A Autossuficiência do Método Ocidental Rosacruz
“O método Rosacruz difere de todos os outros num ponto especial: procura, desde o princípio, emancipar o Aspirante de todas as dependências externas e orienta-o a cultivar a confiança em si próprio ao máximo grau, a fim de que se torne num ponto de apoio e de ajuda aos demais — levando-os a alcançar a mesma desejável condição” (Max Heindel, em O Conceito Rosacruz do Cosmos).
A presença e ação de um orientador espiritual autêntico, longe de impor dependência, promove uma relação essencial do Aspirante consigo próprio. Sua ajuda, como fator externo e relativo, devolve a pessoa a uma mais alta consciência de seu próprio ser. Leva o estudante a desvendar em seu íntimo uma necessidade até ali insuspeitada por ele, libertando-lhe energias e capacidades que, sem esse suscitar, não teriam encontrado aplicação, continuando adormecidas dentro dele.
O orientador Rosacruz guarda-se de ser endeusado. Ele conhece a verdade ensinada pela doutrina psicanalítica: “o indivíduo, uma vez desligado da constelação familiar, esforça-se por estabelecer nos novos meios de relacionamento (a Fraternidade, por exemplo) ligações da mesma ordem. Ele está essencialmente desejoso de reencontrar uma mãe, um pai, irmãos, por causa de uma necessidade regressiva que lhe dá segurança”. De fato, há no neófito inexperiente a tendência de superestimar os dirigentes de um movimento espiritual.
Quando se desiludem, muitas vezes, se afastam e nunca mais voltam a outro esforço dessa ordem. É preciso, pois, que saibam: todos, num movimento espiritual, são estudantes da verdade. Todos objetivam o mesmo fim de realização individual. Se alguns se põem no difícil papel de expositor e orientador é porque não se podem negar à necessidade da difusão e do serviço amoroso e altruísta ao próximo.
O orientador esclarece, desde logo e sempre, que a verdade pertence ao Divino interno. O Cristo Interno é que pode apropriar-se das experiências e ensinos externos, adaptando-os ao grau particular de consciência evolutiva da personalidade pela qual atua. Só o Verbo interno pode instruir. Como disse Descartes: “É preciso tornar as pessoas discípulas da verdade e não sectárias obstinadas do que o expositor ensina”. Há sempre o risco de se corromper essa pura busca da verdade, quando o Aspirante tende a venerar a personalidade do instrutor, em vez de buscar, além da pessoa, a revelação de que ele é simples mensageiro. Se buscássemos a verdade além da pessoa, poderíamos aproveitar o que diz qualquer orador, além das simpatias e antipatias exteriores. O ser humano aberto à verdade, aprende de tudo e de todos, porque a reconhece, independentemente de sua fonte. O Divino sempre traz à nossa experiência aquilo que devemos aprender, mas isso requer que estejamos descondicionados.
Assim, colocamo-nos na vida como aprendizes e mestres, uns dos outros, cada qual contribuindo animicamente pela edificação de todos. A presença, embora necessária do orientador, é ocasional, para provocar relação com a verdade que ele já atingiu em alguma medida. Ninguém nos dá a verdade porque ela já está repousando, em potencial, dentro de nós. No entanto, ela precisa ser suscitada e isso subentende a presença de um intercessor que tenha realizado boa dose da verdade. Contudo, isso não o converte em mestre. Ele, por sua vez, recebeu essa verdade universal dos verdadeiros Mestres da humanidade, aqueles altos Iniciados que, por seu esforço individual, abriram caminho à frente, tornaram-se os vanguardeiros da evolução e alcançaram uma ampla visão da verdade. Por amor, voltaram e no-la revelaram, através de Iniciados menores, como foi o caso de Max Heindel. Tal é a garantia da verdade que recebemos, inicialmente. Depois devemos experienciar essa verdade e torná-la nossa, pela adequação ao nosso nível de ser. Todo orientador aprende dos Mestres que os caminhos são individuais e diferentes, por causa da Epigênese – a chispa criadora interna. Assim, a orientação legítima é encaminhar cada pessoa para que ela seja autenticamente ela mesma.
É um triste exemplo o do orientador que impõe pontos de vista e se compraz na imitação do neófito. O estudante que se esforça em alcançar o favoritismo pela imitação do orientador, amesquinha a si mesmo; e o orientador que o permite, comete deturpação pedagógica, lesa o livre arbítrio do aluno, lhe anestesia a Epigênese e assume uma dívida de destino. Ambos se iludem e se prejudicam.
Max Heindel relata sua experiência com o Irmão Maior e Mestre: sempre que ia procurá-lo em busca de uma solução difícil, Ele apenas lhe indicava o caminho e nada dizia. Os Irmãos Maiores desencorajam toda e qualquer dependência.
Tal é o método cristão-esotérico. Cristo disse: “Se alguém quer ser meu Discípulo, tome sobre si mesmo sua cruz e siga-me”. É o mesmo que dizer: “Eu te mostro a direção, mas deves assumir o teu destino, arrostando tuas dificuldades e realizando tua obra evolutiva a teu modo”.
No seu último dia de vida, Sócrates dirige a seus discípulos uma solene advertência: “Não façais grande caso de Sócrates. Acreditai-me nisto. Levai em conta a verdade de que não apenas eu sou portador”.
Sócrates tinha razão ao esclarecer seus discípulos na hora derradeira. Sua ausência não seria a ausência da verdade, pois ele sabia ser apenas uma interposta pessoa nesse solilóquio de cada um consigo próprio, desvelando o íntimo, que é a terra natal da verdade. Ele nos ensinou que todo o verdadeiro instrutor é um medianeiro de consciência. Por isso permanecia como um parteiro de almas. Ele suscitava e trazia à luz, o conhecimento potencial, pré-existente em cada indivíduo. Por isso reduzia-se, humildemente, à função de um parteiro espiritual, convicto da presença antecipada da verdade do Cristo interno, que deve nascer e crescer. Ele mostrou que a suprema relação é a do ser humano para consigo mesmo; ele revelou que o ser humano não tem outro centro que não seja ele mesmo. O mundo inteiro se concentra nele (no profundo sentido e não egoístico). Desse modo, conhecer-se a si próprio é conhecer a Deus…
Contudo, não se entenda que devamos permanecer na verdade que recebemos; comprazendo-nos em ser discípulos para sempre. Bem disse Kant: “o estudante não deve aprender pensamentos, e sim, aprender a pensar, para que não seja carregado em dependência, mas guiado e, no futuro, seja capaz de dirigir-se por seus próprios meios”.
É claro que o instrutor ajuda muito na abertura, despertar e evolução da consciência, estimulando e suscitando a verdade interna potencial. A evolução humana é uma cadeia de amor. Sempre alguém ajudou outro a subir. Nosso nível evolutivo atual foi ajudado por outros que nos precederam. Há um patrimônio de cultura e de consciência que os mais adiantados vão deixando aos detrás, se bem que a assimilação da verdade é individual e cada um de nós enriquece esse patrimônio com algo de original que os outros não têm.
O importante é que cada um procure superar-se continuamente. Permanecer numa verdade relativa, sem ultrapassá-la para atingir outra mais alta, é retardante. Na escada de Jacó, aquele que não tira o pé do degrau de baixo não pode levá-lo ao de cima, no esforço de constante ascensão.
Só o fanatismo ignorante se detém em alguma coisa, considerando-a como a última palavra. Max Heindel nos adverte continuamente contra isso. Em o Conceito Rosacruz do Cosmos ele diz: “esta obra não é a última verdade. O autor reconhece a possibilidade de haver-se enganado em alguns pontos, motivo por que, quaisquer eventuais falhas não devem ser imputadas aos Irmãos Maiores”. Os próprios Irmãos Maiores — Altos Iniciados — admitem que algumas vezes se enganam. Eles sabem que, em relação à verdade absoluta, todos somos discípulos. Por mais que, espirais muito maiores, Eles busquem assenhorear-se da Verdade, sempre há algo a atingir, porque a verdade é infinita. Daí que a relação deles com a verdade seja uma relação de humildade.
Uma escola é autêntica quando tem por alicerces mestres dessa natureza, que através de suas mensagens buscam orientar os estudantes à própria realização. Todos temos direito de despertar para uma verdade maior, sem dependências. Buscar segurança na tutela de um mestre, não é da Escola Ocidental de Mistérios. Seria um parasita o estudante que permanecesse na mesma linguagem recebida do Mestre, repetindo indefinidamente a tradição, receoso de errar, de faltar à fidelidade; incapaz de recriar, como lhe reclama o dom epigenético. Aprender a meditar, a pensar, é saber desmembrar uma verdade básica em todas as infinitas consequências. Se o Conceito Rosacruz do Cosmos é uma exposição elementar da verdade Rosacruz, isto significa: é um mundo de verdades ocultas, manifestado simplesmente no que se lê. Existem abismos de decorrências nas entrelinhas.
Apesar de seu imenso amor, os Mestres ocidentais estão prevenidos para não se apegarem aos discípulos. Só os falsos mestres submetem os incautos alunos à sua tutela, como pais que relutam em compreender e aceitar que os filhos devem ter vida própria quando se tornam adultos. A psicologia fala do “complexo de desmame” e das perturbações que ele produz na família. O mesmo sucede na família espiritual, entre mal preparados instrutores e seus alunos, que se deixam enredar nessas interferências subconscientes, em prejuízo da mútua edificação. Assim como os pais não devem submeter à escravidão os filhos que põem no mundo, também o mestre não deve prender o discípulo que formou — senão ajudá-lo a alcançar a autenticidade e consciência plena de si próprio. Por isso lhe facilita a libertação e compreende quando o discípulo, no esforço de autoafirmação, se volta contra ele, como os rapazes em relação ao pai “quadrado”.
Não se trata de escolher entre o mestre e a verdade. Foi ele quem nos introduziu à verdade. A amizade e gratidão pelo mestre é a mesma amizade e gratidão pela verdade. Somos gratos ao mestre, não pela pessoa dele senão pelo papel de intercessor que exerceu, para desperta-nos a verdade. Não significa que não tenhamos o direito de contradizer e tentar ultrapassar o mestre.
Esse esforço de autorrealização não é contrário à amizade, senão o fruto dela, porque recebemos do mestre a procuração para prosseguir a tarefa de investigação à nossa maneira. O que se passa é que, no esforço de autorrealização, quase sempre o discípulo se envolve na vaidade. Na tradição filosófica da Grécia há trechos lindíssimos de discípulos que se voltaram contra seus mestres, no esforço de serem eles mesmos. É como se cometessem um patricídio, ao consumar o simbólico crime de eliminar a dependência ao mestre, no rito de passagem à própria autonomia.
Mais tarde compreendem que não mataram nada porque a verdade é imortal e só ela é quem esteve presente, relacionando-os, englobando-os e tornando sublimes os seus diálogos. Só então se tornam cônscios da função do mestre e do discípulo. Só então podem atuar corretamente, em relação àqueles a quem, por sua vez, toca ajudar.
Orientador e aluno, cada um desempenha um papel essencial, um em relação ao outro, provisoriamente. É apenas uma fase na vida de cada um deles, na qual o desenvolvimento se cumpre pela verdade em diálogo, cada um exercendo o seu entendimento e buscando o outro, num confronto e desejo de mútua edificação.
Finalizamos com um pensamento de Leonardo da Vinci: “Triste é o discípulo que não se esforça por ultrapassar seu orientador. Triste é o orientador que se indigna por ver os seus discípulos esforçando-se por ultrapassá-lo”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)
Pelas Veredas do Nosso Esquema de Evolução atual
Constitui incontestável verdade que “EM DEUS VIVEMOS, NOS MOVEMOS E TEMOS O NOSSO SER”. Somos espíritos, partes integrantes do Grande Corpo Divino.
Temos, em forma latente, embrionária, todas as possibilidades do nosso Pai Celestial. O desenvolvimento de nossas potencialidades divinas conduzir-nos-á a um estado de onisciência, inconcebível às nossas limitações atuais.
Segundo os Rosacruzes, no início de cada manifestação, Deus diferencia dentro de Si mesmo (não de Si mesmo) uma plêiade de espíritos virginais, como chispas de uma Chama. Esses espíritos virginais converter-se-ão também em Chamas, pela expansão de suas faculdades latentes. Esse processo se realiza através da EVOLUÇÃO. Esta, entretanto, representa apenas uma das partes do esquema. Na realidade, o progresso do espírito assenta-se sobre um tripé: involução, evolução e Epigênese.
Involução é o espaço de tempo dedicado à aquisição da consciência individual e à formação dos veículos, através dos quais o espírito se manifesta. Dá-se o nome de evolução à fase da existência durante a qual o ser desenvolve sua consciência até convertê-la em onisciência.
Involução e evolução, porém, são insuficientes para garantir o desenvolvimento do espirito ao nível de seu Divino Pai. Um terceiro fator surge como uma autêntica força motriz, empurrando, acelerando, despertando faculdades recônditas, rumo às alturas da perfeição: é a Epigênese. Ela faz a evolução de cada indivíduo diferir da dos demais, por fornecer-lhe a capacidade de criar sempre algo novo, original, inédito. Toda habilidade criadora provém da Epigênese.
Pelo que sabemos, somente a Filosofia Rosacruz tem a Epigênese como fator de progresso do espírito. Muitos estudiosos esoteristas tendem a admitir a evolução como sendo um mero desdobramento ou desenvolvimento de qualidades latentes. Para eles, todo progresso gira em torno do binômio causa-efeito. Numa linguagem que de simplista resvala até ao rudimentar pode-se dizer que a maioria das pessoas julga que “o que atualmente existe é o resultado de algo anteriormente existente”. Se assim fosse, não haveria margem para novos e originais esforços, capazes de promover novas causas. Tudo não passaria de repetição. É a Epigênese, portanto, o único fator suscetível de explicar satisfatória e convenientemente o sistema a que pertencemos.
Todo esse progresso se realiza através dos cinco Mundos, em sete grandes Períodos de Manifestação, durante os quais, da profunda inconsciência à onisciência, as vidas em evolução se convertem primeiramente em homens e depois em Deus. Esses sete Períodos, renascimentos sucessivos da Terra, são os seguintes:
Os Períodos de Saturno, Solar e Lunar pertencem ao passado. Encontramo-nos, agora, vivendo as condições da metade mercuriana do Período Terrestre. Findo esse último, passaremos, sucessivamente, aos Períodos de Júpiter, Vênus e Vulcano.
Através dos três e meio Períodos passados adquirimos nossos veículos e desenvolvemos nosso atual estado de consciência. Nos três e meio Períodos restantes aperfeiçoaremos ao máximo esses veículos. Concomitantemente nossa consciência se expandirá à onisciência.
No Período de Saturno, recebemos, dos Senhores da Chama, o germe do nosso atual Corpo Denso. Esse, portanto, é o nosso veículo mais antigo, o mais aprimorado atualmente, e o mais útil como meio de obtenção de consciência. A consciência da vida em evolução era semelhante à do mineral, transe profundo. Nesse longínquo Período, os Senhores da Chama tornaram-se novamente ativos na metade da sétima revolução, com o propósito de despertar o princípio do Espírito Divino nos Espíritos Virginais.
No Período Solar, recebemos o germe do Corpo Vital, graças ao trabalho de uma Hierarquia denominada Senhores da Sabedoria. Contudo, quem nos despertou o segundo princípio espiritual, ou seja, o Espírito de Vida, foram os Querubins. O estado de consciência predominante era o de “sono sem sonhos”, análogo aos dos atuais vegetais.
No Período Lunar, houve, uma vez mais, uma mudança nas condições ambientais. A característica marcante do Período de Saturno pode ser representada pelo termo “calor”. No Período Solar, pelo termo “luz”. Já no Período Lunar as condições prevalecentes resumem-se em uma palavra: “umidade”. Nesse Período, por intermédio do trabalho desenvolvido pelos Senhores da Individualidade, adquirimos o germe do Corpo de Desejos. Dá-se o nome de Serafins à Hierarquia responsável pelo despertamento do Espírito Humano nos seres humanos. A peregrinação através das condições do Período Lunar corresponde à fase de existência análoga à dos animais. O estado de consciência do homem era o de “sono com sonhos”, uma consciência pictórica.
Na Época Atlante, do Período Terrestre, recebemos, por obra dos Senhores da Mente — a Hierarquia de Sagitário — o germe da Mente. Foi o marco da nossa individualidade. Passamos, então, ao estado de consciência de vigília, conhecendo perfeitamente o mundo exterior.
O Período Terrestre é a atual fase do nosso desenvolvimento. Os Rosacruzes chamam-no de Marte-Mercúrio. Dos grandes Dias de Manifestação surgiram os nomes dos dias da semana:
Dia Correspondente ao Regido por
Sábado ………………. Período de Saturno ……………………… Saturno
Domingo ……………… Período Solar………………………………… Sol
Segunda-Feira. …………Período Lunar…………………………….. Lua
Terça-feira… ………..1ª metade do Período Terrestre ………. Marte
Quarta-feira …………2ª metade do Período Terrestre …….. Mercúrio
Quinta-feira. …………… Período de Júpiter. …………………….Júpiter
Sexta-feira. …………….. Período de Vênus ………………………. Vênus
O Período de Vulcano, não incluído no quadro acima, é o último do atual esquema de evolução. Nas seis primeiras Revoluções desse futuro Período, extrair-se-á, por recapitulação, espiral após espiral, a quintessência de todos os Períodos precedentes. O Período de Vulcano corresponde, portanto, à semana com todos os sete dias.
Os astrólogos afirmam, com fundamento, que os dias da semana são regidos pelo astro particular que indicam. Um estudo cuidadoso das mitologias mostra como os “deuses” eram associados aos dias da semana. Assim, o dia de Saturno é sábado (Saturday); o domingo (Sunday) relaciona-se com o sol, e a lua, com segunda-feira (Monday). A terça-feira está relacionada com Marte — o deus da guerra —, tanto que os romanos chamavam-na de “Dies Martis”. O nome Tuesday (terça-feira) deriva de “Tirsdag”, “Tir” ou “Tyr”, o deus escandinavo da guerra. Wednesday (quarta-feira) dizia respeito a Wotanstag de Wotan, entidade mitológica do norte da Europa. Os romanos denominavam-nos de “Dies Mercurii”, o dia de Mercúrio. Thursday ou Thorstag (quinta-feira) deriva de “Thor”, deus do trovão, chamado pelos latinos de “Jove” ou Júpiter, donde “Dies Jovis”. De “Freya”, divindade da beleza, temos Friday (sexta-feira). Era o “Dies Veneris”, o dia de Vênus, para os romanos.
É mister esclarecer que os nomes dos Períodos nada têm a ver com os Planetas ou Astros físicos. Referem-se a encarnações passadas, presentes e futuras da Terra. O macrocosmo, tal como o microcosmo, também tem as suas encarnações. Segundo a ciência esotérica há 777 encarnações. Isto não significa que a Terra sofra 777 metamorfoses. Significa que a vida evolucionante faz 7 Revoluções em torno dos 7 Globos dos 7 Períodos. Vários diagramas do CONCEITO elucidam esse assunto, não obstante reconheçamos tratar-se de um tema bem abstrato, capaz de oferecer alguma dificuldade na compreensão de alguns pontos. Apesar de tudo, estudá-lo constitui algo fascinante, capaz de orientar o estudante pelos meandros da nossa longa jornada evolutiva.
(de Gilberto A V Silos – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de Janeiro/1978)
A Epigênese e o Destino Futuro
Quando estamos estudando a “Teia do Destino – Como se Tece e Destece”, é conveniente e absolutamente necessário que não percamos de vista da nossa Mente o fato de que a vida não é somente um desenrolar de causas estabelecidas em existências anteriores. O espírito, quando está de volta via o renascimento, tem uma quantidade variável de livre-arbítrio – de acordo com a vida vivida anteriormente – para preencher os detalhes. Além disso, ao invés de apenas transformar causas passadas em efeitos, há também causas novas geradas a cada passo dado pelo espírito e que, então, atuam como sementes de experiências para as vidas futuras. Esse é um ponto muito importante. É uma verdade evidente em si mesma, pois se assim não fosse, as causas que já foram definidas, em algum momento, devem terminar, e isso significaria o término da existência. Desta forma, não somos absolutamente forçados a agir de uma certa maneira, só porque estamos em um determinado ambiente e porque toda a nossa experiência anterior nos deu uma tendência em direção a um determinado fim. Com a prerrogativa divina do livre-arbítrio, o ser humano tem o poder da Epigênese ou iniciativa, de forma que possa começar em uma outra direção, a qualquer momento que desejar. Ele não pode, imediatamente, se afastar da vida antiga – isso pode exigir muito tempo, talvez várias vidas –, mas, progressivamente, ele se prepara arduamente para o ideal que ele uma vez semeou.
Portanto, a vida avança não apenas pela Involução e Evolução[1], mas especialmente pela Epigênese. Esse sublime Ensinamento da Religião da Sabedoria Ocidental dos Rosacruzes explica muitos mistérios que, de outro modo, não teriam uma solução lógica, e entre eles está um que ocasionou o recebimento de muitas cartas à Sede Mundial da The Rosicrucian Fellowship. Esse assunto é abordado com alguma relutância, já que o autor não gosta de falar sobre a guerra. A questão diz respeito à relação entre um soldado, uma mulher do inimigo feita prisioneira de guerra por ele e o Ego nascido de uma mãe que o odeia, por causa da maternidade indesejada.
A investigação de um certo número de casos mostrou que esse é um novo desafio para certa classe de espíritos que estão de volta via o renascimento. Todos tinham sido incorrigíveis em suas encarnações anteriores e parecia que nada de bom poderia mantê-los ali, para a tristeza daqueles que se relacionavam com eles. As condições da atual guerra[2], ainda que não tenha sido criada para esse propósito, oferecem uma oportunidade para transferi-los para outro campo de ação, onde a nova mãe colhe, através desta ação, os frutos dos erros cometidos por ela mesma em existências anteriores.
Nem tão pouco essa condição é de toda peculiar para a guerra. Muitas vezes, em outras ocasiões, são utilizados meios semelhantes para que possamos colher o que semeamos por meio de outros seres humanos que são aparecem em nossas vidas para seu próprio e nosso sofrimento. Eu me lembro de uma mãe que me disse, há alguns anos, como havia se rebelado contra a maternidade; como, depois de ter passado pelo período da gravidez com ódio e raiva em seu coração se recusou até a olhar para a criança quando nasceu; mas finalmente, ela sentiu piedade pela condição de desamparo daquela criança e mais tarde, a piedade se transformou em amor. A criança tinha todas as vantagens de que o dinheiro poderia lhe proporcionar, mas essas vantagens não poderiam salvar o seu equilíbrio mental, e hoje está preso como assassino em uma cela de um hospício para criminosos, enquanto a mãe foi deixada no seu sofrimento para ponderar sobre o que ela fez ou não fez, durante o tempo em que o bebê estava a caminho.
Inversamente, existe também ocasiões em que um espírito, terminando sua experiência em um ambiente, volta via o renascimento em uma nova esfera de ação, como um raio de Sol e conforto para aqueles que, por suas ações passadas, merecem receber tais bênçãos. Lembremo-nos, portanto, que não importa quão degradado seja um ser humano, ele tem sempre o poder de semear o bem, mas deve esperar até que essa semente possa florescer em um ambiente propício. Cada um de nós, embora sujeito ao seu passado, é livre no que diz respeito ao seu futuro.
[1] N.T.: sobre Involução e Evolução, com mais detalhes, veja aqui O Conceito Rosacruz do Cosmos, no Capítulo XIV, no item Involução, Evolução e Epigênese.
[2] N.T.: refere-se à Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
(Por Max Heindel – livro: Cartas aos Estudantes – nr. 55)
Liberdade ou Direito de ser Livre
“Livre vontade não é a liberdade de fazer o que quiser, senão o poder de fazer aquilo que deve ser feito, mesmo que seja contrário a um violento impulso. Eis aí, em verdade, o que é Liberdade” – K. B. MacDonald.
A liberdade que ganhamos pela obediência às leis é a única que conta. Se ESCOLHERMOS obedecer às leis, não podemos perder nossa liberdade. Porém, o ser licencioso e insultar à lei da terra, fará com que percamos nossa amada liberdade. O objetivo das leis na terra é dar o direito de ser livres a todos para a execução de nossas atividades, com segurança. É mais importante ainda considerar as Leis de Deus na natureza, pois elas tornam possível a evolução. Estamos num estado de mudança constante e, a seleção do justo ou errado pode mudar nosso destino. Não há descanso no caminho que nos conduz para o Criador.
Quando compreendemos o que é justo e verdadeiro, trabalhando constantemente para chegar à nossa meta, nosso progresso não será perturbado por repetidos erros e não teremos muito que retificar.
Então usaremos nosso tempo na Terra, que parece curto, trabalhando pela libertação do espírito.
Quando um Ego se acha pronto para retornar à Terra, se lhe permite escolher entre distintas vidas, porém uma vez feita a escolha não pode haver evasivas no que se refere aos acontecimentos principais durante essa vida particular na Terra. Temos livre vontade no que concerne ao futuro, porém o destino maduro está envolto na vida que escolhemos e não poderá ser evitado. O ser humano pode exercitar o livre arbítrio em muitos casos, porém se acha atado pelo destino que formou pelas dívidas criadas em vidas anteriores.
As grandes Inteligências, que têm a seu cargo esse assunto, sabem que requisitos são necessários para o ajuste de nossas obrigações. Entre as múltiplas relações que tivemos no passado, eles selecionam certo número de possíveis existências. Essas são mostradas ao Ego que está pronto para renascer e, portanto, pode selecionar uma ou várias delas. Escolhe, entre todas essas oportunidades, as que estão disponíveis no tempo particular desse renascimento, e amiúde existem grandes quantidades dessas oportunidades.
Uma vez feita a seleção, a vida do Ego seguirá a linha escolhida, porém: “não nos deixemos enganar pela ilusão de que o destino nos impele a agir mal em todo o tempo. A lei trabalha sempre, e apenas, para o bem, e o mal, em cada vida, é o primeiro a ser expurgado depois da morte, e apenas a tendência de fazer o mal em particular permanece com o sentimento de aversão gerado pelo sofrimento experimentado no processo de expurgação”. Não existe nunca a obrigação de fazer o mal.
É bom saber, e isso deve dar-nos uma certa firmeza em nossos esforços para resistir ao mal, pois nunca somos destinados para fazer o mal, senão que, cada ato mal feito, é um ato de livre vontade. Nossa consciência nos avisa, e somos livres para resistir, sempre que elejamos, entre o justo e o injusto. Nossa consciência nos impele para frente, para fazer tudo o que é construtivo e bom, pois a consciência é o resultado da dor e sofrimento experimentados em vidas anteriores.
Um fator muito importante e evidente em nossas múltiplas existências é a Epigênese. Brota do livre arbítrio e se manifesta como ação original. Essa divina e criadora atividade é a base da evolução da humanidade. A medida que o tempo avança haverá mais e mais oportunidade para esse divino atributo.
Parece ser, então, que estamos sujeitos a fatos maiores, porém, temos liberdade nos detalhes de nossas vidas, isto é, que temos muita liberdade no modo em que desejamos aprender nossas lições, sempre que, em verdade, as estejamos aprendendo, e existe a oportunidade para um trabalho novo e original, o qual chamamos Epigênese.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental promovem a liberdade pessoal dos indivíduos quando seguem os Ensinamentos da Filosofia Rosacruz. Ninguém deve obedecer a mestres, cada qual deve seguir seus próprios ditames internos. Aqueles que aspiram conhecer os ensinamentos internos e vivem no Mundo Ocidental não podem encostar-se ou depender de mestre ou guias. Não tendo um mestre sobre o qual encostar-se, o estudante tem que obter poder espiritual por sua própria iniciativa. Portanto, é óbvio, que cada qual tem que assumir a responsabilidade de suas próprias ações. Como existiria muito pouco progresso sem essa responsabilidade que mencionamos, devemos desejar assumi-la, sempre que aparecer a oportunidade. Desde logo, temos que estar certos em cumprir com as tarefas que se nos apresentem.
Quando fazemos o melhor que podemos e admitimos que as consequências de nossas próprias ações são nossas mesmo, ainda assim cometemos erros no cumprimento de nosso dever, então podemos aprender muito e ganhar em compreensão. Um coração compreensivo é muito desejável e difícil de se obter.
Desde o tempo em que a humanidade surgiu da densa atmosfera da Atlântida, entrou no mundo como um agente livre, com expressão das leis da natureza e de seu prévio e próprio destino adquirido. Desde então, o ser humano teve que aprender a se sustentar por si mesmo. Isto não é adquirido facilmente. Mais e mais reponsabilidades têm sido colocadas sobre seus ombros. Manter-se por si e assumir as consequências de suas próprias ações pode, às vezes, não ser muito agradável, porém é inevitável. Para desenvolver nossos poderes latentes espirituais, e assim tornar-nos ativos, temos que trabalhar, e enquanto trabalhamos temos que orar, pois assim nos manteremos em contato com os Mundos Superiores e receberemos a força necessária para seguir adiante.
O desenvolvimento futuro da humanidade dependerá mais e mais de sua própria iniciativa, e isso só leva a cabo quando o ser humano é livre. No princípio da evolução do ser humano, este vivia em pacífica ignorância, porém, desde que cresceu em conhecimento, começou a compreender muitas coisas. Durante inúmeras vidas aprendeu pela experiência e assim trocou sua ignorância pelo conhecimento da virtude.
O estudante sincero sabe, em seu interior, que o maior ladrão de sua liberdade é o tornar-se escravo de seus próprios desejos e apetites, e lamenta como São Paulo: “Porque o bem que quero, isto não faço; mas o mal que não quero, isto eu faço”. Para nos convertermos em verdadeiramente livres, temos que trabalhar pela nossa própria salvação, utilizando os poderes latentes, para o bem da humanidade.
Existem seres nos Mundos superiores sempre prontos para ajudar, se puderem fazê-lo, sem tirar esse nosso direito de liberdade. Copiando Max Heindel, no Livro: “Carta aos Estudantes”: “…porque embora ninguém possa interferir com o livre arbítrio da humanidade, e embora seja contrário ao plano divino o coagir, de alguma maneira, para que alguém faça o que não quer fazer, não existem barreiras contra as sugestões em assuntos que a ele possam agradar. É devido à sabedoria e ao amor desses grandes seres que o progresso em linhas humanitárias é a palavra de aviso de hoje em dia”.
O Mineral, a Planta e o Animal, todos os reinos, estão sujeitos à vontade dos Espíritos-Grupo; o ser humano é o único que possui livre vontade e iniciativa. À medida que o tempo avança, ele se fará cada vez menos susceptível às influências externas. “A Liberdade, é a herança mais preciosa da alma”, e podemos fazer pleno uso dessa herança sempre que sejamos cuidadosos em não interferir com o direito dos demais.
À medida que nossa consciência se desenvolve, temos que aprender a fazer o que é justo, conscientemente e de nossa própria vontade. Pode ser que seja necessário, para um Ego, selecionar uma vida cheia de duras lições para aprender, e essa nova existência pode estar cheia de calamidades, porém, ele pode escolher entre viver essa mesma vida honestamente e com humana dignidade, ou chafurdar-se na lama de modo vergonhoso. Ninguém pode interferir no modo em que ele trabalha em seu destino.
Copiando Max Heindel nas Cartas aos Estudantes: “Devemos aprender a lição do trabalho para um propósito comum, sem lideranças. Cada qual, igualmente induzido pelo espírito de amor que lhe vem do íntimo, deve empenhar-se pela elevação física, moral e espiritual da humanidade à altura de Cristo – o Senhor é a Luz do mundo”, e “onde está o Espírito do Senhor, aí há Liberdade” (IICo 3:17).
“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus Discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Joa 8:31-32).
(Publicada revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/86)
Epigênese: Os Seus Novos Caminhos
A Revolução Industrial, cujo berço foi a Inglaterra, no século XVIII, modificou totalmente o panorama da sociedade ocidental. A economia, então predominantemente agrícola e artesanal, passou a conhecer uma fase de surgimento de indústrias. As cidades se desenvolveram porque as indústrias nelas se localizavam e suas populações cresceram consideravelmente.
O que se desencadeava, entretanto, não era um processo isolado, mas algo que exigia transformações profundas a fim de manter sua continuidade. Havia, por exemplo, necessidade de transportar matéria-prima de suas fontes até as regiões manufatureiras. O meio de transporte comum era à tração animal. Obviamente não atendia a demanda crescente; em primeiro lugar, porque a disponibilidade de animais de carga era pequena.
Quando tudo parecia caminhar para um impasse, eis que a genialidade de alguém cria a máquina a vapor. Surge a locomotiva. Os trens, as ferrovias, constituem a salvação. Estava resolvido o problema.
Sempre foi assim. Quando a necessidade de progresso do ser humano esbarrava em algum obstáculo ou problema aparentemente sem solução, o gênio inventivo, a criatividade, inovavam em algum campo de atividade humana, encontrando o caminho salvador.
Esse dom de criar algo novo, original, recebe o nome de Epigênese. É uma faculdade inerente a todo indivíduo, mas ainda pouco desenvolvida. Essa capacidade criadora é um traço de identidade entre Deus e o ser humano, porque ambos criam.
Max Heindel, em sua obra Conceito Rosacruz do Cosmos, no capítulo que trata da Involução, Evolução e Epigênese diz o seguinte: “Em todo o transcurso da evolução, através dos Períodos, Globos, Revoluções e Raças, aqueles que não melhoram, por não formarem novas características, ficam para trás e começam imediatamente a degenerar. Só os que permanecem plásticos, flexíveis e adaptáveis podem modelar novas formas, apropriadas à expressão da consciência que se expande. Só a vida capaz de cultivar as possibilidades de aperfeiçoamento, inerentes na forma que anima, pode evolucionar com os adiantados de qualquer Onda de Vida. Todos os outros ficam atrasados”.
“É esta a medula do Ocultismo. O progresso não é um simples desenvolvimento, nem tampouco Involução e Evolução, há um terceiro fator, a Epigênese, que completa a tríade”.
“As primeiras duas palavras são familiares a todos os que estudaram a vida e a forma. Admite-se, geralmente, que a Involução do Espírito na matéria tem o objetivo de construir a forma, mas não se reconhece tão comumente que a Involução do Espírito corre paralela à evolução da forma”.
“Desde o princípio do Períodode Saturno até a Época Atlante, quando “os olhos do ser humano foramabertos” pelos Espíritos Lucíferos,as atividades do ser humano (ou força vital que se converteu em humano) era dirigida principalmente para dentro. Essa mesma força que agora o ser humano emprega ou irradia para construir estradas de ferro e vapores, empregava-se internamente para construir um veículo através do qual pudesse manifestar-se. Esse veículo é tríplice, analogamente ao Espírito que o construiu. A forma evolui construída pelo Espírito. Durante essa construção, o Espírito involui até que, nela penetrando, parta para a própria evolução. Os melhoramentos ou aperfeiçoamentos da forma são resultado da Epigênese”.
“Logo, o poder que o ser humano agora emprega para melhorar as condições externas foi empregado durante a Involução com propósito de crescimento interno”.
“Há forte tendência em considerar tudo o que existe como resultado de algo que foi. Olha-se a Evolução como simples desenvolvimento de perfectibilidades germinais. Tal concepção exclui a Epigênese do esquema das coisas, não concede possibilidade alguma de construir-se algo novo, nenhuma margem para a originalidade”.
“O ocultista crê que o propósito da evolução é o desenvolvimento doser humano desde um Deus estático a um Deus dinâmico, um Criador. Se o desenvolvimento que atualmente efetua constituísse a sua educação, e se o seu progresso representasse simplesmente a expansão de qualidades latentes, onde aprenderia a criar?”
“Se o desenvolvimento do ser humano consistisse unicamente em aprender a construir formas cada vez melhores, de acordo com os modelos já existentes na mente do seu Criador, na melhor das hipóteses poderia converter-se num bom imitador, mas nunca num criador”.
“Para tornar-se um criador original e independente é necessário, no seu exercitamento, que tenha suficiente margem de emprego da sua originalidade individual. É isso que distingue a criação da imitação. Conservam-se certas características da forma antiga, necessárias ao progresso, mas em cada novo renascimento a vida evolucionante acrescenta tantos aperfeiçoamentos originais quanto sejam necessários para sua expressão ulterior”.
Vê-se, pois, que sem o emprego da faculdade epigenética o progresso do ser humano, em qualquer campo de atividade, seria uma impossibilidade. Quando deixa de ser ativa nas pessoas, nações, raças e instituições, a evolução cessa, começando daí a degeneração. Todo processo de cristalização na natureza representa a ausência de novos caminhos. A decadência das grandes civilizações principiou pela estagnação de seus valores básicos. A não renovação de suas estruturas, aliada a recusa em reciclar sua cultura, acabou por provocar a degeneração. Isso sempre ocorreu, seja no sentido individual, seja no coletivo.
Os veículos do Espírito também se aperfeiçoam pela Epigênese. As correções e as inovações começam na região dos arquétipos, ou seja, na Região do Pensamento Concreto do Mundo do Pensamento. A tendência de um veículo, como o Corpo Denso por exemplo, é tornar-se cada vez mais sensível, maleável e responsivo às vibrações espirituais. Esse progresso ocorre porque vimos constantemente aperfeiçoando nossos veículos.
Os corpos das Raças atrasadas estão em franca degeneração porque cristalizaram-se a tal ponto de não admitirem nenhum processo de revitalização. Os antropoides, são o resultado da degeneração de corpos humanos que perderam a sensibilidade. Os seres que usam esses corpos pertencem à nossa Onda de Vida, teoricamente ainda têm chances de progresso. Mas isso só acontecerá se derem um salto gigantesco em sua evolução, a ponto de poderem habitar corpos mais aperfeiçoados, abandonando em definitivo essas formas degeneradas.
É uma lei natural: Nenhum ser pode habitar corpos mais eficientes do que ele seja capaz de construir. Quanto mais uma pessoa avança e trabalha nos seus veículos, mais poder tem para construir uma nova vida.
Nossa capacidade de dominar as configurações estelares determina, em grande medida, o grau de Epigênese que vamos desenvolvendo em cada vida. Estamos sujeitos a poucas ou muitas limitações na vida atual, determinadas por dívidas contraídas em encarnações passadas. Mesmo assim temos certa margem de livre-arbítrio para desencadearmos novas causas. Gerando assim um novo destino. Não somos obrigados a errar. Se renascemos com grande tendência para a sensualidade, os astros podem impelir, mas nada nos vai obrigar a satisfazer nossas paixões carnais. A energia criadora malbaratada pode ser canalizada a objetivos superiores. Essa mesma energia, Deus e as Hierarquias utilizaram na criação do Cosmos. Podemos, portanto, empregá-la no processo epigenético contribuindo para a elevação da humanidade.
O processo da Epigênese é uma forma de transmutação. E isso explica porque certos presidiários reformam-se, tornando-se úteis à sociedade, enquanto outros mantém suas tendências criminosas; ou então, como pessoas com deficiências físicas desenvolvem certas habilidades, tornando-se vitoriosas em alguma atividade. O Espírito pode criar fases verdadeiramente novas de sua individualidade.
O gênio representa a manifestação epigenética no mais alto grau e isso não se explica pela hereditariedade. O gênio expressa sua genialidade não só por sua proficiência artística, intelectual ou profissional, mas principalmente pela sua criatividade. Esta é a diferença entre a competência e a genialidade.
Às vezes, a Epigênese se manifesta unilateralmente. E o caso de artistas que, embora talentosos, deixam muito a desejar moralmente entregando-se à bebida, aos tóxicos ou ao sexo. O talento pode lhes ser retirado temporariamente em vidas futuras, até que decidam a regenerar-se.
Geralmente o autodidata em algum ramo artístico ou profissional tende a ser criativo porque foge dos limitadores padrões acadêmicos. As pessoas criativas podem revolucionar (no mais puro sentido da Palavra) algum campo de atividade. Não raro isso lhes traz sofrimento porque seu trabalho inovador dificilmente será compreendido, além do que constitui uma ameaça aos padrões já estabelecidos naquela área particular. Eles RE-EVOLUCIONAM, isto é, dão novo impulso a evolução. Imagina-se, erroneamente, que revolucionar significa derrubar algo já consolidado.
Thomaz Edison certa vez foi posto para fora do escritório de um financista, em Nova York. O homem de negócios, indignado, afirmou-lhe grosseiramente, que jamais financiaria a produção em escala industrial daquelas “invenções malucas”. Bell foi chamado de louco pela imprensa norte-americana quando anunciou a invenção do aparelho telefônico. Júlio Verne encantou o mundo com suas obras de ficção. FICÇÃO? Hoje, quanto coisa tornou-se realidade.
Goethe modificou profundamente o teor das lendas que envolviam a figura do doutor Fausto, mago, astrólogo e quiromante do século XVI, dando-lhe, epigenéticamente, profundidade esotérica. Esse poema, uma obra-prima da literatura universal, conta a história do ser humano no afã de encontrar o divino em si mesmo.
Leonardo Da Vinci, para citar um exemplo mais distante no tempo, expressou uma exuberância epigenética incomum. Sua figura humana aproximou-se, como nenhum outro, daquele imaginário homem universal. Foi pintor, escultor, matemático, arquiteto, urbanista, físico, astrônomo, engenheiro, naturalista, químico, geólogo e cartógrafo. Suas obras tais como“Anunciação”, a “Virgem dos Rochedos”, a ”Monalisa”, constituem parte do patrimônio artístico da humanidade. Como urbanista, seu projeto para a cidade de Milão foi algo admiravelmente revolucionário. Eliminou as muralhas, traçou canais de esgotos, ruas superpostas para pedestres e pistas livres para veículos. As casas seriam amplas e ventiladas. Haveria praças e jardins. E tudo isso no final do século XV.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental nos esclarecem, e a própria história da civilização nos confirma, que se caminhamos até o estágio atual de desenvolvimento é porque fizemos uso da devida faculdade epigenética. Exercitar esse dom é encontrar Deus dentro de si mesmo.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’–Fraternidade Rosacruz-SP- maio/1986)
Renascimento e Lei de Consequência
Pergunta: Qual o verdadeiro propósito da vida?
Resposta: O verdadeiro propósito da vida não é a felicidade atual, mas a experiência pela qual nos é possível desenvolver os poderes espirituais latentes e transformá-los em faculdades, para servir melhor ao plano divino da evolução. Deus evoluciona por nosso meio. Nós somos células no corpo cósmico de Deus. Estamos cristalizando matéria para Ele, criando um veículo na qual possa funcionar. Somos tão necessários a Deus, como Deus para nós. Devemos, por conseguinte, no máximo grau desenvolver as qualidades espirituais e os talentos latentes para que possamos colaborar neste grande projeto.
Pergunta: Quais são os objetivos da evolução através da matéria?
Resposta: Os três grandes objetivos da evolução, através da matéria, são:
1. 1 A espiritualização do caráter
2. 2 O desenvolvimento da vontade, para dirigir as faculdades obtidas pela experiência
3. O desenvolvimento da Mente criadora, para, em certo dia, podermos criar, direta e conscientemente.
Pergunta: O que é necessário para que estes objetivos sejam colimados?
Resposta: Para obter este desenvolvimento é necessário que o Ego renasça muitas vezes em corpo físico. Quando a experiência de qualquer vida foi total e espiritualmente assimilada, nos mundos superiores, o espírito sente necessidade de obter novas experiências. Este desejo impele, irresistivelmente, ao renascimento. Nosso conhecimento a respeito da reencarnação não fica limitado a especulações. O renascimento é um dos primeiros fatos concretos demonstrados aos alunos da Escola de Mistérios. Ensina-lhes a observar uma criança ao morrer. Depois, a seguir esta criança, através do mundo invisível, dia após dia, até chegar à reencarnação, dentro de poucos anos. Feito isso, o aluno sabe, com certeza absoluta, que o renascimento é um fato e não somente uma teoria metafisica.
Pergunta: Qual é o primeiro passo a ser dado nesse processo?
Resposta: O primeiro passo que o Ego dá no caminho do renascimento é escolher os pais, ou tê-los escolhidos para si. Não é assunto de mera sorte. Geralmente, destinam-nos pais a quem prestamos serviços em vidas anteriores; assim, estão, realmente, obrigados a sermos úteis, também.
Examinando estas ideias, podemos compreender a obrigação de facilitar os meios, sempre que seja possível, para permitir a outros Egos voltar como nossos filhos, a fim de, posteriormente, poderem prestar-nos serviço igual. Quando o Ego conta com certa quantidade de bom destino, permite-se-lhe ver, panoramicamente, diferentes vidas com diferentes pais e deixa-se-lhe a liberdade de escolher. Uma vez feita a eleição e determinadas as linhas gerais da vida, o Ego não pode voltar atrás. Sem dúvida, tem liberdade de ação para os detalhes. Estes podem ser executados num espírito de amor, ajuda e tolerância, ou num espírito de rebelião, odiando o ambiente no qual se acha situado. Assim, pode criar, livremente, um bom, ou um destino adverso, para uma vida futura.
No processo atual do renascimento, os distintos Átomos-sementes atraem para si os materiais para uma nova série de veículos: uma Mente, um Corpo de Desejos, um Corpo Vital e um Corpo Denso. Quando chega a hora, estes materiais se introduzem nos novos veículos e, então, o Ego renasce no Mundo Físico.
Isto ocorre, quando as forças Astrais estão em harmonia com o destino criado pelo Ego, em vidas precedentes. O Ego não pode renascer em nenhum outro momento, porque as forças ocultas em seus Átomos-sementes o impediriam. Depois do nascimento, as forças Planetárias que exercem influência sobre os veículos do Ego impelem, dia a dia, em certas direções, em harmonia com seu destino previamente criado e, assim, convertem-se em executores automáticos daquele destino. Sem dúvida, as forças Astrais nunca obrigam. Quando um ser humano usa sua vontade para trabalhar em harmonia com a evolução, domina as forças Astrais e as dirige.
Pergunta: Como opera a Lei de Consequência?
Resposta: A Lei de Consequência, ou Lei de Causa e Efeito, opera continuamente. Desde o momento do nascimento, as forças postas em ação em vidas precedentes e ainda não esgotadas, começam a produzir efeitos na criança e seus veículos. Todos os antigos amores e ódios sobem à superfície. Aparecem os antigos inimigos, para que o Ego, em contato com eles, possa preparar seu destino e transformá-los em amigos. Amigos anteriores ajudam o Ego, trabalhando com ele, em proveito mútuo. Assim nos aproximamos, lenta, mas irresistivelmente, da época da amizade universal. Pela Lei de Consequência, o ser humano aprende que cada ato acarreta responsabilidade e que cada força que põe em movimento tem seu correspondente efeito. Se, por negligência ou egoísmo, causa sofrimento, ou perdas aos outros, a Lei de Consequência lhe trará, fatalmente, condições semelhantes, em data mais ou menos remota. Assim, compreenderá a injustiça que há no agir desta maneira. Se não faz caso da lição recebida, a natureza lhe proporcionará experiências cada vez mais duras, até que faça o esforço necessário e obtenha poder e domínio sobre si.
Se os atos que praticamos são construtivos, na vida futura nasceremos sob condições que nos trarão êxito e felicidade. Se, ao contrário, cedemos as paixões, sem considerar os demais, ou se permanecemos indolentes e descuidados, renasceremos em condições e entre pessoas que farão nossas vidas fracassarem e nos causarão muitas calamidades.
Pergunta: Há algum outro fator importante em termos de progresso?
Resposta: Durante toda a vida, a qualidade a que os Rosacruzes chamam Epigênese está em atividade.
Esta qualidade é o poder de acionar um número ilimitado de causas novas não determinadas, nem impostas por atos do passado. Se estivéssemos sujeitos totalmente ao passado e incapazes de gerar causas novas, seria impossível desenvolver o poder criador original. Nem haveria livre arbítrio. A faculdade espiritual da Epigênese capacita-nos, se aplicarmos a vontade, abrirmos passagem e atingirmos esferas de maiores poderes e atividades proveitosas.
(Revista: Serviço Rosacruz – 02/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)