Duas são as formas de exercer a caridade: anímica e material. Essa que podemos chamar beneficência consiste em distribuir por certo número de nossos semelhantes o pão material, dar-lhes o nosso apoio, socorrê-los nas suas necessidades. Aquela, porém, que abrange a totalidade da Humanidade deve abraçar a todos os que participam de nossa existência neste mundo. Não mais consiste em esmolas, porém numa benevolência que deve envolver todos os seres humanos, desde o mais bem dotado em virtudes até ao mais criminoso.
A verdadeira caridade é paciente e indulgente. Não ofende e nem desdenha pessoa alguma; é tolerante e mesmo procurando orientar a outrem, o faz sempre com doçura, humildade, sem maltratar e sem atacar ideias enraizadas. Essa caridade, porém, é rara.
Certo fundo de egoísmo nos leva, muitas vezes, a observar, a criticar os defeitos do próximo sem primeiro reparar nossos próprios defeitos. Existindo em nós tantas imperfeições, empregamos ainda a astúcia em fazer sobressair às qualidades ruins dos nossos semelhantes. Por isso, não há verdadeira superioridade moral ou anímica sem caridade e modéstia. Não temos o direito de condenar nos outros as faltas que nós mesmos estamos expostos a cometer, contudo, devemos nos lembrar que houve tempo em que nos debatíamos contra a paixão e o vício.
Conhece-se o ser humano caridoso, não tanto pelos seus atos públicos, mas, e principalmente, pelas suas obras e atos exercitados às ocultas, longe das vistas do mundo.
Devemos sempre preferir ao invés dos aplausos dos seres humanos, o assentimento da nossa consciência, que é a manifestação sensível da aprovação dessa lei moral, escrita no nosso ser espiritual.
Mesmo o Cristo já se tinha pronunciado a esse respeito aos seus discípulos: “guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis a recompensa da mão de vosso Pai que está nos céus. Mas, quando derdes a esmola que vossa mão esquerda não saiba o que faz a direita” (Mt 6:1-6).
Difícil é, para o frágil ser humano deste mundo, tão baldo de virtudes, a prática dessa caridade aconselhada por Cristo-Jesus, porque ela exige de quem a pratica uma grande soma de desprendimento, coragem e intrepidez. A caridade, essa que brota, que nasce do amor e tem suas raízes no ser moral, na alma, impõe a imolação de todos os maus e baixos sentimentos, desejos e más e baixas emoções que tanto nos degradam.
A caridade, na sua mais ampla expressão e na sua mais alta cultura, abrange o universo, a totalidade das criaturas, estende-se a todos os seres. Não tem pátria, não é sectária, não conhece bandeiras, marco divisório e nem fronteiras; porque todo o universo é sua pátria, toda a Humanidade, sua família. Ela é a irmã caridosa de todas as criaturas e a elas une-se em doce e amorosíssimo consórcio, acompanhando-as, seguindo-as através das vicissitudes da existência; ora guiando-as as devesas sorridentes da esperança e da fé; ora auxiliando-as, ajudando-as, qual corajoso cireneu a carregar a cruz pesadíssima das provações; ora a desviá-las dos abismos cavados a seus pés pelas injunções dos maus e os estímulos da carne.
Livrai-nos de fazer sofrer a quem quer que seja, mesmo por uma palavra insignificante ou por um simples olhar, pois que o sublime da caridade está, muitas vezes, naquilo que passa despercebido às vistas dos seres humanos. Lembre-se que nem sempre a soma grandiosa da dádiva traduz a verdadeira caridade, mas que ela transparece e se afirma no insignificante óbolo feito com sacrifício e desprendimento. E, a esse respeito, ouçamos as judiciosas palavras de Cristo-Jesus, com referência à pobre viúva que, no templo de Jerusalém, após as largas espórtulas, que eram vultosas doações, deitadas no gasofilácio (que era lugar do templo em que se guardavam os vasos e se recolhiam as oferendas) pelos ricos deitou por sua vez uma diminuta moeda de cobre: “Na verdade vos digo que mais deitou esta pobre viúva do que todos os outros, porque todos deitaram no seu supérfluo, porém esta deitou da sua mesma indigência tudo o que tinha e tudo o que lhe restava para seu sustento” (Lc 21:3).
Faça sempre acompanhar a sua “esmola” (que nunca seja as “moedas que você separa e deixa no carro para dar”; que não seja o dinheiro que você dá para quem pede e sim o que você compra com esse dinheiro para atender a necessidade de quem o pediu) de doce e carinhoso olhar, que traduz fielmente a emoção de vossas almas. E mais edificante seria ainda que ao prestar um benefício, o fizesse de tal modo que se julgasse que fosse você mesmo o beneficiado. Sempre dê sem muito indagar se o que recebe é digno da sua esmola; dê primeiro, indague depois: lembre-se que os frutos da caridade são muitas vezes tardios, que a verdadeira dedicação não conta com os frutos quando planta a semente ou quando enxerta o arbusto.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz novembro/1968 – Fraternidade Rosacruz SP)
Muita gente costuma dizer: “Ah! Eu não tenho sorte; estou sempre chegando atrasado; perco sempre os meus momentos de felicidade; as minhas oportunidades na vida; porque chego tarde!”. Mas, se essas pessoas forem pensar um pouco verão que nunca chegam atrasadas, que aquele é justamente o SEU momento de chegar. Se essas pessoas sempre perdem oportunidades é porque é esse o seu destino e aquelas oportunidades ainda não são para ela. Afinal, como aprendemos na Fraternidade Rosacruz: temos ganhado o que merecemos, seja nesta ou em uma vida anterior, e o que precisamos, seja em boa saúde ou bem-estar físico, o poderemos obter nesta ou em vidas posteriores, pelo bom uso que façamos de nossas oportunidades.
O relógio do destino segue sempre a evolução e, dentro da evolução, aquela criatura chega justamente quando deve chegar, para perder a oportunidade que ainda não pode ser dela. Assim, nunca nos preocupemos em forçar a natureza das coisas. Devemos agir e empenhar-nos em vencer, mas nunca nos desesperarmos, vivendo preocupados em ganhar oportunidades. Se elas forem nossas, elas virão a nós, infalivelmente. Não quer dizer que nos sentemos à espera dessas oportunidades. Não! Quando quisermos realizar algo devemos dar tudo de nós para conseguir o que pretendemos, mas agindo sempre por meios lícitos. Nunca procuremos forçar as coisas para que se acomodem à nossa vontade egoísta. Podemos desejar que as coisas deem certo, mas almejar de acordo com a vontade de Deus.
Eu quero e trabalho para obter o que pretendo, mas deixo a Deus o momento para a boa realização do que pretendo, na certeza de que, se perco uma oportunidade dentro de todo o esforço, é porque ainda não chegou o meu momento de acertar precisamente. Posso conseguir melhorar minha situação, se passar a considerar o que me falta, como uma nova conquista no campo espiritual, fazendo do material, uma aquisição espiritual no terreno da verdade.
Realizo sempre a verdade, acima de tudo penso com verdade, sem egoísmo; não atraiçoo ninguém, nem em palavras, nem em pensamentos ou em sentimentos. Então, é certo que só poderei colher a verdade no mundo. Sendo verdadeiro, as traições e os enganos não terão mais afinidades comigo.
Os meus dissabores deixam de serem dissabores, porque se os encaro em sã consciência, percebo que são meus dissabores, que me pertencem ainda, porque estão dentro do meu momento de vida. Cabe a mim, compreender o meu momento, não tanto pelas oportunidades materiais que possa oferecer, mas muito mais pelo que puder dar-me em oportunidades no campo da verdade e espiritualidade.
Pensando, sentindo e procurando a verdade em todas as coisas, dando só verdade em mim, e encarando o que me acontecer de bom e mau, com olhos verdadeiros, é natural, é lógico, que só a verdade é que receberei de volta; porque crio uma força de verdade tão forte em volta de mim, uma atmosfera tão verdadeira que atrairá, por afinidade, só o que for verdadeiro, tanto no terreno material como no espiritual. Se realizo verdades na vida todos os dias, em pensamentos, emoções, palavras e ações, certamente que as minhas realizações e conquistas só podem ser reais.
Porém, não vou ser verdadeiro apenas para adquirir certeza daquilo que conquisto, para adquirir novas conquistas ou para progredir apenas; vou ser verdadeiro pela própria verdade em si, pois a verdade é o próprio Deus, e aplicando-a reconheceremos Deus. Dentro desse equilíbrio, estou absolutamente certo de que não chegarei atrasado a nenhum de meus momentos, sejam de aquisições materiais ou espirituais; tenho certeza de que o instante em que chegar, bem ou mal para as minhas aspirações, será este o meu momento, aquele em que mereço chegar.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz –Novembro/1959-Fraternidade Rosacruz-SP)
Que razão pode haver para que não deixemos de seguir o intelecto? Ele nos trouxe apenas miséria no passado; ele nos afastou do puro, do bom, do belo. Ele nos fez expressar o que há de pior em nossa natureza. Tornou-nos frios e insensíveis e amorteceu nossas faculdades; sufocou o fogo do amor e da bondade fraternal que deveriam arder em cada peito humano; ele nos tornou orgulhosos, egocêntricos, egoístas e egoisticamente ambiciosos. Oh, já é hora de renunciarmos a esse falso salvador e perceber que ele não nos leva a Deus.
Mas, ah! Que doce amor e reverência brotam do coração, das profundezas do nosso ser. Simpatia e compaixão tão grandes que envolvem o mundo. Esses são os momentos em que o coração tem equilíbrio. Aspiração tão grande que parece que a alma é elevada ao próprio trono de Deus. O gênio oculto na natureza de alguém, toda a eloquência da alma, derrama-se em alegria indizível. De boa vontade gostaríamos de reunir toda a humanidade sob esse cuidado protetor e lhe contar sobre a paz e a alegria que encontramos. Esses são os momentos em que o coração tem equilíbrio. Esse é um salvador que nos conduzirá à salvação e a Deus.
Mas, devemos nos considerar sozinhos? Olhe para o ser humano intelectual, enquanto ele caminha entre seus companheiros, frio, insensível, um gelado iceberg. Externamente, ele pode ser todo sorrisos e polidez atraente, mas por dentro as forças de repulsão têm pleno domínio. Devemos ser assim? Devemos nos movimentar no mundo silenciando as almas de todos que encontramos?
Devemos ajudar a esmagar os sentimentos mais delicados do mundo? Devemos ajudar a embotar e silenciar as almas sensíveis que tantas vezes encontramos? Ah! Quão proibitiva é tal vida! Inútil para nós mesmos, pouco inspiradora para os outros.
Então, olhe para a alma terna e amorosa, movendo-se entre seus semelhantes. Uma palavra amável, uma carícia suave, uma simpatia sentida na alma e outras almas sentem um toque de amor, alegria e contentamento. Que inspiração! Uma marca ardente de amor para atiçar as brasas fumegantes de seus companheiros! Um farol que salva outras almas do naufrágio. Ah! Sejamos assim, vivamos de modo a iluminar o mundo com a nossa própria presença. Não há amor verdadeiro que não induza o amor nos outros; não há verdadeira alegria que não cause nos outros a sua emoção. Então amemos com o coração e não com a cabeça; e sirvamos com o coração, não com a mente. Não há profundidade tão grande que o coração cheio de amor não possa sondar; não há meta tão grandiosa que o coração não possa alcançar. Fora de nós e dentro de nós, ao nosso redor e acima de nós, habita a vida sempre pulsante de Deus. O coração, e somente o coração, pode conhecer sua presença e sentir a emoção que varre tudo mais para o lado.
É somente o coração que sempre leva a Deus. Olhe para a grande Vida enquanto ela pulsa diante de nós. As plantas ficam verdes por um tempo e depois morrem para voltar. Os animais habitam conosco por alguns curtos anos e passam para o grande Além, enquanto outros tomam o seu lugar.
Geração após geração da humanidade sobe e desce em uma sequência sem fim. Nações vêm e vão como ondas na água. Os continentes são mantidos acima do oceano por um espaço de tempo e afundam abaixo. Sóis e Planetas nascem e desaparecem na fonte de onde vieram. Vida, em toda parte, vida! E o que é Aquilo que está por trás da cena, que mantém todas as coisas em equilíbrio rítmico? Pergunte ao coração, pois Deus só pode falar do fundo da alma.
Ah! Somos parte d’Aquele que tudo rege! Essa é a nossa casa e daí chama a nossa Mãe Infinita. Por muito tempo nos afastamos do seio da nossa Mãe Deus, mas nunca deixamos o seu carinhoso e protetor cuidado. Agora, Ela está chamando: “Casa, volte para casa”; e nossos corações ecoam: “Venha para casa”. E vamos para casa com um canto de alegria, atendendo ao chamado do amor da nossa Mãe. E nossos corações transbordam de amor compassivo por milhões que lutam cegamente. Então, estenderemos nossas mãos para nossos irmãos necessitados e arrancaremos de seus olhos todas as ataduras! Vamos levá-los todos para sua Casa celestial, não vamos deixar um único para vagar sozinho. E ali, naquela Presença tão calma e doce, nós nos ajoelharemos pela última vez e repetiremos: “Pai Nosso que está no Céus”.
(Publicado no Echoes nº 8 de Mount Ecclesia de 10 de janeiro de 1914– e traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz-Campinas-SP-Brasil)
Pergunta: Em Tannhäuser é-nos dito que a doença colabora para o maior ou menor crescimento anímico. Na Conferência N.º 11, VISÃO E COMPREENSÃO ESPIRITUAIS, do Livro Cristianismo Rosacruz, pude ler que a doença é uma manifestação de ignorância e, na proporção em que o Cristo se forma dentro de nós, alcançamos um estado mais elevado de saúde. Para mim, essas duas passagens não parecem conciliar-se.
Resposta: No entanto, elas são muito conciliáveis. Até que a vida Crística nos ilumine de dentro, não compreendemos nem seguimos as leis da natureza e, consequentemente, contraímos doenças pela nossa ignorância e correspondente violação dessas leis. Como disse Emerson: “Um homem doente é um delinquente preso em flagrante infringindo as leis da natureza”. É por isso que o Evangelho de Cristo necessita ser pregado. Todos nós deveríamos aprender a amar o nosso Deus com toda a nossa alma e coração, assim como amar o nosso irmão como a nós mesmos, pois todo o nosso sofrimento neste mundo, reconheçamo-lo ou não, resulta do nosso grande egoísmo. Se a nossa função digestiva ficou alterada, qual será a razão? Será que não sobrecarregamos o nosso sistema por nos termos irritado e exaurimos nossos nervos tentando sujeitar alguém aos nossos fins egoístas, e ficamos ressentidos porque não o conseguimos? Em cada caso, o egoísmo é a causa principal das doenças, sofrimentos e inquietações. O egoísmo é o supremo pecado resultante da ignorância.
(Pergunta 49 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas Vol. II, de Max Heindel)
O Jardim da Fantasia
A Lua surgiu vagarosamente sobre a montanha e começou a observar um grupo de alegres flores coloridas que cresciam num velho jardim.
Quando a Lua viu a Libélula-Azul, por quem estava procurando, sua face redonda adquiriu mais brilho e disse:
– Libélula-Azul, é hora de levantar-se.
Libélula-Azul estava dormindo no miolo de uma Rosa-cor-de-rosa, mas quando a Lua lhe falou, ela moveu um pouco suas asas e continuou dormindo.
– É desse modo que você se comporta quando eu a chamo? Sorriu zombeteiramente a Lua, enquanto olhava para sua amiguinha delicada, de quem gostava tanto. Eu vou brilhar mais forte para ver se isso acorda você, acrescentou, enquanto enviava a ela um raio mais forte.
Libélula-Azul abriu um olho, fechou-o novamente e continuou a dormir.
A Lua ficou perplexa e disse:
– Meu Deus, será que aconteceu alguma coisa? Ela geralmente se levanta assim que a chamo!
– Não, está tudo bem, respondeu a Rosa-cor-de-rosa, em cujo miolo ela dormia. Eu quis que ela ficasse aqui, por isso dei-lhe uma grande dose de perfume para fazê-la dormir por mais tempo; quando eu a acordar, terá esquecido tudo sobre seu trabalho e ficará comigo. Por favor, vá embora e deixe-nos sozinhas.
A Rosa-cor-de-rosa se fechou de tal forma, que a Lua percebeu que não adiantaria mais argumentar com ela, pois a pequena Rosa dobrou suas pétalas em torno da Libélula-Azul como uma cortina, que a escondeu completamente da vista.
– Bem, bem, murmurou a Lua para si mesma, naturalmente não culpo a Rosa por amar a pequena companheira, pois todas nós a amamos, porém não há motivo para mantê-la só para si mesma. Eu não pensei que a Rosa-cor-de-rosa fosse tão egoísta. De qualquer forma já que a Libélula-Azul me pediu para acordá-la, devo fazer isso e ver se ela vai trabalhar; mas como posso fazê-lo?
A Lua permaneceu quieta por alguns minutos, desejando saber quem poderia ajudá-la. Então, seus olhos se dirigiram para uma pequena vila, não muito distante.
– Alô, Brisa, ela disse, dirigindo-se a um pequeno sopro de vento, vejo que você está fazendo suas travessuras como sempre.
– Sim, respondeu Brisa sorrindo, estou tentando tirar o chapéu daquele velhinho. Veja! E deu um forte sopro quase conseguindo derrubar o chapéu. Entretanto, o velhinho era bem rápido e pegou seu chapéu a tempo.
Brisa era persistente e gostava de fazer as coisas a seu modo. Riu e disse:
– Desta vez você conseguiu, companheiro, mas ainda vou pegar o seu chapéu.
Assim, depois de esperar alguns segundos, Brisa deu outro sopro inesperado; mas ainda desta vez o velhinho foi mais rápido e o vento não levou o seu chapéu.
Após observá-la por algum tempo, a Lua sussurrou misteriosamente:
– Brisa, conheço alguém com quem você poderá se divertir muito mais.
– Verdade? replicou Brisa, virando-se para a Lua.Penso que vai ser bem difícil, pois estou me divertindo muito aqui.
Então, a Lua brilhou mais intensamente, pois ela viu algo que Brisa não tinha visto. Nesse momento, o velhinho subiu as escadas que conduziam a uma grande casa, abriu a porta e entrou.
A Lua, que gostava de uma brincadeira, deu uma piscada de olhos e maliciosamente disse:
– Talvez seja melhor você permanecer aqui, pois certamente está se divertindo muito. Vou procurar o seu primo.
Brisa deu um salto e respondeu:
– Sim, penso que é melhor, mas obrigado pela oferta. Até logo, disse soprando ao redor para continuar suas travessuras.Quando percebeu que o velhinho não estava mais lá, tornou-se muito brava e gritou.
– Por Deus, onde ele foi?
– Atrás daquela porta verde, no alto daquela escada, disse a Lua, com um doce sorriso. Agora você pode vir comigo.
Brisa contorceu-se com muito mau humor, mas vendo que nada podia ser feito explodiu numa gostosa gargalhada e respondeu:
Tudo bem comigo. Agora estou pronta para arreliar alguém de maneira nunca vista, e deu muitas piruetas.
– Isso é bom, disse a Lua, eu quero que você acorde a Libélula-Azul, porque a Rosa-cor-de-rosa deu a ela uma dose extra de perfume. Você deve soprar em torno dela para fazê-la tremer. Assim, talvez, seu leito macio não lhe pareça tão confortável. Ela mora perto daqui no jardim da Senhora Brown; tenho certeza de que você já esteve lá muitas vezes.
Brisa deu uma nova gargalhada e disse:
– Sim, já estive. Eu me diverti muito a semana passada provocando aquela simpática e gorda senhora. Estou muito feliz por ter uma desculpa para voltar lá e renovar nosso relacionamento. Estarei lá em poucos minutos.
– Muito bem, disse a Lua, dirigindo-se para o Jardim.
Poucos minutos depois, Brisa soprou, toda brincalhona e indo de flor em flor, chamava:
– Libélula-Azul, onde está você?
A Lua olhou as piruetas de Brisa por alguns minutos e disse:
– É possível que eu possa dizer-lhe onde está a Libélula-Azul.
– Naturalmenteque pode, replicou Brisa, enquanto dançava suavemente em volta de uma rosa, mas eu não quero que você me diga nada, pois estou me divertindo muito com esse jogo de esconde-esconde.
Depois, ela se agarrou a outra rosa que sacudiu com força, dizendo:
– O leito perfumado da Libélula-Azul está escondido no seu miolo, Rosa-Real?
– Não, a Libélula-Azul não me deu o prazer de sua companhia. Siga seu caminho, você está perturbando minhas pétalas, respondeu a Rosa-Real num tom irritado.
– Minha querida, Brisa sussurrou provocante, você parece muito mais atraente quando está irritada. Na verdade, eu preciso afrouxar suas pétalas um pouco mais, e deu-lhe uma outra sacudidela brincalhona.
– Vá embora, mal-educada, ou vou picar você, disse a Rosa-Real toda agitada.
– Minha querida, seu temperamento espinhento não pode me machucar. De fato, quanto mais você me provoca, mais eu me divirto e mais gosto de perturbar você, e Brisa sacudiu-a tanto, que sua tola dignidade desapareceu.
Brisa dançou alegremente em volta da Rosa-Real dizendo:
– Agora você parece mais uma Rosa-Real. Mas, devo ir porque se ficar com você, vou gostar muito de você e não será bom para Brisa apaixonar-se por alguém. Adeus, querida, disse Brisa airosamente, enquanto continuava suas travessuras em outro lugar.
– Que companheirona gozada ela é, pensou a Lua.Talvez demore muito até ela encontrar a Libélula-Azul; acho que não foi a melhor coisa trazê-la aqui. E nem é preciso falar nos estragos que ela pode fazer. Gostaria de saber como devo agir agora.
A Lua olhou em torno do jardim para ver se encontrava alguma solução para o seu problema. De repente, viu a advogada do jardim, a Coruja Marrom, parada na porta de sua casa, no tronco oco de um velho carvalho.
– Certamente ela poderá me dar um conselho, pensou a Lua. Assim, ela disse:
– Coruja Marrom, gostaria de saber se você pode me conceder um pouco de seu precioso tempo num caso de grande importância.
Coruja Marrom apresentou-se com muita dignidade piscando seus olhos muitas vezes, com uma inclinação de cabeça, respondeu vagarosamente:
– Fico sempre, contente em servi-la, Madame Lua.
Qual é o problema?
– Obrigada, disse a Lua, tinha certeza que poderia ajudar-me. Aconteceu uma coisa terrível. A Libélula-Azul foi sugada pela Rosa-cor-de-rosa, que se tornou muito egoísta e quer mantê-la consigo. Trancou-a no seu miolo e a mantém dormindo com seu perfume.
A Coruja acomodou-se confortavelmente e fixando seus grandes olhos redondos na Lua, disse, pausadamente:
– Você fez bem em me procurar; este é um assunto muito sério, e é necessário que se pense com muita cautela.
Sou realmente a figura mais indicada para lidar com um caso tão melindroso. Por favor, retire-se; preciso ficar sozinha para deliberar sobre esse acontecimento de uma forma calma e cuidadosa.
Sabendo que Coruja Marrom orgulhava-se do seu método “vagaroso, mas seguro” de pensar, a Lua agradeceu e acrescentou enfaticamente:
– Libélula-Azul tem um trabalho muito importante a fazer, e deve ser acordada na próxima meia-hora.
Aprumando-se mais, a Coruja disse:
– Por favor, não tente apressar-me, pois é contra minha natureza pensar num assunto com pressa. Estou certa de que Libélula-Azul não parou para pensar antes e entrar no miolo da Rosa-cor-de-rosa. Eu sempre disse que ela é muito precipitada, e eu…
Uma vez iniciado esse assunto, a Coruja continuaria por horas se encontrasse alguém para ouvi-la, mas, sabendo que o tempo era precioso, a Lua apressou-se em interrompê-la:
– Sim, eu sei como você se sente sobre tal assunto, Coruja Marrom, mas eu repito que se você não encontrar uma solução em 30 minutos, seu pensamento de nada adiantará, e foi embora bem aborrecida.
Com uma expressão triste em seus grandes olhos amarelos, a Coruja vagarosamente abanou sua cabeça e tranquilamente entrou em sua casa para ponderar sobre o assunto, de seu próprio modo.
Nesse momento, a Lua viu a Abelha-Mel e surpreendeu-se de vê-la a tal hora.
– Pelo amor de Deus, o que você está fazendo fora de sua colmeia? perguntou a Lua. Todas as boas abelhas devem estar em casa a essa hora da noite.
– Quieta, sussurrou a abelha. Por favor, não fale tão alto. Sei que o que você diz é verdade, mas estava tão cansada de fazer mel que resolvi brincar um pouco.
Muito séria, a Lua disse:
– O que aconteceria se a Mãe-Natureza a visse?
– Oh, por favor, não conte nada a ela, implorou a Abelha-Mel, olhando a sua volta nervosamente.
A Lua sorriu, dizendo:
– Eu nunca fui delatora, a menos que seja obrigada a isso. Mas, talvez tenha sido uma boa ideia você deixar a colmeia, pois necessito de alguém para ajudar-me e acho que você poderá fazê-lo.
– Sim, se eu puder ajudá-la ficarei feliz em fazê-lo, replicou a Abelha-Mel muito aliviada.
Então, a Lua falou-lhe sobre Libélula-Azul, acrescentando:
– Se você puder entrar nas pétalas da Rosa-cor-de-rosa e zumbir bem alto, acho que poderá acordá-la.
– Meu Deus, a abelhinha respondeu vivamente. Que criaturas estranhas são as rosas; você nunca sabe qual será sua atitude. Certamente devemos fazer algo com rapidez. A situação necessita ações e raciocínios ágeis, e eu sou a indicada para isso. Voarei já para lá e exigirei que a Rosa-cor-de-rosa solte Libélula-Azul imediatamente. Se ela recusar, eu direi a ela que nenhuma abelha irá visitá-la mais e que isso será uma grande desgraça.
E assim, ela se foi voando.
A Lua, com um olhar de desespero, a viu partir.
– Estou certa que ela não terá êxito, murmurou a Lua com tristeza. A Abelha-Mel age muito rapidamente e a Coruja muito vagarosamente; que pena que não possam ser colocadas num saco e sacudidas juntas. Só há uma coisa a
fazer: devo tentar encontrar alguém para ajudar-me.
Após pensar um momento, sua face redonda brilhou com prazer.
– Que estupidez a minha, perder todo esse precioso tempo, ela exclamou. Por que não pensei no Pássaro-Amor?
Ele é o único que me pode ajudar. É sempre tão charmoso e tem maneiras tão cativantes! Faz mais por manter o jardim em ordem do que qualquer outro ser.
Virando seus raios luminosos para os galhos delgados de um lindo chorão no canto do jardim, a Lua chamou suavemente:
– Pássaro-Amor, sinto muito perturbá-lo, mas há um assunto sério que necessita solução; você sempre nos ajuda tanto quando as coisas estão erradas, que achei melhor recorrer a você para ajudar-me.
O Pássaro-Amor olhou para a Lua e respondeu numa voz suave e feliz:
– Você sabe, Madame Lua, não há nada que eu aprecie mais do que desfazer uma complicação; diga-me o que aconteceu.
À medida que o Pássaro-Amor ouvia a história, um olhar tristonho surgiu em seus olhos e inclinando sua cabecinha para o lado, disse:
– Pobre Rosa-cor-de-rosa, será que ela não percebe que nunca será feliz aprisionando e guardando só para si Libélula-Azul? Eu irei lá imediatamente, conversarei com ela e vou mostrar-lhe um caminho melhor.
Então, beijando sua pequena companheira ao seu lado, e dizendo a ela onde ia, o Pássaro-Amor voou em direção à Rosa.
– Finalmente, achei quem tem todas as condições para resolver este caso, pensou a Lua, dando um grande suspiro de alívio.
Quando Pássaro-Amor chegou à Rosa-cor-de-rosa, ele pôde ouvir a Abelha-Mel que falava, zumbia e ameaçava. Mas, quanto mais barulho ela fazia, mais a Rosa-cor-de-rosa fechava suas pétalas e se recusava a ouvir.
Finalmente, Abelha-Mel virou-se para a Lua dizendo numa voz desgostosa:
– Fiz tudo o que me foi possível para que a Rosa-cor-de-rosa me ouvisse. Se eu não puder fazer nada com ela, ninguém mais pode, assim penso que você é tola em perder mais tempo tentando salvar Libélula-Azul. De qualquer forma, tenho mais a fazer. Até logo, e foi embora.
– Até logo, disse a Lua. Espero que a Mãe-Natureza não a veja, acrescentou pensativamente.
Pássaro-Amor pousou num galho perto da Rosa-cor-de-rosa e começou a arrulhar suavemente. Depois de alguns minutos, a Rosa-cor-de-rosa afrouxou um pouco suas pétalas, e enviou-lhe um sopro de perfume, como saudação amiga. Pássaro-Amor não deu atenção a isso, mas continuou com seu arrulhar. Ele parecia ter um poder mágico, pois a Rosa-cor-de-rosa gentilmente abriu suas pétalas dizendo:
– Como você é charmoso, passarinho; seu canto é tão acariciante. Não entendo o que você está dizendo, mas tenho certeza de que é algo maravilhoso.
– Sim, o amor é sempre maravilhoso, respondeu gentilmente Pássaro-Amor.
– Amor! O que você sabe sobre isso? Perguntou a Rosa-cor-de-rosa numa voz desanimada.
– Muito, e isso me faz muito feliz, respondeu o Pássaro-Amor, chegando um pouco mais perto.
A Rosa-cor-de-rosa deu um profundo suspiro e sussurrou tristemente:
– Eu também era muito feliz antes de amar Libélula-Azul. Eu a prendi em meu miolo com medo de que alguém a tire de mim e, desde então, tenho sido muito infeliz.
A Rosa-cor-de-rosa deu um outro suspiro e duas gotas de orvalho caíram de seus olhos.
– Minha querida, disse o passarinho, a razão da sua infelicidade é que você tentou manter Libélula-Azul só para você mesma. Isso é algo muito egoísta e você sabe que o egoísmo roubará sua beleza, fará com que fique mal-humorada, murcha e não mais terá esse perfume delicioso para enviar a seus admiradores. Então, Libélula-Azul a abandonará. Se você aceitar o meu conselho, querida, envie Libélula-Azul de volta para o seu trabalho, pois todos devemos contribuir para manter nosso jardim bonito. Enquanto ela estiver longe, envie seu perfume mais doce e você será mais admirada, pois isso foi o que a Mãe-Natureza planejou para você. Garanto que Libélula-Azul voltará.
Quando descobrir o quanto você esteve ocupada, como fez bem o seu trabalho, amará você mais do que nunca.
– É verdade? A Rosa-cor-de-rosa suspirou cheia de esperança.
– Sim, é a pura verdade, sorriu o Pássaro-Amor.
– E agora que você conhece o segredo da felicidade e como manter sua beleza, eu devo partir.
Suavemente foi embora.
Assim que a Rosa-cor-de-rosa viu Pássaro-Amor desaparecer sobre o topo das árvores, uma luz radiante brilhou em sua face. Então, desdobrando suas pétalas muito gentilmente, deixou o ar frio da noite tocar ligeiramente o seu pequeno amor. Depois de um momento sussurrou ternamente:
– Libélula-Azul, é hora de ir para seu trabalho.
– Meu Deus, disse Libélula-Azul, sonolenta, penso que sim. Sabe, Rosa-cor-de-rosa, eu realmente acredito que você deve ter algum poder mágico, pois nunca tive um sono tão repousante.
Com um olhar de admiração, acrescentou:
– Gostaria que você soubesse como você fica linda à luz do luar e como é doce o seu perfume! Quando terminar o meu trabalho voltarei para vê-la, se você me permitir.
A Rosa-cor-de-rosa estava tão feliz que nem percebeu Brisa que, soprando em sua face, disse:
– Talvez você seja a Rosa, minha belezinha, que trancou a Libélula-Azul no seu miolo e não a deixou ir para seu trabalho. Você viu como é errado fazer isso? Continuou Brisa, dando na Rosa-cor-de-rosa uma sacudidela gentil.
– Eu não percebi o erro até que alguém me mostrou um caminho melhor, respondeu a Rosa-cor-de-rosa calmamente. Daí eu a soltei.
Brisa girou e volteou, entrando em fúria, enquanto gritava:
-Ora, fui enganada outra vez. Agora vou aprontar alguma travessura! – e esvoaçou para longe.
Quando a Rosa-cor-de-rosa viu Brisa sair em tal estado, enviou a ela seu mais doce perfume e com um olhar vivo, sorriu para si mesma, dizendo:
– Espero que o Pássaro-Amor lhe faça uma visita muito em breve, Brisa. Tenho certeza de que isso lhe fará muito bem.
Antes mesmo que Brisa desaparecesse, surgiu a Coruja Marrom e se colocou numa árvore próxima. Dirigindo seus olhos melancólicos para a Rosa-cor-de-rosa, anunciou solenemente:
– Rosa-cor-de-rosa, ouvi dizer que você quebrou a lei do jardim tirando de seu trabalho Libélula-Azul e depois de pensar bastante, eu…
– Sei que o que você vai dizer é muito sábio, Advogada do Jardim, interrompeu Rosa-cor-de-rosa docemente, mas você está muito atrasada. O Pássaro-Amor esteve aqui antes de você. Ele me disse o que era certo fazer, de uma maneira tão bela e gentil, que eu soltei Libélula-Azul para que ela pudesse realizar o seu trabalho.
Coruja Marrom piscou seus olhos amarelos de uma forma confusa e após levar um tempo para pensar no que a Rosa-cor-de-rosa lhe dissera, respondeu numa voz desanimada:
– Todo o meu raciocínio cuidadoso foi perdido.Too… Voo para você.
E, batendo pesadamente as asas, voou para casa querendo saber por que alguém sempre se adiantava a ela.
A Rosa-cor-de-rosa não pôde deixar de sentir-se um pouco triste pela Coruja Marrom:
-É triste pensar que todo o raciocínio da Advogada Coruja não serve para nada, acrescentou com um olhar travesso.
Então, olhou para a Lua e enviou-lhe seu mais doce perfume, enquanto sussurrava:
– Eu dei trabalho para você, Madame Lua, mas não me sinto mal por isso. Eu sei que você adora tornar os namorados felizes, portanto, você também teve prazer em tentar nos ajudar.
Com um alegre piscar de olhos, a Lua respondeu. Você está certa, minha querida, mas lembre-se: mantenha-se ocupada, e manterá sua beleza. Boa noite, minha pequenina Rosa-cor-de-rosa.
Com um largo sorriso na sua face calma e redonda, a Lua desapareceu atrás da árvore mais alta do jardim.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)