Arquivo de tag Karma

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Significado da Morte

Os dogmas teológicos e científicos que representam o pensamento do ser humano sobre si mesmo e seu ambiente no que há de pior, seja selvagem ou sábio, exibiram o que Schopenhauer chamou de “a vontade de viver de maneira biológica e primitiva”, diz o London Light (Luz de Londres), ao discutir um livro chamado La Sens de la Mort (O Significado da Morte), de M. Paul Bourget. A história em si é dos dias atuais, mas a falta de espaço nos impede de expor até mesmo a forma mais abreviada da trama. O que imediatamente nos preocupa são as visões divergentes sobre a vida e a morte que se manifestam durante a discussão entre dois dos personagens principais. Um desses é um famoso cirurgião que acaba de se descobrir condenado à morte em poucos meses por câncer. O outro é um jovem saudável.

Esses dois senhores estão inspecionando um hospital juntos, quando o jovem comenta que os arranjos lá são confortáveis demais. A isso o grande cirurgião objeta: “Não, para que serve o sofrimento, quando é possível escapar dele?”. Sua pergunta é apaixonadamente ressentida, porque ele próprio está sofrendo muito.

O jovem, que nunca sofreu, responde: “Para pagar”. “Pagar o quê?”, exigiu o cirurgião, que a ninguém contou o segredo do seu sofrimento. “As dívidas das nossas faltas e as dos outros”, responde o jovem. O cirurgião se ressente dessa interpretação, pois suas concepções são principalmente materialistas.

“Faltas nossas, como se tivéssemos pedido para nascer! E os defeitos dos outros — é monstruoso!”. “Mas”, diz o jovem, “já que tudo na vida leva ao sofrimento e à morte, se o sofrimento e a morte não têm esse sentido de expiação, que sentido têm, que sentido tem a vida?”. A resposta do grande cirurgião é curta, pois ele está cheio de ressentimento intenso. “Nenhum”, conclui.

É desnecessário dizer ao Estudante Rosacruz que ambos estão errados. Não é verdade que tudo na vida leva ao sofrimento e à morte. A missão da dor e do sofrimento não é meramente expiatória. Não existe um Deus irado que pretende se vingar de nós por nossos erros; mas, estamos aqui frente-a-frente com uma Lei, uma boa Lei, destinada a nos ensinar as lições necessárias para o nosso avanço a alturas mais elevadas na escala da evolução.

De modo que, por uma sucessão de existências em Corpos Densos de textura cada vez mais fina, aprendemos as lições da vida e entendemos como nos ajustar às condições aqui por meio do pensamento correto e da ação correta. Quem tem um Corpo Denso tão bom e perfeito que gostaria de habitar nele para sempre? Certamente ninguém. Todos nós temos nossas dores e sofrimentos e todos estamos sujeitos à dor e ao sofrimento. Portanto, a morte deve ser encarada não como o rei dos terrores, mas como o alívio misericordioso que nos liberta de uma vestimenta superada para que uma nova e melhor possa nos servir em uma vida futura, permitindo progredir ainda mais no caminho do desenvolvimento. Isso é visto em todos os Reinos de Vida.

Se a flora primordial não estivesse sujeita à morte e decadência, nenhuma forma superior de vida vegetal poderia ter surgido na Terra; e se a morte não tivesse liberado o Espírito que animava a primitiva forma animal, os répteis ainda habitariam a Terra, excluindo os mamíferos superiores. Da mesma forma, se o ser humano não tivesse morrido, as formas humanas e primitivas, absolutamente inadequadas para a expressão da vida e do intelecto a que hoje atingimos, ainda seriam as únicas por aqui. É verdade que colhemos o que semeamos, mas a expiação não é a única finalidade dessa colheita; estamos ao mesmo tempo aprendendo lições sobre como evitar erros do passado em ocasiões futuras e nos conformando às Leis da Natureza.

Não estamos aqui apenas para pagar por nossos erros, mas para aprender com eles e tais ideias primitivas de expiação, expressas na resposta do jovem, devem ser extirpadas da Mente humana para que formas mais nobres de Religião (a re-ligação com Deus, de onde viemos e para onde estamos voltando) possam tomar o seu lugar. Por toda a constituição do Universo corre o princípio da justiça, mas não uma justiça fria e dura: uma justiça que é temperada com misericórdia, pois aquilo que conhecemos como as Leis da Natureza em suas manifestações – e que chamamos de “Deus em manifestação” – são, de fato: as grandes inteligências – Hierarquias Criadoras –, os Ministros de Deus, os Sete Espíritos diante do Trono, os Anjos do Destino. Eles são compassivos além de qualquer concepção que possamos ter sobre esse termo e tudo o que acontece a um ser humano sob a orientação deles é adequado apenas às necessidades desse ser humano.

Foi dito que nem mesmo um passarinho cai no chão sem a vontade do Nosso Pai Celestial (Mt 10:29-30). E se a Natureza — que é Deus ou o Universo —, o Poder que progressivamente fez nascer o Espírito não-individualizado em formas ascendentes na escala evolutiva, até chegar ao ser humano, conservando em cada forma todos os desenvolvimentos progressivos das formas inferiores, se esse Poder inefável é justificado até mesmo para o ser humano no que diz respeito ao destino de todas as criaturas abaixo dele, a suposição clara em referência ao seu próprio destino é que ele, sendo o mais elevado nos quatro Reinos da Vida que agora se desenvolve nesse Período Terrestre, deve ser ajudado quando morrer, assim como é antes de nascer. Tal é a conclusão lógica e quanto mais examinamos o assunto, tanto mais essa conclusão é justificada entre aqueles que estudaram o assunto e estão em posição de saber.

A esse respeito, é tão estranho quanto esclarecedor observar as diferentes maneiras pelas quais a guerra afeta pessoas de diferentes crenças religiosas. Falando de modo geral, podemos dizer que há três grandes sistemas religiosos representados entre os combatentes: os Hindus, os Maometanos e os Cristãos. Cada uma dessas três classes encontra a morte de uma maneira diferente em função do que acreditou durante a vida. Além disso, sua crença os faz agir de maneira diferente quando entram nos Mundos invisíveis.

Para fins de elucidação e comparação, podemos considerar o Hindu primeiro. Ele acredita no karma; ou seja, que a maioria das coisas que lhe acontecem nesta vida são resultado de ações em vidas anteriores e esse karma, ao que parece, é, para dizer o mínimo, muito difícil de ser mudado, supondo que isso possa ser feito de algum modo. Talvez, até certo ponto, alguns dos mais inteligentes acreditem que o karma possa ser alterado; mas, como raça, é do entendimento do escritor que eles acreditam que esse tipo de karma não possa ser evitado e estão aqui com o propósito de resolvê-lo. Mas, ao mesmo tempo em que expiam o resultado de suas ações passadas em vidas anteriores, também estão criando novo karma e, assim, lançando as bases para suas vidas futuras. A esse respeito, eles acreditam que têm livre-arbítrio, exceto quando restritos por seu ambiente e, portanto, são capazes de mudar suas vidas no futuro.

Quando um ser humano está imbuído dessa crença e vai para a guerra, ele toma como certo que, se encontrar a morte, então é o seu karma. Ele luta sem medo porque sente que, se não for o seu karma morrer, ele sairá seguro, faça o que fizer. Se o sofrimento vier a ele, ele o considerará também como karma e se esforçará para torná-lo o mais pacientemente possível. Além disso, quando, após a morte, ele se encontra nos Mundos invisíveis, está calmo e sereno; ele sabe que seus parentes, embora possam sofrer por ele, não o farão de forma desmedida, porque sabem que morrer foi o seu karma e, portanto, sentem que não adianta se rebelar. Além disso, ele acredita que no devido tempo nascerá novamente e encontrará seus entes queridos em formas alteradas. Portanto, não há causa real para o luto desenfreado.

Os Maometanos têm uma crença um tanto semelhante no kismet, que é o nome que dão ao destino. Eles acreditam que tudo na vida humana, nos mínimos detalhes, é predestinado e que, portanto, não importa como eles agem ou não, tudo o que precisa acontecer vai acontecer, independentemente de qualquer ação ou exercício de engenhosidade da sua parte; portanto, sempre foi relatado que os soldados Maometanos foram para a guerra em absoluto desrespeito por suas vidas; que eles lutaram com bravura insuperável e suportaram todas as privações sem um único murmúrio, sabendo que, quando tivessem combatido o bom combate, seriam transportados para o paraíso, onde a bela Houris ministraria o seu bem-estar para sempre. Embora atualmente todas as Religiões pareçam ter caído cada vez mais na indiferença, o efeito dessa crença ainda é visto em grande medida pelos Auxiliares Invisíveis que cuidam das vítimas da guerra quando elas falecem. Eles geralmente encontram os Maometanos calmos e resignados com seu kismet.

No entanto, quando consideramos o caso dos Cristãos, o assunto é bem diferente. É verdade que a Religião Cristã também ensina que aquilo que o ser humano semear, isso também colherá (Gl 6:7); contudo, em primeiro lugar, os ensinamentos religiosos tiveram um lugar muito restrito entre as nações ocidentais em comparação com o domínio que exercem sobre o povo do oriente, como os Hindus e Maometanos. A Religião deles faz parte da vida cotidiana deles. Em certas épocas, os orientais, de qualquer Religião, dedicam-se à oração e são muito sinceros em sua observância religiosa.

No mundo ocidental, por outro lado, as pessoas geralmente têm vergonha de serem consideradas religiosas demais. Recentemente, um dos jornais de Nova York publicou um anúncio de página inteira, se o escritor lembra bem, que afirmava que os “homens de negócios” deveriam ir à igreja, pois isso é um bom trunfo nos negócios, porque os marcava como cidadãos respeitáveis e garantir-lhes-ia mais crédito. Que motivo indigno para resistir como um incentivo! Houve, é claro, uma indignação considerável direcionada a esse anúncio, mas ele mostra o dilema da igreja, como ela está submetida a isso para manter seus membros e sua frequência; também revela quão poucos, mesmo entre os estudantes que buscam o desenvolvimento místico, leem este grande livro (da Sabedoria Ocidental), a Bíblia.

O escritor já notou que sempre que surge uma pergunta sobre a Bíblia ou alguém é solicitado a ler a Bíblia, muito poucos conseguem pronunciar os nomes corretamente ou nomear os vários livros da Bíblia. Todos esses são sinais que mostram que a Religião no mundo ocidental não é estudada nem praticada diariamente pela grande maioria. Em certa ocasião, ao discutir isso com um “homem de negócios”, ele observou que não tinha tempo para o estudo da Religião durante a semana, portanto, pagava um ministro de uma igreja para estudar e ia à igreja no domingo para que o ministro pudesse ali dar a ele o benefício do que havia aprendido durante a semana anterior.

Aqueles que estudam a Bíblia são chamados de excêntricos e evitados como tal. Daí a ideia sobre o significado do sofrimento e da morte expressa pelo cirurgião no livro que deu origem às reflexões aqui expressas. Mas mesmo onde a ideia de misericórdia e expiação vicária é adotada, vemos o extremo oposto, o ensino que nos diz que um ser humano que pecou e se arrepende é imediatamente perdoado conforme expresso neste dístico.

Entre o estribo e o chão,

Ele procurou e achou o perdão.[1]

Isso transmite a ideia de que alguém pode viver uma vida de pecado até o momento da morte e depois, no leito de morte, ao pedir perdão, podemos ser perdoados por toda a nossa vida de erro. Essa ideia errada tornou-se tão arraigada na consciência pública que perdemos o respeito pela Lei que afirma que “como semeamos, assim também ceifamos”, o que nos torna totalmente dependentes da graça; isso, é claro, se alguma vez já pensamos no assunto. Na estimativa do escritor, nada menos que uma educação completa das pessoas do mundo ocidental sobre o fato da sua responsabilidade pode despertar a vida religiosa novamente.

Se as igrejas querem ter sucesso e aumentar a frequência dos seus membros, se querem espalhar o Reino de Cristo na Terra, então esse é realmente o caminho. Devem despertar o sentido da responsabilidade individual, que em parte se perdeu com a venda de indulgências praticada pela Igreja Católica ou a exigência de dízimos e “contribuições” obrigatórias (inclusive com argumentos de “lugar no céu”) das Igrejas Protestantes, que deu a quem nelas cressem o sentimento de que a justiça e a igualdade, que têm a sua raiz no Direito universal, podem ser enganadas pelo pagamento de coisas insignificantes. Isso foi um golpe no próprio fundamento sobre o qual a Religião está e, como resultado, temos hoje na guerra atual um espetáculo que é horrível demais para ser contemplado. E enquanto nossos irmãos e nossas irmãs, a quem chamamos pagãos, enfrentam a morte e se ajustam às condições do Além, porque estão imbuídos de um senso dessa responsabilidade por suas próprias ações e uma percepção da proteção Divina que tem todas as coisas sob o Seu grande cuidado, nós, que nos orgulhamos de ser as pessoas mais civilizadas, Cristãos, encaramos a morte de um modo totalmente impróprio. Quando não perdemos o juízo por causa da raiva ou ódio e morremos nessa condição, choramos ou ficamos infelizes por causa dos entes queridos que deixamos para trás; e uma pequena classe se compadece por ter sido tirada da vida terrena e dos prazeres aí experimentados.

Há tristeza e sofrimento mental entre os, assim chamados, Cristãos, sentimentos que são inigualáveis, incomparáveis entre aqueles que vêm do Oriente. Se não fossem os parentes daquelas pessoas, que agora estão morrendo às centenas de milhares, pressionarem o Departamento de Cura para acalmá-los até que encontrem seu equilíbrio e, assim, minimizar sua condição terrível, pareceria que o mundo tivesse sido engolido por um oceano de tristeza.

Portanto, ao escritor é provável que, para efetuar a regeneração do mundo ocidental, as pessoas devem ser educadas sobre a ação das Leis gêmeas que estão na raiz do progresso humano; pois, quando entendemos completamente que, sob a Lei da Consequência nós somos responsáveis por nossas ações, mas que a retribuição não é aplicada por um Deus irado, assim como, quando jogamos uma pedra para o céu, não há um Deus irado que pega essa pedra e a joga de volta em nós. Ação e reação se seguem uma à outra assim como fluxo e refluxo, noite e dia, inverno e verão… Essa Lei, juntamente à Lei do Renascimento, que nos dá nova chance em novo ambiente e corpo melhor, permite que nós trabalhemos o nosso caminho do humano até a Divino conforme evoluímos do micróbio ao ser humano.

(Escrito por Max Heindel, Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de abril/1918 e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: Na igreja Católica, o Ato de Contrição faz parte do Sacramento da Penitência e é rezado pelo penitente depois que o padre atribui uma penitência e antes de dar a absolvição ao penitente. Também costuma ser dito especialmente antes de ir para a cama à noite. Supõe-se geralmente que os indivíduos podem recorrer a um Ato de Contrição quando se encontram à beira da morte. Fulton Sheen relata uma história contada sobre John Vianney. Quando uma viúva recente lamentou a morte de seu marido, que cometeu suicídio pulando de uma ponte, Monsieur le Curé observou: “Lembre-se, senhora, que há uma pequena distância entre a ponte e a água”. Com isso ele quis dizer que o marido dela tinha tempo para fazer um Ato de Contrição. Isso é análogo à conhecida citação: “Entre o estribo e o solo, algo procurou e algo encontrou” – mais poeticamente: Entre o estribo e o chão, ele procurou e achou o perdão –, indicando que a misericórdia está disponível quando buscada. (A citação original é do antiquário inglês do século XVI, William Camden; a versão mais familiar é do romance Brighton Rock, de Graham Greene, de 1938.).

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Ensinamento Completo com o Perdão dos Pecados

Um Ensinamento Completo com o Perdão dos Pecados

A incapacidade de crer no Perdão dos Pecados induziu muitos a aceitar exclusivamente a Lei de Causa e Efeito, tal como é ensinada no Oriente sob o nome de Karma.

Julgam, equivocadamente, por sinal, pelo fato de algumas religiões orientais ensinarem a Lei de Causa e Efeito e a Teoria do Renascimento com mais clareza que o Cristianismo, serem elas mais profundas e lógicas. O Cristianismo, divulgado popularmente, de fato afirma que Cristo morreu por nossos pecados, e consequentemente, se nele crermos, nossas faltas serão perdoadas.

Mas, na verdade, os ensinamentos cristãos são muito mais profundos do que se pensa. Abrangem a Lei de Causa e Efeito e o Perdão dos Pecados. Essas duas leis operam, vitalmente, no desenvolvimento da humanidade. Há boas razões para que as religiões orientais contenham apenas uma parte dos ensinamentos formadores da doutrina cristã.

Nos tempos mais remotos, quando surgiram as doutrinas orientais, a humanidade de então era de natureza mais espiritualizada que a atual. Muitas pessoas sabiam que renascemos várias vezes na Terra, em corpos e ambientes diferentes.

No Oriente, tal ideia ainda permanece arraigada. Isso gerou uma indolência muito grande. Agrada-lhes mais pensar no Nirvana — o mundo invisível — onde podem descansar em paz, do que evoluir pelo aproveitamento de seus recursos materiais. Em consequência, enfrentam mil dificuldades para viver: fome, miséria extrema, doenças, inundações assoladoras, etc. Não compreendem que não é verdadeiramente a Lei de Causa e Efeito a responsável direta pelas suas desditas, mas sim a negligência e a indiferença pelas coisas materiais.

Como não são pessoas ativas e realizadoras aqui, nada têm a assimilar na vida celestial, entre o desenlace e um novo renascimento. Como um órgão em prolongada inatividade logo se atrofia, um país não desenvolvido pelos espíritos ali encarnados tende, inexoravelmente, a decair em termos de condições de habitabilidade.

Os Grandes Guias, ciosos dessa verdade, tomaram certas medidas no sentido de obrigar-nos a esquecer temporariamente o lado espiritual de nossa natureza. No Ocidente, onde se encontram os vanguardeiros da raça humana, instituíram o matrimônio fora da família. Além disso, a religião ocidental, por excelência, é o Cristianismo, sistema em que não se ensina aberta e popularmente a Lei de Causa e Efeito e a teoria do Renascimento. Ainda um outro elemento foi utilizado para obscurecer a sensibilidade espiritual do ser humano: o álcool.

Com tudo isso, nós do Ocidente perdemos a lembrança de que existe algo mais além da vida terrena, e a ela dedicamos todos os nossos esforços, procurando aproveitar integralmente aquela que julgamos ser nossa única oportunidade. Convertemos o mundo ocidental em um verdadeiro jardim. No decurso de várias encarnações temos formado uma terra fertilíssima, pródiga em recursos minerais, que sustentam nossas progressistas indústrias. Assim, conquistamos o mundo material, visível.

Por outro lado, é evidente que o aspecto religioso da natureza humana não deve ser descurado. O Cristo — grande Ideal da religião cristã — devemos imitar. Mas, como não seria possível igualá-lo em uma só vida — que é tudo o que sabemos, deveríamos receber um ensinamento compensador, pois do contrário nos desesperaríamos ante tão grande malogro. Por conseguinte, ao mundo ocidental foi ensinada a doutrina do Perdão dos Pecados, mediante a justiça de Cristo-Jesus.

Nenhuma doutrina falsa pode revestir-se de um poder aperfeiçoador na natureza. Deve haver, portanto, uma base muito sólida, sustentando a doutrina do Perdão dos Pecados.

Quando observamos o mundo material, ao nosso redor, notamos diversos fenômenos da natureza e encontramos outros seres com os quais nos relacionamos. Todos são percebidos por intermédio de nossos sentidos físicos. Todavia, se nos escapam muitíssimos detalhes. É uma verdade exasperante que temos olhos e não vemos, temos ouvidos e não ouvimos. Por causa disso muitas experiências se perdem. Além disso, nossa memória é sumamente caprichosa: recordamos pouca coisa.

Nossa memória consciente é débil. Não obstante, existe outra memória. Sabemos que o éter e o ar levam à película fotográfica a impressão da paisagem exterior, sem omitir o mais insignificante detalhe. Da mesma forma como nossos sentidos recebem as impressões exteriores, o éter e o ar se encarregam de conduzi-las aos nossos pulmões e daí ao sangue. Estampa-se, então, em nós um quadro exato de tudo aquilo com que entramos em contato. Essas imagens imprimem-se no Átomo-semente, localizado no ventrículo esquerdo do coração. Todas as nossas obras encontram-se inseridas nesse Átomo, também denominado “O Livro dos Anjos do Destino”. E dali se imprimem no Éter Refletor do Corpo Vital.

No curso ordinário da vida, o ser humano, após a morte, adentra ao Purgatório, onde expia os pecados gravados no Átomo-semente. Mais tarde, no Primeiro Céu, assimila o valor educativo do bem praticado. No Segundo-Céu trabalha em função do seu futuro ambiente aqui no mundo material.

Mesmo uma pessoa devota comete erros diariamente. Porém, ela pode examiná-los, também diariamente, e pedir, com toda sinceridade, perdão para suas faltas. Então, as imagens dos pecados cometidos — por ação ou omissão — são eliminadas dos anais da vida, porque o propósito de Deus não é “vingar-se”, como pode parecer por meio da Lei de Consequência. O objetivo de Deus é que aprendamos, pela experiência, a agir bem e com justiça. Quando admitimos ter agido mal, e reconhecendo nosso erro, dispomo-nos a corrigir-nos, é sinal de que aprendemos a lição, não restando mais motivos para punição.

Desse modo, a doutrina do “Perdão dos Pecados” é um fato real na natureza. Se nos arrependemos, oramos e nos reformamos, nossas faltas nos são perdoadas, suprimindo-se os registros correspondentes no Átomo-semente. Caso contrário, serão eliminados mediante os sofrimentos da existência purgatorial.

Assim, a doutrina do Karma ou Lei de Causa e Efeito, conforme ensinada no Oriente, não satisfaz plenamente às necessidades humanas. Mas, os ensinamentos cristãos, que encerram ambas as leis — a de Consequência e o Perdão dos Pecados – propiciam-nos um conhecimento completo a respeito dos métodos empregados pelos Grandes Guias, em sua missão de instruir-nos.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Destino de Amorosidade: Karma, Carma, Destino ou Destino Maduro

A palavra Karma[1] provém do sânscrito, sendo muito utilizada na literatura esotérica para designar aquilo que nos Ensinamentos Rosacruzes conhecemos como Destino Maduro ou simplesmente destino. Esse termo generalizou-se tanto, face à invasão de filosofias orientais sofrida pelo Ocidente, a ponto de já ser usado em forma aportuguesada: Karma ou Carma.

Fiéis aos princípios básicos legados pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, optamos pelos vocábulos Destino Maduro ou destino. Destino, no sentido esotérico, associa-se a dívidas contraídas sob a Lei de Causa e Efeito. Geralmente representa o Efeito ou Consequência.

Muitas pessoas imaginam poder compensar, suavizar ou mesmo neutralizar um destino “sofrido” apenas pelo auto aperfeiçoamento. A superação de vícios e falhas de caráter e necessária e fundamental, mas por si só não é suficiente. É preciso mais que isso.

Lemos nos Evangelhos que certa vez um rapaz aproximou-se do Cristo e exclamou: “Bom Mestre, que bem-farei para conseguir a vida eterna? E Ele disse-lhe: Por que me chamais de bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o mancebo: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o moço ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades”.

Vemos, então, pelos ensinamentos cristãos que não basta apenas cultivar virtudes morais ou adquirir conhecimentos. É necessário, também, servir à humanidade, de maneira desinteressada e amorosa. Nossas vidas e nosso destino só mudam quando trabalhamos duro, em benefício dos nossos semelhantes, cumprindo nossa parte no mundo.

Se é verdade que levamos nossas cargas de destino individual, também é certo que estamos envolvidos num destino coletivo. Somos parte da grande família humana. Tudo que a afeta, afeta-nos também e vice-versa. Não há como fugir dessa realidade.

Não nos esqueçamos de que “a fé sem obras é morta”. O conhecimento é uma grande responsabilidade, e se não se traduzir em atos construtivos e amorosos acabará gerando, pela omissão, um destino muito doloroso.

Muitos esoteristas, após anos de estudos profundos acabam desalentados, queixando-se do insignificante progresso conquistado ao longo de tantos “esforços”. Esforços? Melhor seria se meditassem sobre esses esforços. No fundo, verificarão que durante todo esse tempo não passaram de meros teóricos, alguns até envaidecidos de sua erudição. É lógico, o conhecimento adquirido sempre conduz a algum progresso.

Mas se não for levado à prática, não passará de verniz, de superficialidade enganosa. Como afirmou o Apóstolo: “O conhecimento infla. Mas só o amor constrói”. Amor, no sentido mais elevado é ação. Não pode ser concebido como algo passivo, etéreo ou mesmo subjetivo. O amor deve conduzir à realização de algo construtivo e só por seu intermédio é possível a superação do destino. Só assim podemos, de fato, fazer uso da Doutrina Cristã da Remissão dos Pecados, também conhecida como Perdão dos Pecados.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/86)

[1]Karma ou Carma – ensinada nos países orientais.

Idiomas