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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Uma Análise do Simbolismo dos Mitos

Ao contemplar o progresso da Humanidade, encontramos sempre uma tendência pesquisadora que aparece através dos tempos. Esta tendência é uma busca nossa em prol daquilo que, de novo, nos una com nosso Pai Celestial. Depois da época que designamos como “Queda do Homem”, instintivamente compreendemos que estávamos nos afastando do nosso Criador. Nós mesmos nos ausentamos da nossa Fonte até que o anelo de retornar se tornou tão grande que corrigimos os nossos erros e tomamos coragem para retornar ao nosso Pai Celestial. Esta é a história relatada por Cristo a Seus seguidores na Parábola do Filho Pródigo, que nos narra S. Lucas em seu Evangelho[1].

Nosso presente caminhar de esforço espiritual é determinado por nossas existências passadas, pelo menos em certa medida e, se desejamos obter uma perspectiva verdadeira de nossos objetivos presentes, devemos nos familiarizar com os registros dos acontecimentos do passado. As lendas de um povo são importantes em relação a isto. Essas lendas chegam até às origens de nossa consciência e, portanto, estão profundamente submergidas nos nossos corações. Quando só uma pequena parte da Humanidade podia ler, a sabedoria tinha de ser transmitida de uma geração a outra por meio da palavra. Os oradores, menestréis, trovadores e cantores iam de cidade em cidade, levando ao povo as notícias dos acontecimentos do dia anterior. Depois, cantavam seus velhos contos e lendas. Isto, geralmente, aconteciam nas praças das aldeias, após finalizarem os labores do dia.

Estas lendas, repetidas em forma de cançãoe de contos através dos anos, finalmente foram escritas para serem legadas à posteridade. Cada nação possui seu próprio acervo dessas tradições, que datam de remota antiguidade. Algumas destas lendas foram, sem dúvida, transmitidas à nós por Seres avançados que, assim, nos ajudavam a despertar a um nível de consciência superior e maior, dentro do plano de Deus para a nossa evolução.

É uma ideia errônea pensar que um mito seja uma ficção criada pela nossa fantasia, sem nenhum fundamento de realidade. Pelo contrário, um mito é uma área que contém, às vezes, as mais profundas e preciosas joias da verdade espiritual, pérolas de beleza tão rara e etérea que não podem ser expostas ao intelecto material. Com o fim de resguardá-las e, ao mesmo tempo, deixar que atuassem sobre nós para a nossa ascensão espiritual, as Hierarquias Criadoras que nos ajudavam na nossa evolução, invisíveis à nossa visão física, mas poderosas, deram estas verdades espirituais à nós, envoltas no pitoresco simbolismo dos mitos, para que pudéssemos atuar sobre os seus sentimentos até o instante em que o nosso nascente intelecto se tivesse desenvolvido e espiritualizado suficientemente a ponto de, ao mesmo tempo, sentir e conhecer.

A lenda do Santo Graal é uma destas antigas narrativas, assim como as histórias dos Cavaleiros da Távola Redonda. Os Ensinamentos Rosacruzes nos trazem o conhecimento de que alguns desses, em vários lugares, foram altos Iniciados dos Mistérios da Nova Dispensação (Iniciações Maiores). Também nos informam que antigamente, durante as assim chamada Idade Média, Jesus trabalhou com as Escolas Esotéricas com os Druidas da Irlanda e com os Trottes do norte da Rússia, num esforço para difundir, entre nós, o impulso espiritual. Conta-nos a lenda como aos Cavaleiros do Graal foram confiado o Cálice de José de Arimatéia, que tinha sido empregado por Cristo-Jesus na Última Ceia. A estes foram entregues também a Lança que feriu o peito do Salvador e o receptáculo que recolheu o sangue da ferida, quando se consumou a missão para a qual veio à Terra. Estas lendas não podem ser agora demonstradas materialmente, mas são inestimáveis como pontos focais para quem, intuitivamente, em seu esforço cultive o lado superior da vida aqui, enquanto renascido.

James Russel Lowell, em seu poema “A Visão de Sir Launfal”[2], nos conta a lenda de um dos Cavaleiros que partiu em busca do Santo Graal. Fala-nos, com profunda intuição poética, da vida de um homem que, depois de muito buscar, aprende por meio da experiência que devemos ser o guardião de nosso irmão. Conclui seu poema com o bem conhecido verso:

A Santa Ceia é mantida, na verdade,

por tudo que ajudamos o outro em sua necessidade.

Pois a dádiva, só tem valor

Quando com ela vem o doador

e a três pessoas ela alimenta assim:

ao faminto, a si própria e a Mim.”.

Sir Launfal viajou até o fim do mundo para encontrar o Santo Graal, precisamente, na porta de seu próprio castelo. Vemos também que o Aspirante à vida superior deve, ao fim, encontrar a espiritualidade perto de si, em seu próprio coração. Pode ser que isso não se reconheça de momento, porque “ninguém pode reconhecer espiritualidade nos demais até que, em certa medida, a tenha desenvolvido em si mesmo”. Que é a espiritualidade? A ideia de que ela se manifeste somente por meio da oração e da meditação, é necessária e essencial para o crescimento da Alma; mas quando nossa vida é vivida alegremente no serviço, por amor à Humanidade e o fazemos para glória de Deus, nossa vida inteira se converte em oração.

Cristo-Jesus, nosso único Ideal, andou entre o povo e quando este necessitou de alimento físico alimentou-o. Deu a quem quisesse Seus Ensinamentos e curou os doentes e enfermos. No verdadeiro sentido, Ele foi um servidor da Humanidade. Quando participamos do Cálice da Comunhão o fazemos em Seu Nome e em memória do serviço que nos prestou.

O Cálice que Cristo-Jesus levou aos lábios na última Ceia foi utilizado por José de Arimatéia, na Crucificação para receber o Precioso Sangue de Vida que fluía da ferida do flanco do Salvador. Mais tarde esse Cálice foi dado em custódia aos Anjos e, quando se construiu um castelo – Monte Salvat – um lugar de paz onde toda a vida é sagrada, essa relíquia foi colocada sob a guarda de Cavaleiros castos e santos. Converteu-se, então, no Centro de onde fluem poderosas influências espirituais.

(Publicado na Revista: Serviço Rosacruz – agosto/1969 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.T.: 11Disse ainda: “Um homem tinha dois filhos. 12O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. 14E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações. 15Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. 16Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! 18Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. 20Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai o viu, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. 21O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho’.22Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. 23Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, 24pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E começaram a festejar. 25Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas e danças. 26Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. 27Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. 28Então ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. 29Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. 30Contudo, veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho cevado!’ 31Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois, esse teu irmão estava morto e tornou a viver; ele estava perdido e foi reencontrado!’”.

[2] N.T.: O leproso não ergueu o ouro do pó:

“Melhor para mim é a côdea de pão que o pobre me dá,

e melhor sua mão que me abençoará,

ainda que de mãos vazias de sua porta me deva afastar.

As esmolas que só com as mãos ofertadas,

não são as verdadeiras.

Inúteis são o ouro e as riquezas dadas

apenas como um dever a cumprir.

A mão, porém, não consegue a esmola abarcar,

quando vem daquele que reparte o pouco que tem,

que dá o que não é possível visualizar.

– esse fio de Beleza que tudo sabe unir,

que tudo sustenta, penetra e mantém –

o coração ansioso e estende a mão

quando Deus acompanha a doação,

alimentando a Alma faminta, que sucumbia só, na escuridão”.

Ao regressar, Sir Launfal encontra seu castelo ocupado por outro, sendo impedido de entrar nele.

Já velho, claudicante e alquebrado,

da busca do Santo Graal, ele voltou

pouco lhe importando o que para trás deixou.

Não mais luzia a cruz sobre seu manto,

mas fundo em seu coração a marca ficou:

a divisa do pobre e seu triste pranto.

De novo encontra o leproso que, outra vez, lhe pede uma esmola. No entanto, o cavaleiro agora responde de outro modo.

E Sir Launfal lhe disse: “Vejo em ti

a imagem d’Aquele que na cruz morreu.

Tu, também, tens a coroa de espinhos de quem padeceu,

muitos escárnios tens também sofrido

e o desprezo do mundo hás sentido.

As feridas em tua vida não faltaram

nos pés, nas mãos, no corpo, elas te machucaram.

Filho da clemente Maria reconhece quem eu sou

e vê que, através do pobre, é a Ti que eu dou.”

Um olhar aos olhos do leproso lhe traz recordações e reconhecimento, e:

Seu coração era só cinza e pó.

Ele partiu, em duas, sua única côdea de pão,

ele quebrou o gelo da beira do córrego

e ao leproso deu de comer e beber.

Uma transformação, enfim, ocorreu:

Não mais o leproso ao seu lado se curvava

Mas, à frente dele, glorioso se levantava.

(…)

E a Voz, ainda mais doce que o silêncio:

“Vê, Sou Eu, não temas!

Na busca do Santo Graal, em muitos lugares

Gastaste tua vida, sem nada lucrares.

Olha! Ei-lo aqui: o cálice que acabaste de encher

com a límpida água do regato que Me desse de beber.

Esta côdea de pão é Meu Corpo

que foi para ti partido.

Esta água é Meu sangue

que na cruz para ti foi vertido.

A Santa Ceia é mantida, na verdade,

por tudo que ajudamos o outro em sua necessidade.

Pois a dádiva, só tem valor

Quando com ela vem o doador

e a três pessoas ela alimenta assim:

ao faminto, a si própria e a Mim.”

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Como construir uma Virtude

Como construir uma Virtude

Existe em nosso vocabulário uma palavra encantadora que reflete um estilo de vida: essa palavra, essa conquista, é a VIRTUDE. Infelizmente, nos instáveis tempos que atravessamos ela quase perdeu seu significado real. Até já é considerada antiquada. No entanto, representa uma expressiva realização para todo aspirante à vida espiritual.

Muitas pessoas admiram mais a inocência do que a virtude. Isso vem de longe. Até pouco tempo atrás, as mulheres eram educadas exclusivamente para a maternidade e o lar. Considerava-se prendada a mulher que ignorasse as malícias do mundo e se conservava em pureza infantil. Quando se casava, submetia-se inteiramente ao marido, chamava-o de “Senhor Fulano” e não se metia em seus negócios. Se ficasse viúva, sua inocência a convertia em presa fácil dos espertalhões, que se valiam de suas assinaturas em endossos avais e procurações para despojá-las.

Hoje em dia, as mulheres partiram para uma autoafirmação extremada. É natural de toda transição. Mas não representa virtude, porque é degradante. A experiência as reconduzirá à virtude pela dor. Então poderão desfrutar retamente a igualdade de direitos que já está quase inteiramente conquistada com o direito ao voto, ao exercício de cargos públicos elevados ou tantos outros. Porém a igualdade terá de respeitar as características de cada sexo.

A inocência ainda é cultivada em muitas crianças e conservada em muitas mulheres. É um estado de inexperiência que ignora algumas necessidades, estando alheio às experiências e provas que amadurecem e consolidam o caráter.

Parsifal, o herói da ópera de Wagner, era inocente quando tropeçou pela primeira vez nos guardiões do Graal, em Monte Salvat. A toda pergunta que fazia Gurnemanz, ele respondia: “Não sei”. Sua inocência era uma pureza imatura que teria de mudar com os impactos e cicatrizes da batalha da vida.

Os neófitos da vida espiritual acreditam que as Forças Superiores devem protegê-los de toda experiência difícil, sem compreender que as adversidades lhes aparecem como efeito de sua conduta egoísta. Cabe aos expositores deixar bem claro a necessidade de eliminar os traços indesejáveis do caráter, de purificar os Corpos e concentrar os esforços em um equilíbrio entre os interesses espirituais e materiais, dando “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Espiritualidade não é a busca de fenômenos, não é a tentativa de eliminar as desarmonias físicas ou psíquicas por meio de “passes”, imposição de mãos e “trabalhos espirituais”, partindo da suposição egoísta de que todo mal é mandado pelos outros. Espiritualidade é o cultivo das faculdades latentes do espírito por meio de um reto pensar, um nobre sentir e um correto agir: trabalho incessante, paciente, perseverante e diário de orar e vigiar contra o único adversário (etimologicamente chamado de demônio ou Satanás), dentro de nós, que nos tenta a repetir e consolidar os vícios adquiridos através de muitas vidas de erro…

Vejam como agem as pessoas comuns: quando se tornam conscientes de sua “falta de graça” ou desgraça, tornam-se abrumadas, tristes, pessimistas, revoltadas, inseguras diante dos desafios! Como se abraçam carinhosamente às suas antigas emoções para se autojustificar e defender o direito de ser como são, a regalia de não mudar, decretando com isso sua cristalização, adiando a prova, desistindo de “passar de ano” na Escola da vida!

A tentação é uma necessidade: são os exames da vida por intermédio dos quais mostramos estar, ou não, preparados para adentrar os graus de consciência mais elevados. Ser tentado não significa viver em pecado. Desculpar nossas debilidades e nos comprazer no erro: isso, sim, é pecado. Agindo desse modo, mostramos não ser virtuosos. Virtude é conhecer o bem, o mal e escolher voluntária e gostosamente o bem, sem recalques. Notem que na “Oração do Senhor”, popularmente conhecida como “Pai Nosso”, somos ensinados a pedir: “Não nos deixeis cair em tentação”. A tentação existe, mas devemos superá-la pouco a pouco, até que a atração de repetir um hábito desapareça e já não nos constitua um desejo. Isso nos leva a compreender que a tentação tenha sua raiz em algum hábito errôneo formado no passado. A um beberrão o jogo pode não constituir tentação nem a bebida, ao jogador. Cada um tem seu ponto fraco a superar.

Como espiritualistas, façamos a nós mesmos esta pergunta: qual é o propósito da evolução?

Nossos estudos respondem: é a aquisição e o correto uso do conhecimento aliado ao amor para formarmos a Sabedoria com a qual desenvolveremos nossos poderes latentes rumo à perfeição a que somos chamados — “Sede vós perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”. Isso corresponde à semente que dilui sua personalidade, ao se desmanchar na terra para converter-se na árvore da qual veio.

Esse processo de evolução é indispensável, como teste, na vida de todos. Precisamos encontrar nossa fortaleza. Nosso Eu Superior não aceita subterfúgios, porque já está cansado dos tormentos que se prolongam vida após vida, sob o domínio da natureza inferior.

Verdade é que muitas vezes cedemos à tentação. É pena. Mas isso não nos impede de alcançar a virtude. “O único fracasso é deixar de lutar.” — diz Max Heindel. O que nos pode distanciar da virtude é a falta de arrependimento. A contrição sincera e positiva lava a transgressão com lágrimas e abre a porta da reforma para se alicerçar um caráter virtuoso sobre o qual podemos edificar uma vida espiritual autêntica e estável. Esse penoso esforço deixa profundas impressões que mais tarde são transmitidas ao Átomo-semente durante a gravação do panorama da vida sobre nosso Corpo Vital. No estágio post-mortem, essas impressões são gravadas no Corpo de Desejos como “consciência” para o crescimento da alma e a firmeza contra as tentações de futuras existências.

Assim, devemos compreender e aceitar os desafios, especialmente as tentações, vendo nelas boas oportunidades de nos livrar de hábitos e atividades retardantes. Ao vencê-los, podemos desarraigar características anticrísticas, tendências adversárias ao nosso crescimento anímico.

O caminho do transgressor é duro. Ele provoca reações da Lei Divina mantenedora da harmonia universal. Tais reações lhe são dolorosas, mas também amorosas, porque advertem: “Retorne ao caminho da retidão. Endireite a sua vereda, antes que lhe ocorram coisas piores”. Por meio da dor compreendemos que ninguém pode fugir de Deus, “em Quem vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. Ao tomarmos consciência desse Poder passamos a admirá-Lo, não por medo, mas pela alegria de descobrir que o mundo tem um Supremo Diretor que é muito justo e a Quem, prazerosamente, desejamos servir. Daí começamos a ser justos, convictamente. Fazemos o bem pelo amor ao Bem. Então nos tornamos VIRTUOSOS.

Os seres humanos têm o privilégio da liberdade relativa, da escolha e do conhecimento para isso. Tais capacidades são aprimoradas pela experiência. A ave Fênix da Sabedoria, que nasce das cinzas do conhecimento e do amor sempre renovados e melhorados, mostra que vale a pena passar pelo fogo da dor e pelos arranhões da batalha. O diabo (adversário criado pelos maus hábitos da nossa natureza) pode e sempre nos tenta. Contudo, quando escolhemos profundamente o melhor curso de ação, podemos dominar a tentação e agir em harmonia com o bem universal. Desse modo nos tornamos aptos à união final e consciente com os guias Espirituais da humanidade por meio do despertar de nossa Deidade.

Um fato bem estabelecido é este: nossas vidas futuras se decidem AGORA. É certo que neste momento estamos ajustando antigas dívidas e relações. No entanto, não importa quão severos sejam os condicionamentos atuais do destino, sempre contamos com uma margem de livre-arbítrio para criar melhores condições futuras. Os guias espirituais se preocupam demais com essa possibilidade de redenção e tudo fazem para permiti-la. Um ponto importante é o modo como agimos diante das provas. Esse é um dos fatores decisivos da regeneração. Dar-se logo por vencido e buscar uma saída fácil não remedia coisa alguma. Não que sejamos masoquistas, nada disso. Devemos, isto sim, aceitar o desafio e nele ver uma boa oportunidade para exercitar os músculos da alma, dar mais flexibilidade e tolerância ao nosso caráter e testar nossas fibras.

Até o Cristo foi tentado! Quanto Amor tem o excelso Cristo para permitir que Sua Consciência Se deixasse envolver por uma onda de vida manchada de pecados e ritmo evolucionário tão lento! As satânicas promessas de poder sobre todos os reinos do mundo e sua glória jamais poderiam tentar Aquele que já era o mais elevado Iniciado dos Arcanjos. O Cristo submeteu-Se a essa indignidade para mostrar à humanidade que a tentação é uma parte da nossa experiência, aqui na Terra. É claro: um Anjo rebelde nunca poderia tentar um elevado Arcanjo. As tentações de Cristo assumem diferentes significados, quando recordamos que Ele estava usando o Corpo Denso e o Corpo Vital de Jesus de Nazaré. Os corpos humanos estão sujeitos a determinadas características físicas como a fome. Assim, a ideia de converter as pedras em pão, depois de quarenta dias (simbólicos) de jejum, poderia constituir uma tentação à natureza HUMANA do seu corpo. No entanto, converter pedras em pão também encerra outro significado: o de usar os poderes alquímicos de Iniciado para proveito próprio, em todos os assuntos. O Cristo jamais havia passado, em Sua evolução, por condições QUÍMICAS e DURAS como nós. Seu veículo mais inferior é o Corpo formado de matéria emocional, o Corpo de Desejos. Portanto, Ele precisava conhecer as condições terrenas para compreender a consciência humana. Quando foi levado ao pináculo do Templo, recebeu a tentação do poder: “Tudo isso te darei, se prostrado me adorares”. Através dos Átomos-sementes dos Corpos Denso e Vital de Jesus, o Cristo precisava avaliar o impacto dessa tentação: submeter o Espírito ao mundo em troca de um domínio efêmero, a barganha “da progenitura por um prato de lentilhas”. Finalmente, a exibição de poder em que tantos espiritualistas caem! “Lança-Te daqui abaixo e os Anjos designados para proteger-Te virão amparar-Te na queda.” Dessas tentações saiu o Cristo consciente da condição humana, cheio de compaixão para converter-Se, através de Seu sacrifício, no ÚNICO SER A POSSUIR UMA CADEIA COMPLETA DE VEÍCULOS QUE LIGAM “O HOMEM AO PAI CELESTIAL”.

No Velho Testamento, no livro de Jó, vemos que Jó foi tentado por Satanás, com permissão de Deus. Embora fosse Jó “perfeito, reto, temente a Deus, apartado do mal”, foi experimentado o suficiente para bradar a Deus, em meio a sua angústia, não cessando de clamá-Lo até que o Senhor lhe apareceu com perguntas bem interessantes. Se você se interessa, leia os últimos capítulos do Livro de Jó (a humanidade) na Bíblia, em situação bem desvantajosa. Elas conduziram Jó à compreensão e arrependimento que o livraram de sua miséria.

O propósito da tentação é apenas testar se os erros passados foram mesmo vencidos e convertidos em caráter, em virtude. Quando caímos, diante das mesmas provas, é sinal de que não as vencemos ainda. Em tal caso, a dor purgatorial é bem mais profunda para que a consciência a registre mais nitidamente. Só desse modo, ao defrontarmos idênticas provas em seguinte encarnação, teremos força interna para batalhar e vencer. Ninguém pode fugir ao propósito evolutivo sem retrogradar. Se desejamos evitar a dor e a tristeza, cada vez mais aumentadas pela fuga e irresponsabilidade, precisamos nos converter em SENHORES DE NÓS MESMOS. Como está no Livro do Apocalipse: “Há um livro doce ao paladar, mas amargo ao estômago”. As satisfações, o egoísmo e as seduções de nossa natureza inferior são efemeramente gostosas; depois, convertem-se em sofrimento e fel. Quando compreendemos e adquirimos o valor para viver consoante as Leis Divinas, tornamo-nos virtuosos e desfrutamos a paz, harmonia e os demais talentos que lhe são inerentes e se oferecem a “todos os escolhidos”.

A dor purgatorial anterior nos adverte contra a repetição dos abusos e as presentes vitórias só se incorporam em nós como caráter ao serem assimiladas e reunidas no Átomo-semente, no Primeiro Céu, onde desfrutamos as alegrias dessas vitórias. Depois, no Terceiro Céu, nosso espírito as incorpora como Alma, o poder anímico determinante para nossa conduta futura. Que isso nos sirva de estímulo para lutar o bom combate e encarar com decisão hercúlea as características que estorvam este templo que estamos edificando para o ESPÍRITO. Vejam como respiramos aliviados, ao remover um fardo ou uma falta pelo domínio de nós mesmos! Começamos assim, por pequenas vitórias. Ao racionalizar e eliminar os aspectos sutis desses erros, sentimo-nos leves e felizes, desejosos, mais do que nunca, de nos livrar do imã do apego ou vício que nos atrai às provas e afasta de nossa legítima herança de paz.

Pouco a pouco, cresce dentro de nós um forte propósito de purificação. No entanto, lembremos: quanto mais fortes nos tornamos e quanto mais tentações vencemos, tanto mais sutis e manhosas elas se tornam.

Os vizinhos e amigos observam atentamente os Aspirantes da Luz, esperando deles sempre as virtudes de um caráter íntegro. Contudo, as virtudes que ninguém vê, as mais delicadas, internas, que os Aspirantes sinceros e iluminados não mostram, que foram acumulando modestamente com as pequenas vitórias nas lutas interiores, essas constituem o mais valioso material para TECER O DOURADO MANTO NUPCIAL ou O CORPO DO CRISTO INTERNO, o Corpo-Alma.

Deus dá o fardo segundo as nossas forças.” Praticantes sinceros e iluminados não precisam, todos, de duras experiências físicas ou emocionais. Entretanto, podemos, cada um em seu particular grau de consciência, preparar-nos, em tempos de paz, para vencer a luta, quando ela chegar. Recomendamos o hábito, o exercício de criar imagens mentais, imaginando situações difíceis e criando soluções cristãs para sobrepujá-las. Isso nos prepara para “melhores escolhas e decisões”, principalmente em emergências que possam aparecer em nossa vida. Muitas pessoas que manejam habilmente as situações são as que, amorosa e calmamente, preparam-se para superar problemas, analisando-os como um enxadrista, de vários ângulos, dos seus e dos de outras pessoas. São admiráveis qualidades que atualmente muitos possuem e resultam do trabalho feito em vidas passadas. A virtude é a essência de todo o bem de vidas pregressas: é a percepção de tudo que se constitui em estímulo para o Espírito esforçar-Se cada vez mais ardentemente no caminho evolutivo rumo à Liberdade Espiritual.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1973)

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