O vocábulo “renascimento” se constitui, no campo linguístico, do prefixo “re”, mais “nascimento”. Significa, etimologicamente, nascer de novo. E o nascer de novo é o renascimento do Ego em cada plano.
Difere, portanto, da reencarnação, cujo significado é entrar na carne. Popularmente, essas duas expressões são usadas como se fossem sinônimos, mas, a nós, Estudantes Rosacruzes, que nos foi transmitida pelo fiel mensageiro da Ordem Rosacruz, Max Heindel, cabe entendermos os termos com precisão, pois sabemos quão importante é a gravação certa no Corpo Vital, do que aprendemos. Assim, usaremos cada umas dessas palavras em seu exato sentido.
Vamos dizer algo a respeito do renascimento. Depois do Ego ter feito os últimos preparativos, no Terceiro Céu, a fim de renascer com seus Corpos e veículos aqui mais uma vez e chegado o momento de sua descida, se encontra despido de Corpos e veículos tendo, tão somente, as forças dos quatro Átomos-sementes, ou seja, o núcleo do Tríplice Corpo e da Mente.
Devemos lembrar aqui, que falarmos de Ego ou de Tríplice Espírito vem a ser a mesma coisa, pois estamos nos referindo a uma só realidade. A essência é a mesma. As expressões é que são sinônimas.
Ao iniciar a sua jornada, o Ego desce à subdivisão mais elevada da Região do Pensamento Concreto. Com o despertar das forças mentais conquistadas em vidas anteriores, que se achavam latentes no respectivo Átomo-semente, atrai e incorpora em si mesmo o material que lhe é necessário para construir um veículo por meio da qual poderá funcionar nesse Mundo. Adotando o mesmo processo, desce o Ego às outras três Regiões inferiores do Mundo do Pensamento Concreto, completando, consequentemente, a formação da sua nova Mente.
Continuando em sua descida, atinge o Ego a sétima Região do Mundo do Desejo, da qual atrai o material afim e indispensável, agrupando-o em torno de si. Prosseguindo, desce ele à sexta Região, onde adquire, também, o material afim que lhe é imprescindível. Segue, fazendo o mesmo até alcançar a primeira Região do Mundo do Desejo. Completa-se, dessa maneira, a formação do seu novo Corpo de Desejos.
Em seguida, desce o Ego à sétima Região do Mundo Físico, isto é, a Região Etérica do Éter Refletor. A formação do Corpo Vital não é, entretanto, tão simples como acontece com a formação do Corpo de Desejo e da Mente, a que anteriormente nos referimos. Só em um ponto é idêntica, ou seja, na quantidade e qualidade do material a ser atraído, obedecendo, ainda, a mesma lei que rege os corpos superiores: a Lei da Semelhança ou Lei da Atração. Para construir o Corpo Vital e colocá-lo no ambiente adequado, trabalham, em número de quatro, os Anjos Relatores, também conhecidos por Senhores do Destino ou Anjos do Destino. Esses Seres são portadores de incomensurável sabedoria. Estão acima de todo e qualquer erro. Eles fazem com que seja incorporado o Éter Refletor no Corpo Vital, em formação, para que as cenas da vida que seguirá, reflitam nele. Convém notar que, além dos habitantes do Mundo Celeste participam da construção do Corpo Vital, os espíritos elementais. Integra, finalmente, a plêiade de construtores desse Corpo, o Ego que se prepara para renascer com seus Corpos e veículos aqui, incorpora também a quinta-essência dos seus Corpos Vitais anteriores, realizando, ainda, um pequeno trabalho original. Esse trabalho possibilita ao Ego expressar-se, na vida prestes a ter início, de modo individual e original, quer dizer, não determinado por ações de existências pretéritas. Verificamos, assim, que as causas e efeitos não se constituem numa repetição rotineira. Constatamos, isso sim, a existência palpitante e viva de um influxo constante de causas novas e originais. Temos aí, a Involução e a Evolução completadas, cabalmente, pela Epigênese. Podemos dizer, em outras palavras, que a Epigênese consiste na liberdade de que desfruta o Ego, no sentido de criar, em cada renascimento, coisas novas. Ele atua, nessa parte, sempre de maneira original. Convém lembrarmos que a Fraternidade Rosacruz é a única que fala na Epigênese. Além de falar, devemos convir, o faz com invulgar sabedoria, esclarecendo o ponto de vital importância, concernente às possibilidades do Ego, em seu roteiro evolutivo.
Na matriz do Corpo Vital vamos encontrar a formação, órgão por órgão, do Corpo Denso.
Relativamente ao Átomo-semente do Corpo Denso, situa-se, como nos ensina Max Heindel, no livro “Conceito Rosacruz do Cosmos”, na cabeça triangular de um dos espermatozoides do sémen paterno. Nesse espermatozoide, unicamente, é que reside a possibilidade de fertilização. Nesta altura, entende-se perfeitamente, a causa de uniões estéreis.
Voltando ao Átomo-semente, esse, devemos recordar, é o determinador da quantidade e qualidade da matéria para que se possa formar o Corpo Denso, que é feito, tomando-lhe como modelo, o Corpo Vital.
Apesar de restrita a atividade doEgo na construção do Corpo Denso, neste ele incorpora a quinta-essência das qualidades físicas das vidas anteriores. E, muito embora o Ego tome, imprescindivelmente, os materiais dos corpos do pai e da mãe, a fim de formar o seu, esse não traz com exatidão, as mesmas características dos corpos paternos. Como se vê, o referido Corpo Denso é a expressão do próprio Tríplice Espírito ou Ego renascente. A hereditariedade poderá explicar alguma coisa, porém, jamais tudo. Não esclarece, por exemplo, as qualidades da alma, as quais são absolutamente individuais. Cada Ego, ao renascer, traz características próprias. Estão ligadas às suas existências passadas, pois são o fruto de seu mérito ou demérito nelas.
Após a impregnação do óvulo, o Corpo de Desejos da mãe trabalha sobre ele, seguramente, durante espaço de tempo que vai de 18 a 21 dias. Nesse período, o Ego se encontra fora da matriz materna, todavia mantém-se em contato com ela. Acha-se ele, em seu Corpo de Desejos e em sua Mente. Decorrido esse prazo, ele entra no corpo da mãe. Daí por diante, o Ego incuba seu novo Corpo até que se dê o nascimento da criança, iniciando-se, assim, a nova vida aqui. Desse modo, acaba o Ego de chegar ao máximo de sua descida, pois atingiu o ponto mais denso que ele deve descer: a Região Química do Mundo Físico. Ele vive, nesse Mundo, habitando um Corpo Denso, como estamos, por exemplo, todos nós aqui, até que lhe advenha mais uma morte aqui, com a qual o Ego começa a sua viagem de retorno aos Mundos Celestes.
A ruptura do Cordão Prateado ocasiona a morte. Com essa, abandona o Ego o Corpo Denso, que foi o último a ser, por ele, adquirido. Permanece, entretanto, durante três dias e meio, aproximadamente, na Região Etérica do Mundo Físico, pairando sobre o Corpo Denso e assimilando as experiências da existência terrestre que acabou de terminar. Feita essa assimilação, entra o Ego no Purgatório, situado nas três Regiões inferiores do Mundo do Desejo, levando consigo os Átomos-semente dos Corpos Denso e do Corpo Vital. Ali se desenrola de novo, o Panorama da Vida passada, apresentando todos os incidentes dela em que prejudicou alguém – por omissão ou por querer –, incorporando ao Átomo-semente do Corpo de Desejos, a consciência que atuará no futuro como impulso para não repetir o mal cometido. Purgados os maus hábitos, vícios, falhas e omissões, passa ele ao Primeiro Céu, que se situa nas três Regiões Superiores do Mundo do Desejo. Aqui, desenrola-se de novo, o Panorama da Vida passada, apresentando todos os incidentes dela em que ajudou alguém – por fatos ou boas e sinceras intenções –, incorpora ao Átomo-semente do Corpo de Desejos, a qualidade de sentimento reto que atuará no futuro como impulso para o bem e repulsão para o mal. No Mundo do Desejo o Ego permanece, em média, um terço do tempo da vida que terminou. Esse período de tempo poderá, entretanto, ser maior ou menor, dependendo do grau de espiritualização dele.
A seguir, entrando no Segundo Céu, encontra-se o Ego envolto no veículo mental, contendo esse a quinta-essência dos três veículos abandonados. Agora, acha-se ele, em sua verdadeira pátria. Leva vida ativa e variada, assimila os frutos de sua última vida terrestre, procura também, ir preparando o ambiente, ou seja, o ambiente na terra, tendo em vista o seu próximo renascimento. Prestam-lhe colaboração, como sabemos, todos os habitantes do mundo celeste, alterando as formas físicas e produzindo mudanças em seu aspecto, conforme a necessidade.
Nos Mundos Celestes o Ego aprende a construir os seus veículos e a usá-los no Mundo Físico. O músico aprende a construir mãos próprias e ouvido perfeito para captar com precisão o som. Ao despertar no Segundo Céu, ouve o Ego a música das esferas. O ser humano tem, por destinação, converter-se em inteligência criadora. Assim, chegará a ser algum dia, verdadeiro artífice de seu destino, deixando, portanto, de ser escravo dele.
Passa o Ego, em seguida, ao Terceiro Céu, onde faz os últimos preparativos, a fim de empreender outra vez, nova descida aqui, na Região Química do Mundo Físico. Leva o Ego, de conformidade com esclarecimento de Max Heindel, geralmente, 1.000 anos de um renascimento a outro, salvo exceções, ou seja: considerando a sua evolução espiritual ou missão que tenha de realizar, poderá ser esse espaço de tempo, bastante reduzido. Com o próprio Max Heindel, isto aconteceu, pois levou, do penúltimo renascimento ao último, apenas uns trezentos anos. Outra exceção é a criança. Essa, como ao morrer é inocente, não lhe tendo nascido o Corpo de Desejos, razão por que não pecou, vai diretamente para o Primeiro Céu onde é bem recebida por parentes ou adotada por alguém e permanece de um a vinte e um anos, a fim de renascer.
Quando o ser humano passou pelas nove Iniciações Menores e, também, pelas quatro Grandes Iniciações libertou-se, totalmente, da roda de nascimentos e mortes. Poderá renascer na Terra e geralmente o faz, mas não por sua causa, e sim, unicamente por causa da Humanidade. Nesta altura, temos plena convicção de que só a Teoria do Renascimento satisfaz, dentro da lógica e do bom senso, atendendo, com perfeição toda e quaisquer necessidades evolutivas da Humanidade. Para essa Teoria, cada alma é parte integrante de Deus e está desenvolvendo, por meio de vidas sucessivas, em corpos de crescente perfeição, os latentes poderes divinos em energia dinâmica. Ninguém se perde. Todos, a seu tempo, alcançarão a perfeição, integrando-se em Deus, e levarão o fruto anímico de sua peregrinação através da matéria. Quanto às teorias materialista e teológica, têm visão sobremaneira estreita, que não resistem à análise, desde que se ponha um pouco de bom senso. Não satisfazem nem mesmo os elementares de justiça ou de lógica.
O Espírito Divino, emanando de si o Corpo Denso, obtém como fruto a Alma Consciente. O Espírito de Vida emana de si o Corpo Vital, obtém a Alma Intelectual. O Espírito Humano emana de si o Corpo de Desejos e obtém a Alma Emocional.
São nessas descidas e subidas que realizamos, vindo até o Mundo Físico e subindo, após a morte, até o Mundo Celeste, que nos tornamos artífice do nosso destino, pois nos converteremos em Inteligência Criadora.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – fevereiro/1964 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Desabrochar da Divindade Interna
O ser humano possui o poder da divindade dentro de si. Cabe-lhe, e tão só a ele, perceber essa potencialidade e se tornar uma Inteligência Criadora — tornar-se, em suma, um deus.
Pare e pense por uns instantes o que isso realmente significa. Significa que, em algum momento do futuro distante, cada um de nós será tão onipotente quanto o Grande Ser ao qual chamamos de Deus; que realizaremos as façanhas a que se referiu Cristo “e maiores do que essas”; que viveremos permanentemente livres do peso de um corpo físico ou da obstrução da matéria; que, tendo aprendido as lições da evolução, conheceremos tanto o bem quanto o mal, ficaremos perfilados ao lado de Deus e nos tornaremos tão puros que o mal não terá possibilidade de nos atingir. Significa tudo isso, sem dúvida — mas está tão distante de nós, atualmente, que se torna imperscrutável.
Todavia, significa também que poderemos, apenas quando desejarmos tentá-lo exercer grande parte do potencial divino latente em cada um de nós, no presente momento. Não é necessário aguardarmos até o advento de uma era da evolução, dourada e remota. A maior parte das pessoas ficaria bastante surpreendida quanto ao grau de “divindade” que já no presente estágio do seu desenvolvimento está pronto para se manifestar.
Quais, então, seriam alguns desses atributos “divinos” a serem expandidos? Em primeiro lugar, estão os três que vêm talvez mais rapidamente à memória — a onisciência, a onipotência, a onipresença. Esses, sem dúvida, estão muito além de nosso alcance atual; por isso, para os fins deste artigo, podem deixar de ser levados em conta. Muito além de nós, inclusive, está a divina Força criadora que produz manifestações de grandeza tal como a dos corpos celestes.
Mas nós temos certo grau de força criativa dentro de nós, hoje, devendo ser exercida a fim de que, afinal, venha a conquistar o seu grande potencial.
Deveríamos aproveitar toda oportunidade para fazer desabrochar a Epigênese e utilizar a capacidade criadora que já possuímos, de forma que, pouco a pouco, ela pudesse aumentar. Um enfoque positivo e entusiasta em relação à vida, acompanhado pela determinação ativa de enfrentar os nossos problemas, de utilizar inteiramente quaisquer aptidões que tivermos e fazermos tudo o que pudermos para melhorar nossa situação e a de nossos companheiros é o contexto no qual a nossa capacidade criadora pode e deve ser desenvolvida. Convencer a nós mesmos de que não possamos fazer algo ou, alheios ao potencial que nos cabe desenvolver, que devamos deixar o “Zé” realizar as tarefas a serem cumpridas, enquanto nos dedicamos unicamente à busca do lazer e ócio, não nos aproximará sequer um pouco do objetivo final. Somente a contínua persistência, o trabalho árduo e a percepção refletida no que devamos fazer desabrochar nos levarão diretamente a esse objetivo.
Existe outro atributo divino, contudo, e ainda mais importante do que a capacidade criadora, que muitas pessoas, independentemente do estado de seus talentos ou aptidões, podem aprimorar no atual período de vida, com resultados compensadores — se apenas quiserem! Trata-se da qualidade relativa ao amor divino com suas características resultantes de compaixão e altruísmo. Novamente aqui, acontece que nenhum humano possa atualmente chegar ao ponto de conquistar a inescrutável profundidade, beleza, onipresença e força do Amor do nosso Pai Celestial ou do Cristo. Mas podemos, quase todos, desenvolver nossas naturezas amorosas e compassivas muito mais do que estamos fazendo.
Os requisitos necessários à realização disso não são os mesmos que proclamam ao mundo um material individual ou habilidade intelectual. Não serão as condições que tenham sido aperfeiçoadas durante anos de trabalho manual ou mental, em encarnações anteriores. São atributos espirituais, caso assim for desejado, e é garantido admitir-se que, em toda a humanidade — com exceção de pequena porcentagem —, eles não foram cultivados em grau considerável, em encarnações anteriores.
Esses predicados não podem ser aperfeiçoados, a menos que o indivíduo desenvolva um interesse autêntico em relação a outras pessoas e um desejo de começar a conhecê-las melhor. Isso não significa necessariamente “sociabilidade” no sentido comum da palavra, nem sequer espírito gregário. Significa o anseio de observar as pessoas e, após uma observação praticada de forma considerável, a capacidade de penetrar em suas características superficiais para chegar até o “homem interno”, discernindo suas verdadeiras naturezas. Em outras palavras, quer dizer a capacidade de procurar e achar a “divina Essência dentro de nós”.
Concomitantemente, deve desejar servir às pessoas que estiver se esforçando para conhecer tão bem. A percepção de que muitos dos problemas possam ser aliviados com uma espécie de assistência de camarada, ou que muitas pessoas, a despeito disso, tenham problemas tão irresistíveis que lhes pareçam insuperáveis, é o requisito para este desejo. Quanto mais estivermos conscientes dessa condição e pensarmos a seu respeito de modo positivo, tanto mais poderemos nos inculcar com a aspiração de ajudar a fazer algo. Não é suficiente o pensar vagamente, embora com a melhor das intenções, sobre os infortúnios de outrem, no contexto geral de “Não é isso terrível? Pobre criatura”, e em seguida volver os pensamentos a assuntos mais agradáveis. À reflexão “Isso não é terrível?” deve seguir o esforço determinado para pensar-se na situação e ver se podemos auxiliar. Não importa quão enorme seja o problema ou como possa parecer remota a solução. Do ponto de vista das nossas possibilidades, é sempre admissível prestar um amoroso apoio moral. Caso não pudermos fazer algo além disso, nossa presença compassiva e serena se mostrará, muito frequentemente, uma força sustentadora que ajudará a pessoa aflita a enfrentar o seu período de provas.
O desejo de ficar a serviço deveria ser, e pode, caso fosse perseguido sinceramente, expandir-se desde o círculo limitado de amigos e conhecidos pessoais até à área muito mais vasta da humanidade em geral. De fato, é bem mais fácil nos colocar inteiros e depositar a nossa completa simpatia no esforço fervoroso de ajudar um conhecido. Sentir a mesma dedicação pessoal no caso de, digamos, um grupo de pessoas sobre as quais a única coisa sabida é que sejam pobres, ou doentes, ou foram escravizadas, ou tenham sofrido uma calamidade ou qualquer outra coisa desse tipo, é mais difícil. É possível ainda, quando a compaixão relativa a seres próximos e prezados tenha sido cultivada, expandir esse sentimento para incluir em um rol de pessoas que necessitem de ajuda os que possam ser apenas “nomes” ou “estatísticas”.
A qualidade do Amor divino que estamos tentando emular inclui a capacidade de ser compassivo e amoroso com todos, não importando o quão desagradáveis, depravados ou abomináveis possam parecer. Incompreensível que possa ser essa ternura a muitos de nós, não é mais do que aquela que Deus e o Cristo exerceram sempre a favor de toda a raça humana. Quem de nós, não importa o quanto evoluído, iluminado e “bom” possa pensar que seja, pode afirmar positivamente que nunca, numa encarnação passada, tenha atingido um ponto de baixeza degradante?
Afirmamos que, em encarnações anteriores, quase toda a raça humana foi condenada por egoísmo e atos de depravação peremptoriamente repudiados, hoje, pelas pessoas de discernimento. Ademais, foi o Amor sublime de Deus e o incrível Amor redentor do Cristo que nos resgataram, e ainda resgatam, da deterioração evolutiva à qual nos encaminhamos em virtude da corrupção. Esse é o tipo de amor que nós, por nós mesmos, devemos adquirir.
Ademais, é importante relembrar que as próprias pessoas que pareçam “merecer” o nosso amor são as que menos o necessitam prementemente. Se existe algo que possa resgatar alguém do que pareça ser as últimas etapas da degenerescência, é a compaixão oferecida por um amigo, juntamente à simpatia e expressões de confiança que possam fazê-lo perceber a Centelha divina que está oculta por detrás do véu que sua natureza inferior confeccionou. Quando um indivíduo, finalmente, certificar-se de que haja, sem dúvida, “algo bom” em si e sua autoconfiança estiver um tanto solidificada, ele melhorará suas ações paulatinamente e fará com que a Centelha se incendeie cada vez mais brilhantemente. Porém, sem essa compreensão e ajuda compassiva proporcionadas por uma fonte externa que o fez olhar, pela primeira vez, para dentro de si com um olho perscrutador, teria tido dificuldade muito maior para dar o passo inicial na senda do “viver correto”.
Por último e, talvez, o mais importante, vem o predicado da espiritualidade. Ele também deve se desenvolver no contexto do serviço. Max Heindel deu-nos excelente orientação a tal respeito, no Livro Ensinamentos de um Iniciado, capítulo III.
“A ideia mais comumente aceita é que a espiritualidade se manifeste através da oração e da meditação; no entanto, se observarmos a vida de nosso Salvador, veremos que Ele não viveu na indolência. Não permaneceu em reclusão. Não se apartou do mundo e não se escondeu dele. Viveu entre o povo, ajudando-o em suas necessidades cotidianas. Ele o alimentou, quando isso foi necessário. Ele o curou sempre que teve oportunidade de fazê-lo e, inclusive, ministrou-lhe ensinamentos. Assim, foi Ele um servidor da humanidade, no verdadeiro sentido da palavra”.
Max Heindel nos diz, novamente: “Existem muitas pessoas que, aspirando aos poderes espirituais, percorrem de um centro, chamado de oculto, a outro, ingressam em mosteiros e apreciam locais de isolamento. Esperam, afastando-se do clamor e das atrações do mundo, cultivar sua natureza espiritual. Ficam expostos à luz da prece e meditação de manhã até à noite, enquanto o mundo se encontra gemendo em agonia. Então, passam a se admirar pelo fato de não progredirem, não sabendo por que não obtêm mais da senda da aspiração. Certamente, a oração e a meditação são necessárias; absolutamente essenciais ao crescimento anímico. Mas estaremos fadados a fracassar, caso dependamos, para o nosso crescimento anímico, de orações que são apenas palavras. A fim de obtermos resultados, deveremos viver de modo que toda a nossa vida se torne uma prece, uma aspiração. Como nos disse o filosofo Emerson:
Embora teus joelhos nunca tenham se dobrado,
Nos céus tuas orações de cada instante são sentidas,
E, sejam formadas para o bem ou para o mal,
Ainda são registradas e respondidas.
Não são as palavras que proferimos nos instantes de oração que contam; mas, com certeza, é a vida que eleva a prece…
“Há somente um meio de mostrarmos nossa fé e isso é feito pelas nossas obras; não importando em que setor da vida fomos colocados… O fator determinante que decide se um tipo de trabalho é espiritual ou material é a nossa atitude. A pessoa que estende os fios elétricos pode ser muito mais espiritualizada do que a que permanece sobre a plataforma.
Desobstruir um cano de esgoto é uma tarefa muito mais nobre do que viver falsamente atrás da dignidade de um cargo de professor, implicando uma espiritualidade que não existe realmente. Todo aquele que se esforça para cultivar essa rara qualidade espiritual deve começar, sempre, fazendo tudo pela maior glória do Senhor, porque quando fazemos todas as coisas pelo Senhor não importa que espécie de trabalho façamos. Escavando esgoto, inventando dispositivos que poupem trabalho, pregando sermões ou qualquer outra coisa, é tarefa espiritual, quando feita com amor a Deus e à humanidade”.
Vemos assim que o processo de desabrochamento da divindade existente dentro de nós depende do nosso conceito sobre as pessoas, nossas relações com elas e, o mais importante, nosso serviço a elas prestado. A nossa divindade nunca evoluirá no isolamento; embora seja verdade, sem dúvida, que quanto mais nos tornarmos adiantados espiritualmente, pareceremos estar, em certo sentido, mais isolados dos outros humanos, nossos companheiros.
Devemos aprender, todavia, a transcender esse isolamento dentro de nós próprios. De certo modo estaremos sozinhos. Ainda assim, a nossa compaixão cada vez mais abarcante em relação aos outros e a eterna consideração que lhes tivermos nos manterão bem ocupados, evitando que permaneçamos refletindo o fato de estarmos, talvez, não tão cercados de “amigos” como outrora.
Em outro sentido e muito mais significativo, entretanto, estaremos menos sós do que nunca, porque quanto mais desenvolvermos nossos atributos divinos, mais perto de Deus chegaremos e nos tornaremos uma parte mais ativa d’Ele, cada vez mais nos compenetrando da “unidade fundamental de cada um com tudo”. À medida que o Cristo interno nasce e Se desenvolve, sentiremos mais profundamente a bênção celestial se ampliando e nos apoiando em nossa jornada ascendente.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto de 1970)