que apresentou os sinais interiores das estigmatas (dos ferimentos), naqueles pontos físicos em que o Espírito fica preso ou crucificado à cruz do corpo.
Na 7ª Iniciação Menor, o Candidato experimenta o morrer para o sentido humano. Esse processo dura certo período, simbolizado pelos três dias no túmulo. São três etapas em que dissolvemos os traços humanos dos corpos físico, emocional e mental. Então elevamos o grau vibratório de nossa tripla instrumentação e podemos ressurgir para mais alto estado. Não que a gente suba aos céus. Isto é um sentido simbólico. Não subimos para nenhum lugar, senão que experimentamos uma expansão de consciência e alcançamos mais profundamente os mistérios de nosso ser e de nosso Planeta.
Vem a Ressurreição – a 8ª Iniciação – na qual o Candidato adquire a capacidade de sutilização do corpo, a faculdade plena de materializar-se e desmaterializar-se, mediante o domínio da vontade e poder excepcional de concentração. Eis a explicação de o Mestre haver passado através das paredes e entrado na habitação fechada onde se achavam reunidos dez Apóstolos (Tomé estava ausente); e depois aos onze (Tomé junto). Mas ainda remanescem os sinais da estigmata – os últimos vestígios de influência terrena, que devem ser definitivamente dissolvidos, nos simbólicos quarenta dias (período indeterminado de tempo).
Aí vem a última etapa ou 9ª Iniciação Menor, em que estava João Batista: a Ascensão. Seu mesmo espírito havia animado, em anterior encarnação, a expressiva figura de Elias – o profeta – que subiu aos céus num carro de fogo (Ascensão). João Batista, estava a ponto de passar à primeira Iniciação Maior, como Adepto. Por isso foi dito dele, por Cristo: “Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior” – isto é, dos que ainda têm de nascer do ventre materno, porque ligado às leis da Terra, João Batista era o mais alto Iniciado. Quando o Iniciado passa à primeira Iniciação Maior, adquire o mistério da Alquimia Espiritual. Ele domina todas as leis da matéria, e pode reunir elementos restantes da assimilação dos alimentos e conservá-los, para ir formando outro corpo, além do que ocupa. Quando ele termina sua missão num certo país e deve começar outra num país diferente, deixa o corpo antigo e toma o novo, para surgir como uma nova pessoa. Então se diz que “fulano morreu”. Esses elevados Iniciados trabalham no mundo, em missão de equilíbrio, para assegurar os rumos do destino evolutivo humano, dentro de certos limites de respeito ao livre arbítrio.
Todos teremos de passar, a nosso modo, por esses estágios.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Aspecto Cósmico da Páscoa
As quatro estações do ano determinam, desde os mais remotos tempos, os mistérios da relação do ser humano com a Terra (Planeta-mãe) e de ambos com o Sol. Constituem o importante Mistério da Nona Iniciação Menor.
Ademais das influências zodiacais, que levaram os Guias-Iniciados a estabelecer as formas religiosas (religião do Touro, do Cordeiro (judaica), dos Peixes (cristã), etc.), houve, desde recuados tempos, uma tradição esotérica ligada aos equinócios e solstícios. Encontramos essa tradição, velada por mitos, nas várias civilizações que nos precederam.
A passagem pelo Mar Vermelho e a travessia de quarenta anos pelo deserto, na história dos hebreus, relatada na Bíblia, é um simbolismo da evolução através do Signo de Áries, cuja cor é o vermelho e cujo Signo é o Cordeiro, tomado por adoração em lugar do bezerro.
Quando Moisés negociava com o Faraó a libertação de seu povo, este lhe resistiu, e o Senhor fez cair sobre o Egito as famosas pragas, que culminaram na matança dos primogênitos. Para preservar seus lares, os israelitas sacrificaram o Cordeiro e pintaram com sangue as ombreiras das portas. Por essas casas a morte não passou. É um símbolo de que, na transição evolutiva de uma para outra Era, aqueles que resistem acabam se cristalizando e ficando para trás. O cordeiro é o emblema da Dispensação que deveria suceder à do boi Ápis. Na pressa de deixar suas casas, quando o Faraó finalmente cedeu, os israelitas esqueceram o fermento em casa e tiveram que fazer seus pães sem fermento. Daí se originam os pães ázimos, lembrança da libertação do Egito.
Como símbolos, o sangue derramado do cordeiro representa a expiação; e os pães sem fermento, a pureza decorrente dela.
De toda a maneira, antes do êxodo, os solstícios e equinócios já haviam influído na determinação dos principais festejos, em todos os povos. A libertação do Egito ocorreu na Páscoa e a ela está associada, pela razão esotérica já exposta, a transição evolutiva para a Era de Áries. Mais tarde, o sacrifício do Cristo ocorreu na mesma Era, para designar a transição para a Era de Peixes.
Herdeira dos mistérios astrológicos ocultos, a tradição cristã-esotérica nos conserva o Cristo Solar, com seus doze Apóstolos, substituindo a epopeia de Sansão e a história de Jacó e seus filhos.
Desde Seu sacrifício, pelo qual o Cristo se crucificou à cruz da Terra, para redimi-la dos registros negativos dos pecados dos seres humanos. Ele desenvolve uma sublime e penosa missão, em ciclos correspondentes aos equinócios e solstícios.
No cristianismo popular este mistério remanesce como tradição, nos festivais cristãos (Natal, Páscoa, Festas juninas de São João, São Paulo e São Pedro e Imaculada Conceição).
Hoje a Igreja católica volta a considerar, com razão, a Páscoa, como o mais importante acontecimento do ano cristão. Nela o Senhor demonstrou o triunfo do Espírito imortal, levantando-se do túmulo, ressurgindo dos mortos e dando o modelo do que todos nós, ao devido tempo, devemos individualmente alcançar. O fato é relacionado com o dia de Pentecostes, o batismo de fogo prometido, que o Messias interno há de nos dar, para abertura interna e comunhão com todos os seres, além de todas as línguas, limitações e preconceitos.
Os cristãos-esoteristas (Estudantes Rosacruzes) comemoram a Páscoa na entrada no Equinócio de Março, com um ritual adequado que nos relembra a missão do Salvador, e a tarefa individual de libertação, de si e da Terra, em colaboração com o Cristo. Adverte, mais, que Ele, na Páscoa, uma vez mais deixa a cruz do Planeta, onde voluntariamente se cravou, desde o último Natal, a fim de insuflar um renovado impulso de Sua Luz e Amor, que eleve vibracionalmente a Terra em seus nove estratos, além de suscitar o altruísmo de todos os homens e mulheres, na medida da receptividade deles.
Recomendamos aos estudantes estudar e meditar profundamente sobre os mistérios dos Solstícios e Equinócios, em ligação com a missão do Cristo. Por eles, poderão compreender como, desde o dilúvio que abriu os portais do Arco-Íris para a Era Ariana, as estações do ano constituíram os ciclos alternados, em graus maiores e menores, de todos os fatos evolutivos, começando com a festa das primícias (os primeiros frutos), início do ano solar.
Ao conscientizarmos, ainda que em pequeno grau, os ciclos da vida do Cristo, assumimos um dever inegável, prazeroso e caloroso, de colaborar no plano de Salvação do Mundo, começando conosco mesmos – que é de nosso exclusivo interesse, – pois não temos feito tudo o que poderíamos fazer em prol de nossa libertação.
Ao começarmos uma vida nova, o ano também se torna novo para nós – um convite desdobrado em quatro etapas de realização trimestral, nas quais somos desafiados a tomar a nossa cruz, a assumir conscientemente nosso destino e caminhar para a libertação, seguindo a meta do Cristo. Então estaremos atuando em ritmo e harmonia com o Universo. Deixaremos de ser um peso a mais para o Cristo. Ao contrário, converter-nos-emos em Simão Cireneu – aquele que ajudou a carregar a cruz do Senhor. Com isso estaremos abreviando o tempo para nosso interno Pentecostes, cuja abertura e despertar nos traçarão o umbral para uma vida mais ampla. Será o cumprimento: “rasgou-se o véu do Templo de alto abaixo”. Será o romper do ovo da páscoa individual, para que o “novo nascido”, havendo cumprido o período de amadurecimento interno (3×7); havendo realizado o trabalho de dentro para fora, pode nascer como pintinho. Mas será ainda um pintinho, convidado a tornar-se um galo – símbolo da vigilância, do ser realizado – pelas Iniciações que o esperam.
O pintinho não pode abreviar sua gestação de 21 dias, porque está inteiramente sujeito a um trabalho externo. Mas o ser humano pode abreviar seu amadurecimento interno, porque atua de dentro – quando assume
conscientemente a tarefa evolutiva. O tempo de romper o ovo depende de cada um.
Você, agora, está dentro do ovo de seus corpos. Esperamos que aproveite a oportunidade que está recebendo e se esforce devidamente, para abreviar o tempo de maturação e possa romper a casca de seu ovo, nascendo para uma vida nova.
Cada iniciado e mesmo cada estudante sincero que trabalha conscientemente na Missão do Cristo, é um carvão a mais, para aumentar em progressão geométrica, o fogo e a Luz redentora – até que um número suficiente de seres humanos possa manter a Terra na própria levitação.
Será, então, a última Páscoa do Cristo; a consumação dos séculos (tempos profanos); e o definitivo
“CONSUMATUM EST”!
(E ao subir, Ele a todos nos elevará também)
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Este livro foi compilado a partir dos escritos de um Iniciado da Ordem Rosacruz. É composto por uma série de aulas ministradas por Max Heindel aos seus Estudantes Rosacruzes, juntamente com várias apresentações públicas.
Alguns assuntos tratados nesse livro:
O Método Científico de Desenvolvimento Espiritual
A Morte da Alma
O Nosso Trabalho no Mundo
A Luz Mística na Primeira Guerra Mundial
O Segredo do Sucesso
O Sinal do Mestre
A Religião e a Cura verdadeira
Há 4 meios de você acessar esse Livro:
1. Em formato PDF (para download):
Ensinamentos de um Iniciado – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – em PDF
2. Em forma audiobook ou audiolivro:
Ensinamentos de um Iniciado – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – audiobook
3. Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/TutoriaisEstudosFraternidadeRosacruzCampinas/featured
aqui:
Ensinamentos de um Iniciado – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz – videbook
4. Para estudar no próprio site:
ENSINAMENTOS DE UM INICIADO
Por
Max Heindel
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
2ª Edição em Inglês, Teachings of an Initiate, editada por The Rosicrucian Fellowship
2ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
ÍNDICE
CAPÍTULO I – OS DIAS DE NOÉ E DE CRISTO.. 7
CAPÍTULO II – O SINAL DO MESTRE.. 15
CAPÍTULO III – O QUE É TRABALHO ESPIRITUAL?. 22
CAPÍTULO IV – O CAMINHO DA SABEDORIA.. 31
CAPÍTULO V – O SEGREDO DO SUCESSO.. 37
CAPÍTULO VI – A MORTE DA ALMA.. 43
CAPÍTULO VII – O NOVO SENTIDO DA NOVA ERA.. 49
CAPÍTULO VIII – O POVO ESCOLHIDO DE DEUS. 55
CAPÍTULO XII – LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL – (1914-1918) – Parte IV – O Evangelho do Regozijo. 78
CAPÍTULO XIII – O SIGNIFICADO ESOTÉRICO DA PÁSCOA E O PONTO DE PARTIDA da Filosofia Rosacruz.. 86
CAPÍTULO XIV – OS ENSINAMENTOS DA PÁSCOA.. 94
CAPÍTULO XVII – OS CÉUS PROCLAMAM A GLÓRIA DE DEUS 113
CAPÍTULO XVIII – RELIGIÃO E CURA.. 118
CAPÍTULO XIX – DISCURSO NA COLOCAÇÃO DA PEDRA FUNDAMENTAL EM MOUNT ECCLESIA.. 124
CAPÍTULO XX – NOSSO TRABALHO NO MUNDO – Parte I – (Publicado em maio, 1912) 131
CAPÍTULO XXI – NOSSO TRABALHO NO MUNDO – Parte II 137
CAPÍTULO XXII – NOSSO TRABALHO NO MUNDO – Parte III 144
CAPÍTULO XXIII – CONDENAÇÃO ETERNA E SALVAÇÃO.. 150
CAPÍTULO XXIV – O ARCO NAS NUVENS. 157
CAPÍTULO XXV – A RESPONSABILIDADE DO CONHECIMENTO 163
CAPÍTULO XXVI – A JORNADA NO DESERTO.. 172
Este volume apresenta um compêndio que engloba mensagens transmitidas por Max Heindel, o Místico do Ocidente, a seus alunos por meio de aulas ministradas mensalmente. Estes ensinamentos, sempre reeditados desde que esse grande espírito foi chamado para uma obra mais elevada nos mundos superiores em 6 de janeiro de 1919, também podem ser encontrados nos seguintes livros:
“Maçonaria e Catolicismo”,
“A Teia do Destino”,
“A Interpretação Mística do Natal”,
“Os Mistérios das Grandes Óperas”,
“Coletâneas de um Místico” e
“Cartas aos Estudantes”.
Estas obras abrangem suas últimas investigações como Clarividente.
Os leitores têm recebido proveitosas mensagens e eficaz estímulo espiritual através das inspiradoras palavras contidas nessas obras. Com o correr do tempo, também acreditamos no crescente entendimento do verdadeiro valor das obras de Max Heindel, atendendo as necessidades dos Estudantes esclarecidos e avançados e auxiliando quem busca a verdade através do misticismo e do ocultismo. Suas palavras atingem o íntimo do coração dos leitores. Muitos dos que leram seu primeiro trabalho, “Conceito Rosacruz do Cosmos”, ficaram impressionados.
Max Heindel, o mensageiro autorizado da genuína Fraternidade Rosacruz, além de transmitir também viveu seus ensinamentos. Somente quem sofreu como ele, durante toda sua vida, consegue percutir as cordas do coração humano. Somente quem sentiu as dores do parto do nascimento espiritual, e foi admitido nos reinos da alma, tem o poder de emocionar seus leitores. As obras que Max Heindel legou à humanidade viverão e frutificarão, pois resultam desse nascimento espiritual.
Possam os leitores sentir o palpitar do coração desse homem que, por amor à humanidade, sacrificou sua própria existência física no desejo de transmitir a todos as maravilhosas verdades assimiladas durante o convívio com os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz.
Augusta Foss Heindel
Nicodemos ao ouvir Cristo falar-lhe sobre a necessidade do renascimento, perguntou: “Como pode ser isso? “[1]. Com nossas Mentes inquiridoras, nós também ansiamos por mais luz sobre diversos ensinamentos que apontam para o nosso futuro. Como seria útil se pudéssemos perceber esses ensinamentos manifestados e enquadrados nos eventos físicos do quotidiano. Então, teríamos uma base mais firme para sustentar nossa fé e aceitar coisas ainda desconhecidas.
O método de trabalho do autor tem sido o de correlacionar os fatos espirituais com os fatos físicos, de modo a apelar, primeiro, para a razão e, só depois, estabelecer a fé. Deste modo tem sido seu privilégio iluminar as almas que buscam esclarecimentos sobre os mistérios da vida.
Recentemente realizou-se uma nova descoberta. Embora tão remota quanto o Leste para o Oeste, parece ter relação com a futura vinda de Cristo. Lança uma luz considerável sobre esse evento, principalmente sobre o nosso encontro com o Senhor que, como diz a Bíblia, será “num piscar de olhos”.
Nossos Estudantes sabem muito bem como é desagradável para o autor relatar experiências pessoais, não obstante, algumas vezes, como no caso presente, parece necessário e pedimos escusas por usar um pronome pessoal ao relatar o incidente.
Numa noite, há algum tempo, ao transportar-me para um lugar numa terra distante onde devia desempenhar uma missão, ouvi um grito. Embora a voz humana só possa ser ouvida através do ar, há sons que são perceptíveis no reino espiritual a distâncias que excedem as percorridas pelas mensagens do telégrafo sem fio. Contudo, o grito vinha de perto e fui ao local no mesmo instante, mas não tão depressa para poder oferecer o socorro necessário. Vi um homem deslizando por um aterro inclinado, sem vegetação, com mais ou menos quatro metros de largura e, como ficou provado em exame subsequente, sem nenhuma fresta onde pudesse agarrar com os dedos.
Para salvá-lo, seria necessário materializar braços e ombros, mas não havia tempo. Num instante, ele já havia deslizado pelo desfiladeiro e estava caindo em um precipício, provavelmente com algumas centenas de metros; embora não possa ter certeza, pois não sei fazer estimativas de distâncias.
Impelido por um natural espírito de ajuda ao próximo, aproximei-me e então observei o fenômeno inspirador do nosso tema. A saber, quando o corpo atingiu uma velocidade considerável, os Éteres do Corpo Vital começaram a fluir para fora do Corpo Físico. Quando o corpo se chocou contra as pedras lá embaixo, tornando-se uma massa esfacelada, havia pouco ou nenhum Éter interpenetrando-o. Contudo, gradativamente, os Éteres agruparam-se, tomaram forma, e pairaram com os outros veículos mais sutis sobre o corpo despedaçado. Mas, o homem estava em estado letárgico. Era incapaz de sentir ou compreender as mudanças em suas condições.
Quando percebi que ele estava além de qualquer ajuda, retirei-me. Mas, pensando no caso, comecei a sentir que algo de extraordinário havia acontecido. Era meu dever procurar saber se os Éteres fluíam da mesma maneira em semelhantes casos de queda. Se assim fosse, por quê.
Tal pesquisa teria sido mais difícil em épocas remotas. Mas, com o atual advento das máquinas voadoras, principalmente nestes infelizes tempos de guerra, muitas vítimas podem ser investigadas. Assim, ficou mais fácil constatar que, quando o corpo atinge certa velocidade durante a queda, os Éteres superiores[2] retiram-se do Corpo Denso e o indivíduo torna-se insensível durante o percurso. Quando o corpo atinge o solo fica destroçado, mas a pessoa pode retomar a consciência no momento no qual o Éter se reorganiza. Donde terá início o sofrimento conforme as sequelas no Corpo Físico.
Se a queda continuar após a saída dos Éteres superiores, o aumento da velocidade também desaloja os Éteres inferiores (Químico e de Vida). Somente o Cordão Prateado permanece unido ao corpo. Seu rompimento ocorre no momento do impacto com o solo e o Átomo-semente transfere-se para o ponto de ruptura, onde fica afixado da maneira usual.
Analisando o processo, concluímos que a pressão normal do ar retém o Corpo Vital dentro do Corpo Denso. Quando nos movemos com uma velocidade anormal, a pressão é removida de algumas partes do corpo e um vácuo parcial é formado e, por esse motivo, os Éteres retiram-se do corpo e fluem para dentro desse vácuo. Os dois Éteres superiores, unidos mais frouxamente, são os primeiros a sair e deixam a pessoa inconsciente. Pouco antes, num rápido instante, esses Éteres desenrolam o panorama da sua vida. Depois, se a queda continuar a aumentar a pressão do ar na região frontal do corpo e a produzir vácuo atrás, os Éteres inferiores, mais firmemente aderidos, também são expelidos e o corpo estará morto antes de chegar ao solo.
Examinando uma série de pessoas em estado normal de saúde, verificou-se que cada um dos átomos prismáticos componentes dos Éteres inferiores está inserido no interior de cada átomo do Corpo Físico. Eles irradiam de si mesmos as linhas de força que animam os átomos físicos, provendo todo o corpo com vida. A direção de todas estas unidades de força está para além da periferia do corpo, onde constituem o que se convencionou chamar “Fluido Ódico”, também designado por outros nomes.
Quando a pressão do ar exterior fica reduzida em grandes altitudes, manifesta-se uma tendência para o nervosismo, porque a força etérica interna tende a retirar-se desordenadamente. Se o ser humano não fosse capaz de impedir a entrada da emanação de energia solar, em parte por grande força de vontade para sobrepujar a dificuldade, ninguém poderia viver em tais lugares.
Já conhecemos a expressão “choque por explosão”. Sabíamos de vários casos de indivíduos encontrados já falecidos nos campos de batalha, mesmo sem apresentar qualquer sinal de ferimento. De fato, deparamos e conversamos com pessoas que desencarnaram dessa maneira. Elas estavam perplexas. Não podiam compreender o motivo do abandono do Corpo Físico. Relatavam total ausência da sensação de medo. Foram unânimes em confirmar que, de repente, ficaram inconscientes e logo em seguida perceberam-se na presente condição. Não exibiam sequer um arranhão em seus corpos, ao contrário de seus companheiros.
Contudo mantivemos uma ideia preconcebida. Em tais situações, cercadas de mistério sobre a causa mortis, pelo menos em alguns instantes o medo deveria assolar as vítimas. Prosseguimos as investigações para ter um quadro mais completo. Conjecturamos sobre as peculiaridades dessas mortes e supomos que algo análogo deveria acontecer durante uma queda. A suposição foi logo demonstrada.
Quando um grande projétil cruza o ar, cria um vácuo atrás de si, em função da enorme velocidade desenvolvida durante o movimento. Se alguém permanecer na região de vácuo durante a trajetória do projétil, sofrerá semelhantes consequências, na medida determinada por sua própria natureza e por sua proximidade ao centro de sucção. Na realidade, nesse evento o sujeito não está em movimento, como na queda, mas fica estático enquanto um corpo em movimento remove a pressão do ar e permite a saída de seus Éteres.
Se a quantidade de Éter deslocado for relativamente pequena e composta apenas dos Éteres Luminoso e Refletor (responsáveis pelos sentidos de percepção e da memória), verifica-se apenas uma perda temporária da memória e uma repentina incapacidade de sentir as coisas ou de se mover. Tal incapacidade desaparece quando os Éteres extraídos reassumem seus locais de alojamento no interior do corpo denso. É uma tarefa muito mais difícil quando comparada com a morte do Corpo Denso, pois na morte os Éteres reorganizam-se já livres da matéria física.
Se as pessoas assim atingidas soubessem como efetuar os exercícios que separam os Éteres superiores e os inferiores, permaneceriam fora do corpo dotadas de plena consciência e talvez prontas para o primeiro voo de sua alma, se tivessem coragem para decolar. Não importa como, mas podemos dizer com segurança que, ao retornarem ao Corpo Denso, sentiriam pouco ou nenhum incômodo. Além disso, se o vácuo fosse suficientemente intenso para desconectar todos os quatro Éteres e causar a morte, provavelmente não haveria um período de inconsciência como acontece com uma pessoa comum.
Como pudemos constatar, quem afirmava ter passado por instantes de inconsciência estava equivocado. Seria necessário um tempo variável de um até vários dias, nos casos investigados, para a reorganização completa do Corpo Vital e o restabelecimento pleno da consciência.
Vejamos agora a relação existente entre os fatos descritos e recentemente descobertos com o advento de Cristo e nosso encontro com Ele nos “ares”. Quando vivíamos na antiga Atlântida, nas bacias da Terra, a pressão da névoa carregada de umidade era muito intensa. Isso enrijeceu o Corpo Denso e as vibrações dos veículos mais sutis nele interpenetrados resultaram consideravelmente desaceleradas.
Assim sucedeu com o Corpo Vital, formado de Éter, matéria natural do Mundo Físico e, portanto, também sujeita a algumas leis físicas. A força viva da irradiação solar não penetrava na névoa densa com tanta abundância como hoje, com atmosfera bem translúcida. Acrescente-se também outro fato relevante, os Corpos Vitais dessa época eram quase inteiramente compostos dos dois Éteres inferiores. Isso favorecia a assimilação e a reprodução. Fica fácil compreender como o progresso era lentíssimo nessa época. A humanidade levava uma existência predominantemente vegetativa. Os maiores esforços direcionavam-se na obtenção de alimentos e reprodução da espécie.
Se os Corpos Físicos dessa época fossem transferidos para as atuais condições atmosféricas, a falta de pressão exterior resultaria em deslocamento do Corpo Vital. Todos sofreriam morte instantânea.
Porém, gradativamente o Corpo Físico tornou-se menos denso e a quantidade dos dois Éteres superiores aumentou. Assim, o ser humano tornou-se apto a viver numa atmosfera límpida, sob uma pressão menos intensa. Estamos desfrutando desse clima mais rarefeito desde o acontecimento histórico conhecido como “O Dilúvio”, quando a névoa se condensou e as águas inundaram a Terra.
Desde essa época, também desenvolvemos a capacidade de especializar maior quantidade de força vital proveniente do Sol. Os dois Éteres superiores, agora em maior proporção no nosso Corpo Vital, permitem-nos expressar os mais elevados atributos humanos e colaborar para o desenvolvimento desta época.
As vibrações do Corpo Vital, sob a presente condição atmosférica, capacitaram o espírito a construir a moderna civilização, repleta de conquistas industriais e artísticas, onde vigoram normas de conduta morais e espirituais. A superioridade tanto moral quanto industrial está tão interligada e interdependente, como o desenvolvimento artístico está associado ao crescimento espiritual.
As ocupações produtivas têm a finalidade de desenvolver o lado moral da natureza humana enquanto a arte desabrocha a natureza espiritual. Assim, estamos sendo preparados para o próximo passo de nosso desenvolvimento.
Recordemos que as qualificações necessárias para nos emanciparmos das condições predominantes na Atlântida eram parcialmente fisiológicas. Precisávamos desenvolver pulmões com a finalidade de respirar o ar puro no qual agora estamos imersos. Nessas condições o Corpo Vital pode vibrar com mais intensidade em comparação com a pesada umidade da atmosfera Atlântida. Pensando nisso, podemos perfeitamente perceber que o futuro avanço consiste em libertar inteiramente o Corpo Vital dos entraves do Corpo Denso e deixá-lo vibrar livremente em meio ao ar puro.
Foi isto o que aconteceu na sublime altitude, esotericamente conhecida como o “Monte da Transfiguração”. Seres humanos altamente desenvolvidos de várias épocas, Moisés, Elias e Jesus (ou antes, o Corpo de Jesus que acolheu o espírito de Cristo) apareceram em vestes luminosas ou em Corpo-Alma plenamente livre. Vestimenta que será comum aos habitantes da Nova Galileia, o Reino de Cristo.
O Corpo Denso tornar-se-á obstáculo ao progresso espiritual nessa nova etapa: “A carne e sangue não podem herdar esse reino.”[3].
Assim, quando Cristo reaparecer, é necessário manter-se em um estado de prontidão. O Corpo-Alma será o veículo devidamente emancipado das condições materiais. Assim, estaremos prontos para abandonar o Corpo Denso e sermos “arrebatados para encontrá-Lo nos ares”.
O resultado da investigação, que é a base do presente artigo, pode fornecer um vislumbre do método de transição quando comparado com o ensinamento bíblico. Diz-se que o Senhor retornará acompanhado de um poderoso som, como a voz de um Arcanjo. Haverá trovões e toques de trombetas acompanhando o evento.
O som é produto de uma perturbação atmosférica. A passagem de um projétil construído pelo ser humano pode arrebatar os Corpos Vitais de soldados de seus Corpos Densos. Portanto, não há necessidade de muitos argumentos para provar que o brado de uma voz sobre-humana pode conseguir o mesmo resultado com maior eficácia e “num piscar de olhos”.
“Quando acontecerão essas coisas? “[4], perguntaram os Discípulos.
Disseram-lhes que como sucedeu nos dias de Noé (quando estava para começar a Época Ária), assim deveria ser no Dia de Cristo. Eles comiam, bebiam, casavam-se e eram dados em casamento. Porém, alguns, que talvez não se diferenciassem tanto dos outros, haviam desenvolvido os tão importantes pulmões e, quando a atmosfera ficou clara, foram capazes de respirar o ar puro, enquanto os outros, que só possuíam as fendas das guelras, pereceram.
No Dia de Cristo, quando Sua voz emitir o Chamado, aqueles que desenvolveram o Corpo-Alma estarão aptos para elevar-se acima dos obsoletos Corpos Densos, enquanto outros serão como os soldados que morreram do “choque por explosão” nos campos de batalha.
Oxalá estejamos adequadamente preparados para esse dia. Assim poderemos seguir os Seus passos.
CAPÍTULO II – O SINAL DO MESTRE
Na época atual, há muitos que, julgando pelos sinais dos tempos, acreditam que Cristo está na iminência de retornar e esperam Sua chegada com alegre expectativa. Embora, na opinião do autor, as “coisas que devem antes acontecer” ainda não ocorreram em muitas particularidades importantes. Não devemos esquecer Sua advertência:
“Assim como era no tempo de Noé, assim será no dia do Filho do Homem.”[5].
Então, eles comiam, bebiam, divertiam-se, casavam-se e eram dados em casamento até serem tragados pelo Dilúvio. Apenas um pequeno número se salvou. Portanto, quando oramos pela Sua vinda, também devemos estar atentos e vigiar. Caso contrário, as preces podem ser atendidas antes de estarmos preparados. O Mestre afirmou:
“O dia do Senhor virá como um ladrão na noite.”[6].
Mas ainda existe outro perigo, um enorme perigo por Ele apontado:
“Haverá falsos Cristos.”.
“Eles enganariam até mesmo os próprios escolhidos, se isso fosse possível.”[7].
Assim, fiquemos prevenidos quando exclamarem: “Cristo está aqui na cidade ou encontra-se lá no deserto”. Não devemos ir, pois certamente seremos ludibriados.
Mas, por outro lado, se não procurarmos, como O conheceremos? Não poderíamos correr o risco de rejeitar Cristo recusando-nos a ouvir quem julga tê-Lo visto? Quando examinamos as exortações da Bíblia a esse respeito, ficamos confusos. A questão não fica elucidada e a pergunta permanece: “Como conheceremos Cristo quando Ele voltar?”. Já publicamos um panfleto sobre o assunto. Entretanto, acreditamos que será muito bem-vindo, para todos, um esclarecimento adicional.
Cristo disse que alguns dos falsos Cristos operariam sinais e maravilhas. Quando instado pelos escribas e fariseus a provar Sua divindade por meio de prodígios, Ele sempre Se recusou. Porque sabia que esses fenômenos apenas excitariam as sensações de maravilhamento e aguçariam a ânsia por muito mais.
Quem presencia essas manifestações é, às vezes, sincero em seus esforços para também convencer e entusiasmar a outros e, em geral, logra êxito, pois, quem ouve seus calorosos comentários responde prontamente: “Você afirma ter visto alguém fazer maravilhas e por essa razão agora acredita. Muito bem! Nós também queremos ver e acreditar”.
Mas, mesmo supondo que um Mestre acedesse a provar Sua identidade, quem na multidão estaria qualificado para julgar a validade da prova? Ninguém! Quem reconhece o sinal do Mestre ao vê-lo? O sinal do Mestre não é um fenômeno que possa ser repudiado ou explicado pelos sofistas, nem é algo que o Mestre possa mostrar ou esconder a Seu bel-prazer. É obrigado a carregá-lo sempre, assim como nós carregamos nossos membros. Seria absolutamente impossível esconder o sinal do Mestre aos qualificados para vê-lo, reconhecê-lo e julgá-lo, como seria impossível para nós esconder nossos membros para alguém que tenha visão física. Por outro lado, como o sinal do Mestre é espiritual, deve ser percebido espiritualmente. Portanto, é impossível mostrar o sinal do Mestre aos que não possuem visão espiritual, como é impossível mostrar uma forma material a alguém fisicamente cego.
Assim lemos:
“Uma geração corrompida e adúltera procura o sinal, mas, o sinal não lhe será dado.”[8].
Mais adiante, no mesmo capítulo (Mt 16), vemos Cristo perguntando a Seus Discípulos:
“Que dizem os homens que Eu, o Filho do Homem, sou?”
A resposta revela que embora os judeus vissem n’Ele um ente superior, fosse Moisés, Elias ou um dos profetas, eram incapazes de reconhecer Sua verdadeira identidade. Eles não podiam perceber o sinal do Mestre, do contrário não teriam necessidade de outro testemunho.
Então, Cristo voltou-se para Seus Discípulos e perguntou-lhes:
“E vós, que dizeis que Eu sou?”[9]
E de Pedro veio a resposta cheia de convicção, rápida e incisiva:
“Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo.”.
Ele havia visto o sinal do Mestre e sabia do que falava, independentemente de prodígios ou circunstâncias exteriores, como o próprio Cristo enfatizou ao dizer:
“Bem-aventurado és tu, Simão, Filho de Jonas, pois não foram a carne e o sangue que te revelaram, mas meu Pai que está no Céu.”.
Em outras palavras, a percepção dessa grande verdade era consequência de uma qualificação interior, espiritual. Podemos compreender a natureza dessa qualificação pelas palavras de Cristo que se seguiram:
“Pois também te digo que és Pedro (Petros = “Rochedo”) e sobre esta rocha (petra) edificarei a minha Igreja.”.
Cristo disse ao referir-se à multidão de judeus materialistas:
“Uma geração corrompida e adúltera tenta encontrar o sinal, mas o sinal não lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas.”[10].
Também entre os Cristãos materialistas de nossos tempos há muita especulação nessa direção. Alguns afirmaram que realmente uma baleia havia engolido o profeta e, mais tarde, o depositou na praia. As igrejas dividem-se em relação a este tema, assim como em relação a muitos outros. Mas, ao consultarmos registros ocultos, encontramos uma interpretação que satisfaz o coração sem violentar a inteligência.
Essa grande alegoria, como muitos outros mitos, está retratada nas cenas do firmamento, pois ela foi representada no céu antes de ser encenada na Terra. Podemos recapitular no céu estrelado “Jonas, a Pomba” e “Cetus, a Baleia”. Mas não vamos nos ocupar tanto com a parte celestial, e sim com seu reflexo no plano terrestre.
“Jonas” significa pomba, o bem conhecido símbolo do Espírito Santo. Durante os três “dias” que abrangem as revoluções de Saturno, Solar e Lunar do Período Terrestre, e as “noites” entre eles, o Espírito Santo e todas as Hierarquias Criadoras trabalharam no Grande Abismo, aperfeiçoando a natureza interna da Terra e da humanidade, removendo o peso morto da Lua. Então, a Terra emergiu de seu estágio aquático de desenvolvimento na metade da Época Atlante, e assim “Jonas, a Pomba Espiritual”, protagonizou a salvação da maior parte da humanidade.
Nem a Terra nem seus habitantes eram capazes de manter seu equilíbrio no espaço sideral. Portanto, o Cristo Cósmico principiou Seu trabalho com e em nós. Finalmente desceu como uma pomba durante o Batismo (não em forma de uma pomba, mas como uma pomba) sobre o homem Jesus. Assim como Jonas, a pomba do Espírito Santo permaneceu três Dias e três Noites no Grande Peixe (a terra submersa na água). Assim, também, no fim da nossa peregrinação durante a involução, possa outra pomba, o Cristo, entrar no coração da Terra para o advento dos três revolucionários Dias e Noites e patrocinar o impulso necessário para nossa jornada evolutiva. Ele deve ajudar-nos a eterizar a Terra[11] na preparação para o Período de Júpiter.
Dessa forma, Jesus tornou-se, no ritual do Batismo, “um Filho da Pomba”, e foi reconhecido por outro semelhante, “Simão Bar-Jonas” (Simão, Filho da Pomba). Com este reconhecimento pelo sinal de uma pomba, o Mestre proclama Simão “uma rocha”, a Pedra Fundamental, e lhe confere as “Chaves do Céu”. Estas não são palavras vãs, nem promessas a esmo. São fases envolvendo o desenvolvimento da alma pelas quais cada um deve ser submetido, se ainda não passou por elas.
O que é então o “sinal de Jonas” que Cristo ostentou em Si mesmo, visível para todos que pudessem ver, a não ser a “Casa do Céu”, com a qual São Paulo ansiava ser envolvido: a gloriosa casa de tesouros, dentro da qual todos os atos nobres de muitas vidas brilham e resplandecem como pérolas preciosas?
Todos nós temos uma pequena “Casa do Céu”. Jesus, Santo e Puro acima de tudo, provavelmente configurava uma visão esplêndida. Imagine quão indescritivelmente resplandecente deve ter sido o veículo no qual Cristo desceu. Agora podemos ter uma ideia da “cegueira” dos que pediam “um sinal”.
Mesmo entre Seus próprios Discípulos, Ele deparou-se com a mesma catarata espiritual. “Mostra-nos o Pai”, disse Filipe, esquecido do conhecimento místico da Trindade na Unidade, que deveria ter sido óbvio para ele. Simão, contudo, percebeu rapidamente, porque ele, por uma alquimia espiritual, tinha preparado esta pedra espiritual ou “pedra” do filósofo, que lhe deu o direito de receber as “Chaves do Reino”. É a Iniciação que transforma em poderes dinâmicos os poderes latentes do candidato que atingiu o requerido grau de evolução através do serviço.
Chegamos à conclusão de que estas “pedras” que edificam o “templo feito sem ruído de martelo” perfazem um processo preparatório para ascender na evolução. Antes era “Petros”, o diamante bruto, por assim dizer, encontrado na natureza. Recordemos a Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, Capítulo 10, Versículo 4:
“E todos beberam da mesma bebida espiritual; pois beberam da Rocha espiritual (Petros) que os acompanhava, e essa Rocha era Cristo.”.
Quando lida com o coração, tais passagens são reveladoras. Gradativamente, ficamos impregnados com a água da vida jorrando da grande Rocha. Também ficamos polidos como as “lithoi zontes” (pedra vivente) destinadas a se juntarem àquela Grande Pedra que o Construtor rejeitou. Quando estivermos completamente lapidados, receberemos finalmente no Reino o diadema, a mais preciosa de todas as joias, o “psiphon leuken” (a pedra branca) com seu Novo Nome.
Há três fases na evolução da “Pedra da Sabedoria”:
Há muita coisa escondida na natureza e na composição da pedra em cada uma das fases. Mas não podem ser descritas, devem ser interpretadas nas entrelinhas.
Se almejemos construir o Templo Vivo com Cristo no coração do Novo Reino, devemos capacitar-nos para reconhecer o Mestre e o Sinal do Mestre.
CAPÍTULO III – O QUE É TRABALHO ESPIRITUAL?
Sobre este tema apresentaremos trechos de um maravilhoso poema de Longfellow[12], “A Bela Lenda” (The Beautiful Legend):
No chão de pedra ajoelhado,
O monge orava em profunda contrição
Por seus pecados de indecisão.
Suplicava por maior renúncia
Na tentação e na provação;
O mostrador meio-dia já marcava
E o monge em solidão ainda orava”.
“De repente, como num relâmpago,
Algo incomum resplandeceu, afora e no âmago,
E nessa estreita cela de pedra fez abrigo;
Então, o monge teve com o Poder do Clarão
De Nosso Senhor, a Abençoada Visão.
Como um manto, O envolveu,
Como uma veste, O abrigou”.
Contudo, este não era o Salvador açoitado e penitenciado, mas o Cristo que alimenta os famintos e cura os enfermos.
“A alma em preces acalentada,
Cada mão sobre o peito cruzada,
Reverente, adorando, assombrado,
O monge, perdido em êxtase, caiu ajoelhado”.
“Depois, em meio à sua exaltação,
Retumbante o sino do convento em exortação
De seu campanário tangeu, ressoou,
Por pátios e corredores reverberou
Com persistência badalando,
Como nunca antes ousou”.
Esse era o chamado para seu dever cumprir. Como esmoler da Irmandade sua tarefa era alimentar os pobres, tal como Cristo ensinou e exemplificou.
“Profunda angústia e hesitação
Misturavam-se à sua adoração;
Deveria ir, ou deveria ficar?
Poderia os pobres deixar
Famintos no portão a esperar,
Até a Visão se dissipar?
Poderia ele seu brilhante hóspede desprezar?
Seu visitante celestial desconsiderar
Por um grupo de míseros esfarrapados,
Mendicantes no portão do convento sediados?
Será que a Visão esperaria?
Será que a Visão retornaria?
Então, dentro do seu peito uma voz
Audível e clara sussurrou,
E ele, nitidamente escutou:
Cumpre teu dever sem inquietação ou protesto,
Deixa aos cuidados do Senhor o resto!”.
“Imediatamente ergueu-se resoluto,
E com um olhar ardente, decidido e arguto
Dirigido à Abençoada Visão,
Lentamente A deixou em sua cela na solidão,
Diligentemente foi cumprir sua missão”.
“No portão, os pobres estavam esperando
Através do gradil de ferro observando,
Com terror no semblante
Que só se vê no suplicante
Que em meio a desgraças e desditas
Ouve o som das trancas lhe cerrando as portas,
Pobres, por todos desprezados,
Com o desdém, familiarizados,
Com o dissabor, acostumados,
Buscam o pão pelo qual muitos sucumbem!
Mas hoje, sem o motivo sequer saberem bem,
Tal como Portal do Paraíso no além
Abre-se a porta do convento!
E como um divino Sacramento
Parecia-lhes o pão e o vinho nesse momento!
Em seu coração o Monge estava orando,
Nos pobres sem teto pensando,
Tudo que sofrem e suportam
E vendo ou ignorando, muitos rejeitam.
Enquanto isso uma voz interna ao Monge dizia:
O que quer que faças
Ao último e menor dos meus,
A Mim o fazes!”.
“A Mim! Mas se tivesse a Visão
Se apresentado em farrapos e errante,
Como um desvalido suplicante,
Ter-me-ia ajoelhado em adoração?
Ou A receberia com escárnio e presunção
E até ter-me-ia afastado com aversão”.
“Assim questionou sua consciência,
Com insinuações e incômoda insistência,
Quando, por fim, com passo apressado
Dirigindo-se à sua cela com ânsia,
Seus olhos contemplaram o convento iluminado
Por uma luz sobrenatural inundado,
Como uma nuvem luminosa se expandindo
E sobre o chão, paredes e tetos subindo”.
“Mas, assombrado parou a extasiar,
Da porta contemplou, no limiar!
A Visão que lá permanecera,
Exatamente como antes A deixara
Na hora em que o sino do convento soou,
De seu campanário clamou, clamou,
E para os pobres alimentar o intimou.
Por longa e solitária hora esperara,
Seu regresso iminente aguardara.
O coração do Monge ardeu
Quando Sua mensagem compreendeu,
Logo que o Vulto Amado deixou esclarecido:
Eu teria desaparecido
Se tu tivesses permanecido!”.
Vou contar-lhes uma história:
Há muitos e muitos anos atrás; na verdade, há tanto tempo, quase um ontem longínquo, a Terra estava em trevas e a humanidade tentava em vão buscar a luz. Alguns a haviam encontrado e decidiram mostrar o seu reflexo aos outros e, por isso, tornaram-se alvo de copiosa solicitação.
Entre estes, encontrava-se um Ser especial, ele visitou a cidade da luz por algum tempo e conseguiu absorver um pouco do seu brilho. Imediatamente homens e mulheres, vindos do país da escuridão, foram procurá-lo. Andaram milhares de quilômetros por terem ouvido falar dessa luz. Quando soube ele desse grande contingente dirigindo-se para a sua casa, começou a trabalhar e preparou-se para oferecer-lhes o melhor possível.
Fincou estacas ao redor de sua casa e ergueu luzes sobre elas para orientar os visitantes na escuridão, evitando quedas e transtornos. Ele e seus familiares proveram os peregrinos na medida da necessidade de cada um. Ele compartilhou os mais profundos ensinamentos com seus hóspedes.
Entretanto, alguns visitantes começaram a murmurar. Esperavam encontrá-lo num pedestal radiante de luz celestial. Imaginavam-se venerando seu santuário. Mas, em vez da luz espiritual tão esperada, apanharam-no quando estendia fios com lâmpadas elétricas para iluminar o local. Nem mesmo vestia um turbante ou um manto. A ordem à qual pertencia, tinha como uma de suas regras fundamentais que seus membros deveriam usar as vestes do país onde vivessem.
Então, os visitantes chegaram à conclusão de que haviam sido enganados, logrados, e que ele não tinha luz alguma. A seguir, eles o apedrejaram e, também, aos seus familiares. Tê-lo-iam aniquilado não fosse uma lei que imperava nessa região. Lei que exigia olho por olho, dente por dente.
Voltaram, então, para o país das trevas, e quando viam uma alma dirigindo-se para a luz, levantavam os braços e aconselhavam: “Não vás para lá; essa não é a luz verdadeira, é como uma lanterna de bruxa que vai levar-te para o mau caminho. Sabemos que não há espiritualidade naquilo”. Muitos acreditaram nessas desalentadoras advertências. Repetia-se nessa ocasião o que foi dito muito tempo antes e está escrito num dos mais antigos livros:
“É esta a condenação: que a luz tenha vindo ao mundo, mas que os indivíduos tenham preferido as trevas à luz.”.
Como era nesse ontem distante, assim é ainda hoje. Os seres humanos correm de cá para lá procurando a luz. Muitas vezes, como Sir Launfal[13], viajam para os confins da Terra desperdiçando toda sua vida à procura de uma coisa que chamam “Espiritualidade”, mas só encontram desapontamentos atrás de desapontamentos.
Sir Launfal passou toda sua vida em vã peregrinação, longe do seu lar, e finalmente encontrou o Santo Graal exatamente às portas do seu próprio castelo. Portanto, qualquer um que honestamente esteja em busca da espiritualidade, com certeza deverá encontrá-la em seu próprio coração. O único perigo consiste em perdê-la, como o grupo de viajantes mencionado, por não saber reconhecê-la. Ninguém poderá reconhecer a verdadeira espiritualidade nos outros, enquanto não a tiver desenvolvido em si mesmo.
Portanto, será interessante tentar estabelecer definitivamente: O que é Espiritualidade?” e, assim, teremos uma indicação pela qual possamos identificar esta marca característica de Cristo. Para consegui-lo, devemos abandonar nossas ideias preconcebidas ou do contrário falharemos. A ideia mais comumente aceita sobre espiritualidade considera a prece e a meditação como seus pilares. Contudo, se analisarmos os exemplos de nosso Salvador, constataremos uma vida dedicada ao trabalho no mundo. Ele não foi um recluso, não Se afastou nem Se esquivou da vida pública. Andava entre as pessoas e proveu-lhes as necessidades diárias. Ele as alimentou e curou quando foi necessário. Pregou e ensinou a boa nova. Portanto, Ele era, no verdadeiro sentido da palavra, um SERVIDOR DA HUMANIDADE.
O monge da “A Bela Lenda”[14] contemplou-O quando estava em oração, enlevado em êxtase espiritual. Mas, nesse exato momento, o sino do convento soou as doze badaladas e era seu dever ir e imitar o Cristo, cumprindo o dever de alimentar os pobres reunidos à porta do convento. Na verdade, a tentação de ficar foi muito intensa, pois queria se banhar nas vibrações celestiais. Mas, então, ouviu a voz:
“Cumpre teu dever sem inquietação ou protesto;
deixa aos cuidados do Senhor o resto.”
Como poderia manter-se em adoração ao Salvador cujo exemplo consistia em alimentar os pobres e curar os enfermos. Que insensatez seria deixar os pobres famintos fora das portas do convento esperando que ele cumprisse seu dever! Na verdade, teria sido incoerente, caso permanecesse em sua cela. Assim, quando retornou de sua missão, a Visão lhe disse:
“Se você tivesse ficado, eu teria ido embora.”
Tal autoindulgência teria sido inteiramente contrária ao propósito de uma vida consagrada ao serviço. Caso não cumprisse fielmente os pequenos encargos, próprios da vida terrena, como esperar que fosse fiel na grande obra espiritual? Naturalmente, se não fosse capaz de resistir à prova, não receberia maiores poderes.
Há pessoas que buscam poderes espirituais migrando de um centro de ocultismo para outro. Algumas entram para conventos ou outros lugares de reclusão, na esperança de desenvolver sua natureza espiritual, fugindo do apelo e da fascinação do mundo. Aquecem-se ao sol da oração e da meditação, desde o amanhecer até o anoitecer, enquanto o mundo geme em agonia. Depois se espantam por não progredirem. Não compreendem por que não avançam no caminho de sua aspiração. Preces sinceras e meditação são necessárias, absolutamente essenciais para a elevação da alma. No entanto, estamos destinados a fracassar se, para a elevação da alma, dependermos de orações que não passam de meras palavras. Para obter resultados devemos viver de tal maneira que toda nossa vida seja uma aspiração. Como disse Ralph Emerson[15]:
“Embora teus joelhos nunca se dobrem,
De hora em hora ao céu tuas preces sobem,
E para o bem ou para o mal sejam formuladas,
Ainda assim são respondidas e gravadas.”.
Não são as palavras pronunciadas ao rezar que contam, mas sim a vida que culmina com a prece.
Qual a vantagem de orar pela paz na Terra aos domingos, quando durante o resto da semana fabricamos armas? Como podemos pedir a Deus que perdoe as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores, quando temos nossos corações cheios de ódio?
A fé deve ser demonstrada através de obras. Não importa qual seja a nossa situação na vida: se estamos numa escala social alta ou baixa; se somos ricos ou pobres; se estamos ocupados em colocar lâmpadas elétricas para evitar eventuais quedas e acidentes; se temos o privilégio de ocupar uma tribuna mostrando aos outros uma luz espiritual, ensinando os caminhos da alma. Não importa se as mãos estão sujas ou limpas, talvez encardidas pelo trabalho mais humilde de cavar o canal do esgoto para conservar a saúde da nossa comunidade; talvez macias e brancas para cuidar dos enfermos.
O fator determinante para decidir a qualidade do trabalho, se é espiritual ou material, é nossa atitude ao executá-lo. A pessoa que coloca as lâmpadas elétricas pode ser muito mais espiritualizada do que aquela que se apresenta na tribuna, pois, é triste saber: há muitos que exercem essa sagrada missão com o desejo de deliciar os ouvidos de sua congregação com bela oratória, em vez de prodigalizar-lhes verdadeiro amor e solidariedade. É um trabalho muito mais nobre limpar um esgoto entupido, como o fez o irmão desprezado no livro “O Servo da Casa” (The Servant in the House), de Kennedy[16], do que viver falsamente com as honrarias do cargo de mestre, ostentando uma espiritualidade que na realidade não existe.
Quem quer desenvolver a rara qualidade da espiritualidade, deve começar oferecendo todo o seu trabalho para a glória de Deus. Seja o que for, façamos como se estivéssemos nos dedicando ao Pai, não importa a espécie de trabalho que desenvolvamos. Cavando um esgoto, inventando um mecanismo para facilitar o trabalho, pregando um sermão ou desempenhando qualquer outro serviço. Tudo é obra espiritual quando feita por amor a Deus e ao próximo.
CAPÍTULO IV – O CAMINHO DA SABEDORIA
Há muitos anos os ensinamentos dos Irmãos Maiores foram publicados, pela primeira vez, no Livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Desde então, nossa literatura ampliou-se bastante. Parece-nos oportuno fazer um levantamento do nosso trabalho para avaliar como estamos empregando os talentos a nós confiados.
Em primeiro lugar, devemos averiguar a razão de ingressarmos na Fraternidade Rosacruz. A principal razão baseia-se na insatisfação. Não encontrávamos as respostas adequadas para nossas perguntas sobre os enigmas fundamentais da vida e da morte em outras instituições.
Todos procuram a luz, mas alguns agem como ilustra uma parábola bíblica. Narra-se a história de um homem que vendo uma pérola de grande valor vendeu todas as posses para comprar a joia. A pérola simboliza o conhecimento do Reino dos Céus. Em outras palavras, alguns dentre nós estão tão determinados a encontrar a luz, e ficam tão radiantes quando a encontram, que dedicam toda a vida, pensamentos e disposição a essa tarefa.
A rede de compromissos assumidos impossibilita a maioria de gozar deste grande privilégio. No entanto, estamos imersos numa teia de relações: se recebemos ajuda somos obrigados, pela lei da compensação, a dar algo em reciprocidade. Intercâmbio e circulação preenchem todos os espaços e promovem a vida. A estagnação conduz à morte.
Não é possível ingerir alimento físico e retê-lo no organismo. O processo de eliminação é fundamental para manter o equilíbrio e a saúde afastando a doença e a morte. Da mesma maneira, não podemos impunemente nos fartar com uma alimentação mental. Devemos compartilhar nosso tesouro com os outros e empregar os conhecimentos adquiridos nas obras do mundo. Caso contrário, corremos o risco de estagnação no pântano da especulação metafísica.
Nos anos que se seguiram desde a publicação do Livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”, os Estudantes dispuseram de bastante tempo para conhecer e praticar seus ensinamentos. Não há expediente para desculpas, alegando ignorância ou falta de tempo para compenetrar-se no estudo. Não podem usar como pretexto insuficiência ou incapacidade pessoal para divulgar seu conteúdo.
Mesmo aqueles que têm pouco tempo disponível para estudar, devido aos deveres desempenhados no mundo, deveriam estar agora suficientemente posicionados “para dar um sentido à sua fé”, como São Paulo nos exortou a fazê-lo. Mesmo que não consigamos mostrar a luz a todos que solicitam, devemos praticá-la na intimidade, em gratidão aos Irmãos Maiores e de maneira impessoal a toda humanidade. O desenvolvimento de nossa própria alma depende do grau de participação e empenho no fortalecimento do movimento ao qual estamos ligados. Portanto, é conveniente que compreendamos detalhadamente qual a missão da Fraternidade Rosacruz.
Isto está inteira e claramente elucidado no capítulo introdutório do “Conceito”. Em resumo, sua missão concentra-se em proporcionar uma explicação sobre as questões da vida capaz de contemplar tanto as necessidades da Mente como do Coração. Com a finalidade de remover as confusões inerentes a duas classes de pessoas: os eclesiásticos e os cientistas. Ambos seguem tateando nas trevas pela carência de um conhecimento unificador e podem ser muito beneficiados com nossa literatura.
Designamos eclesiásticos todos os que são guiados por uma sincera devoção ou bondade natural, pertençam ou não a alguma igreja. No âmbito dos cientistas incluímos os que encaram a vida de um ponto de vista puramente mental, sejam atuantes ou não no campo da ciência.
É propósito e objetivo do Livro Conceito Rosacruz do Cosmos ampliar o campo de ação espiritual de um número sempre crescente dessas duas classes que pressentem, com maior ou menor clareza, a falta de algo de grande importância em sua concepção da existência.
Devemos lembrar o episódio do Rei Davi. Quando desejou construir um templo a Deus foi-lhe negado esse privilégio. Isso por ter empunhado armas como guerreiro de sua tribo. Sempre houve organizações a combater outras organizações. Apontando erros e buscando meios de destruir as rivais, guerreando tanto quanto Davi o fez outrora. Com essa atitude, não se conquista a permissão para construir o templo que é feito de pedras vivas de homens e mulheres. Esse templo ao qual o personagem Manson se refere com tão belas palavras no livro “O Servo da Casa” (The Servant in the House)[17].
Portanto, quando tentamos divulgar as verdades dos Ensinamentos Rosacruzes, devemos sempre ter em mente que não podemos impunemente depreciar a Religião de quaisquer outros nem os antagonizar. Não é nossa missão lutar contra seus erros. Eles infalivelmente manifestar-se-ão no devido tempo.
Quando Davi morreu Salomão reinou em seu lugar. Este teve uma visão de Deus em sonho e Lhe pediu sabedoria! Foi-lhe dada oportunidade de pedir o que bem quisesse, e Salomão pediu sabedoria para guiar seu povo. Na verdade, foi esta a resposta recebida:
“Porque em teu coração pediste sabedoria, porque não pediste riquezas ou vida longa ou vitória sobre os teus inimigos ou qualquer coisa semelhante, mas pediste sabedoria, ser-te-á concedida essa sabedoria e muito mais do que isso.”[18].
Portanto, devemos seguir o exemplo de Salomão e orar sinceramente por sabedoria. Mas, é importante dispor de critérios para reconhecê-la. Portanto convém comentar o que é a verdadeira sabedoria.
Diz-se, e é verdade, que saber é poder. Saber, embora não seja nem o bem nem o mal em si mesmo, pode ser usado tanto para um como para o outro fim. O gênio apenas mostra a propensão para o saber, mas o gênio pode também ser bom ou mau. Falamos de um gênio militar, dotado de maravilhoso conhecimento sobre táticas de guerra. Tal homem, porém, não pode ser verdadeiramente bom, pois está destinado a ser impiedoso e destrutivo ao manifestar sua genialidade.
Um guerreiro, seja ele Napoleão ou um simples soldado, nunca poderá ser sábio, porque deliberadamente deve esmagar todos os bons sentimentos. Vale lembrar-se do coração como símbolo dos mais nobres sentimentos. Um GOVERNANTE SÁBIO TEM UM GRANDE CORAÇÃO, assim como tem uma inteligência superior. Tem o coração e o intelecto em harmonioso equilíbrio para promover o desenvolvimento de seu povo.
Mesmo o mais profundo conhecimento sobre assuntos Religiosos ou ocultos não é sabedoria, como nos ensina São Paulo no seu magnífico 13º Capítulo da Primeira Epístola São Paulo aos Coríntios:
“Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, se não tiver amor, nada serei”.
Somente quando o conhecimento se mesclar com o amor poderá realmente se converter em sabedoria. AMOR-SABEDORIA é a expressão do princípio Crístico, o segundo aspecto da Divindade Trina.
Deveríamos ser muito cautelosos para compreender e discernir corretamente. Só assim podemos eleger caminhos vantajosos para alcançar um determinado objetivo e evitar ciladas que causam atrasos e angústia. Podemos optar por um caminho de sofrimento no presente visando futuras realizações, mas não é necessariamente sinônimo de sabedoria. Conhecimento, prudência, discrição e discriminação são próprios da Mente. Em si mesmo, todos são tentações do mal. Cristo na Oração do Senhor nos ensinou a pedir: “Livrai-nos do mal”. As faculdades inatas da Mente devem ser temperadas com a qualidade inata do coração, o amor. Dessa mescla resulta a sabedoria.
Se lermos o 13º Capítulo da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, substituindo a palavra caridade ou amor pela palavra sabedoria, entenderemos o significado dessa grande qualidade e a desejaremos ardentemente.
Portanto, é missão da Fraternidade Rosacruz divulgar uma doutrina capaz de unir o intelecto com o coração. Esta é a única verdadeira sabedoria. Nenhum ensinamento genuinamente sábio pode prescindir de um destes elementos. Do mesmo modo, não podemos fazer soar um acorde musical com apenas uma corda. Assim como a natureza humana é complexa, também os ensinamentos que contribuem para esclarecer, purificar e elevar esta mesma natureza devem ter aspectos múltiplos. Cristo seguiu este princípio quando nos legou aquela prece magnífica que, em suas sete estrofes, atinge a nota-chave de cada um dos sete veículos do ser humano e os agrupa nesse magistral acorde de perfeição mais conhecido e popularizado como Oração do Senhor (Pai Nosso).
Mas, como transmitiremos ao mundo essa maravilhosa doutrina que recebemos de nossos Irmãos Maiores? A resposta a esta pergunta é: Agora e sempre vivendo a vida.
Diz-se, para o eterno mérito de Maomé, que sua esposa foi sua primeira discípula. Com toda certeza não foram apenas seus ensinamentos, mas a vida que vivia no lar, dia a dia, ano após ano, que conquistou a confiança de sua companheira, de tal modo que ela não hesitou em depositar em suas mãos seu destino espiritual.
É relativamente fácil permanecer diante de estranhos que desconhecem nossas mazelas e para quem nossos defeitos não são visíveis, e pregar por uma ou duas horas cada semana. Mas é muito diferente pregar vinte e quatro horas por dia dentro do lar, como Maomé deve ter feito vivendo a vida.
Para obtermos o mesmo êxito de Maomé devemos principiar pelo exemplo na própria casa. Demonstrar aos irmãos mais próximos, no exercício do cotidiano, os ensinamentos que norteiam nossa existência. Isso é realmente sabedoria. Diz-se que a caridade começa em casa. Esta é a palavra que deveria ser traduzida por “amor” no 13º Capítulo da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios. Mude isto também para sabedoria e leia: a disseminação da sabedoria começa em casa. Que seja este o nosso lema através dos anos.
Vivendo a vida em nosso lar, promoveremos nosso ideal, de forma mais eficaz do que por qualquer outro método. Muitas pessoas céticas se converteram à Fraternidade Rosacruz através da conduta de seus maridos, esposas ou familiares. Possam os demais segui-los.
CAPÍTULO V – O SEGREDO DO SUCESSO
Eis um tema para despertar o interesse geral. O desejo de obter sucesso está presente em todos. Mas a questão é: como podemos definir sucesso? Provavelmente cada indivíduo formulará uma resposta muito particular para esta pergunta. Mas, aprofundando o pensamento colhemos algumas evidências. Seja qual for o caminho escolhido para atingir a meta do sucesso, esse caminho deve seguir os rumos da evolução da humanidade. Portanto, devemos encontrar um fator comum no conceito de sucesso e desvelar seu segredo.
Portanto, seria um erro buscar a solução deste problema estudando apenas a vida do ser humano na presente época. Devemos considerar cuidadosamente os estágios de desenvolvimento no passado e observar atentamente as tendências das futuras diretrizes da humanidade. Assim podemos elaborar um quadro preciso e confiável para responder a esta importante questão.
Não há necessidade de adentrar em detalhes secundários. Podemos sumariar sem perda de rigor. Nas épocas pretéritas da nossa evolução, quando a humanidade em formação imigrava do mundo espiritual para a presente existência material, o segredo do sucesso residia no conhecimento do Mundo Físico e de suas leis e características próprias.
Nesse tempo não era necessário descrever o mundo espiritual para os seres humanos. Nossos veículos mais sutis eram fatos patentes para todos. Nós víamos e vivíamos num reino espiritual. Nesse tempo ainda estávamos gradualmente interpenetrando o Mundo Físico. Portanto, as escolas de Iniciação ensinavam aos pioneiros da humanidade as leis que governam o Mundo Físico. Os Iniciados aprendiam a maestria das artes e dos engenhos capacitando-se a conquistar o reino material. Desde essa época até uma data comparativamente recente, a humanidade vem trabalhando para aperfeiçoar-se nesses ramos do conhecimento. Eles atingiram a mais alta expressão nos séculos imediatamente anteriores à descoberta do vapor. Agora, contudo, encontram-se em decadência.
À primeira vista, esta parece ser uma afirmação injustificável. Mas, um exame mais cuidadoso dos fatos irá rapidamente revelar a verdade nela contida. Na chamada Idade Média não havia fábricas, mas todas as cidades e aldeias possuíam pequenas oficinas onde o dono, às vezes só ou com artesãos e aprendizes, executava as obras do seu ramo, desde a matéria prima até o produto, desempenhando sua arte e espírito criativo com toda a alma e coração em cada peça nascida de suas mãos. Se fosse ferreiro, sabia como produzir trabalhos ornamentais em ferro para tabuletas, portões e outras peças que iriam ornar os originais detalhes dessas cidades e aldeias medievais. Sua obra mantém-se viva nos trilhos da história.
Ao andar pela cidade o artesão podia rever este ou aquele ornamento e orgulhar-se de sua beleza. Orgulhar-se também por conquistar o respeito e admiração de seus concidadãos por seu trabalho artístico e consciencioso. O marceneiro preparava a estrutura das cadeiras e, também, as estofava com trabalhos de tapeçaria, cujas estampas artísticas tentamos agora imitar. O sapateiro, o tecelão e todos os outros artesãos, sem exceção, produziam o artigo final partindo da rústica matéria prima. Todos se orgulhavam de suas obras.
Trabalhavam arduamente por muitas horas, mas sem queixas, pois todos se regozijavam durante o exercício de seus talentos e criatividade. O canto do ferreiro, acompanhado pelo martelo na bigorna, era ouvido por todos. Os oficiais e aprendizes não se consideravam escravos, mas sim mestres em formação.
Depois veio o período do vapor e das máquinas. Surge, então, um novo tipo de mão-de-obra. Em lugar da produção de um objeto confeccionado por uma só pessoa, desde a matéria prima, o que contemplava seu talento criativo, o novo plano de produção qualificava as pessoas para operarem em máquinas que fabricam apenas uma parte do produto. Depois, essas partes são montadas em outro setor também especializado.
Embora este plano diminuísse o custo da produção e aumentasse o rendimento, não deixava espaço para o espírito criativo do indivíduo. Ele se transformou meramente em um dente da engrenagem de uma enorme máquina.
Na loja medieval, o dinheiro era, na verdade, pouco considerado. O prazer de produzir era tudo. O tempo não importava. Mas sob o novo sistema, as pessoas começaram a trabalhar por dinheiro e contra o tempo.
Em consequência, a alma dos mestres perdeu sua fonte de alimento. Assim também ocorre com os demais indivíduos inseridos no novo sistema. Perderam o essencial e conservaram apenas a sobra daquilo que torna a vida digna de ser vivida. Agora trabalham por algo que não poderão usar nem desfrutar. Com isso toda a humanidade foi penalizada.
Que diríamos de um jovem cuja ambição fosse acumular um milhão de lenços que nunca poderia usar? Com certeza o consideraríamos um tolo. Por que não colocarmos nessa mesma categoria a pessoa que gasta todas as suas energias e se priva de todos os confortos da vida para tornar-se um milionário?
Este sistema não pode perdurar. Ele está dando ao indivíduo uma pedra quando ele pede pão. Na verdade, é apenas mais uma etapa preparatória para alcançar outro degrau na espiral evolutiva. Novos modelos de desenvolvimento estão em processo de gestação. Novos ideais surgirão para ampliar nossa visão.
Sobre a tendência da evolução vamos aprender com nossos irmãos mais qualificados e inspirados. Os poetas e os visionários iluminam nossos caminhos. James Russell Lowell[19] emite uma nota-chave de incomparável clareza em sua Visão de Sir Launfal. É a história de um cavaleiro lançando-se em uma saga ao deixar seu castelo. Imbuído do desejo de realizar grandes e corajosos feitos para Deus. Junta-se às Cruzadas em busca do Santo Graal na distante Palestina. Sai do castelo convicto de sua nobre missão, orgulhoso, arrogante, voltado para sua meta. No portão do palácio encontra um pobre mendigo, um leproso. O indigente estende a mão suplicando uma esmola. Sir Launfal não demonstra compaixão. Para livrar-se daquela situação repugnante, atira uma moeda de ouro e segue seu caminho procurando esquecê-la:
Mas o leproso não ergueu o ouro do pó e disse:
“Melhor para mim é a côdea de pão que o pobre me dá,
também melhor é sua mão que me abençoa,
e, assim, de mãos vazias de sua porta devo me afastar.
Esmolas só com as mãos dispostas a ofertar,
não são sinceras nem verdadeiras.
Inúteis são o ouro e as riquezas para prover,
quando apenas libertam de um indesejável dever.
Porém, a mão não pode abarcar o que a esmola contém,
quando vem daquele que reparte o pouco que tem,
que dá o que não é possível medir nem pesar,
esse fio de beleza que tudo sabe perpassar,
que tudo sustenta, penetra e compreende.
A mão do coração amoroso se estende
Quando Deus acompanha o ato da doação,
alimentando a alma faminta, em desolação,
que antes sucumbia solitária, na escuridão”.
Mas, e Sir Launfal? Com esse modo de pensar poderia esperar alcançar sucesso e encontrar o Graal? A resposta com certeza é não. Só encontra decepção sobre decepção. Por fim, retorna a seu castelo, desalentado e com o coração humilde. Aqui, depara-se novamente com o leproso, mas, ao vê-lo:
“Só cinza e pó era seu coração.
Ele partiu em duas, sua única côdea de pão,
e derretendo o gelo das margens do riachão,
ao leproso deu de comer e beber pela mão”.
Tendo cumprido seu ato de misericórdia, recebeu a recompensa:
“Não mais o leproso ao seu lado se curvava,
mas, à sua frente, glorioso se levantava”.
E a voz, ainda mais doce que o silêncio, disse:
“Vê, Sou Eu, não temas!
Na busca do Santo Graal, em muitos lugares
consumiste tua vida, sem nada encontrares.
Olha! Ei-lo aqui: o cálice que acabaste de encher
com a límpida água do regato que Me deste de beber.
Esta côdea de pão é Meu corpo
sacrificado para tua remissão.
Esta água é de Meu sangue porção,
vertido para tua salvação.
A Santa Ceia é mantida, na verdade,
quando ajudamos o próximo em sua necessidade.
Pois a dádiva só tem valor
se com ela vem também o doador,
e a três pessoas ela alimenta assim:
ao faminto, a si própria e a Mim”.
Nestas palavras repousa o segredo do sucesso. Prontidão para fazer as pequenas coisas da nossa esfera de ação, esse é o segredo. Coisas, talvez, aparentemente desagradáveis, mas próximas de nossas mãos, em lugar de peregrinar em busca de fantasias quiméricas que jamais se transformarão em algo definido e tangível.
Mas o que de fato representa para nós o episódio relatado anteriormente? Mais uma vez podemos obter a resposta de um poeta, Oliver Wendel Holmes[20]. Ele nos fala do náutilo. Pequena criatura marinha que primeiro constrói uma concha, de tamanho suficiente para abrigá-la. À medida que vai crescendo, constrói outro compartimento maior para poder ocupar até o período seguinte de seu crescimento. Assim procede até construir uma concha em espiral, tão grande quanto possa, e depois a abandona. Esta ideia o poeta transmite nas seguintes estrofes:
“Oh, Minh’alma! Constrói para ti lar majestoso,
enquanto passam as estações em ritmo silencioso!
Abandona teu invólucro demasiado pequeno
e habita novo templo, mais nobre e grandioso,
com cúpula celeste, com domo espaçoso.
E entrega tua concha já superada
aos agitados mares desta vida,
no dia da libertação, com tua missão cumprida!”.
Quando atingirmos este ponto, teremos alcançado o sucesso. Todo o sucesso possível de ser conquistado em nosso mundo atual. Dessa forma ingressaremos numa nova esfera, com melhores oportunidades.
De tempos em tempos, aparentemente seguindo uma lei de periodicidade, as mesmas dificuldades surgem inesperadamente na Mente dos Estudantes. De diferentes partes do mundo, ao mesmo tempo, chegam cartas pedindo informações sobre determinado assunto e posteriormente sobre outro. Depois de anos os mesmos temas ressurgem. Enquanto a resposta é dirigida aos que perguntam, é provável que outros estejam interessados no mesmo assunto e simultaneamente. Esse é o motivo desta lição sobre a morte da alma. Esse tema preocupa a Mente de muitos, talvez porque a morte do corpo seja tão comum e frequente.
Há alguns anos, publicamos uma lição sobre “O Pecado Imperdoável e Almas Perdidas”. Os Sacramentos eram o tema abordado na ocasião. Afirmamos que todos os Sacramentos têm relação com a transmissão dos Átomos-sementes que formam o núcleo de nossos vários corpos.
O germe de nosso corpo terrestre deve ser corretamente colocado em solo fértil para formar um veículo denso apropriado e, por essa razão, como está escrito no Gênese 1:27, “Elohim criou o homem varão e fêmea”. As palavras hebraicas são Sacr va N’cabah. Estes são os nomes dos órgãos sexuais. Em tradução literal Sacr significa o portador do germe.
O Matrimônio é, portanto, um Sacramento, pois abre o caminho para a transmissão do Átomo-semente físico do pai para a mãe e preserva a raça humana da irreversível extinção.
O Batismo como Sacramento significa a pulsão germinal da alma em direção a uma vida superior, é o plantio de uma semente espiritual.
A Comunhão é o Sacramento no qual partilhamos o pão feito da casta semente da planta na qual o cálice simboliza e aponta para uma época futura em que a semente será fecundada sem a paixão. Uma época em que o matrimônio será desnecessário para transmitir a semente do pai para a mãe. Assim, conquistaremos a morte através do alimento absorvido diretamente da vida cósmica.
Finalmente, a Extrema Unção é o Sacramento que caracteriza o rompimento do Cordão Prateado e a extração do germe sagrado, até que seja novamente plantado em outra N’cabah, ou mãe.
Como a semente e o óvulo são a raiz e a base de um desenvolvimento racial, é fácil perceber que nenhum pecado pode ser tão sério quanto o que abusa da função criadora. Este sacrilégio impede o crescimento das futuras gerações. É uma transgressão contra o Espírito Santo, Jeová, o guardião da criadora força lunar. Seus Anjos anunciam nascimentos, como no caso de Isaac, João Batista e Jesus. Para recompensar Abraão, Seu mais fiel seguidor, prometeu-lhe que sua descendência seria tão numerosa como as areias da praia. Ele também puniu terrivelmente os Sodomitas por cometerem sacrilégio usando incorretamente a função criadora. E, também, o pecado de Onã[21], cuja tônica é o desperdício dessa função.
A Bíblia relata que a humanidade estava proibida de comer da Árvore do Conhecimento sob a pena de morrer. Mas, em vez de esperar pacientemente pelas condições interplanetárias propícias, Adão conheceu Eva e, desde então, ela deu à luz a seus filhos com dores, sofrimentos e sujeitou-os à morte prematura. Portanto, o abuso desta sagrada função para gratificação da natureza passional, e particularmente por perversão, é reconhecido pelos esotéricos como o pecado imperdoável. Sobre esse tema alude São Tiago, quando diz: “Há um pecado mortal. Não digo que deveis rezar para isso.”[22].
Investigações ocultas provaram neste caso, assim como em todas as outras formas de conhecimento, que Deus e a natureza são muito mais clementes e misericordiosos para com o ser humano do que este para com seus iguais. Embora a punição justa aplicada aos que viveram uma vida de pecados e vícios tenha sido realmente severa em todos os casos, nada é tão sério como a “morte da alma”.
Tanto quanto é do nosso conhecimento, apenas o Mago Negro abusa conscientemente da força criadora para propósitos malévolos, e enfrenta algo tão terrível como a morte de sua gema preciosa. Realmente não haveria necessidade de abordar o assunto, a não ser porque projeta luz sobre outros temas valiosos para o Estudante.
Para bem entender isto devemos relembrar as precisas definições dos termos Espírito, Alma e Corpo, explanadas no “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Podemos recapitular um trecho: no princípio da manifestação do Espírito Virginal, cada Centelha Divina envolveu-se em um tríplice véu de espírito-matéria e tornou-se Ego.
O Tríplice Espírito moldou e projetou uma sombra tríplice sobre os reinos constituídos de matéria. Assim, o Corpo Denso desenvolveu-se como uma contraparte do Espírito Divino. O Corpo Vital como uma réplica do Espírito de Vida. O Corpo de Desejos como a imagem do Espírito Humano.
De relevante importância foi a construção da Mente. Ela é o elo de ligação entre o Tríplice Espírito e seu Tríplice Corpo refletido. A Mente possibilitou o princípio da consciência individual. A aquisição da Mente também determina a linha divisória onde termina a involução do espírito na matéria e tem início o processo evolutivo pelo qual o espírito gradualmente retira-se dos veículos constituídos de matéria.
A involução envolve a cristalização do espírito em corpos de densidade crescente. A evolução depende da dissolução desses corpos. Mas, durante a evolução devemos extrair de cada um dos três corpos sua quintessência, sua alma. Portanto, do Tríplice Corpo extraímos a Tríplice Alma. Paralelamente ocorre o processo alquímico de amalgamação da substância anímica com o espírito.
No começo da evolução, a humanidade era constituída apenas de espírito e corpo. Era ingênua e inexperiente, portanto, ainda não tinha alma. A Terra é a grande escola da experiência e manancial de oportunidades para construirmos nossa alma. A cada encarnação vivida em nossa esfera planetária podemos desenvolver e ampliar qualidades anímicas conforme o aproveitamento das oportunidades que se apresentam. De acordo com as escolhas alguns avançam enquanto outros se atrasam; disto resultam as diferentes gradações entre um selvagem e um santo.
Mas, vejamos no que consiste a perda da alma até sua total extinção ou morte. Vamos deixar bem claro que o verdadeiro espírito é eterno, nunca pode morrer. O espírito é uma Centelha Divina, uma Fagulha do Próprio Deus e, portanto, sem princípio nem fim. Então, como falar na morte da alma e qual o verdadeiro sentido dessa expressão? Este é um assunto sobre o qual o autor não gosta de repisar, mas como lança uma luz importante para o avanço espiritual, recordaremos alguns fatos.
Vimos que o Tríplice Espírito projetou um Tríplice Corpo. Das experiências no Tríplice Corpo devemos extrair a Tríplice Alma para amalgamá-la com o Tríplice Espírito, esse é o objetivo da evolução. Agora, muita atenção. Chegamos ao ponto crucial de toda a lição. Uma informação importante e valiosa ajudará os Estudantes a entender mais profundamente tudo que já foi dito até aqui.
Muito se fala na literatura ocultista sobre “O Caminho”. Embora o Iniciado já tenha recebido informações abundantes sobre seu significado, o seguinte esclarecimento nunca foi dado antes ao Estudante exotérico. São Paulo afirma que estar mentalizado na carne é a morte, mas estar espiritualmente mentalizado é vida e paz. Esta é a verdade exata, pois, a Mente é o elo entre o espírito e o corpo, é o caminho ou ponte, o único meio de transmissão da alma para o espírito.
A razão de viver de muitos se alinha com a frase proverbial:
“Vamos comer, beber e gastar o tempo em diversões já que amanhã morreremos mesmo.”
Enquanto o ser humano estiver mentalizando a matéria, e dirigindo sua atenção para os sucessos mundanos, todas as suas atividades estarão centralizadas na parte inferior do seu ser, a personalidade. Viverá e morrerá como os animais, inconsciente das reservas magnéticas do espírito.
Entretanto, há um momento decisivo no qual os anseios do espírito são sentidos. A personalidade vê a luz. Entusiasmada, compromete-se a atingir seu Eu Superior por meio da ponte da Mente. Como a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, o corpo deve ser crucificado, assim a alma pode ser libertada para unir-se ao seu Pai no Céu, o Tríplice Espírito, o Eu Superior.
O superior deve estimular a elevação do inferior, esse é o processo natural. Mas, infelizmente, há exemplos na direção oposta: a personalidade se recusa a sacrificar-se pelo espírito. Nesse caso a personalidade inferior mostra-se muito forte e dominadora, impregnada de materialismo. A Mente se mostra intensamente enredada com os veículos inferiores. Como resultado a ponte da Mente finalmente se quebra.
A personalidade sem alma pode continuar a viver por muitos anos depois que esta separação se efetivou. Pode executar os mais violentos atos de crueldade e astúcia até sucumbir. A Magia Negra, envolvendo o uso pervertido da semente obtida de outros, é geralmente utilizada por essas personalidades desalmadas com o propósito de satisfazer seus desejos demoníacos. Frequentemente, eles obtêm poderes sobre uma nação ou uma sociedade, logo depois se comprazem em arruiná-las.
Enquanto isso, o espírito permanece desnudo; não tem Átomos-semente com os quais possa construir corpos adicionais. Então, automaticamente, gravita para o Planeta Saturno e depois para o Caos, onde deve permanecer até a aurora de um novo Dia de Criação.
À primeira vista, pode parecer injusto que o espírito seja assim condenado a sofrer, embora não tenha cometido qualquer perversidade. Mas, por outro lado, compreendemos que, sendo a personalidade uma criação do Eu Superior, a responsabilidade existe e não pode ser evitada. Felizmente, porém, esses casos são cada vez mais raros à medida que avançamos no Caminho da Evolução. Mesmo assim, é necessário que todos se direcionem seriamente para o verdadeiro caminho, para a luz que conduz ao nosso ideal espiritual, a união com o Eu Superior. Que essa luz resplandeça cada vez mais.
CAPÍTULO VII – O NOVO SENTIDO DA NOVA ERA
No fim da Idade de Touro, há mais ou menos 4.000 anos atrás, o “Povo de Deus” fugiu da ira prestes a derramar-se sobre o Egito, a terra onde esse povo adorava o Touro.
Era guiado por Moisés, enquanto estava em fuga rumo à Terra Prometida. Em antigas iconografias esotéricas Moisés aparece com a cabeça adornada com chifres de carneiro. Simbolismo utilizado para evidenciar seu papel de precursor dos 2.100 anos da Época Ária. Durante esses anos, em cada manhã de Páscoa, o Sol de março tingia de vermelho as soleiras das portas, lembrando o sangue de um cordeiro, quando atravessa o Equador na constelação (não no Signo) do Cordeiro, Áries.
De igual modo, quando o Sol, por precessão, se aproximava da constelação aquosa de Peixes, os Peixes, João mergulhava nas águas do Jordão os convertidos à Religião Messiânica, e Jesus chamava seus Discípulos de “pescadores de homens”. Assim como o “cordeiro” foi sacrificado na Páscoa, enquanto o Sol passava pela constelação de Áries, o Carneiro, também os fiéis, em obediência aos mandamentos de sua igreja, alimentam-se de peixe durante a Quaresma no atual ciclo de Peixes.
Na época em que o Sol, por precessão, deixou a constelação de Touro o povo que ainda adorava esse animal foi considerado pagão e idólatra. Um novo símbolo do Salvador ou Messias foi representado com imagem de um cordeiro, que correspondia à constelação de Áries. Mas, quando o Sol, por precessão, deixou esse Signo, o judaísmo passou a ser uma Religião do passado. Desde então, os bispos da nova Religião Cristã adotaram a mitra com formato de cabeça de peixe para patentear sua posição hierárquica como ministros da Igreja durante a Era de Peixes que, agora, está chegando ao seu final.
Considerando o futuro pela perspectiva do passado é evidente que uma nova Era deverá iniciar-se quando o Sol transitar pela constelação de Aquário, o Aguadeiro, daqui a algumas centenas de anos. A julgar pelos acontecimentos do passado é razoável esperar-se que uma nova fase Religiosa suplantará nosso presente sistema. Revelará maiores e mais nobres ideais e superará a nossa presente concepção da Religião Cristã. Portanto, quando esse dia chegar, devemos estar preparados para integrar as fileiras que conduzem aos novos ideais ou seremos excluídos com os demais idólatras e pagãos.
João Batista pregou o evangelho da preparação. Sem palavras ambíguas advertiu o povo: o machado deve ser colocado na raiz da árvore. Também os preveniu para fugirem da ira que acompanhava a chegada do Filho de Deus (o Sol), para separarem o trigo do joio e queimá-lo. Cristo comparou o Evangelho com o fermento, fundamental para vivificar o pão da alma.
À primeira vista, o método de João parece ser muito mais drástico, colocando o machado na base de toda a estrutura social. Enquanto o processo de levedura mencionado por Cristo parece ser mais suave. Entretanto, na realidade, é mais severo e drástico. Quando observamos cuidadosamente a metamorfose da massa do pão durante a fermentação o fato ganha maior evidência. Há uma revolução nos processos químicos, uma guerra em miniatura, envolvendo uma completa transformação na estrutura íntima da farinha. O fermento convoca todos para o combate. O som dos canhões junta-se ao coro das explosões de bombas e granadas. Ao término da microscópica batalha a massa cresceu e tornou-se leve.
Essa revolução dos componentes químicos, essa guerra interna, é absolutamente indispensável na fabricação do pão. Sem o processo de fermentação o resultado seria um produto pesado, indigesto e até intragável. É a transformação processada pelo fermento que torna o pão saboroso, suave e nutritivo.
O processo de preparação para a Era de Aquário já começou, e como se trata de um Signo aéreo, científico e intelectual, conclui-se, de forma inequívoca, que a nova fé basear-se-á na razão. Portanto, estará capacitada para resolver os mistérios envolvendo a vida e a morte de modo a preencher as necessidades tanto da Mente como do anseio Religioso.
A Fraternidade Rosacruz tem por missão preparar, desde já, a futura atmosfera aquariana. Assim sendo, trabalha para divulgar a Sabedoria contida na Religião Ocidental. Atua como o fermento no pão. Tem por finalidade dissipar o medo da morte através do entendimento espiritual e profundo sobre o propósito da vida. A vida e a consciência são eternas e governadas por leis tão imutáveis como Deus.
O desenvolvimento da consciência pode conduzir a vida espiritual do ser humano a esferas cada vez mais elevadas, nobres, sublimes e acende o farol da luz da esperança no altar do coração.
Desde remoto passado temos desenvolvido cada um dos cinco sentidos pelos quais interagimos com o atual mundo visível. Poderemos, num futuro não muito distante, desenvolver outro sentido, um sexto órgão de percepção. Isso ampliará nossas possibilidades de interação com novas dimensões como, por exemplo, os habitantes da Região Etérica. Assim também com os nossos entes queridos que já abandonaram os corpos físicos e habitam o Éter e o Mundo do Desejo inferior durante o primeiro estágio nos reinos mais sutis.
A missão de Aquário está representada apropriadamente pelo símbolo do homem esvaziando o cântaro d’água. Aquário é um Signo aéreo e governa especialmente as propriedades do Éter.
O Dilúvio tornou o ar parcialmente seco, depositando a maior parte de sua umidade no mar. Mas quando o Sol entrar em Aquário, por precessão, o restante da umidade será eliminado e as vibrações visuais, transmitidas mais facilmente numa atmosfera etérica seca, serão mais intensas. Assim, as condições serão particularmente propícias para produzir a adequada extensão de nossa atual visão. Dessa forma nossos olhos também poderão colher imagens da região etérica. O aparecimento de sensitivos na Califórnia exemplifica o efeito da atmosfera seca e elétrica, embora mais atenuado se comparado com a futura Era de Aquário.
A fé será complementada pelo conhecimento, e todos poderemos lançar o brado triunfal:
“Oh! Morte, onde está teu aguilhão?
Oh! Tumba, onde está tua vitória? “[23]
Não devemos deixar escapar as oportunidades que se apresentam quando já estamos no caminho, meditando e aspirando por esse maravilhoso dia. É imprescindível compreender nosso privilégio em relação aos irmãos que ainda estão inconscientes do que o futuro lhes reserva. Os desinformados podem retardar o desenvolvimento de sua visão. Quando experimentarem os primeiros vislumbres das entidades etéricas, tenderão a crer que suas visões não passam de meras alucinações. Para não ser considerados loucos podem adotar uma atitude de repressão e negação dessa nova faculdade.
Portanto, a Fraternidade Rosacruz foi incumbida, pelos Irmãos Maiores, da tarefa de promulgar o Evangelho da Era Aquariana. Tem a responsabilidade de dirigir uma campanha educativa e iluminadora, preparando o terreno para o porvir.
O mundo deve ser fermentado com as seguintes ideias:
Embora esse desenvolvimento seja maravilhoso, ele vem acompanhado de uma grande responsabilidade. Os Estudantes devem compreender que um sério compromisso é inerente à posse do conhecimento:
“A quem muito é dado, muito será exigido.”[24].
Se enterrarmos nossos talentos, não devemos esperar uma merecida condenação? A Fraternidade Rosacruz poderá cumprir sua missão somente quando cada membro fizer a sua parte, difundindo os Ensinamentos e vivendo a vida. Portanto, esperamos que isto alerte os Estudantes quanto aos seus deveres individuais.
A visão etérica é semelhante ao raio “X”, permite ver através dos objetos. Mas ela tem um poder ainda maior que torna tudo transparente como o vidro. Sendo assim, na Era de Aquário a percepção da realidade será bem diferente. Por exemplo, será muito fácil estudar anatomia e detectar um tumor maligno, uma luxação ou um estado patológico do corpo. Atualmente, médicos eminentes pesarosamente admitem que seus diagnósticos, não poucas vezes, estão errados. Fato constatado pelos exames realizados depois da morte do paciente. Entretanto, quando desenvolverem a visão etérica, serão capazes de estudar diretamente tanto a estrutura anatômica como o processo fisiológico, sem obstáculos físicos.
A visão etérica não nos capacitará a ler o pensamento alheio. Pois a matéria que constitui o pensamento é muito mais sutil. Porém, ser-nos-á impossível levar uma vida dupla. Seremos prontamente desmascarados se nossa vida privada for incoerente com a vida pública.
Se soubéssemos que entidades invisíveis frequentam as nossas casas, ficaríamos envergonhados com as coisas que fazemos. Mas, não haverá privacidade na Era de Aquário. O que está aparentemente oculto pode ser desvelado por quem quiser observar. Será inútil obrigar a criada dizer a uma visita indesejável que “não estamos”.
Na Nova Era a honestidade e a retidão serão as únicas condutas sensatas. Qualquer ação maléfica será descoberta. Esconder a sujeira ou fugir do local do crime será em vão. Não obstante, como atualmente, haverá pessoas com inclinações ao vício e a serviço da maldade. Contudo serão reconhecidas com facilidade e assim poderão ser evitadas.
O Estudante pode tecer conjecturas sobre as possíveis condições reinantes na futura Era Aquariana e a correlata ampliação da percepção visual. Sabendo viver de antemão essa realidade vindoura, o quanto possível, estará em posição de tornar-se um dos pioneiros dessa Era.
Nesse dia “não haverá noite”, e a “árvore da vida” florescerá constantemente pelo etérico “mar de vidro” transparente, que permeia e infunde vitalidade em todas as coisas.
CAPÍTULO VIII – O POVO ESCOLHIDO DE DEUS
Quando estudamos a história dos Hebreus, como está descrita na Bíblia e em relatos da Idade Média e Moderna pelos diversos povos habitantes do mundo ocidental, um fato incontestável destaca-se com peculiar clareza. Eles foram conduzidos ao exílio, à escravidão e odiados em todos os países por onde se espalharam. Sofreram perseguições em países onde a política era conivente com o antissemitismo. Os judeus são menosprezados mesmo nas nações que adotam “a Palavra de Deus” em conformidade com os textos bíblicos, onde lemos que o povo hebreu é “o povo escolhido de Deus”. Quando investigamos a razão de tanta tragédia, dois fatos relevantes se apresentam:
Assim, inconscientemente, estabeleceu-se na mente de outros povos um ressentimento contra essa postura pretensiosa. Preconceito e antagonismo são consequências dos judeus se considerarem os filhos divinamente favorecidos de Deus e de classificarem os demais como enteados, pagãos e idólatras. Estes proscritos serão subjugados no tão esperado dia da ira, quando Israel virá triunfalmente para assumir o governo do mundo com bastão de ferro. Esse ressentimento se acentua em função da forma conservadora com a qual os judeus mantêm esses hábitos ainda hoje.
Se os judeus tivessem justificado a sua pretensão de serem os favoritos da divindade através de vidas nobres, exemplares e elevada conduta, provavelmente teriam atraído a admiração de diversos povos com os quais têm estado em contato. Se tivessem despertado em alguns o espírito da emulação, mesmo aqueles que invejassem suas convicções, provavelmente seriam mais respeitados. Entretanto, seus hábitos são tão discordantes de suas crenças que, lamentavelmente, provocam a hostilidade de muitos.
Advertimos os Estudantes para não considerarem o exposto como uma crítica aos judeus. É errado comentar as faltas alheias e criticá-las, a não ser que se tenha em vista um fim construtivo. É sempre fácil notar o cisco no olho de nosso próximo, mas é muito mais fácil ignorar uma trave no nosso próprio. A razão para abordarmos o assunto dos judeus com suas crenças elevadas e seus hábitos discordantes é para perguntar se, procurando com a lanterna o cisco em seus olhos, não encontraremos a trave nos nossos. Se assim for, conquistaremos algo realmente valioso se estivermos dispostos a remover essa trave.
Enquanto vivemos nas malhas do mundo, levando uma existência comum, fazendo coisas corriqueiras, sejam boas, más ou indiferentes, ninguém toma conhecimento de quem somos. Por outro lado, quando afirmamos que somos diferentes ou especiais, como fazem os judeus, a sociedade reage imediatamente. Com olhar atento, começa uma vigilância com a finalidade de avaliar se há coerência entre nossas crenças e nossas ações. Seremos alvo da observação alheia onde estivermos, seja agindo ou descansando. Portanto, uma grande responsabilidade pesa sobre nós. Devemos bem desempenhar as nossas tarefas, só assim podemos justificar os elevados ensinamentos recebidos dos Irmãos Maiores e, também, estimular no próximo o desejo de abraçar a mesma filosofia.
Por isso, devemos parar e avaliar nossos atos e realizações no ano passado. Depois, tomemos as resoluções que julgarmos necessárias para tornar o futuro mais proveitoso do ponto de vista da alma.
Em primeiro lugar, devemos reconhecer que fomos especialmente agraciados, muito além de nossos merecimentos, em receber dos Irmãos Maiores os Ensinamentos Rosacruzes. Esperamos ter-lhes expressado a nossa gratidão durante todo o ano que passou. Vamos enviar-lhes, neste momento, especiais pensamentos de carinho e gratidão. Não é preciso dizer que eles não necessitam de agradecimentos, pois estão acima disso, mas, praticando a gratidão, progrediremos espiritualmente.
Avaliemos qual proveito colhemos desses ensinamentos preciosos no ano passado. Por exemplo, temos dado o tratamento justo e adequado às necessidades do próximo? Conseguimos dominar nosso temperamento, desenvolver mais equilíbrio e superar falhas de caráter proeminentes?
Os esforços lograram algum êxito? Esperemos que nossas conquistas tenham sido pelo menos razoáveis. Lembremos sempre do exemplo dado pelo povo hebreu. Seremos avaliados pela coerência e sinceridade com as quais colocamos em prática nossas crenças. Do mesmo modo, certos ou errados, os Ensinamentos dos Irmãos Maiores serão avaliados na comunidade conforme os atos dos que se confessam seus seguidores.
No entanto, há uma conclusão que forçosamente devemos aceitar ao final de nossa retrospecção. Estamos muito aquém dos sublimes ideais propostos.
Contudo é preciso acautelar-se com os exageros. Há um ponto crítico quando o caminho espiritual corre a ameaça de soçobrar nos rochedos da pusilanimidade. Em outras palavras, há perigo de sério retrocesso quando o temperamento se fragiliza em demasia a ponto de admitir o total fracasso, de chocar-se ao vislumbrar a possibilidade de seu progresso frustrado. Preocupações e temores coloridos pela morbidez. Tal atitude mental antecipa o desastre. Empalidece a alma e esvazia a vontade de prosseguir na batalha. Espalha uma nuvem escura de derrotismo, onde as desvantagens ganham estatura e sufocam a luz da esperança. Crescem as desculpas. Alegamos o antagonismo dos amigos e da família com nossas crenças; a falta de tempo, pois os deveres nos consomem etc. Mas, na verdade, o problema está dentro de nós. Se cedermos ao negativismo, constataremos que amigos e familiares irão desprezar-nos, embora não o demonstrem abertamente como o fazem no caso dos judeus.
Ao contrário, longe de estimular o abandono do caminho do progresso, os fracassos deveriam servir como incentivos para esforços maiores. Resolutos, deveríamos caminhar com mais determinação e firmeza. Assim, no próximo ano, estaremos mais fortalecidos para vencer nossas imperfeições.
Todos conhecem seus próprios defeitos: “O pecado que tão facilmente nos domina.”[25].
Naturalmente, cada qual deve formular as suas próprias resoluções. Mas, para cumpri-las de forma benéfica, favorecendo o crescimento da alma e colaborando na tarefa de tecer o Dourado Manto Nupcial, será de muita ajuda fixarmos os olhos e pensamentos em alguém portador da virtude que desejamos cultivar.
Temos um magnífico exemplo em Cristo: “Ele foi tentado na carne como nós, porém, não cometeu pecado.”.
Tenhamo-Lo bem perto do coração durante o próximo ano e certamente nossa alma muito crescerá. Esta será também a melhor maneira de divulgar os Ensinamentos Rosacruzes. Vivendo a vida de forma sincera e coerente poderemos despertar na alma dos outros o desejo de compartilhar suas bênçãos.
CAPÍTULO IX – LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL – (1914-1918) – Parte I – Fontes Secretas
Os Estudantes dos Ensinamentos Rosacruzes sabem muito bem que nós, como Espíritos, somos imortais, sem princípio e sem fim. Desde o passado remoto, estamos frequentando a grande escola da experiência por meio de sucessivas vidas. Nossos veículos, ou revestimentos de matéria, são constantemente aprimorados. Neles vivemos por determinado tempo, variando desde algumas horas até uma vida longa.
Descartamos o invólucro mortal, muitas vezes já desgastado e decrépito, quando mais um dia da escola da vida se completa. Em seguida, iniciamos o caminho de retorno ao nosso lar celestial para repouso e assimilação das lições aprendidas. Mais tarde, renasceremos e retomaremos as lições exatamente no ponto onde a aula anterior da escola da vida foi encerrada, e fomos chamados de volta ao lar.
Durante cada dia nessa escola, encontramos outros espíritos e estabelecemos laços de amor e ódio. Em vidas futuras encontrar-nos-emos novamente, para que as dívidas, eventualmente contraídas e acumuladas no banco do destino, possam ser liquidadas. Assim, nossos amigos de hoje são aqueles com quem travamos amizade na vida anterior, e nossos inimigos são aqueles com quem nos indispusemos no passado esquecido. Desse modo, estamos continuamente tecendo a teia do destino no tear do tempo e criando, para nós mesmos, um manto de glória ou de trevas, conforme tenhamos agido bem ou mal.
Mas, nós não realizamos apenas nosso destino individual, pois como diz o provérbio: “Nenhum ser humano vive só”; somos agrupados em famílias, tribos, raças e nações. Além de nosso destino individual, estamos unidos pelos destinos de família e de nação, porque estamos sob a guarda dos Anjos e Arcanjos. Eles atuam, respectivamente, como Espíritos de família e de raça.
São estes grandes Espíritos que fixam em nossos Átomos-sementes a forma racial e as características particulares do Corpo Físico. Eles também implantam nos Átomos-sementes de nossos mais refinados veículos, as simpatias e ódios nacionais.
O Espírito de Raça paira como uma nuvem sobre a terra habitada por seus tutelados. Estes absorvem dessa atmosfera a matéria apropriada para compor seus corpos mais sutis.
Verdadeiramente, cada indivíduo vive, move-se e desenvolve a consciência de seu ser no seio do Espírito de Raça. Seus veículos são constituídos dentro desse ambiente. Sim, a cada sopro, cada indivíduo respira o hálito do seu correspondente Espírito de Raça. Por isso, incontestavelmente, o sentimento racial conserva-se mais próximo e íntimo do que seus próprios pés e mãos.
O Espírito de Raça também impregna a alma com amor ou ódio por outras nações. Condiciona o relacionamento predominantemente inamistoso e desconfiado entre certos povos, mas também confiança e amizade entre outros.
Segundo os Ensinamentos Rosacruzes, todo espírito renasce duas vezes enquanto o Sol, por precessão, transita por um Signo do Zodíaco. Alterna seu veículo físico encarnando uma vez como homem e outra como mulher. Assim pode assimilar as experiências proporcionadas por esse Signo do ponto de vista de ambos os sexos.
Há muitas exceções a esta regra. A lei não é cega e, portanto, age de acordo com as necessidades individuais do espírito. Os Elevados Seres denominados Anjos do Destino, na terminologia cristã, governam as linhas da evolução, e têm a função de ajustar o Relógio do Destino. Definem com precisão a ocasião propícia para colher as safras do passado. Isso se aplica tanto para indivíduos como para agrupamentos humanos. Portanto, se estudarmos as características das nações recentemente engalfinhadas numa luta titânica, bem como os objetivos pelos quais estão lutando, e lançarmos um olhar retrospectivo pelas páginas da história, não há necessidade do dom da visão, nem mesmo da intuição, para localizar e inferir que as fontes da recente guerra foram geradas num passado distante.
Para alguns historiadores, os filhos de Albion[26] são uma reencarnação dos antigos romanos. Mas, sob a luz das investigações no domínio oculto, essa não é a completa verdade, pois também identificamos a presença de muitas raças estrangeiras naquela época. Entretanto, houve uma miscigenação com a raça dominante, donde se pode praticamente confirmar o fato mencionado pelos historiadores.
Recordemos a história de Roma. O espírito democrático manifestou-se por meio da formação de uma república, logo depois do reinado dos sete primeiros reis. Na sequência, teve início uma guerra expansionista, com o objetivo de conquistar o domínio sobre o mundo. No decurso dessas operações militares, houve uma batalha contra Cartago, numa violenta disputa pelo domínio do Mar Mediterrâneo. Visando ampliar o território na direção oeste, os romanos combateram para expulsar os cartagineses da Sicília. Nessa época, Cartago apesar de ser uma grande potência marítima foi vencida pelos romanos em 260 a.C. em suas próprias águas.
Em seguida a esta vitória, Roma levou a guerra para a África, e foi bem-sucedida no princípio. Mas Régulo, o cônsul eleito, foi derrotado e feito prisioneiro. Seguiu-se uma série de desastres navais para Roma, e Cartago esteve na iminência de recuperar o que havia perdido na Sicília e ainda mais. Foi quando Tétulus, o cônsul romano, obteve outra vitória decisiva sobre os cartagineses em 241 a.C. Disso decorreu a evacuação da Sicília e das ilhas adjacentes. Este foi o fim da primeira Guerra Púnica, cuja duração foi de vinte anos.
Mas, Cartago não seria conquistada tão facilmente. Considerando o estado romano como um poderoso adversário no mar, retomou as hostilidades consolidando uma posição estratégica e segura na Espanha. O grande general cartaginês, Aníbal Barca, cultivando um ódio profundo por Roma, declarou guerra em 218 a.C., conhecida como a segunda Guerra Púnica. Seus planos foram elaborados em segredo e executados com uma rapidez nunca vista. Cruzou os Pirineus da Espanha para a França. Atravessando os Alpes lutou contra todos os obstáculos, e invadiu a Gália na região cisalpina com apenas 26.000 sobreviventes de seu exército de 59.000 homens. Depois de sucessivas derrotas dos romanos, sobreveio a grande batalha de Cannes em 216 a.C., onde a vitória de Aníbal foi completa. A Macedônia e a Sicília uniram-se aos conquistadores, e Aníbal avançou até a porta das colinas de Roma. Considerando essa cidade muito poderosa, recuou para o sul da Itália onde foi derrotado, e Cartago viu-se obrigada a pedir a paz. Roma tornou-se a senhora do Mediterrâneo.
Mas o ódio de Aníbal não arrefeceu, e quando ele e seus compatriotas, os cartagineses, renasceram na Prússia, os antigos romanos, como senhores dos mares, ocupavam as Ilhas Britânicas e era inevitável que com o tempo, um grande conflito ressurgisse. Como as antigas Guerras Púnicas geraram o recente conflito, também esta guerra, no seu devido tempo, trará a renovação da luta, a não ser que demonstremos um espírito de bondade ao tratar com o adversário vencido, ao invés de tratá-lo como fez Roma no passado, sem misericórdia e sem consideração. O desejo de agredir os outros deve ser eliminado dos militaristas dessas nações. É absolutamente imperativo que o mundo seja salvo da repetição dessa catástrofe.
Todos devem empenhar-se para evitar as hostilidades. Medidas efetivas devem assegurar a manutenção da paz atualmente, assim como no futuro. Caso contrário, amanhã reencontraremos, com outra aparência, aqueles com os quais estivemos em guerra hoje.
Seja feita a justiça, mas temperada e equilibrada com clemência para evitar a perpetuidade do ódio. Portanto, são erradas as medidas severas como, por exemplo, o boicote industrial. Bastaria que as nações envolvidas tivessem apenas uma parcela justa do comércio mundial. O novo continente americano, ainda não dominado por qualquer espírito racial, vê com maior imparcialidade e, portanto, com maior clareza do que qualquer outro, o que é correto. Esperemos que as ideias americanas de justiça prevaleçam. Tenhamos sempre em mente que um erro nunca poderá corrigir e justificar outro. É imperativo viver e deixar viver.
CAPÍTULO X – LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL – (1914 – 1918) – Parte II – Seu desenvolvimento sob o ponto de vista espiritual
Esta afirmação pode soar estranha. Entretanto, verdade seja dita, a maioria da humanidade permanece adormecida por largos períodos. Não obstante, na aparência, os Corpos Físicos movimentam-se intensamente, dedicados ao trabalho ativo no mundo.
Contudo, sendo os seres humanos compostos de quatro corpos, em geral, apenas o Corpo de Desejos é o veículo mais desperto e ativo. Normalmente o estilo de vida da maioria baseia-se quase inteiramente em sentimentos e emoções. Raramente há interesse nas questões fundamentais da existência. Vive-se para garantir as necessidades do corpo e afastar a morte, nada, além disso.
Muitos talvez nunca tenham considerado seriamente o sentido da vida e nunca se perguntaram: “De onde viemos, por que estamos aqui, e para onde vamos?”.
O Corpo Vital está em constante atividade reparando os estragos do Corpo de Desejos sobre o Corpo Denso. Ele fornece a necessária vitalidade que logo será consumida na gratificação dos desejos e emoções.
Esta é a batalha árdua entre o Corpo Vital e o de Desejos. Nesse conflito é gerada a consciência no Mundo Físico. Isso torna os homens e mulheres tão intensamente alertas que, do ponto de vista do Mundo Físico, parece desmentir a afirmação sobre a dormência parcial. Contudo, depois de todos os fatos examinados, verificar-se-á sua veracidade. Também podemos afirmar que tudo se processa conforme o planejado pelas Grandes Hierarquias responsáveis pela nossa evolução.
Revisitando as épocas passadas, a humanidade já foi muito mais desperta no mundo espiritual do que no físico. Mesmo já possuindo um Corpo Denso, ainda não tinha consciência disso. Precisava aprender a utilizar adequadamente esse instrumento, a conquistar o Mundo Físico e a pensar corretamente. Por isso foi necessário, por algum tempo, esquecer tudo sobre os mundos espirituais e, assim, canalizar todas as energias para as demandas do Mundo Físico.
Como já foi explanado no Livro Conceito Rosacruz do Cosmos, o esquecimento derivou da introdução do álcool como bebida estimulante e, também, por outros meios. Portanto, não detalharemos esse tema agora.
Atualmente enfrentamos outro problema. A humanidade, a maciça maioria, se tornou profundamente envolvida no materialismo. Com isso, os veículos invisíveis estão inteiramente voltados para as atividades físicas e muito adormecidos para as verdades espirituais. Mesmo quem está despertando do sono do materialismo é considerado fanático. Chega a ser ridicularizado como candidato à internação num manicômio. Taxado de cérebro doentio e povoado de entes imaginários.
Se esta atitude mental permanecesse para sempre, o espírito acabaria completamente cristalizado no corpo. A vida celestial, na qual preparamos os futuros veículos e ambientes, tornar-se-ia cada vez mais árida.
Quanto mais nos agarramos persistentemente ao pensamento empirista, onde nada existe além da realidade concreta e mensurável, perceptível através dos sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar e percepção), mais esta atitude mental, cultivada na vida terrena, persistirá durante a passagem do Ego pelo Segundo Céu. Isso produz pouco interesse na preparação de um campo mais amplo onde se possam aplicar novos esforços e instrumentos para desenvolver e expandir nossos talentos. Como resultado, a evolução logo cessaria.
Segundo os Ensinamentos Rosacruzes, a alma é o extrato (ou quintessência) obtido por meio da experiência nos vários corpos. Da alma consubstancia-se o pão vivo, o verdadeiro alimento do espírito.
No curso normal da evolução, o aperfeiçoamento dos vários veículos é lento e gradual. A substância anímica é acumulada e assimilada pelo espírito no intervalo entre as existências terrenas. Mas, em determinado período da trajetória evolutiva, quando estamos ingressando em nova espiral espiritual – uma fase diferente da evolução comum – em geral é necessário empregar medidas drásticas para desviar o espírito do caminho já trilhado e orientá-lo para uma nova e desconhecida direção.
Antes, quando possuíamos pouca individualidade e éramos incapazes de tomar a iniciativa, essas mudanças eram efetivadas pelo que costumamos chamar de grandes cataclismos da natureza. Mas, na verdade, eram planejados pelas Divinas Hierarquias, regentes da evolução, com o objetivo de destruir grande quantidade de corpos que foram úteis para o desenvolvimento humano até aquele ponto. O ambiente é, então, alterado em conformidade com as inéditas possibilidades de um novo caminho. Aqueles que se prepararam adequadamente tornam-se os pioneiros do novo curso.
Essa destruição em massa era naturalmente muito mais frequente em épocas anteriores. Na Lemúria foram planejados diversos ambientes, numerosas foram às tentativas para recomeçar com um agrupamento humano quando outro havia falhado e sido destruído. Na verdade, não houve apenas um dilúvio na Atlântida, mas três, e entre o primeiro e o último decorreu um período de mais ou menos três quartos de um milhão de anos.
Não devemos esperar a suspensão desse método de destruição em massa para um novo começo. Nós, como um todo, devemos despertar para a necessidade de tomar um novo rumo durante a aproximação do fim do antigo.
Entretanto, os Guias Invisíveis da evolução estão empregando novo método. Aboliram muitos cataclismos da natureza. Agora, para mudar a antiga ordem por algo novo e melhor, utilizam as energias mal dirigidas da própria humanidade para atingir seus objetivos.
Eis a origem da grande guerra que recentemente nos assolou. Tem o propósito de desviar o olhar da busca pelo pão, pelo qual muitos morrem, e criar em nós a fome da alma. Assim, a atenção é deslocada das coisas materiais para as espirituais. Na verdade, estamos começando a trabalhar pela nossa própria salvação, fazendo coisas por nós, abandonando gradualmente o estado de tutela. Embora ainda inconscientes estamos aprendendo a transformar o mal em bem.
Há quem possa pensar que esta guerra afetou apenas alguns milhares de pessoas, a parcela realmente envolvida no conflito. Mas, refletindo um pouco mais sobre o assunto, qualquer pessoa ficará convencida que o bem-estar do mundo inteiro foi envolvido, em proporções variadas, no âmbito das condições econômicas. Não há raça ou país inteiramente imune a essa catástrofe. Ninguém pôde ausentar-se completamente e nem prosseguir com a mesma tranquilidade que antes reinava.
Parentesco e amizade são laços que se estendiam desde as trincheiras da Europa alcançando todas as partes do globo. Muitos de nós tínhamos parentes em um e talvez nos dois grupos empenhados na luta, e acompanhávamos a sua sorte com interesse proporcional ao grau de nossos sentimentos por eles.
Mas, durante a noite, enquanto nosso Corpo Denso dormia, ingressávamos no Mundo do Desejo, não podíamos deixar de viver e sentir toda a tragédia, com toda a intensidade possível, pois as correntes de desejos arrebatavam o mundo todo. No Mundo do Desejo não existe tempo nem distância. As trincheiras da Europa vinham até nossa porta, não importa onde estivéssemos. Não podíamos fugir dos efeitos subconscientes do espetáculo diante de nossos olhos.
Além disso, essa luta titânica produzia efeitos jamais igualados a um cataclismo natural, que é muito mais rápido em sua ação, muito mais curto em sua duração e que, além de atuar de forma localizada, não provocava os mesmos sentimentos de amor e ódio, fatores tão importantes na Grande Guerra.
Durante o curso evolutivo do passado, as Divinas Hierarquias tinham por objetivo ensinar a humanidade a obter resultados físicos por meios físicos. Assim, o ser humano esqueceu o modo de empregar as forças mais sutis da natureza como, por exemplo, a energia liberada quando uma semente está germinando. Essa energia era usada para propósitos de propulsão e levitação nas aeronaves da Atlântida. O ser humano não só perdeu a percepção da santidade do fogo, como também a capacidade de o usar com propósitos espirituais. Atualmente, somente uns quinze por cento de seu poder é utilizado nas melhores máquinas a vapor.
Há fortes razões para nossas atuais limitações. Alguém, com as faculdades espirituais despertas e com poder nas mãos, provavelmente utilizaria esta maravilhosa energia para destruir nosso mundo e tudo que há sobre ele.
A humanidade é portadora do livre-arbítrio; faz o melhor ou o pior que pode com os poderes disponíveis em cada fase de sua história. Hoje está aprendendo a dominar seus sentimentos, importante lição preparatória de capacitação para ingressar na Era de Aquário, onde utilizará com aptidão as forças superiores necessárias para seu próprio progresso. Está também arrancando a venda dos olhos para descortinar o novo mundo destinado a ser conquistado.
Dois processos específicos e diferentes estão sendo usados para atingir esse resultado. Um, é a visita da morte a milhões de lares. Ela arranca do grupo familiar o marido, o pai ou o irmão. Os sobreviventes enfrentam uma negra existência de privação econômica.
O Sol existiu antes da formação dos olhos e construiu esse órgão para ser percebido. O desejo de ver era naturalmente inconsciente, o indivíduo não conhecia e nem fazia ideia do sentido ou uso da visão. No entanto, no mundo da alma repousava o conhecimento e o desejo necessários para tornarem possível o milagre da visão.
Algo análogo ocorre em relação à morte. Quando nossa consciência se concentrou integralmente nos veículos físicos e a realidade da morte nos foi apresentada, não restou mais esperança, antevíamos o fim definitivo. Mas, no tempo apropriado, a Religião liberou o conhecimento da existência de um mundo invisível, de onde o espírito veio e para onde retornará depois da morte. A esperança da imortalidade renasceu gradativamente. Instaurou-se um sentimento consolador, a morte passou a ser compreendida apenas como uma etapa de transição. Mas, a ciência moderna tem feito o possível para roubar do ser humano este alívio para a alma.
Todavia, as lágrimas derramadas a cada morte servem para dissolver o véu que esconde o mundo invisível da nossa atual visão. A profunda saudade e a tristeza pela partida dos entes queridos dilaceram as linhas sutis do véu que separa ambos os lados. Algum dia, não muito distante, o efeito acumulado de tudo isto revelará a inexistência da morte. Quem passou para o além está tão vivo quanto nós. Contudo, a intensidade destas lágrimas, desta tristeza, desta saudade não é igual em todos os casos, e os efeitos diferem largamente segundo o Corpo Vital tenha sido ou não despertado por atos de abnegação e serviço em determinada pessoa. Isso se coaduna com o aforismo oculto: toda evolução no caminho espiritual começa no Corpo Vital. Esta é a base, e nenhuma superestrutura pode ser construída até que este princípio esteja assentado.
Abordaremos o segundo processo do desenvolvimento da alma. Abrange todos os envolvidos em conflitos no seio da guerra. Provavelmente poucos tiveram a rara oportunidade de estudar as reais condições da prolongada frente de batalha como o autor. Apesar de todo horror e brutalidade, ele acredita ser esta a maior escola de desenvolvimento anímico, como nunca existiu. Em nenhum outro lugar houve tantas oportunidades de serviço desinteressado como nos campos de batalha da França. Em nenhum outro lugar os seres humanos estiveram tão dispostos a ajudar seu semelhante. Assim, os Corpos Vitais de muitas pessoas receberam um revigoramento como provavelmente não teriam conseguido em outras numerosas vidas.
Essas pessoas tornaram-se mais sensíveis às vibrações espirituais. Portanto, mais suscetíveis, num elevado grau de receber benefícios advindos do primeiro processo antes mencionado. Consequentemente, a seu devido tempo, veremos entre nós uma multidão de sensitivos em contato tão íntimo com o mundo invisível, que seu testemunho simultâneo não poderá ser desqualificado pela escola materialista. Esses valorosos indivíduos nos auxiliarão na preparação para as elevadas condições da Era de Aquário.
“Mas”, perguntarão alguns, “quando a tensão e o espírito de sacrifício da guerra tiverem passado essas coisas não serão esquecidas? Uma grande porcentagem destas pessoas não voltará à mesma rotina em que estavam antes?”.
Podemos responder e temos confiança, isto não irá acontecer. Pois, enquanto os veículos invisíveis, especialmente o Corpo Vital, estão adormecidos, o ser humano pode persistir numa escalada materialista. Porém, quando esse veículo for despertado e provar o pão da vida, tornar-se-á como o Corpo Denso, sujeito à fome – tem fome de alma – e seu desejo não deixará de ser atendido, salvo se sucumbir após uma luta extremamente árdua. Neste caso, as palavras de São Pedro são bem aplicadas: “O último estado desse homem é pior do que o primeiro.”[27].
Contudo, é bom sentir que, não obstante a indescritível dor e a calamidade da guerra, o bem foi trabalhado no crisol dos deuses, e será permanente. Possamos todos reunir nossas forças e ajudar a extrair o bem de todas as coisas e em todas as situações. Assim, seremos exemplos luminosos na missão de conduzir a humanidade para a Nova Era.
CAPÍTULO XI – LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL – (1914-1918) – Parte III – Paz na Terra
Num mundo cansado de guerra, tingido com o sangue de milhões de irmãos ainda na flor da juventude, a esperança geme em agonia clamando por um futuro em que reine a paz. Não por armistício, uma cessação temporária das hostilidades, mas por uma paz duradoura. A paz é o anseio de todos diante das atrocidades da guerra. No entanto, a cega humanidade ignora a causa fundamental de tanta belicosidade. Um tênue verniz de civilização mantém recoberta nossa agressividade, até que a sua devastadora força vulcânica ecloda diante de nosso perplexo olhar.
A paz permanente será conquistada quando for compreendida a conexão entre a natureza do alimento consumido e seus efeitos sobre a constituição humana. O controle das paixões e a erradicação da selvageria resultam da correta aplicação do conhecimento sobre a relação alimento-corpo.
Na nebulosa aurora de sua manifestação, ainda em estado germinal, a humanidade crescia. Era guiada no caminho da evolução sob a orientação direta das Hierarquias Divinas. Recebia alimento adequado para desenvolver seus vários veículos de maneira ordenada e sistemática. Assim, no devido tempo, esses diferentes corpos se tornavam um instrumento completo e apropriado às necessidades do espírito. Servindo de templo para o espírito que neles habitava, onde podia aprender as lições proporcionadas pela vida, por uma série de renascimentos em corpos terrestres de textura cada vez mais sutil.
Existem cinco grandes estágios, ou épocas, na jornada evolutiva da humanidade sobre a Terra.
Na primeira, conhecida por Época Polar, o ser humano possuía apenas um Corpo Denso, tal como os minerais de hoje. Portanto, naquele estágio de evolução, era semelhante ao mineral. A Bíblia relata que “Adão (Adam) foi formado da terra”.
Na segunda, ou Época Hiperbórea, foi-lhe acrescentado um Corpo Vital, feito de Éter. O ser humano em formação possuía, então, um corpo constituído tal como as plantas atuais. Não era exatamente uma planta, mas era semelhante a uma planta. Caim, o ser humano dessa época, é descrito como um agricultor. Sua dieta provinha apenas dos vegetais, pois as plantas contêm uma quantidade de Éter superior a qualquer outro alimento.
Na terceira, ou Época Lemúrica, o ser humano desenvolveu o Corpo de Desejos, um veículo gerador de paixões e emoções. Era constituído como as criaturas do atual reino animal. O leite naturalmente estimula as emoções. Então, esse produto de origem animal, habitante das pastagens, foi acrescentado à sua alimentação. Abel, o ser humano dessa época, é descrito como um pastor. Não há nenhuma evidência de que ele tenha matado um animal para alimentar-se.
Na quarta, ou Época Atlante, a Mente desabrochou. O espírito habilitou-se a pensar no interior de seu corpo-templo. A humanidade tornou-se um ser pensante. Mas, o pensamento desgasta as células nervosas. Mata, destrói e causa degradação. Para compensar o desgaste, a carne de animais foi introduzida na dieta dos Atlantes. Eles matavam para comer. A Bíblia descreve o indivíduo dessa época como Nimrod, um poderoso caçador.
Empregando variado cardápio, o ser humano mergulhou cada vez mais fundo na matéria. Seu corpo, outrora etérico, consolidou um rígido esqueleto dentro de si e cristalizou-se. Ao mesmo tempo, foi gradativamente perdendo a percepção espiritual. Mas a lembrança do céu ainda permanecia. Sentia sua condição de exílio, uma nostalgia de seu verdadeiro lar, o mundo celestial.
Na quinta época, ou Época Ária, a principal tarefa consistia em direcionar nossa atenção exclusivamente à conquista do mundo material. Com esse objetivo, um novo elemento foi introduzido no regime alimentar: o vinho; ingrediente que acelera o esquecimento da divina morada.
Desde o alvorecer da Época Atlante, durante muitos milênios até os dias atuais, o uso abusivo e indulgente do embriagante espírito do álcool, lançou a humanidade no ateísmo e no materialismo, na mesma proporção de seu desenvolvimento civilizatório. São todos bêbados.
Uma pessoa pode afirmar, com convicção, que nunca provou uma só gota de álcool em sua vida. Entretanto, o corpo por ela habitado nessa existência, descende de ancestrais que por milênios se entregaram à bebida, sem comedimento. Portanto, os átomos que atualmente compõem os corpos do ser humano ocidental são incapazes de vibrar na frequência necessária para a percepção dos mundos invisíveis, como ocorria antes do vinho ser acrescentado à alimentação humana.
Analogamente, embora uma criança possa crescer com dieta sem carne, ainda participa da natureza feroz dos ancestrais carnívoros desde milhões de anos. É claro que os efeitos são atenuados quando comparados com os que continuam a deliciar-se com esse alimento. Assim, as consequências da introdução da carne estão firmemente implantadas e arraigadas, mesmo naqueles que agora não a consomem.
Não é de se espantar: quem ainda aprecia a carne e o vinho, às vezes, extravasa uma perversa selvageria, e exibe uma ferocidade incontida contra qualquer dos sentimentos superiores, supostamente acalentados durante séculos por uma, assim chamada, civilização!
Enquanto as pessoas continuarem a reprimir o espírito imortal dentro de si, por apreciarem a carne e o enganador espírito do álcool, nunca haverá paz duradoura na Terra. A ferocidade inata produzida por estes alimentos, de vez em quando, virá à tona e arrebatará até as mais altruísticas concepções e ideais num turbilhão de selvageria, numa orgia de cruel carnificina, que aumentará em proporção ao desenvolvimento da inteligência do ser humano, o que o habilitará a conceber com sua Mente superior, métodos de destruição mais diabólicos do que qualquer um já testemunhado.
Não há necessidade de argumentos para provar que a última guerra foi mais destrutiva, do que qualquer dos conflitos anteriores registrados pela história, porque foi travada entre mais seres humanos com cérebros do que entre seres humanos com músculos.
A habilidade, que em tempos de paz tem sido tão proveitosa em empreendimentos construtivos, foi canalizada para objetivos de destruição. Podemos supor que, se houver outra guerra daqui a cinquenta ou cem anos, a Terra poderá, talvez, ficar despovoada.
Portanto, é absolutamente necessária uma paz duradoura sob o ponto de vista da autopreservação. Nenhum ser humano que raciocine pode permitir-se ignorar esta realidade, e deve interessar-se por toda filosofia que considere a guerra um fato absurdo e lastimável, mesmo que se tenha habituado a olhá-la como um acontecimento banal.
Está comprovado que uma dieta carnívora aguça a ferocidade. Mas não nos estenderemos mais sobre o assunto por falta de espaço. Contudo, queremos mencionar como exemplo claro a bem conhecida agressividade das feras e a crueldade dos índios antropófagos americanos. Por outro lado, a força prodigiosa e a natureza dócil do boi, do elefante e do cavalo mostra o efeito da dieta herbívora nos animais.
Os povos vegetarianos e pacíficos do Oriente são uma prova para reforçar o argumento contra uma dieta de carne. Portanto, a relação entre violência e hábitos carnívoros é inegável.
No passado, o consumo da carne impulsionou os, ainda tímidos, desejos humanos de conquistar e dominar a Terra. Serviu a propósitos bem delineados para nossa evolução. Mas agora estamos no limiar de uma nova era: “o desenvolvimento espiritual por meio da abnegação e do serviço”.
A evolução da Mente proporcionará uma sabedoria profunda, muito além das possibilidades atuais. Contudo, para merecermos tão ampla sabedoria é imprescindível demonstrar, na prática, que somos dignos de confiança. Devemos tornar-nos inofensivos como pombas. Caso contrário, seríamos capazes de usá-la com propósitos ainda mais egoístas e destrutivos, uma tenebrosa ameaça para a vida na Terra. A dieta vegetariana deve ser adotada para evitarmos nossa própria calamidade.
Mas há vegetarianos e vegetarianos. Atualmente na Europa as condições obrigam o povo a abster-se de carne por um longo tempo. Não são verdadeiros vegetarianos, pois desejam ardentemente comer carne, e acham a escassez uma grande privação e sacrifício. Com o tempo até se acostumariam e, em muitas gerações, isso os converteria em seres mais tranquilos e dóceis. Obviamente este não é o tipo de vegetarianismo que necessitamos agora.
Há outros que se abstêm de carne por motivo de saúde. Um motivo egoísta. Muitos dentre eles, provavelmente até desejam deleitar-se com as “Panelas de carne do Egito”. Atitude mental que não colabora para abolir a ferocidade com rapidez.
Mas há uma terceira classe capaz de compreender que a vida é dádiva de Deus, e que causar sofrimento a qualquer criatura é crime contra a vida e a liberdade. Sendo assim, imbuídos de compaixão, se abstêm da carne como alimento. Estes são os verdadeiros vegetarianos. É evidente que uma guerra mundial nunca poderia ser travada por pessoas com essa mentalidade.
Todos os verdadeiros Cristãos deverão abster-se de carne por motivos semelhantes. Então, será um fato a paz na Terra e a boa vontade entre os seres viventes. As nações transformarão suas espadas em arados e suas lanças em instrumentos de colheita. Ferramentas para propiciar vida, amor e felicidade. O advento de uma nova ordem onde hostilidade, tristeza e sofrimento serão fatos do passado.
Nossa própria segurança, a segurança de nossos filhos e até a segurança da raça humana, obriga-nos a entender a inspirada poetisa Ella Wheeler Wilcox[28]. Ela escreveu este comovente apelo em favor de nossos amigos animais:
“Eu sou a voz dos sem voz,
através de mim os mudos hão de falar,
para que o surdo ouvido do mundo
seja aberto para escutar
as crueldades contra os fracos,
que não podem se expressar.
O mesmo poder que ao pardal formou
ao homem, como um rei, modelou.
A todos Deus concedeu
uma centelha espiritual
e de pele ou penas cada uma revestiu.
Sou o guardião de meu irmão,
e até que o mundo corrija sua direção,
a luta dele lutarei,
e para animais e aves
a palavra deles falarei”.
CAPÍTULO XII – LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL – (1914-1918) – Parte IV – O Evangelho do Regozijo
A recente luta titânica entre as nações europeias abalou o equilíbrio do mundo inteiro. A esfera emocional das pessoas que vivem até nas mais remotas regiões da Terra foi perturbada como nunca havia sido antes. Os sentimentos foram sacudidos pela cólera, ódio, histeria ou desalento, conforme a natureza e o temperamento de cada um.
Para os Estudantes dos mistérios profundos da vida, os fenômenos físicos e suprafísicos estão interligados. Compreendem a ação das Leis da Natureza na Terra e seus efeitos correspondentes nos Mundos invisíveis. Quando comparados com os que vivem aqui, em corpos físicos, fica evidente que os habitantes dos reinos espirituais são afetados com mais intensidade. Em Corpos Densos e pesados não podemos sentir toda amplitude e intensidade das ondas emocionais.
Depois da deflagração da guerra, uma profusão de emoções espalhou-se forte e rapidamente, pois não havia condições adequadas para refreá-la.
Transcorrido um ano, com grande trabalho e organização, os Irmãos Maiores da humanidade conseguiram convocar um exército de Auxiliares Invisíveis. Eles passaram pelo umbral da morte e sentiram a tristeza e o sofrimento inerentes a uma transição prematura. Ficaram sensibilizados e plenos de compaixão por todos que constantemente chegavam. Habilitaram-se para confortá-los e ajudá-los até que encontrassem seu próprio equilíbrio.
Mais tarde, contudo, intensificaram-se os sentimentos de ódio e maldade gerados no Mundo Físico, cujas influências tornaram-se mais danosas. Então, foi necessário adotar urgentes providências para neutralizar essa nova onda de sentimentos negativos. Em todos os lugares as forças do bem foram reunidas e dirigidas para ajudar a restabelecer o equilíbrio. Empenharam-se em conservar, e manter controladas, as emoções básicas.
A maioria das pessoas orava pelo fim da guerra. Mas um fato relevante agravou o problema e corroborou para prolongá-la: a fixação mental sobre o lado aterrador do conflito. O lado favorável caiu no esquecimento.
“O lado favorável dessa guerra cruel? Como assim?”
Essas perguntas podem, provavelmente, surgir na mente do leitor. Para alguns pode até parecer sacrilégio sugerir um lado favorável diante de tamanha calamidade.
Muitos costumam reter o olhar sobre o aspecto sombrio da história. Entretanto, vejamos se não há uma auréola prateada até na mais escura nuvem. Se não existe um método pelo qual essa auréola possa ser mais e mais ampliada até que a nuvem também fique luminosa.
Há algum tempo, nossa atenção foi dirigida para um livro chamado Poliana[29]. Poliana era a filha de um missionário. Seu salário era muito baixo, mal garantia o essencial para viver.
De tempos em tempos, chegavam, ao Centro Missionário, caixas de donativos com roupas usadas e quinquilharias para serem distribuídas. Poliana esperava que algum dia chegasse alguma caixa contendo uma bonequinha. Seu pai até escreveu solicitando, para uma próxima remessa, a inclusão de uma boneca para sua filha, mesmo usada.
A caixa chegou, mas, em vez de uma boneca, continha um par de muletas. Notando a decepção da criança, o pai disse: “Há uma coisa pela qual podemos ficar contentes e agradecidos, não precisamos de muletas!”.
Desde então instituíram o jogo do “estou contente”. Consistia em procurar e encontrar qualquer motivo para alegrar-se e agradecer. Não importava o que fosse. E eles sempre garimpavam uma boa razão para contentarem-se.
Por exemplo, quando não podiam pagar os pratos mais elaborados do cardápio do restaurante, eram obrigados a pedir a mais modesta refeição, então diziam: “Bem, estamos contentes, pois gostamos de feijão”. Embora os olhos brilhassem fixamente sobre o apelo visual dos pratos suculentos, com preço obviamente proibitivo.
Depois, ensinaram o jogo a outros. Proporcionaram estados de felicidade e satisfação para muitas pessoas. Inclusive para algumas que já não acreditavam na possibilidade de sentir alegria.
Por fim, estavam realmente passando fome. Além disso, a mãe de Poliana partiu para o céu onde podia viver sem sobrecarregar as despesas. Logo depois seu pai também partiu.
Poliana passou a depender da generosidade de uma tia solteira e rica. Mas era rabugenta e hostil, morava em Vermont[30]. Foi mal-recebida e obrigada a hospedar-se em um quarto inóspito. Mesmo assim a menina só viu motivos para alegrar-se. Literalmente irradiava alegria.
Por seu encanto conquistou a simpatia da empregada e do jardineiro e, com o tempo, até da áspera tia.
A Mente radiosa da criança logo forrou as paredes nuas, o chão, e até mesmo o sótão do seu frio quarto. Povoou o ambiente com toda espécie de beleza. Mesmo sem quadros na parede ela ficava contente. Atravessando o olhar por sua pequena janela deslumbrava-se com a paisagem que superava em beleza a obra de talentosos pintores. Avistava o gramado, um tapete vivo, verdejante e dourado, nem o mais hábil tecelão do mundo poderia assim tecer.
Se em seu grosseiro lavatório não havia espelho, ela ficava contente porque isso a poupava de ver suas sardas. Se tivesse sardas, era um bom motivo para ficar contente, pois não eram verrugas! Se sua mala era pequena e as roupas poucas, não eram bons motivos para ficar contente porque com rapidez poderia desfazer a bagagem? Se seus pais já partiram, não devia estar contente por eles estarem no céu, com Deus? Deles não podia mais ouvir a voz, mas alegrava-se por poder dirigir-lhes o pensamento!
Quando voava como um pássaro pelos campos e charnecas, esquecendo a hora da ceia, ao voltar mandavam-na para a cozinha. Na mesa apenas pão e leite. A tia, esperando lágrimas e protestos, ficava surpresa ao ouvi-la exclamar: “Que bom, estou tão contente com a refeição; eu gosto muito de pão e leite”.
Qualquer tratamento ríspido, aliás, muito abundantes no início, Poliana transformava em bom motivo para enaltecer o bem por detrás de tudo. Com pensamentos e palavras sempre demonstrava gratidão pelo que recebia.
A primeira a seguir seu exemplo foi Nancy, a criada da casa. Nancy aguardava com verdadeiro pavor o dia da semana destinado à lavagem de roupa. Encarava a segunda-feira com péssimo humor. Não tardou para a menina contagiá-la. Segunda-feira logo se transformou na melhor de todas as manhãs, pois justamente nesse dia podia ficar livre da roupa suja e melhor desfrutar dos outros dias da semana. Também se sentia contente por se chamar Nancy e sorria imaginando um nome estranho, por exemplo, Hepsibah.
Certo dia, Nancy protestava dizendo: “Quero ver o que há num enterro para ficar contente”. Poliana de pronto respondeu: “Claro que há. Podemos ficar contentes por não ser o nosso”.
Com as costas encurvadas, o jardineiro se queixava do reumatismo. Poliana entra em cena aplicando o jogo do contente e mostra-lhe a vantagem de estar meio curvo. Deveria ficar contente, pois estava mais próximo do chão e se curvava só mais um pouquinho na hora de arrancar o mato.
Numa mansão perto de sua casa vivia um velho solteirão. Pessoa reclusa e impermeável. Mesmo diante das suas antipáticas atitudes a menina se mantinha solícita. Visitava-o com frequência. Não ficava indiferente à sua inevitável solidão.
Com inocência e compaixão Poliana atribuía sua falta de cortesia a algum infortúnio guardado em segredo. Cultivava crescente esperança de encontrar uma boa oportunidade para ensinar-lhe o jogo do contente.
Eis que ela ensinou e ele aprendeu. Mas não foi fácil no começo. Houve um episódio no qual ele quebrou a perna. Foi trabalhoso convencê-lo a ficar contente por haver quebrado apenas uma e não as duas pernas. E ainda mais, admitir a possibilidade de algo muito pior: ter tão numerosas pernas quanto centopeias. Já imaginou todas elas quebradas!
Por fim, graças à sua alegre disposição ele passou a gostar do Sol. Abria as venezianas e enrolava as cortinas. Já conseguia abrir seu coração para o mundo. Ele quis adotá-la, não tendo êxito, adotou um menino órfão que Poliana havia encontrado à beira da estrada.
A incansável postura amorosa da menina também tocou a alma de uma senhora. Tinha o hábito de usar apenas roupas escuras e tristes. Mudou para roupas com cores alegres e joviais.
Outra senhora era rica, porém infeliz. Sua mente ficou fixada em dissabores do passado. Poliana redirecionou sua atenção para as misérias alheias. Aprendeu o jogo do contente. Agora sabia como levar alegria para almas que tinham fortes razões para sofrer. Esta senhora encheu de satisfação sua própria alma. Sem o saber, ela reaqueceu a relação de um casal que estava a ponto de separar-se. Acendeu em seus corações, já quase frios, um grande amor pelos filhos.
Aos poucos, toda a cidade começou a jogar o jogo do contente. Foi uma reação em cadeia. Sob esta influência, homens e mulheres transformavam-se em seres diferentes. Os infelizes ficavam felizes. Os doentes curavam-se. Os que estavam a ponto de proceder mal reencontravam o bom caminho. Os desanimados readquiriam coragem.
O principal médico da cidade achou por bem recomendá-la, como se ela fosse algum remédio. Dizia: “Essa garotinha é melhor do que um vidro de tônico. Se há alguém capaz de retirar o mau humor de alguém é ela. Uma dose de Poliana é mais eficaz na cura do que uma farmácia cheia de medicamentos”.
Mas o jogo do contente operou um milagre de maiores proporções. Conseguiu transformar o caráter de sua intransigente e insensível tia. Ela recebeu Poliana em sua casa por estrito dever de família. Mas a convivência com sua sobrinha impregnou seu coração com transbordante carinho. A sobrinha foi transferida de seu frio quarto no sótão para um quarto lindamente decorado. Bem mobiliado com quadros e tapetes. Situava-se no mesmo andar dos aposentos de sua tia. Assim, o bem por ela praticado reverteu em seu próprio benefício.
A história é uma ficção, mas está inspirada em fatos fundamentados na lei cósmica. O exemplo dessa menina, com as pessoas e o ambiente que a cercava, nós, Estudantes dos Ensinamentos Rosacruzes, podemos e devemos praticar em nossas esferas de ação. Tanto no círculo mais imediato, com nossos parentes e companheiros próximos, como no mundo em geral.
Bem, então, que benefício se pode extrair da guerra? É possível encontrar um lado favorável, mesmo numa tão devastadora calamidade? Como superar a decepção com a derrota ou o pavor diante das catástrofes anunciadas em manchetes sensacionalistas?
Em primeiro lugar não devemos somar mais desalento, ódio e rancor aos sentimentos similares já proliferados por outros.
E é evidente que há motivo para extremo regozijo. Basta notar o espírito de abnegação que impele tantos nobres soldados a renunciar o rentável trabalho no mundo, além do conforto de seus lares. Encaram o conflito com a esperança e com o ideal de tornar o mundo melhor. Não para si, mas para os que vêm depois. Reconhecem a remota possibilidade de retorno para gozar dos eventuais frutos alcançados.
Também há motivo para regozijo quando tantas mulheres, educadas na comodidade e no conforto, trocam seus lares e vida social pelo árduo trabalho de cuidar dos feridos. Elas compartilham um notável espírito de altruísmo. Aquelas que, por força das circunstâncias, são obrigadas a permanecer em casa, ainda assim colaboram tecendo e trabalhando para socorrer as vítimas da batalha.
O altruísmo está nascendo em milhões de corações humanos. O imenso sofrimento é seu fermento. Da opressiva angústia, imposta na última guerra, a humanidade torna-se mais benevolente, nobre e aprimorada.
Podemos alimentar este bom aspecto da recente experiência nefasta. Também podemos ensinar a ter esperança e comentar sobre as bênçãos futuras resultantes desses conflitos. Assim ganharemos forças renovadas para suplantar as provas e estaremos mais qualificados para ajudar o próximo a mudar de atitude, principalmente de atitude mental.
Desse modo, imitaremos Poliana. Com dedicação sincera, nosso exemplo se ampliará e se enraizará em outros corações. Como pensamentos são coisas, e os pensamentos positivos são mais poderosos que o mal, desde que estejam em harmonia com a tendência da evolução, breve virá o dia em que conseguiremos a supremacia do bem e ajudaremos a instaurar a paz duradoura.
Esperamos que esta sugestão seja seriamente incorporada e posta em prática. Esperamos o empenho de todos os Estudantes, pois a imperiosa necessidade atual supera a de outros tempos.
CAPÍTULO XIII – O SIGNIFICADO ESOTÉRICO DA PÁSCOA E O PONTO DE PARTIDA da Filosofia Rosacruz
Novamente a Terra completa seu ciclo no Equinócio de Março. Em cadenciada dança anual, circundando o Sol, alcança seu ponto culminante, a Páscoa.
Todos os anos, durante Setembro, Outubro e Novembro, o raio espiritual do Cristo Cósmico penetra a Terra para reativar sua já esgotada vitalidade. Agora, em Março, o Cristo prepara-se para retornar ao Trono do Pai.
Durante os períodos de Dezembro, Janeiro e Fevereiro as atividades espirituais concentram-se nos processos de fecundação e germinação. Por sua vez, os processos de crescimento físico e amadurecimento realizam-se no verão e outono subsequentes, sob a influência do Espírito da Terra. O ciclo completa-se no “Lar da Colheita”.
Deste modo, o grande Drama do Mundo é encenado e reencenado ano após ano. Uma eterna disputa entre vida e morte. Sendo cada uma, a seu turno, vencedora e vencida em correspondência com a alternância dos ciclos.
Os efeitos dos ciclos alternantes, dos grandes fluxos e refluxos, não estão limitados a Terra, a sua flora e fauna. Também exercem uma influência dominante sobre a humanidade. Interferem no comportamento humano, mesmo que a grande maioria não esteja ciente do fato. Não obstante a ignorância, podemos constatar que um poder invisível adorna vistosamente as aves e os animais na primavera. Nesse período, o mesmo poder estimula o humano desejo de se vestir com cores alegres e roupas mais claras.
É também “o convite do campo”, que em Junho, Julho e Agosto incentiva o ser humano a descontrair-se e buscar um ambiente rural. Nos campos e florestas os Espíritos da Natureza exercitam suas artes mágicas. Recuperam-se da tensão gerada pelas condições artificiais reinantes nos congestionados centros urbanos.
Por outro lado, a “descida” do raio espiritual do Sol, em Setembro, proporciona o reinício das atividades mentais e espirituais em Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Uma força germinante fermenta a semente na terra e a prepara para reproduzir e multiplicar sua espécie. Essa mesma força analogamente estimula a Mente humana e fomenta atividades altruístas que tornam o mundo melhor.
No Natal somos banhados por vibrações de paz e boa-vontade. Essa imensa onda que irradia Amor Cósmico tem sua culminância em Dezembro. Sem essa presença espiritual não haveria suficiente entusiasmo em nossos corações. Não sentiríamos tanta felicidade nem tanto desejo de proporcionar mais felicidade aos outros. O costume universal de dar presentes no Natal empalideceria. Todos seriam drasticamente afetados.
Todos foram beneficiados quando Cristo peregrinava dia após dia, pelas colinas e vales da Judeia e Galileia, ensinando as multidões. Mas os mais agraciados foram os Discípulos. Eles conviveram em maior proximidade com o Mestre.
No decorrer do tempo os laços de amor estreitaram-se até o momento decisivo, quando mãos impiedosas despojaram o amado Instrutor. Então, Ele foi conduzido ao suplício na Páscoa. Apesar do trágico fim, mesmo sem o envoltório de carne, Cristo continuou a conviver intimamente, em espírito, com Seus Discípulos por mais tempo.
Tendo encerrado as necessárias orientações, elevou-se às esferas superiores. Doravante o contato direto com o Mestre estava impossibilitado.
Seus companheiros e amigos miraram-se com tristeza, olhar angustiado, e perguntaram-se: “É este o fim?”.
Eles haviam esperado tanto, haviam alimentado tão elevadas aspirações. Depois de tudo, o horizonte parecia desolador e monótono. A Terra, beijada pelo Sol, mantinha verdejante paisagem, de radiante beleza. Exatamente como antes de Sua partida. Mesmo assim, sombria desolação oprimia seus corações.
Algo semelhante também ocorre conosco quando buscamos a luz do espírito e lutamos contra os apelos da carne. Mas, a analogia pode não ter sido evidente até aqui. Então, busquemos maior clareza.
Em Setembro, a “descida” do raio Crístico anuncia o princípio do período da supremacia espiritual. De imediato sentimos uma profusão de bênçãos e banhamos nossas almas nessa benfazeja maré. Experimentamos uma sensação semelhante à dos Apóstolos quando ainda podiam conviver em círculo íntimo com Cristo. À medida que os meses, a partir de Setembro, avançam, torna-se cada vez mais fácil comungar com Ele, face a face, como há dois mil anos.
Mas, o curso anual dos acontecimentos, Páscoa e Ascensão do raio Crístico ressuscitado, coloca-nos em idêntica posição à dos Apóstolos quando seu querido Mestre se afastou. Ficamos inconsoláveis e desanimados. O mundo parece um monótono deserto. Não conseguimos atinar qual é o motivo dessa tristeza.
Mas ela é tão natural quanto os fluxos e refluxos das marés, como os dias e as noites. Tais oscilações são inerentes a atual fase de nossa evolução onde vigoram os ciclos alternantes.
Contudo, existe um sério perigo na atitude mental negativa. Se permitirmos que ela nos domine, é possível que abandonemos nosso trabalho no mundo e convertamo-nos em desiludidos sonhadores. Perdendo o equilíbrio podemos provocar severas críticas contra nós, aliás, muito pertinentes. Este tipo de conduta é inteiramente reprovável.
Após haver recebido o ímpeto espiritual de Dezembro, Janeiro e Fevereiro, a Terra emprega grande esforço material para gerar e garantir abundância em Junho, Julho e Agosto. Assim também é nosso dever dedicar os maiores esforços no labor em prol do mundo, uma vez que temos o privilégio de estar em contato mais íntimo com o poder espiritual.
Agindo assim, é possível que despertemos o espírito de emulação e de serviço à nossa volta.
Estamos acostumados a pensar no avaro como alguém que se dedica a juntar ouro. Essa classe de pessoas, de modo geral, torna-se alvo de desprezo. Mas há indivíduos que lutam tão tenazmente para adquirir conhecimento como o avaro se esforça para acumular ouro. Não hesitam em usar qualquer meio, ou subterfúgio, para alcançar seu almejado intento.
Juntar e recolher para si mesmo um vasto repertório intelectual consiste em atitude tão egoísta quanto a do avaro amealhando seu tesouro. Tal postura bloqueia, de fato, as portas que conduzem a uma sabedoria maior.
Da antiga mitologia nórdica, com rica simbologia, podemos colher uma esclarecedora parábola para essa questão.
Conforme ilustra a narrativa mítica, quem morre no campo de batalhas (alma forte e que enfrenta o bom combate até o fim) é conduzido solenemente ao Valhalla[31], o Lar dos Deuses. Por outro lado, quem morre na cama ou por doença (alma fraca que vagueia pela vida) é levado ao lúgubre Niflheim.
No Valhalla, os valentes guerreiros banqueteavam-se diariamente com a carne de um javali chamado Saehrimnir [32]. Este se caracterizava por uma peculiaridade: quando um pedaço de sua carne era cortado, imediatamente outro crescia no mesmo lugar. Assim o corpo inteiro ficava preservado, não importando a quantidade consumida.
Aqui temos uma perfeita metáfora sobre o conhecimento. Não importa quanto dele possamos dar aos outros, o original sempre permanece conosco.
Assim sendo, é um dever, digno de sanção, compartilhar o conhecimento que estamos adquirindo. Está escrito: “A quem muito é dado, muito será exigido”[33].
Talvez seja oportuno descrever novamente uma experiência para ilustrar o caso.
Trata-se da “prova” decisiva pela qual fui submetido, antes de me serem confiados os ensinamentos compreendidos no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”, embora nessa ocasião, naturalmente, eu não soubesse que estava sendo testado.
Aconteceu numa época em que viajei à Alemanha em busca de um professor que, acreditava, poderia ajudar-me a avançar no caminho da realização.
Mas, chegou um ponto onde já havia assimilado com profundidade seus ensinamentos. Então, o questionei sobre algumas ideias incongruentes. Ele viu-se obrigado a admitir sua incapacidade para elucidá-las. Fiquei desalentado. Uma verdadeira frustração.
Já de malas prontas para voltar para a América me sentei na cadeira do quarto. Estava pensativo e desapontado, conjecturando sobre o fracasso da viagem. De repente tive a sensação da presença de alguém vindo em minha direção. Olhei para cima e contemplei Aquele que, desde então, se tornou meu Mestre.
Lembro-me, envergonhado, do quão rispidamente perguntei quem O havia enviado e o que o “intruso visitante” desejava.
Eu estava muito mortificado. Muito hesitei antes de aceitar Seu auxílio. Enfim consegui conversar sobre as dúvidas e a busca que motivaram minha ida para a Europa.
Durante os dias seguintes, o recente companheiro reapareceu diversas vezes nos meus aposentos. Respondia às minhas perguntas e ajudava-me a encontrar soluções para problemas, até então, desorientadores.
Contudo ainda permanecia cético. Seria tudo isso mera alucinação? Pois minha visão espiritual era pouco desenvolvida e nem sempre sob o necessário controle.
Compartilhei a situação com um amigo. Disse-lhe que o inesperado visitante dava respostas claras, concisas e perfeitamente lógicas a todas as dúvidas. Respostas diretas e muito além de qualquer concepção que eu fosse capaz de imaginar. Assim concluímos que a experiência só poderia ser real e consistente.
Alguns dias depois, o recente amigo revelou-me que era membro de uma Ordem Espiritual. Os ensinamentos da Ordem continham uma solução completa para o enigma do universo, muito mais completa do que qualquer outro ensinamento já divulgado. Afirmou que os Irmãos da Ordem estavam dispostos a compartilhar comigo esses ensinamentos. Mas havia uma condição. Eu deveria conservá-los como um segredo inviolável.
Reagi furiosamente: “Ah, então é isso! Agora estou percebendo a armadilha! Não! Se você possui o que diz e se, de fato, é tão bom, então, é um bem a ser compartilhado com o mundo todo. A Bíblia proíbe-nos expressamente de ocultar a Luz. Não me interessa desfrutar dessa fonte de conhecimentos enquanto milhares de almas anseiam por uma solução a seus problemas, tal como eu”.
O visitante, então, retirou-se e não voltou. Apressadamente concluí que se tratava de um emissário dos Irmãos das Trevas.
Mais ou menos um mês depois, deduzi que não poderia obter maior iluminação na Alemanha. Sem demora, fiz reserva num navio para Nova York. Devido ao intenso movimento, só consegui vaga para um mês depois.
Quando voltei ao alojamento, logo depois de comprar a passagem, lá estava novamente o rejeitado Mestre. Insistiu na oferta. Ensinamentos completos com a condição de conservá-los em segredo. Desta vez a reação de recusa foi talvez mais enfática e indignada do que antes. Porém, desta vez o Mestre permaneceu e disse:
“Estou contente em ouvir sua recusa, meu irmão. Espero que você seja sempre zeloso em propagar os ensinamentos da Ordem, sem medo nem parcialidade, como tem sido firme sua recusa. Esta é a real condição para receber as revelações”.
Então, recebi instruções para tomar um determinado trem, numa certa estação, com destino a um lugar do qual nunca ouvira falar.
Lá chegando, encontrei o Irmão em carne e osso. Em seguida fui levado ao Templo. Desde então, venho recebendo as principais instruções contidas em nossa literatura.
Mas vamos para a parte que mais nos importa no momento: se eu tivesse concordado em conservar em segredo as revelações, naturalmente teria sido considerado incapaz de ser um mensageiro dos Irmãos Maiores e eles teriam procurado outro mais qualificado.
Isto também ocorre com todos nós. O mal estará batendo à nossa porta quando, de forma mesquinha, guardamos as bênçãos espirituais que recebemos. Assim sendo, vamos imitar a Terra nesta época da Páscoa. Vamos dar ao Mundo Físico a atividade construtora dos frutos do espírito. Frutos semeados no solo de nossas almas durante a precedente estação invernal. Dessa forma, receberemos bênçãos mais abundantes a cada ano que se passa.
CAPÍTULO XIV – OS ENSINAMENTOS DA PÁSCOA
Novamente estamos na Páscoa. Passaram-se os sombrios e pesados dias dos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro. A Mãe Natureza remove o manto frio de gelo que cobria a terra[34]. Liberta milhões e milhões de sementes que estavam resguardadas no macio do chão. Elas rompem sua crosta e vestem o solo com trajes de verão numa orgia de cores alegres e vistosas. Preparam as “câmaras nupciais” para animais e aves celebrarem seus rituais de acasalamento.
Mesmo neste ano de guerra[35] regado de lágrimas, o canto da vida ressoa bem alto, acima do canto fúnebre da morte.
Oh morte! Onde está teu aguilhão?
Oh tumba! Onde está tua vitória?
Cristo ressuscitou! Vede os primeiros frutos.
Ele é a Ressurreição e a Vida.
Quem n’Ele acredita não morrerá,
mas terá vida eterna.
Na presente estação, a mente do mundo civilizado volta-se para a festividade que chamamos Páscoa. Nela comemora-se a morte e ressurreição do Nobre Ser que o mundo conhece pelo nome de Jesus. Sua história e Sua vida foram descritas nos Evangelhos. Mas, um Cristão Místico tem uma visão mais profunda e mais ampla desse evento cósmico que se repete anualmente. Ele reconhece o anual fluxo e refluxo da vida do Cristo Cósmico interpenetrando o corpo da Terra. Nosso Planeta então respira. A Terra inala esse influxo vital durante os meses de Setembro, Outubro e Novembro, cuja culminância é alcançada no Solstício de Dezembro, quando celebramos o Natal. E a Terra exala durante os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro até culminar a época da Páscoa. A inspiração, ou injeção de força vital, manifesta-se pela aparente inatividade dos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Segue-se a expiração da vida de Cristo, manifestada como força da ressurreição. Força que dá nova vida a tudo que vive e se movimenta sobre a Terra. Vida abundante. Não apenas para manter, mas para propagar e perpetuar.
O drama cósmico da vida e da morte é representado, anualmente, por todas as criaturas e coisas em evolução, da maior à menor. Até o grande e sublime Cristo Cósmico, em Sua compaixão, torna-se sujeito à morte quando, durante seis meses do ano, interpenetra no ambiente cristalizado do corpo da Terra. Por conseguinte, é oportuno recordar alguns pontos relativos à morte e renascimento que, às vezes, podemos esquecer.
Entre os símbolos cósmicos conservados desde a antiguidade, seguramente o mais popular é o ovo. O Simbolismo do Ovo permeia as Religiões. Está presente no Antigo Eddas[36] dos Escandinavos. Antiga lenda que nos fala do ovo e da origem dos mundos. Ovo esfriado pelo sopro gelado no Niebelheim[37]. Mas também aquecido pelo hálito quente do Muspelheim. Mesmo antes que os vários mundos e o próprio ser humano viessem a existir. Indo em direção ao ensolarado sul, podemos encontrar nos Vedas[38], da Índia, história análoga. Trata-se do mito Kalahamsa[39], protagonizado pelo Cisne do tempo e do espaço. Pássaro cujo ovo finalmente converteu-se no mundo. Entre os egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas. Símbolos da sabedoria manifestada neste nosso mundo. Depois, os gregos utilizaram esse mesmo simbolismo, cultuado e reverenciado em seus Templos de Mistérios. Foi preservado e sacralizado pelos Druidas[40]. Era também conhecido dos construtores do Grande Montículo da Serpente, em Ohio, EUA[41]. O simbolismo relativo do ovo conservou seu lugar na Simbologia Sagrada até hoje, muito embora a imensa maioria dos seres humanos seja cega ao Grande Mistério que ele encerra e revela: “O Magno Mistério da Vida”.
Quando quebramos a casca de um ovo, achamos apenas fluídos viscosos de coloração variada e consistência diversa. Mas, quando submetido a uma temperatura adequada, logo observamos uma série de mudanças. Assim, em pouco tempo, uma criatura viva pode romper a casca e surgir pronta para assumir seu lugar entre os de sua espécie. Os “magos” dos laboratórios podem sintetizar as substâncias do ovo e injetá-las numa casca. Uma réplica perfeita do ovo natural pode ser produzida, conforme as experiências realizadas até hoje. Contudo, o ovo artificial difere do ovo natural em um ponto fundamental: nenhuma coisa viva pode ser incubada no ovo obtido artificialmente. Fica evidente, portanto, que alguma coisa intangível deve estar presente em um e ausente noutro.
Esse mistério primordial que anima todas as criaturas é o que nós chamamos Vida. A Vida não pode ser detectada em meio às substâncias do ovo, nem mesmo através do mais potente microscópio, ainda que ela esteja ali presente para produzir as notáveis mudanças. Pode-se assim concluir que a Vida tem a propriedade de existir independentemente da matéria. Aprendemos através do sagrado simbolismo do ovo que, apesar da Vida ser capaz de modelar a matéria, não depende dela para existir. A Vida é autoexistente. Não tendo princípio não pode também ter fim. Essa ideia está bem representada pela geometria ovoide presente na própria forma do ovo.
Estamos estarrecidos com a carnificina nos campos de batalha da Europa. Somando a maneira atroz como as vítimas são arrancadas da vida física. Vamos considerar que a média da expectativa de vida aqui é de apenas 50 anos[42], mais ou menos, e que, em meio século, a morte ceifa a vida de cento e cinquenta milhões de irmãos. Três milhões por ano. Duzentos e cinquenta mil a cada mês. Podemos ver que, afinal de contas, o total não foi tão expressivamente aumentado. Vamos refletir sobre o verdadeiro conhecimento contido no simbolismo do ovo, isto é, que a Vida não pode ser criada, nunca teve princípio e nunca terá fim. Assim estamos prontos para encarar os fatos e admitir: aqueles que são agora retirados da existência física estão apenas atravessando uma jornada cíclica idêntica à da vida do Cristo Cósmico. Vida que interpenetra a Terra nos meses de Setembro, Outubro e Novembro e retira-se na Páscoa. Aqueles que morreram estão apenas indo para os reinos invisíveis. De onde mais tarde, e em novo ciclo mergulharão na matéria densa, interpenetrando, como todas as coisas vivas, o óvulo da futura mãe. Após um período de gestação, reingressarão na vida física para aprender novas lições na grande escola.
Assim, vemos como a grande lei da analogia opera em todas as fases e sob todas as circunstâncias da vida. O que acontece ao Cristo no grande mundo vai acontecer também na vida particular (pequeno mundo) daqueles que caminham para converterem-se em Cristos. Encarando os desafios humanos dessa maneira podemos enfrentar o presente conflito com mais ânimo.
Devemos admitir que a morte cumpre, nas atuais circunstâncias, uma tarefa cósmica necessária. Podemos imaginar as consequências de permanecer aprisionado num corpo como o que agora usamos. Se fôssemos introduzidos num ambiente tal e qual este em que nos encontramos hoje, para assim viver perenemente. As enfermidades do corpo e as condições insatisfatórias do ambiente bem cedo nos fariam cansar da vida e implorar por libertação.
Um corpo imortal impediria todo progresso e tornaria impossível evoluirmos às alturas mais elevadas. Por outro lado, o renascimento em novos veículos e novos ambientes permite novas possibilidades de crescimento. Por conseguinte, devemos agradecer a Deus tanto o nascimento quanto a morte. O nascimento em um Corpo Denso é necessário para nosso contínuo desenvolvimento. Igualmente necessário é o abandono desse corpo, através da morte, e tem sido providenciado com o objetivo de libertar-nos de um instrumento esgotado pelo uso.
Tanto a ressurreição do espírito como uma nova encarnação sob o céu auspicioso e em um novo ambiente, proporcionam oportunidades inéditas para recomeçar a vida. Sob as novas condições podemos aprender as lições que não foram devidamente assimiladas antes. Graças a esse método seremos algum dia perfeitos como o Cristo ressuscitado. Assim Ele determinou e nos legou Seu exemplo, auxiliando todos a caminhar em Sua direção.
CAPÍTULO XV – MÉTODO CIENTÍFICO PARA O DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL – Parte I – Analogias Materiais
Enquanto estávamos descendo para uma existência concreta, através da involução, nossa linha de progresso consistia unicamente no desenvolvimento material. Mas, desde que ultrapassamos o nadir da materialidade[43] e começamos a ascender para além do mundo concreto, a expansão espiritual está ganhando importância cada vez maior. Agora, o progresso espiritual é um fator determinante para nosso desenvolvimento, embora ainda restem muitas lições fundamentais para serem aprendidas nessa atual fase material de nossa evolução. Isto se aplica à humanidade em geral. Em especial, é claro, aos que já estão conscientemente aspirando à vida superior. Portanto, é oportuno rever, por outro ângulo, os Ensinamentos Rosacruzes. Trata-se do método científico empregado para alcançar o almejado desenvolvimento espiritual.
Pessoas da velha geração, especialmente na Europa e no leste dos Estados Unidos, sem dúvida, devem lembrar-se com prazer de seus passeios através de tranquilas alamedas nos campos de exuberante frescor. Algumas dessas caminhadas conduziam a um murmurante riacho com seu velho e rústico moinho e sua barulhenta roda d’água movendo, com dificuldade, todo o rústico maquinário. Apenas uma pequena fração da força transportada pela água corrente era aproveitada, a fração restante seguia seu curso natural, desperdiçada. Mais tarde, surgiu uma nova geração de empreendedores que notou a potencialidade dessa poderosa energia. Poderia ser mais bem aproveitada com as recentes conquistas científicas. Engenheiros começaram a construir represas para deter e controlar o fluxo das águas, evitando desperdícios. Através de sistemas de canos e calhas condutoras, e em harmonia com princípios científicos, conduziam, para as rodas d’água, a água represada nos reservatórios. Dessa forma podiam, então, regular a vazão da grande energia assim armazenada. Liberavam apenas a quantidade suficiente para movimentar as rodas d’água, ajustando a velocidade e o volume conforme a necessidade.
Sem dúvida, a roda d’água construída cientificamente é muito mais eficiente quando comparada com a sua rústica antecessora. Trabalhando com as Leis da Natureza, o ser humano assegurara um provedor com energia inesgotável. Apesar disso, ainda persistia uma idêntica limitação. Sua poderosa energia podia ser aproveitada somente no lugar onde estava localizada a própria fonte geradora. Tais lugares, em geral, estão a muitos quilômetros dos centros urbanos, justamente onde há maior demanda de energia.
O novo desafio agora estava em conduzi-la aonde fosse mais necessária. Para solucionar esse problema, as Leis da Natureza foram invocadas mais uma vez. Surgiram os geradores elétricos. Agora a energia mecânica das rodas podia ser transformada em energia elétrica.
Mas como enviar e distribuir essa energia para os centros urbanos? A inventividade humana sempre reaparece. Com diligentes esforços e empregando os adequados métodos científicos, em harmonia com as Leis da Natureza, descobriu-se que diferentes metais transmitem eletricidade com maior ou menor resistência. Constatou-se que o cobre e a prata são os melhores condutores. Logicamente, foi escolhido o cobre por ser o mais barato.
O Estudante deve observar, com atenção, que não podemos obrigar as forças da natureza a fazer nada; sempre que a utilizamos devemos se harmonizar com a manifestação delas, escolhendo a linha de menor resistência para obter o máximo de energia. Se fios de ferro ou prata alemã, que têm uma resistência comparativamente alta, tivessem sido escolhidos como transmissores, uma grande quantidade de energia teria sido perdida, além disso, outras complicações teriam surgido, as quais não precisamos entrar em nosso propósito. Mas trabalhando com as Leis da Natureza e escolhendo a linha de menor resistência, obtemos o melhor resultado da maneira mais fácil.
Mas, os pesquisadores enfrentaram outros problemas. Como transportar a força elétrica captada da água? Como convertê-la em eletricidade utilizável a muitos quilômetros além da fonte geradora?
As pesquisas demonstraram que qualquer corrente elétrica prefere, sempre que há opção, chegar ao solo seguindo o caminho mais curto e com menos obstáculos. Então, para evitar o escoamento de corrente elétrica através da fiação foram desenvolvidos os materiais isolantes. Assim, o metal que transporta a corrente elétrica foi isolado da terra pelo revestimento com material isolante. Exatamente como altos muros confinam, com segurança, prisioneiros em seu interior.
Foi preciso pesquisar materiais com os quais a eletricidade demonstrasse uma aversão natural. O vidro, a porcelana e certas substâncias fibrosas mostraram-se impermeáveis à eletricidade.
Vemos, portanto, que através de procedimentos científicos e da engenhosidade, e sempre trabalhando com as Leis da Natureza, os problemas podem ser solucionados. No nosso exemplo, foram superados os desafios inerentes à transformação e ao transporte de grandes quantidades de energia para lugares distantes, com eficiência e máxima redução do desperdício.
Resultados igualmente maravilhosos podem ser obtidos em proveito e conforto da humanidade, basta empregarmos métodos científicos aos eventuais desafios. Por exemplo, na agricultura é possível fazer brotar duzentos pés de uma planta onde antes, pelos antigos métodos rústicos, nem sequer um vingaria.
Gênios, como Luther Burbank[44], melhoraram as variedades silvestres de frutas e legumes tornando-os maiores, mais suculentos e mais saborosos, bem como mais produtivos.
Em qualquer área na qual os métodos científicos suplantaram os hábitos rústicos e o puro acaso também foram obtidos resultados vantajosos.
Mas, vamos enfatizar o aspecto mais importante dentro do conjunto de nossas considerações: “Tudo o foi feito, foi realizado trabalhando com as Leis da Natureza”.
Lembremos o axioma hermético que sintetiza a Lei da Analogia: “Como é em cima, assim também é embaixo”. A Lei da Analogia é a chave mestra de todos os mistérios espirituais ou materiais. Podemos, então, deduzir com segurança: “métodos científicos aplicados em problemas materiais produzem resultados valiosos. Obteremos resultados igualmente valiosos quando aplicarmos métodos análogos para a solução de desafios no domínio espiritual”. Mesmo percorrendo um retrospecto superficial do desenvolvimento dos sistemas Religiosos do passado, já é o suficiente para evidenciar a ausência de ciência e método no bojo de seus preceitos. Além disso, prevaleciam concepções completamente fortuitas. Apesar de tudo, algumas almas alcançaram sublime espiritualidade nas alturas celestes, graças a um profundo sentimento de devoção. São reverenciados através dos séculos e recebem o título de Santos. Iluminam caminhos. Exemplificam o que pode ser feito. Mas, como alcançar essa sublime espiritualidade? Eis um antigo desafio tanto para os Aspirantes do passado como do presente. Mesmo para aqueles que desejam ardentemente. Lamentavelmente são muito poucos que, comparativamente, procuram o caminho hoje em dia.
Os Irmãos Maiores da Rosacruz desenvolveram um método científico que, se seguido persistente e profundamente, ajudará a desenvolver os poderes latentes da alma. É útil e eficiente para todas as pessoas. Tão eficaz quanto uma prática sistemática pode tornar qualquer pessoa competente na atividade material em que se compenetre.
Para entender este assunto é necessário repassar alguns tópicos do exemplo anterior. Foi a velha e precária roda do moinho que despertou, no engenheiro, a ideia de utilizar a força da água de maneira mais eficiente e vantajosa.
Se estudarmos o desenvolvimento natural do poder anímico através dos degraus evolutivos, estaremos, então, em posição de entender os grandes e benéficos resultados que podem advir da aplicação de métodos científicos nesta importante questão.
Naturalmente, os Estudantes dos Ensinamentos Rosacruzes estão bem familiarizados com os pontos principais deste processo de desenvolvimento com relação à humanidade. Mas pode haver alguns não tão bem-informados. Em consideração a eles faremos um resumo sobre esse assunto.
A ciência diz, com muita propriedade, que uma substância invisível, intangível, chamada Éter, permeia tudo, desde os sólidos mais densos até o ar que respiramos. Este Éter nunca foi visto, medido ou confinado em laboratório pela ciência. Porém, é necessário admitir a sua existência para explicar os vários fenômenos como, por exemplo, a transmissão de luz através do vácuo.
Portanto, diz a ciência, o Éter é o agente de transmissão dos raios de luz. Ele nos traz uma imagem de todos os objetos que estão ao nosso redor e no raio de ação de nossa capacidade visual, impressionando a retina de nossos olhos.
De igual modo opera uma máquina cinematográfica quando projeta um filme. Ela focaliza uma série ordenada de fotogramas em rotação constante. O Éter transporta as imagens e os movimentos de todos os objetos contidos em cada fotograma. Transmite os mínimos detalhes para a placa sensível através das lentes da câmera. Deixa um registro completo de todo o cenário e dos atores da película.
Imaginemos nossos olhos semelhantes a uma filmadora muito fiel e sensível, dotada de filme suficientemente extenso para conter todas as imagens de uma vida. Ao terminar a existência poderíamos acessar um arquivo completo de todos os acontecimentos perfeitamente gravados nesse filme.
Há muitas pessoas com as mais diversas deficiências. No entanto, há uma coisa que todos fazem para poder viver: “Respirar, respirar, respirar…”.
Deus recebe várias denominações. Natureza é uma delas. E a Natureza sabiamente determinou: “O registro completo de nossas vidas será gravado por meio da respiração, função imprescindível e comum para todo ser vivo”.
Em todos os momentos de nossa participação no cenário da vida, desde o primeiro alento até o último suspiro, o Éter, que penetra em nossos pulmões junto com o ar inalado, leva consigo a imagem completa de nosso ambiente externo. Tanto dos nossos atos como das ações de outras pessoas que convivem conosco.
O registro ocorre em um único e pequeno átomo situado no ventrículo esquerdo, no ápice do coração, por onde o sangue recém-oxigenado flui incessantemente. O sangue transporta as imagens particulares de cada evento de nossa vida.
Portanto, tudo que dizemos ou fazemos, de bem ou de mal, de maior ou de menor importância, fica indelevelmente gravado no coração.
Esse registro serve de base para o método lento e natural de crescimento da alma através dos ciclos evolutivos. Tal como a velha e primitiva roda d’água.
No próximo capítulo, estudaremos esse processo com mais detalhes e com abordagem científica. Esse conhecimento devidamente aplicado promove rápido crescimento espiritual, aperfeiçoamento e desenvolvimento dos poderes anímicos ainda latentes.
Vimos no capítulo anterior que um registro de nossa existência, desde o berço até o túmulo, está gravado num pequeno átomo no coração. O Éter que inalamos em cada respiração transporta consigo os quadros do mundo exterior. Graças ao Éter registramos as cenas, como em um filme, de tudo que vivemos e ainda estamos vivendo.
Esse processo determina a base de nossa existência “post-mortem”.
O registro das ações más é erradicado através do sofrimento. A dolorosa experiência purgatorial. O fogo do remorso cauteriza a alma à medida que o filme se desenrola diante de nossa visão. Dessa maneira ficamos menos propensos a repetir, em vidas futuras, os mesmos atos reprováveis.
Por outro lado, quando recordamos as imagens das boas ações praticadas sentimos uma alegria celestial. A essência dessa sublime experiência estimulará, de forma subconsciente, a alma a agir ainda melhor em vidas futuras.
Mas, esse processo é naturalmente lento e pode ser comparado ao funcionamento da velha roda d’água. Esse ritmo compassado e moroso foi estabelecido pela sábia natureza com o propósito de conduzir a humanidade de forma prudente e, também, torná-la cada vez mais consciente de suas leis. Nesse ritmo a maior parte da humanidade está gradativamente evoluindo do egoísmo para o altruísmo. Embora extremamente vagaroso, parece ser o único método pelo qual aprende.
Há outra classe que, no relance de uma visão do distante futuro, vislumbrou uma humanidade gloriosa expressando seus atributos divinos, finalmente vivendo uma vida de amor e paz. Esta classe tem as estrelas como alvo de suas aspirações. Procura realizar em uma, ou em poucas encarnações, o que seus semelhantes necessitarão de centenas de reencarnações para consumar. São como os pioneiros que souberam aproveitar, cientificamente, a energia da água para transformá-la em eletricidade.
Os pioneiros no domínio espiritual também estão à procura de um método científico para superar a perda de tempo e energia envolvidos no lento processo de evolução. Método que possa capacitá-los a avançar na grande obra e assegure um desenvolvimento pessoal de forma científica.
Este era o maior desafio dos pioneiros Irmãos da Ordem Rosacruz. Com afinco estudaram e desenvolveram um método. Agora está disponível a seus fiéis seguidores e, também, para a prosperidade eterna. Um sistema eficaz a todos aqueles que anseiam e perseveram na senda espiritual.
Já vimos como os engenheiros se incumbiram de aperfeiçoar a primitiva roda do moinho e conseguiram transmitir eletricidade para pontos distantes. Seus objetivos foram concretizados graças ao estudo das vantagens e limitações do primitivo mecanismo.
Assim também, os Irmãos Maiores da Rosacruz estudaram, com auxílio de sua visão espiritual, todas as fases da evolução humana desde o Mundo Físico até o estado “post-mortem”. Assim conseguiram demarcar como o progresso, através de muitas vidas, é gradativamente alcançado.
Estudaram também os sinais e símbolos dados à humanidade através dos séculos para ajudá-la no crescimento da alma. Especial atenção foi destinada ao estudo do Tabernáculo no Deserto. Esse templo conforme afirmava São Paulo era: “Uma sombra das boas coisas que virão.”.
Durante as pesquisas encontraram o segredo do crescimento da alma oculto nos vários utensílios e acessórios usados naquele antigo local de adoração.
As cenas do panorama da vida, que se desenrolam diante dos olhos da alma depois da morte, causam um sofrimento no Purgatório e livram a alma do desejo de repetir as ações que originaram essa penitência. A dor abrasadora sentida pela alma no Purgatório está intimamente ligada com o sal e o fogo. O sal era friccionado nas vítimas encaminhadas ao Altar dos Sacrifícios antes de serem imoladas e consumidas no próprio fogo do altar.
Aplicando o axioma hermético “Como é em cima, assim também é embaixo”, concluíram que o método de “Retrospecção” se harmoniza com as leis cósmicas do crescimento da alma.
A Retrospecção limpa os pecados da alma pelo sal da purificação e pelo fogo do remorso. Tem a propriedade de realizar a cada dia o que a experiência purgatorial só pode fazer uma única vez ao término de cada vida.
Mas, ao mencionarmos a palavra “Retrospecção”, frequentemente ouvimos as pessoas afirmarem: “Ah, isso não é novidade! Também é ensinada em outros grupos Religiosos. Eu mesmo já a pratiquei durante toda minha vida. Examino meus atos diários todas as noites antes de dormir”.
Porém, isso não é suficiente.
Para poder realizar esta prática cientificamente é necessário reproduzir os processos da natureza, como no exemplo do engenheiro. Para isolar a corrente elétrica do solo descobriu que o vidro, a porcelana e a fibra agiam como obstáculos à sua passagem. Também devemos seguir, em cada detalhe, as propriedades e os processos da natureza. Seguindo seus métodos certamente obteremos maior crescimento anímico.
Quando estudamos o processo de expiação purgatorial, aprendemos que “o panorama da vida se desenrola em ordem inversa”, do túmulo para o berço. Cenas que se passaram no fim da vida são expiadas em primeiro lugar. As que aconteceram no início da juventude são as últimas a serem revistas.
Essa inversão na ordem dos eventos auxilia no entendimento da lei de causa e efeito. Demonstra à alma o mecanismo que define as consequências que foram colhidas na medida em que determinadas causas foram semeadas.
Considerando esses fatos, podemos deduzir um método científico para o desenvolvimento da alma:
“O Aspirante deve examinar, passo a passo, a sucessão dos episódios ocorridos em sua vida, todas as noites e antes de dormir. Deve começar pelas últimas ações imediatamente antes de se recolher, continuando gradativamente em ordem inversa para os atos praticados durante a tarde, depois para os da manhã até o momento de acordar”.
Mas, e isto é muito importante, não é suficiente examinar essas cenas de maneira descuidada e admitir estar arrependido ao defrontar-se com uma cena na qual agiu mal ou injustamente para com outra pessoa.
Os sinais gravados no Altar dos Sacrifícios oferecem instruções precisas e inequívocas:
“A carne ofertada no Altar dos Sacrifícios era atritada com sal e, em seguida, consumida pelo fogo (como é do conhecimento de todos, o sal num ferimento provoca sensação dolorosa semelhante ao fogo). Assim também o Aspirante ao desenvolvimento da alma deve compreender que ele é, ao mesmo tempo, oferta e sacrifício, sacerdote e purificação, altar e chama ardente. Ele deve permitir que o sal expiatório e as brasas do remorso queimem e cauterizem, no mais recôndito de seu coração, todas as falhas cometidas”.
O Aspirante deve sentir uma verdadeira contrição ao relembrar qualquer erro. Unicamente esse profundo e sério procedimento apagará o registro do Átomo-semente no coração, deixando-o limpo. Sem esse compromisso nada se conseguirá.
Contudo, se o Aspirante ao desenvolvimento científico da alma conseguir tornar bastante intenso este fogo do remorso e da contrição, então, o Átomo-semente será purificado dos pecados diários acumulados durante sua vida. Mesmo os acontecimentos anteriores ao início da prática destes exercícios irão gradativamente sendo transmutados por esse fogo purificador. Assim, no fim da existência, quando o cordão prateado se romper, o Aspirante estará livre do sofrimento na Região Purgatorial do Mundo do Desejo. Além disso, economizará o tempo equivalente ao período de expiação purgatorial, ou seja, mais ou menos um terço do tempo que viveu encarnado em seu Corpo Denso.
A mesma coisa não sucede com as pessoas comuns que não tiveram o privilégio de aprender e a felicidade de praticar este método científico.
O Aspirante que, incansável e dedicadamente praticar este método, encontrar-se-á desimpedido no mundo invisível. Estará desprendido das limitações que aprisionam e escravizam. Totalmente livre para trabalhar pela humanidade sofredora durante o tempo que permanecer nas regiões inferiores do Mundo do Desejo.
Mas, há uma grande diferença entre o contexto de cada oportunidade oferecida e de suas respectivas vantagens.
No Mundo Físico um terço de nossa vida é empregado em repouso e recuperação, outro terço empregado no trabalho para obter recursos para manter nosso Corpo Denso alimentado, vestido e abrigado. Apenas o terço restante estará disponível para os propósitos de relaxamento, recreação ou desenvolvimento da alma.
No Mundo do Desejo, onde o espírito ingressa após a morte, a situação é bem diferente. Nele ingressando, já estamos constituídos e envolvidos na matéria desse mundo. Alimento, vestuário e abrigo não são mais necessários. Não sentimos cansaço nem sono. Desaparecem as necessidades biológicas tais como sustentar e resguardar o corpo. O espírito encontra-se livre. Está apto a utilizar seus veículos durante as vinte e quatro horas, dia após dia.
Portanto, o tempo disponível nos mundos internos, por termos vivido diariamente o nosso Purgatório aqui, é equivalente ao período de toda uma vida destinada às tarefas na Terra.
Mas, o tempo assim poupado deve ser direcionado ao aperfeiçoamento do processo de evolução. Devemos manter as ações e os pensamentos concentrados na colaboração e no auxílio dos nossos irmãos mais jovens e menos afortunados. Agindo assim, colheremos uma abundante safra. Obteremos um substancial crescimento anímico na existência “post-mortem”. Crescimento superior ao equivalente obtido durante muitas vidas comuns.
Quando renascermos, traremos conosco todos os poderes incorporados à alma. Estaremos muito mais adiantados no caminho da evolução do que poderíamos estar em circunstâncias usuais.
Devemos alertar que outros métodos de desenvolvimento da alma ensinados por outras escolas são perigosos. Podem, algumas vezes, conduzir seus praticantes ao manicômio.
O método científico de desenvolvimento da alma difundido pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz só traz benefícios e nunca causará nenhum dano a ninguém. Nós podemos dizer, também, que há outros meios de auxílio, não mencionados aqui, e que são comunicados àqueles que tenham provado serem merecedores pela persistência, e porquanto eles não visem, diretamente, o desenvolvimento da visão espiritual, essa será desenvolvida por todos aqueles que praticá-lo com a necessária e fiel perseverança.
CAPÍTULO XVII – OS CÉUS PROCLAMAM A GLÓRIA DE DEUS
“Os Céus proclamam a glória de Deus e o firmamento exibe Sua obra. Dia após dia enunciou Sua palavra, e noite após noite mostrou Seu conhecimento. Não há fala ou língua onde Sua voz não se faça ouvir. Suas formas espalharam-se por toda a Terra e Suas palavras até o fim do mundo. Erigiu um templo para o Sol, que é como o noivo saindo de seu aposento, regozijando-se como um homem forte ao disputar uma competição.”[45].
Em toda parte, por imensas distâncias ao nosso redor, vemos o glorioso nascer do Sol trazendo luz e vida para todos. Depois, a estrela do dia sobe aos céus para então declinar no horizonte ocidental numa gloriosa explosão de luminosidade quando mergulha no mar. Espalha um arrebol de indescritíveis e variadas nuances, colorindo os céus com pincel de fogo. Adorna o horizonte com os mais suaves e belos matizes, inimitáveis até para o artista mais habilidoso.
Depois a Lua, o Astro da noite, nasce sobre as colinas do Leste conduzindo para cima, como séquito, as estrelas e constelações em direção ao zênite, em sua perpétua dança circular ao redor da Terra.
Sem trégua e enquanto o tempo durar, os caracteres astrais descrevem sobre o mapa do céu a evolução passada, presente e a futura da humanidade no seu meio ambiente, o mundo concreto.
Neste caleidoscópio celeste em constante mutação, uma única estrela permanece comparativamente estacionária. Para todos os efeitos e do ponto de vista de nossa efêmera vida de cinquenta, sessenta ou cem anos, é um seguro e imutável ponto de referência: “A Estrela do Norte”[46]
O marinheiro nutre uma fé absoluta quando navega na vastidão das águas. Sabe que, enquanto se guiar por esse fixo ponto de luz, chegará a salvo ao porto desejado. Também não desanima quando as nuvens encobrem sua estrela orientadora. Dispõe de uma bússola magnetizada por um poder misterioso. Chova ou faça sol, com neblina ou garoa, ela aponta infalivelmente para esse luminar imóvel. Com a bússola o marinheiro pode pilotar sua embarcação tão seguramente como se, na realidade, estivesse vendo a própria estrela.
Realmente, os céus proclamam as maravilhas do Senhor.
Assim como é no macrocosmo, o grande mundo fora de nós, também é em nossas vidas. Quando nascemos, o Sol da vida desponta e começamos a ascensão através dos anos da infância e da juventude em direção ao zênite da vida adulta.
O mundo circundante, em constante mutação, configura o nosso ambiente, incluindo pais, irmãos e familiares. Com amigos, conhecidos e adversários, enfrentaremos a batalha da existência com a força que adquirimos em nossas vidas passadas, pagando as dívidas contraídas e suportando os encargos diários. Podemos torná-los mais leves ou pesados, consoante nossa sabedoria ou ausência dela.
Mas, entre todas as variáveis circunstanciais e as vicissitudes da existência, há um grande e magnífico guia que, como a Estrela do Norte, nunca falha. Um guia de prontidão, como a fixa estrela no céu, para nos ajudar a navegar no barco de nossa vida em águas serenas. Esse guia não poderia ser outro senão Deus.
É significativo lermos na Bíblia que os Reis Magos, quando caminhavam em busca do Cristo (NOSSO GRANDE MESTRE ESPIRITUAL), guiavam-se também por uma estrela. Foram orientados até encontrarem a verdadeira e gloriosa Luz Espiritual.
O que pensaríamos do capitão de um navio que amarrasse o leme e deixasse o seu navio à deriva, entregando-o às mudanças do vento ou do destino? Surpreender-nos-ia se o navio finalmente naufragasse e o capitão perdesse sua vida nas rochas? Certamente não. Extraordinário seria se conseguisse alcançar a margem.
Uma grande e maravilhosa alegoria se estampa nos céus em caracteres cósmicos. E, também, está escrita em nossas próprias vidas. Com palavras de advertência, recomenda o abandono da fugaz vida material e a busca da vida eterna em Deus.
Embora o véu da carne, o orgulho e a luxúria nos ceguem por algum tempo, não estamos abandonados, sem um guia. Nossa estrela guia é o próprio Espírito.
Tal como o campo magnético atrai o ímã da bússola, o espírito exercerá uma força de atração irresistível em direção à sua fonte. Mesmo estando submerso e cego pelos convites sedutores do materialismo, não há como sufocá-la completamente. Brotarão, cedo ou tarde, um anseio e um apelo ardente no seio da alma.
Presentemente há muitos tateando e vasculhando, na tentativa de encontrar uma solução para o desassossego que ecoa em suas almas desde o íntimo. Muitas vezes encontram-se frustrados sem compreenderem o motivo. Enquanto isso, algo continuamente os arrasta para frente à procura do reino espiritual. A busca por algo superior: “Nosso Pai no Céu”
Davi disse:
“Se eu subir ao Céu, Tu estarás lá.
Se eu fizer minha cama no inferno, Tu estarás lá.
Tua mão direita me guiará e me sustentará.”[47].
E no oitavo Salmo, ele diz:
“Quando considero Teus Céus,
o trabalho de Teus dedos,
a Lua e as estrelas que ordenaste,
o que é para Ti o homem que Tu cuidas tanto,
e o filho do homem para que Tu o visitaste?
Pois Tu o fizeste um pouco mais baixo do que os anjos,
e o coroaste de glória e honra.
Tu o fizeste para que dominasse as obras de Tuas mãos,
Tu puseste todas as coisas sob seus pés.”.
Tudo isso não é novidade para quem está procurando a Luz, dando o melhor de si para viver a vida. Mas o perigo ronda quando a indiferença se instala na alma. A indiferença produz uma espécie de anemia espiritual.
O bom timoneiro deve manter-se sempre alerta e vigilante, norteando-se, com o auxílio da bússola, para conduzir sua embarcação na rota segura e ao destino traçado. De maneira análoga devemos buscar orientação e manter o barco da alma em movimento. Caso contrário, o esmorecimento desviará o curso de nossas vidas. Encaremos firmemente essa estrela da esperança, essa grande luz espiritual, a verdadeira e única coisa realmente importante: “A vida de Deus”.
CAPÍTULO XVIII – RELIGIÃO E CURA
Em várias épocas e de maneiras específicas foram dadas à humanidade Religiões apropriadas para estimulá-la no caminho da evolução. O ideal de cada Religião era suficientemente elevado para despertar as aspirações do conjunto de pessoas a quem eram destinadas. Mas não tão elevadas que estivessem além de sua compreensão e desmotivassem sua busca.
O selvagem, por exemplo, precisa de um Deus forte. A Divindade, para conquistar seu respeito, deve empunhar a espada flamejante do raio com mão viril e poderosa. O medo e a submissão pautam sua relação com o sobrenatural. Por outro lado, um Deus portador de sentimentos sublimes, como amor e misericórdia, seria desconsiderado.
Portanto, as Religiões foram gradualmente evoluindo à medida que a própria humanidade evoluiu. O ideal Religioso vem sendo elevado lentamente e atingiu o ponto mais alto por meio dos ensinamentos Cristãos. A flor das Religiões é sempre oferecida à flor da humanidade.
Numa época futura, uma Religião ainda mais elevada será dada a uma raça mais desenvolvida. A evolução é eterna e incessante.
Os Invisíveis Guias da humanidade dão a cada nação os ensinamentos mais adequados às suas condições. O Hinduísmo ajuda nossos irmãos mais jovens no Leste. Mas, o Cristianismo é o Ensinamento Ocidental particularmente apropriado aos povos do Oeste. A grande massa da humanidade fica aos cuidados da Religião ensinada publicamente (exotérica) em seu país de origem.
Mas, em todo agrupamento humano surgem os pioneiros. Com extraordinária precocidade necessitam de ensinamentos em grau mais avançado. Para ministrar uma doutrina mais profunda, surgem as Escolas de Mistérios situadas em locais apropriados a esse fim.
Quando apenas pequeno contingente está apto a receber esses ensinamentos preparatórios, eles são ministrados particularmente. Porém, à medida que o número aumenta, os conhecimentos são ensinados publicamente.
Assim acontece atualmente no mundo ocidental. Os Irmãos da Rosacruz ministraram ao autor a filosofia que agora está sendo organizada e publicada, compondo nossa coleção de obras. Foi aprovada a fundação da Fraternidade Rosacruz para promulgar os ensinamentos contidos em sua filosofia. O propósito maior consiste em colocar as almas Aspirantes em contato com o Mestre. Para efetivar esse encontro, o Aspirante deve demonstrar sinceridade no amor e na dedicação ao serviço realizado AQUI no Mundo Físico. Para merecer a Iniciação nos Mundos espirituais, deve dar provas suficientes de que usará sua força e conhecimento exclusivamente para servir.
Os ensinamentos superiores nunca são ministrados com fins lucrativos. No passado, São Pedro repreendeu Simão, o feiticeiro. Ele queria comprar o poder espiritual para prostituí-lo com ganhos materiais. Os Irmãos Maiores também se recusam a abrir as portas aos que prostituem a ciência espiritual distribuindo horóscopos, lendo as mãos, ou dando interpretações de clarividência profissionalmente, por dinheiro.
A Fraternidade Rosacruz apoia o estudo da Astrologia e da quiromancia, e proporciona, gratuitamente, um curso de Astrologia. Assim, todos os seus membros podem livremente habilitar-se nessa ciência. Sobretudo podem evitar a armadilha de profissionais que são, quase sempre, charlatões.
Durante os últimos anos, desde o início da divulgação, os Ensinamentos Rosacruzes espalharam-se rapidamente pelo mundo civilizado. São estudados avidamente desde o Cabo da Boa Esperança até o Círculo Ártico e ainda além. Proporcionam respostas para os corações de inúmeras pessoas e de diversas culturas nas cabanas cobertas de neve dos mineiros do Alasca, nas casas governamentais onde um vento tropical desfralda o Leão Britânico, nas capitais das autocracias turcas, assim como nas democracias americanas. Nossos adeptos podem ser encontrados tanto em instituições governamentais como nas mais modestas esferas da vida. Todos interagindo ativamente conosco, em íntimo contato com o movimento. Trabalhando para a divulgação das verdades profundas referentes à Vida e a todos os seres que auxiliam nossa evolução.
OS PRINCÍPIOS ROSACRUZES DE CURA
É uma inegável verdade que “o ser humano tem vida curta e atribulada”, e entre todas as vicissitudes da vida nenhuma tem o maior poder de fazer se voltar para Deus do que o sofrimento no Corpo. Podemos perder a nossa posição econômica ou os amigos com relativa equanimidade, mas quando nos falta a saúde e a morte nos ameaça, até os mais fortes vacilam. Compreendendo a impotência humana, e poderosamente movido por uma necessidade premente, sentimos necessidade de apelar para o socorro Divino, e quanto mais severamente a dor física nos aflige, mais insistentemente vamos pedir ajuda à Deus. Nada pode nos fazer orar tão fervorosamente como a dor no Corpo.
Por isso, o ofício sacerdotal sempre esteve intimamente ligado à cura. Entre os selvagens, o sacerdote era também o “homem da medicina”; na Grécia antiga o templo de Esculápio[48] era famoso pelas curas que eram operadas lá; Cristo, em Seus dias, curava totalmente o doente. A igreja primitiva seguiu essa prática, como é evidente nas Epístolas; e certas ordens católicas continuaram no esforço de amenizar a dor, através dos séculos, desde aqueles tempos até os dias atuais.
Nos tempos modernos, a tendência é de se dissociar o consolador espiritual do sacerdote, quando de um Corpo doente. Por isso, o estreito contato e a calorosa simpatia entre o sacerdote e os paroquianos foram perdidos, e, em consequência, ambos empobreceram, nesse sentido. Antigamente, nos momentos de doença, o “bom pai” era tido como um representante de nosso Pai Celeste. Provavelmente ele era não especializado em comparação com nossos médicos modernos, mas, se ele fosse um verdadeiro e santo sacerdote, seu coração seria caloroso e amoroso e suas orientações mais potentes, devido à fé do paciente em seu ofício sacerdotal, e, após a recuperação, seu paciente também seria seu amigo e se aconselharia com ele a respeito das coisas espirituais, coisa que ele nunca faz, onde os “consultórios” do sacerdote e do médico estão dissociados.
Não se pode negar que aquele consultório com essa dupla função deu aos titulares um poder e tanto sobre as pessoas, e que esse poder foi, por vezes, abusado. Também é patente que a arte da medicina atingiu um estágio de eficiência, o qual não poderia ter sido atingido, salvo pela devoção a um determinado fim e objetivo. As leis sanitárias, a extinção de insetos portadores de doenças, e consequente imunidade, são testemunhos monumentais do valor dos métodos científicos modernos. Portanto, pode parecer que tudo esteja bem e que não haveria necessidade de escrever sobre o assunto, mas, na realidade, até que a humanidade, como um todo, desfrute de uma perfeita saúde, não existe nenhum problema mais importante do que a questão: como podemos conseguir e manter a saúde?
Além da escola regular de cirurgia e medicina, que depende exclusivamente de meios físicos para a cura da doença, outros sistemas surgiram que dependem inteiramente da cura total mental. Já se tornou costume corrente nas organizações que advogam a “cura mental”, a “cura natural” e outros a realização das “reuniões de troca de experiências” e a publicação em revistas especializadas com testemunhos de milhares de pessoas agradecidas que foram beneficiadas por tais “tratamentos”, e se os médicos da escola regular fizessem a mesma coisa não lhes faltariam testemunhos similares acerca das suas eficácias.
A opinião de milhares de pessoas é de grande valor, mas nada prova porque outros tantos milhares de pessoas podem sustentar exatamente o ponto de vista oposto. Ocasionalmente uma só pessoa pode ter razão, enquanto o resto do mundo está errado, como aconteceu quando Galileu[49] afirmou que a Terra se movia. Hoje em dia, todo o mundo converteu-se à opinião pela qual Galileu foi perseguido como herege. Sustentamos que, sendo o ser humano um ser composto, a cura tem êxito na proporção em que se remedeiem os defeitos nos planos: físico, moral e mental do ser, e nós, também, afirmamos que resultados podem ser obtidos mais facilmente nos períodos quando os raios dos Astros são propícios para a cura definitiva de uma doença específica que faz uma pessoa sofrer. Ou doenças podem ser tratadas com mais sucesso por remédios previamente preparados sob condições propícias (ou favoráveis) do que quando o remédio é preparado sob condições astrais desfavoráveis.
É fato bem conhecido do médico moderno que o estado do sangue, e, por conseguinte, de todo o Corpo, muda de acordo com o estado mental do paciente, e quanto mais o médico empregar a sugestão como auxiliar dos remédios, tanto mais êxito obterá. Todavia, são poucos os que aceitariam o fato de que tanto nosso estado mental como o físico são influenciados pelos raios planetários, que mudam com o movimento dos respectivos Astros e, ainda, desde que foi reconhecida a existência da radioatividade, nós sabemos que todos os Corpos celestes lançam partículas radioativas no espaço. Na telegrafia sem fio nos demonstra que as ondas etéreas viajam segura e rapidamente através do espaço, atuando por meio de uma chave, de acordo com a nossa vontade. Sabemos, também, que os raios do Sol nos afetam de modo diferente pela manhã, quando nos atingem horizontalmente, do que ao meio-dia, quando caem sobre nós perpendicularmente. Se os raios luminosos do Sol, que se movem rapidamente, produzem mudanças físicas e mentais, por que não teriam efeito correspondente os raios persistentes dos Astros mais lentos? Se eles têm, então eles são fatores na saúde que não devem ser negligenciados por um verdadeiro curador científico.
A enfermidade é uma manifestação da ignorância, o único pecado, e a cura definitiva é uma demonstração do conhecimento aplicado, que é a única salvação. Cristo é a incorporação do Princípio de Sabedoria e, na mesma proporção em que o Cristo se forme em nós, alcançaremos a saúde. Por conseguinte, a pessoa que cura deve ser espiritualizada e deve procurar infundir em seu paciente elevados ideais, para que gradualmente aprenda a se conformar com as leis de Deus, que governam o Universo, alcançando, assim, saúde permanente na vida atual bem como nas futuras.
Todavia, “a fé sem obras é morta.”. Se nós persistimos em viver sob condições não sanitárias a fé não nos salvará da febre tifoide, mas quando nós aplicamos medidas preventivas apropriadas e remédios para os doentes, nós estamos realmente mostrando nossa fé por obras.
Está escrito em várias obras que os membros da Ordem dos Rosacruzes têm o objetivo de ajudar a humanidade em obter a saúde do Corpo, e fazem o voto de curar definitivamente os outros gratuitamente. Mas, como se vê em muitas das chamadas “revelações”, esta afirmação é inexata. Os Irmãos Leigos fazem o voto de assistir a todos com o melhor de sua capacidade gratuitamente. Esse voto inclui o trabalho de curar definitivamente, para os possuidores dessa aptidão, como foi o caso de Paracelso[50]. Ele tinha uma grande capacidade curadora e procurava combinar a eficiência dos remédios físicos, aplicados em fases astrológicas favoráveis, com a orientação espiritual conveniente. Os que não possuem a faculdade sanadora trabalham em outros setores, mas todos têm uma característica em comum: nunca cobram pelos seus serviços e sempre trabalham em segredo, sem clarinadas e rufos de tambores.
CAPÍTULO XIX – DISCURSO NA COLOCAÇÃO DA PEDRA FUNDAMENTAL EM MOUNT ECCLESIA
Cristo disse:
“Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio deles.”[51]
Essa declaração era a expressão da mais profunda sabedoria divina, assim como todos os Seus ensinamentos. Ela se apoia sobre uma lei da natureza, tão imutável como o próprio Deus.
Quando os pensamentos de dois ou três focalizam-se sobre qualquer objeto ou pessoa determinada, gera-se um poderoso pensamento forma. Resultado da bem definida projeção de suas Mentes conjuntamente ajustadas para o propósito almejado. Seus efeitos ulteriores dependerão da afinidade entre os pensamentos e a natureza do alvo que os recebe. Pois, para gerar uma correspondência vibratória sobre a nota soada por um diapasão, é necessário outro diapasão afinado no mesmo tom.
Se forem projetados pensamentos e preces de natureza inferior e egoísta, apenas criaturas inferiores e egoístas responderão a eles. Essa espécie de oração nunca chegará até Cristo, como a água não pode subir montanha acima. Ela gravita em torno de demônios ou elementais: criaturas totalmente indiferentes às sublimes aspirações manifestadas pelos que estão reunidos em nome de Cristo.
Estamos aqui reunidos hoje, neste lugar, com a finalidade de assentar a pedra fundamental para a construção da Sede de uma Associação Cristã. Tão certo como a gravidade atrai uma rocha em direção ao centro da terra, o fervor de nossas unidas aspirações atrairá a atenção do Fundador de nossa fé, o Cristo. Estamos confiantes que Ele está entre nós. Com a mesma certeza na qual diapasões com a mesma afinação vibram em uníssono, também o augusto Cabeça da Ordem Rosacruz, Christian Rosenkreuz, empresta sua presença nessa solene ocasião, quando a Sede da Fraternidade Rosacruz está tendo início.
O Irmão Maior inspirador deste movimento está presente e visível, pelo menos para alguns de nós. Somando o número dos presentes nesta maravilhosa ocasião, todos diretamente engajados no projeto, temos como resultado o número perfeito, 12. Isto é, há três guias invisíveis que estão além do estágio da humanidade comum, e nove membros da Fraternidade Rosacruz. Nove é o número de Adão, ou humanidade. Destes nove membros, cinco (número ímpar masculino) são homens, e quatro (número par feminino) são mulheres. O número três, relativo aos guias invisíveis, apropriadamente representa a Divindade assexuada.
O número dos que atenderam ao convite não foi programado pelo orador. Os convites para tomar parte nesta cerimônia foram enviados a muitas pessoas, mas apenas nove compareceram. E, como não acreditamos no acaso, a presença deve ter sido conduzida de acordo com os desígnios de nossos Guias invisíveis.
Esse sincronismo também revela a força espiritual por trás deste movimento. Como prova evidente desse argumento observemos a extraordinária expansão dos Ensinamentos Rosacruzes. Nos últimos anos disseminaram-se por todas as nações da Terra. Despertam aprovação, admiração e amor nos corações das pessoas da mais variadas classes e condições, especialmente entre os homens.
Enfatizamos isto por ser um fato notável. Todas as outras organizações Religiosas compõem-se majoritariamente por mulheres. Entretanto, os homens são maioria entre os membros da Fraternidade Rosacruz. Também é significativo que os membros da área médica sejam mais numerosos em relação às demais profissões, e em seguida encontram-se os ministros das igrejas. Isso demonstra a crescente conscientização da estreita relação entre desenvolvimento espiritual e saúde. A fraqueza do Corpo reflete a fraqueza da Alma. Muitos estão se esforçando para compreender essas relações e, assim, garantir melhor assistência aos enfermos.
Demonstra que os orientadores espirituais, cuja tarefa consiste em zelar pela saúde das almas, estão também empenhados em socorrer mentes exigentes e inquiridoras. Dessa forma podem recuperar o vigor da fé, por vezes já muito empobrecida, das Mentes inquietas que anseiam por explicações consistentes sobre os mistérios espirituais. Com a razão satisfeita, reafirmam seus laços com a Igreja.
Explicações não sustentadas pela razão, que apelam para máximas inquestionáveis e dogmas inflexíveis, abrem totalmente as comportas para o mar agitado do ceticismo. Afastam aqueles que procuram a luz por meio do porto seguro da Igreja. Lamentavelmente arrasta-os para a escuridão do desespero materialista.
A Fraternidade Rosacruz recebeu o abençoado privilégio de poder atender às necessidades dos irmãos que buscam sinceramente a verdade. Com entusiasmo procuram a luz, guiados pelo intelecto. São incapazes de acreditar por imposição e aceitar explicações incompatíveis com a razão. Mas, quando podem compreender que o conjunto de dogmas e doutrinas apresentadas pela Igreja está em fundamental harmonia com as Leis da Natureza, então, muitos retornaram mais fortalecidos à sua congregação. Enriquecidos pela luz, convertem-se nos melhores e mais ativos membros. Compartilham alegria e entusiasmo com seus companheiros.
Qualquer movimento para perdurar deve possuir três qualidades divinas: Sabedoria, Beleza e Força.
Ciência, Arte e Religião: cada uma possui, por sua natureza, uma dessas correspondentes qualidades. O objetivo da Fraternidade Rosacruz é uni-las em um conjunto harmonioso. A Religião deve ser tanto científica como artística. Todas as igrejas devem se unir numa só grande Irmandade Cristã. Presentemente, o relógio do destino marca um momento auspicioso para o início das atividades da construção da Sede. Então, vamos erigir um Centro visível de onde os Ensinamentos Rosacruzes possam irradiar uma benéfica influência. Seu propósito é elevar o bem-estar de todos que estão moral, mental ou fisicamente enfermos.
Agora, cavemos a primeira pá de terra no local da construção, acompanhada de uma prece pela Sabedoria, para guiar esta grande escola no caminho certo. Sulquemos o solo uma segunda vez, com uma súplica ao Mestre Artista pelo direito de introduzir, aqui, a Beleza da vida superior, de tal maneira a torná-la atrativa para toda humanidade. Rasguemos o solo pela terceira e última vez, nesta cerimônia, suspirando uma prece pela Força. Para que assim, com serenidade e diligência, sejamos dignos de prosseguir no bom e perseverante trabalho de converter este lugar num prodigioso fator de elevação espiritual, superando o resultado dos seus antecessores.
Já escavado o local do primeiro prédio, continuemos agora plantando o maravilhoso símbolo da vida e do ser, o emblema da Escola de Mistérios Ocidentais. Agora descreveremos seu simbolismo. A cruz representa a matéria. As rosas, envolvendo e rodeando o tronco, sugerem a vida em evolução subindo cada vez mais alto através da cruz.
Cada um de nós, os nove membros, participará deste trabalho de escavação para este primeiro e mais importante elemento distintivo de Mount Ecclesia. Vamos fixá-lo numa posição onde os braços apontem um para Leste e outro para Oeste, enquanto o Sol meridional projeta-o inteiramente em direção ao Norte. Assim, ele estará alinhado com as correntes espirituais que vitalizam as formas dos quatro reinos da vida: mineral, vegetal, animal e humano.
Sobre os braços, na parte superior da cruz, podemos divisar três letras douradas, “C.R.C”, Christian Rosenkreuz, ou Christian Rose-Cross, as iniciais do Augusto Chefe da Ordem.
O simbolismo da cruz está parcialmente elucidado aqui como também em nossa literatura. Mas seriam necessários volumes para dar uma explicação completa. Vamos lançar o olhar para adiante, vejamos o significado da lição oferecida por este maravilhoso emblema.
Quando vivíamos na densa atmosfera aquosa da antiga Atlântida, estávamos submetidos a leis completamente diferentes das que vigoram hoje. Quando deixávamos o corpo, não o percebíamos, pois, nossa consciência estava mais focalizada no Mundo espiritual do que nas densas condições da matéria. Nossa vida não sofria quebras de continuidade: “Não percebíamos nem o nascimento nem a morte”.
Ao emergirmos para as condições aéreas da Época Ária, o mundo atual, nossa consciência do Mundo espiritual desvaneceu-se e a percepção da forma tornou-se mais proeminente. Teve início uma existência dupla. Cada fase bem delimitada e diferenciada. O nascimento e a morte demarcavam seus limites. Numa etapa o espírito vivia em liberdade no reino celestial. Na outra, encontrava-se aprisionado no corpo terrestre. Essa etapa pode ser considerada como a morte virtual do Espírito. Assim está também simbolizado na mitologia grega, nas figuras de Castor e Pólux[52], os gêmeos celestiais.
Já foi elucidado, em diversos pontos de nossa literatura, como o espírito livre ficou emaranhado na matéria pelas maquinações dos espíritos lucíferos. Cristo classificou-os de falsas luzes. Isso ocorreu na ígnea Lemúria. Portanto, Lúcifer pode ser chamado o Gênio da Lemúria.
Os efeitos da intervenção dos Anjos Lucíferos ganharam maior transparência na Época de Noé, abrangendo o final da Época Atlante e o início da presente Época Ária.
O arco-íris não podia ganhar forma sob as condições atmosféricas da Lemúria. Entretanto, inaugurou o céu cristalino da Época de Noé, coloriu o fundo azul e elevou-se acima das nuvens. Imprimiu nas alturas uma inscrição mística proclamando o início dos ciclos alternantes, enchente e vazante, verão e inverno, nascimento e morte. Durante a vigência desta era, o espírito perdeu sua ampla liberdade e devia permanecer confinado num corpo mortal.
Agora os corpos são gerados sob a influência da paixão satânica engendrada por Lúcifer. O espírito empreende repetidas tentativas de regresso à Casa Paterna, no anseio de permanecer no seu verdadeiro lar celestial. Mas é frustrado pela lei dos ciclos alternantes, pois, ao livrar-se de um corpo pela morte será novamente conduzido ao renascimento, quando o ciclo se completar. Engano e ilusão não podem perdurar eternamente.
Nasceu entre nós, então, o Redentor para purificar o sangue cheio de paixão e para pregar a verdade que nos libertará deste corpo de morte. Veio para instaurar a Imaculada Concepção, em harmonia com a evolução dos conhecimentos sobre a ciência genética e a erradicação das deformações físicas. Profetizou uma nova Era, um novo Céu e uma nova Terra, onde Ele, a verdadeira Luz, será o novo Gênio. A humanidade encontrará a plena realização de seus anseios nessa nova era onde florescerão a virtude e o amor.
Tudo o que dissemos e o nosso caminho evolutivo estão representados na cruz de rosas diante de nós. Na rosa a seiva da vida está inativa no inverno e ativa no verão. Ela bem ilustra o efeito da lei dos ciclos alternantes. A tonalidade da flor e seus órgãos reprodutores lembram o nosso sangue. No entanto, sua seiva flui com pureza e sua semente é gerada imaculadamente, sem paixões.
Quando também alcançarmos tal pureza, tão bem simbolizada, estaremos libertos da cruz da matéria. As futuras condições etéricas do novo milênio já estarão presentes.
A aspiração da Fraternidade Rosacruz é abreviar os dias para celebrarmos a chegada desse feliz momento, quando a tristeza, a dor, o pecado e a morte desaparecerão. Estaremos, enfim, redimidos das fascinantes, porém escravizantes, ilusões da matéria. Despertaremos para a suprema verdade da realidade do Espírito. Que Deus frutifique nossos esforços e antecipe esse dia.
CAPÍTULO XX – NOSSO TRABALHO NO MUNDO – Parte I – (Publicado em maio, 1912)
Observando o progresso dos trabalhos da Fraternidade Rosacruz concluímos que ele não resulta dos esforços exclusivos de alguns membros. Ele é produto do trabalho conjunto dos Irmãos Maiores e de todos os membros da Fraternidade Rosacruz. Na dedicação a essa missão encontramos uma excelente oportunidade para o desenvolvimento da alma.
Não temos o direito de uso exclusivo do alimento espiritual, como não temos o direito exclusivo do alimento material. Devemos dar a todos a oportunidade de colaborar neste trabalho, seja física, mental ou financeiramente. De acordo com o tempo, talento, aptidão e condições de cada um.
Por outro lado, compreendemos a importância da nossa participação, sem a qual a obra poderá ficar incompleta. Nesse caso seremos servos improdutivos dos Irmãos Maiores. A carga é superior à nossa capacidade de suportá-la. Portanto, para prosperarmos, a Grande Obra necessita de muitos colaboradores. Assim sendo, nesta lição vamos repassar o histórico do trabalho efetivado até hoje. Dessa forma os Estudantes podem vislumbrar uma real perspectiva das linhas do futuro trabalho. Será necessário abusar do pronome “Eu”. Peço aos Estudantes a bondade e a compreensão para serem pacientes comigo neste caso. Ninguém menos aprecia introduzir um elemento pessoal do que o autor, mas no caso presente parece ser inevitável.
Temos deixado claro em nossa literatura, como ensinamento axiomático, que cada objeto no universo visível é a corporificação de um pensamento invisível pré-existente. Fulton[53] construiu um barco a vapor e Bell[54] um telefone. O pensamento criador precedeu os primeiros modelos construídos em madeira e metal. Do mesmo modo, um escritor planeja e idealiza um livro antes de escrevê-lo.
Uma Ordem de Mistérios também deve idealizar e planejar sua filosofia espiritual para suprir as necessidades das pessoas que foi encarregada de servir. Esse trabalho pode levar séculos.
As investigações científicas são realizadas no isolamento dos laboratórios. As conclusões provenientes dos resultados experimentais não são divulgadas até estarem devidamente comprovadas. Esse rigor é necessário para assegurar e promover os avanços no âmbito da ciência. Analogamente os ensinamentos espirituais, destinados a incrementar o desenvolvimento de certo conjunto de almas afins, não são divulgados a todos enquanto não ficar bem demonstrada sua eficácia entre os estudiosos e pesquisadores.
Como as invenções, também as teorias ou projetos passam pelo estágio experimental. A menos que comprovem alguma utilidade, serão rejeitados. Também um ensinamento espiritual deve atingir um ponto de perfeição para ser divulgado e utilizado no trabalho do mundo. Se não for assim, sucumbe. Esse tem sido o método utilizado para divulgar os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Foram formulados pela Ordem Rosacruz com o objetivo de encontrar ressonância com a Mente extremamente intelectualizada dos irmãos da Europa e da América.
Há séculos, nosso venerado Fundador elegeu doze Irmãos Maiores para colaborarem com essa obra. Todos, provavelmente, empenharam-se no estudo retrospectivo da evolução histórica das linhas de pensamento do ser humano. Elaboraram um inventário abrangendo, talvez, vários milênios. Dessa forma, consolidaram, com fundamentos, uma concepção apurada da direção que provavelmente assumiriam as Mentes das gerações futuras. Puderam também antever suas inclinações e necessidades espirituais. Analisando o contexto dentro de diversos ângulos, procuravam identificar os pecados dominantes em nossos dias. Chegavam sempre na inequívoca conclusão: “Orgulho intelectual, intolerância e impaciência diante das limitações e restrições”.
Formularam uma filosofia capaz de satisfazer os apelos do coração e ao mesmo tempo capaz de corresponder aos clamores do intelecto. Enfatizaram a importância do domínio próprio como o melhor meio para vencer as limitações humanas.
Recebemos milhares de cartas de apreço de diferentes cantos do mundo, das altas esferas às camadas mais baixas. Atestam o desejo ardente da alma e a satisfação proporcionada pelos ensinamentos.
Mas, à medida que o tempo passa, daqui a cinquenta anos, talvez um século ou dois, quando as descobertas científicas confirmarem muitas das afirmações contidas no “Conceito Rosacruz do Cosmos”, quando a inteligência da maioria se tornar ainda mais aberta, os Ensinamentos Rosacruzes darão satisfação espiritual a milhões de espíritos que buscam esclarecimento.
Neste caso, percebemos como é indispensável o prudente e criterioso cuidado dos Irmãos Maiores, antes de confiarem tão importante missão a qualquer um. Os ensinamentos serão divulgados apenas em momentos decisivos para as futuras épocas. Como as sementes são plantadas no começo do ciclo anual, também uma semente filosófica, como os Ensinamentos da Rosacruz, deve ser plantada na primeira década do século quando se inicia um novo ciclo. As publicações devem respeitar esses períodos. Se passar o prazo, aguarda-se outro momento oportuno.
O mensageiro dos ensinamentos escolhido em 1905 foi considerado inapto. Então, os Irmãos Maiores se voltaram para mim. Fui testado e aprovado em 1908. Desde então venho recebendo seus ensinamentos. O livro “O Conceito Rosacruz do Cosmos” foi publicado em novembro de 1909, pouco antes do fim da primeira década. Exatamente um ano e um mês antes.
Amigos organizaram o manuscrito original e fizeram um trabalho esplêndido. Entretanto, é claro, ainda era preciso revisá-lo antes de destiná-lo ao trabalho de impressão. Depois li as provas já impressas, corrigi e encaminhei para nova impressão. Tornei a lê-las e os erros foram corrigidos. Depois de paginadas, li novamente. Dei instruções ao pessoal da gráfica sobre os desenhos e a correta posição de cada um nas páginas no livro, etc.
Levantava-se às seis horas da manhã e trabalhava até o início da madrugada, normalmente entre meia-noite e três horas da madrugada. Assim foi durante semanas. Tudo em meio a confusões intermináveis envolvendo comerciantes e o ruído de Chicago agredindo meus ouvidos. Muitas vezes cheguei ao limite de minha resistência nervosa. Ainda assim consegui concentrar-me e redigi muitos temas novos para o “Conceito”.
Eu teria sucumbido não fosse o apoio dos Irmãos Maiores. Era obra deles e eles me forneceram todo suporte. Minha função era trabalhar até o limite de minhas forças e capacidade, deixando o resto aos cuidados deles. Contudo, eu era quase uma ruína quando essa tarefa se consumou.
Talvez agora todos entendam a minha atitude no que se refere ao “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Mais do que ninguém, permaneço extasiado diante de seus maravilhosos ensinamentos, e posso fazê-lo sem falsa modéstia porque o livro não é meu, ele pertence à humanidade. Inclusive nem parece que fui eu que o escrevi. Sinto-me absolutamente impessoal no assunto. Minha tarefa é cuidar de sua correta publicação e dos direitos autorais com o intuito de protegê-lo contra deturpações.
Contudo, logo que seja possível encontrar depositários responsáveis e competentes, a Fraternidade Rosacruz será incorporada. Todos os meus direitos autorais passarão para a instituição, juntamente com tudo mais que me pertença, pois faz parte do acordo com os Irmãos que qualquer lucro resultante da obra, a ela deve reverter.
Aceitei essa condição voluntariamente. Nem eu nem a Sra. Heindel visamos ganhos materiais. A nós importa somente o suficiente para levar adiante esse trabalho. A abençoada missão é para nós a melhor recompensa. É mais preciosa do que qualquer dádiva material.
Entre algumas opiniões e tolices publicadas sobre a Ordem Rosacruz, destaquemos uma que afirma uma grande verdade: Ela anseia curar os doentes.
Antigas ordens Religiosas acreditavam no flagelo do corpo como meio para se alcançar o desenvolvimento espiritual. Os Rosacruzes, pelo contrário, demonstram o maior zelo por esse instrumento. Um corpo saudável é indispensável para a manifestação de uma Mente sã.
Curar os enfermos e pregar os evangelhos da Era de Aquário são as duas atividades fundamentais para os zelosos seguidores de Cristo, e todos esperam ansiosamente pelo “dia do Senhor”. Com esse espírito norteamos a totalidade do nosso trabalho no mundo.
Os Irmãos Maiores sabem que o abuso da força sexual, estimulado pelos Espíritos Lucíferos, deixa sequelas no corpo. A perversão do amor (luxúria) é responsável por doenças e debilidades. Por isso, o Método Rosacruz de Cura ensina a manter saudável o Corpo Denso. Somente um corpo são pode hospedar uma Mente sadia e um coração pleno de amor puro. A concepção sem mácula proporciona corpos cada vez mais puros e abrevia o advento do Reino de Cristo. Somente a pureza pode libertar o espírito da carne. Lembremos: “A carne e o sangue não podem herdar o Reino dos Céus.”.
Pregar o Evangelho (da próxima Era) é tão necessário quanto Curar os Enfermos. O sistema de cura desenvolvido pelos Irmãos Maiores combina as melhores técnicas e métodos praticados por diversas escolas atuais. Conta com um método de diagnose e tratamento tão exato quanto simples. Assim foi dado um grande passo para elevar e promover o trabalho na área da cura. Como dizem: das areias da experiência às rochas do conhecimento exato.
Na noite de nove de abril de 1910, quando a Lua Nova transitava por Áries, o Mestre apareceu em meu quarto e disse que uma nova década (ciclo) havia começado naquela noite. Na noite anterior, minhas obrigações com o recém-inaugurado Centro da Fraternidade de Los Angeles haviam terminadas.
Viajei e proferi conferências seis noites por semana, além de algumas tardes. Depois da experiência em Chicago na época da edição, adoeci e afastei-me do trabalho em público para descansar e recuperar o vigor físico. Tinha ciência dos perigos envolvidos quando abandonava conscientemente meu corpo enfermo. O Éter está muito desvitalizado e o cordão prateado pode romper-se com facilidade. A morte, sob tais condições, causaria os mesmos sofrimentos que o suicídio. Por isso, previne-se sempre o Auxiliar Invisível para permanecer em seu corpo quando este está enfermo. Mas, por solicitação do Mestre, eu ficava de prontidão para os voos da alma até o Templo. Neste ínterim, alguém ficava incumbido de cuidar do meu corpo ainda debilitado.
CAPÍTULO XXI – NOSSO TRABALHO NO MUNDO – Parte II
Como foi exposto anteriormente em nossa literatura, há nove graus dos Mistérios Menores – em qualquer escola – e a Ordem Rosacruz não é exceção. O primeiro deles corresponde ao Período de Saturno e os exercícios correspondentes são realizados no dia de Saturno, aos sábados, à meia-noite. O segundo grau corresponde ao Período Solar, e este rito específico é celebrado aos domingos. O terceiro grau corresponde ao Período Lunar, e é celebrado às segundas-feiras à meia noite; e assim sucessivamente com os restantes sete graus. Cada um corresponde a um Período e tem, por isso, o dia apropriado para a sua celebração. O oitavo grau é celebrado nas noites de Lua Nova e Lua Cheia. O nono grau nos Solstícios de Junho e Dezembro.
Quando um Discípulo se torna um Irmão ou Irmã Leiga, ele, ou ela, é introduzido ao ritual celebrado nas noites de Sábado. A Iniciação seguinte faculta-os assistir os Serviços do Templo, à meia noite dos domingos, e assim por diante.
Note-se que, embora todos os Irmãos e Irmãs Leigas, nos seus corpos espirituais, tenham livre acesso ao Templo durante todos os dias, eles são proibidos de entrar nos serviços da meia-noite nos graus superiores.
O Templo não está sob qualquer vigilância. Não há exigência de palavra-passe para quem desejar entrar. Entretanto, há um muro invisível ao redor do Templo. Impenetrável para aqueles que ainda não receberam o “Abre-te Sésamo”. Cada noite esta muralha é edificada de modo diferente. Por isso se alguém, por engano ou por esquecimento, quiser entrar no Templo quando o grau vibratório da reunião está acima de seu nível, aprenderá uma lição muito pouco agradável: é possível bater a cabeça contra uma muralha espiritual.
Como já foi dito, o oitavo grau oficia-se nas noites de Lua Nova e Lua Cheia. Quem não alcançou esse estágio não está, naturalmente, credenciado para o Serviço da meia-noite, é o caso do autor destas linhas. A elevação de grau depende de mérito, não pode ser comprada. Exigia um desenvolvimento espiritual muito além do que possuo atualmente. Não obstante o meu esforço e aspiração para atingir esse estágio, preciso ainda dedicar-me por muitas vidas.
Portanto, o leitor entenderá que na noite de Lua Nova em Áries em 1910, quando o Mestre veio me buscar, não foi para levar-me àquela exaltada reunião do oitavo grau, mas a outra, de diferente natureza. Além disso, aquela reunião ocorreu à noite, na Alemanha, e eu estava na Califórnia, com outro fuso horário. Portanto, os exercícios da Lua Nova foram celebrados algumas horas antes. Por isso, quando cheguei ao Templo com o Mestre, o Sol já estava alto nos céus.
Entramos no Templo. Depois passei algum tempo numa conversa a sós com o Mestre. Então, ele fez um esboço da missão da Fraternidade. Como porta-voz dos Irmãos, discorreu sobre as diretrizes do movimento.
A nota-chave da missão consistia em evitar a obstrução da liberdade pessoal. Hierarquia e regras são importantes e cheias de boas intenções, mas não devem ser castradoras e nem opressoras. As tentações do poder e da vaidade não podem ser subestimadas. Sistemas rígidos de organização caminham rapidamente para a cristalização e morte.
Portanto, a liberdade de pensar, discernir e escolher é prioritária e deve ser franqueada aos membros da Fraternidade. Todo membro deve ser encorajado a emancipar-se e conquistar autoconfiança. Se o livre-arbítrio sofrer violência e empalidecer, o objetivo da Ordem Rosacruz estará frustrado.
Leis e estatutos são limitações. Quando realmente houver necessidade, devem conter o menor número possível de regras. O Mestre até pensou na possibilidade de abster-se delas.
Baseados nesse espírito de liberdade, imprimimos em nosso papel timbrado: “UMA ASSOCIAÇÃO Internacional de Cristãos Místicos”.
Notemos que há uma grande diferença entre uma associação, que é inteiramente composta por voluntários, e uma organização que vincula os membros a votos, cargos, promessas, etc.
Os que assumiram o compromisso como Probacionistas na Fraternidade Rosacruz sabem que esse Compromisso é uma promessa a eles próprios e não à Ordem Rosacruz. O mesmo cuidado para assegurar o máximo da liberdade individual evidencia-se em todas as etapas da Escola de Mistérios Ocidental.
Nós não temos Mestres. Quando, eventualmente, empregamos o termo Mestre é por consideração e respeito. Na verdade, Eles são nossos amigos e nossos Professores. Sob nenhuma condição exigem obediência a alguma ordem, nem nos impelem a fazer isto ou aquilo. Quando muito nos aconselham, deixando-nos livres para escolher e decidir.
Posso dizer que esta política de não organizar já está sendo adotada nos centros de estudos em Columbus, Ohio, Seattle, Washington e Los Angeles[55]. Desde então, tenho ido mais além nessa diretriz, tentando divulgar os ensinamentos por meio de uma Sede Mundial, em vez de formar novos centros em diversas cidades.
Em alguns lugares, grupos de Estudantes desejam reunir-se para estudos e elevação espiritual. Para auxiliar nesse propósito, a Sede fornece-lhes toda assistência possível, mas como já foi dito, não tenho mais me empenhado na formação de centros de estudos. Agora deixo os Estudantes decidirem. Dessa maneira sentem-se mais estimulados e emancipam-se com mais rapidez.
Agora abordaremos outro tema fundamental: o inovador Serviço de Cura da Fraternidade. Como vivemos num mundo concreto, vinculados às condições materiais, necessitamos de uma Sede e de um Templo de Cura. A Sede deve ser estruturada em harmonia com as leis do país que a acolhe. Também deve ser coerente com a sociedade onde está inserida. Assim o produto da obra pode ficar disponível para o uso da humanidade depois que os líderes atuais se tenham desprendido da vida física.
Até aqui não pudemos evitar situações severas onde firmes decisões foram tomadas para viabilizar a criação da Sede, mas a associação deve permanecer livre, sem restrições.
Insistimos na questão da liberdade. Mas, é somente com esse compromisso que poderemos alcançar maior crescimento espiritual e vida mais longa. No entanto, é triste considerar que, embora sejam essas as nossas intenções, chegará o dia em que a Fraternidade Rosacruz terá o mesmo destino de todos os outros movimentos: ficará atada por regras, e a usurpação de poder a conduzirá fatalmente à cristalização e consequente desintegração. Mas é um consolo saber que de suas ruínas surgirá algo maior e melhor. Assim como ela surgiu de outras importantes estruturas que já tiveram sua utilidade e agora estão em vias de extinção.
Depois do encontro com o Mestre, entramos no Templo onde os doze Irmãos estavam presentes. A configuração do ambiente era bem diferente do encontro anterior. Entretanto, não há necessidade de detalhar o local.
É importante descrever a presença de três esferas suspensas, uma sobre a outra, no centro do Templo. A esfera central situava-se exatamente entre o piso e o teto e era a maior delas. As outras duas estavam suspensas uma acima e a outra abaixo da esfera central.
Além da visão física, há outras formas de visão: a etérica ou raio-X; a visão da cor que nos abre o Mundo do Desejo; a visão tonal que revela a Região do Pensamento Concreto. Esse tema está plenamente explanado no livro “Os Mistérios Rosacruzes”.
Meu desenvolvimento da visão espiritual das Regiões do Pensamento Concreto era muito insuficiente até a sucessão de eventos já mencionados. De fato, quanto melhor for a nossa saúde, tanto mais apegados estamos ao Mundo Físico. Isso inibe a faculdade de entrar em contato com as regiões espirituais. Pessoas que dizem: “Não estive doente um único dia em minha vida”, revelam estar perfeitamente sintonizadas com o mundo material e, portanto, menos capacitadas para ingressar nos reinos espirituais.
Essa foi minha situação até o ano 1905. Sofri dores atrozes durante toda a vida, consequência de uma cirurgia na perna esquerda realizada na infância. A ferida não cicatrizava. Quando abandonei alimentos com carne então fiquei curado e a dor desapareceu.
Minha resistência e paciência foram grandes durante todos esses anos e nunca dei demonstrações de sofrimento. Mas, fora isso, gozava fisicamente de perfeita saúde. É interessante notar também que quando eu sofria qualquer acidente e me cortava, o sangue escorria e não coagulava. Em consequência muito sangue se perdia. No entanto, depois de dois anos adotando uma dieta pura e equilibrada, quando acidentalmente fiquei sem uma unha inteira, perdi só umas poucas gotas de sangue e pude escrever à máquina na mesma tarde sem qualquer infecção, e uma nova unha logo cresceu.
A edificação da parte espiritual da nossa natureza produz, muitas vezes, distúrbios em nosso Corpo Denso. Este fica muito mais sensível às condições do ambiente e, portanto, o resultado pode ser um esgotamento. A resistência física me conservou de pé por meses. Chegou o momento em que o descanso era necessário, porém isso não foi possível e ultrapassei o limite das minhas forças. Sobreveio o esgotamento total, fui conduzido às portas da morte.
A morte definitiva consiste na irreversível ruptura do laço entre o Corpo Físico e os Corpos sutis. Na aproximação desse estado especial de transição, na iminência de ocorrer o desligamento da matéria, podemos receber instruções sobre a ciência de retirar-se do corpo. Goethe, o grande poeta alemão, recebeu sua primeira Iniciação quando seu corpo se achava debilitado e à beira da morte.
Quando fui abatido pela enfermidade, ainda não havia progredido o suficiente no caminho espiritual. Mas a dedicação aos estudos, aspirações e um exercício praticado por muito tempo, e que naquela época acreditava tê-lo inventado, mas agora já sei, vem de tempos remotos, contribuíram para que pudesse abandonar o meu corpo por um curto espaço de tempo e regressar logo em seguida. Não sei como fazia isso, e nem podia fazê-lo voluntariamente. Contudo, isso não vem ao caso.
Um ponto relevante deve ser ressaltado. A saúde perfeita é necessária antes de conseguirmos equilíbrio no Mundo espiritual. Entretanto, quanto mais forte e vigoroso o instrumento, tanto mais drástico será o método para debilitá-lo. Em decorrência, as condições de saúde oscilam durante anos até atingirem o devido ajuste. Assim, aprendemos a conservar a saúde enquanto estamos ativos no Mundo Físico e, ao mesmo tempo, adquirimos a capacidade de atuar nos reinos superiores.
Assim aconteceu comigo. A sobrecarga de trabalho tanto físico como mental, sem trégua até hoje, tem deixado o meu instrumento físico longe de um estado saudável. Amigos alertam-me e tenho tentado considerar suas admoestações. Mas, o trabalho urge e deve ser executado. Enquanto não houver suficiente ajuda, sou obrigado a continuar, apesar da saúde. Em todos os aspectos a Sra. Heindel tem sido uma companheira inestimável.
No entanto, desenvolvi uma capacidade crescente de atuar no Mundo espiritual, mesmo com a saúde precária. Como já afirmei, na ocasião dos principais acontecimentos aqui narrados, minha visão tonal era mediana e principalmente limitada às subdivisões inferiores da Região do Pensamento Concreto. Uma pequena ajuda dos Irmãos naquela noite permitiu-me entrar em contato com a quarta região, o lar dos arquétipos. Lá compreendi as lições relativas ao mais alto elevado ideal da Fraternidade Rosacruz e, também, sobre sua missão na Terra.
Pude ver nossa Sede e uma multidão de pessoas vindas de todas as partes do mundo para receber seus ensinamentos. Pessoas também de lá saiam para levar lenitivo aos aflitos próximos e distantes.
Neste mundo é necessário dedicar um bom tempo investigando e estudando para se adquirir conhecimento sobre qualquer assunto. Mas, na Região Arquetípica do Mundo do Pensamento, a voz de cada arquétipo transporta consigo a rica emissão de conteúdos daquilo que ele representa. Ao mesmo tempo ele carrega de impressões a consciência espiritual. Portanto, nessa noite recebi um entendimento muito além do poder de expressão das palavras.
O mundo em que vivemos é regido pelo ritmo do tempo. Enquanto no reino superior dos arquétipos tudo é um eterno agora. Os arquétipos não revelam seu conteúdo numa sucessão de fatos ao longo do tempo, tal como uma história é narrada aqui. Eles imprimem sobre a consciência uma concepção instantânea e completa da ideia em questão. Com clareza e consistência muito superior a qualquer pormenorizada narrativa. Não ousei mencionar esses fatos na ocasião em que ocorreram. Dedicarei o próximo capítulo a essa tarefa.
CAPÍTULO XXII – NOSSO TRABALHO NO MUNDO – Parte III
Relembremos importante tema dos Ensinamentos Rosacruzes: “A Região do Pensamento Concreto é o reino do som”. É o lar da música celestial, da harmonia das esferas. Esse oceano sonoro envolve e interpenetra tudo e todos, assim como a atmosfera da Terra circunda e envolve todas as coisas terrestres. Nessa região tudo que existe está banhado e impregnado de música, tudo vive e cresce pela música. A PALAVRA de Deus ressoa e modela os diversos protótipos de todas as coisas corporificadas na dimensão terrestre.
No piano, cinco teclas pretas e sete brancas formam a oitava. Além dos sete Globos nos quais evoluímos durante um Dia de Manifestação, existem cinco Globos escuros pelos quais atravessamos durante as Noites Cósmicas. Em cada ciclo de vida e por algum tempo, o Ego recolhe-se no mais denso destes cinco, o Caos, o mundo sem forma onde nada permanece. Apenas os centros de força conhecidos como Átomos-sementes prosseguem. No começo de um novo ciclo de vida, o Ego desce novamente até a Região do Pensamento Concreto, onde a “música das esferas” sincronicamente coloca em vibração os Átomos-sementes.
Há sete esferas. São os sete Planetas de nosso Sistema Solar. Cada Planeta tem sua nota-chave e emite um som particular, diferente de todos os demais. Os tons de todos os Planetas participam na construção de um organismo completo. Entretanto, um deles vibra em singular consonância com os Átomos-sementes do Ego durante o processo de renascimento. Então, esse Planeta corresponde à nota “tônica” da escala musical. É o Astro mais harmonioso para esse Ego. É o regente da nova vida em formação. É sua Estrela Guia. As vibrações sonoras dos demais Astros adaptam-se à frequência sonora dessa nota tônica ou nota-chave.
Como na música terrestre, na celestial há harmonias e dissonâncias. A música entoada pelos Astros reverbera nos Átomos-sementes e direciona a construção do arquétipo dos corpos em vias de encarnar. Assim se formam as linhas vibratórias de força. Essas linhas atraem e organizam as partículas físicas durante a vida. Acontece algo semelhante quando um arco de violino coloca em vibração partículas minúsculas espalhadas sobre um prato de latão. Podemos ver a formação de figuras geométricas.
O Corpo Denso é gradualmente formado segundo as linhas arquetípicas definidas por um conjunto de vibrações. O Corpo Denso é a fiel expressão da harmonia das esferas, modelado conforme as melodias entoadas durante o período de sua construção.
Este período, contudo, é muito mais longo do que o período real da gestação, e varia de acordo com a complexidade da estrutura requerida pela vida em busca de manifestação física.
Tampouco o processo de construção do arquétipo é contínuo. Existem acordes inacessíveis aos diapasões vibratórios dos Átomos-sementes, sons que eles ainda “não sabem ouvir” e, portanto, não podem entrar em ressonância com eles. Quando os Aspectos Astrais entoam esses acordes “incompreensíveis”, o arquétipo simplesmente permanece em compasso de espera e “sussurra” os acordes que já foram incorporados na sua estrutura. Conforma-se em aguardar os sons dos acordes coerentes com o projeto de construção dos órgãos necessários à sua própria expressão.
Concluindo, os organismos terrestres são formados segundo linhas vibratórias produzidas pela música das esferas. Habitamos um corpo composto por órgãos. Cada órgão está associado a um Astro ou vibração sonora.
Estamos em condições de bem compreender que as enfermidades são, na verdade, manifestações de dissonâncias ou desarmonias sonoras, cuja causa, provém primeiramente de uma desarmonia espiritual interna.
Há um fator notável para nós. Se conhecermos com exatidão a causa direta da desarmonia, podemos saná-la. Fica evidente que a manifestação física da doença em breve desaparecerá.
Todavia, é justamente esta a preciosa informação dada pelo horóscopo de uma pessoa. Cada Astro, ocupando uma casa terrestre e Signo celeste, expressa harmonia ou discórdia, saúde ou doença. Portanto, todos os métodos de cura são eficazes apenas na proporção em que levam em consideração as harmonias e discordâncias estelares manifestadas na roda da vida, o horóscopo.
Em circunstâncias normais as Leis da Natureza governam os reinos inferiores com pleno poder. Não obstante, há leis superiores relativas aos reinos espirituais. Em determinadas circunstâncias as leis superiores podem suplantar as inferiores. Por exemplo, a lei superior do perdão dos pecados. O reconhecimento dos erros, acompanhado de sincero arrependimento, pode suplantar a inferior e severa lei: olho por olho e dente por dente.
Quando Cristo veio em missão ao nosso Planeta, curava os enfermos. Sendo Ele o Senhor do Sol, incorporou em Si mesmo a síntese das vibrações estelares, como a oitava incorpora todos os tons da escala. Ele pôde, portanto, emitir de Si a correta influência planetária corretiva requerida em cada caso. Sentia a desarmonia e imediatamente sabia como equilibrá-la graças ao Seu elevado desenvolvimento. Não necessitava de preparação adicional e obtinha resultados instantâneos. Substituía a dissonância planetária, a causa da doença, pela harmonia correspondente. Apenas num único caso Ele recorreu às leis superiores e disse: “Levanta-te, teus pecados estão perdoados.”.
Do mesmo modo, o Serviço de Auxílio de Cura da Fraternidade Rosacruz emprega métodos baseados nas dissonâncias astrais. Desse modo, constata-se as causas das doenças e aconselha-se as medidas corretivas para curá-las. Esse procedimento tem sido suficiente, e eficaz, em todas as solicitações de cura recebidas até hoje.
Contudo, existe um método mais poderoso e acessível que, sob uma lei superior, pode acelerar a recuperação nos casos mais crônicos e demorados. Em determinadas circunstâncias, quando existe o reconhecimento sincero e profundo do erro, podemos até erradicar uma futura doença sentenciada pelo frio e inflexível destino.
Quando observamos com a visão espiritual algum enfermo, esteja seu Corpo Denso debilitado ou não, torna-se claro para o Clarividente a fragilidade dos veículos mais sutis. Em relação ao estado normal de saúde eles estão muito mais debilitados e, consequentemente, não conseguem transferir a dosagem necessária de vitalidade para o Corpo Denso. Portanto, por falta de revitalização, o Corpo Denso perde vigor.
No entanto, conforme o estado de abatimento de todo Corpo Denso, determinados centros ficam obstruídos na proporção da gravidade da doença. Segundo o grau de desenvolvimento espiritual da pessoa, esses centros também ficam com a saúde fragilizada.
Isto acontece principalmente no centro principal situado entre as sobrancelhas. Nesse local está enclausurado o espírito. Em alguns casos está tão aprisionado, com a consciência totalmente voltada para sua débil condição, que perde contato com o mundo exterior. Nesse caso, somente a completa ruptura do Corpo Denso poderá libertá-lo. Mas pode ser um processo demorado.
No decorrer do tempo, a desarmonia planetária causadora do início da doença, vai diminuindo até desaparecer. Mas o sofredor crônico é incapaz de aproveitar novas influências. Em tais casos, é necessária uma efusão espiritual especialíssima para levar a mensagem à alma: “Teus pecados estão perdoados.”. Quando isso for ouvido, a pessoa poderá responder à ordem: “Toma tua cama e anda.”.
Ninguém da presente humanidade pode sequer comparar-se à estatura de Cristo, consequentemente, ninguém pode exercer Seus poderes em casos tão extremos. No entanto, a necessidade desse poder em ativa manifestação está presente tanto hoje quanto a dois mil anos atrás.
O espírito envolve e impregna nosso Planeta. Em diferentes dimensões permeia a tudo e a todos, do centro até a superfície da Terra. Tem maior afinidade por algumas substâncias do que por outras. Sendo uma emanação do Princípio de Cristo, é o Espírito Universal compondo o Mundo do Espírito de Vida que restaura a completa harmonia de todo corpo.
Uma substância foi mostrada ao autor no Templo dos Rosacruzes na noite memorável já mencionada. O Espírito Universal combinava-se e unia-se a essa substância de maneira simples e rápida. Tal como o amoníaco interage com a água.
Dentro da grande esfera central, mencionada em lição anterior, havia um recipiente menor contendo vários pacotes repletos dessa substância. Quando os Irmãos se colocaram em determinadas posições, e a harmonia emprestada por uma música já havia preparado o ambiente, repentinamente os três Globos começaram a brilhar nas três cores primárias, azul, amarelo e vermelho.
O recipiente, contendo os já mencionados pacotes, tornou-se luminoso durante a entoação das fórmulas mágicas. Para a visão do autor ficou evidente a ação de uma essência espiritual que antes não se encontrava lá. Em seguida os Irmãos empregaram essa essência espiritual no Serviço de Cura. O êxito foi instantâneo. As partículas cristalizadas, que envolviam os centros espirituais do paciente, dissiparam-se como por mágica, e o doente despertou sentindo o restabelecimento da saúde e o bem-estar físico.
Nota: Os quatros artigos seguintes são transcrições de manuscritos de Max Heindel. Não haviam sido publicados antes de sua morte. Foram publicados na revista “Rays From the Rose Cross”.
CAPÍTULO XXIII – CONDENAÇÃO ETERNA E SALVAÇÃO
Na Fraternidade Rosacruz foram ministradas, durante a semana, certo número de palestras. Nelas o lado intelectual de nossa natureza predominou. Mas, o culto de domingo à noite, incluindo a pregação, destinou-se ao coração.
O objetivo da Fraternidade Rosacruz é unir o intelecto com o coração. Portanto, as palestras dos domingos devem ser destinadas a ressaltar o lado do coração, deve tocar as suas cordas.
O coração precisa de mais alimento do que o intelecto. Na atual civilização somos muito propensos a encarar tudo pelo aspecto intelectual. Sempre buscamos explicações para os problemas de interesse apenas da Mente. As emoções e os sentimentos mais profundos padecem de esquecimento.
Durante a exposição, o orador deve esforçar-se para encaminhar a alma do ouvinte para um estado de reflexão e meditação cujo núcleo seja o coração. As exortações devem estimular mais o coração do que a Mente. Uma atmosfera devocional envolve e beneficia tanto o orador como a plateia.
Durante a semana passada, o Irmão Maior, que tem sido o Professor do orador, pediu que a palestra do último domingo fosse proferida de outra forma. Assim, revisamos o aspecto dos ensinamentos filosóficos que, atualmente, requer maior atenção.
A Fraternidade Rosacruz é uma escola preparatória visando capacitar os Estudantes para trabalhos nos planos superiores. Se olharmos para o ser humano como ele é agora, teremos apenas uma visão parcial dele, pois ele, como tudo o mais, está em contínua transformação.
Movimento, adaptação e transformação estão sempre presentes em qualquer forma de vida. Portanto, se desejamos progresso contínuo, devemos nos inspirar nos exemplos da vida.
É necessário dirigirmos os olhos de nossa Mente para o futuro. Assim, poderemos saber o que nos espera. Também é necessário o esforço para viver de forma coerente com nossos ideais. Dessa forma podemos realizar as transformações exigidas enquanto há tempo.
Quando atingimos um ideal, ele deixa de ser um ideal. Houve uma época na qual comíamos carne. Obtínhamos tal alimento por meio de uma tragédia, tirando alguma vida. Resolvemos eliminar esse hábito cruel apoiados no ideal do vegetarianismo. Em pouco tempo podemos alcançar esse ideal. Portanto, o alimento de origem vegetal deixou de ser um ideal, pois já foi alcançado.
Também há ideais muito distantes, entretanto necessários à vida espiritual. Mas, devemos lutar para alcançá-los no tempo devido, estimular e praticar o melhor em nós.
Vamos agora discorrer sobre um assunto conhecido na Igreja como “condenação eterna e salvação”. Será possível evitar essa terrível sina? Naturalmente, em algumas pregações já sentimos a ameaça do inferno pairar sobre nossas cabeças. Os líderes Religiosos evocam a questão da salvação, falam aos fiéis sobre a urgência de meditarem sobre suas vidas no sentido de evitarem a condenação eterna.
Muitos questionam tal doutrina. Não aceita a ideia do tormento eterno, muito menos a ideia de um Deus tirano e inclemente. Decepcionados, afastam-se da Igreja e se voltam para outros sistemas Religiosos ou filosóficos.
Alguns abraçam as Religiões do Oriente. Preferem a ideia da reencarnação, da continuidade da vida, onde o ser humano evolui por meio de ciclos sucessivos até se tornar um deus. Entendem que os seres evoluem na infinitude do tempo e, por isso, não há urgência nem necessidade de grandes esforços. Com a mentalidade “orientalizada”, entram em desarmonia com o ritmo progressista do Ocidente.
Ao Mundo Ocidental foi dada a doutrina que ensina a “condenação eterna e a eterna salvação” e, embora não acreditemos nisso da maneira ortodoxa e literal, não obstante, há uma grande verdade nessa doutrina.
A sua compreensão inteligente depende da origem da palavra “eterna”. Se nos reportarmos à Bíblia grega, encontraremos a palavra “aionian”. Procurando no dicionário encontramos seu significado: “que dura séculos; por um ilimitado período de tempo”. A Epístola de São Paulo a Filemon, onde ele fala do retorno do escravo Onésimo, diz: “Se ele se apartou de ti por algum tempo, foi sem dúvida para que o pudesse reaver para sempre (aionian).”[56]. Nem Onésimo nem Filemon eram imortais, portanto, “aionian” só pode significar uma parte da vida, e não a eternidade. Portanto, “eternidade” não tem o sentido que lhe foi atribuído. Mas, qual o seu significado?
Podemos aprender muito quando observamos o mundo ao nosso redor. Contemplamos a evolução das criaturas e reconhecemos um perpétuo progresso. O espírito em contínua peregrinação desde o barro até Deus. Nesse caminho evolutivo o espírito passa por muitos estágios e, também, por períodos de descanso antes de prosseguir.
Conforme ensina a Filosofia Rosacruz a humanidade atravessou por Épocas e Períodos de Evolução. Na última parte da Época Lemúrica houve a primeira separação real dos seres humanos. Nessa Época havia um “povo escolhido”. A essa “seleta coletividade” pertenciam às pessoas que apresentavam um especial refinamento na constituição do Corpo de Desejos. Quem possuísse matéria de desejos de qualidade superior tinha alcançado o nível de evolução suficiente para o Ego, ou Espírito Humano interpenetrar seus veículos. Esses pioneiros converteram-se em seres humanos tal como os conhecemos hoje.
Assim surgiu a primeira raça. Depois, gradualmente, outras raças surgiram. A saber, sete durante a Época Atlante e cinco na Época Ária, a atual. Haverá mais duas na Época Ária e uma na Sexta Época. Em seguida as raças desaparecerão.
Enquanto se efetua este processo de evolução, um vastíssimo grupo de espíritos vem continuamente progredindo de estágio em estágio, não obstante, muitos atrasados ficam pelo caminho. Mesmo quando ainda não éramos conscientes, alguns não acompanhavam o ritmo, não eram tão adaptáveis como os outros, mostravam-se inaptos para dar o passo seguinte na evolução. Chegamos agora no estágio onde o ritmo das mudanças é mais acelerado, onde o tempo de existência entre duas raças é mais curto do que antes. Assim, os Irmãos Maiores, de forma justificável, classificam as dezesseis raças como “os dezesseis caminhos da destruição”.
Aqui temos a nossa lição. Há uma passagem decisiva de uma raça para a seguinte. Cabe a cada um de nós efetuá-la. Estamos caminhando através das raças desde a Época Lemúrica. Peregrinamos pelas sete raças Atlantes. Enfim chegamos à primeira das raças Arianas.
Estamos acompanhando o contínuo processo evolutivo. Realizamos as passagens entre as Etapas e as Épocas com êxito. Superamos os desafios e evitamos os atrasos, embora muitos de nossos irmãos foram divididos e separados em raças menos avançadas. Assim, podemos afirmar, alcançamos a salvação.
É exatamente como as crianças na escola. Progridem desde o jardim da infância até a universidade. Algumas são reprovadas e obrigadas a ficar para trás, repetem as lições não assimiladas no ano anterior. Mas, uma nova oportunidade lhes é dada. Sempre alguns Egos ficam para trás e outros, mais diligentes, seguem à frente.
Coloco esta questão para o leitor e para mim, para ser respondida esta noite. Vamos ficar entre os atrasados ou vamos evoluir como devemos e podemos? Tendo recebido esta maravilhosa doutrina e conhecido a excelsa verdade da continuidade da vida, não podemos hesitar e dizer para nós mesmos: “Temos muito tempo. Não acreditamos na condenação eterna. Seremos todos salvos no devido tempo”.
Todavia, alguns conseguirão com antecipação e outros ficarão para trás. A questão é: seremos nós uma ajuda ou um obstáculo para a raça?
Atualmente encontramo-nos entre os pioneiros no panorama do Mundo Ocidental. Nossa filosofia expõe os mistérios da vida e da morte como nenhuma outra. Vamos praticá-la de forma coerente e digna, concentrando esforços para sermos exemplos vivos no exercício do quotidiano?
A maneira como vivemos importa mais do que nossas crenças. Não é só uma questão de fé, mas é demonstrar a nossa fé através das obras. De fato, praticamos nossos ideais no dia a dia? As pessoas ao nosso redor, a nos observar, veem exemplos do que devem ou não devem ser.
Ouvimos estes ensinamentos todos os domingos, refletimos sobre as lições da vida, meditamos sobre a palavra “servir”. No entanto, estamos vivendo de acordo com esse ideal? Estamos servindo no mundo? Saímos pelo mundo praticando estes princípios e vivendo uma vida em concordância com os ensinamentos ministrados aqui? Nenhum de nós pode afirmar que dá o melhor de si e está plenamente satisfeito consigo. Na verdade, deixamos muito a desejar. Então, perguntamos: “Esse ideal é muito elevado?”. Não, não é. Há uma maneira pela qual podemos viver melhor dia após dia, e vamos mencioná-la.
Os Estudantes e leitores que não praticaram ainda os exercícios recomendados em nossos livros, devem seriamente pensar em fazê-lo. Eu os aconselho a começar, porque se sentimos em nós mesmos algum crescimento, seja ele notado ou não pelo mundo a nossa volta, o progresso sempre existe.
Diariamente devemos examinar nossos pensamentos e ações. Assim, individualmente homens e mulheres, conquistam uma vida melhor, enobrecendo o caráter e purificando a alma. Os dois exercícios Rosacruzes[57] não são difíceis e requerem muito pouco tempo. Não devemos empregar o tempo legitimamente destinado ao trabalho para nosso próprio desenvolvimento. Isto seria tão errado como tirar o pão da boca das pessoas da família e comê-lo. Todo e qualquer egoísmo deve ser evitado. O esforço deve estar focado no aprimoramento constante e diário. Deve imprimir maior capacidade para irradiar vida mais abundante sobre a Fraternidade.
Os Probacionistas dedicados à prática dos exercícios identificam-se com os Ensinamentos Rosacruzes. Donde podem exercer uma influência mais proveitosa e intensa em relação à ausência da prática. Portanto, torno a insistir, e não repetiria se não fosse uma recomendação especial, todos devem iniciar a prática destes exercícios. Esforcem-se por viver de acordo com eles. Somente vivendo uma vida superior estaremos, de fato, preparados para o progresso vindouro.
Durante o trânsito do Sol por um novo Signo do Zodíaco, a humanidade recebe renovado impulso espiritual. Esse impulso deve encontrar um canal por onde fluir. Esse canal deve estar preparado e capacitado para vibrar em harmonia com o impulso recebido. Não havendo pessoas devidamente preparadas para receber e transmitir essas vibrações, os ensinamentos relacionados com esse impulso espiritual ficam impossibilitados de chegar até nós.
Sabemos como durante estes passados mil e novecentos anos, a segunda vinda de Cristo tem sido esperada. Como no tempo dos Apóstolos, alguns esperavam Sua vinda e achavam que Ele viria fundar um reino mundano na Terra. Como no passado, também nos tempos de agora encontramos pessoas esperando Sua vinda, retornando como um ser humano. Mas, como disse Angelus Silesius[58]:
“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém
Se não nascer dentro de ti,
tua alma seguirá extraviada.
Em vão olharás a Cruz do Gólgota,
A menos que dentro de ti,
ela seja novamente erguida.”.
Como um diapasão afinado em determinada vibração começará a soar quando outro do mesmo tom for tocado, assim também ocorrerá conosco. Quando estivermos afinados com as vibrações de Cristo, seremos capazes de expressar o amor por Ele ensinado. Devemos demonstrar esse amor por meio do nosso serviço todos os domingos à noite. Enquanto não vivermos à altura desse amor e reconhecermos o Cristo interno, não poderemos ver o Cristo externo. Por isso, vamos rever o pequeno poema:
“Não desperdicemos nosso tempo
ardentemente desejando
feitos brilhantes, mas impossíveis;
Não fiquemos indolentemente esperando
o nascimento de asas angelicais visíveis.
Não desperdicemos as pequenas luzes brilhando,
pois nem todos podem ser uma estrela reluzente;
Mas vamos realizar nossa missão,
iluminando a escuridão,
irradiando luz com nossa presença.”.
CAPÍTULO XXIV – O ARCO NAS NUVENS
Devo dar algumas explicações preliminares, algumas razões por que a matéria contida no “O Arco nas Nuvens” é levada ao conhecimento do leitor. Recentemente ditei o manuscrito de um livro que estou, desde então, revisando. Durante o ditado surgiram alguns pontos para serem investigados. Um deles refere-se à força vital que penetra no corpo através do baço. Investigando, descobri que essa força se manifesta em diferentes cores. Além disso, ela opera de maneira diversa nos vários reinos da vida. Há muito ainda para ser investigado antes de trazer a informação ao público.
Um amigo, ao ler parte do manuscrito, mandou buscar, em sua biblioteca em Seattle, um livro publicado há mais ou menos quarenta anos atrás chamado “Princípios de Luz e Cor” por Edwin D. Babbitt[59]. Consultei esse livro e achei-o muito interessante, escrito por um homem dotado de clarividência. Depois de estudar o livro por uma hora fiz novas investigações. O tema ganhou mais clareza. É um assunto sério e profundo, pois, a própria vida de Deus parece estar incorporada nessas cores.
Entre outras coisas, remontando à Memória da Natureza no que se refere à luz e à cor, cheguei ao ponto onde não existia a luz, como foi descrito no Livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Depois segui os diferentes estágios da formação dos Astros até o momento em que o arco-íris foi visto entre as nuvens. Fiquei tão impressionado com essa investigação que minha devoção cresceu.
A Bíblia afirma que “Deus é Luz”, e nada nos pode revelar a natureza de Deus tão claramente como esse símbolo. Se um Clarividente voltasse para o passado distante e obscuro, e olhasse para esse Astro na época da sua formação, vê-lo-ia como era no princípio, uma nuvem escura, informe, surgindo do Caos. Depois veria essa nuvem de substância virgem transformada em luz pelo Fiat Criador: foi sua primeira manifestação visível, uma luminosa névoa de fogo.
Em seguida, houve uma época na qual a umidade se acumulou ao redor dessa névoa de fogo e, mais tarde, culminaria o Período conhecido como o Período Lunar. Mais tarde ainda, viria o estágio mais escuro e mais denso chamado Período Terrestre.
Na Época Lemúrica, a primeira incrustação da Terra começou quando a água fervente, em ebulição, foi evaporada. Quando a água ferve e referve, deixa uma marca na chaleira. De maneira semelhante, a ebulição da umidade externa da bola ígnea da Terra formou uma crosta dura. Assim já estava constituída a superfície da Terra.
Com referência à época seguinte, a Bíblia diz que não chovia na Terra, mas havia uma névoa elevando-se dela. Naquela época, fluía da terra úmida uma névoa, envolvendo-a completamente. Portanto, era impossível ver a luz do Sol, como a vemos hoje. O Sol tinha a aparência de um arco de luz numa noite escura. Ao redor dele havia uma aura.
No início da Época Atlante, nós vivíamos nessa atmosfera nebulosa. Mais tarde, a temperatura foi gradativamente caindo e a umidade foi-se condensando em água. Por fim, uma chuva contínua forçou os Atlantes a abandonarem seus domínios territoriais. Foi o decisivo episódio conhecido por dilúvio, como assinalam as várias Religiões.
Quando essa atmosfera nebulosa ainda envolvia a Terra, era impossível a formação do arco-íris. Geralmente esse fenômeno ocorre quando há uma atmosfera clara em certos lugares e nuvens em outros. Então, chegou a Época na qual a humanidade contemplou o arco-íris pela primeira vez. Quando vi esta cena na Memória da Natureza fiquei maravilhado.
Alguns refugiados foram compelidos a sair da Atlântida. Esse antigo continente está hoje parcialmente submerso no Oceano Atlântico. Porém, abrange também a Europa e a América dos dias atuais. Esses refugiados foram guiados para o Leste até atingir um lugar elevado onde a atmosfera estava parcialmente clara. Lá viram, acima de suas cabeças, o céu claro. De repente, apareceu uma nuvem, e dessa nuvem saiu um relâmpago. Ouviram o reboar do trovão.
Como sobreviveram às enchentes graças a orientação de um guia, reverenciado como Deus, então, se voltaram para Ele perguntando: “O que foi isso? Vamos ser, enfim, destruídos?”. O Guia apontou para o arco-íris na nuvem e disse: “Não, pois enquanto esse arco estiver na nuvem, assim também as estações se seguirão umas às outras, em sucessão ininterrupta”. E o povo, com grande admiração e alívio, contemplou esse arco promissor.
Quando consideramos o arco como uma das manifestações da Divindade, podemos aprender algumas lições maravilhosas no domínio da devoção. Quando ficamos atemorizados diante do relâmpago e do trovão, o arco-íris no céu deve provocar sempre no coração humano uma admiração pela beleza de sua composição de sete cores. Não há nada que se compare a esse arco maravilhoso, e gostaria de chamar a atenção para alguns fatos físicos referentes a ele.
Em primeiro lugar, o arco-íris nunca aparece ao meio-dia. Ele ocorre quando o Sol já atravessou mais da metade da distância desde o zênite até o horizonte. Quanto mais próximo do horizonte o Sol estiver, maior, mais claro e mais belo ele será. Jamais aparece num céu sem nuvens. Normalmente tem como fundo uma nuvem escura e sombria.
Só podemos vê-lo quando damos as costas ao Sol. Não podemos olhar em direção ao Sol e, ao mesmo tempo, ver um arco-íris. Quando levantamos os olhos para o arco, ele aparece como um semicírculo acima da Terra e de nós. Quanto mais alto estivermos, mais ampla visão teremos dele. Nas montanhas, quando atingimos uma altura suficiente acima do arco, podemos vê-lo como um círculo sétuplo. Sétuplo como a Divindade da qual é a manifestação.
Com esses fatos físicos diante de nós, consideremos a interpretação mística do assunto. Na vida comum, quando estamos no apogeu da atividade física, quando a prosperidade está no seu máximo, quando tudo parece brilhante e claro, então, não temos necessidade da manifestação da luz e da vida divina. Não temos necessidade desse acordo firmado por Deus com o ser humano, desde sua entrada na Época Ária. Não há razão alguma para dar importância a uma vida superior. O barco da vida navega num mar de rosas. Não há motivo para preocupações e este mundo provê todas as necessidades. Os assuntos relativos ao além não interessam no momento.
Mas, de repente, surge a tempestade. Tristezas e aborrecimentos lançam uma cortina sombria sobre nós. A borrasca do desastre rouba-nos o conforto material. Muitas vezes somos forçados a encarar a solidão, imersos num mar de sofrimentos.
Nesse momento, quando desviamos nossa atenção do Sol da prosperidade material e olhamos para a vida superior, veremos sobre a nuvem escura do desastre, o arco colorido indicando o pacto entre Deus e a humanidade. Assim fica evidente que sempre podemos entrar em contato com a vida superior.
Contudo, é preciso lucidez e cautela. Precisamos decidir com propósitos bem delineados. Pois, talvez não seja o momento certo. Necessitamos de condições materiais para levar uma vida digna, mesmo sendo modesta. A vida material prospera melhor quando não estamos em contato muito íntimo com a vida elevada.
Todavia, para evoluir, progredir e aspirar a um estado cada vez maior de espiritualidade, devemos, vez por outra, sofrer inquietações e sofrimentos na carne. Dessa forma, entrarmos em maior sintonia com a vida superior. Quando encararmos o sofrimento e as tribulações como um meio para atingir esse fim, então, as desgraças transformar-se-ão nas maiores bênçãos já recebidas.
Quando não temos fome, que nos importa o alimento? Mas, quando estamos famintos e temos diante de nós um alimento, não importa quão insignificante seja, ficamos muito agradecidos por ele.
Dormindo bem todas as noites, não podemos avaliar quão privilegiados e abençoados somos. Mas, quando insones, noite após noite, desejando ardentemente conciliar o sono com o descanso correspondente, reconhecemos o seu devido valor.
Quando gozamos de boa saúde e não sentimos dor ou qualquer mal afligindo o corpo, esquecemos a existência e o significado da dor. No entanto, quando nos restabelecemos de uma doença ou depois de um grande sofrimento, avaliamos bem as bênçãos da saúde.
No contraste entre os raios do Sol e a escuridão da nuvem, vemos o arco acenando para uma vida superior. Nesse momento especial estamos em melhores condições de aceitar o convite do arco-íris.
Muitas pessoas preocupam-se com ninharias. Isto me faz lembrar uma história, recentemente publicada num de nossos jornais. Um rapaz subiu numa escada. Enquanto subia olhava para cima. Encontrava-se em tal altura que uma queda seria morte certa. De repente parou e olhou para baixo. Ficou imediatamente tonto. Pois, quando olhamos para baixo, já a uma elevada altura, ficamos tontos e assustados. Mas, alguém acima dele chamou-o e disse: “Olhe para cima, garoto. Suba até aqui e eu ajudarei você”. Ele olhou para cima, e imediatamente a tontura e o medo desapareceram. Então, continuou subindo até ser apanhado por alguém que o aguardava em uma janela.
Vamos olhar para cima. Manter o vigor na subida e abandonar os pequenos tropeços da vida. Contemplemos o arco da ESPERANÇA que está sempre enfeitando as nuvens. Quanto mais nos esforçamos por viver a vida superior e alcançar as alturas sublimes em direção a DEUS, mais veremos o arco da paz tornando-se um círculo e haverá tanta paz aqui embaixo como lá em cima.
É nosso dever realizar o trabalho que nos cabe nesse mundo. Oremos para nunca nos esquivarmos dele. Ainda assim temos um dever para com a vida superior. Este é o propósito das reuniões aos domingos à noite. Unindo nossas aspirações, avançaremos em direção às alturas espirituais.
Devemos lembrar que todos trazem dentro de si uma força espiritual latente. Ela é superior a qualquer poder no mundo. Como ainda não está disponível, somos responsáveis pelo seu desenvolvimento e uso. Para aumentar esse poder devemos dedicar parte de nosso tempo livre ao cultivo da vida espiritual. Assim, quando a nuvem da desgraça descer sobre nós, possamos, com o auxílio dessa força, encontrar o arco dentro da nuvem.
Como o arco é visto depois da tempestade, assim também quando pudermos ver o brilhante arco-íris em nossa nuvem de dor, o sofrimento estará no fim e o lado luminoso começará a aparecer. Quanto maior a provação, maior a necessidade da lição. Quando trilhamos o caminho do erro, mais cedo ou mais tarde seremos bondosos, mas firmemente, fustigados pela realidade da vida e forçados a reconhecer que o caminho da verdade aponta para o alto e não para baixo, e que Deus governa o mundo.
CAPÍTULO XXV – A RESPONSABILIDADE DO CONHECIMENTO
Na época distante e obscura do passado, quando começamos nossas vidas como seres humanos, pouca experiência havia sido acumulada e, consequentemente, menor responsabilidade arcava sobre nós. A responsabilidade depende do grau de conhecimento.
Sabemos que os animais não são responsáveis perante a Lei de Causa e Efeito, sob o ponto de vista moral. Porém, é claro, se um animal saltar de uma janela estará sujeito às leis físicas. Quando estatelar-se no chão possivelmente fraturará uma pata ou sofrerá qualquer outro dano.
Se uma pessoa fizesse a mesma coisa, teria de responder à Lei da Responsabilidade, além da Lei de Causa e Efeito. Recai sobre ela uma responsabilidade moral. Está ciente da importância do instrumento a ela dado, portanto, não tem o direito de lhe causar dano.
Vemos, então, que nossa responsabilidade moral depende do nosso nível de consciência, ou de conhecimento.
Adquirimos experiência através de muitas vidas. A cada vez incorporamos mais talentos e faculdades. Renascemos sempre com talentos acumulados. Resultam das experiências agregadas durante vidas. Quanto mais talentos, mais responsáveis somos pelo seu uso. Além disso, devemos aplicar e multiplicar esses talentos durante a vida. Sem essa prática, as qualidades estarão condenadas a progressiva atrofia, tão certo como a mão não usada pende inerte para um lado.
As habilidades espirituais podem definhar, tal como um músculo sem exercício também enfraquece. Para evitar a atrofia devemos colocar os talentos em ação. Não pode haver descanso nem hesitação na rota evolutiva assumida por nós. Devemos seguir adiante ou sofreremos as consequências da degeneração dos poderes anímicos.
Há um inseparável casamento entre responsabilidade e conhecimento. Mais conhecimento, mais responsabilidade. Isto está bem claro. Observando sob o ponto de vista mais profundo, na perspectiva do cientista ocultista, há uma responsabilidade vinculada ao conhecimento geralmente ignorada pela humanidade. A esse nível particular de responsabilidade dedicaremos o estudo seguinte.
Mabel Collins[60] afirma que é real a história narrada em seu livro chamado “A Floração e o Fruto, ou a História de Fleta, a Necromante”.
Segundo a autora, o material recolhido para compor essa história veio de um país distante e de maneira muito estranha, fazendo referências a alguém que conhecia.
A história narra verdades profundas relacionadas com a aquisição de conhecimentos e seu respectivo uso.
Conta-nos como Fleta no começo de sua encarnação, quando ainda estava em estado selvagem, assassinou seu amante. Em seguida, Fleta obteve certo poder relacionado com a atmosfera cruel do crime. Esse poder, em conformidade com a natureza do caso, estava no plano da magia negra. Portanto, como sugere a história, Fleta possuía o poder de um mago negro. Ela forçou seu amante a matar uma entidade para adquirir mais poder. Desta forma obscura utilizava seu conhecimento.
Há aqui uma grande verdade. Todo conhecimento que não estiver impregnado de vida é vazio, sem propósito e inútil. O conhecimento pode ser obtido de várias maneiras, e deve também ser utilizado de várias formas. Uma vez adquirido, pode ser guardado num talismã e depois usado pelas pessoas para bons ou maus propósitos, segundo o caráter de quem o utilizar.
Se conservado por alguém que desenvolveu essa força com esforço próprio, será usado de acordo com a índole desse homem ou dessa mulher.
Aplica-se aqui o mesmo princípio do gerador de eletricidade ligado a uma bateria. A bateria acumula a eletricidade gerada. Essa energia acumulada pode ser utilizada para acionar diversos dispositivos elétricos e não apenas para retornar a quem a forneceu. Assim também acontece com a força dinâmica advinda do sacrifício de uma vida com o propósito de adquirir poder oculto. Pode ser armazenada num talismã e usada de diferentes modos.
Vemos este grande fato particularmente descrito na lenda de Parsifal[61]. Nesta bela saga o poderoso sangue purificador do Salvador foi recolhido em um cálice. O sangue foi vertido em nobre sacrifício próprio e não usurpado de outrem. Esse cálice, o Graal, converteu-se em talismã. A relíquia foi guardada por nobres cavaleiros. O Graal lhes conferia força espiritual desde que conservassem a pureza, castidade e vida inofensiva.
Além do cálice temos também o simbolismo da lança responsável pelo ferimento do qual jorrou o sangue. A lança foi “imantada” pelo sangue purificador e, também, se converteu em talismã, poderia ser destinada para diversos propósitos.
Durante o reinado de Titurel, o poder do Graal foi conservado. O filho de Titurel, Amfortas, herdou o trono. Certo dia Amfortas deixou a guarda do Cálice e armou-se com a lança sagrada para matar Klingsor. Então, o rei corrompeu sua natureza inofensiva. Perverteu o grande poder espiritual da lança. Tentou usá-lo para matar um inimigo.
Embora Klingsor fosse um mago negro e, portanto, inimigo do bem, Amfortas jamais deveria utilizar o poder da lança para um propósito nefasto. Ele violou a natureza casta, pura e inofensiva. Esse equívoco trouxe muita desgraça para Amfortas. O poder da lança voltou-se contra ele. Foi o início de um padecimento sem trégua. Um ferimento incurável impingiu-lhe terrível suplício. É também assim em casos análogos.
O rei Davi é lembrado pela alcunha de: o guerreiro manchado de sangue. O Senhor proibiu-lhe a construção do Templo, mesmo sendo um deus da guerra, punindo nações para fazê-las voltar à razão. Como Amfortas, Davi não pôde construir um templo com o instrumento maculado pelo sangue de suas guerras. Essa tarefa foi delegada ao filho de Davi, Salomão, o homem da paz.
Fato notável em Salomão: Ele pediu sabedoria. Pediu a Deus abundante sensatez, não para vencer seus inimigos, não para conquistar mais territórios e multiplicar seu povo, mas para governar melhor o povo colocado aos seus cuidados. Como o desejo de Salomão já estava imbuído de sabedoria, sabedoria foi-lhe concedida em abundância.
Retornando à Lenda do Graal, Parsifal representa a antítese de Amfortas. Parsifal não chegou a conhecer seu pai, um guerreiro, um homem manchado de sangue e por isso mesmo ceifado pela morte. Herzleide (aflição do coração), sua enviuvada mãe, sozinha o criou. Ainda, jovem e ingênuo, Parsifal utilizava um arco para flechar animais selvagens. Mas, a certa altura, mais maduro, quebrou seus instrumentos de caça. Converteu-se em um ser casto, puro e inofensivo. Pelo poder inerente a essas virtudes conservou-se firme quando foi tentado por Kundry. Nesse dia de grande tentação, arrebatou a lança das mãos de Klingsor. Lembremos que Amfortas tinha perdido a lança para o mago negro.
Parsifal, durante sua peregrinação pelo mundo, desde o resgate da lança até o retorno ao Castelo do Graal, foi perseguido por muitas tentações, muita tristeza, problemas e tribulações. Homens quiseram tirar-lhe a vida, e, muitas vezes, poderia livrar-se dos inimigos empunhando a lança sagrada.
Mas, Parsifal já havia compreendido o real propósito da lança. Seu poder miraculoso deve ser direcionado para curar, não para ferir. Compreendeu o poder sagrado conferido ao talismã através do sangue sacrifical, e esse poder deve ser usado somente para os mais elevados propósitos.
De fato, quem possui genuíno poder espiritual jamais o utiliza para qualquer deliberação egoísta. São firmes em seus propósitos, não importa quão irresistível a tentação ou o grau de aflição imposto pelas forças do mal. Nem sequer por um momento sonham em prostituir o sagrado poder para propósitos egoístas.
Apesar de alguém poder alimentar cinco mil pessoas que estão famintas, afastadas da fonte de provisões, ele não apanhará nem mesmo uma pequena pedra para transformá-la em pão com o fito de aplacar a sua própria fome.
Embora possa postar-se diante de seus inimigos e curá-los, como Cristo restaurou a orelha do soldado romano, recusará o uso do poder espiritual para estancar o sangue jorrando de seu próprio flanco.
Seres dessa natureza “a outros salvam, a si mesmos não salvam”. Mas, eles poderiam sempre tê-lo feito se quisessem, pois, o poder é grande. Mas se o tivessem usado para esse fim, tê-lo-iam perdido. Não tinham o direito de assim prostituir seu precioso poder.
Vejamos outros exemplos de transferência de poder. Por exemplo, a cabeça de João Batista foi colocada numa bandeja logo após ter sido sacrificado. As pessoas presentes a esse brutal espetáculo adquiriram certa quota de poder.
A mitologia grega conta-nos as façanhas de Argos. Possuía tantos olhos a ponto de ver tudo e quanto desejasse, era Clarividente. Mas usou seu poder para um propósito mesquinho, e Mercúrio, o deus da sabedoria, lhe decepou a cabeça retirando seu poder.
Toda vez que um ser humano tenta usar seu conhecimento espiritual e seu poder de maneira deturpada, ele os perderá. Perde o direito adquirido de posse e uso desse poder.
Mesmo quando observamos o conhecimento do ponto de vista científico, constatamos o consumo da vida. Cada pensamento rompe a delicada malha do tecido cerebral, formado de pequenas células. Cada célula tem vida individualizada e essa vida é destruída pelo pensamento. Ou melhor, a forma celular é destruída e assim a vida não pode mais manifestar-se nela.
Quando direcionamos o intelecto à procura de conhecimento, em qualquer área de estudo, sempre há destruição da vida.
Alguns tiram a vida em experiências científicas por mera curiosidade. Outros são cruéis ao tirar a vida, como na vivissecção. Nesse caso, se a busca pelo conhecimento se baseia apenas na curiosidade, uma terrível dívida acumula-se para resgate futuro. A Natureza incansavelmente trabalha para restaurar o equilíbrio da balança do destino.
No caso de Fleta, seu poder originou-se de dois sacrifícios. O sacrifício da vida, cujo cenário foi o Mundo Físico, foi seguido por outro sacrifício em outro mundo. Através desse poder ela conseguiu chegar até os portais do templo, onde se postou e pediu Iniciação. Entretanto, seus propósitos, tal como Klingsor, não eram puros.
Ela não era casta, não estava qualificada para ter poder espiritual em toda a sua dimensão, nem capacitada para auxiliar a humanidade. Portanto, foi banida da porta do templo e teve a morte decretada conforme o triste destino das necromantes. Um véu pende sobre essa morte e não sabemos o que está por trás dele. Mas, não convém falar sobre esses temas, é melhor não os revelar.
Dessas histórias vale extrair lições práticas. Não podemos tirar a vida nem acumular conhecimentos de uma maneira prejudicial, sem incorrer com isso numa terrível responsabilidade. A única razão satisfatória e apropriada para a busca do conhecimento é aquela onde possamos servir e ajudar a humanidade da maneira mais eficiente.
Na época presente é imprescindível o sacrifício de vidas para obter-se conhecimento, não podemos evitar. Portanto, o conhecimento deve ser almejado com o mais puro e melhor dos motivos, pois são inumeráveis as vidas aniquiladas.
O ocultista pode observar a vida na iminência de encarnar. Até a vida mais elementar dedica-se a construir e habitar a forma mais adequada para sua manifestação. Quando essa vida é privada de sua forma em função do processo da obtenção de conhecimento, o ocultista fica surpreso com a imensa quantidade de vidas sacrificadas. Muitas delas imoladas sem um bom propósito.
Por isso, repetimos e insistimos: ninguém tem o direito de procurar conhecimento a não ser com o mais puro e melhor dos motivos.
Se, por outro lado, trilhamos o caminho do dever, se procuramos fazer bem, e completamente, as coisas que nos chegam às mãos, e se temos aspirações de ingressar nos Mundos sutis sem artifícios para forçar o crescimento espiritual, então estamos mais qualificados para obter poderes superiores.
Os Ensinamentos Rosacruzes estimulam a busca do bem, do belo e do verdadeiro. Ensina verdades espirituais e, também, tem a beleza de emancipar seus Estudantes. Todos devem aprender a trilhar o caminho do dever e a viver a vida do bem.
Não importa se a vida tem longa ou curta duração. Muitas pessoas, como diz Thomas de Kempis[62], preocupam-se em garantir uma vida longa. Não importa a quantidade dos dias e sim a qualidade dos dias vividos. Devemos dirigir nossos esforços no cumprimento do dever diário. Então, certamente estaremos qualificados para receber o conhecimento superior e o exaltado poder que o acompanha.
Há sempre espaço para praticarmos o conhecimento adquirido, não importa onde. Não se trata de pregar sermões nem de extasiar plateias. Declamar, desde manhã até a noite, as maravilhas que conhecemos para angariar admiradores. Ao contrário, devemos servir com humildade, vivendo a verdadeira vida espiritual. Dando exemplos vivos e coerentes com nossos ensinamentos. A oportunidade para servir existe para todos nós. Não precisamos procurá-la muito longe, ela está precisamente aqui.
Thomas de Kempis expressou tudo isso da maneira singela, própria de um místico inspirado. Com lindas palavras abordou o mesmo tema na “Imitação de Cristo”. Vale a pena relembrar, ele diz:
“Todo ser humano, naturalmente, desejaria saber de que vale o conhecimento sem o temor a Deus. Com certeza, um humilde agricultor que serve a Deus é melhor do que um orgulhoso filósofo dedicado a estudar o curso dos céus, mas negligente consigo mesmo. Quanto maior for o conhecimento, mais severo será o julgamento, a não ser que a vida também seja a mais santa.
Portanto, não se envaideça, mas, antes tema o conhecimento que lhe foi dado. Quem se julga saber muito, lembre-se que existe muita coisa ainda desconhecida. ‘Ninguém sabe como e quanto poderá progredir ao fazer o bem’”.
Por isso lembremo-nos: não devemos procurar o conhecimento simplesmente pelo conhecimento, mas apenas como um meio para viver uma vida melhor e mais pura, pois apenas isso pode justificá-lo.
CAPÍTULO XXVI – A JORNADA NO DESERTO
Nosso tema, agora, está baseado na passagem bíblica “O Tabernáculo no Deserto”. Vamos interpretá-lo sob o ponto de vista dos Ensinamentos Rosacruzes. Pode parecer, para quem não estudou estes ensinamentos, que uma interpretação é tão válida e tão digna de confiança como qualquer outra. Mas, uma reflexão mais profunda sobre o assunto poderá suscitar uma opinião um pouco diferente.
São Pedro, em sua segunda Epístola, primeiro capítulo, versículo 20, diz: “Atenção a este ponto: nenhuma profecia contida nas Escrituras está sujeita a interpretações particulares”.
Em nossa vida diária compreendemos que se nossa opinião sobre qualquer assunto for considerada valiosa, essa opinião deve estar baseada sobre um razoável conhecimento do assunto. O depoimento de testemunhas num tribunal está lastreado neste mesmo princípio.
Se uma pessoa bem qualificada, por estudos ou por experiência, expõe uma opinião sobre um assunto, ela é ouvida com respeito e recebe a devida consideração. Deveria acontecer o mesmo com quem se propõe a interpretar as Escrituras.
Deve-se notar a observação de São Pedro quando afirma que as Escrituras não são de interpretação particular.
Os Católicos Romanos sustentaram, durante muitos séculos, sua autoridade na interpretação das Escrituras (e foram censurados por isso). Mas, há fundamento para tal alegação, pois, cada Papa que esteve à frente do Vaticano, com uma única exceção, era dotado de visão espiritual desenvolvida. Não podemos assegurar que os Papas exerceram seus poderes com sabedoria. Contudo, não eram cegos guiando cegos.
É essa reivindicação que São Pedro reclama para si em II Pedro 1:16. Ele diz: “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos Sua Majestade”. São Paulo também afirma, no nono capítulo da primeira Epístola aos Coríntios no primeiro versículo: “Então eu não vi Jesus Cristo Nosso Senhor?”.
Eles testemunharam dos fatos, viram e ouviram. Portanto, existe fundamento em suas palavras e ensinamentos.
Podemos ir mais além. Podemos demonstrar o desenvolvimento da visão espiritual dos integrantes do grupo de seguidores mais intimamente associados ao Cristo quando Ele esteve na Terra.
Eles foram levados para o Monte da Iniciação, onde viram Moisés e Elias, mesmo já desencarnados há muito tempo. Em estado de contemplação, eles viram e ouviram coisas das quais não deveriam falar. Portanto, pelo desenvolvimento do sexto sentido, ou sentido espiritual, eles adquiriram os fundamentos necessários para pregar seus conhecimentos. Obtiveram provas objetivas. Portanto, estavam capacitados para interpretar os ensinamentos a eles ministrados.
Na Fraternidade Rosacruz não acreditamos que a faculdade da visão espiritual seja privilégio apenas de alguns. Entendemos que ela pode ser adquirida por todo ser humano no decurso de seu desenvolvimento espiritual. Algum dia, todos nós conquistaremos a visão espiritual. Então, reconheceremos o teor de verdade das coisas que foram a priori proclamadas como verdadeiras.
Dentre nós, alguns já desenvolveram a visão espiritual. Dotados dessa faculdade, podem ver além do véu, podem ler na Memória da Natureza e encontrar refletidas nela, vindas de um mundo superior, as causas geradoras da presente civilização. Alguns podem também ver o porvir, e assim conhecer as futuras diretrizes do trabalho em prol da evolução.
As Escrituras não foram estudadas pelo autor e interpretadas segundo seu entendimento pessoal, mas esse conhecimento resulta de uma compreensão obtida por meio da visão espiritual.
Em primeiro lugar, vamos deixar bem claro, como já foi dito quando estudamos os Mistérios do Cristianismo: os quatro Evangelhos não são meramente o relato da vida de um indivíduo comum narrado por quatro pessoas diferentes, mas, simbolizam diferentes etapas do Processo Iniciático.
S. Paulo diz: “Até que Cristo seja formado em vós”[63]. Algum dia, todos passarão pelos quatro estágios descritos nos quatro Evangelhos. Cada um desenvolverá em si mesmo o espírito de Cristo. Afirmamos isto sobre os quatro Evangelhos, mas podemos aplicar a mesma afirmativa a uma grande parte do Velho Testamento. Trata-se de um maravilhoso livro de ocultismo.
Quando colhemos batatas, não esperamos encontrar só batatas sem resíduos de terra. Também seria ingênuo supor o conteúdo da Bíblia isento de impurezas. Imaginar cada palavra portadora de uma verdade oculta. Assim como há terra no meio das batatas, por analogia devem existir impurezas entre as verdades ocultas nas Escrituras.
Os quatro Evangelhos foram escritos para “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. Somente quem tem o direito de saber pode desvendar seu significado e compreender as entrelinhas. Da mesma forma, encontramos no Velho Testamento grandes verdades ocultas. Elas se tornam muito evidentes quando podemos olhar por trás do véu. Mas, muitos ainda permanecem cegos pela cortina do mistério.
No momento, muitos ainda estão privados da visão oculta para concentrar suas forças no progresso material. Precisam aperfeiçoar-se nas atividades do mundo concreto. Mas nós, do mundo Ocidental, estamos agora na curva ascendente do desenvolvimento da natureza oculta. Estamos nas praias do mar espiritual, onde, individualmente, devemos colher as pérolas do conhecimento submerso no oceano da vida, por muito tempo mantidas invisíveis e encobertas pela matéria.
Vamos agora examinar uma modalidade de Iniciação relatada numa parte da Bíblia. Ela descreve a jornada da humanidade desde o barro até Deus. Quando nos enfronhamos nessa fabulosa coleção de livros chamada Bíblia, reparamos que começa com cinco livros comumente denominados os cinco Livros de Moisés.
Narram à epopeia do “povo escolhido”. Sua peregrinação desde o Egito até a Terra Prometida. A travessia das águas do Mar Vermelho, guiados de uma maneira sobrenatural. Depois de muitos, muitos anos, e depois de muitos pioneiros da jornada já terem perecido, finalmente alcançaram a terra a eles prometida. Ainda assim, São Paulo, na Epístola aos Hebreus, quando menciona essa passagem do povo hebreu afirma que esse pacto não foi consumado, o acordo malogrou. Isso é um fato. Quando instituímos uma lei, também podemos transgredi-la e incorrer no pecado. Portanto: “É impossível à salvação enquanto a lei prevalecer”.
Houve uma época em que a organização humanidade necessitava de leis rigorosas para ser governada. As leis foram detalhadas e prescritas para abranger todos os casos possíveis. Tinha o objetivo de refrear e controlar o comportamento dos indivíduos e ditavam as regras do cotidiano. Portanto, impor leis era a missão dos guias do povo daquela época. Estas leis foram incorporadas nos cinco livros de Moisés.
Historicamente, os israelitas eram um povo nômade. O êxodo não transcorreu do Egito para a Palestina. Na verdade, os israelitas foram levados, por seus guias, da condenada Atlântica, onde a umidade condensada da atmosfera causava enchentes tornando a Terra inabitável, até a parte central da Ásia.
Quando finalmente alcançaram esse território na Ásia, os imigrantes foram selecionados para formar o núcleo de uma raça escolhida. Eis a gênese do que se conhece como Raça Ária. Além dos importantes fatos relacionados com a história da espécie humana, há também uma grande lição espiritual, especialmente nessa parte dos acontecimentos. Ela é fundamental para nossos estudos.
No “Conceito Rosacruz do Cosmos” há o relato de dois homens parados numa esquina, um derruba o outro. Um observador poderia afirmar que um pensamento de ódio derrubou o homem. Outro discordaria dessa afirmação, dizendo que viu o braço levantado desferindo um golpe sobre a cabeça do homem e isso causou a sua queda.
A última versão está correta, mas também houve a elaboração do pensamento. O braço não pode ser responsabilizado, foi mero instrumento e não o verdadeiro autor da agressão. O pensamento a tudo movimenta.
Quando consideramos o lado oculto dos efeitos, teremos uma compreensão mais profunda das causas. Partindo deste ponto de vista, analisaremos o “Tabernáculo no Deserto”.
Na Bíblia há uma descrição dos primeiros seres humanos sobre a Terra. Chamavam-se Adão e Eva. Corretamente interpretado, o casal representa a própria raça humana quando tomou conhecimento do fruto proibido.
Gradativamente o poder de procriação foi usurpado e o livre-arbítrio incorporado ao destino humano. Foi o alvorecer do exercício da liberdade. Paralelamente entrou em vigência a Lei de Consequência. Desde então, cada um e todos são responsabilizados por suas escolhas.
A humanidade abriu os olhos e conheceu o poder gerador. Aprendeu a criar corpos usurpando esse poder. Apropriou-se da força sexual e foi, então, divorciada da Árvore da Vida. Perdeu a conexão direta com a Região Etérica do Mundo Físico.
O Corpo Vital é constituído de matéria etérica. Ele é a Árvore da Vida de todos nós. Abastece o Corpo Denso de energia vital. Imprime movimento e promove a circulação da seiva da vida.
Agora estamos em condições de compreender a razão da “Expulsão do Paraíso”. O poder recriador e regenerador foi-nos arrebatado, para assim evitar a revitalização e perpetuação do imperfeito Corpo Denso. Os portais da região etérica foram trancados e, desde então, estão sob uma constante vigilância. Conforme afirma a Bíblia, Querubins com espadas flamejantes protegem a entrada do Jardim do Éden.
Esta história está relatada no começo da Bíblia, mas, no fim do livro, na Revelação (Apocalipse), fala-se sobre uma cidade onde haverá paz entre as pessoas.
Duas cidades são mencionadas na Bíblia. A primeira, Babilônia, uma cidade de desgraças e tribulações, onde a confusão instaurou-se pela primeira vez. Os indivíduos separaram-se e a fraternidade humana fragmentou-se.
A segunda, a Nova Jerusalém, é descrita como a futura cidade onde haverá paz. Segundo o Apocalipse na Nova Jerusalém reside a Árvore da Vida.
Portanto, o poder regenerador está simbolizado em nossa futura morada, a “nova cidade”. Nela resgataremos a saúde e a beleza perdidas.
Houve um bom propósito no fato deste poder ter-nos sido tirado. Não por maldade ou punição, muito menos para impor tristeza, dor e sofrimento, mas sim para recuperarmos a imortalidade perdida. Somente através de repetidas existências em corpos materiais aprenderemos a construir um veículo imortal.
Conforme analisamos, gradualmente o ser humano migrou do estado etérico para a presente condição sólida. No “paraíso”, ele podia viver no estado etérico tão facilmente como pode viver hoje nos sólidos, líquidos e gases da Região Química do Mundo Físico. Quando vivia na região etérica interligava, em seu próprio Corpo Vital, as correntes vitais que agora nós contatamos apenas de forma inconsciente. Naquele tempo, tinha capacidade de centralizar a energia do Sol em seu corpo e empregava-a de modo diferente do atual. Este poder foi-lhe gradualmente retirado à medida que ingressava no presente estado sólido.
Então, começou a jornada através do deserto. Um deserto de espaço e matéria. Continuaremos nesta peregrinação até reentrarmos conscientemente no reino etérico. Reino conhecido como O Novo Céu e A Nova Terra ou A Nova Jerusalém. Onde imperará a virtude e não haverá mais pecado.
Atualmente ainda estamos viajando através do deserto do espaço, como veremos se estudarmos a Bíblia com devido entendimento.
Contudo, não nos referimos à versão inglesa, organizada por tradutores tolhidos por um édito do Rei Jaime. Trabalharam sob um regime de censura. A tradução não podia conter temas polêmicos. Por conveniência, não podia perturbar as crenças existentes naquela época.
Do ponto de vista oculto, de imediato aprendemos algo importante sobre o Tabernáculo construído no deserto. Moisés foi conduzido para as montanhas. Lá entrou em contato com certas imagens (padrões ou símbolos arquetípicos).
Do “Conceito Rosacruz do Cosmos” recordemos que no mundo celeste há imagens modelos-arquétipo. Na língua grega a palavra “apxn” significa “no começo”, isto é, no início, no princípio. Tal como o Iniciado, que já compreendeu Sua própria divindade, Cristo afirma, de Si mesmo: “Eu sou o princípio (apxn) e o fim”. Há nessa palavra “princípio” (apxn) o núcleo gerador de tudo que temos aqui.
No Tabernáculo foi colocada uma Arca. Foi disposta de tal modo que suas hastes não poderiam ser removidas. Durante toda a viagem através do deserto as hastes deveriam permanecer imóveis. De fato, jamais foram removidas enquanto a Arca peregrinava até ser conduzida ao Templo de Salomão.
Temos aqui uma constatação notável. Um determinado símbolo, um arquétipo, algo transportado desde o princípio, é elaborado de tal modo que possa ser reativado em determinadas ocasiões e reconduzido mais adiante.
A Arca era o núcleo, ou o coração do Tabernáculo. O centro ao redor do qual todas as coisas gravitavam. Continha também o Cajado de Aarão, o Pote do Maná e as duas Tábuas da Lei.
Acabamos de descrever o símbolo perfeito da verdadeira constituição do ser humano. Enquanto ele atravessa o vale da matéria e transita continuamente de um lugar a outro, as hastes, sob nenhuma hipótese, podem ser removidas. Permanecerão intactas até reingressar novamente no estado etérico descrito em linguagem simbólica no Apocalipse. Onde se diz: “Aquele que triunfar, eu o farei um pilar no templo de meu Deus; e dali nunca mais sairá”[64].
Durante o transcorrer do tempo, desde o momento no qual o ser humano começou sua viagem através da matéria, ele possui esse espírito de peregrino. Nunca ficou parado. Algumas vezes, o Tabernáculo era conduzido, assim como a arca, mais para adiante, para um novo lugar.
Também o ser humano está sempre sendo impelido de um lugar para outro, de um ambiente para outro, de uma condição para outra. Não é uma jornada sem objetivo. A meta é a terra prometida, a Nova Jerusalém, onde haverá paz. Mas, enquanto o ser humano estiver na jornada, deve estar ciente de que não haverá descanso e nem paz.
Nosso destino assim determinado resulta do cumprimento da lei. Recordemos que, de certo modo, o ser humano foi transgressor. No plano original nosso destino teria tomado outro rumo, sem o vale de dor e lágrimas no qual estamos evoluindo agora.
A força criadora permanece latente dentro de todos nós. Estamos apenas começando a utilizá-la de maneira construtiva. Inicialmente ela foi manejada por nós sob a orientação dos Anjos. Nessa época os Anjos organizavam e cuidavam dos períodos propícios para a procriação, segundo condições planetárias favoráveis. O parto era indolor e tudo era bom sobre a Terra. O Senhor garantia a boa qualidade da vida sobre o Planeta.
Mas, os espíritos de Lúcifer necessitavam de um ambiente semelhante ao nosso para prosseguirem a própria evolução. Estavam atrasados em relação aos Anjos. Necessitavam de cérebros para funcionar no Mundo Físico. Astutamente mostraram como poderíamos manejar nossa força criadora e nos libertar do regime de tutela dos Anjos. Assim, quando um corpo fosse abandonado por ocasião da morte, quando se tornasse inútil, poderíamos criar outro corpo.
Portanto, há duas classes de Anjos trabalhando em diferentes partes do nosso corpo. Os espíritos de Lúcifer (Anjos caídos) ocupam-se da medula espinhal e do cérebro. Os Anjos fiéis a Deus se encarregam da faculdade de propagação, mas não podem intervir em nossa liberdade. Aqui tem início à vigência do livre-arbítrio, da liberdade de escolha e, também, da Lei de Consequência.
Os animais não estão imbuídos de responsabilidade tal como nós. Se um animal for imprudente, pode machucar-se apenas de maneira física, e esse é o âmbito de sua responsabilidade. Entretanto, as consequências seriam diferentes para nós. Nesse caso, arcaríamos com as mesmas sequelas físicas adicionadas à responsabilidade moral. Pois estamos conscientes do dever e da necessidade de zelar pela saúde do veículo físico. Assim, a Lei de Consequência está diretamente vinculada ao livre-arbítrio. Todos os atos do ser humano são pesados nessa balança.
Todo erro deve, de alguma forma, chegar ao nosso conhecimento. Tristeza e dor têm sido os agentes, os guias necessários para sinalizar o bom caminho. A ação gradual da Lei de Consequência ensina-nos, no ritmo do tempo e do grau de evolução, a corrigir os erros e agir na direção certa.
Na arca, símbolo perfeito do ser humano, estão presentes as Tábuas da Lei e, também, o Pote do Maná. A palavra “maná” (manna) não significa o pão descido dos céus, mas o Pensador, o Ego, que desceu das esferas superiores. Em quase todos os idiomas existe a palavra “man” (homem, moon, mente). Em sânscrito, alemão, escandinavo, etc., a raiz é a mesma. Na arca reside o Pensador.
Durante o presente estágio de sua evolução Ele, o Pensador, está sendo conduzido através do espaço e do tempo no interior do Tabernáculo do Deserto, seu próprio Corpo Denso.
Em nós também há o poder espiritual simbolizado pelo Cajado de Aarão. Foi o cajado que floresceu quando todos os outros permaneceram secos.
Há em todos nós um poder espiritual. Esteve latente durante o tempo de peregrinação pela matéria. Agora é nossa tarefa despertar esse poder. Falamos inúmeras vezes sobre este poder espiritual. Ele traz bênçãos para o mundo quando utilizado tal como Parsifal, e traz desgraças quando usado pervertidamente como o fez Amfortas.
Este poder espiritual permanece latente na época atual. A humanidade, simbolizada pela arca itinerante, ainda não se qualificou para recebê-lo, ainda somos muito egoístas. Devemos cultivar o altruísmo antes que nos seja confiado o domínio sobre esse maravilhoso poder.
São Pedro é muito enfático quando fala de falsos mestres, referindo-se aos “guias” que podem aparecer entre nós. Eles tentam auferir lucros em práticas que envolvem a ciência espiritual. Comercializam lições em troca de algumas moedas, provavelmente com maior incidência na Astrologia. Trocam conhecimentos por moedas e prometem o reino aos incautos.
Devemos sempre relembrar que não é o dinheiro, mas sim o mérito que nos leva às conquistas espirituais. É impossível iniciar uma pessoa por artifícios mágicos ou adivinhação. Tampouco é possível crescer espiritualmente em troca de dinheiro ou por qualquer outra consideração material.
É necessário carregar o revólver antes de puxar o gatilho para gerar a explosão. Assim também é necessário armazenar dentro de nós a força, o poder espiritual, simbolizado pelo Cajado de Aarão, antes de colocarmos essa força na direção correta e legítima. Esta é uma das grandes lições oferecidas pelo simbolismo da arca.
Se continuarmos peregrinando no espaço e no tempo, renascimento após renascimento, e não aprendermos a obedecer à voz de Deus, a aceitar Seus mandamentos sagrados, vivendo uma vida em prol do bem, devemos estar cientes que não alcançaremos a Cidade da Paz. Continuaremos aprisionados na terra da tristeza e do sofrimento.
Então, como vamos desenvolver nossa força espiritual? O que é o caminho, a verdade e a vida? O triplo caminho foi-nos mostrado no glorioso ensinamento de Cristo. Em todo o mundo, a humanidade comum está sendo regida pelo rigor da lei. As proibições agem sobre o Corpo de Desejos para refreá-lo.
O Pensador, o Ego, contrapõe-se à carne. Mas, sob a força da lei, ninguém pode ser salvo. Temos dedicado muito estudo sobre o Corpo Vital, pois ele é o veículo do amor e da atração, como disse São Paulo.
Se pudermos dominar o lado passional de nossa natureza e sublimar as baixas vibrações do amor. Se pudermos cultivar a pureza e resistir à tentação, como fez Parsifal vivendo uma vida pura, estaremos todos os dias cultivando dentro de nós a poderosa força do amor.
O amor será a força motivadora de nossas tarefas diárias. A capacidade de servir, gradativamente, irá aumentando até ser como a pólvora na pistola carregada. Então, o Mestre virá e nos mostrará como libertar a prodigiosa força armazenada na alma.
O tempo de duração da nossa jornada no Deserto da matéria é determinado pelo nosso esforço. A força está em estado de latência no íntimo do nosso ser. Seu poder um dia nos conduzirá à Cidade da Paz, um lugar distante da tristeza e do sofrimento.
Sem exceção, podemos e devemos começar a jornada ascensional em algum momento. O primeiro passo é a purificação. Sem uma vida pura não há progresso espiritual.
“Não podemos servir a Deus e a Mammon”[65]. Geralmente “Mammon” representa o ouro e as riquezas do mundo. Contudo, uma pessoa pode manter-se em seus negócios e cuidar deles pelo bem de todos, não por seu próprio interesse ou ganância, mas fazendo o possível para ajudar os outros. Não servindo a “Mammon”, não importa quanta riqueza esteja administrando.
Podemos amar apenas uns poucos ao nosso redor. Mas, há um amor maior que deve espraiar-se e fluir para outros além do nosso círculo social. Todo dever merece ser cumprido. Precisamos saber aproveitar as elevadas oportunidades que sempre se abrem diante de nós.
Precisamos aprender a servir e servir sempre reaprendendo. Viver de prontidão para colaborar, servindo a humanidade, servindo os animais, servindo os nossos irmãos menores, servindo em toda parte. Somente essa boa vontade em prestar serviço nos libertará do “deserto”. Aqueles que servem estão situados no ponto mais alto no templo. Cristo disse: “Aquele que quiser ser o maior dentre vós, seja o servo de todos”.
Esforcemo-nos por prestar este serviço. É fácil cumpri-lo se quisermos. Então, algum dia, num futuro não muito distante, ouviremos aquela voz gentil, a voz do Mestre. Ela chega a quem ouve e acata a voz de Deus.
FIM
[1] N.T.: Jo 3: 9
[2] N.T.: Luminoso e Refletor
[3] N.T.: ICor 15:50
[4] N.T.: Mt 24:3
[5] N.T.: Mt 24: 37
[6] N.T.: IIPd 3:10
[7] N.T.: Mc 13:28
[8] N.T.: Mt 16:4
[9] N.T.: Mt 16:15
[10] N.T.: Mt 16:4
[11] N.T.: do estado denso ao etérico
[12] N.T.: Poema de Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882) foi um tradutor, poeta, romancista, professor, escritor estadunidense
[14] N.T.: Segunda Parte
Conto de um Teólogo
A Bela Lenda
“Se você tivesse ficado, eu teria ido embora!”
Isso é o que a Visão disse.
Sozinho em sua cela,
No chão de pedra ajoelhado,
O monge orava em profunda contrição
Por seus pecados de indecisão.
Suplicava por maior renúncia
Na tentação e na provação;
O mostrador meio-dia já marcava
E o monge em solidão ainda orava.
De repente, como num relâmpago,
Algo incomum resplandeceu, afora e no âmago,
E nessa estreita cela de pedra fez abrigo;
Então, o monge teve com o Poder do Clarão
De Nosso Senhor, a Abençoada Visão.
Como um manto, O envolveu,
Como uma veste, O abrigou.
Não como crucificado e morto,
Não em agonias de dor,
Não com mãos e pés sangrando,
O Monge viu seu Mestre;
Mas como na rua da aldeia,
Na casa ou no campo de colheita,
Como o paralítico, o coxo e o cego que Ele curou,
Quando ele andou na Galileia.
A alma em preces acalentada,
Cada mão sobre o peito cruzada,
Reverente, adorando, assombrado,
O monge, perdido em êxtase, caiu ajoelhado
Senhor, ele pensou, no céu que reina,
Quem sou eu, para que assim Te dignas
Para se revelar a mim?
Quem sou eu, que do centro
Da Tua glória Tu deves entrar
Nessa pobre cela, para ser meu convidado?
Depois, em meio à sua exaltação,
Retumbante o sino do convento em exortação
De seu campanário tangeu, ressoou,
Por pátios e corredores reverberou
Com persistência badalando,
Como nunca antes ousou.
Era agora a hora marcada
Quando, do mesmo modo, sob o brilho do sol ou sob a chuva,
Sob o frio do inverno ou o calor do verão,
Para os portais do convento vieram
Todos os cegos e mancos e coxos,
Todos os mendigos da rua,
Por sua doação diária de comida
A irmandade fornecia;
E o esmoleiro do convento era ele
Quem de joelhos dobrados,
Arrebatado em êxtase silencioso
Da mais divina autoentrega,
Viu a Visão e o Esplendor.
Profunda angústia e hesitação
Misturavam-se à sua adoração;
Deveria ir, ou deveria ficar?
Poderia os pobres deixar
Famintos no portão a esperar,
Até a Visão se dissipar?
Poderia ele seu brilhante hóspede desprezar?
Seu visitante celestial desconsiderar
Por um grupo de míseros esfarrapados,
Mendicantes no portão do convento sediados?
Será que a Visão esperaria?
Será que a Visão retornaria?
Então, dentro do seu peito uma voz
Audível e clara sussurrou,
E ele, nitidamente escutou:
“Faça o seu dever; isto é o melhor;
Deixa para Teu Senhor o restante!”
Imediatamente ergueu-se resoluto,
E com um olhar ardente, decidido e arguto
Dirigido à Abençoada Visão,
Lentamente A deixou em sua cela na solidão,
Diligentemente foi cumprir sua missão.
No portão, os pobres estavam esperando
Através do gradil de ferro observando,
Com terror no semblante
Que só se vê no suplicante
Que em meio a desgraças e desditas
Ouve o som das trancas lhe cerrando as portas,
Pobres, por todos desprezados,
Com o desdém, familiarizados,
Com o dissabor, acostumados,
Buscam o pão pelo qual muitos sucumbem!
Mas hoje, sem o motivo sequer saberem bem,
Tal como Portal do Paraíso no além
Abre-se a porta do convento!
E como um divino Sacramento
Parecia-lhes o pão e o vinho nesse momento!
Em seu coração o Monge estava orando,
Nos pobres sem teto pensando,
Tudo que sofrem e suportam
E vendo ou ignorando, muitos rejeitam.
Enquanto isso uma voz interna ao Monge dizia:
O que quer que faças
Ao último e menor dos meus,
A Mim o fazes!”
A Mim! Mas se tivesse a Visão
Se apresentado em farrapos e errante,
Como um desvalido suplicante,
Ter-me-ia ajoelhado em adoração?
Ou A receberia com escárnio e presunção
E até ter-me-ia afastado com aversão.
Assim questionou sua consciência,
Com insinuações e incômoda insistência,
Quando, por fim, com passo apressado
Dirigindo-se à sua cela com ânsia,
Seus olhos contemplaram o convento iluminado
Por uma luz sobrenatural inundado,
Como uma nuvem luminosa se expandindo
E sobre o chão, paredes e tetos subindo.
Mas, assombrado parou a extasiar,
Da porta contemplou, no limiar!
A Visão que lá permanecera,
Exatamente como antes A deixara
Na hora em que o sino do convento soou,
De seu campanário clamou, clamou,
E para os pobres alimentar o intimou.
Por longa e solitária hora esperara,
Seu regresso iminente aguardara.
O coração do Monge ardeu
Quando Sua mensagem compreendeu,
Logo que o Vulto Amado deixou esclarecido:
“Se você tivesse ficado, eu teria ido embora!”
(tradução livre do poema: The Theologian’s Tale; The Legend Beautiful (1871) de Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882))
[15] N.T.: Ralph Waldo Emerson (1803-1882) foi um famoso escritor, filósofo e poeta estadunidense.
[16] N.T.: Charles Rann Kennedy (1871-1950) foi um escritor anglo-americano.
[17] N.T.: de Charles Rann Kennedy (1871-1950): foi um escritor anglo-americano
[18] N.T.: 2Cr 1:11-12
[19] N.T.: James Russell Lowell (1819-1891) – poeta romântico, crítico, satírico, escritor, diplomata e abolicionista americano
[20] N.T.: (1809-1894) – médico americano, professor, palestrante e autor
[21] N.T.: Onã, ou Onan, é um personagem bíblico do Antigo Testamento, mencionado no livro de Gênesis como o segundo filho de Judá. Ao ter relações sexuais com Tamar, a Bíblia diz que Onã “desperdiçou o seu esperma na terra”, ou seja, não a inseminou, jogando dessa forma fora seu esperma em um coito interrompido, conduta essa que aborreceu a Deus que tirou sua vida (Gn 38:9-10).
[22] N.T. Tg 1: 15
[23] N.T.: ICor 15:55
[24] N.T.: Lc 12:48
[25] N.T.: Rm 7:18
[26] N.T.: Albion é o nome celta ou pré-céltico da Grã-Bretanha. Atualmente é ainda usado, na linguagem poética, para designar a ilha ou a Inglaterra em particular.
[27] N.T.: IIPd 2:20
[28] N.T.: 1850-1919: escritora e poeta estadunidense.
[29] Pollyanna ou Poliana é uma comédia de Eleanor H. Porter, publicado em 1913 e considerado um clássico da literatura infanto-juvenil.
[30] N.T.: Vermont (também chamado Vermonte) é um dos 50 estados dos Estados Unidos.
[31] N.T.: Valhala, Valíala, Valhalla: “Salão dos Mortos ou “Palácio dos mortos heroicos”), na mitologia nórdica e nas religiões pagãs nórdicas, como a popular Ásatrú, é um palácio com enorme salão com 540 quartos — situado em Asgard e dominado pelo deus Odin — no qual metade dos guerreiros mais nobres e destemidos mortos em batalha são levados pelas valquírias após a morte para viverem com Odin (enquanto a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freia), onde participam de combates diários, para manter o exercício da luta e preparar-se para o dia de Ragnarök (em português “o dia do fim do mundo).
[32] N.T.: Sæhrímnir segundo a mitologia nórdica, é o animal que o cozinheiro dos deuses, Andhrimnir, cozinhava no caldeirão gigante e mágico Eldhrímnir. Todos os dias Sæhrímnir era ressuscitado e novamente cozinhado para os Ases e os guerreiros mortos, os Einherjar, comerem, em Valhalla. A existência do animal é comprovada nas fontes antigas, sendo referido por Snorri Sturluson no Gylfaginning da Edda em prosa, como um javali.
[33] N.T.: Lc 12:48
[34] N.T.: o Autor se refere ao hemisfério norte
[35] N.T.: o Autor se refere à 2ª Guerra Mundial
[36] N.T.: Eddas, Edas ou simplesmente Edda, é o nome dado a duas coletâneas distintas de textos do séc. XIII, encontradas na Islândia, e que permitiram iniciar o estudo e a compilação das histórias referentes aos deuses e heróis da mitologia nórdica e germânica.
[37] N.T.: Na mitologia nórdica, Niflheim (“reino da névoa”) o mundo do frio, da névoa e da neve.
[38] N.T.: Denominam-se Vedas as quatro obras, compostas em um idioma chamado Sânscrito védico, de onde se originou posteriormente o sânscrito clássico.
[39] N.T.: da mitologia hindu, Kalahamsa é o cisne negro que navega pelas águas do Universo.
[40] N.T.: Druidas (no feminino druidesas ou druidisas) eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento e ensino, e de orientações jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta.
[41] N.T.: O Great Serpent Mound ou Grande Montículo da Serpente é um montículo-efigie (Effigy Mounds) de 380 metros de comprimento, 6 metros de largura e 1,2 metros de altura localizado na meseta de Serpent Mount Crater no Condado de Adams, Ohio, Estados Unidos. A sua forma é sinuosa e assemelha-se a uma serpente, começa num torque e termina com a cabeça no que parece que teve um altar. É o maior montículo-efigie do mundo.
[42] Na época em que esse livro foi escrito.
[43] N.T.: Na Época Atlante.
[44] N.T.: (1849-1926) norte-americano, foi botânico e horticultor, pioneiro na ciência agrícola.
[45] N.T.: Sl 19: 1-5
[46] N.T.: Símbolo muito importante entre os marinheiros, a estrela náutica refere-se à estrela que está no hemisfério norte, ou seja, a “estrela polar” chamada também de “estrela do norte”. Para eles, a estrela do norte indicava a posição certa, ou o norte no mapa.
[47] N.T. Sl 139: 8-10
[48] N.T.: o deus da Medicina e da cura da mitologia greco-romana
[49] N.T.: Galileu Galilei (1564-1542) – físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano.
[50] N.T.: ou Paracelsus – Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1521) – físico, botânico, alquimista, astrólogo e ocultista suíço-germânico.
[51] N.R: Mt 18: 20
[52] N.T.: No mito, os gêmeos partilham a mesma mãe, porém têm pais diferentes – o que significa que Pólux, por ser filho de Zeus, era imortal, enquanto Castor não o era.
[53] N.T.: Robert Fulton (1765-1815) foi um engenheiro e inventor estadunidense que é amplamente creditado com o desenvolvimento do primeiro barco a vapor comercialmente bem-sucedido.
[54] N.T.: Alexander Graham Bell (1847-1922) foi um cientista, inventor e fundador da companhia telefónica Bell.
[55] N.T.: cidades dos Estados Unidos
[56] N.T.: Fil 1:15
[57] N.T.: Retrospecção e Concentração
[58] N.T.: Pseudônimo de Johannes Scheffler (1624-1667) – Místico cristão, filósofo, médico, poeta, jurista alemão
[59] N.T.: Edwin Dwight Babbitt (1828-1905) foi um médico Americano, espiritualista e promotor da cromoterapia.
[60] N.T.: Mabel Collins (1851-1927) foi uma mística britânica.
[61] N.T.: ópera de três atos do com a música e libreto do compositor alemão Richard Wagner.
[62] N.T.: Também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi Monge e escritor alemão.
[63] N.T.: Gl 4:19
[64] N.T.: Ap 3:12
[65] N.T.: Mt 6:24
As informações contidas nesse livreto foram trazidas das conferências e de outros escritos de Max Heindel e publicadas de tempos em tempos, em forma de revista ou trechos em livros.
Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota.
O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós.
Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo-interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria.
Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.
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Há 4 meios de você acessar esse Livro:
1.Em formato PDF (para download ou imprimir):
Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel
2.Em formato de audiobook ou audiolivro:
Audiobook – Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel
3. Em forma de videobook ou videolivro no nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/TutoriaisEstudosFraternidadeRosacruzCampinas/featured
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Interpretação Mística da Páscoa – Max Heindel em videobook
4. Para estudar no próprio site:
INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA PÁSCOA
Por
Max Heindel
(1865-1919)
Compilado de vários escritos e conferências de um místico
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, The Mystical Interpretation of Easter, editada por Max Heindel
1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
PREFÁCIO
As informações contidas nesse livreto provêm das conferências e escritos de Max Heindel, e foram publicadas uma e outra vez em forma de artigos de revista e/ou em livros. O Boletim Echoes, editado pela primeira vez em junho de 1913, por Max Heindel, contém uma grande quantidade de conhecimentos e sabedoria sobre esse e outros importantes acontecimentos de significado místico. Alguns capítulos sobre a Páscoa são, também, encontrados nos livros Coletâneas de um Místico e Ensinamentos de um Iniciado.
Esse humilde esforço pretende ser uma inspiração para aqueles que tenham vislumbrados a Centelha de Luz e Amor Divinos, e que está se esforçando para alcançar aquela última meta que foi alcançada por Cristo Jesus a mais de dois mil anos no Gólgota. O que Ele conseguiu, naquela ocasião, é a tarefa que se defronta a todos e a cada um de nós. Quando tivermos submetido totalmente ao Eu Superior ou Cristo Interno, então virá a ressurreição ou a completa libertação da matéria. Então, nós podemos dizer com Cristo: “Está consumado”.
ÍNDICE
UM ACONTECIMENTO DE SENTIDO MÍSTICO
O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA
O SIGNIFICADO CÓSMICO DA PÁSCOA.
QUE FOI FEITO DO CORPO FÍSICO DE JESUS?
“Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,
se não nasce dentro de ti, tua alma segue extraviada.
Olharás em vão a Cruz do Gólgota,
enquanto não fizeres um Gólgota de teu coração também”.
AngelusSilésius[1]
A canção popular de hoje, que todo mundo canta com entusiasmo, mas que é esquecida amanhã; o espetáculo que é levado à cena, talvez, cem noites seguidas, para depois ser abandonado e relegado ao pó, e todas as outras coisas que são evanescentes demonstram, claramente, que não tem um valor intrínseco. O brilho de uma estrela cadente ilumina o céu por um momento, mas embora o brilho das outras estrelas seja mais fraco e atraia menos a nossa atenção, suas luzes confortam ao caminhante, noite após noite, através dos tempos. Somente as canções que, por seu valor, são reproduzidas sempre de novo, cuja música não nos cansa nunca, têm realmente algo de valioso na vida. O mesmo acontece nos ciclos cósmicos que sempre se repetem, marcados pelas festas do ano. Como elas são recorrentes, sempre nos ensinam as mesmas antigas lições, sempre sob um novo ponto de vista.
O impulso de vida do Cristo Cósmico que entrou na Terra no último mês de setembro, manifestou-se no nascimento Místico no Natal e realizou sua maravilhosa magia de fecundação do mês de setembro até março e se libertou da cruz da matéria para ascender novamente ao trono do Pai, na Páscoa deixa a Terra coberta de uma glória verde dos próximos meses, pronta para as atividades físicas[1].
Como é em cima, assim também é em baixo. Os processos que se desenvolvem em larga escala na Terra manifestam-se, também, no ser humano. Durante os meses de setembro a março nós fomos completamente impregnados pelas vibrações espirituais que predominaram nos últimos meses, muito mais do que foi possível sob as condições mais materiais que prevalecem entre março e setembro. Chegou-nos em setembro com um novo impulso para a vida superior; culminou na Noite Santa, e sua magia trabalhou dentro de nós e em nossas naturezas na proporção que aproveitamos nossas oportunidades. De acordo com a nossa aplicação ou descuido no último período, o progresso será acelerado ou atrasado no próximo período, porque não existem palavras mais verdadeiras do que aquelas que nos ensinam que somos exatamente aquilo que fizermos de nós mesmos. O serviço que prestamos ou deixamos de prestar determina se a nova oportunidade, para um serviço maior, nos proporciona um impulso mais forte para cima; e não será nunca demais repetir que é inútil esperar libertação da cruz da matéria, antes que tenhamos usado nossas oportunidades aqui e, então obter uma mais ampla capacidade de sermos úteis. Os “cravos” que prendem a Cristo na Cruz do Calvário prendem você e eu, até que o impulso dinâmico de amor flua de nós em ondas e correntes rítmicas, tal como a maré de amor que, anualmente, entra na Terra, e a impregna com vida renovada.
Conhecemos a analogia entre o ser humano – que entra nos seus veículos, quando desperta pela manhã, vive neles e trabalha por meio deles, e a noite é um Espírito livre, livre da escravidão do Corpo Denso – e o Espírito de Cristo que mora em nossa Terra, uma parte do ano. Nós todos sabemos que grilhão e que prisão esse Corpo representa; como nós somos cerceados pelas doenças e sofrimentos, porque não existe ninguém que esteja sempre em perfeita saúde, de maneira que nunca estamos livres de sentir as ânsias de dor, pelo menos ninguém que esteja no estreito caminho espiritual.
A mesma coisa acontece com o Cristo Cósmico, que dirige Sua atenção para a nossa pequena Terra, focando Sua consciência neste Planeta, para que tenhamos vida. Ele tem que vitalizar esta massa morta (que nós mesmos cristalizamos fora do Sol) todos os anos; e isso é um grilhão, um peso e um aprisionamento para Ele. Esse é o motivo justo e próprio pelo qual devemos nos alegrar quando Ele chega à época doNatal, todos os anos, e nasce, novamente, no nosso mundo para nos ajudar a transformar para melhor essa massa informe, com a qual nos sobrecarregamos. Nossos corações, nessa época, devem voltar-se para Ele, em gratidão pelo sacrifício que Ele faz por nossa causa, durante os meses de: setembro, outubro, novembro e dezembro, permeando este Planeta com Sua Vida, para despertá-lo da hibernação, no qual permaneceria se não fosse Ele, pelo seu nascimento, para dar-lhe vida.
Durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro Ele sofre agonias de torturas, “gemendo, trabalhando e esperando pelo dia da libertação”[2], a qual chega no tempo em que nós falamos nas igrejas ortodoxas: Semana da Paixão, mas nós afirmamos que, de acordo com os ensinamentos místicos, essa semana é exatamente a culminação ou ponto mais alto dos Seus sofrimentos, e que Ele, então, sai de Sua prisão; e quando o Sol cruza o Equador, Ele é suspenso na Cruz, exclamando: “Consummatum est!” – “Está consumado!”[3]; ou “Está cumprido!”. Isto quer dizer que o Seu trabalho, para aquele dia, foi cumprido. Não é um grito de agonia, mas um grito de triunfo, um grito de alegria, pois a hora da libertação chegou e, mais uma vez, Ele pode se elevar, por mais um período, se livrando da prisão e do peso do nosso Planeta.
O ponto para o qual desejo chamar vossa atenção é que deveríamos nos alegrar com Ele, nessa grande, gloriosa e triunfante hora, a hora da libertação, quando Ele exclama: “Está cumprido”. Sintonizemos os nossos corações para esse grande acontecimento Cósmico; alegremo-nos com o Cristo, nosso Salvador, que o tempo de Seu sacrifício anual se completou, mais uma vez; sintamo-nos agradecidos, do fundo dos nossos corações, que Ele está, agora, prestes a ser libertado da prisão terrena; pois a vida que Ele imbuiu no nosso Planeta é suficiente para conservar-se até o próximo Natal.
A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Por isso, quando queremos conhecer a Deus precisamos estudar a Natureza, lembrando-nos sempre que existe um propósito emtoda a manifestação; que a vida é uma escola e aprendendo suas muitas lições a humanidade evolui lentamente de uma chispa divina para a Divindade. Se tivéssemos aprendido as lições da vida, tal como nos foram dadas, não teria havido necessidade do grande sacrifício que foi feito e que é anualmente repetido pelo Espírito de Cristo, que é a personificação do Amor. Por egoísmo, desobediência às Leis e práticas do mal fomos cristalizando rapidamente, não somente nossos corpos, mas, também a Terra na qual vivemos, a um nível que ambos estavam se tornando inúteis como meios de evolução. Quando já não nos podíamos salvar dos resultados dos nossos próprios erros, o Cristo compassivo ofereceu a Si mesmo e o seu grande Poder de Amor para romper essas condições cristalizadas dos corpos humanos e da Terra. Durante três anos Ele ensinou a Humanidade pela palavra, pelo preceito e exemplo.
Quando Ele foi crucificado no Gólgota o seu Grande Sacrifício pela humanidade apenas começou. Cada ano, desde esse tempo, quando o Sol passa do Signo zodiacal de Virgem para o de Libra, o Espírito de Cristo, retornando à nossa Terra, toca a sua atmosfera. Ele começa a sua jornada de descida em torno de 21 de junho[4], no Solstício de Junho, quando o Sol entra no Signo de Câncer. Ele chega ao centro da nossa Terra à meia-noite de 24 de dezembro. Aí Ele fica por três dias e, depois, começa a voltar. Esta volta completa-se na Páscoa. Da Páscoa até o Solstício de Junho Ele está passando pelos Mundos Espirituais e chega ao Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai, a 21 de junho[5]. Durante julho e agosto, quando o Sol está em Câncer e Leão, Ele reconstrói o seu veículo Espírito de Vida, que Ele trará ao mundo, novamente, e, com esse veículo, Ele voltará a rejuvenescer a Terra e os reinos de vida que nela evolucionam. Do Natal até a Páscoa Ele se dá a Si mesmo sem limitações nem medida, imbuindo com vida, não apenas as sementes adormecidas, mas todas as coisas sobre e dentro da Terra.
Sem essa infusão da vida e energia Divinas, todos os seres viventes da nossa Terra morreriam imediatamente, e todo o progresso seria frustrado, no que concerne à nossa presente linha de desenvolvimento. Essa atividade germinativa da vida do Pai, que nos é trazida por Cristo e entregue amplamente no tempo da Páscoa, que renova o crescimento e intensifica a atividade na planta, no animal e no ser humano, nessa especial parte do ano. Cristo não deixa a Terra na Páscoa senão depois de dar de Si Mesmo até ao máximo. É, então, que a infusão de Sua Vida, junto com os raios quase verticais do Sol, faz as sementes germinarem; as árvores florirem; os pássaros acasalarem, dirigidos pelos seus Espíritos-Grupo, e construírem seus ninhos. A humanidade, então, é fortificada e imbuída com a energia e a coragem necessárias para enfrentar, aproveitar e crescer por meio das experiências inesperadas providas pelos diversos e perplexos problemas da vida.
Para aqueles que se decidiram trabalhar consciente e inteligentemente com a Lei Cósmica, a Páscoa tem um grande significado. Para eles significa a libertação anual do Espírito de Cristo das restrições dolorosas da Terra e Sua gloriosa ascensão ao mundo do Seu verdadeiro lar, para lá permanecer um período junto ao seio do Pai. E se os seus olhos estão verdadeiramente abertos eles podem ver as hostes Angélicas que O estão esperando, prontos para acompanhá-Lo na Sua viagem em direção ao céu; se os seus ouvidos estão sintonizados com os sons celestiais, eles ouvem os coros celestiais cantando Seu louvor e hosanas jubilosos, elevados ao Deus Altíssimo.
Para as almas iluminadas a Páscoa traz uma profunda compreensão do fato de que toda a humanidade é peregrina na Terra; que a verdadeira pátria do Espírito são os Mundos Espirituais e para alcançar esse reino devemos nos esforçar em aprender as lições da escola da vida o mais rápido possível, de maneira que possamos ser capazes de ver para o amanhecer de um dia que nos liberaremos, permanentemente, da escravidão da Terra. Então, da mesma forma como o Cristo libertado, chegaremos a uma realização dessa gloriosa imortalidade, como recompensa da conquista do Espírito perfeito. Para as almas iluminadas, a Páscoa simboliza o amanhecer de um dia feliz, quando toda a humanidade, semelhante ao Cristo, será permanentemente livre das restrições materiais, e ascenderão aos Reinos celestes, tornando-se pilares de força na Casa do Pai, de onde não mais sairão.
Para onde eu vou não podes agora seguir-me; mas
depois me seguirás … Aquele que crê em mim
também fará as obras que eu faço
e as fará maiores do que estas.
Jo 13:36; 14:12
Se fôssemos a uma igreja ortodoxa num Domingo de Páscoa, provavelmente ouviríamos a história de Jesus, o Filho de Deus, concebido sem pecado e que, com a idade de 30 anos, assumiu um sacerdócio que durou três anos e que terminou em crucificação e morte por nós; que através de seu sangue podemos ser salvos. Provavelmente, poderíamos ouvir, também, que no dia da Páscoa ele levantou-se novamente dos mortos, subindo depois para o Pai onde está agora sentado à direita da majestade de Deus, de onde retornará para julgar os vivos e os mortos na última Ressurreição.
Porém, mesmo sabendo – em virtude de podermos ler na Memória da Natureza – que Jesus viveu e morreu, que teve uma missão mística da máxima importância para a evolução humana e que os principais acontecimentos daquela grande vida se deram realmente conforme relata o Evangelho, sabemos também que a missão do Cristo Místico é algo infinitamente mais gloriosa do que aquilo que já penetrou no coração dos que conhecem apenas a interpretação ortodoxa dos Evangelhos.
Em primeiro lugar, a festa da Ressurreição, chamada Páscoa, não comemora simplesmente a ressurreição de um indivíduo, mas significa um evento cósmico. Seria extrema tolice celebrar-se a morte e ressurreição de uma pessoa, ocorrida em certo dia do ano, com uma festa móvel que é determinada pelas posições do Sol e da Lua no Signo zodiacal de Áries, o carneiro ou cordeiro.
Cada ano uma onda espiritual de vitalidade invade a Terra no Solstício de Junho, a fim de despertar a semente que hiberna no solo gelado e infundir nova vida ao mundo em que vivemos. Este trabalho se processa durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, enquanto o Sol transita pelos Signos zodiacais de Capricórnio, Aquário e Peixes. Então, ele cruza o equador celestial vindo do Sul, onde esteve durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro; esse cruzamento ou crucificação (crucifixão) é então relacionado, cosmicamente, com a sua entrada no Signo de Áries, o carneiro ou cordeiro. Então, o Sol se eleva para os Signos dos céus setentrionais a fim de promover, com seus raios aquecedores, o crescimento da semente no solo já revitalizada pela onda de vida Crística nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Sem essa onda mística anual de energia vital oriunda do Cristo Cósmico, a vida física seria uma impossibilidade. Sem ela não poderia haver nem pão e vinho físicos, nem a transubstanciada tintura espiritual, preparada pela alquimia vinda do sangue do coração do Discípulo.
O cordeiro foi morto quando da fundação do mundo da Época Ária, em que agora vivemos. Seu sangue foi o símbolo que salvou da morte o povo escolhido de Deus quando este deixou o lendário Egito, a pátria de adoração do boi Touro ou Apis. A partir dali, tornou-se idolatria para todos os que haviam sido salvos pelo sangue do cordeiro, adorar o bezerro de ouro, pois as velhas Religiões do boi Touro tinham sido superadas pela Religião do cordeiro, quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, deixou o Signo de Touro e entrou no Signo celestial de Áries, o cordeiro ou carneiro. Completado o tempo em que o Sol, por Precessão dos Equinócios, havia alcançado os sete graus no Signo do carneiro, Cristo veio no corpo de Jesus para estabelecer um novo pacto sob o selo e símbolo dos místicos pão e água da vida. Mas o Cordeiro de Deus precisava morrer, e isto aconteceu individualmente quando Cristo deixou o corpo de Jesus e, cosmicamente quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, saiu do Signo de Áries. Então um novo símbolo precisava ser dado àqueles que seriam os mensageiros durante a entrante Era de Peixes, por conseguinte, Ele, Ele próprio representou na última ceia do cordeiro do sacrifício. O pão e a água da vida foram dados como símbolo do seu corpo e do seu sangue, devendo ser usados para recordá-Lo durante a próxima Era. Há, portanto, uma ligação entre o vinho místico e o sangue, como também entre o pão místico e o corpo, que precisamos compreender se quisermos conhecer o verdadeiro sentido místico da morte e da ressurreição.
Em sua evolução o ser humano recebeu o alimento apropriado ao desenvolvimento de cada um dos seus veículos. Um veículo como o nosso corpo físico, formado de compostos químicos, só pode ser nutrido com substâncias químicas. Analogamente, só Espírito pode atuar sobre Espírito, portanto o vinho foi acrescentado à dieta do ser humano para ajudá-lo a dissolver as pesadas moléculas da carne e estimulá-lo na batalha da existência. A isto se refere à história de Noé (Gn 9:2-20), o qual com seus seguidores, representa a humanidade na era do arco-íris em que a assim chamada “dieta mista” e o vinho constituem a alimentação necessária à presente fase de evolução.
Fortalecido pela Mente carnívora e pelo Espírito do álcool, o ser humano se afastou cada vez mais do caminho da fraternidade, pois nutrindo-se com o mesmo alimento dos carnívoros ele se tornou necessariamente tão feroz quanto um animal predador, passando a caçar instintivamente ao seu próprio semelhante. Enquanto o sistema de procriação e casamento dentro da mesma tribo prendia-o firmemente aos seus companheiros de clã, ele ao menos demonstrava amá-los. Mas desde que os casamentos intertribais entraram em voga e ele começou a emancipar-se gradativamente do Espírito de raça, passou a saquear, ao próprio ser humano e até à própria família. O egoísmo tomou-se ilimitado, nada mais foi sagrado aos olhos cobiçosos, e cada ser humano passou a viver em guarda contra todos os outros. Além da ação que tais coisas trazem, não há descanso, não há paz duradoura nem felicidade na senda da paixão e da autogratificação. Portanto, chega a hora em que o ser humano deseja um fim permanente para os seus sofrimentos mais do que qualquer outra coisa, e aí começa a buscar o caminho da paz, que é também o caminho da pureza e da abnegação. Então ele é introduzido nos mistérios do Gólgota, do Sangue Purificador e da Cruz das Rosas, como segue:
Purificar o sangue do egoísmo é o Mistério no Gólgota. O processo começou quando o sangue de Jesus foi derramado e continuou através das guerras entre nações Cristãs todas as vezes que o ser humano lutou por um ideal, e prosseguirá até que o contraste entre os horrores da guerra e a beleza da fraternidade tenham impressionado suficientemente a espécie humana. Abaixo de nós na escala da evolução estão os vegetais e os animais, acima estão os deuses. Anatomicamente nós pertencemos ao reino animal e, em nossas vidas passadas, vivemos abaixo da nossa condição de humanos. Como os animais, gratificávamos nossos desejos sexuais e nossos apetites, mas enquanto aqueles eram mantidos sob controle por um sábio Espírito-Grupo nós não exercemos nenhum domínio sobre os nossos desejos, pelo que a doença, a dor e o sofrimento tornaram-se o nosso quinhão. Agora, contudo, aspiramos palmilhar a senda da paz em direção à serena felicidade dos deuses. Para isso devemos nos tomar como as plantas, isto é, puros e sem paixões. Consideremos o antigo Templo de Mistérios Atlante, também chamado “O Tabernáculo no Deserto”. Na velha Dispensação, quando a carne oferecida em sacrifício pelos pecados era queimada sobre o altar do sacrifício, seu odor elevava-se aos céus como um atestado da repugnante natureza da transgressão, da paixão e da impureza. Mas dentro do Tabernáculo havia o candelabro de sete braços, que queimava a essência das oliveiras sem desprender odor desagradável. Toda carne foi concebida sob a paixão e o pecado, mas a geração da planta é pura e imaculada. Por conseguinte, a flor aromática, especialmente a rosa vermelha, mantém-se em simbólica e direta oposição à carne corrompida. A flor é o órgão gerador da planta. Ela nos diz que a concepção sem mácula, em amor e pureza, é o caminho da paz e do progresso. Em Sua última reunião com seus Discípulos, Cristo estabeleceu os símbolos do novo pacto, do Testamento: deu-lhes pão para comer, simbolizando o Seu corpo, e a taça simbolizando o Seu sangue. Não uma taça comum para qualquer líquido, nem que o líquido por si só tivesse o poder suficiente para ratificar o novo pacto. O mistério jaz no fato de que a taça e seu conteúdo eram partes essenciais e necessárias de um sublime todo. O nome que designava essa taça mística em latim era “Calix”, em grego era “Poterion”.
Na velha Dispensação só a água era usada nos serviços do templo, mas com o tempo o vinho tornou-se um fator na evolução humana. Um deus do vinho – Baco – passou a ser adorado, e orgias da mais brutal natureza eram celebradas para que, sufocando as aspirações do Espírito, o ser humano se voltasse mais para a conquista do Mundo Físico. Mesmo sob a Dispensação mosaica os sacerdotes eram rigorosamente proibidos de usar o vinho enquanto oficiassem no templo, mas Cristo em sua primeira aparição em público mudou a água em vinho, aprovando deste modo o seu uso na ordem de coisas então existentes. Note-se, todavia, que isso foi feito em público, e que esse foi Seu primeiro ato como sacerdote do povo, mas na última reunião esotérica de Cristo com Seus Discípulos, quando o novo pacto foi dado, não havia nem carne de carneiro (Áries) – conforme estabelecia a ordem Mosaica – nem vinho, mas tão somente pão, um produto vegetal e o cálice do qual falaremos após ouvirmos as palavras que Ele proferiu naquela ocasião: “Não mais beberei deste fruto da videira até o dia em que hei de beber, novo, convosco no Reino dos Céus”[6]. O suco novo, recém-espremido da uva, não contém o Espírito da fermentação e da decomposição, mas é um alimento vegetal nutritivo e puro. Por conseguinte, os seguidores da doutrina esotérica foram instruídos por Cristo a não consumirem alimentos cárneos nem alcoólicos.
Geralmente supõe-se que o cálice usado por Cristo na Última Ceia continha vinho, muito embora não haja fundamento bíblico para tal suposição. Existem três relatos dos preparativos para a Páscoa. Mesmo que Marcos e Lucas refiram-se aos mensageiros enviados a certa cidade em busca de um homem que carregava um cântaro de água, nenhum dos evangelistas diz que o cálice continha vinho. Além disso, investigações na Memória da Natureza mostram que a água é que foi usada, e no que diz respeito aos esoteristas o vinho não tinha mais vez. Daquele ato, data também a inauguração do movimento de temperança, pois tais mudanças cósmicas envolvem longos preparativos nos Mundos Espirituais internos antes que possam manifestar-se nas sociedades do Mundo externo. Assim, milhares de anos quase nada significam nesses processos.
O uso da água na Última Ceia também se harmoniza com os requisitos astrológicos e éticos. O Sol saía de Áries – o Signo do Cordeiro – e entrava em Peixes, um Signo de Água. Ia soar uma nova nota de aspiração. Na Era de Peixes entrante ia iniciar-se uma nova fase de soerguimento humano. A autoindulgência ia ser suplantada pela autonegação. O pão, a matéria da vida, que é feito do grão gerado imaculadamente, não estimula paixões como a carne, nem nosso sangue se agita tão apaixonadamente quando recebe água do que quando recebe vinho. Portanto, pão e água são os alimentos e símbolos apropriados aos ideais da Era Peixes-Virgem, pois representam pureza. A Igreja Católica dá aos seus fiéis a água de Peixes na porta dos templos, como dá também o pão da Virgem no altar, mas nega-lhes o cálice de vinho do ofício. Todavia, as considerações acima não conduzem no âmago do mistério oculto no “Cálice do Novo Pacto”.
A taça de vinho velho, que nos foi dada no início da Época Ária – terra da geração – estava cheia de destruição, morte e veneno, de modo que a palavra que então aprendemos a falar é morta e destituída de poder.
A taça de vinho novo, mencionada como o ideal da futura época – a Nova Galileia (não a confundir com a Era de Aquário) – é um órgão etérico construído no interior da cabeça e da garganta pela força sexual economizada, o qual órgão é visto pelos Clarividentes como a haste de uma flor que ascende da parte inferior do tronco. Este cálice, ou taça-semente, é verdadeiramente um órgão criador capaz de emitir a palavra, a vida e o poder.
A palavra atual é produzida por movimentos musculares rudimentares que combinam laringe, língua e lábios de tal modo que a passagem do ar saído dos pulmões gera determinados sons. Mas o ar é um veículo pesado, difícil de mover-se, comparado as forças mais sutis da Natureza como a eletricidade, que se propaga no Éter, de modo que, quando este órgão tiver alcançado pleno desenvolvimento, ele terá o poder de falar a palavra da vida e infundir vitalidade nas substâncias que até ali estiverem inertes. Este órgão está sendo agora construído por nós, através do serviço.
Recorde-se que Cristo não deu o cálice ao povo, mas sim aos Seus Discípulos, Seus mensageiros e servos da Cruz. Nos dias atuais, aqueles que bebem do cálice da auto-abnegação para poderem usar a força no serviço aos outros estão construindo esse órgão e, também, o Corpo-Alma, que é o traje nupcial. Estão aprendendo a usá-lo aos poucos, como Auxiliares Invisíveis, quando fora de seus corpos à noite precisam emitir a palavra de poder para dissipar doenças e produzir tecidos sadios.
Quando a Época Atlante se aproximava do seu fim e a humanidade abandonava o lar de sua infância, onde viveu sob a orientação direta de Guias Divinos, o velho pacto foi feito dando ao ser humano carne e vinho, e estes dois elementos, juntamente com o uso descontrolado da força sexual, tornaram a Época Ária uma era de morte e destruição. Agora estamos nos aproximando do fim dessa era. Estamos em busca do Reino dos Céus, da Nova Galileia, e a fim de preparar-nos para essa época. Cristo nos deu o pão e a água da vida, ordenando-nos ao mesmo tempo não cedermos a luxúria. Tendo feito este novo pacto, Ele foi para a cruz da libertação, deixando atrás de Si o corpo da morte e pairando nas alturas em um veículo de vida, o Corpo Vital. Mas Ele deu aos Seus seguidores a certeza de que, embora eles não O pudessem seguir então ao lugar para onde ia, mais tarde o seguirão. Cada pessoa é um Cristo-em-formação e algum dia acontecerá a “Páscoa” para cada um de nós.
“Toda a vida de Cristo foi uma cruz e um martírio,
e tu buscas para ti mesmo folga e prazer? Quanto
maior o avanço espiritual de um indivíduo mais
pesadas as cruzes com que ele se depara frequentemente,
pois as dores do seu desterro aumentam
com o fortalecimento do seu amor”.
Thomas de Kempis[7]
Na manhã da Sexta-Feira Santa de 1857, Richard Wagner[8], o maior artista do século dezenove, sentou-se à varanda de uma vivenda suíça que se debruçava às bordas do lago de Zurich[9]. O panorama que se descortinava ao redor estava banhado por um glorioso brilho do Sol; paz e boa vontade pareciam vibrar por toda a Natureza. A criação inteira palpitava de vida e o ar estava carregado da deliciosa fragrância dos bosques de pinho – bálsamo gratificante para um coração atormentado e uma Mente agitada.
Então, de súbito, como um raio caído do céu azul, surgiu na alma profundamente mística de Wagner a lembrança do execrável significado daquele dia – o mais sombrio e mais doloroso do ano Cristão. Essa lembrança o inundou de tristeza, pelo contraste com o que via. Era uma incongruência marcante entre o alegre cenário que tinha diante de si, a clara atividade notável da Natureza, em luta pela renovação da vida após o longo sono hibernal, e o mortal esforço do Salvador torturado na cruz; entre os gorjeios plenos de vida e amor dos milhares de cantores de pena do bosque, na charneca e no prado, e os hediondos gritos de ódio duma turba enfurecida que insultava e zombava do mais nobre ideal que o mundo já conheceu; entre a maravilhosa energia criadora manifestada pela Natureza na primavera[10] e o elemento destruidor no ser humano, que assassinou o caráter mais nobre que já agraciou a Terra.
Enquanto Wagner meditava assim sobre os paradoxos da vida, ocorreu-lhe a pergunta: “há alguma relação entre a morte do Salvador por crucificação, na Páscoa, e a energia vital que se manifesta tão abundantemente na primavera quando a Natureza começa a vida de um novo ano?”.
Mesmo que Wagner não percebesse, conscientemente, o significado total da relação entre a morte do Salvador e o rejuvenescimento da Natureza, não obstante ele havia dado com a chave de um dos mais sublimes mistérios com que o Espírito humano já deparou em sua peregrinação da Terra à Deus.
Na noite mais escura do ano, quando a Terra dorme mais profundamente no abraço do frio Boreal, quando as atividades materiais descem ao nível mais baixo, uma onda de energia espiritual transporta em sua crista a “Palavra do Céu”, divina e criadora, para um nascimento místico no Natal. Então, como uma nuvem luminosa, o impulso espiritual paira sobre o mundo que “não o conheceu”[11] porque ele “brilha nas trevas”[12] do inverno, quando a Natureza está paralisada e muda.
Essa divina “Palavra” criadora contém uma mensagem e tem uma missão. Nasceu para “salvar o mundo”[13] e “para dar sua vida pelo mundo”. Deve, necessariamente, sacrificar sua palavra para conseguir o rejuvenescimento da Natureza. Gradativamente sepulta-se na Terra e passa a infundir sua própria energia vital nas milhões de sementes que jazem adormecidas no solo. Sussurra a “palavra de vida” nos ouvidos dos animais e pássaros, até que o evangelho das boas novas tenha sido pregado a todas as criaturas. O sacrifício se completa totalmente na época do ano em que o Sol cruza seu nódulo oriental no Equinócio de Março. Então a divina palavra criadora expira. Em um sentido místico, ela morre na cruz da Páscoa, emitindo um último brado de triunfo: “Está Consumado”[14] (Consummatum est).
Porém, do mesmo modo que o eco volta a nós, muitas vezes, repetido, assim também o canto celestial de vida se repete sobre a Terra. A criação inteira entoa um cântico de louvor, que é repetido sem cessar pelo coro de uma legião de línguas. As pequeninas sementes no seio da Mãe Terra começam a germinar, brotando e despontando em todas as direções, e logo um maravilhoso mosaico de vida, um tapete verde aveludado bordado de flores multicores, toma o lugar da mortalha do imaculado branco gelado. Dos animais de pelo e pena, em todos a palavra de vida ressoa como uma canção de amor, impelindo-os ao acasalamento. Geração e multiplicação é o lema em toda parte – o Espírito libertou-se para uma vida mais abundante.
O ser humano é uma miniatura da Natureza. O que acontece em grande escala na vida de um Planeta, como a nossa Terra, ocorre em escala menor ao longo da vida do ser humano. Um Planeta é o corpo de um grande, maravilhoso e exaltado Ser, um dos Sete Espíritos diante do Trono (do Pai Sol). O ser humano também é um Espírito “feito à sua imagem e semelhança”. Assim como um Planeta gira em seu caminho cíclico ao redor do Sol, de onde é emanado, assim também o Espírito humano se move numa órbita em volta de sua fonte central – Deus. Sendo elípticas as órbitas planetárias, possuem pontos muitíssimo próximos e pontos extremamente afastados dos seus centros solares. De maneira análoga, a órbita do Espírito humano é elíptica. Nós estamos mais perto de Deus quando nossa jornada cíclica nos leva à esfera de atividade celeste – o Céu – e estamos mais separados d’Ele durante a vida terrena. Tais mudanças são necessárias ao nosso crescimento anímico. Assim como as festividades do ano assinalam o caráter repetitivo de acontecimentos importantes na vida de um Grande Espírito, do mesmo modo nossos nascimentos e mortes são fatos de repetição periódica. É tão impossível para o Espírito permanecer definitivamente no Céu ou na Terra como o é para um Planeta deter-se em sua órbita. A mesma imutável lei de periodicidade que determina a ininterrupta sequência das estações, a alternação do dia com a noite e os fluxos e refluxos das marés, governa também a marcha progressiva do Espírito humano tanto no Céu quanto na Terra.
Dos domínios de luz celestial onde vivemos em liberdade, sem as limitações do tempo e do espaço, onde vibramos em uníssono com a infinita harmonia das esferas, nós descemos para nascer no Mundo Físico, onde nossa visão espiritual torna-se obscurecida pela corda enrolada que nos agrilhoa a esta fase de limitações da nossa existência. Vivemos uns tempos aqui, depois morremos e subimos aos céus, para renascer e morrer outra vez. Cada vida terrena é um capítulo da história seriada da vida, extremamente humilde em seu começo, mas crescendo em interesse e importância à medida que ascendemos para estágios de responsabilidade humana, cada vez mais altos. Nenhum limite é concebível, pois somos divinos em essência e, portanto, temos latentes em nós as infinitas possibilidades de Deus. Quando tivermos aprendido tudo o que este mundo tem para ensinar-nos, uma órbita mais ampla, uma esfera maior de utilidade sobre-humana, abrir-se-á às nossas maiores capacidades.
“Mas, e Cristo?” – Pode alguém perguntar. “Você não acredita n’Ele? Você está discorrendo sobre a Páscoa, o feriado que comemora a morte cruel do Salvador e Sua gloriosa e triunfante ressurreição, todavia parece referir-se a Ele mais como uma alegoria que como um fato.”.
Certamente nós cremos em Cristo; amamo-Lo de todo o coração e com toda a nossa alma, mas queremos enfatizar a crença de que Cristo é a primícia da raça. Ele disse que nós poderíamos fazer as coisas que Ele fez, “e maiores ainda”. Portanto, somos Cristos-em-formação.
Estamos muito habituados a buscar um Salvador externo ao mesmo tempo que abrigamos um demônio interno, mas até que Cristo seja formado EM NÓS, conforme disse São Paulo, buscaremos em vão, porque assim como é impossível para nós percebermos a luz e a cor ao nosso redor sem o registro de suas vibrações pelo nosso nervo ótico, e assim como permanecemos inconscientes do som quando o tímpano dos nossos ouvidos está insensível, do mesmo modo permanecemos cegos à presença de Cristo e surdos à Sua voz enquanto não despertarmos nossa natureza espiritual interna. No entanto, uma vez despertada essa natureza espiritual, o Senhor do Amor se revela como uma realidade primordial, baseado no princípio de que, fazendo-se vibrar um diapasão, outro diapasão de mesmo tom começará também a vibrar, enquanto outros de tons diferentes ficarão mudos. Por isso Cristo disse que Suas ovelhas conheciam-No pelo som de Sua voz, à qual respondiam, mas não ouviam a voz do estranho (Jo 10:5). Não importam nossos credos, todos somos irmãos de Cristo, portanto regozijemo-nos: o Senhor ressuscitou! Busquemos a Ele e esqueçamos nossos credos e outras diferenças de menor importância.
O sinal da Cruz estará no céu quando o Senhor
vier para julgar. Então, todos os que servem a
Cruz e que na vida se tenham harmonizado com o
Crucificado poderão aproximar-se de Cristo com
toda coragem.
Thomas de Kempis
Mais uma vez chegamos ao ato final do drama cósmico que envolve a descida do Raio solar de Cristo ao interior da matéria de nossa Terra, o qual se completa no nascimento místico celebrado no Natal e na Morte Mística e Libertação, celebradas logo após o Equinócio de Março, quando o Sol do novo ano inicia sua ascenção às esferas superiores dos céus setentrionais, depois de verter sua vida para salvar a humanidade e revigorar todas as coisas sobre a Terra. Nessa época do ano uma nova vida, uma energia intensificada, circula com força irresistível nas veias e artérias de todos os seres vivos, inspirando e instilando neles novas esperanças, novas ambições e nova vida, e impelindo-os a novas atividades pelas quais possam aprender novas lições na escola da experiência. Consciente ou inconscientemente, tudo o que tem vida beneficia-se desse manancial de energia fortalecida. Até a planta responde por um aumento de circulação de seiva, que resulta em uma renovação de folhas, flores e frutos, meios pelos quais esta classe de vida expressa-se a si mesma e evolui para um estado superior de consciência.
Mas ainda que maravilhosas sejam essas manifestações físicas externas, e ainda que possa ser chamada de gloriosa essa transformação da Terra de um deserto de neve e gelo em um formoso jardim florido, isso é insignificante diante das atividades espirituais paralelas que se efetuam ao mesmo tempo. As características salientes do drama cósmico são idênticas em termos de época com os efeitos materiais do Sol nos quatro Signos Cardeais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), porque os eventos mais significativos ocorrem nos pontos equinociais e solsticiais.
Realmente, é de fato verdadeiro que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”[15]. Fora d’Ele não poderíamos existir; vivemos por e através de Sua vida; movimentamo-nos e agimos por e através de sua fortaleza; é o Seu poder que sustenta nossa morada, a Terra, e sem Seus incessantes e invariáveis esforços o universo desintegrar-se-ia por si mesmo. Sabemos que o ser humano foi feito à semelhança de Deus, e nos é dado compreender que, consoante a lei de analogia, possuímos internamente certos poderes latentes idênticos àqueles que vemos tão poderosamente manifestados pela Deidade na obra do universo. Isso desperta, em nós, um particular interesse no drama cósmico anual em que envolve a morte e ressurreição do Sol. A vida do Deus-Homem, Cristo-Jesus, foi moldada de conformidade com a história solar e prenuncia, de modo idêntico, tudo o que pode acontecer ao Homem-Deus, a quem Cristo-Jesus profetizou quando disse: “As obras que eu faço vós fareis também, e maiores ainda[16]; para onde vou agora vós não podeis ir, mas depois podereis seguir-me”[17].
A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Ela nada faz em vão ou arbitrariamente, mas existe um propósito por trás de todas as coisas e de todos os atos. Por conseguinte, devemos estar alertas e considerar cuidadosamente os sinais nos céus, porque eles possuem um significado profundo e importante referentes às nossas próprias vidas. A compreensão inteligente desses propósitos capacita-nos a trabalhar mais eficazmente com Deus em Seus maravilhosos esforços para emancipar nossa raça da escravidão das leis da Natureza e, mediante essa liberação, alcançarmos a plena estatura de filhos de Deus, coroados de glória, honra e imortalidade; livres do poder do pecado, da doença e do sofrimento que agora encurtam nossas existências terrenas em razão de nossa ignorância e de inconformidade às leis de Deus. O propósito divino visa essa emancipação, e ser ela conseguida através do longo e tedioso processo evolutivo ou ser alcançada através do caminho muitíssimo mais curto da Iniciação, isso depende da nossa vontade de cooperar ou não. A maioria da humanidade atravessa a vida com olhos que não veem e ouvidos que não ouvem. Segue absorvida em seus negócios materiais, comprando e vendendo, trabalhando e divertindo-se sem a devida apreciação ou compreensão dos propósitos da existência e, ainda que tais propósitos se tornassem claros, é provável que dificilmente se conformasse em virtude do sacrifício que isso envolve.
Não é de estranhar que Cristo chame especialmente o pobre e enfatize a dificuldade do rico entrar no Reino dos Céus, pois mesmo hoje, quando a humanidade já avançou dois milênios na escola da evolução desde aquela data, vemos que a grande maioria ainda dá mais valor às suas casas e terras, às suas roupas e chapéus, aos prazeres sociais, festas e banquetes do que aos tesouros celestiais, que se juntam pelo serviço aos outros e sacrifício de si mesmo. Ainda que essa maioria possa perceber intelectualmente a beleza da vida espiritual, a conveniência desta torna-se insignificante aos seus olhos quando comparada ao sacrifício exigido para alcançá-la. Como o moço rico, ela seguiria, voluntariamente, a Cristo não fora a necessidade de tanto sacrifício. Prefere ir-se quando percebe que o sacrifício é a única condição para ingressar-se no discipulado. Portanto, para tais pessoas a Páscoa não é mais que uma ocasião de regozijo porque se trata do fim de um momento especial e começo de outro momento especial diferente, que convida manifestações de alegrias.
Mas para aqueles que escolheram, definitivamente, a senda do auto sacrifício que conduz à libertação, a Páscoa é o sinal anual que evidencia as bases cósmicas de suas esperanças e aspirações.
No Sol da Páscoa, que no Equinócio de Março começa a percorrer os céus setentrionais, após verter sua vida na Terra, temos o símbolo cósmico da veracidade da ressurreição. Quando o consideramos como um fato cósmico enquadrado na lei de analogia, que relaciona o macrocosmo com o microcosmo, o importante é saber que algum dia alcançaremos a consciência cósmica e conheceremos positivamente por nós mesmos, por nossa própria experiência, que a morte não existe, mas o que isso parece é apenas uma transição para uma esfera mais sutil.
É um símbolo anual para fortalecer as nossas almas no afã das boas-obras, para que possamos tecer o manto dourado nupcial requerido para converter-nos em filhos de Deus no sentido mais elevado e mais santo. É literalmente verdadeiro que enquanto não andarmos na luz, como Ele na luz está, não seremos fraternais uns com os outros. Mas, fazendo sacrifícios e prestando os serviços que se requerem de nós para ajudar na emancipação da raça humana, estamos assim construindo um Corpo-Alma de radiante luz dourada, que é a substância especial emanada do e pelo Espírito do Sol, o Cristo Cósmico. Quando esta substância dourada nos envolver com densidade suficiente, então seremos capazes de imitar o Sol da Páscoa e pairar em esferas mais elevadas.
Com esses ideais firmemente impressos em nossas Mentes, a época da Páscoa se converte em uma estação apropriada para revisarmos nossas vidas durante o ano que passou e tomarmos novas resoluções que adiantem nosso crescimento anímico até ao próximo. É uma época em que o símbolo do Sol ascendente deve levar-nos a uma compreensão profunda do fato de que na Terra não somos mais que peregrinos e forasteiros; que, como Espíritos, nossa verdadeira pátria é o Céu; e que devemos esforçar-nos para aprender as lições desta vida tão depressa quanto nos permitam os caminhos apropriados. O Dia da Páscoa marca a ressurreição e libertação do Espírito de Cristo dos planos inferiores, e essa libertação deve lembrar-nos de buscar continuamente a aurora do dia em que estaremos permanentemente livres das malhas da matéria, do corpo de pecado e morte, juntamente com todos os nossos irmãos em escravidão. Nenhum aspirante sincero poderia conceber uma libertação que não incluísse a todos que estivessem na mesma situação.
Esta é uma tarefa gigantesca. Enfrentá-la pode muito bem desalentar o mais valente coração, de modo que se estivéssemos sozinhos não poderíamos realizá-la, mas as Hierarquias Divinas, que têm guiado a humanidade no caminho evolutivo desde o começo da jornada, ainda estão ativas e trabalhando conosco desde os Mundos Espirituais siderais, de maneira que com sua ajuda seremos, oportunamente, capazes de conseguir o soerguimento da humanidade como um todo e alcançar uma condição individual de glória, honra e imortalidade. Com esta enorme esperança dentro de nós mesmos, com esta grande missão no mundo trabalhemos como nunca para sermos melhores homens e mulheres, de forma que, por nossos exemplos, possamos despertar nos outros o desejo de levar uma vida que conduza à libertação.
“Porque se morreres com Ele, também com Ele
viverás, e se partilhares dos Seus sofrimentos,
da Sua glória também partilharás”.
Thomas de Kempis
Outra vez a Terra alcança o Equinócio de Março, em seu movimento anual de translação em torno do Sol, e assim chegamos à Páscoa. O raio espiritual emitido pelo Cristo Cósmico nesse período, para reativar a esgotada vitalidade da Terra, está quase subindo de volta ao Trono do Pai. Às atividades espirituais de fecundação e germinação, levadas a efeito durante os últimos seis meses, seguir-se-ão os processos de crescimento físico e amadurecimento durante os próximos seis meses, sob a influência do Espírito da Terra. O ciclo termina no “Lar da Colheita”. Deste modo o grande Drama do Mundo é encenado e reencenado ano após ano, numa eterna disputa entre a vida e a morte, sendo cada uma por vez vencedora e vencida na sequência dos ciclos.
Os grandes fluxos e refluxos cíclicos não estão limitados em seus efeitos à Terra, à sua flora e fauna. Exercem igualmente uma influência dominante sobre a humanidade, mesmo que a grande maioria não se aperceba das causas que a impelem a agir numa e noutra direção. Não obstante, essa ignorância, permanece o fato de que a mesma vibração terrestre que adorna vistosamente as aves e outros animais nesses próximos três meses, responde também pelo desejo humano de se vestir com cores alegres e roupas mais claras nessa época do ano. É, também, “o apelo do silvestre campo”, que nos subsequentes três meses convida o ser humano a relaxar no meio rural, onde os Espíritos da natureza exercitaram suas artes mágicas nos campos e florestas, para recuperar-se da tensão das condições artificiais reinantes nas cidades congestionadas.
Por outro lado, é a “queda” do raio espiritual do Sol nos meses de setembro, outubro e novembro que causa o reinício das atividades mentais e espirituais nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. A mesma força germinadora que fermenta a semente na terra e a prepara para reproduzir sua espécie multiplicada, também ativa a Mente humana e fomenta atividades altruístas que tornam o mundo melhor. Caso essa grande onda de desprendido Amor Cósmico não culminasse no Natal, com vibrações de paz e boa-vontade, não poderia haver nenhuma sensação festiva em nossos corações de modo a gerar o desejo de fazer os outros igualmente felizes. O costume universal de dar presentes no Natal seria impossível, e todos nós sofreríamos essa perda.
Quando Cristo andava, dia após dia, pelas colinas e vales da Judeia e Galileia, ensinando às multidões, todos foram beneficiados. Mas Ele convivia mais com Seus Discípulos, e estes cresciam rapidamente cada dia. À medida que o tempo passava esses laços de amor estreitavam-se ainda mais, até que, um dia, mãos impiedosas tiraram o amado Mestre e o levaram a morte desonrosa. Contudo, mesmo que tenha morrido na carne, Ele continuou a conviver intimamente com Seus Discípulos por algum tempo, em Espírito. Mas por fim subiu às esferas superiores, perdendo-se assim o contato direto com Ele, e aqueles homens olharam-se tristemente, cara a cara e perguntaram-se: “É este o fim?”. Eles haviam esperado tanto, haviam alimentado tão elevadas aspirações que, apesar da verdejante paisagem continuar brilhante e beijada pelo Sol como antes de Sua Partida, a Terra parecia fria e monótona, pois sombria desolação oprimia os seus corações.
Algo semelhante também acontece conosco quando buscamos seguir o Espírito e lutar contra a carne, mesmo que a analogia não tenha sido aparente até aqui. Quando, nos meses de setembro, outubro e novembro a “queda” do raio Crístico começa anunciando a época da supremacia espiritual, logo o sentimos e começamos avidamente a banhar nossas almas nessa bendita maré. Experimentamos uma sensação semelhante à dos Apóstolos, quando andavam com Cristo, e à medida que os meses avançam torna-se cada vez mais fácil comungar com Ele, face a face, como antes. Mas, no curso anual dos acontecimentos, a Páscoa e Ascenção do raio de Cristo “ressuscitado” para o Pai, deixa-nos em idêntica posição à dos Apóstolos quando seu querido Mestre se afastou. Nós ficamos desolados e tristes, vemos o mundo como um deserto monótono e não podemos atinar com a razão de nossa perda, que é tão natural como os fluxos e refluxos das marés ou como os dias e as noites – fases da era atual dos ciclos alternados.
Existe um perigo nesta atitude mental. Se permitirmos que ela nos domine, é possível que abandonemos o nosso trabalho no mundo e nos convertamos em sonhadores desiludidos, percamos, nosso equilíbrio e provoquemos, contra nós, a crítica muito justa dos demais. Este tipo de conduta é inteiramente errado, pois, assim como a Terra emprega o seu esforço material para produzir abundantemente em um período, após haver recebido o ímpeto espiritual em outro período, é nosso dever, também, envidar os maiores esforços ao trabalho do mundo quando possuímos o privilégio de comunicar com o Espírito. Assim fazendo, é possível que despertemos nos outros o Espírito de emulação e o de reprovação.
Estamos acostumados a pensar no avaro como alguém que junta ouro, sendo essa classe de pessoas objeto de desprezo, de modo geral. Mas há indivíduos que lutam tão tenazmente para adquirir conhecimento, quanto se esforça o avaro para acumular ouro, não hesitando em usar qualquer meio ou subterfúgio para alcançar seu intento e guardando consigo seus conhecimentos, tão egoisticamente quanto o avaro guarda o seu tesouro. Não compreendem que por tal método eles fecham de fato as portas à uma sabedoria maior. A antiga teologia nórdica continha uma parábola que, simbolicamente, esclarece o assunto. Dizia que todos os que morriam no campo de batalha (as almas fortes que combateram o bom combate até o fim) eram levados ao Valhalla[18], a estar com os deuses, enquanto os que morriam na cama ou por doenças (as almas fracas, que vagavam pela vida) iam para o lúgubre Niflheim. No Valhalla, os valentes guerreiros banqueteavam-se diariamente com a carne de um javali chamado Scrimner, que se caracterizava por uma particularidade: sempre se cortava um pedaço de suas carnes, imediatamente outro crescia no lugar, de modo que seu corpo nunca era consumido, não importa quanto se cortasse dele. Isto simbolizava adequadamente o “conhecimento”, pois, não importa quanto dele possamos dar aos outros, o original sempre fica conosco.
Existe, portanto, certa obrigação de transmitirmos os conhecimentos que possuímos, pois “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido”[19]. Se acumularmos as bênçãos espirituais que temos recebido, o mal nos ronda, por isso imitemos a Terra nesta época da Páscoa. Externemos no Mundo Físico da ação, os frutos do Espírito semeados em nossas almas durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Habilitemo-nos a receber bênçãos cada vez maiores de ano para ano.
“E quando este corpo incorruptível se revestir de incorruptibilidade,
e o que é mortal se revestir de imortalidade,
e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”.
ICor 15 :54
Para os nossos irmãos e irmãs do hemisfério norte passaram-se os sombrios e monótonos dias do inverno (meses de dezembro, janeiro e fevereiro). A Mãe Natureza remove o manto frio de gelo que cobre a terra, permitindo a milhões e milhões de sementes abrigadas no chão macio, romperem sua crosta e vestirem o solo com trajes de verão numa orgia de cores alegres e vistosas, preparando as “câmaras nupciais” para os animais e aves se acasalarem.
Na presente estação a Mente do mundo volta-se para a festividade que chamamos Páscoa, na qual se comemora a morte e ressurreição do nobre indivíduo que o mundo conhece pelo nome de Jesus, cuja história de sua vida foi escrita nos Evangelhos. Mas um Cristão Místico tem uma visão mais profunda e mais ampla desse evento cósmico que se repete anualmente. Para este, o que existe é uma impregnação anual da Terra com a vida do Cristo Cósmico. Uma inalação que tem lugar durante os meses de setembro, outubro, e novembro, culminando no Solstício de Dezembro, quando celebramos o Natal, e uma exalação que chega ao fim na época da Páscoa.
O drama cósmico de vida e morte é representada anualmente, por todas as criaturas e coisas evoluintes, da maior à menor, porque até o grande e sublime Cristo Cósmico, em Sua compaixão, torna-se sujeito à morte quando entra nas condições enclausurantes da Terra, em um período do ano. Por conseguinte, é oportuno recordar alguns pontos relativos à morte e renascimento que, às vezes, podemos esquecer.
Entre os símbolos cósmicos conservados desde a antiguidade, nenhum é mais comum que o do ovo. Acha-se em toda Religião. Encontramo-lo no Antigo Eddas dos Escandinavos, venerável pela idade, que nos fala do mundano esfriado pelo sopro gelado do Niebelheim, mas aquecido pelo hálito quente do Muspelheim, antes que os vários Mundos Espirituais e o próprio ser humano viessem a existir. Se nos voltarmos para o ensolarado sul, podemos achar nos Vedas da Índia a mesma história no mito Kalahansa, o Cisne do tempo e do espaço, o qual pôs o ovo que veio a ser, finalmente, o mundo. Entre os egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas, simbolizando a sabedoria manifestada neste nosso mundo. Os gregos utilizaram esse simbolismo, reverenciando-o em seus Mistérios. Foi preservado pelos Druidas; tal símbolo era também conhecido dos construtores do grande outeiro da serpente, em Ohio; e conservou seu lugar na simbologia sagrada até hoje, muito embora a grande maioria de seres humanos seja cega ao grande mistério que ela encerra e revela – o mistério da vida.
Quando quebramos a casca de um ovo, achamos apenas fluídos viscosos de coloração variada e consistências diversas. Mas se submetido a uma temperatura adequada logo se dá uma série de mudanças e assim, em pouco tempo, uma criatura viva pode romper a casca e surgir pronta para assumir seu lugar entre os de sua espécie. Os magos dos laboratórios podem duplicar as substâncias do ovo e injetá-las numa casca de maneira que, conforme as experiências feitas até aqui, uma réplica perfeita do ovo natural pode ser produzida. Contudo, este difere do ovo natural em um ponto, isto é nenhuma coisa viva pode ser incubada no produto artificial. Fica evidente, portanto, que alguma coisa intangível deve estar presente em um e ausente em outro.
Esse mistério de todos os tempos que produz o ser vivo é que nós chamamos vida. Visto que a Vida não pode ser detectada em meio aos elementos do ovo, nem mesmo através do mais potente microscópio (ainda que ela ali esteja para produzir as mudanças que se notam), é de concluir-se que ela deve ser capaz de existir independentemente da matéria. Aprendemos, pois, através do sagrado simbolismo do ovo que, apesar da vida ser capaz de modelar a matéria, não depende, entretanto, desta para existir. Ela é autoexistente e não tendo princípio não pode também ter fim. Isto é simbolizado pela forma ovoide do ovo.
Quando nos apercebemos do verdadeiro conhecimento contido no simbolismo do ovo de que a vida nunca teve princípio e nunca terá fim, habilitamo-nos a criar coragem e admitir que aqueles que se retiram agora da existência física estão apenas atravessando uma jornada cíclica idêntica à da vida do Cristo Cósmico, vida que penetra a Terra no outono e a abandona na Páscoa. Vemos assim como a grande Lei da Analogia atua em todas as circunstâncias e em todas as fases da vida. O que acontece no grande mundo ao Cristo Cósmico verifica-se também nas vidas daqueles que são Cristos-em-formação.
Devemos admitir que a morte é uma necessidade cósmica nas atuais circunstâncias, porque se fôssemos aprisionados num corpo como o que agora usamos, e fôssemos colocados num ambiente tal e qual este em que nos encontramos hoje, para assim viver perenemente, as enfermidades do corpo e as condições insatisfatórias do ambiente bem cedo nos fariam cansar da vida e implorar por libertação. Isso impediria todo progresso e tornaria impossível para nós evoluirmos às alturas mais elevadas, tais como os que podemos alcançar por meio do nascimento em novos veículos e novos ambientes que nos permitam novas possibilidades de crescimento. Por conseguinte, devemos agradecer a Deus o fato de que, enquanto o nascimento em um corpo concreto tem sido necessário para um desenvolvimento futuro, a liberação pela morte tem sido proporcionada para libertar-nos do instrumento esgotado pelo uso; e a ressurreição e um novo nascimento sob o céu alegre de um novo ambiente fornecem-nos outras oportunidades para recomeçar a vida com a ficha limpa e aprender as lições que não conseguimos assimilar antes. Por este método seremos, algum dia, perfeitos como o Cristo ressuscitado. Ele assim determinou e nos ajudará a consegui-lo.
“Se alguém quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”.
Mt 16:24
De acordo com uma antiga lenda, quando expulso do Paraíso, Adão levou consigo três mudas da árvore da vida, as quais, plantadas pelo seu filho Seth, vingaram e cresceram. De uma delas se fez mais tarde o cajado de Aarão, com o qual este operou milagres diante do Faraó. Outra foi levada ao Templo de Salomão para servir de pilar ou coisa semelhante ali, mas, como não serviu para nada no interior do edifício, foi então utilizada como uma ponte sobre um regato que corria fora do Templo. A terceira foi usada para fazer-se a cruz de Cristo, sobre a qual Ele sofreu por nós, libertou-se finalmente, penetrou na Terra e tornou-se o Espírito Planetário do nosso globo, no qual Ele agora sofre e geme esperando o dia da libertação.
Existe um grande significado nessa lenda antiga. A primeira muda da árvore representa o poder espiritual exercido pelas Hierarquias Divinas na infância da humanidade, isto é, um poder exercido por outrem para o nosso próprio benefício. A segunda era para ser usada no Templo de Salomão. Ninguém pode apreciá-la, exceto a Rainha de Sabá, nenhuma serventia foi achada para ela, pois o Templo de Salomão era a consumação das artes e ofícios e em uma civilização materialista nada que seja espiritual é apreciado. Os Filhos de Caim conseguiam sua salvação ao longo de linhas materiais, portanto não precisavam de poderes espirituais. Assim, “ela foi usada como ponte sobre o regato”. Sempre existiram almas – os reais, os verdadeiros Maçons Místicos – capazes de usar essa ponte que vai do visível ao invisível, e de voltarem ao Jardim do Éden; ao Paraíso, através da mesma. Foi a terceira muda da árvore da vida que deu a cruz de Cristo. Erguido naquela cruz foi que Ele conseguiu se libertar desta existência física e entrar nas esferas superiores. De modo semelhante nós também, ao tomarmos nossa cruz e segui-Lo, podemos desenvolver nossos poderes anímicos e ingressar numa esfera de maior utilidade nos Mundos invisíveis. Esforcemo-nos todos de modo que, dia após dia, sejamos encontrados de joelhos e vencedores, agarrados à cruz de Cristo para que, num dia não muito distante, possamos subir à nossa própria cruz e dali alcançarmos a gloriosa libertação, a ressurreição da vida da qual Cristo foi e continua sendo os primeiros frutos para toda alma crente. Esta é a autêntica, a verdadeira mensagem da Páscoa e devemos compreender que todos somos Cristos-em-formação, e que quando Cristo nasce real e verdadeiramente dentro de nós Ele então nos mostrará o caminho da cruz a partir da Árvore do Conhecimento pela qual conseguimos avançar. Essa cruz trouxe morte à Árvore da Vida no Corpo Vital, mas trouxe também a imortalidade.
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste Tabernáculo se desfizer,
temos da parte de Deus um edifício,
casa não feita por mãos, eterna, nos céus”.
IICor 5: 1
Que fim teve o Corpo Denso de Jesus, colocado no túmulo, mas não encontrado na manhã do domingo de Páscoa? E se o Corpo Vital de Jesus foi preservado para ser usado novamente por Cristo, como pode ele, Jesus, estar nesse meio tempo funcionando num Corpo Vital? Não teria sido mais fácil conseguir para Cristo, em Sua segunda vinda, outro Corpo Vital?
Essas perguntas foram respondidas assim, no “Ecos” de 1914[20]:
Estudos nas Escrituras revelam o fato de que Cristo costumava afastar-se de Seus Discípulos e que estes ignoravam para onde Ele ia nessas ocasiões ou, se não ignoravam, isso jamais foi mencionado. O motivo desses afastamentos, porém, era que, sendo Ele um Espírito tão glorioso, Suas vibrações eram demasiado elevadas mesmo para o melhor e mais puro dos veículos físicos, fazendo-se, portanto, necessário retirar-se deste veículo, frequentemente, para um período de completo repouso, de modo que o padrão vibratório de seus átomos pudesse baixar ou voltar ao normal. Por conseguinte, Cristo habitualmente buscava os Essênios em tais momentos, aos cuidados de quem deixava o Corpo, uma vez que eles eram peritos em lidar com o Corpo Denso. Cristo nada sabia de como tratar o veículo que recebera de Jesus. Não fora esses repousos e os cuidados recebidos, o corpo de Jesus ter-se-ia desintegrado bem antes de se haverem completado os três anos do Seu ministério, e assim o Gólgota não teria sido alcançado.
Quando o tempo se esgotou e o ministério terreno chegou ao fim, os Essênios pararam de intervir, então as coisas tomaram o seu curso natural e a tremenda força vibratória que atuava sobre os átomos físicos espalhou-os aos quatro ventos de modo que, quando o túmulo foi aberto poucos dias depois, nenhum sinal do corpo foi encontrado.
Isso se harmoniza perfeitamente com as leis naturais que conhecemos e com o seu modo de atuarem no Mundo Físico. A corrente elétrica de baixa potência queima e até mata, enquanto a alta voltagem pode atravessar o corpo sem prejudicá-lo. A luz, que possui elevadíssimo grau vibratório, é agradável e benéfica ao corpo, mas quando focalizada através de uma lente esse grau vibratório é reduzido, produzindo-se então o fogo que queima e destrói. De modo idêntico, quando Cristo, o Grande Espírito Solar, entrou no Corpo Denso de Jesus, reduzindo Seu padrão vibratório em virtude de resistência da matéria densa, tê-lo-ia queimado – como na cremação – caso não tivessem sido tomadas medidas para evitá-lo. A força era a mesma, os resultados idênticos, exceto num pormenor: o fogo que consumiu o corpo de Jesus não produziu cinzas, conforme aconteceria com o fogo comum que produz chamas. A propósito, é bom recordar que o fogo, embora invisível, encontra-se latente em todas as coisas. É verdade que não o vemos na planta, no animal ou na pedra, não obstante, ele ali está perceptível à visão interna e capaz de manifestar-se a qualquer momento na substância física em forma de chama.
Uma das nossas ilusões é a de que o corpo que habitamos é vivo. Isto de fato não acontece. Pelo menos a porção deste corpo que pode ser verdadeiramente chamada de viva é tão pequena que a afirmação acima é praticamente verdadeira. O resto dele existe absolutamente adormecido, se não inteiramente morto. Este fato é bem conhecido pela ciência e é algo que a razão nos demonstra ser verdade: nosso poder espiritual é tão pequeno que não pode dotar de vida este veículo por tempo suficientemente longo, de modo que, na medida em que nos incapacitamos para vitalizar o corpo, este começa a assemelhar-se a um pesado torrão de barro que devemos arrastar penosamente conosco até que alguns poucos anos depois ele se cristaliza a tal ponto que se nos torna impossível manter o trabalho vibratório por mais tempo. Então, somos forçados a abandoná-lo, e aí se diz que ele morre. Inicia-se, assim, um lento processo de desintegração que devolve o átomo à sua condição original de liberdade.
Confronte agora a condição das coisas quando um desses mesmos corpos terrenos é possuído por um poderoso Espírito como o de Cristo. Pode-se achar uma analogia com o caso de um indivíduo reanimado após um afogamento. Em tais casos o Corpo Vital se retira e a ação vibratória dos átomos físicos quase cessa, quando não para totalmente. Restauradas as condições que permitem ao Corpo Vital voltar a interpenetrar o corpo físico, aquele entra imediatamente a acionar e pôr em vibração todos os átomos deste. Esta tentativa de despertar os átomos inertes provoca aquela intensa e desagradável sensação de formigamento que o afogado descreve depois de reanimado, sensação que persiste até os átomos físicos alcançarem o grau vibratório de uma oitava abaixo daquele em que vibra o Corpo Vital. Chegado a esse ponto acaba a sensação, nada mais é sentido, salvo aquilo que se sente normalmente.
Agora consideremos o caso de Cristo entrando no Corpo Denso de Jesus, cujos átomos naturalmente moviam-se numa velocidade muito inferior àquela das forças vibratórias do Espírito Cristo. Consequentemente, uma aceleração tinha de acontecer, de tal maneira que, durante os três anos de ministério, essa notável aceleração de vibração desses átomos teria desintegrado o corpo não fora a atuação da poderosa vontade do Mestre para conservá-lo inteiro, reforçada pela habilidade dos Essênios. Se os átomos do corpo de Jesus estivessem adormecidos no momento em que Cristo dele se retirou – conforme ocorre aos nossos átomos quando abandonamos nossos corpos – um longo processo de putrefação ter-se-ia feito necessário para desintegrar aquele corpo. No entanto eles estavam altamente sensibilizados e vivos, portanto, era impossível ficarem presos após o Espírito ter-se retirado. Em futuras épocas, quando tenhamos aprendido a manter nossos corpos vivos, não precisaremos mudar átomos nem trocar de corpos tão frequentemente. Quando isso acontecer, o processo de putrefação não exigirá tanto tempo para se completar, conforme acontece presentemente. O sepulcro não foi fechado hermeticamente, portanto não podia oferecer obstáculo à passagem dos átomos.
Ao morrer o Corpo Denso de Jesus, os Átomos-semente retomaram ao seu primitivo dono. Durante os três anos de intervalo entre o batismo, em que ele renunciou a seus veículos, e a crucificação, quando pôde reaver os Átomos-semente, Jesus formou um veículo etérico, do mesmo modo que um Auxiliar Invisível junta matéria física sempre que se faça necessário materializar um corpo ou parte dele. Contudo, matéria que não corresponda ao Átomo-semente não pode ser utilizada de modo permanente: desintegra-se tão logo desapareça a força de vontade que a atraiu. Portanto, aquilo foi para Jesus apenas um expediente de ocasião. Quando o Átomo-semente do seu Corpo Vital retornou, então um novo corpo foi formado, e em tal veículo Jesus vem funcionando desde então, trabalhando com as igrejas. Nunca mais utilizou um Corpo Denso, embora seja perfeitamente capaz de fazer um. Presumivelmente isto se dá em virtude de seu trabalho ser totalmente desligado das coisas materiais e diferir diametralmente da obra de Christian Rosenkreuz, que tem muito a ver com problemas de governos, industriais e políticos, pelo que precisa de um corpo físico em que possa aparecer ao público.
A razão pela qual o Corpo Vital de Jesus é conservado para a segunda vinda de Cristo ao invés de Lhe providenciar um novo veículo pode ser encontrada em “Fausto”, mito que apresenta em sentido figurado grandes verdades espirituais de valor inestimável à alma sedenta. Fausto, em seu esforço para obter poder espiritual antes de merecê-lo, atrai um Espírito disposto a auxiliá-lo em seus desejos mediante uma compensação, pois em tal classe de Espírito o altruísmo é uma virtude que simplesmente não existe. Quando Lúcifer se volta para sair, nota apavorado a existência de um pentagrama diante da porta, uma das pontas em sua direção. Pede, então, a Fausto que retire dali o símbolo para que ele possa sair, ao que este lhe pergunta por que não sai pela janela ou pela chaminé. Lúcifer, relutantemente, admite que:
Para os fantasmas e Espíritos é lei
que por onde entramos, devemos sair.
Quando, no curso natural dos acontecimentos, o Espírito volta a nascer, ele entra no Corpo Denso pela cabeça, trazendo consigo os veículos superiores. Ao deixar o corpo à noite, sai pelo mesmo lugar, para reentrar do mesmo modo na manhã seguinte. O Auxiliar Invisível também sai do seu corpo e nele reentra da mesma maneira. E quando por fim nossa vida terrena chega a seu termo, é pela cabeça que saímos do nosso corpo pela última vez. Vemos, pois, que a cabeça é a porta natural do corpo e, por conseguinte, o pentagrama com uma ponta para cima é o símbolo da magia branca, que atua em harmonia com a lei de progressão.
O mago negro, que atua contrariamente à natureza, perverte a força da vida dirigindo-a para baixo, através dos órgãos inferiores. O portal da cabeça está fechado para ele, mas ele se retira pelos pés, o cordão prateado estendendo-se através dos órgãos inferiores. Portanto, foi fácil para Lúcifer entrar no gabinete de Fausto, pois o pentagrama com duas pontas voltadas para ele representava o símbolo da magia negra, mas ao tentar sair depara com uma só ponta em sua direção, e então se amedronta diante do sinal da magia branca. Ele só podia sair pela porta inferior porque por ali é que havia entrado, por isso ficou preso quando essa porta inferior foi bloqueada.
De maneira análoga, Cristo era livre para escolher Seu veículo para entrar na Terra onde agora se acha confinado, mas uma vez escolhido o veículo de Jesus a este ficou limitado como único meio de sair dela. Se esse veículo houvesse sido destruído, Cristo teria de ficar enclausurado no globo até que a Terra se dissolvesse no caos. Isso seria uma calamidade imensurável, portanto o veículo usado por Ele está sendo guardado com o máximo cuidado pelos Irmãos Maiores.
Nesse meio tempo Jesus perdeu todo o crescimento anímico alcançado durante seus trinta anos na Terra, antes do batismo, e contido no veículo dado a Cristo. Isto foi e continua sendo um grande sacrifício feito por nós, mas redundará em glória maior no futuro, como todas as boas ações. Porque esse veículo, utilizado como foi, e a ser usado novamente por Cristo em Sua vinda para estabelecer e aperfeiçoar o Reino de Deus será tão espiritualizado e glorificado que, quando for devolvido a Jesus na época em que Cristo entregar o Reino ao Pai será também o mais maravilhoso de todos os veículos humanos. E, ainda que isto não tenha sido ensinado, o autor acredita que Jesus será, por isso mesmo, o mais alto fruto do Período Terrestre, seguido de Christian Rosenkreuz. Porque “nenhum homem tem maior amor do que aquele que dá a própria vida”[21] e dar não somente o Corpo Denso, mas também o Corpo Vital, e por tempo tão prolongado, certamente é o máximo dos sacrifícios.
F I M
[1] N.R.: Independentemente da inversão das estações, uma coisa que se mantém idêntica no Norte e no Sul: a distância maior ou menor, a que o Sol se encontra da Terra. No Solstício de Dezembro, o Sol se encontra mais próximo da Terra: a Terra é permeada mais fortemente pela aura do Sol Espiritual (inspiração de crescimento anímico nos seres humanos). No Solstício de Junho, a Terra no máximo afastamento do Sol: diminuição de espiritualidade com a intensificação de vitalidade física.
[2] N.R.: Rm 8:22
[3] N.R.: Jo 19:30
[4] O Solstício de Junho varia entre 20 e 21 de junho, dependendo do ano.
[5] N.R.: ou 20, dependendo do ano.
[6] N.R.: Mt 26:26-29
[7] N.R.: Também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi Monge e escritor alemão.
[8] N.R.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) – maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão.
[9] N.R.: ou Zurique é a maior cidade da Suíça, um país do hemisfério norte.
[10] N.R.: a Suíça fica no hemisfério norte, onde, em março, é a estação da primavera.
[11] N.R.: Jo 1:10
[12] N.R.: Jo 1:5
[13] N.R.: Jo 12:47
[14] N.R.: Jo 19:30
[15] N.R.: At 17:28
[16] N.R.: Jo 14:12
[17] N.R.: Jo 13:36
[18] N.R.: Valhala, Valíala, Valhalla ou Palácio dos Einherjar (em português “Palácio dos mortos heroicos”), na mitologia nórdica e nas religiões pagãs nórdicas, como a popular Ásatrú, é um palácio com enorme salão com 540 quartos — situado em Asgard e dominado pelo deus Odin — no qual metade dos guerreiros mais nobres e destemidos mortos em batalha são levados pelas valquírias após a morte para viverem com Odin (enquanto a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freia), onde participam de combates diários, para manter o exercício da luta e preparar-se para o dia de Ragnarök (em português “o dia do fim do mundo”).
[19] N.R.: Lc 12:48
[20] N.R.: Boletim Echoes de Mount Ecclesia – The Rosicrucian Fellowship.
[21] N.R.: Jo 15:13
FRATERNIDADE ROSACRUZ
“Queridos irmãos e irmãs:
Que as rosas floresçam em vossa cruz”
4. Todos respondem: “E na vossa também.”
5. Todos se sentam, menos o Oficiante.
6. Em seguida, o Oficiante começa a leitura do texto do Ritual:
Mais uma vez estamos no tempo da Páscoa. Mais uma vez atingimos o ato final do drama cósmico que envolve a descida do Raio do Cristo sobre a matéria da nossa Terra: o Nascimento Místico celebrado pelo Natal, a Morte Mística e a Libertação. O impulso de vida do Cristo Cósmico que penetrou na Terra da última vez teve o seu Nascimento Místico por ocasião do Natal, cumpriu a sua maravilhosa magia de fecundação, durante os meses decorridos entre o Natal e a atual Páscoa e está, agora, se libertando da Cruz da matéria para ascender novamente ao Trono do Pai, deixando a Terra revestida de vida para ser usada nas atividades físicas dos próximos meses. O Raio espiritual, emanado anualmente do Cristo Cósmico para revitalizar a vitalidade latente da Terra, está subindo ao Trono do Pai. Nessa parte do ano, uma vida nova, uma energia aumentada circula, com força irresistível, pelas veias e artérias de todas as coisas vivas inspirando-as, dando-lhes nova esperança, nova ambição e nova vida, impelindo-as a novas atividades por meio das quais aprenderão novas lições na escola da experiência. Estando os beneficiados conscientes ou inconscientes disso, essa energia superabundante revigora tudo aquilo que tem vida. Até as plantas a ela respondem com uma maior circulação da seiva, o que resulta em um crescimento adicional das folhas, das flores e dos frutos, por cujo intermédio essa onda de vida, presentemente, se manifesta e evolui para um estado de consciência superior.
Maravilhosas como essas manifestações físicas exteriores são e, ainda gloriosas que essas transformações possam parecer, já que convertem a Terra de um ambiente árido em um maravilhoso jardim florido, isso tudo é ofuscado pelas atividades espirituais que as acompanham. As passagens predominantes do drama cósmico são idênticas, no que diz respeito ao tempo, aos efeitos materiais do Sol nos quatro Signos Cardeais – Áries, Câncer, Libra e Capricórnio – pois os acontecimentos mais significativos ocorrem nos pontos equinociais e de solsticiais.
É realmente verdade que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. Fora d’Ele não pode haver existência alguma; vivemos em virtude de Sua vida; nos movemos e agimos por e através da Sua força; é o Seu poder que sustenta a nossa morada, a Terra, e sem os Seus esforços incansáveis e inabaláveis, o universo por si só se desintegraria. Aprendemos que o ser humano foi feito à semelhança de Deus e devemos compreender que, de acordo com a Lei de Analogia, temos certos poderes latentes dentro de nós, que são semelhantes àqueles que vemos tão poderosamente manifestados no trabalho da Divindade no universo. Isso nos faz ter um interesse particular no drama cósmico anual que envolve a morte e a ressurreição do Sol. A vida de Deus-Homem, Cristo Jesus, foi traçada em conformidade com a história solar e prefigura, de modo idêntico, tudo o que poderá suceder ao Homem-Deus de quem esse mesmo Cristo Jesus profetizou, quando disse: “As coisas que eu faço vós também as fareis, e maiores ainda; mas para onde eu vou, vós não podeis seguir-me ainda, porém seguir-me-eis mais tarde”.
A natureza é uma expressão simbólica de Deus. Ela nada faz em vão ou injustificadamente. Há um propósito por trás de tudo e de cada ato. Por isso deveríamos estar alertas e observar, cuidadosamente, os sinais nos céus, pois eles têm um significado profundo e importante no que diz respeito às nossas próprias vidas. A compreensão inteligente do seu propósito nos habilita a cooperar muito mais eficientemente com Deus nos Seus maravilhosos esforços para a emancipação da nossa raça humana do jugo das Leis da Natureza e para a nossa plena libertação, até atingirmos a estatura dos Filhos de Deus, coroados com a glória, as honras e a imortalidade e livres do poder do pecado, da doença e do sofrimento que, agora, encurtam nossas vidas devido à nossa ignorância e a nossa recusa em não se conformar com as Leis de Deus. O propósito divino visa essa emancipação, mas quer ele seja cumprido por meio do longo e tedioso processo da evolução, quer pelo caminho imensamente mais rápido da Iniciação, depende de nós se querermos ou não prestar a nossa cooperação.
Durante os últimos seis meses temos sido, progressivamente, impregnados com as vibrações espirituais que predomina em dezembro. Em setembro, essas vibrações espirituais começam a vir para nós como um novo impulso para a vida superior; esse impulso culminou na Noite Santa do Natal e tem produzido a sua magia nas nossas naturezas de acordo com a maneira pela qual aproveitamos as nossas oportunidades. De acordo com a nossa diligência ou o nosso descuido nesse período que passou, o nosso progresso será acelerado ou retardado no próximo, pois não há palavra mais verdadeira do que aquela que nos ensina que somos exatamente o resultado das nossas próprias ações. O serviço que prestamos ou o serviço que não prestamos determina se uma nova oportunidade para um maior serviço nos dará ou não um impulso adicional para os céus; e não será demais repetirmos que será inútil esperarmos a libertação da cruz da matéria, enquanto não tivermos aproveitado todas as nossas oportunidades aqui, e só depois disso receberemos, como retorno desse esforço, uma esfera de serviço mais ampla. Os “cravos” que pregaram o Cristo na Cruz do Calvário terão que traspassar a vocês e a mim, até que o impulso dinâmico do amor flua de nós em ondas que vão aumentando ritmicamente, como a maré de amor que anualmente penetra na Terra e a envolve com vida renovada.
Durante os três meses que passaram o Cristo sofreu as agonias da tortura, “gemendo, trabalhando dolorosamente e esperando pelo dia da libertação” que chega na ocasião em que as Igrejas ortodoxas chama da Semana da Paixão. Mas, nós sabemos que de acordo com os ensinamentos místicos essa semana é exatamente a culminação ou o ponto máximo do Seu sofrimento e que Ele, então, sairá da Sua prisão; que quando o Sol cruza o equador, Ele pende da Cruz e exclama: “Consummatum Est” – Está cumprido! Isso não é um grito de agonia. É um grito de triunfo, um brado de alegria, porque chegou a hora da libertação e, porque, mais uma vez, Ele pode se elevar, durante algum tempo, livre dos grilhões cristalizantes do nosso Planeta.
Deveríamos nos regozijar com Ele nesta hora grandiosa, gloriosa e triunfal; a hora da libertação, quando Ele exclama: “Está cumprido!”. Sintonizemos nossos corações com esse grande acontecimento cósmico; regozijemo-nos com o Cristo, nosso Salvador, porque, mais uma vez, o período do Seu Sacrifício anual foi completado; e sintamos gratidão, do mais profundo dos nossos corações, porque Ele está prestes a Se libertar dos grilhões da Terra; porque a vida que Ele agora espalhou pelo nosso Planeta é suficiente para nos conduzir até ao próximo Natal.
A vida é uma escola e por meio da aprendizagem de suas muitas lições a humanidade está, lentamente, evoluindo desde uma centelha divina até à Divindade. Se nós tivéssemos aprendido as lições da vida tal como nos foram dadas, não haveria a necessidade do grande sacrifício que foi feito pelo Espírito do Cristo, que é a encarnação do Amor, cujo sacrifício se repete anualmente. Pelo egoísmo, pela desobediência à Lei e pelas práticas do mal, rapidamente, cristalizamos não somente os nossos próprios Corpos, mas, também, a Terra em que vivemos, e o fizemos a tal ponto que ambos estavam se tornando inúteis como meios para a evolução. Quando nada mais nos poderia salvar dos resultados dos nossos próprios erros, o compassivo Cristo Se ofereceu e, também, ofereceu o Seu grande poder de amor para dissolver as condições cristalizadas dos corpos do ser humano e da Terra; e Ele não abandona a Terra por ocasião da Páscoa, enquanto Ele não deu tudo de Si mesmo.
Para aqueles que escolheram trabalhar consciente e inteligentemente com a Lei Cósmica, a Páscoa tem uma grande significância. Para estes, significa a libertação anual do Espírito de Cristo do constrangedor confinamento na Terra e Sua feliz ascensão ao Seu verdadeiro mundo, ao Seu verdadeiro lar, para lá permanecer por algum tempo, descansando no seio do Pai. A Páscoa representa para o Aspirante, também, o sinal anual que lhe é dado sobre as bases cósmicas das suas esperanças e aspirações. E se os olhos estiverem verdadeiramente abertos se verão hostes angélicas esperando, prontas para acompanhar o Cristo em Sua jornada celeste; se os ouvidos estiverem sintonizados com os sons celestiais, se ouvirão coros celestiais cantando Seus louvores em alegres hosanas ao Senhor Ressurgido. Quando considerada como um fato cósmico em conexão com a Lei de Analogia, que une o macrocosmo com o microcosmo, a Páscoa simboliza que, algum dia, todos nós alcançaremos a consciência cósmica e saberemos, positivamente e por nós mesmos, por nossa própria experiência, que a morte não existe, mas que o que assim parece é apenas uma transição para esferas superiores.
A Páscoa é um símbolo anual para fortalecer nossas almas nas obras do bem, para que possamos tecer o Dourado Manto Nupcial, necessário para nos tornarmos Filhos de Deus, no mais elevado e no mais santo sentido. É literalmente verdadeiro que a menos que andemos na Luz, como Deus está na Luz, não teremos Fraternidade; mas fazendo os sacrifícios e prestando os serviços que são necessários para que nós ajudemos a emancipação da nossa raça humana, construiremos o Corpo-Alma de radiante luz dourada, que é a substância especial emanada do e pelo Espírito do Sol, o Cristo Cósmico. Quando essa substância dourada nos tiver revestido com uma densidade suficiente, estaremos prontos para imitar o Sol da Páscoa e ascender para esferas mais elevadas.
Com esses ideais firmemente fixados em nossa Mente, o tempo da Páscoa se torna uma ocasião em que devemos revisar a nossa vida durante o ano precedente e tomarmos novas resoluções que, no próximo ano, sirvam para aumentar o nosso crescimento anímico. É a ocasião em que o símbolo do Sol ascendente nos deveria conduzir para uma perfeita realização do fato que somos apenas peregrinos e estranhos sobre a Terra; que, como Espíritos, o nosso lar real está no céu, e que devemos nos esforçar para aprender as lições nessa escola da vida, tão rapidamente quanto seja consistente com o serviço que devemos prestar. O Dia da Páscoa assinala a ressurreição e a libertação do Espírito de Cristo das vibrações inferiores da Terra, e essa libertação deveria nos fazer lembrar de esperarmos, constantemente, a alvorada do novo dia que nos libertará permanentemente das redes da matéria, do corpo de pecado e da morte, juntamente com todos os nossos irmãos do cativeiro. Nenhum Aspirante verdadeiro poderia conceber uma libertação que não incluísse a todos que estão na mesma situação.
Essa é uma tarefa gigantesca, cuja contemplação poderá desencorajar muito o mais valente coração e, se estivéssemos sós, ela não poderia ser realizada; as Hierarquias Divinas, que tem conduzido a humanidade no caminho da evolução, desde o início da nossa peregrinação, ainda estão ativas e trabalhando conosco a partir dos Seus próprios Mundos e, com o Seus auxílios estaremos, finalmente, habilitados para sermos capazes de cumprir essa elevação da humanidade, como um todo, e atingir uma realização individual de glória, honra e imortalidade. Tendo essa grande esperança dentro de nós, essa grande missão para cumprir no mundo, vamos trabalhar como jamais trabalhamos antes para nos tornarmos melhores homens e mulheres, de modo que possamos, com o nosso exemplo, despertar nos outros um desejo que conduza à uma vida que trará a libertação.
Concentremo-nos agora sobre Amor Divino e Serviço.
7. O período de concentração deve se prolongar por uns 5 minutos
8. Terminada a Concentração, o Oficiante cobre o Símbolo Rosacruz e acende as luzes
9. O Oficiante convida todos a se levantarem e a cantarem o Hino Rosacruz de Encerramento
10. O Oficiante profere a seguinte exortação de despedida:
“E agora, queridos irmãos e irmãs, que vamos partir de volta ao mundo material levemos a firme resolução de expressar, em nossas vidas diárias, os elevados ideais de espiritualidade que aqui recebemos, para que dia a dia nos tornemos melhores homens e mulheres, e mais dignos de sermos utilizados como colaboradores conscientes na obra benfeitora dos Irmãos Maiores, à Serviço da Humanidade”.
“QUE AS ROSAS FLORESÇAM EM VOSSA CRUZ”
11. Apaga-se a luz do Templo
(todos devem se retirar do Templo em silêncio)