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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Conceito Rosacruz do Cosmos ou Cristianismo Místico – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

Este livro fornece uma descrição completa dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, até o ponto onde podem ser tornados públicos, atualmente.

Ele contém um esboço abrangente do processo evolutivo do ser humano e do universo, correlacionando a ciência com a religião.

O autor recebeu esses Ensinamentos da Fraternidade Rosacruz pessoalmente, dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz.

É a sua última comunicação.

O Livro é um livro de estudos e consultas, portanto sua leitura é permanente para quem está trilhando Caminho de Desenvolvimento Espiritual da Fraternidade Rosacruz.

É dividido em 3 partes, a saber:

Parte I – trata dos Mundos Visível e Invisíveis, do Método da Evolução do Ser Humano, Renascimento e Lei de Causa e Efeito.

Parte II – trata do Esquema de Evolução, em geral, e da Evolução do Sistema Solar e da Terra, em particular.

Parte III – trata do Cristo e da Sua Missão, do Futuro Desenvolvimento do Ser Humano e da Iniciação, do Treinamento Esotérico e do Método Seguro de Adquirir o Conhecimento Direto.

1. Para fazer download ou imprimir (acesse aqui para ter acesso a todos os Diagramas do Livro):

Conceito Rosacruz do Cosmos – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

2. Para estudar no próprio site:

O CONCEITO

ROSACRUZ DO COSMOS

ou

CRISTIANISMO MÍSTICO

Um tratado elementar sobre

A Evolução Passada, a Constituição Presente e o Desenvolvimento Futuro do Ser Humano

Por

Max Heindel

(1865-1919)

Sua Mensagem e Missão:

Uma Mente Pura

Um Coração Nobre

Um Corpo São

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

3ª Edição em Inglês, editada por Max Heindel

6ª Edição em Inglês, editada por Max Heindel

1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

2ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

3ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

CREDO OU CRISTO?

Todas as Religiões são dádivas abençoadas de Deus
e Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Por Deus mandado para aliviar o que leva pesado fardo
e dar paz ao triste, ao pecador e ao que luta.

Eis que o Espírito Universal veio
a todas as igrejas; não a uma apenas;
no dia de Pentecostes uma língua de chama,
como um halo, brilhou sobre todos os Apóstolos.

Desde então, quais abutres famintos e vorazes,
temos combatido por um nome sem sentido
e procurado, com dogmas, editos, cultos ou credos,
enviar uns aos outros às chamas da fogueira inextinguível.

Está Cristo dividido? Foi Cephas ou Paulo
crucificado para salvar o Mundo?
Então, por que tantas divisões?
O amor de Cristo nos envolve a ambos, a mim e a ti.

Seu puro e doce amor não está confinado pelos credos
que separam e elevam muralhas.
Seu amor envolve e abraça toda a humanidade.
Não importa o nome que a Ele ou a nós mesmos, dermos.

Então, por que não seguimos a Sua palavra?
Por que nos atermos em credos que desunem?
Só uma coisa importa, atentemos:
é que cada coração seja repleto de amor fraternal


Só uma coisa o Mundo necessita conhecer:
apenas um bálsamo existe para curar toda a humana dor;
apenas um caminho há que conduz, acima, aos céus:
Este caminho é: a COMPAIXÃO e o AMOR.

Max Heindel

UMA PALAVRA AO SÁBIO

O fundador da Religião Cristã emitiu uma máxima oculta quando disse: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10:15). Todos os ocultistas reconhecem a imensa importância desse ensinamento de Cristo, e tratam de “vivê-lo” dia a dia.

Quando uma nova filosofia se apresenta ao Mundo é encarada de forma diferente pelas mais diversas pessoas. Algumas se apoderam avidamente de qualquer novo esforço filosófico, procurando ver em que proporção ele serve de apoio às suas próprias ideias. Para essas a filosofia em si mesma é de pouca valia. Terá valor se reforçar as SUAS ideias. Se a obra os satisfizer a esse respeito, adotá-la-ão entusiasticamente, a ela aderindo com o mais desarrazoado partidarismo. Caso contrário, afastarão o livro, aborrecidos e desapontados como se o autor os tivesse ofendido pessoalmente.

Outras adotam uma atitude cética tão logo descobrem que a obra contém alguma coisa a cujo respeito nada leram nem ouviram anteriormente, ou sobre a qual ainda não lhes ocorrera pensar. E, provavelmente, repelirão como extremamente injustificável a acusação de que sua atitude mental é o cúmulo da autossatisfação e da intolerância. Contudo, esse é o caso, e desse modo fecham suas Mentes à verdade que eventualmente possa estar contida naquilo no que rejeitam.

Ambas as classes se mantêm na sua própria luz. Suas ideias pré-estabelecidas os tornam invulneráveis aos raios da Verdade. A tal respeito “uma criança” é precisamente o oposto dos adultos, pois não está imbuída do sentimento dominador de superioridade, nem inclinada a tomar aparência de sábio ou ocultar, sob um sorriso ou um gracejo, sua ignorância em qualquer assunto. É ignorante com franqueza, não tem opiniões preconcebidas nem julga antecipadamente, portanto é eminentemente ensinável. Encara todas as coisas com essa formosa atitude de confiança a que denominamos “fé infantil”, na qual não existe sombra de dúvida, conservando os ensinamentos que recebe até comprovar para si mesmo a certeza ou o erro.

Em todas as escolas ocultistas o aluno é primeiramente ensinado a esquecer de tudo o que aprendeu ao lhe ser ministrado um novo ensinamento, a fim de que não predomine o juízo antecipado nem o da preferência, mas para que mantenha a Mente em estado de calma e de digna expectativa. Assim como o ceticismo efetivamente nos cega para a verdade, assim também essa calma atitude confiante da Mente permitirá à intuição ou “sabedoria interna” se apoderar da verdade contida na proposição. Essa é a única maneira de cultivar uma percepção absolutamente certa da verdade.

Não se pede ao aluno que admita de imediato ser negro determinado objeto que ele observou ser branco, ainda que se lhe afirme. se pede a ele sim, que cultive uma atitude mental suscetível de “admitir todas as coisas” como possíveis. Isto lhe permitirá pôr de lado momentaneamente até mesmo aquilo que geralmente se considera um “fato estabelecido”, e investigar se existe algum outro ponto de vista até então não notado sob o qual o objeto em referência possa parecer negro. Certamente ele nada considerará como fato estabelecido, porque compreenderá perfeitamente quanto é importante manter a sua Mente no estado fluídico de adaptabilidade que caracteriza a criança. Compreenderá, com todas as fibras do seu ser, que “agora vemos como em espelho, obscuramente” e, como Ajax, estará sempre alerta, anelando por “luz, mais luz”.

A grande vantagem dessa atitude mental quando se investiga determinado assunto, ideia ou objeto, é evidente. Afirmações que parecem positivas e inequivocamente contraditórias, e que causam intermináveis discussões entre os respectivos partidários, podem, não obstante, se conciliar, conforme se demonstra em exemplo mais adiante. Só a Mente aberta descobre o vínculo da concordância. Embora essa obra possa parecer diferente das outras, o autor solicitaria um auditório imparcial, como base, para julgamento subsequente. Se, ao ponderar esse livro, alguém o considerasse de pouco fundamento, o autor não se lamentaria. Teme unicamente um julgamento apressado e baseado na falta de conhecimento do sistema que ele advoga, ou que diga que a obra não tem fundamento, sem, previamente, lhe dedicar atenção imparcial. E deve acrescentar, ainda: a única opinião digna de ser levada em conta precisa se basear no conhecimento.

Há mais uma razão para que se tenha muito cuidado ao emitir um juízo: muitas pessoas têm suma dificuldade em se retratar de qualquer opinião prematuramente expressa. Portanto, se pede ao leitor que suspenda suas opiniões, de elogio ou de crítica, até que o estudo razoável da obra convença do seu mérito ou demérito.

O Conceito Rosacruz do Cosmos não é dogmático nem apela para qualquer autoridade que não seja a própria razão do Estudante. Não é uma controvérsia. Publica-se com a esperança de que possa ajudar a esclarecer algumas das dificuldades que no passado assediaram a Mente dos Estudantes das filosofias profundas. Todavia, a fim de evitar equívocos graves, deve ser firmemente gravado na Mente do Estudante que não há, sobre esse complicado assunto, qualquer revelação infalível que abranja tudo quanto está debaixo ou acima do sol.

Dizer que essa exposição é infalível seria o mesmo que pretender que o autor fosse onisciente. Até os próprios Irmãos Maiores nos dizem que eles mesmos se enganam, às vezes, nos juízos que fazem. Assim, está fora de qualquer discussão um livro que queira proferir a última palavra sobre o mistério do mundo, e é intenção do autor dessa obra apresentar apenas os ensinamentos mais elementares dos Rosacruzes.

A Fraternidade Rosacruz tem a concepção mais lógica e ampla sobre o mistério do mundo, e a tal respeito o autor adquiriu algum conhecimento durante os muitos anos que consagrou exclusivamente ao estudo do assunto. Pelo que pôde investigar por si próprio, os ensinamentos desse livro estão de acordo com os fatos tais como ele os conhece. Todavia, tem a convicção de que o Conceito Rosacruz do Cosmos está longe de ser a última palavra sobre esse assunto e de que, à medida que avançamos, se apresentam aos nossos olhos novos aspectos e se esclarecem muitas coisas que, antes, só víamos “como em espelho, obscuramente[1]. Ao mesmo tempo crê firmemente que todas as outras filosofias do futuro seguirão as linhas mestras dessa filosofia, por lhe parecerem absolutamente certas.

Ante o exposto, compreender-se-á claramente que o autor não considera essa obra como o Alfa e o Ômega, ou o máximo do conhecimento oculto. Embora tenha por título “O Conceito Rosacruz do Cosmos”, deseja o autor salientar com firmeza que essa filosofia não deve ser entendida como uma “crença entregue de uma vez para sempre” aos Rosacruzes pelo fundador da Ordem ou por qualquer outro indivíduo. Convém enfatizar que essa obra encerra apenas a compreensão do autor sobre os Ensinamentos Rosacruzes relativos ao mistério do mundo, revigorados por suas investigações pessoais nos mundos internos, a respeito dos estados pré-natal e pós-morte do ser humano, etc. O autor tem plena consciência da responsabilidade em que incorre quem, bem ou mal, guia intencionalmente a outrem, desejando ele se precaver contra tal contingência e, também, prevenir aos outros para que não venham a errar.

O que nessa obra se afirma deve ser aceito ou rejeitado pelo leitor segundo o seu próprio critério. se pôs todo o empenho em tornar compreensíveis os ensinamentos e foi necessário muito trabalho para poder expressá-los em palavras de fácil compreensão. Por esse motivo, em toda a obra se usa o mesmo termo para expressar a mesma ideia. A mesma palavra tem o mesmo significado em qualquer parte. Quando pela primeira vez o autor emprega uma palavra que expressa determinada ideia, apresenta a definição mais clara que lhe foi possível encontrar. Empregando as palavras mais simples e expressivas, o autor cuidou constantemente de apresentar descrições tão exatas e definidas quanto lhe permitia o assunto em apreço, a fim de eliminar qualquer ambiguidade e para apresentar tudo com clareza. O Estudante poderá julgar em que extensão o autor logrou o seu intento. Entretanto, tendo-se esforçado o possível para sugerir as ideias verdadeiras, se considera também na obrigação de se defender da possibilidade de a obra vir a ser considerada como uma exposição literal dos Ensinamentos Rosacruzes. Sem essa recomendação esse trabalho teria mais valor para alguns Estudantes, mas isto não seria justo nem para a Fraternidade nem para o leitor. Poder-se-ia manifestar certa tendência para atribuir à Fraternidade a responsabilidade dos erros que nesse trabalho, como em toda obra humana, possam ocorrer. Daí a razão dessa advertência.

Segundo uma narrativa hindu, aquele que tenha duas linhas semicirculares na palma da mão, na articulação exterior do polegar “leva consigo um grão de arroz”. Isto quer dizer que será bem recebido e hospitaleiramente tratado aonde quer que vá. O autor tem o sinal mencionado e, no seu caso, o prognóstico se cumpriu maravilhosamente. Em todos os lugares encontrou amigos, e por eles foi bem tratado. O mesmo aconteceu com o “Conceito Rosacruz do Cosmos”. A Dra. Alma Von Brandis facilitou os meios para a primeira aproximação com os Ensinamentos Rosacruzes. Comandante Kingsmill e Jessie Brewster auxiliaram-no lealmente na parte literária, Mrs. M. E. Rath Merril e Miss Allen Merril executaram certo número de desenhos, e quanto a Wm. M. Patterson não só prestou ao autor serviços pessoais, mas ainda prestou o seu auxílio financeiro para que esse livro pudesse ser oferecido pelo preço de custo. Esse trabalho foi, portanto, produzido com Amor. Ninguém, com ele relacionado, recebeu e deve receber um centavo de recompensa. Todos, desinteressadamente, deram tempo e dinheiro. Portanto, o autor deseja expressar todo o reconhecimento a eles, esperando que venham a encontrar outras e maiores oportunidades de exercerem os seus préstimos com igual desinteresse.

Max Heindel

Acréscimo nas Edições Posteriores: Durante os quatro anos decorridos, desde que foram escritos os parágrafos anteriores, o autor continuou suas investigações nos Mundos invisíveis e experimentou a expansão de consciência relativa a esses Reinos da natureza, o que se consegue mediante a prática dos preceitos ensinados pela Escola de Mistérios do Ocidente. Outros que também seguiram o método de desenvolvimento anímico aqui prescrito, e particularmente apropriado aos povos ocidentais, de igual modo foram capazes de constatar, por si mesmos, muitas das coisas expostas nessa obra. Desse modo o autor teve certa confirmação do que compreendera dos ensinamentos ditados pelos Irmãos Maiores, lhe parecendo que esses ensinamentos foram substancialmente corretos, pelo que se julga no dever de dar essa explicação para que sirva de estímulo aos que ainda não são capazes de ver por si próprios.

Seria mais exato dizer que o Corpo Vital é formado por prismas em vez de pontos, posto que, se refratando através desses minúsculos prismas é que o fluído solar incolor muda para um tom rosáceo, tal como outros escritores, além do autor, têm indicado.

Fizeram-se outras novas e importantes descobertas. Por exemplo: sabemos agora que em cada vida nasce um novo Cordão Prateado; que uma parte desse Cordão Prateado surge do Átomo-semente do Corpo de Desejos, situado no grande vórtice do fígado; que a outra parte surge do Átomo-semente do Corpo Denso, no coração; que as duas partes se encontram no Átomo-semente do Corpo Vital no Plexo Solar[2], e que essa união dos veículos superiores com os inferiores produz o despertar do feto. O desenvolvimento ulterior do Cordão entre o coração e o Plexo Solar, durante os primeiros sete anos, tem importante relação com o mistério da infância, assim como o seu maior desenvolvimento, do fígado ao Plexo Solar, que ocorre no segundo período setenário, é fator contribuinte para a adolescência. A formação total do Cordão Prateado marca o fim da vida infantil. A partir desse momento a energia solar que entra pelo baço, e que se cobre pela refração através do Átomo-semente prismático do Corpo Vital situado no Plexo Solar, começa a dar um colorido individual e característico à aura que observamos nos adultos.


[1] N.T.: ICor 13:12

[2] N.T.: Também chamado de Plexo Celíaco (vulgarmente conhecido como “boca do estômago”), um dos principais plexos responsáveis pela inervação de órgãos da porção retrodiafragmática do sistema digestório, principalmente do estômago, intestinos, glândulas anexas (fígado e pâncreas) e ainda contribui para a inervação do baço.

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Sumário

CREDO OU CRISTO?

UMA PALAVRA AO SÁBIO

INTRODUÇÃO

PRIMEIRA PARTE – CONSTITUIÇÃO ATUAL DO SER HUMANO E O MÉTODO DO SEU DESENVOLVIMENTO

CAPÍTULO I – OS MUNDOS: VISÍVEL E INVISÍVEIS

A Região Química do Mundo Físico

A Região Etérica do Mundo Físico

O Mundo do Desejo

O Mundo do Pensamento

CAPÍTULO II – OS QUATRO REINOS

CAPÍTULO III – O SER HUMANO E O MÉTODO DE EVOLUÇÃO

A Região Limítrofe

CAPÍTULO IV – O RENASCIMENTO E A LEI DE CONSEQUÊNCIA

Uma História Notável

SEGUNDA PARTE – COSMOGÊNESE E ANTROPOGÊNESE

CAPÍTULO V – A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM DEUS

CAPÍTULO VI – O ESQUEMA DE EVOLUÇÃO

O Princípio

Os Sete Períodos

CAPÍTULO VII – O CAMINHO DE EVOLUÇÃO

Revoluções e Noites Cósmicas

CAPÍTULO VIII – A OBRA DE EVOLUÇÃO

Recapitulação

CAPÍTULO IX – ATRASADOS E RECÉM-CHEGADOS

CAPÍTULO X – O PERÍODO TERRESTRE

CAPÍTULO XI – GÊNESE E EVOLUÇÃO DO NOSSO SISTEMA SOLAR

O Nascimento dos Planetas

CAPÍTULO XII – EVOLUÇÃO DA TERRA

A Lua – A Oitava Esfera

Nascimento do Indivíduo

Separação dos Sexos

Influência de Marte

As Raças e Seus Líderes

Influência de Mercúrio

A Raça Lemúrica

A “Queda do Homem”

Os Dezesseis Caminhos para a Destruição

CAPÍTULO XIII – RETORNO À BÍBLIA

CAPÍTULO XIV – ANÁLISE OCULTA DO GÊNESIS

No Princípio

A Teoria Nebular

As Hierarquias Criadoras

A Costela de Adão

A Mescla de Sangue no Casamento

A “Queda do Homem”

TERCEIRA PARTE – FUTURO DESENVOLVIMENTO E INICIAÇÃO DO SER HUMANO

CAPÍTULO XV – CRISTO E SUA MISSÃO

Não a Paz, mas uma Espada

O Coração, uma Anomalia

O Mistério do Gólgota

O Sangue Purificador

CAPÍTULO XVI – DESENVOLVIMENTO FUTURO E A INICIAÇÃO

Os Sete Dias da Criação

Espirais dentro de Espirais

A Palavra Criadora

CAPÍTULO XVII – MÉTODO PARA ADQUIRIR O CONHECIMENTO DIRETO

Os Primeiros Passos

Métodos Ocidentais para os Ocidentais

A Ciência da Nutrição

A Lei da Assimilação

Vivei e Deixai Viver

A Oração do Senhor

O Voto de Celibato

Como os Veículos Internos são construídos

CAPÍTULO XVIII – A CONSTITUIÇÃO DA TERRA E ERUPÇÕES VULCÂNICAS

O Número da Besta

CAPÍTULO XIX – CHRISTIAN ROSENKREUZ E A ORDEM DOS ROSACRUZES

Antigas Verdades em Novas Roupagens

A Fraternidade Rosacruz

O Simbolismo da Rosacruz

Exercícios Noturno e Matinal Efetuados Pelo Aspirante Rosacruz

Epílogo – O Poder de Cura Definitiva

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INTRODUÇÃO

O mundo ocidental é, sem dúvida, a vanguarda da Raça humana e, por motivos que indicaremos nas páginas seguintes, os Rosacruzes sustentam que nem o Judaísmo nem o “Cristianismo Popular”, mas sim o verdadeiro Cristianismo Esotérico será a Religião mundial.

Buda, grande e sublime, pode ser a “Luz da Ásia”, mas Cristo ainda será reconhecido como a “Luz do Mundo”. Assim como o Sol ofusca a luz das mais brilhantes estrelas nos céus e dissipa todo o vestígio de trevas, iluminando e vivificando todos os seres, assim, em futuro não muito distante, a verdadeira Religião de Cristo há de superar e anular todas as outras Religiões, para eterno benefício da Humanidade.

Em nossa civilização, o abismo que se abre entre a Mente e o Coração se torna maior e mais profundo e, enquanto a Mente voa de uma à outra descoberta nos domínios da ciência, o abismo se aprofunda e se amplia ainda mais, ficando o Coração cada vez mais distante. A Mente busca com ansiedade e se satisfaz apenas com explicações materialmente demonstráveis acerca do ser humano e demais seres do Mundo fenomenal. O Coração sente instintivamente que algo de maior existe, e anela por aquilo que pressente como verdade de ordem tão elevada que só pode ser compreendida pela Mente. A Alma humana subiria nas asas etéreas da intuição e banhar-se-ia na eterna fonte de luz espiritual e amor; mas os modernos pontos de vista científicos lhe cortaram as asas, deixando-a acorrentada e silenciosa, atormentada por aspirações insatisfeitas, tal como o abutre em relação ao fígado de Prometeu[1].

É necessário que seja assim? Não haverá um terreno comum onde possam se encontrar “Cabeça” e “Coração”, a fim de que, se ajudando mutuamente, possam se tornar mais eficientes na investigação da verdade universal, se satisfazendo por igual?

Tão seguramente como a luz preexistente criou o olho que a pudesse ver; tão seguramente como o desejo primordial de crescimento criou o sistema digestivo e assimilador para a consecução daquele fim; tão seguramente como o pensamento existiu antes do cérebro, construiu-o e continua construindo-o para sua expressão; tão seguramente como agora a Mente procura arrancar os segredos da natureza unicamente pela força da audácia, assim também o coração há de encontrar um meio de romper suas cadeias e satisfazer suas aspirações. Atualmente ele se encontra sujeito ao cérebro dominador. No entanto, algum dia adquirirá a força necessária para despedaçar os grilhões e se converter em um poder maior que a Mente.

É igualmente certo que não pode haver contradição na natureza, portanto o coração e a Mente devem ser capazes de se unir. O objetivo desse livro é, precisamente, mostrar como e onde a Mente, ajudada pela intuição do coração, pode penetrar nos mistérios do ser, muito mais profundamente do que cada um poderia fazê-lo por si só; mostrar como o coração, unido à Mente, pode ser defendido do erro, e como cada um tem plena liberdade de ação sem se violentarem mutuamente, mas ambos satisfazendo suas aspirações.

Só quando essa cooperação for alcançada e aperfeiçoada poderá o ser humano chegar a mais elevada e verdadeira compreensão de si próprio e do mundo de que é uma parte. Somente isso lhe poderá dar uma Mente ampla e um grande coração.

A cada nascimento passa a existir entre nós o que parece ser uma vida nova. Vemos a pequena forma viver e crescer, e se converter pouco a pouco em fator de nossas vidas durante dias, meses ou anos. Chega por fim um dia em que a forma morre e se decompõe. A vida que veio, não sabemos de onde, passa ao invisível além, e então com tristeza indagamo-nos: De onde veio? Por que esteve aqui? Para onde foi?

A forma esquelética da morte projeta sua horrenda sombra em todos os umbrais. Velhos ou jovens, sãos ou enfermos, ricos ou pobres, todos, todos nós devemos passar através dessa sombra, do modo que em todas as idades se tem escutado o clamor de angústia pela solução do enigma da vida – do enigma da morte.

Para a grande maioria da Humanidade as três grandes perguntas: “De onde viemos?”, “Por que estamos aqui?” e “Para onde vamos?” permanecem sem resposta até hoje. Lamentavelmente se formou a opinião, aceita pela maioria, de que nada podemos conhecer definitivamente sobre tais assuntos do mais profundo interesse para a Humanidade. Nada mais errôneo do que semelhante ideia. Todos e cada um, sem exceção, podem se tornar aptos para obter informações diretas e definidas sobre o assunto; podem pessoalmente investigar o estado do espírito humano tanto antes do nascimento como depois da morte. Não há favoritismo nem se requerem dons especiais. Todos temos, inerente, a faculdade de conhecer tudo isso, mas! – Sim, há um “mas”, e um “MAS” que deve ser escrito em maiúsculo. Essa faculdade está presente em todos, mas latente na maioria das pessoas. Requer um esforço persistente para despertá-la, embora isto pareça um poderoso dissuasivo. Se estas faculdades de “despertar e conscientizar” pudessem ser obtidas por meio do dinheiro, ainda que por preço elevado, muitos pagariam sem hesitação só para desfrutar dessa imensa vantagem sobre os seus semelhantes. Todavia, bem poucos são realmente os que se prestam a viver a vida necessária para despertá-las. Só um esforço paciente e perseverante pode realizar esse despertar, que não pode ser comprado nem atingido por caminhos fáceis.

Todos admitem que seja necessária prática para se aprender a tocar piano, e que seria inútil se pretender ser relojoeiro sem antes se passar pelo aprendizado. No entanto, quando se trata da Alma, da morte, do além ou das origens do ser, muitos creem saber tanto quanto qualquer outro e se avocam o direito de emitir opinião, apesar de nunca terem consagrado a tais assuntos ao menos uma hora de estudo.

É evidente que ninguém pode esperar que sua opinião sobre um assunto fosse considerada, se nele não é versado. Em assuntos jurídicos, quando são chamados peritos a opinar, se examina em primeiro lugar a sua competência. Sua opinião de nada valerá se não ficarem comprovados sua proficiência e conhecimento sobre o assunto em causa.

Todavia, se pelo estudo e prática eles são considerados aptos a emitir parecer digno de crédito, esse será acatado com o maior respeito e consideração. E se o testemunho de um perito é corroborado pelo de outros igualmente capacitados, aumenta mais o valor e a veracidade do quanto foi evidenciado pelos primeiros.

O testemunho irrefutável de tal perito vale muitíssimo mais do que o de uma dezena ou o de um milhão de pessoas que nada sabem do assunto, posto que o nada mesmo quando multiplicado por um milhão, sempre resulta em nada. Isto é tão certo em matemática como em qualquer outro assunto.

Como já afirmamos, acatamos prontamente argumentos dessa natureza quando se referem a assuntos materiais, mas quando se discutem coisas acima do Mundo dos sentidos[2], coisas sobre os Mundos suprafísicos, ou quando se tem de demonstrar as relações entre Deus e o ser humano, e explicar os mistérios mais íntimos da divina centelha imortal impropriamente chamada Alma, todos esperam que suas opiniões sejam ouvidas, que se dê toda consideração às suas ideias sobre coisas espirituais. E que lhes conceda tanto valor como às emitidas pelo sábio o qual, mediante uma vida paciente e laboriosa investigação, adquiriu sabedoria de tão elevadas coisas.

Ainda mais, muitos não se contentarão em pedir igual mérito às próprias opiniões, mas tentarão até escarnecer e ridicularizar as palavras do sábio, buscando impugnar o seu testemunho como fraudulento e, com a suprema confiança da mais profunda ignorância, afirmarão que como eles nada sabem sobre tal assunto é também absolutamente impossível que qualquer outra pessoa o saiba.

O ser humano que se conscientiza de sua ignorância deu o primeiro passo na direção do conhecimento.

O caminho para o conhecimento direto não é fácil. Nada realmente valioso se obtém sem esforço persistente. Nunca será demasiado repetir que não existem coisas tais como “dons” e “sorte”. Tudo o que somos ou possuímos é resultado de esforço. O que falta a um, em comparação com outro, está latente em si mesmo e pode ser desenvolvido quando se empregam os meios apropriados.

Se o leitor, que compreendeu bem essa ideia perguntar o que deve fazer para obter o conhecimento direto, terá na seguinte história a ideia fundamental do ocultismo:

Certo dia um jovem foi visitar um sábio, a quem perguntou: “Senhor, o que devo fazer para tornar-me um sábio? “. O sábio não se dignou responder. Depois de repetir a pergunta certo número de vezes sem melhor resultado, o jovem foi embora, mas voltou no dia seguinte com a mesma pergunta. Não obtendo resposta ainda, voltou pela terceira vez e novamente fez a pergunta: “Senhor, o que devo fazer para tornar-me um sábio?”.

Finalmente o sábio lhe deu ouvidos, e então desceu a um rio próximo. Entrou na água convidando o jovem e levando-o pela mão. Quando eles alcançaram certa profundidade o sábio, pondo todo seu peso sobre os ombros do rapaz, submergiu na água, apesar dos esforços que esse fazia para se livrar. Por fim o sábio largou-o, e quando o jovem recuperou alento lhe perguntou:

“Meu filho, quando estavas debaixo d’água o que mais desejavas?”.

O jovem respondeu sem hesitar: “Ar, ar! Eu queria ar!”.

“Não terias antes preferido riquezas, prazeres, poder ou amor, meu filho? Não pensaste em nenhuma dessas coisas?” – Indagou o sábio.

“Não, senhor! Eu desejava ar, só pensava no ar que me faltava” – Foi a resposta imediata.

“Então”, disse o sábio, “para te tornares sábio deves desejar a sabedoria com a mesma intensidade com que desejavas o ar. Deves lutar por ela e excluir de tua vida qualquer outro objetivo. Essa e só essa deve ser, dia e noite, tua única aspiração. Se buscares a sabedoria com esse fervor, meu filho, certamente tornar-te-ás sábio”.

Esse é o primeiro e fundamental requisito que todo Aspirante ao conhecimento oculto deve possuir – um desejo firme, uma sede abrasadora de conhecimento, e um entusiasmo insuperável para conquistá-lo. No entanto, o motivo supremo para a busca desse conhecimento oculto deve ser um desejo ardente de beneficiar a Humanidade, se esquecendo inteiramente de si mesmo, a fim de trabalhar para os outros. A não ser por essa motivação, o estudo do ocultismo é perigoso.

Sem possuir tais qualificações – especialmente a última – em certa medida, qualquer tentativa para seguir o caminho árduo do ocultismo seria um empreendimento perigoso. Outro pré-requisito para aspirar ao conhecimento direto é o estudo do ocultismo indiretamente. A investigação direta requer certos poderes ocultos que permitem estudar os assuntos relacionados com os estados pré-natal e pós-morte do ser humano, mas ninguém deve se desesperar por não ter desenvolvido ainda poderes ocultos para adquirir conhecimento direto sobre esses assuntos. Assim como uma pessoa pode conhecer a África indo lá pessoalmente ou lendo as descrições de viajantes que ali estiverem, assim também, para conhecer os Mundos suprafísicos, visita-os, se estiver habilitado para fazê-lo, ou estuda o que outros já capacitados contam como resultado de suas investigações.

Cristo disse: “a Verdade vos libertará”, mas a Verdade não é encontrada de uma vez e para sempre. A Verdade é eterna e eterna deve ser a sua busca. O ocultismo desconhece qualquer “crença transmitida de uma vez e para sempre”. Há certas verdades básicas que permanecem, mas que podem ser encaradas sob diversos ângulos, cada um apresentando um aspecto diferente que complementa os anteriores. Portanto, naquilo que até o presente podemos saber, não há meio possível de se chegar a última Verdade. Embora essa obra seja diferente de outras obras filosóficas, as diferenças resultam de pontos de vista também diferentes. Contudo, respeitosamente nos inclinamos ante as ideias e conclusões emitidas por outros investigadores. É sincero desejo do autor que o estudo das páginas seguintes possa tornar as ideias dos Estudantes mais completas e amplas do que eram antes.


[1] N.T.: Segundo Hesíodo foi dada a Prometeu e a seu irmão Epimeteu a tarefa de criar os homens e todos os animais. Epimeteu se encarregou da obra e Prometheus se encarregou de supervisioná-la. Na obra, Epimeteu atribuiu a cada animal os dons variados de coragem, força, rapidez, sagacidade; asas a um, garras outro, uma carapaça protegendo um terceiro, etc. Porém, quando chegou a vez do homem, formou-o do barro. Mas como Epimeteu gastou todos os recursos nos outros animais, recorreu a seu irmão Prometeu. Este então roubou o fogo dos deuses e deu-o aos homens. Isto assegurou a superioridade dos homens sobre os outros animais. Todavia o fogo era exclusivo dos deuses. Como castigo a Prometeu, Zeus ordenou a Hefesto que o acorrentasse no cume do monte Cáucaso, onde todos os dias uma águia (ou abutre) dilacerava seu fígado que, todos os dias, regenerava-se. Esse castigo devia durar 30 000 anos.

[2] N.R.: Região Química do Mundo Físico

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PRIMEIRA PARTECONSTITUIÇÃO ATUAL DO SER HUMANO E O MÉTODO DO SEU DESENVOLVIMENTO

CAPÍTULO I – OS MUNDOS: VISÍVEL E INVISÍVEIS

O primeiro passo no Ocultismo consiste no estudo dos Mundos invisíveis. Estes Mundos são invisíveis para a maioria das pessoas pelo fato de estarem adormecidos os sentidos sutis e superiores que lhes poderiam servir de meios de percepção, da mesma maneira que percebemos o Mundo Físico por meio dos sentidos físicos. Em relação aos Mundos suprafísicos, a maioria dos seres humanos se encontra em circunstâncias análogas às de um cego de nascença nesse Mundo dos sentidos; embora esteja envolvido pela luz e pela cor, ele é incapaz de percebê-las. Para ele não existem e são incompreensíveis, simplesmente porque lhe falta o sentido da visão, por meio da qual poderia vê-las. Os objetos que pode tocar lhe parecem reais, mas a luz e a cor estão fora de seu alcance.

Assim acontece com a maioria da Humanidade; sente e vê os objetos e ouve os sons do Mundo Físico, mas os outros Reinos a que o Clarividente chama de Mundos superiores, são lhe tão incompreensíveis como a luz e a cor são para o cego. Que o cego não possa ver a cor nem a luz não é argumento contra a sua existência e realidade. Nem é argumento dizer que é impossível ver os Mundos suprafísicos só porque a maioria da Humanidade também não o consegue. Se o cego recuperar a sua visão verá a luz e a cor. Se os sentidos superiores daqueles que atualmente estão cegos para os Mundos suprafísicos forem despertados pelos meios apropriados, também eles poderão contemplar os Mundos que atualmente lhes estão ocultos.

Assim como muitas pessoas erram quando descreem da existência ou realidade dos Mundos suprassensíveis, há outras que vão ao extremo oposto; convencidas da realidade dos Mundos invisíveis julgam que toda verdade é rapidamente acessível a um Clarividente que, podendo “ver”, conhece de imediato tudo o que “diz respeito” a esses Mundos superiores.

Nada mais errado. Prontamente reconhecemos a falácia de tal argumento se compararmos o assunto com outros da vida diária. Ninguém acredita que um ser humano nascido cego, e que depois obteve a visão, adquira a seguir e de uma só vez, “todo o conhecimento” do Mundo Físico. Ainda mais; sabemos que mesmo aqueles que puderam ver as coisas durante toda a vida estão muito longe de ter um conhecimento total deles. Para conhecermos apenas uma parte infinitesimal das coisas que lidamos na vida diária requer anos inteiros de aplicação e árduos estudos, e invertendo o aforismo Hermético “assim como é em cima, é embaixo”, concluímos obviamente que o mesmo deve acontecer nos outros Mundos. É certo que há muito mais facilidade em se adquirirem conhecimentos nos Mundos suprafísicos do que na condição física atual, mas não tão grande que elimine a necessidade de um estudo concentrado e a possibilidade de algum erro nas observações. De fato, o testemunho dos pesquisadores ocultistas competentes e qualificados prova que se deve prestar muito mais cuidado a observação lá do que aqui.

Os Clarividentes devem primeiro se exercitar a fim de que sua observação tenha um real valor, e quanto mais eficientes se tornam, tanto mais modestamente se manifestam a respeito daquilo que veem e tantas maiores deferências lhes merecem as versões alheias, sabendo quanto há para aprender e compreendendo quão pouco um único observador pode captar de todos os detalhes das coisas investigadas.

Isto também se aplica as versões diferentes, e que as pessoas superficiais julgam ser um argumento contra a existência dos Mundos superiores. Se tais Mundos existem, alegam, os investigadores deveriam descrevê-los de forma idêntica. Tomando-se um exemplo do cotidiano, se torna evidente a falácia de semelhante argumento.

Suponhamos que um jornal envie vinte repórteres a uma cidade para que façam reportagens descritivas dela. Os repórteres são ou devem ser, observadores treinados. Sua missão é ver tudo, e devem ser capazes de fazer tão boas reportagens sobre o assunto, como é justo e cabível esperar. Todavia, o mais provável é que dos vinte repórteres, nem dois apresentem descrições exatamente iguais da cidade. O mais provável é que sejam totalmente diferentes. Embora algumas delas possam conter em comum as características mais relevantes da cidade, outras podem ser singulares na qualidade e na quantidade da descrição.

Seria argumento contra a existência da cidade o fato das reportagens serem diferentes? Certamente que não! Diferem porque cada um viu a cidade segundo o seu próprio ponto de vista. se pode, portanto, dizer sem receio que tais diferenças, ao invés de confundirem e prejudicarem, tornaria mais fácil, e melhor a compreensão da cidade do que se lêssemos uma só e desprezássemos as outras. Cada reportagem ampliaria e complementaria, por sua vez, as outras.

A mesma coisa é aplicável aos relatos daqueles que investigam os Mundos superiores. Cada investigador tem sua maneira peculiar de observar as coisas e descrevê-las sob o seu ponto de vista particular. O relato apresentado por um pode ser diferente dos relatos dos outros, mas todos serão igualmente verdadeiros sob o ponto de vista individual de cada observador.

Às vezes surge a pergunta: para que investigar esses Mundos? Não seria melhor investigar um de cada vez, contentando-nos por enquanto com as lições que possamos aprender no Mundo Físico? E se realmente existem esses Mundos invisíveis, não é preferível esperar até que cheguemos a eles, sem nos preocuparmos desde já em investigá-los? “Basta a cada dia o seu mal!”. Para que mais?

Se soubermos com absoluta certeza de que um dia, cedo ou tarde, cada um de nós será conduzido a um país distante onde deverá viver durante muitos anos sob novas e diferentes condições, não é razoável acreditar que aceitaremos com prazer a oportunidade de conhecer antecipadamente alguma coisa sobre tal país? O conhecimento facilitar-nos-á a adaptação às novas condições de vida.

Na vida só uma coisa é certa: a morte! Quando passarmos para o além e enfrentarmos novas condições, o conhecimento que possuirmos delas ser-nos-á, sem dúvida, de grande auxílio.

No entanto, isto não é tudo. Para se compreender o Mundo Físico que é o Mundo dos efeitos, é necessário compreender os Mundos suprafísicos, que é o Mundo das causas. Vemos os bondes em movimento pelas ruas, escutamos o tilintar dos aparelhos telegráficos, mas a força misteriosa que causa esses fenômenos permanece invisível para nós. Dizemos se tratar da eletricidade, mas o nome nada explica. Nada sabemos da força em si mesma: vemos e ouvimos unicamente os seus efeitos.

Se colocarmos um prato de água gelada numa atmosfera de baixíssima temperatura, logo começarão a se formar cristais de gelo e poderemos observar o processo da formação desses cristais. As linhas em que a água se cristaliza foram, durante todo o tempo, linhas de força invisíveis até o momento do congelamento da água. As maravilhosas “flores de gelo”[1] em uma vidraça são manifestações visíveis das correntes dos Mundos superiores que atuam constantemente sobre nós e, embora ignoradas pela maioria, nem por isso são menos poderosas.

Os Mundos superiores são, portanto, os mundos das causas, das forças, de forma que não poderemos compreender bem esse Mundo inferior[2] sem conhecer os outros e sem compreender as forças e as causas, das quais todas as coisas materiais são meros efeitos.

Tais Mundos superiores, comparada a sua realidade com a do Mundo Físico, são na verdade, por estranho que pareça muito mais reais, e embora para a maioria sejam miragens, ou pelo menos pouco substanciais, certo é serem os objetos que neles se encontram muito mais permanentes e indestrutíveis do que os objetos do Mundo Físico. Isto será facilmente compreendido por meio de um exemplo. Na construção de uma casa, o arquiteto não começa adquirindo ao acaso os materiais necessários, e contratando os trabalhadores para levantarem-na, sem previamente idealizar ou traçar um plano de construção. Primeiramente ele “idealiza a casa”, que gradualmente assume uma forma em sua Mente. Finalmente surge uma ideia clara da casa, isto é, um pensamento-forma da casa.

A casa é ainda invisível para todos, menos para o arquiteto, que a torna objetiva no papel. Ele desenha o plano, e por meio dessa imagem objetiva do seu pensamento-forma os trabalhadores constroem a casa de madeira, de ferro, ou de pedra, exatamente de acordo com esse pensamento-forma originado pelo arquiteto. Assim o pensamento-forma se converte em realidade material.

O materialista afirmará que a casa construída é muito mais real, durável e substancial que sua imagem criada na Mente do arquiteto. No entanto, vejamos: A casa não poderia ter sido construída sem esse pensamento-forma. O objeto material pode ser destruído pela dinamite, pelo terremoto, pelo fogo ou pelo tempo, mas o pensamento-forma subsistirá. Subsistirá enquanto o arquiteto viver, e por meio desse pensamento poderão ser construídas inúmeras casas iguais àquela que foi destruída. Nem mesmo o próprio arquiteto poderia destruí-lo, pois até depois de sua morte esse seu pensamento-forma pode ser recuperado por aquele que, suficientemente desenvolvido, seja capaz de ler na Memória da Natureza, da qual nos ocuparemos mais adiante. Visto, portanto quanto é razoável a existência de tais Mundos, que existem em volta e perto de nós, convencidos de sua realidade, de sua permanência e da utilidade de um conhecimento acerca deles, examinemo-los distinta e separadamente, começando pelo Mundo Físico.


[1] N.T.: também chamado de “flores de geada” são formações também são conhecidas como faces de gelo, castelos de gelo ou cristalofolia. Tipos de flores de geada incluem: gelo agulha, pilares de geada ou colunas de geada, extrudados de poros no solo e fitas de gelo, geada de coelho ou gelo de coelho, extrudados de fissuras lineares em caules de plantas. Embora o termo “flor de gelo” também seja usado como sinônimo de fitas de gelo, também pode ser usado para descrever o fenômeno não relacionado da geada da janela. são finas camadas (talvez da espessura de um cartão de crédito) de gelo que são extrudadas através de fendas dos caules de plantas brancas ou amarelas, entre outras. Sua formação requer temperatura do ar congelante, solo úmido ou úmido, mas não congelado, e caule de uma planta que não tenha sido previamente congelado. (Praticamente falando, um evento uma vez por ano, embora nem todos os indivíduos produzam flores de geada no primeiro dia de boas condições). A água no caule da planta é puxada para cima por ação capilar do solo. Ele se expande à medida que congela e divide o caule verticalmente e congela em contato com o ar. À medida que mais água é retirada do solo através da divisão, ela expeli uma camada de gelo fina como papel para mais longe do caule. O comprimento da divisão determina se a flor da geada é uma faixa estreita ou larga de gelo. Ele se enrola de forma imprevisível à medida que é extrudado, talvez por atrito desigual ao longo dos lados da divisão, para formar “pétalas”. Essas flores, não há duas iguais, são frágeis e duram apenas até sublimarem ou derreterem.

[2] N.T.: a Região Química do Mundo Físico

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A Região Química do Mundo Físico

Nos Ensinamentos Rosacruzes, o Universo divide-se em sete diferentes Mundos ou estados de matéria, a saber:

1.Mundo de Deus

2.Mundo dos Espíritos Virginais

3.Mundo do Espírito Divino

4.Mundo do Espírito de Vida

5.Mundo do Pensamento

6.Mundo do Desejo

7.Mundo Físico

Essa divisão não é arbitrária, mas necessária, porque a substância de cada um desses Mundos está sujeita às leis que são praticamente inoperantes nos outros. Por exemplo, no Mundo Físico a matéria está sujeita à gravidade, à contração e à expansão. No Mundo do Desejo não existem frio nem calor, e as formas levitam tão facilmente como gravitam. Distância e tempo são fatores predominantes no Mundo Físico, mas quase inexistentes no Mundo do Desejo.

A matéria desses Mundos varia em densidade também, sendo o Mundo Físico o mais denso dos sete.

Cada Mundo subdivide-se em sete Regiões, ou subdivisões de matéria. No Mundo Físico os sólidos, os líquidos e os gases formam as três subdivisões mais densas, e as quatro restantes são constituídas por Éteres de densidades variadas. Nos outros Mundos são necessárias subdivisões idênticas porque a densidade da matéria de que são compostos não é uniforme.

Há ainda duas distinções a fazer. As três subdivisões densas do Mundo Físico (sólidos, líquidos e gases) constituem o que se chama de Região Química. A substância dessa Região é a base de todas as Formas densas.

O Éter também é matéria física. Não é homogêneo, como a ciência material afirma, mas existe em quatro estados diferentes. Constitui o meio de ingresso para o espírito vivificante, o qual infunde vitalidade às formas da Região Química. Essas quatro subdivisões mais sutis ou Etéricas do Mundo Físico constituem o que se conhece por Região Etérica.

No Mundo do Pensamento as três subdivisões superiores são a base do pensamento abstrato, daí o conjunto ser chamado Região do Pensamento Abstrato. As quatro subdivisões mais densas suprem a matéria mental com a qual incorporamos e concretizamos nossas ideias sendo, portanto, denominadas de Região do Pensamento Concreto.

A cuidadosa consideração dada pelo ocultista àquilo que caracteriza o Mundo Físico poderia parecer supérflua, não fosse o fato de ele encarar as coisas sob um ponto de vista amplamente diferente daquele do materialista. Esse reconhece apenas três estados de matéria: sólido, líquido e gases. Tais matérias são todas químicas, já que derivam dos componentes químicos da Terra. Dessa matéria química constituíram-se todas as formas: mineral, vegetal, animal e humana, daí serem esses Corpos tão químicos como as substâncias assim comumente chamadas. Portanto, quer consideremos a montanha, quer a nuvem que envolve o seu topo, a seiva da planta ou o sangue do animal, a teia de aranha, a asa de borboleta ou os ossos do elefante, o ar que respiramos ou a água que bebemos – tudo é composto da mesma substância química.

O que determina, pois, a conformação dessa substância básica nas múltiplas variedades de Formas que observamos ao nosso redor? É o Espírito Universal Uno, expressando-se a Si próprio no Mundo Visível sob a forma de quatro grandes correntes de Vida, em variados graus de desenvolvimento. Esse quádruplo impulso espiritual modela a matéria química da Terra na variedade de formas dos quatro Reinos: mineral, vegetal, animal e humano. Quando uma forma serviu ao seu propósito, como veículo de expressão para as três correntes superiores de vida, as forças químicas desintegram essa forma. Então a matéria pode voltar ao estado primordial, ficando assim em disponibilidade para a constituição de novas formas. Consequentemente, o espírito ou vida que modela a forma numa expressão de si mesmo é tão estranho ao material que usa como o carpinteiro é estranho e pessoalmente independente da casa que constrói para sua habitação.

Como todas as formas mineral, vegetal, animal e humana são químicas, logicamente deverão ser tão mortas e desprovidas de sensação como a matéria química no seu estado primitivo. Os Rosacruzes afirmam que sim.

Alguns cientistas sustentam haver sensação em toda a matéria, viva ou morta, pertencente a quaisquer dos quatro Reinos. Nessa afirmação incluem até, como capazes de sentir, as substâncias ordinariamente classificadas como minerais. E, como prova, apresentam diagramas com curvas de energia obtidas em experiências. Para outra classe de pesquisadores a sensação não existe nem mesmo no Corpo humano, excetuado o cérebro, que é a própria sede da sensação. Assim, dizem, se ferimos um dedo é o cérebro, não o dedo, que sente a dor. Dessa maneira, nesse como em outros pontos a casa da Ciência está dividida contra si mesma. A posição de cada oponente é parcialmente correta, dependendo do que se entenda por “sensação”. Se significar uma simples resposta aos impactos – tal como o rebote de uma bola de borracha atirada ao chão – é exato atribuir-se sensação ao mineral, à planta e aos tecidos animais. Contudo, se querem significar prazer e dor, amor e ódio, alegria e tristeza, seria absurdo atribuí-los às formas inferiores de vida, a um tecido orgânico solto, aos minerais em seu estado natural, ou mesmo ao cérebro, porque tais sentimentos são expressões do Espírito imortal autoconsciente. Já o cérebro é apenas o teclado do magnífico instrumento em que o espírito humano executa a sinfonia de sua vida, da mesma forma que um músico se expressa em seu violino.

Assim como há pessoas que são absolutamente incapazes de compreender a existência de Mundos superiores, outras há que, tendo-se relacionado com tais Reinos apenas superficialmente, habituam-se a menosprezar o Mundo Físico. Semelhante atitude é tão errônea quanto à do materialista. Os grandes e sábios Seres, que executam a vontade e os planos de Deus, colocaram-nos nesse Mundo Físico para aprendermos grandes e importantíssimas lições que só nestas condições seria possível aprender. É nosso dever, portanto, empregar o conhecimento que tenhamos dos Mundos superiores para aprender o melhor possível as lições que esse Mundo material tem para nos ensinar.

Em certo sentido, o Mundo Físico é uma espécie de Escola-Modelo ou um laboratório experimental, onde se aprende a trabalhar corretamente nos outros Mundos, conheçamos ou não a sua existência, o que prova a grande sabedoria dos criadores do plano. Se apenas conhecêssemos os Mundos superiores, cometeríamos muitos erros que só se revelariam quando as condições físicas fossem utilizadas como critério. Para ilustrar, imaginemos o caso de um inventor que idealiza uma máquina: primeiro ele a constrói em pensamento, mentalmente ele a vê completa e realizando com perfeição o trabalho para o qual foi planejada. Em seguida ele a desenha, e ao fazê-lo possivelmente julga necessária alguma modificação no modelo primitivo. Quando, a partir do desenho, dá-se por satisfeito ao ver sua ideia praticável, passa então a construir a máquina com o material apropriado.

Agora, é quase certo haver necessidade de novas modificações antes que a máquina funcione como se pretendia. Pode ainda ser necessário modificá-la totalmente, ou até mesmo concluir-se que o modelo, em seu todo e como se apresenta seja completamente inútil, deva ser rejeitado e um novo plano precise ser elaborado. Contudo, observe o seguinte, porque isto é importante: a nova ideia, ou plano, será reformulada para eliminar os defeitos da máquina primitiva. E se não fosse construída uma máquina material que evidenciasse os defeitos da primeira ideia, uma segunda e correta ideia não poderia ser formulada.

Isto se aplica, igualmente, a todas as condições da vida: sociais, comerciais e filantrópicas. Muitos projetos, parecendo excelentes a quem os concebe e continuando a parecer bons quando trasladados para o papel, ao serem experimentados na prática frequentemente falham. Isto, porém, não deve desanimar-nos. É certo que “aprendemos mais com os nossos erros do que com os nossos êxitos”. Devemos, pois contemplar o Mundo Físico através da luz apropriada; considerá-lo uma valiosa escola de experiências, onde aprendemos lições da mais alta importância.

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A Região Etérica do Mundo Físico

Logo que entramos nesse Reino da Natureza, estamos num Mundo invisível e intangível, onde os nossos sentidos comuns são inoperantes. Daí ser essa parte do Mundo Físico praticamente inexplorável pela ciência material.

O ar é invisível, mas a ciência moderna sabe que existe. Por meio de instrumentos pode medir sua velocidade como vento, e pela compressão pode torná-lo visível como ar líquido. Com o Éter, porém, isto não é tão fácil. A ciência material admite-o como necessário de algum modo para a transmissão da energia elétrica com ou sem fios. Por isso se viu obrigada a enunciar como postulado a existência de uma substância mais sutil do que as conhecidas, à qual chamou “Éter”. Não sabe realmente que o Éter existe porque, até o momento, a engenhosidade dos cientistas não pôde ainda inventar um recipiente capaz de confinar essa substância, que é no seu todo demasiado esquivo aos “magos de laboratório” da atualidade. Com efeito, eles não podem medi-la, pesá-la ou analisá-la com os aparelhos de que dispõem atualmente.

Por certo são maravilhosas as conquistas da ciência moderna. Contudo, a melhor forma de conhecer os segredos da natureza não é inventar instrumentos, mas sim o investigador se aperfeiçoar a si mesmo. O ser humano tem em si faculdades que eliminam a distância, e em grau muito maior do que os mais potentes telescópios e microscópios podem consegui-lo em comparação com o olho nu. Esses sentidos ou faculdades são os meios de investigação usados pelos ocultistas, sendo também por assim dizer, o “abre-te Sésamo” na procura da verdade.

Para o Clarividente exercitado o Éter é tão tangível como os sólidos, os líquidos e os gases da Região Química o são para o ser humano comum. Ele vê as forças vitais – que dão vida às formas minerais, vegetais, animais e humanas – fluindo nestas formas por meio de quatro estados de Éter. Os nomes e funções específicas desses quatro Éteres são os seguintes:

-Éter Químico: Esse Éter é, simultaneamente, positivo e negativo em suas manifestações. As forças que produzem a assimilação e a excreção agem por seu intermédio. Assimilação é o processo por meio do qual os diferentes elementos nutritivos do alimento são incorporados no Corpo da planta, do animal ou do ser humano. Essa operação é levada a efeito por forças que conheceremos mais adiante. Elas agem pelo polo positivo do Éter Químico, atraindo os elementos necessários e modelando-os em formas apropriadas. Tais forças não atuam cega ou mecanicamente, mas de modo seletivo (muito conhecido dos cientistas por seus efeitos), realizando assim o seu propósito, que é o crescimento e a manutenção do Corpo. A excreção é efetuada por forças da mesma espécie, mas atuantes pelo polo negativo do Éter Químico. Por meio desse polo são expelidos do Corpo os materiais que, contidos no alimento, são impróprios para o seu uso ou que, tendo prestado toda a utilidade ao organismo, devem ser eliminados do sistema. Estes processos, como todos os independentes da vontade humana, são também sábios, seletivos e não exclusivamente mecânicos em sua atuação, o que se pode verificar, por exemplo, na ação dos rins. Quando estes órgãos estão sadios só a urina é filtrada, mas sabe-se que quando estão doentes a valiosa albumina escapa também com a urina. Assim, não há seleção apropriada em consequência dessa condição anormal.

-Éter de Vida: Assim como o Éter Químico é o meio que possibilita a ação das forças que mantêm a forma individual, assim também o Éter de Vida é o meio pelo qual atuam as forças de propagação, cujo objetivo é a manutenção das espécies.

Como o Éter Químico, esse Éter tem também seus polos positivo e negativo. As forças que trabalham pelo polo positivo são aquelas que atuam na fêmea durante o período de gestação, capacitando-a para o trabalho ativo e positivo de formação de um novo ser. Por outro lado, as forças que trabalham pelo polo negativo do Éter de Vida dão ao macho a capacidade de produzir o sêmen.

No trabalho de impregnação dos óvulos animal e humano, bem como no da semente da planta, as forças que atuam pelo polo positivo do Éter de Vida produzem plantas, animais e seres humanos do sexo masculino, enquanto as forças que se expressam pelo polo negativo geram fêmeas.

-Éter de Luz: Esse Éter é também positivo e negativo. As forças que atuam pelo seu polo positivo são as que geram o calor do sangue nos animais superiores e no ser humano, convertendo-os em fontes individuais de calor. As forças que atuam pelo seu polo negativo operam através dos sentidos, se manifestando como funções passivas de visão, audição, tato, olfato e paladar. São também as que constroem e nutrem os olhos.

Nos animais de sangue frio, o polo positivo do Éter de Luz é o veículo das forças que fazem circular o sangue. Quanto às forças negativas, estas atuam do mesmo modo que nos animais superiores ou no ser humano com relação aos olhos. Onde estes não existem, as forças que trabalham pelo polo negativo do Éter de Luz, possivelmente, constroem e nutrem outros órgãos sensoriais, conforme o faz em tudo o que possui tais órgãos.

Nas plantas, as forças que atuam pelo polo positivo desse Éter de Luz produzem a circulação da seiva. Portanto no inverno, quando o Éter de Luz carece de Luz solar, a seiva deixa de fluir, até que o Sol do verão volte a recarregá-lo com sua força. As forças que atuam pelo polo negativo do Éter de Luz formam a clorofila – a substância verde das plantas – e, também, cobrem as flores. Numa palavra, todas as cores de qualquer Reino da Natureza são criadas mediante a ação do polo negativo do Éter de Luz. Por esse motivo os animais têm as cores mais acentuadas no dorso, e as flores as têm no lado mais exposto à luz solar. Nas regiões polares da Terra, onde os raios do Sol são mais fracos, todas as cores são atenuadas. No caso de alguns animais elas se acham tão parcamente formadas que no inverno chegam a desaparecer, ficando brancos esses animais.

-Éter Refletor: Afirmamos, anteriormente, que a ideia de uma casa, que existia como imagem mental, pode ser recuperada da Memória da Natureza mesmo após a morte do arquiteto. Todo acontecimento deixa, depois de si, sua imagem indelével nesse Éter Refletor. Assim como os gigantescos fetos da infância da Terra deixaram suas marcas no carvão petrificado, e tal como a marcha de uma geleira de eras remotas pode ser determinada pelos sinais que deixou nas rochas, assim também os pensamentos e atos de todos os seres humanos são gravados indelevelmente pela Natureza nesse Éter Refletor, onde o vidente treinado pode ler a história de cada um com exatidão proporcional à sua habilidade.

Por mais de uma razão o Éter Refletor é assim denominado, pois as imagens nele encontradas são apenas reflexos da Memória da Natureza. A verdadeira Memória da Natureza se encontra em Reino muito mais elevado. Nenhum Clarividente muito desenvolvido se preocupa em ler esse Éter, que apresenta imagens nebulosas e vagas comparadas com as do Reino superior. Nesse Éter Refletor leem os que não têm escolha, os que na realidade não sabem em que estão lendo. Como de regra, os psicômetras e os médiuns obtêm suas informações nesse Éter. Até certo ponto o Estudante das escolas ocultistas, nos primeiros estágios do seu desenvolvimento, também investiga nesse Éter Refletor, mas é prevenido pelo instrutor da insuficiência do mesmo como meio de adquirir informações corretas, o que evita que ele venha a tirar conclusões erradas.

Esse Éter é também o meio pelo qual o pensamento impressiona o cérebro humano. Está intimamente relacionado com a quarta subdivisão do Mundo do Pensamento, a mais elevada das quatro subdivisões contidas na Região do Pensamento Concreto – a pátria da Mente humana. Ali se encontra uma versão muito mais clara da Memória da Natureza do que no Éter Refletor.

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O Mundo do Desejo

Como o Mundo Físico e qualquer outro Reino da Natureza, o Mundo do Desejo tem sete subdivisões, denominadas “Regiões”, mas não tem como o Mundo Físico, as grandes divisões correspondentes às Regiões: Química e Etérica. A matéria de desejos no Mundo do Desejo persiste através das suas sete subdivisões ou regiões, como substância para a concretização dos desejos. Assim como a Região Química é o Reino da forma e assim como a Região Etérica é o lar das forças que conduzem as atividades vitais nessas formas, capacitando-as a viver, se mover e se propagar, assim também as forças do Mundo do Desejo, trabalhando no Corpo Denso despertado, impelem-na a se mover em tal ou qual direção.

Se ali existissem apenas as atividades das Regiões Química e Etérica do Mundo Físico, então haveria formas vivas capazes de se mover, mas sem qualquer incentivo para tal. Esse incentivo é proporcionado pelas forças cósmicas ativas no Mundo do Desejo, e sem essa atividade que atua em todas as fibras do corpo vitalizado, impelindo-o a agir nessa ou naquela direção, não haveria experiência nem crescimento moral. As funções dos diferentes Éteres cuidariam do crescimento da forma, mas o desenvolvimento moral ficaria totalmente omisso. A evolução seria impossível tanto para a vida como para as formas, porque estas últimas só evoluem para estágios superiores em razão das sucessivas exigências do crescimento espiritual. Vemos assim a grande importância desse Reino da natureza.

Desejos, aspirações, paixões e sentimentos se expressam na matéria das diferentes Regiões do Mundo do Desejo, como as formas e aspectos se expressam na Região Química do Mundo Físico. Tomam formas que duram mais ou menos tempo, de acordo com a intensidade do desejo, da aspiração ou do sentimento que encerram. No Mundo do Desejo a distinção entre força e matéria não é tão definida e aparente como no Mundo Físico. se pode dizer até que ali as ideias de força e matéria são idênticas ou permutáveis. Não é propriamente assim, mas podemos afirmar que até certo ponto o Mundo do Desejo se compõe de força-matéria.

Embora seja certo que a matéria do Mundo do Desejo é um grau menos densa do que a matéria do Mundo Físico, não devemos absolutamente imaginar que tal matéria seja matéria física sutilizada. Essa ideia, muito embora defendida por alguns que estudaram as filosofias ocultas, é absolutamente errônea, e é causada principalmente pela dificuldade em se dar descrições completas e claras, necessárias a uma perfeita compreensão dos Mundos superiores. Infelizmente nossa linguagem, feita para descrever as coisas materiais, é completamente inadequada para descrever as condições dos Reinos suprafísicos. Consequentemente, tudo o que se diz sobre esses Reinos deve ser tomado mais como semelhança do que como descrição exata.

Embora a montanha e a margarida, o ser humano, o cavalo e uma barra de ferro sejam compostos de uma única e final substância atômica, isto não quer significar que a margarida seja uma forma de ferro mais sutil. Semelhantemente, é impossível explicar com palavras a mudança ou diferença que ocorre na matéria física quando convertida em matéria de desejos. Se não houvesse tal diferença, a última estaria sujeita às leis do Mundo Físico, o que de fato não acontece.

A lei que rege a matéria da Região Química é a da inércia, ou seja, a tendência a permanecer em status quo. É necessária certa soma de força para se vencer essa inércia e se movimentar um Corpo em repouso, ou para se deter outro que esteja em movimento. Tal não acontece com a matéria do Mundo do Desejo. Essa matéria em si própria é quase vivente. Está em movimento incessante, fluídico, tomando todas as formas imagináveis e inimagináveis, com inconcebível facilidade e rapidez, brilhando ao mesmo tempo com milhares de cores coruscantes, sem termo de comparação com qualquer coisa que conhecemos nesse estado físico de consciência. As irradiações iridescentes de uma concha de nácar[1] em movimento sob a luz do Sol dar-nos-iam talvez uma pálida ideia dessa matéria.

Isto é o Mundo do Desejo: luz e cor sempre cambiantes, onde as forças do animal e do ser humano se misturam com as forças de inumeráveis Hierarquias de seres espirituais que não aparecem no Mundo Físico, mas que são tão ativas no Mundo do Desejo como nós o somos aqui. De algumas delas falaremos mais adiante, assim como de sua relação com a evolução do ser humano.

As forças emitidas por essa vasta e variada hoste de Seres modelam a matéria mutável do Mundo do Desejo em inúmeras e diferentes formas de maior ou menor durabilidade, de acordo com a energia cinética do impulso que lhes deu origem.

Como é difícil ao neófito que acaba de abrir os olhos internos encontrar seu equilíbrio no Mundo do Desejo. O Clarividente treinado logo deixa de se espantar com as descrições impossíveis fornecidas pelos médiuns. Esses podem ser perfeitamente honestos, mas as possibilidades de paralaxe e a dificuldade de conseguirem um foco perfeito de visão são tão grandes e de natureza tão sutil que seria surpreendente se pudessem apresentar uma descrição correta. Todos nós, na infância, tivemos que aprender a ver, conforme podemos comprovar observando um bebê: por ser totalmente incapaz de avaliar distâncias, ele tenta de igual modo alcançar objetos no outro lado da sala, na rua, ou na Lua. O cego que acaba de recuperar a visão, de início, muitas vezes, fecha os olhos para ir de um lugar a outro. E até que aprenda a usar seus olhos, lhe é mais fácil se guiar pelos outros sentidos do que pela visão. Da mesma forma aquele, cujos órgãos internos de percepção foram vivificados, deve se exercitar para usar com acerto a nova faculdade. A princípio o neófito tentará aplicar no Mundo do Desejo os conhecimentos derivados da sua experiência no Mundo Físico. Isso por não ter aprendido ainda as leis dos Mundos em que está penetrando, que é um manancial de toda espécie de perturbações e perplexidade. Portanto, antes que possa entender, deve se tornar como uma criança, que assimila o conhecimento sem se preocupar com experiências anteriores.

Para se chegar à compreensão exata do Mundo do Desejo é preciso compreender que esse é o Mundo dos Sentimentos, Desejos e Emoções, que estão sob o domínio de duas grandes forças: Atração e Repulsão. Essas forças atuam nas três Regiões mais densas do Mundo do Desejo de modo diferente daquele em que agem nas três Regiões mais sutis ou superiores. A Região Central pode ser chamada de neutra.

Essa Região Central é a Região do Sentimento. Aqui o interesse ou a indiferença por alguma ideia ou objeto produz o desequilíbrio em favor de uma ou outra das forças já mencionadas, relegando assim, o objeto ou ideia às três Regiões superiores ou às três Regiões inferiores do Mundo do Desejo, ou mesmo expulsando-as dali. Vejamos, agora, como isso se realiza.

Na substância mais fina e sutil das três Regiões superiores do Mundo do Desejo só a Força de Atração atua, embora ela também se encontre presente em certo grau na matéria mais densa das três Regiões inferiores, onde atua contra a força de Repulsão que ali domina. A desintegrante Força de Repulsão destruiria, de imediato, qualquer forma que entrasse nessas três Regiões inferiores, não fora a ação neutralizadora daquela. Na Região mais densa e mais inferior, onde é mais poderosa, a Força de Repulsão agita e dissolve violentamente as formas ali constituídas, ainda que não seja uma força vandálica. Nada é vandálico na Natureza. Tudo que assim parece trabalha apenas para o bem, o que sucede com essa força em sua ação na Região mais inferior do Mundo do Desejo. As formas que ali se encontram são criações demoníacas, construídas pelas paixões e desejos mais brutais dos animais e do ser humano.

A tendência de todas as formas no Mundo do Desejo é atrair para si as de natureza semelhante, e consequentemente crescer. Se esta tendência para a atração fosse predominante nas Regiões inferiores, o mal cresceria como o joio e, a anarquia, em vez da ordem, predominaria no Cosmos. Isso é evitado pela preponderante Força de Repulsão nessa Região. Quando uma forma criada por um desejo brutal é atraída para outra da mesma natureza, cada uma exerce sobre a semelhante um efeito desintegrante, produto da desarmonia existente nas respectivas vibrações. Assim, em vez de se fundirem mal com mal, mutuamente eles se destroem, e desse modo o mal no mundo se conserva dentro de limites razoáveis. Quando compreendemos o efeito destas duas forças gêmeas em ação, podemos também entender a máxima ocultista que diz: “uma mentira no Mundo do Desejo é, ao mesmo tempo, assassina e suicida”.

Tudo quanto sucede no Mundo Físico é refletido em todos os outros Reinos da Natureza e, como vimos, cria sua forma apropriada no Mundo do Desejo. Quando se descreve com exatidão um acontecimento, é construída no Mundo do Desejo uma forma exatamente igual à descrita. Uma atrai a outra, se juntam e mutuamente se fortificam. Todavia, se for dada versão diferente ou falsa, se produz uma forma diferente, contrária à primeira, ou seja, à verdadeira. Convergentes no mesmo assunto unem-se, mas como as vibrações são diferentes atuam uma sobre a outra de maneira mutuamente destruidora. Portanto, o mal e as mentiras maliciosas quanto mais fortes e amiúde repetidos podem destruir o que é bom. Contudo, pelo contrário, se buscarmos o bem no mal, com o tempo o mal acabará se transformando em bem. Se a forma que se constrói para diminuir o mal é fraca, não terá efeito algum e será destruída pela forma maligna; mas se é forte e repetida frequentemente, sua ação desintegrará o mal e substitui-lo-á pelo bem. Esse resultado, bem entendido, não se alcança lutando contra o mal, nem o negando ou mentindo, mas sim procurando o bem. O ocultista científico pratica rigidamente o princípio de procurar o bem em todas as coisas, por saber quanto poder tem esse princípio para reprimir o mal.

Conta-se algo de Cristo que ilustra esse ponto. Uma vez, caminhando com Seus Discípulos passaram pelo cadáver de um cachorro em estado de putrefação. Os Discípulos voltaram o rosto, comentando com aborrecimento o nauseante espetáculo, mas Cristo olhou o cadáver e disse: “As pérolas são menos alvas que seus dentes”. Ele estava determinado a encontrar o bem naquilo, pois sabia do benéfico efeito que produziria no Mundo do Desejo ao lhe dar expressão.

A Região mais inferior do Mundo do Desejo é chamada “Região da Paixão e do Desejo Sensual”. A segunda subdivisão é mais bem descrita por “Região da Impressionabilidade”. Aqui o efeito das forças gêmeas (Atração e Repulsão) é bem equilibrado. Essa é uma Região neutra, daí todas as nossas impressões, formadas por matéria dessa Região, serem também neutras. Somente quando os sentimentos gêmeos da quarta Região entram em ação, é que as forças gêmeas começam a atuar. A mera impressão de alguma coisa em si ou de si mesmo é inteiramente separada do sentimento gerado. Tais impressões são neutras e constituem uma atividade da segunda Região do Mundo do Desejo, onde as imagens se formam pelas forças de percepção sensorial do Corpo Vital do ser humano.

Na terceira Região do Mundo do Desejo a Força de Atração, integrante e construtiva, se sobrepõe à tendência destruidora da Força de Repulsão. Se compreendermos que a mola, o motivo da Força de Repulsão é a afirmação de si mesma, pelo que repele todas as demais, podemos entender por que a substância da terceira Região do Mundo do Desejo, dominada principalmente pela Força de Atração, abre caminho aos desejos de outras coisas, mas de uma maneira egoísta. Por isso é chamada “Região dos Desejos”.

A Região da Paixão e do Desejo Sensual pode se comparar aos sólidos do Mundo Físico; a Região da Impressionabilidade aos fluidos e a Região dos Desejos, de natureza flutuante e evanescente, pode se comparar à parte gasosa do Mundo Físico. Estas três Regiões proporcionam, para as formas, a substância necessária à experiência, ao crescimento anímico e à evolução, purificando-as completamente e retendo os materiais que podem ser utilizados para o progresso.

A quarta Região do Mundo do Desejo é a “Região do Sentimento”. Dela surgem os sentimentos relativos às formas já descritas e, dos sentimentos por elas gerados, depende a vida que terão e, também, o efeito que exercerão sobre nós. Nesse estágio não importa que os objetos ou ideias sejam bons ou maus. Nosso sentimento, seja de Interesse seja de Indiferença, é aqui o fator determinante do destino do objeto ou da ideia.

Se o sentimento produzido pela impressão de um objeto ou de uma ideia é de Interesse, tal sentimento tem sobre essa impressão o mesmo efeito que a luz solar e o ar sobre a planta. Tal ideia crescerá e florescerá em nossas vidas. Se, ao contrário, o sentimento produzido por uma impressão é de Indiferença, essa impressão murchará como uma planta posta em sótão escuro.

Assim, dessa Região Central do Mundo do Desejo vem o incentivo para a ação ou a deliberação para refreá-la (ainda que essa última seja também uma ação aos olhos do ocultista cientista), pois em nosso presente estágio de desenvolvimento, os sentimentos gêmeos Interesse e Indiferença proporcionam o incentivo para a ação e são as molas que movem o mundo. Em estágio ulterior de desenvolvimento esses sentimentos deixarão de ter importância. Então, o fator determinante será o dever.

O Interesse desperta as Forças de Atração ou as de Repulsão.

A Indiferença simplesmente enfraquece o objeto ou ideia aos quais se endereça, pelo menos no que tange à nossa ligação com ele.

Se nosso interesse por um objeto ou ideia gera a Repulsão, isso naturalmente leva-nos a cortar, de nossas vidas, qualquer conexão com esse objeto ou ideia que a despertou. Contudo, existe uma grande diferença entre a ação da Força de Repulsão e o simples sentimento de Indiferença. Talvez uma ilustração torne mais clara a atuação dos sentimentos gêmeos e das Forças gêmeas.

Suponhamos que três homens vão por um caminho e encontram um cachorro doente, coberto de chagas, sofrendo intensamente com dores e sede.  É uma evidência para os três homens – os seus sentidos assim o dizem. Agora, vem o sentimento. Dois desses homens têm “interesse” pelo animal, mas no terceiro se produz um sentimento de “indiferença”. Esse se afasta deixando o cão entregue ao seu destino. Os outros dois detêm-se: ambos estão interessados, mas cada um se manifesta de maneira bastante diferente. O interesse de um homem lhe desperta a simpatia e o desejo de socorrer, impelindo-o a ajudar o pobre animal, a lhe mitigar a dor, a curá-lo. Nele o sentimento de Interesse despertou a Força de Atração. O Interesse do outro homem é de natureza diferente: ele vê apenas um espetáculo repugnante que lhe provoca náuseas, dele desejando se livrar e livrar ao mundo o mais rapidamente possível. Aconselha, pois que matem o animal e o enterrem. Nesse o Interesse gera a força destrutiva da Repulsão.

Quando o sentimento de Interesse desperta a Força de Atração e é dirigido para objetos e desejos inferiores, estes atuam nas Regiões inferiores do Mundo do Desejo, onde a Força de Repulsão neutralizante se manifesta do modo já indicado. A luta travada entre essas duas forças gêmeas – Atração e Repulsão – produz todas as dores e sofrimentos resultantes das ações errôneas e dos esforços mal orientados, sejam ou não intencionais.

Por conseguinte, bem podemos ver quanto é importante o nosso sentimento em relação às coisas, porque dele depende a natureza do ambiente que criamos para nós mesmos. Se amarmos o bem, resguardaremos e alimentaremos tudo o que é bom em volta de nós quais “anjos da guarda”. Se fizermos o contrário povoaremos nosso caminho de demônios, criados por nós mesmos.

Os nomes das três Regiões Superiores do Mundo do Desejo são: “Região da Vida Anímica”, “Região da Luz Anímica” e “Região do Poder Anímico”. Nestas Regiões habitam a Arte, o Altruísmo, a Filantropia e todas as atividades superiores da vida anímica. Quando pensamos nessas Regiões como irradiando sobre as formas das Regiões inferiores as qualidades indicadas pelos seus nomes, podemos compreender de forma exata as atividades superiores e inferiores. Não obstante, o poder anímico pode ser empregado durante algum tempo com propósitos maléficos, assim como pode ser empregado para o bem. Contudo, finalmente a Força de Repulsão destrói o vício, e sobre as desoladas ruínas, a Força de Atração edifica a virtude. Todas as coisas, em última análise, trabalham em conjunto para o bem.

O Mundo Físico e o Mundo do Desejo não são separados um do outro pelo espaço. Estão “mais próximos do que as mãos e os pés”. Não é necessário se deslocar para ir de um a outro, nem para ir de uma Região a outra que lhe seja próxima. Assim como em nosso Corpo se encontram os sólidos, os líquidos e os gases, se interpenetrando uns aos outros, assim também estão as diferentes Regiões do Mundo do Desejo dentro de nós. Podemos, outra vez, comparar as linhas de força pelas quais os cristais de gelo se formam na água com as causas invisíveis originárias do Mundo do Desejo, as quais aparecem no Mundo Físico e dão-nos incentivo para agir em qualquer direção. O Mundo do Desejo, com seus inúmeros habitantes, compenetra o Mundo Físico como as linhas de força compenetram a água – invisível, mas presente e potente em toda parte como “causa” de tudo no Mundo Físico.


[1] N.R.: Madrepérola ou nácar é uma substância, dura, irisada, rica em calcário, produzida por alguns moluscos, no interior de sua concha.

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O Mundo do Pensamento

O Mundo do Pensamento também se compõe de sete Regiões de diversas qualidades e densidades e, à semelhança do Mundo Físico, o Mundo do Pensamento é dividido em duas principais divisões: a Região do Pensamento Concreto, que compreende as quatro Regiões mais densas, e a Região do Pensamento Abstrato, que compreende as três Regiões de substâncias mais sutis. O Mundo do Pensamento é o Mundo central dos cinco Mundos onde o ser humano obtém seus veículos. Aqui se unem Espírito e Corpo. Esse Mundo é também o mais elevado dos três onde presentemente tem lugar a evolução humana. Os outros dois Mundos superiores, no que diz respeito ao ser humano em geral, são ainda praticamente uma esperança.

Sabemos que os materiais da Região Química são empregados para construir todas as formas físicas. A estas formas são dadas vida e o poder de movimento pelas forças que atuam na Região Etérica. Algumas dessas formas viventes são impelidas à ação pelos sentimentos gêmeos do Mundo do Desejo. A Região do Pensamento Concreto proporciona a matéria mental em que se envolvem as ideias geradas na Região do Pensamento Abstrato. Manifestando-se como pensamentos-formas, atuam como reguladores e equilibradores dos impulsos originados no Mundo do Desejo pelos impactos recebidos do Mundo dos fenômenos.

Vemos, pois, como os três Mundos em que o ser humano presentemente evolui se completam, formam um todo, o que demonstra a Suprema Sabedoria do Grande Arquiteto do Sistema Solar a que pertencemos e a Quem reverenciamos pelo santo nome de Deus.

Examinando mais minuciosamente as diversas divisões da Região do Pensamento Concreto, constatamos que os Arquétipos das formas físicas – não importam a qual Reino elas pertençam – se encontram na sua subdivisão mais inferior, ou seja, na “Região Continental”. Nessa Região Continental estão também os Arquétipos dos continentes e das ilhas do mundo, os quais são moldados de acordo com esses Arquétipos. As modificações da crosta terrestre devem se produzire primeiramente na Região Continental. Enquanto o Arquétipo-modelo não for modificado, as Inteligências, que para encobrir a nossa ignorância denominamos “Leis da Natureza”, não podem produzir as condições físicas que alteram a conformação da Terra e que são determinadas pelas Hierarquias que dirigem a evolução. Estas planejam as mudanças como o arquiteto projeta as alterações num edifício, antes que os operários lhe deem expressão concreta. Da mesma forma se efetuam mudanças na flora e na fauna, devido às metamorfoses dos respectivos Arquétipos.

Quando falamos dos Arquétipos de todas as diferentes formas do Mundo Físico, não devemos julgar que esses Arquétipos sejam simples modelos, no mesmo sentido em que falamos de um objeto feito em miniatura ou feito de outro material diferente do apropriado ao seu uso final. Não são simples semelhanças nem modelos das formas que vemos em torno de nós, mas são Arquétipos criadores, isto é, modelam as formas do Mundo Físico à sua própria semelhança ou semelhanças, porque, frequentemente, muitos trabalham em conjunto para produzir uma certa espécie, cada Arquétipo dando de si mesmo a parte necessária para a construção da forma requerida.

A segunda subdivisão da Região do Pensamento Concreto se denomina “Região Oceânica”. Poderia ser mais bem descrita como vitalidade fluente e pulsante. Todas as Forças que atuam pelos quatro Éteres que constituem a Região Etérica são vistas aqui como Arquétipos. É uma corrente de vida que flui através de todas as formas, assim como o sangue circula pelo Corpo – a mesma vida em todas as formas. Nessa Região o Clarividente treinado pode comprovar quanto é verdade que “toda vida é una”.

A “Região Aérea” é a terceira divisão da Região do Pensamento Concreto. Aqui encontramos os Arquétipos dos desejos, das paixões, dos sentimentos e das emoções, tais como os que experimentamos no Mundo do Desejo. Aqui todas as atividades do Mundo do Desejo parecem condições atmosféricas. Os sentimentos de prazer e de alegria chegam aos sentidos do Clarividente Voluntário e treinado como o beijo das brisas da estação do verão; as aspirações ou anseios da Alma se assemelham ao suspiro do vento nas copas das árvores; e as paixões das nações em guerra se assemelham aos lampejos dos relâmpagos. Nessa atmosfera da Região do Pensamento Concreto se encontram, também, as imagens das emoções do ser humano e dos animais.

A “Região das Forças Arquetípicas” é a quarta divisão da Região do Pensamento Concreto. É a Região Central e a mais importante dos cinco Mundos onde se efetua a evolução total do ser humano. De um lado dessa Região estão as três Regiões superiores do Mundo do Pensamento, mais o Mundo do Espírito de Vida e o Mundo do Espírito Divino. No lado oposto dessa Região de Forças Arquetípicas estão as três Regiões inferiores do Mundo do Pensamento, mais o Mundo do Desejo e o Mundo Físico. Portanto essa Região se torna uma espécie de “cruz”, limitada de um lado pelos Reinos do Espírito e do outro pelos Mundos da Forma. É o ponto focal por onde o Espírito se reflete na matéria.

Como seu nome indica, essa Região é o lar das Forças Arquetípicas que dirigem a atividade dos Arquétipos na Região do Pensamento Concreto. Dessa Região é que o espírito trabalha na matéria de maneira formativa. O Diagrama 1 demonstra essa ideia em forma esquemática: as formas, nos Mundos inferiores, sendo reflexos do Espírito nos Mundos superiores. A quinta Região, que é a mais próxima do ponto focal pelo lado do Espírito, se reflete na terceira Região, a mais próxima do ponto focal pelo lado da Forma. A sexta Região se reflete na segunda, e a sétima na primeira.

Diagrama 1 – O Mundo Material: um reflexo reverso dos Mundos Espirituais

Toda a Região do Pensamento Abstrato é refletida no Mundo do Desejo; o Mundo do Espírito de Vida na Região Etérica do Mundo Físico e o Mundo do Espírito Divino na Região Química do Mundo Físico.

O Diagrama 2 dá uma ideia compreensível dos sete Mundos que formam a esfera do nosso desenvolvimento, contudo, devemos fixar cuidadosamente que esses Mundos não estão colocados uns acima dos outros, como o Diagrama sugere, mas se interpenetram. Isto é, relacionando o Mundo Físico ao Mundo do Desejo e comparando o Mundo do Desejo com as linhas de força na água em congelamento e a água em si mesma com o Mundo Físico, podemos, igualmente, imaginar essas linhas de força equivalendo a qualquer um dos sete Mundos e a água, segundo o nosso exemplo, correspondendo ao próximo Mundo mais denso na escala. Talvez outro exemplo torne esse assunto mais claro.

Diagrama 2 – Os Sete Mundos

Tomemos uma esponja esférica para representar a Terra densa – a Região Química – e imaginemo-la compenetrada por areia que ultrapasse um pouco toda sua periferia. Essa areia representaria a Região Etérica que, de modo semelhante, compenetrando a Terra densa, se estende além da atmosfera.

Imaginemos, em seguida, essa esponja com areia dentro de um vaso esférico cheio de água pura, um pouco maior que a esponja com a areia, mas, precisamente, no centro do vaso como a gema está no centro do ovo. Temos, então, um espaço de água limpa entre a areia e o vaso. A água representaria o Mundo do Desejo porque, da mesma forma que ela se insinuaria por entre os grãos de areia através de todos os poros da esponja formando uma camada mais limpa, assim também o Mundo do Desejo compenetra a Terra densa e o Éter e se estende além dessas substâncias.

Sabendo que na água existe ar, se imaginarmos o ar contido na água (do nosso exemplo) como representando o Mundo do Pensamento, podemos obter uma imagem mental mais clara da maneira como o Mundo do Pensamento, mais fino e sutil do que os outros dois, os interpenetra.

Finalmente, imaginando o vaso que contém a esponja, a areia e a água, colocado no centro de outro vaso esférico maior, o ar existente entre ambos os vasos representaria a parte do Mundo do Pensamento que se estende para além do Mundo do Desejo.

Cada um dos Planetas do nosso Sistema Solar tem esses três Mundos que se interpenetram. Se imaginarmos cada um desses Planetas consistindo em três Mundos como sendo esponjas individuais, e o quarto Mundo – o Mundo do Espírito de Vida – como sendo a água contida em um vaso maior, na qual nadem separadas, essas esponjas Tríplices, compreenderemos que, assim como a água do recipiente maior enche o espaço compreendido entre as esponjas e as compenetra, assim também o Mundo do Espírito de Vida se difunde pelos espaços interplanetários e interpenetra os Planetas individuais. Esse Mundo estabelece um vínculo comum entre os Planetas e do mesmo modo que para se ir da América à África é necessário se ter um barco e poder dirigi-lo, assim também se requer um veículo apropriado ao Mundo do Espírito de Vida, sob controle consciente, para se poder viajar de um a outro Planeta. De maneira semelhante àquela pela qual o Mundo do Espírito de Vida nos põe em relação com os outros Planetas do nosso Sistema Solar, o Mundo do Espírito Divino nos correlaciona com os outros Sistemas Solares. Podemos comparar os Sistemas Solares a esponjas separadas, submersas no Mundo do Espírito Divino. Compreenderemos assim que, para se poder viajar de um Sistema Solar a outro é necessária a capacidade de se atuar, conscientemente, no mais elevado dos veículos do ser humano, o Espírito Divino.

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CAPÍTULO II – OS QUATRO REINOS

Os três Mundos do nosso Planeta são atualmente o campo onde se processa a evolução de diversos Reinos de vida em vários graus de desenvolvimento. Destes, só quatro nos interessam presentemente, a saber: o Mineral, o Vegetal, o Animal e o Humano.

Estes quatro Reinos estão relacionados com os três Mundos de maneiras diferentes, de acordo com o progresso conseguido por esses grupos de vida em evolução na escola da experiência. No que diz respeito à forma, os Corpos Densos de todos os Reinos são compostos das mesmas substâncias químicas: sólidos, líquidos e gases da Região Química. O Corpo Denso do ser humano é um composto químico tanto quanto o da pedra, se bem que essa última esteja ocupada só pela vida mineral. Todavia, mesmo falando do ponto de vista puramente físico e deixando à margem qualquer outra consideração, notamos várias diferenças importantes se comparamos o Corpo Denso do ser humano com o do mineral da Terra. O ser humano move-se, cresce e propaga a sua espécie, mas o mineral, em seu estado natural, nada disso pode fazer.

Comparando o ser humano com os vegetais verificamos que ambos, planta e ser humano, têm um Corpo Denso, capaz de crescer e se propagar. Contudo, o ser humano tem faculdades que a planta não possui: sente, tem o poder de se mover e perceber as coisas que estão fora dele.

Quando comparamos o ser humano com os animais constatamos que ambos possuem as faculdades da sensação, do movimento, crescimento, da propagação e do senso de percepção. Contudo, o ser humano tem, ainda, a faculdade da linguagem, uma estrutura cerebral superior e as mãos, os quais são uma grande vantagem física. É de se notar especialmente o desenvolvimento do polegar que torna a mão humana muitíssimo mais útil do que a do antropoide. O ser humano desenvolveu, além disso, uma linguagem definida com a qual expressa seus pensamentos e sentimentos. Tudo, enfim, situa o Corpo Denso do ser humano em uma classe à parte, mais avançada do que as dos três Reinos inferiores.

Para compreender as diferenças entre os quatro Reinos é preciso buscar nos Mundos invisíveis as causas que dão a um Reino o que a outros é negado.

Para se funcionar em qualquer Mundo e expressar as qualidades que lhe são peculiares, é necessário antes de tudo, possuir um veículo formado de sua matéria. Para funcionarmos no Mundo Físico denso precisamos de um Corpo Denso adaptado ao nosso ambiente. Se assim não fosse seríamos fantasmas, como geralmente dizem, e seríamos invisíveis à maioria dos seres físicos. Assim, também precisamos de um Corpo Vital para poder expressar vida, crescimento ou externar as outras qualidades pertinentes à Região Etérica.

Para expressar sentimentos e emoções é necessário ter um veículo composto de matéria do Mundo do Desejo; e uma Mente, formada por substância da Região Concreta do Mundo do Pensamento é necessária para tornar o pensamento possível.

Ao examinarmos os quatro Reinos em relação à Região Etérica, constatamos que o mineral não possui Corpo Vital separado. Logo compreendemos a razão pela qual não pode crescer, nem se propagar ou nem mostrar vida com sensações.

Como hipótese necessária para sustentar outros fatos conhecidos, a ciência materialista admite que no sólido mais denso, tanto quanto no gás mais rarefeito e atenuado, não se tocam sequer dois átomos; que existe um envoltório de Éter ao redor de cada átomo; e que os átomos no universo flutuam em um oceano de Éter.

O cientista ocultista sabe que isso é exato na Região Química, e que o mineral não possui um Corpo Vital de Éter separado. E, como o Éter planetário é o único que envolve os átomos do mineral, então se compreende a diferença acima. Como já dissemos, é necessário ter um Corpo Vital, um Corpo de Desejos separados, etc., para poder expressar as qualidades correspondentes aos diferentes Reinos, porque os átomos do Mundo do Desejo, do Mundo do Pensamento e até dos Mundos superiores interpenetram o mineral, da mesma forma que interpenetram o Corpo Denso humano. Se a interpenetração do Éter planetário, o Éter que envolve os átomos do mineral, fosse bastante para lhe permitir sentir e se propagar, sua interpenetração pelo Mundo do Pensamento planetário seria também suficiente para lhe permitir pensar, o que não pode acontecer por lhe faltar um veículo separado. O mineral é penetrado somente pelo Éter planetário e é, portanto, incapaz de crescimento individual. Todavia, como o mais inferior dos quatro Éteres – o Químico – é ativo no mineral, a ele são devidas as forças químicas nos minerais.

Considerando agora o vegetal, o animal e o ser humano em relação à Região Etérica, notamos que cada um deles tem um Corpo Vital separado, além de serem compenetrados pelo Éter planetário que forma a Região Etérica. Existe, não obstante, uma diferença entre o Corpo Vital do vegetal e os Corpos Vitais do animal e do ser humano. No Corpo Vital do vegetal estão em plena atividade somente o Éter Químico e o Éter de Vida. Portanto, o vegetal pode crescer pela ação do Éter Químico e propagar a sua espécie mediante a atividade do Éter de Vida do Corpo Vital separado que possui. O Éter de Luz também está presente, embora parte latente, e falta o Éter Refletor, por completo. Portanto, é óbvio que as faculdades sensoriais e a memória, que são qualidades desses Éteres, não podem ser expressas pelo Reino Vegetal.

Se dirigirmos nossa atenção para o Corpo Vital do animal, constatamos que nele os Éteres Químico, de Vida e de Luz são dinamicamente ativos. Consequentemente, o animal possui as qualidades de assimilação e crescimento, originadas pelas atividades do Éter Químico, e a faculdade de se propagar por meio do Éter de Vida, comuns aos Reinos Vegetal e Animal. Contudo, além disso, e devido à ação do terceiro ou Éter de Luz, ele tem as faculdades de gerar calor interno e de percepção sensorial. O quarto Éter, todavia, é inativo no animal, pelo que carece de pensamento e de memória. O que a isso se assemelha, é de natureza diferente, como adiante demonstraremos. Esse Éter armazena, ainda, experiências passadas sob a forma de memória.

Quando analisamos o ser humano, vemos que os quatro Éteres são dinamicamente ativos em seu altamente organizado Corpo Vital. Por meio das atividades do Éter Químico ele é capaz de assimilar o alimento e crescer; as forças ativas no Éter de Vida capacitam-no a propagar sua espécie; as forças no Éter de Luz suprem seu Corpo Denso de calor, atuam sobre seu Sistema Nervoso e músculos, lhe abrindo assim as portas da comunicação com o Mundo externo por meio dos sentidos; e o Éter Refletor capacita o Espírito a controlar seu veículo por meio do pensamento. Esse Éter armazena, ainda, experiências passadas sob a forma de memória.

O Corpo Vital do vegetal, do animal e do ser humano se estende além da periferia do Corpo Denso, do mesmo modo que a Região Etérica, que é o Corpo Vital de um Planeta, se estende além da parte densa deste, o que demonstra, mais uma vez, a veracidade do axioma Hermético: “Como em cima, assim é embaixo”. A distância dessa extensão do Corpo Vital do ser humano é cerca de uma polegada e meia[1]. A parte que está fora do Corpo Denso é muito luminosa, e aparenta a cor da flor recém-aberta do pessegueiro. Ela é vista muitas vezes por pessoas que possuem certa Clarividência involuntária. O autor verificou, ao falar com tais pessoas, que as mesmas, não crendo se tratar de algo incomum, frequentemente não compreendem o que veem.

O Corpo Denso, construído na matriz do Corpo Vital durante a vida pré-natal, com uma exceção, é a cópia exata, molécula por molécula, do Corpo Vital. Assim como as linhas de força na água congelada são os condutores para a formação dos cristais de gelo, as linhas de força no Corpo Vital determinam a forma do Corpo Denso. Durante toda a vida o Corpo Vital é o construtor e restaurador da forma densa. Se não fosse pelo coração etérico, o coração denso romper-se-ia rapidamente em consequência da tensão que lhe impomos continuamente. Todos os abusos praticados com o Corpo Denso são neutralizados pelo Corpo Vital, tanto quanto é possível, o qual trava uma luta constante contra a morte do Corpo Denso.

A exceção referida consiste no fato de que o Corpo Vital do homem é feminino ou negativo, enquanto o da mulher é masculino ou positivo. Nisso reside a chave de numerosos e intrincados problemas da vida. A mulher dá vazão às suas emoções pela polaridade indicada devido ao seu Corpo Vital positivo que gera um excesso de sangue. Isso a obriga a trabalhar sob enorme pressão interna, a qual romperia o envoltório físico se não houvesse uma válvula de segurança. Essa válvula é, por um lado, o fluxo periódico e, por outro, as lágrimas que em ocasiões especiais limitam a pressão, posto que ambos: fluxo periódico e lágrimas são, realmente, uma “hemorragia branca”.

O homem pode ter – e tem – emoções tão fortes quanto às da mulher, mas geralmente ele é capaz de dominá-las sem lágrimas, pois seu Corpo Vital negativo não gera quantidade de sangue maior do que aquela que pode controlar com facilidade.

Contrariamente ao que sucede com os veículos superiores da Humanidade, o Corpo Vital (salvo em certas circunstâncias que explicaremos adiante, quando chegarmos ao assunto “Iniciação”) geralmente não abandona o Corpo Denso até o momento da morte. Então as forças químicas do Corpo Denso, já fora do domínio da vida evolutiva, tratam de restituir a matéria à sua condição primitiva, desintegrando-a e assim, tornando-a apta para a formação de outras formas na economia da Natureza. A desintegração, portanto, é devida à atividade das forças planetárias no Éter Químico.

A contextura do Corpo Vital pode ser, grosso modo, comparada a essas molduras de quadros formados por centenas de pequenas peças de madeira que se encaixam e apresentam inumeráveis pontos ao observador. O Corpo Vital apresenta, ao observador, milhões de pontos. Esses pontos se encaixam no interior dos átomos densos e, ao imbui-los de força vital, fazem-nos vibrar muito mais intensamente que os dos minerais da Terra ainda não submetidos a essa aceleração e animação.

Quando uma pessoa está se afogando, ou caindo de uma grande altura, ou se enregela, o Corpo Vital abandona o Corpo Denso. Em consequência, os átomos desse se tornam momentaneamente inertes. Quando a pessoa se reanima ou volta a si ele reentra no Corpo Denso, voltando os “pontos” minúsculos a se introduzir nos átomos densos. A inércia dos átomos causa neles certa resistência ao reinício da vibração, e essa é a causa da intensa sensação de formigamento que ocorre em tais ocasiões. Essa sensação normalmente não é notada pela mesma razão que temos consciência do parar ou começar a trabalhar de um relógio, mas não atentamos para o seu tique-taque enquanto trabalha.

Em certos casos o Corpo Vital deixa parcialmente o Corpo Denso como, por exemplo, quando a mão “adormece”. se pode ver então a mão etérica do Corpo Vital pendendo como uma luva, sob o braço denso. E os pontos, se introduzindo novamente na mão física, causam o mesmo formigamento peculiar já referido. Às vezes, na hipnose, a cabeça do Corpo Vital se divide e pende para os lados da cabeça do Corpo Denso, metade sobre cada ombro, ou permanece em volta do pescoço como a gola de um suéter. A ausência do formigamento ao despertar se deve ao fato de que, durante a hipnose, parte do Corpo Vital do hipnotizador substituiu parte do Corpo Vital da vítima.

Quando se usam anestésicos, o Corpo Vital é parcialmente expulso juntamente com os demais veículos superiores. Se a aplicação é excessiva, o Éter de Vida é expelido e a morte sobrevém. O mesmo fenômeno pode ser observado nos médiuns materializantes. Na realidade a diferença entre o médium materializante e as pessoas comuns é a seguinte: no homem ou mulher comum os Corpos: Vital e Denso, no atual estado da evolução, se acham firmemente interligados um no outro, enquanto no médium essa conexão é mais fraca. Nem sempre foi assim, e tempo virá novamente em que o Corpo Vital poderá abandonar normalmente o Corpo Denso, mas presentemente esse processo ainda não se completou. Quando um médium permite que seu Corpo Vital seja usado por entidades do Mundo do Desejo que querem se materializar, esse Corpo geralmente “sai” pelo lado esquerdo – pelo baço – a sua “porta” particular. Então, as forças vitais não podendo fluírem por todo o Corpo como habitualmente o fazem, o médium fica extenuado. Por isso alguns recorrem até ao uso de estimulantes para contrabalançar esses efeitos se convertendo, com o tempo, em beberrões incuráveis.

A força vital do Sol que nos rodeia como um fluido incolor é absorvida pelo Corpo Vital através da contraparte etérica do baço, onde passa por uma curiosa transformação de cor. se torna rosa-pálido e se espalha pelos nervos, percorrendo todo o Corpo Denso. Em relação ao Sistema Nervoso, a força vital é o mesmo que a eletricidade para o telégrafo. Embora haja fios, aparelhos e telegrafistas, tudo em boa ordem, se não houver eletricidade será impossível enviar mensagens.

O Ego, o cérebro e o Sistema Nervoso podem estar, aparentemente, em perfeita ordem, mas se falta força vital para levar a mensagem do Ego através dos nervos aos músculos, o Corpo Denso permanecerá inerte. É precisamente isto o que sucede quando se paralisa uma parte do Corpo Denso, o Corpo Vital adoeceu e a força vital já não pode fluir. Em tais casos, como na maioria das enfermidades, a perturbação está nos veículos invisíveis. O reconhecimento desse fato, consciente ou inconscientemente, dá motivos a que médicos, dos mais famosos, empreguem a sugestão – atuando sobre os veículos superiores – como medicação auxiliar. Quanto mais fé e esperança o médico possa incutir no paciente, tanto mais rapidamente poderá desaparecer a doença e dar lugar à perfeita saúde.

Durante a saúde o Corpo Vital especializa uma superabundância de força vital que, depois de atravessar o Corpo Denso, se irradia em linhas retas em todas as direções desde sua periferia, como os raios que se irradiam do centro de um círculo. Contudo, nos casos de doença, o Corpo Vital se atenua e, então, não pode absorver a mesma quantidade de força, para continuar alimentando o Corpo Denso. Então, as linhas do fluido vital que sobressaem do Corpo se curvam e decaem, mostrando a falta de força que se produziu. Em estado saudável, a grande força destas irradiações repele os germes e micróbios, inimigos da saúde do Corpo Denso, mas na enfermidade, quando a força vital é fraca, essas emanações não conseguem eliminar com a mesma facilidade os germes da doença. Portanto, é maior o perigo de contrair uma doença quando são baixas as forças vitais do que quando a saúde é robusta.

Nos casos de amputação de partes do Corpo Denso, o Éter planetário é o único a acompanhar a parte separada. O Corpo Vital, separado e o Corpo Denso, sofre uma decomposição sincronicamente após a morte. A mesma coisa sucede com a contraparte etérica do membro amputado: ir-se-á desintegrando gradualmente com o membro denso. Contudo, nesse ínterim o ser humano ainda conserva o membro etérico, daí sua asserção de que pode sentir seus dedos ou dores nos mesmos. Existe também uma conexão entre o membro sepultado e a sua contraparte etérica, independentemente da distância. Sabe-se do caso de um homem que sentiu uma dor aguda, algo assim como se lhe tivessem cravado um prego em sua perna amputada. A dor persistiu até que, exumada a perna, se verificou que efetivamente nela tinha sido cravado um prego no momento de a encaixotarem para enterrar. Removido o prego, a dor cessou instantaneamente. Nas mesmas circunstâncias estão as pessoas que continuam a sofrer dor no membro amputado, mesmo decorridos dois ou três anos após a operação. Depois desse tempo a dor cessa. Isto é devido à permanência da enfermidade na parte etérica, não amputada. Contudo, logo que a parte amputada se desintegra o membro etérico também se desintegra, e a dor desaparece.

Tendo observado as relações dos Quatro Reinos com a Região Etérica do Mundo Físico, estudemos agora sua relação com o Mundo do Desejo.

Tanto os minerais quanto os vegetais carecem de Corpo de Desejos separado. Estão compenetrados unicamente pelo Corpo de Desejos planetário, ou seja, pelo Mundo do Desejo. Não possuindo veículo separado, são incapazes de sentir, de desejar, de se emocionar, faculdades estas que pertencem ao Mundo do Desejo. A pedra nada sente quando é quebrada, mas seria errôneo se deduzir que não há qualquer sentimento relacionado com tal ato. Essa é a opinião do materialista e da massa incompreensiva. O cientista ocultista sabe que não há ato algum, grande ou pequeno, que não seja sentido através do universo. Embora por falta de um Corpo de Desejos individual a pedra não possa sentir, o Espírito da Terra sente, porque é o seu Corpo de Desejos que compenetra a pedra. Se um ser humano corta o dedo, esse não sente dor simplesmente por não ter Corpo de Desejos separado, mas o ser humano sente, porque seu Corpo de Desejos compenetra o dedo. Se uma planta é arrancada pela raiz, o Espírito da Terra sente de modo equivalente ao ser humano a quem arranquem um cabelo. A Terra é um Corpo vivo e sensível. Todas as formas sem Corpo de Desejos separado, por meio do qual o espírito pode sentir, estão inclusas no Corpo de Desejos da Terra, e esse Corpo de Desejos possui sensibilidade. Quebrar uma pedra ou cortar uma flor causa prazer à Terra, ao passo que arrancar uma planta pela raiz causa sofrimento. A razão disto será esclarecida na última parte dessa obra, pois nesse ponto qualquer explicação seria incompreensível para a maioria dos leitores.

O Mundo do Desejo planetário pulsa através dos Corpos Denso e Vital do animal e do ser humano, da mesma maneira que compenetra o mineral e a planta. Contudo, além disso, o animal e o ser humano possuem Corpos de Desejos separados que os capacitam a sentir desejos, emoções e paixões. Contudo, existe uma diferença entre eles: o Corpo de Desejos do animal é inteiramente formado por matéria das Regiões mais densas do Mundo do Desejo, enquanto no do ser humano, mesmo nas Raças mais inferiores, um pouco da matéria das Regiões superiores entra em sua composição. Os sentidos dos animais e das Raças humanas inferiores se focalizam quase inteiramente na satisfação dos desejos e paixões mais inferiores, cuja expressão se encontra na matéria das Regiões inferiores do Mundo do Desejo. Por isso e para que possam ter emoções mais elevadas, educá-las e dirigi-las para objetivos superiores, necessitam da matéria correspondente em seus Corpos de Desejos. À medida que o ser humano progride na escola da vida suas experiências ensinam-no, e seus desejos se tornam melhores, mais puros. Dessa forma, gradativamente, a matéria do Corpo de Desejos passa por uma correspondente modificação. A matéria mais pura e brilhante das Regiões superiores do Mundo do Desejo substitui as cores sombrias da parte inferior. O Corpo de Desejos aumenta de tamanho, de modo que o de um santo se torna verdadeiramente algo glorioso a ser observado, de transparência luminosa, e de uma pureza de cores incomparável, impossível de descrever. Só o vendo é possível apreciá-lo.

Atualmente, na composição do Corpo de Desejos da grande maioria dos seres humanos entra matéria das Regiões superiores e inferiores. Ninguém é tão mau que não tenha algo de bom. Isto é expressão da matéria das Regiões superiores que encontramos em seus Corpos de Desejos. Por outro lado, são muito poucos os tão bons que não empreguem alguma matéria das Regiões inferiores.

Do mesmo modo que os Corpos: Vital e de Desejos planetários interpenetram a matéria densa da Terra, como vimos no exemplo da esponja, da areia e da água, assim também os Corpos: Vital e de Desejos interpenetram o Corpo Denso do vegetal, do animal e do ser humano. Contudo, durante a vida, o Corpo de Desejos do ser humano não tem a mesma forma que seus Corpos Denso e Vital. Somente após a morte ele assume essa forma. Durante a vida tem simplesmente a aparência de um ovoide luminoso que, nas horas de vigília, envolve completamente o Corpo Denso, assim como no ovo a clara envolve a gema. Se estende de doze a dezesseis polegadas[2] além do Corpo Denso. Nesse Corpo de Desejos existe certo número de centros sensoriais que ainda se encontram em estado latente na maioria dos seres humanos. O despertar destes centros de percepção corresponde ao descerrar dos olhos no cego do nosso exemplo anterior. A matéria do Corpo de Desejos humano permanece em movimento contínuo de incrível rapidez. Nem há nele um lugar estável para qualquer partícula, como no Corpo Denso. A matéria que num determinado momento está na cabeça, se encontra nos pés ao instante seguinte, para voltar outra vez. Não há órgão algum no Corpo de Desejos, como nos Corpos Denso e Vital, mas há centros de percepção que ao entrarem em atividade parecem vórtices, sempre permanecendo na mesma posição em relação ao Corpo Denso. A maioria desses vórtices se encontra em volta da cabeça. Na maioria das pessoas esses centros não passam de simples remoinhos, sem utilidade como meios de percepção. Podem ser despertados, contudo, ainda que dos métodos usados dependam os resultados conseguidos.

No Clarividente involuntário, desenvolvido no sentido negativo e impróprio, estes vórtices giram da direita para a esquerda, ou seja, na direção oposta à dos ponteiros de um relógio.

No Corpo de Desejos do Clarividente voluntário, devidamente desenvolvido, os vórtices giram na mesma direção dos ponteiros de um relógio, fulgurando esplendorosamente e ultrapassam muito a brilhante luminosidade do Corpo de Desejos comum. Estes centros, como meios de percepção das coisas no Mundo do Desejo, permitem ao Clarividente voluntário ver e investigar à vontade, ao passo que as pessoas cujos centros giram da direita para a esquerda são como espelhos que refletem o que se passa em sua frente e, por isso mesmo, incapaz de obter informações reais. A razão disto será explicada mais adiante, mas o que ficou dito constitui uma das diferenças fundamentais entre um médium e um Clarividente desenvolvido de modo apropriado. Para muitas pessoas é quase impossível distinguir entre ambos, mas existe uma regra que todo mundo pode seguir com plena confiança: nenhum Clarividente genuinamente desenvolvido se utiliza de sua faculdade por dinheiro ou coisa equivalente, nem tampouco para satisfazer curiosidades, mas só e unicamente para ajudar a Humanidade.

Quem quer que seja capaz de ensinar o método apropriado para o desenvolvimento dessa faculdade nunca cobrará nada, nem sequer por uma só lição. Os que pedem ou recebem dinheiro para exercer essa faculdade ou dar lições sobre ela, nada possuem que valha a pena pagar. A regra mencionada é guia seguríssimo e pode ser seguida com absoluta confiança.

Num futuro bastante longínquo o Corpo de Desejos do ser humano será organizado definitivamente, conforme atualmente estão os Corpos: Vital e Denso. Quando esse estágio for alcançado todos nós teremos o poder de funcionar no Corpo de Desejos tal como funcionamos agora no Corpo Denso que, contrariamente ao Corpo de Desejos – mais novo, por assim dizer – é o mais antigo e mais bem organizado dos Corpos do ser humano.

O Corpo de Desejos está radicado no fígado, assim como o Corpo Vital está no baço.

Em todos os seres de sangue quente, que possuem sensações, paixões e emoções – os quais se expressam no mundo com desejos – são os mais altamente desenvolvidos e os que realmente vivem em toda a extensão do termo, não vegetam meramente; em tais criaturas as correntes do Corpo de Desejos fluem do fígado para o exterior. A matéria de desejos flui continuamente em correntes que circulam ao longo de linhas curvas por todos os pontos da periferia do ovoide, e retornam ao fígado através de certo número de vórtices, assim como a água em ebulição flui continuamente para fora da fonte de calor, a ela retornando uma vez completado o ciclo.

As plantas são carentes desse princípio impulsivo e energético. Daí elas não poderem manifestar vida e movimento, conforme os organismos mais altamente desenvolvidos.

Onde há vitalidade e movimento, mas não sangue vermelho, não existe Corpo de Desejos separado. O ser se encontra num estado de transição da planta para o animal e, portanto, se move totalmente sob o impulso do Espírito-Grupo.

Nos animais de sangue frio, que têm fígado e sangue vermelho existe um Corpo de Desejos separado, e o Espírito-Grupo dirige as correntes para dentro, porque nesse caso o espírito separado (do peixe ou do réptil individual, por exemplo) está completamente fora do veículo denso.

Quando o organismo evolui ao ponto de o espírito separado poder começar a entrar em seus veículos, então o espírito individual começa a dirigir as correntes para fora. É o princípio da existência passional e do sangue quente. O sangue vermelho e quente, no fígado do organismo suficientemente evoluído para ter um espírito interno, o qual energiza as correntes de matéria de desejo que se exteriorizam, é que leva o ser humano e o animal a manifestar desejos e paixões. Nos animais, o espírito não está completamente dentro dos seus veículos. Isto só ocorrerá quando os pontos do Corpo Vital e do Corpo Denso se corresponderem, como se explica no Capítulo XII. Por essa razão o animal não é um “ser vivente”, isto é, não vive tão completamente como o ser humano, nem é capaz de ter desejos e emoções tão sutis como as do ser humano, porque não tem plena consciência.

Os mamíferos atuais se encontram em plano superior ao do ser humano quando passou pela fase animal de sua evolução. Isto é devido a terem sangue vermelho e quente, o que naquele estágio o ser humano não possuía. Essa diferença de condição se deve ao caminho em espiral da evolução. Isto explica ainda por que o ser humano é agora um tipo de Humanidade superior à que formaram os Anjos atuais quando se encontravam no estágio chamado humano. Os mamíferos de hoje, que alcançaram sangue vermelho e quente e são capazes de, até certo ponto, experimentarem desejos e emoções, serão no Período de Júpiter um tipo de Humanidade melhor e mais pura do que essa que atualmente somos. Todavia, alguns da nossa Humanidade atual, mesmo no Período de Júpiter, serão abertamente malvados. Não poderão, como agora, ocultar suas paixões, mas serão desavergonhados em relação ao mal que farão.

À luz dessa exposição sobre as relações entre o fígado e a vida do organismo, é digno de nota o fato de que em várias línguas europeias (inglês, alemão e escandinavo) a palavra fígado (liver) significa tanto esse órgão do Corpo quanto “aquele que vive”.

Dirigindo a nossa atenção à relação dos quatro Reinos com o Mundo do Pensamento notamos que os minerais, os vegetais e os animais carecem de um veículo que os correlacione com esse Mundo. Todavia, sabemos que alguns animais pensam. Contudo, são os animais domésticos mais avançados que permaneceram gerações inteiras em estreito contato com o ser humano, despertando por isso mesmo faculdades que outros animais, desprovidos dessa vantagem, não possuem. Isto se baseia no mesmo princípio que faz com que um fio altamente carregado de eletricidade “induza” uma corrente mais fraca em outro que lhe esteja próximo, assim como um ser humano de forte moralidade pode despertar uma tendência parecida em outro de natureza mais débil, ou assim como esse pode ser dominado pela influência negativa de caracteres malignos. Tudo quanto fazemos, dizemos, ou somos, se reflete em torno de nós. Eis a razão por que pensam os mais avançados animais domésticos. Por serem os mais elevados de sua espécie, estão quase no ponto da individualização, e as vibrações da Mente do ser humano têm “induzido” neles uma atividade similar, de ordem inferior. Salvo essa exceção, o Reino Animal não adquiriu ainda a faculdade de pensar. Não estão ainda individualizados. Isto é o que constitui a grande e importante diferença entre o ser humano e os demais Reinos. O ser humano é um indivíduo. Os animais, os vegetais e os minerais se dividem em espécies. Não estão individualizados no mesmo sentido em que se encontra o ser humano.

Certo é que dividimos a Humanidade em Raças, tribos e nações, e que notamos a diferença entre os caucasianos, os negros, os indianos, etc. Contudo, a questão não é esta. Se quisermos estudar as características do leão, do elefante ou de qualquer outra espécie de animais inferiores, é necessário apenas tomar qualquer exemplar da espécie. Conhecidas as características de um animal, conheceremos as características da espécie a que pertence. Todos os membros da mesma tribo animal são semelhantes. Isto é um fato. Um leão, ou seu pai ou seu filho, todos se assemelham, não há diferença alguma na maneira como poderão agir sob as mesmas circunstâncias. Todos têm as mesmas preferências e aversões; um é igual ao outro.

No entanto isto não acontece com os seres humanos. Se quisermos conhecer as características dos negros, não basta examinar um só indivíduo. Seria necessário examinar cada um individualmente e, ainda assim, não chegaríamos a conhecer realmente aos negros “como um todo”. Isso simplesmente porque o que é uma característica do indivíduo não pode se aplicar à Raça coletivamente.

Se quisermos conhecer o caráter de Abraão Lincoln, de nada nos servirá estudar o caráter de seu pai, de seu avô, ou de seu filho, porque eles difeririam completamente entre si. Cada um tinha suas próprias peculiaridades totalmente distintas das idiossincrasias de Abraão Lincoln.

Por outro lado, podemos descrever os minerais, os vegetais e os animais se prestarmos atenção às características de um de cada espécie, enquanto nos seres humanos há tantas espécies quanto são os indivíduos. Cada indivíduo – cada pessoa, é uma espécie – é uma lei em si mesmo, inteiramente separado e distinto de qualquer outro indivíduo, tão diferente dos seus concidadãos como diferentes são duas espécies distintas do Reino inferior. Podemos escrever a biografia de um ser humano, mas não a de um animal, porque não a poderia ter. Isto resulta de existir em cada ser humano um espírito individual, interno, que dita os pensamentos e ações de cada ser humano individual, enquanto existe apenas um “Espírito-Grupo”, comum a todos os diferentes animais ou plantas da mesma espécie. O Espírito-Grupo atua sobre todos eles agindo de fora. Ambos, o tigre que perambula nas florestas da Índia e o tigre encerrado na jaula de um parque zoológico são expressões do mesmo Espírito-Grupo. Influencia a ambos, de maneira idêntica, a partir do Mundo do Desejo, um dos Mundos internos, onde a distância quase não existe.

Os Espíritos-Grupo dos três Reinos inferiores estão diferentemente situados nos Mundos superiores, como veremos quando investigarmos a consciência dos diversos Reinos. Contudo, para compreender, convenientemente, as posições desses Espíritos-Grupo nos Mundos internos, é necessário se recordar e compreender claramente o que foi dito sobre todas as formas do Mundo visível: são cristalizações de modelos e ideias dos Mundos internos, conforme os exemplos do arquiteto e do inventor de máquinas. Assim como os sucos do Corpo brando e viscoso do caracol se cristalizam na crosta dura que carrega sobre as costas, também os Espíritos nos Mundos superiores cristalizam semelhantemente, fora de si mesmos, os Corpos materiais, densos, dos diferentes Reinos.

Assim, os chamados Corpos “superiores”, tão refinados e sutis que chegam a ser invisíveis, não são, de maneira alguma, “emanações” do Corpo Denso. Os veículos densos de todos os Reinos correspondem à concha do caracol que é a cristalização dos seus sucos. O caracol representa o espírito, e seus sucos em via de cristalização representam a Mente, o Corpo de Desejos e o Corpo Vital. Estes diversos veículos foram emanados pelo espírito de si mesmo, com o propósito de adquirir experiência através deles. É o espírito que move o Corpo Denso à vontade, como o caracol move a sua concha, e não o Corpo que governa os movimentos do espírito. Quanto mais estreitamente pode o Espírito se pôr em contato com o seu veículo, mais pode dominá-lo e se expressar por seu intermédio, e vice-versa. Essa é a chave dos diferentes estados de consciência nos diferentes Reinos. O estudo dos Diagramas 3 e 4 dará uma compreensão clara dos veículos de cada Reino, da maneira como estão correlacionados com os diferentes Mundos e dos estados de consciência resultantes.

Diagrama 3 – Os Veículos dos Quatro Reinos

O Diagrama 3 mostra que o Ego separado é segregado definitivamente dentro do Espírito Universal na Região do Pensamento Abstrato, e que unicamente o ser humano possui a cadeia completa de veículos que o correlaciona com todas as divisões dos três Mundos. O animal carece de um elo dessa cadeia: a Mente; a planta carece de dois elos: a Mente e o Corpo de Desejos; e o mineral carece de três dos elos da cadeia necessária para funcionar conscientemente no Mundo Físico: a Mente, o Corpo de Desejos e o Corpo Vital.

A razão das várias diferenças é que o Reino Mineral é a expressão da última corrente de vida evolutiva; o Reino Vegetal é animado por uma Onda de Vida mais antiga no Caminho de Evolução; a Onda de Vida do Reino Animal tem um passado mais antigo ainda; e o ser humano, isto é, a vida que se expressa atualmente através da forma humana, tem atrás de si, a mais longa jornada de todos os quatro Reinos, seguindo, portanto, na dianteira. Em seu devido tempo as três Ondas de Vida que agora animam os três Reinos inferiores alcançarão o estado humano, e nós teremos passado a um estado de desenvolvimento superior.

Para compreendermos o grau de consciência que resulta da posse dos veículos empregados pela vida evolutiva nos quatro Reinos, dirijamos nossa atenção ao Diagrama 4.

Diagrama 4 – A Consciência dos Quatro Reinos

O ser humano – o Ego, o Pensador – desceu à Região Química do Mundo Físico e, nela começando a dirigir os seus veículos, obteve o estado de consciência de vigília e continua aprendendo a controlar esses veículos. Os órgãos do Corpo de Desejos e os da Mente não se desenvolveram ainda. O último nem sequer é ainda um Corpo. Atualmente não é mais do que um simples elo, um envoltório, que o Ego usa como ponto focal. É o último dos veículos que se formaram. O espírito trabalha gradualmente da substância mais sutil a mais densa, construindo assim os veículos, primeiro em substância sutil e depois em substância cada vez mais densa. O Corpo Denso foi o primeiro a ser construído e chegou agora ao seu quarto grau de densidade; o Corpo Vital se encontra em seu terceiro estágio; o Corpo de Desejos está no segundo sendo, portanto, ainda como uma nuvem; e o envoltório mental é ainda mais sutil. Como esses veículos não desenvolveram ainda quaisquer órgãos fica evidente que isolados seriam inúteis como veículos de consciência. Entretanto, o Ego penetra dentro do Corpo Denso, liga tais veículos sem órgãos com os centros físicos dos sentidos, e assim obtém o estado de consciência de vigília no Mundo Físico.

O Estudante deve notar, de modo especial, que estes veículos superiores têm valor presentemente porque estão conectados com o Corpo Denso, cujo mecanismo é tão esplendidamente organizado. Desse modo não cometerá o erro, tão frequente em muitas pessoas, de menosprezar o Corpo Denso ao saber que existem Corpos superiores, dele falando como de coisa “grosseira” e “vil” e dirigindo os olhos ao céu ansioso por abandonar logo esse amálgama de barro terreno para voar nos seus “veículos superiores”.

Tais pessoas, geralmente, não compreendem a diferença entre “superior” e “perfeito”. Certamente o Corpo Denso é o veículo mais inferior no sentido de ser o mais pesado e por relacionar o ser humano com o Mundo dos sentidos, com todas as limitações que isso implica. Contudo, como já dissemos, tem atrás de si um enorme período evolutivo, está em seu quarto grau de desenvolvimento e atingiu presentemente um maravilhoso e grandioso grau de eficiência. É o veículo mais bem organizado de todos os que o ser humano possui agora e tempo virá em que alcançará a perfeição. O Corpo Vital está em seu terceiro grau evolutivo e menos organizado do que o Corpo Denso. O Corpo de Desejos e a Mente são ainda, como se disse, meras nuvens – quase completamente desorganizados. Nos seres humanos mais inferiores estes veículos nem mesmo são ovoides definidos, mas sim formas indefinidas.

O Corpo Denso é um instrumento admiravelmente construído, o que pode ser comprovado por todo aquele que tenha a pretensão de conhecer a constituição do ser humano. Observe-se, por exemplo, o fêmur, o osso que suporta todo o peso do Corpo. Sua parte externa é formada por uma delgada camada de osso compacto. A parte interna é fortalecida por feixes entrecruzados de osso celular, dispostos em maneira tão maravilhosa que a mais perfeita ponte ou obra de engenharia jamais poderiam chegar a formar um pilar de igual fortaleza com tão pouco peso. Os ossos do crânio são construídos de maneira semelhante, se empregando sempre o mínimo de material e se obtendo o máximo de fortaleza. Considere a sabedoria manifestada na construção do coração e diga, depois, se esse soberbo mecanismo pode ser menosprezado. O ser humano sábio é grato pelo seu Corpo Denso, e dele cuida da melhor maneira possível porque sabe que é, presentemente, o mais valioso dos seus instrumentos.

O espírito animal em sua descida alcançou somente o Mundo do Desejo. Não se desenvolveu ainda até o ponto de poder “entrar” em um Corpo Denso. Portanto, o animal não tem espírito interno individual, mas um Espírito-Grupo que o dirige de fora. O animal tem o Corpo Denso, o Corpo Vital e o Corpo de Desejos, mas o Espírito-Grupo que o dirige se encontra fora. O Corpo Vital e o Corpo de Desejos do animal não estão completamente dentro do Corpo Denso, especialmente no que concerne à cabeça. Por exemplo, a cabeça etérica de um cavalo sobressai muito além e acima da cabeça densa. Quando, em raros casos, acontece de a cabeça etérica de um cavalo penetrar na cabeça do seu Corpo Denso, esse cavalo pode aprender a ler, a contar e a executar operações elementares de aritmética. Devido a essa peculiaridade os cavalos, os cães, os gatos e outros animais domésticos percebem o Mundo do Desejo, ainda que nem sempre distingam a diferença entre esse e o Mundo Físico. Um cavalo pode se espantar ante uma figura invisível para o cavaleiro. Um gato pode tentar se esfregar em pernas invisíveis, pois, ainda que veja o fantasma, não percebe que as pernas não são densas, nas quais se poderia esfregar. O cão, mais sábio que o cavalo e o gato, sentirá, muitas vezes, que há alguma coisa que ele não compreende quando aparece seu dono já falecido e não pode lamber as mãos dele. Ele uivará pesarosamente esse se deitará em um canto com o rabo entre as pernas. A seguinte ilustração talvez possa mostrar a diferença entre o ser humano, com seu espírito individual interno, e o animal com seu Espírito-Grupo.

Imaginemos um quarto dividido ao meio por uma cortina, um lado representando o Mundo do Desejo e o outro o Mundo Físico. Dois homens, um em cada divisão, não podem se ver mutuamente. Contudo, na cortina há dez furos pequenos e o ser humano que se encontra na divisão que representa o Mundo do Desejo pode meter seus dez dedos por esses furos para o outro lado que representa o Mundo Físico. Isto pode dar uma excelente representação do Espírito-Grupo que está no Mundo do Desejo. Os dedos representam os animais pertencentes a uma espécie. Pode movê-los a seu gosto, mas não pode empregá-los tão livre e tão inteligentemente quanto o ser humano que se encontra na divisão física pode mover seu Corpo. Esse último vê os dedos que atravessam a cortina e observa que todos se movem, mas não pode ver a relação que existe entre eles. Para ele todos parecem separados e distintos uns dos outros. Não pode ver que são os dedos do ser humano que, atrás da cortina, governa seus movimentos com sua inteligência. Se fere um destes dedos, não é ferido somente o dedo, mas principalmente o ser humano que está por trás da cortina. Se um animal é ferido esse sofre, mas não tanto quanto o Espírito-Grupo. O dedo, não tendo consciência individualizada, se move conforme a vontade do ser humano assim como os animais se move sob os ditames do Espírito-Grupo. Ouve-se falar de “instinto animal” e de “instinto cego”. Não existe essa coisa indefinida e vaga como instinto “cego”. Não há nada “cego” na maneira como o Espírito-Grupo guia seus membros, mas há isto sim, Sabedoria escrita com a letra “S” maiúscula. O Clarividente treinado, quando funciona no Mundo do Desejo, pode se comunicar com esses Espíritos-Grupo das espécies animais e constatar que são muito mais inteligentes do que uma grande porcentagem de seres humanos. Pode observar o maravilhoso tino que demonstram ao dirigir os animais, que são os seus Corpos físicos.

É o Espírito-Grupo que reúne os bandos de aves no outono e os impele a emigrar para o sul, nem demasiado cedo nem demasiado tarde, para escapar ao sopro gelado do inverno. E é ele ainda quem os dirige de volta, na primavera, fazendo-os voar à altura adequada, altura que difere segundo as diferentes espécies.

O Espírito-Grupo do castor ensina-o a construir represas que cruzam a corrente no ângulo exatamente apropriado, considerando a velocidade da corrente e todas as demais circunstâncias, precisamente como faria um engenheiro experimentado, e demonstrando que está tão atualizado sobre cada particularidade do seu ofício quanto qualquer indivíduo tecnicamente preparado em universidade. É a sabedoria do Espírito-Grupo que dirige a construção da célula hexagonal da colmeia com tanta exatidão geométrica; que ensina o caracol a construir e formar sua casa em perfeita e bela espiral; que ensina o molusco do oceano a arte de decorar sua concha iridescente. Sabedoria, sabedoria por toda parte! Tão grande, tão imensa, que o observador atento não pode deixar de se sentir pleno de admiração e reverência.

Nesse ponto pode ocorrer naturalmente o pensamento: se o Espírito-Grupo é tão sábio, considerando o curto período de evolução do animal comparado com o do ser humano, por que não manifesta esse último uma sabedoria muito maior? Por que deve o ser humano ser ensinado a construir represas e geometrizar, enquanto o Espírito-Grupo faz tudo isso sem ter sido ensinado?

A resposta a tais perguntas está relacionada com a descida do Espírito Universal na matéria de densidade sempre crescente. Nos Mundos superiores, onde os seus veículos são poucos e mais sutis, ele se acha em estreito contato com a Sabedoria Cósmica, que se revela de modo tão sublime no Mundo Físico, porém, conforme o Espírito desce, a luz da sabedoria se torna temporariamente mais e mais empanada até quase se desvanecer totalmente no mais denso de todos os Mundos.

Uma ilustração tornará isto mais claro. A mão do ser humano é o seu servo mais valioso; sua destreza lhe permite responder a mais ligeira ordem. Em algumas profissões, tais como a de caixa de bancos, o delicado tato das mãos se torna tão sensível que ele é capaz de distinguir uma moeda falsa de uma verdadeira. Isto se processa tão maravilhosamente que quase se pode pensar que a mão foi dotada de inteligência individual.

Sua maior eficiência, porém, se revela talvez na reprodução da música, pois é capaz de reproduzir as mais formosas melodias que embevecem a Alma. O tato delicado e acariciante da mão extrai do instrumento os mais suaves acordes na linguagem da Alma, dizendo suas tristezas, alegrias, esperanças, temores e anseios, de uma maneira que só a música pode fazê-lo. É a linguagem dos Mundos Celestes, o verdadeiro lar do espírito, e se apresenta à chispa divina aprisionada na carne, como a mensagem de sua terra natal. A música impressiona a todos, sem levar em conta Raça, credo ou qualquer outra distinção mundana. E quanto mais elevado e espiritual é o indivíduo, tanto mais claro ela lhe fala. Mesmo o indivíduo mais rude não fica impassível ao ouvi-la.

Imaginemos agora um mestre de música que vestisse luvas muito finas e tentasse tocar seu violino. Notaríamos logo que seu tato delicado se tornar-se-ia menos sutil. A Alma da música ter-se-ia afastado. Se colocasse outro par de luvas mais grossas por cima do primeiro par, suas mãos ficariam tolhidas a tal ponto que, provavelmente, criariam uma desarmonia ao invés da harmonia original dos acordes. Se por último pusesse outro par de luvas mais pesadas sobre os já postos, ele ficaria total e temporariamente incapaz de tocar. Então aquele que não o tivesse ouvido, anteriormente, sem as luvas, diria, por certo, ser impossível que tal professor pudesse tocar formosas melodias, especialmente se ignorasse o empecilho nas mãos dele.

Ora, o mesmo acontece com o Espírito: cada passo para baixo, cada descida para a matéria mais densa é para ele o mesmo que para o músico seria vestir as luvas. Cada passo para baixo limita seu poder de expressão, mas se acostuma a essas limitações e encontra seu foco, do mesmo modo que o olho encontra seu foco depois de entrar numa casa escura em dia claro de verão. Ao brilho do Sol a pupila se contrai dentro dos seus limites. Assim, ao entrar na casa tudo parece escuro, mas conforme a pupila se dilata e admite a luz, o ser humano pode ver tão bem na escuridão da casa como via à luz do Sol.

O objetivo da evolução humana é capacitar o Espírito a encontrar seu foco no Mundo Físico, onde atualmente a luz da Sabedoria parece embaçada. Contudo, em seu devido tempo, quando tenhamos “encontrado a luz”, a sabedoria do ser humano brilhará francamente por meio de seus atos, ultrapassando em muito a sabedoria manifestada pelo Espírito-Grupo do animal.

Além disso, devemos fazer distinção entre o Espírito-Grupo e os Espíritos Virginais da Onda de Vida que atualmente se expressa como animais. O Espírito-Grupo pertence a uma evolução diferente e é o guardião dos espíritos animais.

O Corpo Denso em que funcionamos é composto de inúmeras células, tendo cada uma sua consciência celular separada, ainda que de ordem inferior. Enquanto essas células fazem parte do nosso Corpo estão sujeitas e dominadas por nossa consciência. Um Espírito-Grupo animal funciona num Corpo espiritual, que é seu veículo inferior. Esse veículo se compõe de um número variável de Espíritos Virginais, imbuídos durante esse tempo da consciência do Espírito-Grupo. Esse último dirige os veículos construídos pelos Espíritos Virginais, cuidando deles e ajudando-os a aperfeiçoar esses veículos. Conforme aqueles que estão ao seu cargo evoluem, o Espírito-Grupo também evolui. Sofre assim uma série de metamorfoses, de modo idêntico àquele pelo qual crescemos e ganhamos experiência por introduzirmos em nosso organismo as células do alimento que comemos, elevando também dessa maneira – e por indução temporária – a sua consciência.

Assim, o Ego separado e autoconsciente que se encontra em cada Corpo humano dirige as ações do seu veículo particular, enquanto o espírito do animal, separado, mas ainda não individualizado nem autoconsciente, forma parte do veículo de uma entidade com consciência própria pertencente a uma evolução diferente – o Espírito-Grupo.

Esse Espírito-Grupo dirige as ações animais em harmonia com a lei cósmica, até que os Espíritos Virginais a seu cargo tenham adquirido consciência própria e se tornado humanos. Então, gradualmente começarão a manifestar vontade própria, se libertando cada vez mais do Espírito-Grupo e se tornando responsáveis pelos seus próprios atos. Contudo, o Espírito-Grupo continua a influenciá-los (ainda que em grau decrescente) como Espírito de Raça, de tribo, de comunidade ou de família, até que cada indivíduo se torne capaz para agir em plena harmonia com a lei cósmica. Só então o Ego se libertará e se tornará inteiramente independente do Espírito-Grupo, que por sua vez entrará numa fase superior de evolução.

A posição ocupada pelo Espírito-Grupo no Mundo do Desejo fornece ao animal uma consciência diferente da do ser humano, que tem uma consciência de vigília clara e definida, pelo que vê as coisas fora de si nítida e distintamente. Devido ao caminho evolutivo em espiral, os animais domésticos mais avançados, particularmente o cão, o cavalo, o gato e o elefante, veem os objetos quase que da mesma maneira, embora não tão claramente definidos. Todos os outros animais têm uma “consciência pictórica” interna parecida ao sonho do ser humano. Quando um desses animais encara um objeto, percebe imediatamente dentro de si uma imagem, acompanhada de uma forte impressão de malefício ou benefício para ele. Se o sentimento é de medo, se associa a uma sugestão do Espírito-Grupo de como escapar ao perigo iminente. Esse estado de consciência negativo facilita ao Espírito-Grupo guiar, por sugestão, os Corpos Densos das espécies a seu cargo, já que os animais não têm vontade própria.

O ser humano não pode ser manejado tão facilmente de fora, seja ou não com o seu consentimento. Conforme a evolução progride e sua vontade se desenvolve de modo crescente, menos acessível ele se torna à sugestão externa e mais se liberta para agir a seu talante, sem levar em conta a sugestão alheia. Esta é a diferença capital entre o ser humano e os seres dos outros Reinos. Estes agem de acordo com a lei e sob os ditames do Espírito-Grupo (que chamamos instinto), enquanto o ser humano se converte gradativamente numa lei em si mesmo. Não perguntamos ao mineral se ele quer ou não se cristalizar, nem à flor se quer ou não florescer, nem ao leão se deixará ou não de devorar. Todos estão, tanto nas grandes quanto nas pequenas coisas, sob o domínio absoluto do Espírito-Grupo, pois carecem de iniciativa e livre arbítrio, o que em certo grau são atributos de todo ser humano. Todos os animais da mesma espécie aparentam ser quase iguais porque emanam do mesmo Espírito-Grupo, enquanto entre as quinze centenas de milhões de seres humanos que povoam a Terra não há dois que pareçam exatamente iguais; nem sequer os gêmeos quando adolescentes, porque a estampa que seu Ego individual interno põe sobre cada um produz a diferença, tanto na aparência quanto no caráter.

Todos os bois pastam erva e todos os leões comem carne, mas “aquilo que é alimento para um ser humano pode ser veneno para outro”. Isto é mais uma ilustração da absoluta influência do Espírito-Grupo. Tal influência contrasta com a do Ego, que faz cada ser humano necessitar de uma porção de alimento diferente da que precisa outro. Os médicos notam com perplexidade a mesma peculiaridade ao administrar medicamentos. O mesmo medicamento atua diferentemente sobre cada indivíduo, enquanto em dois animais da mesma espécie produz sempre efeitos idênticos. Isto se dá porque todos os animais seguem os ditames do Espírito-Grupo e da Lei Cósmica, agindo sempre semelhantemente, sob circunstâncias idênticas. Somente o ser humano pode, até certo ponto, seguir seus próprios desejos dentro de limites determinados. É certo que seus erros são muitos e graves, o que leva muitas pessoas a julgar que melhor seria que o ser humano fosse obrigado a seguir o caminho reto. Contudo, se assim fosse nunca aprenderia a retidão. As lições de discernimento entre o bem e o mal não podem ser aprendidas sem o exercício da livre escolha do próprio caminho, e sem que se aprenda a rejeitar o erro como uma verdadeira “matriz de dor”. Se agisse com retidão apenas por não ter uma alternativa nem oportunidade de agir diferentemente, ele seria um autômato e não um Deus em evolução. Como o construtor aprende pelos seus erros, corrigindo-os nas edificações futuras, assim também o ser humano, por meio de seus tropeços e das dores que produzem, alcança uma sabedoria superior à do animal (por ser autoconsciente) o qual só atua sabiamente porque a isso é impelido pelo Espírito-Grupo. No devido tempo o animal alcançará o estado humano, terá liberdade de escolha, cometerá erros e por eles aprenderá, tal como acontece atualmente conosco.

O Diagrama 4 mostra que o Espírito-Grupo do Reino Vegetal tem seu veículo inferior na Região do Pensamento Concreto. Estando a dois graus do seu veículo denso, a consciência das plantas corresponde ao sono sem sonhos. O Espírito-Grupo do mineral tem seu veículo inferior na Região do Pensamento Abstrato, estando, portanto, a três passos afastados do seu Corpo Denso. Consequentemente se encontra em estado de inconsciência profunda, parecida à condição de transe.

Acabamos de mostrar que o ser humano é um espírito individual interno, um Ego separado de qualquer outra entidade, que dirige e trabalha um conjunto de veículos de dentro. Mostramos também que os vegetais e animais são dirigidos de fora por um Espírito-Grupo que tem jurisdição sobre certo número de animais ou vegetais em nosso Mundo Físico. Estão, pois, separados somente na aparência.

As relações das plantas, dos animais e do ser humano com as correntes de vida na atmosfera terrestre são representadas, simbolicamente, pela cruz. O Reino Mineral não está representado porque, conforme vimos, não possui Corpo Vital individual e, portanto, não pode ser o veículo de correntes que pertencem aos Reinos superiores. Platão, que foi um Iniciado e, frequentemente, emitia verdades ocultas, disse: “A Alma do Mundo está crucificada”.

O madeiro inferior da Cruz indica a planta, que tem suas raízes no solo químico, mineral. Os Espíritos-Grupo das plantas estão no centro da Terra. Como devemos recordar, se encontram na Região do Pensamento Concreto que, assim como os outros Mundos, interpenetra a Terra. Destes Espíritos-Grupo emanam fluxos ou correntes em todas as direções para a periferia da Terra, se exteriorizando através e ao longo das plantas ou árvores.

O ser humano é representado pela haste superior da cruz: uma planta invertida. A planta absorve seus alimentos pelas raízes. O ser humano recebe-os pela cabeça. A planta dirige seus órgãos de geração para o Sol. O ser humano, a planta invertida, volve-os para o centro da Terra. Enquanto a planta é sustentada pelas correntes espirituais do Espírito-Grupo desde o centro da Terra, as quais nela penetram pela raiz, o ser humano, como mais tarde mostraremos, recebe do Sol a influência espiritual mais elevada pela cabeça, como planta invertida que é, já que o Sol lhe envia seus raios de cima para baixo. A planta absorve o venenoso dióxido de carbono expirado pelo ser humano e exala, em troca, o vivificante oxigênio que esse utiliza.

O animal, simbolizado pelo madeiro horizontal da cruz, está entre a planta e o ser humano. Sua espinha dorsal é horizontal, e através dela passam as correntes do Espírito-Grupo animal que circulam em torno da Terra.

Nenhum animal pode permanecer em posição vertical, porque nessa posição as correntes do Espírito-Grupo não podiam guiá-lo. Morreria por não estar suficientemente individualizado a ponto de suportar as correntes espirituais que penetram através da medula espinhal humana. O veículo de expressão de um Ego individual necessita possuir três coisas: a marcha em posição vertical, para se pôr em contato com as correntes mencionadas; a laringe vertical, por ser tal laringe a única capaz de falar (os papagaios e estorninhos são exemplos de laringe vertical); e, em virtude das correntes solares, deve ter sangue quente. Esse último é da maior importância para o Ego, o que, logicamente, será explicado e ilustrado mais adiante. Tais requisitos são aqui mencionados apenas como remate final sobre a posição dos quatro Reinos em relação um ao outro e aos diversos Mundos.


[1] N.R.: cerca de 3,8 centímetros

[2] N.R.: em torno de 31 a 41 centímetros

CAPÍTULO III – O SER HUMANO E O MÉTODO DE EVOLUÇÃO

Atividades da Vida: Memória e Crescimento Anímico

O estudo dos sete Mundos ou estados de matéria mostrou-nos que cada um deles serve a um propósito definido na economia da Natureza, e que Deus, o Grande Espírito em Quem na realidade e verdadeiramente “vivemos, nos movemos e temos o nosso ser” é o Poder que, com Sua Vida, compenetra e sustenta todo o Universo; mas ao mesmo tempo em que essa Vida é imanente e flui em cada átomo dos seis Mundos inferiores e em tudo quanto neles existe, no Sétimo Mundo – o mais elevado – unicamente o Deus Trino É.

O próximo mais elevado ou sexto Reino é o Mundo dos Espíritos Virginais. Essas centelhas da “Flama” Divina têm aqui seu ser, antes de começarem a longa peregrinação dos cinco Mundos mais densos com o propósito de desenvolver suas potencialidades latentes em poderes dinâmicos. Como a semente ao ser enterrada, desenvolve suas possibilidades ocultas assim também os Espíritos Virginais, quando tiverem passado através da matéria (a escola da experiência) se converter-se-ão em “Flamas”, capazes de criar universos por si próprios.

Os cinco Mundos constituem o campo da evolução humana, sendo os três inferiores, ou mais densos, o cenário da atual fase do seu desenvolvimento. Examinemos agora as relações do ser humano com esses cinco Mundos por meio dos seus veículos apropriados recordando que, para cada uma das duas grandes divisões em que dois desses Mundos estão divididos, o ser humano possui um veículo.

Diagrama – A Constituição Sétupla do Ser Humano

No estado de vigília esses veículos estão todos juntos. Interpenetram-se uns aos outros assim como o sangue, a linfa e outros sucos do Corpo se interpenetram. Desse modo capacita-se o Ego a atuar no Mundo Físico.

Nós mesmos, como Egos, funcionamos diretamente na substância sutil da Região do Pensamento Abstrato, que especializamos dentro da periferia da nossa aura individual. Dessa Região nós observamos, através dos sentidos, as impressões produzidas pelo Mundo exterior sobre o Corpo Vital, como também os sentimentos e emoções gerados por elas no Corpo de Desejos e refletidos na Mente.

Dessas imagens mentais formamos as nossas conclusões na substância da Região do Pensamento Abstrato relativas aos assuntos a que se referem. Tais conclusões são ideias. Pelo poder da vontade projetamo-las através da Mente quando então, se revestindo de matéria mental da Região do Pensamento Concreto, se concretizam como pensamento-forma.

A Mente é como as lentes projetoras de um estereoscópio. A imagem é projetada em uma das três direções de acordo com a vontade do pensador que anima o pensamento-forma.

1ª-Pode se projetar sobre o Corpo de Desejos a fim de despertar o sentimento que impele à ação imediata.

a)Se o pensamento desperta Interesse, uma das forças gêmeas – Atração ou Repulsão – deverá atuar.

a1) Se a Atração, a força centrípeta for a despertada, ela toma o pensamento, impele-o para o Corpo de Desejos, acrescenta vida à imagem e envolve-a em matéria de desejos. Então o pensamento está apto a atuar sobre o cérebro etérico impelindo através dos centros cerebrais apropriados e dos nervos, força vital aos músculos voluntários, os quais executarão a ação necessária. Desse modo se consome a força do pensamento, mas sua imagem fica impressa no Éter do Corpo Vital como memória do ato e do sentimento que o causou.

a2) Repulsão é a força centrífuga. Se despertada pelo pensamento haverá uma luta entre a força espiritual (a vontade do ser humano) dentro do pensamento-forma, e o Corpo de Desejos. Essa é a batalha entre a consciência e o desejo, entre a natureza superior e a inferior. Apesar da resistência, a força espiritual procurará envolver o pensamento-forma na matéria de desejos necessária para manipular o cérebro e os músculos. A força de Repulsão tentará dispersar essa matéria e expulsar o pensamento. Contudo, se a energia espiritual é forte, pode romper caminho através dos centros cerebrais e envolver o pensamento-forma em matéria de desejos enquanto põe em movimento a força vital, compelindo-a desse modo à ação. Então deixará na memória uma impressão bem vivida da batalha e da vitória. Se a energia espiritual se esgotar antes de produzir a ação, a força de Repulsão prevalecerá. Então será arquivada na memória, como todos os outros pensamento-formas quando esgotam sua energia.

b)Se o pensamento-forma depara com o deprimente sentimento de Indiferença, fica então na dependência de sua própria energia espiritual que tanto pode compeli-lo à ação como pode apenas deixar uma leve impressão sobre o Éter Refletor do Corpo Vital, após ter esgotado sua energia cinética.

2ª-Quando as imagens mentais dos impactos externos não provocam uma ação imediata, podem se projetar diretamente sobre o Éter Refletor, junto com os pensamentos por elas originados, para serem utilizadas no futuro. O Espírito, trabalhando através da Mente, tem acesso instantâneo ao arquivo da Memória Consciente, podendo, a qualquer instante, ressuscitar qualquer das imagens que ali se encontrem, lhes infundir nova força espiritual e projetá-la no Corpo de Desejos para compelir à ação. Cada vez que tais imagens são assim usadas, mais força, eficiência e nitidez elas ganham e mais prontamente podem compelir à ação apropriada à natureza de cada uma, do que nas ocasiões anteriores, porque abrem, por assim dizer, sulcos no cérebro e produzem o fenômeno do pensamento, “conquistando-nos” ou “crescendo” em nós pela repetição.

3ª-A terceira maneira de empregar o pensamento-forma é quando o pensador o projeta na direção de outra Mente, para atuar como sugestão, proporcionar informações, etc., como na telepatia. Se dirigido sobre o Corpo de Desejos de outra pessoa pode forçá-la à ação, como é o caso do hipnotizador que influencia sua vítima à distância. Nesse caso, o pensamento-forma atuará exatamente como se fosse o próprio pensamento da vítima. Se estiver de acordo com as tendências desta, atuará da maneira mencionada na alínea “a)” do lº parágrafo. Se for contrário à sua natureza atuará do modo como foi descrito nas alíneas “b)” ou “c)” do mesmo parágrafo.

Quando o ato correspondente a tal pensamento-forma tenha se realizado, ou esgotado sua energia em vãs tentativas de realização, gravitará de volta ao seu criador, trazendo consigo a recordação indelével da jornada. Seu êxito ou fracasso imprimir-se-á nos átomos negativos do Éter Refletor do Corpo Vital, onde, por vezes denominada Mente Subconsciente, formará parte do registro da vida e atos do pensador.

Esse registro é muito mais importante do que a memória a que temos acesso consciente, a chamada Memória Voluntária ou Mente Consciente[1], porque essa última é formada das imperfeitas e ilusórias percepções dos sentidos.

A Memória Involuntária ou Mente Subconsciente (ou Memória Subconsciente) se forma de uma maneira diferente, estando atualmente fora do nosso controle. Do mesmo modo que o Éter leva uma impressão da paisagem fidelíssima nos menores detalhes à sensível película de uma máquina fotográfica, sem ter em conta se o fotógrafo os observou ou não, assim o Éter, contido no ar que aspiramos, leva consigo uma imagem fiel e detalhada de tudo o que está em volta de nós. Não só das coisas materiais, mas também das condições existentes em nossa aura a cada momento. O mais fugaz pensamento, sentimento ou emoção é transmitido aos pulmões, de onde é injetado no sangue. O sangue é um dos produtos mais elevados do Corpo Vital, tanto por ser o condutor de alimento para todas as partes do Corpo quanto por ser o veículo direto do Ego. As imagens nele contidas se imprimem nos átomos negativos do Corpo Vital, para servirem como árbitros do destino do ser humano no estado pós-morte.

A Memória Consciente – ou Memória Voluntária – quanto a Memória Subconsciente se relaciona totalmente com as experiências dessa vida. Consiste das impressões dos acontecimentos no Corpo Vital. Tais impressões podem ser modificadas ou até apagadas, conforme veremos na explanação relativa ao Perdão dos Pecados, algumas páginas adiante. Tais modificações ou erradicações dependem da eliminação dessas impressões do Éter do Corpo Vital.

Há também a Memória Superconsciente. Esta é o repositório de todas as faculdades e conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores, ainda que às vezes só latentes na presente vida. Esse registro é indelevelmente gravado no Espírito de Vida. Comumente se manifesta, embora não em toda extensão, como consciência e caráter, que anima todos os pensamentos-forma, umas vezes como conselheiro e outras compelindo à ação com força irresistível, mesmo contrariando a razão e o desejo.

Em muitas mulheres – cujo Corpo Vital é positivo – e em pessoas adiantadas de qualquer sexo, cujos Corpos Vitais foram sensibilizados por uma vida de pureza, santidade, oração e concentração, essa Memória Superconsciente, inerente ao Espírito de Vida, prescinde, eventualmente, da necessidade de se envolver em substância mental e matéria de desejos para compelir à ação. A Memória Superconsciente nem sempre necessita correr o risco de se ver submetida e talvez dominada pelo processo do raciocínio. Às vezes, como intuição ou conhecimento interno, se imprime diretamente sobre o Éter Refletor do Corpo Vital. Quanto mais dispostos estivermos a aprender a reconhecê-la e seguir sua orientação tanto mais frequentemente ela falará, para nosso permanente benefício.

Por suas atividades durante as horas de vigília, o Corpo de Desejos e a Mente estão, constantemente, destruindo o veículo denso. Cada pensamento, cada movimento, destrói os tecidos. Por outro lado, o Corpo Vital se dedica fielmente a restabelecer a harmonia e reconstruir aquilo que os outros veículos estão destruindo. Porém, nem sempre lhe é possível resistir completamente aos assaltos poderosos dos impulsos e pensamentos. Gradualmente perde terreno, e por fim chega a hora em que entra em colapso. Os seus “pontos”, por assim dizer, se encolhem. O fluido vital cessa de fluir ao longo dos nervos na quantidade necessária; o Corpo se torna pesado e o Pensador, coibido por esse peso, se vê obrigado a abandoná-lo, levando consigo o Corpo de Desejos. Esta retirada dos veículos superiores deixa o Corpo Denso interpenetrado, apenas, pelo Corpo Vital. A esse estado de insensibilidade chamamos de sono.

O sono, porém, não é um estado inativo, como as pessoas geralmente supõem. Se assim fosse, pela manhã, ao despertar, não apresentariam nenhuma diferença da condição que tinha ao se deitar à noite: sua fadiga seria a mesma. O sono, pelo contrário, é um período de intensa atividade e quanto mais intenso mais valioso, porque elimina os venenos resultantes dos tecidos destruídos pelas atividades físicas e mentais do dia. Restaurados os tecidos, se restabelece o ritmo do Corpo. Quanto mais perfeito é esse trabalho, maior o benefício resultante do sono.

O Mundo do Desejo é um oceano de sabedoria e de harmonia. O Ego leva a esse Mundo a Mente e o Corpo de Desejos, enquanto os veículos inferiores dormem. Ali, seu primeiro cuidado é a restauração do ritmo e harmonia da Mente e do Corpo de Desejos. Esta restauração se realiza gradualmente, na medida em que fluem através deles as vibrações harmoniosas do Mundo do Desejo. Há, no Mundo do Desejo uma essência correspondente ao fluido vital que, por meio do Corpo Vital, compenetra o Corpo Denso. Os veículos superiores mergulham, por assim dizer, nesse elixir de vida. E, após se fortalecerem, começam a trabalhar sobre o Corpo Vital deixado com o Corpo Denso, adormecido. Então, o Corpo Vital começa novamente a especializar energia solar, reconstruindo o Corpo Denso, e empregando especialmente o Éter Químico nesse processo de restauração.

Esta atividade dos diferentes veículos durante o sono constitui a base da atividade do dia seguinte. Sem ela não haveria despertar, posto que o Ego se viu obrigado a abandonar seus veículos, precisamente porque a debilidade os tornava inúteis. Se o trabalho de remoção dessa fadiga não tivesse sido feito, os Corpos permaneceriam adormecidos como, às vezes, acontece no transe natural. É devido a essa atividade harmonizadora e recuperadora que o sono se constitui em algo muito melhor que médicos e remédios para preservar a saúde. O simples descanso nada é comparado com o sono. A suspensão total do desgaste e o fluxo de força restauradora só se verificam quando os veículos superiores estão no Mundo do Desejo. É certo que durante o descanso o Corpo Vital não encontra oposição ao seu trabalho pelo desgaste de tecidos causado pelo movimento e pela tensão muscular, mas ainda tem de lutar contra a energia devastadora do pensamento, sem receber a força exterior recuperadora do Corpo de Desejos, como sucede durante o sono.

Contudo, acontece, às vezes, que o Corpo de Desejos não se retira totalmente, ficando assim uma parte ligada ao Corpo Vital, o veículo da percepção sensorial e da memória. Em consequência a restauração é parcial e as cenas e ações do Mundo do Desejo chegam à consciência física como sonhos. Naturalmente a maioria dos sonhos é confusa porque o eixo de percepção está torcido, e isto em virtude da relação imprópria entre um e outro Corpo. A recordação fica também confusa em virtude dessa incongruente relação dos veículos e, como resultado do não aproveitamento da força restauradora, o sono cheio de sonhos é inquieto e o Corpo se sente cansado ao despertar.

Durante a vida o Tríplice Espírito, o Ego, trabalha sobre e no Corpo Tríplice ao qual está ligado pelo elo da Mente. Esse trabalho traz à existência a Tríplice Alma. A Alma é, pois, o produto espiritualizado do Corpo.

Diagrama 5 – O Tríplice Espírito, o Tríplice Corpo e a Tríplice Alma

Como o alimento apropriado nutre o Corpo no sentido material, assim também a atividade do espírito no Corpo Denso, manifestada como reta ação, promove o crescimento da Alma Consciente. Como as forças solares atuam no Corpo Vital e o nutrem para que possa atuar no Corpo Denso, assim também a memória dos atos praticados no Corpo Denso; dos desejos, sentimentos e das emoções do Corpo de Desejos e dos pensamentos e das ideias na Mente produzem o crescimento da Alma Intelectual. Por forma semelhante, os desejos e as emoções mais elevados do Corpo de Desejos formam a Alma Emocional.

A Tríplice Alma, por sua vez, amplia a consciência do Tríplice Espírito.

A Alma Emocional é o extrato do Corpo de Desejos. Ela aumenta a eficiência do Espírito Humano, que é a contraparte espiritual do Corpo de Desejos.

A Alma Intelectual amplia o poder do Espírito de Vida porque a Alma Intelectual é extraída do Corpo Vital, que é a contraparte material do Espírito de Vida.

A Alma Consciente aumenta a consciência do Espírito Divino, pois (a Alma Consciente) é o extrato do Corpo Denso, que por sua vez é a contraparte do Espírito Divino.


[1] N.T.: também chamada Memória Consciente.

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Morte e Purgatório

Assim, o ser humano constrói e semeia até que a morte chega. Então o tempo da sementeira e os períodos de crescimento e amadurecimento ficaram para trás. É chegado o tempo da colheita, quando o esquelético espectro da morte surge com sua foice e sua ampulheta. Esse é um bom símbolo. O esqueleto simboliza a parte do Corpo de relativa permanência; a foice representa o fato de que essa parte permanente a qual está prestes a ser colhida pelo espírito, é o fruto da vida que vai terminar; a ampulheta indica que a hora soará somente depois que todo o tempo da vida tenha decorrido, em harmonia com leis imutáveis. Quando chega esse momento os veículos se separam. Como a vida no Mundo Físico terminou o ser humano não necessita mais do seu Corpo Denso. O Corpo Vital que, conforme já explicado, também pertence ao Mundo Físico, se retira pela cabeça, deixando o Corpo Denso inanimado.

Os veículos superiores – Corpo Vital, Corpo de Desejos e Mente – podem ser vistos abandonando o Corpo Denso com um movimento em espiral, levando consigo a Alma de um átomo denso. Não o átomo em si, mas as forças que através dele atuavam. O resultado das experiências vividas no Corpo Denso durante a existência que acaba de terminar ficou impresso nesse átomo particular. Enquanto todos os demais átomos do Corpo Denso se renovam periodicamente, esse átomo continua subsistindo. E permanece estável não somente através de uma vida, mas das de todos os Corpos Densos já usados por qualquer Ego em particular. Esse átomo é retirado após a morte e despertará somente na aurora de uma próxima vida física para servir novamente como núcleo de mais um Corpo Denso, a ser usado pelo mesmo Ego, por isso é chamado “Átomo-semente”. Durante a vida o Átomo-semente se localiza no ventrículo esquerdo do coração, próximo do ápice. Ao ocorrer a morte sobe ao cérebro pelo nervo pneumogástrico, abandonando o Corpo Denso juntamente com os veículos superiores por entre as comissuras entre os ossos parietal e occipital[1].

Quando os veículos superiores abandonam o Corpo Denso, permanecem ainda ligados a ele por meio de um cordão delgado, brilhante, prateado, muito semelhante à figura de dois seis invertidos, um na vertical e outro na horizontal, ambos ligados pelas extremidades do gancho (veja o Diagrama 5-A).

Diagrama 5-A – O Cordão Prateado

Um extremo desse Cordão se prende ao coração por meio do Átomo-semente. É a ruptura do Átomo-semente que produz a paralisação do coração. O Cordão só se rompe depois que todo o Panorama da Vida passada, contido no Corpo Vital, foi contemplado.

Todavia, se deve ter muito cuidado em não cremar ou embalsamar o Corpo antes de decorridos, no mínimo, três dias e meio após a morte, porque enquanto o Corpo Vital e os Corpos superiores permanecerem unidos ao Corpo por meio do Cordão Prateado, o ser humano, em certa medida, sentirá qualquer exame pós-morteou ferimento no Corpo Denso. A cremação deveria ser evitada nos três primeiros dias e meio depois da morte porque tende a desintegrar o Corpo Vital, que deve permanecer intacto até que se tenha imprimido, no Corpo de Desejos, o Panorama da Vida que passou.

O Cordão Prateado se rompe no ponto de união dos dois seis, metade permanecendo com o Corpo Denso e a outra metade com os veículos superiores. A partir do momento que o Cordão se rompe o Corpo Denso fica completamente morto.

Em princípios de 1906 o Dr. McDougall[2] fez uma série de experiências no Hospital Geral de Massachusetts a fim de verificar se algo invisível abandonava o Corpo por ocasião da morte. Com esse propósito construiu uma balança capaz de registrar até um décimo de onça.

A pessoa agonizante foi colocada com seu leito num dos estrados da balança, e no outro puseram pesos até o equilíbrio. Em todos os casos notou-se, que no momento preciso em que a pessoa agonizante exalava o último suspiro, o estrado contendo os pesos descia subitamente, elevando o leito e o Corpo colocados no outro estrado. Demonstrava, pois, que alguma coisa invisível, mas ponderável tinha abandonado o Corpo. Os jornais logo anunciaram em letras garrafais, por todo o país, que o Dr. McDougall tinha “pesado a Alma”.

O ocultismo se regozija pelas descobertas da ciência moderna, já que elas invariavelmente corroboram o que a Ciência Oculta há muito vem ensinando. As experiências do Dr. McDougall demonstraram conclusivamente que alguma coisa, invisível à visão comum, abandonava o Corpo na ocasião da morte, como os Clarividentes treinados têm visto e já havia sido revelado em conferências e livros muitos anos antes da descoberta do Dr. McDougall.

Contudo, essa “alguma coisa invisível” não é a Alma. Existe uma grande diferença. Os repórteres se precipitaram ao tirar suas conclusões e ao afirmarem que os cientistas tinham “pesado a Alma”. A Alma pertence aos Reinos superiores, e nunca pode ser pesada em balanças físicas, ainda que possam acusar variações da milionésima parte da um grama em vez de um décimo de onça.

O que os cientistas pesaram foi o Corpo Vital, que é formado por quatro Éteres que pertencem ao Mundo Físico.

Como já vimos, há certa quantidade desse Éter “sobreposta” ao Éter que envolve as partículas do Corpo humano, aí permanecendo durante a vida do Corpo físico[3], o que aumenta ligeiramente o peso do Corpo Denso das plantas, dos animais e do ser humano. Pela morte, ele escapa. Daí a diminuição de peso observada pelo Dr. McDougall nas pessoas das suas experiências, quando expiravam.

O Dr. McDougall também experimentou pesar animais agonizantes. Contudo, nestes não notou qualquer diminuição de peso, embora um deles fosse um grande cão S. Bernardo. Afirmou-se então que os animais não tinham Alma. Pouco depois, porém, o professor La V. Twining, chefe do Departamento Científico da Escola Politécnica de Los Angeles, fez experiências com ratos e gatinhos, que encerrou em frascos de cristal hermeticamente fechados. Suas balanças eram as mais sensíveis que pôde encontrar, e foram colocadas dentro de uma grande caixa de vidro donde se extraiu toda a umidade. Observou-se então que todos os animais também perdiam peso quando morriam. Um rato que pesava 12,886 gramas perdeu subitamente 3,1 miligramas quando morreu.

Um gatinho usado em outra experiência perdeu 100 miligramas ao agonizar, e quando exalou seu último alento perdeu mais 60 miligramas. A seguir foi perdendo peso lentamente, devido â evaporação.

Desse modo os ensinamentos da Ciência Oculta relativos aos Corpos Vitais dos animais foram também comprovados quando se empregaram balanças suficientemente sensíveis. O caso mencionado – o das balanças que não acusaram qualquer diminuição de peso quando morreu o cão S. Bernardo – se deve ao fato de que o Corpo Vital dos animais é proporcionalmente mais leve que o do ser humano.

Quando o Cordão Prateado se desprende do coração e o ser humano se liberta do seu Corpo Denso, chega para o Ego o momento da mais alta importância. Nunca se repetirá suficientemente às pessoas da família de um agonizante, que é um grande crime contra a Alma que parte, se entregarem às lamentações e manifestações de sofrimento. Isso justamente porque naquele momento ele está entregue a um ato de suprema importância, já que o valor de sua vida passada depende, em grande parte, da atenção que a Alma possa prestar a esse ato. Isto será mais bem esclarecido quando descrevermos a vida do ser humano no Mundo do Desejo.

É também um crime contra o agonizante lhe ministrar estimulantes, cujo efeito é o de forçar os veículos superiores a entrarem, abruptamente, no Corpo Denso produzindo no ser humano um choque enorme. A passagem para o além não é tortura. Contudo, arrastar a Alma de volta ao Corpo para que continue sofrendo, isto sim é tortura. Há casos de mortos que contaram aos investigadores o quanto sofreram agonizando durante horas por esse motivo, rogando às famílias que cessassem seu mal-entendido carinho e os deixassem morrer.

Quando o ser humano se liberta do Corpo Denso, que era o mais considerável empecilho ao seu poder espiritual (como as luvas grossas nas mãos do músico, do exemplo anterior), tal poder lhe volta até certo ponto. Com isso ele pode ler as imagens contidas no polo negativo do Éter Refletor do seu Corpo Vital, que é o assento da Memória Subconsciente.

Toda sua vida passada desfila nesse momento ante sua visão como um panorama, apresentando os acontecimentos em ordem inversa. Os incidentes do dia que precedeu a morte vêm em primeiro lugar, e assim seguem para trás através da velhice, idade viril, juventude, meninice e infância. Tudo é revisto.

O ser humano permanece como espectador ante esse Panorama da Vida passada. Vê as cenas conforme se sucedem e que se vão imprimindo nos seus veículos superiores, mas nesse momento fica impassível ante elas. O sentimento está reservado para quando chegar a hora de entrar no Mundo do Desejo, que é o Mundo do sentimento e da emoção. Por enquanto ele se encontra apenas na Região Etérica do Mundo Físico.

Esse panorama perdura de algumas horas até vários dias, dependendo isso do tempo que o ser humano possa se manter desperto, se necessário. Algumas pessoas podem se manter assim somente doze horas, ou menos ainda; outras podem manter-se, segundo a ocasião, por certo número de dias. Contudo, enquanto o ser humano puder se manter desperto esse panorama prossegue.

Esse aspecto da vida depois da morte é semelhante ao que acontece quando alguém se afoga ou cai de uma grande altura. Em tais casos o Corpo Vital também abandona o Corpo Denso. Então o ser humano vê a sua vida num relâmpago, pois em seguida perde a consciência. Naturalmente não há rompimento do Cordão Prateado, porque se tal se desse não haveria ressurreição possível.

Quando a resistência do Corpo Vital alcança o seu limite máximo, entra em colapso na forma descrita no fenômeno do sono. Durante a vida física, quando o Ego controla os seus veículos, esse colapso termina as horas de vigília. Depois da morte, o colapso do Corpo Vital encerra o panorama e força o ser humano a entrar no Mundo do Desejo. O Cordão Prateado se rompe então no ponto onde se unem os “dois seis” (veja o Diagrama 5-A) se efetuando a mesma divisão como durante o sono, porém com esta diferença importante: ainda que o Corpo Vital volte para o Corpo Denso, não mais o interpenetra. Simplesmente fica flutuando sobre a sepultura e sofre uma decomposição sincronicamente com o veículo denso. Por isso o cemitério é um espetáculo repugnante para o Clarividente desenvolvido. Bastaria que algumas pessoas a mais pudessem vê-lo, e não seria preciso maior argumentação para convencer a trocar o mau e anti-higiênico método de enterrar os mortos pelo método mais racional da cremação, que restitui os elementos à sua condição primordial sem que o cadáver alcance os desagradáveis aspectos inerentes ao processo da decomposição lenta.

Quando o Espírito deixa o Corpo Vital, o processo é muito parecido ao que se verifica ao deixar o Corpo Denso. As forças vitais de um átomo são levadas para serem empregadas como núcleo do Corpo Vital na futura encarnação. Desse modo, ao entrar no Mundo do Desejo o ser humano leva os Átomos-sementes dos Corpos: Vital e Denso, além do Corpo de Desejos e da Mente.

Se o moribundo pudesse deixar todos os desejos para trás, descartaria logo o seu Corpo de Desejos, ficando livre para entrar nos Mundos Celestes, mas, isso geralmente não acontece. Muitas pessoas, principalmente quando morrem no vigor da vida, têm muitos laços e muitos interesses na vida terrena. Como perder o Corpo físico[4] não altera os desejos, pelo contrário, muitas vezes os aumenta, sentem um desejo intensíssimo de voltar. Isso produz o seu efeito: sujeita tais pessoas mais ao Mundo do Desejo de modo muito desagradável, embora desafortunadamente não possam compreender. Por outro lado, as pessoas idosas, decrépitas e todos aqueles debilitados por longa enfermidade e que estão cansados da vida passam por ele muito rapidamente.

A seguinte ilustração permite compreender melhor o assunto: uma semente se separa facilmente do fruto maduro porque a polpa não está aderente, enquanto numa fruta verde a semente se apega com tenacidade à polpa. Assim é especialmente difícil para as pessoas se verem privadas de seu Corpo por um acidente, quando se encontram na plenitude de suas forças e saúde física: comprometidas de várias maneiras com as atividades da vida física, presas por laços à esposa ou ao marido, à família, aos parentes, aos amigos, realizando negócios e em busca de prazeres.

O suicida, que procurou fugir da vida, apenas descobre que está mais vivo do que nunca, e que se encontra na mais lastimável condição. É capaz de observar aqueles a quem, com seu ato, talvez tenham prejudicado e, pior que tudo, tem uma inexplicável sensação de estar “oco”. A parte da aura ovoide, que geralmente contém o Corpo Denso, está vazia e, ainda que o Corpo de Desejos tenha tomado a forma do Corpo Denso descartado, ele se sente como uma concha vazia, pois o Arquétipo criador do Corpo persiste, por assim dizer, como um molde vazio na Região do Pensamento Concreto por tanto tempo quanto deveria viver o Corpo Denso. Quando uma pessoa morre de morte natural, mesmo no vigor da vida, a atividade do Arquétipo cessa e o Corpo de Desejos por si mesmo se ajusta para ocupar toda a forma. Contudo, no caso do suicida, o horrível sentimento de “vazio” permanece até o tempo em que deveria ocorrer a morte natural.

Enquanto mantiver desejos relacionados com a vida terrestre o ser humano deve permanecer no seu Corpo de Desejos; como o progresso do indivíduo requer a passagem às Regiões superiores, a existência no Mundo do Desejo deve ser forçosamente purgadora, tendendo a purificá-lo dos seus constrangedores desejos. O modo como isso se efetua pode ser bem compreendido por meio de alguns exemplos extremos.

A pessoa avarenta, que amava o seu ouro na vida terrena, continua amando-o igualmente depois da morte; no entanto, já não pode adquirir mais, porque não tem Corpo Denso para tomá-lo e, pior que tudo, nem pode defender o que acumulou durante a vida. Irá, talvez, se prostrar ao lado do seu cofre e vigiar seu amado ouro ou seus títulos. Seus herdeiros surgirão e, talvez com expansões de alegria, falarão do “velho ou da velha avarento e bobo ou boba” (a quem não veem, mas por quem são vistos e ouvidos), abrirão o cofre e ainda que ela se atire sobre o ouro para protegê-lo, meterão suas mãos através dela, não sabendo e nem se importando com ela que está ali. Esses herdeiros gastarão todo o ouro, não obstante o sofrimento e a raiva impotente daquele que o juntou.

Ela sofrerá intensamente e os sofrimentos serão mais terríveis, pois são inteiramente mentais, porque o Corpo Denso atenua o sofrimento, até certo ponto. Entretanto, no Mundo do Desejo esses sofrimentos se manifestam completamente e essa pessoa sofrerá até aprender que o ouro pode ser uma maldição. Então, gradualmente, ela se conforma com seu destino e, finalmente, irá se libertar do Corpo de Desejos, quando poderá prosseguir.

Consideremos o caso de uma pessoa alcoólatra. Ela é tão aficionada aos intoxicantes depois da morte como antes. Não é o Corpo Denso que anseia beber. Esse adoece em razão do álcool, de modo que preferiria passar sem ele. Pelas mais diversas maneiras pode até protestar, mas em vão: o Corpo de Desejos de uma pessoa alcoólatra exigirá a bebida e obrigará o Corpo Denso a tomá-la para que, pelo aumento de vibração, o primeiro possa desfrutar sensações de prazer. Esse desejo persiste depois da morte do Corpo Denso, mas a pessoa viciada já não dispõe de boca física para beber nem de estômago capaz de receber bebidas físicas. A pessoa alcoólatra pode – e assim o faz – entrar em bares e interpenetrar com o seu Corpo de Desejos, o Corpo de outros bebedores para se aproveitar um pouco de suas vibrações, por indução. Isso, contudo, é demasiado fraco para poder satisfazê-la. Pode também – e o faz muitas vezes – entrar em um tonel de aguardente, mas igualmente sem resultado, pois os vapores encontrados no barril não produzem o mesmo efeito daqueles que eram gerados nos seus órgãos digestivos. se encontra, pois, em circunstância idêntica à de um ser humano num barco no meio do oceano: “água, água por toda parte, porém nem sequer uma gota para beber”, consequentemente sofre intensamente. Com o tempo, aprende a inutilidade de ansiar pela bebida que não pode conseguir. Tal como sucede com muitos de nossos desejos na vida terrestre, no Mundo do Desejo todos os desejos morrem por falta de oportunidade para satisfazê-los. Assim, quanto à pessoa alcoólatra, expurgado do seu hábito, está pronta para deixar o estado “purgatorial” e ascender aos Mundos Celestes.

Vemos, assim, que não há nenhuma Deidade vingativa que tenha criado o Purgatório ou inferno para nós, mas sim que fomos nós próprios que os criamos com nossos maus atos e hábitos. Da intensidade dos nossos desejos depende o tempo e o sofrimento necessários para a sua expurgação. No caso acima, a pessoa alcoólatra nada sofreria se perdesse seus bens materiais, pois se os tinha, a eles não se apegou. Quanto à pessoa avara, tampouco lhe causaria o menor sofrimento se ver privado de bebidas alcoólicas. se pode até assegurar que não lhe importaria absolutamente se não existisse no mundo uma só gota de álcool. Contudo, ela se preocupou, isso sim, com o seu ouro, e a pessoa alcoólatra com a bebida. Assim, a infalível lei dá a cada um aquilo que necessita para se purificar de seus maus desejos e hábitos.

Esta é a lei que, simbolizada pela gadanha da segadora, a morte, diz: “o que o ser humano semear, isto também colherá[5].  É a Lei de Causa e Efeito, que regula todas as coisas nos três Mundos e em cada Reino da natureza: físico, moral e mental. Por toda parte atua inexoravelmente, ajustando todas as coisas e restabelecendo o equilíbrio, onde quer que o menor ato tenha produzido um distúrbio. O resultado dessa atuação da Lei pode se manifestar imediatamente ou tardar anos ou vidas inteiras, porém, algum dia e em algum lugar, far-se-á justiça e a equivalente retribuição. O Estudante deve notar, de modo especial, que o trabalho da Lei é inteiramente impessoal. No universo não existe nem recompensa, nem castigo. Tudo é resultado da Lei invariável. A ação desta Lei será elucidada, completamente, no próximo capítulo, onde a veremos associada à outra grande Lei do Cosmos que também opera na evolução do ser humano. A Lei que agora consideramos é a Lei de Consequência.

No Mundo do Desejo ela age purificando ou purgando o ser humano de seus desejos inferiores, corrigindo as debilidades e vícios que retardam o seu progresso, fazendo-o sofrer da maneira mais conveniente a esse propósito. Aquele que fez outros sofrerem ou que com eles se comportou injustamente, sofrerá de maneira idêntica. se deve notar, porém que se uma pessoa domina os seus vícios, ou se arrepende e, tanto quanto possível, desfaz o mal causado a outrem, a reforma, o arrependimento e a restituição purgam-no desses vícios e más ações. Porque assim o equilíbrio é restabelecido e a lição aprendida durante esta encarnação, não mais podendo isso, portanto, causar sofrimento depois da morte.

No Mundo do Desejo se vive cerca de três vezes mais rapidamente do que no Mundo Físico. Um ser humano que tenha vivido cinquenta anos no Mundo Físico viveria os mesmos acontecimentos no Mundo do Desejo em uns dezesseis anos. Isto, naturalmente, generalizando. Há pessoas que permanecem no Mundo do Desejo muito mais tempo do que passaram na vida física. Outros, pelo contrário, que abandonam a vida com poucos desejos grosseiros, passam por esse Mundo em tempo muito mais curto. Contudo, o tempo acima indicado é a média no que se refere ao ser humano dos nossos dias.

Recordemos que quando o ser humano deixa o Corpo Denso, ao morrer, sua vida passada se lhe apresenta como imagens, as quais nesse momento não produzem nele nenhum sentimento.

Durante a sua vida no Mundo do Desejo, as imagens também se desenrolam para trás, como antes, mas agora o ser humano tem todo o sentimento que lhe é possível ter, conforme as cenas se sucedem uma a uma diante dele. Cada incidente de sua vida passada é revivido, quando chega o ponto em que tenha ofendido alguém, ele mesmo sofre a dor que a pessoa injuriada sofreu. Vive todas as tristezas e sofrimentos que causou aos outros, e aprende quão dolorosa é a mágoa e quão duro é suportar a tristeza que causou. Além disso, fato já mencionado, o sofrimento nesse Mundo é muito mais intenso porque ali o ser humano não tem Corpo Denso para atenuar a dor. Talvez por isso a duração da vida ali seja reduzida a um terço para que o sofrimento possa perder em duração o que ganha em intensidade. As medidas da Natureza são maravilhosamente justas e certas.

Há outra característica peculiar a essa fase da existência pós-morte, intimamente relacionada com o fato, já referido, de que a distância é quase nula no Mundo do Desejo. Quando um ser humano morre, lhe parece crescer imensamente em seu Corpo Vital até adquirir proporções colossais. Essa sensação não se deve ao fato de que esse Corpo cresça realmente. Na verdade, ele não cresce. As faculdades de percepção é que recebem tantas impressões de várias fontes que tudo parece estar ao seu alcance. O mesmo acontece com o Corpo de Desejos. Parece ao ser humano estar presente ante todas as pessoas de suas relações na Terra, e com as quais de algum modo tem uma dívida a corrigir. Se injuriou um ser humano em S. Francisco[6] e outro em Nova York[7], sentirá como se uma parte de si mesmo estivesse em cada uma dessas cidades. Isto lhe produz uma estranha sensação de estar sendo dividido em pedaços.

O Estudante pode, agora, compreender a importância do Panorama da Vida passada durante a existência purgatorial onde esse panorama se traduz em sentimentos definidos. Se ao morrer deixarem a pessoa tranquila, sem perturbação, a completa, profunda e clara impressão do panorama gravado como resultado no Corpo de Desejos fará que a vida no Mundo do Desejo seja muito mais vivida e consciente, e que a purificação seja mais perfeita. A expressão de desespero e as lamentações dos que rodeiam o leito de morte, dentro do período de três dias e meio mencionado, só podem resultar em que o ser humano obtenha uma impressão vaga da vida passada. O Espírito que tenha estampado uma gravação clara e profunda no seu Corpo de Desejos compreenderá os erros da vida passada muito mais clara e definidamente do que se as imagens gravadas resultarem indistintas, pelo fato de sua atenção ter sido desviada por lamentos e sofrimentos daqueles que o rodeavam. Os sentimentos relativos às coisas que causam sofrimento no Mundo do Desejo serão muito mais definidos se forem extraídos de uma impressão panorâmica bem distinta do que se a duração do processo fosse insuficiente.

Esse agudo e preciso sentimento será de valor imenso nas vidas futuras. Ele estampa no Átomo-semente do Corpo de Desejos uma impressão indelével de si mesmo. As experiências serão esquecidas nas vidas futuras, mas o Sentimento subsistirá, de modo que quando novas oportunidades para repetir os erros das vidas passadas se apresentarem, esse Sentimento falará com toda a clareza e de maneira inequívoca. Essa é “a pequenina voz silenciosa” que nos adverte, ainda que não saibamos por que, mas quanto mais claro e definido tenha sido o panorama das vidas passadas tanto mais amiúde, forte e claramente, ouviremos essa voz. Vemos assim quão importante é proporcionarmos ao espírito em transição um ambiente de absoluta quietude. Assim fazendo, ajudamo-lo a colher o máximo benefício da vida que terminou e a evitar a repetição dos mesmos erros em vidas futuras. Lamentações histéricas e egoístas podem privá-lo de grande parte do valor da vida que passou.

A missão do Purgatório é erradicar os hábitos prejudiciais, tornando impossível sua gratificação. O indivíduo sofre exatamente o que fez sofrer aos outros, com sua: desonestidade, crueldade, intolerância, ou, o que for. Em virtude desse sofrimento aprende a agir honesta, gentil e pacientemente com os demais no futuro. Assim, em razão da existência desse estado benéfico, o ser humano aprende a virtude e a reta ação. Quando renasce está livre de maus hábitos, ou pelo menos as más ações que venha a cometer serão frutos de sua livre vontade. A tendência a repetir o mal das vidas passadas subsiste, mas devemos aprender a agir com retidão, conscientemente, e por vontade própria. Tais tendências tentam-nos eventualmente, proporcionando-nos oportunidades de autodomínio e de inclinação para a virtude e a compaixão, opondo-nos à crueldade e ao vício. Contudo, para indicar a ação reta e ajudar-nos a resistir às ciladas e ardis da tentação, temos o sentimento resultante da purificação dos maus hábitos e da expiação dos maus atos das vidas passadas. Se ouvimos e atendemos sua voz e evitamos o mal que nos incita, a tentação cessa. Então nos libertamos dela para sempre. Se caímos, experimentamos um sofrimento mais agudo do que o anterior, porque o destino do transgressor é muito duro até que aprenda a viver pela Regra de Ouro. Mesmo assim não temos ainda chegado ao fim. Fazer o bem aos demais esperando que eles nos retribuam é essencialmente egoísta. No devido tempo aprenderemos a fazer o bem sem considerar como estamos sendo tratados pelos outros. Como disse Cristo, devemos amar até os nossos inimigos.

Há um benefício inestimável em conhecer o método e o objetivo da purgação, pois assim poderemos nos antecipar e começar a viver nosso Purgatório aqui e agora, dia a dia, avançando muito mais depressa dessa maneira. Na última parte desta obra é dado um exercício cujo objetivo é a purificação, como ajuda ao desenvolvimento da visão espiritual. Consiste em recordarmos os acontecimentos do dia ao nos recolhermos â noite. Contemplam-se, então, os acontecimentos do dia em ordem inversa, fixando-os especialmente em seu aspecto moral, e considerando onde e quando se agiu com retidão ou erroneamente em cada caso particular por pensamentos, atos e hábitos. Julgando-nos assim dia após dia, esforçando-nos por corrigir erros e más ações, podemos praticamente diminuir, talvez até suprimir, a necessidade do Purgatório, capacitando-nos passar diretamente ao Primeiro Céu depois da morte. Se dessa maneira sobrepomo-nos conscientemente às nossas debilidades, estamos também conseguindo um avanço material na escola da evolução. Ainda que fracassemos em corrigir nossas ações, fica-nos um enorme benefício em nos julgarmos. Esse autojulgamento gera aspirações para o bem, que no devido tempo frutificar-se-ão seguramente em ações retas.

Revendo os acontecimentos do dia e censurando-nos pelo malfeito, não devemos esquecer a aprovação impessoal do bem praticado, determinando-nos a agir ainda melhor. Desse modo fortificamos o bem pela aprovação, assim como debilitamos o mal pela reprovação.

O arrependimento e a reforma são fatores poderosos para encurtar a existência no Purgatório, pois a Natureza jamais despende esforços em processos inúteis. Quando compreendemos o erro de certos hábitos ou atos em nossa vida passada e nos determinamos a eliminá-los ou a desfazer o malfeito, expurgamos suas imagens da Memória Subconsciente, de modo que depois da morte já não estarão ali para julgar-nos. Ainda que não possamos dar compensação por um erro cometido, a sinceridade do nosso arrependimento bastará. A Natureza não visa desforra ou busca vingança. Pode ser dada à vítima uma recompensa em outra forma. Muitos progressos, normalmente reservados para vidas futuras, serão conseguidos pelo ser humano que aproveita uma oportunidade sem hesitação, se julgando a si mesmo e eliminando os vícios pela reforma do seu caráter. Essa prática é enfaticamente recomendada. É, talvez, o ensinamento mais importante dessa obra.


[1] N.R.: Também chamada de sutura lambdoide (é uma sutura entre os ossos parietal e occipital do crâneo), marca as bordas entre o osso parietal e o osso occipital.

[2] N.R.: Dr. Duncan “Om” MacDougall (c.1866-1920) – médico americano

[3] N.R.: que é o Corpo Denso

[4] N.R.: que é o Corpo Denso

[5] N.T.: Gl 6:7

[6] San Francisco – cidade do estado da Califórnia, EUA

[7] New York – cidade do estado de New York, EUA

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A Região Limítrofe

O Purgatório ocupa as três Regiões inferiores do Mundo do Desejo. O Primeiro Céu está nas três Regiões superiores. A Região Central é uma espécie de território neutro – nem céu nem inferno. Nesta Região encontramos as pessoas retas e honestas, que a ninguém injuriaram, mas que estiveram tão absorvidas pelos seus interesses que nada pensaram sobre a vida superior. Para elas, o Mundo do Desejo é um estado de uma enorme e indescritível monotonia. Não há nenhum “negócio” nesse Mundo, nem existe ali nada que para um ser humano de tal espécie possa substituí-lo. Passa um período mui penoso, até que aprende a pensar em outras coisas que não sejam escritas mercantis e contas correntes. Aqueles seres humanos que pensaram nos problemas da vida e chegaram à conclusão de que “tudo acaba com a morte”; que negaram a existência das coisas que estão além do Mundo material, esses sentirão também aquela terrível monotonia. Esperavam o aniquilamento da consciência, mas ao invés disso vão se achar com uma percepção maior das pessoas e das coisas que os circundarem. Habituaram-se a negar essas coisas tão veementemente que, amiúde, acreditarão que o Mundo do Desejo é uma alucinação. se pode ouvi-los exclamar com o mais profundo desespero: “Quando acabará isto? Quando acabará isto?”.

Tais pessoas se encontram realmente em estado lastimável. Estão além do alcance de qualquer auxílio, e sofrem por muito mais tempo do que qualquer outra. Além disso, dispõem de pouquíssima vida nos Mundos Celestes, onde se ensina a construção de Corpos para uso futuro; então elas concentram todos os seus pensamentos cristalizantes sobre o Corpo que constroem para a vida futura e, assim, é construído um Corpo que tem tendências endurecedoras, como a que observamos na consumpção (progressivo definhamento do organismo por doenças). Às vezes, o sofrimento incidente em tais Corpos assim decrépitos poderão direcionar os pensamentos dessas entidades que os animam para Deus ajudando-as a prosseguir em sua evolução; mas, a Mente materialista corre o terrível perigo de perder todo o contato com o Espírito, convertendo a pessoa se tornar um proscrito, um pária. Por isso os Irmãos Maiores se preocuparam seriamente com o destino do Mundo ocidental durante o último século, e se não fosse a sua ação benéfica e especial havia um cataclismo social, comparado com o qual a Revolução Francesa seria uma brincadeira de crianças. O Clarividente desenvolvido pode observar quão dificilmente a Humanidade tem escapado de desastres tão devastadores que os continentes ter-se-iam submergidos no mar. O leitor encontrará uma exposição mais detalhada da relação do materialismo com as erupções vulcânicas no Capítulo XVIII, onde a lista de erupções do Vesúvio[1] corrobora tal relação, a menos que se atribua isso a meras “coincidências”, atitude geralmente tomada pelos cépticos quando enfrentam fatos e números que não podem explicar.


[1] Vesúvio – vulcão localizado no golfo de Nápoles, Itália, a cerca de nove quilômetros a oeste de Nápoles.

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O Primeiro Céu

Quando termina a existência purgatorial, o espírito purificado ascende ao Primeiro Céu, que está situado nas três Regiões mais elevadas do Mundo do Desejo. Os resultados dos sofrimentos são incorporados ao Átomo-semente do Corpo de Desejos, o que lhe comunica a qualidade de reto sentimento que atuará, no futuro, como impulso para o bem e repulsão ao mal. Aqui o panorama do passado se desenrola de novo para trás, mas então as boas obras da vida são à base dos sentimentos. Ao chegarmos às cenas em que ajudamos a outrem, viveremos de novo toda a alegria que isto nos proporcionou, como também sentiremos toda a gratidão emitida por aqueles a quem ajudamos. Quando contemplamos de novo as cenas em que fomos ajudados por outros, voltamos a sentir toda a gratidão que emitimos ao nosso benfeitor. Desse modo vemos a importância de apreciar os favores com que outros nos cumularam, porque a gratidão produz crescimento anímico. Nossa felicidade nos céus depende do regozijo que tenhamos proporcionado a outros, e do valor que demos àquilo que outros fizeram por nós.

Deve-se sempre recordar que o poder de dar não pertence exclusivamente ao ser humano rico. Dar dinheiro sem discernimento pode ser até um mal. É um bem dar dinheiro para um propósito que consideremos benéfico, porém um serviço prestado vale mil vezes mais. Como disse Whitman[1]:

“Atenção, não dou palestras nem faço um pouco de caridade,

Quando dou algo, dou-me por inteiro.”

Um olhar carinhoso, expressões de confiança, uma simpática e amorosa ajuda são coisas que todos podem dar, seja qual for a fortuna de cada um. Todavia devemos ajudar o necessitado de maneira que ele possa ajudar a si próprio, seja física, financeira, moral ou mentalmente, para que não dependa mais de nós nem dos outros.

A ética de dar, produzindo uma lição espiritual sobre aquele que dá, foi descrita de forma belíssima em “Visão de Sir Launfal”, de Lowell[2]. O jovem e ambicioso cavaleiro, Sir Launfal, envergando brilhante armadura e vestido com luxuosas roupas, parte do seu castelo em busca do “Santo Graal”. No seu escudo resplandece a cruz, o símbolo da benignidade e ternura do Nosso Salvador, o Ser amoroso e humilde, mas o coração do cavaleiro está repleto de orgulho e desdém para com os pobres e necessitados. Ele encontra um leproso mendigando e com um gesto de desdém lhe atira uma moeda, como se atirasse um osso a um cão faminto. Porém…

O leproso não ergueu o ouro do pó:

“Melhor para mim é a côdea de pão que o pobre me dá,

e melhor sua mão que me abençoará,

ainda que de mãos vazias de sua porta me deva afastar.

As esmolas que só com as mãos ofertadas,

não são as verdadeiras.

Inúteis são o ouro e as riquezas dadas

apenas como um dever a cumprir.

A mão, porém, não consegue a esmola abarcar,

quando vem daquele que reparte o pouco que tem,

que dá o que não é possível visualizar.

– esse fio de Beleza que tudo sabe unir,

que tudo sustenta, penetra e mantém –

o coração ansioso e estende a mão

quando Deus acompanha a doação,

alimentando a Alma faminta, que sucumbia só, na escuridão”.

Ao regressar, Sir Launfal encontra seu castelo ocupado por outro, sendo impedido de entrar nele.

Já velho, claudicante e alquebrado,

da busca do Santo Graal, ele voltou

pouco lhe importando o que para trás deixou.

Não mais luzia a cruz sobre seu manto,

mas fundo em seu coração a marca ficou:

a divisa do pobre e seu triste pranto.

De novo encontra o leproso que, outra vez, lhe pede uma esmola. No entanto, o cavaleiro agora responde de outro modo.

E Sir Launfal lhe disse: “Vejo em ti

a imagem d’Aquele que na cruz morreu.

Tu, também, tens a coroa de espinhos de quem padeceu,

muitos escárnios tens também sofrido

e o desprezo do mundo hás sentido.

As feridas em tua vida não faltaram

nos pés, nas mãos, no corpo, elas te machucaram.

Filho da clemente Maria reconhece quem eu sou

e vê que, através do pobre, é a Ti que eu dou.”

Um olhar aos olhos do leproso lhe traz recordações e reconhecimento, e:

Seu coração era só cinza e pó.

Ele partiu, em duas, sua única côdea de pão,

ele quebrou o gelo da beira do córrego

e ao leproso deu de comer e beber.

Uma transformação, enfim, ocorreu:

Não mais o leproso ao seu lado se curvava

Mas, à frente dele, glorioso se levantava.

(…)

E a Voz, ainda mais doce que o silêncio:

“Vê, Sou Eu, não temas!

Na busca do Santo Graal, em muitos lugares

Gastaste tua vida, sem nada lucrares.

Olha! Ei-lo aqui: o cálice que acabaste de encher

com a límpida água do regato que Me desse de beber.

Esta côdea de pão é Meu Corpo

que foi para ti partido.

Esta água é Meu sangue

que na cruz para ti foi vertido.

A Santa Ceia é mantida, na verdade,

por tudo que ajudamos o outro em sua necessidade.

Pois a dádiva, só tem valor

Quando com ela vem o doador

e a três pessoas ela alimenta assim:

ao faminto, a si própria e a Mim.”

O Primeiro Céu é um lugar de alegria, sem vestígios sequer de amargura. O espírito está além das influências materiais e terrestres e, ao reviver sua vida passada, assimila todo o bem nela contido. Aqui se realizam em toda amplitude todos os empreendimentos nobres a que o ser humano aspirou. É um lugar de repouso, e quanto mais dura tenha sido a vida, maior será o descanso que gozará. Enfermidade, tristeza e dor são coisas desconhecidas no Primeiro Céu. É a pátria de veraneio dos espiritualistas. Os pensamentos do devoto Cristão construíram ali a Nova Jerusalém. Formosas casas, flores, etc., são o prêmio dos que a elas aspiraram, e que eles mesmos construíram com o pensamento, se utilizando da sutilíssima matéria de desejos. Contudo são para eles tão reais e tangíveis como são para nós as casas materiais. Todos desfrutam ali a satisfação daquilo que não puderam alcançar na vida terrestre.

Há uma classe de seres que goza uma vida especialmente formosa no Primeiro Céu: as crianças. Se pudéssemos vê-las, logo cessariam nossos pesares. Quando uma criança morre antes do nascimento do Corpo de Desejos, isto é, antes dos catorze anos, não vai além do Primeiro Céu porque não é responsável pelos seus atos, do mesmo modo que o feto que se contorce no útero não é responsável pelo incômodo que causa à sua mãe. Portanto, a criança não tem existência purgatorial. O que não foi vivificado não pode morrer, portanto o Corpo de Desejos de uma criança, junto com a Mente, persistirá até o novo nascimento. Por essa razão, essas crianças são capazes de recordar suas vidas anteriores, como é o caso que se narra em outro lugar.

Para tais crianças o Primeiro Céu é uma sala de espera onde permanecem de um a vinte anos, até que se apresente uma nova oportunidade para renascerem. Entretanto, é algo mais do que uma simples sala de espera, porque, nesse ínterim se realiza ali um grande progresso.

Quando uma criança morre há sempre alguém da família à sua espera. No entanto, na falta disto, sempre existe quem a adote com sentimento maternal porque gostava também de fazê-lo em sua existência terrena, se satisfazendo em cuidar de um pequeno desamparado. A extrema plasticidade da matéria de desejos permite formar com a maior facilidade maravilhosos brinquedos viventes para as crianças, tornando suas vidas um formoso divertimento: contudo sua instrução não fica descuidada. Elas são agrupadas em classes de acordo com os seus temperamentos, sem se considerar a idade. No Mundo do Desejo é muito fácil ministrar lições objetivas da influência do bem e das más paixões sobre a conduta e a felicidade. Estas lições se imprimem, indelevelmente, sobre o sensitivo e emotivo Corpo de Desejos da criança e acompanham-na depois do renascimento. Assim, muitos dos que levam uma vida nobre devem-na ao fato de terem sido submetidos a esse treinamento. Quando nasce um espírito débil é comum os Seres Compassivos (os Líderes Invisíveis que dirigem nossa evolução) fazerem-no morrer em tenra idade para que possa ter esse treinamento extra, ajudando-o a se adaptar ao que talvez possa ser para ele uma vida dura. Parece ser esse o caso especialmente quando a impressão no Corpo de Desejos foi fraca, em decorrência de perturbações das lamentações dos parentes em volta do moribundo, ou por ter morrido em acidente ou num campo de batalha. Sob tais circunstâncias ele não pode experimentar, em sua existência pós-morte, a intensidade de sentimentos apropriados, por isso quando nasce e morre a seguir, em tenra idade, a perda se recobra na forma acima indicada. Muitas vezes, o dever de cuidar dessas crianças na vida celeste recai sobre aqueles que foram a causa dessas anomalias, pois assim lhe são proporcionadas oportunidades para repararem uma falta e aprenderem a agir melhor. Ou talvez venham a serem os pais daquele que prejudicaram, devendo cuidar dele nos poucos anos que viva. Nesse caso não importará que se lamentem histericamente por causa de sua morte, porque não há imagens no Corpo Vital infantil que produzam consequências.

Esse céu é também lugar de progresso para todos os estudiosos, para os artistas e para os altruístas. O Estudante e o filósofo têm acesso instantâneo a todas as bibliotecas do mundo. O pintor observa, com inefável delícia, as combinações de cores sempre cambiantes. Logo aprende que seus pensamentos formam e misturam essas cores à vontade. Suas criações brilham e cintilam com uma vividez impossível de ser conseguida pelos que trabalham com as monótonas cores da Terra. Está, por assim dizer, pintando com matéria viva, resplandecente, sendo por isso mesmo capaz de executar suas obras com uma facilidade que lhe inunda a Alma de deleite. O músico não chegou ainda ao lugar em que sua arte se expressa a si mesma em toda a extensão. O Mundo Físico é o mundo da Forma. O Mundo do Desejo, onde se acham o Purgatório e o Primeiro Céu, é especialmente o mundo da cor; mas, o Mundo do Pensamento, onde estão localizados o Segundo Céu e o Terceiro Céu, é a esfera do som. A música celeste é um fato e não mera figura de retórica. Pitágoras não fantasiava quando falou da música das esferas, porque cada um dos Corpos celestiais tem seu tom definido e, juntos, formam a sinfonia celestial que Goethe[3] também menciona no prólogo do seu “Fausto[4], onde na cena do céu o Arcanjo Rafael diz:

Sol entoa sua velha canção

Entre os cânticos rivais das esferas irmãs,

Seu caminho predestinado vai trilhar

Através dos anos, em retumbante marchar”.

Os ecos desta música celeste chegam até nós, aqui no Mundo Físico, e são o nosso bem mais precioso, ainda que fugazes como o fogo-fátuo[5]. A música não pode ser criada permanentemente, a exemplo de outras obras de arte – uma estátua, um quadro, ou um livro. No Mundo Físico, o som morre logo que nasce. No Primeiro Céu, porém, esses ecos são muito mais formosos e permanentes, daí o músico poder ouvir ali os mais doces acordes que jamais ouviu em toda sua vida terrena.

As experiências do poeta são semelhantes às do músico, pois a poesia é expressão dos mais íntimos sentimentos da Alma em palavras. Estas se ordenam consoante às mesmas leis de harmonia e ritmo que regem a expressão do espírito na música. Além disso, o poeta encontra uma inspiração magnífica nas imagens e cores, que são as características principais do Mundo do Desejo. Dali tomará os materiais para usá-los em seu próximo renascimento aqui. De maneira idêntica o escritor acumula material e faculdade. O filantropo concebe seus planos altruístas para a elevação do ser humano. Se falhou em uma vida, verá a razão do fracasso no Primeiro Céu, e aprenderá ali a superar os obstáculos e a evitar os erros que tornaram seus planos impraticáveis.

Com o tempo, se chega a um ponto em que o resultado da dor e do sofrimento no Purgatório, junto ao sentimento feliz extraído das boas ações da vida passada, se integram ao Átomo-semente do Corpo de Desejos. Juntos eles constituem o que chamamos consciência, essa força propulsora que nos põe em guarda contra o mal, o produtor de sofrimentos, e nos inclina para o bem, o gerador de felicidade e alegria. Tal como abandonou os Corpos Denso e Vital, assim o ser humano abandona seu Corpo de Desejos, que se desintegra. Dele, leva consigo unicamente as forças do Átomo-semente, que formarão o núcleo do futuro Corpo de Desejos, como o foi a partícula permanente de percepção dos seus veículos anteriores.

Como já foi relatado, as forças do Átomo-semente são retiradas. Para o materialista, força e matéria são inseparáveis. O ocultista vê as coisas diferentemente. Para ele não são dois conceitos totalmente distintos e separados, mas os dois polos de um só espírito.

Matéria é espírito cristalizado.

Força é o mesmo espírito ainda não cristalizado. Isto já foi dito antes, mas nunca será demais incutir na Mente. Nesta relação, a ilustração do caracol é muito proveitosa. A matéria, que é espírito cristalizado, corresponde à concha do caracol, que vem a ser cristalizada. Outra boa comparação: a força química que move a matéria, tornando-a apta para a construção da forma, corresponde ao caracol que move sua casa. Portanto, o que atualmente é caracol será concha daqui a algum tempo, e o que agora é força será matéria quando se cristalizar futuramente. O processo inverso de transmutação de matéria em Espírito também se processa continuamente. A fase mais elementar desse processo nós vemos na decomposição, quando o ser humano abandona seus veículos: o Espírito de um átomo se separa facilmente do Espírito mais inferior que se manifestava como matéria.


[1] N.R.: do poema Song of Myself, part 40 de Walt Whitman (1819-1892) – poeta, ensaísta e jornalista americano.

[2] N.R.: James Russell Lowell (1819-1891) – poeta romântico, crítico, satírico, escritor, diplomata e abolicionista americano.

[3] N.R.: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) – autor e estadista alemão que também fez incursões pelo campo da ciência natural.

[4] N.R.: Ao mencionar o nome de Fausto, a maioria da gente culta pensa na adaptação teatral desta ópera, feita por Gounod. Alguns admiram a música, mas o argumento não parece impressionar ninguém, de modo particular. Tal como se apresenta nesta ópera, a história parece ser demasiadamente comum: um homem sensual atraiçoa uma donzela ingênua e abandona-a, depois, para que expie sua loucura e sofra o resultado do seu excesso de confiança. A magia e bruxaria de algumas cenas da obra são consideradas, pela maioria das pessoas, como fantasias de um autor, aí introduzidas para dar às ações sórdidas mais vigor e interesse. Quando Fausto é levado por Mefistófeles aos infernos e Margarida sobe ao céu nas asas angelicais, no final, as pessoas imaginam que esta é a moral que convém para concluir dignamente a obra. Todavia, pouca gente sabe que a ópera de Gounod está baseada no drama de Goethe (um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, dividido em duas partes. Está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. É considerado uma das grandes obras-primas da literatura alemã.). Os que estudaram esse drama, forma dele uma ideia muito diferente da que o argumento da ópera sugere. Somente os poucos místicos iluminados veem na obra de Goethe a mão inequívoca de um companheiro Iniciado e iluminado e reconhecem, perfeitamente, a grande significação cósmica da obra. É preciso compreender, claramente, que a história de Fausto é um mito, tão antigo como a Humanidade. Goethe apresentou-o numa forma mística apropriada, esclarecendo um dos mais antigos problemas da atualidade: a relação e a luta entre a Maçonaria e o Catolicismo, já examinada, sob outro ponto de vista, num livro anteriormente publicado “A Maçonaria e o Catolicismo-Max Heindel-Fraternidade Rosacruz”.

[5] N.R.: também chamado de fogo tolo ou, no interior do Brasil, fogo corredor, boitatá ou João-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos, etc. “Quando um corpo orgânico entra em decomposição, ocorre uma liberação de gás metano (CH4). Se em algum local houver condições de concentração do metano, o gás começará a concentrar, e se o clima estiver relativamente quente, ocorrerá uma explosão espontânea.”.

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O Segundo Céu

Finalmente o ser humano, o Ego, o Tríplice Espírito, entra no Segundo Céu. Está envolto na Mente, que contém os três Átomos-sementes – a quintessência dos três veículos abandonados.

Quando o ser humano, ao morrer, perde seus Corpos Denso e Vital, encontra-se nas mesmas condições de uma pessoa adormecida. O Corpo de Desejos, conforme explicado, não possui órgãos próprios para uso. De um ovoide transforma-se então numa figura parecida com o Corpo Denso abandonado. Facilmente se compreende que deve haver um intervalo de inconsciência semelhante ao sono antes de o ser humano despertar no Mundo do Desejo. Por conseguinte, não é raro acontecer a certas pessoas permanecerem, durante longo tempo, incertas do que se passou com elas. Notam que podem pensar e mover-se, mas não compreendem que morreram. Às vezes é até muito difícil conseguir fazê-las crer que estão realmente “mortas”. Compreendem, sim, que algo está diferente, mas não são capazes de entender o que seja.

Quando termina a existência purgatorial, o espírito purificado ascende ao Primeiro Céu, que está situado nas três Regiões mais elevadas do Mundo do Desejo. Os resultados dos sofrimentos são incorporados ao Átomo-semente do Corpo de Desejos, o que lhe comunica a qualidade de reto sentimento que atuará, no futuro, como impulso para o bem e repulsão ao mal. Aqui o panorama do passado se desenrola de novo para trás, mas então as boas obras da vida são à base dos sentimentos. Ao chegarmos às cenas em que ajudamos a outrem, viveremos de novo toda a alegria que isto nos proporcionou, como também sentiremos toda a gratidão emitida por aqueles a quem ajudamos. Quando contemplamos de novo as cenas em que fomos ajudados por outros, voltamos a sentir toda a gratidão que emitimos ao nosso benfeitor. Desse modo vemos a importância de apreciar os favores com que outros nos cumularam, porque a gratidão produz crescimento anímico. Nossa felicidade no céu depende da felicidade que tenhamos proporcionado a outros, e do valor que demos àquilo que outros fizeram por nós.

Deve-se sempre recordar que o poder de dar não pertence exclusivamente ao ser humano rico. Dar dinheiro sem discernimento pode ser até um mal. É um bem dar dinheiro para um propósito que consideremos benéfico, porém um serviço prestado vale mil vezes mais. Como disse Whitman[2]:

“Atenção, não dou palestras nem faço um pouco de caridade,

Quando dou algo, dou-me por inteiro.”

Um olhar carinhoso, expressões de confiança, uma simpática e amorosa ajuda são coisas que todos podem dar, seja qual for a fortuna de cada um. Todavia devemos ajudar o necessitado de maneira que ele possa ajudar a si próprio, seja física, financeira, moral ou mentalmente, para que não dependa mais de nós nem dos outros.

A ética de dar, produzindo uma lição espiritual sobre aquele que dá, foi descrita de forma belíssima em “Visão de Sir Launfal”, de Lowell[3]. O jovem e ambicioso cavaleiro, Sir Launfal, envergando brilhante armadura e vestido com luxuosas roupas, parte do seu castelo em busca do “Santo Graal”. No seu escudo resplandece a cruz, o símbolo da benignidade e ternura do Nosso Salvador, o Ser amoroso e humilde, mas o coração do cavaleiro está repleto de orgulho e desdém para com os pobres e necessitados. Ele encontra um leproso mendigando e com um gesto de desdém atira-lhe uma moeda, como se atirasse um osso a um cão faminto. Porém…

O leproso não ergueu o ouro do pó:

“Melhor para mim é a côdea de pão que o pobre me dá,

e melhor sua mão que me abençoará,

ainda que de mãos vazias de sua porta me deva afastar.

As esmolas que só com as mãos ofertadas,

não são as verdadeiras.

Inúteis são o ouro e as riquezas dadas

apenas como um dever a cumprir.

A mão, porém, não consegue a esmola abarcar,

quando vem daquele que reparte o pouco que tem,

que dá o que não é possível visualizar.

– esse fio de Beleza que tudo sabe unir,

que tudo sustenta, penetra e mantém –

o coração ansioso e estende a mão

quando Deus acompanha a doação,

alimentando a Alma faminta, que sucumbia só, na escuridão”.

Ao regressar, Sir Launfal encontra seu castelo ocupado por outro, sendo impedido de nele entrar.

Já velho, claudicante e alquebrado,

da busca do Santo Graal, ele voltou

pouco lhe importando o que para trás deixou.

Não mais luzia a cruz sobre seu manto,

mas fundo em seu coração a marca ficou:

a divisa do pobre e seu triste pranto.

De novo encontra o leproso que, outra vez, lhe pede uma esmola. No entanto, o cavaleiro agora responde de outro modo.

E Sir Launfal lhe disse: “Vejo em ti

a imagem d’Aquele que na cruz morreu.

Tu, também, tens a coroa de espinhos de quem padeceu,

muitos escárnios tens também sofrido

e o desprezo do mundo hás sentido.

As feridas em tua vida não faltaram

nos pés, nas mãos, no corpo, elas te machucaram.

Filho da clemente Maria reconhece quem eu sou

e vê que, através do pobre, é a Ti que eu dou.”

Um olhar aos olhos do leproso lhe traz recordações e reconhecimento, e:

Seu coração era só cinza e pó.

Ele partiu, em duas, sua única côdea de pão,

ele quebrou o gelo da beira do córrego

e ao leproso deu de comer e beber.

Uma transformação, enfim, ocorreu:

Não mais o leproso ao seu lado se curvava

Mas, à frente dele, glorioso se levantava.

(…)

E a Voz, ainda mais doce que o silêncio:

“Vê, Sou Eu, não temas!

Na busca do Santo Graal, em muitos lugares

Gastaste tua vida, sem nada lucrares.

Olha! Ei-lo aqui: o cálice que acabaste de encher

com a límpida água do regato que Me desse de beber.

Esta côdea de pão é Meu Corpo

que foi para ti partido.

Esta água é Meu sangue

que na cruz para ti foi vertido.

A Santa Ceia é mantida, na verdade,

por tudo que ajudamos o outro em sua necessidade.

Pois a dádiva, só tem valor

Quando com ela vem o doador

e a três pessoas ela alimenta assim:

ao faminto, a si própria e a Mim.”

O Primeiro Céu é um lugar de alegria, sem vestígios sequer de amargura. O espírito está além das influências materiais e terrestres e, ao reviver sua vida passada, assimila todo o bem nela contido. Aqui se realizam em toda amplitude todos os empreendimentos nobres a que o ser humano aspirou. E um lugar de repouso, e quanto mais dura tenha sido a vida maior será o descanso que gozará. Enfermidade, tristeza e dor são coisas desconhecidas no Primeiro Céu. É a pátria de veraneio dos espiritualistas. Os pensamentos do devoto Cristão construíram ali a Nova Jerusalém. Formosas casas, flores, etc., são o prêmio dos que a elas aspiraram, e que eles mesmos construíram com o pensamento, utilizando-se da sutilíssima matéria de desejos. Contudo são para eles tão reais e tangíveis como são para nós as casas materiais. Todos desfrutam ali a satisfação daquilo que não puderam alcançar na vida terrestre.

Há uma classe de seres que goza uma vida especialmente formosa no Primeiro Céu: as crianças. Se pudéssemos vê-las, logo cessariam nossos pesares. Quando uma criança morre antes do nascimento do Corpo de Desejos, isto é, antes dos catorze anos, não vai além do Primeiro Céu porque não é responsável pelos seus atos, do mesmo modo que o feto que se contorce no útero não é responsável pelo incômodo que causa à sua mãe. Portanto, a criança não tem existência purgatorial. O que não foi vivificado não pode morrer, portanto o Corpo de Desejos de uma criança, junto com a Mente, persistirá até o novo nascimento. Por essa razão, essas crianças são capazes de recordar suas vidas anteriores, como é o caso que se narra em outro lugar.

Para tais crianças o Primeiro Céu é uma sala de espera onde permanecem de um a vinte anos, até que se apresente uma nova oportunidade para renascerem. Entretanto, é algo mais do que uma simples sala de espera, porque, nesse ínterim realiza-se ali um grande progresso.

Quando uma criança morre há sempre alguém da família à sua espera. No entanto, na falta disto, sempre existe quem a adote com sentimento maternal porque gostava também de fazê-lo em sua existência terrena, satisfazendo-se em cuidar de um pequeno desamparado. A extrema plasticidade da matéria de desejos permite formar com a maior facilidade maravilhosos brinquedos viventes para as crianças, tornando suas vidas um formoso divertimento: contudo sua instrução não fica descuidada. Elas são agrupadas em classes de acordo com os seus temperamentos, sem considerar-se a idade. No Mundo do Desejo é muito fácil ministrar-se lições objetivas da influência do bem e das más paixões sobre a conduta e a felicidade. Estas lições imprimem-se indelevelmente sobre o sensitivo e emotivo Corpo de Desejos da criança e acompanham-na depois do renascimento. Assim, muitos dos que levam uma vida nobre devem-na ao fato de terem sido submetidos a esse treinamento. Quando nasce um espírito débil é comum os Compassivos Seres (os Líderes Invisíveis que dirigem nossa evolução) fazerem-no morrer em tenra idade para que possa ter esse treinamento extra, ajudando-o a adaptar-se ao que talvez possa ser para ele uma vida dura. Parece ser esse o caso especialmente quando a impressão no Corpo de Desejos foi fraca, em decorrência de perturbações das lamentações dos parentes em volta do moribundo, ou por ter morrido em acidente ou num campo de batalha. Sob tais circunstâncias ele não pode experimentar, em sua existência pós-morte, a intensidade de sentimentos apropriados, por isso quando nasce e morre a seguir, em tenra idade, a perda se recobra na forma acima indicada. Muitas vezes, o dever de cuidar dessas crianças na vida celeste recai sobre aqueles que foram a causa dessas anomalias, pois assim são-lhe proporcionadas oportunidades para repararem uma falta e aprenderem a agir melhor. Ou talvez venham a serem os pais daquele que prejudicaram, devendo cuidar dele nos poucos anos que viva. Nesse caso não importará que se lamentem histericamente por causa de sua morte porque não há imagens no Corpo Vital infantil que produzam consequências.

Esse céu é também lugar de progresso para todos os estudiosos, para os artistas e para os altruístas. O Estudante e o filósofo têm acesso instantâneo a todas as bibliotecas do mundo. O pintor observa, com inefável delícia, as combinações de cores sempre cambiantes. Logo aprende que seus pensamentos formam e misturam essas cores à vontade. Suas criações brilham e cintilam com uma vividez impossível de ser conseguida pelos que trabalham com as monótonas cores da Terra. Está, por assim dizer, pintando com matéria viva, resplandecente, sendo por isso mesmo capaz de executar suas obras com uma facilidade que lhe inunda a Alma de deleite. O músico não chegou ainda ao lugar em que sua arte se expressa a si mesma em toda a extensão. O Mundo Físico é o mundo da Forma. O Mundo do Desejo, onde se acham o Purgatório e o Primeiro Céu, é especialmente o mundo da Cor; mas, o Mundo do Pensamento, onde estão localizados o Segundo Céu e o Terceiro Céu, é a esfera do Som. A música celeste é um fato e não mera figura de retórica. Pitágoras não fantasiava quando falou da música das esferas, porque cada um dos Corpos celestiais tem seu tom definido e, juntos, formam a sinfonia celestial que Goethe[4] também menciona no prólogo do seu “Fausto”, onde na cena do céu o Arcanjo Rafael diz:

Sol entoa sua velha canção

Entre os cânticos rivais das esferas irmãs,

Seu caminho predestinado vai trilhar

Através dos anos, em retumbante marchar”.

Os ecos desta música celeste chegam até nós, aqui no Mundo Físico, e são o nosso bem mais precioso, ainda que fugazes como o fogo-fátuo. A música não pode ser criada permanentemente, a exemplo de outras obras de arte – uma estátua, um quadro, ou um livro. No Mundo Físico, o som morre logo que nasce. No Primeiro Céu, porém, esses ecos são muito mais formosos e permanentes, daí o músico poder ouvir ali os mais doces acordes que jamais ouviu em toda sua vida terrena.

As experiências do poeta são semelhantes às do músico, pois a poesia é expressão dos mais íntimos sentimentos da Alma em palavras. Estas se ordenam consoante às mesmas leis de harmonia e ritmo que regem a expressão do espírito na música. Além disso, o poeta encontra uma inspiração magnífica nas imagens e cores, que são as características principais do Mundo do Desejo. Dali tomará os materiais para usá-los em sua próxima encarnação. De maneira idêntica o escritor acumula material e faculdade. O filantropo concebe seus planos altruístas para a elevação do ser humano. Se falhou em uma vida, verá a razão do fracasso no Primeiro Céu, e aprenderá ali a superar os obstáculos e a evitar os erros que tornaram seus planos impraticáveis.

Com o tempo, chega-se a um ponto em que o resultado da dor e do sofrimento no Purgatório, junto ao sentimento feliz extraído das boas ações da vida passada, integram-se ao Átomo-semente do Corpo de Desejos. Juntos eles constituem o que chamamos consciência, essa força propulsora que nos põe em guarda contra o mal, o produtor de sofrimentos, e nos inclina para o bem, o gerador de felicidade e alegria. Tal como abandonou os Corpos Denso e Vital, assim o ser humano abandona seu Corpo de Desejos, que se desintegra. Dele, leva consigo unicamente as forças do Átomo-semente, que formarão o núcleo do futuro Corpo de Desejos, como o foi a partícula permanente de percepção dos seus veículos anteriores.

Como já foi relatado, as forças do Átomo-semente são retiradas. Para o materialista, força e matéria são inseparáveis. O ocultista vê as coisas diferentemente. Para ele não são dois conceitos totalmente distintos e separados, mas os dois polos de um só espírito.

Matéria é espírito cristalizado.

Força é o mesmo espírito ainda não cristalizado. Isto já foi dito antes, mas nunca será demais incutir na Mente. Nesta relação, a ilustração do caracol é muito proveitosa. A matéria, que é espírito cristalizado, corresponde à concha do caracol, que vem a ser cristalizada. Outra boa comparação: a força química que move a matéria, tornando-a apta para a construção da forma, corresponde ao caracol que move sua casa. Portanto, o que atualmente é caracol será concha daqui a algum tempo, e o que agora é força será matéria quando se cristalizar futuramente. O processo inverso de transmutação de matéria em espírito processa-se também continuamente. A fase mais elementar desse processo nós vemos na decomposição, quando o ser humano abandona seus veículos: o espírito de um átomo separa-se facilmente do espírito mais inferior que se manifestava como matéria.


[1] Vesúvio – vulcão localizado no golfo de Nápoles, Itália, a cerca de nove quilômetros a oeste de Nápoles.

[2] N.R.: do poema Song of Myself, part 40 de Walt Whitman (1819-1892) – poeta, ensaísta e jornalista americano.

[3] N.R.: James Russell Lowell (1819-1891) – poeta romântico, crítico, satírico, escritor, diplomata e abolicionista americano

[4] N.R.: Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) – autor e estadista alemão que também fez incursões pelo campo da ciência natural

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O Segundo Céu

Finalmente o ser humano, o Ego, o Tríplice Espírito, entra no Segundo Céu. Está envolto na Mente, que contém os três Átomos-sementes – a quintessência dos três veículos abandonados.

Quando o ser humano, ao morrer, perde seus Corpos Denso e Vital, ele se encontra nas mesmas condições de uma pessoa adormecida. O Corpo de Desejos, conforme explicado, não possui órgãos próprios para uso. De um ovoide se transforma então numa figura parecida com o Corpo Denso abandonado. Facilmente se compreende que deve haver um intervalo de inconsciência semelhante ao sono antes de o ser humano despertar no Mundo do Desejo. Por conseguinte, não é raro acontecer a certas pessoas permanecerem, durante longo tempo, incertas do que se passou com elas. Notam que podem pensar e mover-se, mas não compreendem que morreram. Às vezes é até muito difícil conseguir fazê-las crer que estão realmente “mortas”. Compreendem, sim, que algo está diferente, mas não são capazes de entender o que seja.

Tal não acontece quando se efetua a passagem do Primeiro Céu – no Mundo do Desejo –, para o Segundo Céu, na Região do Pensamento Concreto. Abandonando seu Corpo de Desejos, o ser humano está, então, perfeitamente consciente. Passa a um grande silêncio, e durante esse intervalo tudo parece desvanecer-se, ele não pode pensar. Nenhuma das suas faculdades se acha ativa, mas sabe que é. Tem a sensação de se encontrar no “Eterno Agora”, de se achar completamente só, todavia sem temor, e sua Alma se inunda de uma paz inefável, “que excede toda compreensão[1]”.

A Ciência Oculta chama isso “O Grande Silêncio.

Então, vem o despertar. O Espírito está agora em sua pátria, seu lar – os Mundos Celestes. E o despertar lhe traz ao Espírito o som da música das esferas.

Na existência terrena vivemos tão absorvidos pelos pequenos ruídos e sons do nosso restrito ambiente, que somos incapazes de ouvir a música dos Astros em movimento, mas o ocultista ouve-a. Ele sabe que os doze Signos do Zodíaco e os sete Planetas formam a caixa de ressonância e “as sete cordas da lira de Apolo”. Sabe também que um simples desacorde na harmonia celestial desse grande Instrumento poderia produzir “um aniquilamento da matéria e uma colisão de mundos”.

O poder da vibração rítmica é bem conhecido de todo àquele que já dedicou ao mesmo assunto um estudo superficial. Por exemplo: quando soldados atravessam uma ponte se ordena a eles que rompam o compasso da marcha, porque seu passo rítmico poderia destruir a estrutura mais forte. O relato bíblico do efeito das trombetas de chifre de carneiro, enquanto marchavam ao redor dos muros da cidade de Jericó não é coisa sem nexo para o ocultista. Em alguns casos semelhantes coisas já aconteceram sem provocar o riso geral de desdenhosa incredulidade. Há poucos anos uma banda de música estava ensaiando num jardim, junto ao sólido muro de um castelo antigo. Em dado momento, uma nota muito penetrante e demoradamente foi emitida e, então, o muro do castelo ruiu de súbito. Os músicos tinham tocado a nota-chave do muro com a intensidade e o prolongamento suficientes para derrubá-lo.

Quando se diz que o Segundo Céu é o mundo do som, não se deve pensar que nele não haja cores. Muita gente sabe que há relação muito íntima entre a cor e o som; que quando se toca certa nota se gera simultaneamente a cor que lhe corresponde. Assim é também nos Mundos Celestes: cor e som estão presentes ao mesmo tempo, mas o som é que origina a cor. Portanto, se diz que esse é especialmente o mundo do som, e esse som é que constrói todas as formas do Mundo Físico. O músico pode ouvir certos sons em diferentes partes da Natureza, tal como o do vento no bosque, o rumor das ondas quebrando nas praias, o bramido do oceano e o ruído sonoro das águas. A combinação de tais sons forma um todo que é a nota-chave da Terra, seu “tom”. Assim como um arco de violino que se passa pela borda de uma lâmina de vidro com pó fino gera figuras geométricas, assim também as formas que vemos em torno de nós são figuras cristalizadas de sons produzidos pelas forças arquetípicas que atuam nos Arquétipos nos Mundos Celestes.

O trabalho realizado pelo ser humano nos Mundos Celestes é múltiplo. Não é uma existência inativa, sonhadora ou ilusória. É o tempo da mais intensa e importante atividade, em que ele se prepara para a próxima vida, assim como o sono é uma preparação ativa para o trabalho do dia seguinte.

Aqui a quintessência dos três Corpos é assimilada pelo Tríplice Espírito. Tanto quanto o ser humano tenha trabalhado sobre o Corpo de Desejos durante a vida, purificando seus desejos e emoções, assim será a quintessência desse Corpo amalgamada ao Espírito Humano, que lhe proporcionará uma Mente aperfeiçoada no futuro.

Tanto quanto o Espírito de Vida tenha trabalhado sobre o Corpo Vital, transformando-o, espiritualizando-o e salvando-o, assim, do decaimento a que está sujeito, tanto lhe será amalgamado com o Espírito de Vida para assegurar um Corpo Vital e uma melhor reação aos impactos que provoca seu decaimento nas vidas subsequentes.

Tanto quanto o Espírito Divino tenha salvado do Corpo Denso pela reta ação, tanto lhe será amalgamado para proporcionar melhores ambientes e oportunidades no futuro.

Essa espiritualização dos veículos se realiza por meio do cultivo das faculdades da observação, do discernimento e da memória; da devoção a ideais elevados; da oração e concentração; da persistência e do reto emprego das forças vitais.

O Segundo Céu é o verdadeiro lar do ser humano – o Ego, o Pensador. Aqui ele permanece durante séculos, assimilando o fruto da última vida e preparando as condições terrenas mais apropriadas para o seu próximo passo no progresso. O som ou tom que permeia essa Região, se patenteando por toda parte como cor é, por assim dizer, o seu instrumento. Essa harmoniosa vibração sonora, qual elixir de vida, amalgama no Tríplice Espírito a quintessência do Tríplice Corpo, da qual depende o seu crescimento.

A vida no Segundo Céu é extraordinariamente ativa e variada em numerosos sentidos. O Ego assimila os frutos de sua última vida terrena e prepara o ambiente para uma nova existência física. Não basta dizer que as novas condições serão determinadas pela conduta e atos da última vida. É necessário que os frutos do passado sejam aplicados no Mundo Físico, que será o próximo campo de atividade do Ego, e onde esse adquirirá novas experiências físicas e colhendo mais frutos.

Portanto, todos os habitantes dos Mundos Celestes trabalham sobre os modelos da Terra – a totalidade dos quais se encontra na Região do Pensamento Concreto – lhe alterando as formas físicas e lhe produzindo mudanças graduais no aspecto. Assim, em cada retorno à vida física eles encontram um ambiente diferente onde podem adquirir novas experiências. O clima, a flora e a faunasão alterados pelo ser humano sob a direção de Seres elevados que mais tarde descreveremos. Por conseguinte, o mundo é exatamente o que nós próprios, individual e coletivamente, temos feito dele, e será tal e qual como o fizermos. Em tudo quanto ocorre, o ocultista vê uma causa de natureza espiritual se manifestando a si mesma, inclusive o alarmante aumento de frequência das perturbações sísmicas, que têm origem no pensamento materialista da ciência moderna.

É certo que causas puramente físicas podem produzir tais perturbações, mas tal explicação será a última palavra sobre o assunto? Podemos explicar, amplamente, as coisas só pela observação daquilo que aparentam, superficialmente? Certamente que não! Vejamos: dois homens discutem na rua. Subitamente um esmurra o outro, fazendo-o cair. Um observador poderá afirmar que um pensamento de ódio foi a causa original do golpe. Outro poderá sustentar que viu o braço se erguer, os músculos se contraírem, se seguindo ao soco que derrubou a vítima. Isto também é verdade, porém é mais certo se dizer que o golpe não teria sido desfechado se não houvera existido primeiramente um pensamento de ódio. De modo equivalente, diz o ocultista, se não houvesse como causa o materialismo não se produziriam as convulsões sísmicas.

O trabalho do ser humano nos Mundos Celestes não se limita apenas à alteração da superfície da Terra, que será o campo de suas futuras lutas para dominar o Mundo Físico. Ele se ocupa também, ativamente, em aprender como construir um Corpo que tenha os melhores meios de expressão. O destino do ser humano é se converter em Inteligência Criadora e para tal se aplica a sua aprendizagem todo o tempo. Durante a vida celeste aprende a construir toda classe de Corpos, inclusive o humano.

Falamos atrás das forças que trabalham pelos polos positivo e negativo dos diferentes Éteres. O ser humano mesmo é uma parte dessas forças. Aqueles a quem chamamos “mortos” são os que nos ajudam a viver. Por sua vez eles são ajudados pelos chamados “espíritos da natureza” aos quais governam. Instrutores das mais elevadas Hierarquias Criadoras dirigem o trabalho do ser humano. Ajudaram-no a construir seus veículos antes de ter alcançado consciência de si mesmo, do mesmo modo que ele próprio constrói atualmente seus veículos durante o sono. No entanto, no transcurso de sua vida celeste esses instrutores ensinam-no conscientemente.

Ao pintor, ensinam como construir um olho apurado, capaz de captar perspectivas perfeitas, e distinguir cores e matizes em um grau inconcebível para os que não se interessam por cor ou luz.

Ao matemático que tem de lidar com o espaço, ensinam o delicado ajuste dos três canais semicirculares[2], os quais estão situados dentro do ouvido interno, que apontando, cada um, em uma das três direções do espaço, dão a faculdade da percepção abstrata. O pensamento lógico e a habilidade matemática estão em proporção à precisão do ajuste desses canais semicirculares. A habilidade musical depende também do mesmo fator, mas além da necessidade do devido ajuste dos canais semicirculares, o músico precisa do órgão de Corti[3] extremamente delicado. Há no ouvido humano cerca de dez mil dessas fibras, e cada uma pode diferençar cerca de vinte e cinco gradações de tons. No ouvido da maioria das pessoas essas fibras não respondem senão de três a dez das gradações possíveis. Entre os músicos comuns o maior grau de eficiência é de uns quinze sons por fibra, mas um maestro, que é capaz de interpretar e traduzir a música dos Mundos Celestes requer maior grau de acuidade para distinguir entre as diferentes notas e perceber a mais ligeira desarmonia nos mais complicados acordes. Pessoas que requerem órgãos de tão extrema delicadeza para expressão de suas faculdades devem receber o maior cuidado, como exigem seu mérito e elevado grau de desenvolvimento. Nenhuma outra classe é tão elevada quanto à dos músicos, o que é muito lógico, pois enquanto o pintor atrai sua inspiração principalmente do mundo da cor – o mais próximo, o Mundo do Desejo – o músico tenta trazer-nos, traduzida em sons terrenos, a atmosfera do nosso lar celeste, a que, como espíritos, pertencemos. É sua a missão mais elevada, pois como meio de expressão da vida anímica, a música reina suprema. Compreende-se que a música seja diferente e a mais elevada de todas as artes se considerarmos que uma estátua ou um quadro, uma vez criado, são permanentes. Sendo evocações do Mundo do Desejo eles são, por conseguinte, mais facilmente cristalizados. Já a música, sendo dos Mundos Celestes, é mais evasiva e deve, portanto, ser recriada cada vez que a queiramos ouvir. Não pode ser aprisionada, conforme o demonstram as tentativas infrutíferas de fazê-lo parcialmente por meio de aparelhos mecânicos, tais como o fonógrafo[4] ou pianola[5]. A música assim reproduzida perde muito da comovente doçura e frescor do seu próprio mundo e que traz à Alma recordações de sua verdadeira pátria, lhe falando numa linguagem tal que nenhuma beleza expressa em mármore ou tela pode igualar.

O ser humano percebe a música através do mais perfeito órgão dos sentidos do Corpo humano. A visão pode não ser perfeita, mas a audição o é, no sentido de não deformar o som que ouve, enquanto o olho altera muitas vezes o que vê.

Além do ouvido musical, o músico deve também aprender a construir mãos finas e delicadas, dedos ágeis e nervos sensitivos. Caso contrário não poderia reproduzir as melodias que ouve.

É lei da natureza: ninguém pode habitar um Corpo mais eficiente do que aquele que é capaz de construir. Aprende-se, primeiramente, a construir uma determinada classe de Corpo e depois a viver nele. Desta maneira se percebem os defeitos e se aprende a corrigi-los.

Todos os seres humanos trabalham inconscientemente na construção dos seus Corpos durante a vida pré-natal, até chegar o momento em que a retida quintessência dos Corpos anteriores seja neles amalgamada. Então passam a trabalhar conscientemente. Compreende-se, pois, que quanto mais o ser humano avança e quanto mais trabalha em seus veículos, tornando-os assim imortais, mais poder tem de construí-los para uma nova vida. O discípulo avançado de uma escola oculta, às vezes, começa a construir por si mesmo tão logo se complete o trabalho das três primeiras semanas de vida pré-natal (que pertence exclusivamente à mãe). Assim, passado o período inconsciente, é apresentada ao ser humano uma oportunidade de exercer seu nascente poder criador, e aí começa o verdadeiro processo criativo, “original”, a “Epigênese”. Vemos, pois que o ser humano aprende a construir seus veículos nos Mundos Celestes e a usá-los no Mundo Físico. A Natureza fornece toda classe de experiências de maneira tão maravilhosa e com sabedoria tão consumada que, quanto mais profundamente penetramos nos seus segredos, mais impressionados ficamos com a nossa própria insignificância e mais cresce nossa reverência a Deus, cujo símbolo visível é a Natureza. Quanto mais aprendemos Suas maravilhas, mais compreendemos que esta estrutura universal não é a vasta e perpétua máquina em movimento, que os irrefletidos querem fazer crer. Seria tão pouco lógico como imaginar que, se atirando ao ar uma caixa de tipos[6], os caracteres se organizassem por si sós quando caíssem ao chão, formando um formoso poema. Quanto maior a complexidade do plano mais poderoso o argumento em favor da teoria de um Inteligente e Divino Autor.


[1] N.R.: Fp 4:7

[2] N.R.: são três tubos ósseos ocos dispostos perpendiculares entre si, interconectados e cheios de líquido, endolinfa, que fazem parte do aparelho vestibular da orelha. São 3 em cada ouvido: horizontal, superior e posterior. Os dutos semicirculares fornecem informações sensoriais para experiências de movimentos rotatórios. Eles são orientados ao longo dos eixos de inclinação, rotação e inclinação. Cada canal é preenchido com um fluido chamado endolinfa e contém sensores de movimento dentro dos fluidos.

[3] N.R.: ou “órgão espiral” é o órgão sensorioneural da cóclea, ou seja, é parte da cóclea, da orelha interna. É um composto de células sensoriais (células ciliadas) e fibras nervosas que fazem sinapse entre si, além de estruturas anexas e de suporte. O órgão foi nomeado em homenagem ao anatomista italiano Marquês Alfonso Giacomo Gaspare Corti (1822-1876), que conduziu a pesquisa microscópica do sistema auditivo dos mamíferos e o descobriu em 1850. Esse órgão é encontrado apenas em mamíferos. Nos humanos, o órgão de Corti se desenvolve da 9ª semana à 30ª semana de gestação. O órgão de Corti é a estrutura que transforma a energia mecânica, que chega da orelha média, para energia elétrica. As vibrações mecânicas se tornam ondas de pressão hidráulica que se propagam pela endolinfa, gerando um potencial de ação que é transmitido pela via auditiva para que se processe o som nos centros auditivos do tronco encefálico e do córtex cerebral.

[4] N.R.: O fonógrafo é um aparelho inventado em 1877 por Thomas Edison para a gravação e reprodução de sons através de um cilindro. Ele foi o primeiro aparelho capaz de gravar e reproduzir sons. A invenção do fonógrafo por Thomas Edison foi o ponto culminante de uma série de inventos que primeiro tentaram realizar a tarefa de gravar de forma mecânica em algum meio as vibrações sonoras. A grande inovação do fonógrafo se encontra em sua capacidade de também reproduzir os sons que gravava, abrindo novas possibilidades de utilização comercial do som.

[5] N.R.: A pianola, também chamada piano mecânico, é um piano que executa músicas automaticamente, por meio de motores a vácuo, mecanismos pneumáticos, ou eletromecânicos que operam o piano através de rolos de pianola, que são feitos de papel perfurado, ou, mais raramente, de metal. Versões mais modernas do instrumento podem incluir implementos usando música gravada em formato MIDI, que é armazenada em discos rígidos ou flexíveis, ou ainda em CDs. Frequentemente o instrumento permite determinadas regulações, que são executadas por um músico através de pedais e alavancas manuais.

[6] N.T.: Caixa de tipos é um conjunto de letras e elementos em metal utilizado na tipografia e se referem aos tipos de caracteres, símbolos e números e seus estilos únicos e padronizados e podemos classificá-los em diversas categorias como: Com serifa: possuem elementos como traços e extensões nas letras, facilitando a legibilidade

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O Terceiro Céu

Tendo assimilado todos os frutos de sua vida passada e alterado a aparência da Terra de maneira a lhe proporcionar o ambiente requerido em seu próximo passo em busca da perfeição; tendo também aprendido, pelo trabalho nos Corpos dos outros, a construir um Corpo apropriado à sua manifestação no Mundo Físico; e tendo, por último, dissolvido a Mente na essência do Tríplice Espírito, o Espírito individual sem envolturas ascende a mais elevada Região do Mundo do Pensamento – o Terceiro Céu. Aqui, pela harmonia inefável desse Mundo mais elevado, se fortifica para a próxima imersão na matéria.

Depois de algum tempo, vem o desejo de novas experiências e a contemplação de um novo nascimento. Isso evoca uma série de quadros ante a visão do Espírito – um panorama da nova vida que o espera. Contudo, note-se bem, esse panorama contém somente os acontecimentos principais. Quanto aos detalhes, o Espírito tem plena liberdade. É como se um ser humano, para ir a uma cidade distante, tivesse uma passagem com tempo determinado para lá chegar, mas com liberdade inicial de escolher o caminho. Depois de tê-lo escolhido e começado a viagem já não poderia mudar de caminho durante a jornada. Poderia se deter em todos os lugares que quisesse dentro do tempo marcado, mas não poderia voltar atrás. Assim, cada avanço na viagem limitaria ainda mais as condições da escolha feita. Se escolheu viajar numa embarcação a vapor movida à carvão betuminoso, seguramente chegará ao seu destino sujo e manchado. Se, ao contrário, tivesse escolhido uma embarcação a vapor movida à carvão antracite[1] ou uma movida à eletricidade, chegaria mais limpo. Assim acontece com o ser humano em cada nova vida. Talvez encontre pela frente uma vida muito dura, porém pode escolher entre vivê-la limpamente ou se chafurdar na lama. Outras condições estão também sob o seu arbítrio, embora igualmente sujeitas às limitações das escolhas e ações passadas.

Os quadros do panorama da próxima vida, que acabamos de mencionar, começam no berço e terminam na sepultura. Seguem em direção oposta àquelas do panorama que se segue à morte, como já foi explicada, imediatamente após o Espírito se libertar do Corpo Denso. A razão desta diferença radical entre os dois panoramas é que no panorama pré-natal o objetivo é mostrar ao Ego que regressa como certas causas ou atos produzem sempre certos efeitos. No caso do panorama pós-morte o objetivo é oposto, isto é, mostrar como cada acontecimento da vida que findou foi efeito de alguma causa anterior da vida. A Natureza, ou Deus, nada faz sem uma razão lógica, de modo que quanto mais investiguemos mais se evidencia que a Natureza é uma mãe sábia, empregando sempre os melhores meios para a realização dos seus fins.

Pode-se, porém, perguntar: por que devemos renascer? Por que devemos voltar a esta limitada e miserável existência terrena? Por que não podemos adquirir experiência nesses Reinos superiores sem necessidade de vir a Terra? Estamos cansados desta enfadonha e penosa vida terrena!

Tais queixas estão baseadas em mal-entendidos de várias classes. Em primeiro lugar, compreendamos e gravemos profundamente em nossa memória que o propósito da vida não é a felicidade, mas sim a experiência. A tristeza e a dor são nossos mais benévolos mestres. As alegrias da vida não são mais que coisas fugazes.

Isto pode parecer uma doutrina muito dura, de modo que o coração grita e protesta veementemente ante o pensamento de que essa ideia possa ser verdadeira. Todavia, essa é a verdade. Examinada, compreendemos que, apesar de tudo, a doutrina não é tão severa.

Consideremos as bênçãos da dor. Se, colocando a mão sobre uma estufa quente, não sentíssemos dor, a mão ficaria ali provavelmente até se queimar todo o braço, e sem que o percebêssemos a tempo de salvá-lo. A dor resultante do contato da mão com a estufa quente obriga-nos a retirá-la rapidamente antes de se produzir dano sério. Assim, ao invés de perdermos a mão escapamos com uma ligeira queimadura, que em breve sara. Isto é uma ilustração relativa ao Mundo Físico. Aprenderemos que o mesmo princípio se aplica aos mundos: mental e moral. Se ultrajarmos a moralidade, o remorso provoca dor em nossa consciência, a qual nos prevenirá para não repetirmos o ato. E se não aprendemos a lição da primeira vez a Natureza proporcionar-nos-á experiências cada vez mais duras, até gravarmos em nossa consciência que “o caminho do transgressor é muito duro”. Isto continuará até que sejamos forçados a tomar uma nova direção, e a dar um passo a mais para uma vida melhor.

A experiência é o conhecimento dos “efeitos que se seguem aos atos”. Isto é o objetivo da vida, junto ao desenvolvimento da “Vontade”, que é a força com a qual aplicamos o resultado da experiência. Devemos adquirir experiência, todavia podemos escolher: adquiri-la pelo duro caminho da experiência pessoal ou pela observação dos atos alheios, raciocinando e refletindo sobre eles, guiados pela luz de qualquer experiência que já tínhamos.

Esse é o método pelo qual o Estudante de ocultismo deve aprender, ao invés de necessitar do látego da adversidade e da dor. Quanto mais dispostos estivermos a aprender dessa forma, menos sentiremos os dolorosos espinhos do “caminho da dor”, e tanto mais depressa alcançaremos o “caminho da paz”.

A escolha é nossa, porém enquanto não aprendemos tudo o que nos cumpre aprender nesse mundo, nós devemos voltar. Não podemos permanecer e aprender nos Mundos superiores enquanto não tenhamos dominado as lições da vida terrena. Isto seria tão sem sentido como mandar uma criança ao jardim de infância num dia e à faculdade no dia seguinte. A criança deve voltar ao jardim de infância dia após dia, e frequentar anos inteiros as escolas de primeiro e segundo graus, antes que o estudo tenha desenvolvido nela a capacidade de compreender os ensinamentos da faculdade.

O ser humano também está numa escola – a escola da experiência. A ela deve voltar muitas vezes antes que possa conseguir dominar todo o conhecimento do Mundo dos sentidos. Não há vida terrena, por mais rica que seja de experiência, que forneça esse conhecimento. Por isso a Natureza decreta que terá de voltar à Terra depois de intervalos de repouso, a fim de prosseguir o trabalho no ponto em que o deixou, da mesma maneira que uma criança prossegue o estudo na escola a cada dia, após o intervalo de uma noite de sono. Não é argumento contra esta teoria dizer que o ser humano não recorda as vidas anteriores, uma vez que não podemos relembrar sequer todos os acontecimentos da nossa vida atual! Não recordamos das dificuldades que tivemos para aprender a escrever, contudo dominamos a arte de escrever, o que prova que a aprendemos. Todas as faculdades que possuímos demonstram que as adquirimos, alguma vez em algum lugar. Contudo, existem pessoas que se recordam do seu passado, conforme se relata num exemplo notável ao fim do capítulo seguinte, e que não é senão um entre tantos casos conhecidos. Além do mais, se não houvesse volta à Terra que utilidade teria a vida? Por que lutar por nada? Por que uma existência feliz num céu eterno deveria ser a recompensa de uma boa vida? Que benefício poderia produzir uma boa vida num céu onde todos são felizes? É fora de dúvida que num lugar onde todo mundo é feliz e contente não há necessidade alguma de simpatia, de sacrifícios, nem de bons conselhos! Ninguém ali precisaria disso. Contudo, na Terra há muitos que os necessitam e as qualidades humanitárias e altruísticas são da maior utilidade para a Humanidade que luta. Portanto, a Grande Lei[2] que trabalha para o bem traz o ser humano de volta ao mundo com os tesouros que adquiriu para benefício dele mesmo e dos demais, ao invés de permitir que tais tesouros se desperdicem no céu, onde ninguém deles necessita.


[1] N.R.: A antracite ou o antracito, é uma variedade compacta e dura do mineral carvão que possui elevado lustre. Difere do carvão betuminoso por conter pouco ou nenhum betume, o que faz com que arda com uma chama quase invisível. É o carvão mineral que apresenta o teor de carbono fixo mais alto (92% a 98%) e baixo conteúdo de substâncias voláteis. Os espécimes mais puros são compostos quase inteiramente por carbono. Possui alto poder calorífico.

[2] N.R.: As Leis gêmeas: Lei de Consequência (Lei de Causa e Efeito) e a Lei do Renascimento.

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Preparações para o Renascimento

Tendo visto, pois, a necessidade de repetidas encarnações, consideraremos, agora, o método pelo qual esse objetivo é alcançado.

Antes de se submergir na matéria, o Tríplice Espírito está despido, tendo somente as forças dos quatro Átomos-sementes (núcleos do Tríplice Corpo e da Mente). Sua descida pode ser comparada ao efeito de se vestir vários pares de luvas de crescente espessura, conforme previamente exemplificado. As forças da Mente da última vida são despertadas do seu estado latente no Átomo-semente. Esse começa a atrair para si materiais de subdivisão mais elevada da Região do Pensamento Concreto, pelo mesmo modo que o ímã atrai a limalha de ferro.

Se passamos um ímã sobre uma mistura de limalhas de: latão, prata, ouro, ferro, chumbo e outros metais, veremos que ele seleciona unicamente as de ferro que, mesmo destas, só tomará as partículas que sua força possa atrair, porquanto seu poder de atração é específico e limitado a uma quantidade certa desse elemento. O mesmo acontece com o Átomo-semente: de cada Região pode tomar apenas o material com que tenha afinidade, e mesmo desse, nada além de uma determinada quantidade definida. Assim, o veículo formado em torno desse núcleo é: a contraparte exata do veículo correspondente da última vida, menos o mal expurgado e mais a quintessência do bem que é incorporado ao Átomo-semente.

O material selecionado pelo Tríplice Espírito toma a forma de um grande sino aberto na base, tendo no topo o Átomo-semente. Se concebermos a ilustração espiritualmente, podemos compará-la a um sino de mergulhador[1] descendo num mar composto de fluidos de crescente densidade. Tais fluidos correspondem às diferentes subdivisões de cada Mundo. A matéria atraída pelo Corpo em forma de sino torna-o mais pesado, e assim ele mergulha na próxima subdivisão inferior e toma desta a cota de material apropriado. se torna, então, ainda mais pesado, pelo que submerge mais profundamente, até atravessar as quatro subdivisões da Região do Pensamento Concreto. Então o invólucro da nova Mente do ser humano está completo. A seguir se despertam as forças no Átomo-semente do Corpo de Desejos, localizado no topo do sino, por dentro. Em sua volta se agrupam os materiais da sétima Região do Mundo do Desejo. Daí submerge na sexta Região, onde atrai mais materiais. Esse processo continua até que alcance a primeira Região do Mundo do Desejo. O sino tem agora duas camadas – o da Mente por fora e a do novo Corpo de Desejos por dentro.

O Átomo-semente do Corpo Vital é o próximo a entrar em atividade, porém aqui o processo de formação não é tão simples como no caso da Mente e do Corpo de Desejos, pois, como devemos recordar, estes veículos estão comparativamente desorganizados, enquanto o Corpo Vital e o Corpo Denso, além de mais organizados, são muito complexos. O material, em quantidade e qualidade determinadas, é atraído da mesma maneira e sob a ação da mesma lei que atuou nos Corpos superiores, mas a construção do novo Corpo e sua colocação no ambiente apropriado são executadas por quatro grandes Seres de incomensurável sabedoria, que são os Anjos Relatores – os “Senhores do Destino”. Eles incorporam o Éter Refletor no Corpo Vital de tal maneira, que as cenas da vida que vai começar nele se reflitam. O Corpo Vital é construído pelos habitantes dos Mundos Celestes e pelos espíritos elementais de modo a formar um tipo especial de cérebro. Contudo, observe bem: o próprio Ego renascente incorpora em si mesmo a quintessência de seus anteriores Corpos Vitais e, mais ainda, realiza um pequeno trabalho original. Assim é feito para que na vida futura haja lugar para a expressão original e individual, aquela não predeterminada por ações passadas.

É muito importante lembrar esse fato porque existe uma grande tendência para pensar que tudo o que atualmente existe é resultado de algo que existiu antes. Entretanto, se assim fosse não haveria margem para esforços novos e originais e para novas causas. A cadeia de causas e efeitos não é uma repetição monótona. Há sempre um influxo contínuo de causas novas e originais. Esta é a espinha dorsal da evolução – a única realidade que lhe dá sentido e a converte em algo mais que a simples expansão de qualidades latentes. É a “Epigênese” – o livre arbítrio, a liberdade para inaugurar algo inteiramente novo e não uma simples escolha entre dois cursos de ação. Esse importante fator é o único que pode explicar de modo satisfatório o sistema a que pertencemos. A Involução e Evolução por si mesmas são insuficientes, mas juntas com a Epigênese formam uma perfeita tríade de esclarecimento.

O destino de um indivíduo gerado sob a Lei de Consequência é de grande complexidade, e envolve associação com outros Egos, encarnados e desencarnados, de todos os tempos. Igualmente, os encarnados em um determinado tempo podem não estar vivendo na mesma localidade, o que torna impossível cumprir o destino de um indivíduo em uma só vida ou em um só lugar. Por isso o Ego é trazido a um ambiente e a uma família com que esteja de algum modo relacionado. Sobre o destino a ser cumprido, às vezes, é indiferente em qual dos diversos ambientes o Ego renasça. Em tal caso, e tanto quanto possível, lhe é permitido escolher; mas uma vez a escolha feita, os agentes dos Senhores do Destino vigiam-no invisivelmente, a fim de que nenhum ato de sua livre vontade frustre o cumprimento da porção do destino escolhido. Se por nossos atos buscamos esquivar-nos a esse destino, Eles efetuam outra mudança, de modo a forçar-nos ao cumprimento de nosso destino. Nunca é demais repetir, contudo, que isto não faz do ser humano um desamparado. Trata-se simplesmente da mesma lei que rege o disparo de uma arma: uma vez disparada não há como se deter a bala, ou mesmo desviá-la da sua trajetória. A direção foi determinada pela posição da arma em nossas mãos quando disparamos. Poderíamos ter mudado essa posição antes de apertar o gatilho. Até esse instante tínhamos o controle total. Isto se aplica igualmente a novas ações que produzem o destino futuro. Até certo ponto podemos modificar e até frustrar certas causas já posta em movimento, mas uma vez começadas, se outras medidas não forem tomadas, ficarão fora do nosso controle. Isso é chamado de destino “maduro” e é a esse tipo que se refere quando se diz que os Senhores do Destino restringem todas as tentativas de evitá-lo. Assim, estamos sujeitos ao passado em grande extensão, mas quanto ao futuro temos controle total sobre nossos atos, salvo naquilo em que estejamos limitados por nossas ações anteriores. Pouco a pouco, porém, aprendendo a nos conhecer como causadores de nossas próprias tristezas e alegrias; despertamos à necessidade de harmonizar nossas vidas com as leis de Deus, sobrepondo-nos, assim, às leis do Mundo Físico. Esta é a chave da emancipação; como disse Goethe:

De todo o poder que mantêm todo o mundo agrilhoado,

o ser humano se liberta quando o autocontrole há conquistado.

O Corpo Vital, tendo sido modelado pelos Senhores do Destino, proporcionará a forma do Corpo Denso, órgão por órgão. Esse molde ou matriz é então colocado no útero da futura mãe. O Átomo-semente do Corpo Denso está na cabeça triangular de um dos espermatozoides do sêmen paterno. Somente esse espermatozoide possibilita a fertilização, o que explica a esterilidade de muitas uniões sexuais. Os constituintes químicos do fluido seminal e do óvulo são sempre os mesmos, e se estes fossem os únicos requisitos necessários à fecundação não se encontraria, no Mundo Físico e visível, explicação para o fenômeno da esterilidade. Isto, porém se torna evidente quando compreendemos que as moléculas da água congelam somente segundo as linhas de forças nela existentes, formando cristais de gelo ao invés de uma massa homogênea, como seria o caso se não houvesse tais linhas de força. Assim, também, o Corpo Denso não poderia se formar se não houvesse um Corpo Vital para modelar a matéria física. Deve haver, também, um Átomo-semente do Corpo Denso que atue como determinador da quantidade e qualidade da matéria designada para construir esse Corpo Denso. Ainda que no presente estágio de desenvolvimento nunca haja completa harmonia entre os materiais do Corpo, o que resultaria num Corpo perfeito, contudo a desarmonia não deve ser tão grande que possa causar a desorganização do organismo.

A hereditariedade diz respeito unicamente ao Corpo Denso, não às qualidades anímicas, que são completamente individuais. Não obstante, o Ego renascente também executa certa soma de trabalho em seu Corpo Denso ao lhe incorporar a quintessência das qualidades físicas do passado. Assim, nenhum Corpo é mescla exata das características físicas dos pais, ainda que o Ego se veja restringido a usar os materiais tomados dos Corpos deles. Daí o músico renascer onde possa conseguir material para uma mão delicada e um ouvido apurado com Órgão de Corti suprassensíveis e esmerado ajuste dos três canais semicirculares. O aproveitamento desses materiais, porém, é executado, até certo ponto, sob o controle do Ego. É situação semelhante à de um carpinteiro a quem se dê uma pilha de madeiras para que construa sua casa, deixando, todavia a seu critério o tipo de casa a ser erguida.

Salvo no caso de um ser de muito elevado desenvolvimento, esse trabalho do Ego, no presente estágio evolutivo do ser humano, é quase insignificante. Maior margem lhe é dada na construção do Corpo de Desejos; muito pouca na do Corpo Vital e quase nenhuma na de seu Corpo Denso. Se bem que esse pouco seja suficiente para fazer cada indivíduo uma expressão do seu próprio Espírito e diferente dos pais. Fecundado o ovócito secundário[2], o Corpo de Desejos da mãe trabalha sobre ele durante um período de dezoito a vinte e um dias. Até aqui o Ego permanece fora, em seu Corpo de Desejos e sua Mente, embora em íntimo contato com a mãe. Terminado esse tempo o Ego entra no Corpo materno. Os veículos em forma de sino se juntam, então, sobre a cabeça do Corpo Vital, e o “sino” se fecha pela parte inferior. Daí em diante o Ego paira sobre seu futuro instrumento até o nascimento da criança e uma nova vida terrestre do Ego renascido começa.


[1] N.R.: um sino de mergulhador molhado que é uma câmara suspensa por cabo, aberta na parte inferior como uma estrutura que é submersa na água para funcionar como uma base ou um meio de transporte para mergulhadores.

[2] N.R.: também chamado de, simplesmente, óvulo.

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Nascimento do Corpo Denso

Os veículos do recém-nascido não se tornam ativos imediatamente. O Corpo Denso fica desamparado por longo tempo depois do nascimento. Raciocinando por analogia, podemos ver logo que o mesmo deve acontecer com os veículos superiores. O ocultista cientista sabe disso, mas mesmo sem a sua Clarividência, a razão pode demonstrar que assim deve sê-lo. Do mesmo modo que o Corpo Denso é preparado lentamente dentro da cobertura protetora do útero para a vida separada e individual, assim também os demais Corpos nascem gradualmente e vão entrando em atividade em tempos diferentes. Esses tempos, mencionados na descrição a seguir, sendo aproximados, são, contudo bastante exatos para servir ao propósito geral de provar a relação entre o microcosmo e o macrocosmo – o indivíduo e o mundo.

No período imediato ao nascimento os diferentes veículos se interpenetram uns aos outros, assim como em ilustração anterior a areia compenetrava a esponja e a água a ambas. Porém, ainda que todos ali se encontrem, tal como na idade adulta, meramente estão presentes. Nenhuma de suas faculdades positivas é ativa. O Corpo Vital não pode utilizar as forças que operam pelo polo positivo dos Éteres. A assimilação, agindo pelo polo positivo do Éter Químico, é muito fraca durante a infância e aquela que se efetua se deve apenas ao Corpo Vital macrocósmico, cujos Éteres atuam como matriz para o Corpo Vital da criança até o sétimo ano, amadurecendo-o, gradualmente, durante esse período. A faculdade de propagação, que age pelo polo positivo do Éter de Vida, também está latente. O calor do Corpo – que é produzido pelo polo positivo do Éter de Luz – e a circulação do sangue são obra do Corpo Vital macrocósmico. Seus Éteres atuam sobre a criança e lentamente desenvolvem-na, até que possa controlar, por si mesma, essas funções. Já as forças que agem pelo polo negativo dos Éteres são muito mais ativas. A excreção dos sólidos, produzida pelo polo negativo de Éter Químico (correspondente à subdivisão sólida da Região Química) se faz muito livremente, como também a função de excreção de fluidos, produzida pelo polo negativo do Éter de Vida (correspondente à segunda subdivisão ou fluídica, da Região Química). A função passiva da percepção sensorial, devida às forças negativas do Éter de Luz, é também extraordinariamente notável. A criança é muito impressionável, “é toda olhos e ouvidos”.

Durante os primeiros anos as forças que operam pelo polo negativo do Éter Refletor são também extremamente ativas. Nesses anos as crianças podem “ver” os Mundos superiores, e frequentemente, tagarelam sobre aquilo que veem, até que o ridículo ou castigos impostos, pelos mais velhos, “por contarem histórias” fazem-nas desistir de falar.

É deplorável que as crianças sejam obrigadas a mentir – ou pelo menos a negar a verdade – devido à incredulidade dos “sábios” mais velhos. Investigações da Sociedade de Pesquisas Psíquicas[1] provaram que as crianças dispõem, muitas vezes, de invisíveis companheiros de brinquedos, as quais visitam-nas, frequentemente, durante alguns anos. Nesse período, a Clarividência delas tem o mesmo caráter negativo da dos médiuns.

A mesma coisa se dá com as forças que atuam no Corpo de Desejos. A sensação passiva de dor física está presente, enquanto o poder de sentir emoções está ausente quase por completo. A criança pode, naturalmente, demonstrar emoção a mais leve provocação, mas a duração dessa emoção é apenas momentânea. Tudo está na superfície.

A criança possui também o elo da Mente, mas é quase incapaz de atividade mental individual. Sendo extremamente sensível às forças que agem pelo polo negativo e é, por isso mesmo, imitadora e ensinável.

Isto explica por que todas as qualidades negativas são ativas no ente recém-nascido, porém, antes que possa usar seus diferentes veículos, suas qualidades positivas devem ser amadurecidas.

Cada veículo é, portanto, levado a um determinado grau de maturidade pela atividade do correspondente veículo macrocósmico, o qual age como sua matriz até que esse grau seja alcançado. Desde o primeiro até o sétimo ano o Corpo Vital vai crescendo e amadurecendo lentamente dentro da matriz do Corpo Vital macrocósmico e, devido à grande sabedoria desse veículo macrocósmico, o Corpo da criança é mais bem formado e mais bem organizado nesse período do que no resto da vida.


[1] N.R.: Society for Psychical Research (SPR) é uma organização sem fins lucrativos que se iniciou no Reino Unido e depois se constituiu em outros países. O seu fim declarado é a compreensão dos “eventos e habilidades comumente descritas como psíquicas ou paranormais através da promoção e apoio a importantes pesquisas nesta área” e “examinar alegados fenômenos paranormais de maneira científica e imparcial.”

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Nascimento do Corpo Vital e o Crescimento

Enquanto o Corpo Vital macrocósmico guia o crescimento do Corpo da criança, esse é protegido contra os perigos que o ameaçarão posteriormente, quando o inexperiente Corpo Vital individual assumir sozinho a direção. Isto ocorre no sétimo ano, quando começa o período de crescimento excessivo e perigoso, e continuará pelos sete anos seguintes. Durante esse tempo o Corpo de Desejos macrocósmico exerce a função de matriz para o Corpo de Desejos individual.

Se o Corpo Vital dominasse irrestrita e continuamente no Reino Humano, como o faz no Reino Vegetal, o ser humano alcançaria um tamanho enorme. Houve um tempo, no passado remoto, em que o ser humano tinha constituição semelhante à das plantas, possuindo somente o Corpo Denso e o Corpo Vital. As tradições da mitologia e das lendas de todo o mundo a respeito de gigantes nos tempos antiquíssimos são absolutamente certas, porque, então, e pela razão exposta acima, o ser humano crescia tanto quanto as árvores.

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Nascimento do Corpo de Desejos e a Puberdade

O Corpo Vital da planta constrói folha após folha, elevando o tronco cada vez mais alto. Continuaria crescendo indefinidamente se, em certo ponto, o Corpo de Desejos macrocósmico não o limitasse, controlando todo o crescimento ulterior. A força não empregada no crescimento é então utilizada para outros propósitos: construir a flor e formar a semente. A mesma coisa sucede com o Corpo Vital humano: depois do sétimo ano quando o Corpo Denso fica sob sua influência, faz crescê-lo rapidamente até que, próximo aos catorze anos, o Corpo de Desejos individual nasce da matriz do Corpo de Desejos macrocósmico, ficando então livre para trabalhar no seu Corpo Denso. O crescimento excessivo é controlado e a força, até aí utilizada para tal propósito, pode ser agora empregada na propagação, no florescimento e na frutificação da planta humana. Por isso o nascimento do Corpo de Desejos pessoal marca o período da puberdade. Daí em diante começa a atração pelo sexo oposto, especialmente desenfreada e ativa nesse terceiro período setenário da vida – de catorze aos vinte e um anos – por não ter nascido, ainda, a Mente refreadora.

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Nascimento da Mente e a Maioridade

Depois dos catorze anos a Mente, envolvida e nutrida pela Mente macrocósmica, começa a desenvolver suas possibilidades latentes para se tornar capaz de emitir pensamentos originais. As forças dos diferentes veículos do indivíduo amadureceram, agora, a tal ponto que ele poderá empregá-las na sua evolução. Portanto, aos vinte e um anos é que o Ego toma posse completa dos seus veículos. Isso se efetua por meio do calor do sangue e pela produção individual desse sangue, o que se realiza simultaneamente com o pleno desenvolvimento do Éter de Luz.

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O Sangue – Veículo do Ego

Da infância aos catorze anos a medula óssea vermelha não forma todos os corpúsculos sanguíneos. A maioria destes é suprida pela Glândula Timo. Essa Glândula, maior no feto, gradualmente diminui conforme aumenta na criança em desenvolvimento a faculdade individual de produzir sangue. A Glândula Timo contém, por assim dizer, certa quantidade de corpúsculos de sangue fornecidos pelos pais. Consequentemente a criança, recebendo o sangue dessa fonte, não compreende sua Individualidade. Enquanto ela própria não produzir o seu sangue não pensará de si mesma como eu. Quando essa glândula desaparece próximo aos catorze anos, o sentimento do “eu” alcança sua plena expressão, já que o sangue passa a ser inteiramente produzido e dominado pelo Ego. O seguinte esclarecerá a ideia e sua lógica:

Recordemos que a assimilação e o crescimento dependem das forças que agem pelo polo positivo do Éter Químico do Corpo Vital, cujo Éter é liberado aos sete anos, simultaneamente com o equilíbrio do Corpo Vital. Por esse tempo somente o Éter Químico está completamente maduro. Os outros Éteres precisam de mais tempo para amadurecer. Aos catorze anos o Éter de Vida do Corpo Vital – o Éter da propagação – amadurece por completo. No intervalo dos sete aos catorze anos a assimilação excessiva armazena certa quantidade de força que, acumulada nos órgãos sexuais, está pronta para atuar ao tempo do nascimento do Corpo de Desejos.

Esta força sexual fica armazenada no sangue durante o terceiro período setenário. Por esse tempo o Éter de Luz, que é o condutor do calor do sangue, se desenvolve e controla o coração, de modo que o Corpo não fique demasiado frio nem demasiado quente. Na infância o sangue alcança, às vezes, temperaturas anormais, e no período de crescimento excessivo acontece frequentemente o contrário. Contudo, na ardente e irrefreável juventude, a paixão e a cólera podem arrojar o Ego fora do Corpo, em razão do excessivo calor que provocam no sangue. Com muita propriedade chamamos a isto uma ebulição ou temperamento fervente, e que tal pessoa “perde a cabeça”, isto é, se torna incapaz de pensar. É exatamente o que acontece quando a paixão, a ira ou o temperamento superaquecem o sangue, expulsando, assim, o Ego dos seus Corpos. A descrição é exata quando dizemos que uma pessoa em tal estado “perdeu o domínio de si mesma”. O Ego está fora dos seus veículos e estes se movem em fúria cega, privados da influência orientadora do pensamento, cujo trabalho, em parte, é agir como freio dos impulsos. Há grande e terrível perigo em tal explosão: antes que o possuidor reentre em seu Corpo alguma entidade desencarnada pode se apossar dele e manter o Ego fora do seu Corpo. Isto é o que se chama “obsessão”. Somente o ser humano que se mantém frio, não permitindo ser arrojado fora dos seus veículos por um calor excessivo do sangue, pode pensar devidamente. Como prova de que o Ego não pode agir no Corpo quando o sangue é demasiado quente ou frio, há o conhecido fato de que o calor excessivo produz sonolência. E se o calor ultrapassa certo limite o Ego é expulso do Corpo, ficando esse inconsciente. O frio excessivo também tende a tornar o Corpo sonolento ou inconsciente. Só quando o sangue tem ou está próximo da temperatura normal é que o Ego pode usar o Corpo como veículo de consciência.

O rubor da vergonha é outro fato que mostra a ligação do Ego com o sangue: este, impelido à cabeça, esquenta demais o cérebro, paralisando o pensamento. O medo é um estado de autodefesa do Ego contra algum perigo externo. Em tal situação o Ego impele o sangue para o centro do Corpo; o rosto empalidece, pois, o sangue abandona a periferia do Corpo e perde calor; o pensamento paralisa-se; o sangue fica “gelado”; o Corpo treme e os dentes batem como quando a temperatura desce devido às condições atmosféricas. No estado febril o excesso de calor produz o delírio.

Quando o sangue não é demasiado quente, as pessoas vigorosas são mental e fisicamente ativas, enquanto as pessoas anêmicas são sonolentas. Em uma, o Ego tem maior controle, noutra menor. Quando o Ego necessita pensar, atrai sangue ao cérebro com a temperatura adequada. Contudo, quando uma alimentação copiosa ou pesada centraliza a atividade do Ego nos órgãos digestivos, o ser humano não pode pensar. Então fica sonolento.

Os antigos escandinavos e escoceses reconheciam que o Ego está no sangue. Nenhum estrangeiro podia se ligar a eles como parente enquanto não tivesse “misturado o seu sangue”, se tornando assim um dos seus. Goethe, que foi um Iniciado, se refere também a isso no seu “Fausto”. Quando Fausto vai firmar um pacto com Mefistófeles pergunta: “Por que não assinar com tinta comum? Por que usar sangue? “. Mefistófeles responde, “O sangue é uma essência mui peculiar”. Ele sabia que possuindo o sangue se possui o ser humano, e que sem sangue quente nenhum Ego pode expressar-se.

O calor apropriado para a expressão real do Ego não se manifesta enquanto a Mente não tenha nascido da Mente Concreta macrocósmica, quando o indivíduo atinge aproximadamente vinte e um anos. A lei também reconhece esta como a idade mínima para a maioridade do indivíduo, e para que esse possa exercer as suas prerrogativas de cidadão.

No presente grau de desenvolvimento humano o ser humano passa por esses diversos estágios em cada ciclo de vida, de um nascimento a outro.

Diagrama – Um Ciclo de Vida

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CAPÍTULO IV – O RENASCIMENTO E A LEI DE CONSEQUÊNCIA

Somente três teorias dignas de nota foram formuladas para resolver o enigma da vida e da morte.

No capítulo anterior apresentamos, até certo ponto, uma dessas três teorias: a do Renascimento, juntamente com sua companheira, a Lei de Consequência. Chegamos agora ao ponto em que convém comparar a teoria do Renascimento com as outras duas a fim de averiguar a relatividade de seus fundamentos na natureza. Para o ocultista não pode haver dúvidas. Ele não diz que “crê” nela, salvo no sentido de dizer: “crer” que o botão de uma flor se abre, ou a água do rio corre, ou na execução de qualquer outro trabalho visível no Mundo material que se processa continuamente diante de nossos olhos. Não dizemos que “cremos” nessas coisas. Nós dizemos que “conhecemos”, porque as vemos. Portanto, o cientista ocultista pode dizer “eu sei”, com respeito ao Renascimento, a Lei de Consequência e seus corolários. Ele vê o Ego, portanto pode seguir seu trajeto desde que deixa o Corpo Denso, ao morrer, até que reapareça na Terra em novo nascimento. Logo, não precisa “crer”. Contudo, para satisfazer aos demais, convém examinarmos essas três teorias sobre a vida e a morte, a fim de chegarmos a uma conclusão inteligente.

Qualquer grande lei da natureza deve estar, necessariamente, em harmonia com todas as demais. Portanto, é muito útil ao investigador examinar as relações dessas teorias com as admitidas “leis conhecidas da natureza”, observadas nesta parte do universo que nos é mais familiar. Para isso descrevemos, primeiramente, as três teorias:

1.Teoria Materialista: sustenta que a vida é uma viagem do berço ao túmulo; que a Mente é o resultado de certas correlações da matéria; que o ser humano é a mais elevada inteligência do Cosmos, e que a sua inteligência perece quando o Corpo se desintegra, após a morte.

2.Teoria Teológica: afirma que em cada nascimento uma Alma recém-criada por Deus entra na arena da vida, passando pelas portas do nascimento, a esta existência visível; que ao fim de um curto período de vida no Mundo material passa, através dos portais da morte, ao invisível além, de onde não volta mais; que sua felicidade ou desgraça ali é determinada para a toda eternidade pelas ações que tenha praticado durante o período infinitesimal que vai do nascimento à morte.

3.Teoria do Renascimento: ensina que cada Alma é uma parte integrante de Deus, contendo em si todas as potencialidades divinas, do mesmo modo que a semente contém a planta; que por meio de repetidas existências em Corpos terrestres de qualidade gradualmente melhor, as possibilidades latentes se convertem lentamente em poderes dinâmicos; que ninguém se perde nesse processo, mas que toda a Humanidade alcançará, por fim, a meta da perfeição e a união, novamente, com Deus.

A primeira destas teorias é monística. Procura explicar todos os fatos da existência como processos dentro do Mundo material. As outras duas teorias são dualísticas, isto é, atribuem certos fatos e fases da existência a estados suprafísicos e invisíveis, se bem que difiram amplamente em outros pontos.

Comparando a teoria materialista com as leis conhecidas do Universo, notamos que tanto a continuidade da força como as da matéria estão bem determinadas, além de qualquer necessidade de elucidação. Sabemos também que força e matéria são inseparáveis no Mundo Físico. Isto é contrário à teoria materialista, para a qual a Mente perece ao ocorrer a morte. Se nada pode ser destruído, também a Mente não o poderá. Ademais, sabemos que a Mente é superior à matéria, posto que ela modela a face tornando-a uma reflexão ou espelho da Mente. Sabe-se que as partículas dos nossos Corpos são continuamente trocadas e que, pelo menos uma vez em cada sete anos, todos os átomos do Corpo são substituídos.

Se a teoria materialista fosse verdadeira a consciência também deveria sofrer uma completa mudança, não podendo conservar a memória do passado, pelo que em qualquer tempo só poderíamos recordar os acontecimentos dos últimos sete anos. Contudo, bem sabemos que tal não acontece. Recordamos até os acontecimentos da nossa infância. Pessoas há que relatam incidentes dos mais triviais, esquecidos da consciência comum, recordados distintamente numa visão rápida e retrospectiva da vida quando estiveram a ponto de perecer afogadas. Experiências similares, em estado de transe, são também muito comuns. O materialismo não pode explicar essas fases de sub e supraconsciência. Simplesmente as ignora. Contudo, ignorar a existência desses fenômenos, quando a investigação científica moderna os tem comprovado fora de qualquer dúvida, é séria falha numa teoria que proclama poder resolver o maior problema da vida – a Vida em si mesma.

Podemos, pois passar tranquilamente da teoria materialista à teoria seguinte visto ser aquela inadequada à solução do mistério da vida e da morte.

Uma das maiores objeções que se faz à doutrina teológica ortodoxa, tal como se apresenta, é sua completa e reconhecida impropriedade. Das miríades de Almas que foram criadas e habitam esse Globo desde o princípio da existência, mesmo que esse princípio não vá além dos seis mil anos, é insignificante o número das que se salvariam: apenas “cento e quarenta e quatro mil”! As demais seriam torturadas para sempre! E assim o demônio teria sempre a melhor parte. De modo que até poderíamos dizer, como Buda: “Se Deus permite que tais misérias existam, Ele não pode ser bom, e se Ele não tem o poder de impedi-las, não pode ser Deus”.

Nada há na Natureza que se pareça a tal método: criar para, em seguida, destruir o que foi criado. Imagina-se que Deus deseja a salvação de TODOS, e que é contrário à destruição de qualquer um, tanto que para salvá-los “deu Seu Único Filho”. Assim sendo, esse “glorioso plano de salvação” falha pela base!

Se um transatlântico, com duas mil Almas a bordo enviasse uma mensagem sem fio de que estava afundando na saída de Sandy Hook[1], poder-se-ia considerar um “glorioso plano de salvação” enviar em seu socorro apenas um rápido barco a motor, capaz de salvar só duas ou três pessoas? Certamente que não! Pelo contrário, seria considerado um “plano de destruição” não providenciar meios adequados para salvar, pelo menos, a maioria dos passageiros em perigo.

O plano de salvação dos teólogos, porém é muitíssimo pior do que isso, uma vez que dois ou três em dois mil é uma proporção imensamente maior do que o plano teológico ortodoxo de salvar unicamente 144.000 dentre todas as miríades de Almas criadas. Podemos, pois, sem medo de errar, rejeitar esta teoria também, já que é inexata, porque é irrazoável. Se Deus é onisciente Ele deve ter desenvolvido um plano mais eficaz. E assim Ele o fez. O que ficou dito é apenas teoria dos teólogos. Os ensinamentos da Bíblia são, conforme veremos adiante, muito diferentes.

Consideremos agora a doutrina do Renascimento, que postula um processo de lento desenvolvimento, efetuado, persistentemente, por meio de repetidos renascimentos e em formas de crescente eficiência. Por intermédio destas formas, tempo virá em que todos alcançarão o cume do esplendor espiritual, presentemente, a nós, inconcebível. Nada há nesta teoria que seja irrazoável ou difícil de aceitar. Olhando ao redor, vemos por toda a parte o esforço lento e perseverante, na natureza, para atingir a perfeição. Não vemos nenhum processo súbito de criação ou mesmo de destruição, tal como postula o teólogo, mas nós vemos isto sim, “Evolução”.

Evolução é “a história do progresso do Espírito no Tempo”. Por toda a parte, observando os variados fenômenos do Universo, vemos que o Caminho de Evolução é uma espiral. Cada volta da espiral é um ciclo. Cada ciclo se funde com o seguinte e, como as espirais são contínuas, cada ciclo é o produto melhorado do precedente e o criador de estados sucessivos de maior desenvolvimento.

A linha reta não é mais que a extensão de um ponto. Tem apenas uma dimensão no espaço. A teoria materialista e a teológica seriam semelhantes a essa linha. O materialista diz que a linha da vida parte do nascimento e, para ser coerente, termina na hora da morte. O teólogo começa a sua linha com a criação da Alma pouco antes do nascimento. Depois da morte a Alma vive indefinidamente, mas seu destino foi determinado de modo irremediável pelos próprios atos no curto período de uns tantos anos. Não pode voltar atrás para corrigir os erros. A linha, seguindo sempre reta, implica numa experiência irrisória e em nenhuma elevação da Alma após a morte.

O progresso natural não segue uma linha reta, conforme está implícito nessas duas teorias. Nem mesmo segue um caminho circular, o que significaria uma infinidade de voltas nas mesmas experiências e o emprego de apenas duas dimensões do espaço. Todas as coisas se movem em ciclos progressivos para que possam aproveitar plenamente todas as oportunidades de progresso oferecidas pelo universo de três dimensões. É, pois, necessário à vida em evolução tomar o caminho de três dimensões – a espiral que segue continuamente para frente e para cima.

Quer na modesta plantinha do nosso jardim, quer nas gigantescas sequoias da Califórnia, com troncos de nove metros de diâmetro, sempre notamos a mesma coisa: cada ramo, talo ou folha brota segundo uma espiral simples ou dupla, ou em pares opostos que se equilibram mutuamente, análogos ao fluxo e refluxo, ao dia e à noite, à vida e à morte, e a outras atividades alternativas da Natureza.

Examinando a abóbada celeste, e observando as imensas Nebulosas Ígneas ou os caminhos dos Sistemas Solares, por toda a parte vemos a espiral. Na primavera a Terra sacode seu branco manto e desperta do período de descanso – seu sono invernal. Todas as atividades visam produzir vida nova por toda a parte. O tempo passa. O trigo e as uvas amadurecem e são colhidos. Outra vez, o verão ativo se desvanece no silêncio e na inatividade do inverno e, novamente, o manto branco da neve envolve a Terra. Seu sono, porém, não é eterno: despertará de novo ao canto da nova primavera, que marcará para ela um pouco mais de progresso no caminho do tempo.

Assim acontece com o Sol. Levanta-se todas as manhãs, mas a cada dia progride em sua jornada anual.

Por toda a parte se encontra a espiral: para frente, para cima, para sempre!

Será possível que esta lei, tão universal em todos os outros Reinos, não o seja também na vida do ser humano? Deverá a Terra despertar a cada ano do seu sono invernal; deverão a árvore e a flor viverem de novo e somente o ser humano morrer? Não é possível! A mesma lei que desperta a vida na planta para que cresça outra vez, traz o ser humano de volta para adquirir novas experiências e avançar ainda mais para a meta da perfeição. Portanto, a teoria do Renascimento, que ensina a necessidade de repetidas incorporações em veículos de crescente perfeição, está em perfeito acordo com a evolução e com os fenômenos da Natureza, o que não ocorre com as outras duas teorias.

Considerando a vida sob o ponto de vista ético, podemos inferir que a Lei do Renascimento e sua companheira, a Lei de Consequência, juntas constituem a única teoria que satisfaz o senso de justiça e está em harmonia com os fatos da vida, conforme os vemos ao nosso redor.

Não é fácil para a Mente lógica compreender como um Deus “justo e amoroso” pode exigir as mesmas virtudes dos milhares de seres que Ele mesmo “colocou a seu bel-prazer sob diferentes condições”, aparentemente sem regra nem plano algum, mas tão-só “quer queira quer não” e de acordo com Seu capricho. Um vive luxuosamente, outro vive em penúria total. Um tem boa educação moral e uma atmosfera de elevados ideais; outro é posto num ambiente mesquinho e ensinado a mentir e a roubar, de modo que quanto melhor o faça mais êxito pode ter! É justo exigir o mesmo de ambos? É certo recompensar um por viver uma boa vida, quando foi colocado num ambiente onde é sumamente difícil desencaminhar-se, ou castigar a outro por viver tão dificilmente que nem pode ter uma ideia do que constitui a verdadeira moralidade? Seguramente não! Não é mais lógico admitir que se tenha interpretado mal a Bíblia do que atribuir a Deus tão monstruoso plano e método de procedimento?

É inútil dizer que não devemos investigar os mistérios de Deus, que estão além do nosso entendimento. As desigualdades da vida podem ser explicadas, satisfatoriamente, pelas Leis gêmeas do Renascimento e de Consequência, que se harmonizam perfeitamente com a concepção de um Deus justo e amoroso, tal como Cristo o ensinou.

Além disso, é através dessas leis que podemos ver o modo de emancipar-nos das indesejáveis posições ou ambientes, e como alcançar qualquer grau de desenvolvimento, não importando quão imperfeitos sejamos presentemente.

O que somos, o que temos e todas as boas qualidades são o resultado das nossas próprias ações passadas. O que agora nos falta física, moral ou mentalmente, pode ser nosso no futuro.

Assim como não podemos fazer outra coisa senão continuar nossa vida a cada manhã desde o ponto onde a largamos na noite anterior, assim também, por nossas obras nas vidas passadas, criamos as condições sob as quais agora vivemos e trabalhamos. Do mesmo modo estamos criando, presentemente, as condições de nossas futuras vidas; ao invés de nos lamentarmos pela falta desta ou daquela cobiçada faculdade, devemos é nos esforçar para adquiri-la.

Se uma criança toca, admiravelmente, um instrumento musical sem nenhum esforço, e outra toca com dificuldade apesar de persistente esforço, isso mostra, simplesmente, que a primeira se esforçou nessa direção em vidas passadas e está facilmente readquirindo sua antiga proficiência, enquanto os esforços da outra começaram somente na presente vida, pelo que podemos ver a maior dificuldade que enfrenta. Contudo, se ela persistir poderá, talvez até na existência atual, se tornar superior a primeira, a menos que esta continue se aperfeiçoando.

Não tem significado o não recordar os esforços feitos para adquirir uma faculdade por meio de um trabalho tenaz, uma vez que isso não modifica a realidade de que a faculdade permanece conosco.

O gênio é um indício da Alma avançada que, por meio de duro esforço em muitas vidas anteriores, desenvolveu em si mesmo algo mais além das realizações normais da Raça. Ele revela um vislumbre do grau de realização que será posse comum da Raça futura. Ele não pode ser explicado pela hereditariedade, pois essa se relaciona apenas parcialmente com o Corpo Denso, não com as qualidades anímicas. Se o gênio pudesse ser explicado pela hereditariedade, por que não há uma longa linhagem comum de mecânicos entre os ancestrais de Thomas Edison[2], cada qual mais capacitado do que seu predecessor? Por que o gênio não se propaga? Por que não é Siegfried[3], o filho, maior que Richard Wagner[4], o pai?

Quando a expressão do gênio depende da posse de órgãos especialmente construídos, que requerem longo tempo de desenvolvimento, o Ego renasce naturalmente em uma família de Egos que tenham trabalhado gerações inteiras para construir organismos semelhantes. Esta é a razão de terem nascido, na família Bach[5], vinte e nove músicos, mais ou menos geniais, durante um período de duzentos e cinquenta anos. Que o gênio é uma expressão da Alma e não do Corpo é demonstrado pelo fato de que essa faculdade não se aperfeiçoou gradativamente, alcançando sua máxima expressão na pessoa de Johann Sebastian Bach. Antes, sua proficiência estava muito acima não só da dos antecessores como dos sucessores.

O Corpo é simplesmente um instrumento, cujo trabalho depende do Ego que o guia, assim como a qualidade de uma melodia depende da habilidade do músico e do timbre do instrumento. Um bom músico não pode se expressar plenamente num instrumento pobre, assim como nem todos os músicos podem tocar de modo igual o mesmo instrumento. Que um Ego procure renascer como filho de um grande músico não significa necessariamente que venha a ser um gênio maior que o pai, o que forçosamente sucederia se o gênio fosse herança física e não uma qualidade anímica.

A “Lei de Atração” explica, de maneira completamente satisfatória, os fatos que atribuímos à hereditariedade. Sabemos que as pessoas de gostos análogos se procuram. Se sabemos que um amigo vive em certa cidade, mas ignoramos o seu endereço, a lei de associação ser-nos-á guia natural no esforço para encontrá-lo. Se for músico estará provavelmente em lugares onde se reúnem os músicos; se é estudante, procuramo-lo pelas livrarias, bibliotecas ou salas de leitura; ou se ele é esportista, busquemo-lo no hipódromo, nos campos de polo ou nos estádios, etc. Não é provável que o Estudante ou o músico, habitualmente, frequentem os lugares mencionados em último lugar, podendo também se afirmar que a procura do esportista teria pouco êxito se feita nas livrarias ou em salões de música.

De modo semelhante, o Ego gravita ordinariamente em torno das associações de caráter semelhante ao seu. A isso ele é impelido por uma das forças do Mundo do Desejo – a Força de Atração.

Pode-se objetar: havendo na mesma família pessoas de gostos completamente opostos, e até inimigas ferrenhas, é a Lei de Associação que as reúne ali?

A explicação disso é a seguinte: durante as vidas terrenas o Ego estabelece relações com várias pessoas. Estas relações podem ter sido boas ou não, implicando de um lado em obrigações que não foram liquidadas na ocasião, e de outro em injúrias e ódio entre o agravado e seu desafeto. Contudo, a Lei de Consequência exige um exato ajuste de contas. A morte não “paga tudo”, assim como, mudar de cidade não liquida nossos débitos financeiros. No caso de dois inimigos, um dia encontrar-se-ão de novo: o antigo ódio se reúne na mesma família, pois o propósito de Deus é que nos amemos uns aos outros, devendo o ódio se transformar em amor. Assim, ainda que sejam talvez necessárias muitas vidas em contendas, chegará o momento em que os inimigos aprenderão a lição e far-se-ão amigos e mútuos benfeitores, ao invés de inimigos. Em tal caso o Interesse de ambos põe em atividade a Força de Atração, que os juntam. Se tivessem simplesmente permanecido indiferentes um ao outro não poderiam se achar associados.

Desta maneira as leis gêmeas – de Renascimento e de Consequência – resolvem de forma razoável todos os problemas incidentais à vida humana conforme o ser humano avança firmemente para o seu próximo estágio evolutivo – o de “super-homem”[6]. O rumo do progresso humano é sempre para frente e para cima, diz esta teoria – não como creem alguns que confundem a doutrina do Renascimento com disparatadas crenças de algumas tribos hindus, as quais acreditam que o ser humano renasce em Corpos animais ou vegetais. Isto seria um retrocesso. Nem na natureza, nem nos livros sagrados de qualquer Religião se encontra qualquer coisa que sustente semelhante doutrina retrógrada. Apenas em um (um somente) dos manuscritos religiosos da Índia se toca nesse ponto. No Kathopanishad[7] (capítulo V, versículo 9) lê-se: “Alguns homens, de acordo com suas ações, vão à matriz; os outros ao ‘Sthanu’”. “Sthanu” é uma palavra sânscrita que significa “imóvel”, mas também significa “um pilar”. Isto tem sido interpretado como indicando que alguns homens, devido a seus pecados, retrocedem ao imóvel Reino Vegetal.

Os espíritos encarnam somente para adquirir experiência, conquistar o mundo, se sobrepor ao “Eu inferior” e alcançar o domínio próprio. Quando nos conscientizarmos disso poderemos compreender que, futuramente, não haverá mais necessidade de renascer, porque então todas as lições terão sido aprendidas. Os ensinamentos do Kathopanishad indicam que, ao invés de permanecer ligado à roda de nascimentos e mortes, o ser humano chegará um dia ao estado de imobilidade a que chamam “Nirvana”.

No Livro da Revelação[8] encontramos estas palavras: “Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e jamais sairá[9], que se referem à completa libertação da existência concreta. Em parte alguma se encontra afirmação autorizada para a doutrina da transmigração das Almas. O ser humano que evoluiu tanto a ponto de possuir uma Alma separada e individual não pode retroceder, em seu progresso, e ocupar um Corpo animal ou vegetal, uma vez que estes ainda estão subordinados a Espíritos-Grupo: O espírito individual é uma evolução superior à do Espírito-Grupo, e o menor não pode conter o maior.

Oliver Wendel Holmes[10], no seu formosíssimo poema “The Chambered Nautilus”[11], concretiza a ideia do constante progresso em veículos cada vez melhores e da final libertação. O náutilo constrói sua concha espiralada com seções ou compartimentos separados, abandonando constantemente o menor, que já não o comporta, para ocupar o último construído:

Ano após ano, sempre no silêncio

prossegue na labuta de ampliar as suas reluzentes espirais;

e, à medida que elas crescem mais,

deixa a morada do ano que passou e na nova vai habitar.

Com suaves passadas deslizando através dos

umbrais construídos com vagar,

acomoda-se outra vez em novo lar

e não mais o anterior vai recordar.

Pela mensagem celeste que me trazes, graças te dou

filho do oceano, lançado do teu meio desolado!

Dos teus lábios mortos nasce uma nota mais clara

que quaisquer das que Tritão já tirou do seu corno espiralado!

Enquanto em meus ouvidos ela soar,

através das cavernas profundas do pensamento,

ouço uma voz a cantar:

“Constrói Alma minha, as mais belas mansões

Enquanto as estações se sucedem!

Deixa teu humilde passado!

Que cada novo templo, mais nobre que o anterior,

Te separe dos céus com um domo mais amplo,

Até que, por fim, possas ficar livre,

Abandonando tua pequena concha no revolto mar da vida!”

A necessidade, já mencionada, de obter um organismo de natureza específica faz lembrar um aspecto interessante das leis gêmeas: do Renascimento e de Consequência. Estas leis estão relacionadas com o movimento dos Corpos Cósmicos, isto é, o Sol, os Planetas e os Signos do Zodíaco. Todos se movem em harmonia com estas leis, guiados em suas órbitas por suas inteligências espirituais internas – os Espíritos Planetários.

Devido à Precessão dos Equinócios, o Sol se move “para trás” através dos doze Signos do Zodíaco à razão aproximada de um grau de espaço a cada 72 anos; através de um Signo (30 graus de espaço) a cada 2.100 anos, aproximadamente, completando todo o círculo em cerca de 26.000 anos.

Isto é devido ao fato de que a Terra não gira em torno de um eixo estacionário. Seu eixo tem um movimento lento, oscilante, próprio, (semelhante ao de um pião que já perdeu parte da força) descrevendo assim um círculo no espaço, pelo que uma estrela após outra se converte em Estrela Polar.

Por causa desse movimento oscilante o Sol não cruza o Equador no mesmo ponto todos os anos, mas sempre um pouco antes, razão do termo “Precessão dos Equinócios”, isto é, o equinócio “precede” – chega mais cedo.

Todos os acontecimentos da Terra relacionados com os outros Corpos cósmicos e seus habitantes estão ligados a esse e a outros movimentos siderais. A mesma coisa se dá com as leis de Consequência e do Renascimento.

Conforme o Sol atravessa os diferentes Signos, no curso do ano, as mudanças climáticas e outras tais afetam o ser humano e suas atividades de várias maneiras. Semelhantemente, a passagem do Sol por Precessão dos Equinócios através dos doze Signos do Zodíaco, que é chamado Ano Mundial, produz na Terra as mais variadas condições. O crescimento da Alma exige que o ser humano experimente todas estas condições. De fato, conforme vimos, é ele mesmo quem as prepara enquanto se acha nos Mundos Celestes, entre nascimentos. Portanto, cada Ego nasce duas vezes durante o tempo em que o Sol, por precessão, passa através de um Signo do Zodíaco e, como a Alma é necessariamente bissexual, renasce, alternadamente, em Corpos masculinos e femininos a fim de adquirir toda espécie de experiências, posto que a experiência de um sexo difere amplamente da do outro. Ao mesmo tempo, como as condições externas não se alteram demais num milhar de anos, a entidade pode receber experiências em idêntico ambiente, tanto como homem quanto como mulher.

Nestes termos gerais atua a Lei do Renascimento. Contudo como não é uma lei cega, está sujeita a frequentes modificações, determinadas pelos Senhores do Destino – os Anjos Relatores. Exemplo disso é quando um Ego precisa de um olho ou de um ouvido muito sensitivo, e surge uma oportunidade para lhe proporcionar o instrumento requerido em uma família com que tenha estabelecido relações prévias, o renascimento do Ego em questão pode ser antecipado. O tempo para o renascimento desse Ego pode ser antecipado de uns 200 anos, em relação ao período médio de renascimento. Os Senhores do Destino preveem que no caso desta oportunidade não ser aproveitada, o Ego poderá gastar de quatro ou cinco centenas de anos, além do tempo necessário de permanência no céu antes de se apresentar outra oportunidade. Assim, o Ego renasce, antes do tempo programado, por assim dizer, mas o que vai lhe faltar de repouso ao Terceiro Céu ser-lhe-á compensado em outra ocasião. Vemos, portanto que não somente os que partiram atuam sobre nós desde os Mundos Celestes, mas também nós atuamos sobre eles atraindo-os ou repelindo-os. Uma oportunidade favorável de conseguir um instrumento adequado pode atrair um Ego ao renascimento. Se nenhum instrumento houvesse em disponibilidade, ele permaneceria mais tempo no céu, de modo que o excesso de tempo ser-lhe-ia deduzido das vidas celestes posteriores.

A Lei de Consequência também age em harmonia com as estrelas. Assim, um ser humano nasce quando as posições dos Corpos do Sistema Solar proporcionam condições necessárias para sua experiência e progresso na Escola da Vida. Por essa razão a Astrologia é uma ciência absolutamente verdadeira, se bem que o melhor astrólogo pode equivocar-se, por ser falível tanto quanto os demais seres humanos. As estrelas mostram acuradamente, e determinado pelos Senhores do Destino, o tempo exato na vida de um ser humano em que uma dívida deve ser paga. Fugir disso está fora do poder do ser humano. Sim, elas indicam até o dia exato, embora nem sempre sejamos capazes de lê-lo corretamente.

Dessa impossibilidade de se escapar daquilo que está escrito nas estrelas – apesar de cientes disso – talvez o mais notável exemplo conhecido pelo autor ocorreu em Los Angeles, Califórnia, em 1906. O conhecido conferencista Sr. L. recebia aulas de Astrologia. Seu próprio horóscopo foi utilizado porque um aluno se interessa mais pelo seu Tema do que pelo de um estranho. Além disso, pode comprovar mais facilmente a exatidão da interpretação de alguns pontos do Tema. O horóscopo revelou uma propensão a sofrer acidentes. Foram então mostradas ao Sr. L. o modo e as datas em que ocorreram alguns acidentes e outros acontecimentos do passado. Também lhe foi dito que outro acidente ocorreria no dia 21 de julho ou no sétimo dia após, parecendo esta última data ser a mais perigosa, isto é, o dia 28 do mesmo mês. Foi alertado ainda sobre qualquer meio de transporte, e indicadas as partes ameaçadas de ferimento: peito, espáduas, braços, e a parte inferior da cabeça. Como estava plenamente convencido do perigo, ele prometeu ficar em casa nesse dia.

O autor foi, por aquele tempo, ao norte de Seattle, e uns poucos dias antes da data crítica escreveu ao Sr. L., prevenindo-o novamente. O Sr. L. respondeu que haveria de se lembrar da recomendação e teria cuidado.

A seguinte comunicação sobre o caso veio de um amigo comum: no dia 28 de julho o Sr. L. fora à Sierra Madre[12] num bonde, o qual se chocou com um trem. O Sr. L. sofreu exatamente os ferimentos previstos e mais um que não lhe fora anunciado: o seccionamento de um tendão da perna esquerda.

A questão era averiguar porque o Sr. L., tendo completa fé na predição, não dera melhor atenção ao aviso. A explicação veio três meses após, quando se recompôs suficientemente para poder escrever. Na carta dizia: “Eu julguei que o dia 28 era 29”.

Nenhuma dúvida na opinião do autor: se tratava de uma parte do “Destino Maduro”, impossível de evitar, tal como fora prenunciado pelas estrelas.

As estrelas, portanto, podem ser chamadas de “O Relógio do Destino”. Os doze Signos do Zodíaco correspondem ao mostrador; o Sol e os Planetas ao ponteiro das horas, que indicam o ano; e a Lua o ponteiro dos minutos, indicando os meses em que os diversos acontecimentos do destino “maduro” de cada vida devem cumprir-se.

Nunca é demais insistir que, embora haja alguns casos que não podem ser evitados, o ser humano dispõe de certa margem de livre arbítrio para modificar algumas causas já postas em movimento. Como disse a poeta[13]:

Um barco sai para Leste e um outro para Oeste

Com o mesmíssimo vento que sopra, numa única direção.

É a posição certa das velas e não a direção do vento

que determina o sentido que eles vão.

Os caminhos do destino são como os ventos do mar

conforme nós navegamos ao longo e através da vida.

É a ação da Alma que determina o objetivo

e não a calmaria ou o constante lutar.

O importante é compreender que nossas ações atuais determinam as condições futuras.

Os religiosos ortodoxos, e até os que não professam Religião alguma, consideram como um dos mais fortes argumentos contra a Lei do Renascimento ser ela ensinada na Índia a “pagãos ignorantes” que nela creem. Não obstante, se é uma lei natural não pode haver nenhuma objeção, por mais forte que seja, que a invalide ou a impeça de atuar. Antes de falarmos de “pagãos ignorantes” ou de enviarmos missionários a eles, seria conveniente que examinássemos um pouco os nossos próprios conhecimentos. Os educadores queixam-se, por toda a parte, da superficialidade de conhecimento dos nossos Estudantes. O prof. Wilbur L. Cross[14], de Yale, menciona, entre outros casos de ignorância, o fato de, em uma classe de quarenta alunos, nenhum ser capaz de “localizar” Judas Iscariotes, no quadro da Santa Ceia.

Quer parecer para nós que seria mais proveitoso se os missionários, em vez de se esforçarem nos países “pagãos” e no trabalho em favelas, dirigissem esses esforços no sentido de levar iluminação à juventude estudantil de nosso próprio país. Seguindo os princípios de que a “caridade começa em casa” e como “Deus não permitirá que os pagãos ignorantes pereçam”, bem melhor seria deixá-los na ignorância que lhes assegura o céu do que, pretendendo esclarecê-los, lhes proporcionar muitas oportunidades de irem para o inferno em legiões. Seguramente esse é o caso em que “onde a ignorância é uma bênção, é loucura ser sábio”. Prestaríamos um notável serviço aos pagãos e a nós mesmos se os deixássemos entregues a si mesmos e fôssemos procurar um Cristão ignorante mais próximo de nossa casa.

Além disso, chamá-la de doutrina de pagãos não a compromete. Por outro lado, sua prioridade no Oriente não é argumento contra ela, da mesma forma que a solução exata de um problema matemático não é invalidada simplesmente por não simpatizarmos com a pessoa que o resolveu. A questão é apenas esta: a solução está certa? Se estiver, é absolutamente indiferente de onde ela tenha vindo.

Todas as demais Religiões não foram mais que condutoras à Religião Cristã. Eram Religiões de Raça e continham somente em parte o que o Cristianismo tem em maior grau. O verdadeiro Cristianismo Esotérico ainda não foi ensinado publicamente, nem o será enquanto a Humanidade não ultrapassar o estado materialista e esteja mais preparada para recebê-lo. As leis do Renascimento e da Consequência têm sido ensinadas secretamente em todos os tempos, mas por ordem direta do próprio Cristo; como veremos essas duas leis não foram publicamente ensinadas no Mundo Ocidental durante os dois mil anos passados.


[1] N.R.: uma península a leste de Nova Jersey, na entrada da baía de Nova York, NY, EUA.

[2] N.R.: Thomas Alva Edison (1847-1931) – inventor e empresário americano. Entre as suas contribuições mais universais para o desenvolvimento tecnológico e científico se encontra a lâmpada elétrica incandescente, o fonógrafo, o cinescópio ou cinetoscópio, o ditafone e o microfone de grânulos de carvão para o telefone. Edison é um dos precursores da revolução tecnológica do século XX. Teve também um papel determinante na indústria do cinema.

[3] N.R.: Siegfried Wagner (1869-1930) foi um compositor e maestro alemão, filho de Richard Wagner.

[4] N.R.: Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) – maestro, compositor, diretor de teatro e ensaísta alemão.

[5] N.R.: Bach – A Família Bach foi de grande importância na história da música por cerca de duzentos e cinquenta anos, com mais de 50 músicos e vários compositores notáveis. Seu membro mais proeminente, e quiçá o mais notável compositor da história, foi Johann Sebastian Bach (1685-1750). A dinastia musical começou com o trisavô de Johann Sebastian, Veit Bach (nascido antes de 1545 e morto por volta de 1576), e se extinguiu com seu neto Wilhelm Friedrich Ernst Bach (1759-1845).

[6] N.R.: Homem, aqui, no sentido antropológico.

[7] N.R.: Livro onde narra a origem das tradições do Vedanta, do Yoga e do Samkhya; registra o pensamento de uma época quando estas ideias ainda não estavam rigidamente divididas em sistemas autônomos.

[8] N.R.: O Apocalipse

[9] N.R.: Ap 3:12

[10] N.R.: (1809-1894) – médico americano, professor, palestrante e autor.

[11] N.R.: O Náutilo Enclausurado

[12] N.R.: nome dado a várias cadeias montanhosas do México.

[13] N.R.: Ella Wheeler Wilcox

[14] N.R.: Wilbur Lucius Cross (1862-1942) – Crítico Literário americano

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O Vinho como Fator da Evolução

Para compreender a razão dessa omissão e os meios empregados para ocultar esse ensinamento, devemos retroceder ao princípio da história do ser humano e observar como, para seu próprio bem, ele tem sido guiado pelo Grande mestre da Humanidade.

Segundo os ensinamentos da Ciência Oculta, a evolução na Terra é dividida em períodos chamados “Épocas”. Até agora se passaram quatro Épocas, que são denominadas respectivamente: Polar, Hiperbórea, Lemúrica e Atlante. A atual é chamada Época Ária.

Na primeira, ou Época Polar, o que hoje é Humanidade possuía apenas Corpo Denso ativo, tal como atualmente os minerais. Daí ter sido semelhante ao mineral.

Na segunda, ou Época Hiperbórea, um Corpo Vital lhe foi ativado, e o ser humano em formação possuía um conjunto de Corpos constituídos semelhantes ao das plantas atuais. Não era uma planta, mas análogo a ela.

Na terceira, ou Época Lemúrica, o ser humano ativou o seu Corpo de Desejos, se tornou constituído analogamente ao animal – um ser humano-animal.

Na quarta, ou Época Atlante, a Mente foi recebida e revelada, e agora no que concerne aos princípios de um ser, ele sobe ao palco da vida física como SER HUMANO.

Na atual, a quinta ou Época Ária, o ser humano manifestará e revelará, até certo ponto, o terceiro ou mais inferior aspecto de seu Tríplice Espírito – o Ego.

É solicitado ao Estudante gravar, de modo indelével em sua Mente, que no processo evolutivo e até o ser humano adquirir consciência própria, nada absolutamente foi deixado ao acaso.

Após obter autoconsciência, há uma determinada margem para o exercício da vontade humana própria e individual que o capacita a manifestar e revelar seus poderes Divinos espirituais.

Os Grandes Líderes da Humanidade levam tudo em consideração, inclusive o alimento do ser humano. Isso tem muito a ver com o seu desenvolvimento. “Dizei-me o que comes e dir-te-ei quem és” não é um ditado absurdo, mas uma grande verdade na Natureza.

O ser humano da primeira Época era etéreo. Isto em nada contradiz a afirmação de que era análogo ao mineral, pois todos os gases são minerais. A Terra era inconsistente, não se havia solidificado ainda. Na Bíblia o ser humano é chamado de Adão, e se diz que foi feito da terra.

Caim é descrito como um agricultor. Ele simboliza o ser humano da Segunda Época. Ele tinha um Corpo Vital análogo ao das plantas, que o sustentavam.

Na Terceira Época o alimento era obtido de animais vivos para suplementar o antigo alimento vegetal. O leite foi o meio utilizado para desenvolver o Corpo de Desejos, o que tornou a Humanidade daquele tempo análoga ao animal. Esse é o significado da frase bíblica “Abel era um pastor[1]. Contudo, em parte alguma se diz que ele matava animais.

Na Quarta Época o ser humano evoluiu além do estado animal – ele tinha a Mente. A atividade do pensamento esgota as células nervosas; mata, destrói e leva à decomposição. Por isso, o alimento do Atlante era, por analogia, constituído de carcaças mortas. Ele matava para comer e é por isso que a Bíblia afirma que “Nimrod era um caçador poderoso[2]. Nimrod representa o ser humano da Quarta Época.

Nesse meio tempo o ser humano desceu mais profundamente na matéria. Seu primeiro Corpo etéreo formou o esqueleto interno que se tornou sólido. Perdeu também gradativamente a visão espiritual que possuía nas Épocas anteriores, pois assim estava determinado, isto é, ele estava destinado a recuperá-la num estágio superior, mais a consciência própria que até então não possuía. Tinha, porém, durante as primeiras quatro Épocas, um conhecimento maior dos Mundos espirituais. Sabia, por exemplo, que não morria e que quando seu Corpo se gastava era como as folhas secas sendo descartadas pela árvore no outono – outro Corpo nascia e ocupava seu lugar. Portanto ele não apreciava realmente as vantagens e oportunidades da existência concreta na vida terrena.

Era necessário, porém, que despertasse completamente para a grande importância desta existência concreta, a fim de que pudesse aprender tudo o que ela podia lhe ensinar. Enquanto se sentia como um habitante dos Mundos superiores, sabendo com certeza que a vida física não era senão uma pequena parte da existência real, não a levava suficientemente a sério. Não se aplicava ao aproveitamento das oportunidades de crescimento, próprias unicamente desta atual fase de existência. Desperdiçava seu tempo, não aproveitava os recursos do mundo, tal como, pela mesma razão, faz ainda o povo da Índia.

O único meio de conseguir do ser humano a devida apreciação da existência física concreta, foi privá-lo da recordação da existência espiritual superior durante umas poucas vidas. Desse modo, durante sua vida terrena, não teve mais conhecimento positivo de qualquer outra vida, o que o compeliu a se aproveitar dela e a vivê-la intensamente.

Religiões anteriores ao Cristianismo ensinaram o Renascimento e a Lei de Consequência, mas tempo chegou a que o conhecimento dessas doutrinas se tornou inoperante, deixando de convir ao desenvolvimento do ser humano. E ignorá-las passou até a ser considerado um sinal de progresso, pelo que a ideia de uma só vida terrena devia prevalecer. Por tais motivos, o ensino público da Religião Cristã não abarca as leis de Consequência e do Renascimento. Todavia, como o Cristianismo é a Religião da Raça mais desenvolvida, tem que ser também a Religião mais avançada. E por não ter incluído aquelas doutrinas nos seus ensinamentos públicos, a maior conquista do Mundo material foi realizada pelas Raças anglo-saxônicas e teutônicas, nas quais esse ponto de vista predominou.

Como vimos, em cada Época foi acrescentado ou modificado algo na alimentação do ser humano a fim de se obter as condições apropriadas para atingir certos propósitos. Assim, um novo produto, o VINHO, foi adicionado à alimentação das Épocas anteriores. Isto se fez necessário devido ao efeito entorpecedor dessa bebida sobre o princípio espiritual no ser humano. Pois nenhuma Religião seria capaz de lhe fazer esquecer de sua natureza espiritual e obrigá-lo a pensar que era “um verme do pó”, ou lhe fazer acreditar que “caminhamos com a mesma força com que pensamos”, embora não se pretendesse que ele pudesse ir tão longe assim.

Anteriormente só a água fora usada como bebida nas cerimônias e serviços do Templo, mas depois da imersão da Atlântida – continente que existiu entre a Europa e a América, no lugar ocupado agora pelo Oceano Atlântico – os que se salvaram da destruição começaram a cultivar a videira e a fazer vinho, conforme conta a Bíblia na história de Noé. Noé simboliza os remanescentes da Época Atlante, núcleo da quinta Raça e, portanto, nossos progenitores.

O princípio ativo do álcool é um “espírito” e como a Humanidade das primeiras Épocas usava os alimentos mais apropriados aos seus veículos, por isso mesmo esse “espírito” foi agregado na Quinta Época aos alimentos anteriormente usados pela Humanidade em evolução. Atuando sobre o espírito do ser humano da quinta Raça, paralisou-o temporariamente, a fim de que conhecesse, estimasse e conquistasse o Mundo Físico e pudesse avaliar seu justo valor. Assim o ser humano esqueceu por algum tempo sua origem espiritual e se apegou com tenacidade a esta forma de existência, que anteriormente desprezava, crente em que ela é tudo o que existe ou, pelo menos, é uma certeza preferível a um céu problemático que em seu estado atual não pode compreender.

A água vinha sendo usada somente nos Templos, mas agora isso mudou. “Baco”, o deus do vinho, apareceu, fazendo com que sob sua égide os povos mais avançados se esquecessem de que há uma vida superior. Ninguém que ofereça tributo ao espírito mistificador do “vinho” de qualquer licor alcoólico (produto da fermentação e putrefação) poderá conhecer alguma coisa do “Eu superior”, o verdadeiro Espírito, única fonte de toda vida.

Tudo foi uma preparação para a vinda de Cristo, portanto é da mais alta significação que o Seu primeiro ato tenha sido transformar “a água em vinho” (Jo 2:2-11).

Reservadamente Cristo ensinou o Renascimento aos seus Discípulos. E não somente os ensinou com palavras, mas levou-os “à montanha”, termo único místico que significa um lugar de Iniciação. No decurso da Iniciação, os Discípulos viam por si mesmos que o Renascimento é um fato: Elias, de quem se havia dito que era também João Batista, apareceu a eles. Cristo mesmo já o dissera anteriormente em termos inequívocos, ao falar de João Batista: “Esse é Elias que devia vir”. Repetiu esse ensinamento na cena da Transfiguração, dizendo: “Elias já veio e não o conheceram, mas fizeram dele tudo o que quiseram”. E “os Discípulos então entenderam que Ele lhes falava de João Batista” (Mt 17:12-13). Nesta ocasião, e noutra em que Cristo discutia o renascimento com os Discípulos, estes Lhe disseram que alguns pensavam que Ele era Elias, e outros que era um dos profetas reencarnado. Aí Ele lhes ordenou “que não dissessem isso a ninguém” (Mt 17:9; Lc 9:21). Era um ensinamento esotérico que devia permanecer assim por milhares de anos, somente sabido de uns poucos precursores que se preparavam para esse conhecimento, alcançando por antecipação o estágio de desenvolvimento em que essas verdades serão novamente conhecidas por todos.

Que Cristo ensinou o Renascimento e a Lei de Consequência talvez não se evidencie tão claramente em qualquer outro caso como no do ser humano que nasceu cego, quando os Discípulos lhe perguntaram: “Quem pecou: esse homem ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9:2).

Se Cristo não tivesse ensinado as leis do Renascimento e da Consequência, a resposta certamente teria sido: “É um absurdo! Como poderia ter pecado um ser humano antes de nascer, de modo a lhe resultar em cegueira? “. Entretanto, Cristo não respondeu dessa forma. Não se surpreendeu com a pergunta, nem a considerou estranha, mostrando assim que ela estava em completa harmonia com os Seus ensinamentos. Portanto explicou: “Nem esse homem pecou nem seus pais; mas isto é para que as obras de Deus se manifestem nele.” (Jo 9:3).

A interpretação ortodoxa diz que o ser humano nasceu cego para que Cristo tivesse uma oportunidade de realizar um milagre, mostrando Seu poder. Estranha e caprichosa maneira essa de Deus obter glória, condenando um ser humano a muitos anos de cegueira e miséria para no futuro, “mostrar” o Seu poder! Consideraríamos o ser humano que agisse de tal modo um monstro de crueldade.

Bem mais lógico é pensar que deve haver outra explicação. Atribuir a Deus uma conduta que, num ser humano, qualificaríamos com palavras muito duras, é totalmente irrazoável.

Cristo fazia distinção entre o Corpo do ser humano fisicamente cego e o Deus interno nele, o seu “Eu superior”.

O Corpo físico[3] não tinha cometido pecado algum. O Deus interno, sim, cometera algum ato que originou aquela forma de sofrimento. Não é forçar a questão chamar um ser humano de Deus. S. Paulo disse: “Não sabeis que sois Deuses?[4]. E referiu-se ao Corpo humano como sendo o “Templo de Deus”, o templo do Espírito interno.

Finalmente, ainda que a maioria das pessoas não recorde suas vidas passadas, algumas há que recordam. E todos podem consegui-lo, desde que vivam de modo a poderem obter esse conhecimento. Requer grande fortaleza de caráter conhecer o destino iminente, que pode estar suspenso sobre nossas cabeças, negro e sinistro para alguns, se manifestando como horrendo desastre. A Natureza ocultou-nos bondosamente o passado e o futuro para não nos roubar a paz da Mente, impedindo o sofrimento antecipado daquilo que nos está reservado. Quando alcançamos maior desenvolvimento aprendemos a aceitar com equanimidade todas as coisas, vendo em todo infortúnio o resultado de nossos passados erros. Então, sentir-nos-emos gratos por termos pago obrigações contraídas, sabendo que delas restarão cada vez menos, até o dia da libertação da roda dos nascimentos e mortes.

Quando uma pessoa morre na infância frequentemente recorda essa vida no próximo renascimento, pois as crianças que morrem antes dos quatorze anos não percorrem a totalidade de um ciclo de vida, o que implicaria na construção da série completa de veículos novos. Simplesmente passam às Regiões superiores do Mundo do Desejo e ali esperam um novo renascimento, o que geralmente ocorre entre um e vinte anos depois da morte. Quando renascem trazem consigo a Mente e o Corpo de Desejos. Se prestássemos atenção à tagarelice das crianças, muitas vezes poderíamos descobrir e recompor histórias tais como a seguinte:


[1] N.R.: Gn 4:2

[2] N.R.: Também grafado como: Ninrode, Nemrod (Gn 10:9).

[3] N.R.: que é o Corpo Denso

[4] N.R.: ICor 3:16

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Uma História Notável

Um dia em Santa Bárbara, Califórnia, um homem chamado Roberts procurou um Clarividente treinado e teósofo e, também, conferencista, para lhe pedir ajuda num caso muito invulgar. O Sr. Roberts passeava pela rua no dia anterior, quando uma menina de uns três anos correu para ele, lhe abraçou os joelhos, chamando-o “papai”. O Sr. Roberts indignou-se, julgando que alguém procurava lhe atribuir a paternidade da criança. Entretanto, a mãe da criança chegou rapidamente e, tão surpresa quanto o Sr. Roberts, tentou levá-la. Contudo, a menina não queria largá-lo, insistindo em que o Sr. Roberts era seu pai. Devido a circunstâncias que depois mencionaremos, o Sr. Roberts não pôde afastar essa cena do pensamento, resolvendo procurar o Clarividente, que o acompanhou até a casa dos pais da menina. Esta, ao vê-lo, correu novamente para ele, chamando-o outra vez de papai. O Clarividente, a quem chamaremos “X”, primeiramente conduziu a menina para perto da janela a fim de verificar se a íris do seu olho se dilatava e se contraia conforme se afastasse ou se aproximasse da luz. Isso comprovaria se alguma outra entidade que não fosse a legítima dona estava de posse do Corpo da menina, posto que o olho é a janela da Alma e nenhuma entidade “obsessora” pode controlar essa parte do Corpo. Concluindo que a menina era normal, o Clarividente passou cuidadosamente a inquirir a pequena. Depois de paciente trabalho efetuado durante a tarde, e com intermitência para não a cansar, eis o que ela contou:

Vivera com seu pai, o Sr. Roberts, e outra mamãe numa casinha solitária, de onde não se via nenhuma outra casa. Próximo havia um riacho, em cuja margem cresciam algumas flores (nesse momento a menina correu para fora, trazendo na volta umas pequenas flores de salgueiro) e havia uma tábua sobre esse riacho, tendo sido advertida para não o cruzar, pois havia o perigo de cair nele. Um dia o pai abandonou-as, a ela e à mãe, para não mais voltar. Quando acabaram os alimentos sua mãe se deitou na cama, onde ficou muito quieta. Por fim, disse singularmente: “então eu também morri, mas não morri. Eu vim para cá”.

Era a vez de o Sr. Roberts contar a sua história: há dezoito anos vivera em Londres, onde o pai era cervejeiro. Apaixonando-se pela jovem criada da casa, o pai se opôs, mas ele se casou e fugiu com ela para a Austrália. Ali rumaram para o campo, construíram uma pequena granja e edificaram uma casinha junto a um riacho, exatamente como dissera a menina. Então, eles tiveram uma filha. Um dia, quando ela tinha perto de dois anos, o pai saiu cedo com destino a uma clareira, algo distante da casa. Ali um homem armado lhe deu voz de prisão, alegando que ele fora o autor do roubo de um banco justamente na noite em que deixara a Inglaterra. O Sr. Roberts pediu, então, que lhe fosse permitido ver sua mulher e filhinha. O guarda recusou, julgando se tratar de uma armadilha para fazê-lo cair nas mãos dos confederados, e obrigou-o, de arma apontada, a caminhar até a costa. Dali foi enviado à Inglaterra e submetido a julgamento, quando pôde provar sua inocência.

Muito tempo se passou até que as autoridades atendessem seus constantes rogos para que fossem buscar sua esposa e filha, as quais já presumia quase mortas de fome naquele país selvagem e isolado. Mais tarde, uma expedição foi enviada à cabana e não encontraram mais que os esqueletos de ambas. Entrementes o pai do Sr. Roberts havia morrido e, embora o houvesse deserdado, seus irmãos dividiram com ele a herança. Então, completamente aniquilado, viajou para a América.

O Sr. Roberts exibiu na ocasião algumas fotos suas, de sua esposa e da filha. Por sugestão do Sr. “X” foram elas misturadas com certo número de outras e mostradas à menina, que sem vacilar assinalou as fotografias de seus antigos pais, mesmo tendo o Sr. Roberts mudado bastante em seu aspecto físico.

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SEGUNDA PARTE – COSMOGÊNESE E ANTROPOGÊNESE

CAPÍTULO V – A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM DEUS

Nos Capítulos precedentes consideramos as relações do ser humano com três dos cinco Mundos que formam o seu Campo de Evolução. Descrevemos parcialmente esses Mundos e assinalamos os diferentes veículos de consciência por meio dos quais se relaciona com eles. Estudamos também sua relação com os outros três Reinos: Mineral, Vegetal e Animal assinalando as diferenças nos veículos e nos graus de consciência entre o ser humano e cada um desses Reinos. Seguimos o ser humano através de um ciclo de vida nos três Mundos e examinamos a atuação das leis gêmeas de Consequência e Renascimento, relacionadas com a evolução humana.

Para compreender maiores detalhes do progresso humano, se torna necessário estudar a relação do ser humano com o Grande Arquiteto do Universo, Deus, e com as Hierarquias de Seres Celestiais que se acham nos diferentes degraus da escada de Jacó, que vai do ser humano a Deus e mais além.

É uma tarefa das mais difíceis, tendo em vista os conceitos mal definidos sobre Deus e que existe na Mente da maioria dos leitores da literatura que trata desse assunto. É certo que os nomes em si mesmos não têm maior importância, mas importa muito que saibamos o que pretendemos significar com um nome, caso contrário os mal-entendidos continuarão. Se escritores e instrutores não empregarem uma nomenclatura comum, a atual confusão se tornar-se-á maior. Quando empregada a palavra “Deus” seu significado é sempre incerto: trata-se do Absoluto ou Existência Una; do Ser Supremo, que é o Grande Arquiteto do Universo; ou de Deus, que é o Arquiteto do nosso Sistema Solar?

A divisão da Divindade em “Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” é também confusa. Ainda que os Seres designados por tais nomes estejam incomensuravelmente além do ser humano e mereçam toda reverência e adoração que sejamos capazes de prestar ao mais elevado conceito de Divindade. Eles, contudo, são na realidade diferentes uns dos outros.

Os Diagramas 6 e 11 talvez esclareçam melhor o assunto. Tenha-se, porém em mente que os Mundos e Planos Cósmicos não estão acima uns dos outros, no espaço, mas que os sete Planos Cósmicos se interpenetram uns aos outros e todos eles interpenetram os sete Mundos. São estados de espírito-matéria se compenetrando uns aos outros, pelo que Deus e os outros Grandes Seres mencionados não se encontram distantes no espaço. Eles permeiam cada parte dos seus próprios Reinos e até Reinos de maior densidade do que os seus próprios. Todos estão presentes em nosso Mundo, e de fato “mais próximos de nós do que os nossos pés e mãos”. É uma verdade literal que “n’Ele vivemos, nos movemos e temos o nosso ser[1], porque nenhum de nós pode existir fora das Grandes Inteligências que, com Sua Vida, interpenetram e sustentam o nosso Mundo.

Conforme exposto, a Região Etérica se estende além da atmosfera da nossa Terra densa; o Mundo do Desejo se prolonga no espaço para além da Região Etérica; e o Mundo do Pensamento se estende no espaço interplanetário ainda mais que os outros. Naturalmente os Mundos de substâncias mais rarefeitas ocupam maior espaço do que os Mundos mais densos, que se condensaram e cristalizaram.

O mesmo princípio atua nos Planos Cósmicos. O mais denso deles é o sétimo (contando de cima para baixo). É representado no Diagrama como o maior de todos por ser o Plano com que estamos mais relacionados e, também, para indicar suas principais subdivisões. Contudo, na realidade ocupa menos espaço do que qualquer um dos outros Planos Cósmicos. Entretanto, apesar disso, devemos ter em mente que é incomensuravelmente vasto, para além de quanto a Mente humana possa conceber. Sua amplitude abarca milhões de Sistemas Solares semelhantes ao nosso, Campos de Evolução de muitas categorias de seres cujas condições são aproximadamente idênticas às nossas.

Diagrama 6 – O Ser Supremo, os Planos Cósmicos e Deus

Nada sabemos dos seis Planos Cósmicos superiores ao nosso. se diz que são os campos de atividade de grandes Hierarquias de Seres de indescritível esplendor.

Subindo do nosso Mundo Físico para os Mundos internos e mais sutis e através dos Planos Cósmicos, vemos que Deus, o Arquiteto do nosso Sistema Solar, Fonte e Meta da nossa existência, se encontra na mais elevada divisão do sétimo Plano Cósmico. É o Seu Mundo.

Seu Reino inclui os sistemas de evolução que se processam em todos os Planetas do nosso Sistema Solar – Urano, Saturno, Júpiter, Marte, Terra, Vênus e Mercúrio, bem como seus satélites.

As grandes Inteligências Espirituais designadas Espíritos Planetários, que guiam essas evoluções, são também chamadas “os Sete Espíritos diante do Trono”. São Ministros de Deus, cada qual presidindo um determinado departamento do Reino de Deus – o nosso Sistema Solar. O Sol é também o Campo de Evolução dos mais exaltados Seres do nosso Cosmos. Unicamente eles podem suportar as tremendas vibrações solares, e por meio delas progredir. O Sol é o mais aproximado símbolo visível de Deus de que dispomos, ainda que não seja senão um véu para Aquele que está por trás. O que seja esse “Aquele”, publicamente não se pode dizê-lo.

Para tentar descobrir a origem do Arquiteto do nosso Sistema Solar é preciso considerar o mais elevado dos sete Planos Cósmicos. Estamos, então, nos domínios do Ser Supremo, emanado do Absoluto.

O Absoluto está além de toda a compreensão. Nenhuma expressão ou símile daquilo que somos capazes de conceber pode dar uma ideia adequada. Manifestação implica limitação. Portanto, o melhor modo de podermos caracterizar o Absoluto é como Ser Ilimitado, ou Raiz da Existência.

Dessa Raiz da Existência – o Absoluto – procede o Ser Supremo, na aurora da Manifestação. Esse é o UNO.

No primeiro Capítulo de S. João, esse grande Ser é chamado Deus. Desse Ser Supremo emanou o Verbo, o Fiat Criador, “sem o qual nada do que foi feito se fez[2]. Esse Verbo é o Filho unigênito nascido do Pai (o Ser Supremo) antes de todos os Mundos, mas positivamente não é o Cristo. Grande e glorioso como Cristo é, se elevando muito acima da mera natureza humana, Ele não é esse Exaltado Ser. Certamente o “Verbo se fez carne[3], não no sentido limitado da carne de um Corpo, mas carne de tudo quanto existe nesse e em milhões de outros Sistemas Solares.

O primeiro aspecto do Ser Supremo pode ser caracterizado como PODER. Desse procede o segundo aspecto, o VERBO, e de ambos procede o terceiro aspecto, o MOVIMENTO.

Desse Tríplice Ser Supremo procedem os Sete Grandes Logos. Estes contêm, em si mesmos, todas as grandes Hierarquias, as quais se diferenciam mais e mais conforme vão se difundindo através dos vários Planos Cósmicos. (Veja o Diagrama 6). Há quarenta e nove Hierarquias no Segundo Plano Cósmico; no terceiro há trezentas e quarenta e três Hierarquias. Cada uma destas é, por sua vez, capaz de divisões e subdivisões setenárias. Desse modo, no Plano Cósmico inferior, em que se manifestam os Sistemas Solares, o número de divisões e subdivisões é quase infinito.

No Mundo mais elevado do sétimo Plano Cósmico habita o Deus do nosso Sistema Solar e os Deuses de todos os outros Sistemas Solares do Universo. Estes grandes Seres também são de manifestação Tríplice, semelhantemente ao Ser Supremo. Seus três aspectos são: Vontade, Sabedoria e Atividade.

Cada um dos sete Espíritos Planetários que procedem de Deus e têm a seu cargo a evolução da vida em um dos sete Planetas, é também Tríplice e diferencia em si mesmo Hierarquias Criadoras que seguem uma evolução setenária. O processo evolutivo originado por um dos Espíritos Planetários difere dos métodos de desenvolvimento empregados pelos outros.

Pode-se acrescentar que, pelo menos no particular esquema planetário ao qual pertencemos, as entidades mais evoluídas nos primeiros estágios, as que alcançaram elevado grau de perfeição em evoluções anteriores, assumem as funções do Espírito Planetário original e continuam a evolução.

O Espírito Planetário original se retira de toda participação ativa, mas continua guiando os seus Regentes.

Os ensinamentos que se seguem se referem a todos os Sistemas Solares, porém atendo-nos especialmente ao Sistema Solar particular a que pertencemos, o que vem a seguir o vidente suficientemente treinado pode comprovar por si mesmo mediante investigação pessoal na Memória da Natureza.


[1] N.R.: At 17:28

[2] N.R.: Joa 1:3

[3] N.R.: Joa 1:14

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CAPÍTULO VI – O ESQUEMA DE EVOLUÇÃO

O Princípio

De acordo com o axioma Hermético “como em cima, assim é embaixo” e vice-versa, os Sistemas Solares nascem, morrem e tornam a nascer, em ciclos de atividade e repouso, tal como acontece ao ser humano.

Há uma constante alternação de atividades em todos os domínios da Natureza, correspondentes às alternâncias do fluxo e refluxo do dia e da noite, do verão e do inverno, da vida e da morte.

No princípio de um Dia de Manifestação é ensinado que um Grande Ser (designado no Mundo Ocidental pelo nome de Deus e com outros nomes em outras partes da Terra), se limita a Si mesmo em certa porção do espaço no qual Ele decide criar um Sistema Solar para evoluir e dilatar a Sua própria consciência (veja o Diagrama 6).

Ele inclui em seu próprio Ser hostes de gloriosas Hierarquias, para nós, de incomensurável poder e esplendor espirituais. Elas são o fruto de passadas manifestações desse mesmo Ser e, também, de outras Inteligências, em graus decrescentes de desenvolvimento que chega a incluir as que não alcançaram um estado de consciência tão elevado como o de nossa Humanidade atual. Estas últimas, portanto, não serão capazes de terminar sua evolução nesse Sistema. Em Deus, esse grande Ser coletivo, estão contidos seres menores de todo grau de inteligência e estado de consciência, desde a onisciência até uma inconsciência mais profunda, ainda, que a condição do transe mais profundo.

Durante o período de manifestação com o qual estamos relacionados, esses vários graus de seres trabalham para adquirir mais experiência do que a que possuíam no começo desse período de existência. Aqueles que, em manifestações anteriores alcançaram um grau de desenvolvimento maior, ajudam os que ainda não desenvolveram consciência alguma, lhes induzindo um estado de consciência própria a partir do qual podem estes, por si mesmos, dar prosseguimento à obra. Quanto aos que principiaram sua evolução num anterior Dia de Manifestação, mas não tinham avançado bastante quando esse Dia findou, prosseguem agora a tarefa, do mesmo modo que continuamos com o nosso trabalho, a cada manhã, a partir do ponto em que o deixamos na noite anterior.

Todavia, nem todos esses diferentes Seres continuam sua evolução no início de uma nova manifestação. Alguns precisam esperar até que tenham sido criadas, pelos que os precederam, as condições necessárias ao seu progresso ulterior.

Não há nenhum processo instantâneo na Natureza. Tudo se desenvolve com extraordinária lentidão. Contudo, embora lentíssimo, esse progresso é absolutamente seguro e alcançará a suprema perfeição. Tal como existem estágios progressivos na vida humana – infância, adolescência, virilidade e velhice – assim também existem no macrocosmo diferentes estágios correspondentes a diversos períodos da vida microcósmica.

Uma criança não pode tomar a cargo os deveres da paternidade ou da maternidade. Suas pouco desenvolvidas condições físicas e mentais incapacitam-na para tal mister. O mesmo acontece com os seres menos desenvolvidos no princípio de manifestação. Precisam esperar até que os mais evoluídos criem para eles as condições apropriadas. Quanto menor o grau de inteligência de um ser que está evoluindo tanto maior a dependência de ajuda externa.

No princípio os seres mais avançados – aqueles que mais evoluíram – atuam sobre aqueles que estão num grau de menor consciência. Mais tarde entregam-nos a entidades menos evoluídas, que então podem levar esse trabalho um pouco mais adiante. Por último, a consciência própria é despertada, e a vida que está evoluindo se converte em Ser Humano.

A partir do momento em que o Ego individualizado manifesta consciência própria, deve ele prosseguir expandindo essa consciência sem ajuda externa. A experiência e o pensamento devem então tomar o lugar dos mestres externos. E a glória, o poder e o esplendor que pode alcançar são ilimitados.

O período dedicado à aquisição de consciência do “Eu” e à construção dos veículos, por cujo intermédio se manifesta o espírito do ser humano, é denominado “Involução”.

O período subsequente de existência, durante a qual o ser humano individual desenvolve consciência própria até convertê-la em divina onisciência, é chamada “Evolução”.

A força interna do ser que está evoluindo faz com que a evolução seja o que é: não apenas um mero desenvolvimento de possibilidades germinais latentes; ela faz com que a evolução de cada indivíduo difira da de qualquer outro; ela provê o elemento de originalidade e dá lugar à habilidade criadora que o ser, que esteja evoluindo, cultive para que possa se tornar um Deus. Essa força é chamada “Gênio” e, conforme já exposto, sua manifestação é a “Epigênese”. Muitas das filosofias avançadas dos tempos modernos reconhecem a involução e a evolução. A ciência só reconhece a última porque se dedica unicamente à Forma, a sua manifestação. A involução pertence à Vida. Os cientistas mais avançados, porém, consideram a Epigênese fato demonstrável. O Conceito Rosacruz do Cosmos combina as três, necessárias que são para se compreender plenamente o desenvolvimento passado, presente e futuro do Sistema a que pertencemos.

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Os Sete Mundos

Podemos empregar um exemplo familiar para ilustrar a formação de um Cosmos. Suponhamos que um ser humano deseja construir uma casa para nela morar. Primeiramente escolherá um lugar apropriado. Depois procederá a construção, dividindo a casa em vários cômodos de finalidades específicas: cozinha, sala, dormitórios e banheiro, e mobília-os de maneira que sirvam ao particular propósito a que se destinam.

Quando Deus deseja criar, escolhe um lugar apropriado do espaço, que Ele preenche com Sua aura, permeando cada átomo da Substância-Raiz-Cósmica dessa porção particular do espaço com Sua Vida, despertando, desse modo, as atividades latentes em cada átomo não diferenciado.

Essa Substância-Raiz-Cósmica é uma expressão do polo negativo do Espírito Universal, enquanto o grande Ser Criador que nós chamamos Deus (do qual, como espíritos, somos partes) é uma expressão da energia positiva do mesmo Espírito Universal Absoluto. Tudo o que vemos em torno de nós no Mundo Físico é resultado da ação mútua desses dois polos. Os oceanos, a Terra, tudo quanto vemos se manifestando como formas minerais, vegetais, animais e humanas é espaço cristalizado, emanado dessa Substância Espiritual negativa, que era a única existente na aurora do Ser. Tão seguramente como a concha dura e empedernida do caracol é formada pelos sucos solidificados do seu brando Corpo, assim também todas as formas são cristalizações em torno do polo negativo do Espírito.

Deus atrai da Substância-Raiz-Cósmica externa a Sua esfera imediata. Desse modo, a substância compreendida pelo nascente Cosmos se torna mais densa do que a do espaço Universal, entre os Sistemas Solares.

Depois que Deus preparou o material para Sua Habitação, Ele o colocou em ordem. Cada parte do Sistema foi compenetrada por Sua consciência, mas com uma modificação: a consciência difere em cada parte ou divisão. A Substância-Raiz-Cósmica é posta diferentes taxas de vibração e, portanto, diferentemente constituída em suas várias divisões ou regiões.

O que vimos acima é o modo pelo qual os Mundos vêm à existência e são adaptados para servir aos diferentes propósitos no esquema evolutivo, da mesma maneira como os diferentes cômodos numa casa são equipados para servir os propósitos da vida diária no Mundo Físico.

Conforme vimos, existem sete Mundos. Cada um deles tem um grau, uma “medida” diferente, de vibração. No Mundo mais denso (o Físico) a medida vibratória, incluindo as ondas luminosas que vibram centenas de milhões de vezes por segundo, não obstante é infinitesimal quando comparada à rapidíssima vibração do Mundo do Desejo, o mais próximo do Físico. Para se ter uma ideia sobre o sentido e a rapidez vibratória talvez o mais fácil seja observar as vibrações caloríficas que irradiam de uma estufa muito quente ou de um radiador de vapor próximo de uma janela.

Tenha-se sempre em mente que esses Mundos não estão separados pelo espaço ou pela distância, como está a Terra dos demais Planetas. São estados de matéria, de distinta densidade e vibração, tal como são os sólidos, os líquidos e os gases do nosso Mundo Físico. Esses Mundos não são criados instantaneamente, no princípio de um Dia de Manifestação, nem duram até o fim dele, mas assim como a aranha tece sua teia fio por fio, Deus também vai diferenciando um Mundo após outro, dentro de Si Mesmo, conforme as necessidades exijam novas condições no Esquema de Evolução em que Ele está empenhado. Desse modo se diferenciaram, gradualmente, todos os sete Mundos, conforme se encontram atualmente.

Os Mundos superiores são criados em primeiro lugar, e como a involução objetiva infundir a vida em matéria de crescente densidade para a construção das formas, os Mundos mais sutis se condensam gradualmente e novos Mundos são diferenciados em Deus para estabelecer o elo entre Ele mesmo e os Mundos que se consolidam. No devido tempo o ponto de maior densidade, o nadir da materialidade, é atingido. Desse ponto começa a vida a ascender para os Mundos superiores, no decorrer da evolução. Isto vai deixando despovoados os Mundos mais densos, um a um. Quando um Mundo realizou o objetivo para o qual foi criado, Deus põe fim à sua existência, então supérflua, fazendo parar dentro de Si a atividade particular que trouxe à existência e sustentou esse Mundo.

Os Mundos superiores (mais sutis, mais etéreos, mais próximos da perfeição) são os primeiros a serem criados e os últimos a serem eliminados, enquanto os três Mundos mais densos em que se efetua nossa atual fase evolutiva são, comparativamente falando, fenômenos fugazes, inerentes à imersão do Espírito na matéria.

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Os Sete Períodos

O esquema evolutivo é realizado através desses cinco Mundos em sete grandes Períodos de Manifestação, durante os quais o Espírito Virginal, ou vida que está evoluindo, se converte primeiramente em um ser humano, depois em um Deus.

No princípio da Manifestação Deus diferencia dentro de Si mesmo (não de Si mesmo) esses Espíritos Virginais, como chispas de uma Chama da mesma natureza, capazes de se expandirem até se converterem, eles também, em Chamas. A evolução é o processo fomentador que conduz a tal fim. Nos Espíritos Virginais estão contidas todas as possibilidades do seu Divino Pai, inclusive o germe da Vontade independente. Essa Vontade que os torna capazes de originar novas fases, não latentes neles. As possibilidades latentes são transformadas em poderes dinâmicos e faculdades disponíveis durante a evolução, enquanto a Vontade independente institui novas e originais orientações ou Epigênese.

Antes do início de sua peregrinação através da matéria, o Espírito Virginal se encontra no Mundo dos Espíritos Virginais, o mais próximo ao mais elevado dos sete Mundos. Possui Consciência Divina, mas não consciência de si. A Consciência Divina, o Poder Anímico e a Mente Criadora são faculdades que se adquirem pela evolução.

Quando o Espírito Virginal ainda se encontra imerso no Mundo do Espírito Divino, está cego e totalmente inconsciente desse estado. Está tão alheio às condições exteriores como o ser humano quando em transe profundo. Esse estado de inconsciência prevalece durante o Primeiro Período.

No Segundo Período adquire a consciência do sono sem sonhos; no Terceiro alcança o estado de sonho e na metade do Quarto Período, a que agora chegamos, o ser humano adquire a plena consciência de vigília. Esta consciência é pertinente unicamente ao mais inferior dos sete Mundos. Durante a metade restante desse Período e os três Períodos completos subsequentes, o ser humano deverá expandir sua consciência a ponto de envolver ou abarcar todos os seis Mundos acima desse Mundo Físico.

Quando o ser humano passou através desses Mundos na sua descida, suas energias eram dirigidas por Seres Superiores que o assistiram a dirigir sua energia inconsciente para dentro, a fim de construir os veículos apropriados. Por último, quando avançou suficientemente, e já na posse do Tríplice Corpo como instrumento necessário, esses elevados Seres “abriram-lhe os olhos” e fizeram-no olhar para fora, para a Região Química do Mundo Físico, cujas energias poderia conquistar.

Um dia, quando tenha terminado seu trabalho da Região Química, seu próximo passo na senda do progresso será a expansão de sua consciência até incluir a Região Etérica; depois, o Mundo do Desejo, e assim por diante.

Na terminologia Rosacruz os nomes dos sete Períodos são os seguintes:

  1. Período de Saturno
  2. Período Solar
  3. Período Lunar
  4. Período Terrestre
  5. Período de Júpiter
  6. Período de Vênus
  7. Período de Vulcano

    Estes Períodos são Renascimentos sucessivos da nossa Terra

    Não se deve pensar que os Períodos acima tenham algo a ver com os Planetas que se movem em suas órbitas em torno do Sol, juntamente com a Terra. De fato, nunca se repetirá suficientemente que não há relação alguma entre esses Planetas e esses Períodos. Os Períodos são, simplesmente, encarnações passadas, presentes ou futuras da nossa Terra, “condições” através das quais ela passou, está agora passando ou passará no futuro.

    Os três primeiros Períodos mencionados (de Saturno, Solar e Lunar) pertencem ao passado. Nós estamos, agora, no quarto ou Período Terrestre. Quando esse Período Terrestre do nosso Globo se completar, a Terra e nós passaremos, sucessivamente, às condições de Júpiter, de Vênus e de Vulcano, até que finde o grande Dia de Manifestação setenário, momento então, em que tudo o que agora existe imergirá mais uma vez no Absoluto, para um período de descanso e assimilação dos frutos da evolução e, reemergirá para um posterior e mais elevado desenvolvimento, na aurora de outro Grande Dia.

    Os três Períodos e meio já passados foram empregados na aquisição dos nossos atuais veículos e da consciência atual. Os três Períodos e meio restantes serão dedicados ao aperfeiçoamento desses diferentes veículos e à expansão da nossa consciência em algo semelhante à onisciência.

    A peregrinação dos Espíritos Virginais desde a inconsciência até a onisciência, convertendo suas possibilidades latentes em energia cinética, é um processo de maravilhosa complexidade, de modo que, somente um esboço rudimentar pode ser dado aqui. Todavia, conforme progredirmos em nosso estudo, iremos acrescentando maiores detalhes, até que a descrição seja tão completa quanto o autor for capaz de fazê-la. Chamamos a atenção do Estudante para as definições dos termos empregados, pedimos que as fixe bem porque estamos apresentando ideias novas. E rogamos também que se familiarize com estas ideias, já que nossa intenção é simplificar o assunto, empregando nomes ou palavras simples e familiares para designar a mesma ideia em toda a obra. Os nomes descreverão tanto quanto possível estritamente a ideia encerrada, esperando assim poder evitar muitas das confusões que as múltiplas terminologias têm produzido. Dedicando estrita atenção à definição dos termos não será muito difícil, mesmo às pessoas de mediana inteligência, conhecer ao menos em linhas gerais o Esquema de Evolução.

    Que tal conhecimento é da maior importância cremos que qualquer indivíduo inteligente pode admitir. Esse Mundo em que vivemos é governado por Leis da Natureza. Sob essas leis devemos viver e trabalhar, e somos impotentes para modificá-las. Por conseguinte, se as conhecermos bem e cooperarmos inteligentemente com elas, essas Forças da Natureza se tornarão nossas servidoras mais valiosas, como acontece, por exemplo, com a eletricidade ou a força expansiva do vapor. Se, pelo contrário, não as compreendermos, e em nossa ignorância agirmos contrariamente a elas, essas podem se converter nas mais perigosas inimigas nossas, capazes de destruições terríveis. Assim sendo, quanto mais conhecermos com os métodos de trabalho da natureza, que nada mais é do que o símbolo visível do Deus invisível, tanto mais seremos capazes em aproveitar as oportunidades que se oferecem para o crescimento e poder; para a emancipação das limitações e para a elevação ao entendimento completo de tudo.

    CAPÍTULO VII – O CAMINHO DE EVOLUÇÃO

    Não será demais fazer aqui uma recomendação relativa aos diagramas empregados para ilustração. O Estudante deve recordar que nunca pode ser exato o que é reduzido das suas reais dimensões. O desenho de uma casa significaria pouco ou nada se nunca tivéssemos visto uma casa. Nada mais veríamos no desenho do que linhas e manchas, e não teria para nós significado algum. Os diagramas empregados para ilustrar assuntos suprafísicos são representações da realidade, muito menos verdadeiros pela simples razão de que, no caso do desenho, as três dimensões da casa foram reduzidas somente a duas, enquanto no caso de diagramas de Períodos, Mundos e Globos as realidades possuem de quatro a sete dimensões. Logo, os diagramas de duas dimensões, com que se intenta representá-los, estão muito longe de retratá-los corretamente. Tenhamos sempre em mente que esses Mundos se interpenetram, que os Globos se interpenetram e que o modo como aparecem nos diagramas é análogo ao retirar todas as engrenagens de um relógio, e dispô-las umas ao lado das outras para mostrar como ele indica as horas. Para que tais diagramas sejam de alguma utilidade para o Estudante, é necessário que esse tenha deles uma concepção espiritual. Caso contrário, servirão mais para confundir do que para iluminar.

    Revoluções e Noites Cósmicas

    O Período de Saturno é o primeiro dos sete Períodos. Nesse primeiro estágio os Espíritos Virginais dão o primeiro passo na evolução da Consciência e da Forma. Conforme mostra o Diagrama 7, esse impulso evolutivo dá sete voltas ao redor dos sete Globos, A, B, C, D, E, F e G, na direção indicada pelas setas.

    Diagrama 7 – O Período de Saturno

    Primeiramente uma parte da evolução se realiza no Globo A, situado no Mundo do Espírito Divino, o mais sutil dos cinco Mundos que formam o nosso Campo de Evolução. Então, gradualmente, a vida que está evoluindo é transferida ao Globo B, que se situa no Mundo do Espírito de Vida, algo mais denso, onde ela passa por outro estágio evolutivo. No devido tempo, a vida que está evoluindo está pronta para entrar na arena do Globo C, composto da substância ainda mais densa da Região do Pensamento Abstrato, onde está situado. Depois de aprender as lições correspondentes a esse estado de existência, a Onda de Vida segue até o Globo D, formado da substância da Região do Pensamento Concreto, onde também está situado. Esse é o grau mais denso de matéria alcançado pela Onda de Vida durante o Período de Saturno.

    Desse ponto a Onda de Vida é levada para cima novamente, ao Globo E, situado na Região do Pensamento Abstrato tal como o Globo C, embora as condições não sejam as mesmas. Esse é o estágio involucionário de modo que a substância dos Mundos se faz cada vez mais densa. Ao longo do tempo tudo tende a se fazer cada vez mais denso e mais sólido. Entretanto, como o caminho evolutivo é uma espiral, é claro que, ainda que se passe pelos mesmos pontos, nunca mais se apresentam as mesmas condições, mas outras em plano superior e mais avançado.

    Completado o trabalho no Globo E, se efetua o passo seguinte para o Globo F, situado no Mundo do Espírito de Vida como o Globo B, dali subindo ao Globo G. Quando se efetuou esse trabalho, a Onda de Vida deu uma volta em torno dos sete Globos; uma vez para baixo e outra para cima, através dos quatro Mundos, respectivamente. Esta jornada da Onda de Vida se denomina uma Revolução, e sete Revoluções formam um Período. Durante um Período a Onda de Vida dá sete voltas descendo e subindo através de quatro Mundos.

    Quando a Onda de Vida deu sete voltas em torno dos sete Globos, completando as sete Revoluções, terminou o primeiro Dia da Criação. Seguiu-se uma Noite Cósmica de repouso e assimilação, depois da qual teve início o Período Solar.

    Diagrama 8 – Os 7 Mundos, os 7 Globos e os 7 Períodos

    Como a noite de sono entre dois dias da vida humana e o intervalo de repouso entre duas vidas terrestres, esta Noite Cósmica, de repouso, depois de completado o Período de Saturno, não foi um tempo de inatividade, mas uma fase de preparação para a atividade a ser desenvolvida no próximo Período Solar, em que o ser humano em formação precisava submergir mais profundamente na matéria. Portanto, se fizeram necessários novos Globos, cujas posições nos sete Mundos tinham que ser diferentes das ocupadas pelos Mundos do Período de Saturno. A preparação desses Globos novos e as demais atividades subjetivas estiveram a cargo dos espíritos que estão evoluindo durante o intervalo entre os Períodos – a Noite Cósmica. Como isso se processa podemos ver a seguir:

    Quando a Onda de Vida deixou o Globo A, no Período de Saturno, pela última vez, esse Globo começou a se desintegrar lentamente. As forças que o criaram foram transferidas do Mundo do Espírito Divino (em que se encontrava o Globo A no Período de Saturno) ao Mundo do Espírito de Vida (em que se encontrava o Globo A no Período Solar). Isto é mostrado no Diagrama 8.

    Quando a Onda de Vida deixou o Globo B, no Período de Saturno, pela última vez, também começou ele a desintegrar-se. Então suas forças, tal como acontece ao Átomo-semente de um veículo humano, foram empregadas no Período Solar como núcleo para o Globo B, passando esse Globo a se situar na Região do Pensamento Abstrato.

    Da mesma maneira, as forças do Globo C foram transferidas para a Região do Pensamento Concreto, atraindo dessa Região a substância necessária para a construção de um novo Globo C no próximo Período Solar. O Globo D foi semelhantemente transmutado e colocado no Mundo do Desejo. Os Globos E, F e G, na ordem indicada, foram transferidos analogamente. Como resultado (como mostra o Diagrama 8) no Período Solar todos os Globos estavam localizados um grau mais abaixo na matéria densa do que estavam no Período de Saturno, pelo que a Onda de Vida, depois de emergir da Noite Cósmica de repouso, entre a última atividade no Globo G do Período de Saturno e a nova atividade do Globo A do Período Solar, se achou em novo ambiente, com oportunidade para novas experiências.

    A Onda de Vida agora circula sete vezes em torno dos sete Globos durante o Período Solar, descendo e subindo sete vezes através dos quatro Mundos ou Regiões em que esses Globos estão situados. Efetua sete Revoluções no Período Solar, da mesma forma que no de Saturno.

    Quando a Onda de Vida abandonou o Globo A, no Período Solar, pela última vez, esse Globo começou a desintegrar-se. Suas forças foram transferidas à Região do Pensamento Abstrato, mais densa, onde formaram um Planeta para ser utilizado no Período Lunar. Da mesma maneira as forças dos demais Globos foram transferidas e serviram de núcleo para os Globos do Período Lunar, como mostra o Diagrama 8, sendo o processo exatamente o mesmo que se observou quando os Globos passaram dos lugares ocupados no Período de Saturno para as posições ocupadas no Período Solar. Desta maneira os Globos do Período Lunar ficaram um grau mais abaixo na matéria do que estavam no Período Solar, se situando o mais inferior (o Globo D) na Região Etérica do Mundo Físico.

    Depois do intervalo da Noite Cósmica entre o Período Solar e o Período Lunar, a Onda de Vida começou seu curso no Globo A desse último, completando no devido tempo suas sete Revoluções, como anteriormente. Então, durante outra Noite Cósmica, os Globos foram novamente transferidos a um grau mais abaixo, ficando o Globo mais denso situado na Região Química do Mundo Físico, como mostra o Diagrama 8.

    Esse é o Período Terrestre e o Globo inferior e mais denso (o Globo D) é nossa Terra atual.

    A Onda de Vida aqui, como de costume, parte também do Globo A, depois da Noite Cósmica que se seguiu ao Período Lunar. No atual Período Terrestre já circulou três vezes em torno dos sete Globos e está agora no Globo D, em sua quarta Revolução.

    Aqui na Terra, na atual quarta Revolução, há alguns milhões de anos atrás, se alcançou a maior densidade de matéria – o nadir da materialidade. Daqui para diante a tendência é se elevar para uma substância mais rarefeita. Durante as três Revoluções e meia que faltam para completar esse Período, as condições da Terra se tornar-se-ão gradualmente mais etéreas, de forma que no próximo Período – o de Júpiter – o Globo D voltará, de novo, a se localizar na Região Etérica, conforme estava no Período Lunar, se elevando os demais Globos de modo correspondente.

    No Período de Vênus estarão situados nos mesmos Mundos em que os Globos estavam no Período Solar. Os Globos do Período de Vulcano terão a mesma densidade e estarão situados nos mesmos Mundos em que estavam os Globos do Período de Saturno. Tudo isso é mostrado no Diagrama 8.

    Quando a Onda de Vida completar sua obra no Período Terrestre e a Noite Cósmica que se seguirá tenha passado, fará suas sete Revoluções em torno dos Globos do Período de Júpiter. Seguir-se-á então a costumeira Noite Cósmica com suas atividades subjetivas; depois virão as sete Revoluções do Período de Vênus seguidos de outro repouso, e finalmente o último dos Períodos do nosso esquema atual de evolução – o Período de Vulcano. A Onda de Vida também fará suas sete Revoluções aqui, e no fim da última Revolução todos os Globos dissolver-se-ão. A Onda de Vida será reabsorvida por Deus durante um período igual ao empregado por todos os sete Períodos de atividade. Deus mesmo imergirá então no Absoluto durante a Noite Universal de assimilação e preparação para outro Grande Dia.

    Outras evoluções maiores seguir-se-ão, mas só podemos tratar dos sete Períodos mencionados.

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    CAPÍTULO VIII – A OBRA DE EVOLUÇÃO

    O Fio de Ariadne

    Tendo nos familiarizado com os Mundos, os Globos e as Revoluções que constituem o Caminho de Evolução durante os sete Períodos, estamos agora em condições de considerar a obra efetuada em cada Período e os métodos empregados para realizá-la.

    O “Fio de Ariadne” que nos guiará através desse labirinto de Globos, Mundos, Revoluções e Períodos, será encontrado quando recordarmos e fixarmos na Mente que os Espíritos Virginais – a Onda de Vida que está evoluindo – se tornaram completamente inconscientes quando começaram sua peregrinação evolutiva através dos cinco Mundos de substância mais densa que a do Mundo dos Espíritos Virginais. O propósito da evolução é torná-los completamente conscientes e capazes de dominar a matéria de todos os Mundos, por isso as condições estabelecidas nos Globos, Mundos, Revoluções e Períodos estão ordenadas, tendo em vista tal finalidade.

    Durante os Períodos de Saturno, Solar e Lunar e na metade passada do atual Período Terrestre, os Espíritos Virginais construíram inconscientemente seus diferentes veículos sob a direção de exaltados Seres, os quais guiaram seu progresso, despertando-os gradualmente até adquirirem seu estado atual de consciência de vigília. Esse período é chamado “Involução”.

    Desde o tempo presente até o fim do Período de Vulcano, os Espíritos Virginais, que agora são a nossa Humanidade, aperfeiçoarão seus veículos e expandirão suas consciências nos cinco Mundos por seu próprio esforço e gênio. Esse período é chamado “Evolução”.

    O que foi dito anteriormente é a chave para a compreensão do que segue.

    A perfeita compreensão do Esquema de Evolução planetária bosquejado nas páginas precedentes é de imenso valor para o Estudante. Ainda que alguns crentes nas Leis de Consequência e Renascimento julguem que a posse de tais conhecimentos não é essencial e seja até de pouca utilidade, todavia eles são da maior importância para quem estuda seriamente essas duas Leis. Exercita a Mente em pensamentos abstratos e eleva-a acima das coisas sórdidas da existência concreta, ajudando a imaginação a se alçar sobre as traiçoeiras malhas do interesse próprio. Como já indicado no estudo do Mundo do Desejo, o Interesse é a mola da ação, se bem que no presente grau de desenvolvimento o Interesse é geralmente despertado pelo egoísmo. Algumas vezes é de natureza mui sutil, mas incita à ação de várias maneiras. Toda ação inspirada pelo Interesse gera certos efeitos que atuam sobre nós e, em consequência, estamos limitados pelas ações que se relacionam com os Mundos concretos. Entretanto, se ocuparmos as nossas Mentes com assuntos tais como a matemática, ou com esse estudo das fases planetárias da evolução, nós estamos laborando na Região do Pensamento puramente Abstrato, que fica além da influência do Sentimento, se dirigindo para o alto, rumo aos Reinos espirituais e à libertação. Extrair raízes cúbicas, multiplicar algarismos, ou meditar sobre Períodos, Revoluções, etc., não gera Sentimentos a tal respeito. Não brigamos para que duas vezes dois sejam quatro. Se envolvêssemos nisso os nossos sentimentos, talvez pretendêssemos que o produto fosse cinco, e questionaríamos com quem, por razões pessoais, quisesse talvez que fosse três. Contudo, em matemática a Verdade é clara, aparente, e o sentimento está eliminado. Por isso, ao comum dos seres humanos, desejosos de viver seus sentimentos, a matemática é árida e sem interesse. Pitágoras ensinava aos seus discípulos que vivessem no Mundo do Espírito Eterno, e exigia primeiramente dos que desejavam instrução, o estudo da matemática. Uma Mente capaz de compreender a matemática se coloca acima da mentalidade comum, e é capaz de se elevar ao Mundo do Espírito, porque não está presa ao Mundo do sentimento e do desejo[1]. Quanto mais nos acostumamos a pensar em termos dos Mundos Espirituais, tanto mais facilmente poderemos sobrepor-nos às ilusões que nos rodeiam nesta existência concreta, onde os sentimentos gêmeos de Interesse e Indiferença obscurecem a Verdade e nos sugestionam, assim como a refração de luz dos raios luminosos através da atmosfera da Terra nos dá uma ideia errônea sobre a posição ocupada pelo luminar que os emite.

    Portanto, o Estudante que deseja conhecer a Verdade; que almeja penetrar e investigar os Reinos do Espírito; que anela se libertar das preocupações da carne tão rapidamente quanto seja possível fazê-lo com segurança e para o seu próprio crescimento, deve estudar o que segue com o máximo cuidado, a fim de assimilar e fixar bem as concepções mentais desses Mundos, Globos e Períodos. Se deseja progredir nesse caminho, o estudo da matemática e “A Quarta Dimensão” de Hinton[2] são, também, admiráveis exercícios de pensamento abstrato. Essa obra de Hinton (ainda que basicamente incorreta, visto que o Mundo do Desejo, de quatro dimensões, não pode realmente ser determinado por métodos tridimensionais) tem aberto os olhos de muitas pessoas que a tem estudado, levando-as à Clarividência. Além disso, recordando que a lógica é o melhor mestre em qualquer Mundo, certamente o indivíduo que consiga entrar nos Mundos suprafísicos por meio de tais estudos, por meio do pensamento abstrato, não ficará confuso, mas, antes, poderá permanecer em perfeito domínio próprio sob quaisquer circunstâncias.

    Um estupendo esquema está aqui desenvolvido e, à medida que se lhe acrescentem mais e mais detalhes, sua complexidade far-se-á quase inconcebível. Quem for capaz de compreendê-lo será bem recompensado, por maior que seja o esforço feito. Portanto, o Estudante deverá ler lentamente, repetir a leitura com frequência, meditar muito e profundamente.

    Esse livro, especialmente esse capítulo, não pode ser lido de maneira casual. Cada sentença tem seu valor e é o sustentáculo de tudo o que se segue, ao mesmo tempo em que pressupõe o conhecimento do que antecede. Se o livro não for estudado profunda e sistematicamente, se tornar-se-á a cada página mais incompreensível e confuso. Por outro lado, se ao longo da leitura se estuda e se medita bem, cada página será iluminada pelo acréscimo do conhecimento adquirido no estudo das precedentes.

    Nenhuma obra desta classe, que trate dos aspectos mais profundos do Grande Mistério do Mundo e dirigida à compreensão da Mente humana em seu atual estado de desenvolvimento, pode ser escrita de maneira a ser assimilada numa ligeira leitura. Contudo, as fases mais profundas que possamos compreender no momento nada mais são do que o “abc” do esquema, o que nos será revelado quando nossas Mentes forem capazes de melhor compreender em posteriores estados de desenvolvimento, como super-homens.


    [1] N.T.: ou Mundo do Desejo

    [2] N.R.: Charles Howard Hinton (1853-1907) – matemático e escritor de ficção científica britânico.

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    O Período de Saturno

    Os Globos do Período de Saturno eram formados de substância muito mais rarefeita e sutil que a da nossa Terra, como se tornará evidente pelo estudo dos Diagramas 7 e 8, que o Estudante deverá ter à mão para referência, enquanto estuda esse assunto. O Globo mais denso desse Período estava situado na mesma parte do Mundo do Pensamento ocupada pelos Globos mais sutis do Período atual – a Região do Pensamento Concreto. Estes Globos não tinham consistência, no sentido atual da palavra. “Calor” é a única palavra que mais se aproxima da ideia do que era o antigo Período de Saturno. De tão escuro, uma pessoa que conseguisse entrar no seu espaço nada poderia ver. Tudo em torno dela seria escuridão, mas poderia sentir o seu calor.

    Para o materialista, naturalmente, será loucura chamar tal condição um “Globo”, como também afirmar que se tratava de um Campo de Evolução da Vida e da Forma. Contudo, se considerarmos a Teoria Nebular podemos compreender que a Nebulosa deveria ter sido escura antes de iluminar-se, e ter sido quente antes de ser ígnea. Esse calor deve ter-se produzido pelo movimento, e movimento é vida.

    Poderíamos dizer que os Espíritos Virginais, a fim de desenvolver consciência e forma, foram incrustados nesse Globo. Melhor dizendo: todo o Globo era composto de Espíritos Virginais, assim como a framboesa é composta de muitas pequenas framboesas. Foram incorporados ao Globo, assim como a vida que anima o mineral está incorporada à Terra. Portanto, se diz entre os cientistas ocultistas que no Período de Saturno o ser humano passou pelo estágio mineral.

    Fora desse “Globo-calor” – em sua atmosfera, por assim dizer – estavam as grandes Hierarquias Criadoras que ajudavam os Espíritos Virginais a desenvolverem forma e consciência. Havia muitas Hierarquias, mas por enquanto ater-nos-emos só às principais, àquelas que realizaram o trabalho mais importante do Período de Saturno.

    Na terminologia Rosacruz essas Hierarquias são denominadas Senhores da Chama, devido à brilhante luminosidade dos seus Corpos e aos seus grandes poderes espirituais. Na Bíblia são chamados “Tronos”, e se ocuparam com o ser humano por sua livre vontade. Eram tão avançados que essa manifestação evolutiva não podia lhes proporcionar novas experiências, portanto nenhuma sabedoria mais. A mesma coisa poder-se-ia dizer de duas Hierarquias de ordem ainda mais elevada, que mais tarde mencionaremos. As restantes Hierarquias Criadoras, com o objetivo de completar sua própria evolução, foram impelidas a trabalhar no ser humano, e com o ser humano.

    Esses Senhores da Chama estavam fora do escuro Globo de Saturno. Emitindo de seus Corpos uma forte luz, eles projetaram, por assim dizer, suas imagens sobre a superfície desse antigo Globo, tão pouco impressionável que refletia, como eco, muitas vezes em imagens multiplicadas, tudo o que se punha em contato com ele. É isto que o mito grego quer significar quando diz que Saturno devorava os próprios filhos.

    Entretanto, por repetidos esforços durante a primeira Revolução, os Senhores da Chama conseguiram implantar na vida que está evoluindo o germe do nosso atual Corpo físico[1]. Esse germe se expandiu um tanto durante o resto das seis primeiras Revoluções, obtendo a capacidade de desenvolver os órgãos dos sentidos, especialmente o ouvido. Portanto, o ouvido é o órgão mais altamente desenvolvido que possuímos. É o instrumento que conduz à consciência, com maior exatidão, todas as impressões que recebe do exterior. Está menos sujeito às ilusões do Mundo Físico do que qualquer outro órgão sensorial.

    A consciência da vida que estava evoluindo nesse Período era semelhante à do mineral atual – um estado de inconsciência análogo ao dos médiuns no transe mais profundo – se bem que, durante as primeiras seis Revoluções, a vida que estava evoluindo trabalhasse no germe do Corpo Denso sob a direção e com ajuda das diferentes Hierarquias Criadoras. Na metade da sétima Revolução os Senhores da Chama, que estiveram inativos desde o momento em que proporcionaram o germe do Corpo Denso na primeira Revolução, se tornaram novamente ativos, desta vez com o objetivo de despertar no ser humano o princípio espiritual mais elevado. Assim, despertaram a atividade inicial do Espírito Divino no ser humano.

    Portanto o ser humano deve o mais elevado e o mais inferior dos seus veículos – o Espírito Divino e o Corpo Denso – à evolução do Período de Saturno. Os Senhores da Chama prestaram a essa manifestação auxílio voluntário, sem que nada os obrigasse a fazê-lo.

    A obra das várias Hierarquias Criadoras não começa no Globo A, no princípio de uma Revolução ou de um Período. Principia na metade de uma Revolução, crescendo em força e alcançando sua maior eficácia na metade da Noite Cósmica – que tem lugar tanto entre as Revoluções como entre os Períodos. Depois sua ação declina gradualmente, conforme a Onda de Vida alcança a metade da Revolução seguinte.

    Assim, a obra dos Senhores da Chama, com objetivo de despertar a consciência germinal, foi mais ativa e eficiente durante o Período de repouso entre os Períodos de Saturno e Solar.

    Reafirmamos que uma Noite Cósmica não deve ser considerada um período de inatividade. Não é uma existência inerte, conforme vimos no caso de um indivíduo desde sua morte até o novo nascimento. O mesmo acontece na grande morte de todos os Globos de um Período: há uma cessação da manifestação ativa, a fim de que se possa desenvolver proporcionalmente uma atividade subjetiva e mais intensa.

    Talvez a melhor ideia da natureza dessa atividade subjetiva, nos seja proporcionada pela observação do que ocorre quando uma fruta madura é enterrada. Fermenta e desintegra-se, mas de todo esse caos brota a nova planta, que se eleva para o ar e para a luz do Sol. Assim também, ao fim de um Período, tudo se resume num conglomerado Caos aparentemente impossível de ser ordenado. Contudo, no devido tempo, se formam os Globos de um novo Período, que se convertem em Mundos habitáveis pelo ser humano. Depois a vida que está evoluindo se transfere dos cinco Globos escuros, nos quais atravessa a Noite Cósmica, para começar as atividades em um novo dia criador, em ambiente modificado, preparado e exteriorizado durante as atividades na Noite Cósmica. Assim como as forças produzidas pela fermentação da fruta estimulam a semente e fertilizam a terra em que ela cresce, assim também os Senhores da Chama estimularam o germe do Espírito Divino, especialmente durante a Noite Cósmica entre os Períodos de Saturno e Solar, continuando suas atividades até a metade da primeira Revolução do Período Solar.


    [1] N.R.: que é o Corpo Denso

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    Recapitulação

    Antes de se iniciar a atividade em qualquer Período, é feita uma Recapitulação de tudo o que antes foi feito. Devido à espiral do caminho evolutivo, esta atividade processa-se, cada vez, em um grau superior daquele estado de progresso que se recapitula. Esta necessidade se tornar-se-á evidente ao descrevermos o trabalho dessa Recapitulação.

    A primeira Revolução de qualquer Período é uma Recapitulação do trabalho efetuado sobre o Corpo Denso no Período de Saturno. Entre os Rosacruzes é denominada “Revolução de Saturno”.

    O segundo Período é o Período Solar e, portanto, a segunda Revolução de qualquer Período subsequente ao Período Solar deve ser a “Revolução Solar”.

    O terceiro Período é o Período Lunar, por isso a terceira Revolução de qualquer Período seguinte deve ser uma Recapitulação da obra efetuada no Período Lunar, chamando-se, pois, “Revolução Lunar”.

    A atividade própria do Período só começa quando termina o trabalho de Recapitulação das respectivas Revoluções. Por exemplo, no atual Período Terrestre, já se efetuaram três Revoluções e meia. Isto significa que na primeira, ou Revolução de Saturno do Período Terrestre, se repetiu o trabalho efetuado no Período de Saturno, porém em grau superior. Na segunda, ou Revolução Solar, se repassou a obra executada no Período Solar. Na terceira, ou Revolução Lunar, se repetiu o trabalho efetuado no Período Lunar, e unicamente na quarta – a Revolução atual – começou o verdadeiro trabalho do Período Terrestre.

    No último dos sete Períodos – o Período de Vulcano – somente a última Revolução será dedicada à obra real desse Período. Nas seis Revoluções anteriores será recapitulado o trabalho efetuado nos seis Períodos precedentes.

    Além disso, (e isto ajudará a memória do Estudante de modo especial) a Revolução de Saturno em qualquer Período se refere sempre ao desenvolvimento de alguma nova parte do Corpo Denso, por ter esse começado seu desenvolvimento numa primeira Revolução. Também qualquer sétima Revolução, ou Revolução de Vulcano, desenvolve especialmente alguma atividade relacionada com o Espírito Divino, porque o seu desenvolvimento se iniciou numa sétima Revolução. De igual modo veremos que há uma relação entre as diferentes Revoluções e todos os veículos humanos.

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    O Período Solar

    As condições durante o Período Solar diferiam radicalmente das do Período de Saturno. Em lugar dos “Globos-Calor” do último, os Globos do Período Solar eram esferas luminosas, brilhantes, de consistência análoga à dos gases. Estas grandes esferas gasosas continham tudo que havia sido desenvolvido no Período de Saturno e, analogamente, as Hierarquias Criadoras permaneciam em sua atmosfera.

    Em vez da qualidade refletora, semelhante ao eco, do Período de Saturno, esses Globos tinham, até certo ponto, a qualidade de absorver e trabalhar sobre qualquer imagem ou som que se projetasse sobre suas superfícies. se pode dizer que eles eram coisas “captáveis”. A Terra sente, embora não o pareça, e o materialista poderá zombar de semelhante ideia, mas o ocultista sabe que a Terra sente tudo o que está em cima e dentro dela. Esse Globo luminoso era muito mais sensitivo que a Terra, porque não estava limitado e sujeitado por condições materiais tão duras e tão densas como as da nossa habitação atual.

    A vida, naturalmente, era diferente, porque formas tais como as que conhecemos não podiam existir ali. A vida, porém, pode se expressar em formas gasosas ígneas tão bem, ou ainda melhor, do que em formas compostas por matéria química dura, tais como são, presentemente, os Corpos Densos do mineral, vegetal, animal e ser humano.

    Quando a vida que está evoluindo apareceu no Globo A na Primeira ou Revolução de Saturno do Período Solar, estava, ainda, a cargo dos Senhores da Chama, que em meados da última Revolução do Período de Saturno tinham despertado no ser humano o germe do Espírito Divino.

    Eles tinham dado anteriormente o germe do Corpo Denso e na primeira metade da Revolução de Saturno do Período Solar se incumbiram de fazer, nele, alguns melhoramentos.

    No Período Solar se iniciou a formação do Corpo Vital, implícitas todas as possibilidades para assimilação, crescimento, propagação, glândulas, etc.

    Os Senhores da Chama incorporaram no germe do Corpo Denso, unicamente, a capacidade de desenvolver os órgãos dos sentidos. No tempo que estamos considerando foi necessário alterar o germe de maneira a permitir sua interpenetração por um Corpo Vital e, também, a capacidade de desenvolver glândulas e o tubo digestivo. Esta alteração se efetuou graças à ação conjunta dos Senhores da Chama, que deram o germe original, e dos Senhores da Sabedoria, que tomaram a seu cargo a evolução material no Período Solar.

    Os Senhores da Sabedoria, menos evoluídos que os Senhores da Chama, trabalharam para completar sua própria evolução. Por isso receberam ajuda de uma ordem de exaltados Seres que, como os Senhores da Chama, agiram voluntária e livremente. Na linguagem esotérica são chamados “Querubins”. Estes exaltados Seres, porém, não começaram sua atividade enquanto não foi necessário despertar o germe do segundo princípio espiritual do ser humano em formação, já que os Senhores da Sabedoria eram capazes de executar o trabalho relacionado com o Corpo Vital, que tinha de ser agregado à constituição do ser humano no Período Solar, mas não podiam despertar o segundo princípio espiritual.

    Quando os Senhores da Chama e os Senhores da Sabedoria reconstruíram, conjuntamente, o Corpo Denso germinal na Revolução de Saturno do Período Solar, os Senhores da Sabedoria, na segunda Revolução, iniciaram o trabalho correspondente ao Período Solar: irradiaram de seus próprios Corpos o germe do Corpo Vital, se tornando capaz de interpenetrar o Corpo Denso e lhe dando a capacidade de ulterior crescimento, propagação e excitamento do centro dos sentidos do Corpo Denso para que esse se movimentasse. Em suma, proporcionaram ao Corpo Vital, em germe, todas as faculdades que estão agora se desenvolvendo a fim de convertê-lo num perfeito e maleável instrumento para o uso do espírito.

    Esse trabalho ocupou as segunda, terceira, quarta e quinta Revoluções do Período Solar. Na sexta Revolução os Querubins entraram em ação e despertaram no ser humano o germe do segundo aspecto do Tríplice Espírito – o Espírito de Vida. Na sétima e última Revolução o recém-despertado germe do Espírito de Vida foi ligado ao Espírito Divino germinal, processo que se completou depois.

    Recordemos que no Período de Saturno nossa consciência era semelhante à condição de transe. Por meio das atividades desenvolvidas no Período Solar, esta foi modificada até se converter em consciência análoga à do sono sem sonhos.

    A evolução no Período Solar agregou à constituição do que está evoluindo ser humano embrionário, o imediatamente superior e o imediatamente inferior dos seus veículos atuais. Ao fim do Período de Saturno o ser humano possuía, em germe, um Corpo Denso e um Espírito Divino. Ao terminar o Período Solar possuía, em germe, o Corpo Denso, o Corpo Vital, o Espírito Divino e o Espírito de Vida, isto é, um duplo espírito e um duplo Corpo.

    Notemos também que, estando a primeira Revolução de qualquer Período – ou Revolução de Saturno – relacionada com o trabalho feito no Corpo Denso (porque esse teve início em uma primeira Revolução), assim também a segunda de qualquer Período – ou Revolução Solar – se relaciona com o melhoramento do Corpo Vital, porque esse começou em uma segunda Revolução. De maneira análoga a sexta Revolução de qualquer Período é dedicada ao trabalho sobre o Espírito de Vida, e qualquer sétima Revolução diz respeito particularmente aos assuntos inerentes ao Espírito Divino.

    No Período de Saturno o ser humano em formação atravessou a existência num estado equivalente ao mineral. Isto é, teve um Corpo Denso somente no sentido em que o tem o mineral. Sua consciência era também parecida à dos minerais atuais.

    Da mesma maneira, e por análogas razões, se pode dizer que no Período Solar o ser humano atravessou a existência vegetal. Tinha um Corpo Denso e um Corpo Vital, identicamente às plantas. Sua consciência, como a destas, era a de sono sem sonhos. O Estudante compreenderá plenamente esta analogia estudando o Diagrama 4, no Capítulo intitulado “Os Quatro Reinos”. Nele se mostram, esquematicamente, os veículos de consciência que possuem os minerais, as plantas, os animais e o ser humano, e a consciência particular que resulta de sua posse em cada caso.

    Quando terminou o Período Solar houve outra Noite Cósmica de assimilação, juntamente com a atividade subjetiva necessária, antes de se iniciar o Período Lunar. Foi de igual duração à do Período de manifestação objetiva que a precedeu.

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    O Período Lunar

    Assim como a característica principal dos escuros Globos do Período de Saturno foi descrita pelo termo “Calor”, e a dos Globos do Período Solar como “Luz”, ou calor resplandecente, assim a característica principal dos Globos do Período Lunar pode ser descrita como “Umidade”. O ar, tal como o conhecemos, não existia então. No centro estava o núcleo ígneo, ardente. Próximo a ele e em consequência de contato com o frio do espaço exterior, havia umidade densa. Pelo contato com o núcleo ígneo central essa umidade densa se transformava em vapor quente, que se lançava para a periferia, esfriava e tornava ao centro novamente. Por isso os cientistas ocultistas chamam “Água” aos Globos do Período Lunar, e descrevem a atmosfera daquele tempo como “Névoa Ígnea”. Esse foi o cenário do novo passo da vida que está evoluindo.

    No Período Lunar o objetivo era adquirir o germe do Corpo de Desejos e iniciar a atividade germinal do terceiro aspecto do Tríplice Espírito no ser humano – o Espírito Humano – o Ego.

    Em meados da sétima Revolução do Período Solar os Senhores da Sabedoria se encarregaram do Espírito de Vida germinal, dado pelos Querubins na sexta Revolução do Período Solar. Fizeram isso com o objetivo de vinculá-lo ao Espírito Divino. Seu maior grau de atividade nessa obra foi alcançado na Noite Cósmica entre os Períodos Solar e Lunar. Ao iniciar o Período Lunar, quando a Onda de Vida partia para sua nova peregrinação, reapareceram os Senhores da Sabedoria, trazendo consigo os veículos germinais do ser humano em evolução. Na primeira Revolução, ou Revolução de Saturno, do Período Lunar, eles cooperaram com os “Senhores da Individualidade”, que se encarregaram especialmente da evolução material do Período Lunar. Juntos reconstruíram o germe do Corpo Denso, trazido do Período Solar. Esse germe havia desenvolvido órgãos sensoriais, digestivos, glândulas, etc., em estado embrionário, e estava interpenetrado por um Corpo Vital germinal que difundia certo grau de vida no Corpo Denso embrionário. Evidentemente não era sólido e visível tal como é agora, ainda que, até certo ponto, estivesse um tanto organizado, porém sendo perfeitamente visível e distinto para a Clarividência desenvolvida do investigador competente, o qual esquadrinha a Memória da Natureza com o objetivo de conhecer esse remoto passado.

    No Período Lunar foi necessário reconstruir o Corpo Denso para capacitá-lo a ser interpenetrado por um Corpo de Desejos e, também, ser capaz de desenvolver um Sistema Nervoso, músculos, cartilagens e um esqueleto rudimentar. Esta obra de reconstrução foi efetuada na Revolução de Saturno do Período Lunar.

    Na segunda, ou Revolução Solar, o Corpo Vital foi também modificado para capacitá-lo a ser interpenetrado por um Corpo de Desejos, bem como para acomodá-lo ao Sistema Nervoso, músculos, esqueleto, etc. Os Senhores da Sabedoria, que foram os originadores do Corpo Vital, ajudaram também aos Senhores da Individualidade nesse trabalho.

    Na terceira Revolução começou o trabalho próprio do Período Lunar. Os Senhores da Individualidade irradiaram de si a substância com que ajudaram o inconsciente ser humano que está evoluindo a construir e se adaptar a um Corpo de Desejos germinal. Ajudaram-no também a incorporar esse Corpo de Desejos germinal ao conjunto Corpo VitalCorpo Denso que já possuía. Esse trabalho foi todo efetuado durante a terceira e quarta Revoluções do Período Lunar.

    Como antes os Senhores da Sabedoria procederam, assim agiram os Senhores da Individualidade: se bem que muito superiores ao ser humano, trabalharam nele e sobre ele, a fim de completarem sua própria evolução. Ainda que fossem capazes de lidar com o veículo inferior, eram impotentes em relação ao superior. Não podiam dar o impulso espiritual necessário para despertar o terceiro aspecto do Tríplice Espírito no ser humano. Por isso outra classe de Seres, que estava além da necessidade de se desenvolver numa evolução tal como a nossa – e que também agiu voluntária e livremente, como a dos Senhores da Chama e a dos Querubins – veio ajudar o ser humano durante a quinta Revolução do Período Lunar. São chamados “Serafins”, e despertaram o germe do terceiro aspecto do Espírito – o Espírito Humano.

    Na sexta Revolução do Período Lunar reapareceram os Querubins, os quais cooperaram com os Senhores da Individualidade para vincular o recém-adquirido germe do Espírito Humano ao Espírito de Vida.

    Na sétima Revolução do Período Lunar os Senhores da Chama voltaram a ajudar o ser humano, cooperando com os Senhores da Individualidade para vincular o Espírito Humano ao Espírito Divino. Dessa forma o Ego separado – o Tríplice Espírito – veio à existência.

    Antes do princípio do Período de Saturno, os Espíritos Virginais, atualmente seres humanos, estavam no Mundo dos Espíritos Virginais. Eram “Todo-Conscientes” como Deus, em Quem (não de Quem), se diferenciavam. Contudo não eram autoconscientes. A aquisição dessa faculdade é, em parte, o objetivo da evolução, que submerge os Espíritos Virginais num oceano de matéria de crescente densidade, o que os priva por fim da consciência do Todo.

    Dessa maneira, no Período de Saturno os Espíritos Virginais foram submersos no Mundo do Espírito Divino e encerrados em tênue envoltura da substância desse Mundo, no qual penetraram parcialmente por meio da ajuda dos Senhores da Chama.

    No Período Solar os Espíritos Virginais foram submersos no Mundo do Espírito de Vida, ainda mais denso, ficando assim mais cegos para a consciência do Todo, envolvidos, como estavam, por um segundo véu da substância desse Mundo. E nesse segundo véu penetraram parcialmente ainda com a ajuda dos Querubins. O sentimento de Unidade com o Todo também não foi perdido porque o Mundo do Espírito de Vida é um Mundo universal, interpenetrando e sendo comum a todos os Astros de um Sistema Solar.

    No Período Lunar, porém, os Espíritos Virginais se aprofundando mais em matéria ainda mais densa, entraram na Região do Pensamento Abstrato, onde se lhes agregou o mais opaco dos seus véus, o Espírito Humano. Daí em diante o Espírito Virginal perdeu a consciência do Todo. Não mais podendo descerrar seus véus para observar as coisas exteriores e perceber os outros, se viu forçado a dirigir sua consciência para o centro, ali encontrando a si próprio como Ego, separado e à parte de todos dos outros.

    E assim o Espírito Virginal se viu encerrado num Tríplice véu, sendo o véu externo, o Espírito Humano, o que efetivamente o cegou a unidade da Vida, convertendo-o em um Ego e mantendo a ilusão de separatividade adquirida durante a Involução. A Evolução dissolverá gradualmente essa ilusão, trazendo de volta a consciência do todo, enriquecida pela consciência de si mesmo.

    Vemos, pois, que ao terminar o Período Lunar o ser humano possuía um Tríplice Corpo em vários estágios de desenvolvimento e, também, o germe do Tríplice Espírito. Tinha os Corpos: Denso, Vital e de Desejos, e os Espíritos: Divino, de Vida e Humano. Tudo o que faltava era um elo que os unisse.

    Já foi dito que o ser humano atravessou o estado mineral no Período de Saturno, e o do vegetal no Período Solar. Sua peregrinação através das condições do Período Lunar corresponde à fase de existência animal, pelas mesmas razões aplicáveis aos dois símiles anteriores. Portanto nesse Período ele tinha os Corpos: Denso, Vital e de Desejos, como os têm os nossos animais atuais, e sua consciência era uma consciência pictórica interna, análoga à dos animais inferiores de hoje. Era semelhante a uma consciência de sonhos do ser humano, salvo que era perfeitamente racional por ser dirigida pelo Espírito-Grupo dos animais. Chamamos novamente a atenção do Estudante para o Diagrama 4 no Capítulo sobre os Quatro Reinos, onde isso é mostrado.

    Esses seres Lunares já não eram tão simplesmente germinais, como nos Períodos anteriores. Para o Clarividente desenvolvido aparecem como que suspensos por cordões na atmosfera de névoa ígnea, assim como o embrião está preso à placenta pelo cordão umbilical. As correntes (comuns a todos eles), que forneciam certa espécie de nutrição, fluíam para dentro e para fora da atmosfera através desses cordões. De certa forma, essas correntes eram similares em suas funções ao sangue atual. Se aplicarmos o nome de “sangue” a tais correntes é unicamente com o objetivo de sugerir uma analogia, porque os Seres do Período Lunar não possuíam nada semelhante ao nosso atual sangue vermelho, que é uma das mais recentes aquisições do ser humano.

    Pelo final do Período Lunar houve uma divisão no Globo que era o campo da nossa e de outras evoluções, que não mencionamos antes para não confundir, mas com as quais nos familiarizaremos agora.

    Parte desse grande Globo foi cristalizada pelo ser humano, dada a sua incapacidade de conservar a parte que habitava no elevado grau de vibração sustentada pelos demais seres dali. Quando essa parte alcançou certo grau de inércia, a força centrífuga do Globo em rotação arrojou-a ao espaço em rodopios, onde começou a circular em torno do brilhante e incandescente núcleo central.

    A causa espiritual da expulsão dessa cristalização é que os mais elevados seres de tal Globo requerem, para sua evolução, as extremamente rápidas vibrações do fogo. A condensação, ainda que necessária à evolução de outros e menos avançados seres que necessitam de um grau mais baixo de intensidade vibratória, tolhe esses elevados seres. Por isso, quando parte de qualquer Globo se consolida pela atuação de um grupo de seres em detrimento de outros, essa parte é expelida à distância exatamente necessária para que circule em torno da massa central como um satélite. As vibrações caloríficas que alcançam esse satélite têm exatamente o grau e a intensidade convenientes às necessidades peculiares dos seres que estão evoluindo nele. É claro que a lei de gravitação explica perfeitamente esse fenômeno sob o ponto de vista físico. Contudo, sempre existe uma causa mais profunda, que proporciona uma explicação mais completa. É o que podemos descobrir quando consideramos as coisas sob o aspecto espiritual. Assim como ação física não é mais do que a manifestação visível de um pensamento invisível que a precede, do mesmo modo a expulsão de um Planeta de um Sol central não é mais do que o efeito visível e inevitável de condições espirituais invisíveis.

    O menor Planeta que foi arrojado no Período Lunar se condensou com relativa rapidez e formou o campo de nossa evolução até o fim desse Período. Era como uma lua girando em torno do seu Planeta-pai, da mesma forma que a Lua gira em torno da Terra, porém não mostrava fases como a nossa Lua. Girava de tal maneira que uma metade estava sempre iluminada e a outra sempre obscura, como sucede com Vênus. Um de seus polos apontava diretamente para o imenso Globo ígneo, tal como um dos polos de Vênus aponta diretamente para o Sol.

    Nesse satélite do Período Lunar havia correntes que circulavam em torno do mesmo como as correntes dos Espíritos-Grupo circulam em torno da Terra. Os seres Lunares seguiam essas correntes instintivamente, do lado luminoso para o lado obscuro dessa antiga Lua. Em certas épocas do ano, quando se encontravam no lado luminoso, se realizava uma espécie de propagação. Temos resíduos atávicos dessas viagens lunares de propagação nas migrações das aves, que até hoje seguem as correntes dos Espíritos-Grupo em torno da Terra em certas estações do ano, com propósitos idênticos. Mesmo as viagens de lua de mel dos seres humanos demonstram que o próprio ser humano não se libertou totalmente daquele impulso migratório relacionado com o acasalamento.

    Os seres lunares naquele último estágio eram também capazes de emitir sons ou gritos. Eram sons cósmicos e não expressões individuais de alegria ou de dor, porque nesta época o indivíduo ainda não existia. O desenvolvimento da Individualidade veio depois – no Período Terrestre.

    Ao final do Período Lunar houve de novo um intervalo de repouso, a Noite Cósmica. As partes divididas foram dissolvidas e submergidas no Caos geral que precedeu a reorganização do Globo para o Período Terrestre.

    Os Senhores da Sabedoria, então evoluíram tanto que se tornaram capazes de se encarregar da evolução, já que era a Hierarquia Criadora mais elevada. Foram encarregados especialmente do Espírito Divino no ser humano, durante o Período Terrestre.

    Os Senhores da Individualidade estavam, também, suficientemente desenvolvidos para poderem agir sobre o espírito no ser humano e por isso se encarregaram do Espírito de Vida.

    Outra Hierarquia Criadora cuidou especialmente dos três germes dos Corpos: Denso, Vital e de Desejos, conforme evoluíam. Foram eles que, sob a direção de ordens mais elevadas, fizeram o principal trabalho nesses Corpos, empregando a vida que está evoluindo como uma espécie de instrumento. Essa Hierarquia é chamada “Senhores da Forma”. Tinham evoluído tanto que puderam se encarregar do terceiro aspecto do Espírito no ser humano – o Espírito Humano – no seguinte Período Terrestre.

    Havia doze grandes Hierarquias Criadoras ativas no trabalho da evolução ao princípio do Período de Saturno. Duas dessas Hierarquias executaram, no início, alguns trabalhos. Não há informação sobre o que fizeram nem se fala coisa alguma sobre elas, salvo que agiram livre e voluntariamente, se retirando depois da existência limitada para a libertação.

    Mais três Hierarquias Criadoras seguiram-nas no princípio do Período Terrestre: os Senhores da Chama, os Querubins e os Serafins, permanecendo sete Hierarquias em serviço ativo, quando começou o Período Terrestre. O Diagrama 9 dá uma ideia clara das doze Hierarquias Criadoras e de seus estados.

    Diagrama 9 – As Doze Hierarquias Criadoras

    Os Senhores da Mente se tornaram peritos na construção de Corpos de “matéria mental”, assim como nós estamos nos especializando na construção de Corpos de matéria química, e por uma razão similar: a Região do Pensamento Concreto era a mais densa condição de matéria alcançada no Período de Saturno, quando eles eram “humanos”, assim como a Região Química é o estado mais denso alcançado pela nossa Humanidade.

    No Período Terrestre os Senhores da Mente alcançaram o estado Criador e emitiram de si, dentro do nosso ser, o núcleo do material com o qual estamos procurando agora construir uma Mente organizada. “Poderes das Trevas” foi o nome que lhes deu S. Paulo[1], por terem surgido do escuro Período de Saturno. São considerados maus devido à tendência separatista, pertinente ao plano da razão, em contraste com a força unificadora do Mundo do Espírito de Vida, o Reino do Amor. Os Senhores da Mente trabalham com a Humanidade. Não atuam nos três Reinos inferiores.

    Os Arcanjos se tornaram peritos na construção de um Corpo de matéria de desejos, a mais densa do Período Solar. Portanto, são capazes de ensinar seres menos evoluídos, como o ser humano e o animal, ensinando-os a modelar e se utilizar do Corpo de Desejos. Os Anjos são perfeitamente aptos a construir o Corpo Vital porque no Período Lunar, quando eram humanos, o Éter era o estado mais denso da matéria. Esta capacidade habilita-os a serem Líderes apropriados do ser humano, dos animais e dos vegetais, relativamente às funções vitais de propagação, nutrição, etc.


    [1] N.R.: Col 1:13

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