Janeiro de 1919
Parece apropriado iniciar nossa correspondência para 1919 desejando a você um Feliz e Próspero Ano Novo. Mas, como diz o provérbio: “Se querer fosse poder”. É necessário algo mais para garantir o êxito e a felicidade do que meros desejos e, talvez, os meus possam resultar em melhores frutos se eu explicar a você a Lei do Êxito.
Os Estudantes Rosacruzes estão familiarizados com o fato de que não existe “sorte” e estão bem de acordo com Mefistófeles em Fausto quando diz:
O quão intimamente a sorte está ligada ao mérito,
Nunca ocorre ao tolo.
Eu juro, ele tinha a pedra do sábio,
Não tinha a Pedra Filosofal.
Porém, aqui uma pergunta surgirá imediatamente à Mente de muitos: “É possível reduzir o êxito a uma lei?”
Sim, existe uma Lei do Êxito, tão certa e imutável como qualquer outras das grandes Leis Cósmicas. E, embora eu deva aplicá-la somente aos assuntos espirituais, certamente, não posso ocultar de vocês que ela também trará certa prosperidade nos assuntos materiais. Mas antes de aplicá-la nessa direção, considere cuidadosamente que, ao fazer isso implicará suicídio espiritual, pois “não podeis servir a Deus e a Mamon”[1]. É preferível que “buscai primeiro o Reino de Deus e Sua justiça; e todas as outras coisas vos serão dadas por acréscimo”[2]. Eu posso dar testemunho da veracidade dessa promessa, por estar vivendo-a há muitos anos.
Portanto, a Lei do Êxito pode ser enunciada da seguinte forma:
Primeiro, determine e defina claramente o que você deseja – desenvolvimento do poder de cura, aumento da visão espiritual, ser um Auxiliar Invisível, possuir a habilidade em se comunicar e disseminar a mensagem Rosacruz a outras pessoas, etc.
Segundo, ao estabelecer a sua meta, jamais admita, nem por uma momento, um pensamento de medo ou de fracasso, mas cultive uma atitude de determinação invencível para realizar seu objetivo, apesar de todos os obstáculos. Mantenha constantemente o pensamento: “Eu posso e farei”.
Não comece a fazer planos sobre como alcançar tal meta até que tenha adquirido o estado de absoluta confiança em si mesmo e na capacidade de fazer o que almeja, porque uma Mente influenciável pelo mais leve temor de fracasso não pode fazer planos que terão pleno êxito. Portanto, seja paciente e se certifique primeiro de cultivar uma fé absoluta em si mesmo e na sua capacidade de obter êxito, apesar de todas as adversidades.
Quando você atingir esse ponto, no qual estará totalmente convencido de que poderá ter êxito e positivamente determinado no sucesso da sua busca, não haverá poder na terra ou no céu que poderá resistir a você nesse desenvolvimento em particular; e você poderá, então, planejar como irá alcançar o desejo do seu coração com certeza de êxito.
Espero que você aplique essa lei fervorosamente na realização pelo crescimento da alma, não apenas durante o próximo ano, mas em todos os anos futuros.
(Carta nº 97 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Mt 6:24
[2] N.T.: Mt 6:33
Nossos Mestres Planetários, incluindo o Sol e a Lua
Ao treinar suas crianças (os da onda de vida humana), nosso Criador colocou-as sob os cuidados de sete Mestres, cuja missão é aplicar as leis governando o universo, cuidando para que todo ser humano viva, seguindo-as. Os Planetas são os corpos visíveis desses grandes mestres, ao redor do Trono de Deus ministrando à humanidade sob sua direção suprema. Irradiam-nos influências conforme as merecemos. Não há mal algum no bom universo de Deus. O que assim parece-nos é devido à nossa percepção imperfeita.
Todas as coisas da natureza tendem a um movimento progressivo, para o alto e para a frente, culminando num afastado “Evento Divino”, conforme planejado pelo originador. Um exame do simbolismo dos Planetas e seus mútuos aspectos (a cruz, o quadrado, o compasso, o círculo, o semicírculo) nos revelarão grandes lições quanto à missão dos Planetas relativamente à humanidade. Os Espíritos Planetários lidam com a humanidade através de seus embaixadores; estudaremos resumidamente suas finalidades.
O Sol é o centro e o coração do inteiro sistema, portanto, é análogo ao coração humano. Seu embaixador para a Terra é o Arcanjo Miguel. Seu símbolo é o círculo, sinal do espírito, indicando nossa natureza essencial. Sua palavra-chave é Vida, e sua missão para o ser humano é proporcionar-lhe individualidade, lembrá-lo de sua ancestral realeza, sua descendência divina, e torná-lo consciente de seus poderes adormecidos, aguardando o toque do mestre a despertá-los para a vida. Ele cria a consciência “EU” e torna-nos donos de nós mesmos e do mundo externo.
O segundo na ordem desde o centro é o belo Mercúrio, tão próximo do Sol que diz estar no colo do Pai. É o Mensageiro dos Deuses, e seu embaixador para a Terra é o Arcanjo Rafael. Seu símbolo é o círculo do espírito com o sinal da alma, um semicírculo em cima, e o sinal da matéria, uma cruz, embaixo. Sua influência é da maior potência na atual fase da evolução humana, como se vê de sua palavra-chave Razão. Sua missão é cultivar no ser humano essa faculdade e assim ampará-lo a emancipar-se dos grilhões da matéria, sob os quais está debatendo-se agora; é ajudá-lo a reunir conhecimento e ganhar crescimento anímico pela observação, evitando, assim, experiências penosas. Desenrola-nos as maravilhas da natureza e de nós mesmos e entrega-nos a chave do armazém da sabedoria do mundo. Ele inicia seus pupilos fiéis nos ensinamentos arcanos sublimes, e treina-nos no cultivo da omnisciência escondida em nós.
Na sequência temos a bela Vênus, cujo embaixador para a Terra é o Arcanjo Anael. O símbolo dela é o do espírito (círculo) sobrepondo-se à matéria (cruz), indicando assim a conquista do evanescente por parte do eterno. É chamada a Deusa do Amor, sua suave influência desperta-nos para a realização da ligação unificadora entre todos os membros da humana família, estejam em quais relacionamentos estiverem. Com laços de seda ela prende homem com homem, e homem com mulher, em traços afetivos. Sua palavra-chave é, portanto, Coalizão. Ela acende e mantém dentro do coração humano o amor que vive querendo servir e aliviar os sofrimentos humanos pela harmonia, beleza e música.
O dominador Marte envia seu raio de fogo desde além da órbita de nossa Terra, tendo-nos dado o fogo e o ferro. Sem ele a humanidade careceria de empreendimento e energia vitoriosa. O orgulho dominante que não se detém diante de obstáculos, e as forças ousadas e batalhadoras construtivas, continuamente realizando tarefas de progresso, devem seu nascer à interferência dos espíritos Lucíferes habitantes de Marte. Seu embaixador é o Arcanjo Samael. O símbolo de Marte é a cruz sobre o espírito, indicativo da sujeição ao chamado da natureza superior, do espírito egoísta, autoafirmativo, do Ego inferior. A palavra-chave é Energia. Ele desperta no ser humano as paixões inferiores: desejos, ira, orgulho e egoísmo, mas contribui para o instinto criador do ser humano.
Circulando em sua órbita, além de Marte está o gigante Júpiter, o dador de presentes, e o Deus favorito de toda humanidade. Seu embaixador é o Arcanjo Zacariel, e seu símbolo é o sinal da alma (semicírculo) sobre a cruz da Matéria mostrando a essência sublimada extraída da experiência na escola da vida. Sua palavra-chave é Expansão. Ele inclina o ser humano a altos ideais, nobreza de caráter, filosofia e religião. É o espírito do otimismo, opulência e generosidade.
Sob seu raio beneficente a humanidade vive em abundância, mas Júpiter é também um refinador. Castiga suas crianças para que sejam mais merecedoras de sua benevolência. Esse aspecto de Júpiter está bem ilustrado por Shakespeare, o grande iniciado-poeta e mestre astrólogo, em seu drama místico Cymbeline. Leonatus Posthumus, condenado a morrer no dia seguinte, dorme em sua cela. Sonha que o Deus Júpiter desce montado numa águia e coloca uma placa em seu peito. Ele ouve uma conversação entre o Deus e seus finados pais, e, em resposta à súplica dos pais no sentido de que fosse libertado o filho querido deles, o Deus responde:
“Quem eu mais amo, puno como dádiva,
Quanto mais tarda, mais deleita.
Estejam contentes;
Vosso abatido filho será erguido pela nossa divindade,
Seus confortos em prosperidade, suas provas bem aproveitadas,
Nossa estrela jovial reinava ao nascer dele”.
O Júpiter é também chamado o Trovejador pela mitologia grega. Com seu potente martelo força a natureza inferior para refinadas formas de amor e compaixão.
O assustador (aparentemente) Saturno, ou Satã das escrituras, o poderoso ministro da justiça de Deus, paira com ampulheta e foice. Com rigorosa justiça, seu toque de piedade, pontual, ceifa altos e baixos, bons e maus, quando cada um tiver gastado sua areia. É chamado Velha Dama e seu embaixador para a Terra é o Arcanjo Cassiel. É simbolizado pela cruz sobre o semicírculo mostrando as limitações por ele impostas sobre a aspiração humana. Sua palavra-chave é Contração. Toda demora, desapontamentos e derrotas devem ser atribuídas a seu raio. Contudo, detenham-se de maldizê-lo. No livro de Judas, o Anjo Miguel quando tentado a repreender Satã, declara ser ele um poderoso ministro de Deus sendo-lhe devida reverência.
Na imortal obra-prima de Goethe, Fausto, Mefistófeles, a encarnação humana de Satã, declara-se espírito de negação, que embora planejando o mal executa, contudo, o bem. Essa é uma ilustração apropriada de seu caráter. A missão de Satã é pôr obstáculos no caminho da humanidade, a qual, sob a benéfica influência dos outros astros viveria em conforto e luxo, não se aplicando ao cumprimento de suas particulares missões na vida, que são experiências e crescimento anímico. Saturno é o freio da roda suave da vida. Alterando a metáfora, seu chicote desperta o ser humano para o dever, para a verificação das necessidades de seus semelhantes, da natureza evanescente de toda riqueza e glória terrenas. Ele é o amigo dos que renunciam ao mundo. Por suas tendências obstrutivas, ensina-nos: mentalmente – concentração, cautela, previsão e diplomacia; moralmente – autocontrole e castidade; fisicamente – método, ordem e sistema.
Nosso satélite Lua circula-nos próxima e os raios dos já mencionados Planetas hão de por ela passar para chegarem ao nosso contato. Portanto, a Rainha da Noite é o Astro da fecundação. Ela fertiliza, pela geração, as influências benéficas ou maléficas irradiadas pelos deuses superiores. Portanto, sua missão é de grande importância, e a posição por ela ocupada num horóscopo deve ser bem revelada. Seu embaixador é o Anjo Gabriel, cuja missão mencionada nas Escrituras é anunciar o nascimento de Espíritos no plano terrestre. Sua palavra-chave é Fecundação, ela governa a concepção, gestação e nascimento. Todas as funções femininas estão sob sua lei.
Os sete Planetas (considerando-se a Lua) já estudados relacionam-se com o crescimento do ser humano e sua perfeição na escola da vida. São nossos mestres que moldam nosso caráter para conformá-lo aos requisitos das leis evolutivas. O mundo é um enorme disco de polir pelo qual o diamante bruto, o ser humano não desenvolvido, é multifacetado e polido para assim dar brilho em sua glória, irradiando cores belas de seu coração ardente.
Mas após um longo período de submissão às forças externas, ao Espírito do ser humano, escolado e polido em renascimentos sucessivos, aparece-lhe um Mestre superior aos antes conhecidos: seu nome é Urano e seu embaixador para a Terra é o Arcanjo Ituriel. Urano é chamado o Despertador. Seu símbolo é o sinal da alma dupla, juntas por laço indicando a comunhão de Espíritos, que é sua alta missão concretizar. Sua palavra-chave é Altruísmo, o amor altruísta, acima do sexo — amor que é sacrifício, expiação e autoimolação em favor dos outros; amor que dá pelo prazer de dar e sofre pelo bem do semelhante. Urano desperta o Espírito adormecido para a conscientização de sua origem de realeza, nele instila o “Descontentamento Divino”, solicitando-lhe a nova aspiração e empreendimento; depois disso a duração da escravidão para o Ego terminou. Desde a infância espiritual sob a guia de professores, brotou o espírito para “Estado Adulto” espiritual. Não mais está agrilhoado por leis, mas é uma lei em si. Saturno é quem dá as leis, e Urano é mencionado como pai dele. Sob a influência de Urano o ser humano se ressente de toda restrição, hábitos, regras, regulamentos, proporcionados sob o regime de Saturno. Ele torna o ser humano consciente de seu Ego imortal divino. Mostra ser o indivíduo um eterno escolhedor, que dentro dele está a prerrogativa divina, o livre arbítrio, e que nada na natureza pode acorrentá-lo, obstruí-lo ou limitá-lo
Ella Wheeler Wilcox descreve esse estado nos bonitos versos:
“Não há Planeta, Sol ou Lua, fraco
Ou Signo zodiacal que possa controlar
o Deus em nós. Se nos utilizarmos disso
sobre os eventos, os amoldaremos segundo nossa vontade”.
Urano, portanto, é nosso amigo que nos guia da servidão da matéria para a liberdade do espírito; guia-nos do jardim da infância de Deus, a Terra, dando-nos admissão à universidade do universo; guia-nos de sermos os pupilos obedientes de Deus para amigos e iguais. As forças sublimes do Espírito Humano que realizam essas maravilhas são amor e altruísmo. Urano representa o princípio Cristão dentro de nós. Ele é o iniciador do ser humano para o de “ser super-humano”, Mestre e Adepto.
Isto, em resumo, é o papel de nossos mestres planetários, embora em sua atual ignorância, a humanidade não se dá conta das infinitas capacidades latentes em desenvolvimentos à espera. Bom pode o poeta, desperto à sublime consciência de tais capacidades, declamar:
“Senhor de mil mundos sou Eu,
E reino desde o começo dos tempos;
E noite e dia em ciclos passarão
Enquanto Eu assimilo seus feitos,
E o tempo cessará antes que eu encontre libertação,
Pois, Eu sou a Alma do Homem”.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – nov/dez/88)
O Significado Esotérico de Fausto
Comecemos pelo autor: em 28 de agosto de 1749, nasce em Frankfurt, Alemanha, aquele que é considerado universalmente um dos maiores vultos da literatura de todos os tempos: JOHANN WOLFGANG VON GOETHE. Seu pai era um advogado bem-sucedido e sua mãe filha do prefeito de Frankfurt. Após uma infância e adolescência dedicada ao estudo de Bíblia, dos clássicos, de italiano, hebraico, inglês e música, Goethe, em 1765, passou a estudar Direito na Universidade de Leipzig, tendo completado o curso em 1771, em Estrasburgo. Nessa época começou a sua brilhante carreira, escrevendo peças teatrais, sendo que Werther foi seu primeiro grande sucesso.
Em 1775, já bastante conhecido, transferiu-se para a corte de Weimar, onde permaneceria até o fim de seus dias. Lá teve a oportunidade de elaborar trabalhos maravilhosos tais como Ifigênia em Táurida, Torquato Tasso, Egmont, etc. Mas, a obra máxima de sua vida foi Fausto, iniciada em 1774, tendo sua primeira parte sido publicada em 1808. Em 1824 Goethe voltou a trabalhar na segunda parte de Fausto, cuja íntegra completou-se em 1832.
Goethe era um classicista na mais lídima expressão da palavra. Dedicou-se às letras, ao teatro e à investigação científica. Sua magnífica obra literária inspirou dois grandes movimentos estéticos em sua terra natal e em vários países da Europa. Tanto Werther como Gotz inauguraram um movimento literário conhecido como Sturm und Drang (Tempestade e Tensão).
Em suas obras encontramos uma grande preocupação em transmitir aos leitores o otimismo, a esperança, a fé, a crença na vida e que o esforço humano tem um significado. Sua literatura é eminentemente universalista, ultrapassando os problemas nacionais e pessoais. As obras de Goethe não dizem respeito a um povo ou época em particular, mas, representam os anseios do ser humano de um modo geral.
Não só no mundo das letras viveu Goethe. Seu interesse abrangeu também a ciência, particularmente à anatomia. Em 1784 descobriu a existência, no ser humano, de um osso intermaxilar, em forma rudimentar, contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento das teorias evolucionistas. Fez também estudos interessantes no campo da Botânica e da Ótica.
A figura de Goethe aproxima-se, mais do que qualquer outro ser humano, daquele ideal clássico de perfeição, por identificar-se com a razão, a lógica, com a luz, e não com os instintos, com os arrebatamentos irracionais, com as contradições e os extremos. Foi um exemplo vivo de equilíbrio, lucidez, cultura, amor ao próximo. Os ensinamentos esotéricos referem-se a Goethe como um iniciado. Veio a desencarnar em 1832, pouco depois de completar Fausto.
Fausto é uma obra de conteúdo profundamente humano, onde de tudo se encontra um pouco. Nela sobressai desde o raciocínio filosófico mais profundo até o sentimento mais delicado que possa fazer vibrar a alma. Fausto surgiu de uma longa meditação, muitas vezes interrompida e reencetada. Foram quase sessenta anos com novas ideias se sucedendo no retratar multivariado de psicologias, tipos, ambientes, através da magia do verso.
Em Fausto não só despontam os conflitos entre os personagens como ponto principal do enredo, mas também uma comovente preocupação com a natureza, um desejo incontido de devassá-la. Assim, Goethe descreve montanhas, vales, penhascos, o céu e a terra indevassáveis aos seres humanos.
A influência de Goethe na Alemanha de seu tempo foi imensa e acabou se alastrando para outros países principalmente devido à excelência de Fausto. O povo alemão amava as obras desse grande poeta. Diz-se que “os jovens as declamavam e aos domingos desciam das montanhas com as canções de Goethe nos lábios e o amor de Margarida no coração”.
Castilho e Ornelas são os autores das traduções de Fausto mais conhecidas na língua portuguesa e embora nem sempre se mantenham coerentes com o texto original no idioma alemão.
Há centenas de edições de Fausto em todas as línguas. O poema vem empolgando a humanidade desde a sua primeira aparição. Goethe iniciou O primeiro Fausto em 1774 e só o terminou em 1806. O segundo Fausto é obra da idade madura, terminado em 1832. A figura lendária do Dr. Fausto perde-se no tempo e foi objeto de outras obras de menor expressão. Essa obra tem um conteúdo profundamente humano, como já afirmamos no início, mas o que lhe confere dignidade e grandeza é justamente sua natureza mística.
Segundo alguns comentaristas, Goethe, na elaboração da obra, modificou profundamente o teor das lendas que envolvem a figura do doutor Fausto, mago astrólogo e quiromante do século XVI.
Muita gente conhece Fausto através da ópera de Gounod. Porém, nessa peça musical, a estória de Fausto parece ter um enredo muito folhetinesco e maniqueísta, próprio para filmes ou telenovelas. Um homem sensual atraiçoa uma donzela ingênua e à abandona posteriormente deixando-a à mercê das funestas consequências do seu excesso de confiança. A magia e bruxaria de algumas cenas conferem mais intensa emotividade ao drama. Quando Fausto é conduzido aos infernos por Mefistófeles, e Margarida ascende aos céus nas asas angelicais, para muitos essa é a moral mais conveniente para concluir dignamente a obra. Isso, é correto para aqueles poucos afeitos ao significado esotérico do poema. Entretanto, para quem estuda a obra em sua verdadeira essência, é inegável que o significado é bem diferente: Fausto é um mito tão antigo como a humanidade e aborda a luta entre a Maçonaria e o Catolicismo.
Como já dissemos, Fausto é um mito, e, como tal, contém uma gama de símbolos velados de importantes verdades cósmicas. O mito de Fausto descreve a evolução da humanidade na época presente, ensinando como os filhos de Caim e os filhos de Seth desempenham seu trabalho na obra do mundo.
Quando Pitágoras menciona a “Música das Esferas” não alude simplesmente a uma fantasia. Trata-se de uma realidade. O cosmos mantém-se graças a essa harmonia universal. Mas, a harmonia constante é desagradável, tornando a música monótona e desprovida de encanto. Isso realmente ocorreria se a intervalos não houvesse uma dissonância. Com a “Harmonia das Esferas” sucede o mesmo.
A chamada “Queda do Homem” foi uma nota dissonante ocorrida em nosso esquema de evolução, um desvio da linha de progresso prevista originalmente. Os Lucíferos, os Anjos caídos, provocaram a Queda e todos os sofrimentos consequentes, mas dê uma certa forma tornaram-se, também, responsáveis pela nossa evolução. Nunca chegaríamos à individualidade sem a discórdia divina. No livro de Jó, Satã é designado como um dos filhos de Deus. Lúcifer foi o emissor da nota dissonante. As experiências são muito mais significativas que os ensinamentos meramente teóricos. É necessário a escuridão para percebermos a existência da luz. A guerra com toda a sua carga de sofrimentos é que nos ensina o valor da paz. Deus também cresce. Nele nos movemos, vivemos e temos o nosso ser, a nota dissonante emitida por Lúcifer, Ele também ressoa.
Fausto representa a alma que procura o significado da vida e da evolução seguindo o caminho positivo do conhecimento e da ação. É um verdadeiro filho de Caim, decidido e voluntarioso. Margarida, ao contrário, é uma filha da água, discípula dos filhos de Seth quando trilha o caminho da fé e da devoção.
Fausto era um homem essencialmente bom. Idealista, pesquisador, aspirava atingir os píncaros da espiritualidade, mas faltava-lhe vivência. Desejava ardorosamente o crescimento anímico, porém, nessa busca cometeu o equívoco de começar de cima. Pretendia chegar à iniciação apenas pela aquisição de conhecimento, fazendo uso daquilo que apenas superficialmente logrou obter.
Nessa ânsia Incontida, começou por abordar o Ser Supremo, o Macrocosmos. Fracassou. Depois invocou o Espírito da Terra, sendo pelo mesmo repelido. Ainda não estava preparado além do que deveria começar de baixo principiando pelo degrau inferior. É um árduo trabalho cujo êxito depende de muita paciência e perseverança, Fausto não se encontrava no caminho natural da iniciação, razão porque não conseguiu conquistar a admiração dos Mestres Espirituais.
Toda uma vida dedicada ao estudo não pôde proporcionar a Fausto nenhum conhecimento verdadeiro. As fontes de sabedoria convencionais são insuficientes para conduzir o indivíduo à realização espiritual. Como afirma Max Heindel, “o homem de ciência quanto mais investigar a matéria tanto mais deparará com mistérios em seu caminho. Por fim ver-se-á forçado a renunciar às suas investigações ou a crer em Deus como um Espírito, cuja Vida penetra cada átomo da matéria”. Fausto chegou a este ponto. Afirmou não trabalhar por riquezas ou honrarias mundanas. Lutou por amor da investigação, chegando a ponto de perceber que o mundo espiritual rodeia a todos. Por meio deste mundo, pela magia, aspira agora à um conhecimento superior àquele contido nos livros.
Para adquirirmos conhecimentos elevados primeiramente é necessário assimilarmos aqueles mais rudimentares. Na escala da evolução sobe-se degrau por degrau. Fausto erroneamente começou pelo degrau mais alto, invocando o Espírito da Terra. E, ao lhe pronunciar o nome abriu sua consciência à essa presença que tudo interpenetra. Acabou saindo repelido porque sua atitude revelava uma incrível impaciência além do que aquela porta não era para lhe ser aberta, pelo menos naquele estágio de seu desenvolvimento.
Essa frustração terrível esmagou Fausto a ponto de conduzi-lo ao desespero. Ante a perspectiva de uma existência material comum decide recorrer ao suicídio. Era a manhã de Páscoa e os sinos repicam anunciando a Ressurreição. Fausto, sensibilizado, desiste de seu propósito.
Apesar de toda sua erudição, Fausto ainda era carente de amadurecimento. Em seu interior travava-se uma encarniçada luta entre as naturezas superior e inferior, com os equívocos se sucedendo. Só mesmo as duras experiências podariam abrir-lhe as luzes de um novo caminho. É assim mesmo. Enquanto damos um caráter mundano às nossas vidas vivemos em paz. Mas, quando sentimos o chamamento do Espírito a paz desaparece. Fausto, equivocadamente, crê que alguns espíritos podem lhe conceder o poder da alma, sem imaginar que isso representa uma conquista individual. Nesse afã de recorrer a outrem está fadado ao desengano. À autoconfiança é uma das chaves do desenvolvimento, pois a ninguém que alimente esse objetivo, é lícito apoiar-se em mestres.
Fausto tão ansioso estava que acabou atraindo um espírito indesejável: Lúcifer. Há uma diferença capital entre as pessoas que casualmente entram em contato com os habitantes dos mundos suprafísicos e aqueles que investigam diligentemente, e vivem a vida até chegarem a uma consciente iniciação nos segredos da natureza. Os primeiros não sabem como empregar inteligentemente esse poder, transformando-se em joguetes de qualquer um. Os últimos, pelo contrário, dominam sempre as forças que manejam.
Fausto atrai Mefistófeles, um espírito luciférico. Este descreve quadros maravilhosos da vida, excitando a imaginação de seu interlocutor. Fausto decide celebrar um pacto com ele. Aqui na terra Mefistófeles servi-lo-á, satisfazendo-lhe os desejos. Mas, quando sentir-se realizado alcançando a plenitude as coisas se inverterão, isto é, quando se encontrarem no além, Fausto será o servo.
Mefistófeles exige de Fausto a assinatura do pacto com sangue. Esse quadro contém um profundo ensinamento oculto. Fausto quer saber qual a razão dessa exigência e Mefistófeles responde astutamente: “O sangue é a mais peculiar das essências”.
O ferro é um metal regido por Marte. A combinação desse elemento com o sangue torna possível à oxidação. O espírito só consegue manter-se no corpo através do sangue a uma determinada temperatura. Nos estados febris muito intensos a pessoa acaba delirando porquanto a temperatura do sangue eleva-se em demasia perturbando a ação do espírito. O sangue é um elemento muito utilizado nas operações de magia. Quem domina essa essência de uma pessoa, possui um forte laço de união com a mesma. Lúcifer exigiu a assinatura com sangue para manter Fausto cativo e impossibilitado de fugir ao compromisso.
Em toda sua ansiedade de adquirir poder rápida e facilmente, Fausto recorre a forças externas, chegando deste modo, a um ponto crítico. O poder da alma é uma conquista individual e interna através de uma paciente persistência em fazer o bem. Fausto não entende assim, recorrendo, equivocadamente, a falsos mestres. Estes, não vacilam em barganhar com suas vítimas, satisfazendo-lhes os desejos mais inferiores. Logicamente, acabam por cobrar de alguma forma essa “ajuda”. Lúcifer também se oferece a servir Fausto, mas estabelece uma terrível condição.
Com o auxílio de Lúcifer, Fausto conhece os extremos da paixão humana. A dor e o prazer, a alegria e a tristeza, o amor e o ódio, ensinam-lhe tudo o que os livros e as longas meditações não puderam oferecer-lhe durante muitos anos. Vivendo a vida intensamente logrou passar por uma infinidade de experiências que lhe excitaram e fustigaram a alma.
Isso tudo, porém, trouxe benefícios. É importante lembrar que à intervenção dos Lucíferos no esquema de evolução da nossa onda de vida, se por um lado causou todos os pesares e sofrimentos do mundo, por outro despertou à individualidade humana. O ser humano, dessa maneira, libertou-se da tutela dos Anjos, procurando, apesar de todos os percalços, trilhar o seu próprio caminho. Fausto, igualmente, com a ajuda de Lúcifer é levado a percorrer caminhos não-convencionais e deste modo se individualiza.
Fausto é um “filho do fogo”, guiado pela mente e pela ação. No pacto que celebra com Lúcifer encontramos uma réplica da lenda maçônica, onde os protagonistas são os “filhos de Caim” — pupilos e descendentes de Lúcifer — e os “filhos de Seth” ou “filhos de água” — a casta sacerdotal — representados por Margarida. Chega, pois, o tempo em que o confronto entre esses dois tipos de humanidade, ali representados por Fausto e Margarida, se tornaria inevitável.
Fausto observa Margarida na rua e, de imediato, vê-se tomado de intensa paixão por aquela meiga donzela, Lúcifer conduz Fausto ao laboratório de magia onde beberá do elixir da juventude, para que, rejuvenescido, seja desejável aos olhos de Margarida.
Algum dia a alma aspirante terá de entrar no laboratório de magia a exemplo da Fausto. Então, ficará só para encontrar-se com Margarida no jardim, para tentar e ser tentado, para escolher entre a pureza e a paixão, para fraquejar como Fausto ou tornar-se campeão da pureza como Parsifal, na famosa lenda musicada por Wagner.
Fausto insiste com Mefistófeles para que este facilite seu acesso aos aposentos de Margarida. Para conquistar seu afeto uma rica joia é introduzida sorrateiramente naquele local. O irmão de Margarida está ausente, combatendo pela pátria. A mãe de Margarida leva à joia à igreja para que o sacerdote a aconselhe que destino lhe dar. Este é daqueles que apreciam mais as riquezas do que as almas confiadas aos seus cuidados.
Para chegar até aos aposentos de Margarida, Fausto a induz a oferecer uma poção sonífera à sua mãe. Acontece que a poção causa sua morte. Margarida é responsabilizada pelo crime e condenada à morte.
Os Lucíferos — os Anjos caídos necessitam de sensações e emoções intensas para evoluir. Para tanto, excitam ao máximo as paixões humanas mais baixas, impelindo os seres humanos ao derramamento de sangue, aos conflitos. São, aparentemente, verdadeiros demônios. Na realidade constituem decisivos fatores da evolução humana pelas experiências que ensejam. Sob a ação luciférica a pura e delicada Margarida veio a conhecer o pecado. A consequência dessa transgressão foi funesta, mas a inocência deu lugar à virtude. Virtude de quem sabendo pela experiência distinguir o bem do mal, optou pelo bem.
Margarida é um exemplo de como os filhos de Seth têm um caráter negativo, sofrendo as consequências de seus erros. “O salário do pecado é a morte”. Margarida foi recolhida à prisão por crime de matricídio, pois a Lei, inexorável tem que ser cumprida.
A meiga donzela encontra-se privada de toda a ajuda terrena. Mas, por essa mesma razão nunca esteve tão próxima de Deus. Entretanto, apesar de sua devoção e contínuas preces a tentação ainda a ronda. Fausto e Lúcifer tentam tirá-la do cárcere e conduzi-la a uma vida desonrosa. Margarida, porém, mantém-se firme, preferindo a morte a viver uma vida pecaminosa em companhia daqueles dois. Agindo dessa forma conseguiu vencer a prova fazendo por merecer o Reino de Deus.
Fausto usa os poderes que lhe foram conferidos e cria uma terra ideal onde os seres humanos poderiam viver em paz e realizar suas mais nobres aspirações. Sente-se realizado por fazer o bem e essa plenitude marca o fim da servidão de Lúcifer.
Pelas condições do pacto celebrado as forças do inferno libertam-se do seu domínio e subjugam-no, pelo menos aparentemente. As forças angelicais travam violenta batalha contra as hostes luciféricas. Quando Mefistófeles tenta arrebatar a alma de Fausto as milícias angelicais salvam-no, conduzindo-o para o Reino de Cristo.
O Fausto do mito difere do Fausto da ópera. O drama que principia no céu quando Lúcifer recebe permissão para tentar Fausto, assim como ocorreu com Jó na narrativa do Velho Testamento, termina também no céu quando a tentação foi vencida e a alma volta ao Pai. Esse mito encerra um significado semelhante ao da parábola do Filho Pródigo.
Fausto entre tantos simbolismos, simboliza principalmente o anseio humano de transcender seus limites físicos e espirituais. É da essência do ser humano o eterno impulso para ir além de si mesmo. É, também, o símbolo do abismo a que o ser humano se expõe nessa eterna busca.
(Publicado na revista Serviço Rosacruz – 09/86)
O Sangue: você sabe qual a sua real importância?
Pergunta: Qual é o meio direto pelo qual o Ego pode agir no Corpo Físico?
Resposta: O sangue. Podemos notar que o Ego não pode atuar no Corpo Físico sem que o sangue esteja dentro de uma temperatura apropriada. Por exemplo: um calor acima do normal torna a pessoa sonolenta, tornando-a inconsciente pela expulsão do Ego, se a temperatura continuar a subir.
Pergunta: O frio intenso produzirá o mesmo efeito?
Resposta: O frio excessivo também tende a tornar o Corpo sonolento ou inconsciente. Somente quando o sangue se encontra próximo ou na temperatura normal é que o Ego poderá usá-lo como veículo de consciência.
Pergunta: Como podemos notar a atividade do Ego no sangue?
Resposta: Podemos mencionar vermelhidão produzida pela vergonha ou por outra emoção. É uma evidência da maneira pela qual o sangue é levado à cabeça, assim superaquecendo o cérebro e paralisando o pensamento.
Pergunta: Qual a reação do Ego face ao medo?
Resposta: O medo é um estado em que o Ego é levado a defender-se de algum perigo exterior. Por isso o sangue flui mais internamente. As faces empalidecem porque o sangue deixou a periferia do Corpo.
Pergunta: A qualidade do sangue afeta o trabalho do Ego?
Resposta: Em uma pessoa vigorosa, quando o sangue não atinge uma determinada temperatura, é ativa corporal e mentalmente, ao passo que a pessoa anêmica é sonolenta, o que quer dizer que num caso o Ego tem um melhor domínio e no outro menor.
Pergunta: A crença de que o Ego age no sangue é corroborado pela História?
Resposta: Os artigos Noruegueses e Escoceses admitem que Ego está no sangue, porque nenhum estrangeiro poderá tornar-se seu parente, até que tenha feito a “mistura de sangue” com eles, e dessa forma tornar-se um deles.
Pergunta: Existem outras fontes idôneas que concordam com essa crença?
Resposta: Goethe, um Iniciado, demostra essa verdade em seu Fausto, quando estava para assinar o pacto com Mefistófeles: “Por que não assinar com tinta comum? Por que usar o sangue? “O sangue é uma essência muito peculiar”, respondeu Mefistófeles. Quer dizer que aquele que tem o sangue tem o ser humano. É pelo calor do sangue que o Ego pode expressar-se.
Pergunta: Em que época o sangue atinge a temperatura apropriada?
Resposta: O calor apropriado do sangue para capacitar o Ego a expressar-se plenamente, torna-se uma realidade quando o indivíduo está para atingir os vinte e um anos de idade.
Pergunta: Há aspectos legais em relação a esse fato?
Resposta: A lei reconhece isso ao ser humano.
Pergunta: O sangue tem alguma conexão com a memória?
Resposta: A memória está intimamente conectada com o sangue, o qual é a mais alta expressão do Corpo Vital. E somente por meio dos dois Éteres superiores que o ser humano tem o senso de percepção e memória. Isso se aplica à memória Consciente, como também aos registros que designamos como memória Subconsciente, os quais se realizam por meio do Corpo Vital com o auxílio do sangue.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)