Maio de 1915
Na Carta de Março[1], como você deve se lembrar, sugeri a concentração da energia numa só direção, aconselhando, como já tinha feito anteriormente, que os Estudantes Rosacruzes dediquem todo o tempo livre deles para trabalhar numa única sociedade religiosa[2], em vez de dissipar e distribuir as energias deles pertencendo à várias dessas sociedades, pois é impossível fazer um trabalho eficaz dessa maneira.
Desde então, recebemos alguns pedidos de desistência de Estudantes na Fraternidade Rosacruz, o que não foi inesperado. Entre os membros de uma associação tão grande como a Fraternidade Rosacruz, alguns dos que pertencem simultaneamente a outros grupos, naturalmente, teriam uma preferência maior por algum outro lugar e, em consequência dessa sugestão dada no parágrafo anterior, seguiriam essa tendência. No entanto, é surpreendente que tenha havido tão poucas desistências. De fato, a surpresa é que houve poucas desistências, mas isso, sem dúvida, se deve ao fato de que a Fraternidade Rosacruz retira, periodicamente, da sua lista aqueles que mostram pouco interesse e, assim, mantém apenas os Estudantes Rosacruzes ativos.
Mas o tom dessas desistências é que nos entristece. Alguém nos escreveu: “Sou membro da Igreja Episcopal e pago lá a minha contribuição periódica, etc., etc.”. Parece estranho que alguns não compreendam que a Fraternidade Rosacruz não é antagônica a nenhuma organização religiosa (seja qual for) ou sociedade e, nesse particular, não as que professam o Cristianismo. Temos afirmado, repetidamente, que apoiamos qualquer pessoa que se associe a uma Igreja Cristã. O que a Carta se refere não foi sobre Religião, mas sobre “sociedades religiosas”; e, como disse, não é porque temos algo contra as sociedades que trabalham seguindo as linhas Cristãs. Há, por exemplo, a Sociedade da Unidade de Kansas City[3], uma organização honesta e com boa moral, sob direção de uma nobre liderança, tanto quanto podemos depreender de todas as informações que temos recebido. Mas, para bem obrar nesta ou noutra sociedade religiosa, toda a sua energia durante o tempo livre deve ser dada apenas a essa sociedade; e se um membro da Fraternidade Rosacruz, que pertença igualmente a essa outra organização, decide se dedicar somente a essa última, age corretamente, não só com essa organização como também com a Fraternidade Rosacruz, muito melhor do que se prosseguisse a sua ligação com ambas. Por outro lado, se por suas afinidades, resolve permanecer com a Fraternidade Rosacruz, então é melhor para ele, melhor inclusive para a Sociedade da Unidade e para a Fraternidade Rosacruz, que ele se dedique exclusivamente a nossa Associação.
Como já dissemos muitas vezes, muitos caminhos conduzem a Roma, mas não podemos seguir dois caminhos ao mesmo tempo. Devemos seguir só um para chegar lá. Ziguezaguear de um para o outro é um desperdício de esforço. Se cumprirmos efetivamente com os nossos deveres no mundo, muito pouco tempo livre nos restará para que possamos trabalhar legitimamente em nosso próprio benefício nas linhas espirituais. Portanto, devemos focar para concentrar os nossos esforços no que nos seja mais proveitoso, em vez de dissipar as energias e obter pouco crescimento da alma.
Além disso, convém deixar bem claro que, se em algum momento as condutas políticas da Fraternidade Rosacruz não merecer a aprovação de alguém, esse não age bem se simplesmente desertar e passar a protestar contra nós já do lado de fora. Se permanecer conosco, nós o escutamos como um irmão ouve outro irmão ou outra irmã, e ponderamos os seus argumentos de um ponto de vista muito diferente da que ocorre quando ele deserta, mostra-se hostil e se transforma em um oponente. Então, os mesmos argumentos perderiam boa parte do seu peso. Estamos todos de acordo com os pontos principais dos nossos Ensinamentos Rosacruzes. Cada um de nós, certamente, aprecia o benefício que colhemos dessa Filosofia Rosacruz que estamos empenhados em promulgar. Não é adequado, então, sermos tolerantes em questões de políticas, para que possamos dedicar toda nossa atenção aos ideais?
(Carta nº 54 do Livro “Cartas aos Estudantes” – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Refere-se à Carta aos Estudantes de março de 1915, aqui transcrita: “Concentração no Trabalho Rosacruz
Meditando sobre a utilidade da Fraternidade Rosacruz, surgiu-me a pergunta: “Qual o obstáculo mais comum que impede o nosso progresso no trabalho espiritual?”. E a resposta foi: “A falta de concentração”.
Todos temos uma família que depende de nós e que tem direito a uma parte da nossa atenção. Nosso trabalho no mundo não deve ser negligenciado sob pretexto algum. Estamos aqui para executar certas tarefas e aprender por meio delas. Depois de atender a esses deveres, vejamos se ainda nos sobra algum tempo para aplicá-lo, justa e apropriadamente, no nosso próprio desenvolvimento.
Na vida cotidiana, não tentamos ser médicos hoje, trabalhar numa indústria amanhã e, no dia seguinte, começar uma nova atividade. Sabemos que tal procedimento não nos levaria a lugar algum. Devemos, portanto, seguir uma linha de trabalho no mundo.
Por que não aplicar o mesmo bom senso em nossos esforços espirituais? Sabemos que tanto o progresso social e como profissional dependem da soma de concentração, planejamento e perseverança que tivermos. Então, se nos mostramos tão sábios e prudentes no que diz respeito às coisas do mundo, que duram apenas os poucos anos de nossa vida terrena, por que não nos empenhamos em usar o mesmo bom senso, aplicando-o de corpo e alma às coisas espirituais que são eternas?
Aqueles que perambulam de seita em seita ou em várias escolas filosóficas e que pensam ser conhecedores das mais variadas práticas espiritualistas falham ao ver sua falta de profundidade. Eles se vangloriam de seu conhecimento de livros e palestras até ficarem doentes com indigestão mental. Ouvem e leem muito, mas praticam pouco.
Para nossas atividades terrenas necessitamos de trabalhadores experientes, hábeis e dedicados. No Reino Celestial, a lealdade e a devoção são também fatores primordiais.
Nossa contínua presença faz com que o carvão latente em cada um de nós se transforme em chama e emita luz e calor, unindo e fortalecendo nosso ideal no caminho da espiritualidade.”
[2] N.T.: Vamos definir aqui o que é uma “sociedade religiosa” ou “associação religiosa” para não confundirmos com Religião: uma sociedade religiosa ou associação religiosa é a congregação incorporada de um grupo religioso. Uma congregação incorporada ou grupo religioso atua como uma ‘pessoa jurídica’ legal que existe separada e separada de seus membros. Nesse sentido pode desenvolver, também, outras atividades, de caráter econômico, como instituições educacionais ou empresariais.
[3] N.T.: Era uma sociedade fundada pelo casal Charles e Myrtle Filmore: Aos 40 anos, Myrtle Fillmore ficou muito doente. Foi-lhe dito que ela tinha tuberculose e tinha menos de 6 meses de vida. Quando a medicina tradicional e os médicos deixaram de dar alívio, ela começou a pesquisar meios alternativos de cura. Ela assistiu a palestras de praticantes que estavam na vanguarda da cura espiritual. Myrtle teve uma epifania. Ela despertou para a verdade de que ela era uma expressão do espírito divino e era por meio desse mesmo espírito que ela poderia ser curada. Ela descobriu a Oração Afirmativa. Em vez de implorar a Deus para lhe dar algo ou fazer algo acontecer, Myrtle afirmou que o que ela pediu já estava acontecendo. Ela orou e meditou diariamente por mais de dois anos. Ela comunicou pensamentos positivos e curativos às células de seu corpo. A fé de Myrtle nunca vacilou e ela viveu mais 46 anos. Inspirados pela saúde renovada, os Fillmores se interessaram em dar às pessoas ferramentas práticas no Cristianismo para melhorar suas vidas. Charles estudou Religiões e filosofias mundiais. Ele também estudou a ligação entre Religião e Ciência. Em 1889, Charles e Myrtle começam a escrever sobre suas crenças e, pouco depois, nasce a Unidade (Sociedade da Unidade de Kansas City). Em abril de 1889, os Fillmores publicam a primeira edição de Modern Thought, uma revista nacional mensal dedicada a questões espirituais. O nome da revista foi mudado para Unity Magazine em junho de 1891. Eles usaram sua revista para contar às pessoas sobre a Society of Silent Help, renomeada Society of Silent Unity em 1891. Myrtle diz aos leitores que o trabalho da Society of Silent Help é “aberto para todos.” Em 1891, Charles escolhe ‘Unidade’ como o nome do movimento que estão fundando.
Myrtle inicia a Wee Wisdom em 1893, uma revista mensal para crianças, e permanece como editora por muitos anos. Quando foi descontinuada em 1991, Wee Wisdom era a mais antiga revista infantil publicada continuamente no país.
A Lua na Tradição Oculta – Parte I – A Significância Espiritual da Lua Nova
Corinne Heline
Os primeiros ensinamentos do Templo foram dados quase no início da civilização. Nenhum desses ensinamento está perdido; mas, através dos tempos foram endereçados aos cuidados das Escolas de Mistérios e ainda estão disponíveis aos “poucos” que estão prontos para recebê-los. Muitos dos belos cerimoniais simbólicos e pertencentes aos antigos Templos de Mistérios foram incorporados às várias Religiões do mundo. Talvez os dois mais importantes desses cerimoniais, levados à primitiva Igreja Cristã, sejam o cerimonial do Batismo e o da Festa do Amor Místico que, na terminologia da igreja, é chamado de Eucaristia ou Sagrada Comunhão.
Esses dois cerimoniais, como observados nos antigos Templos de Mistérios, geralmente eram comemorados nas noites de Lua Nova e Lua Cheia. Os neófitos do Templo eram ensinados que esses são os pontos espirituais elevados de cada mês, porque nas noites de Lua Nova e Lua Cheia há uma liberação adicional de energias espirituais em todo o Planeta Terra, exterior e interiormente.
É significativo que em vários livros do Antigo Testamento o leitor seja advertido contra a participação nos festivais da Lua, e eles são o objeto de muitas repreensões veementes de vários profetas. A razão para isso é que os cerimoniais religiosos pertencentes à Era de Touro, embora belos e puros em suas concepções originais, no tempo do Antigo Testamento degeneraram em feitiçaria e sensualismo do tipo mais degradante. As assembleias da Lua Nova haviam se tornado conclaves sombrios e sinistros, sob a égide dos deuses e deusas da feitiçaria, enquanto as festas da Lua Cheia eram tempos de folia licenciosa, descritos no Antigo Testamento como a adoração ao bezerro de ouro. À parte desses festivais degenerativos, no entanto, havia verdadeiros Mistérios da Lua que eram celebrados nos santuários mais internos do Templo, que sempre foram uma forma da ordem celestial mais elevada e sagrada.
Para o Aspirante no Templo do Mistério, a Lua Nova é uma época de novos começos. É tempo de consagração e dedicação aos mais exaltados ideais aos quais ele aspira. No final de cada mês lunar, portanto, ele examina cuidadosamente, em retrospecto, todas as obras do mês que acabou de terminar e observa em que falhou em viver fiel a esses ideais, tentando descobrir o motivo dessas falhas.
Um dos mais notáveis videntes modernos disse que o único e verdadeiro fracasso que alguém pode conhecer é deixar de tentar; e, assim, o Discípulo do Templo de Mistério tem a oportunidade de rever suas falhas. Por mais lamentáveis que sejam, ele sabe que não são irremediáveis, porque não parou de tentar.
Logo após o festival da Lua Nova e a cada mês, o Discípulo é instruído a se doar a um ideal pessoal ou de um movimento que contribuirá, por menor que seja, para a elevação da humanidade e o aprimoramento do mundo. Isso é feito para provar sua abnegação total e irrestrita, em harmonia com o belo mantra Rosacruz: “O serviço amoroso e desinteressado é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que conduz a Deus”.
Nos ensinamentos do Templo, o cerimonial batismal era, geralmente, observado nas noites de Lua Nova e a Festa do Amor Místico, ou Eucaristia, nas noites de Lua Cheia.
O serviço batismal que foi organizado para se harmonizar com a lei esotérica está disponível hoje. Simples na forma, ainda que rico em substância espiritual e poderoso em invocação da torrente cósmica.
Os Quatro Elementos são usados nesse cerimonial e cada um é dedicado ao serviço do Aspirante. Eles são: Sal, Óleo, Água e Fogo (Luz). O sinal da Cruz também é usado, como na igreja. A Cruz é um símbolo pertencente aos primeiros ensinamentos do Templo e sua assinatura é um ato litúrgico de “magia” espiritual que sela a unidade do ser humano com o cosmos. É um símbolo cósmico em ação. Ele invoca as bênçãos de Câncer, a Hierarquia do Norte; Capricórnio, a Hierarquia do Sul; Leão, a Hierarquia do Oriente; Aquário, a Hierarquia do Ocidente. Câncer representa os Elementos da Água; Capricórnio, os da Terra; Leão, o do Fogo e Aquário, o do Ar.
Uma bênção é pedida aos quatro grandes Seres que operam através dos Quatro Elementos Cósmicos que são tão importantes no trabalho evolucionário do nosso Planeta Terra e dos seres residentes nele.
Na bênção dos Quatro Elementos, o sinal da Cruz é feito primeiro no Coração e depois na testa; sendo o Coração o núcleo de amor do corpo e a cabeça, o centro da Mente. O ponto crucial dos ensinamentos do Templo sempre foi a unificação das forças da Mente com as do Coração. A Bíblia nos mostra que devemos aprender a pensar com o Coração e a amar com a Mente. Quando essas duas forças são estabelecidas em equilíbrio dentro do ser humano, ele “nasce” como um Iniciado. É a união das duas forças cósmicas que a Bíblia retrata simbolicamente como uma Festa do Casamento Místico. É com uma Festa do Casamento Místico que o Evangelho Segundo São João começa. São João foi o mais avançado dos Discípulos de Cristo e, por isso, seu Evangelho contém os ensinamentos do Templo mais exaltados já dados ao mundo.
Um por um, os Quatro Elementos Sagrados são abençoados para o serviço do Aspirante. Em primeiro lugar, o Elemento Sal, símbolo de pureza: a pureza do alimento que sustenta e nutre o Corpo Denso; a pureza do amor que desperta o Coração; a pureza do pensamento que ilumina a Mente; a pureza da ação que embeleza a vida. Aquele que realiza o rito batismal coloca suas mãos sobre o Sal em bênção e, então, faz o sinal da Cruz no Coração do Aspirante, dizendo: “Cristo ensina que somente os puros de Coração verão a Deus”. Em seguida, o sinal da Cruz é feito na testa, com as palavras: “Quando a pureza é alcançada na consciência do ser humano, isso é conhecido como um grande poder espiritual. Do servo de Deus é dito que sua força é como a força de dez, cujo Coração é puro”.
Então as mãos são colocadas em bênção sobre o Óleo, que é o símbolo da harmonia, unidade, cooperação, da cura, do companheirismo, da fraternidade. Novamente o sinal da Cruz é feito no Coração, com as palavras: “Se andarmos na Luz como Ele está na Luz, seremos fraternais uns com os outros”. E novamente o sinal da Cruz é feito na testa, com as palavras: “Que a aspiração do seu pensamento o eleve sempre à realização harmoniosa com o ideal da Paternidade de Deus e da Fraternidade do Homem”.
Em seguida, as mãos são colocadas em bênção acima da vela acesa, pois o Fogo é o símbolo da fé e a fé tem sua casa no Coração. O sinal da Cruz é feito no Coração e as palavras são pronunciadas: “Que a bela fé de uma criança viva sempre e floresça em seu Coração”. O sinal da Cruz é, então, feito na testa, junto às palavras: “Cristo disse: se tiverdes fé como um grão de mostarda, tudo quanto pedirdes será feito a vós”.
Em seguida, as mãos são abençoadas acima da vela acesa. São João deu a única descrição perfeita da Luz quando disse: “Deus é Luz”. Ao que acrescentou: “Deus é Amor”. Mais uma vez o sinal da Cruz é feito acima do Coração: “Que este Amor-Luz celestial sempre brilhe em seu Coração e ilumine sua vida e a vida de todos aqueles que você encontrar”. Novamente o sinal da Cruz é feito na testa e as palavras de São Paulo são ditas: “Que esteja em vós aquela Mente que também estava em Cristo Jesus”.
Agora, as mãos são colocadas na Água; mais uma vez é abençoada e algumas gotas são colocadas sobre a cabeça do aspirante no encerramento da bênção: “Que você ande sempre na Luz como Ele está na Luz e que você sempre viva, mova-se e tenha seu ser n’Ele. Amém”.
O cerimonial do batismo ocupou um lugar de destaque na vida da primitiva comunidade Cristã. Foi observado em muitas estações; talvez a mais importante delas sendo o Sábado Santo, à noite, imediatamente antes do amanhecer da Páscoa. Foi nessa época que os recém-batizados foram encontrados esperando para tomar parte naquela gloriosa procissão da Páscoa, que ocorre nas altas esferas espirituais e que é conduzida por nosso bendito Senhor, o Cristo.
(Publicado na Revista New Age Interpreter – Corinne Heline – first quarter, 1963 – traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)