Nos Ensinamentos Rosacruzes, o Universo divide-se em sete diferentes Mundos ou estados de matéria, a saber:
2.Mundo dos Espíritos Virginais
Essa divisão não é arbitrária, mas necessária, porque a substância de cada um desses Mundos está sujeita às leis que são praticamente inoperantes nos outros. Por exemplo, no Mundo Físico a matéria está sujeita à gravidade, à contração e à expansão. No Mundo do Desejo não existem frio nem calor, e as formas levitam tão facilmente como gravitam. Distância e tempo são fatores predominantes no Mundo Físico, mas quase inexistentes no Mundo do Desejo.
A matéria desses Mundos varia em densidade também, sendo o Mundo Físico o mais denso dos sete.
Cada Mundo subdivide-se em sete Regiões, ou subdivisões de matéria. No Mundo Físico os sólidos, os líquidos e os gases formam as três subdivisões mais densas, e as quatro restantes são constituídas por Éteres de densidades variadas. Nos outros Mundos são necessárias subdivisões idênticas porque a densidade da matéria de que são compostos não é uniforme.
Há ainda duas distinções a fazer. As três subdivisões densas do Mundo Físico (sólidos, líquidos e gases) constituem o que se chama de Região Química. A substância dessa Região é a base de todas as Formas densas.
O Éter também é matéria física. Não é homogêneo, como a ciência material afirma, mas existe em quatro estados diferentes. Constitui o meio de ingresso para o espírito vivificante, o qual infunde vitalidade às formas da Região Química. Essas quatro subdivisões mais sutis ou Etéricas do Mundo Físico constituem o que se conhece por Região Etérica.
No Mundo do Pensamento as três subdivisões superiores são a base do pensamento abstrato, daí o conjunto ser chamado Região do Pensamento Abstrato. As quatro subdivisões mais densas suprem a matéria mental com a qual incorporamos e concretizamos nossas ideias sendo, portanto, denominadas de Região do Pensamento Concreto.
A cuidadosa consideração dada pelo ocultista àquilo que caracteriza o Mundo Físico poderia parecer supérflua, não fosse o fato de ele encarar as coisas sob um ponto de vista amplamente diferente daquele do materialista. Esse reconhece apenas três estados de matéria: sólido, líquido e gases. Tais matérias são todas químicas, já que derivam dos componentes químicos da Terra. Dessa matéria química constituíram-se todas as formas: mineral, vegetal, animal e humana, daí serem esses Corpos tão químicos como as substâncias assim comumente chamadas. Portanto, quer consideremos a montanha, quer a nuvem que envolve o seu topo, a seiva da planta ou o sangue do animal, a teia de aranha, a asa de borboleta ou os ossos do elefante, o ar que respiramos ou a água que bebemos – tudo é composto da mesma substância química.
O que determina, pois, a conformação dessa substância básica nas múltiplas variedades de Formas que observamos ao nosso redor? É o Espírito Universal Uno, expressando-se a Si próprio no Mundo Visível sob a forma de quatro grandes correntes de Vida, em variados graus de desenvolvimento. Esse quádruplo impulso espiritual modela a matéria química da Terra na variedade de formas dos quatro Reinos: mineral, vegetal, animal e humano. Quando uma forma serviu ao seu propósito, como veículo de expressão para as três correntes superiores de vida, as forças químicas desintegram essa forma. Então a matéria pode voltar ao estado primordial, ficando assim em disponibilidade para a constituição de novas formas. Consequentemente, o espírito ou vida que modela a forma numa expressão de si mesmo é tão estranho ao material que usa como o carpinteiro é estranho e pessoalmente independente da casa que constrói para sua habitação.
Como todas as formas mineral, vegetal, animal e humana são químicas, logicamente deverão ser tão mortas e desprovidas de sensação como a matéria química no seu estado primitivo. Os Rosacruzes afirmam que sim.
Alguns cientistas sustentam haver sensação em toda a matéria, viva ou morta, pertencente a quaisquer dos quatro Reinos. Nessa afirmação incluem até, como capazes de sentir, as substâncias ordinariamente classificadas como minerais. E, como prova, apresentam diagramas com curvas de energia obtidas em experiências. Para outra classe de pesquisadores a sensação não existe nem mesmo no Corpo humano, excetuado o cérebro, que é a própria sede da sensação. Assim, dizem, se ferimos um dedo é o cérebro, não o dedo, que sente a dor. Dessa maneira, nesse como em outros pontos a casa da Ciência está dividida contra si mesma. A posição de cada oponente é parcialmente correta, dependendo do que se entenda por “sensação”. Se significar uma simples resposta aos impactos – tal como o rebote de uma bola de borracha atirada ao chão – é exato atribuir-se sensação ao mineral, à planta e aos tecidos animais. Contudo, se querem significar prazer e dor, amor e ódio, alegria e tristeza, seria absurdo atribuí-los às formas inferiores de vida, a um tecido orgânico solto, aos minerais em seu estado natural, ou mesmo ao cérebro, porque tais sentimentos são expressões do Espírito imortal autoconsciente. Já o cérebro é apenas o teclado do magnífico instrumento em que o espírito humano executa a sinfonia de sua vida, da mesma forma que um músico se expressa em seu violino.
Assim como há pessoas que são absolutamente incapazes de compreender a existência de Mundos superiores, outras há que, tendo-se relacionado com tais Reinos apenas superficialmente, habituam-se a menosprezar o Mundo Físico. Semelhante atitude é tão errônea quanto à do materialista. Os grandes e sábios Seres, que executam a vontade e os planos de Deus, colocaram-nos nesse Mundo Físico para aprendermos grandes e importantíssimas lições que só nestas condições seria possível aprender. É nosso dever, portanto, empregar o conhecimento que tenhamos dos Mundos superiores para aprender o melhor possível as lições que esse Mundo material tem para nos ensinar.
Em certo sentido, o Mundo Físico é uma espécie de Escola-Modelo ou um laboratório experimental, onde se aprende a trabalhar corretamente nos outros Mundos, conheçamos ou não a sua existência, o que prova a grande sabedoria dos criadores do plano. Se apenas conhecêssemos os Mundos superiores, cometeríamos muitos erros que só se revelariam quando as condições físicas fossem utilizadas como critério. Para ilustrar, imaginemos o caso de um inventor que idealiza uma máquina: primeiro ele a constrói em pensamento, mentalmente ele a vê completa e realizando com perfeição o trabalho para o qual foi planejada. Em seguida ele a desenha, e ao fazê-lo possivelmente julga necessária alguma modificação no modelo primitivo. Quando, a partir do desenho, dá-se por satisfeito ao ver sua ideia praticável, passa então a construir a máquina com o material apropriado.
Agora, é quase certo haver necessidade de novas modificações antes que a máquina funcione como se pretendia. Pode ainda ser necessário modificá-la totalmente, ou até mesmo concluir-se que o modelo, em seu todo e como se apresenta seja completamente inútil, deva ser rejeitado e um novo plano precise ser elaborado. Contudo, observe o seguinte, porque isto é importante: a nova ideia, ou plano, será reformulada para eliminar os defeitos da máquina primitiva. E se não fosse construída uma máquina material que evidenciasse os defeitos da primeira ideia, uma segunda e correta ideia não poderia ser formulada.
Isto se aplica, igualmente, a todas as condições da vida: sociais, comerciais e filantrópicas. Muitos projetos, parecendo excelentes a quem os concebe e continuando a parecer bons quando trasladados para o papel, ao serem experimentados na prática frequentemente falham. Isto, porém, não deve desanimar-nos. É certo que “aprendemos mais com os nossos erros do que com os nossos êxitos”. Devemos, pois contemplar o Mundo Físico através da luz apropriada; considerá-lo uma valiosa escola de experiências, onde aprendemos lições da mais alta importância.
Como o Mundo Físico e qualquer outro Reino da Natureza, o Mundo do Desejo tem sete subdivisões, denominadas “Regiões”, mas não tem como o Mundo Físico, as grandes divisões correspondentes às Regiões: Química e Etérica. A matéria de desejos no Mundo do Desejo persiste através das suas sete subdivisões ou regiões, como substância para a concretização dos desejos. Assim como a Região Química é o Reino da forma e assim como a Região Etérica é o lar das forças que conduzem as atividades vitais nessas formas, capacitando-as a viver, mover-se e propagar-se, assim também as forças do Mundo do Desejo, trabalhando no Corpo Denso despertado, impelem-na a mover-se em tal ou qual direção.
Se ali existissem apenas as atividades das Regiões Química e Etérica do Mundo Físico, então haveria formas vivas capazes de se mover, mas sem qualquer incentivo para tal. Esse incentivo é proporcionado pelas forças cósmicas ativas no Mundo do Desejo, e sem essa atividade que atua em todas as fibras do corpo vitalizado, impelindo-o a agir nessa ou naquela direção, não haveria experiência nem crescimento moral. As funções dos diferentes Éteres cuidariam do crescimento da forma, mas o desenvolvimento moral ficaria totalmente omisso. A evolução seria impossível tanto para a vida como para as formas, porque estas últimas só evoluem para estágios superiores em razão das sucessivas exigências do crescimento espiritual. Vemos assim a grande importância desse Reino da natureza.
Desejos, aspirações, paixões e sentimentos expressam-se na matéria das diferentes regiões do Mundo do Desejo, como as formas e aspectos se expressam na Região Química do Mundo Físico. Tomam formas que duram mais ou menos tempo, de acordo com a intensidade do desejo, aspiração ou sentimento que encerram. No Mundo do Desejo a distinção entre força e matéria não é tão definida e aparente como no Mundo Físico. Pode-se dizer até que ali as ideias de força e matéria são idênticas ou permutáveis. Não é propriamente assim, mas podemos afirmar que até certo ponto o Mundo do Desejo se compõe de força-matéria.
Embora seja certo que a matéria do Mundo do Desejo é um grau menos densa do que a matéria do Mundo Físico, não devemos absolutamente imaginar que tal matéria seja matéria física sutilizada. Essa ideia, muito embora defendida por alguns que estudaram as filosofias ocultas, é absolutamente errônea, e é causada principalmente pela dificuldade em dar-se descrições completas e claras, necessárias a uma perfeita compreensão dos Mundos superiores. Infelizmente nossa linguagem, feita para descrever as coisas materiais, é completamente inadequada para descrever as condições dos Reinos suprafísicos. Consequentemente, tudo o que se diz sobre esses Reinos deve ser tomado mais como semelhança do que como descrição exata.
Embora a montanha e a margarida, o ser humano, o cavalo e uma barra de ferro sejam compostos de uma única e final substância atômica, isto não quer significar que a margarida seja uma forma de ferro mais sutil. Semelhantemente, é impossível explicar com palavras a mudança ou diferença que ocorre na matéria física quando convertida em matéria de desejos. Se não houvesse tal diferença, a última estaria sujeita às leis do Mundo Físico, o que de fato não acontece.
A lei que rege a matéria da Região Química é a da inércia, ou seja, a tendência a permanecer em status quo. É necessária certa soma de força para vencer-se essa inércia e movimentar-se um Corpo em repouso, ou para deter-se outro que esteja em movimento. Tal não acontece com a matéria do Mundo do Desejo. Essa matéria em si própria é quase vivente. Está em movimento incessante, fluídico, tomando todas as formas imagináveis e inimagináveis, com inconcebível facilidade e rapidez, brilhando ao mesmo tempo com milhares de cores coruscantes, sem termo de comparação com qualquer coisa que conhecemos nesse estado físico de consciência. As irradiações iridescentes de uma concha de nácar[1] em movimento sob a luz do Sol dar-nos-iam talvez uma pálida ideia dessa matéria.
Isto é o Mundo do Desejo: luz e cor sempre cambiantes, onde as forças do animal e do ser humano se misturam com as forças de inumeráveis Hierarquias de seres espirituais que não aparecem no Mundo Físico, mas que são tão ativas no Mundo do Desejo como nós o somos aqui. De algumas delas falaremos mais adiante, assim como de sua relação com a evolução do ser humano.
As forças emitidas por essa vasta e variegada hoste de Seres modelam a matéria cambiante do Mundo do Desejo em formas inumeráveis e diferentes, de maior ou menor durabilidade consoante à energia cinética do impulso que lhes deu origem.
Como é difícil ao neófito que acaba de abrir os olhos internos encontrar seu equilíbrio no Mundo do Desejo. O Clarividente treinado logo deixa de se espantar com as descrições impossíveis fornecidas pelos médiuns. Esses podem ser perfeitamente honestos, mas as possibilidades de paralaxe e a dificuldade de conseguirem um foco perfeito de visão são tão grandes e de natureza tão sutil que seria surpreendente se pudessem apresentar uma descrição correta. Todos nós, na infância, tivemos que aprender a ver, conforme podemos comprovar observando um bebê: por ser totalmente incapaz de avaliar distâncias, ele tenta de igual modo alcançar objetos no outro lado da sala, na rua, ou na Lua. O cego que acaba de recuperar a visão, de início, muitas vezes, fecha os olhos para ir de um lugar a outro. E até que aprenda a usar seus olhos, é-lhe mais fácil guiar-se pelos outros sentidos do que pela visão. Da mesma forma aquele, cujos órgãos internos de percepção foram vivificados, deve se exercitar para usar com acerto a nova faculdade. A princípio o neófito tentará aplicar no Mundo do Desejo os conhecimentos derivados da sua experiência no Mundo Físico. Isso por não ter aprendido ainda as leis dos Mundos em que está penetrando, que é um manancial de toda espécie de perturbações e perplexidade. Portanto, antes que possa entender, deve se tornar como uma criança, que assimila o conhecimento sem se preocupar com experiências anteriores.
Para se chegar à compreensão exata do Mundo do Desejo é preciso compreender que esse é o Mundo dos Sentimentos, Desejos e Emoções, que estão sob o domínio de duas grandes forças: Atração e Repulsão. Essas forças atuam nas três regiões mais densas do Mundo do Desejo de modo diferente daquele em que agem nas três regiões mais sutis ou superiores. A Região Central pode ser chamada de neutra.
Essa Região Central é a Região do Sentimento. Aqui o interesse ou a indiferença por alguma ideia ou objeto produz o desequilíbrio em favor de uma ou outra das forças já mencionadas, relegando assim, o objeto ou ideia às três regiões superiores ou às três regiões inferiores do Mundo do Desejo, ou mesmo expulsando-as dali. Vejamos, agora, como isso se realiza.
Na substância mais fina e sutil das três regiões superiores do Mundo do Desejo só a Força de Atração atua, embora ela também se encontre presente em certo grau na matéria mais densa das três regiões inferiores, onde atua contra a força de Repulsão que ali domina. A desintegrante Força de Repulsão destruiria, de imediato, qualquer forma que entrasse nessas três regiões inferiores, não fora a ação neutralizadora daquela. Na região mais densa e mais inferior, onde é mais poderosa, a Força de Repulsão agita e dissolve violentamente as formas ali constituídas, ainda que não seja uma força vandálica. Nada é vandálico na Natureza. Tudo que assim parece trabalha apenas para o bem, o que sucede com essa força em sua ação na região mais inferior do Mundo do Desejo. As formas que ali se encontram são criações demoníacas, construídas pelas paixões e desejos mais brutais dos animais e do ser humano.
A tendência de todas as formas no Mundo do Desejo é atrair para si as de natureza semelhante, e consequentemente crescer. Se esta tendência para a atração fosse predominante nas regiões inferiores, o mal cresceria como o joio e, a anarquia, em vez da ordem, predominaria no Cosmos. Isso é evitado pela preponderante Força de Repulsão nessa Região. Quando uma forma criada por um desejo brutal é atraída para outra da mesma natureza, cada uma exerce sobre a semelhante um efeito desintegrante, produto da desarmonia existente nas respectivas vibrações. Assim, em vez de fundirem-se mal com mal, mutuamente eles se destroem, e desse modo o mal no mundo conserva-se dentro de limites razoáveis. Quando compreendemos o efeito destas duas forças gêmeas em ação, podemos também entender a máxima ocultista que diz: “uma mentira no Mundo do Desejo é, ao mesmo tempo, assassina e suicida”.
Tudo quanto sucede no Mundo Físico é refletido em todos os outros Reinos da Natureza e, como vimos, cria sua forma apropriada no Mundo do Desejo. Quando se descreve com exatidão um acontecimento, é construída no Mundo do Desejo uma forma exatamente igual à descrita. Uma atrai a outra, juntam-se e mutuamente se fortificam. Todavia, se for dada versão diferente ou falsa, produz-se uma forma diferente, contrária à primeira, ou seja, à verdadeira. Convergentes no mesmo assunto unem-se, mas como as vibrações são diferentes atuam uma sobre a outra de maneira mutuamente destruidora. Portanto, o mal e as mentiras maliciosas quanto mais fortes e amiúde repetidos podem destruir o que é bom. Contudo, pelo contrário, se buscarmos o bem no mal, com o tempo o mal acabará se transformando em bem. Se a forma que se constrói para diminuir o mal é fraca, não terá efeito algum e será destruída pela forma maligna; mas se é forte e repetida frequentemente, sua ação desintegrará o mal e substitui-lo-á pelo bem. Esse resultado, bem entendido, não se alcança lutando contra o mal, nem o negando ou mentindo, mas sim procurando o bem. O ocultista científico pratica rigidamente o princípio de procurar o bem em todas as coisas, por saber quanto poder tem esse princípio para reprimir o mal.
Conta-se algo de Cristo que ilustra esse ponto. Uma vez, caminhando com Seus Discípulos passaram pelo cadáver de um cachorro em estado de putrefação. Os Discípulos voltaram o rosto, comentando com aborrecimento o nauseante espetáculo, mas Cristo olhou o cadáver e disse: “As pérolas são menos alvas que seus dentes”. Ele estava determinado a encontrar o bem naquilo, pois sabia do benéfico efeito que produziria no Mundo do Desejo ao dar-lhe expressão.
A Região mais inferior do Mundo do Desejo é chamada “Região da Paixão e do Desejo Sensual”. A segunda subdivisão é mais bem descrita por “Região da Impressionabilidade”. Aqui o efeito das forças gêmeas (Atração e Repulsão) é bem equilibrado. Essa é uma região neutra, daí todas as nossas impressões, formadas por matéria dessa região, serem também neutras. Somente quando os sentimentos gêmeos da quarta Região entram em ação, é que as forças gêmeas começam a atuar. A mera impressão de alguma coisa em si ou de si mesmo é inteiramente separada do sentimento gerado. Tais impressões são neutras e constituem uma atividade da segunda Região do Mundo do Desejo, onde as imagens se formam pelas forças de percepção sensorial do Corpo Vital do ser humano.
Na terceira Região do Mundo do Desejo a Força de Atração, integrante e construtiva, sobrepõe-se à tendência destruidora da Força de Repulsão. Se compreendermos que a mola, o motivo da Força de Repulsão é a afirmação de si mesma, pelo que repele todas as demais, podemos entender por que a substância da terceira Região do Mundo do Desejo, dominada principalmente pela Força de Atração, abre caminho aos desejos de outras coisas, mas de uma maneira egoísta. Por isso é chamada “Região dos Desejos”.
A Região da Paixão e do Desejo Sensual pode se comparar aos sólidos do Mundo Físico; a Região da Impressionabilidade aos fluidos e a Região dos Desejos, de natureza flutuante e evanescente, pode comparar-se à parte gasosa do Mundo Físico. Estas três regiões proporcionam, às formas, a substância necessária à experiência, ao crescimento anímico e à evolução, purificando-as completamente e retendo os materiais que podem ser utilizados para o progresso.
A quarta Região do Mundo do Desejo é a “Região do Sentimento”. Dela surgem os sentimentos relativos às formas já descritas e, dos sentimentos por elas gerados, depende a vida que terão e, também, o efeito que exercerão sobre nós. Nesse estágio não importa que os objetos ou ideias sejam bons ou maus. Nosso sentimento, seja de Interesse seja de Indiferença, é aqui o fator determinante do destino do objeto ou da ideia.
Se o sentimento produzido pela impressão de um objeto ou de uma ideia é de Interesse, tal sentimento tem sobre essa impressão o mesmo efeito que a luz solar e o ar sobre a planta. Tal ideia crescerá e florescerá em nossas vidas. Se, ao contrário, o sentimento produzido por uma impressão é de Indiferença, essa impressão murchará como uma planta posta em sótão escuro.
Assim, dessa Região Central do Mundo do Desejo vem o incentivo para a ação ou a deliberação para refreá-la (ainda que essa última seja também uma ação aos olhos do ocultista cientista), pois em nosso presente estágio de desenvolvimento, os sentimentos gêmeos Interesse e Indiferença proporcionam o incentivo para a ação e são as molas que movem o mundo. Em estágio ulterior de desenvolvimento esses sentimentos deixarão de ter importância. Então, o fator determinante será o dever.
O Interesse desperta as Forças de Atração ou as de Repulsão.
A Indiferença simplesmente enfraquece o objeto ou ideia aos quais se endereça, pelo menos no que tange à nossa ligação com ele.
Se nosso interesse por um objeto ou ideia gera a Repulsão, isso naturalmente leva-nos a cortar, de nossas vidas, qualquer conexão com esse objeto ou ideia que a despertou. Contudo, existe uma grande diferença entre a ação da Força de Repulsão e o simples sentimento de Indiferença. Talvez uma ilustração torne mais clara a atuação dos sentimentos gêmeos e das Forças gêmeas.
Suponhamos que três homens vão por um caminho e encontram um cachorro doente, coberto de chagas, sofrendo intensamente com dores e sede. É uma evidência para os três homens – os seus sentidos assim o dizem. Agora, vem o sentimento. Dois desses homens têm “interesse” pelo animal, mas no terceiro produz-se um sentimento de “indiferença”. Esse se afasta deixando o cão entregue ao seu destino. Os outros dois detêm-se: ambos estão interessados, mas cada um se manifesta de maneira bastante diferente. O interesse de um homem lhe desperta a simpatia e o desejo de socorrer, impelindo-o a ajudar o pobre animal, a lhe mitigar a dor, a curá-lo. Nele o sentimento de Interesse despertou a Força de Atração. O Interesse do outro homem é de natureza diferente: ele vê apenas um espetáculo repugnante que lhe provoca náuseas, dele desejando livrar-se e ao mundo o mais rapidamente possível. Aconselha, pois que matem o animal e o enterrem. Nesse o Interesse gera a força destrutiva da Repulsão.
Quando o sentimento de Interesse desperta a Força de Atração e é dirigido para objetos e desejos inferiores, estes atuam nas regiões inferiores do Mundo do Desejo, onde a Força de Repulsão neutralizante se manifesta do modo já indicado. A luta travada entre essas duas forças gêmeas – Atração e Repulsão – produz todas as dores e sofrimentos resultantes das ações errôneas e dos esforços mal orientados, sejam ou não intencionais.
Por conseguinte, bem podemos ver quanto é importante o nosso sentimento em relação às coisas, porque dele depende a natureza do ambiente que criamos para nós mesmos. Se amarmos o bem, resguardaremos e alimentaremos tudo o que é bom em volta de nós quais anjos da guarda. Se fizermos o contrário povoaremos nosso caminho de demônios, criados por nós mesmos.
Os nomes das três Regiões Superiores do Mundo do Desejo são: “Região da Vida Anímica”, “Região da Luz Anímica” e “Região do Poder Anímico”. Nestas regiões habitam a Arte, o Altruísmo, a Filantropia e todas as atividades superiores da vida anímica. Quando pensamos nessas regiões como irradiando sobre as formas das regiões inferiores as qualidades indicadas pelos seus nomes, podemos compreender de forma exata as atividades superiores e inferiores. Não obstante, o poder anímico pode ser empregado durante algum tempo com propósitos maléficos, assim como pode ser empregado para o bem. Contudo, finalmente a Força de Repulsão destrói o vício, e sobre as desoladas ruínas, a Força de Atração edifica a virtude. Todas as coisas, em última análise, trabalham em conjunto para o bem.
O Mundo Físico e o Mundo do Desejo não são separados um do outro pelo espaço. Estão “mais próximos do que as mãos e os pés”. Não é necessário deslocar-se para ir de um a outro, nem para ir de uma região a outra que lhe seja próxima. Assim como em nosso Corpo se encontram os sólidos, os líquidos e os gases, interpenetrando-se uns aos outros, assim também estão as diferentes Regiões do Mundo do Desejo dentro de nós. Podemos, outra vez, comparar as linhas de força pelas quais os cristais de gelo se formam na água com as causas invisíveis originárias do Mundo do Desejo, as quais aparecem no Mundo Físico e dão-nos incentivo para agir em qualquer direção.
O Mundo do Desejo, com seus inúmeros habitantes, compenetra o Mundo Físico como as linhas de força compenetram a água – invisível, mas presente e potente em toda parte como “causa” de tudo no Mundo Físico.
[1] N.R.: Madrepérola ou nácar é uma substância, dura, irisada, rica em calcário, produzida por alguns moluscos, no interior de sua concha.