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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Base do Cristianismo: uma Conversa na Pro-Ecclesia

Max Heindel

Quando Cristo esteve diante de Pilatos, esse Lhe fez uma pergunta que tem sido repetida por todas as eras desde que o ser humano começou a buscar conhecimento sobre o problema cósmico, a saber: “o que é a Verdade?“. A Bíblia responde à pergunta dizendo que: “Tua palavra é Verdade”. E, quando nós nos voltamos para o maravilhoso primeiro capítulo do místico Evangelho Segundo São João, lemos que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus; e nada do que tem sido feito foi feito sem Ele, n’Ele havia a Vida”. Assim, temos um maravilhoso alimento para meditação a partir desses significados e relações de sinônimo entre as palavras Verdade, Deus e Vida.

Um grande obstáculo para a maioria dos que buscam a verdade é que eles procuram encontrar uma fé que seja entregue “de uma vez por todas”, completa e imutável. Falham em ver que a Verdade é a Palavra de Deus. A primeira sílaba do decreto criador foi proferida no início da Evolução e cada uma das suas palavras, desde então, tem soado para nossa elevação, como as palavras de uma frase que lentamente revelam o significado projetado pelo orador.

A nota-chave de todo avanço ainda está soando; enquanto toda a Palavra não tenha sido proferida, a sentença não estará completa e a Verdade não estará revelada a nós em Sua plenitude, até que nossa própria trilha de desenvolvimento espiritual nos tenha dado o poder de espírito necessário para entender a Verdade final.

Logo, vemos que a grande Palavra criadora da Verdade e da vida está reverberando no universo hoje, mantendo e sustentando tudo o que é e nos revelando a medida tão grande da Verdade quanto agora somos capazes de compreender. É dever nosso procurar entender essa Verdade divina da melhor maneira possível para que possamos vivê-la e nos encaixar no Plano Divino; também devemos manter nossas Mentes em um estado de flexibilidade para que, à medida que visões maiores e mais nobres da Verdade se desdobrem diante de nossos olhos espirituais, possamos estar preparados para assumir o novo, deixando o velho para trás, como o Náutilos mencionado por Oliver Wendell Holmes, que constrói sua pequena câmara, uma um pouco maior do que a anterior e assim por diante, até que finalmente deixe a casca superada e parta a uma nova evolução. Portanto, que esse também seja nosso o esforço:

Ó minha alma, constrói para ti mansões mais majestosas

Enquanto as estações passam ligeiramente!

Abandona o teu invólucro finalmente;

Deixa cada novo templo mais nobre que o anterior,

Com cúpula celeste com domo bem maior,

E que te libertes decidida, largando tua concha superada nos agitados mares

desta vida!

Em cumprimento a essa política divina de adequar a Verdade à nossa capacidade de compreensão, diferentes Religiões foram fornecidas à humanidade em vários momentos, cada uma adaptada àquela classe específica de pessoas que devessem crescer com ela. Para os chineses veio o Confucionismo; aos indianos foi ensinada pela primeira vez a doutrina da Trindade na Unidade: Brahma, Vishnu e Shiva — o Criador, o Preservador e o Destruidor eram aspectos de uma Deidade que a tudo incluía, análoga ao nosso próprio Pai, Filho e Espírito Santo. Depois veio o Budismo, que tem sido chamado de Religião sem Deus, porque enfatiza particularmente a responsabilidade do ser humano por suas próprias condições.

Não pergunte algo aos deuses indefesos com oração ou hino,

Nem os suborne com sangue, nem alimente com frutas ou bolos.

Dentro de vocês, a libertação deve ser buscada,

Cada homem que sua prisão faz,

Cada um tem poderes como os mais altos,

Não com deuses ao redor, acima, abaixo,

E com todas as coisas e tudo o que respira

Aja com alegria ou desgraça.

Como o Hinduísmo afirma a existência do poder divino acima do ser humano, o Budismo afirma a divindade do próprio ser humano. Também descobrimos que Moisés, o líder divino que guiou seu povo para a mesma conquista, enfatizou isso de maneira semelhante, no chamado “Cântico de Moisés”, onde chama a atenção dos hebreus para o fato de que já tinhamsido liderados pelos poderes divinos, mas depois receberam a escolha, a prerrogativa de poder moldar seu próprio destino.

Contudo, ele também lhes disse que seriam responsabilizados pelas consequências de seus atos sob as leis outorgadas por seu governante divino, mas daí em diante invisível. Gradualmente, outras Religiões evoluíram no Egito, na Pérsia, Grécia e em Roma; também os países escandinavos do Norte receberam um sistema religioso prenunciando, em grande parte, a Religião mais recente e sublime de todas; a saber, a Religião ocidental — o Cristianismo.

Acabamos de celebrar o final do drama cósmico, que se repete anualmente; sendo seu começo o nascimento místico do Cristo no Natal e a morte mística na Páscoa, o seu fim. Pouco antes do ato final do drama, a crucificação, como retratada nos Evangelhos, encontramos o Cristo participando da Última Ceia com Seus Discípulos. Afirma-se que Ele pegou o pão, partiu-o e lhes deu para comer, dizendo: “Este é o meu corpo”. Ele também pegou o “vinho” e todos beberam do sangue místico. Então veio a injunção que iremos observar particularmente: “Façam isso em memória de mim, até que Eu venha”.

Ele também afirmou isso e nesse mandamento depositou a base do Cristianismo: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o coração, toda a mente e ao próximo como a ti mesmo”. É fácil ir à mesa do Senhor nos domingos para comer ou beber com Ele; no entanto, e infelizmente, quão difícil é carregar Sua cruz na segunda-feira, negando a nós mesmos para servir e ajudar os outros. Agindo assim, mais do que merecemos a acusação do poeta: “a desumanidade do ser humano para com o próprio ser humano produz incontáveis lamentações”.

A pergunta “O que é o amor?” parece difícil de responder. O maravilhoso 13° capítulo da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios nos fornece uma ideia; porém é bastante abstrata e, logo, precisamos de algo mais concreto para que possamos trabalhar e trazer a nossas vidas. Tomemos, portanto, como ilustração o amor fraterno em uma família. Nela, os filhos são dos mesmos pais e, portanto, pertencem a um relacionamento real de sangue entre irmãos. Dentro do círculo familiar podemos encontrar um excelente material para nos orientar em relação ao círculo maior da comunhão humana.

Uma das evidências mais impressionantes é que embora, às vezes, irmãos e irmãs discordem e briguem entre si, o amor ainda permanece e eles defenderão alguém da família, se ofendido, tão prontamente quanto qualquer outro também da família. Quando um é atacado, parece agir como apelo ao resto para reunir-se ao resgate e sempre fazem isso, em uma família normal. Se um membro da família comete ato vergonhoso, seus irmãos e irmãs não o publicam nem se alegram com o seu infortúnio, procurando, contudo, encobrir seu erro e achar justificativas, porque sentem uma unidade com ele.

Assim também nos sentiríamos em relação à família maior, se estivéssemos imbuídos do senso Cristão de amor. Procuraríamos desculpar os erros daqueles que chamamos de criminosos, ajudá-los, reformar e não retaliar; além disso, deveríamos sentir que sua desgraça também seja, em realidade e verdade, parcialmente nossa. Quando um de nossos compatriotas consegue um feito notável, sentimos que tenhamos o direito de desfrutar de suas honras. Apontamos com orgulho para todos os filhos notáveis ​​de nossa nação e, em nome da consistência, sentimos vergonha daqueles que falharam devido às condições da família nacional, já que somos verdadeiramente responsáveis ​​por sua queda, talvez até mais do que pelas honras daqueles que as alcançaram.

Na pequena família, quando um dos membros mostra talento, geralmente, todos se unem para lhe dar a oportunidade e a educação que os desenvolverão, pois todos são motivados pelo verdadeiro amor fraterno. Nós, da família universal, geralmente obstruímos e sufocamos os precoces sob o calcanhar da necessidade econômica de ganhar a vida. Não lhes deixamos lazer para a realização. Oh! Que possamos entender nossa responsabilidade universal e procurar, por meio de comissões, nossos irmãos e irmãs mais novos, que sejam talentosos em qualquer direção, para que possamos promover seus talentos visando ao eterno bem-estar da humanidade, bem como socorrer aqueles que agora pisoteamos como criminosos.

Mas o amor não consiste em doações indiscriminadas. Também leva em consideração o motivo por trás dos presentes. Muitas pessoas alimentam o vagabundo na porta dos fundos porque as deixam desconfortáveis pensar que um humano esteja com fome. Isso não é amor. Às vezes, de fato, pode ser um grande ato de amor justamente recusar comida aos mendigos — mesmo que soframos ao pensar em sua atual situação —, se o fizermos com o objetivo de forçá-lo a procurar trabalho e se tornar um membro útil da sociedade. A indulgência com os maus hábitos em pessoas, sem discriminação, pode realmente levar um irmão ou irmã ao caminho descendente. Pode ser necessário, mesmo que desagradável e inoportuno, impedir que tais pessoas sigam desejos tolos. O ponto é esse: independentemente do que nossas ações possam parecer, sob o ponto de vista superficial, devem ser ditadas pela nota-chave do CristianismoAmor. Por falta disso, a Igreja está definhando. A luz sobre o altar está quase apagada, muitos foram procurá-la em outro lugar.

Aí reside outro erro grave, pois tal conduta é análoga à da tripulação de um navio que afunda e demora para usar os barcos e salvar o navio. Está certo buscar a luz, mas deve haver o propósito de usá-la adequadamente. Você já esteve perto de uma ferrovia, em uma noite escura, e viu um trem se aproximando? Notou como o farol brilhante envia seus poderosos raios à frente da pista por uma grande distância? Como, quando se aproxima, esses raios cegam aos olhos? Como passa rápido e então, num momento, você está na escuridão total? A luz que brilhava tão forte na frente não envia o menor raio para trás e, portanto, a escuridão parece ainda mais profunda.

Há muitas pessoas que buscam a luz mística e adquirem bastante iluminação; entretanto, como o motor da locomotiva mencionada, elas se concentram e focalizam a pista que elas mesmas devem seguir. Tomam todo o cuidado possível para que nenhum raio se desvie desse caminho, para que todo vestígio de luz possa ser aproveitado e iluminar seu próprio caminho. Trabalham exclusivamente a este propósito: atingir poderes espirituais para si próprios. Estão tão concentrados nesse objetivo que nunca suspeitam da escuridão profunda que envolve todo o resto do mundo.

No entanto, Cristo ordenou que deixássemos nossa luz brilhar, que a colocássemos, como em uma cidade, sobre a colina para que ninguém pudesse deixar de ver; para nunca a escondermos debaixo de um alqueire, mas sempre deixá-la iluminar nosso arredor, até onde seus raios chegassem. Somente na medida em que seguimos essa ordem, somos justificados para buscar a luz mística. Nunca devemos manter um único raio para nosso uso particular, mas nos esforçar dia após dia para nos tornar tão puros que não haja obstrução à divina luz interior, que ela possa fluir através de nós em sua plenitude para toda a família humana, que está sofrendo por falta de Luz e Amor. Muitos de fato são chamados e poucos são escolhidos. Levemos isso a sério, sendo muito zelosos por Cristo em todos os nossos tratos e ações, para que realmente sejamos escolhidos: selecionados para fazer Sua obra de Amor.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de julho de 1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Divina presença que existe dentro de você e o que fazer com ela

A Divina presença que existe dentro de você e o que fazer com ela

Na Primeira Epístola aos Coríntios, Capítulo 3, Versículos 16 e 17 lemos: “Não sabeis que sois o santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, porque o santuário de Deus que sois vós é sagrado”.

Parece incrível, mas essas palavras tão coerentemente claras produzem confusão e dúvida no espírito das pessoas. Para um cristão afeito à ortodoxia religiosa tentar entender o que São Paulo quis dizer nesses versículos constitui um exercício perigoso, uma aventura capaz de abalar-lhe a fé. Aprofundar-se na ideia de que o “Espírito de Deus habita em nós” é algo temerário. Afinal, o Espírito de Deus só pode ser o próprio Deus. Deus no ser humano, dando vida ao seu santuário? Por que ir além? Mas, para o próprio estudante esoterista sobrevém, a princípio, grande dificuldade em aceitar a realidade do Deus Interno. Ora, durante toda sua vida habituou-se a venerar e recorrer a uma Inteligência Superior, abstrata, permeando o espaço cósmico. A certeza da existência de um Deus externo trouxe-lhe, sempre, uma certa segurança, ainda mais que esta Divindade lhe oferece seu Filho Unigênito — o Cristo — para redimi-lo de suas transgressões.

A ideia de que Cristo é um ser interno, um princípio inerente à nossa condição de espíritos, que desabrocha e evolui através de várias existências de pureza e serviço não é fácil de se aceitar. A ideia de que é esse Cristo interno que salva e não o Cristo exterior pode ser assustadora, pois revela, e como isso é duro, que a salvação é um problema individual, interno e intransferível.

É responsabilidade exclusiva de cada um. Logicamente ninguém está só, no desenvolvimento desse processo. Pode-se recorrer à oração científica que, quando acompanhada de esforços sinceros e serviço altruísta atrairá a ajuda dos Seres Iluminados.

A centelha divina tem em si as mesmas sementes de perfeição do Deus Macrocósmico. Quanto mais ampla for a nossa consciência de que esta Divindade habita em nós, maiores serão seus canais de manifestação.

O ser humano comum, aquele que alardeia seu agnosticismo ou vive condicionado a uma crença num ente exterior, pode se abalar com as crises desta época. Pode padecer de todas as desesperanças, apavorar-se com todas as mudanças, porque falta-lhe a energia positiva de quem admite a presença de Deus dentro de si mesmo.

O esoterista cristão sobrepõe-se espiritual, mental, emocional, fisicamente e a todas as condições transitórias desse mundo. Nada teme, porque está convencido de que a única realidade possível é o Deus Interno.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – mar./abr./1988)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Relação entre Conhecimento e Sabedoria: onde está o ponto de partida

A Relação entre Conhecimento e Sabedoria: onde está o ponto de partida

Como quase todos os problemas humanos são, atualmente, observados e pretensamente solucionados através de uma visão materialista. O Aspirante Rosacruz não duvida de que a prática da devoção é um meio de se restabelecer o equilíbrio na vida da humanidade. Nem sempre as soluções encontradas pelas vias convencionais são adequadas ou definitivas, porque não abordam os problemas pelas suas causas. Em tais circunstâncias a vida devocional oferece valiosas oportunidades de uma análise mais profunda. Se antes de tentarmos equacionar uma questão através de fórmulas convencionais ou materialistas, meditássemos ou orássemos, notaríamos como as respostas seriam encontradas mais facilmente. Na realidade a solução seria intuída. Muitos dos grandes cientistas afirmaram que na fase inicial de suas descobertas receberam como que uma “inspiração ou intuição”. Parece-nos que o resultado final é fruto de amálgama entre a intuição e a formação acadêmica. Ao corolário de todo esse processo podemos chamar de sabedoria.

O conhecimento é tão importante em nossa vida que seria um equívoco não reconhecê-lo como um poderoso fator em relação com a sabedoria. A aquisição do conhecimento em todos os níveis e campos de atividade humana tornou-se um fator de sobrevivência na complexa sociedade em que vivemos. Mas, como Max Heindel afirmou no “Conceito Rosacruz do Cosmos”: “Tão seguramente como o pensamento já existia antes do cérebro e o está aperfeiçoando para sua expressão; tão certo como a Mente vem abrindo horizontes mais amplos a desvendando os segredos da natureza pela força de sua ousadia, com igual fortaleza o coração encontrará um meio de romper os grilhões que o prendem e realizar suas aspirações. Atualmente o cérebro o domina. Algum dia manifestará toda sua força, libertar-se-á de sua prisão, se convertendo em um poder maior que a Mente”. Isso já ocorre com muitas pessoas no Ocidente.

Os Ensinamentos Rosacruzes servem de ajuda àqueles inclinados ao intelecto, podendo conduzi-los, pela via racional, ao desenvolvimento de sua religiosidade. Conhecimento é poder, e, em si mesmo não é bom nem mau. Depende do propósito para o qual é utilizado. Partindo desse princípio não é difícil imaginar a responsabilidade que o envolve.

O conhecimento oculto ou religioso em si mesmo não é sabedoria. Trata-se apenas de um conhecimento mais elevado. São Paulo nos ensinou no capítulo 13 de sua Primeira Epístola aos Coríntios: “Ainda que eu conheça todos os mistérios e toda ciência. . . se não tiver amor, nada serei”.

Não há contradições na natureza: o Coração e a Mente devem ser capazes de unir-se. A Mente, auxiliada pelo intuitivo Coração, podendo aprofundar-se nos mistérios do ser com crescente eficácia, o que não seria possível se agisse isoladamente.

Filosofia significa “amor e sabedoria”. A sabedoria é o segundo aspecto do Deus Trino, o princípio crístico que é a meta da humanidade. Assim, quando nosso conhecimento se amalgamar com o amor, surgirá a SABEDORIA — uma expressão do Espírito de Cristo.

(Publicada na revista “Serviço Rosacruz” – 07-08/87)

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