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Liberdade e Felicidade: o que tem a haver com o desapego

 Liberdade e Felicidade

“É em vão que o homem procure ao longe a sua felicidade, descuidando de cultivá-la em si mesmo, pois ainda que ela viesse de fora, não poderia fazer-se sensível enquanto não encontrasse uma alma aparelhada para gozá-la”.

Essas sábias palavras de Rousseau coadunam-se perfeitamente com os princípios básicos do Cristianismo Esotérico no que diz respeito à felicidade. Essa, para ser real e perdurável, deve alicerçar-se em algo imorredouro, espiritual, interno. Se a fundamentamos em objetos transitórios, ela não se manifestará e, em vão, persegui-la-emos durante toda a vida.

Há estreita correlação entre liberdade e felicidade. Uma não subsiste sem a outra. Via de regra, muitos de nós configuram a felicidade como sendo a posse de bens externos. Olvidam que, dependendo do nosso conceito de posse, os bens externos constituem verdadeiros grilhões, atando-nos de pés e mãos a transitoriedade dessa existência concreta.

Se colocarmo-nos na posição de administradores, ao invés de possuidores, multiplicando e empregando altruisticamente aquilo que nos vem às mãos, concorrendo para a manutenção do bem-estar e equilíbrio sociais, sentiremos interiormente uma paz inefável, fruto da verdadeira felicidade. Para nós, a vida será um fluxo constante de bênçãos.

Se por outro lado, a avidez de posse nos alucina, fatal e desgraçadamente arruinaremos nossa vida e a dos outros. Seremos escravos daquilo que temos ou almejamos, arrastando pesados grilhões pelo restante dos nossos dias.

Gandhi, “o pai da libertação da Índia”, tinha por filosofia de vida manter consigo apenas aquilo de que necessitava para viver. O resto, dizia ele, “não passava de superfluidade”. Esse homem simples e franzino, assemelhando-se mais a um mendigo do que a um líder de milhões de seres humanos, logrou abalar um poderoso império.

O importante não é possuirmos ou não possuirmos bens externos. O essencial é não sermos possuídos por eles. Muitos têm posses e não são cativos delas. Outros não possuem e são agrilhoados pelo que almejam possuir. Nossa liberdade e felicidade correspondem à medida do nosso desapego. É um bom tema para meditação, nesses agitados dias de competição em que vivemos.  

(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de março/1969)

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A Liberdade Espiritual

A Liberdade Espiritual

A maioria das pessoas preocupa-se com a liberdade humana – quer dizer, liberdade da palavra, livre imprensa, liberdade religiosa, liberdade econômica, liberdade corporal. Agora tratemos da liberdade espiritual origem daquelas outras.

Que é liberdade? Liberdade é Vida a fluir livremente através de nós. Liberdade é o canto da alma, o sonho do sonhador. Liberdade é SER. O ser humano cuja vida está em Cristo, é livre. EU SOU livre e TU ÉS livre, mas não enquanto estivermos amarrados a roda dos pensamentos humanos, das idéias estabelecidas; não, enquanto estivermos subordinando o governo da alma às concepções humanas.

Liberdade não é uma condição governamental, mas uma condição anímica, interna. Há pessoas que permaneceram livres, embora encadeados; há pessoas que permaneceram livres, mesmo sob escravidão e opressão. Há pessoas que souberam prosperar sob condições depressivas e de pânico e seres humanos que sobreviveram às guerras, inundações e fomes. Quando a Alma do individuo é livre, ela o conduz incólume através do Mar Vermelho, das experiências do Deserto, até a Terra Prometida de Paz espiritual. Quando nos voltamos ao Reino Interno do Eu, encontramos ao mesmo tempo o Poder Divino no Mundo Exterior. Quando buscamos a paz dentro de nós, achamos a Harmonia lá fora. Quando buscamos a liberdade da Alma, experimentamos a liberdade da Graça. O que nos impede vivenciar a expressão mais elevada de harmonia, de saúde e de abundância? Que nos impede usufruir todas as coisas boas que o mundo nos oferece? Existe algum poder que nos impõe e decreta a pobreza, a doença e a morte? Existe alguma lei de carência e de limitação encadeando-nos a roda de escravidão, provas e trabalhos pesados? Se assim é, de onde emanam? O mundo tem buscado a liberdade, a paz e a plenitude, mas essa procura se tem orientado pelos esforços mentais e normas estabelecidas. A Mente humana: formada com muitas falhas através dos séculos, contem em si todos os medos e fracassos da raça humana. Toda a angústia oriunda de paixões, luxúria, ganância, ambição, medo e prepotência, encontram-se nos arquivos do pensamento humano e isso tem levado a humanidade à posse desregrada e a aquisição voraz. O resultado não é liberdade, mas escravidão dos sentidos.

A simples decisão de repentinamente deixarmos de resistir a essa luta, com ajuda de nossos melhores recursos mentais, em busca da liberdade, já nos vai descerrando a Alma para a revelação de um Poder Incognoscível, Interno, Invisível, que nos vai provendo com o Pão descido dos céus e preenchendo totalmente nossas necessidades mentais, físicas e financeiras. E, com a remoção gradativa de nossas limitações mentais, vamos adquirindo uma visão destemerosa e ampla de nossa liberdade individual e atávica.

Onde, a não ser numa compreensão maior, pode o ser humano achar a infinitude de seu bem? Onde, a não ser na amplitude da consciência do Ser Imortal, pode o ser humano beber da Água Viva da qual, bebendo jamais terá sede de água comum? Onde, a não ser na amplitude maior da consciência, pode o individuo achar a Carne espiritual que põe fim a grande fome que acumulou, em razão de desejos insatisfeitos? Só essa abertura de consciência nos pode libertar a Mente das solicitações inebriantes do mundo exterior.

Liberdade é uma qualidade de pensamento e condição experimentada somente quando se quebra o apego às aparências e valores externos. Acima e além de toda sedução sensorial vibra a Vida Divina onde podemos entrar na herança de nossa liberdade autêntica, de modo a viver no mundo livre da escravidão e apego formais; gozar da amizade sem ser-lhe dependente; saudar a dinheiro que chega e bem empregá-lo, sem avareza; trabalhar pela alegria que o trabalho nos dá e não pelo dever de mera manutenção. Experimentem aprimorar o seu trabalho e achar melhores meios de realizar sua tarefa e verão como isso e libertador! Livra-los-á, certamente, do enfado que as rotinas provocam pela motivação aperfeiçoadora, pelo prazer que deem ao espírito de criar inovações nas atividades. Por acréscimo, também os libertará da carência e da limitação.

Gozemos da liberdade de amar nossos familiares e amigos, sem nos desiludirmos com suas falhas nem nos envaidecermos com seus êxitos. Mantenhamo-nos intimamente apartados do mundo como espectadores, vendo seus êxitos e insucessos, amores e ódios, mas vigiando para que eles não nos contagiem e envolvam: ISSO É LIBERDADE!

Como disse São Paulo apóstolo: “nada dessas coisas me comove!“. E CristoMeu Reino não é deste mundo; nele vivo, mas não lhe pertenço“. E ainda São Pedro: “Somos Peregrinos na Terra“.

(Gilberto A V Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz de 5/72)

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Aprendizagem Esotérica: você sabe o que dissipa a falácia dos métodos inconscientes e de pretensa liberdade

Aprendizagem Esotérica: você sabe o que dissipa a falácia dos métodos inconscientes e de pretensa liberdade

Ensinou Sócrates[1]: “O ser humano não procura o que sabe, porque já o sabe e, portanto, não tem nenhuma necessidade de o procurar. Também não procura o que não sabe, pois, se não sabe, ignora o que deve procurar”.

Essa afirmação parece desencorajar qualquer esforço de aprendizado. Mas no sentido profundo ela quer significar a necessidade de passar adiante do que já se sabe, predispondo-se a novas condições, desconhecidas, que a evolução colocará em nosso caminho. Ora, se por nós mesmos, como personas, não temos a possibilidade de saber o que nos convém, o Espírito em nós o sabe e nos leva fatalmente para aquilo que nossa necessidade interna reclama.

Foi assim que, sem o saber, encontrei a Fraternidade Rosacruz. No contato com ela, descobri em mim uma identidade nova e ignorada. Isso me levou a desejar atingir algo mais que na verdade sempre desejei.

Sócrates foi um parteiro de almas porque despertava nas pessoas o que nelas estava adormecido. Assim aconteceu comigo, ao confrontar-me com a sabedoria Rosacruz: o desconhecido se me tornou conhecido e me convidou ao desabrochamento.

Sócrates disse também o seguinte: “Ninguém pode ensinar nada a ninguém e nem aprender nada de ninguém”. Outra afirmação enigmática que se revela profunda à meditação. Ele sabia que o ser humano “é feito à Imagem e Semelhança de Deus”, trazendo em si, em potencial, todas as faculdades, bastando que elas sejam acordadas e cultivadas para que se tornem realidade como conquista anímica do indivíduo. A maioria das pessoas, embora tenha lido a Bíblia, não compreendeu possuir essa riqueza potencial interna. No entanto, a própria experiência da vida nos mostra que ela existe. Cada um de nós pode ser, ao devido tempo, tudo. Mais facilmente atingirá as faculdades que já tenha desenvolvido em parte; e a longo prazo, aquelas que ainda não foram despertadas.

Quem no-lo revelará? Uma orientação externa. Mas… não disse Sócrates que ninguém ensina nada a ninguém? No sentido comum de ensinar, de fato ninguém ensina, porque a verdade já está dentro de nós. O que o mestre grego quis significar é diferente: o orientador não cria nada nem dá nada a ninguém; apenas o ajuda a descobrir-se; apenas revela o que já existe — como ensina a “Oração Rosacruz”. A orientação externa não vai tirar algo do nada, nem pôr algo no nada. Apenas faz descobrir o que já existe, o que está subjacente e que deve vir à tona da consciência, pelo exercitamento adequado.

Tanto isso é verdade que o próprio Sócrates o demonstrou. Ele tomou um jovem escravo sem formação matemática e, traçando na areia algumas figuras, foi interrogando metodicamente o moço, levando-o a definir, sozinho, por dedução, verdades muito próximas do teorema de Pitágoras. Sua habilidade é tal que induz ao moço, de pergunta em resposta, verdades surpreendentes. O jovem escravo tira de dentro de si as conclusões, sem que ninguém as explique a ele diretamente. Daí a conclusão: nada veio de fora para enriquecer aquela inteligência, que descobriu por si mesma — se bem com ajuda indutiva — as relações constitutivas do mundo matemático que já estavam nele. Só aguardavam para se tornarem conscientes, a invocação do orientador.

Não houve ensino, no sentido atual do termo, se bem que a presença e habilidade do orientador, como meio indutivo, é indispensável. Este induz o que sabe, mas o aluno o realiza de modo próprio, pelo dom epigenético contribuindo, não raro, para o orientador descobrir aspectos que não conhecia. Por isso que o ensinar é também um aprendizado.

É claro, pois, que o intercessor é necessário. Ainda mais: ele só pode induzir o outro a relacionar e concluir o que é conhecido dele, orientador. Mas naquele encontro, celebrado pelo amor, porque marcado pelo desejo de ajudar, muitas vezes ocorre a presença de um terceiro fator, de inspiração interna, levando um dos dois a sacar deduções imprevistas.

Do ponto de vista esotérico, a pedagogia se torna uma atividade espiritual das mais expressivas porque pressupõe necessariamente o amor, que se anula sem desejo de mostrar o que se sabe, para desvelar o desconhecido, das potencialidades do aluno. Mostra que a alma não é importada do exterior, se bem que seja suscitada pelo exterior: daí a necessidade do renascimento neste plano que é uma oficina de aprendizagem.

O ensino se torna uma invocação à união de nossa voz indutiva com a voz interna do aluno, para libertar-lhe uma vocação adormecida, tal como o Príncipe encantado a despertar a Bela Adormecida com o apelo de um beijo. A voz que vem de fora, como um som mágico, desperta no íntimo, por ressonância, a verdade pré-existente. Mas cada um despertará de modo singular e próprio, segundo o como e o que já tenha realizado anteriormente.

Cada despertar de uma verdade é um nascimento. Cada nascimento é um mistério encantador e traz a individualidade de sua origem.

Muitas vezes é um livro o intercessor que nos leva a conclusões novas. De toda a forma, embora pareça imenso, na verdade o papel do orientador é limitado ao livre arbítrio e à epigênese do aluno. Ele é um meio e não um modelo e fim. Apesar de todo o seu amor e altruística dedicação, não deve exorbitar a função de um invocador da verdade. Ele não se limita a resolver tudo com afirmações nem dar lições para que o aluno memorize. Ao contrário, ele se torna um discípulo ante o discípulo, instalando-se naquilo que o discípulo compreendeu e na maneira como ele compreendeu. Ele realiza a empatia pedagógica, ao colocar-se no lugar do outro.

Sem esse laço não existe aprendizado. O aluno sente o interesse do Instrutor por sua edificação. Os dois se abrem e se encontram como duas mãos em prece. Só esta compreensão, no aluno, é que avalia e elege o Orientador.

“Não há grande ser humano para o criado de quarto” — diz o ditado. Referindo-se a isso, Goethe[2] esclarece bem: “Não porque o grande ser humano não seja um ‘grande homem’, mas porque o criado de quarto é um criado de quarto”. Isto nos leva a compreender que o aluno não pode amar o que não compreende… Quando ele encontra o Instrutor que busca compreendê-lo e lhe abre o íntimo para um autêntico diálogo, o amor realiza o milagre do despertar.

Mas a demasiada intimidade pode arruinar esse encontro. Daí que haja entre aluno e instrutor uma sutil dosagem de intimidade na distância, e uma distância na intimidade, uma espécie de respeito diferente, mas não menos completo. Cada um tem algo que não revela ao outro e que o outro pressente, como a Sherazade das “Mil e uma noites” a velar algo mais para o dia seguinte.

À medida que a harmonia se estabelece entre o professor e o aluno, quase desaparece o intervalo entre aquele perguntar e este despertar à compreensão, porque o Eu real responde imediatamente à ideia suscitada, com sua verdade própria. Assim vão caminhando os dois na mesma direção: o Orientador humildemente, cônscio de suas limitações ante a verdade inabarcável, na consciência do pouco que tem ante a infinitude divina que o convida. O aluno, inspirado no exemplo do Instrutor, desejoso de continuar-lhe a obra de transmissão a outros.

Hoje há mal-entendido sentido de liberdade e de universalidade, de um lado motivado pela indisciplina e impaciência; doutro lado, por autores, que estão cometendo o grande erro de querer demolir a personalidade sem que ela ainda tenha sido formada: matar o que ainda não nasceu.

A grande maioria é espiritualmente infantil, imatura e deve ser ajudada na própria realização, por um método gradativo e inteligente.

O autodidata, rebelde a toda orientação ou escola — conforme ensinam esses autores — fica girando em torno de si mesmo, num círculo vicioso, limitado às próprias incipientes possibilidades conscientes. Nada aceita de fora, mas não se dá conta das sutis influências externas que o condicionam. Ouve falar, e muito, desses condicionamentos, mas não desenvolve meios de libertar-se deles. Fecha medrosamente a janela do íntimo à “perigosa influência das escolas” e não percebe que, justamente por isso, fecha as possibilidades de receber ajuda na conscientização da verdade. É como fechar a janela ao mal, fechando-se também ao bem.

Outro tipo de autodidata, comum no espiritualismo — igualmente movido por mal-entendido universalismo e independência — é aquele que não assume compromisso com nenhuma escola e põe-se a, gulosamente. ingerir toda a literatura que sua falta de discernimento e preparo escolhe. Sem desenvolver um sentido global, um esquema geral da vida e do ser, vai colecionando retalhos e cosendo-os incoerentemente. Perde-se na literatura variada como uma pessoa entre as árvores da floresta. Isolando-se em sua pretensão, furta-se à riqueza do diálogo e compromete o íntimo, porque vai perdendo aquele estado de equilíbrio e receptividade necessário ao aprendizado imparcial. Preocupado mais com a quantidade do que com a qualidade e coerência do que lê, confunde memorização com formação e acaba sendo esmagado pelo peso desse enorme bloco que engoliu e não digeriu. Refugia-se num tolo orgulho intelectual, subestimando as organizações, para justificar sua desorganização. É um herói sem esperança, pelo menos nesta vida, ao mesmo tempo que está formando cristalizações intelectuais, obstaculizando sua libertação em futuras vidas.

Outra dificuldade insinuante e perigosa — porque atende à conveniência dos preguiçosos — são os métodos de ensino subconsciente. Compreendamos que, se se conseguisse estabelecer um método de aprendizagem que permitisse a cada um decorar sem esforço (por exemplo, durante o sono, como o recurso subliminar), uma matéria qualquer, um tal sistema jamais seria a perfeição educacional. Ao contrário, seria o seu malogro e fim. No desenvolvimento do ser humano, a conquista do sistema nervoso cérebro-espinhal, que nos permitiu o desenvolvimento da consciência, é algo precioso que reclama cultivo constante. O ser humano está destinado a ganhar consciência plena de si. Não há evolução sem consciência. Só o que assimilamos conscientemente podemos converter em alma. Só o que dinamizamos conscientemente de nossa bagagem anímica potencial pode servir-nos como recursos de ação.

Mais do que nunca a humanidade está hoje precisando de uma honesta orientação. O método ocidental, exposto nesta série de artigos, dissipa a falácia dos métodos inconscientes e de pretensa liberdade.

A Universalidade só existe dentro de nós mesmos, conscientemente exercida através de nosso Eu real. A liberdade também, como bem esclareceu São Paulo Apóstolo: “Lá onde habita o Espírito, lá é onde existe liberdade”. Não se trata de fato externo. Ninguém nos pode libertar ou limitar-nos a liberdade.

“Conheci e dou testemunho de que a verdadeira orientação nos liberta de nós mesmos (a única limitação) para o conhecimento de nós mesmos e o sentido de universalidade autêntica”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1976)

[1] N.R.: Sócrates foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura enigmática, conhecida principalmente através dos relatos em obras de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como pelas peças teatrais de seu contemporâneo Aristófanes. Muitos defendem que os diálogos de Platão seriam o relato mais abrangente de Sócrates a ter perdurado da Antiguidade aos dias de hoje.

[2] N.R.: Johann Wolfgang von Goethe (1749 -1832) foi um autor e estadista alemão do Sacro Império Romano-Germânico que também fez incursões pelo campo da ciência natural. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

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Liberdade ou Direito de ser Livre

Liberdade ou Direito de ser Livre

“Livre vontade não é a liberdade de fazer o que quiser, senão o poder de fazer aquilo que deve ser feito, mesmo que seja contrário a um violento impulso. Eis aí, em verdade, o que é Liberdade” – K. B. MacDonald.

A liberdade que ganhamos pela obediência às leis é a única que conta. Se ESCOLHERMOS obedecer às leis, não podemos perder nossa liberdade. Porém, o ser licencioso e insultar à lei da terra, fará com que percamos nossa amada liberdade. O objetivo das leis na terra é dar o direito de ser livres a todos para a execução de nossas atividades, com segurança. É mais importante ainda considerar as Leis de Deus na natureza, pois elas tornam possível a evolução. Estamos num estado de mudança constante e, a seleção do justo ou errado pode mudar nosso destino. Não há descanso no caminho que nos conduz para o Criador.

Quando compreendemos o que é justo e verdadeiro, trabalhando constantemente para chegar à nossa meta, nosso progresso não será perturbado por repetidos erros e não teremos muito que retificar.

Então usaremos nosso tempo na Terra, que parece curto, trabalhando pela libertação do espírito.

Quando um Ego se acha pronto para retornar à Terra, se lhe permite escolher entre distintas vidas, porém uma vez feita a escolha não pode haver evasivas no que se refere aos acontecimentos principais durante essa vida particular na Terra. Temos livre vontade no que concerne ao futuro, porém o destino maduro está envolto na vida que escolhemos e não poderá ser evitado. O ser humano pode exercitar o livre arbítrio em muitos casos, porém se acha atado pelo destino que formou pelas dívidas criadas em vidas anteriores.

As grandes Inteligências, que têm a seu cargo esse assunto, sabem que requisitos são necessários para o ajuste de nossas obrigações. Entre as múltiplas relações que tivemos no passado, eles selecionam certo número de possíveis existências. Essas são mostradas ao Ego que está pronto para renascer e, portanto, pode selecionar uma ou várias delas. Escolhe, entre todas essas oportunidades, as que estão disponíveis no tempo particular desse renascimento, e amiúde existem grandes quantidades dessas oportunidades.

Uma vez feita a seleção, a vida do Ego seguirá a linha escolhida, porém: “não nos deixemos enganar pela ilusão de que o destino nos impele a agir mal em todo o tempo. A lei trabalha sempre, e apenas, para o bem, e o mal, em cada vida, é o primeiro a ser expurgado depois da morte, e apenas a tendência de fazer o mal em particular permanece com o sentimento de aversão gerado pelo sofrimento experimentado no processo de expurgação”. Não existe nunca a obrigação de fazer o mal.

É bom saber, e isso deve dar-nos uma certa firmeza em nossos esforços para resistir ao mal, pois nunca somos destinados para fazer o mal, senão que, cada ato mal feito, é um ato de livre vontade. Nossa consciência nos avisa, e somos livres para resistir, sempre que elejamos, entre o justo e o injusto. Nossa consciência nos impele para frente, para fazer tudo o que é construtivo e bom, pois a consciência é o resultado da dor e sofrimento experimentados em vidas anteriores.

Um fator muito importante e evidente em nossas múltiplas existências é a Epigênese. Brota do livre arbítrio e se manifesta como ação original. Essa divina e criadora atividade é a base da evolução da humanidade. A medida que o tempo avança haverá mais e mais oportunidade para esse divino atributo.

Parece ser, então, que estamos sujeitos a fatos maiores, porém, temos liberdade nos detalhes de nossas vidas, isto é, que temos muita liberdade no modo em que desejamos aprender nossas lições, sempre que, em verdade, as estejamos aprendendo, e existe a oportunidade para um trabalho novo e original, o qual chamamos Epigênese.

Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental promovem a liberdade pessoal dos indivíduos quando seguem os Ensinamentos da Filosofia Rosacruz. Ninguém deve obedecer a mestres, cada qual deve seguir seus próprios ditames internos. Aqueles que aspiram conhecer os ensinamentos internos e vivem no Mundo Ocidental não podem encostar-se ou depender de mestre ou guias. Não tendo um mestre sobre o qual encostar-se, o estudante tem que obter poder espiritual por sua própria iniciativa. Portanto, é óbvio, que cada qual tem que assumir a responsabilidade de suas próprias ações. Como existiria muito pouco progresso sem essa responsabilidade que mencionamos, devemos desejar assumi-la, sempre que aparecer a oportunidade. Desde logo, temos que estar certos em cumprir com as tarefas que se nos apresentem.

Quando fazemos o melhor que podemos e admitimos que as consequências de nossas próprias ações são nossas mesmo, ainda assim cometemos erros no cumprimento de nosso dever, então podemos aprender muito e ganhar em compreensão. Um coração compreensivo é muito desejável e difícil de se obter.

Desde o tempo em que a humanidade surgiu da densa atmosfera da Atlântida, entrou no mundo como um agente livre, com expressão das leis da natureza e de seu prévio e próprio destino adquirido. Desde então, o ser humano teve que aprender a se sustentar por si mesmo. Isto não é adquirido facilmente. Mais e mais reponsabilidades têm sido colocadas sobre seus ombros. Manter-se por si e assumir as consequências de suas próprias ações pode, às vezes, não ser muito agradável, porém é inevitável. Para desenvolver nossos poderes latentes espirituais, e assim tornar-nos ativos, temos que trabalhar, e enquanto trabalhamos temos que orar, pois assim nos manteremos em contato com os Mundos Superiores e receberemos a força necessária para seguir adiante.

O desenvolvimento futuro da humanidade dependerá mais e mais de sua própria iniciativa, e isso só leva a cabo quando o ser humano é livre. No princípio da evolução do ser humano, este vivia em pacífica ignorância, porém, desde que cresceu em conhecimento, começou a compreender muitas coisas. Durante inúmeras vidas aprendeu pela experiência e assim trocou sua ignorância pelo conhecimento da virtude.

O estudante sincero sabe, em seu interior, que o maior ladrão de sua liberdade é o tornar-se escravo de seus próprios desejos e apetites, e lamenta como São Paulo: “Porque o bem que quero, isto não faço; mas o mal que não quero, isto eu faço”. Para nos convertermos em verdadeiramente livres, temos que trabalhar pela nossa própria salvação, utilizando os poderes latentes, para o bem da humanidade.

Existem seres nos Mundos superiores sempre prontos para ajudar, se puderem fazê-lo, sem tirar esse nosso direito de liberdade. Copiando Max Heindel, no Livro: “Carta aos Estudantes”: “…porque embora ninguém possa interferir com o livre arbítrio da humanidade, e embora seja contrário ao plano divino o coagir, de alguma maneira, para que alguém faça o que não quer fazer, não existem barreiras contra as sugestões em assuntos que a ele possam agradar. É devido à sabedoria e ao amor desses grandes seres que o progresso em linhas humanitárias é a palavra de aviso de hoje em dia”.

O Mineral, a Planta e o Animal, todos os reinos, estão sujeitos à vontade dos Espíritos-Grupo; o ser humano é o único que possui livre vontade e iniciativa. À medida que o tempo avança, ele se fará cada vez menos susceptível às influências externas. “A Liberdade, é a herança mais preciosa da alma”, e podemos fazer pleno uso dessa herança sempre que sejamos cuidadosos em não interferir com o direito dos demais.

À medida que nossa consciência se desenvolve, temos que aprender a fazer o que é justo, conscientemente e de nossa própria vontade. Pode ser que seja necessário, para um Ego, selecionar uma vida cheia de duras lições para aprender, e essa nova existência pode estar cheia de calamidades, porém, ele pode escolher entre viver essa mesma vida honestamente e com humana dignidade, ou chafurdar-se na lama de modo vergonhoso. Ninguém pode interferir no modo em que ele trabalha em seu destino.

Copiando Max Heindel nas Cartas aos Estudantes: “Devemos aprender a lição do trabalho para um propósito comum, sem lideranças. Cada qual, igualmente induzido pelo espírito de amor que lhe vem do íntimo, deve empenhar-se pela elevação física, moral e espiritual da humanidade à altura de Cristo – o Senhor é a Luz do mundo”, e “onde está o Espírito do Senhor, aí há Liberdade” (IICo 3:17).

“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus Discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Joa 8:31-32).

 (Publicada revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/86)

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