Qual o significado das palavras de Jesus quando disse à sua mãe Maria: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2:4)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Qual o significado das palavras de Jesus quando disse à sua mãe Maria: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2:4)

Pergunta: Qual o significado das palavras de Jesus quando disse à sua mãe Maria: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2:4).

Resposta: Este é mais um caso em que os tradutores da Bíblia traduziram incorretamente o texto grego de uma maneira injustificável. A observação foi feita na ocasião das Bodas de Caná, onde Maria, a mãe de Jesus, segundo a Bíblia, veio a ele dizendo que não havia mais vinho. Jesus respondeu-lhe, então, com as seguintes palavras em grego: “Ti emoi kai soi gunai”. Traduzido literalmente, temos: “O que (é isso) para mim e para ti, mulher? Ainda não é chegada a minha hora“. Mesmo se não levarmos em consideração o sentido esotérico dessa observação, isso parece bem mais agradável que a resposta áspera atribuída a Jesus na versão popular da Bíblia do Rei James.

Devemos também lembrar que o Cristo não era o filho de Maria no mesmo sentido em que o era Jesus, pois, embora Ele usasse o corpo de Jesus, Ele não reconhecia qualquer parentesco físico com Maria, portanto, o dirigir-se a ela chamando-a “mulher”, estava perfeitamente justificado.

Contudo, há outro significado mais profundo em todo o relato das bodas de Caná. Ensinou-se na literatura Rosacruz que os Evangelhos não são histórias sobre a vida de um indivíduo chamado Jesus, que foi uma figura única na humanidade. Embora o Jesus dos Evangelhos tenha existido realmente, os Evangelhos em si são histórias ou fórmulas de iniciação, e as bodas de Caná, onde Cristo realizou o Seu primeiro grande milagre, foi algo bem maior do que uma simples cerimônia de casamento entre um homem e uma mulher na vida comum. Foi, na realidade, um casamento místico do “Eu superior” com o “Eu inferior” sob a nova ordem do Serviço do Templo inaugurado, então, por Cristo. Na Época Atlante a água foi usada nos templos, mas na Época Ária o vinho era essencial.

Raças diferentes viveram sobre a Terra em várias Épocas, e elas eram constituídas diferentemente do que nós o somos hoje. A primeira raça humana é simbolizada na Bíblia pelo nome de Adão. Os seres eram da terra, terrenos, isto é, tinham somente um corpo mineral – um Corpo Denso -, pois eram formados dos minerais da Terra. A segunda raça é simbolizada pelo nome de Caim. Eles tinham um Corpo Denso mineral e, também, um Corpo Vital, formado de Éteres. Eram semelhantes às plantas e alimentavam-se de vegetais. Por isso, ouvimos dizer que Caim cultivava o solo e plantava sementes. A terceira raça desenvolveu um Corpo de Desejos e devido a sua natureza emocional e passional os seres humanos tornaram-se semelhantes ao animal. Assim, foi-lhes dado alimento animal ou carne para comer, e lemos na Bíblia que Nimrod foi um poderoso caçador. Por último, a Mente foi-lhes acrescentada formando um elo entre o Tríplice Corpo e o Tríplice Espírito. O Espírito introduziu-se então no corpo, tornando-se um morador, um Ego.

Para que esse Ego pudesse aprender a lição na Terra, ele deveria esquecer, durante algum tempo, sua origem espiritual celeste. Para esse fim, um novo alimento foi-lhe dado, e o vinho, um espírito fermentado fora do corpo, foi usado pela primeira vez por Noé, o Hierarca Atlante, para amortecer o verdadeiro Espírito que habitava o corpo.

Sob a influência intoxicante desse pseudo-espírito, o ser humano esqueceu gradualmente sua origem divina e focalizou toda a sua atenção nas lições que deveriam ser aprendidas neste Mundo. Embora a humanidade se tenha entregado a este novo gênero de nutrição, o vinho, a despeito até das orgias realizadas em cerimônias exotéricas, nos santuários de todas as antigas dispensações só era utilizado água, e os santos e sumos sacerdotes nunca permitiam que o vinho tocasse seus lábios.

Consequentemente, eles não eram líderes cegos conduzindo outros cegos, mas viam claramente os Mundo invisíveis e conheciam o sagrado mistério da vida.

Durante as Épocas primitivas da evolução o ser humano foi guiado por mensageiros visíveis das Hierarquias Divinas que ele reverenciava como Deus, e mesmo depois que eles o deixaram, os profetas e os videntes continuaram a aparecer entre os seres humanos para testemunhar a realidade de Deus e dos Mundos invisíveis. As antigas Religiões ensinaram também a doutrina do Renascimento e, assim, o ser humano soube que progredia por meio da experiência adquirida utilizando uma série de corpos terrenos de textura cada vez mais aprimorada. É por essa razão que muitos hindus, que acreditam no Renascimento, acham que não há necessidade de pressa em termos de evolução. Contudo, para que o ser humano do Mundo ocidental, onde habitam os seres humanos pioneiros, pudesse se aplicar com toda a sua alma e sua Mente no domínio dos segredos da vida terrena, foi determinado privá-lo totalmente desse ensinamento. Os próprios conselheiros espirituais ficaram, por algum tempo, cegos quanto ao conhecimento consciente de Deus e da visão dos Mundos internos, para que dessa forma, toda a humanidade pudesse se tornar autossuficiente durante a Nova Dispensação, se aplicando inteiramente à evolução material que lhe estava reservada. O vinho teve, desde o início, essa contribuição em termos exotéricos, e o seu uso foi sancionado no templo pelo primeiro milagre.

Sob a Antiga Dispensação, somente a água era usada no Serviço do Templo, mas, com o decorrer do tempo, o vinho se tornou um fator na evolução humana. Um deus do vinho, Baco, foi adorado e as orgias desregradas se realizavam a fim de abafar as aspirações do Espírito, para que este pudesse se entregar inteiramente à conquista do Mundo Físico. Sob a Dispensação Mosaica (Antiga Dispensação) os sacerdotes eram estritamente proibidos de usar vinho ao oficiar no templo, mas Cristo, em Sua primeira aparição pública, transformou a água em vinho, aprovando seu uso na ordem das coisas então existentes. Notemos que isto foi efetuado publicamente, e este foi o Seu primeiro ato de ministério público. Contudo, na última sessão esotérica do Cristo com Seus Discípulos, no qual foi celebrada a Nova Aliança, não havia carne de cordeiro (Áries), como exigia a Lei Mosaica. Tampouco havia vinho, mas apenas pão – um produto vegetal – e o cálice do qual falaremos a seguir. Baseados em Suas palavras proferidas naquele momento: “Em verdade vos digo, já não beberei do fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo do Reino de Deus”.” (Mc 14:25), o suco recém extraído da uva não contém um espírito proveniente da fermentação e decomposição, mas é um alimento vegetal puro e nutritivo. Assim, os seguidores da doutrina esotérica foram instruídos, por Cristo, a adotarem uma dieta que não incluísse nem a carne animal, nem bebidas alcóolicas.

Supõe-se, geralmente, que o cálice usado por Cristo na Última Ceia continha vinho, no entanto, não há fundamento na Bíblia para essa suposição. Foram dados três relatos sobre a preparação desta Páscoa. Enquanto São Marcos e São Lucas declaram que os mensageiros foram enviados a uma determinada cidade para procurar um homem transportando um cântaro de água, nenhum dos Evangelistas disse que o cálice continha vinho. Além disso, pesquisas na Memória da Natureza mostram que a água era a bebida usada, pois o vinho, sob o ponto de vista esotérico, já tinha cumprido sua função. Com esse ato se iniciou o movimento da temperança, pois essas mudanças cósmicas envolvem uma longa preparação nos mundos internos antes que possam manifestar-se externamente na sociedade. Milhares de anos nada representam em tais processos.

O uso da água na Última Ceia também se harmoniza com os requisitos astrológicos e éticos. O Sol estava deixando Áries, o Signo do Cordeiro, entrando em Peixes, o Signo dos Peixes, um Signo aquático (tudo isso pelo movimento da Precessão dos Equinócios). Uma nova nota de aspiração iria soar, uma nova fase de elevação humana devia ser introduzida durante a Era Pisciana que se aproximava. A autoindulgência iria ser superada pelo espírito da renúncia. O pão, sustento da vida, feito da semente imaculadamente gerada, não alimenta as paixões como a carne; também o nosso sangue, quando diluído na água, não se altera tão bruscamente como quando está saturado de vinho. Portanto, o pão e a água são alimentos adequados e símbolos de ideais durante a Era Peixes-Virgem. Eles representam a pureza, e a Igreja Católica deu aos seus seguidores a água pisciana colocada à porta de seus templos e o pão virginiano no altar, recusando-lhes o cálice de vinho durante o Ofício.

Não obstante, mesmo o que foi exposto acima não nos leva ao cerne do mistério culto no “Cálice da Nova Aliança”. A antiga taça de vinho que nos foi dada quando entramos em na Época Ária, a terra da geração, era portadora de destruição, da morte e do veneno, e a palavra que, então, aprendemos a proferir estava morta e impotente.

A nova taça de vinho mencionada, como a representação do ideal da futura época, a Nova Galileia (que não deve ser confundida com a Era de Aquário), é um órgão etérico formado dentro da cabeça e da garganta pela força sexual não gasta que, à visão espiritual, se assemelha à haste de uma flor, elevando-se da parte inferior do tronco. Este cálice, ou cálice-semente, é realmente um órgão criador, capaz de enunciar a palavra de vida e de poder.

Atualmente, a palavra é articulada por movimentos musculares desajeitados que regulam a laringe, a língua e os lábios para que o ar, proveniente dos pulmões, emita determinados sons, mas o ar é um meio pesado, quando comparado às forças mais sutis da Natureza, como a eletricidade que se move no Éter. Quando este novo órgão tiver evoluído, terá o poder de pronunciar a palavra de vida, de infundir vitalidade em substâncias até hoje inertes. Este órgão está sendo hoje formado por nós, por meio do serviço prestado amorosa e desinteressadamente.

Lembremo-nos que Cristo não deu o cálice à multidão, mas aos Seus Discípulos, que eram os Seus mensageiros e servidores da Cruz. Atualmente, aqueles que bebem da taça do autossacrifício, os que colocam sua força criadora ao serviço amoroso e desinteressado dos outros, estão construindo esse órgão juntamente com o Corpo-Alma, o “Dourado Manto Nupcial”. Eles estão aprendendo a usá-lo, em pequena escala, como Auxiliares Invisíveis, quando deixam seus corpos à noite e é nessas circunstâncias que aprendem a proferir a palavra de poder que remove a doença e cria tecidos sadios.

Quando a Época Atlante se aproximava do fim e a humanidade abandonou seu lar da infância, onde estivera sob a tutela direta dos Mestres divinos, fez-se a Antiga Aliança, e foi-lhes concedido a carne animal e o vinho, sendo que estes elementos, aliados ao uso irrestrito da força sexual, transformaram a Época Ária numa era de morte e destruição. Estamos chegando, agora, ao término dela.

A Era Pisciana, ou o período em que o Sol, pelo movimento de precessão, passa pelo Signo de Peixes, os peixes, está chegando ao fim. Durante esse período, o Signo oposto a Peixes, Virgem, representou o ideal humano. Ela foi venerada por um sacerdócio celibatário que recomendava aos fiéis o uso do “peixe” como alimento em certos dias da semana e do ano. No Zodíaco ilustrado, o Signo de Virgem tem uma espiga de trigo na mão. Tanto a semente como a uva são produtos do reino vegetal, e a Imaculada Virgem Celestial incorporou, portanto, o primeiro princípio da Imaculada Concepção, o sangue (vinho) e o corpo (pão) do Cristo. O clero celibatário, orientando o culto, ressaltou a importância desses elementos durante a Era de Peixes que terminará em breve, portanto, o vinho está sendo rapidamente abolido nos ofícios do templo e entre as massas, e isso está gerando um grau maior de sensibilidade que estamos experimentando hoje. O Espírito Divino, oculto dentro de cada ser humano, está despertando do seu sono tóxico produzido pelo espírito do vinho, e está começando a se recordar de sua origem divina e de sua herança da vida, à qual não tem início nem fim.

Vale a pena notar que, tanto o clero dos diversos países do Velho Mundo quanto os padres católicos das Américas ainda continuam a incluir o vinho e as bebidas alcoólicas diariamente, e é bem significativo que quando o Parlamento da Inglaterra, o Rei e os nobres, que representam o poder político, tentaram aprovar leis que proibissem a venda de bebidas alcoólicas no país, a medida fracassou devido à determinada oposição dos mais altos dignitários da Igreja.

Esta atitude do clero europeu não implica, de modo algum, numa degradação por parte deles, nem que devam ser censurados. A humanidade tem ainda muitas lições para aprender, e estas só podem ser proporcionadas durante a “era do vinho”. Quando cessar a necessidade do espírito falso, este cairá em desuso sem que seja necessário recorrer a medidas legislativas, que geralmente não são eficientes, pois é totalmente impossível legislar a moralidade num povo. Até que uma lei seja aprovada internamente, a pessoa a infringirá para garantir a satisfação de seus desejos, independente de quaisquer medidas restritivas.

(Pergunta nº 90 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)

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Fraternidade Rosacruz de Campinas administrator

2 Comentários até agora

Boabi Rodrigues FariasPublicado em7:57 am - ago 31, 2021

Quando Jesus falou para sua mãe.Mulher que tenho eu contigo”ainda não é chegada a minha hora’ que significa ( a minha hora)?

    Fraternidade Rosacruz de CampinasPublicado em3:22 pm - set 14, 2021

    Caro irmão, justamente como o texto detalha: Ela estava se dirigindo a Cristo, que veio para nos salvar. O momento de cada evento da vida dele estava no Plano de Salvação que ele implementou e não no desejo ou na sugestão de Maria, a mãe de Jesus, em querer que algo fosse feito “naquela hora”. Tanto que esse evento foi feito na “minha hora”, a hora indicada no Plano de Salvação. Ao estudar os quatro Evangelhos, percebemos isso o tempo todo nos principais eventos da vida do nosso Senhor, o Cristo, em Sua primeira vinda aqui.

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