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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Exemplo de Sexto Sentido

Há pessoas dotadas de um estranho sexto sentido, pois tal sentido não é visto, nem ouvido, nem parece com nenhum dos demais sentidos do Corpo Denso que conhecemos. Essas pessoas podem saber o que se passa na Mente das demais e, às vezes, a milhares de quilômetros de distância. Indiscutivelmente, não há ser humano que não se sinta atraído por essas manifestações que revelam a presença de forças latentes, em desenvolvimento no ser humano. O ser mais insensível e materializado não crê e afirma que tudo isso não passa de truques, que só existe a razão como guia de conduta humana. Todavia, há outros mais acessíveis a essas manifestações que, pelo menos, as julgam possíveis.

Em nosso mundo ocidental, o mundo da razão e do número, esse poder pouco explicável cientificamente, tão conjectural e fantasioso, é negado muitas vezes e a priori. Mas, é negado pelas pessoas menos preparadas cientificamente e culturalmente. Aqueles possuidores de conhecimentos e com a Mente aberta às possibilidades do saber, que já leram algo de Filosofia Rosacruz, sabem que isso é apenas um prenúncio de muitos poderes que advirão à nós, à medida que a nossa capacidade moral para bem empregar esses poderes e a maior sensibilização dos nossos veículos forem despertando essas forças dentro de nós. Ademais, se poucos ainda no Ocidente têm tratado de desentranhar o ministério desse poder, no Oriente são muitos os que também já penetraram nas esferas e dimensões dessas forças. Vamos relatar aos leitores um dentre muitos fatos ocorridos acidentalmente, que revelam a veracidade do sexto sentido.

Sucedeu no ano de 1943, em um hospital da Holanda, em Haia. Haviam levado sumamente enfermo, um pintor de paredes, chamado Pieter Van der Urk. Esse homem de 32 anos de idade, de grande estatura e físico imponente, deu um passo em falso enquanto estava trabalhando sobre um andaime colocado a 12 metros de altura. Seu corpo, ao chocar-se contra o solo, feriu-se do lado esquerdo, sofreu um traumatismo craniano e seus companheiros de trabalho, vendo-o sangrando e inanimado, o deram como morto. Entretanto, ainda que seu caso fosse desesperador um médico, o doutor Peter, empenhou-se em salvá-lo e ainda que isso lhe tenha custado noites de angústia e dias febris viu seu esforço recompensado, pois numa manhã foi avisado que Pieter Van der Urk tinha aberto os olhos e pronunciado algumas palavras. Mas, passou-se algum tempo entre o despertar e o aviso ao médico e, enquanto isso, o pintor de paredes encontrou um mundo completamente desconhecido para ele. Não porque se achasse em um hospital: ele recordava algo sobre uma queda e era lógico que se encontrasse ali. Não se tratava disso. O mundo que se apresentava ante seus olhos era algo estranho e distinto de tudo quanto havia conhecido antes. Um estremecimento percorreu seu corpo. Estava verdadeiramente em um hospital e todas essas camas que o circundavam e as enfermeiras que passavam silenciosamente entre elas eram a prova. Mas, que era esse murmúrio confuso e constante que sentia em torno de si? Por que via, em cada uma dessas pessoas, por que só de olhá-las, só de senti-las perto, podia saber o que se passava no fundo de suas almas? Era como se cada uma delas lhe estivesse contando as histórias de suas vidas. Entretanto, os lábios delas não se moviam; quer dizer que não falavam! Mas, algumas delas estavam estiradas nas camas, olhando para o teto, como que metidos dentro de si mesmas. Entretanto, Pieter Van der Urk sabia o que estavam pensando. Fechou os olhos, mas continuava ouvindo; e tinha a impressão de que cada uma dessas pessoas lhe falava de suas penas, de seus problemas, de suas angústias e que cada uma delas queria que ele lhes respondesse e as aconselhasse.

Meu Deus! Que se passava? Encontrar-se-ia já no mundo dos mortos? Como era possível que visse sem olhar, que ouvisse palavras sem que ninguém as pronunciasse? Havia um homem ali, ao lado de sua cama, que nem sequer o olhava e que, entretanto, não sabia como lhe estava dizendo algo e que lhe rogava responder. E tudo isso sem sequer olhá-lo, deitado na cama, como que concentrado dentro de si mesmo. Mas, Pieter Van der Urk sabia perfeitamente o que o outro pensava e, sobretudo, sabia por que o outro estava sofrendo. E então não pôde deixar de dizer-lhe, de gritar-lhe, pois o que esse homem havia feito punha-o fora de si.

– Você sabe que está sofrendo por sua culpa! – gritou-lhe – Como foi capaz de vender, sem necessidade, o relógio que seu pai lhe deixou ao morrer? Esse relógio que seu pai havia guardado durante anos. E só há três meses de sua morte!

O outro se voltou rapidamente na cama e olhou para Pieter Van der Urk, com espanto misturado a um irrefutável temor. Como pôde esse homem ler em seus pensamentos mais profundos, mais escondidos?

Mas, Pieter Van der Urk também se atemorizou. Que se passava com ele? Como sabia o que esse homem estava pensando? Por que lhe havia falado dessa maneira? Como podia ler dentro do outro homem, como se estivesse diante de si um livro aberto? Involuntariamente as lágrimas começaram a brotar-lhe dos olhos. Sentia-se desamparado como um menino abandonado. Que havia se passado, meu Deus! Estava na verdade morto? Por que se via obrigado a falar com pessoas que nunca havia visto, de inteirar-se do que acontecia a essa gente?  Suas mãos retorciam debaixo dos lençóis. Depois tratava, em vão, de tapar os ouvidos, de fechar os olhos, porém tudo inutilmente, pois as vozes continuavam sendo ouvidas e já conhecia tudo o que pensavam e o que haviam passado esses homens que estavam ao seu redor.

Mas, passaria certo tempo antes que Pieter Van der Urk soubesse a razão do que estava acontecendo. Enquanto isso, devia resignar-se e aceitar essa terrível realidade que tanto o mortificava. Uma enfermeira, que o viu desassossegado, aproximou-se dele e tratou de acalmá-lo. Ajeitou-lhe os lençóis em torno do corpo, animou-o como poderia fazer uma mãe com seu filho e pediu-lhe que tratasse de dormir. Pieter Van der Urk lhe disse, entretanto:

– Tenha cuidado com a valise durante a viagem.

A enfermeira olhou-o estupefata.

– Essa viagem eu fiz na semana passada – respondeu-lhe com voz alterada – e é certo que quase perdi a valise. Mas, como você sabe disso?

Mas, o pobre Pieter Van der Urk não sabia o porquê desse saber. E isso era o que o deixava angustiado. Era como se alguém falasse por ele, como se ele tivesse deixado de ser quem era e se transformasse em outro.  Um outro que não precisava dos olhos para olhar, nem dos ouvidos para ouvir, nem das mãos para apalpar, nem nada do que até esse momento lhe havia sido imprescindível a fim de inteirar-se do que passava entre os vivos ou se havia descido ao mundo dos mortos.

Neste momento chegou o médico; a enfermeira lhe contou rapidamente o que havia se passado. O médico auscultou-o, observou a ferida e sua conclusão foi categórica: Pieter Van der Urk estava se curando de forma magnífica. Mas, o que havia passado no íntimo do doente? Isso não podia ser resolvido por esse médico; ele o que podia fazer era lhe dar alta, quando estivesse fisicamente bem e depois veriam o que significava essa transformação que havia ocorrido no modo de ser de Pieter Van der Urk. E assim foi. Pieter Van der Urk foi curando, pouco a pouco, e depois de certo tempo pôde sentar-se na cama e mais tarde dar alguns pequenos passeios pelo jardim do hospital. Mas, devido ao acidente que tinha sofrido, apesar de o corpo ter ficado cada dia mais forte, aquela coisa estranha que lhe acontecera a princípio, de poder ler o íntimo dos seres que o rodeavam, e que, por um momento, acreditou ser o resultado de sua debilidade, pelo sangue que havia perdido, seguiu seu curso. Ele continuava ouvindo vozes e inteirando-se do que sucedia na alma de cada um dos que estavam perto dele, no hospital. Ninguém poderia lhe guardar um segredo; ninguém podia pensar algo que jamais tivesse dito nem confiado a qualquer pessoa; Pieter Van der Urk sabia o que ele pensava, sabia o que esse homem ou mulher ia fazer ou havia feito. Já no hospital não se falava de outra coisa a não ser de Pieter Van der Urk, o feiticeiro; Peter, o vidente.

Por fim, Pieter Van der Urk ficou completamente bom e saiu do hospital. Teve, então, que se adaptar a um mundo ainda mais difícil, por ser grande e complicado. Durante o primeiro mês, viveu como um sonâmbulo. Vozes, vozes e vozes que o invadiam, que o inquiriam, que lhe rondavam a alma. Se se sentava à mesa de qualquer café, todos aqueles desconhecidos que se encontravam ao seu redor lhe contavam seus pensamentos. Já imaginaram como os contavam: sem falar uma só palavra, sem mirá-lo sequer. Quantas vezes uma enorme piedade o invadia pelo que ia pensando! Quantas vezes ele ficava vermelho de raiva ao saber as coisas desagradáveis que eram capazes de pensar e de querer fazer alguns seres humanos!

De noite não podia dormir. Como um permanente pesadelo perseguiam-no as coisas que havia ouvido durante o dia. Por fim, não pode mais; acreditou que acabaria louco. Alguém lhe recomendou um médico especializado em atender pessoas fisicamente sadias, mas espiritualmente ruins; que estivessem tristes ou deprimissem em estado de ânimo diferente do normal.Pieter Van der Urk pensou que realmente tinha a alma enferma, que algo de anormal havia dentro dele. Se continuasse assim, enlouqueceria. Foi procurar um psiquiatra.

Às primeiras palavras do Pieter Van der Urk, o médico ficou surpreendido. Embora estivesse acostumado a casos raros, o de Pieter Van der Urk lhe pareceu o mais extraordinário que havia visto em toda a sua carreira. Pieter Van der Urk começou por falar-lhe do paciente que o médico havia acabado de atender e que, momentos antes, havia deixado a consulta e a quem Pieter Van der Urk nem sequer havia visto! E mais: contou-lhe certas coisas sobre esse paciente que o médico não tinha conhecimento, coisas a respeito de seu caráter, sobre sua maneira de ser e de pensar, que muito ajudaram na cura do enfermo. Mas, o que, sobretudo Pieter Van der Urk interessava era saber o porquê de lhe haver acontecido essas coisas raras, porque é que ele tinha a capacidade de descrever a casa do médico sem conhecer, como o fazia naquele momento. Então, o médico disse a Pieter Van der Urk que ele já não voltaria a ser o que havia sido antes, mas isso não era motivo de desespero, ao contrário, a única coisa que devia fazer era ter consciência do que lhe passava e, seguramente, usar essa faculdade para ser útil ao próximo e à sociedade. Com palavras simples ele disse que não sendo mais que um pintor de parede, desconhecia muitas coisas que sucedem na vida e ensinam nos livros. E acrescentou-lhe:

-Você sabe, Pieter Van der Urk, que em geral o ser humano, para ver, tem que olhar. Para ouvir tem que haver um ruído, de qualquer espécie que seja, alto ou baixo, agradável ou desagradável; para sentir uma sensação de tato, temos que apalpar algo; para sentir o gosto de uma comida tem-se que a por na boca; para cheirar tem que haver algo que produza odor. Ademais, sabemos que enxergamos com os olhos, ouvimos com os ouvidos, apalpamos com as pontas dos dedos, degustamos com a língua e cheiramos com o nariz. Quer dizer que temos um sistema especial formado pelos sentidos, por meio dos quais tomamos conhecimento do que se passa no mundo que nos rodeia. E os olhos, ouvidos, as pontas dos dedos, a língua e o nariz são os lugares em que estão situados esses sentidos. Pois bem: que se passa com você, amigo Pieter Van der Urk? – continuou dizendo o doutor. – Com você acontece que pode inteirar-se (note só que maravilha!), que pode se interessar, repetiu cada vez mais entusiasmado, por coisas que sucedem aos seus semelhantes, de coisas que ainda vão acontecer, sem necessidade de vê-las nem de ouvi-las, nem as sentir, nem nada. Imagine você, como isso pode ser útil para desmascarar um ladrão, ou para dizer a muita gente o que se passa no íntimo delas mesmas, porque você é capaz de saber o que se passa dentro delas, mais que elas mesmas.

Pieter Van der Urk continuava, entretanto, sem entender que lhe havia acontecido. Havia compreendido muito a respeito dos sentidos, mas, por que podia saber todas essas coisas como havia dito o médico, sem vê-las, nem as ouvir, nem senti-las, nem nada?

Então o médico continuou falando:

– O que se passa com você, Pieter Van der Urk, não é novidade. O que me admira muito é que possua essa capacidade em um grau tão intenso. Quer dizer que você tem um grande poder nesse sentido, maior do que tenho podido notar em outras pessoas. Algo maior que lhe falei dos sentidos que possuímos. O que sucede com você, Pieter Van der Urk, é que você possui, nesses momentos, uma espécie de “sexto sentido”, pelo qual pode inteirar-se de tantas coisas.

– Mas, o que é sexto sentido? – interrogou Pieter Van der Urk.

Aí está o problema, Pieter Van der Urk – respondeu o meditativo médico. Aí está o problema – voltou a repetir. Não se parece em nada com os sentidos que possuímos. Contudo, não sabemos, ainda, o que vem a ser; a única coisa que podemos afirmar é que existe, porque não é você o único que possui. Há muitas pessoas capazes de “saber” desse modo misterioso o que se passa na alma dos outros. Talvez seja uma espécie de onda de um magnetismo especial ou coisas semelhantes. Poderíamos compará-lo à telegrafia sem fio. Você compreende Pieter Van der Urk, antes de descobrirem a telegrafia sem fios, para não falarmos do rádio e da televisão, nem de outras invenções maravilhosas – quando uma pessoa falasse desses inventos, hoje tão familiares, causaria espanto ou passaria por louca. A mesma coisa sucede com as pessoas que possuem suas atuais faculdades. Passam por fantasistas. Talvez quando você sofreu esse acidente algo se comoveu, se transformou, dentro do seu corpo, e fez com que você fosse capaz de ter essa faculdade que agora possui. O que posso afirmar é que você não deve se assustar. Todos nós possuímos em graus variáveis essa capacidade que se inicia. Uma mãe tem pressentimento de que um filho seu está a perigo. Outra pessoa pressente um amigo ou parente que está à beira da morte. E se essa pessoa morrer e estiver a centenas de quilômetros de distância, mesmo que sem comunicação direta, haverá “avisos”. Como sucedem essas coisas? Até agora, para a ciência, são mistérios que ela busca decifrar. A única coisa que pode fazer é anotar esses fenômenos que surgem, até que um dia descubra as leis que os regem.

Agora Pieter Van der Urk ia compreendendo um pouco mais. Antes de seu acidente, esse tipo de fenômeno lhe havia acontecido, porém não lhe deu maior importância. A tanta gente acontecia o mesmo! Mas, agora compreendia que era diferente. Que podia fazer? Continuar por uns tempos nas mãos do médico, que de qualquer modo aconselharia. E, sobretudo, tratar de usar esse dom que possuía para ajudar seus semelhantes.

Por isso Pieter Van der Urk deixou de ser pintor de paredes. Já todo mundo o conhece como o Doutor Hurkos e, segundo a imprensa do mundo inteiro tem sido muito útil para desmascarar crimes e roubos.

Um dos mais famosos, o roubo da pedra da coroação, foi, segundo a imprensa mundial, resolvido com a ajuda do Doutor Hurkos. E, ultimamente, em uma das revistas francesas mais importantes aparecia a colaboração de Pieter Van der Urk na resolução de um crime espantoso: o bárbaro assassinato de uma menina de oito anos.

Anos atrás a ciência oficial talvez se tivesse depreciada ou talvez se tivesse desinteressada desse tipo de fenômenos, alegando tratar-se somente de charlatanices. Na Idade Média, Pieter Van der Urk teria sido queimado como feiticeiro.

Hoje em dia sabemos que o sucedido a Pieter Van der Urk não era um fato tão fora do comum e que, algum dia, a ciência fará novas conquistas na elucidação desses problemas.

O que sucedeu com Pieter Van der Urk, sob a luz dos Ensinamentos Rosacruzes, foi uma alteração da Glândula Pineal que afetou o centro sensório a ela ligado, precipitando a faculdade antes possuída em menor grau. A Glândula Pineal, ou epífise, é o centro relacionado com a nossa Mente, com o intelecto e com a visão. Mais detalhes sobre isso você encontra nos textos abaixo.

Um dos principais cuidados que a Fraternidade Rosacruz tem é instruir os Estudantes Rosacruzes sobre a diferença existente entre Clarividência voluntária ou positiva e os sintomas psiquiátricos que compõem quadros de alguns transtornos mentais.

Por exemplo, a descrição de sintomas como ouvir vozes, invasão descontrolada de pensamentos alheios na consciência, percepção de que os outros estão lhe contando seus pensamentos, são também conhecidos, em psiquiatria, como alucinações auditivas, percepções delirantes, interpretação falsa de percepções ou experiências e fornecer significado especial a algum evento corriqueiro. Tais fenômenos, se permanecerem por muitos dias e tornarem-se central na vida da pessoa, a ponto de atrapalhar suas atividades rotineiras (trabalho, relações com família, social e lazer), são considerados patológicos e devem ser tratados. Isso é muito importante! Além disso, essa ocorrência pode ser um indicativo do início de um quadro de esquizofrenia, já que esses sintomas foram considerados, por Kurt Schenider, como de sintomas de primeira ordem para seu diagnóstico.

Interessante também é checarmos o relato do Doutor Hurkos a respeito de suas próprias habilidades: “Eu vejo desenhos em minha Mente como uma tela de televisão. Quando eu toco em alguma coisa, eu então posso dizer o que vejo”. Relatos e documentos da antiguidade sugerem que Hipócrates (460-377 A.C.), considerado o médico mais importante da antiguidade e Pai da Medicina, já havia descrito sobre uma patologia, da qual pessoas acometidas tinham visões de imagens que ocorriam como em sonhos. A esses sinais, somados a discursos desorganizados e comportamentos agitados, deu o nome de hebetude (hoje conhecemos a esquizofrenia do tipo hebefrênica). Areteo da Capadócia (135-200 D.C.) também descreveu a respeito de indivíduos jovens que acreditavam serem filósofos, gênios, poetas ou entidades divinas, dando os primeiros registros sobre delírios. A própria alteração de nome para Doutor Hurkos, se tiver sido sugerido por ele mesmo, sugere um quadro delirante. Em outras palavras, os fenômenos que ocorreram com Pieter Van der Urk estão bem caracterizados como sintomas psicóticos induzidos pelo trauma encefálico que sofreu.

No entanto, é preciso saber diferenciar os fenômenos ocorridos com o Doutor Hurkos com sintomas psicóticos e esquizofrenia. Faremos tal diferenciação tanto do ponto de vista material quanto do espiritual.

Primeiramente, a maior parte dos quadros de esquizofrenia (senão todos) apresenta não apenas distorções do pensamento e da percepção, como também alterações de afetos e prejuízos de funcionalidade. Normalmente, após os episódios agudos de sintomas, a capacidade de atender às exigências da vida fica comprometida e o indivíduo raramente retoma o nível anterior de funcionalidade. Obviamente que muitas terapias (medicamentosa, psicossociais e cognitivas) em conjunto, podem reestabelecer muitos aspectos da vida do paciente, mas muitas dificuldades normalmente permanecem.

Aparentemente, o Doutor Hurkos não apresentava problemas de funcionalidade. Obviamente, houve um dado momento em que sua vida ficou comprometida, mas esse comprometimento era secundário à inabilidade em lidar com sua nova faculdade e isso gerou muito estresse, afetando consideravelmente seu humor e relações. Mas, tão logo recebeu alguma orientação sobre o que lhe estava acontecendo, permaneceu mais calmo e tentou adaptar-se a essa habilidade. Na esquizofrenia, os comprometimentos cognitivos e emocionais, muitas vezes, dificultam enormemente a adesão a novas formas de vida e adaptação de comportamento. Além disso, o Doutor Hurkos não apresentava discursos e pensamentos desorganizados. Muito menos comportamentos bizarros.

Outro indício de que os fenômenos do Doutor poderiam ser reais foram os apelidos dado a ele enquanto estava no hospital: Pieter, o feiticeiro, Pieter, o vidente. Caso suas previsões fossem psicoses francas ou alterações de Personalidade, provavelmente ele seria apelidado de Pieter, o louco; Pieter, o lunático. Afinal, a enfermeira, os pacientes internados e médico psiquiatra não confirmariam a veracidade de suas visões, mas relatariam um quadro típico de confusão mental, após acidente encefálico.

Outros dados interessantes provêm dos experimentos do médico e pesquisador Puharich, que realizou uma série de ensaios laboratoriais controlados sobre as habilidades de Pieter Hurkos. Os resultados demonstraram que as visões internas de Hurkos tinham precisão de aproximadamente 90 por cento. O Dr. Puharich enfatizou: “Estou convencido de que Pieter Hurkos é o maior de todos que já testei como um vidente”.

Vemos, pois, que a veracidade de suas visões, somadas a maior capacidade de adequação comportamental frente a novas demandas, diferenciam os fenômenos do Doutor Hurkos dos sintomas psicóticos e do potencial de aprendizado deficitário comum da esquizofrenia, que normalmente é decorrente de prejuízos cognitivos.

Como já mencionado, os prejuízos do Doutor Hurkos foram secundários ao seu despreparo em relação a um novo sentido. Do ponto de vista oculto, ele teve a oportunidade de despertar essa faculdade a partir de uma alteração na Glândula Pineal, ligada à Mente, o que se tivesse ocorrido a partir do plexo celíaco (também conhecido como plexo solar), provavelmente, teria se tornado um escravo ainda maior dessa função, uma vez que o plexo celíaco está ligado ao desenvolvimento negativo e descontrolado da percepção oculta do ser humano. Isso normalmente ocorre com os Clarividentes involuntários.

O despreparo do Doutor Hurkos, que gerou tanto sofrimento, estava relacionado à sua total ignorância dos Mundos internos e das leis que os regem. Condições essas fornecidas pela Filosofia Rosacruz. Também ao desabrochar acidental de seus órgãos de percepção interna, o que não acontece com as pessoas que seguem voluntariamente e fielmente os Exercícios Esotéricos Rosacruzes dados e tratam de viver uma vida de retenção da força sexual criadora junto à prática constante de servir amorosa e desinteressadamente ao irmão e à irmã que estão ao seu lado, desconsiderando totalmente os defeitos deles e focando exclusivamente na divina essência oculta em cada um de nós.

Outro perigoso fator na história do Doutor Hurkos foi o desabrochar de faculdades como aquela relatada acima, antes da reforma moral necessária, pois uma pessoa sem o Cristo Interno nascido e cultivado dentro dela, a priori, corre o risco de realizar muitos trabalhos egoístas, tornando-se uma ameaça para a sociedade. Mas esse não foi o caso dele, graças à Deus!

Por fim, a inabilidade do Doutor Hurkos em lidar com as imoralidades das pessoas em que tocava, constituía grande fonte de estresse. As verdadeiras Escolas de Mistérios Ocidentais, como a Fraternidade Rosacruz, têm como único Mestre o Cristo (o único Ideal de todo verdadeiro Estudante Rosacruz), que é o Senhor do Amor. Sua Sabedoria está fortemente relacionada ao serviço amoroso e desinteressado ao irmão e à irmã que estão ao nosso lado, desconsiderando totalmente os defeitos deles e focando exclusivamente na divina essência oculta em cada um de nós e à Doutrina do Perdão dos Pecados. Somente aqueles que permanecem neutros (sem projeções) e com a prática do Perdão dos Pecados de todas as coisas que entram em contato são capazes de permanecer equilibrados, quando desabrocham uma faculdade tão intensa como a do Doutor Hurkos[1]. Essa neutralidade de julgamento é uma condição já no grau de Discipulado do Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz.

(Publicado Revista Serviço Rosacruz de outubro de 1965-Fraternidade Rosacruz-SP com acréscimos dos irmãos e das irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)


[1] N.R.: Pieter van der Hurk (21/5/1911-1/6/1988) conhecido como Peter Hurkos, ou Dr. Hurkos, foi um holandês que afirmou ter manifestado percepção extrassensorial após se recuperar de um ferimento na cabeça e coma causado por uma queda de uma escada aos 30 anos de idade. Ele veio para os Estados Unidos em 1956 para experimentos psíquicos, tornando-se mais tarde um vidente profissional que buscava pistas nos assassinatos da Família Manson e no caso do Estrangulador de Boston. Com a ajuda do empresário Henry Belk e do parapsicólogo Andrija Puharich, Hurkos se tornou um artista popular conhecido por realizar feitos psíquicos diante de audiências ao vivo e na televisão.

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