Viver pela Metade
Aqueles que seguem os ensinamentos da Filosofia Rosacruz ou que os elegeram como filosofia de vida, não podem mais manter certas dúvidas a respeito da vida espiritual.
Sabe-se que o primeiro passo e o mais difícil na crença das verdades espirituais, e admitirmos a Reencarnação, ou melhor, a Lei do Renascimento como ponto pacifico para a continuidade de nossos estudos e atividades na senda do Progresso. Entretanto, não ignoramos que existem muitos outros pontos, milhares deles, dos quais pode depender a nossa ascenção.
Em princípio, toda a asserção sábia, contém sempre em si mesma dois sentidos: o material, do qual se reveste para ser enunciada, e o espiritual ou oculto, que deve ser desvendado.
Analisemos de passagem, o que diz a Bíblia pela boca do Mestre, naquele versículo: “Se uma casa se levantar contra si mesma, essa casa não subsistirá”. O valor material dessa assertiva está bem claro e é um chamado à ordem àqueles que não sabem defender sua família, seu lar, seus filhos, tanto de Sangue como de ideal, contra o erro, a agressão, a maledicência, às vezes até contra si mesmo; já o sentido espiritual, faz-nos penetrar num. terreno mais sutil e perceber a face oculta da Verdade.
Então notaremos que tanto pode restringir-se ao relacionamento de alma, como ao próprio relacionamento Interno de cada um, melhor dizendo, aos cheques e entrechoques de nosso eu inferior com a verdade que já existe em nós. Choques esses que muitas vezes se apresentam sob a forma de dúvida, de limitações, de oscilações prejudiciais. Aliás, a dúvida conduz naturalmente às limitações, principalmente se ela atinge os valores espirituais da vida.
“Se uma casa se levantar contra si mesma”, isto é, se os nossos pensamentos espirituais não coincidirem totalmente com as nossas ações, com o nosso modo de vida, se mesmo conhecendo e sentindo os valores reais da vida, ainda perdemos tempo derivando por caminhos da matéria; se mesmo sentindo dentro de nós, maravilhosas verdades cantando sua música num coro divino, e apesar de tudo introduzimos ainda outros ritmos de canções menos celestiais, por algumas notas que sejam., estaremos quebrando a nossa sintonia interna e pondo uma pedra no caminho da nossa elevação espiritual. E é então que “essa casa não subsistirá”, porque não há equilíbrio interno que resista às oscilações a que a natureza externa das coisas muitas vezes nos submete, ou melhor dizendo, oscilações a que nós permitimos ser submetidos por nossas próprias fraquezas, nossa falta de coragem para aceitar integralmente a Verdade como escopo de vida, como única realização justa e aceitável em nosso progresso. Aí é que entra aquela frase bíblica tão conhecida, de que “não se pode servir a dois senhores”.
Porque estaremos servindo a dois senhores enquanto ainda ‘mantivermos dentro de nós, por insignificante que seja, algum interesse material,; quando ainda não tivermos a coragem, a determinação de afastar de nosso Caminho, tudo o que esteja fora das verdades espirituais, quando ainda não nos tivermos revestido o máximo possível daquele equilíbrio que nos leva a selecionar de imediato o joio do trigo, não aceitando nada que possa contrariar nossas verdades internas; quando ainda não soubermos encarar a vida e a humanidade como resultados de algo maior, algo superior à própria vida física e pautar nossa vida por essa crença, sem desvios numa entrega completa a Verdade, numa dedicação sem limites à causa dessa mesma verdade, dessa mesma vida superior, estaremos, repito, servindo a dois senhores. Isso porque, na senda do espiritualismo, chega o tempo em que já não se pode viver pela metade.
Ou somos, ou não somos. Ou cremos, ou não cremos. E, se cremos, temos que manter essa crença no seu verdadeiro nível de pensamentos, de sentimentos e de ações.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/73 – Fraternidade Rosacruz –SP)
Pergunta: Poderá de renascimento a renascimento persistir as mesmas semelhanças, apesar dos fatores sexo e povo?
Resposta: Sim, em certo sentido. Quando o Ego volta a renascer, ele possui um novo conjunto de veículos onde se incluí a essência das experiências de todas as suas vidas pretéritas.
No plano interno, antes do renascimento, ele atrai para si materiais. Esse processo inclui toda a conformação física. Portanto, os novos aspectos serão diferentes daqueles observados em vidas passadas, na medida, em que o Ego adicione ao seu desenvolvimento, espiritual as experiências da precedente.
O corpo físico corresponde ao caráter espiritual do Ego em toda a Vida terrestre. Contudo existem algumas condições modificadores. Em cada Vida terrestre o Ego traz consigo uma certa dose de destino passado a cumprir (que será realizado por meio de um corpo físico adequado). Isso pode acarretar uma suspensão temporária de uma parte das forças que o Ego gerou em vidas passadas, suspensão essa que se refletirá no corpo físico e nas características faciais. Em outras palavras, um Ego poderá necessariamente não refletir em seu campo físico todas as forças e características adquiridas em más-vidas passadas. Assim o tema de contornos faciais submete-se a um grande aspecto de variação, embora uma certa semelhança sempre possa ser delineada.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/1971)
O Governo Invisível do Mundo
Sempre achamos que um “chefe de movimento”, um indivíduo livre, agindo por sua própria vontade cria e destrói povos, nações, impérios; mas, não passa de um instrumento do governo invisível do mundo, o poder situado detrás dos tronos, os Espíritos de Raça. Vamos detalhar aqui como isso ocorre.
Como estudantes da Filosofia Rosacruz, sabemos perfeitamente que as diferentes espécies de animais são dirigidas por um Espírito-Grupo, do Mundo do Desejo. Esse Espírito-Grupo é seu guardião, zelando por sua segurança e dando-lhes o mais conveniente à sua evolução. Não importa a posição geográfica dos animais sob sua proteção; o leão das selvas africanas está dominado pelo mesmo Espírito-Grupo do leão encerrado em uma jaula de qualquer centro civilizado. Assim, esses animais apresentam as mesmas características principais, emanadas do Espírito-Grupo comum; têm os mesmos gostos e preferências alimentares, agem de maneira igual em circunstâncias parecidas. Se queremos estudar a espécie dos leões, ou dos tigres, basta estudarmos um espécime, de vez que não têm arbítrio e nem prerrogativa e agem inteiramente de acordo com os ditames de seu Espírito-Grupo.
O mineral não pode escolher se deve cristalizar-se ou não; a rosa vê-se sujeita a florescer; o leão vê-se impelido a dominar a presa e todos seus movimentos são governados pelo Espírito-Grupo.
Mas o ser humano é diferente. Quando pretendemos estudá-lo, verificamos que cada indivíduo é uma espécie em si mesmo. O que um faz em certas circunstâncias, não pressupõe que outro faça identicamente. “O que a um serve de alimento, para outro é veneno” e cada qual tem diferentes gostos e aversões. Isto ocorre porque o ser humano, tal como o vemos no mundo físico terreno, é a expressão de um Espírito interno individual, que tem, aparentemente, a faculdade de escolha e livre arbítrio.
Porém, em realidade o ser humano não é tão livre como parece; todos os que vêm estudando a natureza humana observaram que em certas ocasiões um grande número de pessoas se porta como se estivessem dominadas por uma força externa, por um mesmo espírito.
É igualmente fácil verificar, sem recorrer ao ocultismo, que as diferentes nações têm certas características psicossomáticas.
Todos conhecemos os tipos alemães, franceses, ingleses, italianos, espanhóis. Cada uma dessas nacionalidades tem características diferentes das de outras, demonstrando haver um Espírito de Raça, nas raízes de tais peculiaridades. O ocultista dotado de visão espiritual sabe muito bem que é assim mesmo. Cada nação tem um Espírito de Raça diferente, passando como nuvem sobre o país inteiro.
Nele vive, move-se e tem seu ser a população de um país. Ele é seu guardião e trabalha constantemente pelo desenvolvimento de seus tutelados, compulsando-lhes a civilização, inculcando-lhes ideais da mais alta natureza, compatíveis com sua capacidade para o progresso.
Lemos na Bíblia, que Jeová, Elohim, que foi o Espírito de Raça dos judeus, apareceu-lhes sobre uma coluna numa nuvem, e no livro de Daniel encontramos consideráveis revelações sobre o modo de trabalhar desses Espíritos de Raça. A imagem vista do Nabucodonosor, de cabeça de ouro e pés de argila, mostrava claramente como uma civilização começava a construir sobre ideais auríferos, depois degenerando gradualmente até que em sua última parte da existência apresenta pés instáveis, de cambaleante argila sendo a imagem condenada à destruição.
Assim todas as civilizações começaram sob a direção de diferentes Espíritos de Raça, mantendo áureos ideais; mas a humanidade, exercendo seu livre arbítrio, não segue implicitamente os ditames do Espírito de Raça como o fariam os animais em relação aos respectivos Espíritos-Grupo. Esta é a razão do porquê, no transcurso do tempo, de uma nação cessar de elevar-se e, como não pode ”existir imobilidade” no Cosmos, começa a degenerar até formar pés de argila, sendo necessário então um golpe que a desmorone a fim de outra civilização edificar-se sobre suas ruínas.
Mas os impérios não caem sem um poderoso golpe físico. Assim, invariavelmente, no tempo em que a nação deve cair levanta-se um instrumento do Espírito de Raça para essa missão. Nos Capítulos X e XI do Livro de Daniel podemos conseguir alguma iluminação sobre o trabalho invisível dos Espíritos de Raça, os chamados “poderes por detrás do trono”.
Daniel vê-se conturbado espiritualmente; jejua durante três semanas completas; clama por luz e depois desse tempo aparece-lhe um Arcanjo, um Espírito de Raça, e lhe diz:
“Não temas, Daniel, pois desde o primeiro dia em que quiseste que teu coração compreendesse e te purificaste diante de teu Deus, tuas palavras foram ouvidas e por elas vim aqui. Mas o príncipe do reino da Pérsia me reteve durante vinte e um dias” e eis que Miguel, um dos primeiros Príncipes, veio em meu socorro e ali fiquei com o rei da Pérsia”. Depois de explicar a Daniel o que há de ocorrer, diz: “Sabes de onde vim, até aqui? E agora voltarei a combater com o príncipe da Pérsia; e quando me for, eis que o príncipe da Grécia chegará e ninguém há que possa obrigar-lhe a fazer estas coisas, além de Miguel, vosso Príncipe”. Também disse o Arcanjo: “No primeiro ano de Dario, o Medá, também estive com ele para acreditá-lo e fortalecê-lo”.
Assim, quando a sentença manuscrita pende de um muro, levanta-se alguém para desfechar o golpe; pode ser um Ciro, um Dario, um Alexandre, um César, um Napoleão, um Kaiser. E tal instrumento humano pode se julgar um “chefe de movimento”, um indivíduo livre, agindo por sua própria vontade; mas, não passa de um instrumento do governo invisível do mundo, o poder situado detrás dos tronos, os Espíritos de Raça, que veem a necessidade de destruir as civilizações que deram de si toda utilidade, de modo que a humanidade possa tomar um novo impulso e evoluir sob mais alto ideal em relação ao que, até então, esteve envolta.
O próprio Cristo, durante Sua permanência na Terra, disse: “Não vim trazer a paz, senão uma espada”, pois Lhe era evidente que, enquanto a humanidade estiver dividida em raças e nações, não poderá haver “paz na terra e boa vontade entre os homens”. A paz será possível somente quando as nações tiverem conseguido unir-se numa Fraternidade Universal.
As barreiras do nacionalismo devem converter-se num crisol de fusão, onde o melhor de todas as velhas nações se mescle e se amalgame para que surja uma nova raça de mais elevados ideais e sentimentos fraternos universalistas, como precursora da Era de Aquário. Entretanto, as barreiras do nacionalismo vão sendo rompidas com os terríveis conflitos mundiais, aproximando o dia da amizade universal e da realização da fraternidade humana.
Há outro objetivo que também deve ser alcançado. De todos os horrores a que está sujeita a humanidade, não há nenhum maior que a morte, que nos separa daqueles a quem amamos. Nosso sofrimento advém da falta de possibilidade de os vermos depois que foram despojados de seus corpos. Mas, tão certamente como o dia se segue à noite, também, certamente, nossas lágrimas acabarão por diluir a escama que oculta aos olhos dos seres humanos a terra desconhecida dos mortos que agora reafirmamos: uma das maiores bênçãos que resultará das guerras será a vista espiritual que um grande número de pessoas certamente adquirirá.
O profundo sofrimento de milhões de seres humanos, o anelo de novamente ver os que lhe são queridos e que tão súbita e cruelmente lhes foram arrebatados são forças de incalculável poder e fortaleza.
De igual maneira, aqueles que foram prematuramente levados pela morte, e agora estão nos Mundos invisíveis, sentem um intenso desejo de reunir-se aos que lhes são caros, para dizer-lhes palavras de consolo e convencê-los do bem-estar que presentemente desfrutam. Pode-se até dizer que, dos grandes exércitos que se formaram nas duas guerras mundiais, por milhões e milhões de pessoas, além dos outros desastres coletivos, surge um sentimento, de fantástica energia e intensidade de propósito que está minando os muros que separam o visível do invisível.
Dia após dia, tais muros ou véus se tornaram finos, mais débeis e, cedo ou tarde, os vivos e os mortos que vivem se encontrarão na metade do túnel. Antes mesmo do que podemos imaginar essa comunicação se estabelecerá e, então, veremos como a coisa mais natural deste mundo o fato de alguém deixar seus corpos ao morrer. Não sentiremos pesar nem perda alguma, porque poderemos vê-los, em todas as horas, nos seus Corpos Vitais, movendo-se ao nosso redor, como até então faziam. Assim venceremos o grande conflito da morte e poderemos dizer: “Oh, morte! Onde está tua gadanha? Oh, sepulcro! Onde tua vitória”.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/1971)
Ressaltemos os Fundamentos e as Verdades que brotam dos Ensinamentos Rosacruzes
Ressaltemos os fundamentos, a verdade e a atração que brotam desses ensinamentos da Sabedoria Ocidental e que foram tão bem expostos pelo notável arauto dos Irmãos Maiores.
Atualmente, nota-se uma preocupação constante de suavizar o espírito de competição, profundamente evidenciado na dinâmica civilização ocidental, através do bom relacionamento que, embora ainda mesclado com interesses pessoais e grupais, indica a aurora de uma condição ainda mal compreendida pelos seres humanos e, por isso, mal-empregada.
Essa condição, que exprime um estado de espiritualização, alicerçou a obra, a Vida e o ideal de Max Heindel. Por essa razão, a Filosofia Rosacruz pode ser denominada de FILOSOFIA DO CORRELACIONAMENTO, porque ela concede aos seus estudantes a possibilidade de tudo correlacionar, de aparar as arestas dos desentendimentos, de unir os opostos e de operar o milagre de estabelecer o entendimento e a harmonia entre os seres humanos.
Mas, de que maneira? – Muitos poderão perguntar.
Os fundamentos da Filosofia Rosacruz apoiam-se em dois princípios básicos enunciados por Cristo: “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, depois, “Mas não sereis VÓS assim; antes o maior entre VÓS seja como o menor; e o que governa como quem serve”.
Assim, os fundamentos em que estão amparados os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, expostos no Conceito Rosacruz do Cosmos e nas demais obras de Max Heindel, são os princípios do AMOR e do SERVIÇO; na terminologia Rosacruz “O SERVIÇO AMOROSO E DESINTERESSADO PRESTADO AOS DEMAIS”.
Nosso Irmão Heindel sempre chamou a atenção dos estudantes para o fato de que o estudo da Filosofia Rosacruz se torna inútil se os seus ensinamentos não forem aplicados ou vividos sinceramente. Na aplicação dos ensinamentos da Filosofia, no início da aprendizagem, temos de levar em consideração o SÍMBOLO. O SÍMBOLO é o auxiliar do aspirante Rosacruz em particular, bem como de toda a humanidade em geral. Há um valor oculto e universal no SÍMBOLO que, mesmo depois da Iniciação, o aspirante Rosacruz reverencia. Ele constitui-se no meio de ligação entre o oculto e o visível, crescendo em significação na medida em que o aspirante cresce espiritualmente. Eis porque Max Heindel no livro Iniciação Antiga e Moderna nos diz: “o simbolismo que desempenhou um papel de importância capital em nossa evolução passada, ainda é uma necessidade vital para o nosso desenvolvimento espiritual”.
Daí então a conveniência em estudá-lo tanto com os nossos corações, como também com os nossos intelectos. Os diferentes símbolos divinos que têm sido outorgados à humanidade por uma e outra vez, falam a esse tribunal da verdade que existe dentro do nosso íntimo e despertam as nossas consciências para as ideias divinas que estão completamente além do alcance das palavras.
Desse modo, somos levados a considerar o SÍMBOLO como um auxiliar eficaz para a prática daqueles dois princípios enunciados: AMAR E SERVIR.
SERVIR BEM E DESINTERESSADAMENTE É AMAR, mas como encontramo-nos ainda na fase de aprendizagem, “vemos como que através de Vidros obscurecidos”, como diz o nosso ritual. Depositamos “a essência que emana dos Pães da Proposição” na “Rosa Branca” do nosso SÍMBOLO, a fim de que os Irmãos Maiores a empreguem onde acharem mais conveniente.
Executando um trabalho dessa natureza, vamos gradativamente nos tornando aquilo que na terminologia Rosacruz designa-se por AUXILIAR, primeiramente um AUXILIAR Visível, operando pelo uso da VONTADE QUE APLICA OS ENSINAMENTOS ROSACRUZES, para depois qualificar-se também para agir como AUXILIAR INVISÍVEL, um cidadão dos mundos. Por isso, cinco dias antes de passar para o além, nosso Irmão Heindel escreveu uma carta aos seus estudantes, na qual sublinha o ponto fundamental do êxito em assuntos espirituais e, portanto, no VIVER A VIDA. Essa carta de Max Heindel está à disposição dos amigos que podem retirar uma cópia ou mais, na Secretaria.
(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross e Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/1967)
A Tríplice Alma: um procedimento oculto para o aperfeiçoamento de si mesmo
Pouco antes de me ter sentado para estudar numa dessas tardes, premi o botão elétrico e imediatamente a luz inundou o quarto. Apanhei o livro e abrindo-o deparei com um trecho que tratava do trabalho executado pelos Adeptos – os iluminados que podem pronunciar a Palavra Criadora.
Veio-me então à mente o desejo de tornar-me idêntico a eles, servir como fazem os Irmãos Maiores, levando a luz à consciência da Humanidade.
O que deveria fazer para tornar-me igual a eles?
Pensativamente contemplei a lâmpada próxima a mim: a pressão sobre o botão não a criou; ele meramente pôs o dispositivo (a lâmpada) apta a transmitir a luz, contatando-o com certos dispositivos (arames, ligações, cabos) os quais transportam a energia elétrica gerada pela fonte central (dínamo). O que seria se a lâmpada fosse feita de madeira? Quando eu premisse o botão poderia inundar de luz o meu quarto? Poderá o meu ser físico, tal como agora é, transmitir a luz de Deus?
Se as linhas elétricas fossem defeituosas, a minha pressão sobre o botão poderia proporcionar luz perfeita em meu quarto? Terei eu uma conexão apropriada com a fonte de energia espiritual para torná-la usável? Ou o que daria se o dínamo funcionasse imperfeitamente? Para que serviriam os arames, os cabos, as ligações, as lâmpadas ou outros quaisquer dispositivos para a produção da luz, se o dínamo não produzisse energia? Estarei em uma célula no Grande Corpo de Deus, produzindo e libertando a energia para as mais altas funções de meus veículos?
Essa autopesquisa conduziu-me a uma revisão sobre o procedimento oculto ensinado pela Filosofia Oculta para o aperfeiçoamento de si mesmo no sentido de se tornar um “canal consciente” para o trabalho daqueles Elevadíssimos Seres, de modo a poder aplicar-me com renovado zelo no trabalho indispensável ao crescimento da alma. O moto “Serviço amoroso, altruísta e desinteressado” me veio à mente como linha de conduta para ser sempre observada e lembrada. Ao mesmo tempo recordei-me de certas instruções específicas para a espiritualização de nossos veículos e, consequentemente, do crescimento da alma. O que me ocorreu vai a seguir:
A filosofia oculta ensina que o ser humano é um Tríplice Espírito que possui uma Mente através da qual governa o Tríplice Corpo, os quais ele emanou de si mesmo para obter experiências. Esse Tríplice Corpo ele transmuta na Tríplice Alma, da qual ele se nutre a fim de sair da impotência para a onipotência: o Espírito Divino emana de si mesmo o Corpo Denso, extraindo como pábulo a Alma Consciente; o Espírito de Vida emana o Corpo Vital, extraindo a Alma Intelectual; o Espírito Humano emana o Corpo de Desejos, extraindo a Alma Emocional. Nosso problema como aspirantes espirituais é então planejar e controlar nossas atividades diárias de modo que, por meio delas, possamos extrair maior quantidade de poderes conscientes, intelectuais e emocionais, de nossos Corpos. Uma vez que nossos veículos estão intimamente inter-relacionados, a melhora de um, automaticamente gera a melhora dos demais. Porém, certas atividades afetam determinado Corpo mais definidamente do que os outros.
O Corpo Denso é um maravilhoso instrumento mecanizado para a ação no plano material; é por meio das experiências que obtemos por seu intermédio, pelas nossas retas ações em relação aos impactos externos e pela observação acurada que o transmutamos em Alma Consciente. Quanto mais ativos formos e mais retas forem nossas ações, maior crescimento de Alma Consciente alcançaremos. Basicamente, para a reta ação tornam-se necessários a higiene, o exercício, o ar fresco, uma dieta simples constante de alimento integral, bem como o altruísmo, o desejo de ajudar e a boa vontade. Em relação à observação correta ensina-nos a Filosofia Rosacruz: É da mais alta importância ao nosso desenvolvimento que observemos os fatos e as cenas em nosso redor acuradamente. Do contrário as impressões em nossa memória consciente não coincidirão com os registros automáticos subconscientes. O ritmo do Corpo Denso perturba-se na proporção da falta de acuidade de nossa observação durante o dia. Na proporção em que aprendemos a observar acuradamente, ganharemos em saúde e longevidade e necessitaremos menos de descanso e de sono. O Aspirante, sistematicamente, deve tudo observar, tirar guia mais seguro e certo em qualquer mundo. Ao praticarmos esse método de observação, devemos sempre ter em Mente que ele deve ser usado apenas para reunir fatos e não com o propósito de criticismo, pelo menos o acre criticismo. A crítica construtiva que assinala defeitos e dá os meios de remediá-los é a base do progresso.
O Corpo Vital, o veículo do hábito, é o armazém da memória consciente e subconsciente, é composto de quatro Éteres: o Éter Químico, o Éter de Vida, o Éter de Luz e o Éter Refletor.
Os dois primeiros constituem a matriz na qual o Corpo Denso é construído. A repetição é a nota-chave desse Corpo Vital. Daí o valor da repetição dos impactos espirituais do estudo, dos sermões, da conferência e leituras. Também a arte e a religião são de primeira importância no refinamento do Corpo Vital, bem como o cultivo da memória, da discriminação particularmente efetivos na geração da Alma Intelectual.
A memória liga as experiências passadas às as experiências presentes e os sentimentos por elas engendradas, criando “simpatia” e a “antipatia” que de outro modo não poderiam existir.
A discriminação é a faculdade por meio da qual distinguimos aquilo que não é importante, não essencial, separando o real da ilusão, o duradouro do evanescente.
Na vida comum pensamos de nós mesmos como se fôssemos o Corpo. A discriminação orienta-nos no sentido de que somos Espíritos e que os nossos Corpos são temporariamente lugares residenciais, instrumentos de uso. Pela discriminação aprendemos a considerar o Corpo como um servo na medida em que se torna dócil às nossas ordens. Assim considerando, veremos ser possível fazermos muitas coisas que de outro modo pareciam impossíveis.
Os dois Éteres do Corpo Vital, o Luminoso e o Refletor, são os que compõem o Corpo-Alma e em cada vida são renovados por meio do “serviço amoroso, altruísta e desinteressado aos outros”. A quinta essência desses atos, do bem, deles extraídos, determina a qualidade dos átomos estacionários prismáticos de que são compostos os dois Éteres inferiores na vida seguinte. Esse Corpo-Alma é a parte do Corpo Vital que o Aspirante imortaliza como Alma Intelectual.
O Corpo de Desejos é nosso veículo dos desejos, das emoções e dos sentimentos. Durante o estado de vigília ele se encontra constantemente em luta com o Corpo Vital. O Corpo Vital constrói e suaviza, ao passo que o Corpo de Desejos cristaliza e destrói. Por meio da devoção persistente aos suaves ideais da vida superior, dominamos nossos instintos animais, eliminando os traços indesejáveis do hábito e do caráter resultantes da geração e do desenvolvimento da alma emocional. A importância do cultivo da faculdade da devoção, dificilmente enfatizada por muitas pessoas, deve ser considerada, assim é que um dos melhores sistemas de desenvolvimento desse poder é a retrospecção, o exercício noturno ensinado pela Escola Rosacruz, por meio do qual nos lembramos em ordem inversa dos acontecimentos do dia, cuidadosamente louvando e reprovando quando é devido.
Uma explosão temperamental é detrimento para o crescimento da alma; é a dissipação em larga escala da energia que pode ser proveitosamente usada. Tal fato envenena o Corpo, deixa-o alquebrado, e impede enormemente o seu desenvolvimento. O Aspirante deve sistematicamente controlar todas as tentativas do Corpo de Desejos, o que poderá ser feito pela concentração em altos ideais, que fortalece o Corpo Vital e é muito mais eficiente do que as orações comuns usadas nas igrejas. Quando ditada pela devoção pura e altruísta a altos ideais, a oração é muito mais superior do que a fria concentração.
Em nossos esforços para transmutar o Corpo de Desejos em poder de Alma, devemos também nos lembrar de que o Espírito Humano, que está correlacionado com o Corpo de Desejos, era contraparte do Espírito Santo – a energia criativa na Natureza, a qual o aspirante deve aprender a usar nos processos superiores mentais e emocionais para regeneração. Ao vivermos castamente, a força criadora sobe, pelo trabalho mental e espiritual, refinamos e eterizamos nossos Corpos físicos, e ao mesmo tempo fortalecemos nossos veículos superiores. Dessa maneira alargamos materialmente nossa vida e aumentamos nossas oportunidades de crescimento de alma, avançando em graus definidos.
É-nos ensinado que a Mente é o elo entre o Espírito e seus Corpos, sendo também real que a Mente é o instrumento mais importante que o Espírito possui. Um dos principais alvos da nossa evolução durante este período é aprender a controlar o pensamento, o que será conseguido por meio do exercício do Princípio de Vontade do Espírito. Possuindo a prerrogativa divina da livre volição, podemos treinar habitualmente a pensar como quisermos. Dessa forma, se persistentemente continuarmos em nossos esforços de espiritualização de nossos Corpos pela reta ação, de sentimento e de pensamento, tempo virá no qual seremos auxiliares altruístas de nosso próximo e guardiães do poder do pensamento. Tendo-nos, então, adaptado ao uso desse tremendo poder para o bem de todos, indiferentes ao interesse próprio, estaremos aptos a formar ideias acuradas que se cristalizarão em coisas úteis. Por meio da laringe perfeita falaremos a Palavra Criadora e assim atingiremos ambicionado lugar na escada evolucionária.
(Traduzido da Revista Rays from Rose Cross – Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/67)
A Autossuficiência: aprender a cultivar é imprescindível
A autossuficiência é a virtude cardinal que o aspirante da Escola Esotérica Ocidental deve aprender a cultivar. Logo de início, encorajam-se os estudantes a dependerem de si próprios e a desenvolverem o raciocínio e o sentido correto do discernimento, com o auxílio da meditação e da oração, pois esses são indispensáveis ao seu avanço e evolução espirituais.
No Livro ”Mistérios das Grandes Óperas”, Max Heindel resume nessas palavras a importância que tem a AUTOSSUFICIÊNCIA para o Espírito inquiridor que adere à Fraternidade Rosacruz: “Não se permite que ninguém se apoie em Mestres ou que siga líderes, cegamente. A ambição dos Irmãos Maiores da Rosacruz é emancipar as almas que se lhes dirigem; é educá-las, dar-lhes força e torná-las seus colaboradores (. . .) Os Instrutores não podem, de forma nenhuma, fazer por nós as obras positivas em que se baseia o crescimento da alma, nem assimilá-la por nós, ou dar-nos o poder anímico consequente e utilizável – da mesma maneira que não comem o nosso alimento para nos dar forças físicas”.
No nível presente da nossa evolução, só podemos avançar se formos autossuficientes. Já deixamos para trás os dias em que éramos guiados por grandes Seres que determinavam cada um dos nossos atos. Agora, quanto mais dependermos da consciência, do raciocínio, do juízo, da sabedoria, ou da força de vontade de outra pessoa – seja ela um Instrutor espiritual ou um ser humano – mais tempo será necessário para atingirmos o grau de responsabilidade que nos emancipará completamente de influências exteriores. Só agiremos totalmente, segundo os preceitos fundamentais da evolução da alma, quando formos completamente livres!
A autossuficiência é indispensável, tanto nas mínimas coisas como nas de maior importância. É efetivamente com as pequeninas coisas rotineiras que temos de começar; se não formos capazes de tomar decisões aparentemente insignificantes, como podemos esperar tomá-las em coisas de maior valor? Há estudantes principiantes, e até membros há muito ligados à Fraternidade Rosacruz, que escrevem para a Sede a pedir conselhos referentes a problemas pessoais ou domésticos, dos mais diminutos aos mais graves. Há tendência para considerar a Sede uma fonte donde brota facilmente auxílio em momentos de crise. “A lição que temos de aprender é a de trabalhar para um objetivo comum; sem líderes, cada um igualmente inspirado, interiormente, pelo Espírito do Amor, lutando para elevar o mundo inteiro, física, moral e espiritualmente à estatura e grandeza de Cristo” (do Livro Cartas aos Estudantes nº 20 – Max Heindel).
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/86)
A palavra Karma[1] provém do sânscrito, sendo muito utilizada na literatura esotérica para designar aquilo que nos Ensinamentos Rosacruzes conhecemos como Destino Maduro ou simplesmente destino. Esse termo generalizou-se tanto, face à invasão de filosofias orientais sofrida pelo Ocidente, a ponto de já ser usado em forma aportuguesada: Karma ou Carma.
Fiéis aos princípios básicos legados pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, optamos pelos vocábulos Destino Maduro ou destino. Destino, no sentido esotérico, associa-se a dívidas contraídas sob a Lei de Causa e Efeito. Geralmente representa o Efeito ou Consequência.
Muitas pessoas imaginam poder compensar, suavizar ou mesmo neutralizar um destino “sofrido” apenas pelo auto aperfeiçoamento. A superação de vícios e falhas de caráter e necessária e fundamental, mas por si só não é suficiente. É preciso mais que isso.
Lemos nos Evangelhos que certa vez um rapaz aproximou-se do Cristo e exclamou: “Bom Mestre, que bem-farei para conseguir a vida eterna? E Ele disse-lhe: Por que me chamais de bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o mancebo: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o moço ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades”.
Vemos, então, pelos ensinamentos cristãos que não basta apenas cultivar virtudes morais ou adquirir conhecimentos. É necessário, também, servir à humanidade, de maneira desinteressada e amorosa. Nossas vidas e nosso destino só mudam quando trabalhamos duro, em benefício dos nossos semelhantes, cumprindo nossa parte no mundo.
Se é verdade que levamos nossas cargas de destino individual, também é certo que estamos envolvidos num destino coletivo. Somos parte da grande família humana. Tudo que a afeta, afeta-nos também e vice-versa. Não há como fugir dessa realidade.
Não nos esqueçamos de que “a fé sem obras é morta”. O conhecimento é uma grande responsabilidade, e se não se traduzir em atos construtivos e amorosos acabará gerando, pela omissão, um destino muito doloroso.
Muitos esoteristas, após anos de estudos profundos acabam desalentados, queixando-se do insignificante progresso conquistado ao longo de tantos “esforços”. Esforços? Melhor seria se meditassem sobre esses esforços. No fundo, verificarão que durante todo esse tempo não passaram de meros teóricos, alguns até envaidecidos de sua erudição. É lógico, o conhecimento adquirido sempre conduz a algum progresso.
Mas se não for levado à prática, não passará de verniz, de superficialidade enganosa. Como afirmou o Apóstolo: “O conhecimento infla. Mas só o amor constrói”. Amor, no sentido mais elevado é ação. Não pode ser concebido como algo passivo, etéreo ou mesmo subjetivo. O amor deve conduzir à realização de algo construtivo e só por seu intermédio é possível a superação do destino. Só assim podemos, de fato, fazer uso da Doutrina Cristã da Remissão dos Pecados, também conhecida como Perdão dos Pecados.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/86)
[1]Karma ou Carma – ensinada nos países orientais.
Epigênese: Os Seus Novos Caminhos
A Revolução Industrial, cujo berço foi a Inglaterra, no século XVIII, modificou totalmente o panorama da sociedade ocidental. A economia, então predominantemente agrícola e artesanal, passou a conhecer uma fase de surgimento de indústrias. As cidades se desenvolveram porque as indústrias nelas se localizavam e suas populações cresceram consideravelmente.
O que se desencadeava, entretanto, não era um processo isolado, mas algo que exigia transformações profundas a fim de manter sua continuidade. Havia, por exemplo, necessidade de transportar matéria-prima de suas fontes até as regiões manufatureiras. O meio de transporte comum era à tração animal. Obviamente não atendia a demanda crescente; em primeiro lugar, porque a disponibilidade de animais de carga era pequena.
Quando tudo parecia caminhar para um impasse, eis que a genialidade de alguém cria a máquina a vapor. Surge a locomotiva. Os trens, as ferrovias, constituem a salvação. Estava resolvido o problema.
Sempre foi assim. Quando a necessidade de progresso do ser humano esbarrava em algum obstáculo ou problema aparentemente sem solução, o gênio inventivo, a criatividade, inovavam em algum campo de atividade humana, encontrando o caminho salvador.
Esse dom de criar algo novo, original, recebe o nome de Epigênese. É uma faculdade inerente a todo indivíduo, mas ainda pouco desenvolvida. Essa capacidade criadora é um traço de identidade entre Deus e o ser humano, porque ambos criam.
Max Heindel, em sua obra Conceito Rosacruz do Cosmos, no capítulo que trata da Involução, Evolução e Epigênese diz o seguinte: “Em todo o transcurso da evolução, através dos Períodos, Globos, Revoluções e Raças, aqueles que não melhoram, por não formarem novas características, ficam para trás e começam imediatamente a degenerar. Só os que permanecem plásticos, flexíveis e adaptáveis podem modelar novas formas, apropriadas à expressão da consciência que se expande. Só a vida capaz de cultivar as possibilidades de aperfeiçoamento, inerentes na forma que anima, pode evolucionar com os adiantados de qualquer Onda de Vida. Todos os outros ficam atrasados”.
“É esta a medula do Ocultismo. O progresso não é um simples desenvolvimento, nem tampouco Involução e Evolução, há um terceiro fator, a Epigênese, que completa a tríade”.
“As primeiras duas palavras são familiares a todos os que estudaram a vida e a forma. Admite-se, geralmente, que a Involução do Espírito na matéria tem o objetivo de construir a forma, mas não se reconhece tão comumente que a Involução do Espírito corre paralela à evolução da forma”.
“Desde o princípio do Períodode Saturno até a Época Atlante, quando “os olhos do ser humano foramabertos” pelos Espíritos Lucíferos,as atividades do ser humano (ou força vital que se converteu em humano) era dirigida principalmente para dentro. Essa mesma força que agora o ser humano emprega ou irradia para construir estradas de ferro e vapores, empregava-se internamente para construir um veículo através do qual pudesse manifestar-se. Esse veículo é tríplice, analogamente ao Espírito que o construiu. A forma evolui construída pelo Espírito. Durante essa construção, o Espírito involui até que, nela penetrando, parta para a própria evolução. Os melhoramentos ou aperfeiçoamentos da forma são resultado da Epigênese”.
“Logo, o poder que o ser humano agora emprega para melhorar as condições externas foi empregado durante a Involução com propósito de crescimento interno”.
“Há forte tendência em considerar tudo o que existe como resultado de algo que foi. Olha-se a Evolução como simples desenvolvimento de perfectibilidades germinais. Tal concepção exclui a Epigênese do esquema das coisas, não concede possibilidade alguma de construir-se algo novo, nenhuma margem para a originalidade”.
“O ocultista crê que o propósito da evolução é o desenvolvimento doser humano desde um Deus estático a um Deus dinâmico, um Criador. Se o desenvolvimento que atualmente efetua constituísse a sua educação, e se o seu progresso representasse simplesmente a expansão de qualidades latentes, onde aprenderia a criar?”
“Se o desenvolvimento do ser humano consistisse unicamente em aprender a construir formas cada vez melhores, de acordo com os modelos já existentes na mente do seu Criador, na melhor das hipóteses poderia converter-se num bom imitador, mas nunca num criador”.
“Para tornar-se um criador original e independente é necessário, no seu exercitamento, que tenha suficiente margem de emprego da sua originalidade individual. É isso que distingue a criação da imitação. Conservam-se certas características da forma antiga, necessárias ao progresso, mas em cada novo renascimento a vida evolucionante acrescenta tantos aperfeiçoamentos originais quanto sejam necessários para sua expressão ulterior”.
Vê-se, pois, que sem o emprego da faculdade epigenética o progresso do ser humano, em qualquer campo de atividade, seria uma impossibilidade. Quando deixa de ser ativa nas pessoas, nações, raças e instituições, a evolução cessa, começando daí a degeneração. Todo processo de cristalização na natureza representa a ausência de novos caminhos. A decadência das grandes civilizações principiou pela estagnação de seus valores básicos. A não renovação de suas estruturas, aliada a recusa em reciclar sua cultura, acabou por provocar a degeneração. Isso sempre ocorreu, seja no sentido individual, seja no coletivo.
Os veículos do Espírito também se aperfeiçoam pela Epigênese. As correções e as inovações começam na região dos arquétipos, ou seja, na Região do Pensamento Concreto do Mundo do Pensamento. A tendência de um veículo, como o Corpo Denso por exemplo, é tornar-se cada vez mais sensível, maleável e responsivo às vibrações espirituais. Esse progresso ocorre porque vimos constantemente aperfeiçoando nossos veículos.
Os corpos das Raças atrasadas estão em franca degeneração porque cristalizaram-se a tal ponto de não admitirem nenhum processo de revitalização. Os antropoides, são o resultado da degeneração de corpos humanos que perderam a sensibilidade. Os seres que usam esses corpos pertencem à nossa Onda de Vida, teoricamente ainda têm chances de progresso. Mas isso só acontecerá se derem um salto gigantesco em sua evolução, a ponto de poderem habitar corpos mais aperfeiçoados, abandonando em definitivo essas formas degeneradas.
É uma lei natural: Nenhum ser pode habitar corpos mais eficientes do que ele seja capaz de construir. Quanto mais uma pessoa avança e trabalha nos seus veículos, mais poder tem para construir uma nova vida.
Nossa capacidade de dominar as configurações estelares determina, em grande medida, o grau de Epigênese que vamos desenvolvendo em cada vida. Estamos sujeitos a poucas ou muitas limitações na vida atual, determinadas por dívidas contraídas em encarnações passadas. Mesmo assim temos certa margem de livre-arbítrio para desencadearmos novas causas. Gerando assim um novo destino. Não somos obrigados a errar. Se renascemos com grande tendência para a sensualidade, os astros podem impelir, mas nada nos vai obrigar a satisfazer nossas paixões carnais. A energia criadora malbaratada pode ser canalizada a objetivos superiores. Essa mesma energia, Deus e as Hierarquias utilizaram na criação do Cosmos. Podemos, portanto, empregá-la no processo epigenético contribuindo para a elevação da humanidade.
O processo da Epigênese é uma forma de transmutação. E isso explica porque certos presidiários reformam-se, tornando-se úteis à sociedade, enquanto outros mantém suas tendências criminosas; ou então, como pessoas com deficiências físicas desenvolvem certas habilidades, tornando-se vitoriosas em alguma atividade. O Espírito pode criar fases verdadeiramente novas de sua individualidade.
O gênio representa a manifestação epigenética no mais alto grau e isso não se explica pela hereditariedade. O gênio expressa sua genialidade não só por sua proficiência artística, intelectual ou profissional, mas principalmente pela sua criatividade. Esta é a diferença entre a competência e a genialidade.
Às vezes, a Epigênese se manifesta unilateralmente. E o caso de artistas que, embora talentosos, deixam muito a desejar moralmente entregando-se à bebida, aos tóxicos ou ao sexo. O talento pode lhes ser retirado temporariamente em vidas futuras, até que decidam a regenerar-se.
Geralmente o autodidata em algum ramo artístico ou profissional tende a ser criativo porque foge dos limitadores padrões acadêmicos. As pessoas criativas podem revolucionar (no mais puro sentido da Palavra) algum campo de atividade. Não raro isso lhes traz sofrimento porque seu trabalho inovador dificilmente será compreendido, além do que constitui uma ameaça aos padrões já estabelecidos naquela área particular. Eles RE-EVOLUCIONAM, isto é, dão novo impulso a evolução. Imagina-se, erroneamente, que revolucionar significa derrubar algo já consolidado.
Thomaz Edison certa vez foi posto para fora do escritório de um financista, em Nova York. O homem de negócios, indignado, afirmou-lhe grosseiramente, que jamais financiaria a produção em escala industrial daquelas “invenções malucas”. Bell foi chamado de louco pela imprensa norte-americana quando anunciou a invenção do aparelho telefônico. Júlio Verne encantou o mundo com suas obras de ficção. FICÇÃO? Hoje, quanto coisa tornou-se realidade.
Goethe modificou profundamente o teor das lendas que envolviam a figura do doutor Fausto, mago, astrólogo e quiromante do século XVI, dando-lhe, epigenéticamente, profundidade esotérica. Esse poema, uma obra-prima da literatura universal, conta a história do ser humano no afã de encontrar o divino em si mesmo.
Leonardo Da Vinci, para citar um exemplo mais distante no tempo, expressou uma exuberância epigenética incomum. Sua figura humana aproximou-se, como nenhum outro, daquele imaginário homem universal. Foi pintor, escultor, matemático, arquiteto, urbanista, físico, astrônomo, engenheiro, naturalista, químico, geólogo e cartógrafo. Suas obras tais como“Anunciação”, a “Virgem dos Rochedos”, a ”Monalisa”, constituem parte do patrimônio artístico da humanidade. Como urbanista, seu projeto para a cidade de Milão foi algo admiravelmente revolucionário. Eliminou as muralhas, traçou canais de esgotos, ruas superpostas para pedestres e pistas livres para veículos. As casas seriam amplas e ventiladas. Haveria praças e jardins. E tudo isso no final do século XV.
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental nos esclarecem, e a própria história da civilização nos confirma, que se caminhamos até o estágio atual de desenvolvimento é porque fizemos uso da devida faculdade epigenética. Exercitar esse dom é encontrar Deus dentro de si mesmo.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’–Fraternidade Rosacruz-SP- maio/1986)
Doação de Glândulas Pituitárias
Pergunta: Junto a esta um recorte de jornal, onde poderemos ler um pedido de donativo de glândulas pituitárias, feito pela Agência Nacional Pituitária, no sentido de prevenir (ou evitar) o nanismo em crianças. Sou simpático a esse pedido e ao mesmo tempo admito que a ablação dessa glândula deva ser feita logo após a morte do doador. Dessa forma, como poderia haver uma conciliação desse fato com os vossos ensinamentos, uma vez que se fala no prazo de três dias para que o Corpo possa ser tocado, considerando-se ainda que, nos velórios, não há possibilidade de ser observado esse prazo. Em certas formas de embalsamamento o Corpo fica mais ou menos cristalizado ou mumificado, não se desintegrando por milhares de anos. Isto significa que o espírito vital como ficou explícito em vossos livros ficará preso ao seu próprio Corpo e à Terra, até que haja a desintegração?
Resposta: Max Heindel enfatizou que o finado deve ser o menos possível perturbado durante três dias e meio imediatamente após a ruptura do Cordão Prateado (o elemento, o cordão que liga os vários Corpos do ser humano entre si). Isso, naturalmente, para que o processo panorâmico se desenrole sem interrupções provindas do exterior. O interferir no processo panorâmico, em virtude da remoção de uma glândula ou de qualquer parte do Corpo depende, de alguma forma, da brevidade em que ela é feita em relação ao momento da morte, da idade da pessoa, das circunstâncias da morte, etc. Uma pessoa idosa geralmente completa o seu panorama mais rapidamente do que uma pessoa jovem, e a consciência do Ego logo após a morte é variável de indivíduo para indivíduo. Deve-se considerar também que a consciência do Ego, depois da ruptura do Cordão Prateado, não é provavelmente tão sensível em relação à dor física, como seria quando encarnado. Entretanto, tendo em vista a extrema importância de uma clara impressão das experiências da vida no Corpo de Desejos, todas as possíveis precauções deverão ser tomadas a fim de que o Ego desencarnado não seja perturbado.
O embalsamamento ou a mumificação deverão, naturalmente, ser evitados, entretanto, podemos afirmar que apenas a mumificação não será suficiente para tornar um Ego atado à Terra. As fortes fixações a um Corpo mumificado, a imprecação ou excomunhão emanadas de um sacerdote-magista ou ainda uma crença religiosa poderá fazer com que o Ego adere durante séculos ao redor da múmia, até que venha a compreender o seu engano, separando-se e submetendo-se a novo renascimento.
O termo “preso à terra” aplica-se somente ao Ego que escolhe ou é impelido a permanecer na Terra depois da morte. Tais Egos não estão “ligados” ao cadáver, porque o Corpo desintegra-se na sepultura a menos que seja cremado, e, em tal caso, desaparece rapidamente. Contudo um Ego preso à Terra – em virtude da sua fixação mental às coisas da Terra – continuará assim retido sem qualquer relação com seu Corpo, porque essa fixação diz respeito à Mente do Ego.
Talvez você esteja estabelecendo uma confusão entre o “espírito vital” e o Ego. O “espírito vital”, a que você se refere, trata-se da porção etérica do Corpo físico. Naturalmente, se o Corpo Denso é preservado, o mesmo acontecerá com o Corpo Vital, não se desintegrando, permanecendo flutuante pouco acima do primeiro. É meramente parte do cadáver. Não afirmamos que isso seja um “preso à Terra”, mesmo porque o seu destino é o de se desintegrar sincronicamente com o Corpo com o qual está ligado por meio da parte inferior do Cordão Prateado.
A razão de o doador permitir o transplante de uma glândula, ou de qualquer outro órgão, naturalmente representa para ele um crédito, espiritualmente falando. Contudo, a menos que o recebedor aprenda a lição que se supõe tenha aprendido, não haverá benefício permanente.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/1971)
Sementes da Nova Era, ainda aqui na Era de Peixes
A Era (ou Idade) de Peixes apresenta algumas características marcantes. Uma delas é a predominância de uns poucos sobre a maioria. Tal faceta pode ser notada com facilidade se observarmos, principalmente, os campos da religião e da política.
Nos últimos séculos, todas as grandes decisões que marcaram a vida das nações foram tomadas por poucos indivíduos, por grupos hegemônicos, ou em função do que eles pensavam e lhes atendia os interesses.
Os povos se acomodaram a essa situação, permitindo que um indivíduo tomasse iniciativa por eles. Não se discutia o valor das decisões, quais os critérios que a norteavam e se o objetivo final era o bem coletivo. O líder decidiu e ponto final. Revogam-se as disposições em contrário.
Esse sistema de lideranças foi legítimo numa época em que era necessário promover o desenvolvimento coletivo. Mas hoje, quando a influência de Aquário se faz sentir com intensidade crescente, esse estado de coisas tende a mudar.
O crescimento da individualidade assume importância prioritária e isso já vem promovendo uma significativa mudança na ordem social. As lideranças estão desaparecendo gradativamente, dando lugar a formas mais democráticas de tomadas de decisões. Os direitos individuais devem ser respeitados e a liberdade de expressão defendida, como sendo embriões de uma sociedade mais consciente de seus direitos, deveres e ideais.
A medida em que o líder carismático se torna uma figura do passado, as nações e as instituições passam a ser dirigidas por pessoas responsáveis, a quem são delegados poderes para tal, mediante critérios justos e democráticos.
Desses dirigentes exige-se competência, probidade e, acima de tudo,um acendrado amor aos seus concidadãos. Todos os seus atos devem representar e expressar as aspirações e vontades coletivas. Só se justifica a tomada de grandes decisões após amplos e profundos debates entre a população e, na medida do possível, procurar-se-á sempre o consenso.
Esse respeito à liberdade individual, propugnado e praticado no seio da Fraternidade Rosacruz, constitui um prelúdio do que será a futura sociedade humana.
Como membros da Fraternidade Rosacruz e colaboradores na disseminação do evangelho da Era (ou Idade) de Aquário, façamos uma autocrítica, verificando se nossos hábitos, ideias e procedimentos ainda recebem a influência de Peixes. Caso isso ocorra empenhemo-nos num esforço consciente e perseverante, no sentido de transmutar essa maneira de ser, dando-lhe características aquarianas. Notaremos, então, como nossa colaboração será muito mais eficiente.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/86)